Capítulo III Galileu e Newton: A Interpretação da Relação Força e Movimento no 37
Século XX e XXI
complementação póstuma dos Discursos, Simplício é substituído por Paulo
Aproiano (discípulo de Galileu), já que o tema em questão não havia sido
tratado por Aristóteles.
Nos Discursos Galileu define o Movimento Uniforme:
Entendo por movimento constante ou uniforme aquele cujos espaços,
percorridos por um móvel em tempos quaisquer, são iguais entre si
(GALILEU, 1988, p. 154).
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Sendo que o próprio Galileu faz um destaque para diferenciar-se da
“velha definição”:
Parece oportuno acrescentar à velha definição (que chama
simplesmente de movimento uniforme àquele que, em tempos iguais,
percorre espaços iguais) a palavra quaisquer (quibuscumque), ou
seja, para todos os tempos iguais: pode, efetivamente, acontecer
que um móvel percorra espaços iguais em tempos iguais
determinados, ainda que não sejam iguais os espaços percorridos
em frações menores e iguais desses mesmos tempos[...](GALILEU,
1988, p. 154).
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Em relação a queda dos corpos ele se refere ao movimento como sendo
“naturalmente acelerado” e relaciona primeiramente o tempo com a velocidade.
Quando, portanto, observo uma pedra que cai de uma certa altura a
partir do repouso e que adquire pouco a pouco novos acréscimos de
velocidade, por que não posso acreditar que tais acréscimos de
velocidade não ocorrem segundo a proporção mais simples e mais
óbvia? Se considerarmos atentamente o problema, não
encontraremos nenhum acréscimo mais simples que aquele que se
repete da mesma maneira. O que entenderemos facilmente, se
considerarmos a estrita afinidade existente entre o tempo e o
movimento: do mesmo modo, com efeito, que a uniformidade do
movimento se define e se concebe com base na igualdade dos
tempos e dos espaços (com efeito, chamamos movimento uniforme
ao movimento que em tempos iguais percorre espaços iguais), assim
também, mediante uma divisão do tempo em partes iguais, podemos
perceber que os aumentos de velocidade acontecem com
simplicidade; concebemos no espírito que um movimento é uniforme
e, do mesmo modo, continuamente acelerado, quando, em tempos
iguais quaisquer, adquire aumentos de velocidade. Assim, qualquer
que seja o número de partes iguais de tempo que tenha decorrido a
partir do instante em que o móvel abandona o repouso e começa a
descer, o grau de velocidade adquirido na primeira e segunda parte
de tempo será o dobro do grau de velocidade adquirido pelo móvel
na primeira parte; assim também, o grau que se obtém em três
partes de tempo será o triplo e, na quarta parte, será o quádruplo do
grau obtido na primeira parte; de modo que (para maior clareza) se o
móvel continuar seu movimento com o grau ou momento de
velocidade (momentum velocitatis) adquirido na primeira parte de
tempo e conservar uniformemente essa velocidade, seu movimento