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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA PARA A OBTENÇÃO DO TITULO
DE MESTRE (M.Sc.) EM TEORIA E HISTÓRIA DA ARQUITETURA
PEDRO FREIRE DE OLIVEIRA ROSSI
(autor)
Prof. Dr. JAUME ROSELL
(orientador)
Prof. M.Sc. RAMON GRAUS
(co-orientador)
A SPAB E O SEU MANIFESTO:
UM NOVO MARCO NO PENSAMENTO PRESERVACIONISTA
CONTRA A RESTAURÃO NA INGLATERRA VITORIANA
MASTER OFICIAL DE TEORÍA E HISTORIA DE LA ARQUITECTURA
UNIVERSITAT POLITÈCNICA DE CATALUNYA
ESCOLA TÈCNICA SUPERIOR D’ARQUITECTURA DE BARCELONA
DEPARTAMENT DE COMPOSICIÓ ARQUITECTÒNICA
BARCELONA
MAIO, 2009
3
Este trabalho foi licenciado com a Licença Creative Commons Atribuição -
NãoComercial - SemDerivados 3.0 o Adaptada.
Para ver uma cópia desta licença, visite http://creativecommons.org/licenses/by-
nc-nd/3.0/ ou envie um pedido por carta para Creative Commons, 444 Castro
Street, Suite 900, Mountain View, California, 94041, USA.
4
SUMÁRIO
TRADUÇÃO E RELEITURA DO MANIFESTO DA
SOCIEDADE PARA A PROTEÇÃO DOS EDIFÍCIOS
ANTIGOS 5
As edificações antigas e o seu sentido histórico: a contribuição
do Manifesto à concepção moderna de “monumento artístico” 10
Patrimônio: uma idéia a ser preservada 12
Proteção contra Restauração 14
Proteger o passado e construir o presente 20
ANTECEDENTES À FORMAÇÃO DO PENSAMENTO
PRESERVACIONISTA 22
A discussão a propósito do trabalho de Wyatt 22
A chegada do revival gótico no século XIX 24
As idéias de Ruskin 29
WILLIAM MORRIS E OS MOMENTOS DECISIVOS
PARA A CRIAÇÃO DA SPAB E A PUBLICAÇÃO DO
SEU MANIFESTO 39
As Arts and Crafts e o mercado da decoração 39
Os primeiros protestos públicos 43
O pensamento contraditório de Gilbert Scott 45
CONSTITUIÇÃO E VIDA DA SOCIEDADE PARA A
PROTEÇÃO DOS EDIFICIOS ANTIGOS 57
Os primeiros trabalhos da Anti-Scrape 60
A afirmação ideológica internacional 61
MORRIS E OS EDIFÍCIOS ANTIGOS 70
ANEXO 73
LISTA DOS PRINCIPAIS COMPONENTES DA SPAB DURANTE
O PERÍODO DE 1877-1896 73
BIBLIOGRAFIA 78
5
TRADUÇÃO E RELEITURA DO MANIFESTO DA
SOCIEDADE PARA A PROTEÇÃO DOS EDIFÍCIOS
ANTIGOS
O Manifesto da Sociedade para a
Proteção dos Edifícios Antigos
The Manifesto of the Society for the
Protection of Ancient Buildings
Uma sociedade que se apresenta perante o
público com um nome como o acima
indicado, necessariamente, deve explicar
como, e por que, se propõe a proteger
edificações antigas que, para a maioria das
pessoas, sem dúvida, parecem ter tantos e
tão excelentes protetores. Esta é, portanto,
a explicação que oferecemos.
A society coming before the public with
such a name as that above written must
needs explain how, and why, it proposes
to protect those ancient buildings which,
to most people doubtless, seem to have so
many and such excellent protectors. This,
then, is the explanation we offer.
Indiscutivelmente, nos últimos cinquenta
anos vem surgindo, quase como um novo
sentido, um renovado interesse pelos
antigos monumentos artísticos, os quais
têm se tornado tema dos mais interessantes
estudos, de um entusiasmo religioso,
histórico e artístico que constitui um
autêntico fruto do nosso tempo; entretanto,
pensamos que se o atual tratamento que
lhes é dado continuar, nossos descendentes
os considerarão inúteis para estudos e de
um frígido entusiasmo. Acreditamos que os
últimos cinquenta anos de conhecimento e
atenção têm feito mais por sua destruição
que todos os séculos precedentes de
revolução, violência e desprezo.
No doubt within the last fifty years a new
interest, almost like another sense, has
arisen in these ancient monuments of art;
and they have become the subject of one
of the most interesting of studies, and of
an enthusiasm, religious, historical,
artistic, which is one of the undoubted
gains of our time; yet we think that if the
present treatment of them be continued,
our descendants will find them useless
for study and chilling to enthusiasm. We
think that those last fifty years of
knowledge and attention have done more
for their destruction than all the
foregoing centuries of revolution,
violence and contempt.
6
A arquitetura, ao menos como arte popular,
se extinguiu em um longo processo
decadente assim que nasceu o
conhecimento da arte medieval, de modo
que o mundo civilizado do século XIX não
possui um estilo próprio, apesar do seu
amplo conhecimento estilístico de outras
eras. Deste vazio e desta conquista surgiu
na mente dos homens a curiosa ideia da
Restauração de construções antigas; uma
estranha e péssima ideia, cujo nome sugere
que é possível despir de uma edificação
esta, aquela e outra parte de sua história,
isto é, de sua vida, para então se deter em
algum ponto arbitrário, mantendo-a
histórica, viva, da mesma maneira como o
foi em uma determinada época.
For Architecture, long decaying, died out,
as a popular art at least, just as the
knowledge of mediaeval art was born. So
that the civilized world of the nineteenth
century has no style of its own amidst its
wide knowledge of the styles of other
centuries. From this lack and this gain
arose in men’s minds the strange idea of
the Restoration of anc
ient buildings; and
a strange and most fatal idea, which by
its very name implies that it is possible to
strip from a building this, that, and the
other part of its history - of its life that is
-
and then to stay the hand at some
arbitrary point, and leav
e it still
historical, living, and even as it once was.
Em outras épocas, este tipo de falsificação
seria impossível, devido à falta de
conhecimento dos construtores, ou, talvez,
porque o instinto os impediria de fazê-lo. Se
reparos eram necessários, se a ambição ou
a devoção incitavam mudar, esta mudança
era realizada de acordo com o
inconfundível estilo da época; uma igreja do
século XI poderia ser ampliada ou
modificada durante os séculos XII, XIII, XIV,
XV, XVI ou, inclusive, nos séculos XVII ou
XVIII; mas qualquer mudança, fosse qual
fosse a história a ser destruída, deixaria
suas marcas no tempo e a edificação
seguiria com vida, apesar das reformas
levadas a cabo. Normalmente, o resultado
de tudo isso era uma construção em que as
muitas modificações,
ainda que duras e
bastante visíveis, eram realizadas por mero
contraste interessantes e instrutivas, e
não poderiam induzir a nenhum engano.
Mas aqueles que levam adiante as
alterações em nossos dias sob o nome de
Restauração, apesar de pretenderem
devol
ver à edificação o melhor de sua
história, não possuem regras a não ser seu
próprio capricho para indicar o que resulta
In early times this kind of forgery was
impossible, because knowledge failed the
builders, or perhaps because instinct held
them back. If repairs were needed, if
ambition or piety pricked on to change,
that change was of necessity wrought in
the unmistakable fashion of the time; a
church of the eleventh century might be
a
dded to or altered in the twelfth,
thirteenth, fourteenth, fifteenth,
sixteenth, or even the seventeenth or
eighteenth centuries; but every change,
whatever history it destroyed, left history
in the gap, and was alive with the spirit
of the deeds done mids
t its fashioning.
The results of all this was often a
building in which the many changes,
though harsh and visible enough, were,
by their very contrast, interesting and
instructive and could by no possibility
mislead. But those who make the changes
wrought
in our day under the name of
Restoration, while professing to bring
back a building to the best time of its
history, have no guide but each his own
individual whim to point out to them
what is admirable and what
7
ser apreciável e o que é desprezível,
enquanto que a própria natureza da tarefa
os obriga a destruir algo e suprir este vazio
imaginando
o que os primeiros
construtores poderiam ou deveriam ter
feito. Além disso, no transcurso desse duplo
processo de destruição e adição, toda a
superfície da edificação forçosamente se
perde; com isso, se elimina a aparência
envelhecida das partes antigas e das que
foram deixadas, não permitindo ao
espectador intuir o que se pôde ter perdido;
em poucas palavras, uma pobre e inânime
falsificação é o resultado final de todo o
trabalho perdido.
contemptible; while the very nature of
thei
r task compels them to destroy
something and to supply the gap by
imagining what the earlier builders
should or might have done. Moreover, in
the course of this double process of
destruction and addition, the whole
surface of the building is necessarily
tampered with; so that the appearance of
antiquity is taken away from such old
parts of the fabric as are left, and there is
no laying to rest in the spectator the
suspicion of what may have been lost;
and in short, a feeble and lifeless forgery
is the final result of all the wasted labour.
É triste dizer que, desta maneira, grande
parte das maiores Catedrais e um vasto
número de edificações mais humildes, tanto
na Inglaterra como no Continente, foram,
na maioria das vezes, encarregados por
homens de talento
e dignos do melhor
trabalho, mas surdos às exigências da
poesia e da história no sentido mais
elevado das palavras.
It is sad to say, that in this manner most
of the bigger Minsters, and a vast
number of more humble buildings, both
in England and on the
Continent, have
been dealt with by men of talent often,
and worthy of better employment, but
deaf to the claims of poetry and history in
the highest sense of the words.
É por aquilo que sobrou que suplicamos
ante os nossos arquitetos, ante os guardiões
of
iciais das edificações e ante o público
geral; e rogamos para que se lembrem do
quanto se perdeu da religião, do
pensamento e dos costumes do passado,
quase nunca por um consenso universal, de
ser Restaurado; e considerar se é possível
Restaurar aquelas ed
ificações, o espírito
vivo, das quais também não é possível ser
repetido, que era parte inseparável desta
religião e pensamento, e destes costumes
do passado. De nossa parte, asseguramos,
sem medo, que, de todas as Restaurações já
empreendidas, as piores têm significado a
imprudente remoção dos traços mais
interessantes de uma edificação; enquanto
que as melhores fazem perfeita analogia à
Restauração de um quadro antigo, onde o
trabalho parcialmente deteriorado de um
For what is left we plead before our
arch
itects themselves, before the official
guardians of buildings, and before the
public generally, and we pray them to
remember how much is gone of the
religion, thought and manners of time
past, never by almost universal consent,
to be Restored; and to consider whether
it be possible to Restore those buildings,
the living spirit of which, it cannot be too
often repeated, was an inseparable part
of that religion and thought, and those
past manners. For our part we assure
them fearlessly, that of all the
Restor
ations yet undertaken, the worst
have meant the reckless stripping a
building of some of its most interesting
material features; whilst the best have
their exact analogy in the Restoration of
an old picture, where the partly-perished
8
antigo artesão voltou limpo e esmerado
graças à mão habilidosa de algum pseudo-
artista inconsciente e pouco original de
hoje em dia. Se, para os demais, se nos peça
que precisemos que quantidade exata de
arte, estilo ou outro interesse faz com que
uma edificação mereça proteção, nós
respondemos qualquer coisa que se possa
perceber como artística, pitoresca,
histórica, antiga ou substancial; qualquer
trabalho, em poucas palavras, sobre o qual
pessoas cultas, artísticas, considerem que
mereça ser discutido.
work of the ancient cr
aftsmaster has
been made neat and smooth by the tricky
hand of some unoriginal and thoughtless
hack of today. If, for the rest, it be asked
us to specify what kind of amount of art,
style, or other interest in a building
makes it worth protecting, we answer,
anything which can be looked on as
artistic, picturesque, historical, antique,
or substantial: any work, in short, over
which educated, artistic people would
think it worth while to argue at all.
