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João Paulo Soares
Estudo Sistêmico-Funcional da Estrutura Lógica
de Artigos de Revista em Inglês
Mestrado em
Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
2008
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João Paulo Soares
Estudo Sistêmico-Funcional da Estrutura Lógica
de Artigos de Revista em Inglês
Mestrado em
Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção do título de MESTRE
em Lingüística Aplicada e Estudos da
Linguagem, sob orientação da Professora
Doutora Leila Barbara.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
2008
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Banca Examinadora
__________________________________________
__________________________________________
__________________________________________
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução
total ou parcial desta dissertação por processos fotocopiadores ou
eletrônicos.
Assinatura: ___________________________________
São Paulo: ___________________________________
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora Leila Babara que me acolheu, me ensinou a desconfiar do
óbvio e me transformou num pesquisador crítico com sede de novas descobertas e
desafios.
Aos meus pais que me deram amor e alicerce para encarar o mundo.
Ao meu grande amigo Marcos que esteve ao meu lado nas horas em que eu mais
precisei.
Ao meu amigo professor doutor Orlando Vian Jr que acreditou no meu potencial e
me ajudou a superar minhas limitações.
À professora doutora Rosinda de Castro Guerra Ramos que me ajudou a enxergar
as coisas de maneira critica e a encarar os desafios.
À professora doutora Maria Antonieta Alba Celani que me ensinou a essência da
Lingüística Aplicada com sua riquíssima experiência.
Ao meu amigo Fabrício pelas dicas sempre úteis.
À professora Célia Macedo que me ajudou com os detalhes da minha dissertação.
As minhas colegas de orientação Fernanda, Elide e Gislene pelo carinho e
companheirismo nestes dois anos de luta.
Ao CNPq pela bolsa concedida.
RESUMO
Como parte do contexto mais amplo do projeto DIRECT: Em direção à
linguagem do trabalho (PUC-SP/LAEL), este estudo tem como objetivo investigar
elementos gramaticais que contribuam para organização e coesão do texto, tanto
abaixo (grupo verbal e nominal) quanto acima da oração (conjunção e referência
pronominal), no arcabouço teórico da Gramática Sistêmico-Funcional (Halliday,
1994). Para tanto, analisa as estruturas dos textos (a metafunção lógica) de duas
revistas: a norte-americana Newsweek e a versão brasileira da Speak up, esta
especificamente voltada para estudantes de inglês como língua estrangeira (ILE).
O estudo faz uso do programa computacional Wordsmith Tools (Scott, 1999). Os
resultados mostram que os textos da Speak up contêm uma estrutura com maior
número de elementos do que Bhatia (1983) denomina simplificação da linguagem,
caracterizada por menor complexidade em termos lógicos: tempos verbais mais
simples, em geral representados no processo como sufixo (passado, presente e
futuro simples); mais grupos nominais com pré-modificadores e pós-modificadores
com sintagmas preposicionados; mais conjunções coordenadas e pronomes de
primeira pessoa, ao passo que os textos da Newsweek evidenciam maior
elaboração lingüística em termos de complexidade textual, devido ao uso
freqüente de: tempos verbais complexos, com auxiliar (perfectivo, progressivo,
futuro com going to e passivo); grupos nominais densos lexicalmente como
resultado de extensões decorrentes do encadeamento de informações, por meio
da construção de sucessivas nominalizações e relativas definidoras; além de
orações reduzidas, conjunções subordinadas e pronomes de terceira pessoa.
Palavras-chave: Gramática Sistêmico-Funcional; Estrutura do Texto; Artigos de
Revistas; Estrutura Lógica; Metafunções
.
ABSTRACT
As part of the wider context of Project DIRECT: Em direção à linguagem do
trabalho (PUC-SP/LAEL), this study aims at investigating grammatical elements
that contribute to text cohesion and organization, both below (verbal and nominal
group) and above clause (conjunction and pronominal reference), in the framework
of Systemic-Functional Grammar (Halliday, 1994). It analyses the text structures
(the logical metafunction) of two magazines: the North American Newsweek and
the specifically directed to EFL (English as a Foreign Language) students, the
Brazilian version of Speak up. The study makes use of the computational program
Wordsmith Tools (Scott, 1999). Results show that the Speak up texts have a
structure with more elements of what Bathia (1983) calls language simplification,
characterized by lesser complexity in logical terms: more simple verb tenses,
usually only represented as suffix in the process (simple past, present and future
tenses); more nominal groups with premodifiers and postmodifiers with
prepositional phrases; more coordinate conjunctions and first-person pronouns,
whereas the Newsweek texts evidence greater linguistic elaboration in terms of
textual complexity due to the frequent use of: complex verbal tenses, with
auxiliaries (perfect and progressive tenses, future with going to and passive);
lexically-dense nominal groups due to extensions resulting from information
chaining through the construction of successive nominalizations and defining
relatives clauses; besides reduced clauses, subordinate conjunctions and third-
person pronouns.
Keywords: Systemic-Functional Grammar; Text Structure; Magazine Articles;
Logical Structure; Metafunctions.
.
SUMÁRIO
Introdução.............................................................................................................. 1
Capítulo 1: Fundamentação Teórica.................................................................... 7
1.1 Gramática Sistêmico-Funcional ................................................................. 7
1.1.1 Abaixo da Oração................................................................................ 11
1.1.1.1 Grupo Verbal................................................................................. 11
1.1.1.2 Grupo Nominal.............................................................................. 14
1.1.1.3 Metáfora Gramatical ..................................................................... 17
1.1.2 Acima da Oração................................................................................. 20
1.1.2.1 Complexo Oracional..................................................................... 21
1.1.2.2 Coesão Textual ............................................................................. 27
Capítulo 2: Abordagem Metodológica............................................................... 36
2.1 Contexto de situação das revistas........................................................... 36
2.2 Dados da Pesquisa.................................................................................... 39
2.3 Procedimentos de coleta e organização dos dados............................... 40
2.4 Procedimentos de análise dos dados...................................................... 42
Capítulo 3: Análise dos Dados e Discussão dos Resultados ......................... 48
3.1 Abaixo da oração....................................................................................... 49
3.1.1 Grupo Verbal ....................................................................................... 49
3.1.1.1 Be................................................................................................... 49
3.1.1.2 Have ............................................................................................... 54
3.1.2 Grupo Nominal .................................................................................... 59
3.1.2.1 Pré-Modificadores ........................................................................ 59
3.1.2.2 Pós-Modificadores........................................................................ 62
3.2 Acima da oração ........................................................................................ 67
3.2.1 Conjunção............................................................................................ 67
3.2.1.1 And................................................................................................. 67
3.2.1.2 But.................................................................................................. 71
3.2.1.3 So................................................................................................... 73
3.2.1.4 Then ............................................................................................... 76
3.2.1.5 That ................................................................................................ 81
3.2.1.6 Who e which.................................................................................. 84
3.2.1.7 When e where................................................................................ 88
3.2.2 Referência Pronominal ....................................................................... 92
Considerações Finais ......................................................................................... 97
Referências Bibliográficas ............................................................................... 100
Anexos ............................................................................................................... 105
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1: Estrutura constituinte da léxico-gramática ............................................... 09
Quadro 2: Realização dos tempos verbais pririos e secundários ........................ 12
Quadro 3: Funções dos componentes do grupo nominal ......................................... 15
Quadro 4: Grupo nominal à direita do processo be .................................................. 17
Quadro 5: Natureza da relação coesiva .................................................................... 31
Quadro 6: Expansão teórica das relações conjuntivas ............................................. 31
Quadro 7: Estatística do corpus de estudo ............................................................... 41
Quadro 8: Assuntos selecionados para análise ....................................................... 41
Quadro 9: Ocorrência dos elementos gramaticais selecionados para análise ......... 45
Quadro 10: Tipos de referência pronominal ................................................................ 94
Quadro 11: Características das estruturas dos textos nas revistas
Newsweek e Speak up ........................................................................... 96
ÍNDICES DE FIGURAS
Figura 1: Sistema do complexo oracional .................................................................... 23
Figura 2: Texto e contexto ........................................................................................... 30
Figura 3: Sistema de referência .................................................................................. 33
Figura 4: Grupos nominais à direita do processo is .................................................... 46
Figura 5: Tipos de be no corpus .................................................................................. 54
Figura 6: Tipos de have no corpus .............................................................................. 58
Figura 7: Tipos de expansão paratática no corpus ...................................................... 81
Figura 8: Tipos de expansão hipotática no corpus ...................................................... 92
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Ocorrência de be e suas formas flexionadas ............................................. 49
Tabela 2: Ocorrência de be como processo ............................................................... 50
Tabela 3: Ocorrência de be como auxiliar .................................................................. 51
Tabela 4: Ocorrência de have e suas formas flexionadas ......................................... 54
Tabela 5: Ocorrência de have como auxiliar .............................................................. 55
Tabela 6: Ocorrência de have como processo ........................................................... 57
Tabela 7: Ocorrência de pré-modificadores ............................................................... 61
Tabela 8: Ocorrência de pós-modificadores ............................................................... 63
Tabela 9: Ocorrência de and ...................................................................................... 68
Tabela 10: Ocorrência de but ....................................................................................... 71
Tabela 11: Ocorrência de so ........................................................................................ 73
Tabela 12: Ocorrência de then ..................................................................................... 77
Tabela 13: Ocorrência de conjunções paratáticas ....................................................... 80
Tabela 14: Ocorrência de that ...................................................................................... 82
Tabela 15: Ocorrência de who e which ........................................................................ 85
Tabela 16: Ocorrência de when e where ..................................................................... 88
Tabela 17: Ocorrência de conjunções hipotáticas ....................................................... 91
Tabela 18: Ocorrência de referência pronominal ......................................................... 93
I
NTRODUÇÃO
1
Introdução
No início do século XX
1
, a compreensão de leitura em inglês como língua
estrangeira (doravante ILE) se constituía em objeto de estudo da Lingüística.
Em meados do século, nova linha de investigação o estudo do inglês para fins
específicos (doravante ESP) veio trazer novas contribuições ao ensino da leitura
em ILE no Brasil.
Em 1978, o Projeto Nacional Ensino de Inglês Instrumental, liderado pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo sob a coordenação da Profª Drª
Maria Antonieta Alba Celani, empreendeu uma série de pesquisas com foco
principal na compreensão de leitura.
A partir da década de 1980, têm sido desenvolvidos estudos sobre
compreensão de leitura em vários contextos, privilegiando o papel do léxico na
compreensão da leitura em ILE (Scaramucci, 1995; Gattolin, 1998), as estratégias
utilizadas na compreensão de leitura em ILE (Ramos, 1988; Siqueira, 1999), a
reflexão como estratégia de leitura em ILE (Coelho, 2000), os processos
cognitivos realizados no ato da leitura em ILE (Silva, 2001; Fantini, 1997), o ensino
da leitura em ILE a partir de gêneros (Cristóvão, 2001), a participação do professor
no processo de ensinar e aprender na aula de leitura num contexto universitário
(Nunes, 2000) e a reconstrução dos significados no ensino-aprendizagem de
leitura em ILE (Zygmantas, 2004).
O nosso interesse em relação à compreensão de textos, ou melhor, às
dificuldades de compreensão escrita, origina-se de um projeto de leitura para
alunos de língua inglesa como língua estrangeira que desenvolvemos em um
1
O lingüista dinamarquês Otto Jespersen (1904) já demonstrava grande preocupação com o
modelo de ensino de línguas modernas de sua época, opondo-se à leitura em voz alta e à tradução
das palavras para a língua do aprendiz.
I
NTRODUÇÃO
2
contexto empresarial nos anos de 2005 e 2006, período em que gerentes,
coordenadores e secretárias bilíngües foram expostos a textos, autênticos e não-
autênticos, de vários tipos de gêneros e sobre assuntos diversos, objetivando o
aprimoramento dos seus conhecimentos lingüísticos.
Alguns dos textos trabalhados em sala de aula foram retirados de duas
revistas: a norte-americana Newsweek e a brasileira Speak up, esta última voltada
especificamente para estudantes de inglês como língua estrangeira. No decorrer
do projeto, percebemos que os alunos tinham mais facilidade em compreender
textos da Speak up do que aqueles publicados pela Newsweek, o que despertou o
nosso interesse em descobrir o porquê.
Partimos do principio de que as diferentes dificuldades dos alunos tinham a
ver com o uso de conjunções, surgindo, assim, a nossa motivação inicial para o
estudo das conjunções. A escolha do sistema das conjunções neste trabalho
deve-se à sua evolução como recurso complementar para a criação e
interpretação do texto, visto que, segundo Eggins (1994:105), “os padrões
coesivos das conjunções, ou relações conjuntivas, referem-se a como o escritor
cria e expressa as relações lógicas entre as partes de um texto”
2
(tradução
nossa)
3
.
Tomando por base os textos extraídos das revistas Newsweek e Speak up
durante o projeto de leitura, propusemo-nos a compará-los a fim de verificar como
se caracterizam e se distinguem em termos de estrutura lógica e complexidade
textual. Em busca de bibliografia pertinente, constatamos que no campo da
Lingüística Aplicada no Brasil não se vêem registros de pesquisas dedicadas ao
estudo do papel da conjunção na compreensão de leitura em ILE sob uma
perspectiva sistêmico-funcional. A nossa opção de pesquisa origina-se, portanto,
do limitado volume de estudos na área que contemplem a relevância do uso da
2
The cohesive pattern of conjunction, or conjunctive relations, refers to how the writer creates and
expresses logical relationships between the parts of a text.
3
Todas as traduções de citações dos autores de língua inglesa são de nossa autoria.
I
NTRODUÇÃO
3
conjunção no processo de compreensão de leitura.
Sob uma perspectiva psicolingüística, ou seja, privilegiando as conexões
entre o uso da linguagem e as estruturas psicológicas que nos permitem entender
expressões, palavras, orações ou textos, Fernandes (1997) desenvolve estudo do
papel das conjunções causais e adversativas (ou contrastivas) na compreensão
de leitura de alunos da quinta série do ensino fundamental. Os resultados dessa
pesquisa revelam que, quando o co-texto (ou contexto lingüístico) torna difícil ao
leitor inferir uma determinada relação conceitual, a explicitação da conjunção é
condição necessária – mas não suficiente caso o aluno não tenha conhecimento
da relação pretendida pelo uso desse elemento. A autora acrescenta que, no caso
de eventual dificuldade co-textual (ou problema de legibilidade), para que a
relação causal ou contrastiva possa ser inferida é aconselhável que a conjunção
seja devidamente explicitada, buscando facilitar, dessa forma, a construção da
coerência por parte do leitor.
Conjunções são, também, objeto de pesquisa de Lima (1996), com especial
enfoque sobre o processo de produção escrita. Ao analisar a coesão textual em
textos escritos por principiantes em ILE, a autora chama a atenção não somente
para as conjunções mas também para outros elementos responsáveis por esse
fenômeno como, por exemplo, a referência pronominal. Lima ressalta que a
ausência de conjunções para marcar relações tais como causa, conseqüência ou
descrição de um processo é uma das principais fontes de incoerência verificadas
nas redações dos seus alunos.
A importância das conjunções como recurso coesivo, para fins de facilitação
da compreensão escrita, tem sido objeto de vários debates. Nuttall 1996 (apud
Innajih, 2006), por exemplo, sustenta que as conjunções ajudam os leitores de ILE
a extrair o significado correto de um texto, em tempo normal, com um
entendimento satisfatório.
I
NTRODUÇÃO
4
Innajih (2006) chega aos mesmos resultados em pesquisa com estudantes
de duas universidades libanesas. Para o autor, as conjunções têm efeito positivo
na compreensão escrita desde que sejam explicitamente ensinadas. Essa
conclusão decorre da identificação de vários problemas enfrentados por alunos
libaneses, tais como deficiências na identificação das conjunções, no
reconhecimento de seus significados e funções e na relação semântica que elas
sinalizam em textos escritos. No seu entender, um esforço no sentido de ampliar
o conhecimento lingüístico dos aprendizes sobre conjunções poderia significar o
ponto de partida para facilitação da leitura ou um obstáculo a menos para esse
processo.
Em pesquisa sobre o papel das conjunções na compreensão de textos em
segunda língua, Geva (1992) conclui que, com o aumento de proficiência na
língua, os alunos que estão aprendendo um segundo idioma (doravante L2) vão,
simultaneamente, aperfeiçoando a habilidade de usar e de inferir relações lógicas
no e do discurso. Para tanto, precisam estar expostos à leitura de discursos
conectados por conjunções, à natureza de marcadores que assinalem as relações
entre os segmentos textuais, e à oportunidade de inferência das relações que não
estejam claramente marcadas no texto. É de se supor, portanto, que a presença
de conjunções em um texto seja altamente imprescindível, evitando-se, assim,
possíveis ‘distorções’ no leque de interpretações consideradas possíveis (cf. Koch,
1991).
Por outro lado, no que tange aos estudos acima mencionados quanto ao
papel da conjunção em leitura em ILE, no decorrer desta pesquisa fomos
percebendo que a complexidade textual está presente não entre as orações
mas também dentro delas, em grupos verbais e nominais. Em conseqüência, o
presente estudo, inserido no contexto mais amplo do projeto DIRECT: Em direção
à linguagem do trabalho (PUC-SP/LAEL), tem como objetivo analisar elementos
gramaticais que contribuam para organização e coesão do texto, tanto abaixo da
oração (grupo verbal e nominal) quanto acima dela (conjunção e referência
I
NTRODUÇÃO
5
pronominal). Com isso, esperamos contribuir para a área da Lingüística Aplicada
bem como fornecer subsídios para a elaboração e/ou seleção de materiais
voltados para o ensino de ILE.
A fim de alcançar o objetivo aqui proposto, foram formuladas as seguintes
perguntas de pesquisa:
Como se caracteriza o grupo verbal nos artigos das revistas Speak up e
Newsweek?
Como se caracteriza o grupo nominal nos artigos das revistas Speak up e
Newsweek?
Como se caracteriza a relação entre as orações nos artigos das revistas
Speak up e Newsweek?
Com esse propósito, o presente trabalho foi organizado da seguinte
maneira: o capítulo 1 é dedicado à fundamentação teórica da pesquisa e
apresenta uma visão geral da Gramática Sistêmico-Funcional (Halliday, 1985,
1994, 2004), discorrendo brevemente sobre os componentes funcionais (as
metafunções) que embasam este estudo, para a partir dela, apresentar os dois
níveis de organização estrutural da oração: o nível abaixo da oração, focando os
grupos verbais e nominais; e o nível acima da oração, voltando-se para o
complexo oracional, e privilegiando a contribuição das conjunções e das
referências pronominais para a coesão textual.
O capítulo 2 trata da abordagem metodológica, buscando primeiramente
definir as características das revistas estudadas. Em seguida, descreve os textos
utilizados para análise, o procedimento de coleta e organização dos dados, bem
como os procedimentos utilizados na análise quantitativa dos dados, através do
conjunto de ferramentas computacionais Wordsmith Tools (Scott, 1999), com
vistas à melhor compreensão dos passos e critérios envolvidos na análise.
I
NTRODUÇÃO
6
O capítulo 3 aborda, conjuntamente, a análise dos dados e a discussão dos
resultados. Serão discutidas as diferenças e semelhanças entre os textos da
Newsweek e os da Speak up de modo a esclarecer como se caracterizam as
estruturas dos textos produzidos nas duas revistas supracitadas.
As considerações finais incluem as respostas às perguntas de pesquisa,
assim como as implicações e sugestões de pesquisas futuras, seguidas das
referências bibliográficas e dos respectivos anexos.
C
APÍTULO
1
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UNDAMENTAÇÃO
T
EÓRICA
7
Capítulo 1: Fundamentação Teórica
Este capítulo apresenta o embasamento teórico que sustenta a presente
pesquisa. Primeiramente, introduzimos os princípios da Gramática Sistêmico-
Funcional para, a partir dela, discutir a organização estrutural da oração, que está
dividida em dois veis. No primeiro nível abaixo da oração, ou seja,
internamente a ela abordaremos os grupos verbal e nominal; no segundo nível
acima da oração, isto é, externamente a ela – focaremos o complexo oracional e a
coesão textual, especificamente a conjunção e a referência pronominal.
1.1 Gramática Sistêmico-Funcional
Esta é uma pesquisa em Análise do Discurso (doravante AD), com suporte
teórico da Gramática Sistêmico-Funcional conforme formulada inicialmente por
Halliday (1985). A Análise do Discurso compreende, para Halliday (1994:xv), dois
níveis de alcance: o primeiro busca contribuir para a compreensão do texto; em
outras palavras, a análise lingüística visa mostrar como e por que o texto transmite
significado da maneira como o faz. O segundo nível relaciona-se à avaliação do
texto; neste nível, a análise lingüística procura mostrar por que o texto é ou não
– efetivo para os seus propósitos.
A Gramática Sistêmico-Funcional (doravante GSF) desenvolve teoria sobre
a linguagem como processo social, dispondo de uma metodologia que permite a
descrição detalhada e sistemática dos padrões lingüísticos. Toda e qualquer
escolha léxico-gramatical realizada pelo usuário da língua está condicionada ao
contexto, nunca de forma arbitrária mas sempre motivada pelas intenções do
falante/escritor em relação ao ouvinte/leitor. Nessa perspectiva, a língua é vista
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APÍTULO
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EÓRICA
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como um sistema de escolhas a ser utilizado pelo usuário no desempenho das
funções sociais.
A GSF busca explicar como os significados são construídos nas interações
lingüísticas cotidianas. Para tanto, requer a análise de produtos autênticos das
interações sociais (textos orais ou escritos) que levem em conta o contexto,
especialmente os aspectos cultural e situacional onde ocorrem, para explicar por
que um texto significa o que significa, e por que é avaliado como é.
A abordagem sistêmica é entendida como funcional porque, como propõe
Halliday (1985:xiii), dispõe-se a responder às seguintes perguntas:
O que fazemos com a linguagem (que função tem a linguagem)?
Como a linguagem está estruturada para ser usada (como estão
estruturados os textos e outras unidades lingüísticas para construir
significados)?
Em relação à segunda pergunta, Halliday (1985:xiii) afirma que a linguagem
está estruturada a partir de componentes fundamentais de significado na língua:
os componentes funcionais ou metafunções, que fornecem as explicações do uso
da língua a partir das necessidades, dos propósitos do falante em um dado
contexto de uso. Essas metafunções dizem respeito a três significados
simultâneos: o ideacional (quando os usuários da língua falam do mundo, da
maneira como o percebem, o sentem, o experienciam e o representam), o
interpessoal (quando os usuários da língua constroem significados sobre suas
relações com outras pessoas e suas atitudes em relação a elas) e o textual
(quando os usuários da língua dão seqüência lógica ao pensamento, o que
dependerá de elementos coesivos que indiquem relações entre orações, contexto
e propósito).
C
APÍTULO
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9
Para realizar, simultaneamente, esses três tipos de significados, a
linguagem conta com um nível intermediário de codificação: a léxico-gramática.
