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Bruna Vieira Guimarães
DEODORO DA FONSECA
A PROPAGANDA POLÍTICA DO PRIMEIRO
PRESIDENTE DO BRASIL
Universidade Metodista de São Paulo
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
São Bernardo do Campo, 2007
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Bruna Vieira Guimarães
DEODORO DA FONSECA
A PROPAGANDA POLÍTICA DO PRIMEIRO
PRESIDENTE DO BRASIL
Dissertação apresentada em cumprimento parcial às
exigências do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação Social, da UMESP (Universidade Metodista
de São Paulo), para obtenção do grau de Mestre.
Orientador: Prof.: Adolpho Carlos Françoso Queiroz.
Universidade Metodista De São Paulo
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
São Bernardo do Campo, 2007.
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FOLHA DE APROVAÇÃO
A dissertação DEODORO DA FONSECA - A PROPAGANDA POLÍTICA DO
PRIMEIRO PRESIDENTE DO BRASIL, elaborada por Bruna Vieira Guimarães, foi defendida
no dia ........... de...................de ............., tendo sido:
( ) Reprovada
( ) Aprovada, mas deve incorporar nos exemplares definitivos modificações
sugeridas pela banca examinadora, até 60 (sessenta) dias a contar da data
da defesa .
( ) Aprovada
( ) Aprovada com louvor
Banca Examinadora:
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
Área de concentração: Processos Comunicacionais
Linha de pesquisa: Propaganda Política dos Presidentes do Brasil
Projeto temático: A propaganda política do primeiro presidente do Brasil- Deodoro da Fonseca
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pela vida e pela capacidade de aprender, sempre!
O segundo agradecimento vai para meu admirado professor orientador Adolpho Queiroz, pelo
incentivo constante!
Agradeço aos meus familiares, especialmente meus pais Paulo César e Maria de Lourdes e meus
irmãos Rodrigo e João Paulo, pelo exemplo e dedicação aos estudos.
Agradeço o apoio inestimável do meu sempre amigo Gean Carlos Goll.
Agradeço as reflexões, as alegrias e os desesperos compartilhados com meus amigos do
mestrado e do doutorado, e são tantos:
Ingrid Gomes, Roseane Arcanjo, Ricardo Hiar, Backer Ribeiro, Leninne Guimarães, Sandra
Guedes, Nayara Ribeiro, Lincoln Franco, Moisés Barel, Karin Müller, Aline Lima, Camila
Escudeiro, Maria Rita Afonso, Lucimara Rett, Sandra Rigatto, Marcelle Carvalho, Margarete
Vieira Pedro, Eliana Marcolino, Eliane Mergulhão, Fabio Corniani, Vebis Stevanin Jr.,
Claudemir Bertuolo, Lidiane Brito, Denis Renó e Flavio Archangelo.
Agradeço aos professores do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP,
em especial ao Professor José Marques de Melo pela competência e entusiasmo.
Agradeço aos funcionários da Universidade Metodista em especial ‘a santa’ Damiana de
Oliveira, a Amanda Ferreira e a Márcia Piton. Reconheço também os funcionários dos museus,
bibliotecas e a fins aos quais visitei. Em especial, agradeço a atenção do Capitão Francisco José
Corrêa Martins, Chefe da Divisão de História do Arquivo Histórico do Exército.
Agradeço a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior) pela bolsa
de estudos.
Enfim, agradeço a todos que, de maneira direta e indireta, contribuíram para a conclusão dessa
dissertação de mestrado. Mais uma etapa vencida!
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................09
Capítulo I. PROPAGANDA IDEOLÓGICA, MANIFESTOS REPUBLICANOS E
‘PROPAGANDISTAS’
1. Propaganda Ideológica..................................................................................................16
1.2. Codificação, Controle Ideológico, Contra Propaganda e Difusão.......................18
1.3. Propaganda Política...................................................................................................20
1.4.Manifestos Republicanos............................................................................................24
1.4.1. Partidos Republicanos e Imprensa..............................................................26
1.5. ‘Propagandistas’........................................................................................................30
1.5.1 Quintino Bocayúva......................................................................................31
1.5.2. Silva Jardim................................................................................................33
1.5.3. Rui Barbosa................................................................................................36
1.5.4. Benjamin Constant......................................................................................40
Capítulo II. BIOGRAFIA POLÍTICA DE DEODORO
1. Pequena biografia de Manoel Deodoro da Fonseca.....................................................44
1.2. Marchas e contra-marchas da Proclamação da República.........................................50
1.3. Governo Provisório....................................................................................................53
1.3.1. Assalto a redação d’A Tribuna....................................................................54
1.4. A imprensa no final do século XIX...........................................................................59
Capítulo III. A PROPAGANDA DA OPOSIÇÃO
1. A Propaganda da Oposição...........................................................................................67
1.2. Cartazes e Boletins....................................................................................................68
1.3. Charges e Festas........................................................................................................70
1.3.1. As charges de Ângelo Agostini...................................................................72
1.4. Eleições Constitucionais............................................................................................82
1.4.1. Lançamento da candidatura de Deodoro.....................................................85
6
1.5. Discursos de Deodoro................................................................................................87
1.6. O jornal ‘bomba’........................................................................................................88
Capítulo IV. A PROPAGANDA DA SITUAÇÃO
1. A campanha eleitoral de Deodoro................................................................................90
1.2. Alianças e reuniões de Campos Sales.......................................................................95
1.3. Manifestações de apoio e repúdio.............................................................................97
1.4. Promulgação da Constituição....................................................................................99
1.5. A Eleição.................................................................................................................100
1.5.1. A Posse......................................................................................................101
1.5.2. Cobertura d’O País na eleição..................................................................103
1.6. Dissolução do Congresso, renúncia e morte de Deodoro........................................111
CONCLUSÃO..........................................................................................................................113
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................117
OUTRAS OBRAS CONSULTADAS.....................................................................................124
ANEXOS...................................................................................................................................134
Anexo I Acervos com documentos e objetos pessoais de Deodoro da Fonseca.........134
7
RESUMO
DEODORO DA FONSECA - A PROPAGANDA POLÍTICA DO PRIMEIRO PRESIDENTE
DO BRASIL
Estudo sobre a história política do primeiro presidente do Brasil, Manoel Deodoro da Fonseca,
na ótica da propaganda política. Os objetivos foram resgatar os materiais de propaganda
utilizados pelo movimento republicano que culminou com a Proclamação da República chefiada
por Deodoro em 15 de novembro de 1889. Posteriormente, compreender o processo eleitoral ao
qual o generalíssimo foi escolhido presidente pelos congressistas, por meio do voto indireto, no
dia 25 de fevereiro de 1891. A metodologia adotada foi a Pesquisa Histórica enfatizando o
estudo bibliográfico e documental. Também foram descritas as charges publicadas na Revista
Illustrada no Governo Provisório, a cobertura do jornal O País na eleição presidencial e o
cenário de censura na imprensa da época. Na conclusão consta que Deodoro não fez campanha
eleitoral. Nem precisou, pois caso não fosse eleito, o Exército o proclamaria ditador. No
entanto, os deodoristas convenceram os deputados e senadores a votarem no marechal. Já, a
oposição fez campanha política lançando edição extra de jornal, espalhando cartazes pela
Capital Federal e aprovando moções de repúdio à candidatura da situação. Essa eleição foi
simplesmente uma formalidade para manter Deodoro no cargo mais importante do país.
Palavraschave: Deodoro da Fonseca, Propaganda Política, Proclamação da República e
Impressa no final do século XIX.
ABSTRACT
DEODORO DA FONSECA THE POLITICS PROPAGANDA OF THE FIRST PRESIDENT
OF BRAZIL
Study of politic history of the first president of Brazil, Manoel Deodoro da Fonseca, in the
optics of the propaganda politics. The objectives had been to rescue the materials of propaganda
used by the republican movement that culminated with the Announcement of the Republic
commanded for Deodoro in 15 of November of 1889. And later, to understand the electoral
process to which the general were chosen president for the congressmen, by means of the
indirect vote, in day 25 of February of 1891. The adopted methodology was the Historical
Research emphasizing the bibliographical and documentary study. Also they had been described
published charges in the Revista Illustrada in the Provisory Government, the covering that the
periodical O País made of the presidential election and the scene of censorship faced for the
press. In the conclusion it consists that Deodoro did not make electoral campaign. Nor it needed,
therefore in case that not he were elect, the Army to it would proclaim dictator. However, the
deodoristas had convinced the members of the Congress and senators to vote in the marshal.
Already, the opposition made campaign politics launching extra periodical edition spreading
posters for the Federal Capital and approving repudiation motions of the situation candidacy.
This election was simply a formality to keep Deodoro in the position most important of the
country.
Word-key: Deodoro da Fonseca, Propaganda Politics, Announcement of the Republic and
Printed in the end of century XIX.
8
RESUMEN
DEODORO DA FONSECA LA PROPAGANDA POLÍTICA DEL PRIMER PRESIDENTE
DEL BRASIL
Estudio de la historia política del primer presidente del Brasil, Manoel Deodoro da Fonseca, en
la óptica de la propaganda política. Los objetivos habían sido rescatar los materiales de la
propaganda utilizados por el movimiento republicano que culminó con el aviso de la república
ordenada por Deodoro el 15 de noviembre de 1889, y posteriormente comprender el proceso
electoral al cual el generalísimo fue elegido presidente por los congresistas, por medio del voto
indirecto, el día 25 de febrero de 1891. La metodología empleada fue la Pesquisa Histórica
enfatizando el estudio bibliográfico y documental. También habían sido descriptas las cargas
publicadas en la Revista Illustrada durante el Gobierno Provisorio, la cobertura que el periódico
O País hizo de la elección presidencial y el escenario de censura de la prensa de la época. La
conclusión consiste en que Deodoro no hizo campaña electoral. Ni necesitó, por lo tanto en caso
de que el no fuera elegido, el Ejército l0 proclamaría dictador. Sin embargo, los deodoristas
habían convencido a miembros de la cámara de representantes y senadores que votaran al
mariscal. Ya, la oposición hizo la política de la campaña que lanzaba la edición periódica
adicional, empalando los carteles por la Capital Federal y aprobando mocoes de repudio ala
candidatura de la situación. Esta elección fue simplemente una formalidad para mantener
Deodoro en la posición más importante del país.
Palabra-llave: Deodoro da Fonseca, Propaganda Política, Proclamación de la República y
prensa en finales del siglo XIX.
9
INTRODUÇÃO
Divulgação de manifestos, realização de comícios, publicação de artigos e editoriais
doutrinários na imprensa. Essas foram algumas técnicas de propaganda política utilizadas para
instalar a República no Brasil. O responsável por tais ações era um grupo de intelectuais
republicanos denominado ‘propagandistas’, com destaque para Quintino Bocayúva, Silva
Jardim, Rui Barbosa, Benjamin Constant, entre outros.
Apesar da agitação doutrinária, no único meio de comunicação existente na época, a
imprensa, e também nos clubes republicanos e militares, a República no Brasil foi proclamada
por meio de um golpe militar.
Aqui, a pesquisadora faz um parêntese para fazer suas as palavras do ex-presidente do
Brasil, José Sarney, na apresentação que fez ao livro Deodoro: Subsídios para a história, de
Ernesto Sena
1
(1999, p.7). Para ele, a República foi ‘um acidente’.
Os clubes republicanos, àquele tempo, estavam mergulhados na frustração por não ter
encontrado eco na opinião pública sua pregação para a mudança do regime. As últimas
eleições para o Parlamento do Império mostraram o inexpressivo desempenho da idéia
republicana. Elegeram-se poucos representantes, sem qualquer peso no Legislativo. O
debate da República não figurava na pauta política. No Exército, a situação era diferente.
Ele não era republicano, mas alguns oficiais, discípulos de Benjamin Constant,
formador, pela cátedra que exercia na Escola Militar, de muitos militares, detinham
pequenos nichos republicanos, muito bem colocados, principalmente na guarnição da
corte, e ativos mais pelo ressentimento do Exército contra o tratamento que a Monarquia
lhes dispensava do que pelas idéias. A República, para estes, era a libertação do Exército
da tutela dos gabinetes, tidos e havidos como inimigos da corporação, à qual perseguiam,
discriminavam e humilhavam. Os militares julgavam-se dignos do respeito nacional pela
sua ação na defesa da unidade nacional, na guerra do Paraguai, na sustentação da ordem.
Ainda como descreve Sarney (SENA, 1999, p.8), entre os ‘marginalizados’ do debate
político, encontrava-se Manuel Deodoro da Fonseca.
Era herói de guerra, militar totalmente dedicado às suas tarefas profissionais, sem
ligações maiores na política, avesso por temperamento a composições, enérgico,
exaltado, colérico e gozando de um grande respeito e liderança, sobretudo entre os mais
exaltados. Para ele, o Exército era tudo, estava sempre alerta na defesa de suas
prerrogativas e na exaltação dos deveres da Pátria para com ele. Por isso revoltavam-no
as notícias de desprestígio e manobras para diminuir sua corporação. Este foi o filão que
descobriram os oficiais republicanos para atraí-lo a um golpe militar. Primeiro, lavar a
1
Ernesto Sena e Tobias Monteiro foram responsáveis pelo pioneirismo na reportagem histórica (SENA, 1999,
p.10).
10
honra da corporação, destituir o Gabinete e, assim, dar um passo curto para chegar à
República. Mena Barreto e Sebastião Bandeira, oficiais ligados a Deodoro e com ele
solidários nas suas desavenças com Silveira Martins no Rio Grande do Sul, procuraram-
no em 6 de outubro de 1889, menos de sessenta dias antes do 15 de Novembro [...].
Estava aberto o caminho para levar o Marechal à República. Nessa linha passaram a agir,
intrigar e levantar a tropa. De ideal da República, nada, só os cabeças pensavam nisso e
foram de grande capacidade e espertos.
Esse foi o contexto no qual Deodoro da Fonseca proclamou a República e se tornou
chefe do Governo Provisório. Portanto, ocupou o cargo mais importante do país, antes mesmo
de ser eleito presidente, o que ocorreu somente em 1891. Nestes primeiros quinze meses de
República, ele enfrentou diversas crises, as quais, contribuíram para contestação de sua
candidatura.
A oposição pregava cartazes nas ruas e distribuía boletins denunciando ações autoritárias
e abusivas do Governo Provisório. Charges em revistas e até um ‘jornal bomba’ foram lançados
nas vésperas da eleição presidencial, em 25 de fevereiro de 1891.
Atitudes como as descritas acima foram combatidas pelo Governo por meio da censura e
ataques a redações de jornais monarquistas, como foi o caso de A Tribuna cuja redação foi
assaltada e seu revisor Joaquim Ferreira Romariz morto durante o ataque. Além disso, poucos
deputados monarquistas conseguiram ocupar uma cadeira na Assembléia Constituinte, no
primeiro pleito após a proclamação.
Nas eleições presidenciais, os deputados e senadores foram pressionados pelas forças do
Exército, a votar em Deodoro. Entretanto, o marechal não pediu, não suplicou, não fez
transações, não propôs barganhas. Preferiu manter sua candidatura discreta, a fim de evitar
polêmicas (MAGALHÃES JÚNIOR, 1957b, p.284).
Os deodoristas familiares e políticos que apoiavam Deodoro - temiam que o caos
tomasse conta do país caso ele não fosse eleito presidente. Conseguiram apoio de clubes e
escolas militares e fecharam alianças com deputados republicanos. Enquanto isso, Campos
Sales tentou convencer Prudente de Morais, a desistir da candidatura de oposição
(MAGALHÃES JÚNIOR, 1957b).
A chapa de Deodoro tinha como candidato a vice-presidente, o almirante Eduardo
Wandenkolk, representando a Marinha. Na oposição, o civil Prudente de Morais, que exercia o
cargo de presidente do Congresso, e seu vice, o militar Floriano Peixoto.
11
O resultado da eleição presidencial demonstrou a força da oposição. Deodoro foi eleito
presidente pelo voto indireto dos congressistas. Conseguiu 129 votos contra 79 de Prudente de
Morais. Para vice-presidente, cuja votação ocorreu em seguida, a oposição de Floriano Peixoto
venceu com 153 votos contra 57 de Eduardo Wandenkolk e 12 de Prudente de Morais. A
eleição do vice-presidente demonstrou a insatisfação dos congressistas para com o governo de
Deodoro, apesar dos esforços deste, em controlar a oposição.
O desgosto de Deodoro foi à cerimônia de posse, quando os deputados o receberam em
silêncio, enquanto Floriano fora aplaudido de pé.
Nos meses seguintes, Deodoro dissolve o Congresso numa tentativa de conter as revoltas
e protestos que se espalhavam na capital e demais regiões do país. Renunciou ao cargo em 23 de
novembro de 1891, nove meses após ter sido eleito presidente. Foi Floriano Peixoto quem
terminou o primeiro mandato presidencial do Brasil.
Os fatos descritos acima serão mais bem explorados no corpo da dissertação de mestrado
que integra o projeto de pesquisa ‘as eleições presidenciais na ótica da propaganda política’,
coordenado desde 1997 pelo professor Dr. Adolpho Carlos Françoso Queiroz, no Programa de
Pós-Graduação em Comunicação Social na Universidade Metodista de São Paulo.
Deodoro é lembrado em todo país por meio de nome de ruas, avenidas, praças, estação
de metrô, monumentos e até uma cidade em sua terra natal, no Estado da Alagoas. Passaram-se
117 anos, mas o mito do ‘terceiro imperador do Brasil’
2
, continua vivo.
Essa pesquisa enriquece o pensamento comunicacional brasileiro por meio do resgate da
obra do ex-presidente Deodoro da Fonseca, sob a ótica da propaganda política, estabelecendo
novos conceitos e completando os existentes. Também é rica a interface da comunicação com a
história, sociologia, ciências políticas, antropologia, psicologia e filosofia.
No estudo da primeira campanha presidencial no país, a pesquisadora apontou a
presença de materiais de propaganda política como panfletos, manifestos, discursos, comícios,
textos ideológicos e charges publicadas na imprensa. Também mostrou como foi à cobertura da
eleição presidencial, especialmente no jornal O País (1884), um dos mais representativos da
2
Esta definição foi dada pelo professor José Marques de Melo, na qualificação desta dissertação, quando explicava
que Deodoro, um monarquista, conseguiu chegar à presidência da República do Brasil.
12
época, e da repercussão deste pleito nos jornais O Estado de S. Paulo (1875), Gazeta de
Notícias (1875) e Jornal do Commercio
3
.
De Luca (2005, p.111) reflete sobre a escrita da história ‘por meio da’ imprensa.
“Reconhecia-se, portanto, a importância de tais impressões e não era nova a preocupação de se
escrever a História ‘da’ imprensa, mas relutava-se em mobilizá-los para a escrita da história ‘por
meio da’ imprensa”.
Referente à imprensa ilustrada, a pesquisadora faz uma breve descrição das charges de
Ângelo Agostini, publicadas na Revista Ilustrada, no período que vai da Proclamação da
República à eleição presidencial. Outros veículos de comunicação como a revista Mequetrefe e
Vida Fluminense, e o jornal Cidade do Rio, também publicaram charges satirizando os fatos que
ocorriam ‘em torno’ e ‘com’ Deodoro.
A metodologia empregada foi à Pesquisa Histórica a partir de investigação bibliográfica
e de documentos. Pesquisa Histórica na definição de José Honório Rodrigues (1982, p.21) é “a
descoberta cuidadosa, exaustiva e diligente de novos fatos históricos, a busca da documentação
que prove a existência dos mesmos, permita sua incorporação ao escrito histórico ou a revisão e
interpretação nova da História”. A autora completa: consiste na descoberta dos fatos, na
documentação, e no uso correto dos achados.
O ‘fato novo’ da dissertação é relatar os materiais de propaganda política que ajudaram a
eleger Deodoro, primeiro presidente do Brasil. A definição que mais se aproxima da propaganda
política empregada no final do século XIX é a de Nelson Jahr Garcia (1986) na obra O que é
propaganda ideológica.
A propaganda se baseava na oralidade, escrita e imagem. Por meio da oralidade eram
feitos discursos e comícios para algumas dezenas de pessoas que se encontravam nos clubes
republicanos, em festas e no Congresso. O alcance da voz era restrito.
Notícias, manifestos, opiniões, editoriais e demais gêneros informativos e opinativos,
veiculados na imprensa escrita (jornais e revistas), eram tidos como forma de doutrinação.
Porém, os veículos eram lidos por uma seleta classe social, pois a população brasileira,
maciçamente analfabeta, não tinha condições financeiras de comprar jornais. A diagramação
3
Estes jornais foram os únicos encontrados em microfilme, na Biblioteca Nacional, na semana que antecedeu e
procedeu ao dia 25 de fevereiro de 1891, quando ocorreu a eleição presidencial. A Biblioteca Nacional possui o
maior arquivo de jornais impressos do país.
13
dos jornais não atraia os leitores, pois o tamanho da letra pequeno (devido ao número de coluna
por página que variava de seis a oito) e a quase inexistência de ilustrações e fotografias, não
contribuía para a disseminação da leitura dos veículos de comunicação da época. A imagem
aparecia somente nas charges publicadas em revistas e nos cartazes espalhados nas ruas da
capital.
A técnica da análise bibliográfica e documental foi baseada em autores como Raimundo
Magalhães Junior (1957b) - que escreveu a biografia mais completa de Deodoro; Roberto
Piragibe da Fonseca (1979) que revelou detalhes da vida política do marechal; Hélio Silva
(1983 e 2005), tanto na série ‘Os presidentes Deodoro da Fonseca’ como em ‘1889: A
República não esperou o amanhecer’ - contribuiu com uma biografia de Deodoro, assim como
Márcio Tavares D’Amaral (1974); José Honório Rodrigues (1982) definiu Pesquisa Histórica;
Cruz Costa (1974) mostrou uma ‘pequena história da República’; Ernesto Sena (1999) em
‘Deodoro: subsídios para a história’ reuniu um repertório do arquivo pessoal do marechal;
Antônio da Silva Jardim (1978), propagandista da República, deixou seus discursos, manifestos
e artigos reunidos na obra ‘Propaganda Republicana (1888-1889)’; outro ilustre propagandista
Quintino Bocayúva - teve sua bibliografia escrita por Cyro Silva (1962); Rui Barbosa (1952) -
ministro no governo provisório de Deodoro e um dos autores da Constituição de 1891- deixou
seus discursos parlamentares registrados em ‘Obras completas de Rui Barbosa O Partido
Republicano Conservador’; Campos Sales (1983) deixou os importantes relatos ‘Da propaganda
a presidência’; Carlos de Laet (1986), jornalista monarquista, deixou seu relato da censura nos
jornais oposicionistas; e Nelson Jahr Garcia (1986) definiu ‘O que é propaganda ideológica’.
Baseada nessas e em outras obras que constam nas referências, a autora reconstruiu o
cenário de negociações políticas que culminaram com a eleição de Deodoro da Fonseca de
modo a identificar a presença de propaganda política. Pouquíssimas fontes primárias puderam
ser consultadas devido à indisponibilidade no atendimento dos arquivos públicos (vide anexos).
Contudo, parte dos documentos da época está reproduzida nos livros citados.
Fontes históricas são mapas, jornais, fotografias, ilustrações, caricaturas, documentos de
ministérios, escrituras de estabelecimentos, filmes de propaganda política, programas de festas
públicas e particulares, homenagens, discursos, trajes especiais, discursos, entre outros (DE
LUCA, 2005).
14
Para desenvolver o estudo foram visitados as bibliotecas da Universidade Metodista de
São Paulo (UMESP) e da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP); Escola de
Comunicação e Artes na Universidade de São Paulo (ECA/USP); FFLCH (Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas) na USP; IEB (Instituto de Estudos Brasileiros) na USP;
Museu Paulista da USP; além da Biblioteca Mário de Andrade/SP e da Biblioteca Nacional/RJ.
Também se consultou o Arquivo Público do Estado de São Paulo; Museu de Comunicação
Social Hipólito José da Costa, em Porto Alegre/RS; Museu Militar em Porto Alegre/RS;
Arquivo Histórico do Exército no Palácio Duque de Caxias/RJ; Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro/RJ e Museu Histórico Nacional/RJ; Museu Histórico do Exército no Forte de
Copacabana/RJ
4
. Algumas obras raras foram adquiridas em sebos nas cidades de São Paulo, Rio
de Janeiro e Ribeirão Preto/SP.
Explicando as técnicas de pesquisa bibliográfica e documental, Gil (1989, p. 48)
confirma que “boa parte dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisa
bibliográfica”, justamente por ela ser capaz de nos colocar em contato direto com tudo que foi
escrito.
O primeiro capítulo da dissertação aborda o conceito de propaganda ideológica que
segundo Garcia (1986) pode ser exercida por meio da codificação, controle ideológico, contra
propaganda e difusão. Também descreve a doutrina republicana nos manifestos e jornais, as
quais eram discutidas nas reuniões dos Partidos Republicanos em diversos Estados do país.
Além da contribuição dos propagandistas como Quintino Bocayúva, Silva Jardim, Rui Barbosa
e Benjamin Constant na divulgação da nova forma de governo.
O segundo capítulo descreve a vida de Deodoro da Fonseca, enfocando sua carreira
política até a Proclamação da República
5
. A pesquisadora ressalta a atuação do marechal no
4
A pesquisadora concorda com Carlos Bacellar (2005, p. 24) quando ele afirma que os arquivos públicos no Brasil
são deficitários. “Cabe ao historiador desvendar onde se encontram os papéis que podem lhe servir, muitas vezes
ultrapassando obstáculos burocráticos e a falta de informação organizada”.
A pesquisadora não conseguiu ter acesso aos documentos pessoais de Deodoro que estão em posse de Maria
Guadalupe Piragibe da Fonseca (sobrinha-neta de Deodoro), pois esta informou que os documentos estavam em
processo de doação. Também não foi possível verificar o arquivo do Museu Histórico Nacional no RJ, pois no mês
de janeiro de 2007, quando a pesquisadora esteve no local, a única funcionária responsável estava de férias e com
agenda de visitas lotada até março corrente.
5
A pesquisadora não tem pretensão de escrever uma biografia de Deodoro da Fonseca, mas somente contextualizar
alguns fatos de sua vida que contribuíram para que ele fosse eleito presidente do país. Portanto, este é um trabalho
descritivo que buscou compreender por meio da revisão de literatura, visitas a museus e bibliotecas e análise nos
jornais da época, qual as ações eleitorais podem ter sido feitas pelo marechal e seus de aliados.
15
golpe da proclamação e aprofunda a principal crise do Governo Provisório, o assalto à redação
do jornal monarquista A Tribuna que culminou com a morte de um revisor. No final consta o
panorama da imprensa neste início de República.
O terceiro capítulo traz relatos dos materiais de propaganda política utilizada pelos
opositores de Deodoro, como cartazes, boletins e panfletos. A pesquisadora reproduziu e fez
uma breve descrição das charges de Ângelo Agostini que satirizavam o marechal. Também
contextualizou o ‘lançamento da candidatura’ de Deodoro, os discursos do ‘candidato’ Deodoro
no Congresso e o ‘jornal bomba’ lançado nas vésperas da primeira eleição presidencial do
Brasil.
No quarto e último capítulo, a pesquisadora apresenta quais foram os materiais de
propaganda política utilizados pelos deodoristas - apoiadores de Deodoro - para elegê-lo
presidente. Enquanto Campos Sales realizava reuniões com os principais opositores de
Deodoro, a fim de buscar a desistência da candidatura de Prudente de Morais, os deodoristas
conseguiram fechar alianças políticas com deputados e apoio apor meio de manifestos da classe
militar. A pesquisadora também mostra como foi à cobertura do jornal O País na eleição
presidencial
6
.
6
Fica aqui registrado o ‘compromisso’ da pesquisadora pelo tema da Proclamação da República, um dos mais
retratados na literatura brasileira.
16
Capítulo 1. PROPAGANDA IDEOLÓGICA, MANIFESTOS REPUBLICANOS E
‘PROPAGANDISTAS’
O primeiro capítulo da dissertação discorre sobre o conceito de propaganda ideológica
proposto por Nelson Jahr Garcia (1986). Também descreve a doutrina republicana dos
manifestos e jornais, a qual era discutida em reuniões dos Partidos Republicanos em diversos
Estados. Além da contribuição dos propagandistas Quintino Bocayúva, Silva Jardim, Rui
Barbosa e Benjamin Constant na divulgação da nova forma de governo.
1. Propaganda ideológica
7
Desde que existem competições políticas, isto é, desde o início do mundo, a
propaganda existe e desempenha seu papel (DOMENACH, 1963, p. 8).
Para Nelson Jahr Garcia (1986, p.10-11), a função da propaganda ideológica é “formar a
maior parte das idéias e convicções dos indivíduos e, com isso, orientar todo o seu
comportamento social”. Ele explica que “as mensagens apresentam uma versão da realidade a
partir da qual se propõe a necessidade de manter a sociedade nas condições em que se encontra
ou de transformá-la em sua estrutura econômica, regime político ou sistema cultural”.
A propaganda republicana está calcada na ideologia do sistema político da República.
“Não é mais tão fácil perceber que se trata de propaganda e que há pessoas tentando convencer
outras a se comportarem de determinada maneira” (GARCIA, 1986, p.11).
Por toda parte e em todos os momentos são propagadas idéias que interferem nas
opiniões das pessoas sem que elas se apercebam disso. Desse modo, são levadas a agir
de uma ou outra forma que lhes é imposta, mas que parece por elas escolhida livremente.
Obrigadas a conhecer a realidade somente naqueles aspectos que tenham sido
previamente permitidos e liberados, acabam tão envolvidos que não têm alternativa
senão a de pensar e agir de acordo com o que pretendem dela (GARCIA, 1986, p.12).
Garcia (1986, p.25) defende que uma ideologia é composta por três tipos de idéias: as
representações, os valores e as normas. Representações “são idéias a respeito de como é a
7
A palavra propaganda vem do latim propagare, cuja utilização, próxima da que conhecemos hoje, é fruto da
Contra-Reforma, movimento desencadeado pela Igreja Católica a partir do século XVI (Informações do Capitão
Francisco José Corrêa Martins, Chefe da Divisão de História do Arquivo Histórico do Exército, obtidas por e-mail
enviado à pesquisadora no dia 4 março 2007).
17
realidade”. Valores “são idéias a respeito de como deve ser a realidade” e Normas “são aquelas
idéias a respeito do que deve ser feito para transformar a realidade ou mantê-la nas condições
em que se encontra”.
A ideologia republicana se baseava nos princípios democráticos como a liberdade de
ação e expressão, onde o poder e a responsabilidade cívica são exercidos por todos os cidadãos,
diretamente ou por meio de seus representantes livremente eleitos.
O autor diferencia propaganda eleitoral e ideológica. Ele explica que a propaganda
eleitoral é geralmente utilizada em vésperas de eleições. Mensagens são veiculadas nos meios
de comunicação e divulgam o discurso do candidato. “Apelos pessoais, convidam a votar em
determinado candidato, enaltecem suas qualidades positivas e informam sobre as obras que
realizou no passado e as que irá fazer no futuro, se eleito (GARCIA, 1986, p.11).
A propaganda eleitoral de Deodoro foi quase inexistente. Ele não pediu votos, não fez
comícios, não distribuiu santinhos
8
, nem publicou artigos na imprensa justificando o motivo
pelo qual queria ‘continuar’ a ocupar o cargo mais importante do país. Somente discursou no
Congresso defendendo as ações empregadas por ele durante o governo provisório
(MAGALHÃES JUNIOR, 1957b).
A primeira campanha eleitoral foi baseada no contato pessoal e nas alianças fechadas
pelos deodoristas’ familiares e políticos que apoiaram Deodoro-. Eles conseguiram apoios de
clubes militares e declarações de políticos que ajudaram a legitimar o marechal no poder. Foi
uma eleição indireta -sem votação popular-.
Quem também diferencia propaganda de publicidade é Domenach (1963, p.10). Segundo
ele, a propaganda não visa objetos comerciais, e sim, políticos. Ela sugere ou impõe crenças e
reflexos que, amiúde, modificam o comportamento, o psiquismo e mesmo as convicções
religiosas ou filosóficas. Já, a publicidade suscita necessidades ou preferências visando a
determinado produto particular.
Garcia (1986, p.15) explica que a “propaganda encarregou-se de enaltecer os
presidentes, apresentando-os como líderes os mais indicados para serem chefes de governo”. Ele
continua, “com a construção de uma imagem positiva dos presidentes, esperava-se conseguir
despertar a confiança da população para suas decisões, explicações e esclarecimentos”.
8
Folheto de mão com foto, nome e número do candidato.
18
1.2. Codificação, Controle Ideológico, Contra Propaganda e Difusão
A propaganda ideológica pode ser exercida por meio da codificação, controle ideológico,
contra propaganda e difusão.
“A codificação é o processo pelo qual as idéias são transformadas em mensagens
passíveis de serem transmitidas e entendidas” (GARCIA, 1986, p.45). Neste mesmo capítulo,
serão revelados os conteúdos dos manifestos republicanos que constituíam “formas de
simplificação em que se encontram selecionadas e destacadas as idéias centrais de uma
determinada ideologia”.
O controle ideológico é exercido por “grupos da classe economicamente mais forte. Eles
os utilizam para a difusão das idéias e opiniões que lhes são favoráveis, não permitindo que se
propaguem ideologias contrárias ou fatos que contestem seus interesses (GARCIA, 1986,
p.51).
Os jornais, tanto republicanos como monarquistas, exercia de maneira concreta o
controle ideológico. Procuravam evitar que “os receptores possam perceber a realidade por
outro prisma que não aquele que lhes é proposto. Fazem isso tanto impedindo a formação de
outras ideologias como neutralizando a difusão das já existentes (GARCIA, 1986, p.51).
Porém, a influencia dos jornais era restrita a uma pequena massa de letrados. O tocante da
população, não era submetida à propaganda da causa republicana.
No Governo Provisório chefiado por Deodoro da Fonseca, o controle ideológico por
meio da censura em jornais, também existiu. O caso mais conhecido foi A Tribuna que teve sua
redação assaltada e deixou de circular por breves períodos (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b).
“Através dela [a censura] se definem os limites do que pode ou não ser divulgado,
neutralizando-se as possibilidades de manifestações contrárias aos valores defendidos pelos
governos (GARCIA, 1986, p.51).
Tanto os monarquistas como os republicanos que não conseguiram “obter o monopólio
das informações através do controle ideológico”, utilizaram a contrapropaganda para neutralizar
as idéias contrárias (GARCIA, 1986, p.60).
Ela se caracteriza pelo emprego de algumas técnicas que visam a amenizar o impacto das
mensagens opostas, anulando seu efeito persuasivo. Procura colocar as idéias dos
adversários em contradição com a realidade dos fatos, com outras idéias defendidas por
19
eles próprios ou em desacordo com certos princípios e valores aceitos e arraigados entre
os receptores. Outras vezes, atua de forma indireta, tentando desmoralizar as idéias, não
pela indicação das contradições que envolvem, mas pela crítica à personalidade ou ao
comportamento daqueles que as sustentam (GARCIA, 1986, p.60).
Os opositores de Deodoro da Fonseca aproveitaram os desentendimentos dele com os
ministros do Governo Provisório -que chegaram a pedir demissão coletiva - para prejudicar sua
campanha à presidência.
