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Andrea Almeida Perina
AS CRENÇAS DOS PROFESSORES DE INGLÊS EM
RELAÇÃO AO COMPUTADOR : coletando subsídios
Mestrado em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem
Pontifícia Universidade Católica deo Paulo
2003
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ii
Andrea Almeida Perina
AS CRENÇAS DOS PROFESSORES DE INGLÊS EM
RELAÇÃO AO COMPUTADOR : coletando subsídios
Dissertação apresentada à Banca Examinadora
da Pontifícia Universidade Católica deo
Paulo, como exigência parcial para a obtenção
do título de Mestre em Lingüística Aplicada e
Estudos da Linguagem, sob a orientação da
Profa. Dra. Maximina Maria Freire
Pontifícia Universidade Católica deo Paulo
2003
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iii
Dedico este trabalho :
Às vidas que deixaram saudades e que, de alguma forma,
influenciaram a minha experiência de vida:
Meu pai, S. Perina,
Minha irmã de coração, Cláudia,
Meus avós, Antônio e Maria Soledade e
Meu sogro, Shohachi.
E à vida que, a caminho deste mundo, renova a minha de
esperança e alegria : meu(minha) filho(a).
iv
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
A Deus por ter me iluminado, dado forças e condições para realizar este trabalho;
À minha mãe, Helena, pelo amor e ensinamento de tantos anos;
Ao meu mando, Edson, por ter sido companheiro nesta caminhada, pelas leituras e
correções, pelo incentivo e pelo(a) filho(a) que esperamos;
À minha orientadora, Maximina, pela paciência, carinho, confiança e
profissionalismo com que me conduziu ao longo deste trabalho; e
À minha amiga, Maria Eugenia, companheira de todas as horas.
V
AGRADECIMENTOS
vi
A todos os participantes e escolas que possibilitaram a realização deste estudo;
À Valéria G. Andreetto, pela insistência e incentivo que me fizeram enveredar pela
pesquisa acadêmica;
À Márcia Mathias Pinto, ex-professora e encorajadora, pela confiança, apoio e
amizade;
Ao meu amigo Celso Frade, pelas indicações que possibilitaram a geração de
dados;
À minha cunhada, Yukiko Kouchi, pela confiança, colaboração imensurável de
textos, indicações, leituras;
Aos meus companheiros de seminário de orientação, pelas contribuições;
Ao Sérgio Ifa, pelas contribuições de sempre e, em especial, no Exame de
Qualificação;
À Betty Pow, pelos momentos de desabafo;
À Eliane Andreolli, pela amizade, pelo companheirismo;
Ao Pablo Barrera, pelas contribuições na construção do projeto de pesquisa;
Ao Ademir Villatoro, pela amizade e solidariedade nos momentos difíceis;
Aos meus alunos e colegas professores, por compreenderem a minha ausência,
cancelamentos e substituições;
À Prof.a Dra. Rosinda de Castro Guerra Ramos, pela valiosa contribuição ao
longo dos quase dois anos, em especial durante o Exame de Qualificação; e
Ao PAPED - Linha 1 ( Programa de Apoio à Pesquisa Em Educação a Distância)
da CAPES, pelo apoio financeiro para a realização deste trabalho.
vii
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo investigar as crenças de professores de inglês,
tanto em relação ao uso do computador em suas práticas docentes quanto em
relação ao seu papel na sociedade digital. Para tanto, esta pesquisa se fundamenta
no conceito de crenças, compreendendo-o como verdades pessoais que, baseadas
na experiência, guiam as ações e influenciam a crença de outros. Além disso, o
presente estudo também se embasa nos conceitos de alfabetização e letramento
tecnológicos, entendendo o primeiro como o manuseio operacional do computador
e, o segundo, como o uso crítico que se faz do equipamento. Com base na literatura
disponível, este estudo também encontra sustentação em interpretações sobre o
relacionamento homem-máquina e em propostas para a utilização do computador na
educação, em geral, e no ensino de línguas, em particular.
A abordagem metodológica escolhida foi a hermenêutico-fenomenológica
(van Manen, 1990), tendo como contexto escolas regulares (públicas, particulares) e
de idiomas, na Grandeo Paulo, e envolvendo 15 professores de inglês, sendo
que 9 já usam o computador e 6o o utilizam na prática docente. Considerando a
orientação metodológica adotada, a interpretação das crenças se deu por meio da
investigação dos temas recorrentes, emergentes dos dados.
Os resultados obtidos revelam que todos os professores participantes são, de
alguma forma, alfabetizados tecnologicamente, sendo que a filiação institucional dos
mesmoso representa um diferencial quanto à integração do computador na
prática docente. O fato de usá-lo ouo nas aulas de inglês revelou-se uma opção
de natureza individual do professor As crenças reveladas pelos professores
investigados constituem, portanto, subsídios para programas de formação (inicial e
continuada) de professores de inglês que buscam integrar conteúdos relativos à
tecnologia educacional.
Sumário
ix
E ASSIM TUDO COMEÇOU 1
Capítulo 1 : COMPREENDENDO CONCEITOS 6
1.1 O queo crenças, afinal ? 6
1.1.1 Metodologias de investigação das crenças 9
1.1.2 Professores e crenças 11
1.2 O computador para fins educacionais 12
1.2.1 O uso presencial 13
1.2.2 O uso a distância 17
1.2.3 Relação humano-máquina 19
1.2.4 O uso inteligente do computador 20
1.3 O professor e o computador 21
1.3.1 Letramento ou alfabetização tecnológicos ? 21
1.3.2 Papel do professor na sociedade digital 23
Capítulo 2 : ESTRUTURANDO A INVESTIGAÇÃO 27
2.1 Escolhendo o caminho 27
2.2 O contexto e os participantes 29
2.3 Instrumentos para a geração de dados 33
2.3.1 A Entrevista semi-estruturada 33
2.3.2 O relato escrito 34
2.4 Procedimento de organização dos dados 35
2.5 Procedimentos de interpretação 41
Capítulo 3 : EXPLORANDO E INTERPRETANDO TEMAS 45
3.1 As crenças sobre o uso do computador na prática docente 45
3.1.1 O professor e o computador na sala de aula 48
3.1.2 As Atividades 51
3.1.3 O professor e o computador 53
3.2 As crenças sobre o papel do professor na sociedade digital 56
3.3 Letramento digital 62
3.3.1 Letramento digital dos professores participantes 62
3.4 O material 66
3.4.1 Projetos 67
3.4.2 Software Educativo 71
3.4.3 Inglês na Internet 74
3.5 As dificuldades 77
3.6 As Intenções Futuras 78
APRESENTANDO E REFLETINDO SOBRE SUBSÍDIOS 81
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 86
ANEXO 91
1. Roteiro para entrevista
X
xi
Lista de Quadros e Figuras
Capítulo 1
Quadro 1.1 Vantagens e desvantagens das metodologias de investigação das
crenças 10
Quadro 1.2 Vantagens e desvantagens do uso presencial do computador 15
Quadro 1.3 Características do CALL 16
Quadro 1.4 Papéis do professor na sociedade digital 23
Capítulo 2
Figura 2.1 Arquivos importados e armazenados no Node Explorer. 36
Figura 2.2 Documento para codificação no Document Explorer. 37
Figura 2.3 Ferramenta Node Explorer. 38
Figura 2.4 Tree Node: a representação gráfica dos temas encontrados 39
Figura 2.5 Recurso Text Search 41
Figura 2.6 Tree Node: tema e subtemas 42
Quadro 2.1 Caracterização dos participantes que usam computador 30
Quadro 2.2 Caracterização dos participantes queo usam computador 31
Quadro 2.3 Perfil dos participantes como usuários de computador 32
Quadro 2.4 Relatório Tree Node gerada neste estudo 40
Quadro 2.5 Temas e subtemas 43
Quadro 2.6 Caracterização gráfica dos procedimentos de interpretação 43
Capítulo 3
Quadro 3.1 Identificação das crenças sobre o uso do computador na prática
docente 46
Quadro 3.2 As crenças dos professores e suas correspondentes áreas temáticas..47
Quadro 3.3 Caracterização das crenças sobre o papel do professor na sociedade
digital 56
Quadro 3.4 Alfabetização tecnológica dos professores participantes 63
Quadro 3.5 Dificuldades encontradas pelos professores em relação ao uso do
computador 77
Quadro 3.6 Intenções futuras dos professores 79
xii
informatizar ciados burocráticos como cadastro, diários de classe, notas, provas. As
telas dos computadores ainda eram de fósforo verde ou âmbar e o sistema
operacional disponível era apenas o DOS. Eu admirava o equipamento, maso me
aproximei dele, num primeiro momento. Quando as telas coloridas começaram a
surgir, já com o Windows, apressei-me em adquirir um. Acreditava ser possível
revolucionar o meu trabalho com um equipamento desses; contudo, o que de fato
ocorreu foi que passei a ter uma máquina de escrever mais poderosa.
Naquele momento, várias escolas já divulgavam comercialmente possuir
computadores para fins educacionais, e isso me inquietava. Eu estava certa de que
era questão de tempo para que também a minha escola estivesse na mesma
situação. Como eu, então a coordenadora pedagógica, desenvolveria meu trabalho
sem saber o que fazer com aquele equipamento ? A minha principal preocupação
era propor o uso educacional para um equipamentoo sofisticado; eu queria evitar,
a qualquer custo, a experiência que vivera com a utilização do vídeo no meu
primeiro emprego.
Assim, procurei visitar escolas, até então concorrentes, para verificar qual uso
estavam propondo para o computador. Constatei que se limitava à modalidade
tutorial, enfatizando exercícios gramaticais que, então, eram feitos no computador.
Aquilo me incomodou e muito. Se é possível fazer aqueles exercícios gramaticais
sem o computador, por quê usá-lo ?
Acreditei ter encontrado um caminho para solucionar a minha inquietação
quando ingressei num curso de especialização Lato-Sensu, cujo foco se direcionava
ao uso do computador para fins educacionais.o posso negar ter aprendido muito
durante o curso, mas a minha inquietação, embora reduzida, ainda persistia. O
curso privilegiou disciplinas como matemática, física e robótica. O inglês passou
despercebido. Mas, mesmo assim, fiz minhas descobertas e as transferi para o meu
contexto: passei a me sentir muito mais segura para orientar os meus colegas
professores na minha atividade profissional como coordenadora pedagógica.
De alguma forma, algo ainda me faltava. Eu sentia a necessidade de discutir,
de conhecer e criar possibilidades de uso do computador para a prática docente de
inglês. Foi então, com essa curiosidade e desejo, que me tornei pesquisadora e dei
vida ao presente estudo, o qual apresento a seguir.
Nas últimas décadas, a sociedade contemporânea tem se favorecido do
desenvolvimento tecnológico que, anteriormente, fazia parte da ficção e, atualmente,
encontra-se incorporado ao nosso cotidiano por meio da produção de bens e
serviços.o eles: pagamentos eletrônicos, saques de dinheiro em caixas
automáticos, produtos com códigos de barra, exames médicos sofisticados, ligações
telefônicas de longa distância em aparelhos sem fio.
O computador, por meio da Internet e de suas ferramentas e serviços de
comunicação, tais como: o correio e os murais eletrônicos, as salas de bate-papo, as
home pages, pode ser responsável por novos processos comunicativos. Ele propicia
novas formas de produzir conhecimento e, portanto, implica mudanças também no
que concerne à educação. Conforme comenta Reis (1995:109):
O potencial de aprendizagem proporcionado pelas atividades
escolares tecnológicas constitui a base para uma nova pedagogia, a qual
pode resultar em mudanças fundamentais nas práticas da escola e nas
salas de aula. (meu grifo).
Valente (1999:29) concorda com Reis ao afirmar que "mudança é a palavra
de ordem na sociedade atual." Entretanto, tecnologiao é por si só a solução para
essa mudança, podendo inclusive ir contra ela se for introduzida de maneira a
reforçar o modelo de ensino massificante, escondendo esse reforço atrás de uma
aparência de modernidade (Reis, 1995; Oliveira, 1996; Valente, 1999; Sampaio &
Leite, 1999).
Se o computador seduz a sociedade em geral, o queo dirão professores e
alunos de inglês ? É importante investigar e refletir sobre a formação de professores
de inglês que atuam em escolas regulares públicas e particulares, bem como as de
idiomas, pois o perfil desses professores vem sofrendo modificações. A sociedade
idealmente espera que eles desenvolvam uma multiplicidade de ações: além de
dominarem o conteúdo lexical e gramatical do idioma inglês, devem desenvolver
postura crítica e cooperativa e ser educadores. Jáo se esperam professores da
rede pública que saibam apenas gramática e tradução, professores da rede
particular que apenas acrescentem a fala à gramática e tradução, ou professores de
escolas de idiomas que sejam, exclusivamente, comunicativos e divertidos. Segundo
Moran (2001), passamos por uma era de criação em educação tecnológica:o há
modelos prontos, todos estamos experimentando. Para esse autor, massificação
virtual é o que conhecemos por tecnologia de ponta baseada em conteúdo.
Educação deve ser troca, construção e, por isso, é mais difícil, uma vez que leva a
uma aprendizagem constante.
Sampaio & Leite (1999:67) concordam com isso, quando afirmam que :
A alfabetização tecnológica, todavia,o oferece modelos e padrões
instrucionais a seguir, por isso o professor deverá constantemente unir
conhecimentos novos à sua prática pedagógica o que reforça a teoria de
que sua formação deve acontecer permanentemente, na sua relação com
os alunos, com os colegas e com as diferentes teorias e práticas.
Máquinas, como o gravador, o vídeo cassete, o retroprojetor, tiveram impacto
no processo ensino-aprendizagem de língua estrangeira. O retroprojetor seria um
substituto para o quadro negro no método grammar-translation; o gravador marcou
o método áudio-lingual (Warschauer & Meskill, 2002). O computador também vem
tomando espaço, trazendo novas possibilidades educacionais, por meio de
aplicativos e programas específicos, da Internet e suas ferramentas. Os professores
de inglês como língua estrangeira em escolas regulares públicas e particulares e de
idiomaso seduzidoss vezes, coagidos) pela magia do ensino tecnológico,
dinâmico e motivador. O simples fato de se introduzir o computador nas escolaso
representa modernidade ou inclusão digital; pelo contrário, se os professoreso
estiverem devidamente preparados, cientes de seu papel, poderão "fazer o velho
com o novo" (Alava, 2002:13). Além disso, é preciso investigar que percepção os
professoresm sobre a máquina e sobre como introduzi-la em suas atividades
docentes, se eles acreditam em sua eficiência e que espaço estão dispostos a abrir
à tecnologia em suas aulas.
Assim, devido ao impacto que os computadores representam, estamos todos
buscando respostas que nos levem a incluir, significativamente, os professores no
ambiente digital de ensino (Sampaio & Leite, 1999; Valente, 1999; Kenski, 2001a;
Pretto, 2001 e Barreto, 2001). Apesar disso, a percepção que o professor tem da
máquina e a implicação do computador na prática docente do professor de inglês em
escolas regulares e de idiomas ainda se encontram insuficientemente discutidas. E é
nessa lacuna que se insere minha pesquisa, cujos objetivos principaiso identificar
as crenças que professores de inglês, de escolas regulares públicas e particulares e
de idiomas,m sobre o uso do computador nas atividades docentes e sobre o seu
papel na sociedade digital, a fim de buscar subsídios para integrar a tecnologia
educacional a programas de formação inicial e continuada de professores.
Considerando esses objetivos, este estudo procura responder às seguintes
perguntas, relacionadas a professores de inglês, em serviço, em escolas regulares
(públicas e particulares) e em institutos de idiomas:
Que crenças os professores de inglêsm a respeito do computador em sua
prática docente ?
Que crenças os professores de inglêsm respeito de seu papel na sociedade
digital ?
Quaiso as intenções e expectativas desses professores em relação à utilização
do computador em sua prática docente ?
Para explicitar a minha investigação, descrevo como este estudo encontra-se
estruturado: o primeiro capítulo foi subdividido em três seções, sendo que, na
primeira delas, discuto o conceito de crenças, apresentando, também, as
metodologias de investigação das crenças e as crenças de professores. Na
segunda, introduzo a fundamentação teórica sobre a utilização do computador para
fins educacionais, privilegiando o uso do mesmo para o ensino de línguas e
assinalando a relação ser humano-máquina. Finalmente, na terceira parte, apresento
o professor e o computador, resgatando os conceitos de alfabetização e letramento
tecnológicos, além do papel do professor na sociedade digital.
No segundo capítulo, apresento a abordagem metodológica hermenêutico-
fenomenológica que me orientou nesta investigação. Também descrevo o contexto
de pesquisa, os participantes, os instrumentos para a geração de dados, o software
QSR-NUD*IST utilizado na organização dos mesmos e os procedimentos de
interpretação adotados.
No terceiro capítulo, apresento temas emergentes dos dados, discutindo-os
segundo a perspectiva teórica que fundamenta o estudo.
Para finalizar, apresento as considerações finais, resgatando as perguntas de
pesquisa, revelando descobertas e sugerindo encaminhamentos futuros,
decorrentes da investigação que realizei.
Capítulo 1
COMPREENDENDO CONCEITOS
Considerando que esta pesquisa se propõe a identificar as crenças de
professores de inglês, de escolas regulares públicas e particulares e de idiomas,
tanto em relação ao uso do computador em sua prática docente, quanto em relação
ao seu papel na sociedade digital, de forma a buscar subsídios para a integração da
tecnologia educacional a programas de formação inicial e continuada de
professores, apresento, neste capítulo, o embasamento teórico que a orienta.
O capítulo foi subdividido em três seções, sendo que a primeira delas discute
o conceito de crenças, apresentando, também, as metodologias de investigação das
crenças e as crenças de professores. A segunda introduz a fundamentação teórica
sobre a utilização do computador para fins educacionais, privilegiando o uso do
mesmo para o ensino de línguas e assinalando a relação ser humano-máquina.
Finalmente, a terceira parte apresenta o professor e o computador, resgatando os
conceitos de alfabetização e letramento digitais, além do papel do professor na
sociedade digital.
1.1 O queo crenças, afinal ?
Investigações sobre crençasm se tornado bastante freqüentes,
especialmente as que se destinam a identificar as que caracterizam professores e
alunos. Segundo Pajares (1992), crenças correspondem a um construto geral, pouco
adequado à investigação empírica pois, como há uma certa tendência a associá-las
à filosofia ou religião, torna-se difícil conceituá-las claramente. Talvez, por essa
razão, exista uma miríade de termos, usados na literatura, para designar um mesmo
construto. Dentre elas, Pajares (1992:309) destaca:
atitudes, valores, julgamentos, axiomas, opiniões, ideologia,
percepções, conceituações, sistema conceituai, pré-conceituações,
disposições, teorias implícitas, teorias explícitas, teorias pessoais, processo
Barcelos (2001) alerta para o fato de que tamanha variedade terminológica
se, por um lado, reforça a dificuldade apontada por Pajares (op.cit), por outro,
sinaliza o potencial do conceito, motivando a investigação que venha a desvendar
sua natureza paradoxal e propor-lhe uma definição.
