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como iguais enquanto pessoas, independente de gênero, etnia, idade ou classe,
as relações continuarão desiguais, trazendo conseqüências negativas para ambos
os lados, mas principalmente para o lado mais subalternizado ao longo da história.
Retomando, entendemos que esta subalternização imposta à mulher é real, mas
ao mesmo tempo, a força das mulheres, e a luta diária por justiça também é
presente nessa realidade. Portanto, não nos referimos às mulheres como vítimas,
mas sim enquanto sujeito de direitos.
Com ranços de uma sociedade patriarcal, ainda hoje é imposto à mulher o
“instinto” materno, a obrigação de ser mãe. Por biologicamente ter a possibilidade
de ser mãe, não significa que emocional e socialmente toda mulher tenha o desejo
da maternidade ou se veja em condições para isso. Com o objetivo de trazer a
discussão para o cotidiano, como explicar que mulheres impossibilitadas de terem
filhos biologicamente venham a adotar uma criança e estabelecem uma
maternagem
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que, não raro, é semelhante a relações estabelecidas entre mães e
filhos biológicos? Por outro lado, portanto, uma mulher que vivencia a maternidade
não implica necessariamente que estabelecerá a maternagem, isso por inúmeros
motivos, quais sejam: sociais, econômicos, culturais, temporais e de espaço.
Compreendendo que o amor materno é uma conquista e não um instinto, é
possível entender que a maternidade não garante o desejo ou a possibilidade da
maternagem.
Desde o ventre, as relações de gênero já permeiam a existência do bebê,
quando os pais, os amigos e os familiares desejam que seja menina por ser mais
“companheira, mais meiga, mais delicada ...”. Ou quando se deseja um menino,
pela suposta força que ele representa, e ainda em seu nascimento, é possível
observar diversas falas reforçando a masculinidade. Comumente também pode
ser observado que, durante a criação do menino, este é incentivado a não
expressar sua sensibilidade. Nas brincadeiras que envolvem as crianças, essa
dicotomia também pode ser claramente percebida. Para os meninos são
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Segundo o dicionário a maternidade é o estado ou a qualidade de mãe, relação de parentesco, é o que liga a
mãe ao seu filho. A maternidade é relativa à gravidez, à reprodução biológica, diz respeito à procriação
(Santos, 2000, p. 103). Já a maternagem é a relação que se estabelecerá na criação do filho. Maternar é criar,
cuidar, educar, dar afeto, é toda a relação no âmbito sócio-afetivo.