É por estas construções, portanto, de todas
as épocas e estilos, que imploramos e
conclamamos a todos que tenham de lidar
com elas para que a Proteção se imponha à
Restauração, para que se evite a
deterioração mediante o cuidado diário,
que se reforcem muros em perigo ou se
conserte um telhado com goteiras, que não
se ostentem outras artes e, além disso, que
se evite estragar o material e o ornamento
da edificação; se o seu uso atual não se
considera mais conveniente, que se edifique
outra construção ao invés de alterar ou
ampliar a antiga. Por fim, que tratem nossas
edificações antigas como monumentos de
uma arte do passado, criados por costumes
passados, no quais a arte moderna não
pode intrometer-se sem destruí-los.
It is for all these buildings, therefore, of
all times and styles, that we plead, and
call upon
those who have to deal with
them, to put Protection in the place of
Restoration, to stave off decay by daily
care, to prop a perilous wall or mend a
leaky roof by such means as are
obviously meant for support or covering,
and show no pretence of other art, and
otherwise to resist all tampering with
either the fabric or ornament of the
building as it stands; if it has become
inconvenient for its present use, to raise
another building rather than alter or
enlarge the old one; in fine to treat our
ancient bui
ldings as monuments of a
bygone art, created by bygone manners,
that modern art cannot meddle with
without destroying.
Assim, e somente assim, conseguiremos
escapar da vergonha que seria o nosso
conhecimento se converter em armadilha;
assim, e somente ass
im, poderemos
proteger nossos edifícios antigos e legá-los
como herança instrutiva e venerável aos
que virão depois de nós.
Thus, and thus only, shall we escape the
reproach of our learning being turned
into a snare to us; thus, and thus only can
we protec
t our ancient buildings, and
hand them down instructive and
venerable to those that come after us
9
Apresenta-se aqui uma primeira tradução do autor por não
ter sido encontrada nenhuma versão deste documento em
português. Esta foi realizada a partir de fontes primárias, em sua
versão original em inglês, e que podem ser consultadas em
diversas bibliografias que abordam o tema da restauração, as
quais, algumas, foram utilizadas na produção deste trabalho
1
. A
SPAB, por meio de seu atual Secretario Adjunto, Mathew Slocombe,
afirma não possuir qualquer documento original nos arquivos de
sua sede em Londres, no entanto, essa Sociedade dispõe o
Manifesto em formato digital em sua página virtual na internet
2
. Para
a sua tradução ao português foi consultada a versão traduzida ao
castelhano como forma de complementar a apreensão
terminológica das expressões e das idéias utilizadas no Manifesto.
Essa última pode ser encontrada em grande parte da bibliografia
ora aqui usufruída e em outras publicações que compreendem
traduções de textos e conferências proferidas por Morris
3
.
1
Vid. DENSLAGEN, Wim: Architectural restoration in Western Europe: controversy and continuity.
Amsterdam: Architetura & Natura Press, 1994, pp. 71-73; KELVIN, Norman: The Collected Letters of
William Morris. Vol. I 1848-1880. Princeton: Princeton University, 1984, pp. 359-360; MIELE, Chris: From
William Morris: Building Conservation and the Arts and Crafts Cult of Authenticity 1877-1939. New Haven
e Londres: Yale University, 2005, pp. 337-339; TSCHUDI-MADSEN, Stephen: Restoration and anti-
restoration. A study in English restoration philosophy. Oslo: Universitetsforlaget, 1976, pp. 144-146.
Outras fontes primárias consultadas para a realização deste trabalho foram consultadas na própria
sede da SPAB me Londres em viagem realizada pelo autor em Abril de 2008.
2
http://www.spab.org.uk
3
Vid. ELIA, Mario Manieri: William Morris e l’ideologia dell’architecttura moderna (1976) [V. castelhana,
William Morris y la ideología de la arquitectura moderna. Barcelona: Gustavo Gili, 2001, pp. 22-23. Trad.
De Juan Díaz]; HERNÁNDEZ MARTÍNEZ, Ascensión: Documentos para la historia de la restauración.
Zaragoza: Universidad de Zaragoza, 1999; MORRIS, William: Escritos sobre arte, diseño y política.
Arte/Historia, 3. Sevilla: Doble J, 2005, pp. 1-4.
10
Ao analisar o Manifesto da Sociedade para a Proteção dos
Edifícios Antigos é possível identificar dentro do discurso, ora
poético e romântico, ora feroz e contundente, diversos pontos que
fazem desse documento ser um reflexo da transformação da
Inglaterra vitoriana e um dos mais respeitáveis escritos relacionados
ao tema na época e utilizado como referencia até hoje. Essa
importância jaz na assimilação da teoria levada a cabo a meados
do século XIX, revê conceitos como o de restaurar, propondo um
novo sentido a essa prática, encaminha o interesse dado às
edificações antigas a um âmbito coletivo, transportando-as a um
nível mais elevado de importância, que o até então interesse
romântico pelo passado, consolidando-as, assim, como elementos
vivos que compõem a história, antecipando a concepção moderna
da idéia de monumento e patrimônio histórico. Outro ponto
importante é a inquietude frente à dominante ausência de um
caráter próprio do século XIX. O historicismo, um dos frutos dessa
era romântica, perdurou por muito tempo até que um novo estilo se
sobressaísse.
As edificações antigas e o seu sentido histórico: a
contribuição do Manifesto à concepção moderna de
“monumento artístico”
A importância desse Manifesto em relação à consagração
moderna do conceito de “monumento artístico” está na
compreensão da antiga concepção dessa idéia vinculada à
associação de outros atributos a esses objetos que pertencem à
história. A idéia de “monumento artístico” foi inicialmente tratada
com o seu devido valor ainda no Renascimento, quando surgiu um
novo ciclo em torno ao amadurecimento filológico da expressão, e
quando se utilizou a expressão derivada do latim monumentum,
11
algo memorável ou digno de se recordar. Esse sentido foi
primeiramente utilizado pelos humanistas e eruditos da época para
atribuir aos objetos, nesse caso as edificações antigas, um valor
testemunhal do passado. No entanto, a limitação dessa época em
-los somente como objetos de reflexão e contemplação foi
superada a meados do século XVIII com a ampliação do campo
espaço-temporal de pesquisas voltadas ao seu valor documental. A
essa superação se deve à classe de antiquários que surgiam como
os novos eruditos dotando de uma nova coerência visual semântica
aos edifícios antigos através de um esforço de conceitualização e
revalorização das antigüidades ao recopilar um vasto repertório
histórico ilustrando os vestígios das eras clássicas e medievais. O
século XIX, com o advento romântico historicista, aproximou, mais
ainda, as edificações antigas ao novo conceito de “monumento”.
Entretanto, o reconhecimento social destas edificações como
valores históricos e científicos pertencia, ainda, a um seleto e grupo
de eruditos que se interessavam pelas artes em geral.
Morris fez dessas artes o principal elemento de valorização
das edificações antigas como “monumentos artísticos”. Se a
limitação do reconhecimento do valor artístico intrínseco às
edificações como especial componente à sua preservação e
posterior herança às futuras civilizações pertencia a tempos
passados e ao próprio século XIX, guardada suas devidas
proporções de alcance para cada época, Morris viu na
popularização de todas as artes, e que ele titulou em 1877 no
momento de sua primeira conferencia, The Lesser Arts, “as artes
menores”, a oportunidade de tornar universal a condição de
“monumentos artísticos” os edifícios “de todas as épocas e estilos”.
12
Em relação à arquitetura como “arte popular” que engloba
desde as “maiores Catedrais” a “um vasto numero de edificações
mais humildes”, esta é a principal ligação realizada no Manifesto
para com o novo conceito de “monumento artístico”. A própria
exposição desta idéia em forma de manifesto social, publicada
originalmente em um meio de comunicação de massas, o jornal, e
neste caso o The Atheneum, confirma este anseio de disseminar o
valor das edificações antigas a todas as camadas da sociedade.
Também é valido recordar que todos os discursos então levados
adiante por Morris em relação ao seu pensamento popular da arte é
conduzido em conferências públicas ou exposto nestes folhetins de
alcance global e, em relação às edificações antigas, fez da SPAB a
principal ferramenta prática de divulgação de suas idéias.
« For what is left we plead before our architects themselves, before
the official guardians of buildings, and before the public generally
(…) »
4
Patrimônio: uma idéia a ser preservada
Uma das bases da concepção moderna de “patrimônio
histórico”, e talvez a mais importante para associar a esta análise,
está relacionada à idéia que o historicismo do século XIX associou
o valor de “monumento histórico” como instrumento a serviço das
ideologias do presente. O Romantismo transformou as relações
com o passado artístico e criou laços emotivos com determinadas
épocas históricas, em especial a medieval, e somou aos seus
4
Manifesto da SPAB, supra p. 8.
13
“monumentos” o gérmen de “pátria”. Neste sentido, pode-se dizer
que, uma edificação antiga abandonada representa, em
conseqüência, uma nação abandonada.
Esta carga ideológica surge no Manifesto quando se
atribuem às edificações antigas valores religiosos, artísticos e
culturais; variáveis imateriais que condizem ao “pensamento e os
costumesde uma cultura do passado. Estas qualidades conferem
ao monumento mais que um objeto científico de valor
documental, lhe associa um caráter subjetivo e o relaciona como
um objeto de manifestação social materializado, palpável, cuja
persistência física ao longo dos tempos está diretamente coligada à
idéia de patrimônio herança, legado de uma nação. Tal
afirmação se comprova com as seguintes passagens do Manifesto:
« (…) they (as edificações antigas) have become the subject of
one of the most interesting of studies, and of an enthusiasm,
religious, historical, artistic (…) »
5
« (...) to treat our ancient buildings as a bygone art, created by
bygone manners. »
6
A expressão “nossas edificações antigas” vem a fortalecer a
idéia de que tais construções podem ser associadas às
propriedades de domínio de um povo, seu patrimônio. São estes
5
Ibid, supra p. 5.
6
Ibid, supra p. 9.
14
bens materiais e intelectuais que Morris predicava preservar como
herança histórica.
Como ferramenta útil a tornar os monumentos “instrutivos e
veneráveis” às gerações futuras, a preservação se estende a todos
os períodos da história e a quaisquer quantidades de elementos
que se configurem capazes de expressar este legado “ambos na
Inglaterra e no Continente”. Todo e qualquer patrimônio,
pertencente a qualquer povo, deve ser preservado. Acerca de tais
considerações seguem as seguintes passagens no Manifesto:
« (…) what kind of amount of art, style, or other interest in a
building makes it worth protecting, we answer, anything which can
be looked on as artistic, picturesque, historical, antique, or
substantial (…) »
7
« It is for all these buildings, therefore, of all times and styles (…) »
8
No entanto, um novo tratamento dado a estas edificações antigas
faz com que Morris volte seu discurso à necessidade de reavaliar a
sua prática.
Proteção contra Restauração
Envolvidos por esta que foi conhecida como sendo uma fase
de grande pesquisa e produção de conhecimento dos tempos
7
Ibid, supra p. 8.
8
Ibid, supra p. 9.
15
passados, muitos arquitetos da época se inspiraram nos estilos
consagrados para desenvolver uma prática profissional
contemporânea. Entretanto, o trabalho que vinha sendo executado
naqueles momentos em relação à produção de novas construções
foi motivo de grande discussão que resultou em duras críticas por
aqueles que se importavam por sua arquitetura, considerando-a
como a imagem de uma era, e, ainda, discordavam da produção
quantitativa como processo que se abstinha da produção
qualitativa. O saldo deste período foi a reprodução de modelos
antigos da arquitetura e o nascimento da expressão revivalismo de
estilos, ou que se entende hoje por historicismo. Em outras
palavras, o século XIX aprendeu os séculos anteriores e não com
eles.
