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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“Júlio de Mesquita Filho
FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO
CÂMPUS DE BAURU
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO
Área de Concentração: Comunicação Midiática
Dissertação de Mestrado
A TV e osrios olhares da criança
Lauren Ferreira Colvara
Candidata
Profa. Dra. Nelyse Apparecida Melro Salzedas
Orientadora
BAURU
2007
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Lauren Ferreira Colvara
A TV E OS VÁRIOS OLHARES DA CRIANÇA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação, a da Área de
Concentração Comunicação Midiática, da Faculdade de Arquitetura,
Artes e Comunicação da UNESP, Campus de Bauru, como requisito à
obtenção do título de Mestre em Comunicação Social, sob orientação da
Profa. Dra. Nelyse Apparecida Melro Salzedas.
BAURU
2007
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DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO
UNESP – BAURU
Colvara, Lauren Ferreira.
A TV e os vários olhares da criança / Lauren
Ferreira Colvara, 2007.
215 f. il.
Orientador: Nelyse Apparecida Melro
Salzedas.
Dissertação (Mestrado) – Universidade
Esta- dual Paulista. Faculdade de
Arquitetura, Artes e Comunicação, Bauru,
2007.
1. Comunicação. 2. Televisão e
Ficha catalográfica elaborada por Maricy Fávaro Braga – CRB-8 1.622
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COLVARA, Lauren Ferreira
A TV e os rios olhares da criança
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação, na Área de Concentração
Comunicação Midiática, da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da
UNESP, Campus de Bauru, e aprovada pela seguinte banca examinadora:
ORIENTADORA: Profa. Dr.a Nelyse Apparecida Melro Salzedas
Pós Graduação em Comunicação Midiática da FAAC/UNESP
Prof. Dr. Eduardo Andres Vizer
Universidad de Buenos Aires (UBA)
Prof. Cláudio Bertolli Filho
Pós Graduação em Comunicação Midiática da FAAC/UNESP
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Dedico este trabalho
Ao capitão, meu capitão que desde que criança me
ensinou a navegar mares nunca antes navegados....
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AGRADECIMENTOS
Agradecer às pessoas que acreditaram na realização desse projeto e trilharam comigo este caminho.
À FAPESP por ter financiado e incentivado a pesquisa.
Às professoras do grupo V e VI, à diretora e às auxiliares do CCI Gente Miúda que em tanto me
ajudaram e compreenderam a importância dessa pesquisa. Sem se falar no próprio apoio
institucional e a forma que com me receberam de bros abertos.
Ao meu ex-orientador Prof Dr. José Luiz Guimarães que no curso de Psicologia me disse que meu
u seria de brigadeiro e me ensinou o que era a pesquisa científica.
À minha orientadora Prof. Nelyse Salzedas com a sua compreensão e vitalidade, o que me deu uma
grande lição de vida.
Ao Prof. Dr. Cláudio Bertolli que me apresentou ao mundo da Antropologia e todo o carinho desse
amigo que tive, que espero ter, por muito tempo em minha vida.
Aos professores do Curso de Pós Graduação em Comunicação Midiática que sempre tiveram
ouvidos atentos e saberes a serem compartilhados. Inclusive aos dois coordenadores da pós-
graduação, Profa. Dra. Ana Silvia Médola e Prof. Dr. Luciano Guimarães, e suas gestões que foram
fundamentais para a realização da pesquisa.
Aos funcionários da pós graduão: Silvio e Helder por suas assistência e atenção, sempre.
Aos funcionários e amigos da biblioteca sempre bem humorados e prontos a me ajudaram com as
minhas buscas arqueológicas pelo acervo.
Aos meus amigos ontem, hoje e sempre. Às amigas de ontem, Ju e Cissa, que juntas construímos o
imaginário de nossa infância. Às amigas de hoje, o quarteto fantástico (Cintia, Daniela, Juliana),
que somos parte de um todo. Ao Wagner, e ele sabe por quê. À Rafa e a sua paciência com a minha
gravação. À Mayra e nossas conversas sobre infância. Ao Pnio e suas palavras de conforto. À
Sílvia e a Vanessa, que apesar de vê-las pouco, em muito me deram apoio assim que cheguei ao
mundo da comunicação. Ao Marcos, o Lauro, o Fabrício sua amizade e a companhia nos
congressos. À Lídia e sua atenção especial.
À Prof. Dra Loriza não apenas por ter lido meu trabalho e clareado muita coisa. Como também por
ter me ajudado a mudar muitas coisas não apenas nesta pesquisa, mas em minha vida.
E, por último, por ser a base, por ser o sol do oriente que brilha no meu horizonte”. Àquele que vai
pela vida comigo agora, meu companheiro e meu amor. Yudi.
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As perguntas realmente sérias são aquelas e somente aquelas
que uma criança pode formular. Só as perguntas mais ingênuas
são realmente perguntas sérias. São as interrogações para as
quais não existe resposta. Uma pergunta sem resposta é um
obstáculo a ser transposto. Em outras palavras: são precisamente
as perguntas para as quais não existem respostas que marcam os
limites das possibilidades humanas e que traçam as fronteiras de
nossa existência. (Milan Kundera A insustentável leveza do ser)
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COLVARA, L. A TV e os rios olhares da criança. 2007. 215f. Dissertação
(Mestrado em Comunicação Midiática) UNESP, Bauru, 2007.
RESUMO
As crianças estabelecem vínculos com a TV, que é um meio de informação, comunicação e fantasia.
O contato com conteúdos variados, conjugados a constante busca e exploração de informões,
embasa a construção de uma concepção de indivíduo e sujeito. Esse processo se expressa pela
produção de sentido revelada pelas múltiplas mediões. Nesse contexto busca-se o olhar da criança
sobre a TV, cuja proposta é entender a recepção infantil e como se constitui as tramas cotidianas
que envolvem o receptor-criança. Em oficinas temáticas, isto é, a imersão no cotidiano das crianças
possibilitou: 1) coletar as opiniões sobre os programas televisivos favoritos; 2) captar a expressão
das crianças; 3) observar as manifestões do processo comunicativo, base do desenvolvimento da
pesquisa. A trama teórica estabelecida entre a metodologia que articula a teoria e a empiria está
baseada nas teorias Usos Sociais dos Meios, Consumo Cultural e Mediações Múltiplas
ajudaram a delimitar o campo de investigação da recepção infantil. Utiliza-se a etnografia para (re)
construir o contexto do receptor, a partir do qual é possível categorizar e integrar um campo de
conhecimento passível de análise. Nesse caso o receptor é pensado, não mais como passivo, mas
como produtor de cultura e de práticas cotidianas, tendo a dia como parte mediadora de processos
culturais. O objetivo da pesquisa foi focalizar a diversidade do receptor-criança, salientando que o
ato de ver TV extrapola o momento da recepção e que a mediação é mais do que um objeto, é um
instrumento conceitual e fundamento teórico. A mediação é o lugar em que as mensagens recebem
significado, formões e práticas discursivas e onde se dá a tensão entre o conteúdo midiático e a
cultura do cotidiano. A pesquisa de campo articulou-se em dois eixos, considerando a tensão do
espo do cotidiano em que a comunicação se estabelece: 1) a etnografia oferece dados sobre o
cotidiano das crianças e revela suas práticas culturais através do uso faziam desses meios; 2) os
questionários dos pais e feedbacks com as professoras revelam como as comunidades de
apropriação atuam na formação de gosto por gêneros e formatos e os tipos de relação estabelecidos
com a TV. Ao tomar contato com o processo comunicativo infantil percebeu-se caminhos da
produção de sentido no momento da recepção e como os discursos da escola e da família atuam na
formação da criança. O lugar da TV, considerando em principal a produção de sentido, foi
percebido como um agente de sociabilidade e que necessita de aprofundamentos investigativos de
cunho empírico, para que assim as relões entre os sujeitos, a sociedade e a dia sejam
entendidos em seu acontecimento.O que se busca é a abertura das possibilidades de explorões
teóricas que, por uma série de operões metodológicas, promova relações lógicas entre a
comunicação e o social.
PALAVRAS CHAVES: TV; Criança; Recepção; Mediação
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COLVARA, L. The TV and childres looks. 2007. 215p. Mastership in Midiact
Communication UNESP, Bauru, 2007.
ABSTRACT
The children establish bonds with the TV, that is a way of information, communication and fancy.
The contact with varied contents, conjugated the constant search and exploration of information,
bases the construction of a conception of individual and citizen. This express process if for the
production of direction disclosed for the multiple mediations. In this context the look of the child
searchs on the TV, whose proposal is to understand the reception infantile and as if it constitutes the
daily trams that involve the receiver-child. In thematic workshops, that is, the immersion in the
daily one of the children made possible: 1) to collect the opinions on the favorite televising
programs; 2) to catch the expression of the children; 3) to observe the manifestations of the action
of communication process, base of the development of the research. The established theoretical
tram between the methodology that articulates the theory and the empirical object it is based of the
theories "Social Uses of the Ways", "Multiple Cultural Consumption" and "Mediation" had helped
to delimit the field of inquiry of the infantile reception. It is used etnografic for (re) constructing the
context of the receiver, from which it is possible to categorize and to integrate a field of knowledge
of analysis. In this in case that the receiver not is thought as passive, but as producing of culture and
practical daily, having the media as mediating part of cultural processes. The objective of the
research was to focus the diversity of the receiver-child, being pointed out that the act to see TV
surpasses the moment of the reception and that the mediation is more of the one than an object, it is
a conceptual instrument and theoretical bedding. The mediation is the place where the messages
receive meant, formations and practical of the speech; is the space where made the tension between
the content of media and the culture of the daily. The field research articulated in two axles,
considering the tension of the space of the daily one where the communication if establishes: 1) the
etnografic offers given on the daily one of cultural the practical children and discloses its through
the use made of these ways; 2) the questionnaires of the parents and feedbacks with the teachers
disclose as the appropriation communities act in the established formation of taste for sorts and
formats and types of relation with the TV. When taking contact with the infantile act of
communication process perceived ways of the felt production of at the moment of the reception and
as the speeches of the school and of the family they act in the formation of the child. The place of
the TV, considering in main the direction production, was perceived as a sociability agent and that it
needs investigation gone deep in your object empirical, so that thus the relations between the
citizens, the society and the media are understood in its event. It search is the opening of the
possibilities of theoretical explorations that, for a series of metodological operations, promotes
logical relations between the communication and the social one.
KEY WORDS: TV; Children; Reception; Mediation
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Lista das Ilustrações
Figura 1
Programas favoritos das crianças segundo as professoras: Castelo Ra
-
tim
-
bum,
Cocori
p. 72
Figura 2: Fav
oritos das crianças na fase de observação Tom e Jerry, Pica
-
Pau, Power
Rangers, Meninas SuperPoderosas
p. 83
Figura3: Capa DVD Power Rangers
p. 85
Figura 4: Foto da sala de exibição dos filmes (Março de 2007)
p. 86
Figura 5: Foto da atividade dirigida
feita pela auxiliar
-
TOM (abril/2007)
p.87
Figura 6
-
Capa DVD Tom e Jerry, O Anel Mágico
p.88
Figura 7
-
Personagem Jerry
p. 88
Figura 8
Capa DVD Os Três Mosqueteiros
p. 90
Figura 9
-
Cena Mônica tomando Banho
p.91
Figura 10
Power Rangers, Tom e
Jerry, Pato Donald e Mickey
p.91
Figura 11
Alemão, Márcia e Leozinho, Jajá e Juju, e o ator Paulo Silvino (Severino)
p.92
Figura 12
-
Personagem Roberta da novela mexicana Rebeldes
p.93
Figura 13
-
Personagens principais da novela Rebeldes
p.94
Figu
ra 14
Personagens: Bob Esponja, Patrick e Lula Molusco
p. 94
Figura 15
Objetos escolares com estampa Barbie 12 Princesas e Meninas Super
Poderosas
p. 95
Figura 16
Os Power Rangers: Força Animal, Sino Trovão e SPD
p. 96
Figura
7
-
Personagem Pequena Sereia da Disney
p. 97
Figura 18
Preferências dos programas segundo os pais: Sagwa, Pica
-
pau, Os Sete
Monstrinhos, Castelo Ra-Tim-Bum, Cyberchase, Timothy, Charlie e Lola
p.98
Figura 19: Preferência dos personagens segundo
os pais: Pica
-
pau, Batman, Homem
-
Aranha, Pinoquio, Hello Kitty, Os Sete Monstrinhos, Timothy, Clifford, Sagwa, Liga da
Justiça, Shrek, Pingu, Cyberchase
p.118
Figura 20
Material escolar das crianças
p.119
Figura 21
Preferência dos meninos
Família D
inossauros, Macuin (filme Carros),
Tom e Jerry, Mickey, Garfiled, Homem-Aranha, Rei Leão
p.125
Figura 22
Preferências meninas Grupos V e VI: Charlie e Lola, Moranguinho, Hello
Kitty, Pingu, Nanny Macphee, 3 espiãs demais, Bela Adormecida
p.130
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Figura
3
-
TV usada pelas crianças na Atividade 1
p.131
Figura 24
Disposição das mesas durante a execução da tarefa
p.132
Figura 25
Sala de aula sendo preparada para a Atividade 1
p.132
Figura 26
Desenho Flávia
p.133
Figura 27
Desenho Jo
p.137
Figura 28
Desenho Eduardo com seu nome na tela
p.137
Figura 29
Desenho Verônica
-
Janelas
p.138
Figura 29b
Desenho Verônica
-
programa
p.138
Figura 30
Personagens Winx e Witch
p.139
Figura 31
Desenho Ana
-
Acidente
p.139
Figura 32
Desenhos Corrida de Carros
p.140
Figura 33
Desenho Castelo da Princesa, Eu soltando Pipa e Esse é o nosso mundo
p.141
Figura 34
Personagens Moranguinho e Hello Kitty
p.141
Figura 35
Desenho Cavaleiro e Apresentador
p.142
Figura 36
Personagens Lazzy Town
p.142
Figura 37
Mascote de Pink Dink Doo
p.144
Figura 37a: Personagens Pink Dink Doo
Tyler (irmão) e Pink
p.145
Figura 38
-
Apresentadores Zoobomafoo
p.145
Figura 39
Personagens Charlie e Lola
p.146
Figura 40
Propaga
nda Gleid Plus
p.150
Figura 41
-
Personagem Baby Família Dinossauro
p.151
Figura 42
Personagens Bob Esponja e Cindy
p.152
Figura 43
Apresentadores Bom dia e Cia e o coelho da brincadeira Toca do Coelho”
p.153
Figura 44
Personagens Pingu
p.153
F
igura 45
Atores Lázaros Ramos e Taís Araújo
p.156
Figura 46
Atriz Camila Pitanga personificada em Bebel
p.161
Figura 47
William Bonner, Maria Paula enico na TV
p.162
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Figura 48
Desenho da “apropriação midiática de Isadora e Eduardo
p.162
Fig
ura 49
Desenho livre Fernando
Foguete e a TAM
p.163
Figura 50
Esse é o meu país feito por Carlos
p.164
Figura 51
Conjunto de desenhos livres que tiveram corridas como tema
p.164
Figura 52
Desenho Isadora e a Barbie Farytopia
p.165
Figura 53
Desenho Livre Angélica
p.166
Figura 54
Desenho Livre de Ricardo
p.166
Figura55
Desenho Livre de Antônio
p.167
Figura 56
Preferências dos meninos e Preferências das meninas
p.167
Figura 57
O desenvolvimento do personagem Pica
-
Pau
p.168
Figur
a 58
Personagem Lula Molusco e Pica
-
Pau
p.169
Figura 59
Tom e Jerry
p.170
Figura 60
Barbie Farytopia
p.171
Figura 61
Diversas Bonecas barbie e seu mundo fragmentado
p.171
Figura 62
Revista Witch
p.173
Figura 63
Personagem Pingu
p.174
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO p.09
1. BUSCANDO A TEORIA: ESTUDOS DE RECEPÇÃO p.14
1.1 Martin-Barbero: deslocamento dos meios às mediões
p.16
1.2 O consumo serve para pensar: Canclini e Hall
p.19
1.3 A televidência e as múltiplas mediões Orozco
p.27
1.4 A metodologia etnográfica para a investigação da recepção
p.35
2. O RECEPTOR CRIANÇA p.40
2.1 TV e Criança
p.50
3. UNIVERSO DA PESQUISA DE CAMPO p.63
3.1. Fase 1 Sondagem p.64
3.1.1 Objetivos da Fase 1 Sondagem
p.66
3.1.2 Contato com a diretora do CCI
p.66
3.1.3 O questionário original
p.67
3.1.3.1 Resultados dos questionários aplicados às professoras
p.68
3.1.3.2 Análise dos Resultados dos Questionários das Professoras
p.71
3.1.3.3 Resultado dos questionários aplicados aos pais
p.73
3.1.3.4 Análise dos Resultados dos Questionários dos Pais
p.81
3.1.4 Considerões sobre a Fase 1 Sondagem
p.82
3.2
Fase 2 Mapeamento do Consumo Midiático p.83
3.2.1 Objetivos da Fase 2
p.84
3.2 Procedimentos de coleta de dados da Fase 2
p.84
3.2.1 Observação das crianças do CCI
p.96
3.2.2.2 Análise da observação das crianças no CCI
p.98
3.2.2 Reaplicação dos novos questionários
p.99
3.2.2.1 Resultados dos Questionários Reelaborados
p.115
3.2.2.2 Análise dos Resultados dos Questionários Reelaborados
p.121
3.2.3 Considerões sobre a Fase 2
p.126
3.3
Fase 3: As oficinas temáticas
p.126
3.3.1 Objetivos da Fase 3
p.127
3.3.2 Procedimentos
p.131
3.3.2.1 Atividade 1 O que é a TV para as crianças?
p.134
3.3.2.2 Análise da Atividade 1 O que é a TV para as crianças?
p.143
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3.3.2.3 Atividade 2 Fita Pais
p.149
3.3.2.4 Análise da Atividade 2 Fita Pais
p.150
3.3.2.5 Atividade 3 Fita Crianças
p.154
3.2.2.6 Análise Atividade 3 Fitas Crianças
p.154
3.2.2.7 Atividade 4 Fita Pais, Crianças e Escola
p.157
3.2.2.8 Análise Atividade 4 Fita Pais e Crianças
p.160
3.2.2.9 Atividade 5 Apropriação das figuras midiáticas
p.167
3.2.2.10 Análise Atividade 5 Apropriação das figuras midiáticas
p.178
3.3.3 Considerões Fase 3
p.184
CONCLUSÃO p.188
REFERÊNCIAS p.189
APÊNDICES p.192
APÊNDICE A Programas da TV Aberta categorizados por gêneros
p.193
APÊNDICE B Termo de Permissão
p.194
APÊNDICE C: Às Professores e Auxiliares
p.196
APÊNDICE D Questionários Originais
p.197
APÊNDICE D1 Questionário Professoras
p.198
APÊNDICE E Carta de Apresentação para o envio do Questionário
Reformulado
p.200
APÊNDICE F Questionário Reformulado p.201
APÊNDICE G: Relato da Atividade 1 para as professoras, auxiliar e diretora O
que é a TV para as crianças?
p.203
APÊNDICE H: Atividade 2 VHS Pais p.204
APÊNDICE I: Relato da Atividade 2 VHS Pais p.205
APÊNDICE J: Atividade 3 VHS Crianças p.206
APÊNDICE K: Relato atividade 3 VHS Crianças p.207
APÊNDICE L: Atividade 4 escolha das crianças + escolha pais p.208
APÊNDICE M: Relato da Atividade 4 escolha das crianças + escolha pais p.209
APÊNDICE N: Atividade 5 Apropriação das figuras midiáticas p.210
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Introdução
A verdadeira viagem do descobrimento não consiste em buscar novas paisagens, mas
novos olhares. (Marcel Proust Em busca do tempo perdido)
O receptor - criança é o ponto de partida para a construção teórica e para a seleção dos
conceitos que permeiam esse trabalho. O que se busca é a abertura das possibilidades de
explorões teóricas que, por uma série de operões metodológicas, promova relões lógicas
entre a comunicação e o social. Os modelos teóricos Usos Sociais dos Meios, Consumo
Cultural e Mediões Múltiplas ajudam a delimitar o campo de investigação da recepção
infantil. Ao (re) construir pela etnografia, o contexto desse receptor pode-se categorizar ou integrar
um campo de conhecimento passível de análise.
Os objetivos específicos da pesquisa relacionam-se ao lugar da escuta, ocupado pela
pesquisadora, que se opõe à concepção de receptor passivo infantil. A imersão no cotidiano das
crianças foi possível pelo uso da etnografia realizada para a coleta dos dados. A importância dada
aos discursos das crianças possibilitou: 1) coletar as opiniões sobre os programas televisivos
favoritos; 2) captar a expressão das crianças; 3) observar as manifestões do processo
comunicativo, base do desenvolvimento da pesquisa.
A opção pela articulação dos modelos teóricos resulta da identificação de como o
receptor é pensado, não mais como passivo, mas como produtor de cultura e de práticas cotidianas,
tendo a dia como parte mediadora de processos culturais. A trama teórica estabelecida entre a
metodologia que articula a teoria e a empiria está baseada nas teorias do Uso Social dos Meios
(MARTIN-BARBERO), do Consumo Cultural (CANCLINI), e das Múltiplas Mediões
(OROZCO). Trabalhar com essas perspectivas sobre mediões é respeitar as especificidades de
cada receptor-criança e entender como esse converge no processo de comunicação, isto é, na
produção do sentido. Privilegiou-se aqui a conexão entre a comunicação e a cultura, a partir da qual
se pode explorar a experiência das crianças, relacionando-a diretamente ao meio TV.
O conceito de cultura, que perpassa esses modelos teóricos, figura como organizador
das interpretações, modelo de leitura a ser seguido e o registro do real, do simbólico e do imaginário
dessas crianças. A cultura é, portanto, o espo formado nas práticas do cotidiano, passível de
observação e reconhecimento por parte das ões desses atores sociais. Ela constitui os códigos, as
marcas, os valores e os comportamentos compartilhados que distinguem um grupo do outro. O
conhecimento adquirido na relação com o Outro é a relação social que comporta esse sistema
simbólico, que é a cultura.
Geertz (1989) entende a cultura como um sistema simbólico estruturado, que funciona
como uma espécie de programa de sociabilização, determinando por meio de símbolos, as ões
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sociais. Cada sistema simbólico possui especificidade, o que significa dizer culturas distintas. Para
Geertz, o estudo da cultura deve ser a interpretação de símbolos em seu contexto específico.
Deve-se compreender que as formas de apropriação (recepção) de símbolos não se dão
de modo previsível ou simplista, como estímulo e resposta. No processo de recepção, algumas
variáveis devem ser consideradas, a exemplo das próprias experiências individuais que o receptor
teve anteriormente com os símbolos. São essas experiências que dão sentido ao símbolo, que será
utilizado em outros contextos, conforme o sentido estabelecido pelo receptor. Esse processo é o que
Martin-Barbero denomina mediação.
No processo de mediação há que se reconhecer a interferência de outras instâncias
sociais, como a família, a escola e a TV, que compõem discursos específicos que caracterizam seu
respectivo campo mediador. Fala-se então em múltiplos discursos que se entrecruzam no cotidiano,
oferecendo um amplo campo interpretativo. Portanto, é no cotidiano que se observa a mediação e os
múltiplos discursos que a compõem. E é justamente nesse espo que se insere a presente pesquisa.
Como metaforiza Vizer (2006), a comunicação constitui-se em uma caixa de
ferramenta, de origem multidisciplinar. Pela comunicação, pode-se verificar o funcionamento do
discurso, a partir da cultura, os significados coletivos, institucionais e interpessoais, a relação entre
mundo objetivo e sua intersubjetividade, as mediações introduzidas pelas tecnologias da informação
e suas conseências para o social, a constituição das instituições e as identidades.
La creación y delimitación conceptual de ese conjunto permite comenzar a analizar las
relaciones lógicas que lo articulan, pomerlas a prueba, permutalas, someterlas a analise
detenido de las proposiciones y expectativas que lo constituyen como un conjunto o sistema
complejo (…) Finalmente, el investigador intenta recrear un sentido, una interpretación
coherente, un orden en el caos que permita poner el conjunto probletico en discurso en
los términos de un lenguaje y un orden simlico (ya sean un lenguaje natural, ya en uno
artificial, matemático o no), y en lo posible sujeto a la observación, a un tratamiento
experencial directo o indirecto (no a la siempre conflictiva experenciación cienfica, sino a la
posibilidad y condiciones de la experiencia. (VIZER, 2006, p.118)
Segundo o pressuposto da mediação, o receptor-criança não se constitui mais um
elemento passivo do processo comunicacional, mas um produtor de cultura e de práticas cotidianas,
uma vez que seu repertório simbólico é apropriado e com significado em outras instituições
mediadoras. Para sistematizar o processo de recepção e a análise de produção de sentido, deve-se
considerar a prática discursiva da criança, que somente em alguns casos constitui reprodução do
sentido midiático.
Esse conjunto teórico-metodológico está ligado pela articulação conceitual que
direciona a pesquisa, em busca de solucionar os problemas propostos em seu estudo e de capturar o
olhar da criança de forma sistemática, conforme o aporte escolhido de recepção.
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De acordo com França (2002) e Sodré (2003), percebe-se uma mudança paradigmática
no conhecimento científico do campo da comunicação. Dentro do que se indica como velho
paradigma”, ou seja, a transmissão de informação de um pólo para outro, a preocupação central gira
em torno do valor da informação. Nesse caso, a mensagem é relacionada ao próprio contexto em
que se dá a comunicação, sem considerar a importância e a atividade dos sujeitos sociais. A rigidez
que distanciava o sujeito e o objeto de conhecimento foi superada por uma nova concepção do
campo teórico emergente, o que requer um novo sistema e um novo paradigma organizador, que
direcionam a apreensão e o tratamento das teorias, uma vez que o paradigma é que conduz a
apreensão de conhecimento e que, nesse caso, se desloca para a diversidade processual da
comunicação.
Os questionamentos apontados por França (2002) sobre as referências que delimitam o
campo são respondidas da seguinte forma: Qual a especificidade? O processo comunicacional
chamado mediação; Quem são nossos autores? os agentes da comunicação (MARTIN-
BARBERO, HALL, CANCLINI E OROZCO) que lidam com a recepção e mediação; Quais são
nossos conceitos? a mediação e a recepção.
As formões teóricas de campo e objeto constituem a base do estudo e do recorte de
princípios teóricos e metodológicos, cujo aporte teórico é a recepção como perspectiva de
investigação, articulado com a etnografia, que é a busca dos vários olhares da criança e a
compreensão das mediões que cercam esse campo. Portanto, a tensão estabelecida entre a
metodologia que articula a teoria e a empiria está baseada nas teorias do Uso Social dos Meios
(MARTIN-BARBERO); do Consumo Cultural (CANCLINI) e das Múltiplas Mediões
(OROZCO).
A etnografia é aqui utilizada como ferramenta para a coleta de dados. É a partir dela que
se pode observar as condições concretas de existência cultural e os processos de negociões
simbólicas que incidem na vida cotidiana da criança a ser pesquisada. A descrição densa
1
e a
combinação convergente de métodos”
2
abrem a perspectiva de uma pesquisa de recepção que
respeita a singularidade da criança e seu contexto sociocultural.
As descrições etnográficas têm sido extremamente úteis em demonstrar que os receptores não
são uns dopados culturais, mas, sim, pessoas que extraem sentidos específicos de textos,
gêneros e meios, a simples reiteração da comprovação dessa hipótese central não garante o
avanço teórico desse estudo. (LOPES et all, 2002, p.31)
Ao eleger, em primeiro plano, a captura dos olhares da criança sobre a TV, trabalha-se
com as mediões, para demonstrar que cada criança, sujeito-receptor, com sua especificidade,
1
Proposta por GEERTZ, 1989
2
Expressão usada por LOPES et all (2002) par definir o uso dos multimétodos, uma adequação de operacionalização
das propostas e hipóteses teóricas das mediações.
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participa do processo comunicacional e converge no momento da recepção. Tem-se, como enfoque,
a produção de sentido e não sua mera reprodução.
A partir da concepção de mediação de Martin-Barbero, que se desdobra
operacionalmente nas Múltiplas Mediões, categorizadas por Orozco, o modelo das
multimediões parte da noção de mediação delineada por Martin-Barbero, aterrizando-a no plano
empírico, isto é, oferecendo estratégias de operacionalização de distintas mediões (JACKS e
ESCOSTEGUY, 2005, p. 70-71)
A teoria das Múltiplas Mediões pretende dar conta de questões mais gerais.
Segundo Orozco (2000), o receptor é encarado como um sujeito histórico, contextualizado
socioeconomicamente de forma particular. Para ele, a recepção deve contemplar as condições
estruturais da sociedade, da cultura e do sujeito. Considera as questões comunicacionais como as
particularidades interativas dos sujeitos-receptores em relação à TV, pressupondo, portanto, que
elementos culturais e situacionais estão dentro do processo de recepção (OROZCO, 2001).
Orozco concentra-se nas fontes de mediação, fazendo a seguinte pergunta: Como se
realiza a interação entre a TV e o receptor? Considera a situação, tanto do indivíduo quanto do
coletivo, ao expandir as três mediões originais de Martin-Barbero (cotidianidade familiar,
temporalidade social e competência cultural) em cinco categorias de mediões: Cogniscitiva,
Estrutural, Situacional, Institucional e Videotécnica. A recepção, dessa forma, seria o processo
resultante da interação receptor, TV e mediação, o que extrapola o ato de ver TV.
A criança está inserida social e culturalmente, por isso leva-se em conta os vários
aspectos do momento da recepção e os processos de apropriação e interpretação que elas fazem das
mensagens, através das múltiplas mediões. Essa articulação teórica possibilitou uma pesquisa
empírica mais compreensiva sobre o tema criança e TV.
A análise das condições sociais de produção do discurso do receptor-criança demonstra
a estrutura e o funcionamento do campo das mediões, que é o lugar em que essa pesquisa se
propôs a experimentar as proposições teóricas e empíricas (observacionais). Portanto, ao definir o
campo como o cotidiano, possibilita-se novas formas de analisar a criança, o seu contexto e o modo
como ela concebe essa dia (TV).
A combinação dessas aproximações teóricas (Uso Social dos Meios; Consumo
Cultural e Mediação Múltipla”) deve responder respectivamente as questões: O que se faz com o
que se assiste na TV? O consumo serve para pensar a recepção? E, por fim, Como se dão as
interconexões realizadas pelo receptor-criança e a TV? Dentro dessa articulação, nada é tratado
como um fenômeno isolado, mas como um processo social em curso no cotidiano.
A estruturão do trabalho está dividida em momentos distintos, ou melhor, em
capítulos:
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O Capítulo 1 dedica-se a responder sobre qual a concepção teórica em que a pesquisa se
apoiou para analisar as relões estabelecidas entre o receptor-criança e a TV. Assim, os conceitos,
categorias e processos que essa trama conceitual traz para a elucidação do problema da recepção
infantil.
O segundo momento, isto é, o Capítulo 2, procura entender como se caracteriza o
receptor-criança e qual a problemática que o envolve. Para produzir essa reflexão crítica, foi
necessário definir o que é a categoria criança, a fim de desenvolver as considerões teóricas sobre
o vínculo estabelecido com a TV e de articular as diretrizes que norteiam a pesquisa e o recorte
investigativo (etnografia).
O Capítulo 3 lida com a desconstrução da realidade e do espo simbólico infantil, pela
narrativa da pesquisa etnográfica realizada, o que possibilitou a exploração dos contextos
comunicacionais em que ocorre a recepção da TV. Trata-se da pesquisa de campo propriamente dita
com suas fases, objetivos, metodologias e resultados obtidos em cada uma delas, como vem
relacionado a seguir: Fase 1 - Sondagem: amostra inicial do trabalho, reconhecimento do local e
primeira experimentação prática da pesquisa; Fase 2- Mapeamento do Consumo Midiático: a
observação e contato direto com as crianças do CCI; e Fase 3 - Oficinas Temáticas: procedimentos
de interação e intervenção com crianças durante o ato de ver TV.
Para a conclusão da pesquisa, explorou-se como os referenciais teóricos se entrecruzam
para formar uma resposta ao problema investigado assim como, para oferecer alguns apontamentos
e reflexões para dar continuidade, no futuro, a trabalhos como esse.
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1. Buscando a Teoria: estudos de recepção
A insuficiência de estudos sobre a questão TV e criança
3
é o agente motivador dessa
pesquisa. O propósito de fazer uma pesquisa exploratória multimetodológica é investigar a
perspectiva da criança, os seus vários olhares e abrir a possibilidade de entendimento da recepção
desses sujeitos. Percebeu-se, pela revisão bibliográfica, que a maioria dos trabalhos direcionados à
questão TV e criança tinha variáveis estáticas e corpus delimitados, antes do contato com os
sujeitos, em caso de contato real (empírico) com o universo infantil, o que impossibilita o trabalho
com a polissemia da criança em relação à TV. Questionários e entrevistas direcionadas não
possibilitam a expressão espontânea e lúdica da criança, deixando de lado importantes informões
a serem trabalhadas.
A preocupação dos efeitos da cultura e o uso que o público faz das produções culturais
constituem a base para a análise da mediação. Essa preocupação inaugura a fase de descoberta do
receptor não mais como passivo, mas como participante do processo social. A teoria da recepção
surge na tentativa de redimensionar e relacionar o papel do sujeito no processo de comunicação.
Para falar em mediação, entretanto, é necessário investigar a recepção, que estabelece,
como eixo principal, a relação entre a cultura contemporânea e a sociedade.
Como as formões culturais, institucionais e as práticas culturais, reconstituem os
grupos sociais ao articular os símbolos da cultura?
Nessa perspectiva, são estudadas as estruturas e os processos através dos quais os meios de
comunicação de massas sustentam e reproduzem a estabilidade social e cultural.
Entretanto, isto não se produz de forma mecânica, senão adaptado continuamente às
pressões e às contradições que emergem da sociedade e englobando-as e integrando-as
no próprio sistema cultural. (ESCOSTEGUY, 2003, p.147)
A citação acima explica a razão do surgimento das questões acerca do papel da cultura,
como instrumento para reconstituir a concepção do receptor e o modo como os discursos midiáticos
operam na articulação do imaginário e do cotidiano. O estudo da recepção reconhece a existência de
ação social, o sujeito inserido em especificidades e particularidades culturais, cujas ões serão
articuladas numa conjuntura social e histórica determinada.
A cultura deve ser estudada dentro das relões e sistemas sociais que a produzem, o
que significa conceber o discurso dentro de seu contexto. A comunicação, nesse caso, analisada a
partir da recepção, vem explicitar esse processo mais amplo e abrangente, em que circulam
3
Fez-se um levantamento nos bancos de teses e dissertações online de todos os programas de pós-graduação em
Comunicação no Brasil, em novembro de 2006. Chegou-se ao resultado de 36 trabalhos que enfocam a criança e desses,
três dissertações de mestrado tiveram como tema a recepção infantil. São elas: Como a criança entende o que vê na
TV - Doris Fagundes Haussen, ECA/USP (1988); A quina dos sonhos: imaginário e cotidiano de dois grupos de
crianças espectadoras de televisão (estudos de caso) - Dalys Esther Dixon Silveira, UMESP (1993), Comunicação
Televisual e Experiência Estéticas das Crianças: o vídeo em queso - Alexandre Silva dos Santos Filho, UFBA, 2002
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múltiplos sentidos, expressões de modos de vida diferenciados e manifestões culturais diferentes
que se entrecruzam. Busca-se nesse movimento, o entendimento da cultura como fenômeno
concreto-subjetivo da realidade, na qual o sujeito-criança está inserido.
Portanto, é nessa perspectiva de investigação que se concebe a recepção, ora como
tentativa de superar impasses que se apresentam pela fragmentação teórica do campo, ora para
apontar o processo redutor que anteriormente concebia a recepção. Reconhece-se, em contrapartida,
a malha de interões recíprocas entre a produção, o produto e a recepção.
Nessa perspectiva, o produto e a recepção são articulados por uma trama do cotidiano
(usos/consumos/práticas) e pela especificidade dos dispositivos tecnológicos e discursivos
(produtos midiáticos) do meio TV. Percebe-se que a mediação está sedimentada nas práticas sociais
e na formação da trama do cotidiano que, ao realizar-se através dessas práticas, traduz-se em
múltiplas mediões.
É a partir dessa premissa que se pode compreender a relação entre os componentes do
processo de comunicação: receptor, meio, mensagem e emissor. Esses não interagem de forma
simples, previsível e linear, mas toda essa trama é mediada, desdobrando sentido apenas quando
articulada. Tal procedimento, entretanto, deve ser observado dentro do contexto específico do
receptor.
E isso é instigante porque desafia as possibilidades interpretativas do conhecimento disponível,
sendo visto como criativo e propostitivo e não apenas como uma apropriação de conteúdos
produzidos em outros contextos e objetivos. Seria uma forma nova de expressão da
necessidade de pertencimento histórico a espos de realização da vida e de sua compreensão.
(SOUSA, 2000, p.88)
Jesus Martin-Barbero, Néstor García Canclini, Stuart Hall e Guilhermo Orozco, são
alguns dos teóricos que enfatizam a recepção a partir de uma perspectiva mais complexa do
processo comunicacional.
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1.1 Martin-Barbero: deslocamento dos meios às mediações
A teoria das mediões de Martin-Barbero, explicitada em Dos meios às mediações
(2003), possibilita uma nova construção paradigmática, pois trata-se de estratégias metodológicas
para lidar com as seguintes questões: a) redescrever as relações dos homens e as tecnologias de
comunicação, com a atenção voltada para o processo de troca, ão partilhada e interação; b) levar
em conta desde a prática concreta e as transformações passíveis de observação no cotidiano, até as
marcas da produção de sentido midiático, dos sujeitos envolvidos e de seus contextos; c) viabilizar a
compreensão e a descrição densa das mutões socioculturais mediadas pela mídia e pela cultura.
Nesse sentido, deve ser observada a apreensão de sentido que se manifesta singularmente no
cotidiano e no contexto sociocultural do sujeito. Essas manifestões dizem muito sobre a visão de
mundo do sujeito, suas concepções, seu olhar...
Martin-Barbero, especificamente em Usos Sociais dos Meios, por meio de uma
construção teórica, tenta investigar o que fazem as pessoas quando vêem televisão, escutam rádio
ou lêem jornal. Tais indagões devem construir um universo de hipóteses, não na perspectiva de
uma solução pronta de antemão (que numa dimensão ideológica se traduziria por alienação), mas no
sentido de inserir novas problemáticas: o que o sujeito faz com a informação? como a usa para a sua
vida diária? Ao proceder dessa maneira, Martin-Barbero amplia o escopo das investigões da
recepção.
Para lidar com o problema da recepção e da mediação, o pesquisador deve partir para
uma abordagem ampla e múltipla. Esse entendimento vem de uma concepção do processo
comunicativo, a partir de suas interfaces com o cotidiano, com o vivido, com a memória e as
práticas sociais das diferentes culturas existentes na contemporaneidade.
A ruptura proposta por Martin-Barbero (2003) vem de um desvio de foco que sempre
esteve voltado para os meios, mas que deve ser redirecionado às mediações, ou seja, deve enfatizar
a importância da recepção como espo mediador. O processo de mediação é o uso social da
comunicação, atravessado por padrões culturais. Essa “carga” configura a leitura/apropriação do
produto midiático pelo sujeito. A mediação é o lugar onde se outorga o sentido, no processo da
comunicação, no entanto, o autor privilegia a cultura como mediador de todo o processo de
produção comunicativa.
Por isso, em vez de fazer a pesquisa partir da análise das lógicas de produção e recepção, para
depois procurar suas relações de imbricação ou enfrentamento, propomos partir das mediações,
isto é, dos lugares doas quais provêm as construções que delimitam e configuram a
materialidade social e a expressividade cultural da televisão. À guisa de hipótese, recolhendo e
dando forma a uma série de procuras convergentes, embora muitas delas não tenham como
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objeto a televisão, propõem-se três lugares de medião: a cotidianidade familiar, a
temporalidade social e a competência cultural. (MARTIN-BARBERO, 2003, p. 304)
A primeira mediação enfatizada pelo autor é a cotidianidade familiar, por entender que a
falia é a unidade básica de audiência e que por isso ela representa uma situação primordial de
reconhecimento. Não se pode entender uma realidade sem interrogar a cotidianidade familiar como
um lugar social em que se desenvolvem relações estreitas e próximas, presentes também no
discurso televisivo. Na TV, observa-se o fenômeno da imediatez”, uma das características comuns
no cotidiano. Outra característica, presente também no cotidiano, é fazer a TV dar forma a uma
cotidianidade familiar.
Contudo, a mediação que a cotidianidade familiar cumpre na configuração da televisão não se
limita ao que pode ser examinado do âmbito da recepção, por inscreve suas marcas no próprio
discurso televisivo. Da família como espaço das relações estreitas e da proximidade, a televisão
assume e forja os dispositivos fundamentais: a simulação do contato e a retórica do direito. (...)
E a necessidade, eno, de intermediários que facilitem o trânsito entre a realidade cotidiana e o
especulo ficcional. (...) Diante desse espaço, fascinante e portanto distanciador, o espaço da
televisão é dominado pela magia do ver: por uma proximidade construída mediante uma
montagem que não é expressiva, e sim funcional, sustentada na base da gravação ao vivo,
real ou simulada. Na televisão, a visão predominante é aquela que produz a sensação de
imediatez, que é um dos traços que não forma ao cotidiano. (...) Proximidade dos personagens
e dos acontecimentos: um discurso que familiariza tudo, torna mais próximo até que houver
de mais remoto e assim se faz incapaz de enfrentar os preconceitos mais familiares. Um
discurso que produz seus efeitos a partir da mesma forma com que organiza as imagens: do
jeito que permitir maior transparência, ou seja, em termos de simplicidade, clareza e economia
narrativa. A marca da hegemonia trabalha aí, nessa forma, na construção de uma interpelação
que fala Às pessoas a partir dos dispositivos que dão forma a uma cotidianidade familiar, que
não é apenas subproduto da pobreza e das artimanhas da ideologia, mas também espaço de
algumas formas de relação primordial e de algumas vivências que não são menos fundamentais
só por serem ambíguas. (MARTIN BARBERO, 2003, p. 305-307)
A segunda mediação postulada pelo autor é a temporalidade social, que compõe a matriz
cultural do tempo e é caracterizada pela repetição e fragmentação da TV. A partir de cada programa
ou texto televisivo, faz-se visível uma lógica de continuidade e descontinuidade do tempo em que se
dá a narrativa e o que é narrado. É isso que faz o social ter um sentido de narrativa e uma seência.
O tempo possui significado enquanto preenchimento de determinado dia e horário: cria-se, assim, a
ritualização televisiva.
A terceira e última mediação é a competência cultural. Nessa, a dinâmica cultural da TV
atua por seus gêneros, dando conta das diferenças sociais ao articular as lógicas do sistema
produtivo e os sistemas de consumo, através do formato, os modos de ler e os usos.
Talvez em nenhum outro lugar o contraditório significado massivo se faça o expcito e
desafiante quanto na televisão: a junção possivelmente inextricável daquilo que nele é
desativação de diferenças sociais e, portanto, integração ideológica, e daquilo que ele tem de
presença de uma matriz cultural de um sensorium que às elites produz asco. (MARTIN
BARBERO, 2003, p.309)
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Martin-Barbero (2003) entende a recepção a partir de um outro lugar do processo
comunicativo, o espo das práticas culturais. Reconhecer o receptor no estudo do processo
comunicacional é apenas o ponto de partida das análises, pois o que de fato se busca é inserir-se nas
práticas culturais desses receptores, à medida que os sentidos se dão na circularidade social dos
significados. A recepção ajuda a compreender o que se passa no processo comunicacional e como a
comunicação adquire valor, ao tornar-se conhecimento para o sujeito-receptor.
A técnica para investigar a recepção, proposta por Martin-Barbero, vem do lugar de
observação e conceituação epistemológica. Busca-se, nas tramas do cotidiano, o entendimento para
a formação do olhar. A recepção, dentro da concepção do Uso Social dos Meios, observa seu
objeto, muita além da análise quantitativa da audiência (Análise de Audiência) e do conteúdo
(Análise de Conteúdo), de onde se desprende a pergunta: O que os receptores fazem com os
conteúdos massivos na relação com suas práticas cotidianas?”
Para elaborar as lógicas (no plural) dos usos devemos comar diferenciando nossa proposta
daquela análise denominada dos usos e gratificações, uma vez que estamos tratando de
retirar o estudo da recepção do espaço limitado por uma comunicação pensada em termos de
mensagens que circulam, de efeitos e reações, para re-situar sua problemática no campo da
cultura: dos conflitos articulados pela cultura, das mestagens que a tecem e dos I que as
sustentam, e por fim do modo com que a hegemonia trabalha e as resistências que ela mobiliza,
do resgate, por tanto, dos modos de apropriação e réplica das classes subalternas. Já, contudo,
tentativas de repensar a partir da comunicação o espo da recepção, mas re-situando-o no
terreno dos desafios levantados pela transformação tecnológica à democratização da sociedade.
A proposta de uma tipologia com base na noção de âmbito da recepção, que permite pensar os
distintos tipos de competência comunicativa enquanto ativão ou freio da participação social,
queso fundamental para uma potica democrática dos meios, e que não consiste apenas na
democratização de seu controle, mas também na democratização de seu uso. (MARTIN-
BARBERO, 2003, p.312)
O receptor torna-se, nessa concepção, produtor e consumidor midiático de uma
categoria de análise. Considerando as diferentes temporalidades e as pluralidades de matrizes
culturais, isto é, o surgimento de novas identidades e novos sujeitos sociais, através das tecnologias
de comunicação, entende-se que a comunicação deva partir (...) da cultura e atravessar sua
proposta de investigação de uma aproximação antropológica, pois o cotidiano tem valor histórico
para compreender a sociedade. (JACKS e ESCOSTEGUY, 2005, p.66)
A produção da teoria sobre os estudos de recepção parte da perspectiva da comunicação,
como campo onde atuam emissores e receptores, ambos enunciadores/enunciatários, em um
processo de dar sentido, ou significação ao mundo. Isso requer uma visão multidisciplinar na
abordagem em campo.
As mediações são esse lugar de onde é possível compreender a interação entre o espo da
produção e da recepção: o que se produz na televisão não responde unicamente a requerimento
do sistema industrial e a estratagemas comerciais mas também a exigência que vêm da trama
cultural e dos modos de ver. (MARTIN-BARBERO e MUNHOZ, 1992 apud LOPES, 2002, p.
24)
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Partindo do pressuposto de que a mediação é o lugar onde o sentido é produzido,
configura-se a materialidade cultural e a expressividade cultural da TV. A mediação no processo de
recepção é estruturante e configura e reconfigura tanto a interação dos telespectadores como a
criação de sentido.
Lopes (2002) atribui a Martin-Barbero um duplo mérito:
O primeiro é o de ter exposto o determinismo mediático ou o mediacentrismo a que os estudos
de comunicação estavam confinados, o que não quer dizer que o meio (medium) não tenha
importância, antes pelo contrário, a cultura como perspectiva de alise permite perceber os
meios em sua real e multifacetada imporncia. O segundo mérito é o de ter descentralizado e
pluralizado teoricamente a análise da comunicação, inserindo-a na ordem das práticas culturais.
(p.43)
1.2 O consumo serve para pensar: Canclini e Hall
A incorporação da teoria do Consumo Cultural fundamenta-se na concepção
sociocultural de comunicação e recepção de bens simbólicos. Baseia-se na hipótese de que o
receptor não consome apenas os programas televisivos, mas a complexidade do cotidiano, o espo
do sujeito-criança e a interatividade dele com a TV.
(...) essa perspectiva não se constitui propriamente numa corrente, mas apresenta como uma
formulação para analisar de forma mais inclusiva o processo de consumo, em especial o
cultural, que passa a ser visto como espo fundamental na constituição das identidades
culturais das diferentes classes sociais. (JACKS e ESCOSTEGUY, 2005, p.60)
O modelo teórico Consumo Cultural, o qual faz parte Canclini e Hall, não tem uma
proposta muito detalhada metodológica e instrumentalmente, segundo Orozco (1993). Entretanto,
esse modelo conceitua e elabora um entendimento da recepção e da interação com a cultura em
geral, como bens culturais, como produtos materiais e produtos simbólicos, conduzindo a uma
aproximação do conteúdo e do processo de comunicação.
A produção culturalista latina, por parte de Canclini, tem se dedicado aos processos de
luta pela hegemonia, a partir da cultura popular, apresentada pelo conceito de culturas híbridas”
4
.
A hibridização é vista como processo criativo do contato entre antigos e novos padrões, resultado
desse contato genuinamente novo. O popular não deve ser visto como espo de manutenção de
uma memória passadista e sim como local de constante elaboração, visto que o importante não é o
que se extingue, mas o que é possível criar e transformar, tendo por referencial antigos padrões. A
reflexão que emerge é a noção do espo popular como instância capaz de criar, de se apropriar e
4
Conceito que não adquire sentido se teorizado isoladamente, somente articulado a um sentido maior, isto é, nos
diversos tipos de identidade distintamente novas produzidas na era a modernidade tardia pela fusão de culturas.
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produzir significado com base em experiências individuais, que, por sua vez, carregam as marcas
dos grupos do qual fizeram parte e do local onde viveram.
O cenário apresentado por Canclini (1999) figura nas novas tecnologias que alteram os
padrões da vida cotidiana e reestruturam poderosamente o trabalho e o lazer. O autor aponta as
seguintes mudanças socioculturais para um novo cenário: o rendimento das instituições e dos
circuitos de exercício do público, com o nacional passando a transacional; a reformulação dos
padrões de assentamento e convivência urbana; a reelaboração do próprio, devido ao predonio
dos bens e mensagens; a redefinição do senso de pertencimento e identidade, e, por fim, o cidadão
interessado em desfrutar certa qualidade de vida. Os processos socioculturais que subjazem esse
cenário propiciam poderosas formas de poder social, por meio de técnicas mais eficientes e sutis, o
que as torna ambíguas e com efeitos divergentes.
Para Canclini, os focos e conceitos da sociologia clássica devem ser revisados e
modificados. É o caso do conceito crítico de classe, deslocado para as questões de identidade e
subjetividade. Outra idéia é a noção das identidades, que não devem ser tomadas de forma
essencialista, mas como captura das experiências. Por tais enfoques é que se realizam as
investigações sobre as audiências.
Esses estudos, todavia, ganham destaque com o modelo analítico de Stuart Hall (2003),
por deslocar o foco do texto para o receptor. No ensaio Codificação Decodificação, Hall revela o
processo de comunicação televisiva em quatro momentos distintos: Produção, Circulação,
Distribuição/Consumo e Reprodução. A produção e o consumo têm uma relação estreita e é preciso
saber analiticamente por que eles se diferem, antes de fazer a sua articulação. Reconhecer a
diferença de cada um dos pontos é admitir que o modelo esteja tentando pensar os circuitos de
comunicação como uma totalidade completa e sobredeterminada. (HALL, 2003, p.360)
O processo, dessa maneira, requer, ao lado da produção, seus instrumentos materiais seus
meios bem como seus próprios conjuntos de relações sociais (de produção) a organização
e combinação de práticas dentro dos aparatos de comunicação. Mas é sob a forma discursiva
que a circulação do produto se realiza, bem como sua distribuição para diferentes audiências.
