Download PDF
ads:
0
Universidade Estadual Paulista
Faculdade de Medicina
Luís Carlos de Paula e Silva
A INTERFERÊNCIA DA JORNADA DE TRABALHO NA QUALIDADE
DO SERVIÇO: CONTRIBUIÇÃO À GESTÃO DE PESSOAS
Botucatu
2009
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
1
Universidade Estadual Paulista
Faculdade de Medicina de Botucatu
Luís Carlos de Paula e Silva
A INTERFERÊNCIA DA JORNADA DE TRABALHO NA QUALIDADE
DO SERVIÇO: CONTRIBUIÇÃO À GESTÃO DE PESSOAS
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem – Mestrado
Profissional.
Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP
Orientadora: Profa. Dra. Carmen Maria Casquel Monti Juliani
Botucatu
2009
ads:
2
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉCNICA DE AQUISIÇÃO E TRATAMENTO
DA INFORMAÇÃO
DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP
BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: Selma Maria de Jesus
Silva, Luís Carlos de Paula e.
A interferência da jornada de trabalho na qualidade do serviço: contribui-
ção à gestão de pessoas / Luís Carlos de Paula e Silva. – Botucatu : [s.n.],
2009.
Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de
Medicina de Botucatu, 2009.
Orientadora: Carmen Maria Casqueli Monti Juliani
Assunto CAPES: 40101150
1. Saúde - Avaliação 2. Serviços de enfermagem - Qualidade
CDD 610.7306
Palavras-chave: Enfermagem; Gestão de recursos humanos em saúde;
Indicadores de gestão; Jornada de trabalho
3
A Enfermagem é a ciência humana, de pessoas e experiências,
com um campo de conhecimentos, fundamentações e práticas que
abrangem o estado de saúde e doença; portanto, exige dos
profissionais competência técnica, capacidade criativa, de
reflexão, de análise crítica e um aprofundamento constante de
seus conhecimentos técnico-científicos.
Anna Nery
Dedicatória
0
Dedicatória
Dedicatória
1
A MINHA ESPOSA
Patrícia Regina de Souza Sales
AOS MEUS PAIS
Aparecido de Paula e Silva (in memorian)
e
Darci de Souza e Silva
AOS MEUS AVÔS
Expedito de Paula e Silva (in memorian)
e
Zulmira Paes e Silva
ÀS MINHAS FILHAS
Carolina
Carla
Gabriela
Dedicatória
2
AOS MEUS IRMÃOS
Roberto
Angela
Jairo
Pelo incentivo e compreensão nos momentos mais
difíceis e por existirem em minha vida, pois sem vocês
tudo não teria sentido.
Agradecimento Especial
0
Agradecimento Especial
Agradecimento Especial
1
A Professora Doutora Carmen Maria Casquel Monti
Juliani
Pela oportunidade, orientação, paciência, amizade,
competência profissional e incentivo que muito
contribuíram para meu crescimento pessoal, profissional
e científico.
Agradecimentos
0
Agradecimentos
Agradecimentos
1
A Professora Doutora Cristina Maria de Lima Parada, Coordenadora do Curso de
Pós-Graduação, e a Vice-Coordenadora Professora Doutora Heloisa Wey Berti pela
competência na condução deste magnífico trabalho.
Ao Professor Doutor José Eduardo Corrente pelo empenho na análise estatística,
meu agradecimento em especial.
As Professoras: Doutora Heloisa Wey Berti e Doutora Raquel Rapone Gaidzinski
pela excepcional contribuição no exame de qualificação com sugestões para a
finalização deste trabalho.
Aos Professores do Curso de Mestrado em Enfermagem pelo acolhimento, amizade
e profundo agradecimento por toda contribuição recebida.
A Aline Parada, secretaria do curso da Pós-Graduação, Mestrado Profissional, pela
sua atenção, disponibilidade e presteza para me atender.
Às bibliotecárias da FAMEMA – Marília:
Regina Helena Gregório Menita (in
memorian), Helena Maria da Costa e Josefina Barbosa de Faria pela revisão das
referências.
Ao meu amigo Dr. Francisco Venditto Soares pela compreensão, estímulo confiança
e apoio no desenvolvimento deste trabalho.
Ao meu amigo Pedro Marco Karan Barbosa pelos inúmeros auxílios e apoio nesta
trajetória.
As minhas amigas Débora Abdian Muller, Adelaine Caetano Reis e Carina Carmen
da Silva pela forma abnegada ao qual se depuseram em me auxiliar.
Ao Professor Dr. Cesar Emile Baaklini Diretor Geral da Faculdade de Medicina de
Marília pela confiança e oportunidade.
Agradecimentos
2
As minhas colegas Ester, Kely, Luciana e Thais pelo companheirismo e apoio
durante todo o nosso convívio.
Ao Professor Dr. Paulo Eduardo de Carvalho pela oportunidade e estímulo na minha
iniciação científica.
Ao Dr. João Alberto Salvi pela forma segura de orientação nas questões éticas na
área da saúde.
Aos Responsáveis pelas áreas de Recursos Humanos, Núcleo Técnico de
Informação, Enfermagem e SESMT da FAMEMA pela presteza na emissão dos
dados que compuseram a pesquisa.
Aos colaboradores de apoio do Departamento de Enfermagem da UNESP pela
forma respeitosa e eficiente no desenvolvimento do seu trabalho.
À Secretaria de Estado da Saúde pelo financiamento do Programa de Mestrado
Profissional em Enfermagem da UNESP.
A todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho.
Mensagem
0
Mensagem
A profundidade de tão simples palavras revela bem
Mensagem
1
“O trabalho é a melhor e a pior das coisas: a melhor
se for livre; a pior se for escravo."
Émile-Auguste Chartier, "Alain"
Resumo
RESUMO
A INTERFERÊNCIA DA JORNADA DE TRABALHO NA QUALIDADE DO
SERVIÇO: CONTRIBUIÇÃO À GESTÃO DE PESSOAS
O trabalho em Instituições de saúde que funcionam vinte e quatro horas envolve jornadas
exaustivas, com reflexos na qualidade da assistência. Este estudo objetivou comparar
indicadores hospitalares em dois períodos distintos: um com jornada de trabalho da
enfermagem de 6 horas e outro com 12 horas. Estudo quantitativo, descritivo, retrospectivo e
comparativo, realizou o levantamento dos indicadores queda do leito, número de acidentes de
trabalho da enfermagem, número de óbitos, taxa de infecção hospitalar, taxa de ocupação,
média de permanência, número de funcionários da enfermagem e número de leitos em um
hospital escola, no período de 01/1999 a 12/2006. Os resultados demonstraram que os
indicadores de queda, número de óbitos e média de permanência apresentaram melhores
índices no período em que a Instituição adotava a jornada de 6 horas; e quando adotava a
jornada de 12 horas houve um crescimento de 126% nas quedas e 27,6% nos óbitos.
Palavras-chave: enfermagem; jornada de trabalho; indicadores de gestão; gestão de recursos
humanos em saúde.
Abstract
ABSTRACT
THE INTERFERENCE OF THE WORKING-DAY ON THE QUALITY OF
SERVICE: CONTRIBUTION TO THE PEOPLE MANAGEMENT
Health institutions that work twenty-four hours a day frequently have exhausting working-
days, reflected in the quality of the attendance. This study aimed at comparing hospital
indicators in two different periods: one for a nursing 6-hour working-day and other for a 12-
hour working-day. A quantitative, descriptive, retrospective and comparative study, it has
performed the raising of the indicators: fall from the bed, number of nursing occupational
accidents, number of deaths, rate of hospital infection, occupation rate, average of stay,
number of nursing employees and number of beds in a hospital school, in the period from
01/1999 to 12/2006. The results have shown that the indexes of fall, number of deaths and
average of stay were better when the institution had a 6-hour working-day, and the 12-hour
working-day was related to an increase of 126% on the falls and to an increase of 27,6% on
the deaths.
Keywords: nursing; working-day; management indicators; management of human resources
in health.
Resumen
RESUMEN
LA INTERFERENCIA DE LA JORNADA DE TRABAJO EN LA CALIDAD DEL
SERVICIO: CONTRIBUCIÓN A LA GESTIÓN DE PERSONAS
Instituciones de salud que funcionan veinticuatro horas al día, frecuentemente cumplen
jornadas agotadoras, reflectadas en la calidad de la asistencia. Este estudio objetivó comparar
indicadores hospitalares en dos períodos diferentes: uno con jornada de trabajo de enfermería
de 6 horas y otro con jornada de 12 horas. Estudio cuantitativo, descriptivo, retrospectivo y
comparativo, realizó el levantamiento de los indicadores: caída del lecho, número de
accidentes de trabajo de enfermería, número de óbitos, taja de infección hospitalar, taja de
ocupación, promedio de permanencia, número de empleados de enfermería y número de
lechos en una hospital escuela, en el período de 01/1999 hasta 12/2006. Los resultados
demostraron que los indicadores de caída, número de óbitos y promedio de permanencia
presentaran mejores índices en el período en que la Institución adoptaba la jornada de 6 horas,
y cuando adoptaba la jornada de 12 horas, hubo un crecimiento de 126% en las caídas y de
27,6% en los óbitos
Palabras-clave: enfermería; jornada de trabajo; indicadores de gestión; gestión de recursos
humanos en salud.
Lista de Ilustrações
0
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1. Incremento no número de quedas de acordo com a jornada de trabalho. ..............22
Figura 2. Aumento no número de óbitos de acordo com a jornada de trabalho....................25
Lista de Tabelas
0
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Número de quedas do leito ocorridas no hospital nos dois períodos.......................21
Tabela 2. Número de acidentes de trabalho ocorridos na instituição e com a enfermagem nos
dois períodos.............................................................................................................................23
Tabela 3. Número de óbitos ocorridos no hospital nos dois períodos.....................................24
Tabela 4. Taxa de infecção hospitalar nos dois períodos. .......................................................26
Tabela 5. Número de funcionários da enfermagem e da instituição/leito nos dois períodos. ..27
Tabela 6. Taxa de ocupação, média de permanência e número de leitos do hospital nos dois
períodos. ...................................................................................................................................28
Tabela 7. Número de acidentes de percurso ocorridos com a enfermagem nos dois períodos 29
Tabela 8. Ajuste do modelo binomial negativo para o número de quedas em relação a dois
turnos de trabalho de 1999 a 2006............................................................................................30
Tabela 9. Ajuste do modelo Poisson para o número de acidentes de trabalho ocorridos com a
enfermagem durante os dois turnos de trabalho de 1999 a 2006..............................................32
Tabela 10. Ajuste do modelo binomial negativo para o número de óbitos ocorridos de 1999 a
2006, considerando os dois turnos de trabalho.........................................................................36
Tabela 11. Comparação pelo teste de Tukey para taxas de infecção, taxa de ocupação, média
de permanência e número de funcionários da enfermagem por leito em relação aos dois turnos
de trabalho de 1999 a 2006.......................................................................................................38
Lista de Siglas
LISTA DE SIGLAS
DRH Diretoria da Divisão de Recursos Humanos
EPI Equipamento de Proteção Individual
IH Infecção Hospitalar
NTI Núcleo Técnico de Informação
SCIH Serviço de Controle de Infecção Hospitalar
SESMT Serviço de Segurança e Medicina do Trabalho
Sumário
0
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................1
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................3
2. JUSTIFICATIVA/RELEVÂNCIA ..............................................................................9
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..............................................................................10
4. OBJETIVO ..................................................................................................................14
4.1. Objetivo geral...............................................................................................................14
4.2. Objetivos específicos....................................................................................................14
5. MÉTODO.....................................................................................................................15
6. CAMPO DE ESTUDO ................................................................................................17
7. ASPECTOS ÉTICOS DO ESTUDO .........................................................................19
8. PROCEDIMENTOS E ETAPAS DA PESQUISA ...................................................20
9. RESULTADOS............................................................................................................21
10. DISCUSSÃO ................................................................................................................30
11. CONCLUSÕES............................................................................................................41
12. REFLEXÕES PARA A GESTÃO EM ENFERMAGEM .......................................44
13. REFERÊNCIAS ..........................................................................................................46
ANEXOS .................................................................................................................................51
Apresentação
1
1
APRESENTAÇÃO
Este estudo tem sua origem na minha inquietação frente às varias situações que
vivenciei ao longo da minha trajetória profissional, que teve inicio em meados dos anos 80,
logo após a graduação. Quando comecei a trabalhar como enfermeiro em uma instituição
hospitalar com plantões em jornadas estendidas de 12 x 36, pude verificar o quanto esta
condição era desgastante para toda a equipe de enfermagem.
Nas horas iniciais da jornada, a equipe apresentava-se bastante disposta e com um
ritmo de trabalho intenso, porém com o passar das horas tanto eu como o restante da equipe
começávamos a apresentar sinais visíveis de cansaço, e as respostas às várias exigências da
rotina de trabalho já não eram mais as mesmas do início do plantão.
