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ELIANA MORAES DE ALMEIDA
LIVRO DE REGISTRO DO TRATADO DE SANTO ILDEFONSO
(Volumes I,II,III) – 1777 a 1793 : Edição de textos e estudo da pontuação
CUIABÁ
UFMT/ 2005
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ELIANA MORAES DE ALMEIDA
LIVRO DE REGISTRO DO TRATADO DE SANTO ILDEFONSO
(Volumes I, II, III) 1777 a 1793: Edição de textos e estudo da
pontuação
CUIABÁ
UFMT/ 2005
Dissertação apresentada ao
Programa de s-graduação do
Dep. de Letras da Universidade
Federal de Mato Grosso, como
requisito parcial para a obtenção
do título de Mestre em Estudos de
Linguagem, na área de Descrição
Linística.
ORIENTADOR: Prof. Dr.
Manoel Mourivaldo Santiago de
Almeida.
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“Não limite para a produção de
livros, e estudar demais deixa exausto o
corpo. Agora que se ouviu tudo, aqui
está a conclusão: Tema a Deus e
obedeça aos mandamentos, porque isso
é essencial para o homem.
Eclesiastes 12: 12,13.
“Porque Dele, por Ele e
para Ele são todas as
coisas.
A Ele seja a glória para
sempre!
Amém.
Rm 11:36
RESUMO
O Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso, formado por três volumes,
reúne uma série de documentos (cópias), relatórios, cartas em sua maioria, incluindo uma
cópia do tratado de Madri e do tratado de Santo Ildefonso. De valor histórico inegável,
compõe-se de memórias, instruções, antecedentes e trabalhos demarcatórios envolvendo o
período de 1777 a1793 no governo de Luís de Albuquerque Mello Pereira e Cáceres.
Esta pesquisa é uma tentativa de se posicionar quase na fronteira entre o trabalho
filológico e a investigação histórica da língua. Extrapola os limites da fixação de uma fonte
historiográfica no contexto regional, consistindo numa reflexão sobre o estado da ngua
nos idos do séc. XVIII, focalizando um estudo da pontuação nos manuscritos.
O trabalho se realiza em três etapas: seleção de documentos com análise
codicológica, edição dos textos e análise preliminar da pontuação.
O primeiro capítulo traz as bases metodológicas e científicas do trabalho filológico.
O segundo, a história dos textos e um pouco do contexto social e das personagens que os
compõem. A edição dos manuscritos, bem como as normas de transcrição, são
apresentadas no capítulo três. O estudo lingüístico, com análise dos principais sinais de
pontuação : ponto final, rgula , ponto-e-rgula e dois pontos compreendem o capítulo
quatro.
Ao fim, apresentam-se algumas considerações sobre o trabalho e uma seção de
anexos com fotos de visualização dos manuscritos.
AGRADECIMENTOS
Ao Senhor da minha vida, dono da minha alma, dono do meu coração. Eu não seria
nada sem Ele, porque sem Ele nada poderia eu fazer. Sou o que sou pela Sua infinita
misericórdia, amado Jesus Cristo.
Ao meu amado, parte de mim, metade de mim, e meu tudo...Diogo Alves. Você
trouxe toda motivação e força que eu precisava neste processo. Foi bom ter esperado
você...
A minha família, meus pais principalmente. Jamais mediram esforços para minha
educação, amo vocês.
A minha " irmais velha" e amiga maior, Josenice, posso ver um pouco de você
em tudo que construímos juntas. Obrigada pela força no trabalho.
Ao meu orientador, pelas críticas, pelo apoio, por tudo...Admiro muito seu trabalho.
Aos meus professores, principalmente da coordenação de pós-graduação , o
Mestrado em Estudos de Linguagem: por trás de todo profissional bem sucedido
mestres de inestimável valor, como vocês.
Ao professor Doutor César Nardelli e à professora Doutora Maria Rosa Petroni, por
serem a luz que faltava no final desta pesquisa.
Ao Arquivo Público de Mato Grosso e todas as demais instituições que forneceram
as fontes deste trabalho.
A todos os meus amigos e colegas, que ajudaram a escrever mais uma página de
uma história de lutas e preciosas vitórias.
ABSTRACT
Saint Ildefonso Treaty Register Book composed by three volumes, containing several
documents (copies), reports and most of them letter, including a copy of Madrid Treaty and
Saint Ildefonso Treaty is an inestimable historical and linguistic source.
Memories, instructions, records and demarcation works from 1777 to 1793, when
Luís de Albuquerque Mello Pereira e Cáceres was the governor of Mato Grosso formed
these Books.
This research is in the frontier of Philology and History, trying to realize an
investigation besides establishing a document. Focused on language description its more
than a regional historic source: it deals with a reflection about our language in Eighteen
Century.
The study is divided in three stages: manuscript selection with a codicological
analysis, text editions and a preliminary essay about punctuation.
The first chapter brings scientific and methodological basis. The second, based on
the history of selected manuscripts also shows the social context about that time. The
editions of these manuscripts, as well as transcription rules are presented in chapter three.
