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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA
DOUTORADO EM SOCIOLOGIA
(DES)Caminhos do Poder Profissional Docente: uma leitura das
Representações Sociais do Professor
Maria Aparecida Tenório Salvador da Costa
Recife – Pernambuco
2009
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Costa, Maria Aparecida Tenório Salvador da
(Des)Caminhos do poder profissional docente: uma leitura das
representações sociais
do professor / Maria Aparecida Tenório
Salvador da Costa. – Recife: O Autor, 2009.
322 folhas : il., quadros, tab.
Tese (doutorado)
Universidade Federal de Pernambuco.
CFCH. Sociologia, 2009.
Inclui bibliografia e anexos.
1. Sociologia. 2. Representação social. 3. Formação
profissional. 4. Poder profissional - Docente. 5. Professor -
Formação e atuação profissional. I. Título.
316.1
301
CDU (2. ed.)
CDD (22. ed.)
UFPE
BCFCH2009/30
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA
DOUTORADO EM SOCIOLOGIA
(DES)Caminhos do Poder Profissional Docente: uma leitura das
Representações Sociais do Professor
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Sociologia da Universidade Federal de
Pernambuco por MARIA APARECIDA
TENÓRIO SALVADOR DA COSTA sob
orientação da Professora Dra. Silke Weber, como
requisito parcial para obtenção do grau de Doutora
em Sociologia.
Recife – Pernambuco
2009
I
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA
DOUTORADO EM SOCIOLOGIA
(DES)Caminhos do Poder Profissional Docente: uma leitura das
Representações Sociais do Professor
COMISSÃO EXAMINADORA
1.ª Examinadora/Presidente
__________________________________________
Prof. Dr.Artur Fragoso de Albuquerque Perrusi
2.° Examinador
__________________________________________
Prof.ª Dra. Eliane Veras Soares
3.ª Examinadora
Prof.ª Dra. Fátima Maria Leite Cruz
4.ª Examinadora
Prof.ª Dra. Maria de Fátima de Souza Santos
5.ª Examinadora
Recife – Pernambuco
2009
II
DEDICATÓRIA
A Deus, pois embora o centro deste trabalho seja o
homem, a sua vida foi dada por Ele.Vida que se
manifesta em tudo o que pensamos, sentimos, dizemos e
fazemos. Vida contida de temores, dúvidas, esperanças.
Vida que acontece todos os dias. Vida que vamos
bordando com cores, formas, sentimentos. Entretanto,
como diz Autran Dourado: Deus é que sabe por inteiro
o risco do bordado”.
À minha família, terreno fértil onde são plantados o
amor, o respeito, a solidariedade, a responsabilidade, a
perseverança, a sensibilidade, o senso de justiça. Todos,
valores imprescindíveis à humanização do homem.
A todos os Professores, que buscam compreender a
realidade da sua profissão e, a partir daí, constroem sua
identidade profissional; que não aceitam a sujeição aos
processos formativos e práticos impostos, mas que se
fazem sujeitos desses processos; que assumem o
compromisso da docência conscientes da sua dimensão e
dos desafios que essa atividade enfrenta; que concebem e
vivem a ética profissional, embora conheçam os dilemas
por ela demandados.
III
AGRADECIMENTOS
A conclusão de um trabalho é um momento muito especial, pois ao tempo em
que as diversas fases do seu desenvolvimento chegam à memória, com elas surgem as
pessoas que participaram da sua construção. Essas participações têm características
muito particulares, por essa razão um agradecimento parece ser mais adequado, mas
para algumas pessoas não o suficiente.
Agradeço à Profª. Dra. Silke Weber, por seu acolhimento a mim como sua
orientanda, e por seu crédito a uma questão de pesquisa que compreendeu
como relevante para o campo profissional docente. O valor da sua
orientação para mim, como para o universo educacional, decorre da sua
ardorosa, inspiradora e incansável busca para tornar exequível o
conhecimento. Agradeço por sua zelosa atenção a todas as questões trazidas
para orientação e pela forma como sua condução favoreceu à autoconfiança
e à autonomia dessa orientanda. Agradeço pela oportunidade de partilhar
suas relações com os sujeitos sociais, sempre pautadas por extrema
sensibilidade, generosidade e respeito.
Aos Professores do Programa de Pós-Graduação em Sociologia,
especialmente os dedicados ao doutorado em Sociologia, pelos
conhecimentos construídos, nas pesquisas realizadas e nos profundos
debates em sala de aula, assim como pelas ideias compartilhadas.
Ao Professor Eliot Freidson, que a partir da sua resposta a uma
comunicação que lhe mandei, ainda quando eu cursava a disciplina
‘Profissões e Sociedade’ com a Professora Silke Weber no ano de 2003, foi
IV
reforçado em mim o desejo pelo objeto desta pesquisa. Apesar de ter
enviado o meu agradecimento no momento em que esse professor, ainda,
desempenhava suas atividades na Universidade de Nova York – USA,
registro neste espaço um agradecimento póstumo a esse pesquisador, cujos
trabalhos sobre o campo profissional configuram a renovação do
pensamento nessa área de conhecimento.
Ao Prof. Dr. Arthur Perrusi, por sua atenção e por suas palavras
encorajadoras no exame de qualificação, que, além de contribuir com o
redimensionamento deste trabalho, o enriqueceu com o compartilhamento
das suas produções acadêmicas.
Aos colegas integrantes do Grupo de Estudo, coordenado pela Professora
Silke Weber, que ao discutirem os diversos temas programados
contribuíram com suas reflexões para a ressignificação das ideias
desenvolvidas neste trabalho. Especialmente agradeço a Zélia Porto,
Rosângela Tenório, Alice Botler, Salete, Luciana Marques e Maria Creuza.
Aos colegas do curso de doutorado em Sociologia pela possibilidade de
troca dos ricos conhecimentos formais. Mas, e, sobretudo, pelos momentos
especiais de nossas vidas. Pelas palavras de de Gustavo; pelo convite a
mim e ao meu esposo para padrinhos de casamento de Vilma e Ivan, que
embora distantes geograficamente, sempre estaremos juntos de vocês; pela
amizade de Alex, Maurício, David; pelas alegrias de Adriana e Marcela;
pelo convívio com Rui, foi importante compartilhar a alegria de uma das
suas produções no interior da escola básica. Agradeço a cada um que da sua
forma, trouxe clareza, dúvidas, alegrias e ideias tornando essa turma,
segundo muitos professores e funcionários, “especial”.
V
Aos professores do Centro de Educação da Universidade Federal de
Pernambuco e da Universidade Federal Rural de Pernambuco, pelos
fecundos diálogos sobre a educação do nosso país, com destaque para o
poder profissional docente.
Aos professores, sujeitos desta pesquisa, que tão generosamente expuseram
suas histórias profissionais, permitindo emergir os elementos fundantes da
construção desta tese.
Às Instituições de Ensino Superior, que por meio dos seus professores,
possibilitaram o surgimento de dados relevantes para o processo de
pesquisa deste trabalho.
Às Instituições Escolares, com destaque para o Colégio Boa Viagem e a
Escola Marcelino Champagnat, cujos contextos profissionais possibilitaram
a reflexão permanente sobre o profissional professor.
Aos funcionários e estagiários do Programa de Pós-Graduação em
Sociologia, por se apresentarem solícitos às necessidades dos pós-
graduandos.
Aos Professores da Banca Examinadora da defesa desta tese, por sua
aceitação em deslocar-se dos seus afazeres mais próximos, e distanciarem-
se para ler, analisar e compartilhar comigo dos resultados deste trabalho.
VI
RESUMO
Esta tese apresenta os resultados da investigação sobre as Representações
Sociais de um grupo de professores do ensino superior, formadores de professores,
acerca do poder profissional docente. Os fundamentos teórico-metodológicos de
apreensão e análise das representações sociais dos professores pesquisados estão
respaldados na Teoria das Representações Sociais, criada por Serge Moscovici e
ampliada pelos demais pesquisadores desse campo de conhecimento. A pesquisa foi
desenvolvida com professores de 13 (treze) cursos de licenciatura, de faculdades
públicas e privadas do Estado de Pernambuco. Para acessar as representações sociais
dos sujeitos da pesquisa foram realizados entrevistas semiestruturadas e dois grupos
focais, esses grupos foram definidos segundo o critério de ‘geração pedagógica’.
Foram, ainda, aplicados questionários aos professores entrevistados e a um conjunto de
licenciandos. A investigação resultou em três representações sociais distintas Ilusão,
Alvo, Evidência, que trazem as marcas dos processos formativos e práticos dos
professores dos cursos de licenciatura. O estudo advoga a importância das
representações sociais dos professores dos cursos de licenciatura, atinente ao poder
profissional docente, pelo fato de elas se expressarem nas formas de (des)organização
da profissão docente, além de revelarem os elementos constitutivos do poder
profissional docente como: o conhecimento específico, o território delimitado no
mercado de trabalho e o controle dos processos de formação e de exercício profissional
desses docentes.
Palavras-chave: representação social, poder profissional docente, profissão de
professor.
VII
ABSTRACT
This thesis presents the results of the investigation about Social Representations of
teachers from the superior teaching, who graduates teachers, related to the
professional power of teacher . The theory-methodological basis of the apprehension
and analysis of the social representation of researched teachers, are supported in the
Theory of the Social Representations, created by the Serge Moscovici, and enlarged
by the other researchers of this knowledge field. The research was developed with
13(thirteen) licentiateship courses of public and private universities of the State of
Pernambuco. To access the social representation of the subjects of research, half-
structure interviews were made and two focal groups, these groups were determined
according to the criterion of “pedagogic generation” In addition to this, some
questionnaires were applied to the interviewed teachers and to a team of licentiate.
The investigation resulted in three distinct social representations, which bring the
marks of the formative and practical processes of the licentiateship courses. The study
which advocates the importance of the social representations of professors of the
licentiateship courses related to the professional power of the teachers by the fact they
express themselves in the disorganization of teacher profession, besides revealing the
constitutive elements of the teachers professional power such as: the specific
knowledge of limited area of work market and also the process formation control and
the teachers’ professional practice
Key words : Social representation, teacher’s professional power, teacher’s profession
VIII
RÉSUMÉ
Cette thèse présente les résultats de la recherche sur les représentations sociales d'un
groupe d'enseignants des études supérieurs , formateurs d'enseignants, concernant le
pouvoir professionnel de l’enseignant. Les fondements théoriques et méthodologiques
d'appréhension et d’analyse des représentations sociales des enseignants cherchés sont
approuvés dans la Théorie des Représentations Sociales, créé par Serge Moscovici, et
élargie par d'autres chercheurs de ce domaine. La recherche a été menée avec des
enseignants de 13 (treize) cours de licence, de facultés publiques et privées dans l'état
de Pernambuco. Pour accéder aux représentations sociales des sujets de la recherche,
des entretiens semi-structurés et deux groupes de « mise-au-point » ont été réalisés; ces
groupes ont été définit selon le critère de la «génération pédagogique». En plus, des
questionnaires pour les enseignants ont été posés et portaient sur un certain nombre de
étudiants du cours de licence. La recherche a abouti en trois représentations sociales
distinguées qui ont amené des processus formatifs et pratiques des enseignants des
cours de licence. L'étude préconise l'importance des représentations sociales des
enseignants des cours de licence en ce que concerne le pouvoir professionnel
enseignant parce qu'elles s ‘expriment sous la forme de (dés)organisation de la
profession enseignante, et de montrer les éléments constitutifs de la profession, comme
la connaissance spécifique, la zone délimitée dans le marché de travail et le contrôle
des processus de formation et de pratique professionnelle des enseignants.
Mots-clés: représentation sociale, professionnels de l'enseignement, la profession
enseignante.
IX
ÍNDICE DE QUADROS:
1- Competências específicas dos professores formadores de professores no
ensino superior e as competências dos demais professores do ensino
superior. Trabalho desenvolvido pelos participantes do Grupo Focal 1,
Segunda Geração Pedagógica.
2- Frases escritas em tiras de cartolina sobre como os professores formadores
de professores, no ensino superior, são vistos pela sociedade e pelos
colegas de profissão. Trabalho desenvolvido pelos integrantes do Grupo
Focal 1, Segunda Geração Pedagógica.
3- Síntese de como os professores, formadores de professores no ensino
superior, são vistos pela sociedade. Trabalho desenvolvido pelos
participantes do Grupo Focal 1, Segunda Geração Pedagógica.
4- Síntese de como os professores, formadores de professores no ensino
superior, são vistos pelos colegas de profissão. Trabalho desenvolvido
pelos sujeitos do Grupo Focal 1, Segunda Geração Pedagógica.
X
ÍNDICE DE TABELAS:
Tabela 1: Categorização dos sujeitos da pesquisa por área de conhecimento onde
atuam.
Tabela 2: Categorização dos sujeitos pesquisados de acordo com a geração
pedagógica, sexo e IES.
Tabela 3: Categorização dos licenciandos que responderam aos questionários.
XI
ACRÔNIMOS:
ANFOPE Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação.
ANPAE Associação Nacional de Política e Administração da Educação.
ANPEd Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisas em Educação.
OAB Ordem dos Advogados do Brasil.
CEDES Centro de Estudos Educação & Sociedade.
CES Câmara de Educação Superior.
CFE Conselho Federal de Educação.
CNE Conselho Nacional de Educação.
CONFEF Conselho Federal de Educação Física.
CREA Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura.
CREF Conselho Regional de Educação Física.
CREMEP Conselho Regional de Medicina de Pernambuco.
DCN Diretrizes Curriculares Nacionais.
DGES Direção Geral do Ensino Superior – Ministério da Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior.
DOU Diário Oficial da União.
ENEM Exame Nacional do Ensino Médio.
ENADE Exame Nacional do Desempenho dos Estudantes.
FORGRAD Fórum de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras.
FORUMDIR Fórum de Diretores de Faculdades/Centros de Educação das
Universidades Públicas Brasileiras.
IES Instituição de Ensino Superior.
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira.
LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
MEC Ministério da Educação e da Cultura.
PCN Parâmetros Curriculares Nacionais.
PISA Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes.
PNE Plano Nacional de Educação.
PNG Plano Nacional de Graduação.
PNLD Plano Nacional do Livro Didático.
SAEB Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica.
TRS Teoria das Representações Sociais.
UFPE Universidade Federal de Pernambuco.
UFRPE Universidade Federal Rural de Pernambuco.
UPE Universidade de Pernambuco.
XII
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
RÉSUMÉ
ÍNDICE DE QUADROS
ÍNDICE DE TABELAS
ACRÔNIMOS
SUMÁRIO
Introdução ....................................................................................................................1
Capítulo 1: Situando o interesse pelas Representações Sociais do Poder
Profissional Docente .....................................................................................................9
1- A questão central da pesquisa..................................................................................10
2- As questões periféricas da pesquisa ........................................................................14
2.1 - As marcas da origem da profissão de professor..............................................15
2.2 - Aspectos do processo da formação e da prática dos docentes, formadores de
professores, nos dias atuais......................................................................................19
2.3 - Imagens sociais do trabalho docente...............................................................25
3- Os objetivos da pesquisa...........................................................................................31
Capítulo 2: A Teoria das Representações Sociais como possibilidade para a
compreensão do poder profissional docente representado pelos professores
formadores de professores no ensino superior..........................................................33
1- O campo multidisciplinar das Representações Sociais............................................39
2- Por que estudar o poder profissional do docente do ensino superior, formador de
professores, por meio das Representações Sociais?......................................................41
3- Os elementos constitutivos das representações Sociais...........................................47
Capítulo 3: Da Profissão ao Poder Profissional: Os fundamentos que levam à
compreensão das Representações Sociais do Poder Profissional Docente.............51
1 - As questões da profissão como pré-requisito para o entendimento do poder
profissional ...................................................................................................................54
2 - Poder Profissional: Os referentes que podem distinguir o fenômeno, poder
profissional, no mundo empírico..................................................................................59
3 - Profissão Docente: O profissional professor do ensino superior, formador de
professor........................................................................................................................73
3.1 - Contexto histórico...........................................................................................73
3.2 - O estado atual..................................................................................................80
4 - Poder Profissional Docente......................................................................................87
XIII
Capítulo 4: Fundamentos e trajetória metodológica da pesquisa...........................91
1- As Representações Sociais e a pesquisa qualitativa................................................92
2- O estudo piloto.........................................................................................................96
3- Os sujeitos da pesquisa..........................................................................................100
4- Os espaços profissionais onde os sujeitos da pesquisa desempenham suas
atividades docentes......................................................................................................107
5- As entrevistas semiestruturadas.............................................................................109
6- O trabalho com os grupos focais: primeira e segunda geração pedagógica..........117
7- Os questionários aplicados aos professores, sujeitos da pesquisa, e aos
licenciandos.................................................................................................................131
8- Os documentos que auxiliaram na compreensão da organização e da dinâmica do
trabalho dos docentes dos cursos de licenciatura........................................................135
9- Procedimentos de análise do material coletado.....................................................138
Capítulo 5: Os processos de construção das representações sociais do poder
profissional dos docentes do ensino superior, formadores de professores...........142
1- Fatores que viabilizam a construção e manutenção do poder profissional do docente
do ensino superior, formador de professores...............................................................150
1.1 - A formação profissional do docente que forma professores no ensino
superior;
1.2 - A identidade do profissional professor formador da docência no ensino
superior;
1.3 - A organização da categoria dos docentes dos cursos de licenciatura: a
autonomia, o controle da formação e do exercício docentes;
1.4 - Os compromissos do professor formador, com a formação dos professores da
educação básica e com a escola.
2 Fatores que dificultam a construção e a manutenção do poder profissional do
docente do ensino superior, formador de professores.................................................172
2.1 - A inadequação da formação profissional;
2.2 -A não identificação com a profissão de professor, formador da docência no
ensino superior;
2.3 -A desorganização do conjunto dos docentes dos cursos de licenciatura, que
concorre para a falta de controle da formação e da prática dos professores
formadores;
2.4 - A ausência de compromissos dos professores formadores com a formação dos
licenciandos, com a educação básica e com a escola.
2.5 - Outros fatores que impedem a construção e a permanência do poder
profissional dos professores dos cursos de licenciatura.
Capítulo 6: Os sentidos expressos pelos professores do ensino superior,
formadores de professores, sobre o poder profissional da docência: indícios dos
produtos das representações sociais.........................................................................195
1- Os sentidos do poder profissional docente, concebidos e vividos.........................198
XIV
2- Os sentidos do poder profissional docente, concebidos e não vividos..................205
Capítulo 7: Uma leitura das Representações Sociais dos Professores, formadores
de professores no ensino superior, sobre o Poder da Profissão Docente..............217
1 – O poder profissional docente representado socialmente como Ilusão...................222
2 - O poder profissional docente representado socialmente como Alvo......................244
3 - O poder profissional docente representado socialmente como Evidência.............253
Capítulo 8: Desvendando outras leituras das Representações Sociais dos
Professores, formadores de professores no ensino superior, sobre o Poder da
Profissão Docente.......................................................................................................271
1- Os professores dos cursos de licenciatura e as metáforas do poder profissional
docente.........................................................................................................................272
1.1 - As metáforas do poder profissional docente para os professores dos cursos de
licenciatura, que percebem a imagem desse poder como uma ilusão...................275
1.2 - As metáforas do poder profissional docente para os professores dos cursos de
licenciatura, que têm a imagem de alvo em relação a esse poder..........................279
1.3 - As metáforas do poder profissional docente para os professores formadores de
professores, no ensino superior, que percebem a sua existência, e por isso, o
concebem como uma evidência.............................................................................282
2- A dimensão estrutural das representações sociais: o Núcleo Central das
Representações Sociais dos Professores dos cursos de licenciatura atinente ao Poder
Profissional Docente....................................................................................................287
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................293
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................307
ANEXOS.....................................................................................................................322
1- Relação candidato-vaga ao vestibular das Universidades Públicas Federais do
Estado de Pernambuco (UFPE-UFRPE-UNIVASF).
2- Relação candidato-vaga ao vestibular da Universidade de Pernambuco (UPE).
3- Roteiro de trabalho com o grupo focal do estudo piloto.
4- Agenda da Entrevista Semiestruturada.
5- Agenda de trabalho com os Grupos Focais
6- Questionário aplicado aos professores entrevistados.
7- Questionário aplicado aos licenciandos
8- Edital n.° 3, publicado no D.O.U. em 01/03/2004, da Universidade Federal de
Pernambuco.
9- Anúncio da revista VEJA sobre o “Dia do Profissional de Educação Física”.
10- Edital n.° 42/2006 da Universidade Federal do Ceará.
11- Edital n.° 98/2008 da Universidade Federal Rural de Pernambuco.
12- Galeria de Ministros da Educação do Brasil.
13- Galeria de Secretários de Educação do Estado de Pernambuco.
1
Introdução
Elaborar um projeto de pesquisa científica, processar a investigação com todo o
seu rigor e escrever uma tese, reflete uma etapa mais avançada do nosso pensamento,
e, corresponde, também, à tentativa de responder a questões da contemporaneidade.
Assim, esta tese traz o produto dos estudos e das experiências profissionais da
pesquisadora, que teve a oportunidade de transitar por todos os níveis da educação
básica e pelo ensino superior, destacadamente os cursos de formação de professores.
Por meio do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade
Federal de Pernambuco, especialmente do curso de doutorado, uma antiga inquietação
encontrou acolhimento para ser estudada: “As representações sociais dos professores
formadores da docência no ensino superior, sobre o poder profissional docente”.
Porém, longe de fazer apologia à questão do poder, pura e simplesmente, este trabalho
procurou compreender as representações sociais de um tipo particular de poder, ou
seja, o poder profissional dos professores dos cursos de licenciatura, seus processos de
construção e os seus produtos. E, ainda, buscou entender os processos comunicacionais
dessas representações e suas repercussões nos cursos de licenciatura e em
determinadas instâncias da sociedade mais ampla como, por exemplo, a escola, espaço
de trabalho dos licenciados. Esses processos e suas repercussões foram, de certo modo,
revelados pelos sujeitos da pesquisa, por meio das suas vozes.
2
O argumento de uma pesquisa, mais conhecido como objeto de pesquisa, num
primeiro momento, apresenta-se como um conceito, tal como: o trabalho, a educação, a
diversidade, a sociedade, a representação social, o poder profissional, a mudança
social. E esses conceitos são transformados em objetos de pesquisa, por meio de
códigos comunicativos específicos. No caso em estudo, o conceito de poder
profissional docente é transformado em objeto de pesquisa a partir da análise
sociológica, compreendido por meio da Teoria das Representações Sociais (TRS) e
investigado a partir de um processo metodológico que possibilitou o acesso às
representações sociais dos professores dos cursos de licenciatura sobre o poder da sua
profissão.
Este trabalho corresponde a um desafio, ou talvez a uma ousadia, uma vez que
trata de uma questão polêmica que é o poder profissional docente, estudado num
momento de crises sociais, de incertezas, transformações e situações as mais
complexas. As características desse momento são explicadas pelas distintas visões
modernas e pós-modernas, que se desdobram e reverberam, nos mais diversos setores
sociais, onde se inclui o mundo do trabalho e, em particular, as profissões. Na
conturbação do mundo atual, a constituição da força de trabalho se modifica, algumas
profissões nascem, outras se transformam, outras sequer chegam a ser reconhecidas.
Os conselhos profissionais, assim como os sindicatos que foram criados e cresceram
no mundo do emprego, são hoje desafiados a sobreviver no mundo do trabalho. Trata-
se de mudanças significativas, onde se encontram, também, a profissão de professor,
em especial, os profissionais que formam professores no ensino superior.
de se considerar, contudo, as subjetividades humanas, que sofrem as
interferências desse contexto, mas, que interferem com suas competências de análise,
compreensão e transformação, na realidade social de forma individual e coletiva. Essa
3
competência de transformação, decerto, contribui para a visibilidade de um contexto
social caracterizado por paradoxos e rupturas, haja vista a compreensão que se tem do
capitalismo hoje, marcado pela recente crise mundial.
Mas, diante de qualquer análise, seja ela local ou global, a educação assume
papel de destaque, sendo considerada um dos principais determinantes de mobilidade
social, embora se compreenda que o seu desenvolvimento e o seu resultado na
população seja lento, e por isso preocupante, sobretudo em tempos de transformações
tão velozes. Contudo, é certo que no mundo, e em especial no Brasil, a educação
precisa assegurar a sua juventude um futuro de melhor qualidade de vida. A educação
precisa capacitar as novas gerações com conhecimentos e atitudes que as façam evoluir
com base no seu trabalho.
Foi diante dessa complexidade social, que este estudo se desenvolveu por
acreditar, sobretudo, na capacidade transformadora do homem, particularmente, dos
professores dos cursos de licenciatura, que o capazes de fazer resistências às
imposições contrárias ao processo formativo, específico, dos professores formadores
da docência no ensino superior e, consequentemente, construir processos formativos
para os futuros professores da educação básica. Todos esses processos formativos e
práticos deverão assegurar uma educação escolar, cuja qualidade possibilite a
formação e a emancipação do cidadão.
Nesse sentido, esta tese apresenta os resultados da investigação que apreendeu
as representações sociais de professores de 13 (treze) cursos de licenciatura acerca do
poder profissional docente, no contexto das práticas dos professores em instituições de
ensino superior, públicas e privadas do Estado de Pernambuco.
A pesquisa, ora apresentada, seu desenvolvimento e os seus resultados, é de
natureza qualitativa, pois como se pode constatar, o campo teórico e epistemológico
4
que a fundamenta, a prática da pesquisa empírica utilizada e os processos sociais onde
estão inseridos os professores pesquisados a conduziram como pesquisa qualitativa na
sua essência. E, ainda, a pesquisa é percebida como compromisso com as situações
sociais naturais (espaço profissional dos professores, condições de trabalho, relações
interpessoais, e outros) e com as situações complexas (o aporte teórico que fundamenta
a pesquisa). Ambas as situações foram determinantes para o acesso às representações
sociais dos sujeitos pesquisados.
O interesse da pesquisadora, para não dizer a sedução, pela pesquisa qualitativa
reside no fato do valor que a vida cotidiana tem conquistado nos espaços acadêmicos.
Esse cotidiano evidencia o local onde os sujeitos, no caso, os professores formadores
da docência em nível superior, constroem o sentido das suas ações e é nessa vida
cotidiana que os professores verificam as possibilidades e os limites dessas ações.
Mas a opção pela pesquisa qualitativa não impediu o uso de instrumentos
quantitativos, uma vez que esses potencializaram a análise de algumas questões que
envolviam, por exemplo, um grande número de sujeitos ou de informações. Quando
adequadamente utilizados, os instrumentos e técnicas quantitativos não ofuscam a
pesquisa qualitativa, mas, a enriquecem.
As profissões têm sido merecedoras de atenção, sobretudo no campo da
Sociologia das Profissões, e a profissão de professor tem tomado posse de expressivo
espaço nas pesquisas acadêmicas nos diversos campos do conhecimento. Devido ao
campo multifacetado que é a profissão docente, foi preciso fazer um recorte quanto às
concepções a serem pesquisadas neste trabalho, ou seja, profissão, poder profissional,
profissão de professor e poder profissional docente.
Porém, compreendendo que o poder profissional não pode ser reclamado por
alguém, como quem toma posse de um território imperialisticamente, mas, sim como
5
um objeto social que se constrói, o processo de análise dos dados obtidos precisou
considerar alguns elementos que circundam o objeto de estudo como: aspectos do
processo de formação profissional dos professores; compreensão da organização dos
profissionais professores formadores da docência no ensino superior; aspectos que
integram a responsabilidade social dos professores dos cursos de licenciatura, com a
formação dos licenciandos e com a educação básica.
Desse modo tornou-se importante compreender as condições sociais,
econômicas, históricas e culturais que influenciam/influenciaram os conhecimentos
produzidos/reproduzidos pelos sujeitos desta pesquisa, assim como, compreender as
teorias gerais e pedagógicas que têm autoridade sobre esses sujeitos, e que são
expressas por meio do seu pensamento e da sua prática.
Por meio da Teoria das Representações Sociais (TRS), criada por Serge
Moscovici, esta tese apresenta uma compreensão de como os professores do ensino
superior, formadores de professores, representam o poder da sua profissão e como
essas representações repercutem em suas ações. Os fenômenos observáveis, como o
poder profissional, encontram um confortável suporte na TRS, que tem se tornado um
domínio de pesquisa constituído de conceitos e estratégias metodológicas próprias. A
TRS tem comprovado, em mais de quarenta anos de pesquisas, a sua capacidade de
romper com as dissociações entre o subjetivo e o objetivo, o coletivo e o individual, o
sujeito e o objeto, dentre outros, dissociações, no entanto, necessárias para a
compreensão do fenômeno estudado. Dessa forma, a TRS constitui a principal
referência teórica para a investigação do problema desta pesquisa, pois foi preciso uma
imersão nessa teoria, para que os seus elementos constitutivos fossem reconhecidos
durante a análise das manifestações discursivas feitas pelos sujeitos desta pesquisa.
6
Coerentemente com a natureza da pesquisa encontram-se no capítulo referente
à metodologia, os fundamentos, as técnicas e os instrumentos de investigação, que
foram selecionados partindo-se do princípio de que o professor é um sujeito que
interage, desenvolve o seu trabalho a partir de motivações e que sua prática realça as
intenções da sua profissão. Sendo assim, esperava-se superar a inquietação de como
aqueles professores formadores da docência pensam/pensaram e
constroem/construíram conhecimentos sobre o poder da sua profissão e como lidam
com esses conhecimentos no seu cotidiano profissional. Mas a inquietação inclui,
ainda, saber como esses professores constroem/construíram a sua identidade
profissional, qual a sua posição política diante do compromisso que assumiram como
professor formador da docência no ensino superior, estando esses sujeitos, como é
sabido, sob a influência de um sofisticado domínio tecnológico, de uma cultura
econômica ainda dominante e de transformações sociais.
Resulta daí, que para acessar as representações sociais dos professores dos
cursos de licenciatura foram utilizados: a entrevista semiestruturada, o trabalho com
grupos focais, o questionário aplicado e documentos cuja análise complementou as
informações obtidas. Dessa forma, foi possível perceber a articulação entre a vida
coletiva dos professores dos cursos de licenciatura e os processos de composição
simbólica nos quais esses sujeitos sociais empreendem esforços para dar sentido à sua
tarefa de professor formador no ensino superior.
A passagem da metodologia de coleta à metodologia de análise dos dados
obtidos se deu por meio de categorizações das informações, que, consequentemente,
conduziu a diversas leituras do problema em estudo. Nesse procedimento se incluem,
também, os quadros e as tabelas, que agrupam informações ao tempo em que registram
7
os diversos aspectos desses dados. É como uma rede de relações de parentesco
interconectadas das informações obtidas.
Na seqüência desse empreendimento, foi-se em busca das manifestações
discursivas onde seriam investigados o conteúdo e a estrutura das representações
sociais. Na organização e desenvolvimento do processo metodológico, surgiram os
sentidos relacionados, diretamente, ao objeto de estudo, mas emergiram outros como:
fragmentos das histórias de vida dos professores entrevistados, descrição do percurso
de formação e práticas profissionais, relações construídas com os colegas professores
dos cursos de licenciatura. Os sentidos expressos foram destacados e analisados e,
posteriormente, considerados aqueles que estavam na direção das representações
sociais que se desejava conhecer.
Na análise das representações sociais dos professores dos cursos de licenciatura
pesquisados foram identificados fatores que impulsionam os processos de construção
das representações, assim como o produto das representações que se encontra em
mutação. Foi possível perceber, também, a presença e o movimento dos elementos que
compõem o objeto social ‘Poder Profissional’ nas representações sociais reveladas
pelos professores participantes da pesquisa. A busca pelas representações sociais
possibilitou entender outros aspectos da profissão docente, tais como: a formação, a
prática e as relações de poder, que estiveram presentes nos processos de construção e
no produto dessas representações.
As representações sociais apreendidas, atinentes ao poder profissional docente,
são fenômenos complexos que são ativados e permanecem em ação no cotidiano
social. Portanto, essas representações sociais apresentam uma riqueza de componentes:
ideológicos, cognitivos, informativos, valorativos, atitudinais, instrucionais,
8
imagéticos. Mas esses componentes são organizados sob a forma de um saber prático
que declara algo sobre o estado da realidade, ou seja, do poder profissional docente.
Assim, as representações sociais compreendidas, como um saber prático,
conectam o sujeito, professor formador da docência, ao objeto social, poder
profissional docente e, desse modo, as relações entre os professores, entre os
professores e os licenciandos, entre as instituições formadoras da docência no ensino
superior, enfim, todas as relações circularão em torno dessa conexão, conferindo
dimensões e alcances variados.
Os sete capítulos constitutivos desta tese possuem uma articulação entre si,
como forma de assegurar uma característica fundamental da pesquisa qualitativa, que é
evitar o isolamento das suas partes. Assim, a fundamentação teórica, por exemplo,
além dos seus capítulos específicos, está permeando todo o trabalho, dando o suporte
às ideias e às interpretações que foram surgindo. Como também, todas as fases do
trabalho estão diretamente relacionadas com o objeto e com os objetivos da pesquisa.
Finalmente, o produto deste trabalho sinaliza para a compreensão dos limites e
das possibilidades do poder profissional docente, expressas pelos sujeitos investigados.
Isso implica compreender a dinâmica das representações sociais dos professores dos
cursos de licenciatura referente ao poder da sua profissão, ou seja, em como elas se
integram e se enfrentam e os impactos dessa dinâmica nos contextos formativos e
práticos desses docentes.
9
Porque sei que o tempo é sempre o tempo
E que o espaço é sempre apenas o espaço
E que o real somente o é dentro de um tempo
E apenas para o espaço que o contém
Alegro-me de serem as coisas o que são
E renuncio à face abençoada
E renuncio à voz
Porque esperar não posso mais
E assim me alegro, por ter de edificar alguma coisa
De que me possa depois jubilar.
Eliot, T. S. Poesia - Obra completa. – vol. 1
Capítulo 1 - Situando o interesse pelas Representações Sociais do Poder
Profissional Docente.
10
Capítulo 1 - Situando o interesse pelas Representações Sociais do Poder
Profissional Docente
O problema investigado foi se configurando no processo da formação
acadêmica e na experiência profissional da pesquisadora. Essas condições tornaram-se
importantes por oferecer um suporte, que permite o trânsito da pesquisadora por
algumas ideias básicas sobre a docência com certo vel de segurança, e por
possibilitar o alcance da clareza necessária para a resolução do problema estudado.
Todavia, essas condições não impediram que se estabelecesse a distância necessária
entre a investigadora e a dimensão científica do trabalho que se construía.
Provavelmente, foi a característica não familiar sobre como os professores formadores
da docência em nível superior representavam socialmente o poder da sua profissão,
que instigou a pesquisadora a assumir o problema posto para investigação.
1- A questão central da pesquisa
Como é sabido, todo trabalho científico é guiado por uma questão, que
interessou ao pesquisador e essa questão é rodeada de ideias. Mas as ideias que
circundam essa questão não podem ser entendidas como respostas antecipadas sobre
ela, pois como observa Malinowski (1975, p.45),
As ideias pré-concebidas são perniciosas em qualquer tarefa
científica, mas os problemas antevistos constituem a principal
qualidade de um pensador científico e esses problemas são
revelados pela primeira vez ao observador por seus estudos
teóricos.
11
Assim, a questão central que orienta este trabalho é a de compreender as
representações sociais sobre o poder profissional docente, construídas por professores
formadores da docência no ensino superior. As representações apreendidas e
analisadas podem revelar em que medida elas contribuem ou não para a legitimação
desse poder.
Para responder à questão dessa pesquisa, ou seja, Quais as representações
sociais que os professores do ensino superior, formadores da docência, têm sobre o
poder profissional dos professores?” partiu-se da premissa de que para compreender
uma dada realidade, ou seja, as representações desses professores, seria necessário
entender como esses sujeitos sociais identificam, elaboram e comunicam essas
representações. Seria preciso compreender o que Moscovici (2003) chamou de
universos consensuais de pensamento, lugar onde são construídos os fenômenos de
representação social.
Mas responder à questão da pesquisa exigiu, também, o estudo do conceito de
poder profissional. Esse conceito desenvolvido no âmbito da Ciência Social,
particularmente, da Sociologia das Profissões, tem como um dos seus constituintes o
conhecimento específico, teoricamente baseado, na medida em que envolve o lugar da
formação superior na sociedade, ganha, também, sentido no denominado universo
consensual, reverberando, igualmente, no universo do pensamento. Além do mais,
como anota Moscovici (2003, p. 38), as representações sociais são contidas de
peculiaridades como o poder e a claridade que derivam “do sucesso com que elas
controlam a realidade de hoje, através da de ontem e da continuidade que isso
pressupõe”. Isto é, o poder profissional torna-se objeto social, inclusive para aqueles
que têm a tarefa de formar profissionais de nível superior, que tenderiam a combinar
ou excluir elementos de sentido em “construtos representacionais”.
12
O objeto desta pesquisa refere-se às representações sociais de professores
formadores de professores no ensino superior, sobre o poder da sua profissão, mas o
desenvolvimento do estudo desse objeto remeteu a aspectos pertinentes a ele, tais
como: a identidade do professor; as formas de organização dessa categoria
profissional, quanto ao espaço ocupado no mercado de trabalho e o controle sobre a
formação e o exercício docentes; a influência dos cursos de formação de professores,
sobre a qualidade da educação escolar, e outros. Todos esses aspectos evidenciam a
complexidade das representações sociais dos professores formadores acerca do poder
profissional docente, o que corrobora a perspectiva de Jodelet (2001, p. 21) para quem,
“as representações sociais são fenômenos complexos sempre ativados e em ação na
vida social”, por isso mesmo estão sempre cercados de múltiplos elementos. A autora,
ainda, adverte que,
Estes elementos são organizados sempre sob a aparência de
um saber que diz algo sobre o estado da realidade. É esta
totalidade significante que, em relação com a ação, encontra-
se no centro da investigação científica, a qual atribui como
tarefa descrevê-la, analisá-la, explicá-la em suas dimensões,
formas, processos e funcionamento.
Devido a essa complexidade, os conteúdos das representações sociais devem
ser atenciosamente analisados, e todos os seus aspectos relacionados. Por essa razão,
mesmo que uma determinada pesquisa sobre representações sociais tenha como foco o
seu produto, faz-se necessário transitar pelo seu processo e vice-versa.
A complexidade do fenômeno de representações sociais, como explica Spink
(1995b, p. 89) resulta “da desconstrução, no nível teórico, da falsa dicotomia entre o
individual e o coletivo”, mas também da consequência dessa pressuposição, ou seja, de
que não é suficiente “enfocar o fenômeno no nível intraindividual (...) ou social”. Isso
13
implica dizer, que não satisfaz saber, apenas, como o sujeito elabora a informação ou
conhecer, somente, as ideologias, as crenças e outros aspectos inerentes a uma
sociedade. Faz-se necessário compreender a articulação entre o pensamento individual
e o pensamento social. A complexidade das representações sociais é explicada, ainda,
pela sua ‘dupla face’, isto é, seu processo de constituição e seu produto, que está
sempre em mutação.
Desse modo, os professores do ensino superior dos cursos de licenciatura, ao
organizarem esses elementos, elaboram formas específicas de compreender o poder
profissional docente, ou seja, representações sociais, que se distanciam do universo
reificado, operando com o universo consensual, cujos sentidos e finalidades interessa
compreender.
Pode-se afirmar que o objeto desta pesquisa é/foi representado por outros
grupos de professores que exerceram/exercem suas atividades profissionais nos cursos
de licenciatura, e essas representações foram/são transmitidas socialmente e
reelaboradas pelos distintos grupos de professores e por professores individualmente,
tendo como ponto de partida um fundo social e cultural comum a esses profissionais.
Sendo assim, ao buscar apreender e analisar as representações sociais de
professores dos cursos de licenciatura tinha-se a clareza de que se tratava de
recriações, mesmo porque como explica Moscovici (2003, p. 90),
A única realidade disponível é a que foi estruturada pelas
gerações passadas ou por outro grupo e, por outro lado, nós as
reproduzimos no mundo exterior e por isso não podemos
evitar a distorção de nossas imagens e modelos internos.
Essa explicação ratifica a noção de que as representações sociais não são
reproduções, mas são resignificadas nos seus contextos de produção. A perspectiva da
14
recriação é realçada, no caso desta pesquisa, num contexto multifacetado, que é o da
educação superior, lugar historicamente marcado por lutas, conquistas, dificuldades e
contradições, no qual se encontram objetivamente os professores do ensino superior
formadores da docência.
Dessa forma, no caso em estudo, a representação social é a do professor dos
cursos de licenciatura sobre o poder profissional da docência, aproximando-se, assim,
da argumentação de Sá (1998, p. 24) de que a asserção teórica de uma representação
social “é sempre de alguém (o sujeito) e de alguma coisa (objeto)”. Essa estrita relação
entre sujeito e objeto é asseverada por Jodelet (2001, p. 22) para quem “representar ou
se representar corresponde a um ato de pensamento pelo qual um sujeito se reporta a
um objeto”.
O objeto de estudo desta tese, as representações sociais dos professores sobre
o poder profissional da docência, reveste-se de uma natureza abstrata por se tratar de
um conhecimento construído socialmente, acerca de um poder simbólico, ou seja,
intangível. A natureza desse objeto é, também, estranha, exatamente, pelo poder
profissional docente nem sempre se constituir em algo familiar para os professores e, é
justamente, na procura dessa familiarização que ocorre a produção da representação
social. E, finalmente, o objeto de pesquisa apresenta ambiguidade na sua natureza, pois
não existe um consenso em torno das representações sociais dos professores dos cursos
de licenciatura a propósito do poder profissional docente.
2- As questões periféricas da pesquisa
Como as representações sociais têm origens diversas, neste estudo, além da
questão central, procurou-se compreender outras, aqui denominadas de periféricas, que
15
são compreendidas como questões que circundam a questão central como: as marcas
da origem da profissão de professor; aspectos do processo da formação e da prática
docentes nos dias atuais; e as imagens sociais do trabalho docente. Essas questões,
possivelmente, carregam elementos que influenciam a construção e a comunicação das
representações sociais dos professores pesquisados sobre o poder profissional da
docência.
2.1 - As marcas da origem da profissão de professor
A questão das marcas deixadas pela origem e grande parte do desenvolvimento
histórico da profissão de professor, por ter se dado no âmbito das congregações
religiosas, onde se imprimia/imprime obediência X autoridade, teria desempenhado
certa influência sobre as representações sociais de professores acerca do poder da sua
profissão.
Essas marcas remontam ao século XVI, ano da chegada dos portugueses ao
Brasil, dentre eles os jesuítas, que traziam consigo o modelo da educação religiosa dos
colégios católicos espalhados por vários países europeus, que deveria ser estabelecido
na mais nova colônia portuguesa. O mais ilustre centro de saber dos religiosos,
segundo Souza, J. (2003, p. 6), foi o Colégio Romano (1550), que era considerado
“como um modelo de todas as instituições pedagógicas jesuíticas”. Ainda, segundo
esse autor, lendo Leonel Franca, o Colégio Romano é denominado como
Uma espécie de Escola Normal Superior que preparava, de
entre os estudantes da Ordem, os futuros professores,
fornecendo-lhes os melhores métodos e podo-os em contato
com os melhores educadores (cf. Franca, L.S.J., 1952, p. 10).
16
Mas, devido ao grande número de instituições educacionais jesuíticas
espalhadas pelo mundo, era preciso uniformizar a estrutura curricular, os objetivos do
ensino, as metodologias de estudo e os modelos de trabalho. Resulta daí, entre outras
consequências, a criação de variados planos e projetos, porém o documento oficial
definitivo surge em 1599 e é chamado de Ratio Studiorum
1
, que na interpretação de
Souza, J. (2003, p. 11) é considerado “como o embrião da nossa formação de
professores”.
No período colonial, a ação educacional dos jesuítas, como esclarece Xavier
(1994, p. 46), buscava a formação “das elites e das lideranças da sociedade colonial”,
com a intenção de “manter cativa a alma da Colônia”. Portanto, desde a sua chegada ao
Brasil, a Companhia de Jesus agiu em defesa dos interesses da Coroa Portuguesa e da
Igreja Católica. A autora informa, também, que
Isso significa que não se tratava de um ensino alienado,
dogmático e acrítico providenciado pela Metrópole para
submeter a elite e a população colonial aos seus interesses.
Tratava-se, sim, de partilhar com a Colônia o tesouro da
cultura universal, cristã e católica, adequada a todos, e cá,
que se dedicavam ao cultivo da terra, do espírito e à salvação
eterna.
No modelo educacional comandado pelos jesuítas, encontram-se, portanto, as
raízes de uma educação planejada e desenvolvida para a elite social. Possivelmente, as
dificuldades de se trabalhar um modelo de educação para o povo, até os dias atuais,
tenham a sua origem na hierarquização da qualidade da educação implantada pelos
sacerdotes no período colonial brasileiro. Sendo os religiosos, os primeiros professores
dos espaços educacionais no Brasil, a sua concepção de magistério está arraigada aos
dogmas da Igreja. Xavier (1994, p.139) extrai da interpretação das suas pesquisas que
1
Ratio Studiorum: compilação de regras de bem ensinar (Souza, J. , 2003, p.14)
17
o magistério como sacerdócio é exercido como um ato de caridade e de sacrifício, o
que implica aceitar com resignação os problemas apresentados pela realidade”. Com
efeito, o magistério, concebido dessa forma, ratifica os componentes do processo de
formação dos professores, que de acordo com Souza, J. (2003, p. 12-13) eram:
- A formação moral e religiosa: exercícios espirituais, meditação,
contemplação. A vontade pessoal era renunciada em favor da vontade do Senhor.
- A formação intelectual: formação básica que assegurasse uma visão do
mundo. A formação se dava por meio das disciplinas: Gramática, Retórica, Dialética,
Aritmética, Música, Geometria e Astronomia. Domínio do latim, grego e hebreu
(formação literária) e formação filosófica.
- A formação pedagógica: uma formação na prática docente. Ao término do seu
curso, os futuros professores eram entregues aos cuidados do “perito na prática de
ensino”, que os orientava na exposição de aulas, correção de atividades e outros.
O sistema educacional jesuítico reinou absoluto até o século XVIII, quando
suas lideranças foram banidas do Brasil e a reforma educacional implantada pelo
Marquês de Pombal ocupou o seu espaço. Mesmo assim, Xavier (1994, p. 48) anota
que o Plano de Estudos dos Jesuítas ainda reinaria “por séculos, mesmo após a
expulsão dos seus criadores (1759) e o desmantelamento do sistema educacional
colonial”, erguido pela reforma pombalina.
É comum nos estudos sobre a história da educação no Brasil, associar o
domínio da educação jesuítica ao período colonial brasileiro, contudo a presença
religiosa, não somente dos jesuítas, fez-se presente e com muita força em momentos
históricos posteriores. De acordo com Kulesza (S/D, p. 2), “é justamente, a partir da
proclamação da República que a Igreja no Brasil consolida sua hegemonia como
agência formadora das elites dirigentes” e para isso ela cria expressiva quantidade de
18
colégios religiosos pelo país. O regime republicano ao implantar a descentralização
política, possibilitou a Igreja, também, espalhar-se pelo território brasileiro
empregando estratégias diversas para o alcance dos seus objetivos, que podem ser
resumidos no trabalho de imprimir unicidade doutrinária à ação da Igreja como forma
de assegurar a sua milenar tradição.
Resulta daí, que o território brasileiro, de certa forma, era disputado pela Igreja
e pelo Estado no âmbito das políticas sociais. Essa medição de forças que foi chamada
por Miceli (1988, p. 67) de “processo de estadualização do poder eclesiástico”,
impunha ao governador e ao bispo a determinação das suas funções quanto aos
poderes públicos.
Ainda, que sob o comando do Estado, a educação era fortemente influenciada
pela Igreja, que para assegurar o seu espaço no campo educacional procurava conhecer
o conteúdo das reformas educacionais e de uma forma peculiar tê-las ao seu lado. Um
exemplo dessa estratégia da Igreja foi a sua utilização do projeto da Escola Nova,
afirmando a comunhão entre os princípios do novo método educacional e os princípios
da Igreja. Conforme explica Olga (1934, p.73)
A Igreja Católica, em acordo, aliás, com todos os pedagogos
criteriosos, não é contra os princípios da Escola Nova, que são
sim os seus próprios princípios. (...) A Igreja Católica: permite
a classe à liberdade de ação, mas impede a indisciplina.
Estimula a atividade do aluno, mas não lhe plena
autonomia. Ministra-lhes noções econômicas úteis à vida
cotidiana, mas incute-lhe noções morais, indispensáveis a esta
e a outra vida. (...) Estimula a iniciativa da crença, mas deixa
intacta a autoridade do mestre.
Contudo, a influência da Igreja sobre os professores se encontrava, também, em
outras dimensões como o da formação profissional. É pertinente lembrar, que com o
propósito de oferecer melhor qualificação às professoras ao exercício do magistério,
19
Francisco Campos cria, em 1929, a Escola de Aperfeiçoamento de Professores em
Belo Horizonte, e segundo informam Orlando e Nascimento (2007, p.184):
Esse curso foi feito sob os olhos das autoridades eclesiásticas,
estimulado e aplaudido, por ela compreender um modelo de
formação eficiente à educação das crianças como servidores
de Deus e da Pátria.
A ascendência da educação religiosa, sobretudo a jesuítica, se estende até os
nossos dias como explica Nunes (2000, p.29), “com raízes ancoradas na sociedade
colonial brasileira, a concepção missionária associava magistério e sacerdócio” e
conclui a autora, que essa concepção “ainda aprisiona nosso universo de
representações num círculo de difícil rompimento”. Não por acaso, ainda nos dias de
hoje, encontramos expressões no interior da comunidade docente herdadas da
educação religiosa, como: missão, sacerdócio, discípulos.
Portanto, pode-se concluir que, também, no Brasil, a profissão de professor
surgiu nos espaços religiosos, para atender à educação de crianças e jovens. Mas a
formação profissional do professor em nível superior, no caso brasileiro, encontrou
lugar nas primeiras décadas do período republicano.
2.2 - Aspectos do processo da formação e da prática dos docentes, formadores de
professores, nos dias atuais.
No que tange ao processo de formação do professor dos cursos de licenciatura,
esse cumpre uma ação sobre a produção das representações sociais dos professores
formadores acerca do poder profissional docente, aliado ao exercício do magistério
superior.
20
É sabido que são muitas as funções dos professores do ensino superior: o
ensino; a pesquisa; a orientação de monografias, dissertações e teses; a administração
de setores da instituição, como, por exemplo, a coordenação de cursos; a organização e
participação em eventos acadêmicos (simpósios, congressos e outros); a participação
em trabalhos em outras instituições (participação em bancas examinadoras) e outras.
Dessa forma, é possível concluir como em Veiga (S/D, pp. 1-2) que
As funções formativas convencionais como: ter um bom
conhecimento sobre a disciplina, sobre como explicá-la foram
tornando-se mais complexas com o tempo e com o surgimento
de novas condições de trabalho. (...) Não dúvida de que
estamos diante de um processo de ampliação do campo da
docência universitária.
Do ponto de vista legal, o processo de formação dos professores que se ocupam
do magistério superior, é pouco nítido, haja vista que de acordo com a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei n.° 9394/96, no seu artigo 66 esse
docente terá uma preparação e não um processo formativo para exercer a docência em
nível superior: “A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível
de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado”. E, quanto
ao professor do ensino superior, formador de professores, a legislação não faz qualquer
alusão. Mas, essa questão não é exclusiva do Brasil, pois como explica Morais (2006,
p.1), em países da Europa, como em Portugal,
Os formadores de professores são tipicamente os professores
do ensino superior, universitário e politécnico. (...) São
professores das áreas das ciências naturais e das ciências da
educação. Têm graus de mestre e de doutoramento, fazem
investigação, deslocam-se ao estrangeiro, estão dentro das
mais modernas ideias científicas e das tendências atuais da
educação em ciências, progridem na carreira por meio da
avaliação por pares e, frequentemente, não se mostram
21
capazes de preparar os seus alunos, futuros professores, para
por em prática uma educação científica exigente e de elevado
nível. Parece que é outra a formação que os formadores de
professores necessitam.
Ou, ainda, segundo Schulman (2005, p.7), ao referir-se à formação de
professores nos Estados Unidos da América:
Formação de professores não existe: há uma tal variação entre
os programas de formação, os padrões de admissão, o rigor na
preparação dos assuntos, o que é ensinado e o que é
aprendido, as características da supervisão e a qualidade de
avaliação que, quando comparada com outra profissão
acadêmica, a sensação de caos é impossível de ser evitada.
Especialmente, no caso brasileiro, a formação dos professores do ensino
superior, especialmente dos formadores de professores, fica a cargo das IES, que por
meio dos seus regimentos, estabelecem os requisitos de admissão desses docentes nos
editais de concursos públicos ou por outros meios.
Entretanto, a mobilização que ocorreu/ocorre nas IES, para implementação das
Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a formação de professores da educação
básica em nível superior curso de licenciatura, de graduação plena, tem permitido
aos professores formadores da docência a participação em debates que buscam rever a
organização curricular dos cursos de licenciatura, a elaboração de projetos
pedagógicos, entre outros. Com efeito, esses encontros favorecem a reflexão sobre
todos os elementos constitutivos da organização e funcionamento dos cursos de
graduação, em que se incluem os cursos de licenciatura, mas conduzem, ainda, a ão
dos profissionais envolvidos nesses cursos, com destaque para os professores
formadores da docência.
22
Conforme o Parecer n.° 67/2003 do Conselho Nacional de Educação (CNE) e
da Câmara de Educação Superior (CES), as Diretrizes Curriculares Nacionais
correspondem a um “diferencial a partir da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei 9.394/96) e do Plano Nacional de Educação (Lei 10.172/2001)
2
”. A
expressão diferencial se refere, sobretudo, à substituição da concepção de “currículos
mínimos” presente na LDBEN n.° 4.024/61 e, posteriormente, também, na Lei de
Reforma Universitária 5.540/68, que incumbiam ao então Conselho Federal de
Educação (CFE), a fixação dos currículos mínimos dos cursos de graduação válidos
para todo o Brasil, esses currículos engessavam as IES, assim como os cursos, que
padeciam de um extenso detalhamento quanto à cargahorária das disciplinas e do
curso, dos programas, entre outras exigências. Segundo o Parecer n.° 67/2003
CNE/CES, os paradigmas das DCN, “objetivam servir de referência para as
instituições na organização de seus programas de formação, permitindo flexibilidade e
priorização de áreas de conhecimento na construção dos currículos plenos”. É
esperado, portanto, que esse movimento de transformação dos cursos de graduação,
especialmente os cursos de licenciatura, reverbere no contexto de formação e prática
dos professores formadores da docência no ensino superior.
Devido aos Programas de Pós-graduação focalizarem a formação de
pesquisadores nas suas áreas específicas, em detrimento da formação pedagógica dos
professores para o ensino superior, algumas alternativas são mobilizadas como:
oferecer aos pós-graduandos a disciplina de Didática do Ensino Superior, indicada
2
A Lei n.° 10.172, de 9/1/2001, que estabeleceu o Plano Nacional de Educação – PNE, definiu dentre os
objetivos e metas: “(...) Estabelecer, em nível nacional, diretrizes curriculares que assegurem a
necessária flexibilidade, a criatividade e a responsabilidade das instituições, diversidade nos programas
oferecidos pelas diferentes instituições de ensino superior, de forma a melhor atender às necessidades
diferenciais de suas clientelas e às peculiaridades das regiões nas quais se inserem...”.
23
pelas IES, normalmente, como disciplina eletiva; e, ou as instituições manterem
programas de qualificação pedagógica para os seus docentes.
Assim, como não orientações específicas, oriundas de políticas públicas,
para a formação pedagógica dos professores do magistério superior, que formam os
professores da educação básica, restam aos professores cuidarem da sua própria
formação e/ou às instituições elaborarem meios para tornarem pedagogicamente
competente o seu corpo docente. Como argumenta Veiga (S/D, p.4),
A competência científico-pedagógica, embora deva ter seu
início nos programas de pós-graduação, aprimorar-se-á nos
processos de formação continuada que ocorrem no âmbito da
ação coletiva de construção, desenvolvimento e avaliação dos
projetos pedagógicos de curso.
O processo de formação continuada dos professores do ensino superior torna-se
viável, principalmente pelo grau de autonomia que esses professores têm, sobretudo os
docentes das universidades públicas. Mas essa autonomia, importa ressaltar, se por um
lado tem seus aspectos positivos, por outro pode tornar-se uma dificuldade como
explica Morais (2006, p.2), ao afirmar que dessa autonomia “deriva um poder
firmemente estabelecido que cria barreiras de todo o tipo a opiniões divergentes e a
sugestões”. Sendo assim, cabe aos próprios professores superarem essas barreiras e
exercerem o controle do seu processo formativo e prático.
Dentre os movimentos em prol de uma competência científico-pedagógica para
os professores do magistério superior, Veiga (S/D, p.4) lembra o novo perfil do
docente do ensino superior traçado no ‘Plano Nacional de Graduação: um projeto em
construção (PNG)’, que integra o FORGRAD
3
2004 (Fórum de Pró-Reitores de
3
http://www.pp.ufu.br/Plan_Grad.htm
24
Graduação das Universidades Brasileiras), e que traz em sua estrutura princípios e
fundamentos, diretrizes, metas e parâmetros como:
- formação científica na área de conhecimento;
- pós-graduação strictu sensu preferentemente, no nível de doutorado;
- domínio do complexo processo histórico de constituição de sua área;
- ampla e crítica compreensão dos métodos que produziram o conhecimento
acumulado;
- competência pedagógica. (FORGRAD, 2004).
O destaque do PNG, certamente, é para a concepção de formação, que salta de
uma visão determinista, focada no tempo de um curso (ou preparação) específico, para
um processo de formação permanente, e a nova posição ocupada por professores do
magistério superior e pelas IES nesse novo contexto educacional.
Decerto, a consistência do movimento acadêmico desencadeado pelas DCN, se
deve, também, ao amplo processo de discussão em nível nacional conduzido por várias
entidades da área como: ANFOPE, FORUMDIR, AMPAE, ANPEd, CEDES e outros,
que se tornou um marco no ano de 1999. Esse processo resultou não em ricos
debates e sugestões, mas numa produção documental, igualmente significativa.
Embora não tenha sido propósito deste trabalho estudar a formação e a prática
docentes, considerou-se pertinente transitar por alguns aspectos dessas questões, uma
vez que as representações sociais apreendidas poderiam indicar a influência que esses
aspectos da profissão de professor exercem/exerceram sobre as representações que os
docentes têm do poder da sua profissão. Isso porque, como se verá no capítulo 3 desta
tese, os processos formativos são indispensáveis para a construção do poder
profissional docente e, nesse caso, as Diretrizes Curriculares Nacionais imprimem
marca singular nesses processos.
25
2.3 - Imagens sociais do trabalho docente
Quanto à questão das imagens sociais do trabalho docente, procura-se verificar
em que medida elas exerceriam inspiração sobre as representações sociais dos
professores acerca do poder da sua profissão. Essas imagens seriam aquelas
construídas, peculiarmente, pela sociedade ao longo de certo tempo, no decurso dos
resultados apresentados pelos cursos de licenciatura, especialmente, sobre a educação
escolar, com destaque para a ação dos professores sobre os alunos e àquelas imagens
produzidas por meio da mídia sobre o trabalho do professor. Essa preocupação
encontra respaldo na observação de Jodelet (2001, p.17) ao afirmar que, as
representações sociais “circulam nos discursos, são trazidas pelas palavras e veiculadas
em mensagens e imagens midiáticas, cristalizadas em condutas e em organizações
materiais e espaciais”.
As recentes pesquisas sobre o desempenho dos alunos da educação básica,
sejam elas nacionais como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica
(SAEB) e o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), ou internacionais como o
Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (PISA) tem colocado o
desempenho dos estudantes brasileiros do ensino fundamental e do ensino médio entre
os mais baixos do mundo. Mas os baixos níveis de compreensão, interpretação e
reflexão não são restritos aos alunos da educação básica, pois como informa Caldas
(2006, p.118), “nos exames de acesso à universidade a situação não é muito diferente”
e questiona a autora:
Em que medida, porém, a dificuldade de interpretação dos
fatos pode ser creditada aos problemas comuns na formação
26
dos professores, à bil cultura dos alunos ou às não menos
frágeis estruturas narrativas da mídia?
Os dados noticiados sobre o desempenho dos estudantes brasileiros colocam
não o trabalho escolar em debate, como também os cursos de formação de
professores no ensino superior, e, nessa direção, o trabalho dos professores formadores
dos professores da educação básica.
Mas, os questionamentos da autora remetem, pode-se deduzir, à análise de uma
ação em mão dupla, que tem exercido a mídia nas questões da educação escolar. Numa
primeira mão tem a forma como os diversos meios de comunicação e informação
transmitem à população os sofríveis resultados do ensino básico, normalmente sem
aprofundar nos quesitos de causas e consequências. E, numa segunda mão, encontra-se
a presença maciça de textos jornalísticos nos livros didáticos, em softwares e em
outros instrumentos midiáticos que são utilizados no trabalho docente.
Analisando esse fluxo, é possível perceber como revistas semanais e jornais
tratam os resultados da educação escolar, muitas vezes apresentados de modo
sensacionalista, que de forma direta ou indireta, denunciam a ausência ou a precária
competência dos professores do magistério superior, como os abaixo destacados:
A EDUCAÇÃO ENTRE O BALCÃO E O ENSINO (Publicado em O
Estado de São Paulo (Caderno Aliás, A Semana Revista), domingo, 30 de
março de 2008, p. j5).
É A ESCOLA QUE TEM QUE SER REPROVADA (Revista Época, 1.° de
dezembro de 2008, p. 70).
27
UMA PESQUISA MOSTRA QUE PARA OS BRASILEIROS TUDO VAI
BEM NAS ESCOLAS. MAS A REALIDADE É BEM MENOS RÓSEA: O
SISTEMA É MEDÍOCRE (Revista Veja, 20 de agosto de 2008, p.72).
PROFESSORES QUE TIRARAM ZERO EM EXAME PODERÃO DAR
AULAS EM SÃO PAULO (FOLHAONLINE www.folha.com.br 10 de
fevereiro de 2009).
Embora as manchetes, acima destacadas, se refiram à educação básica, elas não
eximem os cursos de licenciatura e os professores formadores da responsabilidade com
tais resultados. Prova disso é a preocupação expressa pelas DCN quanto à formação do
futuro professor da educação básica, como se pode constatar na parte final do Parecer
n.° 67/2003 – CNE/CES, que reafirma o propósito de
Estabelecer um perfil do formando no qual a formação de
nível superior se constituísse em processo contínuo, autônomo
e permanente, com uma sólida formação básica e uma
formação profissional fundamentada na competência teórico-
prática, observada a flexibilização curricular, autonomia e
liberdade das instituições de inovar seus projetos pedagógicos
de graduação, para o atendimento das contínuas e emergentes
mudanças para cujo desafio o futuro formando deverá estar
apto.
Compreende-se, no entanto, que outros fatores resultam nas problemáticas
escolares, denunciadas acima pela mídia, mas quanto à questão da formação, inicial ou
continuada, pode-se entender que as DCN se constituem num caminho venturoso.
Quanto aos professores formadores da docência no ensino superior, espera-se que
esses profissionais ao assumirem os processos e os produtos do seu trabalho, passem a
ocupar a posição que lhes cabe socialmente. Como assegura Freidson (1998, p.108),
28
A questão decisiva para a avaliação de qualquer tipo de
trabalho é seu resultado em quantidade e qualidade. Para os
trabalhadores profissionais, a questão é saber se são capazes
de exercer o controle sobre seu trabalho e seus resultados, e
que métodos de controle usam.
No que se refere à segunda mão, é oportuno lembrar a chegada de alguns meios
de comunicação e de informação nas escolas no final da década de 80 do século
passado, ganhando força na década seguinte. Eram televisores, videocassetes, fitas
cassetes, antenas parabólicas e, posteriormente, os computadores, os softwares, a
internet. A questão aqui colocada não é a negação dessas tecnologias na escola, mas a
forma como elas adentraram (e continuam adentrando) nos espaços escolares,
revestindo-se da redenção para a melhoria da qualidade da educação escolar e,
sobretudo, acompanhada do discurso de que se trata de uma forma de ensino
revolucionária, colocando em xeque a função do professor. Um exemplo dessa
situação pode ser encontrado em Costa (2001), quando da realização de sua pesquisa
sobre o uso de computadores por professores dos anos iniciais do ensino fundamental.
A investigação mostrou que um laboratório de informática foi implantado numa
escola, da periferia da cidade do Recife, com, aproximadamente, 5.000 (cinco mil)
alunos e mais de uma centena de professores, onde, apenas dois desse conjunto
docente, haviam sido “treinados” para lidar com o equipamento, enquanto que os
demais se dividiam em reações que iam do encantamento ao medo. Vistos como meros
executores de políticas públicas, os professores revelam a sua vulnerabilidade
profissional. Daí a necessidade dos docentes fortalecerem a sua profissão, buscando
formas de controle da formação e do exercício. Como assevera Freidson (1998, p. 105)
29
“a profissão deve tornar-se um grupo de interesse para ao mesmo tempo promover
seus objetivos e proteger-se daqueles que têm objetivos concorrentes”.
Há, ainda, a presença indiscriminada dos textos jornalísticos nas escolas. São
revistas, jornais e os diversos textos extraídos desses meios de comunicação impressos
nos livros didáticos. A imprensa escrita diante da progressiva redução de leitores,
devido ao surgimento do jornal eletrônico, encontrou na escola um interessante nicho
do mercado editorial. Exemplo disso foi o encarte criado pela revista Veja
4
,
especialmente, para as escolas, além das parcerias firmadas entre os jornais e as
instituições escolares. Mais uma vez, é oportuno ressaltar que a preocupação deste
trabalho reside no fato de como esses instrumentos chegam aos professores e aos
alunos, geralmente desprovidos de uma análise crítica e de uma seleção cuidadosa do
que, realmente, deve ser trabalhado nas salas de aula. Importa, com efeito, restabelecer
a função da escola e do professor como explica Baccega (2003, p.81):
A formação de cidadãos, atributo da escola, passa hoje
obrigatoriamente pela habilitação do cidadão para ler os meios
de comunicação, sabendo desvelar os implícitos que a edição
esconde; sendo capaz de diferenciar, entre os valores dos
produtores dos meios, (...) reconhecendo os posicionamentos
ideológicos de manutenção do status quo ou de construção de
uma variável histórica mais justa e igualitária. (...) Ou a escola
colabora para democratizar o acesso permanente a esse
ecossistema comunicativo ou continuará a operar no sentido
da exclusão, tornando maiores os abismos existentes.
Nos tempos atuais, em que as tecnologias de comunicação e informação
interferem diretamente nos processos de (de)formação das pessoas, pode-se afirmar
que influência da mídia na sua forma de comunicar o produto da educação escolar,
e a forma como esse resultado é percebido pela sociedade. O mundo como é editado
4
Veja na sala de aula: Guia do Professor. 1.°/Ago/2001. Edição 1711 – Ano 4 – n.°23.
30
pela mídia carece de uma leitura crítica, isso porque como adverte Santaella (1996, pp.
330-331),
Toda linguagem é ideológica porque, ao refletir a realidade,
ela necessariamente a refrata. sempre, queira-se ou não,
uma transfiguração, uma obliquidade da linguagem em
relação àquilo a que ela se refere. Por sua própria natureza, de
mediadora entre nós e o mundo, a linguagem apresenta
sempre, inelutavelmente, um descompasso em relação à
realidade. Ela não é, nem pode ser a realidade.
Sendo assim, a formação e o exercício profissionais dos professores requerem
uma leitura crítica e um uso criterioso dos conteúdos produzidos e veiculados pela
mídia. Além do mais, conforme o alerta de Caldas (2006, p.124), “é necessário
compreender as armadilhas da linguagem com suas múltiplas potencialidades e
limites”. O professor, portanto, exerce o seu poder de selecionador e mediador dos
produtos midiáticos que chegam às escolas, assim como de analista e comunicador dos
resultados do desempenho escolar dos alunos. Contudo, é oportuno compreender que
esse exercício, essa sua condição de profissional professor é construída, também, nos
espaços formativos, como os cursos de licenciatura.
As imagens remetem a comparações e como avisa Moscovici (2003, p.72)
“comparar é já, representar, encher o que está naturalmente vazio, com substância”,
logo pode-se admitir que as imagens elaboradas sobre o poder profissional do
professor passam por uma seleção, e aquelas escolhidas são as que têm condições de
serem representadas, e como lembra o autor, “desde que suponhamos que as palavras
não falam sobre ‘nada’, somos obrigados a ligá-las a algo, a encontrar equivalentes não
verbais para elas”. Considera-se, assim, que as imagens sociais sobre os professores do
31
ensino superior, formadores de professores, tendem a transformar os conceitos ou
fenômenos pouco compreensíveis em inteligíveis e, às vezes, em tangíveis.
Pode-se inferir, portanto, que as questões que circundam a questão central desta
pesquisa, estão articuladas entre si. Assim, as marcas da origem da profissão de
professor, que trazem consigo processos de formação de professores, relacionam-se
com os aspectos da formação profissional docente nos dias atuais, que por sua vez
associam-se às imagens construídas, e em construção, sobre a profissão de professor.
Desse modo, compreende-se que levar em consideração as questões que rodeiam a
questão central desta pesquisa pode potencializar a análise das representações sociais
dos professores, sujeitos desta investigação, sobre o poder profissional docente.
3- Os objetivos da pesquisa
A partir da delimitação do objeto de estudo, da questão central e das questões
periféricas da pesquisa, a construção desta tese teve como objetivos:
a- Identificar e analisar as representações sociais construídas pelos
professores do ensino superior, formadores de professores, sobre o
poder profissional docente.
b- Verificar como são estruturadas as representações sociais sobre o
poder da profissão docente e qual a sua dinâmica interna.
c- Compreender o processo e o produto das representações sociais
construídas pelos docentes de “gerações pedagógicas” distintas,
atinente ao poder profissional do professor.
32
d- Analisar a repercussão das representações sociais elaboradas pelos
professores, sobre o poder da profissão docente, no âmbito acadêmico
e em outros espaços sociais, a partir dos próprios professores.
e- Compreender como as representações sociais dos professores
formadores da docência, acerca do poder da sua profissão,
engendraram tomadas de posições específicas sobre o seu trabalho.
O alcance desses objetivos pretende contribuir para uma compreensão
contemporânea da profissão de professor, destacadamente, do poder profissional do
docente dos cursos de licenciatura. E esse alcance tornar-se-á possível a partir da
Teoria das Representações Sociais, que poderá indicar um tipo de conhecimento que
orienta a compreensão do mundo social por professores do ensino superior, formadores
de professores sobre um objeto socialmente valorizado que é o poder profissional.
33
A necessidade de fazer da representação uma passarela
entre os mundos individual e social, de associá-la, em
seguida à perspectiva de uma sociedade em
transformação, estimula a modificação em questão.
Trata-se de compreender não mais a tradição, mas a
inovação; não mais uma vida social feita, mas uma
vida social em via de se fazer.
Moscovioci (2001, p.62).
Capítulo 2: A Teoria das Representações Sociais como possibilidade para a
compreensão do poder profissional docente.
34
Capítulo 2: A Teoria das Representações Sociais como possibilidade para a
compreensão do poder profissional docente.
Um problema de pesquisa se define no seio de determinadas teorias e
formulações conceituais, consideradas pertinentes para compreender, na sua extensão e
significado, a questão a ser estudada. Assim, a Teoria das Representações Sociais
(TRS) constituiu a principal referência teórica para compreender como os professores
do ensino superior formadores de professores representam o poder profissional
docente.
A TRS, como denomina Farr (1995, p. 31), “é uma forma sociológica de
Psicologia Social”, e foi criada pelo romeno, naturalizado francês, Serge Moscovici. O
ponto de partida é a publicação da sua obra La psychanalyse, son image et son public
(1961), quando Moscovici buscou compreender o fenômeno da socialização da
psicanálise, ou seja, como a sociedade parisiense se apropriava dessa teoria
psicológica, as transformações por ela sofridas e os seus usos sociais.
Moscovici criou a TRS por se sentir insatisfeito com a perspectiva
individualista, que caracterizava a Psicologia Social da época, que desconsiderava as
relações informais desenvolvidas no cotidiano das pessoas, bem como a possibilidade
de os indivíduos participarem socialmente da construção de concepções sociais.
Portanto, Moscovici (1988, p. 230) contraria a teoria cognitivista daquele momento,
que reduzia o ser humano a um estado de passividade e afirma que
Na relação com a natureza e com os outros homens, tendo em
vista a realização de suas necessidades, dentro de um
determinado conjunto de relações sociais e de uma cultura
35
específica, o indivíduo cria sua representação das coisas e fixa
o aspecto fenomenal da realidade.
Compreendendo, então, a importância do social na construção do
conhecimento, Moscovici discute o conceito de Representação Coletiva de Durkheim
de tradição sociológica contrária à psicologia da época, pois o sociólogo francês
descortinara a face social da consciência, enfatizando essa forma de pensamento social.
Contudo, embora Moscovici compreendesse o momento histórico (início do século
XX) em que se desenvolveu esse conceito, discorda da dicotomia indivíduo-sociedade
que ele comporta, pois para Durkheim (1978, p. 216) esse conceito evidencia,
O produto de uma imensa cooperação que se estende não
apenas no espaço, mas no tempo; para fazê-las, uma multidão
de espíritos diversos associaram, misturaram, combinaram suas
ideias e sentimentos; longas séries de gerações acumularam
aqui sua experiência e saber.
Pode-se extrair do conceito durkheimiano, que os fatos sociais e a própria
realidade são expressões concretas da sociedade, ou seja, o indivíduo é tão somente
produto dessa sociedade. Esse conceito é contestado por Moscovici para quem o
sujeito, também, atua, cria e transforma a sociedade, apreende, transforma e atualiza,
num contexto determinado, os objetos sociais e, igualmente, o representa e comunica.