Trabalhei vários anos sendo submetido a esta jornada de trabalho e pude verificar o
quanto ela é desgastante e o quanto pode prejudicar a saúde dos trabalhadores, além de
influenciar nos resultados do trabalho, com prejuízos na qualidade da assistência prestada ao
usuário.
Durante alguns anos atuei como expectador desta situação e pude observar algumas
consequências deste longo tempo que os profissionais da enfermagem passavam no trabalho.
Fui chefe do serviço de enfermagem de um hospital público de ensino durante vários anos e
uma das maiores dificuldades enfrentadas por mim eram exatamente os problemas sociais
relatados pelos profissionais da equipe de enfermagem, relacionados, na maioria das vezes, a
questões conjugais, problemas com filhos e outros relacionados às questões de socialização.
Estes profissionais, com frequência, atribuíam a culpa dos problemas aos longos períodos em
que permaneciam ausentes de seus lares, em razão da jornada de trabalho estendida.
Hoje, atuo como diretor de um grande hospital e vejo que existem outros
profissionais da saúde submetidos às mesmas condições impostas à enfermagem, ou seja,
expostos aos mesmos riscos de agravos à saúde em função da condição laboral e,
principalmente, da duração do trabalho. Estas jornadas não oferecem condições de intervalos
para se fazer refeições e descansos adequados, impondo aos trabalhadores da saúde uma
situação imprópria e estressante.
Há tempos venho observando que esta jornada, além de trazer danos aos
trabalhadores da equipe de enfermagem, também reflete negativamente em alguns indicadores
Apresentação
2
2
hospitalares. Tal fato me aguçou a vontade de pesquisar e identificar quais são os indicadores
mais afetados e se estes apresentam reflexos na qualidade da assistência prestada ao usuário.
Nada obstante os resultados alcançados neste trabalho, faz-se necessário o
investimento em novas pesquisas que aprofundem a questão e que possam contribuir para que
as futuras gerações de profissionais da saúde não sejam prejudicadas pela inconsequente
decisão de submeter estes profissionais a jornadas de trabalho que degradam a dignidade
humana e destroem as expectativas das pessoas. Cabe ainda às entidades que dizem
representar estas categorias se munirem de critérios adequados para defender os reais
interesses e preservar a integridade dos trabalhadores, não focando somente os valores
econômicos, mas também as condições que garantam qualidade de vida e preservam o direito
do cidadão a uma assistência de qualidade.
Introdução
3
3
1. INTRODUÇÃO
O homem, no passado, trabalhava para produzir o que consumia, ou seja, roupas,
alimentos e moradia. Ao se constituírem as sociedades, ou povos, este trabalho passou a ser
recompensado por mercadorias que eram chamadas “escambo”, uma espécie de troca dos
bens produzidos. Naquele contexto, a aquisição do trabalho fazia-se pela simples conversa,
não sendo exigido nenhum tipo de formalidade como documentação e/ou experiências
anteriores.
Tempos depois, a sociedade organizou-se de forma a instituir a moeda como
meio de remuneração de bens e serviços e, naturalmente, foram sendo firmados contratos de
trabalho inicialmente verbais, sem regras pré-definidas.
A sociedade caminhou para a instituição de uma pirâmide social em que os menos
favorecidos recebiam alimentação e moradia na medida apenas necessária a sua subsistência,
sem qualquer outra forma de remuneração, ficando prevalentes somente os deveres, sem
direito algum.
Já nos séculos XVIII e XIX, com o inicio da industrialização, foi instituída a
formalidade no processo de contratação para o trabalho, com prévio estabelecimento das
tarefas a serem desempenhadas e da forma de remuneração.
No século XX foi estabelecido o contrato de trabalho, que expressava as normas que
regem os direitos e os deveres entre o trabalhador e o empregador. Com isso, deu-se origem
às primeiras organizações de categorias dos trabalhadores, com a classificação em cargos,
funções, atribuições e também salários.
No Brasil, com a criação da Consolidação das Leis Trabalhistas, em 1943,
introduziu-se o registro na carteira de trabalho, formalizando-se todos os direitos advindos do
vínculo com o trabalho como: décimo terceiro salário, fundo de garantia por tempo de
serviço, aposentadoria, auxilio doença e outros. Com a implantação desta legislação, o
trabalhador passou a ter mais garantias para as suas necessidades e as de seus familiares.
Neste processo histórico de evolução do trabalho, o homem tornou-se competitivo, o
que levou à escassez de trabalho, à necessidade de superar a baixa qualificação e à recessão
no mercado financeiro. Tal situação trouxe de volta ao nosso contexto o trabalho informal,
remetendo novamente o trabalhador a não ter os seus direitos assegurados. Apesar de ruim,
esta é a única alternativa de sobrevivência para muitos.
Introdução
4
4
Na saúde, o trabalho surgiu como um sacerdócio, ou seja, as pessoas doavam parte
de seu tempo livre para prestar cuidados a doentes e com isso praticar boas ações em prol do
próximo. Havia também as pessoas que realizavam estes cuidados com o propósito de aliviar
culpas ou pecados, sendo vista como uma forma de penitência a execução destes cuidados.
Com a evolução das pesquisas e a descoberta de tratamento e cura de várias doenças,
houve a necessidade de profissionalização da atenção à saúde, criando então as várias
categorias profissionais e, dentre estas, surgiu a enfermagem, que hoje assume papel de
extrema importância na promoção, prevenção, tratamento e reabilitação de doenças.
O trabalho em saúde revela uma relação direta entre recursos humanos e a
população. Neste contexto, o profissional da saúde deve desenvolver a capacidade de
interpretar as necessidades de saúde. Para tanto, exige-se dele uma adequada preparação e
condições de trabalho, tanto no aspecto ambiental quanto físico para desempenhar esta
complexa atividade que, se cumprida adequadamente, promoverá resultados satisfatórios.
Portanto, o entendimento da política de recursos humanos praticada pela organização de saúde
será fundamental para o estabelecimento de medidas, visando à adequada condição de
trabalho.
Nem sempre as instituições de saúde e seus gerentes têm demonstrado preocupação
com os indicadores de qualidade da assistência, tampouco com o quanto estes indicadores
podem fornecer informações importantes para a gestão do cuidado. Ou, em muitas situações,
essas preocupações talvez não se traduzam em ações concretas que permitam compreender e
intervir nessas questões. Além disso, o foco gerencial na sociedade contemporânea parece
ficar centralizado em questões tecnológicas, financeiras e estruturais em maior proporção que
aquele dedicado à gestão de pessoas.
O crescimento das necessidades de saúde traduz um contexto no qual observamos o
aumento da expectativa de vida da população. Com isso, há sobrecarga na demanda de
serviços, bem como maior complexidade dos cuidados e do grau de dependência dos usuários.
Neste contexto, a enfermagem tem aspecto primordial na medida em que se coloca
como profissão que atua diretamente no cuidado e, especialmente nas instituições
hospitalares, é a equipe que garante a continuidade do cuidado nas vinte e quatro horas do dia.
Na enfermagem, há profissionais que desempenham jornadas de trabalho
incompatíveis com as condições biológicas humanas, o que acaba influenciando diretamente
na qualidade de vida destes trabalhadores, bem como no seu convívio familiar e social e,
evidentemente, na qualidade da assistência prestada.
Introdução
5
5
A jornada de trabalho especial de 12 horas de trabalho para 36 horas de descanso
surgiu primeiramente para facilitar as escalas de trabalho no período noturno, sendo
posteriormente estendida aos plantões diurnos em alguns serviços.
Esta jornada objetivava, ainda, proporcionar maior tempo livre aos trabalhadores da
enfermagem para melhorar o convívio familiar e social. Porém, com os baixos salários
praticados e a escassez de mão-de-obra, muitos resolveram utilizar este tempo de descanso
para trabalhar em outros locais, podendo ser em outras instituições de saúde ou em outro
trabalho qualquer.
Com isso, percebe-se que estes trabalhadores estão permanecendo na atividade
laboral durante muito tempo, o que os impede de estabelecer um convívio familiar e social
adequado, como se pretendia anteriormente. Em decorrência destas condições inadequadas de
trabalho, obtêm-se danos como desagregação familiar, social e pouco espaço para o lazer.
Enfim, gera-se um elevado nível de estresse, que impacta na qualidade de vida do trabalhador
e se reflete diretamente na assistência de enfermagem prestada aos usuários.
A assistência de enfermagem exige dos profissionais uma disponibilidade que
ultrapassa o campo da simples execução de técnicas, remetendo-os a uma participação
integral em todo o processo de cuidar, o qual exige equilíbrio emocional, agilidade,
disponibilidade e, principalmente, capacidade de raciocínio rápido. Estes fatores devem ser
considerados, pois só é possível estar com todas estas condições se as jornadas de trabalho
tiverem uma duração menor e permitirem adequado intervalo de descanso, que deve ser
respeitado, isto é, que os profissionais não exerçam outros empregos no tempo em que
deveriam descansar.
Para isso seria necessário melhorar a qualificação destes profissionais, bem como,
oferecer uma remuneração adequada, investir na conscientização com foco na qualidade de
vida e exigir dos órgãos fiscalizadores intervenções mais enérgicas para que estes
trabalhadores não sejam expostos a esta condição, dada a importância dessas questões na
qualidade da assistência.
Embora a qualidade da assistência de enfermagem seja muito discutida, o foco tem
sido somente o usuário, e pouco se tem olhado para quem executa as tarefas que
proporcionam esta qualidade tão enfatizada e desejada. Por isso, é importante que as
instituições de saúde incluam em suas propostas a discussão de projeto de qualidade de vida
para os trabalhadores em seus escopos de investimento, elaborando propostas que busquem
conhecer e entender um pouco mais sobre as reais necessidades dos trabalhadores da
enfermagem que prestam tal assistência em jornadas de trabalho exaustivas.
Introdução
6
6
O excesso de trabalho é uma constante no cotidiano dos profissionais da
enfermagem, em razão das deficiências estruturais e de pessoal nas instituições, o que tem
levado estes profissionais a realizar atividades que muitas vezes não estão afetas as funções da
categoria. Portanto os resultados revelaram uma variedade significativa na forma de locação
deste excesso de trabalho. Esta adversidade que envolve o dia-dia do pessoal da enfermagem
vem contribuindo de forma incisiva no desgaste físico, e então, passa a ter um significado
multifatorial a partir do momento em que os contextos sociais, ideológicos, culturais e
econômicos são preponderantes para a determinação das necessidades individuais da pessoa.
Isto tem levado estes profissionais a relegarem para o último plano o cuidado de si próprio
1
.
O que se observa, é que mesmo com a publicação da Norma Regulamentadora 32,
que trata da segurança e saúde no trabalho em estabelecimentos de saúde, as instituições ainda
encontram dificuldades na sua implantação, em razão das construções antigas, falta de
fiscalização e também falta de capacitação dos profissionais para o cumprimento desta
norma
2
.
Tem-se observado que nos últimos anos, nas instituições de saúde, vem crescendo o
índice de absenteísmo dos trabalhadores da enfermagem e que este indicador está diretamente
relacionado com a sua extensa jornada de trabalho, destacando-se um número significativo de
afastamentos por causas psiquiátricas. Isso deve remeter qualquer gestor a uma reflexão
emergencial, pois tal índice reflete as condições a que estão submetidas as equipes de
enfermagem nas organizações. Para tanto, faz-se necessário implantar medidas que possam
neutralizar estes danos antes que sequelas irreparáveis se instalem.
Uma das dificuldades das instituições de saúde no Brasil está no dimensionamento
do pessoal da enfermagem, em razão do número inadequado de profissionais. Para se planejar
adequadamente o dimensionamento de pessoal, é necessário conhecer algumas premissas
básicas da organização, que não podem ser desconsideradas como: a dinâmica de
funcionamento das unidades nos diferentes turnos, o modelo gerencial, o modelo assistencial,
os métodos de trabalho, a jornada de trabalho, a carga horária semanal, os padrões de
desempenho dos profissionais, o índice de segurança técnica, a taxa de absenteísmo, a taxa de
ausência de benefícios da unidade assistencial, a proporção de profissionais da enfermagem
de nível superior e de nível médio, os indicadores de avaliação da qualidade da assistência, o
perfil epidemiológico, a classificação dos usuários e o perfil sócio-cultural e econômico destes
usuários
3
.
Levando-se em consideração que a adequação do quadro de pessoal da enfermagem
é fundamental para que não ocorram falhas na assistência e isso venha comprometer
Introdução
7
7
legalmente os profissionais e a instituição, é necessário planejar e suprir as dificuldades de
cada unidade para que a assistência seja desenvolvida de forma a contemplar as necessidades
dos usuários e não produza sofrimento aos trabalhadores
4.
Pelo exposto, é fundamental que haja um olhar focado para a qualidade de vida do
trabalhador da enfermagem e que, junto com os benefícios já conquistados, não sejam
esquecidas as outras dimensões da vida destes profissionais, como a social, que envolve a
família e o lazer, uma vez que é reconhecida a repercussão destas na assistência de qualidade.
