a alegria, a esperança renascida. Processo humano vivido por quem assim se faz no
outro, com o outro e para o outro. Com momentos de vitórias e momentos de derrota.
Com momentos de alegrias e tristezas. Não desistimos porque acreditávamos, ora uns
mais, ora outros menos, que era possível fazer alguma coisa, senão por todos, pelo
menos para alguns.
Este fazer, apesar de ser muitas vezes encarado como missão, exigir um
exercício insano de fé, e nos levar a dizer coisas como “esse eu salvei!” era muito mais
do que simplesmente uma ação redentora. Talvez, essa superfície, esse verniz assumido
pela própria forma como o grupo foi “chamado” para assumir este desafio, esta
“missão”, esconda em suas profundezas sentimentos e motivos diversos que cada uma
de nós construiu ao longo de nossa história com a educação. Motivos políticos,
emocionais, sociais etc. Assim como nossos alunos, nós optamos por comparecer à
escola, todos os dias, apesar dos pesares, e seguir. Talvez, não pelas razões apresentadas
pela diretora, talvez não pelas razões que preocupem o Estado, talvez, nem pelas razões
declaradas. Mas, com certeza, por razões muito fortes. A professora Virna reflete um
pouco sobre o sentimento que nos movia que, com certeza, movem muitos professores:
“A Progressão tinha quatro turmas. Quatro turmas
produzidas pela nossa escola! Porque uma coisa é quando
vem o cara de fora, aí você não teve influência naquele
processo educacional. Mas quando é produto nosso?! Espera
aí! Tem alguma coisa errada. Isso me dói. Me dói por quê?
Porque está contestando o meu trabalho. Meu trabalho está
uma porcaria, eu não estou me movendo e vou deixar essa
coisa se multiplicar. Porque estava se multiplicando, porque
quando começou a Aceleração aqui na escola tinha duas
[turmas]. Como é que você explica chegar a quatro
Progressões durante esse percurso? Isso não existe. E aí a
escola teve esse sentimento, embora todo mundo brinque,
fique ainda zoando, tem esse sentimento sim..por exemplo,
Maria da Glória. De manhã, ela fica, pega as produções
daquelas crianças de Ano II (do Ciclo) e vem correndo me
mostrar: aqui ó, menos um! Ou seja menos um pro que? Para
ir para Progressão. Mais um que eu salvei. Essa é uma
preocupação de todos, todos estão com essa preocupação.
Não, não vou mandar. Não, vou fazer alguma coisa, tenho que
dar um jeito para que estas crianças não cheguem à
Progressão. Isso é bom. E outra coisa, as estratégias e as
linhas de ações. Como eu falei, eu acho formidável a classe de
Progressão existir realmente para quê? Para contemplar
aquela criança que não conseguiu concretizar a alfabetização,
ok. Mas você ter uma demanda muito grande para ir para
Progressão é porque tem alguma coisa errada. Eu acho
normal, dificuldade de aprendizagem vai ter, menino de rua
vai ter, a gente vai ter todos os problemas sociais, econômicos,
políticos, eles vão existir. Agora várias turmas numa escola só.
Ou seja, num quantitativo de 500 você sempre tem 100
crianças? Eu acho que tem alguma coisa errada nisso tudo”.