No âmbito do tratamento para com as edificações antigas
não foi diferente. No impulso de recuperar a imagem de uma
instituição falida, a Igreja investiu pesado na recuperação dos
santuários que se encontravam em situação de abandono, tanto
fisicamente quanto liturgicamente. A esta recuperação foi
associado o termo “Restauração”. Em relação a este pensamento,
Morris sintetiza:
« For Architecture, long decaying, died out, as a popular art at
least, just as the knowledge of mediaeval art was born. So that the
civilized world of the nineteenth century has no style amidst its
wide knowledge of the styles of other centuries. From this lack and
16
this gain arose in men’s minds the strange idea of the Restoration
of ancient buildings (…) »
9
A ausência de concepção de novos modelos estilísticos no
século XIX fez com que esta prática torna-se uma das mais vis
atividades realizadas para com as edificações antigas. “Estes
últimos cinqüenta anos de conhecimento e atenção tem feito mais
por sua destruição que todos os séculos passados de revolução,
violência e desprezo.
10
No entanto, cabe locar as principais idéias
de restauração, tanto conceituais como práticas, que levaram a
Morris a produzir este ponto de vista. Por um lado, a reflexão crítica
das palavras de Viollet-le-Duc:
« Restauration/ s. f. Le mot et la chose sont modernes. Restaurer
un édifice, ce n'est pas l'entretenir, le réparer ou le refaire, c'est le
rétablir dans un état complet qui peut n'avoir jamais existé à un
moment donné. »
11
« Ce programme admet tout d'abord en principe que chaque
édifice ou chaque partie d'un édifice doivent être restaurés dans le
style qui leur appartient (…) »
12
« Il faut qu'il (o arquiteto) ait pénétré dans toutes les parties de
cette structure, comme si lui-même l'avait dirigée, et cette
9
Ibid, supra p. 6.
10
Ibid, supra p. 6.
11
VIOLLET-LE-DUC, Eugène-Emanuel: « Restauration » em Dictionnaire raisonné de l'architecture
française du XIe au XVIe siècle, Vol. VIII. Paris: Bance e Morel, 1866, p. 14.
12
Ibid. p. 23.
17
connaissance acquise, il doit avoir à sa disposition plusieurs
moyens pour entreprendre un travail de reprise »
13
E por outro lado, as sugestões de John Ruskin:
« It (restauração) means the most total destruction which a building
can suffer: a destruction out of which no remnants can be
gathered: a destruction accompanied with false description of the
thing destroyed. Do not let us deceive ourselves in this important
matter; it is impossible, as impossible as to raise the dead, to
restore anything that has ever been great or beautiful in
architecture. »
14
« The first step to restoration, (…) is to dash the old work to pieces;
the second is usually to put up the cheapest and basest imitation
which can escape detection, but in all cases, however careful, and
however laboured, an imitation still, a cold model of such parts as
can be modeled, with conjectural supplements (…) »
15
« Do not let us talk then of restoration. The thing is a Lie from
beginning to end. »
16
Os trechos acima citados ilustram a dicotomia ideológica em
torno à restauração, tanto na França, quanto na Inglaterra. Na
prática, em ambos os países, geralmente utilizava-se do discurso
13
Ibid. p. 27.
14
RUSKIN, John: « Lamp of Memory » em The seven lamps of architecture. New York: Wiley, 1865, p.
161.
15
Ibid. p. 162.
16
Ibid. p. 162.
18
técnico violetiano nos seus mais amplos conceitos, devolvendo à
edificação antiga o seu tempo na história, como se o presente
momento daquele trabalho não imperasse sobre o seu estado
histórico, este, que já fora consagrado em tempos passados. Além
do mais, restaurar era uma tarefa cujo conhecimento aprofundado
das técnicas construtivas antepassadas era de fundamental
importância para os arquitetos restauradores, visto que esse
conceito os conduzia a se remontar na história e reproduzir, como
os primeiros autores, uma cópia fidedigna de qualquer elemento,
ornamental ou estrutural, considerado passível de restauração.
Restauração, de um modo geral, consistia em despir de seu
conjunto arquitetônico elementos por uma repetição de estilos
ultrapassados. O resultado era uma obra, considerada por Ruskin e
logo acolhida por Morris, falsa, cuja percepção do que foi mantido
e do que foi alterado tornou-se ilegível ao olhar do espectador.
Morris discorre sobre este conceito da seguinte maneira:
« (…) in the course of this double process of destruction and
addition, the whole surface of the building is necessarily tampered
with; so that the appearance of antiquity is taken away from such
old parts of the fabric as are left (…) »
17
À forma como este tratamento era realizado em tempos passados,
Morris comenta que:
17
Manifesto da SPAB, supra p. 7.
19
« (…) this kind of forgery was impossible, because knowledge
failed the builders, or perhaps because instinct held them back. »
18
De fato, o que o homem civilizado do século XIX” produziu
em relação ao conhecimento das técnicas construtivas e
restaurativas, nenhuma outra civilização passada havia ate então
desenvolvido. Contudo, o instinto que Morris comenta que poderia
ser a outra razão pela qual esta prática não era realizada
antigamente é a que falta no homem “moderno”. Por instinto, aqui,
pode se associar à valorização do monumento como um objeto
mais que um elemento tectônico, um legado histórico, artístico e
cultural que o século XIX ainda não tinha compreendido o seu
significado poético. E de aí vem a argumentação contra à idéia de
restauração.
A crítica a este conceito equivocado de tratamento às
edificações antigas está na ausência de sua valorização quanto ao
seu aspecto documental “cujo próprio nome sugere que é possível
despir de uma construção esta, aquela, e outra parte de sua
história
19
. Outro ponto, e que ultrapassa o entendimento do seu
conceito, está relacionado aos profissionais envolvidos nesta
prática que não haviam assimilado a importância das qualidades
espirituais contidas na vida do monumento. Acerca destas
declarações, Morris comenta:
18
Ibid, supra p. 6.
19
Ibid, supra p. 6.
20
« (as edificações antigas) have been dealt with by men (…) deaf to
the claims of poetry and history in the highest sense of the
words
20
A sociedade vitoriana presenciava nestes momentos uma
inédita revolução associada à produção industrial. O operário
tornou-se obsoleto e a máquina tomou lugar no mercado
implicando um processo produtivo serial quantitativo,
desvalorizando a singularidade intrínseca à maneira artesanal de
produção conduzida antigamente. Essa desvalorização se refletiu
na arquitetura quando os homens encarregados à recuperação das
edificações antigas sublimaram este processo artesanal que cada
monumento possuía, destruindo a “poesia” das mais complexas
estruturas aos menores ornamentos que estas construções
carregavam consigo ao largo dos anos. Morris era contrário a essa
destruição, e propôs, em contra a Restauração, a Proteção dos
edifícios antigos.
Proteger o passado e construir o presente
Como forma de valorizar o trabalho do homem do passado,
Morris propõe a reavaliação do conceito de Restaurar e impõe a
idéia de Proteger como sendo a única maneira de legar às
gerações futuras o edifico como um objeto vivo que descreve a
história de seu povo. No entanto, o significado da proteção destes
monumentos vai mais além. Proteger significa, também, atentar ao
homem do século XIX que é necessário desenvolver um novo estilo
20
Ibid, supra p. 8.
21
para a sua época. O que seria do mundo clássico sem seus
templos e do medievo sem suas catedrais góticas? Duas épocas
da história da que ilustram que o homem é capaz de deixar sua
própria e singular marca no tempo. Proteger este legado histórico é
de certa forma, abrir um novo espaço temporal na história e
assumir que o homem é capaz de evoluir.
22
ANTECEDENTES À FORMAÇÃO DO PENSAMENTO
PRESERVACIONISTA
A discussão a propósito do trabalho de Wyatt
Para entender o movimento preservacionista que
desencadeou na publicação do Manifesto da Sociedade para a
Proteção dos Edifícios Antigos é indispensável locar e comentar os
fatos que antecederam a sua divulgação. Assim como nos demais
países do continente europeu, o debate em relação ao tema que
abrange a restauração e o movimento anti-restaurativo na Inglaterra
é anterior ao século XIX.
Quando nas últimas décadas do século XVIII James Wyatt
(1746-1813), renomado arquiteto cujo interesse até então tendia ao
classicismo, iniciou sua trajetória profissional rumo ao estilo gótico,
alguns nomes como John Carter (1748-1817) e John Milner (1752-
1826) afiaram suas palavras e não hesitaram em criticar as radicais
medidas tomadas por Wyatt em relação à restauração das
Catedrais de Lichfield, Salisbury, Hereford e Durham na década de
1790. Wyatt, que nunca havia mantido contato com a arquitetura
gótica até então, foi o primeiro personagem controverso do período
23
doravante conhecido como neo-gótico até que o tema da
restauração fosse discutido sob um teor mais crítico
21
.
Arquiteto e membro da Sociedade de Antiquários de
Durham, Carter não se considerava completamente leigo em
relação à arquitetura medieval; defendia a autenticidade das
edificações e se manifestava contra os embelezamentos arbitrários
adicionados aos monumentos góticos. Entre as décadas de 1790-
1820, escreveu mais de 200 artigos para a Gentle’s Magazine onde
atacou de maneira nada gentil as atividades restaurativas de
Wyatt
22
. No entanto, foi Milner, bispo da Igreja católica e renomado
romancista inglês, que fez surtir maior efeito em relação às criticas
direcionadas ao trabalho de seu contemporâneo. Durante toda a
sua vida Milner demonstrou grande interesse a respeito da
arquitetura e de sua história. Em 1811 escreveu Treatise on
Ecclesiastical Architecture of England during the Middle Ages, porém
foi em 1798 quando publicou A Dissertation on the Modern Style of
Altering Ancient Cathedrals as Exemplified in the Cathedral of
Salisbury que veio a tona o que se pôde considerar a primeira crítica
bem embasada à atividade restaurativa inglesa jamais realizada até
então
23
. Dois são os pontos principais para tal conclusão: o
primeiro é em relação ao pedido de conservação das distintas
qualidades arquitetônicas e suas proporções da maneira como
tenham sobrevivido, sem levar em conta a época em que tais
21
TSCHUDI-MADSEN, Stephan, Op. Cit., p. 19.
22
Ibid. p. 20.
23
Ibid. p. 21.
24
trabalhos foram produzidos inicialmente; o segundo está na súplica
artística para a qualidade e o respeito sepulcral, e finalmente para
que a sua unidade e totalidade aparentem os estilos da época
atual. Em outras palavras, Milner foi pioneiro em criticar a
modificação espacial classicista em edificações medievais,
demonstrando um entendimento e um julgamento consciente
derivado das idéias definitivas de estilo. A discussão a propósito do
trabalho de Wyatt ilustra o ambiente em que se encontra a
Inglaterra. No entanto, a formação do pensamento em relação à
preservação dos edifícios antigos recebeu um caráter mais maduro
e abrangente no início do século XIX.
A chegada do revival gótico no século XIX
Entre o século XVIII e as primeiras duas décadas do século
XIX, boa parte das edificações religiosas na Inglaterra passou por
um período de abandono e esquecimento. Durante a era da razão,
o principal foco estava no desenvolvimento das ciências e da
tecnologia, enquanto que a religião atraia cada vez menos
atenção
24
. Entre 1760 e 1820 foram levantadas apenas 12 igrejas na
Inglaterra, e em 1814 o quadro era tão grave que apenas um
décimo dos fiéis poderia ser acomodado em tais equipamentos
25
. A
Igreja estava em crise e não acompanhou o crescimento das
demais instituições. Cada vez mais seus templos caíam em ruínas e
24
JOKILEHTO, Jukka: A history of architectural conservation. Oxford: Butterworth-Heinemann, 1999, p.