Como uma síntese da divergência entre as representações coletivas de
Durkheim e as representações sociais, Moscovici (2003, p. 49) esclarece que as
representações criadas pelo sociólogo francês,
Se constituem em um instrumento exploratório e se referem a
uma classe geral de ideias e crenças (ciência, mito, religião,
etc.), para nós são fenômenos que precisam ser descritos e
explicados. São fenômenos específicos que estão relacionados
36
com um modo particular de compreender e de se comunicar –
um modo que cria tanto a realidade como o senso comum. É
para enfatizar essa distinção que eu uso o termo “social” em
vez de “coletivo”.
Sendo assim, Moscovici, de um lado, procurou superar a noção de
conhecimento como um acontecimento intraindividual, na medida em que entendia
que a Psicologia Social do momento imprimia primazia às correntes individualistas.
Mas, também, não se conformou à perspectiva coletivista de Durkheim e, por entender
que essas perspectivas dicotomizavam o subjetivo do objetivo e o coletivo do
individual, Moscovici, com a Teoria das Representações Sociais, reconhece o espaço
do mundo social e seus determinantes, ao mesmo tempo em que reconhece a
capacidade criativa e transformadora dos sujeitos sociais. Desse modo, a análise de
Moscovici (1984, p.181) o levou a concluir que as Representações Sociais indicam
Um conjunto de conceitos, explicações e afirmações que se
originam na vida diária no curso de comunicações
interindividuais. É o equivalente, em nossa sociedade, aos
mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais; poder-
se-ia dizer que são a versão contemporânea do senso comum.
O senso comum, destacado pelo autor da TRS, decerto não é comum porque é
trivial ou desprovido de originalidade, mas porque como interpreta Martins (1989,
p.3), “é conhecimento compartilhado entre os sujeitos da relação social. Nela o
significado a precede, pois é condição de seu estabelecimento e ocorrência. Sem
significado compartilhado não há interação”. Para Moscovici (2005b, p.16), a teoria do
senso comum não deve ser denegrida
Como popular, pré-científica, pois longe de ser uma pura e
simples “imagem” desprovida de função, ela tem um papel
essencial, ajudando a determinar o gênero de argumentos e
37
explicações que aceitamos. Ela também não se confunde com
uma cópia, um duplo do conhecimento científico, sem a sua
força lógica e sem a sua coerência.
Desse modo, o autor argumenta que tudo é dependente da expressão de
comparação que se escolhe, afirmando que “o veredicto será diferente, segundo for a
física ou a biologia, a medicina ou a sociologia”. E para sintetizar a importância e o
novo papel do conhecimento do senso comum, Moscovici (2003, p. 95) argumenta que
“o senso comum não circula mais de baixo para cima, mas de cima para baixo; ele não
é mais o ponto de partida, mas o ponto de chegada”. Nessa perspectiva, pode-se inferir
que a TRS rompe com as clássicas correntes teóricas do conhecimento, ao explicitar
sua distinta posição quanto ao estatuto da objetividade e a procura da verdade, que
foram apresentados ao mundo ocidental no surgimento da modernidade. Porém, como
esclarece Spink (1995a, pp. 119-120), no debate sobre a neutralidade do
conhecimento, ainda mantém-se nos dias atuais “a clivagem entre ciência-verdade e
senso comum-ilusão: introduz-se sem dúvida a questão dos interesses e do poder”. A
autora afirma, ainda, que Moscovici (1988),
Ao enfatizar o poder de criação das representações sociais,
acatando sua dupla face de estruturas estruturadas e estruturas
estruturantes, inscreve sua abordagem entre as perspectivas
construtivistas. Inscreve-a, a bem dizer, no movimento maior
aqui denominado de desconstrução da Retórica da Verdade.
Pode-se derivar do trabalho de Moscovici, que ele ao superar os limites das
perspectivas unilaterais (individualista e coletivista) disponíveis no momento, passa a
integrar a vertente psicossociológica contemporânea, na qual os comportamentos
individuais são tão importantes quanto os fatos sociais, considerando sua história e
38
singularidade, portanto os sujeitos atuam e transformam a realidade social, produzem e
socializam suas representações.
Segundo o pensamento moscoviciano, as representações sociais nascem,
normalmente, da tensão que emerge entre o que é familiar e o que é estranho para o
sujeito. É a tensão que gera o movimento de busca à familiaridade e nessa direção,
explica Moscovici (2005b, p. 22), ela procura “ligar elementos díspares ao fundo
comum e permitir a todos reconhecê-los”. Isso implica dizer, que tornar algo alheio em
familiar resulta em reunir os subentendidos, de tal forma, que possibilite o
entendimento aos interlocutores. Enfim, a familiaridade, ou a superação da estranheza
de determinado objeto é, para o autor,
Um pensamento que tem como motivação restabelecer o laço
e que proporciona uma satisfação, ao proteger-nos contra o
risco de sermos separados por uma intrusão que teríamos
negligenciado. Uma satisfação que deve ser tão arcaica quanto
o temor à estranheza, superado outrora e desviado do seu
caminho.
Importa, ainda, registrar que o aspecto cognitivo foi o ponto de partida para os
estudos do criador da TRS e, em seguida, de outros pesquisadores, pois as
representações sociais eram concebidas como um saber elaborado no dia a dia das
relações sociais e influenciadas por determinados grupos na construção individual das
representações sociais. Com a evolução da TRS, os estudos passaram a integrar outros
aspectos, como esclarece Moscovici (1989, p.70), “as emoções e os afetos são
estimulados pelos símbolos inscritos na tradição, nos emblemas-bandeiras, fórmulas,
etc., aos quais cada um faz eco”.
A obra de Serge Moscovici é considerada por cientistas sociais um marco
importante no pensamento científico das quatro últimas décadas do século XX e,
39
necessária nesse novo milênio, tendo em vista que os conhecimentos que as pessoas
possuem, nos dias de hoje, nem sempre são frutos das suas experiências diretas, mas
são permeadas pela produção científica.
1- O campo multidisciplinar das Representações Sociais
Por se encontrar na interface do psicológico e do social a Teoria das
Representações Sociais, como explica Jodelet (2001, pp. 25- 27), inspira o interesse de
“todas as Ciências Humanas” e é frequentemente “encontrada em Sociologia, Antropologia e
História”.
Para essa autora, a teoria moscoviciana possibilita um espaço de estudo
multidimensional e, por isso mesmo, ao abordar os fenômenos apresenta “certa
complexidade em sua definição e em seu tratamento”, e argumenta que,
Esta multiplicidade de relações com disciplinas próximas
confere ao tratamento psicossociológico da representação um
estatuto transverso que interpela e articula diversos campos de
pesquisa, reclamando não uma justaposição, mas uma real
coordenação de seus pontos de vista.
A complexidade referida pela autora é entendida, neste trabalho, como
resultante da decomposição, no âmbito teórico, da pseudo-oposição entre o individual
e o social, consequentemente não basta focalizar o fenômeno ‘poder profissional
docente’ no nível intraindividual, ou seja, como os professores processam as
informações sobre o poder profissional docente. Porém, o foco não deve, também, se
restringir ao social, quer dizer, às ideologias, aos saberes, às crenças que transitam no
meio acadêmico, no espaço escolar e na sociedade mais ampla a respeito do problema.
40
Essa complexidade, também, provém da dupla face das representações sociais, dito de
outra forma, do processo e do produto que elas comportam.
As pesquisas em torno dos fenômenos de representação social encontram-se
segundo Jodelet (2001, p.17) em crescimento. De acordo com a pesquisadora, nos
últimos anos esses “fenômenos vêm-se tornando um assunto central para as ciências
humanas”. E, ainda, revela a autora, que em torno desses fenômenos foi constituído
“um domínio de pesquisa dotado de instrumentos conceituais e metodológicos
próprios”, e por isso mesmo, desperta a atenção das diversas disciplinas.
Particularmente, no Brasil, (1998, p.15) explicita essa questão dizendo que
“o campo de estudo das representações sociais se encontra em franca expansão”.
Para além do conhecimento científico, importa dilatar a visão permitindo ver o
senso comum como um conhecimento legítimo, cuja dinâmica promove
transformações sociais. Ver, também, no processo de análise do senso comum, sua
organização lógica e sua coerência, mas sem desconsiderar suas contradições.
As teorias, conhecidas como as do senso comum, segundo Moscovici (2005b,
p.16), “procuram soluções para problemas de que os cientistas não tratam”. Para esse
autor, se optarmos por fazer a ciência dos fenômenos mentais presentes na sociedade,
“teremos de identificar o conhecimento produzido em comum e reconhecer a validade
das suas propriedades, considerando-se a teoria”.
Devido, portanto, à fertilidade do campo das representações sociais, este
trabalho de pesquisa foi desenvolvido com sujeitos, que trazem marcas comuns, como,
por exemplo, serem todos, professores de cursos de licenciatura e marcas distintivas
como possuírem formações acadêmicas diferentes, formando, assim, um grupo
multidisciplinar. Para Jodelet (2001, pp. 25-26),
41
Esta multiplicidade de relações com disciplinas próximas
confere ao tratamento psicossociológico da representação um
estatuto transverso que interpela e articula diversos campos de
pesquisa, reclamando não uma justaposição, mas uma real
coordenação de seus pontos de vista. Sem dúvida, nessa
transversalidade reside uma das contribuições mais
promissoras desse campo de estudo.
A TRS permite, assim, compreender o pensamento social em sua dinâmica e
em sua diferenciação, inclusive as formas de conhecer e de se comunicar, que são
concebidas como flexíveis e dependentes de objetivos. E essa compreensão, que para
Moscovici (2003, p. 43) “é a faculdade humana mais comum” não existe, a partir dos
estímulos do mundo externo, mas a compreensão “na realidade brota da
comunicação”.
2- Por que estudar o poder profissional do docente do ensino superior, formador
de professores, por meio das Representações Sociais?
O professor formador de professores no ensino superior é um ser significante e
que produz significados, pois age sobre o mundo, interpretando-o e transformando-o.
Suas representações sociais são fenômenos complexos constituídos de variados
elementos (informativos, ideológicos, cognitivos, imagéticos, e outros) e, esses
elementos ao se organizarem se apresentam em forma de um saber que fala sobre a
realidade, isto é, sobre o poder profissional da docência.
A TRS, por nutrir-se não somente das teorias científicas, mas por alimentar-se,
também, “dos grandes eixos culturais, das ideologias formalizadas, das experiências e
das comunicações quotidianas” como indica Vala (2000, p. 458), representa um
caminho a ser explorado, para compreender tais significados.
42
Além disso, como informa Spink (1995b, p. 90) o estudo sobre o poder é foco
de pesquisa em representações sociais conforme anota Doise (1984), ou seja,
O nível situacional propriamente dito em que se inserem as
pesquisas que exploram as diferenças (quanto ao poder,
identidade social, etc.) resultantes da posição ocupada em um
determinado campo social.
Os sujeitos na dinâmica da conversação, normalmente, sugerem pertencer a
determinados grupos e esse sentimento de pertença é constituído dos laços afetivos,
das opções, das ações. No caso em estudo, esse sentimento de pertença é,
provavelmente, decorrente das representações sociais dos professores a respeito do
poder profissional docente. Mas há um movimento que revela a ação do sujeito sobre o
grupo e a ação do grupo sobre o sujeito e Moscovici (1969, p. 9) auxilia na
compreensão desse movimento quando assevera que “não existe separação entre o
universo externo e o universo interno do indivíduo (ou do grupo). Sujeito e objeto não
são forçosamente distintos”.
Compreender como professores dos cursos de licenciatura, representam o poder
profissional docente, implica compreender como esses profissionais criam as
representações sociais e instauram a comunicação sobre essas representações,
originando um contínuo processo de negociação sobre o objeto representado. Esse
processo de negociação corresponde, também, à elaboração do universo consensual.
Daí se privilegiar o estudo do processo de construção das representações sociais e o
seu produto que circula socialmente. Criadas as representações, os docentes fazem
transitar essas modalidades de conhecimento sobre o poder profissional dos
professores dos cursos de licenciatura, no dia a dia, oportunizando a familiaridade do
objeto social ‘poder profissional docente’, a partir das referências que eles possuem.
43
As representações sociais construídas são comunicadas, mas estão presentes,
também, no que Moscovici (2005b, p. 26) chamou de “ações representacionais”, ou
seja, ações que “mobilizam um conteúdo mantido pela concordância do grupo e
promovem explicações que se quer tornar eficazes através de condutas particulares”.
As representações sociais compreendidas como um tipo de conhecimento
prático circulam no contexto profissional dos professores dos cursos de licenciatura, ou
seja, na sua realidade consensual. Além disso, considera-se que a função
sociocognitiva que têm as representações integra o novo e orienta as comunicações
desse novo e, ainda desse modo, orienta as condutas desses sujeitos sociais.
Para Jodelet (1984, p.36) dizer que o sujeito é social significa dizer que ele,
Não é um indivíduo isolado que é tomado em consideração,
mas sim as respostas individuais enquanto manifestações de
tendências do grupo de pertença ou de afiliação na qual os
indivíduos participam.
Integrar um grupo de pertença ou apenas afiliar-se são condições que se
relacionam à questão da identidade, e esta tem ocupado um considerável espaço no
campo das representações sociais, pois a identidade do sujeito interfere nas suas
representações sobre os objetos sociais, assim como as suas representações sobre os
objetos sociais influenciam a sua identidade. Assim, como informa Abric (1998, p.
29), “além da função cognitiva de compreender e de explicar”, as representações
sociais têm uma função “identitária”.
No caso em estudo, compreender como professores que formam os professores
da educação básica, representam o poder profissional da docência, implica, também,
considerar elementos como os informados por Santos (1998, p. 157): “as estratégias
utilizadas pelo sujeito face a tal representação, a autoestima, os sentimentos de valor,
44
poder, continuidade e unicidade (que são dimensões da identidade)”. Supõe-se que as
dimensões da identidade dos sujeitos pesquisados são atingidas pela representação
social do poder profissional docente que eles construíram, mas que essas dimensões,
também, afetam as representações, interferindo, inclusive, no compartilhamento dessas
representações.
Sendo assim, a representação social elaborada pelo sujeito o identifica a
determinado grupo e essa representação é, tomando as palavras de Wagner (1998, p.
12), “específica ao grupo e permite a seus membros se localizarem dentro de um
espaço discursivo comum”. Desse modo, o conhecimento específico de um grupo
confere o discurso e o lugar de onde fala o grupo. Mas somente os discursos acessíveis
a todos os integrantes do grupo podem mobilizá-los, simultaneamente, como
receptores e produtores do sistema de conhecimento. Como destaca o autor:
Sem ser público para todos os membros do respectivo grupo,
o saber elaborado coletivamente não pode preencher sua
função como base para a comunicação, nem constituir o
núcleo da identidade social, nem o consenso tornar-se sua
principal fonte de evidência.
Admite-se, assim, que as representações sociais, construídas pelos professores
dos cursos de licenciatura atinentes ao poder profissional do professor, conferem-lhe
uma identidade de grupo. No processo de construção de suas representações, o grupo
se constitui, pois é nele que os sujeitos aprendem, criam, avaliam, comunicam e
transformam as representações sociais e, consequentemente, se diferenciam dos
demais profissionais.
Assim, supõe-se que professores dos cursos de licenciatura constroem modos
particulares de entender o objeto social ‘poder profissional docente’, ou seja,
45
afastando-se do universo reificado, eles produzem as representações sociais, que são o
próprio universo consensual. No universo reificado, estariam contidos os
conhecimentos produzidos por uma grande variedade de grupos especializados no
fenômeno do poder profissional, especialmente, o poder profissional docente nas suas
múltiplas faces. Esses conhecimentos, decerto, não se originam das experiências
diretas dos professores dos cursos de licenciatura. Por essa razão, esses professores no
seu cotidiano profissional elaboram um novo conhecimento, que se constituirá no
universo consensual. Embora o universo reificado, com sua linguagem e com a sua
lógica, não pertença ao cotidiano desses professores, ele é um ponto de partida para a
elaboração do universo consensual, ou seja, para a construção das representações
sociais desses profissionais acerca do poder profissional docente. A distinção existente
entre o universo reificado e o universo consensual, como esclarece Leme (1995, p. 48),
salienta o poder criativo e de transformação das representações sociais:
O ato de representar não deve ser encarado como processo
passivo, reflexo na consciência de um objeto ou conjunto de
ideias, mas como processo ativo, uma reconstrução do dado
em um contexto de valores, reações, regras e associações. Não
se trata de meras opiniões, atitudes, mas de “teorias”
internalizadas que serviriam para organizar a realidade.
Na construção da representação social, Moscovici (2003) assevera que dois
mecanismos de um processo de pensamento fazem-se presentes: a ancoragem e a
objetivação e esses mecanismos seriam responsáveis pela dinâmica interna das
representações sociais. Na ancoragem, o sujeito procura localizar as ideias estranhas às
categorias por ele conhecidas, ou seja, colocá-las em um “contexto familiar”. E na
objetivação, o sujeito busca transformar um objeto abstrato em algo quase material.
46
Espera-se que os professores dos cursos de licenciatura revelem esses
mecanismos ao expressarem as suas representações sociais quanto ao objeto social
‘poder profissional docente’. Para expressarem suas representações sociais sobre esse
poder, os professores recorreriam às categorias que conhecem, numa tentativa de
contextualizar o objeto social, ou seja, de ancorá-lo. E, de acordo com Moscovici
(2003, p. 61), “ancorar é, pois, classificar e dar nome a alguma coisa”.
Quanto à objetivação Moscovici (2003, p.71) comunica que ela “une a ideia de
não familiaridade com a de realidade, torna-se a verdadeira essência da realidade”. Os
professores dos cursos de licenciatura, decerto, buscariam formas de organização dos
elementos que compõem a representação, assim como a materialidade desses
elementos.
Uma forma de objetivação da representação social são as metáforas, que
segundo Ordaz e Vala (1998, p. 91), com base em Lakoff e Johnson (1980), “não são
meras figuras de estilo ou retórica, mas expressões do próprio pensamento”.
A metáfora tende a tornar mais acessível a comunicação da representação
social, isto é, a difusão de uma ideia no grupo, a partir de figuração, torna objetiva,
quase tangível a representação social. Importa esclarecer que nem toda expressão do
pensamento se configura em metáfora, porém como informa Vala (2000, p. 472), “as
metáforas são um elemento central na produção de conhecimento”. Embora as
metáforas tenham um papel no processo de objetivação das representações sociais, os
dois primeiros autores advertem que “poucas pesquisas no domínio da análise das
representações sociais analisaram a metaforização”. Destaque-se que neste estudo a
pretensão de contribuir para o preenchimento de tal lacuna.
47
3- Os elementos constitutivos das Representações Sociais
Para apreender as representações sociais, faz-se necessário reconhecer, nas
comunicações dos sujeitos, os elementos que as constituem, como os mecanismos
responsáveis pela dinâmica das representações sociais, ou seja, os processos de
ancoragem e objetivação, assim como a dupla face que a representação social
comporta, qual seja o seu processo e o seu produto.
Ao analisar as representações sociais de um determinado fenômeno, é possível
descrever o seu conteúdo, a frequência com que emergem determinados temas do
conteúdo manifesto e as características que estão associadas a esses temas, isto é, sua
rede de significações, e identificar o seu núcleo central.
Espera-se, a partir do cleo central ou núcleo estruturante, conceito criado por
Abric (1998, p.30), identificar a estrutura das representações, no caso específico, se as
representações de professores dos cursos de licenciatura sobre o poder profissional da
docência se aglutinam em torno de um sentido prevalente. Esses sentidos, quando
sistematizados compõem um “sistema sociocognitivo de tipo específico”. O autor
informa que o núcleo central,
É determinado, de um lado, pela natureza do objeto
representado, de outro, pelo tipo de relações que o grupo
mantém com este objeto e, enfim, pelo sistema de valores e
normas sociais que constituem o meio ambiente ideológico do
momento e do grupo.
Entretanto, é oportuno lembrar que não se confere centralidade a um elemento,
apenas pelo critério quantitativo, pois é o próprio Abric (1998, p.31) que alerta:
Ao contrário, o núcleo central possui, antes de tudo, uma
dimensão qualitativa. Não é a presença maciça de um
48
elemento que define sua centralidade, mas sim o fato que ele
dá significado à representação.
O núcleo central é reconhecido por sua estabilidade, sendo o elemento que se
mostrou mais resistente à mudança. O núcleo central de uma representação, segundo
Abric (2001, p. 163), assegura duas funções essenciais:
1- uma função geradora: é o elemento pelo qual se cria ou se
transforma a significação dos outros elementos constitutivos
da representação. É aquilo por meio do qual esses elementos
ganham um sentido, uma valência.
2- uma função organizadora: é o núcleo central que determina
a natureza dos vínculos que unem entre si os elementos da
representação. É, neste sentido, o elemento unificador e
estabilizador da representação.
Ao examinar as representações sociais, a existência do núcleo central se
confirma quando é encontrado esse elemento que determina a significação e a
organização das representações dos sujeitos pesquisados. A busca é orientada pelas
características do núcleo central apresentadas por Abric (2001, p. 163), quer dizer, é
preciso reconhecer “um subconjunto da representação, composto de um ou de alguns
elementos”, esse reconhecimento é ratificado a partir da conclusão de que a
inexistência desse subconjunto “desestruturaria ou daria uma significação radicalmente
diferente à representação em seu conjunto”.
Como observa Moscovici (2003, p.72), “um enorme estoque de palavras, que
se referem a objetos específicos, está em circulação em toda sociedade e nós estamos
sob constante pressão para provê-los com sentidos concretos equivalentes”, sendo, no
entanto, importante ter claro que para compreendê-los é preciso situar o objeto, seu
contexto histórico e o seu estado atual. Assim, sendo as representações sociais,
produtos sociais faz-se necessário compreender as suas condições sociais de produção,
49
ou seja, os contextos onde elas foram originadas. Para Spink (1995a, pp. 121-122), o
contexto, neste sentido, é essencialmente “intertextual”, ou seja,
É a justaposição de dois textos: o texto socioistórico que
remete às construções sociais que alimentam nossa
subjetividade; e o texto-discurso, versões funcionais
constituintes de nossas relações sociais.
Ao se estudar as representações sociais que professores dos cursos de
licenciatura constroem sobre o poder profissional docente, procura-se compreender
não a herança que os atuais professores, por ventura, tenham recebido das gerações
passadas de professores, pois as representações não são reproduções, mas compreender
os processos de construção e de transformação das representações, tendo como
referência, também, esse passado. Por essa razão, a perspectiva socioistórica da
profissão docente, também, tem seu espaço neste trabalho. Segundo Moscovici (2003,
p. 33), “nós nunca conseguiremos nenhuma informação que não tenha sido distorcida
por representações “superimpostas” aos objetos e às pessoas que lhes dão certa
vaguidade e as fazem parcialmente inacessíveis”. Mas, ainda, de acordo com o
pensamento moscoviciano, é importante relevar a natureza da mudança, que é
característica das representações sociais e que as torna capazes de interferir no
comportamento do sujeito e dos grupos, porque é dessa forma que essas representações
“são criadas, internamente, mentalmente, pois é dessa maneira que o próprio processo
coletivo penetra, como o fator determinante, dentro do pensamento individual”(p.40).
E, ainda, ao se estudar as representações sociais dos professores formadores de
professores, sobre o poder profissional docente, busca-se entender que as
representações que esses docentes possuem sobre o poder profissional não são um
reflexo desse objeto social, mas um resultado da dinâmica da atividade mental dos
50
professores e das suas complexas relações mantidas com a questão do poder
profissional.
Conhecidas as representações sociais dos sujeitos desta pesquisa sobre o poder
da sua profissão, espera-se que essas representações alcancem o que Jodelet (2001, p.
22) anuncia, ou seja:
Enquanto sistemas de interpretação que regem nossa relação
com o mundo e com os outros orientam e organizam as
condutas e as comunicações sociais. Da mesma forma, elas
intervêm em processos variados, tais como a difusão e a
assimilação dos conhecimentos, o desenvolvimento individual
e coletivo, a definição das identidades pessoais e sociais, a
expressão dos grupos e as transformações sociais.
Uma vasta produção científica sobre a profissão de professor está disponível,
principalmente, a partir de meados do culo passado. Contudo, a temática do poder
profissional docente não é tão estudada quanto à profissão de professor no seu
conteúdo geral. Desse modo, no que se refere às representações sociais do poder
profissional docente, importa trazer alguns aspectos do conhecimento produzido sobre
‘profissão’ em geral, e particularmente sobre a trajetória da profissão de professor,
além do conhecimento acerca do objeto social ‘poder profissional’, que se encontram
no capítulo seguinte. Seria, podemos dizer, voltar um olhar sobre as origens para
compreender os seus desdobramentos e o presente, tendo clareza de que as mudanças
ocorrem, mas que a inovação traz consigo “referenciais familiares”. Como diz
Moscovici (2003, p.73): “O leito do rio é gradualmente modificado pelas águas que
correm entre as margens”.
51
“(...) Quem forma se forma e (re)forma ao formar e
quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É
neste sentido que ensinar não é transferir
conhecimentos, conteúdos, nem formar é ação pela qual
um sujeito criador forma, estilo ou alma a um corpo
indeciso e acomodado.
Freire (1998, p.25)
Capítulo 3 - Da Profissão ao Poder Profissional: Os fundamentos necessários para
a compreensão das Representações Sociais do Poder Profissional Docente.
52
Capítulo 3 - Da Profissão ao Poder Profissional: Os fundamentos necessários para
a compreensão das Representações Sociais do Poder Profissional Docente
O estudo do poder implica, de alguma forma, o estudo da prática, portanto,
mesmo não havendo um consenso em relação à ascendência das representações sociais
sobre as práticas sociais, o produto deste trabalho leva a uma comunhão com o
pensamento de vários estudiosos das representações sociais (Abric, 1994; Jodelet,
2001; Guareschi, 1995, e outros), de que não apenas as práticas sociais influenciam as
representações sociais, mas que o contrário, também, acontece.
Dessa forma, relacionar representações sociais e poder profissional não é uma
tarefa fácil, porém como nos avisa Jodelet (2001, p. 22), a representação social “é uma
forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático,
e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”. No
caso em estudo, a dimensão prática das representações sociais se encontra nas
interpretações que professores de cursos de licenciatura têm acerca do poder da sua
profissão e nos modos como essas interpretações regem a relação dos professores com
os seus pares, com os licenciandos e com a sociedade mais ampla. Para Jodelet (2001,
p. 27), as representações sociais se caracterizam “como uma forma de saber prático
ligando um sujeito a um objeto” e,
Qualificar esse saber de prático se refere à experiência a partir
da qual ele é produzido, aos contextos e condições em que ele
o é e, sobretudo, ao fato de que a representação serve para agir
sobre o mundo e o outro, o que desemboca em suas funções e
eficácia sociais.
53
Neste trabalho de pesquisa sobre as representações sociais, compreende-se que
a prática dos professores dos cursos de licenciatura corresponde ao exercício do seu
trabalho, ou dito de acordo com Wagner (1998, p. 19), “a ação é parte de uma
representação e não a sua consequência”. Isso porque as ações que os docentes
desenvolvem no processo do seu trabalho, imprimem sentido às representações que
eles têm do poder profissional docente. A prática, segundo Rouquette (1998, pp.43-
44), abrange pelo menos dois aspectos: “a realização de uma ação (...) e a frequência
dessa realização”. O autor, também, esclarece que no caso da educação é estabelecida
uma relação nos “modos de intervenção pedagógica, e na legitimação ou, ao
contrário na subversão desses modos, a partir da análise de seus efeitos reais ou
possíveis”. Entende-se, portanto, que os aspectos referidos pelo autor estão presentes
nas práticas dos professores dos cursos de licenciatura, assim como na relação que se
estabelece no espaço da educação formal que é o da intervenção pedagógica e
legitimação dessa intervenção do professor formador, nas questões peculiares aos
cursos de formação de professores no ensino superior.
Na análise dos processos que originam as representações sociais, como pode
ser visto no capítulo 5, é possível afirmar que eles estão imersos na comunicação e nas
práticas sociais. Os processos, na interpretação de Jovchelovitch (1995, p. 79)
integram: “diálogo, discurso, rituais, padrões de trabalho e produção, arte, em suma,
cultura”. Assim, estudar as representações sociais de professores dos cursos de
licenciatura sobre o poder profissional docente, implica considerar as expressões desse
poder presentes nas práticas dos referidos profissionais.
Para compreender o poder profissional docente representado socialmente por
professores formadores de professores no ensino superior, faz-se necessário entender
os conceitos de profissão, com destaque para a profissão de professor, e de poder
54
profissional. Mas entender os percursos históricos desses conceitos e seus contextos de
produção tornou-se, igualmente, necessário para o alcance dos objetivos desta tese.
1- As questões da profissão como pré-requisito para o entendimento do poder
profissional
A natureza polissêmica do termo profissão traz dificuldades para a sua
compreensão, pois como nos informa Coelho (1999), ao focalizar diversos momentos
do segundo milênio, encontramos na literatura expressões como: "Declaração pública",
"voto", "ofício", "cooperação" e outras que vão dar sentido ao termo profissão. Apesar
dessa polissemia, alguns dos estudos mais conhecidos sobre o fenômeno social
‘profissão’ (Flexner, 1915; Carr-Saunders, 1928; Carr-Saunders e Wilson, 1933;
Parsons, 1939, Freidson, 1998, e outros), apresentam concordância quanto ao lugar de
destaque que nele deve ser ocupado pelo conhecimento formal.
Essa delicada tarefa de tornar compreensível o termo profissão, possivelmente,
se explica, segundo Freidson (1998, p. 49), a partir da dispersão dos estudos sobre esse
conteúdo, pois “parte considerável da crítica da literatura tradicional sobre as
profissões dedicou-se a apontar uma falta de consenso” em relação ao conceito. Mas,
mesmo nos dias de hoje, para esse autor, não parecemos estar mais próximos de um
acordo. Se diferenças entre as variadas atividades desenvolvidas nos ambientes de
trabalho, ou seja, numa fábrica de automóveis, numa sala de cirurgia, numa sala de
aula ou num laboratório de informática, de se definir profissão, a partir da
especificação de atributos e de características próprias de determinadas atividades.
Contudo, apenas esses referentes não seriam suficientes para definir uma atividade
55
como profissional, por essa razão, outros elementos de referência serão explicitados
adiante.
Considerando como multifacetado o campo conceitual do objeto social
‘profissão’, este trabalho de pesquisa tomou como referência o conceito elaborado por
Freidson (1996, pp. 3-4), ou seja, “qualquer que seja a forma de definir ‘profissão’ ela
é, antes de tudo, e, principalmente, um tipo específico de trabalho especializado”. Para
o autor, extraindo as profissões do amplo universo de trabalho restam as “ocupações” e
os “ofícios”, isso porque o trabalho das profissões detém uma especialização
criteriosa teoricamente fundamentada”. Logo se as ocupações e, especialmente, os
ofícios não requerem um aporte teórico fundamentado, o conhecimento ganha
centralidade na legitimação de uma profissão, imprimindo a esta um juízo de valor e
de prestígio.
A exigência de uma fundamentação teórica para que um trabalho configure-se
como profissional não é recente. O critério do conhecimento formal está presente
desde as primeiras tentativas de definição das profissões. Esse referente foi
apresentado no início do século passado, na publicação The professions, de Carr-
Saunders e Wilson (1933) a partir do levantamento histórico de grupos considerados
profissionais na Inglaterra. A classificação estabelecida pelos autores, de acordo com
Bonelli (1993, p.32),
considerava:
A existência de um corpo organizado que dominasse um
conhecimento baseado num sistema de ensino e treinamento,
com seleção prévia por meio de exame, e possuísse códigos
de ética e de conduta.
56
Também, os estudos norte-americanos de Talcott Parsons, iniciados nos anos
trinta e estendidos até o final da década de sessenta do século XX, vão conferir
convergência ao conhecimento. Para Parsons, citado por Paixão (1988, P.4),
"profissões são sistemas de solidariedade, cuja identidade se baseia na competência
técnica de seus membros, adquirida nas instituições educacionais e científicas".
Mas as preocupações mais recentes vêm talhar novos referentes para o objeto
social ‘profissão’. De acordo com Chapoulie (1973, pp.92-93) um consenso maior
em torno dos corpos profissionais, denominado por ele de “tipo ideal profissional”, que
trata nãoda conduta, como, também, da organização profissional. Para esse autor, o
monopólio na execução das atividades profissionais é, de modo geral, sustentado por,
“uma competência técnica e cientificamente fundamentada” e por “uma aceitação e
prática de um código de ética que regule o exercício da atividade profissional”.
Esse “tipo ideal profissional”, segundo Chapoulie, se complementaria por meio
de:
1. Uma longa formação profissional, desenvolvida em
instituições especializadas.
2. Um controle das atividades profissionais efetuado por
colegas da mesma profissão, únicos competentes para exercer
um controle técnico e ético.
3. Um controle geral reconhecido legalmente e organizado
como forma de um objeto de acordo entre a profissão e as
autoridades legais.
4. Comunidades reais (grifo do autor) constituídas por
profissionais, que exercem suas atividades a tempo pleno e,
que compartilham de identidades e interesses específicos.
5. Um pertencimento às frações superiores das camadas
médias, alcançado por meio do prestígio e do poder dos
membros que integram a profissão.
Compreende-se, assim, que o termo ‘profissão’ adquire maior rigor com a
proposta de Chapoulie. A formação específica, consequentemente, confere ao
profissional um licenciamento, ou seja, uma espécie de autorização legal para cumprir
57
determinada atividade, que outros não deverão exercer. A relevância imputada ao
conhecimento é, também, atribuída às instituições formadoras dos profissionais e ao
controle da atividade profissional pelos seus membros.
No Brasil, os estudos sobre profissões, que têm lugar na Sociologia das
Profissões, são recentes e tiveram início nos anos setenta do século passado,
destacando-se, segundo Barbosa (2003), os trabalhos de Donnangelo (1975), sobre
médicos, e Kawamura (1981), sobre engenheiros. Contudo, a autora reconhece que os
estudos sobre a estrutura ocupacional brasileira são bem anteriores como é o caso de
Bertram Hutchinson (1960), e, posteriormente, os estudos de Pastore (1979) e de
Gouveia (1980). Esses, ao examinarem as desigualdades associadas à estrutura
ocupacional, mostraram importantes evidências do papel dos grupos profissionais, e o
fato de que as profissões poderiam ser consideradas, como explica Larson (1977), uma
das principais formas contemporâneas de organização da desigualdade social (p.3). É
salutar a lembrança de que nos anos 80 e 90 do século XX uma significativa produção,
oriunda de pesquisas científicas, fortaleceu a Sociologia das Profissões no Brasil e que
nesses estudos são destacáveis os trabalhos desenvolvidos por Barbosa (1989, 1993,
2003), Bonelli (1993) e Diniz (1989).
Barbosa (1989, 1993) oferta significativa contribuição à Sociologia das
Profissões, quando realiza uma análise crítica da produção teórica acerca dessa área de
conhecimento sociológico e, quando desenvolve um argumento favorável à
profissionalização. No primeiro trabalho, a autora alerta para “o caráter de estruturação
específica que as profissões fazem no mundo social” (1989, p.3). E no trabalho
posterior ela se empenha no seguinte argumento:
58
A profissionalização é um caminho significativo de
organização de estratégias de estratos da classe média, e que a
representação do mundo social construída a partir do ponto de
vista do profissionalismo tende a se tornar dominante como
forma de regulação dos trabalhos e das relações sociais em
amplos setores do espaço social (1993, pp. 129-130).
Buscando superar as avaliações negativas que pairaram sobre as Ciências
Sociais, na segunda metade do século passado, no que se refere às produções acerca
das profissões, Bonelli (1993, p.31) procura demonstrar que essa negatividade é
resultado da análise da “profissão fora de seu contexto, isolada do sistema profissional
como um todo”.
Ao examinar a tese de proletarização dos profissionais, Diniz (1989, p. 172) a
explica como um “processo de assalariamento e, consequentemente, de perda de
controle sobre seu trabalho e de desqualificação”, mas adverte que a maior parte das
profissões contemporâneas foi criada recentemente e sua criação carregava a marca
do assalariamento, portanto, não há sentido em se falar em processo de proletarização.
No caso brasileiro, como o ensino superior foi institucionalizado a partir dos anos
trinta do século XX, a criação da profissão de professor do magistério superior é,
igualmente, recente. Como informa, ainda, essa autora, quase todas as profissões no
Brasil nasceram “assalariadas, fruto da expansão do aparelho estatal e das empresas do
setor produtivo privado. Poucas haviam sido regulamentadas até a década de 60”.
Analisando a referida tese, Diniz não encontra implicações do assalariamento na
desqualificação e na perda da autonomia técnica dos profissionais, dessa forma, “a tese
da proletarização dos profissionais encontra escasso suporte na literatura” (p.173).
Como se pode perceber, no campo teórico referido, para que um determinado
trabalho seja considerado como profissão há de se ter presentes referentes como:
- Especificação dos atributos e das características das atividades determinadas;
59
- Definição da especialização do trabalho, fundamentado teoricamente;
- Definição das instituições formadoras dos profissionais, prioritariamente, as
Instituições de Ensino Superior (IES);
- Código de ética e de conduta;
- Controle da formação e do exercício profissionais pelos membros da mesma
profissão;
- Licenciamento para exercício da profissão.
Além de exigidos na caracterização de uma profissão, esses referentes integram
as exigências do objeto social ‘poder profissional’.
2- Poder Profissional: Os referentes que podem distinguir o fenômeno, poder
profissional, no mundo empírico.
A expressão poder é fartamente aplicada e apresenta expressiva diversidade de
sentidos. Este trabalho não pretende desenvolver um estudo sobre o objeto social
“poder”, mas sobre um tipo específico de poder, ou seja, o ‘poder profissional’.
Certamente, que ao se estudar um tipo de poder, não se pode dissociá-lo da sua parte
substantiva e, por essa razão, antes do enfoque a ser dado ao ‘poder profissional’ há de
se fazer referência à fundamentação sobre ‘poder’, que se articula com as escolhas
teóricas deste trabalho.
Para tornar o termo mais preciso, tomemos de Boudon e Bourricaud (2002,
p.433) três noções, normalmente, presentes no debate sobre poder: “alocação de
recursos”, “capacidade” e “plano de emprego”. Essas três noções mantêm entre si
relações de coerência, pois um sujeito pode ser rico em recursos e não expressar poder
60
por ser carente de capacidade ou possuir sofisticados planos de emprego, mas ser
desprovido de recursos. Portanto, para que um sujeito possua poder, ele precisa ter
capacidade de alocação de recursos e deter estratégias adequadas.
Dessa forma, o poder seria um processo intencional que atinge no mínimo duas
pessoas, em que uma delas empregará, utilizando-se das suas capacidades e dos
recursos que detém (tendo sido esses recursos, obtidos naturalmente ou coletados
propositadamente visando a algum fim) estratégias tanto no momento de alocação dos
recursos como no emprego destes. A segunda pessoa é a que adere e contribui para a
efetivação do processo.
O poder, também, apresenta modalidades, ou seja, ele pode ser prejudicial ou
cooperativo. No primeiro caso, centralizam-se as relações de “dominação” como
descritas por Weber (2004, pp. 56-57) – no poder de uma pessoa (individual ou
coletivo) sobre a outra. Essa submissão pode ser conseguida por meio da força, da
violência, da autoridade. Numa visão oposta, encontramos Hannah Arendt que,
segundo Outhwaite & Bottomore (1996, p. 581), compreende como cooperativas as
relações de poder. Para esses autores, Arendt define o poder como “a capacidade
humana de atuar em harmonia”. O poder, nessa concepção, “pertence a um grupo e
continua existindo somente enquanto o grupo se mantiver coeso”.
Todavia, as abordagens sobre ‘poder’, escolhidas neste trabalho, que se
articulam ao estudo do poder profissional, em especial o poder profissional docente,
são aquelas desenvolvidas por Pierre Bourdieu, Anthony Giddens e Michel Foucault.
Bourdieu (2007, PP 135-137) ao fazer uma releitura do conceito de classes, por
considerar o conceito marxista muito restrito e às vezes equivocado, institui o conceito
de “campo social”. Para o autor o que existe “é um espaço de relações o qual é tão real
61
como um espaço geográfico”. As classes compreenderiam os grupos de agentes que
ocupando posições semelhantes em condições semelhantes, provavelmente,
apresentariam interesses e atitudes similares num determinado campo social.
O campo social seria, segundo o autor, um espaço multidimensional de
posições e qualquer uma dessas, definida de acordo com um sistema multidimensional
de coordenadas de valores. Quer dizer, primeiramente os agentes são dispostos no
campo social de acordo com o volume absoluto do capital que possuem e, em seguida,
a disposição estará de acordo com o valor relativo do seu capital, ou seja, o valor das
partes que constituem o seu capital. O capital pode ser material (objetivado) ou cultural
(estado incorporado) e representa os poderes que demarcam as possibilidades de ganho
num determinado campo. O campo, para Bourdieu (2007), é um campo de forças”
onde são travadas lutas que buscam converter esse mesmo campo.
A posição que o agente ocupa no espaço social pode ser estabelecida pela
posição que ele ocupa nos distintos campos, ou seja, na distribuição de poderes que
atuam em cada um desses campos podendo ser o capital econômico (títulos de
propriedade), o capital cultural (títulos escolares e acadêmicos), o capital social (títulos
de nobreza) ou o capital simbólico (prestígio, fama, etc.).
Embora cada campo tenha uma lógica e uma hierarquia próprias, Bourdieu
(2007, p. 135) lembra que “a hierarquia que se estabelece entre as espécies do capital e
a ligação estatística existente entre os diferentes haveres fazem com que o campo
econômico tenda a impor a sua estrutura aos outros campos”. As posições ocupadas
pelos agentes nos campos sociais são definidas em relação ao maior ou menor poder
adquirido por eles. Segundo a explicação de Pinto (2000, p.36), interpretando
Bourdieu, “a relação do indivíduo com o campo é mediatizada pelas estruturas de
62
percepção que lhe são próprias, produto de uma história determinada, e que dependem
em grande parte dos atributos que o agente considerado deve à sua posição nesse
campo”.
Para Bourdieu (2001, p.207), é o acesso à cultura e o dispor de capital cultural
que estratifica uma sociedade. Portanto, esse seria um poder que concede níveis, altos
ou baixos, de justificação (ou legalização) às ideias, atitudes, valores e outros,
assegurados pelos grupos dentro do campo. Esse é um poder “simbólico”, ou seja,
imperceptível. Leia-se o próprio autor:
O poder simbólico se exerce com a colaboração dos que
lhe estão sujeitos porque contribuem para construí-lo como
tal. (...) essa submissão tem muito pouco a ver com uma
relação de “servidão voluntária” e essa cumplicidade não é
concedida por um ato inconsciente e deliberado; ela própria
é o efeito de um poder, que se inscreve duravelmente no
corpo dos dominados.
O “poder simbólico” origina-se dos “sistemas simbólicos” e, esses por sua vez,
são os instrumentos de conhecimento e de comunicação. De acordo com Bourdieu
(2007, p.11), as relações de comunicação são, sempre, relações de poder, “que
dependem, na forma e no conteúdo, do poder material ou simbólico acumulado pelos
agentes (ou pelas instituições) envolvidos nessas relações”.
É salutar esclarecer que, para esse sociólogo francês, o poder simbólico não
está inserido nos “sistemas simbólicos”, mas esse poder explica-se numa relação
determinada e, por meio desta relação entre os que exercem o poder e os que a ele
estão submetidos, encontramos a estrutura do campo social onde se produz e se
reproduz os símbolos do poder. E, embora Bourdieu defina sua sociologia como
63
relacional, essa relação existe entre posições no campo e essas posições são,
nitidamente, de poder.
A luta simbólica entre os agentes objetiva a imposição de uma definição de
mundo social. O mundo social é expresso, também, pela representação e pelo desejo e,
consequentemente, existir socialmente implica ser compreendido como diferente e
inteligível. Sendo assim, Bourdieu (2007, p.72) esclarece que
(...) as lutas que têm lugar no campo intelectual têm o poder
simbólico como coisa em jogo, quer dizer, o que nelas está em
jogo é o poder sobre um uso particular de uma categoria
particular de sinais e, deste modo, sobre a visão e o sentido do
mundo natural e social.
Contrário à visão estática, esse autor afirma que a vida do mundo social é
explicada pelas ações e reações dos seus agentes, que se inclinam para a manutenção
ou transformação da estrutura. Essa dinâmica responde pela distribuição de poderes e
esses determinam as forças e as estratégias requisitadas na luta pela conservação ou
mudança da estrutura.
Trazendo o pensamento de Bourdieu para o espaço educacional, pode-se
afirmar que esse autor confere à Instituição Educacional (escolar ou universitária)
significativa importância. À medida que as escolas e as universidades conferem
certificados e diplomas essas titulações, sobretudo a universitária, concretizam a
institucionalização do capital cultural, consequentemente, o sistema educativo ganha
relevância, também, por possibilitar a conversão do capital cultural em capital
econômico.
Para Bourdieu, a escola, como o sistema educativo, contribui decisivamente
para a distribuição das posições sociais. Assim, a escola não se limita à transmissão de
64
uma cultura, sobretudo a cultura dominante, pois os símbolos que usa e veicula
pertencem a essa classe. Ao contrário, a escola deve ser pensada como o espaço de
oportunidades, de condições para todos, mesmo que os indivíduos se diferenciem por
herança, por contextos ou por outra razão.
O projeto político de Giddens, (1984) tem como base epistemológica a sua
Teoria da Estruturação e esta abandona a primazia ou do sujeito ou do objeto e busca
a junção da ação” e da “estrutura”, superando especialmente o “subjetivismo” e o
“objetivismo”, que segundo Giddens dominaram a sociologia do século XX. A Teoria
da Estruturação imprime relevância à recursividade, ou seja, às condições de
reprodução da vida social originadas dela mesma. Esse sociólogo britânico trabalha
com uma dialética entre o sujeito e o objeto e, quanto à estrutura, esta não deve ser
compreendida como dada, ele parte da premissa da continuidade da vida social, não do
indivíduo ou da sociedade. A estrutura estaria condicionada à ação dos atores, mas ao
mesmo tempo ela é capacitadora dessa ação, ou seja, ela oferece regras e recursos.
A concepção de ação humana, para Giddens, na interpretação de Cohen (1999,
p. 409), está associada a uma característica específica de toda conduta humana, que
seria o poder de intervenção no processo dos acontecimentos ou no estado de coisas.
Na teoria da estruturação, a ação é comparada à capacidade transformativa” e as
práticas sociais, numa explicação giddensiana, tomam como base essa conexão entre
ação e poder. Assim, a ação social está sujeita à competência dos atores de “fazer uma
diferença” na realização dos resultados definidos independentes de eles esperarem que
esses resultados aconteçam ou não, ou mesmo, que tenham consciência deles ou não, a
intencionalidade poderá ou não existir. A teoria da estruturação proporciona uma
“ontologia dos potenciais”, ou seja, ela assevera que os agentes sociais possuem um
potencial capaz de gerar mudanças históricas nas suas próprias formas de conduta.
65
Para Giddens os atores são sempre reflexivos e têm o poder (potencial, pois
poderá ser realizado ou não) de mudar o seu comportamento a qualquer momento, o
que acarreta um fluxo contínuo de mudança social, ratificando, assim, a sua proposta
da teoria da estruturação, isto é, como uma teoria de um processo contínuo.
Na ação social, intervenções que alteram ou modificam completamente os
eventos sociais, o que impulsiona a sua produção, assim, recursos são utilizados pelos
agentes na realização dessas práticas. Giddens, então, introduz o conceito de recursos,
explicando-os como “as facilidades ou bases de poder a que o agente tem acesso e que
ele manipula para influenciar o curso da interação com os outros” (COHEN, 1999, p.
414). Giddens define esses recursos como “alocativos” e autoritativos. Os primeiros
correspondem às capacidades de mando sobre os objetos materiais de relação com a
natureza e da transformação desta e, os recursos autoritativos se referem às
capacidades que geram poder sobre as pessoas. Relacionando a definição giddensiana
de recursos ao presente trabalho, pode-se afirmar que os recursos autoritativos são os
que se aproximam do objeto social ‘poder profissional docente’.
Sobre a estruturação do poder, o estoque dos recursos referidos acima, assim
como a estratégia do controle, tem especial significado para Giddens. Cohen (1999, p.
433), explica essa questão dizendo que,
O entrelaçamento de regras e recursos na conduta
institucionalizada resulta no que Giddens chama de estratégias
de controle: os modos pelos quais os agentes aplicam seu
conhecimento a respeito da manipulação dos recursos a que
têm acesso para reproduzir a sua autonomia estratégica
relativamente às ões dos outros. (...) as estratégias de
controle representam aspectos da práxis que são reproduzidos
na estrutura da dualidade.
66
O pensamento giddensiano é um convite para o debate sobre questões que não
podem ser vistas como determinadas nas suas primeiras interpretações, como é o caso
das questões profissionais, educacionais e de poder profissional.
Giddens (2001, p. 78) defende que a base de tudo é a educação, argumentando
que “a principal força no desenvolvimento de capital humano obviamente deve ser a
educação. É o principal investimento público que pode estimular a eficiência
econômica e a coesão cívica”. Todavia, em oposição aos modelos educacionais
estáticos, explica o autor que a educação deve possibilitar ao sujeito a construção de
competências ao longo da vida, dessa forma tem-se a constituição de um novo sujeito,
ou seja, de um agente com “portabilidade de capacidade”, integrante de um novo
contrato social com base nos princípios da autonomia e do desenvolvimento pessoal.
Para Michel Foucault (1988), em diferentes épocas e propósitos, a questão do
poder esteve focada pela lei e, ou pelo Estado, cuja característica principal era a
repressão. Mas o autor adverte que essa característica permaneceu marcada nas
sociedades e para ilustrar tal advertência Foucault (1988, p. 86) diz que “no
pensamento e na política ainda não cortaram a cabeça do rei”. Isso porque, como
esclarece o autor, ainda se muita importância, quando se trata da teoria do poder,
“ao problema do direito e da violência, da lei e da ilegalidade, da vontade e da
liberdade e, sobretudo, do Estado e da soberania”. Continuar pensando o poder a partir
dessas questões é, para Foucault, pensá-las “a partir de uma forma histórica bem
particular às nossas sociedades: a monarquia jurídica”. Para esse filósofo e historiador
francês
5
, essa forma, embora transitória, subsistiu e subsiste em novos mecanismos de
poder. Portanto, é preciso “assumir outra teoria do poder, formar outra chave de
5
Em diversas situações Foucault se definiu como historiador e não como filósofo. FOUCAULT, M.
(2005, p. 239).
67
interpretação histórica” (p.87). E, nessa perspectiva Foucault (1988, p. 88),
compreende o poder
Primeiro, como a multiplicidade de correlações de força
imanentes ao domínio onde se exercem e constitutivas de sua
organização; o jogo que, por meio de lutas e afrontamentos
incessantes as transforma, reforça, inverte; os apoios que tais
correlações de força encontram umas nas outras, formando
cadeias ou sistemas ou ao contrário, as defasagens e
contradições que as isolam entre si; enfim, as estratégias em
que se originam e cujo esboço geral ou cristalização
institucional toma corpo nos aparelhos estatais, na formulação
da lei, nas hegemonias sociais.
A aproximação do pensamento foucaultiano sobre o poder com o estudo das
representações sociais acerca do poder profissional docente se explica na medida em
que Foucault advoga que, para conhecer uma dada realidade, é preciso conhecer as
suas condições históricas, condições, também, necessárias para se compreender as
representações sociais construídas e socializadas pelo sujeito. Para Foucault (1995, p.
233), “seria mais sábio não considerarmos como um todo a racionalização da
sociedade ou da cultura, mas analisá-la como um processo em vários campos, cada um
dos quais com uma referência a uma experiência fundamental”. Portanto, a questão do
poder não pode ser resumida à questão teórica, pois ela faz parte das nossas
experiências e, por isso, deve ser analisada dentro de específicas racionalidades.
Assim, as ideias de Foucault abrem novas perspectivas para a análise das
relações de poder, ou seja, de como as subjetividades são produzidas pelas relações de
poder, assim como da função dos discursos nessas relações.
Nos trabalhos produzidos por Bourdieu, Giddens e Foucault ficam registrados
os esforços e as formas de superação de dicotomias como: sujeito e objeto, ação e
estrutura, que os autores empreenderam. O trabalho do sociólogo francês pode ser
68
considerado revolucionário por conceder às estruturas simbólicas um papel
determinante no estudo da sociedade. Esses autores, embora admitam a existência das
classes sociais, não defendem a concepção marxista de classe. Giddens restringe-se a
reconhecer a ampliação das desigualdades sociais gerada pela globalização, enquanto
que Bourdieu sugere o conceito de “campo social”, acrescentando que a classe não é
definida apenas pelo capital econômico, mas também pelo capital cultural que tem
igual valor. E Foucault (2005, p. 75) afirma que o pensamento de Marx, assim como o
de Freud sobre o poder, “talvez não sejam suficientes para nos ajudar a conhecer esta
coisa tão enigmática, ao mesmo tempo visível e invisível, presente e oculta, investida
em toda parte, que se chama poder”. E, ainda, esclarece esse autor, que a teoria do
Estado, a análise tradicional dos aparelhos de Estado sem dúvida não esgotam o campo
de exercício e de funcionamento do poder”.
A noção de estrutura para Bourdieu está associada à idéia de habitus, que
corresponderia a esquemas que direcionam as pessoas nos campos sociais. Nos
trabalhos do sociólogo britânico encontramos a noção de estrutura condicionada à ação
dos agentes. Logo para os dois sociólogos a estrutura é reproduzida, no entanto, essa
reprodução não equivale à mera repetição de práticas sociais, pois os agentes
imprimem originalidade à sua ação. É importante salientar que essa reprodução em
Giddens é mais clara do ponto de vista do tempo e do espaço, quando ele assevera que
“toda reprodução é contingente e histórica”. Para esse sociólogo, a diversidade
histórica é uma característica fundamental das práticas sociais.
A questão do poder para Bourdieu é definida a partir da posição que o
indivíduo ocupa na estrutura. Porém, essa posição estaria, até certo ponto,
estabelecida desde o nascimento do indivíduo e seria uma combinação, especialmente,
69
do capital econômico e do capital cultural. O poder para Bourdieu é “simbólico”
produzido pelos instrumentos do conhecimento e da comunicação, que seriam os
“sistemas simbólicos”. Para Giddens o poder está diretamente associado à “capacidade
transformativa” do agente. A ação humana tem o poder de interpor no percurso dos
eventos ou no estado de coisas. E, para Foucault (2005, p.175), uma nova análise de
poder requer não considerá-la do ponto de vista econômico. Por essa razão, o autor
afirma que “o poder não se dá, não se troca nem se retoma, mas se exerce, só existe em
ação”.
Dessa forma, o espaço onde os professores do ensino superior, formadores de
professores, exercem as suas atividades, pode ser reconhecido como um “espaço de
relações”, ou seja, as IES, as salas de aula. Esse espaço estaria situado num campo
social e esse campo, como se pôde ver em Bourdieu, é um “campo de forças” onde os
professores formadores travam lutas para manter ou converter esse mesmo campo. O
poder profissional docente pode ser considerado um poder simbólico, na medida em
que esse é um poder imperceptível, mas que se faz presente nas relações estabelecidas
pelos “sistemas simbólicos” que os professores formadores da docência possuem que
são os instrumentos de conhecimento e de comunicação. Esse poder, nessa perspectiva,
não seria diferente para Foucault (2005, p.175), pois esse autor esclarece que o poder
não é “manutenção e reprodução das relações econômicas, mas acima de tudo uma
relação de força”.
A aproximação dos estudos de Giddens com o presente trabalho pode ser
percebida em algumas dimensões, uma delas é o abandono da dicotomização entre
sujeito e objeto, outra é a da não passividade dos sujeitos. Esse é um aspecto que
notifica a aproximação do pensamento giddensiano ao pensamento moscoviciano, uma
70
vez que de acordo com Jodelet (2001, p. 27), o aspecto multidimensional dos estudos
das representações sociais, “caracteriza a representação como uma forma de saber
prático ligando um sujeito a um objeto”. Ou seja, o autor ao enfatizar o sentido de mão
dupla entre a ação e a estrutura permite que se coloque, no caso deste trabalho, o seu
pensamento em sintonia com a realidade vivida por professores dos cursos de
licenciatura, sendo assim, a estrutura das IES e dos cursos de licenciatura depende da
ação dos professores formadores, mas ao mesmo tempo essa estrutura é capacitadora
dessa ação.
Se para o autor da Teoria da Estruturação as pessoas são reflexivas e têm o
poder de mudar o seu comportamento e se essa teoria, como explica o seu criador, se
desenvolve num processo contínuo, pode-se, mais uma vez relacionando a este
trabalho, deduzir que os professores formadores de professores no ensino superior,
também, são possuidores desse poder, que é potencial, pois pode se desenvolver ou
não.
Após essa reflexão sobre o objeto social ‘poder’, é possível articulá-la à
questão da profissão, analisada anteriormente, e iniciar a análise do poder profissional.
A visão das profissões, antes pautada na relação entre profissional e cliente, na
segunda metade do século XX encontra uma mudança para a concepção das profissões
como formas de controle e poder. Nesse sentido, os estudos de Freidson (1998)
contribuem para a passagem das profissões como altruísmo para a versão de que o
monopólio do conhecimento e a proteção de mercados constituem fontes de poder.
Nessa perspectiva encontra-se Johnson (1972), para quem o cerne da questão passa a
ser a imposição das necessidades e dos formatos dos serviços prestados, ao invés do
atendimento às necessidades sociais. E, compondo essa mudança de visão, localiza-se
71
Larson (1977, p. 2), que reconhece no poder e no domínio profissionais um projeto
coletivo de promoção social que passa a controlar a sociedade. Essa autora acredita
que, com o fortalecimento das profissões, impulsionado pelas mudanças sociais que
tornaram o mercado uma instância fundamental na sociedade moderna, é criada uma
nova forma de desigualdade social.
(...) quando consideramos sociedades de classe, o
desenvolvimento de papéis e funções especializadas e
amplamente determinados pela estrutura de desigualdade da
qual é inseparável: dependente da distribuição desigual da
riqueza, poder e conhecimento, a institucionalização das
funções especializadas contribui, ela mesma, para a
distribuição desigual de competências e recompensas.
Essa nova forma de concepção das profissões revela importantes elementos
constitutivos do poder profissional, como os encontrados no trabalho The System of
Professions, de Andrew Abbott (1988), que concorda com Parsons, quanto à posição
nuclear do conhecimento na formação profissional, mas vai além defendendo o grau de
abstração do conhecimento controlado pela profissão como a sua característica
principal. Para Abbott (1988, p.8) “a evolução das profissões resulta das suas inter-
relações, que são determinadas pelo modo como esses grupos controlam saber e
qualificação”. De acordo com essa perspectiva, o autor introduz o conceito de
jurisdição que seria o vínculo instituído entre o grupo profissional e a área de
conhecimento sob seu domínio.
Outro elemento que integra o conceito de poder profissional é a credencial, o
que para Freidson (1996, p. 5) implica o controle ocupacional do que ele chama
“reserva de mercado de trabalho”, ou seja:
A reserva é assegurada pela exigência de que somente aqueles
com credencial ocupacionalmente emitida, certificando sua
72
competência, possam ser empregados para executar uma série
definida de tarefas, como cortar um corpo, ensinar a
estudantes universitários, representar um cliente num tribunal
e certificar a exatidão de uma declaração formal de ativos e
passivos financeiros.
Na vasta literatura sobre as profissões encontram-se estudos que segundo
Freidson (1998, p. 66) admitem que “os experts ou “os profissionais” exercem um
grande poder tanto sobre a política do Estado quanto sobre os negócios pessoais dos
indivíduos”. Mas esse autor alerta para uma outra corrente de estudos que fazem
oposição à existência do poder profissional, ao afirmarem que as profissões são
“instrumentos passivos do capital, do Estado ou de seus clientes individuais, e que elas
exercem pouca ou nenhuma influência própria sobre o conteúdo e a direção da política
institucional e dos negócios cotidianos”. Essa segunda corrente é a que propõe a
regressão contínua do poder profissional, reconhecida por denominações como:
proletarização, semiprofissão, desprofissionalização e outras.
Ao contrário dessa segunda corrente de estudos sobre o poder profissional, os
argumentos teóricos e a pesquisa empírica empreendidos neste trabalho permitem
defender a existência do poder profissional. E, por isso é adotado o conceito de
Freidson (1998, p. 68) para quem o poder profissional representa a capacidade dos
profissionais de:
Controlar o seu próprio trabalho, estão organizados em
associações, independentes tanto do Estado como do capital, e
organizam e administram a prática de um corpo de
conhecimentos e competência ou jurisdição, demarcados
inequivocamente e monopolizados por seus membros.
Desse modo, o debate acerca do poder profissional toma largas dimensões e,
integrando esse debate está a profissão docente.
73
3 Profissão docente: o profissional professor do ensino superior, formador de
professor.
3.1 - Contexto histórico:
A conceituação da profissão de professor constitui um grande desafio, pois esta
deriva do conceito mais geral de profissão e, como se viu embora haja alguns pontos
em comum, uma diversidade presente no campo conceitual acerca da profissão.
Desse modo, o consenso encontrado, nas suas linhas gerais, é o que considera os
contextos espaço-temporais em que esses conceitos se originam. Mas, reputando à
argumentação de Freidson (1996) de que no mundo do trabalho encontram-se os
ofícios, as ocupações e as profissões, este trabalho de pesquisa concebe a atividade
docente como profissão fundamentando-se na teoria do mesmo autor quando afirma
que pode ser denominado de profissional aquele que possui um corpo de
conhecimentos e qualificação profissionais institucionalizados. Sendo assim, o
professor formador de professor no ensino superior é um profissional que graduado e
pós-graduado por uma IES, tornou-se possuidor de um conhecimento específico para
ensinar aos futuros professores da educação básica.
As profissões, no entanto, não surgem do nada. Todas são detentoras de um
processo histórico de desenvolvimento, que de alguma forma as influencia. No caso
brasileiro, não é a profissão de professor do ensino superior, que inaugura o campo
profissional docente, ao contrário, o ensino superior surgirá no Brasil no início do
século XIX e o professor do ensino superior, formador de professor apenas no século
XX. Assim, a profissão de professor tem seu início com o ensino primário, que não
exigia do professor uma formação em curso superior. Mas o ensino primário se reveste
74
de significativa importância para os demais segmentos da profissão docente que,
segundo Nóvoa (1995, pp. 15-16), tem sua origem,
No seio de algumas congregações religiosas, que se
transformaram em verdadeiras congregações docentes. Ao
longo dos séculos XVII e XVIII, os jesuítas e os oratorianos
6
,
por exemplo, foram progressivamente configurando um corpo
de saberes e de técnicas e um conjunto de normas e de
valores específicos da profissão docente.
Destacamos as pesquisas de Nóvoa, sobre a profissão docente na Europa,
sobretudo em Portugal, por terem essas pesquisas muito em comum com a trajetória da
educação brasileira e da profissão de professor. No Brasil, o sistema educacional
disponível no período colonial era o controlado pelos jesuítas, ou seja, o mesmo
adotado em Portugal naquela época. Esses religiosos, conforme já mencionado, não
imprimiram o início da história da educação no Brasil como marcaram a importância
dessa obra para a nossa cultura. Sua política educacional era de propalar a e a
obediência, contudo o trabalho educativo dos jesuítas era separado em duas categorias,
uma que desenvolvia uma instrução simples primária para os filhos de portugueses e
índios, em espaços informais, e outra desenvolvida nos colégios fundados por esses
religiosos, destinada aos meninos brancos, que formavam mestres em artes e bacharéis
em letras. Importa esclarecer que o curso de letras formava, exclusivamente, os
bacharéis e a formação em artes não traz indicações de uma formação de professores.
Mesmo com a expulsão dos jesuítas em 1759 e passando a educação ao
controle do Estado, persiste a influência daqueles religiosos no espaço educacional.
Entretanto, os professores laicos se destacam lançando as bases para uma organização
6
Oratorianos: “padres da ordem do oratório, que assumiram o controle da Universidade de Coimbra,
representando a faceta “iluminista” de um catolicismo mais moderno e de um ensino de conteúdo e
didática mais atualizados” (XAVIER,1994, p. 53).
75
própria no cenário educacional, gerando mudanças nos processos de ensino e no uso de
instrumentos e técnicas pedagógicas.
Mas, na Europa, ao final do século XVIII, o Estado cria uma autorização para
ensinar, que só é expedida após um exame. Essa foi uma medida de regulamentação da
profissão de professor implementada pelo Estado. Essa licença, na perspectiva de
Nóvoa (1995, p.17), constitui-se num suporte legal ao exercício da atividade
docente”, que contribuiu para a demarcação do espaço profissional do ensino, assim
como, conclui o autor, “para a atribuição ao professorado do direito exclusivo de
intervenção nesta área”. No caso brasileiro, como informa Xavier (1994), só a partir de
1799 as licenças para o exercício da docência passam a ser concedidas pelo vice-rei.
Esse exercício refere-se à educação de base, pois em 1808, com a transferência da
sede do Reino Português para o Brasil, é que a educação superior ganha destaque,
porém essa educação não contempla a formação de professores, conforme
assinalado.
Com a chegada da corte portuguesa ao Brasil e com o crescimento da demanda
por escola no século XIX, o Estado instrumentaliza-se para garantir o controle dessa
instituição educacional, antes assegurada pela Igreja. Contudo, os professores não
assistem passivamente a essas mudanças e, compreendendo sua posição social, os
docentes organizam-se em busca do acesso a conhecimentos especializados. Costa
(1995, p. 80), nos comunica que,
Brota a proposta de uma formação específica, especializada e
longa, originada no desejo dos professores de melhorar o seu
estatuto e no interesse do Estado em deter um potente
76
mecanismo de controle. É dentro deste espírito que surgem as
escolas normais e os primeiros professores primários
7
.
No entanto, essa busca por uma formação específica para a tarefa docente
continua a não ter espaço no ensino superior. Essa instituição formadora da docência,
segundo Nóvoa (1995, p. 18), produz um corpo de saberes e do sistema de normas da
profissão docente”. Para esse autor, as escolas normais não apenas formam professores
a título individual, mas produzem a profissão docente e os professores na tentativa de
definirem sua identidade profissional, criam suas associações. Esse movimento
associativo corresponde para Nóvoa (1995, p.18), “a uma tomada de consciência dos
seus interesses como grupo profissional” e que (...) “as práticas associativas pautaram-
se quase sempre por três eixos reivindicatórios: melhoria do estatuto, controle da
profissão e definição de uma carreira”.
Esse movimento, desencadeado pelos professores, coincide com outros
movimentos profissionais que ocorriam na Europa, especialmente na França, onde os
grupos profissionais foram revestidos de expressiva importância e poder moral,
sobretudo por possuírem, segundo Durkheim (1995, p. xv), possibilidades de garantir a
unidade social.
Apesar dos movimentos dos professores, prevalece a ascensão do Estado, e
esse predomínio do Estado sobre as profissões é localizado no Brasil e em outros
países, pois Freidson (1998, p.38) avisa que muitos estudiosos (Burrage &
Torstendahl, 1990; Torstendahl & Burrage, 1990), influenciados por Larson (1977),
analisaram o surgimento de profissões modernas na Europa nos séculos XIX e XX e
que,
7
O surgimento e a institucionalização da Escola Normal no Brasil se deram a partir do Ato Adicional de
1834 (Kulesza, 1998, p.63).
77
Na maioria deles, o Estado desempenhou um papel ativo na
iniciação da institucionalização de algumas profissões e na
reorganização de outras. Mais ainda, em muitos casos, ele
funcionou como principal empregador de profissões. Isso,
evidentemente, contribuiu para que a profissionalização
adotasse um rumo diferente daquele seguido nos países de
língua inglesa.
Mas os professores não desistem da sua organização e em busca da
consolidação da sua identidade profissional, perseguem a ampliação da sua formação.
Contudo, como não existiam cursos superiores que se ocupassem da formação dos
professores, Xavier (1994, p. 85) comunica que “em meados do regime republicano
seria reivindicada com prioridade a criação de um Instituto Superior de Educação, que
logo se concretizaria com a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras”.
Uma questão, em particular, precisa ser ressaltada nessa análise histórica da
profissão docente, qual seja, a da presença feminina no magistério. Embora a inserção
da mulher tenha se dado em diversas áreas do campo profissional, Costa (1995, p. 160)
informa que “em nenhuma isto se verificou de forma numericamente tão intensa
quanto no caso do magistério”. Essa presença maciça da mulher no campo educacional
desencadeou variados estudos sobre a questão de gênero como categoria de análise do
trabalho docente (Apple, 1988; Lopes, 1991; Louro, 1989; Ozga e Lawn, 1991; Scott,
1990; e outros).
É oportuno ressaltar que a compreensão de gênero assumida neste trabalho é a
que o considera como uma construção social, e sendo assim, não se pode fugir da sua
relação com o poder como explica Scott (1990, p. 14): “O gênero é um elemento
constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos,
e o gênero é um primeiro modo de dar significado às relações de poder”. No
78
desenvolvimento das suas pesquisas, essa autora apresenta variadas situações
históricas em que o gênero é empregado pelos sistemas de poder político. Uma dessas
situações é a de visões políticas favoráveis à manutenção da ordem estabelecida
(conservadorismo), que fazem uso de formatos de relações familiares “ideais” para
exercer controle sobre as práticas sociais e políticas que estão para além da instituição
familiar e, dessa forma, efetiva estruturas de poder em outras instituições como a
educacional.
É possível que a partir do processo de feminização da docência tenham sido
incorporados à profissão docente, variados componentes da crença da domesticidade e
subserviência da mulher. Entretanto, é sabido que antes das mulheres o magistério foi
exercido por homens, logo, por que a desvalorização do magistério é atribuída à
presença feminina nesse campo profissional? A resposta a essa pergunta pode ser dada
por Lopes (1991, pp. 37-38):
A questão é importante e permite trabalhar esboçando a
seguinte argumentação: não se pode esquecer das origens
dessa feminização: é a partir de um trabalho missionário
religioso de apostolado e missão da palavra e da essência
divina (que como se sabe ocupa o lugar daquilo que é
concebido como sem falta, sem fissura, sem ambiguidade),
que as mulheres entram no magistério.
E, complementa a autora, que se observando a iconografia do magistério,
“quando é o homem que ocupa o lugar da docência, como mestre-escola, é (quase)
sempre de relho na mão, castigando, corrigindo. (...) Ele encarna a lei”. Pode-se inferir
dessa análise, que não se trata de competência para ensinar, mas de uso de
instrumentos de poder por um e não por outro. Porém, nesse caso, poder como
dominação, repressão. E esclarecendo, ainda mais, essa questão Apple (1987) afirma
79
que as mulheres não seriam de algum modo, incompetentes ou mais flexíveis, para
esse autor a questão reside em compreender que as relações de trabalho das mulheres
estão inseridas no contexto mais amplo das relações patriarcais e devem ser entendidas
a partir desse conjunto de condições. Embora constate o domínio masculino na esfera
da administração educacional e a frequência feminina no trabalho de sala de aula por
muito tempo, ou seja, o segundo subordinado ao primeiro, Apple (1995, p.34) avisa
que a autoridade masculina não está presente, apenas, no espaço educacional, mas,
Como na casa e no escritório, a dominação masculina está lá;
mas as professoras como as esposas, as mães e as
trabalhadoras de escritório – têm construído esferas de poder e
controle em sua longa luta para ganhar alguma autonomia.
Todavia, reconhecer todo o histórico de luta da mulher não significa atestar que
a herança patriarcal tenha sido banida da história da educação. Apple (1995, pp.70-71)
na análise de suas pesquisas nos Estados Unidos e na Inglaterra sobre o trabalho das
professoras afirma que o magistério à medida que saiu das mãos dos professores e
passou para as mãos das professoras a constituição do trabalho docente mudou. E
como consequência, houve um aumento significativo dos “controles sobre o currículo
e a prática docente ao nível da formação das professoras e ao nível da sala de aula”.
Contudo, afirma o autor que essa transformação do magistério fertilizou o campo
profissional para outras lutas: “Muitas mulheres se politizaram. Umas criaram
sindicatos. Outras lutaram ‘silenciosamente’, no dia a dia, para expandir ou manter o
controle de sua prática docente e do currículo”. E, conclui o pesquisador, que nos
tempos atuais onde o Estado e o Capital buscam formas de racionalizar e controlar o
trabalho das professoras, a histórica luta se faz presente.
80
No Brasil, a feminização do magistério se deu a partir do ensino primário,
ainda no século XIX, e no século XX, quando o espaço educacional se ampliava
quantitativamente. Dentre outras razões a presença feminina no magistério revelou-se
necessária, segundo Almeida (1998, p. 64), devido aos “impedimentos morais dos
professores educarem as meninas e a recusa à coeducação dos sexos, liderada pelo
catolicismo conservador”. Mas essa presença, de acordo com a pesquisadora, não foi
aceita passivamente pelos homens, que exerciam a profissão, pois eles estavam
perdendo o seu espaço profissional. Portanto, embora o discurso patriarcal atribuísse às
mulheres um melhor desempenho profissional nesse nível de ensino, desempenho
aliado às noções domésticas e maternais, a autora informa que esse discurso não
impediu as mulheres de lutarem “pelo direito de exercer o magistério e ter acesso à
educação e à instrução, assim como a oportunidade no campo profissional”.
A questão de gênero como as outras questões até aqui tratadas sobre a profissão
docente evoluíram e configuram um novo cenário, porém, as marcas históricas
revelam realce em determinadas situações do estado atual da profissão de professor.
3.2 - O estado atual
No Brasil, também, a luta da profissão docente por uma formação superior fez-
se necessária, pois é aqui que ela se distancia da educação básica, imprimindo
profundidade ao conhecimento e refinamento na qualificação da profissão de
professor. Para reforçar esse argumento, tomemos de Freidson (1996, p. 6) a afirmação
de que a educação universitária é superior em um sentido cultural mais importante,
pois, ao contrário das escolas e dos institutos técnicos, está associada com valores e
preocupações da alta civilização”.
81
Mas, ao longo do século passado, a profissão de professor no Brasil, embora
continuasse a se desenvolver, atravessou momentos difíceis e processos contraditórios.
