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RESUMO
A região do Parque Nacional das Emas (PNE) apresenta uma grande biodiversidade e está
sofrendo um intenso processo de destruição pela ação do Homem, provocando a fragmentação
da vegetação nativa, reduzida a pequenas ilhas no meio das lavouras extensivas. A
sobrevivência de muitas espécies de plantas e animais deste hotspot de diversidade é
seriamente ameaçada, e tem se generalizada a percepção de que algo deve ser feito para
preservar esta biodiversidade. Neste sentido, o ponto de partida é a intensificação de pesquisas
que proporcionem um melhor conhecimento das espécies, sob os aspectos genéticos e
ecológicos. A análise da variabilidade genética possui hoje um papel de destaque na definição
das estratégias de conservação e manejo de populações naturais. Nesse contexto, o objetivo
deste trabalho foi avaliar os padrões de variabilidade genética nos bandos de queixada
(Tayassu pecari) do Parque Nacional das Emas, utilizando marcadores do tipo RAPD. O DNA
de 182 indivíduos, distribuídos em oito bandos, foi extraído e utilizado para a amplificação via
PCR de dez primers previamente selecionados. Os dados foram utilizados para estimar a
magnitude e a distribuição da variabilidade entre e dentro dos bandos por meio da Análise de
Variância Molecular (AMOVA). A fim de se analisar, de forma explícita, os padrões de
variação espacial, foi estimado o coeficiente de correlação de Pearson (r) entre a matriz de
distâncias genéticas e geográficas entre os bandos, considerando o centro da sua área de vida,
estimado a partir de dados de telemetria. Com base nos dez primers foram obtidos 129 locos,
dos quais 88% (114) foram polimórficos, variando entre 37% e 78% nos bandos. O valor do
φ
ST
obtido pela AMOVA foi igual a 0,11 (P < 0,0001 - 10000 permutações), um valor elevado
considerando que trata-se, a princípio, de uma única população local distribuída em escala
regional. As distâncias entre os pares de bandos (φ
ST
) variaram entre 4% e 29%, ilustrando a
heterogeneidade da variabilidade nessa escala espacial. O agrupamento dessas distâncias
reflete essa heterogeneidade, mas é de difícil interpretação sem que mais informações
ecológicas dos bandos estejam disponíveis. No caso, é interessante relacionar os padrões de
variabilidade genética aos dados disponíveis para a telemetria desses bandos, onde foi obtida a
posição central de cada bando na região, de modo que a matriz de distância geográfica entre
estes possa ser relacionada às distâncias genéticas. O valor da correlação matricial (r) neste
modelo foi igual a –0,3338 (P = 0,009 - 5000 permutações). Assim, há uma tendência de que
grupos próximos sejam diferentes e que bandos mais distantes no espaço geográfico sejam
mais similares geneticamente. Embora este padrão espacial não seja freqüentemente
observado, ele seria esperado considerando determinados modelos demográficos. Um modelo
no qual há dispersão dos machos para distâncias relativamente longas, de modo que estes
contribuem para a composição genética do bando que os recebe. Além disso, em função de
reconhecimento individual, evitando endogamia, ou em função do efeito da própria distância
criado no momento da dispersão, os bandos geneticamente próximos (ligados “via” macho)
não se sobrepõem no espaço, e a coexistência só existe entre bandos de origens distintas.
Palavras-chave: Tayassu pecari, RAPD, padrão espacial