A personalidade forte e ditatorial do marechal era difundida e satirizada pelos veículos
de comunicação impressos. “C harges, apelidos e sátiras desmoralizam e desfiguram dirigentes e
líderes políticos, tornando-os engraçados ou mesmo ridículos (GARCIA, 1986, p.64). O autor
continua,quebram, assim, a imagem de respeito que estes pretendem impor e afetam o
conteúdo de suas afirmações”. A Revista Ilustrada de Ângelo Agustini foi o principal veículo
no final do século XIX, divulgador de charges (vide o Capítulo III).
“Dentre as formas de difusão utilizadas pela propaganda ideológica, a oral, através da
palavra falada, ainda é das mais importantes. Empregada desde a antiguidade foi à forma
preferida por inúmeros líderes” (GARCIA, 1986, p.65).
Num contexto mais atual, Renato Costa Dias (2004) justifica que o uso da propaganda
‘boca-a-boca’ de uma pessoa em perfeito estado de sanidade mental tende a ser divulgada com
sete pessoas, de acordo com uma pesquisa feita por uma empresa americana.
A principal ferramenta de propaganda utilizada pelos ‘deodoristas’ foi a oral por meio de
discursos feitos em reuniões, festas e em conversas informais.
O discurso e a pregação constituem as únicas formas que permitem reunir um grande
número de pessoas, até mesmo em grandes praças públicas, de tal forma que cada
indivíduo sinta sua personalidade diluir-se na multidão, percebendo-se como parte de um
todo e tendendo a acompanhar as manifestações da maioria. Tem-se aí a possibilidade de
produzir uma impressão de unanimidade tão persuasiva quanto os argumentos do orador
(GARCIA, 1986, p.65).
A seleção de informações também serve para difundir a propaganda ideológica. A
manipulação dos fatos segundo Garcia (1986, p.68) é a “fragmentação da realidade, implícita na
própria forma como são apresentadas as notícias”. Continuando o pensamento do autor, “outra
forma de manip ulação é realizada pelo maior ou menor destaque que se dá à notícia. A página
em que é colocada, a dimensão do texto, o título, o maior ou menor número de pormenores
20
contidos na descrição permite dar aos fatos um ou outro significado”. Esta análise dos jornais
está detalhada no quarto capítulo da dissertação.
Outras maneiras de difundir a propaganda segundo Garcia (1968, p.75) são “cartazes,
ilustrados ou não, em cores ou em branco e preto, utilizado para afixação em muros e paredes
visando transmitir algumas idéias fundamentais com impacto rápido”. Em brevíssimo relato de
um livro consultado, consta à pregação de cartazes em ruas da capital do país.
Além dos cartazes, inúmeros impressos auxiliaram na difusão de mensagens
republicanas. “Os ‘manifestos’ explicam e defendem uma determinada posição perante certos
fatos econômicos e políticos. Os ‘panfletos’ divulgam fatos, notícias ou crítica a determinadas
idéias e propostas”. Também há “os ‘volantes’ que servem para difundir nomes, frases, slogans,
palavras de ordem e símbolos ou para anunciar e convocar reuniões e movimentos” (GARCIA,
1986, p.75).
O período que antecedeu a Proclamação da República foi de fortalecimento para a
imprensa. O número de jornais republicanos chegou a setenta e quatro (MENEZES, 1974, p.
60). Alguns jornais oposicionistas foram visíveis na primeira eleição presidencial, como
comprova o texto:
A 10 de janeiro de 1891, o redator-chefe da A Tribuna, Antônio de Medeiros, fazia
circular extraordinariamente esse jornal, tirando uma edição especial, um número único,
inesperado, cujo objetivo parecia ser o de historiar o ataque levado a efeito contra a sua
redação a 29 de novembro do ano anterior, mas era, em verdade, um violento manifesto
contra a candidatura do marechal. O panfleto de Antônio de Medeiros repercutiu no
Congresso Constituinte, através de César Zama, que fez a leitura integral da primeira
página de A Tribuna, de modo que ficasse constando dos anais do Congresso
Constituinte o libelo de Antônio de Medeiros (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 278).
Além dos veículos impressos, Garcia confirma que “estátuas e bustos concretizam o
prestígio daqueles que devem ser considerados heróis”. Assim acontece com Deodoro.
Após a explicação dos conceitos e das técnicas de propaganda ideológica utilizadas no
final do século XIX, segue abaixo, o explicativo da origem, conceito e profissionalização da
propaganda política.
1.3. Propaganda Política
21
Se Jesus apenas com a palavra falada, tendo apenas o apóstolo Paulo,
como Assessor de Imprensa, e mais onze apóstolos para assessorá-lo nas
outras áreas, conseguiu repercussão universal, imagine hoje, o que não
conseguiria se tivesse a sua disposição Jornal, Rádio e TV (DIAS, 2004,
apud Roberto Dalpiac Rech).
As origens da propaganda política
9
remetem ao século XIX, acompanhando o
desenvolvimento das técnicas de informação e de comunicação. No início, a propaganda utiliza
a escrita, palavra e imagem, como sustentáculos permanentes. Porém, a escrita, o mais possante
veículo de propaganda, depois da invenção da imprensa, era prejudicado por seu alto preço e
pela morosidade de distribuição; a palavra era limitada pelo alcance da voz humana; e a imagem
não ia além dos desenhos ou pinturas, reproduzidos mediante custosos processos
(DOMENACH, 1963, p.15).
Segundo Rubens Figueiredo (1994, p.10), propaganda política é um conjunto de técnicas
e procedimentos que tem como objetivos “adequar um candidato ao seu eleitorado potencial,
procurando fazê-lo [...] conhecido do maior número de eleitores possível e, em seguida,
mostrando-o diferente de seus adversários, obviamente melhor do que eles”.
Nas últimas décadas, a palavra marketing político -mais abrangente que propaganda
política-, começou a ser utilizada maciçamente. Manhanelli (1992, p.20) explica uma das
diferenças. “Na fase de propaganda, os candidatos desenvolviam esforços para ‘vender’ e
‘difundir’ as ações sociais que produziam, tentando persuadir a sociedade à ‘comprá-las’ como
sendo o melhor que poderia ser feito”. Na fase de marketing, “primeiro o candidato procura
9
A propaganda política remonta ao século XIX. Nos pleitos presidenciais dos EUA, a propaganda e os ataques via
imprensa eram visíveis, ressaltando-se de Andrew Jackson e Abraham Lincoln. Inclusive, nas indicações dos
partidos isso acontecia. No Brasil, durante o Império, os jornais já eram utilizados como propaganda (Informações
do Capitão Francisco José Corrêa Martins, Chefe da Divisão de História do Arquivo Histórico do Exército, obtida
por e-mail enviado à pesquisadora no dia 4 março 2007).
Para o francês Jean-Marie Domenach que conceituou ‘A propaganda política’, em obra homônima publicada no
ano de 1963, a propaganda política remonta ao século XX e não XIX. Na introdução do livro, ele justifica que “um
dos fenômenos dominantes da primeira metade do século XX é a propaganda política. Sem ela, os grandes
acontecimentos da nossa época: a revolução comunista e o fascismo, não seriam sequer concebíveis”.
Posteriormente o psicólogo russo Serge Tchakotine (1967) publica ‘Mistificação das massas pela propaganda
política’, enfocando as ações de Mussolini (fascismo) e de Hitler (nazismo).
Cabe esclarecer que a pesquisadora não ‘se apoderou’ desses termos empregados na primeira metade do século
XX, pois o período analisado na dissertação é o final do século XIX. Ela procurou demonstrar a importância da
propaganda utilizada nos anos de 1889 a 1891, quando a propaganda no Brasil era dirigida a um pequeno grupo de
intelectuais.
22
obter informações sobre aquilo que a sociedade quer, para aí então produzir propostas sociais
adequadas a estes desejos”.
Carlos Augusto Manhanelli (1992, p.19), afirma que “na fase mais antiga, os candidatos
utilizavam-se de princípios básicos de divulgação para implantar sua campanha, fazendo o que
seus conselheiros ou assessores, e eles próprios, achavam que seria melhor para os cidadãos”.
Assim Deodoro governou o país, com pensamentos e ações próprias. Levava em consideração
somente às opiniões feitas por familiares e amigos próximos como foi com o Barão de Lucena.
Nas vésperas da eleição presidencial, Campos Sales fechou alianças com políticos a favor do
marechal, mas tudo, sem um único pedido de Deodoro.
Para Rubens Figueiredo (1994, p.11), “o marketing político é algo mais permanente, é
quando o político no poder se preocupa em sintonizar sua administração com os anseios dos
cidadãos. Trata-se de um trabalho de longo prazo”, expõe. “Já o marketing eleitoral aparece na
hora do ‘vamos ver’, quando todos os candidatos saem à procura de um mandato”.
No caso da campanha eleitoral de Deodoro, as poucas técnicas de propaganda política e
ideológica utilizadas, não podem ser chamadas de marketing. Ele não procurou ser conhecido
pelo maior número de eleitores possível, mas foi escolhido pelos deputados da Assembléia
Constituinte. Não foram utilizados procedimentos para mostrá-lo superior a seus adversários,
somente a difusão oral e impressa, que eram os meios de comunicação mais eficientes. Na
época, não existia, rádio, televisão e Internet, principais veículos de comunicação usados nas
atuais campanhas.
O marketing político, segundo Rubens Figueiredo (1994, p.24), se profissionalizou
quando um candidato contratou uma agência de publicidade para fazer sua propaganda na
televisão. Isso ocorreu em 1952, nos EUA, com o candidato general Eisenhower. Ele foi
acusado pelos adversários de ‘tentar se vender como se vende um sabonete’. Portanto, a
profissionalização das campanhas políticas registrava reações negativas desde o início. Em
1960, aconteceu o primeiro debate televisivo entre os candidatos americanos John Kenedy e
Richard Nixon.
No Brasil, o marketing político é um fenômeno recente. Para Figueiredo (1994, p.26-27)
o motivo do atraso são as “descontinuidades do regime democrático”. Somente nas eleições
presidenciais de 1982, o marketing político passou a ser utilizado com mais rigor. Já para
23
Francisco Gaudêncio Torquato (1985, p.14), “os tempos de mudança e as crescentes exigências
sociais não mais aceitam improvisações. O marketing político, portanto, está fadado a instalar-
se definitivamente no país”.
Figueiredo (1994, p.27) defende que os presidentes Getúlio Vargas e Jânio Quadros,
tiveram sua ‘marca’ política, mas “a atuação de ambos, pouco tinha a ver com o marketing
político moderno. Tratava-se da era da quase pré-comunicação de massa”. No caso do marechal
Deodoro da Fonseca, predominou a comunicação informal, o seu feeling pessoal
10
era forte.
Na classificação do mesmo autor, Deodoro se encaixa em dois tipos de candidatos:
“aquele que tem sólida base corporativa ou que fez alguma coisa importante para alguma
categoria”, pois na carreira militar chegou ao último posto do Exército, o de Marechal. E,
“aquele que ocupou algum cargo público importante e obteve notoriedade ou oportunidade de
controlar a máquina pública”, pois Deodoro presidiu a província do Rio Grande do Sul e chefiou
o Governo Provisório.
Na opinião de Ney Lima Figueiredo (2002, p.15), o marketing político sempre foi
utilizado pelas grandes figuras da História. “Hitler, Stálin, Napoleão empregaram seu marketing
político pessoal na propagação das suas idéias e propósitos”. Ele confirma que nas últimas
décadas, no Brasil, “foi o candidato eleito Fernando Collor que utilizou maneira consistente,
talentosa e competente todas as estratégias do marketing político que os políticos tradicionais
tiveram tanta dificuldade para enfrentá-lo na campanha presidencial de 1989”.
Ronald Amaral Kuntz (1982, p.15-16) ressalta uma peculiaridade do povo brasileiro, de
votar no candidato e não em seu partido, porém, segundo eles “é imprescindível que o assessor
procure ressalvar qualidades ou circunstâncias que favoreçam o político sem indispô-lo com o
seu partido”. No caso de Deodoro, o Partido Republicano nada influenciou em sua eleição,
mesmo porque ele deixou de ser monarquista somente nas vésperas da Proclamação.
Nesta linha contemporânea, Renato Costa Dias (2004) confirma que as eleições por
meio do marketing político - saíram do cenário das disputas tradicionais para transformar-se em
verdadeiros teatros de guerra moderna, na qual vence não o melhor candidato, mas o
estrategicamente melhor posicionado, pois o marketing bem sucedido vai requerer o apoio em
estratégias centradas na competição.
10
Roberto Piragibe da Fonseca (1979, p.110) confirma que “Deodoro era forte nas intuições” políticas. Na vida
pública, ele demonstrou que não confiava nos políticos, inclusive teve poucos amigos.
24
Este foi o ‘passeio’ pelas origens e atualidades da propaganda política. A seguir, a
pesquisadora volta ao passado e mostra a importância dos manifestos na doutrinação
republicana.
1.4. Manifestos Republicanos
Ricardo Vélez Rodrigues (1994) relata que os manifestos republicanos foram à base
fundamental para o estudo da instalação da República no país. Distribuídos de 1817 a 1889, eles
defendiam a concepção política republicana e o liberalismo moderado
11
. Segue m abaixo alguns
dos mais relevantes manifestos.
No Manifesto da Revolução Pernambucana de 1817, embora não explícito o termo
República, há elementos que indicam a reivindicação de movimentos declaradamente
republicanos, como a separação da Província de Pernambuco com relação à Corte, a crítica ao
despotismo do poder central, a defesa de uma vaga idéia democrática, bem como a insistência
na necessidade de um governo ilustrado.
Renato Lopes Leite (2000, p.279-81), confirma que em outubro de 1822 havia um ‘clube
dos conspiradores’ que se reunia secretamente na capital e que “pretendia mudar a forma de
governo e estabelecer uma república”.
O Manifesto do Levante Pernambucano de 1824 é uma profissão de fé liberal, inspirada
em parte, na literatura revolucionária americana e francesa.
Da revolução americana toma as idéias, expressadas por Jefferson na declaração da
independência dos Estados Unidos, em 1776, dos direitos inalienáveis do indivíduo á
vida. Da literatura da Revolução Francesa são as idéias de soberania da nação -uma
soberana assembléia constituinte da nossa escolha e confiança (RODRIGUES, 1994,
p.11).
O Manifesto do Levante Baiano de 1837 ressaltou duas idéias principais: a crítica do
despotismo político e financeiro do Governo Imperial e a reafirmação da luta em prol da
liberdade do povo baiano.
11
O autor omite a Revolução dos Alfaiates, de 1798, conjuração baiana que tinha como modelo a Revolução
Francesa, queria implantar uma república e expediu manifestos ao ‘povo baiano’ (Informações do Capitão
Francisco José Corrêa Martins, Chefe da Divisão de História do Arquivo Histórico do Exército, obtidas por e-mail
enviado à pesquisadora no dia 4 março 2007).
25
Por sua vez, o Manifesto da República de Piratini de 1838, assinado por Bento
Gonçalves da Silva, presidente da república rio-grandense e pelo ministro do Interior, Domingos
José de Almeida, demonstra a idéia separatista que impulsionou a revolução farroupilha.
No entanto, o manifesto mais conhecido é o de 1870, assinado por Joaquim Saldanha
Marinho, ex-presidente de Minas Gerais e São Paulo e por mais 57 republicanos. Publicado na
primeira edição do jornal A República do Rio de Janeiro, o manifesto salientava que o
autoritarismo e o regime de privilégios eram as principais causas da decadência política do
Império.
Os republicanos de 1870 diziam que enquanto houvesse Monarquia hereditária no Brasil,
seria impossível fazer representar os interesses dos cidadãos. O documento atacava o senado
vitalício, o sistema eleitoral, a centralização do poder, o excessivo poder de D. Pedro II e
propunha um novo regime de governo, a República Federativa.
O Manifesto do Congresso do Partido Republicano Paulista de 1873 obedecia à
finalidade prática de divulgar as linhas mestras traçadas no Congresso realizado em São Paulo
naquele ano.
O Manifesto do Clube Republicano do Pará de 1886 demonstrou pela primeira vez “as
idéias de fraternidade americana (geográfica e cronológica: une os países e as diferentes
gerações) e da dimensão mística dessa luta que tem seus próprios mártires” (RODRIGUES
1994, p.22).
Assinado por Saldanha Marinho, Quintino Bocaiúva e Campos Salles, o Manifesto do
Congresso do Partido Republicano Federal de 1887, fez uma ampla crítica à monarquia e ao
sistema de governo monárquico, responsável pela situação de crise vivida no país.
Elaborado por Rangel Pestana, Américo de Campos e Silva Jardim, o Manifesto do
Congresso do Partido Republicano Paulista de 1888, referia-se a Lei Áurea que recém
extinguira a escravatura no Brasil.
O último manifesto antes da Proclamação da República, segundo Rodrigues (1994), foi o
do Partido Republicano de Pernambuco, em 1888. Era uma junção de idéias positivistas que
influenciou os jornais de Recife: A crença (1870), O Americano, O Movimento (1872) e O
trabalho (1873).
26
1.4.1. Partidos Republicanos e Imprensa
O Parlamento e a Imprensa foram veículos essenciais, e bem assim os comícios que
deram a tônica ao movimento. Os clubes republicanos também representaram forma de
arregimentação bastante difundida, numa prática advinda do período imediatamente
anterior ao 15 de novembro, quando se criaram inúmeras dessas associações com o
intuito de propagar o ideal republicano (Sueli QUEIROZ, 1986, p.81).
Em 1870 os republicanos do Rio de Janeiro se julgaram suficientemente numerosos para
fundar um Partido. No dia 3 de novembro daquele ano, 30 pessoas fundaram o primeiro Clube
Republicano ou Partido Republicano (BASBAUM, 1967, p. 207). Um mês depois, foi publicado
o célebre Manifesto que repercutiu em todo país e contribuiu para a formação de novos
partidos
12
republicanos e seus respectivos jornais (SILVA, 1962, p.68).
O Manifesto de 1870 marcou a criação do Partido Republicano Federal. “Se a
organização dos republicanos em um partido político era um fato novo, não eram novas as
idéias republicanas. Elas, tradicionalmente, estavam ligadas, desde antes da Independência, a
todos os movimentos contestadores” (CASALECCHI, 1987, p.40). Para Basbaum (1967,
p.214), o Partido Federal nunca congregou “realmente numa unidade todos os republicanos do
país”.
O jornal A República, órgão oficial do Partido, começou circulando três vezes por
semana. Em outubro de 1871, passou a ser editado em oficinas próprias com doze mil
exemplares diários (SILVA, 1962, p.61). O último exemplar foi em 28 de fevereiro de 1874.
Em 17 de janeiro de 1872, formava-se em São Paulo a comissão organizadora do Partido
Republicano Paulista. A Convenção de Itu, em 1873, estabeleceu as bases da atuação do partido.
“Dentre os vários núcleos organizados pelos republicanos, durante o Império, o de São Paulo foi
o de maior expressão e o único que se estruturou como partido político, desde sua fundação”
(DEBES, 1975, introdução).
Segundo Jardim (1978, p.191-192) “em São Paulo é que ficou mais forte e unido. Mas
de tempos a tempos apareciam jornais, folhetos, de discursos republicanos em todo país”. O
12
Nesta dissertação, a pesquisadora se conteve em descrever somente a criação dos principais Partidos
Republicanos do país, pois quase todas Províncias (Estados), criaram seu partido. No entanto, fica registrado que os
dois principais partidos monárquicos foram o Conservador e o Liberal que se alternaram no poder de 1840 a 1889.
Um terceiro partido foi o Progressista, criado em 1864 (CASALECCHI, 1987, p.37). Durante o Governo
Provisório, em 1890, foi criado o Partido Católico.
27
autor confirma o fortalecimento da imprensa. “Por toda à parte o número dos jornais
republicanos aumenta, derramam-se panfletos e avulsos, os chefes arregimentam os eleitores,
fazem-se festas nos dias de acontecimentos republicanos notáveis, escrevem-se poesias
republicanas, etc”.
No parágrafo acima, destacam-se algumas técnicas de propaganda política como
panfletos e avulsos, festas comemorativas, discursos e poesias. Tais materiais contribuíram para
a doutrinação republicana.
As convenções do Partido Paulista não foram realizadas em todos os anos, mas os
manifestos foram lançados em 1872, 1874, 1878, 1880 e 1888 (CASALECCHI, 1987, p.50). No
Congresso de 1874, foi proposta a criação de um jornal:
O Correio Paulistano (fundado em 1854) que fora ‘conciliador’, ‘conservador’ e
‘liberal’, passou a partir de 1872, a propagar o republicanismo, a Convenção de Itu, os
atos oficiais do partido e o Congresso de 1874, datas em que voltou a ser liberal. Tal
lacuna foi preenchida com A Província de S. Paulo que, apesar de ‘não ser órgão de
Partido algum, nem advogar interesse deles’, conforme dispunha, era dirigido por José
Maria Lisboa e contava com notórios republicanos entre seus organizadores: Rangel
Pestana, Campos Salles, Francisco Glicério, etc. Em 1884 surgia, a partir de dissidência
neste periódico, o Diário Popular, sob a direção de José Maria Lisboa, também
republicano. Ao lado de A Propaganda (1871) e O Debate (1874), de curta duração,
nascia com mais fôlego A República (do Clube Republicano da Faculdade de Direito),
completando o rol da imprensa nesse acanhado número de periódicos (CASALECCHI,
1987, p.52).
De 1870 a 1872, apareceram vinte e um jornais republicanos em todo o país (SILVA,
1983, p.110)
13
. Um desses jornais era A Província de S. Paulo, que segundo Nobre (1950, p.62),
foi “a primeira folha a adotar a venda avulsa pelas ruas da cidade a partir de 23 de janeiro de
1876”. Após a Proclamação da República, o jornal passou a se chamar O Estado de S. Paulo,
“órgão que sempre se destacou pela grande publicidade que atraia para as suas colunas, sendo o
primeiro diário a aproveitar o máximo os serviços telegráficos”.
13
Segundo Silva (1983, p.110), os 21 jornais eram: O Argos, no Amazonas; O Futuro, no Pará; O Amigo do Povo,
no Piauí; O Voluntário da Pátria, na Paraíba; A República Federativa, O Seis de Março e O Americano em
Pernambuco; A República, em Alagoas; O Horizonte, na Bahia; o Correio Paulistano, A Gazeta de Campinas
(onde escreveu Campos Sales), O Paulista, Comércio de Santos, O Ipanema e O Sorocabano, todos em São Paulo;
O Jequitinhonha e o Farol, em Minas; O Antonino, no Paraná; Democracia e O Tempo, no Rio Grande do Sul.
No artigo ‘A imprensa republicana na cidade de São Paulo (1870-1889)’, de Reynaldo Xavier Carneiro Pessoa,
Maria Cecília Martins, Maria Lúcia de Oliveira Bento e Maria Regina Basile, contido na obra de Witter (1974),
constam que a cidade de São Paulo teve 37 jornais republicanos no período de 1870 a 1889.
28
Nobre (1950, p.77-78) também ressalta o surgimento de outras folhas republicanas como
A Lucta, em 1882; A Onda, em 1883, órgão do Centro Republicano Acadêmico; A Sentinella,
em 1887, redigido por Artur Itabirano e A. Dianna Terra e, em 1888, uma das mais expressivas
manifestações da mocidade acadêmica O Allioth que significava abolicionismo.
O autor ainda cita a presença de avulsos como O Mosquito, panfleto de propaganda
conservadora, de distribuição gratuita, que só circulou uma vez, a 7 de setembro [de 1860]
(NOBRE, 1950, p.107).
Além dos congressos e da publicação de manifestos com as conclusões dos mesmos, os
paulistas inovaram ao produzirem o ‘Programa dos Candidatos’, um trabalho dividido em doze
capítulos, assinado em 18 de agosto de 1881 por nove republicanos
14
que disputariam as
eleições na Província de São Paulo.
O Programa unificava a plataforma política dos candidatos e servia como guia para as
campanhas eleitorais. Para garantir a visibilidade, foi sendo divulgado por partes, durante vários
dias nos jornais partidários. “Assim, o país ficará sabendo ao certo o que fará o deputado
republicano e encontrará, na franqueza da exposição de suas idéias e na solidariedade do
partido, garantias para a verdade da representação popular” (DEBES, 1975, p.42).
Cada um dos candidatos empreendeu excursão eleitoral pelas localidades de seus
respectivos distritos. Promoveram comícios, que também eram chamados de meeting, para
apresentar os princípios democráticos defendidos pelo Partido. Consta aqui o registro de outra
técnica de propaganda política, os comícios.
Os candidatos paulistas tinham consciência da eficácia da propaganda desenvolvida com
dedicação individual, mas, apesar de todo empenho, nenhum deles conseguiu se eleger deputado
federal para a Assembléia Geral de 31 de outubro de 1881. “Cinco dias depois, a 4 de
novembro, realizam-se novas eleições, dessa vez para a renovação da legislatura provincial”
(MENEZES, 1974 p.43). Nesta eleição seis candidatos saem vitoriosos. Pela primeira vez o
Partido Republicano elegia deputados estaduais, justamente em São Paulo, o que comprova a
força do movimento paulista.
14
Os republicanos que assinaram o ‘Programa dos Candidatos’ foram: Américo Brasiliense de Almeida Melo,
Manuel Ferraz de Campos Sales, Martinho da Silva Prado, Prudente José e Morais Barros, Lycurgo de Castro
Santos, Luís Pereira Barreto, José Fortunato da Silveira Bulcão, Francisco Nogueira Cardoso e Francisco Rangel
Pestana. (DEBES, 1975, p.42).
29
Somente nas eleições de 1884, segundo pesquisa realizada por Menezes (1974, p. 46),
Campos Salles e Prudente de Morais, por São Paulo, e Álvaro Botelho, por Minas Gerais, se
elegem deputados federais republicanos. Eles utilizaram as mesmas estratégias de propaganda
política de 1881, acrescentado uma inovação visual que merece destaque: “alguns dias antes do
pleito, A Província (de São Paulo) dedica sua primeira página à propaganda de cada qual deles,
em que a biografia do postulante é acompanhada de seu retrato em tamanho avantajado”
(DEBES, 1975, p. 107). Registro aqui para a publicação de gravuras e perfil biográfico em
jornais, mais uma técnica de propaganda política.
Em Porto Alegre, o I Congresso Republicano determinou à fundação de uma folha
oficial do Partido Republicano Rio-grandense, criada em 1º de janeiro de 1884, com o nome de
A Federação
15
. Esta alcançou fulgor na propaganda das idéias da novel agremiação, opondo-se
A Reforma
16
, jornal oficial do ‘gasparismo’ então dominante.
“Deve-se, no entanto, a Júlio de Castilhos, o brilho com que se manteve posteriormente
A Federação nessa memorável campanha de evangelização republicana no Rio Grande”
(SILVA, 1962, p.70).
Além de A Federação, segundo Hohfeldt e Rausch (2006a, p.6), a imprensa republicana
no Rio Grande do Sul contou também com os jornais A democracia (1872-1874), A reação
(1878), A imprensa (1880-1882) e A convenção (1883-1884).
A imprensa partidária tornou-se o principal instrumento de comunicação entre os
membros dos partidos republicanos, sendo considerada mais eficiente que folhetos ‘circulares,
15
Segundo Hohfeldt e Rausch (2006b, p.5-6) A Federação circulava com quatro páginas, eventualmente seis, no
formato ‘standard’. Abaixo do logotipo, havia a denominação ‘Orgam do Partido Republicano’. Constava na capa
ser ‘a folha de maior circulação do Rio Grande do Sul’. As matérias estavam divididas em cinco ou sete colunas
com rara ocorrência de fotografias. As fontes jornalísticas mais citadas eram os jornais do centro do país. No auge
do regime republicano, chegou a tirar dez mil exemplares por dia. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial a
tiragem quadruplicou. Teve a publicação interrompida quando um ato do Estado Novo, em 10 de novembro de
1937, extinguiu os partidos políticos e por conseqüência, todas as suas publicações.
Rüdiger (1984, p.17) revela a posição deste jornal durante a primeira eleição presidencial do Brasil. “A imposição
da candidatura Deodoro da Fonseca à Presidência da República simultaneamente à opinião pública e ao público
interno do Partido, num fechamento de questão que gerou a dissidência de Barros Cassal, ilustra com perfeição o
papel do jornal neste aspecto”.
16
Na obra de D’Amaral (1974, p.77), consta que o jornal A Reforma fora antes, republicano. “Em 1872, pela
primeira vez os republicanos tentaram se aproximar de Deodoro. Foi quando o coronel chefiou um desfile militar
[...]. O redator de A Reforma, jornal republicano de Porto Alegre, não perdeu a oportunidade de bajular o herói do
Paraguai: ‘... filho do povo... Deodoro não tem jeito para áulico. O que será sempre é um soldado, não rigoroso
valor da palavra, bravo e arrojado [...]’”.
30
justamente por levar rapidamente as notícias a grande parte das cidades dos Estados. Os
informes e notícias serviam como forte instrumento de propaganda.
Em maio de 1889, o Congresso Republicano em São Paulo foi carregado de
ressentimentos. Eleito presidente do partido Quintino Bocayúva, Silva Jardim que propunha a
revolução como forma de atingir o republicanismo- não aceita a nova liderança e enuncia a
debilidade do movimento republicano nacional.
Em junho de 1889 realiza-se em Juiz de Fora, o último congresso até a Proclamação da
República
17
(CASALECCHI, 1987, p.44).
Esse foi o breve panorama dos partidos, clubes e jornais republicanos do Brasil no final
do século XIX. Segue abaixo, a contribuição dos propagandistas na divulgação do ideal
republicano.
1.5. Propagandistas
O verdadeiro propagandista, aquele que quer convencer aplica toda espécie de
receita, segundo a natureza da idéia e dos ouvintes, agindo, de início, pelo contágio
de sua fé pessoal, por suas próprias virtudes de simpatia e eloqüência. Não são
elementos facilmente mensuráveis; contudo, a propaganda de massa teria resultados
insignificantes se não fosse sustentada por tenaz e múltiplo esforço de propaganda
individual (DOMENACH, 1963, p.50).
Quatro importantes propagandistas
18
da República foram o jornalista Quintino
Bocayúva, os advogados Silva Jardim e Rui Barbosa, e o professor Benjamin Constant. Cada
um de sua maneira contribuiu para a propagação do ideal republicano. Eles agiram ativamente
na conspiração da Proclamação e posteriormente, três deles, integraram o Governo Provisório.
Tiveram uma relação direta com Deodoro da Fonseca.
17
Segundo Freitas Nobre (1950, p.141), neste ano de 1889 surgiu o 15 de Novembro, número único, publicado a 24
de novembro pelos tipógrafos da tipografia Martin Junior, em homenagem à proclamação da República, no qual
colaboraram Ezequiel Freire, Américo de Campos Sobrinho, Moura Lacerda e outros. Formato: 32x23, 4 pgs.,
sendo 2 de texto e 2 de ilustrações. Oficinas: Tipo-litografia Martin Junior.
18
Propagandistas eram republicanos que ‘propagavam’ o ideal do novo regime político. Sua atuação, comparada
aos dias atuais, seria a de um ‘marqueteiro político’. Dentre os demais propagandistas que se destacaram, consta
Aristides Lobo, Ubaldino do Amaral, Julio de Castilhos, Rangel Pestana, Francisco Glycério, Sólon Ribeiro, Silva
Jardim, Sampaio Ferraz, entre outros (LYRA, 1927, p.16).
31
1.5.1.Quintino Bocayúva
Autêntica vocação para o jornalismo permitiria a Quintino, desde os bancos
acadêmicos, impor-se nessa atividade, ainda quando ela parecia subalterna e até
negativa, entre nós. Escritor, homem culto, personalidade marcante em seu tempo [...]
(SODRÉ, 1999, p. 251).
Quintino Bocayúva
19
foi poeta, dramaturgo, crítico literário e teatral, mas a principal
vocação foi no jornalismo político. Iniciou sua carreira ainda jovem, num jornal efêmero dos
estudantes da Faculdade de Direito de São Paulo, A Hora. Em 1851, de volta ao Rio de Janeiro,
sua cidade natal, atuou no Correio Mercantil (1854) e no Diário do Rio de Janeiro (1860-1864),
defendendo com ardor as idéias republicanas.
Enfatizando a convicção política republicana de Quintino, Cyro Silva afirma:
A despeito da opinião política dos proprietários ou diretores dos jornais em que
trabalhou ele, Quintino Bocayúva-, nunca escreveu uma linha que não representasse as
suas convicções políticas republicanas. E a propaganda escrita e oral desses ideais
iniciada oficialmente com o Manifesto de 1870, foi até a proclamação da República
(SILVA, 1962, p.30-31).
O Manifesto de 1870, escrito por Bocayúva com a colaboração de outros republicanos,
foi publicado n’A República, jornal que deixou de circular em 1874.
De acordo com Basbaum (1967, p.208), durante os anos que se seguem, “há como que
uma parada, uma pausa nas atividades republicanas”. Somente nos anos de 1886 e 1887
“começa o movimento a reerguer-se a mercê de novos nomes que vão surgindo na luta. Vários
clubes e jornais são fundados e o partido participa de eleições, embora sempre sem êxito”.
19
Em nosso trabalho (GUIMARÃES, 2005, p.2), intitulado ‘Quintino Bocayúva: O ‘marqueteiro’ do Movimento
Republicano, consta que “Quintino Antônio Ferreira de Sousa nasceu em 4 de dezembro de 1836 no Rio de Janeiro.
Veio para São Paulo em 1850, onde começou a exercer as funções de tipógrafo e revisor e daí para o jornalismo.
Iniciou a Faculdade de Direito de São Paulo, porém não a pôde terminar por falta de recursos. Em 1851 adota o
nome Bocaiúva, um nome de raiz nacional”. Em 1909 foi eleito para o Senado Federal, sendo vice-presidente do
mesmo. Em 1912 falece de complicações pulmonares. A pesquisadora adotou a grafia do sobrenome Bocayúva
com ‘y’, apesar de ter encontrado também com ‘i’.
Eu utilizei a terminação ‘marqueteiro’ e não propagandista- porque tal artigo integrou o estudo: ‘De Quintino
Bocaiúva a Duda Mendonça: breve história dos marqueteiros políticos no Brasil republicano’ (GUIMARÃES,
2006) apresentado numa mesa-temática na INTERCOM 2005. Posteriormente, também foi publicado In:
CARDOSO, Paulo Ribeiro; CAIRRÃO, Álvaro Lima. Cadernos de estudos mediáticos 04 - Comunicação
Política Edição especial. Porto / Portugal: Universidade Fernando Pessoa, 2006.
32
Cyro Silva (1962) rebate algumas tendências de historiadores contemporâneos como
Oliveira Vianna (ca1925) e Leôncio Basbaum (1967) citado acima-, de diminuir a influência
da propaganda republicana para a Proclamação da República.
Eles próprios referem-se ao grande número de jornais e de clubes republicanos existentes
que incitavam e agrupavam os correligionários preparando a opinião pública para a
aceitação do futuro regime. À vista disso não é possível aceitar a tese da ineficácia ou da
insignificância da propaganda (SILVA, 1962, p.31).
Em O País, cujo primeiro exemplar circulou no dia 1º de outubro de 1884, Quintino
Bocayúva fora redator-chefe e o Visconde de São Salvador de Matosinhos, proprietário.
Segundo condensação de Affonso F. Taunay apud Silva (1962, p.63):
Era o único jornal que dava lustre à imprensa brasileira, o único elogiável sem reservas e
restrições, o único capaz de exercer salutar influência sobre a vida política desmoralizada
do país. Independente, fundamentalmente livre de quaisquer peias, tinha como programa
os interesses gerais do país e o progresso material e moral da Nação. À sua testa estavam
um republicano do mais alto-quilate e dois liberais. E isto não impedia que em suas
colunas fossem os assuntos debatidos sob alta probidade de vistas e nível superior de
critério. Assim conquistara O País singular importância na imprensa brasileira.
