ciência e do mercado
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. Com isto, transformam-se valores pessoais, modos de viver e,
conseqüentemente, cultura, transformando a nossa vinculação com a natureza uma
vinculação “artificial”, onde o que importa é a aparência de uma saúde perfeita em corpos
torneados pelo artificialismo, auxiliando a perda de nosso sentimento de ser-corpo, o que
vem a sugerir o afastamento com a natureza e apontando possíveis justificativas da
destruição do ambiente que vem ocorrendo na atualidade.
Não basta apenas mudar os padrões da estética do corpo, precisamos ampliar a
concepção de corpo, o que nos ajudaria a revolucionar o sentido de estética que se
apresenta em nossa cultura. Hoje ter um corpo bonito é aquele que se aproxima do corpo
universal hegemônico, desprezando toda sua dimensão corporal (afetiva, sensorial,
espiritual, psicológica entre tantas outras que não me cabe encerrar, se é que possível, neste
momento) favorecendo mais que um afastamento do ser humano com a natureza e, sim, do
próprio ser humano. Este corpo hegemônico construído pelo mundo da cultura, como nos
coloca Silva (2001, p.65) “... é um corpo não humano”, tendo em vista ser um corpo
alienado e subordinado a uma racionalidade instrumental, fruto das relações mercantis. Um
corpo coisificado que perdeu seu valor em si e, portanto, que coisifica o mundo através de
suas relações, favorecendo um sentimento de estranhamento nas relações complexas entre
ser humano e mundo. Estas percepções de mundo favorecem as pessoas a não se
reconhecerem e a não reconhecerem os outros, dando espaço à solidão, depressão,
compulsão ao consumismo e ao medo da morte (desconectado da vida).
Sendo assim, temos necessidade de buscar respostas para estes sentimentos, porém
as mesmas nos são dificultadas, apesar da facilidade de acesso a muitas informações. Em
contraposição a este conflito, surge a mídia com falsas respostas, propondo um modelo de
vida consumista que alimenta o sistema, e faz as pessoas sentirem-se, supostamente, mais
próximas e, finalmente, “cúmplices da publicidade”. A televisão, uma das ferramentas da
mídia, propõe maneiras passivas de interagir com o mundo, tornando o corpo restrito aos
olhos, novamente, provocando uma distância entre o humano e o seu entorno.
Nesta escassa percepção e falta de pertencimento do mundo, somos influenciados a
acreditar, quase que como uma crença religiosa, que as respostas e soluções para estes
problemas vêm através do paradigma científico e/ou tecnológico. Porém, o paradigma
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Para saber mais a respeito da tríade corpo, ciência e mercado, sugiro a leitura de Silva (2001)