Percebe-se que, na atualidade, não existem estudos que subsidiem mudanças nesta
realidade, mas faz-se necessário analisar essa situação e mostrar aos dirigentes das instituições
de saúde os resultados obtidos, pois isso poderá subsidiar os gestores e repercutir na qualidade
da assistência aos usuários.
A política de humanização do Sistema Único de Saúde ampliou o discurso sobre
formas de humanizar o atendimento aos usuários. Porém, um aspecto fundamental é pouco
explorado nos documentos: o que diz respeito às condições estruturais de trabalho dos
profissionais de saúde, quase sempre mal remunerados e pouco incentivados, sujeitos a uma
carga considerável de trabalho. Para que haja uma assistência humanizada, é fundamental
humanizar o processo de execução dessa assistência
5
.
Deve-se considerar, ainda, que a maioria dos trabalhadores de enfermagem é do sexo
feminino. Assim, mesmo após uma longa e desgastante jornada de trabalho, ao voltar para
casa, elas ainda têm compromisso com os afazeres domésticos, que ficaram acumulados
enquanto estavam fora. Dessa forma, o descanso fica comprometido. Outro dado que
observamos em nossa realidade e na literatura, é a questão do duplo vínculo empregatício, que
também interfere nessa problemática. Em levantamento realizado em algumas instituições, é
possível identificar que há um número importante de trabalhadores com outro vinculo
trabalhista
6
.
Na enfermagem, a mulher ocupa um local de destaque, pois representa a maioria dos
profissionais desta categoria. Com a carga de trabalho exigida pela profissão, aliada às tarefas
domésticas, o desgaste é mais evidente e, portanto, os riscos de adoecer são maiores
7
.
É premente a caracterização de uma jornada de trabalho mais adequada à qualidade
de vida do trabalhador de enfermagem, para se estabelecer uma relação voltada para a
necessidade do paciente. Acredita-se que tal mudança contribuirá para a qualidade do
atendimento, diminuição das iatrogenias que acabam levando o paciente a sofrer danos.
Neste contexto, a qualidade de vida definida pela Organização Mundial de Saúde é
abordada por duas grandes visões: uma visão geral de qualidade de vida para um indivíduo
Introdução
8
8
observado como um ser integral, e outra definição que inclui a percepção do próprio indivíduo
sobre a sua qualidade de vida
8
.
De acordo com alguns estudos, o conceito de qualidade de vida está relacionado a
diversos fatores que interferem no dia-dia das pessoas como: autoestima e bem-estar pessoal,
abrangendo ainda uma série de aspectos como a capacidade funcional, o nível
socioeconômico, o estado emocional, a interação social, a atividade intelectual, o
autocuidado, o suporte familiar, o próprio estado de saúde, os valores culturais e éticos, a
religiosidade, o estilo de vida, a satisfação com o emprego e/ou com atividades diárias e o
ambiente em que se vive. O conceito de qualidade de vida, portanto, varia de autor para autor
e, além disso, é um conceito subjetivo, dependente do nível sociocultural, da faixa etária e das
aspirações pessoais do indivíduo, dentre outros
9
.
Portanto, qualidade de vida no trabalho define-se como sendo o processo ativo e
eventual de condições físicas, tecnológicas e sociopsicológicas que influenciam a cultura e
modificam o clima do ambiente de trabalho, impactando no bem-estar do trabalhador e no
resultado da organização
10
.
Assim, o problema que identificamos foi que tínhamos a percepção, a partir da
experiência, de que a jornada de trabalho da enfermagem de 12 x 36 no diurno, comparada à
jornada de seis horas, estava interferindo na qualidade da assistência prestada, uma vez que,
após um determinado número de horas, o cansaço e o desgaste do trabalhador influenciavam
no desenvolvimento do trabalho.
Além disso, existia um conflito de interesses nas propostas acerca da jornada de
trabalho da equipe de enfermagem, uma vez que a administração entendia ser a melhor a
jornada de seis horas e o trabalhador, por intermédio do Sindicato, reivindicava a jornada de
12 horas.
A hipótese formulada foi a de que a jornada de trabalho estendida (12 x 36),
implantada para a enfermagem, sem critérios e sem estudos prévios, tinha influência direta na
assistência, repercutindo desfavoravelmente em sua qualidade e, consequentemente, nos
indicadores hospitalares. Acreditamos que jornadas mais curtas permitem um trabalho de
melhor qualidade, visto que o desgaste e o cansaço são cumulativos no decorrer das horas de
trabalho.
Justificativa/Relevância
9
9
2. JUSTIFICATIVA/RELEVÂNCIA
A partir da comparação dos indicadores nos dois tipos de jornada, poderão ser
identificadas variáveis que, futuramente, contribuirão para a melhoria da qualidade de vida do
trabalhador de enfermagem, repercutindo na redução dos índices de absenteísmo e na
melhoria dos demais indicadores. Os resultados poderão ainda subsidiar entidades de classe,
gestores e esferas do poder público como parâmetro para o cumprimento das legislações de
trabalho vigentes no país. Será possível estimular as instituições de saúde, públicas ou
privadas, para que façam revisão de suas jornadas de trabalho estendida, em prol da melhoria
do processo de cuidar.
De modo geral, a pesquisa pretende contribuir para subsidiar os processos decisórios
em relação à jornada de trabalho e que estas sejam mais dignas e humanas, acreditando que
isso contribuirá diretamente para a qualidade do cuidado de enfermagem, evitando que os
usuários fiquem suscetíveis a danos que possam ser evitados em função de um processo de
trabalho mais adequado.
Os resultados dessa pesquisa poderão favorecer o desenvolvimento de instrumentos
auxiliares à elaboração de diretrizes para a adequação de uma jornada de trabalho que
responda às necessidades dos trabalhadores de enfermagem. Neste ponto situa-se a relevância
do estudo, além da contribuição à gestão, pela própria compreensão dessa realidade.
Uma melhor adequação da jornada de trabalho e condições dignas de execução das
atividades afetas à assistência de enfermagem poderá contribuir para a melhoria da qualidade.
É importante ressalvar que a equipe de enfermagem não é a única responsável pela
qualidade da assistência refletida nos indicadores, mas participa efetivamente do cuidado.
Além da questão de recursos humanos, outros fatores de estrutura e processo de trabalho de
outros profissionais também interferem nesses indicadores, porém não serão objeto deste
estudo, pela impossibilidade operacional dessa abrangência.
Fundamentação Teórica
10
10
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O processo de definição da legislação trabalhista no Brasil sofreu forte influência de
países europeus que tinham a preocupação de definir políticas voltadas à proteção da
integridade física e dos direitos dos trabalhadores. Estas políticas foram inicialmente definidas
e validadas em 1943, através de Decreto-Lei que consolidava as leis do trabalho. Com a
promulgação da Constituição Federal de 1988, a legislação trabalhista passou a ser mais
incisiva com relação à preservação dos direitos dos trabalhadores
11
.
A legislação do trabalho no Brasil define jornada de trabalho como aquela realizada
em oito horas diárias, com intervalo para refeição e descanso, sendo permitido o acréscimo de
duas horas como horas extraordinárias para a execução de atividades inadiáveis
11
.
Há vários anos, a jornada de trabalho de 12 x 36, ou seja, 12 horas de trabalho por 36
horas de descanso, vem sendo utilizada pela área de saúde e mais especificamente pelos
profissionais de enfermagem. Como parte dos trabalhadores e das instituições se interessa por
este tipo de jornada, ela vem sendo incorporada nas convenções de trabalho no país, com a
anuência das instâncias oficiais do trabalho. Porém, em nenhum momento houve preocupação
em explorar, com mais propriedade, as repercussões que uma jornada tão longa de trabalho
pode produzir na saúde do trabalhador e na assistência prestada.
Mesmo com a evolução nas legislações do trabalho no Brasil, não foi possível
equacionar as injustiças e os danos sofridos pelos trabalhadores que se submetem a tal jornada
de trabalho e, principalmente, pelas pessoas que são cuidadas por eles, visto que, ao longo da
jornada, tais profissionais acabam sendo tomados pelo cansaço, o qual, por gerar a
desatenção, inevitavelmente irá influenciar no desempenho das atividades que irão realizar
12
.
As jornadas longas de trabalho, que não oferecem intervalos adequados para as
refeições e descanso, acabam por produzir sobrecarga física, levando ao cansaço,
desmotivação e improdutividade no trabalho. É neste cenário que hoje se encontra a maior
parte dos trabalhadores da enfermagem, pois estão submetidos a jornadas superiores a oito
horas diárias.
Com isso, é importante discutir a condição humana para suportar uma jornada de
trabalho que exceda a condição biológica do homem, levando-se em consideração, ainda, que
esta jornada não finaliza ao término do plantão. Conforme já comentado, sabemos que muitos
ainda enfrentam a jornada doméstica ou outros empregos para a complementação da renda.
Fundamentação Teórica
11
11
As concepções de qualidade da assistência devem, antes de tudo, garantir ao
profissional da enfermagem condições mínimas de trabalho, para que o cuidado seja
desenvolvido de forma adequada. Este assunto ganha proporções cada vez maiores na
sociedade, em função do desafio da redução de mortalidade e do aumento da expectativa de
vida das pessoas, conforme demonstram pesquisas realizadas por sociólogos, filósofos e
políticos
13
.
Ao longo da jornada de trabalho da enfermagem, é inevitável o desgaste, pois são
várias as atividades que exigem força física, o que acaba expondo estes trabalhadores a
doenças ocupacionais. Devemos considerar, ainda, os riscos de contaminação por doenças
infectocontagiosas
14
.
As políticas de recursos humanos nas instituições de saúde não buscam criar
ambientes adequados para que a equipe de enfermagem possa desenvolver suas tarefas da
melhor forma possível. Os locais de trabalho, em sua maioria, não são climatizados; existe
ainda uma deficiência de recursos materiais e também logísticas de trabalho que dificultam a
prestação do cuidado
15
.
Os afastamentos dos trabalhadores da enfermagem quando analisados no contexto
geral dos trabalhadores da saúde demonstram que estes índices estão dentro dos parâmetros e
dos índices técnicos aceitáveis. Estes afastamentos produzem impacto nas instituições em
razão da enfermagem representar em média 44% do quadro de pessoal de um hospital
16
.
Uma das análises que obteve outros resultados concluiu que o afastamento por
licença saúde do pessoal de enfermagem não é dos maiores e existe, mormente, em função da
prevalência do sexo feminino no quadro de pessoal desta categoria, das condições de trabalho,
do aumento na média da faixa etária dessas funcionárias e do desgaste físico e emocional que
são cumulativos em função da sobrecarga de trabalho
17
.
Quando se analisam as dimensões de vida do trabalhador, o papel da remuneração
adquire grande importância, pelas consequências dela advindas. Os baixos salários pagos à
categoria levam à incorporação de outros empregos nos horários de descanso, com a intenção
de aumentar a renda e oferecer um padrão de vida mais digno aos seus familiares. Isso tem
contribuído para o aumento do desgaste físico e, como consequência, ampliado o número de
afastamentos por problemas de saúde.
A enfermagem vem, ao longo de sua existência, buscando evoluir na qualidade da
assistência prestada. Para isso, tem se atualizado principalmente no campo tecnológico e
científico. Porém, as condições de trabalho e os desgastes físicos e emocionais produzidos
pela extensa jornada de trabalho são visíveis e pouco se tem feito na tentativa de amenizar
Fundamentação Teórica
12
12
esta situação. Como forma de superação, os profissionais buscam estímulo com o aumento do
ganho financeiro, submetendo-se à dupla jornada de trabalho, sem medir as consequências
resultantes deste processo
18
.
Existe uma relação entre a jornada de trabalho e o estresse. A jornada estendida, ou
uma exposição mais duradoura a fontes de estresse como o ambiente de trabalho, pode
desencadear reações com efeitos cumulativos, que geram problemas físicos e mentais,
influenciando diretamente na saúde do trabalhador e os profissionais de saúde, em sua
maioria, têm dupla jornada de trabalho
6
.
É fundamental que os enfermeiros que gerenciam as ações de enfermagem nas
instituições de saúde tenham conhecimento e apliquem as legislações do trabalho que vigoram
no país, pois em muitas situações os trabalhadores acabam sendo expostos a jornadas
desumanas em razão do desconhecimento ou da não aplicação dos direitos previstos em lei
19
.
Por sua própria condição, o trabalho na enfermagem já predispõe os trabalhadores à
exposição a várias doenças e, quando esta jornada é aumentada, os riscos também aumentam.
Portanto, estes profissionais precisam de períodos maiores de descanso ou estarão sujeitos a
doenças ocupacionais
20
.
A dupla jornada de trabalho produz impactos desfavoráveis ao processo de cuidar em
saúde, pois a disponibilidade, a agilidade e a capacidade de raciocínio rápido e coerente são
fundamentais para o desenvolvimento de uma assistência centrada nas necessidades do
usuário.