Amparando-lhe a reputação um corpo de colaboradores de escol.
No O País, periódico abordado mais aprofundamente no quatro capítulo desta
dissertação, Quintino prosseguiu a campanha contra as instituições imperiais de maneira
elegante, equilibrada, serena, insistindo na idéia de que um bom jornal deve ser neutro.
No dizer de Ferreira de Araújo -fundador da Gazeta de Notícias-, Quintino foi “o
Príncipe dos Jornalistas’ [...], o maior propagandista, o evangelizador do atual regime, o seu
Patriarca, o fundador da República” (SILVA, 1962, p.41).
A grande lição de Quintino Bocayúva como jornalista observa Azevedo Amaral- foi
mostrar a (sic) seus contemporâneos como a serenidade da forma, a elegância das
maneiras e a tolerância para com os adversários eram elementos que, associados à
energia do pensamento e à bem clara orientação doutrinária, aumentavam muito a
eficiência do combate do jornalismo (SILVA, 1962, p.58).
A competência jornalística de Quintino Bocayúva também é ressaltada por Nelson
Werneck Sodré (1999):
33
Republicano convicto, com os maiores e mais antigos serviços à causa do novo regime,
em cuja propaganda se empenhara desde os tempos de estudante, e a cujos princípios
ficou fiel ao longo de toda a sua existência, como político e como jornalista, a entrada de
Quintino Bocaiúva para o primeiro ministério republicano era mais do que o
reconhecimento de seus serviços e de seus méritos pessoais, porque era o
reconhecimento da importância que a imprensa tivera no advento do novo regime.
Ninguém a poderia representar melhor, realmente (SODRÉ, 1999, p. 251-252).
Em 1886, Quintino Bocayúva não consegue eleger-se na Câmara dos Deputados, assim
como em 1888. Porém, a aproximação com a imprensa e suas atitudes moderadas, fizeram com
que fosse escolhido chefe do Partido Republicano Federal no Congresso de maio de 1889, em
São Paulo.
Quintino participou ativamente da Proclamação da República. Segundo Silva (1962,
p.32-33), “a verdade histórica é que a espada de Deodoro, sem a ação firme, embora discreta, de
Benjamin Constant, sem a propaganda e a atividade política de Bocayúva, a República não teria
sido proclamada e radicada no Brasil, naquele ano de 1889, tal como o foi, pacificamente”.
Bocayúva integrou o Governo Provisório como ministro das Relações Exteriores e a da
Agricultura. Deixou o Ministério em 1891 para ocupar a cadeira de senador pelo Rio de Janeiro.
Permaneceu no cargo público até a votação da Constituição em 24 de fevereiro, renunciando ao
mandato para retornar ao jornalismo, dirigindo novamente O País.
Em 1899 é reeleito senador. De 1900 a 1903 é escolhido governador do Estado do Rio
de Janeiro. Em 1909, volta ao Senado Federal como vice-presidente do mesmo. No ano
seguinte, apóia a candidatura de Hermes da Fonseca sobrinho de Deodoro- à presidência da
República. Morre de complicações pulmonares em 11 de junho de 1912 (GUIMARÃES, 2005,
p.10).
1.5.2. Silva Jardim
Sua propaganda pela República, ao contrário da dos políticos da época, não se dava em
elegantes jantares ou reuniões fechadas, mas em manifestações abertas, às quais
compareciam grande número de pessoas (AGUIAR, 1989, p.11).
34
Na crônica Antônio da Silva Jardim - O herói da Proclamação da República, Luis
Antônio AGUIAR (1989) confirma que Silva Jardim pertenceu à chamada Ala Vermelha do
Partido Republicano acusada pelos correligionários de radical-.
Nos anos de 1888 e 1889, Silva Jardim, realizou comícios nas cidades do interior de São
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco e nas capitais, Salvador e Recife
20
(JARDIM,
1978, p.22). “Em cada cidade em que chegava, Silva Jardim dava uma volta pelas ruas, punha-
se a conversar com as pessoas, fazia questão de se familiarizar com os hábitos e com o estado de
espírito da região (AGUIAR, 1989, p.35).
Na maioria das cidades por que passou, era aclamado ao final do discurso.
Rapidamente, se tornava o propagandista republicano mais conhecido do país. Mas, em
alguns lugares, enfrentou problemas. Em Paraíba do Sul, foi apedrejado. Em Juiz de
Fora, os próprios monarquistas liberais e conservadores- começaram a brigar entre si,
durante o comício. Rindo muito, ele declarou que esperaria a troca de tapas terminar,
para continuar falando. Já em São João Del-Rei, precisou puxar o revólver na tribuna,
para garantir a vida (AGUIAR, 1989, p.36).
Nesses dois anos de tumultuosa campanha, Silva Jardim utilizou as técnicas de
propaganda política dos discursos, conferências, opúsculos (folhetos), manifestos e artigos em
jornal
21
, como ação de propagandista, orador e jornalista, restaurando o pensamento do
radicalismo republicano.
20
A primeira excursão de propaganda de Silva Jardim, foi em Rio Claro, no dia 4 de julho de 1888, Limeira a 5,
São Carlos do Pinhal a 6, Campinas a 7, Jacareí e Taubaté a 10, Pindamonhangaba a 12, Guaratinguetá a 13,
Lorena a 14 e, na Província do Rio de Janeiro, Resende a 14, Barra Mansa a 15, Barra do Piraí a 16, Valença a 17,
Vassouras a 18, Paraíba do Sul a 19 e, em Minas Gerais, Juiz de Fora a 21, de novo no Rio de Janeiro, Petrópolis a
23, Capivari, Friburgo, Cantagalo, Páduas, S. Fidélis, Campos, Macaé, barra do São João, Rio Bonito, Niterói e
Itaboraí. Inicia, a 16 de fevereiro de 1889, nova excursão às cidades mineiras, visitando São Paulo de Muriaé,
Cataguaes, Leopoldina, Capivara, Tombos de Carangola, esta a 11 de março, Santa Luzia a 12, Patrocínio e São
José d’Além Paraíba a 13, Angustura a 14 de março. [...] A 23 de abril inicia nova excursão a cidades mineiras,
visitando a 17 Caxambu, a 18 Baependi, a 21 Juiz de Fora, a 22 Prados, a 23 São João Del Rei, a 24 Queluz, a 25
Ouro Preto, a 26 Mariana, Regressiva a Queluz a 27 e fazia conferências em Barbacena a 28, terminando aí a sua
série de conferências em Minas Gerais. No dia 13 de junho de 1889 embarca para o Norte no paquete Alagoas,
onde também viajava o Conde d’Eu, este com destino ao Amazonas, numa viagem de propaganda da dinastia.
Passou pela Bahia, fez conferências nas cidades pernambucanas de Nazaré da Mata, Timbaúba e Goiana, em 28 e
29 de junho e 1 de julho de 1889 (JARDIM, 1978, p.45-47).
21
Silva Jardim publicou diversos folhetos com tiragens de cerca de 3.000 exemplares, transcrevendo os
pronunciamentos feitos nos comícios. Por exemplo, ‘A pátria em perigo’ contém a conferência pronunciada em
Santos, a 28 de janeiro de 1888, no Teatro Guarani. Eram 44 páginas de um folheto, numa edição declarada de
4.050 exemplares, feita na tipografia da Província de São Paulo (JARDIM, 1978, p.25).
35
“A influência de Silva Jardim foi muito grande, muito maior do que hoje se acredita ou
se supõe. O trabalho para a criação de uma consciência republicana teve nele o seu melhor e
mais autêntico operário” (JARDIM, 1978, p.14). Esta frase de Barbosa Lima Sobrinho está no
prefácio de Propaganda Republicana (1888-1889), cuja obra reúne os folhetos que publicou.
Além de Silva Jardim outro republicano radical foi Lopes Trovão, um ardente e
imaginoso orador de comícios. “Ambos [...] agiram sem determinação, nem delegação do
Partido Republicano, o qual, numa e noutra fase, se os não repudiou, pelo menos não lhes deu
aprovação” (SILVA, 1962, p.84).
Hélio Silva (1983, p.134) relata as ações de Lopes Trovão, jornalista e tribuno
republicano. Escrevera na Gazeta da Noite:
“Só por meio de uma revolução, o povo conseguirá chamar o poder ao cumprimento de
seus deveres”. Ele trouxe esperanças por meio das “conferências em teatros, comícios de
rua, passeatas de protesto, manifestações dos jornais antigovernistas, com discursos
bombásticos ás sacadas [...]”.
Segundo Cyro Silva (1962, p.84), as atividades desses dois próceres “contrastavam com
a sobriedade de atitudes e a elegante serenidade de Quintino Bocayúva, cujos métodos de
propaganda se desenvolviam com caráter inteiramente pacífico e moderado, educando e
instruindo, persuadindo e convencendo”. A imprensa evidenciava os desentendimentos entre
Silva Jardim e Quintino.
Silva Jardim (1978, p.193), formado na Faculdade de Direito de São Paulo, tinha plena
consciência do efeito da propaganda republicana. Em um de seus discursos afirmou:
“Precisamos nos prevenir por todos os meios para essa revolução. E devemos continuar a
trabalhar nos jornais, na tribuna, nas eleições, aproveitar as boas ocasiões para os discursos e
escritos que acordem o povo do seu sono”.
Na conferência-meeting realizada no Rio de Janeiro a 22 de setembro de 1888, ele
afirma: “Aqui estou de novo, diante de vós, na tribuna popular, a cumprir o meu dever de
apostolar o nosso ideal republicano, e de combater o erro monárquico; aqui estou, e aqui estarei;
agora, e sempre!” (JARDIM, 1978, p.196).
Em junho de 1889, Silva Jardim acompanha o Conde d’Eu, no navio Alagoas numa
excursão ao Nordeste do país. “Em cada porto, Silva Jardim se apressava em descer antes da
36
comitiva real. Daí organizava manifestações, discursos, levantava a população, sempre
bradando à República como abre-alas da passagem do Conde” (AGUIAR, 1989, p.61).
Referindo-se ao mesmo episódio, Henriques (1989, p.42), complementa: “A audácia
chegou ao auge quando o Príncipe ao desembarcar em Manaus (Amazonas) recebeu um
documento que supunha de boa fé que fosse uma homenagem, mas era o manifesto republicano
do Clube que foi fundado no próprio dia de sua chegada”.
Em outubro do mesmo ano, Silva Jardim publica uma série de artigos na Gazeta de
Notícias antevendo o golpe e dando marteladas finais no governo. Já no Governo Provisório, em
21 de abril de 1890, ele faz louvação a Deodoro pelo aniversário da morte de Tiradentes. No dia
10 de outubro, denuncia fraude nas eleições da Constituinte, ao qual fora derrotado.
As eleições foram fraudadas, no melhor estilo do ‘baixa o cacete’ que vinha desde o
Império. Praticamente, só os candidatos com aprovação oficial foram eleitos a maioria
uma surpresa para o público votante-, completamente desconhecida. Pela primeira vez
em sua vida Quintino conseguiu vencer uma eleição saiu como senador. Já Silva
Jardim, e também Patrocínio, foram derrotados (AGUIAR, 1989, p.110).
Em novembro de 1890, Silva Jardim parte com sua família para a Itália. Já em Nápoles,
ele escreve a um amigo: “Estou concluindo minhas Memórias. Um meio de disfarçar a dor do
meu exílio voluntário, em que se passam dias negros e sombrios, principalmente quando vemos
o sacrifício das idéias por que temos vivido” (AGUIAR, 1989, p.116).
Morreu no dia 1º de julho do ano seguinte, de modo inusitado. Ao visitar o vulcão
Vesúrio, em Nápoles, este começou o tremer e abrir rachaduras no chão até que Silva Jardim
fora engolido pela cratera (AGUIAR, 1989, p.123).
1.5.3. Rui Barbosa
Os sucessos jornalísticos recompensavam Rui das derrotas eleitorais recentes.[...] O
entusiasmo de Rui, o seu ímpeto panfletário, a fúria demolidora de seus ataques à
dinastia, ofuscam a prosa quase amável de Quintino Bocaiúva em O País e fazem do
Diário de Notícias um jornal prestigioso, lido, temido, avidamente disputado pelos
leitores (MAGALHÃES JUNIOR, 1964, p.108).
37
A principal contribuição de Rui Barbosa na propagação do ideal republicano foi por
meio de artigos publicados na imprensa, nos quais defendia a bandeira do federalismo e
criticava a monarquia. Nas vésperas da Proclamação, aderiu ao golpe militar e no Governo
Provisório assumiu um ministério e a vice-chefia. Apesar de utilizar o jornalismo como
trampolim profissional, Rui exercera esta segunda profissão grande parte de sua vida. Fora
também admirador de Deodoro.
Os primeiros contatos de Rui Barbosa com o jornalismo ocorreram em São Paulo.
Estudante de Direito, começou a escrever na Imprensa Acadêmica e no Radical Paulistano.
“Nestes, eminentemente políticos, já são fortes os ataques a D. Pedro II, acusado de abusos,
usurpações e crimes. [...] Formado, voltando à sua terra, ingressa Rui no Diário da Bahia, órgão
filiado ao Partido Liberal, onde trabalha vários anos” (MAGALHÃES JUNIOR, 1964, p.103).
Rui utilizou o jornalismo não como ‘ganha-pão’, mas como trampolim político. Gastava-
se nas tarefas da redação para, em troca, obter um mandato legislativo. Entenda ‘ganha-pão’
como profissão, meio de vida, trabalho remunerado, emprego de caráter permanente. “Rui, na
verdade, seria um jornalista amador, se não lhe adviessem daí outros proventos, que
interessavam tanto ao político, como ao advogado, cujos anúncios saíam sempre na primeira
página da folha” (MAGALHÃES JUNIOR, 1964, p.127).
Foi assim, usando a imprensa, que Rui conseguiu em 1878, ser eleito deputado geral,
precisando se deslocar de Salvador para a capital do Império.
Não tarda a escrever, nas colunas pagas do Jornal do Comme rcio, sátiras mordazes
contra os conservadores, sob pseudônimos britânicos, -Swift, Salisbury e Greg,- bem
reveladores das inclinações do seu espírito. Fazia, por vezes, a tentativa de ser gracioso,
leve, humorístico, mas tal não era precisamente o seu dom. Sua força estaria, antes, na
bordoada grossa, na agressão violenta. Em 1884, quando é fundado O País, Rui assume
o cargo de redator-chefe. Nele não permanece, porém, mais de três dias. Por suas
tendências abolicionistas e por seu radicalismo, choca-se logo com o proprietário [João
José dos Reis, Conde de São Salvador de Matosinhos]. E cinco anos se passam sem que
volte a fazer jornalismo (MAGALHÃES JUNIOR, 1964, p.104).
As sucessivas derrotas eleitorais em sua província (Bahia), levaram Rui a dedicar-se com
afinco à advocacia. “Nos primeiros meses de 1889, os anúncios do Colégio Kopke informavam
que tanto ele como Quintino Bocaiúva faziam parte do corpo de professores daquele
estabelecimento” (MAGALHÃES JUNIOR, 1964, p.104-105). O autor continua: “É provável,
38
porém, que Rui não tenha chegado a dar aulas, absorvido de novo pela intensa atividade
jornalística”.
No dia 7 de março daquele ano, Rui ingressou no Diário de Notícias, jornal em crise
devido a abolição, recém instaurada no país. Tais jornais tinham-se esvaziado, perdido o
conteúdo, o prestígio, sem campanhas nobres ou idéias altas a sustentar. “[O Diário de
Notícias], mudara de mãos, no auge dessa crise e foi então que Rui assumiu o cargo de redator-
chefe, com a remuneração inicial de 200$000 mensais” (MAGALHÃES JUNIOR, 1964, p.105).
Rui Barbosa se viu derrotado no Rio de Janeiro, na eleição da Câmara em 1889,
enquanto Carlos de Laet, jornalista monarquista, sem raízes políticas, era eleito deputado geral
por três províncias. A partir deste episódio, Rui “desembestara jornalisticamente, correndo em
marcha acelerada para fazer junção com os republicanos” (MAGALHÃES JUNIOR, 1964,
p.107).
Rui Barbosa tem o seu primeiro grande triunfo no Rio de Janeiro. Triunfo que lhe dá
uma sensação de poder. E para não se privar da banca de jornalista que despreza, então, a
pasta ministerial que o Visconde de Ouro Preto lhe oferece. Esta seria o prêmio de sua
adesão, mas teria como preço o seu silêncio. Mais lhe valia, então, ser o primeiro na
imprensa de que um número num Ministério, entre seis outros ministros, num gabinete
instável da monarquia vacilante e condenada (MAGALHÃES JUNIOR, 1964, p.108).
Rui se aproxima dos republicanos, que descobrem, nele, o aliado natural. Mas, foi com o
artigo Plano contra a Pátria publicado no Diário de Notícias, que:
Benjamin Constant sobe então as escadas do Diário de Notícias, que Deodoro, aliás, já
subira, antes, para agradecer artigos em seu louvor e defesa. É o momento em que Rui é
afinal admitido no movimento prestes a eclodir [...] E, assim, a 16 de novembro, o ex-
deputado liberal do Império, há vários anos de ostracismo, emerge, subitamente, como
prócer neo-republicano, à frente do Ministério da Fazenda, de que era, sem dúvida, a
figura de maior relevo intelectual (MAGALHÃES JUNIOR, 1964, p.302).
A citação acima revela uma atitude rara de Deodoro, o fato de ele ter agradecido
pessoalmente a publicação de artigos em seu favor. Essa relação de proximidade do Marechal
com a imprensa é contestada pelos atos de censura ocorridos no período que chefiou o Governo
Provisório.
Segue abaixo um trecho que descreve como foi o primeiro encontro de Rui com
Deodoro, narrado nas Obras Completas de Rui Barbosa (1952):
39
Apenas nos encontrávamos em sua casa, a convite seu, de que foi portador Benjamin
Constant, às vésperas de 15 de novembro. Não ousei, pois, contrariá-lo incontinenti.
Confesso que o vi, nesse momento, a um aspecto desfavorável. Ainda não existia entre
nós a facilidade de matar. Era-nos realmente sagrada a vida humana [...]. Ao volver,
sobre-tarde, a ele, fui acolhido com a amabilidade destas frases, indeléveis na minha
memória: “Cumpriram-se as suas ordens; telegrafei, contra-mandando a execução dos
oficiais”. Estava expansivo. Na varonilidade do rosto lhe brincava o sorriso do bem, e se
espelhava o contentamento da piedade. Descobri de relance o íntimo do herói, a sua
magnânima personalidade, feita de denodo e clemência. Nunca mais vi desdizer do tipo
excelso e bom, que ali se me representou, o fundador da República, o único digno de tal
nome, a despeito dos fabricantes de lendas (BARBOSA, 1952, p.44-45).
Rui cultivava com tanto afã as simpatias de Deodoro, que, ao nascer seu filho João,
mandou convidá-lo, por carta, para ser o padrinho ‘dessa florzinha da alvorada republicana’. “A
esposa de Rui e a de Deodoro começaram logo a se tratar por comadres, mas o marechal não
chegou a batizar o menino, por se ter atritado com Rui, na fase final do Governo Provisório”
(MAGALHÃES JUNIOR, 1964, p.304).
Rui Barbosa tinha ações contraditórias. “Na verdade, ele mudava muito, em variações
surpreendentes, hoje sustentando uma posição, amanhã defendendo a tese oposta, para voltar,
depois, ao ponto inicial, como se quisesse apagar uma contradição com outra, não menor e não
menos gritante” (MAGALHÃES JUNIOR, 1964, p.209).
Uma das ações contraditórias de Rui foi com relação às regras eleitorais. “Estando em
suas mãos, como Ministro de Estado e Vice-Chefe do Governo Provisório, promover medidas
tendentes a instituir, de uma vez por todas, o escrutínio secreto, com as garantias de
inviolabilidade do sufrágio eleitoral, Rui não procedeu de acordo com essa teoria”
(MAGALHÃES JUNIOR, 1964, p.32).
O que é mais curioso, porém, é que o projeto de Constituição, de que Rui foi um dos
principais autores, propunha que a eleição do Presidente e do Vice-Presidente da
República fosse realizada de forma indireta. Para esse efeito, estabelecia o projeto cada
Estado, bem como o Distrito Federal, constituiria uma circunscrição, com eleitores
especiais em número duplo da respectiva representação no Congresso. Quer dizer, um
Estado que tivesse a representação de cinco deputados e três senadores, elegeria
dezesseis especiais. Não poderiam ser eleitores especiais os ocupantes de cargos
retribuídos de caráter legislativo, judiciário, administrativo ou militar [...]
(MAGALHÃES JUNIOR, 1964, p.34).
40
Isso não significaria, porém, que as eleições não pudessem ser manipuladas, do mesmo
modo, pelo governo, através da máquina oficial, com a escolha, como ‘eleitores especiais’, de
simples prepostos, sem nenhuma expressão pessoal ou garantia de independência.
“Nem buscavam os homens do Governo Provisório tal independência, pois só estavam
realmente preocupados, naquele momento, com uma coisa: assegurar a sobrevivência do
regime” (MAGALHÃES JUNIOR, 1964, p.35). Somente na plataforma de 1910, Rui pregou
tornar obrigatório, absoluto, indevassável, o sigilo do voto.
Outro momento relevante na vida pública de Rui foi sua contribuição na elaboração da
Constituição de 1891. Ele “gabava-se de ter sido o principal autor da cujas bases tinham sido
elaboradas por uma comissão de figuras notáveis do movimento republicano, mas cujo texto
passou por sua revisão” (MAGALHÃES JUNIOR, 1964, p.362). Foi Rui quem explicou artigo
por artigo, ao velho marechal.
Após a renúncia de Deodoro, Floriano, o vice-presidente, assumiu o cargo e foi Rui
quem levantou a tese de que era necessária a convocação de eleição direta para a escolha do
novo presidente. “Como Floriano não fez, Rui tachou-o de usurpador” (MAGALHÃES
JUNIOR, 1964, p.304).
Em 1893, voltaria Rui às lides da imprensa, por alguns meses, “no Jornal do Brasil de
que se afastaria para exilar-se, pelo temor de ser morto pelos jacobinos ou por ordem direta do
próprio Floriano Peixoto” (MAGALHÃES JUNIOR, 1964, p.109).
Escreveu também no jornal do cunhado, A Imprensa, cujo último número circulou em 27
de março de 1901. Depois disso, só publicaria um ou outro artigo avulso, a largos espaços. “O
formidável demolidor de 1889 perdera a clava” (MAGALHÃES JUNIOR, 1964, p.127).
1.5.4. Benjamin Constant
Benjamin Constant, por antecedência na pregação ideológica e na arregimentação das
forças que demoliram o Império, bem como por ter ocupado dois ministérios na
presidência de Deodoro foi, inegavelmente, do grupo de fundadores, o mais importante.
O Congresso Nacional, logo após seu falecimento o considerou, isoladamente,
‘benemérito patriarca fundador da República Brasileira (HENRIQUES, 1989, p.47).
41
Benjamin Constant teve forte atuação na propaganda do ideal republicano e sua
implantação no Brasil. “Deve-se a ele o mérito da preparação, da engenhosa e perigosa urdidura
do levante militar na manhã do dia 15 de novembro de 1889” (HENRIQUES, 1989, p.41). Foi
quem convenceu Deodoro a liderar o golpe da Proclamação.
Com a Proclamação da República, seu prestígio chegou ao auge. Benjamin assumiu o
Ministério da Guerra e depois o Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos, onde,
apesar de muito doente, trabalhou febrilmente.
A ‘história interpretativa’ acolheu a definição da Assembléia Nacional e hoje considera
Deodoro o ‘proclamador’, Benjamin Constant o ‘fundador’ e Floriano Peixoto, o ‘consolidador’
da República no Brasil. Tavares de Lyra (1927, p.19) tece alguns comentários sobre estas
definições.
[...] Benjamin foi o creador da mentalidade nova do Exercito, o coordenador do
movimento, o centro em torno do qual se unificaram propósitos e se disciplinaram
vontades; Deodoro, o inclito e insubstituível general, a cujo prestígio e animo resoluto se
deve o exito da jornada, porque não havia soldado que resistisse à fascinação de seu
olhar e a sua voz de commando; Quintino, o abnegado chefe da propaganda, sempre
sincero na pureza de suas crenças liberaes. O primeiro representa a intelligencia que
organiza; o segundo a força que domina; e o terceiro, a idéa que vence. E reunidos
symbolizam, effectiva e realmente, em toda sua imponência e majestade, a conquista
máxima da democracia brasileira nos últimos annos do século XIX [cópia literal do
livro].
Seu nome era uma homenagem do pai, o português Leopoldo Henr ique Botelho de
Magalhães, ao pensador francês Benjamin Constant de Rebecque. Segundo Elber de Melo
Henriques (1989, p.37-38), ele era homem de baixa estatura, 1,54m, cabelos pretos e olhos
castanhos.
Com 12 anos perdeu o pai vitimado pelo tifo. Logo depois a mãe foi acometida de
perturbação mental. “Desesperou-se e tentou suicídio por afogamento em um riacho. Salvou-o
uma escrava da fazenda na qual seu pai, professor aposentado, fora administrador. Atribui-se a
esse salvamento a ternura pela raça negra” (HENRIQUES, 1989, p.38).
Sendo muito pobre e não podendo custear aos estudos, matriculou-se na Escola Militar,
após ter prestado competente exame de admissão. “Isso explica o fato de apresentar documento
42
falso de idade, declarando ser três anos mais velho. Não tinha a propensão para a carreira das
Armas e, sim, para o Magistério” (HENRIQUES, 1989, p.39).
Em 1860 bacharelou-se em Ciências Físicas e Matemáticas. Lecionou em vários
colégios, sempre lutando pela melhoria do ensino. Ao ler o primeiro volume da Filosofia
Positivista, tornou-se um fanático das idéias de Augusto Comte (HENRIQUES, 1989, p.39).
“Ao aceitar, o cargo de professor do Instituto dos Meninos Cegos, futuro Instituto
Benjamin Constant, conheceu a jovem filha do Diretor [...] o casal veio a ser um modelo de
felicidade conjugal” (HENRIQUES, 1989, p.39). Com o falecimento do sogro, substituiu-o na
direção do Instituto, ficando no cargo 20 anos, afastando-se apenas para servir à República.
Apesar da não vocação militar, Benjamin lutou na guerra do Paraguai de onde voltou
com ‘febre intermitente acompanhada de inflamação do fígado e do baço’ (HENRIQUES, 1989,
p.40).
Novamente na docência, Benjamin teve papel crucial na doutrinação dos cadetes da
Escola Militar. Em 1887 exerceu a função de tesoureiro da primeira diretoria do Clube Militar.
Na ausência de Deodoro que fora transferido para Mato Grosso, ocupou a presidência do
Clube Militar [...]. Desse momento em diante assumiu, por unânime consentimento, a
liderança nas Forças Armadas da campanha abolicionista e da preparação conspirativa
que levaria o país ao levante militar de 15 de novembro de 1889 [...]. Benjamin foi o
homem ideal, providencial, porque, como professor da Escola Militar da Corte, poderia
inocular nos jovens cadetes, ardorosos e ingênuos como todos os moços, e, nos futuros
oficiais, a filosofia que tão abem assimilara e que melhor sabia transmitir
(HENRIQUES, 1989, p.41).
Descontentes e exaltados, os republicanos e militares imaginaram a criação de um clube
de Oficiais com a finalidade de mantê-los unidos e alertas. Deodoro, Benjamin e Sena
Madureira foram encarregados de redigir os Estatutos do Clube Militar. “No dia da solene
inauguração, 26 de junho de 1887, falaram Benjamin e mais 10 oficiais, dos 150 que
compareceram. A rebelião conquistara sua tribuna” (HENRIQUES, 1989, p.42).
Ernesto Sena (1999, p.63) fala sobre a relação de Benjamin e Deodoro.
O Dr. Benjamin Constant era tido em grande conceito pelo general Deodoro, que ouvia
sempre com a mais profunda atenção a sua tenaz propaganda; os seus conselhos atuavam
profundamente no ânimo do velho soldado. Nas repetidas conferências realizadas entre
ambos, o Dr. Benjamin, com a erudição e talento que lhe eram peculiares, punha diante
dos sentimentos de classe do general os atos do Governo, fazendo convencer-se da
43
perseguição que se exercia conta o Exército, ofendendo-se no seu brio de defensor da
Pátria, garantia da sua honra e da sua integridade [Porém, em outras ocasiões, a relação
dos dois foi conflituosa- grifo da pesquisadora].
Após a Proclamação, Benjamin é nomeado Ministro da Guerra, função que ocupou
apenas seis meses devido às críticas de não ter mantido o Exército sob a rígida disciplina
exigida por Deodoro. “Nem podia. Ele usara e abusara dos pronunciamentos políticos [...]
(HENRIQUES, 1989, p.42).
Como Ministro da Guerra, Benjamin nomeou comissões para estudar a reforma das
escolas militares, do Código de Justiça Militar e do projeto de reorganização do Exército. Em 22
de junho de 1890, passou as funções a Floriano Peixoto. Testemunhas da reunião ministerial na
qual Deodoro exonerou Benjamin da pasta da Guerra, assim a descreveram:
O presidente mostrou a vantagem do Ministério da Instrução Pública, Correios e
Telégrafos e disse que estava pensando num republicano ilustre, afeito às questões do
ensino, para dirigi-lo. Benjamin Constant sugeriu o nome de Lauro Muller, alegando ter
sido ele seu aluno e possuidor de alto nível intelectual. Deodoro sorriu e disse: Se posso
nomear o Mestre por que iria nomear o discípulo? Surpreso Benjamin aquiesceu. Afinal
tinha muito mais pendor para o ensino do que para a militância (HENRIQUES, 1989,
p.45).
Outro fato relevante na vida pública de Benjamin ocorreu nos primeiros dias da
República. Seus admiradores pressionavam para que ele se candidatasse à Presidência em
oposição a Deodoro. “Isso o obrigou a publicar uma nota na qual declarava que não aceitaria
sua indicação e que, se contra sua vontade fosse eleito, naquela eleição, imediatamente
renunciaria” (HENRIQUES, 1989, p.45).
Benjamin faleceu no Rio no dia 22 de janeiro de 1891, apenas um ano e dois meses após
a Proclamação da República
22
. “Se continuasse vivo, [...] provavelmente teria dado novos rumos
à República e prejudicado a ascensão de Floriano Peixoto e a eleição de Prudente de Morais”
(HENRIQUES, 1989, p.45-46).
22
D. Pedro II morreu dois anos e um mês após a proclamação e Deodoro, dois anos e nove meses.
44
Capítulo 2 BIOGRAFIA POLÍTICA DE DEODORO
O segundo capítulo descreve a vida de Deodoro, enfocando sua carreira militar e
política. A pesquisadora descreve a relevância da atuação do marechal no golpe da Proclamação
da República e aprofunda a principal crise no Governo Provisório, o assalto à redação do jornal
monarquista A Tribuna que culminou com a morte de um revisor. No final, consta um panorama
da imprensa neste início de República.
1. Pequena biografia de Manoel Deodoro da Fonseca
[...] o grande Manuel Deodoro da Fonseca foi poeta satírico e repentista, declamador
apaixonado, inspirado compositor de música ligeira, hábil narrador de anedotas,
latinista inveterado, tio paciente, porque louco por crianças, cortejador de moças
bonitas, entusiasta e elegante marcador de ‘quadrilhas’, vaidoso da sua presença física,
delicioso ‘papo’ para quantos dos seus amigos gostavam de conversar, filho
amantíssimo, bairrista extremado e valente ‘conquistador’ em outro terreno que não o
da guerra. É, foi assim (FONSECA, 1979, p.94).
Manoel Deodoro da Fonseca
23
nasceu no dia 5 de agosto de 1827 na Cidade Velha de
Alagoas, hoje Marechal Deodoro, então capital da recém-criada Província de Alagoas, a 20
quilômetros de Maceió (FONSECA, 1979, p.9).
Filho de Manuel Mendes da Fonseca, militar que se insurgiu contra o Império e foi
vereador na Cidade Velha de Alagoas, e de Rosa Maria Paulina da Fonseca. Deodoro da
Fonseca teve nove irmãos, sete homens que seguiram a carreira militar e duas mulheres.
“Infância difícil, pobre, quando soldo de seu pai mal dá para pagar a casa em que moram. As
dívidas se acumulam. As cobranças vexam e até pequenos auxílios dos filhos, que já serviam no
Exército, são absolvidos pelo déficit doméstico” (SILVA, 1983, p.49).
Deodoro, terceiro filho, mudou-se para o Rio de Janeiro com a família em 1843, aos 16
anos. Matriculou-se na Escola Militar e terminou o curso de Artilharia em 1847. Um ano depois
de formar-se, estava no Recife participando de sua primeira ação militar: conter a Revolta
Praieira que vingou de 1848 a 1850 (KOIFMAN, 2002. p.24).
23
Referente a grafia do nome de Manoel Deodoro ou Manuel Deodoro, o sobrinho-neto Roberto Piragibe da
Fonseca (1979, p.8) esclarece: “Acham-se em meu arquivo vários documentos, entre eles algumas cartas
endereçadas por Deodoro a irmãos e a meu pai (Clodoaldo da Fonseca), e em todos esses papéis encontra-se
assinado Manoel e não Manuel”.
45
Na crônica histórica O Fantasma Dourado, Orestes Barbosa (1933, p.45-48) propõe que
Deodoro era,
Um homem [...] de ossificação larga no peito. Cintura estreita e gestos febris. Nariz
curvo, olhar de águia, tez morena. Cabelos fartos, crespos [...]. E a testa larga, onde o
kepi, meio da banda, aumentava-lhe o ar de energia e desabrimento. Não dispensava,
fardado, as medalhas de campanha. [...] Voz forte e aclarinada. A boca franzida, no
cerrar permanente dos dentes, fazia empinar a barba de cinza, dividida ao meio, em duas
pontas, como uma ameaça, e de onde repontava um bigode de tigre, o que lhe
completava o tipo feito de encomenda para o que ele foi. Na intimidade, era afável.
Conversador. Tornando-se até de alegria ruidosa no meio de mulheres. A paisana vestia
fraque e calça de cor. Chapéu alto. Na corrente de seu relógio, balançava uma granada de
ouro. O castão da sua bengala era uma cabeça de frade. E, mesmo em traje civil,
Deodoro não dispensava as salteias militares nas inteiriças de verniz. Gostava de música.
E dançava [...]
Ernesto Sena (1999, p.176-177), coronel do Exército que foi testemunha dos
acontecimentos narrados nesta dissertação, reuniu diversas cartas, manuscritos e documentos
pessoas em ‘Deodoro: subsídios para a história’. Ele afirma que Deodoro da Fonseca tinha
gênio alegre, folgazão e expansivo.
Seu porte alto, ereto e altivo, atraía a atenção pública. Quase sempre usava chapéu alto,
preto, fraque curto da mesma cor, um tanto apertado na cintura, calça larga, a balão,
deixando ver pendente do colete a corrente do relógio [...]. Como seu irmão, Pedro
Paulino, conhecia o latim e a música, tendo por esta certa predileção. Quando sentado
tinha por hábito cruzar os dedos das mãos e rodar com os polegares. Apesar da notável
simplicidade e sem afetações estudadas, a sua figura infundia respeito.
