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YRM/TITULO
1/2
BR5800216
E15; E50/B/M/KV
CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL, RIO
DE JANEIRO, GB (BRAZIL). SECRETARIADO NACIONAL
DE ACAO SOCIAL; GOVERNO DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO NORTE, NATAL (BRAZIL)
3. SEMANA DE ESTUDOS SOBRE COOPERATIVISMO E
COMUNIDADE
N
ATAL, RN (BRAZIL)
1-6 JUL 1957
COOPERATIVISMO E COMUNIDADE [BRASIL]
N
ATAL, RN (BRAZIL)
--------------------------------------------------------------------------------------
BR5800216 2/2
1958 104 P, (PT)
/G514
COOPERATIVA; COMUNIDADE RURAL
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M.A- SO E4
RP. N.01.39677
Cooperativismo e Comunidade
Anais da 3.ª Semana de Estudos pro-
movida pelo Secretariado Nacional de
Ação Social da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil,com apoio do
Serviço de Assistência Rural, da
Arquidiocese de Natal, do Govêrno do
Rio Grande do Norte, do Serviço de
Economia Rural e da Secção Estadual
do Centro Nacional de Estudos-Coo-
p
erativos, realizada de 1a 6 de julho
de 1957, na cidade do Natal, Estado do
Rio Grande do Norte.
MNN
E 15
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ads:
II
cooperativismo receberam pedidos de informa-
ção. O reduzido numero de respostas revelo
u
bem o alheiamento ás ideias do cooperativismo
p
or parte de nossos dirigentes.
No plano local o Secretariado Arquidioce-
sano de Ação Social, em Natal, organizou uma
Comissão Executiva da Semana. Constituiram-na:
Dom Eugenio de Araújo Sales — Presidente — Dr.
Amaro Silva, Comendador Ulisses de Gois, Ga-
ribalde Alves e Juvino dos Anjos.
Surgiram e funcionaram as Comissões de
Hospedagem, Finanças, Recepção e Propaganda.
O local escolhido para os trabalhos foi a
Escola do Serviço Social, pertencente à Ação
Catolica. O programa anexo foi executado, in-
tegralmente. Em sessão solene, presidida po
r
S. Excia. Revma. Dom José de Medeiros Delga-
do, Arcebispo de São Luiz de Maranhão e Pre-
sidente do Secretariado de Ação Social e pelo
Governador Dinarte de Medeiros Mariz foram
iniciados os trabalhos.
Todos os dias, pela manhã, à tarde e à noite
as exposições de temas, os debates objetivos e
p
roveitosos, as conclusões de ordem prática re-
velaram o interesse dos participantes e o são
desejo de acertar um eficiente caminho para o
p
rogresso das idéias do Cooperativismo e Co-
munidade. Realmente, a Semana excedeu a ex-
p
ectativa.
O Exmo. Sr. Governador, no Palacio do Go-
verno, com seu Secretariado, prestigiou o em-
p
reendimento com uma Recepção. O Fomento
Agricola ofereceu aos semanistas em aprasivel
local (Jiqui) um churrasco.
A Imprensa e o Rádio, divulgando noticia-
rios ou irradiando sessões colaboraram eficaz-
mente
p
ara o exito do em
p
reendimento.
III
A simples leitura do Programa realizado e
destes Anais deixam ver à sociedade o que foi a
Semana de Cooperativismo e Comunidade.
Resta o não menos árduo trabalho de fazer
germinar não deixar fenecer, com a graça de
Deus, a boa semente.
Dom Eugenio de Araujo Sales
Presidente da Comissão Executiva
IV
Programa da Semana Regional de Estudos Sobre o
Cooperativismo e a Comunidade
Natal, 1a 6 de Julho de 1957.
Local: Escola de Serviço Social.
Dia 1 20 hs. Sessão solene de abertura — “Coope-
rativismo e Comunidade”, pelo dr.
Otto Guerra.
Sessões de Estudos
Dia 2 9 hs. Formas de Trabalho em cooperação nu-
ma comunidade, pela Assistente Social
Aylda Pereira.
15 hs. — Comunicação dos Resultados do Inque-
rito.
20hs. — O Cooperativismo no Brasil, pelo dr.
Roberto Bezerra de Menezes.
Dia 3 — 9 hs. — As cooperativas no Brasil, face aos
principos de Rochdale, pelo dr. Rival-
do Pinheiro.
15 hs.— Legislação cooperativa brasileira, pelo
dr. Roberto Bezerra de Menezes.
20hs. — O cooperativismo no mundo, Suges-
tões e soluções para o meio rural bra-
sileiro — Dr. Waldiki Moura.
Dia 4 — 9 hs. — Educação cooperativa, pela Assistente
Social Aylda Pereira.
12 hs.— Almoço em Jiqui, oferecido aos sema-
nistas pelo Fomento Agricola.
15 hs.— Debates sobre os resultados do inque-
rito.
20 hs.— Filmes — Comentários.
V
Dia 5 — 9 hs.— Dificuldades mais correntes no desen-
volvimento do Cooperativismo.
5hs.— Cooperativas de Consumo e Coope-
rativas de Habilitação. Debates.
17hs.— Recepção aos Semanistas pelo Gover-
no do Estado, no Palacio Potengi.
20 hs.— Sessão solene de encerramento. Pala-
vras de encerramento de D. José de
Medeiros Delgado, presidente do Se-
cretariado Nacional de Ação Social.
Dia 6 — 7 hs. Missa de ação de graças, na Cate-
dral Metro
p
olitana de Natal.
COOPERATIVISMO E COMUNIDADE
OTTO DE BRITO GUERRA
(Professor de Sociologia da Escola
do Serviço Social de Natal.)
I
— Senso Comunitário e Subsidiariedade
Quanto maior a crise atual, mais urge a
a conjugação de esforços, em busca de soluções
capazes de promover o bem estar individual e
social. Tomam crescente voga os organismos in-
ternacionais, principalmente os da O. N. U, tais
como a F. A. O. para a agricultura, U. N. E. S.
C. O., para a educação, a O. M. S., para a sde,
a O. I. T., para as relações de trabalho, desen-
volvem-se as técnicas ligadas à planificação eco-
nômica e social, depositam-se as melhores espe-
ranças, principalmente com relação a zonas sub-
desenvolvidas nos processos: altamente demo-
cráticos e educativos, de Serviço Social de Co-
munidade e no trabalho global que visa a Orga-
nização Social da Comunidade.
Forma-se a convicção de que é indispensá-
vel uma integração pessoal maior na orgânica
de cada um dos muitos grupos sociais a que
p
ertencemos, — a família, a vizinhança, a escola,
o profissional, o grupo de recreio, o grupo reli-
gioso, etc, sob pena de falhas insanáveis no jus-
to equilíbrio individual e social. Uma integração
que importa, simultaneamente, na ação de cada
p
essoa sôbre cada um dos seus grupos, na ação
MNN
E15
BR5800217
6 —
de cada um desses grupos sôbre cada pessôa,
finalmente na integração de cada um dêstes na
comunidade.
Tudo se passando de maneira que não se
deixe para aquele grupo social imediatamente
superior, qualquer das tarefas que possam, ou
devam ser executadas pelo grupo menor. Nem,
muito menos, se concorde em que os grupos
maiores venham usurpar, ou assumir funções que
não lhes sejam próprias. Tal como ocorrer fre-
quentemente, com o Estado, por isso mesmo so-
brecarregado duma infinidade de tarefas “extra”,
atribuíveis aos grupos menores, esvasiados, infe-
lizmente, de muitas de suas responsabilidades
insubstituíveis. É o caso, por exemplo, da crês-
cente demissão da família, no mundo moderno.
Pio XI ocupou-se na "Quadragésimo Anno”,
(1) dêste lídimo princípio social cristão, a subsi-
diariedade ou função supletiva dos grupos, For-
mula eminentemente pluralista, muito superio
r
ao individualismo e ao socialismo, para não falar no
comunismo, decorrência dêste último. Princí-
p
io que não se es
t
anca no acatamento da comu-
nidade maior a tudo quanto seja atribuível à
comunidade menor, porém vai mais longe, recla-
mando o respeito do menor dos grupos sociais
àquilo que a pessôa humana, tomada individual-
mente, deva realizar.
Portanto, respeito e, mais que isso, incen-
tivo ao fiel desempenho da vocação de cada
p
essoa e de cada grupo, um pluralismo, dentro
do melhor espírito comunitário, realizando a uni-
dade na variedade.
Integrando-se nos grupos constitutivos de
sua comunidade, cada um receberá substancial
ajuda, multiplicando, quase ao infinito, o seu va-
lor
p
essoal
,
a sua ca
p
acidade de servir. Por ou
— 7
tro lado, numa espécie de contra-prestação, coo-
p
erará, pela sua contribuição pessoal, para o
maior rendimento social do grupo e da comuni-
dade, para maior riqueza do todo, oferecendo-
lhe quando for capaz, em experiência, talento,
cultura e dedicação. Mac Iver, no livro “Comu-
nidade”, descreve o fenômeno como segue: “as-
sim como cada um de nós faz a sua sociedade,
esta, por sua vez, nos faz a cada um de nós.
Se nossa individualidade, é poderosa, fortalece
a nossa sociedade e vice-versa; e a nossa socie-
dade devemos, correspondentemente, a nossa in-
dividualidade”. (2).
I
I - Comunidade e Cooperativismo
Falta, a muitos, noção real do que seja uma
comunidade, aferrados, que são, a princípios in-
dividualistas ou coletivistas. E pouca gente sabe
apreciar, no Brasil, as vantagens duma bôa or-
ganização de comunidade, que é um planeja-
mento global.
Fora daquilo que tantos consideram estrita
obrigação dos governos (federal, estadual,
municipal) parece-lhes utapia pensar na conjugação
de esforços privados para melhoria efetiva das
condições de vida de uma determinada popula-
ção, mediante processos de organização e plane-
j
amento da comunidade.
Aliás, não deve a comunidade ser tida como
simples grupo vizinhança. Sua noção é muito mais
complexa, reclamando a integração de um certo
número de requisitos ou elementos, de que
José Artur Rios, em seu notável livro “A Educa-
ção dos Grupos" deu minuciosa enumeração: a)
um grupo humano; b) uma área geográfica con-
ti
g
ua
;
c
)
uma trama de rela
ç
ões e contatos ínti-
8 —
mos; d) a mesma tradição e os mesmos interes-
ses; e) uma consciência dessa participação nos
ideais e valores comuns. (3).
Encarando a realidade brasileira, mostrou
o mesmo autor, quais as características da comu-
nidade, em nossa terra: a) uma área territorial,
caracterizada por uma séde urbana, onde se lo-
calizam os principais serviços instituições, o
ginásio, a escola, a igreja, as repartições do go-
vêrno, a Prefeitura, as agências recreativas, o
mafuá, o cinema, a coletoria, os diferentes ser-
viços de saúde e assistência, etc., as residencias
das famílias mais prósperas do município, as
agencias econômicas e bancos, o comércio. Para
a séde urbana convergem as vizinhanças ou fa-
mílias isoladas da zona rural; b) Essa área geo-
grafica é completada por uma área social, re-
p
resentada pelos grupos de vizinhança, que têm
a consciência de se articular com o centro ur-
bano; finalmente, c) um certo consenso de opi-
nião, que se reflete nas atitudes e reações coleti-
vas, ante os problemas do bem comum local. (4).
É oportuno recordar que também as coope-
rativas possuem uma área de ação, uma dimensão
geográfica, econômica e social, dentro da qual
se inscreverão os seus associados e êstes a bus-
carão para seus negócios (5). Aqui, no Brasil, essa
area coincide, geralmente, com a extensão
do próprio município ou distrito em que estive
r
sediada.
III — Planejamento Comunitário e
Cooperativismo
É tempo de indagar que relações práticas
se apontam entre a organização da comunidade
e a cooperativa. Nada mais claro, Pois conforme
SANDERSON E POLSON
,
citados no livro clássi-
— 9
co de HILLMAN, (6) a organização da comuni-
dade é uma técnica para obter a opinião da
maioria sôbre os valôres mais importantes para
o bem comum e os melhores meios de ser este
realizado. Portanto, ação em comum, cooperação
geral. Ora, a cooperativa reclama, justamente,
conjugação do esforço mútuo, elevado espírito
de serviço, ação em comum, visando não apenas
o bem estar econômico, mas, acima tudo, a ele-
vação global do teor de vida humana, rasgando
novos horizontes, pela educação popular, sempre
em luta contra a rotina, a inércia, o derrotismo.
Reunem-se na cooperativa os mesmos ele-
mentos de desenvolvimento econômico, as mês-
mas virtudes sociais (espírito de entre ajuda, sen-
so de responsabilidade) que reclama a organiza-
ção da comunidade. Ademais, o povo aprende a
refletir, a ter sua opinião, a colaborar com o
semelhante e com o poder público.
Eis porque sua excia. D). José de Medeiros
Delgado, em seu livro "O homem e a Comuni-
dade”, não hesita em enumerar as Cooperativas,
do Crédito, Produção ou Consumo, entre as ins-
tituições ou agências indicadas para uma organi-
zação comunitária das pessôas, tais como os Cen-
tros Sociais, Conselhos de Comunidade, Serviços
Coletivos, Escolas, para acentuar que, em todas
elas, as bôas vontades se colocam em comunhão,
em ebulição, em clima, comunitário (7).
Não é preciso dizer mais para justificar-se
a inclusão das cooperativas em qualquer plano
completo e eficiente de interrelacionamento
comunitário.
IV — Cooperativismo e educação democrática
O signo do economismo sob o qual vivemos
,
obscurece vários fatôres
,
di
g
o
,
várias facètas da
10 —
instituição cooperativa. Deixa mais à mostra seus
aspectos econômicos, ainda assim desvirtuados,
tanta vez, pela substituição do sadio espírito de
serviço, pelo mero espírito de lucro e de interêsse.
Aparece a muitos, a cooperativa, como sen-
do um estabelecimento bancário, igual aos ou-
tros e o associado tão só um cliente, ávido de
b
ons negócios pessoais, de juros do capital, de
retorno, de lucros. Quando o principal, no coo-
p
erativismo, é sua tarefa educativa, salientada,
em seu tríplico aspecto, por Fernando Chavez Nu-
nes, em folheto divulgado pela União Panameri-
cana, de Washington a) o cooperativismo é
importante fatôr de robustecimento da democracia;
b) é um elemento valioso de integração dos gru-
p
os humanos nas comunidades onde estive
r
funcionando; c) é uma escola viva de capacitação
cultural. (8).
Realmente, o cooperativismo constitui órgão
eminentemente democrático, nunca é demais in-
sistir. A visão geral dos seus pioneiros, anteci-
p
ou-se de um século, ao firme desejo de sindi-
car e corrigir as atividades dos dirigentes, de
colaborar mais eficazmente nos destinos dos in-
divíduos e das sociedades, que o Papa Pio XII,
na sua Radiomensagem de 1944, assinalava como
sendo uma das características do homem de nos-
sos dias (9).
É só examinar os célebres princípios fun-
damentais, lançados pelos operários tecelões de
Rochdale, tão conhecidos de qualquer coopera-
tivista e ainda hoje, com pequena revisão pos-
terior, as regras de ouro do movimento, e verse-á
quanta razão tinha Gide, ao dizer que o
cooperativismo nasceu das entranhas do povo.
— 11
Graças ao sistema de freios e contra-pesos
adotado, a cooperativa oferece um amplo con-
trôle democrático muito superior a quaisquer
outros tipos de sociedade. E se, na prática, nem
sempre eles são, de fato, exercidos, a culpa não
reside na instituição, porém no seu desvirtua-
mento, por ignorância, displicência ou má fé.
Assim é que temos o princípio da livre ade-
são, também chamado “da porta aberta”: cada
associado subscreve e integralisa sua quota parte
livremente, a qual formará, com as de muitos
outros, o capital social; e retirar-se-á quando
lhe aprouver, também livremente. Por outro lado,
qualquer que seja o montante das quotas partes de
um associado, cada um, entretanto, grande o
u
p
equeno, somente tem direito a um voto, nas as-
sembléias e decisões, todos, portanto, em asso-
luto pé de igualdade: é o princípio do voto singular.
Graças ao mecanismo do retôrno pelo qual
a participação nos lucros da instituição é
p
roporcional à utilização dos pelo associado;
p
ortanto à a
t
ividade pessoal e não ao capi-
tal subscrito de cada um, a ambição do lucro não
p
ode inocular o seu veneno, como ocorre nas
sociedades capitalistas, tanto mais quanto o próprio
capital dos associados tem um juro fixo o limitado.
Finalmente, não esquecemos que deve cada
assembléia permitir a livre e honesta discussão dos
p
roblemas, sem subserviências, coações ou
segundas intenções. Nela, o associado aprende a
encarar com naturalidade os fatos do seu pró-
p
rio interesse pessoal, da sua família. juntamen-
te com os de seus companheiros, da cumunidade
inteira, confirmando o juízo de Carmem Varria-
le
,
num estudo sôbre Servi
ç
o Social e Coo
p
era-
12 —
tivismo: “Tôda associação cooperativista é um
instrumento de permanente aperfeiçoamento so-
cial, e moral de seus membros” (10)
Tudo isto vem comprovar o importante pa-
p
el que a cooperativa desempenha na integra-
ção de seus associados na comunidade para a
qual funciona. Fundada para consecução de obje-
tivos bem definidos, crédito, consumo, produção,
habitação, fins escolares, etc., ela acostuma o
sócio a enfrentar cotidianamento os problemas do
seu meio, confiante na ação conjunta, inte-
ressando-o pela melhoria economica pessoal e
também dos companheiros, pela discussão demo-
crática das questões, enfim, capacitando-o cultu-
ralmente, cada vez melhor.
V — As derivações pessoais
Não é tudo. Devem as cooperativas desen-
volver aquelas “derivações sociais”, tão incisi-
vamente recomendadas pelo “Manifesto da Vida
Rural”, lançado, nos Estados Unidos, pela
Conferência Católica da Vida Rural, como sejam
o teatro, o canto, a música, a literatura, as escolas
p
opulares (11). Formação, cultura, recreação.
Como seria interessante urna constante li-
gação de cada cooperativa ou pelo menos das
p
rincipais, a título experimental, com as Escolas
de Serviço Social e com assistentes sociais, para
um trabalho de grupo e de comunidade com os
seus associados, à base dessas “derivações so-
ciais”, para a melhor formação democrática! (12)
A própria fundação de uma cooperativa, se
se deseja um alicerce mais firme, deve ser pro-
cedida de estudos e debates, em torno dos temas
específicos de cooperativismo, tão importantes,
mas também da
q
ueles decorrentes de um levan-
— 13
tamento geral dos problemas da comunidade, me-
diante inquéritos, sondagens de opinião, traba-
lhos em equipe, descoberta e formação de líde- res,
enfim toda aquela técnica já provada, que
o Serviço Social inculca, em qualquer um dos seus
três métodos: caso individual, grupo e co-
munidade.
Os clubes ou círculos de estudo prestarão
ao movimento cooperativista serviço inestimável,
p
ermitindo, ademais, um conhecimento seguro
de todos os problemas da comunidade, mesmo
aparentemente alheios à cooperativa, emergindo as
soluções do desenvolvimento dos debates.