As várias dimensões da vida do trabalhador de enfermagem estão sendo suprimidas
devido à forma como o trabalho desta categoria está organizado. Esse sistema, que resulta em
sobrecarga, tem apresentado reflexos na vida cotidiana com repercussão negativa na vida
familiar e nas relações sociais, pela indisponibilidade de tempo livre para lazer
21
.
Os recursos humanos na equipe de enfermagem têm se mostrado inadequados, em
razão, dentre outras causas, do absenteísmo. Com certa frequência, tem-se utilizado a hora
extra para suprir tal deficiência. Entretanto, apesar desse mecanismo ser positivo, na medida
em que aumenta os ganhos desta classe profissional, cujos salários são insuficientes para a
manutenção familiar, a hora extra tem uma repercussão negativa, porque aumenta, ainda mais,
a carga horária desta categoria, com todos os malefícios decorrentes
22
.
Os problemas relacionados à saúde do trabalhador de enfermagem não devem ser
analisados de forma isolada. Devem, sim, estar contextualizados de forma a compreender as
variáveis que interferem nestes problemas, tais como: as condições biológicas, as condições
Fundamentação Teórica
13
13
de vida no trabalho, os fatores determinantes para riscos de acidentes, doenças profissionais
produzidas pela inadequação do processo de trabalho, dentre outras
23
.
O conflito entre a organização do trabalho e o funcionamento psíquico, não vai além
do modelo de causa e efeito. Ao contrário de se dar ao trabalho uma conotação
fundamentalmente destruidora, os trabalhadores não se mostram passivos frente às exigências
e pressões organizacionais, e, sim, prontos para se proteger dos efeitos nocivos à saúde
mental. Eles sofrem, mas sua liberdade é exercida, mesmo que de forma limitada, com isso
buscam a construção de sistemas defensivos, fundamentalmente socioeconômico
24
.
Objetivo
14
14
4. OBJETIVO
4.1. Objetivo geral
Comparar a relação entre indicadores hospitalares em dois períodos distintos: um, em
que a jornada diurna de trabalho da enfermagem no hospital estudado era de seis horas, entre
os anos de 1999 e 2003 e outro, em que a jornada passou a 12 horas, entre os anos de 2002 a
2006.
4.2. Objetivos específicos
1. Comparar o número de quedas de pacientes nos dois períodos;
2. Comparar o número de acidentes de trabalho, incluindo acidentes de percurso, dos
profissionais da enfermagem nos dois períodos;
3. Comparar o número de óbitos ocorridos no hospital nos dois períodos;
4. Comparar os indicadores hospitalares de controle: taxa de infecção hospitalar, taxa
de ocupação, média de permanência, número de leitos e número de funcionários da
enfermagem por leito nos dois períodos.
Método
15
15
5. MÉTODO
Como vertente metodológica, foi utilizado o estudo descritivo, retrospectivo e
comparativo, de abordagem quantitativa, tendo como objetivo delinear os dados estatísticos e
avaliá-los nos dois períodos: o que envolvia a jornada de seis horas e o de 12 horas diurnas.
Isso porque em ambos os períodos as jornadas noturnas permaneceram inalteradas, ou seja,
com 12 horas.
As variáveis utilizadas relacionadas ao trabalho da enfermagem foram: acidentes
ocupacionais da enfermagem, incluindo acidentes de percurso, índice de quedas dos usuários
e número de óbitos.
Como variáveis de controle, também foram utilizados os seguintes indicadores para
complementar a análise: taxa de ocupação, média de permanência, número de leitos do
hospital, taxa de infecção hospitalar (IH) e número de funcionários da enfermagem por leito.
Para obtenção dos dados foram utilizados relatórios: da Divisão de Recursos
Humanos (DRH), para definição dos dois períodos relativos às jornadas de trabalho e número
de funcionários da enfermagem, e do Serviço de Segurança e Medicina do Trabalho
(SESMT), para análise dos acidentes de trabalho e acidentes de percurso. Para análise de
quedas de usuários, foram utilizados os relatórios do Serviço de Enfermagem. Junto ao
Serviço de Controle de Infecção (SCIH), foram obtidas as taxas de Infecção Hospitalar (IH).
Do Núcleo Técnico de Informação (NTI) do hospital foram obtidos os dados de taxa de
ocupação, média de permanência, número de leitos e número de óbitos.
Utilizou-se um instrumento de coleta de dados elaborado para esta pesquisa (Anexo
I)
Após a coleta dos dados, as informações foram lançadas em planilha Excel (Anexo
II) para tratamento estatístico.
Os dados foram submetidos a métodos estatísticos com capacidade de fazer a
comparação de variáveis distintas. Os testes utilizados foram o modelo Binomial Negativo,
Poisson e o teste de Tukey.
Os resultados serão apresentados conforme a caracterização das variáveis
pesquisadas e os períodos em que ocorreram as alterações de turno para a enfermagem. Estas
variáveis são: número de quedas dos pacientes internados, número de acidentes de trabalho
ocorridos com a enfermagem e o número de óbitos ocorridos nos períodos.
Método
16
16
A jornada de trabalho de seis horas diárias chamamos de turno (1) que compreendeu
o período de 1999 a 2002, e a jornada de 12/36, chamamos de turno (2), correspondente ao
período de 2002 a 2006.
Campo de Estudo
17
17
6. CAMPO DE ESTUDO
O contexto do Hospital onde a pesquisa foi desenvolvida envolve assistência, ensino,
pesquisa e extensão, pois é também um cenário de aprendizagem para a formação de
profissionais de uma Faculdade da área da saúde com dois cursos: medicina e enfermagem.
Na estrutura organizacional do hospital estudado, existem duas unidades hospitalares que
estão caracterizadas como clínico-cirúrgica e materno-infantil, ficando distantes uma da outra
aproximadamente dois mil metros. São hospitais de ensino que oferecem campo de estágio
em graduação, pós-graduação e nível técnico para várias profissões da saúde. A instituição é
referência para uma área populacional de aproximadamente um milhão e duzentos mil
habitantes, tendo a responsabilidade de atenção à saúde no nível terciário. Em razão dessa
demanda, torna-se premente o aperfeiçoamento da sua capacidade de gestão de pessoas. O
Hospital é geral, possui 222 leitos e atende principalmente média e alta complexidade.
A Faculdade que atua no referido Hospital desenvolve um currículo voltado para a
formação de profissionais nas dimensões técnica, política e social para atuarem na
comunidade, em função da saúde da população e de justiça social, visando à promoção e
prevenção de agravos à saúde. Em tal contexto, a equipe de enfermagem do hospital
desenvolve um importante papel, pois os estudantes partilham das experiências da mesma,
passando a entender o processo de trabalho desenvolvido. Entendendo que a habilidade
prática é fundamental no processo de aprendizagem, configura-se premente a necessidade de
que os profissionais da enfermagem sejam inseridos em um processo de trabalho que
harmonize o ambiente com os recursos disponíveis, além de uma favorável convivência, de
modo a se constituir um modelo positivo para o ensino.
No inicio de 1999, o Hospital alteou a jornada de trabalho da enfermagem para seis
horas diárias com seis folgas mensais nos meses de trinta e um dias e cinco folgas mensais
nos meses de trinta dias, permanecendo assim até o final do ano de 2002, e, em 2003, por
reivindicação do próprio sindicato da categoria, houve a retomada da jornada de doze horas
diárias com três folgas mensais nos meses de trinta e um dias e duas folgas mensais nos meses
de trinta dias. Nessas folgas, considera-se o correspondente ao descanso semanal remunerado
e feriados, conforme estabelecido em acordo coletivo.
Campo de Estudo
18
18
A alegação para a mudança da jornada deu-se em razão da indisponibilidade dos
trabalhadores para a complementação de sua renda com outros empregos, principalmente, no
deslocamento de um hospital para outro.
Observou-se empiricamente que, enquanto a jornada era de seis horas, houve redução
dos índices de mortalidade e de taxa de infecção, bem como de média de permanência no
hospital. A experiência prática mostrou, ainda, que tais indicadores voltaram aos patamares
anteriores quando retornou a jornada de 12 x 36, em função da grande mobilização do
sindicato e insistente solicitação dos funcionários. Estas percepções, entretanto, não foram
comprovadas por pesquisa científica.
Atualmente o hospital possui 1.496 trabalhadores. No quadro de pessoal de
enfermagem, 592 trabalhadores, dos quais 89 enfermeiros, 2 técnicos de enfermagem e 501
auxiliares de enfermagem. Portanto o percentual da enfermagem com relação ao total de
trabalhadores do hospital é de 39,57%.
O serviço de enfermagem do ponto de vista administrativo está organizado da
seguinte forma: em chefias, que respondem por unidades técnicas que são: Hospital das
Clínicas Unidade I e Hospital das Clínicas Unidade II; os enfermeiros gerentes (responsáveis
técnicos) das unidades de internação e ambulatórios, que trabalham em jornada de 8 horas
diárias e também com os enfermeiros assistenciais, que realizam jornadas de seis horas diárias
com plantões de 12 horas nos finais de semana e feriados. A carga horária semanal é de 40
horas para os enfermeiros que possuem cargo de chefia e de 36 horas para os demais.
Os auxiliares de enfermagem atualmente trabalham em turnos de 12/36, com duas
folgas mensais nos meses de trinta dias e três folgas mensais nos meses de tinta e um dias.
Aspectos Éticos do Estudo
19
19
7. ASPECTOS ÉTICOS DO ESTUDO
O estudo foi encaminhado e recebeu aprovação (Anexo III) do Comitê de Ética em
Pesquisa da Instituição, sendo dispensada a aplicação do termo de consentimento livre e
esclarecido e aprovado em 29/09/08 com o número 499/08 de acordo com a resolução 196/96
do Conselho Nacional de Saúde
25
.
Procedimentos e Etapas da Pesquisa
20
20
8. PROCEDIMENTOS E ETAPAS DA PESQUISA
1. Foram definidos os períodos para comparação (anos de início e término conforme o
tipo de jornada). Segundo os dados da Divisão de Recursos Humanos, o período
para a jornada de seis horas, que foi estudado, teve inicio no mês 01/1999 com
término no mês 12/2002, e o período da jornada de 12/36 foi de 01/2003 a 12/2006,
totalizando assim quatro anos para cada jornada.
2. Foram realizados os seguintes levantamentos:
2.1 Número de funcionários da enfermagem em atividade nos períodos definidos;
2.2 Número de funcionários da enfermagem/leito;
2.3 Número de acidentes ocupacionais nos períodos estudados da enfermagem;
2.4 Número de quedas dos usuários no hospital nos períodos do estudo;
2.5 Taxas de infecção hospitalar nos períodos do estudo;
2.6 Taxa de ocupação do hospital nos períodos estudados;
2.7 Média de permanência hospitalar nos períodos estudados;
2.8 Número de leitos no período do estudo;
2.9 Número de óbitos de pacientes internados nos períodos estudados;
2.10 Lançamento dos dados em planilha Excel
2.11 Análise estatística realizada por um profissional da área.
Resultados
21
21
9. RESULTADOS
Os dados serão apresentados utilizando recursos como tabelas, com a evolução dos
registros ano a ano e ainda apresentando figuras que nos ajudam a visualizar a variação nos
dois períodos escolhidos para a comparação, ou seja, com utilização de turnos de seis horas e
de 12 horas. Quanto aos testes estatísticos optamos por apresentá-los na discussão.
Tabela 1. Número de quedas do leito ocorridas no hospital nos dois períodos.
Período Número de Quedas
Jornada de 6 horas
01/1999 a 12/1999
09
01/2000 a 12/2000
27
01/2001 a 12/2001
07
01/2002 a 12/2002
26
Jornada de 12 x 36
01/2003 a 12/2003
36
01/2004 a 12/2004
53
01/2005 a 12/2005
28
01/2006 a 12/2006
38
Fonte: Serviço de enfermagem
Resultados
22
22
Para melhor visualização no gráfico a seguir apresentamos o total de quedas,
comparando os dois períodos com um incremento de 126% no número de quedas para o turno
(2).
Figura 1. Incremento no número de quedas de acordo com a jornada de trabalho.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Turno (1): Jornada de 6 horas
Turno (2): Jornada de 12 horas
QUEDAS
QUEDAS
69 156
TURNO 1 TURNO 2
Fonte: Serviço de Enfermagem
Incremento de 126%
6 HORAS
12 HORAS
Resultados
23
23
Tabela 2. Número de acidentes de trabalho ocorridos na instituição e com a enfermagem nos
dois períodos.