O início da carreira militar de Deodoro foi tumultuado. Seu temperamento rebelde e
impulsivo ocasionou em cinco detenções por má conduta.
Em 1851, durante 24 horas, devido a uma banalidade formal, não apresentou a ordem do
dia. Na segunda vez, apresentou-a, mas por meio de um subalterno, o que lhe rendeu 48
horas de cárcere. Na terceira vez, por não transmitir ordem do quartel-general relativa ao
embarque de um destacamento para a ilha de Fernando de Noronha quatro dias de
prisão. Na quarta vez, ficou nove dias enclausurado no Forte do Buraco; na quinta,
permaneceu uma semana incomunicável por insultar um comandante (KOIFMAN, 2002,
p.20).
46
Porém, muitas condecorações, promoções e feitos de bravura fizeram de Deodoro o
generalíssimo
24
. Seu título inicial foi de primeiro-tenente em 1852, seguida de capitão em 1856.
Em 1859 viajou para o Mato Grosso, sob as ordens do presidente da Província.
Em 1860, com 33 anos, casou-se com Mariana Cecília de Souza Meireles em Cuiabá.
Dois anos depois, veio para a Corte com a esposa. Não tiveram filhos, mas adoravam os
sobrinhos.
Segundo o biógrafo Magalhães Junior
25
(1957b, p. 124), “tinha o velho militar uma alma
sensível, capaz de gestos largos e humanos, não cuidando às vezes, de se prevenir contra a
malícia popular”. Referente à honestidade do marechal, o mesmo autor comenta: “Embora,
empenhado, algumas vezes, em patrocinar interesses de candidatos a concessões de serviços
públicos contra a opinião dos seus ministros, Deodoro era de uma intransigente honestidade
pessoal” (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 219)
26
.
No prefácio de ‘Deodoro A espada contra o império’, Magalhães Junior (1957)
detalha alguns traços da personalidade do marechal:
Homem de rara bravura pessoal, capaz de expor-se com o maior destemor às mais
perigosas situações, aliando a mais intransigente honestidade à total despreocupação
pelos bens materiais, era marcial, autoritário, cioso de suas prerrogativas, dotado de um
temperamento ‘narcisista’, que o levava por vezes a atitude de arrebatamento e
24
Magalhães Junior (1957b, p.134-136) explica a origem do título de generalíssimo. “A República comemorava,
nesse dia, o seu segundo mês de vida. [...] Grande desfile naval foi projetado em honra do titular da pasta da
Marinha. [...] Tudo aquilo obedecia a um plano prévio, a uma conspiração palaciana, articulada por elementos
militares empenhados em obter as promoções, ao mesmo tempo, o Ministro da Marinha [Eduardo Wandenkolk] e
da Guerra [Benjamin Constant]. [...] Iria o governo promover os seus próprios membros? Não. A promoção seria
‘por aclamação popular’. E Deodoro não seria também esquecido. Ele que já era marechal, -agora, mais do que
nunca, o ‘galo na torre’, -seria proclamado generalíssimo. [...] O marechal recusou, a princípio, aceitar essa prova
de confiança. [...] O fato é que de então por diante o nome de Deodoro começou a aparecer nos decretos oficiais
com a designação de generalíssimo, uma vez por outra, até que o velho soldado, habituando-se ao novo título, não
mais o dispensou”.
25
A obra Deodoro A Espada contra o Império (1957), volume I e II foi à biografia mais completa do
generalíssimo que a pesquisadora encontrou, por isso a elegeu como ‘livro-base’ desta dissertação. No Prefácio do
vol. I, Magalhães Junior explica que “até hoje [1957] não se animaram os nossos biógrafos e historiadores a traçar-
lhe a biografia, fielmente documentada e imparcialmente escrita. O que existe, a respeito, são trabalhos de natureza
fragmentária e algumas vezes de caráter meramente louvaminheira, aos quais falta não apenas espírito crítico, mas
até mesmo ordenação cronológica. Procuramos, neste trabalho, fazer um levantamento da vida de Deodoro, à luz de
documentos pouco conhecidos e, em alguns casos, inteiramente inéditos [...]”. Nos anos 40 foram publicados livros
pró e contra Deodoro.
26
Aqui o biógrafo depõe contra Deodoro: o fato de ele não se beneficiar diretamente não pode servir de desculpa
para o fato de ele ter patrocinado pleitos. Isso era e continua sendo crime (Informações do Capitão Francisco José
Corrêa Martins, Chefe da Divisão de História do Arquivo Histórico do Exército, obtidas por e-mail enviado à
pesquisadora no dia 4 março 2007).
47
obstinação. [...] Seu amor-próprio, sua autoconfiança, o sentimento de dignidade e de
superioridade, mosaicos que compunham o caráter de Deodoro, prepararam o ilustre
soldado para a missão histórica que lhe coube realizar convertendo-o em símbolo de sua
própria classe, defensor extremado de seus melindres, desafiando primeiro Cotegipe e,
depois, indo além, o próprio imperador, em cujas prerrogativas de chefe da Nação se
investiu revolucionariamente. O caráter de Deodoro só conhecia momentos de hesitação
quando ainda o afligia o traumatismo moral da infância, superado, com um gesto
decidido e radical, a 15 de novembro de 1889. Toda a sua vida foi uma preparação para
esse momento [...].
Maria Eugenia Mello (1989, p.30) descreve que Deodoro, “ouvia as irmãs Emilia Rosa e
Amélia Rosa. Os irmãos. Respeitava os mais velhos e acatava os seus conselhos. Atendia aos
enfermos. Ajudava nos apelos. Sentia prazer em auxiliar os sobrinhos no estudo. Na mesada
[...]”.
Retomando ao enfoque da vida militar e política de Deodoro, após cinco anos na Corte,
ele parte para o Uruguai e participa do cerco de Montevidéu. Em 1865, segue com o Exército
brasileiro para o Paraguai, participa da batalha de Tuiuti onde assiste a morte de dois irmãos.
Recebe condecoração com grau de cavaleiro da Ordem do Cruzeiro e é efetivado como major.
Em 1867, condecorado com o grau de cavaleiro da Ordem do Cruzeiro. No ano seguinte, é
promovido a tenente-coronel por bravura. Combate em Itororó e se fere.
Ainda, gravíssimos, efetivamente, os ferimentos recebidos por Deodoro em Itororó.
Vitimaram-no, a bem dizer simultaneamente, transfixa por projétil de fuzil, na virilha, -
isto é, na junção da coxa com o ventre, ferimento mortal-, e coronhada dupla e bruta em
pleno estômago, quando já abatido e colado ao solo pegajoso, ferimentos de cujas
conseqüências jamais se restabeleceria (FONSECA, 1979, p.40).
O período de 1870-89 seria de calmaria para Deodoro, mas não de descanso. Segundo
Fonseca (1979, p.43), “foi fase de intensa atividade de observação e estudo”.
Na cronologia de D’Amaral (1974), consta que em 1870 Deodoro embarcou para a Corte
no Rio de Janeiro sendo nomeado dignitário da Ordem Imperial do Cruzeiro; em 1874 é
promovido a brigadeiro (general de brigada); em 1880, comendador da Ordem de São Bento de
Aviz; em 1884, marechal de campo (general de divisão); em 1885, quartel-mestre general (chefe
da intendência e diretor do material bélico).
Foi nesse período -dezembro de 1885- que Deodoro da Fonseca chegou ao Rio Grande
do Sul como comandante das armas e, logo depois, vice-presidente da Província.
48
Era a política. Entrara na vida do marechal aos 58 anos de idade. Não sairia mais. Era
intenção de Cotegipe transformar Deodoro no grande chefe militar do Partido
Conservador, para contrapô-lo ao visconde de Pelotas, marechal como o outro e senador
pelo Partido Liberal. O próprio chefe do gabinete o dissera a Lucena, futuro barão de
Lucena, presidente do Rio Grande do Sul: “É um homem de valor. Será o nosso Caxias.
Tenho em mente dar-lhe um titulo, que, naturalmente, será o de barão de Alagoas. E,
quando vagar um lugar no Senado, quer nessa, quer em outra pequena Província, nós
havemos de elegê-lo...” (D’AMARAL, 1974, p.95-96).
No ano seguinte chegara à vez de Deodoro se ocupar efetivamente de política.
1886 inaugurava uma nova legislatura. Lucena eleito fica a vaga à presidência da
Província. Como vice-presidente, Deodoro assume o poder. Monarquista e conservador,
o marechal chega ao governo num Estado em que a propaganda republicana era das mais
intensas do país. Júlio de Castilhos, Assis Brasil, Ramiro Barcelos, Barros Cassal, moços
e entusiastas agrupavam-se em torno do jornal A Federação. Deodoro não se aproximou
deles, a princípio. Queria apenas administrar a Província que, um tanto a contragosto, lhe
viera ter às mãos. A política entraria pela porta dos fundos de suas preocupações
(D’AMARAL, 1974, p.96).
Em 1887, a Questão Militar
27
ocupa a atenção política, anos antes ocorrera à Questão
Religiosa. No entanto, não é intenção da pesquisadora descrever tais ‘questões’, por que não
contribuem para o tema central dessa dissertação, ‘a propaganda política de Deodoro na
prime ira eleição presidencial no país’.
Basta ressaltar que a Questão Militar de 1887 fez com que Deodoro pedisse dispensa da
vice-presidência da Província do Rio Grande do Sul. No ano seguinte ele presidiu o Clube
Militar e foi demitido do cargo de quartel-mestre general.
Roberto Piragibe da Fonseca esclarece como poucos, a atuação política de Deodoro, nos
anos que antecederam a Proclamação da República.
Claro está que a atuação política de Deodoro não principiou com o Quinze de Novembro
[...]. Com efeito, Deodoro sempre se filiou escancaradamente aos ‘saquaremas’: teve
parte eminente na campanha abolicionista, na Questão Militar e na conspiração
27
Segundo D’Amaral (1974, p.89), a “Questão Militar não foi uma questão: foram várias. Nenhuma delas por si só
tinha importância suficiente para citar o impasse que afinal se criou. Mas a situação do Exército era tão precária, e
o descaso dos governos quanto a uma solução radical e definitiva tão patente, que o menor pretexto acendia paixões
de forma incontrolável”. Em Marechal Deodoro (1970, p.690), consta que “a ‘Questão Militar’, que opôs o
Exército ao Ministério, empolgou a opinião pública da época e foi largamente explorada pelos jornais e revistas”.
Já a Questão Religiosa foi o rompimento do Império com a Igreja que dependia inteiramente do Estado. D’Amaral
(1974, p.79).
49
republicana e foi, além de presidente interino da Província do Rio Grande do Sul, - posto
político-, candidato conservador ao Senado do Império. Mas, de qualquer forma, repito,
foi um estadista improvisado e nisso, aliás, é que precisamente reside o interesse da
apreciação do ângulo político de sua complexa personalidade (FONSECA, 1979, p.50).
Referente à candidatura de Deodoro ao Senado do Império, o mesmo autor explica:
Morto Brás Nogueira da Costa Gama, conde de Baependi, representante conservador da
Província do Rio de Janeiro na Câmara Alta, surgiu à candidatura de Deodoro a senador
do Império. Teria todas as chances, e, a rigor, sem propaganda, sem padrinhos e sem
arautos. E por que não se elegeu? Porque, advogando a Abolição, a autonomia das
Províncias, o casamento civil, a separação da Igreja e do Estado e a secularização dos
cemitérios, propunha-se Deodoro chegar ao Senado absolutamente descompromissado
no que dizia respeito a facções e partidos: seria franco-atirador. Evidentemente, coisa
impossível. [...] Mas, paradoxalmente, -porque muito expressiva sua votação na Corte-,
viu-se Deodoro, mais que nunca, -e agora fora dos arraiais militares-, erguido à condição
de bandeira de luta (FONSECA, 1979, p.56-57).
Deodoro toma gosto pela vida pública.
Eis que se apresentou imprudente a presença de Deodoro na Corte. Era impreterível
afastá-lo. O homem, inclusive, já se exibia nas ruas a modo de caudilho popular, como
se verificara a 19 de maio, no cortejo cívico promovido pelos jornais do Rio de Janeiro,
quando fora visto, aos sons de charangas e ao espocar do foguetório, agradecendo e
retribuindo, em trajes civis, as aclamações do poviléu. Era demais (FONSECA, 1979, p.
57).
Apesar da ‘louvação do autor’ acima, a frase revela peculiaridades da personalidade
política de Deodoro. Nesse momento, ele ‘se exibe’, ‘agradece’, ‘retribui’. Tais ações não foram
empregadas por ele, no período que antecedeu a primeira eleição presidencial do Brasil.
Para Fonseca (1979, p.58-59), essa iniciação política de Deodoro não lhe proporcionou
formação suficiente para ‘fazer bonito’, na alta vida pública.
Não tivera oportunidades: não fora ministro, não fora parlamentar, não realizara estudos
especiais, não viajara para a Europa, -assim ignorando os grandes centros de civilização
e cultura-, e seu meio social fora, a rigor, apenas o ambiente caserneiro, que ao que se
presume, e não sem fundamento, devia ser, ao tempo, tudo que se pode imaginar de mais
brutal, de mais grosseiro e de mais ignaro. Discreta atuação política, a de Deodoro, até o
Quinze de Novembro. Melhor, ‘atuação discreta’, a meu ver é eufemismo. Falando claro,
atuação pobre, paupérrima.
50
Frente à propaganda do regime novo, o pensamento e a ação de Deodoro, podem ser
resumidos assim:
Na propaganda, e máxime na conspiração, a participação de Deodoro foi praticamente, e
voluntariamente, nenhuma; reconheceu que os ideais republicanos possuíam tradições no
país e tradições deveras respeitáveis; discerniu as motivações do Quinze de Novembro e,
sobretudo, o seu progresso inelutavelmente avassalador; optou, embora sem entusiasmos
pessoais, pela solução republicana e participou decisivamente, e conscientemente, da
aventura do Campo de Sant’Ana; admitiu a inadequação da Monarquia ao Brasil, mas,
paradoxalmente, em momento algum admitia que outro sistema político pudesse melhor
atamancar o ‘imbróglio’ brasileiro (FONSECA, 1979, p. 60).
Realmente, da propaganda republicana, e muito menos da conspiração, Deodoro não
participou, mas também não as ignorou.
Ao contrário, acompanhou-as, compreendeu-as e mesmo, em certa media, aprovou-as.
Sinal visível dessa simpatia discreta o apreço que votou, -à distância embora-, a alguns
dos republicanos, -que seriam os ‘históricos’-, principalmente a Quintino Bocaiúva, Julio
de Castilhos e Rui Barbosa. Simpatia talvez um pouco desdenhosa porque, na fase da
propaganda, não fez questão nenhuma de conhecê-los pessoalmente, mas certo é que
lhes lia os escritos e discursos e acompanhava-lhes a atitude. “São homens de tino,
sobretudo este Rui, e as intenções que os animam, em princípio, são boas”, [disse
Deodoro a Carlos Gross] (FONSECA, 1979, p.61).
Seguem abaixo algumas contestações que explicam o motivo pelo qual Deodoro fora
escolhido para proclamar a República.
1.2. Marchas e contra-marchas da Proclamação da República
Em 19 de setembro de 1889 foi o general Deodoro entrevistado por um jornalista, em
Santos, quando por ali passava retornando de Mato Grosso onde largara o comando das forças
de terra e mar- rumo ao Rio de Janeiro. Falou-se em política.
“As eleições me surpreenderam”, disse o ardoroso soldado. “Eu sempre contei que o
Governo fizesse dois terços da Câmara e que os conservadores e republicanos fizessem o
terço”. Que fim levaram os republicanos? Nas províncias do Sul, pelo menos, o
Partido Republicano foi o único que se apresentou em campo, disputando galhardamente
a vitória ás forças do Governo. É exato. Os conservadores mostraram-se medrosos,
fracos e traidores (SENA, 1999, p.27).
51
O jornalista questiona se Deodoro era conservador, e ele responde:
Era conservador porque só os conservadores protegem o Exército. Não a mim, porque só
tive um protetor Solano Lopes; devo a ele, que provou a guerra do Paraguai, a minha
carreira. Era conservador, mas votei sempre nos homens que estimava. Votei em Osório,
em Porto Alegre e Beaurepaire Rohan. Há três republicanos em que votaria de bom
grado, três moços distintos da província do Rio Grande do Sul: Assis Brasil, Ramiro
Barcelos e Júlio de Castilhos. Não tenho aspirações. Com dois outros anos de vida terei
chegado ao mais alto posto do Exército e cantarei no Império como galo na torre. E se
fosse chamado para a pasta da Guerra? Aceitaria, com uma condição: é que nenhum
dos colegas de Gabinete interviria nos negócios da minha pasta. Levarei a despacho os
meus decretos, se os quisessem examinar, eu deixaria a pasta e traria o miolo (SENA,
1999, p.27).
Fica evidente a não pretensão de Deodoro em ocupar cargos públicos, contrariando o
destino que lhe reservara os cargos de chefe do Governo Provisório e presidente da República.
Já no Rio de Janeiro, Deodoro recebe grande manifestação popular e começa o cerco dos
republicanos. Mas, porque sua figura parecia tão indispensável para a queda da monarquia? Por
que o movimento republicano não marchou independente de sua participação, isolando-o à
margem?
Tobias Monteiro (apud Magalhães Junior, 1957b, p. 28), responde dizendo que por
maior que fosse a confiança nos elementos agremiados, Benjamin Constant sentia que o golpe
era incerto. “Era preciso uma grande audácia e, sobretudo um grande prestígio diante da tropa”,
acrescenta, “para arcar contra sessenta e sete anos de tradições monárquicas e quase cinqüenta
de reinado”.
Para Magalhães Junior (1957b, p. 28), a conquista de Deodoro representava, assim, mais
do que uma simples adesão pessoal: era uma cabeça de ponte nos altos comandos do Exército.
Através dele, poderiam ser arrebanhados outros oficiais generais, que não se sentiriam tentados
a confabular com simples alferes e tenentes. Benjamin Constant e Quintino Bocaiúva
reconhecerem o limite de prestabilidade de Deodoro, de sua capacidade e eficiência. “Fizeram
um exame de consciência e viram que não teriam possibilidades de êxito seguro senão
transferindo a responsabilidade da deflagração do golpe contra a monarquia a alguém mais
altamente colocado, com maiores qualidades de mando e com maior energia”.
52
A Deodoro, doente, sujeito a crises alternadas de exaltação e de depressão, não podia
deixar de agradar aquele espetáculo, que não era de simples solidariedade, mas de
verdadeira adulação, pois que ele, enfermo, alquebrado, preso ao leito, a todo o instante
era proclamado a figura imprescindível, o homem predestinado, a espada providencial.
Diante dele curvavam-se todos, passando-lhe o bastão do mando, aceitando-lhe as
ordens, submetendo-se ao seu arbítrio. [...] Agora, esse movimento já não lhe parecia tão
desdenhável e a idéia de uma república feita por ele próprio começava a seduzi-lo. [...]
Deodoro, -esta é a verdade-, foi utilizado como um instrumento dos republicanos, graças
à fina argúcia psicológica de alguns conspiradores [...] Numa certa medida, porém,
Deodoro também os utilizava e aos demais, que em torno deles se reuniam, como
instrumentos de sua ambição de poder (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.29).
Nas vésperas da Proclamação, Benjamin manifestava receios de que o movimento
encontrasse resistência do marechal Floriano Peixoto, que ocupava uma das mais importantes
posições do Ministério da Guerra, o cargo de ajudante-general. Deodoro manda chamá-lo e ele
tenta convertê-lo à recente fé republicana.
Eu também sempre fui monarquista, ainda que muito desgostoso e descontente nestes
últimos tempos. Agora, é forçoso nos convencermos de que com a monarquia não há
salvação possível para a Pátria e para o Exército. Já temos provas de que, depois de tudo
o que fizemos, eles seguiram a mesma senda e estão tratando de aniquilar o Exército. E,
demais, a República virá com sangue, se não formos ao seu encontro sem derramá-los
(MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.49).
Quando todos planos estavam assentados, quando quase nada mais faltava senão
Deodoro dar a voz do comando, fazendo deflagrar o movimento, “subitamente se agrava o
estado de saúde do ilustre soldado. Benjamin vai visitá-lo e sua impressão é de que está diante
de um moribundo, aquém não restam senão algumas horas” (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b,
p.51).
Esse foi o cenário que antecedeu a proclamação. A transição da Monarquia para a
República se deu sem luta, episódio que até hoje suscita discussões apaixonadas em função das
testemunhas do evento. Um pequeno grupo, contando cerca de 600 militares, tendo a frente
Deodoro, dirigiu-se na madrugada de 15 de novembro ao Quartel General para depor o gabinete
53
de Ouro Preto em função de rumores a prisão de Deodoro e de outros militares (informação
verbal)
28
.
Não é objetivo da pesquisadora reconstituir minuciosamente os eventos que culminaram
com a Proclamação, mas, após marchas e contra-marchas, no entardecer daquela sexta-feira, a
Monarquia deixou de existir no país.
Segundo Basbaum (1976, p.17), a conspiração que pôs abaixo o Império não foi uma
trama hábil e cuidadosamente preparada como costumam ser as conspirações. “Tudo não passou
de conversações meio secretas entre meia dúzia de pessoas que até a véspera do golpe não
sabiam ainda se iriam até a proclamação da República”.
Já para Mota (1999, p.559), o golpe militar não representou o que pretendiam os
revolucionários. “O 15 de Novembro, embora feito com a colaboração de alguns chefes
republicanos, está muito longe de ter sido obra do Partido. Com efeito, apesar do grande número
de jornais, e do valor de alguns de seus líderes, a influência republicana no Rio era pequena [...]
quase não havia camadas sociais interessadas na República”.
Na opinião de Magalhães Junior (1957b, p.110), a transformação do regime era
considerada coisa naturalíssima. “A República foi recebida, de início, se não com entusiasmo,
pelo menos sem qualquer resistência, não apenas por parte das camadas populares, mas até
mesmo pela grande maioria dos homens públicos que compunham os quadros políticos do
antigo regime”.
De acordo com Neto (2003, p.278 e 283), os jornais republicanos comemoraram o feito.
“No dia 16, o jornal O Correio do Povo, que se dizia um órgão republicano estampa em
manchete principal: VIVA A REPÚBLICA BRAZILEIRA! - VIVA O EXÉRCITO VIVA A
ARMADA! VIVA O POVO BRAZILEIRO!”, assim como fez outros periódicos.
1.3. Governo Provisório
Deodoro da Fonseca, agora chefe do Governo Provisório, teve como uma de suas
primeiras ações, expedir uma intimação para que a Família Imperial deixasse o país em 24
horas, como ocorreu. Também escolheu seus ministros: Aristides Lobo (Interior), Benjamin
28
Frase do Capitão Francisco José Corrêa Martins, Chefe da Divisão de História do Arquivo Histórico do Exército,
que fica no Palácio Duque de Caxias no Rio de Janeiro. Informação verbal colhida pela pesquisadora no dia 25 jan.
2007.
54
Constant (Guerra), Ruy Barbosa (Fazenda), Quintino Bocayúva (Exterior), Campos Sales
(Justiça), Eduardo Wandenkolk (Marinha) e Demétrio Ribeiro (Agricultura) (MAGALHÃES
JUNIOR, 1957b).
As primeiras semanas do Governo Provisório foram de intensa atividade legislativa.
Cada ministério era uma fábrica de leis. Cada ministro valia por um Congresso. A 27 de
dezembro, era assinado o decreto que convocara para o dia 15 de setembro de 1890 as eleições
para Constituinte.
A pesquisadora descreve abaixo alguns acontecimentos do Governo Provisório,
compatíveis com o tema desta dissertação.
1.3.1. Assalto à redação de A Tribuna
À noite, porém, às oito horas e meia, com grande surpresa minha, do Jornal do
Commercio foi-me comunicado, pelo telefone, que naquele momento a Tribuna estava
sendo assaltada. Parti imediatamente para ali, mas, ao chegar ao edifício em que
funcionavam as oficinas da Tribuna, estava tudo consumado (Campos SALES, 1983,
p.33).
A imprensa gerou a pior crise do Governo Provisório. O episódio aconteceu com o jornal
monarquista A Tribuna Liberal, que passou a se chamar A Tribuna. O periódico pagou um preço
alto por fazer oposição ao regime republicano. Teve sua redação assaltada e seu revisor,
Joaquim Ferreira Romariz, morto durante o ataque.
A Tribuna Liberal
29
foi criada em dezembro de 1888 pelos republicanos liberais que
programavam um congresso para maio do ano seguinte. As oficinas eram na Rua Nova do
Ouvidor.
Com a Proclamação liderada por Deodoro, A Tribuna Liberal passou para a oposição.
Sua edição havia triplicado desde o dia 15 de novembro. Em 1º de dezembro de 1889 a tiragem
29
No entanto, um outro jornal homônimo tinha sido criado pela turma acadêmica de 1866 e 1870 contou, entre
outros, com Joaquim Nabuco, Castro Alves, Ruy Barbosa e Francisco de Paula Rodrigues Alves, sendo que alguns
deles chegaram transferidos ou não completaram o curso em São Paulo. Assistimos, em 1867, a fundação da
Tribuna Liberal, com Joaquim Nabuco à frente e seus colegas de Academia, Salvador de Mendonça, Arthur
Moreira, Ferreira Braga Junior, Leôncio de Carvalho, Martin Cabral e outros (NOBRE, 1950, p.74).
55
era de 22.500 exemplares. O jornal de propriedade do Visconde de Ouro Preto agora defendia
os atos do governo monarquista.
Com a partida de Ouro Preto para o exílio na Europa, o periódico passou a ser dirigido
pelo jornalista Carlos de Laet, outro vibrante monarquista.
O espírito sarcástico e combativo de Laet colocou A Tribuna Liberal numa posição tão
irritante e tão intolerável para o novo regime, que um decreto foi expedido com função
especial de silenciar suas atitudes ou, mesmo, antecipar para que mudasse sua opinião.
Diante de represália tão forte, Carlos de Laet retraiu-se e o jornal deixou de circular em
dezembro de 1889 (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.238).
Mesmo assim, o governo não se viu livre das investidas monarquistas. Isso porque, a
legislação brasileira não alcançava a imprensa estrangeira. Assim, Eduardo Prado, monarquista
da mesma linha que de Laet, vivendo fora do país, passou a escrever na Revista de Portugal,
dirigida por Eça de Queiroz, terríveis e irreverentes panfletos anti-republicanos. Destaque aqui
para a utilização de panfletos anti-republicanos, uma técnica de propaganda política muito bem
utilizada pelos monarquistas.
Prado alcançou grande sucesso com seus artigos e os números da revista eram
disputados. Os primeiros folhetins foram publicados em volume, com um prefácio caloroso do
Visconde de Ouro Preto, que continuava exilado. Sodré (1999, p. 290) lembra que o periódico
era enfático em sua linguagem dizendo que Deodoro era “uma nulidade, ambicioso e
prepotente”. Além disso, insultava a associação de classe dos oficiais: “o clube presidido pelo
senhor Deodoro não teria sido permitido em nenhum país culto”.
Congregando a força dos periódicos monarquistas, a tipografia de A Tribuna Liberal foi
reaberta sob a direção de Antônio Medeiros, em 1º de julho de 1890 com o nome abreviado, A
Tribuna. No editorial apresentava aos leitores que vinha “colaborar, sem ódio, nem prevenções,
na elaboração da opinião e na sua orientação”, acrescentando que, “frente ao poder, não será
nem neutra, nem louvaminheira” (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.239). Seu reaparecimento
foi parabenizado pelo O País.
A certa altura, começou a ser desenvolvida contra o diretor de A Tribuna uma campanha
de intimidação, através de ameaças de parentes de Deodoro. A primeira intimidação teria
56
partido do capitão Pedro Paulo da Fonseca Galvão, a segunda do tenente-coronel Hermes da
Fonseca e a terceira do major Clodoaldo da Fonseca (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.240).
Clodoaldo da Fonseca alertara para o chefe de Polícia, Sampaio Ferraz:
Aqui estamos para dizer-lhe que A Tribuna não pode continuar a insultar o generalíssimo
como vem fazendo... Este abuso tem que ter fim... Fica avisado: a redação daquela folha
vai ser assaltada por um grupo nosso... Queremos, apenas, que fique sabendo e não
intervenha. Sampaio Ferraz opõe-se e diz “mandarei sair à brigada militar e eu próprio
me colocarei à frente dela. Farei face dos assaltantes. Mandarei prender e farei processar
mandantes e mandatários, quaisquer que eles sejam [...]” (MAGALHÃES JUNIOR,
1957b, p.241).
O gesto do chefe de Polícia somente adiou o ataque à redação de A Tribuna. O ápice foi
dias depois, quando A Tribuna transcreveu da Revista Portugal, o mais recente e veemente
artigo de Eduardo Prado, intitulado ‘Praticas e Teorias da Ditadura Republicana no Brasil’.
Na sua paixão política, Eduardo Prado “não reconhecia em Deodoro a mais leve das
qualidades, o mais frágil dos predicados. Era uma nulidade, um zero fardado, um insignificante
elevado ao poder, num esto de ambição e de prepotência (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.
242-243)”. Prado prossegue:
O Sr. Deodoro, militar valente, não passou, no Paraguai, de um chefe de batalhão e nessa
qualidade foi ferido, o que aconteceu a centenas de outros oficiais. Nunca comandou as
forças brasileiras em campo de batalha, nunca dirigiu combate algum. Agora, em tempo
de paz, de figos e de vacas gordas, é que é generalíssimo. Por quê? Porque comandou em
chefe a grande ação de 15 de novembro?
Publicado tal artigo, Deodoro teve um acesso de cólera e mandou que o chefe de Polícia
Sampaio Ferraz prendesse o redator-chefe de A Tribuna, o Sr. Antônio de Medeiros, e fizesse
com que o jornal cessasse a publicação. Porém, Campos Sales procurou o marechal e conseguiu
uma contra-ordem ao chefe de polícia.
Os boatos de que A Tribuna seria assaltada continuaram. O redator do jornal Antônio de
Medeiros entregou uma carta ao ministro da Justiça Campos Sales, que a entregou a Deodoro. A
carta dizia:
Sei que hoje a noite vai ser assaltado o edifício d’A Tribuna, e destruído tudo quanto
nele se encontrar. Não tenho absolutamente confiança alguma na autoridade policial,
57
recorro a V.ex. que é a suma autoridade. Sou, de V.ex., atencioso venerador, Antônio de
Medeiros (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.245).
Deodoro tranqüiliza Campos Sales dizendo que ficasse descansado. A impressão de
Deodoro era que os rapazes, mais uma vez, ficariam nas ameaças.
Porém, poucas horas depois, irrompia na redação do jornal A Tribuna, numeroso grupo
armado, uns à paisana, outros vestindo fardas. No momento, estavam na redação o
responsável pelo jornal, Antônio de Medeiros, e o general reformado italiano Miguel
Maria Fanzini, além de vários empregados da redação, revisão e oficinas. A maioria
tratou de escapar quando começou a violenta depredação do jornal. Outros não
conseguiram fazê-lo a tempo, sendo colhidos pela fúria dos assaltantes. Alguns ficaram
feridos, dali saindo para receber curativo [...]. Um deles aí ficou, internado, tal a
gravidade do seu estado: o pobre revisor João Ferreira Romariz, pai de cinco filhos
menores. À frente dos atacantes foram identificados dois oficiais superiores, o coronel
Antônio Carlos da Silva Piragibe e o tenente-coronel Osório de Paiva (MAGALHÃES
JUNIOR, 1957b, p.246-247).
A Polícia compareceu ao local 40 minutos depois do ocorrido.
O Jornal do Brasil teve todo o cuidado ao veicular a notícia de que “um grupo armado,
comandado pelo coronel Piragibe e tenente coronel Vicente Osório de Paiva invadiu, ontem, as
oficinas do jornal A Tribuna, danificando-as” (SODRÉ, 1999, p. 295).
A repercussão do acontecimento foi tremenda, abalando os alicerces do próprio Governo
Provisório. No dia seguinte, ocorria uma reunião com os ministros, convocado por Campos
Sales e foi ele mesmo que informou que pediria demissão. Todos os ministros presentes
decidiram pedir demissão coletiva por causa do assalto a redação do jornal. Escreveram uma
carta e entregaram a Deodoro. A carta dizia:
[...] em tão crítica emergência, consultando o que deveremos à nossa consciência e à
nossa pátria, e o que devemos à vossa própria pessoa, como chefe do Governo
Provisório, julgamos cumprir nosso dever imperioso, resignando os cargos que
exercemos [...] (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.247).
Assinaram a carta Floriano Peixoto, Campos Sales, Francisco Glicério, Eduardo
Wandenkolk, José Cesário de Faria Alvim, Quintino Bocayúva. Faltou a assinatura de Benjamin
Constant e de Rui Barbosa, que se ausentaram da reunião por motivo de saúde.
58
Não, senhores! Nestas circunstâncias eu não lhes dou a demissão solicitada. [...] Que
abra um inquérito e faça punir os assaltantes. [...] De uma coisa, porém, quero que
fiquem sabendo: se insistirem no pedido de exoneração, eu me retirarei também
[...].“Lamento que de um ato policial queiram os senhores fazer uma questão política.
[...] De há muito peço ao governo uma lei de imprensa, e essa lei nunca se fez, apesar de
terem sido decretadas muitas outras de menos importância. Pois quanto a mim, sou
muito franco: se um jornal se arvorar em órgão de difamação contra mim, irei à pessoa à
luz do dia e em plena rua dar castigo ao insolente. Desafio a quem quer que seja a dizer
de mim alguma coisa capaz de macular-me. Mas não preciso da intercessão de
terceiros... Sabedor do que se planejava, mandei que os soldados ficassem impedidos nos
quartéis. Reprovei o ato" (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.249-250).
O marechal também queria o inquérito e este foi presidido pelo delegado Dr. Monteiro
Manso, que ouviu testemunhas, inclusive os empregados de A Tribuna. Por fim, os ministros
decidiram permanecer nos cargos e o Governo publicou uma nota lamentando o ocorrido.
Porém, a morte do revisor Joaquim causou comoção na capital carioca e no Congresso.
O fato foi lembrado por muito mais tempo do que o esperado como comprova o artigo de Artur
Miranda, na Revista Ilustrada, que acusava o governo de Deodoro pelo atentado. “[...] Jamais
pensamos que na capital federal houvesse um grupo de homens tão miseráveis [...]. Jamais nos
passou pela idéia que este fato tão mesquinho, tão repugnante, tivesse lugar sob o regime de
todas as liberdades concedidas pela lei [...]” (SODRÉ, 1999, p. 292-293).
A imprensa se uniu e exigiu medidas do governo para evitar atos como aquele assalto.