Clubes êsses que não devem existir, apenas,
na fase preliminar da fundação, é bom que se
diga. Eles são permanentemente úteis a qualque
r
cooperativa que não se deixa absorver pelo eco-
nomismo, constituindo-se o melhor elemento de
capacitação dos associados, principalmente e
m
p
aís de escassa formão social como o nosso,
alimentando a chama do entusiasmo, acostuman-
do cada participante ao clima do debete franco,
aberto, objetivo, bem informado, de todos os pro-
blemas que venham a surgir Eis porque são
êles chamados de “universidade do povo”.
A falta de estudos, o escasso hábito da lei-
tura da nossa gente, mais ainda justifica debates
desta natureza. Ademais, experiências feitas nos
Estados Unidos comprovam que o estudo dos
p
roblemas em grupo ministra, aproximadamente,
17% de informação a mais do que o estudo iso-
lado, retendo-se cerca de 56% das mesmas, po
r
um período até de seis mêses. (13).
Em seus numerosos livros, Waldiki Moura,
(14) conta o que existe nos Estados Unidos, Ca-
nadá, diversos países da Europa, relativamente
a êsses Clubes
,
ótimos fatôres de educa
ç
ão de
14 —
adultos, discutindo e apontando soluções em as-
suntos relacionados com a lavoura, a pecuária,
a indústria, o consumo de alimentos, a colocação de
p
rodutos, o incrementos da policultura, a atu-
ação dos grupos na sociedade, a melhoria das
condições de vida da família, o cooperativismo
e o Estado, e assim por diante.
Na Suécia, por exemplo, 60% das cooperati-
vas adotam o sistema dos clubes de estudo e de
treinamento prático, existindo, a cargo da “Koo-
p
erativa Forbundet” uma grande escola, que mi-
nistra constantemente cursos de Cooperativismo
e que já preparou mais de 31 mil líderes coope-
rativistas. Também são dados cursos para as donas
de casa e em tôrno dos seus problemas es-
p
ecíficos se lançam outros, inclusive preocupa-
ções de fins humanitários, como é o caso das
senhoras que angariam fundos para as pesqui-
sas de combate ao câncer.
Poderíamos referir também o que faz a
grande organização católica da Bélgica, o Bocrem-
bond, ou “União dos Agricultores”, com suas coo-
p
erativas, seus serviços de assistência técnica,
social, previdenciária, sua imprensa especializa-
da, a formação religiosa dos seus membros. Se-
ria, porém, alongar demasiado o presente traba-
lho. Aí estão os livros de Waldiki Moura com um
relade tudo quanto viu, ou leu, para não citar ou-
tros. Que a famosa experiência com os pescado-
res e mineiros de Antigonish, Canadá, pela
Universidade dos Jesuítas, também não seja esque-
cida.
Costumam dizer os céticos e desiludidos,
que tudo isto é muito bonito e possível, porém
nos povos mais adiantados. Mas que a nossa
gente não está absolutamente em condições de
realizar coisas ao menos
p
arecidas. E
q
ue o
— 15
p
róprio cooperativismo, como se vem pratican-
do, entre nós, desapareceria, sem a assistência
e o auxílio governamental.
Acreditamos que já seja possível, no Brasil,
colher depoimentos valiosos e elucidativos, dês-
tes bravos sacerdotes, assistentes sociais, mé-
dicos, agrônomos, educadores familiares, enfim de
quantos, apóstolos e técnicos, trabalham nas Mis-
sões Rurais, nos Centros Sociais, na Ancar e
organizações semelhantes de crédito supervisio-
nado, nos Conselhos de Comunidade, sôbre a
capacidade real do nosso povo em desperta
r
p
ara êsse novo mundo da auto-determinação. Pa-
rece-nos que somente lhe falta, isto sim, prepa-
ração bastante, cada vez mais intensiva, para
sua maioridade, representando as experiências
feitas, até agora, alguns poucos oásis, num imen-
so deserto. Mas oásis que devem ser multiplica-
dos, como verdadeiras experiência-pilotô, capa-
zes de convencer aos mais céticos.
Tomemos, a propósito, o depoimento valio-
so, saber “de experiências feito”, de D. José de
Medeiros Delgado, arcebispo do Maranhão, anti-
go bispo de Caicó, antigo vigário de Campina
Grande, cuja dedicação dos problemas de ascen-
ção do povo, no sentido anti-demagógico e cristão
do têrmo, bem justificam a presidência mui-
to honrosa do Secretariado de Ação Social na
Conferencia Nacional dos Bispos. Diz sua Excia.,
em seu livro “O Homem e a Comunidade”:
“Era comum ouvir-se, até de lábios que de-
viam guardar sabedoria, que é inútil esperar o
desenvolvimento popular. Os pequeninos, sempre
massa, terão que ser, a vida inteira, tangidos.
O que urge é garantir-lhes bons governantes.
Tirá-los da mediocridade, do rudimentar, da ro-
tina é uto
p
ia”.
(
15
)
.
16 —
No entanto, esse incansável apóstolo e tra-
b
alhador social não concorda com semelhante
opinião pessimistas, apesar de todos os obstácu-
los, provações, desilusões e incompreensões que
tenha encontrado, como desafio à sua tenacida-
de sertaneja. Ele inculca a necessidade, inclusi-
ve no terreno do apostolado religioso, de pro-
clamar nos fiéis (e portanto no povo em geral)
a sua “maioridade espiritual, moral, intelectual,
social, econômica, cultural, civil e religiosa”,
mostrando que, “para alívio em muitos, espanto
em vários, descoberta em todos”, se encontrará
o filosofo e o político em cada ser humano, po
r
mais rude que ele seja, e se verificará quanta
capacidade existe na gente humilde. (16).
VI — O defeito e sua correção
Não está o defeito em nosso povo, nas suas
qualidades pessoais. Pelo contrário, quantos
estudam o brasileiro lhe exaltam qualidades. As
causas do nosso atraso portanto residem noutros
fatôres.
O professor Lynn Smith, da Universida-
de de Luisiana, Estados Unidos, autor de notável
livro sôbre nossa terra, (17), deu, num pequeno
estudo sôbre “A Organização de atividades de be
m
estar rural na América Latina” (18) um rá-
p
ido apanhado sôbre algumas dessas causas.
A primeira, em ordem e em importância,
foi enumerada como sendo “a posse concentra-
da de terras e por conseguinte o rebaixamento
da massa do povo ao nível de mero trabalha-
dor rural”, resultado é que a falta de controle,
p
elos próprios habitantes da comunidade, das
forças básicas que determinam o seu bem estar,
(
dada a concentra
ç
ão da
p
osse da terra
),
im
p
e-
—17
de o desenvolvimento da comunidade, principal-
mente quando os proprietários moram distante,
nas capitais e não no próprio lugar. E o domí-
nio sôbre a vida política e administrativa é des-
ses proprietários.
Por outro lado, a falta de escolas e de ou-
tras instituições educacionais concorre, certa-
mente, para nosso atraso.
Também não é de esquecer a maneira ine-
ficiente pela qual o lavrador tenta arrancar do
solo a sua subsistência, adotando, muita vez, em
p
lena era atômica, métodos menos eficientes do
que os que foram empregados pelos egípcios,
bem no início da história.
Há também e finalmente, a má distribuição
da população em muitas comunidades rurais, vi-
vendo mais gente em tantas comunidades, do que
ela pode manter. (18).
Lynn Smith não enumerou, porém deve ser
acrescentada, aquela mentalidade assistencial
com que o nosso povo é tratado e tão comumen-
te aceita, habituando-se a tudo esperar de cima,
como favor e graça dos “homens”, seja o com-
p
ad
r
e, o coronel ou o Govêrno (20) Geralmente,
a trôco da fidelidade política, cada vez mais pro-
b
lemática, com o voto Secreto e a compra dos
sufrágios tão generalisada.
Pois bem. A cooperativa poderá tornar-se,
em cada comunidade, uma importante agencia
de bem estar, de educação do povo para a de-
mocracia, de capacitação integral, desmontando
ou desintegrando, a pouco e pouco, o passivismo
das populações. Passivismo que era natural, se
lhe faltava, como ainda falta, principalmente nos
meios rurais, qualquer organização de previdên-
cia
,
a
p
oio le
g
al e suficiente
,
no isolamento dos
—18 —
sertões, onde o Prefeito, o compadre ou coronel
representam a segurança de uma proteção.
Não penas com voto secreto, com uma
ilusória capacidade política, se lhe falta todo um
lastro econômico e social, que despertaremos a
consciência das populações. Nem será também
com a quota federal dos municípios, tantas vê-
zes mal empregada, sem plano, sem ordem, que
realizaremos os propalados benéficos de ordem
rural.
Não hesitemos em reconhecer, que a pró-
p
ria cooperativa, no Brasil, ainda deverá passa
r
p
or muitas reformas, Reformas que importarão,
acima de tudo, numa fidelidade maior aos mais
p
uros princípios do cooperativismo sadio, já ex-
p
erimentados e vitoriosos em países como a Di-
namarca, a Suécia, a Finlândia, a Noruega, para
ficar nêstes.
Os atuais desvirtuamentos são fruto dessa
falta de mentalidade cooperativista, dessa carên-
cia de educação social popular, notando-se, in-
ternamente, a falta de participação ativa dos só-
cios nas assembléias, a comissão de suas atribui-
ções da parte dos Conselho Fiscais, a aclama-
ção passiva de diretorias cuja eleição somente
se anima quando o veneno da política procura
infiltrar-se.
O relatório do Banco do Nordeste, referen-
te ao exercício de 1956, tem a prapósito, obser-
vações muito justas. Ei-las: “a utilização das
cooperativas, como núcleos redistribuidores de
crédito aos produtores agrícolas é, por certo, o
caminho mais curto para ampliar a penetração
da Carteira Rural no interior do Polígono das
sêcas... São notórias as deficiências da maio-
ria das cooperativas regionais. Fundamentalmen-
te
,
falta-lhes
,
q
uase sem
p
re
,
autêntica base coo-
——
19
p
erativista, isto é, não representam espontânea
reunião de pessoas, o nítida noção do interesse
coletivo e indispensável espírito associativo. Essa
anomalia de origem, implica, em grande nú-
mero de casos, na falta de uma participação efeti-
va de muitos associados na vida da entidade e
na sua consequente estagnação administrativa e
financeira. Daí a existência de sociedades com
estrutura frágil e precáriamente organizadas que
se caracterizam pelo capital social insignifican-
te, em função do número de associados, e quase
ausência de preocupação com a coleta das
p
equenas poupanças dos cooperados, através dos
depósitos. Essas cooperativas deixam de exercer,
assim, papel a que hoje se atribui redobrada
importância nas áreas subdesenvolvidas, qual
seja o de colaborar na formação de capitais e,
como é obvio, não oferecem condições mínimas
p
ara atuar como redistribuidoras de recursos do
Banco”. (21).
Já no Relatório do exercício anterior, o
o mesmo Banco reclamava, com razão, os des-
vios de doutrina e técnicos, observados em boa
p
arte das cooperativas da região e reclamava
melhor organização delas, para o desempenho do
seu imprescindível papel, na criação de um
autêntico “sistema” de crédito rural.
VII — Conclusão
É tempo de concluir Não se acusem as
cooperativas, em sí, nem o cooperativismo, pois
o instrumento, na sua pureza, é ótimo. O defei-
to está fora, está nos desvirtuamentos Falta-lhes
um ajustamento, que antes de mais nada depen-
de do
p
ersistente e incansável trabalho de for-
20 —
mação, nos sócios, da mentalidade popular (e
não populista) e a capacitação de líderes.
O povo bem capaz. Está lhe faltando um
trabalho educativo sério, cientificamente organi-
zado, ao qual o serviço social pode prestar co-
laboração inestimável, aplicando a técnica do
“ajudar o povo a ajudar-se a sí mesmo”.
A própria cooperativa, ninguém o duvide,
graças aos nobres sedutores princípios que nor-
teiam a instituição, constituirá elemento básico
a eficiente organização da comunidade urbana e
rural brasileira, visando a bem estar de todos e
de cada um. Esta, a nossa grande tarefa, que
não pode parar.
A verdade está com o líder indiano Sudhi
r
Ghosh: “nós não devemos fazê-lo por causa de
um temor, em nossos corações, de que a alter-
nativa seria o comunismo ou a modificação
completa da vida, de natureza violenta, devemos
faze-lo por causa de nossa convicção profunda
de que homens e mulheres, em tôdas as partes do
mundo, têm o direito de viver como entes
humanos, de crescer e de se desenvolver, e de
serem êles próprios”. (23).
NOTAS
(1) Pio XI, encíclica “Quadragésimo Anno”,
nº. 79. Ver sôbre o assunto: “O princípio
da subsidiariedade” art de Franz H. Muel-
ler, in Serviço Social” (rev.) nº. 44, III
de 1947, p. 3; Eberhard Welty “Catecis-
mo-Social”,Tome primeiro, n.º 52; Oswald
Von Nell Breuning, “Da Reorganizacion
de la Economia Social” p. 234.
(
2
)
— Maciver
,
“Comunidad”
,
p
. 238.
— 21
(3) — José Artur Rios, “A Educação dos Gru-
pos”, p. 80.
(4) José Artur Rios, “A Educação dos Gru- pos”,
p. 91; Hillman, “Organização da Co-
munidade e Planejamento”, observa que
“a unidade econômica e social funcional,
dentro de uma área, pode transender os
limites traçados pela divisão territorial”
—p. 21 da edição brasileira.
(5) A influência econômica e social da coo-
perativa, obviamente, é muito maior do
que a área fixada pelos Estatutos para
a
aceitação de sócios, principalmente a sua
função educativa.
(6) — “Organização da Comunidade e Planeja-
mento”, de Arthur Hillman, p. 28.
(7) Dom José de Medeiros Delgado “O Ho-
mem e a Comunidade”, p. 141. São tam-
b
ém valiosas, como ponto de partida par
a
muitas reflexões, as observações contidas
no folheto “Cooperativismo e Desprole-
tarização”, do mesmo Arcebispo.
(8) — Fernando Chavez Núnez, “La institucion
cooperativa y la educacion de adultos”
in Folheto “Cooperativas”, n.º 7, II de 1950 da
União Panamericana, p. 15.
(9) — Pio XII, Radiomensagem do Natal, 1944,
in Osservatore Romano de 25 de XII de
1944.
——
“Os povos que despertaram de um longo
torpor. Tomaram diante do Estado e dos
governantes uma nova atitude interroga-
tiva, crítica, desconfiada. Ensinados po
r
uma experiência amarga, opõem-se com
maior violência aos monopólios de u
m
poder ditatotial, indevassável a intangí-
vel
,
e re
q
uerem um sistema de
g
overno
22 —
compatível com a dignidade e liberdade dos
cidadãos. Estas multidões irrequie-tas... estão
hoje dominadas pela per-sussão... de que, se não
tivesse faltado a possibilidade de sindicar e
corrigir a atividade dos poderes públicos o mundo
não teria sido arrastado na voragem de-sastrosa da
guerra”.
(10) Carmen C. Varriale, “Serviço Social e
Cooperativismo”, in Temas Cooperativos,
p. 64.
(11) — La cristianizacion de la vida rural. ma-nifesto
editado pela “Associação Católica
da vida rural dos Estado Unidos”, p. 185,
n.º 155.
(12) — O processo de Serviço Social de Grupo é dos mais
interessantes, existindo farta bibliografia sôbre o
mesmo. A União Pa-namericana pelo seu
“Conselho Intera-mericano Econômico e Social”
editou in-teressante folhêto: “Serviço Social de
Grupo” por Dorothea F. Sullivan. Relati-vamente
à educação de adultos, a Divi- são de Educação
da União Panamericana fez editar, de autoria de
Guillermo Nan-nett, um bem feito “Manual de
Educación de Adultos”. O livro de José Artu
r
Rios, já citado, é entretanto o que de melho
r
se pode encontrar.
(13) — Fernando Chaves Núñez, “Los Circulos de
Estudio” in Cooperativas, número 7, II de 1950,
p. 10.
(14)
——
Valdiki Moura, “Diretrizes Cooperativis-tas” (notas
e comentários,) “10 Faces do mundo” (uma visão
da terra e da gente — aspectos do movimento
coo
p
erativo
),
“Edifica
ç
ão do Mundo Socialista”.
— 23
(15) Dom José do Medeiros Delgado, "O Ho-
mem e a Comunidade”, p. 130.
(16) — idem, idem.
(17) — T. Lynn Smith, “A organização de ativi-dades de
bem-estar na América Latina”, trabalho
mimeografado.
(18) Ragnar Nurkse, no seu livro Problemas de
formação de capital em países subde-senvolvidos
tem um capítulo muito inte-ressante sôbre “O
problema da superpo-pulação rural, e a
possibilidade de sua transferência sem reduzir a
produção agrícola.
(19) — T. Lynn Smith, “Brasil, People and Insti-tutions”.
(20) Thales de Azevedo — “As elites de Côr”; Charles
Wagley, “Uma Comunidade Ama-zônica”, Gylberto
Freire, “Compadrio, santas casas e as modernas
técnicas de seguro”; Victor Nunes Leal, “Coronelis-
mo, enxada e voto”; Costa Porto, “Pinhei-ro
Machado e seu tempo”; Manuel Rodri-gues de
Melo, “Patriarcas e Carreiros”, todos estes estudam
o complexo do com-padrio em terras brasileiras. O
aspecto político é particularmento estudado po
r
Jacques Lambert, “Le Bresil — Structure sociale et
institutions politiques” e Char- les Morazé, “Les 3
âges do Brasil”.
(21) — Banco do Nordeste do Brasil S/A, Rela-
tório do exercício de 1956, p. 59.
(22) — Banco do Nordeste do Brasil S/A Rela-
tório do exercício do 1955, p. 50.
(23) Sudhir Grosh, trabalho mimeografado
apresentado no Seminário Latino-Ameri-
cano de Bem-Estar Rural.
FORMAS DE TRABALHO EM COOPERAÇÃO
NUMA COMUNIDADE
AYLDA F. S. PEREIRA
(Assistente Social)
Sumário
1.
Duas idéias básicas:
“trabalho em cooperação"
“comunidade”
“Comunidade” implica em: vida em comum,
vida
comunitária
.
“Vida comunitária”, por sua vez, implica em
trabalhar com os
demais, em cooperar,
isto é, em trabalho
em cooperação.
Para que haja vida comunitária, trabalho
em cooperação, é preciso que cada um n
a
comunidade, tenha espíto comunitário, quer
dizer, tenha preocupação com o outro, com
o próximo, tenha
espírito
de união. Vid
a
comunitária o oposto do individualismo.
2.
Comunidade, trabalho em cooperação tendênci
a
universal.
No mundo inteiro predomina, hoje, a idéi
a
comunitária, o trabalho de caráter comu-
nitário,
sobretudo nas areas denominadas
“subdesenvolvidas”. O trabalho de comuni-
dade é uma preocupação dos sociólogos,
educadores, políticos, economistas, traba-
lhadores sociais em geral. Todos conside-
ram o trabalho de comunidade a fórma
MNN
E 15
BR5800218
26 —
mais eficaz para chegar a resultados posi- tivos no
p
lano social.
