Décio de Almeida Prado pelos experimentos de Jacques Copeau, ou na defesa da arte
moderna de Lourival Gomes Machado, o mesmo não se dá em Antonio Candido e Paulo
Emílio Sales Gomes.
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Em Antonio Candido, as referências sociológicas produzem um salto qualitativo
com relação à crítica literária de um Álvaro Lins, por exemplo, mas elas não explicam a
profundidade das análises e os acertos críticos que o corpo-a-corpo com as obras
proporciona e que já prenunciam o grande crítico. Difícil caracterizar o jovem Antonio
Candido como um crítico empenhado no uso dos conhecimentos sociológicos,
sobretudo se pensarmos em seu marxismo, o marxismo de Groucho. Segundo o crítico,
foi Groucho Marx quem compreendeu “(...) melhor do que ninguém, que a crítica ao
preconceito, assim como o estabelecimento de uma nova base para a conduta não
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COELHO, Ruy. Fantasia e a Estética. In: Clima, n.5, out.1941.pp.18-19.
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Ruy Coelho chama a atenção do leitor da revista Clima por sua erudição ao mesclar referências
sociológicas, filosóficas e literárias. Em seu ensaio sobre Proust, o melhor da revista, fica patente a
utilização de referências advindas de sua formação universitária. Um bom exemplo da
interdisciplinaridade de Ruy Coelho é quando descreve a culpabilidade de Proust comparando-o com
Schopenhauer, Pascal e a filosofia indiana. “Proust está muito longe da serenidade budística, ou Yoga. Os
elementos mórbidos que contém a angústia, a inquietude metafísica, a conciência culpada o aparentam
com o cristianismo. Razão têm, pois, Henri Massis e Mauriac, salientando essas ligações. A ‘ausência
terrível de Deus’ é um valor negativo demasiado marcado para que não se sinta sua importância.
Os pontos de contacto entre Proust e Pascal, esboçados por Georges Gabory em Essai sur Marcel Proust
merecem nossa atenção. Ao falarmos em cristianismo somos obrigados a fazer apêlo a êsse pensador que
está no próprio cerne do pensamento cristão. Todo o anseio de destruição schopenhauriano, característico
da filosofia proustiana, já o encontramos nesse asceta, que para a Europa teve o mesmo papel de Kapila e
Pantajali na Índia. Tinham ambos a mesma noção de obra no sentido místico da palavra, isto é, o emprego
total da vida do homem. Mas esta, que para um é a salvação da alma, a meditação dos problemas
metafísicos, para o outro é aprofundar as recordações, para imortalização puramente pessoal, através da
arte.” Cf. COELHO, Ruy. Marcel Proust e a nossa época. In: Clima, n.1, maio, 1941, São Paulo. Pp.157-
58.
No caso de Décio de Almeida Prado, o fascínio por Jacques Copeau possui um caráter formativo. Seu
primeiro contato com o encenador se deu em 1938 quando, visitando Paulo Emílio em Paris, assistiu a
uma leitura de Macbeth. O respeito à “convenção teatral”, o afastamento de um teatro naturalista e a
centralidade do texto vão marcar de maneira decisiva a crítica de Décio. Cf. AGUIAR, Flávio, ARÊAS,
Vilma, FARIA, João R. (orgs.). Décio de Almeida Prado – um homem de teatro. São Paulo: Edusp, 1997.
A leitura de Copeau marcará toda a trajetória crítica de Décio de Almeida Prado, estando na base de sua
incompreensão da reconfiguração do teatro brasileiro nos anos 60. Para uma boa descrição da obra do
crítico cf. BERNSTEIN, Ana. A crítica cúmplice – Décio de Almeida Prado e a formação do teatro
brasileiro moderno. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2005.
Lourival Gomes Machado foi o primeiro crítico de arte a defender com bases sólidas a arte moderna
brasileira. Como o meio era constituído ainda por diletantes e polígrafos, sua prosa empolada e com forte
dicção cientificizante busca na análise imanente das artes plásticas modernistas encontrar um fio condutor
que envolva o barroco mineiro, já escolhido pelos modernistas como fonte de inspiração, a produção das
vanguardas históricas e a produção dos modernos. Cf. PONTES, Heloísa. Destinos Mistos – os críticos do
grupo Clima em São Paulo 1940-1968. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. pp.21-51.