Uma vez concluído, o discurso deve eno ser traduzido transformado de novo em práticas
sociais, para que o circuito ao mesmo tempo se complete e produza efeitos. Se nenhum
sentido é apreendido, não pode haver consumo. Se o sentido não é articulado em prática,
ele não tem efeito. O valor dessa abordagem é que, enquanto cada um dos momentos, em
articulação, é necessário ao circuito como um todo, nenhum momento consegue garantir
inteiramente o próximo, com o qual es articulado. Já que cada momento tem sua própria
modalidade e condições de existência, cada um pode constituir sua própria ruptura ou
interrupção da passagem das formas de cuja continuidade o fluxo de produção efetiva (isto é,
a reprodução) depende. Assim, embora de modo algum se queira restringir a pesquisa “a
seguir apenas aquelas pistas que emergem das análises de conteúdo, devemos reconhecer que
a forma discursiva da mensagem tem uma posição privilegiada na troca comunicativa (do
ponto de vista da circulação) e que os momentos de “codificação e decodificação, embora
relativamente autônomos em relação ao processo comunicativo como um todo, são
momentos determinados. (HALL, 2003, p. 388)
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O contexto teórico-metodológico em que o ensaio foi concebido é de donio
positivista, na análise do conteúdo. Nesse momento, a noção vigente era de que o conteúdo é
perfeitamente claro e unilateral e que o receptor simplesmente pode ou não entendê-lo.
A primeira proposição adotada por Hall (2003) compreende a mensagem como estrutura
complexa e disso ele depreende que a recepção não pode ser transparente. O sentido é
multireferencial, não fixo e não pode, desse modo, ter uma lógica global para decifrar as
mensagens. O processo de leitura, para ele, transforma os significados e “cada ato de significação
transforma o estado efetivo de todas as significões já existentes (IDEM, 2003, p.362). Por isso, o
autor contesta a noção de reprodução como repetição, enquanto momento particular de produção
simbólica, reproduzindo o universo ideológico maior.
As significões em geral e as práticas significantes específicas acontecem dentro das
instituições de comunicação, pela leitura preferencial, que é o caminho apontado pelo texto
televisivo. Entretanto, pelo ato de decodificar, nem sempre o efeito é o desejado. A intenção da
leitura completa (perfeitamente hegemônica), isto é, a audiência passiva, entendendo
completamente a mensagem, é o poder almejado pelos meios de comunicação.
O texto tem significantes indicativos que tentam imprimir sentido, dentro da própria
mensagem, para serem decodificados de uma determinada forma. Observa-se que a codificação é o
momento da produção, é a consideração da imagem que o meio faz do receptor e também dos
códigos profissionais dos produtores. Já a decodificação é o momento do consumo/recepção, de
como o código ou a mensagem são entendidos pelo receptor.
A análise de Hall contempla três estratégias básicas de leitura/recepção: dominante, quando o
sentido da mensagem é decodificado segundo as referências de sua construção; oposicional,
quando o receptor entende a proposta dominante da mensagem, mas interpreta seguindo uma
estrutura de referência alternativa, isto é, outra visão de mundo; negociada, quando o sentido
da mensagem entra em negociação com as condições particulares dos receptores, compondo-
se de um misto de lógicas contraditórias que contém tanto os valores dominantes quanto
argumentos de refutação. (ESCOSTEGUY e JACKS, 2005, p.40).
Da combinação da análise de texto com a pesquisa de audiência surgem novas
modalidades de análise dos meios de comunicação. A recepção é o foco da crítica, pois há uma
subvalorização das estratégias de poder dos meios e/ou desconsideração dos limites que o próprio
texto impõe. Essa nova área de procedimento investigativo, denominada de etnografia da audiência,
é ainda muito pouco explorada nas pesquisas de recepção.
Uma das implicões do modelo teórico Consumo Cultural é o lugar da formação da
identidade. Segundo Canclini (1999), existe um movimento de dissolução das monoidentidades,
provindo da metrópole que, ao criar padrões de uniformidades, remodela hábitos locais e os
subordina a estilos modernos. É a homogeneização do consumo e da sociabilidade, propiciada
pelo formato comum com que esses serviços se organizam no trabalhar, vestir-se e distrair-se.
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O pensamento de Hall (2000) sobre as identidades acrescenta novos problemas ao
processo de recepção. Ele postula o surgimento de novas identidades que fragmentam o indivíduo
moderno, a partir de uma crise das identidades, pelas tendências demasiadamente recentes e
ambíguas. Desse fenômeno social, todavia, ele não oferece afirmões conclusivas ou julgamentos
seguros.
Segundo Hall (2000a), para se pensar na identidade do sujeito moderno é preciso
compreender as concepções de sujeito, que até hoje sofreu uma série de rupturas. Ele apresenta
cinco pensadores, cujas teorias sociais contribuíram não apenas para o avanço das ciências
humanas, mas sobretudo para o fundamento de um indivíduo constituído por sua prática social. São
eles: 1º Karl Marx e seu anti-humanismo teórico; 2º Sigmund Freud e a descoberta do inconsciente;
3º Ferdinand Saussure e a afirmação que a ngua é um sistema social; 4º Michel Foucault e a
genealogia do sujeito moderno; e 5º o feminismo, tanto como crítica teórica como movimento
social.
Desses cinco indicativos, a opção, nessa pesquisa, foi centrar-se no aprofundamento do
diálogo entre Foucault e Freud, para pensar no sujeito criança e na produção dos discursos. Cada
um desses pensadores traz, à cena, perspectivas para se pensar na questão do poder, uma vez que
para lidar com criança e o desenvolvimento psicossocial utiliza-se Freud. Já a justificativa para
Foucault são seus questionamentos sobre o poder e o discurso, que também são focos de
investigação na presente pesquisa.
Os dois autores convergem com as inferências feitas por Canclini (1999), a partir das
três concepções de identidades estabelecidas por Hall (2003): sujeito do iluminismo, sujeito
sociológico e sujeito pós-moderno. Aqui interessa o sujeito pós-moderno, aquele que assume
identidades diferentes em momentos diferentes, identidades que não são configuradas ao redor de
um eu coerente. A identidade unificada é uma fantasia, pois as significões e representões
culturais se multiplicam, confrontando multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades
possíveis.
A identidade cultural moderna, para Hall (2003), é formada através do pertencimento a
uma cultura nacional, que tem sido amplamente deslocada pelo processo de mudança geral
imposta pela globalização. Dessa forma, as definições de identidade ficam contestadas no cotidiano.
Canclini (1999) endossa essa questão quando define a globalização como a passagem das
identidades modernas ao incômodo pós-moderno. Essa definição vem como questionamento:
Como os indivíduos representam para si mesmos? Como se reconhecem como sujeitos?
Ambos os autores fazem referência a Foucault e seus conceitos de genealogia do sujeito
moderno, poder disciplinar, tecnologias do eu, entre outros. Esses conceitos auxiliam a
compreender e contextualizar o sujeito moderno. Foucault descreve o poder disciplinar como
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tendência das modernas formas de controle social
5
. Ele articula, em obra posterior
6
, o poder
disciplinar como força monolítica plenamente instalada, capaz de correlacionar os campos do saber,
os tipos de normatividade e as formas de subjetividade. Isso o leva a analisar o sujeito, as relões
estabelecidas com o “eu (indivíduo) e como esse se reconhece como sujeito, chave essa da
problemática da identidade colocada por Hall e Canclini.
Um deslocamento teórico pareceu-me necessário para analisar o que freentemente era
designado como progresso dos conhecimentos: ele me levara a interrogar-me sobre as formas
práticas discursivas que articulavam o saber. E foi preciso também um deslocamento teórico
para analisar o que freentemente se descreve como manifestações do poder”: ele me levara
a interrogar-me sobretudo sobre as relações múltiplas, as estratégias abertas e as técnicas
racionais que articulam o exercício dos poderes. Parecia agora que seria preciso empreender
um terceiro deslocamento a fim de analisar o que é designado como o sujeito”; convinha
pesquisar quais são as formas e as modalidades da relão consigo através das quais o
indivíduo se constitui e se reconhece como sujeito. (...) Deve-se entender, com isso, práticas
refletidas e volunrias através das quais os homens não somente se fixam regras de conduta,
como também procuram se transformar, modificar-se em seu ser singular e fazer de sua vida
uma obra que seja portadora de certos valores estéticos e responda a certos valores estéticos e
responda a certos critério de estilo. Essas “artes de existência, essas técnicas de si,
perderam, sem vida, uma certa parte de sua imporncia e de sua autonomia. (FOUCAULT,
2006, p.11-15)
As tecnologias do eu e as estéticas das existências são as estilizações deliberadas da vida
cotidiana, as tecnologias envolvidas, que aparecem mais sob forma de práticas de auto-produção e
de modos específicos de conduta, constituindo o reconhecimento do individuo enquanto sujeito
inserido em uma sociedade. Seriam essas as técnicas que envolvem uma aplicação do poder e do
saber que individualizam ainda mais o sujeito, uma vez que quanto mais coletiva e organizada a
natureza da instituição em que está inserido, maior o isolamento, a vigilância e a individuação do
sujeito
7
.
A queso que fica é se nós também precisamos, por assim dizer, diminuir o fosso entre os dois
domínios, isto é, se precisamos de uma teoria que descreva quais são os mecanismos pelos
mais os indivíduos considerados como sujeitos se identificam (ou não se identificam) com as
posição para as quais são convocados; que descreva a de que forma eles moldam, estilizam
produzem e “exercem” essas posições; que explique por que eles não o fazem completamente,
de uma só vez e por todo o tempo, e por que alguns nunca o fazem, ou eso em um processo
constante, agonístico, de luta com as regras normativas ou regulativas com as quais se
confrontam e pelas quais regulam a si mesmos regulam a si mesmos fazendo-lhes
resistências, negociando-as ou acomodando-as. (...) O que ele [Foucault] produz é uma
fenomenologia discursiva (voltando, assim, talvez, a fontes e influências iniciais, cuja
influência sobre seu trabalho ele próprio, de alguma forma subestimou) e uma genealogia das
tecnologias do eu. (HALL, 2000, p. 126-127)
Hall (2000) e Canclini (1999) teorizam sobre a desserritorialização do nacional, que
afeta a formação da identidade social, pois essa é formada e transformada no interior das
representões. Entendendo o social como um sistema de representões culturais, isto é,
5
FOUCAULT, 1987.
6
FOUCAULT, 2006.
7
FOUCAULT, 1987
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simbolicamente no indivíduo, isso explica o poder do indivíduo de gerar sentimento de identidade e
lealdade.
A formação de uma cultura nacional contribui para criar padrões de alfabetização vernacular
como o meio dominante de comunicação uma toda a nação, criou uma cultura homogênea e
manteve instituições culturais, nacionais, como, por exemplo, um sistema educacional. Dessa e
de outras formas, a cultura nacional se transformou em característica-chave de industrialização
e um dispositivo da modernidade. (HALL, 2000, p. 49-50)
A prática discursiva postulada por Foucault (2005), baseia-se na construção dos sentidos
que influenciam e organizam tanto as ões quanto as concepções do indivíduo em relação a ser
sujeito. É a reconceituação de sujeito pensar sua nova posição, numa tentativa de rearticular a
relação entre sujeitos e práticas discursivas e é ainda a questão da identificação como campo
semântico e a busca pela compreensão no repertório discursivo e psicanalítico, sem restringir-se a
nenhum deles
8
. Tudo isso são indicões de um novo significado, que o termo identificação torna
estratégico e posicional, segundo Hall (2000):
O conceito de identidade aqui desenvolvido não é, portanto, um conceito essencialista, mas um
conceito estratégico e posicional. Isto é, de forma diretamente contrária àquilo que parece ser
sua carreira semântica oficial, essa concepção de identidade não assinala aquele núcleo esvel
do eu que passa, do início ao fim, sem qualquer mudança, por todas as vicissitudes da história.
Essa concepção não tem como referenciais aquele segmento do eu que permanece, sempre e já,
tampouco se refere, se pensamos agora na queso da identidade cultural, àquele “eu coletivo
ou verdadeiro que se esconde dentro de muitos outros eus mais superficiais ou mais artificiais
impostos que um povo, com uma história e uma ancestralidade partilhadas, mantém em
comum. Ou seja, um eu coletivo capaz de estabilizar, fixar ou garantir o pertencimento cultural
ou uma unidade imuvel que se sobree a todas as outras diferenças supostamente
superficiais. Essa concepção aceita que as identidades não são nunca unificadas; que elas são,
na modernidade tardia, cada vez mais fragmentadas e fraturadas; que elas não são nunca,
singulares, mas multiplamente construídas ao longo de discursos, práticas e posições que
podem se cruzar ou ser antagônicas. As identidades eso sujeitas a uma historização radical,
estando constantemente em processo de mudança e transformação. (IDEM, 2000, p.108)
Questiona-se a construção da identidade dentro de uma estrutura de poder e exclusão,
isto é, o ponto de encontro entre discurso e prática. Nessa pesquisa, o processo é visto como
recepção e mediação, a descrição desses pontos e a junção desses com o sujeito e suas estruturas de
significação. Portanto, a observação desse conjunto de práticas e rituais simbólicos indicar como a
prática discursiva incide sobre certos valores e normas de comportamento. Todo o processo é
observável devido ao que acontece na ritualidade de ver TV com as crianças.
Hall (2003) entende a globalização como processo que integra e conecta comunidades e
organiza novas combinões de tempo-espo, tornando o mundo real e a experiência mais
interconectados. A compreensão do espo-tempo passa pela aceleração dos processos globais,
dando a sensação de que o mundo é menor e as distâncias, mais curtas. Portanto, o impacto da
globalização, para o autor, sobre a identidade, é que o tempo e o espo são coordenadas básicas de
8
HALL, 2000, p. 105.
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todos os sistemas de representação e com essas novas relões, haveria uma alteração na forma
como as identidades são localizadas e representadas.
Entender como as identidades se reconstroem, problema proposto por Canclini (1999) e
Hall (2000), é entender como as identidades se apropriam de elementos de várias sociedades,
combinando-os e transformando-os em processo de hibridização intercultural. Que tipo de TV
poderia narrar a heterogeneidade e a coexistência de vários códigos de um mesmo grupo e até
mesmo de um indivíduo? Deve-se levar em conta não apenas os diversos repertórios e mediões,
na reelaboração da identidade, mas os diversos modos que recompõem os desiguais circuitos de
produção, comunicação e apropriação da cultura.
Canclini (1999) pede para que o pesquisador dê atenção à diversificação dos gostos,
cujas bases estéticas justificam a concepção democrática, mas que sofrem deslocamentos de
cenários: de nacionais passam a ser globalizados e, conseentemente, com isso há a transformação
das identidades.
Nas novas identidades se organizam menos em torno dos símbolos históricos-territoriais, os da
memória pátria, do que em torno dos de Hollywood, Televisa ou Benetton. (...) A identidade
passa a ser concebida como o foco de um repertório fragmentado de mini-papéis mais do que
como núcleo de uma hipotética interioridade contida e definida pela família, pelo bairro, pela
cidade, pela nação ou por qualquer um desses enquadramentos em decnio. (IDEM, 1999, p.
63)
Observa-se a importância de ter em foco o contexto no qual a criança se insere, os
hábitos adquiridos e sua cultura. É fundamental também estudar a reestruturação de vínculos entre a
criança e o consumo midiático praticado por ela, pois, para Canclini (1999), o consumo é algo mais
complexo que a relação estabelecida de meios manipuladores e dóceis audiências. Mediadores
como família, bairros, escolas e grupos sociais concebem os vínculos estabelecidos entre aqueles
que emitem as mensagens e aqueles que as recebem como relação e não unicamente como donio.
É possível perceber as interões de colaboração e transação entre receptores e emissores, nas
interões microssociais da vida cotidiana, por meio das múltiplas mediões propostas por Orozco
(1991).
Isso permanece impcito nas práticas culturais da vida cotidiana. As relões de
identidade, engendradas com ênfase no coletivo e a incorporação das modernas tecnologias é a nova
estratégia metodológica, calcada na etnografia e na observação, em busca da capacidade de ação
dos mais diversos grupos sociais, em que se têm descrições expressivas entre o cruzamento da
cultura e a experiência da alteridade, inerente a uma relação complexa entre o meio e o receptor.
Questões como raça e etnia, o uso e a integração de novas tecnologias como o vídeo e a TV,
assim como seus produtos na constituição de identidades de gênero, de classe bem como as
geracionais e culturais, e as relações de poder nos contextos dosticos de recepção,
continuam na agenda, principalmente, das análises de recepção. (ESCOSTEGUY, 2004, p.167)
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Considerando os pressupostos básicos da teoria, o que se designava para o problema da
recepção, a viabilidade de técnicas e instrumentos, a interpretão e adequação das premissas sobre
as possíveis diferenças encontradas em campo, entendeu-se que o teste empírico da teoria das
mediões na recepção infantil não apenas traz uma contribuição significativa para a discussão do
assunto, como também auxilia a reafirmar teorias, a partir da experiência em campo.
1.3 A televidência e as ltiplas mediações - Orozco
Transportar o conceito de mediação do modelo teórico Usos Sociais dos meios, para o
modelo teórico Mediação Múltipla” que tem Guilhermo Orozco como idealizador. Esse modelo
teórico trata de entender o processo de recepção como um modelo não linear, nem claro e muito
menos unívoco, com várias dirões e sofrendo a intervenção e o condicionamento de uma série de
situões do contexto político, cultural e histórico. (OROZCO, 1993, p.23)
Orozco (1991) propõe a mediação múltipla, como adequação metodológica à concepção
de Martin-Barbero e ajustamento dos requisitos concretos do objeto de pesquisa. Entender que as
audiências televisivas estão mediadas de múltiplas maneiras, em sua interação ou encontro com o
discurso televisivo.
Las mediaciones provienen de diversas fuentes. Algunas del proprio sujeto televidente en
cuanto individuo con historia y una serie de condicionamientos genéticos y
sociosocioculturales específicos. Las mediaciones provienen también del mismo discurso
televisivo, al ser capaz de naturalizar su significación y anclarse en el sentido común. Otras
mediaciones provienen de la situación en la que se da el encuentro y la negociación entre la
audiencia y la TV. Otras s se derivan de factores contextuales, institucionales, y
estructurales del entorno en donde interactúan las audiencias (OROZCO, 1991b, p. 117)
Orozco trata de ver não só o sujeito do processo de comunicação, mas o que está além,
procura ver o conteúdo, as interões com o meio, o processo e seus resultados. Tem por objetivo
saber o que acontece com o receptor, como é o processo de recepção e como se dão as mediões e
argumenta que é necessário a recepção televisiva como um processo no qual tanto a TV como a
cultura constituem um conjunto de mediões que se põe em jogo na interação entre a TV e sua
audiência (OROZCO, 1991b, p.108).
Em uma de suas mais célebres frases: la audiência de la TV no nace, sino que se hace”
(OROZCO, 1991a), o autor se posiciona sobre a relação estabelecida entre sujeito-audiência e a TV.
Ser audiência significa uma transformação da estrutura do sujeito, sua coesão discursiva e sua
identidade, antes definidas na vida cotidiana e agora, realizadas, ou melhor, delimitadas por uma
massmediação globalizante” que, segundo OROZCO (2001), privilegia o critério transversal da
segmentação mediática, uma vez que inaugura e diferencia segmentos a partir de intercâmbios
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simbólicos, enfatizando o jogo de subjetividades. O segundo ponto de ser audiência é a modificação
do vínculo e dinâmica entre os sujeitos sociais e seu contexto social, suas fontes clássicas de
informação e produção de conhecimento: instituições políticas, educativas e culturais, que também
enfrentam uma mudança estrutural. O terceiro e último ponto, colocado pelo autor, é estar-sendo
audiência, tem transtornado os limites de espo-tempo do intercâmbio social e, por conseência,
desestabilizado a participação no real.
Essa problemática dá à TV um caráter significativo de poder, pois mescla a linguagem
visual e auditiva, o que resulta numa sensação de realidade com alta fidelidade, já que tudo o que
acontece no mundo está na tela da TV. A capacidade televisiva de representação da realidade faz
com que o sujeito veja as evidências e participe, como testemunha, dos acontecimentos. A
legitimação desse poder fica a cargo da versatilidade com que a audiência se posicione sua
capacidade múltipla de observar e ver. Por último, o conjunto e as características técnicas da TV
fazem os discursos se naturalizarem facilmente.
De la enorme variedad de proposiciones sobre lo que es la TV hay que rescatar el hecho de que
ésta es a la vez un medio técnico de comunicación con características específicas, y una
institución social, determinada históricamente en una forma particular. Es precisamente esta
dualidad lo que da a la TV su distintividad cultural frente a otras instituciones sociales
como la familia, la religión o la escuela -, con las cuales coexiste y a veces compite, y en
comparación con otros medios técnicos de transmisión de informaciones como el teléfono a
los cuales tecnológicamente supera. Entre las características tecnológicas específicas de la TV
cabe destacar dos fundamentales: la de poder otorgar verosimilitud a su discurso, y la de poder
apelar a la emotividad de su audiencia. Esto significa que su dualidad original se reproduce y se
traduce en una segunda: hacer creíble su discurso e invitar a la audiencia a creerlo haciendo
uso no sólo de argumentos racionales sino también y con frecuencia principalmente emotivos.
La combinación de estas características confiere a la TV una fuerza particular para ganar
legitimidad como institución y popularidad como medio de comunicación. (OROZCO, 1991b,
p.109)
No mesmo texto, La mediación en juego. Televisión, cultura y audiencia, o autor
relativiza a onipotência da TV, ao observar duas razões principais: em primeiro lugar, que a TV não
é a única instituição social que legitima e significa a realidade, existem outras instituições geradoras
de cultura e a outra razão está restrita aos seus significados, que, como outra instituição social, são
polissêmicos, o que suscita múltiplas interpretões pelos sujeitos - audiência. A polissemia
televisiva não é um limite estrutural de sua constituição, mas uma vantagem que a coloca em
contato com várias audiências, na medida em que o discurso televisivo é polissêmico e tem a
possibilidade de atingir mais sujeitos. Por isso que a TV, enquanto instituição social, repercute
culturalmente e a audiência deve ser encarada como multimediada, pois o encontro com a TV não
se dá uma única vez, mas sucessivamente e com negociações constantes no processo da recepção.
A TV, para Orozco (1999), não é somente um medium, mas também tecnologia e
instituição social, que, simultaneamente, oferece uma visão sobre a situação, o contexto do lugar
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específico em que está e também a possibilidade de interação social entre sujeito, TV e sociedade.
O ato de assistir TV tem um lugar específico de tempo no cotidiano, tanto do sujeito como da
falia e de outros grupos sociais e essa presença da recepção torna-se física. Cada cenário oferece
um desafio metodológico a ser pesquisado.
Ao dar atenção à compreensão das interões entre os sujeitos audiência e a TV,
Orozco (2000) compreendeu que haveria de lidar com essa dimensão de forma epistemológica.
Assim sendo, cunhou o termo televidência, que é o processo específico da interação com a TV e
que, por sua vez, demanda uma adequada exploração e configuração dos múltiplos vínculos dos
sujeitos audiência com o meio.
O autor entende que o conceito recepção é utilizado de forma genérica e para
demonstrar um tipo específico de relação entre o receptor e a TV é necessário um novo
entendimento da recepção, que é particular e que se define pelo medium ao qual se refere.
Este entendimiento de la televidencia como un proceso especifico de la TV, en última instancia
se encuentra sustentado dentro de un creciente proceso de “audienciación, frente a la mass-
mediación exuberante en la que actualmente se encuentran las sociedades de fin de milenio, y
que demanda un entendimiento especifico de esas vinculaciones particulares, para así poder
arribar a una mejor comprensión de las mismas, que a su vez permita una mas adecuada
exploración del peso especifico que tienen los medios (y en el caso que aquí nos ocupa, la
televisión en particular) en la configuración de las múltiples vinculaciones de la audiencia,
tanto con los medios como con todo eso que los mismos vehiculan. (…) Así, la televidencia
como proceso particular de recepción referido al medio televisivo, a la vez que se distingue de
otros procesos de interacción mediáticas, supone un entendimiento preliminar que conlleva una
pregunta empírica susceptible de explorarse a partir de su realización y observación, cuyo
resultado matizaría su manifestación con segmentos concretos de la audiencia, determinados
también por las características propias de la misma TV (OROZCO, 2000, p. 112-113)
O processo de televidência, então, é um processo composto por uma série de mini-
processos, sobre os quais há de se explorar e reconhecer as evidências, para sua adequada
compreensão. As premissas metodológicas traçadas por Orozco, no conjunto de seu trabalho, são:
1) a relação entre os sujeitos e a TV é um processo mediado (televidências); 2) a televidência é
interação, o que se dá por meio de negociação simbólica; 3) a TV, como instituição social, não é a
única a dar sentido no processo de produção; 4) os sujeitos audiência são múltiplos agentes
sociais; 5) a interação entre a TV e os sujeitos é coletiva, e a comunicação se produz
fundamentalmente nessa interação.
O grau de adesão à TV não é a variável mais importante no encontro do sujeito com a
TV o essencial é a mediação que se põe em jogo entre as significações presentes, tanto na TV
quanto nos sujeitos e por isso é importante a maneira como se vê TV e a forma com que se inicia
uma negociação entre as significões da TV e os sujeitos. A demarcação desse processo de
significação depende do tipo de negociação capaz de produzir com os significados da TV e os tipos
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de significões próprias que podem produzir a partir de seu encontro com a programação
televisiva.
Por ejemplo, para investigar la televidencia de una audiencia infantil hace falta tener en cuenta
evidencias de esa interacción dentro del hogar, donde generalmente se entabla el primer
contacto, pero también fuera de él, en la escuela y en el barrio, que son los otros escenarios
naturales de la agencia de los niños. En estos escenarios, la investigación ha mostrado que la
TV es traída, negociada y reapropriada por los mismos niños que la incluyen en sus
intercambios y sus juegos, a través de los cuales adquiere nuevas características. Así, el
proceso de televidencia no es un mero momento, sino un proceso que sale del cuarto de ver
televisión, a través de las iníciales apropiaciones de los niños, que luego son repropiadas con la
contribución de las de otro niños (u otros adultos) en contextos específicos que, mas que sólo
contextuarlas, las conforman en direcciones definidas. El esfuerzo impcito en essa
comprensión de la televidencia es que sen se trate del segmento de audiencia objeto del
estudio, es necesario acompañar a la audiencia por sus escenarios cotidianos principales para
entender cabalmente el sentido de su televidencia y su producción comunicativa. Siguiendo
con la audiencia infantil, ser coherente con la premisa de que la televidencia no es un
momento, sino un proceso, se hace imprescindible explorar y recoger evidencias diversas en el
escenario familiar, escolar y barrial, por lo menos. No bastaría la evidencia de un solo
escenario, aunque uno sea el predominante, simplemente porque no sería una evidencia
completa. (OROZCO, 2000, p. 114)
Ao prestar atenção a essas tramas que constituem e formam o olhar das crianças,
entende-se que nesse microespo complexo não se opera apenas com alienação ou reprodução.
Essa teoria tenta demonstrar que todo objeto é constituído por uma malha de categorias de
importância empírica e teórica, por causa de seus ordenadores ou articuladores da análise, focando-
se na malha de interões recíprocas entre a produção, o produto e a recepção. O objetivo central é
delimitar a especificidade de cada mediação envolvida, que é a razão de sua existência.
O conjunto de mediações proposto por Orozco (1991a) é: Cogniscitiva, Estrutural,
Situacional, Institucional e Videotécnica.
A mediação videotécnica toma a TV como um meio técnico de produção, com um alto
grau de representação, produto de suas possibilidades eletrônicas de apropriação e transmissão de
conteúdos.
TV hay que rescatar el hecho de que ésta es a la vez de un medio técnico de comunicación con
características específicas, y una institución social, determinada históricamente en una forma
particular. Es precisamente esta dualidad lo que da a la TV su distinvidad cultural frente a
otras instituciones sociales como la familia, la religión o la escuela -, con las cuales coexiste
y a veces compite, y en comparación con otros medios cnicos de transmisión de
informaciones como el teléfono a los cuales tecnológicamente supera. Entre las
características especificas da TV cabe destacar dos fundamentales: la de poder otorgar
verosimilitud a su discurso, y la de poder apelar a la emotividad de su audiencia (OROZCO,
1991b, p. 109)
A TV é um meio técnico de produção e transmissor de informação, como também, uma
instituição social, produtora de significados, condicionada política, econômica e culturalmente.
Devido ao seu alto poder de representação e por suas possibilidades eletrônicas para apropriação e
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transmissão de seus conteúdos, dispõe de certos meios para aumentar seu poder legitimador, através
dos processos de produção de seus programas.
No obstante los recursos y características tecnológicas propias del medio televisivo y su
particular definición social como institución, su influencia en la audiencia, aunque creciente e
importante, no es ni única ni totalizadora. En parte, porque toda tecnología siempre deja lugar a
la creatividad de quien la usa. En parte también porque el contenido de la programación es
polisémico y puede ser percibido e interpretado por la audiencia de muy diversas maneras.
Justamente, la paradoja de la TV consiste en el hecho de que entre más polisémica (o menos
monosémica) más popular entre los distintos segmentos de la audiencia, pero a la vez menos
contundente para imponer su significado dominante. Este existe, pero no hay garantía de que
sea el significado reproducido por la audiencia. (OROZCO, 1991a, p.03)
Pode-se falar em TV, mas a opção de transmissão de produtos midiáticos é variada e
cada um deles terá uma linguagem e uma constituição diferente. Por exemplo: desenhos animados,
passados na programação da TV, terão sentido diferente daquilo que passa na TV paga, que,
conseentemente, tem um sentido distinto do longa-metragem reproduzido em DVD.
A mediação cogniscitiva diz respeito aos esquemas mentais, que provêm da
individualidade do sujeito cognescente e comunitário, que percebe, pressa atenção, assimila e
também se expressa. É a representação mental que ordena uma seência de eventos dirigidos a
obtenção de uma ou várias metas, tornando possível identificar o que provoca a ão e o discurso,
através da escolha do cenário social em que se observam as interões sociais dos sujeitos.
El concepto de mediación congnoscitiva” del individuo, básciamente de los maneras, como
“esquemas mentales y como repertorios. (…) Por tal se entiende una estructural mental del
individuo que actúa en su proceso de aprendizaje en diferentes momentos y de diversas
maneras. (…) Tienen una esfera de significación de donde adquieren su sentido específico.
Esta esfera es determinada por los agentes o las instituciones que generan los guiones o, en el
caso de la TV, por la definición general del programa y la intencionalidad global de la TV en
cuanto empresa. (OROZCO, 1991b, p. 118 120)
Os programas televisivos têm uma esfera de significação a que o sujeito dá sentido
conforme seu repertório. Ao averiguar as diferentes produções de sentido e as respectivas esferas de
significação, percebe-se como os conteúdos (discursos) particulares da TV e as instituições sociais
se articulam para o sujeito, em sua formação de sentido.
A diferencia de los esquemas mentales, que enfatizan el procesamiento informativo y la
estructura mental que lo permite, o de los repertorios que subrayan el contenido y relevancia
cultural de lo que la audiencia procesa mentalmente, los guiones se enfocan en la actuación de
los sujetos. Actuación aquí se diferencia de conducta en la medida en que ésta es más una
reacción y no necesariamente implica una reflexión del sujeto que la realiza. La actuación, en
cambio, involucra la conciencia del actuante. Los guiones tienen una esfera de significación de
donde adquieren su sentido para interacciones determinadas. Así, la relevancia de la secuencia
no es dada en la secuencia misma implicada en el guión sino en un consenso cultural o
institucional de lo que se considera apropiado hacer en una situación concreta. Por ejemplo, los
guiones implicados en la trama de un programa de TV adquieren su significado en la trama
misma del programa y finalmente en la del género televisivo de que se trate. En otros
escenarios sociales los guiones adquieren su significancia en las orientaciones específicas de
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las instituciones implicadas, ya sean esas la familia, la escuela o cualquier otra. Lo que es
apropiado en el medio familiar qui no lo es en el escolar o en un programa de TV o no lo es
siempre dependiendo de la situación de que se trate. (OROZCO, 1991a, p. 05)
Ao obter essas diferentes significões, busca-se entender como os sujeitos se
sociabilizam através dessa mediação. É nessa macro mediação que se investigam os processos
cogniscitivos-afetivos-significantes(OROZCO, 2000), instância essa em que os sujeitos definem
seu modo de ver os diversos programas televisivos.
A mediação situacional tem uma especial importância para entender a mediação tanto
da TV como dos elementos à sua volta, como o espo, contexto e modo de recepção. Pode-se
exibir o mesmo programa em dias diferentes, mas a forma de ver e a situação que circunda o
momento serão diferentes e devem ser levadas em conta.
No obstante la importancia de la situación y del mero momento de estar frente a la pantalla, el
proceso de recepción televisiva no se circunscribe a ese lapso de tiempo. La interacción entre
la audiencia y la TV comienza antes de encender el televisor y no concluye una vez que está
apagado. La razón es que la misma decisión sobre qué programa ver o a qué hora sentarse a ver
TV no son necesariamente actos aislados de televidentes individuales, sino que responden a
«patrones» para ver TV, que son a su vez «prácticas» para pasar el tiempo libre, realizadas
diferencial y sistemáticamente por segmentos de la audiencia. (…)En su interacción con los
des niños en la escuela o en el barrio se dan una o varias re-apropiaciones y se re-produce el
sentido de lo visto en la TV. De esa manera el proceso de recepción «sale del lugar» donde es
el televisor y «circula» en los otros escenarios donde siguen actuando los miembros de la
audiencia. En todos estos escenarios el proceso de recepción va siendo mediado tanto por las
nuevas situaciones como por los agentes e instituciones involucrados. (OROZCO, 1991a,p.6)
Estar diante da TV não é só mental, mas físico. Pode-se fazer uma série de ões ao
mesmo tempo em que se vê TV: comer, conversar, brincar, ter companhia ou estar sozinho, sempre
utilizando os limites físicos do espo. Existe também o contato
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simbólico (OROZCO, 2000), pois após essa parte física, o sujeito mantém uma relação simbólica,
através de seu imaginário e sua memória, que se evidencia nos distintos cenários de seu cotidiano:
como usa, negocia e reapropria o que foi visto, de maneiras diferentes.
As mediões institucionais dizem consideram a família e as escolas como
comunidades de apropriação. O autor aponta, como fundamental, averiguar como funcionam os
diferentes recursos de legitimação, condicionantes das situões e contextualizar cada instituição e a
forma como se interrelacionam no processo de recepção, com o estabelecimento de agendas de
discussão na sociedade.
La mediación institucional es precisamente un esfuerzo por significar los guiones del sujeto de
acuerdo con la intencionalidad panicular de cada institución. (…) Es posible encontrar
instituciones en competencia, o por el contrario, instituciones que se refuerzan mutuamente en
un mismo escenario social. (…)la institucionalidad constituye una fuerza legitimadora de los
acuerdos y valores que en su desarrollo social cada institución acumula y trata de inculcar en
sus miembros. Esta institucionalidad es una especie de racionalidad que da sentido a la
institución y a sus acciones, y que a la vez le confiere su propia especificidad como tal. La
familia tiende a fincar su fuerza significante en su autoridad moral y en la preservación de
valores y conductas acerca de lo que es bueno o malo para los niños. Los padres usan
expcitamente juicios acerca de lo correcto o incorrecto de determinados guiones. La tradición
y los ritos familiares son también instrumentos para recrear y conferir una determinada
significación a la actuación de los pequeninos en los escenarios sociales. La escuela, por su
pane, se ha autolegitimado en la sociedad como la institución encargada de realizar
formalmente la educación. En su esfuerzo significante, las escuelas apelan a su autoridad
académica y pedagógica. La información, los conocimientos y los métodos de obtenerlos son
empleados de manera consciente para reforzar su legitimidad educativa. Valores como los de
ser conocedor, bien disciplinado, diligente en el estudio, ser buen ciudadano, buen trabajador,
ettera, son frecuentemente utilizados para estimular significaciones específicas. (OROZCO,
1991b, p.120-121)
Essa mediação faz parte do que o autor chama de macro mediação, pois acontece em
cenários indiretos, ao momento de se ver TV, mas é o cenário em que se devem operar as
intervenções, a pedagogia mediática e a produção de significado, pela participação do indivíduo nas
diversas instituições. Essa é uma das justificativas pela se qual faz o estudo etnográfico na escola,
quando a mediação acontece em um grupo infantil, próprio da criança e seu contexto. Depois
avança para uma pesquisa em que a participão dos pais vem exatamente contribuir para essa
contextualização da criança, entender seus hábitos de consumo em outro contexto e, principalmente,
em seu contexto primário, o mais importante.
A mediação de referência tem como características do contexto ou do próprio sujeito e
seu grupo: a família, a escola e a cultura, como base constitutiva. Assim sendo, a mediação é
responsável pela delimitação dos sujeitos e grupos a serem investigados, sendo que ao delimitar
idade, sexo, classe social e lugar de residência, obtêm-se um recorte do objeto em que observam
processos específicos que se interrelacionam com essas categorias e se constata a sua importância
dentro do processo de recepção.
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Los distintos tipos de mediación entran en juego en la interacción con la TV y conforman
audiencias específicas en el proceso de recepción. A veces un tipo de mediación o una
combinación de ellas predomina. A veces algunas mediaciones se refuerzan mutuamente, por
ejemplo cuando escuela y familia tienen mucho en común y participan de objetivos educativos
similares, o cuando TV y familia comparten percepciones del mundo y aspiraciones sociales.
Otras veces, algunas mediaciones se neutralizan debido a que provienen de instituciones
sociales muy diferenciadas en las que no hay mucho en común en sus respectivas «esferas de
significación». La mediación videotecnológica, por tanto, no es necesariamente la más
predominante siempre. De hecho cualquiera de las otras instituciones sociales, bajo ciertas
condiciones, pueden ser las predominantes en la socialización de la audiencia. La producción
de sentido que realiza la audiencia depende entonces, de la particular combinación de
mediaciones en su proceso de recepción; combinación que a su vez depende de los
componentes y recursos de legitimación a través de los cuales se realizan cada una de las
mediaciones. Las «comunidades de apropiación» del contenido televisivo no son
necesariamente las de «interpretación », donde se produce su sentido. La comunidad
interpretativa de la audiencia, que es donde la audiencia adquiere su identidad como tal, es la
resultante de un determinado juego de mediaciones. La producción de sentido que realiza la
audiencia, es por consiguiente una interrogante abierta para la investigación. (OROZCO,
1991b, p. 8)
Na presente pesquisa foram estudadas crianças de 04 a 06 anos de idade, de ambos os
sexos e de classes sociais variadas, tendo em comum a pré-escola que freentavam. A descrição do
processo de recepção, nessa instância, ou seja, as práticas de mediação foram suficientes para
comparar e transcender a individualidade.
Compreender como as mediões acontecem com a criança inserida no processo de
comunicação e como o contexto do cotidiano atua e compõe a arena das relões sociais, onde se
reconhecem as negociões simbólicas de forma mais estreita e próxima da realidade, é a proposta
de Orozco e é também o caminho que a presente pesquisa percorre.
A articulação teórica aqui tramada configura-se em uma aproximação crítica da cultura
contemporânea, entendida como um espo de contestação e conflito, mas também de consenso e
reprodução social. Caracteriza-se pelo reconhecimento da existência da ação social de uma
sociedade ativa e pela importância dada ao contexto, isto é, atenta-se para as especificidades e
particularidades culturais vinculadas a uma conjuntura histórica determinada.
Compreender como a criança está inserida no processo de produção de recepção e como
seu contexto atua e compõe a arena das múltiplas mediões, isto é, reconhecer como a produção de
sentido acontece é o objetivo principal, de forma mais estreita e próxima do cotidiano.
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1.4 A metodologia etnográfica para a investigação da recepção
Estudar a formação da cultura infantil moderna” faz-se necessário, não apenas
teoricamente, mas é preciso ir diretamente à fonte, perguntar às crianças o que elas assistem, como
assistem e, principalmente, a opinião delas sobre o que é transmitido. É imprescindível entender e
nomear os lugares em que as mediões acontecem, onde as questões e a vida cotidiana entram em
conflito e contradição, compreender sua estrutura atual e sua possível dinâmica, além de encarar a
criança como um ser pensante, que tem o poder de escolha e que consegue elaborar, em seu
imaginário, ainda em construção, aquilo que é assistido.
Ao prestar atenção a essas tramas, que constituem e formam o olhar da criança, entende-
se, que nesse microuniverso, o espo/tempo das rotinas e as práticas cotidianas são o lócus da
circulação e consumo midiático, que também é permeado pelas relões com os adultos que a
circundam.
Os objetivos específicos da pesquisa foram: a) compreender como se opera a introdução
do dispositivo tecnológico de discursos e gêneros, na formação do olhar da criança; b) compreender
como os fenômenos se realizam nas práticas culturais do cotidiano das crianças; c) visualizar um
mapa de consumo midiático infantil, contextualização do cotidiano e conhecimento a respeito do
que elas assistem e como assistem.
Do ponto de vista metodológico, é um estudo multimetodológico, em que o estudo
etnográfico é o principal método para a coleta de dados e a utilização de métodos quantitativos e
qualitativos para a aproximação dos contextos das crianças fora da creche.
A incorporação da etnografia, proposta por Geertz (1989), está no esforço intelectual de
fazer a descrição densa e não de estabelecer relação, selecionar informantes, transcrever textos,
ou preencher qualquer outra categoria com dados. É importante fazer uma interpretação que consiga
dar conta das estruturas significantes que estão por trás e por dentro do menor gesto humano.
Essa observação da cultura, que é a prática do cotidiano como um sistema em
movimento, deve ser entendida, em seus próprios termos, como isolamento de seus elementos,
especificando as relões internas entre esses elementos e passando a caracterizar todo o sistema de
uma forma geral, de acordo com os símbolos básicos, em torno das quais a cultura e o imaginário
são organizados em estruturas subordinadas, numa expressão superficial. A leitura deve acontecer
sem se desvincular do acontecimento e a boa interpretação leva ao cerne da questão, a qual se
propôs interpretar. É preciso descobrir o que significa toda a trama que há ali.
O etnógrafo inscreve o discurso social: ela ao anota. Ao fazê-lo, ele o transforma de
acontecimento passado, que existe apenas em seu próprio momento de ocorrência, em um
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relato, que existe em usa inscrição e que pode ser consultado novamente (...) Não o
acontecimento de falar, mas o que foi ‘dito, onde compreendemos, pelo que foi ‘dito no falar,
essa exteriorização intencional constitutiva do objetivo do discurso graças ao qual o dito torna-
se enunciado, a enunciação. Resumindo, o que escrevemos é pensamento, conteúdo, subsncia
do falar. É o significado do acontecimento de falar, não o acontecimento como acontecimento.
(GEERTZ, 1989, p. 14)
Fazer a etnografia é uma oportunidade de contextualizar a recepção, o processo de
produção comunicativa do olhar da criança, dentro de seu contexto, o que facilita a compreensão
da influência do contexto das mensagens pelos telespectadores, tanto individualmente como em
grupos”.
9
Pode-se avaliar diversos elementos no processo da recepção e como esses interagem em
um contexto local, onde as observações e interões acontecem ao mesmo tempo em que se avaliam
as informações sobre a cultura e a identidade das crianças-sujeito.
A flexibilidade do método etnográfico dá espo para a pesquisa coletar informações e construir
teorizações a partir delas, bem como recic-las e reaval-las no dia seguinte dependendo do novo
material coletado e de novas idéias. Outra vantagem da etnografia para os estudos de audiência é a
oportunidade de contextualizar a recepção dos programas televisivos na esfera domestica e
comunal entre vários grupos de uma comunidade. Isso também facilita a compreensão da
influência do contexto na interpretação das mensagens pelos telespectadores, tanto
individualmente quanto em grupos. (...) A etnografia permite, assim, que avaliemos diversos
elementos no processo de recepção e como esses interagem em um contexto local onde as
observões e interações acontecem, ao mesmo tempo em que avaliamos essas informações em
relação à cultura e à identidade dos membros da comunidade. (LA PASTINA, 2006, p.31)
Outros dois conceitos postulados por Geertz (1989) foram importantes para nortear o
trabalho de campo: ethos e visão de mundo. Ehtos são os aspectos morais (e estéticos) de uma dada
cultura, os elementos valorativos que pautam as atitudes do sujeito e que refletem em sua prática no
mundo que o circunda. A visão de mundo são os aspectos cognitivos e existenciais, resultantes da
sua interpretação dos conceitos de natureza, de si mesmo e da sociedade. São esses dois conceito
que, na concepção do autor, vão guiar os significados que são armazenados em símbolos e que, ao
serem dramatizados, parecem resumir, de alguma maneira, tudo o que se conhece sobre como é o
mundo.
O ethos torna-se intelectualmente razoável porque é levado a representar um tipo de vida
impcito no essado das coisas reais que a visão de mundo descreve, e a visão de mundo torna-
se emocionalmente esvel por se apresentar como imagem de um verdadeiro estado das coisas
do qual esse tipo de vida é expressão autentica. (...) É apenas o senso comum porque, entre o
ethos e a visão de mundo, entre o estilo de vida aprovado e a estrutura da realidade adotada,
concebe-se que exista uma congruência simples e fundamental, de forma que uma completa e
empresta significado a outra (GEERTZ, 1989, p.144-146)
O que Geertz pretende é um estudo dos valores, a abordagem de uma teoria que olhe o
comportamento de pessoas reais, procurando tanto o seu estímulo como a sua validade, voltando-se
9
LA PASTINA, 2006, p.28
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para um processo de introspecção daquela realidade, para a compreensão dos valores e de como eles
atuam. O papel do pesquisador é o de interpretar essa realidade, isto é, descobrir e compreender o
significado da dinâmica específica (práticas sociais e discursos), de acordo com o ehtos e visão de
mundo, que são próprios daquele grupo, daquela cultura.
Ao observar e participar do processo de consumo da dia, pode-se analisar, embora
limitadamente e conceber uma compreensão das práticas individuais e comunitárias de consumo de
mídia e ainda auxiliar num projeto mais amplo de investigar o papel dos produtos culturais em um
contexto global. Assim se enfatiza o aspecto ativo do receptor e os diferentes significados que
adquirem os produtos midiáticos, quando consumidos, que são passíveis de rejeição, interpretação e
produção de novos significados.
Vizer (2006) aponta uma metodologia de ação com grupos sociais, em que se deve fazer
uma observação em busca de padrões que possam ser aplicados a uma pesquisa participativa,
objetivando a reconstituição de laços sociais. Deve-se pensar ainda em como aquele grupo se
autorganiza, estabelecendo seus valores e pensamentos, trabalhando assim com o próprio olhar da
comunidade e fazendo a comunidade participar do problema e da solução. Fica a cargo do
pesquisador auxiliar o movimento de identificação (compartilhar informões com a comunidade) e
o movimento de observação para encontrar soluções para os problemas. As palavras de ação do
pesquisador constituem-se em: investigar, diagnosticar e intervir. No entanto, para tudo isso é
necessário uma análise das necessidades específicas do grupo, isto é, a compreensão da sua
realidade e de como se constituem em suas condições espaciais e temporais.
La Pastina (2006) faz indicações do possível envolvimento entre o receptor e o
programa televisivo:
1ª fase: o telespectador vê o programa em seu contexto e tem uma explicação factual da
estrutura, conteúdo e entendimento da narrativa;
2ª fase: a mensagem, interpretada em nível individual, passa por valores e crenças que
determinam as relões entre o telespectador e a TV, num processo que não é igual para todas as
crianças;
3ª fase: a apropriação do conteúdo midiático, onde os temas levantados pela
interpretação individual e pelos fatores midiáticos e suas relações sociais, dinâmicas culturais se
manifestam;
4ª fase: observação de mudanças em relação à inserção dos produtos midiáticos, cujo
significado é negociado e por muitas vezes torna-se parte de uma rotina, integrando as tramas
cotidianas.
Ao recuperar o conceito de recepção como integração de diversas fontes e
contextualizada materialmente, cognitivamente e emocionalmente, verifica-se um longo e complexo
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processo, situado em vários cenários, do qual resultam apropriações variadas, que vão desde a
simples reprodução até a resistência e a contestão.
Portanto, o que importa nos estudos de recepção não é a leitura, mas a compreensão do
processo de sentido e a descrição densa que é o ponto de partida para ultrapassar e ligar as
dinâmicas cotidianas para saber como se constitui.
Uma perspectiva que não pode se contentar com contextualizar a telespectação através da
descrição da cotidianidade se não deve nos situar no marco mais amplo da cotidianidade
extramuros: que nos devolva os itinerários, os espaços e as temporalidades nos quais se
inserem as audiências, que nos fale das múltiplas relações e de seus condicionamentos
estruturais, suas paixões e seus gostos, de seus amores e temores. (REPOLL, 2006, p.77)
Os métodos quantitativos, que compreendem os questionários fechados respondidos
pelos pais, são para mapear questões de hábitos do cotidiano, como o consumo midiático, que aqui
se deve entender como o que a criança assiste, o que a família assiste, quanto tempo a criança fica
assistindo TV, o que é permitido assistir, o que ela gosta, entre outras questões, do ponto de vista
dos pais.
Conversas sobre os programas televisivos podem levar a novas interpretações e
conseentemente aceitação ou negação de valores e atitudes presentes nessas narrativas.
Algumas vezes as interpretações resultam de posturas nômades, mas existe certa concordância
nas estratégias de leitura. (LA PASTINA, 2006, p. 34)
O foco, nessa fase, é equacionar o problema TV/criança procurando estabelecer o
contexto no qual a criança se insere e obter informões que seriam de difícil acesso por outros
procedimentos.
(...) material produzido por um trabalho de campo quase obsessivo de peneiramento, a longo
prazo, principalmente (embora não exclusivamente) quantitativo, altamente participante e
realizado em contexto confinados, que os mega conceitos com os quais se aflinge a ciências
sociais contemporânea legitimidade, modernização, integração, conflito, carisma, estrutura...
significante podem adquirir toda a espécie de atualidade sensível que possibilita pensar: não
apenas realista e concretamente sobre eles, mas, o que é mais importante, criativa e
imaginativamente com eles. (GEERTZ, 1989, p.16-17)
Não se escolheu nenhum produto midiático para o corpus desse trabalho, pois entende-
se pelas colocações de Bauer (2002), que o corpus é preparado a partir de uma consulta ou
reconsulta múltipla do usuário (criança), o que, de todo modo, origina um modelo malvel do
material, equilibrando as sucessivas corrões que possam vir a acontecer, como implantões
metodológicas, visando compreender o objeto pelos vieses que eclodirão no percurso da pesquisa.
A primeira justificativa para a pesquisa etnográfica acontecer na creche é pela
oportunidade de observar a criança em um ambiente seu e, principalmente, em seu grupo. Essa a é a
razão pela qual se elabora uma estratégia de contato com os pais, para conhecimento dos vários
contextos dessas crianças, ou melhor, das tramas cotidianas que as envolvem, o que se torna
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importante para entender as diferentes apropriões/produções de sentido, a formação dos olhares e
do que é TV para elas.
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2. O Receptor - Criança
É tão simples assim. A fala sincera de uma criança é capaz de apontar com mais
clareza para as raízes profundas da fascinação que sobre o homem
contemporâneo exerce o espelho televisivo. (Muniz Sodré quina de
Narciso)
Definir o que é criança parece, em um primeiro momento, uma tarefa fácil. Mas não é.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a categoria criança compreende desde o
nascimento até os 09 anos de idade sendo que aos 10 anos a criança transforma-se em adolescente.
Pelos parâmetros da Organização das Nões Unidas, o período é mais amplo: se é criança até os 14
anos. Segundo a Legislação Brasileira, Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), considera-se a
idade de criança desde o nascimento até os 11 anos incompletos.
Quando se trata do universo televisivo, as empresas que avaliam os índices de
audiência, como IBOPE, Datafolha e MultiFocus, bem como as emissoras de televisão, consideram
que a idade de 04 anos marca o início da vida do telespectador. Na medição de audiência de TV,
são utilizadas as seguintes faixas etárias: 04 a 07 anos; 08 aos 11 anos; 12 aos 17 anos; 18 aos 24
anos; 25 aos 34 anos; 35 aos 49 anos; 50 anos ou mais.