A comunidade é um
“todo” orgânico
; cada parte,
cada membro, é solidário com o "to-
do”. Cada parte recebe do “todo"
e contri-
bue
para o “todo” — direito de
receber;
de-
ver de dar.
Assim, as pessoas (membros da comunida-de), os
grupos, as instituições recebem os benefícios da
vida comunal e contribuem para o
bem comum
.
Assim entendem todos que militam no campo
social.
O sentido cristão da vida comunitária
.
A comunidade, na ordem social, repete a
realidade da ordem espiritual a
fraternidade
de
todos os homens em Cristo
.
A “vida comunitária" no plano teológico e
místico (dogma da Comunhão dos Santos, do
Corpo Místico — a Igreja) deve ser a visão do
cristão no trabalho de comunidade, no plano
social.
Nota: Ver, sôbre o assunto, o livro “O
Homem e a Comunidade”, de D.
José de Medeiros Delgado, pagi-na
126.
E
xperiências de trabalho comunitário no mundo.
Experiências de trabalho comunitário reali-
com êxito nos mais diferentes países
t
odos os continentes, estudadas pelas Na-
Unidas (ver relatório da Comissão de
n
tos Sociais da ONU) revelam:
grande número de
iniciativas locais
(partidas de pessoas ou instituições locais em
p
equenas comunidades);
projetos experimentais, projetos de
demonstração ou “projetos piloto” (patrocinados
p
ela ONU e
p
ela União Panamericana
);
—27
— programas regionais ou nacionais de
desenvolvimento econômico-social de comuni-
dades rurais (realizadas pelos Governos dos
p
aíses com apôio de organismos internacio-nais).
Todas os programas têm por objetivo:
— aproveitar o interêsse é energia da po-
p
ulação rural;
— coordenar as atividades de organiza-ções
(oficiais e particulares) que atuam na zona rural;
— coordenar os esforços da comunidade
com a assistência técnica e financeira dos governos
(local, regional, nacional).
Tipos de programas
.
Alguns exemplos:
Egito — rêde de “centros de bem es-
tar rural”.
India — administração de “projetos de
fomento rural".
Pakistão — programas de “ajuda às al-
deias” através de um con-
selho interministerial.
Ceilão — rêde de sociedades de fomen-
to rural”.
Jamaica “conselhos locais" (da co-
munidade).
Porto Rico — “educação da comuni-
dade”, através de “organi-
zadores de grupos” e de
“educação cooperativa”.
Birmânia — descentralização adminis-
trativa, através de “co-
missões de assuntos so-
ciais nos municípios e dis-
tritos”.
Esses e outros
p
aíses — “
p
ro
g
ramas
q
ue
28—
tiveram como principal instrumento as coo-
p
erativas”.
...“as cooperativas podem contribuir para
o desenvolvimento da comunidade en-
sinando o povo as práticas cooperativistas e
ilustrando praticamente seus resultados eco-
nômicos. O desenvolvimento das cooperati-
vas muitas vezes pode preceder ou favore-
cer o desenvolvimento geral da comunida-
de”... “nas zonas rurais, especialmente, as
cooperativas tendem a abarcar pouco a pou-
co diversas atividades que facilitam a crea-
ção de outras cooperativas ou a organiza-
ção de cooperativas com fins multiplos, des-
tinadas a melhorar as condições de vida e
o progresso em geral”. “Em alguns casos,
o princípio da ajuda mútua e da cooperação
se infiltram a tal ponto na totalidade das
atividades de uma comunidade, que tôd
a
a sua vida econômica, cultural e social se
organiza sôbre uma base comunal ou coo-
p
erativa. As pessoas se associam convenci-
das de que a vida cooperativa é a que me-
lhor pode satisfazer seus desejos e aspira-
ções". (Nota: têxto do relatório da ONU)
O que tem sido realizado através do
trabalho em cooperação: — melhorias de
ordem material em inúmeras comunidades
rurais, beneficiando milhares de pessoas:
revelaram os estudos feitos que a
p
opulação
(das comunidades) construiu novas escolas,
estabeleceu hortas comunais perfurou poços
dágua, construiu pontes, reparou e construiu
estradas, construiu banheiros públicos, pro-
moveu o abastecimento dágua para aldeias,
trabalhou no melhoramento e construção de
p
e
q
uenos
p
ôrtos
p
es
q
ueiros
,
construiu ha-
— 29 —
bitações rurais, organizou serviços de assis-
tência médica, construiu hospitais e mater-
nidades, promoveu a eletrificação em áreas
rurais, organizou pequenas indústrias rurais,
organizou cooperativas, promoveu serviços
recreativos e culturais, fomentou a produ-ção
de alimentos, organizou “centros so-ciais",
criou escolas para adultos etc.
modificou o
espírito
da população
conforme está expresso no relatório das
Nações Unidas: “Mais importante do que as
realizações materiais, foi o espírito de soli-
dariedade comunal e o entusiasmo que foi
despertado durante o processo de melhora-
mento da comunidade. Mais do que desejo
ocasional de realizar reformas, (o processo de
organização da comunidade) é um pro-cesso
constante de análise das necessida-
des locais, de planejamento e de ação coor-
denada movida pelo desejo de realizar o bem-
estar geral (
bem comum
)”.
6.
Princípios básicos do trabalho de comunidade.
— Os programas devem atender às
ne
-
cessidades básicas
da comunidade, partindo
das necessidades sentidas pela população
.
— O desenvolvimento da comunidade de-
ve ser
harmônico,
por isso os programas
devem ter
objetivos múltiplos
(programa
integral: vendo os problemas em todos os
setores da vida da comunidade).
— Os programas requerem ação coorde-nada,
em tôdas as esferas (oficial e parti-cular e em
âmbito local, estadual, nacional).
— Os programas devem levar em conta os
fatores
físico, econômico, sociais, cultu
-
rais
e espirituais,
pois todos são interde-
p
endentes
na comunidade.
30 —
— Os programas devem ter a participa-
ção ativa da comunidade (pessoas, grupos,
instituições), em tôdas as fases do trabalho:
no estudo do meio (dos problemas), no pla-
nejamento da ação e na execução (do pla-
no traçado).
— Os programas, devem respeitar as ca-
racterísticas e valores próprios da comuni-
dade (cada comunidade é diferente da ou-
tra).
— Os programas devem procurar reali-
zar o fortalecimento da vida comunitária,
através o fortalecimento da família, dos
grupos, das instituições e do govêrno local.
— Os programas devem reconhecer que as
mudanças de atitude da população são
mais importantes que as realizações de or-
dem material. O elemento humano é o que
há de mais importante numa comunidade.
Métodos e técnicas usados no trabalho comuni-
tário.
Os princípios acima informam os métodos
e técnicas utilizados no trabalho comunal.
Um dos métodos mais indicados é o de
"organização social da comunidade", utilizado pe-
los profissionais de Serviço Social (Assisten-
tes sociais) e por outros profissionais que se
dedicam ao trabalho de comunidade.
Èsses técnicos (de diferentes especialida-
des, conforme as exigências do programa)
trabalham em equipe, juntamente com os re-
p
resentantes da comunidade (líderes naturais
ou líderes funcionais).
A equipe é flexível na sua composição (con-
forme as necessidades do trabalho); e a du-
ração da sua permanência na comunidade é
variável (de acôrdo com cada comunidade).
— 31—
p
ois o objetivo do trabalho é que a comuni-
dade, com o tempo, venha a se tornar auto-
suficiente quanto possível.
As técnicas mais utilizadas no trabalho, são:
pesquisa Social — inquéritos, para: co-
nhecimento do meio, estudo dos pro-
blemas e suas causas; conhecimento
dos recursos atuais e potenciais da
comunidade;
— reuniões de todos os tipos: assem-
bléias públicas
grupos de estudo
grupos de debate etc
— entrevistas: individuais e coletivas
— campanhas: bem planejadas e bem
conduzidas
— trabalho em equipe, quer de técnicos,
quer de líderes
comissões ou comités de trabalho (com
responsabilidades definidas)
— divulgação e interpretação (através
de auxílios audio-visuais e outros mei-
os)
— avaliação (análise de trabalho para
verificação de resultados) Alguns ins-
trumentos usados no trbalhos:
— centros sociais da comunidade
— missões rurais
— associações-cooperativas - clubes – mú-
tuas.
— conselhos comunais — conselhos de o-
b
ras sociais etc
"O COOPERATIVISMO NO BRASIL"
Dr. Roberto Bezerra de Menezes,
ge-rente do Carteiro de Credito
Coope-rativo do Banco do Nordeste
do Bra-sil, em Fortaleza, Ceará.
Duas palavras
Atendendo ao honroso convite formu-
lado ao Banco do Nordeste, pelo Exmo. Sr.
Arcebispo de Natal, para que viessemos
p
articipar desta magnífica Semana Regio-
nal de Estudo sôbre o “Cooperativismo e
a
Comunidade", é com satisfação que em-
p
restamos a nossa modesta contribuição e
tão importante conclave, na esperança de
que, iluminados pelas bençãos divinas, pos-
samos pronunciar algumas palavras sôbre o
cooperativismo no Brasil, capazes de in-
fundir no espírito do seleto auditório maior dose
de fé e esperança na doutrina dos
inesquecíveis pioneiros de Rochdale.
A doutrina
Antes, porém, do iniciarmos o assun-
to a que está subordinado o têma da nossa
p
alestra, convém dizer algumas palavras
sôbre o fundamento da doutrina cooperati-
vista, para que se possa melhor apreciar os
diversos aspectos de ordem prática do sis-
tema.
Existe, realmente, uma doutrina coope-
rativista?
A esta pergunta responde-nos, o sau-
MNN
E 15
BR 5800219
34 —
doso militante do movimento nacional, Adol-
fo Gredilha, de modo afirmativo e peremptó-
rio, assim como outras figuras de conceito
internacional nas esferas cooperativistas.
Se uma doutrina consubstancia-se pelo
“conjunto dos dogmas ou princípios em que
se baseia uma crença religiosa, sistema fi-
losófico ou político", o cooperativismo é
doutrina, pois possue um corpo de princí-
p
ios básicos que “constituem o sistema,
a estrutura, os quais devem ser rigorosamen-
te observados na prática.
Ainda na conceituação de Gredilha,
“sob o ponto de vista dinâmico, o coopera-
tivimos é um movimento pacífico de rein-
vindicação social, na ordem econômica, vi-
sando, como finalidade, restabelecer a hie-
rarquia dos valores espirituais e materiais
na sua verdadeira posição, invertidos pelos
abusos do capitalismo e pelo materialismo
histórico”.
No cooperativismo distinguimos, pois,
dois elementos fundamentais:
o social
e o
econômico.
Ambos, como esclarece Rosendo Rojas
Coria, dão as sociedades cooperativas ca-
racterísticas próprias,
sui gêneris
, vez que
nenhuma outra espécie de entidade os apresenta
conjugadamente em sua estrutura orgânica.
Podemos, dizer então, que o coopera-
tivismo é “um movimento social”, porque
liga os interêsses particulares com os d
a
coletividade associada; o fim da socieda-
de está condicionado aos interêsse social, e,
ao combido aos interêsse particulares com
os da massa
q
ue con
g
re
g
a
,
nada mais faz
—35
senão atender a idéia de bem estar coletivo que
a inspirou.
O outro elemento — o econômico — ca-
racteriza êsse tipo de emprêsa como enti-
dade que funciona com finalidade econômi-
ca, qual seja a de “procurar o bem esta
r
econômico dos que a integram e dela de-
p
endem.
A conjugação dêsses dois elementos
O social e o econômico — torna a coopera-
tiva uma espécie de entidade diferente, sui
g
êneris, como ficou demonstrado anterior-
mente.
Princípios Fundamentais da doutrina
O cooperativismo, segundo o pensa-
mento do grande escritor e jornalista cató-
lico Antonio Felício dos Santos, já falecido,
“é o Evangelho em ação” no terreno d
a
economia social.
“Como evangelho, como doutrina, tem
os seus dogmas, contra os quais é grave
falta desobedecer-lhe”.
Esses princípios, que dão forma e espí-
rito à doutrina, podem ser assim resumidos
I — Adesão livre
II — Contrôle democratico
III— Devolução dos excedentes
IV— Juros limitado ao capital
V— Neutralidade política e religiosa
VI— Vendas a dinheiro
VII— Fomento de educação
Pelo que acabamos de esclarecer, fica
evidenciado, por conseguinte, que a prática
do sistema cooperativo não pode ser exer-
cida com equilíbrio e bem senso se igno-
rarmos a ideia, a doutrina, que faz do mo-
vimento “uma a
ç
ão consciente”.
—36 —
Como bem afirmou Mladenatz, a dou-
trina deve representar para o cooperador
uma espécie de farol que ilumina o cami-
nho e o orienta com segurança em tôda a jornada
percorrida.
“A violação desses princípios funda-mentais,
conciderados verdadeiros dogmas de fé é erro de
funestas consequencias. A experiencia universal, é a
propria prática no Brasil, assim o tem
demonstrado. Os de-sastres de alguns
empreendimentos coope-rativistas brasileiros devem-
se sempre a vio-lação dêsses dogmas, menospresados
por certos dirigentes de cooperativas”.
4 — Origens históricas do cooperativismo no Brasil
Feitas estas digressões, passamos ago- ra a
focalizar as origens históricas desse movimento no
Brasil.
Dizem os entidos que o cooperativismo megulha
raizes na noite dos tempos pois em tôdas as épocas da
vida da humanidade se encontram formas de
economias coletivas que se aproximam mais ou
menos da fór- mula cooperativa.”
Se particularizarmos o caso ao Brasil,
constataremos, também, não ser muito fácil
encontrarmos o marco que assinalou o pon- to de
partida dêsse movimento no nosso país, embora,
como veremos mais adiante, o seu
desenvolvimento, entre nós, mais ou menos ordenado,
data do ano do 1932, quan- do da promulgação do
decreto 22.239, esta-
b
elecendo orientação oficial e
disciplinando a prática do sistema.
Os historiadores, entretanto, costumam afirmar que
as primeiras cooperativas nas-ceram, no Brasil, em
1902
,
com o a
p
areci-
—37
mento das caixas rurais tipo Raiffeisen, no
Rio Grande do Sul, por iniciativa do padre
j
esuíta Teodoro Amstad.
Mas se acompanharmos as pesquisas
feitas nêste terreno pelo eminente mestre
Fábio Luz Filho, incansavel batalhador do
nosso movimento cooperativista e técnico
do conceito internacional, teremos então de
recuar consideravelmente, e, por assim di-
zer, mergulhar raizes na noite dos tempos.
Assinala Fábio que, anteriormente a
1902, ou seja em 1894, há notícia da funda-
ção de uma cooperativa de consumo na ci-
dade de Camaragibe, Estado de Pernambuco,
p
or iniciativa do Sr. Carlos Alberto de Me-
nezes.
Acontece, porém, que “outro marco
p
ioneiro se situa no ano de 1889, quando o
agônomo itailano Giovenni Rossi fixou e
m
Palmeira, no Paraná, sua colônia base coo-
p
erativa; marcou-a com acentuada influên-
cias das idéias do socialismo liberatório, colônia
que desapareceu em 1894 ”.
Recuando, ainda, algumas dezenas de
anos, Fábio Luz diz que historicamente,
o movimento se pode situar em 1847, quando o
médico francês, Jean Maurice Faivre, sob o
afluxo das idéias fourieristas, fundou, com
um grupo de europeus, nos sertões do atual
Estado do Paraná, uma colônia de base coo-
p
erativa denominada Teresa Cristina, desa-
p
arecida logo depois com a sua morte".
Mas, não satisfeito com essas pesquisas
de natureza histórica, o nosso querido
Fábio vai muito longe nas suas indagações, pois
faltou-lhe pouco para atingir a era do próprio
descobrimento do Brasil...
—38 —
De recuo em recuo êle alcaçou os pri-meiros anos do
século XVII, ao constatar que diversos históriadores
“atribuem aos padres jesuítas, lá pelo ano de 1610,
em Guaíra e Vila Rica, colônias de indígenas com
orientação cooperativa, o que foi repe-tido nas demais
reduções jesuíticas, inclu- sive no Paraguai, até que o
reacionarismo e interesses coloniais luso-
espanhóis esma-garam promissoras realizações de
modo san-grento e desumano”.
5 — Três fases históricas
Encerradas estas considerações do or-dem cronológica, é
possível, agora estabe-lecermos, para melhor orientação
de natu- reza sistemátima a divisão da história do
cooperativismo no Brasil, em três fases dis-tintas:
a) — anterior a 1902
b) — 1902 a 1932
c)— 1932 até os dias atuais.
A primeira fase já comentada anterior-mente, não te
m
nenhuma importancia fun-damental, a não ser como
fornecedora de subsídio para a história do nosso
movimento.
A segunda, fixa a influência da imi-gração de colonos
estrangeiros nos Estados do Sul, principalmente alemães
e italianos, com tradição cooperativista.
A partir de 1902, como já esclarece-
mos, foram fundadas, no Rio Grande do Sul, as primeiras
Cooperativas de crédito, as co-nhecidas caixas rurais
Raiffeisen, de res-ponsabilidade ilimitada.
O Pe. Amstad iniciou seu movimento com a fundação,
na
q
uele ano
,
da Caixa Ru-
39
ral de Nova Petropolis, prosseguindo a cam-
p
anha de organização e outras instituições
do mesmo tipo de diferentes núcleos colo-
niais, até o ano de 1907. A partir daí e por
espaço de seis anos, Amstad não tratou de
fundar novas entidades sim de consolida
r
as existentes, para, dêsse modo garantir o
completo êxito do seu movimento.
Na realidade pode-se afirmar que a ini-
ciativa do saudoso jesuíta constitui, até hoje
a
melhor experiencia cooperativa realizada
no Brasil, “graças ao contingente de ho-
mens já educados neste mister, como era os
imigrantes alemães, em cujas colônias se
desenvolveram as primeiras Caixas Rai-
ffeisen.
De acôrdo com os dados no relatório
da Central das Caixas Rurais, do Rio Gran-
de do Sul, referente ao exercício de 1955,
as 54 entidades filiadas contavam com 34.
354 associados, tendo realizado emprestimos
no valor de Cr$ 275.035.655,30.
O interessante, é que, não possuindo
capital social por força da sua estruturação
orgânica, baseada na responsabilidade ili-
mitada dos associados, essas 54 caixas ru-
rais possuiam, em 1955, garantias estimati-
vas equivalentes a Cr$ 1.707.823,00.
Ainda no Rio Grande do Sul foram or-
ganizadas mais algumas cooperativas de
diferentes tipos, merecendo destaque especial
a Cooperativa de Consumo da Viação Fér-
rea do Rio Grande do Sul, constituida em
1911, por iniciativa de Manoel Ribas, atual-
mente com mais de 30 mil associados e com
40 —
um movimento de vendas superior a 200
milhões de cruzeiros.