Weber, S. (2000, p. 41) relembra, por exemplo, a não evolução do debate sobre a
profissionalização docente “durante a luta contra o regime autoritário e pela construção
da democracia”. A autora esclarece sobre o conturbado processo de construção da
identidade do docente nas últimas décadas do século XX, ou seja, “trabalhador da
educação”, “educador”, que refletiram nos processos de construção da identidade e da
formação profissionais do professor. E conclui afirmando que “a retomada da
designação professor, na acepção de profissional da educação ou de profissional do
ensino, ocorre apenas no final dos anos 80” (142).
O debate acerca da desprofissionalização ou proletarização dos docentes é
intenso nos últimos anos do século passado. No parecer de Enguita (1991, p.46), a
proletarização é o processo pelo qual um grupo de trabalhadores perde, mais ou menos
sucessivamente, o controle sobre os seus meios de produção, o objetivo de seu trabalho
e a organização de sua atividade”. Mas estariam mesmo, os profissionais perdendo
todos esses elementos constitutivos de uma profissão? Para Diniz (2001, p.44) não.
Segundo essa pesquisadora, embora as profissões tenham estado “sujeitas à influência
de processos importantes de mudança na estrutura das sociedades” e por isso tenham
se diferenciado do que eram nas primeiras décadas do século XX, esses aspectos de
mudança não justificam “os exageros das teses de desprofissionalização e da
proletarização e um exame mais cuidadoso de alguns pontos mostrará o quanto se
equivocaram na interpretação de tendências”.
Alguns desses pontos são apresentados pela própria autora, como:
- A tendência ao assalariamento de profissões consideradas, num passado
recente, como autônomas, não autoriza a proletarização, uma vez que surge “a
82
estrutura colegiada de controle, tipicamente profissional“ e “que predomina sobre
estruturas tipicamente burocráticas”.
- A tese da ampliação do controle do profissional pela clientela não se sustenta,
pois “basta observar que a expansão do conhecimento científico e tecnológico ocorre a
taxas exponenciais e o hiato de competência que separa leigos e profissionais tende a
aumentar, não a diminuir”.
- A tese de que as profissões, devido à sua desorganização: deixam de influir
nas políticas do Estado, em esferas do seu interesse; não obtêm legislação que proteja
seus privilégios corporativos; e não promovem atualizações nas suas estruturas
internas, são para a autora desconhecimentos dessa tese de que uma “face
organizada das profissões, do seu caráter corporativo, da sua capacidade de resistir a
controles ou de se adaptar às mudanças no ambiente social e político”.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 assegura o padrão de qualidade
como um dos princípios da educação (Art. 206, item VII), e favorece a enunciação das
condições de exercício da profissão docente. A promulgação da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDBEN) 9394/96
8
confere relevância à formação
profissional do docente da educação básica, inclusive extinguindo a licenciatura de
curta duração prevista na Lei n.º 5.692, de 1971. Essas inovações geram impacto no
cotidiano profissional dos professores formadores da docência no ensino superior.
8
- A Lei n.º 9.394/96, no seu Artigo 62, é explícita quanto à formação de docentes, que deve se dar em
nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, como critério para atuação dos professores
na educação básica. Essa Lei admite, ainda, a formação em nível médio, na modalidade Normal, como
formação mínima para a atuação de professores na educação infantil e nos anos iniciais do ensino
fundamental.
- Sobre a legislação básica que trata da extinção da licenciatura de curta duração e da exigência da
licenciatura plena, consultar: Lei nº. 9.394/96; Resolução CNE/CP nº.2/97; Portaria DRHU nº. 2/2000 e;
Deliberação CEE.
83
Estranhamente, a formação dos formadores não goza de especificidades, pois
como é registrado nos Artigos nº. 65 e 66 da LDBEN 9394/96
9
, os professores do
ensino superior são desobrigados de uma prática de ensino, exigindo-se o nível de pós-
graduação, sem atenção às questões educacionais.
Nesse mesmo período, a profissão docente ocupa um significativo espaço nas
pesquisas acadêmicas. No Brasil, vários pesquisadores, Alves (1998), Gatti (1997),
Mello (2001), Oliveira (1995), Souza (1996), Weber, S. (1996) e outros se dedicaram /
dedicam-se a compreender e explicar o papel, a função social, a formação, as relações
interpessoais, o desempenho profissional, a organização social e outros aspectos
relacionados à profissão docente. Cumpre saber que grande parte desse acervo foi
produzida focalizando o professor da educação básica, sua formação e o seu exercício.
Contudo, sendo esse professor um licenciado, os determinantes do seu trabalho
estariam, também, relacionados a sua formação no ensino superior, logo, relacionados,
também, aos professores formadores.
Todas essas pesquisas revelam os esforços, as conquistas e, também, os
obstáculos presentes no trabalho do professor, do ensino superior, que forma
professores como: restrição de recursos materiais e tempo adequado para o
desenvolvimento do trabalho pedagógico e de pesquisa educacional; burocratização,
inclusive presente nos editais de concursos de professores formadores; dificuldades
para o desenvolvimento de uma política de estágio que, efetivamente, comprometa o
futuro professor com o ensino e a aprendizagem dos alunos da educação básica;
dificuldades para a continuidade da formação, baixos salários e outros.
9
- Art. 65 A formação docente, exceto para a educação superior, incluirá prática de ensino de, no
mínimo, trezentas horas.
- Art. 66 A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-graduação,
prioritariamente em programas de mestrado e doutorado.
84
Os obstáculos presentes no cotidiano dos professores dos cursos de
licenciatura e as estruturas das faculdades de educação, públicas e privadas,
possivelmente, implicam as formas de conduta dos professores. Embora exibam
características ou configurações específicas, essas Instituições de Ensino Superior
trazem as marcas dos seus profissionais e talham neles as suas propriedades.
Assim, a estrutura das faculdades de educação e as ações dos docentes,
provavelmente, geram uma combinação, que faz revelar uma realidade social. Como
diz Cohen (1999, p. 394), “atribuir prioridade ab initio à estrutura ou à ação parece
errôneo e enganoso quando se reconhece que as duas estão entrelaçadas sempre que os
seres humanos fazem a sua própria história”. O professor no desenvolvimento da sua
prática tem o poder de intervir no desenrolar dos acontecimentos ou no estado de
coisas, esse seria um aspecto característico de toda conduta humana. Esse poder, aqui
colocado de forma ampla, antecede às questões relativas à subjetividade ou ao
monitoramento da conduta.
As dificuldades da ação docente, aqui assinaladas e outras, decerto, influenciam
as intervenções do poder político estatal, que se multiplicam no Brasil, nas três esferas
governamentais, conduzindo ao estabelecimento de referências nacionais de formação
e de exercício docentes.
As políticas educacionais exprimem a vontade do Estado, que as concretiza em
maior ou menor grau, podendo, em parte, lhe ser atribuída à descrença na profissão de
professor. Como assegura Freidson (1996, p.7), “a variável mais importante para o
profissionalismo é o Estado. O único recurso intrínseco a uma ocupação é o seu corpo
de conhecimentos e qualificações, e, embora este possa ser chamado de capital
humano e cultural, certamente não tem o poder do capital econômico ou político”.
85
Associe-se a isto a forma como o professor vem sendo apresentado pela mídia,
de que é exemplo, a reportagem sobre a relação candidato-vaga à Universidade de São
Paulo, do jornal Folha de São Paulo (2005):
Licenciatura, como se sabe, não é exatamente das áreas mais
atrativas, uma vez que forma professores. (...) Tão grave
quanto a procura é a qualidade dos candidatos, muitos dos
quais conseguem entrar numa universidade pública apenas
por essa porta e não demonstram nenhuma vocação para o
magistério. (...) Por isso se diz, ironicamente, que o professor é
uma espécie em extinção. E daí se entende, em parte, por que
somos uma nação de analfabetos e semianalfabetos
(07/11/2005, editoria Cotidiano).
Nessa matéria jornalística, um paradoxo a anotar: licenciaturas são pouco
atrativas, tal como demonstra a relação candidato-vaga aos vestibulares, mas por outro
lado admite-se o poder da profissão de professor para mudar o cenário de uma “nação
de analfabetos e semi-analfabetos”. No âmbito dessa tensão entre descrença e
valorização da ação docente, situa-se a ampliação do debate em torno da formação do
professor e, consequentemente, do seu poder profissional, sobretudo, no que se refere
aos conhecimentos que esses profissionais devam deter, e que remete à advertência de
Freidson (1998, p.104) de que, “o conhecimento em si não um poder especial:
somente o conhecimento exclusivo dá poder aos seus detentores”.
No Brasil, a concorrência aos cursos de magistério é insignificante, salvo
raras exceções. No Estado de Pernambuco, é possível constatar pelas relações
candidato-vaga (anexos 1 e 2) divulgadas pelas universidades públicas que os cursos
de licenciatura estão entre os menos procurados pelas novas gerações. Disso resulta
que a profissão de professor não se mostra atrativa para a nossa juventude.
Importa saber que as mudanças nos modelos de trabalho e, consequentemente,
das relações sociais, impõem ao professor a busca urgente de capacidades para
86
responder às exigências desse novo tempo. Essa busca se por meio da formação
regular ou continuada, sofisticada nos dias atuais e que para Mello (2001, p. 6),
Os organismos formuladores de políticas, os financiadores de
projetos de reforma, as universidades e outras instituições
sociais precisam se dar conta e levar a consequências práticas
esse fato óbvio: no caso brasileiro, o investimento em
formação de professores pode ser o de melhor rentabilidade
ou melhor, relação custo-benefício para a melhoria da
educação básica.
Compreende-se que a educação escolar é uma necessidade, para o
desenvolvimento individual e social, a profissão docente é indispensável,
especialmente, o trabalho dos professores formadores de professores, pois o resultado
desse trabalho reflete, principalmente, na educação básica, por meio dos sentidos que
são atribuídos ao poder da profissão de professor. Como observou Perrusi (1995,
p.124) “os constructos sociais (instituições, documentos, proferimentos verbais e não
verbais, utensílios, etc.) não são inteligíveis sem o seu sentido e o seu significado, uma
vez que estes participam da sua própria constituição”.
O profissional docente do ensino superior, formador de professores, tem a sua
formação profissional como um dos meios de assegurar as tão disputadas condições de
poder profissional, isso porque por meio da formação ele pode obter elementos
constitutivos do poder profissional, como a exclusividade de um corpo de saberes, a
abstração do conhecimento e a jurisdição.
Essa formação requer a construção de conhecimentos específicos, que possam
tornar-se exclusivos, situação que imprime poder profissional. As condições para tal
alcance são apresentadas por Freidson (1996, p.6), que considera que “um corpo
docente com dedicação integral tem tempo livre para refinar, revisar e codificar o
87
corpo de conhecimentos e qualificações recebido, bem como para descobrir e criar
novos elementos”. Dessa forma, conclui o autor, que o trabalho desse professor “pode
levar ao desenvolvimento de novas formas de conhecimento e qualificação, bem
diferentes das antigas, assim como à especulação e ao pensamento conduzindo a
avaliações profundamente críticas do status quo”.
3.3 - Poder Profissional Docente
O poder profissional figura, poder-se-ia dizer, como uma questão polêmica no
campo sociológico. Isso porque, como explica Bourdieu (2007, p. 140), “os objetos do
mundo social podem ser percebidos e enunciados de diferentes maneiras”, e esses
objetos “comportam sempre uma parte de indeterminação e de vago”.
O poder profissional do professor dos cursos de licenciatura, corresponde à
ação desse profissional formador, que está ligada a uma demonstração de capacidade
para o ensino que conduz à aprendizagem e esta capacidade está associada à noção de
poder. Esse poder, como assinalado, é um “poder simbólico”, ou seja, um poder
invisível, não tangível. O poder profissional docente compreendido dessa forma entra
em sintonia com as representações sociais, isso porque tomando emprestada a análise
de Andrade (1998, p. 143) sobre a identidade e as representações sociais,
A luta ao nível do simbólico é uma disputa pelo poder de
impor determinadas visões do mundo, ou seja, determinadas
representações, determinados sentidos aos objetos e relações
sociais, o que implica determinados parâmetros de
conhecimento da sociedade, do mundo, do universo.
E finaliza a autora que nenhum poder é “maior, mais resistente e duradouro do
que o poder simbólico”. Pode-se inferir, portanto, que o objeto social ‘poder
profissional docente’ seria construído a partir das representações sociais dos sujeitos.
88
Ainda, estabelecendo a relação existente entre o poder profissional, como
prática e as representações sociais, é possível dizer que a dimensão prática da profissão
de professor que exerce a docência em nível superior, pode ser pensada como o cerne
da questão do poder profissional. Com efeito, a dimensão prática é encontrada nas
representações sociais dos professores acerca do poder profissional, se
compreendermos, como em Spink (1995a, pp. 118-119), que essas representações
tratam de “formas de conhecimento prático” e o seu estudo insere-se “mais
especificamente entre as correntes que estudam o conhecimento do senso comum”. Tal
conhecimento prático remete à ação do sujeito e leva a autora a concluir que se trata
“de uma ampliação do olhar de modo a ver o senso comum como conhecimento
legítimo e motor das transformações sociais”.
Desse modo, as representações sociais de professores formadores sobre o poder
da profissão docente integram o universo de sentidos relacionados à docência e são
decodificadas pelos colegas e pelos alunos por meio das suas atitudes e das suas
práticas, e a essa decodificação corresponde uma reação.
Relembrando Giddens (1978), a ação envolve a mobilização de meios para o
alcance de resultados, e o poder refere-se à competência que tem o sujeito em mover
recursos
10
, seria o que esse autor, conforme citado, chamou de capacidade
transformadora da ação humana. Sendo assim, o profissional docente teria o poder de
mobilizar as suas ações, a partir das competências que construiu como professor
formador. E a partir daí, obter os recursos que o autorizam a interpor em diversos
eventos como, por exemplo, no processo de formação dos futuros professores, de
10
A expressão recursos, aqui, é tomada de Giddens (1978) para quem “incluem as habilidades pelas
quais a interação é constituída como “significativa, e também é necessário apenas citar abstratamente
aqui qualquer outro recurso que um dado participante é capaz de utilizar de modo a influenciar ou
controlar a conduta dos outros que são partes da interação, inclusive o domínio da “autoridade” e a
ameaça ou uso da “força”(p.119).
89
modo a direcionar ou modificar suas trajetórias acadêmicas, ou nas políticas públicas
para o ensino básico e para o ensino superior.
Ser competente para ensinar os futuros professores da educação básica a
ensinar, requer compreensão sobre o ensino, e neste trabalho a concepção de ensino
adotada é a defendida por Gómez (2000, p. 70), isto é, o ensino é considerado,
Um processo que facilita a transformação permanente do
pensamento, das atitudes e dos comportamentos dos
alunos/as, provocando a comparação de suas aquisições mais
ou menos espontâneas em sua vida cotidiana com as
proposições das disciplinas científicas, artísticas e
especulativas, e também estimulando sua experimentação na
realidade.
Esse processo de transformação permanente está associado à ideia de
aprendizagem, que como fundamenta Gómez (2000, p. 61), “deve desenvolver-se num
processo de negociação de significados” o que equivale a estimular os alunos a
ativarem,
Os esquemas e pré-concepções de sua estrutura semântica
experiencial, para reafirmá-los ou reconstruí-los à luz do
potencial cognitivo que representam os novos conceitos da
cultura e dos conhecimentos públicos com os quais agora
entram em contato.
Mas, como as práticas docentes são polimórficas, ou seja, práticas baseadas em
concepções teóricas distintas, esse poder profissional docente apresenta-se como real
para alguns professores e não pela categoria dos professores do ensino superior
formadores de professores. Vale lembrar que as representações do mundo social,
segundo Alexandre (2004, p. 130),
90
São sempre determinadas pelos grupos que as forjam. As lutas
de representações têm tanta importância quanto as lutas
econômicas para compreender os mecanismos pelos quais um
grupo impõe, ou tenta impor, a sua concepção do mundo
social, os seus valores, o seu domínio.
Com base na fundamentação teórica apresentada e visando ao alcance dos
objetivos propostos para esta pesquisa, o capítulo seguinte se ocupa de explicitar o
caminho metodológico planejado e percorrido para a coleta das informações, que
conduziram à apreensão das representações sociais dos professores dos cursos de
licenciatura a respeito do poder profissional docente.
91
Se é correto supor que as pessoas, na sua vida cotidiana,
ordenem seu meio, atribuam significados e relevâncias a
objetos, fundamentam suas ações sociais em
racionalidades de senso-comum, não se pode fazer
pesquisa de campo ou usar qualquer outro método de
pesquisa em ciências sociais sem levar em consideração
o princípio da interpretação subjetiva. (CICOUREL,
1975, P. 110)
Capítulo 4
Fundamentos e trajetória metodológica da pesquisa.
92
Capítulo 4: Fundamentos e trajetória metodológica da pesquisa
As representações sociais circulam nos discursos, por meio das palavras,
mensagens e imagens, que são materializadas em condutas e dispostas de forma
material ou espacial. Mas, para acessá-las, faz-se necessário a seleção rigorosa de
métodos e técnicas que evidenciem o conteúdo e a estrutura das representações e,
ainda, que possibilitem a inferência de aspectos importantes dos processos de
construção, assim como do produto das representações e suas transformações. Por essa
razão, o percurso metodológico desta pesquisa contou com as técnicas e os
instrumentos de coleta de informações que possibilitassem a maior aproximação
possível com a realidade empírica, cujos sujeitos foram os professores, formadores de
professores no ensino superior, os sujeitos sociais que trazem consigo experiências e
histórias construídas e em construção.
Pode-se afirmar que um trabalho de pesquisa que busca compreender
representações sociais precisa articular teoria e metodologia, pois estas se influenciam
reciprocamente diante dos fenômenos de representação social.
1 – As Representações Sociais e a pesquisa qualitativa
É oportuno lembrar que, embora a pesquisa qualitativa confira uma acentuada
presença nas investigações acadêmicas, a partir dos anos sessenta do século passado,
Melucci (2005, p. 39) avisa-nos que “o termo pesquisa qualitativa aplica-se, de fato, a
um percurso histórico muito amplo que funda as suas raízes nas origens da sociologia e
não seria correto referi-lo, unicamente, àquilo que emergiu nas últimas décadas”.
Porém, o autor esclarece que os modelos dessa pesquisa mudaram, fundamentalmente,
93
em função da definição da nova sociologia da ciência, do surgimento dos novos
campos e das novas áreas de pesquisa. Como consequência dessas mudanças haveria a
necessidade de promover uma descontinuidade entre o modelo tradicional da pesquisa
qualitativa e aquele que está presente hoje. Para esse autor “a descontinuidade está no
fato de que a relação observador-observado e a dimensão autorreflexiva se
transformam no aspecto discriminante da nova pesquisa qualitativa”.
Com efeito, esta tese é produto de uma pesquisa de natureza qualitativa, por
considerar a realidade social e o próprio homem como as fontes e o produto da
humanidade historicamente construída, e essa natureza é adequada à investigação em
Representações Sociais. Ao referir-se a essa adequação Spink (1995b, p.103) salienta
que,
A pesquisa sobre as Representações Sociais, estando
comprometida com situações sociais naturais e complexas
requisito imprescindível para que sejam acessadas as
condições de sua produção –, é necessariamente uma pesquisa
qualitativa.
A natureza qualitativa desta pesquisa pretendeu ser o que Triviños (1987,
p.125) define como “desreificadora dos fenômenos, do conhecimento e do ser
humano”. Portanto, o professor que no ensino superior é formador de professores foi
colocado no centro da investigação por ser um sujeito social, cuja posição influencia a
realidade profissional docente, não apenas no ensino superior, mas em todos os níveis
de ensino. A pesquisa qualitativa possibilitou, ainda, a interação necessária entre a
pesquisadora e os professores entrevistados e os selecionados para os trabalhos com os
grupos focais, o que favoreceu a apresentação de longos pareceres, discussões e relatos
de experiências, que tornaram mais acessíveis as representações sociais.
94
No entanto, importa esclarecer que o fato desta pesquisa possuir uma natureza
qualitativa, não impede que a ela sejam somados dados quantitativos, e, ainda, ao
declarar a opção pela pesquisa qualitativa, não significa que haja algum esforço no
sentido de justapor pesquisa qualitativa e quantitativa como modelos competitivos de
pesquisa social. Ao utilizar no processo desta investigação, instrumentos como o
questionário, por exemplo, mostra-se que a polêmica entre a pesquisa qualitativa e a
pesquisa quantitativa é estéril. É pertinente, ainda, destacar que pesquisas que focam
dados quantitativos, também, são utilizadas nas representações sociais como
testemunha a pesquisa desenvolvida por Moscovici (1961) sobre a psicanálise e a
sociedade parisiense. Desse modo, os dados quantitativos revelados em alguns espaços
deste trabalho necessitam de qualificação para a sua compreensão, assim como, os
dados qualitativos são categorizados para melhor interpretação.
É possível perceber que as questões propostas aos sujeitos da pesquisa os
conduziam à visitação das suas formas de compreender o processo de formação e
exercício profissional docente e seus determinantes. E, nesse processo, expressam-se
as representações sociais elaboradas e em elaboração sobre o poder profissional
docente.
Na pesquisa qualitativa o trabalho de campo compõe uma etapa fundamental,
pois ao invés de trazer os entrevistados para o espaço (ou laboratório) do pesquisador
sob o domínio de uma relação estruturada, no caso das entrevistas, a pesquisadora foi
ao espaço em que os sujeitos sociais pesquisados integram uma relação de
intersubjetividade com os seus colegas de trabalho e onde podem interagir melhor com
o pesquisador. Sendo assim, o campo, nesta pesquisa, constituiu-se dos diversos
ambientes de trabalho dos professores, ou seja, as salas de aula, salas de estudo,
bibliotecas, gabinetes e outros espaços oferecidos pelas universidades e faculdades.
95
Sem essa interação poderíamos estar compondo o “trabalho de surveylembrado por
Malinowski (1975, p.54), ou seja, nos deparar com um gigantesco acervo de
informações, “com um excelente esqueleto” (...) ao qual falta, entretanto, carne e
sangue”. Isso significa que pode-se apreender um grande arcabouço de informações
acerca dos ambientes, das condições de trabalho e das práticas dos professores
formadores da docência, mas não se perceber a influência desse acervo nas suas vidas
cotidianas e, consequentemente, dificultar o acesso às representações sociais.
Para apreender as representações sociais dos professores sobre o poder da
profissão docente, a pesquisa, ora apresentada, contou com entrevistas semi-
estruturadas e trabalho com grupos focais. O recurso a essas técnicas requereu a escuta
diligente do que era dito, condição para captar a forma e o conteúdo presentes nas falas
dos professores participantes da pesquisa.
Além desses meios, foram utilizados questionários e documentos que
potencializaram a compreensão das informações recolhidas, pois a contínua
conversação entre os indivíduos, que repercute as representações sociais, pode ser
acessada, também, por outras fontes. Concordando com a perspectiva de Spink (1995b,
p.100) para apreender esse incessante diálogo, o pesquisador deve fazer uso de:
Material espontâneo seja ele induzido por questões, expresso
livremente em entrevistas ou já cristalizado em produções
sociais, tais como livros, documentos, memórias, material
iconográfico ou matérias de jornais e revistas.
Foram aplicados, também, questionários a uma amostra de licenciandos com o
objetivo de compreender elementos do universo de formação profissional dos futuros
professores da educação básica, que possivelmente estariam associados às
representações sociais dos seus professores sobre o poder profissional da docência.
96
Os procedimentos de coleta de informações requerem certa criatividade da
pesquisadora, devido à necessidade de promover nos sujeitos da pesquisa, a interação
que provocaria a imersão das suas representações. Contudo, a manifestação da
criatividade não diminui o rigor da metodologia que a apreensão das informações
requer, ao contrário, o ato criativo promove outras possibilidades de captação de
informações enriquecendo a sua análise.
A definição dos instrumentos e técnicas presentes nesta investigação deve-se,
em grande parte, ao estudo piloto realizado.
2 – O estudo-piloto
O estudo-piloto foi construído com a finalidade de verificar se a opção
metodológica, especificamente o trabalho com grupo focal, seria adequada para
responder à pergunta: Quais as representações sociais que os professores do ensino
superior, formadores da docência, têm sobre o poder profissional dos professores?”,
Esse estudo mostrou que o grupo focal seria um recurso válido para a
investigação, considerando atentamente as suas etapas, ou seja, o planejamento, o
desenvolvimento e a avaliação.
A construção do estudo-piloto previu, desde o seu planejamento, a articulação
entre todas as partes que o constituiu. Inicialmente, cuidou-se da elaboração do roteiro
ou agenda da pesquisadora (anexo 3), também moderadora, que demandou
significativa imersão teórica para que os tópicos, constitutivos dessa agenda, fossem
bem fundamentados. Além dos tópicos, que se reportavam aos objetivos da pesquisa,
foram utilizados: minicartazes com figuras de variados profissionais em atividade, que
incitavam o exame das relações entre as suas tarefas; painéis que foram preenchidos
com conclusões dos participantes sobre as questões provocadoras; escrita de pareceres
97
individuais, que em seguida eram socializados no grupo e desenhos que evidenciavam
formas de pensar e agir, como também realçavam traços das representações sociais
construídas.
O local de realização do trabalho foi definido considerando o fácil acesso dos
professores participantes, assim como o horário, que foi conciliador das
disponibilidades daqueles profissionais. Por ter sido escolhido um dia de sábado no
espaço de uma instituição de ensino, o grupo ficou livre de interrupções, barulho, ou
quaisquer fatores que comprometessem a gravação em áudio ou que pudessem
perturbar a realização do trabalho, que durou cerca de duas horas.
A escolha dos professores que integraram o estudo-piloto baseou-se nos
critérios: de pertencerem a IES pública ou privada; de representarem cursos de
licenciatura em diversas áreas de conhecimento e de exercerem suas atividades em
cursos de formação de professores no ensino superior, mas naqueles cursos que
formassem professores para trabalharem na educação básica e não em cursos técnicos,
como é o caso dos cursos de licenciatura em Enfermagem e Nutrição.
Quanto ao desenvolvimento, o trabalho teve início às 9h20min, ou seja, vinte
minutos além do horário estabelecido para o início das atividades, devido ao atraso de
duas professoras. Mas era importante a presença de todos que formavam um grupo de
seis professores, número considerado adequado para esse tipo de estudo. Após as
explicações básicas sobre a participação dos professores nesta técnica de levantamento
de informações, a moderadora passou a problematizar as questões que compunham a
sua agenda.
Nos primeiros momentos do trabalho, a fim de entrosar os professores entre si e
com o objeto de discussão, foram expostos mini-cartazes de diversos profissionais em
atividade e, solicitado que os professores presentes: separassem, ou não, os
98
profissionais, que segundo eles gozavam de mais ou menos reconhecimento social,
justificando o porquê”. Iniciar com a questão do reconhecimento social facilitou o
processo de discussão que caminhou na direção da questão central, ou seja, da
representação social do poder profissional docente. Assim, com ilustrações,
questionamentos e com a participação habilidosa de alguns professores a discussão
sobre as questões postas levou à integração dos professores, ali presentes, e em
momentos mais avançados do trabalho, os depoimentos alcançaram uma expressiva
riqueza de informações.
Após o trabalho com o grupo focal passou-se para a etapa da transcrição da
gravação e de uma análise, ainda, não aprofundada das informações obtidas.
A avaliação desse estudo-piloto indicou, não somente a validade do trabalho
com o grupo focal no desenvolvimento da investigação sobre representações sociais,
como apontou ajustes, indispensáveis, ao alcance dos objetivos da pesquisa como:
A realização da entrevista semiestruturada ser anterior ao trabalho com o grupo
focal, pois caso algum entrevistado viesse a tomar parte do grupo focal, ele exporia
seus pensamentos, isento de influências dos colegas presentes. Na sequência, o
grupo focal poderia revelar contradições, retificações, complementações e
ratificações dos depoimentos individuais. E, iniciando o processo de pesquisa pela
entrevista individual, a pesquisadora poderia apreender determinadas questões que
seriam maximizadas no trabalho com os grupos focais.
Um equilíbrio entre os gêneros, na seleção dos participantes, pois dos seis sujeitos
do estudo-piloto apenas um professor integrou o grupo focal.
A necessidade de formação de mais de um grupo focal, a fim de apreender dos
professores de ‘gerações pedagógicas’ diferentes, suas representações sociais sobre
o poder da profissão docente.
99
A importância do grupo de professores, formadores de professores, ser
multidisciplinar.
A consideração do equilíbrio entre o número de professores de instituições
públicas e privadas.
A confirmação da participação de um professor-observador, ou como alguns
denominam professor-relator, cuja função é de não interferir no trabalho com o
grupo focal, mas fazer a anotação cursiva dos discursos e dos atos desenrolados no
grupo. professores-relatores que preferem digitar suas observações, porém
neste trabalho de pesquisa a opção foi pela discrição que a anotação cursiva
possibilita.
A reorganização da agenda (tópicos de discussão) em função do tempo que a
expressão das representações sociais dos docentes requer, pois algumas questões
tomaram muito tempo em detrimento de outras. Além disso, foi possível perceber
os tópicos que estimularam a discussão do grupo e os tópicos que geraram pouco
interesse dos participantes.
O uso de dois gravadores, pois mesmo não havendo problema com a gravação no
estudo-piloto, mais de um instrumento asseguraria o registro das falas. Os
equipamentos seriam testados, antes do início dos trabalhos, a fim de garantir falas
audíveis, material suficiente e confiável para os exames posteriores.
Poder-se-ia dizer que esse estudo-piloto assumiu a forma de um estudo
exploratório, e como tal não se descuidou dos requerimentos relacionados aos
trabalhos de pesquisa, inclusive, remessa à literatura específica, elaboração criteriosa
da agenda do moderador, adequação do ambiente, instrumentos auxiliares (gravador,
100
cartazes, fotos, etc.), disposição física dos participantes de forma que todos pudessem
ser envolvidos, enfim tudo elaborado com o necessário rigor.
Os resultados obtidos com esse estudo, também, contribuíram para a decisão da
pesquisadora de examinar fontes documentais como: editais públicos para a admissão
de professores para os cursos de licenciatura; acompanhamento dos diversos meios de
comunicação e informação dos anúncios dos processos de admissão aos cursos de
licenciatura; levantamento de índices de concorrência aos cursos de licenciatura, dentre
outros.
Além dos ajustes, referidos acima, a avaliação dos participantes não foi
positiva, como estimuladora do aprofundamento da questão por eles discutida. Por ter
propiciado aos participantes momentos de desenvolvimento de conhecimento sobre o
objeto social posto em discussão ‘poder profissional docente’, o estudo piloto fez
aflorar os aspectos comunicacionais e afetivos observados no interesse pelas trocas de
compreensão, de representação, assim como no desejo de ampliarem a discussão do
tema em outros momentos e em outros espaços.
3 – Os sujeitos da pesquisa
Normalmente, a literatura que trata da profissão docente esbarra nas questões
de renda, condições de trabalho e formação dos profissionais. Sem desconsiderar essas
informações, o estudo sobre aspectos das profissões, e no caso específico desse
trabalho As Representações Sociais dos Professores, formadores da docência, sobre
o poder da sua profissão exigem outros elementos, como: as diferenças individuais,
de formação e prática, existentes no conjunto dos professores; as distintas
circunstâncias nas quais a prática profissional é desenvolvida; as concepções dos
101
professores sobre a formação da docência, em nível de graduação; e as formas de
organização e controle da formação e do exercício docentes. Questões, como estas, que
buscam significados subjetivos, cuja complexidade não se revela por meio de
instrumentos fechados, inflexíveis, reclamam à natureza qualitativa da pesquisa.
Embora se compreenda a importância do pesquisador para a construção de uma
pesquisa científica, pois é ele quem levanta o problema a ser estudado, escolhe os
sujeitos e os espaços para a realização da pesquisa e dirige a investigação, não se pode
deixar de considerar os sujeitos pesquisados, no caso, os professores, como presenças
fundamentais do processo de investigação.
Os professores formadores de professores, no ensino superior, possuem
representações, construídas socialmente, sobre o objeto social poder profissional
docente, que se edificaram, especialmente, no processo do seu desenvolvimento
acadêmico, e nos espaços informais como na família (onde são comunicadas as
práticas escolares e acadêmicas), nas trocas de experiências (com colegas de profissão)
sobre o ato de ensinar e o ato de aprender. Ao representarem, os professores ativam o
pensamento que os liga ao objeto, e essa relação entre sujeito e objeto destaca-se como
fundamental no processo de formação das representações sociais, pois como é possível
perceber nas palavras de Jodelet (2001, p.23),
Conteúdo concreto do ato de pensamento, a representação
mental traz a marca do sujeito e de sua atividade. Este último
aspecto remete às características de construção, criatividade e
autonomia da representação, que comportam uma parte de
reconstrução, de interpretação do objeto e de expressão do
sujeito.
As representações apreendidas, entendidas como formas de conhecimento,
estão ancoradas na esfera cognitiva, todavia, como o conhecimento na Teoria das
102
Representações Sociais (TRS) não é somente uma produção individual, mas uma
produção social, precisa ser reportado às condições sociais que o geraram. Embora o
ponto de partida da TRS tenha sido a cognição, como explicam Guareschi e
Jovchelovitch (1995, p. 20),
O caráter simbólico e imaginativo desses saberes traz à tona a
dimensão dos afetos, porque quando sujeitos sociais
empenham-se em entender e dar sentido ao mundo, eles
também o fazem com emoção, com sentimento e com paixão.
A construção da significação simbólica é, simultaneamente,
um ato de conhecimento e um ato afetivo.
Dessa forma, as concepções e as práticas dos sujeitos da pesquisa são o
resultado dos processos formadores da docência desenvolvidos nas instituições
formadoras de ensino superior, mas esse resultado carrega consigo, também, as marcas
das instâncias informais.
Considerando o aspecto histórico inerente às representações sociais construídas
pelos professores a respeito do poder profissional da docência, os sujeitos da pesquisa
integraram o que Weber, S. (1996, p. 36) chamou de gerações pedagógicas’, ou seja,
os professores que “vivenciaram diferentemente discussões sobre a educação formal e
sobre o ensino e os movimentos em prol ou contra medidas relativas à educação”.
Todavia, fazer parte de determinado processo histórico da educação superior, requer
dos docentes formadores acompanhamento das mudanças de parâmetros, que como
continua a autora, permite “distinguir ênfases, perspectivas e propostas”, mas conclui
afirmando, que “isso não impede a interlocução cooperativa entre distintas ‘gerações
pedagógicas’”.
103
Duas gerações pedagógicas foram estabelecidas para localização dos
professores desta pesquisa e cada uma delas situa o início e grande parte da vida
profissional dos docentes:
- A primeira geração pedagógica integrou professores do ensino superior,
que iniciaram seus trabalhos nos cursos de formação de professores, regidos
pela Lei n.º 5.540/68, que reformou a estrutura do ensino superior e, por
isso, foi denominada lei da reforma universitária e pela Lei n.º 5692/71,
que reformou o ensino primário e médio denominando-os, respectivamente,
de primeiro e segundo graus
11
.
- A segunda geração pedagógica reuniu professores do ensino superior, que
ingressaram nos cursos de licenciatura na vigência da atual Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n. º 9394/96.
Participaram desta pesquisa, 21 (vinte e um) professores entrevistados e 16
(dezesseis) professores nos grupos focais. Os primeiros professores foram contatados
pela pesquisadora, mas os professores seguintes eram indicados por alguns docentes,
sujeitos da pesquisa, ou por outros pesquisadores.
Os sujeitos da pesquisa compuseram uma amostra, criteriosa, de professores do
ensino superior, formadores da docência (Tabela 1), nas áreas: das Ciências Humanas
e Sociais, das Ciências Exatas e da Natureza e das Ciências da Saúde. Na área das
Ciências Humanas e Sociais participaram professores dos cursos de licenciatura em
Letras, História, Filosofia, Psicologia, Pedagogia, Geografia e Ciências Sociais. Na
área das Ciências Exatas e da Natureza foram envolvidos professores dos cursos de
11
“Os dispositivos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 4.024/61) relativos ao ensino
primário, médio e superior foram revogados e substituídos pelo disposto nessas duas leis” ( SAVIAVI,
1997, p. 21).
104
licenciatura em Matemática, Física e Química. E os cursos de licenciatura em
Educação Física e Ciências Biológicas compuseram a área das Ciências da Saúde.
Dessa forma os professores constituíram um grupo multidisciplinar e de ambos os
sexos. É oportuno ressaltar que, devido ao grande número de cursos de licenciatura,
foram eleitos aqueles que são exigidos na formação profissional dos professores da
educação básica, ou seja, aqueles professores que exercem suas atividades na educação
infantil, no ensino fundamental e no ensino médio.
O critério da multidisciplinaridade se justifica pelo fato de os cursos de
licenciatura possuírem objetos de conhecimento próprios e serem detentores de uma
característica destacável, que é o de haver certa comunhão na abordagem dos
conteúdos das suas disciplinas, além disso, é importante considerar que é da natureza
da educação requerer saberes das diversas áreas do conhecimento. Portanto, a
formação de uma equipe multidisciplinar possibilitou depreender as representações
sociais dos professores sobre o poder profissional da docência, de forma diversa, e não
restringir essas representações a um grupo homogêneo na sua formação e na sua
prática.
A composição dos sujeitos da pesquisa incluiu, ainda, professores que possuem
diversas formações profissionais e professores que desempenham o seu trabalho em
várias áreas de ensino. Como previsto nos objetivos, foi possível obter as
representações sociais dos professores de diferentes gerações pedagógicas, sobre o
poder da profissão de professor, e por essa razão foi feita a opção por mais de um
grupo focal.
105
TABELA 1
Categorização dos sujeitos da pesquisa por área de conhecimento onde atuam.
N.° Professor (a) Área de ensino onde atua Curso de licenciatura onde
atua
01 2FPPR Ciências Humanas Pedagogia, Letras e
Psicologia
02 2MGPR Ciências Humanas Geografia
03 2FPPR Ciências Humanas Pedagogia
04 2FCBP Ciências Humanas / Ciências
da Saúde
Ciências Biológicas e Curso
Normal Superior
05 2FQP Ciências Exatas e da
Natureza
Química
06 1FCAP Ciências Exatas e da
Natureza / Ciências Humanas
Pedagogia e Ciências
Agrárias
07 1MCBP Ciências Exatas e da
Natureza./ Ciências da Saúde
Física e Ciências Biológicas
08 1FLP Ciências Humanas Letras
09 1FFP Ciências Exatas e da
Natureza
Física
10 1MHP Ciências Humanas História
11 2FHPR Ciências Humanas História, Filosofia, Letras
12 1MEFP Ciências da Saúde Educação Física
13 1MEFPR Ciências da Saúde Educação Física
14 1FLPR Ciências Humanas Letras
15 1MFP Ciências Humanas Filosofia
16 2FCBPR Ciências da Saúde Ciências Biológicas
17 1FPR Ciências Humanas Filosofia
18 2FMP Ciências Exatas e da
Natureza
Matemática
19 2MMPR Ciências Exatas e da
Natureza
Matemática
20 1MCSP Ciências Humanas Ciências Sociais
21 1FPP Ciências Humanas Pedagogia
106
TABELA 1 (continuação)
Categorização dos sujeitos da pesquisa por área de conhecimento onde atuam.
Professores
Ciências Humanas C. Exatas e da
Natureza
Ciências da Saúde
21
11
52.4%
5
23.8%
5
23.8%
De acordo com a matriz curricular do Ensino Médio, tem-se: Ciências Humanas (Língua Portuguesa,
Língua estrangeira, Arte, Filosofia, Sociologia, História e Geografia); Ciências da Saúde (Biologia e
Educação Física) e Ciências Exatas e da Natureza (Química, Física e Matemática).
107
O agendamento das entrevistas individuais e do trabalho com os grupos focais
não foi muito simples, devido aos inúmeros compromissos dos professores, mas depois
de acertados dias e horários todos se mostraram interessados em participar do processo
da pesquisa. Esse interesse foi revelado pelos professores que se assumiam como
interlocutores dispostos a dar informações e relatar experiências e, mesmo, a sugerir
que o tema fosse debatido com alguns grupos de professores formadores e
licenciandos. Alguns entrevistados verbalizaram ser o momento da entrevista um
espaço propício para falarem e serem ouvidos sobre uma questão importante que não
se referia, como de costume, à formação do licenciando, mas à formação, à prática, às
concepções dos professores formadores da docência e às suas condições de trabalho.
No desenvolvimento de um dos grupos focais, por exemplo, os participantes
agradeceram o convite para tomarem parte naquela atividade, considerando a proposta
como uma expressão de deferência a eles.
4 – Os espaços profissionais onde os sujeitos da pesquisa desempenham suas
atividades docentes
Para conhecer as representações sociais dos professores sobre o poder da
profissão de professor, foi preciso delimitar e compreender a organização e as
condições do espaço em que esses profissionais exercem suas atividades, uma vez que
a formação das representações sociais é carregada das marcas inerentes ao meio em
que elas se constituem, e isso é lembrado por Vala (2000, p.465), na sua afirmação de
que
108
O meio envolvente é também um meio teórico, onde circulam
teorias e doutrinas sobre as grandes questões que os indivíduos
se colocam e que são expressão das respostas que souberam
encontrar, representa uma concepção nova sobre o homem, as
relações sociais e a estrutura social.
Por essa razão, os professores que compuseram o grupo a ser pesquisado foram
localizados nas IES onde trabalham, ou seja, nas faculdades de educação pública e
privada, pois como é sabido, essas instituições se caracterizam por diferentes estruturas
e distintas dinâmicas de formação, até mesmo pelas condições de trabalho que lhe são
peculiares. As atitudes e os formatos de integração nesses campos de pesquisa
originam operações mentais que, segundo Lévi-Strauss (1975, p.212), colocam o
pesquisador de frente com o seu objeto de pesquisa, fazendo uma espécie de
“Sociologia de carne e osso”, que apresenta os homens “engajados no seu próprio
devir histórico, e instalados em seu espaço geográfico concreto”.
As representações sociais são fenômenos, que para serem compreendidos é
preciso remeter aos seus contextos de produção, ou seja, considerar as funções
simbólicas e ideológicas a que servem e as formas de comunicarem e fazerem circular
as representações. Portanto, foi preciso muita atenção quanto: à seleção dos espaços,
dos sujeitos sociais; às informações a serem coletadas e à forma de apreender essas
informações. Essas precauções são necessárias pelo fato de que o campo social não é
translúcido, não é evidente e, sendo assim, tanto o pesquisador quanto os sujeitos
pesquisados influenciam a realidade. Desse modo, fizeram parte desse campo de
pesquisa: 3 (três) universidades públicas, sendo 2 (duas) federais e 1 (uma) estadual e,
5 (cinco) instituições privadas, sendo 2 (duas) universidades e 3 (três) faculdades.
Dessas 8 (oito) IES do Estado de Pernambuco, 1 (uma) localiza-se no município de
Olinda, outra no município de Vitória de Santo Antão e 5 (cinco) na cidade do Recife.
109
Importa ressaltar, que são as universidades públicas, as detentoras do maior número de
cursos de licenciatura.
Todas as IES que participaram desse estudo asseguraram, por meio dos seus
professores pesquisados, que atualizaram ou estão num processo de atualização dos
seus cursos de licenciatura de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCN)
12
estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Entretanto, esse
processo de atualização do(s) curso (s) nos quais os docentes pesquisados
desempenham suas funções docentes, nem sempre correspondia, para esses
professores, às exigências de formação profissional das novas gerações de professores,
como é possível constatar no espaço de análise dos dados.
5 - As entrevistas semi-estruturadas.
Para a apreensão das informações da pesquisa foram utilizados a entrevista
semiestruturada e o trabalho com grupos focais, por serem as técnicas verbais, como
argumenta Spink (1995b, p. 100) “a forma mais comum de acessar as representações”.
Numa pesquisa sobre representações sociais, o uso de material produzido, socialmente,
mesmo sendo ele introduzido por questões, como é o caso da entrevista, representa o
conteúdo fundamental para o estudo dessas representações. O argumento de Moscovici
(2003, p.90) de que “a conversação está no centro de nossos universos consensuais,
porque ela configura e anima as representações sociais e desse modo lhes dá uma vida
12
A LDB n.° 9394/96 como as DCN reafirmam as responsabilidades das IES, anunciadas na
Constituição Federal de 1988, ou seja: “estas responderão necessariamente pelo padrão de qualidade na
oferta de seus cursos, o que significa, no art. 43, preparar profissionais aptos para a sua inserção no
campo do desenvolvimento, em seus diversos segmentos, econômicos, culturais, políticos, científicos,
tecnológicos, etc. Disto resultou o imperioso comprometimento das instituições formadoras de
profissionais e de recursos humanos com as mudanças iminentes, no âmbito político, econômico e
cultural, e até, a cada momento, no campo das ciências e da tecnologia, nas diversas áreas do
conhecimento, devendo, assim, a instituição estar apta para constituir-se resposta a essas exigências”.
(Parecer n.° 67/2003, CNE/CES Referencial para as Diretrizes Curriculares Nacionais DCN dos
cursos de Graduação).
110
própria”, também, corroborou para a opção pela entrevista semiestruturada e pelo
trabalho com os grupos focais nessa investigação.
Portanto, o tipo de entrevista mais adequado para a proposta desta pesquisa é a
que se apresenta menos estruturada, ou seja, menos esquemática e mais flexível.
Contudo, não se trata de se imprimir menos rigor, pois faz-se necessário a atenção
quanto: à preparação do pesquisador; à construção da agenda de entrevista; à
disponibilidade de tempo para a realização e transcrição da entrevista; à definição de
lugar e horário e outros elementos organizadores da entrevista, além da vigilância ética
que se exige na realização dessa técnica.
Uma etapa antecedeu à realização das entrevistas propriamente definidas para a
pesquisa, que foi um espaço destinado à validação das questões que compunham a
agenda da pesquisadora. Assim, cinco professores puseram à prova as interrogações
que constituíam aquela agenda. Esse momento teve sua importância marcada pelos
ajustes que foram feitos no roteiro da entrevista antes da sua realização junto ao
conjunto de professores convidados para a entrevista.
O número de professores para a entrevista semiestruturada não foi definido a
priori, pois foram as verbalizações obtidas, que indicaram a necessidade de outros
entrevistados. Muito embora, os cursos de licenciatura sejam conhecidos e, portanto,
quantificáveis, o número dos cursos de licenciatura, a presença de entrevistados de IES
públicas e privadas, ou quaisquer outro critério não determinou a definição antecipada
desse número. Essa definição foi estabelecida pelo critério conhecido como
“saturação” que, como explica (1998, p.92), “quando os temas e, ou argumentos
começam a se repetir isto significaria que entrevistar uma maior quantidade de outros
sujeitos pouco acrescentaria de significativo ao conteúdo da representação”.
111
Sendo assim, foram entrevistados, 21 (vinte e um) professores categorizados de
acordo com: a geração pedagógica, o sexo, o tipo da IES, pública ou privada (Tabela
2). Embora alguns professores exercessem outra atividade além da docência,
predominou a característica comum a todos os participantes, ou seja, eram todos,
professores formadores de professores no ensino superior, para a educação básica. E
essa característica os qualificava para a discussão da questão em foco, possibilitando
que as entrevistas fizessem emergir os elementos ancorados nas suas experiências
docentes.
112
TABELA 2:
Categorização dos sujeitos pesquisados de acordo com a geração
pedagógica, sexo e IES.
N.° Professor (a) 1.ª Geração
Pedagógica
2.ª Gerão
Pedagica
Sexo
Feminino
Sexo
Masculino
IES
Pública
IES
Privada
01 2FPPR X X X
02 2MGPR X X X
03 2FPPR X X X
04 2FCBP X X X
05 2FQP X X X
06 1FCAP X X X
07 1MCBP X X X
08 1FLP X X X
09 1FFP X X X
10 1MHP X X X
11 2FHPR X X X
12 1MEFP X X X
13 1MEFPR X X X
14 1FLPR X X X
15 1MFP X X X
16 2FCBPR X X X
17 1FPR X X X
18 2FMP X X X
19 2MMPR X X X
20 1MCSP X X X
21 1FPP X X X
TOTAL 11 10 12 09 12 09
Professores
Sexo
feminino
Sexo
masculino
1ª Geração
Pedagógica
2ª Geração
Pedagógica
IES
Pública
IES
Privada
21
12
57.1%
9
42.9%
11
52.4%
10
47.6%
12
57.1%
9
42.9%
113
A partir do convite aos entrevistados os esclarecimentos necessários foram
prestados sobre a organização do trabalho e foi solicitada a sua participação
espontânea, considerada como colaborativa na edificação da pesquisa. Como foi
permitida, pelos sujeitos da pesquisa, a gravação das entrevistas, foi assegurado o
anonimato dos participantes, garantindo-lhes que o acesso ao material seria restrito à
pesquisa, e, ainda, que na produção do texto final seriam utilizados nomes fictícios,
abreviaturas ou códigos, quando trechos dos seus depoimentos fossem destacados.
A entrevista semi-estruturada foi constituída de um roteiro básico (anexo 4),
que permitiu ao entrevistado desenvolver sua linha de pensamento, com base na sua
prática pedagógica, na sua formação e nas suas experiências pessoais e profissionais. O
roteiro foi um facilitador de abertura e aprofundamento da comunicação da
pesquisadora com os sujeitos entrevistados. As questões, de acordo com Kidder (1987,
p. 41), devem ser compreendidas com clareza pelos participantes, a fim de que suas
respostas não se tornem incompreensíveis e de difícil categorização.
A lista de tópicos ou aspectos é derivada de uma formulação
do problema de pesquisa, de uma análise da situação ou
experiência da qual o informante participa, e de hipóteses
baseadas em teoria psicológica ou sociológica. A lista
constitui-se de uma estrutura de tópicos a serem abordados,
mas a maneira pela qual eles o serão e a duração das questões
são deixadas a critério do entrevistador.
O roteiro que fornece a base da entrevista não é um simples aglomerado de
perguntas. Ao contrário, integram o roteiro as perguntas que expressem qualidade,
ou seja, aquelas interrogações que estão teoricamente fundamentadas.
Esse conjunto de tópicos quebra com a fixidez de uma entrevista
hermeticamente elaborada, por ser composto de questões que possibilitam reconhecer
114
os processos sociocognitivos (objetivação e ancoragem), elaborados pelos professores,
que de acordo com Vala (2000, p. 465) referem-se “a regulações normativas que
verificam as operações cognitivas”.
Compreender como os professores objetivam a representação social do poder
da sua profissão é considerar que esse objeto social, por ser novo, carece de
conhecimento. O postulado da objetivação, segundo Perrusi (1995, p.199) é que “o
novo que vem de fora perde, ao ser objetivado e reconhecido, a conexão com a sua
origem”. Mas o processo de objetivação relaciona-se com o processo de ancoragem,
este último, para Doise (2001, p.190) “consiste na incorporação do estranho numa rede
de categorias mais familiares”. Assim, os professores organizam os elementos
integradores da representação e o caminho por meio do qual esses elementos vão
obtendo materialidade, ou seja, vão sendo objetivados. Numa sequência da
objetivação, a organização das concepções sociais em torno do objeto em foco,
constitui a ancoragem. É salutar a ressalva de que não se pretende negar, que a
ancoragem também pode preceder a objetivação.
A entrevista semiestruturada, por ser realizada face a face, possibilitou a
interação humana necessária ao surgimento dos elementos essenciais para esta
investigação como: as percepções que os entrevistados têm de si mesmos como
professores formadores de professores no ensino superior e as percepções que eles
tiveram da entrevistadora, assim como, as percepções que a entrevistadora construiu
dos professores; as expectativas da pesquisadora com as respostas que recebeu às suas
indagações e as expectativas dos professores com o que seria questionado e com a
interpretação que a entrevistadora daria às suas respostas; os sentimentos que
afloraram por parte da pesquisadora em poder obter os dados que poderiam se
converter em explicações para o problema estudado e os sentimentos dos entrevistados
115
que podiam parecer de satisfação por participar de um trabalho com o qual se
identificam, ou de ansiedade por poder corresponder ou não.
A entrevista semiestruturada, por possibilitar a apreensão de informações,
permite o seu agrupamento, segundo Minayo (1996, p. 108) em informações, de
natureza objetiva, “que se referem a fatos que o pesquisador poderia conseguir por
meio de outras fontes como censos, estatísticas, registros civis, atestados de óbitos,
etc.”. E as informações de natureza subjetiva, ou seja, “que se referem diretamente ao
indivíduo entrevistado, isto é, suas atitudes, valores e opiniões”.
Tanto informações objetivas quanto subjetivas foram apreendidas nesta
investigação. Uma parte das informações objetivas foi extraída dos questionários
respondidos pelos professores entrevistados e por licenciandos dos diversos cursos de
licenciatura, e outras foram extraídas dos depoimentos dos entrevistados. Essas
informações permitiram, por exemplo, categorizar os professores na primeira ou
segunda geração pedagógica.
Quanto à subjetividade das informações que emergiram nas entrevistas podem-
se destacar: aquela relacionada às práticas dos professores formadores da docência,
que corporificam o seu compromisso com a formação dos futuros professores; as
relacionadas com os valores atribuídos pelos professores formadores à profissão de
professor da educação básica e à instituição escolar; entre outras. As informações de
natureza subjetiva poder-se-ia dizer, são aquelas que dão fertilidade à pesquisa e
elevam a sua análise. A relevância da subjetividade da entrevista semiestruturada é
evidenciada, também, por Brandão (2002, p.41), quando afirma que:
No momento em que a percepção social transita pela
consciência individual, ela passa por uma triagem, é modelada
e reelaborada, segundo os valores do entrevistado
116
(subjetividade), reinscrevendo-se, ao mesmo tempo, no social,
em virtude da situação de interação com o pesquisador e da
experiência empírica de rememorar. A mobilização da
subjetividade na construção das representações sociais,
portanto, não se opõe à objetividade ou à “realidade”, mas é
um momento da construção da realidade.
O processo interativo favorecido pela entrevista semiestruturada não é simples,
sua complexidade, segundo Szymanski (2002, p. 14) realça “um caráter reflexivo, num
intercâmbio contínuo entre significados e o sistema de crenças e valores, perpassados
pelas emoções e sentimentos dos protagonistas”. Um exemplo desse caráter reflexivo
está presente na seguinte questão dirigida aos professores entrevistados: Como o(a)
senhor(a) descreve o professor do ensino superior, formador de professores? A
resposta a essa questão não isenta o professor entrevistado, ele não falará, apenas, dos
outros professores dos cursos de licenciatura, mas ao responder, ele, provavelmente,
reflete sobre: Quem sou eu? Como me vejo como professor do ensino superior,
formador de professores? Como compreendo a imagem que os outros fazem de mim?
Do momento em que assumi ser professor dos cursos de licenciatura aos dias atuais,
houve mudanças no meu trabalho como docente? Sendo assim, uma cuidadosa atenção
precisou ser empregada para ouvir e apreender informações, também carregadas de
sentimentos, que permitiriam aflorar as representações sociais desses professores.
Os elementos obtidos nas entrevistas se apresentaram fecundos para a análise e
estudo das representações sociais. Essa fecundidade das verbalizações elaboradas pelos
professores adveio do fato desses professores não se limitarem a dar informações, mas
desenvolveram um trabalho de reflexão. Reflexão sobre si mesmo, sobre o seu
processo de profissionalização, sobre os colegas de profissão, a respeito dos
professores que estão formando e o processo dessa formação e, sobre o espaço escolar,
lócus de trabalho dos licenciados. Porém, a fertilidade propiciada pelas informações
117
foi assegurada pelo controle dos componentes periféricos, da supressão dos
componentes supérfluos e do realce das informações inescusáveis aos objetivos da
pesquisa. A título de ilustração, pode-se citar como componente periférico,
depoimentos acerca: da contribuição do curso de bacharelado para o exercício e
formação do professor formador da docência; do processo de avaliação da
aprendizagem e da avaliação institucional; condições de salários; contratos de trabalho.
Como componentes supérfluos servem de exemplo os depoimentos, excessivamente,
detalhados sobre o desenvolvimento do curso de graduação; comentários sobre registro
de desempenho escolar dos alunos e discussões sobre condições de trabalho como
estacionamento para professores, e outros.
Ao término de cada entrevista, iniciava-se o momento da transcrição das
gravações, sendo esta uma operação trabalhosa e demorada. As entrevistas transcritas
somente revelaram a sua riqueza após rias leituras acompanhadas da gravação e das
anotações feitas pela pesquisadora durante as entrevistas.
6 – O trabalho com os Grupos Focais: primeira e segunda geração pedagógica
A definição de trabalho com grupo focal como um dos meios de produção deste
trabalho justifica-se por se buscar as representações sociais dos professores, acerca do
poder profissional docente, não só por meio de depoimentos individuais, mas, também,
por meio de depoimentos de grupos de professores mobilizados, a partir de condições
que os fizeram explicitar concepções, interagir, inferir, analisar. É oportuno esclarecer,
no entanto, que embora alguns pesquisadores denominem esse meio de coleta de
informações como “entrevista com grupos focais”, esta pesquisa tratou esse meio
como um trabalho de levantamento de informações, pois sua estrutura baseou-se num
118
contexto de interação dos professores que compuseram os grupos. E essa distinção é
apresentada por Gatti (2005, p. 29) ao enfatizar que o trabalho com o grupo focal “não
se caracteriza como entrevista coletiva, mas, sim, como proposta de troca efetiva entre
os participantes”. Para afastar a característica de entrevista, no início do trabalho com o
primeiro grupo focal, a problematização foi feita a partir de figuras embaralhadas de
profissionais, onde se incluíam docentes: os sujeitos pesquisados fariam a distinção
entre aqueles que julgavam possuir autonomia no desempenho da sua profissão e que
gozavam de um bom reconhecimento social, daqueles que tinham a sua profissão
controlada por outros, ou mesmo, sua atividade não reconhecida socialmente como
profissão.
A relação interpessoal promovida pelos tópicos de discussão favoreceu a
captação de significados que iam surgindo da multiplicidade das falas e das situações
emocionais que emergiram dos dois grupos focais organizados.
O conjunto dos sujeitos participantes de cada grupo focal representou os
professores, cujos atributos desejavam-se conhecer. Dessa forma, os grupos focais
desta pesquisa foram constituídos de acordo com a geração pedagógica às quais
pertencem, como já anotado.
Participaram dos trabalhos com os grupos focais, oito professores no primeiro
grupo, pertencentes à primeira geração pedagógica e oito professores no segundo
grupo focal que integraram a segunda geração pedagógica. O aspecto quantitativo é
importante na formação dos grupos focais, pois um número muito reduzido de
participantes torna as informações pouco relevantes, da mesma forma, um número
grande de integrantes pode levar à dispersão, impedindo a apreensão de dados
significativos para a pesquisa. Mesmo atendendo ao número adequado de participantes
nos grupos focais, vale lembrar como o fazem Bauer e Gaskell (2002), que,
119
essencialmente, a pesquisa demonstra “que o grupo, distinto de determinado número
de pessoas em um mesmo local, é mais do que a soma das partes: ele se torna uma
entidade em si mesma” (p.75).
Nos grupos, os professores expuseram amplas idéias e perspectivas, elaborando
de forma mais completa as questões problematizadas pela pesquisadora favorecendo a
averiguação das representações sociais que levaram àquelas respostas. Gatti (2005, p.
14), que tem se debruçado sobre os aspectos metodológicos da pesquisa assevera que o
grupo focal,
Tem uma sinergia própria, que faz emergir ideias diferentes
das opiniões particulares. uma reelaboração de questões
que é própria do trabalho particular do grupo mediante as
trocas, os reasseguramentos mútuos, os consensos, os
dissensos, e que trazem luz sobre aspectos não detectáveis ou
não reveláveis em outras condições.
A opção pelo trabalho com grupos focais, neste estudo, é ratificada por ser esse
um recurso que permitiu: esclarecer as prioridades dos grupos de professores
formadores da docência, quanto às suas práticas; compreender a linguagem e os
referenciais dos professores que formam professores no ensino superior; favorecer a
exposição das formas de pensar e agir de professores; conhecer à referência às
regulações existentes no exercício profissional de professores formadores dos
professores no ensino superior e estimular a discussão sobre a polêmica do poder
profissional, questão pouco conhecida ou pouco enfrentada pelos profissionais.
A partir do convite, esclarecimentos foram dados quanto: aos propósitos do
encontro; ao perfil do grupo focal que seria formado; às etapas do desenvolvimento
daquela atividade; e aos instrumentos utilizados para registro das falas. Além dessas
elucidações, foi assegurado o sigilo dos nomes dos participantes nos registros de
120
trechos das suas falas e, nas entrevistas individuais, foi esclarecido que seriam
utilizados nomes fictícios, abreviaturas ou códigos, quando trechos dos depoimentos
dos participantes fossem transcritos. Sendo assim, houve a anuência de todos os
integrantes dos dois grupos focais.
Foi preparado para cada grupo um ambiente acolhedor, no qual os professores
participantes iam chegando e criando intercâmbios informais entre si, tornando aqueles
espaços favoráveis às discussões e reflexões. Na chegada, cada participante recebia um
crachá com o seu nome, visando facilitar a identificação e a comunicação entre os
professores. Antes de iniciarmos o trabalho com cada grupo focal, a pesquisadora fez
uma autoapresentação e solicitou que cada membro do grupo, também, se
apresentasse. Os docentes se acomodaram em torno de uma grande mesa e essa
disposição auxiliou a comunicação entre os participantes e a comunicação da
pesquisadora com estes, facilitou as anotações por parte das professoras-observadoras
e permitiu uma qualitativa gravação em áudio. Como o tema a ser discutido pelo grupo
é gerador de certa polêmica, ou seja, o poder profissional esperava-se que alguns
professores não compartilhassem das mesmas opiniões. Por essa razão ao explicar a
organização do trabalho com o grupo (tempo, objetivos, gravação) a pesquisadora
propôs que todos seguissem orientações básicas como: todos terem a liberdade de
expressar os seus pensamentos e de terem o espaço para falarem, mas um de cada vez,
até mesmo para que a gravação fosse suficientemente clara.
O trabalho com o grupo focal requereu a definição do seu conteúdo, orientado
por um roteiro ou agenda de trabalho (anexo 5), que dependeu em grande parte, da
entrevista semiestruturada, por que a partir dela pôde-se erguer questões essenciais e
contextualizadas acerca da representação social do poder profissional. Todavia, essa
agenda foi organizada a partir das características particulares exigidas no trabalho com
121
grupos focais, ou seja, os tópicos dessa agenda foram abordados a partir de algumas
estratégias como: discussão a partir de imagens (fotos e gravuras), leitura de situações
e questionamentos mais específicos ligados diretamente ao problema que ora se
investigava.
O recurso a esse roteiro pretendeu ampliar o foco de análise para momentos
diferentes na história da educação superior, particularmente, dos cursos de licenciatura,
por essa razão a distinção dos grupos focais por geração pedagógica. O conjunto dos
tópicos, que foi flexível, teve como finalidade estimular e orientar a discussão entre os
professores.
O roteiro incluiu, também, atividades como o preenchimento conjunto de
cartazes utilizados no primeiro grupo focal (segunda geração pedagógica), visando
impulsionar o debate, como, por exemplo, na questão: Qual(quais) competência(s)
é(são) específica(s) do professor do ensino superior e do professor do ensino superior
dos cursos de licenciatura? Que é comum? Assim, após algum tempo de discussão, foi
sugerido o preenchimento do cartaz (Quadro 1), que continha, propositalmente, uma
fronteira nos espaços para as respostas e, a partir dessa visualização os participantes
perceberam as dificuldades de compreensão das suas primeiras afirmações.
122
Quadro 1
Ao preencherem o cartaz, os professores se depararam com a principal
dificuldade posta na questão, ou seja, explicar o que era específico da tarefa do
professor formador de professor no ensino superior e o que era específico do professor
que ministrava aulas nos cursos de bacharelado. E, ainda, definir as tarefas docentes
que eram comuns aos dois cursos.
Em seguida, os sujeitos da pesquisa foram solicitados a explicar como os
professores formadores eram vistos pela sociedade e pelos demais professores das
Instituições de Ensino Superior. As explicações foram escritas em tiras de cartolina
(Quadro 2) e, depois, eram encaixadas em dois cartazes (quadros 3 e 4).
123
Quadro 2
124
Quadro 3
125
Quadro 4
Sendo realizado alguns dias após as entrevistas semiestruturadas, o trabalho
com os grupos focais propiciou confirmações, contradições e complementações, a
partir das falas dos participantes, do que fora obtido nas entrevistas individuais. Afinal,
como analisa Moscovici (2003, p.88), “as palavras são importantes, pois respondem
por tudo o que acontece em cada esfera possível de realidade”. Assim, o que foi dito,
ou não, constituiu importante material de análise e nessas conversações nada pode ser
desprezado.
O trabalho com os grupos focais foi adequado, também, para a apreensão das
representações sociais, por permitir o entendimento dos processos de construção da
126
visão do poder profissional docente pelos grupos de professores formadores da
docência, pois como sustenta Gatti (2005, p. 11), a atividade com o grupo focal,
Permite compreender processos de construção da realidade
por determinados grupos sociais, compreender práticas
cotidianas, ações e reações a fatos e eventos, comportamentos
e atitudes, constituindo-se uma técnica importante para o
conhecimento das representações, percepções, crenças,
hábitos, valores, restrições, preconceitos, linguagens e
simbologias prevalentes no trato de uma dada questão por
pessoas que partilham alguns traços em comum, relevantes
para o estudo do problema visado.
Para cada sessão de grupo focal foi convidada uma professora do ensino
superior, que assumia a posição de observadora e que registrava as informações
pertinentes nas discussões travadas pelos grupos. As duas professoras eram graduadas
em Psicologia. Uma delas lecionava no ensino superior, em cursos de bacharelado e
licenciatura e a outra exercia suas atividades na educação básica. Essas professoras não
tomaram parte de nenhuma outra etapa desta pesquisa. A riqueza de detalhes fornecida
pelas professoras-observadoras potencializou a análise de questões como: a interação
do grupo, os sujeitos monopolizadores, a moderação da pesquisadora, as reações às
questões propostas para discussão, os silêncios, os esforços de convencimento do outro
e, outros aspectos trouxeram acréscimos ao exame do material da pesquisa.
A presença de um observador no trabalho com o grupo focal, como defendem
Scrimshaw e Hurtado (1988, p. 20), é importante na medida em que ele considere e
descreva situações, que contribuam com a análise do pesquisador como:
O lugar onde se desenvolve a reunião, uma breve descrição do
mesmo e informação sobre como o local pode influir nos
participantes. (...) A dinâmica do grupo em geral, o nível de
participação, se um participante dominante, o nível de
interesse (cansaço, ansiedade, aborrecimento, etc.). As
127
interrupções e distrações durante a reunião. O vocabulário
geral dos participantes. (...) Suas impressões e observações
devem ser anotadas entre parênteses.
A participação de um observador é um requerimento, no mínimo necessário,
pois além de poder apreender aspectos relevantes, que podem passar despercebidos
pelo pesquisador, as observadoras, neste trabalho, contribuíram no uso dos
instrumentos como operar os gravadores, por exemplo, e evitaram certas interferências
externas ao trabalho. Um encontro, posterior ao trabalho com os grupos focais, foi
realizado entre a pesquisadora e as professoras observadoras, separadamente, que
discutiram as impressões por elas registradas, para compreensão da pesquisadora,
A decisão de realizar mais de um grupo focal adveio, também, da advertência
de Gatti (2005, p.19), sobre a importância da “combinação homogeneidade/variação
em todos os grupos, ou a homogeneidade intragrupo e a heterogeneidade entre os
grupos”. Assim, a composição de dois grupos focais, permitiu observar as diversas
condições em que as representações dos professores foram construídas, os seus
processos e os seus produtos.
Dessa forma, a combinação homogeneidade/variação entre os grupos esteve
localizada:
- No fato de os professores exercerem as suas atividades profissionais nos
cursos de licenciatura (homogeneidade), mas pertencerem a IES diferentes quanto ao
seu mantenedor (variação), ou geração pedagógica, por exemplo. Como ilustração
pode-se citar que foram entrevistados dois professores que lecionam no curso de
licenciatura em Filosofia e que pertenciam à mesma geração pedagógica
(homogeneidade), mas um exercia o seu trabalho numa universidade pública federal e
o outro numa faculdade privada (variação).
128
- Na questão de alguns professores pertencerem à mesma IES (homogeneidade)
e lecionarem em cursos de licenciatura de áreas distintas (variação).
- No aspecto ligado à semelhança dos processos de formação de alguns
professores formadores (homogeneidade), mas apresentarem concepções pedagógicas
divergentes no processo de formação dos novos professores (variação).
- No que se refere aos professores que trabalham na mesma IES; nos mesmos
cursos de licenciatura e que compartilham das mesmas idéias acerca da formação
docente (homogeneidade), mas que pertencem a gerações pedagógicas diferentes
(variação).
- No que se relaciona aos professores que trabalham na mesma IES; nos
mesmos cursos de formação de professores; que compartilham das mesmas
concepções sobre os processos de formação docente; pertencerem à mesma geração
pedagógica (homogeneidade), mas conviverem com especificidades (organização,
corpo docente, processos metodológicos e avaliativos) de cursos de licenciatura
diversos (variação).
- No fato de os professores trabalharem na mesma IES; participarem dos
processos de formação de professores numa mesma área de ensino e num mesmo
curso; compartirem das mesmas concepções sobre a formação de professores;
integrarem a mesma geração pedagógica (homogeneidade), mas pertencerem a sexos
diferentes (variação).
O aspecto da homogeneidade intragrupo foi assegurado:
- No fato de os professores pertencerem à mesma geração pedagógica;
- Pelo exercício profissional docente em cursos de licenciatura;
Quanto à heterogeneidade entre os grupos prevaleceu:
129
- A diferença entre as gerações pedagógicas;
- O exercício em cursos diversos de licenciatura;
- Os distintos processos de formação dos professores formadores;
- Os dissensos quanto às práticas pedagógicas dos professores formadores da
docência.
Foi possível constatar que o aspecto da homogeneidade favoreceu a
comunicação intragrupo, quer dizer: pertencer a mesma geração pedagógica, ou a
mesma IES, ou lecionar na mesma área de ensino, possibilitou uma comunicação mais
clara e simples entre os professores.
O trabalho com o primeiro grupo focal (segunda geração pedagógica) teve uma
duração de 2h10min. (duas horas e dez minutos) e o tempo consumido no trabalho
com o segundo grupo (primeira geração pedagógica) foi de quase 3h (três horas). O
grupo que compôs a segunda geração pedagógica, embora tenha concluído o trabalho
numa menor duração, precisou de mais tempo para sentir-se inserido na discussão do
tema, requerendo da moderadora, estímulos para que os professores discutissem a
consistência ou a inconsistência dos argumentos postos por algum professor, e, assim,
maximizar a interação dos participantes. A demora para a inserção de todos os
componentes desse grupo deve-se, também, ao fato de alguns professores não terem
experiência com esse tipo de trabalho grupal. É oportuno notar que durante as
transcrições das gravações alguns momentos de silêncio foram mais notados no
primeiro grupo. Silêncios que mascaravam um intenso barulho no interior de alguns
participantes. Mas, com os estímulos da moderadora, foi se criando uma rede interativa
entre os sujeitos da pesquisa e, assim, foi emergindo um significativo conjunto de
informações.
130
O início do trabalho com o segundo grupo focal foi marcado por mais
descontração, pois os professores da primeira geração pedagógica apresentavam-se
mais confiantes. O que se observou foi certa cautela de alguns professores ao se
depararem com as primeiras questões, mas o engajamento de todos se deu de forma
rápida e entusiasmada.
É oportuno esclarecer que o preenchimento de cartazes foi uma atividade
desenvolvida com o primeiro grupo focal, segunda geração pedagógica. Isso se explica
pelo fato de, no segundo grupo, não ter sido sentida a necessidade dessas tarefas para
esclarecimento ou acréscimo de questões.
A utilização de cartazes mostrou-se reveladora de conteúdos interessantes para
a pesquisadora como para os participantes, mas esses instrumentos de pesquisa
tornam-se mais valiosos na medida em que são acompanhados das falas dos sujeitos
pesquisados. Como salienta Souza Filho (1995, p. 115), os desenhos como as
expressões dramáticas precisam da verbalização “a respeito de intenções e significados
associados pelos próprios sujeitos ou informantes do grupo”, isso porque como afirma
o autor “um mesmo movimento de corpo pode ter funções totalmente diferentes
segundo o contexto”.
Infere-se daí, que o trabalho com os grupos focais possibilitou interações
intragrupais e não um jogo de perguntas e respostas entre a moderadora e os
professores participantes. Isso favoreceu aos professores discorrerem acerca do que
pensam e expressam sobre o poder da profissão docente e, ainda, sobre como eles
pensam esse poder e porque pensam o que pensam sobre esse objeto social.
Ao concluir o trabalho com cada grupo focal passou-se, imediatamente, à
transcrição das gravações, que se apresentou como uma operação mais trabalhosa e
mais demorada do que as transcrições das entrevistas. Isso porque reconhecer numa
131
gravação as falas de cada participante de um grupo não é tarefa fácil e, às vezes,
identificar falas que se cruzam ou que se complementam torna a transcrição numa ação
extremamente delicada. Da mesma forma que as entrevistas, o primeiro olhar sobre a
transcrição das gravações dos grupos focais revela uma visão panorâmica do conteúdo,
contudo os procedimentos de leitura e releitura, e os contrapontos às anotações da
pesquisadora e da professora-observadora relevaram um material rico de informações.
7 Os questionários aplicados aos professores, sujeitos da pesquisa, e aos
licenciandos
O uso de questionários, neste trabalho, não ofusca a clara natureza qualitativa
da pesquisa, como justificada, mesmo porque a complexidade dos fenômenos
sociais pressupõe a inadequação de qualquer ortodoxia metodológica, mas a
necessidade de produzir combinações de diferentes ângulos de um mesmo objeto.