Os jornais ameaçaram interromper a circulação, caso o fato não fosse tratado com seriedade, e
elaboraram esta carta:
A imprensa fluminense, representada nos jornais abaixo declarados, reunida, hoje, na
sala da redação do Jornal do Commercio, para tomar conhecimento das medidas
empregadas pelo governo para assegurar e manter a liberdade de exame e de discussão,
gravemente comprometida pelo assalto feito A Tribuna e pelas ameaças de que têm sido
alvo outros jornais resolve declarar: 1º que não satisfaz a declaração hoje publicada pelo
Diário Oficial, por ser dúbia e frouxa; 2º que espera que serão punidos, na forma da lei,
os culpados do assalto, de que foi vítima a Tribuna, apontados pelo inquérito a que se
está procedendo; 3º - que está resolvida, caso tal punição não se dê, ou não desapareça a
falta de segurança em que acha a empregar todos os meios, dentro de suas funções para
assegurá-las, mesmo a suspender coletivamente a publicação dos jornais. Rio de Janeiro,
2 de dezembro de 1890. Jornal do Comme rcio, Gazeta de Notícias, Gazeta da Tarde,
Diário de Notícias, O País, Diário do Comércio, Cidade do Rio, Novidades, Correio do
Povo, Democracia, Revista dos Estados Unidos, La Voce del Popolo, Mequetrefe, La
Pátria, Revista Ilustrada, Apóstolo, Sportman (SODRÉ, 1999, p.290-291).
59
A atitude acima demonstra a organização e maturidade dos jornais brasileiros no início
da República. O governo instaurou inquérito policial para investigar o assalto, mas ninguém foi
punido.
Tal assunto não poderia deixar de repercutir no Congresso. O deputado César Spíndola
Zama organizou uma manifestação de desagravo sob o pretexto de homenagear o marechal
Hermes Ernesto da Fonseca, irmão de Deodoro. Chegou a anunciar um comício com tais
intuitos.
Zama tomara gosto pela campanha contra o governo. “Seus discursos foram dos mais
vibrantes e demolidores ali proferidos, sem sair, no entanto, das boas normas parlamentares”. E
proclamava: “A impunidade de semelhante atentado neste sábado, no estado de civilização a
que já atingimos, sendo primeiro magistrado da República o Sr. Marechal Deodoro, e ministro
da Justiça o Sr. Campos Sales, seria uma vergonha nacional!” (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b,
p.258-259).
O trecho revela a realização de comícios, aqui entendido como convencimento por meio
de palavras de uma idéia política.
No final de 1890, concluem-se os preparativos para o lançamento do mais novo jornal
anti-republicano. Rodolfo Dantas convida Joaquim Nabuco, que estava em Londres, para ser
correspondente direto da Inglaterra do Jornal do Brasil. Nabuco aceitou prontamente. O
lançamento aconteceu em 9 de abril de 1891, em homenagem à aclamação de D. Pedro II como
imperador.
O Jornal do Brasil nasceu com uma tiragem de cinco mil exemplares, endereço na Rua
Gonçalves Dias, com oito páginas, formato 120cm x 51cm, com a primeira página impressa em
corpo 10, com oito colunas. Pela organização e profissionalismo com que foi elaborado, ele
chegou para ficar entre os grandes jornais da época.
Segue abaixo, um panorama da imprensa na década de 1890.
1.4. A imprensa no final do século XIX
Não compreendo como quem veio, como Deodoro, libertar a pátria de um governo
despótico, queira, agora, esmagar a liberdade de imprensa. Confia em que o
generalíssimo, levado pela reflexão, modificará aqueles sentimentos. Só concebe
medidas severas contra os jornais quando essas folhas, como a Tribuna Liberal,
60
caluniam o governo e incitam as massas à revolta. Quanto à conduta de Rui, louvando-
lhe o talento e exaltando-lhe o coração, toma posição igual à de Campos Sales. Acha
que o ministro da Fazenda não tem razão. O Governo Provisório não é uma ditadura:
não é uma monarquia [frase de Benjamin Constant na Gazeta de Notícias]
(MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 156)
30
.
Para compreender os periódicos atuantes nos anos de 1889 (na Proclamação) a 1891 (na
eleição presidencial) período estudado nesta dissertação-, faz-se necessário lembrar que a
imprensa chegou no Brasil junto com a Família Imperial, em 1808.
A Gazeta do Rio de Janeiro, publicação de caráter informativo lançado pelo governo, foi
o primeiro jornal legalmente impresso em terras brasileiras. No mesmo ano, fora impresso o
Correio Brasiliense em Londres, que tinha caráter político, doutrinário e formador de opinião
pública (SODRÉ, 1999, p.20).
Até meados de 1850, os jornais eram impressos em casas dos moradores, escondidos da
fiscalização do governo, com custo elevado tornando o material escasso.
De 1870 em diante, os jornais começaram a contar com instalações próprias,
apresentando novos serviços, como venda de exemplares avulsos.
Os jornais diários profissionalizaram-se, sem perder o caráter opinativo e de intervenção
na vida pública. Os novos métodos de impressão permitiram expressivo aumento das
tiragens, melhora da qualidade e barateamento dos exemplares, que atingiram regiões
cada vez mais distantes graças ao avanço dos sistemas de transportes, que agilizam o
processo de distribuição (PINSKY, 2005, p.137).
O gosto pela imprensa cresceu rapidamente nas capitais e nas cidades de médio porte. Os
jornais tinham editorias de política nacional (reportagens ligadas à luta pelo poder político,
notícias sobre as greis, atuação dos seus líderes e a cobertura eleitoral); política internacional
(abarcava as questões diplomáticas, política dos países estrangeiros, guerras, entre outros);
cultura (publicavam os romances de folhetim); além de atos administrativos, religiosos e
econômicos.
Existiram diversos jornais republicanos, porém, grande maioria teve vida efêmera, não
se firmando após a Proclamação. A região Sul (na época São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande
30
Aqui se demonstra a falácia de Benjamin Constant: qualquer governo, sem uma carta constitucional, por
definição, é uma ditadura! (Informações do Capitão Francisco José Corrêa Martins, chefe da Divisão de História do
Arquivo Histórico do Exército, obtidas por e-mail enviado à pesquisadora no dia 4 março 2007).
61
do Sul e Minas Gerais) se destacava no jornalismo político. Dos 74 jornais republicanos
espalhados pelo Brasil no ano de 1888, 54 estavam na região, representando 73% do total
enquanto o Norte tinha 20 órgãos, ou 27% do montante.
A grande imprensa da época, considerada formadora de opinião, era composta pelo
Jornal do Commércio (1826), O Correio Paulistano (1854), A Província e depois da República,
O Estado de S. Paulo (1875), a Gazeta de Notícias (1875), O País (1884), A Platéia (1888), o
Jornal do Brasil (1891) e o Correio da Manhã (1901).
O caráter transgressivo da imprensa na República Velha
31
fugia ao círculo restritivo de
um tipo específico de jornal. “Mesmo os jornais de situação não estavam salvos de vingança,
porque a maioria dos impressos vivia na incerteza do agrado ou desagrado dos leitores que se
envolviam nas lutas políticas do tempo” (SOUZA, 2003, p.21).
A oposição na imprensa era composta por vários monarquistas, entre eles: Carlos
Afonso, Ferreira Viana, Andrade Figueira. “Os grandes jornais continuaram os mesmos, com
mais prestígio e força os republicanos, com mais combatividade, os monarquistas” (SODRÉ,
1999, p. 287).
No dia 18 de dezembro de 1889, começaram a circular boato na cidade do Rio de Janeiro
de que havia eclodido uma revolução militar destinada a repor D. Pedro II no Trono. O que
tinha ocorrido era o levante de 60 praças do 2º Regimento, em São Cristóvão, o que foi
dominado pelo ajudante-general do Exército Floriano Peixoto.
Porém, o governo tomou uma série de providências preventivas e mandou prender
metade dos praças que se revoltaram além de adversários declarados da República. Os
principais jornalistas monarquistas foram presos, entre eles: Silveira Martins, Ferreira Viana,
Visconde de Inácio Martins, Jerônimo Braga, Prado Pimentel, Lima Duarte, o Marques de
Paranaguá, Carlos de Laet, Alfredo Chaves e Tomás Coelho. “Todos foram ouvidos e postos em
liberdade, menos Silveira Martins que dias depois fora deportado para a Europa”
(MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.115).
31
República Velha foi o período que começou com a proclamação em 1889 e terminou com a Revolução de 1930.
Segundo José Inácio de Melo Souza (2003), a imprensa foi o veículo de comunicação mais importante no Brasil até
1930. Impressos em máquinas tipográficas planas (rotativas eram novidade), os jornais de quatro ou oito páginas, a
maioria, eram produzidos no Rio de Janeiro (23 diários em 1912) e em São Paulo (17 diários).
62
Por causa do boato foi baixado decreto em 23 de dezembro de 1889, censurando a
imprensa e formando uma Comissão para quem transgredisse as leis. O decreto dizia:
Os indivíduos que conspirarem contra a República e o seu governo; que aconselharem ou
promoverem, por palavras escritas ou atos, a revolta civil e a indisciplina militar [...]
serão julgados militarmente por uma comissão militar nomeado pelo ministro da Guerra,
e punidos com as penas de sedição (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.116).
Um dos resultados da severa repressão ao motim foi à imediata cessação da publicação
de A Tribuna Liberal.
Pouco depois, agravou-se o estado de saúde de Deodoro. Ele elaborou o Decreto de 31
de dezembro, afirmando que na falta do chefe do governo provisório, o cargo seria assumido
pelo 1º vice-chefe, no qual Rui Barbosa fora nomeado. A imprensa da oposição explorou o fato.
A Gazeta de Notícias afirmava em editorial de 6 de janeiro de 1890: “Não argumentamos com a
preferência dada ao Dr Rui Barbosa; para nós, ele é neste caso simplesmente um paisano, tão
digno, como qualquer dos seus colegas, dessa prova de fraternal confiança do grande militar”
(MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.121). De nada valeram as objeções, pois o decreto não foi
alterado.
O decreto sobre os bancos emissores elaborados pelo ministro da Fazenda, Rui Barbosa,
e publicado a 17 de janeiro de 1890, além de provocar a primeira crise no seio do novo governo,
“suscitaria, também, um singular fenômeno, a febre das especulações de todo o gênero, de jogo
na Bolsa, de negócios e negociatas, que passaria à nossa história financeira com o nome de
‘encilhamento’” (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.142).
Romperam contra o ministro da Fazenda o Jornal do Commercio, Correio do Povo, Rio
News, Gazeta de Notícias e Cidade do Rio. Os mais aguerridos eram os dois últimos, dirigidos
respectivamente por dois jornalistas de fama, Ferreira de Araújo e José do Patrocínio. A favor
do governo, colocavam-se o Diário do Comércio, Gazeta da Tarde, Novidades e Diário de
Notícias, manteve-se O País ausente dos debates (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.144).
O decreto de Rui Barbosa prevalece ao de Demétrio e este último pede demissão. Foram
inseridas alterações no decreto que estabelecera as emissões bancárias. E assim, encerra-se a
primeira grave crise do governo explorada pela imprensa.
63
Neste episódio está perfeitamente caracterizado o modo de agir de Deodoro: firme nas
decisões tomadas, incapaz de um recuo ou de uma tergiversação; corajoso em arrostar
opiniões contrárias, sem temer conseqüências; disposto a renunciar, quer para forçar a
união do ministério, talado pelas rivalidades e ciumadas, que para evitar transigências
com os pontos de vista que firmara (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.160).
“Uma semana depois de Demétrio Ribeiro deixar o ministério, também se exonera o
ministro do interior, Aristides Lobo, desgostoso com o fato de Deodoro ter se recusado a
atendê-lo numas tantas nomeações que havia preparado” (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.
166).
Em visita ao Brasil, Max Leclerc, do jornal parisiense fez os seguintes comentários sobre
a imprensa brasileira:
A imprensa no Brasil é um reflexo fiel do estado social nascido do governo paterno e
anárquico de D. Pedro II: por um lado, alguns grandes jornais muito prósperos, providos
de uma organização material poderosa [...] tais jornais ostentam uma certa
independência, um certo ceticismo zombeteiro, a maneira do nosso Fígaro, ou se
mostram imparciais até a impassibilidade. [...] Em torno deles, a multidão multicor de
jornais de partidos que, longe de serem bons negócios, vivem de subvenções desses
partidos, de um grupo ou de um político e só são lidos se o homem que os apóia está em
evidência ou é temível. Nos jornais mais lidos, os anúncios invadem até a primeira
página: transbordam de todos os lados, o espaço deixado à redação é muito reduzido e
nesse campo já diminuto, se esparramam diminutas notícias pessoais, disques-disques e
fatos insignificantes (Max Leclerc, Cartas do Brasil, In: SODRÉ, 1977, p.288-289).
Para a eleição ao Congresso Constituinte, a Gazeta de Notícias colocou suas páginas à
disposição dos candidatos. Trazia na primeira página entrevistas com muitos deles. Na vez de
Eduardo Wandenkolk, que foi ouvido pelo jornalista João Chaves, este teceu críticas sobre
decisões do Governo Provisório. A entrevista publicada em 7 de setembro foi bombástica para o
momento (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 214-215).
Mesmo ocupando a pasta da Marinha, Wandenkolk, disse que a separação do Estado e
da Igreja era complexa e inoportuna. “Se fosse eleito, esforçar-se-ia para que a Constituição
fosse retificada, nesse e em outros pontos. Afirmou ainda que o governo não teve, nem podia ter
a pretensão de fazer uma obra perfeita” (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 215).
As explorações e comentários do assunto foram tamanhos que Rui Barbosa apresentou
sua resposta no editorial do Diário de Notícias. Em seguida, a Gazeta de Notícias, defendeu as
posições de Wandenkolk e estendeu as críticas a Benjamin Constant.
64
As opiniões e sentimentos ficaram cada vez mais ácidos entre os dois jornais que em 12
de setembro, Deodoro, convoca sessão extraordinária do ministério para debater exclusivamente
o assunto (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 215). Este parágrafo confirma o ‘provocação’
dos artigos publicados na imprensa.
Na reunião, foi elaborado um documento no qual todos membros do Governo Provisório
afirmam que nunca cessaram de reconhecer todas medidas promulgadas pelo chefe do Estado e
continuam a aderir as leis da República. (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 218-219).
O ano 1890 se finda com a relação abalada entre Deodoro e seus ministros, devido ao
incidente do jornal A Tribuna. No entanto, outros incidentes, descritos abaixo, contribuíram para
aumentar a tensão.
Na sessão do ministério realizada a 19 de junho de 1890, Deodoro critica a monarquia
por não ter realizado determinadas obras portuárias urgentes, entre as quais o Porto de Tôrres.
Várias investidas fizera Deodoro, sempre confrontado com objeções e protelações, e
irritava-se por ver que o seu ponto de vista não prevalecia. É provável que tivesse, de
boa fé, se comprometido com os pretendentes à concessão, dizendo que estava de acordo
e que obteria a aprovação do ministério, ao que eles desejavam, ou propunham. Homem
visceralmente honesto, não compreendia que outros vissem com suspeição ou malícia
uma operação que lhe parecia boa e justa, podendo representar a solução de um velho
problema pelo qual sempre demonstrara o maior interesse (MAGALHÃES JUNIOR,
1957b, p. 263-264).
O ministro da Fazenda Rui Barbosa era ‘absolutamente contra tais obras’ porque tinham
restrições e ‘ressentiam-se de excesso’. Deodoro se irrita e critica a administração de seu
ministro.
A crise do Porto das Torres se estendeu por seis meses e seu desfecho se deu no dia 20
de janeiro de 1891 com a entrega da carta (transcrita abaixo) a Deodoro, na qual os ministros
pediam demissão coletiva.
Generalíssimo: Tendo sido votado hoje, pelo Congresso Nacional, em primeira
discussão, o projeto de Constituição da República, circunstância da qual ficou
dependendo a nossa retirada dos negócios públicos, pela demissão que demos dos nossos
cargos na última conferência, celebrada a 17 do corrente, em conseqüência da nossa
oposição à garantia de juros para a empresa do Porto de Torres, aguardamos a
designação de nossos sucessores, reiterando-os os protestos de nossa alta consideração
(MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.269).
65
A carta de 20 de janeiro de 1891 vinha assinada por Rui Barbosa, Campos Sales,
Francisco Glicério, Eduardo Wandenkolk, Quintino Bocayúva, Cesário de Faria Alvim.
Deodoro deflagrara uma grave crise tão somente por um duelo de vontades. Porém, foi
mais longe ao aceitar a demissão dos ministros, como confirma a seguinte carta:
Capital Federal, 21 de janeiro de 1891. Ilustres cidadãos: Em resposta à vossa carta de
ontem, solicitando dispensa do ministério, tenho a declarar-vos que a concedo,
lamentando apenas que tenha servido de pretexto a essa resolução a garantia de juros
para a construção do Porto de Torres, obra, aliás, urgentíssima, de elevado alcance
político e econômico, e como tal reconhecida pela quase totalidade do ministério.
Reitero-vos os protestos da minha alta consideração (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b,
p.270).
Deodoro assume perante o país, a inteira responsabilidade pelos seus atos e, embora às
vésperas da eleição presidencial, baixou decreto autorizando a construção do Porto de Torres.
A repercussão da demissão dos ministros foi a pior possível, em razão da divulgação dos
motivos. Rui Barbosa no Diário de Notícias e Quintino Bocaiúva em O País expuseram o caso
com louvores à conduta dos ex-ministros. No Congresso, César Zama ataca novamente
Deodoro: “Desconheço, na ditadura, o direito de proteger interesses! A ditadura tem mais é
obrigação de proteger direitos e não interesses individuais!” (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b,
p.273).
Integrava o novo ministério, o velho amigo de Deodoro, Barão de Lucena como ministro
da Fazenda e Agricultura, conselheiro Tristão de Alencar Araripe (Justiça), o general Falcão da
Frota (Guerra), o almirante Foster Vidal (Marinha), Dr. Justo Leite Chermont (Relações
Exteriores) e Dr. João Barbalho Uchoa Cavalcanti (Instrução Pública, Correios e Telégrafos).
(MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 272).
No novo ministério havia homens ilustres, mas não tinham entre si os vínculos de
solidariedade política, a tradição republicana, a intimidade e a confiança que ligavam os
ministros que acompanhavam Deodoro há meses.
A morte de Benjamin Constant no dia 22 de janeiro de 1891 contribuiu para acentuar o
contraste entre a primeira e a segunda fase do Governo Provisório. Os positivistas do Congresso
resolveram dar a Benjamin, e só a ele, o título de ‘Fundador da República Brasileira’. Deodoro
apóia e argumenta:
66
Considerando os muitos e extraordinários serviços que em sua vida prestou ao país o
eminente cidadão e patriota, general de brigada Benjamin Constant Botelho de
Magalhães; considerando que esses assinalados serviços, quer concernentes à causa da
difusão do ensino e da melhoria da educação nacional, quer referentes à propaganda da
grandiosa reforma política que trouxe a reconstituição do país sob a forma republicana
[...] (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.276).
A figura de ‘propagandista’ da República foi enfatizada por Deodoro.
Carlos de Laet no capítulo ‘Imprensa (18891899)’ da obra Década Republicana
(OURO PRETO, 1986, p.218-220) revela detalhes da censura recebida por alguns jornais
monarquistas. O Brazil, jornal fundado no Rio de Janeiro em 27 de março de 1890 que defendia
a política consorciada à causa católica a impugnação da república positivista, tinha suspendido a
publicação até que fosse garantida a liberdade na enunciação do pensamento. “Consoante aos
seus processos habituais, os triunfadores arremeteram contra o Diário do Commercio e
despedaçaram-lhe a tabuleta e os móveis. O [jornal] Novidades também padeceu ataques
violentos. A República não sabe triunfar de outro modo”.
Roberto Piragibe da Fonseca (1979, p.90-91), teceu algumas críticas aos meios de
comunicação da época. “O livro, -que livros materialmente repulsivos!-, o jornal, -que jornais
mal feitos e mal informados!-, o teatro, -diversão esporádica-, e o relato vivo de um outro afoito
viajante [...]”. O autor confirma que existia “muita ênfase, muita empatia, muita meia-ciência e
muito charlatanismo. Era tudo na base do improviso e do atamancamento
32
”.
Abaixo segue outros acontecimentos do Governo Provisório, focando desta vez, o
material de propaganda utilizado pelos opositores de Deodoro.
32
Atamancamento é uma referência tardia aos ‘tamanqueiros’, como eram chamados jocosamente os portugueses
na primeira metade do século XIX, em especial quando em disputas contra os brasileiros. Trata-se, pois, de um
jogo de palavras e conceitos. E novamente Fonseca busca denegrir os jornais para exaltar seu antepassado.
(Informações do Capitão Francisco José Corrêa Martins, Chefe da Divisão de História do Arquivo Histórico do
Exército, obtidas por e-mail enviado à pesquisadora no dia 4 março 2007).
67
Capítulo 3. A PROPAGANDA DA OPOSIÇÃO
1. A Oposição
O terceiro capítulo trás relatos dos cartazes, boletins e dos ‘panfletários’ que fizeram
propaganda contra Deodoro. A pesquisadora reproduziu e fez uma breve descrição das charges
de Ângelo Agostini que satirizavam o marechal e foram publicadas durante o Governo
Provisório. Também contextualizou o ‘lançamento da candidatura’ de Deodoro, os discursos do
‘candidato’ Deodoro no Congresso e o ‘jornal bomba’ lançado nas vésperas do primeiro pleito
presidencial do Brasil.
Dentre vários opositores, dois que atormentaram Deodoro no período que antecedeu a
Proclamação foram o visconde de Ouro Preto e o senador Gaspar da Silveira Martins.
Na descrição de Magalhães Junior (1957b, p. 10), Ouro Preto fora administrador de
capacidade comprovada, homem público de intocável honradez, mas que se perdia pela
intransigência, pela inflexibilidade e pelo espírito rigorista.
Um exemplo da atitude áspera de Ouro Preto foi à escolha de Cunha Matos para exercer
a presidência da Província de Mato Grosso, a quem Deodoro ficaria subordinado. Sua intenção,
confessada posteriormente em manifesto, era chamar Deodoro de seu desterro, fazendo-o
regressar, prestigiado, à Corte.
A reação de Deodoro foi abandonar Mato Grosso e retornar ao Rio de Janeiro, onde fora
recebido com entusiasmo pelos republicanos.
Sua irritação era grande, não só pelos melindres que lhe causara a tentativa de
impor-lhe uma subordinação ao coronel Cunha Matos, em que via um propósito
de humilhá-lo, como ainda por verificar, claramente, que servira de joguete à
política imperial (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 12).
Outro fato que contribuiu para aumentar o desgosto de Deodoro foi quando soube que
seu ferrenho inimigo, o senador Gaspar da Silveira Martins, beneficiando-se com a ascensão dos
liberais ao poder, fora nomeado por Ouro Preto para a presidência do Rio Grande do Sul, cargo
que Deodoro tinha ocupado. Ele ainda desliga dois professores da Escola Militar de Porto
Alegre, dois amigos leais e dedicados de Deodoro.
Ouro Preto utilizou estas estratégias para assegurar o predomínio dos liberais na última
eleição da Câmara, ainda sob o regime monárquico. Dos 139 representantes eleitos em 1889,
68
apenas 9 seriam oposição. Deodoro se pronuncia dizendo que ficou surpreso com os resultados
da eleição.
Até o momento, a pesquisadora descreveu alguns desafetos de Deodoro. Entretanto, nos
dois últimos capítulos, outros opositores estão descritos. Abaixo consta o material de
propaganda política e eleitoral usados contra Deodoro.
1.2. Cartazes e Boletins
Cedo os panfletários, os humoristas da imprensa, os gracejadores das ruas, tinham
apelidado os ministros de ‘generais de bobagem’, para gáudio dos verdadeiros militares
Ninguém foi mais ferino nos comentários a tal respeito que Eduardo Prado, na Revista
de Portugal (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 205).
Em 15 de fevereiro de 1890, Benjamin Constant afirma ter ouvido uma conversa entre os
ex-deputados Pedro Luís e Alfredo Chaves, com uma terceira pessoa, que teria sido escolhida a
Praia de Guaratiba para um desembarque de tropas monarquistas. No seu entender, tratava-se de
alarmar a cidade e promover manifestações contra o governo, a fim de obter para os
monarquistas o controle da futura Constituinte. Pouco tempo depois de tal comunicado, isto é, a
27 de março,
Alguns indivíduos, - Jânsen Muller de Faria, José Cordovil Trajano de Oliveira e
Deoclesiano Mártir, - andaram pelo comércio, intimando comerciantes a cerrar as portas
ao meio-dia, numa demonstração de protesto contra o Governo Provisório, apelo a que
ninguém atendeu. Foram afixados cartazes e distribuídos boletins contra a República e a
ditadura, em vários pontos da cidade. Efetuou a policia a prisão de três dos responsáveis,
que foram submetidos a julgamento, pelo órgão criado especialmente para reprimir atos
anti-republicanos (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.178).
Destaque aqui para o uso de duas técnicas de propaganda política, como ‘afixação de
cartazes e distribuição de boletins’.
Diante desse ambiente instável, mais uma vez, havia indícios de que a liberdade de
imprensa seria censurada. O principal ponto que denotava isso, era a maneira com que Deodoro
reagia às críticas da imprensa.
Na ocasião, o jornal Cidade do Rio publicou em meia página uma caricatura do marechal
pedindo que os jornais fossem poupados. Em outro episódio, o marechal ordenou a prisão do
69
ex-governador do Maranhão, Dr. Pedro Tavares, devido a artigos publicados por ele em A
República, da cidade de Campos. Com tal atitude, inclusive, passou por cima da autoridade de
seus ministros (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.178).
Mesmo os jornais do interior chegavam a Deodoro para que os autores de críticas fossem
incluídos na lista negra do Governo Provisório. Aliás, ele chegou a ordenar ao chefe de Polícia
punição para os diretores de Novidades e Diário do Comércio.
As medidas foram explicitadas em 29 de março de 1890, em reunião no gabinete de
Deodoro, quando ele afirmou que desejava a punição a fim de garantir o sossego público e a
liberdade de ações do governo. “Disse ainda entender que o gabinete não podia por mais tempo
adiar mais uma medida geral que reprimisse atitudes ‘as manifestações hostis ao governo, em
linguagem inconveniente e antipática” (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.179).
O mesmo autor afirma que diante disso, Campos Sales fez considerações gerais sobre a
liberdade de imprensa, o uso e o abuso da publicidade, e apresentou à consideração do
ministério o rascunho de um decreto regulando a matéria, de modo que o direito de crítica ao
governo fosse, porém, preservado e não radicalmente eliminado.
O texto foi aprovado por unanimidade e se transformou no seguinte decreto:
Art.º 1 - Ficam sujeitos ao regime do decreto de 23 de dezembro de 1889 todos aqueles
que deram origem ao concorrerem pela Imprensa, por telegrama e por qualquer outro
modo, para por em circulação falsas notícias e boatos alarmantes, dentro ou fora do país,
como sejam os que se referirem à disciplina dos corpos militares, à estabilidade das
instituições e à ordem pública. Art.º 2 Exclui-se da generalidade desta disposição a
análise ou a discussão oral ou escrita, por mais severa que seja, sobre os atos do governo,
tendo por fim denunciar, corrigir ou evitar os erros da pública administração, contanto
que não contenha injúria pessoal. Art.º 3 Quando qualquer delito for cometido fora da
Capital Federal, o delinqüente será para ela conduzido preso e aí submetido ao
julgamento da comissão instituída pelo referido decreto [...]. [Data de 29 de março de
1890] (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 180).
O decreto de Deodoro, confirmando essas penas, foi divulgado a 12 de abril, pela manhã.
E já à tarde, a Cidade do Rio, em desenho que ocupava dois terços da primeira página, se
prosternava, nua, aos pés de Deodoro, com esta legenda patética: “Generalíssimo! A mais bela
prerrogativa da vossa elevada posição é a faculdade que tendes de perdoar. Concedei à Cidade
do Rio órgão do Povo o perdão dos infelizes que delinqüiram na noite de 26 para 27 de
março último!” (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 181).
70
O documento foi recebido com pânico entre os grupos contrários à República. A Cidade
do Rio o transcreveu sem nenhum comentário. A impressão deixada foi a de que os
manifestantes presos em 27 de março seriam condenados à morte. Contudo não foi isso que
ocorreu e eles tiveram sentenças relativamente brandas diante do esperado: Jansen Muller de
Faria foi condenado a dois anos de deportação, Deocleciano Mártir há um ano e José Cordovil
Trajano de Oliveira há dois meses (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 181).
Imediatamente a Cidade do Rio apressou-se a deitar editorial sobre a magnanimidade de
Deodoro, sob o título de ‘Perdoados’ (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 182).
Deodoro foi satirizado por meio de editorias, artigos, ilustrações, charges e caricaturas.
Segue o que a imprensa ilustrada produziu de mais relevante sobre ele.
1.3. Charges e Festas
Charges em jornais e revistas, a maioria de deboche e zombaria, foram amplamente
divulgadas no final no século XIX. O melhor representante do período foi o italiano Ângelo
Agostini que, com grande capacidade artística, ilustrou a Revista Illustrada, o Cabrião, e outras
que atuou.
As charges que Agostini fez ilustrando Deodoro da Fonseca consta nesse Capítulo. Mas,
antes, a pesquisadora relata algumas tensões ocorridas no Governo Provisório, devido à
publicação dessas charges e caricaturas.
No caso que segue abaixo, Deodoro se irritou com uma ilustração feita pelo caricaturista
Bento Barbosa, publicada em 27 de novembro de 1890, na Cidade do Rio:
Uma mulher branca, de formas opulentas, lembrando um das figuras carnudas que Eliseu
Visconti desenhou no teto do Teatro Municipal, muito risonha, bem penteada, de meias
e... Quanto ao mais completamente nua! Quando Demétrio Ribeiro deixa o ministério,
essa figura de mulher aparece coroando-o. Em outras oportunidades, está a escandalosa
dama ao lado do próprio marechal, formulando-lhe apelos... (MAGALHÃES JUNIOR,
1957b, p. 201).
Outras duas figuras caricaturados por Bento Barbosa foram os ministros Alvim e Rui,
que os desenhou de farda e espada à cinta, dedicando a charge ao Diário de Notícias. Também a
Revista Ilustrada, de Ângelo Agostini, publicou uma capa com o ministério, uniformizado, em
desfile.
71
Posteriormente surge outro caricaturista no Brasil, Benedito Bastos Barreto Belmonte-
que acompanhou a Folha da Noite, desde o seu aparecimento, em 1921, até maio de 1947,
quando faleceu (NOBRE, 1950, p.97).
Enquanto as charges publicadas nos meios impressos satirizavam Deodoro, ocorria
festas com encenações cômicas organizadas por monarquistas com intuito de deboche, mas
acabavam exaltando a figura de Deodoro. Abaixo está o relato da encenação na sessão cívica,
comemorativa ao segundo aniversário da abolição da escravatura, em 13 de maio de 1890.
Ao chegar, o marechal foi recebido por três moças que representam figuras simbólicas,
vestidas à maneira grega: uma era a República, Maria Clapp; outra a Imprensa, América Clapp;
e a terceira a Liberdade, Elisa de Carvalho. “As três encantadoras moças cobrem a cabeça do
venerando militar de pétalas de rosas, sob os aplausos de uma multidão de mais de seis mil
pessoas” (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 202), registra um dos jornais cariocas.
Nessa comemoração, discursos metafóricos de monarquistas exaltaram Deodoro. O
primeiro foi de João Clapp, grande abolicionista. Em seguida, José do Patrocínio, orador
romântico e bombástico, amigo de imagens ousadas e metáforas atrevidas, se derrama de
elogios a Deodoro.
A festa ainda conta com desfile de carro alegórico, em que se encontra uma estátua em
bronze, ‘Africana’, oferecida depois a esposa de Deodoro, D. Mariana. Apesar do deboche, o
episódio glorificou Deodoro.
Não lhe faltava à consagração dos teatros populares, pois que em meados de 1890 é
estreado o Teatro Politeama, - que em breve desapareceria num incêndio, - a revista em
três atos e treze quadros, ‘República, dos irmãos Artur e Aluísio Azevedo, com cenários
de Carrancini e Coliva, um deles, o de ‘O Festim de Baltazar’, reconstituindo o baile da
Ilha Fiscal. A apoteose, ‘Salvação do Brasil’, era a glorificação de Deodoro
(MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 202).
Outra grande festividade aconteceu a 24 de maio. Era a parada comemorativa da data da
batalha do Tuiuti, com o desfile das forças de terra e mar, no qual o ministro da Argentina,
Henrique Moreno, faz a entrega a Deodoro e seus ministros das medalhas comemorativas da
guerra contra o Paraguai.
Vai crescendo, a cada uma dessas solenidades e manifestações, a popularidade de
Deodoro. Crescia também, decerto, a convicção íntima de seu próprio valor, não de
72
soldado, mas de homem de Estado, de sua força de governante, de sua adequação para o
papel histórico que fora chamado a desempenhar. Por toda à parte, era ele agora o chefe
aclamado, festejado, vitoriado (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.204).
Deodoro fora uma figura estimada e popular na cidade. Ocupava o centro das atenções e
por isso era retratado das mais distintas maneiras.
1.3.1. As charges de Ângelo Agostini
O reino encantado da imagem, ao esgrimir já, por primeiros, as armas da caricatura,
com tal paixão pela liberdade e pela democracia em nossa terra que foi chamado e tido
como o mais brasileiro dos brasileiros. Que foi ele quem traçou, de semana em semana,
o retrato do Brasil político e social, legando-nos o mais importante, e talvez único
documento icnográfico do Segundo Império (CAGNIN, 1996, p.6).
Antes da breve descrição das charges de Ângelo Agostini envolvendo Deodoro da
Fonseca, a pesquisadora relata quem foi este cartunista que implantou em São Paulo a imprensa
ilustrada.
Nascido em Vercelli, Itália, em 1843, filho de Raquel, cantora lírica e Antonio Agostini,
violinista, Ângelo Agostini viera para o Brasil ainda jovem. Seu pai faleceu quando ele tinha
quatro anos, por isso sua infância passou em Paris, em companhia da avó. Sua mãe não podia
dar-lhe a devida atenção, por ter que se ausentar com freqüência em turnês artísticas (CAGNIN,
1996, p.12).
A data em que chegara ao Brasil não se sabe. A versão comum afirma que teria
desembarcado no Rio de Janeiro em 1859, em companhia da mãe, e, após três meses de
permanência na Corte, chegava em São Paulo. Agostini teria, então 16 anos. Sua mãe veio a se
casar novamente (CAGNIN, 1996, p.12).
Pela mão do padrasto [o jornalista] Antonio Pedro Marques de Almeida, “percorreu a
imprensa paulista, em que o lápis litográfico como arte de combate era desconhecido (SODRÉ,
1999, p.204)”.
Agostini produziu uma obra vultosa, impressionantemente bela, cheia de vigor e paixão.
Mais de 5.000 páginas em 55 anos de militância na imprensa ilustrada. A maior parte dos seus
desenhos estão nos jornais de sua propriedade, o Diabo Coxo (1864-1865) e o Cabrião (1866-
73
1867), os dois em São Paulo; a Revista Illustrada (1876-1888), o mais importante periódico de
caricaturas de então [esteve sob sua direção só até 1888, quando se viu obrigado a passar alguns
anos na Europa devido às ameaças dos escravocratas]; mais tarde, o Don Quixote (1895-1903),
um dos últimos jornais a usar a litografia como processo de reprodução. Boa parte de sua obra
se encontra também em outros periódicos. O Arlequim, O Mosquito (1867 a 1876), Gazeta de
Notícias (1904 e 1905), Leitura para Todos (1905) e, finalmente, n’O Malho (1904 a 1907).
(CAGNIN, 1996, p.12 e 14).
Portanto, o período estudado nesta dissertação, coincide com o período que ele atuou na
Revista Illustrada.
Ainda que pioneiro nas histórias em quadrinhos, Agostini foi mais conhecido como
caricaturista e como tal se destacou no panorama da vida nacional por sua atuação na imprensa
ilustrada.