101.
25
TSCHUDI-MADESEN, Stephen, Op. Cit., p. 24.
25
os que sobreviviam eram usufruídos para locação de atividades
pagãs.
A quantidade de fiéis decrescia consideravelmente.
Preocupados com a situação, em 1818 o clero e o governo inglês
se uniram para lançar o Church Building Act, uma lei de incentivo à
reforma da Igreja cujo funcionamento dependeu da criação em
1820 da Incorporated Society for Promoting the Enlargment and
Reparing of Churches and Chapels e em menos de 20 anos, desde
a criação da Church Building Society, como assim também foi
conhecida, foram gastos por volta de seis milhões de Libras na
construção de novas igrejas, 214 no total
26
. Naquele momento a
revista The Ecclesiologist publicou um informe anual sobre velhas e
novas igrejas inglesas. Segundo este periódico, durante a década
de 1840, a média de igrejas abandonadas era de 50 ao ano.
Durante os dez anos subseqüentes essa média se manteve em
relação ao número de igrejas novas e restauradas, no entanto o
número de edificações eclesiásticas profanadas ou em ruínas foi
decrescendo até deixar de existir por volta dos últimos anos da
década de 1860. A SPAB publicou em seu 22
o
relatório anual um
balanço do total de igrejas restauradas e chegou à conclusão de
que entre os anos de 1840 e 1875, 7.144 igrejas foram restauradas
de norte a sul na Inglaterra
27
.
26
HARVEY, Charles e PRESS, Jon: William Morris. Design and enterprise in Victorian Britain.
Manchester: Manchester University, 1991, p. 57.
27
22
º
annual report of the Committee. Londres: The Society for the Protection of Ancient Buildings,
1900.
26
Ocorria na Grã-Bretanha uma das maiores reformas da
Igreja, era o Revivalismo Eclesiástico. Até então a imagem do estilo
cristão inglês de arquitetura era o gótico e este foi considerado
como a única base correta e verdadeira para o movimento religioso
em questão. Assim como a instituição, a personificação de sua
imagem também deveria passar por uma reavaliação, e logo surgiu
o revival gótico
28
.
Graças a todo o movimento reformista religioso, novas
investigações foram surgindo em relação à Idade Média. Para
Morris, o resultado mais importante de tais investigações era a
reconstrução de uma imagem medieval que não aparecia nem
como um mundo grotesco nem como uma época de lendas e sim,
por outro lado, como uma comunidade real de seres humanos,
uma sociedade orgânica pré-capitalista com valores e arte próprio,
em agudo contraste com os da Inglaterra vitoriana
29
. As décadas de
1820 e 1830 foram anos muito importantes para a publicação de
obras literárias a respeito da Idade Média e da sua arquitetura.
Dentre os principais nomes estão John Britton e Thomas Rickman.
Britton (1771-1857) publicou uma extensa série de livros e o seu
principal trabalho foi lançado entre 1831 e 1838. O Dictionary of the
Architecture and Archeology of the Middle Ages somou todo o
conhecimento que obteve durante os anos de investigação sobre a
Idade Média. O renomado arquiteto inglês Rickman (1776-1841),
28
TSCHUDI-MADESEN, Stephen, Op. Cit., p. 25.
29
THOMPSON, Edward Palmer: William Morris. Romantic to Revolutionary. (1988) [V. castelhana,
William Morris. De romántico a revolucionario. Valencia: Alfons el Magnànim, 1988. Trad. de Manuel
Lloris Valdés]
27
cujas obras eram neo-góticas, publicou em 1817 An Attepmt to
Discriminate the Styles of English Architecture, from the Conquest to
the Reformation. No entanto foi um pouco mais tarde que vieram à
tona as obras de Augustus Welby Northmore Pugin (1812-52), um
dos mais importantes arquitetos e teóricos de sua geração. Pugin
publicou Contrasts em 1836, e apesar de ter chegado relativamente
tarde no movimento, seu impactante trabalho fez com que se
tornasse personagem principal dos debates. Esta, que seria sua
mais famosa obra, compara arquitetura, filosofia, moral e estilo de
vida medieval com as idéias ultrapassadas do classicismo.
Nesse mesmo período, 1820-30, uma grande quantidade de
associações privadas com interesses em arqueologia, arquitetura e
antiguidades foi criada. Este novo e crescente interesse da
sociedade formou o terceiro componente na imagem da
restauração inglesa na primeira metade do século XIX
30
. Um dos
exemplos é a formação do RIBA, The Royal Institute of British
Architects em 1834, quando pela primeira vez arquitetos tiveram
uma instituição em comum que levasse adiante treinamentos e
qualificações profissionais entre outros assuntos. A Cambridge
Camdem Society foi criada em 1839 e promoveu o estudo da
antiguidade, da arquitetura eclesiástica e da restauração dos
resquícios da arquitetura mutilada. Influenciada pelo entusiasmo
gótico de Pugin, esta sociedade também seguiu os passos de um
movimento que surgiu nos primeiros anos da década de 1830
ligado à Universidade de Oxford e cujo principal objetivo era a
30
TSCHUDI-MADSEN, Stephen, Op. cit., p. 30.
28
reestruturação da instituição religiosa anglicana, o Oxford
Movement. Em 1850, sob influência deste mesmo movimento,
Morris optou por dedicar-se as ordens religiosas anglicanas.
Seguindo este ideal, dedicou-se a entrar na Exeter College,
instituição de ensino vinculada à Universidade de Oxford, e para
isso contou com a tutoria de um dos melhores homens da High
Church inglesa, o Reverendo Frederick Barlow Guy. Este renomado
senhor da Igreja era membro da Oxford Society for the Study of
Gothic Architecture, criada em 1839 no mesmo contexto do
nascimento das demais associações e cuja lista de membros
possuía, entre outros, personagens importantes no debate da
preservação dos monumentos como John Ruskin. Guy foi uma das
principais e primeiras influências do revival gótico para Morris. Em
1846, após uma reorganização interna, a Cambridge Camdem
Society passou a se chamar The Ecclesiological Society, cujo jornal
The Ecclesiologist abriu espaço para publicações e informes sobre
as mais importantes atividades relacionadas ao tema eclesiástico.
Outras publicações também foram lançadas por esta sociedade
como é o caso de A Few Words to Church Builders, de 1843, que
consideravam que igrejas pequenas deveriam ser restauradas no
estilo Early English enquanto que igrejas maiores no decorativo ou
perpendicular gótico.
A conseqüência mais importante deste movimento revivalista
foi o despertar do interesse da sociedade vitoriana em relação às
edificações antigas. Cada vez mais a discussão em torno à esta
prática, que envolvia tanto a construção de novas igrejas como a
restauracção das já existentes, assumia um tom mais crítico, seguia
um caminho mais embasado, além do mais. No entanto, estava por
surgir na segunda metade do século XIX uma corrente de
29
pensamento mais radical em torno à preservação dos edifícios
antigos, esta que seria essencial para formar as bases impressas
no Manifesto da SPAB.
As idéias de Ruskin
Edward Augustus Freeman foi um dos que colaborou para o
aperfeiçoamento ideológico preservacionista na virada entre as
décadas de 1840 e 1850. Publicou Principles of Church Restoration
em 1846 e seis anos mais tarde no livro The Preservation and
Restoring of Ancient Buildings reuniu a atividade da restauração em
três grupos. Para Freeman, os trabalhos restaurativos podiam ser
divididos em destrutivos, aludindo às primeiras práticas, onde as
formas estilísticas do passado não eram levadas em consideração;
em conservativos, quando no reparo de uma edificação se
reproduzia exatamente da mesma forma os detalhes de cada peça
de um trabalho antigo; e em ecléticos, quando representavam o
meio termo, onde a singular qualidade e a história de cada
edificação eram levadas em consideração
31
.
Nestes momentos, George Gilbert Scott estava trabalhando
na restauração da igreja de St. Mary em Stafford. Gilbert Scott não
tinha tido envolvimento com igrejas antigas até então e assumiu
não ter logrado muito sucesso neste trabalho. John Louis Petit
(1801-68), homem da Igreja e grande estudioso da arquitetura
medieval, publicou em 1854 Architectural Studies in France, um
31
JOKILEHTO, Jukka, Op. Cit., p. 159.
30
trabalho excepcional para a época, onde demonstrou um cuidado
universal e uma rara humildade relacionada às edificações antigas,
combinando sensibilidade artística com habilidade para o
entendimento do assunto. Petit fez grandes objeções ao projeto de
Scott para a igreja de St. Mary, cujo resultado, em sua opinão, não
havia demonstrado ser suficientemente conservativo
32
. Gilbert Scott
não era completamente “irresponsável” em seus trabalhos de
restauração. Era consciente do fator “conservativo” criticado em St.
Mary, no entanto os conduzia sem coerência tanto que o mesmo
Petit pediu que maiores cuidados fossem tomados ao planejar tais
restaurações.
Não obstante, não foram nem Freeman nem Petit quem
conduziram o marco do ideal preservacionista na segunda metade
do século XIX. John Ruskin (1819-1900), crítico de arte, também
conhecido como poeta e artista, em 1843 ao publicar a primeira
edição do livro The Modern Painters mencionava os problemas da
restauração. Ruskin conduziu a atenção ao “charme” que jazia em
cada época, idealizou a marca dos tempos e os traços da história
nas edificações. Em 1845 realizou uma viagem à Itália, quando teve
contato com os resultados da “destruição pela restauração”. O que
Ruskin presenciou foram os trabalhos desempenhados por
Giovanni Battista Meduna (1801-80) em Veneza. Após a fase de
deterioração da cidade, conseqüência de três governos austríacos
que se instalaram após a queda da Sereníssima República em
1797, Meduna foi o arquiteto encarregado pela restauração dos
32
TSCHUDI-MADSEN, Stephan, Op. Cit., p. 43.
31
principais edifícios antigos venezianos. Entre os principais estavam
a Basílica de São Marcos, inicialmente restaurada em 1845; o teatro
La Fenice, com trabalhos de remodelação de 1836; e o Palácio
Cavalli-Franchetti. Os ideais de Meduna estavam baseados nos
conceitos de l’unité de style, então em formação na França por
Viollet-le-Duc, o qual elogiou publicamente os trabalhos de seu
seguidor
33
.
Da viagem à Veneza, Ruskin produziu o que seria o principal
legado, até então lançado, em relação à preservação dos edifícios
antigos. A primeira edição de The Seven Lamps of Architecture foi
publicada em 1849; em 1851 o primeiro volume de The Stones of
Venice se tornava público e logo mais, em 1853, saíram os dois
últimos volumes desta obra. O trabalho de Ruskin reflete a
maturação de seus ideais de arquitetura, em um modo em que
formou a fundamentação necessária para a mudança radical de
pensamento em relação à restauração e à preservação. O capítulo
Lamp of Memory do livro The Seven Lamps of Architecture é a
principal fonte de inspiração para esta mudança. Aqui Ruskin dirige
a importância aos valores que não são de criação do homem,
enfatizado por sua reação contrária à paixão vitoriana nervosa de
produção. Uma visão, pode-se dizer, contrária ao Positivismo. A
arquitetura, segundo Ruskin, não deveria ser tocada nem
falsificada, foi criada para ser história e ser preservada como tal.
Era uma atitude religiosa e intelectual bastante fundamentada onde
se via obrigada a preservação dos edifícios antigos tanto como
33
GONZÁLEZ-VARAS, Ignacio: Conservación de Bienes Culturales. Teoría, historia, principios y
normas. Madrid: Cátedra, 1999, pp. 207-218.