Butt et. al. (2000:11) corroboram as palavras de Halliday ao afirmarem que
a linguagem, na perspectiva sistêmico-funcional, pode ser considerada um
“sistema em multiníveis no qual os falantes/escritores fazem escolhas léxico-
gramaticais motivadas pelo significado apropriado para um dado contexto, e
depois expressam essas escolhas léxico-gramaticais no(a) som/escrita”
4
. A
estrutura constituinte da léxico-gramática é definida por Halliday (1994:23) como
unidades maiores compostas por unidades menores, ou seja, períodos compostos
de orações que se compõem de grupos, que se compõem de palavras, que se
compõem de morfemas, conforme representação de Eggins (1994:129) no quadro
abaixo:
Oração – Complexo Oracional
Grupo / Frase
Palavra
Morfema
Quadro 1: Estrutura constituinte da léxico-gramática
O complexo oracional é descrito por Halliday (1985:193) como uma
associação de orações em seqüência, indicada pelo ponto final. O exemplo 1
ilustra essa estrutura:
01: (SU: 42)
5
Batman is a dark, obsessed character, but that's not Batman to my eyes.
ORAÇÃO ORAÇÃO
COMPLEXO ORACIONAL
Grupos e frases, segundo Eggins (1994:126), são vistos como coleções de
palavras que desenvolvem trabalho similar na oração, ou seja, um grupo nominal
4
Language can be considered, from a FG perspective, a multileveled system in which speakers
and writers make lexico-grammatical choices motivated by the meanings appropriate to a given
context, and then express these lexico-grammatical choices in sounds or writing.
5
Todos os exemplos usados na Fundamentação Teórica foram retirados do corpus de estudo e
seguem as abreviaturas das revistas (SU e NW).
C
APÍTULO
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F
UNDAMENTAÇÃO
T
EÓRICA
10
é um grupo de nomes (noun-like), assim como um grupo verbal é composto por
elementos verbais, como mostram os exemplos a seguir:
02: (SU: 42)
A dark obsessed character
GRUPO NOMINAL
03: (NW: 31)
Appeared to be coasting
GRUPO VERBAL
O presente trabalho propõe-se a comparar textos de duas revistas com o
propósito de identificar as escolhas léxico-gramaticais feitas por seus autores, em
termos de estrutura do texto; em outras palavras, busca determinar como são
construídos os complexos oracionais, as orações e os grupos verbais e nominais
nos textos sob análise, por julgá-los relevantes para a análise da oração em
ambos os níveis: abaixo (grupo verbal e nominal) e acima (complexo oracional e
coesão textual). Dentre as análises propostas e no nível abaixo da oração
abordaremos também, de forma sucinta, a metáfora gramatical por entendermos
que esse fenômeno lingüístico representa uma forma incongruente de expansão
do grupo nominal (nominalização), e, para maior clareza, a metáfora gramatical
constituirá uma seção separada da discussão do grupo nominal, devido à sua
relevância no corpus, constituindo-se em uma grande diferença entre as duas
revistas.
Assim sendo, passamos a descrever a estrutura dos grupos verbal e
nominal, que integram a estrutura abaixo da oração. Para tanto, e valendo-nos
dos conceitos da GSF para essa descrição, usaremos a metafunção ideacional,
que trata do significado como organização da experiência (experiencial) e
expressão das relações lógicas nas unidades complexas (lógica).
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1.1.1 Abaixo da Oração
Halliday (1994:180) define os grupos verbais e nominais como complexos
de palavras (word complex), ou seja, uma combinação de palavras desenvolvida
com base em uma relação lógica, daí o nome grupo (= grupo de palavras).
Do mesmo modo que as orações, grupos e frases formam complexos
através de parataxe e hipotaxe, também conhecidas como coordenação e
subordinação. Em conformidade com Halliday (1994:274), “os grupos ou frases
formados pela parataxe são mais gerais e fáceis de compreender, enquanto a
hipotaxe que pode ser construída nesse nível é muito mais complexa”.
6
1.1.1.1 Grupo Verbal
O grupo verbal é descrito por Halliday (1994:196) como “a expansão de um
verbo, consistindo em uma seqüência de palavras pertencentes à classe primária
do verbo”
7
, como mostra o exemplo abaixo:
04: (NW: 15)
Time that
could be spent memorizing
the names and faces of the 200
people.
GRUPO VERBAL
Para a análise do grupo verbal, assim como a do grupo nominal, Halliday
(p.197) não considera imprescindível a utilização das três metafunções
(ideacional, interpessoal e textual). Cabe, portanto, ao especialista selecionar o
componente semântico a ser analisado e optar pela função mais adequada ao
cumprimento desse objetivo.
6
The kinds of paratactic nexus formed with groups or phrases are fairly general and easy to state.
The hypotactic patterns that may be construed at this rank are however much more complex.
7
A verbal group is the expansion of a verb; and it consists of a sequence of words of the primary
class of verb.
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12
Considerando o propósito desta pesquisa que é analisar as estruturas
lógicas dos textos em duas revistas, o grupo verbal será estudado sob a óptica da
metafunção lógica. Nesse sentido, Halliday (2004:338) afirma que:
“Evidentemente, é possível representar cada caso do grupo verbal
através de uma análise estrutural, mostrando os Auxiliares de
maneira paralela ao que é feito com o grupo nominal. No entanto,
os elementos do grupo verbal são unicamente gramaticais (ex. as
opções que eles representam são fechadas passado /presente
/futuro, afirmativas /negativas, ativas /passivas); é, portanto, mais
simples só usar notações lógicas”
8
.
Halliday (1994:198) diz que “a estrutura lógica do grupo verbal compreende
o sistema do tempo verbal”
9
da língua inglesa, dividido em tempo primário
(funcionando como núcleo da estrutura lógica do grupo) e secundário
(funcionando como modificadores do núcleo). O tempo primário será passado,
presente ou futuro simples (marcado, em inglês, no processo pelos afixos: V-ed,
V-s, will+V(infinitivo), quando for o único elemento da estrutura lógica ou o primeiro
elemento do grupo em caso de tempos secundários), ao passo que o tempo
secundário corresponde às formas perfectiva, progressiva, futuro com going to e
passiva (formado por auxiliar mais processo marcado pelos sufixos: have+V-en,
be+V-ing, be going to+V(infinitivo), be+V-en), como mostra o quadro abaixo:
Primário Secundário
Passado
Passado Simples Perfectiva
Presente
Presente Simples Progressiva
Futuro
Futuro Simples Futuro com going to
Passiva
Quadro 2: Realização dos tempos verbais primários e secundários
(traduzido e adaptado de Halliday, 1994:199)
No tempo secundário, embora o processo continue atuando como
modificador do núcleo verbal, em casos de ocorrência de mais de um auxiliar um
8
Clearly it is possible to represent every instance of a verbal group by a structural analysis
showing the Auxiliaries, in a way that is parallel to what is done for the nominal group. However, the
elements of the verbal group are purely grammatical (i.e. the options they represent are closed
past/present/future, positive/negative, active/passive not open-ended); so it is simpler just to use
logical notation.
9
The logical structure of the verbal group realizes the system of tense.
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destes passa a desempenhar o papel de modificador. Os exemplos que se
seguem buscam explicitar melhor a estrutura lógica dos grupos verbais aqui
aventados.
O exemplo 5
(a seguir) expõe um tempo verbal primário, em que o processo
(is) está funcionando como núcleo verbal (que pode ser representado pela letra do
alfabeto grego (α). Enquanto que no exemplo 6 o processo done está modificando
(subordinando) o auxiliar being o qual, por sua vez, está modificando o auxiliar is,
o que caracteriza um grupo verbal complexo. Se, no segundo caso,
representarmos os auxiliares (is) e (being), respectivamente, pelas letras gregas
(α) e (β), e o processo (done) pela letra (γ), teremos: is (α) + being (β) + done (γ).
05: (SU: 22)
Cape
Town
is
a city that was born with a vocation
to be peculiar.
PROCESSO – núcleo
(TEMPO PRIMÁRIO)
06: (NW: 59)
Privacy
research
is being done
by ARDA or by the surviving
remnants of Poindexter's program.
AUXILIAR + PROCESSO –
modificadores
(TEMPO SECUNDÁRIO)
É oportuno mencionar que o tempo verbal em inglês compõe-se de dois
sistemas distintos: o tempo finito e o não-finito. Segundo Halliday (2004:115), o
sistema finito relaciona-se, em termos gramaticais, ao tempo da fala (ao aqui-e-
agora), utilizando-se do tempo primário representado por passado, presente e
futuro. Por outro lado, o sistema não-finito não se fixa na temporalidade, sendo
construído por tempos verbais no infinitivo (to), no gerúndio (ing) e no particípio
(en). Vejamos, a seguir, um exemplo de cada sistema:
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07: (NW: 30)
The biggest houses
will be
2,849 square feet, with stainless-
steel appliances, 10-foot ceilings
and granite countertops.
FINITO
08: (NW: 03)
Banda on Tuesday
accused the rights groups
of being
“jealous of my son.”
NÃO-FINITO
Esta pesquisa analisará os verbos mais freqüentes no corpus (be e have e
suas formas flexionadas).
1.1.1.2 Grupo Nominal
Para uma descrição do grupo nominal que nos permita compreender o
significado de grupo como um recurso gramatical utilizado para representar
coisas, Halliday (1994:193) sugere a sua interpretação sob dois pontos de vista: o
lógico e o experiencial.
O grupo nominal é formado por um núcleo a parte mais importante do
grupo, composto por substantivo comum, nome próprio ou pronome precedido
ou seguido de vários outros itens que de alguma forma o caracterizam,
denominados ‘modificadores’. A modificação do núcleo nominal pode ser feita de
duas maneiras: por meio de pré-modificadores (aqueles que o antecedem) e por
meio dos pós-modificadores (os que o seguem), conforme mostra o exemplo 9 a
seguir:
09: (NW: 58)
Midtown
is
a coercive, cultlike
group
that uses the trusted AA
name to induce young
alcoholics into a radical
fringe movement that has
little resemblance to
traditional AA.
PRÉ- MODIFICADORES
NÚCLEO PÓS- MODIFICADORES
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A análise da estrutura lógica do grupo nominal, segundo Halliday
(2004:330), inclui a formulação de uma base hipotética da pré-modificação, em
que é explicitado o porquê da escolha na produção de uma seqüência longa
dentro do grupo nominal. Isso significa que, sob o aspecto lógico, o que importa é
a organização estrutural do núcleo nominal com os seus modificadores. No
exemplo 9 (acima) um núcleo (group), modificado por (coersive, cultlike), que
por sua vez é modificado por (a) e ultimado por um pós-modificador bastante
extenso (that uses the trusted AA name...).
Sob o aspecto experiencial, cada elemento do grupo nominal tem uma
função diferente em relação ao todo; em outras palavras, a função experiencial
especifica (i) as classes de coisas e (ii) as categorias dessas coisas dentro das
classes, alocando uma função a cada elemento do grupo nominal, diferentemente
da lógica segundo a qual o que importa não é a função, e sim a estrutura.
Ainda na relação experiencial, primeiramente Halliday (1994) nomeia o
participante, denominado coisa (thing); a partir daí, o restante do grupo nominal
pode ser classificado por um classificador; descrito por um epíteto; qualificado por
um qualificador; contado ou medido por um numerativo; ou simplesmente
determinado por meio de um dêitico, cabendo então especificar sobre quem e o
que estamos falando, como demonstra o quadro de Martin & Rose (2003) a seguir:
Dêitico
Modificador
Numerativo
Modificador
Epíteto
Modificador
Classificador
Modificador
Coisa
Núcleo
Qualificador
Modificador
Artigo
Numeral Adjetivo Substantivo Substantivo Frase/Oração
A farm girl
A young man in his
twenties
The police officers who applied
for it
Quadro 3: Funções dos componentes do grupo nominal (adaptado de Martin & Rose, 2003:109)
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Sob a perspectiva sistêmico-funcional, os pré-modificadores são formados
por artigos, numerais, adjetivos e substantivos, ao passo que os pós-
modificadores, denominados qualificadores na função experiencial, são vistos por
Halliday (2004:329) como orações relativas definidoras
10
ou orações encaixadas
– que podem funcionar de três formas, conforme mostram os exemplos abaixo:
10: (NW: 36)
America is a gigantically disproportionate
consumer of the world’s resources.
Sintagma
Preposicionado
11: (NW: 24)
Cruise Critic is a comprehensive cruise vacation
planning guide providing objective cruise ship
reviews, cruise line profiles, destination
content on 125+ worldwide ports, cruise
bargains, tips, industry news, and cruise
message boards.
Oração
Não-Finita
12: (NW: 62) The camp's Club Den is an activity center where
kids can partake in arts and crafts projects like
making elephant-dung paper.
Oração
Finita
Como podemos observar, as orações relativas definidoras não vêm
acompanhadas de vírgulas, em contraste com as orações relativas não-
definidoras, que, de acordo com Halliday (2004:325), são dependentes
hipotaticamente (subordinadas) e estão sempre entre rgulas. Em vista disso,
depreende-se que as orações relativas não-definidoras fazem parte da oração
subordinada não podendo, portanto, funcionar como elemento do grupo nominal,
mas sim como pertencente ao complexo oracional.
Para a análise do grupo nominal, recorremos aos elementos gramaticais à
direita do processo be o qual, segundo Martin & Rose (2003:76), é “amplamente
utilizado para atribuir qualidade a pessoas e coisas, classificá-las como uma coisa
ou outra, nomear suas partes ou identificá-las”
11
, como mostra o quadro abaixo:
10
Segundo Halliday (2004:402), a oração relativa definidora (defining relative clause) indica o
termo ao qual se refere e, portanto, é essencial para o entendimento da mensagem (não vem entre
vírgulas); ao contrário da oração relativa não-definidora (non-defining relative clause), que adiciona
ao termo ao qual se refere uma simples informação, não sendo, portanto, essencial para o
entendimento da mensagem (vem sempre entre vírgulas ou depois de vírgula).
11
(It is) used most commonly to ascribe qualities to people and things, to classify them as one thing
or another, to name their parts, or to identify them.
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Qualidade Flint is a scary character in the children’s classic, Treasure
Island. (SU: 57)
Classe Cape Peninsula is a National Park on the most famous
southern point of Africa.(SU; 22)
Identidade The winner was Sophia Gorgodze from Georgia and the
runner up was Pia Zeinoun from Lebanon. (SU: 08).
Existência There is a piquant irony in all this fervour. (SU: 33)
Quadro 4: Grupo Nominal à direita do processo be (adaptado de Martin &
Rose, 2003:82)
No quadro 4, os elementos sublinhados são grupos nominais, constituídos
tanto por pré-modificadores quanto por pós-modificadores, à direita do processo
be.
A seguir, passaremos a tratar, de forma resumida, da metáfora gramatical
por ser esta uma forma de expansão do grupo nominal.
1.1.1.3 Metáfora Gramatical
Halliday (1994:341) diz que a metáfora é geralmente descrita como uma
variação no uso das palavras, isto é, uma variação na expressão do significado”
12
.
O autor explica mais adiante (p. 342) que o significado metafórico é
também denominado incongruente, enquanto o significado mais ‘literal’ das
palavras é conhecido por congruente. Cabe lembrar que a realização congruente
não é melhor ou mais freqüente que a incongruente, tampouco funciona como
norma padrão. Tanto assim que existem inúmeros casos em que a representação
metafórica tem-se tornado norma, o que é considerado por Halliday (1994:342)
como um processo natural de mudança lingüística.
A metáfora gramatical é classificada, segundo Thompson (1996:165), como
“a expressão de um significado por meio de uma forma léxico-gramatical que se
12
Metaphor is usually described as variation in the use of words... metaphor is variation in the
expression of meanings.
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desenvolve para expressar um tipo diferente de significado”
13
. dois tipos de
metáfora gramatical na oração: a metáfora interpessoal e a ideacional. Este
trabalho privilegia a metáfora ideacional (experiencial e lógica), em conformidade
com as seções anteriores (níveis abaixo da oração).
A metáfora ideacional pode ser produzida de duas maneiras: (i) pela
utilização metafórica do processo, e (ii) pela utilização do grupo nominal na
representação do processo (nominalização). Vejamos um exemplo de cada:
13: (NW: 57)
While more than 400 billion cups of coffee are sipped and savored every year
more than any other beverage except water little of the profit trickles down to
the farmers.
METÁFORA GRAMATICAL – PROCESSO
14: (NW: 29)
But the trail of events that led to this perilous moment—making North Korea the
first new declared nuclear power in eight years, and undoubtedly the most
unstable of the eight (not including Israel) in the world today—had a great deal to
do with years of misplaced pride and prejudice between Pyongyang and
Washington, of deep misunderstanding and disastrous missed chances.
METÁFORA GRAMATICAL – NOMINALIZAÇÃO
No exemplo 13, trickles down (gotejar, escorrer devagar) está
metaforizando o processo, uma vez que lucros não gotejam; ao passo que, no
exemplo 14, os processos misplace, misunderstand e miss tornam-se parte do
grupo nominal daí o termo nominalização. A presente pesquisa limitar-se-á a
este segundo tipo de metáfora ideacional, utilizado na expansão do grupo nominal.
Halliday (1994:352) afirma que “a nominalização é o recurso mais poderoso
para a criação da metáfora gramatical”
14
, pelo qual um processo ou adjetivo é
reformulado como substantivo. Na nominalização, ao invés de funcionarem na
oração como Processo (verbo) ou Atributo (adjetivo), eles atuam como Coisa
13
The expression of a meaning through a lexico-grammatical form which is originally evolved to
express a different kind of meaning.
14
Nominalizing is the single most powerful resource for creating grammatical metaphor.
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(substantivo) no grupo nominal.
O autor acrescenta que é por meio da nominalização que construímos
orações lexicalmente densas (lexically dense) devido à abrangência de grande
número de itens lexicais dentro da oração, incorporados ao grupo nominal. O
grupo nominal é, por conseguinte, o principal recurso usado pela gramática para
empacotar (packing) itens lexicais em alta densidade.
Halliday (1994:57) explica que “a densidade lexical aumenta não porque o
número de itens lexicais cresce, mas porque o número de itens não-lexicais
palavras gramaticais – diminui; e conseqüentemente, o número de orações diminui
ainda mais”.
15
A densidade lexical é vista pelo autor como uma forma de complexidade,
assim como a complexidade gramatical (grammatical intricacy), que constrói
complexos oracionais sem o uso explícito de conjunções de relação de
interdependência (parataxe ou hipotaxe), como exemplificado a seguir:
15: (NW: 58)
Now 16, she is one of hundreds of recovering alcoholics who are taking sides in
a bitter, unprecedented dispute among Alcoholics Anonymous adherents that
pits members of Midtown who insist the organization has saved their lives and
kept them sober against angry former member who charge it is a coercive,
cultlike group that uses the trusted AA name to induce young alcoholics into a
radical fringe movement that has little resemblance to traditional AA.
COMPLEXIDADE LEXICAL E GRAMATICAL
16
Enquanto em 15 temos um período bastante complexo
lexicalmente pela expansão dos grupos nominais por meio das orações relativas
definidoras (restritivas) who e that, sem conexão explícita das orações por
conjunções, em 16 o complexo oracional é claramente conectado pelas
15
The lexical density increases not because the number of lexical items goes up but because the
number of non-lexical items grammatical words goes down; and the numbers of clauses goes
down even more.
16
Os elementos who e that estão atuando aqui como parte do grupo nominal da oração restritiva
(encaixada), e não como conjunções hipotáticas ligando complexos oracionais.
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conjunções coordenadas so, but e and, caracterizando-se, segundo Halliday
(1994), como uma oração simples.
16: (SU: 31)
The British solution is a natural derivative of the tobacco plant so this is not a
problem but the effect lasts only three to four months and you must repeat the
treatment.
ORAÇÃO SIMPLES – CONJUNÇÕES PARATÁTICAS
Finda a seção que trata da expansão abaixo da oração, passaremos a
discutir, na seção seguinte, a organização estrutural da oração no nível acima da
oração, focando o complexo oracional e a coesão textual.
1.1.2 Acima da Oração
Para Halliday (1994:215), um período pode ser interpretado como um
complexo oracional, formado por um núcleo oracional e pelas orações que o
modificam. Essa relação (Núcleo + Modificador) assemelha-se à existente entre
complexo oracional e grupo (cf. item 1.1.1 acima): o período é desenvolvido pela
expansão externa da oração, daí a expressão ‘acima da oração’, enquanto o
grupo desenvolve-se pela expansão interna da oração, ou seja, abaixo desta.
Não podemos, contudo, considerar a estrutura do período somente em
termos de Núcleo + Modificador, como fazemos com os grupos. Nesse sentido,
Halliday (1994:216) lembra que “devemos interpretar as relações entre orações
em termos de componente ‘lógico’ do sistema lingüístico: as relações semântico-
funcionais que compõem a lógica da língua natural”
17
. O autor acrescenta, ainda,
que essa interpretação sistêmica pode ser feita de duas maneiras: (i) através do
sistema de interdependência, formado por parataxe e hipotaxe (cf. seção 1.1.2.1 a
seguir), comum aos dois complexos (oracional ou grupo); e (ii) por meio do
sistema lógico-semântico representado por expansão e projeção do complexo
17
We shall interpret the relations between clauses in terms of the ‘logical’ component of the
linguistic system: the functional-semantic relations that make up the logic of natural language.
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oracional, que corresponde a uma relação especificamente externa à oração. Na
próxima seção, veremos como funcionam esses dois sistemas.
1.1.2.1 Complexo Oracional
Devido à associação tanto sistêmica quanto estrutural com o significado
experiencial, Halliday (1985) classifica conjuntamente as metafunções experiencial
e lógica, ambas sob a metafunção ideacional. Nesse nível de estrutura, optamos
pela metafunção lógica ao investigarmos como, na formação de complexos
oracionais, as orações se ligam umas às outras por meio de relações lógico-
semânticas. Nessa investigação, observamos que dois sistemas básicos
determinantes: o grau de interdependência (ou taxes) e a relação lógico-
semântica.
Em relação ao grau de interdependência, notam-se dois tipos de estrutura:
a paratática, quando duas orações estão relacionadas entre si em estatutos iguais;
e a hipotática, quando os estatutos das duas orações são desiguais. Nesse
contexto, e em consonância com Halliday (1985:195), as orações são
independentes na parataxe, sem predominância de uma sobre a outra. Por outro
lado, a hipotaxe caracteriza-se por relações de dependência entre as orações e
pela predominância formal de uma sobre a outra. Em princípio, a relação
paratática é logicamente simétrica e transitiva, enquanto a relação hipotática é
assimétrica e intransitiva, ou seja, na parataxe as orações (inicial e conseguinte)
são livres, ao contrário do que ocorre na hipotaxe, em que uma oração é livre
(dominante /principal) e a outra dependente. Vejamos alguns exemplos retirados
do corpus de estudo:
17: (SU: 47)
Numbers are limited for these tours, so you must book in advance.
ORAÇÃO PARATÁTICA
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18: (SU: 02)
In 1994 he <Lula> lost
because the recent success of the Real Plan had
made FHC wildly popular.
