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já faz três anos que eu trabalho aqui com a alfabetização e pretendo continuar por
um bom tempo trabalhando aqui, porque o pessoal quer, estão gostando e eu
gosto. Eu estava acostumada a trabalhar com criança, aí peguei a alfabetização pra
adultos e tô achando até melhor. É bom. Só que eles se acham muito cansados,
que não vão conseguir, que não sei o quê. Mas se vocês tentarem o quanto vocês
conseguirem já é o bastante. É, e estão tendo um bom resultado. A gente que está
acostumada não nota tanto, mas eles estão percebendo melhor.
Eles chegam e já dizem a finalidade deles. No caso, o Adalberto é um
rapaz novo ainda, está com 53 ou 54 [está sendo irônica e ri um pouco]. O sonho
dele é aprender a ler e escrever, porque ele quer tirar a carteira de motorista, quer
fazer os documentos. Então ele acha que precisa, como precisa mesmo. A Dileta
também, que é mulher dele agora, também não sabia nada e me disse: Serli, eu
também preciso, porque trabalho com minhas vendas de coisas e faço meus
anguzinhos pra vender e eu preciso. A pessoa sabendo lê, claro que melhora né?
Graças a Deus, ela tá ali e depois eu vou te mostrar o que ela escreveu de
encerramento de ano, que eu fiquei abobada. Chegou a me arrepiar, ontem,
quando eu li. Ela mesma ficou impressionada e me disse: Serli, eu não sei como é
que eu escrevi isso! O Adalberto também ficou naquela ansiedade, e eu disse:
Adalberto, é assim, assim, assim...Eu dou só o início para vocês e aí se vocês
quiserem continuam esse meu início, se não façam do jeito de vocês. Aí ele me
disse: Quem sabe eu falo e tu escreve. Não de jeito nenhum, eu quero ver a tua
escrita e ali ele começou. Sabe, eles já estão encaixando, eles já sabem entrar na
conversa através da escrita, é claro tem aquela parada, mas isso até a gente tá
escrevendo e dá aquela parada pra dar uma recordada, lá pelo meio né? [Sim.] E aí
foi, às vezes, eu dava uma olhadinha e ele ficava me olhando e a palavra que eu ia
dizer ele falava, então ele já encaixava. Eu disse: vocês já estão prontos pra
escrever em casa, porque eu darei uma tarefa para fazer em casa.
A Dona Ilda é porque ela tem muita vontade de aprender a ler e a
escrever. Ela vê as coisas na frente dela e ela quer ler. É o grande sonho dela
aprender a ler. Outra coisa, ela não precisava pagar mais passagens, porque já tem
67 anos, parece, mas ela continuava pagando, sabe por quê? Porque ela não sabia
ler, e ela tinha vergonha de mostra a carteira pro motorista, porque não estava
assinada. Então ela escondia. Ela mesma nos contou aqui isto. Até que um dia o
Sílvio, motorista do ônibus e conhecido dela, perguntou: Dona Ilda, a senhora
ainda paga passagem? Não, Sílvio é que eu não sei escrever, então eu não gosto de
mostrar a minha carteira. Depois que se passou isso, nós até dissemos pra ela, mas
isso é bobagem, a senhora entra mostra a carteira rapidamente, que eles nem vão
ver, o que eles conferem é a data de nascimento, mas como ela não sabia... Agora
não, ela entra bem faceira e mostra a carteira nova, assinada com seu nome. Ela
tem orgulho em dizer que foi a Viamão, assinar documentos, preencher fichas
para encaminhar a sua aposentadoria. Pode ir nos médicos sozinha. Porque ela
mesma sabe assinar as fichas. Ela tem orgulho em ter aprendido, isso é uma
realidade para ela. Um sonho que ela conseguiu realizar. Ela precisa ainda
desenvolver a leitura, lê alguma coisinha, mas muito pouco. “A cabeça já não
ajuda, muito fraquinha...”
O seu Orlandino já sabe ler e escrever, mas ele quer aumentar os
conhecimentos dele. Ele é muito ruim na escrita, pra ler ele é bom. Lê bem, apesar
de que tem uns probleminhas de dicção. Na escrita é que ele tem dificuldade em
algumas palavras. Não sei se ele quer escrever muito ligeiro. Eu sempre digo,