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A organização social e geográfica do trabalho, nas épocas contadas, torna estes
instrumentos e ferramentas essenciais à sobrevivência. Seria impossível a sobrevivência dos
narradores se não houvesse enxadas: com elas, plantava-se e capinava-se a roça, ou seja,
plantava-se o alimento de todos os dias. Vejam-se, em destaque, no fragmento que segue,
algumas signos que, na explicação do narrador justificam a importância da enxada no plantio
e bom crescimento da roça. Elencam-se algumas desvantagens das máquinas atuais, pois as
covas ficam mais juntas e a planta desenvolve menos. O que se nota é que, com o plantio
manual, o roceiro tem o controle da distância das covas e, por conseguinte, saberá que a
planta viçará mais, sabedoria que a técnica das plantadeiras e colhedeiras ignora:
No temp’ que prantava de inxada era de quinz[e] pra baxo. Era bem
prantado. Tan[to] qu’ às veiz, cê prantava vinte lit[ro] de arroiz, cova[do]
de inxada, dava quarenta, cinqüenta saco. E se eu prantá de prantadera,
cai mais, fica mais mal prantado. Tinha is[so], né? (...) É pior. Ele fica
muito juntim, ele fica, ele num cresce quase. Fica fino. E ele se ele ficá
poco na cova, el[e] cresce, el[e] viça, o cacho vem grande… Até o caroço é
maior, né? (...) O milh’é cinco, seis, na cova[do] d’inxada. Hoje, vem essa,
negóc[io] de prantá cum prantadera de tratore, e parece qu’é uns sete
caroço por metro. Eu num tem muito certeza. Milh’é mais, mais lairgo. A
rua é um metro, uma cova da ota, quando é covado de inxada é uma base
de mei metr’ uma cova da otra às veiz… (6-5NM66, 47).
Com o machado e a foice faziam-se os roçados, descoivaravam-se matos, batiam-
se pastos para o gado, cortava-se a lenha, como se vê no excerto narrativo abaixo:
Uai, naquele tempo que tinha mato, ocê pegava o mato, sempre é na meia,
que sempe tabaiô na meia, pá roçá. Cê roçava de foice, ô fibra, aque[la]s
madera mais fina, ficava aquela parte grossa, [a]que[la]s arvinha. Aí cê ia
de macha[do] derrubava. Cortava tudo, gen[te] num pudia dexá árve em pé,
né, e ali dexava, às veiz, dois mêis, secano. Roçava semp[r]e mêis de junho,
quando muito julho pa quemá lá pa setembro. Às veiz, até outubro, que num
estivesse de chuva, né? Aí que fazia a queima. Às veiz, tinha roça[do] que
quemava tudo, às veiz tinha o[u]t[ro]s que quemava mal. Às veize, num
prestava. Dava serviço demais, cê tirava aquil’ tudo do machado, que nói
falava coivara. Tirá as coivara do quemado, da roça. Muntuá tudo, pô fogo,
quemá pa limpá. Às veiz ficava, é, ficava muita coisa por quemá. Ocê tinha
que cortá, de foice, machado, muntuá, fazê os monte, quemá de novo (6-
5NM66, 58).