Período Número Total
de
Acidentes de
Trabalho
Número de
Acidentes de
Trabalho da
Enfermagem
Jornada de 6 horas
01/1999 a 12/1999 24
20
01/2000 a 12/2000
45 23
01/2001 a 12/2001 34
25
01/2002 a 12/2002
22 13
Jornada de 12 x 36
01/2003 a 12/2003 19
13
01/2004 a 12/2004 16
11
01/2005 a 12/2005 14
11
01/2006 a 12/2006 29
15
Fonte:SESMT
Resultados
24
24
Tabela 3. Número de óbitos ocorridos no hospital nos dois períodos.
Período Número de
Óbitos
Jornada de 6 horas
01/1999 a 12/1999
481
01/2000 a 12/2000
473
01/2001 a 12/2001
535
01/2002 a 12/2002
475
Jornada de 12 x 36
01/2003 a 12/2003
622
01/2004 a 12/2004
581
01/2005 a 12/2005
681
01/2006 a 12/2006
623
Fonte:N.T.I.
Resultados
25
25
Para melhor visualização no gráfico a seguir apresentamos o total de óbitos ocorridos
no hospital, comparando os dois períodos com o aumento de 27,6% no número de óbitos para
o turno (2).
Figura 2. Aumento no número de óbitos de acordo com a jornada de trabalho.
1964
2507
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
TURNO 1 TURNO 2
TURNO 1
TURNO 2
Fonte: Núcleo Técnico de Informação da Famema
Aumento de 27,6%
6 HORAS
12 HORAS
Resultados
26
26
Tabela 4. Taxa de infecção hospitalar nos dois períodos.
Período Taxa de Infecção
(%)
Jornada de 6 horas
01/1999 a 12/1999
35,8
01/2000 a 12/2000
24,3
01/2001 a 12/2001
32,6
01/2002 a 12/2002
48,7
Jornada de 12 x 36
01/2003 a 12/2003
39,4
01/2004 a 12/2004
27,5
01/2005 a 12/2005
30,4
01/2006 a 12/2006
32,1
Fonte:S.C.I.H.
Resultados
27
27
Tabela 5. Número de funcionários da enfermagem e da instituição/leito nos dois períodos.
Período Número de
Funcionários da
Enfermagem/leito
Número Total de
Funcionários da
Instituição
Jornada de 6 horas
01/1999 a 12/1999 2,0
6,4
01/2000 a 12/2000
2,2 7,2
01/2001 a 12/2001 2,3
7,5
01/2002 a 12/2002 2,3 7,7
Jornada de 12 x 36
01/2003 a 12/2003 2,3
7,5
01/2004 a 12/2004 2,3
7,3
01/2005 a 12/2005 2,2
6,9
01/2006 a 12/2006 2,7
9,1
Fonte:D.R.H.
Resultados
28
28
Tabela 6. Taxa de ocupação, média de permanência e número de leitos do hospital nos dois
períodos.
Período Taxa de
Ocupação
Média de
Permanência
Número de
Leitos
Jornada de 6 horas
01/1999 a 12/1999 62,3
4,5 248
01/2000 a 12/2000
73,3 4,7 220
01/2001 a 12/2001 76,2
4,5 204
01/2002 a 12/2002 77,4 4,5
197
Jornada de 12 x 36
01/2003 a 12/2003 79,5
4,5 197
01/2004 a 12/2004 77,1
5,0 210
01/2005 a 12/2005 79,4
5,1 241
01/2006 a 12/2006 80,1
5,1 216
Fonte:N.T.I.
Resultados
29
29
Tabela 7. Número de acidentes de percurso ocorridos com a enfermagem nos dois períodos
Período Número de
Acidentes de
Percurso
Jornada de 6 horas
01/1999 a 12/1999
11
01/2000 a 12/2000
24
01/2001 a 12/2001
22
01/2002 a 12/2002
13
Jornada de 12 x 36
01/2003 a 12/2003
16
01/2004 a 12/2004
17
01/2005 a 12/2005
15
01/2006 a 12/2006
13
Fonte:SESMT
Discussão
30
30
10. DISCUSSÃO
Os dados constantes das tabelas anteriores mostram os resultados coletados na
pesquisa. Sobre eles, foram aplicados métodos estatísticos, conforme descrito no Método,
com o objetivo de interpretar as informações coletadas. Os resultados dessas análises serão
mostrados nas tabelas seguintes e fomentarão a presente discussão.
Com relação à queda, esta pode ser definida como mudança súbita e inesperada na
posição em que o equilíbrio do corpo falha e não há uma ação reflexa para corrigir a tempo
este desequilíbrio
26
.
Sobre os dados de queda do leito hospitalar, constantes da tabela 1 (página 26), foi
aplicado o método estatístico Poisson para análise, mas o resultado não foi adequado, pois não
foi possível produzir uma qualidade de ajuste com valor muito distante de 1 (extra-variação).
Concluiu-se então que, com a aplicação deste método, não se pôde definir se houve diferença
estatística para o indicador de quedas do leito.
Já o método de estatística Binomial Negativo mostrou-se adequado para a análise,
com o seu valor próximo de 1, conforme se verifica na tabela 8. Foi possível concluir,
portanto, que na jornada de trabalho de 12 x 36 ocorreu maior número de quedas dos
pacientes internados.
Tabela 8. Ajuste do modelo binomial negativo para o número de quedas em relação a dois
turnos de trabalho de 1999 a 2006.
Considerando os dados da tabela 8, referente ao número de quedas, observou-se que
no turno (1) existiu um número menor de queda dos pacientes internados, pois se
Variável
Estimativa
Erro Padrão
p-valor
OR (IC)
Turno 1
(6 horas)
-0, 8073
0, 2848
0, 00045
0, 4452 (0, 2547 – 0, 7780)
Turno 2
(12 x 36)
0 - - 1
Discussão
31
31
compararmos com o turno (2), este risco aumenta consideravelmente, sofrendo um
incremento de 126% conforme apontado no gráfico 1.
A queda, como ocorrência iatrogênica nas instituições que prestam atendimento de
saúde, não tem recebido a atenção que merece, pois são poucas as ações desenvolvidas no
sentido de monitorar, identificar e prevenir os aspectos que contribuem para a ocorrência
deste evento adverso nestas instituições.
A correta monitorização e identificação dos possíveis pontos vulneráveis no processo
de cuidar podem garantir a segurança e evitar quedas que possam acarretar danos a estes
usuários que se encontram fragilizados pela condição de estarem hospitalizados. Além disso,
estas quedas podem gerar custos ao sistema de saúde, com o aumento no tempo de internação,
bem como o uso de outros recursos para tentar reparar as lesões ou complicações em
consequência da queda.
Dentre os acontecimentos que ocorrem nos hospitais e que coloca em risco a
integridade das pessoas internadas estão os erros com medicação, lesões da pele, cateteres e
quedas. Estes eventos ocorrem com mais freqüência em adultos do sexo masculino com
patologias do aparelho circulatório, doenças oncológicas e afecções de causas externas e estes
usuários estão mais susceptíveis nos primeiros cinco dias de internação
27
.
As consequências geradas por quedas estão diretamente relacionadas às injurias mais
imediatas que são os traumas teciduais de diferentes intensidades, contusões com hematomas,
fraturas, lesões tissulares com ou sem necessidade de sutura, edema e sangramentos. Há
também o risco de desconexão de sistemas que auxiliam no tratamento como circuitos de
ventiladores e sistema de infusão como cateteres venosos e ou arteriais
28
.
Ao discutir quedas, devemos considerar que algumas faixas etárias estão mais
susceptíveis a este evento em razão das dificuldades reflexas apresentadas principalmente por
idosos. Nos Estados Unidos, 75% das mortes decorrentes de quedas atingem 14% da
população acima de 65 anos de idade
29
.
Os fatores de risco de quedas no ambiente hospitalar mais frequentes são: alterações
no estado mental, em especial as confusões e desorientações, o uso de sedativos e
tranquilizantes, as limitações de mobilização como distúrbios de marcha, equilíbrio e fraqueza
muscular, história de queda, idade avançada, as fraquezas em geral, tonturas, depressão e
longa permanência no hospital
30
.
Devemos considerar ainda que o estado cognitivo alterado do usuário também figura
como fator de risco para quedas no ambiente hospitalar
31
.
Discussão
32
32
As situações de queda nos hospitais, além de produzirem complicações aos usuários
também acarretam à equipe de enfermagem um descontrole emocional, levando ao sentimento
de culpa.
A constante vigilância da equipe de enfermagem ao usuário hospitalizado — como
fator limitador da possibilidade de queda — é fundamental para que esta iatrogenia não
ocorra. Portanto, a condição física e emocional desta equipe também deve ser considerada
como um dos fatores que podem influenciar negativamente neste desfecho.
A longa jornada de trabalho contribui para aumentar o cansaço e o desgaste físico
destes profissionais e, como consequência, sua condição de alerta fica prejudicada, sendo
mais visível nas horas finais a esta jornada, nas quais o trabalhador não consegue estabelecer
uma visão holística e contextualizada do usuário, principalmente com o foco nas necessidades
e vulnerabilidades das pessoas hospitalizadas.
Outro indicador que preocupa e vem sendo estudado é o acidente de trabalho em
razão dos danos provocados na saúde do trabalhador da enfermagem no exercício de sua
atividade.
O acidente de trabalho esta entre as causas que contribuem para o aumento do
absenteísmo dos profissionais da enfermagem e por isso é necessário conhecer os fatores que
podem contribuir para a exposição destes profissionais a estes acidentes. A tabela 2 (página
26) mostra o número de acidentes de trabalho ocorridos na instituição e com a enfermagem
nos dois períodos. Tais dados foram submetidos à análise estatística e os resultados são os
apresentados na tabela a seguir:
Tabela 9. Ajuste do modelo Poisson para o número de acidentes de trabalho ocorridos com a
enfermagem durante os dois turnos de trabalho de 1999 a 2006.
* acidentes de trabalho, foram excluídos os acidentes de percurso.
Variável
Estimativa
Erro Padrão
p-valor
OR (IC)
Turno 1
(6 horas)
-0, 3871
0, 1774
0, 0267
1, 4727 (1, 0457 – 2, 0742)
Turno 2
(12 x 36)
0 - - 1
Discussão
33
33
Na Tabela 9, com a utilização do método estatístico Poisson, verificou-se
significância estatística para a jornada de trabalho de 12 x 36 horas. Diferentemente do que
imaginávamos, neste caso, na jornada de seis horas diárias verificamos maior número de
acidente de trabalho. Acreditamos que este fato se justifique pela implementação, que houve
no segundo período estudado, de normas de segurança, bem como de atividades educativas e
investimentos em relação ao uso de equipamentos de proteção individual (EPI).
O acidente de trabalho é definido como o evento súbito ocorrido no exercício de
atividade laboral, independente da situação empregatícia e previdenciária do trabalhador
acidentado, e que acarreta dano à saúde, potencial ou imediato, provocando lesão corporal ou
perturbação funcional, perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o
trabalho e até a morte. É de se ressaltar, ainda nesta definição, o entendimento de que os
acidentes ocorridos no trajeto para o trabalho também são considerados acidentes de
trabalho
32
.
O acidente de trabalho pode estar relacionado às condições de trabalho,
principalmente se o ambiente oferece riscos, tais como: disposição inadequada de mobiliário,
divisão insatisfatória de tarefas, indisponibilidade de equipamentos de proteção individual,
concentração excessiva de atividades, ocupação total da carga horária durante a jornada de
trabalho. Tais fatores, entre outros, expõem os trabalhadores à maior vulnerabilidade e
incidência de acidentes.
A susceptibilidade do pessoal de enfermagem a acidentes pode estar diretamente
ligada ao processo de trabalho, levando-se em consideração que não há risco somente na
manipulação do usuário, mas também nos processos industrializados que são utilizados pela
enfermagem para o completo atendimento das necessidades de saúde da população, como os
processos de descontaminação e esterilização de materiais e equipamentos, manipulação de
produtos químicos e manipulação de equipamentos eletrônicos
33
.
Da forma como estão organizadas as instituições hospitalares, os trabalhadores de
enfermagem estão expostos a cargas excessivas de trabalho, o que tem levado a um desgaste
físico e mental muito intenso. Este desgaste mental tem levado estes profissionais para
próximo do sofrimento psíquico, em razão da carga psicológica e não somente pelo objeto de
trabalho. Isso tem contribuído sobremaneira para aumentar o potencial de adoecimento e
afastamento do trabalho
34
.
Nas atividades normais, o pessoal de enfermagem utiliza principalmente as mãos.
Por isso, além de processos alérgicos dermatológicos, pela exposição a vários agentes
Discussão
34
34
químicos, os acidentes envolvendo os membros superiores são mais comuns de
acontecerem
35
.
Os acidentes de trabalho podem interferir ainda no absenteísmo dos trabalhadores de
enfermagem, levando a redução do quadro de pessoal e com isso aumentando a sobrecarga de
trabalho para aqueles que em razão desta redução tenham que dar continuidade na assistência.