ORAÇÃO HIPOTÁTICA
Na visão de Halliday (2004:383), as estruturas táticas (paratática e
hipotática) dos complexos oracionais são relacionais passíveis de serem
chamadas de univariáveis (univariate). As estruturas univariáveis, no nível das
orações, situam-se em uma espécie de fronteira gramatical entre o complexo
oracional e a coesão do texto. Halliday & Hasan (1976) referem-se à relação além
dessa fronteira como não-estrutural, por transcender a estrutura gramatical. Mais
adiante (p. 384), os autores sustentam que a estrutura multivariável (multivariate)
corresponde à configuração de diferentes relações funcionais, como Modo +
Resíduo, Possuidor + Processo + Possuído, Tema + Rema, etc. O exemplo a
seguir pode contribuir para uma melhor compreensão do funcionamento da
estrutura multivariável:
19: (NW: 54)
Brazil has 187 million citizens.
MODO RESIDUO
POSSUIDOR PROCESSO POSSUÍDO
TEMA REMA
Na relação lógico-semântica verificam-se, da mesma forma, dois tipos
básicos de relação com funcionamentos bastante distintos: a expansão e a
projeção. A relação de expansão ocorre quando a segunda oração expande a
primeira, e es classificada sob três subtipos: elaboração, extensão e
intensificação.
É importante ter em mente que, apesar dos sistemas de interdependência e
lógico-semântico serem aqui discutidos em separado, toda relação paratática e
hipotática carrega, também, uma relação lógico-semântica de expansão ou
projeção, e vice versa. Vejamos a figura que exemplifica o sistema do complexo
oracional:
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Figura 1: Sistema do complexo oracional (adaptado e traduzido de Halliday, 2004:373)
Em relação à expansão, podemos considerar uma de suas categorias a
elaboração como a categoria tradicional de aposição, que visa fornecer
informação adicional sobre o que está presente na oração. A elaboração pode
ser construída parataticamente, com o uso de conjunções de exposição (or
(rather), in other words, that is (to say), I mean (to say), i.e.), de exemplificação (for
example, for instance, in particular, e.g.) e de esclarecimento (in fact, actually,
indeed, at least). Incluímos a seguir um exemplo de cada tipo:
20: (SU: 20)
So Speak Up decided to see "what gringos come to see here in Brazil," or
rather, "the Brazil we show them," starting with the Pantanal.
ELABORAÇÃO: EXPOSIÇÃO
21: (NW: 52)
Europe's alienated and angry Muslim minorities, for instance, will hardly be
encouraged to come to terms with Western culture if Europe sends a clear signal
that Turks cannot be full Europeans.
ELABORAÇÃO: EXEMPLIFICAÇÃO
22: (NW: 58)
Hanrahan says a little disorder and disagreement inside AA isn't necessarily a
bad thing—in fact, it almost always works out for the good.
ELABORAÇÃO: ESCLARECIMENTO
Oração
Taxes
Tipo Lógico-
Semântico
Hipotaxe
Parataxe
Projeção
Expansão
Idéia
Locução
Elaboração
Extensão
Intensificação
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Outra forma de elaboração dá-se através das conjunções hipotáticas que
são formadas pelas relativas não-definidoras ou não-restritivas (cf. seção 1.1.1.2).
Nesse tipo de construção, a oração pode ser finita (which, who, whose, where,
when e ocasionalmente that) ou não-finita, conforme os exemplos a seguir:
23: (SU: 14)
Harry S. Truman, who was President of the United States from 1945 to 1953,
and who authorised the dropping of atom bombs at Hiroshima and Nagasaki,
was known to say manure as often as a farmer used it.
ELABORAÇÃO: RELATIVA NÃO-DEFINIDORA – FINITA
24: (NW: 10)
The world's established nuclear powers have for the past decade foregone real
test blasts for the onscreen kind, harnessing the world's most powerful
computers to simulate as best as possible what happens when a nuclear bomb
explodes.
ELABORAÇÃO: RELATIVA NÃO-DEFINIDORA – NÃO-FINITA
Dentre os tipos de elaboração exemplificados nesta seção, a presente
pesquisa utilizará os de maior freqüência no corpus de estudo, ou seja, as
relativas não-definidoras finitas (that, which, who, when e where) e não-finitas
(construídas por tempos verbais no infinitivo to, no gerúndio ing e no particípio en).
A segunda categoria de expansão é a extensão, que corresponde à
coordenação em moldes tradicionais. Em outras palavras, a extensão é a relação
semântica das conjunções and, or e but, e ocorre quando uma oração estende o
significado da anterior, pelo acréscimo de algo novo ou por variação (quando uma
oração altera o significado de outra por contraste ou qualificação). Alguns tipos de
extensão citados por Halliday incluem as conjunções and, also, moreover, in
addition, nor, but, yet, however, apart from that, on the contrary, instead, except for
that, or, either… or, conversely, alternatively, on the other hand e if not.
Exemplificamos dois desses casos a seguir:
25: (SU: 42)
Later he sat at home, thinking of his failure, when a bat flew in his window and
he had a vision.
EXTENSÃO – ADIÇÃO
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26: (SU: 37)
Over 250,000 people lived there during the time of Jesus, but 1,500 years later
the Aztecs found it completely abandoned - a ghost city - and nobody knows
why.
EXTENSÃO – ADVERSATIVA
No que tange à extensão, serão analisadas as conjunções paratáticas de
maior freqüência no corpus: and e but.
A terceira e última categoria da expansão é a intensificação, que envolve
uma relação de circunstância, ou melhor, refere-se à forma como uma oração
estende o significado de outra em termos de dimensões, como tempo, lugar,
modo, causa, condição ou assunto. As conjunções temporais mais comuns são:
then, next, afterwards, just then, at the same time, before that, soon, after a while,
meanwhile, all that time, until then, up to that point. Já as conjunções comparativas
incluem likewise, similarly, in a different way, enquanto as causais são so, then,
therefore, consequently, hence, because of that, for, in consequence, as a result,
on account of this, for that reason, for the purpose, with this in view. Dentre as
conjunções condicionais, temos: in that case, otherwise, under the circumstances,
if not. Finalmente, as relações concessivas são expressas por yet, still, though,
despite this, however, even so, all the same, nevertheless.
Serão analisadas, dentre as conjunções acima destacadas, as que acusam
maior freqüência no corpus: as paratáticas so (causal) e then (temporal),
presentes nos exemplos a seguir:
27: (NW: 57)
But the major coffee players say they also try to help farm communities by
purchasing part of their beans directly from farmers so they receive a fair price
for their crop.
INTENSIFICAÇÃO – CAUSAL
28: (NW: 57)
They purchase coffee in bulk and then roast, blend and grind it into supermarket
brands such as Nescafe, Folgers or Maxwell House.
INTENSIFICAÇÃO – TEMPORAL
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Um outro tipo de relação lógico-semântica é a projeção, que ocorre quando
a segunda oração é projetada pela primeira através de uma citação ou descrição
acerca do que as pessoas dizem (locução) ou pensam (idéia)
. A projeção por
locução é representada pelo processo dizer (say) com o uso de aspas duplas (“), e
a projeção por idéia é representada pelo processo pensar (think) com o uso de
aspas individuais (‘). na projeção por relato é possível reportar algo
representando-o como um significado, geralmente acompanhado por that, como
mostram os exemplos abaixo:
29: (NW: 40)
“We live in a time when there really is a healthcare crisis,” said Cathy.
PROJEÇÃO – LOCUÇÃO
30: (SU: 54)
But I bet the studio executives in Hollywood thought <that> They’ve lost their
minds in Brazil when they approved that one.
PROJEÇÃO – IDÉIA
31: (NW: 27)
He said that although the purpose of the structures was unclear, officials were
concerned because North Korea has left open the possibility of another test.
PROJEÇÃO – RELATO
Apesar do processo verbal said constar da lista de palavras mais
freqüentes do corpus (cf. Anexo 1), este não será analisado uma vez que a
presente pesquisa privilegia a expansão dos grupos e orações presentes nos
textos e não a projeção.
Isto posto, passaremos a discutir o que é necessário para que uma
seqüência de orações, ou complexo oracional, possa constituir-se em um texto.
Para tanto, deter-nos-emos na descrição de coesão textual fornecida por Halliday
& Hasan (1976) e Halliday (1985, 1994, 2004).
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1.1.2.2 Coesão Textual
Para que uma seqüência de orações, ou complexos oracionais, possa(m)
constituir-se em um texto, Halliday (1994:308) sustenta que “é necessário fazer
mais do que fornecer uma estrutura interna apropriada para cada oração. É
preciso também tornar explícita a relação externa entre uma oração e outra”
18
.
Mais adiante (p. 309), o autor acrescenta que tal explicitação “não pode ser
realizada por meio de uma estrutura gramatical; ela depende de um recurso
diferente, isto é, um recurso não-estrutural referido pelo termo Coesão”
19
.
A coesão é tratada pela metafunção textual, uma vez que os elementos que
compõem tal metafunção são fundamentais para a organização e o
desenvolvimento coesivo do texto. Nesse sentido, Halliday & Hasan (1976:02)
afirmam que os elementos coesivos têm a função de imprimir o padrão de
tessitura, isto é, a organização do texto, suas ligações com as partes do discurso.
Para Halliday & Hasan (1976:298), “o significado geral da coesão está
agregado ao conceito de texto”
20
. Os autores vêem o texto como uma unidade
semântica, uma vez que engloba relações semânticas e não sintáticas ou
estruturais. Nesse sentido, e para fins de produção de tessitura, se um trecho em
inglês contiver, por exemplo, mais de uma frase, ele será compreendido como um
texto com certas características lingüísticas que contribuem para a sua visão como
unidade. Ainda em relação à tessitura, Halliday & Hasan (1976:02) definem-na
como a propriedade que distingue um texto de um não-texto, isto é, o que mantém
as orações de um texto unidas, dando-lhes unidade. Em outras palavras, Halliday
& Hasan (1976:04) afirmam que a coesão ocorre no texto quando a interpretação
de alguns elementos no discurso depende de outros, ou seja, que um pressupõe o
18
It is necessary to do more than give an appropriate internal structure to each. It is necessary also
to make explicit the external relationship between one clause or clause complex and another.
19
This cannot be achieved by grammatical structure; it depends on a resource of a rather different
kind. These non-structural resources for discourse are what are referred to by the term COHESION.
20
The general meaning of cohesion is embodied in the concept of text.
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28
outro na medida em que um não pode ser interpretado sem a ocorrência do outro.
Dessa forma, a relação de coesão é estabelecida e os dois elementos o que
pressupõe e o pressuposto – são potencialmente integrados no texto.
Por outro lado, a tessitura de um texto envolve muito mais que a simples
coesão; esta é componente importante, mas não único, para a construção do
texto. À coesão, Halliday & Hasan (1976:324) acrescentam mais dois elementos
responsáveis pela tessitura de um texto: as estruturais textuais (internas) que
organizam a frase e seus constituintes em termos de relacionamento com o
ambiente (estrutura temática); e a macroestrutura que define a frase como um
texto de um determinado tipo (estrutura e foco da informação). Em termos gerais,
Halliday (1985: 313) sintetiza a assertiva acima da seguinte forma:
(A) Estrutural:
1. Estrutura Temática: Tema e Rema
2. Estrutura e Foco da Informação: Dado e Novo
(B) Coesiva:
1. Conjunção
2. Referência
3. Elipse e Substituição
4. Coesão Lexical
A estrutura temática, da mesma forma que a estrutura coesiva, tem uma
função importante na construção da coesão. Analisando a estrutura temática de
um texto, oração a oração, pode-se perceber a natureza da tessitura bem como a
preocupação do escritor com a organização da mensagem. O tema expressa a
informação dada, já conhecida pelo leitor (ouvinte) ou recuperável a partir do
contexto. O rema, por sua vez, expressa a informação nova, aquela que o leitor
desconhece e que corresponde, efetivamente, ao conteúdo que o escritor
pretende transmitir.
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Na GSF encontramos vários trabalhos em língua portuguesa que se
ocupam da estrutura temática. Dentre eles podemos citar Siqueira (2000), que
estuda a estrutura temática em relatórios anuais de empresas brasileiras; Gouveia
e Barbara (2001), que analisam o tema na língua portuguesa de Portugal e do
Brasil; e Toledo-Pereira (2005), que analisa a estrutura temática no discurso de
guias de turismo e monitores de museus no Brasil e na Espanha.
Em nossas pesquisas bibliográficas, encontramos poucos estudos voltados
para a estrutura coesiva feitos no Brasil sob a perspectiva da GSF. Como
exemplo, podemos citar o trabalho de Alves-Silva (2004), que estuda a referência
pronominal em espanhol e em português. Na literatura estrangeira, uma referência
para os estudos de conjunção, especificamente em GSF, é o trabalho de Halliday
& Martin (1981) que analisa a conjunção na língua Tagalo
21
, e de Martin (1983)
sobre as relações lógicas das conjunções nos textos em inglês.
As estruturas temáticas e coesivas, entretanto, não são suficientes para a
definição de um texto. Segundo Halliday & Hasan (1976:23), é preciso acrescentar
o conceito de registro, uma vez que é este, aliado às estruturas, que efetivamente
define o texto. Um texto é, portanto, “uma parte do discurso que é coerente
22
sob
dois aspectos: é coerente com respeito ao contexto de situação (registro), e é
coerente com respeito a si próprio (coesivo)”
23
. Podemos observar, na figura
abaixo, como esses dois conceitos estão sobrepostos:
21
Tagalog é uma das línguas mais faladas na República das Filipinas.
22
Para Halliday & Hasan (1976:23) a coerência refere-se à maneira que um grupo de orações ou
períodos se relacionam ao contexto de situação e de cultura.
23
A text is a passage of discourse which is coherent in these two regards: it is coherent with
respect to the context of situation and therefore consistent in register; and it is coherent with respect
to itself, and therefore cohesive.
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Figura 2: Texto e contexto (adaptado de Butt et al, 2000:04)
Em síntese, a coesão pode ser construída de quatro maneiras: por
referência, por elipse/substituição, por coesão lexical e por conjunção. A coesão
por referência vale-se de recursos para identificar um participante ou elemento
circunstancial cuja identidade é recuperável; são eles os pronomes, os artigos
definidos, os comparativos, os advérbios como here, there, now e then. A coesão
por elipse utiliza-se de recursos para omitir uma oração, ou parte dela, em um
contexto onde haja pressuposição de omissão oracional. Halliday (1994) trata
elipse e substituição como um recurso único; pode-se mesmo dizer que a elipse é
a substituição por zero. a coesão lexical é a repetição de itens lexicais, tais
como sinônimos, co-colocação, etc. ao longo do texto. Finalmente, a coesão por
conjunção refere-se ao processo de conexão de orações, ligando-as
semanticamente.
As classificações estruturais estão baseadas na forma lingüística; logo,
pertencem ao sistema léxico-gramatical. Halliday e Hasan (1976:304) classificam
a referência, a substituição e a elipse como elementos gramaticais; a coesão
Contexto de Situaç
ão
(nível extra-linguístico)
Texto
(nível lingüístico)
Contexto de Cultura
(nível extra-lingüístico)
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lexical, como o próprio nome diz, remete ao léxico; e a conjunção situa-se no
limite entre a gramática e o léxico. Os autores sustentam que, a partir dessa
classificação estrutural, podemos reconhecer três tipos de relações no que tange à
linguagem:
Natureza da relação coesiva Tipos de coesão
Relacionado à forma Substituição e elipse; colocação lexical
Relacionado à referência Referência; reiteração lexical
Conexão semântica Conjunção
Quadro 5: Natureza da relação coesiva (traduzido de Halliday & Hasan, 1976:304)
Halliday & Hasan (1976) apresentam uma classificação bastante
simplificada das relações conjuntivas, dividindo-as, para tanto, em quatro
categorias: aditivas, adversativas, causais e temporais. Os autores alegam que,
embora essa classificação não elimine a complexidade dos fatos, um maior
detalhamento seria mais complexo do que o necessário para compreensão e
análise da coesão. O quadro abaixo compara as categorias conjuntivas propostas
inicialmente por Halliday & Hasan (1976), posteriormente expandidas por Halliday
(1985).
Halliday & Hasan (1976) Halliday (1985)
Aditiva Extensão
(Adição: Positiva e Negativa)
Aditiva
(Aposição)
Elaboração
Adversativa Extensão
(Adição: Adversativa)
Causal Intensificação
(Causa-Condicional)
Temporal Intensificação
(Espaço-Temporal)
Quadro 6: Expansão teórica das relações conjuntivas
Como podemos observar, não há diferenças semânticas entre as duas
teorias, somente uma expansão das categorias conjuntivas por parte de Halliday
(1985). Com base na teoria de Halliday e Hasan (1976), o presente trabalho
privilegia o estudo das conjunções externas e internas que não o discutidas em
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Halliday (1985), porquanto foca no complexo oracional em relação ao restante da
gramática, e não em relação à coesão e à estrutura do texto.
As conjunções externas têm função estrutural dentro do texto, ou seja, são
empregadas para conectar orações; as conjunções internas têm função coesiva,
sendo utilizadas para organizar o texto, isto é, para conectar os complexos
oracionais uns aos outros. Eggins (1994:107) contribui para a elucidação das
conjunções externas ao associá-las às relações lógicas entre orações (mundo
real) ou à organização interna dos eventos no texto produzido pelo escritor
(retórico). Vejamos, a seguir, exemplo de cada um desses tipos:
32: (NW: 24)
With the exception of Cunard's Queen Victoria, all of the brand new ships
launching in 2007 are copies of ships already at sea -- so the buzz and
excitement over anything new and daring could be as stale as yesterday's room
service croissant.
CONJUNÇÃO EXTERNA
33: (SU: 20)
However, as the Pantanal is already suffering a lot, and under serious threat, and
very little is known about the whole ecosystem, research is always welcome.
Therefore, conservation NGOs, together with the Brazilian Government, have
developed a plan of action called "conservation corridors," in order to save larger,
strategic areas from devastation.
CONJUNÇÃO INTERNA
Existem conjunções, no entanto, que podem realizar-se tanto externa
quanto internamente. Martin (1992:179) argumenta nessa direção ao sustentar
que a conjunção externa, embora com função estrutural, é coesiva quando, ao
iniciar uma oração, conecta-a com a anterior devido à existência de uma relação
lógico-semântica entre elas. Por outro lado, quando a conjunção externa ocorre
entre orações, funcionando como um conectivo paratático ou hipotático, sua
função é basicamente estrutural, como pode ser observado nos exemplos abaixo:
34: (SU: 16)
The Viking army made a surprise attack on York and seized the town.
CONJUNÇÃO EXTERNA – PARATÁTICA
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35: (SU: 41)
They arrested several people and confiscated 10 bombs and weapons. And on
the last day there was a rape attempt within the camping area;
CONJUNÇÃO INTERNA – COESIVA
De acordo com Eggins (1994:100), a conjunção e a referência são os
principais recursos coesivos em um texto. No que tange à referência, esta diz
respeito à forma como o escritor introduz os participantes
24
e os mantém em
contato uns com os outros, ao longo do texto. As escolhas referenciais estão
relacionadas à dimensão do contexto; em outras palavras, os tipos de referência
variam de acordo com o modo de construção do texto.
Halliday & Hasan (1976:31) dividem as referências em duas categorias: (1)
as que se relacionam a itens fora do texto (situacionais); (2) aquelas encontradas
dentro do texto (textuais). A primeira categoria é vista pelos autores como
referências exofóricas e a segunda como referências endofóricas. No caso da
referência endofórica, ela pode ser anafórica quando o referente precede o item
coesivo, ou catafórica quando o referente vem depois do item coesivo, como
mostra a figura abaixo:
Figura 3: Sistema de referência (traduzido e adaptado de Halliday & Hasan, 1976:33)
A referência pode ser usada para apresentar um participante (pessoa ou
24
De acordo com Eggins (1994:95), participantes são as pessoas, lugares e coisas discutidos no
texto.
Referência
(Situacional)
Exófora
(Textual)
Endófora
(Precedente)
Anáfora
(Antecedente)
Catáfora
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coisa), por meio dos artigos indefinidos a e an, como mostra o exemplo a seguir:
36: (SU: 37)
Just as I started up the parched and rocky mountain slope, a man stepped out of
some shrubs.
APRESENTANDO O PARTICIPANTE
Também através da referência é possível pressupor o participante que virá
em seguida, por meio do artigo definido the, de pronomes pessoais ou de
pronomes demonstrativos, como mostra o exemplo abaixo:
37: (NW: 61)
Sen. John Edwards inherited the role of Late Challenger, but it was too late, and
he had no staying power, and he was out by the close of business on Super
Tuesday.
PRESSUMINDO O PARTICIPANTE
Os dois tipos de referência acima apontados estão relacionados a um
participante identificado dentro do texto, ao contrário do que ocorre no exemplo
38, a seguir, em que as referências abrangem todo o texto, sendo por isso
denominadas referências textuais:
38: (NW: 43)
The first class concierge comes on board and takes a few VIP passengers off
with their bags. This usually means they are taking them to a different flight that
will get them to their destination a lot faster. This may seem unfair, but VIPs are
the airline’s bread and butter.
REFERÊNCIA TEXTUAL
Quando a referência está implícita na oração, ela é considerada uma elipse.
Martin & Rose (2003:167) comentam que, em inglês, tal recurso é mais utilizado
dentro da oração do que entre orações. Vejamos um exemplo desse tipo de
referência:
39: (SU: 45)
Once upon a time a young Englishwoman went up a tree as a princess and
ø
came down a queen.
REFERÊNCIA POR ELIPSE
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Dentre os tipos de coesão textual representados por Halliday & Hasan
(1976) e descritos nesta seção, além da categoria de referência pronominal valer-
nos-emos das categorias de conjunção interna e externa para a análise dos
dados.
É nesse sentido que os textos das revistas Newsweek e Speak up serão
analisados, em termos de complexidade, quanto às estruturas dos grupos e
complexos oracionais.
Encerramos aqui a exposição da fundamentação teórica utilizada no
desenvolvimento deste estudo. O próximo capítulo apresentará a abordagem
metodológica adotada na pesquisa.
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Capítulo 2: Abordagem Metodológica
Este capítulo tem dois objetivos principais: primeiramente, descrever o
corpus de estudo sob três aspectos: (i) o contexto de situação das revistas que
compõem o corpus, de forma a esclarecer o universo da pesquisa; (ii) o
detalhamento dos dados da pesquisa, e (iii) os procedimentos de coleta e
organização dos dados; por último, descrever os procedimentos utilizados na
análise quantitativa dos dados, através do conjunto de ferramentas
computacionais Wordsmith Tools (Scott, 1999).
2.1 Contexto de situação das revistas
As revistas Speak up e Newsweek foram escolhidas como corpus de estudo
por sua utilização em sala de aula para atividades de leitura.
Para a contextualização das revistas, usaremos as variáveis de registro
que, segundo Halliday (1989:12), quando relacionadas ao contexto social de um
texto, permitem a sua interpretação fornecendo, assim, os meios para agir e
refletir naquele ambiente. Tais variáveis são descritas pelo autor da seguinte
forma:
(a) campo: refere-se ao conteúdo do texto, ao tópico discutido;
(b) relações: têm a ver com a relação entre os participantes da interação
(escritor/leitor, falante/ouvinte);
(c) modo: refere-se ao tipo de texto e à organização textual (canal gráfico
ou fônico, texto oral ou escrito).
Para esclarecermos o contexto de situação das revistas, valemo-nos de
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informações técnicas destinadas ao grande público que constam do endereço
eletrônico da editora da Speak up
25
e do site de assinaturas de revistas nacionais
e internacionais
26
, além do endereço eletrônico da editora da Newsweek
27
.
