trabalhar, acusando o modelo de não ser aula de verdade (essa é a percepção do gestor sobre o
que pensam esses indivíduos. Isso não foi verificado diretamente com alunos e professores). Uma
explicação poderia sugerir que professores associam o e-learning com a massificação do ensino,
fruto do preconceito que carregam de modelos de EAD antigos (os "famosos" cursos de segunda
linha por correspondência que eram vendidos nas revistas semanais encontradas nas bancas de
jornais). Além do mais, existe o forte discurso atual da mídia e dentro dos orgãos do governo de
que há a necessidade de democratizar o ensino, dando acesso a todos à educação. E uma forma
de fazer isso é via educação a distância, usando e-learning, ou seja, em modelos que usam NTIC's.
Esse discurso da mídia, e também presente no ambiente acadêmico, parece fazer com que a escola
tradicional de ensino também tenha que criar seus modelos de EAD e e-learning, caso contrário, se
não o fizerem, vão no futuro "pegar o bonde andando", o que pode lhe trazer uma desvantagem
competitiva. Essa falta de clareza ainda sobre porque uma escola realmente precisa implementar o
e-learning (não há consenso nas pesquisas empíricas que comprovem ou não uma maior (ou
menor) efetividade do uso do e-learning em relacão ao presencial. O que há são uma série de
estudos que indicam não haver diferenças entre eles - ver Russel (1999)). Dessa forma, a decisão
pelo e-learning parece não estar clara para, principalmente, professores e alunos (e também
organização), devido a um preconceito (e uma percepção) de que o e-learning não possui a mesma
efetividade do modelo presencial. Esse preconceito aparece sempre que se tenta implementar
modelos de e-learning em uma escola tradicional (ensino presencial). E parece ser ainda mais forte
em escolas em que tradicionalmente oferecem um ensino percebido como de excelência. Isso
sugere uma proposição que posso explora mais a frente:
P: Quanto mais elitista a escola (no sentido da qualidade de seu ensino) maior é o
preconceito em relação ao e-learning, o que dificulta o processo de implementação,
pois a incongruência é alta
Esse preconceito, pode funcionar como uma barreira ao processo de implementação, retardando a
difusão da inovação na organização. Entretanto, a medida que o modelo vai sendo percebido como
eficaz, mais usuários passam a utiliza-lo, reduzindo o preconceito anterior e, consequentemente, o
ceticismo. Posso relacionar isso com as citações que falam que experiências positivas funcionam
como elemento minimizador do ceticismo e do preconceito (na falta de termo melhor). Entretanto,
o que devo ainda explorar, é que nos estágios iníciais, esse preconceito pode gerar resistência
por parte dos usuários, principalmente professores. Esses códigos me permitem análisar sobre o
inicio do processo de implementação, no sentido de inferir que nessa fase o gestor precisa lidar
com diversas situações que, ao meu ver, estão relacionadas aos aspectos culturais da organização,
pois a introdução de tecnologia no processo de ensino-aprendizagem mexe com valores e crenças.
A questão que preciso explorar é o significado dessas mudanças e o significado dessa tecnologia
para os envolvidos. Esse ponto parece ser muito importante e preciso ir mais a fundo nessa
análise.
Outros aspectos que tornam esse processo algo duro e doloroso é a posição do gestor em relação
a entrar em algo desconhecido. O desconhecimento do processo me leva a perguntar quais as
questões estão envolvidas, o que deve ser feito. Isso torna a gestão ainda mais difícil de ser
conduzida. Basta lembrar de meus primeiros dias nos EUA. Um bom exemplo foi a lembrança de
minha tentativa de enviar minha primeira carta no correio. O total desconhecimento do processo
(de lá) foi algo que me causou bastante descontentamento e lembro, 20 anos depois, como algo
bastante duro (por incrível que pareça, foi exatamente isso que ocorreu). Mesmo sabendo como
enviar uma carta, posso fazer uma metáfora com o professor: sei ensinar no presencial, então, sei
também ensinar online. Mas quanto tem sua primeira experiência como professor em um ambiente
virtual, percebe que os seus conhecimentos como professor não se adequam exatamente ao
processo de ensino-aprendizagem em um ambiente virtual. Exatamente como foi quando fui enviar
a carta: sabia exatamente o que tinha que fazer, mas quando precisei fazer não foi tão simples
assim. Mas uma vez aprendido um processo, que a principio eu achava que conhecia, as tentativas
seguintes foram mais simples. Essa metáfora é somente para ilustrar que o gestor, no processo de
implementar algo desconhecido, em que desconhece quais variáveis e dimensões estão envolvidas,
parece sentir, principalmente a fase inicial, como algo bastante difícil e complexo, que gera dúvidas
e incertezas. Nessa etapa, posso identificar diversas situações que eu codifiquei como obscuridade.
Obscuridade: São situações que eu identifiquei nos dados sendo as reações dos envolvidos. São
citações relacionadas à dúvidas quanto ao modelo, o que fazer diante das demandas para
implementá-lo. São citações que indicam que os envolvidos, principalmente gestores e professores,
não possuem certeza sobre o que esperar de aspectos como tipo de pedagogia, tipo de tecnologia,
quais os novos processos envolvidos, tipos de recursos, custos, qualidade e etc. Essas incerteza