Os índices de absenteísmo da enfermagem vêm aumentando nos últimos anos. Entre
as principais causas de afastamento, destacam-se os decorrentes de doenças laborais, os
acidentes de trabalho e os motivos pessoais. Assim, é necessária uma revisão sistemática do
processo de trabalho de enfermagem, em razão da predisposição desse pessoal a doenças
decorrentes do trabalho. Ou, em outras palavras, falta uma política de gestão de pessoas
voltada para a proteção do trabalhador
36
.
Se considerarmos este contexto, pode-se observar que o tempo de exposição aos
fatores determinantes de acidentes de trabalho na jornada de seis horas diárias tende a ser
menor, além de que, jornadas mais curtas contribuem para que o trabalhador possa, após o
trabalho, recuperar sua condição física e emocional, considerando que ela respeita as
condições orgânicas e fisiológicas do individuo, proporcionando condição de recuperação do
desgaste provocado pela intensa atividade estressante do dia-dia da enfermagem.
Longas jornadas, ao contrário, impulsionam o trabalhador para o desgaste e o
cansaço, reduzindo assim a sua capacidade de elaborar defesas e criar mecanismos de
proteção contra os riscos existentes e inerentes a sua atividade. A concentração e o estado de
alerta estão prejudicados após um longo período de trabalho, o que expõe os profissionais a
riscos de acidentes, podendo levar a afastamentos do trabalho, com consequente redução do
efetivo de pessoas para dar assistência aos usuários.
Considerando que a maioria das instituições de saúde, públicas ou privadas,
trabalham com um quadro de enfermagem já bastante limitado, os acidentes de trabalho, com
os consequentes afastamentos, implicam na qualidade do cuidado e nos custos institucionais.
Em relação à jornada de trabalho, existem estudos que mostram que, em países onde
a jornada de trabalho é superior a oito horas diárias, o índice de morte súbita, parada cardíaca
e acidentes vasculares cerebrais dos trabalhadores é maior que em países onde as jornadas de
trabalho respeitam as condições físicas do individuo, ou seja, não ultrapassam oito horas
diárias. No Japão, a jornada de trabalho oficial é de oito horas diárias. Porém, com as horas
extraordinárias, estas muitas vezes ultrapassam doze horas. Em razão disso, o Ministério do
Trabalho daquele país já criou uma regulamentação para a indenização de familiares de
trabalhadores que foram a óbito em função do “KAROSHI”, que significa morte por excesso
Discussão
35
35
de trabalho, seja com repercussão imediata ou tardia. Morrem, por “Karoshi”, mais de 10.000
trabalhadores/ano
37
.
Os acidentes mais comuns no ambiente hospitalar com a equipe de enfermagem
estão relacionados ao momento do descarte de pérfuro-cortantes, principalmente ao tentar
reencapar a agulha após o uso. Outra causa que aparece entre as mais frequentes no acidente
de trabalho para a enfermagem é a punção venosa
38
.
Com a implantação de medidas educativas e a adoção de mecanismos de proteção
implementados nos últimos anos (com a intenção de evitar a exposição excessiva do
trabalhador da enfermagem), acreditamos que os profissionais estejam mais protegidos, daí o
número de acidentes ter diminuído.
Com relação aos acidentes de percurso, que optamos por analisar separadamente dos
acidentes de trabalho totais, não houve diferença significativa nos dois períodos.
Acidente de percurso é o acidente que ocorre no deslocamento do trabalhador de sua
residência para o trabalho e do trabalho para sua residência, respeitando o trajeto que deverá
ser percorrido para este fim.
O acidente de percurso, segundo a legislação trabalhista, também é considerado
acidente de trabalho. Deve-se considerar que, na jornada de 12x36, a exposição seria
teoricamente menor, visto que o deslocamento para o trabalho ocorre em dias alternados; já na
jornada de seis horas, o deslocamento é diário e o risco pode ser maior. Por outro lado, ao
sair de uma longa jornada, o trabalhador poderá estar menos atento e até com reflexos
diminuídos. O que temos verificado também é que muitos destes profissionais acabam
dobrando a jornada com horas extraordinárias, resultando em vindas diárias ao hospital.
Um estudo realizado com dados obtidos do Instituto Nacional de Previdência Social
no ano de 1999 mostrou que, do total de acidentes de trabalho ocorridos, 48,5% estavam
relacionados a acidentes de percurso, o que reforça a necessidade de um olhar mais criterioso
com relação à exposição dos trabalhadores no trajeto ao trabalho
39
.
Outro fator que têm preocupado é a forma de organização do trabalho nas
instituições hospitalares, onde este processo em razão da complexidade e da dinâmica impõe
um elevado nível de cargas psíquicas aos trabalhadores levando a desgastes e
consequentemente a riscos de acidentes
40
.
A dicotomia existente na vida dos profissionais da enfermagem no exercício de suas
atividades, dadas pela característica do trabalho, emerge de uma situação onde existe uma
percepção de saúde que aponta para qualidade de vida como também uma situação destrutiva,
Discussão
36
36
sendo este processo destrutivo o principal responsável por potencializar o surgimento de
doenças e a piora na qualidade de vida destes profissionais
41
.
Com o aumento da expectativa de vida das pessoas, a evolução tecnológica e a
ampliação da capacidade de tratamento e cura de algumas doenças, os hospitais passaram a
desempenhar papel importante na complementação do cuidado. Entretanto, por serem locais
que abrigam pessoas doentes, os óbitos, nos hospitais, são uma realidade cotidiana.
Hoje no Brasil, cerca de 70% dos óbitos ocorridos se dão nas instituições de saúde. O
restante acontece no domicilio da pessoa ou em outras situações, como acidentes de trânsito
em que não há tempo hábil para assistência hospitalar. É de se ressaltar que há, ainda no país,
cerca de 13,7% de óbitos não notificados. Como a maioria se dá em hospitais, este fato nos
leva a refletir sobre a importância de se entender com clareza as condições em que estes
óbitos ocorrem
42
.
A tabela 3, (página 28), mostra a quantidade de óbitos no hospital estudado nos dois
períodos. O método estatístico Poisson para a análise não foi adequado para esses dados, pois
não foi possível produzir uma qualidade de ajuste: o valor apresentou-se muito distante de 1,
o que caracterizou uma extra-variação. Conclui-se então que, com a aplicação deste método,
não foi possível definir se a jornada de trabalho interfere no número de óbitos.
Entretanto, conforme demonstra a tabela 10 abaixo, a utilização do método estatístico
Binomial Negativo mostrou-se adequado para a análise, pois, com o seu valor próximo de 1,
foi possível verificar que com a jornada de trabalho de 12 x 36 o número de óbitos de
pacientes internados foi maior em relação ao período em que se adotava a jornada de seis
horas, com um aumento de 27,6%, conforme indicado no gráfico 2 (página 25).
Tabela 10. Ajuste do modelo binomial negativo para o número de óbitos ocorridos de 1999 a
2006, considerando os dois turnos de trabalho.
Variável
Estimativa
Erro Padrão
p-valor
OR (IC)
Turno 1
(6 horas)
-0, 2441
0, 0388
<0, 0001
0, 7834 (0, 7260 – 0, 8454)
Turno 2
(12 x 36)
0 - - 1
Discussão
37
37
Portanto, na tabela 10 é demonstrado como uma jornada de trabalho que ultrapasse
oito horas diárias pode influenciar aumentando a ocorrência de óbitos.
A morte no período medieval era encarada como um processo natural e fazia parte da
rotina das pessoas, ou seja, a maioria dos óbitos ocorria no próprio domicilio com o apoio e
atenção da família. Com a evolução no tratamento das doenças houve a necessidade de
institucionalizar as pessoas doentes e a morte passou a acontecer com mais freqüência no
ambiente hospitalar. Os óbitos nestes locais passou a fazer parte do dia-dia dos profissionais
da saúde. Esta rotina da convivência com a morte levou a equipe de saúde, com o passar do
tempo, criar mecanismos de proteção que auxiliam na convivência e dão suporte as
frustrações emocionais deste cotidiano onde a morte tem repercussões individuais e
coletivas
43
.
A ocorrência de óbitos no ambiente hospitalar aparece com maior frequência no
período compreendido entre 12 e 18 horas, o que confirma a vulnerabilidade imposta aos
usuários, a qual pode ser resultante da condição de trabalho da equipe de enfermagem, ou
seja, neste período na jornada de 12/36, o trabalhador já atingiu o seu limite de produção e o
cansaço já está instalado, contribuindo para a redução de sua capacidade de intervenção e
vigilância no trabalho
44
.
As iatrogenias experienciadas pela enfermagem aparecem com significado relevante
à medida que a jornada de trabalho vai se estendendo. Isto fica mais evidente quando um
estudo mostra que o erro com medicação tem como um dos fatores desencadeantes, com
48,9%, o cansaço e o estresse. Pode-se verificar que o erro com a administração de fármacos,
que pode variar de medicamentos errados como também subdosagens ou superdosagens,
expõe a riscos iminentes de complicações clínicas ou morte do individuo que está sob cuidado
da enfermagem
45
.
Outros indicadores vêm sendo utilizados para monitorar e avaliar a qualidade dos
serviços prestados pelas instituições de saúde. Estes indicadores fazem referência,
principalmente, aos resultados decorrentes dos processos de trabalho destas organizações e
são fundamentais para subsidiar intervenções que modifiquem e aperfeiçoem as ações dos
profissionais de saúde.
Dentre eles, podemos citar os que foram objetos deste estudo: taxa de infecção
hospitalar, taxa de ocupação, média de permanência e número de funcionários da enfermagem
por leito. Tais indicadores foram utilizados como variáveis de controle e submetidos ao teste
de comparação de Tukey, que tem como objetivo testar a diferença entre duas médias de
tratamento.
Discussão
38
38
Este teste é utilizado para comparar todo e qualquer contraste entre duas médias de
tratamento. Ele é exato quando o número de repetições é o mesmo para todos os
tratamentos
46
.
Tabela 11. Comparação pelo teste de Tukey para taxas de infecção, taxa de ocupação, média de
permanência e número de funcionários da enfermagem por leito em relação aos dois turnos de
trabalho de 1999 a 2006.
*Médias iguais seguidas de mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Tukey ao nível de 5%.
Na tabela 11, verificou-se que a jornada de trabalho de 12 x 36 pode ter influenciado
somente na média de permanência, já que os demais indicadores não sofreram alteração
decorrente do turno.
Ressalte-se que, embora não tenha sido possível controlar todas as variáveis
envolvidas no processo de trabalho, estas escolhidas apresentaram padrões semelhantes em
ambos os períodos estudados, o que reforça a hipótese de que a variação dos indicadores
estudados oscilou de acordo com a jornada de trabalho praticada.
Variáveis como taxa de infecção hospitalar, taxa de ocupação de leitos, média de
permanência do usuário internado e número de funcionários da enfermagem por leito,
constituem importantes ferramentas para avaliação dos processos de trabalho dos hospitais e,
também, da qualidade da assistência prestada a estes usuários.
Variável
Turno
Média
Desvio Padrão
Tx de Infecção
T1
T2
35,35
A
32,35
A
10,13
5,07
Tx de Ocupação
T1
T2
72,31
A
79,03
A
6,87
1,36
Média de Permanência *
Nº de Funcionários/leito
T1
T2
T1
T2
4,52
A
4,93
B
2,19
A
2,38
A
0,13
0,29
0,16
0,22
Discussão
39
39
A taxa de infecção hospitalar é um indicador de qualidade que serve para monitorar o
número de infecções ocorridas em um determinado período em usuários hospitalizados e
também avaliar os riscos de infecção que determinados procedimentos ou comportamentos da
equipe ou do próprio usuário podem produzir infecção.
É importante esclarecer que a taxa de infecção não depende somente de ações da
enfermagem, pois são vários os atores envolvidos no processo e, portanto, seria incoerente
imputar responsabilidade somente para este segmento. Há que considerar, ainda, a existência
de outros fatores associados que pode levar à ocorrência de infecção hospitalar como
condição nutricional do usuário, estrutura física da instituição, condições de equipamentos e
materiais, a adesão dos outros profissionais envolvidos com cuidado e as políticas de
prevenção de infecção no ambiente hospitalar.
A taxa de ocupação é considerada, hoje, um dos indicadores mais críticos do ponto
de vista da gestão dos hospitais. Uma taxa de ocupação inferior a 80% mostra o quanto esta
gestão é eficiente, por praticar taxas compatíveis com os custos advindos. No entanto, taxa
superior a 90% pode interferir na qualidade da assistência, em razão da sobrecarga de trabalho
para a equipe de enfermagem.
A média de permanência também figura como um dos indicadores de relevância para
o monitoramento da assistência, em razão de que as longas permanências hospitalares
proporcionam maiores riscos aos usuários e reduzem o acesso. Este indicador mede a
eficiência, eficácia e a efetividade da gestão da instituição hospitalar como um todo. É uma
variável que sofre os reflexos de qualquer anormalidade que ocorre dentro ou fora do hospital.
Por isso, hoje os serviços de internação domiciliar têm aumentado, na tentativa de dar vazão
aos hospitais e proporcionar maior rotatividade.
