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DENIS RAFAEL PEDROSO
REVISÃO DA TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO
DO GÊNERO TRECHONA C. L. KOCH, 1850
(ARACHNIDA: ARANEAE: DIPLURIDAE)
Dissertação apresentada à
Universidade Federal de Viçosa
como parte das exigências do
Programa de Pós-graduação em
Biologia Animal, para obtenção do
título de Magister Scientiae.
VIÇOSA
MINAS GERAIS - BRASIL
2009
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Ficha catalografica preparada pela
Se~ao
de
Cataloga~aoe
Classifica~ao
da Biblioteca Central da UFV
P342r
2009
Pedroso, Denis Rafael, 1976-
Revisao de taxonomia e distribui9ao do genero
Trechona C. L. Kock, 1850 ( Arachnida: Araneae:
Dipluridae) / Denis Rafael Pedroso. - Vi90sa, MG, 2009.
xi, 99f.: il. (algumas col.) ; 29cm.
Orientador: Paulo Sergio Fiuza Ferreira.
Disserta9ao (mestrado) - Universidade Federal de Vi90sa.
Referencias bibliognificas: f. 76-80.
1.Mygalomorphae. 2. Aranha - Distribui9ao geognifica -
Mata Atlantica. 3. Aranha - Classifica9ao. 4. Tr6picos. 1.
Universidade Federal de Vi90sa. II.Titulo.
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i
DENIS RAFAEL PEDROSO
REVISÃO DA TAXONOMIA E DISTRIBUIÇÃO
DO GÊNERO TRECHONA C. L. KOCH, 1850
(ARACHNIDA: ARANEAE: DIPLURIDAE)
Dissertação apresentada à
Universidade Federal de Viçosa
como parte das exigências do
Programa de Pós-graduação em
Biologia Animal, para obtenção do
título de Magister Scientiae.
APROVADA: 20 de março de 2009.
___________________________ ____________________________
Prof. Dr. Renner Luiz C. Baptista Prof. Dr. Jorge A. D. dos Santos
(co-orientador) (co-orientador)
___________________________ ____________________________
Prof. Dr. Rogério Bertani Prof. Dr. Abel Pérez González
___________________________
Prof. Dr. Paulo Sérgio Fiúza Ferreira
(orientador)
ii
O presente trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Aracnologia do Museu
Nacional do Rio de Janeiro, sob orientação do Dr. Adriano Brilhante Kury,
Departamento de Invertebrados, Museu Nacional; Laboratório de Diversidade de
Aracnídeos, sob orientação do Dr. Renner Luiz Cerqueira Baptista, do Instituto de
Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Universidade Federal de Viçosa,
sob a orientação dos Drs. Paulo Sérgio Fiúza Ferreira e Jorge Abdala Dergam dos
Santos.
iii
A uma taça feita de um crânio humano
"Não recues! De mim não foi-se o espírito...
Em mim verás - pobre caveira fria –
Único crânio que, ao invés dos vivos,
Só derrama alegria.
Vivi! Amei! Bebi qual tu: na morte
Arrancaram da terra os ossos meus.
Não me insultes! Empina-me!... que a larva
Tem beijos mais sombrios do que os teus.
Mais val guardar o sumo da parreira
Do que ao verme do chão ser pasto vil;
- Taça - levar dos Deuses a bebida,
Que o pasto do reptil.
Que este vaso, onde o espírito brilhava,
Vá nos outros o espírito acender.
Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro
...Podeis de vinho o encher!
Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça,
Quando tu e os teus fordes nos fossos,
Pode do abraço te livrar da terra,
E ébria folgando profanar teus ossos.
E por que não? Se no correr da vida
Tanto mal, tanta dor aí repousa?
É bom fugindo à podridão do lodo
Servir na morte enfim p'ra alguma coisa!... "
Lorde Byron (Tradução: Castro Alves).
iv
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a minha Família, que sempre me incentivou, confiando e
acreditando em tudo que fiz.
À Fundação de Amparo a pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) pela
bolsa concedida.
Ao meu orientador Paulo Sérgio Fiúza Ferreira, por ter me aceitado como seu
aluno e pela confiança depositada no decorrer desta dissertação.
Ao co-orientador e amigo Adriano Brilhante Kury (Adrik), pelo ótimo convívio
no laboratório nos últimos oito anos, pelos ensinamentos e ética profissional.
Ao co-orientador e amigo Renner Luiz Cerqueira Baptista (Renninho), por ser
meu mentor científico desde minha graduação, nos ensinamentos da araneologia e,
principalmente, pela enorme ajuda no fechamento desta dissertação.
Ao co-orientador Prof. Jorge Abdala Dergam dos Santos, pelos ótimos
conselhos nas infinitas burocracias no decorrer do curso.
Ao Prof. Evaldo Vilela, por ter dedicado parte do seu tempo para resolver
problemas relacionados ao meu ingresso no curso.
Ao Adnilson Antônio Brasileiro, secretário do programa de pós-graduação em
Biologia Animal da UFV, pelos enormes favores, paciência e...
À Anete (secretaria da pós-graduação do Museu Nacional), pela paciência nas
minhas cobranças de documentos enviados ao Programa de Pós-graduação em Biologia
Animal da UFV.
Aos pesquisadores que me enviaram material biológico, seja por empréstimo ou
doação: Dr. Antônio Domingos Brescovit (IBSP); Dr. Arno Lise (PUC-RS); Dr.
Ricardo Pinto da Rocha (MZSP) e Dr. Glauco Machado (USP).
Ao Dr. Rogério Bertani (IBSP), por se mostrar sempre prestativo nos meus
vários pedidos de bibliografia, material biológico, fotos de espécimes e ilustrações de
obras raras.
À Jose Pedro Prezotto Neto e Flávio Yamamoto, pelas fotos enviadas.
Ao Rafael Indicati, pelas fotos enviadas e por ter me alertado sobre uma espécie
não descrita na coleção do IBSP. Obrigado mesmo!
Ao amigo Eduardo Gomes Vasconcelos (Guma), pela excelente viagem ao
estado de Santa Catarina, porém não tão produtiva como deveria, devido ás chuvas e
festas comemorativas da cerveja no mês de outubro na cidade de Blumenau.
v
Ao meu grande amigo-irmão Alessandro Ponce de Leão Giupponi (Sucrilhos),
pelo apoio constante e pela grande amizade construída nos últimos 15 anos.
À amiga Amanda Cruz Mendes, pela ajuda na confecção de alguns “slides” da
minha apresentação.
À super-amiga protetora Simone de Sousa Mesquita (Simonilda), por puxar
sempre minha orelha nos momentos certos e pela orientação na minha caminhada de
vida. Obrigado “cricrimone’’.
À minha querida prima Renata Swoboda dos Santos Pedroso, por arrumar um
cantinho na sua humilde residência, no meu período de coleta na cidade de
Florianópolis e pelas excelentes festas promovidas.
À amiga Simone Freitas, pela enorme ajuda no período de inscrição, perdendo
seu tempo correndo com papelada necessária para meu ingresso de seleção no
programa. Amarrrrrrrrrrrelo obrigadooooo!!!
Aos amigos de Viçosa Roberto Dantas e Marcelo Maia, pelo espaço de moradia
compartilhado em meu período de moradia na cidade e pelo ótimo convívio nos bares
regados de cerveja (essa parte só ao Roberto).
Aos amigos do Laboratório de Aracnologia do Museu Nacional: Thiago da Silva
Moreira (Menudo); Eduardo Henrique Wienskoski (Skull); Cláudio Pires Ferreira
(Jason); Cristiano Sampaio (Cowboy); Thaís Rossini e Victor Dill Orrico.
Ao amigo de laboratório Amazonas Chagas Junior (Amazing), pelos ótimos
comentários, sugestões e ajuda na confecção desta dissertação.
Ao amigo Abel Pérez Gonzalez, pelas dicas e boa vontade no decorrer deste
trabalho.
Às amigas, Sabrina Pinheiro de Almeida e Sílvia Menezes Santos, por me
ceder por muitas vezes sua casa para meu descanso.
À Blanche Dreher Rodrigues (Blan), por me ajudar nas traduções de alguns
artigos e cuidar da minha Frida. Blan, obrigado!!!
À amiga Fernanda Philippsen (Fefa), pelo apoio, paciência e carinho nos
momentos em que estava perdido, que, mesmo à distância, se fez presente. A vida é
sempre cheia de surpresas de onde menos esperamos. Obrigado, Fefita, por ser essa
surpresa!!!
vi
SUMÁRIO
RESUMO ________________________________________________________viii
ABSTRACT ______________________________________________________ix
1. INTRODUÇÃO _________________________________________________ 1
1.1. OBJETIVOS __________________________________________________ 7
2. HISTÓRICO ___________________________________________________ 8
3. MATERIAIS E MÉTODOS _______________________________________ 14
3.1. Levantamento bibliográfico ______________________________________ 14
3.2. Material examinado ____________________________________________ 14
3.3. Conservação do material ________________________________________ 15
3.4. Descrições ____________________________________________________ 15
3.5. Medidas ______________________________________________________ 16
3.6. Dissecção ____________________________________________________ 16
3.7. Ilustrações e fotografias _________________________________________ 17
3.8. Distribuição geográfica e localidades ______________________________ 18
3.9. Atos nomenclaturais ____________________________________________ 18
4. RESULTADOS _________________________________________________ 19
4.1. Chave para os gêneros brasileiros de Dipluridae ______________________ 19
4.2. Gênero Trechona C. L. Koch, 1850 ________________________________ 20
4.3. Chave para as espécies de Trechona _______________________________ 24
4.4. Lista de espécies _______________________________________________ 26
4.5. Descrição das espécies de Trechona ________________________________ 27
4.5.a. Trechona rufa Vellard, 1924 ____________________________________ 27
4.5.b. Trechona uniformis Mello-Leitão, 1935 ___________________________ 35
4.5.c. Trechona venosa (Latreille, 1832) ________________________________ 42
4.5.d. Trechona sp. nova 1___________________________________________ 50
vii
4.5.e. Trechona sp. nova 2___________________________________________ 54
4.5.d. Trechona sp. nova 3___________________________________________ 58
4.6. Registros adicionais de Trechona __________________________________ 63
5. DISCUSSÃO ___________________________________________________ 65
5.1. Caracteres taxonômicos genéricos e específicos ______________________ 65
5.2. Espécies excluídas do gênero _____________________________________ 66
5.3. Mudanças de status taxonômico __________________________________ 69
5.4. Fundamentação de nova espécie ___________________________________ 71
5.5. Distribuição geográfica do gênero _________________________________ 73
6. CONCLUSÕES _________________________________________________ 74
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _______________________________ 76
8. FIGURAS _____________________________________________________ 81
viii
RESUMO
PEDROSO, Denis Rafael, M. Sc. Universidade Federal de Viçosa. Março de 2009.
Revisão da Taxonomia e Distribuição do Gênero Trechona C. L. Koch, 1850
(Arachnida: Araneae: Dipluridae) Orientador: Paulo Sérgio Fiúza Ferreira. Co-
orientadores: Renner Luiz Cerqueira Baptista, Adriano Brilhante Kury e Jorge
Abdala Dergam dos Santos.
Trechona C. L. Koch, 1850 é um gênero neotropical de Mygalomorphae, composto por
aranhas de grande tamanho (até cinco centímetros de corpo). Suas espécies têm uma lira
bem desenvolvida no lado interno da maxila dos pedipalpos. A lira é composta por um
grande número de cerdas rígidas, clavadas ou não, de diferentes tamanhos, arranjadas
em várias séries. A maioria dos diplurídeos não tem lira. O único outro diplurídeo
lirado, Diplura C. L. Koch, 1850, apresenta um máximo de 26 cerdas, dispostas em uma
única série na maxila. Além disso, Trechona, geralmente, tem fiandeiras relativamente
curtas, quando comparadas às de outros diplurídeos. Essas aranhas têm o corpo
acastanhado a enegrecido, geralmente com um padrão zebrado no abdome, formado por
faixas transversais claras. Elas vivem em longos túneis cavados em barrancos ou sobre
troncos e pedras no solo da floresta. Embora sejam aranhas comuns na Mata Atlântica,
espécimes de Trechona não são facilmente coletados, devido ao seu hábito fossorial e
ao árduo trabalho necessário para removê-las de seus túneis. Até o início desta
dissertação, Trechona incluía seis espécies e uma subespécie, e sua distribuição
abrangia Brasil, Guianas e Colômbia. Como resultado deste estudo, a composição e a
distribuição do gênero foram bastante alteradas. T. lycosiformis (C. L. Koch, 1842) foi
transferida para Theraphosidae incertae sedis, formando a nova combinação
Avicularia lycosiformis. A única espécie colombiana, T. sericata Karsch, 1879, foi
transferida para Linothele Karsch, 1879. T. adspersa Bertkau, 1880, do estado do Rio de
Janeiro, foi transferida para Nemesiidae e representa uma das espécies de um gênero
não descrito do Sudeste do Brasil. As únicas espécies que permanecem em Trechona
ix
são restritas à Mata Atlântica do Brasil, já que os registros de T. venosa (Latreille, 1832)
para a Amazônia e as Guianas são, claramente, baseados em identificações errôneas. T.
venosa, a espécie-tipo do gênero, ocorre do município do Rio de Janeiro até o centro-
norte do Espírito Santo. T. rogenhoferi (Ausserer, 1871) é um nomen dubium, baseado
em um jovem não identificável. T. venosa rufa Vellard, 1924 é elevada ao nível de
espécie. T. uniformis Mello-Leitão, 1935 é uma espécie que ocorre no litoral leste do
estado de São Paulo (sem localidade específica na descrição original), sul de Minas
Gerais, e, provavelmente, sudoeste do estado do Rio de Janeiro. Ela pertence a um
grupo distinto, com um bulbo muito longo e uma espermateca também muito alongada,
sem ramo lateral e cabeça da espermateca delimitada. Três espécies inéditas foram
encontradas: Trechona sp. 1 - apenas fêmeas, do estado de Santa Catarina; Trechona sp.
2 - somente um macho, do Parque Nacional do Caparaó, Minas Gerais; e Trechona sp. 3
– um macho e um jovem, de Cotia e Santo André, ambas as localidades no estado de
São Paulo. Uma chave para a identificação das espécies é incluída.
x
ABSTRACT
PEDROSO, Denis Rafael, M. Sc. Universidade Federal de Viçosa. March, 2009.
Taxonomic revision and distribution of the genus Trechona C. L. Koch, 1850
(Arachnida: Araneae: Dipluridae). Advisor: Paulo Sérgio Fiúza Ferreira. Co-
advisors: Renner Luiz Cerqueira Baptista, Adriano Brilhante Kury and Jorge
Abdala Dergam dos Santos.
Trechona C. L. Koch, 1850 is a Neotropical genus of Mygalomorphae, formed by large
spiders (body size up to 5 cm). Its species have a well-developed lyra at the internal side
of the maxilla of the pedipalps. The lyra is composed by a large number of rigid setae of
different sizes, clubbed or not, arranged in several rows. Most diplurid have no lyra at
all. The only other lyrate diplurid, Diplura C. L. Koch, 1850, bear only up to 26 clavate
setae, arranged in one row on the maxilla. Besides, Trechona usually has relatively short
spinnerets compared to the long ones of other diplurids. These spiders have a brownish
to blackish body, usually with a zebrate pattern of light, transverse stripes on the
abdomen. They live in long burrows on ravines and under logs or stones at the forest
soil. Though common spiders on Atlantic Forest, Trechona specimens are not easily
collected, due to their burrowing habits and the arduous effort needed to take them out
of their burrows. Up to the beginning of this dissertation, six species and one subspecies
are included on Trechona, and its distribution area included Brazil, Guyanas and
Colombia. As result of this revision, the genus composition and distribution were
deeply changed. T. lycosiformis (C. L. Koch, 1842) was transferred to Theraphosidae
incertae sedis, under the new combination “Avicularia lycosiformis. The only
Colombian species, T. sericata Karsch, 1879, was transferred to Linothele Karsch,
1879. T. adspersa Bertkau, 1880, from Rio de Janeiro state, was transferred to
Nemesiidae and respresents one of the species of an undescribed genus from
Southeastern Brazil. The only species remaining in Trechona are restricted to the
Atlantic Forest of Brazil, as the Amazonian and Guyanan records for T. venosa
(Latreille, 1832) are clearly misidentifications. T. venosa is the type species of the genus
xi
and occurs from Rio de Janeiro city to central-north Espírito Santo state. T. rogenhoferi
(Ausserer, 1871) is a nomen dubium, based on an unidentifiable juvenile. T. rufa
Vellard, 1924 is raised to species rank. T. uniformis Mello-Leitão, 1935 is a valid
species, found in the eastern coast of São Paulo (no specific locality cited in the original
description), southern Minas Gerais, and, probably, southwestern Rio de Janeiro states.
It belongs to a separate group of species, with a very long bulb and a very elongate
spermatheca, without lateral lobe and a clear fundus. Three undescribed species were
found: Trechona sp. 1 - only females, from Santa Catarina state; Trechona sp. 2 – only a
male, from Caparaó National Park, Minas Gerais state; and Trechona sp. 3 – a male and
a juvenile, from Cotia and Santo André, both in São Paulo state. A key for species
identification is included.
1
1-INTRODUÇÃO
A ordem Araneae é um dos grupos mais diversos entre os animais,
compreendendo cerca de 41.000 espécies. As 109 famílias existentes são distribuídas
em três grandes grupos monofiléticos: Mesothelae, Mygalomorphae e Araneomorphae,
sendo que este último inclui mais de 90% das espécies descritas (CODDINGTON &
LEVI, 1991; PLATNICK, 2009).
Dentre as famílias de Mygalomorphae (as populares caranguejeiras),
Dipluridae Simon, 1889 é a quinta maior em número de espécies, contendo 24 gêneros e
172 espécies (PLATNICK, 2009). As espécies dessa família distribuem-se por todo o
mundo, com exceção da Antártica, mas são encontradas principalmente nas regiões
Australásica e Neotropical. Os diplurídeos são aranhas de hábitos noturnos, que
geralmente cavam e fazem suas tocas em barrancos, algumas construindo teias em
forma de lençol, como Linothele Karsch, 1879 e Ischnothele Ausserer, 1875, ou
revestindo com seda somente a entrada da toca, como Trechona C. L. Koch, 1850. Os
registros fósseis mais antigos para essa família são do período Cretáceo, para a região
da Chapada do Araripe, Crato, Ceará, Brasil (SELDEN et al, 2006).
Os diplurídeos são facilmente reconhecidos por terem as quelíceras paralelas
ao eixo do corpo (quelícera ortognata ou paraxial), com poucas cerdas cobrindo o corpo
e, principalmente, pelo par posterior de fiandeiras geralmente muito alongado. No
Brasil, são encontrados cinco gêneros pertencentes a esta família: Diplura, Ischnothele,
Linothele, Masteria C. L. Koch, 1873 e Trechona. O gênero Trechona está alocado na
subfamília Diplurinae, composta ainda por mais dois gêneros: Diplura e Linothele. Esta
subfamília difere de todos os outros diplurídeos pelos seguintes caracteres: duas fileiras
de dentes nas garras pareadas; garras não pareadas longas, curvadas e nuas; maxila com
cúspulas e extensa sérrula; tarsos das pernas dos machos pseudo-articulados; tarso IV
das fêmeas, ao menos, com a cutícula apresentando rachaduras ventralmente; fórmula
2
das pernas 4-1-2-3; cômoro ocular cerca de duas vezes mais largo do que longo; tarsos
dos palpos dos machos curtos, inerme, com dois lobos similares; e uma fileira de dentes
nos sulcos quelicerais (RAVEN, 1985).
O monofiletismo de Dipluridae é sustentado por três caracteres (RAVEN, 1985,
ver cladograma, Fig. 1): 1- fiandeiras laterais posteriores muito alongadas, mas com
uma redução secundária (reversão) em Microhexura Crosby & Bishop, 1925 e,
possivelmente, também em Masteriinae. 2- fiandeiras laterais posteriores separadas por
mais de três vezes o seu diâmetro. 3- área cefálica (caput) deprimida associada a uma
região torácica elevada (com paralelismos em Miginae, Pseudonemesia Caporiacco,
1955 e, talvez, em alguns Barychelidae).
Segundo RAVEN (1985), uma série de grupos monofiléticos dentro de Dipluridae
é imediatamente evidenciada por caracteres apomórficos compartilhados exclusivos.
Diplurinae e Ischnothelinae são considerados grupos-irmãos, devido à presença de
tarsos pseudo-articulados nos machos (caráter 9), tíbia I dos machos com esporão distal
(caráter 10) e órgão tarsal com porção central elevada (caráter 11). Diplurinae inclui os
diplurídeos com garras pares denteadas biserialmente (caráter 12), tarsos pseudo-
articulados em ambos os sexos, e não somente nos machos (caráter 13), garras ímpares
múticas (caráter 14) e cerdas escopulares presentes nos tarsos das pernas das fêmeas
(caráter 15). Ischnotelinae apresenta um dos lobos cimbiais singularmente alongado nos
machos (caráter 19), artículo distal das fiandeiras laterais posteriores pseudo-articulado
(caráter 18), duas filas de dentes no sulco da quelícera (caráter 20) e tricobótrios com
bótrios em forma de lua crescente (caráter 21). O único outro grupo com representantes
brasileiros, Masteriinae, possui sérrula formando um pente curvo proeminente (caráter
5), olhos medianos anteriores reduzidos ou ausentes (caráter 6), dentes da garra ímpar
dispostos sobre um processo comum elevado (caráter 7) e olhos dispostos em grupo
arredondado e compacto (caráter 8).
3
Figura 1. Cladograma mostrando as inter-relações entre
os gêneros de Dipluridae, (segundo Raven, 1985).
Dentro de Diplurinae, Diplura e Trechona possuem uma lira estridulatória similar
na maxila (caráter 17, notado primeiramente por BLACKWALL, 1867), formada por
uma ou mais séries de cerdas rígidas, clavadas ou não. Uma lira análoga ocorre apenas
em Theraphosoidina (Theraphosidae e famílias afins, um grupo distante de Dipluridae).
