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Meu contato com política, ele, na verdade iniciou dentro de casa. Na esfera privada,
de casa, eu tive contato com a esfera pública, é relativamente esperado,
considerando que num bolo de uma família de políticos
etc. A influência de papai
acabou sendo muito forte, né. [...] Então, os meus contatos iniciais foram todos no
sentindo de acompanhamento das eleições de papai a deputado estadual. Papai, ele
foi cassado em 64, no primeiro mandato de deputado dele, estadual, e só
reconquistou os direitos políticos dele dez anos depois, quando ele teve a
oportunidade de se candidatar e se elegeu deputado estadual e a posse dele foi
exatamente no dia do meu nascimento, 1º de fevereiro de 1965. O dia que eu nascia
ele retomava a carreira política, assumindo na Assembléia Legislativa. Então, minha
infância toda foi um pouco acompanhando essa participação, esse retorno da vida
pública dele. Eu, é, vamos dizer assim, quando me inteirei por, mais claramente, eu
já tinha 12 anos de idade e já estava começando a me interessar pela política do
grêmio estudantil.
[...]
Foi um primeiro contato e, naturalmente, isso foi instigando que você fosse
buscando leituras, fosse conhecendo novas pessoas, conversando com mais gente.
De modo que eu te diria que na eleição de 89, na primeira eleição de Lula, eu já tava
participando, eu era presidente do grêmio do Dom Bosco na ocasião, tava na 8ª série
e já tava participando da campanha do voto pelos 16 anos. Foi o primeiro pleito pós-
regime de 88. O voto era facultativo, foi uma campanha pra que o jovem de 16 anos
tirasse o título de eleitor, participasse e depois fui me engajando na própria
campanha do Lula. Foi um primeiro momento histórico de minha vida pessoal, mais
ou menos, que eu poderia te dizer de uma participação mais efetiva no próprio
movimento estudantil. É, isso se deu pela interferência, não diria interferência, mas
pela orientação muito forte de duas pessoas: o Márcio Tadeu, pelo fato de tá no
Dom Bosco, e Flávio, pelo fato de tá no auge do movimento estudantil da
Universidade Federal do Maranhão. São duas pessoas com quem eu conversei,
dialoguei muito, nessa fase da adolescência, que me orientaram leituras também,
que contribuíram pr’um entendimento melhor do mundo, das coisas, do nosso papel
nesse mundo e de um engajamento por uma questão que fosse além das questões
meramente privadas. (Entrevista com Sálvio Dino Júnior em16/10/2006)
Muito embora também marque sua história com datas e fatos bem determinados
que dão conta de uma “tomada de consciência” na sua relação com “a política”, Sálvio Dino
Junior coloca-se como um aprendiz natural do pai e do irmão, diminuindo a essência
vocacional de suas práticas políticas. A constante evocação de uma “ambiência”, de “leituras
disponíveis”
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e indicadas pelos mais velhos aos mais novos – a lembrança do avô que lia Rui
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Trecho de entrevista: “Minha casa sempre teve muitos livros, desde meu avô, como referi, meu pai também,
meu pai até hoje lê todos os dias, como eu leio todos os dias, como eu me esforço para meus filhos ler, ele
sempre leu todos os dias. Nós acordávamos, ele tava sentado na mesa lendo, ou escrevendo, ou alguma coisa.
Então, evidentemente, isso influencia e ele tinha uma frase muito emblemática – “Meu filho, leia os clássicos”.
[...] Eu apenas não consegui ler os Sermões, do Padre Antônio Vieira, que ele gostaria que eu lesse, mas... ele
dizia “leia os clássicos”, mas era muito isso, “leia os clássicos”. Ele procurava dizer o tempo todo, ao modo dele,
né: “Façam política, mas não deixem de estudar, façam política mas não seja político profissional, tenha a sua
própria formação”. Talvez, por ele, em razão da experiência, saber o tanto que a política é absorvente, né. Tanto
que ela acaba tragando todas as dimensões da vida. Então ele sempre fazia o contraponto, talvez ao modo dele,
hoje eu compreendo isso, ou vejo assim, um contraponto à força atrativa que a militância tinha, né. Sobretudo
pelo encanto, o encantamento, você descobrir o mundo, o Brasil, um momento novo... [...]Um grupo do qual eu
conhecia o Lucio Santos, que hoje é médico em São Paulo, filho do então deputado Gervásio Santos. Ele
participava de um grupo. E como tinha afinidade paterna, meu pai amigo do pai dele, e de algum modo eles se
freqüentavam. Eram mais ou menos da mesma geração. Aí Lúcio me convidou para participar. Óbvio que
naquele momento eu já tinha consciência, uma percepção do que era política, tinha algumas leituras. Eu tinha
lido o primeiro livro que me marcou, que agora meu filho leu. Foi “Os Carbonários”, do Alfredo Sirkis...”
(Entrevista com Flávio Dino em 22/11/2006)