32
documento histórico quanto como herança religiosa. Outro ponto
bastante importante foi o seu atento à originalidade do método
artesão e o resultado obtido com suas ferramentas. Esta nunca
poderia ser repetida e caso contrário, ou seja, qualquer imitação,
soaria falsa. Morris nesta época havia entrado na Exeter College e já
havia mantido contato com os pensamentos ruskinianos
34
. Estava a
par de quase toda a literatura publicada a respeito da preservação
dos edifícios antigos e principalmente os da Idade Média.
As idéias de Ruskin, contidas em todas as suas obras
literárias, tocaram profundamente Morris no que diz respeito à sua
formação preservacionista. No entanto, cabe a uma pequena
publicação de 1854 a mais importante relação com o Manifesto da
SPAB, este que haveria de ser publicado mais de vinte anos depois.
Em The Opening of the Crystal Palace. Considered in Some its
Relations to the Prospects of Art, discurso pronunciado em ocasião
da reabertura do Palácio de Cristal, Ruskin pede que uma
sociedade com o maior alcance possível se organizasse para
proteger as edificações antigas de toda a Europa. Na época,
Ruskin contatou a Sociedade de Antiquários de Londres para levar
adiante seu reclame, a qual criou um fundo chamado The
Conservation Fund. Esta ação visava catalogar os edifícios antigos e
conservá-los sem a utilização de adições, alterações ou
restaurações. Um esboço de um manifesto foi escrito onde a
comitiva executiva declarava sua oposição às restaurações da
34
THOMPSON, Edward Palmer, Op. Cit., p. 39.
33
época e delegava tarefas contra estas atividades. O documento
soou explosivo na época. No entanto, algumas limitações fizeram
com que este reclame não surtisse muito efeito, e apenas um fraco
protesto do clero foi publicado. As idéias manifestadas no texto
estavam expostas em um folheto e não houve repercussão social
suficiente, tanto por sua informalidade quanto pela sua falta de
capital, ou mesmo iniciativa por parte da Sociedade que o estava
divulgando. Apenas Ruskin levava o tema adiante fervorosamente,
porém não possuía qualificações práticas para resolver o problema.
34
1. Catedral de Durham antes da restauração de Wyatt. [MAEYER;
VERPOEST, 2000]
2. Catedral de Durham depois da restauração de Wyatt. [MAEYER;
VERPOEST, 2000]
35
3. Igreja de St. Mary em Stafford antes da restauração de Gilbert Scott.
[TSCHUDI-MADSEN, 1976.]
4. Igreja de St. Mary em Stafford depois da restauração de Gilbert Scott a
meados da década de 1840. [TSCHUDI-MADSEN, 1976]
36
5. Palácio Cavalli-Franchetti antes da restauração de Meduna. [GONZÁLEZ-
VARAS, 1999]
6. Palácio Cavalli-Franchetti depois da restauração de Meduna. [GONZÁLEZ-
VARAS, 1999]
37
7. Imagem produzida por Ruskin em viagem à Itália na década de 1840.
[University of Oxford, Museum of the History of Science]
38
8. Morris em 1854. [William Morris Gallery, Londres]
39
WILLIAM MORRIS E OS MOMENTOS DECISIVOS
PARA A CRIÃO DA SPAB E A PUBLICAÇÃO DO
SEU MANIFESTO
Os vinte anos que sucederam o discurso de Ruskin no
momento da reabertura do Palácio de Cristal foram decisivos para
que Morris pudesse, finalmente, pôr em exercício a sua formação
teórica em torno à preservação dos edifícios antigos. O texto que
formaria as bases para a redação do Manifesto da SPAB se
manteve guardado na sua memória, enquanto isso Morris
experimentaria atuar em novos campos de trabalho que lhe
ajudariam a adquirir a prática necessária para criar uma sociedade
de tamanha importância no mundo vitoriano de finais do século XIX.
Cabe agora discorrer aqui sobre alguns momentos considerados
decisivos a este acontecimento: o movimento das Arts and Crafts e
o mercado de decoração, as manifestações socialistas e as
reivindicações populares e, por fim, culminando na fundação da
SPAB, a crítica em torno aos trabalhos de Gilbert Scott.
As Arts and Crafts e o mercado da decoração
Uma das românticas visões que Morris apresentava sobre a
Idade Média é a valorização do processo artesanal dos objetos
40
produzidos naquela época. Esta idéia ia ser praticada nas últimas
décadas do século XIX sob responsabilidade do movimento das
Arts and Crafts, ou artes aplicadas, como manifestação contrária ao
processo mecanizado resultado da Revolução Industrial. Esta
corrente influenciou Morris a criar em 1861 a Morris, Marshall,
Faulkner & Co. Fine Art Workmen in Painting, Carving, Furniture and
Metals", uma firma voltada à produção de artefatos decorativos cujo
principal objetivo era a manufatura de suas próprias peças como
forma de atingir um grau satisfatório de qualidade, renegando o
processo serial industrial e reinterpretando, e transformando, os
padrões artísticos de desenho predominado pelo revival gótico. Em
uma correspondência privada ao Reverendo Barlow Guy, ao falar
da formação de sua nova atividade e pedir a seu antigo tutor uma
lista de nomes de “homens da Igreja e outros” para enviar-lhes uma
circular com informações sobre a firma, Morris comenta:
« You see we are, or consider ourselves to be, the only really
artistic firm of the kind, the others being only glass painters in point
of fact, (like Clayton & Bell) or else that curious nondescript mixture
of clerical tailor and decorator (…) »
35
Durante os primeiros anos de sua atuação, a principal fonte
de demanda dos trabalhos da MMF & Co. foi o próprio revivalismo
eclesiástico. Os encargos de vitrais, tanto para as novas
construções religiosas quanto para as restaurações das antigas
edificações, vieram de diversos arquitetos neo-góticos, entre eles
George Frederick Bodley, o primeiro contato da firma, George
35
KELVIN, Norman, Op. Cit., p. 37. To Frederick Barlow Guy, 19 Abr. 1861
41
Edmund Street, com o qual Morris teve noções do ofício da
arquitetura poucos anos antes, e do próprio George Gilbert Scott, a
quem, mais tarde, iria atacar ferozmente seu trabalho.
Parecia contraditório Morris estar a serviço de uma prática
que ele mesmo negava através das idéias de Ruskin. Como
poderiam eles estar contribuindo ao desenvolvimento de um
conceito bastante criticado e cada vez mais ultrapassado? Justo a
MMF & Co., uma firma que havia “nascido” dos ideais do
movimento das Arts and Crafts, este que, por meio de seus
seguidores, buscava um autêntico estilo para o século XIX. Mas
não. Não era bem dessa forma que Morris conduzia o seu
empreendimento, não da maneira como as demais empresas de
artefatos decorativos da época controlavam seus trabalhos, com
elementos neo-góticos para uma arquitetura igual neo-gótica.
Os princípios do movimento das artes aplicadas eram
estritamente seguidos pelos artesões que faziam parte da firma.
Grande parte destes artistas seguia os ideais da irmandade Pré-
Rafaelita, corrente artística fundada em 1848 por Dante Grabiel
Rosseti em reação acadêmica aos moldes clássicos renascentistas,
dedicada principalmente à pintura. Nomes como Edward Burne-
Jones, e o próprio Morris, faziam parte desta irmandade que
influenciou diretamente no desenho adotado na fabricação dos
vitrais da firma. A ligação era tão próxima que os mesmos Burne-
Jones e Rosseti estavam na formação original da MMF & Co.
Como foi dito, o desenho dos seus produtos, principalmente
dos vitrais utilizados nos edifícios religiosos, de certa forma,
carregavam consigo uma carga iconoclasta, pois rompiam os
42
padrões litúrgicos destes artefatos produzidos antigamente. Os
desenhos destes elementos não ilustravam passagens bíblicas nem
muito menos, em sua grande maioria, tinham sentidos religiosos,
eram humanísticos mais que nada. Representavam, sim, figuras
medievais em cenários do cotidiano do homem medieval.
A produção da firma de Morris não era voltada somente aos
encargos eclesiásticos, havia também uma preocupação em
desenvolver um novo olhar em direção à decoração doméstica. No
entanto, a produção artesanal tinha o seu custo, e este era
demasiado alto para a o alcance de uma sociedade que não podia
consumir tais objetos de tão singular qualidade, porém caros. O
alto investimento no mercado eclesiológico criou uma dependência
nos encargos dos vitrais que logo passaram a ser, por motivos já
explicados, cada vez menos aceitos pelos arquitetos, de modo que
a MMF & Co., nos últimos anos da década de 1870, se viu forçada
a empreender uma reorganização em relação à maneira como
conduzia seus trabalhos caso não quisesse perder seu espaço no
mercado decorativo ou, o que era pior, ter que encerrar suas
atividades.
Apesar de sua força de vontade de começar a colocar em
prática seus idéias neste mundo vitoriano, Morris teve que se
ajustar à estes modelos. Agora com um novo esquema
“empresarial”, a Morris & Co., como passou a ser chamada em
1875, decidiu focar sua produção de artefatos de maneira tal que
não perdesse espaço no mercado da decoração sem se render por
completo. No entanto, seu espírito “revolucionário” não havia
adormecido, e nestes momentos iria dedicar mais tempo a outra
atividade, as manifestações e os protestos sociais.
43
Os primeiros protestos públicos
Seu início no campo do protesto público também foi a sua
primeira participação em manifestações contra a restauração.
Trata-se do envolvimento em uma campanha de 1874, quando
incluiu a sua assinatura na lista de nomes que protestavam contra a
remodelação da igreja de St. John em Hampstead. O projeto
discutido era de autoria dos arquitetos Basil Champneys (1842-
1935) e George Gilbert Scott Jr. (1839-97). O esquema, além de ter
em vista a construção de uma nova torre, sugeria mudanças
radicais nos ambientes internos deste templo. O próprio fato de
destruir elementos existentes concebendo novos já era uma idéia
bastante desprezada para Morris, no entanto pior ainda era a
mudança arbitrária do estilo atual, um modelo georgiano inglês, a
favor de elementos neo-góticos. Com a ajuda dos protestos, o
projeto não recebeu suficientes doações e esta restauração não
chegou a ser concretizada
36
.
Não há, porém, muitas evidências de que Morris tenha
contribuído de maneira eficaz para a desistência da restauração da
igreja georgiana de St. John. Apenas se pode afirmar de que havia
participado no abaixo assinado contra este projeto, de modo que
este fato lhe resultou mais importante por ter sido seu primeiro
envolvimento no acompanhamento de um protesto, e
principalmente por ser contra uma restauração, do que não na
liderança de uma campanha social em si. No entanto, foi em 1876,
36
MIELE, Chris: « Morris and conservation » em MIELE, Chris, Op. Cit., p. 42.
44
apenas um ano antes da criação da SPAB, que Morris, ao tomar
conhecimento da Eastern Question
37
, daria seu primeiro passo à
vida de ativista político enviando uma carta ao jornal Daily News
comentando, e criticando, as atuais decisões que vinham sendo
tomadas pelo governo Britânico. Naquele mesmo ano havia sido
criada uma associação, formada por líderes liberais e socialistas,
contra a política inglesa conduzida em relação à Questão
Oriental. Nesta mesma correspondência, Morris “imploraria”
participar deste grupo, o que acabou resultando mais tarde na sua
vinculação como tesoureiro da Eastern Question Association, ou a
EQA:
« I beg with humility to be allowed to inscribe myself, in the
company of Mr. Gladstone and Mr. Freeman, and all men that I
esteem, as an hystercycal sentimentalist (…) »
38
Até então a sua atividade política era praticamente nula e a
sua vida social se limitava às conversas com seus poucos amigos e
a encontros com clientes da MMF & Co.. No entanto, esta imagem
de um Morris anti-social iria ser derrubada por uma nova atitude,
37
A questão toda era a velha rivalidade entre a Rússia e outras grandes potências pelo controle do
instável império Otomano. Eventos na Bósnia e Herzegovina conduziram, por fim, a uma guerra
Russo-Turca em 1877-78; o tratado de San Stefano que estabeleceu esse conflito deixou a Grâ
Bretanha tão insatisfeita que o governo se pôs muito próximo de estalar uma guerra. O nível da
atividade política na Inglaterra foi bastante alto durante este período, com freqüentes confrontos entre
grupos de oposição. Entre os ativos grupos pela paz e pela manutenção da neutralidade britânica
estava a Eastern Question Association (EQA) formada em 1876 divulgando informações corretas e
dando expressão à opinião pública. Para mais informações sobre a atuação política de Morris na EQA
[Vid. THOMPSON, Edward Palmer: La “cuestión oriental” in THOMPSON, Edward Palmer, Op. Cit., p.