Percebe-se a polissemia do se que pode entender por criança. Nessa pesquisa, a
expressão criança pré-escolar, isto é, criança dos 04 aos 07 anos de idade. Devido ao recorte
específico de 04 a 06 anos, escolheu-se o Centro de Convivência Infantil (CCI)
10
para o
desenvolvimento da pesquisa de campo, que é a descrição do processo comunicacional infantil.
Destaca-se o uso de autores como Ariès e Freud, no auxílio da delimitação do conceito
criança. Ariès permite situar o surgimento da idéia de infância e como essa se sedimenta e o lugar
assumido pela criança e pela falia nas sociedades ocidentais. Freud, por outro lado, em sua teoria
de desenvolvimento psicossocial humano, oferece a reflexão sobre o que esperar do
comportamento/pensamento de crianças na faixa etária de 04 a 06 anos.
Ariès (1998) explica que no percurso histórico ocidental, a descoberta da infância
comou no século XIII, na sociedade medieval, que foi o ponto de partida do autor. A criança era
um adulto em miniatura, sem importância e marginalizada até completar uma idade em que
deixasse de ser dependente” ou indefesa”
Sua evolução pode ser acompanhada na história da arte e na iconografia dos séculos XV
e XVI, mas os sinais de seu desenvolvimento tornaram-se particularmente numerosos e
significativos a partir do fim do século XVI e durante o século XVII. O sentimento de cuidado com
10
Creche dos servidores da UNESP. Mais detalhes sobre o funcionamento e estrutura - Capítulo 3.
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a criança comava a aflorou nos séculos XVI e XVII, nas camadas superiores da sociedade, onde
as crianças tinham vestimentas especiais para se distinguem dos adultos.
Um novo sentimento da infância havia surgido, em que a criança por sua ingenuidade,
gentileza e graça, se tornava uma fonte de distração e de relaxamento para o adulto, um
sentimento que poderíamos chamar de ‘paparicação. (...) Esse sentimento da infância pode ser
ainda melhor percebido através das reações críticas que provocou no fim do século XVI e
sobretudo no século XVII. Algumas pessoas rabugentas consideraram insuportável a atenção
que se dispensava então às crianças: sentimento novo também, como que o negativo do
sentimento da infância a que chamamos de paparicação. (ARIES, 1998, p. 100)
A evolução do sentimento de infância aconteceu do século XVII e corresponde a uma
nova tendência religiosa, em que a criança ocupa o espo quase central nas crenças e valores dessa
época. Sentimento de infância significa “consciência da particularidade infantil, essa particularidade
que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. (ARIÈS, 1998, p.97). Ao final do
século XVII, essa paparicação não se limitava mais às classe superiores, que, ao contrário, sob
influências moralistas, comavam a abandonar os paparicos.
Na virada do século XVII para o século XVIII, outro sentimento em relação à infância
se forma, tendo a moralização como força propulsora das relões sociais provindas dos moralistas
e educadores. A preocupação com a disciplina e a racionalidade dos costumes era oposta à visão da
criança como brinquedo encantador, pois viam nelas frágeis criaturas de Deus, que era preciso ao
mesmo tempo preservar e disciplinar. Esse sentimento passou para a família na forma de disciplina
com a higiene e com a saúde física.
A mudança da concepção de infância foi compreendida por Ariès como eco da própria
mudança nas formas de organização da sociedade, das relões de trabalho, das atividades
realizadas e dos tipos de inserção que a sociedade ocidental oferecia às crianças.
O sentido da inoncia infantil resultou portanto numa dupla atitude moral com relação à
infância: preservá-la da sujeira da vida, e especialmente da sexualidade tolerada quando não
aprovada entre os adultos; e fortalecê-la, desenvolvendo o caráter e a razão. Pode parecer que
existe uma contradição, pois de um lado a infância é conservada, e de outro é tornada mais
velha do que realmente é. Mas essa contradição só existe para nós, homens do século XX.
Nosso sentimento contemporâneo da infância caracteriza-se por uma associação de infância ao
primitivismo e ao irracionalismo ou pré-logismo. (ARIES, 1998, p. 91)
Tratar sobre o tema criança abstratamente, sem levar em conta as diferenças de
contextos sociais é dissimular a significação social da criança. É referir-se ao sentimento
contemporâneo de infância”, em que os dois sentimentos contraditórios, em relação à infância,
indicados por Ariès (1998), quase se fundem: a consideração da criança como objeto gracioso, sem
maldade paparicação e outro sentimento, que envolve educação e que se contrapõe e se mistura
ao primeiro, ou seja, é dever do adulto preservar e zelar pela criança, um ser imperfeito e
incompleto, que necessita da moralização e da educação feita pelos adultos.
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São esses os dois discursos norteadores sobre a criança que permeiam as pesquisas: o
discurso no qual a criança é um ser indefeso, inocente e vulnerável às maldades do mundo ou o
discurso em que a criança é completamente autônoma e livre para fazer suas escolhas. Mas a
posição adotada nessa pesquisa visa uma imagem de criança condizente ao seu contexto social,
cultural e de existência, procurando compreender como esse sujeito é, tecido pelas tramas do
cotidiano e sendo ao mesmo tempo ativo e criativo. Trata-se de entender como se forma esse
telespectador e como as mediões operam nesse período da vida das crianças em questão.
Ao examinar as condições concretas do desenvolvimento das práticas culturais e das
interões da criança com a TV, observa-se a trama na qual a criança está inserida. Analisando
cuidadosamente esses dois espos que a criança habita (escola e família) e o papel da dia na
formação da identidade social e como atuam nesse processo, pode-se perceber o que é
ressignificado, no momento das mediações no âmbito escolar.
A faixa etária de 04 a 06 anos, em geral, conta com características específicas que não
podem ser deixadas de lado. Durante essa fase, denominada por Freud como Fase Fálica (1923), a
criança começa a fazer importantes distinções no mundo à sua volta, com o declínio do complexo
de Édipo, que é o conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança experimenta. Os
protagonistas desses afetos são os pais e, segundo Freud, o complexo de Édipo é vivido, no seu
período máximo, entre os três e cinco anos da criança, durante a fase fálica. Os pais desempenham
um papel fundamental na estruturão da personalidade e na orientação do desejo humano, sendo
que, no final desse período, o que era investido nos pais é deslocado para identificar aquilo que está
fora dessa relação.
Ao utilizar os preceitos da Fase Fálica, não se entrará nas diferenciões feitas por
Freud, em relação ao sexo masculino e feminino, pois o objetivo é contextualizar, de uma forma
geral, a fase de desenvolvimento da faixa etária em questão. A criança tende a estar autocentrada,
isto é, egontrica. Vê o mundo e as relações sob sua própria perspectiva e não concebe outro ponto
de vista que não seja o seu. Ao se apresentar um ponto de vista diferente do que ela tem concebido,
a criança lhe dá um significado próprio, que combine com o repertório que ela possui, não por
teimosia ou por não ter compreendido, mas porque a sua visão, a sua interpretação imperam
11
.
A criança começa a perceber o mundo além do núcleo familiar, inicia o estabelecimento
do tabu, que são as regras sociais. Nesse processo formam-se duas estruturas parciais: o ideal do
ego e a instância crítica.
A origem do ideal do ego está no narcisismo, que na infância é o encantamento da
criança com ela mesma, pois ela ainda está numa dinâmica autocentrada. Conforme ela é frustrada,
11
No capítulo 3.2.2.1 Observação das crianças, poder-se verificar como esses mecanismos funcionam e como se
manifestam na fala da criança, o que deixa mais evidenciado a mediação das crianças.
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percebendo que nem tudo corresponde a essa fantasia, instalam-se instâncias de censura e auto-
observação, isto é, um juízo de si própria, com decnio de seu narcisismo e o que restar desse
narcisismo será deslocado para o ideal de Ego, a imagem de toda a perfeição que é possível àquele
indivíduo.
A função do ego ideal é o modelo que a criança está desenvolvendo, nessa fase, para
constituir sua formação de grupo (FREUD, 1921). O ideal de coletivo é a convergência dos ideais
de egos individuais, em um movimento de identificação de uns com os outros no seu ego, que se
trata da parte da estrutura do aparelho psíquico em que se alojam as motivações e as ões que têm
por objetivo o ajustamento do indivíduo à realidade, o controle do acesso da estimulação à
consciência e à motricidade. Outra função importante do ideal de ego, é a responsabilidade pela
satisfação do ego, na medida em que se compara a realidade vivida com a idealizada, por isso a
importância de uma função crítica bem estabelecida. É nessa fase que as crianças comam a
perceber as diferenças anatômicas dos sexos e é comum elas atribuírem vida a todos os seres e
distinção de sexo, inclusive a objetos inanimados. É também nesse período que a criança começa a
ser despertada para os rudimentos de uma vida amorosa, é a fase em que a criança se encanta com
algum adulto (parente, artista, cantor, etc.) ou namora” algum colega de escola.
Nesse período, tem-se um indivíduo que bem ou mal enfrentou várias experiências das
fases anteriores em um nível individual e que agora necessita colo-las à prova, modelar suas
fantasias e estruturar seu ego (sua realidade), seu ideal de ego, para viver na coletividade (ambições
sociais). É a organização da afetividade, para que o corpo atinja uma relação consigo mesmo, com o
Outro e com o mundo. A criança, nessa fase, valoriza a ação e depois ou durante o ato elabora as
regras e valores.
A identificação em conjunto, a formação do Superego organizam os valores dessa
criança. A assimilação do mundo através da identificação é a aquisição ou rejeição do que é visto,
sentido e percebido no mundo externo. E com o Superego em formação, a criança coloca à prova os
valores introjetados, em relação às normas externas. Aquilo que a criança sentir justo e valorizado
será conquistado por sua consciência moral e dessa forma irão se compor as suas normas sociais.
Atribuímos-lhes [ao superego] as funções de auto-observação, de consciência e de [manter] o
ideal. Daquilo que dissemos sobre sua origem, segue-se que ele pressupõe um fato biológico
extremamente importante e um fato psicológico decisivo; ou seja, a prolongada dependência da
criança em relação a seus pais e o complexo de Édipo, ambos intimamente inter-relacionados.
O superego é para nós o representante de todas as restrições morais, o advogado de um esforço
tendente à perfeição é, em resumo, tudo o que pudemos captar psicologicamente daquilo que
é catalogado como o aspecto mais elevado da vida do homem. Como retoma à influência dos
pais, educadores, etc., aprendemos mais sobre seu significado se nos voltamos para aquilo que
são sua origem.Via de regra, os pais, e as autoridades análogas a eles, seguem os preceitos de
seus próprios superegos ao educar as crianças. Seja qual for o entendimento a que possam ter
chegado entre si o seu ego e o seu superego, são severos e exigentes ao educar os filhos.
Esqueceram as dificuldades de sua própria infância e agora se sentem contentes com
identificar-se eles próprios, inteiramente, com seus pais, que no passado impuseram sobre eles
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restrições o severas. Assim, o superego de uma criança é, com efeito, construído segundo o
modelo não de seus pais, mas do superego de seus pais; conteúdos que ele encerra são os
mesmos, e torna-se veículo da tradição e de todos os duradouros julgamentos de valores que
dessa forma se transmitiriam de geração em geração. (FREUD, 1933, p.86)
Todo esse processo psíquico, postulado por Freud (1921), é organizado no nível da
fantasia e das mensagens transmitidas, tornando difícil separar o peso dos fatores da realidade e da
fantasia. A teoria freudiana explica como se constituem os afetos dos indivíduos e como esses
entram em relação com a externalidade (social). Os mecanismos de identificação e projeção estão
em pleno funcionamento, exatamente os dois mecanismos mais explorados e utilizados pela TV, na
captura da atenção do público. A TV torna-se um depositário desse ideal de ego, por meio de uma
identificação, em que o objeto (TV) é percebido como algo bom e que dificilmente frustra a criança
com imposições ou regras, que é exatamente o que a criança evita, principalmente nessa fase, por
causa da castração, ainda em elaboração, do complexo de Édipo.
A esperança do futuro, alojada na criança pelo adulto, é fruto de uma tradição cultural,
que se parece com a concepção de Ariès, do sentimento de infância”, que, articulado com as
teorias freudianas, possibilitam a compreensão social e psicológica da abordagem sobre a criança,
concebendo-a como portadora de uma dimensão individual e, ao mesmo tempo, social até então
ignorada por muitos estudos que culpabilizam exclusivamente a TV pela violência.
Jones (2003) aponta, em seu livro, a existência de várias pesquisas apocapticas em
relação à TV, que não executaram nenhum acompanhamento do grupo que entrevistou para
verificar a veracidade de suas afirmões. A questão levantada pelo autor é de grande relevância,
pois ele questiona o comprometimento do pesquisador e, conseentemente, da pesquisa, em ater-se
a termos reducionistas de que a TV é a grande responsável pela disseminação da violência. Percebe-
se o reducionismo da questão pelos números e conjecturas teóricas, sem o devido acompanhamento
do cotidiano, para entender como a criança concebe a TV, assim como outras temáticas que ficam a
cargo dos malefícios da TV.
Uma das coisas que os estudos não mostram deliberadamente é que as crianças ficam menos
agressivas porque viram menos violência. Por que, eno, quase todas as reportagens
interpretam os resultados das pesquisas exatamente assim. Eu acredito que essa interpretação
errada transformou-se em uma parte o integrada em qualquer discussão sobre a violência no
entretenimento que deixou de ser investigada. Transformou-se em tamanho hábito de racionio
que, ao ouvirmos as palavras mídia e agressividade juntas, prontamente comamos a falar
da mesma coisa, sem parar um instante para analisar o que realmente es sendo dito.
Imediatamente esperamos encontrar evidências de que assistir violência leva a comportamentos
violentos, e assim passamos a enxergá-las. Mas não apenas esperamos encontrá-las, porque isso
nos trará uma resposta conhecida e reconfortante. É por isso que olhamos sempre para o mesmo
lugar, mesmo quando a lógica, a experiência pessoal e os próprios dados cienficos deveriam
fazer com que caminhássemos em outra dirão. (IDEM, 2003, p.27)
Reduzir os fenômenos midiáticos e a recepção infantil a meras estatísticas é ignorar a
gênese do processo de produção de sentido. Essa é a reflexão apontada por Rosa Maria Bueno
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Fischer, no seu livro O Mito na Sala de Jantar (1984), em que seu objetivo era pesquisar, entre
crianças e adolescentes, suas críticas e sugestões, preferências e expectativas, diante da
programação da TV e redefinir as linhas de ão para o ano seguinte na TV Educativa, na área
infanto-juvenil. No entanto, o material coletado em entrevistas livres superou as expectativas, já que
as informões eram mais amplas e merecedoras de uma investigação mais profunda, em que o
receptor é interpretado a partir do seu discurso e ponto de vista, ao contrário dos estudos
estatísticos.
Percebe-se que as pesquisas em geral como apontam Fischer e Jones, não levam em
consideração a fase psicossocial da criança. Já se estigmatizam as ões como culpa da TV,
ignorando-se, por exemplo, que no período pré-escolar a criança está mais disposta a atividades
físicas que envolvam interatividade do que a atividades que exijam concentração e lógica Por isso,
as crianças, nessa idade, são mais agitadas e muitas vezes consideradas mais agressivas.
No caso da criança pré-escolar, brincar é fundamental para as trocas simbólicas, em seus
processos de significação e ressignificação do mundo. A ludicidade egontrica, ainda é muito
presente e o faz-de-conta” tornam todo objeto passível de ser um brinquedo, um instrumento para a
produção de sentido, ou seja, para a representação, uma pequena apreensão do momento do
presente, da realidade. O olhar lúdico dá significado, opera sobre aquele acontecimento e revela o
desejo de construir sua percepção de realidade.
Huzinga (2004) auxilia a ponderação do lúdico sob o prisma histórico, que localiza
transformões do brinquedo e do lúdico em sua concretude. O jogo e o lúdico, para o autor, são as
bases da formação da cultura e da sociedade, pois é no jogo e pela ludicidade envolvida nesses
momentos de lazer que a civilização surge e se desenvolve, testa regras e estratégias. Percebe-se a
importância dessa reflexão para a criança pré-escolar, que está desenvolvendo o seu Superego, seus
valores e suas regras sua sociabilidade. A alteração do lúdico e do brinquedo, pela análise
materialista proposta por Huzinga, após a Revolução Industrial, indica uma queda da ludicidade,
que reflete nas concepções de criança e na forma de encarar a TV como um brinquedo que se insere
nesse contexto.
O brinquedo passa a ser brinquedo industrializado, com o aperfeiçoamento do
plástico, no século XIX e o mundo do adulto é reproduzido em miniatura, em alta escala para as
crianças. Vasconcelos (1998) indica três subfases que a industrialização do brinquedo passa: a
subfase eletroeletrônica é a do mundo adulto para as crianças, a criação de geringonças,
mecanismos que fazem o brinquedo ter movimento ou realizar alguma função, independente da
ação direta da criança, como os brinquedos de corda. A subfase da eletrônica abrange o campo do
brinquedo ao inserir a imagem. Aqui entram os meios de comunicação como um instrumento lúdico
e considerado brinquedo eletrônico por incorporar o lúdico à produção imagética, uma
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arquitetura mnemônica, na qual o objeto produz imagens que podem ser submetidas à ação do
brincar. A terceira é a subfase da informatização, em que o brinquedo começa a se adultizar ao
simular realidades. Inicia-se o reinado dos softwares (games) e o brinquedo liga-se à realidade
adulta, por causa de sua interatividade na confecção das imagens da realidade virtual a que se
propõe.
Brougère (2004) faz um estudo do brinquedo e dos seus usos, em um contexto cultural
específico de consumo e uso, o que revela as formas que assumem atualmente as relões entre
adultos e crianças. O autor faz inferências em como a mídia explora o consumo infantil,
delimitando uma nova infância, em que, através das escolhas dos brinquedos, é possível fazer um
mapeamento do que os adultos estão esperando do desenvolvimento das crianças.
No período de 0 a 6 anos completos, essa demanda é relativa a um terço das compras, mas
com uma grande diferença conforme a idade. Ela aparece aos 2 anos (perto de 20% das
compras) e cresce rapidamente para se estabilizar em torno dos 50%. Então a partir dos 5
anos, a metade dos brinquedos comprados são pedidos pelas crianças e esse envolvimento
passa a ser significativo (entre um quinto e um quarto dos brinquedos) depois dos dois
anos. Se o objetivo da compra de brinquedos é constituir um mundo para a criança, para
que ela se divirta, é importante levar em consideração seus gostos. Dar um brinquedo é
proporcionar prazer, mesmo que possamos proporcioná-lo ao integrar um cuidado
educativo. De acordo com a idade, vamos procurar conhecer seus interesses, observando-a,
olhando com o que ela brinca, interrogando-a sobre o que ela deseja. É nesse âmbito que o
pedido da criança é considerado importante. Ele não surge do nada. È amplamente
desejado, provocado pelo mais desde muito cedo (em torno dos dois anos). A criança é
solicitada a traduzir seus desejos em matéria de brinquedos. Podemos escu-la, ver como
reage Às propagandas, propor que faça uma lista (assinalando os brinquedos nos catálogos).
Esperamos que ela participe da escolha. (IDEM, 2004, p. 186)
O resultado dessas escolhas vem da intersecção do que a dia oferece e a escolha dos
pais deriva de uma construção mediada por essas duas instâncias. A legitimidade do pedido deve ser
encarada, segundo Brougère, como uma forma de avaliar o modo de relacionamento entre pais e
filhos e pais e dia. O início do livro Brinquedo e Companhia” é dedicado aos Ursinhos
Carinhosos, desenho animado americano com grande sucesso na década de 80. A estratégia do
desenho animado em questão foi sua estratégia de marketing, que aliava uma indústria de
brinquedos a um programa de TV, para divulgação de seus produtos. Brougère teoriza que a
continuidade da venda desses brinquedos vem de uma suposta tradição familiar, em que os pais
decidem que o desenho/brinquedo é bom porque fizeram parte de sua infância e portanto será bom
para os filhos.
Outro autor americano, David Elkind, escreve que a criança vive sob pressão,
principalmente dos pais, que são guiados por elementos da mídia que os fazem constituir uma
imagem idealizada do que deve ser uma criança. Inclusive, o autor diz que a onipresença dos
computadores evidencia mais uma forma de pressão, pois com o uso da tecnologia, a criança está
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amadurecendo com mais rapidez e a infância está sendo deixada para trás também com mais
rapidez.
A concepção de criança atual, para Elkind (2004), é o Supergaroto, em que a criança é
competente para lidar com todas as vicissitudes da vida e deve ter o máximo possível de
informões e de habilidades para um futuro ingresso no mercado de trabalho. A pressão sofrida
pelos pais reflete numa sobrecarga no horário dos filhos, o que se trata de um efeito oposto, na visão
de Elkind, de que os pais, ao invés se aproximarem de seus filhos, os afastam. Em vez de corrigir
as injustiças sofridas por nossos filhos, a concepção da competência da criança tem, na realidade,
justamente o efeito oposto. Os pais continuam a amar seus filhos, mas não têm tempo nem a energia
para cuidar da infância” (IDEM, 2004, p.19)
Ao teorizar como os meios de comunicação interferem na concepção de criança, o autor
pontua que a TV remove muitas barreiras intelectuais relativas à informação e, por conseência,
derruba as restrições e o controle dos pais, reforçando, mais uma vez, a concepção do Supergaroto:
A televisão, incluindo aquela atualmente disponível na internet, é impar no sentido de nos
proporcionar acesso imediato a acontecimento ao vivo em todas as partes do mundo.
Nenhum outro meio de comunicação consegue fazer isso. (...) A televisão, no entanto,
envolve nossos sentidos imediatamente e nem sempre requer a mediação verbal de um
narrador para ser comunicada, ou entendida. Nem mesmo as crianças pequenas precisam
entender a descrição verbal das tragédias que são mostradas na televisão as imagens
terríveis falam por si. Como as informações transmitidas pela televisão não requerem uma
codificação ou uma decodificação verbal para ampliar nossa experiência, ela é muito
acessível às crianças pequenas e às vezes apressa o seu contato com eventos terríveis nunca
antes testemunhados por essa faixa etária. (ELKIND, 2004, p. 106)
Elkind (2004) problematiza que o vaivém da fantasia para a realidade é outro ponto de
pressão para o Supergaroto, pois expõe as crianças a estilos de vida alternativos e muitas vezes não
compatíveis com a sua realidade. Por outro lado, há os programas mais realistas, que podem ser
perturbadores ao exporem, de forma sensacionalista, conteúdos de sexo e violência.
Em Romances Familiares (1921), Freud discorre sobre o período em que a criança,
em contato com o meio social, começa a comparar a sua família com a família dos amigos e
idealiza modelos e fantasia sobre ideais geralmente ligados a fatores materiais. As fantasias sobre
ser adotado, ou que os pais são menos ou mais daquilo que realmente são, surgem com mais força e
constância. Ao imaginar com a variável TV, percebe-se como essas fantasias podem ser
potencializadas, exatamente como teoriza Elkind.
O Ego na criança pré-escolar ainda está em formação, conforme as experiências práticas
vividas por ela no mundo que a circunda e isso a faz necessitar do Outro para a apreensão de regras
e valores. O que antes era adquirido exclusivamente por suas experiências interpessoais (família e
escola), tem uma profunda alteração com os meios de comunicação de massa, que se apresentam
com uma variável importante nesse desenvolvimento simbólico e psicossocial.
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Devido à programação televisiva, as crianças pequenas parecem muito mais informadas
sobre os principais problemas da nossa época drogas, violência, crime, divórcio,
homossexualismo, etc, o que reforça mais a concepção do Supergaroto por essa pseudo-
sofisticação: Ironicamente, a pseudo-sofisticão, que é efeito da pressão da televisão sobre as
crianças, encoraja pais e adultos a pressioná-las mais ainda. Entretanto, crianças que falam, se
comportam e parecem adultas, ainda sentem e pensam como crianças (ELKIND, 2004, p. 112)
Postman corrobora esse pensamento e acrescenta que a criança, ao entender
determinadas situões sociais que antes eram consideradas mistério dos adultos, inverte as
relões de poder que eram baseadas naquilo que o adulto sabia e que a criança ignorava.
Do mesmo modo que a escrita alfabética e o livro impresso, a televisão revela segredos,
torna blico o que antes era privado Mas, ao contrário da escrita e do prelo, a televisão não
dispõe de qualquer meio de fechar as coisas hermeticamente. O grande paradoxo da
alfabetização foi ao tornar os segredos acessíveis, simultaneamente criou um obsculo à
sua acessibilidade. (...) A televisão, em contra partida, é uma tecnologia com entrada
franca, para qual não há restrições físicas, econômicas, cognitivas ou imaginativas. Tanto
os de seis anos quanto os de sessenta eso igualmente aptos a vivenciar o que a televisão
trem a oferecer. A televisão, nesse sentido, é perfeito meio de comunicação igualitário,
ultrapassando a própria linguagem ora. Porque quando falamos, sempre podemos sussurrar
para que as crianças não ouçam. Ou podemos usar palavras que elas não compreendam.
Mas a televisão não pode sussurrar, e suas imagens são concretas e auto-explicativas. As
crianças vêem tudo o que ela mostra. O efeito mais óbvio e geral dessa situação é eliminar a
exclusividade do conhecimento mundano e, portanto, eliminar uma das principais
diferenças dentre a infância e a idade adulta. Esse efeito provém de um principio
fundamental de estrutura social: um grupo é em grande parte definido pela exclusividade da
informação que seus membros compartilham. (...) o papel social é estabelecido pelas
condições de um ambiente especial de informação, e esse é certamente o caso da categoria
social da criança. As crianças são um grupo de pessoas que não sabem certas coisas que os
adultos sabem. (POSTMAN, 1999, p. 99)
Ao falar sobre o desaparecimento da infância, Postman indica que a inocência” da
infância está perdida, pois diminui o encanto da descoberta, o que acarretar uma perda da
vergonha”, que se diluiu e desmitificou. A revelação de todo conteúdo adulto pela TV traz
conseências observáveis no comportamento da criança, como as roupas infantis, que agora são
tão iguais ou reproduções das roupas adultas, transformando-as em mini-adultos. Parece ser a
continuidade daquilo que Ariès indicou como as primeiras manifestões do reconhecimento da
criança nos vestuários:
Assim, partindo do século XIV, em que a criança se vestia como os adultos, chegamos ao traje
especializado da infância, que hoje nos é familiar. Já observamos que essa mudança afetou
sobretudo os meninos. O sentimento de infância beneficiou primeiro os meninos, enquanto as
meninas persistiam mais tempo no modo de vida tradicional que as confundia com adultos:
serem levados a observar mais de uma vez esse atraso das mulheres em adotar formas visíveis
da civilização moderna, essencialmente masculina. (ARIES, 1998, p. 41)
O movimento de que as crianças-mulheres se vestem mais como adultos é evidente.
Inclusive Postman (1999) atribui à televisão e à sexualidade expressa nessas vestimentas, as causas
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da antecipação da menarca (primeira menstruação). A divisão entre adulto e criança, que demorou
tantos séculos para acontecer, agora desaparece com a entrada dos meios de comunicação de massa
no cotidiano.
A dia tem um papel importante na formação dessa identidade? Sim, não se pode
fechar os olhos diante dessa questão. É mais uma variável a ser considerada no processo de
desenvolvimento infantil, embora as teorias de desenvolvimento infantil parece terem parado no
tempo. Atribuem papéis à tecnologia como mera sublimação ou substituição de papéis e não, como
se a TV, como coloca Bueno Fischer, fosse mais um elemento dentro da família, um membro de
grande importância, diga-se de passagem.
Ao tomar conhecimento dessas perspectivas que constituem o conceito de receptor-
criança, aqui adotado, verifica-se que não é apenas na família e/ou na escola que a criança é
referendada (adquire significado). A TV surge como uma articuladora de discursos que auxiliam na
compreensão do ser criança”, identidade socialmente construída.
2.1 TV e Criança
Inicialmente serão apresentados alguns dados quantitativos, levantados por organizações
como IBOPE, UNESCO e KIDDO´S, que fazem alguns indicativos da relação do receptor-criança e
a TV.
Percebe-se que nas três organizações o resultado é que a criança, antes de ir para a pré-
escola, acumula várias horas em frente à TV e que assiste programas adultos por falta de
programação infantil.
O IBOPE (2003) nota que as crianças assistem, em média, 03 horas e 55 minutos de TV
todos os dias (média nacional), tempo comparável às 04 horas em que permanecem na escola. A
avaliação ocorre de acordo com a classe social: classe A passa 3horas e 04 minutos; classe B, 3
horas e 21 minutos e a classe C, 4 horas e 09 minutos. Os números do IBOPE exemplificam que o
programa do Ratinho e o Big Brother Brasil têm parte significativa de sua audiência formada por
crianças.
Em pesquisa publicada por Felitzen e Carlsson (2002), financiadas pela UNESCO,
sobre infância e mídia, problematiza-se que o acesso à TV é de quase 100% dos entrevistados. No
entanto, o que foi alarmante para as pesquisadoras foi o resultado de que em 23 países, o tempo
gasto diante da TV, de crianças até 12 anos, é o seguinte: 76% assistem entre 1 a 3 horas diárias de
televisão e as demais 24% assistem entre 4 a 6 horas por dia, em média.
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Ao lidar com dados da Latinoamerica, o estudo Kiddo´s (Latin América Kids Study)
12
,
que entrevista anualmente centenas de crianças nos principais mercados da América Latina, revela
que as crianças passam mais de 2 horas em frente à TV 62% no Chile, 76% no México e 76% na
Argentina. Cerca de 81% das crianças e jovens latinas declaram amar assistir TV. No Brasil, esse
índice sobre para 91%. A preferência, nas horas de vagas, de crianças e adolescentes de classe A, B
e C configura-se da seguinte maneira: 99% assistem TV; 87% ouvem rádio; 79% lêem quadrinhos;
34% usam a Internet e 34% lêem ou folheiam jornais.
13
O panorama da mídia no Brasil é similar aos dados de outros países da América Latina.
A Pesquisa por Amostra de Domicílio do IBGE
14
mostra que 89% dos domicílios brasileiros têm
televisores, enquanto 88% possuem aparelhos de rádio e apenas 85% possuem geladeira. Já os
dados de 2005 sobre a amostragem dos bens duráveis, verificou-se que a TV aumentou de 2004
para 2005, já o rádio manteve-se na mesma porcentagem de 87% e a geladeira teve um pequeno
crescimento. De 169.799.170 habitantes do Brasil, aproximadamente 24 mil brasileiros estão na
faixa de 0 a 9 anos, o que constitui 70% da população, distribuídos em cerca de 46.507.196
domicílios. Para atender esses lares temos hoje, no Brasil, sete redes de emissora aberta
15
. Dessas,
apenas duas têm sinal com alcance efetivamente nacional: a Rede Globo de televisão, que atinge
99,84%
16
dos 5.403 municípios brasileiros e o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), segundo
maior canal de televisão aberta no país, que atinge 98% da população
17
. Grande parte dos demais
canais chega apenas a grandes centros urbanos ou arredores das grandes capitais dos Estados
brasileiros.
A concentração da programação infantil, em horários coincidentes e distribuídos nos
canais da TV aberta, remete à audiência infantil características e critérios adotados em relação aos
programas voltados para a população adulta. Dessa forma, a construção do olhar da criança
relaciona-se com aquilo que assiste na televisão, pois são criões de outras subjetividades e
influenciam na formação da subjetividade infantil, com modelos e mensagens de conduta e moral.
Para experimentação, fez-se um estudo da programação televisiva brasileira, auxiliado
pelo livro Gêneros e formatos na Televisão brasileira”. Para estudar a semana de programação
12
O Kidds Study é o maior pesquisa de hábitos comportamentais de crianças realizadas anualmente em pses da
América Latina. A são brasileira de pesquisa, conduzida pela empresa Multifocus Pesquisa de Mercado colhe
informações de 1.500 crianças de 6 a 11 anos das classes A, B e C, residentes nos nove maiores centros urbanos
brasileiros.
13
Dados Adicionais em: http:// www.midiativa.tv/index.php/midiativa/contet/view/full/528
14
PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domilio) IBGE: abrange informações sobre as características gerais da
população, migração, educação, trabalho, falias e domicílios referentes a 2001 e 2002, para o Brasil e grandes
regiões.
15
Globo, Record, SBT, Cultura, Rede TV!, Band e Gazeta.
16
Fonte: http://redeglobo3.com/institucional
17
Fonte: http://www.sbt.com.br/institucional
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publicada, foi utilizada a tipologia de categorias e gêneros, para a contagem descrita pelo autor, para
o estudo.
18
Tabela 1 - Quantidade de programas conforme categorias e gêneros na TV brasileira (SOUZA, 2004)
19
Semana de 18 de Fevereiro de 2007 a 23 de Fevereiro de 2007
REDES BRASILEIRAS
INFANTIL ENTRETENIMENTO INFORMAÇÃO PUBLICIDADE OUTROS
CULTURA
16
29
26
-
SBT
20
-
-
-
-
-
GLOB
O
32
20
-
RECORD
25
-
REDE TV!
22
GAZETA
-
10
BAND
23
TOTAL
27
141
72
16
21
Percebe-se que o somatório de programas exibidos nas 7 emissoras de canal aberto é de
aproximadamente 277 programas. Desses, cerca de 27 programas são dedicados à programação
infantil, isto é, 10% de todos os programas em exibição na presente semana. Se excluídos os
programas da TV Cultura, seriam apenas 11 programas. Portanto, percebe-se que a TV Cultura é a
emissora mais significativa em exibição de programas infantis. A Globo e a Record contam com
quatro (4) programas cada, mas deve-se a programação especial de sábado de cada uma das
emissoras, que estendem a emissão de programas infantis para o período da manhã.
Ao pensar nos dados sobre a programação televisiva e no tempo que as crianças
assistem TV, inicia-se a primeira reflexão sobre um dos objetivos do trabalho: O que as crianças
assistem?
Destaca-se que, de acordo com o IBOPE, os programas de maior audiência
21
entre as
crianças de 04 a 11 anos não são dirigidos ao público infantil. Lideram o ranking as novelas (das 19
horas e das 20 horas), o jornalismo noturno e programas humorísticos.
Na pesquisa MídiaQ (2003), dentre os 50 programas mais citados como prediletos, 40
eram de conteúdo efetivamente infanto-juvenil (desenhos, seriados ou novelas infantis, pas de
ficção e quadros com apresentadores).
Duas instituições respeitadas na área de pesquisa de audiência ofereceram resultados
completamente diferentes, para não dizer antagônicos, numa demonstração da superação dos
18
Os programas televisivos publicados no caderno TV & Lazer do jornal O Estado de São Paulo do dia 18 de
fevereiro de 2007, ano 14, mero 767 e constam em detalhes divididos por gênero e emissoras no Anexo A,
19
Segundo SOUZA (2004), as categorias correspondem: Entretenimento (auditório; colunismo social; culinário;
docudrama; esportivo; filme; game show (competição); humorístico; interativo; musical novela; quis show (perguntas e
respostas); reality Show; Revista; série; série brasileira; Sitcom; Talk show; teledramaturgia; variedades) retirou-se
dessa categoria Infantil e Desenhos para maior destaque àquilo que pesquisamos; Informativo (debate; documenrio;
entrevista; telejornal); Educação (instrutivos; educativo); Publicidade (chamada; filme comercial; potico; sorteio;
telecompra) e Outros (especial; eventos; religioso)
20
A programação do SBT não estava disponível na presente semana e nem nas anteriores ou subseentes.
21
Média nacional em maio de 2003.
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estudos de recepção na concepção funcionalista: análise qualitativa de audiência combinada com
análise de conteúdo.
Ao refletir sobre a explanação numérica e o processo de desenvolvimento da criança,
descrito na seção anterior, fica evidente a relação de construção do social da criança, pelas relões
que têm os pais, a escola e a TV, como fonte das regras de sociabilização.
O vínculo com a TV dá-se pela ancoragem no imaginário e a estratégia é a ludicidade
para atingir o objetivo de prender a atenção, capturar o telespectador, independentemente da idade,
a TV realiza sonhos, representa e apresenta uma relação fantástica com a realidade que permeia
inclusive os adultos. (KEHL, 1988, p. 62).
A TV universaliza o imaginário, responde com formulações do código social às questões mais
subjetivas e não contrárias em nenhum momento pela lógica da realização de desejos. Quem
poderá desencantar essa criança, bela adormecida enfeitiçada pelo espelho que só responde sim
às suas tentativas de ficar onipotente? Quem poderá desperta-la de seu sonho de alienação e
devolve-la ao mundo onde convivem homens e mulheres? Um beijo de amor, diz a lenda. E
aqui cabe lembrar que o mundo dessa criança já foi povoado antes que ela tenha sido entregue
aos cuidados da TV. (KEHL, 1988, p. 63)
O lúdico explorado pela TV, esse brinquedo eletrônico, mobiliza dois sentidos: o
áudio e o visual, em uma relação sinestésica. A representação dos objetos, dos valores e do mundo
torna-se simultaneamente mais real e mais virtual.
A produção do sentido torna-se mais observável pelas experiências com as imagens,
propiciadas pelas TV. A realidade é trabalhada não necessariamente para ser objetiva, mas concreta,
confiável e dada para o consumo. Por serem plenas em significados, as imagens sugerem muito
mais que o simples fluxo verbal, atingindo diretamente a fragilidade do sujeito, a fantasia e o
imaginário.
Valores de criação da TV estão mais baseados em preceitos platônicos, segundo Sodré
(1983), no sentido do cuidado com a subversão dos costumes, do que aristotélicos, em que há a
preocupação com o equilíbrio dos elementos da mensagem e sua perfeita forma lógica. Essa questão
fica mais clara a partir da Teoria da Informação
22
, que diz o seguinte: quanto menor é a taxa
matemática de informação de uma mensagem (e maior, portanto, a redundância), maior a
capacidade de comunicação. Comunicação, nesse caso, é empregada em seu sentido técnico: não se
trata de um ideal de ordem social ou humana, mas de recepção e decodificação da mensagem por
um indivíduo qualquer. Quanto aos elementos do programa televisivo, quanto mais familiar for ao
público, por já contê-los em seu repertório, maior será o grau de comunicação. É necessário que
essa mensagem renda o máximo possível, o que implica em uma alta aceitação do conteúdo
veiculado, que, por sua vez, é condicionado à formatação da mensagem.
22
WOLF (1987) p. 98 a 107
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No Brasil, o empobrecimento ou a banalização da mensagem televisiva decorre na verdade, da
incapacidade do comunicador (desde a dirão das estações até os produtores de programas) de
entender a verdadeira natureza do veículo que controla e de elaborar mensagens mais
específicas. (SODRÉ, 1983, p.64)
Sodré (1983), ao refletir sobre a mensagem da TV, diz que ela é universalizada para
tentar atingir todo e qualquer receptor indistintamente, o que propicia ao receptor um estado de
relaxamento, não necessitando do exercício de pensar, deixando-se levar pelo universo das imagens
e sensões de projeção (o receptor desloca seus desejos e pulsões para o que vê), identificação (o
receptor percebe similaridades com as situões e/ou personagens) e empatia (sentimento de
solidariedade” com a situação e/ou personagem em que o receptor troca de lugar, colocando-se
mentalmente no lugar visto).
As imagens operam diretamente nesses apelos emocionais e nas ilusões de objetividade
fabricadas pela TV, tendencionando o sujeito à pseudo-objetividade do recorte fantástico da
realidade.
23
O emissor busca um suposto denominador comum, que tenha o máximo de aceitação
por parte do público e que, mal interpretado, pode levar o sujeito a uma falsa relação com o mundo
que o circunda.
Peixoto (1991) argumenta que a TV contrapõe-se radicalmente à contemplação. As
imagens passam por frões de segundos, o que coincide com a observação feita por Sodré (1983).
A TV é um meio essencialmente platônico, apesar da falta de tempo para olhar. O telespectador
apenas vê e é exposto a inúmeras imagens, que chegam a confundir anúncio de pasta de dente, que
é semelhante à novela, que se mistura com a transmissão de futebol (PEIXOTO, 1991, p. 77). Os
programas mal se distinguem uns dos outros e o espetáculo consiste na própria seência, cada vez
mais vertiginosa de imagens.
Os programas televisivos deixam de ser homogêneos e passam a confundir gêneros e
formatos. Nada mais se contempla. É um movimento contínuo, em direção a outros enunciados. As
justaposições da programação, engendradas à estratégia de marketing dos intervalos, acentuam o
quadro descrito. O telespectador, anestesiado pelo seu momento de relaxamento, propício aos
atravessamentos, à identificação e ao amálgama do que é visto, e não disposto a uma ação reflexiva-
crítica, entrega-se a essa viagem na irrealidade do cotidiano”
24
, provocada pela movimentação
ainda mais acelerada das imagens e pela multiplicação ao quadrado dos meios de comunicação de
massa.
23
Essas afirmações eso baseadas em dois textos Comunicação do Grotesco de Muniz Sodré (1983) e Imaginar e
pensar de Maria Rita Kehl (1991).
24
Referência à seguinte passagem da obra de Umberto Eco (1984, p. 179): o que são hoje os rádios e as televisões,
sabemos muito bem. Pluralidade incontrovel de mensagens que cada um usa e come como quer, com controle
remoto. Não é que mude a liberdade do usuário, mas o que muda com certeza é o modo como ele é ensinado a ser livre
ou controlado. Quanto ao resto, abriram seu caminho devagar a dois novos fenômenos, a multiplicação das mídias e as
dias ao quadrado.
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A imagem se impõe ao receptor em seu estado de relaxamento em frente à TV,
anestesiando-o pela velocidade e quantidade de informação visual. Isso não significa que a sua
atenção seja automaticamente estruturada pela imagem, muito pelo contrário, a TV tende a
dispersar a atenção do espectador, ao invés de estruturá-la.
A introdução do efeito zapping
25
, problematizado por Marcondes Filho (1994), vem
acentuar a sobreposição da programação. O telespectador já não assiste aos programas por inteiro,
mas a vários ao mesmo tempo e articula as imagens de modo desconcertante, dotado de uma
completa falta de paciência a qualquer vestígio de duração ou continuidade. Uma verdadeira ânsia
de evasão, uma busca frenética da surpresa, que implica verdadeira obsessão pelo corte, pela
trituração de tudo que é homogêneo (PEIXOTO, 1991, p.77).
O zapeador fabrica seus próprios programas através de uma leitura transversal. Estaria outro
plano de interferência, em que esse indivíduo faria o que se chama em cinema de decupagem,
ou seja, o corte de cenas de uma filmagem que depois são emendadas, constituindo, em seu
conjunto, uma história, um enredo. Na nova televisão, o zapeador constrói seu programa; ele
fabrica na intersecção de canais um programa todo seu, apesar de completamente desprovido
de qualquer lógica ou sentido. De qualquer maneira, essas categorias já não são mais
imprescindíveis na prova prática de se assistir à televisão. Ele, por outro lado, também
acompanha o ritmo e a dinâmica televisiva nesse saltitar permanentemente, quase que
angustiado, entre canais, à procura de algo, que na verdade nunca encontra. (...) O zapeador é a
figura da nova era, marcada pela cultura da velocidade, da dispersão e da volaticidade, que
busca sentido num conjunto absolutamente heterogêneo de cenas e imagens, formando uma
espécie de milk-shake de ofertas visuais, musicais e noticiosas, cujo sentido da produção e do
desfrute da cultura tornam-se totalmente individualizados. (MARCONDES FILHO, 1994, p.
79-81)
A preocupação do emissor é evitar a fugacidade (tendência à não-retenção) do
espectador, pelas arquiteturas mnemônicas, para que a continuidade das imagens da TV seja
análoga ao fluxo da consciência humana. De certa forma, ao arrebatar visualmente o espectador, a
TV leva-o a uma sensação de deja vu, sentimento de previsão do acontecimento.
A passividade, dessa forma, é uma falta de uso, uma ação interpessoal enferrujada, não
ausente, mas preguiçosa. O receptor-criança torna-se receptivo às estereotipias por sua reprodução
exaustiva. A lógica dos estereótipos e/ou do senso comum está impregnada e fundamentada na
prática social do cotidiano, que é reproduzida pelos programas televisivos. A relação da criança
com a TV, como observa Kehl (1988), é também determinada pela ordem que a cerca. Isso implica
na família, escola e grupos sociais que ocupa.
Orozco (1991) utiliza o conceito de comunidade de apropriação, identificando o papel
da família e da escola como comunidades de legitimação e aprendizagem televisiva das crianças, no
que ele define de mediação institucional. A escola e a família constituem uma mediação
institucional, também no sentido de ter sua própria esfera de significação, produto particular de sua
25
Prática de mudar o canal a qualquer pretexto pelo controle remoto.
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historicidade e institucionalidade, em que se outorga relevância aos programas televisivos e
legitimam as ões nos contextos sociais.
La cosmovisión familiar constituye un conjunto de tradiciones, valores, información y
actitudes que tratan de inculcarse en todos los miembros de la familia para mantener la
cohesión del grupo y garantizar su reproducción. La escuela en tanto institución de educación
formal por lo general involucra una serie de conocimientos y orientaciones sancionadas
socialmente como adecuadas para ser formalmente enseñadas a las generaciones jóvenes y así
facilitar la reproducción cultural y la formación de ciudadanos funcionales al Estado y a la
sociedad civil. (OROZCO, 1991, p.7)
As crianças possivelmente fazem suas interpretões e/ou ressignificões televisivas
com influência das apropriões televisivas da família ou da escola. A primeira comunidade de
apropriação, segundo o autor, é constituída pela família, por ser um grupo natural para se ver TV.
Es dentro de esa comunidad donde se da una negociación entre la audiencia y la pantalla y
entre los distintos miembros de la familia en relación a la TV. Como sugiere Morley (1986)
existe una potica del hogar (politics of the living room) que encuadra los hábitos televisivos
y el tipo de comunicación familiar dentro de la que se inscribe la apropiación de la
programación por parte de la audiencia. (IDEM, 1991, p. 6)
A escola, segundo Orozco (1991), é a comunidade de apropriação que mais promove as
interões com o conteúdo televisivo, pois no ambiente escolar, as atitudes dos professores sobre a
TV, o clima pedagógico e a organização escolar são elementos que incidem sobre os processos
comunicativos realizados pelas crianças, tanto na sala de aula quanto nas brincadeiras e que levam
essas representões para o ambiente familiar. Assim: ... ningún significado es unívoco, sino más
bien polisémico y puede captarse diferentemente (OROZCO apud VARELA, 1999, 56).
O que é visto na TV adquire um caráter polissêmico no tratamento de ressignificação e
no processo de recepção, em contato com as múltiplas mediações que cercam a criança. A aquisição
de significado ou a formação de hábitos de simples apreensão está relacionada à precisão e
distinção e consistência ou estabilidade de significado: Na maior parte das vezes não vemos
primeiro para depois definir, mas primeiro definimos e depois vemos (VARELA, 1999, p.151).
Portanto, a ressignificação da mensagem é resultado do processo cultural e depende de como são
efetuadas as mediações correlacionadas ao momento da recepção.
Para corroborar tal pensamento, Canclini (1999) identifica as comunidades de
apropriação como comunidades interpretativas de consumidores, ou seja, grupos de pessoas que
compartilham bens simbólicos e que lhes conferem uma identidade. Segundo Canclini, os sujeitos
costumam unir-se em torno de algo comum, o que atribui ao consumo a capacidade de caracterizar.
Ao analisar o consumo, o pesquisador é guiado a desconstruir a irracionalidade que cerca o
comportamento dos consumidores, pois na seleção dos bens há apropriação pública do que é
valioso, bem como o modo como os sujeitos se integram e se distinguem na sociedade. Sendo
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assim, exploram-se as visões de consumo e de pertencimento à sociedade, através desses processos
culturais. E a identidade, configurada pelo consumo, depende daquilo que se possui ou daquilo que
se pode possuir, é a ampliação de desejos e expectativas e, até certo ponto, uma nova maneira de ser
cidadão.
Os apontamentos feitos por Varela (1999) sobre as comunidades de apropriação
identificam o receptor como um criador de significados, seja a partir da apropriação de outras
interpretões, ou da identidade de consumo de bens simbólicos, seja da sua subcultura e relões
estruturais com a sociedade. O que se articula com o pensamento de Orozco e Canclini sobre a
amplitude necessária para abarcar a concepção de que as diversas recepções, mediões e consumos
ocorrem em contextos específicos e meios de comunicação, insere-se nesse processo de identidade
social. Não se descartam, na relação receptor/emissor, a assimetria de poder e as influências dos
contextos institucionais e socioeconômicos. Portanto, ao pensar no tema TV e criança reflete-se
sobre a sociedade e suas malhas de discursos e práticas. A problemática está em estabelecer elos
com as múltiplas mediões propostas como a principal instância a ser investigada, nas inter-
relões emissor/receptor, fatores que intervêm nessa relação, bem como nas formas de apropriação
e ressignificação dos sentidos que circulam nas tramas do cotidiano das crianças de pré-escola.
Tres premisas básicas orientan el análisis de la recepción televisiva. Una, que la recepción es
interacción; dos, que esa interacción es necesariamente mediada de múltiples maneras; y tres,
que esa interacción no es circunscrita al momento de estar viendo la pantalla. El objeto de
estudio por consiguiente serán las diversas mediaciones a lo largo y ancho del proceso de
recepción. (OROZCO, 1991, p.08)
A TV é um objeto que sintetiza a globalização, mediação e liberdade de informação,
processos esses que contribuem para a problematização da identidade cultural que está em formação
nesses receptores. Assim nesse contexto, é importante analisar as funções e significados da TV, já
que essa ocupa várias lacunas no cotidiano da criança. Em determinadas situões a criança fica
entregue aos cuidados da tecnologia da TV (babás eletrônicas).
Orozco (1991), ao falar sobre a sua formulação de mediação videotécnica”, admite que
a TV não só tem uma linguagem própria, como também dispõe de certos recursos para aumentar
seu poder legitimador, através do processo de produção de seus programas. No entanto, ao falar
sobre a passividade, o autor se posiciona da seguinte forma:
En el proceso de recepción, la audiencia no asume necesariamente un papel de receptor pasivo.
La actividad de la audiencia se lleva a cabo de distintas maneras. Mentalmente, los televidentes
frente al televisor se “enrolan en una secuencia interactiva que implica diversos grados de
involucramiento y procesamiento del contenido televisivo. Esa secuencia arranca con la
atención, pasa por la comprensión, la selección, la valoración de lo percibido, su
almacenamiento e integración con informaciones anteriores y, finalmente, se realiza una
apropiación y una producción de sentido (Orozco, 1988). La secuencia puede también
realizarse de distinta manera y a ritmos diferentes. A veces la selección o la comprensión de lo
que se mira en la pantalla son los esfuerzos mentales que definen el curso posterior de la
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interacción de la audiencia con la TV (Bryant y Anderson, 1983). A veces, la rapidez de
presentación de información que conlleva la programación acelera el ritmo de su percepción y
puede disminuir la posibilidad de distanciarse de lo percibido. Sin embargo, lo más importante
no es tanto qué actividad mental arranca la secuencia, o a qué ritmo se realiza el procesamiento
informativo, sino el que las distintas actividades que la conforman no implican un mero
procesamiento mecánico de la información (como algunos teóricos de los procesos
cognoscitivos han sostenido, e.g. Collins, 1983), sino que involucran un proceso
fundamentalmente sociocultural (Jensen, 1987). La razón principal es que la secuencia de
actividades mentales conlleva una serie de asociaciones de contenido -en ese caso entre la
información transmitida por la pantalla y por lo tanto externa al sujeto y la información
previamente asimilada en la mente del televidente. La audiencia no se enfrenta a la pantalla
vacía de ideas, emociones, historia y expectativas.
