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e o estudo” passaria, contudo, por uma profunda mudança. Antes mesmo de se
converter
129
, Backheuser, reconhecera a “inanidade da hipótese Laplaciana”
130
,
passando, assim, a proclamar, no exercício de sua cátedra, “que a narrativa bíblica
estava de acordo com os fatos geologicos e o bom raciocinio”. Atitude decorrente
do fato de Deus lhe haver concedido “o dom magnifico da Fé”, a compreensão das
verdades reveladas nos escritos bíblicos produziria, por fim, no conferencista, a
“certeza consoladora de que a Santa Igreja só ensina a Verdade, a purissima
Verdade revelada pelo proprio Deus Feito Homem”.
131
É interessante perceber, nas referências ao pronunciamento de Everardo
Backheuser, o quanto a importância do conhecimento e da aceitação das verdades
reveladas, denotam a preocupação com as perigos advindos da condução do
Físicas - 1924; chefe da Divisão de Geologia e Sondagens -1932). Trabalhando na Escola Politécnica
desde 1896 (quando assume o cargo de preparador interino de Mineralogia), em 1911 é nomeado
professor. No exercício desse cargo assume, em 1914, a cátedra de Mineralogia e Geologia, nela
permanecendo até 1925. Nesse ano é colocado em disponibilidade, nos termos da lei vigente, por
ter ultrapassado 25 anos de exercício. A partir de então, na Escola Politécnica, passa a participar de
bancas de exame, reuniões de congregação e outras atividades às quais era convocado. Os dados
aqui apresentados foram colhidos em Santos (1989, p. 8; 55-56; 459).
129
- Segundo informações colhidas em Santos (1989, p. 459-462), o processo de conversão de
Everardo Backheuser deu-se entre os anos de 1923 e 1928. Nesse período, gradativamente,
Backheuser inicia uma reflexão íntima sobre as dúvidas suscitadas pelo materialismo no qual se
iniciara ainda jovem, no Colégio Nacional. Em 1923 cessa, em suas aulas, a negação de Deus; em
1924 confessa, perante um auditório, sua crença em Deus. No entanto, o fato determinante para sua
conversão é a morte de sua primeira esposa, Ricarda Restier Backheuser (que ao contrário de
Backheuser era profundamente católica), ocorrida no ano de 1928, em Dresden, durante viagem do
casal à Alemanha. O falecimento de Ricarda ocorrera de forma inesperada, vitimada, por um
ataque cardíaco dois dias após ter sido atropelada por uma bicicleta e fraturado a tíbia e o perônio.
No hospital, com Ricarda ainda viva, Backheuser passa a receber os primeiros sinais da Graça ao
acompanhar, de joelhos, sua esposa comungando. Após o falecimento, em meio à preparação para
o translado do corpo ao Brasil, Backheuser recebe o sinal definitivo para sua conversão.
Conversando com seu filho, no quarto, vê no canto superior, iluminado pelo sol, a formação de um
grupo de nuvens no qual surgia o busto de Ricarda, sorridente, tendo Deus ao seu lado, com o
braço sobre seu ombro. A aparição impressiona de tal maneira Backheuser que faz o mesmo sentir
o desejo de ter fé, de confessar seus pecados, de se humilhar — o que faz no mesmo dia. No Brasil,
ao chegar ao Rio de Janeiro, encontrou o padre Veiga, confessor de Ricarda, com quem também
viria confessar. No dia seguinte, junto ao corpo de sua esposa (que Backheuser acreditava ter sido
responsável pela sua conversão, através das orações feitas por ela ao Senhor), receberia pela
primeira vez, aos 49 anos, a sagrada comunhão. Inicia aí, a militância católica de Everardo
Backheuser.
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- Segundo informações do redator da seção Ação Social, a hipótese Laplaciana, "que tanta
retumbância tivera, ensinava que tendo a terra nascido depois do Sól, dele sempre recebera luz, de
modo que estaria errada a descrição Mosaica que punha no primeiro dia do Genesis a formação da
luz e só no quarto a do sól" (REVISTA..., n. 7, 1934, p. 157 — itálicos do original).
131
- REVISTA..., n. 7, 1934, p. 157-158.