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Partiremos para uma abordagem destas classes de valores iniciando com uma
reflexão acerca do valor de uso, onde,
Como valores de uso, as mercadorias são, antes de mais nada, de diferente
qualidade, como valores de troca só podem ser de quantidades diferentes,
não contudo, portanto, nenhum átomo de valor de uso.
Deixando de lado ent
ão o valor de uso dos corpos das mercadorias, resta a
elas apenas uma propriedade, que é a de serem produtos do trabalho. (...)
Ao desaparecer o caráter útil dos produtos do trabalho, desaparece o caráter
útil dos trabalhos neles representados, e desaparecem também, portanto, as
diferentes formas concretas desses trabalhos, que deixam de diferenciar-se
um do outro para reduzir-se em sua totalidade a igual trabalho humano, o
trabalho abstrato. (MARX, 1988, p. 47).
O texto permite compreender a dimensão do que realmente se deve entender pelo valor
de uso embutido na mercadoria: ele é a essência da mercadoria e, fora dele, no que condiz à
utilidade, somente restará a qualidade de ser produto do trabalho do homem. Nestes objetos são
acumulados e despendidos trabalhos humanos e, portanto, podemos afirmar que um valor de uso
ou ainda um bem, uma mercadoria, só são dignos de possuir valor porque, na materialização de
sua utilidade, está cristalizada uma certa quantia de trabalho. Segundo Marx, o trabalho é a
“substância constituidora do valor”, responsável por mensurar a grandeza do valor de uma
mercadoria. Neste âmbito, a força-de-trabalho despendida na produção de uma mercadoria
imbuída de valor de uso passa a ser designada como trabalho social.
A grandeza de valor das mercadorias é medida, na ótica marxista, segundo a
quantidade de trabalho social necessário para a sua produção. Portanto, mercadorias com as
mesmas quantias de valor de trabalho, ou que podem ser produzidas num mesmo espaço de
tempo de trabalho, terão a mesma grandeza de valor. “O valor de uma mercadoria está para
o valor de cada uma das outras mercadorias assim como o tempo de trabalho necessário
para a produção de uma está para o tempo de trabalho necessário para a produção de outra.”
(MARX, 1988, p.48)
Para Marx, a grandeza de valor das mercadorias está diretamente relacionada ao
tempo de trabalho necessário na sua produção. Este, por sua vez, não é estável, mas dinamiza-
se por meios diversos, como, por exemplo, a habilidade do trabalhador ou o incremento
tecnológico nas estruturas de produção. Diferentes modos de trabalho tendem a empregar
diferentes formas de produção de mercadorias com semelhante valor de uso. É este valor de
uso de dada mercadoria que encerra determinada atividade produtiva, ou seja, sob a forma de
valor de uso, o fim do objeto e o do trabalho humano nele empregado serão alcançados