Essa modalidade comunicacional vem assegurar a transmissão de informões sobre a
vida cotidiana e também amplia, em novas formas, a centralização do poder e o disciplinamento do
sujeito. Sodré (1977) afirma que a forma de poder exercida pela TV é de absoluta abstração em
relação à situação concreta e real da comunicação social do diálogo. O exercício de poder interfere
nas suas condições subjetivas, determinadas pela variedade de discursos institucionais (família,
escola, amigos, relões afetivas), veiculados por revistas, jornais, TV, Internet, etc. Os produtores
de televisão procuram fazer programas com o máximo possível de carga emocional e estímulos para
agradar o telespectador e manter bons índices de audiência.
Martin-Barbero
26
atribui três entradas às práticas sociais: tecnicidade, com capacidade
de organizar a percepção, articulando inovões à discursividade nas práticas sociais, o que
transforma essas práticas, originando novas formas de sociabilização; a dimensão da
sociabilidade”, que é a forma como se garante a repetição e a operacionalização na busca de sentido
e, por último, dimensão da sociabilidade”, que é a apropriação cotidiana da existência fora da
ordem da razão institucional, cuja dinâmica tem a capacidade de fissurar o sentido hegemônico,
através da multiplicidade de modos e sentidos, em que a coletividade se faz e se recria, da
diversidade e da polissemia da interação social.
Pacheco (1987) diverge de Martin-Barbero, pois demonstra que a relação entre os meios
de comunicação de massa (MCM) e os comportamentos, atitudes, experiências e valores circulantes
na sociedade é inegável, no que tange à criança, pois em sua pesquisa de campo, com grupos de
crianças de 09 a 10 anos de idade, de escolas públicas e privadas, na recepção de um desenho do
personagem Pica-pau, essa influência ficou evidente e pode ser encarada como uma espécie de
ditadura do pensamento.
Ainda conforme Pacheco (1998), a construção da identidade é processual, é um fluxo de
possibilidades que se encadeiam, articulando-se uma às outras. A apreensão dos conteúdos é
adquirida pela conexão com vários estímulos, oportunizando o surgimento de novidades. É nesse
26
MARTIN-BARBERO (1990) apud JACKS e ESCOSTEGUY, 2005, p. 67
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momento que a lógica do mercado apresenta-se conjuntamente com seus aparatos: pesquisas de
preferência e de tendências, tudo para agradar e chamar mais a atenção do telespectador.
A dia sobrevive conforme é absorvida pela demanda dos telespectadores, sendo convidado a
experimentar mundos diversos advindos da programação que é apresentada, interferindo direta
e indiretamente nas formas arcaicas e obstinadas de ser, buscando ser aceito e elaborando seu
imaginário. (IDEM, 2001)
Com base na reflexão de Pacheco, é possível afirmar que a existência da programação
está a cargo do telespectador, para fugir da sua realidade angustiante. A influência da TV, na
formação da identidade infantil, se faz nessa hora evidente, pois a criança cria um vínculo com
programas que contêm os elementos míticos (como a mitologia grega) e simbólicos, através da
constituição do personagem, do próprio enredo ou metafórica em alguns desenhos em que a
personalidade do personagem é expressa pela cor de seu cabelo ou pelo antroporfismo, que, são
composições integrantes dos programas televisivos.
A criança interpreta as mensagens passadas pelos heróis e suas trajetórias fantásticas,
apropriando-se dos discursos à sua maneira, podendo absorvê-los por completo ou ressignificando-
os, conforme a situação presente. Daí a importância dada aos programas televisivos no
desenvolvimento infantil, pois na medida em que a criança se diverte assistindo TV, satisfaz sua
necessidade lúdica, vivendo imaginariamente conflitos, medos e aventuras, num processo de
amadurecimento emocional e cognitivo.
A partir dos mitos nos desenhos animados preferidos, a criança elabora medos e satisfaz
necessidades fundamentais como: viver a magia da fião; a importância de, ainda que
magicamente, desafiar as regras que o adulto lhe impõe no seu dia-a-dia; e a substituição do
tempo métrico, que é real, pelo tempo psicológico que lhe permite libertar-se da gravidade,
ficar invisível, e assim, comandar o universo por meio da sua onipotência. (PACHECO, 2000,
p. 34)
A TV, segundo Pacheco (1987), a cada dia condiciona a vida diária da criança e da
falia, podendo ser chamada de escola paralela, pois informa e influencia, fazendo a criança
adquirir uma visão distorcida, estática, deformada e maniqueísta dos valores e dos homens.
Os pequenos tornam-se experts, embora sem um desenvolvimento pleno da sua
consciência crítica, naquilo que as mensagens emitidas significam, sem a plena decodificação do
que não está expcito, mas escondido ou simbolizado.
Com essas duas pequenas considerões antagônicas sobre a relação entre a TV e sua
recepção, podemos perceber a amplitude e o conflito, no que diz respeito à dia, ao
desenvolvimento infantil e à dificuldade de se trabalhar com o tema.
A distância existente entre o adulto e a criança fica cada vez mais perceptível quando
tratamos de mídia e programas feitos para a infância. Para um programa ideal, não se pode deixar
de ter em vista o sujeito, no caso a criança, que está inserido em um determinado contexto de
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desenvolvimento e percepções aguçadas. O sujeito passa a ser um objeto consumidor aberto aos
estímulos das propagandas.
Aproveitando-se do conhecimento da estruturação das práticas sociais, que supõem um
entrelamento entre necessidades e desejos, em uma alternância de dar e receber, os produtores de
programas para a televisão procuram fazer programas com o máximo possível de carga emocional e
estímulos para agradar e capturar a atenção do telespectador. Dessa forma, a construção da
identidade individual e coletiva relaciona-se diretamente com os programas exibidos e assistidos na
TV, pois são elementos que
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propiciam sociabilização e influenciam na formão de modelos e mensagens, de conduta e valores.
A TV tem o poder e esse poder/saber é sua arma principal no jogo de conquista do
espectador. Foucault estabelece as relões de poder através e pelo saber e assim a TV detém o
maior dos poderes, inclusive o de determinar a realidade, pautar assuntos e o cotidiano. Transfigura-
se em uma escola paralela”, pois informa a criança desde os assuntos mais básicos até os mais
polêmicos, como já foi teorizado em seção anterior.
Na perspectiva de que é nas redes sociais que se constroem as representões e,
conseentemente a identidade, temos, na cultura, o campo onde se tem a materialização e na
subjetivação, a conexão do mundo interno com o mundo externo, através da abstração das idéias.
A negociação simbólica é o principal território em que as tecnologias agem. De um lado,
temos o indivíduo com seus desejos e formão de ser; do outro, temos a mídia com seus
argumentos e modelos, a hegemonia.
A contextualização da construção da identidade como fluxo de possibilidades de
associação de representões e ideologias, compreende-se que a mídia é um fator decisivo para o
entendimento do cotidiano e da cultura, pois se o cotidiano dos telespectadores é bombardeado por
vários estímulos sensitivos, cognitivos e afetivos, veiculados por imagens, sensões, pensamentos,
produções por conexões e afeições, deve-se entender a TV como uma síntese de práticas
discursivas.
Ressalta-se que não é possível entender um objeto complexo, como a TV, a partir de
relões lineares, principalmente em um terreno interdisciplinar, uma vez que se está tratando da
produção de sentido (mediação) e não dá gestão da informação. Reforça-se a idéia de que reduzir os
fenômenos midiáticos a meras estatísticas, levar ao erro de ignorar a gênese da subjetividade e seu
processo de produção. Quanto à produção de sentidos e afetos, a subjetividade, é atribuída às
representões e ideologias, através de diálogos, assimilando culturas com diversidade (questão do
imaginário e da subjetividade envolvida no processo de recepção e mediação).
Apreensão do sentido não é apenas entender a emissão das mensagens televisivas ou o
que alguém fala sobre TV, mas é compreender, a partir da recepção, como a produção de sentido
acontece e como é produzido pelos receptores-crianças. Faz-se necessário retomar os fundamentos
teóricos o processo de análise das relões sociais, mediadas pela TV e seus contextos.
Após a argumentação teórica, percebe-se que a TV procura ampliar e se associar aos
objetos e ões presentes no cotidiano, na captura da dinâmica do dia-a-dia, o que facilita a
apropriação da mensagem pelo sujeito. A incorporação do lúdico à produção da imagem é pensada
para a mercadoria cultural, o bem simbólico e material a ser consumido por várias faixas de público,
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refletindo nos estilos de vida e no cotidiano, que, influencia na identidade, em termos de micros
(individuais) ou macros (culturais) contextos.
Existem dialéticas e ilusões na ânsia por uma verdade inexistente, assim como inúmeras
possibilidades de investigação, mas há aqui um campo teórico dinâmico, condicionado às alterões
mercadológicas e tecnológicas. O conhecimento deve ser provisório, dinâmico e flexível, porque é
necessário para se questionar posições já sedimentadas, positivistas, em relação à recepção infantil.
O conhecimento científico deve evoluir e proporcionar reflexões e críticas para o seu processo de
construção de análise das mediões das crianças, dentro do campo da comunicação. É importante a
abertura para a interdisciplinaridade, que não pode ser entendida como justaposição de perspectivas
teóricas, mas como diálogo com disciplinas em busca de respostas, mesmo que provisórias, sobre a
questão levantada por esse estudo.
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3. Universo da Pesquisa de Campo
Pense em tudo que você sabe ou intui sobre uma criança. Lembre da criança que já foi
um dia. Levante os critérios de como você acha que a criança pode (e deve) ser
estimulada pelo veículo mais sedutor da comunicação que existe. Pense no fascínio da
imagem, no encantamento que uma estória suscita, lembre dos desenhos, de bonecos,
cogite formas de informação que podem ser dadas, relembre a agilidade das formas e o
ritmo do veículo que é a televisão. Medite no que é (ou que pode ser) o mundo via
satélite... olhe a criança de hoje, pensa na elaboração de um herói contemporâneo,
relembre o que é uma narrativa. (Fanny Abramovich, O Estranho mundo que se mostra
às crianças
A pesquisa de campo concentra-se na etnografia realizada no Centro de Convivência
Infantil (CCI) Gente Miúda”, com crianças de 04 a 06 anos de idade. A instituição é direcionada a
filhos de servidores da UNESP de Bauru, desde servidores técnico-administrativos a docentes. O
número de vagas é limitado ao número de 15 por grupo. As crianças têm direito a estudar desde o 3º
mês até os 07 anos de idade. São seis (06) grupos divididos por faixa etária
27
e acompanhados por
uma professora responsável e uma auxiliar de ensino. O período de funcionamento é integral, das
7:30 até às 17:30 horas.
A UNESP (Campus de Bauru), desde 1988 em atendimento às necessidades do processo
histórico e acompanhando a legislação [Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n.
9.394 de 20/12/96, artigo 29 e 30], institui o Centro de Convivência Infantil Gente Miúda,
buscando garantir o direito da criança-cidadã, filhos de servidoras (técnico-administrativas e
docentes) prioritariamente, e de servidores, quando atendidas as condições expostas no Decreto
Estadual n. 33.174 de 08/04/91. Ao representar o Estado, no atendimento da faixa etária de 0 a
06 anos, o CCI Gente Miúda, através da portaria UNESP n. 49, de 07/03/96, que aprova o
Regimento dos Centros de Convivência Infantil, em andamento ao art. 36, desenvolve um
trabalho que prioriza a adequação xima no atendimento integral a cada faixa etária
propiciando o desenvolvimento físico, psicomotor, emocional, intelectual e social à criança,
sujeito da história. (PROPOSTA PEDAGÓGICA DO CCI, p. 01, ANEXO B)
A pesquisa de campo compreende três fases distintas: Fase Sondagem, em que o
próprio nome já enuncia a intenção: executar uma estratégia de reconhecimento. A entrevista
inicial, com a diretora do CCI, clarificou as regras da instituição, assim como a expectativa
depositada na execução dessa pesquisa. Outra etapa desse processo de sondagem se deu pela
aplicação do questionário original, elaborado para refletir sobre os aspectos positivos e negativos da
TV, vistos pelos pais e, assim, auxiliar na análise da recepção infantil. Apesar dos dados do
questionário serem quantificados e interpretados, os resultados dos questionários respondidos pelos
pais e professores foram insuficientes para o que se objetivava e percebeu-se que haviam muitas
lacunas a serem preenchidas. Por esse motivo elaborou-se a 2ª fase.
Fase Mapeamento do Consumo Midiático, trata-se da contextualização das
crianças pelo olhar dos adultos (pais e professores) e pela observação de seu cotidiano no CCI. Ao
mapear os hábitos de consumo midiático, com a reaplicação de um questionário mais detalhado, não
27
Estruturação dos grupos: GRUPO I (0 a 1 ano), GRUPO II (1 a 2 anos), GRUPO III (2 a 3 anos), GRUPO IV (3 a 4
anos), GRUPO V (4 a 5 anos), GRUPO VI (5 a 6 anos).
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só algumas dúvidas foram tiradas, como algumas hipóteses puderam ser trabalhadas, como os
conteúdos a que as crianças têm acesso em casa e que trazem materialmente para o CCI, em forma
de VHS ou DVD. A observação do cotidiano das crianças dos Grupos V e VI, do Centro de
Convivência Infantil Gente Miúda, executada nessa fase, foi direcionada para as brincadeiras e as
preferências manifestadas pelas crianças, sem qualquer interferência.
Fase Pesquisa Etnográfica, ou seja, as Oficinas Temáticas. Essa fase foi a que
contou com o maior planejamento estratégico para a execução. O início das oficinas temáticas teve
como base as brincadeiras observadas, os apontamentos dos pais e professores e o levantamento dos
programas preferidos das crianças, em conversas, não em entrevistas, sem a presença física da TV.
Houve o cuidado com o lúdico e com as regras da instituição e a preservação do direito de aceitação
ou rejeição de propostas feitas pela pesquisadora, tudo devidamente observado e registrado no
diário de campo.
A primeira atividade foi um desenho, antes da exibição do filme do dia”, em que havia
um esboço de televisão impresso numa folha A4. A segunda, terceira e quarta atividade tiveram a
participação direta da TV. A pesquisadora preparou três fitas VHS, em que a primeira continha os
programas indicados pelos pais como os preferidos das crianças; na segunda fita havia programas
declarados como preferidos pelas próprias crianças e a terceira e última VHS foi preparada com
aquilo que se verificou comum entre pais, crianças e escola. A última atividade foi a tentativa de
compreender o processo de apropriação e ressignificação de elementos midiáticos. Essa fase é
muito importante, pois é a oportunidade que a pesquisa oferece para desconstruir determinados
mitos, como o da própria preferência televisiva infantil.
Nas sões seguintes constam descrições mais detalhadas das fases, como seus
objetivos, procedimentos, resultados e considerões.
3.1. Fase 1 Sondagem
A Fase 1 - Sondagem foi realizada no final de 2006 com o Grupo IV, com crianças de
03 a 04 anos, que em 2007 fizeram parte do Grupo V (5 a 6 anos), o que justifica esse Grupo ainda
constar como universo de pesquisa. Foi incorporado o Grupo VI (6 a 7 anos), porque ambos os
grupos fazem a atividade de ver TV após o almoço juntos, por indicação da diretora da creche. O
acompanhamento de observação foi feito com o Grupo VI, já que a professora não possui a auxiliar
e sua sala está com menos alunos, ou seja, sete ao todo.
Outro detalhe que deve constar como variável do trabalho é que no período de
observação a instituição passava por reformas e por isso as aulas eram dadas em conjunto. Os
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Grupos V e VI compartilhavam a mesma sala de aula, mas suas atividades específicas eram dadas
em separado.
Os horários das atividades do Grupo VI, para uma melhor visualização, em que se
destaca o espo/tempo em que a pesquisa efetivamente acontece, estão na tabela abaixo:
Tabela 2 - Horário das Crianças Grupo VI
HORÁRIO
SEGUNDA
TER
ÇA
QUARTA
QUINTA
SEXTA
7h30/8h30
Recepção
Recepção
Recepção
Recepção
Recepção
8h30/9h30
Roda da conversa
Roda da conversa
Roda da conversa
Roda da conversa
Roda da conversa
9h30/10h
Fruta
Fruta
Fruta
Fruta
Fruta
10h/11h
Oralidade e
Escrita
Artes
Mate
tica
Natureza e
Sociedade
Oralidade e
Escrita
11h/11h45
Parque
Parque
Parque
Parque
Parque
11h45/12h15
Almoço
Almoço
Almoço
Almoço
Almoço
12h15/13h
Higiene Bucal
Higiene Bucal
Higiene Bucal
Higiene Bucal
Higiene Bucal
13h/14h
Atividade
Coletiva Grupo
V e VI
Atividade
Coletiva Grupo
V e VI
Atividade
Coletiva Grupo
V e VI
Atividade
Coletiva Grupo
V e VI
Atividade
Coletiva Grupo
V e VI
14h/14h30
Parque
Parque
Parque
Parque
Parque
14h30/15h
Higiene do corpo
Higiene do corpo
Higiene do corpo
Higiene do cor
po
Higiene do corpo
15h/15h30
Hora da História
Hora da História
Hora da História
Hora da História
Hora da História
15h30/16h15
Lanche
Lanche
Lanche
Lanche
Lanche
16h15/17h
Agenda
Agenda
Agenda
Agenda
Agenda
17h/17h30
Jogos
matemáticos
Jogos de
interação
Jogos simbólicos
Jogos
matemáticos
Dia do Brinquedo
17h30/18h
Saída
Saída
Saída
Saída
Saída
Ao todo eram 23 crianças, 15 do Grupo V (04 a 05 anos) e 08 de Grupo VI (05 a 06
anos)
28
, sendo 14 meninos e 9 meninas. A faixa socioeconômica
29
desse grupo era bastante
variável, pois tinha desde filhos de técnicos administrativos (serviços gerais) a filhos de docentes
com pós-graduação
30
, o que caracteriza o grupo como heterogêneo socioeconomicamente. Esse foi
o principal motivo da escolha dessa instituição para a pesquisa de campo.
O número reduzido de alunos no Grupo VI, informação dada pela diretoria do CCI,
deveu-se à portaria 49 do Ministério da Educação, que mudou a estrutura dos anos letivos do ensino
fundamental. A partir do ano de 2006, o primeiro grau passou a ter nove anos de duração, fato esse
que fez as crianças com maior poder aquisitivo irem para a nova” primeira série, permanecendo no
Grupo VI os filhos de servidores técnico-administrativos.
28
A criança mais nova tem 04 anos e 07 meses e a criança mais velha tem 06 anos e 08 meses.
29
A faixa salarial é de R$ 750,00 reais a R$ 3.200,00, variando conforme o cargo ocupado.
30
No Grupo V são 04 filhos de docentes e 12 de cnicos administrativos de cargos variados. No Grupo VI são todos
filhos de técnicos administrativos de cargos variados. No total do Grupo V e VI, são 19 filhos de cnicos
administrativos (83%) e 04 filhos de docentes (17%).
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3.1.1 Objetivos da Fase 1 Sondagem
Objetivou-se o levantamento da situação no campo, isto é, no Centro de Convivência
Infantil da UNESP, Campus de Bauru. A exploração dos problemas de ordem primária constituiu-se
em conhecer o ambiente, contatar a direção da instituição e aplicar o questionário/termo de
permissão aos pais e professores.
3.1.2 Contato com a diretora do CCI
A apresentação da pesquisa à Direção da escola se fez por meio da entrega de uma cópia
do projeto de pesquisa e do plano de atividades detalhado, conjuntamente com uma cópia do
curriculum da pesquisadora e uma carta de apresentação do programa de pós-graduação, assinada
pela coordenadora, Profa. Dra. Ana Sílvia Davi Médola.
Após uma semana foi marcada uma reunião para discussão do projeto. A diretora fez
indicativos sobre as reclamões dos pais e sobre o uso da TV. Uma dessas reclamões foi
direcionada ao Grupo I e Berçário, com crianças de 0 a 2 anos, porque as professoras estavam
colocando a TV sem um objetivo ou propósito específico.
Outra reclamação, sem especificar o grupo, foi que as crianças estavam falando sobre a
Xuxa e cantando suas músicas. Aparentemente, esse comportamento não ocorria em casa e foi
diretamente relacionado à instituição. A diretora classifica o evento como um movimento anti-
Xuxa”, vindo dos pais.
Sobre a pesquisa a ser desenvolvida, a diretora ressaltou a importância do feedback aos
pais. O projeto de televisão foi bem aceito pela diretora por prever, em seu cronograma, o espo
para feedback e a abertura para se falar sobre o tema. Por ser uma instituição da UNESP, por várias
vezes acontecem pesquisas, em que o pesquisador não devolve os resultados ou os debates. Por isso,
os pais têm estado mais resistentes às pesquisas desenvolvidas ali, alegando que os filhos não são
ratos de laboratório.
A idéia de fazer uma reunião com pais para apresentar o projeto e posteriormente
divulgar os resultados da pesquisa teve uma ótima acolhida. Inclusive, há sugestão para que se faça
uma carta de apresentação do projeto para os pais, quando se iniciar a pesquisa propriamente dita.
Para ser pesquisado, foi indicado o grupo IV, em que as crianças têm um espo
específico em que assistem TV e não dormem após o almoço (Hora do Soninho). O que as
crianças assistem provem de alguns títulos que a instituição possui, ou de alguma mídia trazida pela
criança.
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A diretora faz menção a um caso em que uma criança trouxe um filme do Harry
Potter, que não foi exibido pela densidade tanto de conteúdo quanto tempo de durão. No entanto,
filmes como Carros são opções viáveis, pois todas as cenas são chamativas e interessantes.
Saber que a TV não está conectada aos canais abertos ou pagos alterou um pouco o
modo de lidar com o aparelho de TV. O mapeamento do consumo dos programas televisivos fica a
cargo da observação do discurso das crianças e do contato com os pais, via entrevista e/ou
questionário. No entanto, foi necessário repensar a estratégia de exibição dos materiais, pois a
creche conta com aparelho de VHS e DVD. Dessa forma, pensou-se em usar a videoteca da
instituição, vídeos trazidos pelas crianças e a gravação de programas pela pesquisadora.
Delimitou-se que os questionários para a sondagem seriam entregues naquele mês,
novembro de 2006 e que o contato com as crianças ocorreria ao início de 2007. Isso se justifica pelo
fato da pesquisadora acompanhar, desde o início das aulas, o cotidiano das crianças.
3.1.3 O questionário original
O questionário foi chamado de original, por ter sido o primeiro a ser elaborado na
intenção de saber os aspectos positivos e negativos que os pais vêem na TV, de ter conhecimento
sobre o que as crianças assistiam em casa e de como era esse processo. O questionário foi baseado,
adaptado e ampliado segundo a Cartilha do Jovem Telespectador Tver, projeto da ONG Tver.
Um material destinado a alunos e professores dos diversos níveis de ensino que ajuda a
promover a reflexão crítica sobre a televisão. Criada pela educadora e ex-consultora de
educação da TV Cultura de São Paulo, Célia Marques, a Cartilha tem duas versões: uma para
alunos e outra para professores. (...) a Cartilha propõe a reflexão sobre os aspectos positivos e
negativos da TV e a análise de diversos tipos de programas assistidos pelo aluno. (Fonte: TVer
http://www.cidadania.org.br/conteudo.asp?conteudo_id=3063)
A aplicação do questionário original foi uma experimentação para averiguar a eficia
das perguntas elaboradas e para que houvesse um primeiro contato, através dos adultos, com o
mundo das crianças.
Os resultados vistos mais adiante foram decisivos para elaborar a estratégia técnica
adotada nas fases seguintes. Vieram à tona algumas questões: Quem são essas crianças? Como ter
acesso a informões que reflitam o consumo midiático das crianças? Quais são os problemas reais,
isto é, do cotidiano, em relação às crianças e à televisão?
A valorização de dados quantitativos, obtidos pelos questionários originais, vem da
intenção inicial em que esses foram elaborados, mas os dados coletados foram insuficientes para
atingir o intento de mapear o que as crianças assistem em casa, e como são seus hábitos de consumo
midiático. A análise dos resultados alertou para a concepção de uma nova estratégia metodológica,
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adotada em relação aos pais e, com base nisso, elaborou-se a Fase 2 Mapeamento do Consumo
Midiático, com o propósito de dar conta das falhas do primeiro questionário e tentar a participação
dos pais e professores na pesquisa.
3.1.3.1 Resultados dos questionários aplicados às professoras
1. Durante o tempo em que as crianças brincam no CCI, vo tem observado alguma
influência da TV?
0
1
2
SIM
NÃO
Professora I
Professora II
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2. Que tipos de brincadeiras fazem?
0
1
2
Power Rangers
Barbie
Homem-Aranha
Professora I
Professora II
3. Usam roupas, acessórios e/ou objetos de personagens da TV?
0
1
2
SIM
NÃO
Professora I
Professora II
4a. Mencionam, imitam ou identificam a si mesmos com personagens de filmes, desenhos ou
novela?
0
1
2
SIM
NÃO
Professora I
Professora II
4b. Quais os personagens são mencionados?
0
1
2
Power Rangers
Meninas Super Pode...
Não respondeu
Professora I
Professora II
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5a. Citam ou referem-se a situações de algum programa de televisão?
0
1
2
SIM
NÃO
Professora I
Professora II
5b. Quais as refencias e/ou citações sobre os programas assistidos?
0
1
2
Jogos monta tudo
Não respondeu
Professora I
Professora II
6. Quais os programas que vo acha serem os preferidos das crianças?
0
1
2
Educativos
Desenhos
Professora I
Professora II
7. Vo acha que os programas assistidos pelas crianças são adequados para suas idades?
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8. Quais são os programas mais adequados?
0
1
2
Castelo Ratimbum
Caiul
Tv Cultura
Cocori
Professora I
Professora II
9. Se desejar, acrescente outras observações sobre a questão da criança e a TV
0
1
2
Não responderam
Professora I
Professora II
3.1.3.2 Análise dos Resultados dos Questionários das Professoras
O questionário foi entregue pela instituição e não houve qualquer mediação por parte da
pesquisadora. Não se tem conhecimento, pelo questionário, sobre quem é a professora responsável
pelo grupo e quem é a auxiliar. Portanto, foram denominadas de Professora I e Professora II, o que
não altera os resultados, uma vez que ambas estão em contato com as crianças durante o horário
letivo.
Nenhuma das professoras quis acrescentar alguma observação sobre a questão criança e
TV. As professoras do Grupo IV que concordam há influência da TV no comportamento das
crianças e que isso fica claro em suas brincadeiras. Ambas fazem menção a brincadeiras, tanto
femininas (Barbie) quanto masculinas (Power Rangers e Homem Aranha).
Há concordância sobre o uso e consumo de objetos, roupas e acessórios de personagens
da TV. A Professora I chegou a sublinhar a palavra objeto, no questionário, porque os objetos são
os mais visíveis dentro da escola, já que as crianças usam uniformes.
Quanto à questão de identificação com personagens, percebe-se a citação novamente do
Power Rangers, programa que foi investigado com atenção nas fases seguintes, pois foram citados
duas vezes em 9 questões das professoras e também foi citado no questionário dos pais.
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As citões a situação assistidas em algum programa de TV também ocorre, mas as
professoras não foram claras sobre o que as crianças citam e em que momento. Esse ponto ficou
obscuro e mereceu maior atenção na fase de observação.
No quesito de programas favoritos, as professoras divergiram. A Professora I escreveu
que as crianças preferem os educativos e a Professora II considerou os desenhos, em geral, como
preferidos. Ao citar alguns programas indicados para as crianças, as professoras citam: Castelo
Ratimbum (TV Cultura), Caiull (Discovery Kids), a TV Cultura por inteiro e o programa infantil
Cocoricó (TV Cultura).
Figura 1 Programas favoritos das crianças segundo as professoras: Castelo Ra-tim-bum, Cocoricó
FONTE: Site TV Cultura
Os pais também citaram a programação do canal de TV (Discovery Kids, TV Cultura,
TV Futura) como indicada para as crianças. Chama a atenção o fato de que as brincadeiras ou
personagens citados nesse questionário não pertencem a programas educativos ou aos canais acima
citados.
Destacam-se, nesse questionário, alguns pontos que serviram de norte para a observação
na creche: 1) as brincadeiras personificadas com desenhos e sua incidência; 2) roupas, acessórios e
objetos como manifestões de preferências no consumo midiático e 3) se as preferências
manifestas pelas professoras são as mesmas expressas pelas crianças.
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3.1.3.3 Resultado dos questionários aplicados aos pais
0a. Em sua casa existe mais de uma TV?
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
SIM
NÃO
PAIS
0
b. Quantas?
0
1
2
3
4
Nenhuma
1
2
3
4
Não respondeu
PAIS
OBS
.: A média de televisores por família é de 2,4.
1. Seu filho assiste TV?
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
SIM
NÃO
PAIS
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2. Assistir TV em sua casa é um hábito?
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
SIM
NÃO
PAIS
3.
Em que horário seu filho costuma assistir TV?
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Man
Tarde
Noite
Não Respondeu
PAIS
4.
Algum dos pais está presente quando o filho assiste TV?
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Sim
Não
Às vezes
Não respondeu
PAIS
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5. Quanto tempo seu filho permanece em frente à TV?
0
1
2
3
4
5
1 hora
1hora e meia
2 horas
3horas
4 horas
O tempo do desenho
Não Fica
PAIS
Obs.
: A média de tempo de permanência da criança em frente à TV é de 2 horas e meia, excluindo as que não assistem e as
que não responderam precisamente
6. Essa rotina muda no final de semana?
0
1
2
3
4
5
6
7
8
SIM
NÃO
Não respondeu
PAIS
7.
Seu filho assiste mais TV durante o final de semana?
0
1
2
3
4
5
6
7
8
SIM
NÃO
Não respondeu
PAIS
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8. Quais os programas que ele costuma assistir durante a semana?
0
1
2
3
4
5
Nenhum
Castelo Ratimbum
Desenhos Discovery Kids
Disney Channel
Filmes
Desenhos
TV Xuxa
TV Cultura
Novela
PAIS
9. E
no final de semana, o que seu filho assiste?
0
1
2
3
4
5
Disney Channel
Castelo Ratimbum
Desenhos Discovery Kids
Tv Globinho
Filmes
Desenhos
Futebol
TV Cultura
Turma do Didi
Dvd
Algo que chame atenção na TV
Cartoon Network
Tv Futura
Não respondeu
PAIS
10.
Em sua opinião, qual é o preferido dele?
0
1
2
3
Zoobomafoo
Casa do Mickey
Lazy Town
Princesas
Tv Cultura
Power Rangers
Meninas Super Poderosas
Chaves
Castelo Ratimbum
Caiul
Bob, o contrutor
Barney
Pinks Dink Doo
Não respondeu
PAIS
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11. Quem costuma ligar e desligar a TV para o seu filho?
0
1
2
3
4
5
6
7
Pai
Mãe
Ela mesma
Não respondeu
PAIS
12a.
Os pais notam alguma mudança no comportamento do filho, após assistir algum programa na
TV?
0
1
2
3
4
5
6
7
8
SIM
NÃO
Não respondeu
PAIS
12b.
Qual?
0
1
2
3
4
Imitar o desenho
Luta
Cantar a música do programa
PAIS
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13. Seu filho já pediu algum brinquedo anunciado na propaganda?
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
SIM
NÃO
Não respondeu
PAIS
14.
Dentre os brinquedos solicitados, quais foram adquiridos?
0
1
2
3
4
5
6
7
Hot Weels
Patinete
Tenis de Rodinha
Videogame
Nenhum
Não respondeu
PAIS
15.
Esses brinquedos trazem mais satisfação a ele que os outros?
0
1
2
3
4
5
6
7
SIM
NÃO
Nem sempre
Não respondeu
PAIS
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16. Vo acha que os programas assistidos por ele são os mais adequados para a sua idade?
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
SIM
NÃO
Não respondeu
PAIS
17.
Quais seriam os programas mais adequados?
0
1
2
3
4
5
6
7
Não respondeu
Desenhos da Disney
Educativos
Todos que são feitos para cri...
Pais
18a.
Seu filho tem outras atividades além da escola?
0
1
2
3
4
5
6
7
8
SIM
NÃO
Não respondeu
PAIS
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18b. Quais atividades?
0
1
2
3
4
5
Passeios
Brincadeiras
Cultos
Pinturas
Massa de modelar
Recortar revistas
Ballet
Bicicleta
Playground
natação
Não respondeu
Pais
19.
Seu filho é estimulado em casa?
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
Uso do computador
Brincadeiras
Leitura de estórias
Jogos
Bicicleta
Pais
20. Se desejar, acrescente outras observações sobre a questão da criança e a TV.
Não responderam 6
os desenhos que passam em canais abertos, como por exemplo a Globo que estimula a violência, os Power Rangers
(Manuel, 4 anos 3 meses)
a maioria dos desenhos são de canais educativos, como Discovery Kids por exemplo. (Renato, 5a3m)
nós procuramos dar prioridade para eles assistir alguns programas infantis gravados como filmes desenhos. A noite por
que entendemos por ele ficar o maior tempo no CCI, não vê TV aqui em casa durante amanha e a tarde” (Ricardo,
5a1m)
Meus filhos assistem TV, mas, na maioria das vezes colocamos filmes e desenhos em DVD. Eles gostam de assistir
filmes da Disney, Turma da Mônica e os desenhos que são lançamos em DVD. Eles não assistem novelas e nem
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noticiários na TV. Uma outra observação sobre a queso 5, meus filhos ficam o dia todo na escolinha (das 8:00 às
17:00). (Tereza, 4a11m)
Por questões religiosas não temos aparelho de TV agora. Mas tivemos algum tempo e persebemos que o
comportamento nesses 6 anos sem mudou para melhor nos comunicamos mais, ouvindo, discutindo, resolvendo nós 6
da família juntos e não sentimos falta. Isto não quer dizer que não temos conhecimento do que é lançado na moda ou o
que acontece ao nosso redor. Só que sem a televisão aprendemos a viver melhor. (Cudia, 5a0m)
3.1.3.4 Análise dos Resultados dos Questionários dos Pais
Os questionários foram enviados aos pais do Grupo IV, pela diretoria do CCI e 11
foram devolvidos. Ao perguntar se a criança assiste TV, apenas um questionário apontou que não,
por motivos religiosos. O considerar o número de televisores por casa, fez-se uma média, excluindo
a família que não tem. O resultado foi de 2,4 televisores por falia e todos admitem a prática de
ver TV.
O período noturno, com 81% das respostas, é aquele em que a criança fica em frente da
TV. Em geral, os pais estão presentes enquanto a criança assiste TV, mesmo sendo a criança que
liga e desliga o aparelho e o tempo de permanência dela diante da TV é de aproximadamente 2
horas diárias. Ressalta-se que o CCI é integral e que deve ser adicionada a essa média, uma hora
que as crianças têm de TV na instituição.
Na questão dos programas assistidos pela criança, vê-se uma confusão dos pais ao
indicarem os canais e não os programas, problema esse também identificado no questionário das
professoras. Nota-se o uso comum de DVD como um recurso de fuga à programação televisiva.
Os programas mais citados são os da Discovery Kids, que é um canal por assinatura,
fato esse que mereceu atenção na reformulação do questionário para a Fase 2. Os outros programas
citados referem-se à programação da TV Cultura, SBT, TV Globo e TV Futura, isto é, canais
abertos. Merece também atenção a citação das novelas e outros conteúdos adultos.
Os pais disseram não perceber mudança no comportamento dos filhos após assistirem
TV. No entanto, alguns pais, mesmo assinalando que não, descreveram os seguintes
comportamentos: imitar personagens, cantar a música tema e brincar de luta.
As perguntas que tiveram maior índice de não resposta foram as direcionadas ao
consumo de objetos vistos pela criança na dia, ligados a propagandas. Todos os pais disseram
que as crianças pedem inclusive, a que não têm TV, mas que não são atendidas, apesar de acharem
esses brinquedos provocam melhor satisfação que outros.
Dessa análise foram retirados os seguintes pontos para a fase de observação e para o
questionário reformulado: 1) investigação da faixa socioeconômica e cultural dos pais com mais
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exatidão; 2) saber se a família tem TV por assinatura e que pacote é esse; 3) entender como são
feitas as escolhas dos programas a serem assistidos; 4) conhecer quais são os canais e os programas
assistidos pela criança; 5) ter maior conhecimento da opinião dos pais sobre a questão da TV e 6)
prospectar o interesse dos pais em conversar sobre o tema com a pesquisadora.
3.1.4 Considerações sobre a Fase 1 - Sondagem
As observões a serem feitas giram sobre as insuficiências de dados coletados pelo
questionário original. Pela maioria das respostas, exceto uma, contata-se que as crianças assistem
TV durante uma média de quase 3 horas, o que significa que a criança fica na creche até às 17 horas
e, ao chegar em casa fica a cargo da TV. Levando em conta apenas esse dado coletado, a pesquisa
seria reducionista e relataria tão somente o que os outros estudos citados já disseram.
Outro dado confuso dos pais é sobre a programação e canais de TV. Vários pais
responderam que a criança assiste determinados canais e não programas. Na prática, isso quer dizer
que a criança assiste o canal Cultura, como fica evidente pelo questionário, pois no período da noite
não há programação infantil, como em outros canais da TV aberta. Mas ao tratar com esse público,
percebe-se a adesão quase total ao sistema de TV por assinatura e a preferência por programas
exibidos por canais como o Discovery Kids, Nickelodion e Cartoon Network. Ao cruzar os dados
sobre a faixa salarial dos funcionários e o pro dos canais por assinatura, percebe-se a falha de não
ter sido perguntado qual era a faixa socioeconômica da família, dado esse a ser explorado em um
novo questionário.
A esquiva na pergunta sobre consumo de brinquedos relacionados à publicidade e aos
próprios desenhos é outro ponto importante a ser explorado, uma vez que as crianças usam
materiais escolares com estampas de desenhos animados, entre outros objetos. Mas a pergunta a ser
feita é: A escolha é dela, ou são os pais que escolhem?
Outro ponto que ficou vago durante esse questionário foi em relação a quem decide o
que é assistido, como é assistido e em que horário. Se o horário de funcionamento da creche começa
às 7:30 da manhã, e o questionário acusa que essa criança assiste TV pela manhã, pode-se
pressupor, o que não é nem um pouco ideal para a pesquisa, que ela assiste TV antes de ir para a
escola. É necessário ter dados objetivos e claros para poder fazer tal observação. É importante saber
também sobre assistir TV no período da noite.
Saber o que é ideal, do ponto de vista dos adultos, contribui efetivamente para a
formação da criança/receptor.
Sobre os programas infantis favoritos, na opinião dos pais e professores, há um pequeno
conflito com aquilo que foi percebido na fase seguinte, em que as crianças manifestam interesse
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sobre desenhos como Tom e Jerry, Pica-Pau, Power Rangers, Meninas Super Poderosas e
Barbie. O uso do DVD é bastante alto, tanto dentro da creche, como em casa, mas não se sabe
que tipo de filmes as crianças têm assistido.
Figura 2: Favoritos das crianças na fase de observação Tom e Jerry, Pica Pau, Power Rangers, Meninas Super
Poderosas
Os dados preliminares foram importantes para se fazer um panorama e um levantamento
inicial de dados para estruturar as fases seguintes, principalmente para investigar com profundidade
e avaliar a possibilidade de refazer o questionário no sentido de solucionar as contradições
encontradas.
É preciso conhecer a instituição família para compreender como ela contribui para a
formação do telespectador infantil: formação de gosto, tipo de programas, como se relaciona com o
meio e como são feitas as escolhas, informões essas que não ficaram esclarecidas com a aplicação
desse primeiro questionário. Assim conhecendo mais os hábitos, é possível entender como se forma,
crescem e desenvolvem o universo simbólico que circunda essa criança, universo esse que guia as
ões e interões que elas demonstram no CCI.
3.2 Fase 2 Mapeamento do Consumo Midiático
A reaplicação dos questionários para os pais proporcionou um panorama do contexto
sociofamiliar, a fim de auxiliar nas análises e interpretações da pesquisa. Assim, o que se chama de
Mediões Múltiplas foram mapeadas não apenas com os pais, mas com as próprias crianças,
demonstrando a complexidade do assunto em questão. Ao tabular e analisar os dados do
questionário, essa complexidade fica evidente. Na descrição das observões e nos dados que se
referem diretamente às crianças, os nomes foram trocados para preservar a sua identidade
O conhecimento dos vários contextos (tramas) que envolvem as crianças foi de
importância fundamental para entender as diferentes apropriões/ construções de sentido e a
formação do olhar, pois é no espo/tempo das rotinas e práticas cotidianas que se dá a circulação e
o consumo midiático, permeados pelas relações com os adultos.
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3.2.1 Objetivos da Fase 2
Avaliar diversos elementos no processo de formação do olhar infantil (recepção) e como
interagem diversos elementos nesse contexto, em que o processo acontece e ao mesmo tempo,
avaliar as informões em relação à cultura e à identidade das crianças que compõem o grupo em
questão
Observar e participar, como coadjuvante, no processo de consumo da dia (TV) e
conceber uma compreensão das práticas individuais e grupais, auxiliando num projeto mais amplo,
em que se investiga o papel dos produtos culturais de forma contextualizada.
3.2 Procedimentos de coleta de dados da Fase 2
A coleta dos dados divide-se em três procedimentos: Observação das crianças no CCI e
Reaplicação dos questionários.
3.2.1 Observação das crianças do CCI
No primeiro dia de pesquisa observacional houve uma pequena confusão, pois as
professoras e a auxiliar não estavam avisadas da presença da pesquisadora dentro da sala, nem das
atividades propostas à diretora da unidade. Percebeu-se resistência da diretora à aproximação da
pesquisadora, supondo que esta traria problemas e conflitos.
Para solucionar o impasse, a pesquisadora distribuiu cópias do projeto para as
professoras e auxiliar, esperando que assim pudessem trocar experiências e impressões no decorrer
da pesquisa. Posteriormente as professoras vieram comentar o projeto com a pesquisadora, a
professora do Grupo VI fez referências sobre a citão de sermos reféns de nossas casas e falou
sobre a preocupação com a violência e como a mídia trata esse assunto. Essa professora expressou
também a sua preocupação com os conteúdos adultos que ela percebe que seus alunos têm contato.
Outro programa que chama a atenção da professora é o Power Rangers, do qual ela não gosta por
achar muito violento e que de certa forma, desperta a violência. Inclusive, nesse dia, um dos
alunos do grupo dessa professora estava com um DVD dos Power Rangers. A professora
comunicou tal fato e propôs se não gostaria de exibi-lo, mas infelizmente o DVD não funcionou no
aparelho.
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Figura 3 - Capa DVD Power Rangers
As crianças reagiram muito bem à presença da pesquisadora e mostraram-se satisfeitas
em saber que alguém as acompanharia na hora da TV. Essa hora chamada de cineminha”, deveria
acontecer apenas uma vez por semana, segundo a diretora, as professoras e o plano pedagógico,
mas, na prática, não apenas por conta da reforma das salas da instituição, mas para melhor
controle” das 23 crianças, evitando a dispersão, a atividade acontece todos os dias. O cineminha”
corresponde à Atividade Coletiva Grupos V e VI, das 13 horas às 14 horas. Constata-se também
que a babá eletrônica funciona nessa escola pré-escolar, problema esse já debatido dentro dos
capítulos teóricos.
A pessoa responsável pelas crianças no cineminha” é a auxiliar de ensino do Grupo V,
que demonstra a necessidade de controle sobre a atenção das crianças, pois o que se trabalha
pedagogicamente é treinar a atenção. Portanto, por várias vezes ela interrompia o desenho para
chamar a atenção de algumas crianças que começavam a conversar ou falar com a pesquisadora.
Observou-se que as crianças assistem TV em cadeiras escolares, ou sentadas no chão,
não podendo deitar, ou mesmo apoiar-se nos colegas. As crianças comam a ficar inquietas e a se
dispersar, não importando se estão gostando ou não do filme. Os incômodos físicos superam o
entretenimento que a TV proporciona.
Algumas vezes a auxiliar colocava no chão o edredon, supostamente para dar mais
conforto às crianças, enquanto as represálias ficavam mais intensas, por conta da iniciativa de
disciplinariedade em relação às crianças, pois quando essas se mexem, desviam a atenção dos
outros colegas. O edredon significa um espaço de relaxamento necessário, mas segundo a visão
pedagógica da auxiliar, para treinar a atenção, as ões têm que ser um pouco mais rigorosas em
relação às crianças: elas apenas podem tirar os sapatos e devem manter uma determinada posição ao
se sentarem. Não é possível mudar de lugar quando o edredon está no chão e a disposição das
cadeiras na sala, com o edredon, fica evidente, conforme a foto abaixo:
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Figura 4- Foto da sala de exibão dos filmes (Março de 2007)
Esse contexto, ou realidade era desconhecido das professoras e diretora. A
responsabilidade pelas crianças, nesse momento, era da auxiliar que não passava, para a diretoria,
nada do que acontecia e como não havia outra sala para se fazer o cineminha”, isso constituía um
problema de infra-estrutura da instituição.
Ao expor o problema, a auxiliar disse que a pesquisadora deveria promover outras
atividades com as crianças, usando o tempo para fazer atividades dirigidas. Nesse mesmo dia, ela
demonstrou qual deveria ser o procedimento após a exibição de um VHS da coletânea do desenho
Tom e Jerry, que faz parte da videoteca da creche. Ela mostrou como deveria ser o desenho com
massinha e o que deveria ser representado do filme, inclusive a estética do Tom, personagem que
foi amplamente criticado pelas crianças.
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Figura 5: Foto da atividade dirigida feita pela auxiliar - TOM (abril/2007)
No primeiro cineminha” com as crianças, elas explicaram que quando há mais de um
DVD, eles fazem votação para a escolha do filme. No início da sessão, pedi para que escolhessem
um VHS, dentre aqueles que haviam no CCI. No mesmo instante a sala se dividiu em dois grupos:
um queria o Tom e Jerry e o outro queria o Pica-Pau. O VHS vencedor, o do Pica-pau já
havia sido exibido muitas vezes, a maioria já conhecia os diálogos e a estória, mesmo assim as
crianças prestaram atenção e se divertiram. A preferência pelo personagem Pica-pau é devido à
ação e ao encadeamento narrativo com várias surpresas e situões engraçadas.
Em um dos dias da pesquisa observacional, a pesquisadora fez uma pequena pesquisa
de opinião, pois desejava saber quais eram os desenhos que eles mais gostariam de ver no dia
seguinte. Ganhou novamente o Pica-Pau e, em segundo lugar, o Tom e Jerry. No dia seguinte, a
pesquisadora levou um DVD do Tom Jerry, O Anel Mágico e uma aluna levou um DVD de
contos de fadas. A apresentação dos dois foi feita na Roda da Conversa”. Apenas dois alunos se
manifestaram dizendo que já haviam assistido ao DVD do Tom e Jerry enquanto outros três
começaram a contar uma história baseada na figura da capa do DVD. Durante a votação, os
meninos agruparam-se em uma pequena
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roda e diziam em uníssono: _ Anel Mágico! Anel Mágico! O filme que a pesquisadora levou
ganhou na votação e até a aluna que levou o DVD votou no Tom e Jerry.
Figura 6 - Capa DVD Tom e Jerry, O Anel Mágico
FONTE: Site Submarino
Durante a exibição do filme Tom e Jerry O Anel Mágico, as crianças mostraram-se
ativas em manifestar as suas opiniões e em narrar os possíveis acontecimentos. No decorrer do
filme, ao personagem Tom foi atribuído o gênero feminino, porque ele pode parecer homem,
mas é tonto, então é mulher (Carlos, 04 anos).
As meninas, por sua vez, concordaram com o colega e acrescentaram que os espertos
são legais, por isso o personagem Jerry teria que ser homem mesmo. Percebe-se, então, que em
desenho não se manifesta a questão do gênero e essa foi uma interpretação própria do grupo. Não
houve nenhum incidente anterior ou fato que provocasse tal discussão.
Outro acontecimento percebido foi que quando não está em cena o personagem Jerry,
as crianças ficam dispersas. Além disso, o desconforto das cadeiras começa a ficar visível aos 30
minutos de exibição do filme. Ao final da exibição, Eduardo (04 anos) imitou para a pesquisadora, a
parte que ele mais gostou do filme, que foi uma cena de ação com o personagem Jerry.
Figura 7 - Personagem Jerry
Fonte: Site Tom e Jerry oficial
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O que também se percebeu nas exibições de outros desenhos foi a necessidade de se
narrar o filme, como uma decodificação das cenas e das ões dos personagens, para que a
pesquisadora entendesse o desenho, manifestação clara das mediações, alvo da investigação
presente.
Entre as crianças houve uma disputa verbal sobre quem era o personagem principal e
também sobre quem adivinhava ou narrava os eventos. Como já foi dito acima, por várias vezes tal
atitude foi cortada pela auxiliar, por creditar essas ões à indisciplina das crianças, dificultando
muito o contato com elas. No entanto, as crianças vinham abaixadas até a pesquisadora e pediam
para ser o personagem em questão. Percebeu-se que por muitas vezes o personagem era escolhido
conforme o efeito carismático desse no grupo.
Nos dias que decorreram, as crianças pediam à pesquisadora que colocasse novamente o
filme Anel Mágico. Percebeu-se que as crianças gostavam de assistir repetidamente o mesmo
filme, quando gostavam dele. Também foi percebido, durante as exibições, a necessidade de
algumas das crianças de ficar o mais perto possível da TV, como se pudessem, dessa forma,
interagir com o aparelho e conversar com os personagens. Por muitas vezes alguns meninos
(Eduardo, 04 anos; Rodolfo, 04 anos; Diogo, 05 anos; Vicente, 06 anos e Fernando, 04 anos)
citaram jogos de computador com os personagens do desenho. Em casa eles [personagens] são
mais legais, eu posso fazer o que quiser com eles. Eles me obedecem. Aqui, no filme, não.
(Vicente, 06 anos). Percebe-se a necessidade de interatividade, de ação e controle por parte das
crianças.
Houve um incidente em uma das sessões finais de observação. Diogo (05 anos),
Marcelo (05 anos) e Vicente (06 anos) estavam bastante agitados durante a exibição de um filme do
Tom e Jerry. O diálogo era porque uma das meninas do Grupo V faria uma festa de aniversário e
eles não tinham sido convidados, talvez porque eram do Grupo VI. No entanto, os meninos
alegavam quer eles eram pobres e ela, rica.
Ao término do desenho, as crianças ainda tinham 30 minutos até o início das atividades
em sala de aula, por isso a pesquisadora propôs a brincadeira de telefone sem fio. Naquele dia, não
se podia fazer barulho porque as crianças menores estavam dormindo na sala ao lado e também não
podiam ir ao parque por causa da reforma.
As palavras faladas durante a brincadeira foram: Palmeiras; Power Rangers e a
última palavra foi mulher pelada”, essa dita por Diogo. Criou-se uma polêmica entre as crianças
que não aceitaram o que o colega disse e por isso houve todo um movimento de dispersão e
bagunça”. A auxiliar retirou todos daquela sala, menos os três meninos, que ficaram com a
pesquisadora.
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Ao conversar com os meninos, eles disseram que não era para estarem na escola e que
assim que fizessem 06 ou 08 anos iriam trabalhar para ganhar dinheiro. Vicente (06 anos) disse que
pediria dinheiro no sinal, pois ajudaria a família. Marcelo (05 anos) se tornaria jogador de futebol e
Diogo (05 anos) ajudaria na loja do pai. Estar na escola era perda de tempo e não ajudavam em nada
em casa. Os meninos disseram que a todo o momento alguém dizia o que não se podia fazer. Outra
reclamação do trio foi que se chama chamavam a atenção deles a todo instante. A escola é chata,
não dá para fazer nada, porque não se pode falar, não se pode brincar, não se pode mexer que já
vem alguém e diz para parar (Marcelo, 05 anos).