Outro grande pioneiro do movimento
cooperativista gaucho foi sem dúvida o agrô-
nomo Destefano Paternó, que ainda em 1911
desenvolveu, naquele Estado, intensiva pro-
p
aganda do sistema, tendo criado diversão
cooperativas agrícolas nas colônias italianas.
“Orador de grandes recursos, possui-
dor da palavra facil e conviniente, e utili-
zando-se do próprio idioma falado pelas po-
p
ulações que colonizaram a região nordes-
te do Estado, Paternó, auxiliado pelo tenico
Sílvio Rangel, conseguiu empolgar de ma-
neira surpreendente os núcleos escolhidos
p
ara a experimentação do sistema.
Como resultado dessa campanha, varias
dezenas de cooperativas foram organizadas nos
municípios de Caixas do Sul, Garibaldi,
Bento Gonçalves, Guaporé, Antonio Prado
e Veranopolis e tambem em Vila Nova no
município do Pôrto Alegre.
As sociedades organizadas tinham po
r
obgetivo a defesa da produção vinícola, a
instalação da industria de lactinios, a trans-
formação de produtos suinos, a fabricação
de embutidos e frescais e a venda coletiv
a
de frutas e cereais.
Infelizmente as cooperativas constituí-
das naquele periódo, tiveram curta existên-
cia. Muitas delas desapareseram antes de se
haver cumprido o programa da propaganda.
O desmoronamento que se seguiu foi de
ruinosas consequencias para a evolução
cooperativista no R. G. do Sul.
São apontadas diversas causas como
res
p
onsáveis
p
elo fracasso da cam
p
anha Pa-
— 41
ternó, podendo destacar-se, entre elas, “o
desconhecimento da técnica de funciona-
mento das instituições cooperativistas e
a
rapidez imprimida na sua campanha, com o
intuito de demonstrar eficiencia às autori-
dades que o haviam contratado.
Em Minas Gerais temos a assinalar, em
1907, o “movimento João Pinheiro”, objeti-
vando a fundação de cooperativas dos plan-
tadores de café e de lacticínios.
Quanto aos demais Estados do Brasil,
não há, para essa segunda fase do desen-
volvimento do cooperativismo nacional, da-
dos mais positivos, embora seja certo que
em quase todos eles foram fundadas coope-
rativas de diversos tipos, cuja maioria de-
sapareceu sem deixar o menor vestígio.
O certo é que nessa segunda fase, em-
bora com maior concentração nos Estados
sulinos, foram fundadas no Brasil mais de
200 cooperativas de diversos tipos, sendo
que, conforme assinala Valdiki Moura no
seu livro “Notícia do Cooperativismo Brasi-
leiro”, entre 1911 e 1926 organizaram-se 57
sociedades e entre 1927 e 1932, mais de 145
entidades.
Nos últimos anos dessa segunda fase,
p
recisamente a partir de 1926, quando n
a
p
romulgação da Lei 17.339, regulando a fisca-
lização dos Bancos Luzzatti e das Caixas
Raiffeisen, começou-se a esboçar os contor-
nos de uma campanha melhor organizada do
movimento Cooperativista brasileiro, de
de iniciativa dos poderes públicos.
Êsse trabalho foi levado a efeito pel
a
Seção de Crédito Agrícola, do Ministério da
A
g
ricultura
,
a
q
uela é
p
oca chefiada
p
or essa
42 —
figura de apóstolo que é Fábio Luz Filho e
com a colaboração de outros incansáveis
b
atalhadores, como Adolfo Gredilha, José
Saturnino Brito, Sarandi Raposo e Antonio
Arruda Câmara.
As Inspetorias Agrícolas, instaladas nos di-
versos Estados do Brasil. — informa-nos Fá-
bio Luz — prestaram colaboração excelen-
te, como orgaõs orientadores dessa cam-
p
anha.
“Na Paraíba teve destacada atuação o
então inspetor agrícola. Sr. Diogenes Cal-
das; em Alagoas os Srs. Evaristo Leitão,
João Palmeira e Otávio Caldas; em Pernam-
b
oco, o Sr. Raimundo Fernandes e Silva e
no Rio Grande do Sul os Srs. Paulo M. Mon-
teiro de Barros e Luís Gomes de Freitas,
dentre alguns outros”.
O saudoso Paulo Monteiro de Barros,
quem tivemos a honra de conhecer pes-
soalmente e contar com a sua amizade sin-
cera, “teve o mérito que ninguem lhe pode
negar, após o interregno do estagnação que
se seguiu a propaganda Paternó, fazer re-
surgir, restruturado, em 1929, o cooperati-
vismo agrícola de transformação no Rio
Grande do Sul”.
Essas, em linhas gerais, as principais
ocorrências relacionadas com o movimento
cooperativista brasileiro durante a sua se-
gunda fase histórica, de acordo com divisão
cronológica por uso formulada.
A terceira fase, que se extende desde
1932 nos dias atuais, é a do cooperativismo
moderno, ortodoxo rochdaleano, já discipli-
ciplinado mais ou menos pela orientação
oficial e
p
or uma lei or
g
anica — decreto 22.
43
239, com as modificações introduzidas pelo
decreto-lei 581.
Podemos dizer que a partir dessa épo-
ca, e à proporção que eram instalados os
Departamentos Estaduais, a fundação de no-
vas cooperativas no Brasil, quer urbanas
ou rurais, processou-se com grande inten-
sidade, aumentando assim, consideravel-
mente o número dessas sociedades em todo
p
ais.
Em 1933 foi criado, em São Paulo, o
Departamento de Assistencia as Cooperati-
vas, seguindo-se a instalação de orgãos si-
milares no Rio Grande do Sul, Pernambu-
co, Estado do Rio, Bahia e demais Estados
do Brasil os quais, por força, do que estabe-
lece o art. 23 do decreto-lei 591 recebe-
ram delegação de poderes para excução
dos serviços de propaganda doutrinaria, as-
sistencia técnica, fiscalização e organização de
sociedades cooperativas nos seus res-
ctivos territórios.
Como órgão centralizador dessas ativi-
dades, já vinha funcionando na Capital da
República o Serviço de Economia Rural,
subordinado ao Ministério da Agricultura,
embora com outras atribuições, como a de
classificação e fiscalização de produtos agrí-
colas.
Conforme já tivemos oportunidade de
assinalar, em artigo escrito para as revistas
especializadas, entre os anos de 1940/47
houve como uma espécie de inflação no que
se refere à multiplicação de coopearativas
em quase todos os rincões do território pá-
trio.
Estados como São Paulo
,
Rio Grande
— 44 —
do Sul, Minas Gerais, Estado do Rio, Bahia,
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte
e Ceará estabeleceram verdadeira corrida,
procurando cada um atingir a melhor colo-
cação na formação do quadro geral das coo-
perativas brasileiras.
Basta considerar que em 1940 existiam, re-
gistradas no Serviço de Economia Rural,
apenas 942 sociedades de diferentes tipos.
Sete anos depois, ou seja em 1947, êsse to-
tal era triplicado, passando então o Brasil
a constar com 2.716 entidades, agremiando
400.242 associados.
Se em sete anos tivemos a registrar
um aumento de 1 774 cooperativas, já o mes-
mo não ocorreu durante os cincos anos pos-
teriores, pois em 1952 o Brasil possuia um
total de 3.192, ou sejam mais 476 sociedades
que em 1947.
Observou-se, entretanto, um fenômeno muito
interessante; enquanto o aumento de
cooperativas, no quinquênio não foi além
de 18% há a registrar, porem, um acresci-
mo de 80% no quadro geral de associados
o qual passou de 400.242 para 728.025.
Ao encerramos o exercício de 1955 o Brasil já
contava com 3 616 entidades e com um total
de 784.720 cooperados. Vemos as-sim que no
triênio 1953/55 o aumento do número de
cooperativas foi de 424 e o de sócio apenas
56.695.
6
— Causas responsáveis pela instabilidade do movi
-
mento cooperativo.
Feitas essas considerações, procure-mos,
agora, esclarecer porque a rêde coo-perativista
b
rasileira não vem mantendo o
45
mesmo rítmo de crescimento que experi-
mentou durante o periodo de 1940/47.
Entre outros motivos cabe ressaltar o
desaparelhamento da maioria dos órgãos pú-
blicos estaduais encarregados da assistên-
técnica e fiscalização das cooperativas.
Com a instalação do Departamento,
conforme já assinalamos anteriormente, in-
tensificou-se em cada Estado o trabalho de
fundação novas entidades, principalmente
nos meios rurais.
A princípio não foi difícil aos DACs
manter o contrôle dessas instituições, mais,
à proporção que o número ia aumentando
j
á não era mais possível fiscalizá-las cons-
tantemente e prestar-lhes a assistência téc-
nica indispensável, porquanto o quadro de
funcionários especializados e as verbas dis-
p
oníveis para a execução dos serviços per-
maneçam mais ou menos sem sofre
r
alterações.
Acrescente-se, ainda, o fato de não ter
sido coordenado em todo o País, sob a lide-
rança do Serviço de Economia Rural e com
a imprescindível colaboração dos Departa-
tos estaduais, um movimento bém planejado
de educação cooperativista, mediante a rea-
lização de cursos práticos e teóricos, de pa-
lestras, reuniões de grupos, exibições cine-
matográficas, organização de cooperativas
escolares, semanas cooperativistas, etc.
Outro fator prejudial e que serviu para
desagregar muitas cooperativas foi sem dú-
vida a interferência de grupos políticos pre-
dominantes, na maioria das vezes apoiado
p
elos poderes públicos estaduais ou muni-
ci
p
ais
,
p
rinci
p
almente no Nordeste.
46 —
Poderiamos exemplificar citando o caso de
um dos Estados do polígono, cujo movi-
mento cooperativista experimentara, duran-
te os anos de 1942 a 47, grande expansão
e que posteriormente, vítima da ação polí-
tica de um Governador prepotente, fico
u
redusido quase a cinzas.
As cooperativas foram dominadas pe-
los chefetes políticos, diante a ação policia-
lesca, os seus patrimônios, acrescidos ainda
de financiamentos oficiais, foram totalmen-
te dilapidados, com o único objetivo de prepara
r
terreno para as campanhas eleitorais.
O resultado é que, cessada a interfe-
rência do governo nefasto, nunca mais se
conseguiu restabelecer o movimento antigo,
vez que o povo, principalmente as popula-
ções rurais, cujo entusiasmo pelo coopera-
tivismo já se tornara uma realidade, passou
a desacreditar completamente na eficácia
do sistema.
Cooperativismo, para êles, passou a ser
sinônimo de ladroeira, desonestidade, ex-
p
loração política, má fé, etc. Muitos não de-
sejavam mais sequer ouvir essa palavra, fu-
gindo das cooperativas como o cão da cruz.
Outros Estados, embora em menor in-
tensidade, também sofreram a ação nefasta
da interferência política no setor coopera-
tivista.
Quem visita os nossos municípios ser-
tanejos, principalmente os da Paraíba e Per-
nambuco, não encontrará dificuldades em
verificar a existencia, pelos políticos do par-
tido A e a outra pelos do partido B.
O pior é que essas pseudo-cooperati-
vas
,
rene
g
ando totalmente os
p
rincí
p
ios bá-
47
sicos da doutrina rochdaleana, não conse-
guem obter progresso, porque vivem a se
ostilizarem mutuamente e a dividir as suas
forças econômicas, sem nenhum resultado
de ordem prática em benefício das popula-
ções sertanejas.
Também não devemos esquecer a in-
capacidade de muitos gerentes e adminis-
tradores, a deficiencia de capital social, o
p
róprio desenteresse dos associados pela
vida da cooperativa, a desorganização con-
tábil, como causas responsáveis pela para-
lização total ou mesmo a estagnação parcial
das atividades de elevado contingente de
sociedades dessa natureza nos diferentes do
Brasil.
Ora “é preciso que todos se capaci-
tem de que o movimento cooperativista exige
lealdade, dedicação, desinterêsse indivi-
dualista, confiança reciprôca e união de
esforços, e, sobretudo, conhecimento dos
seus princípios básicos”.
Êsses requisitos — indispensáveis para
o sucesso completo do sistema preconizado
p
elos selébres e humildes pioneiros de ro-
chdale só podem ser evidenciados em toda
a sua pleinitude entre populações possuido-
ras de certa mentalidade cooperativista,
o que infelizmente não acontece na maioria
dos Estados da federação, principalmente
onde mais necessitamos a ação cooperativa,
como é o caso do nosso Nordeste.
Éis ai, numa ligeira exposição, a histó-
ria do cooperativismo no Brasil, dêsde as
mais remotas experiencias até os nossos
dias, assim como os motivos que determi-
naram
,
a
p
artir de 1947
,
a verti
g
inosa
q
ue
— 48 —
da do índice médio anual de fundação de
nova sociedades no País.
7 — Bases mínimas para expansão
ordenada do que poderiamos
chamar a quarta etapa do movimento
Os exemplos oferecidos por algumas
centenas de entidades fracaçadas, que não
tiveram a felicidade de contar com adminis-
tradores capazes e honestos e com a per-
manente assistência técnica e orientação
doutrinária dos órgãos públicos expeciali-
zados, coutribuiram para que os dirigentes
dos DACs diminuissem um pouco o entuzi-
asmo dos velhos tempos, enquanto, por ou-
tro lado, serviram também para que os pró-
prios núcleos populacionais perdessem de
certo modo a crença na eficácia do siste-
ma cooperativista.
É evidente que, nas circunstancias atuais,
a solução do problema não estar na inten-
sificação de um programa para a fundação
de novas cooperativas, mas, ao contrário
disto, o que nos parece mais acertado se-
ria a organização, por parte dos Departa-
mentos Estaduais, de um plano serio visan-
do o expurgo de todas aquelas entidades
com avidades paralizadas, cuja situação so-
cial — econômica — financeira demonstre
claramente a impossibilidade de uma
recuperação tatal, capaz de honrar
condignamente as fileiras do nosso
movimento.
Isto seria o ponto de partida para exe-cução
de um plano de maior vulto e objeti-vidade,
cujos fundamentos básicos poderiam ser
assim resumidos:
a) aprovação, pela Camâra Federal da
cria
ç
ão do De
p
artamento Na-
— 49
cional de Cooperativismo, nos mol-
des previstos pelo projeto de re-
forma da nossa legislação especi-
fica, desde 1947 engavetada, como
matéria de somenos importância,
nos arquivos do Palácio Tiraden-
tes;
b) restruturação e aparelhamento dos
Departamentos Estaduais de Coo-
perativismo, os quais passariam a
dispor de verbas e pessoal técni-
co suficientes para a movimenta-
ção de um plano de expansão ra-
cional e progressivo do sistem
a
em cada uma das Unidades da Fe-
deração;
c) lançamento, em todo o território
nacional, de uma campanha de
educação cooperativa, capaz de
despertar nas massas populacio-
nais um verdadeiro espírito que
norteia a doutrina rochdaleana em
que constitui a base para a orga-
nização economica e social do sis-
tema;
d) articulação, entre os DACs e os
Banco Nacional de Crédito Coo-
perativo, Banco do Brasil e Ban-
co do Nordeste, com o objetivo de
intensificar, com maior segu-
rança e oportunidade, o financea-
mento das cooperativas rurais, vez
que já está provado serem estas
instituições o melhor veículo para se
fazer chegar ao homem do cam-
po o crédito indispensável ao de-
senvolvimento da
p
rodu
ç
ão a
g
ro-
— 50 —
pecuária e, por conseguinte, a ex-
pansão da economia nacional;
Com a coordenação e execução das medidas
aqui explanadas, não temos a me-
nor dúvida de que o movimento cooperati-
vista brasileiro entraria numa nova fase
evolutiva — que poderiamos chamar a quar-
ta etapa do seu desenvolvimento — caracte-
rizada não só pela bôa organização e au-
mento progressivo do número de entidades,
como também pela expansão das suas ati-
vidades de natureza econômica e social.
8 — Sentimos a necessidade de reagir
O certo é que já não é mais possível, a esse
movimento, continuar sua marcha de-
sarticulada, sem unidade de pensamento e de
ação, como vem acontecendo nos dias atuais.
Todos nós sentimos a necessidade de reagir,
de chamar a atenção dos poderes públicos,
legislativo, e executivo, para a si-tuação que
atravessa o cooperativismo na-cional. Devemos
exigir dessas autoridades a aprovação e
execução de medidas que assegurem a mais
ampla expansão desse sistema social e
economico em todo o País.
Ou tomamos uma atitude firme e deci-dida ou
então — ninguem se iluda — dentro de pouco
tempo teremos o despraser de presenciar,
constrangidos, nações da Amé-
rica do Sul, com menos possibilidades do
que a nossa, levantar bem alto a bandeira
da liderança do movimento nesta parte do
Continente, como aliás já vem acontecendo
de certo modo com relação à Argentina.
Venezuela, Colombia, Chile e Uruguai, muito
embora todas elas, reunidas, não contem,
com um total de cooperativas igual ao que
p
ossuimos.
51
Acontece, entretanto, que nêsses paises
o que predomina é a
qualidade
de suas
ins-tituições e não quantidade, assim como
a organização e a potencialidade das
coope-rativas, cujos associados estão mais
educa- dos para a prática consciente do
sistema do que os nossos.
9 — Falhas e soluções aconselháveis
Perdoí-nos o seleto auditório po
r
ter usado, nesta palestra, para pintar o
quadro cooperativista brasileiro, tintas
escuras por-que não dizer mesmo negras,
quando seria mais agradavel a visão ao
espirito de todos nós as tonalidades róseas
misturadas com o azul do céu e o
verde esperança.
Mas, minhas senhoras e meus senho-
res, embora a bandeira da cooperação sim-
bolize as cores do arco-iris, como uma de-
monstração de unidade de perfeita harmo-
nia entre contrastes tão evidentes como os
apresentado pelas diferentes raças e povos
do mundo, os que professam a doutrina
coo-perativista, êste “evangelho em ação",
no dizer de Felício dos Santos, não
podem usar outra linguagem senão aquela
que traduz a realidade dos fatos
concretos.
Apontamos as falhas do nosso movi-
mento e apresentamos como uma modest
a
contribuição Regional de Estudos
sôbre Cooperativismo e a comunidade, ini-
ciativa das mais felizes que está sendo le-
vada a efeito em Natal pelo Secretariado
da Ação Social, as bases para a coordena-
ção e execução de um prograrna de traba-
lho capaz de fazer com que o movimento
coo
p
erativista brasileiro entre numa nova
— 52 —
fase evolutiva, caracterizada pela boa orga-
nização de suas entidades e pelo maior pro-
gresso econômico e social.
O que pretendemos com isto é definir
responsabilidade e ao mesmo tempo concla-
mar os homens de boa vontade afim de que,
irmanados pelo ideal que inspirou os pio-
neiros de Rochdale, preparemos o terreno para
que na nossa pátria a semente da coo-
peração germine e se desenvolva com
a
mesma intensidade e potencia alcançada
noutros paises, onde os seus frutos, bem sa-
zonados, têm contribuido para melhorar as
condições de vida das populações menos
favorecidas.