Empunhando as armas do riso e da sátira exerceu uma influência efetiva na formação da
opinião pública, sobretudo em momentos decisivos da vida nacional: a abolição da
escravatura e a proclamação da república. Este mesmo poder persuasivo através da
imagem Agostini havia exercido antes, em São Paulo, apor ocasião da guerra do
Paraguai (CAGNIN, 1996, p.10).
Sobre a influencia efetiva na formação da opinião pública por meio das ilustrações, o
pesquisador Edson Carlos Romualdo (2000, p.18), completa: “Os textos chárgicos transmitem
informações (informatividade), utilizando o sistema pictórico, ou sincreticamente o pictórico e o
verbal. Os chargistas colocam neles suas opiniões, suas críticas as personagens e fatos políticos
(intencionalidade)”.
Romualdo (2000, p.21), define charge como sendo “a crítica humorística de um fato ou
acontecimento específico, em geral de natureza política”. Já caricatura:
Consiste no exagero proposital das características marcantes do indivíduo, é um
elemento visual constituinte das charges. Ela é bastante freqüente, pois como a charge
está ligada aos acontecimentos políticos, aparecem em seu corpo caricaturas de
presidentes, ministros e outras personalidades do mundo político nacional e até
internacional (ROMUALDO, 2000, p.26).
Retomando a obra de Agostini, Cagnin (1996, p.10), afirma que “seu lápis deixou ainda
um retrato por inteiro do país: os tipos urbanos, a exuberante paisagem, os políticos [grifos da
74
pesquisadora], o imperador, o governo; toda sua história, sua grandeza e miséria, seu riso e
dores”.
A maioria das caricaturas ou charges de Ângelo Agostini eram seqüenciais,
desenvolvendo-se, muitas, em dois ou mais capítulos. “Este procedimento é mais que comum
nos documentários dos fatos do dia ou da política, quando mescla realidade com ficção, alegoria
e sátira” (CAGNIN, 1996, p.6).
Também foram comuns as interrupções nos periódicos que atuava. “Talvez porque
Agostini, trabalhando sempre sozinho nos seus jornais, tivesse que dar conta das reportagens e
das caricaturas da semana” (CAGNIN, 1996, p.8).
As charges de Agostini eram esperadas com ansiedade toda semana. “Agostini excedeu a
todos, inclusive aos seus antecessores, na arte de contar história em imagens, e na técnica dessa
seqüencial” (CAGNIN, 1996, p.10).
Agostini inovou na imprensa ilustrada.
No seu tempo, já existia a fotografia, mas não se podia transpor a imagem fotográfica
para a página do jornal. Entrava então o desenhista representando as cenas com riqueza
de detalhes e movimentos. O leitor podia ver o acontecimento através do repórter. Para
conseguir esse efeito, Agostini recorreu às imagens em seqüência. Suas charges ou
caricaturas se resolviam a miúdo em mais de uma vinheta, freqüentemente, em minutas,
levado pela ânsia irresistível de encher a grande prancha de desenhos (CAGNIN, 1996,
p.12).
Chargista, cartunista e historiador de quadrinhos, Ângelo Agostini era um liberal, viu
com bons olhos a Proclamação. Esta simpatia para com o chefe do Governo Provisório reflete
nas charges que produziu. Agostini viveu grande parte de sua vida no Brasil, onde faleceu em
1910 (VERGUEIRO, 2002, p.1).
Com o contexto da vida e obra de Agostini, a pesquisadora passa agora a descrever suas
charges publicadas na Revista Illustrada
33
entre a Proclamação da República (1889) e a primeira
eleição presidencial do país (1891).
33
A pesquisadora descreveu somente as charges de Agostini que constam nos livros consultados. Também
verificou algumas edições micro-filmadas da Revista Illustrada, porém sem a preocupação de encontrar a
totalidade das charges de Deodoro publicadas durante o Governo Provisório.
Fig.2. “O primeiro ministério dos
75
A imagem acima, da comemoração de um ano da Proclamação da República, foi
analisada por Joaquim Marçal Ferreira de Andrade (REVISTA DE HISTÓRIA..., 2005, p.2):
Na imagem da capa estampada originalmente na quarta página daquele número-,
vemos o marechal Deodoro, chefe do governo provisório da República, num ambiente de
solene comemoração: à frente de membros de seu governo e sob chuva de flores e
pétalas, exibe, junto a uma balaustrada, jovem figura feminina (vestida para seu
batismo?), representando nossa República que acabava de completar o seu primeiro
aniversário. Essa figura avantajada e de feições um tanto maduras para um bebê tem os
braços abertos, olhar sereno em direção à sua frente, leve sorriso nos lábios e porta um
pequeno gorro o barrete frígio, que, assim como a figura sempre dominaram a
simbologia cívica francesa e que também passaram a servir à simbologia da nossa jovem
República.
A análise continua:
Deodoro é portador de um olhar contraído, na mesma direção que o do bebê, mas deixa
transparecer os problemas que enfrentava no dia-a-dia de seu governo. Observe-se que
nem todos à sua volta estão fitando a mesma direção. Tendo os braços lançados por cima
da balaustrada decorada com guirlandas de flores, num ambiente que inclui lanternas
japonesas e bandeirolas com formas geométricas que lembram a nossa bandeira.
Deodoro sustenta o bebê que representa a República num espaço aberto, numa atitude
ousada e de certo risco. Apresenta-a ao povo de uma forma que nos possibilita supor ser
essa imagem uma antevisão da renúncia de Deodoro, um ano depois.
Segue a descrição das ilustrações.
Outras publicações também divulgaram charges, caricaturas e desenhos de Deodoro.
Figura 1. Abaixo da caricatura ao lado
está escrito: “Glória á Pátria! Honra aos
heroes do dia 15 de novembro de 1889
Homenagem da Revista Illustrada”.
Nesta alegoria, Deodoro aparece ao
fundo a cavalo, vês-e no primeiro plano
o Visconde de Ouro Preto,
prosternando, entregando à República
vitoriosa a coroa de D. Pedro II. In:
MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.16.
Fig.3. A alegoria mostra Deodoro, num
gesto decidido, cortando os liames entre
a Igreja e o Estado, - representado pelo
índio, imagem do Brasil. O projeto de
Ruy Barbosa, que se satisfez aos
positivistas, foi transformado em decreto
depois de ouvidas as opiniões de D.
Antônio de Macedo Costa, que fora preso
como bispo do Pará e morreu, pouco
tempo depois da proclamação da
Repúb lica, como arcebispo da Bahia. In:
MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.112.
Fig. 4. “O governo da República tranqüilo,
vai apagando o fogo traiçoeiro das
explorações dos inimigos da Pátria”.
O chefe do Governo Provisório, em 1890,
apagando os estopins com que as
‘pulhices’, os ‘mexericos’, as ‘intrigas’ e
‘despeitos’ queriam fazer explodir a
República e mandá-la pelos ares. A Revista
Illustrada tinha a maior simpatia por
Deodoro e seu redator-chefe, Luis de
Andrade (Julio Verim), foi eleito deputado
à Constituinte por Pernambuco. In:
MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.113.
Fig.5. “Vindo passar os novos e
flamantes generaes, a ‘Revista’ não pode
deixar de fazer-lhes a devida
continência”.
Todos Generais! Pilhericamente, a
ilustração mostra os ministros do
Governo Provisório, em suas fardas de
generais de brigada. Para os opositores
eram os ‘generais de bobagem’... São, da
direita para a esquerda: Ruy Barbosa,
Quintino Bocayúva, Francisco Glicério,
Campos Sales e Cesário Alvim. In:
Fig. 6. O proclam
ador do novo
regime juntamente com Ruy Barbosa,
1º vice-chefe do Governo Provisório,
entregando o projeto da Constituição
à República, que coroa de louros o
generalíssimo. In: MAGALHÃES
JUNIOR, 1957b, p.208.
Fig. 7. “Generalíssimo Deodoro da
Fonseca (cópia de uma de suas últimas
photografias). Homenagem da Revista
Illustrada - 5 de agosto de 1890”.
Deodoro, em foto de Gutierrez,
reproduzida litográficamente na
Revista, depois de ‘generalíssimo por
aclamação popular’. A homenagem é
pelo aniversário de Deodoro. In:
MAGALHÃES JUNIOR, 1957b,
p.209.
Fig. 8. “Um anno! 15 de Novembro de
1890”.
Neste dia, a República dos Estados
Unidos do Brasil completa um ano. Era
o dia da instalação do congresso, que
logo depois de abertos os trabalhos
enviariam uma delegação para
cumprimentá-lo. A imprensa o
festejava, mostrando a Revista
Illustrada nesta caricatura,
apresentando o povo a jovem filha... In:
MAGALHÃES JUNIOR, 1957b,
p.225.
Fig.9. “O 2º ministério do Governo
Provisório”.
O Ministério dos áulicos Assim foi
apelidado o segundo ministério do
Governo Provisório (e que acompanhou
Deodoro no período constitucional e na
ditadura de 20 dias de novembro de 1891),
no qual havia apenas um republicano
‘histórico’, Justo Leite Chermont (o
primeiro do alto à esquerda), ministro do
Exército. Os demais são (da esquerda pra
direita): Uchôa Cavalcanti, Falcão da
Frota, Alencar Araripe, Foster Vidal e
Barão de Lucena. In: MAGALHÃES
JUNIOR, 1957b, p.288.
Fig. 10. “O Brazil glorie
-
se de haver dis
cutido
e promulgado uma constituição adiantada, com
o concurso dos seus filhos mais dilectos,
terminando essa grande obra pela eleição de
dos dois principais factores do dia 15 de
Novembro para as supremas magistraturas da
pátria livre. Viva a República!”. Página dupla,
de autoria de Pereira Neto (substituto de
Ângelo Agostini então na Europa), mostrando
o resultado da eleição do presidente e dos
constituintes perfeitamente identificáveis,
desde Saldanha Marinho a Lopes Trovão. In:
MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.304.
Fig. 11. Deodoro e Floriano, como
presidente e vice-presidente eleitos,
prestam juramento perante o Congresso
Constituinte, presidido por Prudente de
Morais. Algumas figuras são facilmente
identificáveis: Cesário Alvim, Francisco
Glicério, Sampaio Ferraz, Lauro Sodré,
Saldanha Marinho, Campos Sales, etc. Na
tribuna de honra, por trás das senhoras,
aparece a figura do barão de Lucena. In:
MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.320.
Fig. 12. “Brincos infantis. Enquanto
papai lê várias noticias, descuida-se da
meninada que dilacera um precioso livro
na biblioteca nacional. A infância é tão
tranqüila”. Pouco depois da eleição de
Deodoro para a suprema magistratura da
nação, a Revista Illustrada publica esta
charge, em que vemos cochilar enquanto
os membros do seu ministério devastam a
Constituição. In: MAGALHÃES
JUNIOR, 1957b, p.368.
Fig. 13. Publicado na
Cidade do Rio
:
“Generalíssimo! A Cidade do Rio confia á
vossa honra e a immortalidade do vosso
nome os direitos da Imprensa Brazileira”.
Quando circulava a notícia de que ia sair
uma lei de imprensa, aumentando o
arrocho, - e realmente saiu o decreto
elaborado por Campos Sales, a 29 de
março de 1890, - o jornal de Patrocínio,
numa caricatura de meia página, dirigiu
Fig. 14. Publicado na
Vida
Fluminense:
Reconstituição do episódio da
manhã de 15 de novembro, no
campo do Santana, próximo ao
Ministério da Guerra: O barão de
Ladário, resistindo á prisão, é
alvejado pel
o piquete das forças
76
Abaixo há outras charges publicadas na Revista Illustrada sem a figura de Deodoro e
fora do período de tempo delimitado na dissertação, porém muito representativas.
Fig. 15. Publicado na
Cidade do Rio
, terça
feira, 11 de
março de 1890, Actualidades:
“A Cidade do Rio em nome do commercio, da lavoura, da
industria e do povo agradece ao Chefe do Governo
provisório”.
Deodoro exprimiu, em muitas oportunidades, sua revolta
contra a conduta da Cidade do Rio, de José do Patrocínio.
Essa revolta era devida, em grande parte, ao fato de expô-
lo freqüentemente o jornal do tribuno negro, em todos
desenhos de Bento Barbosa, ao lado da figura de mulher
nua, que simbolizava aquele órgão... Aqui aparece
Deodoro recebendo cumprimento por um de seus atos...
In: MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.161.
Fig. 16. Publicado na revista
O
Mequetrefe:
“Homenagem ao fundador da República
Brazileira General Deodoro da
Fonseca”, no dia do aniversário natalício,
em agosto de 1890.
Essa revista já em 1888 não disfarçava
suas tendências republicanas e foi, nesse
ano que Medeiros e Alburquerque
ousadamente publicou o Hino da
República Federal Brasileira. In:
MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.224.
Fig. 17. “Alv
orece o anno de 1891, com
a perspectiva feliz de uma constituição
republicana e cobrindo de glórias o
período do Governo provisório”.
A constituição de 1891 estabelecia os
princípios fundamentais que nortearam o
governo recém-instalado: republicano,
presidencialista e federalista. In:
REVISTA DE HISTÓRIA..., 2005, p.40.
Fig. 18. “Saudação à volta ao
estado de direito depois da renúncia
de Deodoro”.
No fundo da ilustração há uma
faixa escrita ’23 de novembro de
1891’, data que Deodoro renunciou.
In: D’AMARAL, 1974, p.34.
77
78
79
80
Fig. 19.
“Desenho
representando a
luta do governo
provisório contra
a ‘hidra da
calúnia’”. In:
D’AMARAL,
81
82
Descrita as charges de Agostini e de outros caricaturistas, a pesquisadora retoma ao
histórico da vida política de Deodoro, enfocando as eleições à Assembléia Constituinte e o
lançamento ‘informal’ de sua candidatura à presidência.
1.4. Eleições constitucionais
No dia 19 de novembro de 1889, é expedido o Decreto nº 6, “declarando que se
consideram eleitores para as câmaras geraes, provinciaes e municipaes [sic] todos os cidadãos
brazileiros, no gozo dos seus direitos civis e políticos, que souberem ler e escrever” (NETO,
2003, p.288).
Isso representou o fim do voto censitário, no qual só tinha direito ao voto as pessoas que
comprovassem determinada renda. No mesmo dia também foi criada uma comissão para
preparar a regulamentação do decreto, visando, inclusive, o conhecimento do censo eleitoral
para as eleições constitucionais que ocorreria em 15 de setembro de 1890
34
.
Na sessão de 14 de janeiro de 1980 que debateu o alistamento eleitoral e a escolha dos
constituintes, Deodoro foi inteiramente omisso, se limitando a ouvir o debate dos ministros.
Campos Sales declara: “é mister, pois, que o Partido Republicano e o governo intervenham
diretamente nas futuras eleições”. Já Aristides Lobo, antigo deputado liberal por Alagoas,
sugere: “Ainda que se despendesse cinco mil contos, da-lo-ia por bem empregados se
conseguisse esse desiderato...”. Campos Sales discorda e aconselha que em vez de compra de
votos, prefere medidas de natureza política. “De qualquer maneira, a República, eleitoralmente,
ia nascer torta. Entretanto, a ‘formula’ de Aristides Lobo a vitória eleitoral financiada pelos
cofres públicos-, uma vez encerrada a discussão, foi posta a votos e aprovada” (MAGALHÃES
JUNIOR, 1957b, p.128).
No segundo semestre de 1890, começa a desenvolver-se em todo país, a campanha de
propaganda dos candidatos ao Congresso Constituinte. A lei eleitoral de emergência não previa
a incompatibilidade de nenhum ministro. E todos, à exceção de Benjamin Constant, eram
candidatos, uns a senador, outros a deputado. Também não havia incompatibilidades para os
governadores.
34
As mulheres continuavam a não ser cidadãs e o número de eleitores foi reduzido à menos da metade dos pleitos
imperiais (Informações do Capitão Francisco José Corrêa Martins, Chefe da Divisão de História do Arquivo
Histórico do Exército).
83
Candidataram-se marechais, generais, almirantes, coronéis, majores e simples tenentes.
A imprensa ligada ao governo defendia com entusiasmo tais candidaturas. O jornal O País,
publicou na primeira página em 23 de julho de 1890, longo editorial elogiando as candidaturas
militares.
“Aquela ia ser a eleição do governo, feita pelo governo, ao sabor das conveniências do
governo. O governo enviaria ao Congresso Constituinte um anteprojeto de Constituição e a sua
vontade era a de que prevalecesse, integralmente, se possível” (MAGALHÃES JUNIOR,
1957b, p. 208).
No dia 23 de junho de 1890, Deodoro divulga no Decreto nº 277-D, prevendo o total de
205 deputados e 63 senadores. Os deputados seriam eleitos nos estados, em montante
proporcional à sua população, para triênios, e os senadores, extinta a sua vitaliciedade, para o
período de nove anos, em número de três por estado e o Distrito Federal. “Adota-se o voto
direto e universal, para todos maiores de 21 anos, excluídos analfabetos, além de algumas outras
categorias, como os mendigos e, implicitamente, as mulheres (que ganhariam este direito em
1933/34)” (NETO, 2003, p.300).
Os Estados-membros teriam autonomia para organizar o seu Poder Legislativo. Com
isso, após a promulgação das Constituições estaduais, o Poder Legislativo Estadual passa a ser
exercido pelo Congresso, composto pelo Senado e Câmara dos Deputados estaduais. “O
presidente da República será eleito, pelo voto direto, para um mandato de quatro anos.
Excepcionalmente, o primeiro presidente e seu vice, são eleitos indiretamente pelo Congresso
Constituinte” (NETO, 2003, p.301)
35
.
Portanto, o presidente e seu vice foram escolhidos pelos deputados e senadores. A
campanha eleitoral de Deodoro não atingiu a população brasileira, contrária à eleição dos
congressistas dois meses antes.
No dia 15 de setembro de 1890, em ambiente de relativa calma, embora sob protestos de
alguns monarquistas renitentes, veiculados no Rio de Janeiro através da A Tribuna e nos
Estados de um ou outro jornal, foram realizadas as eleições nacionais para a escolha dos
membros do Congresso Constituinte (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 227).
35
Neto omite que, baseando-se no modelo dos EUA, os brasileiros não estavam inventando nada (Informações do
Capitão Francisco José Corrêa Martins, Chefe da Divisão de História do Arquivo Histórico do Exército).
84
Causou polêmica a ausência de um tribunal específico na apuração. Cabia a Câmara dos
Deputados e ao Senado Federal verificar e reconhecer os poderes de seus membros.
Este mecanismo foi criticado durante a primeira República, porque permitia que grupos
politicamente dominantes ratificassem ou anulassem os resultados das urnas. Com a
importação do federalismo americano, irreal para o Brasil, utiliza-se, abusivamente, da
intervenção federal, e institucionaliza-se a fraude eleitoral com o predomínio
incontrastável da corrente política dominante - é uma eleição de cartas marcadas, o voto
não é secreto (NETO, 2003, p.301).
Apuradas as eleições, os representantes diplomados vieram ao Rio de Janeiro. O
Congresso era nitidamente republicano. Todos ministros que se candidataram, foram eleitos,
tanto para senador como para deputado. Também foram eleitos os ministros anteriores,
Demétrio Ribeiro e Aristides Lobo.
Dos parentes de Deodoro, estavam eleitos os irmãos Pedro Paulino senador por
Alagoas- e João Severiano senador pelo Distrito Federal-, e o sobrinho, João Severiano da
Fonseca Hermes como deputado. Este era secretário de Deodoro. Aqui, se constata a prática de
nepotismo já no início da República.
Os outros dois senadores eleitos pelo Distrito Federal foram Eduardo Wandenkolk e
Joaquim Saldanha Marinho. Dos propagandistas republicanos, quase todos foram eleitos:
Quintino Bocayúva, Lopes Trovão, Sampaio Ferraz, Campos Sales, Prudente de Morais, etc.
“Mas, -era uma tristeza!- Silva Jardim, o incomparável tribuno, o homem que desafiara a polícia
imperial e a Guarda Negra, o campeão dos comícios republicanos em todo o Brasil, fora
fragorosamente derrotado em pleno Distrito Federal [...]” (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.
228).
Hélio Silva (1983, p.33) descreve de maneira ma is crítica como fora esta eleição:
No dia 15 de setembro, são realizadas eleições em todos os Estados para a escolha dos
constituintes federais. O pleito foi tumultuado e fraudulento. As críticas já haviam
começado desde quando o governo havia baixado o regulamento eleitoral. A imprensa
fez violento protesto contra a junta revolucionária, pela forma desonesta com que
procurava implantar o novo regime. A 4 de outubro, regulam-se as eleições as
constituintes estaduais. A impopularidade do governo federal é estendida aos estaduais.
Do Rio de Janeiro, partiam para os Estados as listas com os nomes dos ‘candidatos’
designados para serem ‘eleitos’ senadores e deputados. Quando foram apurados os
resultados, apareceram como eleitos nomes inteiramente desconhecidos dos eleitores.
85
Apesar de todas as irregularidades, surgiram na Assembléia vultos notáveis que cedo se
destacaram naquele grupo tão heterogêneo.
Neste contexto de eleições ‘com privilégio a amigos’, a candidatura informal de
Deodoro a presidência é lançada.
1.4.1. Lançamento da candidatura de Deodoro
A candidatura de Deodoro a presidência foi lançada antes mesmo da Constituinte. Os
homens da República parecem unidos em torno de Deodoro. Todos os ministros de seu
governo que se candidatam são eleitos, como também seus dois irmãos, Hermes e Pedro
Paulino, e um sobrinho. No entanto, essa coesão era aparente. Na eleição para a mesa
da Assembléia, as cisões começaram a aparecer. Saldanha Marinho, velho senador, era
o candidato natural. Porém, os representantes dos cafeicultores conseguiram eleger
Prudente de Morais (MARECHAL DEODORO, 1970, p. 697).
Os candidatos à Constituinte, em sua maioria, declaravam que, se eleitos, ajudariam a
organizar a República e se diziam dispostos a eleger a presidência, o marechal Deodoro.
A candidatura do velho soldado foi lançada, portanto, antes mesmo de existir o
Congresso Constituinte. Aliás, antes da instalação deste, o então major Mena Barreto,
que voltara ao Rio Grande do Sul, em propaganda de sua candidatura a deputado,
começara a organizar um abaixo-assinado, nas guarnições militares do Estado, no
sentido de ‘impor’ a eleição de Deodoro para a presidência, partindo do princípio de que
ninguém mais do que ele a merecia (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 213).
O parágrafo acima foi um dos poucos encontrados pela pesquisadora, abordando a
candidatura, mesmo que de maneira informal, de Deodoro. A promessa dos congressistas, de
que se eleitos ajudariam na campanha eleitoral do marechal, foi cumprida por poucos, como se
verificará adiante.
Foi após as eleições constitucionais que Rui Barbosa pede demissão do ministério. Ele
sentia a inclinação de Deodoro para que Floriano Peixoto assumisse a 1º vice-chefia, ocupada
por ele.
O marechal não tem dúvida de deferir o pedido de Rui. Exonera-o do cargo de 1º vice-
chefe do Estado. [...] Rui Barbosa considerava cumprida sua principal tarefa, com a
aprovação do anteprojeto da Constituição. E temia, se morresse subitamente Deodoro,
não poder dominar a situação, em face dos militares que se agitavam, no meio político,
86
exigindo, para contê-los, a firmeza de Floriano (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.
214).
O período legislativo que se seguiu, de 15 de novembro de 1890 até 24 de fevereiro de
1891, data em que foi promulgada a Constituição, formaram-se grupos antagônicos, mesmo
entre as Forças Armadas. O Exército se opunha à Marinha. Os militares não se entendiam com
os civis. Estes, por sua vez, eram formados por correntes diversas, com predomínio dos políticos
paulistas.
Já então não há acordos e conchavos, pois as partes se definem em atitudes
contundentes. Na véspera da instalação da Assembléia, Deodoro declara aos seus
ministros, quase todos eleitos para participarem da Constituinte (com exceção de
Benjamin Constant, que se recusara a pleitear uma cadeira na Assembléia), que eles
deveriam optar entre seus cargos legislativos e o Ministério. O generalíssimo com isso
tentava desembaraçar-se daquele Conselho, que já não se entendia com ele. Mas os
ministros continuam em seus postos até a Constituição ser votada (SILVA, 1983, p.34).
Quando da eleição do vice-presidente do Senado e, conseqüentemente, de presidente do
Congresso, travou-se nova luta na Assembléia. De um lado, estavam os republicanos puros
pequeno grupo formado por deputados; militares; por adesistas os constituintes que haviam
abandonado aos partidos monárquicos para colaborar com o novo regime; e pelos positivistas
rio-grandense, chefiados por Júlio de Castilhos. Do outro lado, estavam os republicanos
paulistas. Os primeiros apóiam a candidatura de Saldanha Marinho, e, os últimos, a de Prudente
de Moraes. “No dia 21 de novembro de 1890 foi realizada a eleição. São 146 votos para
Prudente de Morais e 81 para Saldanha”, confirma Hélio Silva (1983, p.34-35).
A Assembléia impõe modificação no texto do anteprojeto da Constituição, apresentado
pelo governo. Uma delas é a redução do período presidencial de seis para quatro anos.
Enquanto isso, Deodoro e o Barão de Lucena enfrentam sérias dificuldades,
principalmente criadas pelos próprios paulistas. “Estes, tendo Prudente de Morais como
presidente da Assembléia, mostram-se intransigentes na campanha que movem contra o
generalíssimo. O que eles queriam era alijá-lo do poder e colocar na Presidência da República
um dos membros de sua bancada na Assembléia” (SILVA, 1983, p.35).
87
1.5. Discursos de Deodoro
Após as eleições constitucionais, Deodoro inicia uma série de discursos no Congresso, o
qual combatia a monarquia e ressaltava os benefícios do novo sistema político, a República.
Mesmo sem a intenção de pedir votos como não o fez-, Deodoro usou o espaço da tribuna do
Congresso para convencer os deputados e senadores de que ‘seu governo ia bem’ e,
implicitamente, de que ele seria a melhor pessoa para continuar presidindo o país. Segue o
discurso que ele pronunciou no dia 15 de novembro de 1890:
Até ontem, a nossa missão era fundar a República, hoje, o nosso supremo dever perante
a Pátria e o mundo é conservá-la e engrandecê-la. Não se mudam instituições para
persistir em defeitos inveterados, em que preponderam os princípios sobre que repousa a
trilogia sagrada do direito, da justiça e da liberdade, os povos visam, antes de tudo,
melhorar de condição, fortalecer o império das leis e reivindicar o papel que lhes cabe no
governo e na sociedade (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 230).
A mensagem era lida em meio ao maior silêncio e da mais viva atenção. “Viemos de um
passado de opressivas desigualdades sociais e de um regime onde o império da lei se achava
falseado”. E continua,
O novo com aspirar à maior fraternidade com todas as nações do globo, jamais deixará
de afirmar a independência da Pátria Brasileira e a missão que lhe incumbe desempenhar
no Novo Mundo. [...] Quanto mais sóbrios e firmes nos conservarmos como vencedores,
mais nos aproximaremos do ideal a que aspiram os povos que buscam na liberdade o
domínio da justiça e do direito (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 230 e 231).
No discurso percebe-se uma prática comum de políticos, a de ressaltar ‘suas conquistas’
e ‘denegrir’ governos passados. Nos meses seguintes, Deodoro aumentou a crítica contra aos
monarquistas.
Os parlamentares saudaram as palavras de Deodoro. O senador Amaro Cavalcanti
afirma:
Generalíssimo: na minha vida de homem público não diviso um momento mais alto que
este [...], saudar ao brasileiro distinto, que, já benemérito da Pátria por seus longos e
importantes serviços militares prestados com denodo à causa pública, em defesa da
honra, da glória e da dignidade nacional [...] (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 232).
Deodoro profere breve discurso em resposta.
88
Procurei constituir uma ditadura de paz e harmonia [...] [grifo da pesquisadora]. Posso
ter errado; é possível mesmo que o meu governo tenha cometido mais de um desacerto
administrativo; tenho, porém, a consciência tranqüila, porque nunca me deixei guiar
senão pelas sugestões do bem comum que me estava confiado. [...] Aproveito o ensejo
para declarar ao Congresso, à imprensa e ao povo, que nunca tive, nem jamais terei o
menor pejo de emendar ou reparar qualquer erro cometido nos misteres da pública
administração, desde que me for indicado, ou reclamado pelos meios convenientes.
Tenho, desta sorte, respondido, e agradeço sinceramente as felicitações que me dirigiu o
Congresso Nacional (MAGALHÃES JUNIOR, 1957, p. 233).
O discurso era uma demonstração de humildade quanto à reparação dos erros
administrativos eventualmente cometidos. Após, tal sessão, o Congresso outorga em decreto que
Deodoro, atual chefe do governo provisório,
É investido das funções de chefe do Poder Executivo da República, no caráter de
Presidente [...] cargo que exercerá por seus atuais ministros ou por outros de sua
imediata confiança, até que o Congresso ora reunido decrete a Constituição e eleja o
Presidente da mesma, na forma das disposições que decretar (MAGALHÃES JUNIOR,
1957b, p. 235).
Portanto, Deodoro ocupou o cargo da presidência do Brasil mesmo antes de ser eleito.
Os discursos no Congresso continuaram até ele foi surpreendido com a publicação extra de um
jornal oposicionista.
1.6. O jornal ‘bomba’
Nos primeiros dias de fevereiro de 1891, paralelamente as explorações em torno da
demissão dos ministros e do assalto em A Tribuna, o deputado César Zama ressaltou no
Congresso seu protesto contra a candidatura de Deodoro a presidência da República.
Pessoalmente, nunca tive nem tenho ódio ao Sr. generalíssimo Manoel Deodoro da
Fonseca, chefe do Governo Provisório. S.ex., porém, não está na altura, nem tem
capacidade para dirigir os destinos do Brasil. Se o prestígio militar foi o que decidiu da
sorte da nação a 15 de novembro de 1889, com certeza o tirocínio governamental de um
ano a esta parte tem provado que, para guiar um povo, não basta ser valente e temerário.
A culminância do poder tem a muito causado vertigens morais de conseqüências
desastrosas. Se S.ex. foi impotente para impedir a asfixia da liberdade de imprensa,
corporizada na A Tribuna, que mal então será S. Ex. capaz de obstar à nossa Pátria? A
sua eleição, portanto, com a Constituição que o Congresso votar, será o maior de todos
os desastres para o Brasil, que ver-se-á, dentro de pouco tempo, convulsionando todos os
89
dias e sem garantias para a liberdade e para a propriedade dos que o habitarem. Se me
fora lícito, nesta hora, solene de todas as franquezas, eu diria ao Congresso que o não
elegesse. Cumulem-no de todas as honras e proventos imagináveis, mas coloquem na
periferia social um brasileiro que tenha a compreensão nítida de seus deveres, e que fala
uso regular de suas prerrogativas magistrais. No ápice da magistratura coloquem um
magistrado, e não um senhor (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 279).
Nesse sentido, outras atitudes foram tomadas a fim de prejudicar a candidatura de
Deodoro. Nas vésperas do pleito, a oposição resolveu lançar, uma edição extra de A Tribuna, a
fim de ‘desmoralizar’ o candidato da situação.
No dia 10 de fevereiro o redator-chefe de A Tribuna, Antônio de Medeiros, fez circular
um número único e inesperado, cujo objetivo não era historiar o assalto ao jornal, mas servir
como violento manifesto contra a candidatura do marechal.
O jornal ‘bomba’ repercutiu no Congresso por meio de uma moção elaborada por César
Zama, amplamente apoiada. Isto demonstrava quanto se enfraquecera Deodoro com as
substituições dos ministros.
O deputado Jaques Ourique um deodorista-, rebateu as críticas afirmando que via na
publicação do número extraordinário do jornal empastelado uma ardilosa maquinação política
contra Deodoro.
Vejo no tardio aparecimento do número de A Tribuna do dia 10 de janeiro um certo e
determinado motivo. Vejo mais que um desabafo da imprensa ultrajada; vejo um jogo da
politicagem, das represálias e ambições menos nobres, de que nos devemos preservar,
prevenindo-nos contra os intuitos antipatrióticos (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.
281).
Esta foi uma das ‘atitudes’ da oposição a fim de denegrir a imagem de Deodoro. Porém,
do outro lado estavam os deodoristas, que também tiveram ‘atitude’ e foram vitoriosos ao
conseguirem eleger Deodoro o primeiro presidente do país. As ações da ‘situação’ estão
demonstradas a seguir, no quarto e último capítulo da dissertação.
90
Capítulo 4- A PROPAGANDA DA SITUAÇÃO
No quarto capítulo, a pesquisadora demonstra qual foi à propaganda política utilizada
pelos deodoristas para eleger Deodoro presidente. As principais estratégias se basearam nas
alianças políticas fechadas por Campos Sales e nas reuniões e manifestos de apoio, conseguidas
a favor da candidatura do marechal. A pesquisadora revela também como O País, um jornal
republicano, talvez o mais deodorista da capital, cobriu as eleições presidenciais.
1. A campanha eleitoral de Deodoro
Quebrando lanças para ser eleito, fazendo disso uma questão de honra, Deodoro não
cometeu, no entanto, qualquer ação que, pessoalmente, pudesse rebaixá-lo no conceito
dos congressistas. Não pediu, não suplicou, não fez transações, não propôs barganhas.
O Congresso Constituinte foi pressionado pelas forças do Exército, que não queriam ver
desprestigiado o grande líder da classe militar, não, porém, por Deodoro, que se
manteve discreto (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 284).
A propaganda eleitoral que Deodoro adotou foi a ‘discrição’. Ele preferiu o silêncio a
fim de evitar novas polêmicas no Governo Provisório. Apesar de seu prestígio ‘desgastado’, ele
ainda era o preferido pela numerosa classe militar.
A imagem de ‘homem público’ de Deodoro foi construída conforme ele assumia postos
de oficial do Exército. Isto fortaleceu sua candidatura á presidência. A respeito disso, Adolpho
Queiroz (2005, p.15) afirma que “quem ganha [a eleição] evidentemente fica feliz e passa
quatro anos administrando o seu mandato. Quem perde, continua em campanha a partir do dia
seguinte ao anúncio do resultado”.
A primeira eleição presidencial do Brasil simplesmente formalizou e confirmou a
escolha de Deodoro na condução do cargo mais relevante do país. Ele praticamente não fez
campanha eleitoral. Não houve distribuição de ‘jornais do candidato’, nem explanação do Plano
de Governo, não realizou comícios, não pagou anúncios na imprensa, nem organizou festas ‘de
adesão’ a fim de arrecadar fundos para a campanha (todas estas técnicas de propaganda já
existiam na época).
A campanha eleitoral do marechal foi feita pelos deodoristas, por meio de conversas
pessoais e reuniões com os deputados e senadores votantes na primeira eleição presidencial. Os
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amigos e familiares de Deodoro conseguiram manifestos de apoio a sua candidatura e tentarem
convencer o candidato da oposição Prudente de Morais- a desistir da disputa.
Magalhães Junior (1957b, p. 284), confirma que “a eleição de Deodoro era a tendência
manifesta de uma parte considerável do Congresso Constituinte, no seio do qual elemento
caracterizadamente ‘deodorista’ se manifestava, com intransigência, em favor do Marechal”. A
vida do novo regime estaria segurada com a eleição de Deodoro.
