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Claude Lévi-Strauss (1970: 184) também concorda que a eficácia da magia
implica na crença nos poderes extraordinários do praticante, na eficácia de suas técnicas.
De acordo com Bronislaw Malinowski (1984: 77-80), a força da magia está no
feitiço, elemento mais importante da mesma, o feitiço, por sua vez, só é possível porque
alguém conhece sua fórmula eficaz. A força da magia não é possível independente da ação
humana, não existe força mágica na natureza e nos objetos isoladamente, o homem é que
descobre e apreende esta força. Usando desta força, o agente mágico possui poder pessoal,
que é a perícia mágica.
Portanto, para estes antropólogos, o praticante da magia é tido como alguém que
possui um saber especial.
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Em torno da ação mágica se estabelece uma relação entre poder
e saber. Seu poder é a fonte de um grande saber e seu saber a possibilidade de exercer um
poder maior (HIDALGO DE LA VEGA, 1995: 166).
Esta seria a razão pela qual todo mago ou suposto mago vê surgir em torno de si
uma série de histórias de seus feitos e façanhas que garantem sua fama e a crença em seus
poderes, é a “mitologia da magia”. A função desta mitologia não seria de explicar, mas
garantir os poderes mágicos de um determinado indivíduo (MALINOWSKI, 1984: 86).
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Lévi-Strauss e Malinowski usam o termo feiticeiro e mago. Devemos atentar para as peculiaridades do uso
de termos como feitiçaria e bruxaria, que não é desprovido de problemas conceituais. Há línguas modernas,
como o francês, que não distinguem tais práticas, havendo também estudiosos que não as diferenciam, assim
como os que as diferenciam. Conforme Jeffrey Burton Russel (1993: 14) tanto as práticas da Europa Antiga e
Medieval quanto a magia de tribos africanas, por exemplo, estariam agrupadas sob a denominação de
feitiçaria. Já o termo bruxaria seria característico dos fenômenos de magia da Idade Média e Moderna,
relacionados a representações de cultos satânicos. Carlos Roberto Figueiredo Nogueira (1991: 30-32) afirma
que a feitiçaria é um fenômeno social arquétipo tanto na Antiguidade Clássica como na Europa Cristã,
oriundo dos antigos sistemas agrários de tendência matriarcal, constituindo-se de uma prática individual e
urbana. A bruxaria é caracterizada por este autor como prática mágica rural de caráter coletivo das sociedades
agrárias medievais. Preferimos adotar os termos “praticante de magia”, “mágico”, “mago” e “encantamento”
para referirmo-nos à Antiguidade Romana por serem estes os termos que Apuleio usa na Apologia. Segundo
Apuleio, o acusam de ter encantado – incanto – (Apologia, XLVIII, 2), ter praticado a magia – magia, ae
(Apologia, LIII, 4) - e por ser um mago – magus, a, um – (Apologia, XLVIII, 2).
Na tradução de Munguía há
o uso do termo feiticeira, na de Vallette é usado o termo encantadora. No texto em latim a palavra usada para
a denominação da mulher praticante de magia é saga (APULEIO, Apologia, XXXI, 5). De acordo com
Santiago Montero (1996: 46), saga, ae viria do vocábulo latino sagire que significa compreender de forma
penetrante, assim a praticante de magia é aquela que parece saber muita coisa.