Na opinião da autora (Barcelos, 2000:30), as crençasm natureza paradoxal
pelas seguintes razões:
o verbo acreditar pode ser entendido como certeza, convicção ("eu
acredito") e, também, como dúvida ("euo tenho certeza");
crença e conhecimentom sentidos distintos, sendo que o conhecimento
está relacionado a fatos objetivos e crenças, à avaliação e julgamento;
crençasoo independentes das experiências e, por isso, influenciam
as ações;
crenças orientam os desejos e regulam as ações;
crenças, ao mesmo tempo que encerram a dúvida, fazem emergir o
pensamento;
crenças estão baseadas em opiniões, tradições e costumes; e
crenças podem servir de obstáculo à mudança.
1
As traduções apresentadas neste trabalho foram feitas por mim.
Barcelos (2001:72), por sua vez, focalizando a aprendizagem de línguas,
sugere outras:
conhecimento prático pessoal, construções pessoais,
epistemologias, modos pessoais de entender, filosofias instrucionais, teorias
da ação, paradigmas funcionais, auto-compreensão prática, sabedoria
prática, metáforas, crenças.
Abordando o mesmo aspecto, Garcia (1991:61) amplia a relação acima,
acrescentando:
mental interno, estratégia de ação, regras de prática, princípios práticos,
perspectivas, repertórios de compreensão, estratégia social
1
.
representações dos aprendizes, filosofia de aprendizagem de
línguas, conhecimento metacognitivo e cultura de aprender línguas.
Apesar da evidente dificuldade, Pajares (1992:308) enfatiza a necessidade de
se conceituar crenças, especialmente as de professores:
It will not be possible for researchers to come to grips with teachers'
beliefs, however, without first deciding what they wish belief to mean and
how this meaning will differ from that of similar constructs. It will also be
necessary for them to specify what they know about the nature of beliefs and
belief systems, so that research may be informed by the assumptions this
understanding will create.
Borg (2001), também interessada em crenças de professores, concorda com
Pajares (1992) ao afirmar queo há um consenso conceituai. Entendendo-a, como
um construto geral, Borg (2001:186) seleciona 4 características comuns ao
conceito:
1. O elemento da verdade: a crença é um estado mental, cujo conteúdo é
aceito como verdade pelo indivíduo que a possui;
2. A relação entre crença e comportamento: as crenças guiam o pensamento
e a ação dos indivíduos;
3. Crenças conscientes e inconscientes: alguns mantêm a posição de que
consciência é inerente à crença, outros mantêm a posição de que o indivíduo
pode ser consciente de algumas crenças e inconsciente de outras;
4. Crenças como valores de comprometimento: reconhecimento do aspecto
avaliativo do conceito crença.
Portanto, segundo Borg (2001:186) crença é:
A proposition which may be consciously or unconsciously held, is
evaluative in that it is accepted as true by the individual, and is therefore
imbued with emotive commitment; further it serves as a guide to thought and
behaviour.
Sob a perspectiva de Borg, portanto, uma crença contempla algum tipo de
avaliação, consciente ou inconsciente, e alguma forma de envolvimento emotivo, os
quais um indivíduo evoca para fundamentar seu pensamento e ação.
Procurando maiores esclarecimentos conceituais, Pajares (1992) faz uma
trajetória pela argumentação de vários autores. Ele articula que as crençaso
indicadoras das decisões individuais que cada um faz;o as verdades pessoais
Considerando a argumentação de Borg (2001) e a de Pajares (1992),
podemos entender que as crenças possam ser inferidas pelo discurso, pelas
intenções, pelos pensamentos e pelas ações dos indivíduos. Sob tal caracterização,
é necessário propor e refletir sobre metodologias de investigação que nos auxiliem
na identificação desse construto, bastante complexo.
Nesse sentido, Barcelos (2000;2001) procurou agrupar os diferentes tipos de
metodologias, e as visões conceituas nelas implícitas, conforme demonstro a seguir.
1.1.1 Metodologias de Investigação das Crenças
Considerando que a investigação de crenças tem sido alvo de interesse em
pesquisas na área de Lingüística Aplicada desde os anos 80 (Barcelos, 2001), e que
esse interesse tem crescido significativamente, como é possível evidenciar por meio
de congressos, simpósios que discutem o assunto, faz-se necessário conhecer as
metodologias para a investigação das mesmas. Barcelos (2000, 2001) reuniu 3
abordagens, denominadas: normativa, metacognitiva e contextual, as quais
apresenta em detalhes.
A abordagem normativa infere as crenças por meio de um conjunto pré-
estabelecido de afirmações, ou seja, questionários com alternativas em que os
participantes usam uma escala, por exemplo de 1 a 5, para concordar ou discordar
de afirmações propostas. Esse tipo de questionário é conhecido por Likert-scale,
sendo o BALLI
2
o mais comumente usado. Essa abordagem desconsidera a análise
do contexto e entende crença como indicadora de comportamentos.
A abordagem metacognitiva investiga as crenças a partir de entrevistas semi-
estruturadas e de auto-relatos, proporcionando a oportunidade de os participantes
" BALLI corresponde ao inventário de crenças sobre o aprendizado de línguas, desenvolvido por Horwitz (1985).
[...] beliefs cannot be directly observed or measured but must be
inferred from what people say, intend, and do - fundamental prerequisites
that educational researchers have seldom followed. Pajares (1992 : 314)
que cada um tem e, por isso,oo facilmente afetadas pela persuasão eo
estão abertas para serem examinadas, conforme ilustra:
refletirem e exporem suas experiências. Segundo destaca Barcelos (2001:79), o
pressuposto implícito nessa abordagem é que o conhecimento metagognitivo se
constitui em "teorias de ação" que auxiliam a refletir sobre o que é feito e a
desenvolver potencial para a aprendizagem.
A abordagem contextual identifica crenças por meio de afirmações e ações,
usando ferramentas etnográficas e entrevistas. A análise do discurso também pode
ser usada para esse fim. O principal objetivo desse tipo de abordagem é o de
compreender as crenças em contexto específico.
É importante considerar a situação e os objetivos de uma determinada
pesquisa para que se faça a escolha apropriada por uma dessas abordagens.
Obviamente, há vantagens e desvantagens relativas a cada uma das metodologias,
as quais apresento no quadro a seguir, construído a partir de Barcelos (2000, 2001):
Quadro 1.1 Vantagens e Desvantagens das metodologias de investigação das crenças
A abordagem metacognitiva reforça a idéia de crença como conhecimento,
gerando um paradoxo. Como comenta Pajares (1992), é difícil estabelecer onde o
conhecimento acaba e a crença começa e, além disso,o há conhecimento na
ausência de julgamento e avaliação.
Fundamentado nas considerações de Pajares (1992), Barcelos (2000; 2001)
e Borg (2001), este estudo compreende crença como verdades pessoais, individuais,
baseadas na experiência, que guiam a ação e podem influenciar a crença de outros.
Este estudo entende ainda que crença é conhecimento e, por essa razão, ressalto
que, nesta investigação, a identificação das crenças foi realizada através
declarações verbais dos professores participantes, levando em consideração o
contexto em que ocorreram, e caracterizando uma abordagem metacognitiva de
investigação
1.1.2 Professores e Crenças
A investigação das crenças parece ser tarefa que requer atenção e cuidado
pois, como comentado anteriormente, elas apresentam características paradoxais
que contemplam a distinção entre crença e conhecimento, e entre discurso e ação.
As crenças, segundo Pajares (1992), influenciam como os indivíduos
caracterizam o fenômenos e comoo sentido ao mundo. Elas podem ser formadas
ao acaso, ou por meio de experiência intensa sobre alguma coisa ou algum assunto;
através de experiências de vida, que podem ter sido originadas na mídia, em ex-
professores, na literatura; ou ainda por uma sucessão de eventos. Por exemplo,
todas as experiências de um professor, quando estudante, fazem desenvolver suas
crenças educacionais. As crençasm componentes de avaliação e julgamento,
sendo influentes na determinação de como um indivíduo organiza e define tarefas e
problemas, além de serem precursoras de comportamentos, isto é, de ações. Nesse
sentido, Dewey (1933/1959) explica que as crençaso parte das nossas
experiências e estão relacionadas às nossas ações, pois abrangem "todas as
matérias de queo temos conhecimento seguro, mas em que confiamos o bastante
para basear nossa ação" (p.16).
No que concerne a programas de formação de professores, Pajares (1992)
salienta que eles, normalmente, fracassam quando tentam mudar as crenças dos
professores participantes, porém, encontram sucesso quando as desafiam,
propondo atividades para o desenvolvimento dos participantes pois, somente assim,
eleso convencidos a investir em mudanças. Pajares (1992) acrescenta que
"investigar as crenças de professores e candidatos a professores deveria se tomar
uma constante na pesquisa educacional" (1992:322).
Barcelos (2000) fez um estudo sobre as crenças de professores e alunos de
língua estrangeira, com base em uma abordagem deweyniana, na qual a noção de
crença está ligada à de experiência. Nesse estudo, Barcelos relata que a
investigação sobre as crenças de professores é relativamente nova, tendo sido
iniciada nos anos 70.
No Brasil, alguns trabalhos ilustrativos do estudo de crenças de professores
o os de Damião (1994), que as comparou no universo de professores de inglês em
escolas de idiomas de grande e pequeno porte; Gimenez (1994), que investigou as
crenças de professores pré-serviço de língua inglesa, brasileiros; Felix (1998), que
fez uma reflexão sobre o papel das crenças nas ações do professor de inglês de
escola pública; e Gimenez, Mateus, Ortenzi e Reis (2000), que analisaram as
crenças de licenciados em Letras sobre o ensino de inglês.
A ênfase no estudo de crenças de professores está no entendimento de como
estes interpretam sua prática pois, "as crençaso existem no vácuo, elas estão
baseadas na experiência e no contexto" (Barcelos, 2000:71).
É interessante salientar a descoberta de Barcelos (2000), de que os
professores de línguaso vistos pelos alunos como experts e, por isso, as crenças
de professores influenciam fortemente as que os alunosm sobre língua e sobre o
processo de aprendizagem da mesma. Nesse sentido, torna-se pertinente investigar
as crenças que professores de inglêsm sobre o computador na medida em que,
de alguma forma, podem repercutir nas que seus alunos terão sobre a máquina e a
tecnologia aplicada ao ensino.
1.2 O computador para fins educacionais
É notório que o computador já faz parte das vidas das pessoas no consumo e
produção de bens e serviços, por exemplo, no banco, no supermercado, nos
hospitais, no sistema de telefonia, entre tantos outros. Se o computador empresta a
essas situações de uso um sentido de eficiência e modernidade, a possibilidade de
utilização dele para fins educacionais pode gerar a interpretação de que o simples
fato do equipamento estar presente vá garantir educação de qualidade.
Com o intuito de esclarecer possibilidades de uso do computador para fins
instrucionais, subdividi essa seção de forma a abordar o uso presencial e a distância
do computador, destacando a relação homem-máquina e um possível uso inteligente
em educação. Para tanto, busquei respaldo em Oliveira (1997), Carvalho (2000),
Valente (2001), Masetto (2000), Behrens (2000), Kenski (2001b), Ramal (2002),
Almeida (1999) e em Warschauer & Healey (1998), esse último, especificamente
para o uso do computador em ensino e aprendizagem de línguas.
1.2.1 O uso presencial
Segundo Oliveira (1997), há 4 formas de utilização do computador na escola:
a instrução programada, simulações, aprendizagem por descoberta e pacotes
aplicativos.
A instrução programada é uma modalidade que tem como principal
característica colocar a máquina para ensinar o aluno., normalmente, perguntas
na forma de múltipla escolha, com respostas do tipo certo-errado e tente novamente.
É também possível mensurar o desempenho do usuário em relação ao tempo gasto
para a atividade e percentual de acertos e erros. Nessa perspectiva de uso, a
transmissão do conteúdo a ser aprendido pelo aluno pode ser testada e realizada
por meio do computador. Oliveira (1997 : 118) afirma que:
É uma das formas de utilização mais difundidas nas escolas, no
ensino de fatos, conceitos ou habilidades dentro do contexto curricular,
sendo que na maioria dos casos, atividades caracterizadas pela execução
de exercícios repetitivos e demonstrações.
Considerando o ensino de línguas, vocabulário e itens gramaticaiso os
assuntos mais freqüentemente abordados, os quaiso desenvolvidos através de
uma prática repetitiva que conduz à memorização.
Os tutoriais, conhecidos como uma variação sofisticada da instrução
programada, oferecem um conjunto de informações para, então, sugerirem questões
sobre o assunto. O avanço do usuário para uma segunda fase dependerá do
sucesso na primeira e todas as respostas dadas ficam armazenadas na memória do
computador.
A segunda forma de utilização do computador, a simulação, coloca o aluno
diante da máquina "como manipulador de situações [...] que imitam ou se aproximam
de um sistema real ou imaginário" (Oliveira, 1997:120). Por exemplo, o aluno ao
invés de misturar substâncias químicas no laboratório, para observar como reagem,
poderá manipular tais substâncias por meio da simulação no computador. Oliveira
(1997) alerta que as simulações devam ser usadas como complemento eo como
substituição de experiências reais de aprendizagem.
A aprendizagem por descoberta, terceira forma de utilização do computador,
consiste no uso da linguagem de programação Logo (Papert,1986), desenvolvida
com objetivos educacionais que privilegiam a construção do conhecimento. Essa
linguagem é comumente conhecida pela sua parte gráfica, reconhecida como a
geometria da tartaruga. A interação do aprendiz com o computador se dá pelos
comandos que ele fornece à tartaruga, cujo resultado se materializa na tela. O Logo
também possibilita trabalhar com números, palavras e listas ( seqüência de
palavras).
Os pacotes aplicativos, quarta forma de utilização do computador na escola,
o foram desenvolvidos especificamente para o uso educativo, porém podem ser
utilizados para esse fim com a vantagem de queo comercializados e facilmente
encontrados. Fazem parte deles os processadores de textos, as planilhas
eletrônicas, os gerenciadores de bancos de dados. Behrens (2000) acrescenta a
essa relação os programas de criação de apresentação e Valente (2001), os
programas de criação de multimídia. Apesar da variedade, os mais utilizados em
educaçãoo os processadores de texto e as planilhas eletrônicas.
Com os processadores de textos, Oliveira (1997: 126) declara que:
...possibilidade de os alunos desenvolverem o interesse pela
produção de textos, uma vez que, ao utilizar o computador em sua
elaboração, esta atividade torna-se muito mais rica, quando a comparamos
com a forma tradicional de escrita.
As planilhas eletrônicaso utilizadas no ensino de matemática, processando
informações que o professor teria dificuldade em demonstrar no quadro.
O quadro abaixo reúne as vantagens e desvantagens de cada uma das
formas de uso presencial do computador em educação e foi elaborado a partir da
argumentação de Oliveira (1997):
Quadro 1.2 Vantagens e Desvantagens do uso presencial do computador
No que concerne ao ensino e aprendizagem de línguas, Warschauer &
Healey (1998) informam que o computador tem sido usado desde 1960, sendo esse
uso identificado pela sigla CALL, Computer-Assisted Language Leaming
3
. De acordo
com esses autores, o uso do computador pode ser dividido a partir da tecnologia
disponível, da abordagem pedagógica e da situação econômica de cada época.
Os autores sugerem 3 estágios para o CALL, decorrente dos paradigmas
pedagógicos de cada época: o CALL comportamental (1960-1970), o comunicativo
(1980-1990) e o Integrativo (1990 em diante). A explicitação que fornecem para cada
estágio pode ser visualizada no quadro a seguir que reúne as principais
características de cada um:
3
Aprendizagem de Língua com a Assistência do Computador
Comportamental Comunicativo Integrativo
Prática da língua baseada Aprendizado consiste num Procura integrar várias
na repetição; processo de descobrimento, habilidades lingüísticas e o
Alunos podem trabalhar expressão e uso continuo da tecnologia;
individualmente; desenvolvimento; Foco no uso da língua em
Computador é Programas usados: contextos sociais autênticos;
considerado um tutor simulações (estímulo para Tecnologia disponível:
mecânico; discussão entre alunos Multimídia, com opções de
Usado para explicação trabalhando em pares ou informações, comunicação e
gramatical e tradução (foco grupos), reconstrução de divulgação.
na forma) textos (discussão de
Tecnologia disponível : significados);
mainframe Foco no uso das formas,
no que os alunos fazem uns
com os outros;
Tecnologia disponível:
Computador Pessoal (PC
4
)
Quadro 1.3 Características do CALL
É possível notar semelhanças entre os 3 estágios do CALL e as 4 formas de
uso propostas por Oliveira (1997). O CALL comportamental tem características da
instrução programada, o CALL comunicativo inclui simulação e o CALL integrativo
poderia ser associado ao uso de aplicativos.
Segundo Warschauer & Healey (1998), há dois tipos de programas usados no
ensino de línguas presencial que merecem atenção: os programas-curso, isto é, que
incluem currículo e os programas flexíveis. Os programas-cursom custo elevado e
o permitem que o professor faça alterações ou personifique o produto. Por outro
lado, os programas flexíveis, além de acrescentarem o componente computacional
às aulas de línguas,o mais baratos e podem servir de recurso extra para os
alunos, tanto que podem fazer parte do acervo da biblioteca das escolas.
Os autores ainda mencionam o uso presencial do computador para a
aprendizagem de línguas por meio de jogos, palavras cruzadas e dicionários. Os
jogos agregam o fator diversão, mas podem ser usados para desenvolver o trabalho
colaborativo, isto é, a produção oral na língua-alvo é mais importante do que é
mostrado na tela do computador. Com o uso do computador, as palavras cruzadas
passaram a requerer menos tempo de preparação e os dicionários monolingües que
4
Personal Computer
incluem gramática, vídeo clipes, pronúncia chegam, até, a fazer tradução do
discurso falado.
É importante mencionar que uma das áreas no ensino de línguas que se
beneficiaram com o uso do computador foi a da pronúncia, pois há programas que
incorporam gravadores de voz, vídeo clipes, animações da produção de sons.
Alguns programas chegam a fazer representações gráficas do discurso baseado em
um modelo e por conseguinte, fornecem feedback ao usuário (Warschauer & Healey,
1998).
A descrição de possíveis usos do computador integrado ao ensino de línguas,
na sala de aula presencial revela a riqueza de possibilidades e o potencial de
aplicação do recurso a contextos instrucionais.
1.2.2 O uso a distância
O uso do computador a distância para fins educacionais só se tomou possível
com as ferramentas de informação e comunicação, ou seja, com a Internet e seus
recursos, como correio eletrônico, listas de discussão, fórum e salas de bate-papo.
Behrens (2000:99) comenta que a Internet veio para "anexar um novo significado à
prática docente", pois permite que pessoas troquem informações e compartilhem
experiências, sendo que alunos e professores podem se comunicar fora da sala de
aula.
Masetto (2000) propõe usos para a Internet, salas de bate-papo, listas de
discussão e correio eletrônico, conforme sintetizo a seguir:
A Internet pode ser usada para visitar bibliotecas do mundo inteiro de forma
atraente e dinâmica. Nessas visitas é possível construir conhecimento,
produzir textos e registrar reflexões, " aprende-se a ler, a buscar
informações, a pesquisar, a comparar dados, a analisá-los, a criticá-los, a
organizá-los" (op. cit., p.161).