O contexto de situação das duas publicações é descrito a seguir:
Campo: ambas as revistas contêm assuntos variados como Ciência,
Tecnologia, Economia, Negócios, Educação, Esportes, Entretenimento, Meio
Ambiente, Política, Saúde, Personalidade e Viagens. Todos os textos abordados
pela Speak up são acompanhados de glossários e subtítulos em português, para
facilitar a compreensão escrita. Além disso, na versão impressa a revista é
dividida em níveis de complexidade do idioma (básico, intermediário e
avançado)
28
. Com proposta editorial diferente, a Newsweek não faz uso dos
mesmos recursos.
Relações: as relações entre escritor/leitor são distintas nas duas revistas.
De acordo com a editora da Speak up, os leitores fiéis dos quais 1/3 (um terço)
são assinantes mais de cinco anos compõem-se, em sua grande maioria, de
brasileiros, de professores e estudantes do curso de Letras/Inglês e de executivos
de multinacionais, além de assinantes pertencentes a ramos diversificados de
atividades mais globalizadas. Do total de leitores, 71% são do sexo masculino;
50% pertencem à classe social B, 38% à classe A e 13% à C; quanto à faixa
etária, 50% situam-se entre 18 e 29 anos, 12% entre 30 e 39 anos e 12% entre 40
e 44 anos; finalmente, 93% dos leitores lêem, compreendem e falam inglês como
língua estrangeira.
Por outro lado, os leitores da Newsweek são nativos interessados em
25
Fonte: site da editora da revista Speak up: http://edpeixes.ig.com.br/publicidade/ revista_
speakup.shtml. (acesso digital em 20/1/)
26
Fonte: site de assinaturas de revistas: www.asineshop.com.br/speakup (acesso digital em
20/1/2008).
27
Fonte: site da revista Newsweek: www.newsweek.com.br/MK2006 (acesso digital em 20/1/2008).
28
Fonte: Revista Speak up (edição 248 – datada de janeiro 2008).
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notícias a respeito dos acontecimentos ao redor do mundo. Em relação ao leitor
brasileiro da revista americana, 75% ocupam altos cargos como sócios ou
proprietários de empresas; 91% têm curso superior completo e 41% têm mestrado
ou doutorado; 92% utilizam o idioma no trabalho; 62% são homens; 65% têm
idades entre 26 e 54 anos; 61% gastam mais de 1 hora na leitura da revista e 74%
a lêem em casa. Não nos foi possível obter informações a respeito da classe
social dos leitores da Newsweek.
Também não foram encontrados dados sobre formação acadêmica e
nacionalidade dos escritores das duas revistas. O que pudemos observar é que
ambas são assinadas por autores de diferentes nacionalidades.
Modo: é importante levar em consideração as diferenças de linguagem
entre as revistas, já que o objetivo editorial da Newsweek é informativo, ou seja,
de caráter jornalístico (autêntico), enquanto o da Speak up é didático (não-
autêntico).
Vale ressaltar que entendemos textos autênticos, segundo Nunan
(1999:27), como “amostras da língua falada ou escrita que não tenham sido
especificamente escritas com o propósito de ensino”. Embora afirme que “textos
não-autênticos não deveriam ser banidos da sala de aula”, Nunan defende que “os
alunos deveriam ser expostos ao máximo a textos autênticos, porque, no fim das
contas, se eles encontrarem diálogos inventados e textos gravados
especialmente para eles, sua aprendizagem será mais difícil”
29
.
Sendo a Speak up uma revista com fins didáticos, pois contém glossário,
artigos classificados em níveis (básico, intermediário, avançado) e textos
gravados, específicos para brasileiros aprendizes de inglês, pode ser classificada,
29
Authentic data are samples of spoken and written language that have not been specifically
written for the purposes of teaching language… Nor would I argue that nonauthentic data should be
banned from the classroom. However, I would argue that learners should be fed as rich a diet of
authentic data as possible, because, ultimately, if they only encounter contrived dialogues and
listening texts, their task will be made more difficult.
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sob a visão de Nunan, como não-autêntica.
Tal classificação pode ser confirmada no site da revista, no link Assine
Speak up”, onde a editora declara:
Speak up permite ao leitor manter e aperfeiçoar o domínio da
língua inglesa, enquanto o informa sobre cultura, entretenimento e
turismo do Brasil e do mundo. Você as reportagens e escuta,
quantas vezes quiser no CD multimídia que acompanha cada
edição, as gravações ao vivo das entrevistas com gente
famosa, além de jogos interativos, músicas e muito mais”.
O objetivo desta pesquisa, entretanto, não é discutir a questão da
autenticidade dos textos, tampouco tecer críticas à revista brasileira Speak up.
Propomo-nos a comparar os textos das duas revistas a fim de verificar como se
caracterizam os grupos (verbal e nominal) e os complexos oracionais (conjunção e
referência pronominal) nessas publicações. Para tanto, analisaremos os
elementos gramaticais em inglês.
2.2 Dados da Pesquisa
Em nossa prática, utilizávamos textos das revistas Speak up e Newsweek,
regularmente, nas aulas de leitura. No decorrer do processo de aprendizagem,
observamos que os alunos tinham mais facilidade em compreender textos da
Speak up, ao mesmo tempo que apresentavam dificuldades de compreensão
quanto aos textos da Newsweek. Em vista disso, decidimos selecionar textos das
duas publicações para fins de análise.
Um dos critérios adotados na seleção dos dados foi, primeiramente, a
escolha dos assuntos abordados nos textos. Selecionamos textos da Speak up
com assuntos similares na Newsweek, visando obter pares; conseqüentemente,
os textos que compõem o corpus de estudo correspondem a artigos que tratam de
assuntos tanto nacionais quanto internacionais. Outro critério adotado relacionava-
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se ao tamanho dos sub-corpora (aproximadamente 57.000 mil palavras em cada
revista), cujos totais de palavras deveriam ser equivalentes, viabilizando, assim, a
quantificação e comparação dos dados. Finalmente, as amostras coletadas
deveriam datar do mesmo peodo – neste caso, de 2002 a 2007.
Foram selecionados artigos, disponíveis on-line, da versão americana do
site da Newsweek. Os textos foram retirados dos links Technology, Science,
Entertainment, Travel, Politics, Business, Sports, Health, World News, U.S News,
Nightly News e Local News (Top Stories), que disponibilizam notícias atuais com
assuntos sobre vários países.
No que tange aos artigos da Speak up, estes foram extraídos do site da
revista brasileira no link Stories (American and British), que contém textos sobre
cultura, política, sociedade, línguas, etc. de alguns países, principalmente
daqueles em que se fala a língua inglesa. Não foram considerados artigos
adquiridos de editoras internacionais como The Guardian, Planet Syndication,
Sunday Times, entre outras, cujos textos são identificados, no final do artigo, pelos
nomes do escritor e da editora. O texto England, por exemplo, publicado on-line
pela revista Speak up, encerra-se com: Mike O'Sullivan / Planet Syndication. A
partir desses dados, foi possível detectar os artigos comprados para então excluí-
los dos dados a serem analisados. Além disso, foram excluídos textos como
entrevistas, anúncios, carta do leitor, etc.
2.3 Procedimentos de coleta e organização dos dados
A coleta dos dados teve o seguinte procedimento: primeiramente, foram
selecionados 57 artigos de cada revista (Speak up e Newsweek), disponíveis para
leitura on-line, no período de 2002 a 2007. Como os textos da Speak up são mais
longos, ou seja, contêm um número de palavras superior aos da Newsweek, foram
selecionados mais 5 (cinco) artigos da revista americana de modo a igualar o
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número total de palavras oriundas da revista brasileira (aproximadamente 57.000
mil palavras), atendendo-se a um dos critérios estabelecidos para a seleção dos
dados.
Desse modo, os dados utilizados na pesquisa compõem-se de (a) 57
artigos da Speak up, totalizando 57.189 palavras, e (b) 62 artigos da Newsweek,
em um total de 57.465 palavras, o que corresponde a um corpus de estudo com
119 artigos. Estes números podem ser melhor visualizados no quadro abaixo:
Estatística Speak up
Newsweek
Nº de textos 57
62
Nº de palavras 57.189
57.465
Nº de palavras diferentes 9.109
9.087
Nº de períodos 3.128
2.762
Quadro 7: Estatística do corpus de estudo
Para atender a um outro critério de seleção de dados, buscamos formar
pares de textos, por assunto. Tendo em vista que a Speak up é uma revista
mensal, os assuntos abordados são produzidos para prazos mais longos, ao
contrário da Newsweek, que tem edição semanal. Sendo assim, assuntos mais
genéricos como Educação, Viagens e Entretenimento são mais contemplados pela
Speak up, enquanto assuntos relacionados a atualidades como Esportes,
Tecnologia, Ciência e Política são mais freqüentes na revista Newsweek,
conforme mostra o quadro abaixo:
Assuntos Nº de Textos
Speak up
Nº de Textos
Newsweek
Education 11
01
Sports
- - -
04
Technology / Science 01
09
Politics 05
17
Health 03
06
Business / Economy 02
04
Personality 02
01
Travel 19
10
Entertainment 10
06
Environment 04
04
Total
57
62
Quadro 8: Assuntos selecionados para análise
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Finalizada a seleção do corpus de estudo, os textos foram armazenados na
versão de texto simples (txt) em computador e nomeados de acordo com os
seguintes critérios: cada texto recebeu abreviatura da sua revista de origem (SU
ou NW), seguida de um número aleatório e seqüencial dentro das escalas SU:1 a
SU:57 e NW:01 a NW:62, conforme o caso. Essas abreviaturas serão adotadas
durante toda a análise dos dados, tanto para identificar exemplos quanto para
prevenir redundâncias.
Além disso, no processo de armazenamento dos textos da Speak up foram
retirados os números dos glossários e os indicadores de vocabulários novos ou
difíceis, evitando-se, assim, possíveis alterações ou distorções na análise
quantitativa dos dados a ser feita através do programa Wordsmith Tools. Foram
também excluídas figuras, estatísticas, fotos e outros elementos multimodais, uma
vez que tais elementos não fazem parte do objetivo da presente pesquisa.
2.4 Procedimentos de análise dos dados
A Lingüística de Corpus (doravante LC) servirá de embasamento para a
abordagem metodológica deste estudo. Essa escolha deve-se, primeiramente, às
ferramentas de análise por ela disponibilizadas, que possibilitam o trabalho com
grandes quantidades de textos em prazos relativamente curtos. Nesse sentido, o
Wordsmith Tools (Scott, 1999), programa a ser utilizado neste trabalho, permite
que grande quantidade de dados seja manipulada rápida e eficientemente,
apresentando, portanto, resultados que de outra forma demandariam vários meses
de pesquisa. Em segundo lugar, como exposto por Biber (1999:01), a opção pela
LC deve-se, também, ao seu interesse pela exploração da linguagem por meio de
exemplos reais de comunicação, o que dá ao estudo da linguagem um caráter
empírico.
O conjunto de ferramentas computacionais Wordsmith Tools (Scott, 1999)
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tem sido bastante utilizado pelos pesquisadores da linguagem com o uso do
computador (Bressane, 2000; Lima-Lopes, 2001; Sobhie, 2003; Alves-Silva, 2004).
O Wordsmith Tools, instrumento de análise quantitativa dos dados coletados para
esta pesquisa, permite gerar rapidamente, a partir de um texto selecionado, listas
de palavras (Wordlist), listas de concordâncias (Concord) e listas de palavras-
chave (KeyWords), viabilizando, por exemplo, a observação de determinada
ocorrência léxico-gramatical em seu contexto real e sua organização textual.
Vejamos como funciona cada uma dessas ferramentas:
Lista de Palavras (Wordlist): possibilita listar todas as palavras presentes
no corpus, por ordem alfabética ou por freqüência de ocorrências, além de
fornecer estatísticas com o total de palavras corridas (tokens), total de palavras
diferentes (types), mero de períodos, etc. Um outro recurso disponível é a lista
detalhada de palavras (detailed consistency), com a qual é possível comparar as
listas de palavras mais freqüentes em dois sub-corpora, uma ao lado da outra e
em ordem de freqüência.
Listas de Concordâncias (Concord): permite pesquisar a colocação de
uma determinada palavra em segmentos de texto em forma de concordâncias. A
palavra pode ser trabalhada tanto dentro do seu contexto quanto inserida no texto
completo, se necessário. O programa busca, em todos os arquivos de textos
armazenados, as palavras que aparecem ao redor da palavra selecionada, em um
horizonte de cinco palavras à esquerda e cinco à direita, no máximo.
Listas de Palavras-Chave (Keywords): permite o confronto com um
corpus maior (corpus de referência) e a extração de uma lista de palavras-chave;
as palavras-chave são palavras que aparecem em um texto com freqüência
incomum em comparação à freqüência com que ocorrem em um corpus de
referência. Esta lista, portanto, é formada pela comparação da lista de palavras
obtida pela Wordlist com a lista de palavras do corpus de referência.
C
APÍTULO
2
A
BORDAGEM
M
ETODOLÓGICA
44
Das três listagens acima especificadas, serão utilizadas duas na análise
quantitativa dos dados desta pesquisa, por meio do programa Wordsmith Tools
4.0: a Lista Detalhada de Palavras (ferramenta disponível na Worlist) e a Lista de
Concordâncias (Concord).
Vejamos a seguir como essas ferramentas foram utilizadas na análise dos
dados:
Em primeiro lugar, foi elaborada e analisada uma lista detalhada de
palavras com as 100 primeiras palavras mais freqüentes (Anexo 1), contendo
elementos lexicais e gramaticais. Dentre esses elementos, fixamo-nos inicialmente
na análise das conjunções. Percebemos, durante o processo, a presença da
complexidade textual nas orações, tanto externa quanto internamente. A partir daí,
optamos por limitar este estudo a dois tipos de estrutura do texto: (1) palavras
gramaticais internas às orações: grupos verbais e nominais; e (2) palavras
gramaticais externas às orações: conjunções e pronomes. O quadro a seguir inclui
tanto conjunções e pronomes (elementos externos) quanto verbos (elementos
internos):
C
APÍTULO
2
A
BORDAGEM
M
ETODOLÓGICA
45
Posição
na lista
Elemento
Gramatical
Freq. no
Corpus
Nº de
textos
Freq.
Newsweek
Freq.
Speak up
3 AND 3051 119 1395 1656
8 IS 1109 115 454 655
9 THAT 1128 114 637 491
13 I 452 64 103 349
15 IT 716 111 380 336
16 WAS 632 104 315 317
17 BUT 559 115 261 298
19 ARE 541 104 259 282
20 HE 553 91 279 274
22 THIS 398 105 151 247
23 THEY 460 100 230 230
25 HAS 410 100 208 202
26 BE 460 99 264 196
28 HAVE 420 105 230 190
29 YOU 337 76 147 190
30 THEIR 378 89 194 184
31 HIS 343 80 167 176
32 WE 290 72 131 159
34 SO 240 82 84 156
39 MY 158 33 27 131
44 WERE 274 87 153 121
45 SHE 239 39 121 118
47 WHEN 216 81 103 113
48 WHICH 225 94 112 113
49 WHO 292 88 181 111
52 HER 240 36 136 104
57 HAD 228 73 131 97
62 WHERE 156 63 62 94
64 THEM 162 65 71 91
69 ITS 228 75 142 86
70 ME 97 24 13 84
72 BEEN 194 82 111 83
82 THEN 109 57 37 72
85 US 99 43 30 69
89 OUR 103 54 40 63
Quadro 9: Ocorrência dos elementos gramaticais selecionados para análise
(Wordsmith Tools 4.0)
Para a análise dos grupos nominais (elementos internos às orações),
recorremos aos elementos gramaticais à direita do nódulo is, processo
amplamente utilizado para descrever e qualificar pessoas e coisas, como atestam
as listas de concordâncias (Concordance) representadas no excerto abaixo:
C
APÍTULO
2
A
BORDAGEM
M
ETODOLÓGICA
46
Lista de Concordância (Speak up)
1 s banking and corporate activity, as well as the country's busiest airport, and is a city of
reference for neighboring African nations. If Cape Town resembles
2 "best city in Africa" last October by Condé Nast Traveler's readers, Cape Town is a city that
was born with a vocation to be peculiar. A port, a place where yo
3 d. Further on he asks, "Like in the movies?" I could explain to Raúl that Jason is a common
name in my country. Or that the most famous Jason was a Greek hero w
4 isours, sycers and other forms before ending up where it is today. The result is a complicated
system in which the same letter can have different sounds, whil
5 ANC (with the new elections last April, that status changed). South Africa is a country difficult to
unify but, paradoxically, Cape Town is probably the pl
Figura 4: Grupos nominais à direita do processo is (Wordsmith Tools 4.0)
A partir dessa seleção, foram elaboradas as perguntas de pesquisa:
Como se caracteriza o grupo verbal nos artigos das revistas Speak up e
Newsweek?
Como se caracteriza o grupo nominal nos artigos das revistas Speak up e
Newsweek?
Como se caracteriza a relação entre as orações nos artigos das revistas
Speak up e Newsweek?
Cabe esclarecer que, dentre os 100 primeiros elementos da lista detalhada
de palavras, foram eliminados aqueles sem conteúdo textual ou que não se
encaixavam em nenhuma das classes gramaticais acima citadas (conjunções,
pronomes e verbos).
Dada a limitação de tempo para a realização desta pesquisa, foram
excluídos outros elementos gramaticais – tais como verbos modais (can, will,
would), auxiliares (do) e processos (like, see, said), além das conjunções as, if,
after e do pronome relativo what devido à não-relevância para os objetivos deste
estudo e que podem ser estudados futuramente.
Após a seleção dos itens gramaticais conforme os critérios acima
especificados (quadro 9), foram providenciadas as listas de concordâncias
(Concordance) relativas a cada um dos elementos selecionados, com as
C
APÍTULO
2
A
BORDAGEM
M
ETODOLÓGICA
47
respectivas quantificações, de forma a viabilizar a análise de todos os contextos
em que esses itens aparecem. Entretanto, devido à peculiaridade de alguns
elementos que podem apresentar mais de uma função em decorrência do
contexto onde estão inseridos, foi necessário submeter as listas de concordância a
análises pormenorizadas, para fins de classificação.
A análise pormenorizada mostra-se pertinente para ambos os níveis de
estrutura do texto abaixo e acima da oração. Nos grupos verbais, por exemplo,
esse tipo de análise visa identificar se os elementos, e respectivas formas
flexionadas, estão funcionando como processo ou como auxiliar; nos grupos
nominais, essa análise busca detectar a presença de mais de um significado nos
itens constantes das listas geradas pelo Wordsmith. Procedimento similar é
aplicado aos elementos externos às orações (conjunções e referências
pronominais), que podem aparecer com funções distintas de acordo com os
respectivos contextos.
No que diz respeito às conjunções and e that, entretanto, foi adotado
procedimento diferenciado para fins de análise, devido ao elevado número de
ocorrências dessas conjunções no corpus de estudo: 3 (três) mil ocorrências de
and e 1 (um) mil ocorrências de that. Em vista disso, e considerando que a
análise pormenorizada do total de 4 (quatro) mil ocorrências demandaria um longo
período de tempo, optamos por limitar os quantitativos a serem selecionados e
estudados a 25% (vinte e cinco por cento) do total de ocorrências em cada revista,
que foram então submetidos ao concordanciador (concord) do programa
computacional Wordsmith Tools. Para que a escolha dessa amostra tivesse
caráter aleatório, foram considerados os elementos posicionados em um horizonte
entre 5 colocados à direita e 5 à esquerda na lista de concordâncias, tendo como
nódulos as duas conjunções supracitadas.
Passaremos, a seguir, à análise dos dados e à discussão dos resultados
obtidos.
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APÍTULO
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ESULTADOS
48
Capítulo 3: Análise dos Dados
e Discussão dos Resultados
Este capítulo traz a análise dos dados e a discussão dos resultados obtidos
com base nos procedimentos metodológicos adotados para responder às
questões de pesquisa que norteiam o presente trabalho, visando investigar, em
artigos coletados nas revistas Speak up e Newsweek:
1) como se caracteriza o grupo verbal?
2) como se caracteriza o grupo nominal?
3) como se caracteriza a relação entre as orações?
Para tanto, a análise será desenvolvida em duas etapas. Primeiramente,
analisaremos a estrutura abaixo da oração (below the clause), isto é, com enfoque
(i) no grupo verbal, analisando os verbos mais freqüentes no corpus de estudo (be
e suas formas flexionadas is, are, was, were, been; e have e suas formas
flexionadas has, had) e em seguida (ii) no grupo nominal, estudando aos
elementos gramaticais à direita do nódulo be, com o propósito de verificar como se
realiza um grupo complexo. Em segundo lugar, será analisada a estrutura acima
da oração (above the clause), por meio do estudo das conjunções mais freqüentes
no corpus, ou seja, as (i) coordenadas – and, but, so, then e as (ii) subordinadas –
that, which, who, when, where, bem como das referências pronominais mais
freqüentes, a fim de investigar a expansão da oração ao configurar-se em oração
complexa.
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ESULTADOS
49
3.1 Abaixo da oração
3.1.1 Grupo Verbal
Conforme explicitado na Fundamentação Teórica (seção 1.1.1.1), o grupo
verbal, em termos de estrutura lógica, compreende o sistema de tempo verbal’
(system of tense), que se divide em: primário (passado, presente e futuro simples)
e secundário (perfectivo, progressivo, futuro com going to, além do passivo que
Halliday (2004:338-339) considera como um tempo secundário extra).
Nesta pesquisa serão analisados os verbos mais freqüentes no corpus de
estudo (be e have e suas formas flexionadas), com o propósito de identificar como
são construídos os grupos verbais em SU e NW.
3.1.1.1 Be
O verbo be e suas formas flexionadas is, was, are, were, been, be é o
mais freqüente no corpus de estudo, funcionando ora como processo relacional,
ora como auxiliar. Como pode ser observado na tabela abaixo, em SU o verbo be
ocorre 0,18 pontos percentuais a mais do que em NW.
Elemento Freq.
NW
Freq.
SU
%
NW
%
SU
Diferença
em %
Is 454
655
0,79
1,15
0,36
Be 264
196
0,46
0,34
0,12
Were 153
121
0,27
0,21
0,06
Been 111
83
0,19
0,15
0,04
Are 259
282
0,45
0,49
0,04
Was 315
317
0,55
0,55
- - -
Total
1.556
1.654
2,71
2,89
0,18
Tabela 1: Ocorrência de be e suas formas flexionadas
A utilização de be como processo, em termos quantitativos, é detalhada na
tabela 2 a seguir, que aponta para uma significativa diferença entre as duas
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50
revistas. Podemos usar como exemplo a forma flexionada is: nas 655 ocorrências
(equivalentes a 1,15% do total geral tabela 1) em SU, este elemento aparece
501 vezes (0,89%) como processo relacional. Enquanto que nas 454 ocorrências
(0,79%) de is em NW, somente 196 são processos (0,34%); uma diferença,
portanto, de 0,55 pontos percentuais a mais de is como processo na revista
brasileira, conforme demonstrado na tabela a seguir:
Elemento Freq.
NW
Freq.