193.]
38
KELVIN, Norman, Op. Cit., p. 326. To the editor of the Daily News, 24 Out. 1876
45
transformando-o neste ser “histérico sentimentalista. Quando
dentro das discussões em relação à Eastern Question Association,
Morris se viu em companhia de importantes políticos e homens de
negócios, assim como de lideres de sindicatos e de associações
radicais de Londres. A partir daquele momento se fazia mais
freqüente sua presença em manifestações, reuniões e conferências.
Morris havia descoberto um novo mundo e fez deste o
espaço ideal para derrogar contra o que vinha lhe consumindo
desde muito tempo. Vivia-se em uma época onde as relações
sociais estavam contagiadas pela falsa devoção vitoriana, e era
essa mesma hipocrisia que residia no homem inglês do século XIX
que lhe iria dar mais forças para poder, finalmente, por em prática
seus ideais preservacionistas.
O pensamento contraditório de Gilbert Scott
O primeiro estalo para a criação de uma organização voltada
à proteção dos edifícios antigos ocorreu em Morris exatamente na
mesma época em que se engajou com o grupo socialista da Easter
Question Association. Este primeiro desejo surgiu quando
presenciou um trabalho de restauração em uma igreja durante uma
viagem no final daquele ano de 1876, tratava-se do templo de St.
John the Baptist, em Burford, Oxfordshire. As alterações que vinham
sendo feitas ali lhe causaram horror e naquela mesma ocasião
esboçou uma carta clamando pela formação de uma sociedade
que combatesse tais atos destrutivos para com as edificações
46
antigas
39
. Sua filha, May Morris (1862-1938), que esteve presente na
viagem, relatou o fato mais tarde comentando que imagem da
destruição da igreja de Burford havia mobilizado seu pai, que
começou a escrever notas para uma carta anunciando algum tipo
de ação unida contra estas ações restaurativas
40
.
Morris não tocaria no assunto de criação desta “sociedade”
até o começo do ano de 1877, quando sua experiência dos
primeiros frutíferos meses de agitação em torno a EQA pôde dar-
lhe confiança na eficácia da ação pública. No dia 5 de março
daquele ano, Morris escreve uma carta ao jornal The Atheneum que
começa com o que seria o estopim para a fundação da SPAB.
« My eye Just now caught the word ‘restoration’ in the morning
paper, and, on looking closer, I saw that this time it is nothing less
than the Minster of Tewkesbury that is to be destroyed by Sir
Gilbert Scott. »
41
Morris utilizou de Gilbert Scott e de sua restauração em
Tewksbury como figura de linguagem para o estalo de um
sentimento nervoso que já existia anteriormente, onde Scott estaria
representando a todos os arquitetos considerados restauradores e
a Abadia de Tewkesbury a todas as edificações antigas que sofriam
com essas atividades “destrutivas”. Sendo Morris fiel seguidor das
idéias ruskinianas, por que somente agora decidiu criar esta
39
MACKAIL, John William: The life of William Morris. New York: Dover, 1995, p. 340.
40
THOMPSON, Edward Palmer, Op. Cit., p. 217-218.
41
KELVIN, Norman, Op. Cit., p. 351. To the editor of The Atheneum, 5 Mar. 1877
47
sociedade que Ruskin havia dito ser necessário ser organizada
fazia vinte anos? Qual o motivo que levou a crer que Gilbert Scott
seria o então responsável na representação da classe de arquitetos
destruidores dos edifícios antigos? O primeiro questionamento já foi
respondido no apartado anterior. A sua participação na EQA lhe
estava dotando de uma grande capacidade racional em relação ao
enfrentamento público, e somente agora se sentia confiante para
enfrentar seus “inimigos”, estes que pertenciam a um mundo
moderno por ele odiado e que comandavam sob uma contraditória
ideologia, típica da era vitoriana. Esse modelo generalista do
homem do século XIX ajudará a responder a segunda pergunta
destes questionamentos.
Gilbert Scott, apesar de suas boas intenções, foi um
personagem discrepante no que diz respeito à dualidade ideologia
versus prática. Seu antagonismo cria uma lacuna moral que só
pode ser relacionada ao seu estilo ingênuo e honesto. Em 1841,
quando começou seus trabalhos para a igreja de St. Mary, Stafford,
escreveu a Petit dizendo que era ciente de que a moderna
restauração era uma ação que vinha se tornando destrutiva para
com os monumentos antigos
42
. Em 1848, na conferência A plea for
the faithful restoration of Ancient Buildings, Gilbert Scott expressou
sua revolta contra a restauração em forma de protesto. Durante as
décadas de 1840-50, Scott, todavia não tinha conhecimento das
idéias de Ruskin, The Seven Lamps of the Architecture ainda estava
sendo escrito, o que leva a crer uma influência de Petit em seus
42
SCOTT, George Gilbert: Personal and professional recollections. Stamford: Paul Watkins, 1995, p.
98.
48
ideais de restauração. Gilbert Scott trabalhou constantemente para
melhorar os padrões da restauração, foi incansável em sua
autocrítica e interminável com o seu trabalho. No entanto, ao longo
de sua vida foi deixando de lado os seus princípios
43
.
Morris não havia atacado a mais um arquiteto que se
denominava protetor dos edifícios antigos, se não a um
personagem público e notório. Gilbert Scott havia sido presidente
do Royal Institute of the British Architects e somava centenas de
projetos novos e de restauração no seu currículo. Além do mais, era
um lorde inglês e logo a Inglaterra já havia lhe concedido a insígnia
de Sir Georges Gilbert Scott. O ataque metonímico ao seu nome iria
dar um forte impulso à criação do já pré-elaborado projeto de
criação da Sociedade para a Proteção dos Edifícios Antigos, a
SPAB.
« What I wish for, therefore, is that an association should be set on
foot to keep a watch on old monuments, to protest against all
restorationthat means more than keeping out wind and weather,
and, by all means, literary and other, to awaken a feeling that our
ancient buildings are not mere ecclesiastical toy, but sacred
monuments of the nation’s growth and hope. »
44
43
PEVSNER, Nikolaus: « Sir George Gilbert Scott » em Some architectural writers of the nineteenth
century. Oxford: Clarendon, 1972, pp. 168-182.
44
KELVIN, Norman, Op. Cit., p. 352. To the editor of The Atheneum, 5 Mar. 1877
49
9. Morris em foto com o grupo da Socialist League, um dos movimentos que
participaria a partir da década de 1880. [LINDSAY, 1975]
50
10. Vitral produzido na década de 1870 pela firma Clayton & Bell, para uma
igreja em Grantham, Lincolnshire. [SEWTER, 1947]
51
11. Vitral produzido por Morris, e desenhado por Burne-Jones, em 1878 para
a igreja de St. Martin em Brampton, Cumbria. [SEWTER, 1974]
52
12. Igreja de St. Albans em Hertforshire antes da restauração de Gilbert Scott
na década de 1870. [TSCHUDI-MADSEN, 1976]
53
13. Igreja de St. Albans em Hertfordshire depois da restauração de Gilbert
Scott na década de 1870. [TSCHUDI-MADSEN, 1976]
54
14. Interior da Abadia de Tewkesbury antes da restauração de Gilbert Scott.
[FAWCETT, 1976]
55
15. Interior da Abadia de Tewkesbury após restauração de G. Scott.
[FAWCETT, 1976.]
56
16. Morris em 1877. [William Morris Gallery, Londres.]
57
CONSTITUIÇÃO E VIDA DA SOCIEDADE PARA A
PROTEÇÃO DOS EDIFICIOS ANTIGOS
Após enviar a carta ao jornal The Atheneum, Morris iria se
encontrar no dia 22 de Março de 1877 com outros companheiros
para discutir a linha de trabalho a ser desenvolvida na Sociedade
para a Proteção dos Edifícios Antigos. Neste mesmo dia seria
redigido o Manifesto da SPAB. Em correspondência com Thomas
Wardle
45
, Morris comenta:
« We held the first meeting of the Society for the Protection of
Ancient Buildings at Queen Sq. on Thursday last, at which I was
appointed Honorary Secretary; and I wish (Philip) Webb & George
(Wardle) are to draw up a program setting forth our views and
aims, to submit to [the] a meeting on Thursday next; the said
program (…) shall ask the world in general to join: I think we shall
make the program explicit enough to keep out pretenders; but
45
Morris conheceu a Thomas Wardle através de George Wardle, então gerente da Morris & Co., em
1874 em viagem realizada a sua fábrica de tingimento de tecidos em Leek, Staffordshire. Com intuito
de descobrir novos métodos desta prática, Morris e Thomas Wardle criaram uma aproximação que
levaria a sua participação, anos mais tarde, na fundação da SPAB. [Vid. KELVIN, Norman, Op. Cit., p.
259n.]
58
really is difficult job, since everyone is ready to declare that he
wants to protect ancient buildings, and even sometimes will take
money for doing it. I really do hope we may something, if only [to]
we may make the architects a little more careful: my word, but they
will be in a range, if I have my way about the program! »
46
Este trecho da carta resume os primeiros momentos da
criação da SPAB. Morris havia sido nomeado Secretário Honorário
e os ali presentes
47
decidiram esboçar a primeira idéia do
Manifesto, este que deveria ser dirigido para que o “mundo inteiro”
aderisse às idéias da Sociedade. Estiveram também presentes
nesta primeira reunião Edward Burne-Jones, Henry Wallis, George
P. Boyce, Edward J. Poynter, Frederick G. Stephens e Sydney
Colvin. A maioria fazia parte da irmandade P-Rafaelita e eram
importantes nomes vinculados a instituições artísticas de Londres.
A SPAB começou como uma organização regida, sobretudo, por
artistas, not political this time
48
, não como às demais que Morris
participaria nesta mesma época. No entanto, alguns nomes de
políticos liberais radicais iriam somar à lista dos membros da
Sociedade, porém, em 1881, o então secretário, Newmans Mark,
iria defender o nome da SPAB de acusações referentes a seu
posicionamento “radical” da seguinte forma:
46
KELVIN, Norman, Op. Cit., pp. 356-357. To Thomas Wardle, 25 Mar. 1877
47
Nesta correspondência, a autoria do Manifesto indica ser de Morris, Philip Webb e George Wardle.
É comum encontrar divergências quanto à autoria deste documento nas monografias de Morris. No
entanto, a forte aproximação do conteúdo exposto com as idéias preservacionistas de Morris, sob
influência do pensamento de Ruskin, faz com que este tenha sido de fato escrito pelo próprio Morris.
48
KELVIN, Norman, Op. Cit., p. 359. Para Dante Grabiel Rossetti, 3 Abr. 1877.
59
« We are not a political body, and if our Society contains ‘Radicals’,
in desiring to maintain ancient fabrics they certainly should be
supported by all good ‘ Conservatives’, of whom I should add the
Society contains many. »
49
Esta particularidade mostra o caráter como a Sociedade iria
conduzir seus trabalhos. A primeira necessidade era a
disseminação da importância da valorização da arquitetura do
passado, e estes representantes levariam consigo a maneira mais
adequada de tratar o assunto, não como forma de protesto radical
político, mas como forma de conscientização através de um
pensamento revolucionário.