Assim, a presença de lira é considerada uma sinapomorfia para esses dois gêneros de
Diplurinae.
RAVEN ainda argumenta que algumas espécies de Linothele e Trechona
compartilham a presença de escópula tarsal bem desenvolvida (caráter 15). Em algumas
espécies de Linothele, os pêlos da escópula são pequenos e intercalados com numerosas
cerdas ao longo do comprimento do tarso. Em Diplura, e na maioria das espécies de
Linothele, as escópulas são rudimentares, mas sempre evidentes, ao menos nos tarsos I e
II. As escópulas tarsais de Trechona são muito densas, o que levou a que algumas
espécies de Acanthogonatus Karsch, 1880 (Nemesiidae), também com densas
escópulas, fossem, erroneamente, incluídas em Trechona. A lira é uma sinapomorfia
4
inequívoca, mas a escópula das pernas é um caráter muito homoplástico, ocorrendo em
diferentes grupos de Mygalomorphae. A hipótese de que as escópulas tenham se
desenvolvido independentemente é preferível, pois a consistência deste caráter é menor.
Assim, Diplura e Trechona são considerados como grupos-irmãos.
O gênero Trechona inclui aranhas de grande porte, podendo chegar a cinco
centímetros de corpo (PEDROSO & BAPTISTA, 2004). O gênero pode ser reconhecido
pela presença de uma lira muito bem desenvolvida na face interna da maxila dos
pedipalpos. Em Trechona, esse tipo de aparelho estridulatório é formado por um grande
número de cerdas rígidas clavadas ou simples (50 ou mais), reunidas em uma grande
placa escura, em contraste com outros diplurídeos, que não possuem lira ou apresentam
apenas uma lira com algumas cerdas isoladas (até 12 cerdas, segundo RAVEN, 1985).
Os adultos são de coloração acastanhada a negra, apresentando geralmente faixas claras
transversais (padrão zebrado), de coloração avermelhada ou rosada no animal vivo,
sobre o dorso e as laterais do abdome (PEDROSO & BAPTISTA, 2004).
Essas aranhas são encontradiças, em sua maioria, dentro de túneis cavados em
barrancos ou embaixo de troncos e pedras, geralmente com a entrada camuflada por
galhos e folhas. Pode existir um véu de seda recobrindo a entrada do túnel, mas não há
teia-lençol. Os machos, quando sexualmente maduros, são errantes, ao contrário das
fêmeas adultas, que permanecem em suas tocas (PEDROSO & BAPTISTA, 2004). O
comportamento predatório de Trechona difere dos demais gêneros de Dipluridae do
Brasil, já que essas aranhas não fazem teia para a captura de suas presas (invertebrados
e pequenos vertebrados). Elas ficam à espreita na toca durante a noite e realizam rápidos
ataques diretos sobre presas que se aproximam (R. BAPTISTA, com. pessoal).
Quanto ao comportamento parental, a presença de filhotes na toca, juntamente
com a mãe, foi observada por mim e por R. Baptista (com. pessoal) em vários
espécimes de Trechona venosa. Também foram encontradas ootecas, as quais são
5
revestidas por uma camada espessa de seda, formando um saco branco flexível. Em uma
das tocas, a ooteca foi retirada e a com um total de 174 ovos contados.
No Brasil, VITAL BRAZIL & VELLARD (1925) e VELLARD (1936)
fizeram alguns estudos com a peçonha de Trechona venosa (Latreille, 1832),
demonstrando experimentalmente a forte atividade tóxica de seus componentes. Em
contraposição, LUCAS et al (1994) relataram que apenas alguns poucos casos de
picadas de Trechona venosa” foram registrados em seres humanos e considerados sem
gravidade. No entanto, um estudo sobre a toxicidade dos componentes da peçonha de T.
venosa vem sendo desenvolvido atualmente no Instituto Vital Brazil, utilizando
camundongos como cobaias. A análise da peçonha de nove indivíduos de T. venosa,
provenientes da Serra dos Órgãos, Rio de Janeiro, verificou que a peçonha dessa espécie
possui ação neurotóxica tão potente quanto a do tão conhecido escorpião-amarelo,
Tityus serrulatus Lutz & Mello, 1922 (C. M. V. SOUZA, com. pessoal). Esses dados
corroboram os estudos originais feitos por VITAL BRAZIL E VELLARD (1925),
também realizados com espécimes do Rio de Janeiro. É provável que os dados
epidemiológicos de LUCAS et al. (1994) refiram-se a T. rufa, pois os casos analisados
ocorreram no estado de São Paulo.
Embora sejam aranhas comuns na Mata Atlântica, elas não são bem
representadas em coleções. Este fato deve-se principalmente aos seus hábitos fossoriais,
que requerem técnicas de coleta específicas para a extração dos animais de seus longos
túneis.
A ausência de uma revisão taxonômica do gênero Trechona acarreta sérias
dificuldades na identificação das espécies desse gênero, pois a maioria das espécies foi
descrita inadequadamente, com ilustrações e informações insuficientes para o seu
reconhecimento. Além disso, a distribuição registrada para algumas espécies parece ser
incongruente com o padrão geral para o gênero, havendo necessidade de estudos que
6
possibilitem uma melhor determinação da distribuição geográfica de cada espécie. O
reconhecimento das espécies deste importante gênero de aranhas caranguejeiras
somente poderá ser feito com segurança se houver uma revisão taxonômica do gênero,
seguindo os padrões atuais em taxonomia de aranhas, incluindo ilustrações adequadas
da genitália e de outros caracteres diagnósticos e levando em conta a variação existente
em cada táxon.
7
1.1-OBJETIVOS
Revisar e redescrever todas as espécies do gênero Trechona.
Definir os limites do gênero.
Descrever as possíveis espécies identificadas como inéditas.
Propor um conjunto de caracteres morfológicos para a determinação
segura das espécies.
Confeccionar chaves de identificação para a nível genérico e espécifico.
Confeccionar mapas e determinar a área de distribuição de cada espécie
estudada, levando em conta os exemplares depositados nas principais
coleções brasileiras e as citações confiáveis na literatura.
Avaliar a validade dos caracteres e definir os novos caracteres.
Sugerir, sem propor formalmente, as alterações nomenclaturais
decorrentes das conclusões aqui obtidas, dentro de uma classificação
revisada do gênero.
8
2-HISTÓRICO
A primeira citação na literatura de um representante de Trechona foi a descrição
por LATREILLE, em 1832, de Mygale venosa, baseado em uma fêmea do Brasil,
dentro da Família Mygalidae Sundevall, 1833 (= Theraphosidae Thorell, 1870). Sem
conhecimento do trabalho anterior de Latreille, WALCKENAER (1835) descreveu
Mygale zebrata para o Brasil, baseado em uma fêmea doada por Alexandre Lefèbvre.
Na continuação do mesmo trabalho, mas em uma sessão da Sociedade Entomológica da
França realizada posteriormente (2-Setembro-1835) à sessão em que o trabalho original
foi apresentado (5-Agosto-1835), Walckenaer sinonimizou sua espécie com a de
Latreille. Ambas as comunicações de Walckenaer foram publicadas no mesmo volume
do “Annales de la Societé Entomologique de France”.
Em 1837, WALCKENAER, erroneamente, alterou o nome de sua espécie para
Mygale zebra e listou-a, sem explicação, em primeiro lugar, incluindo M. venosa como
sinônimo. C. L. KOCH (1842) examinou o tipo e redescreveu M. zebra Walckenaer,
1835, tendo seguido Walckenaer em relação à grafia errônea da espécie deste autor e à
validade dessa espécie, em vez de M. venosa.
Em 1850, C. L. KOCH propôs uma subdivisão de Mygale Latreille, 1802 em sete
subgêneros, dentre os quais o novo subgênero Trechona. Neste subgênero, ele
relacionou seis espécies, incluindo Mygale zebrata, citada como Trechona zebra (sic!),
e uma espécie por ele anteriormente descrita, Mygale lycosiformis C. L. Koch, 1842,
baseada em uma fêmea procedente do Brasil. Estas duas espécies eram as únicas ainda
pertencentes a Trechona no início desta dissertação, tendo as outras quatro espécies sido
transferidas para as famílias Theraphosidae e Nemesiidae por autores diversos.
Em seu trabalho capital de revisão das caranguejeiras (1871), AUSSERER
elevou o subgênero Trechona à categoria de gênero, juntamente com a maioria dos
9
outros subgêneros de Mygale. Ele também alterou a composição do gênero, excluindo a
maioria das espécies, exceto T. venosa e T. lycosiformis (esta última mantida com
dúvida em Trechona). Ele também sugeriu que a espécie Mygale conformis C. L. Koch,
1839 pudesse pertencer a esse gênero (incluindo a expressão “Trechona?” após a
citação da espécie). Assim, T. venosa foi, implicitamente, considerada por ele como tipo
do gênero, pois era a única espécie incluída com segurança em Trechona. Ausserer
também identificou, erroneamente, dois machos do Chile como T. venosa e descreveu-
os como os primeiros machos conhecidos dessa espécie. Ele ainda descreveu Diplura
rogenhoferi, baseado em uma “fêmea” do Brasil, que possui um corpo de 19 mm e
fiandeiras tão longas quanto o abdome, segundo a descrição. Essa espécie está,
atualmente, alocada em Trechona.
Em 1879, KARSCH afirmou que a redescrição de Trechona por Ausserer foi
baseada somente nos dois machos do Chile erroneamente identificados, e não sobre
exemplares legítimos do gênero. Alguns dos caracteres citados por Ausserer (ex. a
proporção do comprimento / largura do esterno e a escópula tarsal) não concordavam
com os exemplares de Trechona do Museu de Berlim (três fêmeas secas de Trechona
venosa do Brasil, provavelmente as mesmas estudadas anteriormente por Koch)
examinados por Karsch. Ele ainda descreveu Trechona sericata, baseado em uma fêmea
da Colômbia.
Em 1880, BERTKAU descreveu Trechona adspersa, com base em um macho de
Teresópolis, estado do Rio de Janeiro. Ele menciona na descrição o pequeno tamanho
do macho (10 mm), o padrão aleatório de manchas e a ausência de garras nos tarsos das
pernas I-III, além de fornecer uma ilustração adequada do palpo.
A subfamília Diplurinae foi criada em 1889 por SIMON, em sua quarta memória
sobre as aranhas da Venezuela, dentro da Família Aviculariidae Simon, 1874 (=
Theraphosidae). Todavia, somente no primeiro tomo de sua obra magna “Histoire
10
Naturelle des Araignées” (1892), SIMON analisou em detalhes a composição e as
características de Diplurinae. A descrição de Trechona fornecida no início do livro de
Simon refere-se aos espécimes chilenos de Acanthogonatus, erroneamente identificados
como Trechona por AUSSERER (1871). Devido a essa discrepância, SIMON
descreveu, nesse mesmo trabalho, o novo gênero Eudiplura. A espécie-tipo desse
gênero é Diplura rogenhoferi, à qual ele atribuiu um macho proveniente do Brasil,
pertencente ao Museu de Paris. Simon separou Eudiplura de Trechona “sensu” Ausserer
por possuir garra ímpar pequena, mas visível, e pelos olhos médios anteriores maiores
que os laterais anteriores.
POCOCK (1896) publicou um trabalho pequeno sobre a presença do “órgão de
Wood Mason” (lira estridulante e pente) em Trechona venosa. Ele reconheceu que a
primeira descrição da lira para essa espécie foi feita por BLACKWALL (1867), o qual
considerou, erroneamente, que a lira ajudava na mastigação. Pocock também tratou,
como holótipo de Mygale zebra, um exemplar fêmea, seco e alfinetado, rotulado pelo
próprio Walckenaer, que, então, achava-se presente no Museu Britânico. F. PICKARD-
CAMBRIDGE, também em 1896, reconheceu o valor da lira como caráter taxonômico
em Dipluridae e fez uma descrição detalhada de sua forma e posição em T. venosa. No
mesmo ano (1896), SIMON identificou alguns jovens do Chile como T. venosa,
provavelmente confundido pela identificação errônea da espécie por Ausserer. O
mesmo F. PICKARD-CAMBRIDGE foi também o primeiro a tratar Dipluridae como
uma família (1897).
No segundo tomo de seu livro “Histoire Naturelle des Araignées” (1903),
SIMON corrigiu a descrição fornecida no primeiro tomo, que era baseada em Trechona
“sensu” Ausserer. Ele transcreveu a descrição real do gênero feita por F. PICKARD-
CAMBRIDGE (1896). Simon, então, passou a diferenciar Eudiplura de Trechona pela
presença naquele gênero de fiandeiras apenas um pouco mais curtas que o abdome, com
11
o artículo apical mais longo que os anteriores, e pela presença de apenas 7-9 cerdas
clavadas na maxila.
Em sua lista de gêneros de aranhas e suas espécies-tipos (1902), F. PICKARD-
CAMBRIDGE, erroneamente, considerou que Mygale zebra (= M. venosa) não poderia
ser a espécie-tipo de Trechona, pois ela havia sido indicada como espécie-tipo de
Pezionyx Simon, 1864 (um nome supérfluo proposto em substituição a Onysopelma
Simon, 1864). Ele, então, propôs Mygale lycosiformis como espécie-tipo de Trechona.
Contudo, o gênero Onysopelma já havia sido sinonimizado com Trechona por
AUSSERER (1871). A indicação de T. venosa como espécie-tipo de Trechona já havia
sido feita, implicitamente, por Ausserer, no trabalho citado anteriormente, e,
explicitamente, por SIMON (1903).
MELLO-LEITÃO (1923) fez uma redescrição da fêmea de T. venosa, e citou
uma ampla distribuição para essa espécie, indo das Guianas ao sul do Brasil. Entretanto,
ele não indicou nenhuma referência para justificar tão ampla distribuição. Ademais, ele
citou somente dois espécimes em seu trabalho: a fêmea usada para a redescrição,
proveniente de Petrópolis, estado do Rio de Janeiro, e uma segunda fêmea, de São
Paulo, estado de São Paulo. Em 1924, VELLARD também fez uma redescrição da
fêmea de T. venosa, baseado em várias fêmeas do Rio de Janeiro e Niterói, ambas
localidades do estado do Rio de Janeiro. Ele descreveu um macho por ele atribuído a T.
venosa, proveniente de Fortaleza de Minas, estado de Minas Gerais. Ele também
descreveu uma nova subespécie, T. venosa rufa, baseada em uma fêmea de Cubatão e
em duas fêmeas de localidades desconhecidas, todas no estado de São Paulo.
Em 1927, FISCHEL publicou um trabalho sobre migalomorfas da América do
Sul, em especial da região de Maracay e Caracas, Venezuela. Nesse trabalho, ele
descreveu um macho, identificado erroneamente por ele como Eudiplura rogenhoferi.
12
MELLO-LEITÃO & ARLÉ (1934) descreveram as mudanças ontogenéticas na
lira dos três primeiros instares de T. venosa. Eles mostraram que o lado interno da coxa
do pedipalpo em aranhas do primeiro ínstar não possui cerdas clavadas e que o número
de cerdas rígidas aumenta do segundo para o terceiro ínstar de 5-10 cerdas para 15 ou
mais. O mesmo MELLO-LEITÃO (1935) descreveu mais uma espécie para o gênero,
Trechona uniformis, baseado em um macho do estado de São Paulo, sem localidade
precisa.
Em 1957, BÜCHERL fez pequenos comentários e publicou desenhos dos palpos
de machos identificados por ele como Trechona adspersa, T. uniformis, T. venosa e T.
venosa rufa, mas não indicou a procedência dos espécimes utilizados em seu trabalho.
Em seu trabalho revisionário sobre Mygalomorphae, RAVEN (1985) fez uma
curta discussão sobre Trechona. Ele considerou que os espécimes chilenos atribuídos a
T. venosa provavelmente pertencem a Acanthogonatus subcalpeianus (Nicolet, 1849),
um gênero de Nemesiidae. Segundo GOLOBOFF (1995), Raven identificou
erroneamente essa espécie, tratando-se, realmente, de A. campanae (Legendre &
Calderón, 1984), a qual possui faixas transversais claras no abdome, assim como
Trechona. No mesmo trabalho, Raven também examinou o holótipo de Diplura
rogenhoferi Ausserer, 1871. Ele ainda localizou e ilustrou o macho do Museu de Paris
que Simon utilizou para a descrição do gênero Eudiplura e identificou como Eudiplura
rogenhoferi. Raven mostrou que ambos os espécimes possuem a típica lira de Trechona,
sinonimizando, portanto, os dois gêneros e transferindo a espécie de Ausserer para este
último gênero.
PEDROSO & BAPTISTA (2004) redescreveram Trechona venosa, designando
um neótipo, e restringiram sua distribuição para a Floresta Atlântica, entre os estados do
Rio de Janeiro e Espírito Santo. Nesse trabalho, eles alertaram para a possibilidade de
que a subespécie Trechona venosa rufa Vellard, 1924 constituísse uma espécie válida.
13
PEDROSO, BAPTISTA & FIÚZA (2008) alteraram substancialmente a
composição e a distribuição do gênero Trechona. Esse trabalho é parte dos resultados
desta dissertação. As modificações publicadas serão discutidas nas seções Resultados e
Discussão. É importante lembrar que esses resultados já foram incorporados ao catálogo
de PLATNICK (2009, v. 9.5).
No início desta dissertação, o gênero Trechona apresentava seis espécies e
uma subespécie, todas da região Neotropical, segundo a versão da época do catálogo
eletrônico de PLATNICK (2007, v. 8.0). Essas espécies são relacionadas abaixo,
seguidas da distribuição citada para os países da América do Sul.
1. T. adspersa Bertkau, 1880._________________________ Brasil.
2. T. lycosiformis (C. L. Koch, 1842).___________________ Brasil, Guiana.
3. T. rogenhoferi (Ausserer, 1871)._____________________ Brasil.
4. T. sericata Karsch, 1879.___________________________Colômbia.
5. T. uniformis Mello-Leitão, 1935._____________________Brasil.
6. T. venosa (Latreille, 1832)._________________________ Brasil.
T. venosa rufa Vellard, 1924 _______________________ Brasil.
A composição do gênero Trechona segundo PEDROSO, BAPTISTA &
FERREIRA (2008) e a última versão do catálogo eletrônico de PLATNICK (2009, v.
9.5), é listada abaixo.
1. T. rufa Vellard, 1924 _____________________________ Brasil.
2. T. uniformis Mello-Leitão, 1935 ____________________ Brasil.
3. T. venosa (Latreille, 1832) ________________________ Brasil.
4. T. rogenhoferi (Ausserer, 1871) ? nomen dubium_____ Brasil.
14
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1. Levantamento bibliográfico
O levantamento bibliográfico foi realizado, principalmente, através dos
catálogos taxonômicos que compilam a literatura sobre aranhas: ROEWER (1942-1944,
1955), BONNET (1945-1961), BRIGNOLI (1983) e PLATNICK (1989, 1993, 1998).
Além desses, foi examinada a publicação “online” The World Spider Catalog, Version
9.5, compilada por PLATNICK (2009).
3.2. Material Examinado
Para este estudo, foram reunidos e examinados 166 espécimes pertencentes a
126 lotes, incluindo 45 machos, 81 fêmeas e 40 jovens e subadultos. A maior parte
desse material pertence à coleção do Instituto Butantan, São Paulo. Os lotes foram
listados logo após o histórico de cada espécie, em ordem alfabética, e dispostos em dois
níveis hierárquicos: país e estado.
Seguem abaixo as instituições de depósito do material examinado e suas
respectivas abreviaturas:
IBSP - Instituto Butantan. São Paulo, Brasil.
MNRJ - Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro, Brasil.
MZSP - Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. São Paulo, Brasil.
Foram feitos pedidos de empréstimos de exemplares a outras instituições
brasileiras, como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Fundação
Zoobotânica do Rio Grande do Sul, Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre e
Museu Paraense Emilio Goeldi, porém estas não possuíam material representante do
gênero Trechona em suas coleções.
15
Foram realizadas, por mim e outros membros do Laboratório de Aracnologia
do Museu Nacional, várias expedições aracnológicas, por diversos locais do Brasil,
incluindo localidades dos estados de Roraima, Amazonas, Tocantins, Bahia, Mato
grosso, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul. Dentre esses, somente foram coletados exemplares de Trechona em
Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina.
3.3. Conservação do Material
O material está, via de regra, acondicionado em recipientes de vidro de
tamanhos variados, e conservado em álcool a 75 %. Boa parte dos lotes do IBSP está
acondicionada em sacos plásticos. Todos os exemplares ficam guardados em baldes
abrigados da luz solar. O material em empréstimo fica acondicionado da mesma
maneira que o da coleção, mas em baldes separados do restante, com identificação
adequada.
3.4. Descrição
O formato das descrições desta dissertação segue a literatura taxonômica
corrente Mygalomorphae, por exemplo, BERTANI (2001), COYLE (1995), PEDROSO
& BAPTISTA (2004) e PEDROSO, BAPTISTA & FERREIRA (2008).
A coloração dos espécimes refere-se, geralmente, a exemplares conservados
em álcool etílico a 70 % e 75 % (dependendo da instituição de origem), já que não foi
possível a manutenção de exemplares vivos da maioria das espécies para a descrição da
cor. Contudo, a coloração do animal vivo nas espécies observadas era semelhante à de
espécimes que ainda não haviam permanecido muito tempo em álcool, somente
apresentando cores mais vivas. Algumas fotos foram incluídas no final desta
dissertação.
16
Os caracteres presentes na maioria das espécies do gênero são citados apenas
na descrição genérica, não sendo repetidos nas descrições específicas. Apenas as
exceções são citadas sob cada espécie.
Algumas estruturas das genitálias das fêmeas não possuíam nomes específicos
claramente determinados na literatura em português. São usados aqui os nomes “cabeça
da espermateca” para o espessamento (dilatação) da extremidade distal da espermateca
(“fundus” em inglês) e “ramo lateral da espermateca” para um ramo (lóbulo) que surge
pouco antes da extremidade distal.