SU
%
NW
%
SU
Diferença
em %
Is 196
501
0,34
0,89
0,55
Are 125
164
0,21
0,29
0,08
Be 137
105
0,24
0,18
0,06
Was 182
198
0,31
0,34
0,03
Been 38
34
0,07
0,06
0,01
Were 68
66
0,12
0,12
- - -
Total
746
1068
1,29
1,88
0,59
Tabela 2: Ocorrência de be como processo
Considerando os dados quantitativos da tabela 2, vemos que SU descreve
pessoas e coisas através do processo be com maior freqüência, quando
comparada a NW. Segundo Martin & Rose (2003:76-77), esse tipo de descrição é
uma das características de gêneros como histórias, onde o processo be é usado
para descrever, classificar e qualificar personagens. Vejamos alguns exemplos de
be como processo nas revistas:
1: (NW: 05) Toronto is a chameleon of a city, the darling of the entertainment
industry for its ability to look like, well, almost any large urban
center in North America.
2: (NW: 24) Cruise Critic, which launched in 1995, is a comprehensive cruise
vacation planning guide providing objective cruise ship reviews,
cruise line profiles, destination content on 125+ worldwide ports,
cruise bargains, tips, industry news, and cruise message boards.
3: (NW: 32) She is an ardent defender of abortion rights—differing with
members of her conservative Roman Catholic family over the
subject.
4: (SU: 26) Lima is a vast, polluted, overpopulated place.
5: (SU: 57) Flint is a scary character in the children’s classic, Treasure Island.
6: (SU: 40) She is a tough and talented business woman.
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D
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51
Nos exemplos acima, é possível perceber que o processo em si não
acrescenta complexidade lógica à estrutura da oração, pois é um tempo verbal
simples. Entretanto, ao observarmos como as orações se desdobram após o
processo is, poderemos identificar uma série de modificadores do grupo nominal
levando-nos a qualificar tais orações, de acordo com Halliday (1994:56-57), como
lexicalmente densas. Esse fenômeno será tratado a seguir, quando da análise do
grupo nominal (seção 3.1.2).
Passando agora ao uso de be como auxiliar, realizando a passiva e os
tempos progressivo e futuro com going to, NW apresenta uma ocorrência de 0,12
pontos percentuais acima de SU, como mostra a tabela 3:
Elemento Freq.
NW
Freq.
SU
%
NW
%
SU
Diferença
em %
Were 69
41
0,12
0,07
0,05
Been
30
73
49
0,13
0,09
0,04
Be 111
84
0,19
0,15
0,04
Is 106
113
0,18
0,20
0,02
Are 103
99
0,18
0,17
0,01
Was 93
90
0,16
0,16
- - -
Total
555
476
0,96
0,84
0,12
Tabela 3: Ocorrência de be como auxiliar
Com base na tabela 3, ao somarmos as ocorrências de be e suas formas
flexionadas na função de auxiliares, em NW encontramos 555 ocorrências, sendo
347 de passiva, 195 de progressiva e 13 de going to, enquanto SU apresenta 476
ocorrências, com 306 passivas, 165 progressivas e 5 going to. Os exemplos a
seguir mostram como as duas revistas desenvolvem o grupo verbal com o auxiliar
were na passiva:
7: (NW: 58) Some former members say they too were made to believe that
leaving Midtown would doom their recovery.
8: (NW: 01) Resorts in Kona were being asked to keep people close to
hotels…
30
No que diz respeito ao auxiliar been, este será discutido em maiores detalhes no item 3.1.1.2,
uma vez que o seu uso acontece, obrigatoriamente, em conjunto com o auxiliar have.
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9: (NW: 33)
Top executives at Royal Dutch Shell, too, had few illusions about
why they were recently ordered to stop work on their $22 billion
Sakhalin-2 exploration project.
10: (SU: 20)
Conservation, restoration, and the building of new facilities were
helped by the arrival of electricity, the result of a collective effort of
the Pantaneiro people.
11 (SU: 57)
Fantastic Beasts and Where to Find Them by Newt Scamander
and Quidditch Through the Ages by Kennilworthy WhISp were
written by J. K. Rowling to raise money for the charity Comic
Relief.
12: (SU: 06)
Flying into Sudan once, she tells the audience, her bags were
searched by customs.
Os tempos verbais acima (7 a 12) mostram-se mais complexos, em termos
de estrutura lógica, quando comparados aos dos exemplos 1 a 6 analisados,
visto que estes contêm apenas um núcleo verbal (is), enquanto aqueles incluem
além do auxiliar were alguns modificadores decorrentes do tempo verbal
complexo (passiva).
A análise dos exemplos 7 a 9 revela um grupo verbal mais complexo do que
em 10 a 12, por duas razões: (i) pelo uso de processos transitivos (made to
believe, asked to keep e ordered to stop), estendendo assim o grupo verbal por
meio de outros modificadores; e (ii) pelo uso de mais um modificador (advérbio
recently ordered to stop), em contraste com os exemplos 10 a 12, limitado a uma
única modificação por grupo verbal em tempo passivo (helped, written e
searched). Vejamos agora outros exemplos de be funcionando como auxiliar:
13: (NW: 32)
Time that could be spent memorizing
the names and faces of the 200 people
she's about to meet, or squeezing donors for last minute contributions that will
enable Pelosi to reach her ultimate goal: winning the 15 seats Democrats need
to take control of the House.
14: (SU: 22)
You probably will be led to visit a house or a shack and talk to the owner,
drink at a shebeen, take part in a traditional lunch, visit community projects, a
crèche or a school, and see handicrafts made by local people, listen to their
music and follow their dances.
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53
Tanto em 13 como em 14 encontramos grupos verbais complexos (tempo
secundário), constituídos pelos modais could e will, mais o auxiliar be da passiva,
mais processos na forma nominal (-ed) spent e led. A complexidade, no entanto,
destaca-se principalmente nas relações entre orações, uma vez que o período em
13 possuí 3 (três) restritivas (memorizing, squeezing e winning) seguidas de outras
3 restritivas longas (she’s about to meet; that will enable Pelosi to reach her
ultimate goal; Democrats need to take control of the House), gerando, assim, um
período complexo. Enquanto em 14 temos somente 1 (uma) oração restritiva (to
visit) e 7 (sete) coordenadas aditivas com and (formadas por três conjunções
explicitas e quatro implícitas), caracterizando a seqüência lógica, cronológica, de
uma história.
Em suma, SU faz uso do verbo be, como processo, com maior freqüência
do que NW (0,59 pontos percentuais a mais), ao passo que NW utiliza-se do verbo
be, como auxiliar, em níveis mais elevados que SU (0,12 pontos percentuais a
mais). Se considerarmos como grupo verbal complexo aquele construído por meio
de tempos verbais secundários (progressiva, passiva e futuro com going to)
31
, é
possível afirmar que a revista americana constrói grupos verbais com be mais
complexos do que a revista brasileira, como mostra o gráfico a seguir:
31
Além do tempo perfectivo, que será discutido na seção 3.1.1.2 a seguir.
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Newsweek
Speak up
0
200
400
600
800
1000
1200
Processo
Auxiliar
Figura 5: Tipos de be no corpus
3.1.1.2 Have
O segundo verbo mais freqüente no corpus é o have e suas formas
flexionadas had e has. Da mesma forma que be, have ocorre ora como processo,
ora como auxiliar. Como demonstra a tabela abaixo, em NW o verbo have ocorre
0,14 pontos percentuais a mais do que em SU:
Elemento Freq.
NW
Freq.
SU
%
NW
%
SU
Diferença
em %
Have 230
190
0,40
0,33
0,07
Had 131
97
0,23
0,17
0,06
Has 208
202
0,36
0,35
0,01
Total
569
489
0,99
0,85
0,14
Tabela 4: Ocorrência de have e suas formas flexionadas
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55
Diferentemente do verbo be, have ocorre mais freqüentemente no tempo
secundário, na função de auxiliar. Como tal, em termos comparativos, have é
utilizado em NW 0,11 pontos percentuais acima de SU, conforme a tabela a
seguir:
Elemento Freq.
NW
Freq.
SU
%
NW
%
SU
Diferença
em %
Have 132
95
0,24
0,16
0,08
Has 150
136
0,26
0,24
0,02
Had 70
63
0,12
0,11
0,01
Total
352
294
0,62
0,51
0,11
Tabela 5: Ocorrência de have como auxiliar
Dentre os auxiliares analisados, em NW encontramos 291 ocorrências de
have no tempo perfectivo, 51 no passivo e somente 10 no progressivo, enquanto
em SU somamos 249 ocorrências no perfectivo, 32 no passivo e 13 no
progressivo. Vejamos, a seguir, alguns exemplos do verbo have funcionando
como auxiliar na passiva:
15: (NW: 03)
Madonna said in the statement she had been “overwhelmed and inspiredby
her trip to Malawi and hoped it would help focus attention on the needs of
children in Africa.
16: (SU: 27)
The plaster walls in the modest entranceway have been painted to resemble
marble, a prelude to the interior, where every inch of wall and ceiling has been
so decorated.
Para fins de contraste, deter-nos-emos nos exemplos 15 e 16: em 15, a
oração é projetada através do processo verbal (said) para a construção de um
tempo verbal complexo (... had been overwhelmed and inspired...) composto por
duas estruturas apassivadas (overwhelmed and inspired) e que se constitui em um
grupo verbal, por sua vez integrado a um segundo grupo verbal (hoped) por meio
de coordenação. Esse exemplo inclui, ainda, um aspecto de subordinação, em
virtude da relação lógica entre o processo hoped e o passado perfeito que o
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precede (had been overwhelmed and inspired). o exemplo 16 apresenta dois
tempos verbais complexos (... the plaster walls have been painted...) e (... ceiling
has been so decorated…) conectados por uma conjunção coordenada (and) de
modo a formar dois grupos verbais distintos. Vejamos, a seguir, mais alguns
exemplos de have como auxiliar no tempo perfeito-progressivo:
17: (NW: 09)
Bush's plan for treatment of the terror suspects became law just six weeks after
he acknowledged that the CIA had been secretly interrogating suspected
terrorists overseas and pressed Congress to quickly give authority to try them in
military commissions.
18: (SU: 04)
Praia do Forte in Bahia not only has paradisiacal beaches, fabulous year round
weather, and an immense nearby reef harboring a rich variety of marine wildlife,
it also has sea turtles, and these have been attracting
more and more tourists,
thus driving up the demand for pousadas, restaurants, bars, and shops.
Ao contrastarmos os exemplos 17 e 18, vemos que ambos apresentam um
grupo verbal complexo, decorrente do uso de tempo verbal secundário (perfeito-
progressivo) que, como vimos anteriormente (seção 3.1.1.1), é mais freqüente em
NW ocorrendo 73 vezes (0,13%), em contraste com 40 ocorrências (0,09%) em
SU. Entretanto, se observarmos as orações em seu contexto, é possível notar que
em 17 temos duas subordinações, com as conjunções after e that, uma
coordenação com and, além de uma nominalização (treatment of the terror
suspects), enquanto em 18 temos uma oração comparativa (not only, it also), uma
coordenada através da conjunção and e uma conclusiva (thus); portanto, a
diferença está na complexidade das orações em NW.
Voltando ao exemplo 17 (NW), além do tempo verbal complexo (passado
perfeito progressivo), ainda um intensificador (secretly) que modifica o
processo interrogating na oração:...the CIA had been secretly interrogating
suspected terrorists.... O mesmo ocorre na oração não-finita to give, modificada
pelo intensificador quickly na oração subordinada:... and pressed Congress to
quickly give authority to try them.... Já no exemplo 18 em SU, ainda que a oração
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57
contenha um intensificador (... these have been attracting more and more
tourists...), ele não está modificando o grupo verbal, e sim o grupo nominal
(tourists).
No que diz respeito ao uso de have como processo, a diferença quantitativa
entre NW e SU é de somente 0,04 pontos percentuais, como mostra a tabela
abaixo:
Elemento Freq.
NW
Freq.
SU
%
NW
%
SU
Diferença
em %
Had 61
34
0,11
0,06
0,05
Has 58
66
0,10
0,12
0,02
Have 98
95
0,17
0,16
0,01
Total
217
195
0,38
0,34
0,04
Tabela 6: Ocorrência de have como processo
Similarmente ao que ocorre com o verbo be, em um primeiro momento o
processo have não apresenta, no tempo primário (passado simples), dificuldades
em termos de complexidade lógica. Entretanto, ao analisarmos os
desdobramentos oracionais que o sucedem, notamos a presença de
complexidade, o que será discutido mais detalhadamente na seção 3.1.2.
Listamos, a seguir, alguns exemplos de have como processo:
19: (NW: 33) The corporate raiders who stole his business had a slew of
officially stamped papers confirming that they were the new
owners.
20: (NW: 29)
But the trail of events that led to this perilous moment—making
North Korea the first new declared nuclear power in eight years,
and undoubtedly the most unstable of the eight (not including
Israel) in the world today—had a great deal to do with years of
misplaced pride and prejudice between Pyongyang and
Washington, of deep misunderstanding and disastrous missed
chances.
21: (NW: 19) Also like them, the Tigers had a retread pitcher who had served
hard time in New York, earning a lot of money but very little love.
22: (SU: 40) They had a daughter, Alexis, and Martha looked after their
daughter until she went to school.
C
APÍTULO
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D
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D
ISCUSSÃO DOS
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23: (SU: 40)
In 1990 she launched her own magazine, Martha Stewart Living,
and soon after she had a television series with five million
viewers each week.
24: (SU: 30)
That was how he came to invite me: he was leaving in 15 days
and if I wanted to go with him he would pay for my ticket I already
had the tourist visa in my passport.
Em síntese, os dados relativos à análise de have revelam que a revista
Newsweek utiliza esse elemento com maior freqüência do que a revista Speak up,
tanto como auxiliar (nos tempos secundários – perfectivo, passivo e progressivo) –
0,11 pontos percentuais a mais, quanto como processo 0,04% a mais, como
mostra a figura abaixo:
Newsweek
Speak up
0
50
100
150
200
250
300
350
400
Processo
Auxiliar
Figura 6: Tipos de have no corpus
Os dados analisados levam-nos a concluir, portanto, que, no que diz
respeito à extensão do grupo verbal por meio dos verbos mais freqüentes no
corpus (be e have), a Newsweek recorre, com maior freqüência, ao uso de tempos
C
APÍTULO
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NÁLISE DOS
D
ADOS E
D
ISCUSSÃO DOS
R
ESULTADOS
59
mais complexos (secundários), em contraste com a Speak up que usa tempos
mais simples (primários). Nesse sentido, Bernstein (1971:42-43), em sua teoria
dos códigos lingüísticos
32
, sustenta que grupos verbais complexos são
característicos do código elaborado, enquanto grupos simples são próprios do
código restrito. Em vista disso, podemos denominar o grupo verbal em NW como
elaborado e o grupo verbal em SU como restrito.
3.1.2 Grupo Nominal
No que tange ao grupo nominal, Halliday (2004) defende uma análise sob
duas perspectivas: a lógica, enfatizando a relação hierárquica entre o núcleo
nominal e seus modificadores; e a experiencial, que dá ênfase aos tipos de
significado instanciado (vide seção 1.1.1.2).
Para fins de pesquisa, será feito um recorte de grupos nominais, com o
propósito de verificar como se dá a expansão dos modificadores em grupos
nominais presentes nos textos das duas revistas, ou melhor, como são
construídos os grupos nominais em termos de estrutura lógica.
3.1.2.1 Pré-Modificadores
O grupo nominal pode ser modificado tanto por pré-modificadores os que
antecedem o núcleo nominal quanto por pós-modificadores os que precedem
esse núcleo. Primeiramente, focaremos a expansão dos núcleos nominais através
dos pré-modificadores.
32
Segundo Bernstein, a estrutura social orienta diretamente as escolhas lexicais e estruturais dos
falantes, gerando códigos de fala distintos que o autor classifica como: (a) código elaborado:
caracterizado pela formalidade, permite que as pessoas se expressem de modo criativo por meio
de orações subordinadas, adjetivos, passivas, etc; e (b) código restrito: caracteriza-se pela
informalidade e pela falta de variedade lingüística; enfatiza as relações sociais e baseia-se no
contexto para tornar-se coerente; é lingüisticamente previsível, com elevado índice de orações
coordenadas, pronomes, tags, etc.
C
APÍTULO
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NÁLISE DOS
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ADOS E
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ESULTADOS
60
Em virtude dos diferentes contextos onde ocorrem os pré-modificadores,
foram selecionados e analisados os elementos gramaticais à direita do processo
be em sua forma flexionada is, posto que, de acordo com Martin & Rose
(2003:76), esse processo é utilizado na atribuição de qualidade a pessoas e
coisas. Tais atribuições (denominadas modificadores), bem como suas relações
lógicas com os participantes (ou núcleo nominal) serão investigadas a fim de
verificar como o grupo nominal se expande ao redor do núcleo. Ao analisarmos
detalhadamente as concordâncias de is nos textos de NW e SU, detectamos
algumas ocorrências de pré-modificadores, como mostram os exemplos a seguir:
25: (NW: 36)
A gigantically disproportionate
consumer
26: (NW: 05)
An especially intriguing area
27: (NW: 37)
A notorious demanding boss
PRÉ - MODIFICADORES NÚCLEO
28: (SU: 57)
A scary character
29: (SU: 20)
A hot place
30: (SU: 20) A luxury item
PRÉ - MODIFICADORES NÚCLEO
Segundo Halliday (2004:430), os exemplos acima levantados são
classificados como pré-modificadores, que atuam sobre o núcleo nominal por meio
do emprego de itens gramaticais como dêiticos, epítetos e classificadores,
precedendo o núcleo. A estrutura exibida em 25 a 27 é mais utilizada em NW (14
ocorrências versus 8 ocorrências em SU), na qual o epíteto (disproportionate) é
modificado através de um intensificador (gigantically). Em contrapartida, a
estrutura constante dos exemplos 28 a 30 é mais usada pela SU (67 ocorrências)
quando comparada a NW (33 ocorrências), o que corresponde ao dobro de
ocorrências dessa estrutura na revista brasileira. Vejamos a tabela que sintetiza
esses dados:
C
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D
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Elemento Freq.
NW
Freq.
SU
%
NW
%
SU
Diferença
em %
Pré-Modificado por
Epíteto
33
67
0,06
0,12
0,06
Pré-Modificado por
Epíteto + Intensificador
14
08
0,02
0,01
0,01
Total
47
75
0,08
0,13
0,05
Tabela 7: Ocorrência de pré-modificadores
Os dados acima mostram que SU descreve e/ou classifica pessoas e coisas
com maior freqüência que NW e utiliza grupos nominais, em geral, menos
extensos e mais simples em termos lógicos (scary character), em contraste com
os encontrados em NW (gigantically disproportionate consumer), em que ocorrem
vários pré-modificadores em um mesmo grupo nominal. Martin & Rose (2003:162)
explicam que a descrição e a classificação de pessoas e coisas são comuns em
gêneros como histórias, pois “freqüentemente recorrem a recursos referenciais
para introduzir e manter os participantes em contato uns com os outros, ao longo
do texto”
33
.
Em SU, mesmo quando se verifica a construção de um grupo nominal mais
extenso, subordinação através do modificador que antecede o núcleo
nominal, enquanto os demais modificadores encontram-se coordenados ora por
vírgula, ora por conjunção coordenada aditiva (and), como pode ser observado no
exemplo abaixo:
31: (SU: 25)
The
commercial and administrative center
32: (SU: 26)
A vast, polluted, overpopulated place
33: (SU: 42)
A dark, obsessed character
PRÉ- MODIFICADORES NUCLEO
Na próxima seção, trataremos da construção do grupo nominal por meio de
pós-modificadores.
33
They make by far the greatest use of reference resources to introduce and track participants
through a discourse.
C
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3.1.2.2 Pós-Modificadores
Como já abordado acima, o grupo nominal estende-se, também, em direção
a um horizonte maior, à direita do núcleo nominal. Voltando ao exemplo 25 (seção
3.1.2.1 acima), encontramos o seguinte exemplo de pré-modificadores em NW:
America is a gigantically disproportionate consumer; porém, a oração não termina
aí; logo após o núcleo nominal (consumer), temos a frase of the world’s resources,
constituída por um sintagma preposicionado (prepositional phrase). Esse tipo de
estrutura é denominado por Halliday (2004: 426) pós-modificador (post-modifier),
podendo funcionar de três formas no grupo nominal, conforme demonstram os
exemplos abaixo:
34: (NW: 28)
A way
of making it easy for people in the shopping malls and main
streets all over this great country
to get AIDS drugs
to Africans
who can't afford them.
PÓS- MODIFICADORES
35: (SU: 22)
A National Park
on the most famous southern point of África.
PÓS- MODIFICADORES
O exemplo 34 contém uma estrutura de transitividade onde o núcleo A way
na oração Product Red is a way... é transitivo, isto é, a oração faz sentido
com o acréscimo dos modificadores do núcleo nominal, o que resulta em uma
subordinação. Além disso, o núcleo A way é modificado por uma oração relativa
definidora não-finita (... of making it easy...), por sua vez modificada por sintagmas
preposicionados (for people in the shopping malls and main streets all over this
great country). A segunda oração do exemplo 34 tem como núcleo AIDS drugs,
modificado pelo sintagma preposicionado to Africans, que é seguido da oração
restritiva who can’t afford them gerando, assim, um período altamente complexo.
O exemplo 35 apresenta uma estrutura oracional intransitiva, onde a frase Cape
Peninsula is a National Park pode ser compreendida sem necessidade de
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63
acréscimo do modificador preposicionado locativo on the most famous southern
point of Africa. Nesse caso específico, embora a circunstância esteja modificando
o grupo nominal, esta informação não é essencial à completude da oração.
A análise detalhada dos três tipos de estrutura de modificação presentes
nos exemplos acima, e que ocorrem à direita do processo is, mostra 52
ocorrências (0,09%) em SU de pós-modificadores formados por sintagmas
preposicionados similares aos do exemplo 35, contra 43 ocorrências (0,07%) em
NW. Semelhante ao exemplo 34, foram encontradas em NW 10 ocorrências de
pós-modificadores formados por orações finitas (0,02%) e 11 formados por
orações não-finitas (0,02%), em contraste com SU, em que foram detectadas 14
ocorrências de pós-modificadores formados por orações finitas (0,02%) e 10
formados por orações não-finitas (0,02%), como podemos observar na tabela
abaixo:
Elemento Freq.
NW
Freq.
SU
%
NW
%
SU
Diferença
em %
Pós-Modificado por
Sintagma Preposicionado
43
52
0,07
0,09
0,02
Pós-Modificado por
Orações finitas
10
14
0,02
0,02
- - -
Pós-Modificado por
Orações não-finitas
11
10
0,02
0,02
- - -
Total
64
76
0,11
0,13
0,02
Tabela 8: Ocorrência de pós-modificadores
Apesar da diferença quantitativa de pós-modificadores ser mínima nas duas
revistas (somente 0,02% a mais em SU), o grupo nominal de NW é mais complexo
pela extensão dos pós-modificadores, resultando em um grupo nominal
lexicalmente mais denso, como em 36 a seguir:
36: (NW: 58)
But those
who spoke or e-mailed without giving
their names for publication
say that
Midtown is a flourishing group
that has saved their lives,
and that those
who criticize it
resent their success,
C
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64
have scores to settle
or are simply making it all up.