10
Considerações finais
Como bem afirmou o conhecido econo-mista
português Enrique de Barros, “proble- mas a
resolver não falta aos dirigentes da cooperação
no Brasil. Defeitos, êrros, falhas, desvios
abundam no seio do movimento. De tal
circunstância são, no entanto, os primeiros a te
r
lúcido conhecimento, êsses mesmos dirigentes.
E isto é, afinal o que importa: é sempre
remediavel o mal, quando se conheça o
diagnóstico, se não ignore a terapêutica e se
esteja disposto a aplica-la: Ora, a clarez
a
mental, a ciência cooperativa e a coragem são,
certamente, qualidades que não escasseiam às
grandes figuras do movimento no . Brasil.”
Finalizando estas palavras, desejamos,
contudo, lembrar ao seleto auditório est
a
verdade: “a causa cooperativista, no meio
das dores e incertezas dos dias sombrios que
atravessamos, representa a melhor esperan-
ç
a de reden
ç
ão
p
ara o homem de amanhã”.
AS COOPERATIVAS NO BRASIL, FACE AOS
PRINCIPIOS DE ROCHDALE
DR. RIVALDO PINHEIRO
Senhores:
Minha presença aqui, neste momento, re-
quer uma explicação inicial. Tenho me tornado
um tanto cético com o movimento cooperatívo
no Rio Grande do Norte. Tenho transmitído esse
ceticismo a alguns companheiros, àqueles com
as quais mais frequentemente discuto sobre esse
movimento. Em resumo: participo inteiramente
de opinião ante-ontem aqui externada pelo Dr.
Oto Guerra, quanto às graves falhas do coope-
rativismo no Estado.
Êste se desenvolve, via de regra, compul-
soriamente. E cada dia representa mais fielmen-
te, nas diversas sociedades, o domínio de gru-
p
os, políticos ou econômicos, sobre as insti
t
ui-
ções cuja fundação ínspiram, com prévios e
determinados objetivos pessoais. As Assembléias
não têm vivacidade, não demonstram interesse
dos associados pela sua cooperativa, não refle-
tem o mínimo grau de compreensão e esclareci-
mento por parte deles quanto aos objetivos dela,
seus principios, suas possibilidades.
Nos municípios do interior, o “coronel” ou
o chefe político, para ter a “sua” cooperativa
como atestado de influência no meio local, fun-
da-a, subscrevendo o máximo de quotas-partes
p
ossivel e levando o grupo dos seus parentes,
MNN
E 15
BR5800220
54 —
amigos e dependentes a subscreve-las tambem, e
com depósito seus e do mesmo grupo inicia um
incipiente movimento de operações que quanto
mais aumenta, mais se desvirtúa. E o seu domi-
nío cresce, na proporção do desinteresse dos só-
cios, inteiramente destituidos de esclarecimentos
elementares sobre o cooperativismo e dia a dia
mais desiludidos com aquela experiência.
E’ clara que a regra tem exceções. E com
o ceticismo que me inibe, desejo que todos se
sintam incluídos nas exceções...
Tambem não posso deixar de salientar a
conduta indefectivelmente honesta, esclarecida
e criteriosa do Sr. Juvino dos Anjos, diretor da
Divisão do Cooperativismo, à qual está afeto o
movimento. Ás Assembléias a que comparece
p
rocura insístentemente imprimir o carater de-
mocratico de que se devem revestir aproveitan-
do todas as oportunidades para uma necessária
e correta doutrinação. Mas, se isto não é cho-
vêr no molhado, como antes seria preferivel, é,
infelizmente, pregar no deserto, pela atitude rara
e isolada due representa, pela falta de contínui-
dade dessa rnelancólica pregação.
Vejamos um exemplo de como se processa
o movimento cooperativista no Rio Grande do
N
orte. A 8/11/1947 o saudoso Prof. Francisco
Veras, a quem Juvino dos Anjos substituiu mais
tarde na chefia daquela Divisão, mandou-me,
com um cartão agora reencontrado entre velhos
p
apéis de arquivo, um recorte do “Diário de No-
ticias”, do Rio, contendo tópico em que se exal-
ta o Ri o Grande do Norte, pela iniciativa que aqui
se tivera, de fundar a Centro de Estudos
Cooperativos, efetivamente fundado em Natal,
mas só dois anos depois... Êsse Centro, que ja-
mais viveu
,
“ressucitou”
,
sete anos mais tarde
,
— 55
quando de visita ha alguns mêses realizada a
esta capital pelo Dr. Valdiki Moura.
Respondendo a um oficio do Sr. Diretor do
Departamento de Assistência ao Cooperativismo
de São Paulo, referente ao 2º. Congresso Nacio-
nal de Cooperativismo, dizia Juvino dos Anjos
em 6/7/1948:
“No Brasil, a palavra Congresso vai
caindo no descrédito e resvalando para a
pilhéris, pela falta de conclusões práticas,
ou falta de aplicação prática das
conclusões aprovadas”.
Não obstante a admiração e o respeito que
me inspiram o dinamismo e a visão de Dom José
de Medeiros Delegado e de Dom Eugênio Sales,
não posso deixar de confessar que participo da-
quele ponto de vista de Juvino dos Anjos, quan-
to aos efeitos desta reunião. Estamos pregando
p
a
r
a nós próprios, que, é de se presumir, já
p
ossuimos, em grau maior ou menor, a compre-
ensão do movimento cooperativo. Precisamos, se
queremos efetivamente modificar a extrutura eco-
nômica desta terra através do cooperativismo,
p
rega-lo aos associados das cooperativas, para
que possam, esclarecidos, convertê-las em ins-
trumentos dessa transformação; prega-lo aos es-
tudantes e às massas obreiras e aos trabalhado-
res rurais, para que se exercitem nele e reali-
zem, afinal, o ideal de emancipação econômica
dos respectivos grupos, e deixem de refletir no
século XX aquela situação ha mais de cem anos
abservada por Owen:
“Eu tenho observado, —dizia ele, — co
m
quanto cuidado são tratadas as máquinas
inertes, e com quanta negligência e desprê-
zo as má
q
uinas vivas”.
56 —
Certa vez, empolgado pela idéia da funda-
ção de uma cooperativa de plantadôres de algo-
dão no Rio Grande do Norte, através da qual
p
odessem os pequenos produtores libertar se da
tremenda tutela econômica que secularmente os
oprime, transmiti-a a a um político local em exce-
lente situação para patrocina-la, por tradição de
familia e pela radicação à vida rural e ao co-
mércio algodoeiro. Mas, os políticos, ordinaria-
mente, procuram mostrar-se mais práticos do que,
muitas vezes, o são, e aquele repetiu a idéia, po
r
não confiar no êxito o na eficácia do coopera-
tivismo...
Mas, afinal, se sou cético com o movimento
cooperativo no Rio Grande do Norte, contraria-
mente àquele político não o sou com o cooperati-
vismo. Por isto, concordei em tomar parte nos
trabalhos desta reunião, ainda mesmo para falar
sobre tema que previamente se me impunha...
A vida universal e uma constante articula-
ção de forças. Quando essas fôrças se desarti-
culam, dá-se a catástrofe. É o que se verifica
em tudo, a partir do átomo, cuja desintegração,
p
rovocada pela violenta desarticulação das for-
ças que sustentam os seus elementos, demonstra
muito bem o poder extraordinário das mesmas.
A tendencia universal é, pois, no sentido da as-
sociação, da organização, através da qual, em
todo, se obtem melhor e maior rendimento e se
reforçam os meios de defêsa individual, pela
maior preservação do conjunto.
Cooperação não quer dizer, precisamente,
associação, mas a associação pode ser compre-
endida coma uma forma primitiva de auxílio mú-
tuo de cooperação. A cooperação é própria dos
individuos associados no mesmo grupo. De qual-
q
uer modo
,
re
p
resenta uma temência natural dos
57
individuos, observada até mesmo entre os sêres
irracionais.
A sua aplicação na ordem social e econô-
mica tem um alcance extraordinário e claramen-
te visivel nas sociedades humanas, necessaria-
mente desequilibradas pelo individualismo. O li-
b
eralismo dos século XVIII XIX permitiu que,
em seu nome se agravasse consideravelmente
o problema da distribuição da riqueza no mundo.
Esta, com o aperfeiçoamento dos meios de pro-
dução veio a se concentrar espantosamente nas
mãos de alguns. E dessa concentração resultou,
inevitavel, uma extensão cada vez maior da po-
b
reza. Com a expansão da indústria, no século
p
assado, cidades vieram a conhecer as grandes
concentrações operárias. E é da observação das
necessidades e sofrimentos destas coletividades
que surgem, afinal, os precursôres do Coopera-
tivismo.
Antes de Campanella, na Itália, de Robert
Owen e William King, na Inglaterra, de Charles
Fourier e Louis Balnc, na França, Morus, com
a sua célebre obra “Utopia”, inspirara, no sécu-
lo XVI, os teoristas e reformadores daquela épo-
ca, que agitaram problemas sociais, combateram
injustiças e indicaram soluções.
Mas, segundo salienta Paulo Onofrio, “o pri-
meiro a compreender o verdadeiro sentido da re-
volução industrial foi o socialista Robert Owen”,
que, “revelando sempre uma humana compreen-
são das realidades do seu tempo, especialmente
no que se referia sorte dos trabalhadores, con-
tribuiu com a sua propaganda para a fundação
de sociedades do consumo e outras de assistên-
cia social, influindo no melhoramento do nivel de
vida da classe o
p
erária. Data dessa é
p
oca o em-
58—
p
rêgo da expressão
Cooperativa
para designa
r
os armazens de consumo”.
Entretanto, alguns autôres atribuem a Wil-
liam King o título de “pai” da cooperação mo-
derna, talvez pelo fato de ter sido o fundador da
p
rimeira cooperativa de consumo, em 1827, na
cidade de Brighton.
A Fourier se deve a idéia dos
falanstérios
,
“células que visavam dar um novo sentido à pro-
dução e utilização da propriedade”, sob as quais
imaginou a organização geral da sociedade.
Só em 1843 é que seriam dados os premei-
ros passos para a fundação da famosa sociedade
de Rochdale. Premidos por necessidades de toda
ordem, os tecelões daquela cidade inglêsa come-
çaram a estudar um meio prático de luta contra
as angústias financeiras e a miséria que os ator-
mentavam. E afinal, em 21 de dezembro de 1844,
fundava-se a Cooperativa, com 28 associados e
o capital de 28 libras, que correspondia a uma
libra de cada um.
Provavelmente nunca se tinha visto antes
tanta pobreza tão pretensiosa! Com efeito, entre
os seus “projetos”, que hoje chamariamos “obje-
tivos sociais”, estavam incluídos:
a) abrir um armazem para a venda da gê-
neros alimentícios, roupas, etc;
b) comprar ou construir casas para os mem-
bros que desejarem ajudar-se mutuamente, com
o fim de melharar o seu próprio estado domés-
tico e social;
c) iniciar a fabricação dos artigos que a
sociedade julgar convenientes para proporcionar
trabalho aos membros que não tiverem ocupação
ou que estiverem sujeitos a continuas reduções e
m
seus salários;
d
)
ad
q
uirir ou arrendar cam
p
os
p
ara serern
59
cultivados pelos membros desocupados ou por
aqueles cujo trabalho não receba a devida remu-
neração.
E ainda este espantoso “projeto”.
“Logo que seja possivel, a
sociedade procederá à organização das
fõrças da pro- dução, da distribuição,
da educação e do seu próprio governo;
ou, em outros têrmos, estabelecerá uma
colônia autônoma, na qual os interesses
serão solidarizados”.
Os denominados Princípios de Rachdale
não constituiram objeto de proclamação especial.
Eles ficaram esparsos na ata da fundação ou nos
Es-tatutos da sociedade, ou ainda implicitos em
nor-mas de conduta por ela adotadas. Diante da
ex-pansão extraordinária do Cooperativismo, de
que Rochdale foi, inquestionavelmente, a pedra
fun-damental, pela sua continuidade e pelos
p
rincí- pios a que se subordinou
invariavelmente, pre-tendeu o Congresso da
Aliança cooperativa In-ternacional, reunido em
Viena, em 1930, verifi- car se eram aqueles
p
rincípios aplicados inte-gralmente pelas
cooperativas de todos os países. A Aliança
designou então um Comité Especial para
p
roceder a inquérito nesse sentido e aprese- sentar
conclusões, o que foi feito por ocasião do
Congresso que se realizou em Paris, em 1937.
Assim se expressou o Comité:
“Depois de um profundo exame dos
fatos à sua disposição, o Comité Especial
achou que os seguintes séte pontos podem se
r
considerados, em seu aspécto histórico,
como os princípios essenciais de Rochdale
e como características do sistema autôno-
mo fundado pelos Pioneiros, para cada um dos
quais podem encontrar-se os elementos
j
ustificativos na constitui
ç
ão
,
nos estatutos
60 —
e na prática da cooperativa fundida em
Rochdale em 1844:
1.º) adesão livre;
2.º) contrôle democratico (um sócio,
um voto);
3.º) devolução proporcional dos exce-
dentes (retôrno);
4.º) juro limitado no capital;
5.º) neutralidade política e religiosa;
6.º) venda a dinheiro à vista;
7.º) fomento do ensino”.
Norteando por esses princípios, é o Coope-
rativismo, na opinião de Paulo Osório (“Páginas
de Iniciação Cooperativista”, edição da Secreta-
ria da Agricultura, lndústria e Comércio, Porto
Alegre, Rio Grande do Sul, 1949), “verdadeiro
código de normas morais e econômicas baseadas
no auxílio mútuo”, pretendendo “suprimir os abu-
sos do individualismo, substituindo o por um re-
gime alicerçado no entendimento e no espírito
de cooperação de todas as classes”. E saliente-
se que é ele, segundo Gide, “o único movimen-
to que não custou até hoje uma só gôta de san-
gue à humanidade”.
Nestes cem anos de atividades cooperati-
vas, o movimento cooperativista alcançou um
a
expansão extraordinária em todo o mundo. Ha
hoje países que tem sua extrutura econômic
a
fundada predominantemente no cooperativismo.
Á Aliança Cooperativa Internacional filiava-se,
ha dois anos atrás, cêrca de 120 milhões de
p
essôas, que, entretanto, não representavam, tal-
vez, nem a metade das pessôas associadas ao
movimento cooperativo no mundo.
No Brasil, havia, em junho de 1953, 3.192
cooperativas registradas no Serviço de Economi
a
Rural
,
às
q
uais se associavam mais de 700 mil
61
p
essôas, que subscreviam um capital superior a
1 bilhão de cruzeiros. O Rio Grande do Norte
contava então com 69 cooperativas (hoje quasi
100), que representavam quasi 20 mil associados
e um capital realizado superior a 10 milhões de
cruzeiros.
Vê-se por aí que o movimento, em si pró-
p
rio, tem força para despertar a consciência e o
interesse do pôvo e marchar progressivamente
p
ara exercer uma influencia predominante na
economia nacional. Falta-nos, porem, a base fun-
damental: esclarecimento nacional popular, com-
p
reensão dos princípios e dos objetivos coope-
rativistas. Falta-nos, em suma, como fez ver Val-
diki Moura perante o Centro de Estudos Coope-
rativos do Rio Grande do Sul, em 1948, a indis-
p
ensavel educação cooperativa, que só se pode-
ria alcançar “atravéz de persuasiva campanha
educacional”. E, segundo acrescenta, “temos es-
tudo apenas o limiar da campanha, avançando
tímidos passos em iniciativas que se perdem pe-
la descontinuidade”.
O ensino do Cooperativismo nas escolas-
p
or exemplo, seria passo importante nessa cam-
p
anha educacional. Aqui houve, outrora, uma Ca,
deira de Cooperativismo no Escola de Agrí-
cultura de Jundiaí. Mas, não obstante serem as au-
las ministradas gratuitamente, foi essa cadeira
suprimidas, depois de curta duração.
No Rio Grande do Norte, de tão parcos e
p
recários recursos econômicos, precisamos or-
ganizar uma economia na base da cooperação, que
é o sistema de fortalecimento dos grupps
economicamente fracos. A observação da nossa
vida economica mostra que não podemos espe-
rar da iniciativa, privada empreendida sob a pura
influência do individualismo o mila
g
re da reden-
62 —
ção, de que tanto se fala. Mas, é inegavel, con-
forme mostram exemplos como o da Central de
Crédito, dos Salicultôres e outros, que muito te-
mos a esperar da reunião dos grupos sociais em
tôrno de cooperativas que lhes reunam as pe-
quenas forças dispersas para a consecussão de
objetivos comuns.
Ha, no setor cooperativista, grandiosas e
importantes tarefas a realizar notadamente no
Rio Grande do Norte. O terreno é propício e para
que nele brote e se desenvolva sadiamente a
p
lanta redentora faz-se necessaria apenas uma
ampla, bem norteada e objetiva campanha edu-
cacional, pois, como dizia Goethe, na evocação
de Valdki Moura, “ninguem possúe o que não
compreende”.
O pôvo não poderá jamais compreender
o
salutares e práticos princípios de Rochdale atr
vés do cooperativismo praticado em nossa ter
r
cooperativismo que se faz compulsoriamente, p
ra proveito de pequenos grupos, cujo maior e
fôrço é, precisamente, fazê-lo fugir ao séti
m
p
rincípio dos Pioneiros, para assim impossibi
l
tar a prática do segundo, o que lhes perm
i
enquistarem-se nas direções, com o inevita
v
desvirtuamento de todos os outros.
EXPERIÊNCIA DE COOPERATIVISMO NO MUNDO.
SUGESTÔES E SOLUÇÕES PARA O MEIO
RURAL BRASILEIRO
VALIDIKI MOURA
Secretário-Geral do Centro Nacional
de Estudos Cooperativos
Embora eu próprio reconheça a maleabili-
dade do tema, devo também reconhecer que não
é tão fácil versa-lo, dada a complexidade que
envolve. São extremamente variaveis as condi-
ções que atuam e influenciam em cada localida-
de, em cada região, em cada país, tornando pe-
culiares as formulas encontradas para a solução do
p
roblema. Acho-me autorizado a fazer tal
afirmativa, depois de haver visitado e conheci-
do, por experiência pessoal, nada menos de
quinze países da America e de Europa, além
dos subsídios informativos que tenho tido atra-
vés de leituras frequentes, com relação a outros
p
aises e continentes.
O próprio meío brasileiro apresenta essa
diversidade pe situações, sendo impraticavel a
determinação de critérios fixos e invariaveis.
Sempre defendi, porisso, a idéia de que a nossa
legislação organica deveria enfeixar, apenas, os
p
rincios gerais e fundamentais do sistema, dei-
xando que a matéria adjetiva fosse regulamen-
tada posteriormente, de acordo com as caracte-
risticas e exigências de cada região. Logo à pri-
meira vista ressalta a impraticabilidade de cer-
tas exigências em zonas diversificadas, como,
BR5800221
64 —
exemplo, a região colonial alemã e italiana dos
Estados Sulinos, e a da região nordestina do pais.