A pesquisadora relatou esse episódio para as professoras e a diretora, para que houvesse
uma opinião e um feedback. Houve certa crítica e descrença por parte da diretora, que entrou em
contradição ao dizer que a mãe de um dos meninos muitas vezes se utiliza do fato de trabalhar em
serviços mais subalternos na faculdade e dizer que é pobre e que por isso é menos favorecida pela
creche. A diretora sugeriu que tal discurso teria vindo dos meninos por causa da TV e que eles
assistiam jornal e novela e por isso estavam pensando dessa forma.
No último dia de observação, as crianças fizeram algumas atividades fora do CCI, um
pequeno passeio pelo campus da faculdade. Na volta, almoçaram e se dirigiram para a sala para
assistir o filme. A pesquisadora havia levado um DVD com 4 episódios da Turma da Mônica”.
Mas ao chegar à sala, a auxiliar já havia colocado o VHS dos Três Mosqueteiros, da Disney, com
o Mickey, Pateta e Pato Donald. A auxiliar foi bastante incisiva ao dizer que a fita era nova e que as
crianças não haviam assistido ainda e que por isso seria aquele o filme a ser passado.
As crianças entram na sala e quando o filme teve início, a maioria já havia visto. Logo
que se apresentam os personagens ninguém quer ser o Pateta. Duas crianças (Fernando, 04 anos;
Paula, 04 anos) se interessaram pelos vilões e suas roupas e Carlos (04 anos) contou à pesquisadora
o que acontecia no filme.
Figura 8 Capa DVD Os Três Mosqueteiros
FONTE: Site Submarino
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Após 20 minutos de exibição, as crianças, muito dispersas, comam a reclamar do
filme e chegam a sugerir que se coloque o filme para a frente, perto do final. A pesquisadora
consulta a auxiliar se podia trocar o filme pelo DVD da Turma da Mônica, ao que a auxiliar não
colocou qualquer empecilho. A pesquisadora, então, consultou as crianças, que quiseram trocar.
No entanto, o DVD Turma da Mônica e a Estrelinha Mágica”, também não agradou as
crianças, que reagiram com indiferença, beirando ao tédio, pois esse desenho não prendeu a
atenção. A reação a isso foi que alguns começaram a criar histórias sobre o desenho que estava
sendo exibido. No entanto, havia um episódio em que a personagem Mônica” tomava banho e seu
corpo aparecia parcialmente, o que foi o bastante para que houvesse constrangimento por parte das
meninas e que um menino, apenas, se manifestasse. Fernando (04 anos) ficou bastante agitado com
a cena e ao término da exibição do desenho chamou alguns colegas em particular para comentar as
partes que foram visíveis do corpo da personagem.
Figura 9 - Cena Mônica tomando Banho
Fonte: Site Turma da Mônica oficial
Para averiguar se o desinteresse tinha algum motivo especial, a pesquisadora fez um
levantamento de preferências que serviriam de base para a 3ª Fase. As crianças manifestaram desejo
pelos seguintes personagens, na ordem em que foram citados: 1) Power Ranger; 2) Tom e
Jerry; 3) Pica-Pau; 4) Mickey e 5) Donald. Outra preferência que as crianças expressaram
foi sobre a duração dos filmes, filme longo ou filme curto. As crianças disseram, em sua
maioria, que preferiam o filme curto porque tinha mais (Paula, 04 anos).
Figura 10 Power Rangers, Tom e Jerry, Pato Donald e Mickey
Fonte: Google imagens
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Outras situões que merecem ser relatadas não aconteceram no momento de ver TV,
mas têm a ver com o consumo midiático e ressignificação dos programas. Percebe-se em que nas
duas primeiras situões citadas, as crianças relatam à pesquisadora os programas de TV que
assistem e as suas opiniões sobre os mesmos.
Em certa ocasião, Marcelo (05 anos), Vicente (06 anos) e Diogo (05 anos), alunos do
Grupo VI, trouxeram para a pesquisadora figuras
31
e um boneco do personagem Batman, ambos
brindes de pacotes de salgadinhos. Foi perguntado a eles se a compra do salgadinho era por causa
do brinquedo, ao que Diogo (05 anos) respondeu que na casa dele já se comia o salgadinho e que o
brinquedo era legal, mas não fazia com que ele comprasse para ter o brinquedo. Marcelo (05 anos)
disse que não gostava do salgadinho e que ganhava dos colegas as figurinhas. O assunto foi mudado
por Vicente (06 anos), que comou a contar para a pesquisadora sobre a novela das oito, dizendo
que preferia videogame, mas que a mãe queria assistir novela e por isso tinha que desligar o jogo.
Marcelo (05 anos) animou-se com a discussão e disse que somente ia dormir depois de assistir o
BBB e que o Alemão era o preferido dele, preferência essa que ficou bastante efervecescente
durante a última semana do programa. O Alemão era, para essas crianças, o cara forte que derruba
todo mundo no paredão, segundo Marcelo (05 anos). O grupo de meninos foi questionado sobre as
coisas que mais gostavam de assistir, além dos Power Rangers e eles citaram o programa
humorístico Zorra Total e que o personagem Jajá”, com o bordão Tô doido! Tô doido!, era o
preferido de Vicente (06 anos). Marcelo (05 anos) já preferia a personagem Márcia”, porque ela
trai o Leozinho e ela é bem esperta nas respostas que dá pra ele. E Diogo (05 anos) comou a
fazer cara-crachá”, para evidenciar de qual personagem ele gostava mais do programa em questão.
Figura 11 Alemão, Márcia e Leozinho, Jajá e Juju, e o ator Paulo Silvino (Severino)
Fonte: Foto Alemão e Paulo Silvino (Globo.com); Márcia e Leozinho e Jajá e Juju (You Tube)
Pôde-se observar outras crianças que assistiam programas que não eram apropriados
para a sua idade. Na hora do parque, após a exibição do filme, três alunos chamaram a pesquisadora
para perto deles no balanço. A pesquisadora ficou contra o sol, o que ressaltou a cor de seus cabelos
31
As figurinhas faziam parte da colão Conexão Alien comercializada nos pacotes da Elma Chips.
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e prontamente Fernando (04 anos) a identificou com a personagem Roberta”, da novela mexicana
Rebeldes, que era transmitida pelo SBT. Angélica (04 anos) fez a observação que a diferença é
que o cabelo da personagem é mais liso e comprido. Fernando (04 anos) contou que os pais não o
deixam assistir, mas que ele assistia escondido. Marcelo (05 anos) comentou que sabia do que se
tratava e que assistia, pois a mãe dele e a família não se importavam, desde que fosse para a cama
no horário certo. Fernando disse que gostava de Rebeldes porque os meninos beijavam e “catavam
as meninas mais gostosas e que um dia ele seria assim. É preciso ressaltar que esse menino foi o
que ficou agitado com a cena da Mônica tomando banho. O menino foi perguntado se os pais
sabiam que ele assistia e ele respondeu que os pais não o proibiam de assistir nada na TV, desde que
fosse para a cama no horário certo.
Figura 12 - Personagem Roberta da novela mexicana Rebeldes
FONTE: Site SBT
A pesquisadora perguntou a Angélica como ela soube dos Rebeldes, se a mãe não a
deixava assistir. Ela contou que um dia uma pipa caiu na casa dela, com a foto de um dos
personagens do RDB e quando o irmão mostrou para a mãe, essa pediu que o menino tirasse a foto
da pipa. A pesquisadora perguntou se as crianças assistiam novela e Angélica respondeu, para num
tom de confidência, que adorava a novela mexicanas Rebeldes e que assistia escondido da mãe,
no quarto e que quando não dava certo de assistir a novela, a irmã mais velha contava para ela. A
menina foi questionada sobre quando assistia, pois desde o início de 2007 a novela não era mais
exibida no SBT. Ela contou que os pais compraram para a irmã mais velha, de 11 anos, a coleção
dos DVD e que a irmã se informava pela internet e depois contava tudo a ela.
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Figura 13 - Personagens principais da novela Rebeldes
Fonte: Site SBT
Com relação à apropriação de personagens, há uma concordância dentro do Grupo VI,
que ser chamado de Bob Esponja” é ser bobo, é sempre ficar para trás nas brincadeiras. Essa
expressão por muitas vezes é usada durante as atividades em sala de aula. A pesquisadora perguntou
se eles gostavam do desenho e Vicente (06 anos) afirmou que gosto, mas vejo por causa do Lula
Molusco, por que ele é espertão!. Não houve referência ao personagem Patrick, que é o melhor
amigo de Bob Esponja” e que tem um comportamento na trama do desenho de atrapalhado, que
quase sempre fica à margem dos acontecimentos, comportamento esse que é atribuído ao
personagem Bob Esponja”.
Figura 14 Personagens: Bob Esponja, Patrick e Lula Molusco
Fonte: Site TV Xuxa na Globo.com
Ao observar as preferências de personagens entre os meninos e as meninas, percebem-
se algumas diferenças. Os meninos pediam constantemente à pesquisadora que levasse o Power
Rangers, mas havia certo receio por parte das professoras e da auxiliar que as crianças ficassem
muito agressivas depois da exibição. As meninas pareciam não ter preferência clara sobre desenhos
ou personagens, mas a escolha de consumo midiático ficou evidente no uso de roupas e aderos.
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Algumas meninas expressaram o desejo de que houvesse mais princesas nos desenhos, mas a parte
cômica era o que mais chamava a atenção delas.
Por último, percebe-se que alguns consumos midiáticos ficam a cargo dos pais,
principalmente em relação às meninas. Flávia (06 anos) e Maria (06 anos) eram as únicas meninas
do Grupo VI e em certo momento estavam comentando sobre a nova coleção das Meninas Super
Poderosas que havia no shopping. A pesquisadora aproximou-se e logo foi incluída no diálogo,
com as alunas perguntando se ela gostava das Meninas Super Poderosas. A pesquisadora
devolveu a pergunta, as meninas disseram que adoravam e que se pudessem teriam tudo relacionado
ao desenho. A pesquisadora, então, perguntou sobre o material escolar, pois nenhum era das
Meninas Super Poderosas e Flávia (06 anos) respondeu que o dela era da Barbie”, porque sua
mãe gostava da Barbie”, principalmente das 12 princesas e que ela preferia outro desenho, mas
como era a mãe que tinha o dinheiro para comprar, ela aceitou. Maria (06 anos) contou que a
mochila dela era da Mônica porque dentro da família dela todos diziam que ela se parecia com a
personagem, portanto, os pais compravam as coisas da Mônica para ela.
Figura 15 Objetos escolares com estampa Barbie 12 Princesas e Meninas Super Poderosas
Fonte: Lojas Americanas.com
Nas situões aqui expostas, fica evidente como a trama do cotidiano tem um papel
fundamental para determinados consumos midiáticos e também na ressignificação dos desenhos
animados. O processo de recepção nas crianças ainda está em formação, como se pôde observar,
pois de algumas coisas elas têm certeza que gostam e outras, pelos pais gostarem, elas gostavam.
Percebeu-se a singularidade de cada um convergindo na recepção coletiva e na mediação manifesta
pela fala das crianças, ao tentar em explicar para a pesquisadora o que acontece no desenho, sob o
olhar de criança.
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3.2.2.2 Análise da observação das crianças no CCI
Constantes perguntas sobre o gosto da pesquisadora foram feitas pelas crianças,
principalmente pelos meninos do Grupo VI, que tinham a preocupação em saber se a pesquisadora
gostava ou não dos Power Rangers. Nota-se que os meninos entenderam que a pesquisadora
gostava de tal programa por demonstrar conhecimento dos personagens e das subdivisões (Power
Rangers Força Animal; Power Rangers Dino trovão e Power Rangers: Super Patrulha Delta
(SPD)).
Figura 16 Os Power Rangers: Foa Animal, Sino Troo e SPD
Fonte: Power Rangers Fã Clube Força Animal
Ao perguntar aos meninos porque gostavam tanto dos Power Rangers, as respostas
foram as seguintes: quando crescer eu quero ser um lutador contra os bandidos (Vicente, 5 anos);
contra tudo que é mau tem que ser forte” (Diogo, 5 anos). Como Marcelo (05 anos) não quis
exprimir a sua opinião, os outros dois meninos dominaram a discussão, até que Maria (05 anos)
também quis dar a sua opinião, dizendo que o Power Rangers combatem o mau. A pesquisadora
perguntou se ela gostaria de ser uma Power Ranger e Diogo respondeu com ironia: _ Ela quer
ser Barbie... A menina ficou visivelmente embaraçada.
Essa observação feita nessa parte da análise vem pontuar algumas questões: a questão
de gênero, já descrita no episódio do filmes do Tom e Jerry, mais uma vez aparece. O que é coisa de
menino é de menino e as meninas não podem gostar, ou mesmo se apropriarem, a seu modo. Outro
aspecto é como os meninos percebem o que são os polêmicos Power Rangers, não estabelecendo
diferença do que seja um Power Ranger ou um Homem Aranha”, a não ser o próprio preconceito
que cerca tais personagens. Outra coisa é que, por serem filmes, feitos por pessoas reais e não
metaforizados pelos desenhos, cria-se outra intenção e impacto sobre quem assiste.
A respeito da questão do conteúdo e censura dos pais, percebe-se, no caso relatado
sobre a novela mexicana Rebeldes, que, mesmo proibidas, as crianças têm contato com a novela,
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seja por meio dos irmãos mais velhos, ou por meio de objetos estampados com os personagens.
Outro ponto notado foi a necessidade das crianças identificarem a pesquisadora com um
personagem midiático, para torná-la familiar dentro de seu contexto.
Durante a exibição de um filme com episódios de contos de fadas, uma das meninas do
Grupo V, Bruna (04 anos), perguntou se a próxima estória seria com a pesquisadora. Ao perguntar o
por quê, a menina respondeu que era porque a pesquisadora parecia um desenho, mas ela não sabia
qual. Dentre algumas estórias, quando comou a da Pequena Sereia, a menina disse à
pesquisadora: _ Olha lá vo!
Figura 37 - Personagem Pequena Sereia da Disney
Fonte: Site oficial Disney
A necessidade de demarcar familiaridade (MARTIN BARBERO, 2003) fica evidente,
assim como o movimento de naturalização que provem dos meios midiáticos, como aponta Orozco
(2000) como um dos poderes centrais da TV, em relação à audiência.
As crianças não só tiveram que encontrar pontos referenciais de algo, compartilhados
coletivamente, para inserir a pesquisadora em seu contexto, como necessitaram do movimento de
identificação para assistir os desenhos. Durante a exibição dos desenhos, as crianças constantemente
incorporaram personagens, como o exemplo do desenho de Tom e Jerry, em que a maioria diz:
_Eu sou o Jerry! Ou _ Eu quero ser o ratinho!. Esse movimento de identificação e projeção, já
explicitado em capítulos anteriores, fica evidente nesses momentos, até porque quando não é o
elemento de identificação da criança, ela dispersa, não quer ver, mas quando o elemento volta, a sua
atenção se concentra.
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Figura 18 - Personagem Jerry
Fonte: Site Tom e Jerry
Duas últimas observões ficam a cargo de que a repetição dos filmes é algo constante
na creche. Não apenas por conta da videoteca limitada, mas pelo pedido das próprias crianças, o que
é característico da idade, pois há a necessidade de se apreender os mínimos detalhes. Entretanto,
isso não implica em uma imitação direta, pois nada foi percebido, após a exibição dos filmes, nas
brincadeiras, que se relacionasse ao desenho. Percebeu-se, sim, que as crianças comentavam por um
tempo muito curto algumas cenas e que logo em seguida se entretinham com as brincadeiras do
parque.
3.2.2 Reaplicação dos novos questionários
O trabalho com os pais vem da impossibilidade de falar da criança sem incluí-la numa
trama, que é o cotidiano familiar, onde acontecem as primeiras mediações, os primeiros contatos
com a TV e isso é o que permeia a formação do seu olhar e a contextualização do âmbito do
cotidiano que os adultos vêm a contribuir.
Ao receber as respostas dos questionários reelaborados, enviados aos pais das crianças,
a pesquisa obteve algumas pistas do consumo midiático da criança no ambiente familiar. Assim, o
contato da criança com a TV, fora da escola, foi mapeado com dados objetivos e passíveis de
análises quantitativa e qualitativa.
A impossibilidade de generalização a partir de dados etnográficos não deve ser vista como uma
limitação, mas sim como uma parte do processo metodológico que permite que os
pesquisadores alcancem compreensão maior de processos específicos. (LA PASTINA, 2006,
p.41)
É a trama desenvolvida pelas mediações que define a pertinência das inclusões e das
exclusões: na realidade, poder-se-ia dizer que não existe trama sobre fatos, sem a prática social.
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3.2.2.1 Resultados dos Questionários Reelaborados
Questão 1 Composição da Família
0
1
2
3
Pai, Mãe
Pai, mãe,
irmãos mais
velhos
Pai, mãe,
irmãos mais
novos
Pai, mãe,
irmãos mais
velhos e mais
novos
Mãe, avó,
irmão mais
velho
Mãe, avó,
irmão mais
novo
Mãe, padrasto,
irmão mais
novo
Pais
divorciados
GRUPO V
GRUPO VI
Questão 2 Nível Socioeconômico da Família
0
1
2
3
4
5
A
B
C
D
E
Mãe trabalha
Mãe não trabalha
GRUPO V
GRUPO VI
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Questão 3 Qual é a escolaridade dos Pais?
Escolaridade dos pais do Grupo V
0
1
2
3
4
Primário Completo/Ginasia...
Ginasial Completo
Colegial Incompleto
Colegial Completo
Superior Incompleto
Superior Completo
Pós-graduão
Pai
Mãe
Escolaridade dos pais do Grupo VI
0
1
2
3
4
Primário Completo/Ginas...
Ginasial Completo
Colegial Incompleto
Colegial Completo
Superior Incompleto
Superior Completo
Pós-graduação
Pai
Mãe
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II Hábitos Familiares
Questão 4 Onde ficam a(s) TV(s)?
0
1
2
3
4
5
6
7
Sala
Quarto
Quarto de Brinquedos
Quarto e Sala
Não Respondeu
Não Tem
Grupo V
Grupo VI
Questão 5 A criança assiste TV todos os dias?
0
1
2
3
4
5
6
Sim
Não
Não Respondeu
Grupo V
Grupo VI
Questão 6 A família tem o hábito de assistir TV todos juntos?
0
1
2
3
4
5
6
7
Sim
Não
Não Respondeu
Grupo V
Grupo VI
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Questão 7a A criança tem TV no quarto?
0
1
2
3
4
5
6
7
Sim
Não
Não Respondeu
Grupo V
Grupo VI
Questão 7b O quarto é equipado com que?
0
1
2
3
4
5
TV Paga
TV Aberta
DVD
Vídeo Cassete
Não Respondeu
Não tem
Grupo V
Grupo VI
Questão 8a Quem liga a TV para a Criança?
0
1
2
3
4
5
6
7
Pai
Mãe
Irmãos
Ela Mesma
Não Respondeu
Não tem
Grupo V
Grupo VI
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Questão 8b Se é a criança, desde quantos anos?
0
1
2
3
4
1 ano
2 anos
3 anos
4 anos
Não Respondeu
Grupo V
Grupo VI
Questão 9 Com quem assiste TV?
0
1
2
3
4
5
6
Pai
Mãe
Irmãos
Sozinha
Depende
Não respondeu
Grupo V
Grupo VI
Questão 10 Quem escolhe o programa a ser assistido?
0
1
2
3
4
5
Pai
Mãe
Irmãos
Ela mesma
Depende
Não respondeu
Consenso entre irmãos
Grupo V
Grupo VI
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Questão 11 Se é o pai ou a mãe, qual é o critério de escolha do programa?
0
1
2
3
4
5
Programas infantis
Educativos
Desenhos
Filmes
Classificação Indicativa
Sem violência
Não respondeu
Grupo V
Grupo VI
Questão 11 Se é com os irmãos, qual é o critério de escolha do programa?
0
1
2
3
4
Desenhos
Educativos
Bom dia e Cia
Programação Infantil
Eles mesmos escolhem
Não tem imrãos
Sem violência
Não respondeu
Grupo V
Grupo VI
Questão 12a Em que horário assiste TV?
0
1
2
3
4
5
Manhã
Tarde
Noite
Final de semana
Depois da aula
Não respondeu
Grupo V
Grupo VI
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Questão 12b Que tipo de programa assiste?
0
1
2
3
4
Desenhos
Educativos
TV Futura
TV Cultura
Gravação dos Programas ..
Novela
Não respondeu
Grupo V
Grupo VI
Questão 13 Quais são os meios de comunicação mais utilizados pela Família?
0
1
2
3
4
5
6
7
8
TV Aberta
TV Paga
Internet
Rádio
Jornais Impressos
Revistas
Outros meios
Grupo V
Grupo VI
Questão 14 Qual a preferência de atividades familiares em horas livres?
0
1
2
3
4
5
6
Passear
Assistir TV
Churrasco
Reuniões Familiares
Assisitir Filmes
Ir ao Cinema
Ir ao Shopping
Outros
Ir à Igreja
Rios
Grupo V
Grupo VI
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Questão 15 E a criança, que atividades exerce nas horas livres?
0
1
2
3
4
5
6
7
Brincar com os amigos
Brincar com os irmãos/p...
Assistir TV
Assistir Dvd
Passear
Ir ao cinema
Ir ao shopping
Outros
Ir à Igreja
Grupo V
Grupo VI
Questão 16 Quais são os assuntos que despertam interesses da família?
0
1
2
3
4
5
6
cinema
documentãrios
história
ciência
tecnologia
esportes
novela
entretenimento
religião
noticiário
Grupo V
Grupo VI
III Hábitos da Criança
Questão 17 Em que horário a criança costuma assistir TV?
0
1
2
3
4
5
Manhã
Tarde
Noite
Não respondeu
Grupo V
Grupo VI
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Questão 18 Quais os canais assistidos pela criança?
0
1
2
3
4
5
6
TV Globo
SBT
Cartoon Network
Disney Channel
TV Cultura
TV RA TIM BUM
Nickledeon
Discovery Kids
Rede Tv!
Bandeirantes
Record
MTV
Discovery
Telecine
HBO
TV Futura
Boomerang
Outros
Não Respondeu
Grupo V
Grupo VI
Questão 19 A criança assiste mais TV durante o final de semana?
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Sim
Não
Não Respondeu
Grupo V
Grupo VI
Questão 20a O que a criança prefere assistir em casa?
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Programação da TV
Filmes Dvd/VHS
novelas
jogos esportivos
Não respondeu
Grupo V
Grupo VI
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20b Quais são os programas que mais assiste?
0
1
2
3
4
5
Desenhos da discovery kids
Bom dia e Cia
Sagna
Madeleine
Picapau
Cliford
Os 7 monstrinhos
Emily Elizabete
Castelo Ratimbum
Pingoo
Cyberchase
Amigos da Miss Spyder
Timithy vai à escola
TV Xuxa
Record Kids
Zooboomafoo
Desenhos
Filmes infantis
Charlie e Lola
Não respondeu
Grupo V
Grupo VI
Questão 21 Quais são os assuntos que despertam o interesse da criança?
0
1
2
3
4
5
6
cinema
documentãrios
história
ciência
tecnologia
esportes
novela
entretenimento
religião
noticiário
videogame
lançamento de brinquedos
novos filmes infantis
Não respondeu
Outros
Grupo V
Grupo VI
Questão 22 O que vo percebe que chama mais a atenção da criança?
0
1
2
3
4
5
6
Desenhos em geral
Música
Cor
Animais/bichos
Movimentos
Barulho
Personagens
Superheróis
Futebol
Filmes de luta
Não respondeu
Grupo V
Grupo VI
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Questão 23 Quais são os personagens preferidos pela criança?
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3
4
Chapeuzinho Vermelho
Pinóquio
Hello Kitty
Charlie e Lola
Todos os 7 monstrinhos
Pingoo
Thimoty
Homem Aranha
Batman
Power rangers
Personagens da Disney
He-man
Picapau
Tom e Jerry
Cliford
Madelaine
Sagaia
As três espiãs de mias
Liga da Justiça
Pequena Sereia
Shrek
Zoobomafoo
Pingoo
Castelo Ra-tim-bum
Cyberchase
Grupo V
Grupo VI
Questão 24 A criança já pediu algum brinquedo anunciado na TV?
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1
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3
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6
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Sim
Não
Não Respondeu
Grupo V
Grupo VI
Questão 25 Dentre os brinquedos solicitados, quais foram adquiridos?
0
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3
4
Sandália do Homem Ar...
Tênis com luz
Hot wells
Barbie
lava-rápido
Carrinhos
Bebê engatinha
Homem Aranha
Batman
Não lembra
Nenhum
Não respondeu
Grupo V
Grupo VI
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Questão 26 Esses brinquedos são os que mais trazem satisfação a elas do que os outros?
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8
Sim
Não
Não Respondeu
Grupo V
Grupo VI
IV
Opinião dos Pais
Questão 28a Você nota alguma mudança no comportamento da criança depois de assistir
algum programa de TV?
0
1
2
3
4
5
Sim
Não
Não Respondeu
Grupo V
Grupo VI
Questão 28b Quais os comportamentos observados?
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3
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Agitação
Cantar a música
Vaidade
Teimosia/Rebeldia
Imitação
Comentários
Risadas Altas
Brincar de luta
Não respondeu
Grupo V
Grupo VI
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Questão 29 O que vo acha dos programas que passam na TV aberta?
Pais da Grupo V
Acho que são bons os programas que passam na cultura” (Ricardo, 5 anos)
Principalmente na Globo, os programas infantis tem muito violência, como Power Rangers por exemplo, não gosto que
ele assista desses tipos e não coloco para ele assistir (Renato, 5 anos)
Alguns são educativos outros não (Isadora, 5 anos)
Temos que ter cautela pois a maioria esconde por trás coisas inadequadas (Cláudia, 5 anos)
Não aprovo a programação da TV aberta (exceto programas infantis) para as crianças (Fernando, 4 anos)
Na sua maioria, são impróprias para crianças pequenas e até mesmo para adolescentes (Manuel, 4 anos)
Pais do Grupo VI
Não responderam - 1
Não sei porque quase não assistimos televisão, porque eu trabalho e eles ficam na creche, e só chega em casa a tarde”
(Vicente, 6 anos)
o ruins ou bons quanto os das TVs pagas, tudo depende da filtragem e escolha adequada (Maria, 5 anos)
A maioria tem algum conteúdo ligado a violência, como lutas e uso de armas, até mesmo desenhos antigos como pica-
pau. (Leandro, 6 anos)
Alguns são inadequados para as crianças da idade dele (Diogo, 5 anos)
Depende do programa, tem uns que é bem educativo (Marcelo, 6 anos)
Ruim” (Flávia, 6 anos)
Questão 30a Você acha que os programas assistidos pela criança são adequados para a sua
idade?
0
1
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3
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6
Sim
Não
Não Respondeu
Grupo V
Grupo VI
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Questão 30b Por que?
Pais do Grupos V
Não respondeu - 2
Sempre vejo junto e não vejo coisas ruins, maldades ou violência nos programas que ele assiste. (Renato, 5 anos)
Na maior parte das vezes ela prefere assistir desenhos educativos ou programas educativos, raramente assiste desenhos
muito agressivos (Isadora, 5 anos)
Tem muita violência e ate mesmo sexo (Cláudia, 5 anos)
Porque só assiste canais adequados a sua idade” (Manuel, 4 anos)
Grupo do VI
Não respondeu 1
porque eles precisam aprender coisas real da vida, tudo que acontece hoge em dia (Vicente, 6 anos)
A programação infantil da cultura é diferenciada, além de não apresentar cenas violentas, são muito educativos
(Maria, 5 anos)
Em termos: como tenho 2 crianças de 6 e 3 anos, alguns programas que pode ser assistido pelo mais velho acaba sendo
assistido pelo mais novo também” (Leandro, 6 anos)
Muitas cenas de violencia (Diogo, 5 anos)
Porque são desenhos (Marcelo, 6 anos)
Violencia (Flávia, 6 anos)
Questão 31 E quais são os mais adequados?
0
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3
4
Discoveru Kids
Cultura
Educativos
Brincadeiras normais
Música
Filmes e Desenhos Infantis
Notícia
Novela
Desenho
Futebol
Não respondeu
Grupo V
Grupo VI
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Questão 32 Vo conhece a classificação indicativa dos programas de TV? (livre, 12 anos, 14
anos, 16 anos e 18 anos)?
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6
7
8
Sim
Não
Não Respondeu
Grupo V
Grupo VI
Ques
tão 33a Vo acredita na classificação indicativa?
0
1
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6
7
8
Sim
Não
Não Respondeu
Grupo V
Grupo VI
Ques
tão 33b Por quê?
Grupo 5
Não responderam 1
Nem sempre eu acho que cabe e a nós pais vermos se devem ou não assistir (Ricardo, 5 anos)
Nem sempre, a livre por exemplo não dá para crianças pequenas assistir. Por que as crianças sofrem grandes
influências dos fatores externos (Renato, 5 anos)
Como o nome diz é uma indicação, serve apenas para apontar, cabe aos pais opinarem se o programa pode ou não ser
assistido (Isadora, 5 anos)
Porque até filmes infantis tem senas inapropriada (Claudia, 5 anos)
Porque são feitos por especialistas (Manuel, 4 anos)
Grupo 6
Não responderam 3
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As vezes a classificação não bate com a idade (Diogo, 5 anos)
Em alguns casos, mesmo que a classificação seja indicada, faço minha própria avaliação (Leandro, 6 anos)
Esse sim seria em parte, pois as novelas da Globo mereceriam uma classificação mais elevada (Maria, 5 anos)
Porque eles passa no horário não adqudo (Vicente, 6 anos)
Questão 34 A classificação indicativa é seguida na hora de assistir TV?
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Sim
Não
Mais ou menos
Não Respondeu
Grupo V
Grupo VI
Ques
tão 35 Utilize o espaço abaixo para expressar sua opinião, se assim desejar, sobre o tema
criança e TV.
Grupo 5
Não responderam 4
Infelizmente não dá para deixar as crianças assistir hoje em dia programas sem saber exatamente qual o conteúdo dele,
mesmo sendo infantis, porque há alguns que deixam-as agitadas, e levam à violência ou até mesmo termos inadequados.
Sempre observo os programas que ele assiste e como ele se comporta após assisti-lo. (Renato)
Não temos TV. Por motivos religiosos mas as vezes acontece de estarmos em lugares quais tem e observamos muita
coisa ruim (Cláudia)
Grupo 6
Não responderam - 5
Hoje em dia com a velocidade da informação é extremamente difícil selecionar tudo o que o filho assiste, a percepção
das crianças do mundo a sua volta vai muito além do que os pais hoje pode supor, mesmo quando elas não eso
propriamente assistindo TV, mas se es estiver ligada eles absorvem as informações e repetem a musiquinha do
comercial varias vezes ou surpreende os pais com a pergunta. O que é Droga?, que acabaram de ouvir no jornal”
(Leandro)
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Questão 36 Deseja conversar com a pesquisadora para saber mais sobre o tema criança e
TV?
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1
2
3
4
5
6
Sim
Não
Não Respondeu
Grupo V
Grupo VI
3.2.2
.2 Análise dos Resultados dos Questionários Reelaborados
Os dados foram analisados de forma comparativa, no Grupo VI e Grupo V, para se ter a
noção das diferenças e das similaridades entre eles. Foram enviados 20 questionários ao todo
(Grupo V e Grupo VI) e retornaram 65%, isto é, 13 questionários. Entre eles, 7 do grupo VI e
apenas os pais de uma criança não responderam. Já no Grupo V, voltaram 6 questionários
respondidos, o que equivale a 40% dos pais. Ressalta-se que a maioria dos questionários não voltou
na data marcada e que dois questionários foram entregues em branco.
O nível sociocultural dos pais do Grupo V e do Grupo VI é heterogêneo, como se pode
averiguar pelo gráfico da questão 2, mas percebe-se também que, pelo critério Brasil, todos estão na
faixa de classe média. Nota-se também que 73% das mães trabalham, demonstram que não têm
possibilidade de estar com os filhos durante o dia, o que justifica o fato das crianças ficarem na
creche.
No Grupo V há pais que possuem desde o ginasial incompleto até pós-graduação. No
Grupo VI, desde o primário até superior completo. Apenas 3 pais do Grupo VI e apenas 1 dos pais
do Grupo V se interessaram em conversar com a pesquisadora sobre o tema criança e TV e sobre os
resultados da pesquisa.
O início do questionário dedicava-se aos hábitos familiares, numa tentativa de mapear
como a família lida com os meios de comunicação: lugar em que ficam, escolha dos programas,
quais são os meios de comunicação mais utilizados e o que fazem nas horas livres. Foram 15
perguntas com essa temática, como espos para possíveis manifestões, que foram muito pouco
utilizados, pois, na maior parte, apenas citavam algumas palavras, que foram quantificadas.
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A pergunta inicial era onde ficava a TV, com 77% respondendo que era na sala, isto é,
10 questionários. O segundo lugar em que a TV estava era no quarto com 46%. As famílias com TV
no quarto tinham também na sala, o que significa os mesmo 46%. Apenas uma família tinha a TV
posicionada na sala e em um quarto especial (quarto de brinquedos) para a criança. Duas famílias
não responderam em que lugar da casa ficava a TV e uma família não tinha TV, caso esse que foi
analisado com atenção durante as oficinas temáticas. Especificamente, no quarto da criança, pouco
mais da metade, 53% tinha TV e 47% não. Daquelas que tinham o aparelho no quarto, duas estavam
equipadas com TV paga, uma com canais abertos, duas com DVD e duas com VHS.
A questão da criança assistir TV todos os dias resultou quase a totalidade de respostas
sim, a não ser a criança que não tinha TV. Duas famílias do Grupo VI, que tinham TV, não
deixavam a criança assistir todos os dias. As famílias tanto do Grupo V quanto do Grupo VI, tinham
o hábito de assistir todos juntos a TV, exceto o caso de uma criança do Grupo VI.
É a própria criança que liga a TV, em sua maioria, com 85%, contra 31% das mães, o
segundo maior resultado. A média de idade que as crianças começaram a ligar sozinhas a TV é de 3
anos a 4 anos, sendo apenas um caso de criança com um ano de idade e 3 pais que não responderam
a questão.
Embora a criança já tenha donio sobre o aparelho televisão, o ato de ver TV não é
desacompanhado, apenas 23% das crianças assistem TV sozinhas, pois em sua maioria estão junto
dos irmãos, da mãe ou do pai.
Na escolha dos programas percebe-se uma interferência maior da mãe na escolha, ao
mesmo tempo em que há a escolha da criança. Isto fica um pouco mais claro quando os pais
responderam quais são os critérios de escolha e apensar do índice de não resposta ter sido muito
alto, existem algumas palavras-chaves, como: programas infantis, programas educativos, desenhos,
filmes, classificação indicativa, sem violência.
A concentração do horário que a criança assiste TV é à noite e os programas assistidos
são desenhos, em sua maioria, seguidos dos educativos, TV Futura, TV Cultura, novelas e
programas gravados durante o dia. Essa última citação é relevante para o contexto, pois várias
crianças levaram para a creche DVD gravados pelos pais, que faziam recortes de programas e
também de filmes, para garantir a qualidade do que as crianças assistam.
A TV aberta é a principal fonte de informação da família, seguida de outros meios,
como jornais impressos e rádio. Nas horas livres as famílias têm preferência quase igualitária por
assistir TV, passear, participar de reuniões familiares e assistir filmes. Percebe-se que dentre as 4
preferências mais assinaladas, duas são midiatizadas e duas referem-se a atividades familiares, o
que se pode entender como um equilíbrio das ões. Quando se remete especificamente à criança,
os resultados diferem um pouco, pois três atividades midiatizadas foram escolhidas: assistir TV, ir
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ao cinema e assistir DVD. Quanto a esta última, como já foi apontado acima, a maioria das famílias
dessas crianças tem o cuidado de ter gravões ou filmes direcionados a elas, o que não impede que
a criança não conheça outros conteúdos e reforça a idéia, expressa pelo questionário, de maior
atenção e controle sobre o que a criança assiste e também de atividades, pois quando a criança não
assiste TV, tem atividades familiares, como passear com a família ou brincar com irmãos/primos.
Na terceira parte do questionário: Hábitos da criança, 11 questões foi deixado espo
para manifestação dos pais em relação ao perguntado, espo esse que, nessa seção, foi mais
utilizado. Embora a resistência em responder sobre consumo de objeto de propaganda tenha sido
mantida, trouxe novos dados a serem relativizados com os questionários anteriores.
Há duas questões pontuais para entender certas dinâmicas entre a criança e a família, a
questão 17 e a questão 12, ambas reproduzidas propositalmente para haver comparação. A pergunta
era: Em que horário a criança assiste TV?. A primeira (12), alojada dentro de hábitos familiares,
resultou que a criança assiste mais TV durante o período noturno e a segunda (17), alojada dentro
dos hábitos da criança, resultou na concentração do período noturno, mas com relevância para o
período matinal, que antes nem havia sido citado. O que se entende desse dado é que na segunda
pergunta levou-se em conta o final de semana, que os pais admitiram, com 85% de resposta
afirmativa (pergunta 19), que a criança assiste mais TV durante o final de semana.
A segunda questão foi relativa aos interesses da família e da criança: questões 16 e 21.
Na questão 16: Quais são os assuntos que interessam a família?. O resultado foi que noticiário,
novela, entretenimento e documentários ocupavam o interesse da família. Em contrapartida, o que
interessava à criança (questão 21) eram os seguintes assuntos: novos filmes infantis, lançamento de
brinquedos, cinema e videogame, assuntos diretamente ligados ao consumo midiático.
No conjunto de questões referentes às preferências da criança em relação direta à TV, os
resultados obtidos foram: na questão 18 foram listados todos os canais abertos mais os canais por
assinatura pertencentes ao pacote básico de assinatura. A TV Cultura teve 8 citões, seguida da TV
Globo e SBT, ambas com 5 citões, a Record, com 4 citões, TV Ra-tim-bum, TV Futura e
Discovery Kids, com duas citões e Disney Channel e Boomerang com apenas uma citação.
Afunilando para os programas preferidos pelas crianças, a questão 20, desdobrada em a
e b, confirmou-se a preferência das crianças em assistir filmes de DVD e VHS, mais aos programas
da TV. Foram também citados novela e jogos de futebol, com menos expressividade. Ao perguntar
quais os programas de preferência da criança, a maioria dos pais não respondeu a questão (54%),
mas foram obtidos alguns dados, dos 43% que responderam a questão: desenhos da Discovery Kids,
Sagwa (TV Futura), Picapau (2 citões Rede Record), Os sete monstrinhos (2 citões TV
Cultura), Castelo Ra-Tim-Bum (2 citões TV Cultura), Cyberchase (TV Cultura), Timothy vai à
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escola (TV Cultura), Record Kids (Rede Record), Desenhos em geral (2 citões) e Charlie e Lola
(Discovery Kids e TV Cultura). Ainda na questão 11 foi citado o programa Bom dia e Cia, do SBT.
Figura 18 Prefencias dos programas segundo os pais: Sagwa, Pica-pau, Os Sete Monstrinhos, Castelo Ra-
Tim-Bum, Cyberchase, Timothy, Charlie e Lola
Fonte: Site TV Cultura, TV Futura e Discovery Kids
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Ao perguntar sobre a preferência dos personagens, na questão 23, o Pica-pau apareceu
como líder da preferência, com 5 votos, seguido de Batman, Homem Aranha” e personagens da
Disney, cada qual com 2 votos, tendo sido citados com um voto, Chapeuzinho Vermelho,
Pinóquio, Hello Kitty, Os Setes Monstrinhos, Timothy, Cliford, Sagwa”, Liga da
Justiça”, Shrek, Pingu e Cyberchase”.
Figura 19: Preferência dos personagens segundo os pais: Pica-pau, Batman, Homem-Aranha, Pinoquio, Hello
Kitty, Os Sete Monstrinhos, Timothy, Clifford, Sagwa, Liga da Justa, Shrek, Pingu, Cyberchase
Fonte: Google Imagens
Sobre o consumo de brinquedos anunciado em propagandas, todos os pais responderam
que as crianças já haviam pedido. O que se nota é que aquelas que foram atendidas, os objetos
comprados tinham ligação com personagens de desenhos animados: Homem Aranha”, Batman,
Barbie e Hot Wells. Isso inclui a criança que não tinha TV em casa, num indício de mediação
que acontece não por meio direto da TV, mas das múltiplas mediões que a cercam, seja a escola
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ou o grupo social (outras crianças). Possuir esses brinquedos midiatizados dão maior satisfação
que outros, com 53% de respostas afirmativas, mesmo que a outra metade de respostas tenha sido
24% de negativa e 23% não foram respondidas.
Na última parte do questionário, Opinião dos Pais, investigaram-se assuntos como o
conteúdo da TV, a classificação indicativa, os programas mais indicados e se Havia interesse em
conversar com a pesquisadora.
Apesar da maioria dos pais, 54%, não perceber diferenças no comportamento das
crianças, após ou durante a exibição dos programas e os mesmos 54% não terem respondido que
tipos de comportamento podem ser percebidos, os 46% restantes citaram os seguintes
comportamentos: agitação, cantar a música tema do programa, vaidade, teimosia, imitação,
comentários, risadas altas e brincadeiras de lutas.
Os pais, ao comentarem sobre a TV aberta, citaram a programação da TV Cultura como
completamente indicada para as crianças. No entanto, nota-se que as crianças saem da creche às 18
horas e a programação infantil dessa rede vai até às 19 horas. Iniciando a programação adulta, e a
presente rede tem, durante os seus intervalos, a exibição de propagandas da empresa de Brinquedos
Mattel, mais do que as outras emissoras de canal aberto, como pôde ser verificado pela
pesquisadora, que constatou cerca de dois comerciais na TV Cultura para um transmitido na mesma
faixa de horário, na Globo ou no SBT.
O que se percebe é que o relativismo que se fez aqui também esteve presente na fala dos
pais, quando se referiram à classificação indicativa. Os pais chegaram a um consenso sobre o
assunto, embora a maioria tenha expressado que acompanha a programação livre por via das
dúvidas. Entende-se que o assunto da classificação indicativa é, por si só, um assunto complexo e
que merece atenção em estudos futuros. Por exemplo, uma novela que era do horário das oito horas,
na rede Globo, portanto, indicada para maiores de 14 anos, ao passar para o Vale Apena Ver de
Novo, torna-se classificação livre.
No que tange aos programas mais adequados na opinião dos pais, 39% não responderam
a questão, mas os que responderam, o fizeram da seguinte forma: TV Cultura com 3 citões,
programas educativos e filmes infantis com 2 citões cada e os outros com uma citação apenas:
novela, futebol, brincadeiras normais, Discovery Kids, músicas, notícias e desenhos em geral.
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3.2.3 Considerações sobre a Fase 2
Ao analisar comparativamente os questionários originais e o questionário reelaborado,
têm-se a ampliação de alguns dados. O primeiro dado a ser levado em consideração é a quantidade
de questionários respondidos: na primeira leva foram 11 questionários direcionados para um único
grupo de 15 crianças e na a última aplicação do questionário reelaborado, foram 20 e voltaram 15,
sendo a maioria do Grupo VI, grupo que não havia respondido o questionário anteriormente. Em
comum houve apenas 5 questionários do Grupo V, que foi o grupo que menos entregou o segundo
questionário, ou seja, apenas 6 questionários.
A média de televisão por família foi diferente: de 2,4 para 1,9, isso se deve ao fato dos
pais do Grupo VI terem um poder aquisitivo menor do que os pais do Grupo V, como ficou
evidente pelas perguntas 1 e 2 do último questionário, que atentou para o nível
socioeconomicosocial das famílias. Pelo último questionário soube-se também que, dessas 13
crianças, apenas 2 tinham TV paga, informão que não estava bem clara nas respostas dos
primeiros questionários.
Nota-se que, apesar dos pais não terem canais por assinatura, eles entendem que em
canais como o Discovery Kids, TV Ra-tim-bum, Disney Channel e Nickelodion, que são canais
apropriados para as crianças, toda a programação é indicada para crianças. não importando o
horário. O mesmo acontece com a TV Cultura e a TV Futura, embora haja uma pequena
contradição nisso, pois ambos os canais não têm programação noturna apropriada para as crianças.
Evidencia-se outra contradição em relação ao horário que a criança assiste TV: no primeiro
questionário, o resultado foi de 82% de crianças que assistem TV no período noturno e já no
segundo, o resultado caiu para 50%.
No primeiro questionário, 43% dos pais responderam que é a própria criança que liga e
desliga a TV e no segundo, o número se eleva para 58%. Conseentemente, a interferência dos
pais, nesse momento, reduz proporcionalmente a autonomia da criança. Pela resposta dos pais, a
criança com idade média de 2 anos começa a ligar e a desligar sozinha o aparelho.
Na questão sobre o que a criança assiste na TV, o primeiro questionário relatava os
seguintes programa e canais: Castelo Ra-tim-bum, Discovery Kids, Filmes, Desenhos, Novela, TV
Xuxa, TV Cultura e TV Futura. No segundo questionário, por se perguntar separadamente sobre
programas, canais e personagens, as informações sobre as preferências infantis foram divididas em
4 categorias: assistir em geral, canais assistidos, personagens favoritos e programas favoritos.
A respeito do que a criança assiste, em geral, na TV, foram obtidos os seguintes
resultados: Desenhos, Educativos, TV Futura, TV Cultura, Gravação de programas e Novela.
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Percebe-se que aqui aparecem dois elementos que antes estavam difusos: novela e gravação dos
programas. O ato de assistir novela estava evidente na observação feita com as crianças, mas não
explícito nos questionários e o segundo elemento, gravação de programas selecionados pelos pais,
também já havia sido percebido na convivência com as crianças.
Os canais assistidos são: Globo, SBT, TV Cultura, Disney Channel, TV Ra-tim-bum,
Discovery Kids, Record, TV Futura e Boomerang. Os canais mais votados pelos pais foram os
canais da TV aberta: Globo, SBT, Record e TV Cultura, sendo apenas esta última, TV Cultura,
coincidente com as perguntas anteriormente feitas. Este fato auxiliou a desfazer as dúvidas que
pairavam do questionário anterior, pois os pais citaram canais por assinatura como se todos os
tivessem e pelo último questionário ficou claro que apenas uma minoria tem tal privilégio. Até
então não se havia admitido o ver a Globo. O tratamento em relação a esse canal, tanto pelos
questionários como pelas observões feitas na escola, é que a emissora é estigmatizada como não
apropriada” para as crianças, enquanto a TV Cultura é a mais indicada para tal público.
Ao entrar especificamente nas preferências dos programas, tem-se a seguinte listagem,
no segundo questionário: Madeleine, Pica-pau, Cliford, Os Sete Monstrinhos, Emily Elizabete,
Castelo Ra-tim-bum, Pingu, Cyberchase, Amigos da Miss Spyder, Timothy vai à escola, TV Xuxa,
Record Kids, Zoboomafoo, Desenhos, Filmes infantis e Charlie e Lola. Já para os personagens tem-
se: Liga da Justiça, Pequena Sereia, Shrek, Zoboomafoo, Pingu, Castelo Ra-tim-bum e Cyberchase.
Percebe-se ainda algumas confusões sobre personagens e programas, mas são dados valiosos, pois
retirando os programas Castelo Ra-tim-bum e Zoboomafoo, nenhum outro é coincidente com o
questionário anterior e nem com as observões feitas no CCI.
Os personagens citados pelas crianças como, Tom e Jerry e Power Rangers não
foram mencionados pelos pais. Ressalta-se que apenas nesse questionário apareceram alguns
programas da TV aberta, que antes nem haviam sido citados, embora seus desenhos sim, como no
caso dos Power Rangers, que está dentro do programa TV Xuxa.
Para melhor compreensão e visualização da comparação dos dados dos questionários,
fez-se a seguinte tabela, com os principais dados agrupados:
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Tabela 3- Dados comuns e agrupados de questionário original e questionário reelaborado
Questionário 1
Universo de 11
Questionário 2
Universo de 13
Média de TV por família
2,4
1,9
Duas crianças do grupo V têm
TV por assinatura: Mais TV;
Sky Família. As duas crianças
têm TV paga no quarto.
Tem TV no quarto?
39% têm
Equipadas com:
TV Paga 2
TV aberta 1
DVD 3
VHS 3
Horário que assiste TV
82% à noite
27% de manhã
9% à tarde
Horário a
40% noite
13% tarde
20% depois da aula
20% final de semana
Horário b
14%manhã
28% tarde
50% noite
Pais presentes na hora de ver TV
72% sim
30% Irmãos
25%Mãe
22%Pai
11% Sozinha
Média de horas
2,5 horas
--------
A criança assiste mais TV no
final de semana?
64% sim
85% sim
O que assiste na TV?
Castelo Ra
-
tim
-
bum
Discovery Kids
Filmes
Desenhos
TV Xuxa
TV Cultura
Novela
Tv Futura
Em geral
Desenhos
Educativos
TV Futura
TV Cultura
Gravação de programas
Novela
Canais assistidos
Globo
Sbt
TV Cultura
Disney Channel
TV Ra-tim-bum
Discovery Kids
Record
TV Futura
Boomerang
Preferências das crianças,
percebidas pelos pais
Zooboomafoo
Casa do Mickey
Lazy Town
Princesas
Personagens
Liga da Justiça
Pequena Sereia
Shrek
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T
V
Cultura
Power Rangers
Meninas Super Poderosas
Chaves
Castelo Ratimbum
Caiul
Bob, o construtor
Barney
Pink dink doo
Zoboomafoo
Pingu
Castelo Ra-tim-bum
Cyberchase
Programas
Madeleine
Pica-pau
Cliford
Os Sete monstrinhos
Emily Elizabete
Castelo Ra-tim-bum
Pingu
Cyberchase
Amigos da Miss Spyder
Timithy vai à escola
TV Xuxa
Record Kids
Zooboomafoo
Desenhos
Filmes infantis
Charlie e Lola
Quem liga/desliga?
43% ela mesma
29% a e
22% o pai
58% ela mesma
21% e
10% pai
Desde que idade?
Média 2 anos
Mudança no comportamento
64% não
54% não
Comportamentos
Imitar o de
senho (3)
Cantar a música (1)
Luta (1)
7 não responderam
Agitação
Cantar a música Vaidade
Teimosia/Rebeldia (2)
Imitação (2)
Comenrios
Risadas Altas
Brincar de luta
Pedido de propaganda
73% sim
100% sim
Atendido
55% não
2 não responderam
1 não lembrava
10 admitiram que tinham
consumido algum objeto
O que foi?
Sandália Homem Aranha
Tênis com luz
Hot weels
Barbie
Lava-rápido
Carrinhos
Bebê engatinha
Homem aranha
Batman
Trouxe mais satisfação
55% não responde
ram
27% não
53% sim
Programas são adequados para
90% sim
69% sim
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sua idade
Os mais indicados
55% não responde
ram
36% educativos
Discover
y
Kids 1
Cultura 3
Educativos 2
Brincadeiras normais 1
Música 1
Filmes e Desenhos Infantis 2
Nocia 1
Novela 1
Desenho 1
Futebol 1
Não responderamu 5
As perguntas sobre o consumo foram bastante esclarecedoras, principalmente por
estarem em conjunto com o período de observação da pesquisadora, no CCI. No primeiro
questionário, os pais se esquivaram de responder sobre consumo de objetos vistos na TV pela
criança e no segundo, todos admitiram que as crianças pediam o que viam na TV e a maioria
admitiu comprar alguns objetos ou estamparem algum personagem de desenho animado ou até o
próprio personagem.
Figura 20 Material escolar das crianças (Junho/2007)
No período de observação, a pesquisadora fez o registro de alguns objetos das crianças
como mochilas e material escolar. O consumo de objetos e acessórios que trazem alguma referência
midiática é quase total. Inclusive, em um diálogo entre as duas meninas do Grupo VI, elas
explicaram à pesquisadora porque tinham as mochilas ou os materiais com personagens
estampados.
Na estrutura familiar, somente perguntada no segundo questionário, vê-se que apenas
três crianças não tinham irmãos e aquelas que tinham, ou seja, 6 crianças eram primogênitas.