No dia 6 de fevereiro de 1891, o senador Pedro Paulino da Fonseca, irmão de Deodoro,
enviou-lhe a seguinte carta: “Deodoro. Aproxima-se a eleição do chefe e vice-chefe do Estado.
Estamos em dúvida sobre a escolha deste último. Preciso que digas com franqueza o que tens
resolvido a respeito. Teu mano, Pedro”. No dia seguinte, deu-lhe o marechal a resposta: “Não
tenho, nem devo ter candidato à coisa alguma no Congresso; eleja-o a sua livre vontade o
presidente e o vice-presidente da República. O teu, Manuel” (SENA, 1999, p.30).
Ernesto Sena (1999, p.30) comenta a resposta de Deodoro de que ele não interferiria na
escolha do candidato a vice-presidente de sua chapa:
Esta decisiva resposta determinou a eleição do general Floriano Peixoto para vice-
presidente da República. Podemos afiançar que o almirante Eduardo Wandenkolk, em
reunião no Clube Naval, apresentou uma proposta para que o mesmo clube se
pronunciasse em prol da candidatura do general Deodoro para o cargo de Presidente da
República, e que esta proposta causando estranheza não chegou a ser votada.
Magalhães Junior (1957b, p. 285), ressalta que antes do ataque à redação de A Tribuna, a
candidatura de Deodoro exprimia o ponto de vista geral, e todos os ministros, inclusive Quintino
Bocayúva que continuou fiel ao velho soldado, apoiavam-lhe o nome, sem indecisões.
Campos Sales (1983, p. 32), na obra Da propaganda a presidência
36
, confirma que
seria conferido ao marechal o mandato de presidente, “tão depressa se achasse esta
constitucionalmente organizada”. E acrescenta:
36
Campos Sales (1983, p.32) confirma: “Limito-me a transplantar para estas páginas as notas que fui registrando, à
medida que os sucessos se desenrolavam. Aqui não há, portanto, um simples esforço de memória, que é susceptível
de enganos, mas a reprodução fiel do que está escrito, com o apoio de testemunhos irrecusáveis”. No livro estão
relatados detalhadamente os diálogos travados nos bastidores da primeira eleição presidencial do país, conforme
consta neste Capítulo.
92
Sem possuir muitas as qualidades que caracterizam o homem de Estado, o glorioso
soldado conseguia, entretanto, em boa parte, supri-las pelo seu grande coração de
patriota, pela nobreza de seus sentimentos e por uma lealdade inexcedível. Demais, a
República fora sua obra, pois ela fora à força que interviera no momento psicológico
para garantir o êxito revolucionário. E, é incontestável que, amado até a idolatria no
Exército, acompanhado de uma fama de bravura, adquirida nos campos de batalha, e
coberto de serviços à pátria, ninguém dispunha, como ele, de tanto poder de fascinação
para atrair e dirigir as classes militares em um movimento contra a monarquia. Mas, uma
ocorrência inesperada veio alterar de modo sensível atmosfera de entusiasmo e simpatia
que circundava a figura legendária do chefe do governo Provisório foi o caso da
Tribuna.
Foi após o ataque ao jornal monarquista que “ia ser iniciada a campanha da eleição
presidencial no seio da Constituinte. As aspirações opostas à candidatura de Deodoro já não
encontravam um campo fechado e impenetrável” (SALES, 1983, p.35).
O espírito público impressionado e apreensivo, buscando no caso da Tribuna e no fato
da retirada do ministério os sinais ameaçadores de um governo propenso à violência e ao
arbítrio, começou-se se inclinar para outra candidatura à primeira presidência da
República, temendo que o marechal Deodoro, influenciado pelo meio em que se
colocara, não fosse o mais próprio para inaugurar o novo regime nas práticas saltares da
obediência à lei e do respeito a opinião. Confesso que não cheguei a partilhar estas
apreensões, que, se em muitos eram sinceras, a alguns patronos de novas candidaturas
não serviam de um recuso vulgar de cabala.
Campos Sales (1983, p.35-36) relata a conversa que teve com o Barão de Lucena, no
primeiro dia do novo ministério, empossado em 22 de janeiro de 1891. Lucena, agora ministro,
queria saber qual seria a conduta dos representantes paulistas em relação ao governo.
Disse-lhe que os paulistas não faziam política de acesso ao governo, mas de princípios;
que as nossas idéias, quanto à organização da República, tinham já sido manifestadas
quando se discutia e votava a Constituição, que jamais seríamos um embargo ao governo
[...]. Despedíamos, finalmente, ficando eu com a impressão de que a nova situação devia
inspirar-nos inteira confiança. Transmitindo esta impressão aos meus amigos,
aconselhei-os a que evitassem pronunciamentos em contrário, visto que o momento se
me afigurava da maior gravidade para a República.
Entretanto, ganha va força no Congresso, a oposição a Deodoro. Segundo Campos Sales,
alguns oficiais assumiam atitude de franca hostilidade, assim surgindo nos corredores da grande
assembléia a candidatura de Floriano Peixoto.
93
Vi que era urgente agir para impedir que uma ação desordenada pudesse acarretar, em
uma solução imprevista, complicações comprometedoras da paz pública e das próprias
instituições. Convoquei uma reunião dos meus companheiros da representação de S.
Paulo para o dia 26, a fim de tomarmos francamente, na questão presidencial, uma
atitude consoante ao nosso ponto de vista político. Reputava-se de grande alcance a
opinião dos representantes paulistas, que pesava muito na balança política da época. Aí
ficou assentado que sustentaríamos a candidatura de Deodoro para presidência da
República. A notícia desta deliberação dada pela imprensa, no dia seguinte, produziu, em
geral, excelente impressão e ainda maior tranqüilidade de ânimo. A esta reunião não
esteve presente o Dr. Prudente de Morais, que se havia ausentado para Piracicaba
(SALES, 1983, p. 36).
Como chefe do Governo Provisório, Deodoro, naturalmente, era candidato à presidência.
A eleição formalizaria o cargo que ocupava. De acordo com a descrição de Campos Sales no
parágrafo acima, fica esclarecido que o apoio à candidatura do marechal foi decidido somente
na reunião do dia 26 de janeiro de 1891, exatamente um mês e um dia antes do pleito decisivo.
No entanto, dias depois da reunião, recomeça em alguns grupos o movimento contrário à
candidatura do marechal Deodoro, sob a direção ostensiva de Demétrio Ribeiro, deputado pelo
Rio Grande do Sul, general José Simeão, senador por Perna mbuco, e contra-almirante Custódio
de Melo, deputado pela Bahia.
Campos Sales (1983, p.37), afirma que cada um agia por motivo estritamente pessoal.
Quanto a Demétrio Ribeiro, declara que “para ele, a eleição de Deodoro significaria a
consolidação da predominância política de Júlio de Castilhos, no seu Estado”. Quanto a Simeão,
Tão cheio de serviços à pátria, não teve a fortuna de estrear-se na vida política com
brilho igual ao da sua carreira de bravo militar. Nomeado pelo Governo Provisório
governador do Estado de Pernambuco ao proclamar-se à República, um incidente da
política local criou-lhe tais dificuldades que o seu velho camarada, o marechal Deodoro,
julgou conveniente convidá-lo a deixar aquela comissão de natureza puramente política.
Este incidente produziu-lhe ressentimento, que nunca mais se apagaram [...]. Custódio de
Melo [...], fora sempre declarado antagonista de Deodoro da Fonseca. O seu
temperamento colocara-o sempre, invariavelmente, na corrente das resistências (SALES,
1983, p.37).
As citações acima complementam o Capítulo III -no item 3.1 A Oposição- que descreve
os principais opositores de Deodoro.
Campos Sales (1983, p.37), continua esclarecendo, “já ia adiantada a última discussão do
projeto da Constituição, quando os chefes do movimento tomaram a deliberação de mudar de
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tática, levando resolutamente a candidatura de Prudente de Morais para presidente e a de
Floriano Peixoto para vice-presidente”.
Era uma tática hábil e transparente. Eles queriam angariar apoio dos representantes
paulistas e dos amigos militares de Floriano. “Era, em suma, a reunião dos dois elementos
civil e militar” (SALES, 1983, p.37). Magalhães Junior (1957b, p.288), completa: “Entretanto,
os representantes paulistas estavam comprometidos com a candidatura de Deodoro, cuja
permanência no poder consideravam necessária ao fortalecimento da República”.
A questão tomava agora um aspecto excepcionalmente melindroso para os
representantes paulistas: ou repudiar a candidatura de Deodoro, já por eles aceita,
expondo-se a todas as conseqüências da luta, ou combater a do seu próprio companheiro
de representação. Nestas conjunturas, convidei o Dr. Bernardino de Campos, igualmente
com a responsabilidade de chefe, para uma conferência reservada, que se realizou no dia
19 de fevereiro, no antigo Hotel Moreau, onde eu residia (SALES, 1983, p.38).
Casalecchi (1987, p.60) comenta sobre a candidatura de Prudente de Morais a
presidência:
Embora contasse com a oposição inicial de Campos Sales e Bernardino de Campos, tal
candidatura acabou tendo o apoio do Partido Republicano Paulista e da dissidência do
Exército que, por não conseguir impor o nome de Floriano Peixoto, apoiou Prudente,
cabendo a este militar a vice-presidência (CASALECCHI, 1989, p.60).
O cenário mostrava a candidatura de Deodoro forte, mas:
A partir de fevereiro, crescia a consciência do excessivo poder de Deodoro,
especialmente depois da queda do primeiro ministério (21.1.1891) e da indicação do
Barão de Lucena para o ministério (nome não aceito até por ferrenhos deodoristas) e
com muita influência sobre o presidente. Por isso, a oposição civil e militar, busca o seu
candidato. A indicação de Prudente de Morais não tem o apoio de Campos Sales e
Bernardino de Campos. Os deodoristas ameaçam com a ditadura militar, em caso de
derrota pretendem dissolver a força à Constituinte. Os seus opositores procuram
organizar a resistência, em caso de vitória: Bernardino de Campos articula-se com Jorge
Tibiriçá (presidente do Estado de São Paulo), enquanto Campos Sales, no Rio de Janeiro,
toma providências para resistir à ameaça deodorista (CASALECCHI, 1989, p.61).
A partir deste momento, a pesquisadora passa a descrever as reuniões organizadas por
Campos Sales que ‘amarraram as alianças’ a favor da candidatura de Deodoro.
95
1.2. Alianças e reuniões de Campos Sales
No dia 19 de fevereiro -cinco dias antes das eleições-, Campos Sales se reúne com
Bernardino de Campos e com o deputado republicano Dr. Carlos Garcia, quando fez as
seguintes ponderações “que copio textualmente as minhas notas” (SALES, 1983, p.38):
Que a candidatura de Prudente, levantada exclusivamente como estratagema de guerra
contra Deodoro, a meu ver não contava elementos de êxito; que, dado, porém, o seu
triunfo, parecia certo que o Exército, pessoalmente dedicado a Deodoro, não se
resignaria a deixá-lo cair, e, conforme os boatos que se circulavam, mais provavelmente
tentaria uma revolta contra o eleito da Constituinte, proclamando a ditadura do vencido;
[...] que, na hipótese mais provável, senão certa, de prevalecer à candidatura de Deodoro,
devíamos prever que o seu governo não deixaria de adotar contra nós uma política de
reação, afastando da direção no nosso Estado, como nos outros, o elemento republicano;
[...] que, finalmente, em presença de tais perspectivas, o que me parecia mais
conveniente, para evitar uma conflagração na República, no momento preciso da sua
organização definitiva, era alcançar de Prudente que ele próprio retirasse a sua
candidatura.
Campos Sales, Bernardino de Campos e Carlos Garcia concordaram de no dia seguinte,
o primeiro e o segundo irem levar a Prudente, com absoluta franqueza, o comum pensamento, e
assim o fizeram.
No dia 20 de fevereiro, reuniram-se nos aposentos de Prudente, no Hotel Lisboa, no
bairro de Santa Teresa, na cidade do Rio de Janeiro, Campos Sales, Bernardino de Campos e os
deputados paulistas que estavam no local, Paulino Carlos e Alfredo Ellis.
Os quatros foram recebidos conjuntamente e Prudente, embora declarando não ser
candidato, não assumia de modo algum o compromisso de dissuadir os seus partidários. A
conversa durou cinco horas. Campos Sales narra o resultado ao qual Prudente limitava-se a
dizer que não era candidato e que os outros é que tinham pensado em apresentá-lo. Mais de uma
vez nos disse: - “Eu já declarei ao general Simeão que não sou candidato; mas que, se
apresentarem uma candidatura civil (sublinhando as palavras), rompo com a bancada paulista
para dar o meu voto a esse candidato”. Estava claro o seu pensamento: se não com o seu nome,
com o de outro qualquer, combateria a candidatura de Deodoro (SALES, 1983, p.39).
Campos Sales relata que continuavam no empenho de convencer Prudente a retirar sua
candidatura. Houve, afinal, um momento em que ele cedeu:
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- Está bem. Podem fazer declarar, em meu nome, que não sou candidato, nem autorizo
que levantem a minha candidatura. Mas passem pela casa do general Simeão e dêem-lhe
conhecimentos desta minha resolução. Devo-lhe estas atenções. Julgávamos, enfim,
vencidas todas as dificuldades, e eu e Bernardino apressávamos as nossas despedidas,
para irmos, sem perda de tempo, aos jornais, quando ouvimos esta exclamação de
Prudente: - Quem sou eu para bater-me com o generalíssimo?! Na ironia da frase e no
acento com que fora proferido, desconhecia o mais profundo sentimento, o desejo de não
ceder, à vontade de perseverar. Na verdade, tendo retrucado que a nossa intenção não era
obrigá-lo a constrangimentos, pois estávamos pugnando por uma solução espontânea,
vimos completamente perdidos, e para sempre, o terreno que chegamos, por momentos,
a supor adquirido. Retiramo-nos. Prudente mantinha de pé a sua candidatura, bandeira de
guerra habilmente arvorada no seio Constituinte pelo triunvirato hostil a Deodoro!
(SALES, 1983, p.40).
O parágrafo acima revela o uso de mais uma técnica de propaganda política, as
estatísticas em que demonstravam que a adesão dos representantes paulistas”. Estas
estatísticas, provavelmente foram o ‘embrião’ das pesquisas eleitorais aperfeiçoadas nas
décadas posteriores.
A obstinação de Prudente de Morais obrigou a bancada paulista a fazer uma revisão de
atitude. Para mantê-la unida, comprometeram-se todos, Campos Sales inclusive, a sufragar o
nome do presidente da Constituinte. A primeira sessão, após a reunião do Hotel Lisboa, foi a do
dia 23.
Aproveitaram-se dela os cabalistas para fazerem circular entre os constituintes as notas
sugestivas das suas estatísticas, em que demonstravam que a adesão dos representantes
paulistas asseguraria, de modo definitivo, a vitória da candidatura civil. Depois do que se
tinha passado no Hotel Lisboa, julguei que as circunstâncias me impunham outra atitude.
Fiz constar, com toda a publicidade, que os representantes paulistas sustentariam
unanimemente a candidatura de Prudente de Morais. Por dever de lealdade, fiz com que
igualmente chegasse ao conhecimento do marechal Deodoro e dos seus ministros a
atitude que agora assumimos. Não é que eu tinha modificado as minhas opiniões na
minha parte. Ao contrário, eu as mantinha convencidamente [...]. Ao Sr. Eduardo
Gonçalves, membro da mesa da Constituinte, dizia eu na tarde de 24: “Amanhã vamos
praticar o nosso maior erro político. Quanto a mim, confesso que vou arrastado”.Tal era
a minha convicção inabalável acerca da oposição que se movia à candidatura de Deodoro
(SALES, 1983, p.40).
Na noite do dia 24, Campos Sales resolveu ter uma última conversa com José Simeão,
pois circulava boatos de que Deodoro apoiaria o plano de uma revolta militar, se não fosse
eleito e de que o próprio Floriano Peixoto, evitando assumir atitude hostil ao seu velho
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companheiro de armas, chegava mesmo a recomendar-lhe a candidatura em entendimentos com
os deputados cearenses.
Às oito horas da noite, chegava Campos Sales na casa de Simeão. Em seguida, chega
Floriano, o deputado pelo Rio Grande do Sul, Manuel Luís da Rocha Osório, em nome de
Prudente que alegava estar indisposto. Antes de iniciar o debate, os presentes declaravam
considerar o momento sumamente grave. Não dissimulavam a situação crítica em que se
encontravam os adversários de Deodoro.
“Segundo o balanço que eles fizeram do estado das forças, senão a totalidade, uma
grande parte ao menos dos corpos da guarnição tomaria o partido de Deodoro e o aclamaria
ditador caso fosse outro candidato triunfante na Constituinte” (SALES, 1983, p.42).
Ao final da reunião, a solução encontrada constava que era tarde para um recuo. Desistir
seria desonroso. Caso fosse eleito Prudente de Morais, Campos Sales propôs que todos
constituintes pertencentes às forças armadas e integrados no bloco contrário a Deodoro deviam
comparecer à sessão fardados, de modo a impor a obediência, se tivessem de agir militarmente,
dando ordens a soldados (SALES, 1982, p.42)
“Por outro lado, o almirante Custódio José de Melo, adversário tenaz de Deodoro, tinha
feito articulações com oficiais da esquadra, no sentido de prestigiar, com os canhões dos navios
de guerra, a autoridade de Prudente de Morais, caso saísse o ilustre paulista vencedor na pugna
eleitoral” (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.299).
Tais combinações demonstravam o ambiente carregado, de intranqüilidade, agitação,
nervosismo e desconfiança, que se desenrolou na primeira eleição presidencial do Brasil. A
seguir, a pesquisadora relata as manifestações de apoio e de repúdio que a candidatura de
Deodoro da Fonseca recebeu naquele fevereiro de 1891.
1.3. Manifestações de apoio e repúdio
O nome de Deodoro da Fonseca para presidente foi apresentado conjuntamente com o do
almirante Eduardo Wandenkolk para vice-presidente, uma chapa sem representante civil. Mas
os partidários de Deodoro entenderam que deviam prestar uma homenagem à Marinha, abrindo-
lhe a porta à participação nos postos do Executivo. Daí a escolha daquele oficial general das
forças navais (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.300).
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Como Custódio José de Melo, almirante e deputado, fazia oposição a Deodoro,
ocupando a presidência do Clube Militar, de que o marechal era fundador e benemérito,
o antigo ministro da Marinha, Eduardo Wandenkolk, agora senador, poderia trazer-lhe as
simpatias do Clube Naval. Realmente, este trabalhou intensamente pela vitória do
marechal, procurando, a 2 de fevereiro de 1891, na ocasião em que recebia uma medalha
de mérito, naquele clube, levar seus companheiros a uma definição de natureza política.
Na sessão que se realizou naquele dia, o capitão-de-fragata João Nepomuceno Batista
disse que, “em ocasião tão solene, parecia-lhe oportuno que a Marinha, ali representada
por todas as suas classes e graduações, manifestasse seus bons desejos de ver pelo
Congresso eleito presidente da República o marechal Deodoro”, pelo que, nesse sentido,
propunha que fosse votada uma moção (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.300).
O próprio almirante Wandenkolk, que tomou parte nos debates, se incumbiu de redigir a
moção, nos seguintes termos: “A Marinha nacional, reunida hoje em sessão solene no Clube
Naval, aproveita tão feliz oportunidade para manifestar as suas simpatias pela candidatura do
generalíssimo Manuel Deodoro da Fonseca para o lugar de primeiro magistrado da nação”
(MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.300).
A moção foi aprovada sem nenhuma objeção por parte dos presentes. Mas, uma vez
divulgada, vários oficiais protestaram, pedindo uma assembléia extraordinária do Clube Naval.
Na sessão extra, foi então aprovado um protesto contra a moção anterior, por entenderem que “o
papel das forças armadas é garantir as instituições e acatar as resoluções do poder constituinte”
(MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.300).
Essa não foi à única demonstração de repúdio. A mocidade militar republicana tinha se
afastado de Deodoro, desgostosos com o chamamento do segundo ministério. “As revistas de
caricaturas, de tendência republicana, mostravam o Barão de Lucena com uma coroa imperial
na cabeça, dando saltos por cima da Constituição. A concessão do Porto das Torres era
vivamente combatida. Na verdade, estavam cindidas as forças armadas” (MAGALHÃES
JUNIOR, 1957b, p.301).
No dia 22 de fevereiro, o Clube Militar realizou uma reunião, na qual foi aprovada a
seguinte carta:
O Clube Militar, considerando: - que a fase reconstrutiva que a Pátria Brasileira no
momento preciso em que a Assembléia, convocada pelo Governo Revolucionário, vai
fechar o primeiro período republicano, elegendo o chefe supremo da Nação, exige a
maior tranqüilidade pública, para que as resoluções sejam as mais livres e patrióticas;
que esta tranqüilidade pública só pode ser assegurada pela força armada, que é
99
responsável pela ordem material; que a sua conduta no passado tem sido sempre a de
respeitadores e francos auxiliares da revolução brasileira; e que nada justificaria no
momento atual a sua intervenção perturbadora nas deliberações do Congresso
Constituinte por ocasião das eleições dos primeiros magistrados da República; decla ra
que saberá respeitar os atos do poder soberano que acredita inspirado no amor da Pátria
(MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.301).
Por sua vez, 40 alunos da Escola de Guerra, firmaram um documento afirmando: “Nós,
os alunos da Escola Superior de Guerra, cônscios de que a nossa atitude no presente, em face da
eleição do presidente da República, [...] afirmamos que, coerentes como o nosso passado,
estaremos ao lado da legalidade” (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.301).
No mesmo sentido, se manifestam os alunos da Escola Militar: “Cônscios de que o
Congresso, na escolha do primeiro e segundo magistrados da República, se inspirará nos
sentimentos verdadeiramente patrióticos, tendo somente em vista o bem-estar da nação, vimos
aqui declarar que lhe prestaremos todo o apoio possível dentro dos limites da justiça e da
legalidade” (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.301).
As manifestações mostram que as forças armadas, tanto o Exército como a Marinha,
procuraram se manterem imparciais quanto ao pleito do dia 25 de fevereiro de 1891.
Jornais anti-deodoristas manifestavam sua estranheza a respeito da pressão que se dizia
estar sendo exercido sobre o Congresso. Uma frase se repetia na capital, no qual a Gazeta de
Notícias escrevia em 15 de fevereiro: sair à procissão à rua. “Diz-se que, por exemplo, falando
da próxima eleição presidencial, que se Fulano for eleito, ou Sicrano não o for, mandará o
vencido que a procissão saia à rua, a fim de tirar a justa desforra ao vencedor” (MAGALHÃES
JUNIOR, 1957b, p.301).
1.4. Promulgação da Constituição
No dia 24 de fevereiro foi promulgada a nova carta constitucional com 91 artigos. O
ambiente era de tensão, apreensões e incertezas. Ernesto Sena (1999, p.23), descreve algumas
anotações que o marechal fez antes da entrega da carta final da Constituição. No artigo que diz
respeito à eleição de presidente e vice-presidente:
Art.43 Na mesma ocasião em que se eleger o Presidente e Vice-Presidente da
República, que além da atribuição do art. 31 deverá substituí-lo em todos os casos de
impedimento ou falta, Deodoro anotou: “A eleição do Presidente deve ser feita separada
100
da do Vice-Presidente, isto é, em dia diferente”; Art.48 O Presidente e Vice-
Presidente, escolhidos pelo povo por eleição indireta, formando os Estados
circunscrições eleitorais, tendo cada qual um número de eleitores igual ao décuplo de sua
representação no Congresso. “Deve ser o número de eleitores igual em cada Estado”,
acrescentou ainda o ilustre militar; Art.49 Os eleitores reunir-se-ão em cada Estado em
um só ponto designado pelo respectivo Governo, e a eleição se efetuará em todo o
território da República no mesmo dia e hora, contando que não seja domingo, 40 dias
depois da eleição popular para os eleitores especiais. Acrescentou Deodoro: “Além de ser
difícil seria impossível à reunião em um só ponto, ficam os eleitores presentes mais
facilmente sujeitos à coação”; (a) O Presidente não conservará qualquer contingente de
forças federais nos Estados, desde que contra isso representem os respectivos Governos.
(b) Removerá, mediante representação dos mesmos poderes, os comandantes de tais
forças. “Inadmissível”, anotou ainda [...].
Finalmente, chegam ao término os trabalhos legislativos. É à hora da eleição do
presidente da República. Deodoro da Fonseca é o candidato natural. “O Clube Militar, em
seguidas sessões, mostra-se favorável a seu nome. Mas todas as lutas travadas na Assembléia
durante o ano, e também as divergências do Conselho de Ministros com o generalíssimo,
chamam atenção para o poder crescente do chefe do governo”, confirma Hélio Silva (1983,
p.35).
1.5. A Eleição
No dia 25 de fevereiro de 1891, logo no início da sessão, a qual compareceram 234
constituintes, Prudente de Morais, declara-a aberta e acrescenta que deixará a presidência por
constar que seu nome será sufragado. Passa a direção dos trabalhos convida o constituinte
Antônio Eusébio e este ordena que seja feita a chamada dos votantes.
A tensão era cada vez maior. As dependências reservadas ao público estão inteiramente
apinhadas de curiosos, que, desde cedo, se transportaram para São Cristóvão de bonde,
de tílburi e até a pé. Terminada a votação, começa a contagem das cédulas. Confere o
número de votantes. As vozes dos escrutinadores vão gritando os nomes contidos nas
cédulas: Manuel Deodoro da Fonseca, um...; Prudente José de Morais Barros, um...
(MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.302).
Magalhães Junior (1957b, p.302-303), descreve que a impressão que se tinha, por
momentos era a de que perigava a candidatura de Deodoro. A votação de Prudente, dadas as
circunstâncias, era maior do que se esperava. Por momentos, parecia que os candidatos se
emparelham e que o civil poderia vencer o militar. “Mas, logo a diferença de Deodoro se
101
acentua. Por fim, terminado o trabalho dos escrutinadores, o presidente anuncia: - Manoel
Deodoro da Fonseca, 129 votos”.
Os deodoristas aplaudem, confirma Magalhães Junior (1957b, p.303). O marechal estava
eleito pela maioria absoluta dos votos dos presentes. Os adversários constrangidos do marechal,
como Campos Sales, também respiram, aliviados, sentindo que o perigo de dissolução imediata
do Congresso estava conjurado. Antônio Eusébio continua a anunciar o resultado: - Prudente
José de Morais Barros, 79 votos. Aplausos de novo, desta vez dos partidários de Prudente de
Morais.
A diferença, entre o chefe do Governo Provisório e o presidente do Congresso
Constituinte fora apenas de cinqüenta votos. Em seguida vem a votação para vice-presidente.
O resultado, agora, que o caso pessoal de Deodoro está resolvido, tem uma expressão singular:
o candidato deodorista é fragorosamente batido e o candidato da oposição tem uma vitória
esmagadora! A votação do vice-presidente supera, por 24 votos, a do Presidente da República
(MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.303).
Floriano Vieira Peixoto obtêm 153 votos e o almirante Eduardo Wandenkolk apenas 57
votos. Prudente de Morais recebe, ainda, 12 sufrágios para vice-presidente.
A cerimônia de posse foi marcada para as 13 horas do dia seguinte.
1.5.1. A Posse
Deodoro jurara que, quando fosse eleito presidente da República, tomaria posse com a
farda de marechal e todas as condecorações que recebera. Pouco lhe importava que a
Constituição houvera abolido as distinções imperiais. Suas medalhas, ele as ganhara no
campo de batalha, no inferno da metralha e à causa de sangue. [...] Alarmados, os
governistas enviaram a Baronesa de Alagoas, cunhada e Deodoro, para convencê-lo a
abandonar a idéia. Pronto para a cerimônia, Deodoro não cede. A baronesa
impacienta -se e resolve retirar ela mesma as grã-cruzes, placas e medalhas,
desprendendo-as da farda de Deodoro. O marechal consente indignado, e nesse estado
de espírito prepara-se para a posse (MARECHAL DEODORO, 1970, p.698).
A cerimônia da posse foi bastante singela. “Basta dizer que não houve discursos, a não
ser o que, muito breve, proferiu o presidente do Congresso Constituinte, Prudente de Morais,
traumatizado pela derrota da véspera e, certamente, animado de alguma má vontade”
(MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.304).
102
Abertos os trabalhos, com a presença de 100 deputados e senadores, Prudente de Morais
nomeou duas comissões, uma para acompanhar Deodoro ao recinto -Campos Sales, Cesário
Alvim, Artur Rios, João da Silva Retumba, Amaro Cavalcanti, Generoso Marques e Índio do
Brasil- e outra para acompanhar Floriano -Francisco Glicério, Gonçalves Chaves, Almeida
Barreto, Luís Delfino, Serzedelo Correia, Rosa Júnior e Astolfo Pio-. Ás 13 horas e dez
minutos, um após outro, com breve intervalo, entravam o presidente e o vice-presidente eleitos,
tomando ambos lugar á mesa, ao lado do presidente (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.304).
Medeiros e Albuquerque, testemunha desta cena, deixou o seguinte depoimento em seu
livro de memórias:
A comissão voltou com o marechal. Na sala estalaram algumas palmas. Poucas, porque
logo, de vários pontos, vozes imperiosas gritaram: Pschiu! Pshsiu! Os amigos de
Deodoro, embora em minoria, eram, de certo, numerosos. Ouvindo, porém, aquelas
interjeições enérgicas para que era impróprio do lugar qualquer aplauso. Diferente foi à
entrada de Floriano. É ainda Medeiros e Albuquerque quem a descreve: “Uma ovação
formidável reboou, estrugiu pelo salão. Era um delírio. Senhoras atiravam flores. Lenços
se agitavam. Palmas. Palmas. Palmas. A intenção de desfeita a Deodoro era tão clara que
o velho marechal empalideceu. Seus olhos fuzilaram de cólera (MAGALHÃES
JUNIOR, 1957b, p.304).
Ainda segundo Magalhães Junior (1957b, p.305), era, não a primeira, mas a terceira vez
em três dias que Deodoro se sentia diminuído e humilhado no Congresso: a primeira, a outorga
do título de ‘Fundador da República’ ao falecido Benjamin Constant: a segunda, com a
superioridade da votação de Floriano; a terceira, com a ovação ao vice-presidente, em contraste
com a frieza de sua recepção...
É sob essa emoção profundamente desagradável que Deodoro lê o compromisso, nos
termos da Constituição. Em seguida, Floriano faz o mesmo. Prudente de Morais declara:
Senhores congressistas. Estão empossados os dois primeiros magistrados da nação,
eleitos pelo Congresso Nacional Constituinte, na forma da Constituição promulgada.
Neste momento solene, eu, fiel intérprete do Congresso Nacional, legítimo representante
da Nação, faço os mais fervorosos votos pela felicidade deste país, certo de que
cumprirão os seus deveres, procurando fazer com que a pátria caminha para a
consecução de seus altos destinos (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.305).
103
Machado de Assis, que esteve presente à cerimônia da posse do presidente e do vice-
presidente da República, escreveu este curioso depoimento, numa crônica publicada na Gazeta
de Notícias a 17 de novembro de 1985:
Assomou Deodoro, cumprimentou em geral e guiou para a mesa; em caminho, porém,
viu na tribuna das senhoras algumas que conhecia -ou conhecia -as todas, e levando os
dedos à boca, fez um gesto, a pessoa, a solenidade, o momento político, e concluí. Eu
comparei tudo e comparei ainda o presidente e o vice-presidente. Aquele proferia as
palavras do compromisso com voz clara e vibrante, que reboou na vasta sala. Desceu
depois, com o mesmo aprumo, e saiu. A entrada do vice-presidente teve igual
cerimonial, mas diferiu logo nas palmas das tribunas, que foram cálidas e numerosas, ao
contrário das que saudaram a chegada do primeiro magistrado. O marechal Floriano
caminhou para a mesa, cabeça baixa, passo curto e vagaroso, e quando teve de proferir
as palavras do compromisso, fê-lo com voz surda e mal ouvida (MAGALHÃES
JUNIOR, 1957b, p.305).
No término a sessão, as comissões acompanharam os eleitos. Os deodoristas correram a
felicitar Deodoro, os florianistas foram abraçar Floriano e os prudentistas aguardaram Prudente,
à saída, para avivá-lo, aos gritos: Viva o benemérito da pátria! Viva o eleito do povo
brasileiro! (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.305).
Depois de ter presidido a sessão de encerramento do Congresso, Prudente foi, em
companhia de Campos Sales, fazer uma visita de cortesia a Deodoro, a pretexto de despedir-se
por ter que partir para São Paulo. Esteve quinze minutos no Palácio Itamarati, em conversa com
o marechal, mas havia entre aqueles dois homens uma sombra malfazeja, um constrangimento
indisfarçável: “o civil via no militar aquele que o derrotara; o militar via no civil o homem que
ousara disputar-lhe o direito de dirigir a República que ele próprio proclamara. As mãos que se
apertaram à despedida estavam frias, rígidas, como que se repeliam” (MAGALHÃES JUNIOR,
1957b, p.306).
Assim transcorreu a primeira eleição presidencial do país. Abaixo consta a cobertura do
jornal O País nos dias próximos a disputa eleitoral.
1.5.2. Cobertura d’O País na eleição
104
O País foi um dos mais representativos periódicos republicanos no final do século
XIX
37
. A pesquisadora acredita que foi o mais ‘deodorista’ das folhas da Capital Federal e por
isso o selecionou para análise da cobertura do primeiro pleito presidencial do Brasil.
Foram analisados artigos, editoriais e afins, publicados entre os dias 18 e 27 de fevereiro
de 1891, nos quais as palavras ‘eleição presidencial’ e outras correlatas destacadas pela
pesquisadora- apareceram no texto. Porém, antes das transcrições das notícias, segue o
comentário de José Inácio de Melo Souza (2003, p.26), a respeito da experiência da república
velha com os meios de comunicação:
Campos Sales afirmava que diante da inexistência de partidos políticos, restava, ao
governo, a compra de espaço nos jornais para a sua defesa, pois a linha diretiva do seu
quadriênio seria de combate. Tendo eliminado as verbas secretas quando ministro da
Fazenda de Deodoro, Campos Sales pôde, ao fim de seu mandato [presidencial -1898 a
1902], contabilizar os gastos que o Banco da República arcava com os jornais [grifos da
pesquisadora].
Portanto, o período delimitado de análise do jornal nessa dissertação, não engloba tais
práticas ilegais. Posteriormente, sob a direção de João Lage, O País foi tido como o jornal “que
tipificou o jornalista corrupto, de opinião alugada, conluiada com o poder, dele recebendo
benefícios materiais em troca da posição do jornal” (SOUZA, 2003, p.26).
A fase áurea d’O País foi quando Quintino Bocayúva o dirigiu, na criação do jornal em
1884, retomando ao mesmo em 1891, após o pleito presidencial. “Quintino insistia na tese de
que ‘um bom jornal’ deve ser neutro e enfrenta violentas críticas dos que o acusam de ter
abandonado as idéias republicanas” (GUIMARÃES, 2005d, p.3).
Seguem às transcrições das notícias publicadas nos dias que antecederam a eleição
presidencial de 25 de fevereiro de 1891
38
:
Dia 18, quarta-feira, na primeira página -coluna ‘Congresso Nacional’- as discussões dos
deputados do dia anterior foram:
[...] quanto à questão da eleição da presidência da República, quanto ao seu voto para a
primeira autoridade do país, fará aplicações de uma frase muito empregada pelos
37
O histórico do jornal O País foi descrito no Capítulo I, item 1.4.3 Quintino Bocayúva e no Capítulo II, item 2.4.
