A todo esse projeto de reorganização do sistema educacional paulista, mais do que
concretizar aquilo que determina a LDBEN, está subjacente a interferência do Banco
Mundial, seu principal financiador. E como todas as reformas propostas são assentadas
em índices econômicos, Torres (1996) afirma que o número de alunos por professor (o
tamanho da classe) e o aumento do salário docente não são considerados, pelo Banco
Mundial, como fatores incidentes sobre o rendimento escolar dos alunos.
Provavelmente por causa disso, no Estado de São Paulo, escolas foram fechadas, várias
classes ficaram superlotadas e professores continuam com salários muito abaixo
daquilo que deveriam ganhar. Ela ressalta ainda que a instituição recomenda que seja
investido mais dinheiro em bibliotecas, livros didáticos, laboratórios, etc. Isto se deu na
prática. O que se observou nos últimos anos, na rede pública paulista, foi a chegada de
muitos livros às escolas, para a biblioteca, e aquisição de computadores para as escolas
públicas. Os alunos também receberam livros didáticos dos diferentes componentes
curriculares e alguns computadores para serem utilizados (LOURENCETTI, 2004,
p.136).
Percebe-se, portanto, que o Banco Mundial com seu receituário de ajuste neoliberal adota
como proposta o investimento em material didático e computadores, mas os salários baixos dos
professores e as salas superlotadas não são “fatores incidentes sobre o rendimento escolar dos
alunos”. A autora ainda salienta a “lógica dos números e índices” quando se refere ao bônus
salarial e à concessão de verbas às escolas mediante os resultados do Saresp:
Na medida em que se condiciona o recebimento de verbas à obtenção de certos
resultados, há uma pressão explícita sobre os professores e as escolas. Isso confirma a
idéia de que a preocupação dos elaboradores de políticas públicas centraliza-se na
obtenção de resultados e índices, caso contrário não ocorreria o atrelamento do
desempenho às verbas. Parece então prevalecer a lógica dos números e dos índices:
maior número de aprovados, menor número de evadidos e retidos, maior quantidade de
alunos nas escolas, menor quantidade de faltas docentes. Não haveria nenhum problema
nessa lógica se ela viesse acompanhada pela lógica da qualidade, mas nossos
professores são conscientes dessa falsa situação (LOURECENTTI, 2004, p.136)
Dessa forma, a lógica dos números e índices almejados pelo governo estadual deveriam
ser acompanhados pela qualidade da educação, mas não é o que ocorre na realidade, pois de
acordo com Freitas (2003):
Essa é a visão de qualidade que informa as políticas públicas neoliberais que se valem
de sistemas nacionais de “avaliação” (ENC – Provão, SARESP, etc.), para monitorar os
resultados das escolas de forma quantitativa e genérica (comparativa), criar competição
(segundo elas, mola- mestra da qualidade) e reduzir gastos – o modelo é amplamente
conhecido e aplicado no campo empresarial (FREITAS, 2003, p.80-81).
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