Este indicador é medido tomando-se como parâmetro o tempo que o usuário ficou
internado, em dias, e levando-se em consideração o fator motivador da internação, ou seja, as
doenças que teve ou o procedimento ao qual foi submetido.
A média de permanência alta nos hospitais é um dos pontos críticos para qualquer
hospital e as situações que colaboram para esta longa permanência são as mais variadas, e
entre estas está o número reduzido de profissionais que prestam assistência ao usuário. Um
fator que define o tempo de permanência é a necessidade de saúde do usuário e este período
para os hospitais públicos de ensino é em média de cinco dias, portanto acima disso é
considerada longa permanencia
47
.
A gestão de processos que aumentem a resolubilidade e eficácia dos serviços
prestados aos usuários fará com que as instituições se viabilizem do ponto de vista econômico
Discussão
40
40
e, com isso, possam aumentar a sua capacidade de investimento na gestão de pessoas e
tecnologia para uma assistência adequada.
Um aspecto que serve para dimensionar a capacidade que a instituição tem para dar
respostas às necessidades de saúde que os usuários apresentam é o número de funcionários da
enfermagem por leito. Este indicador tem sido explorado nos últimos anos pelos órgãos
fomentadores da qualidade na atenção à saúde, pois, com um quadro de enfermagem
adequado e treinado, é possível garantir uma boa assistência de enfermagem e, como
resultado, viabilizar o processo de recuperação e reabilitação do usuário e a retomada de sua
vida social.
O quadro de pessoal de enfermagem de uma instituição deve ser pensado e planejado
de acordo com a missão; porte; estrutura organizacional e física; tipos de serviços e/ou
programas; tecnologia e complexidade dos serviços e/ou programas; política de pessoal, de
recursos materiais e financeiros; atribuições e competências dos integrantes dos diferentes
serviços e/ou programas e indicadores hospitalares do Ministério da Saúde
45
.
Sabe-se o quanto é necessária a adequação do quadro de pessoal dos hospitais e o
quanto isso ainda está longe de acontecer. A equipe de enfermagem precisa contar com um
efetivo capaz de atender as necessidades integrais dos usuários e ainda poder desfrutar de uma
vida saudável com tempo para o convívio social e laser. As extensas jornadas e o déficit de
pessoal nestas instituições têm acarretado desgaste físico e emocional a estes profissionais,
levando a doenças ocupacionais e transtornos psicológicos.
Estas variáveis foram levantadas com o objetivo de identificar possíveis alterações
em sua constituição, levando-se em consideração os dois turnos de trabalho da enfermagem e
foi possível evidenciar que a média de permanência sofre influência da jornada de trabalho,
ou seja, no período em que vigorou a jornada de trabalho de 12 x 36, a média de permanência
dos pacientes internados foi maior.
Para o número de funcionários/leito para o modelo estatístico proposto, também não
houve diferença significativa nos períodos estudados para os dois turnos, ou seja, de seis e de
12 horas.
Conclusões
41
41
11. CONCLUSÕES
Ao analisar os dados levantados referentes ao número de acidentes de trabalho nas
duas jornadas, não houve diferença significativa que apontasse uma jornada com maior
potencial de exposição dos trabalhadores da enfermagem a riscos de acidentes.
Acreditamos que isto se deve ao fato de que a instituição, nos últimos anos, vem
investindo na capacitação dos trabalhadores da enfermagem e, também, na aquisição de
equipamentos de proteção individual.
Entretanto, foi observado, a partir da revisão da literatura, que os acidentes ocorrem,
predominantemente, nas horas finais da jornada de trabalho. Assim, consequentemente,
quanto maior a jornada, maior a exposição aos riscos de acidente de trabalho.
A taxa de infecção hospitalar tambémo sofreu alteração significativa quando
analisados os dados obtidos. Podemos atribuir a não alteração desta variável ao fato desta não
depender somente da ação da enfermagem, ou seja, ela está condicionada a outras variantes
relacionadas à manipulação dos usuários e dos artigos que entram em contato com o mesmo.
A queda de usuários internados aparece com bastante destaque na jornada de 12 x 36,
mostrando o quanto este dado é significativo para a gestão do processo de cuidar em
enfermagem. Na jornada de trabalho da enfermagem de 12 horas o número de quedas foi
significativamente maior, com um aumento de 126% e este dado precisa ser avaliado pelos
gestores das instituições de saúde e, em especial os gerentes de enfermagem, visto ser este um
indicador diretamente relacionado aos cuidados de enfermagem.
Este dado ganha proporção ainda maior quando analisamos as consequências das
quedas que trazem danos irreparáveis às pessoas e sempre provocam sensação de impotência
na equipe de enfermagem, afetando a condição emocional destes profissionais.
A jornada de 12 x 36 dificulta a concentração da equipe de enfermagem e atrapalha a
vigilância, principalmente dos usuários acamados que ficam expostos a riscos de queda
quando tentam levantar-se.
O acidente de percurso também não sofreu variação significativa, mas cabe discutir
que em jornadas de trabalho mais longas os reflexos ficam diminuídos em razão do cansaço o
que pode contribuir para a ocorrência de acidentes.
Os óbitos institucionalizados vêm sendo motivo de preocupação para estudiosos,
pois, com a evolução tecnológica e a possibilidade de cura, as pessoas têm procurado mais os
Conclusões
42
42
hospitais e isso tem provocado um aumento significativo de mortes nestes locais. Este estudo
demonstrou que na jornada de 12 x 36 o número de óbitos foi maior, com um aumento de
27,6% em relação ao período em que a jornada era de seis horas.
A literatura, já apontada na discussão, mostra que os óbitos nos hospitais ocorrem
com maior frequência no período da tarde, o que novamente coincide com as horas finais da
jornada estendida de 12 x 36 diurna, devido ao cansaço da equipe e à dificuldade de
observação.
A média de permanência levantada no estudo apresentou uma variação significativa,
sendo maior na jornada de 12 x 36, levando a entender que a assistência comprometida na sua
qualidade (pelo cansaço da equipe de enfermagem) pode ocasionar maior permanência do
usuário no serviço, podendo ainda desencadear outras condições de risco como: aumento da
taxa de infecção, aumento do número de quedas e do número de óbitos nos hospitais.
Sabemos também que outras questões devem ser estudadas e aprofundadas, pois não
podemos atribuir responsabilidades somente à equipe de enfermagem pelos desfechos
negativos com a assistência, mas é fundamental que haja um olhar mais crítico e que, com
base neste estudo e em outros já existentes ou que poderão ser produzidos, seja considerada a
necessidade de se avaliar a sobrecarga de trabalho imposta à enfermagem. Deve-se, ainda,
levar em conta as condições de trabalho, as condições salariais e os riscos constantes aos
quais estes profissionais estão submetidos, para que a sociedade não sofra os danos de uma
assistência de enfermagem de baixa qualidade.
Muitas vezes, sob falsos preceitos econômicos, essas condições, acabam por elevar
consideravelmente os próprios custos da assistência à saúde. Podemos nos perguntar: quanto
custa a mais para o sistema de saúde um paciente com infecção hospitalar, ou que tenha
sofrido uma queda e precisa, por conta dessas iatrogenias, submeter-se a procedimentos ou
cirurgias que não estavam previstos? Assim, é necessário que os gestores em saúde reflitam
que uma equipe adequadamente dimensionada e com jornadas de trabalho coerentes podem
representar economia e qualidade na prestação da assistência à saúde.
Portanto, acredita-se que a jornada de trabalho da enfermagem, na forma como vem
sendo praticada nas instituições de saúde, influencia diretamente na qualidade da assistência
aos usuários.
Para que haja uma consonância entre as necessidades dos usuários e dos
trabalhadores da enfermagem, é necessário que a legislação trabalhista seja respeitada e que
as jornadas de trabalho respeitem a condição física do trabalhador, dando-lhe o direito de
descanso, de laser e de convívio social e familiar.
Conclusões
43
43
Só assim, com pessoas mais valorizadas e respeitadas em suas necessidades, é que
poderá se pensar em uma assistência de enfermagem mais digna e com mais qualidade,
refletindo-se na humanização do processo de cuidar.
Faz-se necessário, também, construir indicadores que contribuam para a investigação
do impacto da jornada de trabalho estendida na saúde dos trabalhadores da enfermagem,
levando-se em conta sua história de trabalho e as condições em que estes trabalhos são
realizados. Não se pode deixar de incorporar, também, a noção de desgaste, permitindo-se,
assim, tornar relevante outras atividades da vida, fora da instituição, desenvolvidas por estes
profissionais.
O trabalho não deve ser sinônimo de desgaste, doença, exploração e dominação, mas
sim exercício de criatividade, auto-realização e bem-estar, como elemento que contribui para
a saúde. Por outro lado, o modelo de assistência à saúde dos trabalhadores não deve submeter-
se à lógica do capital, nem às condições de exposição a riscos, tanto no aspecto profissional
como social.
A precarização do trabalho reflete-se na desumanização do homem, da sua
capacidade de criar, de imaginar e de humanizar o mundo. Portanto, valorizar o trabalho, os
trabalhadores e o mundo do trabalho deve ser os grandes ideais humanistas do nosso século.
Reflexões para a Gestão em Enfermagem
44
44
12. REFLEXÕES PARA A GESTÃO EM ENFERMAGEM
1. A exposição excessiva dos trabalhadores da enfermagem com o acúmulo de atividades
geradoras de cansaço físico e mental e também o estresse, levam estes profissionais a
riscos iminentes de adoecerem e, além disso, provocar desajustes sociais e familiares.
2. A permissividade em relação a jornadas de 12 horas pode funcionar como um
estímulo a manutenção de duplos vínculos de trabalho, mascarando uma situação de
“falsa” melhoria de remuneração, que esconde a desvalorização profissional e as
baixas remunerações a que a equipe de enfermagem está submetida.
3. A exposição excessiva dos trabalhadores da enfermagem com o acúmulo de atividades
geradoras de cansaço físico e mental e também o estresse, levando estes profissionais a
riscos iminentes de adoecerem e, além disso, provocar desajustes sociais e familiares.
4. Considerando ainda o que revela o estudo, a situação torna-se mais critica e
comprometedora para os usuários quando observamos que os riscos de queda e de
óbitos aumentam quando os profissionais que deveriam protegê-los se encontram
cansados e com sua capacidade de vigília prejudicada em razão das longas e
exaustivas jornadas de trabalho.
5. Observa-se também o aumento na média de permanência, com a jornada estendida
superior a oito horas diárias, contribui para o aumento das atividades da enfermagem e
ainda restringe o acesso dos usuários, considerando a escassez de leitos nos hospitais
públicos e o aumento frequente da necessidade de internações.
6. Os aspectos discutidos acima, como o risco de adoecimento do profissional da
enfermagem, aumento no risco de queda e de óbito e o aumento na média de
permanência dos usuários, revelam uma situação ainda mais preocupante, que são os
custos com os quais o sistema público de saúde precisa arcar anualmente, para tentar
reparar estes danos.
Reflexões para a Gestão em Enfermagem
45
45
7. Outra condição resultante da jornada de trabalho é o potencial de afastamento dos
trabalhadores, devido aos acidentes de trabalho, que além de prejudicar o bom
andamento da rotina de trabalho, também geram custos à seguridade social.
8. A limitação de recursos destinados ao setor deve estimular os gestores de enfermagem
a identificar os pontos críticos no processo de trabalho, a fim de melhorar e aprimorar,
procurando, deste modo, incrementar a eficiência e a produtividade na assistência sem
arriscar ou comprometer a qualidade de vida do trabalhador, dos serviços prestados e
também reduzir custos.
Referências
46
46
13 REFERÊNCIAS
1. Elias MA, Navarro VL. A relação entre o trabalho, a saúde e as condições de vida:
negatividade e positividade no trabalho das profissionais de enfermagem de um
hospital escola. Rev Latinoam Enferm. 2006;14(4):517-25.
2. Ministério do Trabalho e Emprego (BR). Portaria nº 485 de 11 de novembro de 2005.
Aprova a Norma Regulamentadora nº 32 (Segurança e saúde no trabalho em
estabelecimentos de saúde) [Internet]. Diário Oficial da União, Brasília (DF); 2005
nov 11 [citado 28 mar 2009]. Disponível em: http://e-
legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php
3. Conselho Federal de Enfermagem-COFEN. Resolução COFEN nº 293/2004. Fixa e
estabelece parâmetros para o dimensionamento do quadro de profissionais de
enfermagem nas unidades assistenciais das instituições de saúde e assemelhados
[Internet]. Rio de Janeiro (RJ): Conselho Federal de Enfermagem-COFEN; 2004
[citado 28 mar 2009]. Disponível em:
http://www.hc.ufu.br/extranet/files/Resolu%C3%A7%C3%A3o%20COFEN%20N%C
2%BA%20293%20DE%202004.pdf
4. Gaidzinski RR. Dimensionamento de pessoal de enfermagem em instituições
hospitalares [tese]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo; 1998.