Assim, essas combinações evitam o que Bourdieu (2007, p. 25) chamou de “arrogância
da ignorância”, ao criticar a adesão exacerbada que se faz a determinadas metodologias
e a negação a certos recursos que possibilitariam a ampliação da metodologia de coleta
e de análise do material da pesquisa.
Portanto, para obter informações objetivas, foram elaborados questionários para
os professores entrevistados (anexo 6) e para os licenciandos (anexo 7) dos cursos nos
quais os professores entrevistados ministravam suas aulas. Os questionários foram
preenchidos pelos 21 (vinte e um) professores formadores da docência, após serem
entrevistados. E foram aplicados 508 (quinhentos e oito) questionários aos
licenciandos dos diversos cursos (Tabela n.° 3).
132
Certamente, o questionário é um recurso menos flexível e, portanto, menos
capaz de expressar as representações sociais. Contudo, os questionários aplicados eram
do tipo semiabertos, ou seja, a maior parte dos questionamentos solicitava dos sujeitos,
apenas, a marcação de alternativas ou escrita de quantidades (como a idade), mas a
outra parte era composta de questões em que o sujeito era conduzido a escrever
respostas particulares, mesmo que breves.
TABELA 3
Categorização dos licenciandos que responderam aos questionários.
N.° Curso de Licenciatura IES
Pública
IES Privada Total
01 Pedagogia 19 78 97
02 Normal Superior 18 - 18
03 Filosofia - 33 33
04 Letras 31 50 81
05 História 25 - 25
06 Geografia - 31 31
07 Ciências Sociais 22 - 22
08 Matemática 30 - 30
09 Química 12 - 12
10 Ciências Agrárias 45 - 45
11 Física 16 - 16
12 Educação Física 28 21 49
13 Ciências Biológicas 40 09 49
TOTAL 286 222 508
(X) Ciências Humanas = 307 ou 60,4%
(X) Ciências da Natureza e Matemática = 103 ou 20,3%
(X) Ciências da Saúde = 98 ou 19,3 %
(X) IES Públicas = 286 ou 56,3 %
(X) IES Privadas = 222 ou 43,7 %
As respostas extraídas dos questionários dos professores informaram, dentre
outros: a idade e o tempo de docência em cursos de licenciatura, o que permitiu
localizar os professores formadores na primeira ou segunda geração pedagógica; a(s)
escola(s) onde cursou(aram) o ensino fundamental e o ensino médio, com o objetivo de
133
entender as experiências escolares (pública ou privada) dos entrevistados; o curso de
graduação concluído (bacharelado ou licenciatura); o nível de instrução do pai e da
mãe que revelaria uma possível herança profissional ou não; os cursos de Pós-
graduação que desenvolveu informando uma maior ou menor aproximação com o
campo educacional, especialmente o de formação de professores; se lecionou na
educação básica, com o propósito de perceber de que forma o professor formador
compreende a educação básica e como compartilha essa compreensão com os
licenciandos.
Os questionários respondidos pelos professores possibilitaram, também, maior
conhecimento dos sujeitos que participaram dos grupos focais, porque conhecendo
alguns aspectos da vida pessoal e profissional dos sujeitos, os seus depoimentos eram
melhor compreendidos e suas falas mais facilmente identificadas nas gravações.
Os questionários aplicados aos licenciandos trouxeram algumas questões
comuns ao questionário oferecido aos professores formadores como: idade, estado
civil, escola onde cursou o ensino fundamental e o ensino médio (pública ou privada).
Mas outras questões informaram aspectos do universo dos professores em formação
como: a presença de homens e mulheres nos cursos de licenciatura; se o licenciando
tem experiência docente na educação básica; se pensou em fazer um outro curso
superior, com a finalidade de entender a opção pelo curso de licenciatura; se
desenvolve outro tipo de trabalho que não seja o magistério; e outros.
São consideradas informações objetivas, também, aquelas construídas por
breves respostas. Assim, algumas informações retiradas dos questionários dos
licenciandos como: “fazer um curso de licenciatura por falta de condição para fazer
outro curso”, coincide com indicadores das representações sociais dos professores
formadores sobre a ausência do poder profissional docente, a partir dos próprios
134
licenciandos, que buscam o curso de licenciatura, por exemplo, de Ciências
Biológicas, quando gostariam de fazer Medicina, mas não tiveram condições de
ingresso neste último curso.
Os questionários aplicados aos professores formadores da docência deram a
consistência a algumas informações extraídas das entrevistas e do trabalho com os
grupos focais, potencializando a densidade da interpretação e da análise dessas
informações. Os 21 (vinte e um) questionários respondidos pelos professores
formadores foram assim distribuídos:
11 (onze) professores, ou a maioria, pertence à primeira geração pedagógica.
10 (dez) professores, ou pouco menos da metade, pertencem à segunda geração
pedagógica.
12 (doze) professores, ou pouco mais da metade, exercem suas atividades
docentes em universidades públicas.
9 (nove) professores, ou acima de um terço, exercem suas atividades docentes
em Instituições de Ensino Superior privadas.
11 (onze) professores, ou basicamente a metade, desenvolvem os seus trabalhos
na área de Ciências Humanas.
5 (cinco) professores, ou aproximadamente um quarto, desenvolvem os seus
trabalhos na área de Ciências da Natureza e Matemática.
5 (cinco) professores, ou aproximadamente um quarto, desenvolvem os seus
trabalhos na área de Ciências da Saúde.
135
8 – Os documentos que auxiliaram na compreensão da organização e na dinâmica
do trabalho dos docentes dos cursos de licenciatura
Além dos meios de obtenção de informações, descritos anteriormente, a análise
de documentos complementa o material desta pesquisa por compreender que as fontes
escritas são, em sua maioria, a base do trabalho de investigação. A seleção dos
documentos examinados emergiu de preocupações da pesquisadora com aspectos
relevantes que iam surgindo no desenvolvimento do seu estudo, mas também, a
seleção foi motivada pelas falas dos professores, sujeitos da pesquisa, durante as
entrevistas e os trabalhos com os grupos focais. Faz-se pertinente a lembrança de
Moscovici (1984, p.95), de que “as representações são resultados de um contínuo
burburinho e um diálogo permanente entre indivíduos, um diálogo que é tanto interno
quanto externo, e durante o qual as representações individuais ecoam ou são
complementadas”. Portanto, os documentos examinados possibilitam essa forma de
diálogo externo que integram as representações sociais.
O conjunto dos documentos foi se construindo durante o desenvolvimento dos
estudos e integrou recortes de jornais e revistas, editais públicos divulgados na
imprensa, informes das Instituições de Ensino Superior, Legislação Federal e
Legislação Estadual que orientam as IES. Todos os documentos são recentes, datados
na sua maioria, a partir do ano de 2005, isso é relevante por mostrar a atualidade do
contexto de trabalho que envolveu o processo de construção das representações sociais
do poder profissional docente.
Os documentos referidos indicam uma pertença ao objeto de estudo dessa
pesquisa, as representações sociais do poder profissional docente, uma vez que os
elementos que os integram, como no caso dos editais de contratação de professores
136
revelam: o espaço ocupado pela formação profissional dos professores dos cursos de
licenciatura e os conhecimentos requeridos do professor formador de professores.
Os elementos constitutivos dos documentos ofereceram indicadores relevantes
para compreender de que modo os professores formadores da docência em nível
superior eram concebidos e tratados. De acordo com Chaumier (1977, p. 15), a análise
documental corresponde a uma “operação, ou um conjunto de operações, que se
destina a representar o conteúdo de um documento numa forma diferente da sua forma
original, a fim de facilitar a consulta ou a referenciação num estado ulterior”. Essa
operação, nesta pesquisa, teve início com a demarcação das zonas do documento que
interessavam ao exame, ou seja, no caso de editais para contratação de professores
formadores da docência, procuraram-se informações como: as condições do candidato
para a inscrição, a formação acadêmica, provas e seus programas e avaliação.
Como ilustração de algumas das informações constantes nos editais para
concurso público de professores, pode-se citar o edital n°. 3, publicado no Diário
Oficial da União em 01/03/2004 (anexo 8). Inicialmente o edital informa que o
concurso público é para “Docente do Magistério Superior”, ou seja, nessa categoria
incluem-se todos os professores que podem lecionar quaisquer cursos na Universidade
Federal de Pernambuco. Em seguida, o edital avisa que “o concurso far-se-á na área de
Matemática”, mas não especifica se o professor exercerá suas atividades no curso de
bacharelado e, ou licenciatura.
Fez parte, também, da análise dos documentos relacionados, o exercício de
destacar as palavras-chave e suas relações com as questões da pesquisa. Essas
palavras-chave (ou mesmo frases) resumem um conceito, indicam uma proposta,
explicitam uma concepção ou apenas uma ideia, todas associadas ao problema de
pesquisa investigado. Portanto, na continuidade da operação, puderam-se captar, ainda,
137
os aspectos qualitativos e quantitativos das informações, é exemplo do aspecto
qualitativo dos editais de seleção dos professores: o programa estabelecido para as
provas, cujo foco reside nos conteúdos particulares das áreas de Geografia, História e
outros, excluindo, assim, conhecimentos educacionais específicos como a ação
pedagógica, a aprendizagem e a educação escolar.
O tratamento das informações extraídas dos documentos consistiu de
interpretação e de inferências sobre as informações contidas nas publicações, realçando
o seu conteúdo latente, assim como, seu conteúdo manifesto.
Um mesmo documento pode ser objeto de vários tipos de análise com
finalidades diferentes. Logo o exame dessas fontes de informação, orientado pelo
problema proposto para a pesquisa, permitiu articular conceitos e auxiliar no
entendimento da organização e da dinâmica dos trabalhos dos professores dos cursos
de licenciatura.
O percurso metodológico de coleta de material, ora apresentado, buscou
apreender as representações sociais dos professores sobre o poder da profissão
docente, a partir de meios e instrumentos variados, a fim de que os conteúdos
cognitivos, afetivos, ideológicos fossem apreendidos de forma individual e coletiva e
revelassem individualidades, idiossincrasias e interação. A busca desses conteúdos
justifica-se, como explica Vala (2000, p.458), pelo fato de que as representações
sociais “alimentam-se não das teorias científicas, mas também dos grandes eixos
culturais, das ideologias formalizadas, das experiências e das comunicações
cotidianas”.
Selecionar os instrumentos e as técnicas para a coleta do material da pesquisa
não foi, porque não é, uma tarefa simples. O ato de elaborar cada item das agendas das
entrevistas e do trabalho com os grupos focais, de construir cada questão dos
138
questionários e de apreender documentos e fazer a adequada leitura de cada um,
recortando os aspectos pertinentes ao objeto de pesquisa, assemelha-se ao caráter
denominado por Mills (1965, p. 212) de “artesão intelectual”, exigido do pesquisador.
Isso porque durante todo esse processo à atenção ao compasso e à qualidade das ações
e decisões foi determinante, também, para o processo de análise das informações desta
pesquisa.
9- Procedimentos de análise do material coletado
A análise dos dados extraídos das informações coletadas numa pesquisa
constitui-se numa das fases do processo investigativo, contudo por se tratar de uma
pesquisa qualitativa a ação de analisar começa a existir, já, durante o processo de
recolhimento das informações, mesmo que informalmente. Devido ao número de
sujeitos envolvidos, das técnicas e dos recursos utilizados para a obtenção das
representações sociais dos professores sobre o poder profissional da docência, o
material coletado passou por duas análises.
A primeira análise foi considerada preliminar e se deu logo após cada entrevista
e trabalho com cada grupo focal. Essa iniciativa pretendeu buscar, a partir da
compreensão das primeiras informações obtidas, um suporte para o encaminhamento
das atividades seguintes, como: verificar pontos que ficaram obscuros em algum
encontro, mas que eram considerados indispensáveis para o estudo; explorar tópicos
que foram tratados insuficientemente; esclarecer certos argumentos que pudessem
potencializar a análise; introduzir novas questões e, ainda, aprimorar o desempenho da
moderadora/pesquisadora. Esse primeiro momento de análise seria, pode-se dizer, um
olhar criterioso sobre os conteúdos manifestos.
139
A segunda análise ou análise final exigiu, além do olhar criterioso, outros
requerimentos que foram mobilizados para desvendar o que significariam os conteúdos
comunicados. Essa análise teve seu início marcado por um temporário estado de
paralisia da pesquisadora diante de um grande cabedal de informações coletadas, que
precisava, até mesmo, de uma disposição estética. Naqueles primeiros momentos, o
acervo apresentava linhas sinuosas, às vezes paralelas, sugerindo a desesperança do
encontro (linhas paralelas na perspectiva euclidiana). Esse momento para a
pesquisadora foi único e solitário, o que a fez lembrar de Bachelard (1989, pp. 108 -
109), quando esse autor conta suas lembranças do ato de escrever sob uma lâmpada:
O ser sonhado concentra-se para lembrar o ser que
trabalhava. (...) O verdadeiro espaço do trabalho solitário é
dentro de um quarto pequeno, no círculo iluminado pela
lâmpada. (...) A solidão aumenta se, sobre a mesa iluminada
pela lâmpada, se expõe a solidão de uma página em branco. A
página branca! Esse grande deserto a ser atravessado, jamais
atravessado. (...) A solidão se obstina contra o solitário
quando é aquela de um trabalhador que não somente quer se
instruir, que não somente quer pensar, mas que quer escrever.
Mas era preciso começar a tratar aquele conjunto de informações para torná-lo
inteligível, isto é, capaz de responder ao problema da pesquisa, ou como diz o autor era
“preciso ter aventuras de consciência” (p.110). Dessa forma, extrair desse acervo,
informações relevantes e transformá-las em dados para a análise tornaram-se um
desafio. Por essa razão, a sistematização e a análise dos dados constituiu a fase mais
desgastante emotivamente para a pesquisadora. Todavia, esse desgaste reuniu-se a um
misto de prazer pelo conhecimento que ia sendo construído.
Sendo assim, foi feita a opção pela análise temática dos discursos dos sujeitos
da pesquisa, isso porque quando se procura, por meio de uma pesquisa social empírica,
apreender representações sociais, sobre determinado objeto, faz-se necessário
140
considerar que essas representações podem ser visualizadas como um depoimento
discursivo, entendendo este como “a manifestação lingüística de um posicionamento
diante de um dado tema, composto por uma idéia central e seus respectivos conteúdos
e argumentos” (LEFEVRE, 2005, p.13).
Desse modo, a escuta cautelosa acompanhada dos registros das informações
que, implícita, e às vezes explicitamente, carregavam conceitos relacionados ao objeto
de pesquisa, iam sendo dispostas de forma panorâmica e, em seguida, o diálogo entre
as informações coletadas e o aporte teórico selecionado começava a dar forma a um
texto compreensível.
Estudar as representações sociais dos professores, formadores de professores no
ensino superior, implicou conhecer o que Spink (1995b, p. 90) chama de dupla face
das representações, isto é, o seu processo e o seu produto. Enquanto processo as
representações dos professores desta pesquisa emergiam em seu estado constituinte,
isso significa que a pesquisa buscava entender o processo de construção e
transformação dessas representações. Dessa forma, as técnicas verbais e não verbais
buscavam os determinantes (sociais, políticos, culturais, históricos, outros) das
representações. Como produto, as representações foram estudadas como pensamento
constituído, extraindo-se delas: informações, imagens experiências e outros elementos,
mas considerando-se os contextos de sua produção e de sua circulação.
Os trechos ou fragmentos das declarações dos sujeitos pesquisados compõem a
estrutura de análise deste texto. Ao final de cada declaração recortada das entrevistas
ou dos trabalhos com os grupos focais, uma identificação que segue a seguinte
sequência: Geração Pedagógica (1.ª = 1 ou 2.ª = 2); Gênero do sujeito pesquisado:
Masculino (M) ou Feminino (F); Inicial do(s) nome(s) do curso de licenciatura onde o
141
sujeito da pesquisa realiza o seu trabalho docente
13
; e Tipo de Instituição de Ensino
Superior: Pública (P) ou Privada (PR).
Por se situar na interseção social/individual, o caminho metodológico
descrito, com suas técnicas e instrumentos, possibilitou momentos de reflexão
individual e coletiva aos sujeitos participantes desta pesquisa.
Portanto, o relevo deste texto reside nas falas dos sujeitos pesquisados e,
concordando com Moscovici (1988, p. 239), ao mostrar sua reserva à rigorosidade
metodológica: “(...) o objetivo é de desenvolver um domínio de saber original que nos
ajude a compreender o que as pessoas fazem na vida real e em situações significantes”.
Dar voz a esses sujeitos, evitando-se a imposição de pré-concepções, e promover o
diálogo entre a teoria e os discursos dos sujeitos, também, reafirma a natureza
qualitativa desta pesquisa.
Com efeito, o processo de investigação que se utiliza de técnicas verbais propicia a
reflexão, que por sua vez possibilita reconhecer de que “lugar” o docente fala e, assim,
favorece a compreensão do “lugar” onde o docente se situa ao discursar ou a ouvir
determinado discurso (da instituição formadora da docência, dos colegas professores
formadores de professores, dos licenciandos, etc.).
13
Pedagogia (P); Geografia (G); Ciências Biológicas (CB); Psicologia (Ps); Química (Q); Ciências
Agrárias (CA); Letras (L); Física (F); História (H); Filosofia (F); Educação Física (EF); Matemática
(M); Ciências sociais (CS).
142
Em longo prazo, a conversação (os discursos) cria nós de
estabilidade e recorrência, uma base comum de significância
entre seus praticantes. As regras dessa arte mantêm todo um
complexo de ambiguidades e convenções, sem a qual a vida
social não poderia existir. (...) O pensar é feito em voz alta.
Ele se torna uma atividade ruidosa, pública, que satisfaz a
necessidade de comunicação e com isso mantém e consolida o
grupo, enquanto comunica as características que cada
membro exige dele.
(MOSCOVICI, 2003, pp. 50-51).
Capítulo 5 - Os processos de construção das representações sociais do poder
profissional dos docentes do ensino superior, formadores de professores
143
Capítulo 5: Os processos de construção das representações sociais do poder
profissional dos docentes do ensino superior, formadores de professores.
No decurso dos contatos com os sujeitos da pesquisa, ou seja, no primeiro
encontro para esclarecimento da investigação e para o agendamento das entrevistas, no
desenvolvimento das entrevistas individuais e na realização do trabalho com os grupos
focais, buscou-se, para além de respostas sobre os questionamentos que compunham
os roteiros, propiciar situações de confiabilidade. Essas situações podem ser objetivas
como propiciar ao sujeito as condições ambientais e de equipamentos para a eficácia
de uma entrevista, ou subjetivas como expressar a importância do sujeito ao
reconhecê-lo como possuidor de informações que poderão se transformar em dados de
pesquisa. Na tarefa empreendida sob tal ótica, foram localizados os elementos do
processo de construção das representações sociais dos professores formadores de
professores no ensino superior, acerca do poder da sua profissão e o lugar que elas
ocupam no cotidiano dos docentes que exercem suas atividades nos cursos de
licenciatura. Essas condições, também, foram determinantes para a apreensão e análise
dessas representações.
Estudadas enquanto processo, as representações sociais surgem como
pensamento constituinte, ou seja, neste espaço da pesquisa a preocupação reside em
compreender como as representações sociais dos professores formadores da docência
foram construídas e, ou transformadas e os aspectos sociais que as determinaram.
Os processos que geraram/geram as representações sociais dos professores
pesquisados estão absorvidos na comunicação e nas práticas sociais desses sujeitos, ou
seja, nos discursos, nas rotinas, nos modelos de trabalho existentes nos locais onde
144
esses professores exercem as suas atividades, assim como nos modelos de produção de
trabalho adotados por esses profissionais. Essa seria a dimensão social das
representações que se une à dimensão individual do sujeito que cria e transforma
situações, sempre ligadas ao tecido social. Essa advertência visa ratificar que as
representações sociais o são uma reunião de representações individuais, assim como
o social não implica um amontoado de indivíduos.
Reconhecer os processos de construção das representações sociais dos docentes
dos cursos de licenciatura implica compreender os elementos que integram a dinâmica
dessas construções que são a objetivação e a ancoragem. Segundo Jovchelovitch
(1995, p.81), a objetivação e a ancoragem,
São as formas específicas em que as representações sociais
estabelecem mediações, trazendo para um nível quase
material a produção simbólica de uma comunidade e dando
conta da concretização das representações sociais na vida
social.
A dinâmica das representações sociais, estabelecida pelos sujeitos desta
pesquisa, é a dinâmica das relações de familiarização desses sujeitos com o objeto
social ‘poder profissional docente’. Esse objeto, portanto, é percebido e compreendido
pelos professores formadores, a partir da associação a paradigmas precedentes que
esses sujeitos possuem, ou dizendo de outro modo, é onde o professor ancora o objeto.
Na sequência dessa dinâmica, os professores dos cursos de licenciatura se empenham
para superar a abstração do objeto social, ou seja, tentam objetivá-lo, torná-lo quase
que concreto. Porém, a dinâmica das representações sociais, também, testemunha a
transformação, pois as representações sociais não são meras reproduções da realidade,
mas as ações dos sujeitos lhes imprimem transformações.
145
Ao lado da objetivação e da ancoragem, faz-se necessário reconhecer a
importância em se compreender os “universos de pensamento”, presentes nos
processos de construção das representações sociais, que geraram e estabeleceram as
representações dos professores participantes desta pesquisa. De acordo com Moscovici
(2003, pp. 50-51), as representações sociais encontram lugar no universo consensual
onde,
A sociedade é vista como um grupo de pessoas iguais e livres,
cada um com possibilidade de falar em nome do grupo e sob
seu auspício. Dessa maneira, presume-se que nenhum
membro possua competência exclusiva, mas cada qual pode
adquirir toda competência que seja requerida pelas
circunstâncias. (...) Na maioria dos locais públicos de
encontro, esses políticos amadores, doutores, educadores,
sociólogos, astrônomos, etc. podem ser encontrados
expressando suas opiniões, revelando seus pontos de vista e
construindo a lei.
Mais ainda, ao lado do universo consensual, existe um outro, o universo
reificado, no qual, para Moscovici (2003, p. 50),
A sociedade é transformada em um sistema de entidades
sólidas, básicas, invariáveis, que são indiferentes à
individualidade e não possuem identidade. Esta sociedade
ignora a si mesma e as suas criações, que ela vê somente
como objetos isolados, tais como pessoas, ideias, ambientes e
atividades.
Dessa forma, Moscovici complementa que por estarem interessadas nesses
objetos, as diversas ciências procuram “impor sua autoridade no pensamento e na
experiência de cada indivíduo e decidir, em cada caso particular, o que é verdadeiro e o
que não o é”.
146
Embora seja importante e necessário considerar o universo reificado, a partir
das suas características apresentadas acima, cumpre lembrar que a ciência exerce um
significativo papel no processo de criação e comunicação do conhecimento entre os
grupos sociais, e que a autoridade imposta tem outros fins. Wagner (1998, p. 4), ajuda-
nos a compreender outras finalidades da ciência, ao afirmar que esta cumpre um
significativo “papel como fonte de conhecimento do cotidiano, assim como uma
autoridade para legitimar e justificar decisões cotidianas e posições ideológicas”. Essa
fonte de conhecimento é importante, na medida em que possibilita ao sujeito a
compreensão do tempo e do espaço que ocupa na realidade social.
Sendo assim, pode-se inferir que a oposição entre os universos reificado e
consensual gera impactos para o indivíduo. Esses impactos são perceptíveis, no caso
estudado, a partir de posições opostas percebidas entre os professores dos cursos de
licenciatura. Aproximadamente, metade dos sujeitos pesquisados imprime valor ao
poder profissional desses docentes, a partir de elementos oriundos do universo
consensual dos professores, enquanto que para outros sujeitos desta pesquisa, o poder
profissional docente é evidenciado a partir dos elementos que a literatura oferece
sobre esse objeto social. A oposição entre esses universos pode ser identificada nos
depoimentos de dois entrevistados, sendo o primeiro pertencente à primeira geração
pedagógica e a segunda, integrante da segunda geração pedagógica, quando falam da
necessidade ou não de órgãos reguladores da profissão dos professores dos cursos de
licenciatura.
Eu não tenho uma posição fechada sobre isso, Aparecida. Eu
tenho uma tendência a acreditar que não é necessário. Eu
tenho uma tendência a acreditar que se a gente der
ferramentas à sociedade civil, ela vai poder controlar a
147
qualidade do serviço oferecido pelos profissionais. Ela vai
continuar ou não com aquele sujeito. (1MEFPR)
14
.
Eu sinto falta de uma organização de classe, sinto falta de
uma organização do que é a profissionalidade do docente, o
que é que ela representa, entende? Sinto falta de um conselho
que regule, que cobre postura dos profissionais e das
instituições. Eu acho que isso fica muito aquém, certo? E cada
dia mais tem se investido para que não se tenha, não é?
(2FPPR).
Nessas declarações, pode-se reconhecer a presença do que Foucault (2005, p.
72) chamou de “contradiscurso”, isto é, professores que vivem a mesma realidade
profissional têm posições distintas quanto à instituição de órgãos reguladores e de
controle da profissão docente, o que reverbera nas suas representações sobre o poder
profissional, uma vez que a existência desses órgãos se configuraria em requisitos para
esse poder docente.
O órgão regulador da profissão configura-se num elemento concreto do poder
profissional como informa a literatura específica, sendo, assim, a professora autora da
segunda declaração parece colocar a ideia da regulação da profissão no universo
reificado. Já o primeiro declarante considera os grupos dispersos na sociedade como
aqueles capazes de regular a profissão dos professores dos cursos de licenciatura.
Ainda, para compreender os processos de construção das representações sociais
dos professores é preciso ter clara a finalidade de uma representação social, pois, assim
entende-se o porquê de os sujeitos desenvolverem esses processos. Para Moscovici
(2003, p. 54), “a finalidade de todas as representações é tornar familiar algo não
familiar, ou a própria não familiaridade”. E, nesse sentido, a familiaridade relaciona-se
com os universos consensuais, pois, como reitera o criador da Teoria das
14
Conforme explicado no capítulo 4, p. 140, o código que aparece após a declaração do sujeito
pesquisado corresponde à seguinte ordem: Geração Pedagógica, Sexo, Inicial do(s) nome(s) do curso de
licenciatura e IES (pública ou privada).
148
Representações Sociais esses universos, “são locais onde todos querem sentir-se em
casa, a salvo de qualquer risco, atrito ou conflito”.
O objeto social, ‘poder profissional docente’, enquanto não é familiar, atrai o
sujeito como é característico do desconhecido, mas ao mesmo tempo o repele. Essa
inconstância gera incômodo e ameaça o que está estabelecido fazendo com que os
professores dos cursos de licenciatura mobilizem e explicitem os seus referenciais que
são a base do consenso. Dessa forma, o incomum ‘poder profissional docente’ é
integrado a uma categoria conhecida, e esse conhecimento, agora familiar, passa a ser
compartilhado, comunicado por determinado grupo de professores.
O acesso aos processos de construção das representações dos sujeitos desta
pesquisa se deu a partir da identificação dos fatores considerados, por esses sujeitos,
como viáveis ou inviáveis à construção e à manutenção do objeto social ‘poder
profissional docente’. E para entender os processos pelos quais os sujeitos da pesquisa
construíram/constroem as representações sociais do poder profissional da docência nos
cursos de licenciatura, cada tópico de entrevista e de discussão foi atentamente
planejado e associado aos objetivos da pesquisa. Como se pode observar logo nas duas
primeiras questões: “Como descreve o professor do ensino superior, formador de
professor?” E, “Esses profissionais têm competências específicas? Quais?”, É claro
que tais questões são abordadas, também, considerando outros aspectos como ser:
homem/mulher, pai/mãe/, brasileiro/brasileira, nordestino/nordestina, como pertencer:
a uma classe social, a uma determinada religião, ou a nenhuma, como possuir
determinada formação acadêmica, entre outros.
Embora o professor possa ser tudo isso, Lahire (2002, p.33) alerta que “nós não
somos exatamente tudo isso ‘ao mesmo tempo’, mas (ao menos para uma parte dessas
qualidades) geralmente em momentos e em lugares diferentes do dia”, isso porque
149
“vivemos simultânea e sucessivamente em contextos sociais diferenciados”. Por essa
razão o autor diz ser o homem um ator plural
15
.
A operacionalização das agendas construídas para as entrevistas e para o
trabalho com os grupos focais permitiu localizar os fatores que viabilizam/inviabilizam
os processos de construção e manutenção do poder profissional docente. Esses fatores
estão apresentados de acordo com a frequência (da maior para a menor) em que
apareceram nas declarações dos sujeitos da pesquisa, são eles: a formação profissional
do docente que no ensino superior forma professores; a identidade profissional do
professor dos cursos de licenciatura; a (des)organização da categoria dos docentes do
ensino superior, formadores de professores, que implica outras questões como a
autonomia indispensável ao controle da formação e do exercício docentes; e os
(des)compromissos desses professores formadores com o processo de formação e
prática profissional dos professores da educação básica e com a escola.
Compreende-se como possível que no desenvolvimento da sua profissão como
professor, formador de professores, os docentes pesquisados deem relevância a um ou
mais fatores dos que foram aqui, referidos.
Curiosamente, alguns desses fatores, de forma particular, ora são considerados
por alguns docentes como viabilizadores dos processos de construção e manutenção do
poder profissional docente, ora os mesmos fatores se revestem em obstáculo, por
outros professores, à viabilidade do processo construtivo e de permanência desse
poder, como se pode verificar nos depoimentos dos sujeitos da pesquisa. Esse
contraste pode ser esclarecido a partir da afirmação de Moscovici (2003, p. 31) de que
15
“Um ator plural é, portanto, o produto da experiência – amiúde precoce – de socialização em
contextos sociais múltiplos e heterogêneos. No curso de sua trajetória ou simultaneamente no curso de
um mesmo período de tempo, participou de universos sociais variados, ocupando posições
diferentes”. (LAHIRE, 2002, p.36).
150
Essa visibilidade não se deve a nenhuma falta de informação
devida à visão de alguém, mas a uma fragmentação
preestabelecida da realidade, uma classificação das pessoas e
coisas que a compreendem, que faz algumas delas visíveis e
outras invisíveis.
É como se, para certos professores, um determinado fator fosse visivelmente
plausível de produção e manutenção do poder profissional, como, por exemplo, a
formação profissional (que deve ser essencialmente pedagógica), enquanto que essa
plausibilidade passa a ser invisível aos olhos de outros professores, igualmente
formadores de professores no ensino superior, que veem a necessidade de uma dupla
formação (pedagógica e conteudista) para os professores dos cursos de licenciatura.
Assim, os fatores que mobilizam os processos de construção das representações
sociais serão vistos, a seguir, a partir das reais expressões dos professores formadores
da docência no ensino superior.
5.1 Fatores que viabilizam os processos de construção e manutenção do poder
profissional do docente do ensino superior, formador de professores
A formação profissional se constituiu, para os sujeitos pesquisados, num fator
de muita relevância para os processos de construção, assim como para a manutenção,
do poder profissional do docente dos cursos de licenciatura. Isso porque no processo
formativo dos professores formadores encontram-se questões relativas ao poder
profissional como: os espaços de formação (lugar onde se desenvolvem os cursos de
licenciatura e bacharelado) que são as IES, os conhecimentos específicos, que se
voltam para o ato de ensinar a ensinar e o compromisso do profissional professor
151
formador com a continuidade da sua formação, que seria o refinamento dos conteúdos
específicos de exclusividade dos professores formadores.
A declaração da professora, a seguir, integrante da primeira geração pedagógica
e que 15 (quinze) anos
16
leciona nos cursos de licenciatura, demonstra a
preocupação com a sua formação profissional, na medida em que ela percebeu que o
conhecimento que acumulara no curso de bacharelado em Física não era compatível
com o conhecimento específico de um professor formador da docência.
Eu estudei muito a Física, mas não o suficiente para atender
às necessidades de um futuro licenciado em sica. Então,
quando eu estava trabalhando com Metodologia, com Prática
de Ensino, essas coisas, eu sentia falta de saber um pouco
mais de como ensinar Física para discutir com os alunos,
porque via que eles não estavam fazendo bem. (...) Eu via que
a maneira de eles darem aula, certos conceitos eles não
estavam sabendo explorar bem. Eu queria ajudar e tinha
momentos em que eu sentia que não conseguia porque eu
também não sabia o suficiente para ensiná-los sobre aquele
conceito, inclusive da construção histórica daquele conceito.
Então eu fui estudar, ampliar a minha formação de professora
que forma professores, fazendo o doutorado em educação
(1FFP)
A situação descrita acima, possivelmente, é indicadora da clareza que essa
professora formadora de outros professores demonstrou possuir quanto às finalidades
do ensino para quem está aprendendo a ensinar, ou seja, para o licenciando. Por isso
essa situação lembra a advertência de Kincheloe (1997, p.30) quanto aos
procedimentos de ensino que não resultam em efetiva aprendizagem:
Ao serem premiados no treinamento de ensino por sua
aceitação passiva do conhecimento gerado pelo especialista,
os futuros professores adquirem pouca experiência de
16
O tempo de docência no ensino superior e,ou nos cursos de licenciatura e outros dados quantitativos
relacionados aos professores pesquisados tomam como referência o ano de realização das entrevistas e
dos grupos focais, ou seja, o ano de 2007.
152
pensamento interpretativo contextualizado sobre os objetivos
do ensino numa sociedade democrática.
A advertência do autor é pertinente e aproxima-se da declaração da professora
acima, na medida em que muitos professores dos cursos de licenciatura, preocupados
tão somente com os conteúdos particulares das suas disciplinas relegam a planos
inferiores o conhecimento que é essencial a um professor formador da docência no
ensino superior. Esse conhecimento é o que capacita o professor da educação básica a
ensinar. O resultado dessa opção é licenciar um professor com “pouca experiência de
pensamento interpretativo contextualizado”, que trabalhará com crianças e jovens.
Pode-se compreender que a formação profissional para a professora declarante
é um fator determinante para o poder profissional docente, uma vez que, por meio
dessa formação, o professor tornar-se-ia possuidor de um campo de conhecimento
exclusivo do docente que forma outros docentes. Todavia, o professor dos cursos de
licenciatura que não possui uma formação profissional com essa consistência, mas que
reconhece as lacunas do seu processo de formação e investe no preenchimento dessas
lacunas, como no caso da depoente, terá dado um passo fundamental na direção da
construção do poder profissional do professor. Isso porque esse conhecimento
particular corresponde a um dos pilares desse poder.
A partir desse entendimento, a mesma professora, ao término do seu curso,
tomou uma decisão determinante para a sua condição de professora formadora da
docência no ensino superior, ou seja, ao defender a reflexão, o diálogo e a construção
de saberes, ela não podia pactuar com a imposição do silêncio em sala de aula, nem
sobrecarregar a bagagem de dúvidas que os estudantes acumulavam. Sendo assim, ela
explica:
153
Quando foi terminando o curso, eu disse: “Meu Deus do céu,
eu terminar o resto da minha vida enfiada neste ambiente, (...),
eu não quero isto pra minha vida, não, não pode. Aí eu resolvi
sair. Eles ficaram muito chateados porque achavam que eu iria
ficar tomando conta dos laboratórios de ensino, porque eu era
monitora, mas o que eu tenho a ver com isto? (...) E, hoje, eu
fico muito feliz quando eu consigo ajudar um aluno a
entender um pouco de relatividade. Mas eles (os professores
do bacharelado)
17
m orgulho que o aluno não aprenda,
então eu nunca vi uma felicidade tão grande de reprovar cerca
de 90% da turma, eu acho isso um atestado de incompetência.
Esse professor não consegue ensinar aos alunos, e não é
porque é muito difícil. Ele (o professor) torna difícil, e ele
poderia tornar mais fácil.” (1FFP).
A representação social da depoente foi construída, como se pode verificar, no
seu processo formativo. Mas essa construção não parte do nada. Certamente, a
professora possuía uma outra representação social da profissão de professora dos
cursos de licenciatura e essa é uma etapa que precede a construção da representação
social do poder profissional docente. Vala (2000, pp.457- 458) auxilia nessa
compreensão quando afirma que, “os indivíduos não se limitam a receber e processar
informação, são também construtores de significados e teorizam a realidade social” e
por isso mesmo “a representação não é entendida como reprodução, mas como
construção”.
Dessa forma, pode-se inferir que a professora faz uma clivagem entre o curso
de bacharelado e o curso de licenciatura se apoiando nas concepções de ensino e
aprendizagem que os professores desses cursos expressam. Para ela o curso de
bacharelado estrutura-se num ritual constituído de transmissão de informações,
princípios, fórmulas e técnicas, cobrados, posteriormente, em forma de testes e provas,
onde a maior parte dos estudantes não interage com os professores, provavelmente, por
não entenderem o sentido dos conteúdos desenvolvidos nas salas de aula, aí imperando
17
As explicações ou chamamentos de atenção, colocados entre parênteses e escritos em itálico,
constantes dos depoimentos dos sujeitos da pesquisa, foram acrescentados pela pesquisadora.
154
o silêncio. No curso de licenciatura, os professores formadores procurariam conduzir
os conteúdos, a partir da reflexão, da interação, da procura dos significados, buscando,
por meio dessa prática, que os futuros professores da educação básica vivenciem
metodologias pautadas na construção de sentidos para os conteúdos. Essa
diferenciação de finalidades da educação formal lembra Bottomore (1987, p.253) na
sua análise sobre a evolução social da educação quando assevera que “a educação é
cada vez mais necessária para preparar os indivíduos para um mundo em mudança
permanente, e não para um mundo estático”. O autor imprime uma distinção entre a
educação antiga pautada na mera transmissão de informações e modo de vida e a
educação moderna onde o conhecimento “é passível de rápida mudança”. E essa
mudança requer o reconhecimento das finalidades dos cursos de licenciatura pelos
professores formadores, ou seja, capacitar professores para a educação básica, para
uma educação escolar que, também, exige novos requerimentos.
Como que por perceberem que os professores formadores da docência no
ensino superior precisam deter conhecimentos específicos, diversos sujeitos desta
pesquisa advogam um novo processo de formação para os professores que exercem
suas atividades nos cursos de licenciatura e que não têm a devida qualificação
profissional. Foi o que verbalizou no grupo focal a professora, que fala a seguir, que
pertence à primeira geração pedagógica:
Eu estudei e fiz um bacharelado em História, primeiro porque
eu não pensei em ser professora, pensei em ser pesquisadora.
Depois eu fiz licenciatura. (...) Eu me vi, assim, vendo
disciplinas completamente novas, para mim foi maravilhoso.
Se no início era rejeição, eu me encantei e, a partir dali, fui me
interessando. Porque eu comecei a entender o que é um
professor. Logo depois, entrei no mestrado e fui ficando mais
segura para ensinar a licenciatura. Aí, eu vi a necessidade
desta coerência como professor de uma licenciatura. (1FLPR).
155
Essa busca pela formação específica dos professores dos cursos de licenciatura,
é uma questão, no mínimo, óbvia para a professora, a seguir, que explica:
Entre as funções que ele tem (o professor formador), a função
principal seria a de garantir a aprendizagem. Para garantir a
aprendizagem, me parece que ele precisa ter essa
aprendizagem. Ou seja, o professor tem de ter a formação, ou
vai formar um profissional aquém. (2FPPR).
Se a principal função do professor dos cursos de licenciatura é a de garantir a
aprendizagem de ensinar na educação básica, então a compreensão dessa função,
provavelmente, integrou/integra o processo de construção da representação social
sobre o poder profissional da docência, que essa professora comunica.
A literatura específica (Brzezinski, 1996; Cunha, 1989; Estrela, 1997; Nóvoa,
1995; Penin, 1994; e outros) sobre a formação docente expressa uma antiga e
acentuada preocupação com os professores formados nos cursos de licenciatura, ou
seja, na busca de uma formação para o professor da educação básica, que assegure o
domínio de conteúdos específicos articulados a processos de ensino, que confiram às
crianças e aos jovens aprendizagens significativas. Importa lembrar, nesse espaço do
trabalho, as significativas contribuições ofertadas à formação dos professores, trazidas
por diversas entidades e instituições como, por exemplo, pela Associação Nacional
pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE) e pela Associação Nacional
de Pós-Graduação e Pesquisas em Educação (ANPEd). E, ainda, o papel pioneiro,
como lembra Alves (1998, p. 28), da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC), que
Desde o surgimento da licenciatura curta, apresentou críticas à
Lei 5.540/68 (Reforma do Ensino Superior) e à Lei 5,692/71
156
(Reforma do ensino de primeiro e segundo graus), quanto à
formação proposta, e favoreceu o aparecimento de
alternativas.
Contudo, a problemática da formação profissional dos professores formadores
de professores, também, reclama, algum tempo, o seu lugar nas pesquisas
acadêmicas, como se pode constatar em Melo (2000), por ocasião da sua tese de
doutoramento. Embora constate-se a imbricação existente entre a formação dos
professores formadores de professores no ensino superior e a formação dos professores
da educação básica.
Ocupando-se, também, da formação dos professores formadores da docência no
ensino superior, Soares (S/D, pp. 2), por exemplo, demonstrou essa preocupação a
partir da formação dos licenciandos do curso de Letras, quando perguntou: “Que
professor de Português queremos formar?”. Nesse texto, a autora assevera que para
responder a tal pergunta duas ordens de fatores devem ser consideradas:
De um lado, fatores externos à própria disciplina Português
fatores de natureza social, política, cultural; de outro lado,
fatores internos à disciplina fatores relativos ao estatuto da
área de conhecimentos sobre a língua. (...) A inevitável
consideração dos fatores externos exige respostas às
perguntas: Que grupos sociais estão hoje demandando a
profissão de professores de Português e, para isso, frequentam
as salas de aula dos cursos de Letras? (...) Quem são estes que
devemos formar como professores de Português, e quem são
esses a quem ensinarão eles a língua? (...) A consideração aos
fatores internos exige respostas às perguntas: (...) Que
concepção se deve ter, hoje, da língua nos cursos de formação
de professores, e, portanto, que concepção se deve ter do
ensino da língua?
E conclui a autora perguntando: “Consequentemente, e não menos importante:
que formação devem ter os que formam professores?”. Assim, a autora, enquanto
formadora de professores no ensino superior, demonstra sua preocupação com a
157
formação do licenciando, com o ensino de Português recebido pelos alunos na
educação básica e com a formação dos professores formadores da docência. Mas essa
preocupação não é exclusiva da autora, como se poderá constatar em muitas
declarações dos sujeitos desta pesquisa.
Na questão da formação dos professores formadores um intenso debate, em
que de um lado encontram-se os professores formadores de professores no ensino
superior, que defendem uma formação regida pelas teorias pedagógicas, e de outro
lado os que advogam uma formação conteudista, ou seja, direcionada pelos conteúdos
específicos de cada área de conhecimento.
Segundo a professora seguinte, essa tensão é percebida pelos licenciandos e,
essa percepção, que evolui para uma crítica explícita, é considerada importante para
uma caracterização específica do professor formador de professores no ensino
superior. Logo a questão da formação tem lugar central nos processos construtivos das
representações sociais, poder-se-ia dizer que ela representa a âncora para a atividade
docente.
O professor das disciplinas pedagógicas tem uma postura
diferente em sala de aula. (...) Eu trabalho com o pessoal da
licenciatura em matemática, então mesmo estando no início
do curso, em maior ou em menor grau, os alunos têm a
compreensão de que tem alguma coisa ali, naquela abordagem
daquela licenciatura que eles veem nas disciplinas específicas
e que estão equivocadas. (...) Porque eles dizem: “na verdade
eu vou ensinar matemática, eu não vou ser matemático”.
Então, os professores dentro das licenciaturas, mas que
trabalham com as disciplinas específicas, muitas vezes, vão
por este viés do bacharelado, eles não conseguem ver que eles
estão formando professores, então, quando tem um ou outro
com esta compreensão, isso um salto qualitativo para o
aluno fora do normal. Porque os alunos percebem e não se
calam. (1FFP).
158
Essa medição de forças entre professores conteudistas e metodólogos existe
muito tempo (Alves, 1999; Brzezinski, 1999; Freitas, 1999; Pereira, 1999; Weber, S.
2007, outros) e tem sido questionada com mais intensidade nos últimos anos, porém
esse enervamento parece apontar para uma necessidade de intersecção a fim de que
haja, no mínimo, coerência entre o que é preconizado e o que é praticado pelos
professores formadores aos licenciandos. Essas divergências fazem parte do universo
das representações sociais, tal como afirma Moscovici (2003, p. 79), em relação à
Teoria das Representações Sociais, que
Toma como ponto de partida, a diversidade dos indivíduos,
atitudes e fenômenos, em toda sua estranheza e
imprevisibilidade. Seu objetivo é descobrir como os
indivíduos e grupos podem construir um mundo estável,
previsível, a partir de tal diversidade.
Alguns professores evidenciam preocupação com a dicotomia conteudistas-
metodólogos como é o caso da professora que diz haver a necessidade de uma ‘dupla
formação’ para o professor formador quando declara:
Vamos supor: um professor psicólogo que vai dar aula de
Psicologia da Aprendizagem para uma turma de licenciatura
em Física. Então, tem momentos que ele sente a dificuldade
porque ele não domina, também, o conteúdo de Física, porque
eu acho que esse professor que domina o conteúdo específico,
tem de saber Filosofia, Epistemologia, tem de saber como é
que esse conhecimento é produzido, tem de saber como a
pessoa aprende as teorias da aprendizagem, relacionamento
humano, a parte de gestão. Então, tudo isso forma um
conjunto que eu diria que é específico, por quê? A
metodologia muda, se você está ensinando Física ou Química.
Eu não acredito nesse professor que ensina, apenas,
Metodologia de Ensino ou Didática Geral, o existe isso!
Existe a Didática para o professor de Física, existe a Didática
para o professor de Química junto com a Metodologia
adequada (1FFP).
159
A preocupação dessa professora lembra o que Cruz (2006, pp. 85-92) realça em
sua pesquisa, sobre os “construtos teóricos que vêm ampliando a análise do que
acontece na sala de aula”. Embora, a autora, nesse trabalho, refira-se à questão do
fracasso escolar em determinada área do conhecimento da educação básica, ela destaca
a importância dos elementos que se impõem na relação professor-aluno, que se
encontram em todos os níveis de ensino, quais sejam: Contrato didático, situação
didática, transposição didática e tempo didático. Esses elementos da formação e da
prática pedagógica dos professores formadores, quando bem desenvolvidos, poderiam
contribuir com a “dupla formação” mencionada pela última entrevistada.
Essa “dupla formação” pode ser considerada como uma questão que assegure a
formação específica do professor formador no ensino superior e, essa especificidade
que integra o conjunto dos requisitos do poder profissional, possivelmente estaria
garantida. Assim, a efetivação dessa “dupla formação” seria um fator a mais que
concorreria para a viabilidade dos processos de construção e manutenção das
representações sociais do poder profissional.
Corroborando com a professora que depôs, acima, o professor seguinte, de uma
universidade pública, afirma que o curso de licenciatura tem uma ‘dupla face’, e que
isso é importante e desafiador.
Eu acho que, de certa forma, esta é uma afirmação até
pretensiosa. Mas acho que os professores que estão nos cursos
de licenciatura são os melhores, porque conseguem dialogar
com o conhecimento pedagógico da área e conseguem pensar
em função de algumas especificidades da área. (1MHP).
A relevância atribuída pelo entrevistado aos professores dos cursos de
licenciatura, diante dos demais professores do ensino superior, sugere que esse sujeito
160
da pesquisa realça o conhecimento pedagógico, como o conhecimento específico que
se configuraria como um fator que contribui para a construção e manutenção do poder
profissional docente.
As necessidades de “dupla formação” ou “dupla face”, defendidas pelos
sujeitos dos dois últimos depoimentos, aproximam-se do que Giddens (1978, p.113)
chamou de “conhecimento mútuo”, ou seja, àquele conhecimento “supostamente certo
que os atores presumem que os outros possuem, se são membros “competentes” da
sociedade, e que é empregado para sustentar a comunicação em interação”.
Esse diálogo seria possível, portanto, a partir de um conhecimento específico
que o professor formador de professores deteria. Contudo, essa não aparenta ser uma
tarefa fácil como parece estar convencida essa professora do curso de licenciatura em
Matemática de uma universidade pública, que integra a segunda geração pedagógica:
Eu acho que é um desafio muito grande porque, por exemplo,
para trabalhar com licenciaturas e fazer um bom trabalho, o
professor precisa também ter um domínio conceitual muito
forte. E surge esse choque. (...) Porque você não pode ser
ótimo em tudo. Tem coisa que você vai precisar aprofundar e
em outras você vai ter uma visão mais superficial, mas que
lhe permita dialogar com seus pares. Eu acho que, por
exemplo, eu como professora de Prática de Ensino da
Matemática, não vou poder dar um curso de Introdução à
Educação, mas eu tenho de saber, minimamente, o que é que
está se discutindo na Introdução à Educação, na Psicologia da
Aprendizagem, etc.. Da mesma forma, o que é que está se
discutindo em Álgebra, em Análise. (2FMP).
A exigência de uma renovação na formação profissional do professor dos
cursos de licenciatura, cuja formação acadêmica encontra-se distante dos conteúdos
educacionais, é flagrante no depoimento de grande parte dos sujeitos pesquisados. A
partir do momento em que a formação dos licenciandos passa por requerimentos como
capacitar-se para o ensino e para a aprendizagem das crianças e jovens, e co-
161
responsabilizar-se pela qualidade da escola, esses requerimentos não podem ficar
alheios ao professor formador. Seria uma questão de coerência como anuncia esse
entrevistado que faz parte da primeira geração pedagógica e, que antes de ingressar no
ensino superior, lecionou no ensino médio por cinco anos:
É necessária uma nova adequação do professor para essa
necessidade, então o próprio professor universitário precisa
passar por todo o processo de aprendizagem. Não
aprendizagem desses novos métodos, técnicas, de
metodologias de ensino, mas, principalmente, mudanças de
paradigmas, de uma visão cartesiana, fragmentada, para uma
visão sistêmica, complexa. Então, é enfrentar esse trabalho
que é ÁRDUO (ênfase nessa palavra), para o professor que se
propõe a se formar novamente, e ser um verdadeiro formador
de novos professores, principalmente nessa crise em que vive
a escola (1MCBP).
As dificuldades de ser professor formador de professores no ensino superior,
expressadas pelas questões da formação e da prática docentes, parecem ser a
dificuldade de se reconhecer o poder profissional desses professores. Sendo assim,
tanto os processos formativos quanto a prática docente dos cursos de licenciatura,
quando inadequados, se configurariam em impedimento à construção do poder
profissional docente. É possível que essas dificuldades encontrem repouso na negação
dos professores formadores ao próprio profissionalismo, mas este entendido como em
Freidson (1998, p. 42), “o método mais desejável de organizar a posição desses
profissionais no mercado de trabalho”.
A aflição demonstrada pelo professor, cuja declaração foi transcrita acima, e
que revela sua preocupação com a necessidade de mudança de paradigma,
possivelmente está relacionada, também, com as velozes transformações sociais,
motivadas por questões políticas, econômicas e culturais vividas pelas sociedades
contemporâneas, e que se refletem no espaço escolar e requerem do professor
162
atribuições, cada vez mais complexas. Atribuições a serem construídas, também, nos
cursos de licenciatura. Esses requerimentos, de acordo com Fontoura (1995, p.174)
correspondem a:
- dar vida à escola para que esta se transforme num centro
cultural aberto;
- formar os alunos de modo que estes sejam capazes de utilizar
o que sabem para produzirem e transformarem o meio;
- participar no seio da comunidade na vida coletiva;
- criar, quebrando rotinas e ultrapassando eventuais
constrangimentos.
A compreensão de quem é o professor formador de professores, no ensino
superior, parece estar clara para uma parte dos professores pesquisados, pois dentre os
aspectos, aqui abordados, a identidade profissional assume expressivo relevo por se
construir no processo de formação e exercício profissionais do docente. Essa
construção integra os processos formadores das representações sociais, pois como
assevera Andrade (1998, p.144), “a representação que um sujeito faz de um objeto é
um bom indício do perfil da sua identidade, assim como o conhecimento da identidade
de um sujeito é um bom preditor de sua visão de mundo”. A fala do professor, a seguir,
que faz parte da segunda geração pedagógica, diz um pouco desse perfil identitário,
que parece predominar entre os sujeitos desta pesquisa:
Eu acho que para o perfil do professor de licenciatura é
indispensável que ele tenha essa relação com o
desenvolvimento do conhecimento, senão como ele vai
entender como o aluno desenvolve a sua aprendizagem, como
o aluno constrói conhecimento? (...) Não sei se o professor se
forma de fato ou se ele é lapidado. Acho que as pessoas optam
por ser professores por uma pré-disposição, não sei se isso é
dom ou vocação (risos). (2MGPR).
163
Na fala desse professor percebe-se que ele procura compreender e atribuir
significado à identidade do professor dos cursos de licenciatura, isso porque as
representações sociais possibilitam ao indivíduo ou ao grupo prover de sentido seus
comportamentos e permitir-lhes compreender a realidade por meio do seu sistema de
referências. Portanto, se as representações sociais se encontram no movimento das
relações e práticas sociais, é porque elas desempenham funções. De acordo com Abric
(1998 pp. 28-30), entre as funções essenciais das representações sociais, encontra-se a
função identitária, responsável por definir a identidade e permitir a proteção da
especificidade dos grupos.
A referência às representações que definem a identidade de
um grupo terá um papel importante no controle social
exercido pela coletividade sobre cada um de seus membros, e,
em especial, nos processos de socialização.
É isso o que faz o professor último depoente, ou seja, a função identitária das
representações sociais é acionada, na medida em que esse professor pesquisado busca
explicar a relação entre a identidade do professor formador de professores, o
conhecimento que lhe cabe particularmente e o resultado do seu trabalho que seria a
aprendizagem dos seus alunos.
Cumpre saber que o destaque imputado pelos professores pesquisados, à
identidade profissional, é encontrado, também, nas demais profissões, pois como
argumenta Freidson (1996, p.4), as profissões, e aqui destacamos a profissão docente,
“serão relativamente estáveis ao longo do tempo, de modo que os trabalhadores
tendam a ter uma carreira ocupacional a longo prazo e uma identidade pessoal e
pública distinta”.
164
A declaração do professor do curso de licenciatura em Geografia, que integra a
segunda geração pedagógica, de uma faculdade privada, explicita traços da identidade
profissional do docente do ensino superior, formador de professores:
Ser professor formador de outros professores, eu acho que é
ter a capacidade de desenvolvimento de um olhar crítico
científico, por que isso não pode estar associado, apenas, ao
bacharelado. Com esse olhar crítico tentar fazer com que seus
alunos desenvolvam, também, esse olhar. E, também, a
questão do gostar da sala de aula, assim, não sei se isso seria
uma competência, eu acho extremamente importante, e na
nossa realidade, num país como o nosso, eu acho
extremamente importante um professor formador de professor
mostrar a importância desse profissional gostar do que faz. O
gostar da formação que não é assim tão fácil, mas acho que
em qualquer profissão também não é tão fácil, é mostrar esse
gostar da profissão, é estimulante. Eu acho que é
extremamente importante até pra levar a educação a sério, até
para os alunos levarem a educação a sério. (2MGPR).
Para o declarante, identificar-se com a profissão de professor dos cursos de
licenciatura é gostar de ser professor formador de professores no ensino superior. E
gostar de ser esse professor estimula o fazer, e ser, desse docente, que
consequentemente, influenciará o comportamento dos licenciandos e das pessoas que
compõem os diversos espaços sociais. Além do conhecimento, os afetos expressados
por esse professor, lembra que a representação social, por se encontrar no cruzamento
dos conceitos sociológicos e psicológicos, requer considerar a sua relação com os
processos de dinâmica social e cognitiva. Dessa forma Jodelet (2001, p. 26) concebe
que,
As representações sociais devem ser estudadas articulando-se
elementos afetivos, mentais e sociais e integrando ao lado
da cognição, da linguagem e da comunicação – a consideração
das relações sociais que afetam as representações e a realidade
material, social e ideativa sobre a qual elas têm de intervir.
165
Por essa razão é que as representações sociais são, também, consideradas
expressões da realidade intraindividual, são, poder-se-ia dizer, uma expressão dos
afetos, das emoções.
As questões da formação e da identidade profissional estão, portanto, presentes
nos processos de construção das representações dos professores acerca do poder
profissional docente. Mas essas questões, decerto, estão carregadas dos elementos
cognitivos, afetivos e sociais.
Sobre as marcas diferenciadoras da identidade do professor dos cursos de
licenciatura, pode-se compreender como em Sobrinho (1998, p. 120) que quando é
iniciado o processo de construção das representações “dos diferentes objetos em
disputa dentro de um campo particular do espaço social, que um determinado grupo
vai construindo os traços distintivos de sua identidade”. No caso deste trabalho, o
objeto em disputa corresponde ao ‘poder profissional docente’, o campo do espaço
social seriam as IES, os cursos de licenciatura, os espaços definidores das políticas
públicas e, ainda, as escolas.
E, em se tratando de identidade profissional, pode-se concluir como Dubar
(1997a, p.51), que é a abordagem compreensiva das relações entre trabalho e
formação” que resultará nessa identidade, especificamente.
Outro fator que viabiliza os processos de construção e manutenção do poder
profissional docente refere-se à organização da categoria dos professores do ensino
superior formadores de professores. Mas essa organização teria início com a devida
formação desses professores, segundo as declarações transcritas a seguir.
Para a professora graduada no bacharelado em Física, pertencente à primeira
geração pedagógica, “os professores que têm formações muito diferentes, têm práticas
166
muito diferentes. Como a gente pode se organizar? A gente está no mesmo curso,
formando o mesmo aluno, mas cada um de um lado”. Essa professora na formação
profissional o elemento essencial de organização dos docentes dos cursos de
licenciatura.
A parte pedagógica eu acho fantástica, porque você pode ter o
maior conhecimento, eu sempre fui da pesquisa, entrei na
pesquisa, eu não sei fazer outra coisa senão ensinar e
pesquisar. Mas, para mim, aprender a dar aula é uma coisa
que eu fiz num curso de especialização de metodologia do
ensino superior. (...) Eu me lembro que eu ficava fascinada,
com os professores que eram daqui da educação (se referindo
ao Centro de Educação da UFPE). (...) Eu me lembro que
quando eu li Paulo Freire, uma coisa linda, os livros dele, eu
ia e comprava outro. Eu ficava fascinada com a teoria e
queria colocar aquilo na minha prática. Todos os professores
da licenciatura deveriam ler. Então, tudo que envolve o
professor das licenciaturas começa com a formação dele.
(1FFP).
A professora complementa que o cuidado com a formação não pode depender,
apenas, da vontade de cada um e comemora uma novidade, que para ela faz todo o
sentido para o conjunto dos professores dos cursos de licenciatura e que contribuirá
com a organização desses profissionais:
A universidade entrou, agora, com uma ideia nova de que
todo professor que for aprovado em concurso, vai ter de
passar por um curso de especialização e formação pedagógica.
(...) que vai ser obrigatório, não vai ser se quiser não, vai
ser obrigatório (sorrisos). (...) A nossa comunicação ficará
melhor, e a nossa organização também.
O fator de organização dos docentes configura-se como elemento de
objetivação das representações sociais para alguns sujeitos da pesquisa como, por
exemplo, da professora que fez a declaração acima. A comemoração dessa professora
se explica pelo fato de ela ser uma das docentes dos cursos de licenciatura, que
167
expressa uma significativa preocupação com os colegas que insistem em se limitar a
transmitir informações das suas disciplinas, desprovidas de conteúdo pedagógico, aos
futuros professores da educação básica. Portanto, quando a universidade sinaliza com a
possibilidade de revisão da formação profissional dos professores formadores da
docência essa professora sente-se recompensada por suas preocupações, e acredita
numa nova organização do conjunto dos professores dos cursos de licenciatura.
Dentre os aspectos que concorrem para a organização dos professores
formadores encontra-se o da autonomia docente verificada, sobretudo, nas IES
públicas. Todavia, a autonomia referida neste trabalho corresponde àquela que
contribui para o controle da formação e do exercício dos docentes formadores. Como
ressalta Freidson (1998, p. 110), “a autonomia associada à competência não deve ser
confundida, como frequentemente acontece na literatura, com a autonomia econômica
do profissional autônomo tradicional”. Isso implica dizer que a autonomia se refere aos
professores formadores da docência no ensino superior poderem fazer o seu trabalho
de acordo com os saberes que constroem.
Segundo alguns sujeitos pesquisados, se a autonomia não é exercida, por
exemplo, pelos docentes nas IES públicas, é por falta de interesse dos próprios
professores. Para a professora do curso de licenciatura em Letras, a seguir, quando
instigada a falar sobre se a universidade pública confere autonomia aos seus
professores, ela responde: “Confere até demais! E, explica que a universidade, em
certa medida, “não é melhor por causa dos próprios professores”.
Eu acho que a universidade é o que a gente faz dela! Um
sistema de gerenciamento acadêmico como a gente tem aqui
foi feito por a gente, está sendo sempre avaliado para ser
aperfeiçoado, é a gente que fala, é a gente que aponta os
168
defeitos da gente, que modifica, que tem poder de decisão, até
de cargos. (1FLP)
Quando provocada a refletir sobre o discurso de alguns docentes que se acham
engessados para agir, a professora conclui dizendo esse seria “um discurso superado”,
mas que, de alguma forma, se mantém, talvez, para justificar certos imobilismos.
Portanto, a autonomia existe, mas precisa ser utilizada coerentemente.
Essa autonomia constatada pela professora entrevistada, de certo modo, vai ao
encontro da noção de organização e poder profissional desenvolvida por Freidson
(1998, p. 68), quando esse autor explica que os profissionais têm
Total capacidade de controlar o seu próprio trabalho, (...)
organizam e administram a prática de um corpo de
conhecimento e competência ou jurisdição demarcados
inequivocadamente e monopolizados por seus membros.
Mesmo quando a autonomia dos professores da IES públicas é adjetivada como
inadequada e mal utilizada por alguns professores, surgem protestos, como o que se
pôde ler anteriormente. Isso porque, essa autonomia conferida aos professores das
universidades públicas tem sido fundamental para o avanço dos cursos de licenciatura
em todas as suas dimensões, incluindo as conquistas do corpo docente que forma os
futuros professores, conforme se pode constatar na declaração do professor do curso de
licenciatura em Ciências Sociais, pertencente à segunda geração pedagógica de uma
universidade pública:
O professor tem tanto a liberdade em relação às suas posições
teóricas, quanto às suas iniciativas. E tem muita autonomia
em relação à própria organização do seu curso, essa
flexibilidade, não é? Isso é fundamental para o processo
formativo dos futuros professores e para a própria
universidade. (2MCSP).
169
Contudo, essa autonomia não caracteriza os docentes das IES privadas, ficando
os professores dessas instituições na dependência da direção ou do mantenedor da
instituição para realizarem os seus trabalhos. O depoimento da professora do curso de
licenciatura em Letras, que fala a seguir, revela bem essa distinção por ela ter sido
professora de uma universidade pública e depois que se aposentou ensina em algumas
faculdades particulares:
Quando eu ensinava no curso de Letras da UFPE, nós
tínhamos a autonomia enquanto professores, coordenadores
de cursos, que eram os colegiados. Nós tínhamos autonomia
para alterar o currículo, nós deliberávamos. Claro ques
tínhamos de obedecer ao regimento, mas era possível
inclusive a gente ir à reitoria e discutir. (...) E, jamais passaria,
por exemplo, pela cabeça do reitor demitir a gente porque a
gente estava questionando o regimento. Então, a gente tinha
autonomia, um poder de decisão, de discussão, de diálogo
maior. Na instituição privada, o poder de diálogo é menor. Por
exemplo, houve uma reforma de currículo aqui. (...) Nós
sabíamos que estava havendo uma reformulação, mas não
participamos dela. A nova matriz curricular agora é assim, a
carga horária é essa, as disciplinas são essas, são essas as
normas e metas. Eu, ainda, tentei falar, a diretora passou por
mim um dia e disse: “Essa reforma está perfeita”, vou dizer o
quê? (1FLPR).
Na situação descrita acima, pode-se afirmar que mesmo reconhecendo-se
possuidora de um poder profissional, o poder de discurso da professora é sufocado pela
autoridade dirigente. Antes mesmo de expressar seu descontentamento com a reforma
curricular da IES, seu processo e seu produto, antes que suas ideias pudessem ser
“formuladas em palavras de discordância, o discurso da conspiração do silêncio
desautoriza a nomeação do desconforto” (KINCHELOE,1997, p.28),
Embora se constate, como no depoimento acima, a ausência de autonomia nas
IES privadas, julga-se importante esclarecer o quanto esse aspecto é relevante para a
170
construção do poder profissional docente. O professor enquanto profissional, sujeito do
conhecimento que desenvolve e pratica deve possuir as condições de controlar a
formação e o exercício da profissão, portanto, de acordo com Tardif (2002, p.240),
É estranho que os professores tenham a missão de formar
pessoas e que se reconheça que possuem competências para
tal, mas que, ao mesmo tempo, não se reconheça que possuem
a competência para atuar em sua própria formação e para
controlá-la, pelo menos em parte, isto é, ter o poder e o direito
de determinar, com outros atores da educação, seus conteúdos
e formas.
Articulados aos fatores que viabilizam os processos de construção e
manutenção do poder profissional docente dos professores dos cursos de licenciatura,
até aqui explicitados, estão os compromissos desses professores formadores. Esses
compromissos vão desde a organização da categoria profissional a qual pertencem os
professores formadores, contribuindo com os processos formativos e com o exercício
dos docentes formadores, passando pelo engajamento nos projetos e programas que
envolvem os cursos de licenciatura, como também, com a qualidade da formação dos
futuros professores e com o campo de trabalho destes que é a escola. Esses
compromissos podem ser visualizados nos depoimentos a seguir, iniciando com o
dessa professora pertencente à primeira geração pedagógica:
O formador não pode esquecer nunca o campo de trabalho, a
escola e a sala de aula, eu até penso mais na sala de aula, do
que na escola como um todo, embora discuta, também, a
forma como o outro (o professor da educação básica)
trabalha. A escola é um objeto de preocupação da gente. Eu
acho que é outra coisa que eu procuro fazer, não significa que
eu faço tudo não! Mas que está no centro das minhas
preocupações é articular ensino, pesquisa e extensão. Pegar
monitores de disciplina, desenvolver dentro de uma das
disciplinas, que eu dou um projeto de extensão. Isso nos
aproxima da escola (1FLP).
171
Essa professora expressa um significativo elemento do processo de construção
das representações sociais que são as ‘mediações sociais’, ao relevar a indispensável
comunicação que deve existir entre o seu trabalho no curso de licenciatura e o lugar
para onde se destinam os seus licenciados. Esse elemento em si evidencia, recorrendo
a Jovchelovitch (1995, p. 81), tanto a gênese como a forma de ser de uma
representação social. Para essa autora,
A análise das representações sociais deve concentrar-se
naqueles processos de comunicação e vida que não somente
as engendra, mas que também lhe conferem uma estrutura
peculiar. Esses processos, eu acredito, são processos de
mediação social.
Também, os compromissos desse professor formador, com as questões da
educação escolar, conferirão a esse profissional espaço específico para por em prática
o produto dos conhecimentos e experiências desenvolvidos nos cursos de licenciatura e
autonomia para intervir nas questões de políticas educacionais, ou seja, ingredientes do
poder profissional.
Assim, de acordo com as declarações até aqui apresentadas, o professor que é
possuidor de uma formação profissional composta de farta teoria educacional e prática
de sala de aula, inclusive com experiências nos cursos da educação básica, vive a
profissão de professor com intensidade. Certamente, os professores que não tiveram
experiência docente no ensino básico não estão desprovidos da competência de formar
os professores para esse vel de ensino, porém devem buscar alternativas de
conhecimento da realidade escolar nas suas múltiplas faces. Ser conhecedor do espaço
escolar e do ensino básico somada a uma prática e uma formação consistentes, torna o
172
professor dotado dos instrumentos e das condições que o revelam como possuidor de
importantes elementos constitutivos do poder profissional.
5.2 - Fatores que dificultam a construção e a manutenção do poder profissional do
docente do ensino superior, formador de professores
Dentre os fatores que constituem obstáculo aos processos de edificação e de
conservação do poder profissional do docente do ensino superior formador de
professores, encontram-se, curiosamente, aqueles que apareceram, inicialmente, como
viáveis a esses processos, mas que, nesse espaço, aparecem como dificuldades ao
poder profissional da docência. Isso significa, na compreensão de Harré (2001, p. 118),
que “um repertório deve ser estudado em seu uso, a fim de que se possa apreender as
representações sociais que veicula”. Por ordem de importância, são os seguintes os
fatores: a inadequação da formação profissional; a não identificação com a profissão
de professor, formador da docência para a educação básica; a desorganização do
conjunto dos docentes dos cursos de licenciatura, que concorre para a falta de controle
da formação e da prática dos professores formadores; e a ausência de compromissos
dos professores formadores com a formação dos licenciandos, com a educação básica e
com a escola.
Ainda, como fatores que inviabilizam a construção e manutenção do poder dos
professores formadores da docência no ensino superior, os sujeitos participantes desta
pesquisa, indicaram os fatores, a seguir, que se encontram em ordem decrescente: a
ausência do reconhecimento social dos professores e a rarefeita disposição dos
licenciandos em relação à sua formação como futuros professores da educação básica.
173
A questão da formação para exercer a profissão de professor formador de
professor é percebida, por exemplo, no depoimento dessa professora, pertencente à
primeira geração pedagógica, que fez a seguinte declaração no grupo focal:
Minha formação é uma formação em bacharelado, não é uma
formação em licenciatura. (...) já fui professora no curso de
Psicologia, e há dez anos que eu sou professora dos cursos de
licenciatura. No curso de psicologia, (...) eu estou refletindo
com ele (o aluno) sobre o ser psicólogo, por exemplo, ou ser
médico, o fazer daquela profissão, mas na verdade eu não
estou falando com aquele que vai ensinar psicologia, ensinar
medicina. No momento em que eu estou falando como o
professor, eu estou lidando com outra questão que é algo que
tem a ver com nós dois (o professor formador e o
licenciando), que é o ensino. Então, a ideia de ensino é algo
que permeia esta relação de uma forma tão estreita que eu
estou falando de ensino, mas, na verdade, eu também sou
professora. (2FPsP).
Essa professora revela compreender o ensino como o espelho da sua prática, o
que até certa medida é aceitável, contudo os licenciandos precisam aprender a ensinar
a crianças e jovens da educação básica, o que, decerto, exige outros requerimentos do
professor formador. Como nos lembra Tardif (2005, p.12), o ensino não se restringe
“em si a totalidade do processo de trabalho escolar, mas integra outros atores e outras
atividades igualmente importantes de serem levadas em consideração se quisermos
compreender a evolução recente da escolarização”.
Muitos depoimentos, como o que se encontra logo abaixo, obtidos na pesquisa
com os professores denunciam concepções de cursos, de formação de professores e de
práticas pedagógicas de professores formadores, que não coadunam com a função de
professores comprometidos com a formação dos docentes da educação básica e com a
instituição escolar.
174
A formação dos formadores para as cadeiras das licenciaturas
é importante. Aqui na universidade, a gente observa um pouco
isso: quando os professores o voltados para essa formação,
eles se dedicam mais às licenciaturas, à formação dos futuros
professores, como na implantação de novas metodologias.
Eles são exatamente aqueles que estão ligados à questão da
educação e da escola e, os professores das disciplinas mais
específicas ficam muito presos ao bacharelado e não têm
envolvimento maior com a formação dos licenciandos. A
eterna dicotomia o? É o professor que diz: “Não estou
interessado nisso, meu negócio é assim e será assim”. Radical
não é? “A impressão da educação aí, é dos educadores, meu
papel aqui é ensinar Física, ensinar Química, Matemática”.
Eu acho que a gente tem de trabalhar muito, ainda, para
quebrar esse radicalismo (1MCBP).
Essa declaração deixa, mais uma vez, clara a tensão existente entre os cursos de
licenciatura e os cursos de bacharelado. Essa tensão, resultado das distintas concepções
e práticas dos professores formadores da docência, provavelmente, contribui para uma
visão negativa dos licenciandos como expressa esse professor formador do Centro de
Educação de uma universidade pública:
Muitos alunos, das tantas licenciaturas, chegam a dizer,
sarcasticamente, que segundo os seus professores do
bacharelado, o Centro de Educação não goza de uma
reputação acadêmica muito forte no conjunto dos outros
Centros da Universidade, o que de fato faz com que eles
venham para cá, meio predispostos a afrontar, a desmoralizar.
Logo, quando esses alunos chegam aqui, são comuns certos
conflitos com os professores daqui. (...) O chefe do
departamento, os membros do conselho departamental, ouvem
muita reclamação dos professores do Centro de Educação em
relação a essa desvalorização. (1MFP).
A questão da desvalorização dos cursos de licenciatura, decerto, não é uma
questão regional. Melo (2000, p. 286), na sua pesquisa sobre os cursos de formação de
professores na Universidade de São Paulo, esclarece que
175
A área de educação, enquanto pertencendo à área de Ciências
Humanas, vem contraditoriamente sendo também
estigmatizada, sobretudo quando se compara às áreas
privilegiadas ditas “científicas” e “tecnológicas”, forjadoras
das estruturas econômicas, do desenvolvimento (da força
produtiva), não obstante verificar-se atualmente a valorização
do “conhecimento geral” na nova ordem social.
Mas voltando à última declaração do sujeito desta pesquisa, como essa
concepção da área de educação, não é a de todos os professores formadores da
docência no ensino superior, os professores não empenhados em imprimir a devida
qualidade aos cursos de licenciatura, começam a encontrar resistência nos seus colegas
de mesmo curso, como se pode constatar no depoimento que se segue:
Eu acho que uma grande diferença da licenciatura para os
demais cursos. o pessoal que trabalha com as disciplinas
pedagógicas é que tem esta compreensão da formação
docente. Porque de um modo geral na nossa universidade, o
pessoal da área específica, não quer nem saber, e tem o
orgulho de dizer que não quer saber na nossa cara, como se,
assim, tivesse o direito de dizer isto. E não é que eles ficam
melhor por dizer isto. Eles não vêem a fragilidade que eles
mostram quando eles dizem isto. todas as vezes que eles
dizem isto, na cara, com todo o discurso, eu, com muita
humildade, digo: “Eu lamento muito que você tenha esta
noção. Como você está precisando melhorar a sua formação.”.