3.5. Medidas
As medidas foram obtidas em um estéreo-microscópio Wild Heerbrugg M8,
com ocular micrométrica acoplada. As medidas são apresentadas em precisão de até
metade de um milímetro. O comprimento do cefalotórax foi medido na linha mediana
do corpo, indo da margem posterior até a extremidade da carapaça. O comprimento total
foi medido da margem anterior dorsal das quelíceras até a base do tubérculo anal. Cada
artículo do palpo e da perna I foi medido no sentido longitudinal, da parte basal até a
distal.
O número de exemplares medidos é fornecido entre parênteses, ex: ‘(n = x)’.
A média das medidas é dada antes dos parênteses que indicam a variação encontrada
dentro da espécie. Ex: ‘x (y-z)’.
3.6. Dissecção
As espermatecas foram retiradas delicadamente do ventre do abdome na região
do sulco epigástrico, com a ajuda de uma delgada pinça entomológica e com uma
lâmina de corte fino. Inicialmente, as espermatecas eram limpas e clarificadas em uma
solução contendo meio comprimido efervescente de uma enzima proteolítica (Prolase
17
300) e 3 ml de água destilada durante 24 horas. Contudo, esse processo acarretava, às
vezes, deformação da cabeça da espermateca, devido ao colapso das paredes, ou mesmo
da espermateca inteira, alterando bastante o aspecto da estrutura. Posteriormente, as
genitálias femininas passaram a ser clarificadas com óleo de cravo. Após esse processo,
as espermatecas foram montadas com gel de glicerina em uma lâmina escavada para a
confecção dos desenhos. O palpo esquerdo dos machos foi retirado e, posteriormente,
montados em placa de Petri, imersos em álcool etílico a 75 % com fundo de areia ou em
álcool hidratado, para a confecção dos desenhos.
3.7. Ilustrações e Fotografias
Os rascunhos dos desenhos foram feitos com lapiseira 0,3 mm, em Lupa Wild
Heerbrugg M8 com câmara clara acoplada. Os desenhos originais (com a arte final)
foram feitos a partir dos rascunhos, através de uma mesa de luz. Os desenhos feitos a
lápis foram sombreados, utilizando lápis HB, 2B, 4B e 6B, e contornados com lapiseira
0,3 mm ou caneta nanquim 0,1 mm. As ilustrações das genitálias das fêmeas foram
feitas em papel vegetal, com caneta nanquim 0,1 mm, através de pontilhados. Depois de
prontos, os desenhos foram digitalizados com diversos tipos de “scanner” e ajustados no
Adobe Photoshop 7.0. As pranchas foram organizadas com CorelDRAW 12.0.
As fotografias foram feitas com máquinas digitais de diversas marcas, como
Nikon Coolpix 5000 e Canon, utilizando várias magnificações e iluminação externa. Os
originais foram retrabalhados e tratados com o auxílio do software Adobe Photoshop
7.0. As pranchas foram organizadas com CorelDRAW 12.0. As barras das escalas
representam 1 milímetro.
18
3.8. Distribuição geográfica e procedências
Todas as informações referentes à distribuição geográfica das espécies foram
retiradas das etiquetas de procedência do material examinado ou da respectiva
descrição. Quando necessário, foram adicionadas informações complementares, como
município a que pertence a localidade. Apenas os registros da literatura acompanhados
de ilustrações suficientes para a identificação precisa da espécie foram incorporados à
distribuição.
As coordenadas foram inicialmente obtidas da base de dados dos municípios
brasileiros, versão 1998, do IBGE (distribuída no sítio da instituição
http://www.ibge.br) e suplementadas por fontes diversas da INTERNET, especialmente
o sítio “Global Gazeteer, v. 2.1”, disponível em http://www.fallingrain.com/world). Os
mapas foram confeccionados em CorelDRAW 12.0.
3.9. Atos nomenclaturais
De acordo com o International Code of Zoological Nomenclature, 4
a
edição
(ICZN, 1999), os atos nomenclaturais apresentados em uma dissertação não são válidos
por esta não constituir uma publicação. Do mesmo modo, a designação de “tipos” e
“localidades-tipo” só será válida de fato quando da publicação efetiva do nome.
19
4. RESULTADOS
4.1. Chave para os gêneros brasileiros de Dipluridae
A chave aqui apresentada pode ser usada tanto para machos, quanto para fêmeas,
e foi modificada a partir de RAVEN, 1985.
1. Aranhas muito pequenas (menos de 5 mm de corpo). Olhos médios anteriores
muito pequenos ou ausentes (Vivem no folhiço de matas) ________________ Masteria
Aranhas pequenas a grandes (mais de 10 mm de corpo). Olhos médios
anteriores normais (Vivem sob pedras, troncos caídos, dentro de tocas ou em teias-
lençol) _______________________________________________________________ 2
2. Lira presente na face interna das maxilas ____________________________ 3
Lira ausente ___________________________________________________ 4
3. Lira formada por 50 ou mais cerdas estridulatórias rígidas, dispostas em várias
séries de cerdas de tamanhos variáveis, formando uma grande placa na face interna da
maxila dos pedipalpos. Fiandeiras alcançando, no máximo, 1/2 do comprimento do
abdome nas fêmeas e pouco mais de 2/3 nos machos. Fóvea torácica claramente
recurva. Adultos grandes (no mínimo, fêmeas com 35 mm e machos com 23 mm de
corpo), com abdome apresentando um padrão zebrado de faixas transversais claras
(Vivem em túneis, sem teias-lençol, na Mata Atlântica do Sudeste e Sul do Brasil)
______________________________________________________________ Trechona
Lira formada por um número menor de cerdas rígidas (até 26 cerdas),
dispostas em uma única série, sem cerdas adicionais. Fiandeiras relativamente maiores,
geralmente ultrapassando o comprimento do abdome, mas um pouco menor do que este
em algumas espécies. Fóvea torácica reta. Adultos de tamanho médio a grande (fêmeas
até 25 mm de corpo, machos até 20), de colorido variável (Vivem em teias-lençol ou
apenas tubular de revestimento, sob troncos ou rochas em mata ou cerrado)___ Diplura
20
4. Fiandeiras laterais posteriores pseudo-articuladas, com artículo distal muito
longo. Uma fileira de dentes nas garras pares dos tarsos das pernas. Adultos pequenos
(no máximo, 15 mm de corpo) (Teia irregular, com muitos túneis em barrancos ou no
solo de áreas secas) ____________________________________________ Ischnothele
Fiandeiras laterais posteriores não pseudo-articuladas e com artículo distal não
muito desenvolvido. Adultos de tamanho mediano a grande (até 30 mm de corpo)
(Vivem em teias-lençol, geralmente em barrancos de matas) _____________ Linothele
4.2. Gênero Trechona C. L. Koch, 1850
Mygale Lamarck, 1802 (partim)
Onysopelma Simon, 1864, p. 68; Ausserer, 1871, p. 197 (Sin. com Trechona)
Pezionyx Simon, 1864, pp. 530, 538 (nome supérfluo para Onysopelma)
Eudiplura Simon, 1892: Raven, 1985: 75 (Sin. com Trechona)
ESPÉCIE-TIPO: Mygale venosa Latreille, 1832.
DIAGNOSE: difere de Diplura pela grande quantidade de cerdas rígidas,
clavadas ou não, que compõe a lira (acima de 50 cerdas, de tamanhos variáveis),
distribuídas em várias séries, por apresentar escópula nos tarsos I e II densa e não
dividida e pela fóvea recurva (e não reta). Difere de Linothele por possuir lira. Também
apresenta fiandeiras relativamente pequenas (no máximo, metade do comprimento do
abdome nas fêmeas e pouco mais de dois terços nos machos) em relação aos dois outros
gêneros de Diplurinae.
DESCRIÇÃO: Morfologia do gênero muito uniforme, ver detalhes na
descrição das espécies abaixo. A descrição de algumas estruturas comuns a todas as
espécies estudadas é fornecida a seguir.
21
Carapaça (Fig. 19) ovalada, um pouco mais comprida do que larga, com região
ocular mais estreita. Cômoro ocular cerca de duas vezes mais largo do que longo. Olhos
posteriores medianos cerca de duas vezes menores que os outros olhos. Fóvea torácica
em forma de arco recurvo. Clípeo estreito. Esterno tão largo quanto longo, com sigilas
marginais pequenas e ovais. Lábio grande, com comprimento de cerca de dois terços da
largura, sem ou com até três cúspulas.
Abdome, cilíndrico, alongado, com padrão zebrado de cinco a sete faixas
transversais claras, de cor bege a avermelhada, às vezes pouco marcadas nos machos.
Faixas transversais diminuindo de comprimento e espessura em direção à extremidade
posterior do abdome. Fiandeiras longas, alcançando de menos de 1/4 a pouco menos da
metade do comprimento do abdome nas fêmeas e pouco mais de 2/3 nos machos.
Artículos das fiandeiras de comprimento semelhante entre si, mas com artículo distal
mais longo nos machos. Abdome revestido de abundantes pêlos simples.
Quelíceras grandes, ortognatas, variando de negras a castanho-claras. Pelos de
revestimento abundantes, exceto em faixa glabra longitudinal ao longo da margem
externa da face dorsal. Cerdas eretas recobrindo a maior parte da face dorsal, exceto
pela faixa glabra. Margem interna do sulco da garra da quelícera com 13 a 19 dentes,
segundo a espécie. Margem ventral da face externa das quelíceras com cerca de 6 a 9
cerdas espiniformes espaçadas, situadas junto à base do apêndice, formando o pente
(parte do aparelho estridulante).
Palpos com faixas glabras presentes no sentido longitudinal dos artículos. Coxa
(ou maxila) mais longa que larga, com lóbulo maxilar geralmente curto e grosso.
Cúspulas presentes, em número variável (15 a 60 segundo a espécie), na região anterior
interna da face ventral da coxa do palpo. Lira formada por um número grande de cerdas
rígidas castanho-escuras a negras, ocupando cerca de 2/3 do comprimento da face
interna da coxa (maxila). Geralmente, existe uma primeira série (ou fileira) com mais de
22
20 cerdas maiores, em sua maioria clavadas, a qual é seguida por várias fileiras de
cerdas menores (30 ou mais), a partir do final do seu terço basal. As cerdas da primeira
fileira próximas à base da coxa são relativamente pequenas e com sua extremidade
afilada, aumentando de comprimento e diâmetro e tornando-se clavadas em direção
distal, até pouco após o início das fileiras adicionais de cerdas rígidas, quando começam
a diminuir de tamanho até tornarem-se indistinguíveis das outras cerdas rígidas. A lira
distribui-se longitudinalmente na parte mediana da face interna da coxa, ocupando a
maior parte do comprimento desta. Trocânter sem espinhos. Ventralmente, a região
basal é côncava e glabra, com as cerdas e pêlos dispostos sobre uma protuberância mais
próxima da região distal. Tarso com escópula na extremidade distal. Dorsalmente, com
pêlos de revestimento e várias cerdas eretas bem distribuídas. Entre as cerdas, uma
fileira de tricobótrios no sentido longitudinal. Machos com bulbo inserindo-se na
metade distal da face ventral, conferindo um aspecto bipartido ao tarso, devido à
formação de um lóbulo prolateral em torno da inserção do bulbo. Face retrolateral do
tarso com concavidade mais ou menos marcada, situando-se pouco atrás da inserção do
bulbo.
Pernas alongadas e com vários espinhos nos artículos, exceto nos tarsos.
Abundantes pêlos simples de revestimento, recobrindo todos os artículos das pernas e
palpos. Faixas glabras presentes no sentido longitudinal dos artículos. Coxas sem
espinhos. Ventralmente, com pêlos de revestimento e cerdas eretas. Dorsalmente, as
cerdas estão distribuídas na extremidade distal. Trocânteres sem espinhos. Dorsalmente,
as cerdas estão na extremidade distal. Tíbia I dos machos com uma grande apófise na
margem retrolateral distal. Tarsos pseudo-articulados em ambos os sexos (mais
alongados nos machos), com fileira de tricobótrios situada na linha glabra mediana da
face dorsal. Escópula densa cobrindo a superfície ventral e lateral dos tarsos I-IV e a
metade distal dos metatarsos I-II. Tarsos I-IV dos machos e I e II das fêmeas com a
23
escópula dividida apenas por uma estreita linha glabra, sem pêlos ou cerdas, em sua face
ventral. Tarsos III das fêmeas com escópulas semelhantes às dos tarsos I-II ou divididas
por uma fileira de cerdas espiniformes, de extensão variável. Tarsos IV das fêmeas com
escópulas divididas por uma fileira de cerdas espiniformes, indo da base ao ápice do
artículo. Garras pares dos tarsos das pernas com duas séries de dentes. Garras ímpares
diminutas, mas presentes, sem dentes.
Palpo dos machos com bulbo copulatório simples, apresentando êmbolo longo
e fino. Genitália das fêmeas composta por duas espermatecas, conectadas por um átrio
membranoso comum. Espermatecas relativamente finas, geralmente com a extremidade
distal alargada, formando a cabeça da espermateca (exceto em T. uniformis) e com um
ramo lateral próximo à extremidade distal (ausente em T. uniformis e formada,
geralmente, apenas por uma saliência em T. rufa).
24
4.3. Chave para as espécies de Trechona
Indicações da distribuição registrada para cada espécie são fornecidas após as
características diagnósticas.
MACHOS
1. Bulbo copulatório com êmbolo alongado, atingindo de 55% a 80% do
comprimento da tíbia do palpo. Bulbo propriamente dito relativamente curto e mais
largo que longo (Fig. 15-18 e 38-41) ________________________________________2
Bulbo copulatório com êmbolo relativamente curto, atingindo, no máximo,
a metade do comprimento da tíbia do palpo. Bulbo propriamente dito relativamente
longo e mais longo que largo (Fig. 8-11, 24-27 e 32-35) ________________________3
2. Faixas transversais do abdome contínuas ou quase. Bulbo copulatório com
êmbolo praticamente reto e muito alongado, com cerca de 80% do comprimento da tíbia
do palpo (Fig. 15-18). ____________________________ T. uniformis (SP, MG, RJ?).
.... Faixas transversais muito estreitas e com grande interrupção na área mesal
do abdome. Bulbo com êmbolo sinuoso e não muito alongado, atingindo pouco mais de
55% do comprimento da tíbia do palpo (Fig. 38-41).______ Trechona sp. nova 3 (SP).
3. Comprimento da carapaça atingindo 9 mm. Fiandeiras relativamente longas,
alcançando mais de 2/3 do comprimento do abdome. Lira claramente dividida em duas
partes, com a porção basal formada por cerdas apenas levemente clavadas (Fig. D4).
Bulbo engrossado na área de junção à base do êmbolo, a qual também é espessada (Fig.
32-35) __________________________________________Trechona sp. nova 2 (MG).
Comprimento mínimo da carapaça de 11,5 mm. Fiandeiras curtas, não
alcançando metade do comprimento do abdome. Lira contínua, com a porção basal
formada por cerdas claramente clavadas (Fig. D1, D2, D3 e D5). Bulbo sem
engrossamento na área de junção à base do êmbolo, a qual é relativamente fina (Fig. 8-
11 e 24-27) ____________________________________________________________4
25
4. Corpo castanho. Número máximo de 33 cúspulas na maxila. Protuberância
retrolateral do metatarso I bem marcada, situada a mesma altura ou abaixo da inserção
do espinho ventral (Fig. 6 e 7). Bulbo mais globoso, com uma protuberância interna em
vista frontal (Fig. 10) __________________________________________ T. rufa (SP).
Corpo negro ou castanho escuro. Número mínimo de 40 cúspulas na maxila.
Protuberância retrolateral do metatarso I indistinta e incorporada ao engrossamento
geral dessa área (Fig. 22 e 23). Bulbo com formato piriforme, afinando regularmente em
direção ao êmbolo em vista frontal (Fig. 26) __________________T. venosa (RJ, ES).
FÊMEAS
1. Faixas transversais do abdome largas e praticamente contínuas, no máximo
com uma leve interrupção mesal. Espermateca muito longa, não apresentando
alargamento distal (cabeça), nem ramo lateral (Fig. 12).__ T.uniformis (SP, MG, RJ?).
Faixas transversais do abdome de espessura variável e interrompidas, ou
apenas a primeira praticamente contínua. Espermateca relativamente curta, com
alargamento distal (cabeça) e ramos laterais ou, ao menos, uma pequena saliência (Fig.
5, 21 e 29) ____________________________________________________________ 2
2. Corpo negro ou marrom escuro. Faixas transversais largas e bem
contrastantes, com faixas intercaladas adicionais nas laterais. Número de cúspulas
maxilares variando de 50 a 60. Tarso III com escópula não dividida por cerdas negras na
linha mediana da face ventral (Fig. 20)._______________________ T.venosa (RJ, ES).
Corpo castanho a castanho-alaranjado (Fig. B1 e B2). Faixas transversais de
largura e contraste variáveis, mas sem faixas intercaladas nas laterais. Número de
cúspulas maxilares atingindo, no máximo, 33. Tarso III com escópula dividida por uma
fileira de cerdas negras na linha mediana da face ventral (Fig. 4 e 28) _____________ 3
26
3. Corpo castanho. Faixas transversais relativamente finas e bem contrastantes.
Espermateca com cabeça proporcionalmente maior, sem pedúnculo, e ramo lateral curto
ou vestigial (Fig. 5). ___________________________________________ T. rufa (SP).
Corpo castanho-alaranjado. Faixas transversais relativamente grossas e
pouco contrastantes. Espermateca com cabeça pequena, situada sobre pedúnculo curvo
para dentro, e ramo lateral mais longo que o braço que leva à cabeça e com ápice
voltado para dentro (Fig. 29). _____________________________ Trechona sp. 1 (SC).
4.4. Lista de espécies incluídas em Trechona,
incluindo os resultados desta dissertação
1. Trechona rufa Vellard, 1924.
2. Trechona uniformis Mello-Leitão, 1935.
3. Trechona venosa (Latreille, 1832).
4. Trechona rogenhoferi (Ausserer, 1871)? nomen dubium.
5. Trechona sp. nova 1minuana” (Blumenau e Florianópolis, Santa Catarina).
6. Trechona sp. nova 2renneri” (Caparaó, Minas Gerais).
7. Trechona sp. nova 3cotia” (Cotia e Santo André, São Paulo).
27
4.5. Descrição das espécies de Trechona
4.5.a. Trechona rufa Vellard, 1924 status n.
Fig. 4-11, A3, A4, B2, B4, C1, D1, E1, E3 e E5
Trechona venosa rufa Vellard, 1924: 157.
T. v. r.: Bücherl, 1957: 387.
T. rufa: Pedroso, Baptista & Ferreira, 2008: 360-367 (revalidação).
MATERIAL-TIPO: BRASIL: São Paulo: Cubatão (1 F holótipo,
FIOCRUZ, material perdido); Cubatão. Bandet, Gerard J. col. (1 F neótipo, IBSP 1910
N, examinado).
DIAGNOSE: Pertence ao grupo de espécies de espermateca e êmbolo curtos.
As fêmeas possuem espermateca semelhante a T. venosa e Trechona sp. 1 “minuana”.
Fêmeas e machos apresentam um padrão de cor castanho ou castanho-alaranjado, sem
faixas intercaladas no abdome, e cúspulas maxilares atingindo um máximo de 33,
contrastando com a coloração enegrecida, presença de faixas intercaladas e o número
mínimo de 40 cúspulas em T. venosa. As fêmeas diferenciam-se ainda de T. venosa pela
cabeça da espermateca grande, geralmente ovalada, com o lado externo mais estreito, e,
às vezes, com lóbulos, pelo ramo lateral geralmente curto, restrito a uma saliência
diminuta (raramente mais longo), e por apresentar uma fileira de cerdas negras
dividindo a escópula ventral do tarso III. Pode ser diferenciada de Trechona sp. 1
minuana” por apresentar a cabeça da espermateca proporcionalmente maior, inserindo-
se diretamente no braço, sem pedúnculo, e pelo ramo lateral bem mais curto e,
geralmente, restrito a uma saliência diminuta. Os machos apresentam o bulbo
copulatório mais globoso que o de T. venosa, com a margem retrolateral protuberante,
em vista frontal, próximo à inserção da base do êmbolo, e o metatarso I com
protuberância retrolateral distinta, não engrossado ou, no máximo, com um leve
engrossamento.
28
DESCRIÇÃO: Comprimento total do corpo sem as fiandeiras: Fêmeas (n =
5): 40,5 mm (38,5 mm – 44,0 mm). Machos (n = 5): 31,5 mm (26,0 mm – 36,5 mm).
Comprimento da carapaça: Fêmeas (n = 5): 16,1 mm (14,2 mm – 18,3 mm). Machos (n
= 5): 13,5 mm (11,5 mm – 15,5 mm).
CEFALOTÓRAX: Fêmea: Castanho ou castanho alaranjado, com pêlos de
revestimento acastanhados, cobrindo parcialmente o cefalotórax e com algumas cerdas
negras espalhadas. Margem anterior do clípeo com seis a oito cerdas voltadas para
frente. Porção anterior do cômoro ocular com algumas cerdas eretas. Quelíceras
castanhas ou castanho-avermelhadas, enegrecendo na parte distal. Cerdas negras eretas
na face dorsal. Margem interna do sulco queliceral com uma fileira de quatorze a
dezesseis dentes. Esterno um pouco mais claro que a carapaça, com pêlos de
revestimento cinza e várias cerdas negras eretas, dispostas por toda a superfície. Lábio
da mesma cor da carapaça, tendo sua base um pouco mais escura. Cerdas negras mais
finas que as do esterno e sem pêlos de revestimento. Macho: castanho-avermelhado,
com pêlos de revestimento cinza, cobrindo parcialmente o cefalotórax e com algumas
cerdas negras espalhadas. Margem anterior do clípeo com cinco a oito cerdas voltadas
para frente. Porção anterior do cômoro ocular com algumas cerdas eretas. Quelíceras
como nas fêmeas, mas relativamente menor em largura e comprimento. Margem interna
do sulco queliceral com uma fileira de treze a dezesseis dentes. Esterno bem mais claro
que a carapaça, com pêlos de revestimento cinza e várias cerdas negras eretas, dispostas
por toda a superfície. Relativamente menor que nas fêmeas e mais comprido que largo
Lábio da mesma cor do esterno, tendo sua base um pouco mais escura, e com poucas
cerdas.
