77
República, criticados por poucos, como Lima Barreto, mas socialmente
valorizados, e que não desapareceu com a liquidação de nosso ancien
régime.
Esses grupos sociais, atualmente, não contam apenas com a escola para a difusão de
um determinado tipo de leitura, mas há também a grande mídia que ajuda, e muito, na
naturalização daquilo que é cultural e socialmente construído.
Mas se por um lado a escola reafirma um modo de ler, de compreender, de
interpretar, por outro, em se tratando das classes populares, tem oportunizado àqueles que
por ela passam experiências significativas de leitura:
Já, já aconteceu o seguinte: ocorrer por obrigação da escola, depois eu
gostar e passar a ser lazer. Esse ano então, foi um ano assim, que eu... me
apresentaram muitos autores, muitos escritores, né, que eu não conhecia. Ou
seja, da nossa literatura eu não conhecia nada, pelo menos esse ano me
apresentaram uma parte, uma pequena parte, e daí eu fui buscar, aí eu
peguei livros de... falando sobre a literatura brasileira, sobre essas coisas.
Esse ano, mais ou menos, ocorreu disso, obrigação, ah, tem que ler, porque
fazer trabalho, aí depois eu gostar... Um exemplo foi Vinícius de Moraes: me
apaixonei pela obra dele, pelas coisas que ele fez. Na área de leitura, eu
gosto de ler muito, não tenho o hábito, mas eu acho que, assim, o que eu
faço é pouco. (A5)
eu criei o hábito pela leitura... quando cheguei no primeiro ano, que antes,
assim, me falam assim, eu não me importava muito com esse negócio não, só
lia dever de escola mesmo. Mas do primeiro ano até o terceiro eu comecei a
escolher meus próprios livros que eu já li, que gostaria de ler. Aí eu
também... no primeiro ano, eu tinha aulas com certas professoras, Gedalva,
aí ela foi incentivando algumas coisas, um livro que eu procurasse pra ler, se
eu não entendesse eu voltasse a ela, por que não compreendi, aí fui lendo,
fui lendo, fui lendo(...) (A4)
De maneira geral os jovens acham que a escola contribuiu positivamente para os
leitores que são hoje: é a escola que dá o suporte técnico para a leitura – ensina a ler; os
professores incentivam, ajudam os alunos a ler, a interpretar, a se expressar. Mas seus
depoimentos trazem, também, avaliações menos positivas, mais críticas.
há escolas que contribuem mais, há escolas que contribuem menos. As
escolas que eu estudei, pelo menos até a sétima série, contribuiu pouco pra
isso. Foram outros... houve leitura, houve; houve dissertação de textos, essas
coisas todas, houve, mas pouco. Então eu acho que desde o iniciozinho a
criança, ela já deve é, é, no colégio, já deve começar a ensinar, entendeu,
ensinar, não, a... puxar mais pra esse lado da leitura, esse lado da escrita,
pra criança começar a criar dentro dela o desejo de ler, o desejo de escrever,
entender que pra ela ler, pra ela escrever bem ela precisa ter uma boa
leitura, mas não ler por obrigação, ler porque é necessário. Eu acho que o
papel da escola deveria ser esse, desde a infância, e até hoje ainda é, pelo
menos a minha professora de literatura incentiva muito os alunos a ler,
entendeu, as obras, e tal, ela vem passando as obras dos escritores, pintores,