Apenas uma criança tinham irmãos mais velhos e mais novos e três crianças eram as caçulas. De
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todas essas crianças, três pais eram divorciados. Tais dados foram de relevância para entender como
se procede o processo de escolha dos programas e como se procedem as mediões entre os irmãos.
Uma das crianças relatou como tinha acesso a programas que os pais proibiam. Houve também a
menção, por parte de um dos pais, sobre a escolha não ser eficiente, pois seus filhos têm idades
diferentes, o que pressupõe que devam assistir conteúdos diferenciados.
Nas últimas sessões, as professoras cobraram da pesquisadora um plano pedagógico ou que
exibisse filmes mais educativos. O que se refere à parte pedagógica não está nos objetivos e
planejamento da pesquisa, pois desvirtuaria o encaminhamento e interferiria nos resultados, porém a
exibição de filmes educativos está no planejamento da pesquisa, embora as tentativas de exibi-los
tenham sido rejeitadas pelas crianças.
3.3 Fase 3: As oficinas temáticas
As oficinas temáticas foram pensadas como estratégia para entrar em contato direto com
a dinâmica da recepção e do tecimento das múltiplas mediões, dentro do território da criança, o
CCI.
O pretendido, nessa terceira fase, foi o aprofundamento das mediões acontecidas entre
as próprias crianças, o contexto e a TV, com atenção especial ao processo de significação dos
programas exibidos a elas, entrecruzando os dados oferecidos pelos pais e pelas próprias crianças.
A recepção transcende o momento da exposição, o contato com o produto midiático. A
compreensão e a interpretação que a criança - receptor produz só é possível através da configuração
tomada a partir do contato com o produto. Enfim, o que importa não é a leitura, mas a compreensão
do processo de produção de sentido, que foi investigada nessa fase final da pesquisa.
3.3.1 Objetivos da Fase 3
Na pesquisa etnográfica, a pesquisadora compartilha o cotidiano das crianças do Centro
de Convivência Infantil, vendo TV, além das mediões possíveis desse ato, ou seja, captura o olhar
da criança.
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3.3.2 Procedimentos
A pesquisadora tomou um espaço de tempo para analisar os dados da Fase 2 e delimitar
as estratégias a serem tomadas para as oficinas. Foram elaboradas cinco atividades, com objetivos
distintos e a cada atividade fez-se um resumo do que seria realizado e também um resumo dos
resultados preliminares
32
, que foram entregues às duas professoras, à auxiliar e à diretora. É
necessário esclarecer que a auxiliar dessa Fase não foi a mesma da Fase 2, pois essa nova auxiliar
estava no cargo havia duas semanas, quando a pesquisadora retornou para finalizar a pesquisa. As
professoras era as mesmas, assim como a diretora.
A Fase 3 da pesquisa desenvolveu - se em oficinas temáticas, um espo lúdico em
que a criança pode criar espontaneamente e expor suas representões acerca do meio de
comunicação TV. As atividades das oficinas consistiram num espo em que as crianças
participaram ativamente de manifestões gráficas e orais. Esse trabalho foi desenvolvido em etapas
e o tempo de duração de cada uma foi determinado pelo desenvolvimento e resposta das crianças ao
tema proposto.
Para o planejamento das atividades gráficas (1 e 5) e sua interpretação, foram
utilizados dois textos, base de autoria de Gobbi (2005) e Ferreira (1998), que destacam a
importância do uso dos desenhos infantis em pesquisas sobre crianças de pré- escola.
Gobbi (2005) faz reflexões sobre a construção de uma metodologia de pesquisa,
própria para trabalhar com crianças de 0 a 6 anos. A utilização do desenho infantil é o centro da
ação, conjuntamente à oralidade apresentada pelas crianças, no momento da execução do desenho, o
que possibilita conhecer mais e melhor as crianças que ainda não dominam a escrita.
O desenho e a oralidade são compreendidos como reveladores de olhares e concepções dos
pequenos e pequenas sobre seu contexto social histórico e cultural, pensados, vividos,
desejados. (...) Perseguindo o objetivo de contribuir com a construção de metodologias de
pesquisa que privilegiem os pequenos, afirmo os desenhos em conjugação à oralidade como
formas privilegiadas de expressão da criança. Quando aproximadas, podem resultar em
documentos históricos aos quais podemos recorrer ao necessitarmos saber mais e melhor
acerca do mundo vivido, imaginado, construído, numa atividade investigativa que procure
contemplar a necessidade de conhecer parte da História e de suas histórias segundo seus
próprios olhares. (GOBBI, 2005. P. 71 - 73)
A leitura do livro de Ferreira (1998) foi esclarecedora, pois a autora teoriza que os
desenhos são imagens figurativas, indicadoras e testemunhas do valor simbólico e cultural, com
significados atribuídos pela criança. A atividade do desenho é a intenção de representar
simbolicamente alguma coisa, que no caso, presente é a TV, dirigida por uma trama de discursos e
32
Essas circulares constam nos APENDICES G a O
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práticas sociais. O registro de suas impressões sobre a TV, no papel, é uma evidência material de
como a criança figura esse objeto e como a interação com o mesmo produz sentido.
(...) o mundo real é aquele que a criança sente e não apenas aquele que ela vê. O que a criança
vê é mundo natural. O real es enraizado dentro da criança dentro da criança e depende de
seus sentimentos. Assim, o desenho de uma criança não é a representação de um objeto em si,
ou seja, uma representação visual. O desenho de uma criança é a representação da
experiência que a criança tem com o objeto em particular, na qual deixa de transparecer suas
emoções. (FERREIRA, 1998, p. 23)
Os desenhos, na visão de ambas as autoras, contêm informações que vão além dos
mesmos, extrapolando o que está ao redor fisicamente. Os desenhos são portadores de sonhos, de
imaginação, de vínculos constituídos entre seus produtores e aqueles ou aquilo que estás ao redor da
produção e que deve ser considerado, possibilitando conhecer as percepções da realidade vivida por
essas crianças. Os desenhos são, como a fotografia, textos visuais que podem ser olhados, sentidos e
lidos.
Ferreira (1998) articula a concepção do realismo intelectual, um aspecto próprio da
idade de pré-escolar, que é relativo à intenção da criança desenhar o real, isto é, o desenho tem que
ser parecido com o real, tem que conter todos os elementos reais do objeto, mesmo os invisíveis. O
modelo interno é o ponto de partida para o realismo, e sua construção parte das experiências da
criança com o objeto, das suas impressões visuais, fornecidas pelo objeto real, conservada pela
memória.
A criança não apenas reproduz o que vê do objeto, mas tudo o que ali existe” e não é
visto. Assim, a criança desenha de acordo com o seu modelo interno, a imagem tem a intenção de
ser o mais parecido possível com o objeto, tal qual ela o vê e esse é o seu modo de figurar a
realidade. A criança cria figurões para representar os objetos que lhe transmitem sentido e essas
mesmas figuras criam novos campos de realidade. A fantasia se mistura com a realidade, extraindo,
por um processo de seleção, as partes que lhe são preferenciais. O processo de construção do
desenho é dialético, uma relação entre fantasia e realidade, onde seu produto é a projeção gráfica,
construída por seus próprios significados.
Para não cometer o erro do distanciamento do olhar adulto ou interpretação prévia,
ões condenadas por Gobbi (2005), deve-se acompanhar toda a execução da atividade e estar com
a atenção voltada para o que as crianças falam durante suas produções. Para a autora, o momento da
produção é importante, pois as crianças trocam informões entre elas e também transmitem
impressões para a pesquisadora sobre o contexto social, cultural e familiar.
Ao considerar as interpretões que a própria criança verbaliza, na construção do
desenho, percebe-se como os discursos e práticas sociais agem sobre a sua relação com o objeto-
TV. No auxílio da análise dos desenhos há a necessidade do diálogo entre pesquisadora e criança,
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no momento da execução do desenho, condição essa fundamental, visto que os significados e os
sentidos das figurões são explicitados pelas palavras das crianças.
Cada intérprete terá uma determinada imagem mental de um determinado objeto e,
conseentemente, cada um deles poderá imaginar, inventar e reconstruir para si próprio, um
especulo que pode ou não se coincidente com o do outro autor e com o de outros interpretes
(...) Imagens são representações mentais daquilo que a criança conhece e tem registrado na
memória. Imagens que eso representadas, de forma relativa, nas figurações. (...) O desenho
manual da criança, resultante de uma atividade mental e manual, é um objeto emergido do
imaginário, do percebido e do real. Como jogo de encontro e combinação desses três
elementos, o desenho torna-se objeto de investigação na exploração dos modos de pensar da
criança. Imaginando, figurando, interpretando e falando a criança compõe seu desenho e cria
um modo de comunicar seus pensamentos. (FERRREIRA, 1998, p.59)
Ferreira (1998) considera que a produção do desenho da criança acontece em um
determinado contexto, com uma rede de relões, que permitem ao pesquisador unir, na análise dos
dados do fenômeno o observado durante a produção/execução da atividade os conceitos teóricos. O
processo interpretativo ocorre paralelamente à observação, criam-se hipóteses ao reinterpretar as
análises e selecionam-se aspectos significativos de um contexto, o que resulta na construção de um
conteúdo que acrescenta os pressupostos teóricos iniciais com novas articulações e baseado no
observável.
Para as atividades que se utilizavam da TV como instrumento, foi despertada uma
atenção para a programação assistida pelas crianças, verbalizada por elas, escrita pelos pais e
auxiliada pelas referências das professoras.
Dessa forma, elaboraram se as atividades com VHS, nas quais a pesquisadora
selecionou programas indicados pelos pais, em seus questionários, perguntou às professoras quais
eram os programas indicados e às crianças foi pedido que listassem os programas que gostavam, em
ordem de preferência. O pedido feito pela professora do Grupo VI não foi possível de ser realizado,
pois ela gostaria de um documentário que pudesse ser trabalhado em sala de aula e o mesmo não foi
encontrado, devido aos os documentários disponíveis, tanto nas videolocadoras, como na
programação televisiva, serem de conteúdo adulto e muitas vezes complexos para as crianças. No
entanto, foi possível levar o programa Barney e Zoobumafoo, indicados pelas professoras e pela
auxiliar.
A listagem das crianças foi feita no primeiro dia de retorno da pesquisadora à
instituição. Os meninos foram os primeiros a se manifestarem e os programas seguem na ordem em
que foram citados: Power Rangers Força Delta, Pica-pau, Tom e Jerry, Turma do Bairro, Família
Dinossauros, Buzz Lightier, Batman, Superman, Bethoven, Lilo e Stich, Tartarugas Ninja, Lucas no
formigueiro, Vida de Inseto, Os Três Mosqueteiros, Mickey, Aton, Pato Donald, Xuxa, Caco-caco o
amigo macaco, Amigos Imaginários, Corcunda de Notre Dame, Sherek, Era do Gelo, Transformers,
Espanta tubarão, Dragon Ball, Pokemon, Robin Hood, Homem Aranha, Ratatouille, Nem que a
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vaca tussa, Casa monstro, High School Musical; Garfield, Saltimbancos, Cavaleiros do Zodíaco,
Zoboomafoo, Castelo Ra-tim-bum, Flucks, Sítio do Pica Pau Amarelo, Bob Esponja, Bem 10,
Família X, Roboboy, Macacos Robôs, 3 Espiãs Demais, Winx, He-man, Rambo, Menino
Maluquinho, Meninas Super Poderosas; Cyberchase; Pingu; Robocop; Hi-five; Primavera;
Macuin (mais tarde se descobriu que era o filme Carros da Disney), Piratas do Caribe, Turma da
Mônica, Peter pan (mais novo), Sonic, Barbie, Rei Lo, Moranguinho, Branca de Neve e os Sete
anões e Hello Kitty. Ressalta-se que o programa Power Rangers foi citado mais de seis vezes
pelos meninos, e somente outro desenhos foi citado mais de uma vez: O Rei Lo.
Figura 21 Prefencia dos meninos Família Dinossauros, Macuin (filme Carros ), Tom e Jerry, Mickey,
Garfiled, Homem-Aranha, Rei Leão
Fonte: Google Imagens
Com as meninas foi um pouco mais difícil, porque elas ficaram um pouco inibidas em
falar sobre os filmes, mas citaram os seguintes: Charlie e Lola, Moranguinho, Hello Kitty, Pingu,
Xuxa, Power Rangers (embora na maioria das vezes elas troquem de canal ou os pais coloquem
algum desenho para elas assistirem), Nanny Macfee (filme), Deu a louca na Chapeuzinho (filme),
As três espiãs demais, A Bela Adormecida, Bob Esponja, Shrek (mas as meninas deixaram explícito
que só o primeiro e o segundo, já que o terceiro “é muito sem graça”), Cocoricó, Aladin, Rei Lo,
Bela e a Fera, Winx (não agrada muito, mas assistem por ter fadas), Witchs, Barbie (principalmente
a Barbie Mermaid), Pica-pau, Tom e Jerry, Família Dinossauro (só se não tiver outra coisa para
assistir na hora”) e Homem Aranha (só porque passou na escola”).
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Figura 22 Preferências meninas Grupos V e VI: Charlie e Lola, Moranguinho, Hello Kitty, Pingu, Nanny
Macphee, 3 espiãs demais, Bela Adormecida
Fonte: Google Imagens
Nas atividades com a TV foram observados os comportamentos das crianças e suas falas
durante a exibição dos filmes. A atenção voltou-se para as suas preferências, não-preferências e
justificativas para tal.
3.3.2.1 Atividade 1 O que é a TV para as crianças?
A Atividade 1 consistia em apurar o que é a TV para as crianças. Foi entregue uma
folha branca A4 com uma construção gráfica simples, que representava a TV, como a figura:
Figura 43 - TV usada pelas crianças na Atividade 1
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Depois do almoço, antes da hora da TV, as crianças foram encaminhadas para a sala do
Grupo V, onde a pesquisadora já havia disposto uma folha À frente de cada cadeira e os materiais a
serem utilizados (1 caixa de lápis de cor 12 unidades, um estojo de canetinhas hidrográficas 12
unidades e 1 caixa de giz de cera curto 15 unidades), para que as condições dos desenhos fossem
iguais para todos, inclusive a opção de cores a serem utilizadas.
As crianças receberam um esqueleto de uma TV e puderam desenhar livremente o que
desejassem naquela folha. O desenho se desenvolveu em trabalhos individuais, mesmo as crianças
compartilhando da mesma mesa. A pesquisadora manteve um comportamento interativo com as
crianças, na busca pelo engajamento delas na atividade a ser executada, e no recolhimento das falas
durante a execução, para auxiliar na análise das mesmas.
A auxiliar do Grupo V ajudou na execução da atividade, mas em nenhum momento
ajudou as crianças no desenvolvimento do desenho. As instruções foram vagas e apenas foi dito
para desenharem sobre a TV, o que gostavam ou que gostariam de ver.
Foram quatro mesas e o desenho abaixo representa as condições de execução:
Figura 24 Disposão das mesas durante a execução da tarefa:
Figura 25 Sala de aula sendo preparada para a Atividade 1
Mesa
I
Mesa
II
Mesa
Professora
Mesa
III
Mesa
IV
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Foram confeccionados 38 desenhos, sem contar o verso. Havia 20 crianças presentes
nesse dia, sendo que 3 não quiseram fazer o segundo desenho e uma criança fez um desenho a mais.
A opção de fazerem dois desenhos havia sido prevista pela pesquisadora, que levou o dobro de
folhas, mas faria a distribuição somente se as crianças pedissem.
Algumas crianças desenharam no verso, opção essa indicada pelo aluno Fernando (04
anos), que perguntou se poderia desenhar no verso, já que era TV e então ele tinha que mudar o
canal. A pesquisadora não impôs restrições à utilização da folha. Mais sete crianças utilizaram o
verso da folha, perfazendo um total de 8 desenhos, com o verso também desenhado.
Para clarificar o panorama dos desenhos e com base nas articulões teóricas acima
articuladas, sobre as várias interpretões, a presente pesquisa utiliza de três recursos iniciais para a
análise dos desenhos:
1) Conforme as crianças entregavam os desenhos, a pesquisadora perguntava o que era e
anotava a lápis no verso da folha;
2) A pesquisadora circulava pela sala para acompanhar a confecção do trabalho, e coletar as
falas das crianças durante a execução;
3) Criaram-se categorias para análise que envolvesse os conteúdos do desenho.
3.3.2.2 Análise da Atividade 1 O que é a TV para as crianças?
Segue abaixo uma tabela para que fiquem evidentes quais foram os desenhos e seus
autores, incluindo também algumas explicões dadas pelas crianças do que era o desenho:
Tabela 4 As crianças-autoras dos desenhos e os títulos dados aos mesmos
MESA I
Desenho 1
Desenho 2
Renato (5 anos)
Jogo de Vôlei Jornal Nacional e a corrida
Ricardo (5 anos)
Jogo de Vôlei
(Brasil X Palmeiras
“e é o Brasil é que tá ganhando)
Esse é o nosso mundo, aqui embaixo é
o mar e tem o pescador aqui em cima
Diogo (5 anos)
Cavaleiro
(“eu gosto muito de cavaleiro. Ele está
feliz porque o cavalo dele é bastante
rápido e ele pode matar os cavaleiros
mau. Por isso ele está feliz)
Eu soltando pipa
Ana (5 anos)
Início de um jogo de futebol (copiando
Carlos)
Mas ficou feio, quero apagar
O final foram flores, porque era o
único jeito de deixar a TV bonita”
Bombeiros apagando o fogo do
acidente
Carlos (5 anos)
Futebol (Corinthians X Palmeiras)
Verso: homem dando cambalhota
Gato/carro/aviões
MESA II
Desenho I
Desenho II
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Maria (5 anos)
Hello Kitty Moranguinho
Leonardo (6 anos)
Corrida Corrida
Flávia (6 anos)
Hello Kitty
(teve dificuldade porque não conseguia
fazer a Hello Kitty exatamente como a
da TV, queria que a pesquisadora ou a
auxiliar desenhassem para ela)
_____________________
Marcelo (6 anos)
Corrida Corrida
(não terminado porque ele quis ver o
desenho que ia começar)
MESA III
(Última mesa a sair da sala para assistir o desenho. As crianças não queriam assistir, embora tenha sido uma
delas que havia trazido o filme de casa)
Desenho I
Desenho II
Bruna (5anos)
Castelo da Princesa
(ela não queria dizer de quem era o
castelo porque tinha vergonha. A
pesquisadora perguntou se era dela o
castelo e ela ficou envergonhada, disse
que era sim, era para ser da cinderela,
mas ela queria o castelo para ela)
Flor
Isadora (5anos)
Winks Chuva na flor
Angélica (5 anos)
2 Fadas
(ela disse que se refere às coisas que
ela gosta de assistir. Ela gosta muito de
fadas)
Pozinho da Barbie
(é uma caixa em que cada pozinho faz
crescer ou movimentar as plantas que a
Barbie tem no corpo)
Verônica (5 anos)
(3 desenhos)
O terceiro desenho é o da TV com
janelas e que tem o gigante
espremido no canto da tela. O
gigante quer sair para fazer cocô e
xixi no jardim, mas não pode, a TV
es espremendo-o
Programa das Quatro amigas
Verso: o canal que copiou o desenho
dela
Castelo
(é um programa que começa bem, mas
que tem um pouco de terror, mas só no
final. Só um pouquinho)
Antônio (6 anos)
Espíritos do Mal (é uma aventura que
as pessoas foram e ficaram presas
nessa gaiola, que é o medo dos
fantasmas maus. A gaiola não existe, é
o medo.)
Verso: O quarteto fantástico (é o cara
que queima contra o que congela)
__________________________
MESA IV
Desenho I
Desenho II
Eduardo (5anos)
Futebol (Palmeiras X Cruzeiro)
Verso: só o contorno da tela de TV
TV Desligada
Fernando (4 anos)
(foi o quem começou a desenhar
no verso)
Pica-pau
Verso: Homem dando cambalhota
Homem dá cambalhota
Verso: a falia dele na chuva
José (4 anos)
O Nada
Verso: símbolo da Globo
Em branco
(se não consigo pensar em nada para o
primeiro, como vou fazer o segundo?
Meu desenho é sobre o nada.)
Rodolfo (4 anos)
Homem aranha lutando contra o vilão
(ele queria levar o desenho para a mãe,
chegou a dobrá-lo)
______________________
Vicente (6 anos)
Apresentador de TV Corrida
Verso: um peixe azul
Cláudia (5anos)
O desenho central é a flor, é isso que
interessa, o resto é enfeite
Eu na pescaria
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Percebe-se que houve uma continuação dos desenhos, mesmo separados pelas mesas e
que alguns desenhos eram iguais, o que demonstra como funcionam as mediações e as trocas
efetuadas pelos grupos sociais. O conteúdo dos desenhos e revelador, por isso agrupou-se em
categorias, para melhor visualização.
As categorias foram estabelecidas conforme os assuntos expressos pelas próprias
crianças. Os assuntos comuns foram estabelecidos em palavras chave. Explicita-se a expressão:
projeção do Eu, que é quando a criança se coloca dentro da TV, quando a TV deveria mostrar coisas
mais próximas do cotidiano dela ou que realmente mostra o que ela faz no dia-a-dia. Não se pode
afirmar, apenas fazer algumas articulões. Os elementos da dia contemplam elementos
expressos pelas crianças, mas não há como localizar exatamente qual a fonte, como no caso dos
bombeiros, referência clara ao acidente da TAM, ocorrido em julho desse ano e também o homem
dando cambalhotas, que se pode ligar aos jogos pan-americanos, quando Diego Hipólito ganhou a
medalha de ouro, saltando e dando cambalhotas. Essa imagem foi muito repetida e divulgada pela
mídia, nos mais diferentes horários e coincidiu com as férias das crianças.
Gráfico 1- Quantificação dos desenhos por categoria e divisão por Grupos V e VI
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Projão do EU
Desenho Animado
Filmes
Futebol
Vôlei
Corrida
Programa Inventado
Elementos da Mídia
Metáforas
Outros
Grupo V
Grupo VI
Tabela 5 - Categorias de análise com mero e nome dos desenhos
CATEGORIAS MERO DESENHOS
Projão do Eu
5
Nosso
mundo
Castelo da Princesa
Família na Chuva
Eu na pescaria
Desenho animado
6
Hello Kitty (2)
Moranguinho
Winks
Barbie
Pica-pau
Filmes
2
Homem Aranha 3
O quarteto fanstico e O surfista
prateado
Esporte
9
Futebol
2
Corinthians X Palmeiras
Palmeiras X Cruzeiro
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Vôlei
2
Brasil X Palmeiras
Jogo de vôlei
Corrida
5
2 Leandro
1 Vicente
2 Marcelo
Programas inventados
4
Cavaleiro
Programa das amigas e sua cópia
Espíritos do Mal
Elementos da mídia
9
Bombeiros e o acidente
Fada
Castelo/terror
Homem cambalhota (3)
Símbolo da Globo
Apresentador de TV
Jornal nacional e a corrida
Metáforas
7
Janelas e o gigante
TV desligada
Só a tela
O nada (2)
O resto é enfeite
Jardim com flores
Outros
4
Flor
Flor na chuva
Peixe azul
Gato/carro/aviões
TOTAL DE DESENHOS
46
Algumas crianças tiveram dificuldades em desenhar, por se sentirem presas à TV,
mesmo que na instrução tenha sido dito que poderiam desenhar o que quisessem. Flávia, por
exemplo, queria uma Hello Kitty perfeita, tinha consciência de que a Hello Kitty é um desenho e
por isso tinha condições de representá-la perfeitamente. Nesse período a criança tem necessidade de
estabelecer vínculos o mais próximos possíveis de sua realidade, fazer o desenho o mais real
possível, por isso a dificuldade em desenhar.
Figura 26 Desenho Flávia
José, por sua vez, não conseguia pensar em nada sobre a TV, por isso representou o
Nada, no verso do primeiro desenho tenha representado o símbolo da Globo. Ao entregar o segundo
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desenho, disse: Se não consigo pensar em nada para o primeiro, como vou fazer o segundo? Meu
desenho é sobre o nada. Há que se notar que José tem 4 anos. Elkind (2004) alerta para momentos
em que a criança é investida de uma pseudo-sofisticação, em que ela tem insights e verbaliza
pensamentos que parecem complexos para os adultos e que por isso deixa de ser tratada como
criança, e passa a ser supergarotos.
Figura 27 Desenho José (Nada) e seu Verso (Globo)
O desenho de Eduardo, que representou a TV desligada com seu nome na tela,
demonstra uma referência a si mesmo, que é própria da idade. O que provoca a reflexão é a
interpretação que se faz do significado do desenho, que só no momento em que a TV está desligada
é que reflete o telespectador.
Figura 28 Desenho Eduardo com seu nome na tela
Verônica também demonstrou seu raciocínio sobre a TV, ao fazer em seu terceiro
desenho, a tela da TV com várias janelas e, no canto da tela, o castelo com um gigante que quer sair
dali, mas não pode. Ele quer se expressar, mesmo que de forma escatológica, como coloca a
criança, mas não pode porque a TV o espreme no canto. A analogia que se faz é ao próprio período
pelo qual a criança passa. O gigante pode ser encarado como seu superego em formação, que regula
suas ões, mas que está espremido pela TV, ele quer se estabelecer, mas a TV não deixa.
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Figura 29 Desenho Verônica - Janelas
Outro desenho que Verônica fez foi um programa que ela mesma que criou, sobre
quatro amigas e suas aventuras. No verso, desenhou três amigas e ao perguntar para ela o que
significava, disse que um canal costuma copiar o outro e por isso no desenho dela havia outro canal
que estava copiando o desenho que ela havia criado.
Figura 29b Desenho Verônica e Verso Programa
No momento da pesquisadora recolher o desenho e perguntar o que era, criou-se uma
discussão na mesa sobre o desenho Winx e Wicht, ambos retratados nos desenhos das meninas que
compunham a Mesa III. As meninas disseram gostavam muito de fadas e os dois desenhos
animados tinham as personagens-fadas, assim como a Barbie Farytopia, outro desenho citado por
elas. Mas a preferência atual expressa por elas é porque na Winx há o grupo rival, as Trinx, as
fadas más. O fato de que a mídia se apropria de determinados elementos que fazem sucesso, para
reproduzi-los em outros momentos, não passa desapercebido por elas, inclusive elas discernem
quais preferem e porquê.
Figura 30 Personagens Winx e Witch
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Ana, ao desenhar as flores, faz uma tentativa de deixar a TV mais bonita e deixa claro
isso em sua fala, embora, no desenho seguinte, mostre um acidente com pessoas de ponta-cabeça,
queimando e diga que é um acidente e os bombeiros estão indo apagar o fogo. Percebe-se que é
uma referência direta ao acidente do avião da TAM, ocorrido em Julho desse ano, que ainda é
notícia no país e que parece ter impressionado a menina, pois ao se referir ao que é TV, o acidente é
representado.
Figura 31- Desenho Ana Acidente
A seência de desenhos com tema de corrida é outro ponto a ser discutido. Freud
(1921), ao analisar as formões de grupo, teoriza que é possível um grupo inteiro ser influenciado
por um indivíduo apenas, mas que para isso acontecer tem que haver identificação por parte dos
outros integrantes. Se os indivíduos do grupo se combinam numa unidade, deve haver certamente
algo para uni-los, e esse elo poder ser precisamente a coisa que é característica de um grupo.
(FREUD, 1921, p. 96)
O que se pode notar é que a união desses quatro meninos em seus seis desenhos, na
preferência por corridas, embora o desenho de Renato fosse a representação da corrida sendo
noticiada pelo Jornal Nacional. Os alunos não estavam na mesma mesa e Renato não pertencia ao
Grupo VI, como os outros meninos. O contágio, assim denominado por Freud (1921), é fácil de ser
detectado, mas muito difícil de saber a razão. O psicanalista diz que um indivíduo pode obedecer a
uma sugestão do der do grupo, isto é, aquele que demonstrou uma capacidade diferenciada e por
isso é copiado pelos outros que integram aquele grupo.
O desenho da corrida foi reproduzido igualmente por Vicente, Marcelo e Leandro, mas
em Renato houve uma mudança substancial, pois quando ele insere o Jornal Nacional, ele opera
duas mediações simultaneamente: a Cogniscitiva, que é a sua representação mental e a
Videotécnica, quando foi preciso dizer em que programa real da TV estava passando a corrida,
foi importante para ele fazer a referência do significado da sua corrida, pois ela era tão importante
que estava passando no noticiário, virou notícia. Para os outros meninos, além do contágio que
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faz parte da sua própria estrutura de desenvolvimento e de imitar o outro para compreender a si
mesmo, a mediação Situacional, isto é, o contexto da produção de sentido foi o mais importante. O
contato simbólico com os colegas permitiu que, ao invés de dialogarem por palavras, esses meninos
dialogassem por imagens.
Figura 32 Desenhos corrida de carros: 2 de Leandro, o desenho completo de Marcelo, 1 desenho
de Vicente e por último desenho de Renato
xxxxxx
Os desenhos de projeção do Eu extrapolam a interpretão simplista de narcisismo, de
desejar estar na mídia. Referem-se à mediação de Referência, pois recordando o que já foi dito
sobre essa fase de desenvolvimento, as crianças ainda são egontricas, isto é, privilegiam as suas
ões e seus julgamentos no momento de agir. E com a TV não é diferente, já que esse medium lida
diretamente com os mecanismos de projeção e identificação (SODRÉ, 1977). No desenho o
castelo da princesa”, Bruna (5 anos) disse que desejava morar naquele castelo, embora ela o tenha
feito para a Cinderela”, mas era ela quem desejava morar nele. Portanto, a mediação de Referência
se faz presente quando as crianças se vêem na TV e por ela são auxiliadas a ressaltar o que gostam,
como no caso de eu soltando pipa”, ou mesmo a delimitar o que gostariam para elas, como no caso
do esse é o nosso mundo.
Figura 33 Castelo da Princesa, Eu soltando Pipa e Esse é o nosso mundo
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Um ponto a ser ressaltado é que o número de desenhos do Grupo V é superior devido ao
número de alunos, porém, os conteúdos dos desenhos denunciam alguns aspectos. As crianças do
Grupo VI fizeram desenhos que tinham mais correspondência com o real, o que corresponde com
o seu desenvolvimento cognitivo. Entretanto, o que está nesse conteúdo é que deve ser ressaltado, já
que, em sua maioria os meninos se interessaram pelas corridas de carro e as meninas
confeccionaram os desenhos animados de sua preferência (Hello Kitty e Moranguinho).
Figura 34 Personagens Moranguinho e Hello Kitty
Fonte: Google Imagens
Diogo e Vicente fizeram dois desenhos bastante interessantes. Diogo criou uma pequena
história sobre um cavaleiro que, segundo ele, é a figura que mais o interessa quando assiste TV. Ele
demonstra interesse pelo desenho Cavaleiros do Zodíaco, mas no momento de reproduzir, em sua
TV, preferiu ele mesmo criar um desenho com o elemento de sua preferência. Já Vicente, apenas
desenhou um apresentador de TV, com as configurões de roupa e gestuais reproduzidas com
certa fidedignidade, o que demonstra que esse é um elemento que chama muito a sua atenção.
Figura 35 Desenho Cavaleiro e Apresentador
Ambos os meninos têm a mesma idade e compartilham da mesma sala de aula, mas seus
desenhos evidenciam que um está mais ancorado com a realidade e o outro demonstra certa
criatividade com os elementos que lhe são apresentados.
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À guisa de concluir essa análise preliminar da Atividade 1, faz-se uma referência à
apropriação de determinados elementos midiáticos e como as crianças lidam com eles, constituindo-
se um fato importante de ser melhor avaliado. Por esse motivo, ao final das exibições das fitas
preparadas pela pesquisadora, fez-se outra atividade gráfica, que investigou essas apropriões com
os próprios elementos midiáticos, como pode ser visto mais adiante.
3.3.2.3 Atividade 2 Fita Pais
Foi montada uma fita VHS com duração de 1hora e 40 minutos. A escolha dos
programas gravados tem por base o questionário respondido pelos pais, no qual constam alguns
programas que foram listados por eles como os preferidos e os mais indicados as crianças
assistirem.
Embora, as crianças tenham indicado o Castelo Ra-tim-bum, esse não foi selecionado,
por conta da extensão, que tomaria todo o tempo disponível e o objetivo era simular uma
programação feita pelos pais. A presença de Zoboomafoo nessa seleção, deve-se ao fato do
programa de ter sido citado nos dois questionários e também por ser exibido em um canal aberto, a
TV Cultura.
Lazzy Town e Pink Dink Doo foram citados no primeiro questionário, mas fazem parte
da programação da Discovery Kids, que em ambos os questionários foi classificada como
programação indicada e apreciada pelas crianças.
A oportunidade também foi aproveitada para verificar o conhecimento das crianças
sobre a programação da TV por assinatura. Os questionários que retornaram mostraram que apenas
duas crianças tinham TV paga e que as outras assistiam TV aberta.
Tabela 6 - Montagem do VHS Pais
Duração Programa Sinopse
00:00
22:24
Lazzy Town
È dia de natal em Lazy Town. O vilão quer destruir o Natal de todos
com uma bomba a ser detonada às 6 da tarde. Mas ao final o herói
Spartacus consegue salvar o dia.
22:25
44:52
Pink Dink Doo
São dois episódios:
Hora de Dormir Tyler não quer ir para a cama, eno, seu
porquinho da índia se transforma em um gênio e lhe concede o
pedido de nunca mais ter que ir dormir.
Troca de dente- Tyler es com o dente mole e Pink lhe explica
porque ele tem que retirar o dente, mesmo que doa, pois há outro
para crescer.
44:54
1:07:21
Zooboomafoo
1:07:22
1:40:25
Barney
Hora de ir para a escola.
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O VHS confeccionado pela pesquisadora ficou preto e branco no videocassete da
instituição e o volume também ficou prejudicado. Essas falhas videotécnicas influíram diretamente
no ato de ver TV e a fita não pôde ser exibida até o final por uma dispersão geral das crianças.
3.3.2.4 Análise da Atividade 2 Fita Pais
Ao iniciar Lazy Town houve o reconhecimento dos heróis logo de início, vibrando
muito com Spartacus, o herói do programa. Tanto os meninos quanto as meninas prenderam-se à
mais ao personagem Stéphanie, pois mesmo no momento de dispersão, as atenções se voltaram para
a personagem quanto estava cantando.
Figura 36 Personagens Lazzy Town
Fonte: Site Discovery Kids
Ao aparecer a vinheta Volta Já”, as crianças ficaram bastante surpresas e perguntaram
onde estavam as propagandas. Mesmo com intervalo de 2 segundos, as crianças se dispersaram. As
crianças do Grupo VI não conseguiram se concentrar, estavam mais dispersas que as do Grupo V.
As crianças reconheceram o desenho Pink Dink Doo e também que tal programa é
exibido no canal pago Discovery Kids. Algumas crianças pediram para a pesquisadora levar o VHS
no dia seguinte.
Inicia-se o seguinte diálogo:
_ Na minha casa não passa... - Marcelo, que teve o seu questionário respondido e que
não há TV possuía assinatura.
_ Na minha também não. Antônio, que também não tinha TV por assinatura
_ É vo que não sabe colocar o canal Eduardo, que não teve o segundo
questionário respondido, mas pelo primeiro não havia indícios que tivesse TV por assinatura, pois
os pais disseram que ele assistia TV Xuxa, TV Globinho e TV Cultura.
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Isadora informando a pesquisadora: _ Na casa do meu pai passa, mas na casa da minha
avó não. Eu moro com a minha avó e com a minha mãe, mas logo, logo vai ter lá também.
Percebe-se, neste pequeno diálogo, como se procede a relação TV aberta ou paga para
as crianças: a questão não é o ter ou não, mas é o saber ou não sintonizar (colocar) o canal.
Também nota-se que não ter o canal por assinatura faz com que a criança ignore quais os programas
que passam ou não. Essa é a manifestação de como as mediações se procedem, pois uma criança
que conhece, mostra à outra ou relata à outra. Se não tem TV paga na casa em que mora, a criança
procura acesso por outros meios.
Inicia-se uma agitação, todos querem ser o ursinho e apenas Renato reconhece que é
um porquinho-da-índia, o mascote da personagem principal. As crianças perguntam para a
pesquisadora quem é que será o ursinho e a pesquisadora nada responde, para deixar que as
crianças resolvam entre elas.
Figura 37 Mascote de Pink Dink Doo
Fonte: Site Discovery Kids
Antônio diz: _ Se ela [pesquisadora] não diz quem é, então é todo mundo!
Bruna e Flávia pedem à pesquisadora para serem a Pink.
Vicente responde a Antônio: _ Não só pode ser eu! Eu sou macho, eu e o Leandro!
Depois dessa pequena discussão sobre quem é quem, e o não-posicionamento da
pesquisadora, percebe-se que houve uma distribuição por eles mesmos e a questão do gênero foi o
ponto de decisão. As meninas se tornaram Pink e os meninos se dividiram entre o ursinho e o
Tyler, irmão mais novo de Pink.
Figura 37a: Personagens Pink Dink Doo Tyler (irmão) e Pink
Fonte: Site Discovery Kids
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Esse desenho animado tem uma parte interativa, na qual se perguntam trechos do
desenho e a criança escolhe uma das três alternativas e responde em voz baixa para não perder as
instruções e as alternativas. Percebe-se que a parte interativa foi bastante atrativa para as crianças,
que depois debatiam entre elas dizendo o quanto havia sido legal.
Ana pediu para a pesquisadora uma televisão para ela desenhar a Pink, porque ela achou
muito legal, na casa dela não tinha e ela não queria esquecer. Interessante notar que ela não queria
simplesmente uma folha de papel, mas ela queria uma televisão para poder fixar bem a referência à
qual ela se dirigia.
Cláudia, que não tinha TV em casa, disse à pesquisadora que foi a Pink que ela
desenhou dentro da TV. A pesquisadora perguntou se não era uma flor e ela disse que não e que
assistia sempre que podia o desenho. A pesquisadora aproveitou a situação para perguntar mais
sobre os hábitos dela, já que até o retorno do questionário, tanto a pesquisadora como as professoras
ignoravam o fato da menina não ter TV em casa. Demonstrando conhecimento sobre o que se
passava na TV e a programação, o que se pode supor é que a menina tinha contato com esse
medium na casa de outras pessoas ou sabia dessas informões via colegas de sala, o que comprova
mais uma vez como as mediões se articulam no cotidiano e a quase onipresença da TV, pois
mesmo quem não a tem, sabe o que acontece nela.
Antes do segundo episódio da Pink Dink Doo, há uma vinheta da Discovery Kids e as
crianças se dispersam e têm dificuldade em entender quando inicia o desenho. O episódio que trata
dos dentes de leite em nada chamou a atenção das crianças. Não houve identificação por parte delas,
mesmo sendo um tema do seu cotidiano. Ricardo foi o único a ficar agitado e demonstrar para os
colegas, para a auxiliar e para a pesquisadora.
Ao iniciar o Zoboomafoo, as crianças se agitaram, embora já estivessem bastante
dispersas e elas demonstraram gostar bastante do programa, principalmente os meninos. Fernando
tentou chamar atenção dos colegas para que todos pudessem assistir. Diogo veio a pesquisadora e
pediu para ser o Zoboomafoo. Leandro, aproveitando a situação, pediu para que a pesquisadora
levasse, na próxima vez, a fita do Tom e Jerry.
Figura 38 - Apresentadores Zoboomafoo
Fonte: TV Cultura
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A dispersão foi quase total, embora algumas crianças chegassem perto da TV e
tentassem prestar atenção ao que estava passando. A auxiliar saiu da sala para tentar solucionar o
problema do videocassete, trazendo outro.
O problema da cor foi resolvido e isso fez com que a atenção das crianças se voltasse
para o VHS, que foi rebobinado, a pedido das crianças, para o desenho da Pink Dink Doo.
Novamente assistiram o primeiro episódio com atenção, respondendo a brincadeira da
interatividade. As crianças comentaram entre elas que tinham horário para dormir e Marcelo disse
que no sábado ele dormia depois de assistir Zorra Total.
A ritualização em torno da TV se faz presente nessa pequena observação de Marcelo,
mas em outro momento o menino já havia comentado que dormia depois do Big Brother. Ao que
tudo indica, determinados horários na família dele pautam-se pelos programas que passam na TV e
esse menino tem acesso a programas adultos, embora no questionário nada conste sobre isso.
Para Martin-Barbero (1990)
33
, a ritualidade medeia a configuração de fluxo da recepção
dos meios, pelos receptores, através da apropriação do fluxo de produção, ofertada pelos formatos
industriais, promovendo a ancoragem das mensagens na percepção e na memória dos sujeitos e
estabelecendo os ritmos (espos e tempos) da interação. Dessa forma, a problemática da
globalização, em relação ao receptor, levantada por Canclini (1999), articula-se com Martin-
Barbero, no sentido de que a aparição dos meios de comunicação põe em evidência uma
reestruturão geral das articulões entre o público e o privado, o que pode ser observado também
na vida urbana. Por isso, o autor vê a importância da investigação das transformões, suscitadas
pela inserção dos meios de comunicação, no cotidiano dos sujeitos e como o consumo se remodela
a partir das mudanças tecnológicas.
Vicente perguntou onde passava e depois que Eduardo respondeu, ele disse que não
sabia se tinha na TV dele ou não. Eduardo disse que devia ser ele que não sabia colocar o canal.
Novamente surge a mesma situação sobre ter ou não canal por assinatura.
Vicente exigiu silêncio quando comou Zoboomafoo, por ser o programa preferido
dele. No questionário respondido pela mãe, no entanto, em nenhum momento ela citou o programa
e sim novelas, noticiário e jogos de futebol como sendo os preferidos do menino.
Percebe-se, nessa parte final, que os conteúdos que os adultos acreditam serem os mais
indicados para as crianças, nem sempre são seguidos em casa e sempre são realmente os preferidos
deles.
O programa Zoboomafoo pareceu ser de conhecimento de todos, embora as crianças
não tenham prestado atenção nele, nem quando estava em cores. O Cuidado ataque!, que anuncia
33
MARTIN-BARBERO apud PIEDRAS, 2006, p. 69
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o final do programa, foi repetido por vários meninos do Grupo V, que tentavam contar para os
outros colegas.
Esse pequeno acontecimento ilustra bem como é que as crianças ficavam sabendo, umas
pelas outras, o que acontecia e nos programas e também as suas frases de impacto.
Um fato que ocorreu nesse dia foi que as crianças perceberam que a pesquisadora
escrevia no caderno que sempre estava em seu colo. Quando a pesquisadora esclareceu que anotava
as coisas que as crianças gostavam e as que não gostavam nos desenhos, Fernando disse para anotar
o Rei Leão, que era o desenho que mais gostava.
_ Aluga o pica-pau também José
_ O sítio do Pica-pau Amarelo complementa Fernando.
Os pedidos de Antônio, do Grupo VI, foram se avolumando: Homem Aranha 3
(filme), O quatro fantástico quatro homem de gelo e o de fogo e homem elástico (O Quarteto
Fantástico e o Surfista Prateado, filme) e Terra dos Dragões.
Percebe-se que por ser uma criança mais velha, ele preferia filmes longos. A
pesquisadora aproveitou a oportunidade para perguntar às crianças que estavam à sua volta se
preferiam filmes longos ou curtos e a resposta das crianças do Grupo V foi que os curtos eram
melhores e conforme as nas palavras de José: é melhor porque tem mais. Já as crianças do Grupo
VI preferiam filmes longos e com histórias com como e fim, segundo Flávia.
Quando um programa não passa na TV, é preciso alugar para assistir. Pelos
questionários que retornaram, apurou-se que 85% das crianças têm DVD em casa, apenas duas
crianças não têm o aparelho em casa, sendo que uma delas era a criança que não tinha nem TV. Já
no item videocassete, o número cai para 8 crianças que o têm, isto é, 72%. Ao refletir sobre a
realidade da cidade de Bauru em relação às locadoras, não há mais VHS disponíveis para locação e
o preço do DVD, para aquisição, está mais baixo. No quesito DVD, há dois aspectos: o financeiro e
o do encantamento pela moderna tecnologia, o que explica o alto consumo desses aparelhos.
3.3.2.5 Atividade 3 Fita Crianças
A atividade consistia em averiguar o gosto das crianças e o critério de escolha dos
programas foi a própria opinião delas. Foram selecionados os desenhos mais citados pelas crianças.
Excluíram-se propositalmente os desenhos que a pesquisadora já havia classificado
como os preferidos pelas crianças, como Pica-Pau e Tom e Jerry. Quanto aos Power Rangers,
a razão foi que mesmo que muito citados, não são do agrado das meninas e a opção foi por seguir o
gosto comum entre meninos e meninas, conforme o que eles haviam citado no decorrer da pesquisa.
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A pesquisadora gravou essencialmente desenhos que passam em canal aberto, para que
assim pudesse averiguar o conhecimento das crianças sobre tais desenhos animados. Inseriu-se
inclusive os desenhos que as crianças comentavam naquela semana como Juniper Lee” e “Winx.
Tabela 7 - Fita VHS crianças
Duração Programa Sinopse
00:00
19:24
Charlie e Lola
Dois iros muito unidos
,
que debatem alguns assuntos do
Cotidiano. O episódio lida com a queso do bichinho de
estimação, desde o cuidado que se deve ter até a morte do bichinho.
No episódio, Charlie tenta explicar a Lola o que são superstições e
meforas usadas pelos adultos.
29:25
44:46
As aventuras e vida
de Juniper Lee
Juniper é uma adolescente que
,
com o uso da magia combate
monstros mágicos. Nesse episódio ela es dividida entre mediar uma
discussão entre grupos rivais e ir para a escola. Com duas
responsabilidades, ela cria um dublê de corpo, que por acidente é seu
irmão mais novo.
44:47
1:06:14
As 3 Esps Demais
Ao investigar um astro do Rock elas descobrem uma conspiração
internacional que envolve mensagens subliminares.
1:06:15
1:30:35
Família Dinossau
ro
Dino é desafiado por um dinossauro de 30 metros. O vencedor da
luta fica como o macho da família Silvassauro.
1:30:36
1:47:45
Winx
Este
la, uma das Winx, es de férias da escola de fadas e enfrenta
dificuldades de ajuste entre um mundo e outro.
1:
47:46
1:58:35
Bob Esponja
Bob Esponja inicia o episódio cuidando de seu caramujo de
estimação, quando sua amiga Cindy o chama para ajudá-la. Os dois
se metem em confusão num torneio em que Bob Esponja irá
participar.
Ao final do VHS, as crianças foram para o parque brincar. Algumas meninas do Grupo
V brincavam de fadas “Winx, que salvariam o mundo de uma bomba que explodiria em 5
segundos. Essa foi a primeira vez que se viu uma referência midiática direta em brincadeira, por
parte das crianças.
3.2.2.6 Análise Atividade 3 Fitas Crianças
Nessa atividade, a pesquisadora levou o vídeo em que as gravões foram feitas para que
não houvesse problemas com a exibição. Ao entrar na sala, Rodolfo perguntou se seria colocado
novamente o Zoboomafoo, porque ele gostava muito. A pesquisadora respondeu que havia
trazido uma fita especial com desenhos, que eles haviam dito que gostavam.
O primeiro programa, Charlie e Lola”, foi facilmente reconhecido e apreciado pelas
crianças. A atenção foi total e os comentários foram feitos em voz baixa. Fernando perguntou por
que Lola não pisava nas riscas, ao que Bruna responde no mesmo instante, em voz baixa, sem tira
os olhos da TV.
Cláudia perguntou à pesquisadora: _ Vo é a Lola?
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Novamente se percebeu um movimento de identificação para naturalizar a presença da
pesquisadora e a necessidade de reconhecê-la mais do que a pessoa que traz os desenhos, mas como
um desenho. Cláudia passou o tempo de exibição do desenho fazendo narrões para a
pesquisadora, bastante fantasiosas e que em nada tinham relação com o desenho exibido.
Figura 39 Personagens Charlie e Lola
Fonte: Site Discovery Kids
No momento de corte do programa as crianças avisaram: _ Não tem volta já”, ela
gravou na casa dela!
Ao acabar o desenho, José se aproximou para dizer: _ Acabou.... e agora? Tem outro?
Ao começar a vinheta de abertura de Juniper Lee, nova pergunta: _ É do SBT, né?! É a menina que
luta!
Antônio e Diogo cantaram a música de abertura do desenho e então começou o
movimento de eu sou.... Ao perguntarem para a pesquisadora se podiam ser a menina, ela mudou
a estratégia e disse que todos poderiam ser quem quisessem. Seguiu-se o seguinte diálogo:
_ Posso ser todos então? perguntou Diogo, ao que a pesquisadora não respondeu para
escutar o que Cláudia tinha a dizer.
_ Posso ser a menina?” pergunta Cláudia
_ Só porque ela luta? disse Diogo com desdém, sem deixar a pesquisadora responder à
menina. Percebe-se mais uma vez a questão do gênero em pauta.
Apesar de terem prestado atenção ao desenho, percebeu-se que o enredo do desenho era
por demais confuso. Em vários momentos as crianças perguntaram à pesquisadora porque havia
duas meninas iguais. Eles mesmos explicavam uns aos outros o que estava acontecendo no desenho.
Ao aparecerem os monstros, eles davam pequenos socos no ar, como se pudessem acertá-los.
Teve então início a dispersão, com algumas crianças pediam para ir ao banheiro, dizendo
o seguinte jargão: _ Eu quero ir na casa do Pedrinho referente a propaganda do Gleid Plus
Figura 40 Propaganda Gleid Plus
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Ao iniciar o desenho 3 espiãs demais houve uma certa agitação na sala, pois as crianças
logo o reconheceram ao mesmo tempo em que um grupo de crianças, em sua maioria do Grupo VI,
disse que o desenho era chato. Três meninos do Grupo VI ficaram bastante agitados, talvez
contrariados com o desenho que estava passando e terminaram por serem retirados da sala e o filme
foi interrompido.
Quando a situação se estabilizou, a maioria das crianças quiseram pular o desenho das
espiãs. Assim após uma rápida votão, conforme a vontade da maioria, foi colocado o próximo
filme: Família Dinossauro.
Houve uma alegria instantânea por parte das crianças quando o personagem Baby
aparecia na tela. As crianças o imitavam bastante e repetiam o jargão: _ De novo! O mesmo que
ocorreu com os desenhos de Tom e Jerry aconteceu aqui: quando o personagem Baby não
estava na tela, as crianças não se interessavam pela narrativa da estória. As crianças ficaram
dispersas, mas não como no desenho anterior, fizeram muitos comentários e brincaram entre elas.
Figura 41 - Personagem Baby Família Dinossauro
Fonte: Site TV Band
Alguns alunos perguntaram à pesquisadora se ela sabia a idade do personagem Baby e
pediram para que ela trouxesse o desenho de novo. Três crianças identificaram o desenho dizendo
que já havia passado na noite anterior, o que foi feito propositalmente para investigar a audiência do
desenho. A vinheta Tem mais foi mais eficaz do que a vinheta do Discovery Kids, pois não houve
dispersão e as crianças ficaram na expectativa da continuação do programa.
Alguns diálogos relevantes, que aconteceram durante a exibição do desenho, demonstram
algumas diferenças entre o assistir em casa e o assistir na creche. José sentou-se ao lado da
pesquisadora e comou a conversar dizendo que ele gostava de assistir certas coisas, mas que tinha
que ser na casa dele, pois na escola “é bom, mas muito muito barulho, que dá vontade de gritar,
gritar...
Constata-se por essa fala, que assistir TV entre colegas provoca um efeito diferente do
que assistir em casa. Talvez seja por isso que alguns desenhos, que exijam menos atenção ao
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enredo, sejam melhor apreciado pelas crianças. Isso não quer dizer que desenhos de puro
entretenimento sejam os preferidos, como pôde-se evidenciar pelas exibições até aqui relatadas.