ABDOME: Fêmea: Castanho-escuro, com seis faixas bege em “V”,
interrompidas na área mesal, geralmente finas, atravessando o dorso e as laterais.
Fiandeiras com os três artículos basicamente do mesmo tamanho. Macho: Castanho-
29
escuro, um pouco mais forte que nas fêmeas, ou enegrecido, com cerdas negras eretas
distribuídas por todo o abdome. Cinco a seis faixas bege no dorso, semelhantes às das
fêmeas. Fiandeiras relativamente maiores que as das fêmeas, tendo o último artículo um
pouco mais alongado que os outros.
PALPOS: Região anterior das coxas, próxima ao lábio, com 15 a 33 cúspulas
bem marcadas. Fêmea: Basicamente da mesma cor do cefalotórax. Coxa com pêlos de
revestimento e cerdas negras eretas na face ventral, que vão diminuindo de calibre até
chegar a escópula maxilar, que tem a coloração ruiva. Dorsalmente, as cerdas estão
distribuídas na extremidade distal. Lira com porção basal apresentando cerdas com
clava muito desenvolvida e, geralmente, com um filamento alongado após a clava.
Fêmur com quatro espinhos dorsais finos, situados na fileira mesal, e um prolateral na
margem distal. Patela com um ou dois espinhos prolaterodorsais, às vezes nenhum.
Tíbia com dois a quatro espinhos prolaterais e um ou dois retrolaterais, e oito a doze
ventrais, sendo dois (raramente cinco) espinhos no terço basal, dois ou três no terço
mediano e dois pares na margem distal. Tarso escopulado, com um par de espinhos
ventrais, no terço basal. Dorsalmente, com pêlos de revestimento e várias cerdas negras
eretas. Macho: Coxa com lira apresentando cerdas semelhantes às das fêmeas, mas
relativamente mais curta e alta. Fêmur com quatro a seis espinhos dorsais, sendo três a
quatro espinhos mesais, um prolaterodorsal (às vezes, ausente) e um retrolaterodorsal.
Patela sem espinho. Tíbia com dois espinhos prolaterais, situados no terço mediano,
dois retrolaterais, situados no terço mediano, e três a sete ventrais, sendo dois ou três
espinhos basais e um a quatro medianos. Tarso sem espinhos, com cerdas negras.
Concavidade retrolateral pouco marcada e sem cerdas em sua área mais profunda.
Bulbo descrito na parte da genitália masculina. Tíbia cerca de 2,0 x mais longa que o
bulbo (Fig. 8).
30
PERNAS: Comprimento total da perna I: Fêmeas (n = 5): 57,5 mm (54,0 mm
– 62,0 mm). Machos (n = 6): 71,0 mm (65,0 mm – 81,5 mm). Fêmeas: Basicamente da
mesma cor do cefalotórax. Coxas I-IV com pêlos de revestimento acinzentados e cerdas
negras eretas na face ventral. Perna I: Fêmur somente com três a seis espinhos dorsais,
sendo três mesais e um prolaterodorsal, no terço distal Patela sem espinhos. Tíbia com
um ou dois espinhos prolaterais, sendo um no terço basal (quando existente) e um no
terço distal, e com quatro espinhos ventrais, sendo um ímpar no terço basal, um ímpar
no terço mediano e um par na margem distal. Metatarso escopulado, com quatro ou
cinco espinhos ventrais, sendo um ímpar no terço basal, um ou dois ímpares no terço
mediano e um par na margem distal. Perna II: Fêmur somente com três a quatro
espinhos dorsais, sendo dois ou três mesais e um prolaterodorsal. Patela sem espinhos
ou com um pequeno espinho prolateral. Tíbia com dois espinhos prolaterais, sendo um
no terço basal e um no terço distal, e com quatro a cinco espinhos ventrais, sendo um
ímpar no terço basal, um ou dois ímpares no terço mediano e um par na margem distal.
Metatarso escopulado, com um espinho prolateral, no terço basal, e quatro ou cinco
espinhos ventrais, sendo um ímpar no terço basal, um ou dois ímpares no terço mediano
e um par na margem distal. Perna III: Fêmur somente com espinhos dorsais,
distribuídos em três fileiras, sendo dois ou três mesais, dois ou três prolaterodorsais e
dois ou três retrolaterodorsais. Patela sem espinhos, apenas com um espinho prolateral,
ou com um espinho em cada lado. Tíbia com dois espinhos prolaterais, um no terço
basal e outro no terço mediano, dois a três retrolaterais, sendo um ou dois no terço basal
e um no terço mediano, e seis espinhos ventrais, sendo dois ímpares no terço basal, dois
ímpares no terço mediano e um par na margem distal. Metatarso com escópula pouco
marcada, portando quinze a dezoito espinhos distribuídos irregularmente, mas sempre
com cinco distais. Tarso com escópula dividida por uma fileira de cerdas espiniformes,
a qual ocupa a metade distal do artículo (Fig. 4). Perna IV: Fêmur somente com
31
espinhos dorsais, distribuídos em três fileiras, sendo dois a quatro mesais, um ou
nenhum prolaterodorsal e um retrolaterodorsal. Patela sem espinhos. Tíbia com dois
prolaterais, um no terço basal e um no terço mediano, dois a três retrolaterais, um ou
dois no terço basal e um no terço mediano, e seis espinhos ventrais, sendo dois ímpares
no terço basal, dois ímpares no terço mediano e três na margem distal. Metatarso com
escópula pouco marcada, com dezesseis a vinte espinhos distribuídos irregularmente,
tendo sempre cinco distais. Macho: Tarsos longos, com escópulas bem marcadas e
cerdas negras eretas dorsais. Perna I: Fêmur somente com espinhos dorsais, sendo três
a sete mesais, um a quatro prolaterodorsais e um a quatro retrolaterodorsais. Patela sem
espinhos ou com um ou, raramente, dois espinhos prolaterais e um ou nenhum
retrolateral. Tíbia com um ou dois espinhos prolaterais, sendo um no terço basal
(quando existente) e um no terço distal, zero a dois retrolaterais, sendo um no terço
basal e um no terço distal, e com quatro a seis espinhos ventrais, sendo nenhum a dois
ímpares no terço basal, um ou dois ímpares no terço mediano e um par na margem
distal. Apófise retrolateral (Fig. 6 e 7) grande inserida na margem distal, portando um
dos espinhos ventrais, o qual é curto, recurvo e com base muito alargada. Abaixo da
apófise retrolateral, existe, nos machos de Caraguatatuba, uma protuberância mais ou
menos conspícua, de acordo com o espécime. Metatarso alongado e escopulado, com
ou sem um espinho prolateral, situado no terço basal, e quatro espinhos ventrais, sendo
um no terço basal, dois ímpares no terço mediano e um ímpar na margem distal. Região
basal com concavidade pouco marcada e, logo acima, uma protuberância cônica, com o
ápice rombo e mais escuro, situada à mesma altura da inserção do espinho ventral do
terço basal (Fig. 6 e 7). Raramente, existe um engrossamento pequeno, que pode formar
uma protuberância adicional e abarca a base do espinho ventral, de maneira semelhante
a, mas não tão desenvolvida quanto, T. venosa. Perna II: Fêmur somente com espinhos
dorsais, sendo três mesais, três a quatro prolaterodorsais e um a cinco retrolaterodorsais.
32
Patela com um espinho prolateral. Tíbia com um a dois espinhos prolaterais, sendo um
no terço basal e um no terço distal (quando presente), raramente um espinho prolateral,
no terço basal, e com seis ventrais, sendo dois ímpares no terço basal, dois ímpares no
terço mediano e um par na margem distal. Metatarso alongado e escopulado, com um
espinho prolateral, situado no terço basal, e cinco a seis ventrais, sendo um ou dois
ímpares no terço basal, dois ímpares no terço mediano e um par na margem distal.
Perna III: Fêmur somente com espinhos dorsais, sendo três mesais, três a quatro
prolaterodorsais e quatro a cinco retrolaterodorsais. Patela mútica, com um espinho
prolateral e, às vezes, outro retrolateral. Tíbia com nenhum ou, raramente, um espinho
mesal, situado no terço mediano, um ou nenhum espinho retrolaterodorsal, situado no
terço basal, dois prolaterais, sendo um no terço basal e um no terço distal ou mediano,
zero a dois retrolaterais, um no terço basal (quando existente) e outro no terço distal
(quando existente), e seis espinhos ventrais, sendo dois ímpares no terço basal, dois
ímpares no terço mediano e um par na margem distal. Metatarso alongado e com
escópula pouco marcada, com dezoito a vinte e um espinhos distribuídos
irregularmente, mas tendo sempre cinco distais. Perna IV: Fêmur somente com
espinhos dorsais, distribuídos em três fileiras, sendo três a quatro mesais, dois a cinco
prolaterodorsais e quatro a sete retrolaterodorsais. Patela com um ou nenhum espinho
retrolateral. Tíbia com um ou nenhum retrolaterodorsal, situado no terço basal
(raramente existente), dois a três prolaterais, um no terço basal, um no terço mediano
(quando existente), e um no terço distal, e dois a cinco retrolaterais, um a três no terço
basal e um a dois no terço distal (quando existente), e cinco a seis espinhos ventrais,
sendo dois ímpares no terço basal, um ou dois ímpares no terço mediano e um par na
margem distal. Metatarso alongado, com dezenove a vinte e cinco espinhos
distribuídos irregularmente, tendo sempre cinco distais.
33
GENITÁLIA: Macho (Figs. 8-11) com bulbo copulatório propriamente dito
mais longo do que largo, globoso, apresentando a margem retrolateral protuberante, em
vista frontal, próximo à inserção da base do êmbolo, e a margem interna mais truncada,
em visão prolateral, afinando em direção ao êmbolo longo e fino, o qual porta uma
pequena área membranosa em seu ápice. Fêmea normalmente com cabeça da
espermateca grande, ovalada, assimétrica, com o lado externo mais estreito. Às vezes,
cabeça da espermateca com lóbulos, talvez provocados pelo colapso das paredes (Fig.
5). Ramo lateral geralmente curto, restrito a uma saliência diminuta, mas, às vezes, mais
longo, quase do tamanho do braço da espermateca.
OBSERVAÇÕES: Esta espécie era identificada corriqueiramente como
Trechona venosa pelos autores antigos. Contudo, não há nenhuma localidade
confirmada de T. venosa para o estado de São Paulo, contrastando com a abundância de
registros para T. rufa, a qual é restrita ao território paulista. Uma fêmea de Cotia (IBSP
12333) apresenta alguns caracteres discrepantes, com apenas 5-9 cúspulas e uma cabeça
de espermateca muito grande, mas foi mantida em T. rufa, pois seu tamanho, coloração
e forma geral da genitália concordam com essa espécie. O número anormalmente baixo
de cúspulas pode tratar-se de uma teratogenia, pois está fora da variação conhecida para
fêmeas de T. rufa (15 a 28) e Trechona sp. nova 3 “cotia” (33-34).
DISTRIBUIÇÃO (Mapa 2): Conhecida somente do estado de São Paulo
MATERIAL EXAMINADO: BRASIL: sem procedência (1 F IBSP 10804);
São Paulo: sem procedência (1 F IBSP 3696); sem procedência, acidente atendido no
Hospital Vital Brazil. 14.IX.1965. (1 F IBSP 1910 E); Atibaia. XII.2002. (1 F 1 J MNRJ
04175); Atibaia. X-1992. Gerador, R. col. (1 J IBSP 9754); Barragem Passareuna
(localidade não encontrada em mapas). (1 F IBSP 3569); Biritiba-Mirim. 26.IV.2004.
Puorto, G. col. (1 F IBSP 11047); Biritiba-Mirim. I.2005. Goldini, M. A. col. (1 F IBSP
12444); Caraguatatuba. 22.IV.2007. Lab. Herpetologia do Fundão col. (2 M MNRJ s/n);
Cotia. 21.X.2005. Yamamoto, F. U. (1 F IBSP 12333); Cotia, Caucaia do Alto. (1 J
IBSP 3530); Cotia, Caucaia do Alto. X.2005. Yamamoto, F. U. (1 F IBSP 12257);
34
Cotia, Rodovia Raposo Tavares Km 31. (1 M IBSP 3802); Cubatão. Bandet, Gerard J.
col. (1 F, IBSP s/n, ex 1910 N); Cubatão. 2002. Barto, T. col. (1 F, IBSP 12476);
Diadema. 30.VII.1995. Bertani, R. & Palinger, A. F. col. (1 F IBSP 8027); Diadema.
30.VII.1995. Bertani, R. et al. col. (1 F IBSP 10791); Diadema. 24.VII.1995. Tadeu col.
(1 M IBSP 10806); Diadema. 24.VII.1995. Tadeu col. (1 M IBSP 10807); Diadema.
24.VII.1995. Tadeu col. (1 F IBSP 10808); Diadema. 24.VII.1995. Tadeu col. (1 F
IBSP 10809); Diadema. 24.VII.1995. Tadeu col. (1 F IBSP 10810); Diadema.
24.VII.1995. Tadeu col. (1 J IBSP 10811);Embu. 30.V.1989. Catunda, D. col. (1 M
IBSP 10790); Embu-Guaçu. 6.XII.1999. Reis, A. A. col. (1 M IBSP 7964); Entre
Piedade e Tapiraí. 12-22.XII.2006. Recorder, R. & Teixeira Jr., M. col. (1 F IBSP
13258); Guararema. 20.VIII.1979. Ruiz, M. do C. col. (1 M IBSP 1910 L); Ilhabela,
Ilha de São Sebastião. (1 F IBSP 3666); Ilhabela, Ilha de São Sebastião. 1963. Urban
col. (1 J MZSP C3922); Itapecerica da Serra (1 M IBSP 10805); Juquiazinho (Tapiraí,
Trilha do Juquiazinho ou Peruíbe, Praia do Juquiazinho). (1 M imaturo IBSP 1910 H
(ex 4031)); Juquitiba. 9.VII.1979 (1 F IBSP 1910 D); Juquitiba. 22.X.1985. Penisa, H.
col. (1 M jovem IBSP 1910 K); Juquitiba. 18.VIII.1986. Biasi, P. di col. (1 M IBSP
10794); Juquitiba. 26.V.1995. Prefeitura Municipal de Juquitiba col. (1 M IBSP 10795);
Juquitiba. 7.XI.1983. Campos, H. col. (1 J IBSP 10797); Juquitiba, Sítio Recanto Flauta
Doce. 30.VIII.2006. Maitan, J. L. col. (1 M IBSP 13073); Mauá. 27.VIII.1998. Nechar,
E. col. (1 M IBSP 10801); Mauá. 18.IX.2006. Prefeitura Municipal de Mauá col. (1 M
IBSP 12934); Miracatu. 1.IV.1986 (1 F IBSP 1910 F); Miracatu. 5.VI.2000. Yamasol,
M. A. col. (2 F IBSP 8368); Mogi das Cruzes. (1 F IBSP 3349); Mogi das Cruzes.
VIII.1941. Meissner J. col. (1 F MZSP 3154); Mogi das Cruzes. (1 M IBSP 3801);
Peruíbe, Estação Ecológica Juréia-Itatins. III.1997. Bertani, R. col. (1 F IBSP 11575);
Piedade. (1 F IBSP 1910 G); Praia Grande. 17.VI.1949. Dotta, J. col. (1 M 2 F 1 J IBSP
1910 P); Praia Grande. (1 J IBSP 3383 B); Praia Grande, Mongaguá. 16.IV.1961. (3 F 1
J IBSP 1910 O); Ribeirão Grande, Bairro Sumidouro. 1-9.VI.2003. Bernils, R. &
Stender col. (1 M MNRJ 04176); Ribeirão Grande, Parque Estadual de Intervales.
III.2004. Oliveira, F. S. de col. (1 M IBSP 11049); Ribeirão Grande, Parque Estadual de
Intervales. 5.VI.2002. Pecinini,D col. (1 M IBSP 12365); Ribeirão Grande, Parque
Estadual de Intervales. 5.VI.2002. Pecinini,D col. (1 M IBSP 12366); Ribeirão Pires (1
F IBSP 1910 B); Rio Grande da Serra. 5.II.1999. Genova, L. C. col. (1 F IBSP 10800);
Rodovia BR116, Km 46,5. 7.V.1979. Alt, E. (1 F IBSP 11162); Salesópolis, Estação
Ecológica de Boracéia. 13-17.III.2007. Yamamoto, F. U. col. (1 F IBSP 13456);
Salesópolis, Boracéia. 07.IX.1966. Papavero, N. col. (1 M MZSP 5656); Santo André,
35
Estrada de ferro Santos-Jundiaí Km 38. (1 M IBSP 1910 J); Santo André,
Paranapiacaba. (1 M IBSP 3496); Santo André, Paranapiacaba. VI.1980. (1 F IBSP
1910 I); Santo André, Reserva Biológica do Alto da Serra de Paranapiacaba.
14.XII.2003. Indicatti, R. P. col. (1 F IBSP 12367); São Bernardo do Campo.
6.IX.1996. Glasurit do Brasil col. (1 M IBSP 10803); São Bernardo do Campo, Riacho
Grande. 1.IV.1999. Aihara, L. C. col. (1 F IBSP 10799); São Lourenço da Serra.
12.IX.2001. Leme, A. col. (1 M IBSP 9188); São Lourenço da Serra. XII.2005.
Oliveira, R. K. de col. (1 F IBSP 12325); São Paulo. 29.V.1998. Luiz, O. col. (2 M
IBSP 8251); São Paulo. (1 F IBSP 3482); São Paulo. (1 F IBSP 3591); São Paulo. 1920.
Garbe E. col. (1 F MZSP 325); São Paulo, Horto Florestal. (1 F IBSP 2980); São Paulo,
Horto Florestal. (1 M IBSP 2974); São Paulo, Itaquera. 18.VI.1998. Lellis, S. col. (1 M
IBSP 8249); São Paulo, Pico do Jaraguá. 20.V.1971. (1 M IBSP 1910 M); São Paulo,
Represa Guarapiranga. 29.VIII.2002. Santos, V. R. dos col. (1 F IBSP 9865); São
Paulo, Tucuruvi. 4.VII.1986. Controle de Vetores da Prefeitura col. (1 M IBSP 1910 C);
São Roque. 22.II.2005. Wree, M. B. H. col. (1 F IBSP 11096); Serra de Cubatão.
VI.1972. Bandet, Gerard J. col. (5 F 1 J IBSP 1910 Q); Serra de Santos, Meio da Serra.
09. IV. 1956. Portugal & Tremoços col (1 F MZSP 1246); Tapiraí. 6.V.2003. Falcetti,
C. A. col. (1 F IBSP 10158).
4.5.b. Trechona uniformis Mello-Leitão, 1935
Fig. 12-18, A1, A2, B3, C2 e D2; Mapa 2
Trechona uniformis Mello-Leitão, 1935: 355, fig. 1.
T. u.: Bücherl, 1957: 386, fig. 18
MATERIAL-TIPO: BRASIL: São Paulo: sem localidade específica (1 M
Holótipo, IBSP 3443, examinado).
DIAGNOSE: Pertence ao grupo de êmbolo e espermatecas longos.
Diferencia-se das outras espécies conhecidas do gênero pelo bulbo copulatório do
macho com o êmbolo muito alongado, atingindo cerca de 80% do comprimento da tíbia
36
do palpo, e pela espermateca da fêmea muito alongada, sem cabeça delimitada ou ramo
lateral, o que confere uma forma bem diferente à espermateca.
DESCRIÇÃO: Comprimento total do corpo sem as fiandeiras: Fêmeas (n=3):
37,0 mm (34,5 - 39,5 mm). Machos (n=3): 27,9 mm (23,5 mm – 32,4 mm).
Comprimento da carapaça: Fêmea (n=3): 13,0 mm (11,0 - 15,0 mm). Machos (n=4):
12,0 mm (11,0 mm – 12,8 mm).
CEFALOTÓRAX: Fêmea: A descrição abaixo é baseada, principalmente,
em uma fêmea pequena de Rio Preto-MG, que é a única em boas condições de
conservação. Castanho, com abundantes pêlos de revestimento de cor cinza clara,
cobrindo parcialmente o cefalotórax e com algumas cerdas negras espalhadas. Margem
anterior do clípeo com seis cerdas voltadas para frente. Porção anterior do cômoro
ocular com quatro a cinco cerdas eretas. Quelíceras castanho-avermelhadas,
enegrecendo na parte distal. Cerdas negras eretas na face dorsal. Margem interna do
sulco queliceral com uma fileira de quatorze a quinze dentes. Esterno castanho claro,
com pêlos de revestimento cinza e várias cerdas negras eretas, dispostas por toda a
superfície. Lábio castanho claro, clareando em direção anterior. Cerdas negras um
pouco mais finas que as do esterno e sem pêlos de revestimento. Macho: Carapaça
como na fêmea ou um pouco mais escura, com abundantes pêlos de revestimento de cor
cinza clara ou castanha. Quelíceras como nas fêmeas, mas relativamente menor em
largura e comprimento. Margem interna do sulco queliceral com uma fileira de
dezenove dentes. Esterno como nas fêmeas. Lábio como na fêmea, portando poucas
cerdas negras na região anterior.
ABDOME: Fêmea: Castanho escuro a escuro-enegrecido, com pêlos de
revestimento acinzentados. Seis a sete faixas bege em arco, atravessando o dorso e as
laterais, contínuas ou quase contínuas, apenas com uma pequena interrupção mesal nas
faixas anteriores. Segunda faixa alarga-se em direção ao ventre, onde se funde ao campo
37
bege ventral de cada lado. Ventre com uma faixa longitudinal mesal castanha, às vezes
pouco evidente. Fiandeiras com os três artículos de tamanho semelhante. Macho:
Coloração do dorso enegrecida, com pêlos de revestimento castanhos. Seis faixas bege
em arco contínuas, com padrão de disposição semelhante ao das fêmeas. Fiandeiras
relativamente maiores que as das fêmeas, tendo os três artículos basicamente no mesmo
tamanho.