As salas de bate-papo permitem que os participantes se manifestem
espontaneamente sobre algum assunto, para, às vezes, posteriormente,
despertar um estudo mais profundo sobre o assunto discutido.
As listas de discussão possibilitam que grupos de pessoas debatam algum
assunto do qualm conhecimento e estudos prévios, com o objetivo de
avançar o conhecimento.
O correio eletrônico facilita o encontro entre alunos e professores
possibilitando a continuidade do processo de aprendizagem. Esses
encontros podem propiciar a troca de materiais e a produção de textos em
conjunto.
Kenski (2001b) concorda com Masetto (2000) no que se refere ao uso do
correio eletrônico, acrescentando que professores e alunos podem discutir projetos e
trabalhos, independentemente de local e horário.
Resgatando o uso de computadores para a aprendizagem de línguas (CALL),
Warschauer & Healey (1998) especificam que os contextos instrucionais virtuais só
se tomaram possíveis com o advento da CMC, comunicação mediada pelo
computador, que se materializa, na Internet, através de ferramentas e espaços de
comunicação, como o correio eletrônico e as salas de bate-papo. Os autores
pontuam que o aluno, ao usar a comunicação mediada pelo computador, participa
mais do que numa discussão presencial, além de usar vocabulário mais rebuscado.
Eu concordo com os autores mas enfatizo que, por outro lado, há alunos que podem
desaparecer nesse contexto pois, casoo se faça presente textualmente, eleo
será percebido pelos demais participantes da interação.
Segundo Warschauer & Healey (1998), a Internet reúne as bibliotecas,
publicidade, telefonia e televisão, constituindo-se em uma mídia revolucionária em
favor da aprendizagem de línguas, pois propicia a chance de se trabalhar com
material autêntico. As salas de bate-papo fazem parte da Internet e possibilitam a
comunicação em tempo real. O correio eletrônico dá a oportunidade para o
desenvolvimento de projetos colaborativos, por exemplo, um grupo de alunos que se
comunica para comparar filmes ou simular negócios, desenvolvendo, assim, a
habilidade escrita. Os autores reconhecem que o uso futuro do computador para a
aprendizagem de línguas tem duas direções a explorar: o uso inteligente do
computador e o letramento digital, assuntos que este estudo privilegia na seqüência.
O professor de línguas estrangeiras que trabalha em países em que a língua-
alvoo é a língua materna foi particularmente beneficiado com o uso da
comunicação mediada pelo computador pois, teve acesso a material autêntico
facilitado fazendo com que a língua, para o aluno, passasse de uma abstração para
uma realidade.
1.2.3 Relação ser humano-máquina
A forte presença dos computadores nas nossas vidas tem despertado
interesse em se pesquisar a relação que existe entre o ser humano e a máquina.
Carvalho (2000) investigou as reações de adultos brasileiros sobre a entrada dos
computadores pessoais em suas vidas, investigação essa que dá respaldo teórico
para esse estudo.
A capacidade de aprender que as criançasm hoje em dia pode ser
evidenciada na sua interação com a tecnologia dos jogos eletrônicos, dos vídeo
games, computadores e Internet. Carvalho (2000) afirma que essa superioridade das
crianças em relação aos adultos, no sentido de aprendizagem e uso da tecnologia,
advém da natureza do convívio. O autor ainda acrescenta que ao estudar o
relacionamento das crianças com os computadores,
observa-se que estes contribuem para o desenvolvimento e para
suas maneiras de olhar o mundo: as crianças desta geração diterenciam-se
daquelas das gerações anteriores no modo comoo tocadas pela
tecnologia, (p.70)
A questão da diferença entre gerações e da facilidade para conhecer algo foi
pauta de um histórico encontro entre Paulo Freire e Seymour Papert em 1996
5
. No
referido encontro, os educadores discutiram suas formas de perceber as novas
tecnologias na escola, sendo que Paulo Freire denominou a facilidade do mais
jovem em relação ao mais velho de "contemporaneidade de uma era". Assim, pode-
se dizer que as crianças, os jovens, de hojeo contemporâneos do computador e,
por essa razão, encontram-se mais familiarizados com a máquina.
5
Jornal da Tarde ,Caderno de Sábado de 10/01/1996.
E de primordial importância considerar o computador como um meio para se
alcançar aprendizagem contextualizada. Isto posto, Valente (2001) e Warschauer &
Healey (1998)m contribuições a dar.
O uso inteligente do computador na educação, segundo a visão de Valente
(2001), é aquele que provoca mudanças na abordagem pedagógica, distanciando-
se do processo de transmissão de conhecimento, pois é preciso preparar os
indivíduos para o mundo de hoje, um mundo em permanente mudança,
imprevisível, que exige indivíduos críticos, criativos, cooperativos, características
essas queo se transmitem, mas se constroem. O computador é um veículo por
meio do qual o aprendiz constrói conhecimento, cria e manipula informação.
Warschauer & Healey (1998) afirmam que o uso inteligente do computador
para a aprendizagem de línguas é aquele que combina o potencial educacional e
proporciona formas de comunicação que excedam a tela do computador, integrando
material e feedback significativos, além de informação em diferentes mídias de forma
a satisfazer os diferentes estilos de cada indivíduo.
Outro aspecto levantado por Behrens (2000: 99) para o uso inteligente do
computador é o de projetos educativos, pois segundo a autora:
1.2.4 O uso inteligente do computador
Há adultos que se sentem intimidados pelo computador pois, segundo
Carvalho (2000), estão presos às suas certezas e temem colocá-las em risco. O
computador representa um desafio e como tal exige dominação, ou seja, o adulto
sente a necessidade de ter controle sobre a máquina. Há adultos, também, que
declaram que o computador esteja destruindo as relações humanas, fazendo das
pessoas escravas da máquina. Carvalho (2000) explica que "os adultos elaboram
artimanhas em que procuram manter bem clara a separação entre eles e suas
máquinas" (p. 123)
Uma descoberta de Carvalho (2000) é de que o adulto dificilmente questiona
o valor do computador, parece haver um consenso generalizado de que o
computador é modernidade e como tal veio para facilitar, racionalizar e melhorar os
processos de trabalho.
o características de projetos educativos, segundo Ramal (2002) e Almeida
(1999), permitir que o conhecimento seja buscado e construído pelos alunos, por
meio de pesquisas pessoais e coletivas, levando em consideração as expectativas,
interesse e necessidade dos alunos e desenvolvendo a socialização e a
aprendizagem cooperativa. O ensino por projetos tem temas da vida cotidiana, o
que o torna significativo.
Uma das direções que o uso futuro do computador para a aprendizagem de
línguas pode seguir, segundo Warschauer & Healey (1998), é o letramento digital.
Eu acredito que essa direção concerne a todo e qualquer uso educacional do
computador eo só ao uso referente à aprendizagem de línguas. Com a entrada
do computador no cenário educacional, o professor passa a desempenhar múltiplas
funções, principalmente se o uso inteligente do computador for considerado. Esta
seção apresenta os conceitos de letramento e alfabetização tecnológicas e o papel
que se espera do professor na sociedade digital.
1.3.1 Letramento ou Alfabetização tecnológicos ?
A presença da tecnologia na sociedade contemporânea constitui-se em uma
das razões para que os termos letramento e alfabetização tecnológicos sejam
definidos. Eu prefiro distingui-los a partir de sua origem e de sua ligação com as
noções de leitura e escrita. Para isso, discuto os conceitos alfabetização e
letramento, segundo a visão de Kleiman (1995).
Segundo a autora, alfabetização "é o processo de aquisição dos códigos
alfabético e numérico que envolve competência individual" (Kleiman, 1995:20),
Torna-se importante considerar que esses recursos informatizados
estão disponíveis mas dependem de projetos educativos que levem à
aprendizagem e que possibilitem o desenvolvimento do espirito crítico e de
atividades criativas. O recurso por si sóo garante a inovação, mas
depende de um projeto bem arquitetado, alimentado pelos professores e
alunos queo usuários.
enquanto que letramento é um conjunto de práticas sociais que usam a escrita,
como sistema simbólico e como tecnologia, em contextos específicos, para objetivos
específicos. O letramento é um modelo autônomo cujo desenvolvimento pressupõe
associação com o progresso, civilização e mobilidade social.
Transferindo-se a definição dos termos, segundo Kleiman (1995), para o
contexto tecnológico, é possível compreendê-los. Os comandos operacionais do
computador constituem-se em um código, assim como a leitura e a escrita. O
indivíduo considerado alfabetizado, portanto, é aquele que domina os códigos, é
aquele capaz de decodificar as letras agrupadas. Nesse sentido, o indivíduo
alfabetizado tecnologicamente é aquele que domina a máquina, capaz de
decodificar o sistema operacional a ponto de fazê-lo funcionar e executar tarefas
elementares.
O letramento é um conceito mais amplo, isto é, inclui o uso que o indivíduo
alfabetizado fará da habilidade de decodificar o sistema simbólico. Da mesma forma,
o letramento digital engloba o uso que o indivíduo alfabetizado tecnologicamente
fará do computador.
Lotherington (2001) e Pretto (2001) concordam que alfabetização tecnológica
é a aquisição e domínio do código da linguagem tecnológica, um processo
mecanicista. Para que um indivíduo seja considerado alfabetizado tecnologicamente,
ele precisa inteirar-se das partes constituintes de um computador: mouse, cpu,
monitor, cabos, impressora, cartucho; saber ligar, desligar; manusear aplicativos:
processador de texto, tabelas, banco de dados, construção de páginas; usar as
funções dos aplicativos: copiar, colar, apagar, colorir, inserir figuras, notas,
referências, formatar página, parágrafos, gráficos, entre uma infinidade de outras
funções meramente mecânicas.
Letramento digital ou tecnológico é muito mais abrangente do que
alfabetização, pois inclui interpretação critica da realidade, possibilitando acesso e
atuação social consciente.
Para Warschauer & Healey (1998), Waschauer (1999), Olson (2002) o
letramento inclui encontrar, avaliar e interpretar com criticidade as informações
veiculadas na Internet. O professor letrado tecnologicamente será capaz de fazer
escolhas conscientes sobre o uso das formas mais adequadas ao ensino.
É possível inferir que há graus de letramento digital, relacionado à criticidade
envolvida nas escolhas de uso: quanto maior for o senso crítico-reflexivo utilizado e
o grau de sofisticação de uso da máquina para finalidades específicas, maior o grau
de letramento demonstrado pelo indivíduo. Eu acredito que o letramento digital é
vital para que tanto professores quanto alunos sejam capazes de escolher material,
por exemplo, da Internet, pois qualquer coisa pode ser disponibilizada na Internet,
sem o controle ou seleção prévia de alguém. Assim, só o letramento digital
desenvolverá o senso crítico para que se separe o joio do trigo.
Ressalto que este estudo adota o conceito letramento digital, ao qual
Sampaio & Leite (1999) chamam de alfabetização tecnológica.
1.3.2 Papel do professor na sociedade digital
Dada a introdução da tecnologia no contexto educacional e a conseqüente
multiplicidade de ações que os professores passaram a desempenhar, vários
autores articulam papéis para o professor na sociedade digital. O quadro, a seguir,
reúne vários autores e suas perspectivas definições para o papel do professor:
Autor
Moraes (1997)
Valente (1999)
Moran (2000)
Behrens (2000)
Masetto (2000)
Kenski
(2001a)
(2001b)
(2003)
Papel do professor
Educador-educando
Facilitador, supervisor, consultor do aluno, desafiador
Educador, orientador, mediador, gestor, pesquisador
Investigador, pesquisador, inovador, articulador, parceiro
Mediador, facilitador, incentivador, motivador, consultor, colaborador
Agente de memória, valores e inovações
Inovador
Parceiro, pedagogo, colaborador
Quadrai .4 Papéis do professor na sociedade digital
Moraes (1997) explica que o educador-educando é aquele que ao mesmo
tempo que educa, aprende, estabelecendo a relação inversa com o aprendiz, ou
seja, o aprendiz ao aprender, também educa. O educador- educando, segundo a
autora, "propõe situações-problema, desafios, reflexões" (op.cit., p.152), respeita o
aluno segundo sua condição intelectual e emocional.
Valente (1999) ressalta que o professor facilitador, supervisor, consultor do
aluno, desafiador é aquele que se nega a ser o "entregador" de informações; ao
contrário, incentiva a reflexão crítica, as relações sociais e o trabalho em grupo.
Moran (2000 :17) afirma que o professor educador é "um poço inesgotável de
descobertas". Ele aprende, ensina, valoriza a diferença e tem como desafio tomar a
informação significativa. O professor orientador e gestor, esclarece o autor, é aquele
que integra de "forma equilibrada a orientação intelectual, a emocional e a gerencial"
(p.30). Já o professor pesquisador aprende com a pesquisa e ensina a partir do que
aprende e, o professor mediador ajuda a escolher informações e trabalha para que
essas se tornem significativas: ele motiva, estimula, organiza limites e atividades.
Para Behrens (2000), o professor investigador, pesquisador, inovador,
articulador, parceiro deixa de ser o dono da verdade para ser crítico, reflexivo e
criativo.
O professor mediador, facilitador, incentivador, motivador, consultor,
colaborador, segundo a visão de Masetto (2000), é aquele interessado pelo
desenvolvimento do ser humano como um todo, disposto a dinamizar a
aprendizagem do aluno e a incentivar o trabalho em equipe.
Ao identificar o professor como agente de memória, Kenski (2001a) enfatiza
sua responsabilidade na manutenção da memória social, "capaz de realizar
interações e intercâmbios entre linguagens, espaços, tempos e conhecimentos"
(p.97). O professor agente de memória recupera atitudes, hábitos e valores
respeitados pelo grupo, inclusive a cultura escolar, ou seja, aquela aprendida no
convívio. O acervo pessoal de informações e saberes do professoro é limitado e
único, o professor como agente da memória, deve estar aberto a novas
aprendizagens, deve estar permanentemente aprendendo.
Kenski (2001a) complementa que o conhecimentoo é atribuição exclusiva
das instituições de ensino, pois cabe ao professor agente de memória coordenar a
ação e reflexão, orientar seus alunos a respeitar e a aprender por meio das trocas,
virtuais ou não, com pessoas de outras culturas, línguas e realidade social. No
mundo que anda para a frente, o professor funciona como agente que recupera o
passado, dando a ele significado. Na era digital, a grande transformação do papei
do professor está na interatividade das atividades que colocam a escola no mundo,
A mim agrada muito o papel do professor educador-educando, proposto por
Moraes (1997), contudo concordo com a proposta de Kenski (2001a) de professor
agente de memória, valores e inovações. À proposta da autora, eu acrescentaria
professor agente de autonomia, uma vez que ele promove, facilita, incentiva o aluno
a buscar, a ser autônomo.
Considerando os objetivos traçados para esta investigação e as perguntas de
pesquisa que a norteiam, concluo que a identificação das crenças, apesar da
complexidade que cerca o conceito, poderá ser de grande valia na elaboração de
programas de formação do professor de inglês que integrem componentes
tecnológicos.
Capítulo 2
ESTRUTURANDO A INVESTIGAÇÃO
Considerando que o objetivo desta pesquisa foi identificar as crenças de
professores de inglês, de escolas regulares públicas e particulares e de idiomas,
tanto em relação ao uso do computador em suas práticas docentes, quanto em
relação ao seu papel na sociedade digital, de forma a buscar subsídios que integrem
a tecnologia educacional a programas de formação inicial e continuada de
professores, apresento, neste capítulo, a abordagem metodológica hermenêutico-
fenomenológica, que me orientou nesta investigação. Também apresento
informações sobre o contexto de pesquisa, os participantes, os instrumentos para a
geração de dados, o software QSR-NUD*IST utilizado na organização dos dados e
os procedimentos de interpretação adotados.
2.1 Escolhendo o caminho
Ao enveredar por uma pesquisa, é importante fazer escolhas que orientem o
pesquisador na sua investigação. O caminho que escolhi para me guiar neste
estudo, circunscrito no âmbito da pesquisa qualitativa, começa na Fenomenologia. A
Fenomenologia é uma ciência que procura descrever o(s) fenômeno(s), buscando
desvendar sua natureza que, por sua vez, é constituída de qualquer coisa que
apresente consciência
6
, seja real ou imaginária, mensurável ou subjetiva (van
Manen, 1990). A Fenomenologia tem como característica marcante uma forte
ligação com a vida no mundo, com a vida comos a experienciamos, lançando
o da observação e participação como meios para chegar à descrição dos
fenômenos da experiência humana e, assim, à sua essência, ao(s) significado(s)
atribuído(s) por quem os vive.
6
Na concepção de van Manen (1990), por consciência entende-se "estar consciente de algum aspecto do
mundo"(p.9)
Para buscar o entendimento de um fenômeno, contudo,o basta descrevê-
lo, é preciso interpretá-lo. Neste sentido, fenomenologia e hermenêutica podem estar
associadas, uma vez que o objeto desta última é a interpretação de experiências.
Assim, meu caminho metodológico também trilha pela Hermenêutica e
afirma-se na proposta de van Manen (1990) que, articulando a Fenomenologia
(descrição) e Hermenêutica (interpretação), sugere uma abordagem investigativa
denominada: hermenêutico-fenomenológica.
A abordagem hermenêutico-fenomenológica sugere que a experiência
humana seja transformada em texto escrito (texto hermenêutico), pois este
procedimento permite, ao mesmo tempo, um registro do fenômeno por quem o vive
e um distanciamento do fenômeno em foco, possibilitando que seja olhado de outra
forma. A experiência de vida transformada em texto passa, então, a ser um registro
documentado que permite ao pesquisador revisitar e reviver o momento em que o
fenômeno aconteceu e seu contexto, podendo interpretá-lo de forma mais
consistente.
A abordagem hermenêutico-fenomenológica toma como base as experiências
vividas, as reflexões sobre elas e suas possíveis interpretações, para melhor
compreender o significado de um aspecto da experiência humana (van Manen,
1990). Ela busca entendimento para um fenômeno, partindo das descrições de
quem o vivencia, respeitando a singularidade de cada ser humano. Dessa forma,
corresponde a uma tentativa sistemática de descobrir e descrever o significado da
essência do fenômeno, além de construir e interpretar a descrição de ações,
comportamentos, intenções e experiências como existem no mundo (van Manen,
1990).
O meu estudo está interessado nas crenças de professores de inglês, uma
vez que, ao descrever suas experiências em relação à inclusão (ou não) do
computador nas suas práticas docentes e ao seu papel na sociedade digital, os
professores participanteso levados a resgatar suas vivências com a máquina,
como usuários, com propósitos diversos. Portanto, a abordagem hermenêutico-
fenomenológica, que está interessada na descrição e interpretação dos fenômenos
da experiência humana, por quem, de fato, os vive, atende às características do meu
estudo.
2.2 O Contexto e os participantes
Esta pesquisa foi realizada em 10 instituições de ensino de diferentes
naturezas, todas localizadas na Grandeo Paulo, sendo 4 escolas regulares
públicas (3 estaduais e 1 municipal); 2 escolas regulares particulares e 4 escolas de
idiomas.