Na exibição do desenho “Winx, José e Antônio sentiram falta da música de abertura e a
cantaram para a pesquisadora. As meninas do Grupo V que se diziam muito fãs do desenho, quase
não se interessaram. Quando a pesquisadora perguntou o que estavam achando do desenho,
responderam que estava legal, mas que elas preferiam quando o episódio apresentava a luta entre
as Winx e as Trinx, que são rivais. O que se pôde avaliar dessa exibição foi que a figura da fada
era a que interessava às meninas e não a narrativa em si, que elucidava um segredo de uma das
protagonistas. O que motivava as meninas era o embate entre os dois grupos de fadas. Já os
meninos, estavam interessados na narrativa em si e alguns deles, que já haviam assistido o desenho,
narravam-no para a sala, explicando o que estava acontecendo e porque estava acontecendo.
Ao iniciar o desenho Bob Esponja”, as crianças demonstraram um interesse maior.
Algumas diziam: _ Ele é o rei, Rei de Bob Esponja”. Apresentou-se uma ambivalência em relação
ao personagem, que durante a fase de observação, as crianças determinaram que o Bob Esponja”
era alguém atrapalhado, fora de contexto. No entanto, o episódio em que o personagem Bob
Esponja se tornava um lutador de karatê, o fez crescer na concepção das crianças. Mesmo que a
personagem Cindi tivesse sido a heroína, Antônio chegou a perguntar para a sala quem queria ser a
Cindi. Duas meninas (Verônica e Angélica) levantaram a mão e Leandro também. Nota-se que não
importava nesse momento, o gênero do personagem, mas a sua representatividade de força.
Figura 42 Personagens Bob Esponja e Cindy
Site: Nicklodeon
Ao término do desenho, havia um resto de gravação do programa Bom dia e Cia” e as
crianças pediram para deixar mais e explicaram como se procedia a brincadeira que os
apresentadores iam iniciar. No programa havia um quadro interativo, em que as crianças ligavam
e participavam de brincadeiras e uma delas era a toca do coelho, na qual a criança tentava
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adivinhar em qual toca o coelho vai entrar e, como recompensa, ela ganhava um brinquedo a ser
sorteado numa espécie de roleta.
Figura 43 Apresentadores Bom dia e Cia e o coelho da brincadeira Toca do Coelho
FONTE: Site SBT
Apesar de ter ocorrido o incidente de três alunos serem retirados da sala, a dispersão foi
menor em relação ao VHS montado segundo os questionários dos pais. No entanto, mesmo
seguindo a preferência das crianças, a atenção não foi total. Isso evidencia que a Mediação
Situacional é bastante relevante, pois como bem expressou José, na escola há a interferência dos
colegas e todo um clima, no qual determinados desenhos não têm o mesmo efeito do que em casa.
A sociabilidade é diferente e as interões também, até o ponto em que elas se sentem mais à
vontade.
3.2.2.7 Atividade 4 Fita Pais, Crianças e Escola
O objetivo dessa atividade foi levar programas que fossem de consenso entre as crianças
e os pais. Aproveitaram-se algumas evidências das atividades anteriores, como o interesse das
crianças por programas educativos, mas que sejam um pouco mais lúdicos e mais coloridos. Os
pais, por sua vez, demonstraram preocupação com os conteúdos e manifestaram preferências claras
por programas exibidos pela TV Cultura e Discovery Kids. A tentativa dessa fita foi unir os dois
universos e estabelecer um diálogo.
Os programas exibidos foram:
Tabela 8 - VHS Pais e Crianças
Duração Programa Sinopse
00:00
22:27
Pink Din
k Dôo
O segundo episódio levado anteriormente:
Troca de dente- Tyler es com o dente mole e Pink lhe explica
porque ele tem que retirar o dente, mesmo que doa, pois há outro
para crescer.
22:28
55:10
Zooboomafoo
Programa que mostra animais de faun
as diversas.
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55:10
1:10
Pingu
O dia a dia de uma família de pingüim. Neste episódio o personagem
principal Pingu es divido entre brincar e ajudar os pais nas tarefas
diárias.
1:10
1:30
Os sete monstrinhos
Os 7 monstrinhos desejam saber da mãe quem
é o filho favorito dela.
3.2.2.8 Análise Atividade 4 - Fita Pais e Crianças.
Uma das crianças, Angélica, levou um DVD com 10 contos de fadas. Quando há mais
de um DVD, faz-se uma votão e por 11 a 7 o Contos de fadas foi o eleito.
As histórias contidas no DVD eram: Os três porquinhos, Peter Pan, Pinóquio,
Chapeuzinho Vermelho, A Pequena Sereia, A Bela e a Fera, Branca de Neve, Cinderela, Aladin e A
Bela Adormecida. Cada história tinha em média 7 minutos de durão. As crianças ficaram bastante
atentas às estórias, o que comprova que episódios curtos, com como, meio e fim, são os mais
apreciados por elas. No entanto, no DVD havia, depois das histórias, uma música para ser cantada
em videokê”, que não foi exibida, pois Diogo ficou agitado demais e se colocou em frente da TV
para que os colegas não vissem. A fim de evitar maiores conflitos, a auxiliar pediu que as faixas
fosse puladas, uma vez que a maioria das crianças queria ver as histórias e não as músicas.
As crianças pediam constantemente à Angélica os personagens que queriam ser. A
menina, um pouco irritada por não conseguir assistir os desenhos, respondia que todos poderiam ser
quem quisessem. Assim como perguntas sobre o desenrolar das estórias, as crianças pediam para
Angélica esclarecer determinados pontos da estória, como, por exemplo, como foi que o Gepeto foi
parar na barriga da baleia, na estória de Pinóquio. Apenas a Angélica era dado o direito de falar
sobre as estórias. Diego tentava contar o que estava acontecendo, mas as crianças pediam silêncio a
ele.
Os meninos do Grupo VI, no início de A Bela e a Fera, deram a Angélica o personagem
principal.
Ao início de Pinóquio, algumas crianças manifestaram o seu desagrado pelo desenho e
Ana disse que todos tinham que gostar por causa da votão. Foram constantes as comparões dos
desenhos exibidos com os desenhos da Disney. No episódio do Peter Pan, José constantemente
dizia se estava certo ou errado o desenrolar da narrativa.
As crianças do Grupo VI mostraram-se um pouco entediadas, embora prestassem
atenção e alguns dos meninos queriam um pouco mais de ação nesses momentos. Na exibição da
sétima estória, Branca de Neve, as crianças do grupo VI já se mostravam completamente dispersas,
ao contrário das do Grupo V, que se mostravam muito atentas e satisfeitas. Exemplo disso é que
Diogo tentou dispersar Rodolfo, que mudou de lugar para ficar mais próximo da TV.
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As crianças do Grupo VI, dispersas, começaram a fazer barulho, algumas já de costas
para a TV, o que desencadeou a seguinte reação de Angélica, dona do DVD: _ Se não ficar quieto,
eu não trago mais esse filme legal!
Ao iniciar o VHS, Eduardo, Flávia e Rodolfo pediram para que se exibisse a fita até o
final e principalmente o programa Zoboomafoo. Quando iniciou o episódio de Pink Dink Doo,
as crianças pediram para avançar, querendo o Zoboomafoo.
Eduardo disse que a parte favorita dele era quando havia o vôo da coruja, o que indicava
o final do programa. Ele se manteve atento ao programa do início ao fim, seu posicionamento em
relação à TV era bastante próximo e se irritava quando algum colega conversava com ele ou tentava
distraí-lo.
Diogo, que já demonstrava certa agitação desde a exibição dos contos de fadas ficou
mais agitado, o que fez com que a exibição fosse interrompida. As outras crianças reclamaram e o
repreenderam, a exibição voltou e a sala se concentrou novamente, inclusive Diogo.
No ponto da vinheta de Volta logo, algumas crianças avisavam às outras: _ Vai
voltar rápido, ela gravou. Elas assimilaram o fato de que o VHS era gravado da própria
programação e que não haviam as propagandas. Desta vez não houve dispersão por parte das
crianças.
A música do programa foi cantada pela maioria das crianças. O programa agradou tanto
as crianças do Grupo V como as do Grupo VI. Ao finalzinho do programa houve uma certa
dispersão, mas por conta das crianças comentarem o próprio programa. Comentaram sobre o gato
que havia sido mostrado no episódio e também sobre quem já havia assistido ou não o episódio
exibido.
Ao início do desenho Pingu, as crianças imitavam o som do personagem. Foi feita a
observação de que nesse desenho não havia diálogos, por ser um desenho com a técnica
stopmotion, onde era bastante forte o apelo da imagem, a história se desenvolvia com as imagens,
sem diálogo de palavras, apenas com sons emitidos pelos personagens. As crianças ficaram bastante
atentas, inclusive as do Grupo VI, que se comunicavam imitando os sons dos personagens. Algumas
crianças do Grupo V (Renato, Fernando, Verônica) vieram agradecer a pesquisadora por ter levado
Pingu, que era o programa favorito deles.
Figura 44 Personagens Pingu
FONTE: TV Cultura
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Não foi possível exibir o desenho Os Sete Monstrinhos, devido ao tempo, mas a
abertura foi exibida, as crianças cantaram a música de abertura e pediram para assistirem o
episódio, mas não houve como atendê-las.
A mediação congniscitiva ficou bastante evidente nesse dia, pois as crianças do Grupo
V tinham preferência por conteúdos mais infantis e rápidos, enquanto as do Grupo VI tinham
preferência velada por histórias mais longas e narrativas mais complexas. No entanto, na exibição
dessa fita foi possível averiguar que existem elementos comuns entre as crianças e que, apesar da
diferença de repertório, os programas com essa estrutura de narrativa educativa, com concentração
de informação moderada, é de comum acordo entre elas. Isso reflete sobre na influência da
comunidade de apropriação, que é a escola. Recordando que nas atividades anteriores, as crianças já
demonstravam que havia programas para se assistir em casa e outros para se assistir na escola.
O discurso educacional e disciplinador está presente nessas crianças. Elas compreendem
que a escola é lugar de aprender e que desenhos mais informativos são condizentes com o ambiente.
Portanto, percebe-se que a comunidade de apropriação escolar se revela nesse momento e que os
discursos comam a aparecer.
3.2.2.9 Atividade 5 Apropriação das figuras midiáticas
O objetivo dessa atividade foi entender como as crianças lidam com determinados
personagens midiáticos, veiculados pela mídia.
A pesquisadora teve o cuidado de não escolher figuras sensuais ou impróprias. As
imagens eram de personagens de desenhos animados, novelas, apresentadores de TV e cantores. A
escolha foi baseada no que as crianças disseram à pesquisadora e as personalidades que tinham sido
notícia, nas últimas semanas, na mídia especializada.
34
Desenhos
animados
Personalidade TV
Atores
Cantores
101 Dalmatas
Adriane Galisteu
(apresentadora SBT)
Aless
a
ndra Negrini
(protagonista da novela da Globo
Parso tropical)
Banda Calypso
A Dama e o
Vagabundo
Ana Maria Braga
(apresentadora Globo)
Anahí
(protagonista da Novela Rebeldes)
Cudia
L
eite
(Banda Babado
Novo)
Bela Adormecida
Barbara Paz (Protagonista da Novela
do SBT Maria Esperança)
Camila Pitanga
(Atriz de Paraíso Tropical)
Fergie (cantora
americana)
Witches
William Bonner
Carolina Dickman
Sandy e Jr
Athena Cavaleiros
do Zodiáco
William Bonner e Fátima Bernardes
Cauã Reumonds
(Ator da novela Eterna Magia -
Globo)
Baby (família
Dinossauro)
Brito Jr, Ana Hickamn e Edu Guedes
(apresentadores do programa matinal
Cudia
Raia e Ailton
G
raça
(Protagonistas da Novela 7
34
Todas as imagens constam no ANEXO C
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Hoje e
m
dia
Record)
pecados
Globo)
Barbie
Bush (presidente dos EUA)
Dulce Maria
(Protagonista da novela Rebeldes)
Barney
Daiane dos Santos (ginasta)
Fábio Assunção e Alessandra
Negrini
(Protagonistas da novela da Globo
Parso Tropical)
Bart Simpson
Didi
Grazi Massafera
(ex-BBB e Atriz)
Branca de Neve
Diego Aleo (ex
-
Big Brother)
Jonhnn
y Deep
Piratas do Caribe
Burro (Shrek)
Diego Hy
lito (ginasta)
Juliana Paes
(atriz)
Cavaleiros do
Zodíaco
Duga
(treinador selão brasileira)
Kayky Britto
(Ator da Novela 7 pecados)
Charlie e Lola
Eliana
(ex- apresentadora infantil e
apresentadora de auditório na Record)
L
á
zaro Ramos e Ts Araújo
(Ator da Novela Cobras e Lagartos
e Protagonista da Novela Da Cor
do Pecado - Globo)
Chaves
Fauso (apresentador da Globo)
Maria Flor (protagonista da
Novela Eterna Magia)
Cinderela
Felipe Massa
(piloto de F1 Brasileiro)
Priscila Fantin (protagonista da
Novela 7 pecados Globo)
Cindi
(Bob Esponja)
Fvia
(ex-BBB)
O sexteto do rebeldes
Clifford
Gênio
(Habbibs)
Rômulo Arantes Neto
(protagonista Malhação)
Cocori
Giba
(jogador de Vôlei)
Thiag
o Fragoso
(protagonista da novela O Profeta
- Globo)
Deedee
(Laboratório de
Dexter)
Gisele Bunchen (modelo Brasileira)
Thiago Lacerda
(protagonista da novela Eterna
Magia)
Quarteto
Fanstico
Desenho
Pânico na TV
Wagner Moura
(protagonista da novela Paraíso
Tropical)
Emília
Sítio do
pica pau amarelo
Gugu (apresentador Sbt)
Família
Dinossauro
Harry Potter
Quarteto
Fanstico o
filme
Hebe (apresentadora SBT)
Fiona (Shrek)
Lucian
o Huck
(apresentador Globo)
Garfield
Iris Stefanelli
(ex
-
BBB)
Gato (Shrek)
Jesus
Homem Aranha
(desenho)
Justus
(apresentador do Programa O Aprendiz
Record)
Homem Aranha
(filme)
Ticiane Pinheiro e Karina Bacchi
(protagonistas do programa da Record
Simple Life)
Jerry (Tom e Jerry)
Lula
(presidente da Reblica)
Lilo
Marcia Goldsmith
(apresentadora Bandeirantes)
Macaco do rei
Leão
Marcos (goleiro do Palmeiras)
Marty
(Madagascar)
Maria Paula (apresentadora do
programa Casseta e Planeta da Globo)
Mickey
Natália Guimarães (Miss Brasil)
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Monstrinhos S/A
Papa Bento XVI
Moranguinho
Papai Noel
Os incríveis
Pedro Bial (apresentador BBB)
Os sete
mosntrinhos
Ronald Macdonalds
Pateta
Ronaldinho Gaúcho (jogador de
Futebol brasileiro)
Pato Donald
Silvio Santos
Pequena Sereia
Avi
ão TAM
Pernalonga
Tom Cavalcante
(humorista Record)
Picapau
Vesgo e Ceará
(Pânico na TV rede TV)
Pingu
Xuxa
Pinguins
(Madagascar)
Pokemon
Polly
Procurando Nemo
Yumi Amy
Carros
Rei lêmure
(Madagascar)
Scooby
hrek
Sininho
(Peter Pan)
Stich
Superman (filme)
Tar
Taz Mania
Tic Tac (crocodilo
Peter Pan)
Toy Story
Turma da
nica
Turma do Bairro
Winx
XMen
Zoboomafoo
Procurou-se escolher representantes dos mais diversos programas e emissoras, para
assim avaliar o conhecimento das crianças diante desses personagens midiáticos.
A atividade iniciou-se com uma espécie de jogo de adivinhação, em que as crianças
reconheceriam ou não os personagens. Foi preparado um CD com cerca de 100 imagens, a serem
passadas por intermédio de DVD. O tempo total de exibição foi de 13 minutos e meio.
Após o jogo de adivinha quem é”, as crianças tiveram, ao seu dispor, as imagens
materializadas em figuras e a partir destas, puderam fazer um desenho/colagem em uma folha de
cartolina a ser distribuída.
A expectativa foi que conforme usassem as figuras ou desenhassem, as crianças
estariam interpretando as imagens que tanto circulam em seu cotidiano e entendendo que tipo de
apropriação fazem desses personagens midiáticos.
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3.2.2.10 Análise Atividade 5 Apropriação das figuras midiáticas
Diogo levou um desenho dos 3 Porquinhos, que foi exibido conforme ações anteriores,
após uma votão. O desenho era um longa metragem, mas não era o da Disney.
Seguiu-se o seguinte diálogo, durante o desenho:
_ Eu quero ser o mais esperto. Leandro, vo pode ser o verde, que é o mais legal
disse Diogo, já distribuindo os personagens logo que iniciou o filme.
_ Que desenho vo trouxe? - perguntou Flávia a Diogo
_ Os Três Porquinhos respondeu Leandro, que operava como um assessor de Diogo.
Antônio pediu a Diogo para ser alguém do Filme.
_ Diogo, o rato que é o lobo? perguntou Fernando
_ Nãããão... responderam várias crianças a Fernando
Diogo cantou junto com os personagens do filme, ao mesmo tempo que vigiava para
saber quem estava assistindo o desenho. Ele narrou o desenho para os colegas, antecipando as
cenas.
Ana perguntou para a pesquisadora se o Porquinho ia conseguir construir a casa, mas
logo voltou a atenção para o desenho. Vicente, não muito interessado no desenho, imitava, em voz
baixa a voz do ratinho e gesticulava com a mão, como se essa fosse seu interlocutor.
Com mais de meia hora de exibição, Fernando perguntou a auxiliar:
_ Não é verdade que fumar faz mal?
Ana respondeu: _ A fumaça vai para o pumão.
Isadora complementou: _ Faz mau pro Coração.
Como no desenho nenhum dos personagens estava fumando, a auxiliar disse que talvez
tais comentários tenham sido provocados pela fumaça que saía da chaminé da casa dos Três
Porquinhos. No entanto, deve-se contextualizar que a semana em que ocorreu essa atividade era a
semana de combate ao cigarro, portanto, o discurso das crianças era a reprodução daquilo que
estava em voga na mídia, naquela semana. Percebe-se aqui como se operam os discursos midiáticos,
e que a criança estava assistindo um desenho que nada tinha a ver com esse comentário, mas por ser
uma discussão presente na dia as crianças a verbalizaram na escola.
O desenho dos Três Porquinhos não chegou ao fim, porque as crianças se dispersaram,
inclusive Diogo, que levou o desenho. Nesse momento de dispersão, surgem algumas discussões,
como por exemplo, que brincadeira de bola era de menino e não de menina e que meninas
brincavam de bonequinha. Como já foi dito anteriormente, as crianças, nessa fase, têm
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necessidade de fazer diferenciação entre meninos e meninas e, novamente, no desenho, não
constava nada que embasasse tais comentários.
A auxiliar, percebendo a movimentação da sala, propõe tirar o vídeo para que a
pesquisadora aplicasse a atividade. As crianças concordaram, até mesmo Diogo, que havia levado o
desenho. No entanto, a reação de Diogo, durante a execução da atividade, foi bastante difícil. O
menino, por ter levado o desenho, dizia-se dono da TV e quando a pesquisadora passava as
instruções do jogo de adivinhação, ele ficava ao seu lado ou cobrindo a TV para que os colegas
não vissem o conteúdo.
Pode-se fazer uma pequena analogia no momento em que Diogo se sentia com o poder
das emissoras em sua mão, é que ele tinha o poder de dizer o que passaria ou não na TV. Mais uma
vez, estão presentes a percepção infantil e a apropriação do que é a TV e seus mecanismos
mercadológicos. Embora a criança não manifeste isso com tanta complexidade, percebe-se, por seu
comportamento, que ela percebe que por ter controle do que se passa na TV, pode controlar os
colegas.
O comportamento de controle de Diogo continua, pois era ele que tinha que falar quem
eram os personagens primeiro que os colegas. A auxiliar, que quase nunca interferia nas atividades,
teve que tomar uma atitude para que as outras crianças pudessem participar da atividade e que
também já reclamavam do comportamento de Diogo.
Sobre o reconhecimento das figuras midiáticas, apenas 24 não foram reconhecidas e
eram substancialmente mulheres loiras, identificadas como Xuxa. Os atores de novela, juntamente
com os personagens de desenho foram os reconhecidos imediatamente.
Algumas observões pontuais podem ser percebidas: o ator Lázaro Ramos foi
reconhecido pelo seu personagem Foguinho, em Cobras e Lagartos, novela do horário das 19
horas na Globo, que já não está mais em exibição. Ao seu lado, na foto, está a atriz Taís Araujo, que
era seu par na mesma novela e que é protagonista da novela Da cor do Pecado, em exibição na
Globo, no Vale a Apena Ver de Novo, não foi reconhecida.
Figura 45 Atores zaros Ramos e Taís Araújo
Fonte: Site UOL
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Aos atores que integram o elenco da novela Paraíso Tropical, atual novela das oito
horas da rede Globo foram reconhecidos e, a partir da imagem da atriz Camila Pitanga, a prostituta
Bebel, algumas meninas ficaram dizendo catiguria”, jargão da personagem.
Figura 46 Atriz Camila Pitanga personificada em Bebel
FONTE: Site UOL
William Bonner foi reconhecido separadamente da apresentadora Fátima Bernardes,
como Jornal Nacional. O mesmo pode-se aplicar à Maria Paula e às duas imagens do Pânico na
TV, que Fernando fez questão de ir até perto da pesquisadora e dizer que conhecia e achava muito
legal os dois programas (Pânico na TV e Casseta e Planeta”)
Figura 47 William Bonner, Maria Paula e Pânico na TV
Fonte: SITE UOL
Na imagem de Tom Cavalcante as crianças deram muitas risadas e disseram que o Tom
era muito engraçado. Quanto à apresentadora Hebe, as crianças fizeram o seguinte comentário: O
que essa velhusca faz aí?
Os ex-participantes do Programa Big Brother Brasil (BBB) quase todos foram
reconhecidos imediatamente, apenas a ex-BBB Flávia foi confundida com a apresentadora Eliana,
que por sua vez foi reconhecida como Xuxa.
As crianças reconheceram o apresentador Gugu, mas não o Faustão, o que denota que
elas assistem mais o Programa Legal do que o Domingão do Faustão. Karina Bacci e Ticiane
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Pinheiro foram reconhecidas como as patricinhas, o que indica que algumas crianças
acompanham o programa Simple Life”, transmitido pela Record, em um horário que ultrapassa às
22 horas.
Embora vários meninos se proclamassem palmeirenses e acompanhassem os jogos de
futebol do clube, o goleiro Marcos foi reconhecido por Carecácio, nome paródico utilizado pelo
Casseta e Planeta” para designar o personagem de Marcelo Anthony em Paraíso Tropical.
Ao final da exibição das imagens, foram distribuídas cartolinas e as figuras, que ficaram
dispostas no chão para serem escolhidas. Foi dito a elas que poderiam desenhar e utilizar as figuras
como bem entendessem. Ao final desse desenho, foi dada uma folha A4, em branco, onde poderiam
desenhar o que quisessem.
Apenas duas crianças fizeram desenhos próprios na cartolina. Uma delas fez uma
pequena sereia e disse à pesquisadora que preferia desenhar do que colocar figura, enquanto outro
menino apropriou-se de algumas figuras e desenhou as outras duas que lhe faziam falta: Pica-Pau
e o solzinho, mascote do Pan (Kauê).
Figura 48 Desenho da “apropriação midiática de Isadora e Eduardo
Todas as outras produções foram colagens e o que se analisou delas foram as escolhas e
algumas disposições. A questão do gênero ficou bastante evidente, as meninas escolheram mais
personagens de desenho, enquanto os meninos procuravam mais as imagens das novelas.
Percebeu-se uma tensão entre o midiático e o não midiático, quando as crianças
puderam desenhar livremente, em uma falha em branco, pois, quando havia figuras midiáticas, a
maioria das crianças entendeu que essas já eram suficientes para ilustrar o que queriam dizer.
Foram, ao todo, 23 desenhos livres, dos quais 10 tiveram temas midiáticos, excetuando
os dois que utilizaram as figuras levadas pela pesquisadora. No momento em que fizeram o desenho
livre, apenas duas crianças colocaram de figuras não utilizadas, para que o desenhos ficasse mais
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bonito (Fernando, 4 anos). A criança que disse isso, desenhou um foguete saindo da terra e, ao
lado, colocou um avião da TAM, reconhecendo que foi o avião que caiu (Fernando, 04 anos).
Figura 49 Desenho livre Fernando Foguete e a TAM
xxxxxxxxxxx
O segundo desenho livre que utilizou figuras foi exatamente para construir a imagem do
que significava o Brasil para a criança. Ao centro da bandeira desenhada, havia o nome da cidade
de Bauru, que ficou encoberto pela imagem de Jesus. Ao entregar o desenho, o menino disse: _
Esse é o meu país, o Brasil Percebe-se qual é a noção e a percepção dele em relação ao que é o
Brasil. O desenho de Jesus no meio da bandeira e depois do Papai Noel, mostram que é o consumo,
os brinquedos e por, último, o Silvio Santos, que a criança demonstrou saber. _ Aqui estão: Deus
no meio, Papai Noel e os brinquedos. E o Silvio Santos... Sabia que ele é dono de TV? Esse é o meu
Brasil. Esses foram os últimos esclarecimentos de Carlos em relação ao seu desenho, o mesmo
menino que, ao entregar a colagem, disse à pesquisadora que havia escolhido a figura da
apresentadora Hebe porque ele gostava muito e achava que ela tinha ficado triste por ser chamada
de velhusca” pelos colegas.
Figura 50 “Esse é o meu país feito por Carlos
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Dos 10 desenhos com referências claras à mídia, 6 foram sobre corridas. Alguns dos
meninos que desenharam as corridas não se sentaram próximos, mas três deles relataram que
assistiram a corrida de F1 O Felipe Massa, brasilero, tava lá na frente” (Antônio 6 anos).
Desses 6 desenhos, 3 ilustram algum acidente e fogo, sendo que não houve nenhum
acidente durante a corrida. Pode-se pensar que os acidentes ilustrados são apenas a consideração
deles sobre a corrida. Ressalta-se, também, que os meninos que desenharam as corridas eram em
sua maioria, os que desenharam o mesmo tema na Atividade 1. Os autores, dessa vez, foram:
Antônio, Renato, Eduardo com 2 desenhos, Vicente e Leandro. Em 4 deles havia uma pista de
corrida, desenhada como um pequeno mapa, para a orientação de como foi a corrida. Nos outros 2,
no verso, havia uma segunda corrida entre aviões.
Figura 51 Conjunto de desenhos livres que tiveram corridas como tema
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Dois desenhos com a ilustração da Barbie Farytopia”, denotam que a configuração dos desenhos
foi muito parecida. Uma das meninas, Isadora, não quis nenhuma figura para colar em sua cartolina,
preferiu ela mesma desenhar a Pequena Sereia e, ao comparar o desenho que fez da Barbie”,
com a ilustração verdadeira, ela reproduziu as cores e o posicionamento das asas e do cabelo de
forma semelhante ao desenho original.
Figura 52 Desenho Isadora e a Barbie Farytopia
Angélica e Isadora, que estava na mesma mesa, pois ambas são muito amigas, fizeram
desenhos parecidos: uma fada com trajes semelhantes. No entanto, percebe-se que a menina fez
algumas alterões, no desenho dela: a fada não tinha asas, nem bros e a roupa diferia um pouco
em suas cores. A preferência por fadas, que já havia sido expressa em outros momentos, por ambas
as meninas, mais uma vez ficou registrada.
Figura 53 Desenho Livre Angélica
XXXXXXXXXXXX
Dois desenhos apresentaram personagens de programas infantis: Homem Aranha
(Ricardo, 5 anos) e Power Rangers (Antônio, 6 anos). No desenho de Ricardo houve a tentativa
de escrever Peter Parker, o nome verdadeiro do Homem Aranha, ao escrever piteme”, que,
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segundo ele era para ficar visível quem ele estava desenhando. Isso se deve ao último filme do
Homem Aranha”, em que há o personagem Venon, cuja edumentária difere da do Homem
Aranha” na cor e na identidade secreta. Ricardo não queria que houvesse esse engano.
Figura 54 - Desenho Livre Ricardo
No desenho de Antônio, vê-se, ao centro, o Megazord e, em a volta os Power
Rangers, exatamente como descrito pelo menino. Antônio fez esse desenho depois de ter
executado o desenho da corrida.
Figura55 Desenho Livre de Antônio
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3.3.3 Considerações Fase 3
Os desenhos animados são narrativas culturais, representões de um sistema simbólico,
que promove uma leitura metaforizada e interpretativa de mundo, pela narrativa e constituição de
seus personagens.
É por meio da fantasia que a criança elabora suas perdas, materializa seus desejos, compartilha
sua vida animal, muda de tamanho, liberta-se da gravidade, fica invisível, e, assim comanda o
universo por meio de sua onipotência. Dessa forma, realiza todos os seus desejos e suas
necessidades. (PACHECO, 1998, p.34)
A criança é capaz de transformar a realidade, mas ao mesmo tempo é transformada pelo
seu modo de agir no mundo, resultado de sua coleta de informões e interões. Começa a sentir o
mundo e a formar seus valores, o que depende das representões de seus interlocutores É nesse
ponto que os adultos acreditam que a criança seja frágil e sugestionada e escolhem por ela,
criticando o que não gostam ou não conhecem e fazendo do seu referencial adulto uma espécie de
guia.
Abramovitch (1982) diz que o adulto criou um mito da perfeição infantil, transferindo à
criança características como virtude e conhecimento e admirando a si próprio, numa imagem pura e
divertida, com o peso da responsabilidade da realização dos desejos, vontades e projões de seus
pais. É a valorização do intelectual em detrimento do lúdico.
As crianças são produtoras de cultura como qualquer ser pensante no planeta. Criam uma
cultura própria, sua. Têm uma perspectiva dos elementos que encontram ao seu redor.
Elementos de um mundo que é o mesmo para crianças e adultos (PACHECO, 1998, p.53)
Jones (2004) caracteriza o jardim de infância como o momento em que mais se
evidencia o mundo masculino e o feminino. Partindo dessas diferenciações, o autor observa que a
necessidade de brincadeiras agressivas existe tanto nos meninos quanto nas meninas, mas que há
um redirecionamento em função da identidade social em construção.
Do fim do maternal em diante, as brincadeiras tendem a ficar mais voltadas para os
relacionamentos. Fantasias violentas a respeito de brutos desmiolados que lutam ou naves
espaciais batendo de encontro uma às outras geralmente não as emociona [meninas]. Mas, se as
fantasias foram montadas com base em estruturas sociais ou relacionamento entre personagens
sentimentais, eno até mesmo as meninas mais femininas tendem a encontrar conexão com
elas. (...) Para as meninas, a violência tinha mais a ver com a demarcação de uma complexa
rede de manipulação e suspense. Para os meninos era praticamente o único objetivo. (...) A
cultura das meninas geralmente disfarça seu lado violento, mas elas conseguem encontrar esse
lado, quando precisam. A Barbie costuma ser criticada como modelo de passividade,
consumismo e obsessão pela aparência, papel que, de fato, desempenha. No entanto, quando
meninas pequenas brincam com a boneca, ela também funciona, como heroínas de ação.
(JONES, 2004, p.86-89)
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Para falar sobre as preferências, ressaltam-se os mais citados: Power Rangers, Pica-
Pau, Tom e Jerry e Barbie”, “Winx e “Witch para as meninas.
Figura 56 Prefencias dos meninos: Power Rangers, Pica-pau e Tom e Jerry (linha de cima). Prefencias das
meninas: Barbie Fairytopia, Winx e Witch
FONTE: Google Imagens
No estudo de Beraldi, de 1978, a preferência das crianças era de 71,33% por desenhos
animados e, em sua especificidade, configurava-se da seguinte forma: o desenho Pica-pau com
porcentagem de 24,03%; Tom e Jerry com 7,7%, em segundo lugar. As crianças consultadas eram
de idades de 4 anos e 6 meses a 6 anos e 5 meses, isto é, a mesma faixa etária em que a presente
pesquisa feita quase 30 anos depois.
Dois outros estudos foram realizados com crianças e desenhos animados, na década de
80. Em Pica-Pau: herói ou vilão (1985), de Elza Dias Pacheco, o desenho tinha a preferência de
72,9% das crianças, tanto que o estudo especifica esse desenho como da preferência das crianças
entrevistadas. Por Fusari e Rezende (1985), Pica Pau e Tom e Jerry também foram os desenhos
favoritos das crianças.
O Pica pau é um dos personagens mais violentos já criados para desenhos animados e histórias
em quadrinhos. Na biografia de W. Lantz consta que o Pica pau foi criado quando seu autor,
em 1940, na California, foi muito perturbado por um pica-pau que bicava seu telhado. Da
irritação do autor, nasceu um personagem violento. Na série Pica pau, a violência não é, em
nenhum momento, disfarçada, como ocorre nos desenhos da Walt Disney e outro produtores,
onde a violência é, em geral, mais simlica, com o objetivo de preservar os mitos burgueses.
(...) A característica mais importante do Pica pau é a sua esperteza, que se choca com a
burrice de Homero. (...) O pica-pau é meio bicho, mas mais gente (antropomorfização), o que
talvez permita que a criança não só o identifique como tal, mas também se identifique com ele.
(PACHECO, 1985, p. 111-112)
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Figura 57 O desenvolvimento do personagem Pica-Pau
Fonte: Site Fãs do Pica pau
Em agosto de 2007, no site do jornal Estadão
35
, havia a seguinte chamada: BOMBA:
Pica-Pau faz o SBT empatar com a Cultura. Turma do Pica-Pau registrou seu recorde desde a
estréia na Record. A notícia dizia que a Turma do Pica-Pau, programa exibido pela rede Record
às 18 horas, diariamente, vem obtendo sete e oito pontos no Ibope
36
, com picos de 12, contra quatro
do SBT. A matéria refere-se ao desenho Pica-Pau e o programa mexicano, Chaves, como
coringas da programação. Percebe-se que a preferência pelo personagem não se trata apenas do
contexto da creche, mas de todo o país.
No CCI não há qualquer empecilho em se exibir o desenho de Pica-Pau, por ser
considerado próprio para a criança e agradá-la, mesmo que, segundo uma das professoras, não seja
muito agradável de ver e a postura do Pica-Pau não seja exemplar. As crianças, ao assistirem os
desenhos, explicitam que o acham esperto, assim como foi dito sobre o personagem Lula
Molusco de Bob Esponja. Ambos os personagens não são percebidos com características negativas,
uma vez que as crianças acham as situões do desenho engraçadas.
35
http://epocaestado.wordpress.com/2007/08/22/bombapica-pau-faz-o-sbt-empatar-com-a-culturaturma-do-pica-
pauregistrou-seu-recorde-desde-a-estreia-na-record/
36
Cada ponto equivale a 55 mil domicílios na Grande São Paulo.
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Figura 58 Personagem Lula Molusco e Pica-pau
Fonte: Site Nickledeon e TV Record
Segundo Fusari e Rezende (1985), todo desenho animado, para expressar a narrativa,
utiliza-se de três componentes principais: a imagem em ação, os diálogos e o som. Durante a
exibição dos desenhos, a imagem era um elemento fundamental para prender a atenção das crianças,
assim como o som. O Pica-Pau, com a sua risada característica, é bastante imitado pelas crianças
e faz a diferença em relação aos outros personagens, ao contrário do rato Jerry, muitas vezes citado
como preferido.
Tom e Jerry é um desenho animado criado nos anos 40, por William Hanna e Joseph
Barbera. O desenho, produzido em sua maioria entre a década de 60 e 70, privilegiava o sistema
visual, já que a linguagem verbal é quase inexistente. A trama baseia-se na eterna rivalidade entre
gato e rato. O personagem Jerry mostra-se inteligente e oportunista em relação ao gato Tom,
situação que em raras ocasiões se inverte. Entretanto, dependendo do cartoon, sempre que um dos
personagens parece essar em situação de perigo por um inimigo extra, o outro faz o possível para
salvá-lo.
Figura 59 Tom e Jerry
Fonte: Imagens Google
No entanto, num desenho atual, que está entre um dos favoritos das crianças, Pingu,
transmitido pela TV Cultura, não há diálogos, mas um forte apelo visual. Em ambos os desenhos a
estória é narrada pela linguagem visual e sonora (música e barulhos), o que difere muito da maioria
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dos desenhos que associa o verbal e a imagem. No entanto, a semelhança entre os dois desenhos
fica por aí, ao contrário da luta por sobrevivência, narrada em Pingu, que é a vida de um pingüim
e sua família, em situações do cotidiano.
Figura 60 Personagem Pingu
Fonte: Site TV Cultura
Já o programa Power Rangers tem uma trajetória não tão longa quanto a dos desenhos
citados, mas é bem sucedido. Produzido há mais de 15 anos, desde 2004, pelos estúdios Disney,
trata-se da adaptação de seriados japoneses, da produtora Saban, para o público americano. Os
episódios foram reescritos aproveitando do original apenas as cenas de luta. A edição não ameniza a
diferença de qualidade entre a filmagem original (em película) e a norte-americana (vídeo com
textura modificada), assim como com o fato da Ranger Amarela” ser um homem na série japonesa.
O programa gera polêmica entre os pais e a escola e é adorado pelos meninos. Sobre a
questão da violência e da dia, Jones (2004) faz apontamentos esclarecedores sobre um estudo da
UCLA (Universidade da Califórnia), que demonstrou que as crianças, em geral, terão visto cerca de
6 mil mortes violentas na TV quando saírem do período pré-escolar. O autor, ao examinar esses
números mais de perto, diz que tudo se baseia em hábitos familiares e que o realismo sangrento
está presente em vários produtos que minimizam a violência por serem animados ou lúdicos, caso
dos desenhos animados e jogos de videogame.
Apesar de as crianças tipicamente não fazerem a diferenciação completa entre o que é uma
fantasia própria e o que é a realidade até a idade de 7 ou 8 anos, imagens em vídeo são, para
elas, muito mais fáceis de compreender. Afinal de contas, não se parecem em anda com a
realidade: imagens achatadas, contidas em uma caixa, que mudam instaneamente um rosto de
repente é substituído por um corpo inteiro, outro rosto vira um prédio e não se parecem com
nada que uma criança vê em forma viva. Na verdade, sua tendência é não reconhecer
personagens de desenhos animados ou figuras estranhas como os Power Rangers como
humanos, a principio: em vez disso, enxergam esses tipos como algo parecido com um
humano, mas exclusivo da TV. A primeira incumbência da criança que assiste à TV geralmente
não é distinguir o vídeo da realidade, mas aprender que as imagens estranhas da TV são feiras
para tem algum tipo de relação com a realidade. O perigo não é que uma criança de qualquer
idade jamais imagine que um programa de faz-de-conta possa representar uma condição que
existe de fato, mas que as crianças passem a dar importância demasiada a suas próprias reações
emocionais a ele. Elas precisam entender que aquilo que experimentam durante uma cena de
luta é um sentimento divertido de poder, e não uma emoção perigosamente forte por si só. (...)
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O que interessa é o que a criança faz com o entretenimento em relação ao comportamento que
tem no mundo real, e não o que aquilo nos faz pensar. (JONES, 2004, p.215)
No decorrer do tempo que a pesquisadora esteve com as crianças, elas disseram ver nos
Power Rangers a luta do bem e do mal. Já nos desenhos animados do Pica-Pau, Tom e Jerry e
Bob Esponja”, a admiração é pela mensagem individualista do esperto. O que se pode interpretar
dessa situação é que a violência está amortizada em figuras antropomórficas e muito lúdicas e que
os desenhos animados são melhor aceitos e recomendados pelos adultos. Inclusive, nos
questionários, essa realidade estava expressa, já que os pais procuram deixar a criança assistir
desenho animado, não importando qual, por acreditar que todos são apropriados ao receptor-
criança.
Os gostos das meninas já refletem outra realidade, a identidade feminina. Jones (2004)
indica que nas últimas décadas a identidade feminina mudou drasticamente, atribuindo-se às
meninas uma responsabilidade maior, para que sejam bem sucedidas e não se casem e sejam
sustentadas por um marido, enquanto criam filhos. Outra pressão sofrida pelas meninas é em
relação à aparência.
Sabem que os adultos preocupam-se com sua saúde emocional, sua auto estima, seus hábitos
alimentares e os inumeráveis perigos que as aguardam na adolesncia. Adultos lhe dizem que
ser bonita, fazer sucesso entre as amigas, andar na moda e agradar aos garotos não faz
diferença mas a vida real da sociedade infantil lhes mostra que tudo isso importa, sim,
queiram os adultos ou não. E, ao observar os adultos, percebem que essas coisas fazem muito
mais diferença para eles do que são capazes de reconhecer. Então, quando as meninas
encontram diversões que as ajudam a brincar com essas realidades assustadoras, os adultos
concentram sua ansiedade na diversão, em ver de olhar para a realidade, transformando, assim,
as fantasias das meninas em mais uma fonte de tensão. À medida que a infância das meninas se
transforma, suas fantasias também mudam. À medida que suas fantasias se modificam, a
instria do entretenimento busca maneiras para criar histórias com as quais elas se
identifiquem. Sua motivação pode ser apenas o lucro, mas, ao tentar descobrir histórias e
imagens que venderão bem, também descobrem os anseios mais fortes das meninas. Nesse
momento, as meninas anseiam por mais poder, ao mesmo tempo que tentam transfor-lo, de
diversas maneiras diferentes, em um tipo de eu feminino. (JONES, 2004, p. 105-106)
A preferência das meninas segue uma linha mestra, ou melhor, a mestra” Barbie”.
Segundo as meninas consultadas na pesquisa de campo, elas assistem Barbie” Fairytopia, em que
a Barbie é uma fada. Depois desse longa-metragem, as meninas adotaram a personificação de
fadas como a preferida, por isso o gosto pelos desenhos animados “Witch e “Winx.
Figura 61 Barbie Farytopia
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A boneca Barbie foi criada nos EUA, em 1936, por um casal que via sempre a filha
brincando de mudar as roupas das bonecas de papel. As feições adultas das bonecas foram pensadas
para que as mães se interessassem e comprassem para as filhas.
A Barbie é mais do que um brinquedo, é uma personalidade, como afirma Brougère
(2004). Segundo o autor, a personalidade” conjuga o desejo da criança de ser ideal e de ser adulta,
o que reflete diretamente na concepção da identidade social das meninas. O dever da Barbie é
despertar, na menina, como deve se identificar, crescer e se preparar para a vida adulta.
Consumir a Barbie e seus produtos é consumir o mundo que a menina deve ocupar
quando se tornar adulta. O sentido de riqueza é atribuído como acessório e propõe uma estética de
vida fundamentada no tema, por exemplo: Barbie Veterinária; Barbia malibu; Barbie Farytopia.
Cada temática é a montagem de um mundo fragmentado, em que a menina tem acesso através do
consumo, para realizar o mundo fragmentado à sua volta.
A riqueza da barbie é sugerida pelos seus acessórios: não são objetos acumulados por uma
única pessoa, e sim uma oferta de complementos lúdicos entre os quais a consumidorá fará a
sua escolha. (...) A lógica de vários produtos que propõem uma escolha, aqui é mais
determinante do que a construição de um universo coerente que seria o de uma pessoa possuir
todos os objetos. Atualmente, a barbue é objeto de uma segmentação em função da brincadeira
e do tema. Não há um universo global e coerente, mas um universo que proe unidades
teticas e lúdicas, Barbies no trabalho, barbies Ronticas, que dipõem de acessórios que
combinam com as imagens. Todos os acessórios podem ser analisados de um modo interno À
lógica da brincadeira, ou externo, como um traço que nos trouxesse a essencia da Barbie. Não é
o caso de recusar a pluralidade das leituras, mas de sustentar que a leitura interna, um acessório
como sendo um acesso à brincadeira, faz sentido. (...) Barbie e seus acessórios devem ser
manipuláveis, devem poder entrar na brincadeira, brincadeira de bonca com penteados e
roupas, brincadeira com água e banho (...). O universo da Barbie es subordinada ao seu vir a
ser brinquedos, deve valorizar as ações lúdicas permitindo a multiplicação das compras,
ligadas, entre outras coisas, à diversidade das funções lúdicas propostas. Marketing lógico e
lógicas lúdicas convergem para construir a imagem que d resulta. Isso não impede esse
universo de produzir uma iamgem, não diretamente real, mas que é o resultado de uma tripla
tradução. O real é percebido através do filtro deformante de representações culturais
preexistentes sobre a mulher, a moda, os universos do prazer tais como as outras dias as
produzem. Ele é traduzido para exprimir o desejável para uma menina; e, por fim, é
transformado para se presta à brincadeira. Isso não impede que a Barbie seja o suporte de
projeções da parte dos adultos. (BROUGERE, 2004, p. 104 105)
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O mundo fragmentado, para suporte das fantasias e projões, está evidenciado na série
de longas metragens lançada com a Barbie em personagens lúdicos, como: fadas, sereias, rapunzel
(ressaltando que não há nenhuma versão desse conto de fadas feito por algum grande estúdio) e etc..
Cada um desses filmes mostra um mundo diferente e que em nada tem a ver com o mundo real. O
segmento em questão, apontado pelas meninas, trata a Barbie como fada em dois filmes: Barbie
Farytopia e Barbie Farytopia: a magia do arco-íris.
Figura 62 Diversas Bonecas barbie e seu mundo fragmentado
Fonte: Site Oficial Barbie
Outros desenhos animados, indicados pelas meninas participantes da pesquisa de
campo, também se referem a fadas e meninas com poderes especiais. A fada simboliza poderes
geralmente ligados à natureza, tanto que em um dos desenhos sobre a TV, Angélica desenhou o
pozinho que faz a Barbie mudar as plantas. Nos outros desenhos que representaram as fadas
sempre havia uma flor, um arco-íris ou outros elementos naturais. Ao contrário da bruxa, a fada
carrega consigo uma imagem de infante, uma juventude meio infantil, tanto que as personagens de
“Winx e Witch são meninas pré-adolescentes. As meninas demonstram certo encantamento
não só pelas mágicas, mas pela própria estética das fadas.
“Witch, originalmente, é uma revista italiana em quadrinhos, para o público infantil
feminino, lançada em 2001. Traz, em seu conteúdo, conselhos de moda, saúde, dicas de livros,
filmes, músicas, testes variados, matérias sobre meninos, horóscopo, além da história em
quadrinhos. O desenho animado, assinado pelos estúdios Disney, foi produzido em 2005 e exibido
no programa TV Xuxa”, na Rede Globo, durante os anos de 2006 e 2007.
Figura 63 Revista Witch
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Mesmo a palavra witch significando bruxa, em inglês, as persongens são nomeadas
como fadas. O nome do desenho é a união das iniciais dos nomes das cinco personagens da história:
Will, Irma, Taranee, Cornélia e Hay Lin.
O enredo baseia-se nas 5 meninas que estudam no Instituto Sheffield e juntas tentam
arranjar tempo para as responsabilidades de filhas, alunas e guardiãs. Cada uma delas foi escolhida
pelo Oráculo de Kandrakar para proteger o véu que separa a Terra de Meridian. As cinco usam
seus poderes para combater o mau e impedir que os portais se abram para o mundo real.
Em 2005 começa a ser produzido um outro desenho animado, chamado “Winx. A
semelhança não é apenas no nome, como o desenho citado anteriormente. O enredo conta a estória
de 5 meninas que se descobrem fadas e vão estudar numa escola de fadas chamada Alfea”. A
diferença é que nesse desenho, ao invés de lutar contra um governo opressor e desmedido, as fadas
lutam contra outras fadas, que são más, as Trinx.
Esse desenho é exibido pelo Programa Bom dia e Cia, do SBT, desde 2007. As
semelhanças e diferenças foram percebidas pelas crianças do CCI. Em um dos desenhos sobre a
TV, uma das meninas desenhou um programa baseado nas “Winx e no verso fez um outro
desenho, dizendo que um canal copiou o outro. As crianças percebem que existe uma lógica no
mercado de entretenimento infantil e opinam sobre o que é melhor e o que não gostam.
As meninas disseram preferirem as “Winx por causa das Trinx, as rivais. Quando foi
exibido o desenho, durante as oficinas, as meninas não gostaram, porque não mostrava cenas em
que havia o embate dos dois grupos de fadas. Disseram, também, preferirem as fadas da Barbie”
ou da “Wich por serem mais bem feitas (Angélica).
As opiniões das crianças ficaram bastante evidentes durante a exibição dos VHS, em
que se demonstrou a mediação situacional, com as crianças expressando ter programas que elas
gostam de assistir, o que não aconteceu no contexto do CCI, alterando por completo a sua
percepção.
Conteúdos mais lúdicos e que não necessitem de muita concentração são aqueles que
melhor se adaptam, assim como programas que não sejam puramente de entretenimento. A
comunidade de apropriação da escola entra em ação, pois naquele contexto há uma esfera de
significação em que a criança aprende a desejar mais informões. Esta é uma frente ainda não
explorada de trabalho com crianças de pré-escola, compsota de programas que unem o lúdico e o
educacional. A própria professora do Grupo VI expressou que gostaria de trabalhar com a TV, mas
não é possível por conta da escassez de programas direcionados à idade em questão.
As crianças apropriam-se e dão significados aos produtos midiáticos, segundo o seu
repertório e fase do desenvolvimento cognitivo, que, como já foi dito anteriormente, é muito
fantasioso e egontrico.
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Em Além do Princípio do Prazer, Freud narra a brincadeira de um menino e seu carretel
amarrado a um barbante. O princípio da brincadeira era o de aparecer e desaparecer, a perda e o
contato com o real, o que caracteriza o jogo simbólico. A criança vive por meio de repetição dos
próprios atos e também dos programas que gosta de assistir, necessitando de pleno donio da
situação para que esse aparecer e desaparecer possa auxiliá-la a elaborar os conflitos e angústias
pelo uso dialético do real e do imaginário.
Não há muita diferente em relaçãoaoSuper Homem, à Mulher Maravilha, ao Incrivel Huck, aos
massacres feitos pelo Pica pau e pelo Jerry (de Tom e Jerry), que deixam rastros de crueldade,
pois tudo votla ao normal num passe de gica e ninguém sai machucao. É um vale-tudo. É
por meio dessa magia, desse fanstico, que a criança elabora suas perdas, materializa seus
desejos, compartilha da vida animal, muda de tamanho, liberta-se da gravidade, fica invisivel e,
assim, comanda o universo por meio de sua onipotência. Dessa forma, ela realiza todos os
desejos e suas necessidades. Mas é inaceitável acreditar que durante tais jogos a criança seja
passiva e acrítica. É inacredivel pensar que ela confunda fião com realidade. Als, creio
que uma não existe sem a outra. Não há realidade que não seja mesclada de fião, e essa,
baseia-se no real (PACHECO, 1998, p. 34)
Na última oficina, em que se forneceu as próprias figuras midiáticas, viu-se como as
crianças se apropriam delas e como as adaptam, por meio de escolhas, que, obedecem à sua lógica e
ao mundo que querem construir e que é construído para elas.
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Conclusão
Por que escutar as crianças?
As pedras são muito mais lentas que os animais
As árvores podem viver mais tempo que as pessoas
Os corpos dos mortos enterrados adubam a terra
Os carros fazem muitas curvas para subir a serra
Crianças gostam de fazer perguntas sobre tudo
Nem todas as respostas cabem num adulto
(Arnaldo Antunes)
A conclusão desta pesquisa encarregou-se da tarefa não apenas de descrever como as
práticas discursivas, as crianças e a TV foram percebidas dentro de uma dinâmica cultural e do
lugar (recepção) que lhes é próprio, mas extrapolar para a demonstração de como as mediações
operam.