PALPOS: Região anterior das coxas, próxima ao lábio, com 29-34 cúspulas
bem marcadas. Fêmea: Castanho, um pouco mais escuro que a carapaça. Coxa com
lâminas maxilares mais longas e finas que em outras espécies. Ventralmente com pêlos
de revestimento e cerdas negras eretas, que vão diminuindo seu calibre até chegar a
escópula maxilar, que tem a coloração ruiva. Face interna com lira muito alongada e
relativamente estreita, ocupando pouco mais de 3/4 do comprimento do artículo. Cerdas
clavadas de menor comprimento e mais grossas que em outras espécies. Fêmur com
dois espinhos dorsais mesais e um prolateral no terço distal. Patela com um espinho
prolaterodorsal no terço basal. Tíbia com dois ou três espinhos prolaterais, sendo dois
no terço mediano e um no terço distal, quando existente, um retrolateral, mais fino que
os prolaterais, no final do terço mediano, e oito ventrais, sendo um par no terço basal,
outro no terço mediano e dois pares próximo à margem distal. Tarso escopulado, com
um par de espinhos ventrais, no terço basal. Dorsalmente, com pêlos e várias cerdas
negras eretas. Macho: Coxa como nas fêmeas. Face interna com lira alongada e
relativamente larga, ocupando pouco mais de 2/3 do comprimento do artículo. Cerdas
clavadas de comprimento e espessura semelhantes às de outras espécies. Fêmur com
dois a três espinhos dorsais mesais, dois a três prolaterodorsais, sendo o do terço distal
muito maior que todos os outros espinhos do artículo, e três retrolaterodorsais. Patela
sem espinhos. Tíbia com dois (ou, raramente, nenhum) espinhos prolaterais, sendo um
no terço basal e outro no terço mediano, um retrolateral, no terço basal ou mediano, e
38
quatro ou cinco ventrais, sendo um par no terço basal, outro par no terço mediano e um
ímpar no terço distal quando existente. Tarso sem espinhos, com cerdas negras.
Concavidade retrolateral pouco marcada e com apenas algumas poucas cerdas. Bulbo
descrito na parte da genitália masculina. Tíbia cerca de 1,33 x mais longa que o bulbo
(Fig.15).
PERNAS: Comprimento total da perna I. Fêmea (n=1): 42,0 mm (pernas I
quebradas nas fêmeas examinadas de maior porte). Macho (n=4): 53,2 mm (49,5-56,8
mm). Fêmeas: Castanhas, um pouco mais escuras que a carapaça. Coxas I-IV com
pêlos de revestimento acinzentados e cerdas negras eretas. Perna I: Fêmur somente
com quatro espinhos dorsais, sendo três mesais e um prolaterodorsal no terço distal.
Patela com um espinho prolateral no terço distal. Faixas glabras mais largas que as
faixas do fêmur e da tíbia. Tíbia com um ou dois espinhos prolaterais, sendo um no
terço mediano, quando existente, e um no terço distal, e com quatro espinhos ventrais,
sendo um ímpar no terço basal, um ímpar no terço mediano e um par na margem distal.
Metatarso escopulado, com cinco espinhos ventrais, sendo um no terço basal, dois
ímpares no terço mediano e um par na margem distal. Perna II: Fêmur somente com
três espinhos dorsais, sendo dois mesais e um prolaterodorsal no terço distal. Patela
como na perna I. Tíbia com dois espinhos prolaterais, sendo um no terço basal e um no
terço distal, e com quatro espinhos ventrais, sendo um no terço basal, um no terço
mediano e um par na margem distal. Metatarso escopulado, com um espinho prolateral,
no terço basal, e quatro a seis espinhos ventrais, sendo um par ou um ímpar no terço
basal, um par ou um ímpar no terço mediano e um par na margem distal. Perna III:
Fêmur somente com espinhos dorsais, distribuídos em três fileiras, sendo um mesal,
três prolaterodorsais e três ou quatro retrolaterodorsais. Patela como na perna I. Tíbia
com um espinho retrolaterodorsal, situado na margem basal, dois prolaterais, sendo um
no terço basal e um no terço mediano, dois retrolaterais, sendo um no terço basal e um
39
no terço mediano, e seis espinhos ventrais, sendo um par no terço basal, dois ímpares no
terço mediano e um par na margem distal. Metatarso com escópula pouco marcada,
portando quinze a dezesseis espinhos distribuídos irregularmente, mas sempre com
cinco distais. Tarso com escópula dividida por uma fileira de cerdas espiniformes, indo
da base ao ápice do artículo. Perna IV: Fêmur somente com espinhos dorsais,
distribuídos em três fileiras, sendo dois mesal, um prolaterodorsais e um
retrolaterodorsal. Patela sem espinhos. Tíbia com um espinho retrolaterodorsal, na
margem basal, dois prolaterais, um no terço mediano e um no terço distal, dois
retrolaterais, um no terço mediano e um no terço distal, e seis espinhos ventrais, sendo
um par no terço basal, dois ímpares no terço mediano e um par na margem distal.
Metatarso com escópula pouco marcada, com dezesseis a dezessete espinhos
distribuídos irregularmente, tendo sempre cinco distais. Macho: Tarsos longos, com
escópulas bem marcadas. Perna I: Fêmur somente com espinhos dorsais, sendo três ou
quatro mesais, três a cinco prolaterodorsais e quatro a cinco retrolaterodorsais. Patela
com um espinho prolateral no terço distal. Tíbia com dois espinhos prolaterais, sendo
um no terço mediano e um no terço distal, dois retrolaterais, sendo um no terço mediano
e um no terço distal, e com cinco ou seis espinhos ventrais, sendo um par no terço basal,
dois ímpares no terço mediano e um par ou um ímpar na margem distal. Apófise
retrolateral grande, inserida na margem distal, portando um dos espinhos ventrais, o
qual é relativamente longo e recurvo no ápice, com base não muito alargada (Fig. 13 e
14). Metatarso alongado e escopulado, com um espinho prolateral, no terço mediano, e
três a cinco espinhos ventrais, sendo um no terço basal, quando existente, dois ímpares
no terço mediano e um par ou um ímpar na margem distal. Região basal com
concavidade pouco perceptível e, logo acima, uma protuberância cônica, com o ápice
agudo e mais escuro (Fig. 13 e 14), situada acima da inserção do espinho ventral do
terço basal (quando este existe). Perna II: Fêmur somente com três espinhos dorsais,
40
sendo três ou quatro mesais, três ou quatro prolaterodorsais e três ou quatro
retrolaterodorsais. Patela com um espinho prolateral. Tíbia com dois ou três espinhos
prolaterais, sendo um no terço basal e um ou dois no terço distal, um ou nenhum
retrolateral no terço basal, e com seis ou sete espinhos ventrais, sendo um par no terço
basal, dois ímpares no terço mediano e três ou dois na margem distal. Metatarso
alongado e escopulado, com um ou dois espinhos prolaterais, sendo um no terço basal e
um no terço distal, quando existente, seis espinhos ventrais, sendo um par no terço
basal, dois ímpares no terço mediano e um par na margem distal. Perna III: Fêmur
somente com espinhos dorsais, distribuídos em três fileiras, sendo três ou quatro mesais,
quatro prolaterodorsais e três ou quatro retrolaterodorsais. Patela como um espinho
prolateral e um ou nenhum retrolateral. Tíbia com dois a três espinhos dorsais, sendo
um ou dois mesais e um retrolaterodorsal, situado na margem basal, dois prolaterais,
sendo um no terço basal e um no terço mediano, dois retrolaterais, sendo um no terço
basal e um no terço mediano, e seis ou sete espinhos ventrais, sendo um par no terço
basal, dois ímpares no terço mediano e dois ou três na margem distal. Metatarso com
escópula pouco marcada, portando dezessete a dezenove espinhos distribuídos
irregularmente, mas sempre com cinco distais. Perna IV: Fêmur somente com
espinhos dorsais, distribuídos em três fileiras, sendo três a cinco mesais, quatro a cinco
prolaterodorsais e quatro a cinco retrolaterodorsais. Patela com um retrolateral e, às
vezes, um espinho prolateral. Tíbia com um espinho retrolaterodorsal na margem basal,
dois prolaterais, um no terço mediano e um no terço distal, e dois retrolaterais, um no
terço mediano e um no terço distal, e seis espinhos ventrais, sendo um par no terço
basal, dois ímpares no terço mediano e dois ou três na margem distal. Metatarso
alongado, com dezoito a vinte espinhos distribuídos irregularmente, tendo sempre cinco
distais.
41
GENITÁLIA: Macho (Fig. 15-18) com bulbo copulatório propriamente dito
bem mais largo que longo, apresentando uma área deprimida transversal, em visão
prolateral, que divide o bulbo em duas partes, uma basal, contendo a inserção ao tarso, e
outra distal e lateral, contendo a base do êmbolo. Êmbolo muito alongado e inserido
bem lateralmente em relação ao eixo do bulbo. Bulbo e êmbolo somados atingindo
cerca de 80% do comprimento da tíbia do palpo. Êmbolo de formato e trajetória
variável, podendo ser quase retilíneo, apenas com uma leve curva no ápice, ou
apresentando uma forte torção, voltada para dentro, logo após a base. Fêmea com
espermateca muito alongada, em forma de fita, sem cabeça delimitada ou lateral (Fig.
12), apresentando disposição que pode variar mesmo nos dois lados da genitália de um
único espécime.
OBSERVAÇÕES: Os machos de Ibitipoca (MG) e Boracéia (SP) apresentam
o êmbolo com uma torção basal, que confere um aspecto diferenciado ao órgão
copulatório. Contudo, o bulbo propriamente dito é bem semelhante ao do holótipo e ao
do macho de Rio Preto (MG), além de não haver padrão significativo de diferenças em
relação ao número de cúspulas, perna I e tamanho do corpo. Como exemplo das
variações, o macho de Boracéia não possui o espinho ventral próximo a protuberância
retrolateral do metatarso I, enquanto o macho de Ibitipoca, cujo êmbolo é retorcido
como o do espécime anterior, apresenta esse espinho, assim como os machos com o
êmbolo retilíneo. Ademais, as fêmeas de Ubatuba (SP) apresentam a espermateca com
formato semelhante àquela das fêmeas de Rio Preto (MG). Levando em consideração a
distribuição geográfica e a semelhança da maioria dos caracteres entre machos com
esses dois tipos de bulbo, a diferença no trajeto do êmbolo é considerada como uma
variação intra-específica. Outra variação curiosa é a disposição das espermatecas, que
podem simplesmente curvar-se para o lado externo, dobrar-se sobre si mesma, em um
giro de 360º, ou curvar-se irregularmente para cima.
42
DISTRIBUIÇÃO (Mapa 2): Litoral leste do estado de São Paulo e áreas
quartzíticas do centro-sul de Minas Gerais. Uma provável localidade adicional é Angra
dos Reis, distrito de Serra d’Água, na qual foi estudada uma população de Trechona sp.
por C. A. dos S. Souza e colaboradores (RODRIGUES et al., 2008). Essa população foi
encontrada em uma área de altitude relativamente elevada (500-750 m), vivendo em
áreas argilosas úmidas nas encostas rochosas, junto a nascentes de riachos de montanhas
(Souza, com. pessoal), em habitat semelhante ao da fêmea de T. uniformis coletada em
Ubatuba por R. Baptista. O empréstimo do material para análise já está sendo
negociado, de modo a que possa ser feita uma identificação precisa em nível específico.
MATERIAL EXAMINADO: BRASIL: Minas Gerais: Duarte, PE
Ibitipoca. 1998. Oliveira, A. & Souza, B. M. col. (1 M IBSP 10798); Lima Duarte, PE
Ibitipoca. 8.XI.1997. Souza, B. M. & Oliveira, A. col. (1 J IBSP 8258); Rio Preto. 14-
20.V.2002. Baptista, R. L. C., Pérez, A., Rodríguez, C., Giupponi, A. P. de L.,
Vasconcelos, E., Chagas Jr., A., Pedroso, D. R., Góes e Silva, L. & Mendes, A. C. col.
(1 M 3 F 3 J MNRJ 04178); São Paulo: Salesópolis, EE Boracéia. 01-08.XI.2006.
Recoder, R col., pitfall répteis (1 M IBSP 15384); Serra da Bocaina. 01-31.VII.1961.
Vulcano col. (1 J MZSP 21687); Serra da Bocaina, Núcleo Senador Vergueiro. 1500 m.
Feio, J. L. de A. col. (1 J MNRJ 13614); Serra da Bocaina, Fazenda Bonito. 01-
28.I.1963. Vulcano col. (1 J MZSP 21689); Ubatuba. 13.X.1985. Baptista, R. L. C. col.
(1 F, MNRJ 4174, ex CRB T65); Ubatuba, Parque Estadual da Ilha Anchieta. 23-
30.VII.2001. Equipe Biota col. (2 M imaturos, 1 F imatura, IBSP 13063); Ubatuba,
Praia Domingos Dias. 24.VI.1973. Sazima, I. col. (1 M imaturo, IBSP 1910 A).
4.5.c. Trechona venosa (Latreille, 1832)
Fig. 19-27, A5, A6, B6, C3, D3, E2, E4 e E6; Mapa 2
Mygale venosa Latreille, 1832: 80.
M. zebrata Walckenaer, 1835: 637, pl. 19; 649 (= M. venosa).
Mygale zebra: Walckenaer, 1837: 221 (emenda errônea); C. L. Koch, 1842: 60,
fig. 729; Blackwall, 1867: 258.
Mygale (Trechona) zebra: C. L. Koch, 1850: 75.
43
T. v.: Ausserer, 1871: 197 (Descrição do macho, identificação errônea);
Karsch, 1879: 543; Simon, 1892: 179; Pickard-Cambridge, 1896: 754;
Mello-Leitão, 1923a: 91, fig. 17-18; Vellard, 1924a: 155, pl. 12, fig. 44
(Descrição do macho, identificação errônea); Bücherl, 1957: 386; T. rufa:
Pedroso & Baptista, 2004: 149-155; Pedroso, Baptista & Ferreira, 2008:
361;365.
Eudiplura r.: Simon, 1892a: 179 (Macho de T. venosa, identificação errônea).
T. zebrata: Pocock, 1896b: 177.
Trechona rogenhoferi: Raven, 1985a: 75, f. 24-29 (Macho de T. venosa,
identificação errônea).
MATERIAL-TIPO: BRASIL: sem localidade específica, Gory, H. L. col. (F
holótipo Mygale venosa, MNHN, perdido); sem localidade específica, Lefèbvre, A. leg.
(F holótipo Mygale zebrata, BMHN, perdido). Rio de Janeiro: Rio de Janeiro, Floresta
da Tijuca. 3.III.2001. Giupponi, A. P. L., Pedroso, D. R. & Almeida, D. F. col. (F
neótipo, MNRJ 14190, examinado).
DIAGNOSE: Pertence ao grupo das espécies de espermateca e êmbolo curto.
Diferencia-se de todas as espécies de Trechona por não possuir uma fileira de cerdas
negras dividindo a escópula do tarso III das fêmeas, pelas faixas intermediárias entre as
faixas transversais claras no abdome (às vezes, ausente nos machos) e número de
cúspulas variando de 40 a 60. Sua coloração geral é mais escura em relação às outras
espécies, tendo o corpo basicamente negro. Os machos podem ser diferenciados de T.
rufa pelo formato piriforme do bulbo copulatório dos machos, afinando regularmente
em direção ao êmbolo, em vista frontal, e pelo metatarso I muito engrossado, sem
protuberância retrolateral evidente, e com grande concavidade basal, que forma uma
quina distinta com a área engrossada logo acima. As fêmeas podem ser diferenciadas de
T. rufa e Trechona sp. 1 “minuana” pela cabeça das espermateca pequena e quase
esférica, geralmente apresentando um ramo lateral de tamanho mediano, não atingindo
o ápice da cabeça da espermateca.
44
DESCRIÇÃO: Comprimento total do corpo sem as fiandeiras: Fêmeas (n=5):
48,0 mm (43,0 mm – 53,5 mm). Machos (n=5): 37,5 mm (33,0 mm - 40,0 mm).
Comprimento da carapaça: Fêmeas (n=5): 19,5 mm (17,5 mm – 21,0 mm). Machos
(n=5): 16,0 mm (14,0 mm-17,5 mm).
CEFALOTÓRAX: Fêmea: Castanho-escuro a negro, com pêlos de
revestimento de cor cinza, cobrindo parcialmente o cefalotórax e com algumas cerdas
negras espalhadas. Margem anterior do clípeo com cerca de doze cerdas voltadas para
frente. Porção anterior do cômoro ocular com algumas cerdas eretas. Quelíceras negras
ou castanho-escuras, enegrecendo na parte distal. Cerdas negras eretas na face dorsal.
Margem interna do sulco queliceral com uma fileira de quatorze a dezesseis dentes.
Esterno castanho ou castanho-escuro enegrecido, com pêlos de revestimento cinza e
várias cerdas negras eretas, dispostas por toda a superfície. Lábio castanho-
avermelhado ou castanho-escuro enegrecido, clareando em direção anterior. Cerdas
negras mais finas que as do esterno e sem pêlos de revestimento. Macho: Carapaça
como na fêmea. Quelíceras como nas fêmeas, mas relativamente menor em largura e
comprimento. Margem interna do sulco queliceral com uma fileira de treze a dezesseis
dentes. Esterno como nas fêmeas, mas relativamente menor e mais comprido que largo.
Lábio mais claro, portando poucas cerdas negras na região anterior e sem pêlos de
revestimentos.
ABDOME: Fêmea: Castanho escuro-enegrecido, com seis faixas bege em
“V”, interrompidas na área mesal, normalmente largas (às vezes, mais finas),
atravessando o dorso e as laterais. Duas ou três faixas curtas, da mesma cor, intercaladas
entre as faixas maiores e situadas na região lateroventral estão presentes nos espécimes
bem conservados. Fiandeiras com os três artículos de tamanho semelhante, apenas o
artículo mediano um pouco menor que os outros. Macho: Castanho escuro-enegrecido,
com padrão semelhante ao das fêmeas. Cor dos pêlos de revestimento semelhante a das
45
fêmeas. Cerdas negras eretas distribuídas por todo o abdome. Cinco a seis faixas bege
no dorso. Às vezes, faixas bege em “V” e faixas intercaladas não discerníveis.
Fiandeiras relativamente maiores que as das fêmeas, tendo os três artículos do mesmo
tamanho.
PALPOS: Região anterior das coxas, próxima ao lábio, com cerca de 50 a 60
cúspulas bem marcadas (em machos, pode atingir um mínimo de 40). Fêmea:
Basicamente da mesma cor do cefalotórax. Coxa com pêlos de revestimento e com
cerdas negras eretas na face ventral, que vão diminuindo seu calibre em direção a
escópula maxilar, que tem a coloração ruiva. Dorsalmente, as cerdas estão distribuídas
na extremidade distal. Lira com porção basal apresentando cerdas com clava muito
desenvolvida e, geralmente, com um filamento alongado após a clava.
Proporcionalmente, a lira é mais estreita em relação ao comprimento. Fêmur com um a
três espinhos dorsais mesais, um espinho fino retrolaterodorsal e com um ou três
espinhos prolaterais (às vezes, ausentes). Patela com um ou dois espinhos
prolaterodorsais. Tíbia com dois ou três espinhos prolaterais, sendo um no terço basal e
outro no terço distal, um a três retrolaterais, e oito a dez ventrais, sendo dois ou três
espinhos basais, dois ou três medianos e dois pares na margem distal. Tarso
escopulado, com um par de espinhos ventrais, no terço basal. Dorsalmente, com pêlos
de revestimento e várias cerdas negras eretas. Macho: Coxa com lira apresentando
cerdas semelhantes às das fêmeas, mas relativamente mais curta e alta. Fêmur com seis
ou sete espinhos dorsais, sendo três a quatro espinhos mesais, um prolaterodorsal e um a
dois retrolaterodorsais. Patela sem ou com um espinho prolateral, no terço basal. Tíbia
com um ou dois espinhos prolaterais, sendo um no terço basal e outro no terço mediano,
um ou dois retrolaterais, no terço basal e outro no terço mediano, e cinco a seis ventrais,
sendo três no terço basal e dois a três no terço mediano. Tarso sem espinhos, com
cerdas negras. Concavidade retrolateral pouco marcada e sem cerdas apenas na sua área
46
mais profunda. Bulbo copulatório descrito na parte da genitália masculina. Tíbia cerca
de 2,5 x mais longa que o bulbo (Fig. 24).
PERNAS: Comprimento total da perna I: Fêmea (n=5) 73,0 mm (68,0 mm –
78,0 mm). Machos (n=5): 88,0 mm (78,0 mm – 93,0 mm). Fêmeas: Basicamente da
mesma cor do cefalotórax. Coxas I-IV com pêlos de revestimento acinzentados e cerdas
negras eretas. Perna I: Fêmur somente com três a seis espinhos dorsais, sendo dois a
três mesais e um ou dois prolaterodorsais, no terço mediano (às vezes, ausente) e outro
no distal, e nenhum ou um retrolaterodorsal, no terço distal. Patela com um espinho
prolateral. Tíbia com dois espinhos prolaterais, sendo um no terço basal e um no terço
mediano, e com quatro espinhos ventrais, sendo um ímpar no terço basal, um ímpar no
terço mediano e um par na margem distal. Metatarso escopulado, com cinco espinhos
ventrais, sendo um no terço basal, dois ímpares no terço mediano e um par na margem
distal. Perna II: Fêmur somente com três a cinco espinhos dorsais, sendo dois mesais e
um a três prolaterodorsais. Patela como na perna I. Tíbia com dois espinhos prolaterais,
sendo um no terço basal e um no terço mediano, e com quatro a seis espinhos ventrais,
sendo um ou dois ímpares no terço basal, um ou dois ímpares no terço mediano e um
par na margem distal. Metatarso escopulado, com um ou dois espinhos prolaterais, no
terço basal, e seis ou sete espinhos ventrais, sendo dois ou três no terço basal, dois
ímpares no terço mediano e um par na margem distal. Perna III: Fêmur somente com
espinhos dorsais, distribuídos em três fileiras, sendo quatro ou cinco mesais, dois ou três
prolaterodorsais e quatro ou cinco retrolaterodorsais. Patela com um espinho prolateral
e um retrolateral. Tíbia com dois espinhos prolaterais, um no terço basal e outro no
terço mediano, três retrolaterais, sendo um no terço basal e dois no terço mediano, e seis
espinhos ventrais, sendo dois ímpares no terço basal, dois ímpares no terço mediano e
um par na margem distal. Metatarso com escópula pouco marcada, portando dezoito a
vinte espinhos distribuídos irregularmente, mas sempre com cinco distais. Tarso sem
47
cerdas espiniformes na face ventral (ou apenas com algumas cerdas, na extremidade
distal, em fêmeas pequenas) e escópula dividida apenas por uma fina linha glabra.