Muitas reações foram esboçadas naquele momento a
respeito dessa criação. Ainda que Morris tivesse capacidade de ser
mais feroz em seu discurso, o teor das cartas enviadas aos jornais
naqueles momentos não poupava nenhum arquiteto ou homens da
Igreja que levavam adiante os trabalhos restaurativos. Expressões
como “destruição”, “enfermidade”, entre outras, eram comuns em
relação à prática da restauração. Em meio ao fervor destas
reações, surgiria um nome alusivo à prática da SPAB o qual seria
utilizado pelo próprio Morris: The Anti-Scrape Society
50
. Em
correspondência datada de seis de Junho de 1878, ao amigo,
poeta e editor da Fraser’s Magazine, William Allingham, Morris iria se
49
Citado em MIELE, Chris: « Morris and conservation » em MIELE, Chris, Op. Cit., p. 56.
50
Anti-Scrape, do inglês, anti-raspar ou anti-riscar. Termo associado à prática restaurativa que se
utilizava de técnicas como a raspagem das superfícies das construções para retirar seu aspecto
antigo, concedendo-lhe uma aparência nova.
60
dirigir à SPAB com esse nome pela primeira vez. As reações
contrárias não foram problema para a realização dos trabalhos. De
certa forma, pode-se dizer que contribuíram para que esta fosse
freqüentemente assunto nos jornais da época. Davam cada vez
mais destaque na sociedade e difundiam seus ideais em um
constante processo de ataques e contra ataques. Esta maneira de
promover a Anti-Scrape foi de fundamental importância nos
primeiros anos de atividades, um período de grandes trabalhos
realizados que não se ateve somente à Inglaterra.
Os primeiros trabalhos da Anti-Scrape
Os trabalhos desenvolvidos eram de caráter informativo e
recomendatório. A SPAB, por meio de Morris e de seus demais
membros, ao saber que estavam sendo realizados trabalhos de
restauração em determinada edificação, além de informar
publicamente a realização de tais atividades nos jornais da época,
enviavam cartas aos membros da comissão que levavam a frente
aqueles trabalhos, comentando a importância das qualidades
arquitetônicas que iriam se “destruídas”.
« The Society feels it its duty to protest against such a course of
action, which it considers injurious to the history, & art of the
country. The Society begs to point out that this woodwork is
remarkable for its intrinsic beauty, and although of comparatively
late date, is a noble example of the art of its period, & in no way
interferes with but rather adds to the Architectural Effect of the
building. (…) the Society feels that is a loss rather than a gain, to
61
remove for the purpose of such restoration, a beautiful &
untouched work of a former age. »
51
Assim seguiu o trabalho da SPAB durante o seu primeiro
período, considerado aqui desde sua criação até a morte de Morris
em 1896. No entanto, a notoriedade da Anti-Scrape iria ser
assumida quando iniciou seus trabalhos fora da Inglaterra. As
recomendações preservacionistas iriam se estender por toda a
Europa, chegando ecoar seus ideais até mesmo fora deste
continente.
A afirmação ideológica internacional
Não era intenção de Morris olhar para fora da Inglaterra nos
primeiros momentos da criação da Sociedade. Mesmo no
Manifesto e em algumas cartas da época pode-se perceber tal
relevância com o fato, porém, em visita familiar à Itália em 1878 o
interesse de proteger as edificações antigas de todo o mundo
surgiu como uma grande tarefa a ser levada adiante pela SPAB
52
.
Morris havia visitado a Basílica de São Marcos em Veneza naquele
momento, e ao ver a retirada de mosaicos medievais de suas
fachadas voltou à Londres decidido em propor um comitê de
caráter internacional
53
.
51
KELVIN, Norman, Op. Cit., p. 379. To the Dean and Chapter of Canterbury Cathedral, 22 Jun. 1877
52
SHARP, Frank C.: « Exporting the revolution: the work of the SPAB outside Britain: 1878-1914 » em
MIELE, Chris, Op. Cit., p. 187.
53
Ibid. p. 187.
62
Em 1879 foi criado o Foreign Committee. As primeiras
medidas corresponderam à tradução do Manifesto ao francês,
alemão, holandês e italiano; em seguida foram realizados contatos
com demais organizações preservacionistas por toda a Europa; e
nenhuma ação concreta deveria ser tomada, apenas o
recolhimento de dados sobre possíveis edificações em processo de
restauração deveria ser feito
54
. Naquele mesmo ano Morris já
estaria informado de todo o processo restaurativo de São Marcos
que estava sendo levado a cabo por Meduna
55
, e a campanha
preservacionista contra estes trabalhos foi a primeira medida
tomada pela SPAB no âmbito internacional
56
.
O Comitê Exterior, criado primeiramente para defender a
preservação de São Marcos, realizou uma série de encontros por
toda a Inglaterra como forma de divulgar e recolher suporte
necessário para a campanha. O resultado destes encontros visava
elaborar e enviar um importante abaixo assinado ao governo
Italiano expondo a contrariedade dos nomes então listados à
restauração daquela construção em Veneza. Enquanto estas
reuniões eram cumpridas, Morris se encarregava de enviar cartas
aos principais jornais da época comentando sobre os trabalhos de
Meduna. A exposição e a conseqüente popularidade da campanha
54
Ibid. p. 187.
55
KELVIN, Norman, Op. Cit., pp. 528-529. To the editor of the Daily News, 31 Out. 1879.
56
Estas e outras informações a respeito das ações preservacionistas fora da Inglaterra, contidas
neste capítulo, encontram-se nos arquivos da SPAB referentes à campanha de São Marcos e ao
Comitê Exterior. [Vid. The Society for the Protection of Ancient Buildings, SPAB Archives, St. Mark’s e
Foreign Committee]
63
de São Marcos dirigiram a atenção do público inglês às idéias
preservacionistas de Morris de maneira nunca antes feita por
nenhum outro projeto levado adiante pela SPAB na Inglaterra. O
documento que recolheu assinaturas incluía nomes importantes de
toda a Inglaterra e logo assumiu o devido respeito. Todas as
camadas e classes sociais aderiram ao movimento; artistas e
políticos das mais diversas categorias e linhas partidárias estiveram
dispostos a entrar na luta contra a restauração de São Marcos
57
.
Um fator importante para que estes nomes aderissem à campanha
foram os próprios escritos de Ruskin que, na época, surtiam cada
vez mais efeito. The seven lamps of architecture e The Stones of
Venice foram produzidos sob visões italianas de restaurações em
edificações antigas. Morris, em correspondência ao jornal The
Manchester Guardian comentou o valor destas publicações para a
preservação de São Marcos:
« [w]e have had the advantage of reading Mr. Ruskin’s words in
our mother tongue words wich published so many years ago, in
the “Seven Lamps”, can never be bettered. To his insight we
doubtless owe the fact that at this juncture we have been able to
excite such a wide-spread interest in this matter. Ten years ago I
doubt if a hundred names could been got to such a memorial as
we have set on foot, and to-day, in spite of many disadvantages, it
has been signed by a thousand or more including the very flower
of the country in art, literature and science. »
58
57
SHARP, Frank C., Op. Cit.p. 192.
58
The Manchester Guardian, 29 Nov. 1879 em SHARP, Franck C., Op. Cit., p. 191
64
A campanha de São Marcos foi recebida com
indignação na Itália e entendida como uma acusação arrogante.
Nenhum dos nomes naquela tão importante lista era de fora da G
Bretanha, o que causou uma briga diplomática ferindo a soberania
italiana. Oficiais daquele país foram algumas vezes entrevistados
pela imprensa britânica na época expondo seu desprezo a tal
atitude e os jornais não hesitaram em criticar a forma como a
campanha havia sido tratada. A revista The Times reportou
“comoção e indignação” causada pela SPAB
59
. Manifestações
contrárias vieram, inclusive, do próprio autor do projeto da
restauração em questão. Meduna considerou as acusações e as
idéias da Anti-Scrape como mentirosas e ignorantes
60
. No entanto,
para acalmar a guerra diplomática que estaria prestes a tomar
maiores dimensões, Morris escreveu uma carta padrão de
esclarecimento e enviou a diversos jornais italianos e que logo seria
enviada a jornais ingleses, também para amenizar a situação na
Inglaterra.
« We have noticed with much pain that the Italian Press believes
those English persons who have of late ventured to criticize the
past and prospective restorations of St. Marks at Venice, intend by
that criticism to cast a slur on the Italians of being specially
incompetent or careless in dealing with their ancient buildings: Our
Society is most anxious to deny that there is any foundation for
what they regard as a charge against the of injustice and prejudice;
it begs to assure you that its utterances, whether of its members as
59
SHARP, Frank C., Op. Cit., p. 192.
60
Ibid. p. 194.
65
individuals, or in its collective form do not fairly bear any such
construction. »
61
A discussão em torno a São Marcos parecia estar indo longe
demais e tomando proporções políticas que o mesmo Morris havia
afirmado não ter relação com os ideais da Anti-Scrape. No entanto,
foi esta “guerra” empreendida pela SPAB que fizeram com que o
debate tivesse sido discutido nos meios públicos e a Europa, de
maneira geral, tomasse conhecimento não só desta campanha,
mas como também dos ideais preservacionistas de Morris. Em
1880 o governo italiano anunciou que os trabalhos restaurativos em
Veneza deveriam ser encerrados
62
, porém não houve qualquer
menção à campanha inglesa, o que fez Morris reivindicar seus
esforços
63
. Contudo, algumas manifestações a favor da campanha
de São Marcos foram expressas atestando a real importância da
SPAB em relação aos trabalhos em São Marcos.
« The article of Mr. Morris came at the right time. It was so full of fire
and hit the mark exactly. »
64
O reclame de Morris havia surtido efeito. Ainda que os
trabalhos restaurativos em São Marcos continuassem nos seguintes
anos, as medidas em relação a pontos específicos do projeto foram
levadas de maneira menos rigorosas. No entanto, os protestos em
61
KELVIN, Norman, Op. Cit., pp. 544-545. To the Editors of Various Italian Newspapers, 27 Nov. 1879
62
Ibid. p. 195.
63
KELVIN, Norman, Op. Cit., pp. 594-595. Recipient Unknown. 29 Nov. 1880.
64
KELVIN, Norman, Op. Cit., p. 545n
66
relação a esta restauração seguiram sendo pauta do Comitê
Exterior durante a década de 1890, porém, sem o mesmo fervor de
antes.
Durante este primeiro período da SPAB os protestos
internacionais foram voltados em sua maioria a projetos na Itália.
São Marcos foi apenas uma grande campanha considerada como
linha de frente da batalha e a que havia imprimido mais notoriedade
à causa preservacionista. Nesta mesma época levaram-se adiante
informes de restaurações em cidades de Florença e Pisa. No
entanto, países como França, Espanha
65
, Alemanha e Grécia
também receberam recomendações por parte da SPAB. A atual
Turquia, Índia e Egito foram alguns exemplos fora da Europa que
também estiveram sob protesto preservacionista da Anti-Srape.
A atividade da SPAB, de certa forma, deve maior importância
à internacionalização de seus pensamentos. O entrave entre
nações foi uma das maneiras mais substanciais de levar à tona a
necessidade de proteger os monumentos de todo o mundo. Esta
também seria uma das mais importantes contribuões de Morris ao
pensamento preservacionista contra a restauração no final do
século XIX.
65
Os trabalhos realizados na Espanha dizem respeito à Mesquita de Córdoba, na Andaluzia. Para
mais detalhes sobre esta campanha, seria necessária uma aprofundada pesquisa nos arquivos do
Comitê Exterior da SPAB.