Falar sobre a TV separada da criança, por si só é polêmico. Ao conjugar os dois, teve-se
a oportunidade de refletir sobre aportes particulares da recepção infantil, sua realidade e a sua
vivência como sujeito-receptor.
A pesquisa contemplou um horizonte teórico, dirigido a um plano de objetos
específicos, isto é, a recepção e as múltiplas mediões infantis. Os três modelos teóricos utilizados
tecem a trama teórica que operacionaliza a pesquisa de campo e auxiliam na análise dos fenômenos
ocorridos entre a TV e a criança, nos âmbitos da mensagem, da recepção e da mediação, todos
contextualizados no cotidiano da criança.
O objetivo da pesquisa foi focalizar a diversidade do receptor-criança, salientando que o
ato de ver TV extrapola o momento da recepção e que a mediação é mais do que um objeto, é um
instrumento conceitual e fundamento teórico. A mediação é o lugar em que as mensagens recebem
significado, formões e práticas discursivas e onde se dá a tensão entre o conteúdo midiático e a
cultura do cotidiano.
A pesquisa de campo articulou-se em dois eixos, considerando a tensão do espo do
cotidiano em que a comunicação se estabelece: 1) a etnografia oferece dados sobre o cotidiano das
crianças e revela suas práticas culturais através do uso faziam desses meios; 2) os questionários dos
pais e feedbacks com as professoras revelam como as comunidades de apropriação atuam na
formação de gosto por gêneros e formatos e os tipos de relação estabelecidos com a TV.
Dentro da pauta de comunicação familiar, a mediação parental é um aspecto relevante. Os
hábitos dos pais são fatores que influem na maneira como os filhos aprendem a ver a atribuir
significados à televisão. Por mediação parental entende-se o processo através do qual os pais
(pai/mãe) influem, com suas condutas, valorizações e verbalizações nas modalidades de usos e
significações que os filhos têm em relação à televisão. Nessas interações, outorga-se sentido às
propostas de significado desse meio audiovisual. (AVEDAÑO e CASTELLÓN, 2001, p.42-43)
Toda a investigação empírica está articulada no plano da cultura do grupo e se deve a
um contexto social e histórico próprios. Dentro de um devir da cultura, já apontado por Geertz
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(1989), transposto para uma discussão sobre a relação da criança com a TV se percebem-se as
relões com os meios de comunicação.
No decorrer da pesquisa de campo, acompanhou-se e analisou-se o momento de ver TV
das crianças, demarcando as diferenças entre o discurso da dia, dos pais e dos professores.
Conjugados, esses aspectos formam um espo geral do saber, de identidade e de pertencimento.
Nesse processo, a TV atua como organizadora de discursos descontínuos e dinâmicos.
Ao presentificar os discursos que formam a infância e ao encontrar a reflexão que estava
ausente, identificam-se as condições, os limites e as superfícies, não do conteúdo e dos temas, mas
do interior e das estruturas do discurso. Isso indica como se constitui o discurso do ser criança.
Se aceitarmos o ponto de vista teórico baseado em Michel Foucault, de que as praticas
discursivas e as não-discursivas (isto é, os discursos e as instituições, como todo o seu aparato
técnico), em cada campo considerado, mostram o que pode e deve ser dito numa determinada
formação social, segundo um certo jogo de forças, então poderíamos dizer que os modo de
construir a criança em nossa cultura e nesse despontar do terceiro milênio, na verdade, tecem
uma rede de poder sobre a infância na qual se debatem diferentes discursos. Chamo a atenção
aqui para o fato de que há, entre eles: a) um discurso pedagógico produzido na academia, que
aponta para a defesa da criança como produtora do conhecimento; b) um discurso de
instituições, como o de algumas educacionais, propõe-se como parceiros e ampliador da tarefa
institucional da escola; c) discurso das instituições de defesa da infância e da adolesncia
espalhadas por tudo ps, especialmente depois da criação do Estatuto da Criança e do
Adolescente, dos Conselhos Tutelares e de tantos órgãos de proteção aos direitos dessa
população; d) o discurso pedagógico produzido na mídia mais ampla, de origem comercial e
fortemente arraigado no discurso publicirio. Todos eles participam da constituição de um
sujeito infantil, descrevem modos de ser da criança em nosso tempo. (FISCHER, 1998, p. 114)
O que importa é a forma da configuração da TV em relação à criança, é o seu modo
especifico de ser-discurso, o sistema de sua emergência e de sua formação, a sua existência
solitária” como fato puro no campo dos discursos do cotidiano.
Ao perceber o discurso da TV e o movimento conjugado de ver e ouvir, entra-se em
contato com uma superfície aparente, que pode referir-se a uma materialização do discurso, no
momento em que está visível. A aparência do discurso midiático não garante o conhecimento, por si
só, da dia.
Ao articular o receptor-criança e seu contexto, no momento de ver TV, evidenciou-se o
aprofundamento da cultura, conforme os preceitos de Geertz, de que a criança constrói um espaço
com símbolos e os comportamentos compartilhados e alojados nas relões sociais.
Encarar a TV como um discurso que, ao entrar em contato com os receptores, sofre uma
série de alterões, por conta das mediões, supera-se a simples interpretação, fornecendo um dado
importante de conteúdo, que perpassa todo o processo comunicativo.
Durante a pesquisa de campo questionou-se a posição da criança como receptor, ao
acompanhar suas atividades durante o momento da recepção e ao executar atividades que
envolviam a sua criatividade. Novas práticas foram encontradas para articular os conceitos teóricos.
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A investigação procurou, na produção da cultura e da comunicação, um ordenamento e
hierarquização de papéis e funções dentro do contexto (a sociedade).
(...)tentando fazer aparecer as regras de formação dos conceitos, os modos de sucessão,
encadeamento e coexistência dos enunciados se depara com os problemas das estruturas
epistemológicas; estudando também as condições de apropriação dos discursos, se depara com a
análise das formações sociais. (FOUCAULT, 1995, p.235)
O que fica visível pela TV é aquilo que se pretende ser, ou pelas palavras de Hall
(2003), a leitura preferencial é o discurso da superfície, o manifesto, que ao se relacionar com os
discursos circulantes, isto é, ao ser decodificado, o inesperado e o oculto, aparecerão à revelia da
vontade do emissor, constituindo uma nova forma de ver.
O mérito de Hall (2003) está em demonstrar teoricamente que há uma intenção de
leitura, mas essa nem sempre é obedecida, como ficou evidenciado pelo contato com as crianças.
Por diversas vezes, o que estava na tela da TV em nada correspondia ao que era debatido
coletivamente.
O conteúdo da recepção não é a compreensão absoluta da mensagem, nem o lugar e
nem a forma que ela indica, mas a tensão que atravessa o processo comunicacional, isto é, a
mediação, que dá vigor e fundamenta o sentido. Trata-se da tensão entre o discurso da TV e as
atribuições que ele sofre, as formas em que aparece nas falas e nas ões das crianças.
As interferências na opinião das crianças, por conta das comunidades de apropriação
que as rodeiam, não foram algo constante e nem absoluto. Não há como pensamentos, gostos e
preferências serem apropriados pela criança, pois seu cotidiano é complexo e atravessado por uma
série de contatos e mediações.
A situação do ver TV envolve instâncias individuais e coletivas, não existe um corpo
fixo de conceitos que possa ser transportado de um lugar para outro e que opere de forma similar
em contextos nacionais ou regionais diversos (ESCOSTEGUY, 2004, p.136).
Dentro dessa lógica, a análise empregada dessas mediões não se prendeu ao seu
interior, pois elas não são dimensões isoladas, mas à sua relação com os acontecimentos de ordem
técnica, social e individual, exatamente como Orozco articulou, em suas múltiplas mediações, de
aterrizar o modelo teórico dos Usos Sociais dos Meios (OROZCO, 1991).
Essa abordagem metodológica serviu para contextualizar a discussão sobre as práticas
culturais dos receptores - crianças. Ao desenhar as relões entre os discursos que envolvem a
criança, descreve-se como a sociedade fala da criança e como essa vê a TV. Identificar o que ocorre
dentro das categorias de mediação, expostas por Orozco, é entender como se dá a predominância do
discurso midiático na formação da identidade social do que é ser criança, como os pais explicitaram
em seus questionários: é assistir conteúdos direcionados para as crianças.
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No exercício de construção do receptor-criança, ou pelas palavras de Orozco, (2000), o
televidente, há a inscrição da interpretação, na prática da investigação, que origina as estruturas e
processos de ver TV.
Em suma, pode-se supor que há, muito regularmente nas sociedades, uma espécie de
desnivelamento entre os discursos: os discursos que se dizem no correr dos dias e das trocas, e
que passam com o ato mesmo que os pronuncia, e os discursos que eso na origem de certo
número de atos novos, de fala quer os retomam, os transformam ou falam deles, ou seja, os
discursos que, indefinidamente, para além de sua formulação. são ditos, permanecem ditos e eso
ainda por dizer. Nós os conhecemos em nossos sistemas de cultura: são os textos curiosos, e que
chamamos de literários: em certa medida textos científicos. (FOUCAULT, 2005, p.22)
O debate entre o ser audiência e os meios, como almejava Martin-Barbero (2003) ao
conceber o mapa noturno, coma a ser entendido. Um mapa dos conceitos básicos que sirva para
questionar as mesmas coisas dominação, produção e trabalho mas a partir do outro lado: as
brechas, o consumo e o prazer. Um mapa que ao sirva para a fuga, e sim para o reconhecimento da
situação a partir das mediões e dos sujeitos. (IDEM, p.300)
É fundamental situar o estudo dos meios na investigação da cultura cotidiana, dos
espos sociais e das operões comunicacionais dos diferentes atores do processo. Como os
discursos se entrelam e se colocam dentro das mediões, as tensões são estabelecidas por essa
dinâmica, sem negar a cultura e o poder midiático.
Um mapa não para a fuga mas para o reconhecimento da situação desde as mediações e os
sujeitos, para mudar o lugar a partir do qual se formulam perguntas, para assumir as margens
não como tema mas como enzima. Porque os temos não eso para a síntese, e são muitas
zonas em cuja exploração não podemos avançar se não apalpando, ou só com um mapa
noturno. (MARTIN BARBERO, 2004, p. 18)
O que aprende com essa concepção de Martin-Barbero é restituir ou mesmo construir
um pensamento que tenha as mediões como objeto de pesquisa e investigar a comunicação a
partir da cultura. É sair da sombra e reconhecer as potencialidades que a história social política e
cultural oferece. É buscar um tempo e espo próprios, irredutíveis que garantam ao sujeito-
receptor sua própria historicidade.
A questão do conteúdo já aponta para espos problemáticos e a conseência é
enunciar a questão do lugar. Tanto o conteúdo como o lugar são um jogo de mostrar e esconder,
onde não cessa de se configurar o Outro e assinalar aos discursos sua posição originária, mas que se
torna por um movimento ignorado dele próprio, aquilo que a delimitação concretiza.
A proposta de Foucault é exatamente não tomar o discurso da TV como conhecimento,
não confundir a recepção como o ponto final do processo de comunicação, mas o ponto de partida
para as reflexões. E é nessa cultura, introduzindo o tempo nas articulões discursivas, que se
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confrontam a recepção, a mediação e a mensagem, ultrapassando a questão de quem a utiliza. No
mesmo momento em que se propõe como instrumento, o discurso midiático exige sua atualização.
Matin-Barbero (1989)
37
em sua avaliação, não assume a denominação completa dos
meios em relação dos sujeitos com as dias, pois
a apropriação, isto é, a ativação da competência cultural das pessoas, a socialização da
experiência criativa e o reconhecimento das diferenças, isto é, a afirmação da identidade que se
fortalece na comunicação feita de encontro e conflito com o outro. A comunicação na cultural
deixa, eno, de ter a figura do intermedrio entre criadores e consumidores, para assumir a
tarefa de dissolver essa barreira social e simlica, descentrando e desterritorializando as próprias
possibilidades da produção cultural e seus dispositivos.
O desafio de produzir o conhecimento sobre a recepção infantil está em aproximar a
comunicação da questão cultural, usar a experiência do cotidiano para reposicionar a teoria, de
acordo com as condições concretas do contexto e atentar aos processos e negociações simbólicos.
A próxima etapa de um trabalho como esse seria criar cartilhas para pais, professores e
crianças, com um conteúdo em que todos tivessem oportunidade de participação e trabalhar com
essas comunidades de apropriação, principalmente com o seu desconhecimento sobre os programas
que as crianças assistem.
O ideal seria fazer oficinas temáticas como essas em que contemplassem uma
intervenção e mudança de realidade e onde as crianças pudessem se sensibilizar com o conteúdo
que estão a ver, ou até mesmo fazer alguns programas pilotos direcionados às crianças e tratar o
universo da família e da escola com estratégias para se aproximem desse universo, no ponto
comum, que é a relação entre as crianças e a TV.
A abertura aqui feita em camadas deve continuar a ser analisada minuciosamente. Todo
o processo descrito das oficinas e das observões colocadas aqui, tiveram suas superfícies visíveis.
O aprofundamento da questão fica como um apontamento para pensamentos futuros.
Ao tomar contato com o processo comunicativo infantil percebeu-se caminhos da
produção de sentido no momento da recepção e como os discursos da escola e da família atuam na
formação da criança. O lugar da TV, considerando em principal a produção de sentido, foi
percebido como um agente de sociabilidade e que necessita de aprofundamentos investigativos de
cunho empírico, para que assim as relões entre os sujeitos, a sociedade e a dia sejam
entendidos em seu acontecimento.
A investigação entre a comunicação e a cultura deve discutir os problemas
contextualizados dentro da realidade dos sujeitos. O que se deve fazer para seguir a diante é
formular projetos futuros em que tenha ões de intervenção nesta realidade, as múltiplas
37
apud ESCOSTEGUY, 2001
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mediões envolvidas entre a criança e a TV. Explorar as dimensões normativas, espaciais e
temporais, como também dos imaginários sociais das crianças-receptoras.
O conhecimento torna-se provisório, dinâmico e flexível, mas necessário para questionar
posições já sedimentadas, positivistas. O conhecimento científico deve não apenas evoluir, mas
proporcionar reflexões e críticas para o seu crescimento, indagar o seu processo de construção da
comunicação e a abertura para a multidisciplinaridade, o que não deve ser entendido como
justaposição de perspectivas teóricas, mas como procura, no diálogo com duas ou mais disciplinas,
de uma resposta, mesmo que provisória, sobre a questão.
Por isso a importância de ir até o ambiente da criança e entender como as relões se
pautam em volta daquele aparelho mágico, que concretiza suas fantasias com imagens e sons. É
preciso entender esse imaginário e subjetividade não como meras representões do dia-a-dia e sim
como parte constitutiva de um ser em desenvolvimento.
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APÊNDICES
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APÊNDICE A Programas da TV Aberta categorizados por gêneros
GÊNERO
CULTURA SBT GLOBO RECORD REDE TV! GAZETA BAND
Auditório
Quem sabe, Sabe!
Domingão do
Faustão
Caldeirão do
Huck
Altas Horas
Tudo é
possível
O melhor do
Brasil
Encontro
Marcado
Super Pop
Programa
Nerivan Silva
Homenagem ao
artista
Cul
inário
TV Culinária Bem Família
Debate
Balanço Social
Café Filosófico
Roda Viva
Invenção do Cotidiano
Observatório da
Imprensa
Desenho e Infantil
As aventuras de
Babar/Pingu/Timothy vai
à escola
Os sete monstrinhos
Baú de Histórias
Harry e o balde de
dinossauros
Os amigos de Miss
Spider
Cocoricó
Zoboomafoo
Cyber chase
Viva Pitágoras
As aventuras de Piggley
Winks
Os camundongos
aventureiros
Charlie & Lola
Castelo Ra-tim-bum
Glub-Glub
Um menino muito
maluquinho
Dango Balanço
Turma do Didi
TV Xuxa
TV Globinho
Os Simpsons
Record Kids
A Turma do
Pica Pau
Dragon booster
TV Clubinho
TV Kids
Band Kids
Educativo
Telecurso 2000
Grandes Cursos Cultura
Telecurso 2000
Deficiente Auditivos
Telecurso 2000
Tecendo o
Saber
Telecurso 2000
2º Grau
Telecurso 2000
1º Grau
TV Educativa Programa
Educativo
Entrevista
Conexão Roberto Dávila
Especial
Especiais Cultura
Especial semana da
mulher
Ronaldo
Fenômeno
Esportivo
Cartão verde
Campeonato Português
Grandes Momentos do
Esporte
Auto Esporte
Esporte
Espetacular
Futebol 2007
Formula 1
Globo Esporte
Terceiro tempo
Debate Bola
deo Gol
Bola na Rede
TV Esporte
Notícias
Rede TV Esportes
Kart (NBC)
Top Sport
Mesa
Redonda
Gazeta
Esportiva
Futebol italiano
Motociclismo
Futebol
Campeonato
Paulista
Bola no chão
Por dentro da
bola
Jogo Aberto
Band Esporte
Clube
Filme
Mostra internacional de
Cinema
Festival Internacional de
Infantil
Zoom
Temperatura
Máxima
Domingo
Maior
Sessão de Gala
Corujão
Sessão da tarde
Tela Quente
Intercine
Sessão de
Sábado
Supercine
Tela Máxima
Cine Maior
Cine Band
Clássicos
Cine Band
Aventura
Top Cine
Cine Band Privé
Humorístico
Zorra Total Show do Tom Pânico na TV
Informativo
Saúde Brasil
Negócios e Soluções
Reporter Eco
Bom dia Saúde
Campus USP
Interesse Público
Mais Ação
Via Legal
Pequenas
Empresas
Grandes
Negócios
Globo Rural
Globo
Educação
Globo Ciência
Globo Ecologia
Ação
Show Busniess
Apeospe
TV Empregos
Prog. Celso
Russomano
Giro Business
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Interativo
Big Brothers
Brasil 7
Flash do BBB7
BBB7 só para
Maiores
Musical
Viola, Minha Viola
Sr. Brasil
Erudito
Sinfonia Fina
Fortissímo
Repertório Popular
Cultura Mundo
Alto Falante
Viver Natural
Bem Brasil
Ensaio
Ritmo Brasil
Furacão 2000
Novela
Era Uma Vez
Malhação
O Profeta
Pé na Jaca
Paraíso tropical
A escrava
Isaura
Alta Essão
Bicho do mato
Vidas Opostas
Paies
Proibidas
Político
Mobilizador Brasil
Brasil Eleitor
Horário
Político PC do
B
Horário
Político PMDB
Horário
Político PC do
B
Horário
Político PMDB
Horário Político
PC do B
Horário Político
PMDB
Religioso
Missa Em Aparecida Sta Missa Com
Pe Marcelo
Programa
Igreja
Universal do
Reino de Deus
Vitória em Cristo
Igreja da Gra no
seu lar
Igreja do Poder de
Deus
Desfrutando a
Vida Diária
Igreja
Presbiteriana
Diante do Trono
Igreja Petencostal
Igreja do
Evangelho
Ig. Universal
do Reino de
Deus
Encontro com
Cristo
Fé para Hoje
Igreja Viva
Programa LBV
Show da Fé
Série
Monumentos sagrados
da Ásia
Pátria das águas
Explorations I
Lost
American Dad
Lei e Ordem
Todo mundo
odeia o Cris
Hércules
Xena
Lei e Ordem
CSI Miami
CSi,
Investigação
Criminal
Monk
Super séries
Las Vegas
Desperate
Housewives
O Mundo Perdido
Uma família de
outro mundo
De volta aos
anos 70
Mr. Bean
Série Brasileira
Amazônia
Sorteio
Publicidade
Rede TV! Shop
Concessionário
Programete IG
Ultrafarma
Sky
Parceria
Publicidade
MKD
Programete
Unibanco
Banco Fininvest
Informecial
Feira Livre
Automóvel
deo ivel
Bestshop TV
Ultrafarma
Feiras &
Negócios
Informecial
Telejornalismo
Jornal da Cultura
Le journal
Cultura do meio-dia
Cultura Noite
Globo
NotíciasI e II
Fantástico
Bom dia São
Paulo
Bom dia Brasil
SPTV (1ª Ed e
2ª Ed)
Jornal Nacional
Jornal da
Globo
Globo rerter
Domingo
Espetacular
São Paulo no
Ar
Fala Brasil
SP Record
Jornal da
Record
Repórter
Record
Jornal 24 horas
Rede Tv News
Leitura dinâmica
Gazeta News Primeiro Jornal
São Paulo
Acontece
Brasil Urgente
Jornal da Band
Jornal da Noite
Variedade
Entrelinhas
Vitrine
Decola
Expedições
H2O
Planeta Terra
Mar Sem Fim
Planeta Cidade
Metrópolis
Mata atlântica
Grande teatro preto e
Antena Paulista
Mais Você
Hoje em dia
Programa da
Tarde
Tudo a Ver
Pé na Estrada
Olho no Olho
Olhar Digital
Late Show
Vinho a mesa
Bom dia Mulher
A tarde é sua
TV Fama
Amaury Jr
Passarela do
Samba
TV Beauty
Fair
Vip Show
com Estilo
Ramy
Pra Você
Todo Seu
Mulheres
Mundo Fashion
Pra Valer
De olhos na
estrelas
deos Incríveis
A noite é uma
criança
Comando da
Noite
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branco
Doc Brasil
Outros
Mudança de vida
Elas por elas
Troca de
Família
Imbra
Insônia
Guarulhos eu
gosto tanto de
você
De Mãe para
Mãe
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APÊNDICE B Termo de Permissão
Aos Pais (um por criança)
Aos pais de __________________________________________
Esse questionário faz parte de uma pesquisa de mestrado sobre a relação desenvolvida entre
a criança e a televisão, sobre os hábitos de ver televisão em crianças pré-escolares como: os
programas que assistem e aqueles que elas deveriam assistir segundo a opinião dos pais e
professores.
Se fosse possível, gostaria que fossem fornecidos os dados para essa pesquisa, os quais serão
tratados confidencialmente, respondendo às questões formuladas de forma mais objetiva e real
possível, com bastante atenção.
Solicito que o questionário seja respondido e devolvido à direção dessa pré-escola até ____ /
____ / ____ .
Po permissão para acompanhar as atividades cotidianas da criança para poder acompanhar
como elas assistem TV e essar dialogando com elas.
Coloco-me a disposição para elucidar dúvidas e dialogar sobre a pesquisa e o tema que estou
a desenvolver.
Antecipadamente grata,
Lauren Ferreira Colvara
Psicóloga e Pesquisadora
_______________________________
Assinatura dos Pais
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APÊNDICE C: Às Professores e Auxiliares
Professora ou Auxiliares:
Po sua colaboração no levantamento de dados que estou a fazer para a dissertação de
mestrado sobre a relação desenvolvida entre a criança e a televisão, sobre os hábitos de ver
televisão em crianças pré-escolares como: os programas que assistem e aqueles que elas deveriam
assistir segundo a opinião dos pais e professores.
Responda esse com base em suas observões do dia-a-dia ou mesmo que possa fazer até o
dia ___ / ___ / ___., quando esse questionário deverá ser devolvido à direção do Centro de
Convivência Infantil Gente Miúda.
Po permissão para acompanhar as atividades cotidianas da criança para poder acompanhar
como elas assistem TV e essar dialogando com elas.
Coloco-me a disposição para elucidar dúvidas e dialogar sobre a pesquisa e o tema que estou
a desenvolver.
Antecipadamente grata por sua colaboração,
Lauren Ferreira Colvara
Psicóloga e Pesquisadora
_______________________________
Assinatura do professor/monitor
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APÊNDICE D Questionários Originais
I Questionário Pais
Iniciais da Criança: _________________ Idade: ____ anos e ___ meses
0. Em sua casa existem mais de uma TV? ( ) Sim ( ) Não Quantas?
___________
1. Seu filho assiste TV? ( ) Sim ( ) Não
2. Assistir TV em sua casa é um hábito? ( ) Sim ( ) Não
3. Em que horário ele costuma assistir? ( ) Manhã ( ) Tarde ( ) Noite
4. Algum dos pais está presente? ( ) Sim ( ) Não
5. Quanto tempo ele permanece em frente à TV? ________________________
6. Essa rotina muda no final de semana? ( ) Sim ( ) Não
7. A criança assiste mais TV durante o final de semana? ( ) Sim ( ) Não
8. Quais programas ela costuma assistir durante a semana? _________________________________
9. E no final de semana? ____________________________________________________________
10. Qual em sua opinião é o preferido por ele? _________________________________
11. Quem costuma ligar e desligar a TV para a criança? ___________________________________
12. Os pais notam alguma mudança no comportamento da criança depois de assistir algum
programa na TV? ( ) Sim ( ) Não Qual?
_____________________________________________________
13. A criança já pediu algum brinquedo anunciado na propagada? ( ) Sim ( ) Não
14. Dentre os brinquedos solicitados, quais foram adquiridos? ______________________________
14. Esses brinquedos são os que mais trazem satisfação a elas do que outros? ( ) Sim ( ) Não
15. Vo acha que os programas assistidos por ele são os adequados para a sua idade? ( ) Sim
( ) Não
16. E quais seriam os mais adequados?
_________________________________________________
17. A criança tem outras atividades além da escola? ( ) Sim ( ) Não Quais?
___________________
18.A criança é estimulada em casa com: ( ) brincadeiras ( ) leitura de histórias ( ) Outros
_______________
19. Se desejarem, acrescentem outras observões sobre a questão da criança e a
TV_____________________________
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APÊNDICE D1 Questionário Professoras
Iniciais da Professora: ______________ Idade média dos alunos: ______________
1. Durante o tempo em que as crianças brincam no CCI, você tem observado alguma influência da TV? ( )
Sim ( ) Não
2. Que tipos de brincadeiras? ____________________________________________________
3. Usam roupas, acessórios e/ou objetos de personagens da TV? ( ) Sim ( ) Não
4. Referirem - se, imitarem ou identificarem a si mesmos com personagens de filmes, desenho ou novela? (
) Sim ( ) Não 4.1Quais?
__________________________________________________________________________
5. Citam ou referem - se a situações assistidas em algum programa de televisão? ( ) Sim ( )
Não
5.1Quais?____________________________________________________________________
______
6. Quais os programas que você acredita serem os preferidos pelas
crianças?______________________________
7. Você acha que os programas assistidos por ele são os adequados para a sua idade? ( ) Sim ( )
Não
8. E quais seriam os mais adequados? _________________________________________________
9.. Se desejarem, acrescentem outras observões sobre a questão da criança e a
TV_____________________________
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APÊNDICE E Carta de Apresentação para o envio do Questionário
Reformulado
Prezados Senhores Pais,
Sou psicóloga formada pela UNEPS de Assis e aluna do programa de mestrado em
comunicação midiática da UNESP, com bolsa FAPESP.
A relação da criança com a televisão é um tema que venho pesquisando que há mais de 5
anos. Esse questionário faz parte da minha pesquisa de mestrado intitulada A TV e os vários
olhares da criança”. Atualmente ele está sendo realizado no CCI Gente Miúda” desde o início
desse ano. Respondam, por favor, com base em suas observões do dia-a-dia.
Os dados dessa pesquisa serão tratados CONFIDENCIALMENTE, em nenhuma hipótese o
nome ou a imagem da criança ou dos pais aparecerão na pesquisa. Esses não serão divulgados
publicamente. No entanto, os pais poderão ter acesso aos resultados, se assim desejarem. Coloco-
me a disposição para elucidar dúvidas e dialogar sobre a pesquisa e o tema que estou a desenvolver.
Po, encarecidamente, que esse questionário seja respondido e devolvido à direção dessa
pré-escola do Centro de Convivência Infantil Gente Miúda”, até __/__/__.
Antecipadamente grata,
Lauren Ferreira Colvara
Psicóloga e Pesquisadora
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APÊNDICE F Questionário Reformulado
Aluno (a): __________________________________________________________________
Nascimento: __/__/__ Idade: ____ anos e ___ meses
Nome da Mãe: ______________________________________________________________
Profissão da Mãe: ___________________________________________________________
Nome do Pai: _______________________________________________________________
Profissão do Pai: ____________________________________________________________
Tem Irmãos? ( ) Sim ( ) Não Quantos?__________________________
Quais são os moradores da Casa?
Nome
Sexo
Idade
Parentesc
o
Onde estuda/
Ocupação
Critério de Classificação Socioeconômica Critério Brasil
Sra./ Sr. tem os seguintes itens abaixo?
(SE SIM)
Quantos?
ITENS DE
CONFORTO
O
TEM
QUANTIDADE
1
2
3
4
5
6
Televisão
0
1
2
3
4
5
6
Rádi
o
0
1
2
3
4
5
6
Automóvel
0
1
2
3
4
5
6
Empregada
Fixa
0
1
2
3
4
5
6
Aspirador de
Pó
0
1
2
3
4
5
6
Máquina de
Lavar roupas
0
1
2
3
4
5
6
Videocassete
0
1
2
3
4
5
6
Banheiro
0
1
2
3
4
5
6
DVD
0
1
2
3
4
5
6
TV Paga 0
1
2
3
4
5
6
QUAL È A T
V PAGA? E O PACOTE?
Qual é a escolaridade dos Pais?
PAI
MÃE
Analfabeto/Pririo Incompleto
0
0
Primário Completo/Ginasial Incompleto
1
1
Ginasial Completo
2
2
Colegial Incompleto
3
3
Colegial Completo
4
4
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Superior Incompleto
5
5
Superior Comple
to
6
6
Pós
-
Graduação
7
7
Onde fica(m) a(s) TV(s)?
__________________________________________________________________________________________
II HABITOS FAMILIARES
A criança assiste TV todos os dias? ( ) Sim ( ) Não
A criança tem TV no quarto? ( ) Sim ( ) Não
( ) TV Paga ( ) DVD ( ) Vídeo Cassete
Quem liga a TV para ela? ( ) Pai ( ) Mãe ( ) Irmãos
( ) Ela mesma Se a criança, desde quantos anos? _____________________________
Com quem assiste TV? ( ) Pai ( ) Mãe ( ) Irmãos ( ) Sozinha
Quem escolhe o programa a ser assistido? _______________________________________
___________________________________________________________________________
Se pai ou mãe, qual é o critério? _______________________________________________
Se com os irmãos, como é feita a escolha? _______________________________________
Tem-se o hábito da família assistir juntos TV?____________________________________
Em que horário? Que tipo de programa? ________________________________________
Quais são os meios de comunicação mais utilizados pela família em ordem crescente?
( ) TV aberta ( ) TV Paga ( ) Internet ( ) Rádio ( ) Jornais Impressos
( ) Revistas ( ) Outros meios Quais? _________________________________________
___________________________________________________________________________
Qual a preferência de atividades familiares em horas livres?
( ) Passear ( ) Assistir TV ( ) Churrasco ( ) Reuniões Familiares
( ) Assistir Filmes ( ) Ir ao cinema ( ) Ir ao Shopping
Outras atividades? Quais? ______________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
E a criança, em horas livres?
( ) Brincar com os amigos ( ) Brincar com os iros/primos ( ) Assistir TV
( ) Assistir Dvd ( ) Passear ( ) Ir ao cinema ( ) Ir ao Shopping
Outras atividades? Quais? ______________________________________________________
Quais são os assuntos que despertam interesses na família?
( ) cinema ( ) documenrios ( ) história ( ) ciência ( ) tecnologia
( ) esportes ( ) novela ( ) entretenimento ( ) religo ( ) noticiário
Outros? Quais? ______________________________________________________________
III HÁBITOS DA CRIANÇA
Seu filho assiste TV? ( ) Sim ( ) Não
Em que horário ele costuma assistir? ( ) Manhã ( ) Tarde ( ) Noite
Quais são os assuntos que despertam o interesse da criança?
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( ) cinema ( ) documenrios ( ) história ( ) ciência ( ) tecnologia
( ) esportes ( ) novela ( ) entretenimento ( ) religo ( ) noticiário
( ) videogame ( ) lançamentos de brinquedos ( ) novos filmes infantis
Outros? Quais? _______________________________________________________________
Que tipo de programa é o preferido da criança? (em ordem crescente)
( ) desenhos ( ) Filmes de Dvd/VHS ( ) novelas ( ) jogos esportivos
( )
O que vo percebe que chama mais atenção da criança? (cor, música, barulho, movimento, personagens, bichos,
etc.)____________________________________________
Quais os canais preferidos pela criança? (em ordem de preferência)
( ) TV Globo ( ) Sbt ( ) Cartoon Network ( ) Disney Channel
( ) TV Cultura ( ) TV Rá-Tim-Bum ( ) Nickelodeon ( ) Discovery Kids ( ) Rede Tv! ( )
Bandeirantes ( ) Record ( ) MTV ( ) Discovery
( ) Telecine ( ) HBO ( ) Rede TV! ( ) Futura ( ) Booberang
( ) Outros Quais? _________________________________________________________
Quais os canais assistidos pela criança em casa?
__________________________________________________________________________________________
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APÊNDICE G: Relato da Atividade 1 para as professoras, auxiliar e diretora
O que é a TV para as crianças?
A intenção da divulgação desses dados para as professoras é para essabelecer um canal
aberto para discussão. O relato que segue abaixo é sobre o procedimento da atividade e os
resultados preliminares. Ressalta-se que os nomes verdadeiros estão expressos aqui tão somente e
apenas para as professoras, esses não serão divulgados na pesquisa.
A Atividade 1 consistia em apurar o que é a TV para as crianças. Foi entregue uma folha
branca A4 com uma construção gráfica simples que representava a TV como a figura a baixo:
Depois do almoço, antes da hora da TV, as crianças
foram encaminhadas para a sala do Grupo V, onde a pesquisadora já havia disposto uma folha a
frente de cada cadeira e os materiais a serem utilizados (1 caixa de lápis de cor 12 unidades; um
estojo de canetinhas hidragráficas 12 unidades; 1 caixa de giz de cera curto 15 unidades) para
que as condições do desenhos fossem iguais para todos, inclusive a opção de cores a serem
utilizadas.
O desenho se desenvolveu em trabalhos individuais, mesmo as crianças compartilhando da
mesma mesa. A pesquisadora manteve um comportamento interativo com as crianças na busca pelo
engajamento delas na atividade a ser executada, como também para recolhimento das falas durante
a execução para auxiliar na análise dos mesmos. A auxiliar do Grupo V ajudou na execução da
atividade, mas em nenhum momento nem a pesquisa nem a auxiliar ajudaram as crianças no
desenvolvimento do desenho. As instruções foram vagas, apenas foi dito para desenharem sobre a
TV, fosse o que gostassem ou que gostariam de ver.
Foram confeccionados 38 desenhos, sem contar o verso. Havia 20 crianças presentes nesse
dia, sendo que 3 não quiseram fazer o segundo desenho e uma criança fez um desenho a mais. A
opção de fazerem dois desenhos havia sido prevista pela pesquisadora, que levou o dobro de folhas
previstas, mas as distribuiria somente se as crianças pedissem.
Segue as tabelas de divisão dos desenhos e das crianças que fizeram. Há entre parênteses
comentários ou explicões que as crianças fizeram sobre seus desenhos.
MESA I
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Desenho 1 Desenho 2
Renato
Jogo de Vôlei
Jornal Nacional e a corrida
Ricardo
Jogo de Vôlei
(Brasil X Palmeiras “e o Brasil é
que ta ganhando)
Esse é o nosso mundo
(aqui embaixo é o mar e tem o
pescador aqui encima)
Diogo
Cavaleiro
(Eu gosto muito de cavaleiro. E ele
es feliz porque o cavalo dele é
bastante rápido e ele pode matar os
cavaleiros mau. Por isso ele está
feliz)
Eu soltando pipa
Paula
Flores no Jardim
Início de um jogo de futebol
(copiando Celso) Mas ficou feio,
quero apagar O final foram flores,
porque era o único jeito de deixar
a TV bonita”
Bombeiros apagando o fogo do
acidente
Carlos
Futebol
(Corintians X Palmeiras)
Verso: homem dando cambalhota
Gato/carro/aviões
MESA II
Desenho I Desenho II
Maria
Hello Kitty
Mora
nguinho
Leandro
Corrida
Corrida
Flávia
Hello Kitty
(teve dificuldade porque não
conseguia fazer a Hello Kitty. Ela
queria que fosse exatamente como
a da TV. Pediu para que a
pesquisadora desenhasse para ela)
_____________________
Marcelo
Corrida
Corri
da
(não terminou porque ele quis ver o
desenho que ia comar)
MESA III
ltima mesa a sair da sala para assistir o desenho. Elas não queriam ir assistir ao filme, embora tenha sido trazido de casa)
Desenho I Desenho II
Bruna
Castelo da Princesa
(ela não queria dizer de quem era o
castelo porque tinha vergonha. A
pesquisadora perguntou se era dela
o castelo, e ela ficou envergonhada
disse que era sim, era para ser da
cinderela, mas ela quer o castelo
para ela)
Flor
Angélica
Winks
(explicou para a pesquisadora
como era o enredo do desenho)
Chuva na flor
Verônica
(3 desenhos)
O terceiro desenho é o da TV como
janelas. E há o castelo do gigante
espremido no canto da tela. O
gigante quer sair para fazer coco e
xixi no jardim, mas não pode a TV
es o espremendo
Programa das 4 amigas
Verso: o canal que copiou o
desenho dela
Castelo
(é de um programa que coma
bem, mas que tem um pouco de
terror, mas só no final. Só um
pouquinho)
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Antônio
Espíritos do Mal
(é uma aventura que as pessoas
foram e ficaram presas nessa gaiola
que é o medo dos fantasmas maus.
A gaiola não existe é o medo.)
Verso: O quarteto fanstico
(é o cara que queima contra o que
congela)
__________________________
MESA IV
Desenho I Desenho II
Eduardo
Futebol
(Palmeira X Cruzeiro)
Verso: só o contorno da tela de TV
TV Desligada
Fernando
(foi o que teve a iniciativa de
desenhar no verso)
Pica pau
Verso: Homem dando
cambalhota
Homem da cambalhota
Verso: a família dele na chuva
José
O Nada
(Na entrega do desenho ele disse
que não conseguia pensar em nada
sobre a TV. A pesquisadora
perguntou se ele assistia TV, ele
disse que sim, mas que não
conseguia desenhar nada, porque
ele não pensava em nada sobre a
TV)
Verso: símbolo da globo
O Nada
(se já foi difícil no primeiro, no
segundo eu não consigo pensar em
nada mais que o nada)
Rodolfo
Homem aranha lutando contra o
vilão (ele queria levar o desenho
para a e, chegou a dobrá-lo)
______________________
Vicente
Apresentador de TV
Corrida
Verso: um peixe azul
Cláudia
(O desenho centr
al é a flor, é isso
que interessa, o resto é enfeite)
Eu na pescaria
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CATEGORIAS NUMERO QUAIS OS DESENHOS
Projão do Eu 5
Nosso mundo
Castelo da Princesa
Família na Chuva
Eu na pescaria
Desenho animado 6
Hello Kitty (2)
Moranguinho
Winks
Barbie
Picapau
Filmes 2
Homem Aranha 3
O Quarteto Fantásticos e o surfista
prateado
Esporte
Futebol 2
Corintians X Palmeiras
Palmeiras X Cruzeiro
Volei 2
Brasil X Palmeiras
Jogo de vôlei
Corrida 5
2 Leandro
1 Vicente
2 Marcelo
Programas inventados 4
Cavaleiro
Programa das amigas e sua COPIA
Espíritos do Mal
Elementos da mídia 9
Bombeiros e o acidente
Fada
Castelo/terror
Homem cambalhota (3)
Símbolo da Globo
Apresentador de TV
Jornal nacional e a corrida
Metáforas 7
Janelas e o gigante
TV desligada
Só a tela
O nada (2)
O resto é enfeite
Jardim com flores
Outros 4
Flor
Flor na chuva
Peixe azul
Gato/carro/aviões
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APÊNDICE H: Atividade 2 VHS Pais
Hoje será exibida uma fita montada pela pesquisadora com base no primeiro
questionário respondido pelos pais.
O objetivo da fita é verificar a listagem expressas pelos pais no questionário aplicado no
CCI Gente Miúda.
A listagem dos programas foi a seguinte: TV Cultura; Pink Dink Doo; Princesas; Power
Rangers; Meninas Super Poderosas; Zooboomafoo; Caiul; Boo, o construtor; Barney; Castelo
Ratimbum; A casa do Mickey; Lazy Town; Chaves.
Escolheram-se apenas quatro programas: Lazzy Town; Pink Dink Doo; Zooboomafoo;
Barney. O VHS tem 1 hora e 40 minutos de duração, obedecendo a duração padrão dos filmes
exibidos na hora da TV para o grupo V e VI.
O que guiou a escolha dos programas foi:
1. Aqueles que tiveram mais citação;
2. Aqueles que correspondiam a demanda inicial, programas educativos e apropriados
para as crianças, expressa pela direção da creche e também pelas professoras;
3. Aqueles que os pais expressaram serem os mais apropriados para as crianças.
Os conteúdos dos episódios são os seguintes:
1. Lazzy Town dia de natal o vilão tem um plano de destruir o natal dos habitantes
da vila e o herói salva o natal com uma lição de cooperão entre os amigos;
2. Pink Dink Doo está na hora de dormir o irmão mais novo de Pink não quer ir
para cama na hora que os pais mandam, a problemática é desenvolvida nesse episódio. Na
seência Pink lida com a queda dos dentes do irmão mais novo. O programa é bastante
interativo e conta com algumas atividades a serem respondidas pelas crianças no decorrer
do desenho.
3. Zoboomafoo o episódio mostra uma série de filhotes mamíferos de vários lugares
do mundo, inclusive o animal que corresponde ao protagonista da série.
4. Barney vamos a escola! episódio em que Baby Bop (uma dinossaura” amarela
amiga de Barney) não pode ir à escola por ser muito pequena. Barney e seus amigos
montam uma escola para que a amiga possa aprender. O episódio mostra o abecedário e os
números. Além de músicas infantis como Dona Aranha”.
APÊNDICE I: Relato da Atividade 2 VHS Pais
A exibição do VHS não foi completa, as crianças ficaram bastante dispersas. Entende-se
que a imagem essar em preto e branco e o som um pouco baixo dificultaram e muito a exibição. Ao
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trocar o vídeo, a imagem ficou colorida e as crianças ficaram mais atentas. Fato esse demonstra
como as cores são importantes para a concentração da criança.
Dos programas exibidos, Lazy Town foi muito bem recebido. Assim como o 1º episódio
de Pink Dink Doo, cujo enredo era a hora de dormir. Passado duas vezes as crianças ficaram
bastante atentas, até mesmo participando atividade interativa que o desenho tem no final. No
entanto, os episódios seguintes não prenderam a atenção mesmo tendo mais relação ao momento em
que eles estão: a troca dos dentes.
Havia expectativa pela exibição do Zoboomafoo, mas não houve concentração
suficiente para assisti-lo. O entendimento desse ocorrido é que as crianças gostam do programa,
mas para assistir em casa e não na escola. A situão de grupo parece deixar as crianças mais
agitadas e com necessidade de essabelecer mais comunicação com os colegas e para a apreensão do
conteúdo do Zoobumafoo é necessário um pouco mais de atenção.
O episódio de Barney não foi exibido, por isso não se teve como avaliar se as crianças
gostariam de assisti-lo na escola ou não.
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APÊNDICE J: Atividade 3 VHS Crianças
Atividade de hoje tem por objetivo averiguar o gosto das crianças expressos ao longo da
pesquisa. Foram selecionados os desenhos que mais foram citados. Excluiu-se os Power Rangers,
mesmo que muito citados não são do agrado das meninas, preferiu-se seguir um gosto comum.
Relaciona-se abaixo os desenhos e uma pequena sinopse :
Charlie e Lola Dois irmãos muito unidos que debatem alguns assuntos do Cotidiano. O 1º
episódio lida com a questão do bichinho de estimação, desde o cuidado que se deve ter até a
morte do bichinho. No 2º episódio Charlie tenta explicar a Lola o que são superstições e
metáforas usadas pelos adultos.
As aventuras e vida de Juniper Lee Juniper é uma adolescente que com o uso da magia
combate monstros mágicos. Nesse episódio ela está divida entre mediar uma discussão entre
grupos rivais e ir para a escola. Com duas responsabilidades, ela cria um dublê de corpo que
por acidente é seu irmão mais novo.
As 3 Espiãs Demais ao investigar um astro do Rock elas descobrem uma conspiração
internacional que envolvem mensagens subliminares.
Família Dinossauro Dino é desafiado por um dinossauro de 30 metros. O vencedor da
luta fica como o macho da família Silvassauro.
Winx Essela, uma das Winx, está de férias da escola de fadas e enfrenta dificuldades de
ajuste entre um mundo e outro.
Bob Esponja Bob Esponja inicia o episódio cuidando de seu caramujo de estimação,
quando sua amiga Cindy o chama para ajudá-la. Os dois se metem em confusão num torneio
em que Bob Esponja irá participar.
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APÊNDICE K: Relato atividade 3 VHS Crianças
Apesar de três alunos do grupo VI terem subido para o soninho, percebeu-se que
atenção foi maior e que as crianças em geral gostaram dos desenhos. Inclusive as crianças se
comunicavam em voz baixa até um determinado ponto da exibição.
O desenho Charlie e Lola” foi o que mais despertou atenção e interação das crianças. Ao
contrário do que as crianças afirmaram, o desenho 3 Espiãs Demais não foi exibido até o final. A
sala ficou divida, parte queria terminar de assistir o desenho e a outra metade não. No entanto, se
optou por pular o desenho pela dispersão que ele já proporcionara desde o início de sua exibição.
Outro desenho que reproduziu essa mesma dinâmica foi o “Winx. O desenho foi logo
reconhecido, inclusive algumas crianças (Grupo V) sentiram falta da música de abertura e tentaram
cantá-la para a pesquisadora. No entanto, as crianças não se fixaram na exibição do desenho, o que
também contrariou o que as meninas do Grupo V haviam expressado.
Tanto As 3 espiãs demais e “Winx haviam sido citados como desenhos que as menina
gostam e até mesmo os desenharam na atividade 1. O que se pode verificar por esse fato é que a
estética dos personagens é algo que as agrada, mas não o enredo em si. As meninas do Grupo V
narraram o enredo do desenho em basicamente a disputa entre a Winx e as Tinx, a clássica disputa
entre bem e mau. Os detalhes da estória não as interessam, o que ficou visível na exibição do
desenho, pois a decepção foi de que as rivais não apareceram no episódio levado.
Sobre o enredo, outro desenho que teve problema foi As aventuras e a vida de Juniper
Lee”. Ao iniciar o desenho, ele não foi só reconhecido como algumas crianças cantaram a música
de abertura. A problemática central da personagem, que havia criado um clone, não só as
confundiram e como contribuiu para a dispersão.
Ao final da fita havia o Bob Esponja, apesar de um pouco cansadas de assistir TV, elas
pressaram atenção de interagiram sobre a história. O personagem Bob Esponja é significativo para
elas, através do personagem percebe-se o essabelecimento de uma reflexão sobre comportamentos e
atitudes tanto deles quanto dos colegas.
Um fato observado de grande relevância é que as diferenças entre grupo V e VI se
tornaram mais evidentes. As crianças do Grupo V se fixam em conteúdos um pouco mais infantis.
Os meninos do Grupo VI demonstram a necessidade, por fala, de filmes com mais ação e mais
barulho, o que é algo a ser verificado.
Houve também o pedido de trazer o Sítio do Picapau Amarelo entre outros filmes de
longa duração. No entanto, ao essender a pergunta para algumas crianças que essavam ao redor da
pesquisadora, percebeu-se que as crianças do Grupo VI gostam de filmes longos, mas as crianças do
Grupo V preferem os de curta duração.
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APÊNDICE L: Atividade 4 escolha das crianças + escolha pais
O objetivo dessa atividade é trazer filmes que sejam consenso entre as crianças e os
pais.
As atividades anteriores clarificaram algumas questões, as crianças têm interesse por
programas educativos, mas que sejam um pouco mais lúdicos e mais coloridos, por sua vez, os pais
tem preocupação com os conteúdos e tem preferências claras por programas exibidos pela TV
Cultura e Discovery Kids. A tentativa dessa fita é unir esses dois universos e essabelecer um
diálogo por ela.
A estratégia também mudará um pouco, ao perceber a dispersão se proporá alguma
atividade a ser combinada com a auxiliar Adriana.
Os programas a serem exibidos serão:
Pink Dink Doo serão re-exibidos os episódios da atividade 2, a pedido das crianças
e também pela preferência expressa pelas crianças;
Zoboomafoo programa que nem chegou a ser exibido no dia, mas que as crianças
pediram que fosse exibido;
Pingu desenho bastante citado e que não foi ainda exibido;
Os sete monstrinhos que pelos questionários recém-aplicados são de preferência
dos pais.
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APÊNDICE M: Relato da Atividade 4 escolha das crianças + escolha pais
Logo na chegada da pesquisadora duas crianças do Grupo V vieram fazer seus
pedidos. E outras vieram relatar a pesquisadora que uma das alunas do Grupo V havia trazido um
DVD de histórias.
O procedimento adotado foi o que as crianças estão acostumadas. Fez-se uma votão
entre o VHS que a pesquisadora levou, o DVD de histórias e mais um que um aluno havia levado
no dia anterior (Deu a louca na chapeuzinho). O DVD escolhido foi o de Contos de Fadas trazido
pela aluna.
No decorrer da exibição dos contos de fada ficou claro as diferenças entre Grupo V e
Grupo VI. As crianças, mesmos as meninas, do Grupo VI se cansaram da exibição em cerca de
meia hora. Percebe-se que esses conteúdos mais infantilizados já não as agradam mais. O que ficou
mais evidente em um diálogo entre a pesquisadora e 3 crianças de cada grupo.
As crianças do Grupo VI manifessaram interesse por filmes de maior duração e que
tenham um pouco mais de movimento, interativo. As crianças do Grupo V já disseram que preferem
os filmes menores e que sejam sobre o mesmo tema, por exemplo: se for passar o Bob Esponja, que
sejam todos desse personagem.
Ao final da exibição do DVD dos Contos de Fadas, colocou-se o VHS trazido pela
pesquisadora. Foi exibido Zoboomafoo, o programa agradou os meninos do Grupo V e também do
grupo VI, embora esses últimos por reflexo da dispersão já continuada não se fixaram muito. As
meninas, por sua vez, pressaram atenção mas não com tanto entusiasmo.
O programa seguinte agradou a todos, foi Pingu. As crianças imitavam o barulho do
personagem e pareciam muito satisfeitas com a exibição. Pode-se pensar que pelo fato do desenho
não ter falas a concentração tenha que ser maior, como também, ele é mais chamativo
esseticamente. Ao contrário, como foi percebido nessas atividades anteriores, que o estético ajuda a
capturar a atenção da criança, mas não é suficiente, como cada vez mais fica evidente.
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APÊNDICE N: Atividade 5 Apropriação das figuras midiáticas
O pretendido com essa atividade é entender como as crianças lidam com determinados
personagens midiáticos veiculados pela dia.
A pesquisadora teve o cuidado de não escolher figuras que fossem sensuais ou
impróprias. Trata-se de personagens de desenhos animados, novela, apresentadores de TV e
cantores. A escolha foi baseada no que as crianças disseram à pesquisadora e as personalidades que
tem sido noticia nas últimas semanas na dia especializada (revista de fofoca).
Atividade iniciará com uma espécie de jogo de adivinhação, em que as crianças
reconhecerão ou não os personagens. Foi preparado um CD com cerca de 100 imagens a serem,
passadas por intermédio do DVD. O tempo total de exibição será de 13 minutos e meio.
Após esse jogo de adivinha quem é”, as crianças terão ao seu dispor as figuras
mostradas e poderão fazer um desenho/colagem em uma folha de cartolina a ser distribuída.
A expectativa é que conforme elas usem as figuras ou desenhem, elas irão interpretar
aquelas imagens que tanto circulam em seu cotidiano, assim, poderá se entender que tipo de
apropriação elas fazem dessa dia.
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