5. Deslandes SF. Análise do discurso oficial sobre a humanização da assistência
hospitalar. Ciênc Saúde coletiva. 2004;9(1):7-14.
6. Pafaro RC, De Martino MMF. Estudo do estresse do enfermeiro com dupla jornada de
trabalho em um hospital de oncologia pediátrica de Campinas. Rev Esc Enferm USP.
2004;38(2):152-60.
7. Spindola T, Santos RS. Mulher e trabalho: a história de vida de mães trabalhadoras de
enfermagem. Rev Latinoam Enferm. 2003;11(5):593-600.
Referências
47
47
8. The WHOQOL Group. The development of the World Health Organization quality of
life assessment instrument (the WHOQOL). In: Orley J, Kuyken W, editors. Quality
of life assessment: international perspectives. Heidelberg: Springer Verlag; 1994. p.
41-60.
9. Velarde-Jurado E, Avila-Figueiroa C. Evaluación de la calidad de vida. Salud Pública
Méx. 2002;44(4):349-61.
10. Fernandes EC. Qualidade de vida no trabalho: como medir para melhorar. Salvador:
Casa da Qualidade; 1996.
11. Presidência da República (BR). Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a
Consolidação das Leis do Trabalho [Internet]. Brasília (DF): Presidência da
República; 1943. Seção II, art.58, Da jornada de trabalho; [citado 28 mar 2009].
Disponível em: http://www.trt2.gov.br/
12. Siqueira MM, Watanabe FS, Ventola A. Desgaste físico e mental de auxiliares de
enfermagem: uma análise sob o enfoque gerencial. Rev Latinoam Enferm.
1995;3(1):45-57.
13. Veras RP, Ramos LR, Kalache A. Crescimento da população idosa no Brasil:
transformações e conseqüências na sociedade. Rev Saúde Pública. 1987;21(3):225-33.
14. Safiano CM, Sarquis LMM, Felli VEA, Giacomozzi LM. O processo saúde-doença
vivenciado pelos trabalhadores de enfermagem em uma instituição hospitalar. Cogitare
Enferm. 2003;8(2):87-91.
15. Costenaro OMV, Ribeiro AM, Tognini DL, Campoleoni ST. Rotatividade de pessoal:
causas, conseqüências e propostas. Rev Paul Enferm. 1987;7(1):40-3.
16. Robazzi MLCC, Paracchini SA, Gir E, Santos WDF, Moriya TM. Serviço de
enfermagem: um estudo sobre os absenteísmos. Rev Bras Saúde Ocup. 1990;
18(69):65-70.
17. Batista JM. Afastamento por licença-saúde, readaptação funcional e suas implicações
no gerenciamento de enfermagem [dissertação]. Botucatu (SP): Universidade
Estadual Paulista; 2008.
Referências
48
48
18. Silva BM, Lima FRF, Farias FSAB, Campos ACS. Jornada de trabalho: fator que
interfere na qualidade da assistência de enfermagem. Texto & Contexto Enferm.
2006;15(3):442-8.
19. Freitas GF, Fugulin FMT, Fernandes MFP. A regulação das relações de trabalho e o
gerenciamento de recursos humanos em enfermagem. Rev Esc Enferm USP.
2006;40(3):434-8.
20. Marofuse NT. O adoecimento dos trabalhadores de enfermagem da fundação
hospitalar do estado de Minas Gerais: reflexo das mudanças no mundo do trabalho
[tese]. Ribeirão Preto (SP): Universidade de São Paulo; 2004.
21. Medeiros SM, Ribeiro LM, Fernandes SMBA, Veras VSD. Condições de trabalho e
enfermagem: a transversalidade do sofrimento no cotidiano. Rev Eletrônica Enferm
[Internet]. 2006 [citado 28 mar 2009]; 8(2):233-40. Disponível em:
http://www.fen.ufg.br/revista/revista8_2/v8n2a08.htm.
22. Veras VSD. Aumento da jornada de trabalho: qual a repercussão na vida dos
trabalhadores da enfermagem? [dissertação]. Natal (RN): Universidade Federal do Rio
Grande do Norte; 2003 [citado 28 mar 2009]. Disponível em:
http://bdtd.bczm.ufrn.br/tedesimplificado//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=104
23. Sarquis LMM, Cruz EBS, Hausmann M, Felli VEA, Peduzzi M. Uma reflexão sobre
a saúde do trabalhador de enfermagem e os avanços da legislação trabalhista. Cogitare
Enferm. 2004;9(1):15-24.
24. Dejours C. A loucura do trabalho: estudo da psicopatologia do trabalho. 5a ed. São
Paulo: Cortez; 2003.
25. Ministério da Saúde (BR). Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 196 de 10 de
outubro de 1996. Aprova as seguintes diretrizes e normas regulamentadoras de
pesquisas envolvendo seres humanos [Internet]. Diário Oficial da União, Brasília
(DF); 1996 out 16 [citado 28 mar 2009]. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/1996/res0196_10_10_1996.html
Referências
49
49
26. Sehested P, Severin-Nielsen T. Falls by hospitalized elderly patients: causes,
prevention. Geriatrics. 1997;32(4):101-8.
27. Paiva MCMS. Eventos adversos: análise de um instrumento de notificação utilizado
no gerenciamento de enfermagem [dissertação]. Botucatu (SP): Universidade Estadual
Paulista; 2008.
28. Decesaro MN, Padilha KG. Iatrogenia na assistência de enfermagem durante
internação em UTI: queda de pacientes. Cienc Cuid Saúde. 2002;1(1):166-70.
29. Rubeinstein LZ, Josephson KR. The epidemiology of falls and syncope. Clin Geriatr
Med. 2002;18(2):141-58.
30. Evans D, Hodgkinson B, Lambert L, Wood J. Fall risk factors in the hospital setting:
a systematic review. Int J Nurs Pract. 2001;7(1):38-45.
31. Marin HF, Bourie P, Safran C. Desenvolvimento de um sistema de alerta para
prevenção de quedas em pacientes hospitalizados. Rev Latinoam Enferm.
2000;8(3):27-32.
32. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Notificações de acidentes do trabalho fatais, graves e com
crianças e adolescentes. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2006.
33. Oliveira MG, Makaron PE, Morrone LC. Aspectos epidemiológicos dos acidentes de
trabalho num hospital geral. Rev Bras Saúde Ocup. 1982;10(40): 26-30.
34. Silva VEF, Kurcgant P, Queiroz VM. O desgaste do trabalhador de enfermagem:
relaçäo trabalho de enfermagem e saúde do trabalhador. Rev Bras Enferm.
1998;51(4):603-14.
35. Guimarães RM, Mauro MYC, Mendes R, Melo AO, Costa TF. Fatores ergonômicos
de risco e de proteção contra acidentes de trabalho: um estudo caso-controle. Rev Bras
Epidemiol. 2005;8(3):282-94.
Referências
50
50
36. Silva DMPP, Marziale MHP. Absenteísmo de trabalhadores de enfermagem em um
hospital universitário. Rev Latinoam Enferm. 2000;8(5):44-51.
37. Carreiro LM. Morte por excesso de trabalho (Karoshi). Rev Trib Reg Trab 3ª Reg.
2007;46(76):131-41.
38. Braga D. Acidente de trabalho com material biológico em trabalhadores da equipe de
enfermagem do Centro de Pesquisas Hospital Evandro Chagas. [dissertação]. Rio de
Janeiro (RJ): Escola Nacional de Saúde Pública; 2000.
39. Waldvogel BC. A população trabalhadora paulista e os acidentes do trabalho fatais.
São Paulo Perspect. 2003;17(2):42-53.
40. Soboll LAP, Bernardino E, Silva SM, Felli VEA. Evidências de desgaste do
trabalhador de enfermagem relacionadas à organização do trabalho. Mundo Saúde.
2004;28(2):181-7.
41. Silva VEF, Massarollo MCKB. A qualidade de vida e a saúde do trabalhador de
enfermagem. Mundo Saúde. 1998;22(5):283-6.
42. Laurenti R, Silveira MH. Causas múltiplas de morte. Rev Saúde Pública. 1972;
6(1):97-102.
43. Rodrigues CE, Lazo J, Lima MA. Variações circadianas diárias nos óbitos de um
hospital geral. Rev Bras Enferm. 1997;50(3):339-44.
44. Bohomol E, Ramos LH. Erros de medicação: causas e fatores desencadeantes sob a
ótica da equipe de enfermagem. Acta Paul Enferm. 2003;16(2):41-8.
45. Gomes FP. Curso de estatística experimental. 14a ed. Piracicaba (SP): ESALQ; 2000.
46. Vilar Esteves M J. Fatores do processo de assistência médico-hospitalar que causam o
incremento da permanência do paciente no hospital [tese]. São Paulo (SP):
Universidade de São Paulo; 1999.
Anexos
51
51
14 ANEXOS
ANEXO – I INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
SEGUNDO VARIAVEIS
1 Número de quedas do leito
Ano Nº. de quedas
01/1999 a 12/1999 (6 horas)
01/2000 a 12/2000 (6 horas)
01/2001 a 12/2001 (6 horas)
01/2002 a 12/2002 (6 horas)
01/2003 a 12/2003 (12 horas)
01/2004 a 12/2004 (12 horas)
01/2005 a 12/2005 (12 horas)
01/2006 a 12/2006 (12 horas)
2 Taxa de infecção hospitalar nos respectivos períodos
Ano Taxa de infecção hospitalar (%)
01/1999 a 12/1999 (6 horas)
01/2000 a 12/2000 (6 horas)
01/2001 a 12/2001 (6 horas)
01/2002 a 12/2002 (12 horas)
01/2003 a 12/2003 (12 horas)
01/2004 a 12/2004 (12 horas)
01/2005 a 12/2005 (12 horas)
01/2006 a 12/2006 (12 horas)
Anexos
52
52
3 Número de funcionários da enfermagem e da instituição/leito nos respectivos períodos
Ano Enfermagem (enfermeiro,
auxiliar de enfermagem e
técnico de enfermagem)
Instituição
(Todos)
01/1999 a 12/1999 (6 horas)
01/2000 a 12/2000 (6 horas)
01/2001 a 12/2001 (6 horas)
01/2002 a 12/2002 (6 horas)
01/2003 a 12/2003 (12 horas)
01/2004 a 12/2004 (12 horas)
01/2005 a 12/2005 (12 horas)
01/2006 a 12/2006 (12 horas)
4 Indicadores hospitalares (Taxa de ocupação, Média de Permanência e Número de Leitos)
Ano Taxa de
Ocupação (%)
Média de
permanência
Nº de leitos
01/1999 a 12/1999 (6 horas)
01/2000 a 12/2000 (6 horas)
01/2001 a 12/2001 (6 horas)
01/2002 a 12/2002 (6 horas)
01/2003 a 12/2003 (12 horas)
01/2004 a 12/2004 (12 horas)
01/2005 a 12/2005 (12 horas)
01/2006 a 12/2006 (12 horas)
Anexos
53
53
5 Acidentes de trabalho total da instituição x acidentes de trabalho da enfermagem
Ano Nº. acidentes de trabalho
total
Nº. de acidentes de
trabalho da
enfermagem
01/1999 a 12/1999 (6 horas)
01/2000 a 12/2000 (6 horas)
01/2001 a 12/2001 (6 horas)
01/2002 a 12/2002 (6 horas)
01/2003 a 12/2003 (12 horas)
01/2004 a 12/2004 (12 horas)
01/2005 a 12/2005 (12 horas)
01/2006 a 12/2006 (12 horas)
6 Acidentes de Percurso da enfermagem
Ano Nº. de Acidentes de percurso
01/1999 a 12/1999 (6 horas)
01/2000 a 12/2000 (6 horas)
01/2001 a 12/2001 (6 horas)
01/2002 a 12/2002 (6 horas)
01/2003 a 12/2003 (12 horas)
01/2004 a 12/2004 (12 horas)
01/2005 a 12/2005 (12 horas)
01/2006 a 12/2006 (12 horas)
Anexos
54
54
7 – Número de Óbitos no hospital
Ano Nº. de Óbitos
01/1999 a 12/1999 (6 horas)
01/2000 a 12/2000 (6 horas)
01/2001 a 12/2001 (6 horas)
01/2002 a 12/2002 (6 horas)
01/2003 a 12/2003 (12 horas)
01/2004 a 12/2004 (12 horas)
01/2005 a 12/2005 (12 horas)
01/2006 a 12/2006 (12 horas)
Anexos
55
55
ANEXO – II PLANILHA EXCEL COM OS DADOS COLETADOS
ano n leitos tx ocup media perm n quedas
n afast
tot
n acid
perc
n ac
trab
n
obitos
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
ano taxa Inf n ac trab enf
n func/leito
enf
n
func/leito
total
n func
hos
n func
enf
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Anexos
56
56
ANEXO III AUTORIZAÇÃO DO CEP