Repugna-me admitir a superioridade de ra-
ças, nem tal sentido poderia ter a afirmação
feita. Acredito, entretanto, na superioridade de
critérios, no aperfeiçoamento técnico, expe-
riência amadurecida das comunidades melhor
exercitadas para a prática do sistema cooperati-
vo. Acredito, em uma palavra, na elaboração
lenta e progressiva da mentalidade, através
de um processo consciente de educação. Concordo
inteiramente com o saudoso mestre recentemente
desaparecido, dr. James Peter Warbasse, quando
afirmava, com a sua autoridade do emérito ci-
rurgião, que o processo do
learnin
g
b
y
doin
g
inegavelmente excelente para a aprendizagem
e a exercitação, mas que ele não se arriscaria
a entregar-se a um cirurgião que o fosse operar
apenas para aprender.
A Prática da cooperação exige e reclama a
utilização do instrumental doutrinário, para
que individuo saiba, conscientemente, o que
está fazendo ou o que irá fazer, mas é também
necessário que a experiência vivida dos fatos
o oriente na busca das soluções desejadas, para
que não se perca no emaranhado das improvi-
sações nem sempre compensadoras.
Assentada essa posição preliminar, posso
dizer, então que a larga e sólida experiência
do Cooperativismo no mundo, especialmente em
certas áreas da Europa, tem decorrido desse
clima experimental estimulado pelo processo
educativo. Realmente, nada de solido e perma-
nente tem sido construído no mundo cooperativo,
sem o assentamento prévio dos alicerces educa-
cionais. E porisso não deixa de ser significativo
o fato de a
q
ueles famosos e modestos tecelões
65—
b
ritânicos do século passado, haverem inscrito a
educação
como um dos princípios fundamen-
tais do sistema. Êles próprios, miseros operarios
de baixo nivel educacional, minados pela pobre-
za e sem o gozo das franquias democráticas,
estavam, como ninguem, na situação excepcio-
nal de poder aferir a importancia da educação
na preservação e desenvolvimento do sistem
a
econômico-social antevisto.
Ninguem pode obscurecer o trabalho
cate-quético admirável, realizado pelo Bispo
Grund-tvig, na Dinamarca, ao lançar os
fundamentos da sua escola ativa de educação
secundária rural, na qual moças e rapazes
p
udessem colher os conhecimentos básicos para
o exercicio das ati-vidades agricolas. Basta
saber que a gerência das cooperativas rurais
está praticamente entre-gue a alunos egressos
dessas escolas, para que possamos compreende
r
a importancia da mecà-nica educacional n
a
estruturação do movimento cooperativo
dinamarquês. E note-se que, lançan-do seu
método educativo no século passado, Grundtvig
deu um passo avançado no campo pedagógico,
p
orque logo admitiu a convivência de ambos os
sexos, aboliu a prestação dos exa- mes e
incluiu no “curriculum” disciplinas como
literatura, música e bailado, que poderiam pare-
cer supérfluas na formação de líderes rurais.
Que outro país, mais que êste, poderia
dar ao mundo os resultados dessa educação
básica?
As cooperativas são magistralmente dirigidas, a
a técnica ocupa lugar proeminente na condução
das operações, os programas educacionais mul-
tiplicam-se em um flerescimento espantoso de
cursos especializados para tôdas as categorias
de pessoas interessadas, e não se deve despre-
zar o elevado
p
adrão do culto tradicional e fol-
66 —
clórico, manifestado em festanças ruidosas e en-
ternecedoras. Em tôda a área da Escandinávia
(que conheço, com exceção da Islândia, mas
também nesta) sente-se que a infra-estrutura do
Movimento se assenta nesse trabalho educativo
de profundidade, que vem de longe e se proje-
tará para o futuro. A organização cooperativa
não poderia subsistir, face a outras formas tra-
dicionais de organização econômica, se o seu
lastro educativo não tivesse sido poderosamente
construído.
Poderei, ainda, referir-me ao caso da No-
ruega, onde ninguem poderá dirigir uma coope-
rativa, sem que tenha completado o curso de
humanidades e pelo menos tenho um tirocínio de
dois anos como militante do movimento. A
mesma exigência também é feita para a gestão
de estabelecimentos comerciais e industriais.
Todo êsse trabalho educativo irradia-se
dos Colégios Cooperativos (conheço as da Suécia,
Dinamarca e Inglaterra) e também das organi-
zações centrais das cooperativas, geralmente
constituídas sob as formas de Uniões e Federa-
ções, ou de simples sociedades subsidiárias, que
p
residem tôda a supervisão técnica, como acon-
tece na Filandia.
Tor tôda parte sentí êsse mesmo irrefreá-
vel sentimento de que a educação é um peça
fundamental e essencial na mecânica do sistema,
p
orque o Cooperativiamo não pode ser, apenas,
um instrumental de Comércio para a elaboração
das trocas que visem a conquistar melhores pre-
ços para os produtores e consumidores. Ao con-
trario, se fosse apenas isso, seria dificil, muitas
vezes, conciliar os interêsses dos que produzem e
dos que consomem, visto como a tendencia de
cada
g
ru
p
o é tirar o maximo
p
roveito em detri-
67
mento dos interêsses do outro. Não é da essên-
cia da filosofia cooperativa que a sociedade se
reparta em grupos conflituantes, cada qual pro-
curando beneficiar-se com o esbulho do outro e
com a defesa feroz dos seus previlégios.
Assume, porisso, um intêresse especial,
a disciplina da chamada Escola de Nimes, sob
a
inspiração de Charles Gide e Edouard de Boyve,
quando defende uma concepção integral do sis-
tema, com a predominância dos interesses d
a
classe universal do consumidor. Ao contrario,
p
ois, do que muita gente que se considera infor-
mada supõe, o Cooperativismo não deseja a fra-
gmentação de grupos, a criação de setores es-
tanques ou autônomos, mesmo quando reconhe-
ce a diversidade e complexidade das tarefas a
seu cargo. E' possivel, dentro de formulas am-
p
las e clasticas, enfeixar e coordenar tôdas as
iniciativas que uma larga empresa cooperativa
tenha em vista. Confirma-se, aqui, a aplica-
ção do princípio socialógico da diversidade na
unidade, e efetivamente a experiencia tem de-
monstrado, nos paises cooperativamente mais
avançados como a Inglaterra, a Suécia, a Dina-
marca, a Filandia, a Holanda e a Suiça (além
de outros), que ao consumidor tem sido possivel
autoprover-se de todos os recursos de subsisten-
cia, sem apelo, ao dispersivo sistema da econo-
mia liberal e do capitalismo.
Onde o consumidor se organizou inte-
gralmente, é difícil a sobrevivencia das formas
tradicionais do comércio privado, porque pas-
sam estas a ser células parasitárias e onerosas da
economia popular. Todo mundo conhece a proe-
za realízada pelas cooperativas da área conside-
rada, ao se insurgirem contra os poderosos mo-
no
p
ólios do tri
g
o
,
da mar
g
arina
,
do sabão
,
das
68
lampadas elétricas, das bicicletas, das máquinas
agrícolas, dos pneumaticos, dos combustiveis, de
muitos outros produtos essenciais. Muitas vezes, e
ainda recentemente, ao me dirigir, pelo rádio,
às donas de casa, tenho tido ensejo de afirmar
que elas mesmas não conhecem a fôrça poten-
cial que representam como unidades de mobili-
zação econômica.
Na Europa as mulheres arregimentaram-se
em ligas, em clubes, em guildas profissionais, e
mesmo juntaram-se em partidos políticos, visan-
do à conquista de novas franquias no campo da
economia de subsistencia. Foi esse clima psico-
lógico que elevou à culminância de ministro do
Comercio, na Dinamarca, a uma excelente se-
nhora, mãe de varios filhos, casada com um di-
retor de cooperativa, e que tem sido defensora
estrema do consumidor.
Guarde-se, pois, essa idéia fundamental, de
que o Movimento Cooperativo não deseja o com-
p
artimento estanque dos grupos representativos
das diversas categorias profissionais. Decerto
ainda estamos em um estágio muito primário que
j
ustifica essa diversificação de soluções, com a
divisão dos grupos que produzem ou consome
m
os mais diversos artigos, ou se utilizam dos mais
distintos serviços de crédito, seguro, transporte
habitação ou assistência santâria. Se a especia-
lização é uma decorrencia do desenvolvimento
técnico no nosso tempo, tambem é certo que
esse desenvolvimento pode utilizar processos de
coordenação através de empresas poderosamen-
te organizadas, como tem feito as grandes uniões e
federações de cooperativas.
Seria enfadonho, sobretudo para quem teve
oportunidade de observar, de perto, as peculia-
ridades
p
o Movimento Coo
p
erativo em mais de
69
uma dezena de paises alinhar uma a uma as
soluções encontradas. Isso já está descrito nas
copiosas páginas dos meus dois ultimos livros, e
tambem naquele escrito sôbre as cooperativas norte-
americanas.
Direi apenas, como síntese, que a educação
é a explicação de todo o êxito no campo coopera-
tivo, e que quanto mais alfabetizada e provida de
educação de base for a população, tanto mais
p
ropício será o campo para o florescimento e
p
ermanencia do Cooperativismo. Não deverá,
p
ortanto, espantar, que sendo Helsinki uma ci-
dade com 500.000 habitantes (a quinta-parte da
p
opulação do Rio de Janeiro) possua ela a mai-
or livraria da Europa, com stands especializa-
dos em técnica e literatura geral de praticamen-
te todos os países do mundo. Mas note-se, tam-
bém, que na área da Escandinávia (o que equi-
vale dizer em todo o mundo) é a Filândia o pais
em que o povo participa do Movimento Coope-
rativo na mais alta proporção.
Por amor à verdade devo informar que,
mesmo na Europa, o Movimento Cooperativo
ainda não é um Movimento de Consumidores. A
diversidade das condições nacionais e regionais,
tem orientado e aconselhado a formação de coo-
p
erativas especializadas. A historia demonstra
isso. Vimos que o Movimento originario de Ro-
chdale, na Inglaterra, orientou-se pela economi
a
do consumidor. Mas, na França, prevaleceu ini-
cialmente a organização da produção, como na
Alemanha, e posteriormente na Itália, predomi-
nou o crédito, segundo as adaptações Scbulze-
Delizch. Raiffeisen, Hass e Luzzatti.
Funcionam em toda a Europa, e tambem
nos paises que integram a comunidade coopera-
tiva internacional
,
g
ru
p
os es
p
ecializados na
p
ro-
70
dução de utilidades e serviços; mas deve se
r
dito que a tendencia é para a expansão crescen-
te do consumidor, para uma especie de hege-
monia da economia do consumo. E mesmo aínda
quando tal não ocorra, a tendencia será para
um tratamento mais equânime aos que conso-
mem, que constituem a classe universal por ex-
celencia. Afinal, cooperativas de cédito, de seguro,
de transporte, de habitações, de serviços do-
mésticos, de finalidades culturais e recreativas,
tudo isso são cooperativas de consumo de serviços.
Pondo de lado a recapitulação, que seria
tediosa, de todas as experiencias realizadas nos
p
aíses melhor organizados cooperativamente, de-
verei, entretanto, salientar os apreciáveis esfor-
ços da Aliança Cooperativa Internacional, dos
diversos organismos especializados da ONU, do
Bureau Internacional do Trabalho, da Organiza-
ção dos Estados Americanos e de outras entida-
des internacionais, no sentido de intensificar a
assistência técnica aos chamados paises subde-
senvolvidos. Tal assistencia reveste-se sempre
do caráter de ajuda material e de conselhos té-
cnicos. São realizadas pequisas do meio social
e economico para o levantamento das possibili-
dades materiais e humanas, ao lado de cursos
intensivos para a formação de líderes e funcio-
nários especializados nos diversos misteres. De-
vemos lamentar que a América Latina, tão ne-
cessitada desses auxilios, não os tenha recebido na
medida desejada. Em parte, acredito que as
susceptibilidades nacionais tenham contribuido
p
ara esse abandono, porque, em torno da ex-
p
ressão de “paises subdesenvolvidos”, está se
criando uma especie de intolerância inspirada pelo
falso nacionalismo. Os
p
aises do Oriente
71
estão sendo melhor aquinhoados com esses pro-
gramas, e daí o desenvolvimento, em base coo-
p
erativa, dos projetos de colonização e de
industrias artesanais, que desenvolvem a econo-
mia de comunidades outrora fechadas e sem ini-
ciativa, ou pelo menos sem o necessario senso
comercial para a sua exploração.
Estamos às vésperas de um grande aconte-
cimento em nosso país, que será a realização,
no Recife, em outubro proximo, de um Seminá-
rio Interamericano Sôbre Cooperativas de Ele-
trificação Rural, sob o patrocínio da Organização
os Estados Americanos. Devemos empenhar
todos os nossos esforços no sentido de que tal
empreendimento alcance o maior êxito, porquan-
to é facil prover as vantagens que dêle advirão
não somente para toda a comunidade america-
na, como, especialmente, para a economia rural
do nordeste do pais.
Êste Seminário, conquanto especializado,
traçará rumo sôbre o encaminhamento do pro-
blema em nosso país. Nêle serão encontradas
sugestões e soluções para o problema da eletri-
cidade rural no Brasil, que não pode ser confun-
dido com as iniciativas já realizadas embora com
êxito na Bahia, em Pernambuco e no Rio Grande
do Sul, das cooperativas de eletricidade que vi-
sam, apenas, ao suprimento de energia aos do-
micílios e logradouros públicos. Sem dúvida tal
serviço, deve merecer todos os encômios, mas é
p
reciso que as cooperativas de eletrificação se-
j
am, também, um impulso ao desenvolvimento
das indústrias rurais, um estímulo à maior utili-
zação do conforto moderno através de incuba-
deiras, indústrias domésticas, frigoríficos, gela-
deiras,aparelhos de rádio, sistemas de irrigação
e motoriza
ç
ão
,
entretenimentos recreativos
,
se
r
72 —
viços telefônicos e de rádio-amadorismo etc. Se-
ria dispensável insistir no mundo imenso de pers-
p
ectivas que a utilização da energia elétrica po-
de abrir para os que tenham à sua disposição quotas
satisfatorias de força criadora, e não, apenas,
comutadores para ligar as lâmpadas das salas de
visitas.
Sempre que tenho oportunidade de encarar o
meio rural brasileiro, um dos meus temas predi-
letos tem sido o de insistir em que a cooperati-
va mista é aquela que melhor encerra o conjun-
to de serviços reclamados pelo rurícola. Na
verdade, são cooperativas acumuladas em uma
só, constituindo um sistema de serviços especia-
lizados, que procura atender às necessidades de
cada qual. Sua principal vantagem é poder rea-
lizar o conjunto de serviços de que carece a
comunidade, com simplificação de capital, de di-
rigentes, de instalações, e meios de transporte.
N
ão precisa o nosso meio rural organizar coopera-
tivas de varios tipos, com capitais separados, co
m
dirigentes capazes sempre escassos, com insta-
latações que representam investimentos super-
fluos, utilizando veículos que se desvaloriza
m
p
elo desgaste desordenado. O ideal será unir os
esforços comuns, pondo sempre de lado as pre-
j
udiciais preocupações político-partidárias. As
cooperativas têm se ser entidades independentes
de partidos, sindicatos, facções ideológicas e sei-
tas religiosas, um
lar comum
era que todos se
entendam em ambiente de mútua confiança e co-
laboração.
A lei vigente muito elástica ao permiti
r
que se constituam cooperativas mistas, integrando
mais de uma função econômica. Um tipo muito
comum, é o da mista que mantem seções espe-
cializadas de Vendas em Comum
,
Com
p
ras em
— 73
Comum, Consumo e Crédito. A primeira cuida
de receber os produtos consignados pelos asso-
ciados, classificá-los e prepará-los para o mer-
cado. A segunda propõe-se a adquirir tudo de
que necessitem os associados para o exercício
da atividade profissional, como sementes, mudas,
adubos, inseticidas, máquinas, rações, arame, im-
p
lementos agrícolas, caixotaria, sacaria etc. A
terceira procura manter armazens providos dos
generos alimentícios não produzidos na comuni-
dade, artigos de vestuário e uso doméstico.
Afinal a última das seções indicadas, cuida, pre-
ferencialmente, do financiamento das safras e
entresafras, dos projetos de melhoria das lavou-
ras e criatórios, dos sistemas de, irrigação e pe-
quena açudagem etc. A seção de crédito deve,
também, receber em contas de depósito pagan-
do o juro corrente, as economias dos associados
e também de pessoas estranhas, embora só pos-
sa realizar operações de financiamento com os
associados regulares.
Há muitas outras combinações que poderão
ser feitas, como o acréscimo de uma seção de
industrialização, seja para a simples beneficia-
mento de produtos de origem vegetal e animal,
seja para sua própria transformação industrial.
Esta sendo poderá ser acrescentada àquelas, ou
substituir algumas se assim for conveniente.
Desejo referir-me, especialmente, a duas
das vantagens indicadas. Uma é a formação do
capital, de um só capital, em vez de três ou qua-
tro, se tivéssemos de organizar o mesmo número
desnecessário de entidades. A cooperativa mista
simplifica isso, porque, embora as suas funções
sejam mais complexas, no final as despesas são
reduzidas, porque há uma série de tarefas co-
muns às diversas se
ç
ões es
p
ecializadas. É
p
re-
74 —
ciso, entretanto, que tendo em vista o que vai
ser organizado, a cooperativa procure formar
um capital correspondente, pelo menos, às ne-
cessidades mais urgentes. Não é necessário que
tôdas as seções funcionem de uma só vez, se
não há recursos; suficientes. Será então prefe-
rivel que uma a uma vá funcionando, mas com
eficiencia, a que tôdas entrem em funcionamen-
to de uma só vez, mas de maneira desordenada
e insatisfatória.
O capital de qualquer cooperativa deve
atender ao critério da proporcionalidade, porque,
sendo variável a expressão econômica cada in-
divíduo, é natural que cada qual contribua em
relação ao que representa e ao que deseja uti-
ltzar na cooperativa. Farei ligeira esquematiza-
ção para tornar o assunto mais claro. Digamos
que vamos organizar uma Cooperativa Mista com
as seções referidas, e então poderemos assentar
o seguinte critério para a formação do capital:
1)
Vendas em Comum
— uma quota de ca- pital do
valor máximo de Cr$ 100,00 correspondente a
cada hectare culti-vado, a cada determinado
número de caixas colhidas, por número de plan-
tas em produção ou de cabeças em re-gime de
criação ou de lactação etc., conforme o critério
escolhido;
2)
Compras em Comum
— com base na estimativa
das compras usualmente fei-tas pelo produtor,
digamos à razão de 20 a 30% do valor total em
um ano;
3)
Consumo
— com base em 70% do valor dos
arti
g
os consumidos mensalmente
;
—75
e)
Crédito
— com base nas necessidades
de financiamento habitualmente recla-
madas para a condução de suas ativi-
dade;
f
) Industrialização
— Com base porcentual
sobre o volume estimativo dos produ-
tos a serem beneficiados ou transfor-
mados.