Aí a pessoa vê que ela está no mínimo equivocada. (1FFP).
Os desacordos são até certo ponto saudáveis para quaisquer profissões, pois
eles estimulam a criatividade, o exercício e sugerem novas formas de controle das
atividades profissionais. Contudo, desacordos extremos levam à falta de consenso e
fragmentação do grupo profissional. O depoimento que acaba de ser lido mostra como
esses professores estão distantes de importantes elementos constitutivos do poder
profissional como a questão ética, por exemplo. Freidson (1998, p.68) na sua análise
sobre a organização e poder das profissões afirma que a organização dos profissionais,
176
dentre outros, também determina “os critérios técnicos e éticos pelos quais são
avaliadas as práticas dos seus membros, e tem o direito exclusivo de exercer disciplina
sobre os seus membros”. Mas, ao que parece, é inexistente essa organização que
imprimiria força no trato com as questões que conduzem ao poder profissional dos
docentes dos cursos de licenciatura, ou, pelo menos, os sujeitos desta pesquisa não a
mencionaram.
A partir do último depoimento lido pode-se perceber como são variadas as
concepções e as práticas dos professores formadores, o que conduzirá a incompatíveis
representações sociais dos professores dos cursos de licenciatura sobre o poder
profissional desses docentes, daí a necessidade de se estudar os processos nos quais
essas representações são gestadas. Spink (1995a, p. 123) nos ajuda a compreender essa
importância quando afirma:
A diversidade e contradição remetem ao estudo das
representações sociais como processo, entendido aqui não
como processamento de informação, mas como práxis, ou
seja, tomando como ponto de partida a funcionalidade das
representações sociais na orientação da ação e da
comunicação.
E é esse processo que se desenvolve na ação e na comunicação dos professores,
sujeitos desta pesquisa, por meio das variadas atividades de salas de aula, das
pesquisas; da forma e do conteúdo que resultam dessas pesquisas; do trato das
questões dos cursos de licenciatura com os seus pares, professores dos mesmos cursos
e com os licenciandos; da relação que estabelece, ou não, com as escolas da educação
básica, destino dos licenciados nos cursos de formação de professores, e outros.
A professora, autora da última declaração, faz uma delicada distinção entre o
ensino no curso de bacharelado e o ensino no curso de licenciatura. No primeiro curso,
177
a professora refere-se aos professores que exercem suas atividades docentes no
bacharelado e na licenciatura e, ainda, àqueles professores que desenvolvem seus
trabalhos, apenas, no bacharelado. Para ela os dois professores, de forma geral,
realizam o seu trabalho docente apoiado na mesma concepção de ensino e
aprendizagem, e são usuários das mesmas metodologias, normalmente, têm como
suporte aulas expositivas e muito tecnicistas. E é assim que ela denuncia o resultado
desse processo de ensino.
Eu fiz o bacharelado em Física, aqui na Federal, e vocês todos
conhecem esse curso, ele é considerado muito bom. Eu levei
meus alunos da licenciatura em Física a uma palestra, aqui.
Ninguém abria a boca, o cara que estava palestrando, e
ninguém estava entendendo nada, mas ninguém perguntava! E
eu ficava olhando e dizia eu quero ver quem vai ter a coragem
de fazer uma pergunta aqui dentro. E ninguém fez e os
organizadores e o palestrante acharam o máximo.
Ali estavam os meus professores amigos, todinhos
catedráticos, e os alunos atrás assistindo. Então, eu fiz um
questionamento, que na verdade era colocar o aspecto
significativo daquele conteúdo. Todos ficaram ansiosos. Foi
impressionante, não teve um que conseguisse explicar. Os
alunos uivaram, pularam, assim, feito doidos, e disseram:
“Que bom que você veio aqui para mostrar a este povo que
eles o sabem ensinar nada”. (...) Nas aulas as explicações
não explicam nada. (1FFP).
Embora reconheça a excelência da qual goza o curso de bacharelado em Física
da UFPE, a mesma professora questiona os procedimentos de ensino, sobretudo dos
professores do curso de bacharelado que ensinam nos cursos de licenciatura.
Desde a minha época, a gente olhava um para a cara do outro
e se perguntava o que foi que ele disse. Cada aula era um
capítulo do livro e a próxima aula eram todos os problemas
daquele capítulo. E se virem! E, se não fizesse era porque a
gente era burro, não tinha nível para estar ali. Tanto que
começamos com 50 (cinquenta) e 10 alunos concluíram.
No terceiro ano de Física, em uma prova de
eletromagnetismo, passamos oito horas fazendo esta prova,
178
esta prova foi a grande pisoteada no grupo. Um negócio
assim, o professor achava ótimo. (...) Isto é uma tragédia.
(1FFP).
Como se pôde observar acima, três declarações foram recortadas da entrevista
de uma mesma professora pesquisada, por se mostrarem pertinentes neste espaço do
trabalho. É oportuno lembrar as possibilidades oferecidas pela entrevista semi-
estruturada, enquanto importante instrumento de coleta de informações para uma
pesquisa qualitativa, ressaltando o seu caráter de interação, que possibilita ao
entrevistado discorrer, espontaneamente, sobre uma determinada questão. O caráter de
interação evidencia o que Lüdke e André (1986, pp. 33-34) destacam sobre a
entrevista,
Especialmente nas entrevistas não totalmente estruturadas,
onde não imposição de uma ordem rígida de questões, o
entrevistado discorre sobre o tema proposto com base nas
informações que ele detém e que no fundo são a verdadeira
razão da entrevista. Na medida em que houver um clima de
estímulo e de aceitação mútua, as informações fluirão de
maneira notável e autêntica.
Dessa forma, considerou-se adequado registrar as declarações em sequência, de
uma mesma professora, uma vez que a fluidez das informações trouxe lógica à
argumentação da entrevistada.
Uma questão que tem expressivo realce entre as que constituem obstáculos ao
poder profissional dos professores, formadores de professores no ensino superior, é a
da não identificação desses professores com a formação da docência para o ensino
básico. Essa não identificação se localiza, por exemplo, na atitude do professor
formador que ignora o seu campo de referência que é a escola, como afirma essa
professora do curso de licenciatura em Química de uma universidade pública.
179
A maioria dos professores daqui (do curso de licenciatura) dá
suas aulas e acham que fizeram tudo. Mas eles sabem que
quando os alunos (os licenciandos) saírem daqui eles vão pra
onde? Para as escolas. Mas os professores daqui não querem
nem ouvir falar de escola. (2FQP).
É curioso que, além da não identificação dos professores formadores com os
cursos de licenciatura, se pode encontrar o próprio curso de licenciatura à procura da
sua identidade e do seu lugar no espaço acadêmico, como é o caso do curso de
licenciatura em Educação Física. Essa curiosidade é explicada por esse professor
formador de professores de Educação Física que exerce a sua profissão numa
universidade pública e numa faculdade particular:
Historicamente, a Educação sica tem se configurado com
mais força na área de Ciências da Saúde. que a partir da
década de 80, ela vem reivindicando um espaço
multidisciplinar, então nos órgãos de fomento e nas
instituições de ensino superior, ela pode se classificar em
diversas áreas, por exemplo, na Universidade Federal da
Bahia, o curso de licenciatura em Educação Física, é dentro da
Faculdade de Educação. Mas, na Universidade Federal de
Pernambuco, é no centro de Ciências da Saúde, na UPE é na
área da saúde. (...) Existem também no Brasil, o curso de
Educação Física numa área própria, chamada área de Ciência
do Esporte como, por exemplo, a Universidade Federal de
Santa Catarina e a Universidade Federal do Espírito Santo. O
curso de Educação Física é um curso autônomo. (1MEFPR).
A não localização do curso de licenciatura em Educação Física na área de
educação, provavelmente, contribui para ofuscar a identidade do professor formador de
professores de Educação Física. É interessante lembrar, inclusive, a comemoração
anual que se faz em todo o Brasil no dia 1.° do mês de setembro dedicado ao
‘Profissional de Educação Física’ estampada nos jornais e revistas que circulam
nacionalmente. A título de exemplo, vê-se uma página da revista Veja (3 de setembro
180
de 2008) ressaltando tal comemoração (anexo 9). Essa propaganda patrocinada pelo
CONFEF
18
, na sua ilustração e no seu texto enfatiza as atividades liberais, como a
academia de ginástica, e não faz qualquer referência à educação escolar.
Embora alguns professores de Educação Física afirmem existir órgãos de
controle e regulação do seu curso de graduação e do exercício profissional dos
professores, isso não é constatado pelos sujeitos pesquisados como de pode ver a
seguir, no depoimento de um professor que trabalha no curso de licenciatura em
Educação Física de duas universidades públicas.
Nós temos o CONFEF e o CREF
19
. Inclusive, eu participei de
momentos nos Conselhos e eu o tenho discordância deles,
eu tenho discordância da forma como algumas questões são
tratadas. Primeiro, pune-se quem tem uma formação, porque,
hoje, as pessoas são contratadas pelo seu status. Em algumas
profissões, sem formação não se contrata a pessoa, o pessoal
não deixa trabalhar, mas na educação física vem a questão dos
técnicos esportivos, principalmente de futebol, a pessoa é ex-
jogador, exemplo técnico da seleção brasileira, ele não tem
nenhuma formação e o Conselho Federal não tem nenhuma
interferência sobre isso. O problema vem de longe. (...) Em
educação física, o departamento era de esportes, então essa é a
confusão, é o fenômeno do esportivo, que tem muito mais
evidência do que a aula de educação física. (1MEFP)
Pode-se notar que o professor inicia sua declaração mostrando integrar os
conselhos referidos, porém a sua explanação evidencia a distância que esses órgãos
têm do curso de licenciatura em Educação Física.
Um outro professor integrante desta pesquisa, que pertence à primeira geração
pedagógica e que exerce suas atividades de professor formador no curso de
licenciatura em Educação Física de uma faculdade particular esclarece, ainda mais, a
posição desses órgãos.
18
CONFEF: Conselho Federal de Educação Física.
19
CREF: Conselho Regional de Educação Física.
181
A Educação Física tem um Conselho Federal. (...) que essa
instituição que regula esse exercício liberal da profissão, não
regula o exercício do licenciado, porque é um exercício de
magistério, o exercício do magistério está sendo regulado pelo
Ministério da Educação. (...) O CONFEF, que é órgão
fiscalizador, ele fiscaliza o exercício extraescolar. Apesar de
haver uma confusão grande, porque esse órgão quer ampliar
suas possibilidades de atuação e de angariar recursos e
filiados. (...) O Bacharel para atuar no mercado de trabalho,
ele vai atuar fora do âmbito escolar, numa academia, num
clube, num spa, num hotel, esse é um exercício liberal.
(1MEFPR).
Como se pode perceber, a não identificação do curso de licenciatura em uma
área específica de conhecimento, o alijamento dos professores de Educação Física dos
conselhos citados e o reconhecimento do curso de bacharelado em detrimento do não
reconhecimento do curso de licenciatura em Educação Física concorrem para o
descrédito do referido curso de formação de professores, e, consequentemente, para a
fragilidade do poder profissional docente.
Determinadas concepções e procedimentos dos professores formadores da
docência estão, ainda, relacionados à questão do não reconhecimento social da
profissão de professor do ensino superior, formador de professores. Esse não
reconhecimento, para alguns depoentes desta pesquisa, está relacionado aos baixos
salários dos professores conhecidos socialmente. A questão salarial é polêmica,
sobretudo no ensino superior, e está relacionada com fatores como o da identidade
profissional, conforme os depoimentos seguintes:
As pessoas aqui (na universidade) não se sentem professores,
quem se sente? Quem é que se anuncia como professor se ele
é médico, advogado, engenheiro, não é? Secundariamente
todo mundo é professor, o argumento é que não se pagam as
contas com o salário da universidade e porque é que eu
consigo pagar as minhas? Não vale nada, mas pago. Então,
182
assim, eu acho que as pessoas não m essa identidade, não
fazem da docência a coisa da sua vida profissional. (1FLP)
É possível afirmar que o aspecto salarial da profissão docente configura-se
como elemento do processo de objetivação das representações sociais dos sujeitos da
pesquisa, segundo os últimos depoimentos. Ainda sobre a questão dos salários uma
outra professora depõe quanto à horizontalidade dos pagamentos do trabalho docente
afirmando:
Eu não quero isonomia, o! Eu tenho professor aqui que tem
isonomia comigo, ganha igual a mim, tem dedicação
exclusiva, 40 horas, mas vem dar aula! Só! E para duas
turmas. Significam 8 horas por semana, essa pessoa vem aqui!
(Batendo a mesa). Eu venho todos os dias, chego aqui
7h30min., 8h da manhã, fico muitas vezes até dez da noite!
Direto sem parar e ganho igual a essa pessoa. Está certo isso?
(...) Que isonomia é essa? quando o pessoal fala: Vamos
ter que bater ponto? Isso é retrógrado! Eu digo: Ótimo!
Porque agora eu vou ficar rica! Eu vou ganhar hora extra,
estou achando ótimo! (1FFP)
Validando o argumento, acima, o professor que se segue caracteriza o mesmo
salário dos professores com finalidade dupla:
Eu costumo dizer que existem dois salários na Universidade,
um salário muito bom, para os professores que vêm aqui, dão
aula e vão embora. Esse salário é excelente! Faz orgulho!
Porque tem um salário aí em torno de R$ 5.000,00 porque são
doutores, mas totalmente improdutivos, porque não cumprem
o papel de fazer ensino superior. E esses são os que mais
reclamam do salário. E tem os que ganham a mesma coisa e
são professores que pesquisam, que publicam, que participam,
que organizam congressos, que m uma produção realmente
acadêmica. Então, depende do professor. (1MCBP).
Os baixos salários estão presentes, sobretudo, nas faculdades particulares, onde
os professores são reconhecidos, geralmente, por eles próprios, e por seus colegas da
mesma rede ou da rede pública, como “dadores de aulas”. Essa condição caracteriza o
183
professor que não tem tempo: de planejar suas aulas, de pensar sobre o desempenho
dos licenciandos, de fazer pesquisas, de ler, de atualizar-se, e para buscar um melhor
rendimento financeiro ministra aulas em diversas IES particulares.
Eu trabalhei em mais de duas faculdades particulares ao
mesmo tempo. E isso é necessário, porque se ganha pouco. Eu
tinha essa necessidade. (...) Para elas (as faculdades) o que
interessava era eu chegar lá, dar minha aula e pronto.
(2MMPR).
A destituição desse tempo pedagógico do professor formador de professor no
ensino superior, decerto, contribui para a não construção de um conhecimento
específico desse profissional, disso resulta que a ausência desse conhecimento vai
integrando os processos de construção das representações sociais, que consideram
inviáveis o poder profissional docente.
Certamente, o problema dos baixos salários é mais gritante na educação básica.
Mas a questão dos baixos salários cria uma relação entre os professores dos cursos de
licenciatura e os professores da educação básica. A professora, formadora da docência,
que fala a seguir, quando procurada por um Secretário de Educação para coordenar um
processo de capacitação pedagógica na rede estadual, indignada com a precária
situação salarial dos professores respondeu assim ao convite:
Eu o tenho mais cara de pedir a professor nenhum da sua
rede que faça mais nada! Porque eles ganham tão pouco, que
não para fazer mais nada! Porque eles não têm dinheiro
para comprar um livro, eles não têm dinheiro para ir a um
congresso, eles não têm dinheiro para parar e poder estudar
um pouco. (1FFP).
Um outro fator concorrente para a inviabilidade do poder profissional dos
professores dos cursos de licenciatura seria a ausência de organização desse conjunto
184
de professores. Essa organização seria a base para a conquista de autonomia e de
outras questões que promovem a regulação da formação e da prática docente.
Na questão da autonomia, os sujeitos da pesquisa denunciam que no caso das
IES públicas um uso desmedido, enquanto que uma restrição da autonomia dos
docentes pelas IES privadas.
Para o professor, a seguir, que integra a segunda geração pedagógica, a
autonomia está associada à disponibilidade de tempo do docente, principalmente para
os professores das faculdades privadas.
Eu conheço bem algumas faculdades particulares, aqui do
Recife e de algumas cidades do interior. Nessas faculdades, os
professores não vivem, não participam da elaboração da vida
da faculdade. É uma coisa assim: eu recebo as instruções, dou
a aula e vou pra casa. (...) Às vezes há um colóquio, um
seminário, mas não assim, um trabalho sistemático de
extensão, de pós-graduação. Eu diria de formação continuada.
Não há esse tempo. (2MMPR).
Concordando com o depoente, acima, o professor do curso de licenciatura em
Educação Física, a seguir, sobre a autonomia docente na faculdade privada, revela:
Não, não confere. O professor toma a iniciativa em articular-
se com a sociedade civil, do ponto de vista pessoal/particular.
(...) Então, em função da responsabilidade social e da
estrutura de funcionamento, uma tendência muito grande,
se o professor quiser entrar na sala de aula, usar o quadro, a
transparência e ir embora, tudo certo. Então, uma
tendência de que isso seja restrito. O professor não tem
autonomia, mobilidade. (2MEFPR)
Desse modo, pode-se afirmar que as representações sociais dos professores das
IES particulares estão ancoradas, justamente, na ausência da autonomia e de certas
condições que viabilizam o trabalho pedagógico dos professores dos cursos de
licenciatura.
185
A professora de uma universidade pública, que após participar do processo de
reformulação do curso de licenciatura o qual integra, diz que os professores,
Tem autonomia até demais! Frouxidão demais, não tem
penalização nenhuma, para quem vem dar aula, ou participar
de projetos ou deixou de vir. São informações sonegadas, não
repassadas, prazos não cumpridos, sem cerimônia. Eu cheguei
a dizer: “Quem leva seis anos para ter uma reforma curricular,
não quer fazer uma reforma curricular”, um mínimo de desejo
tinha mudado as coisas. É tudo frouxo demais da conta,
para o meu gosto! É uma autonomia que na verdade não é
autonomia (1FLP).
Corroborando com os argumentos da professora anterior, a professora do curso
de licenciatura em Física de uma outra universidade pública, diz existir certo abuso, de
muitos professores, da autonomia outorgada aos docentes. Para ela a autonomia que os
professores têm é “total” e o professor “faz o que quer”.
Pode existir o programa que tiver, o currículo que tiver ele faz o
que ele quer na sala de aula, inclusive não dar aula. A gente teve
professor, que depois de três anos sem dar aula, uma vez
pegaram ele, botaram um processo, ele foi demitido e agora ele
está de volta! E ainda fica gozando da cara da gente porque está
de volta. (Pausa) A justiça achou uma brechinha e o trouxe de
volta. (1FFP)
Essa falta de compromisso de determinados professores formadores da
docência no ensino superior evidencia a noção de compromisso defendida por Kaplan
e Lasswell (1979, p. 78), ou seja, “um ato projetado com a expectativa de que impor-
se-ão sanções negativas caso o ato não seja concluído”. Para a professora da última
declaração lida, a falta de compromisso de certos professores formadores constitui
obstáculo ao poder profissional para os docentes dos cursos de licenciatura, tornando
esse poder uma ilusão. Dito de outra forma, seria como se os professores vivessem
186
uma dissimulação, um grande engano, pois sem coesão quanto às finalidades dos
cursos de formação de professores no ensino superior, e sem procedimentos comuns
quanto à realização desses cursos, não é possível constituir o poder profissional
docente.
Em se tratando dos compromissos não assumidos pelos professores formadores
da docência, um professor do curso de licenciatura em Matemática de duas faculdades
particulares do Estado de Pernambuco, denuncia que o problema dos cursos de
formação de professores no ensino superior é inerente ao próprio “professor
formador”:
É como se ele desconhecesse todos os avanços que estão
acontecendo na área pedagógica, em todas as disciplinas, os
avanços da matemática. (...) As novas tendências do ensino de
Português. (...) Toda essa estrutura que está se modificando
com os livros didáticos com o PNLD
20
. (...) Desconhecem os
PCNs
21
. Desconhecem as Diretrizes Curriculares dos cursos
onde trabalham. Eles não têm clareza do que está acontecendo
no país no momento. Eles não se interessam sobre as
mudanças que estão ocorrendo no Brasil e no mundo.
(2MMPR).
Os professores formadores que não fazem a relação: curso de licenciatura
escola, que não se preocupam com o destino dos licenciados e, sobretudo, com a
qualidade do ensino da educação básica, desconhecem elementos importantes do poder
profissional do docente dos cursos de licenciatura.
Segundo o sujeito que faz a declaração, a seguir, que é professor do curso de
licenciatura em Filosofia de uma faculdade privada, e que integra a segunda geração
pedagógica, a formação profissional do professor formador deve estar articulada a uma
prática de sala de aula na educação básica.
20
PNLD: Plano Nacional do Livro Didático.
21
PCNs: Parâmetros Curriculares Nacionais.
187
A especificidade deste curso ensina o aluno a desenvolver
uma capacidade que possa se adequar ao universo do ensino
médio, às exigências do universo do adolescente. O exercício
é do filosofar. Então, a grande dificuldade da gente aqui, é a
distancia do nosso professor de licenciatura do universo do
ensino médio. Por exemplo, eu sou o professor deste curso e,
também, trabalho no ensino médio, os demais nunca
trabalharam ou muitos anos não trabalham, então são
completamente distantes do ensino médio. (2MFPR).
Para o depoente, a distância entre os professores do curso de licenciatura em
Filosofia e o curso do ensino médio, onde se encontram alunos adolescentes, torna-se
uma grande dificuldade, pois devido à sua experiência no ensino superior e na
educação básica esse entrevistado julga difícil o professor sem essa experiência ensinar
o ‘exercício do filosofar’. Essa experiência parece fazer parte do processo de
construção da representação social sobre o poder profissional docente.
Seja pela ausência, seja pela inadequada utilização da autonomia, o resultado é
que surgem desacordos na própria comunidade dos formadores de professores, quanto
aos propósitos, à estrutura e à dinâmica dos cursos de licenciatura inviabilizando a
unidade de uma proposta de formação para os professores da educação básica. Por
conseguinte, por não comungarem de uma unidade na proposta pedagógica e darem ao
curso de licenciatura a direção que querem, os professores formadores contribuem para
a fragmentação e desvalorização do magistério, também, nos diversos níveis da
educação escolar. E essa dispersão distancia as possibilidades dos professores dos
cursos de licenciatura de conquistarem o poder profissional.
No desdobramento da autonomia encontra-se a questão da ausência de controle,
de regulação do processo formativo e do exercício docentes como uma acentuada
dificuldade que se impõe aos processos de construção e manutenção do poder
profissional do professor, que se ocupa dos cursos de licenciatura. Essa dificuldade
188
fragiliza e dispersa o conjunto dos professores formadores da docência no ensino
superior, como declara o professor, a seguir:
A Educação Física tem um Conselho Federal, que é o
CONFEF assim como a OAB
22
, o CREMEP
23
, o CREA
24
,
etc., ou seja, ela tem uma instituição que regula o exercício
liberal da profissão, que o regula o exercício do
licenciado, porque o magistério é regulado pelo MEC. Eles
(pessoas do CONFEF) terminam utilizando procedimentos
até equivocados, para ter mais associados, não é? (...)
Inclusive isso é questionável do ponto de vista ético da
própria entidade. (1MEFP)
O profissional liberal que recebe o apoio do COFEF e do CREF é identificado
como: técnico esportivo, instrutor de academia de ginástica, personal trainer, e outros.
Logo não há órgãos reguladores para a formação e a prática do magistério em
Educação Física. Mas como sugere o depoente esses conselhos se interessam pelos
docentes da educação física para acrescer o número de associados que contribuem
financeiramente para a entidade.
No prolongamento desses fatores, que dificultam a construção e a manutenção
do poder profissional docente no ensino superior, é possível perceber, nas falas dos
depoentes, que esses fatores, também, reverberam no cotidiano da escola nos seus
diversos níveis de ensino, a partir das práticas dos licenciados, como afirma esse
professor do curso de licenciatura em Educação Física: “Educação Física para muitas
escolas é um faz de conta. Principalmente na rede pública. Não tem estrutura. (...) É
uma brincadeira”. (1MEFP).
Para o professor do curso de licenciatura em Geografia de uma IES privada, a
valorização conferida pelos licenciandos a determinadas cursos está atrelada à
22
OAB: Ordem dos Advogados do Brasil.
23
CREMEP: Conselho Regional de Medicina de Pernambuco.
24
CREA: Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura.
189
dificuldade que o seu conteúdo, historicamente, impôs e, essa valorização mantém
resquícios da educação básica, sendo, ainda, muito fortes no ambiente acadêmico. Ou
seja, as disciplinas que se apresentavam com mais dificuldade de aprendizagem para
os alunos do ensino médio, eram revestidas de certo encantamento que os alunos
mais “corajosos”, mais “competentes” seriam capazes de compreendê-las. Ele
argumenta, inclusive, que,
Os professores de Física, Química, Matemática são mais
escassos no mercado, são matérias, enfim, que o alunado
demonstra dificuldades de aprendizagem e acabam sendo
mais valorizadas. Disciplinas de Humanas, como História,
Geografia, não são bem valorizadas, é como se fossem
inúteis. entra um elemento histórico. Essas disciplinas
precisavam ser apenas decoradas (refere-se à exacerbação da
memorização dos conteúdos dessas disciplinas). Eu acho que
os alunos deviam ter reflexão crítica, pensar. Os pais dos
nossos alunos hoje, foram formados nesse momento, de pouca
reflexão da História, da Geografia e isso acaba sendo
transmitido também para os alunos. (...) Eu acho que isso é,
só, mais um elemento desse processo de formação do
professor da licenciatura. Na Universidade, a gente não
consegue congregar essas visões de formador de professor, de
um meio profissional, de um profissional que é o professor. E
quando vai para atuação nas escolas, acontecem esses
desastres. (2MGPR).
No discurso do professor encontram-se concordâncias e paradoxo a anotar. No
vestibular da UFPE, para o ano de 2008, enquanto cursos considerados muito
concorridos como o de medicina (a relação candidato vaga obteve 18,8), compreendido
como difícil desde o ingresso, por meio do vestibular, até a sua conclusão (tempo
integral, matérias complexas, etc.) geram atratividade nos candidatos. Outros cursos,
como bacharelado em Física, também, considerado difícil pelos candidatos é pouco
procurado (3,6). No caso do curso de licenciatura em Física sua concorrência na UFPE
190
atingiu a marca de 3,4
25
e na UFRPE chegou a, tão somente, 2,2. Decerto que esse
“encantamento” afirmado pelo entrevistado não se justifica, apenas, pelo desafio de
enfrentar matérias consideradas difíceis de aprender, mas outros aspectos como
prestígio da profissão, controle do exercício profissional pelos Conselhos Federais e
Regionais exerceriam fascínio e segurança aos futuros profissionais.
Curiosamente, os cursos de licenciatura mais concorridos, oferecidos pela
UFPE, para o ano de 2008, estão relacionados à área de saúde, ou seja: Em 1.º lugar
está o curso de licenciatura em Enfermagem com uma relação candidato-vaga de 12,1,
em 2.º lugar o curso de licenciatura em Nutrição com 10,3 e, em 3.º lugar o curso de
licenciatura em Educação Física com 8,7.
Os cursos de licenciatura menos concorridos estão relacionados a cursos de
bacharelado, também, pouco concorridos como: Bacharelado em Física 3,6; em
Matemática 2,4; em Química 3,9. Importa esclarecer que, no espaço deste trabalho,
não menção à concorrência de cursos das IES privadas pelo fato dessas instituições
não divulgarem esses dados.
As concepções negativas sobre os cursos de licenciatura são reafirmadas por
esse professor do curso de licenciatura em Geografia de uma IES particular, mas que
também leciona em IES pública a partir de contrato de substituição:
muitas discussões na universidade sobre a forma como as
matérias pedagógicas são tratadas pelos outros cursos (que
não os da licenciatura), as chamadas submatérias do
currículo, que estão, justamente, na área de educação. Enfim,
até hoje existe isso dentro de sala de aula. As matérias mais
valorizadas, matérias menos valorizadas, isso acaba
diminuindo a visão de classe dos professores. (2MGPR).
25
Dados obtidos da “Relação candidato-vaga” divulgada pela Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) e Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) no ano de 2007 para o ingresso dos
candidatos em 2008.
191
A questão da falta de reconhecimento da profissão de professor nos cursos de
licenciatura pelos demais professores das IES, parece não ser exclusiva dos docentes
brasileiros. A professora, cuja fala é abaixo transcrita e que pertence à primeira
geração pedagógica, expressou no grupo focal a sua indignação quanto ao tratamento
dispensado às disciplinas pedagógicas pelos professores de uma universidade
portuguesa onde ela realizou o seu curso de pós-doutoramento:
As pessoas de outras áreas brincam muito, eu tenho amigos
sérios da História. Mas sabe como os que brincam chamam as
pesquisas em pedagogia? Eles chamam de ciências ocultas.
Está entendendo? É terrível isto. Então, eles acham um
absurdo que aqui se faça prova didática para profissionais
desta área (se referindo aos professores do ensino superior
que ingressam nos cursos de licenciatura). Eles acham que é
motivo de uma discussão, porque não se faz lá, pelo menos
em Coimbra, onde eu fiquei não provas didáticas.
(1FLPR).
Para maior compreensão do que vem a ser reconhecimento profissional, tomar-
se-á da DGES
26
(2008, p.2) a sua definição: “Consiste na autorização por parte de uma
autoridade competente (Ordem, Associação Profissional, Ministério, etc.) do exercício
de uma profissão ou atividade profissional regulamentada”. Desse modo pode-se
inferir que o reconhecimento da profissão de professor passa, necessariamente, pelo
Estado, pelas vias da regulamentação e da certificação da profissão docente. Com
relação ao Estado Diniz (2001, p. 38) informa que o seu papel é “preponderante na
constituição das profissões, e este papel se exerce de maneira bastante independente da
importância relativa desta ou daquela profissão para a constituição do Estado”.
Como uma parcela dessa adição de questões, ainda a ausência de
reconhecimento social do professor enfatizado pela mídia ao exibir, exaustivamente, o
26
DGES: Direcção Geral do Ensino Superior.- Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
192
fracasso escolar e ignorar bons resultados conferidos pela escola. Isso, decerto,
depaupera a imagem do docente da educação básica e esse enfraquecimento reverbera
no ensino superior, particularmente, nos cursos de licenciatura.
Essa questão de reconhecimento do professor começa na
televisão. Lembra como é que eles falam do dia do professor?
É aquela professorinha, lá do sertão não sei de onde, que anda
quinhentas léguas numa estrada de barro, para dar aula num
casebre. (...) E ainda se diz muito feliz (a professora da
reportagem). É a imagem do terror! (2FPPR).
As imagens da profissão docente cristalizadas pela mídia, de alguma forma,
contribui para o processo de objetivação das representações sociais dos professores dos
cursos de licenciatura, sobre o poder da sua profissão, como se pode constatar na
última declaração.
Pelo menos quatro sujeitos desta pesquisa afirmam que o desinteresse de
significativo número de licenciandos fortalece os fatores que impossibilitam a
construção e manutenção do poder dos professores dos cursos de licenciatura. Para
esses professores, muitos estudantes estão nos cursos de licenciatura porque não
conseguiram ingressar em outros cursos mais concorridos, como exemplifica o
professor, que integra a segunda geração pedagógica e que leciona no curso de
licenciatura em Ciências Sociais de uma universidade pública:
Você tem, também, pessoas que estão fazendo o curso como
uma forma de melhorar o seu nível educacional, mas que não
veem isso como uma perspectiva de exercer uma profissão na
área de licenciatura. (...) Tem pessoas que têm outras
atividades e que, na verdade, vem fazer um curso universitário
para ter o título e ter algum outro nível de conhecimento. (...)
Mas o que eu percebo é que pessoas que estão nessa área
de ensino ou com uma motivação, também, para isso, mas têm
outros que não. E há um nível também grande de desistências.
(1MCSP).
193
Para outros professores formadores, um conjunto de estudantes que veem
nos cursos de licenciatura uma forma de ascensão social, mesmo reconhecendo que a
profissão não atrai médios e altos salários, a renda proporcionada pelo emprego de
professor eleva a renda que possuía anteriormente, ou possibilita uma renda até então
inexistente.
É evidente que eu tenho muitos alunos que são professores de
grandes escolas do Recife, que vêm da escola pública,
também, que estão querendo melhorar, estão querendo
investir na profissão. (...). Lamentavelmente, a grande maioria
procura a licenciatura porque está precisando de um curso
superior, de diploma superior. Pelo menos isso, então para ter
a possibilidade de ganhar mais. Isso são as palavras deles. Ou
ascender na empresa, porque normalmente eles têm uma
origem muito simples. (...) E para motivar uma clientela que
vem com isso, você falta plantar bananeira na sala, não é
que você dar aula-show, mas pra você motivar, pra você
sensibilizar não é fácil. (2FPPR).
Esse depoimento é corroborado com a seguinte afirmação de Silveira (1998,
p.80): “No cenário atual da pesquisa educacional brasileira, diversos trabalhos sobre os
profissionais do ensino tem indicado que a categoria docente é, hoje,
predominantemente originária das classes populares e médias menos favorecidas”.
Pode-se dizer que, de acordo com os questionários respondidos pelos licenciandos, a
afirmação do autor é uma constatação.
27
Como é possível perceber, os fatores que impedem os processos de construção
e manutenção do poder profissional docente, declarados pelos sujeitos desta pesquisa,
27
Quando perguntados sobre a renda líquida da sua família (todos os membros, onde ele se inclui), 460
(quatrocentos e sessenta) licenciandos apresentaram as respostas assim distribuídas:
Salário
mínimo
1 2 a 4 5 a 8 9 a 12 Mais de 12
Frequência 30 198 151 56 25
% 6,5% 43% 32,8% 12,2% 5,4%
194
estão articulados entre si. A distorção do compromisso dos professores formadores,
por exemplo, estaria associada às concepções que eles têm dos cursos de licenciatura.
Também, a autonomia estaria ligada à identidade do profissional professor, que
quando não assume suas atribuições nos cursos de licenciatura prejudica a
autenticidade do curso e dos seus profissionais.
Os processos de construção das representações sociais refletem o conhecimento
construído pelos sujeitos desta pesquisa sobre o objeto social “poder profissional
docente”, mas, também, refletem o conhecimento do mundo social que esses sujeitos
construíram/constroem. Para Bourdieu (2007, p. 142),
O conhecimento do mundo social e, mais precisamente, as
categorias que o tornam possível, são o que está, por
excelência, em jogo na luta política, luta ao mesmo tempo
teórica e prática pelo poder de conservar ou de transformar o
mundo social conservando ou transformando as categorias de
percepção desse mundo.
Assim, os aspectos, aqui revelados, como integradores dos processos de
construção deram origem às representações sociais dos professores formadores da
docência no ensino superior, sobre o poder profissional docente. Nos capítulos
seguintes, serão enfocados os produtos, isto é, o pensamento constituído desses
professores sobre o poder da sua profissão. No entanto, importa ter claro que não se
trata de uma dicotomia, quando se fala de processo e produto das representações
sociais, pois como alerta Spink (1995b, p.92), “produto e processos constitutivos,
conhecimento e suas funções sociais estão inevitavelmente imbricados”. Nessa
perspectiva, este trabalho ao buscar o produto das representações sociais dos
professores, precisou examinar os seus processos de elaboração e comunicação.
195
“Ainda que mal pergunte,
ainda que mal respondas;
ainda que mal te entendas,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda que mal me mostre,
ainda que mal me vejas; (...)”.
Ainda que mal
Carlos Drummond de Andrade
Capítulo 6: Os sentidos expressos pelos professores do ensino superior,
formadores de professores, sobre o poder profissional da docência:
indícios dos produtos das representações sociais.
196
Capítulo 6: Os sentidos expressos pelos professores do ensino superior,
formadores de professores, sobre o poder profissional da docência: indícios dos
produtos das representações sociais.
As declarações fornecidas pelos sujeitos da pesquisa apresentam-se carregadas
de sentidos do que vêm a ser poder profissional do docente do ensino superior,
formador de professor, sentidos que podem caminhar na direção das representações
sociais. Por sentido compreende-se uma expressão que se apresenta a partir de uma
referência, e traduzindo para este trabalho, uma expressão acerca do poder profissional
docente apresentada pelos sujeitos pesquisados, que evidencia, também, a referência
que eles trazem sobre esse objeto social e nessa expressão eles dão funcionalidade ao
sentido.
Na interpretação de Orlandi (2005, p.33), “para que minhas palavras tenham
sentido é preciso que elas já façam sentido”. E complementa a autora, “ao falarmos nos
filiamos a redes de sentidos” (34).
Ao analisar os sentidos enunciados pelos sujeitos desta investigação, é
construído um caminho que contribui com a imersão do pensamento que eles
constituíram sobre o poder profissional docente, e, assim, chegar ao produto das
representações sociais desses sujeitos. Isto implica dizer, de acordo com Jodelet (2001,
p.22), que se está diante de uma modalidade de pensamento, sob seu aspecto
“constituído os produtos ou conteúdos. Modalidade de pensamento cuja
especificidade vem de seu caráter social”.
Na busca dos sentidos que os professores pesquisados atribuem ao poder
profissional docente, há de se compreender como em Orlandi (2005, p.45) que “não há
sentido sem interpretação e, além disso, diante de qualquer objeto simbólico o homem
197
é levado a interpretar, colocando-se diante da questão: o que isto quer dizer?”. Pode-se
inferir, portanto, que os professores dos cursos de licenciatura ao se depararem com a
questão do poder profissional docente fazem-se perguntas como: que é poder
profissional? Que é poder profissional docente? Que é poder para outras profissões?
Por que ter poder profissional é importante? O professor tem, realmente, poder
profissional? É possível um profissional não ter poder na sua profissão? Se o professor
tem/não tem poder profissional, como ele é visto por seus alunos, por seus colegas e
pela sociedade em geral? A partir de questionamentos como esses e das suas
experiências, os professores buscam prover de sentido o poder profissional da
docência. E, quando um sujeito imprime sentido a algum objeto, ele procura
compartilhar a sua compreensão e, dessa forma, torná-la inteligível.
Algumas declarações dos sujeitos pesquisados sugerem sentidos de poder
profissional do professor, que ora se encontram distantes da realidade docente, ou seja,
o concebido não é vivido, ora esse poder é refletido na prática docente, numa
demonstração de coerência entre o concebido e o vivido, ainda, que essa coerência não
seja percebida pelo conjunto dos professores formadores, mas por desempenhos
individuais. Resulta daqui, que as expressões, as palavras, são reveladoras dos sentidos
e corroborando com esse argumento importa trazer a afirmação de Moscovici (2003,
p.72), de que “um enorme estoque de palavras, que se referem a objetos específicos,
está em circulação em toda sociedade e nós estamos sob constante pressão para provê-
los com sentidos concretos equivalentes”. Sendo assim, compreende-se a importância
da análise dos sentidos atribuídos pelos sujeitos desta pesquisa, no espaço deste
trabalho, que tem como principal referência teórica a Teoria das Representações
Sociais, e como informa Vala (2000, p.458) “nesta acepção, as representações sociais
referem um fenômeno comum a todas as sociedades – a produção de sentido”.
198
Ao procurar o(s) sentido (s) de um determinado fenômeno, adentramos pela
análise de um dos processos de construção da representação social que é o da
objetivação, pois segundo Vala (2000, p.467), “analisar o processo de objetivação
consiste, assim, em identificar os elementos que dão sentido a um objeto”.
No processo de análise das representações dos professores formadores da
docência no ensino superior, encontram-se os sentidos atribuídos por esses sujeitos ao
poder profissional docente. Sentidos que são expressos ora como concebidos e vividos,
ora como concebidos, mas não vividos por esses sujeitos. No primeiro caso, os
professores vão construindo e acumulando concepções de poder profissional docente,
fundamentados no conhecimento que sistematizaram em cursos de formação; em
leituras sobre o tema, especificamente e nos debates com os seus pares e, por tudo isso,
vivenciam a docência coerentemente com a concepção de poder profissional que
elaboraram. No segundo caso, os professores, também, vão criando e armazenando
concepções de poder profissional docente, mas, ou eles criaram concepções distorcidas
do objeto social ‘poder profissional’ e por isso esse poder não é vivido, ou suas
concepções, sobre esse objeto, correspondem à literatura específica e os professores
têm consciência disso, mas desenvolvem uma vivência profissional na contramão do
concebido.
1- Os sentidos do poder profissional docente, concebidos e vividos
Dentre os sentidos concebidos e vividos sobre o poder profissional docente, os
sujeitos desta pesquisa revelaram:
a - O poder profissional docente com sentido de necessidade: esse poder existe
devido à exigência social de formação de novos professores. Se, por meio da educação
199
escolar, o indivíduo assume melhor posição na sociedade, essa educação passa a ser
uma necessidade de todos, e o professor tem o poder de contribuir com a realização
profissional do indivíduo.
A professora, que faz o pronunciamento a seguir, mostra o quanto está
convencida desta necessidade.
Se a escola é necessária, tem de ter professor e professor tem
de ser formado, ser um profissional legítimo. Quer ver acabar
com todas as esperanças de um mundo melhor, acabem com
as escolas. (1FPP).
b- O poder profissional docente com sentido de resposta social dada pelas IES e,
especificamente, pelos professores formadores da docência: é explícita a função
social dos cursos de licenciatura, que é de formar professores para exercerem suas
atividades na educação básica. Essa formação, decerto, incidirá sobre a qualidade da
educação escolar. Logo a IES tem o poder de formar o profissional por meio dos
cursos de licenciatura. Para os sujeitos pesquisados a IES, que é o lugar de onde fala o
professor formador, configura-se num espaço de amplo reconhecimento social e para
eles isso tem sentido de poder profissional. Mas esse poder materializa-se nas
atividades que são desenvolvidas pelos professores formadores da docência. E, ainda,
os resultados da educação escolar, também, recaem sobre o processo formativo dos
futuros professores da educação básica. Essa resposta social, portanto, traz implicações
ao poder profissional do professor dos cursos de licenciatura.
Embora os sentidos destacados acima sejam concebidos e vividos pelos
professores dos cursos de licenciatura, essa concepção e essa vivência não se
confirmam para todo o conjunto dos professores formadores da docência no ensino
superior. Segundo os sujeitos desta investigação, a necessidade social dos cursos que
200
formam professores para a educação básica, por exemplo, não é assumida por todos os
professores dos cursos de licenciatura, pelo fato de que apenas alguns se
comprometem, de fato, com a formação dos futuros professores que exercerão suas
atividades nas escolas. Da mesma forma, a IES é entendida pelos sujeitos da pesquisa
como um espaço que confere poder profissional ao docente, mas esse poder pode
existir no espaço do ensino superior que possibilita o desenvolvimento de pesquisa, de
produção e publicação de conhecimentos.
No que tange ao poder profissional docente concebido, mas vivido apenas por
alguns professores, devido aos diversos fatores, por exemplo, à falta de pesquisas cujos
resultados possam influenciar o universo escolar, encontram-se neste trabalho falas
diversas, sobretudo dos professores que lecionam em faculdades particulares. Para a
maioria desses profissionais a principal distinção existente entre eles e os professores
formadores das instituições públicas é o tempo e o espaço que os últimos têm
destinado à pesquisa, como se pode ler nas declarações, abaixo, de dois professores, de
faculdades privadas distintas:
Na faculdade particular, o professor entra na sala, a sua
aula e vai embora. É o professor tarefeiro, que trabalha
dando sua aula, não tem espaço para ler, discutir, tem de dar
muita aula para se manter. E isso é visto como se fosse uma
opção particular, entre aspas, individual, do indivíduo. Então,
você não tem incentivo. (2FPPR).
Eu tenho experiência com mais de uma faculdade privada e
digo que a lógica delas é a do capital, é produzir e reproduzir.
Não há tempo para pensar, planejar, pesquisar. (...) É dar aula,
dar aula e dar aula. (2MMPR).
Enquanto “dadores de aula”, expressão utilizada por alguns entrevistados, os
professores das IES privadas não investigam e, consequentemente, não refletem sobre
a sua prática, sobre a escola e a educação básica e sobre o desempenho dos
201
licenciandos. Essa condição, segundo os sujeitos pesquisados, restringe a ação do
professor à reprodução. Isso quer dizer que a produção de conhecimentos, sobretudo
dos conhecimentos exclusivos da docência formadora de professores no ensino
superior, deixa de existir inviabilizando a existência do poder profissional desse
docente. Essas declarações remetem à reflexão de Lima (2007, p.34) sobre a
finalidade da educação:
Uma educação não subordinada “à cultura do instrumento” e à
“indústria cultural”, uma formação capaz de resistir à
“adaptação dócil e aplicada à realidade”, exigem sujeitos
livres e autônomos em busca de aprendizagens livres e
conscientes, da apropriação, reconstrução e transformação do
conhecimento e não do simples adestramento a partir de
formações que cindem, que fragmentam taylorianamente e
que reificam os sujeitos pedagógicos.
Dessa forma, o poder do profissional professor existe e é vivido por uns e
negado por outros professores. Essa situação revela o sentido da responsabilidade do
poder profissional docente como uma resposta social a ser dada pelas IES, por meio
dos cursos de licenciatura.
Os professores das IES públicas, também, veem na pesquisa uma fonte de
poder para os professores formadores, principalmente, porque a velha dicotomia
teoria-prática insiste em permanecer no seio dos cursos de licenciatura e, a pesquisa
contribui para a superação dessa dicotomia. O conhecimento teoricamente
fundamentado não pode prescindir de pesquisas que retroalimentem a teoria e que
diminuam a distância entre o que é estudado pelo licenciando na IES e a realidade da
escola, espaço de atuação do licenciado. Como explica Kincheloe (1997, p. 30),
Se a teoria em educação pretende representar algo para os
professores, ela deve ser concebida meramente como uma das
202
dimensões da relação vivida sempre misturada com o
mundo cotidiano do ensino e sempre preparada para
reinterpretação quando confrontada com as condições de
mudança.
A pesquisa seria, portanto, o meio para se investigar os fenômenos existentes
nos espaços escolares como: ensino, aprendizagem, evasão, repetência, relações
sociais, metodologias, fases do desenvolvimento dos alunos da educação básica e
outros. Como explica essa professora, que alberga a primeira geração pedagógica:
Aqui na universidade a gente tem a possibilidade de vários
alunos com iniciação científica. Então, eu oriento esses alunos
a investigarem os fenômenos da sala de aula, da escola
mesma. Os resultados dessas pesquisas são socializados com
os demais licenciandos. E isso é muito bom. (1FPP).
A necessidade de eliminação da antiga oposição existente entre a teoria e a
prática, sempre assombrou os licenciandos, os licenciados e os agentes das escolas.
Não é nova a afirmação de profissionais das escolas de que os estudantes quando saem
da faculdade não sabem o que fazer nas escolas, ou declarações dos estudantes de que
o que eles viram na faculdade não tem a ver com a realidade escolar. Nesse sentido,
pode-se reconhecer tal preocupação na declaração que se segue, de uma professora do
curso de licenciatura em Biologia de uma faculdade particular, que faz parte da
segunda geração pedagógica, quando fala dos estágios dos licenciandos:
A gente se esforça muito aqui na faculdade, mas as
reclamações dos alunos são inevitáveis. Eles dizem “o que a
gente aqui é uma coisa e na escola é outra”. E os alunos
(licenciandos), ainda, dizem que os professores das escolas
falam para eles: “vocês vêm para com muita teoria, mas a
realidade aqui é diferente”. (2FCBPR).
203
Portanto, as faculdades públicas têm esse poder e, de um modo geral, as
faculdades particulares não o têm, comprometendo, assim, o poder profissional da
categoria dos professores formadores da docência no ensino superior. A questão da
prática da pesquisa desenvolvida no interior das escolas pelos licenciandos, orientados
pelos professores formadores, possibilitaria aos futuros professores conhecimento e
exercício coerentes com a realidade escolar. Porém, a IES particular teria que incluir
no seu orçamento uma remuneração aos estudantes, semelhante à bolsa de iniciação
científica existente nas faculdades públicas, além de ampliar a carga-horária do
professor formador para acompanhamento ao licenciando no processo de pesquisa. O
que se constata, no entanto, é que algumas IES privadas fazem esse investimento, mas
essa iniciativa corresponde à mínima parte dessas instituições.
Se ocupar da formação dos licenciandos em todas as suas dimensões inclui a
atenção à construção da identidade profissional dos futuros professores da educação
escolar. Ao tempo em que os professores dos cursos de licenciatura discutem e
procuram qualificar a sua formação profissional, essa preocupação se estende aos
futuros professores do ensino básico, pois a construção da identidade profissional
docente dos licenciandos é uma das metas dos professores formadores. Essa meta se
justifica, de acordo com diversos sujeitos da pesquisa, pelo fato de que muitos alunos
estão nos cursos de formação de professores por razões que se encontram distantes do
desejo da docência e, essa falta de vontade de ser professor ofusca o poder profissional
do docente formador de professores. É o que se pode confirmar com o depoimento, a
seguir, de um professor do curso de licenciatura em Matemática, de faculdades
privadas e que pertence à segunda geração pedagógica:
204
As turmas da licenciatura são muito heterogêneas. Tem gente
que trabalha no comércio, outros são militares, outras donas
de casa. Muitos desses alunos não querem ser professores,
querem um diploma para melhorar um pouco no seu emprego.
São poucos os que realmente vão enfrentar uma sala de aula.
(2MMPR).
Mas importa ressaltar que em alguns cursos de licenciatura, os alunos desde
cedo demonstram determinação quanto à escolha da sua profissão. Na declaração, a
seguir, a professora que integra a primeira geração pedagógica e que leciona no curso
de licenciatura em Letras de uma universidade pública, demonstra sua atenção à
especificidade do curso que forma professores de Língua Portuguesa para o ensino
fundamental e o ensino médio:
Eu procuro exatamente não perder de vista o que o aluno vai
fazer na sala de aula. São os saberes que são necessários
para esse exercício profissional. (...) Na cabeça dos
professores do bacharelado, mas que atuam na licenciatura, a
docência não é uma autoridade, a docência não é o eixo do
curso. Embora a gente tenha mil evidências disso. Os alunos
optam pelas licenciaturas na sua máxima maioria, é coisa
assim: entre os sessenta por entrada, são duas entradas com
cento e vinte alunos por ano, eu tenho na Prática de Ensino de
Português I e II, no final do curso, sétimo e oitavo períodos
cinquenta e cinco, cinquenta e seis, cinquenta e dois alunos.
Então, mesmo que eles façam o bacharelado, eles fazem
primeiro a licenciatura, o curso é essencialmente licenciatura
e todo mundo questiona muito o peso da formação
pedagógica, inclusive porque vai aumentar a partir das
Diretrizes Curriculares Nacionais. (1FLP)
Percebe-se que o discurso dessa professora está em sintonia com a sua prática e
para ratificar esse argumento, pode-se relacionar ao pensamento de Fairclough (2001,
p. 91), para quem o discurso implica ser “um modo de ação, uma forma em que as
pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os outros, como também um
modo de representação”.
205
Para a entrevistada, portanto, a frequência dos alunos ao curso revela o
processo identitário profissional que se constrói nesse curso.
A identidade seria, então, esse fenômeno construído dinâmica e dialeticamente
e, para corroborar com esse argumento, pode-se tomar de Andrade (1998, p. 142) a
explicação de que o processo “identitário é, ao mesmo tempo, individual e social,
supõe uma interestruturação entre a identidade individual e a identidade social dos
atores sociais, em que componentes psicológicos e sociológicos se articulam
organicamente”.
Os professores que concebem e vivem o poder profissional docente seriam
aqueles empenhados em formar os novos professores para o ensino básico, de maneira
a assegurar às crianças e aos jovens aprendizagens significativas e melhoria da
qualidade da educação escolar, e que se veem com um claro poder profissional, como
depõe o professor, a seguir, de uma universidade pública e que integra a primeira
geração pedagógica:
Esses professores (os formadores de professores) trabalham
diretamente num link universidade-escola. Eles estão,
permanentemente, fazendo essa ponte de maneira que o
professor universitário esteja sempre em contato com o ensino
médio. (...) É o trabalho de reconhecer a necessidade de uma
transformação na escola e esse poder, os professores têm.
(1MCBP).
2- Os sentidos do poder profissional docente, concebidos e não vividos
Possivelmente, mais complexo do que conceber e viver determinada situação,
mesmo que não da forma desejada, é conceber e não sentir a experiência da situação.
Assim, ocorre com os sentidos do poder profissional que são concebidos pelos
206
docentes que se ocupam da formação de professores no ensino superior, mas que não
são vividos por esses docentes, como se pode verificar a seguir.
a - O sentido de negação: sentido imputado ao poder profissional do docente
devido a fatores variados como, por exemplo, a diversidade dos cursos de licenciatura.
Para alguns professores participantes desta pesquisa, o poder profissional docente é
concebido como uma realidade e seus elementos constitutivos reconhecidos por esses
sujeitos. Contudo, como os cursos de formação de professores no ensino superior são
muitos e dispersos em diversos centros/departamentos esse poder não se estabelece,
não é vivido pelos professores formadores, por razões como: falta de encontros dos
profissionais e falta de organização dos próprios docentes para controlar o exercício e a
prática dos professores dos cursos de licenciatura.
O sentido de negação do poder profissional docente é ilustrado por essa docente
que integra a primeira geração pedagógica e que compõe o corpo docente de uma
universidade pública. Ela adverte quanto ao fato de os professores do curso de
licenciatura em Letras se dividirem entre os que se comprometem e os que não se
ocupam da formação dos futuros professores da educação básica:
É impressionante quando eu cobro dos alunos o tratamento
pedagógico de uma obra literária, como o Cortiço, e os alunos
dizem que não sabem do que eu estou falando! Primeiro, o
professor do bacharelado não solicita a leitura das obras e
depois diz que o que fazer com a obra é trabalho dos
professores da licenciatura, porque isso é mais simples.
para aguentar uma coisa dessas? É por isso que alguns alunos
não se sentem da licenciatura e sim do bacharelado. (1FLP).
Para essa professora, a dispersão dos cursos de licenciatura concorre para que
os licenciandos “vaguem pelas salas de aula dos centros de educação”, no caso das
207
universidades públicas, “mas os seus vínculos parecem estar nos espaços dos diversos
bacharelados”.
Os comentários da professora da disciplina de Literatura aos licenciandos
lembram a afirmação de Orlandi (2005, p.32) de que “o dizer não é propriedade
particular. As palavras não são nossas”. E, dessa forma, essas palavras chegam aos
demais professores do curso de licenciatura alcançando sentidos, como chegou à
professora da disciplina de Prática de Ensino do mesmo curso. Como conclui a autora:
“O que é dito em outro lugar também significa nas “nossas” palavras. O sujeito diz,
pensa que sabe o que diz, mas não tem acesso ou controle sobre o modo pelo qual os
sentidos se constituem nele”.
A professora do curso de licenciatura em Letras, que ministra a disciplina
específica Literatura, decerto não se identifica como professora formadora da docência
no ensino superior, na medida em que ela nega o compromisso dessa docência e delega
a tarefa de ensinar e aplicar certas metodologias à professora de Prática de Ensino.
Essa barreira simbólica que separa o fazer pedagógico dos professores no curso de
licenciatura tem, para cada uma das professoras citadas no texto, sentidos diferentes de
poder profissional. No caso da professora de Literatura não é possível afirmar, mas
supor, que essa professora acredita ser o trabalho da formação docente algo menor,
razão pela qual não seria tarefa dela, nesse caso o sentido imprimido ao poder
profissional é o de negação da ação docente, que forma outros docentes. Contudo, a
professora de Prática de Ensino o poder profissional encontra-se na identidade do
professor que se reconhece como responsável pela formação dos licenciandos.
Nessa análise, é oportuno o pensamento de Giddens (1978, p.121), para quem
existem dois sentidos segundo os quais os atores consideram as razões válidas:
208
Um é em que medida as razões declaradas pelo agente de fato
expressam a orientação que ele deu ao que fez; o outro é em
que medida suas explicações estão de acordo com o que é
geralmente aceito, em seu meio social, como ‘conduta
racional’.
Nesse caso, pode-se inferir que a professora da disciplina, dita específica, como
Literatura, considera válida a racionalização das suas ações para não abordar o
conteúdo de forma didática, não se envolvendo com a integralidade da formação do
futuro professor da educação básica, mas distribuindo conteúdos fraturados da
disciplina que leciona. E os professores das disciplinas de Prática de Ensino, Didática e
Metodologia (professores de disciplinas pedagógicas), por exemplo, seriam para os
professores que lecionam as disciplinas específicas, os únicos responsáveis pela
formação do licenciando. Entretanto, para a professora da disciplina pedagógica, que
fez a declaração, essas razões seriam falsas, uma vez que elas eximem os professores
das demais disciplinas da responsabilidade com a formação do futuro professor. Para a
depoente, a responsabilidade, portanto, seria de todos os que assumiram desenvolver o
curso de licenciatura em Letras.
Se a função do docente que forma professor no ensino superior, na prática, é
indefinida para alguns professores, como para a professora da disciplina de Literatura
citada na declaração, na literatura específica a função docente é definida, segundo a
enunciação de Gómez (2000, p. 64), como a função de
Facilitar o surgimento do contexto de compreensão comum e
trazer instrumentos precedentes da ciência, do pensamento e
das artes para enriquecer esse espaço de conhecimento
compartilhado, mas nunca substituir o processo de construção
dialética desse espaço, impondo suas próprias representações
ou cerceando as possibilidades de negociação aberta de todos
e cada um dos elementos que compõem o contexto de
compreensão comum.
209
Essa compreensão da docência, decerto, que coaduna com a tarefa docente de
formar os futuros professores da educação básica.
Se preocupação com os cursos de formação de professores, no ensino
superior, a preocupação com a formação dos professores formadores não deve ser
menor, pois como se pode perceber na declaração, a seguir, de uma professora que
ministra aulas no curso de licenciatura em Ciências Biológicas de uma faculdade
particular três anos e que integra a segunda geração pedagógica, professores
trabalhando nos cursos de licenciatura sem a devida preparação e, muitas vezes, sem
interesse.
Eu fiz o bacharelado em Geografia. O meu interesse é na
pesquisa. Eu fiz o mestrado em morfodinâmica dentro da área
de geociências. Eu trabalhei com a parte de relevos,
drenagem. (...) Eu sou doutora em geociências, tudo voltado
para autuação na área de relevo, na transformação de espaços,
na dinâmica ambiental. (...) Eu conheço muitos amigos que
estão terminando o curso de geologia, mas vão para a
educação para fazer uma ou duas disciplinas paralelas,
sabendo que, possivelmente, em algum momento da vida, vão
dar uma aula, para saber como se portar. Como construir os
planos de aulas, porque isto no curso de geografia, geologia,
bacharelado a gente não tem. (2FCBPR)
Ainda que reconheça o cuidado que alguns colegas seus têm apresentado com a
sua formação profissional como futuros professores formadores da docência, a
entrevistada não demonstra preocupação em buscar uma aproximação com as questões
educacionais, especialmente, aquelas ligadas à escola da educação básica, seja num
formato de educação continuada ou qualquer outro.
A formação profissional dos professores formadores precisa deixar de ser um
problema e ser uma das soluções para a qualificação de bons professores da educação
básica. Concordando com Kincheloe (1997, p. 32), “os professores devem aprender a
210
pensar de forma sofisticada antes que eles possam ensinar os estudantes a fazê-lo”.
Pensar dessa forma implica tornar-se um pesquisador, um permanente questionador
das suas concepções e das suas ações junto aos futuros professores. Como continua
Kincheloe na sua reflexão:
Em educação, os professores pós-formais tornam-se
professores pesquisadores que questionam a natureza do seu
próprio pensar ao tentar ensinar de forma mais profunda aos
seus estudantes. Quais são os limites das formas humanas de
conhecer? Onde nós começamos a conceitualizar as formas
pós-formais de pensamento do professor que conduzam a uma
metaperspectiva para o fortalecimento?
É o professor formador com tais características que os cursos de licenciatura
requerem. E quanto à metaperspectiva o autor conclui que esta se refere é a questão do
“fortalecimento crítico do poder, ou seja, a habilidade dos indivíduos para desengajar-
se dos pressupostos tácitos das práticas discursivas e relações de poder para exercer
maior controle consciente sobre suas vidas”.
Ainda, sobre a diversidade dos cursos de licenciatura, que leva ao sentido de
negação do poder profissional docente, curiosidades como, por exemplo, os cursos
de licenciatura em Enfermagem e em Nutrição, oferecidos pela UFPE, pois, como
sabemos, os licenciados exercem suas atividades na educação básica e esses cursos não
remetem à formação de professores para trabalharem no ensino fundamental ou no
ensino médio. Na verdade esses cursos oferecem um licenciamento para o trabalho em
cursos técnicos, mas, ao se tratar das questões dos cursos de licenciatura, esses dois
cursos terminam por integrar a discussão.
Em outras profissões que têm um poder profissional reconhecido, a
diversidade, decerto, es presente, mas essas divergências têm um limite,
211
possivelmente o limite que não permite descaracterizar o profissional e obstaculizar a
sua organização enquanto categoria profissional.
A diversidade tem levado à dispersão das ações dos professores formadores da
docência e essa dispersão, segundo alguns sujeitos desta pesquisa, contribui para a
desorganização dessa categoria profissional. A organização, de acordo com o professor
do curso de licenciatura em Filosofia de uma faculdade particular, que integra a
segunda geração pedagógica:
Concorreria para a socialização das práticas pedagógicas; para
a discussão das políticas públicas educacionais; para a
compreensão por todos os envolvidos do processo de
formação dos futuros professores da educação básica; para a
construção coletiva do Projeto Político-Pedagógico das
faculdades; (...) E do próprio curso de licenciatura. (...) E para
o reconhecimento da responsabilidade das faculdades que
formam professores, com as escolas. (2MFPR).
A organização dos professores dos cursos de licenciatura estaria associada,
também, aos compromissos profissionais assumidos, que no caso seria com o curso de
licenciatura, com a formação dos futuros professores da educação básica e com as
escolas.
Essa dispersão é, também, referida por uma professora de uma universidade
pública, que participou da reforma curricular dos cursos de licenciatura, a partir
publicação das DCN. O seu relato flagra os desencontros dos coordenadores dos
cursos de licenciatura.
A gente está fazendo o fórum das licenciaturas, negociando
com os dezesseis coordenadores de curso, essas mudanças
curriculares, e durante todo esse tempo tem coordenador que,
do começo ao fim, desses trabalhos eu nem cheguei a
conhecer. (...) Então, foram dois anos e seis meses de gestão.
212
Teve coordenador que entrou e saiu e eu não conheci. Não
respondia nem e-mail . (1FLP).
Esses desencontros são, ainda, provocadores de conflitos, pois a falta de
compromisso em torno de questões que são comuns aos professores, como a formação
dos novos professores, realça a distinção de interesses dos professores formadores. Na
continuidade do seu relato a professora, ilustra esses conflitos.
Teve uma professora que se ausentou o tempo inteiro, quando
a proposta feita no pleno chegou ao departamento, caiu como
uma bomba! Foi uma tensão nessa universidade. (...) a gente
chegou até a ter a intervenção da Pró-Reitora Acadêmica.
Então, houve uma conversa coletiva, chamada por ela (a Pró-
reitora Acadêmica) porque ela dizia: “Não é possível que
agora vocês digam que não vão fazer, por que será feita sim!”
Não é? E a saída dessa reunião foi extremamente tensa, foi
uma reunião em que eu tive o tempo todo de mostrar o que
está colocado na Lei sobre a docência, que a gente tem de
assegurar no curso de formação ao professor. (1FLP).
Segundo as últimas declarações, pode-se afirmar que existe uma nítida
assimetria entre o compromisso assumido e o compromisso efetivado. Para Giddens
(1978, PP. 115-116), a lógica da simetria, por algumas razões, pode ser quebrada, mas
“na produção de interação, todos os elementos normativos devem ser tratados como
uma série de exigências cuja realização é contingente à realização bem-sucedida das
obrigações, por meio das respostas de outros participantes”. Decerto que o professor
que negligencia o seu trabalho, compromete os demais professores, os licenciandos, a
IES e outras instâncias sociais, mas tomando a análise de Giddens, esse professor sabe
“’calcular os riscos’ envolvidos num ato particular, em termos da probabilidade de
escapar às sanções”.
213
Os desacertos existentes entre os professores formadores, e que dão sentidos
distintos ao poder profissional docente, podem ser compreendidos, também, a partir da
pluralidade de visões do mundo social, explicada por Bourdieu (2007, p. 140):
Ela própria ligada à pluralidade dos pontos de vista, como o
a todas as lutas simbólicas pela produção e imposição da
visão do mundo legítima e, mais precisamente, a todas as
estratégias cognitivas de preenchimento que produzem o
sentido dos objetos do mundo social ao irem para além dos
atributos diretamente visíveis pela referência ao futuro e ao
passado.
b - O sentido de impotência diante do poder público. Para alguns dos
professores investigados, o poder profissional é compreendido em todas as suas
dimensões, contudo por se tratar de uma questão política, esse poder não pode ser
vivido enquanto não houver o reconhecimento do Estado. Dessa forma, o Estado teria
papel determinante no reconhecimento, no credenciamento e na valorização dos
profissionais professores.
Esses sentidos permeiam o dia a dia dos professores formadores da docência,
eles agem e reagem no universo consensual. Nesse universo, explica Moscovici (2003,
p.49), “a sociedade é uma criação visível, contínua, permeada com sentido e
finalidade, possuindo uma voz humana, de acordo com a existência humana e agindo
tanto como reagindo, como um ser humano”.
Dentre os sentidos concebidos do poder profissional docente, encontram-se
aqueles que são obscurecidos pela ausência de compreensão do que seja a profissão de
professor formador da docência no ensino superior, assim como a falta de
entendimento do seja poder profissional docente.
214
Alguns sujeitos pesquisados suspeitam que existe uma especificidade em
trabalhar com os cursos de licenciatura, mas se limitaram a dar explicações breves
como se pode ver nos depoimentos a seguir:
Aqui nós temos uma tradição de professores de bacharelado,
mas a gente está tentando construir um perfil, ou uma
dedicação, de professores voltados para a licenciatura. (...)
inclusive os alunos sentem falta de professores mais voltados,
capacitados na área de ensino. (2MCSP).
O professor formador é aquele que tem uma formação, mas
uma formação não só específica. Ele precisa ter uma formão
política. (...) Porque o aluno vem com uma certa demanda,
muito mais no sentido de atender ao mercado e, se você não
tem o cuidado, se você não tem o conhecimento da política
educacional, você pode ficar tentado a trabalhar em função do
mercado. (2FPPR).
Mais surpreendentes foram os depoimentos, abaixo, que caracterizam respostas
fugidias de professores formadores, que se posicionaram, com respostas esquivas,
diante da questão: “Que é ser professor formador de professores no ensino superior?”:
- Dirigindo a questão para os licenciandos:
São pessoas com idade maior do que os da graduação em
bacharelado, são pessoas que têm uma atividade
profissional, e isso cria dificuldades porque o tempo que eles
dispõem para o estudo é muito menor do que quem vem fazer
bacharelado. (2MCSP).
Em primeiro lugar a gente tem que ver qual é o público que a
gente quer atingir, porque o público é extremamente
diversificado, diversificado no sentido de que eles vêm de
formações muito diferentes: Física, Química, Letras,
Filosofia, tem de tudo. É bem diferente dos alunos de
Pedagogia. A primeira questão é a falta de maturidade dos
alunos. (...) Eles vêm com a sensação de que qualquer pessoa
pode ensinar. (1MFP).
- Atribuindo ao professor formador de professores as mesmas características de
outros professores do ensino superior e, mesmo, de outros profissionais:
O professor formador, no ensino superior, deve pensar no seu
aluno como sujeito de informação e de transformação. O
215
professor precisa ter clareza do saber docente, que está
impregnado de ideologias, de elementos políticos, de questões
afetivas. (2MCBP).
O professor formador não deve encarar, única e
exclusivamente, os aspectos específicos do conhecimento, ele
não pode esquecer que lida com o ser humano, precisa ter o
contato a forma, trilhar formas mais motivadoras para a
aquisição do conhecimento. (1FLPR).
Isso é indubitável e asseverado por Vala (2000, p. 474), quando afirma que “as
representações sociais oferecem uma rede de significados que permitem a ancoragem
da ação e a atribuição de sentido a acontecimentos, comportamentos, pessoas, grupos,
fatos sociais”.
A ausência de compreensão do conceito de poder profissional pode ser,
também, verificado nos depoimentos que relacionam esse poder: à exacerbação da
autoridade do professor sobre o aluno (autoritarismo); à nostalgia de um determinado
poder (a tradição de ser professor); à transformação social:
A disciplina que o professor tem de ter em sala de aula é uma
forma de mostrar o poder que ele tem. É a autoridade do
professor. (1FCAP).
Esse poder do professor vem de muito tempo. (...) Era quando
o professor era muito respeitado. Ser professor era ter
prestígio. Então, eu acho que esse poder que o professor tinha,
terminou sendo transmitido aos dias de hoje. (2FCBPR).
O professor tem poder porque a educação tem de existir. A
sociedade precisa do professor para educar, para transformar a
sociedade. (1FLPR).
Esses sentidos expressos pelos professores nas entrevistas e no trabalho com os
grupos focais parecem carecer de complementos. É como se esses sentidos
correspondessem à primeira resposta que surge diante do questionamento do poder
profissional e, por isso, paira certa incompletude sobre esse objeto social. Se as
216
representações sociais carregam sentidos, importa compreender como em Moscovici
(2005, p. 46), que essas representações ocupam “uma posição curiosa, em algum ponto
entre conceitos, que tem como seu objetivo abstrair sentido do mundo e introduzir nele
ordem e percepções, que reproduzem o mundo de uma forma significativa”. Sendo
assim, os sentidos declarados pelos três últimos docentes apresentam-se, ainda,
afastados da representação social do poder profissional docente.
Ao estudar os sentidos que os sujeitos desta pesquisa imprimem ao poder da
sua profissão, tem-se a clareza de que o processo de construção do conhecimento dos
professores dos cursos de licenciatura, atinente ao poder profissional da docência, se
desenvolve por meio de concepções diversas e por suas vivências. Como explica
Lefebvre (1983, p 118), “é na confluência do concebido e do vivido que as
representações se formam”. Desse modo, após o estudo dos processos de construção e
dos sentidos atribuídos ao poder profissional dos professores formadores de
professores no ensino superior, o próximo capítulo expõe as representações sociais,
que foram apreendidas e analisadas das declarações dos sujeitos pesquisados.
217
Estudar as instituições, costumes e códigos, ou estudar o
comportamento e mentalidade sem o desejo pessoal de sentir
pelo que vivem esses indivíduos, de compreender a natureza
de sua felicidade _ é a meu ver, perder a maior recompensa
que podemos esperar alcançar do estudo do homem.
(Malinowski, 1975, p. 61).
Capítulo 7: Uma leitura das Representações Sociais dos Professores, formadores
de professores no ensino superior, sobre o Poder da Profissão Docente.
218
Capítulo 7: Uma leitura das Representações Sociais dos Professores, formadores
de professores no ensino superior, sobre o Poder da Profissão Docente
Nesta fase do desenvolvimento da pesquisa, ou seja, a apreensão e a análise das
representações sociais dos professores dos cursos de licenciatura sobre o poder
profissional docente utilizam-se, de forma relacionada, os aspectos do conceito de
profissão, que distingue o trabalho do professor dos conceitos de ofício
28
e ocupação
29
,
articulado com o conceito de poder, mas adicionando a este a especificidade de
profissional. Sendo assim, os conceitos de profissão e de poder profissional
relacionados entre si vão articular-se à Teoria das Representações Sociais, que assume
um caráter mais geral e, aqui, é entendida como o conjunto dos pensamentos, dos
sentimentos e das orientações das ações dos professores, sujeitos da pesquisa.
Para dar conta das representações sociais dos professores do ensino superior,
formadores de professores, sobre o poder profissional docente, procurou-se
sistematizar os conteúdos a elas relacionados. Desse modo, as informações obtidas
foram distribuídas de forma a atender ao mapeamento que delimitava as informações
objetivas (fornecidas, também, pelos questionários e documentos) e as subjetivas
(extraídas das declarações das entrevistas e dos grupos focais) fornecidas pelos
professores pesquisados. Esse mapeamento corresponde ao campo de representação,
que, segundo Souza Filho (1995, p. 119), pode ser considerado “como o modo de o
sujeito hierarquizar e coordenar os significados e atitudes, e depende de levantamento
sistemático de todo o repertório simbólico a respeito do objeto de representação”. A
28
Ofício seria o trabalho baseado, primordialmente na experiência e no treinamento prático extensivos
e que empregam conhecimentos sobretudo práticos”. FREIDSON (1996, p.4).
29
Ocupação é compreendida como a representação da “organização do trabalho produtivo nos papéis
sociais pelos quais as tarefas são realizadas”. FREIDSON (1998, p.120).
219
partir dessa perspectiva, foi selecionado um conjunto de técnicas e instrumentos, como
já vistos, possível para estudar esse campo de representação.
Como as representações foram transmitidas por meio da linguagem, elas se
configuram em dados empíricos, pois como explica Bock (1995, p.282), “as
representações sociais permitem o conhecimento concreto da consciência, pois são
expressões dos seus conteúdos”. Porém, como os dados empíricos não são auto-
suficientes, a tarefa de análise exige rigor, sobretudo numa pesquisa de natureza
qualitativa, que depende de formas de comunicação particulares para responder ao
problema em estudo não se apoiando, em quadros estatísticos, gráficos e tabelas para
assegurar a apreensão de informações básicas.
A partir da análise das informações prestadas pelos sujeitos da pesquisa, pode-
se afirmar que, num dado momento, o poder profissional do professor formador de
professores no ensino superior caracterizou uma situação não familiar para esses
sujeitos. Mas tornar esse estranho em familiar foi a forma que os professores
encontraram para construírem as suas representações sobre o poder profissional
docente, tal como, aliás, é anotado por Moscovici, Jodelet e outros tematizados em
capítulos anteriores .