PÓS – MODIFICADORES
37: (SU: 22)
South Africa is a country difficult to
unify
but, paradoxically, Cape Town is
probably the place within the country
where this unity seems easiest to
obtain.
PÓS – MODIFICADOR
O exemplo 36 possui um período bastante complexo: o núcleo da oração
principal (those) é modificado por uma restritiva longa (who spoke or e-mailed
without giving their names for publication), seguida de uma projeção subordinada
(say that); esta, por sua vez, é complementada por uma oração restritiva (that has
saved their lives). Essa organização assemelha-se a uma pirâmide, onde uma
oração depende da anterior, que depende da que a precede, e assim
sucessivamente. Temos, dessa forma, um período com cinco orações, contendo
duas coordenações e uma projeção. Além disso, a complexidade textual também
está caracterizada pela elisão de pronomes referenciais (anáfora) e por uma forma
não-canônica de construção das orações, em que as relativas definidoras têm o
sujeito distante do verbo ou do complemento.
No exemplo 37, apesar de a oração ser mais extensa que nos demais
exemplos extraídos de SU, ela está conectada pela conjunção coordenada but – a
mais freqüente conjunção adversativa, e a primeira a ser ensinada aos
estrangeiros. Contrariamente ao que ocorre no exemplo 36, que contém três
modificações, o exemplo 37 tem uma modificação, decorrente da realização da
oração relativa definidora com where.
Os exemplos 36 e 37 são orações relativas definidoras (encaixadas) –
também denominadas orações reduzidas que estendem a oração precedente
tornando o grupo nominal mais complexo. Ao mesmo tempo, as orações em NW
são mais longas e mais complexas do que as em SU, justificando o apontado na
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metodologia (seção 2.3) acerca das dimensões dos sub-corpora: 3.128 períodos
em SU, com sub-corpora de 57.189 palavras, contra 2.762 períodos em NW, com
sub-corpora de 57.465 palavras, ou seja, uma diferença de 13,26% a mais em
número de períodos na publicação brasileira. Entendemos, portanto, que SU
utiliza orações mais simples com conjunções coordenadas e pré-modificadores
(seção 3.2.1), ao passo que NW expande as orações tanto por meio de
conjunções subordinadas quanto de orações relativas. Vejamos os exemplos que
atestam essa afirmação:
38: (NW: 06)
Massachusetts is the only state to allow same-sex couples to marry
although there is a push to amend the state constitution to define marriage as
the union of a man and woman.
39: (SU: 31)
The British solution is a natural derivative of the tobacco plant
so this is not a problem
but the effect lasts only three to four months
and you must repeat the treatment.
Ao contrastarmos os exemplos 38 e 39, percebemos que, embora ambos
contenham 32 palavras cada, o exemplo em NW é formado por duas orações, em
oposição as quatro orações presentes no exemplo da SU. Em outras palavras,
enquanto o exemplo 38 inclui quatro orações relativas definidoras (to allow, to
marry, to amend, to define) e uma conjunção hipotática (although), o exemplo 39 é
formado por três orações coordenadas pelas conjunções so, but e and.
Com base na análise dos grupos nominais presentes nos textos sob estudo,
podemos concluir que NW contém os grupos mais complexos, devido às
extensões decorrentes do encadeamento de informações nos moldes de uma
organização piramidal, por meio da construção de uma série de núcleos nominais
logicamente dependentes (subordinados). Em oposição, SU desenvolve os grupos
nominais principalmente através de pré-modificadores e de pós-modificadores
formados por sintagmas preposicionados. Fulgêncio e Liberato (1996) sustentam
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66
que a extensão do período e a complexidade da organização hierárquica são
alguns dos componentes textuais que dificultam a leitura. Exemplifiquemos o que
foi dito acima no exemplo a seguir:
40: (NW: 58)
Now 16,
she is one of hundreds of recovering alcoholics who are
taking sides in a bitter, unprecedented
dispute among Alcoholics Anonymous
adherents
that pits members of Midtown, who insist the organization has saved
their lives and kept them sober,
34
against angry former members,
who charge it is a coercive, cultlike
group
that uses the trusted AA name to
induce young alcoholics into a radical
fringe movement that has little
resemblance to traditional AA.
PÓS- MODIFICADORES
Nos moldes definidos por Fulgêncio e Liberato (1996), o exemplo 40 pode
ser considerado complexo devido à extensão e à organização hierárquica, que
caracterizam um período altamente subordinado através do uso de vários pós-
modificadores e conjunções hipotáticas.
Encerramos, aqui, a análise os grupos verbais e nominais que integram o
nível estrutural abaixo da oração. Na próxima seção, focaremos a análise no nível
acima da oração, abordando as relações entre orações por meio de conjunções e
referências pronominais que geram diferentes tipos de expansão.
34
Apesar de classificada como oração relativa não-definidora (explicativa), cuja relação de
interdependência é de coordenação (parataxe), ela está posicionada na coluna das orações
encaixadas – que modificam o grupo nominal – por não ser elemento essencial à coluna de
extensão do complexo oracional.
C
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3.2 Acima da oração
3.2.1 Conjunção
De acordo com Halliday (2004:587), a conjunção fornece ao falante/escritor
o recurso para marcar uma transição no desenvolvimento do texto, isto é, permite-
lhe expandi-lo, passo a passo, delimitando as relações retóricas utilizadas. O autor
afirma, ainda, que as relações marcadas por conjunções são semânticas,
organizando o texto como um fluxo de significados. Eggins (1994:105) explicita as
palavras de Halliday ao afirmar que os padrões coesivos das conjunções explicam
de que forma o falante/escritor cria e expressa relações lógicas entre as diferentes
partes de um texto.
Nesta pesquisa serão analisadas as conjunções mais freqüentes no corpus,
divididas em categorias de relação de interdependência: paratática (and, but, so e
then) e hipotática (that, which, who, when e where), com o propósito de identificar
como são construídas as relações entre orações por meio das conjunções.
3.2.1.1 And
A conjunção mais freqüente no corpus de estudo é a paratática and, com
1.656 ocorrências em SU (2,90%) contra 1.395 ocorrências (2,43%) em NW,
equivalente a uma diferença de 0,47 pontos percentuais a mais em SU.
Conforme explicitado na metodologia (seção 2.4), tendo em vista a alta
ocorrência de and (3 mil ocorrências no corpus), foi analisada uma amostra
aleatória de 25% das ocorrências em cada revista, ou seja, 348 ocorrências em
NW e 414 ocorrências em SU. Desse modo, chegamos às características na
tabela 9:
C
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Elemento and
Freq
NW
Freq
SU
%
NW
%
SU
Diferença
em %
Conjunção externa
(conectando orações)
108
171
0,19
0,30
0,11
Conjunção externa
(conectando grupos nominais)
224
214
0,39
0,37
0,02
Conjunção interna
(conectando períodos)
16
29
0,03
0,05
0,02
Total
348
414
0,61
0,72
0,11
Tabela 9: Ocorrências de and
Como revela a tabela acima, a maior diferença quantitativa entre as duas
revistas está no uso de and conectando orações, representada pela SU com 0,11
pontos percentuais acima da NW. Com uma diferença menor, verificamos que na
conexão de períodos, a revista brasileira posiciona-se 0,02% acima da americana
e na conexão de grupos nominais, a NW está 0,02% acima de SU. Esses números
revelam que a conexão entre grupos nominais por meio da conjunção and na
revista americana ocorre em volume superior ao dobro (0,20%) da freqüência
observada em relação à conexão entre orações, ao passo que SU conecta grupos
nominais somente 0,07% a mais que orações. Logo, é possível afirmar que NW
opta pela expansão dos grupos nominais enquanto SU favorece a expansão das
orações. Os exemplos a seguir apontam para algumas ocorrências de and nos
textos das duas revistas:
41: (NW:29)
In exchange, the North would get full diplomatic recognition, the
promise of billions in aid from Washington and Tokyo, and the
stamp of legitimacy and guarantee of security that a Clinton visit
would bring, says Albright's former senior aide, Wendy Sherman.
42: (NW:51)
In a statement to NBC News, the NRC says it is aware of a
“limited amount” of sensitive information that continues to exist in
the public domain, but that the “usefulness of this information is
minimal given its age and subsequent changes to and
improvements in security programs and physical modifications
that have been made to nuclear facilities” since 9/11.
43: (NW:44)
After years of frenetic preparation and construction of Olympic
sites, Beijing residents already have seen their city transformed,
their sense of national pride burnished, their connection with the
outside world enhanced.
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44: (SU:27) When I leave the church it's just after 12:30 and the girls are
already working the Largo - I count four - but that will increase as
the sun sets.
45: (SU:20) Timetables are flexible and the agenda of activities is defined with
the relevant tourist just one meal before each start.
46: (SU:32) Chocolate can save your life and it certainly doesn't cause acne.
Contrastando os exemplos acima da NW (41 a 43) e da SU (44 a 46),
percebemos que nos exemplos 41 a 43 a expansão concentra-se no nível abaixo
da oração através da conexão de grupos nominais resultando em uma oração
lexicalmente densa em virtude das nominalizações diplomatic recognition, the
promise of billions in aid, the stamp of legitimacy, guarantee of security;
subsequent changes, improvements in security programs, physical modifications;
frenetic preparation e construction of Olympic sites. A esse respeito, Halliday
(1994:352) lembra que através da nominalização construímos orações
lexicalmente densas (lexically dense) devido à abrangência de grande número de
itens lexicais dentro da oração, incorporados ao grupo nominal.
Por outro lado, os exemplos 44 a 46 tratam da expansão acima da oração,
conectando complexos oracionais e produzindo orações paratáticas consideradas
simples quanto à relação de interdependência nelas observada. Kato (1985)
explica que uma relação de coordenação é mais facilmente compreendida pelo
leitor devido à sua estrutura mais previsível e à característica principal de
estabelecer relações de seqüência, ao contrário das relações de subordinação,
em que a relação estabelecida implica uma relação de causa e efeito.
Como conjunção interna, and é empregada no início de orações. Nessa
posição, como visto na fundamentação teórica (seção 1.1.2.2), and exerce função
coesiva na organização do texto, conectando os complexos oracionais. Em SU, a
conjunção interna and tem 29 ocorrências (0,05%), contra 16 (0,03%) em NW, o
que equivale a uma diferença de 0,02 pontos percentuais a mais em SU. Em
termos de quantificação geral, and conecta períodos 94 vezes (0,16%) na SU e 53
vezes (0,09%) na NW, o que equivale a uma diferença de 0,07 pontos percentuais
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a mais na SU. Nos exemplos abaixo podemos observar alguns dos contextos em
que isso ocorre:
47: (NW: 31)
Democrat Deval Patrick, the black former chief of the Justice Department’s Civil
Rights Division under President Clinton, appeared to be coasting to victory in his
gubernatorial campaign against Republican Lt. Gov. Kerry Healey.
After the September primary, Patrick boasted a lead of more than 30 points in
some polls.
And Healey was making little headway portraying herself as a change agent
given that four GOP governors-including incumbent Mitt Romney,
who isn't seeking re-election
so he can focus on his presidential aspirations
—have held the top job on Beacon Hill since 1990.
48: (SU: 09)
To protect the tourist industry,
regulations sometimes prohibit the use of forest raw materials:
after all, tourists like to see a rainforest in pristine condition.
But this can deprive local people of income and of a means of survival.
And if these inhabitants lack the requisite skills to work in the tourism industry,
they may be pushed out in order to make room for newcomers with the requisite
skills.
And this isn't ecotourism's only inherent problem.
Many unscrupulous tour agencies are jumping on the ecotourism bandwagon to
improve their own businesses.
Ao compararmos os exemplos 47 (NW) e 48 (SU), podemos constatar que,
embora ambas as revistas totalizem 91 palavras cada, a revista americana
constrói três períodos, em oposição aos cinco períodos na revista brasileira. Em
47, a conjunção coesiva and ocorre uma única vez, em situação de contraste entre
duas idéias, portanto funcionando como contrastiva. Entendemos que, nesse
contexto, a conjunção poderia ser substituída pela conjunção coesiva contrastiva
in contrast. em 48, and aparece duas vezes. Na primeira ocorrência, and é
empregada para ligar duas relações lógico-semânticas (contraste e condição); na
segunda, and tem função de concessão e não de adição. Nesse exemplo a
conjunção but ocorre uma vez, no início de uma oração, explicitamente contrastiva
e de interpretação mais direta, facilitando a decodificação.
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3.2.1.2 But
O elemento but é a segunda conjunção paratática mais freqüente no
corpus, com 298 ocorrências (0,53%) em SU e 261 ocorrências (0,45%) em NW, o
que equivale a uma diferença de 0,07 pontos percentuais a mais na revista
brasileira. Das conjunções coordenadas, but é o de menor diferença quantitativa
entre as duas revistas, como pode ser observado na tabela abaixo:
Elemento but
Freq.
NW
Freq.
SU
%
NW
%
SU
Diferença
em %
Conjunção externa
(conectando orações)
132
161
0,23
0,29
0,06
Conjunção externa
(conectando grupos nominais)
18
21
0,03
0,04
0,01
Conjunção interna
(conectando períodos)
111
116
0,19
0,20
0,01
Total
261
298
0,45
0,53
0,08
Tabela 10: Ocorrências de but
As diferenças tornam-se mais evidentes quando realizamos uma análise
detalhada das concordâncias da conjunção but. Por esta análise, encontramos
uma média de 4 ocorrências dessa conjunção por texto em SU, equivalente ao
dobro da média encontrada em NW (duas ocorrências de but por texto). Isso é
demonstrado pelos exemplos a seguir:
49: (NW: 29)
North Korea was also helped by its participation in the rogues club of nations
that have suffered U.S. sanctions for pursuing nuclear ambitions,
led by Pakistan, since the end of the cold war.
After Washington shut down exports of military hardware to Pakistan in 1985,
none other than Harvard-educated Benazir Bhutto concluded a missile deal with
the North.
Pakistan's black-marketing lead scientist, AQ Khan, visited North Korea 13 times
over the next seven years.
Pakistani President Pervez Musharraf has denied
he knew anything about this,
but according to former senior Pakistani officials those visits occurred with the
knowledge and consent of the military leadership.
C
APÍTULO
3
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ADOS E
D
ISCUSSÃO DOS
R
ESULTADOS
72
50: (SU: 37)
Over 250,000 people lived there during the time of Jesus,
but 1,500 years later the Aztecs found it completely abandoned - a ghost city -
and nobody knows why.
I had hoped to solve the mystery,
but my arrival in Mexico City was complicated by twenty million people and a
confusing subway system.
Discombobulated, I moved southeast.
It was frustrating to miss such a rare sightseeing opportunity,
but a week and 745 kilometers later, in the town of Tehuantepec, locals spoke of
other ruins in the mountains nearby.
Few tourists go there,
they said.
They're difficult to get to.
But these ruins, they insisted, were Mexico's Machu Picchu.
O exemplo 49 compreende quatro peodos totalizando oito orações, com
apenas uma oração coordenada por meio da conjunção paratática but. As demais
orações estão subordinadas por: uma oração não-finita (led by Pakistan
);
uma
conjunção hipotática temporal (after); e uma projeção por relato por meio do
processo verbal (denied). O exemplo 50 tem sete períodos em um total de doze
orações, contendo seis orações coordenadas por: quatro conjunções paratáticas,
sendo três com but e uma com and; uma projeção por citação
35
por meio do
processo verbal (said); e uma conjunção coesiva concessiva (but). Isso vem
demonstrar que, embora os exemplos acima possuam números semelhantes de
palavras (104 e 108, respectivamente), a extensão do complexo oracional é mais
compacta e menos conectada na revista Newsweek, isto é, a revista americana
possui um número menor de períodos e um número maior de itens lexicais. Tais
características são consideradas como densidade lexical, o que corresponde a,
segundo Halliday (1994:57-58), uma forma de complexidade. A densidade lexical,
como afirma Hancock (2005:186), pode representar recurso importante na escrita
visto que “a escrita lexicalmente densa pode ser muito poderosa e muito rica em
discursos não-técnicos porque ela empacota um grande número de significado em
um curto espaço”
36
.
35
Consideramos a oração Few tourists go there, they said como uma oração projetada paratática
mesmo que esta não esteja incluída nas aspas, pois o autor reproduziu a fala do outro.
36
Lexically dense writing can be very powerful and very rich in non-technical discourse because it
packs so much meaning into a short space.
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73
3.2.1.3 So
So funciona, também, como conjunção paratática no corpus analisado,
ocorrendo 156 vezes em SU (0,27%) contra 84 em NW (0,15%), ou seja, 0,12
pontos percentuais a mais na revista brasileira. Vejamos como esse elemento está
caracterizado no corpus:
Elemento so
Freq.
NW
Freq.
SU
%
NW
%
SU
Diferença
em %
Conjunção externa
(conectando orações)
22
52
0,04
0,09
0,05
Conjunção externa
(conectando grupos nominais)
52
74
0,09
0,13
0,04
Conjunção interna
(conectando períodos)
10
30
0,02
0,05
0,03
Total
84
156
0,15
0,27
0,12
Tabela 11: Ocorrências de so
Mais uma vez, SU faz mais uso de conjunções paratáticas que NW, e um
exemplo é so conectando orações, com função lógico-semântica de
conseqüência. Essa conjunção ocorre 52 vezes em SU (0,09%) contra 22 vezes
em NW (0,04%), o que corresponde a mais que o dobro de ocorrências na revista
brasileira. Exemplifiquemos esse tipo de relação lógico-semântica:
51: (NW: 57)
But the major coffee players say
they also try to help farm communities by purchasing part of their beans directly
from farmers
so they receive a fair price for their crop.
52: (SU: 31)
We absorb vitamin D from the sun
and this prevents other forms of cancer and possibly rheumatoid arthritis,
so we must go out
and sunbathe for about ten minutes a day.
Nota-se que, no exemplo 51, a extensão da relação causa e conseqüência
é realizada por meio de oração projetada (say), que estende o grupo nominal
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74
através de uma oração relativa definidora (by purchasing...) para finalmente
introduzir a conseqüência com a conjunção coordenada so; no exemplo 52, essa
mesma relação é representada por três conjunções paratáticas: and (duas vezes)
e so (uma vez).
No que diz respeito à conjunção so na conexão de períodos, 30
ocorrências (0,05%) em SU em contraste com 10 ocorrências (0,02%) em NW, o
que equivale a um total de ocorrências três vezes maior na Speak up. Por meio
de análise detalhada, encontramos esse elemento iniciando períodos (conjunção
interna), ora funcionando como marcador discursivo, ora como conjunção de
conseqüência. Os exemplos a seguir mostram a conjunção so como marcador
discursivo:
53: (NW: 10)
The world's established nuclear powers have for the past decade foregone real
test blasts for the onscreen kind,
harnessing the world's most powerful computers to simulate as best as possible
what happens when a nuclear bomb explodes.
So why should any nation test-blast weapons anymore
If supersimulators can do the job?
54: (SU: 16)
The Vikings were nomadic people who loved the easy life.
The fast and stable longboat allowed them to move quickly
and attack unprotected towns.
They attacked,
plundered
and escaped.
So why did they bring a large army to England
and settle there?
Nos exemplos 53 e 54, a conjunção paratática so, usada para introduzir
uma frase interrogativa, atua na organização do conteúdo informacional do
discurso, funcionando como um marcador discursivo. Encontramos 12 ocorrências
(0,02%) dessa estrutura em SU e 2 ocorrências em NW, o que demonstra que a
revista brasileira usa elementos característicos do discurso falado como so e then
para dar seqüência às suas atividades (X aconteceu. So/Then Y aconteceu).
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75
Martin & Rose (2003: 112) esclarecem que esses elementos, usados na
seqüênciação temporal, são próprios do gênero história.
Em relação ao complexo oracional, o exemplo 53 mostra elaboração por
meio de uma relativa não-definidora explicativa (harnessing the world's most
powerful computers to simulate as best as possible...) que apresenta uma oração
encaixada (what happens when a nuclear bomb explodes
)
além de uma
subordinação por meio da conjunção condicional if. Por outro lado, no exemplo
54 as orações estão conectadas por três conjunções paratáticas (and), com
informação adicional fornecida pelos segundo e último períodos (and attack
unprotected towns; and settle there?), ao mesmo tempo que o terceiro período dá
seqüência temporal por meio da conjunção and (They attacked, plundered, and
escaped).
Como mencionado acima, a conjunção so também inicia orações, gerando
uma relação lógico-semântica de conseqüência. Nessa posição, encontramos so
18 vezes em SU (0,03%) e 8 vezes (0,01%) em NW, ou seja, mais que o dobro de
ocorrências observadas em SU. Passamos a exemplificar esse tipo de conjunção:
55: (NW: 58)
By the time May Clancy turned 15 years old,
she was well on her way to drinking herself to death.
A middle-school student from Potomac, Md., she had been through 11 different
psychiatric and alcohol-rehab programs in two years.
Each time, she started drinking again
as soon as she got out.
Her parents were terrified.
"We'd taken her to hospitals—
—everything possible to get her the best care that we could,"
says May's father, Mike.
"And all these places told us
that they didn't think
she could make it without Alcoholics Anonymous."
So in November 2005,
when May agreed to begin attending meetings at Midtown, one of the oldest and
largest AA groups in the Washington, D.C., area,
it felt like a miracle.
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56: (SU: 20)
During the wet summer season,
as I was told,
flies and insects are overwhelming,
and the heat becomes unbearable for the less adventurous.
So it's best to lie in the water,
as piranhas are much more rare (SIC) in the wet season than in the dry season.
O contraste entre os exemplos 55 e 56 permite-nos observar que a
conjunção coesiva so gera uma relação lógico-semântica de conseqüência,
organizando as partes do discurso (períodos) coesivamente. Entretanto, só é
possível se estabelecer uma efetiva relação de causa e conseqüência em 55 com
a ampliação do contexto, dada a subordinação lógica das seqüências de
atividades; em outras palavras, só entendemos o “milagre” mencionado pelos pais
de May quando tomamos conhecimento do que realmente ocorreu com a
adolescente, opostamente ao que acontece em 56 em que, mesmo não se
sabendo o nome do local descrito, percebemos a implicação de uma relação de
causa e conseqüência. Temos no exemplo 55, portanto, um complexo oracional
bastante longo, com sete períodos, ao passo que o exemplo 56 contém apenas
dois períodos. Esses exemplos reforçam as observações anteriores em relação à
complexidade textual, que pode se verificar tanto na expansão dos grupos verbais
e nominais quanto na relação entre orações por meio de conjunções e referências
pronominais (seção 3.2.2).
3.2.1.4 Then
O elemento then ocorre no corpus de estudo sob três diferentes formas:
conjunção, advérbio e adjetivo. A Speak up usa esse elemento 0,09 pontos
percentuais a mais do que a Newsweek; portanto, SU recorre a essa conjunção
em número de vezes mais elevado que o dobro das ocorrências verificadas em
NW. O quadro a seguir confirma esses números:
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Elemento then
Freq
NW
Freq
SU
%
NW
%
SU
Diferença
em %
Conjunção temporal externa
(conectando orações)
12
32
0,02
0,06
0,04
Conjunção condicional externa
(conectando orações)
01
12
- - -
0,02
0,02
Conjunção externa
(conectando grupos nominais)
04
09
- - -
0,02
0,02
Conjunção interna
(conectando períodos)
04
13
- - -
0,02
0,02
Com função de advérbio
37
09
06
0,02
0,01
0,01
Com função de adjetivo 04
- - -
- - -
- - -
- - -
Total
34
72
0,04
0,13
0,09
Tabela 12: Ocorrências de then
O elemento then é utilizado em SU, na maioria das vezes, como conjunção
paratática (conexão de orações e períodos), totalizando 57 ocorrências (0,10%).
