um cinema simbólico. Com efeito, a partir do momento em que as tecnologias digitais tornaram
esta distinção entre os dois sistemas quase nula, já que não se pode mais diferenciar com precisão
quando uma imagem é referencial ou não, concretizou-se o fim da história de ambos, não devido
à supremacia de um dos lados, mas pelo surgimento de um novo sistema.
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Langer aponta, aqui,
para o cinema de filmes em que os efeitos especiais passam despercebidos pelo grande público.
São filmes nos quais é significativa a importância do estatuto de verossimilhança das imagens
animadas para que exista o efeito de construção perfeita de uma realidade, ainda que plenamente
ficcional. Assim é com os dinossauros de Jurassic Park, os vôos, saltos, lutas e cenários de Ma-
trix, as grandes batalhas entre gigantescos exércitos em O senhor dos anéis, ou mesmo com o
saco plástico flutuando ao vento de Beleza americana,
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e em incontáveis outros filmes.
Para compreendermos melhor o problema da conceituação da animação com o advento da
tecnologia digital, voltaremos um pouco no tempo e tentaremos buscar ao longo dele algumas
constatações que possam nos ajudar.
A idéia de animação tem sua origem embrionária nas pesquisas sobre movimento e sobre
a visão, datadas do final do século XIX, a partir do desenvolvimento de dispositivos óticos-
mecânicos, como a lanterna mágica, a câmara escura, o fenaquistoscópio, o zootroscópio ou as
experiências de cronofotografia de caráter científico de Étienne-Jules Marey e Eadweard Muy-
bridge, além do famoso Teatro Óptico de Emile Reynaud, um dos grandes responsáveis pelo es-
tabelecimento da animação quanto espetáculo. O desenvolvimento destas pesquisas seria impor-
tante para o surgimento do cinema e da animação, que, num primeiro momento, apresentam-se
numa progressão indistinta entre si, como se, precisamente, neste período da história, tanto um
como a outra fossem a mesma coisa. Somente haveria alguma distinção no momento em que os
cartunistas entraram no universo das imagens em movimento e desenvolveram o que conhecemos
hoje como animação. Naquela época, estes profissionais do desenho dominavam várias páginas
dos suplementos dominicais dos jornais, mundo afora, e se sentiram atraídos pela possibilidade
de fazer com que seus desenhos se movimentassem. Foi com os trabalhos inaugurais dos dese-
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LANGER, M. (2002). [online] The end of animation history. Disponível em
http://asifa.net/sas/articles/langer1.htm. Acesso em 28/3/2007.
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Sobre os filmes: Jurassic Park, 1993, dir. Steven Spielberg, Amblin Entertainment/Universal; The Matrix, 1999,
dirs. Andy e Larry Wachowski, Warner Brothers; O senhor dos anéis,, 2001, dir. Peter Jackson, Wingnut Films;
Beleza americana, 1999; dir. Sam Mendes, Dreamworks, Cohen Productions.
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