Ao revelarem as suas representações sociais acerca do poder profissional
docente, os sujeitos desta pesquisa se utilizaram de diversas expressões, como se pode
constatar a seguir, que integram essas representações como: respeito, prestígio, status.
A primeira declaração é de um entrevistado e a segunda declaração é de uma
professora participante de um grupo focal:
Eu não vejo que haja uma distinção tão grande em relação ao
professor como alguém que tenha um reconhecimento por
parte da sociedade. É a mesma pessoa respeitada, mas não
tem mais o mesmo status. (2MCSP).
220
Eu acho que, em linhas gerais, a profissão de professor não é
muito prestigiada, mas, de qualquer forma eu acho
interessante que em muitos lugares quando a gente é tratado
por Professor, eu acho que tem um brilhozinho no olhar das
pessoas. (2FHPR).
Essas expressões são consideradas, neste trabalho, como integrantes da
categoria poder profissional, uma vez que esse poder é conquistado por um conjunto
de profissionais, a partir do controle que estes têm sobre a formação e o exercício da
profissão docente. As expressões destacadas nas falas acima existem socialmente, a
partir de processos diferentes, como nos explica Villa (1998, pp. 34-35) o sentido de
status:
Status para um grupo profissional não é apenas, nem
fundamentalmente, uma questão de vontade, nem de
estratégias utilizadas por esse grupo; em última instância, ele
é conferido pela sociedade em virtude das condições sociais e
dos valores culturais em alta num momento determinado.
Quanto à expressão prestígio podemos entendê-la com base no pensamento de
Mills (1968, p. 108) para quem “o prestígio é o estofo do poder, transformando-o em
autoridade, e protegendo-o do desafio social”. E ainda, compreendê-la de acordo com
Jodelet (2005, p. 81), como um bem imaterial.
A palavra ‘respeito’, utilizada por muitos professores pesquisados, é neste
espaço compreendida como reconhecimento, ou seja, como uma forma de legitimação.
E para corroborar com este argumento é apresentada a noção defendida com Kaplan e
Lasswell (1979, p. 116), na qual “’reconhecimento’ é um termo conveniente para
descrever as características formativas de uma interação de respeito”.
Sendo assim, as expressões: status, prestígio e respeito representam o aspecto
normativo da atividade profissional, logo, comportam uma construção que remete à
221
ação. E, como os docentes dos cursos de licenciatura são agentes ativos, são também
competentes nas práticas que desenvolvem.
Como a noção de representação social atualmente faz parte da linguagem
comum e da linguagem acadêmica por estar presente nas pesquisas das variadas áreas
do conhecimento, considera-se pertinente a advertência feita por Lane (1995, p. 58),
quanto aos “Usos e abusos do Conceito de Representação Social”. O estudo empírico
das representações sociais exige, entre outros, a problematização da(s)
representação(ões) apreendidas e analisadas, dito de outro modo, as características da
representação social, sua qualidade e seu poder.
Os professores, sujeitos desta pesquisa, apresentaram distintas representações
sociais sobre o poder profissional docente, isso porque segundo Abric (2001, p.156), a
representação “é determinada ao mesmo tempo pelo próprio sujeito (sua história, sua
vivência), pelo sistema social e ideológico no qual ele está inserido e pela natureza dos
vínculos que ele mantém com esse sistema social”. Desse modo, as diferentes
representações dos professores são determinadas: pela “geração pedagógica”, à qual
pertencem, por sua formação escolar e acadêmica, por suas experiências pessoais e
profissionais e pelo contexto social, cultural e político no qual estão inseridos.
Para melhor organização das representações sociais dos professores, fez-se
necessário considerar as funções dessas representações que, para Moscovici (2003, p.
34), são as de convencionalizar e de prescrever. Dessa forma, neste trabalho, foram
utilizadas as convenções: Ilusão, Alvo e Evidência. O poder profissional representado
socialmente como ilusão corresponde às representações dos docentes que desacreditam
no poder profissional dos professores dos cursos de licenciatura. Para os sujeitos que
creem na existência desse poder e acham que os professores formadores
poderiam/deveriam possuí-lo, o poder profissional docente é socialmente representado
222
como um alvo, uma meta, cujas etapas para essa conquista estariam em construção. E,
para os sujeitos pesquisados, que acreditam que os professores formadores de
professores, no ensino superior, detêm e utilizam um poder profissional, a
representação social se constitui numa evidência, quer dizer, essa representação
comprova-se nas declarações de fatos, episódios que objetivam esse poder.
Segundo Moscovici (2003, p.34), as representações sociais ao
convencionalizarem objetos, pessoas ou acontecimentos “lhes dão uma forma
definitiva, as localizam em uma determinada categoria e gradualmente as colocam
como um modelo de determinado tipo, distinto e partilhado por um grupo de pessoas”.
As convenções, aqui apresentadas, que se originaram do processo de pesquisa,
mostram como afirma o autor da Teoria das Representações Sociais que,
Cada experiência é somada a uma realidade predeterminada
por convenções, que claramente define suas fronteiras,
distingue mensagens significantes de mensagens não-
significantes e que liga cada parte a um todo e coloca cada
pessoa em uma categoria distinta.
Os professores pesquisados foram localizados em três grupos que
desenvolveram formas particulares para estruturarem as suas representações sociais
acerca do poder profissional dos professores formadores da docência, esses grupos
estão identificados a partir das convenções Ilusão, Alvo e Evidência.
1 - O poder profissional docente representado socialmente como Ilusão
A ilusão, neste trabalho, refere-se à representação social dos sujeitos
pesquisados que não acreditam no poder profissional dos professores dos cursos de
223
licenciatura. A ilusão é um fenômeno, particularmente, humano e sempre expressa um
desejo. Segundo Oliveira (2008, p.1) esse fenômeno “é parte indissociável da chamada
estrutura psíquica”. A ilusão existe a partir da vontade de conquista do homem. O
autor diz, ainda, que a ilusão “é um instrumento imaginativo do impulso de potência”.
Pode-se, portanto, inferir que alguns professores dos cursos de licenciatura ao
representarem o poder profissional docente como ilusão utilizaram-se de suas
capacidades imaginativas para pensarem a respeito do poder do profissional professor.
Mas, como esse fenômeno não fica no plano individual, pode-se seguir Oliveira (2008,
p. 1), quando afirma que “o próprio pacto social que sustenta a vida coletiva de uma
dada sociedade, depende muito de certas ilusões”. O fenômeno da ilusão existe para o
docente dos cursos de licenciatura porque esse profissional possui carências, como
qualquer outro ser humano, além da material, as carências afetiva, emocional, de
reconhecimento profissional, que estariam ligadas à carência de poder profissional
como no caso estudado.
Para Chasseguet-Smirgel (1986, p.172) “ilusão é a busca compulsiva de um
estado ideal de coisas que se apresentam numa tendência avassaladora de anulação das
diferenças e negação do conflito”. A similitude do pensamento deste autor com as
representações sociais dos professores sobre o poder profissional docente como ilusão
é perceptível, na medida em que esse poder é compreendido como esse “estado ideal”,
que pode anular com as diferenças entre os docentes possuidores desse poder e aqueles
que, ainda que dentro dos mesmos cursos, sentem-se destituídos de tal poder. E, ainda,
negar os conflitos que esse “estado ideal” impõe.
Pode-se considerar a representação social do poder profissional docente como
ilusão, segundo as declarações dos sujeitos pesquisados: pela inconsistência mesma da
profissão de professor, ou não reconhecimento profissional; pela não identificação de
224
alguns docentes com a profissão de professor formador da docência; pela ausência de
um território profissional exclusivo desse professor; pelo não reconhecimento social da
profissão de professor; pela ausência de conhecimentos específicos desse profissional,
que poderiam ser conseguidos por meio da pesquisa (essa ausência de pesquisa foi
referida pelos professores das IES particulares); pela não valorização da profissão
docente pelos licenciandos. As declarações apresentadas, a seguir, permitem
considerar a representação social do poder profissional docente como uma ilusão.
Na sua entrevista, o professor do curso de licenciatura em História de uma
universidade pública, que integra a primeira geração pedagógica, diz que é difícil falar
em poder profissional docente, quando, primeiramente, é discutível até mesmo a
existência da profissão de professor, considerando a dispersão da atividade docente.
Tem o que vive vinte horas nisso, dez horas e o resto do
tempo vive outra coisa. E o outro vive quarenta horas na
docência. É muito complexa essa postura. É uma rede de fios
grossos e finos, espaços largos e estreitos. (...) Por isso que é
difícil pensar numa profissão. Que profissão é essa? (1MHP).
O questionamento do professor pode ser, também, entendido como uma
denúncia à falta de reconhecimento da profissão de professor. É possível compreender
que a flexibilidade da dedicação à docência pelos formadores de professores no ensino
superior provoque nesse professor, certo descrédito quanto à existência da profissão
docente. Como visto, é polêmica a definição de profissão e, consequentemente, a
profissão de professor, contudo, é importante considerar outros elementos que
constituem o conceito de profissão. Segundo Freidson (1998, pp. 3-4),
As profissões, enquanto ocupações reconhecidas oficialmente,
se distinguem em virtude de sua posição relativamente
225
elevada nas classificações da força de trabalho. Em parte, isso
se deve às aspirações ou origens de classe de seus membros,
mas ainda mais importante é o tipo de conhecimento e de
habilidade vistos como requisitos para seu trabalho.
Portanto, o entendimento sobre profissão não pode resumir-se, apenas, à
dedicação exclusiva à docência no ensino superior, especialmente aos cursos de
licenciatura. Em outras profissões formas de conciliação que não depauperam a
profissão, ao contrário a enriquecem, como, por exemplo, o odontólogo pode ter o seu
consultório e ser um docente no curso de odontologia. Haveria, portanto, uma imagem
de docência que orientaria atitudes em relação a esta atividade do mundo do trabalho.
Essas atitudes, segundo Doise (2001, p. 190), são o resultado da objetivação e da
ancoragem das representações sociais dos sujeitos. Para esse autor, pode-se “pensar
que a noção de atitude, a disposição inscrita no indivíduo, por sua ampla utilização,
é ela mesma o resultado de uma objetivação”. E complementa que “estudar a
ancoragem das atitudes nas relações sociais que as geram significa estudá-las como
representações sociais”. Isso implica dizer que as atitudes dos professores que vivem,
ou não vivem, unicamente a profissão docente, estão diretamente relacionadas com as
representações que eles construíram sobre a profissão de professor, e essas
representações, decerto, refletem na construção das representações sociais acerca do
poder profissional docente.
Ainda, sobre a compreensão da profissão docente, a professora, a seguir, que
integra a primeira geração pedagógica, expressou, no grupo focal, certa dificuldade em
explicar o que para ela é a profissão de professora.
Eu acho que a gente tem uma implicação de uma forma
diferente (se referindo a professores do ensino superior que
não de licenciatura). Eu não diria uma implicação maior ou
226
menor, se eu tivesse trabalhando com o curso de psicologia ou
outros cursos, mas é uma implicação. Eu me misturo um
pouco com este objeto de ensino, também, porque eu estou
falando também, porque eu estou falando do ensino e eu sou
professora. (2FPP).
Devido a essa dificuldade, outros participantes do grupo focal sentiram
necessidade de dar uma explicação mais consistente sobre a profissão docente, e por
isso diz a professora seguinte:
Eu vejo com diferença os objetos e as especificidades de cada
curso (referindo-se à licenciatura e ao bacharelado). Então,
eu penso que um curso de licenciatura tem uma questão, ele
trata de uma questão do conhecimento e das práticas da
pedagogia, das didáticas e dos saberes que aqueles
profissionais (os licenciandos) vão transformar no próprio
objeto de ensino futuro. (...) A pedagogia é aquela área do
conhecimento, é o objeto de estudo durante o curso, que dará
a formação e a prática, que depois vai dar, inclusive, o poder
profissional que ele (o licenciando) adquire com esta prática.
(1FPP).
A troca, a rejeição ou a aceitação de idéias num grupo participante de uma
pesquisa potencializa os dados a serem analisados. No grupo focal, o ambiente de
conversa, nunca de entrevista, possibilita a emersão desses dados. De acordo com
Giddens (1999, p. 309), “a conversa, troca casual de idéias nos cenários da vida
cotidiana, é a base de todos os aspectos mais complexos e formalizados do uso da
língua”. Assim, o trabalho com os grupos focais possibilitou a obtenção de ideias
compartilhadas por vários professores, mas, também, permitiu a apreensão de
diferentes perspectivas sobre as questões postas para os grupos. Essa diversidade de
perspectivas permitiu perceber como os professores, sujeitos desta pesquisa, teorizam
o que pensam e como exercem a profissão de professor dos cursos de licenciatura. A
227
análise desse processo fez emergir as distintas representações sociais sobre o poder
profissional docente que os professores possuem e comunicam no seu dia a dia.
A questão da profissão é, também, preocupação desse professor do curso de
licenciatura em Matemática de uma IES privada, que alerta para o fato da profissão de
professor ser uma profissão de “bico” para alguns profissionais. Isso quer dizer que
outros profissionais em crise nas suas atividades, substituem, mesmo que
temporariamente, os professores habilitados.
A rede pública estadual e municipal contribui com isso. Em
qualquer parte do Estado você encontra engenheiros dando
aulas, contratado, ganhando um salário pequeno porque está
desempregado. É como se a profissão de professor fosse bico.
Ensinar é bico. E eu vejo isso com muito medo, porque o
ensino é uma coisa de muita responsabilidade. E quando passa
a ser bico, não compromisso. O sujeito a aula dele de
qualquer jeito, ganha o dinheiro e só. (...) E, pior! Tem
professor de Biologia ensinando Matemática, Português,
porque essas disciplinas estão sobrando. (...) É a chamada
irresponsabilidade do sistema. (2MMPR).
Ao realçar a questão da substituição do professor, esse sujeito questiona a
legitimidade da profissão docente, ao referir-se a uma situação percebida na educação
básica. Porém, como se pode constatar em declarações adiante, essa situação é
percebida, também, no ensino superior e, nos cursos de licenciatura. Sendo assim,
como pensar em poder profissional docente, se não o reconhecimento da profissão
de professor? A resposta a essa pergunta pode ser auxiliada pela compreensão do
termo ‘profissão’ expressa por Tardif e Lessard (2005, p.27):
Um grupo de trabalhadores que conseguiu controlar (mais ou
menos completamente, mas nunca totalmente) seu próprio
campo de trabalho e o acesso a ele por meio de uma formação
superior, e que possui uma certa autoridade sobre a execução
228
de suas tarefas e os conhecimentos necessários à sua
realização.
Por conseguinte, é possível deduzir que o controle do trabalho docente,
necessariamente, não é completo, todavia o controle precisa existir a partir dos
próprios formadores de professores no ensino superior. Quanto à questão do
reconhecimento profissional, decerto que ele existe, se considerado o aspecto legal, a
oficialização da profissão por meio de certificação, pois a formalização assegura
padrões de referência para contratação e para as relações entre os profissionais. De
acordo com os estudos desenvolvidos por Lopez, Cía e Ariznabarreta (2006, p. 41), o
conhecimento advindo do processo de formação “e a gestão adequada das relações
laborais e profissionais nas empresas são facilitados quando existe um sistema oficial e
normalizado de reconhecimento objectivo das competências adquiridas”. Mas, para os
professores da pesquisa, apenas esse aspecto parece ser insuficiente para realçar tal
reconhecimento.
Pertencente, também, à primeira geração pedagógica o professor de uma
faculdade particular, do interior do Estado de Pernambuco, reforça a inexistência do
poder profissional dos docentes dos cursos de formação de professores no ensino
superior, mas numa outra dimensão. Segundo esse professor do curso de licenciatura
em Geografia, os docentes não possuem força para impedir que outros profissionais
ministrem suas aulas nas faculdades de formação de professores, e adverte que o mais
grave é que a opção do licenciando, muitas vezes, é assistir aula com um bacharel:
Percebo que para o aluno, por exemplo, de licenciatura em Biologia, ele se sente mais seguro
se a aula for dada por um médico, do que se for dada por um licenciado em biologia ou mesmo
um biólogo”. (2MGPR).
229
Quando se estabelece a relação entre a profissão de professor dos cursos de
licenciatura com o exercício do poder desse profissional, a educação superior, e
mesmo a pós-graduação, são requisitos indispensáveis, com destaque para o
conhecimento específico e exclusivo que o profissional precisa deter. Nesse sentido
surge o sistema de credenciamento, que, segundo Barbosa (1993, p.11), cria “um nicho
do mercado de trabalho exclusivo dos membros da profissão. Sendo assim, o sistema
de produção de credenciais é o elemento central para a análise das condições
institucionais que permitem às profissões exercer o poder”.
Para o professor, do último depoimento, a ausência de poder profissional do
professor formador é marcada pela valorização da área médica e pela pouca
valorização do magistério pelos licenciandos. As atitudes desses estudantes revelam a
inexistência dos “valores de deferência”, que na concepção de Kaplan e Lasswell
(1979, p. 87) são “aqueles que consistem em que algo seja levado em consideração
(nos atos dos outros e do ‘eu’)”, e concluem os autores que “o poder é o mais
importante desses valores”.
Essa intromissão de outros profissionais nas salas de aula, possivelmente,
reflete a ausência, ou o desrespeito, do território profissional dos professores. É o que
Freidson (1996, p. 5) chama de “reserva de mercado de trabalho”, ou seja,
A reserva é assegurada pela exigência de que somente aqueles
com credencial ocupacionalmente emitida, certificando sua
competência, possam ser empregados para executar uma série
definida de tarefas, como cortar um corpo, ensinar a
estudantes universitários, representar um cliente num tribunal
e certificar a exatidão de uma declaração formal de ativos e
passivos financeiros.
A discussão sobre a profissão docente alcança o debate sobre a questão de
gênero. Para a professora do curso de Pedagogia de uma universidade pública, que
230
fala, a seguir, a histórica e maciça presença feminina no magistério, em certa medida,
explica a desvalorização da profissão docente e a ausência do poder profissional do
professor dos cursos de licenciatura.
Eu acho que a profissão de professor, mesmo esse aqui da
universidade, esteve sempre muito ligado ao gênero feminino.
(...) Eu acho que tem a ver com a própria professora, com a
história da professora, do magistério, do pedagógico. Um
pouco da escola normal, da normalista, aquela representação
da moça. Uma profissão de continuidade, de trabalho do lar,
que não precisa de boa remuneração. (1FPP)
A questão de gênero sempre esteve presente nas discussões sobre o trabalho
docente, certamente devido à histórica dominação masculina nos diversos campos de
trabalho e à forma como, também historicamente, o capital tem se utilizado das
relações patriarcais, ou dito de outra forma, enfatizando a presença do homem nos
cargos de comando. Como esclarece Dejours (1988, p. 107), essa questão está
historicamente ligada “à construção social das relações de exploração entre sexos no
trabalho” e, conclui o autor que se impõe uma clivagem que valoriza o trabalho
masculino (virilidade, perigo, força, coragem...) e que desvaloriza o trabalho feminino
(repetição, pormenor, acabamento...).
No que se refere aos cargos de comando, é oportuno destacar que, no Brasil,
considerando o período de 1930 a 2008, o Ministério da Educação, na sua galeria de
ministros, (anexo 12), constata, que estiveram no comando desse ministério 52
(cinquenta e dois) homens e 1 (uma) mulher, a Ministra Esther de Figueiredo Ferraz.
E, especificamente, no Estado de Pernambuco, no período de 1949 a 2008, constata-se
231
que estiveram à frente da Secretaria de Educação 27 (vinte e sete) homens e 3 (três)
mulheres
30
, como se pode conferir na galeria divulgada por esta secretaria (anexo 13).
A presença feminina sempre foi muito forte nos cursos que se localizam na
educação básica, com especialidade para a educação infantil e os anos iniciais do
ensino fundamental
31
. No ensino médio, um equilíbrio entre a presença feminina e a
masculina já é percebida e, no ensino superior, é evidente a presença masculina. No
caso desta pesquisa não foi difícil equilibrar o número de professores e de professoras
para as entrevistas e para o trabalho com os grupos focais, como se pôde ver no
capítulo da metodologia desta tese. E, no questionário aplicado aos licenciandos, a
amostra revelou que embora predomine o número de mulheres nos cursos de
licenciatura, a diferença não é tão grande, pois dos 508 (quinhentos e oito)
licenciandos que responderam aos questionários, 213 (duzentos e treze), ou 42% foram
respondidos por homens e 295 (duzentos e noventa e cinco) ou 58% foram
respondidos por mulheres
32
.
Embora a declaração da última depoente reflita um pouco a história do
magistério, em particular o magistério feminino na educação de base no Brasil, e que
os baixos salários e o parco reconhecimento social da profissão docente hoje tenham
30
Ver relação de Secretários de Educação de Pernambuco em anexo. Entre as três mulheres que
ocuparam a pasta da Secretaria de Educação no Estado de Pernambuco, a Professora Silke Weber
encontra-se presente em dois momentos: de 15/03/1987 a 15/03/1990 e de 01/01/1995 a 31/12/1998.
31
Os cursos da educação básica, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n.°
9394/1996 correspondem à: educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Porém, a referência
da presença feminina na educação escolar em tempos mais distantes, no Brasil, faz-se nos cursos em que
nessas épocas passadas foram considerados similares aos cursos de hoje, como, por exemplo: a pré-
escola com a educação infantil e o curso primário, ou das primeiras letras com os anos iniciais do ensino
fundamental.
32
É importante destacar que uma análise pormenorizada da distribuição por curso dos licenciandos, que
responderam ao questionário, faz-se necessária. Contudo, essa análise não cabe no espaço deste
trabalho. Essa advertência, no entanto, é oportuna uma vez que predominância de homens ou de
mulheres em determinados cursos, como, por exemplo: em duas turmas do curso de Pedagogia de uma
faculdade privada verificou-se a presença de 72 (setenta e duas) mulheres e 6 (seis) homens. Numa
turma de licenciatura em Química, de uma universidade pública onde estavam presentes 12 (doze)
alunos, 6 (seis) eram homens e 6 (seis) eram mulheres. E, numa turma de licenciatura em Filosofia de
uma faculdade privada, dos 33 (trinta e três) licenciandos, 32 (trinta e dois) eram homens e apenas 1
(uma) mulher.
232
algumas raízes na feminização do magistério nos séculos passados, Costa (1995, p.
184), a partir das suas pesquisas, demonstra que as mulheres por não serem passivas
constroem um,
Movimento não linear em que se transformam, lentamente,
em professoras com um novo jeito de ser e de se relacionar
com seu trabalho. As lutas são por seus alunos, pela dimensão
social de seu trabalho, mas são também por elas, pela
melhoria de suas condições laborais, por remuneração justa,
por dignidade profissional.
A discussão sobre a profissão de professor no ensino superior, em particular
dos formadores de professores, como foi visto, conduz à questão da identidade
profissional. O docente do curso de licenciatura em História, que é pertencente à
primeira geração pedagógica, reclama da dependência do docente ao serviço público
ou privado e, ainda, da confusa identidade profissional que reflete a inexistência do
poder profissional. Portanto, na medida em que o professor do ensino superior,
formador de professores não se identifica como tal, o declarante assevera que, em se
tratando de poder profissional, esse docente:
Não! Não, ele não tem! De um lado ele é um funcionário de
uma instituição de estudo, ele é um funcionário público, do
outro lado ele é um empregado de uma instituição privada.
Ele não forma um corpo que defenda interesses comuns à
classe. Os interesses são muito distintos, não são claramente
percebidos. (...) Tem o engenheiro, tem o cara da informática,
tem o médico, o odontólogo, o da educação física. São vários!
Que têm uma atuação como docente aqui e um outro contrato
como engenheiro, como médico em outro canto. (...) Eu sou
engenheiro, eu sou advogado, eu sou juiz, promotor,
procurador, e docente. Entendeu? Primeiro vem com o que ele
se identifica. Isso cria também desigualdades porque enquanto
aqui, por exemplo, na educação, nós somos professores a
tempo pleno, dizemos que somos professores. O outro o!
(1MHP).
233
A declaração que acaba de ser lida esclarece como o professor busca ancorar o
objeto social ‘poder profissional’ às categorias que lhe são familiares. Isso quer dizer
que ao afirmar ser o professor destituído de poder profissional, o docente associa o
professor dos cursos de licenciatura a um profissional caracterizado como funcionário,
que não tem exclusividade na sua atividade de professor formador da docência e que
não assume sua identidade profissional de professor.
A questão da identidade profissional decerto se relaciona com a questão da
autonomia profissional, e ao comentar sobre a autonomia, um dos elementos do poder
profissional, Freidson (1998, p.110), esclarece que:
O fato de ter sido um empregado durante séculos não privou o
professor de significativa liberdade. O controle sobre os
termos e as condições de trabalho é certamente enfraquecido
pelo fato de ser um empregado e não um empresário num
mercado favorável. Não obstante, o controle sobre o conteúdo
do trabalho não é necessariamente enfraquecido.
Mas a questão da identidade profissional tem outras origens. A ausência, ou
incompletude, da identidade profissional do professor, formador de professores, no
ensino superior, acarreta obstrução para o poder profissional docente, pois esse
professor, embora integre o grupo de professores que se ocupam dos cursos de
licenciatura, não se sente pertencendo a esse grupo, identificando-se mesmo com outro
grupo profissional. Esse sentimento de pertença a outro grupo profissional reflete nos
projetos dos cursos de licenciatura (ex.: pesquisas que esse professor conduz para o
bacharelado), no conjunto dos professores dos cursos, que sentem as contradições
teórico-metodológicas no curso da formação dos licenciandos e, ainda, reflete nos
licenciandos. Essa não identidade docente voltada para a formação das novas gerações
234
de professores é uma preocupação dos professores que lutam por um curso de
licenciatura de qualidade, como se pode perceber no depoimento que se segue:
Tem professor que agora está no laboratório daqui, que a
preocupação é com o seu laboratório e sua pesquisa. Eu acho
que a coisa está mais séria, eu acho que é a questão do poder,
assim em termos de categoria. Ser professor hoje em dia não é
mais uma categoria tão reconhecida socialmente o. Aí, ele
não quer dizer que é professor universitário. Faça esse teste!
Pergunte aos professores universitários: “Você é o que?”
Você vai contar nos dedos quem disser: “sou professor
universitário”. Não diz! Ele vai dizer: “Sou Físico, sou
Químico, sou Biólogo”. Mesmo que ele trabalhe com Prática
de Ensino de Física, ele vai dizer: “sou Físico”, não vai dizer
sou professor de Física. (1FFP)
É, também, preocupação dos professores dos cursos de licenciatura, a questão
da identidade profissional docente a ser construída pelos licenciandos, pois em alguns
casos esses alunos estão fazendo um curso de formação de professores por não terem
tido a oportunidade de ingressar em outro curso superior, como revela a professora do
curso de licenciatura em Química:
Tem os alunos que estão no curso de licenciatura porque
querem ser professores, mas não é o caso da maioria. Muitos
alunos vieram para a licenciatura porque não conseguiram
passar num outro curso como: medicina, enfermagem. Isso
atrapalha a formação. (...) É difícil fazer esses alunos se
sentirem como futuros professores. (2FQP).
Sobre a questão da identidade profissional do docente, o professor do curso de
licenciatura em Educação Física, que trabalha numa universidade pública e numa
faculdade particular, diz que a dificuldade dos professores formadores de professores
no ensino superior de se reconhecerem como tal, reside no fato de que eles herdaram,
sobretudo, da Educação Física, um tecnicismo exacerbado. Isso porque o curso era
235
muito influenciado por referências técnicas, devido à presença marcante dos técnicos
esportivos, que requeriam:
Uma formação técnica muito forte, um domínio de
procedimentos técnicos, das modalidades atléticas e das
regras. (...) Houve, até mesmo, uma época em que a faculdade
de Educação Física era um verdadeiro clube esportivo.
(1MEFPR).
Com essa clareza, o professor pesquisado afirma que se esse conteúdo técnico,
também, tem sua importância para o curso de licenciatura é preciso dar a ele “um uso
pedagógico”. E acredita estar havendo um avanço nesse curso de licenciatura devido
ao reconhecimento dos professores formadores de que precisam “se apropriar dos
conteúdos específicos da Educação Física, mas, igualmente, precisam se apropriar da
dimensão pedagógica do ato de ensinar a ensinar”.
(1MEFPR).
Essas declarações não são o resultado do imediatismo, nem tão pouco
improvisadas. Elas podem ser consideradas como uma síntese das experiências
somadas pelos docentes, sujeitos desta pesquisa, na relação que construíram com o
objeto social ‘poder profissional’. Essa dinâmica relacional permite-nos compreender
as ações humanas, segundo Sobrinho (1998, p. 119), com base em Moscovici (1976,
1978), “não somente como resultado de experiências acumuladas e de sistemas de
disposições incorporados, mas também como produto da ação dos indivíduos sobre si
mesmos e sobre o mundo exterior”.
Representando socialmente o poder profissional docente como uma ilusão, um
engano, a professora do curso de Pedagogia de uma faculdade privada, que faz parte da
segunda geração pedagógica, cujo depoimento encontra-se abaixo, diz inexistir o
reconhecimento profissional, a valorização profissional e o respeito ao professor dos
cursos de licenciatura, o que para ela são componentes do poder profissional docente.
236
Esse reconhecimento, esse poder, onde ele (o professor
formador) possa fazer diferença até na área do outro, eu não
vejo. (pausa). E quem vê, eu acho que está enganado. Eu
lamento se for uma visão reducionista minha, eu vejo com
mais facilidade outras profissões, tendo esse referencial, tendo
esse respeito, esse poder, em relação à própria sociedade.
(2FPPR).
A professora desacredita do poder profissional do docente do ensino superior
que forma professores, a partir da comparação que faz com outras profissões.
Possivelmente, ela sente a necessidade de uma especialização, algo como ela própria
diz que ‘faça a diferença’. Algo que torne efetiva a profissão de professor do ensino
superior formador de professores, e que ao tempo em que a distingue das ocupações e
dos ofícios, confira-lhe a condição de contribuir com outros profissionais das diversas
áreas, e isso seria demonstração de poder profissional. De acordo com os resultados da
sua pesquisa sobre representações sociais do trabalho, Sato (1995, p.199) testemunha
que “a limitação do poder sobre o trabalho faz com que ele seja sentido como
complicado, problemático e ruim demais”.
Mas faz-se necessário compreender, também, como nos avisam Tardif e
Lessard (2005, pp. 27-28), que “esse poder das profissões não flutua no vazio, mas está
enraizado, ao contrário, numa organização de trabalho que possui diversos grupos e
subgrupos detentores de diferentes poderes”. Dessa forma, ao lado do conteúdo
especializado, que faça distinção se comparada a outras áreas, como afirmou a
entrevistada, os professores precisariam, segundo a linha de pensamento dos autores,
de organização para buscar os elementos que compõem o poder profissional docente.
A organização do trabalho prevê, também, a constituição de uma reserva do
mercado de trabalho. Essa reserva precisa ser compreendida e controlada pelos
professores formadores da docência, mas é exatamente o que não acontece, segundo a
237
professora de uma universidade pública que integra a segunda geração pedagógica, e
que explica:
Um exemplo: se vai haver um concurso público para um
professor de Educação da Química, quem será contratado?
Tem que ser doutor! (...) Como é muito difícil achar um
Doutor em Educação da Química, então (...) sai o edital com
simplesmente o doutor em Química. E ele entra para trabalhar
em educação, a Química pura. Então, se o professor está
trabalhando com disciplinas pedagógicas para os alunos de
licenciatura em Química, esses alunos vão perder aquela
discussão do saber educacional, saber educativo para o
professor que ensinará Química. Serão reforçados mais uma
vez o conteúdo da Química especificamente. Não que esse
conteúdo não seja importante, mas a discussão aqui é a
formação do professor. (2FCBP).
Na declaração da professora, é possível reconhecer a tensão existente entre o
universo reificado e o universo consensual. No primeiro, Moscovici (2003, p.50)
esclarece que a sociedade é tida como um “sistema de entidades sólidas”, que além de
invariáveis, não leva em conta a individualidade, sendo assim, destituídas de
identidade. Para o autor, esta “sociedade ignora a si mesma e a suas criações, que ela
somente como objetos isolados, tais como pessoas, ideias, ambientes e atividades”.
O universo reificado, no caso revelado pela professora, corresponde à autoridade que
impõe um determinado profissional para integrar o corpo docente dos cursos de
licenciatura. Essa imposição contraria o universo consensual que aponta para outro
tipo de profissional, cujo perfil se assenta no pensamento e nas experiências dos
professores formadores de professores no ensino superior, que estão comprometidos
com a formação dos professores do ensino básico.
Algumas declarações, como a que acaba de ser lida, conduziram à análise de
documentos como os editais de concursos para professores das universidades públicas.
Essa análise potencializou as declarações dos sujeitos da pesquisa, pois como é
238
possível observar nas palavras de Lüdke e André (1986, p. 39), a análise documental
sinaliza “problemas que devem ser mais bem explorados por meio de outros métodos.
Além disso, ela pode complementar as informações obtidas por outras técnicas de
coleta”.
A última entrevistada reitera que mesmo que haja um mestre em Educação
Química, “ele não fica, porque a determinação é que seja doutor. Neste caso, o mestre
atenderia melhor, enquanto não se forma o doutor em Educação da Química”.
Analisando alguns desses editais, constata-se que a exigência posta nos concursos
públicos para professores do magistério superior não especifica qualquer
particularidade quanto ao professor do ensino superior que formará professores como
bem ilustra o edital n.° 3 publicado no D.O.U. em 1.º/03/2004:
O Vice-Reitor, no exercício da Reitoria da Universidade
Federal de Pernambuco, (...) torna público que estão abertas
as inscrições para Concursos Públicos de Títulos e Provas,
para provimento de cargos docentes da carreira do Magistério
Superior.
(...) O concurso far-se-á para a área de Matemática. O
candidato deverá mostrar sólidos conhecimentos do programa
de uma das subáreas constantes deste edital: Álgebra, Análise
Combinatória, Geometria Diferencial, Mecânica Celeste e
Topologia.
(...) Será atribuída uma nota de 0 (zero) a 10 (dez) a cada uma
das seguintes categorias:
a- Títulos acadêmicos, com peso 1 (um).
b- Atividades profissionais, científicas e trabalhos
científicos, com peso 2 (dois).
c- Atividades didáticas, com peso 1 (um).
A leitura desse edital (como já informado no anexo n.° 8), mesmo que na
íntegra, não esclarece onde o professor concursado exercerá sua atividade docente, se
no bacharelado e, ou na licenciatura. Até mesmo a prova didática é vaga quanto a essa
questão, pois é explicado que ela consistirá de uma aula teórica com duração de 50
239
(cinquenta) a 60 (sessenta) minutos e versará sobre um dos pontos, (...) a ser sorteado
com antecedência de 24 (vinte e quatro) horas de sua realização”.
Outro exemplo pode ser ilustrado a partir do edital n.° 42/2006, que versa sobre
o concurso público para Professor Adjunto da Universidade Federal do Ceará:
O Reitor da Universidade Federal do Ceará, (...) torna
público, (...), que se acham abertas (...) as inscrições para
Concurso Público de Professor Adjunto, para os
Departamentos, Setores de Estudo e Vagas.
Poderá inscrever-se o candidato portador de:
a- Título de Doutor ou de Livre Docente, obtidos na
forma do disposto no artigo 1.° da Resolução n.° 06/2006-
CEPE.
b- Histórico escolar do curso de graduação ou pós-
graduação stricto sensu, que comprove haver correlação com
o setor de estudo objeto do concurso.
O processo seletivo (...) constará das seguintes etapas:
a- prova escrita, com leitura pública;
b- prova didática;
c- julgamento de títulos;
d- prática ou prática oral e,
e- seminário ou defesa de projeto de pesquisa.
No caso do último edital referido (anexo n.° 10), são indicados os
departamentos, os setores de estudo, o regime, o número de vagas, mas sem
especificidade para o professor formador de professores no ensino superior.
É oportuno, no entanto, ressaltar que outros editais têm apresentado elementos
de destaque para a admissão de professores formadores da docência no ensino
superior, como é exemplo o edital n.° 98/2008 de 10/11/2008 da Universidade Federal
Rural de Pernambuco, (anexo 11),
O Reitor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, (...)
determina a abertura das inscrições para o Concurso Público
de Provas e Títulos para preenchimento de cargo público de
Professor da carreira de Magistério Superior.
(...) etapas:
a- Inscrição (...);
240
b- Prova escrita, em caráter eliminatório, com peso 2;
c- Prova Didática, com peso 4;
d- Prova de Títulos, com peso 2;
e- Prova Oral para defesa pública do Plano de Atividades
(Ensino, Pesquisa e Extensão), com peso 2.
Embora os requisitos sejam os mesmos dos editais anteriores, o edital n.°
98/2008 da UFRPE acrescenta que os professores localizados no Departamento de
Educação deverão ter o curso de licenciatura. Assim, para a área de Metodologia do
Ensino da Arte, Arte na Prática Pedagógica e Estágio Supervisionado, o candidato
precisa ser “Licenciado em Artes com Doutorado em Artes ou áreas afins”. Para a área
de metodologia do ensino de Química e Estágio Supervisionado em Química, o
candidato precisa ser “Licenciado em Química com doutorado em áreas afins”. Pode-
se deduzir que a atenção a esses elementos configura uma preocupação com a
formação profissional dos professores formadores da docência no ensino superior.
Quanto ao reconhecimento social da profissão docente, o formador de
professores, quase três décadas, que se pronuncia, abaixo, considera que a
sociedade é indulgente com o professor, que é ou não qualificado para a função, que
tem baixo salário, que sofre violências de toda ordem. É como se uma coisa
compensasse a outra. Se podem ser quaisquer condições, pode ser qualquer professor.
A nossa sociedade tolera que com o professor seja como seja.
Ela é extremamente tolerante. Porque, evidentemente, isso
não é o sonho das elites, é a cegueira das elites, a dominação
das elites. A nossa sociedade tolera isso. (1MHP).
A partir dessas primeiras reflexões, é possível perceber a relação entre
identidade profissional e reconhecimento social. Segundo Dubar (1997b, p. 205), “a
legitimidade dos poderes profissionais exige uma forma de reconhecimento estatal que
a formação contínua só assegura parcialmente”.
241
Essa carência de reconhecimento social é enfatizada pela mídia, conforme o
pronunciamento a seguir de um professor formador da docência nos cursos de
licenciatura em História e Filosofia:
A sociedade com certo paternalismo a condição de
professor. O professor com certo paternalismo a condição
de aluno. (...) Então, veja que a gente está traduzindo a relação
que deveria ser profissional e social, numa cadeia de
superioridade e inferioridade das profissões (fala com voz
baixa sugerindo desânimo). Claro que a mídia contribui muito
para este tipo de coisa. Eu estou escrevendo muito
constantemente isto (...). Tentando criar uma página de
educação num jornal de grande circulação. (silêncio) “Escute
um pouco a educação” (...) Numa linguagem que seja
accessível ao público. (...) Nós não temos um programa de
televisão que discuta semanalmente questões de educação.
Nós não temos um programa de rádio que seja dedicado à
educação. Educação em debate! Educação em foco! Educação
em alguma coisa (tom de voz mais alto). (...) Mas, em meios
de comunicação com horário acessível para todos. (1MFP).
A declaração acima pode ser considerada como a mais emotiva das declarações
obtidas nesta pesquisa, como testemunham algumas anotações em itálico. Essas
observações ressaltam a importância dos gestos, das hesitações, dos silêncios, das
entonações, em suma uma expressiva comunicação não verbal, cuja apreensão é
necessária à compreensão e legitimação do que foi declarado. Como sustentam Lüdke
e André (1986, p.36),
Não é possível aceitar plena e simplesmente o discurso
verbalizado como expressão da verdade ou mesmo do que
pensa ou sente o entrevistado. É preciso analisar e interpretar
esse discurso à luz de toda aquela linguagem mais geral e
depois confrontá-lo com outras informações da pesquisa e
dados sobre o informante.
Provavelmente o sentimento desse professor, que lecionou oito anos na
educação básica e que há mais de duas décadas leciona no ensino superior e, dessas,
242
vinte e um anos nos cursos de licenciatura, é de quem pouco reconhecimento do
trabalho docente depois de participar e assistir a muitas lutas em favor da valorização
do magistério.
A professora seguinte, de certa forma, compartilha com o pensamento do
entrevistado anterior, ao fazer críticas sobre a influência da dia no que se refere ao
reconhecimento social do docente, alertando para a criação de programas televisivos,
que invadem o espaço do professor.
A organização dos professores determinaria os espaços de
trabalho deles, acabava com a invasão, por exemplo, dos
“Amigos da Escola”, e assumiriam os seus papéis. Do
contrário é o que vemos, todo mundo entende de educação,
uma invasão, porque há permissividade. (2FCBP).
Sendo assim, a representação social do poder profissional docente para esses
professores é uma ilusão. Isso porque colocar um professor parcialmente qualificado
para formar professores da educação básica, empregar condições precárias ao trabalho
docente e conviver com estereótipos negativos do professor e da escola, são formas
dissimuladoras, ilusórias de tratar o poder profissional dos docentes dos cursos de
licenciatura.
Mas essa tolerância social sobre os professores, possivelmente, seria o reflexo
da inexistência de um território de trabalho controlado pelos próprios docentes, de um
código de ética, de regulação da formação e do exercício profissional, como argumenta
essa professora de uma universidade pública:
É uma questão da nossa categoria, nós permitimos. É
exatamente todos saberem se constituir enquanto classe e essa
classe definir e tomar conta desse espaço. Nós não nos
tornamos fortes pra isso. Nós somos omissos, somos
desarticulados, não somos conhecedores, somos muito
243
fragilizados, temos baixa autoestima, o social não nos
reconhece, não nos legitima, a gente não se legitima. Então,
tudo isso (...) fragiliza esse cinturão protetor. Essas questões
existem historicamente e são de propósito!! É uma coisa
intencional para que fiquemos fragilizados. Por quê? Porque
como formadores de opinião que somos, quanto mais
estivermos confusos menos opiniões iremos formar naqueles
que estamos formando. (2FCBP).
Por todas as razões colocadas por essa professora, é possível compreender que
a sua representação de poder profissional docente é uma ilusão. A sua representação a
coloca frente ao mundo que integra pessoas, acontecimentos e os mais diversos
objetos, mundo que ela partilha com outros, a partir de convergências e divergências.
Para Jodelet (2001, p.17), as representações sociais,
Nos guiam no modo de nomear e definir conjuntamente os
diferentes aspectos da realidade diária, no modo de interpretar
esses aspectos, tomar decisões e, eventualmente, posicionar-se
frente a eles de forma defensiva.
Essa falta de regulação e controle da profissão docente tem, de acordo com as
declarações dos sujeitos desta pesquisa, origem na falta de organização dos professores
formadores de professores no ensino superior. Para haver poder profissional docente é
preciso que haja compreensão dos docentes sobre o poder da sua organização. Como
enfatiza Friedberg (1993, p.117), “o poder é uma relação” e sendo assim, o autor
complementa:
Não se tecem relações de poder gratuitamente ou só pelo
prazer de o ter. Entra-se numa relação de poder porque se
deve obter a cooperação de outras pessoas para a realização de
um projeto, seja ele qual for (um objetivo comum, um
problema mais ou menos claramente percebido pelos outros,
etc.).
244
Para os professores, cuja representação social do poder profissional docente é
uma ilusão, esse poder fica afastado, pois, conforme as suas declarações, os elementos
constitutivos do poder profissional apresentam-se dispersos, ou mesmo inexistentes,
como: o reconhecimento profissional (que profissão é essa?); a não identificação com a
profissão de professor (primeiro o sujeito se apresenta como médico, odontólogo,
advogado, depois complementa que é professor); o não reconhecimento social (a
tolerância social); a carência de autonomia (ser funcionário, empregado); a
desorganização da classe profissional (os interesses desencontrados, a omissão); a falta
de um conhecimento específico e exclusivo (o professor é facilmente substituído por
outro profissional); e a distância entre a IES e a escola (respectivamente o espaço que
licencia e o espaço que acolhe os licenciados). Mas essa representação do poder
profissional como ilusão está presente no cotidiano de muitos professores formadores
da docência no ensino superior e, como toda representação social, esta foi criada, como
explica Moscovici (2003, p.41), “no decurso da comunicação e da cooperação” desses
sujeitos, pois representações não são criações do indivíduo isoladamente.
2 - O poder profissional representado socialmente como Alvo
O alvo corresponde à representação social dos participantes da pesquisa que
creem na existência do poder profissional docente, que para eles se encontra em
construção, e defendem que o profissional professor deveria atingir esse poder. O
poder profissional docente é, ainda, representado como um alvo, uma meta, na medida
em que esse poder só existe para alguns professores formadores e não para essa
categoria profissional; a identidade de professor formador de professores no ensino
superior estaria num processo de construção; os insuficientes resultados da educação
245
escolar, que refletem, também, a formação dos professores da educação básica, geram
desconfiança na função dos cursos de licenciatura, reverberando no reconhecimento
profissional desses professores. Esses resultados estariam, para os professores
pesquisados, num processo de mudança.
De acordo com alguns sujeitos desta pesquisa, a desorganização da categoria
dos professores formadores da docência impede que o poder profissional possuído por
alguns professores e em construção por outros, se efetive. A professora, a seguir,
acredita no poder profissional dos professores que formam professores no ensino
superior, contudo esse poder que existe em outras profissões, ainda, estaria em
construção pelos docentes formadores de professores, por essa razão ela afirma:
Eu acho que ainda não (risos). (...) A gente está na conquista
desse poder. (...) Está se tentando construir um pouco dessa
consciência, criando essa identidade, porque eu acho que o
poder a gente pode construir, acho que também não é aquela
classe fragilizada. A partir do momento em que as questões
vão sendo revistas, o professor vai ter mais poder de decisão.
(2FQP).
Por acreditar num processo de construção do poder profissional dos professores
dos cursos de licenciatura, essa professora do curso de licenciatura em Química de
uma faculdade pública, que integra a segunda geração pedagógica, representa esse
poder como um desafio a ser assumido e conquistado por esses docentes.
Fazendo uma relação entre as finalidades dos cursos de licenciatura e os
resultados da educação escolar, a professora, cujo pronunciamento encontra-se em
seguida, e que quinze anos forma professores no ensino superior, acredita no poder
profissional do docente dos cursos de licenciatura, mas não reconhece esse poder em
todos os professores desses cursos.
246
Eu acho que ele pode ter! Se ele se articula com a área dele,
então, por exemplo, no meu caso e de alguns dos professores
daqui. A gente tem uma articulação direta com a Secretaria de
Educação. Então, a gente participa desse novo currículo que
está sendo lançado nas escolas, (...) a gente participou na
discussão com os professores da rede, nas capacitações da
formação continuada. (1FFP).
Essa professora dos cursos de licenciatura em Física e em Pedagogia considera
a existência do poder profissional do professor, a partir da articulação dos professores
formadores entre si e do movimento dessa categoria profissional em direção à escola
de educação básica, lugar por excelência onde são acolhidos os professores
licenciados. Mas nem essa articulação, nem esse movimento integram todos os
professores formadores da docência no ensino superior. O poder profissional do
professor formador está configurado, também, no peso desse poder, ou seja, na
presença desse professor nos processos decisórios da Secretaria de Educação do
Estado de Pernambuco, como ilustrou a professora.
Ainda, nesse último depoimento, a professora destaca o caráter heterogêneo das
profissões, o que lembra a advertência de Freidson (1998, pp. 70-71) sobre os
membros de uma profissão, pois, segundo o autor eles, se diferenciam:
Por segmentos e especialidades concretas, por circunstâncias
diferentes de prática, por seus papéis de profissional comum,
professor, pesquisador e administrador, e por sua relativa
proeminência como líderes culturais, políticos e intelectuais
dentro da profissão e no mundo leigo exterior.
Pode-se deduzir, portanto, que se os sujeitos de qualquer profissão não
compõem um grupo consensual em todos os seus aspectos, com o conjunto dos
professores dos cursos de licenciatura não seria diferente.
247
A professora formadora de professores numa universidade pública, que faz
parte da primeira geração pedagógica, expressou no grupo focal que acredita numa
maior clareza dos professores formadores quanto à especificidade do seu trabalho, mas
muito que se fazer para atingir o alvo do poder profissional, pois, por enquanto,
muitos professores não concorrem para a legitimação desse poder.
Esta especificidade aparece no objeto da formação, pensar o
ato educativo como um objeto da formação, da investigação.
Mas se perguntarmos: será que estes princípios anunciados
para o professor, portanto resultado de um debate, avançaram
na formação do campo do educador? Então, precisaria
contaminar os outros ambientes (referindo-se aos cursos de
bacharelado) que estão ainda muito centrados nos objetos
disciplinares, quer dizer, neste sentido nova aproximação.
Desta feita não mais puxada pelo campo da não licenciatura,
mas puxada pela licenciatura. (1FPP).
Essa declaração reitera a tensão existente entre os professores que integram os
cursos de licenciatura, ou seja, os bacharéis e os de formação educacional. Essa tensão
representa uma confusa disputa de poder profissional, a partir do conhecimento formal
possuído por cada um desses grupos de professores.
Para o professor que faz a declaração, a seguir, o poder profissional dos
professores dos cursos de licenciatura está associado ao lugar onde ele desenvolve o
seu trabalho.
Eu sou professor do curso de licenciatura de uma faculdade
privada e de uma universidade pública. Eu posso dizer que
existe poder do professor da universidade pública, da
faculdade particular não. Na universidade pública eu planejo
as atividades que quero realizar, faço cronograma de aulas,
faço as avaliações. (...) Na faculdade particular eu dou a
minha aula, que vem tudo enlatado, e pronto. (2MGPR).
248
Os professores vivem realidades diferentes, cotidianamente, seja na mesma
instituição formadora ou não. Esse professor, por exemplo, ao afirmar que trabalha em
duas IES muito distintas, gera em si um movimento mais aproximativo ou mais
distante com a sua realidade de professor dos cursos de licenciatura. Segundo Berger e
Luckmann (1985, p. 39), a realidade da vida diária “abraça fenômenos que não estão
presentes “aqui e agora”. Isto quer dizer que experimento a vida cotidiana em
diferentes graus de aproximação e distância, espacial e temporalmente”. E, ainda,
explicam os autores:
A mais próxima de mim é a zona da vida cotidiana
diretamente acessível à minha manipulação corporal. Esta
zona contém o mundo que se acha ao meu alcance, o mundo
em que atuo a fim de modificar a realidade dele, ou o mundo
em que trabalho.
O professor da última declaração lida partilha propostas, projetos, práticas, com
outros professores, isso porque como esclarecem, ainda, os autores da última citação, a
realidade da vida cotidiana é dominante e mostra-se como um mundo intersubjetivo.
As outras realidades que aparecem a ela seriam finitas, seriam “enclaves dentro da
realidade dominante marcada por significados e modos de experiência delimitados”
(p.42). Os autores chamam a atenção para a “atitude natural” que, no caso específico,
seria aquela expressa pelos professores de cada uma das IES, inclusive a do declarante.
Seria, pode-se dizer, a compreensão comum que os docentes têm das ordenações das
instituições, organizações estabelecidas e organizações que os docentes ajudam a
empreender.
Para a professora que fala a seguir, o poder profissional docente existe, mas a
imagem caótica da educação escolar se transforma em pressões, que não permitem que
249
esse poder se manifeste. Os baixos resultados da educação escolar, publicados,
comentados aos quatro cantos, no entender dessa professora, reverberam na imagem
dos cursos de formação de professores no ensino superior e, consequentemente, na
imagem do professor formador.
O professor é visto como um profissional que não consegue
desempenhar a sua função porque não está formado
devidamente, porque o que é estampado são resultados da
nossa educação. Resultados caóticos! Quando se é professor
universitário um pouco mais de respeito, mas basta o
sujeito sair da universidade e não arranjar logo um emprego,
que se pensa que educação não vale nada, e com isso sobra
para o professor. Talvez pela representação financeira (risos).
Nas outras profissões um reconhecimento desde o início,
um sentimento de prazer, são elogios. Um reconhecimento
assim: “Ah! é! meu filho passou em Engenharia. Ah! Que
maravilha, passou em Medicina (espanto) é fantástico! Passou
em Licenciatura? Professor? Rapaz tem outra não?” Então, eu
lamento isso é geral. (2FCBP)
De acordo com esse depoimento, percebe-se que a representação social da
professora é carregada de valores e contradições, e esses são aspectos fundamentais
para se entender o comportamento social da docente, ou seja, sua posição de luta para
alcançar o poder profissional que seria o seu alvo. A representação social da professora
está ancorada ao paradigma da educação, que deve ser de emancipação do homem e do
seu pleno exercício de cidadania. Mas a valorização de determinados cursos, pode-se
supor, que seria, também, uma herança do que foi instalado, ainda, no período imperial
brasileiro, como nos informa Coelho (1999) na sua obra: “As Profissões Imperiais”, ao
apresentar os resultados das suas pesquisas sobre a medicina, a engenharia e a
advocacia, no Rio de Janeiro, no período de 1822-1930.
250
Ainda, sobre essa última declaração, pode-se dizer que ela é validada pela
reportagem do Jornal Folha de São Paulo (2008, p. C1), que traz como uma de suas
manchetes: “Carreira de professor atrai menos preparados” e desenvolve:
Apenas 5% dos melhores alunos formados no ensino médio
querem atuar como docentes do ensino básico, diz estudo.
Baixo retorno financeiro e desprestígio social da carreira
docente são citados entre os principais fatores para perfil
identificado no levantamento.
A reportagem informa que os dados têm como fonte o ENEM
33
e o ENADE
34
.
A matéria jornalística aponta, ainda, para um estudo comparativo entre o Brasil e
países como a Coréia e a Finlândia, conhecidos por possuírem qualitativos sistemas de
educação. Reportagens como essa ratifica a pouca atratividade da juventude brasileira
para os cursos de formação de professores no ensino superior. E essa pouca atração,
que reflete a desvalorização da profissão de professor, reflete, também, na questão do
poder profissional docente.
Para a professora que leciona no curso de licenciatura em Letras de uma
faculdade particular, cuja declaração encontra-se abaixo, o professor tem um poder
profissional parcial, pois, de modo geral, ele domina apenas um conhecimento:
Eu acho que o professor não tem um poder completo não,
porque o único aspecto que eu diria que alguns profissionais
têm é o domínio do conteúdo, da experiência. Agora, o Estado
tem um papel fundamental nisso, também, viu? Porque é
revoltante o que está acontecendo, hoje, tem um professor
concursado e dez estagiários no 3.º período do curso de
Letras. (...) Porque a Federação inventou o tal de professor
substituto que tem um vínculo de dois anos, faz um concurso,
faz uma seleção, pra trabalhar dois anos, não tem direito a
uma série de coisas e, no final não tem compromisso com a
instituição. Isso é indicativo de desrespeito, sabe? (1FLPR).
33
ENEM: Exame Nacional do Ensino Médio, 2005.
34
ENADE: Exame Nacional do Desempenho dos Estudantes.
251
Essa intervenção do Estado, até certo ponto, permitida pelos docentes, por sua
não organização, reforça a ausência de controle dos próprios professores sobre a
formação e o exercício profissionais. Para a depoente, se o professor detém um
conhecimento específico, ele tem parte do poder profissional, e a meta seria
conquistar a totalidade desse poder.
Um professor do curso de licenciatura em Matemática de faculdades
particulares defende que o professor do curso superior que forma professores precisa
ter clara a sua função que é formar os professores para as escolas. E, sendo assim, ele
precisa conhecer “todos os avanços que estão ocorrendo na área pedagógica”, necessita
ser competente avaliador dos “livros didáticos com o programa do PNLD”, além de ter
“domínio dos conteúdos específicos das suas disciplinas, mas precisa ter domínio do
conteúdo pedagógico”. (2MMPR).
Na sequência, para o professor do curso de licenciatura em Geografia de uma
universidade pública e de uma faculdade privada, o professor formador precisa ter
claro que participa do processo de formação dos professores que trabalharão com a
educação básica, por isso mesmo esse professor formador:
Precisa ter uma experiência como professor do ensino
fundamental e ensino médio. Acho que é importante até para
ele tentar, por meio dessa experiência, compreender
determinados procedimentos de ensino, o cotidiano escolar e
extraescolar, para tentar aproximar o seu aluno (licenciando)
da realidade da sala de aula. (2MGPR).
Esse professor chega a admitir que para ser formador dos cursos de licenciatura
“é necessário que o professor formador tenha a mesma formação do licenciando, a
formação inicial”.
252
Mas, ao que parece, os professores dos cursos de licenciatura não se ocupam
das questões da educação básica, o que é surpreendente, pois esses cursos habilitam os
professores para atuarem nas escolas nos seus diversos níveis de ensino. Mello (2001,
p. 4) ao se referir aos professores formadores da docência no ensino superior,
problematiza que,
Os cursos de graduação são ministrados num contexto
institucional longínquo da preocupação com a educação
básica, que não facilita nem mesmo a convivência com
pessoas e instituições que conhecem a problemática desta
última. Os professores formadores que atuam nesses cursos,
quando das instituições de qualidade, estão mais preocupados
com suas investigações do que com o ensino em geral, quanto
mais o ensino na educação básica.
Nessas últimas declarações, como se podem perceber, os professores procuram
ressaltar as funções dos cursos de licenciatura, assim como as funções dos professores
formadores.
A representação social do poder profissional docente como alvo a ser alcançado
pelos professores dos cursos de licenciatura é realçada nos elementos constitutivos do
poder profissional docente. Assim, o alcance desse poder extrapola os muros da
academia ecoando em outros espaços sociais (a inferência dos cursos de licenciatura na
escola), e o peso desse poder quando da interferência dos professores formadores nas
mudanças curriculares das escolas da rede pública. Portanto, o conjunto dos
professores formadores da docência no ensino superior não estaria tão fragilizado
como pensam os professores que representam o poder profissional como ilusão. Mas a
busca pelo reconhecimento profissional e pela valorização da profissão docente não
pode ser desacelerada.
253
Por meio das várias significações apresentadas, extraídas das declarações dos
sujeitos pesquisados, a representação social do poder profissional como alvo expressa
esses sujeitos que a forjaram. Essa representação, que é partilhada pelos membros
desse grupo, constrói uma visão consensual da realidade para esse conjunto de
professores formadores da docência. De acordo com Jodelet (2001, p.21), essa visão,
“que pode entrar em conflito com a de outros grupos, é um guia para as ações e trocas
cotidianas trata-se das funções e da dinâmica sociais das representações”. Os
professores dos cursos de licenciatura estariam caminhando para a efetivação de sua
identidade profissional, na proporção em que a clareza sobre a importância da
formação qualitativa do professor da escola básica é alcançada por mais professores
que se ocupam, comprometidamente, da formação desses docentes.
3 - O poder profissional representado socialmente como Evidência
O poder profissional docente enquanto evidência coloca-se em oposição às
duas convenções anteriores, sobretudo à primeira, a ilusão. Pode-se extrair da
interpretação de Sobrinho (1998, p. 120), que isso se explica, a partir da identidade do
grupo, que “é condicionada por uma oposição e suscita a elaboração de representações
sobre os diferentes objetos que ocasionam essa oposição”.
Enquanto evidência, o poder profissional docente é demonstrado a partir: do
conhecimento que é produzido pelos professores formadores da docência; da
autonomia dos professores formadores; do reconhecimento profissional e social do
professor; do poder do professor sobre os alunos; da influência do trabalho docente
sobre as políticas públicas, que reflete a valorização desse profissional; do exercício
dos docentes formadores de professores (prática pedagógica); dos resultados do
254
trabalho escolar que, de alguma forma são, também, consequência, dos cursos de
licenciatura; de atividades, fatos, e outros. Porém, importa lembrar que essas situações
que evidenciam o poder profissional docente não estão isoladas ou numa disposição
hierárquica, ao contrário, estão articuladas entre si.
A declaração, a seguir, de um professor de Filosofia de diversos cursos de
licenciatura, de uma universidade pública, que pertence à primeira geração pedagógica,
assegura ser a docência nos cursos de licenciatura possuidora de poder profissional, a
partir de importantes elementos desse poder:
Eu acho que, pertencer a uma profissão é uma forma de
poder. Simbólico, sem dúvida! Você faz parte de um grupo de
pessoas que passou por uma seleção, um recrutamento, uma
certificação profissional, uma aprovação e recebeu no final
um diploma que lhe permite, não somente exercer uma
profissão, que nem todos podem fazer, ganhar dinheiro,
sustentar sua vida e fazer discursos específicos dentro de sua
área, que não serão discursos dirigidos a qualquer pessoa.
Portanto, não é qualquer um que pode fazer discurso a
qualquer pessoa, discurso pedagógico tem um público
específico que ele atinge, tem um interlocutor específico que
ele atinge. (1MFP).
A identificação dos elementos que compõem o poder profissional docente
como: controle do seu trabalho, certificação profissional, discurso específico, local
específico para professar o discurso e a localização específica da audiência que
depende desse discurso, sinalizados pelo autor da declaração acima, revela a
representação social do poder profissional docente como evidência.
É com base no conhecimento que o professor, cujo parecer se encontra abaixo,
do curso de licenciatura em Ciências Biológicas, e que faz parte da primeira geração
pedagógica, realça a existência do poder profissional docente:
255
Eu diria que é um dos profissionais, se ele souber se impor, de
um dos maiores poderes que existe na sociedade, talvez mais
que um Deputado, um Senador. (...) Se a gente exerce o papel
de professor universitário pleno, que faz pesquisa, extensão e
publica, orienta em todos os níveis de graduação, mestrado,
doutorado, toda essa rede de coisa expressa um poder.
(1MCBP).
A forma como o professor, cuja declaração acaba de ser lida, faz lembrar as
palavras de Weber (2004, p. 20), quando assumiu a posição de professor titular numa
universidade alemã: “Não me consta existir, em todo o mundo, carreira em relação à
qual o seu papel seja mais importante”.
O professor do último pronunciamento atribui ao conhecimento, acumulado e
produzido pelo docente, a evidência do poder profissional que ele detém,
aproximando-se, assim, do pensamento de Freidson (1998, p.71), quando esse autor
enfatiza que,
Tal poder é obtido precisamente no princípio ocupacional de
organização, pelo qual o recrutamento, o treinamento e o
desempenho do trabalho de criar, disseminar e aplicar
conhecimento são controlados pelas ‘ocupações de
conhecimento’.
Freidson (1986, p. 1-2), para quem “conhecimento é poder”, alerta para o fato
de que as pessoas não têm o mesmo corpo de conhecimento e, que o conhecimento
especializado é disponibilizado para alguns. E, Abbott (1988, p. 9) acrescenta que,
além de especializado, esse conhecimento precisaria gozar de certo grau de abstração,
ou seja, para esse autor “o que importa é a abstração efetiva o suficiente para competir
num contexto histórico e social particular”, isto é, não se trata de uma abstração
relativa, mas o conhecimento profissional precisa ser detentor de uma abstração
absoluta.
256
Validando a representação social expressa pelo professor acima, a professora
do curso de licenciatura em Letras de uma faculdade pública diz que o professor que
forma professores no ensino superior “tem o poder que é conferido a quem tem o
saber”, assim nem todos os professores têm esse poder, mas poderiam tê-lo. E esse
poder é reconhecido, principalmente, pelos licenciandos ou licenciados, que buscam os
professores que detêm saberes específicos.
Por que é que os alunos procuram a gente quando é lançada
uma bolsa de monitoria? Quando você está na Pós-Graduação
e alguém quer ser seu orientando? Eu acho que é um pouco
em busca das respostas que você tem para aquilo que é uma
questão, também, para o aluno. (...) Alguns vêm com uma
indicação, uma preferência, um campo temático, campo
definido. (1FLP).
Essa professora, nas suas indagações, explicita a importância da valorização
profissional docente, que vem dos seus ex-alunos. A relevância desse julgamento para
o trabalho do professor lembra a seguinte reflexão de Jobert (2003, p.225), citando
Dodier (1995):
Trabalhar consiste em tentar satisfazer uma dupla exigência:
pôr em ação suas habilidades para obter o desempenho e, ao
mesmo tempo, encontrar espaços sociais de julgamento para
valorizá-la e valorizar-se.
A descrição dessa professora sobre o poder profissional docente mostra que o
exercício de representar socialmente um objeto, não é um processo passivo, mas, como
informa Leme (1995, 48), é um “processo ativo, uma reconstrução do dado em um
contexto de valores, reações, regras e associações”. Mas, ao mesmo tempo, o discurso
da professora lembra uma das precauções metodológicas de Foucault (2005, p. 183)
com o poder, quando esse autor adverte para o perigo de se entender “o poder como
257
um fenômeno de dominação maciço e heterogêneo de um indivíduo, sobre o outro, de
um grupo sobre os outros, de uma classe sobre as outras”. Ao contrário, para Foucault
“o poder deve ser analisado como algo que circula, ou melhor, como algo que
funciona em cadeia”, ou seja, analogamente poder-se-ia dizer que a professora
expressa a sua compreensão de poder profissional docente como uma rede, na qual
esse poder circula.
Nesse sentido, são constitutivos do poder profissional do professor formador, o
conhecimento e o reconhecimento profissional do professor pelos licenciandos e
licenciados. Quando interrogada sobre se considerava alguma distinção entre as
expressões saber e conhecimento, a mesma professora explica:
Não! Nem competência. Na minha cabeça é tudo junto,
(risos). Eu acho que dentro do campo profissional da gente, a
gente quando fala dos saberes específicos da docência, são
esses saberes: Metodológico, Didático, da História da
Educação e tal, que não tem a ver com os saberes relativos ao
objeto de conhecimento da História, por exemplo. (1FLP).
Esse questionamento foi feito à professora, devido ao fato de que alguns
professores têm visão contrária, ou seja, que diferenças entre o conhecimento e o
saber dos professores. Interrogações e declarações como o que se pôde ler
anteriormente, são possíveis devido à flexibilidade proporcionada pela entrevista não
padronizada. Como nos avisam Lüdke e André (1986, p.35),
Ao lado do respeito pela cultura e pelos valores do
entrevistado, o entrevistador tem de desenvolver uma grande
capacidade de ouvir atentamente e de estimular o fluxo
natural de informações por parte do entrevistado. Essa
estimulação não deve, entretanto, forçar o rumo das respostas
para determinada direção. Deve apenas garantir um clima de
confiança, para que o informante se sinta à vontade para se
expressar livremente.
258
Coerente com a sua posição de que o professor tem poder profissional, essa
mesma professora diz que é complexa a profissão de professor e, talvez, por isso sinta
dificuldade em objetivar a representação desse poder, mas se empenha em expressar
essa representação, a partir da evidência de conhecimento do professor:
A partir do conhecimento, por isso que é tão importante o
professor saber o que ele ensina. (...) É alguém que sabendo,
tendo pesquisado e conhecendo continua nesse processo
constante, porque o conhecimento se atualiza toda hora, mas,
ele parte desse conhecimento, para mim o processo de ensino
é um processo a partir do conhecimento. (1FLP).
Esse conhecimento, segundo Freidson (1998, p. 110), configura-se como um
princípio de autoridade, mas o autor esclarece: “Refiro-me à autoridade da expertise ou
competência institucionalizada como o terreno especial para determinados tipos de
organização ocupacional”.
A professora do curso de Pedagogia de uma universidade pública explica, com
expressiva segurança, o que para ela são esses saberes específicos que os professores
dos cursos de licenciatura detêm. Segundo a professora, “os saberes da profissão de
professores, que formam professores, estão implicados com os saberes da educação
básica e com os saberes sobre esses saberes, que é o campo teórico”. Enquanto muitos
depoentes acreditam numa ascensão dos cursos de bacharelado sobre os cursos de
licenciatura, essa professora procura desmistificar essa crença dizendo que “os saberes
são importantes para o bacharelado e para a licenciatura”, contudo como ilustração
essa formadora de professores afirma que,
259
O conhecimento histórico, por exemplo, é importante, com
certeza, para o bacharel, como é importante para o licenciado.
Mas o licenciado vai ter de saber mais coisas. Ele precisa
saber como se ensina História e como se ensina História para
a educação básica. E esse é um grande desafio. (1FPP).
Essa professora esclarece, ainda, que “o conhecimento específico e exclusivo
do professor é o conhecimento pedagógico, que se encontra nas teorias da
aprendizagem”, e nas várias ciências como “a Psicologia, a Antropologia”. Essas
firmes declarações se relacionam com a questão da identidade profissional do
professor formador, pois como explica Andrade (1998, p.144), a identidade tem um
papel decodificador face ao discurso, que “é diretamente vinculado à especificidade da
Representação Social enquanto forma de conhecimento”. Para essa entrevistada, que
integra a primeira geração pedagógica, o professor formador de professores se ocupa
de, teórica e fundamentadamente, ensinar os futuros professores da educação básica a
ensinar.
Percebe-se nas últimas declarações que asseveram a evidência do poder
profissional docente, a principal característica desse poder, qual seja, o conhecimento
exclusivo. Seria a autoridade da expertise defendida por Freidson (1998, p. 110):
Semelhante autoridade, uma vez institucionalizada na teoria,
senão na prática, repousa antes no conhecimento e capacidade
especiais que no exercício do cargo, repousa antes sobre a
habilidade produtiva, e até mesmo criativa, que na
administração de homens trabalhadores. E, sua afirmão é
motivada pelo compromisso do trabalhador com aquilo que
ele considera seu trabalho e sua especial capacidade de avaliá-
lo porque é ele o único que o faz.
Como se por consequência da apropriação de um conhecimento particular,
surge a autonomia, que não se confunde com autonomia financeira ou com
comportamentos antidemocráticos de se achar que se faz o que quer e quando quer,
260
segundo as declarações de alguns professores que representam socialmente o poder
profissional docente como uma ilusão. Mas, para os professores que representam o
poder profissional docente como evidência, a compreensão de autonomia vem ao
encontro do pensamento de Freidson (1998, p.110), que o associa à competência,
quando fala, também, do trabalho do professor.
Se o conhecimento e a competência esotéricos forem
realmente necessários para realizar a maior parte do trabalho
do futuro, as bases para a racionalização administrativa do
trabalho parecem propensas a tornarem-se cada vez mais
tênues e, empregado ou não, aumenta a possibilidade de o
princípio ocupacional ter precedência sobre o princípio
administrativo.
Nessa direção, destacamos o depoimento da professora de um curso de Letras,
quando afirma que por ocasião do seu doutorado, procurou um orientador que
detivesse os conhecimentos que ela necessitava para o desenvolvimento de sua tese.
Para fazer o doutorado, eu escolhi (...) uma figura (referindo-
se ao professor-orientador) isolada dentro do IEL (Instituto
da Linguagem da Unicamp). Dentro da Linguística, uma
Linguística aplicada pelo regente, preocupada com o ensino.
(...) Ele é um professor que se preocupa com professores do
Ensino Fundamental e Médio. Ele é considerado um militante,
não um pesquisador, eu apresentei meu projeto ao IEL, e
fiz o doutorado com ele. (...) foi um sonho de consumo que eu
concretizei (1FLP).
A autonomia docente, presente na declaração dessa professora formadora da
docência, é um indicativo do poder profissional, e a autonomia nessa perspectiva
lembra o pensamento de Foucault (2005, p. 183), quando esse historiador e filósofo
francês adverte que nas malhas do poder “os indivíduos não circulam, mas estão
261
sempre em posição de exercer este poder e de sofrer sua ação; nunca são alvo inerte ou
consentido do poder, são sempre centros de transmissão”.
A autonomia docente, como se pode perceber, está presente no professor que é
procurado por uma orientanda (a entrevistada acima), que tem como referência a
competência daquele profissional, com destaque para as suas preocupações com a
educação básica. Essa preocupação está relacionada com o curso de formação de
professores no ensino superior e com o exercício desses professores, já licenciados, nas
escolas. Contudo, a autonomia docente está presente, também, na orientanda, que
demonstra convicção de qual conhecimento quer produzir, porque, para que e para
quem.
A professora, entrevistada seguinte, representa socialmente o poder profissional
do professor dos cursos de licenciatura, no sucesso dos profissionais que ela ajudou a
formar, esse seria uma espécie de reconhecimento social, como afirma a depoente: “Só
em ver os meus ex-alunos bem situados, profissionalmente, realizados, eu me sinto,
também, realizada. E faria tudo de novo”. (1FFP).
Quanto ao poder do professor sobre os seus alunos, pode-se verificar na fala do
professor do curso de licenciatura em Educação Física de uma universidade pública, a
seguir, a evidência do poder profissional do professor formador, ressaltado no espaço
da sala de aula e na influência, na autoridade, que ele exerce sobre os seus alunos.
O professor, na sala de aula, tem poder. Qualquer palavra que
ele diga, pode realmente trazer transtornos, até porque numa
turma de quarenta alunos, são quarenta comportamentos
diferentes, então, eu acho que a missão da gente é uma missão
muito complicada, a gente não mata como o médico, como o
engenheiro deixando cair um prédio, mas, nós podemos gerar
danos e consequências muito complicadas nos nossos alunos.
Por isso que o ritual da aula, para mim, é uma coisa,
extremamente, não vou dizer sagrada, mas, pelo menos de
muita responsabilidade. (1MEFP).
262
Na declaração expressa por esse docente, percebe-se a evidência do poder que
esse profissional concebe e pratica. Esse é um poder simbólico, como assinalado, e
como tal Bourdieu (2007, p. 188) esclarece: “é um poder que aquele que lhe está
sujeito àquele que o exerce, um crédito com que ele o credita, uma fides, uma
auctoritas, que ele lhe confia pondo nele a sua confiança”.
Alguns estudos sobre as representações sociais do poder e autoridade
(Guareschi, 1995; Sato, 1995), “indicam que o fenômeno ocorre entre sujeitos inscritos
em suas relações sociais de produção, isto é, entre os sujeitos que se organizam a fim
de produzir coisas para sua própria sobrevivência”. No caso desta pesquisa o poder
profissional do professor sobre os seus alunos seria inerente ao trabalho docente, nos
cursos de licenciatura.