Este estudo envolveu 15 professores de inglês assim caracterizados: 9 usam
o computador em suas práticas docentes e 6o o utilizam. Dentre os que usam o
computador (9), há 3 que lecionam em escolas regulares públicas, 2 de escolas
regulares particulares e 4 de escolas de idiomas. Dentre os professores queo
usam o computador (6) em suas práticas docentes, há 2 professores de inglês
oriundos de escolas regulares públicas, 2 de escolas regulares particulares e 2 de
escolas de idiomas, sendo que todosm o equipamento em casa.
Apesar de os professores participantes terem sido caracterizados pelo fato de
usarem ouo o computador em suas práticas docentes, constatei que 14 desses
professoreso usuários de computadores, independentemente de sua prática
profissional, possuindo o equipamento em suas casas. A única professora
participante queo o possui em casa é Izabel
7
, professora da escola regular
pública, que, mesmo assim, utiliza o recurso computacional na sua prática docente.
Os professores participantes, aqui apresentados com nomes fictícios,m
idades entre 26 e 45 anos e experiência como docentes de inglês que varia de 4 a
25 anos.o formados em Letras, exceto duas professoras participantes: uma de
escola regular particular (que usa o computador em sua prática), que se formou em
Química
8
, e a outra de escola de idiomas (queo usa o computador em sua
prática), que se formou em Publicidade e Propaganda.
Para melhor visualizar a caracterização de cada participante, pois a
experiência de vida e o contexto de cada um deleso marcantes na geração e
interpretação dos dados, elaborei os quadros que apresento a seguir, ressaltando
que os mesmos marcam a filiação institucional dos professores participantes.
A professora participante encontra-se na "fila" para adquirir um computador por meio da campanha do
Governo do Estado deo Paulo em parceria com um banco ( BANESPA ou CAIXA )
8
Esta professora participante tem complementação pedagógica e proficiência internacional no idioma inglês.
O quadro 1 caracteriza as informações dos professores participantes que
usam o computador em suas práticas docentes:
Quadro 2.1 Caracterização dos participantes que usam computador.
9
Titulação obtida na Inglaterra.
10
Titulação (mestrado e doutorado) obtida nos EUA.
O quadro 2 caracteriza as informações dos professores participantes queo
usam o computador
2.3 Instrumentos para a geração de dados
Neste trabalho, deliberadamente opto por utilizar o termo gerar dados ao
invés de coletar dados, pois concordo com Mason (1996:36), quando afirma que:
[...] as a researcher you do not simply work out where to find data
which already exists in a collectable state. Instead, you work out how best
you can generate data from your chosen data sources.
Para gerar dados para este estudo, usei, em um primeiro momento, uma
entrevista semi-estruturada com cada um dos participantes, a qual foi gravada em
áudio e posteriormente transcrita. Em um segundo momento, usei o relato escrito
com o objetivo de complementar a entrevista. Ambos os instrumentos de geração de
dados foram utilizados durante um semestre letivo.
2.3.1 A Entrevista semi-estruturada
Para contextualizar a geração de dados para a minha pesquisa, recebi
indicação de colegas e professores sobre instituições que usavam ouo o
computador no ensino de inglês. A partir de então, entrei em contato, pessoalmente,
com as instituições (seus representantes legais), apresentei-me como professora de
inglês desenvolvendo uma pesquisa de mestrado e o acesso aos participantes me
foi concedido. As entrevistas foram agendadas por mim, diretamente com os
professores. Portanto, eu os conheci antes do evento entrevista acontecer.
A opção pela entrevista semi-estruturada deu-se em função desta servir aos
propósitos da abordagem metodológica que conduz esta investigação, pois a
entrevista semi-estruturada é sensível ao contexto da interação, além de dar
abertura para que o entrevistado complemente suas respostas, conforme pontuam
Hitchcock & Hughes (1989:83):
The semi-structured interview [...] is the one which tends to be most
favoured by educational researchers since it alllows depth to be achieved by
providing opportunity on the part of the interviewer to probe and expand the
interviewee's responses.
Uma característica marcante da entrevista semi-estruturada, portanto, é sua
flexibilidade, pois seu formato dá acesso privilegiado às vidas de outras pessoas
(Nunan, 1992). Barcelos (2001:80) acrescenta que, "por meio de entrevistas, os
participantesm a oportunidade de elaborar e refletir sobre suas experiências". De
acordo com Gadamer (1975, citado em van Manen, 1990:98), a entrevista é um
processo dialógico de pergunta e resposta, constituindo-se em uma conversa
orientada para fazer sentido. Essa conversa dá a chance para que o assunto em
pauta seja alvo de discussão e negociação, assemelhando-se à conversa entre
amigos, uma vez que amigos procuram realçar o que há de mais forte, mais
marcante no outro. Nessa perspectiva, o entrevistador mantém a pergunta aberta e o
entrevistado orientado para o assunto investigado. O entrevistado se toma co-
investigador, pois adquire mais do que interesse pela pesquisa: o entrevistado passa
a dar importância ao assunto, tornando-se interlocutor eo fornecedor de
informações.
Para realizar a entrevista semi-estruturada, elaborei um roteiro de perguntas
flexíveis (Anexo 1), o qual começa com uma conversa sobre suas vidas pessoais e
profissionais, deixando-os mais à vontade para, então, adentrar à investigação sobre
o conhecimento tecnológico do professor participante como usuário de
computadores. Seguindo com questões diferenciadas para professores participantes
que usam eo usam o computador em suas práticas docentes, concluo com
questões direcionadas ao papel do professor na sociedade digital. O roteiro de
entrevista foi fundamentado na orientação de Mason (1996), que sugere tomar
como base as perguntas de pesquisa para se atingir a investigação desejada .
2.3.2 O relato escrito
A minha escolha por utilizar o relato escrito como instrumento para a geração
de dados deu-se, principalmente, pela adoção de uma abordagem hermenêutico-
fenomenológica de investigação, que sugere a textualização das experiências e/ou
fenômenos vividos. Por meio da escrita, há possibilidade de revisitar os dados a
qualquer momento e, desta forma, aprofundar o exercício reflexivo envolvido no
processo de interpretação. Conforme esclarece van Manen (1990: 64), "a escrita
encaminha a pessoa a uma atitude reflexiva".
Ao término de cada entrevista (que se constitui em um dos tipos de texto
utilizados neste trabalho), eu deixava com o professor participante três proposições:
O que você considera uma aula de inglês ideal,
possível, e impossível, usando o computador e/ou algum
de seus recursos ?
Também pedi que reagisse às proposições por escrito, justificando suas
afirmações. Se o participante fosse usuário de e-mail, então ele poderia enviar suas
respostas por esse canal, se não, eu me comprometia a buscar o relato na sua
respectiva escola, numa data específica e conveniente para o professor participante.
Dos 15 participantes, 9 optaram pelo envio por e-mail e 6 preferiram fornecer seus
relatos escritos manualmente, os quais foram digitados e, assim, constituíram-se em
registros escritos.
2.4 Procedimentos de Organização dos dados
Para organizar os dados gerados, lanceio de um software específico,
QSR-NUD*IST (versão N6 para estudantes, 2002), que, pelos recursos que oferece,
auxiliou-me na identificação dos temas emergentes dos dados. De acordo com o
manual:
O referido software foi desenhado com o objetivo de ajudar seus
usuários no manuseio de dadoso numéricos eo estruturados como
entrevistas, notas de campo, coleção de documentos, transcrições ou
simplesmente anotações sobre um evento ou um problema. O programa
oferece ferramentas de organização que auxiliam a interpretação e
codificação, ou indexação, busca de textos ou padrões de codificações
entre outros. (QSR-N6-Student,2002:4)
É relevante informar que a versão N6, para estudantes, foi desenhada para
lidar com uma quantidade menor de informações se comparado à versão completa.
O programa foi concebido pelo casal Tom e Lyn Richards, sendo ele um especialista
em programação computacional e ela uma pesquisadora. Essa união de habilidades
individuais foi que permitiu o desenvolvimento de um instrumentoo completo
(Weitzman & Miles,1995).
Para que os textos hermenêuticos gerados nas entrevistas fossem
transformados em documentos que pudessem ser utilizados no programa
computacional, foi necessário que os arquivos textuais estivessem na extensão txt,
isto é, texto simples. Assim, foi possível importar os arquivos txt para o programa
QSR-NUD*IST e armazená-los na ferramenta Document Explorer, conforme figura
ilustrativa que segue:
Figura 2.1 Arquivos importados e armazenados no Node Explorer
Utilizando a ferramenta Document Explorer, foi possível examinar cada
documento, selecionar e codificar linhas, sentenças ou parágrafos, além de registrar
comentários do pesquisador. Tais procedimentos facilitaram o manuseio dos dados.
A figura 2 mostra uma das entrevistas usadas neste estudo e a ferramenta In
Vivo que permitiu selecionar trechos e codificá-los:
Figura 2.2 Documento para codificação no Document Explorer.
É importante lembrar que a codificação dos trechos selecionados, ou melhor,
a identificação dos temas emergentes, foi elaborada por mim e que todos os trechos
tematizados foram armazenados na ferramenta Node Explorer, a qual passou a
conter os temas encontrados e suas respectivas ilustrações. Portanto, todos os
trechos sobre um mesmo tema foram armazenados no mesmo node. Neste caso, o
recurso In Vivo serviu para criar subdivisões de um tema. Por exemplo, o tema
crença contém 2 subdivisões: uso na prática docente e papel na sociedade digital.
A figura 3, a seguir, mostra a ferramenta Node Explorer com as codificações e
subcodificações feitas, bem como o node que contém todos os trechos referentes
ao subtema crença sobre o uso do computador na prática docente:
Figura 2.3 Ferramenta Node Explorer
O recurso Tree Node, encontrado no Node Explorer, cria uma árvore na qual
os temas podem ser representados graficamente e, dependendo da natureza do
estudo realizado, organizados de forma hierárquica, ou de interdependência. A
figura 2.4 mostra a Tree Node gerada neste estudo:
Figura 2.4 Tree Node: a representação gráfica dos temas encontrados
O programa também tem a capacidade de gerar relatórios dos temas
identificados, os quaiso disponibilizados ao pesquisador a partir de um comando
específico. Para ilustrar tal recurso, apresento um exemplo de relatório:
Quadro 2.4. Relatório Tree Node gerado neste estudo
Um recurso disponível tanto no Document Explorer quanto no Node Explorer
é o Text Search, que permite buscar palavras ou frases. O resultado da busca é
apresentado sob a forma de listagem de todas as ocorrências encontradas no
documento, identificadas pelo número da linha em que a palavra foi encontrada. No
exemplo que segue, ilustro uma busca para a frase "eu acho" e as 8 ocorrências
resultantes contendo o número das linhas em que foram encontradas:
Figura 2.5 Recurso Text Search
O QSR-NUD*IST possui, além do manual impresso, um tutorial que ajuda o
usuário a se familiarizar com os nomes e recursos do programa. É um programa que
o apenas auxilia o pesquisador a organizar seus dados, mas também o coloca em
contato inédito com eles, permitindo melhor visualização, mais oportunidade de
reflexão e, consequentemente, mais possibilidades de interpretação mais detalhada.
2.5 Procedimentos de interpretação
A interpretação dos dados foi feita por meio da identificação de temas pois,
segundo van Manen (1990:78), "a análise temática na abordagem hermenêutico-
fenomenológica é uma tentativa de descobrir algo significativo das experiências".
A análise temática, sob uma perspectiva hermenêutico-fenomenológica,
envolve busca de significado, descoberta, interpretação e re-interpretação. Por esse
motivo,o contempla a utilização de categorias pré-definidas ou a aplicação de
regras fixas. Ao contrário, permite que os dados revelem os temas que deles
emergem e queo reconhecidos pelo exercício interpretativo do pesquisador.
van Manen (1990) esclarece que o tema é a necessidade (ou desejo) de
atribuir significado, é o sentido que somos capazes de dar a alguma coisa, é
abertura para algo, é o processo de invenção e descoberta. Para isso, o pesquisador
precisa lançar um olhar sensível aos dados, buscando significados eo
generalizações; tais sentidoso partes constituintes de uma rede de experiências
para a qual se busca entendimento.
Particularizando o estudo que realizei e considerando os textos originados
das entrevistas e relatos, utilizei o programa QSR-NUD*IST (Non-numerical
Unstructured Data Indexing Searching & Theorizing), versão N6 para estudante, para
auxiliar-me na organização dos dados e identificação dos temas.
Primeiramente, a identificação de temas ocorreu revisitando as entrevistas de
cada participante (disponíveis no Document Explorer do QSR-NUD*IST), as quais
foram minuciosamente revistas na busca de fazerem sentido, de descobrir os
significados das experiências de vida dos participantes, ou seja, os temas. Cada
tema foi, então, armazenado (no Node Explorer do QSR-NUD* IST), juntamente com
seus respectivos trechos ilustrativos. O mesmo procedimento foi usado para os
relatos escritos, caracterizando o processo de tematização que embasa a
interpretação de dados sob uma perspectiva hermenêutico-fenomenológica. Ao
término desse procedimento, identifiquei vários temas.
Revisitando-os no Node Explorer, notei que vários deles estavam
relacionados e que, portanto, poderiam ser agrupados em temas e subtemas, como
apresento a seguir, por meio da Tree Node (figura 2.6) e do quadro 2.5:
Figura 2.6 Tree Node : temas e subtemas
Temas
Alfabetização
tecnológica do
professor
Dificuldades
Material
Crenças
Intenções
Futuras
Subtemas
(1) Auto-alfabetização, (2) alfabetização formal, (3) alfabetização informal
(1) Desgaste do professor, (2) uso administrativo do computador na escola
(1) Projetos, (2) Inglês na Internet, (3) Empresa e Educação
(1) o computador na prática docente
(2) o papel do professor, (2a) professor agente de (2b) professor crítico,
(2c) professor educador, (2d) professor facilitador
Quadro 2.5 Temas e subtemas
12
Para visualizar os procedimentos de interpretação que adotei, elaborei o
seguinte quadro:
Quadro 2.6. Caracterização gráfica dos procedimentos de interpretação
12
Este quadro foi elaborado considerando possíveis problemas de visualização da figura 2.6 quando impressa.
Portanto, a partir da investigação dos dados (entrevistas e relatos), identifiquei
5 temas principais, entre os quais destaco crenças em relação tanto ao uso do
computador quanto ao papel do professor correspondentes a focos investigativos
destacados em minhas perguntas de pesquisa. Os grupos temáticos aqui
encontradoso discutidos, no capítulo seguinte, à luz do referencial teórico
pertinente.
Capítulo 3
EXPLORANDO E INTERPRETANDO TEMAS
Neste capítulo, apresento e discuto os resultados obtidos nesta investigação
com base nos pressupostos teórico-metodológicos apresentados, respectivamente
nos capítulos 1 e 2.
O capítulo foi dividido em seções, conforme os grupos temáticos identificados
durante os procedimentos de interpretação, dessa forma mostro as crenças, dos
professores participantes, que foram identificadas tanto sobre o uso do computador
na prática docente quanto em relação ao seu papel na sociedade digital. Também
abordo a alfabetização tecnológica do professor, relacionando-a com o letramento
digital e discuto sobre material comumente utilizado pelos professores participantes.
Apresento, ainda a discussão do tema dificuldades dos professores no que concerne
ao uso do computador na prática docente e, encerro resgatando as intenções futuras
desses professores no que concerne ao uso do computador em sua atividade
profissional.
3.1 Crenças : O uso do computador na prática docente
Para elencar as crenças em relação ao computador na prática docente
identificadas nos dados, elaborei o quadro que segue, destacando sua ocorrência
total; ou seja, o número de participantes que as mencionaram, subdividindo-os
segundo o fato de usarem ouo o computador, e segundo a filiação institucional
(escolas regulares públicas, particulares e escolas de idiomas). No quadro a seguir,
também merecem destaque as crenças mencionadas por mais de um professor:
46
Quadro 3.1 Identificação das crenças sobre o uso do computador na prática docente
É possível constatar, por meio do quadro, a diversidade de crenças
13
que os
professores têm, sendo que algumas ocorreram na fala de vários professores,
enquanto que outras foram evidenciadas em falas individuais. Nesse sentido, é
possível verificar que os participantes que usam o equipamento e os de escola
regular públicao os que maism crenças em comum. Por outro lado, as crenças
individuais ficaram marcadas nas falas de professores que usam o computador e,
segundo filiação institucional, dividem-se em escola de idiomas (7) e escola regular
pública (6).
Tomando como base os pressupostos teóricos sobre crenças (Pajares,1992;
Borg, 2001), a gama de crenças variadas ocorrida na fala de professores distintos
revela a característica de individualidade que a crença pode ter, além de também
revelar a relação das crenças com o contexto ( Barcelos, 2000). Fica evidente neste
estudo que o contexto em que o professor desenvolve sua atividade docente exerce
influência em sua percepção sobre a máquina, pois as crenças individuais ficam
marcadas entre os professores de escolas de idiomas e de escolas públicas que
usam o computador.
Analisando cada uma das crenças identificadas sobre o uso do computador
na prática docente, observei que algumas expressam a mesma idéia e, por essa
razão, seria mais adequado agrupá-las para melhor discuti-las. Como resultado
dessa organização, obtive três grandes áreas temáticas que represento a seguir:
Áreas temáticas
O professor e o
computador na sala
de aula
As atividades
O professor e o
computador
Crenças
Professor tem que saber manusear, mexer com o computador; computador é
uma ferramenta a mais para o professor; computadoro substituirá o
professor; número de computadores deve ser compatível com o de alunos;
capacitação do governo do Estado deo Paulo; professor tem que melhorar
muito e aula de inglêso é sinônimo de aula de informática.
Atividadesm que ser significativas;o se deve usar o computador só por
usar; aula só com o computadoro é suficiente; o computador traz
diversidade para as aulas; utilizar material da Internet é "legal"; o uso do
computador deve estar atrelado à realidade; aluno aprende mais na Internet
ou na TV do que na escola formal; professor tem que ser sensível às
necessidades dos alunos; o uso de software pode ser feito só pelo aluno e
professor tem que ter material pronto para usar.
Professor tem que perder o medo de usar o computador; a desvantagem do
ensino a distância é a falta de contato humano; aluno sabe mais que professor
sobre o computador e o computador faz parte da realidade do aluno.
Quadro 3.2 As crenças dos professores e suas correspondentes áreas temáticas
13
Total de 24 crenças sobre o uso do computador.
Devido à importância de cada área temática emergente, passo a tratá-las
separadamente.
3.1.1 O professor e o computador na sala de aula
Para discutir as crenças relativas ao professor e o computador, transcrevo
algumas falas dos professores, ilustrando as vozes de participantes que usam eo
usam o computador, em diferentes contextos institucionais. O trecho abaixo,
referente à necessidade de o professor ter que saber manusear, mexer com o
computador, é da Daniela, professora queo usa o computador e é de escola de
idiomas:
eu acho que isso aí é primordial, condição sine qua non , você tem
que saber usar, para poder explorar mais
14
. Poder oferecer mais coisas, dar
outras alternativas, então eu vejo assim , acho que a primeira coisa é você
estar atualizada, dar uma reciclada boa no seu conhecimento.
