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(...) o problema da FARRGS hoje é a renovação de quadros, não conseguimos
renovar, eu até acho que se tivesse recursos teria mais pessoas disponíveis para..só
que quando a coisa é mais difícil!! Então, quando a gente pergunta assim: -
Queremos a FARRGS? – Queremos!...todo mundo: – ah a FARRGS não pode
terminar!...Quem vai assumir? quem é que vai contribuir? Contribuir com 1 real
por mês, por pessoa, é uma dificuldade, né! (...) das associações você não consegue
arrancar praticamente nada. (...) Então a gente não consegue criar nem um fundo.
Bom, mas então vocês querem a continuidade, mas as coisas não caem do céu,
alguém tem que andar de ônibus, tem que comer, tem que viver, né. (...) daí fica
aquele dilema assim: nós não contribuímos porque a Federação não faz nada, mas
a Federação não consegue fazer nada porque não tem recurso! Então, o que vem
primeiro, o ovo ou a galinha? (R., FARRGS).
Os desafios, os maiores desafios que a gente tem é a integração dos catadores,
entendeu, é um dos desafios, (...) e também fazer com que o catador acredite nele
mesmo, né, que ele tem poder, que ele tem força, e fazer com que o catador
participe, é muito difícil o catador não...ah vai tu! ou vai qualquer um! Entendeu,
assim, não tem consciência! (B., FARRGS).
(...) ela não foi, vamos dizer assim, pensada pelos catadores, e porque que eu digo
isso, porque, na verdade, os catadores vêem a Federação como se fosse
uma....ah...um outro...tivesse num outro patamar que não fosse uma coisa deles,
então, na verdade assim, se o processo fosse construído de baixo para cima, com a
decisão, com os custos que iria ter essa entidade, o tempo, né, os objetivos, a
missão, e tudo, né, os catadores se apropriariam disso, mas como foi uma demanda
de cima para baixo...hoje eles reconhecem, participam do processo todo, mas é
muito complicado, a gente patina muito na questão da Federação (E., FARRGS).
Já com relação ao poder público, o conjunto das lideranças entrevistadas demonstrou
que o processo de constituição da FARRGS fez com que os governantes “(...) sent[issem] o
peso, né, dos catadores, sent[issem] o peso da organização” e, assim, não mais tivessem
razões para diluir o debate entre as UTs, já que a partir de então podiam “(...) discutir com
uma entidade que representa o todo” (B., FARRGS). Por ser uma entidade que congrega um
número grande de associações no RS, os órgãos públicos “(...) necessitam da figura da
FARRGS, para quê? Para que eles também consigam junto, é mais uma entidade a fazer
projetos, (...) então a gente tem um bom relacionamento”, até porque a manutenção de uma
boa relação com eles, a qual faz “(...) com que a gente seja visto, reconhecido, entendeu!” (B.,
FARRGS), pode se reverter em possibilidades de acesso a recursos financeiros. O problema,
segundo B. (FARRGS), é o de que os catadores são chamados pelo poder público para
discutir questões que lhes interessam somente “(...) quando tem algo que os beneficie” e,
assim, o recurso “(...) quando chega para o catador, já chega bem pequenininho, né!”.
Essa, no entanto, não foi uma situação vivenciada da mesma forma em todos os
governos, já que “(...) uma das coisas que a gente percebe é que em alguns governos nós
tivemos mais espaço” (E., FARRGS), ou seja, “[t]em prefeituras que tu tens um acesso às
informações e acesso ao diálogo, tem outras que a gente não tem reconhecimento”, o que