à pobreza e o modo de vida simples, contribuíam na definição do estereótipo do
caipira por parte dos contemporâneos.
José Gabriel de Toledo Piza colaborou na imprensa periódica de São Paulo e
do Rio de Janeiro, foi autor de várias comédias e produziu um livro de contos e
anedotas caipiras no ano de 1900; escreveu também alguns trabalhos teatrais em
co-autoria com Gomes Cardim, Arlindo Leal e Arthur Azevedo. Com este último,
colaborou na burleta O mambembe, representada pela primeira vez no Teatro Apolo
do Rio de Janeiro em 7 de dezembro de 1904; aos cuidados de José Piza ficaram as
falas de algumas personagens sertanejas.
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A Revista de Teatro da SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais) no
ano de 1956 editou em um de seus números o texto integral dessa peça de Arthur
Azevedo. No início da peça os editores da revista publicaram alguns escritos de
Arthur Azevedo do seu folhetim “O Teatro”, o qual era publicado no jornal A notícia.
Neste pequeno preâmbulo ele conta que quando pensou em escrever O mambembe
lembrou-se de José Piza, visto que já conhecia alguns de seus trabalhos teatrais, os
quais revelavam especial habilidade na observação dos costumes e desejava lançá-
lo definitivamente como autor teatral no Rio de Janeiro.
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A par disso, podemos afirmar que a análise de O mambembe é importante
não simplesmente pelo fato de ser uma peça em que podemos novamente encontrar
a personagem caipira. O comentário de Arthur Azevedo nos dá uma dimensão clara
de como o Rio de Janeiro na Primeira República era o centro cultural brasileiro e
para muitos escritores de outros estados alcançar notoriedade como autor teatral
passava necessariamente pelo crivo carioca.
O ator paulista Sebastião Arruda também participou da encenação de O
mambembe em 1904, a seu cargo ficou o papel do caipira Bonifácio. Fato
interessante para percebermos que não podemos visualizar a história do teatro
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Segundo Cláudio de Sousa, a palavra Burleta é de origem italiana e se tornou mais vulgar em nossa
língua com o êxito obtido pela comédia A capital Federal (1897), a que Arthur Azevedo deu aquela
classificação. “Hoje em teatro ninguém define, exatamente, o que seja uma burleta, pois que os
autores dão este nome a diferentes classes de peças. Em geral serve mais indicar uma comédia
musicada, expressão que pode substituir aquela”. Cf.: SOUSA, Cláudio de. Os estrangeirismos em
Nosso Teatro. Revista de Língua Portuguesa, Rio, n° 5, maio de 1920, p. 118. Acervo FD-USP.
De acordo com Eudinyr Fraga, burleta é uma peça cômica entremeada de canções e números de
dança, que, “sem preocupações estéticas, retira a sua substância sua forma a um só tempo da
comédia de costumes, da opereta, da revista e, até com relação a certos efeitos cenográficos, da
mágica”. Cf.: Prado, 1999, p. 148, apud: GUINSBURG, J.; FARIA, J. R. ; LIMA, M. A. (orgs.).
Dicionário do teatro brasileiro: temas, formas e conceitos. São Paulo: Perspectiva: Sesc São Paulo,
2006, p. 66.
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Revista de Teatro (Boletim SBAT). Rio de Janeiro, 1956, Ano 35, N° 290. Acervo ECA-USP.