É evidente na fala da Daniela a necessidade de, primeiro, ser capaz de operar
a máquina, portanto, ser alfabetizada (Lotherington, 2001; Pretto, 2001) para, então,
explorá-la. Por explorar, eu entendo usar o computador na prática docente.
A professora Fernanda, queo usa o computador e é de escola regular
pública, revela a mesma necessidade de primeiro saber (ser alfabetizada) para
depois fazer, utilizar:
Eu acho que eu deveria fazer um bom curso de computação,
primeiro lugar, pra dominar muito bem o computador, porque eu acho que
eu domino assim: o básico, euo tenho domínio total dele, da máquina em
si, de outro programa fora o Word, por exemplo, que eu precisaria usar.
A professora Dulce, que usa o computador e é de escola regular pública,
também evidencia a necessidade do professor ser alfabetizado tecnologicamente:
Primeiro, eu acho que tem que conhecer a ferramenta, tem que
saber manusear o computador, porque se eleo souber, eu acho que fica
difícil, né ?
Todos os gritos nos excertos dos professores participanteso meus.
É interessante notar que, nas falas transcritas, apesar de as participanteso
usarem o termo alfabetização tecnológica, a idéia expressa é essa, porque todas se
referem ao domínio operacional da máquina, especificamente.
O trecho transcrito a seguir é do professor Paulo, que usa o computador em
escolas de idiomas. Sua fala é, ao mesmo tempo, reveladora de duas crenças: a de
que o computador é uma ferramenta a mais e de seu letramento digital.
É mais uma ferramenta que se agregou ao ensino de línguas, como
qualquer outra ferramenta, isso depende muito mais de como o professor
vai utilizar ou não, mas com certeza, inegavelmente, é uma ferramenta
importantíssima e muito facilitadora, muito facilitadora , além de ser um
atrativo,.
Seu grau de letramento (Warschauer,1999; Sampaio & Leite, 1999), evidencia
sua conscientização ao afirmar a importância do uso que se fará da ferramenta.
Também é Paulo quem acredita que aula de inglêso é sinônimo de aula de
informática, conforme trecho que segue:
às vezes, ele transforma aquilo numa aula de computador, numa
aula de Internet e na verdade você tem que ter um extrato daquilo.
Novamente, é possível inferir seu letramento digital, revelado por sua
preocupação com o que fazer com o equipamento.
Em relação à crença de que o computadoro substituirá o professor, Kenski
(2001a) afirma que somente os docentes pessimistas acreditam nao continuidade
da profissão, dadas as inovações tecnológicas. Assim sendo, é possível afirmar que
a professora Fernanda, queo usa o computador e é de escola regular pública, é
otimista. Tal interpretação fica ilustrada no trecho a seguir, no qual também enfatiza
que o computador é uma ferramenta a mais:
O computador vem complementar, eleo vem substituir, ele vem
complementar.
Um dado revelador concerne à existência de um número compatível entre
computadores e alunos. Essa crença foi mencionada por 4 professoras da escola
regular pública, sendo que duas usam o computador e duaso o utilizam. Para as
professoras Fernanda e Sandra, queo usam o computador, trata-se de uma
crença, pois elaso usam o computador. Para Izabel e Eliana, professoras que
usam o equipamento, trata-se de constatação da realidade. Transcrevi dois trechos,
um de Fernanda e um de Izabel, de forma a ilustrar a visão contrastiva entre crença
e constatação da realidade:
Crença Constatação da realidade
Eu acho que a escola tem que fornecer, primeiro, o número de computadores que a genteo tem
condições para isso. Se você tem 40 alunos o suficiente para explorar
numa sala, você tem que ter, no mínimo. 20
computadores com o mesmo programa, com o
mesmo nível, para você poder colocar,usar dois
por cada computador, por exemplo, para você
poder dar uma boa aula !
Nota-se que a crença de Fernanda fica marcada pelo uso de "eu acho", "se
você tem", enquanto que Izabel usa "o número de computadores que a genteo
tem...".
Outra crença que emerge relaciona-se à capacitação dada pelo Governo do
Estado deo Paulo. Para conseguir entender e interpretar esse curso, tive
necessidade de buscar informações que me esclarecessem do que consiste esse
programa oficial. Então, procurei a Marli
15
que, naquela ocasião, explicou-me ter
feito um curso no núcleo de capacitação do governo para que se tomasse
multiplicadora. Assim sendo, o trabalho dela consiste em apresentar os programas
educativos adquiridos pelo Estado e disponibilizados nas escolas. Além da
capacitação para o material de inglês, ela também orienta professores de outras
disciplinas. Os encontros acontecem, geralmente, aos sábados.
No caso específico da disciplina inglês, há dois programas: o Sheriock Inglês,
para o Ensino Fundamental, que tem como focos a leitura e a interpretação de textos
em inglês e o More Than Words, para o Ensino Médio, que tem como focos a busca
de conhecimentos e a comunicação. No site do Governo do Estado deo Paulo,
www.educacao.sp gov.br,o encontrei maiores explicações sobre o programa de
capacitação, mas há um link denominado inclusão digital, o qual informa o professor
sobre um programa de auxílio financeiro, através da Caixa Econômica, para quem
quiser adquirir um computador pessoal. Todo esse histórico sobre a capacitação
Capacitadora
patrocinada pelo Governo do Estado deo Paulo contextualiza as crenças
reveladas por duas professoras: Fernanda e Sandra.
A professora Fernanda, queo usa o computador, acredita que:
A capacitação vai me dar condições de saber mexer no
computador, saber mexer com os programas que o Estado manda.
Já a professora Sandra, que tambémo usa o computador, mas chegou a
participar das aulas da capacitação, acredita que os programas apresentadoso
simples e desinteressantes para o aluno.
É interessante destacar que as escolas públicas em que Fernanda e Sandra
trabalham dispõem de computadores, mas nenhuma delas os utiliza. A Sandra já foi
capacitada e, mesmo assim,o usa o computador na sua prática. Essa
comparação revela a individualidade da crença de cada uma delas e também a
importância do contexto (Pajares, 1992; Barcelos, 2000), ou seja, cada uma tem
uma crença em relação aos programas por estarem, possivelmente, considerando
suas respectivas salas de aula, os interesses de seus alunos.
3.1.2 As Atividades
As crenças que foram agrupadas nesta área temática envolvem a discussão
das atividades contextualizadas. Nesse sentido, se o professor souber desenvolver
atividades pertinentes, planejadas e interessantes para o aluno, eleo usará o
computador por usar, saberá decidir o momento apropriado para fazê-lo,
selecionando material da Internet, de programas que sejam relevantes para a
realidade do aluno, trazendo diversidade e motivação para a escola.
Selecionei um excerto da fala da professora Débora, que usa o computador e
é de escola de idiomas, que evidencia sua crença sobre a atividade significativa:
A aula ideal é aquela que explora recursos tecnológicos
inteligentemente, ou seja, com um propósito claro. As perguntas óbvias são:
o que eu vou oferecer ao meu aluno queo poderia ser feito sem esse
recurso? O computador será um brinquedo de luxo ou uma ferramenta de
aprendizagem essencial? Penso que sentar-se ao computador para ler o
cd-rom de um livro ou fazer exercícios de gramática, com raras exceções
o se justifica.o numa aula.
A atividade significativa, segundo Débora, deve ter um propósito claro para
que se utilize o computador inteligentemente. Também evidencio sua crença em
relação à instrução programada (Oliveira, 1997) e ao uso comportamental do
computador (Warschauer & Healey,1998) para o aprendizado de línguas, pois
quando afirma que fazer exercícios gramaticais na aulao se justifica, ela
possivelmente se refere à falta de interação entre alunos e à pouca criatividade que
tal uso proporciona para a aula de línguas.
A professora Renata, que usa o computador em escola regular particular,
concorda com Débora no sentido de que a aula significativa deva ter propósito e
objetivos claros. Essa percepção pode ser ilustrada no trecho transcrito a seguir
Vocêo pode simplesmente: "Ouvi dizer que esse site é legal,
procurem ".o , você tem que ter entrado no site antes, para orientar, para
saber o que é adequado para aquele nível, porque o aluno entra de cabeça.
E, muitas vezes, ele vai dando cabeçada eo faz nada daquilo que você
pretendia que ele fizesse, dentro daquela aula. E eu acho também
desagradável isso, do aluno sair achando que hoje eleo fez nada . ele
só foi ao laboratório de informática. Tem que ter um objetivo e ele tem que
perceber o objetivo, ele tem que sentir o que ele aprendeu, senão ele sai e
fala isso. Então, você tem que estar preparado para poder preparar o seu
aluno, para que você atinja os seus objetivos
A crença sobre a pertinência das atividades está diretamente relacionada com
o conceito de letramento digital, uma vez que, sendo letrado digitalmente, o
professor será capaz de fazer uma leitura crítica da realidade e, assim, atinar com a
relevância do conteúdo que ensina, da forma como o faz.
A crença de que o professor tem que ter material pronto para poder usar o
computador também pode ser relacionada ao letramento digital. Eu ilustro essa
conclusão com um trecho transcrito da fala da professora Lia, de escola regular
particular queo usa o computador:
Você tem que ter a coisa já prontinha, para você chegar lá e colocar
ele sentadinho. aí eu acho que funciona legal para o aluno. Agora, claro,
para níveis mais avançados.
É confortável para qualquer professor usar material "prontinho", porém isso
acarreta distanciar-se da aprendizagem significativa e dos interesses dos alunos
(Almeida, 1999; Ramal, 2002) e, nesse sentido, o aprendizado fora da escola formal
passa a ser mais interessante, pois, segundo Kenski (2001a), nos dias de hoje, o
espaço da cultura escolaro se restringe às paredes da escola, há um novo
espaço, um espaço de trocas. Portanto, Lia poderá ver perspectivas inovadoras e
criativas no uso do computador na sua prática docente ao tornar-se letrada
digitalmente.
Concluo meus comentários sobre atividades, referindo-me à crença do
professor Leandro, de escola de idiomas que usa o computador, de que o software
pode ser utilizado pelo aluno sozinho, sem o professor:
eu acho que o software, ele (aluno) pode fazer sozinho, e o trabalho
que eu me proponho a fazer lá (laboratório de informática), ele precisa da
orientação do professor.
O Leandro demonstra seu letramento ao afirmar que, quando usa o
laboratório de informática, o faz para atividades que necessitem da presença dele,
em outra circunstância, o aluno pode trabalhar autonomamente, ou seja, o Leandro
está preocupado em aproveitar o tempo que dispõe para as aulas com atividades
que aproveitem ao máximo a sua presença. Esse posicionamento do Leandro vem
ao encontro do que comenta Kenski (2001a), de que o ato de ensinaro mais
pertence, única e exclusivamente, ao professor profissional, os aprendizes
aprendem sozinhos com os programas eletrônicos disponíveis no mercado, e
independem do professor. Os aprendizes aprendem alguma coisa mas, certamente,
o tudo.
Ressalto, mais uma vez, que somente o letramento digital do professor
poderá dar a ele condições de tomar decisões em relação ao uso que pretende
fazer do computador em sua prática docente.
3.1.3 O professor e o computador
Todas as crenças agrupadas nesse item estão relacionadas à relação ser
humano-máquina, isto é, como o ser humano, neste caso o professor, relaciona-se
com o computador.
Por meio da crença de que o professor tem que perder o medo de usar o
computador, assume-se que o professor tem que vencer um desafio: o de dominar a
máquina. Baseado no trabalho de Carvalho (2000), é possível concluir que o
professor de inglês teme colocar em risco suas certezas, ele teme pisar em território
desconhecido.
A professora Renata, que usa o computador na escola regular particular,
atenta para a questão de que os professores precisam se livrar do medo:
Eu acho que ele (professor) precisa, antes de tudo, tirar essa coisa
do medo, de achar que a informática é um bicho de sete cabeças. Eu acho
queo é.
Já a professora Dulce (da escola regular pública que usa o computador)
aborda a crença de que o aluno sabe mais que o professor que tem medo de usar o
equipamento. Essas percepções podem ser ilustrativas através do seguinte trecho:
Eles (professores)o gostam de levar o aluno na informática
porque ele tem medo , então eu acho que um pouco é perder o medo e
você sabe que criançao tem medo, ela erra, acerta eo está nem.
A fala de Dulce evidencia sua crença de que a criança pertence a uma
geração que é contemporânea do computador (Freire e Papert, citados em Haigh,
1996), sendo que o fato de conviver com o equipamento facilita seu uso.
Ao contrário, a professora Izabel, usuária de computador na escola regular
pública, revela uma constatação de sua realidade em relação ao aluno saber mais
quando afirma:
Olha, você sabe que é assim,: o aluno sabe mais que o
professor, normalmente ele sabe mais que o professor. Por quê? Porque é
uma linguagem, parece que ele já nasceu com essa linguagem do
computador, para a gente é mais difícil.
Por meio da fala da Izabel, constata-se a idéia da contemporaneidade
compartilhada entre os mais jovens e a tecnologia, em oposição ao que acontece
entre ela e os mais velhos.
A atitude que cada professor tomará ao enfrentar a situação de ter um aluno
que conhece o computador mais que ele, dependerá de sua crença pessoal. Em
relação a isso, identifiquei três excertos que merecem atenção, pois revelam a
influência da crença pessoal de cada professora na sua prática docente. A primeira
fala é da Eliana, professora da escola regular pública que usa o computador:
s temos alunos que, com certeza, passam a perna na gente.
Então, olha, o mínimo para vocêo passar vergonha na frente dos seus
alunos você tem que saber,? Ou então,o se atreva a levá-los.
Segundo Eliana, é uma constatação o fato de o aluno saber mais. Porém,
deixar de proporcionar o ensino por meio do computador parao passar vergonha
diante dos alunos é uma atitude provavelmente influenciada pela crença de que,
como professora, ela tem que ensinar eo ser ensinada.
A professora Tânia, de escola regular particular queo usa o computador,
revela a crença de que seus alunos sabem mais e que, por essa razão, ela acredita
ter que se preparar para tal situação:
para fazer uma pesquisa, alguma coisa assim, realmente eleso
saber mais do que eu. então eu preciso mesmo de uma preparação antes
de eu tentar fazer isso.
Outro excerto que merece destaque é o da profa. Dulce, usuária de
computadores na escola regular pública. Ela diz:
Tem agueles gue já sabem e a gente sabe que eles sabem, a gente
e ele como monitor para estar ajudando.
Apesar de sua falao revelar uma crença e, sim, uma constatação de sua
realidade, é interessante observar a atitude que a professora toma diante do aluno
que sabe mais: ela o coloca como colaborador no aprendizado de outros alunos,
valorizando-o e, dessa forma, fazendo do contexto escolar um espaço de trocas.
No que concerne à crença de que no ensino a distância há falta de contato
humano, uso a fala da professora Eliana, de escola regular pública que usa o
computador, por ser ilustrativa dessa crença de que o contato humano é
insubstituível:
Eu cumprimento, eu pego neles, eu abraço , eu beijo. [...], porque eu
o trabalho com máquina, eu trabalho com o ser humano, então, o ser
humano para mim é muito importante.
Ao tocar seu aluno, a professora separa o humano da máquina. É possível
resgatar a explicação de Oliveira (1997) de que os adultos tendem a criar formas de
se protegerem ao marcar a distinção entre eles, humanos, e as máquinas.
3.2 Crenças a respeito do papel do professor na sociedade digital
Na análise das crenças dos professores participantes sobre seu papel na
sociedade digital, pude observar uma variedadeo grande como a constatada
sobre o uso do computador na prática docente.
Apresento-as, portanto, sob uma perspectiva individual, ressaltando a filiação
institucional e o uso ouo do computador, no quadro que segue. As palavras em
negrito representam a freqüência de uso e a instituição de origem de quem as
mencionou.
Quadro 3.3 Caracterização das crenças sobre o papel do professor na sociedade digital
O quadro acima permite observar que os professores de escola regular
pública pontuam que o papel do professor é o de educador e orientador; já os
professores de escola regular particularo revelam crença em comum, sinalizando
para a existência de crenças individuais (Pajares, 1992; Barcelos, 2000),
provavelmente influenciadas pelo contexto de cada um. Os professores de escola de
idiomas parecem compartilhar da crença de que o papel do professor é o de
promotor de autonomia e ponte cultural.
É interessante notar que, raramente, os professores participantes revelaram
acreditar ter um único papel. Na maioria dos casos, os professores citaram mais de
um termo, assim como os autores usados para fundamentar teoricamente o papel do
professor (Valente, 1999; Kenski, 2001a, 2001b, 2003; Masetto, 2000; Moran, 2000;
Behrens, 2000). Há uma preocupação comum mencionada por todos esses autores:
independentemente do termo que usem para designar o papel do professor na
sociedade digital, todos revelam nas explicações do emprego do termo uma
preocupação de que o professor busque incentivar a reflexão crítica, abandonando a
idéia de professor detentor do saber. Os professores participantes, ao também
empregarem diferentes termos para definir o papel do professor na sociedade digital,
revelaram acreditar que, atualmente, cabe ao professor buscar criticidade deixando
de ser o transmissor de conhecimentos. Selecionei duas falas que ilustram
justamente essa idéia. A primeira é de Izabel, professora da escola pública que usa
o computador:
Isto propicia o posicionamento do educadoro como transmissor
de valores fixos e cultura estabelecida, mas, como orientador nos
processos críticos e reflexivos de busca de novos valores a partir da
articulação entre situações de informações , de produção de trabalho com
situações reais , adoção de pesquisa e interação como eixo da atividade
aprendizagem. O educador deve perceber que as mensagens veiculadas
o podem restringir-se ao conteúdo conceituai mas, devem considerar a
forma. O meio é a mensagem. Devemos estar capacitados para fazermos
uma leitura crítica da mensagem.
Izabel, além de revelar a crença sobre o papel do professor como educador e
orientador, também ressalta que o professor, na sociedade digital, deixa de ser
transmissor para exercer influência em processos "críticos e reflexivos". Há menção
em relação à adoção de pesquisa como parte do papel do professor e esse traço
nos remete a Moran (2000), quando afirma que é por meio da pesquisa que o
professor estimula, motiva seu aluno.
A fala que segue é da professora Débora, usuária de computadores em
escola de idiomas:
O professor deve ser um facilitador atuante e eficiente que conduz
o aluno através de uma exploração interessante. O professor, ele é o
facilitador, hoje em dia, ele é o facilitador. Eleo é mais o detentor de
conhecimento
Sua fala é evidência de que, na sociedade digital, o papel do professor é
redefinido, afastando-se do papel de detentor do conhecimento.
Tanto a fala de Izabel quanto a de Déborao reveladoras de uma mudança
de papéis: do professor transmissor, detentor do saber, para o comprometido com a
reflexão crítica. Essa transformação em um novo professor, evidenciada por meio
das crenças dessas participantes, reflete a mudança de paradigma pela qual
passamos no momento (Oliveira, 1996; Moraes, 1997; Valente, 1999; Behrens,
2000; Sampaio & Leite, 1999), ou seja, do paradigma da sociedade da produção de
bens (Fordismo) para o paradigma da sociedade do conhecimento, da informação.