Uma professora do curso de Pedagogia, de uma universidade privada, afirma
que mesmo sendo cerceada no seu trabalho pelos dirigentes da IES, no que se refere às
atividades de planejamento, indicação bibliográfica, tipos de avaliação, e outras
questões, ela não desconhece o poder profissional do professor diante dos seus alunos,
quando faz o seguinte relato:
A instituição diz que eu tenho de dar tais conteúdos, ela me
diz o que o aluno tem que saber, e isso eu dou conta, agora
parar aí, não, a perspectiva de aprofundamento é minha e de
abordagem também, ou seja, a de que o meu aluno saia dali
com uma base teórica, metodológica boa. Eu posso trabalhar,
por exemplo, o conceito de currículo na minha disciplina com
o que é exigido pela instituição, mas na minha sala eu posso,
também, ampliar. Então, para mim, o professor tem
autonomia, mesmo na sala de aula, onde eu posso levar a
argumentação, ter a discussão. Eu sempre digo que as quatro
paredes, a sala de aula, é o espaço de maior autonomia que o
professor tem se assim ele quiser fazer uso dessa autonomia,
certo? (2FPPR).
263
Procurando explicar por que o sujeito faz uma coisa e não outra Moscovici
(2005b, p. 28), diz que a escolha do sujeito ou do grupo é definida por uma e não por
outra intenção, e afirma o autor: “ocorre que a representação e a ação estão articuladas
em função do seu conteúdo. (...) Poder-se-ia dizer que o conteúdo se transforma em
uma causalidade intencional da ação”.
A organização acadêmica, como também a organização escolar, concorre para
um aspecto fundamental da autonomia docente que é o espaço da sala de aula. Essa
organização em classes permite ao professor emitir juízos de valor, fazer escolhas e
desenvolver uma prática para os alunos sob a sua responsabilidade e sem interferências
de outros.
A última declaração, que realça o poder profissional docente, lembra o poder
do discurso interpretado por Foucault (2005, p. 10): “Por mais que o discurso seja
aparentemente bem pouca coisa, as interdições que o atingem revelam logo,
rapidamente, sua ligação com o desejo e com o poder”. Embora se possa acreditar que
o discurso da professora seja algo comum, que se repete no dia a dia, ele evidencia a
representação social do poder profissional que é desejado e exercido por ela.
Num ato de resistência à exacerbação de controle dos mantenedores das IES
privadas, a professora que acaba de falar, influencia com a sua prática e com o seu
discurso, os seus licenciandos, como se pode constatar no seguinte relato:
Uma aluna me pediu para olhar uma prova, que ela havia feito
com os alunos dela, eu fiquei surpresa! E eu disse: “E você
não foi pra rua? Que foi que aconteceu?” Porque estavam lá,
duas questões altamente problematizadoras. (...). Quando,
antes, o teor de toda prova era: o que era isso? Como se faz
isso? E ela disse: “Exatamente como conversamos, e, ainda,
foi melhor”. Ela disse que podia fazer exatamente o que a
escola pedia, mas que teria alternativas. Então, fez de um
modo que o próprio aluno e os próprios pais solicitaram e, ela
justificou para a coordenadora que o aluno dessa escola estava
264
ampliando seus conhecimentos a partir do que iam fazer nas
pesquisas. Então, foi como uma exigência dos próprios pais
dos alunos. (2FPPR).
A preocupação da professora, participante desta pesquisa, com a aprendizagem
dos seus alunos é percebida, também, por sua aluna licencianda, cujas decisões
tomadas na escola onde trabalha, estão respaldadas na prática da sua professora
formadora. Ou seja, a valorização profissional da professora formadora imputada pela
licenciada é materializada nas ações dessa futura professora da educação básica, isso
implica dizer que a licencianda percebe que sua professora procura assegurar-lhes
aprendizagens significativas, ou como denomina Lima (2007, p. 35), “aprendizagem
socialmente responsável e sustentável”.
A representação social do poder profissional docente, como se pode perceber
nas declarações dos sujeitos desta pesquisa, existe nos espaços democráticos das IES
públicas, mas existem, também, nos espaços menos abertos das IES privadas. Nesse
sentido Guareschi (1995, p. 219) lembra que:
A interação social com as pessoas, principalmente com
aquelas que possuem autoridade e que, por isso,
desempenham uma função importante na formação das
representações, impõe a elas as representações consideradas
necessárias para a reprodução das relações sociais.
Decerto que o discurso e a prática da última depoente exercem influência sobre
a licencianda do curso de Pedagogia. A influência é, neste trabalho, compreendida na
perspectiva de Kaplan e Lasswell (1979, p. 92), ou seja, consiste em “posição e
potencial de valor”. É possível afirmar que a professora vive um estado de conflito,
pois a posição que ela assume diante dos seus alunos é diferente da posição tomada
frente à direção da IES, o que faz lembrar a seguinte reflexão de Berger e Luckmann
265
(1985, p. 40): “Meu ‘aqui’ é o ‘lá’ deles. Meu ‘agora’ não se superpõe completamente
ao deles. Meus projetos diferem dos deles e podem mesmo entrar em conflito”. Essa
diferença de perspectiva contribui para a transição da “atitude natural” para a “atitude
teórica”, que no caso da professora será uma opção, pois “o mundo da vida cotidiana
proclama-se a si mesmo e quando quero contestar esta proclamação tenho de fazer um
deliberado esforço, nada fácil” (BERGER e LUCKMANN, p.41).
Uma das características da evidência do poder profissional dos professores dos
cursos de licenciatura, como se pode constatar nas declarações anteriores, é
precisamente o seu domínio, quer dizer, o poder que se exerce sobre o outro. No caso
da docência, embora haja forte influência do Estado (principalmente sobre as IES
públicas), dos mantenedores e dos regimentos das IES particulares, o professor tem um
espaço (a sala de aula), um discurso e uma prática que são seus.
Essa noção é reforçada pela professora de uma universidade pública ao afirmar
que o poder do profissional professor dos cursos de licenciatura evidencia-se em
diversas dimensões. Uma delas está no espaço ocupado pelo professor, ou seja, “nós
temos um lugar para fazer o discurso do saber, que é o da verdade. A verdade do
conhecimento dito. Mas, é preciso o professor ser ético”. (1FPP).
A professora apresenta outra dimensão que seria a liberdade do “poder
discursivo, que nem toda profissão possui”. E, ainda, a dimensão da consequência de
se trabalhar com crianças e jovens, pois para ela o professor tem o poder de “dizer
como eles devem ser e estar no mundo, isso é poder”. A convicção com a qual essa
professora representa o poder profissional docente como evidência, lembra a seguinte
relação feita por Moscovici (2003, p. 41): “Ao criar representações, nós somos como o
artista, que se inclina diante da estátua que ele esculpiu e a adora como se fosse um
deus”.
266
Ainda, na fala dessa professora, pode-se perceber a força da sua identidade
profissional, a partir de questões que ela elucida como o lugar que ocupa e de onde fala
o professor, ou seja, o lugar de quem tem um conhecimento específico e a tarefa de
formar professores. A universidade, a sala de aula seriam os espaços que identificam o
professor, assim como, a posição do professor formador nas relações sociais que
constrói com os licenciandos, com a escola, etc. Essa clara identidade profissional
explicita a dimensão social e a dimensão individual contidas nas representações
sociais, como afirma Andrade (1998, p. 142):
O processo identitário é, ao mesmo tempo, individual e social,
supõe uma interestruturação entre a identidade individual e a
identidade social dos atores sociais, em que componentes
psicológicos e sociológicos se articulam organicamente.
Decerto que o poder profissional referido neste trabalho de pesquisa é um poder
simbólico, como fundamentado no capítulo 3. Tal fundamentação está baseada nos
estudos de Bourdieu (2007, p. 9) para quem “o poder simbólico é um poder de
construção da realidade que tende a estabelecer uma ordem gnoseológica: o sentido
imediato do mundo (e, em particular, do mundo social)”. E, trazer Bourdieu para o
interior deste trabalho de pesquisa justifica-se pela proximidade do pensamento desse
sociólogo com a Teoria das Representações Sociais, pois como afirma Doise (2001,
p.193), “as representações sociais são sempre tomadas de posição simbólicas
organizadas de maneiras diferentes”.
O poder profissional docente, para o entrevistado seguinte, se manifesta pelo
poder de decisão que alguns docentes formadores de professores possuem, sobretudo
quando ocupam cargos públicos, seria, também, uma prova do reconhecimento
profissional dos professores dos cursos de licenciatura.
267
Muitos dos Secretários de Educação do Estado de
Pernambuco nos últimos 20 ou 30 anos passaram pelo Centro
de Educação. (...) Aquele que não passou pela educação,
colocou em todos os postos-chaves da Secretaria, pessoas que
vieram do Centro de Educação em geral ou daqui da
Universidade Federal de Pernambuco. (1MFP).
De acordo com o depoimento acima, o poder profissional do docente que forma
professores no ensino superior, alcança a dimensão de peso do poder. Tomando o
argumento de Kaplan e Lasswell (1979, p.110-111) “participam do processo decisório
apenas as pessoas cujos atos efetivamente têm importância. (...) A tomada de decisões
é um processo interpessoal: o que é decidido são as políticas que outras pessoas devem
seguir”. Sendo assim, os docentes formadores de professores no ensino superior
manifestam o seu poder profissional ao assumirem a tarefa de integrar as discussões e
decisões das políticas públicas.
Para ampliar a compreensão do poder do profissional docente sobre as políticas
públicas, pode-se recorrer a Freidson (1998, pp.75-76) que, ao comentar sobre o poder
do Estado sobre os profissionais, faz a seguinte advertência:
(...) podemos perceber como os profissionais podem exercer
tipos importantes de controle sobre o status de sua profissão.
E podemos ver um maior potencial para sua influência se
examinarmos as atividades daqueles que são ouvidos pelos
detentores do poder. (...) os profissionais individuais que são
considerados a fonte de conhecimento especialmente
competente devem ser contados entre as fontes de influência
que contribuem para a soma de poder profissional.
Quanto aos aspectos específicos que envolvem o controle e a regulação da
profissão, como a instituição de um código de ética ou o estabelecimento de um
conselho federal ou regional, que acompanhem a formação e o exercício dos docentes
268
dos cursos de licenciatura, não foi encontrada significativa preocupação dos sujeitos
desta pesquisa com relação a essa questão. Aproximadamente metade dos sujeitos que
participaram das entrevistas e dos grupos focais, mostraram-se preocupados com a
ausência dessas instâncias de controle e regulação. Outros não mencionaram
preocupação com a questão e, apenas um professor, que é pertencente à primeira
geração pedagógica, diz que a ausência de regulação e controle da formação e da
prática profissional do professor formador, não constitui um impedimento ao poder
profissional docente. Essa questão, possivelmente, sugere a autoconfiança dos
professores formadores, ou a sua auto-valorização profissional.
A evidência do poder profissional indicada pelos docentes dos cursos de
licenciatura é explicitada por meio de aspectos característicos desse poder como: o
conhecimento teoricamente fundamentado (a partir da formação inicial e dos cursos de
pós-graduação, das pesquisas e das publicações dos docentes formadores); o
reconhecimento social e profissional (pelo destaque dos profissionais no mercado de
trabalho, formados nos cursos de licenciatura, pelos cargos públicos ocupados pelos
professores formadores); a valorização profissional, o reconhecimento pelos
licenciados das competências exclusivas dos professores formadores da docência no
ensino superior (a disputa por certos professores orientadores na pós-graduação) e o
domínio conferido pelo poder (dos professores formadores sobre os licenciandos,
sobre a educação básica).
Ao afirmarem a existência do poder profissional dos professores dos cursos de
licenciatura, os sujeitos desta pesquisa travam uma luta por esse poder, que é um poder
simbólico, e como enfatiza Andrade (1998, p. 143), a luta ao nível simbólico,
269
É uma disputa pelo poder de impor determinadas visões de
mundo, ou seja, determinadas representações, determinados
sentidos aos objetos e relações sociais, o que implica
determinados parâmetros de conhecimento da sociedade, do
mundo, do universo.
Ao representarem socialmente o poder profissional docente como ilusão, alvo e
evidência, os professores dos cursos de licenciatura, sujeitos desta pesquisa, reafirmam
o pensamento de Moscovici (2003, p. 62), de que “representação é, fundamentalmente,
um sistema de classificação e de denotação, de alocação de categorias e nomes”.
Assim, um objeto social ao ser representado é retirado do anonimato, ou dito como o
autor: “o que é anônimo, o que não pode ser nomeado, não se pode tornar uma imagem
comunicável ou ser facilmente ligado a outras imagens”. Esse é o processo de ancorar,
que torna o desconhecido em familiar. Mas as representações sociais são geradas,
como visto, por dois processos, o de ancoragem e o de objetivação, desse modo o
criador da TRS afirma que a “objetivação une a ideia de não familiaridade com a de
realidade, torna-se a verdadeira essência da realidade” (p.71). Portanto, as
representações sociais, aqui convencionalizadas de ilusão, alvo e evidência são as
imagens que foram classificadas pelos sujeitos da pesquisa. Segundo o argumento de
Moscovici (2003, p. 72):
As imagens que foram selecionadas, devido a sua capacidade
de ser representadas, se mesclam, ou melhor, são integradas
no que eu chamei de um padrão de núcleo figurativo, um
complexo de imagens que reproduzem visivelmente um
complexo de ideias.
As profissões, mesmo que atreladas a processos políticos formais, como afirma
Freidson (1998, p. 104), ou seja, que é o poder governamental que confere à “profissão
o direito exclusivo de usar ou avaliar certo corpo de conhecimento e competência”, é
270
possível concluir, a partir das representações sociais dos professores dos cursos de
licenciatura, que a manutenção, o aperfeiçoamento, o avanço, a posição da profissão
no mercado, como também, as questões de licenciamento, demandam uma permanente
atividade política dos docentes. Sendo assim, é pertinente o alerta feito por Enguita
(1991, p.42) sobre a autonomia do profissional, pois “o fato de que a lei lhes delimite
um campo e defina algumas de suas normas de funcionamento não expressa sua
sujeição ao poder público, mas antes sua influência sobre ele”.
271
É importante saber empregar a propósito cada uma das
expressões por nós assinaladas, nomes duplos e glosas;
maior, todavia é a importância do estilo metafórico. Isto
só, e que não é possível tomar de outrem, constitui a
característica dum rico engenho, pois descobrir
metáforas apropriadas equivale a ser capaz de perceber
as relações.
Aristóteles (s/d, p.277).
Capítulo 8: Desvendando outras leituras das Representações Sociais dos
Professores, formadores de professores no ensino superior, sobre o Poder
da Profissão Docente.
272
Capítulo 8: Desvendando outras leituras das Representações Sociais dos
Professores, formadores de professores no ensino superior, sobre o Poder da
Profissão Docente
As pesquisas, em Representações Sociais, como anotadas, têm crescido em
todos os campos de investigação, resultando dnum aprofundamento do debate em
torno das questões teórico-conceituais e de aprimoramento quanto à questão
metodológica. Posto à prova e passado pelas críticas e questionamentos do meio
acadêmico, situação relevante para o desenvolvimento de um novo espaço de estudo, o
campo das representações sociais tem se mostrado em mais de quarenta anos, cada vez
mais produtivo. Como explica Sá (1995, p.42), o valor heurístico desse campo de
estudos “se evidencia pela crescente diversidade de questões cuja pesquisa tem
inspirado e às quais tem proporcionado os referenciais teóricos”. É sobre alguns
aspectos dessa diversidade que se estrutura este capítulo, modestamente denominado
de outras leituras das representações sociais investigadas. Um desses aspectos refere-se
ao espaço ocupado pela qualidade icônica da objetivação das representações sociais,
que neste espaço é ilustrada a partir de metáforas. E, ainda, essa diversidade é
enriquecida por concepções complementares como a Teoria do Núcleo Central, tratada
na parte final deste capítulo.
1- Os professores dos cursos de licenciatura e as metáforas do poder profissional
docente:
O campo das representações sociais estaria, portanto, em expansão,
constituindo, nas palavras de Wagner (1998, p.3), “uma topografia mental de várias
culturas e sociedades modernas”. Mas importa destacar que o elemento de interseção
desse tipo de pesquisa, segundo o autor, caracteriza-se por esse “conhecimento ser um
273
conjunto coletivamente compartilhado de crenças, imagens, metáforas e símbolos num
grupo, comunidade, sociedade ou cultura”.
Os indivíduos, na busca por familiarização com os objetos sociais, elaboram
socialmente, formas de conhecimento sobre esses objetos, com a finalidade de
possibilitar a comunicação e a organização dos comportamentos de uma dada realidade
social. A comunicação dessas formas de conhecimento, segundo alguns autores
(Wagner, W. et al, 1995; e Lakoff e Johnson, 1980), em determinadas situações,
estaria subordinada à figuração e à metaforização.
O espaço ocupado pelas metáforas neste trabalho resulta da compreensão de
que os discursos dos sujeitos pesquisados, suas vozes, apresentam-se de múltiplas
formas e, por isso precisam ser lidos e interpretados. As metáforas, como explica
Fairclough (2001, p. 241), “penetram em todos os tipos de linguagem e em todos os
tipos de discurso, mesmo nos casos menos promissores, como o discurso científico e
técnico. Além disso, as metáforas não são apenas adornos estilísticos superficiais do
discurso”. Assim, reconhecer as metáforas como forma de materialização das
representações sociais dos sujeitos desta investigação, implica possibilitar outras
leituras e interpretações dessas representações.
A figuração e a metaforização estariam, portanto, associadas à objetivação da
representação social, pois como argumenta Moscovici (2003, p. 71), “objetivar é
descobrir a qualidade icônica de uma ideia, ou ser impreciso; é reproduzir um conceito
em uma imagem”. Nesse caso, é possível afirmar que o objeto social ‘poder
profissional’ perde o seu caráter abstrato. Segundo o autor (p. 74), a imagem do
conceito “torna-se a réplica da realidade” e, ao perder sua abstração ela “adquire uma
existência quase física, independente. Ela passa a possuir a autoridade de um
fenômeno natural para os que a usam”. Faz-se necessário, porém esclarecer que o
274
processo de objetivação que ocorre na construção das representações sociais, não se
dá, apenas, na passagem das teorias científicas para o senso comum, pois a
objetivação, caracteristicamente, está presente em todo o pensamento social.
A metaforização também, neste trabalho, está associada à ancoragem. Para
explicar o poder profissional docente, os professores mobilizam os seus saberes,
buscando familiarizarem-se com o novo objeto social, contudo como informa Jodelet
(2001, p.35), “quando a novidade é incontornável, à ação de evitá-la segue-se um
trabalho de ancoragem, com o objetivo de torná-la familiar e transformá-la para
integrá-la no universo de pensamento preexistente”. O processo de ancorar implica
classificação de imagens e, dessa forma, os professores, sujeitos desta pesquisa, ao
representarem socialmente o poder profissional docente, o fazem classificando esse
poder como: inexistente ou ilusório; alvo ou meta e evidência ou existência. Mas, neste
trabalho de ancorar, também, podem surgir as metáforas.
Extraindo das suas interpretações, Ordaz e Vala (1998, p.92) afirmam que as
metáforas:
Evidenciam alguns aspectos do conceito, encobrindo outros, o
que as torna de fato produtoras de sentido e fatores
estruturantes da experiência. Compreender as experiências, as
ideias e os conceitos em termos de objetos ou substâncias
permite-nos classificá-los e avaliá-los, enfim, pensar sobre
eles.
No processo de construção das suas representações, buscando objetivar o
‘poder profissional docente’, os professores elaboram imagens, como as já vistas
(ilusão, alvo e evidência), e metáforas, tornando-as elementos da realidade social. De
acordo com a perspectiva de Ricoeur (S/D, p. 9), “a metáfora é o processo retórico
pelo qual o discurso liberta o poder que certas ficções comportam de redescrever a
realidade”. Portanto, é possível reconhecer nas declarações, a seguir, que alguns
275
sujeitos desta pesquisa, consciente ou inconscientemente, ao tentarem objetivar as suas
representações sobre o poder profissional do docente dos cursos de licenciatura,
realizam esse processo a partir de metaforização.
1.1 - As metáforas do poder profissional docente para os professores dos cursos de
licenciatura, que percebem a imagem desse poder como uma ilusão
Se para a professora, a seguir, o poder profissional do docente não existe, é
representado imageticamente como uma ilusão, uma vez que ele não é reconhecido
socialmente, e por isso sua atividade é desvalorizada, então há um nexo na forma como
ela objetiva sua representação sobre esse poder, pois ela o associa a um “quadro
abstrato”:
No quadro, a imagem se forma a partir do momento de cada
pessoa. (...) você linhas, como se não levasse a lugar
nenhum, e tem pessoas que quando veem a imagem, veem
como se fosse um jarro de flores, outras como eu vi uma
mulher de casaco, de cabelo bem curto! A dona do quadro,
que é uma psicóloga, diz que a interpretação da imagem vai
de acordo com o momento de maturidade de cada um. Então,
assim, não sei se é o momento histórico, mas eu vejo esse
quadro, como o poder da profissão de professor, o quadro
apresenta aquelas linhas abstratas que sai de lugar e não leva a
lugar nenhum. Como se fossem linhas perdidas. (2FPPR).
A declaração da professora, que explicita a sua representação de poder
profissional docente como algo ilusório, é objetivada a partir da metaforização. Isso
implica dizer que esta é a forma que ela encontrou para imprimir significado ao objeto
social ‘poder profissional’, ou seja, uma pintura abstrata. Como esclarece Fairclough
(2001, p. 241), “quando nós significamos coisas por meio de uma metáfora e não de
outra, estamos construindo nossa realidade de uma maneira e não de outra”. A
276
objetivação na forma de metáfora, como um quadro abstrato, lembra o alerta de
Moscovici (2003, p. 32), quanto ao dilema no qual nos encontramos muitas vezes
necessitando de “um ou outro signo que nos dirá: ‘Essa é uma representação’, ou ‘Essa
não é uma representação’”. E, para ilustrar o seu alerta, o autor faz referência à pintura
de René Magritte, que releva o dilema do que é e do que não é real entre duas figuras
mostradas na sua obra:
A ideia de que uma delas é uma figura que está, ela mesma,
dentro de uma figura e por isso um pouco “menos real” que a
outra, é totalmente ilusória. Uma vez que se chegou a um
acordo de “entrar na moldura”, nós estamos
comprometidos: temos de aceitar a imagem como realidade.
Uma professora, formadora da docência de uma universidade particular, afirma
não existir um poder profissional dos professores dos cursos de licenciatura. Para ela,
essa é “uma profissão pouco atrativa, (...) exaustiva, cansativa, e que se tem de
trabalhar muito para ganhar pouco ou mal”. A professora sugere, portanto, o pouco
reconhecimento profissional da docência e, mesmo, a pouca valorização, a partir,
também, da remuneração do trabalho do professor. A professora faz uma representação
do poder profissional desses professores, a partir da metáfora de uma máquina, ou seja,
para ela o poder profissional docente é comparado a:
Uma máquina. Seria o computador, que seria um humano, no
sentido de humano natural. (...) que tem as mesmas
ferramentas de comunicação de uso de tecnologia, de ponta,
alguém que está à frente do seu tempo. Mas, é manipulado.
(2FHPR).
Essa representação reflete a inexistência do poder profissional do docente que
forma professores no ensino superior, pois é sabido que, até os dias atuais, por mais
277
avançada que seja uma tecnologia, ela é criada, manipulada e operada pelo homem.
Mas parece ser contraditório a professora atribuir características à docência como
ampla comunicação e estar à frente do seu tempo, quando essas características estão
embutidas de algum tipo de poder.
A análise das palavras da professora que compara o poder profissional docente
a uma máquina sugere trazer a seguinte questão posta por Moscovici (2003, p. 75):
“Não objetivamos nós de tal modo que esquecemos que a criação, que a construção
material é o produto de nossa própria atividade, que alguma coisa é também alguém?”.
Decerto, a comparação feita pela professora está impregnada das suas predisposições,
das imagens que ela apreendeu, porém a professora é, também, ou principalmente,
influenciada pelo padrão de aprendizagem dominante na sociedade. Como conclui o
autor:
O modelo de toda aprendizagem, em nossa sociedade, é a
ciência da física matemática, ou a ciência dos objetos
quantificáveis, mensuráveis. Desde que o conteúdo científico,
mesmo de uma ciência do homem ou da vida, pressuponha
esse tipo de realidade, todos os seres aos quais ela se refira
são concebidos de acordo com tal modelo.
A professora subsequente, do curso de Letras de uma faculdade privada, não
acredita na existência do poder profissional docente, embora reconheça uma
permanente luta dos professores para obtê-lo. E, coerente com a sua formação, também
em Letras, ela recorre ao poema, O lutador”, de Carlos Drummond de Andrade, para
objetivar a representação que faz do poder profissional do professor formador:
Há um texto de Drummond que mostra, que fala sobre o
professor de Língua Portuguesa de um modo indireto. É
quando ele diz que: "Lutar com palavras é a luta mais vã.
Entretanto lutamos, mal rompe a manhã”. O professor estaria
278
na condição de poeta, de lutador. Eu acho que o professor,
também, luta e o professor da área de Letras, luta com
palavras, e com o ser humano. Lutar com o ser humano é
relacionar a palavra à arte. Então, na verdade, acho que o
lutador de Drummond se encaixa bem no poder da profissão
do professor. (1FLPR).
Ao objetivar a sua representação social do poder profissional docente, como
metáfora, a professora substantivou a sua representação, ou seja, ela substitui a ação do
professor pela expressão O Lutador. Na análise de Moscovici (2003, p. 77), nas
pessoas uma tendência de
Transformar verbos em substantivos, ou o viés pelas
categorias gramaticais de palavras com sentidos semelhantes,
é um sinal seguro de que a gramática está sendo objetivada,
de que as palavras não apenas representam coisas, mas as
criam e as investem com suas próprias características.
As metáforas estão presentes nos diversos tipos de linguagem, com realce para
a linguagem poética. Como argumenta Derrida (1973, p.330), a metáfora seria esse
traço “que reporta a língua à sua origem. Épica ou lírica, relato ou canto, a fala arcaica
é necessariamente poética. A poesia, primeira forma de literatura, é de essência
metafórica”.
É possível que haja essa relação sugerida pela professora, mas fazendo uma
rápida inferência e adentrando pela leitura do poema verifica-se que o verdadeiro
lutadorreconhece a luta, a enfrenta e não desiste como se pode ler na continuação
do poema:
(...) Lutar com palavras
Parece sem fruto,
Não tem carne e sangue ...
Entretanto, luto.
Palavra, palavra
(digo exasperado)
279
Se me desafias,
Aceito o combate.
(...) Tamanha paixão
E nenhum pecúlio.
Cerradas as portas,
A luta prossegue
Nas ruas do sono.
1.2 - As metáforas do poder profissional docente para os professores dos cursos de
licenciatura, que têm a imagem de alvo em relação a esse poder
Para a professora, pedagoga e licenciada em Biologia, cuja declaração se
encontra a seguir, o poder profissional docente percorre um caminho, é construído
mesmo que lentamente, saindo do estágio ilusório, para um estado de movimento em
busca da existência desse poder.
Não quero ser romântica, não quero parecer ingênua, mas em
outra época, eu compararia o poder do professor aos lírios do
campo. Mas, hoje não. Hoje, eu imagino os professores com
mais poder, que eu acho que eles são essenciais porque têm
função para a vida das pessoas, comparo aos manguezais. Os
manguezais são essenciais, para a nossa cidade, por exemplo,
que podem até passarem despercebidos, mas que têm toda
uma importância para os ecossistemas, toda uma
funcionalidade na sua existência. E acho que os manguezais,
se representam bem pra gente, que é do Recife e sabe o
quanto a gente sofre, com a retirada deles, pelo aterro, pela
desvalorização. (2FCBP).
Essa professora utiliza mais de uma metáfora para objetivar o poder
profissional docente. Num primeiro momento a metáfora desse poder seriam os lírios
do campo e, num momento posterior, marcado possivelmente por mais experiência e
conhecimento, o poder profissional, metaforicamente, se apresenta como um
manguezal. De acordo com a perspectiva de Fairclough (2001, p. 241), as metáforas
estruturam o modo como pensamos e o modo como agimos, e nossos sistemas de
280
conhecimento e crença, de uma forma penetrante e fundamental”. É o que parece ter
acontecido com a representação social da professora sobre o poder profissional
docente, isto é, a representação foi se estruturando conforme o avanço do pensamento,
do sistema de conhecimento e de crença da professora.
Segundo a professora formadora da docência no ensino superior e, também,
Psicóloga que fala na sequência, e que há doze anos leciona nos cursos de licenciatura,
o poder profissional do professor assemelha-se ao poder que tem certos pássaros de
alçarem voo, de enxergarem distante, mas adverte que é só semelhança:
Acho que eu desejaria mesmo é que ele (o professor) voasse
como uma águia. A águia lança vôos cada vez mais altos, mas
estão ali olhando os filhotes, não os perde de vista, e vê tudo o
que está perto e mais longe. Ou como os gansos que voam
alto e em “V”, no sentido do coletivo. Agora, os professores,
na realidade, estão vendo (ou voando) um pouco menos, é
como pássaros que não alcançam voos muito altos. (1FCAP).
Para essa professora, a representação social do poder profissional docente é
materializada no comportamento dos animais. Essa seria uma forma de objetivação da
representação, que segundo Vala (2000, p.465), refere-se ao modo como são
organizados “os elementos constituintes da representação e ao percurso por meio do
qual tais elementos adquirem materialidade e se tornam expressões de uma realidade
pensada como natural”.
O professor, seguinte, ao admitir a incompletude da formação profissional da
maioria dos professores formadores da docência, no ensino superior e, ao defender que
esses formadores precisam ter, simultaneamente, domínio de conteúdos de áreas
específicas e domínio do conhecimento pedagógico, compara esse professor a um
anfíbio:
281
Um curso de licenciatura tem necessariamente, dentro dele,
pessoas de formações disciplinares as mais diversas. Eu o
vejo isto como um mal, vejo isto muito bom e salutar. Porque,
efetivamente, quando a gente está falando na sensibilidade, de
alguém que vai se apropriar de um outro conhecimento, de
uma outra área, e, portanto que vai transitar de sua área sem
perder a sua identidade, eu acho que existe muito risco. A
gente morre de medo de dizer: eu estou perdendo a minha
área. Portanto, a velha ideia do grupo profissional, do corpo,
do espírito do corpo, quem é minha tribo? (...) O interessante
é que quando se fala na formação do professor, o que é
necessário para ser professor? Uma sólida formação. Mas o
que é uma sólida formação? E parece que começa e termina
aí: ter um bom domínio dos conteúdos disciplinares e de
conhecimento pedagógico. (...) assim, ele seria como um
anfíbio, que deveria transitar nos dois territórios com
autoridade e competência. (1MHP).
Se o anfíbio é um animal que transita, facilmente, no ambiente aquático, como
no terrestre, pois esse animal, na sua evolução, tornou-se capaz de respirar na água e
fora dela, o professor formador de professores nos cursos de licenciatura não pode ter,
somente, competência técnica em lidar com os conteúdos específicos disciplinares. Ou
ser capaz, apenas, de discursar metodologias e teorias pedagógicas. O professor
formador deve avançar no sentido de ter o poder de conciliação desses dois aspectos,
ou seja, ser possuidor de conhecimentos disciplinares e ser competente,
pedagogicamente, no momento em que ensina o conteúdo e, mais, no momento em que
ensina o licenciando a ensinar o conteúdo.
O professor que acaba de descrever a sua metáfora de poder profissional
docente como um anfíbio, não fez a descrição como se empenhou em convencer os
interlocutores da sua lógica. Essa metáfora não surgiu do nada, ou do acaso, mas foi se
construindo no processo formativo e prático do professor, pois ele a utilizou no grupo
focal e de acordo com as reações dos presentes, o professor já havia feito essa
exposição em outros momentos. A forma como esse docente defende essa metáfora
lembra a seguinte afirmação de Fairclough (2001, p. 241):
282
Algumas metáforas são tão profundamente naturalizadas no
interior de uma cultura particular que as pessoas não apenas
deixam de percebê-las na maior parte do tempo, como
consideram extremamente difícil escapar delas no seu
discurso, pensamento ou ação, mesmo quando se chama sua
atenção para isso.
1.3 - As metáforas do poder profissional docente para os professores formadores
de professores, no ensino superior, que percebem a sua existência, e por isso, o
concebem como uma evidência
Para o professor, a seguir, o poder da profissão de professor evidencia-se
sempre que algo novo surge do trabalho desse profissional. Essa forma de expressão
traz certa coerência com a representação que o professor construiu sobre esse poder, no
seu processo de formação, ou seja, quando se licenciava em Ciências Biológicas:
Seria sempre uma imagem da renovação, de um novo, de um
novo, sabe? De uma construção nova de sociedade. É nesse
sentido, algo como a criação, algo que está nascendo alguma
coisa que surge desse trabalho. (1MCBP).
Para esse entrevistado, o poder profissional docente é representado
socialmente, a partir da imagem da evidência, ou seja, da prova, da constatação. Mas,
em seguida, o mesmo professor seleciona a metáfora da renovação para objetivar o
poder profissional do professor dos cursos de licenciatura. O professor formador de
professores no ensino superior teria o poder de, no desenvolvimento da sua profissão,
na formação inicial, ou por meio do conhecimento obtido com suas pesquisas, renovar,
criar, contribuir para a construção de uma nova sociedade. Ao destacar algumas das
283
palavras ditas pelo professor como: renovação, criação, construção, percebe-se
elementos de ação, que, possivelmente, fazem parte do processo de construção da
representação social desse sujeito. Moscovici (2003, p. 77), manifesta o argumento de
que,
Toda verdade autoevidente, toda taxionomia, toda referência
dentro do mundo, representa um conjunto cristalizado de
significâncias e tacitamente aceita nomes; seu silêncio é
precisamente o que garante sua importante função
representativa: expressar primeiro a imagem e depois o
conceito, como realidade.
Com a metáfora de “um pássaro que voa e, que tem liberdade”, o professor do
curso de licenciatura em Educação Física representa o poder profissional docente
reafirmando sua existência.
Eu acredito que a palavra liberdade seja uma coisa
interessante, porque muda o ambiente da sala, mudam os
paradigmas de ensino. (...) Eu acho que a aula de Educação
Física muda muita coisa do contexto normal, e eu acredito,
que se tiverem professores que saibam usar bem essa
liberdade, o aluno terá liberdade para aprender e saber
negociar a aprendizagem dele. (1MEFP).
Ao substantivar o objeto social ‘poder profissional docente’, como ‘liberdade’,
o professor utiliza-se de uma dimensão muito particular das representações sociais, no
que se refere ao processo de objetivação, que é o ato de personificar. Como é possível
observar nas palavras de Vala (2000, p. 469), interpretando Moscovici e Hewstone
(1984), esse ato “consiste em materializar num nome ou num rosto uma ideia”.
Para a professora do curso de Pedagogia de uma universidade pública, cujo
depoimento localiza-se a seguir, a evidência do poder da profissão docente é tão clara
que ela manifesta-se, cotidianamente, nos espaços acadêmicos e escolares. Esse poder
284
profissional teria semelhança com um polvo com os seus tentáculos agindo
simultaneamente:
O professor exerce vários poderes, um desses poderes é o de
desmoralizar uma criança. A sua relação de poder, de
hierarquia de poder na sociedade, é como um polvo. Ele tem o
poder de aprovar e reprovar. (...) Eu sempre digo aos meus
alunos: Olha vai faltar emprego para todo mundo, mas para o
professor não falta. A escola está aí. (...) Quer ver o mundo se
acabar? Fechemos as escolas. (1FPP).
Ao cristalizar a ideia, poder profissional docente, em um polvo, a professora
recorre a um dos constituintes do processo de objetivação que é o da figuração, ou nas
palavras de Vala (2000, p. 469) nesse processo, também, as “metáforas substituem
conceitos complexos”
Outra professora do curso de pedagogia, mas de uma faculdade privada,
representa o poder profissional do professor dos cursos de licenciatura como uma
biblioteca, que corresponderia ao espaço onde se encontra o conhecimento
concretizado.
Eu faria uma imagem de alguém que está numa biblioteca. O
tempo todo buscando... Pegando vários autores, pegando
livros, pegando na internet. Fazia essa imagem, porque eu
tenho fascínio por biblioteca, ela sempre me encantou. É
aonde se vai ter subsídio para formação, onde se vai buscar a
base. Eu digo a biblioteca, mas é ali onde se encontram
pesquisa, as dissertações, onde você vai encontrar a produção
do conhecimento, e consequentemente, a partir da produção
que existe você vai fazer a sua própria produção. (2FPPR).
A metáfora, de acordo com Rebello (2009, p. 6) “é um recurso de criação e
recriação dentro da língua, seja ela literária ou não”. Essas metáforas elaboradas pelos
professores, de alguma forma, estão associadas aos seus processos de formação.
Assim, a licenciada em Ciências Biológicas traz a representação do manguezal; o
285
licenciado em Educação Física associa a liberdade aos espaços fora da sala de aula,
onde se realizam as aulas dessa disciplina; a professora que tem experiências com a
educação à distância, que trabalha com os recentes artefatos tecnológicos, representa o
poder da docência como um computador, como uma tecnologia de ponta; a professora
do curso de Letras, que leciona Literatura, representa o poder profissional do professor
formador, a partir do poema, “O lutador”; outro professor do curso de Ciências
Biológicas traz a representação da criação, do nascimento. Isso porque a representação
social expressa a relação que o sujeito, professor-formador, constrói nos processos
formativo e de prática com o objeto social, ‘poder profissional’. E, como problematiza
Ricoeur (S/D, p.148):
Não há metáfora no dicionário, apenas existe no discurso;
neste sentido, a atribuição metafórica revela melhor que
qualquer outro emprego da linguagem o que é uma fala viva;
esta constitui por excelência uma ‘instância do discurso’.
As representações sociais apresentadas como metáforas podem ser classificadas
segundo Ordaz e Vala (1998, pp. 92-93), como estruturais ou ontológicas, embora os
autores afirmem que essa classificação não seja suficiente. Mas, trazendo essa
classificação para o interior desta pesquisa, pode-se dizer que as metáforas estruturais
seriam aquelas que organizam o conceito de poder profissional docente em função de
outros conceitos mais concretos como, dito de outra forma, as metáforas estruturais
imprimem certa centralidade às representações sociais, por exemplo, a professora que
representa socialmente o poder profissional, como o domínio do conhecimento que os
professores de licenciatura possuem. Ou, ainda, a partir do autoritarismo do professor
em sala de aula. Já as metáforas ontológicas seriam aquelas em que os objetos, as
substâncias e o próprio fenômeno do poder profissional docente adquirem
286
características de outros seres ou objetos. Nesse sentido, é possível ilustrar os
professores que remetem às metáforas suas representações sociais como uma máquina,
um anfíbio, um manguezal. De todo o modo, é pertinente anotar a análise de
Moscovici (2003, p.77), de que “os nomes, pois que inventamos e criamos para dar
forma abstrata a substâncias ou fenômenos complexos, tornam-se a substância ou o
fenômeno e é isso que nós nunca paramos de fazer”. Isso porque tanto a ancoragem
quanto a objetivação são responsáveis pela dinâmica das representações sociais, e
nessa dinâmica estamos constantemente criando nomes e formas para nos
familiarizarmos com o desconhecido.
As representações sociais dos professores, sujeitos desta pesquisa, configuram-
se em desafios, que sendo compreendidos pelos docentes dos cursos de licenciatura
serão reproduzidas ou transformadas. Isso porque as representações sociais
possibilitam as condições de recuperação do pensamento, do discurso e da construção
dos saberes sociais, e essas condições quando atendidas revelam o sujeito político que,
por meio das suas ações participa da esfera da vida coletiva, assim como da
constituição de vidas individuais.
A abordagem social das representações por tratar de objetos diretamente
observáveis, o conteúdo dessas representações é tratado, segundo Jodelet (2001, p.37),
como “campo estruturado” ou como “núcleo estruturante”. Mas as propriedades
estruturais, adverte a autora, “são examinadas em representações constituídas”. E é
da dimensão estrutural das representações sociais dos professores pesquisados que
tratará o próximo item.
287
2-
A dimensão estrutural das representações sociais: o Núcleo Central das
Representações Sociais dos Professores dos cursos de licenciatura atinente ao
Poder Profissional Docente
Como se pode perceber nesse espaço de análise das representações sociais dos
sujeitos investigados, o objeto social ‘poder profissional docente’ está inscrito num
contexto ativo, quer dizer, no cotidiano dos professores que exercem suas atividades
profissionais nos cursos de licenciatura. Disso resulta que esse objeto é representado,
ou como diz Abric (1998, p. 27), é reapropriado pelo indivíduo ou pelo grupo,
reconstruído no seu sistema cognitivo, integrado “no seu sistema de valores,
dependente de sua história e do contexto social e ideológico que o cerca”. Sendo
assim, o objeto social ‘poder profissional docente’ é/foi representado pelos professores
pesquisados no seu sistema cognitivo, incorporado ao seu sistema de valores como
ilusão, alvo ou evidência. É a concepção do poder profissional docente que é
reapropriada e reestruturada pelos professores formadores de professores no ensino
superior, que se torna valorizada e geradora de sentidos.
A partir das declarações dos sujeitos desta pesquisa, pode-se compreender que
as suas representações sociais são compostas de grupos de informações, de opiniões,
de crenças e de atitudes acerca do poder profissional docente. E a composição de uma
representação social, quando organizada, de acordo com Abric (1998, pp. 30-31),
“estrutura-se e se constitui num sistema sociocognitivo de tipo específico”. Para esse
autor, a representação social se organiza em torno do que ele denominou de ‘núcleo
central’, que confere significado a essa representação. Como já anotado esse sistema
carrega o aspecto cognitivo como forma de conhecimento elaborado pelos sujeitos e as
funções sociais da comunicação e da ação.
288
Cada uma das representações, aqui convencionalizadas têm, igualmente, essa
composição, e quando esses elementos são organizados, emerge a sua estrutura
fazendo surgir o seu cleo central. A determinação desse núcleo para Abric (1994,
pp.20-21), se pela natureza do objeto representado, pelo tipo de relações que o
sujeito mantém com o objeto e pelo sistema de valores e normas sociais constitutivos
do meio ambiente onde se encontram os grupos sociais.
No caso deste trabalho, a natureza do poder profissional docente é abstrata por
se tratar de um poder simbólico, que, no entanto, é desejado pelos professores dos
cursos de licenciatura, mas a visão desse poder se apresenta ambígua para uma parte
dos professores investigados. O núcleo central é determinado, também, pelas relações
entre determinados elementos formulados pelos professores sobre o poder profissional
da docência, até mesmo quando da formulação de metáforas. E, ainda, o núcleo
estruturante é definido pelo sistema de valores e normas sociais que compõem o meio
ambiente ideológico vivido pelo grupo de professores formadores da docência no
ensino superior. Isso implica dizer que o sistema de valores que circunda o poder
profissional docente, assim como as normas da sociedade, interfere na ligação
estabelecida entre os elementos que compõem a representação social.
Desse modo, as representações sociais do poder profissional docente,
elaboradas e expressadas pelos professores desta pesquisa como ilusão, quando eles
denunciam a desesperança sobre a formação da profissão, a dificuldade de uma
identidade da profissão e o território da profissão, dentre outros, indica ser a questão da
profissão docente, o elemento aglutinador dos sentidos de poder profissional. Isso
porque a representação social além de ser estudada como campo estruturado (de
significações, saberes e informações), é estudada, também, como núcleo estruturante,
no qual o campo é tratado como semântico, que corresponde ao conjunto dos
289
significados. Ao estudar o núcleo central ou estruturante, busca-se identificar as
estruturas que compõem o âmago do sistema da representação em torno das quais ele
se organiza.
O mesmo pode ser dito em relação àqueles professores que representam o
poder profissional docente como um alvo, quando ganham relevo elementos como a
formação, requisito definidor para a conquista do poder profissional. Nas suas
declarações, os professores destacam: os cursos de formação dos professores
formadores da docência em nível superior; os espaços formativos (as IES); os
professores e as IES que promovem / não promovem uma formação de qualidade aos
futuros professores do ensino básico, esses espaços e elementos, quando assegurados
pela devida qualidade, poderão contribuir com o reconhecimento da profissão de
professor. De acordo com Dubar (1997b, p. 205), “é preciso que exista um espaço
social no seio do qual os grupos profissionais adquiram legitimidade não somente face
aos empregadores, mas também face ao Estado e aos consumidores”. E desse modo,
esses sujeitos chamam sempre a atenção para a formação do profissional professor,
formador de professores no ensino superior, que se encontra em construção, seja pela
qualidade dos cursos de licenciatura que buscam conferir aos licenciados uma
compreensão real do contexto escolar, seja pelos espaços de formação profissional, as
IES, que não/pouco investem em pesquisas educacionais capazes de interferir nos
rumos da educação escolar e, dessa forma, promover o reconhecimento profissional
dos professores formadores, reconhecimento, que por sua vez, daria consistência aos
elementos constitutivos do poder profissional docente. Portanto, é a formação
profissional dos professores dos cursos de licenciatura que se apresenta como cleo
central da representação social do poder profissional como alvo.
290
Os sujeitos pesquisados, que representam socialmente o poder profissional
como evidência, revelam ser orgulhosos do reconhecimento imputado por sua
profissão de professor dos cursos de licenciatura. Esse reconhecimento, segundo esses
sujeitos, é destacado pelo conhecimento específico que eles possuem, que possibilita
um discurso pedagógico específico, falado/escrito de um lugar específico. O
conhecimento específico, que traz a característica da abstração, favorece o espaço para
a pesquisa, demarca o território profissional do professor, mantém viva a profissão
docente porque se atualiza sempre. Percebe-se, portanto, que o conhecimento
específico é o elemento mais inalterado e que o cede facilmente à mudança, pois ele
revela a competência de ensinar a ensinar, o que resulta na finalidade da profissão de
professor, e, dessa forma, é o conhecimento específico o núcleo central da
representação social do poder profissional como evidência.
O núcleo central de cada uma das representações sociais, acima anotadas, se
configura como o elemento que se faz presente nas representações explicitadas pelos
professores formadores da docência e, que, ao mesmo tempo, articula essas
representações. Pode-se afirmar, ainda, que o núcleo central de cada uma dessas
representações, apresenta as duas funções fundamentais indicadas por Abric (2001, p.
163): “uma função geradora” e “uma função organizadora”. É possível reconhecer que
a função geradora do núcleo central, gera sentido e valor aos outros elementos da
representação social de poder profissional docente. Também, a função organizadora é
reconhecida pelo fato do núcleo central ser unificador e estabilizador dos elementos
constitutivos das representações sociais acerca do poder profissional docente.
Os núcleos centrais das representações sociais dos sujeitos desta pesquisa sobre
o poder da sua profissão possibilitam, também, um exame comparativo entre elas, pois
como assevera Abric (1998, p. 31) “é a identificação do núcleo central que permite o
291
estudo comparativo das representações”. O núcleo central, para o seu criador,
“assegura a continuidade em contextos móveis e evolutivos”. Pelo fato do núcleo
central ser o elemento mais estável, mais resistente à mudança, o autor conclui que “de
fato, toda modificação do núcleo central provoca uma transformação completa da
representação”.
Embora se compreenda a autoridade de Abric, e a relevância da teoria do
núcleo central da representação social, criada por ele, assim como dos elementos
constitutivos e das condições de existência do núcleo central, e, ainda, se entenda que
cada cleo central é correspondente a uma representação social, pois ele revela a sua
estrutura e a sua composição num sistema sociocognitivo de tipo determinado,
imprimindo sentido à representação, é possível compreender, também, que um
trabalho de pesquisa pode ser indicativo de novas questões que venham a ampliar os
conceitos consagrados. Sendo assim, apesar de ter claras as diferenças entre as três
representações sociais expressadas pelo conjunto dos docentes pesquisados e,
reconhecidos os núcleos centrais de cada uma delas, poder-se-ia pensar em termos de
uma meta-análise, o aspecto do reconhecimento profissional como uma espécie de
núcleo central aglutinador das três representações sociais reveladas neste trabalho. Isso
porque, devido aos diversos fatores como os contextos de produção e de circulação dos
produtos dessas representações, o reconhecimento profissional se fez presente como
um expressivo significado para essas representações. A meta-análise, sugerida, não
implica em apontar incompletude na teoria do núcleo central, ao contrário, no sentido
deste trabalho, a meta-análise corresponde a um elemento potencializador dessa teoria.
De acordo com o dicionário Novo Aurélio Século XXI (1999, p.1325), o prefixo meta
tem vários significados, dentre eles: “mudança”; “além”; “transcendência”; “reflexão
292
crítica sobre”. Portanto, é a partir desses significados que a meta-análise é proposta
nesta tese.
E, ainda, lembrando a afirmação de Luiz (2002, p.410) de que “uma meta-
análise visa extrair informação adicional de dados pré-existentes” então ela seria
aquela que “transcende o resultado de análises anteriores, sendo uma reflexão crítica
sobre elas”. Logo, é na perspectiva de meta-análise que se propõe o reconhecimento
profissional como núcleo central dos três núcleos centrais apreendidos em relação às
três representações sociais desveladas ao longo do estudo.
O conteúdo, produto das análises e interpretações dos dados apreendidos nesta
investigação, corresponde às explicações possíveis que se pretendeu dar ao problema
que foi delimitado para esse estudo. Espera-se que os resultados revelados corroborem
com as expectativas de Moscovici (1961, pp. 307-309), isto é, que as representações
sociais, aqui anunciadas possam
Contribuir para os processos formadores e para os processos
de orientação das comunicações e dos comportamentos. (...)
Resolver problemas, dar formas às relações sociais, oferecer
um instrumento de orientação dos comportamentos.
Por conseguinte, espera-se que o conhecimento a respeito das representações
sociais dos professores, formadores de professores no ensino superior, sobre o poder
da profissão docente, apreendidos e comunicados nesta tese, possibilitem a inserção de
um novo conteúdo nos debates e nas propostas de reformulação dos processos
formativo e prático da profissão de professor. Contudo, de se considerar as
dimensões e os contextos socioculturais, nos quais os professores compreendem o
poder profissional docente.
293
Entre a pura coincidência com o poder e a experiência
estética do jogo das ideias, situa-se o espaço de um
conhecimento social que pode contribuir
conscientemente para reduzir a opacidade das relações
sociais, ampliando o potencial de ação disponível.
Se o conhecimento social torna-se um componente
institucionalizado da própria prática social, é
dificilmente separável de uma reflexão sobre o poder.
MELUCCI, Alberto. (2005). Por uma Sociologia
Reflexiva: pesquisa qualitativa e cultura. Petrópolis, RJ :
Vozes. p. 333.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
294
Considerações Finais
As considerações finais desta tese, ao tempo em que apresentam alguns resultados
oriundos da pesquisa, ressaltam alguns questionamentos, que emergiram, também, dos
resultados deste trabalho.
As representações sociais dos professores dos cursos de licenciatura sobre o poder
profissional docente, apreendidas e analisadas no espaço da pesquisa que resultou nesta tese,
se configuram como formas de conhecimento e como um sistema de explicação que orienta as
relações dos professores formadores da docência com os seus pares, com os licenciandos e
com a sociedade mais ampla. A partir dos resultados obtidos e apresentados, é possível
afirmar que essas representações têm contribuído para a (des)orientação e a (des)organização
das condutas dos professores formadores e definido as suas comunicações atinentes ao poder
profissional da docência. Portanto, diante do exposto pelos sujeitos da pesquisa, seria
incoerente qualquer afirmação de consenso sobre uma representação social do poder
profissional docente, daí as contradições presentes nas condutas e nas comunicações sociais
desses professores.
Como os objetos sociais são apreendidos em certos contextos e relações, as
representações sociais dos professores desta pesquisa provêm das associações e dos contextos,
que esses professores têm/tiveram com outros objetos como: a formação profissional, o
ensino, a aprendizagem, as relações estabelecidas com as escolas da educação básica, a
estrutura e o funcionamento das IES, e outros, formando assim, “um campo de representação”.
Ao representar o objeto social ‘poder profissional docente’ os sujeitos desta pesquisa
deram prova da superação da não familiaridade com esse objeto, que passou a ser incluído no
mundo mental e físico desses profissionais, que é por eles enriquecido, aprimorado, mas é,
também, permanentemente modificado.
295
A apreensão e compreensão das representações sociais dos professores foram
possíveis, a partir do aporte teórico selecionado e estudado e da metodologia desenvolvida.
Foi gratificante perceber, nos momentos de análise do material coletado durante a pesquisa, a
emersão dos determinantes do poder profissional da docência no ensino superior,
destacadamente dos professores formadores, assim como as representações sociais desse
poder que foram construídas e comunicadas por esses profissionais no decurso da sua vida
profissional.
Ao iniciar o estudo das representações sociais dos sujeitos investigados, as questões do
processo de formação profissional surgiram rapidamente, como: a instituição de ensino
superior; o desenvolvimento de um conhecimento teoricamente fundamentado e o
licenciamento para o exercício da profissão. Mas, nesse mesmo tempo, foi possível perceber
que, embora os cursos de formação de professores em nível superior estivessem/estejam,
passado/passando, recentemente, por reformulações, devido à instauração das Diretrizes
Curriculares Nacionais para esses cursos, algumas questões, que reverberam no poder
profissional docente continuam abertas, como se pode observar na sequência deste texto.
Os cursos de licenciatura oferecidos pelas instituições de ensino superior, públicas e
privadas, constituem o principal espaço social onde os futuros professores podem se apropriar
de conhecimentos (gerais e pedagógicos). Mas esses conhecimentos são possibilitados,
principalmente, pelos professores formadores, que buscam, por meio da licenciatura de novos
professores, desenvolver nas novas gerações de estudantes da educação básica, as bases das
relações sociais que efetivam o exercício da cidadania. Contudo, as contradições existentes
entre e nas IES são reais, enfraquecendo, assim, os processos de construção e de manutenção
do poder profissional docente. Uma delas reside na diferença de condições de trabalho entre os
professores de instituições públicas e os de instituições privadas. As condições dos primeiros
integram, por exemplo, o tempo pedagógico para pesquisas e publicações, o que é, também,
296
uma exigência institucional. Entretanto, os professores das instituições particulares limitam-se
a dar aulas, não havendo, portanto, o interesse dessas instituições com a produção de
conhecimentos, salvo raras exceções. Consequentemente, as diferenças entre as instituições
promovem as desigualdades de poder profissional docente do ponto de vista institucional,
entre os professores formadores e entre os licenciandos. Sendo assim, a instituição de ensino
superior formadora da docência é, também, promotora das condições do poder profissional
docente.
Para alguns professores, sobretudo os das instituições públicas, as IES têm se
configurado num espaço fundamental de transformação social, consequência da autonomia
universitária, que reflete na autonomia dos professores formadores da docência. Autonomia,
que possibilita, inclusive, resistência às determinações estatais, que são consideradas pelos
docentes como dissociadas da realidade institucional. Essa resistência é uma manifestação do
poder docente e, ao mesmo tempo, é uma expressão da contestação ao poder e à autoridade
estabelecidos nas relações sociais das IES. Mas isso não significa que todos os professores
formadores da docência nas IES públicas, compartilhem dos mesmos compromissos. Os
professores, verdadeiramente, engajados com a qualidade dos cursos de formação de
professores no ensino superior, preocupam-se com a totalidade dos professores formadores
nos cursos de licenciatura, com a melhoria, credibilidade e reconhecimento do curso. Essa
preocupação é acompanhada de significativo otimismo por alguns sujeitos das instituições
públicas, que participaram desta pesquisa.
A diversidade dos cursos de formação de professores é característica presente e
marcante na profissão docente, pois esses cursos são muitos e abarcam praticamente todas as
áreas do conhecimento. Enquanto a maioria dos cursos de graduação encontra-se agrupada por
áreas e localizada em determinados centros das universidades ou, nos departamentos de
algumas faculdades, os cursos de licenciatura estão presentes em, praticamente, todos os
297
centros e departamentos, tornando difícil o encontro dos professores formadores e o
acompanhamento desses aos licenciandos e às atividades desenvolvidas nesse processo de
formação profissional.
Essa diversidade poderia ser vista como um aspecto enriquecedor do magistério
superior, mas termina sendo uma dificuldade, pois a diversidade é confundida com dispersão.
E, desse modo, os professores formadores mal se conhecem, uma vez que alguns estão
localizados nos cursos de bacharelado e outros nos cursos de licenciatura. Contudo, mesmo os
que trabalham juntos nos dois cursos são testemunhas dos desencontros existentes entre esses
profissionais. Resulta então, que esses desencontros reverberam no processo formativo dos
licenciandos, pois são os próprios sujeitos pesquisados que afirmam o dilema enfrentado pelos
licenciandos acerca da sua identidade profissional: ser bacharel ou professor.
Por essa falta de fundo comum, tornam-se evidentes as contradições nas concepções e
práticas dos professores investigados. Ao analisar, por exemplo, os processos de construção
das representações sociais sobre o poder profissional do professor, determinados elementos
eram tidos como viabilizadores do poder profissional docente para alguns sujeitos da pesquisa,
porém os mesmos elementos eram inviabilizadores desse poder para outros sujeitos. Portanto,
a quem caberia sistematizar esse estado de coisas? Coerente com o aporte teórico sobre o
poder profissional utilizado neste trabalho, caberia aos professores formadores tomarem para
si essas, e outras questões, que implicam a construção e a manutenção do poder profissional
docente.
Ao serem instigados a falar sobre o poder da sua profissão, as reações de significativa
parte desses professores se concentraram na falta de organização dos próprios professores
formadores, na falta de condições de trabalho (especificamente das IES particulares) e na
tensão entre ‘professores conteudistas’ e ‘professores metodólogos’. Essa tensão se localiza
entre os professores que lecionam disciplinas de conteúdo específico e professores que se
298
ocupam do conhecimento pedagógico para o ato de ensinar. Este último aspecto, para a
maioria dos professores participantes da pesquisa, se constitui no maior obstáculo à identidade
do curso de licenciatura. Seria o estabelecimento claro de territórios de formação diferentes,
logo de práticas e compromissos distintos. Mas será que não residiria o conhecimento
exclusivo que o poder profissional docente requer? Embora esse conhecimento exclusivo não
seja fácil de obter, a sua construção não se torna inviável. Logo, no lugar da medição de forças
que não tem contribuído com os cursos de licenciatura, com os seus profissionais e com os
licenciandos, os professores formadores, talvez, estejam perdendo a oportunidade de
construírem àquele conhecimento específico, e exclusivo deles, que inibiria qualquer outro
profissional a adentrar nesse terreno. Não sendo necessária a criação de cursos ou projetos
alternativos de formação profissional, pois a riqueza de recursos humanos e físicos já
existentes necessita, na compreensão deste trabalho, de entendimento e construção de
propostas comuns na sua elaboração, execução, controle e avaliação.
A identidade profissional é um aspecto determinante na construção e manutenção do
poder profissional, mas no que se refere à identidade profissional dos professores do ensino
superior, formadores da docência, o que se percebe é uma verdadeira crise. Alguns professores
não se veem como professores formadores da docência, isto é, se reconhecem, apenas, como
professores do ensino superior que repassam os seus saberes, sem propósitos claros para os
licenciandos. Outros professores têm, na docência, um simples complemento da sua atividade
profissional. E, ainda, tem aqueles que negam a profissão docente, se identificando,
primeiramente, como biólogo, físico, geógrafo, profissional da educação física, filósofo,
sociólogo, e, em segundo plano, como professor. Seria, pode-se afirmar uma hostilidade
manifestada contra o próprio exercício profissional do docente dos cursos de licenciatura.
Desse modo, como esperar reconhecimento profissional dos licenciandos e do universo
relativo à formação de professores no ensino superior, se os próprios professores dos cursos de
299
licenciatura não se reconhecem como tal? Entende-se que para que o reconhecimento
profissional do professor formador seja, efetivamente, presente nos cursos de licenciatura,
assim como na sociedade em geral, faz-se necessário que os professores se reconheçam como
os formadores da docência no ensino superior e desenvolvam atitudes de valorização da sua
profissão. Daí a indissociação entre a identidade do profissional professor formador de
professores em nível superior e as práticas desse docente, que integram, também, os seus
compromissos profissionais.
Portanto, para resgatar a identidade profissional desse professor formador da docência,
alguns professores formadores têm a opção de caçar dentro de si esse profissional, como diz o
poeta: Nada a temer senão o correr da luta. Nada a fazer senão esquecer o medo. (...) Vou
descobrir o que me faz sentir, eu caçador de mim”.
Neste trabalho, compreende-se que a função do docente do ensino superior, formador
de professor, é a de ensinar os professores em formação a ensinar, de forma a fazê-los assumir
o seu compromisso com a construção de competências e habilidades dos futuros professores
da educação básica. Essa função expressa o sentido de responsabilidade social do poder
profissional, que trata dos compromissos com a escola da educação básica. É importante,
porque é necessário reconhecer a estreita relação que tem os cursos de licenciatura com a
educação escolar.
Contudo, a falta desse reconhecimento, por alguns professores, permite levar ao
questionamento: até que ponto o descrédito da escola não é, também, consequência da
ausência do poder político dos cursos de licenciatura, das IES e, também, dos professores
formadores? Alguns fatores que tornam difícil a construção, assim como a manutenção, do
poder profissional do docente dos cursos de licenciatura estão diretamente relacionados à
educação básica. No entendimento dos resultados desta pesquisa, os compromissos dos cursos
de licenciatura com o ensino básico, a sua relação com a instituição escolar, dentre outros,
300
influenciam, sobremaneira, a formação e o exercício dos professores da educação infantil, do
ensino fundamental e do ensino médio e esses, consequentemente, influenciam na qualidade
da educação escolar básica. Sendo assim, como explicar o distanciamento imposto pelas IES,
às escolas, destacadamente por alguns professores formadores? Como é possível os cursos de
licenciatura, em especial os seus professores, não se interessarem pelos resultados da educação
escolar? Como não se comprometer com o espaço para onde se dirigem, pelo menos, a maior
parte dos licenciados?
Esse distanciamento é, no nimo, uma negação da profissão de professor, pois é
comum no ensino superior os professores ensinarem aos seus estudantes atividades que eles,
em primeiro lugar, desenvolvem/desenvolveram. Como exemplo tem-se o professor do curso
de medicina que prepara o futuro médico, mas de antemão pratica a medicina porque teve essa
formação. O professor do curso de arquitetura ocupa-se da formação do arquiteto e,
simultaneamente, atua nesse mercado, pois a sua formação profissional lhe confere esse
direito. Mas o professor dos cursos de licenciatura, com raríssimas exceções, não atua na
educação básica e, aqueles que têm ou tiveram alguma ligação com o ensino fundamental ou
ensino médio pretendem migrar, ou migraram, de uma vez, para o ensino superior, desfazendo
os laços que os ligavam à educação básica. Entretanto, compreende-se, que o professor
formador de professores no ensino superior, necessariamente, não precisaria ser profissional
da educação básica, mas estabelecer relações profissionais parece ser uma condição para quem
forma os professores para as escolas.
Resolver a questão do compromisso, de todos os professores, por exemplo, de um dado
curso de licenciatura, com a formação do futuro professor, implica o aparecimento de uma
situação nova para parte significativa dos professores desse curso. Essa situação, se acatada,
mobilizaria esse corpo docente em busca de novas configurações para o curso de licenciatura
e, consequentemente, para o trabalho do professor formador. Porém, a constatação é que esse
301
movimento ocorre em grupos isoladamente, não sendo o suficiente para processar uma tomada
de responsabilidade por todos àqueles que integram o corpo docente, que deve se ocupar da
formação dos novos professores. Os professores que fazem resistência a esse movimento de
transformação do exercício profissional instituem uma espécie de lei silenciosa de quem sabe
o que fazer, mas pode e faz diferente.
Quanto à questão do direito de ensinar, na atual LDB, o direito do exercício do
magistério na educação básica é do licenciado em cursos de graduação plena. Mas, de quem é
o direito de formar os novos professores? Quem forma os nossos formadores? Como ser
formador de professores sem ter sido formado como professor formador? Considerando que os
formadores de professores no ensino superior, quase sempre, não possuem uma formação
pedagógica, faz-se necessário que os professores dos cursos de licenciatura se organizem para
assegurar que a inserção dos novos professores nesses cursos, passe por algumas exigências
como: possuir no curso de graduação e, ou pós-graduação uma formação pedagógica que lhes
possibilite ensinar os futuros professores a ensinarem no ensino básico, assim como, possuir
experiência na educação básica. E, para os professores formadores que não tiveram essa
formação pedagógica, cabe às IES promoverem essa formação em serviço. Mas essa
advertência não pode se restringir aos professores formadores iniciantes, pois aqueles que se
ocupam, algum tempo, da tarefa de formar novos professores para a educação básica tem,
igualmente, o dever de buscar seu aprimoramento nos conhecimentos pedagógicos. Logo, se
não houver um amplo debate, seguido de propostas efetivas, sobre a formação e a prática dos
formadores de professores no ensino superior torna-se, ainda mais difícil a construção e a
manutenção do poder desses profissionais. Possivelmente, esses são caminhos que dariam
consistência a uma jurisdição, já argumentado neste trabalho como o elo que se estabelece
entre o grupo profissional e o campo de conhecimento sob o seu controle. A jurisdição
configura-se em importante elemento integrador do poder profissional. Os professores
302
formadores, conhecedores dessas necessidades precisam não só ter o poder, mas desejar
intervir, por exemplo, nos requisitos postos nos editais para os concursos públicos dirigidos
aos novos professores formadores da docência.
Como resultado da análise das representações sociais dos professores desta pesquisa,
percebe-se o quanto esses profissionais estão divididos em relação às suas concepções de
poder profissional do docente dos cursos de licenciatura, ora falando por si, ora pelo grupo ao
qual pertencem. Essa explícita divisão levou à conclusão da existência de três representações
sociais sobre o poder profissional docente entre os sujeitos pesquisados: Ilusão, Alvo e
Evidência.
Foi possível constatar que os professores da primeira geração pedagógica são mais
seguros da evidência do poder profissional docente, possivelmente, devido aos momentos
tortuosos da história política do Brasil que acompanharam e perceberam com mais clareza os
avanços conquistados, além da trajetória que construíram como professores formadores da
docência em nível superior. E, de um modo geral, os professores da segunda geração
pedagógica, veem o poder profissional como ilusão ou como um alvo a ser atingido. Esses
docentes parecem mais imediatistas, quando denunciam a ausência desse poder e as suas
prováveis causas, mas se mostram pouco dispostos a fundamentar a organização dessa
categoria profissional e em perseguir o poder profissional docente. De todo modo, ambos os
grupos parecem estar num processo de aprendizagem teórico-prático sobre o poder da sua
profissão, dito de outro modo, os professores que representam socialmente o poder
profissional docente como ilusão ou como alvo, estariam num processo de aprendizagem de
controle e regulação da profissão de professor; estariam gradativamente se ocupando da
delimitação de um conhecimento exclusivo do professor formador de professor no ensino
superior, entre outros elementos constitutivos desse poder.
303
Mas, mesmo os professores que representam o poder profissional docente como uma
evidência, também, estão aprendendo a lidar com os professores que possuem representações
sociais distintas e com outros sujeitos do universo acadêmico.
Aprendendo é uma expressão que indica movimento, que corresponde a uma ação em
curso, portanto os resultados da pesquisa indicam que embora o poder profissional docente
exista e seja exercido por alguns docentes dos cursos de licenciatura, essa realidade não
corresponde à categoria dos profissionais participantes desta pesquisa. Significativo número
de professores formadores da docência no ensino superior se encontra em busca do poder
profissional docente, uma vez que estão, ainda, a procura do conhecimento específico, do
território exclusivo, do controle da formação e do exercício docentes. Por isso mesmo, afirma-
se que há um movimento de aprendizagem do ser professor formador de professores para a
educação básica.
Aprender a ser professor formador de professor no ensino superior passa por questões
básicas como saber quem é esse professor. Espantosamente, dos vinte e um professores
entrevistados, apenas cinco discorreram com clareza e segurança a questão: “Que é ser
professor formador de professores no ensino superior?”. Os demais ou formularam breves
frases que se ajustam a quaisquer professores no ensino superior, ou falaram de forma,
inconsistente, o que não é esperado de quem tem a responsabilidade de formar professores que
trabalharão junto a crianças e jovens. Resulta daí, que até mesmo a questão da profissão de
professor carece de retomada nos seus princípios básicos, assim como no seu processo
evolutivo. O professor, de acordo com a fundamentação teórica deste trabalho, não é um
técnico, nem um contador das histórias que aprendeu nos distintos momentos de sua vida, nem
tampouco um transmissor de informações. O professor é um profissional, cuja formação está
fundamentada em conhecimentos teóricos e práticos, tornando-o competente na ação de
ensinar e de acompanhar aprendizagens.
304
Cumpre saber que os resultados deste trabalho além de reconhecer todos os elementos
constitutivos do poder profissional, a partir da literatura específica, considera, também, que o
compromisso profissional dos professores formadores com o processo formativo dos
licenciandos, com a escola e com os resultados da educação escolar, se configura em um forte
elemento do poder profissional do docente formador de professores no ensino superior. Se
clareza quanto aos elementos que constituem o poder profissional, propor o compromisso
profissional dos formadores de professores, como acima citado, como um elemento adicional
ao poder profissional sugere uma meta-análise. No espaço deste trabalho, a meta-análise é
compreendida como uma questão que se mostrou relevante em relação ao objeto de estudo e
que não havia, ainda, sido realçada nessa perspectiva. Na medida em que as informações
prestadas pelos professores pesquisados transformavam-se em dados da pesquisa, tornou-se
possível reconhecer os elementos constitutivos do poder profissional docente, ou seja, o
conhecimento específico, teoricamente fundamentado e com certo teor de abstração; o abrigo
no mercado de trabalho; a jurisdição; a regulação e o controle da formação e do exercício
docentes. Mas, além desses, o compromisso do professor dos cursos de licenciatura com a
competência profissional do professor da educação básica, com o espaço escolar onde os
licenciados colocarão em prática os conhecimentos técnico-pedagógicos apreendidos na IES e,
com o desempenho dos estudantes da educação escolar, revestiu-se de um importante
elemento do poder profissional, na medida em que esse compromisso amplia o alcance, o peso
e o domínio do poder do profissional professor. Portanto, por intermédio da meta-análise, foi
possível identificar o compromisso do professor formador de professores no ensino superior,
como um dado pré-existente, que emergiu de forma combinada com os demais na análise das
representações sociais. A meta-análise transcende, assim, os resultados obtidos sobre as
representações sociais do poder profissional docente, convertendo-se numa reflexão crítica
sobre elas.
305
Isso porque, ela permite apreender a preocupação que os professores formadores têm
com o futuro professor da educação básica para torná-los capazes de construir competências e
desenvolver habilidades nas crianças e jovens, fazendo-os autônomos e produtivos. A meta-
análise revela, ainda, o compromisso com a luta em favor da efetiva melhoria das condições
de ensino e aprendizagem nas escolas, que promovam resultados qualitativos, e, assim,
perceber o professor formador como detentor de um expressivo poder profissional.
Mas importa esclarecer, também, que esse movimento em prol do compromisso extra
IES se deve, principalmente, àqueles professores que possuem um poder profissional, são os
considerados expert, ou seja: possuem um conhecimento especializado, teoricamente
fundamentado; têm uma prática pedagógica comprometida com a formação dos professores
que exercerão suas atividades nas escolas da educação básica e por isso exercem influências
nas decisões políticas que atingem a formação dos professores da educação escolar e a sua
prática nos espaços escolares. Esse poder é resultado, ainda, de uma consciência acerca da
função essencial do professor formador, ou seja, ensinar a ensinar. E essa função foi/é
construída por meio de um processo formativo e prático.
Entretanto, mesmo aqueles professores que evidenciam o poder profissional docente,
reconhecem a ausência de um controle, de uma regulação da profissão, logo, caberia falar de
um poder profissional parcial? Segundo a literatura específica, não.
Portanto, mobilizar a todos os professores na direção da real função do professor
formador de professores no ensino superior parece ser um desafio concreto assumido por
diversos professores dos cursos de licenciatura.
É sabido que a verdadeira função dos resultados de uma pesquisa é ocupar um espaço
nas discussões, nos projetos e no cotidiano dos sujeitos envolvidos com o fenômeno social
investigado. Mas nas entrevistas e nos trabalhos com os grupos focais, foi percebido certo
incômodo em alguns sujeitos, quando eram interpelados sobre o objeto social ‘poder
306
profissional docente’, e esses professores demonstraram o desejo de ampliar a discussão nos
seus grupos. É possível fazer algumas inferências sobre esse incômodo observado. Para alguns
professores, o objeto social conhecido surgia de forma sistematizada, dito de outra forma,
aparecia teoricamente fundamentado e, desse modo, poderia substituir as discussões
enviesadas e os confrontos baseados, apenas nos saberes práticos. Para outros professores,
esse objeto social aparecia como algo novo, não pensado, ainda, de forma tão específica.
Entretanto, esse novo parecia ser acolhido por uns e evitado por outros. Na primeira situação,
a pesquisadora chegou a ser convidada por vários professores para discutir a questão do poder
profissional docente com alguns grupos de professores. Esse acolhimento, inclusive, era
explicitado pela vontade de alguns sujeitos da pesquisa de se moverem, no sentido de
começarem a organizar o controle, a regulação da profissão de professor. E, na segunda
situação, alguns professores evitavam discutir a questão, ora por falta de fundamento, ora por
ter o conhecimento, mas se reconhecer, embora não admitindo, como um professor distante
dos processos formativos da docência no ensino superior.
Mas esse envolvimento extrapola os espaços e os sujeitos pesquisados, justamente
porque os resultados de uma pesquisa sobre um fenômeno social, no caso específico, as
representações sociais do poder profissional do docente dos cursos de licenciatura são
indicativos de uma realidade bem mais ampla do que o universo investigado. Particularmente
da comunidade acadêmica, espera-se que os resultados aqui apresentados possam estimular os
seus membros a compartilharem o processo e o produto desta pesquisa e, ainda, considerando
a provisoriedade do conhecimento, estimulá-los a ampliar a investigação acerca das diversas
questões que permeiam o cotidiano dos docentes formadores de professores no ensino
superior, que contribuem ou não para o poder profissional docente.
307
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322
ANEXOS:
1- Relação candidato-vaga ao vestibular das Universidades Públicas Federais
do Estado de Pernambuco (UFPE-UFRPE-UNIVASF).