Não são critérios fixos, sendo apenas indi-
cados para facilitar a explicação. A cooperativa,
antes mesmo de ser organizada, deverá fazer o
levantamento da situação local, mediante cuida-
doso inquérito de que constem as indagações
referidas. Deverá tomar por base a média dos
três últimos anos, para que haja certo equilíbrio
na dosagem dos diversos fatores que compõem
o capital. Todas as operações dos associados
serão escrituradas em cada seção em que ope-
re de modo que lhes permita participar do re-
tôrno (distribuição proporcional dos lucros de
exercício no encerramento do balanço) de acôr-
do com a movimentação que tenha feito em cada
uma delas. Cooperativas que se constituam sem
esse estudo cuidadoso para determinação do ca-
p
ital necessário, estarão fadadas a inevitável
fracasso. Considero êste ponto de importâcia fun-
damantal, porque embora as cooperativas sejam
definidas como sociedades de pessoas elas são,
também, empresas econômicas, necessitam de
meios financeiros para se desobrigar dos encar-
gos contraidos em benefício da coletividade.
O outro ponto essencial a que me refere,
diz respeito aos administradores. Para que uma
cooperativa tenha êxito, é indispensável que
p
ossua associados lealdosos, mas estes pouco
adianta-
76—
riam se não soubessem escolher homens expe-
rientes para dirigi-la. Os associados devem se
r
muito criteriosos na escôlha, porque homens
inesperientes, incapazes, levianos ou de reputação
duvidosa, são cancros de dificil extirpação. Mes-
mo quando são substituídos na direção, deixam
o organismo social contaminado pelas toxinas
que elaboraram. O meio rural brasileiro, resul-
tante, que do baixo indice educacional do
p
ais, e produto de tantas carencias sociais e
culturais, não é muito abundante de elementos
válidos e altamente qualificados para a função
de direção de cooperativas. Mesmo nas cidades
acontece o mesmo, conquanto o problema ofe-
reça menores dificuldades.
É importante, porisso, que as cooperativas
mistas agrícolas sejam dirigidas por pessoas
absolutamente idôneas e que mereçam o respei-
to e a consideração de tôda a comunidade. Há
líderes naturais no meio, pessoas de notória in-
fluência, que poderão coordenar os trabalhos de
escolha dos administradores.
Sou idealista da Cooperação, estou since-
ramente convencido da excelência do sistema,
reconheço e proclamo os seus extraordinários
resultados alcançados no Brasil e no estrangeiro,
mas também sou animado de senso realista para
manifestar minhas dúvidas quando vejo
cooperativas mal-iniciadas, deficientemente es-
truturadas, e já comprometida pelo apoio de
p
essoas suspeitas. Deixo porisso, aqui, minha
advertencia aos amigos que ora se reunem e
m
N
atal para debater problemas de tanta magnitude
p
ara a economia da região. Sei também que ou-
tros sistemas fracassam, que estabelecimentos co-
merciais e industrias privados vão à falência,
q
ue há mil fraudes
,
q
ue há crimes irre
p
aráveis
,
77
que há mil recursos e sortilégios condenáveis
p
ora se burlar a boa fé dos homens de bem.
Mas se tudo isso é verdade, maiores razões en-
tão deveremos ter para redobrar nossa vigilia
com relação ao Cooperativismo, que é um sistema
de leis morais, sociais e econômicas, de inegá-
vel inspiração cristã, e que, por tudo isso, não
p
oderá ser pasto dos exploradores e espertalhões.
Confiemos, todos, nas virtudes da Coopera-
ção, mas guardemos também a idéia de que uma
filosofia não existe por si mesma, se para sus-
tentála não encontra o arrimo das leis funda-
mentais, ou a bravura dos seus defensores, para
expungí-la de ofensas e atentados. A Coopera-
ção é também o produto dos homens, dos idea-
listas e dos realizadores, dos que se dão as mãos
p
ara o benefício mútuo da humanidade. Consti-
tui um instrumento admirável nas mãos de ho-
mens sensatos, que desejam, honestamente, da
r
organização durável e harmoniosa à comunidade
rural brasileira.
DIFICULDADES MAIS CORRENTES NO
DESENVOLVIMENTO. DO COOPERATIVISMO
PROF. JUVINO DOS ANJOS
O Cooperativismo é o Evangelho em Ação,
é Apostolado Social e todo o verdadeiro apos-
tolado tem as suas dificuldades.
O Cristianismo que é um apostolado espiri-
tual e também social, teve nos tempos pagãos
as grandes dificuldades que culminaram com o
martirío da maioria dos apostolados.
Graças ao espírito de sacrifício dos seus
p
regadores, o Cristianismo conseguiu se impo
r
e modificar a mentalidade romana que conside-
rava perfeitamente legitimo aos mais fortes sub-
j
ugar o mais fraco e tirar proveito do seu triun-
fo na luta.
“A essa noção arraigada no mundo antigo
do que o mais poderoso é naturalmente permi-
tido abusar do mais fraco, os adeptos da nova
doutrina opunham a seguinte maxima:
“Se algum de vós fôr mais poderoso que
os outros, que seja para os servir”. (R. Haddoc
k
Lobo-Pequena Historia da Economia. fls. 82).
Portanto, aí temos, no Cristianismo o robus-
to tronco da arvore cultivada com sacrificio e
regado pelo sangue dos martires, da qual o coo-
p
erativismo é um dos seus frutos.
Entretanto, para alcança-lo e alimentar-se
dos seus beneficios e virtudes, talvez até para
melhor confirmação da sua remota origem, te-
remos de enfrentar sacrificios e dificuldades.
BR 5800222
80 —
Militando perto de vinte anos, neste apos-
tolado, me foi dada a incubencia do assunto do
temario que trata das dificuldades mas corren-
tes no Desenvolvimento do Cooperativismo.
Neste caso antiguidade posto e posto de
sacrífio. Atendí mais uma vêz ao chamado de
Dom Eugenio Sales, sabendo embora que não basta
essa longa familiarização com os proble-
mas cooperativos e as suas dificuldades, par
a
sobre eles dissertar com segurança e estilo, sa-
tisfazendo tão selecta assistencia. Incorporei,
assim esta incumbencia ás outras dificuldades
que tenha enfrentado, apelando para a benevo-
lencia da distinta assistencia, que sendo culta e
nobre é tambem educada nos princípios cristãos.
O tema que me foi distribuido está dividido
em duas partes:
1a. — Fatores Internos
a) - Dirigentes
b) - Associados
2a. — Fatores Externos
a) - Mercado
b) - Transporte
c) - Concurrencia
d) - etc. - Outros fatores, portanto)
Passarei a dissertar sobre os mesmos, na
sua ordem de colocação.
DIRIGENTES
Atribue-se no saudoso ministro Fernando
Costa a expressão de que o bom exito das coo-
p
erativas no Brasil dependia 70% das suas Di-
retorias.
O progresso das Cooperativas deve, em
bôa doutrina, depender da união, espírito de so-
lidariedade e social dos seus associa-
81
dos, colaborando com a Diretoria para o fim
comum, que é o beneficio dos que formam a
sociedade.
Entretanto a falta destes requisitos na mas-
sa que forma os quadros socias das nossas Coo-
p
erativas, prejudicada ainda pela falta de alfa-
betização do povo, faz, na realidade depende
r
a vida das Cooperativas, quasi, exclusivamente
dos seus Administradores.
As Cooperativas que têem bons administra-
dores prosperam neste Estado, financeira e so-
cialmente, porque o bom exemplo, a operosida-
de os serviços prestados aos socios em razão
da sua atuação, conquistam simpatias educam de
módo prático, tornando os socios interessados pela
Cooperativa.
As qualidades negativas dos Presidentes e
Gerentes de Cooperativas, que constituem difi-
culdades ao desenvolvimento das instituições que
dirigem, tornando-as fracassadas ou estaciona-
rias, prejudicando o movimento cooperativista,
no seu progresso, sendo a observação local, são as
seguintes:
1.º — Ignorancia da doutrina cooperativista
e falta de fé, intuitos de mandonismo politico e
falta de capacidade de liderança cooperativista,
p
ara interessa
r
-se pelos negocios sociais, quan-
do estes não lhe trazem o maior quinhão nos
resultados.
2.° — Tendencia para a forma de negocios
mercantis ou bancarios e descrença da vitória dos
métodos cooperativos.
3.º — Ogerisa á organização contabil, ao
cumprimento das formalidades estatutarias e ao es-
tudo da doutrina cooperativista, considerando
tudo isso burocracia.
82 —
4.ª— Exagerada importancia ao financiamen-
to e ás operações monetarias, descurando a par-
te social sem cogitar de formar recursos pro-
p
rios para a solidez da Cooperativa, pelo aumento
de capital social e conseguimento de depositos
p
opulares.
5.ª — Apêgo ao cargo, teimando em conser-
var-se nele, apoiando-se em prestigios politicos
p
ara reelege
r
-se e continuar deservindo aos as-
sociados, ao povo em geral, porque a Coopera-
tiva não amplia os seus negocios, não desperta
interesse e sim censuras e afasta a possibilida-
de de aumentar o seu quadro social.
6.ª— Incapacidade para o trabalho de equi-
p
e, o estudo dos problemas em conjunto com os
demais Diretores ou Conselheiros Administrati-
vos, o espirito observante e autoritario, sem
admitir o livre debate e querendo demitir-se quan-
do os seus pontos de vista não encontram apoio
da maioria.
7.º— Incapacidade para regular a distribui-
ção de credito a sua aplicação de maneira
reprodutiva que permita o reembolso pela Coo-
p
erativa, no fim do ciclo da produção para que
foi emprestado, não indagando, na ocasião do
emprestimo, o local onde vai ser utilizado, para
que possa ser fiscalizado o seu bom emprego,
fazendo sentir ao associado que a aplicação po-
derá ser fiscalizada e a pouca possibilidade de
desvio do emprestimo para fins diferentes dos
declarados na sua proposta.
Não pretendo esgotar o assunto, nem a pa-
ciência dos ouvintes. Muitas outras dificuldades
existem. O interessante é que as apontadas se-
j
am reais, não possam ser contestadas e os po
r
-
tadores dessas faltas, saibam que já foram obser-
vadas e
p
rocurem corri
g
i-las.
83
Considero a falta de educação e cultura
como principal responsavel não apenas das di-
ficuldades do desenvolvimento das Cooperativas,
como tambem do país.
Os dirigentes cooperativos são escolhidos
p
or eleição entre os associados. Quanto mais
atrazado o meio, mais dificil a escolha de pes-
soas para a administração. É questão de mate-
ria humana semi-primitivo para a época de pro-
gresso atual, desprovido dos conhecimentos so-
bre reações humanas, princípios de administra-
ção e técnica de negocios.
É o problema das administrações munici-
p
ais, com honrosas exceções, como também exis-
tem no caso das Cooperativas, ocupadas por pes-
soas eleitas pela simpatia, das quais não se exige
ao candidatar-se o certificado de um curso de
administração municipal.
ASSOCIADOS
Do quadro social das Cooperativas é que
saem os Dirigentes e se estes ainda apresentam
falhas que já não deviam existir para o bom
desenvolvimento das Cooperativas, de inicio po-
demos calcular as dificuldades dos associados,
dificultando a bôa marcha do progresso evolutí-
vo das Cooperativas.
As faltas dos associados são, em primeiro
lugar originadas da falta de alfabetização e de
instrução geral que lhes permitir ler e compre-
ender o que se explica e desta maneira discer-
nir e aceitar ou repelir as ideias que lhe pro-
curam inculcar no espirito, segundo a proceden-
cia dessas ideias. Em segundo lugar a falta de
assistencia eficiente dos Órgãos oficiais encar-
regados da orientação da fundação de Coopera-
tivas, supervisão do seu funcionamento e fisca-
liza
ç
ão.
84 —
Se houvesse essa alfabetização, essa instru-
ção geral de que falo em primeiro lugar, talvez,
como acontece na Europa, não houvesse neces-
sidade dos órgãos oficiais de assistencia ao coo-
p
erativismo.
As classes sociais, como fizeram os Pionei-
ros ingleses a um século e como continuam fa-
zendo os seus pósteros, quando os seus interes-
ses não podem ser resolvidos individualmente,
estudam a maneira de resolve-los cooperativa-
mente. Então se reunem, debatem e acertados
todos os pontos, fundam a Cooperativa.
No Brasil e nos paises sul-americanos, se-
gundo o que conheço através de leituras, o po-
vo imerso na ignorancia sabe apenas que sofre,
p
orque sente o sofrimento, mas no seu obscu-
rantismo desconhece os meios para a solução dos
seus poblemas. Neste caso compete ao Gover-
no, de acôrdo com a sua finalidade de realiza-
ção do bem publico, filiando-se a corrente do
p
ensamento eclético, cria os órgãos assistenciais
que ajudam a fazer o necessário ao progresso
p
ara o alcance do bem publico almejado.
A criação pelo Governo de órgãos como
o Serviço de Economia Rural no plano federal
e Departamentos de Assistencia ao Cooperati-
vismo nos planos estaduais, merece elogios, pois
representa o louvavel intuito de ajudar o povo
nas suas dificuldades. A falta de aparelhamento
desses órgão para bem cumprirem a sua missão,
é um fato a lamentar porque anula os bons pro-
p
ositos do pensamento do Governo ao criar es-
ses órgãos, que deste modo, não poderão atin-
gir os fins para que foram criados.
Portanto, se procurando contrabalançar a falta
de educação do povo para a organização associativa e
economica
,
os De
p
artamentos de
— 85
Assistencia ao Cooperativismo estivessem apare-
lhados para dar uma assistencia eficiente aos
interessados na fundação das Cooperativas, onde
quer que surgisse a idéia, muitos através ao de-
senvolvimento do Cooperativismo, seriam afasta-
dos. Isto porque, antes da fundação da Coope-
rativa os técnicos do Departamento visitariam a
comunidade interessada, realizariam inqueritos
economicos e sociais promoveriam reuniões e
fariam palestras e circulos de estudos debatendo
o problema, de forma, que ao ser fundada a
Cooperativa, os associados teriam uma conscien-
cia do que estava fazendo e não seriam um re-
banho tangido por um pastor para o redil.
As faltas cometidas pelos associados das
cooperativas são muito comuns e conhecidas dos
que praticam e dos que estudam o Cooperativis-
mo e na sua generalidade estão expressas nas
“onze maneiras de levar uma cooperativa ao
fracasso”.
Acho que devemos procurar a fonte do mal,
a sua causa, para eliminá-lo. Portanto as causas
comportam duas soluções: uma lenta, a da edu-
cação, que só poderá aproveitar as gerações
vindouras; outra imediata para atender aos pro-
b
lemas sociais e economicos do presente, a de
assistencia através de órgãos oficiais bem apa-
relhados.
A ação dos órgãos oficiais não exclue a da
educação, devendo ser simultaneas, a exemplo
do que se procede atualmente na Africa Orien-
tal, sob a orientação inglesa, onde ao lado dos
departamentos especializados de cooperativismo,
existe a Escola de Cooperativismo da Africa
Oriental, segundo nos informa o dr. Fabio Luz
Filho, em seu livro
COOPERATIVAS ESCOLARES
— 4.a.
edição.
A
q
ui encerro a
p
arte referente as faltas
86 —
dos associados que dificultam o desenvolvimento
do cooperativismo, apontando ás soluções acima,
p
ara os males que originam essas faltas, porque
acho não valer a pena aponta-las censurando
aqueles que por ignorancia as cometem a sim
criar condições que evitem venham elas a ser
cometidas.
A segunda parte do tema desta palestra,
versa sobre os fatores externos que dificultam
o desenvolvimento do cooperativismo.
No Rio Grande do Norte esses fatores não
p
odem ser estudados do ponto de vista pratico
da observação e da experiencia, em razão de
não existirem Cooperativas de Produção e de
Vendas em Comum em funcionamento.
Uma grande parte das nossas cooperativas
são agrícolas místas, incluindo as agro-Pecua-
rias, compostas de 3 secções: crédito, compras
em comum e vendas em comum.
Acontece que os associados seguindo uma
tendencia natural observada pelos estudiosos nos
p
aises sub desenvolvidos, só se interessam pela
p
arte de crédito. Em alguma dessas cooperati-
vas, em razão da propaganda e orientação da
Divisão de Cooperativismo, a secção de compras
em comum, tendo um pequeno desenvolvi-
mento, fornecendo artigos para as atividades
agrícolas.
O cooperativismo de comum, tem passado
p
or diversas experiencias e agora e que começa
a firmar-se.
Isto, posto, penetremos nos assuntos da se-
gunda parte do temario.
MERCADO
Quando o ilustre Presidente desta
SEMANA D
E
ESTUDOS COOPERATIVOS e COMUNIDADE
o Exmo. Arcebispo
do
— 87 —
Maranhão Dom José de Medeiros Delgado, exer-
cia a função de Bispo de Caicó, promoveu, com
a assistencia da Divisão de Cooperativismo, uma
campanha de Cooperativismo de produção, prin-
cipalmente tendo em mira a defesa dos produ-
tores de cereais da Serra de Santana, tendo sob
a sua presidencia se realizado uma dezena de
reuniões, em várias municípios do Seridó.
Na primeira dessas reuniões, realizada na
cidade de Florania em 28 de Dezembro de 1947,
da qual participaram o Comendador Ulisses de
Góis, o saudoso Dr. Ricardo Barreto e o Conta-
dor Pedro Americo, atualmente Gerente do Ban-
co do Nordeste em Maceió, apresentei um esque-
ma com catorze pontos, sobre os problemas das
cooperativas de produção, dos quais reproduzi-
rei aqui os de n.º 9 a 14, que envolvem o pro-
blema de mercados.
“9 — Acho que deveriamos começar adotan-
do normas proprias do sistema cooperativista,
seguras e prudentes, aproveitando a experiencia
do comercio, naquilo que não houver choque
com os elevados princípios cooperativistas.
10— De inicio as Cooperativas Agro-Pecua-
rias poriam em funcionamento a sua secção de
vendas em comum, funcionando á guisa de es-
critorios de representações procurando venda
p
ara os produtos dos seus associados, receben-
do os pedidos, providenciando a execução,
transferindo os produtos do produtor ao comprador,
desempenhando o papel de intermediario, apa-
rentemente, porque sendo constituida pelos pro-
dutores, estes é que estariam realizando as suas
vendas.
11 — Começar pelo financiamento á produ-
ção, sem conhecer os mercados cousumidores, é
torna-se
p
resa facil nas
g
arras dos intermedia-
88 —
rios, que adquirem a preços ridiculos a produ-
ção conseguida a custa de sacrificios do agricul-
tor, o que motive o movimento em sua defesa,
que ora esboça.
12 — Financiamento, instalações,
recebimento e armazenagem da produção, para o
começo, considerem uma engrenagem de dificil
manejo, para quem não estiver identificada com
o com- plicado mecanismo de produção e vendas.
13 — Depois de algum tempo de funciona-
mento das secções de vendas em comum, pelo
modo indicado, adquirido conhecimento dos ne-
gocios, viria então a ampliação do plano corn
financiamento, armazens, etc. Por enquanto o
que poderia prestar bens serviços seriam os silos.
14 — A fundação de uma Cooperativa Cen-
tral de Vendas em Comum, teria a vantagem de
coordenar os negocios, ficando mais completo o
p
lano se dispusesse na Capital, de um escritorio
de vendas, ou então, o que seria mais aconse-
lhavel pela economia que representa, nomear seu
representante em Natal, um comerciante idoneo,
que explorasse o ramo de representações”.