Acrescento, ainda , que para Valente (1999), a mudança de paradigma implica
outras mudanças na escola: espaço, currículo, papéis ( escola.comunidade, aluno e
professor).
A crença dos professores participantes de escolas de idiomas é expressa por
2 termos específicos: promotor de autonomia e ponte cultural. Kenski (2001a,
2001b, 2003) é quem propõe o papel do professor na sociedade digital como sendo
um de agente de memória, valores ou inovações. Apesar de os professores
participanteso terem usado exatamente os termos defendidos por Kenski, nota-se
que há relacionamento entre as idéias que expressam.
A fala de Débora, professora da escola de idiomas que usa o computador,
ilustra tal correspondência de idéias:
Ele vai dar a interpretação cultural, então, por exemplo, tem muito
aluno falando muito palavrão, então você fala: "Espera um pouco,isso é um
filme, as pessoas reaiso falam assim. Você vai falar assim com uma
senhora? Você vai ser corrigido, você vai ofender uma pessoa ", então o
professor, ele tem que dar essa visão cultural porque, muitas vezes, o
aluno, até por imaturidade,o consegue interpretar, então ele acha que
todo mundo é daquele jeito.
O exemplo citado por Débora (aluno falando palavrão) mostra que, exercendo
seu papel de professora, ela sente necessidade de ressaltar para o aluno os
aspectos culturais da sociedade em que ele vive. Nesse caso, o que Débora
denomina "ponte cultural", Kenski (2001a) identifica como "agente de memória" e,
como tal, o professor coordena ação e reflexão tendo um olhar crítico permanente.
Eleo se restringe ao conhecimento da sua disciplina, mas sim, procura expandi-lo
direcionando práticas e vivências e ajudando o aprendiz a compreender a sociedade
e suas diferenças culturais.
A professora Lia, queo usa o computador e é de escola particular, também
acredita que o papel do professor na sociedade digital seja o de "ponte cultural".
Porém, sua compreensão sobre o termo difere da crença de Débora, citada
anteriormente. Para evidenciar essa diferença no emprego do termo, transcrevo sua
fala:
Eu tenho que conseguir ser amiga deles. 1
a
coisa, que se a gente
for amiga da turma, a gente consegue trazer a turma para aprender bem
dentro de classe. Eu tenho que ser assim, eu tenho que acreditar naquilo
gue eu estou ensinando, eu tenho que gostar do que eu estou fazendo
A fala revela que Lia acredita que seu papel de professora seja o de valorizar
a amizade para motivá-los ao aprendizado.
Renata, professora de escola particular que usa o computador, comenta que
acredita fazer parte de seu papel ensinar o aluno a gostar, conforme sua fala:
Eu acho que você tem que ensinar o aluno a gostar, eu acho que o
papel da gente é extremamente importante, a gente está mostrando para o
aluno que ele precisa dessa ferramenta ( o computador).
Fica evidente, nas falas da Lia e Renata, a relação de suas crenças com o
que Kenski (2001a) chama de papel de agente de valores , pois ao ser amiga de
seus alunos e ao fazer com que o aluno adquira gosto pelo conhecimento, elas
estão formando suas opiniões, estão defendendo valores, além de que, por meio de
seus estilos pessoais (ser amigo, ensinar a gostar), essas professoras refletem seus
modos de se relacionarem com seus alunos. Os alunos podem, até, esquecer a
informação apresentada em aula, mas, certamente, lembrar-se-ão dos valores e
atitudes adquiridos por meio da convivência com seus professores e com outros.
A professora Renata, que usa o computador em escola regular particular,
também revela, em sua fala, uma conexão com a proposta de Kenski ( 2001a) sobre
o professor como agente de valores:
..., então, é uma outra realidade, mas eu ainda acredito que eu
possa fascinar alguns alunos com aquilo que eu puder apresentar de inglês.
Sua fala é reveladora de seu entusiasmo em relação ao seu papel:
"fascinando" seus alunos, ela é capaz de influenciar suas atitudes em relação ao
aprendizado da língua. Atento para o fato de que, se por um lado, o professor
demonstra entusiasmo, por outro pode demonstrar descaso, e, por conseguinte,
influenciar negativamente o aprendizado de seu aluno.
Alguns professores participantes acreditam que o papel do professor na
sociedade digital é o de ser inovador. A fala de Janaína, de escola de idiomas que
o usa o computador, é um exemplo dessa crença:
Ah, por exemplo, vai, é , tem um tema, a gente lança um tema na
sala de aula e a gente discute, aí eu peço para eles buscarem mais
informações sobre aquele tema. Cada um vai procurar, depois que eles
tiverem essa informação, aí a gente vai discutir, vai juntar o que um achou.
o que o outro achou, eu acho que isso vai enriquecer muito,o só a aula
em termos de vocabulário, mas como conhecimento em geral. Muitas coisas
a genteo sabe que existem, você acaba aprendendo nos livros ou na
Internet.
Suas afirmações revelam que é característica do professor inovador
aproximar o aluno das novidades por meio da busca informações, além de promover
discussão com orientação reflexiva, partilhando conhecimento e experiência.
A professora Renata, usuária de computadores em escola regular particular,
também acredita ter um papel de agente inovador, conforme trecho que se segue:
eu acho que mudou o papel da gente, foi melhorando,s estamos
mais ricos, eu acho que dar aula de inglês é um grande privilégio porque
você tira proveito de tudo, só que você tem que estar ligado, você tem que
saber o que está acontecendo, você tem que acompanhar, você tem que
falar para o aluno o que acontece nos seriados da televisão, que é uma
coisa que, você tem que entrar no mundinho deles, procurar saber quais
o os grupos que estão ai na mídia,o interessa se você gosta ou não,
você faz uma troca: "Olha, eu te apresento os Beatles , você me apresenta
a sua banda ", mais ou menos isso. E você vai crescendo junto com o
aluno. Às vezes é difícil,né.
É possível identificar na fala de Renata que é característica do papel do
professor inovador relacionar o aprendizado às novidades, tanto que ela afirma ser
necessário saber o que está acontecendo. Uma característica interessante diz
respeito ao papel como inovador sendo baseado na troca, isto é, a professora
Renata troca aprendizado com seus alunos. Nesse caso, Renata se transforma
também em um agente de memória ("eu te apresento os Beatles"), enquanto seus
alunos se transformam em agentes de inovação. Essa inversão de funções me leva
a concluir que a dinâmica de papéis desempenhados permite que conhecimentos
sejam partilhados e construídos a todo instante.
Ainda em relação ao papel do professor na sociedade digital, comento a
citação "promotor de autonomia", entendendo que ser essa função compreende
estimular o aluno para ser capaz de agir na ausência do professor. Para pontuar
essa crença, escolhi dois trechos de falas dos professores participantes, sendo o
primeiro da professora Dulce ( escola regular pública que usa o computador):
É ensinar o aluno a aprender mais,o só com o professor, sem o
professor, entendeu ? Por exemplo, eu ensino como procurar no dicionário
e como usar o dicionário sem o professor,o com o professor. Se ele
estiver sozinho, se ele estiver na Internet e precisa procurar um texto,
traduzir um texto para saber o que está escrito ali, ele vai estar sabendo
usar sozinho, então ele é autônomo, independente. Saber pesquisar.
procurar, é isso ai.
Por meio da fala de Dulce, é possível observar sua crença de que é seu papel
promover a independência do aluno. Sendo independente, o aluno, em qualquer
circunstância ou situação, saberá buscar solução para um impasse ou problema. Da
mesma forma, Paulo, usuário do computador em escola de idiomas, acredita que é
papel do professor como promotor de autonomia promover a independência do
aluno, conforme revela no excerto a seguir
Acho que o professor e a escola de línguas, ela tem , teria que ter,
idealmente, a finalidade de transformar aquele aluno num independent
learner.. num aprendiz independente, ou seja, conforme ele vai
avançando nos estágios, ele vai se tomando mais e mais independente.
para poder criar os seus caminhos e estratégias .
As características do professor inovador reveladas nas falas dos professores
participanteso semelhantes às propostas por Kenski (2001a), que acrescenta
também aceitar desafios e imprevisibilidade, buscando fazer o melhor uso da
tecnologia no intuito de oferecer um ensino de qualidade.
3.3 Letramento digital
Um tema que emergiu dos dados e, através deles, da identificação das
crenças sobre o uso do computador foi o da alfabetização tecnológica do professor.
Por se tratar de um tema recorrente neste estudo, discuto-o nesta seção,
enfatizando como a alfabetização tecnológica dos professores participantes
aconteceu, para em seguida, apresentar o letramento digital do professor.
Os professores participantes, por meio de suas falas, revelaram que
alfabetizado tecnologicamente é aquele que sabe manusear a máquina, desde ligar
o computador até utilizar programas. Como o professor participante se letrou
digitalmente é o que discuto a seguir.
3.3.1 Letramento Digital dos professores participantes
Os professores participantes revelaram, durante as entrevistas, como foram
alfabetizados tecnologicamente. A certeza de que, por alfabetização tecnológica,
entende-se a aquisição do código tecnológico, um processo mecanicista
(Lotherington, 2001; Pretto , 2001; Sampaio & Leite, 1999), ou seja, inteirar-se das
partes constituintes de um computador, ocorreu na fala dos professores.
Os professores participantes deste estudo, independentemente de usaram ou
o o computador na sua prática docente, revelaram serem usuários de
computadores, tendo um equipamento em casa
16
. Nesse sentido, este estudo
identificou três tipos de alfabetização tecnológica do professor: a alfabetização
tecnológica informal, a formal e a auto-alfabetização.
Com o objetivo de apresentar e reunir informação de como os professores
participantes se alfabetizaram tecnologicamente, elaborei o seguinte quadro;
16
Exceto uma única professora, Izabel, que apesar de usar o computador na sua prática docente,o tem um
computador cm casa. Seu acesso a essa tecnologia é feito exclusivamente na escola em que trabalha.
I I I 1 I I I
Quadro 3.4 Alfabetização tecnológica dos professores participantes
Por alfabetização tecnológica informal compreendo o processo mecânico de
manusear a máquina que foi adquirido informalmente, ou seja, com a ajuda de
parentes e/ou amigos, conforme é possível observar-se no quadro.
Por alfabetização tecnológica formal incluo o domínio do código tecnológico
adquirido por meio de instrução formal, isto é, por meio de cursos de e/ou
treinamentos em informática, como pode ser evidenciado no quadro.
O terceiro e último tipo de alfabetização tecnológica identificada neste estudo
é a auto-alfabetização; ou seja, o aprendizado por meio de interação com a
máquina, por tentativo-e-erro, ou por meio de apostilas, livros, revistas. A
17
Oferecidos para capacitadores pela prefeitura da cidade deo Paulo
18
Esta é a professora queo possui computador em casa.
19
Oferecida pela escola para professores do programa de ensino a distância
característica principal da auto-alfabetização é o termo fuçar
20
, que aqui foi utilizado
no sentido de expressar a interação com a máquina, com os recursos que ela
oferece.
É possível notar que a maioria dos professores participantes fez uso de
diferentes tipos de alfabetização, porém a auto-alfabetização desponta como a mais
popular, talvez poro ser custosa, por ser desafiadora e com resultados imediatos.
É pertinente ressaltar que todos os professores participantes, de uma forma
ou de outra,o alfabetizados tecnologicamente e que acreditam que isso seja
suficiente para que façam uso do computador em suas práticas, conforme revelado
por eles mesmos durante as entrevistas. Porém, é notório que há professores
participantes, tanto em escolas regulares públicas quanto particulares, quem o
recurso computacional disponibilizado e nem por isso o usam. Será possível
observar adiante que alguns professores que usam o equipamento o fazem
equivocadamente. Portanto, passo a discutir o letramento digital do professor, pois é
por meio dele que o professor, já alfabetizado, tomar-se-á capaz de desenvolver um
ensino de qualidade.
Para um professor,o basta ser alfabetizado tecnologicamente, pois essa
habilidadeo inclui o saber, o que fazer com o recurso. Por letramento digital,
segundo Warschauer & Healey (1998) e Waschauer (1999), entende-se um conceito
mais amplo que, além do manuseio da máquina, abranja também uma postura
crítica e criatividade, essenciais na atuação profissional do professor. O propósito do
letramento digital é o de tornar o professor um profissional atuante, que desenvolva
um trabalho educativo significativo, através da inclusão do computador.
O trabalho educativo significativo emergiu nas crenças dos professores
participantes sobre o uso do computador em atividades contextualizadas. Portanto,
trata-se de um tema, assim como o alfabetização tecnológica, recorrente e de
relevância para este estudo.
Alguns professores, apesar deo usarem a nomenclatura letramento digital,
revelam em suas falas um grau de letramento, pois é evidente sua preocupação em
oferecer atividades que utilizem o computador como meio eo como fim. Dois
20
Segundo o Dicionário Aurélio, fuçar é um verbo transitivo que significa revolver, remexer, sondar,
bisbilhotar, farejar.
exemploso Débora e Paulo, ambos professores de escolas de idiomas que
usam o computador:
O grande de você usar o computador é você trazer o mundo real
para dentro da sala de aula [...] o que eu vou oferecer ao meu aluno que
o poderia ser feito sem esse recurso? (Débora)
Uh, tem uma coisa que é fundamental para o ensino de línguas,
assim, do meu ponto de vista, que é meaningfulness, a atividade tem que
ser meanínaful. então para que eu estou fazendo isso (Paulo)
Ambos mostram que é necessário usar o computador significativamente, com
criticidade, com criatividade, de modo a contribuir com a construção do
conhecimento, oferecendo um ensino de qualidade.
Outra participante que demonstra ser letrada digitalmente, pois faz uma
diferenciação entre o domínio técnico do equipamento e sua utilização em sala de
aula, é Dulce, professora de inglês da escola regular pública que também
desempenha a função de capacitadora de professores para o uso da tecnologia:
Eu ajudei, é claro, eu dava aula para os professores, eu tinha três
grupos de professores que eu dava aula para eles, então eu comecei
ensinando a máquina, os software, depois Word, Excel. Durante 2 anos a
gente trabalhou todas as ferramentas. Quando eles aprendiam, aí a gente
ensinava como montar um projeto, um trabalho bem legal.
Primeiramente, a capacitadora preocupou-se com a parte técnica, em
alfabetizar os professores para, então, desenvolver projetos, letrar os professores.
Há um outro professor participante, Leandro, que também já usa o
computador na sua prática docente, demonstrando certo grau de letramento por
questionar a eficiência dele nas aulas de inglês:
Na verdade, eu queria descobrir, Andrea, e eu acho que eu nunca
vou descobrir, mas queria descobrir se o computador faz ouo uma
diferença, ou se é só perfumaria,, então o aluno vai aprender melhor por
conta daquilo, ou será que ele vai aprender aquilo, o conteúdo em questão?
Ele vai aprender da mesma forma gue ele aprenderia com o professor
utilizando outra mídia, será que ele vai se tomar mais independente a médio
prazo?
Então, será que, por exemplo, que aquele exercício do google, que
eu faço com os alunos, vai, a médio prazo, enfim, instrumentalizar o aluno
para que ele possa procurar collocations sozinho? Então, qual é exatamente
o efeito, é melhorar o leaming ou é melhorar a independência do aluno, ou ê
uma questão de face-relief que a escola usa, uma escola moderna que tem
computador? Então, euo sei ainda.
O letramento envolve criticidade e reflexão. Nesse sentido, as questões
levantadas pelo professor participanteo demonstrações de letramento, da
preocupação de oferecer um ensino de qualidade.
O letramento, neste estudo, foi observado somente nas falas de professores
que já usam o computador em suas práticas docentes. Isso me remete a um estudo
feito na Universidade Estadual de Nova Iorque, em que os pesquisadores resgatam
que:
Experienced teachers who use technologies effectively with their
students can be broadly characterized as viewing technology as a means
rather than an end to learning, that they see themselves in a mainly advisory
role and that as professionals they welcome newness and variety, and
continually seek to expand their repertoires. Novices, on the other hand,
feel they must first and foremost master the routines and rituais of the new
contexts. When these contexts include mandated technologies use, there is
risk of non-reflective appropriation. (Meskill.C. et.al.2002:47)
O fato desta investigação ter evidenciado a crença no desenvolvimento de
atividades significativas, na sua maioria, através das falas de professores já
usuários de computadores em sua prática revela que foi por meio da experiência
adquirida com a prática docente que desenvolveram o letramento, procurando usar o
recurso como meio eo como fim. Professores que aindaom a experiência de
uso do computador em sua prática poderão se beneficiar do contato, da troca com
os mais experientes e, assim, desenvolver o letramento.
3.4 Material
O tema material emergiu dos dados quando alguns professores participantes
descreveram o quem usado com seus alunos.e a fonte que utilizam. Nota-se que,
mais uma vez, o letramento digital se faz necessário no julgamento, na escolha dos
materiais usados pelos professores.
Para facilitar a discussão desse tema, eu o subdividi em projetos, software
educativo e inglês na Internet.
3.4.1 Projetos
Cinco professores participantes, que usam o computador em suas práticas
docentes, descreveram projetos que já desenvolveram ou que estão desenvolvendo
com seus alunos. Para elucidar se os projetoso ouo contextualizados, e se
foram desenvolvidos segundo o conceito de projetos (Almeida, 1999; Ramal, 2002),
transcrevo alguns trechos. Começo por dois projetos da professora da escola regular
pública, Dulce, que usa o computador:
Uso, tanto que este ano eu fiz o projeto com eles de cartas.
escrever cartas para o exterior,. Então, comoo tem e-mail aqui, nem
Internet, então eu fiz tudo na minha casa., eu mandei o e-mail para
pessoa que mora. mas eles fizeram as cartas, fizemos juntos as cartas,
, e aí eles transcreveram , eu corrigi e assim, aí eu levei para minha casa,
digitei e mandei o e-mail. Aí manda a resposta e eu trago, xeroco a resposta
para eles.
CD, só tem esse, o Encarta.,s pesquisamos aqui na biblioteca
também.Juntou tudo aqui, aí pegamos os países que falavam a língua
inglesa, aí pesquisamos o esporte, a cultura, como que é as músicas que
existem, entendeu?, eles fizeram um trabalho, colaram figuras, pegaram,
ilustraram os trabalhos, aí eu joguei no Power Point. Cada dupla fez 1
país.na, aí jogamos para o Power Point e aí fez uma apresentação geral.
Tomando como base essas duas propostas de Dulce, é possível encontrar
características do conceito de projetos, ou seja, amboso coerentes com a
realidade do mundo globalizado: troca de e-mail com pessoas de outra cultura,
contato com outras culturas por meio de pesquisa. Houve, também, o envolvimento
coletivo de interesses. Portanto, é possível concluir que se tratam de projetos
significativos.
A seguir, descrevo o projeto da professora Eliana (de escola regular pública),
denominado ENLACES e patrocinado pelo Banco Mundial e empresas do ramo de
informática. O projeto conecta escolas no Brasil e fora do país pela Internet,
chegando à professora Eliana por intermédio de duas professoras (não de inglês)
que trabalham na mesma escola e que já estavam engajadas nele há dois anos.