2- Relação candidato-vaga ao vestibular da Universidade de Pernambuco
(UPE).
3- Roteiro de trabalho com o grupo focal do estudo piloto.
4- Agenda da Entrevista Semi-Estruturada.
5- Agenda de trabalho com os Grupos Focais
6- Questionário aplicado aos professores entrevistados.
7- Questionário aplicado aos licenciandos
8- Edital n.° 3, publicado no D.O.U. em 01/03/2004, da Universidade Federal
de Pernambuco. XXX
9- Anúncio da revista VEJA sobre o “Dia do Profissional de Educação Física”.
10- Edital n.° 42/2006 da Universidade Federal do Ceará.
11- Edital n.° 98/2008 da Universidade Federal Rural de Pernambuco.
12- Galeria de Ministros da Educação do Brasil.
13- Galeria de Secretários de Educação do Estado de Pernambuco.
1
1
1
1
1
1
1
1
1
Anexo 3
Roteiro de trabalho com Grupo Focal:
Estudo Piloto
1- Descrição do professor de curso superior, formador de professor?
2- Funções(competências) da profissão de professor o ensino superior, formador de professor?
3- Características dos professores dos cursos de licenciatura das faculdades públicas e das
faculdades particulares?
4- Espaço(s) profissional(is) de atuação do professor dos cursos de licenciatura?
5- A estrutura organizacional acadêmica confere autonomia aos professores dos cursos de
formação de professores?
6- O professor de licenciatura controla a sua área de atuação profissional?
7- Existe um poder profissional? Em que ele consiste?
8- Como os professores dos cursos superiores, que formam professores, são vistos pela
sociedade? E pelos colegas de profissão?
9- O professor possuiu ou possui poder profissional?
1
Anexo 4
Desenvolvimento da Pesquisa
Agenda para a entrevista semi-estruturada.
1- Como descreveria ser professor de curso superior, formador de professor?
2- Em que o professor do curso superior, formador de professor, se diferencia do professor
do ensino médio, também, formador de professor? E no ensino à distância, há formador de
professor?
3- Quais as funções (competências) da profissão de professor do ensino superior, formador
de professor?
4- atribuições profissionais específicas conferidas ao professor do ensino superior,
particularmente dos cursos de licenciatura? requerimentos específicos de formação?
Quais?
5- Quais as características dos professores dos cursos de licenciatura das faculdades públicas
e das faculdades particulares? Eles têm tarefas formadoras semelhantes?
6- Qual o espaço profissional de atuação do professor dos cursos de licenciatura? (como
atua, profissionalmente, o professor de licenciatura?) Quem delimita essa área de
jurisdição?
7- A estrutura organizacional acadêmica confere autonomia aos professores dos cursos de
formação de professores? Em que medida essa estrutura concede o controle ao professor
do ensino superior, formador de professores, da sua profissão?
8- Quais as formas de organização e regulação da profissão de professor dos cursos
superiores, formador de professor?
9- Como se dá a avaliação do desempenho profissional do professor?
10- O professor de licenciatura controla a sua área de atuação profissional?
2
11- Como os professores dos cursos superiores, que formam professores, são vistos pela
sociedade?
12- Existe um poder profissional? Em que ele consiste?
13- O professor possuiu/ possui/ não possui poder profissional? (sobre o quê ou quem? De que
forma?)
14- Quais aspectos, ou quais elementos, contribuem para a soma e/ou para a subtração do
poder profissional do professor do ensino superior, formador de professor?
15- Como os professores em formação (licenciandos) percebem o poder profissional da
docência?
16- Se tivesse que comparar o professor dos cursos de licenciatura a uma imagem objetiva,
qual seria essa imagem?
1
Anexo 5
AGENDA PARA O TRABALHO COM OS GRUPOS FOCAIS
1.º Grupo: Professores pertencentes à Primeira Geração Pedagógica
2.º Grupo: Professores pertencentes à Segunda Geração Pedagógica
1- Descrever as competências dos professores do ensino superior dos cursos de licenciatura
e as competências dos professores do ensino superior dos demais cursos de graduação.
2- requerimentos específicos exigidos para o exercício da docência nos cursos de
licenciatura? Quais?
3- conhecimentos que são exclusivos dos professores formadores da docência no ensino
superior? Quais?
4- Qual (quais) o (s) campo (s) de atuação do professor dos cursos de licenciatura?
5- Como o professor do ensino superior, formador de professores é visto:
Pela sociedade? Por quê?
Pelos colegas das outras IES? Por quê?
6- Os professores controlam a formação profissional e o exercício dos professores dos
cursos de licenciatura?
7- Existe um PODER PROFISSIONAL DOCENTE? De que é constituído esse poder?
8- Como você representa o poder profissional do professor formador da docência no ensino
superior?
2
AGENDA PARA O TRABALHO COM GRUPO FOCAL
Professores pertencentes à Segunda Geração Pedagógica
Atividades alternativas
1- Propor um cartaz que sugere a descrição das competências dos professores do ensino
superior dos cursos de licenciatura e dos professores do ensino superior dos demais
cursos de graduação.
Competências Professores dos
cursos de
Licenciatura
Comum a
todos os
professores
Professores do
ensino superior
de outros cursos.
2- requerimentos específicos exigidos para o exercício da docência nos cursos de
licenciatura? Quais?
3- conhecimentos que são exclusivos dos professores formadores da docência no ensino
superior? Quais?
4- Qual (quais) o (s) campo (s) de atuação do professor dos cursos de licenciatura?
5- Como o professor do ensino superior, formador de professores é visto:
Pela sociedade Por que?
Pelos colegas da IES Por que?
3
(Tiras de cartolina que serão escritas pelos professores e colocadas no quadro).
6- Os professores controlam a formação profissional e o exercício dos professores dos
cursos de licenciatura?
7- Existe um PODER PROFISSIONAL DOCENTE? De que é constituído esse poder?
8- Como você representa o poder profissional do professor formador da docência no ensino
superior? (uso de papel específico para de um lado desenhar e no verso descrever).
1
Anexo 6
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA
DOUTORADO EM SOCIOLOGIA
Questionário a ser aplicado aos Professores entrevistados:
As informações, a seguir, solicitadas aos entrevistados buscam esclarecer as características
pessoais e a formação educacional dos professores dos cursos superiores, formadores de professores e, as
relações entre essas características e as representações sociais do poder da profissão de professor.
IES onde ensina no(s) curso(s) de licenciatura:
____________________________________________________________________
Curso(s) de licenciatura no (s) qual (quais) atua:
____________________________________________________________________
1- Sexo:
( ) Feminino ( ) Masculino
2- Idade:
_______ anos (em 2007).
3- Estado civil:
( ) Casado ( ) Solteiro ( ) Divorciado ( ) Viúvo ( ) Outro
4- Tipo de curso de Ensino Médio que concluiu:
( ) Profissionalizante (técnico).
( ) Normal Médio (magistério).
( ) Ensino Médio (estudos gerais).
( ) Supletivo
5- Qual a ocupação do pai?
6- Qual a ocupação da mãe?
2
7- Qual o nível de instrução do pai?
( ) Analfabeto.
( ) Ensino Fundamental (completo).
( ) Ensino Fundamental (incompleto).
( ) Profissionalizante (técnico).
( ) Normal Médio (magistério).
( ) Ensino Médio (estudos gerais).
( ) Supletivo
( ) Superior, curso: ____________________________________
( ) Pós-graduação, qual? _______________________________________________
8- Qual o nível de instrução da mãe?
( ) Analfabeto.
( ) Ensino Fundamental (completo).
( ) Ensino Fundamental (incompleto).
( ) Profissionalizante (técnico).
( ) Normal Médio (magistério).
( ) Ensino Médio (estudos gerais).
( ) Supletivo
( ) Superior, curso: ____________________________________
( ) Pós-graduação, qual? _______________________________________________
9- Onde cursou o Ensino Fundamental (1ª. A 8ª. Série)?
( ) Em escola pública.
( ) Em escola particular.
( ) Parte em escola pública e parte em escola particular.
( ) Outro. Qual? ______________________________________________________
10- Onde cursou o Ensino Médio?
( ) Em escola pública.
( ) Em escola particular.
( ) Parte em escola pública e parte em escola particular.
( ) Outro. Qual? ______________________________________________________
11- Quantas pessoas de sua família moram em sua residência (contando com você)?
( ) 1 pessoa
( ) 2 pessoas
3
( ) 3 pessoas
( ) 4 pessoas
( ) 5 pessoas
( ) 6 ou mais pessoas.
12- Qual a sua cor/etnia/raça?
( ) Amarela.
( ) Branca.
( ) Indígena.
( ) Parda.
( ) Preta
13- Qual (quais) pós-graduação (ões) cursou? (ou está cursando)? Colocar o ano de cada curso e a
Instituição onde realizou.
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
14- Você já foi professor da educação básica?
( ) Sim ( ) Não
Por quanto tempo? _____________________
Como foi a experiência?
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
Porque migrou para o ensino superior?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
15- Por que escolheu a docência como profissão?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
16- Há quanto tempo leciona no ensino superior (cursos de licenciatura)?
4
________________________________________________________________________
17- Quais desejos profissionais possui para além da docência?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
1
Anexo 7
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA
DOUTORADO EM SOCIOLOGIA
Questionário a ser aplicado aos licenciandos
As informações, a seguir, solicitadas aos licenciandos buscam esclarecer as características
pessoais e a formação educacional dos estudantes dos cursos de licenciatura plena e as relações entre
essas características e a profissão desse professor.
IES: __________________________________________________________________
Curso: ______________________ Período: ________ Turno: ___________________
Total de alunos: _______
1- Sexo:
( ) Feminino
( ) Masculino
2- Idade (em 2007):
De 18 a 25 anos
De 26 a 30 anos
De 31 a 35anos
De 35 a 40 anos
De 41 a 45 anos
3- Estado civil:
( ) Casado
( ) Solteiro
( ) Divorciado
( ) Viúvo
( ) Outro
4- Tipo de curso de Ensino Médio que concluiu:
( ) Profissionalizante (técnico)
( ) Normal Médio (magistério)
( ) Ensino Médio (estudos gerais)
( ) Supletivo
2
5- Fez ou está fazendo outro curso superior?
( ) Sim
( ) Não
Qual?
Por quê?
Qual Instituição de Ensino Superior?
6- Qual a ocupação do pai?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
7- Qual a ocupação da mãe?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
8- Qual o nível de instrução do pai?
( ) Analfabeto
( ) Ensino Fundamental (completo)
( ) Ensino Fundamental (incompleto)
( ) Profissionalizante (técnico)
( ) Normal Médio (magistério)
( ) Ensino Médio (estudos gerais)
( ) Supletivo:
( ) Superior
( ) Pós-graduação, qual? _______________________________________________
9- Qual o nível de instrução da mãe?
( ) Analfabeto
( ) Ensino Fundamental (completo)
( ) Ensino Fundamental (incompleto)
( ) Profissionalizante (técnico)
( ) Normal Médio (magistério)
( ) Ensino Médio (estudos gerais)
( ) Supletivo
( ) Superior
( ) Pós-graduação, qual? _____________________________________________________
3
10- Onde cursou o Ensino Fundamental (1ª. A 8ª. Série)?
( ) Em escola pública
( ) Em escola particular
( ) Parte em escola pública e parte em escola particular
( ) Outro. Qual? ____________________________________________________________
11- Onde cursou o Ensino Médio?
( ) Em escola pública
( ) Em escola particular
( ) Parte em escola pública e parte em escola particular
( ) Outro. Qual? ____________________________________________________________
12- Quantas pessoas de sua família moram em sua residência (contando com você)?
( ) 1 pessoa
( ) 2 pessoas
( ) 3 pessoas
( ) 4 pessoas
( ) 5 pessoas
( ) 6 ou mais pessoas
13- Qual a renda líquida mensal da sua família (em reais)?
( ) 1 salário mínimo
( ) De 2 a 4 salários mínimos
( ) De 5 a 8 salários mínimos
( ) De 9 a 12 salários mínimos
( ) Mais de 12 salários mínimos
14- Se trabalha, escreva em que e em qual (quais) turno (s) trabalha:
Turno (s):
Manhã e tarde:
Só manhã:
Só tarde:
15- Você é usuário de microcomputador?
( ) Sim
4
( ) Não
Onde?
Quando?
16- Por que escolheu o curso que faz?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
17- Numere por ordem de preferência as respostas às questões a seguir:
a- Que você espera de um curso superior? (de 1 a 5).
( ) Formação profissional para inserção no mercado de trabalho
( ) Formação voltada para a pesquisa científica e tecnológica
( ) Formação profissional para aperfeiçoamento
( ) Formação profissional para ascensão social
( ) Outro: _______________________________________________________________
b- Qual (quais) o (s) motivo(s) para a escolha do curso superior que está fazendo? ( de 1 a 7, ou
numere o que achar conveniente).
( ) Mercado de trabalho
( ) Prestígio social da profissão
( ) Baixa concorrência de vagas no vestibular
( ) Possibilidade de realização pessoal
( ) Influência de familiares
( ) Qualidade do curso
( ) Outros: _______________________________________________________________
c- De quais atividades, relacionadas abaixo, você participa? ( de 1 a 7).
( ) Artístico-culturais
( ) Religiosas
( ) Movimentos estudantis
( ) Político-partidárias
( ) Esportivas
( ) Outras
( ) Nenhuma
d- Qual a sua fonte de informação? (de 1 a 7).
5
( ) Livros
( ) Contatos interpessoais
( ) Internet
( ) Jornal
( ) Revista
( ) Rádio
( ) Televisão
18- Você domina alguma(s) língua(s) estrangeira(s)?
( ) Sim
( ) Não
Qual? (quais?): ________________________________________________________________
19- Qual a sua cor/etnia/raça?
( ) Amarela.
( ) Branca:
( ) Indígena.
( ) Parda.
( ) Preta
1
Edital Nº3 de 27 de fevereiro de 2004 - Concurso para Docente do Magistério Supe... Página 1 de 1
Anexo 8
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PRÓ-REITORIA PARA ASSUNTOS ACADÊMICOS
EDITAL nº3 (publicado no D.O.U. em 01/03/2004)
CONCURSO PÚBLICO PARA DOCENTE DO MAGISTÉRIO SUPERIOR
O Vice-Reitor, no exercício da Reitoria da Universidade Federal de Pernambuco, de acordo
com o que estabelecem os arts.12 do Decreto no 94.664/1987 e 76, § 1o do Estatuto, c/c os arts. 99
a 121, do Regimento Geral da Universidade Federal de Pernambuco, e com as Portarias nºs
33/2003, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, e 2.782/2003, do Ministério da
Educação, torna público que estão abertas as inscrições para Concursos Públicos de Títulos e
Provas, para provimento de cargos docentes da Carreira do Magistério Superior.
http://www.proacad.ufpe.br/dde/edital_prof_adjunto_2004/edital_3_27022004.html
10/10/2007
1
DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES E PROGRAMA
Referente ao Edital nº 3 publicado no D.O.U em 01.03.04
1 – ÁREA: Matemática
SUBÁREAS: Álgebra; Análise; Combinatória; Geometria Diferencial; Mecânica Celeste e
Topologia.
2 – INSCRIÇÃO:
2.1 – O concurso far-se-á para a área de Matemática. O candidato deverá mostrar sólidos conhecimentos
do programa de uma das subáreas constantes deste edital: Álgebra, Análise, Combinatória, Geometria
Diferencial, Mecânica Celeste e Topologia. A subárea escolhida pelo candidato deverá ser indicada no
ato da sua inscrição.
3 – PROVAS:
3.1 – O concurso constará de:
a) a)
julgamento de títulos, com peso 4 (quatro);
b) b)
prova didática, com peso 3 (três);
c) c)
prova escrita, com peso 3 (três).
3.2 - No julgamento dos títulos serão adotados os critérios estabelecidos nos artigos 108 a 113 do
Regimento Geral da Universidade. Será atribuída uma nota de 0 (zero) a 10 (dez) a cada uma das
seguintes categorias:
a) títulos acadêmicos, com peso 1 (um);
b ) atividades profissionais, científicas e trabalhos científicos, com peso 2 (dois);
c) atividades didáticas, com peso 1 (um).
3.3 - A prova escrita, à qual será atribuída nota de 0 (zero) a 10 (dez), terá a duração máxima de 04
(quatro) horas e versará sobre ponto sorteado imediatamente antes do seu início, dentre uma lista de 10
(dez) pontos, organizada com base no programa e afixada na Secretaria do Departamento de Matemática
com antecedência de 05 (cinco) dias da data de início do Concurso.
3.4 - A prova didática, à qual será atribuída nota de 0 (zero) a 10 (dez), consistirá de uma aula teórica
com duração de 50 (cinqüenta) a 60 (sessenta) minutos e versará sobre um dos pontos, dentre a lista a que
se refere o item anterior, a ser sorteado com antecedência de 24 (vinte e quatro) horas de sua realização.
4 – PROGRAMA:
ÁLGEBRA:
Teoria da dimensão: dimensão de Krull de anéis, dimensão de uma variedade algébrica, função e
polinômio de Hilbert. Anéis locais: anéis de Cohen-Macaulay, anéis regulares, variedades lisas e critério
jacobiano, teoremas homológicos de Auslander-Bushbaum-Serre. Curvas algébricas planas: divisores,
formas diferenciais e classe canônica, teorema de Riemann-Roch. Homologia e cohomologia: complexo
de Koszul e sequências regulares, cohomologia coerente, cohomologia local, dualidade.
Referências:
Hartshorne, R., Algebraic Geometry, Springer-Verlag 1987.
Shafarevich, I., Basic Algebraic Geometry, Springer-Verlag 1974.
Atiyah, M. - Macdonald, I., Introduction to Commutative Algebra,
Addison-Wesley, 1969
ANÁLISE:
Análise funcional: teoria básica dos espaços de Banach e de Hilbert, operadores limitados e operadores
não limitados , dualidade em espaços de Banach, distribuições e a transformação de Fourier. Equações
diferenciais ordinárias: existência e unicidade de soluções e dependência das soluções em relação às
condições iniciais e parâmetros, equações e sistemas lineares, elementos da teoria de Sturm-Liouville e
problemas de contorno. Equações diferenciais parciais: as equações do calor, da onda, do potencial e de
Schrõdinger, suas propriedades e soluções.
Referências:
Rudin, W., Functional Analysis, MacGraw-Hill, 1973,
Reed, M. - Simon, B., Functional Analysis, Academic Press, 1975
Sotomayor J., Lições de Equações Diferenciais Ordinárias, Projeto Euclides, 1979
Folland C., Introduction to Partial Differential Equations, Princeton University Press, 1976
Tréves F. , Basic Linear Partial Differential Equations, Academic Press, 1975
2
COMBINATÓRIA:
Método Simplex. Ciclos de Euler e de Hamilton. Emparelhamentos: Teorema de Tutte. Teorema de
Brooks. Teorema de Kuratowski. Fluxos em Redes. Método "Out of Kilter". Teorema de Edmonds em
Emparelha-mentos. O Problema do Carteiro Chinês. Teoremas em Torneios.
Referências:
Chvatal, V.; Linear Programming, Freeman.
Lawler, E. L.- Combinatorial Optimization, Holt, Rinehart and Winston.
Bondy, J. A. and Murty, U. U. R. Graph Theory with Aplications American Elsevier Pub.
GEOMETRIA DIFERENCIAL
Métricas riemannianas. tricas induzidas por ações de grupos. A conexão riemanniana. Derivada
covariante e transporte paralelo. Geodésicas. Aplicação exponencial e o Teorema de Hopf-Rinow.
Teorema de Frobenius. Campos de Jacobi. Teorema de Bonnet-Myers. Variedades completas. Grupos
de isometria R
n
, S
n
, H
n
. Curvatura. Imersões isométricas, segunda forma da imersão.
Referências:
do Carmo, M.P., Geometria Riemanniana, 2
a
edição, Projeto Euclides.
Kobayashi-Nomizu, Foundations of Differential Geometry, Interscience Publishers, vols. 1 e 11.
Spivak, M.; A Comprehensive Introduction to Differential Geometry, Publish or Perish, vols. 1-V.
MECANICA CELESTE
Sistemas hamiltonianos, a forma normal de Birkhoff - O problema dos n-corpos - Simetrias e integrais -
Soluções periódicas, o método da continuação de Poincaré - Estabilidade de equilíbrios e de soluções
periódicas - Sistemas integráveis, o teorema de Arnold-Liouville - Aplicação momento, o teorema de
Marsden-Meyer-Weinstein - Equilíbrios relativos e configurações centrais - Dinâmica simbólica, o
teorema homoclínico de Conley-Smale - Variedades invariantes, o teorema homoclínico de Poincaré-
Melnikov .
Referências:
Arnold, V., Mathematical Methods of Classical Mechanics, SpringerVerlag, New York, 1978.
Guggenheimer, J. and Holmes, P., Nonlinear Oscillations, Dynamical Systems, and Bifurcations of
Vector Fields, Springer-Verlag, New York, 1983.
Meyer, K., Periodic Solutions of the N-Body Problem, SpringerVerlag, Berlin, 1999.
Meyer, K. and Hall, G., Introduction to Hamiltonian Dynamical Systems and the N-Body Problem,
Springer-Verlag, New York, 1992.
Siegel, C. L. and Moser, J., Lectures on Celestial Mechanics, SpringerVerlag, Berlin, 1971.
Wiggins, Global Bifurcations and Chaos, Springer-Verlag, New York, 1988.
TOPOLOGIA:
Grupos de homotopia, homologia e cohomologia singular. Teoremas de dualidade, Variedades
diferenciáveis. Formas Diferenciais. Integração . Teorema de Stokes . Variedades Orientáveis. Teorema
de Sard, Teorema do Ponto Fixo de Brouwer. Triangulação de Variedades. Dualidade de Poincaré,
Teorema de De Rham. Teorema de Transversalidade de Thom. Teorema de Frobenius.
Referências:
Guillemin & Pollack, Dlfferential Topology, Prentice-Hall (1974).
Milnor, J., Topology from the Differentiable Viewpoint, University of Virginia, (1969).
Greenberg, M. J., Lectures on Algebraic Topology, New York, Benjamin (1975).
1
1
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
EDITAL Nº 42/2006
CONCURSO PÚBLICO PARA PROFESSOR ADJUNTO
O Reitor da Universidade Federal do Ceará, tendo em vista autorização concedida pelo Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, através da Portaria 381/2006, publicada no DOU de 19/12/2005, e pelo Ministério
da Educação, através da Portaria 384/2006 publicada no DOU de 02/02/2006, torna blico, para conhecimento dos
interessados, que se acham abertas no período de 13 de abril a 12 de maio de 2006 as inscrições para Concurso Público
de Professor Adjunto, para os Departamentos, Setores de Estudo e Vagas a seguir indicados:
1.1. CENTRO DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO SETOR DE ESTUDO REGIME VAGAS
1.1.1. Matemática Álgebra 40 h / DE 01
1.1.2. Física Física Computacional: Modelagem de
Sistemas de Baixa Dimensionalidade
40 h / DE 01
1.1.3. Computação Ciência da Computação 40 h / DE 01
1.1.4. Estatística e Matemática Aplicada Probabilidade e Estatística 40 h / DE 01
1.1.5. Biologia Microbiologia 40 h / DE 01
1.1.6. Química Analítica e Físico-Química
Físico-Química 40 h / DE 01
1.1.7. Geografia Geografia e Ensino 40 h / DE 01
1.1.8. Bioquímica e Biologia Molecular Bioquímica, Fisiologia e Biologia Molecular
de Plantas
40 h / DE 01
1.1.9. Geologia Sensoriamento Remoto e Geotectônica 40 h / DE 01
1.2. CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO SETOR DE ESTUDO REGIME VAGAS
1.2.1. Literatura Literatura Brasileira 40 h / DE 01
1.2.2. Letras Vernáculas Língua Portuguesa 40 h / DE 01
1.2.3. Ciências Sociais Antropologia 40 h / DE 01
1.2.4. História Prática de Ensino em História 40 h / DE 01
1.2.5. Comunicação Social Audiovisual 40 h / DE 01
1.2.6. Filosofia Filosofia Teórica 40 h / DE 01
1.2.7. Ciências da Informação Organização e Tratamento da Informação 40 h / DE 01
1.2.8. Psicologia Psicologia Comportamental 40 h / DE 01
1.3. CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO SETOR DE ESTUDO REGIME VAGA
S
1.3.1. Engenharia Mecânica e de
Produção
Máquinas Térmicas 40 h / DE 01
1.3.2. Engenharia Estrutural e
Construção Civil
Gerenciamento da Construção 40 h / DE 01
1.3.3. Engenharia de Teleinformática Dispositivos e Sistemas de Informação
Quântica
40 h / DE 01
1.3.4. Engenharia Elétrica Acionamento de Máquinas Elétricas 40 h / DE 01
1.3.5. Engenharia Química Processos Bioquímicos em Engenharia
Química
40 h / DE 01
1.3.6. Engenharia de Transportes Engenharia Rodoviária 40 h / DE 01
1.3.7. Engenharia Metalúrgica e de
Materiais
Ensaios Não-Destrutivos 40 h / DE 01
1.3.8. Arquitetura e Urbanismo Projeto Urbanístico 40 h / DE 01
1.4. CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO SETOR DE ESTUDO REGIME VAGAS
1.4.1. Engenharia de Pesca Aqüicultura 40 h / DE 01
1.4.2. Tecnologia de Alimentos Ciência e Tecnologia de Alimentos 40 h / DE 01
1.4.3. Zootecnia Produção e Nutrição de Ruminantes 40 h / DE 01
Anexo 10
2
1.4.4. Fitotecnia Melhoramento Vegetal 40 h / DE
01
1.4.5. Economia Doméstica Planejamento e Criação de Moda 40 h / DE
01
1.4.6. Ciências do Solo Levantamento e Classificação de Solos 40 h / DE
01
1.4.7. Engenharia Agrícola Mecanização e Maquinaria Agrícola com
ênfase em Agricultura de Precisão
40 h / DE
01
1.5. FACULDADE DE MEDICINA
DEPARTAMENTO SETOR DE ESTUDO REGIME VAGAS
1.5.1. Fisiologia e Farmacologia Fisiologia Humana 40 h / DE 01
1.5.2. Morfologia Anatomia Humana Aplicada 40 h / DE 01
1.5.3. Cirurgia Cirurgia do Aparelho Digestório /
Internato em Cirurgia
40 h / DE 01
1.5.4. Saúde Comunitária Medicina de Família e Comunidade 40 h / DE 01
1.5.5. Medicina Clínica Assistência Básica à Saúde do Adulto 40 h / DE 01
1.5.6. Patologia e Medicina Legal Microbiologia Médica 40 h / DE 01
1.6. FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE
DEPARTAMENTO SETOR DE ESTUDO REGIME
VAGAS
1.6.1. Economia Aplicada Econometria 40 h / DE
01
1.6.2. Teoria Econômica Desenvolvimento, Econômico, Urbano e
Rural
40 h / DE
01
1.7. FACULDADE DE DIREITO
DEPARTAMENTO SETOR DE ESTUDO REGIME
VAGAS
1.7.1. Direito Público Direito Eleitoral 20 h 01
1.7.2. Direito Privado Direito Civil 20 h 01
1.7.3. Direito Processual Direito Processual Civil 20 h 01
1.8. FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO SETOR DE ESTUDO REGIME
VAGAS
1.8.1. Teoria e Prática do Ensino O Ensino da Matemática 40 h / DE
01
1.9. FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM
DEPARTAMENTO SETOR DE ESTUDO REGIME VAGAS
1.9.1. Enfermagem Enfermagem no Processo do Cuidar III
(Saúde da Mulher) e Bases Históricas da
Enfermagem
40 h / DE 01
2. A inscrição far-se-á, de forma presencial, nas sedes dos Departamentos acima mencionados conforme
endereços que constam do Anexo I, nos dias úteis, excluindo-se os sábados, do prazo indicado neste
Edital, no horário das 08 às 11 e de 14 às 17 horas.
3. Será admitida a inscrição por intermédio da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, desde
que o candidato encaminhe o requerimento e os documentos mencionados no item 5 para os respectivos
Departamentos constantes do Anexo I deste Edital, mediante SEDEX, com data de postagem até 72
(setenta e duas) horas antes da data fixada para o término da inscrição.
4. Poderá inscrever-se o candidato portador de:
a) Título de Doutor ou de Livre Docente, obtidos na forma do disposto no artigo 1º da Resolução nº
06/2006-CEPE;
b) histórico escolar do curso de graduação ou pós-graduação stricto sensu, que comprove haver correlação
com o setor de estudo objeto do concurso.
5. O candidato deverá solicitar a inscrição mediante requerimento ao Chefe do Departamento
correspondente de acordo com a localização da vaga, indicando o setor de estudo em que pretende
concorrer, acompanhado dos seguintes documentos, observado o disposto no artigo 2° da Resolução nº
06/2006 -CEPE:
a) cópias autenticadas dos diplomas ou certificados que comprovem a titulação exigida;
b) memorial em 05 (cinco) vias, constituído de curriculum vitae;
3
c) cópias autenticadas do diploma de graduação em curso superior e respectivo histórico escolar;
d) comprovante do pagamento no Banco do Brasil da taxa de inscrição no valor de R$ 127,00 (cento e vinte e
sete reais), para o regime de 40 h /DE e R$ 38,00 (trinta e oito reais) para o regime de 20 h, através de
Guia de Recolhimento da União - GRU, disponível no local de inscrição ou pelo sítio
http://www.stn.fazenda.gov.br, Portal SIAFI, impressão GRU - simples (Unidade Favorecida – Código:
153045 e Gestão: 15224; Recolhimento - Código: 28883-7; Número de Referência: 153045 15224 253).
e) projeto de pesquisa em 05 (cinco) vias quando exigido pelo Departamento; e
f) título e resumo do Seminário em 05 (cinco) vias, quando exigido pelo Departamento
5.1. Não será aceita, em qualquer hipótese, a realização de inscrição condicional e nem a entrega ou juntada
de documentos após o prazo previsto para inscrição.
5.2. Em nenhuma hipótese haverá devolução da taxa e/ou dos documentos exigidos para inscrição.
5.3. O candidato no ato da solicitação de inscrição receberá o programa do concurso.
5.4. A solicitação de inscrição do candidato implicará no conhecimento e aceitação das normas que
regulamentam o Concurso, constantes do presente Edital e da Resolução 06/2006-CEPE, disponíveis no
sítio http://www.ufc.br, para conhecimento dos interessados.
6. O Setor de Estudo constante deste Edital é fixado, exclusivamente, para efeito do Concurso, atendendo-se
ao que prescreve o artigo 83 do Estatuto da Universidade.
6.1. Entende-se por Setor de Estudo um conjunto de disciplinas que apresentem afinidades e objetivos comuns
do ponto de vista científico e pedagógico e que configurem uma unidade clara de conhecimentos.
7. O processo seletivo de que trata o presente Edital constará das seguintes etapas, a serem realizadas de
acordo com o disposto nos Artigos 12, 13, 14,15, 16, 17, 18 e 19 da Resolução n° 06/2006-CEPE:
a) prova escrita, com leitura pública;
b) prova didática;
c) julgamento de títulos;
d) prática ou prático oral; e,
e) seminário ou defesa de projeto de pesquisa.
7.1. As provas previstas nos itens “a”, ‘b” e “c” terão caráter obrigatório.
7.2. Os candidatos deverão contactar os Departamentos Acadêmicos, nos endereços e telefones constantes
do Anexo I ao presente Edital, para informações sobre a aplicação, ou não, das provas opcionais previstas nos
itens “d” e “e” do item 7 do presente edital.
7.3. Será considerado reprovado o candidato que obtiver em qualquer das provas média aritmética inferior a 07
(sete), excetuando-se a prova de julgamento de títulos, de caráter apenas classificatório.
7.4. Será eliminado das etapas subseqüentes do concurso o candidato que obtiver média aritmética inferior a
07 (sete) na prova escrita.
8. Será indicado para o provimento da vaga o candidato que obtiver o maior número de indicações dos
membros da Comissão Julgadora, na forma prevista no artigo 23 da Resolução n° 06/2006 - CEPE.
8.1. No caso de empate na indicação de candidatos pela Comissão Julgadora serão utilizados, para definição
do candidato que irá prover a vaga, os critérios estabelecidos no artigo 24 da Resolução nº 06/2006-CEPE.
9. Caberá ao Chefe do Departamento interessado determinar o calendário do concurso.
10. O candidato selecionado ingressará no nível I da classe de Adjunto, no regime de 40 (quarenta) horas
semanais de trabalho com dedicação exclusiva (40h/DE), com proibição de exercer outra atividade
remunerada blica ou privada, percebendo remuneração de R$ 5.100,29 (cinco mil e cem reais e vinte e
nove centavos) ou no regime de 20 (vinte) horas semanais de trabalho (20 h), percebendo remuneração de
4
R$ 1.525,74 (um mil quinhentos e vinte e cinco reais e setenta e quatro centavos), conforme consta dos
quadros do item 1 do presente edital.
11. A carga horária de que trata o item anterior será distribuída nos turnos diurno e noturno de acordo com a
programação estabelecida pelo Departamento interessado.
12. O candidato nomeado cursará a disciplina Didática do Ensino Superior, em caráter obrigatório, no mesmo
semestre de ingresso na Instituição.
13. O prazo de validade do Concurso de que trata o presente Edital será de 01 (um) ano, contados a partir da
data de publicação do Edital de Homologação dos Resultados no Diário Oficial da União, podendo ser
prorrogado por igual período a critério da Administração.
13.1. Preenchidas as vagas ofertadas no presente Edital, não poderá a Administração fazer a convocação de
novos candidatos com base no resultado deste concurso, exceto no caso de exoneração, no prazo de validade
do concurso, de candidato recém-nomeado.
14. Verificada no término do prazo de inscrição a inexistência de candidatos, a inscrição será reaberta,
automaticamente, para Concurso Público de Professor Assistente, no período de 15 a 24 de maio de2006 e,
persistindo o fato, reaberta, automaticamente, para Concurso Público de Professor Auxiliar, no período de 25 de
maio a 05 de junho de 2006.
15. Verificada no término do concurso, para o qual tenha ocorrido as inscrições, a inexistência de candidatos
aprovados, a inscrição será reaberta, automaticamente, por 10 (dez) dias, a partir do dia útil subseqüente a
data de aprovação do resultado do Concurso pelo Departamento interessado, nas seguintes condições:
a) Concurso para Professor Adjunto ou Assistente sem candidatos aprovados: reabertura para a classe
imediatamente inferior;
b) Concurso para Professor Auxiliar sem candidatos aprovados: reabertura para a mesma classe.
16. O presente Edital regulamentará a inscrição e respectiva seleção dos concursos mencionados nos itens 14
e 15, observadas as seguintes alterações no caso de Concurso Público para Professor Assistente e Professor
Auxiliar:
Professor Assistente
• Titulação Exigida: Título de Mestre ou Doutor;
• Taxa de Inscrição: R$ 84,00 (oitenta e quatro reais).
Ingresso: Nível I da Classe de Assistente, no regime de 40 horas com dedicação exclusiva,
percebendo remuneração de R$ 3.370,09 (três mil, trezentos e setenta reais e nove centavos).
• Resolução: 07/2006 – CEPE
Professor Auxiliar
• Titulação Exigida: Diploma de Graduação, no mínimo;
• Taxa de Inscrição: R$ 52,00 (cinqüenta e dois reais).
Ingresso: Nível I da Classe de Auxiliar, no regime de 40 horas com dedicação exclusiva, percebendo
remuneração de R$ 2.106,06 (dois mil cento e seis reais e seis centavos).
• Resolução: 08/2006 – CEPE
Fortaleza, 12 de abril de 2006
René Teixeira Barreira
Reitor
5
ANEXO I DO EDITAL N° 42/2006
CENTRO DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA
Campus do Pici - Bloco 906
CEP 60455-760
Fone: 4008 9810 - Fax: 4008 9806
DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA
Campus do Pici - Bloco 914
CEP 60455-760
Fone: 4008 9884 - Fax: 4008 9889
DEPARTAMENTO DE FÍSICA
Campus do Pici - Bloco 922
CEP 60455-760
Fone: 4008 9903 - Fax: 4008 9450
DEPARTAMENTO DE COMPUTAÇÃO
Campus do Pici - Bloco 910
CEP 60455-760
Fone: 4008 9841 / 4008 9846 - Fax: 4008 9837
DEPARTAMENTO DE QUÍMICA ANALÍTICA E FÍSICO-QUÍMICA Campus do Pici - Bloco 940
CEP 60455-760
Fone: 4008 9980 - Fax: 4008 9982
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
Campus do Pici - Bloco 911
CEP 60455-760
Fone: 4008 9855 / 4008 9857 - Fax: 4008 9864
DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA Campus do Pici - Bloco 912
CEP 60455-760
Fone: 4008 9867 / 4008 9875 - Fax: 4008 9874
DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR
Campus do Pici - Bloco 907
CEP 60455-760
Fone: 4008 9817 / 4008 9819 - Fax: 4008 9829 / 4008 9789
DEPARTAMENTO DE ESTATÍSTICA E MATEMÁTICA APLICADA
Campus do Pici - Bloco 910
CEP 60455-760
Fone: 4008 9840 / 4008 9836(Fax)
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA E DE PRODUÇÃO
Campus do Pici - Bloco 714
CEP: 60455-760
6
Fone: 4008 9635 - Fax: 4008 9636
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ESTRUTURAL E CONSTRUÇÃO CIVIL
Campus do Pici - Bloco 710
CEP: 60455-760
Fone: 4008 9607 / 4008 9606 - Fax: 4008 9601
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE TELEINFORMÁTICA
Campus do Pici - Bloco 705
CEP: 60455-760
Fone: 4008 9577 - Fax: 4008 9574
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA
Campus do Pici - Bloco 705
CEP: 60455-760
Fone: 4008 9581 - Fax: 4008 9574
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA
Campus do Pici - Bloco 710
CEP: 60455-760
Fone: 4008 9611 / 3288 9597
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE TRANSPORTES
Campus do Pici - Bloco 703
CEP: 60455-760
Fone: 4008 9488 - Fax: 4008 9488
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
Av. da Universidade 2890 - Campus do Benfica - CEP 60020-181
Fone/Fax: 4009 7491
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA METALÚRGICA E DE MATERIAIS
Campus do Pici - Bloco 714
CEP: 60455-760
Fone: 4008 9359 - Fax: 40089 969
CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
Av. da Universidade 2995 - CEP 60020-181
Fone/Fax: 4009 7420
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
Av. da Universidade 2995 - CEP 60020-181
Fone: 4009 7432 - Fax: 4009 7434
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Av. da Universidade 2762 - CEP 60020-181
Fone: 4009 7710 / 4009 7711 / 4009 7712 - Fax: 4009 7709
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO
Av. da Universidade, 2762 - CEP 60020-181
Fone: 4009 7696 / 4009 7697 - Fax: 4009 7701
DEPARTAMENTO DE HISRIA
Av. da Universidade 2762 - CEP 60020-181
7
Fone: 4009 7746 / 4009 7741 / 4009 7738 - Fax: 4009 7748
DEPARTAMENTO DE LETRAS VERNÁCULAS
Av. da Universidade 2683 - CEP 60020-181
Fone: 4009 7625 - Fax: 4009 7624
DEPARTAMENTO DE LITERATURA
Av. da Universidade 2683 - CEP: 60020-181
Fone: 4009 7617 / 4009 7618 - Fax: 4009 7619
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
Av. da Universidade 2762 - CEP: 60020-181
Fone: 4009 7722 / 4009 7723 / 4009 7724 - Fax: 4009 7734
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO SOLO
Campus do Pici - Bloco 807
CEP:60455-760
Fone: 4008 9686 - Fax: 4008 9690
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DOMÉSTICA
Campus do Pici - Bloco 860
CEP:60455-760
Fone: 4008 9664 - Fax: 4008 9662
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA
Campus do Pici - Bloco 804
CEP:60455-760
Fone: 4008 9754 - Fax: 4008 9755
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PESCA
Campus do Pici - Bloco 827
CEP:60455-760
Fone: 4008 9722 - Fax: 4008 9420
DEPARTAMENTO DE FITOTECNIA
Campus do Pici - Bloco 805
CEP:60455-760
Fone: 4008 9668 - Fax: 4008 9419
DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS
Campus do Pici - Bloco 858
CEP:60455-760
Fone: 4008 9751 - Fax: 4008 9752
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA
Campus do Pici - Blocos 808 e 809
CEP:60455-760
Fone: 4008 9703 - Fax: 4008 9694
FACULDADE DE MEDICINA
DEPARTAMENTO DE CIRURGIA
Rua Prof. Costa Mendes, 1608 - Rodolfo Teófilo - CEP 60416-200
1
Fone: 4009 8061 / 4009 8062 - Fax: 4009 8065
DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA E FARMACOLOGIA
Av. Cel. Nunes de Melo, 1127 - Rodolfo Teófilo - CEP 60430-270
Fone: 4009 8331 - Fax: 4009 8333
DEPARTAMENTO DE MEDICINA CLÍNICA
Rua Prof. Costa Mendes, 1608 - Rodolfo Teófilo - CEP 60416-200
Fone: 4009 8052 - Fax: 4009 8056
DEPARTAMENTO DE MORFOLOGIA
Rua Delmiro de Farias s/n - Rodolfo Teófilo - CEP 60416-030
Fone: 4009 8471 - Fax: 4009 8494
DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA E MEDICINA LEGAL
Rua Alexandre Baraúna, 949 - Rodolfo Teófilo - CEP 60430-160
Fone: 4009 8301 - Fax: 4009 8316
DEPARTAMENTO DE SAÚDE COMUNITÁRIA
Rua Prof. Costa Mendes, 1608 - Rodolfo Teófilo - CEP 60416-200
Fone: 4009 8044 - Fax: 4009 8049
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE
DEPARTAMENTO DE TEORIA ECONÔMICA
Av. da Universidade, 2431 - CEP 60020-180
Fone: 4009 7797 / 4009 7798
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA APLICADA
Av. da Universidade, 2431 - CEP 60020-180
Fone: 4009 7799 / 4009 7800
FACULDADE DE DIREITO
DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO
Rua Meton de Alencar, s/n - CEP 60035-160
Fone: 4009 7839 / 4009 7840
DEPARTAMENTO DE DIREITO PRIVADO
Rua Meton de Alencar, s/n - CEP 60035-160
Fone: 4009 7837 / 4009 7838
DEPARTAMENTO DE DIREITO PROCESSUAL
Rua Meton de Alencar, s/n - CEP 60035-160
Fone: 4009 7835 / 4009 7836
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE TEORIA E PRÁTICA DE ENSINO
Rua Waldery Uchoa, 1 - Benfica - CEP 60020-110
Fone: 4009 7674 / 4009 7675
FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
Rua Alexandre Baraúna, 1115 - Rodolfo Teófilo - CEP 60430-160
Fone: 4009 8455 / 4009 8451 - Fax: 4009 8456
1
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
EDITAL N
O
98/2008 DE 10 DE NOVEMBRO DE 2008, REFERENTE À ABERTURA DE
CONCURSO PÚBLICO DE PROVAS E TÍTULOS PARA PROFESSOR ADJUNTO E ASSISTENTE
EM REGIME DE 20 (VINTE) 40 (QUARENTA) HORAS SEMANAIS PARA A UFRPE SEDE
DOISIRMÃOS E UNIDADES ACADÊMICAS DE GARANHUNS E SERRA TALHADA.
O REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO, no
uso de suas atribuições regimentais e em conformidade com o disposto na Lei
8.112, de 11 de dezembro de 1990, fundamentada na autorização do Ministério da
Educação e fundamentada na Portaria Normativa Interministerial 22, de 30 de
abril de 2007 do Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão retificada pela
Portaria 224, de 23 de julho de 2007, e no Certificado de Disponibilidade
Orçamentária para a realização de Concurso Público, determina a abertura das
inscrições para o Concurso Público de Provas e Títulos para preenchimento de
cargo público de Professor da carreira de Magistério Superior, na classe de
Adjunto e Assistente, com regime de trabalho de 40 (quarenta) horas e 20 horas
semanais, para a UFRPE Sede Dois Irmãos, e Unidades Acadêmicas de Garanhuns
e Serra Talhada, mediante as seguintes cláusulas e condições: 1-DAS
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES 1.1. O presente concurso será regido por este
Edital e será executado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. As provas
serão realizadas pelos Departamentos relacionados no quadro abaixo, situados no
Campus Universitário da UFRPE, em Dois Irmãos, s/n, CEP: 52171-900. Recife-PE.
Fones: (81) 3320.6290; (81) 3320.6491, respectivamente, onde se dará a lotação do
candidato aprovado. 1.2. O Concurso Público visa ao provimento de vagas no cargo
de Professor Adjunto e Assistente, em regime de trabalho de 40(quarenta) e
20(vinte) horas semanais, segundo quadro abaixo:
Anexo 11
1
1
1
* Para essas vagas serão mantidas as inscrições referentes ao edital 40/07,
adicionadas às inscrições desse edital, e o concurso será executado pela Pró-
Reitoria de Ensino de Graduação.
** Para essas vagas será realizada além da prova escrita, didática e o plano de
atividades, prova de esforço físico.
1.3 A seleção para o cargo de Professor Adjunto e Assistente constará das
seguintes etapas: a)Inscrição, sujeita à homologação; b)Prova Escrita, em caráter
eliminatório, com peso 2; c) Prova Didática, com peso 4; d)Prova de Títulos, com
peso 2; e) Prova Oral para Defesa Pública do Plano de Atividades (Ensino ,
Pesquisa e Extensão), com peso 2. 1.4 Na hipótese de não ocorrer inscrição para o
perfil de Doutor, o prazo ficará automaticamente prorrogado por mais 15 (quinze)
dias consecutivos, transformando-se a vaga para o cargo de Professor Assistente,
mudando o perfil para Mestre, permanecendo inalterados os demais itens. Não
ocorrendo inscrição para Mestre em atendimento ao perfil inicial, o prazo ficará
prorrogado por mais 15 dias no mesmo perfil. 2. DO CARGO: 2.1 Cargo:
PROFESSOR ADJUNTO NÍVEL 1 / PROFESSOR ASSISTENTE NÍVEL 1. 2.2
Descrição das Atividades: docência de nível superior na área do concurso e
participação nas atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade
Federal Rural de Pernambuco. 2.3- Regime de Trabalho: 40 horas semanais e 20
horas semanais; 2.4 Remuneração: Professor Adjunto I 40 horas semanais,
3.581,08 (três mil quinhentos e oitenta e um reais e oito centavos) mais auxílios;
Professor Assistente I 40 horas R$ 2.426,54 (dois mil quatrocentos e vinte e seis
reais e cinqüenta e quatro centavos) mais auxílios e Professor Assistente I 20 horas,
R$ 1.477,67 mais auxílios. 2.5 Requisito Básico: ser portador do título de Doutor ou
Mestre conforme o caso na área ou Matérias especificadas nos quadros acima. 3.
DOS REQUISITOS BÁSICOS PARA INVESTIDURA NO CARGO: 3.1- Ter
nacionalidade brasileira ou portuguesa e, em caso de nacionalidade portuguesa,
estar amparado pelo estatuto de igualdade entre brasileiros e portugueses, com
reconhecimento de gozo de direitos políticos, nos termos do § 1
o
do art. 12 da
Constituição Federal.3.2- Para o candidato estrangeiro, ter o Visto Permanente no
momento da posse. 3.3- Estar em dia com as obrigações eleitorais. 3.4- Apresentar
Certificado de Reservista ou de Dispensa de
1
Incorporação, em caso de candidato brasileiro do sexo masculino. 3.5- Comprovar o
nível de formação exigido para o cargo, conforme indicado no quadro geral. 3.6- Ter
aptidão física e mental para o exercício das atribuições do cargo. 3.7- Comprovar o
registro no Conselho de Classe, quando houver exigência, em Lei, desse registro
para o exercício da docência. 3.8- Cumprir as determinações deste Edital. 3.9-
Firmar declaração de não estar cumprindo sanção por inidoneidade, aplicada por
qualquer órgão público ou entidade da esfera federal, estadual ou municipal. 4 DA
INSCRIÇÃO NO CONCURSO PÚBLICO. 4.1- O candidato deverá efetuar sua
Inscrição no concurso para fins de comprovação dos requisitos exigidos para o
cargo/área a que deseja concorrer, no período de 11 de novembro a 10 de
dezembro de 2008, no horário de 8 horas e 30 minutos às 11 horas e 30 minutos e
das 14 horas e 30 minutos às 17 horas e 30 minutos, na Secretaria do
Departamento de Oferta da(s) Vaga(s) para as vagas da Sede Dois Irmãos, ou na
Pró-Reitoria de Ensino de Graduação, para as Vagas das Unidades Acadêmicas,
podendo obter informações pelos telefones: As vagas para a Sede Dois Irmãos:
Departamento de Letras e Ciências Humanas: (81) 3320.6451. Departamento de
Estatística e Informática: (81) 3320.6491. Departamento de Ciência Florestal: (81)
3320.6290. Departamento de Matemática: (81) 3320.6401. Departamento de Pesca
e Aqüicultura: (81) 3320.6501. Departamento de Tecnologia Rural: (81) 3320.6261.
Departamento de Educação: (81) 3320.6581. Departamento de Medicina veterinária:
(81) 3320.6401. 4.2- Para as vagas referentes às Unidades Acadêmicas de
Garanhuns e Serra Talhada as inscrições serão efetuadas junto à Secretaria da Pró-
Reitoria de Ensino de Graduação, no endereço indicado no subitem 1.1; obter
informações pelos telefones: (81) 3320-6041, (87) 3761.0969, ou (87) 3831.1927, ou
pelos e-mails: [email protected].br ou zezalima@preg.ufrpe.br. 4.3, as inscrições
para essas vagas serão efetuadas junto à Secretaria da Pró-Reitoria de Ensino no
endereço indicado no subitem 1.1.
4.4- As inscrições poderão ser efetuadas pessoalmente ou através de procurador
ou, ainda, via postal utilizando o serviço SEDEX. 4.5 As inscrições através de
procurador, deverão ser realizadas por procurador regulamente constituído através
de Procuração Particular específica, com poderes especiais para tal fim e firma
reconhecida do candidato outorgante. 4.6- Ao servidor público é proibido atuar como
Procurador para efetivar a inscrição do Candidato, conforme disposto no item XI do
art.117 da Lei 8.112/90. 4.7- As inscrições via postal deverão ser remetidas para o
endereço indicado no subitem 1.1, e somente serão aceitas se os documentos para
a inscrição, exigidos no item 4.7 deste Edital tiverem sido postados ao último dia
do prazo de inscrição. 4.7 - Os documentos que deverão ser apresentados no ato da
inscrição ou, caso a mesma seja feita via postal, estão listados a seguir e deverão
está com carimbo de conferido conforme o original, observando-se que os
funcionários da PREG não estão autorizados a realizar a referida conferência,
devendo o candidato trazer os documentos conferidos e carimbados: a)
requerimento dirigido ao Diretos Do Departamento de oferta da vaga ou a Pró-
Reitora de Ensino de Graduação, conforme o caso, contendo qualificação completa
do candidato, definindo a(s) Matéria(s) ou Área para a(s) qual(ais) está se
inscrevendo;b) cópia da Carteira de Identidade ou do Documento de Identidade
Profissional ou ainda do Passaporte, caso o candidato seja de outra nacionalidade;
c) cópia do Cartão do Cadastro de Pessoa Física (CPF) (dispensado para o
candidato estrangeiro); d) cópia do Título de Eleitor com comprovante de votação da
última eleição, ou documento oficial que comprove a quitação da referida obrigação
eleitoral; e) pia do documento comprobatório da quitação com serviço militar, para
os candidatos do sexo masculino; f) documento oficial que comprove que o
candidato não possui antecedentes criminais; g) carta de recomendação de 2 (dois)
Professores Universitários, não serão aceitas cartas com assinatura digitalizadas. h)
comprovante do pagamento da taxa de inscrição,
2
sobre pesquisas que vêm sendo desenvolvidas pelo candidato e que podem ter
prosseguimento quando do desempenho das funções docentes ao assumir o cargo,
ou informações sobre projetos que pretende desenvolver. No que se refere ao
ensino, espera-se que o candidato apresente em linhas gerais as opções teórico-
metodológicas que fará, que práticas pretende adotar, que relações interdisciplinares
pretende manter, entre outras ações que objetivem assegurar a aprendizagem.
Quanto à atividade de extensão espera-se que o candidato apresente idéias que
tornem a Universidade cada vez mais voltada para os problemas sociais, com
objetivo de encontrar soluções através de pesquisas sicas e aplicadas. 5.1– No
ato da inscrição o candidato receberá oficialmente o programa referente à(s)
matéria(s) ou Área para a(s) qual(ais) concorre, e as Instruções Complementares do
Concurso. 5.2 A inscrição no Concurso blico implicará, desde logo, o
reconhecimento e tácita aceitação pelo candidato das condições estabelecidas no
teor deste Edital e das Instruções Complementares, dos quais não poderá alegar
desconhecimento. 5.3 - A qualquer tempo, poder-se-á anular a inscrição, a
nomeação e a posse do candidato, desde que constatada falsidade em qualquer
declaração e/ou qualquer irregularidade em documentos apresentados. 5.4- As
informações prestadas no Formulário de Solicitação de Inscrição serão de inteira
responsabilidade do candidato, dispondo a UFRPE do direito de excluir do Concurso
Público aquele que não preencher o formulário de forma completa, correta ou que
fornecer dados comprovadamente inverídicos. 5.5- o será homologada a
solicitação de inscrição que não atender rigorosamente ao estabelecido neste Edital.
5.6- O candidato deverá declarar, no Formulário de Solicitação de Inscrição, que os
documentos necessários para investidura no cargo, serão apresentados por ocasião
da posse. 5.7- É vedada a inscrição condicional a posterior complementação
documental após a inscrição; 6 DA TAXA DE INSCRIÇÃO. 6.1– O candidato
deverá recolher através de Guia de Recolhimento da União (GRU) o valor de R$
80,00 (oitenta Reais) ou R$ 65,00 (sessenta e cinco reais),para as categorias Doutor
ou Mestre, respectivamente, em qualquer agência do Banco do Brasil, digo de
Recolhimento 28883-7, UG 153165 e Gestão: 15239. 6.2 - Para obter a GRU o
candidato poderá acessar a página www.tesouro.fazenda.gov.br/ Sistema de
Administração Financeira/ GRU/ Impressão GRU/ Avançar/ Nr. de referência
15316515239., ou, obtê-la no Caixa Eletrônico do Banco do Brasil, onde estão
disponíveis as informações necessárias para o preenchimento da referida guia. 6.3 -
Em nenhuma hipótese seconcedida isenção ou devolução da taxa de inscrição,
salvo se o concurso for cancelado por deliberação da Universidade. 6.4 - DA
SOLICITAÇÃO DE ISENÇÃO DA TAXA DE INSCRIÇÃO. Os candidatos que irão
solicitar isenção da taxa de inscrição deverão fazê-lo até o dia 21 de novembro.
Terão direito a isenção, segundo Decreto 6.593, de 02 de outubro de 2008, o
candidato que: a) estiver
1
nos termos do subitem 6.1 deste Edital. i) documento comprobatório do grau de
formação exigido para o exercício do cargo, caso o candidato esteja matriculado no
curso de pós-graduação com previsão de defesa antes do prazo da investidura no
cargo, deverá apresentar uma declaração assinada pelo Coordenador do Programa
o qual está vinculado, declarando essa condição; j) uma via do currículo modelo latte
comprovada, contendo a experiência e produção didática, acadêmica, científica,
profissional, cultural e/ou artística. k) Plano de Atividades em quatro vias impressas,
que servirá de base para a realização da prova de defesa pública de conhecimentos
específicos, fundamentado no ensino, pesquisa e extensão, versando sobre a(s)
Matéria(s) de escolha do concurso que será executado no período de três anos e
servirá de base para avaliação do candidato ao final do estágio probatório. 5- O
PLANO DE ATIVIDADES deve abranger as intenções de trabalho do candidato
quanto ao desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão. Podem
ser apresentadas, por exemplo, breves informações
1
inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal-CadÚnico, de
que trata o Decreto N
o
6.135, de 26 de junho de 2007 e, b) for membro de família de
baixa renda de que trata o Decreto N
o
6.135, de 26 de junho de 2007; c) A isenção
deverá ser solicitada mediante requerimento do candidato a Pró-Reitoria de Ensino de
Graduado para as vagas das Unidades Acadêmicas ou ao Diretor Acadêmico do
Departamento de oferta da vaga para a Sede Dois Irmãos, contendo: 1- indicação do
Número de Identificação Social-NIS, atribuído pelo CadÚnico; e declaração de que
atende à condição estabelecida na letra b acima; d) UFRPE consultará o órgão gestor
do CadÚnico para verificar a veracidade das informações prestadas pelo candidato, a
declaração falsa sujeitará o candidato às sanções previstas em lei, aplicando-se, ainda,
o disposto no parágrafo único do art. 10 do Decreto Nº. 83.936, de 6 de setembro de
1979; e) o resultado da solicitação será divulgado no dia 25/11/2008; 7 - DA
HOMOLOGAÇÃO DA INSCRIÇÃO. 7.1 - Os requerimentos das inscrições, juntamente
com a documentação apresentada pelo candidato, serão examinadas previamente pela
Comissão de Inscrição e submetidas à apreciação do Conselho Técnico Administrativo
do Departamento de oferta da vaga no caso da Sede Dois Irmãos ou do Conselho
Técnico Administrativo da Unidade Acadêmica de Garanhuns ou Serra Talhada,
conforme o caso, para homologação, cujo resultado será publicado no Diário Oficial da
União, bem como no site da UFRPE, ficando disponível na Secretaria do Departamento
Acadêmico ou Unidade Acadêmica. Deste resultado, cabe recurso, no prazo de dois
dias úteis da data da publicação no DOU, mediante requerimento dirigido a Pró-_reitora
de Ensino de Graduado ou Diretor Acadêmico conforme o caso e submetido a
julgamento pelos seus Conselhos cnicos Administrativos respectivos. 7.2 - O
candidato que apresentar a documentação exigida incompleta não terá homologada a
sua inscrição, sendo automaticamente eliminado do Concurso. 7.3 - Para efeito de
homologação da inscrição a Comissão Examinadora do concurso poderá acatar títulos
e certificados de Pós-Graduado emitidos por instituições estrangeiras, ainda não
revalidados ou em fase de revalidação, traduzido por tradutor juramentado. 7.4 O
reconhecimento/revalidação dos títulos e certificados de Pós-Graduado emitidos por
instituições estrangeiras, para fins de nomeação, integrará o processo. 8 DA BANCA
EXAMINADORA. 8. 1 - O concurso público será julgado por Banca Examinadora,
composta por três Docentes titulares, sendo dois internos e um externo à UFRPE e
mais dois docentes suplentes, um interno e outro externo a UFRPE. 9 - DAS PROVAS.
9.1 O concurso será realizado através das seguintes etapas: I - Prova Escrita, com
caráter eliminatório – peso 2; II - Prova de Títulos - peso 2; III - Prova Didática – peso 4;
IV - Prova Oral de Defesa Pública do Plano de Atividades – peso 2; 9.2 - O cronograma
das atividades será disponibilizado no site da UFRPE(www.ufrpe.br) na semana que
antecede o concurso. 9.3 As provas serão realizadas da seguinte forma: I - Para a
PROVA ESCRITA, será sorteado um ponto do programa; II - Para a PROVA DE
TÍTULOS, serão examinados e pontuados os títulos do candidato devidamente
comprovados; III - Para a PROVA DIDÁTICA e a PROVA ORAL de DEFESA PÚBLICA
DO PLANO DE ATIVIDADES somente participarão os candidatos que obtiverem média
igual ou superior a 7 (sete) na Prova Escrita. 9.4 - As provas serão realizadas na
UFRPE/ Sede Dois Irmãos localizada à Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois
Irmãos, CEP 52.171-900, Recife PE. 9.5 - Os objetivos e os critérios relativos às
PROVAS do concurso estão definidos nas Instruções Complementares. 9.6 A
PROVA ORAL de defesa pública do Plano de Atividades, conforme disposto nas
INSTRUÇÕES COMPLEMENTARES AO EDITAL DO CONCURSO PARA
PROFESSOR DO TERCEIRO GRAU, tem como objetivo avaliar a capacidade do
candidato de organizar e expor as idéias com objetividade, clareza e espírito crítico,
dentro do tempo previsto para sua realização; a relevância e pertinência do
1
Plano de Atividades do candidato para a(s) Matéria(s) do concurso e a relevância e
pertinência do Plano de Atividades do candidato para a UFRPE. 10. DO
RESULTADO DO CONCURSO. 10.1- A classificação dos candidatos far-se-á pela
ordem decrescente da Nota Final do Concurso e o resultado será publicado no DOU
e divulgado no site da UFRPE, após a homologação pela Câmara de Ensino da
UFRPE. 10.2 - Em caso de empate, será dada preferência ao candidato mais idoso,
nos termos do artigo 27, parágrafo único da Lei n. 10.741, de 01 de outubro de 2003.
11 DO PRAZO DE VALIDADE DO CONCURSO. 11.1 - O prazo de validade do
concurso é de 01 (um) ano, a contar da data da publicação do Edital de
homologação do resultado em DOU, podendo ser prorrogado por mais um ano,
segundo interesse da Instituição. 11.2 Surgindo novas vagas, poderão ser
nomeados os candidatos aprovados, obedecendo à ordem de classificação, desde
que dentro do prazo de validade. 11.3 Na hipótese de renúncia ou desistência
expressa, por escrito, do candidato aprovado e convocado para a nomeação, ou,
caso não venha a tomar posse dentro do prazo legal, e, ainda, quando houver
vacância da vaga preenchida em razão deste concurso, a UFPRE poderá convocar
os candidatos subseqüentes, em estrita obediência à ordem de classificação. 11.4 -
Caso o exista candidato aprovado, a UFRPE poderá aproveitar candidatos
aprovados em outras IFES na mesma Área ou Áreas afins, desde que exista
compatibilidade de perfil e desde que o concurso em pauta esteja dentro do prazo
de validade. 12 - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS. 12.1 A inscrição do candidato
implicará aceitação das normas do Concurso contidas em comunicados, neste Edital
e em outros editais eventualmente publicados. 12.2 O candidato aprovado
assumirá o compromisso de ministrar aulas na área de sua aprovação no Concurso,
independentemente da especificidade da disciplina, obedecendo às necessidades e
ao interesse da Instituição. 12.3 - As despesas decorrentes da participação em todas
as fases e em todos os procedimentos do Concurso Público correrão à conta do
candidato, que não terá direito a alojamento, alimentação, transporte e/ou
ressarcimento de despesas. 12.4 - O candidato empossado ficará submetido ao
regime de 40 horas semanais, podendo a jornada de trabalho ser cumprida nos
turnos em que a Instituição mantiver atividades e na Unidade para a qual concorreu.
12.5 - O Edital de Resultado Final do Concurso Público contemplará todos os
candidatos aprovados. 12.6 - Todo edital relativo a este Concurso Público será
publicado no Diário Oficial da União, divulgado na internet, no endereço eletrônico
da UFRPE: www.ufrpe.br. 12.7 - O candidato que vier a ser nomeado e empossado
estará sujeito ao Regime Jurídico dos Servidores Civis da União, instituído pela Lei
n. 8.112, de 11/12/1990, e alterações subseqüentes, e pelas normas em vigor na
UFRPE. 12.8 - A aprovação e a classificação no Concurso geram, para o candidato,
apenas a expectativa de direito à nomeação, observando as disposições legais
pertinentes, o interesse e a conveniência da UFRPE. 12.9 - A posse fica
condicionada à aprovação em inspeção médica a ser realizada pela Junta Médica
Oficial da UFRPE e ao atendimento das condições constitucionais e legais. 12.10 -
No ato da posse serão exigidos todos os documentos declarados pelo candidato no
período de inscrição e os indicados abaixo com cópias autenticadas em cartório,
bem como, declaração de que não ocupa cargo público nem exerce qualquer tipo de
atividade profissional remunerada, e, ainda, de que não foi demitido ou destituído de
Cargo em Comissão do Serviço Público Federal, nos termos do art. 137 da Lei n.
8.112/1990.
12.11- a) Certificado de Reservista ou de Dispensa de Incorporação para candidatos
brasileiros do sexo masculino; b) Título de Eleitor, com o comprovante de votação na
última eleição; c) Cadastro de Pessoa Física/CPF; d) Documento de identidade com
validade em todo o território nacional; e) Diploma de curso de Graduado, com
respectivo histórico escolar; f) Diploma, certificado ou declaração de conclusão de
curso de Mestrado, na Área de conhecimento especificada no
1
Perfil do Candidato, com respectivo histórico escolar; g) Diploma, certificado ou
declaração de conclusão de curso de Doutorado, na Área de conhecimento
especificada no Perfil do Candidato, com respectivo histórico escolar. 12.12 Não
serão aceitas declarações condicionadas a entrega dos exemplares definitivos nos
Programas de Pós-Graduado, na declaração tem que esta claro que o candidato
concluiu o Curso de Pós-Graduado com data de conclusão até o dia da posse no
cargo. 12.13 - O candidato deverá manter atualizado seu endereço na Unidade,
enquanto estiver participando do Concurso e se aprovado, na SUGEP/UFRPE. São
de inteira responsabilidade do candidato os prejuízos decorrentes da não
atualização de seu endereço. 12.14 - Os casos omissos serão resolvidos pela
UFRPE. 12.15 - Legislação com entrada em vigor após a data de publicação deste
Edital, bem como alterações em dispositivos legais e normativos a ele posteriores,
não serão objetos de avaliação nas provas do Concurso. 12.16 - O candidato deverá
observar, atentamente, as etapas do concurso publicadas em editais e divulgações
no site da UFRPE: www.ufrpe.br. 12.7 - Não caberá processo de revisão de notas
das provas do Concurso, de acordo com o § 2º do Artigo 115 do Regimento Geral da
UFRPE, com redação dada pela Resolução nº 001/2008-CONSU. 12.8- Ao final
do Estágio Probatório, o Docente deverá apresentar um Certificado de conclusão do
Curso de Iniciação à Docência do Ensino Superior oferecido pela UFRPE sob a
coordenação da Pró-Reitoria de Ensino de Graduação.
Recife, 10 de novembro de 2008.
PROF. VALMAR CORRÊA DE ANDRADE
REITOR DA UFRPE
1
Ministério da Educação Governo Federal
Galeria de Ministros
Ministro Fernando Haddad
Periodo: 29/07/2005
Ministro Tarso Genro
Periodo: 27/01/2004
a 29/07/2005
Ministro Cristovam Buarque
Periodo: 01/01/2003
a 27/01/2004
Ministro Paulo Renato Souza
Periodo: 01/01/95
a 01/01/2003
Ministro Murílio de Avellar Hingel
Periodo: 01/10/92
a 01/01/95
Ministro Eraldo Tinoco Melo
Periodo: 04/08/92 a 01/10/92
Ministro José Goldemberg
Periodo: 02/08/91 a 04/08/92
Ministro Carlos Alberto Chiarelli
Periodo: 15/03/90 a 21/08/91
Ministro Carlos Corrêa deMenezes
Sant’anna
Periodo: 16/01/89 a 14/03/90
Ministro Hugo Napoleão doRego Neto
Periodo: 03/11/87 a 16/01/89
Ministro Aloísio Guimarães Sotero
Periodo: 06/10/87 a 30/10/87(interino)
Ministro Jorge Konder Bornhausen
Periodo: 14/02/86 a 05/10/87
Ministro Marco Antônio de Oliveira Maciel
Periodo: 15/03/85 a 14/02/86
Ministra Esther de Figueiredo Ferraz
Periodo: 24/08/82 a 15/03/85
Ministro Rubem Carlo Ludwig
Periodo: 27/11/80 a 24/08/82
Ministro Eduardo Mattos Portella
Periodo: 15/03/79 a 26/11/80
Ministro Euro Brandão
Periodo: 30/05/78 a 14/03/79
Ministro Paulo de Tarso Santos
Periodo: 18/06/63 a 21/10/63
Ministro Theotônio Maurício Monteiro de
Barros Filho
Periodo: 23/01/63 a 18/06/63
Ministro Darcy Ribeiro
Periodo: 18/09/62 a 23/01/63
Ministro Roberto Tavares de Lira
Periodo: 12/07/62 a 14/09/62
Ministro Antônio Ferreira de Oliveira Brito
Periodo: 08/09/61 a 11/07/62
Ministro Brígido Fernandes Tinoco
Periodo: 31/01/61 a 25/08/61
Ministro Pedro Paulo Penido
Periodo: 1º/07/60 a 17/10/60
Ministro José Pedro Ferreira da Costa
(interino com substituição) Periodo: 17/06/60 a
24/06/60
Ministro Nereu de Oliveira Ramos
(interino com substituição) Periodo: 03/10/56 a
04/11/56
Ministro Celso Teixeira Brant
(interino com substituição)
Periodo: 30/04/56 a 04/05/56 e 05/05/56 a
02/10/56
Ministro Clóvis Salgado Gama
Periodo: 31/01/56 a 30/04/56
Ministro Abgar de Castro Araújo Renault
Periodo: 24/11/55 a 31/01/56
Ministro Cândido Mota Filho
Periodo: 02/09/54 a 17/11/55
Ministro Edgar Rego Santos
Periodo: 06/07/54 a 02/09/54
Ministro Antônio Balbino de Carvalho Filho
Periodo: 25/06/53 a 02/07/54
Ministro Péricles Madureira de Pinho
(interino com substituição)
Periodo: 26/05/53 a 24/06/53
Ministro Ernesto Simões da Silva Freitas Filho
Anexo 12
2
Ministro Ney Aminthas de Barros Braga
Periodo: 15/03/74 a 30/05/78
Ministro Jarbas Gonçalves Passarinho
Periodo: 03/11/69 a 15/03/74
Ministro Favorino Bastos Mércio
(interino) Periodo: 13/12/67 a 03/11/69
Ministro Tarso de Morais Dutra
Periodo: 15/03/67 a 05/12/67
Ministro Guilherme Augusto Canedo de
Magalhães
Periodo: 04/10/66 a 17/10/66(interino) e
Periodo: 21/10/66 A 10/11/66 (interino com
substituição)
Ministro Raymundo Augusto de Castro
Moniz de Aragão
Periodo: 22/04/65 a 10/01/66 (interino com
substituição) e
Periodo: 30/06/66 a 04/10/66
Ministro Pedro Aleixo
Periodo: 10/01/66 a 30/06/66
Ministro Flávio Suplicy de Lacerda
Periodo: 15/04/64 a 08/03/65
e Periodo: 22/04/65 a 10/01/66
Ministro Luís Antônio da Gama e Silva
Periodo: 06/04/64 a 15/04/64
Ministro Júlio Furquim Sambaquy
Periodo: 21/10/63 a 06/04/64
(interino)
Periodo: 31/01/51 a 25/05/53
Ministro Pedro Calmon Muniz de Bittencourt
Periodo: 04/08/50 a 31/01/51 e Periodo: 18/06/59 a
16/06/60
Ministro Eduardo Rios Filho
(interino com substituição)
Periodo: 15/05/50 a 30/06/50e Periodo: 30/06/50 a
04/08/50
Ministro Clemente Mariani Bittencourt
Periodo: 06/12/46 a 15/05/50
Ministro Ernesto de Souza Campos
Periodo: 31/01/46 a 06/12/46
Ministro Raul Leitão da Cunha
Periodo: 30/10/45 a 31/01/46
Ministro Gustavo Capanema
Periodo: 23/07/34 a 30/10/45
Ministro Washington Pereira Pires
Periodo: 16/09/32 a 23/07/34
Ministro Belisário Augusto de Oliveira Pena
(interino) Periodo: 16/09/31 a 01/12/31
Ministro Francisco Luís da Silva Campos
Periodo: 06/12/30 a 31/08/31 e Periodo: 02/12/31 a
15/09/32
1
Danilo Jorge de Barros Cabral (atual secretário de educação)
Mozart Neves Ramos (03.02.03 - 01.01.07)
Francisco de Assis (09.04.02 - 03.02.03)
Raul Henry (24.01.01 - 08.04.02)
Éfrem de Aguiar Maranhão (01.01.99 - 23.01.01)
Silke Weber (01.01.95 - 31.12.98)
Roberto José Marques Pereira (17.02.93 - 31.12.94)
José Jorge de Lima (15.03.91 - 17.02.93)
Fernando Antônio Gonçalves da Silva (01.04.90 - 14.03.91)
Silke Weber (15.03.87 - 15.03.90)
Alexandre Kruse Grande Arruda (15.05.86 - 15.03.87)
Edgar Arlindo de Mattos Oliveira (26.05.83 - 14.05.86)
Everardo de Almeida Maciel (15.03.83 - 25.05.83)
Creuza Maria Gomes de Araújo (16.02.82 - 15.03.83)
Joel de Hollanda Cordeiro (16.03.79 - 12.02.82)
José Jorge de Lima (16.03.75 - 15.03.79)
Manoel Costa Cavalcanti (16.03.71 - 15.03.75)
Roberto Magalhães Melo (02.06.67 - 15.03.71)
José Antônio Barreto Guimarães (10.02.67 - 01.06.67)
José Brasileiro Tenório Vilanova Tenório Vilanova (10.08.66 - 31.01.67)
Edson Moury Fernandes (02.04.64 - 05.08.66)
Anita Paes Barreto (07.10.63 - 01.04.64)
Germano Vasconcelos Coelho (01.02.63 - 02.10.63)
Lourival Faustino Vilanova
(02.02.59 - 31.01.63)
José Euclides Bezerra Cavalcanti (14.11.58 - 31.01.59)
Merval de Almeida Jurema (03.07.58 - 13.11.58)
Aderbal de Araújo Jurema (10.09.54 - 01.07.58)
Gilberto Ozório de Oliveira Andrade (12.12.52 - 09.09.54)
João Arruda Marinho Santos (01.02.51 - 11.12.52)
Reinaldo Dornelas Câmara (05.07.50 - 01.02.51)
Sílvio de Lira Rabelo (25.04.49 - 04.07.50)
http://www.educacao.pe.gov.br
Anexo 13
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
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