NW opta tanto pelo uso do elemento then como conjunção temporal como pelo
advérbio, implicando temporalidade. No que tange ao uso de conjunções (conexão
de orações e períodos), a revista americana utiliza-as 17 vezes (0,03%), o que
equivale a uma diferença três vezes maior de ocorrências na revista brasileira.
Analisando as concordâncias em maiores detalhes, encontramos algumas
ocorrências de then conectando orações:
57: (NW: 53)
In another case, lawmakers from an Italian communist party demanded Tuesday
that the government take action in the case of Abou Elkassim Britel,
a Moroccan-born Italian citizen whose family and lawyer say was seized during a
2002 trip to Pakistan, tortured and interrogated by U.S. intelligence and local
officials, then put on a CIA flight to Morocco,
where he is serving a nine-year prison sentence on terrorism charges.
58: (SU: 03)
This year, eight hundred slave workers on a coffee farm in Bahia were
discovered living in terrible conditions, with no proper food, sanitation or housing.
Slave coffee labourers have become an increasing problem in Brazil's vast
interior.
They are often taken from poor native communities,
promised paid work
and then transported thousands of kilometres to huge isolated farms,
where they have no way of returning to their homes.
37
Não foi analisado, pormenorizadamente, o elemento then tanto com a função de advérbio quanto
de adjetivo, uma vez que tais funções não fazem parte do escopo deste estudo.
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Nos exemplos acima, a conjunção then expressa uma relação lógico-
semântica de temporalidade, ou seja, funciona como elemento seqüenciador
temporal (primeiro ocorreu X, depois Y). Análises anteriores já confirmaram que,
embora um complexo oracional possa ter igual número de palavras nas duas
revistas (os exemplos 57 e 58 totalizam 68 palavras cada), cada complexo conta
com tipos de extensão distintos. Nesse sentido, podemos constatar que em 57 a
extensão do complexo oracional ocorre somente por meio de uma projeção
reportada, sendo o restante da mensagem estendido no grupo nominal,
modificando o núcleo Abou Elkassim Britel. em 58 a extensão é realizada,
prioritariamente, no complexo oracional, através de orações justapostas e
coordenadas explícita (and then) e implicitamente, como podemos ver na
seqüência temporal They are often taken from poor native communities, promised
paid work; aqui temos, portanto, uma oração lexicalmente mais densa em NW,
com somente um único período, em contraste com os três períodos em SU.
Outra forma usada freqüentemente por SU é o elemento then como
conjunção condicional, expressando condição vs. resultado (if... then), como
mostram os exemplos abaixo:
59: (NW: 36)
NEWSWEEK columnist Robert J. Samuelson has written
that, paradoxically, “to make immigration succeed,
we must control immigration.”
If we can,
then maybe when the population passes the 400-million mark sometime around
mid-century, the nation can celebrate again.
60: (SU: 12)
The bottom line is that,
if we don't dramatically alter our current patterns of behaviour,
then, in 30 years' time, the situation will be catastrophic.
Esse tipo de estrutura é usado, prioritariamente, pela revista brasileira (12
ocorrências), em contraste com uma única ocorrência na revista americana. De
um modo geral, SU expressa mais condicionalidade do que NW. A conjunção if,
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por exemplo, é usada 123 vezes (0,22%) em SU e 98 vezes (0,17%) em NW, o
que equivale a uma diferença de 0,05 pontos percentuais.
Finalmente, uma outra forma de utilização do elemento then, freqüente na
Speak up, é como conjunção interna (no início de orações), descrito por Martin &
Rose (2003:111) como uma conjunção que pode ser usada em histórias, na
conexão de eventos, em seqüência temporal. Os exemplos a seguir mostram
como tais conjunções são construídas nos períodos das duas revistas:
61: (NW: 29)
Some experts argue
that Kim decided
he needed a nuclear security blanket soon after the 1950-53 Korean War,
which he battled to a draw.
Then came the early 1970s,
when he realized
he was losing the economic contest against his blood enemies in Seoul,
and after that the Soviet Union disintegrated
—a failure that suddenly left Pyongyang without a communist patron or a nuclear
umbrella to shield it.
62: (SU: 16)
At this time there was a civil war in Northumbria,
King Ælla was fighting his rival Osbert.
The Viking army made a surprise attack on York
and seized the town.
Then they defended the city against the united Saxon armies
and defeated them,
capturing and killing the king.
In fact, King Ælla died a gruesome, ritual death with the picture of an eagle cut
into his back.
Conforme podemos observar, no início de orações a conjunção interna then
é utilizada para fins de seqüência temporal. No exemplo 61, a expansão ocorre
fundamentalmente por meio de orações projetadas (argue, decided e realized),
relativas não-definidoras (which e when) e uma conjunção temporal (and after),
enquanto em 62 a expansão é realizada pela conjunção paratática (and) e pela
oração explicativa (capturing and killing the king e In fact...).
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Em resumo, a revista Speak up usa com maior freqüência as conjunções
paratáticas para expansão tanto dos grupos nominais (0,05% a mais) quanto dos
complexos oracionais (0,35% a mais), quando comparada à revista Newsweek.
Isso demonstra que a expansão dos complexos oracionais desenvolvida por SU é
mais simples em termos de complexidade textual, tendo em mente que uma
relação de coordenação é, segundo Kato (1985), mais facilmente compreendida
pelo leitor devido à sua estrutura mais previsível, e pelo fato de ter, como
característica principal, o estabelecimento de relações de seqüência. Tal
expansão (coordenação) é considerada por Bernstein (1971:42-43) como uma
característica do código lingüístico restrito.
O quadro a seguir sintetiza a quantificação geral das conjunções paratáticas
presentes no corpus de estudo:
Expansão do
Grupo Nominal
Expansão do
Complexo Oracional
Conjunções
Paratáticas
Freq.
NW
Freq.
SU
%
NW
%
SU
Freq.
NW
Freq.
SU
%
NW
%
SU
And
38
224
214
0,39
0,37
124
200
0,22
0,35
But
18
21
0,03
0,04
243
277
0,42
0,49
So
52
74
0,09
0,13
32
82
0,06
0,14
Then
04
09
- - -
0,02
17
57
0,03
0,10
Total 298
318
0,51
0,56
416
616
0,73
1,08
Tabela 13: Ocorrências de conjunções paratáticas
A partir da tabela acima, foi elaborado o seguinte gráfico com as diferenças
quantitativas no qual pode ser percebida a ocorrência inversamente proporcional
das conjunções paratáticas nas duas revistas:
38
Foram analisados 25% do total de ocorrências da conjunção and, conforme explicitado na
abordagem metodológica (seção 2.4).
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81
Newsweek
Speak up
0
100
200
300
400
500
600
700
Conjunções Paratáticas
Expansão do
grupo nominal
Expansão do
complexo
oracional
Figura 7: Tipos de expansão paratática no corpus
3.2.1.5 That
O elemento that tem 637 ocorrências (1,11%) em NW, em contraste com
491 ocorrências (0,86%) em SU; uma diferença, portanto, de 0,25 pontos
percentuais a mais na revista americana.
Conforme mencionado na abordagem metodológica (seção 2.4), tendo em
vista a alta ocorrência de that (mais de 1 mil ocorrências no corpus), foi analisada
uma amostra aleatória de 25% das ocorrências em cada revista, isto é, 160
ocorrências em NW e 123 ocorrências em SU. Desse modo, obtivemos os
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seguintes resultados:
Elemento that
Freq
NW
Freq
SU
%
NW
%
SU
Diferença
em %
Conjunção
(conectando orações)
87
62
0,15
0,11
0,04
Pronome relativo (definidor)
(conectando grupos nominais)
45
30
0,08
0,05
0,03
Pronome Demonstrativo
39
28
31
0,05
0,05
- - -
Total
160
123
0,28
0,21
0,07
Tabela 14: Ocorrências de that
Em suas formas mais freqüentes em NW, that exerce a função de
conjunção hipotática (87 ocorrências) e como pronome relativo (45 ocorrências),
contribuindo para a expansão do complexo oracional e do grupo nominal,
tornando-os mais complexos. Na análise detalhada das concordâncias,
encontramos os seguintes exemplos de that como conjunção hipotática:
63: (NW: 34)
Clearly, North Korea is betting
that the global anti-proliferation regimes are in such tatters
that Pyongyang will be allowed to follow in the footsteps of India and Pakistan,
which have weathered the international brouhaha after their own nuclear tests in
the late 90's
and are now both U.S. allies.
64: (SU: 20)
But it is also true
that Pantanal animals are at liberty,
so you won't go from one stop to another to see "the next animal"
- or, as I was corrected in our Speak Up office:
"The Pantanal is not a zoo!"
Os exemplos 63 e 64 exibem orações estendidas pela conjunção hipotática
that. Ao contrário das relativas definidoras, as conjunções hipotáticas têm como
função elaborar as orações, transformando-as em períodos mais complexos. Em
63, duas conjunções subordinadas em seqüência (that the global anti-
proliferation regimes are in such tatters) e (that Pyongyang will be allowed to follow
in the footsteps of India and Pakistan), além de uma oração relativa não-denifidora
39
Não foi analisado, pormenorizadamente, o elemento that como pronome demonstrativo, uma vez
que essa função não faz parte do escopo deste estudo.
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83
(which have weathered the international brouhaha and are now both U.S. allies)
que conta, ainda, com uma circunstância encaixada (after their own nuclear tests
in the late 90’s), tornando o período ainda mais complexo. De maneira diversa, no
exemplo 64 a oração estende-se por meio de uma conjunção subordinada (that) e
de duas conjunções coordenadas (so e or); além disso, está presente uma
conjunção de relação lógica de conformidade (as I was corrected in our Speak up
Office). Os exemplos a seguir mostram o elemento that como pronome relativo:
65: (NW: 29)
But the trail of events that led to this perilous moment
making North Korea the first new declared nuclear power in eight years, and
undoubtedly the most unstable of the eight (not including Israel) in the world
today —
had a great deal to do with years of misplaced pride and prejudice between
Pyongyang and Washington, of deep misunderstanding and disastrous missed
chances.
66: (SU: 10)
After 9/11, it was transatlantic flights that were the worst hit,
but in Europe people continued traveling
and, in less than four weeks, reservations were back up to their pre-9/11 levels.
Nos exemplos 65 e 66, that está modificando o núcleo do grupo nominal
(trail of events e transatlantic flights), exercendo a função de relativa definidora
(restritiva); a complexidade textual abrange, em ambos os casos, todo o complexo
oracional. No entanto, enquanto em 65 o período soma 62 palavras bastante
denso lexicalmente, portanto em 66 ele é construído com a metade do número
de palavras da revista americana (31 palavras), constituindo-se, assim, em um
período mais simples.
A complexidade textual observada no exemplo 65 decorre do
empacotamento das informações em um único período, por meio da extensão do
grupo nominal pelo uso da relativa definidora that; da elaboração de uma oração
relativa não-definidora bastante longa (making North Korea the first new declared
nuclear power in eight years, and undoubtedly the most unstable of the eight (not
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84
including Israel) in the world today); e da extensão do núcleo nominal years pelas
nominalizações of misplaced pride and prejudice between Pyongyang and
Washington e of deep misunderstanding and disastrous missed chances.
No
exemplo 66, o período é construído de maneira mais simples, uma vez que a
revista brasileira constrói, assiduamente, as orações por meio das conjunções
paratáticas but e and.
3.2.1.6 Who e which
Como mencionado na fundamentação teórica (seção 1.1.1.2), os
pronomes relativos podem funcionar, de acordo com Halliday (2004:402), de duas
formas: (a) através de oração relativa definidora (defining relative clause),
indicando o termo ao qual se refere; nesse caso, a oração é essencial ao
entendimento da mensagem (não vem entre vírgulas); e (b) através de oração
relativa não-definidora (non-defining relative clause), adicionando uma informação
ao termo ao qual se refere; não é, portanto, essencial ao entendimento da
mensagem (vem sempre entre vírgulas ou depois de vírgula). Listamos a seguir
alguns exemplos das duas formas:
Restritiva
67: (NW: 48) That may be good news for those who abhor reading long
documents…
68: (SU: 30) In general the ones who are in the U.S. aren't very attractive…
Explicativa
69: (NW: 51) Former New Jersey Gov. Thomas Kean, who also served as
co-chairman of the 9/11 commission, calls this inconsistency
“appalling.”
70: (SU: 20) Don Eaton, who coordinates researchers and volunteers for
EarthWatch, a partner of Conservation International, explained
that scientific knowledge about the Pantanal is still basic.
O elemento who ocorre 181 vezes (0,31%) em NW, em contraste com 111
ocorrências (0,19%) em SU, o que equivale a uma diferença de 0,12 pontos
percentuais a mais na revista americana. o elemento which acusa uma
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pequena diferença percentual entre as duas revistas somente 0,01 ponto
percentual e ocorre 112 vezes (0,19%) em NW contra 113 vezes (0,20%) em
SU.
A análise detalhada desses elementos revela diferenças semânticas
evidentes, principalmente no que diz respeito às orações relativas definidoras
usadas para conectar grupos nominais, e as não-definidoras usadas para
conectar orações ao funcionarem como conjunção hipotática, conforme mostra a
tabela a seguir:
Elemento
Freq
NW
Freq
SU
%
NW
%
SU
Diferença
em %
Conjunção
(conectando orações)
72
28
0,13
0,05
0,08
Pronome relativo (definidor)
(conectando grupos nominais)
102
69
0,18
0,12
0,06
Who
Pronome interrogativo
40
07
14
0,01
0,02
0,01
Conjunção
(conectando orações)
84
61
0,15
0,11
0,04
Pronome relativo (definidor)
(conectando grupos nominais)
28
48
0,05
0,08
0,03
Which
Pronome interrogativo - - -
04
- - -
- - -
- - -
Total
293
224
0,52
0,38
0,14
Tabela 15: Ocorrências de who e which
NW faz uso das conjunções hipotáticas who e which 72 e 84 vezes,
respectivamente, em contraste com 28 e 61 ocorrências desses elementos em
SU, o que equivale a uma diferença de 0,12 pontos percentuais a mais em NW.
Ademais, NW utiliza os pronomes relativos definidores who e which 102 e 28
vezes, respectivamente, em contraste com SU que os usa 69 e 48 vezes, o que
corresponde a uma diferença de 0,03 pontos percentuais a mais em NW. Através
da análise detalhada das concordâncias dos dois elementos, podemos detectar
algumas ocorrências como conjunção hipotática (explicativas), conforme mostram
os exemplos a seguir:
40
Não foram analisados, pormenorizadamente, os elementos who e which como pronomes
interrogativos, uma vez que essa função não faz parte do escopo deste estudo.
C
APÍTULO
3
A
NÁLISE DOS
D
ADOS E
D
ISCUSSÃO DOS
R
ESULTADOS
86
71: (NW: 44)
Indeed, on the same day the new regulations were announced,
an appeals court decided to uphold the three-year prison sentence for Zhao,
who was detained
after The New York Times published a 2004 article predicting accurately
that as a result of top-level power tussles,
former president Jiang Zemin would step down from his influential position as
head of the powerful Central Military Commission.
72: (SU: 14)
Harry S. Truman,
who was President of the United States from 1945 to 1953
and who authorised the dropping of atom bombs at Hiroshima and Nagasaki,
was known to say manure as often as a farmer used it.
No exemplo 71, a conjunção hipotática who é usada para explicar o que
aconteceu com o núcleo nominal (Zhao), elaborando uma oração complexa por
meio de uma conjunção subordinada temporal (after) e de uma oração restritiva
(predicting). O exemplo 72 exibe oração expandida duas vezes através da
conjunção who, sem o acréscimo de outras subordinações. Logo, NW contém uma
oração elaborada com 41 palavras em contraste com as 23 palavras em SU, o que
confirma a ocorrência de uma extensão relativamente maior na revista americana.
De acordo com Halliday (2004:399), apesar da estrutura da oração relativa
não-definidora implicar uma relação lógica de subordinação, ela não é essencial à
oração posto ter como estratégia o acréscimo de informação extra ao discurso,
denominada background information. Entretanto, por meio do desenvolvimento
dessa estrutura na oração, o complexo oracional torna-se mais extenso e denso
lexicalmente.
Passamos agora ao uso das orações relativas definidoras que funcionam
como pronomes relativos. Nesse sentido, foram encontradas algumas ocorrências
de who nas duas revistas, exemplificadas abaixo:
73: (NW: 30)
Housing pros even have a well-developed lingo to describe these people:
retirees who move to the sun belt, dislike it and move back home are called
"fullbacks,"
C
APÍTULO
3
A
NÁLISE DOS
D
ADOS E
D
ISCUSSÃO DOS
R
ESULTADOS
87
while folks who retreat to an in-between location (say, a Chicagoan who moves
to Florida and then Tennessee) are called "halfbacks."
74: (SU: 22)
Another business aimed at tourists is Kei Carpets (see interview),
which provides work for women who moved up here from the poorer Eastern
Cape province.
Ao compararmos os exemplos 73 em NW e 74 em SU, observamos que em
73 o núcleo people é modificado por um grupo nominal bastante extenso,
extensão esta que ocorre por meio de pós-modificadores (relativas definidoras)
que modificam os participantes retirees, folks e Chicagoan, restringindo, assim, as
respectivas orações. Além disso, o período está conectado por uma conjunção
subordinada aditiva (while). em 74 o núcleo women é modificado por uma
oração relativa definidora inserida em uma oração relativa não-definidora,
formando, desse modo, uma oração explicativa. Vejamos outros exemplos com a
mesma estrutura:
75: (NW: 05)
Be sure to mosey into Tai Sun Co,
an Asian market which has all of those odd mushrooms and twisted vegetables
helpfully labeled in English;
step into a Chinese pharmacy to take a gander at the dried seahorses and
snakeskins being ground for medicine;
and make a stop at one of the best souvenir stores in the area, J&S Arts and
Crafts,
where you can stock up on Kung Fu shoes, kimonos, glazed bowls and more.
76: (SU: 29)
As the Romans brought Latin around Europe,
and as the Spaniards brought Castilian to the Americas,
so the Arabs brought their language during the period of Arab conquests
beginning in the 7th century AD which eventually covered the Middle East,
North Africa, Iberia and parts of Asia and central Africa.
Em 75 e 76, o que chama a atenção não é a extensão das orações por
meio de pós-modificadores (relativas definidoras), mas a expansão do complexo
oracional. NW usa, por exemplo, conjunções implícitas para conectar as orações,
ao passo que a revista brasileira conecta-as por meio de conjunções (as e so).
Fernandes (1997), ao comentar os estudos de Caron, Micko e Thüring (1988),
C
APÍTULO
3
A
NÁLISE DOS
D
ADOS E
D
ISCUSSÃO DOS
R
ESULTADOS
88
remete à afirmativa dos autores acerca da contribuição da conjunção para a
compreensão do texto, levando o leitor a estabelecer relações entre as partes que
o compõem. Em vista disso, sugerem
que se estimule a presença das conjunções
em textos didáticos. Um estímulo nesse sentido pode ser percebido nos textos em
SU, que contêm maior número de explicitações conjuntivas do que em NW.
3.2.1.7 When e where
Os elementos when e where são usados para indicar circunstância de
tempo e espaço. A SU os utiliza 0,02 e 0,05 pontos percentuais a mais que NW,
como pode ser observado na tabela a seguir:
Elementos
Freq
NW
Freq
SU
%
NW
%
SU
Diferença
em %
Conjunção
(conectando orações)
88
92
0,15
0,16
0,01
Pronome relativo definidor
(conectando grupos
nominais)
15
17
0,03
0,03
- - -
When
Pronome interrogativo
41
- - -
04
- - -
- - -
- - -
Conjunção
(conectando orações)
35
62
0,06
0,10
0,04
Pronome relativo definidor
(conectando grupos
nominais)
24
24
0,04
0,04
- - -
Where
Pronome interrogativo 03
08
- - -
- - -
- - -
Total
165
207
0,28
0,33
0,05
Tabela 16: Ocorrências de when e where
Dentre as formas mais freqüentes de when e where encontradas em SU
estão: a conjunção hipotática temporal e locativa, com 154 ocorrências na soma
total das duas conjunções (0,26%) em oposição a 123 ocorrências (0,21%) em
NW; e o pronome interrogativo, com 12 ocorrências contra somente 3 ocorrências
em NW. Halliday (2004:399-400) ressalta que a relativa não-definidora, quando
na função de conjunção hipotática na oração, é freqüentemente utilizada em
narrativas porque representa “uma estratégia para apresentar informações extras
no texto, uma caracterização, uma interpretação de algum aspecto da oração
41
Não foram analisados, pormenorizadamente, os elementos when e where com função de
pronome interrogativo, uma vez que esse não faz parte do escopo deste estudo.
C
APÍTULO
3
A
NÁLISE DOS
D
ADOS E
D
ISCUSSÃO DOS
R
ESULTADOS
89
principal”
42
. Nesse caso específico, SU vale-se desse recurso (como
mencionado acima) 154 vezes (0,26%) em oposição a 123 ocorrências (0,21%)
em NW, visando introduzir informações extras sobre quando e onde ocorreram os
eventos. Em contrapartida, NW usa who e which (seção 3.2.1.6 acima) 156 vezes
(0,28%) contra 89 ocorrências (0,16%) em SU na inclusão de informações extras
sobre quem participou dos eventos.
Para verificar os contextos de ocorrência de when and where,
empreendemos análise pormenorizada das respectivas concordâncias, com
destaque para os seguintes exemplos:
77: (NW: 29)
Then came the early 1970s,
when he realized he was losing the economic contest against his blood enemies
in Seoul,
and after that the Soviet Union disintegrated
— a failure that suddenly left Pyongyang without a communist patron or a
nuclear umbrella to shield it.
78: (SU: 02)
So, in 2002, when many sympathetic PT voters were ready to support any
candidate with perhaps fewer blue-collar credentials but with a real chance of
trouncing the competition,
Lula, thrice-defeated but still morally and politically pure, decided
that this time it was his turn
- and he was definitely tired of losing.
Em 77 e 78, os dois elementos constroem um grupo oracional complexo. A
revista americana, porém, recorre à relativa não-definidora when para explicar um
período de relação temporal, ao passo que a revista brasileira usa-o para detalhar
um período de relação conclusiva. Isso significa que no primeiro exemplo a
relativa when segue uma seqüência lógica de temporalidade, o que não acontece
no segundo. Além disso, em 77 a conjunção paratática and tem significado
diferente do que a mesma conjunção em 78: enquanto a primeira tem relação
temporal, a segunda implica relação de adição.
42
(It) is a strategy for introducing into the discourse background information, a characterization, an
interpretation of some aspect of the dominant clause.