Perna IV: Fêmur somente com espinhos dorsais, distribuídos em três fileiras, sendo
quatro ou cinco mesais, um ou nenhum prolaterodorsal e três ou quatro
retrolaterodorsais. Patela sem ou com um espinho retrolateral, disposto na metade
basal. Tíbia com dois prolaterais, um no terço basal e um no terço mediano, três
retrolaterais, um no terço basal, um no terço mediano, e um no terço distal, e sete
espinhos ventrais, sendo dois ímpares no terço basal, dois ímpares no terço mediano e
três na margem distal. Metatarso com escópula pouco marcada, com vinte a vinte e três
espinhos distribuídos irregularmente, tendo sempre cinco distais. Macho: Tarsos
longos, com escópulas bem marcadas. Perna I: Fêmur somente com espinhos dorsais,
sendo quatro a cinco mesais, três a cinco prolaterodorsais e quatro a sete
retrolaterodorsais. Patela com um espinho prolateral e outro retrolateral, quando
existente. Tíbia com dois prolaterais, um no terço basal e um no terço distal, um a três
retrolaterais, um no terço basal (quando existente), um no terço mediano e um no terço
distal (quando existente), e seis espinhos ventrais, sendo dois ímpares ou nenhum, no
terço basal, dois a três ímpares, no terço mediano, e um par, na margem distal. Apófise
retrolateral (Fig. 22 e 23) grande, inserida na margem distal, portando um dos espinhos
ventrais, o qual é curto, pouco recurvo e com base alargada. Abaixo da apófise
retrolateral, existe uma protuberância mais ou menos conspícua, de acordo com o
espécime. Metatarso alongado e escopulado, com um ou nenhum espinho prolateral, no
terço basal, e quatro a cinco espinhos ventrais, sendo um no terço basal, dois ímpares no
terço mediano e um par ou um ímpar na margem distal. Região basal com concavidade
muito acentuada, acarretando um afinamento conspícuo do artículo nessa área. Logo
acima, situa-se uma extensa dilatação, sem delimitação clara, englobando parcialmente
a base do espinho ventral do terço basal, o que confere um aspecto engrossado a toda
48
essa região (Fig. 22 e 23). Em sua margem basal externa, forma um ângulo saliente com
a extremidade distal da concavidade basal. Raramente, existe uma depressão mais ou
menos evidente acima desse ângulo, o que pode acarretar na formação de duas
saliências pouco marcadas. Perna II: Fêmur somente com espinhos dorsais, sendo três
ou quatro mesais, três a cinco prolaterodorsais e três a seis retrolaterodorsais. Patela
com um ou dois espinhos prolaterais. Tíbia com dois espinhos prolaterais, sendo um no
terço basal e um no terço distal, e com seis ou sete ventrais, sendo dois a três ímpares no
terço basal, dois ímpares no terço mediano e um par na margem distal. Metatarso
alongado e escopulado, com um ou dois espinhos prolaterais no terço basal e seis
ventrais, sendo dois ímpares no terço basal, dois ímpares no terço mediano e um par na
margem distal. Perna III: Fêmur somente com espinhos dorsais, sendo três ou quatro
mesais, quatro a cinco prolaterodorsais e quatro a seis retrolaterodorsais. Patela com um
espinho prolateral e outro retrolateral. Tíbia com dois prolaterais, sendo um no terço
basal e um no terço distal, três retrolaterais, sendo um par no terço basal e um no terço
mediano, e seis espinhos ventrais, sendo dois ímpares no terço basal, dois ímpares no
terço mediano e um par na margem distal. Metatarso com escópula pouco marcada,
com dezoito a vinte espinhos distribuídos irregularmente, mas tendo sempre cinco
distais. Perna IV: Fêmur somente com espinhos dorsais, distribuídos em três fileiras,
sendo cinco mesais, três a cinco prolaterodorsais e quatro a sete retrolaterodorsais.
Patela com um ou nenhum espinho retrolateral. Tíbia com dois prolaterais, um no terço
mediano e um no terço distal, e três a cinco retrolaterais, um no terço basal, três ou dois
no terço mediano e um na margem distal (quando existente), e seis a oito espinhos
ventrais, sendo dois ímpares no terço basal, dois ou três ímpares no terço mediano e
dois ou três na margem distal. Metatarso alongado, com vinte e três ou vinte e quatro
espinhos distribuídos irregularmente, tendo sempre cinco distais.
49
GENITÁLIA: Macho (Figs. 24-27) com bulbo copulatório mais longo do que
largo, quase piriforme, apresentando uma curva em “S” em seu lado interno, afinando
regularmente para um êmbolo longo e fino, o qual porta uma pequena área membranosa
em seu ápice. Fêmea (Fig. 21) com cabeça da espermateca pequena, simétrica, quase
arredondada, um pouco achatada na extremidade distal, e ramo lateral normalmente
relativamente longo, de tamanho semelhante ao braço que leva à cabeça da espermateca,
mas, às vezes, restrito a uma pequena saliência.
OBSERVAÇÕES: A descrição original desta espécie foi baseada somente no
holótipo fêmea, que foi perdido. Embora a espécie tenha sido descrita do Brasil, sem
especificação de localidade, é muito provável que o holótipo tenha sido coletado na
cidade do Rio de Janeiro, que era o principal porto de passagem dos navios estrangeiros
no Brasil nas décadas de 1810-1830. Todos os autores posteriores que citaram
localidades determinadas para o Brasil (ex. MELLO-LEITÃO, 1923; VELLARD, 1924)
consideraram que T. venosa ocorria no Rio de Janeiro. Assim, um neótipo fêmea da
cidade do Rio de Janeiro foi designado (PEDROSO & BAPTISTA, 2004). A relação de
T. venosa com T. rogenhoferi é tratada sob esta espécie na seção “Mudança de status
taxonômico”.
DISTRIBUIÇÃO (Mapa 2): Do município do Rio de Janeiro, passando por
várias localidades da Serra do Mar, no estado do Rio de Janeiro, até Santa Teresa, no
estado do Espírito Santo.
MATERIAL EXAMINADO: BRASIL: Sem localidade específica (1 J
MNRJ 13606); Espírito Santo: Santa Teresa. Sem data e coletor (1 M, MNRJ s/n, ex
col. ESFA); Santa Teresa, Estação Biológica de Santa Lúcia. 14-18.X.2003. Baptista, R.
L. C., Pedroso, D. R., Giupponi, A. P. L., Almeida, D. F. & Mendes, A. C. col. (5 F
MNRJ 03997); Santa Teresa, Estação Biológica de Santa Lúcia. 13-16.I.2004. Baptista,
R. L. C., Pedroso, D. R., Almeida, D. F., Mendes, A. C. & Pérez, A. col. (1 F MNRJ
04177); Santa Teresa, Estação Biológica de Santa Lúcia. 10.IV.2006. Souza, T. &
Barnabé, T. col. (1 F IBSP 13009); Santa Teresa, Estação Biológica de Santa Lúcia.
50
Sem data e coletor (1 M MNRJ 04180). Rio de Janeiro: Cachoeiras de Macacu,
Reserva Ecológica de Guapiaçu. 11.III.2001. Baptista, R. L. C., Giupponi, Alessandro
P. L., Pedroso, D. & Pires, Aline col. (3 F 1 J MNRJ 03086); Cachoeiras de Macacu,
Reserva Ecológica de Guapiaçu. 8-12.XI.2001. Giupponi, Alessandro P. L. et al. col. (1
J MNRJ 03516); Cachoeiras de Macacu, Reserva Ecológica de Guapiaçu. 8-12.XI.2001.
Pedroso, Denis R., Giupponi, Alessandro P. L., Frota, Deives & Pérez González, Abel
col. (1 M 1 F MNRJ 03458); Cachoeiras de Macacu, Reserva Ecológica de Guapiaçu.
18-30.X.2004. Pitfall mamíferos (1 M MNRJ s/n); Casimiro de Abreu, Barra de São
João, Morro de São João. 21-24.III.2003. Expedição Arachne. (3 F 1 J MNRJ 04173);
Nova Iguaçu, Reserva Biológica do Tinguá. 15.V.2002. Folly, E. & Walter col. (1 F
IBSP 13018); Nova Iguaçu, Reserva Biológica do Tinguá. 15.V.2002. Folly, E. &
Walter col. (1 F IBSP 13019); Parque Nacional da Serra dos Órgãos. 18-22.VIII.2001.
Equipe Biota col. (1 F IBSP 13169); Petrópolis, Fazenda Ranchinho, Porto da Roça. 8-
5.II.2000. Cunha, F. et al. Col. (1 J IBSP 8683); Petrópolis. 2004. Prefeitura Municipal
col. (1 F IBSP 12309); Rio de Janeiro. (1 F MNRJ 14004); Rio de Janeiro, Horto
Florestal. 8.VI.1997. Giupponi, Alessandro P. L. col. (1 J MNRJ 01857); Rio de
Janeiro, Jardim Botânico. XI.1983. Grupo União col. (1 F 1 J MNRJ 04172); Rio de
Janeiro, Maciço da Tijuca. X.2003. Wienskoski, E. H. col. (1 M MNRJ s/n); Rio de
Janeiro, Parque Nacional da Tijuca, Gávea. 18.I.2005. Pedroso, D. R. (1 F MNRJ s/n);
Rio de Janeiro, Serra da Carioca, Paineiras. V.1993. Wienskoski, E. H. col. (1 M MNRJ
4179); Santa Maria Madalena, Parque Estadual do Desengano, Morumbéca. 13-
17.V.2008. Chagas, A., Kury, A., Sampaio, C. & Moreira, T. col. (1 F subadulta MNRJ
s/n).
4.5.d. Trechona sp. nova 1 “minuana
Fig. 28-29, B1, C4; Mapa 2
MATERIAL-“TIPO”: BRASIL: Santa Catarina: Blumenau, Parque
Ecológico Spitzkopf. 25.X.2008. Pedroso, Denis R. & Vasconcelos, Eduardo G. col. (F
“holótipo” MNRJ s/n); Florianópolis, Mata do morro atrás do prédio da APAE e SESI.
15-17.XII.1999. Giupponi, Alessandro P. L. & Pedroso, Denis R. col. (F “parátipo”
MNRJ 13814);
51
DIAGNOSE: Pertence ao grupo de espécies de espermateca curta. Pode ser
diferenciada por apresentar a espermateca com cabeça proporcionalmente menor,
situada sobre um tipo de pedúnculo curvo para dentro, e com o ramo lateral mais longo
que o braço da espermateca. Outra diferença é o padrão de cor, com cefalotórax e
pernas castanho-alaranjados e faixas transversais castanho-claras pouco contrastantes
sobre o fundo castanho do abdome.
ETIMOLOGIA: O nome dessa espécie foi inspirado pelo Minuano, um vento
frio e seco de origem polar (massa de ar Polar Atlântica), que penetra no Brasil pelo Rio
Grande do Sul, atinge o Paraná e Santa Catarina. Acredita-se que o nome venha dos
Minuanos, uma tribo indígena já extinta, composta de índios guerreiros e grandes
cavaleiros nômades, que percorriam a região oeste do território rio-grandense.
DESCRIÇÃO: Comprimento total do corpo sem as fiandeiras: Fêmea (n=2):
45,5 (38,0) mm. Comprimento da carapaça: 16,0 (14,0) mm.
CEFALOTÓRAX: Fêmea: Castanho-claro alaranjado, com pêlos de
revestimento de cor castanha, cobrindo parcialmente o cefalotórax, e com algumas
cerdas negras espalhadas. Margem do clípeo com dez a doze cerdas voltadas para
frente. Porção anterior do cômoro ocular com algumas cerdas eretas. Quelíceras
castanho avermelhadas, enegrecendo na parte distal. Cerdas negras eretas na face dorsal.
Margem interna do sulco queliceral com uma fileira de quatorze a quinze dentes.
Esterno da mesma cor ou um pouco mais claro que o cefalotórax, com pêlos de
revestimento castanho e várias cerdas negras eretas, dispostas por toda a superfície.
Lábio da mesma cor ou um pouco mais claro que o cefalotórax, com base mais escura,
clareando em direção anterior. Cerdas negras como as do esterno e sem pêlos de
revestimento.
ABDOME: Fêmea: Castanho, com seis faixas transversais bege, pouco
contrastantes, interrompidas na região mesal, atravessando o dorso e os lados, quase
52
alcançando a região ventral. Cerdas negras recobrindo o dorso. Fiandeiras com os três
artículos de tamanho semelhante.
PALPOS: Fêmea: Basicamente da mesma cor do cefalotórax. Coxa sem
pêlos de revestimento e com cerdas negras eretas na face ventral, que vão diminuindo
de calibre até chegar à escópula maxilar, que tem a coloração ruiva. Região anterior
próxima ao lábio com 22-33 cúspulas. Dorsalmente, as cerdas estão distribuídas na
extremidade distal. Fêmur com dois a quatro espinhos dorsais, dispostos na região
meso-distal, e um prolateral grande. Patela com um espinho prolaterodorsal. Tíbia com
onze espinhos distribuídos dois ou três espinhos prolaterais, sendo um no terço basal,
um no final do terço mediano e outro no terço distal, quando presente, um retrolateral,
mais fino que o prolateral, no final do terço mediano, e oito ventrais, sendo um par no
terço basal, outro no terço mediano e quatro espinhos na margem distal. Tarso
escopulado, com um espinho retrolateral e um prolateral (às vezes ausente), no terço
basal. Face ventral com algumas cerdas negras eretas no terço basal. Dorsalmente, com
pêlos de revestimento e várias cerdas negras eretas distribuídas.
PERNAS: Comprimento total da perna I: Fêmea (n=2) 57,5 mm (52,0 mm).
Coxa 7,0 (6,5) mm; trocânter 2,5 (2,0) mm; fêmur 14,0 (12,5) mm; patela 4,5 (4,5) mm;
tíbia 12,0 (10,5) mm; metatarso 10,0 (9,5) mm; tarso 7,5 (6,5) mm). Fêmeas:
Basicamente da mesma cor do cefalotórax. Coxas com pêlos de revestimento e cerdas
castanho-escuras eretas na face ventral. Dorsalmente, as cerdas estão distribuídas na
extremidade distal. Perna I: Mesma cor dos palpos. Fêmur com quatro a cinco
espinhos dorsais, sendo três ou quatro mesais e um prolaterodorsal, no terço distal.
Patela com um espinho prolateral ou inerme. Tíbia com um ou dois espinhos
prolaterais, sendo um no terço basal, quando existente, e outro no terço mediano, e
quatro ventrais, sendo um ímpar no terço basal, um ímpar no terço mediano e um par no
terço distal. Metatarso com um espinho prolateral, no terço basal, e três a quatro
53
ventrais, sendo um ímpar no terço basal, dois ímpares no terço mediano e um par ou um
ímpar na margem distal. Pêlos de revestimento e várias cerdas negras eretas distribuídas
dorsalmente. Perna II: Trocânter como na perna I. Fêmur com três a quatro espinhos
dorsais, sendo dois a três espinhos mesais e um prolaterodorsal, no terço distal, quando
existente. Patela com um espinho prolateral. Tíbia com um ou dois espinhos
prolaterais, sendo um no terço basal, quando existente, e outro no terço mediano, e
quatro ventrais, sendo um ímpar no terço basal, um ou dois ímpares no terço mediano e
um par no terço distal. Metatarso com um espinho prolateral, no terço basal, e cinco
ventrais, sendo um ímpar no terço basal, dois ímpares no terço mediano e um par na
margem distal. Perna III: Fêmur com seis a nove espinhos dorsais, sendo dois
espinhos mesais, um a três prolaterodorsais e três a quatro retrolaterodorsais. Patela
com um espinho prolateral. Tíbia com dois espinhos prolaterais, sendo um no terço
basal e um no terço mediano, dois a três retrolaterais, sendo dois no terço basal (às
vezes, um está ausente) e um no terço mediano, e seis ventrais, sendo um par no terço
basal, um par no terço mediano e um par no terço distal. Metatarso com quatorze a
quinze espinhos distribuídos irregularmente, sendo seis distais. Tarso com escópula
dividida por uma fileira de cerdas negras espiniformes, ocupando a metade distal ou
indo da base ao ápice do artículo (Fig. 28). Perna IV: Fêmur com quatro espinhos
dorsais, sendo três espinhos mesais e um retrolaterodorsal, no terço distal. Patela sem
espinhos. Tíbia com um a dois espinhos prolaterais, sendo um no terço basal (quando
existente) e um no terço mediano, um a quatro retrolaterais, com distribuição variável, e
seis ventrais, sendo um par no terço basal, um par no terço mediano e um par no terço
distal. Metatarso com dezessete a dezenove espinhos distribuídos irregularmente,
sendo cinco distais.
GENITÁLIA (Fig. 29): espermateca com cabeça muito pequena, pouco mais
grossa que o tronco, situada sobre um tipo de pedúnculo estreito, curvado para dentro.
54
Ramo lateral mais longo que o braço da espermateca, com o ápice um pouco curvo para
fora.
OBSERVAÇÕES: A fêmea “holótipo” de Blumenau é bem maior e,
provavelmente, mais velha, que a fêmea “parátipo” de Florianópolis. Sua genitália
apresenta um ramo lateral mais longo, com a curva apical mais pronunciada e com a
clivagem em relação ao braço principal situada em posição mais basal. Além disso, a
fêmea sub-adulta de Blumenau (IBSP 10802) apresenta um ramo lateral já alongado,
mas de tamanho menor do que as anteriores, e com a clivagem ainda mais distal entre o
ramo lateral e o braço principal. O tarso III do “holótipo” apresenta a escópula dividida
por cerdas apenas na metade superior do artículo, em contraste com a escópula
completamente dividida na segunda fêmea “parátipo”. Os caracteres acima podem estar
relacionados ao estágio de desenvolvimento diferenciado entre os espécimes.
DISTRIBUIÇÃO (Mapa 2): Estado de Santa Catarina, Blumenau e
Florianópolis.
MATERIAL EXAMINADO: BRASIL: Santa Catarina: Blumenau, Parque
Ecológico Spitzkopf. 25.X.2008. Pedroso, Denis R. & Vasconcelos, Eduardo G. col. (3
J MNRJ s/n); Blumenau. 3.III.1993. Palhares, G. col. (1 F sub-adulta, IBSP 10802).
4.5.d. Trechona sp. nova 2 “renneri
Fig. 30-35, D4; Mapa 2
MATERIAL-“TIPO”: BRASIL: Minas Gerais: Parque Nacional do
Caparaó. 13.VIII.1986. Baptista, Renner L. C. col. (M holótipo MNRJ 4171, ex CRB
T49).
DIAGNOSE: Pertence ao grupo das espécies de êmbolo curto. Pode ser
diferenciada de outras espécies de Trechona pelo pequeno tamanho do corpo,
apresentando 25,0 mm de comprimento total do corpo (das quelíceras ao abdome, sem
contar as fiandeiras), pela lira dividida e com cerdas pouco clavadas, e pela presença de
55
faixas transversais contínuas no dorso do abdome (como em T. uniformis). Em relação
às espécies com machos conhecidos, o bulbo copulatório apresenta formato piriforme
delgado, com a base do êmbolo bem espessada, e a protuberância retrolateral do
metatarso I situa-se abaixo da inserção do espinho ventral.
ETIMOLOGIA: A espécie foi nomeada em homenagem a Renner Luiz
Cerqueira Baptista, aracnólogo que descobriu essa interessante aranha.
DESCRIÇÃO: Comprimento total do corpo sem as fiandeiras: Macho (n=1):
25,0 mm. Comprimento da carapaça: 9,0 mm.
CEFALOTÓRAX: Macho: Castanho-claro, com pêlos de revestimento
castanho-claros e dourados, revestindo parcialmente o cefalotórax e com algumas
cerdas castanho-escuras espalhadas. Margem do clípeo com cinco cerdas voltadas para
frente. Porção anterior do cômoro ocular com algumas cerdas eretas. Quelíceras
castanho-claras. Cerdas castanhas eretas na face dorsal. Margem interna do sulco
queliceral com uma fileira de quinze dentes. Esterno um pouco mais claro que o
cefalotórax, com pêlos de revestimento esbranquiçados e várias cerdas castanhas eretas,
dispostas por toda a superfície. Lábio da mesma cor do cefalotórax com base mais
escura, clareando em direção anterior. Cerdas castanhas como as do esterno e sem pêlos
de revestimento.
ABDOME: Macho: Castanho, com seis faixas contínuas de cor bege,
atravessando o dorso e quase alcançando a região ventral. Primeira faixa com a parte
mediana mais espessa que as laterais. Dorso com cerdas castanhas. Fiandeiras
relativamente longas, quase alcançando o comprimento do abdome, com os três
artículos de tamanho semelhante.
PALPOS: Região anterior, das coxas, próxima ao lábio, com 25-27 cúspulas
bem marcadas. Macho: Basicamente da mesma cor do cefalotórax. Coxa sem pêlos de
revestimento e com cerdas castanho-escuras eretas na face ventral, que vão diminuindo
56
de calibre em direção à escópula maxilar, que tem a coloração ruiva, e ao ápice do
artículo. Face interna com lira muito alongada e estreita, ocupando pouco mais de 2/3
do comprimento do artículo. Divisão clara entre a parte basal e a distal, com um
intervalo entre as cerdas das duas áreas. Cerdas pouco clavadas e não muito diferentes
entre si em todas as fileiras. Fêmur com um espinho prolaterodorsal e outro
retrolaterodorsal, ambos no terço distal. Patela sem espinhos. Tíbia com dois espinhos
prolaterais, sendo um no início do terço mediano e outro no início do terço distal, um
retrolateral, mais fino que os prolaterais, no final do terço mediano, e quatro ventrais,
sendo um par no terço basal e outro no terço mediano. Tarso sem espinhos, com cerdas
castanho-claras. Lóbulo prolateral distal protuberante, com parte interna glabra bem
visível e projetando-se bem além da inserção do bulbo. Concavidade retrolateral bem
marcada e sem cerdas. Bulbo descrito na parte da genitália masculina. Tíbia cerca de 2,0
x mais longa que o bulbo (Fig. 32).
