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Na primeira reunião, ao usarmos as transcrições das entrevistas
realizadas que tinham como foco a história da creche pesquisada, as
reações foram diversas:
Lena:_ Cruz credo, tá escrito errado, eu falei isso? A não, não
podia ter melhorado aqui Bianca? Nossa quanto né, né?
(Reunião do dia 25/1/2006)
Enquanto uma se preocupava com a forma escrita das
entrevistas, outras relembravam algum momento, riam de alguma fala ou
se mostravam surpresas por algum fato que até então era desconhecido
para o grupo.
Através das histórias narradas nas entrevistas, outras histórias
foram tecidas e entrelaçadas. Os múltiplos olhares enriqueciam o
momento. E eu, extasiada, assistia a um novo tipo de pesquisa aflorar
diante de meus olhos. E assim a história da Creche Casablanca ia sendo
construída.
Para que essa história pudesse hoje ser narrada, procurei por
uma metodologia que respeitasse o singular e o uno e que fosse a mais
coerente com o trabalho proposto. Encontrei na pesquisa no/do cotidiano
justamente essa busca. Uma metodologia que possui como base
epistemológica a complexidade, o que me proporcionava um pesquisar do
múltiplo, uma porta aberta à diversidade de saberes e conhecimentos que
se trançavam no decorrer da minha imersão no cotidiano da Creche
Casablanca.
A pesquisa no/do cotidiano é baseada no Paradigma da
Complexidade. Uma ruptura que fazemos com o saber científico como
saber absoluto e soberano buscando uma valorização das situações
cotidianas como uma outra forma de saber.
Pesquisar o cotidiano, mergulhar nele e se envolver por ele, são
os passos iniciais para quem busca por essa nova maneira de se fazer
pesquisa.
A rede como metáfora, com
seus fios, seus nós e seus
espaços esgarçados, nos
permite historicizar a nós
mesmos, a nossos
pensamentos e a nossos
atos, se entendemos que
nada surge do nada, que
tudo, de alguma forma está
ligado a tudo, aí incluídos
os imprevistos, os acasos,
os lapsos, as fraquezas. Se
por historicizar entendemos
puxar os fios, desenovelar,
desdobrar as redes ou, ao
contrário, enredar fios, a
metáfora escolhida ajuda,
como tantas outras usadas,
a organizar os
acontecimentos. Sua riqueza
maior, no entanto, está em
que permite a possibilidade
de transar um número
infinito de fios, como exige
a opção teórica pela noção
de complexidade. Alguns
desses fios, também
chamados conhecimentos,
são fornecidos pelo viver
cotidiano, em seus múltiplos
contextos, tanto como
outros são permitidos pelos
conhecimentos científicos
que vamos adquirindo em
pesquisas que
fazemos.(AZEVEDO, 2001,
A complexidade é
efetivamente a rede de
eventos, ações, interações,
retroações, determinações,
acasos que constituem
nosso mundo fenomênico. A
complexidade apresenta-se,
assim, sob o aspecto
perturbador da
perplexidade, da desordem,
da ambigüidade, da
incerteza, ou seja, de tudo
aquilo que é se encontra do
emaranhado, inextricável.
(MORIN, 2003b, p.44)