Esses foram as minhas sugestões naquela
ocasião, que me parece aplicarem ao caso pre-
sente, como estado teorico uma vez que não exis-
te aqui no Estado o problema objetivo.
Onde o pro
b
lema do Mercado se apresentar,
em razão da existencia de cooperativas de ven-
das em comum ou de podução agrícola ou in-
dustrial, a experiencia de outros paises ou de
outros Estados, poderá servir de orientação, en-
saindo-se aqui ou alhures esses métodos.
A sugestão que apresentei naquele tempo,
da utilização de um comerciante para encarre-
gar-se da Cooperativa, sofreu objeção de um dos
membros do Conselho Estadual de Coo
p
erativis-
89
mo, ha muito demissionario. Entretanto alguns
anos após, o livro de Waldiki Moura “10 faces
do Mundo”, me informava de pratica semelhan-
te, na Inglaterra, berço do Cooperativismo, onde
as associações comerciais são utilizadas como
organizações auxiliares, para a colocação dos
p
rodutos das cooperativas, nos mercados consu-
midores.
Na publicação n.º 2 série sobre cooperati-
vas, da União Panamericana, intitulada “A Ven-
da Coopetiva das Frutas da California”, encon-
tra-se um estudo detalhado sobre o assunto de
mercados, que talvez tenha alguma analogia com
um problema objetivo, no qual sei interessado
o ilustre Presidente deste conclave Dom José de
Medeiros Delgado, em relação ás Cooperetivas
do Mearim, uma vez que na California os mer-
cados consumidores de suas frutas se encontram
a 3000 milhas de distancia. As publicações nume-
ro 1 e 11, da referida serie respectivamente “A Fi-
losofia da Cooperativa” e “Venda Cooperativ
a
de Frutas e Legumes nos Estados Unidos”, muito
ensinam sobre vendas, transportes, propaganda,
assinalando um fato interessante que lá se ve-
rifica, assim como aqui: o do tipo de negocian-
tes que se tornou conhecido pelo nome de Ven-
dedor em Caminhão”.
Os limites desta palestra não permitem trans-
crições dos metodos adotados, constantes desses
trabalhos publicados pela União Panamericana.
Entretanto como uma demonstração do bom sen-
so americano e das razões que fazem esse povo
p
rogressista utilizar o cooperativismo para a
solução dos seus problemas, vou transcrever
um dos principios do trabalho. A Filosofia da
Venda Cooperativa. Ei-lo: “Diz o agricultor: Por-
q
ue devo sustentar sete com
p
radores locais de
90 —
gado viajando de um lado para outro em auto-
moveis que eu não poderia comprar, e cada um
deles procurando conseguir um pouco de que a
sua parte em um negocio que economicamente
ocuparia somente um homem?” Essa consciencia
dos seus problemas faz com que os agricultores
e criadores ianquies, organizem as suas coope-
rativas de produção e suas agencias cooperati-
vas de vendas, para a conquista dos mercados
adotando uma tecnica semelhante á mercantil.
TRANSPORTES
As dificuldades de transportes estão intima-
mente ligadas aos problemas do mercado e do
custo de vida, de um modo geral. Elas consti-
tuem no Brasil, um serio problema de governo.
O transporte marítimo e o ferroviario, os mais
módicos para os produtores e consequentemente
p
ara os consumidores, foram descuidados e hoje
se transporta um quilo de feijão por caminhão
p
or um preço cinco vezes maior do que se fos-
se transportado por via marítima, como ficou
demonstrado em tese apresentada na Semana Contra
a Carestia, pelo Sr. José Holanda, que
revelou grande conhecimento do assunto.
O problema de transporte varia segundo o
local da cooperativa. No Pará, por exemplo onde
o transporte deve ser mais dificil, a Cooperativa
Agricola Tomé Açu, grando exportadora de pi-
menta do reino e constituida por japoneses, dis-
p
õe de embarcações para o transporte dos seus
p
rodutos.
Outras cooperativas localizadas em centros
agricolas mais civilizados, melhor servidos po
r
transportes populares, terão necessidades para
facilidade o barateamento de seus serviços, de
ter transporte para receber a produção dos seus
associados encaminha-la aos mercados consumi-
— 91
dores próximos ou até a estação ferroviaria ou
p
orto de embarque proximos.
CONCORRENCIA
Este problema faz parte das atribuições re-
ferentes a mercados, que envolvem cotações de
p
reços, conhecimente de produtos similares, mé-
todos de ação dos produtores concorrentes, pre-
ferencias dos consumidores, etc.
CONCLUSÃO
Dispenso-me de abordar outros fatores por
considerar já bastante longa esta palestra e não
querer abusar da bondade da assistencia, a qual
agradeço a atenção que me dispensou, ouvin-
do-a. Muito obri
g
ado.
MINHA EXPERIÊNCIA COOPERATIVISTA
NA AMÉRICA
CHARLET CURREY
(Técnico americano do E. T. A. — Comissão
Mista Brasil / Estados Unidos)
Designado pela honrosa incumbência dos
senhores diretores e co - diretores do Escritório
Técnico de Agricultura, sejam as minhas pri-
meiras palavras de agradecimento por tão cati-
vante convite para estar presente a êste impor-
tante conclave que ora se realiza.
Pessoalmente, desejo trazer-vos, as sauda-
ções cordiais da minha terra, os Estados Unidos
da América do Norte, e tambem de muitas coo-
p
erativas lá existentes.
De fato, mais de dez mil cooperativas de
compra, venda e serviços reunem o número si-
gnificativo de sete e meio milhões dos nossos
agricultores. Elas apresentam movimento anual
acima de doze bilhõs de dólares, ou sejam, apro-
ximadamente, oitocentos bilhões de cruzeiros.
Em adição, ainda, mil e setecentos compa-
nhias de seguro mútuo servem a três e meio
milhões de agricultores.
Cerca de cento e quarenta e oito mil pro-
p
riedades agrícolas obtêm a necessária água pa-
ra irrigação de suas terras, através dos servi-
ços de nove mil trezentos e setenta e quatro
companhias de auxilio mútuo (cooperativas de
irrigação). Novecentas cooperativas de âmbito
MNN
E 15
BR5800223
— 94 —
rural fornecem eletricidade a quatro milhões de
p
ropriedades rurais.
Todas as espécies de crédito são forneci-
das dor intermedio de mil e cem associações de
empréstimo a fazendeiros; quatrocentos e no-
venta e oito associações de financiamento á pro-
dução e mil sociedades de crédito agrícola com-
p
letam o quadro nacional de assistencia ao coo-
p
erativismo.
Nosso Governo possui muitas característi-
cas em comum com o espirito cooperativista do
p
ovo. Nós, como um grupo deste povo, senti-
mo-nos unidos para ir no encontro a um propó-
sito comum e preencher uma necessidade po
r
nós sentida.
Em nossas organizações civís, o indivíduo
expressa seus desejos por meio dos princípios
cooperativistas, como por exemplo:
1. Um cidadão, um voto;
2. Retorno limitados de capital;
3. Livre entrada e privilégios iguais
para todos que satisfaçam as con
-
dições de cidadão;
4. Benefícios em proporção a par-
ticipação.
Não nos esqueçamos outrossim, que as re-
lações dos homens com o Todo-Poderoso cons-
tituem, igualmente, uma forma cooperativista.
Quanto a mim, nasci e criei-me numa fa-
zenda no Estado de Ohio. Concluidos os estudos
escolares, trabalhei a dirigi uma fazenda por 15
anos. Durante este período, ternei-me membro
da “Agência Cooperativista Americana para Fa-
zendeiros” da Associação Pecuarista de Cleve-
land, da “Cooperativa de Produtores de Lã do
Ohio” e de muitas outras.
95
Ainda hoje coutribúo quinzenalmente para
uma Caixa de Crédito Rural.
Lembro-me bem, ainda, quando, pela pri-
meira vez, em companhia de meu pai, contando
eu apenas 17 anos, comparecía a uma reunião
da “Agência Rural” do meu Municipio. Termina-
dos meus estudos universitarios e constituida a
minha família, continuei no trabalho cooperati-
vista, primeiro como sócio, e mais tarde como
p
residente da Cooperativa local.
Em 1938, ofereceu-se-me uma oportunidade
de prestar serviços de maior alcance a meus
concidadãos, empregando-me na Administração
de Seguridade Agrícola (“Farm Security Admi-
nistration), mais tarde conhecida como “Farmers
Home Administration”.
Os objetivos dessa organização de nosso
Governo Federal eram de assistir, técnica e eco-
nomicamente, aos agricultores, principalmente
após a depressão de 1929.
Esta organização atende ao fazendeiro me-
diante serviços e consêlho técnico, de adminis-
tração de fazenda e de crédito, continuando suas
atividades até o dia de hoje. Especial ênfase é
p
osta na formação de unidades rurais de sadía
base economica. O credito, é sòmente, um ins-
trumento para ativar e facilitar esta operação.
Sinto-me orgulhoso em ter tomado parte no mo-
vimento cooperativista da America e no sadío
financiamento dos fazendeiros. Desejo-vos am-
p
lo êxito em vossos esforços. Se pudermos no
futuro ajudar esse esforço, sentir-nos-emos muito
satisfeitos.
Estou certo que concordarão comigo, no
sentido de que uma pessoa, como eu, com ape-
nas três mêses de permanencia no Brasil terá
p
rimeiramente
,
q
ue se familiarizar com o
p
roblema
96 —
cooperativista deste grande País. Desta forma,
a Semana que ora se realiza constitui uma uti-
lissima experiencia para meus futuros trabalhos.
Talvez vos interesse conhecer a minha de-
finição de “Cooperação", definição que desen-
volvi para meu "uso próprio":
“Cooperação é o mútuo es
f
orço voluntário
de um grupo de pessôas no sentido de alcan-
çar um propósito comum, bem compreendido,
ou preencher uma necessidade da comunidade”.
Permití prezados ouvintes, um exemplo prá-
tico de cooperação.
Olhai: aqui está a minha mão direita. Ela
p
ode fazer muitas coisas, mas Deus nos deu a mão
esquerda, para ajudar. Se unirmos as nossas
mãos, meu caro ouvinte, já teremos quatro mãos.
E assim, trinta pessoas, com sessenta braços já
representam uma considerável força de traba-
lho em comum.
Quanto mais generalizado ou agudo for o
p
roblema ou uma necessidade, tanto mais ne-
cessário se torna o esforço cooperativista, para
alcançar o indispensavel êxito através de um es-
forço conjugado. Nada poduz êxito mais rapido.
do que o proprio êxito obtido.
O esforço cooperativista deve obedecer a
uma sequencia evolutiva, na qual os objetivos
mais simples, uma vez alcançados, conduzem a
p
roblemas menos primários e mais complexos.
Semelhante procedimento é educativo, exige pra-
tica, dá ensejo á aferição de valores e estimula a
confiança.
O cooperativismo, ainda, constitui o meio
p
elo qual o indivíduo consegue projetar-se, demo-
craticamente, para além do seu próprio “terrei-
ro”. Êle alcança melhores êxitos onde seus asso-
ciados conhecem os
p
roblemas
,
as
p
ossibilidades
— 97
da ação em conjunto, tão bem como as suas
p
róprias limitações, bem assim onde estes asso-
ciados se acham animados de bôa vontade para,
p
essoalmente, se empenharem no êxito de suas
organizações.
Cheguei á conclusão de que minha coope-
rativa não era apenas, uma outra casa comer-
cial que se abria em nossa comunidade: era, an-
tes uma parte de minha propria iniciativa. U
m
b
om comerciante se empenha pelo êxito de seu
p
roprio empreendimento.
Ainda outra coisa aprendi naquela fazenda
de Ohio: a lição e que eu conseguia mais para
mim mesmo através de uma cooperação com
meus vizinhos, do que o Governo, em sí, pode-
ria fazer para mim. Todavía auxilio governamen-
tal não deve ser desprezado quando advêm de
um governo cooperativista, como vós.
Concluindo, desejo agradecer-vos mais
uma vez, o privilegio de estar em vosso meio. Que
vossos esforços achem a benção do Todo-Pode-
roso e prevaleça sempre em vosso meio um afe-
to fraternal e uma
p
rofunda com
p
reensão mútua!
CONCLUSÕES
1—
QUANTO À DOUTRINA COOPERATIVISTA
1) A SEMANA proclama o caráter emi-
nentemente comunitário do Cooperati-
vismo; em consequencia, entende que
a Cooperativa deve ser uma entida-
de aberta a todos os membros da co-
munidade, sem quaisquer limitações ou
distinções.
Essa medida atende a princípios,
de órdem doutrinária e prática, a sa-
ber:
— respeito à unidade da vida co-
munitária, dentro da riqueza de
sua pluralidade
— consolidação do espírito de co-
munhão dos seus membros;
— conjugação do maior número de
recursos, em favor de cada par-
te e do todo.
2) A SEMANA propúgna por um Coope-
rativismo de finalidade ampla, isto é,
encarando o homem nas suas necessi-
dades econômicas, como nas de ordem
familiar, educacional e social.
Nêste sentido, consideram que os
Serviços das Cooperativas devem visar
a solução de problemas profissionais,
domésticos e da comunidade.
3
)
— En
q
uanto semelhante norma não
p
oder
— 100 —
ser generalizadas, a SEMANA recomen-
da que se promovam experiências coo-
perativistas locais de caráter comuni-
tário, onde as condições se apresenta-
rem favoráveis a um trabalho dessa
natureza, como sejam:
— existência de Cooperativa flo-
rescente:
— comunidade com um acentuado
espírito de cooperação:
— pessoal capacitado para orien-
tar a experiência.
4) A SEMANA recomenda que nos progra-
mas de trabalho comunitário haja mar-
cante preocupação pelo desenvolvi-
mento do cooperativismo em suas vá-
rias modalidades, como um dos mais
valiosos instrumentos de organização
e desenvolvimento integral das
comunidades.
II
— QUANTO À EDUCAÇÃO COOPERATIVA
5) A SEMANA reconhece que a “educa-
ção cooperativista" é condição impe-riosa
e indispensável para garantia do êxito de
qualquer empreendimento de caráter
cooperativo.
Neste sentido, solicita, com o mais vivo
empenho, as entidades que atuam no meio
rural (Serviço de Assistencia Rural) SAR,
Missão Inter-municipal Rural
Arquidiocesana-MIRA, Departamentos
Diocesanos de Ação Social, Campanha
Nacional de Educação Rural — CNER,
Fundo Internacional de Socôrro
à
Infância—FISI. Associação Nordestina de
Crédito e Assistência Rural-ANCAR e
outras no
g
ênero
)
q
ue incluam
—101
nos seus programas educativos, quer
de crianças, jovens ou adultos, práti-
cas de cooperação inspiradas nos prin-
cípios de Rochdale.
6) Reconhece a SEMANA que o Coopera-
tivismo demanda não só conhecimen-
tos da doutrina, como da pedagogia da
cooperação.
Nêste sentido recorda que nos es-
tabelecimentos — ensino de gráu ele-
mentar, médio e superior – especial-
mente nas Escolas de Agrônomia, de
Serviço Social, de Ciências Sociais,
Escolas Normais e Escolas de Comér-
cio-assim como nos Cursos de Trei-
namento de Pessoal Técnico e de Di-
rigentes de grupos ou instituições, se
incluam obrigatóriamente a filosofia e
prática do Cooperativismo. E que, onde
as condições locais o exigirem, se or-
ganizem Cursos Intensivos para Diri-
gentes de Cooperativas.
III — QUANTO AO FUNCIONAMENTO
DAS COOPERATIVAS
7) — Diante da premente necessidade de as-
sistência técnica as Cooperativas e aos
seus associados e da carencia de pes-
soal habilitado em número suficiente para
esta função, a SEMANA lembra aos
Orgãos Oficiais Especializados e às pró-
prias Cooperativas a conveniencia de
entendimentos com entidades que dis-
ponham de pessoal competente — já em
situação nas áreas respectivas — para o
seu aproveitamento no sentido de que
p
ossa ser su
p
rida a
q
uela deficiencia.
102 —
8) A SEMANA recomenda que as Coope-
rativas firmem, o quanto antes Conve-
nios, regionais que permitam contratar
agrônomos, contabilistas ou outros té-
cnicos que se façam necessários, segun-
do condições fixadas nos mesmos Con-
venios, visando a divulgação do Coope-
rativismo e principalmente, a assisten-
cia especializada a cada uma das insti-
tuições e seus associados.
9) A SEMANA programa a insuficencia
dos atuais rumos do cooperativismo,
quase que limitada ao crédito para fim
econômicos e propugnam não só pela
pluralidade do tipo de Cooperativas, como
pela união orgânica das mesmas entre si, a
fim de colimar os objetivos implícitos na
doutrina cooperativista.
10) A SEMANA reconhece que, para a vi-
tualidade e maior dinâmica do Coope-
rativismo, urge que as fontes financei-
ras das redes de cooperativas simplifi-
quem suas operações de crédito, à base
da idoneidade de cada instituição, res-
peitadas, ainda, as características dos
diferentes ti
p
os.
PROJETO DE RESOLUÇÃO
A SEMANA REGIONAL DE ESTUDOS SOBRE "
O
COOPERATIVISMO E A COOPERATIVISMO E A COMUNIDADE
"
,
realizada em Natal, de 1 a 6 de julho de 1957, po
r
iniciativa do Secretariado Nacional de Ação Social
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e
com o apoio e colaboração de todos os órgãos
cooperativos do Estado, e
Considerando que o cooperativismo é antes
de tudo um movimento de iniciativa popular,
como tal devendo vitalizar o mais possivel os
seus próprios recursos, articulando-os com outros
recursos da comunidade;
Considerando que a assistência supletiva do
Estado, sempre valiosa, no entanto, pela com-
p
lexidade da máquina burocrática e carência de
recursos humanos e financeiros, não pode acom-
p
anhar a expansão de movimento, para fornece
r
tôda a assistência de que êle necessita;
Considerado que em serviços de organi-
zação de comunidade, aqueles organismos mais
desenvolvidos devem, pela sua maior capacidade de
auto-direção, tomar a iniciativa de expe-
riencias capazes de limitar a assistencia oficial
ao seu papel supletivo, em condições de servirem de
exemplo; e
Considerando, afinal, que as cooperativas de
cada região do Estado do Rio Grande do Norte
p
edem, com essa finalidade, reunir seus recursos,
p
elo sistema de convênios e acôrdos, para
contratarem técnicos capazes de prestarem
104 —
assistência ás instituições contratantes e seus
respectivos associados,
RESOLVE RECOMENDAR que as coopera-
tivas firmem, quanto antes, convênios regionais
que permitam contratar agrônomos, contabilistas
ou outros técnicos que se façam necessários,
segundo condições fixadas nos mesmos convê-
nios, visando a propaganda do cooperativismo
e principalmente a assistência especializada
a
cada uma das instituições e seus associados.
Natal, 5 de julho de 1957
A Comissão que elaborou o projeto:
aa)
Otto de Brito Guerra — Relator
Juvino dos Anjos
João Wilson Mendes Melo
Generina Vale
M
arluce Fiúza
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