PERNAS: Comprimento total da perna I: 46,0 mm (coxa 4,5 mm; trocânter
1,5 mm; fêmur 10,5 mm; patela 3,5 mm; tíbia 10,0 mm; metatarso 8,5 mm; tarso 7,5
mm). Macho: Basicamente, da mesma cor do cefalotórax. Perna I: Fêmur somente
com espinhos dorsais, distribuídos em três fileiras, sendo quatro mesais, três
prolaterodorsais e três a cinco retrolaterodorsais. Patela sem espinhos, com pêlos de
revestimento e cerdas castanho-escuras eretas como no palpo. Faixas glabras mais
largas que as faixas do fêmur e da tíbia. Tíbia com dois espinhos prolaterais, sendo um
no terço basal e um no terço distal, e com seis espinhos ventrais, sendo um par no terço
basal, dois ímpares no terço mediano e um par na margem distal. Apófise retrolateral
(Fig. 30 e 31) grande inserida na margem distal, portando um dos espinhos ventrais, o
qual é muito curto, bem recurvo e com base muito alargada. Metatarso escopulado,
com um espinho prolateral no terço mediano e cinco espinhos ventrais, sendo um no
terço basal, dois ímpares no terço mediano e um par na margem distal. Região basal
57
com concavidade perceptível e, logo acima, uma protuberância cônica, com o ápice
rombo e mais escuro, situada pouco abaixo da inserção do espinho ventral do terço
basal (Fig. 30 e 31). Perna II: Fêmur somente com espinhos dorsais, distribuídos em
três fileiras, sendo três mesais, quatro prolaterodorsais e quatro retrolaterodorsais.
Patela como na perna I. Tíbia com dois espinhos prolaterais, sendo um no terço basal e
um no terço distal, e com cinco a seis espinhos ventrais, sendo um ímpar ou um par no
terço basal, dois ímpares no terço mediano e um par na margem distal. Metatarso
escopulado, com um espinho prolateral no terço mediano da perna direita e cinco
espinhos ventrais, sendo um no terço basal, dois ímpares no terço mediano e um par na
margem distal. Perna III: Fêmur somente com espinhos dorsais, distribuídos em três
fileiras, sendo três mesais, três prolaterodorsais e quatro retrolaterodorsais. Patela como
na perna I. Tíbia com um espinho retrolaterodorsal, situado na margem basal, dois
prolaterais, sendo um no terço basal e um no terço distal, dois retrolaterais, sendo um no
terço basal (ausente na perna esquerda) e um no terço distal, e cinco a seis espinhos
ventrais, sendo um ímpar ou um par no terço basal, dois ímpares no terço mediano e um
par na margem distal. Metatarso alongado e escópula pouco marcada, com quatorze a
dezoito espinhos distribuídos irregularmente, mas tendo sempre cinco distais. Perna
IV: Fêmur com nove a onze espinhos distribuídos irregularmente na região dorsal.
Patela como na perna I. Tíbia com dois prolaterais, sendo um no terço basal e um no
terço distal, dois retrolaterais, sendo um no terço basal e um no terço distal, e seis
espinhos ventrais, sendo um par no terço basal, dois ímpares no terço mediano e um par
na margem distal. Metatarso bem alongado e escópula pouco marcada, com dezoito a
dezenove espinhos distribuídos irregularmente, tendo sempre cinco distais.
GENITÁLIA: (Figs. 32-35): bulbo copulatório com formato piriforme
delgado e alongado, com margem interna quase reta, apenas com uma sutil sinuosidade
58
próximo a base do êmbolo, em vista retrolateral e prolateral. Base do êmbolo e região
anterior a ela bem espessadas, afinando regularmente, com o ápice levemente curvo.
OBSERVAÇÕES: Somente o holótipo é conhecido. Animal criado em
cativeiro por alguns meses, apresentando coloração muito pálida, devido ao fato de ter
morrido logo após a muda.
DISTRIBUIÇÃO (Mapa 2): Parque Nacional do Caparaó, Minas Gerais.
4.5.d. Trechona sp. nova 3 “cotia
Fig. 36-41, D5; Mapa 2
MATERIAL-“TIPO”: BRASIL: São Paulo: Cotia. 26.XI.2004. Pavani, M.
P. M. col. (M holótipo IBSP 11590, examinado).
DIAGNOSE: Pertence ao grupo das espécies de êmbolo longo. Pode ser
diferenciada de Trechona uniformis pelo pequeno tamanho do corpo, apresentando 23,0
mm de comprimento total do corpo (das quelíceras ao abdome, sem contar as fiandeiras)
e pelo êmbolo mais curto e sinuoso.
ETIMOLOGIA: O nome refere-se à cidade de Cotia no estado de São Paulo,
local de coleta do espécime-tipo.
DESCRIÇÃO: Comprimento total do corpo sem as fiandeiras: Macho (n=1):
23,0 mm. Comprimento da carapaça: 10,0 mm.
CEFALOTÓRAX: Macho: Castanho-escuro, com pêlos de revestimento
variando de acinzentado a castanho-claro, revestindo parcialmente o cefalotórax e com
algumas cerdas negras espalhadas. Margem do clípeo com seis cerdas voltadas para
frente. Porção anterior do cômoro ocular com algumas cerdas eretas. Quelíceras
castanho-enegrecido, com abundantes pêlos de revestimento acinzentados e cerdas
negras eretas na face dorsal. Margem interna do sulco queliceral com uma fileira de
quinze a dezesseis dentes. Esterno castanho, bem mais claro que o cefalotórax, com
59
pêlos de revestimento acinzentados e várias cerdas negras eretas, dispostas por toda a
superfície. Lábio basicamente da mesma cor do externo, com cerdas negras como as do
esterno e sem pêlos de revestimento.
ABDOME: Macho: Negro, com cinco faixas de cor bege, interrompidas no
meio, atravessando o dorso e quase alcançando a região ventral. Primeira faixa com a
parte próxima a linha mediana mais espessa que as laterais. Demais faixas com
espessura menor e com a interrupção mediana bem mais ampla que a primeira. Dorso
com cerdas negras. Fiandeiras relativamente longas, alcançando cerca de ¾ do
comprimento do abdome, com os três artículos de tamanho semelhante.
PALPOS: Região anterior das coxas, próxima ao lábio, com 33-34 cúspulas
bem marcadas. Macho: Basicamente da mesma cor do cefalotórax. Coxa sem pêlos de
revestimento e com cerdas negras eretas na face ventral, que vão diminuindo de calibre
em direção à escópula maxilar, que tem a coloração ruiva, e ao ápice do artículo. Face
interna com lira relativamente curta e alta, ocupando cerca de 2/3 do comprimento da
maxila (Fig. D5). Fêmur com três espinhos, sendo um dorsal, um prolaterodorsal e
outro retrolaterodorsal, todos no terço distal. Patela sem espinhos. Tíbia com dois
espinhos prolaterais, sendo um no início do terço mediano e outro no início do terço
distal, e cinco/seis ventrais, sendo um par + um ímpar no terço basal e um par + um
ímpar (ausente no palpo direito) no terço mediano . Tarso sem espinhos, com cerdas
castanhas. Lóbulo prolateral distal projetando-se pouco além da inserção do bulbo.
Concavidade retrolateral pouco marcada e sem cerdas. Bulbo descrito na parte da
genitália masculina. Tíbia cerca de 1,75 x mais longa que o bulbo (fig. 38).
PERNAS: Comprimento total da perna I: 50,0 mm (coxa 5,0 mm; trocânter
2,0 mm; fêmur 11,0 mm; patela 4,0 mm; tíbia 10,5 mm; metatarso 9,5 mm; tarso 8,0
mm). Macho: Basicamente da mesma cor do cefalotórax. Coxas I-IV com pêlos de
revestimento acinzentados e cerdas negras eretas na face ventral. Dorsalmente, as cerdas
60
estão distribuídas na extremidade distal. Perna I: Mesma cor dos palpos. Fêmur
somente com espinhos dorsais, distribuídos em três fileiras, sendo quatro mesais, três
prolaterodorsais e quatro retrolaterodorsais. Patela sem espinhos, com pêlos de
revestimento acinzentados e cerdas negras eretas como no palpo. Faixas glabras mais
largas que as faixas do fêmur e da tíbia. Tíbia com dois espinhos prolaterais e dois
retrolaterais, sendo um no terço basal e um no terço distal em ambas as faces, e com
cinco espinhos ventrais, sendo um par no terço basal, dois ímpares no terço mediano e
um na margem distal. Apófise retrolateral (Fig. 36 e 37) grande inserida na margem
distal, portando o espinho ventral distal, o qual é pouco alongado, recurvo e com base
não muito alargada. Metatarso escopulado, com curvatura acentuada em direção
retrolateral, apresentando um espinho prolateral no terço basal e quatro espinhos
ventrais, sendo um no terço basal, dois ímpares no terço mediano e um ímpar na
margem distal. Região basal com concavidade nítida e, logo acima, uma protuberância
cônica, com o ápice agudo e mais escuro, situada na mesma altura da inserção do
espinho ventral do terço basal (Fig. 36 e 37). Metatarso com um engrossamento que
inclui a região da protuberância e a base do espinho. Perna II: Fêmur somente com
espinhos dorsais, distribuídos em três fileiras, sendo três ou quatro mesais, dois
prolaterodorsais e dois ou três retrolaterodorsais. Patela como um espinho prolateral na
perna direita. Tíbia com um ou dois espinhos prolaterais, sendo um no terço basal e um
no terço distal (se existir), um retrolateral no terço basal e com seis ou oito espinhos
ventrais, sendo um par no terço basal, dois ou três ímpares no terço mediano, um par na
margem distal e um ímpar logo atrás dela, quando existente. Metatarso escopulado,
com um a dois espinho prolaterais, sendo um no terço basal e outro no terço mediano,
quando existente, um espinho retrolateral no terço mediano da perna direita e seis
espinhos ventrais, sendo quatro ímpares no terço basal e um par na margem distal.
Perna III: Fêmur somente com espinhos dorsais, distribuídos em três fileiras, sendo
61
dois ou três mesais, quatro prolaterodorsais e quatro retrolaterodorsais. Patela com um
espinho retrolateral. Tíbia com um espinho dorsal, situado na margem basal retrolateral,
um ou dois prolaterais, sendo um no terço basal e um no terço distal, quando existente,
dois retrolaterais, sendo um no terço basal e um no terço distal, e seis espinhos ventrais,
sendo um par no terço basal, dois ímpares no terço mediano e um par na margem distal.
Metatarso com escópula pouco marcada, com dezesseis espinhos distribuídos
irregularmente, sendo cinco na margem distal. Perna IV: Fêmur com doze a treze
espinhos distribuídos irregularmente na região dorsal. Patela como na perna III. Tíbia
com um espinho dorsal, situado na margem basal retrolateral, dois prolaterais, sendo um
no terço basal e um no terço distal, três retrolaterais, sendo um no terço basal, um no
terço mediana e um no terço distal, e seis espinhos ventrais, sendo um par no terço
basal, dois ímpares no terço mediano e um par na margem distal. Metatarso bem
alongado e escópula pouco marcada, com vinte a vinte e um espinhos distribuídos
irregularmente, tendo cinco ou seis distais.
GENITÁLIA: (Figs. 38-41): bulbo copulatório com êmbolo alongado,
atingindo mais da metade do comprimento da tíbia do palpo, e sinuoso com uma curva
em “S” em vista frontal. Bulbo propriamente dito (sem incluir o êmbolo e sua base)
mais largo do que longo. Em vista retrolateral, o êmbolo apresenta uma forte inclinação
em direção frontal, com seu ápice ultrapassando em muito a margem do bulbo.
OBSERVAÇÕES: O macho bem jovem de Alto da Serra apresenta faixas
transversais muito finas e com extremidades mesais bem distantes entre si, padrão
semelhante ao do macho holótipo. Além disso, a presença de 29-30 cúspulas concorda
mais com o padrão de Trechona sp. 3 “cotia” (33-34 cúspulas), e não com o de T. rufa
(máximo de 27 cúspulas), ainda mais levando em conta que se trata de um exemplar
jovem. Embora haja muitos registros de T. rufa em Cotia, Santo André e arredores,
62
nenhum outro exemplar de Trechona sp. 3 “cotia” foi encontrado nos lotes examinados,
o que enfatiza a necessidade de novas coletas nessa área.
DISTRIBUIÇÃO (Mapa 2): municípios de Cotia e Santo André, SP.
MATERIAL EXAMINADO: BRASIL: São Paulo: Santo André, Alto da
Serra. 18.III.1943. Lane F. & Soares, B. A. M. col. (1 M jovem MZSP 26188).
63
4.6 Registros adicionais de Trechona
Mapa 2
1- BRASIL: Minas Gerais: Fortaleza de Minas. (1 M, Trechona venosa:
Vellard det., FIOCRUZ, perdido).
Esse espécime, descrito por Vellard como macho de Trechona venosa,
claramente apresenta o bulbo copulatório distinto das demais espécies já descritas,
exibindo uma certa semelhança com o macho de Trechona sp. 3 “cotia”, devido ao
êmbolo relativamente longo. Segundo a ilustração, todavia, esse espécime apresenta o
êmbolo muito mais curvo e o bulbo mais cilíndrico do que a T. sp. n. 3, além da
protuberância retrolateral bem diferente. Ademais, as faixas transversais desse espécime
são mais largas e contínuas, em contraste com as faixas finas e bem separadas da T. sp.
n. 3. É provável que esse macho represente um táxon distinto. Todavia, em vista da
perda desse espécime, somente a coleta de exemplares adicionais permitirá uma
conclusão precisa.
2- BRASIL: Rio Grande do Sul: Rio Grande. 11.III.1941. Salta, I. col. (1 F
sub-adulta IBSP 3461).
Essa fêmea sub-adulta é, claramente, uma Trechona. O espécime pode tratar-se
de uma espécie distinta das demais, mas somente um exemplar, em mau estado e
fragmentado, foi localizado. Diferentemente de Trechona sp. n. 1 “minuana”, a
espermateca apresenta a base muito larga, estreitando-se bruscamente após o lóbulo
digitiforme, o qual é curto e muito fino, e a cabeça da espermateca muito larga,
inserindo-se diretamente no pescoço, sem formar ângulo definido. O exame de uma
fêmea sub-adulta de Trechona sp. n. 1 “minuana demonstra que o lóbulo digitiforme já
está bem desenvolvido, mesmo nos primórdios da vulva.
64
3- BRASIL: Bahia: Porto Seguro, Arraial d´Ajuda. 16°27.643’ S 09°08.298’.
24-27.II.2005. Expedição Arachné col. (1 J MNRJ s/n). Espírito Santo: Sooretama,
REBIO. 20.IV.2006. Expedição Arachné col. (1 J MNRJ s/n).
Esses dois exemplares jovens de Trechona apresentam faixas transversais claras
unidas pelo vértice no dorso do abdome, padrão semelhante ao de Trechona uniformis,
que é, entretanto, uma espécie de pequeno porte. A espécie geograficamente mais
próxima, T. venosa, apresenta faixas transversais claramente separadas. Sem animais
adultos, torna-se difícil determinar se esses espécimes representam uma espécie inédita
ou não.
4- BRASIL: Minas Gerais: Ouro Preto/Mariana, Parque Estadual do Itacolomi.
Bertani, R. col. (J, col. pessoal R. Bertani, somente fotografias)
As fotos enviadas pelo Dr. Rogério Bertani permitem, claramente, reconhecer
que se trata de um exemplar jovem de Trechona. Esse registro amplia a distribuição
conhecida do gênero em direção ao interior do País e a uma região de transição de
biomas, entre a Floresta Atlântica e o Cerrado.
5- BRASIL: Minas Gerais: Caiana (F ? IBSP 3004B, examinado).
Este exemplar, infelizmente, encontra-se danificado, com todas as pernas soltas.
A genitália, dissecada por algum pesquisador anterior, não está junto ao exemplar. O
município de Caiana situa-se próximo ao Parque Nacional do Caparaó, localidade-tipo
de Trechona sp. n. 2 “renneri”, e à divisa com o estado do Rio de Janeiro. Pode tratar-
se da fêmea desconhecida de “T. renneri”. Contudo, uma definição da identidade deste
espécime depende da coleta de espécimes adultos, com genitália desenvolvida.
65
5. DISCUSSÃO
5.1. Caracteres taxonômicos genéricos e específicos
Como visto nas seções Introdução e Resultados, apesar do gênero Trechona ser
facilmente identificável, a variação existente em alguns dos caracteres diagnósticos é
maior do que a registrada na literatura e pode haver sobreposição com os estados
encontrados em Diplura, dependendo da espécie.
A lira de Diplura apresenta, segundo RAVEN (1985), um máximo de doze
cerdas rígidas, clavadas ou não. PEDROSO, BAPTISTA & FERREIRA (2008) já
haviam relatado a existência de espécies com até 20 cerdas na lira. Adicionalmente, um
espécime adicional de uma espécie inédita de Diplura, da Serra dos Órgãos, RJ,
recentemente examinado, apresenta 26 cerdas na lira. A maior variação no número de
cerdas da lira pode causar dúvidas quanto à identificação de determinados espécimes.
Embora o maior número de cerdas rígidas (acima de 50 cerdas, de tamanhos variáveis)
da lira seja um estado exclusivo de Trechona, a disposição das cerdas em várias séries é
o caráter que melhor permite a separação entre esses dois gêneros. Devemos levar em
conta, entretanto, que exemplares muito jovens de Trechona apresentam um pequeno
número de cerdas na lira, dispostas em uma única série (MELLO-LEITÃO & ARLÉ,
1934), o que torna difícil sua separação de espécies de Diplura que apresentam padrão
zebrado no abdome.
O pequeno tamanho relativo das fiandeiras de Trechona sempre foi considerado
um caráter diagnóstico importante para o gênero. Porém, apenas as fêmeas apresentam
as fiandeiras sempre bem menores em relação ao abdome (não atingindo a metade do
comprimento deste). Em alguns machos (especialmente Trechona sp. n. 2 “renneri”) e
nos espécimes muito jovens, as fiandeiras podem quase atingir o comprimento do
abdome. Por outro lado, existem espécies de Diplura em que as fiandeiras das fêmeas
66
são relativamente curtas, atingindo pouco mais de metade do comprimento do abdome.
Mesmo machos de Diplura, cujas fiandeiras são mais longas que as das fêmeas, podem
apresentar fiandeiras um pouco mais curtas ou tão longas quanto o abdome. Levando
em conta a variação em diferentes espécies, torna-se evidente que o tamanho relativo
das fiandeiras não pode ser considerado como caráter diagnóstico exclusivo para o
gênero, mas usado como característica auxiliar para a identificação.
Um caráter diagnóstico interessante e não ressaltado na literatura é a grande
fóvea recurva de Trechona. A fóvea de Diplura em diferentes espécies examinadas, em
contraste, é reta e de menor tamanho.
Os melhores caracteres diagnósticos para a separação entre as espécies de
Trechona são o formato dos bulbos copulatórios e do metatarso I nos machos e a forma
das espermatecas e a quantidade de cerdas espiniformes negras na face ventral do tarso
da perna III nas fêmeas. A coloração, especialmente as faixas transversais, o tamanho
do corpo e o número de cúspulas na coxa dos palpos (maxila) também são muito úteis.
5.2. Espécies excluídas do gênero
Como resultado das atividades desenvolvidas durante esta dissertação, as três
espécies listadas abaixo foram excluídas de Trechona. A maioria dos dados abaixo já foi
publicada em PEDROSO, BAPTISTA & FERREIRA, 2008.
Trechona adspersa Bertkau, 1880
Trechona adspersa Bertkau, 1880a: 30, pl. 1, f. 9; Bücherl, 1957: 386, f. 16-16a.
“Trechona” a.: Pedroso, Baptista & Ferreira, 2008: 365-366 (transf. p/ Nemesiidae).
Espécie baseada em um macho, tendo como localidade-tipo Pedra-Açu,
Teresópolis, RJ. O holótipo foi, provavelmente, depositado no Instituto Real de
67
Ciências Naturais da Bélgica (IRNSB), pois a maioria dos aracnídeos coletados pela
missão belga ao Brasil, e publicados no mesmo volume em que foi descrita T. adspersa,
foram depositados nesse museu, incluindo seis espécies de opiliões (KURY, 2003).
Infelizmente, o holótipo não foi encontrado no IRNSB (L. Baert, comunicação pessoal)
e está, provavelmente, perdido. Tanto a descrição, como as ilustrações fornecidas por
BERTKAU, 1880 (pr. 1, fig. 9) indicam tratar-se de um espécime de Nemesiidae. O
holótipo é uma pequena aranha (corpo comprimento 11 mm), com manchas claras
abundantes, dispostas transversalmente, no abdome, palpo com tíbia curta e engrossada
e bulbo copulatório afinando regularmente até a extremidade do êmbolo, todas
características similares ao de alguns representantes de Nemesiidae. Além disso, uma
fêmea de um gênero inédito de Nemesiidae (R. Baptista, com. pessoal) foi coletada
próximo à localidade-tipo, muito similar à descrição de Bertkau. Como não é possível
realizar uma atribuição genérica precisa, “Trechona adspersa” é considerada como
Nemesiidae incertae sedis.
Mygale lycosiformis (C. L. Koch, 1842)
Mygale lycosiformis C. L. Koch, 1842: 85, f. 745 (Df).
Trechona l.: C. L. Koch, 1850: 74.
“Avicularia” l.: Pedroso, Baptista & Ferreira, 2008: 366 (transf. p/ Theraphosidae).