A imprensa no final do século XIX.
38
As edições d’O País foram encontradas micro filmadas na Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro). As palavras do
português arcaico dos textos foram adaptadas pela pesquisadora para o português atual.
105
franceses.[...] Eles dizem que há o casamento do amor e o casamento da razão; o orador
se pudesse fazer o seu casamento por amor, nessa questão do presidente da República,
daria o seu voto a um civil. [...] Mas não é possível fazer o casamento do amor, e resta
apenas o casamento de razão ou de conveniência. Darei o meu voto aquele [que] depois
de Benjamin Constant assumiu a responsabilidade da República. [...] Francamente não
tive receios do marechal Deodoro no poder supremo da nação. É verdade que, como
Napoleão, ele não construiu uma escada de glórias para embriagar o país. Mas o orador
votará nele para sancionar a revolução que aceitou... [Lopes Trovão, deputado pelo
Distrito Federal].
Portanto, a declaração do deputado Lopes Trovão foi de apoio à candidatura de Deodoro.
Dia 19 de fevereiro, quinta-feira, na primeira página -coluna ‘Congresso Nacional’-, está
à frase que o Sr. Marciano de Magalhães disse na sessão do Congresso do dia anterior. “[...] Se
o marechal Deodoro não se inspira na confiança do povo brasileiro, o orador declara retirar-lhe
a sua confiança e nega-lhe o seu voto”. Uma declaração contra a candidatura de Deodoro.
Nos dias 20 e 21 de fevereiro, sexta-feira e sábado, não consta nenhuma notícia sobre as
eleições presidenciais. Já no dia 22, domingo, na segunda página -coluna ‘Secção Livre’-, o
vice-almirante Eduardo Wandenkolk escreve u:
[...] A nação na minha humilde opinião, foi oportuna porque estavam tomando corpo
certos boatos sobre ser a Marinha hostil á eleição do marechal Deodoro e sobre a
desunião que reserva na corporação e caninha matal [sic]- os com profundo golpe, a bem
da nossa índole ordena, da nossa atitude calma e criteriosa e dos nossos sentimentos.
Wandenkolk não só defendia a candidatura de Deodoro, como era o seu candidato à vice.
No mesmo dia 22, o artigo opinativo intitulado ‘O Congresso Nacional e o generalíssimo
Deodoro da Fonseca’, dizia:
[...] A eleição do legendário generalíssimo a elevada posição de presidente da República
Brasileira, representa mais que um penhor político é a recompensa do seu mérito, do seu
valor de soldado, que jamais esqueceu a bravura para correr pressuroso a salvar a
integridade da honra da nossa pátria. [Capitão Joaquim Vieira de Almeida].
Acima, uma explícita demonstração de apoio à candidatura de Deodoro por parte do
Cap. Joaquim Almeida.
Em 23 de fevereiro, segunda-feira, o primeiro artigo d’O País era a coluna ‘Chronica
Política’ que dizia: Está votada a Constituição da República, e dentro de 3 ou 4 dias aprovada a
106
redação de tão notável documento, efetuada a sua promulgação solene, o Congresso
Constituinte terá feito a eleição do primeiro magistrado, encerrando com esse ato a missão
histórica de que foi incumbido pela nação soberana [...]. Portanto somente uma nota da eleição
que ocorreria em dois dias.
No dia 24, terça-feira, na primeira página -coluna ‘Congresso Nacional’-, descrevia as
discussões ocorridas no dia anterior:
[Sr. Victorino Monteiro afirma,] reconhecendo a incapacidade do chefe do governo
provisório para presidente da República, o orador declara que nem ele nem muito dos
seus colegas de bancada rio-grandense votarão para esse cargo no marechal Deodoro
[...] O Sr. Barbosa Lima combate energicamente convenio aduaneiro. Referindo-se ao
que o chefe do governo tem assinado no gênero desse tratado, declara que nem o orador
nem muitos dos seus colegas da deputação cearense darão seu voto ao marechal
Deodoro para presidente da República. [...] O Sr. Zama também combate o tratado e a
política do marechal Deodoro. E repete o que já disse numa sessão anterior -que nem a
força lhe dara o seu voto para presidente da República [...] O Sr. Jacques Ourique
defende o marechal Deodoro [...] O Sr. Ramiro Barcello protesta [...] aproveita o fato de
estar na tribuna para dizer que já tem confiança no marechal Deodoro.
Enquanto Victorino Monteiro, Barbosa Lima e César Zama repudiam a candidatura do
marechal, Jacques Ourique e Ramiro Barcello, a defendem.
No dia 25 de fevereiro, dia das eleições presidenciais, na primeira página -coluna
‘Congresso Nacional A sessão de hontem’, consta:
Despertou o maior interesse e teve toda a solenidade precisa, a sessão de ontem do
Congresso Nacional. Ao contrário do que diariamente tem sucedido, as galerias
estiveram, durante toda a sessão, completamente cheias de espectadores. Na sala das
deliberações, aos lados dos espaços destinados aos senhores representantes, aglomerava-
se uma infinidade de curiosos. As duas tribunas da imprensa foram invadidas por
pessoas que nada tinham a ver com a redação dos debates. E nas tribunas das senhoras e
do corpo diplomático não foi menor a concorrência, o que naturalmente também vai
suceder daqui a poucas horas na sessão em que se deve eleger o presidente da República
(promulga a Constituição).
Portanto, o texto acima foi somente uma nota da eleição que ocorreria no dia seguinte.
Outra coluna intitulada ‘O presidente da República’, refletia a importância daquela
eleição:
107
Vai o Congresso eleger o presidente da República. Algumas horas mais, e ele terá
mostrado a nação a que veio e quais são os seus verdadeiros intuitos [...]. Da eleição de
hoje dependem a segurança, a fortuna e a prosperidade de todas as classes da nação [...].
É a nação soberana que se vai pronunciar pelo voto dos seus ilustres delegados a
Assembléia Constituinte: -saibam todos os brasileiros ouvir, compreender e civicamente
acatar a sua iniludível, a sua austera, a sua imperiosa vontade [...].
A coluna ‘Noticiário’ confirmava que O ministério esteve reunido em conferência
extraordinária, sob a presidência do generalíssimo Deodoro, das 7 as 11 e ½ horas da noite de
ontem, para tratar dos graves acontecimentos ocorridos na estrada de ferro Central do Brasil.
[...]”. Apesar do texto não falar da eleição, no final viria uma demonstração de aprovação a
Deodoro: “Damos parabéns ao governo pelo modo patriótico pelo qual resolveu esta questão.
Na página 3, ‘Secção Livre’ intitulada ‘Ao Congresso e a Nação’, Joaquim Carvalho
declarou seu apoio a Deodoro:
O nome do generalíssimo Manoel Deodoro da Fonseca impõe-se à eleição do
Congresso e a solene sanção do Brasil inteiro [...] impõe-se de modo categórico e
inelutável [...] reflita e pondere-o bem o Congresso [...]. Até do acercamento [sic] a
família se há explorado partido para o redobramento de golpes [...] Reflitam os
congressistas dissidentes [sic] e reflita o povo. O generalíssimo Deodoro cumpre ser
eleito. [Dr. Joaquim José de Carvalho].
Nessa mesma coluna ‘Secção Livre’ havia um poema dedicado ao Exm. Vice-almirante
Eduardo Wandenkolk, uma homenagem de ‘Gentil de Alencar Sabóia’”. Era o apoio ao
candidato a vice-presidente da chapa de Deodoro.
No dia 26 de fevereiro, quinta-feira, um dia após as eleições, O País, publicou uma
imagem
39
de Deodoro no centro superior da primeira página, com a seguinte legenda: O País
previa a vitória de Deodoro. A imagem com a respectiva legenda revelava a posição política
favorável que o jornal assumiu frente à eleição do marechal.
A pesquisadora também encontrou -micro-filmado- os jornais O Estado de S. Paulo,
Gazeta de Notícias e Jornal do Commercio na data específica de 26 de fevereiro (um dia após a
eleição, quando o fato foi noticiado). Nenhum deles publicou imagem de Deodoro, somente
alguns comentários curtos do resultado do pleito (mais detalhes adiante). Portanto, o jornal O
39
Os recursos técnicos permitiam imprimir apenas traços e pontos, e não o reticulo que possibilita o meio-tom
(Informações do Capitão Francisco José Corrêa Martins, Chefe da Divisão de História do Arquivo Histórico do
Exército).
108
País foi o único dentre os encontrados- que divulgou a imagem do recém eleito presidente do
Brasil.
Seguem as fotos das capas dos jornais O País (também em close) e O Estado de S. Paulo
no dia 26 de fevereiro de 1981.
A coluna ‘Congresso Nacional A sessão de hontem’, de O País, descrevia passa o
passo à eleição presidencial ocorrida no dia anterior:
A mesma concorrência de ante ontem, talvez maior, assistiu ontem a eleição do
presidente e do vice-presidente da República, feita em sessão solene pelo Congresso
Nacional. [...] A sessão começou ao meio-dia e dez minutos. Á essa hora, assumiu a
presidência o Sr. Prudente de Morais. S. Ex. explicou ao Congresso que, para evitar
quaisquer inconvenientes ou reclamações, a eleição para aqueles dois cargos seria feita
procedendo-se a chamada dos Srs. Senadores e deputados, e depositando cada um deles a
sua cédula na urna, que fora colocada sobre a mesa da presidência, a proporção que se
fizesse ouvir o seu nome. O Sr. Quintino Bocayúva, pela ordem, apresentou em seguida
á mesa uma moção, na qual pedia ao Congresso que sagrasse em Benjamin Constant o
modelo para futuros políticos. A moção foi aprovada por unanimidade. Feito isso, o Sr.
presidente anunciou a ordem do dia eleição do presidente e vice-presidente da
República, e fez ver ao Congresso que passara a presidência ao Sr. Antonio Euzébio,
vice-presidente, por constar que Sr. Ex. era candidato na eleição que seria proceder.
Começou a chamada pelas representações do norte. Durou hora e meia. Ao fim desse
tempo, o Sr. Antonio Euzébio deu princípio ao trabalho de apuração. Foi este o resultado
das 234 cédulas levadas à mesa: marechal Manoel Deodoro da Fonseca 129; Dr Prudente
José de Morais Barros 97; marechal Floriano Peixoto 3; Saldanha Marinho 2. José
Hygino 4; em branco 2; total 234. A apuração, desde que se reconheceu que o marechal
Deodoro obtivera a maioria necessária para ser eleita, foi interrompida por manifestações
de agrado, partidas de parte das galerias e de muitos dos Srs. Representantes [...].
Procedeu-se de novo a chamada para a eleição de vice-presidente [...]. Floriano e
Prudente foram aplaudidos e rodeados pelo povo.
109
O texto acima é o simples relato detalhado de como procedeu à eleição, assim como
descreveu Magalhães Junior (1957b). O jornal ressalta que ‘Floriano e Prudente foram
aplaudidos e rodeados pelo povo, contrário de Deodoro. Também são apontados detalhes do
pleito como a sua duração -uma hora e meia- e, de que antes, foi aprovada uma moção em
homenagem ao recém falecido ministro Benjamin Constant.
Porém, na primeira página desse dia 26, a coluna O País ressalta sua inovação:
O País foi o primeiro órgão de imprensa que afixou boletim noticiando a escolha do
generalíssimo Deodoro, boletim seguido logo de outros, com o número de votos daquele
cidadão e do vice-presidente eleito, o general Floriano Peixoto [...]. E tão bem
conhecíamos as nossas providências, que a eleição do generalíssimo foi conhecida no
Congresso ás 2h e 10 minutos da tarde e ás 2 e 18 o público em grandes grupos lia esse
resultado à frente do nosso escritório.
A coluna ‘Cumprimentos e felicitações’ divulgou que após a notícia da eleição do
generalíssimo Deodoro para o cargo de presidente da República,
A cidade revestiu-se de alegrias, que se tornaram evidentes em toda a sociedade
fluminense [...]. Os bancos, edifícios públicos, escritórios de redação e casas particulares
ao palácio do chefe de estado [...]. Desde o anoitecer a residência do generalíssimo
começou a encher-se de cidadãos de todas as classes, militares de todos os corpos de
exercício e armada, inclusive inferiores, que foram levar ao generalíssimo os seus
cumprimentos e felicitações [...]. Foram inúmeros telegramas que o presidente da
república recebeu de todos os estados, com parabéns e frases de congratulações [...]. À
noite os edifícios públicos e da imprensa estiveram iluminados.
O texto acima é um precioso relato do comportamento da Capital Federal frente à vitória
de Deodoro, demonstrando que seu prestígio político não estava tão abalado.
No dia 27, a coluna ‘A Posse’, na primeira página, afirmava:
A solenidade de posse do presidente da República, como fato extraordinário na vida da
sociedade fluminense, despertou ontem muitas atenções, especialmente no mundo
oficial, que desde pela manhã pôs-se em movimento, enchendo-se a cidade dos sons
festivos das bandas de música militares [...]. Pouco depois do meio-dia saiu do palacete
de sua residência o generalíssimo Deodoro, em carro, e acompanhado de outros veículos,
em que iam (os ministros). A sua passagem na Rua do Largo de São Joaquim, o
presidente da república recebeu as continências devidas a sua posição de primeiro
magistrado, prestadas por uma brigada moral [...]. Na Rua do Imperador e nas
110
proximidades do Congresso formaram 10.000 homens de linha e policia [...]. À 1 hora da
tarde no Congresso Nacional, efetuou-se a cerimônia de posse do presidente e do vice-
presidente da república. A sua chegada houve diversas manifestações de agrado, partidos
das galerias. Cerca de cento e poucos deputados compareceram e Deodoro e Floriano
fizeram um juramento.
No texto acima, não constam ‘as vaias’ que Deodoro recebeu na sessão de posse,
portanto aqui, uma cobertura imparcial.
A seguir, o pequeno relato de outros três periódicos que cobriram essas eleições.
O jornal Gazeta de Notícias, no dia 24, relata as discussões ocorridas no Congresso
Nacional nos quais alguns deputados demonstraram apoio, outros repúdio, à candidatura de
Deodoro. No dia 25
40
, está descrita como foi a sessão que promulgou a Constituição, além de
uma coluna defendendo o voto a favor de Deodoro.
A cobertura do jornal O Estado de S. Paulo no dia 25, remeteu a aprovação da
Constituição. Na segunda página, na sessão ‘Telegramas’ havia comentários das moções dos
clubes militares. No dia 26, na primeira página, há um editorial intitulado ‘Secção Avulsa’ que
aborda a eleição do dia anterior, com enfoque favorável a Deodoro. Também consta o número
total de votos na eleição. No dia 27, a primeira notícia na capa foi a ‘Eleição presidencial
Sessão do Congresso’ relatando parcialmente o passo a passo da eleição. A sessão
‘Telegramas’ descreve a posse.
O Jornal do Commercio, no dia 26, na coluna ‘Gazetinha’ relata como foi a eleição
presidencial constando às manifestações do povo a favor de Deodoro. No exemplar do dia 27,
há a descrição da sessão solene de posse.
A breve análise da pesquisadora é que, apesar do jornal O País deixar implícito sua
posição favorável à vitória de Deodoro, na cobertura das eleições presidenciais prevaleceu às
transcrições das falas dos deputados nas sessões do Congresso. Houve duas inovações, a
primeira foi à divulgação quase que instantânea da notícia da vitória de Deodoro e no dia
seguinte ao pleito, à publicação da imagem dele na parte superior da capa, a mais valorizada de
um jornal.
40
A primeira e a segunda página desse jornal no dia 26 de fevereiro de 1891, está faltando nos arquivos micro-
filmados da Biblioteca Nacional.
111
Os outros três jornais não aprofundaram a cobertura das eleições, somente divulgaram o
acontecimento
41
. Constatou-se a presença de poucos textos de opinião declarando apoio ao
candidato Deodoro.
1.6. Dissolução do Congresso, renúncia e morte de Deodoro.
Nos meses que se seguiram, o marechal encontrou dificuldade para presidir o país. “A
oposição a Deodoro se tornava ainda mais desabrida, magoando profundamente o velho militar,
cujo estado de saúde se tornava cada vez mais precário” (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b,
p.327).
O mesmo autor continua:
Deodoro, evidentemente, estava ferido em seu amor próprio, em seu orgulho não apenas
de militar, mas de proclamador da República, de organizador do regime, para o qual
olhava como se fosse obra sua, e muito sua, agora fugindo de suas mãos, deturpada por
influências estranhas, voltadas contra ele próprio como um feitiço contra o feiticeiro...
Porque Deodoro tinha amor próprio, porque o velho marechal tinha orgulho, porque
gostava de fazer prevalecer vaidosamente a sua opinião, é que tinham recorrido a ele os
seus companheiros de classe na ‘questão militar’ e os dirigentes republicanos, em
outubro e novembro de 1889. A força que o impelia, agora, na sua reação contra o
Congresso era a mesma força elementar, fruto de uma vontade forte, de um personalismo
inequívoco, de uma sólida obstinação (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.333).
A gota d‘água para o velho soldado foi quando...
Então os senhores querem abandonar-me? Querem expor-me à humilhação de ser
forçado a aceitar um ministério imposto pelos Srs. Glicério e Prudente de Morais? Não
basta a oposição sustentada por estes duas tentativas de acordo, a que acedi, sacrificando
o meu amor próprio? Não sou eu, porventura, responsável pelos atos do governo? Como
se pretende tolher-me o direito de conservar um ministério que merece a minha inteira
confiança [...]. Isso aí que temos não é um Congresso Legislativo, mas um ajustamento
anárquico, que deve desaparecer para a felicidade do Brasil.
Assim Deodoro decidiu, no dia 3 de novembro, dissolver o Congresso, embora sem estar
investido pela Constituição de tal poder. Depois de exatos 20 dias, em 23 de novembro de 1981,
renunciou ao cargo de presidente. Assumiu o vice-presidente Floriano Peixoto.
No manifesto que Deodoro divulgou a população, ele explica o motivo de sua decisão:
41
A pesquisadora não aprofundou a pesquisa sobre a cobertura dos respectivos jornais nas eleições presidenciais,
portanto, não cabem demais considerações.
112
[...] As condições em que nestes últimos dias, porém, se acha o país, a ingratidão
daqueles por quem mais me sacrifiquei e o desejo de não deixar atear-se à guerra civil na
minha cara pátria, aconselham-me a renunciar o poder nas mãos do funcionário a quem
incumbe substituir-me. E, fazendo-o, despeço-me dos meus bons companheiros e
amigos, que sempre se me conservaram fiéis e dedicados, e dirijo meus votos ao todo-
poderoso pela perpétua prosperidade e sempre crescente florescimento do meu amado
Brasil (MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p. 374).
Deodoro se “enojava de ter sido militar, de haver sacrificado toda a sua vida à carreira
das armas, para ao fim de tudo receber como prêmio a ingratidão e a indiferença”
(MAGALHÃES JUNIOR, 1957b, p.377).
O velho soldado passava os seus últimos dias numa poltrona, imóvel, o olhar perdido. Os
poucos movimentos são para acariciar Tupi, seu pequeno vira-lata de pelo branco.
[...] Já não usa farda e nem sai de casa. Coloca todas as fitas e condecorações numa lata
que pretende atirar ao mar. Entre 19 de janeiro e 10 de abril de 1892, velhos
companheiros de farda ainda voltam-se para ele, preparam-lhe manifestações, querem
sua ajuda para enfrentar Floriano. Mas Deodoro está morrendo. Na manhã de 23 de
agosto de 1892, Deodoro parecia um pouco melhor. Conseguira falar com a esposa e se
confessara. Respirava mais livremente, sem aflição. De repente, os olhos rolam nas
órbitas. O irmão segura-lhe o pulso. Deodoro morreu. Foi um dos maiores funerais que o
Rio de Janeiro já conheceu. Presentes amigos e inimigos: Custódio de Melo, Rui
Barbosa, Campos Sales, Saldanha da Gama, Serzedelo Correia. Atrás do coche fúnebre,
cabisbaixo, segue Floriano Peixoto. No esquife, Deodoro em trajes civis, conforme seu
desejo expresso. Sem insígnias ou condecorações. Nenhuma das honrarias que recebeu
está consigo. [...] Não queria consigo lembranças do poder e da glória passada. Nem
mesmo os símbolos do heroísmo. Sobre seu peito apenas uma medalha sem valor [a
humilde medalha da Confederação Abolicionista] (MARECHAL DEODORO, 1970,
p.700).
Com 50 anos de vida pública, no qual chegara a presidente do Brasil, Deodoro morria.
“Porque Deodoro foi o fantasma dourado que os revolucionários de 89 colocaram diante da
tropa, do povo e do trono, para impressionar. A República não seria possível sem aquele vulto
lendário, sem aquelas dragonas, sem aquelas barbas tostadas pela pólvora do Paraguai. Ele era
sem duvida uma figura ornamental”, finaliza o cronista Orestes Barbosa (1933, p.155-159).
113
CONCLUSÃO
O sangue político, Deodoro herdou do pai, vereador em Alagoas. Como todos os irmãos,
escolheu a carreira militar. Apesar dos tropeços prisões por indisciplina- no início da carreira,
foi um soldado leal. “Vestiu, literalmente, a camisa do Exército”. Pelos companheiros de farda,
ele fez “tudo e mais um pouco”. Sempre esteve alerta na defesa de suas prerrogativas e na
exaltação dos deveres da Pátria
É verdade que não participou ativamente da campanha republicana liderada pelos
propagandistas Quintino Bocayúva, Silva Jardim, Rui Barbosa, Benjamin Constant, Lopes
Trovão e outros. Mas também não se manteve fora das discussões. Foi monarquista conservador
até o ‘último momento’, quando o convenceram de que o melhor sistema político para o Brasil,
naquela ocasião, era a República.
Sem possuir muitas qualidades que caracterizam um homem de estado, Deodoro
conseguiu, entretanto, em boa parte, supri-las pelo seu grande coração de patriota, pela nobreza
de seus sentimentos e por uma lealdade inexcedível.
E, é incontestável que, amado até a idolatria no Exército, acompanhado de uma fama de
bravura, adquirida nos campos de batalha, e coberto de serviços à pátria, ninguém dispunha,
como ele, de tanto poder de fascinação para atrair e dirigir as classes militares para um
movimento contra a monarquia.
Seu amor-próprio, sua autoconfiança, o sentimento de dignidade e de superioridade,
mosaicos que compunham o caráter de Deodoro, prepararam o ilustre soldado para as missões
históricas que lhe coube realizar convertendo-o em símbolo de sua própria classe.
Não mediu esforços para conter os oposicionistas. Primeiro, depôs o gabinete
monárquico de Ouro Preto, e já na República, enfrentou ferozes deputados como César Zama,
Carlos de Laet, Prudente de Morais e outros.
Por vezes, o próprio Deodoro ‘cultivou’ essas mágoas da oposição ao elaborar decretos
limitando a liberdade de imprensa, entre outros. Os jornais monarquistas foram vítimas de
censura, tiveram suas redações atacadas e seus jornalistas reprimidos. O autoritarismo
prevaleceu nos conturbados primeiros anos de República, o que foi considerado uma violência
contra a opinião política.
114
Deodoro ‘enfrentou’ os próprios ministros acreditando estar agindo da maneira mais
correta por exemplo, no caso do Porto das Torres-. E os ministros ‘responderam’ com diversas
ameaças de deixar o governo como fizeram em janeiro de 1891. No entanto, Deodoro não foi só
desilusão. Teve mais acertos do que erros.
Como chefe do Governo Provisório, Deodoro, naturalmente, era candidato à presidência.
A eleição formalizou a permanência dele no cargo mais importante do país. Ao invés de ser
chefe do Governo passou a presidente da República. A função não mudou, somente passou a
cumprir com a recém aprovada Constituição.
Apesar de contar com o apoio de deodoristas familiares, deputados e militares-, sua
candidatura à presidência foi definitivamente ‘confirmada’ em reunião estratégica convocada
por Campos Sales. Isso há um mês e um dia antes das eleições.
A principal estratégia ‘adotada’ por Deodoro em sua campanha eleitoral foi a ‘discrição’.
Não distribuiu panfletos e jornais, não falou sobre Plano de Governo, não fez comícios e festas.
Os deodoristas ‘fecharam alianças’ com os deputados votantes nessa primeira eleição
presidencial, e conseguiram manifestos de apoio à candidatura de Deodoro.
Os constituintes foram pressionados pelas forças do Exército, que não queriam ver
desprestigiado o grande líder da classe militar.
Já, a oposição fez campanha política, não só no período eleitoral. Lançou edições extras
de jornais a fim de denegrir a imagem do candidato da situação, no caso Deodoro da Fonseca,
espalhou cartazes pelas principais ruas da Capital Federal, aprovou moções de repúdio e usou
estatísticas embrião de pesquisa eleitoral- em que demonstravam a adesão dos representantes
paulistas nas eleições presidenciais.
Por meio do deboche e zombaria, a imprensa ilustrada satirizou as ações de Deodoro
como chefe de estado. Apesar de Ângelo Agostini nutrir ‘simpatias’ pelo marechal, suas charges
eram festejadas como ‘troféus’ pelos opositores do governo. Nas charges, valia bebê
representando a ‘recém-nascida’ República, belas mulheres remetendo a recém-aprovada
Constituição, e damas nuas simbolizando a repressão para com os órgãos de comunicação.
115
É mister constar que o população pouco, ou quase nada, participou desses
acontecimentos. Assistiram ‘bestializados
42
a Proclamação. Já a eleição presidencial foi
‘comemorada’ no seleto centro da Capital Federal. Os prédios públicos e jornais ficaram
iluminados na noite, após anúncio da vitória de Deodoro, em sinal de comemoração.
Aliás, nessa eleição, Deodoro teve como adversário, Prudente de Morais e o respectivo
vice Floriano Peixoto. Bem que os deodoristas tentaram convencer Prudente a desistir do pleito,
mas este deixou claro que apoiaria ‘qualquer candidatura de oposição ao marechal’.
O clima de tensão prevaleceu no dia 25 de fevereiro de 1891. Boatos circularam na
Capital Federal - RJ, confirmando que caso a oposição vencesse a eleição, ocorreria uma revolta
e o vencido seria proclamado ditador. O Exército, pessoalmente dedicado a Deodoro, não se
resignaria a deixá-lo cair.
Apesar da relevante votação de Prudente de Morais, o marechal Deodoro venceu a
eleição, ‘garantindo a ordem do sistema político’.
Na análise da cobertura das eleições presidenciais feita pelo O País, apareceram mais
manifestações de apoio à candidatura de Deodoro do que manifestações de repúdio. Os
congressistas deixaram seus depoimentos registrados nas notícias publicadas sobre as sessões do
Congresso.
No dia 19 de fevereiro de 1891, Lopes Trovão evidencia que não tinha receios do
marechal no poder; no dia 22, o candidato à vice de Deodoro, Eduardo Wandenkolk, faz questão
de constar o apoio que sua candidatura recebeu da Marinha; no dia 22, o capitão Joaquim
Almeida afirma que “a eleição de Deodoro representa mais que um penhor político é a
recompensa do seu mérito”; no dia 24, os deputados Jacques Ourique e Ramiro Barcello
rebatem críticas à candidatura de Deodoro; no dia 25, Joaquim Carvalho assina a coluna
‘Secção Livre’ em apoio a Deodoro, assim como Gentil de Alencar Sabóia cumprimenta o vice
Eduardo Wandenkolk.
As demonstrações de repúdio foram constatadas no dia 19, no depoimento de Marciano
de Magalhães durante a sessão do Congresso; no dia 24, Victorino Monteiro reconhecia a
‘incapacidade’ do chefe do Governo Provisório assim como também declararam Barbosa Lima
e César Zama.
42
Termo criado por José Murilo de Carvalho, adotado por pesquisadores brasileiros. In: CARVALHO, José Murilo
de. Os bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Cia das Letras, 1987.
116
Nos dez dias de análise de O País de 18 a 27 de fevereiro de 1891-, a pesquisadora
constatou que a maioria das notícias das primeiras páginas eram transcrições literais dos debates
ocorridos nas sessões do Congresso. Nas demais páginas constavam alguns artigos opinativos,
supõe-se que pagos e assinados pelos autores, declarando apoio a Deodoro e ao seu vice
Wandenkolk (este último derrotado na eleição).
A posição política do jornal O País foi favorável a Deodoro. Isto ficou evidente na
edição do dia 26 de fevereiro, quando a imagem do recém eleito presidente apareceu destacada
na parte superior da primeira página, com a seguinte legenda: “O País já previa a vitória de
Deodoro”. O jornal também ressaltou que foi o primeiro a divulgar o resultado do pleito.
Os outros três jornais encontrados O Estado de S. Paulo, Gazeta de Notícias e Jornal
do Commercio- na data específica de 26 de fevereiro, não aprofundaram as notícias sobre o
pleito, somente divulgaram o acontecimento. Os textos de opinião apareciam em menor
quantidade, se comparado a’O País.
FIM
117
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ANEXOS
Anexo I - Acervos com documentos e objetos pessoais de Deodoro da Fonseca
Dados do Centro de Informação de Acervo dos Presidentes da República, no Arquivo
Nacional, localizado no Rio de Janeiro.
1. Maria Guadalupe Piragibe da Fonseca, mora no bairro do Flamengo no Rio de
Janeiro, é sobrinha-neta de Deodoro da Fonseca, herdou documentos de seu pai, Roberto
Piragibe da Fonseca, sobrinho-neto de Deodoro. Roberto era filho de Clodoaldo, por sua vez,
filho de Pedro Paulino da Fonseca, irmão de Deodoro. Clodoaldo era considerado como filho
pelo ex-presidente.
Em janeiro de 2007, os documentos em poder de Maria Guadalupe, estavam em
processo de doação ao CEPDOC da Fundação Getúlio Vargas ou à Fundação Casa de Rui
Barbosa. Portanto não foi possível o acesso ao material.
135
O acervo arquivístico datado de 1854 a 1892 é constituído de correspondência entre o
titular e os militares que o apoiaram na Questão Militar de 1886, documentos sobre a defesa de
Inácio Coimbra feita pelo titular ao Conselho de Guerra, críticas ao governo, a carreira militar
principalmente o período em que exerceram o comando da província de Mato Grosso, recibos,
contas. O acervo museológico é formado por pratos, comendas, taça. O acervo iconográfico é
composto de um desenho em crayon de autoria de Bernadelli, e fotografia do Deodoro, em mau
estado de conservação.
2. Museu Histórico Nacional - RJ
O material foi doado de 1926 a 1957. O acervo arquivístico composto de ofícios do
titular quando brigadeiro inspetor da Inspetoria Militar de Pernambuco sobre as desordens
ocorridas no batalhão, manifestos do titular a população por ocasião da sua saída da presidência
e do golpe de 3/11/1891; diplomas; fotografias do titular, de manifestantes das Forças Armadas
e dos participantes do projeto de constituição de 1891.
Está organizado em três séries: Correspondência, Documentos Pessoais, Produção
Intelectual e Iconografia. A produção data de 1871 a 1891, somando 13 fotografias e 42
documentos textuais.
A pesquisadora não teve acesso ao material porque em janeiro de 2007, mês que visitou
o Museu, a única funcionária do Arquivo estava de férias e a visita só poderia ser agendada para
março do mesmo ano.
3. Museu da República no Palácio do Catete - RJ
A pesquisadora encontrou documentos assinados por Deodoro como telegramas, bilhetes
e um ‘cartão de visita’ escrito: Manoel Deodoro da Fonseca /Rio de Janeiro/ “Comadrinha, um
pouquinho melhor”. Há também uma mensagem de cinco de agosto de 1890, assinada por 34
pessoas, homenageando o presidente pela passagem de seu primeiro aniversário natalício depois
da Proclamação da República.
Também consta uma lista de 116 objetos que pertenceram a Deodoro, entre eles:
azeitoneira, bengala, busto, cabeça, cálice, caneta (pena), chapéu armado, copo de pé, escova de
dente, escova de cabelo, escova de mesa, escova de roupa, espelho, estátua, estatueta religiosa,
136
faixa militar, farda, condecoração, pendente de banda, pendente de fita, medalha comemorativa,
medalha de bravura, medalha premial militar, mesa-secretária, munição de arma de fogo, pá,
papeleira, passador, pingente, pires, placa, platina, pote de cosmético, prato comemorativo,
prato de doce, prato de sobremesa, quepe (boné), rebenque, retrato, roseta (espora), saboneteira,
sabre com bainha, taça de champanhe, Talim, travessa e xícaras com pires e colher.
4. Casa Histórica de Deodoro da Fonseca - RJ
A casa onde Deodoro residiu grande parte de sua vida. Foi cenário para as reuniões que
antecederam a Proclamação da República e para a assinatura, na noite de 15 de novembro, do
manifesto e do Primeiro Decreto que estabeleceu o Governo Provisório. Em 1905 foi
desapropriada. Abrigou clubes militares e em 1958 foi reconhecida como patrimônio nacional.
Foi restaurada e aberta ao público em 1971. Desde 1987 integra o Museu Histórico do Exército.
No local estão expostos bustos, roupas, quadros, medalhas e condecorações pessoais do
marechal.
Há também a ‘Casa Deodoro da Fonseca’, na cidade que tem seu nome, no Estado de
Alagoas, onde o marechal nasceu. Segundo informações obtidas por telefone pela pesquisadora,
a casa mantém exposição de móveis e roupas usadas por Deodoro ainda criança, período que
residiu no local.
Bibliografia de Deodoro da Fonseca
A pesquisadora visitou nos anos de 2006 e 2007, diversas bibliotecas, museus, institutos
e afins. Encontrou uma vasta bibliografia do período por meio de livros e jornais, utilizando
palavras-chaves como ‘História do Brasil’, ‘Proclamação da República’ e ‘Deodoro da
Fonseca’.
Segue abaixo uma lista dos demais locais visitados e o tipo de material que a
pesquisadora encontrou:
5. Biblioteca da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), (livros);
6. Biblioteca da Universidade Metodista de Piracicaba/SP (UNIMEP), (livros);
7. Arquivo Público do Estado de São Paulo (livros e jornais do final do século XIX
micro-filmados);
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8.Biblioteca da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo
(ECA-USP), (livros, monografias, dissertações e teses);
9. Biblioteca da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP
(FFLCH-USP), (livros, monografias, dissertações e teses);
10. Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP), (obras
raras e documentos);
11. Museu Paulista da Universidade de São Paulo (MP-USP), (obras raras e
documentos);
12. Biblioteca Mário de Andrade, SP, (livros e obras raras);
13. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro; (livros, obras raros, ilustrações e jornais do
final do século XIX micro-filmados);
14. Museu Histórico do Exército no Forte de Copacabana, RJ (exposição de objetos
de militares importantes);
15. Arquivo do Exército no Palácio Duque de Caxias, RJ, (documentos da carreira
militar de Deodoro);
16. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, RJ, (livros, revistas e documentos
históricos);
17. Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, Porto Alegre, RS. (livros,
artigos e revistas);
18. Museu Militar, Porto Alegre, RS, (livros);
19. Sebos nas cidades de São Paulo, Ribeirão Preto e Rio de Janeiro, (livros e obras
raras);
20. Telefonemas ao Museu Republicano em Itu, SP (livros e obras raras).
Figuras e imagens de Deodoro
Para o preparo do quadro da Proclamação da República, notável trabalho a óleo do
artista Henrique Bernardelli, teve o general Deodoro de ir várias vezes ao ateliê do artista tomar
pose a cavalo. (SENA, 1999, p.179).
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