C
APÍTULO
3
A
NÁLISE DOS
D
ADOS E
D
ISCUSSÃO DOS
R
ESULTADOS
90
No que tange à relativa não-definidora where, destacamos os seguintes
exemplos:
79: (NW: 60)
That means
that babies who die unbaptized are now free to go to heaven
rather than being consigned to limbo,
where for the last 800 years they’ve been forced to await the End of Days,
unable to share in the beatific vision of God and Jesus Christ with their Roman
Catholic brethren.
80: (SU: 27)
Across the walkway leading to the Viaduto Santa Ifigênia, on a tiny balcony at
the vertex of the lovely, wedge-shaped Prédio Santa Ephegênia,
where the narrow Rua dos Seminários meets the Largo,
stood the young conductor,
Signaling for attention.
O exemplo 79 contém oração com 52 palavras, em contraste com o 80 que
totaliza 39 palavras, ou seja, uma densidade lexical maior na revista
americana. Por outro lado, enquanto em 79 as orações são estendidas por meio
de relativas não-definidoras (where e unable to share) e conjunções subordinadas
(that e rather than), em 80 as orações estendem-se por meio de duas orações
não-definidoras menores (where e signaling) e de uma frase preposicionada.
Halliday (1994:57) explica a questão da complexidade nas estruturas das
orações e períodos ao afirmar que a densidade lexical aumenta não porque o
número de itens lexicais aumenta, mas porque o número de itens não-lexicais
(palavras gramaticais) diminui, fazendo com que o número de orações diminua
ainda mais. Mais adiante (p. 67-68), o autor acrescenta que a densidade lexical é
maior na medida em que há um maior número de metáforas gramaticais e elipses.
Ao longo da análise dos dados percebemos que as orações da Newsweek
são mais reduzidas (compactadas) e subordinadas em comparação à Speak up,
começando com o número de períodos que as duas revistas apresentam no
corpus: 2.762 na revista americana e 3.128 na revista brasileira. Bernstein
C
APÍTULO
3
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NÁLISE DOS
D
ADOS E
D
ISCUSSÃO DOS
R
ESULTADOS
91
(1971:42-43) explica que uma das características do código lingüístico elaborado é
o uso de subordinações nos complexos oracionais. Considerando os resultados
tanto das conjunções paratáticas quanto das hipotáticas, é possível afirmar que,
enquanto SU constrói com maior freqüência orações características do código
lingüístico restrito, NW utiliza o código elaborado mais assiduamente. Nesse
sentido, a tabela a seguir resume a seção que trata das conjunções hipotáticas
(subordinadas):
Expansão do
Grupo Nominal
Expansão do
Complexo Oracional
Conjunções
Hipotáticas
Freq.
NW
Freq.
SU
%
NW
%
SU
Freq.
NW
Freq.
SU
%
NW
%
SU
That
43
45
30
0,08
0,05
87
62
0,15
0,11
Which
28
48
0,05
0,08
84
61
0,15
0,11
Who
102
69
0,18
0,12
72
28
0,13
0,05
When
15
17
0,03
0,03
88
92
0,15
0,16
Where
24
24
0,04
0,04
35
62
0,06
0,10
Total 214
188
0,38
0,32
366
305
0,64
0,53
Tabela 17: Ocorrências de conjunções hipotáticas
A partir da tabela acima, idealizamos o seguinte gráfico com as diferenças
quantitativas no uso das conjunções hipotáticas:
43
Foram analisados 25% do total de ocorrências de that, uma vez que este ocorre mais de 1 mil
vezes no corpus de estudo.
C
APÍTULO
3
A
NÁLISE DOS
D
ADOS E
D
ISCUSSÃO DOS
R
ESULTADOS
92
Newsweek
Speak up
0
50
100
150
200
250
300
350
400
Conjunções Hipotáticas
Expansão do
grupo nominal
Expansão do
complexo
oracional
Figura 8: Tipos de expansão hipotática no corpus
3.2.2 Referência Pronominal
Eggins (1994:100) explicita as palavras de Halliday ao afirmar que a
referência diz respeito à forma como o escritor introduz os participantes e os
mantém em contato uns com os outros, ao longo do texto. Mais adiante, a autora
acrescenta que a referência e a conjunção são os principais recursos coesivos em
um texto (Fundamentação Teórica, seção 1.1.2.2).
A fim de entender como é construída a relação entre as orações por meio
da referência pronominal nos textos das duas revistas, desenvolvemos breve
C
APÍTULO
3
A
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D
ADOS E
D
ISCUSSÃO DOS
R
ESULTADOS
93
descrição e análise desse recurso coesivo, do qual SU faz uso 0,96 pontos
percentuais a mais que NW. A tabela abaixo sintetiza os dados quantitativos
relativos aos pronomes:
Elementos Freq
NW
Freq
SU
%
NW
%
SU
Diferença
em %
I 100
346
0,17
0,61
0,44
We 131
159
0,23
0,28
0,05
You 131
158
0,23
0,28
0,05
It 264
236
0,46
0,42
0,04
He 279
274
0,49
0,48
0,01
She 121
118
0,21
0,21
- - -
Pronomes Pessoais
They 230
230
0,40
0,40
- - -
Me 13
84
0,02
0,15
0,13
Us 30
69
0,05
0,12
0,07
Them 71
91
0,12
0,16
0,04
It 116
100
0,20
0,17
0,03
You 17
30
0,03
0,05
0,02
Pronomes Objetos
Her 32
24
0,06
0,04
0,02
My 27
131
0,05
0,23
0,18
Its 141
86
0,25
0,15
0,10
Our 40
63
0.07
0,11
0,04
Her 104
80
0,18
0,14
0,04
His 165
174
0,28
0,31
0,03
Pronomes Possessivos
Their 194
184
0,34
0,32
0,02
This 151
247
0,26
0,43
0,17
Pronomes
Demonstrativos
That
44
28
31
0,05
0,05
- - -
Total
2.385
2.915
4,15
5,11
0,96
Tabela 18: Ocorrências de referência pronominal
Como mostra a tabela 18 acima, uma diferença evidente no que diz
respeito à freqüência de uso de pronomes nos textos das duas revistas. SU utiliza,
por exemplo, os pronomes de primeira pessoa (singular e plural) 1,5% em
contraste com 0,59% em NW, o que equivale a uma diferença de 0,91 pontos
percentuais a mais em SU. Por outro lado, NW usa os pronomes de terceira
pessoa (singular e plural) 2,99 pontos percentuais em comparação aos 2,8% em
SU, correspondendo a uma diferença de 0,19 pontos percentuais a mais em NW.
44
Foram analisados 25% do total de ocorrências do elemento that no corpus, conforme mostra a
análise da seção 3.2.1.5 deste capítulo.
C
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D
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R
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94
Através de uma análise pormenorizada dos textos NW:32 e SU:45 (Anexos
2 e 3), buscamos identificar como se caracteriza a relação entre as orações
nesses dois textos em termos de referência pronominal, especificamente no que
tange aos participantes principais: Nancy Pelosi em NW e Elizabeth em SU.
Vejamos a seguir quais foram os tipos de referência pronominal encontrados:
Tipos NW: 32 SU: 45
Apresentação
Nancy Pelosi a young Englishwoman, a
princess, a queen,
Pressuposição
The California congresswoman,
Pelosi, Ø, she, Ø, Pelosi, Pelosi,
the house minority leader,
Speaker of the house, she, the
first Democrat, the first woman,
she
Ø, Princess Elizabeth,
Elizabeth, Elizabeth, The
Queen, she, she, Ø, She, the
royal woman, She, she, the
princess, She, Elizabeth and
Philip, the couple
Possessivo
Ø, her, her, Pelosi’s her, her, her, her, their,
Comparativo
Others
Quadro 10: Tipos de Referência Pronominal
Em NW:32, a revista americana não apresenta o participante (Nancy Pelosi)
por meio do artigo indefinido A, normalmente utilizado nesse sentido. Em
conseqüência, a leitura torna-se mais difícil para o leitor brasileiro de ILE, uma vez
que o seu contexto de cultura não está familiarizado com essa personalidade
política. Ademais, por três vezes NW recorre à referência nominal Pelosi, por três
vezes à referência pronominal she e, finalmente, por quatro vezes ao artigo
definido the para continuar falando do participante. Por sua vez, a revista brasileira
lança mão de pronomes e determinadores (artigos) em maior proporção. Por
exemplo, o escritor apresenta o participante ao leitor por meio do artigo indefinido
A, como mostram as frases: a young Englishwoman, a princess, a queen; em
seguida, utiliza-se de: The Princess Elizabeth, Elizabeth e The Queen. SU usa,
ainda, o dobro de ocorrências dos pronomes she e her em comparação a NW.
No que diz respeito ao uso da referência nos textos, Martin & Rose
(2003:162) afirmam que “a maneira como os participantes são identificados é um
aspecto importante sobre como um texto se desdobra. De todos os gêneros, as
C
APÍTULO
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A
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D
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D
ISCUSSÃO DOS
R
ESULTADOS
95
histórias são os que mais usam recursos referenciais para apresentar os
participantes e mantê-los em contato uns com os outros ao longo do texto”
45
.
Considerando a afirmação de Martin & Rose (2003) sobre o uso de
recursos referenciais e com base nos dados quantitativos obtidos, podemos
concluir que SU exibe características do gênero história ao utilizar recursos
referenciais 0,96 pontos percentuais a mais em comparação a NW, recursos
esses, em sua grande maioria, representados por pronomes de primeira pessoa.
Ainda a respeito do assunto, Bernstein (1971:42-43) afirma que o alto índice de
uso de pronomes é característico do código lingüístico restrito.
Em resumo, podemos sintetizar os resultados obtidos neste capítulo por
meio de um quadro contendo as principais características, em termos de estrutura
do texto abaixo e acima da oração, dos textos das duas revistas. Com base nos
dados obtidos e em consonância com os códigos lingüísticos de Bernstein
(1971:115-116), concluímos que a Newsweek segue o código elaborado,
enquanto a Speak up guia-se pelo código restrito.
45
The way in which participants are identified is an important aspect of how a text unfolds. Of all
genres, stories make by the far the greatest use of reference resources to introduce and track
participants through a discourse.
C
APÍTULO
3
A
NÁLISE DOS
D
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D
ISCUSSÃO DOS
R
ESULTADOS
96
Newsweek Speak up
Grupo
Verbal
+ grupos verbais complexos,
funcionando como auxiliar
(perfectivo, progressivo, futuro
com going to e passivo)
+ grupos verbais simples,
funcionando como processo
(passado, presente e futuro
simples)
Estrutura do texto
abaixo da oração
Grupo
nominal
+ grupos nominais complexos
e densos lexicalmente, devido
às extensões decorrentes do
encadeamento de
informações, por meio da
construção de uma série de
nominalizações e relativas
definidoras
+ grupos nominais simples,
formados por
pré-modificadores e
pós-modificadores com
sintagmas preposicionados
Conjunção
+ conjunções subordinadas
Complexidade na organizão
hierárquica decorrente das
orações reduzidas
(compactadas)
+ conjunções coordenadas
Estrutura do texto
acima da oração
Referência
pronominal
+ pronomes de 3ª pessoa
+ pronomes de 1ª pessoa
Alto índice de pronomes
Quadro 11: Características das estruturas dos textos nas revistas Newsweek e Speak up
A seguir, passaremos às considerações finais resultantes das análises
desenvolvidas.
C
ONSIDERAÇÕES
F
INAIS
97
Considerações Finais
Como informado no início desta dissertação, a motivação da pesquisa
originou-se de um projeto de leitura que desenvolvemos para alunos de inglês
como língua estrangeira em um contexto empresarial, objetivando o
aprimoramento de seus conhecimentos lingüísticos. Nessa ocasião observou-se
que os alunos tinham mais facilidade em compreender textos de Speak up do que
de Newsweek, o que despertou nosso interesse em descobrir o porquê. Partimos
do pressuposto que as diferentes dificuldades tinham a ver com o uso de
conjunções.
Durante o desenvolvimento da pesquisa, ficou explícito que o estudo das
conjunções não seria suficiente aos nossos propósitos. Assim, foram incluídos na
análise outros aspectos dos textos, em busca de elementos gramaticais
responsáveis por sua coesão e organização. Chegou-se à conclusão de que as
dificuldades se apresentam tanto abaixo da oração (grupo verbal e nominal)
quanto acima dela (conjunção e referência pronominal), e que estão relacionadas
com a complexidade dos textos, em termos de estrutura lógica, levando-nos a
focar diferentes tipos de estrutura utilizados nas duas revistas. Para tanto, foi
utilizada como base teórica a Gramática Sistêmico-Funcional proposta por
Halliday (1985, 1994, 2004).
Passaremos à síntese dos resultados encontrados que se constituem em
respostas às perguntas de pesquisa apresentadas na introdução do trabalho.
Quanto à primeira pergunta (Como se caracteriza o grupo verbal nos artigos
das revistas Speak up e Newsweek?), concluímos que o grupo verbal apresenta
características distintas nas duas revistas. Newsweek constrói um grupo verbal
mais complexo em termos de estrutura lógica, valendo-se, freqüentemente, de
C
ONSIDERAÇÕES
F
INAIS
98
tempos verbais secundários formados por auxiliares funcionando como
modificadores do núcleo verbal, enquanto Speak up constrói principalmente
grupos verbais mais simples, apenas com tempo primário, no qual o processo
funciona como núcleo do grupo.
Quanto à segunda pergunta (Como se caracteriza o grupo nominal nas
duas revistas?), demonstramos que nelas o grupo nominal se diferencia,
principalmente, no que diz respeito à densidade lexical. Newsweek contém
grupos nominais mais densos lexicalmente, com extensões decorrentes do
encadeamento de informações, por meio da construção de uma série de
nominalizações e orações relativas definidoras muito mais complexas. Em direção
oposta, os textos de Speak up são construídos através de grupos nominais
formados, principalmente, por pré-modificadores e pós-modificares com sintagmas
preposicionados.
Finalmente, no que se refere à última pergunta de pesquisa (Como se
caracteriza a relação entre as orações nas duas revistas?), concluiu-se que as
relações entre as orações são estabelecidas, em Newsweek, com muitas
conjunções subordinadas e orações reduzidas, tornando os textos mais
complexos em sua organização hierárquica, ao passo que em Speak up as
relações entre as orações são mais freqüentemente realizadas através de
conjunções coordenadas. Por outro lado, Speak up apresenta alto índice de
referências pronominais, notadamente pronomes de primeira pessoa, em
contraste com Newsweek cuja preferência recai sobre a terceira pessoa.
Em suma, os textos de Speak up contêm o que Bhatia (1983) denomina
simplificação e facilitação da linguagem, provavelmente em prol de uma melhor
compreensão pelos leitores brasileiros de ILE; eles também buscam facilitar a
compreensão introduzindo recursos como glossários e headings em português.
Ao contrário, em Newsweek é possível notar maior elaboração lingüística em
termos de complexidade lógica, claramente representando o tipo de discurso
C
ONSIDERAÇÕES
F
INAIS
99
logicamente complexo (complex logic) e lingüisticamente elaborado que Bernstein
(1971:42-43) denomina código elaborado.
Apesar da motivação inicial, este trabalho não pretendeu tirar conclusões
sobre qual tipo de texto seria melhor ou mais apropriado para uso em situação de
ensino, mas sim entender as estruturas dos textos e, dessa maneira poder
oferecer subsídios ao ensino-aprendizagem dessas estruturas visando aprimorar a
compreensão e a produção escrita dos alunos (não somente na área de língua
inglesa e instrumental, mas também outras nguas e abordagens). Esperamos
assim estar sendo úteis para a área de Lingüística Aplicada.
Uma outra contribuição deste estudo tem cunho teórico e está relacionada a
um nível de análise sistêmico-funcional ainda pouco pesquisado no Brasil os
níveis abaixo e acima da oração com enfoque na metafunção lógica, a fim de
compreender melhor os mecanismos de organização estrutural da oração, do nível
mais baixo (grupos) ao mais alto (complexos oracionais).
Este trabalho limitou-se à análise de artigos de revista em língua inglesa,
tendo sido deixado para um momento futuro, inclusive por limitações de tempo, o
estudo relacionado às dificuldades de leitura dos aprendizes, que passaram a
constituir-se apenas em motivação inicial. Assim, seria interessante, em pesquisas
futuras, um estudo que contemplasse a aplicação de análises textuais, em níveis
de organização estrutural, ao ensino de ILE, para avaliar as reais dificuldades de
compreensão de leitura dos aprendizes contribuindo para o aperfeiçoamento das
práticas específicas desenvolvidas em sala de aula. Outro interesse em pesquisas
futuras é o desenvolvimento de um estudo contrastivo com corpus em português
que contemple a análise de textos autênticos e não-autênticos em níveis abaixo e
acima da oração, buscando detectar diferenças e semelhanças de uso entre as
duas línguas.
R
EFERÊNCIAS
B
IBLIOGRÁFICAS
100
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EFERÊNCIAS
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IBLIOGRÁFICAS
104
Endereços Eletrônicos
http://edpeixes.ig.com.br/publicidade/revista_speakup.shtml. (acesso digital em 20
de janeiro de 2008).
www.asineshop.com.br/speakup (acesso digital em 20 de janeiro de 2008).
www.newsweek.com.br/MK2006 (acesso digital em 20 de janeiro de 2008).
A
NEXOS
105
Anexos
Lista de palavras detalhada das 100
as
palavras mais freqüentes
Anexo 01
Posição
na lista
Palavra
Freq.
Corpus
textos
Freq.
NW
Freq.
SU
1
THE
6.498
119
3.092
3.406
2
#
3.432
118
1.194
2.238
3
AND
3.051
119
1.395
1.656
4
A
2.836
119
1.396
1.440
5
OF
2.781
119
1.416
1.365
6
TO
2.861
119
1.567
1.294
7
IN
2.207
119
1.137
1.070
8
IS
1.109
115
454
655
9
THAT
1.128
114
637
491
10
FOR
937
118
492
445
11
AS
691
112
321
370
12
WITH
727
112
376
351
13
I
452
64
103
349
14
ON
695
115
356
339
15
IT
716
111
380
336
16
WAS
632
104
315
317
17
BUT
559
115
261
298
18
FROM
530
108
238
292
19
ARE
541
104
259
282
20
HE
553
91
279
274
21
AT
531
111
283
248
22
THIS
398
105
151
247
23
THEY
460
100
230
230
24
AN
410
110
208
202
25
HAS
410
100
208
202
26
BE
460
99
264
196
27
BY
435
105
244
191
28
HAVE
420
105
230
190
29
YOU
337
76
147
190
30
THEIR
378
89
194
184
31
HIS
343
80
167
176
32
WE
290
72
131
159
33
OR
320
90
163
157
34
SO
240
82
84
156
35
ONE
294
96
146
148
36
MORE
300
91
158
142
37
UP
269
91
129
140
A
NEXOS
106
38
NOT
342
103
207
135
39
MY
158
33
27
131
40
CAN
242
81
113
129
41
ALL
246
82
118
128
42
LIKE
230
66
104
126
43
IF
221
82
98
123
44
WERE
274
87
153
121
45
SHE
239
39
121
118
46
PEOPLE
215
74
101
114
47
WHEN
216
81
103
113
48
WHICH
225
94
112
113
49
WHO
292
88
181
111
50
SOME
211
85
102
109
51
OUT
211
84
104
107
52
HER
240
36
136
104
53
ENGLISH
110
32
8
102
54
INTO
178
75
76
102
55
ALSO
207
86
108
99
56
WHAT
181
73
82
99
57
HAD
228
73
131
97
58
THERE
198
74
101
97
59
WILL
314
84
217
97
60
WOULD
234
72
138
96
61
IT'S
143
46
49
94
62
WHERE
156
63
62
94
63
NEW
227
77
136
91
64
THEM
162
65
71
91
65
ABOUT
220
84
131
89
66
DO
152
60
63
89
67
TIME
184
76
96
88
68
TWO
159
66
71
88
69
ITS
228
75
142
86
70
ME
97
24
13
84
71
ONLY
150
74
66
84
72
BEEN
194
82
111
83
73
MANY
147
58
64
83
74
WORLD
132
56
49
83
75
THAN
208
84
129
79
76
NO
167
70
89
78
77
OTHER
176
74
99
77
78
YEARS
173
77
97
76
79
BRAZIL
79
22
5
74
80
EVEN
143
66
69
74
81
AFTER
171
81
99
72
82
THEN
109
57
37
72
83
S
401
65
331
70
84
WAY
128
57
58
70
85
US
99
43
30
69
A
NEXOS
107
86
CITY
104
33
36
68
87
FIRST
134
70
66
68
88
MOST
133
70
67
66
89
OUR
103
54
40
63
90
OVER
135
65
72
63
91
COFFEE
93
9
31
62
92
SEE
99
51
38
61
93
AROUND
81
49
21
60
94
HOW
104
63
45
59
95
LANGUAGE
61
17
2
59
96
SAID
386
75
327
59
97
BACK
104
52
46
58
98
JUST
123
66
66
57
99
MUCH
93
56
36
57
100
NOW
127
68
70
57
A
NEXOS
108
Textos utilizados na análise da referência pronominal
Anexo 2: NW: 32
Nancy Pelosi walks out of an airport
the way others might flee a burning building.
A car is waiting
ø
outside
and the California congresswoman, straining under the weight of a suitcase, a
fold-over bag and a pile of newspapers, cannot reach it quickly enough.
Behind her, two young aides are having a hard time keeping up with their 66-
year-old boss
—if only because both of them are attempting to navigate their way through the
concourse
while furiously typing into their BlackBerrys at the same time.
There are only a few weeks left before the midterm elections,
and for Pelosi, the few minutes it takes to walk from the gate to the exit are
wasted time.
Time that
ø
could be spent memorizing the names and faces of the 200 people
she's about to meet,
or
ø
squeezing donors for last-minute contributions that will enable Pelosi to
reach her ultimate goal:
winning the 15 seats
Democrats need to take control of the House.
If they do,
Pelosi, the House minority leader since 2002, will rise to Speaker of the
House.
She'll be the first Democrat to hold the job in 12 years.
And the first woman, ever.
The chances look pretty good.
Current polls show
Democrats could win 25 or more House seats.
But Pelosi's strategy seems to be to campaign
as if she doesn't believe it.
A
NEXOS
109
Anexo 3: SU: 45
Once upon a time a young Englishwoman went up a tree as a princess
and
ø
came down a queen.
Can this be true?
Well, on February 5
th
, 1952 Princess Elizabeth stayed the night at the Treetops
Hotel in Kenya;
the hotel was little more than a tree house with servants,
its rooms built high in a tree.
The next day Elizabeth descended for breakfast to learn that her father, King
George VI, had died.
He had two daughters and no sons:
as his older daughter, Elizabeth succeeded him at the age of 25.
The Queen has been a determined person throughout her life.
At the beginning of the Second World War in 1939, she wanted to be a nurse in
London;
her father decided it was too dangerous,
but she finally convinced him
and
ø
joined the Auxiliary Territorial Service as a driver.
She was the first royal woman to serve in the military.
She met Prince Philip when she was just 13 years old.
Philip, five years older than her, was more interested in sports at that time,
but for the princess it was love at first sight.
She called him “my (SIC) Viking prince.
The King didn't approve of their relationship
so in 1946 Elizabeth and Philip got engaged secretly.
One year later, the King permitted the engagement and the couple got married
in November 1947.
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