Baseada em uma fêmea do Brasil, essa espécie foi transferida para Trechona por
C. L. KOCH (1850). O local de depósito do holótipo não foi especificado na descrição
original. Uma das possibilidades seria a Coleção Zoológica do Museu de História
Natural, Universidade Humboldt, Berlin (Zoologische Sammlung, Museum für
Naturkunde der Universität Humboldt, Berlin, ZMHB), juntamente com a maioria do
material descrito por C. L. Koch, incluindo muitas outras espécies descritas no mesmo
volume de 1842 do Die Arachniden. A segunda possibilidade seria a Coleção Estatal de
Zoologia, Munique (Zoologische Staatssammlung München, ZSMC), tendo em conta
68
que o holótipo pertence à coleção Perty, depositada nesta instituição. No entanto, o
curador da Coleção Aracnológica do ZMHB, Dr. Jason Dunlop, respondendo a nosso
pedido, informou que não conseguiu localizar qualquer espécime de M. lycosiformis
naquela coleção (com. pess.). O curador da ZSMC, Dr. Roland Melzer, também não
encontrou o tipo de M. lycosiformis (com. pess.). Em vista disso, o holótipo é
considerado como perdido. A descrição e ilustração originais (KOCH, 1842, fig. 745),
embora incompletas e imprecisas, permitem reconhecer que esta espécie, claramente,
não é uma Trechona. A cor marrom uniforme, sem listras contrastantes sobre o abdome,
o corpo peludo, as fiandeiras curtas e a forma e proporção das pernas, relativamente
grossas, mostram que Mygale lycosiformis é um Theraphosidae incertae sedis. O nome
genérico Mygale Lamarck, 1802, pré-ocupado, foi substituído por Avicularia Lamarck,
1818. No entanto, é evidente que M. lycosiformis não pertence ao gênero Avicularia,
como é evidenciado por sua cor castanha e pernas cobertas por pelos moderadamente
curtos e relativamente escassos. Infelizmente, como esta espécie não pode ser alocada
precisamente em um dos inúmeros gêneros de Theraphosidae, o nome Mygale
lycosiformis deve ser citado como Avicularia lycosiformis (C. L. Koch, 1842) comb.
nov., nomen dubium. Esse novo nome foi mais um a compor a extensa lista de 29
nomina dubia em Avicularia (PLATNICK, 2009). A citação de Trechona lycosiformis
para a Guiana Britânica encontrada nas versões do catálogo de Platnick até 2008 (v.
7.0), antes da transferência para Theraphosidae, era um lapso, referindo-se, em
realidade, à citação errônea de T. venosa para aquele país, feita por MELLO-LEITÃO
(1923).
Trechona sericata Karsch, 1879
Trechona sericata Karsch, 1879d: 545
Linothele s.: Pedroso, Baptista & Ferreira, 2008: 366.
69
Espécie baseada em uma fêmea holótipo de Bogotá, Colômbia (corpo 34 mm de
comprimento). O holótipo é um espécime alfinetado e fixado a seco, depositado no
ZMHB. Uma fotografia do habitus do holótipo, gentilmente enviada pelo curador do
ZMHB, Dr. Jason Dunlop, foi analisada. De acordo com a fotografia e a descrição
original de KARSCH (1879), o holótipo tem fiandeira lateral posterior 1,5 mais longa
que o corpo e não possui faixas transversais sobre o abdome. Além disso, Karsch não
citou a existência de cerdas clavadas sobre a face interna da coxa do pedipalpo. Todas
as espécies de Trechona conhecidas têm fiandeiras mais curtas (até pouco mais de 75%
do comprimento do abdome), faixas transversais sobre o abdome e uma espessa camada
de cerdas clavadas na face interna da coxa do pedipalpo. Assim, Trechona sericata deve
ser excluída do gênero. As fiandeiras alongadas, com pernas e tarso flexível, indicam
que esta espécie poderia pertencer ou ao gênero Linothele Karsch 1879, ou a
Ischnothele Ausserer 1875. Linothele é um gênero comum na Colômbia, com algumas
espécies que ostentam fiandeiras muito longas e tarso flexível. Ischnothele também é
encontrada na Colômbia, representada por Ischnothele caudata Ausserer 1875, uma
espécie de ampla distribuição naquele país (COYLE, 1995). Levando em consideração
o abdome alongado, as pernas relativamente longas, a forma da carapaça e a região
ocular ampla do holótipo, além da coloração acobreada, é evidente que T. sericata
pertence a Linothele, assemelhando-se a L. megatheloides Paz & Platnick 1977. Então,
Trechona sericata = Linothele sericata (Karsch, 1879) comb. nov.
5.3. Mudanças de status taxonômico
Trechona rogenhoferi (Ausserer, 1871) nomen dubium
Diplura rogenhoferi Ausserer, 1871: 179.
Eudiplura r.: Simon, 1892a: 179 (Macho de T. venosa, identificação errônea); Fischel,
1927: 67, f. 9-10 (Macho provavelmente de Linothele, identificação errônea).
70
T. r.: Raven, 1985a: 75, f. 30 (somente fêmea. Macho pertence a T. venosa,
identificação errônea); Pedroso, Baptista & Ferreira, 2008: 366 (nomen dubium).
Essa espécie foi baseada em uma “fêmea” do Brasil (Museu de Viena, não
examinada). Contudo, o pequeno tamanho do holótipo (19 mm) e as fiandeiras
relativamente longas indicam que se trata de um jovem, o que dificulta a determinação
do status de T. rogenhoferi. RAVEN (1985) forneceu uma figura da lira do holótipo,
que demonstra que essa espécie é, realmente, uma Trechona. Ele também analisou e
ilustrou o macho do Brasil (Museu de Paris, não examinado), identificado como
Eudiplura rogenhoferi por SIMON (1892). As ilustrações detalhadas desse macho,
feitas por Raven, permitem identificá-lo como um espécime de Trechona venosa, o que
pode ser demonstrado pelo bulbo piriforme (fig. 25) e os metatarsos profundamente
entalhados, com um grande engrossamento na área da protuberância retrolateral (fig.
26). No entanto, não há nenhuma evidência de que esse macho pertence à mesma
espécie do holótipo de T. rogenhoferi. Assim, esta espécie foi considerada como nomen
dubium por PEDROSO, BAPTISTA & FERREIRA, 2008, já que não há indicação
precisa de uma localidade-tipo e espécimes jovens não são, geralmente, identificáveis
até espécie. Se levarmos em consideração que as cidades do Rio de Janeiro e de Santos
eram duas das mais importantes localidades de coleta na época da coleta do holótipo, é
possível que T. rogenhoferi seja um sinônimo júnior de T. venosa (se recolhido no
estado do Rio de Janeiro) ou sinônimo sênior de T. rufa (se tiver sido coletado no estado
de São Paulo).
Trechona rufa Vellard, 1924 é considerada como uma espécie válida, sendo
removida da sinonímia de Trechona venosa, de acordo com PEDROSO, BAPTISTA &
FERREIRA, 2008 e com a seção de Resultados desta dissertação. Essas duas espécies
são diferenciadas por numerosos caracteres, como as faixas intercaladas entre as faixas
71
transversais claras no abdome, número de cúspulas maxilares, ocorrência de cerdas
espiniformes na face ventral dos tarsos das pernas posteriores, forma das espermatecas e
dos bulbos copulatórios. Contudo, a variação apreciável de caracteres em T. rufa
dificulta, às vezes, sua separação de T. venosa. Embora T. venosa apresente um tamanho
médio (corpo macho 37 mm, fêmea 48 mm) maior que o de T. rufa (corpo macho 31
mm, fêmea 40 mm), existe uma superposição entre os extremos de tamanho dessas
espécies. As fêmeas de T. rufa também podem apresentar variação apreciável no
formato das espermatecas, com a cabeça apresentando divisão em lóbulos, diferente da
forma ovalada mais comum, e o ramo lateral relativamente longo, semelhante ao de T.
venosa, e contrastando com a típica saliência curta da maioria dos espécimes da espécie
paulista. Um exemplo notável da variação em T. rufa são os dois machos coletados em
Caraguatatuba, SP (MNRJ s/n). Esses espécimes apresentam caracteres intermediários,
como um tamanho maior do que o usual para T. rufa, o metatarso I um pouco
engrossado na área da protuberância retrolateral e o bulbo copulatório também de
formato diferenciado. Entretanto, sua coloração é mais acastanhada, e não negra, seu
ventre é mais claro e o número de cúspulas atinge um máximo de 33 (contra mínimo de
40 em machos de T. venosa). Além disso, eles possuem uma clara protuberância
retrolateral (ausente em T. venosa) e não apresentam a base do metatarso I com
concavidade acentuada e formando uma quina distinta com o engrossamento logo
acima.
5.4. Fundamentação das novas espécies
Trechona sp. 1 “minuana pode ser diferenciada das outras espécies por
possuir a espermateca com cabeça proporcionalmente bem menor, situada sobre um tipo
de pedúnculo, curvado para dentro, e com o ramo lateral mais longo que o braço da
espermateca. Outras diferenças são o tarso III com uma fileira ventral de cerdas
72
espiniformes negras, indo da parte basal até as garras (às vezes, interrompida na metade
inferior, mas sempre com cerdas em torno da área glabra basal), e o padrão de cor, com
cefalotórax e pernas castanho-alaranjados e faixas transversais castanho-claras pouco
contrastantes sobre o fundo castanho do abdome.
Trechona sp. 2 “renneri é baseada somente em um exemplar macho.
Entretanto, ela possui algumas características diagnósticas. O tamanho do corpo é de
25,0 mm de comprimento total, sendo menor que as outras espécies conhecidas. A lira é
bem diferente daquela das demais espécies, apresentando uma divisão clara entre a parte
basal e a distal e com cerdas pouco clavadas e não muito diferentes entre si em todas as
fileiras. As faixas transversais no dorso do abdome são contínuas (como em T.
uniformis). Em relação às espécies com machos conhecidos, o bulbo copulatório é
piriforme e mais delgado, com a base do êmbolo bem espessada. A protuberância
retrolateral do metatarso I é romba e situa-se abaixo da inserção do espinho ventral,
contrastando com a posição ao mesmo nível ou acima do espinho encontrada em outras
espécies.
Trechona sp. 3 “cotia representa um táxon bem distinto das demais espécies
encontradas no estado de São Paulo, embora sua distribuição esteja englobada na de T.
rufa. O bulbo copulatório apresenta êmbolo relativamente alongado, alcançando quase
60% do comprimento da tíbia do palpo. O êmbolo também é sinuoso com uma curva
longa e suave em “S” em vista frontal. O bulbo propriamente dito (sem incluir o êmbolo
e sua base) é mais largo do que longo, de forma semelhante, mas não tão acentuada
quanto, aquela de T. uniformis. Em vista lateral, o ápice do êmbolo ultrapassa bastante a
margem do bulbo, devido a sua forte inclinação em direção frontal, o que diferencia esta
espécie das demais. As faixas transversais muito finas e com extremidades mesais bem
distantes entre si são também exclusivas desta espécie. O número de 33-34 cúspulas no
macho “holótipo” também está acima da variação encontrada em T. rufa (máximo de 27
73
cúspulas). Embora haja muitos registros de T. rufa em Cotia, Santo André e arredores,
nenhum outro exemplar de Trechona sp. 3 “cotia” foi encontrado nos lotes examinados,
o que enfatiza a necessidade de novas coletas nessa área.
5.5. Distribuição geográfica do gênero
Mapas 1-2
No início desta revisão, a distribuição do gênero Trechona compreendia uma
área que ia da Colômbia até as Guianas e o Brasil (Amazônia e regiões Sul e Sudeste),
segundo a literatura. Contudo, essa distribuição foi consideravelmente reduzida como
resultado desta dissertação. A inclusão da Colômbia na área de distribuição de Trechona
devia-se a T. sericata, que, como vimos anteriormente, não pertence ao gênero. Já a
inclusão das Guianas e da Amazônia foi feita por MELLO-LEITÃO (1923), sem a
menção de qualquer espécime que pudesse corroborar essa afirmação. O exame das
coleções brasileiras e a pesquisa na literatura não evidenciaram nenhum espécime
daquelas áreas.
A área de distribuição do gênero Trechona é, portanto, reduzida à Mata
Atlântica dos seguintes estados: Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro,
São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, dos quais foram obtidos exemplares do
gênero.
74
6. CONCLUSÕES
1. Foram reconhecidas seis espécies de Trechona C. L. Koch, 1850, das quais
três são inéditas, tendo sido elaboradas descrições detalhadas e figuras representando as
características diagnósticas de cada espécie.
2. Trechona adspersa Bertkau, 1880 foi considerada como integrante de um
gênero inédito de Nemesiidae, pois apresenta o bulbo similar ao de alguns
representantes desta família. Uma fêmea desse nemesiídeo também foi coletada na
localidade-tipo, sendo similar á descrição de Bertkau.
3. Trechona lycosiformis (C. L. Koch, 1842) foi transferida para Theraphosidae,
baseado na ilustração e descrição feitas pelo o autor. Uma nova combinação mandatória,
“Avicularia” lycosiformis, foi realizada, embora essa espécie, claramente, não seja uma
Avicularia Lamarck, 1818 verdadeira, e devesse ser considerada como incertae sedis.
4. A única espécie colombiana incluída no gênero, Trechona sericata Karsch,
1879, foi transferida para o gênero Linothele, formando a nova combinação Linothele
sericata (Karsch, 1879).
5. Trechona rogenhoferi (Ausserer, 1871) foi considerada como um nomen
dubium. Essa espécie foi baseada em um jovem, de procedência do Brasil, sem
localidade específica, e pode ser um sinônimo de outras espécies válidas. O macho
ilustrado por Raven (1985) pertence, claramente, a Trechona venosa.
6. A subespécie Trechona venosa rufa Vellard, 1924 foi redescrita e elevada ao
nível de espécie. O macho dessa espécie também foi descrito pela primeira vez. A área
de distribuição da espécie restringe-se ao estado de São Paulo.
7. Trechona uniformis Mello-Leitão, 1935 tem sua ocorrência para os
municípios de Salesópolis e Ubatuba, estado de São Paulo. Foi feito ainda o primeiro
registro para o estado de Minas Gerais, municípios de Rio Preto e Lima Duarte e,
provavelmente, para o estado do Rio de Janeiro, município de Angra dos Reis. Até
75
então só se conhecia o macho holótipo, cuja localidade-tipo é apenas o estado de São
Paulo, sem localidade específica.
8. O esclarecimento da identidade de Trechona venosa (Latreille, 1832) foi
efetuado, com a expansão da distribuição para o estado do Espírito Santo.
9. A espécie inédita Trechona sp. 1 “minuana” foi descrita, a partir de fêmeas
encontradas nos municípios de Blumenau e Florianópolis, estado de Santa Catarina.
10. Trechona sp. 2 “renneri” também é uma espécie inédita, baseada em um
único macho, do Parque Nacional do Caparaó, estado de Minas Gerais.
11. A terceira espécie não publicada, Trechona sp. 3 “cotia”, foi baseada em um
único macho, coletado no município de Cotia, estado de São Paulo. Além dele, há um
jovem do município de Santo André, no mesmo estado.
12. A área de distribuição do gênero Trechona foi reduzida, restringindo-se
somente à Mata Atlântica dos seguintes estados: Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais,
Rio de Janeiro, Rio grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
13. Foram feitos registros inéditos importantes, que ajudam a delimitar a área de
ocorrência de Trechona, como o mais meridional (Rio Grande, Rio Grande do Sul), o
mais setentrional (Porto Seguro, Bahia) e o mais ocidental (Ouro Preto, Minas Gerais).
14. Os melhores caracteres diagnósticos para as espécies são presença de faixas
intercaladas entre as faixas claras do abdome, número de cúspulas maxilares, presença
de cerdas negras na face ventral do tarso da perna III das fêmeas, forma dos bulbos
copulatórios, modificações do metatarso I dos machos e forma das espermatecas.
76
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
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Figura 2: Desenho esquemático de uma Mygalomorphae, vista dorsal.
81
Tarso do palpo
Patela do palpo
Tíbia do palpo
Quelícera
Fêmur do palpo
Trocânter do palpo
Coxa do palpo
Carapaça
Abdome
Fiandeira lateral posterior
Figura 3: Desenho esquemático de uma Mygalomorphae, vista ventral.
Lábio
Tarso da perna I
Metatarso da perna I
Tíbia da perna I
Patela da perna I
Fêmur da perna I
Trocânter da perna I
Coxa da perna I
Esterno
Sulco epigátrico
Cúspulas
82
Figs 4-7. Trechona rufa. 4. Fêmea (MNRJ 4175) de Atibaia, SP, tarso III, vista ventral; 5.
espermateca, vista dorsal; 6. Macho (MNRJ 4179) de Ribeirão Grande, SP, junção tíbia-
metatarso I, vista retrolateral; 7. Idem, vista ventral.
4
6
7
5
83
Figs 8-11. Trechona rufa. Macho (MNRJ 4179) de Ribeirão Grande, SP, pedipalpo esquerdo:
8. Tíbia, vista retrolateral; 9. Bulbo copulatório, vista retrolateral; 10. Idem, vista frontal; 11.
Idem, vista prolateral;
11
10
8
9
84
Figs 12-15. Trechona uniformis. 12. Fêmea (MNRJ 4178) de Rio Preto, MG, espermateca,
vista dorsal. 13. Macho (MNRJ 4178) de Rio Preto, MG, junção tíbia-metatarso I, vista
retrolateral; 14. Idem, ventral. retrolateral.
1413
12
85
Figs 15-18. Trechona uniformis. edipalpo esquerdo.
16. Tíbia, vista retrolateral; 17. Bulbo copulatório, vista retrolateral; 18. Idem, vista frontal; 19.
Idem, vista prolateral.
Macho (MNRJ 4178) de Rio Preto, MG, p
16
17
18
15
86
Figs 19-23. Trechona venosa. 19. Macho, carapaça; 20. Fêmea (MNRJ 3458) de Cachoeiras de
Macacu, RJ, tarso III, vista ventral; 21. Fêmea (MNRJ 3458) espermateca, vista dorsal (lado
esquerdo um pouco inclinado. 22. Macho (MNRJ 3458) de Cachoeiras de Macacu, RJ, junção
tíbia-metatarso I, vista retrolateral; 23. Idem, vista ventral.
21
20 23
22
19
87
2726
24
Figs 24-27. Trechona venosa. Macho (MNRJ 3458) de Cachoeira de Macacu, RJ, pedipalpo
esquerdo: 24. Tíbia, vista retrolateral; 25. bulbo copulatório, vista retrolateral; 29. Idem, vista
frontal; 30. Idem, vista prolateral .
25
88
Figs 28-29. Trechona sp. nova 1“minuana”. Fêmea (MNRJ 13814) de Florianópolis, SC. 28.
tarso III, vista ventral; 29. espermateca, vista dorsal.
29
28
89
Figs 30-31. Trechona sp. nova 2 “renneri”.
Nacional do Caparaó, MG, junção tíbia-metatarso I. 30. vista retrolateral; 31. vista ventral.
Macho (MNRJ 4171, ex CRB T49) do Parque
30 31
90
Figs 32-35. Trechona sp. nova 2 “renneri”. Macho (MNRJ 4171, ex CRB T49) do Parque
Nacional do Caparaó, MG, pedipalpo esquerdo: 32. Tíbia, vista retrolateral; 33. bulbo
copulatório, vista retrolateral; 34. Idem, vista frontal; 35. Idem, vista prolateral .
34 35
32 33
91
Figs 36-37. Trechona sp. nova 3 “cotia”. Macho (IBSP 11590) de Cotia, SP, junção tíbia-
metatarso I. 36. vista retrolateral; 37. vista ventral.
36 37
92
Figs 38-41. Trechona sp. nova 2 “cotia”. Macho(IBSP 11590) de Cotia, SP, pedipalpo
esquerdo: 38. Tíbia, vista retrolateral; 39. bulbo copulatório, vista retrolateral; 40. Idem, vista
frontal; 41. Idem, vista prolateral .
38 39
40 41
93
Mapa 1. Distribuição do gênero Trechona segundo a literatura.
Trechona adspersa
Trechona lycosiformis
Trechona rogenhoferi
Trechona sericata
Trechona uniformis
Trechona venosa
Trechona venosa rufa
94
SP
PR
SC
RS
RJ
MG
MS
GO
BA
?
?
Trechona uniformis
Trechona venosa
Trechona rufa
Trechona sp. n. 1
Trechona sp. n. 3
Trechona sp. n. 2
Trechona spp
Mapa 2. Distribuição das espécies de Trechona resultantes desta dissertação.
MT
95
Fig. A5 Trechona venosa Fig. A6 Trechona
Fig. A1 Trechona
Fig. A4 Trechona rufa Fig. A3 Trechona rufa
Fig. A2 Trechona
Tipos de tocas encontradas no gênero Trechona.
96
Fig. B5 Trechona spp Fig. B6 Fêmea Trechona
Fig. B4 Macho Trechona
Fig. B2 Fêmea Trechona rufa
Fig. B3 Fêmea Trechona
Fig. B1 J. Trechona sp. n. 1
Hábitus: B1-Blumenau, SC; B2-Juréia, SP; B3-Ilha Anchieta, SP; B4-Jaraguá, SP; B5-
Itacolomi, MG; B6-Santa Teresa, ES.
97
Fig. C3 Trechona venosa Fig. C4 Trechona sp. n. 1
Fig. C1 Trechona rufa Fig. C2 Trechona
Lira nas fêmeas de Trechona: C1-Praia Grande, SP; C2-Rio Preto, MG; C3-Santa Teresa,
ES; C4-Florianópolis, SC.
98
Lira nos machos de Trechona: D1-Ribeirão Grande, SP; D2-Boracéia, SP; D3-Floresta da
Tijuca, RJ; D4-Caparaó, MG; D5-Cotia, SP.
Fig. D2 Trechona
Fig. D4 Trechona sp. n. 2
Fig. D1 Trechona rufa
Fig. D3 Trechona venosa
Fig. D5 Trechona sp. n. 3
99
Fig. E5 Trechona rufa
Fig. E3 Trechona rufa
Fig. E6 Trechona venosa
Fig. E4 Trechona venosa
Fig. E2 Trechona venosa Fig. E1 Trechona rufa
Fêmeas Trechona em diferentes posições: Trechona rufa (esquerda); Trechona venosa
(direita).
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