Segundo Eliana, o convite lhe foi feito devido ao seu interesse por tecnologia e pela
defesa do professorado. A parte do projeto que lhe diz respeito é desenvolvida em
conjunto com um professor de outro município e o tema escolhido por eles é
astronomia; ou seja, eles estão interessados em descobrir se há um 10° planeta. A
professora Eliana e seus alunos pesquisam sobre 4 planetas determinados,
enquanto o outro professor, como tem mais alunos, pesquisa sobre 5 outros
planetas. Os alunos trocam informações encontradas na Internet. A conclusão do
projeto consiste em divulgar uma página na Internet com as informações específicas
sobre a existência do 10° planeta. O idioma inglês é usado durante as buscas de
informação na Internet, mais especificamente na página da NASA. A professora
conclui a descrição do projeto informando que, como a conexão de Internet que a
escola tem é precária, o projetoo se desenvolve muito.
Duas características conceituais de 1 projeto podem ser observadas no
Enlaces: o desenvolvimento da capacidade de socialização e de aprendizagem
cooperativa. A capacidade de socialização e a aprendizagem cooperativa são,
essencialmente, desenvolvidas por meio da troca de informações entre os grupos de
alunos responsáveis pelos planetas. O conceito de projetos compreende uma nova
cultura de aprendizagem que deve "considerar as expectativas, potencialidades e
necessidades dos alunos" (Almeida, 1999:1). Apesar de ser chamado de projeto, o
Enlaces deve ser questionado em relação à sua conexão com as expectativas dos
alunos, pois Eliana afirma que seu ingresso no projeto se deu pelo fato de gostar de
tecnologia.
Outro aspecto curioso está relacionado à duração do projeto. Segundo a
professora participante, o projeto iniciou-se há dois anos e foi por ela proposto a
uma turma de 3
o
ano do Ensino Médio. Nesse caso, será que esses alunos terão a
oportunidade de vivenciar a conclusão do projeto? Esse questionamento que eu
levantei sobre esse projeto específico deveria fazer parte do letramento digital da
professora participante, pois, sendo letrada, ela avaliaria, refletiria e traçaria
objetivos sempre considerando os benefícios, o interesse dos alunos, para que o
projeto deva ser, de fato, significativo.
Para contrastar o projeto Enlaces (de Eliana) com um outro projeto, selecionei
o Newsprogram do professor Paulo, usuário de computador em escola de idiomas,
que o descreveu na entrevista que mantivemos:
P : Uma delas foi essa do projeto de , é , de newsproaram que eles
tinham que gravar. Vamos ver se eu lembro de todos os detalhes, porque
todas as etapas eu fiz questão de relacionar com o computador. Então, a
1
a
etapa, além do warm-up, que você faz em classe para saber que tipo de
notícias eles gostam ou então que tipo de notícias estão acontecendo
agora, aí você leva eles para o computador, então essa 1
a
parte é uma
parte de pesquisa, mais de busca. Eleso, e, basicamente você pode
direcioná-los para determinados sites, por exemplo, CNN e New York
Times, queo fáceis de acesso e aí eles pegam as notícias ou que você
relacionou na sala de aula ou então que eles querem, mas sempre tendo
em vista que eleso fazer um newsprociram com aquelas notícias., eles
voltam para a classe é, e , vamos ver se eu lembro, é , e aí eles voltam para
a classe e eles começam a discutir a respeito do assunto. Em casa, eles
podem fazer um resumo e nesse resumo eles começam a se comunicar por
e-mail, eu inclui isso também como parte do computador.
A : E esse e-mail é o particular, pessoal deles , ou a escola fornece
um?
P : Não, deles. Deles e comigo, o professor. Então eu fico aberto a
receber as sugestões deles e a passar as correções e tudo o mais para
agilizar esse processo, para que eleso fiquem de uma aula para outra. Já
na próxima aula , eles teriam, ou então uma aula que você determine, eles
já teriam feito esse sumário, juntamente com a correção do professor,
então, e, você garante que eles estão comunicando, via e-mail, em
inglês, porque você mediando, você consegue saber se eles, se a
comunicação gue eles estão fazendo entre si e. logicamente, com o
professor, é, uh. eles estão usando a língua, né , escrevendo em inglês.
A : Então, tudo o que eles escrevem eles mandam com cópia para
você, necessariamente ouo ? Mandam só o que querem para você ?
P : Basicamente é o resumo, uh, e aí eu corrijo e devolvo para eles,
eles imprimem e trazem para a classe ou o próprio professor pode fazer
isso. Depois, é, eles podem utilizar o Word, se eles quiserem, se o professor
assim achar correto e tal, leva para o pessoal na próxima aula, para o Word,
e aí eles começam a redigir, a organizar, melhor dizendo, o jornal.
A : Seria o scrípt ?
P : Exatamente.
A: E aí a parte final ?
P: A parte final é a gravação, que pode ser com a web-cam
também, é, a web-cam, porque necessariamente o que eu escrevi existem
várias, uh, teorias de, de, da lingüística de língua inglesa que eu embuti, do
por quê disso eo daquilo. Por exemplo, no caso da web-cam, qual é a
vantagem da web-cam em relação a uma câmera de vídeo normal? A web-
cam, ela é mais reservada, então é uma coisa mais de frente para a própria
pessoa que está gravando, então a gente chama de affective-filter, então o
affective-filter do aluno cai, então eleo ficao ansioso,. O affective-
filter envolveria essa coisa de ansiedade e tudo o mais. Então você lower
the affective-filter e [...] e aí eles já baixam a bola, já fazem com mais
tranqüilidade e produzem melhor, porqueo estandoo nervosos, eles
produzem melhor. Outra vantagem é que eles vêem na hora o resultado, às
vezes, na fita de vídeo você tem que por no vídeo-cassete, no adaptador,
ou entãoo tem disponível na hora e tal. E no caso da web-cam na hora
eles podem se ver, podem se corrigir e tudo o mais. Nesse sentido, o
professor logicamente tem que ter conhecimento do uso da web-cam.,
finalmente, se o professor quiser, ele faz a página de divulgação na Internet.
Nesse relato, Paulo evidencia os traços conceituais de um projeto: objetivo
pertinente; busca de prática significativa do idioma; consideração da expectativa e
potencialidade dos alunos no momento em que dá a chance de o aluno escolher o
tipo de notícia que lhe agracia; coerência com a realidade do mundo de hoje,
envolvendo troca (e-mail) e cooperação. O letramento de Paulo é revelado a todo
instante por meio de sua preocupação em planejar, estabelecendo propósito para o
projeto .
A professora Renata, da escola regular particular, também comenta sobre o
seu projeto:
Nós, também, fizemos aqui, trabalhos de criação de folders,
convites, por exemplo, a 6
a
série de fazer um convite de aniversário, de
montar alguma coisa específica, no Power Point, no Word, o aluno ficava à
vontade para escolher qual que ele preferia trabalhar. Falar de animais,
havia uma lição na 6
a
série na 7
a
,o me lembro qual, que falava sobre
pets, então eles criavam textos sobre pets, uh, também para, depois, fazer
uma exposição. Este ano mesmo, fizemos com cidades brasileiras, as 8ª s.
séries fazendo folders. fazenda pesquisa na Internet e depois montando sua
pesquisa em sala de aula mesmo, com material recolhido da Internet.
Os projetos de Renata apresentam características, tais como: considerar as
expectativas, potencialidades e necessidades dos alunos por colocá-los à vontade
para fazer suas próprias escolhas. O projeto folders sobre cidades brasileiras pode
ser realizado em conjunto com outras áreas do conhecimento, por exemplo:
geografia, história, objetivando a construção de conhecimentos.
Finalmente, interpreto os projetos da professora Valquíria, da escola regular
particular.
V : É, por exemplo, era sobre alimentação e eu gosto muito assim
de alimentação alternativa, eu tenho interesse de ler sobre isso, então eu
acho que é assim, o que a gente escolhe de tema tem muita relação com
os nossos interesses. E um dos grupos, então, foi pesquisar. Então, eles
trouxeram assim, vários tipos: macrobiótica, eu dei alguns e eles trouxeram
muitos outros, e conseguiram achar na Internet.
A: E isso eles fizeram na sala de informática?
V : Não. Fizeram em casa, só trouxeram a pesquisa e montaram daí
um pôster explicativo,?
A: Montaram um pôster de papel,o um pôster eletrônico.
V: Não, um pôster de papel, usando algumas imagens da Internet,
algumas.
Eles tinham que escrever um livrinho, era no site da página do
colégio, do [nome de um cartunista]. Os dois aliás, então já tinha um
programa, eu só fiz um trabalho de preparação sobre o assunto,, os
alunos, eles mesmos, elesm muito mais facilidade em levar a parte
tecnológica e a gente ajudando um pouco com a língua. Então , eles tinham
que escrever um livro, um livrinho onde a 5
a
série era sobre a amizade.
então tinham as imagens, gue eles podiam colocar na ordem gue eles
quisessem e escrever sobre a amizade em inglês. E a 8
a
série era sobre os
direitos da criança e do adolescente. Eleso receber impresso, agora, no
final desse mês, o livrinho. É interessante.
O primeiro projeto descrito pela professora Valquíria só considerou o
conhecimento cotidiano e o interesse dela por alimentação alternativa. Tal fato me
leva a questionar se os alunos também se interessam por alimentação alternativa,
ou se prefeririam pesquisar sobre alimentação do tipo fast-food. Um projeto deve
levar em consideração os interesses dos alunos, "não é o professor quem planeja
para os alunos executarem, amboso parceiros e sujeitos de aprendizagem"
(Almeida, 1999:2). Enfatizo, mais uma vez, que se a professora fosse letrada
digitalmente procuraria planejar e atentar para os interesses dos alunos, para o
propósito da atividade.
O segundo projeto, o do livrinho, apresenta a interação de diferentes áreas:
idiomas, amizade ou direitos das crianças. Contudo, qual o objetivo do projeto?
Divulgação e marketing da escola, uma vez que o livrinho foi publicado na página do
colégio? Eu acredito que o principal propósito dessa atividade seja a promoção da
instituição.
Refletindo sobre os depoimentos dos professores sobre os projetos que
realizam ou de que participam, concluo que questionamentos e reflexões devem ser
incentivados a todo momento na vida profissional de um professor, pois fazem parte
de seu letramento, assim como procurar conexões significativas para o uso do
computador em sua prática docente.
3.4.2 Software Educativo
É notório que o software educativo pode ser adquirido no comércio em geral,
tanto que escolas e professores optam por essa compra, uma vez que, esses
programas adicionam o componente computacional a um custo reduzido, se
comparado às licenças de uso de aplicativos, por exemplo.
Para discutir o software como material educativo, inicio dando voz à
professora Débora, de escola de idiomas que usa o computador:
Temos (CD-Roms), a gente tem alguns que a gente usa para a sala
de aula, às vezes, você substitui uma unidade por uma atividade que tenha
no CD-Rom. mas esses CD-Roms. também eles ainda são, assim,o
páginas de livro publicadas na tela, então eles tambémm que melhorar
muito.
Sua fala é muito interessante, pois revela o grau de letramento que ela tem
ao afirmar que os CDs em focoo páginas de livros digitalizadas. É o letramento
que ela tem que permite que ela faça tal avaliação.
A professora Dulce, de escola regular pública que usa o computador, também
faz referência ao CD-rom afirmando:
eu gosto de estar usando, assim, também CD, porque aí você tem
opção de estar pesquisando,s temos aqui o Encarta,o sei se você
conhece.
O CD ao qual a professora participante Dulce se refere, Encarta, é uma
enciclopédia virtual da Microsoft que, pela variedade de assuntos, permite sua
inclusão em diversas atividades, interdisciplinares ou não.
Outra professora que menciona o uso de software é a Eliana, que usa o
computador em escola regular pública:
eu pequei um que eu havia comprado para a minha filha, frisos] É
software), mais joquinhos. né ? E eles brincaram lá um pouquinho.
trabalharam com palavras.
Sua fala espanta pela total falta de letramento, de criticidade, de reflexão: ela
propôs que seus alunos brincassem com um software que comprou para a filha. Ela
o forneceu detalhes sobre o material, mas é possível inferir a discrepância com
a única informação adicional fornecida pela professora: ela é professora do 3
o
ano
do ensino médio e sua filha tem cerca de 10 anos.
A professora Sandra, queo usa o computador e é de escola regular
pública, faz referência aos programas oferecidos pelo Governo do Estado:
tinham alguns exercícios que até seriam interessantes eles fazerem,
tipo: Caca-palavras para descobrir se é adjetivo ou substantivo, o que está
faltando, aprender um pouco de estrutura gramatical do inglês e tal.
Ao afirmar que o software trazia exercícios interessantes, ela está tecendo
seu próprio julgamento sobre o material apresentado sem tê-lo usado em sua prática
docente. Observa-se também o valor que os exercíciosm pelo fato de
desenvolverem a estrutura gramatical.
Um dado interessante, referente a empresas que desenvolvem software
educativo, foi revelado por Débora, que usa o computador na sua prática em escolas
de idiomas. Esse tema é relevante porque esses programas encontram-se
disseminadoso só nas lojas, mas nas escolas. Como observamos durante este
estudo, que a capacitação oferecida pelo Governo do Estado deo Paulo está
totalmente fundamentada na utilização de softwares educativos adquiridos pelo
Estado. A experiência que a professora participante Débora vivencia é muito
reveladora:
Eu aprendi numa outra firma para qual eu presto serviços.o é
uma escola, é uma firma que desenvolve software, eles desenvolvem
soluções para a área de educação, então é muito interessante o trabalho
deles. Então, elesm assim, desde programas para alfabetização de
deficientes visuais até programas de integração na Internet, por exemplo, eu
estou em um lugar e você está em outro es vamos fazer um treinamento
o presencial. Eles trabalham também, o primeiro trabalho que eu fiz com
eles foi de um CD-Rom que é um dicionário e que também é uma ajuda
para você aprender inales, então trabalhamos eu e mais outras 3
professoras, esse foi o primeiro.
Como é possível observar na fala da professora participante, alguns
programas educativoso desenvolvidos por empresas que, na experiência dela,
surpreendentemente, contratam professores free-lancer para auxiliarem na
elaboração do material. Sobre esse assunto, Kenski (2003) alerta para a baixa
qualidade de muitos programas comercializados e oferecidos como solução
pedagógica nas escolas.
Portanto, concluo pontuando que também faz parte do letramento tecnológico
do professor ser capaz de analisar um software a ser ou já adquirido pela escola em
que trabalha, cabendo a ele decidir se ele é significativo para a aprendizagem de
seus alunos, ou se é mais uma maneira de usar o recurso pelo simples fato de usá-
lo.
3.4.3 Inglês na Internet
A Internet tem servido como fonte de material para aulas de qualquer
disciplina, mas no caso especifico de inglês, tem se revelado útil na obtenção de
material autêntico a custo inferior à aquisição de uma revista importada, por
exemplo. Esse é um dos motivos que faz da Internet uma ferramenta popular entre
os professores de inglês.
Para analisar como os professores participantesm utilizado a Internet,
selecionei algumas falas. A primeira é da professora Lia, de escola regular particular
queo usa o computador:
Eu procuro muito exercícios de gramática e vocabulário. Eu entro
nuns sites específicos assim de gramática mesmo, aí pego alguns
exercícios e acabo adaptando para o que eles têm, ou então eu copio
direto do jeito que tá e coloco daonde foi que eu tirei, é...
Essa fala é muito ilustrativa da facilidade que qualquer um tem e,
principalmente, o professor de inglês, de encontrar material pronto na Internet. A
professora Liao usa o computador em suas aulas, mas é usuária de
computadores e, assim, lançao da Internet como meio de obter material. Ao
mesmo tempo em que a fala da professora mostra como sua vida é facilitada pela
Internet, revela a importância dada às atividades gramaticais (revelando, talvez, uma
crença muito peculiar sobre como se ensina e aprende uma língua estrangeira).
A fala da professora Dulce, da escola regular pública que usa o computador,
complementa a fala da Lia:
eu gosto muito de tirar música da Internet, procurar onde tem aulas
mesmo,, on-line para a gente estar ouvindo a pronúncia. Internet, 1*
coisa,, tudo que eu preciso para a escola eu encontro na Internet,,
inclusive atividades, é, se eu quero alguma teoria, alguma coisa assim, eu
procuro na Internet.
Dulce confirma a facilidade de obtenção de material por meio da Internet.
Contudo, seu comentário me permite apontar que o problema reside em como esse
material obtido na Internet será aplicado educacionalmente.
Os dois excertos que seguem reforçam a potência da Internet para o
professor de inglês. Essas falas são, respectivamente de Fernanda (professora da
escola regular pública queo usa o computador) e de Júlio (professor de escola de
idiomas que usa o computador):
eu tenho algumas coisas impressas que eu entrei em algumas
revistas por exemplo, tirei textos para trazer para eles. (Fernanda)
eu consulto os sites como o Blackboard, ou pego idéias aqui mesmo
na [nome da escola] ou, como eu disse, outros sites da Internet que possam
ter alguma atividade extra. (Júlio)
Tanto a fala de Fernanda quanto a de Júlio ilustram a fonte inesgotável de
material para o professor de Inglês que a Internet é. Porém, mais uma vez,o é
possível saber que uso esses professoresm feito do material que coletam da rede.
Será que estão sendo críticos na seleção do material? Nem tudo o que circula pela
Internet é de procedência conhecida e, portanto, é importante atentar para a questão
da qualidade. A seleção de material também está associada ao letramento digital,
pois o professor letrado lançaráo de sua reflexão crítica para escolher o material
da Internet que seja apropriado para seus alunos.
Já o professor Leandro, usuário de computador em escola de idiomas,
explica o que faz com o que coleta da Internet:
Existem dois sites que eu visito com muita freqüência: o google.com
para eles fazerem trabalho com collocation. então, por exemplo, procurando
determinado phrasal verb, eles pesquisam em 6, 7 páginas e tentam
descobrir quaiso as palavras usadas com maior freqüência dentro de
cada, digamos, cada objetivo, cada phrasal verb e anotam essas
collocations em algum lugar e fazem algum tipo de atividade com os
resultados. Eu gosto muito do amazon.com porque os leitores enviam
críticas dos livros, CDs e vídeos, então toda vez que eu peço para os alunos
escreverem uma crítica, uma review, eu peço para eles entrarem lá antes,
para, enfim, para eles poderem ver os modelos.
A fala do referido professor participante é um exemplo sobre como usar a
Internet no ambiente presencial. As falas anteriores expressaram a idéia de
obtenção de material impresso. A atividade de colocação de palavras que Leandro
desenvolve tem coerência com o que ele tem como objetivo para a aula.