67
Imagem 17. Fachada oeste da Basílica de São Marcos, Veneza, antes da
campanha preservacionista da SPAB no final da década de 1870. [SHARP,
2005.]
68
Imagem 18. Morris dance around St. Mark’s’. Caricatura publicada no jornal
Punch, satirizando a campanha preservacionista da SPAB. 1880. [SHARP,
2005.]
69
Imagem 19. William Morris na década de 1890. [Elliot and Fry of London.]
70
MORRIS E OS EDIFÍCIOS ANTIGOS
A formação do pensamento de Morris em torno à
preservação dos edifícios antigos foi resultado de uma associação
romântica com o passado, construída desde seus primeiros anos
de desenvolvimento intelectual, e da assimilação de novos ideais
anti-restaurativos que estariam surgindo na Inglaterra a meados do
século XIX. A própria restauração, como atividade principal no
campo do debate, tornou possível a disseminação de uma nova
discussão sobre sua equivocada concepção, onde Morris foi mais
um, dos personagens chave, na história disposto a enfrentar a
sociedade na tentativa de rever os seus conceitos. Destas novas
idéias, com Ruskin, aprendeu uma visão da arte como sendo um
importante fator social e assumiu este pensamento levando-o à
prática. Por essa atitude deve-se colocar a Morris em seu papel de
destaque frente aos seus contemporâneos, e mesmo ao próprio
Ruskin.
71
Ao comentar sobre a importância deste legado, Henderson
66
utiliza uma comparação entre o desenho do padrão de Acanthus
produzido por Morris em 1875 com o desenho desta folha
encontrado em um símbolo comemorativo do século XVI. Morris
não buscou imitar o estilo que ele demonstrava ser um entusiasta,
se não que transformou este conceito em um novo padrão artístico
para o século XIX. Esta visão revolucionária de ver a arte como um
elemento que se transforma ao longo da história, pode-se fazer
aqui à maneira como Morris percebia a arquitetura e a sua
insistente ideologia de preservação. O seu sentimento pelo
passado conduzia aos monumentos uma emoção singular, dotou-
os de atributos técnicos, estéticos e culturais de forma a proteger-
los como patrimônio de uma nação. Além de destruir esta imagem
histórica, a restauração estava sendo levada de uma forma
contrária à evolução artística. A reprodução de um determinado
modelo era uma idéia falsa, e da mesma forma que Morris
transformou a folha de acanto, também transformou”
equivocados conceitos e divulgou a necessidade de proteger a
arquitetura do passado, aprendendo com ela e não a imitando.
Ao olhar para trás, Morris não estava somente, de certa
forma, idealizando um determinado período da história. Também
procurou buscar respostas para a solução da vida contemporânea,
a qual, segundo ele, havia perdido importantes características,
artísticas e sociais, com o posicionamento do estilo de vida da
sociedade vitoriana. Ao mesmo tempo em que se baseava no
66
Vid. HENDERSON, Philip: William Morris: his life, work and friends. Londres: Thames & Hudson,
1967, pp. 367-369.
72
passado, queria distancia dele. Não se podia, portanto, manipular-
lo, e sim utilizar-lo como exemplo para a reformulação de antigos
conceitos. Com isso, pode-se dizer que Morris já era consciente de
que o século XIX havia encerrado seu ciclo e estava por conduzir a
um novo pensamento.
Ao finalizar este caminho recorrido através da particular
faceta de William Morris em relação à proteção e preservação dos
edifícios antigos, pode-se notar que esta discussão também é
atual. De certa forma, os problemas enfrentados por Morris
continuam sendo levados adiante hoje em dia. Os tempos
progrediram de uma maneira que os conceitos por ele combatidos
transformaram-se e cresceram em grandes proporções; e a
simplicidade e a harmonia que Morris tanto almejava parecem estar
mais distantes do que nunca. No entanto, uma vez que se
estabelece contato com o principal corpo de suas idéias, é possível
identificar-las em todos os aspectos relevantes para os dias de
hoje. Neste caso, fazer uma releitura mais aprofundada de seus
pensamentos fará com que a sociedade atual tenha outra visão do
tratamento que se dá ao patrimônio arquitetônico, ou pelo menos
abrirá caminhos para novos debates em torno à forma como se
cristalizou a imagem dos monumentos na sociedade.
73
ANEXO
LISTA DOS PRINCIPAIS COMPONENTES DA SPAB DURANTE
O PERÍODO DE 1877-1896
BALFOUR, Col Eustace (1854-1911): Arquiteto; foi aprendiz de Basil
Champneys (integrante da Art Workers Guild); Perito do Grosvenor
States em Mayfair e Belgravia; foi sócio de Hugh Thackaray Turner
de 1892 a 1911; irmão de Arthur Balfour (Primeiro Ministro Britânico
de 1902-05); foi Secretário Honorário Assistente de 1880 a 1890 e
também participou como membro do Comitê Exterior da SPAB.
BOYCE, George Price (1826-97): Treinado para ser arquiteto, mas
ficou sendo conhecido como pintor de aquarelas de temas de
arquitetura e paisagens; foi amigo de Rossetti e demais integrantes
da irmandade Pre-Rafaelita; viajou com Ruskin para Itália em 1854;
foi membro fundador da SPAB e também participou do Comitê
Exterior.
BROOKE, Reverendo Stopford Augustus (1832-1916): Homem da
Igreja que recebeu educação no Trinity College, Dublin; foi Pastor
da Bedford Chapel, Bloomsbury, entre 1875 e 1880; também
conhecido por sua vocação de escritor e poeta; foi membro
fundador da SPAB.
74
BURNE-JONES, Sir Edward C. (1833-1898): Artista Pre-Rafaelita;
desenvolveu grandes trabalhos de vitrais durante a firma Morris,
Marshall, Faulkner & Co.; amigo de Morris desde 1853; membro da
Arts and Crafts Exhibition Society em 1888; membro fundador da
SPAB e também pertenceu ao Comitê Geral e do Comitê Exterior.
CRANE, Walter (1845-1915): Pintor e ilustrador de livros; foi
influenciado por Morris a tornar-se socialista em 1880 e juntamente
com este liderou o movimento das Arts and Crafts; participou da Art
Workers Guild; foi um grande admirador dos Pre-Rafaelitas; teve
bastante influência da arte oriental em seu trabalho; foi um
estudioso de Ruskin e dirigiu a Escola de Arte de Manchester de
1893 a 1896.
DE MORGAN, William Frend (1839-1917): Ceramista e novelista
pertencente à irmandade dos Pre-Rafaelitas; foi amigo de Morris e
desenhou diversos temas para a sua firma entre 1863 e 1872;
membro do comitê da Arts and Crafts Exhibition Society; foi membro
fundador da SPAB.
FAULKNER, Charles J. (1834-1892): Matemático da Universidade
de Oxford; fundador da sucursal da Liga Socialista em Oxford;
amigo de Morris e trabalhou na firma Morris, Marshall, Faulkner &
Co.
GROSVENOR, Hon Richard Cecil (1848-1919): Amigo de Morris e
de De Morgan, foi Secretário Honorário Assistente entre 1880 e
1919 além de ter feito parte do Sub-Comitê Financeiro da SPAB.
75
HEBB, Jonatham (1832/3-1916): Foi Arquiteto Assistente do
Metropolitan Board of Works de 1876 e mais tarde Arquiteto
Assistente Chefe seguido por Arquiteto Superintendente do LCC
Superintendents Architects Dept., Building Branch; participou de
muitas reuniões e esteve em diversos casos na SPAB.
HOWARD, George James (depois 9
o
Conde de Carlisle) (1843-
1911): Membro do Parlamento Inglês, Liberal, de 1879 a 1885;
pintor amador; amigo de Morris e próximo a Burne-Jones; foi um
dos maiores clientes da Morris & Co.; amigo e patrocinador dos
artistas Pre-Rafaelitas; membro fundador da SPAB e participou no
Comitê Exterior.
HUNT, Alfred W. (1830-1896): Pintor de paisagens, Pre-Rafaelita; os
escritos de Ruskin tiveram influência sobre o seu trabalho e este o
incentivou que não desistisse da pintura; foi membro fundador da
SPAB.
HUNT, William Holman (1827-1910): Pintor; fundou a irmandade
Pre-Rafaelita junto com Rossetti e Millais em 1848 e escreveu sobre
temas relacionados a este grupo.
LETHABY, William Richard (1857-1931): Arquiteto, designer e
professor; muito amigo de Morris, Webb e seus respectivos círculos
de amizade; Assistente Chefe do arquiteto Norman Shaw; co-
fundador da Art Workers Guild em 1884 e apesar de seu empenho
durante o período Morris na Sociedade, foi somente depois de 1896
que Lethaby demonstrou maior participação na SPAB, sendo um
dos que mais assistiu às reuniões e colaborou com os trabalhos.
76
MARKS, Alfred: Historiador da arte; foi membro fundador da SPAB
além de Tesoureiro Honorário de 1878 a 1896 e membro ex-ofício,
juntamente com Morris, dos Comitês de Restauração, Exterior e
Financeiro.
MIDDLETON, Professor John H. (1846-1896): Arquiteto; amigo de
Morris; grande conhecedor da arte, da arqueologia e de
construções no exterior; Slade Professor of Fine Art em Cambridge;
diretor do Fitzwilliam Museum; diretor de arte do South Kensigton
Museum; especialista em arte oriental e Secretário Honorário
Assistente da SPAB entre 1882 e 1895.
MUNDELLA, Anthony J. (1825-1897): Membro do Parlamento
Inglês, Liberal; fundador da Eastern Question Association em 1876 e
presidente do Board of Trade de 1892 a 1894.
NORWOOD, Reverendo Thomas W. (1829-1908); Pastor da
Wrenbury, Nantwich, de 1878 a 1908; foi membro fundador da
SPAB e correspondente local em Cheshire.
POYNTER, Sir Edward J. (1836-1919): Artista; foi Slade Professor of
Fine Art da University College em Londres; diretor da National Gallery
entre 1894 e 1904; presidiu a Royal Academy entre 1896 e 1918 e
foi membro fundador da SPAB.
READE, Essex: Editor; amigo de Morris e Secretário Honorário
Assistente da SPAB no período de 1891 a 1908.
ROBSON, Edward R. (1836-1917): Arquiteto sócio de Stevenson e
trabalhou para o escritório de Scott.
77
STEPHENS, Frederick George (1828-1907): Crítico de arte do jornal
The Atheneum no período de 1861 a 1890; entrou com Hunt,
Rossetti e Millais na irmandade Pre-Rafaelita; escreveu A Life of
Rossetti e foi membro fundador da SPAB.
STEVENSON, John J. (1831-1908): Arquiteto; sócio de Robson e foi
treinado no estúdio de Gilbert Scott.
TURNER, Hugh Thackeray (1853-1937): Arquiteto e sócio de
Balfour; foi o primeiro Secretário Efetivo da SPAB durante o período
de 1883 até 1912.
VINALL, Charles G: Arquiteto e perito; trabalhou com Webb;
estimado pela firma Morris & Co.; foi um dos membros mais ativos
sendo Secretário Honorário Assistente entre 1880 e 1889 além de
membro do Comitê Financeiro da SPAB.
WARDLE, George: Gerente da firma Morris & Co.; foi membro
fundador da SPAB e membro do Comitê Financeiro.
WARDLE, Sir Thomas (1831-1909): Foi presidente da Silk
Association of Great Britain entre 1877 e 1909; foi membro fundador
da SPAB e correspondente em Staffordshire.
WEBB, Philip (1831-1915): Arquiteto; trabalhou com o arquiteto
George Edmund Street, na época em que ensinou a Morris o ofício
de sua profissão; projetou a Red House, lar da família Morris em
1861; membro fundador da SPAB e um dos principais
representantes da Sociedade ao lado de Morris.
78
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