Assim como Leandro, Paulo também utiliza a Internet para desenvolver
colocação de palavras, conforme descreve:
P : Ah, o que eu, às vezes, faço, por exemplo, uh, prefixos e sufixos,
você tem lá uma atividade que você explora palavras derivadas de palavras
raízes, talvez de sufixos e prefixos, e algumas palavraso muito até
difíceis de ensinar para eles, até de explicar o contexto, vocêo vai achar
aquele contexto muito facilmente na hora. Na hora, vai ser impossível achar
um contexto para aquela palavra. Por exemplo : helplessness, muito difícil
de você explicar o que é helplessness e principalmente pegar um contexto
para isso na hora e tal. Lógico, você pode preparar antes e trazer e tudo o
mais. Mas, o que eu fiz com eles foi, a partir daí, quando você, quando eu
ensinei algumas palavras e derivadas e incluindo helplessness e
hopelessness também, levei para o computador e pedi para eles
acessarem sites com essas palavras, ai eles vêem a coisa real meeeesmo,
aquela palavra sendo usada em contexto real, na hora, real time. Então, aí
você pode explicar melhor, eles não, muitas vezes eleso entendem o que
é que aquela palavra tá fazendo ali, mas você vai ter o seu trabalho
facilitado na hora, ali você pode explicar muito melhor o que ela significa.
É evidente o letramento digital que caracteriza o referido professor, pois
busca uma conexão com a realidade, aproximando o aluno da novidade e
orientando-o para a aprendizagem.
Outra referência interessante a respeito de materiais da Internet usados por
professores de inglês está relacionado aos próprios sites das escolas. Algumas
escolas regulares particulares e de idiomasm suas páginas na Internet que, além
de divulgarem os cursos, também oferecem material para o aluno (ou potencial
aluno). Dois professores participantes, ambos de escolas de idiomas distintas,
mencionaram que ou participam da confecção desse material ou o indicam para
seus alunos. O primeiro deles é Leandro e o segundo, Paulo, ambos de escolas de
idiomas e usuários do computador:
A : E que tipo de exercícioso esses ?
L : Gramática, vocabulário e compreensão de leitura para todos os
níveis e para todos os pontos gramaticais.[...] Nós, cada um prepara um
nível diferente, daís fazemos o group-reading,s enviamos para a
coordenadora, enfim é uma equipe.
P: o professor orienta os alunos a acessarem a 1
a
revisão, que a 1
a
revisão cobre, por exemplo, a unidade da 1 a 5, que seria para a prova de
meio.
A: E quem elaborou esse material para a revisão?
P : A central. Ele é variado, mas ele é basicamente em cima de
gramática, exercícios gramaticais, um pouco de vocabulário, dependendo
do estágio. Uh, basicamente isso. E, você tem uma infinidade de
exercícios, tem um fill in the gaps. tem um multiple choice. gue mais que
tem, para completar mesmo?
Exercícios gramaticais e de vocabulárioo características desses sites
institucionais. Interessante notar que há a oferta desse material, mas o mesmoo
foi utilizado pelos referidos professores participantes em suas aulas. Portanto, trata-
se de um material de auto-estudo para o aluno.
3.5 Dificuldades
O tema dificuldades emergiu dos dados e abordam as dificuldades
encontradas pelos participantes em relação ao acesso à máquina, à conexão com a
Internet, tempo para praticar, entre outros.
Os professores participantes, tanto os que usam o computador quanto os que
o o usam, abordaram o tema dificuldades no uso atual, ou num futuro uso. O
quadro abaixo resume as principais dificuldades, mencionadas pelos professores
participantes:
Quadro 3.5 Dificuldades encontradas pelos professores em relação ao uso do computador
A identificação das dificuldades levantadas pelos professores participantes
pode ser útil na instalação, no planejamento das instituições de ensino tanto para as
que já disponibilizam o computador, quanto para as que aindao o fazem.
Um outro tipo de dificuldade revelado pelos dados refere-se ao desgaste extra
do professor que usa o computador, observado, principalmente, nas falas de quem
efetivamente já fez isso em sua prática docente. Trata-se de um tema interessante,
pois há que ser considerado ao pensar na remuneração do professor frente às
múltiplas funções que este desempenha ou desempenhará na sociedade digital.
Além de ter que usar recursos próprios, seja acessar a Internet (de casa) para
viabilizar atividades educacionais, usar tempo extra para se dedicar à alfabetização
tecnológica, há situações como a do professor participante Leandro em relação aos
cursos on-line em que atua:
Mas eu preciso me organizar para isso. Com os alunos on-line, eu
quero tentar achar um esquema de trabalho que seja menos desgastante
para mim, preciso me disciplinar mais parao ter que chegar em casa às
10:30 e começar a corrigir as redações até à 1 da manhã
É possível notar que a atuação de Leandro em cursos a distância o leva a ter
que rever sua organização pessoal e gerenciamento de seu horário de trabalho.
3.6 Intenções Futuras
É curioso notar que cada professor participante, independentemente da
filiação institucional, tem intenções futuras diferenciadas, cada qual dando um passo
à frente da situação em que se encontra. Por exemplo, os que aindao usam
almejam usar o computador; os que já usam querem desenvolver projetos novos; os
que nunca tiveram a experiência de vivenciar um curso on-line querem fazê-lo; e os
que já estão envolvidos com os cursos a distância desejam que tecnologia eficiente
na veiculação de som e imagem seja oferecida pelo mercado para que possam se
apropriar dela, desenvolvendo melhor interação com os alunos em cursos a
distância.
Algumas falas que indicam as intenções futuras dos professores participantes
foram transcritas no quadro a seguir para que se pudesse relacionar o hábito de uso
com a filiação institucional:
79
Quadro 3.6 Intenções futuras dos professores
É interessante observar as falas de Daniela e Sandra, pois revelam a idéia
de obrigatoriedade do uso do computador em suas práticas docentes,
independentemente de filiação institucional (uma pertence à escola regular pública e
a outra, à escola de idiomas). As razões pelas quais elas se sentem obrigadas a
usar o computadoro diferentes: enquanto Daniela acredita que seo usar
perderá mercado como profissional de escola de idiomas, Sandra acredita que
haverá cobrança efetiva do Governo do Estado que quer ver resultado do
investimento feito, tanto na capacitação quanto na aquisição de equipamento e
software.
A única fala que revela uma descoberta surpreendente é a da professora
Izabel, ela foi a única com a intenção de continuar fazendo o que faz hoje.
A professora Renatao nega o desejo utópico de ter tudo disponível a todo
momento, e a razão para isso fica clara quando ela explica que:
lidar com línguaso é uma coisa que tem tudo programadinho no
começo do ano, as coisaso acontecendo e você vai podendo aproveitá-
las ao longo do ano. Então, por mais que você tenha um planejamento, é
tudo muito flexível, você pode jogar o que você quiser dentro do seu
planejamento, dependendo do que está acontecendo no mundo.
Para a professora Renata, desempenhar a função de professora de inglês,
fazendo a ponte com o que está acontecendo no mundo, exige a disponibilidade
integral do recurso.
A variedade de crenças em relação ao uso do computador na prática docente,
assim como as relacionadas ao papel do professor na sociedade digital, o
desenvolvimento do letramento digital para a seleção de materiais, as dificuldades e
intenções futuras reveladas por esta investigação compõem um conjunto de
subsídios valiosos que serão discutidos a seguir.
APRESENTANDO E REFLETINDO SOBRE SUBSÍDIOS
Ao ingressar no programa de pós-graduação em Lingüística Aplicada e
Estudos da Linguagem, eu já sabia que a inquietação, a qual eu me dedicaria ao
longo de quase dois anos, estava vinculada ao uso do computador à prática docente
da língua inglesa. Eu sóo conseguia visualizar o caminho que percorreria para
obter as respostas que buscava. Com o passar do tempo, esse caminho se tornou
claro e por ele eu enveredei, desbravando conceitos, pressupostos teóricos e
metodológicos; desenvolvendo criticidade; conhecendo pessoas; experenciando o
conhecimento.
Dessa aventura nasceu este estudo, cujos resultados apresento aqui,
retomando as questões que nortearam a investigação, refletindo e apresentando os
subsídios, e, concluo revelando caminhos possíveis a futuros pesquisadores.
Ao identificar as crenças de professores de inglês em várias instituições,
descobri que essas podem ser individuais, pessoais, sendo que o contexto contribui
para a sua formação. Neste estudo, as crenças em relação ao uso do computador
na prática docente se revelaramo pessoais que, das mais de vinte identificadas,
apenas quatro se sobressaíram: o aluno sabe mais que o professor, o professor tem
que saber manusear o computador, as atividadesm que ser significativas e o
professor tem que perder o medo de usar o computador.
Em relação ao contexto em que ocorreram, os resultados revelam que a
crença sobre atividades significativas está mais presente entre professores de
escolas de idiomas, sendo que a de que o professor tem que perder o medo de usar
o computador foi notada somente entre professores da escola regular particular. A
crença de que o professor tem que saber manusear o computador é mais citada
entre professores da escola regular pública.
Uma observação curiosa ocorreu na identificação da crença de que o aluno
sabe mais que o professor: para os professores que já usam o computador, o fato de
o aluno saber maiso é uma crença, mas uma constatação da realidade, ela só é
crença para os que aindao vivenciaram o ambiente informático em suas práticas
docentes.
Neste estudo, os professores participantes que mais forneceram informações
sobre o uso do computador foram os que o utilizam em suas práticas pedagógicas,
independentemente da filiação institucional. Eu acredito que a experiência que esses
professoresm com o computador na sua atividade profissional fortifica suas
crenças.
A investigação a respeito da crença sobre o papel do professor de inglês na
sociedade digital trouxe à tona uma gama de termos que caracterizam o papel do
professor, dos quais se destacaram : educador, orientador, inovador, fascinador,
facilitador, promotor de autonomia, ponte cultural.
Dentre os professores de escola regular pública, sobressaiu-se a crença no
papel do professor educador, orientador. Na escola de idiomas, evidenciou-se a
crença do papel do professor como promotor de autonomia e ponte cultural. Por sua
vez, os professores de escola regular particular revelaram crenças muito individuais
queo do papel do professor formador do indivíduo e de habilidades lingüísticas ao
papel do professor fascinador.
O que este estudo observou, contudo, foi que a idéia expressa pelos
diferentes termos usados para caracterizar o papel do professor na sociedade digital
é a mesma: na sociedade digital, o professor deve promover a reflexão e criticidade.
Outro aspecto interessante é que os participantes acreditam que o papel do
professoro é o de transmissor ou detentor de conhecimentos. A passagem de
professor transmissor para o papel de promotor da reflexão é marcante.
Todos os participantes revelaram ter intenções e expectativas em relação ao
computador em suas práticas docentes. Todos os professores que aindao usam o
equipamento, seja de escola regular pública, particular ou de idiomas, desejam
utilizá-lo e aqueles que já o usamm intenções diferenciadas, entre as quais
verificam-se: voltar a estudar, desenvolver e melhorar projetos, começar a dar aulas
a distância. Sobre o ensino a distância, os professores participantes que já lecionam
nessa modalidade revelaram a intenção e expectativa de continuar e intensificar sua
docência on-line.
Duas observações relevantes que este estudo fez em relação às intenções
futuras: um dos professores participantes ressaltou ser sua intenção se organizar
melhor parao se desgastar com os cursos a distância; o outro participante
surpreendeu ao revelar que sua intenção é continuar usando o computador
exatamente como já faz.
Tendo identificado e revelado as crenças dos professores participantes em
relação ao uso do computador na prática docente e em relação ao papel do
professor na sociedade digital, além de ter descoberto as intenções futuras desses
professores sobre a utilização do computador em sua prática, ressalto que esta
investigação alcançou o seu propósito inicial. Todavia, este estudo excedeu as
questões iniciais, revelando, por meio dos temas emergentes, aspectos sobre
alfabetização tecnológica e letramento dos professores, o uso que fazem do material
encontrado na Internet, software e projetos, também trazendo evidências das
dificuldades encontradas por esses participantes no que concerne à introdução e ao
uso do recurso.
Durante a investigação foi possível descobrir que todos os participanteso
usuários do recurso e, portanto,o alfabetizados tecnologicamente. Evidenciou-se
que alguns se utilizaram de mais de um tipo de alfabetização tecnológica, que este
estudo chamou de alfabetização formal, alfabetização informal e auto-alfabetização.
Portanto, a filiação institucionalo representa um diferencial quanto à integração
do computador à prática docente.
Mesmo sendo alfabetizados tecnologicamente, esta pesquisa constatou que
nem todoso letrados digitalmente, o que foi evidenciado por meio das falas dos
participantes ao relatarem como utilizam materiais obtidos na Internet, como
selecionam ouo selecionam software e como desenvolvem e propõem projetos na
ação docente.
Os materiais obtidos na Internet e mais comumente utilizados por professores
de escolas regulares públicas e particulares, queo usam o computador em sua
prática,o artigos de revistas e exercícios gramaticais. Isso mostra que esses
professores priorizam o ensino de estruturas gramaticais. Já os professores de
escolas regulares públicas e particulares que usam o computador mostraram lançar
o de projetos educativos. Os professores de escolas de idiomas, tanto os que
usam como os queo usam, mostraram privilegiar o contexto autêntico. A pesquisa
também apurou o uso de software, sendo que os professores que usam o
computador e queo da escola regular pública fazem uso dos oferecidos pelo
Governo do Estado deo Paulo. A professora participante que usa o computador e
é da escola regular pública municipal lançao de enciclopédias virtuais. Tanto os
professores da escola regular particular quanto os de escola de idiomas revelaram
existir software no acervo da escola, mas o uso do computador em suas práticas
docenteso os privilegiam.
O fato de o professor usar ouo o computador nas aulas de inglês revelou-
se uma opção de natureza individual do professor que, muitas vezes, mesmo tendo
o equipamento disponibilizado pela instituição e sendo capacitado a utilizá-lo, opta
poro fazê-lo, uma descoberta interessante que esta pesquisa fez.
As dificuldades dos professores participantes relacionadas ao uso e
introdução do computador na prática docente incluem reformas nas condições
físicas dos laboratórios de informática, troca de equipamento, falhas em conexões
telefônicas, tempo para participar de curso de capacitação, o currículo e desgaste do
professor.
Tendo retomado as questões de pesquisa, apresento, agora, os subsídios
que este estudo, desde sua concepção, teve a expectativa de coletar, de forma a
contribuir para a elaboração de programas de formação, inicial e continuada, de
professores de inglês que incluam componentes tecnológicos.
Por meio da identificação das crenças é possível afirmar que um programa de
formação para professores de inglês deva considerar:
O grau de letramento do participante, isto é, conhecer se o participante é
ouo alfabetizado tecnologicamente, para, então, desenvolver o
letramento digital, expondo o professor ao processo reflexivo;
A Análise e avaliação de software educativo para o ensino de inglês, assim
como de materiais obtidos na Internet, meio de também praticar o letramento
digital;
O planejamento, desenvolvimento e aplicação de um projeto educacional
para o contexto do participante, que também é um meio de resgatar o
letramento digital;
A discussão do papel do professor na sociedade digital, do contexto de
atuação do professor, isto é, investigar as possíveis dificuldades de
aplicação do que está vivenciando no programa de formação, assim como
suas expectativas;
A prática, a exploração dos recursos de comunicação mediada pelo
computador, tais como: correio eletrônico, listas eletrônicas, salas de bate-
papo. Tal prática poderia acontecer entre os próprios professores, dando a
eles a oportunidade de experimentarem o potencial desses recursos como
alunos.
Futuras pesquisas poderão elaborar o referido curso de formação para
professores de inglês, levando em conta os itens listados por este estudo, além de
aplicar e verificar seu resultado.
Este estudo investigou as crenças por meio de declarações verbais, mas uma
vez que o contexto de atuação do professor contribui para a formação de sua
crença, um futuro estudo poderia dar continuidade a este, investigando a crença do
professor de inglês observando sua ação docente. A esse respeito, eu ressalto que,
neste estudo, senti falta das crenças dos professores (em relação ao uso do
computador) de escolas particulares. Se este estudo tivesse previsto a investigação
da crença por meio da ação, possivelmente essas crenças teriam aparecido com
mais força.
Concluo esta pesquisa, na certeza de que aprendi muito sobre meus colegas
professores e de que as descobertas proporcionadas por este estudo serão de
grande valia para minha atuação profissional e para a de meus colegas professores,
de que, "na sociedade digital, somos profissionais que persistem, apesar de tudo"
(Kesnki, 2001a :95).
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ANEXO
1. Roteiro para entrevista
O.Nome - idade-
1 Qual é a sua formação ?
2. Há quanto tempo você ensina inglês ?
3.Faça um resumo da sua experiência profissional (onde já lecionou e por quanto tempo em cada
local; leciona Inglês em alguma outra instituição além dessa ? Se sim, onde ? Em quais cursos ? ).
4. Você tem acesso ao computador em casa ? Você o usa em casa ? Para quê ?
4a. Você tem acesso ao computador no trabalho ? Você o usa no trabalho ? Para quê ?
5.Como você se vê como usuário de computadores?(Não dar dicas-simplesmente: O que você usa ?)
Que ferramentas você sabe utilizar ? Como aprendeu a utilizá-las ? Para que as usa ?
Que ferramentas você gosta de utilizar ? Por quê ?
Que ferramentas você detesta utilizar ? Por quê ?
6.Como você vê o computador no ensino de inglês ? Que vantagens ou desvantagens você vê no
computador para o ensino de inglês ?
7.Quaiso as condições básicas para um professor utilizar o computador na aula de inglês ? (Não
importa a ambientação : presencial ou a distância)
8. Quaiso as condições ideais para um professor utilizar o computador na aula de inglês ? (o
importa a ambientação : presencial ou a distância)
Só para professores que já usam o computador
9.Como se deu a introdução do computador nas suas aulas ? Você teve algum tipo de ajuda ?
(treinamento ou curso) Se sim, por parte de quem ?
10.Como você usa o computador para ensinar inglês ?
11.Em que critérios você se baseia para decidir quando usar o computador ?
11a. Em que critérios você se baseia para decidir como usar o computador ?
13.Que tipo de material é usado ? Quem o prepara ? (Software Educativo, de autoria)
14. Que resultados você obtém quando usa o computador em suas aulas ?
15.Qual é a reação dos alunos ?
16.Que intenções futuras você tem de uso do computador na sua prática ? ( EAD ?)
17.Na sua opinião, o que um professor precisa saber para adotar o computador em sua prática ?
18. O que você acredita precisar saber para utilizar melhor o computador nas suas aulas de inglês ?
Só conhecimento de máquina ? Que tipo ? Explique.
Só conhecimento teórico ? Explique.
Só para os queo usam o computador
9A.Você tem alguma intenção de utilizar o computador para ensinar inglês ? Por quê ? Para quê ?
10A. Como e para que você tem intenção de usar o computador ?
11 A. O que você acredita precisar saber para utilizar o computador nas suas aulas de inglês?
12A.O que você acha que está faltando para que possa utilizar o computador em suas aulas? Só
conhecimento de máquina ? Que tipo ? Explique.
Só conhecimento teórico ? Explique.
Para TODOS os professores
19 / 13A.Como você interpreta o seu papel como professor de inglês ?
Como você vê o seu papel de professor nessa nova sociedade chamada de sociedade da
informação, sociedade digital ?
Muda alguma coisa ? O que muda ? Por quê ?
20 /14AComo você acredita estar colaborando para formar seu aluno para viver em uma sociedade
com forte presença da tecnologia ?
21/ 15A Qual a formação que você procura dar a seu aluno ?
22/ 16A.(semelhante à 19/13A) Com o uso do computador, seu papel de professor muda ? Se sim /
o -Como ? Por quê ?
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