An analysis of language structure in chapter four emphasizes the system of
punctuation: full stop, semicolon, colon and comma.
Special status is given to certain points of the study in the last chapter. Finally,
photos of some manuscripts also illustrate all.
FICHA CATALOGRÁFICA
A447l Almeida, Eliana de Moraes.
Livro de registro do tratado de Santo Ildefonso (Volumes I, II, III)
1777 a 1793: edição de textos e estudos de pontuação. / Eliana de Moraes
Almeida. – Cuiabá: a autora, 2005.
185p.
Orientador: Prof.Dr. Manoel Mourivaldo Santiago de Almeida.
Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Mato Grosso. Insti-
Tuto de Linguagens. Campus Cuiabá.
1. Lingüística. 2. Literatura. 3. Filologia. 4. Alise codicológica.
5. Edição de manuscritos. 6. Pontuação. 7. Capitania do Mato Grosso.
I. Título.
1
I – INTRODUÇÃO
Philologie ist die Erkenntnis des Erkannten.
Filologia é o conhecimento do conhecido
August Boeckh (1785-1867)
Os interesses da Filologia têm variado conforme as épocas em que se praticou a
atividade filológica e de acordo com autores e lugares onde fora praticada. O labor filológico
tem seu campo específico e, tanto quanto possível, bem determinado. A Filologia não subsiste
senão no texto, concentra-se no texto para restituí-lo à sua genuinidade e prepará-lo para ser
publicado (Spina: 1994).
De forma objetiva, ela se preocupa em restituir o texto à sua forma original através dos
princípios da crítica textual, mais especificamente da Edótica, compreendendo a organização
material e formal do manuscrito, além de outros problemas que não se limitam ao texto, mas
se deduzem dele, tais como: autoria, datação e importância perante os textos da mesma
natureza.
Em reconhecimento a isso, na fronteira entre o trabalho filológico e a investigação
histórica da língua, esta dissertação surge como resultado de um trabalho que extrapola os
limites da fixação de uma fonte historiográfica no contexto regional apenas, consistindo
também numa reflexão sobre o estado da ngua nos idos do séc. XVIII (1777-1793).
O Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso encontra-se no acervo do Arquivo
Público Histórico de Mato Grosso e faz parte do fundo da Secretaria de Governo, inscrevendo
as correspondências da Capitania de Mato Grosso, no período das administrações de Luís de
Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres e, posteriormente, João de Albuquerque de Mello
Pereira e Cáceres.
São três volumes que compreendem documentos envolvendo o período de 1777 a
1793, muito embora os termos de abertura e encerramento datem de 1774. Foram elaborados
por ordem do governador da Capitania de Mato Grosso, Luís de Albuquerque, para
2
servir de registro das ordens de Sua Magestade e quaisquer
outros documentos relativos a Demarcação dos Reaes
Dominios. (Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso,
Volume I, termo de abertura).
Dada a extensão da fonte escolhida, foram selecionados alguns textos mais relevantes
que compõem o Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso: cópia do Tratado de Santo
Ildefonso (volume I), três cartas (volume II) e um diário de viagem (volume III), para edição e
análise.
1.1 Princípios científicos do trabalho filológico
A atividade filológica também considera a língua, analisa suas formas e construções,
acompanhando, por meio de documentos cronologicamente sucessivos, a evolução dos
fonemas, das formas, do emprego das formas e da construção da frase (transformações
sintáticas).
Assim, o desenvolvimento deste trabalho percorre três etapas bem definidas:
a) Seleção e reconstrução histórica dos manuscritos (capítulos I e II);
b) Edição dos manuscritos (capítulo III);
c) Análise lingüística (estudo da pontuação- capítulo IV).
Anterior à seleção, alguns princípios científicos que constituem a crítica textual foram
considerados, a fim de preencher todas as lacunas na definição do foco e da metodologia da
pesquisa.
Com base no sistema de Lachmann (Spina: 1994) e nas etapas apresentadas por
Bassetto (2001), Azevedo Filho (1987), Vasconcellos (1959), entre outros, a recensio permitiu
um levantamento de todos os códices existentes do Tratado de Santo Ildefonso, das cartas e
do Diário de Navegação.
É importante destacar que todos os volumes possuem um índice, que, além de definir
os fólios de localização dos documentos, também descreve resumidamente o conteúdo de
cada um deles , afirmando que os manuscritos presentes nas obras são cópias. Quando tal
informão não aparece diretamente nos índices, ela está presente no início dos textos no
interior dos volumes.
3
Fig. 1 - Índice no início do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso
vol. III.
Por outro lado, sabe-se, pelo próprio Arquivo Público de Mato Grosso, que dos
originais das correspondências, diários de viagem, instruções, relações, memórias, recibos,
cartas e respostas de cartas faziam-se pias que formavam os livros de registro. Os originais
podem ou não ser localizados em acervos do país, Portugal ou Espanha, logo não haveria
como estabelecer parâmetros para uma edição crítica. A natureza desta pesquisa não focaliza
a produção de uma edição crítica no atual contexto. Entretanto, pela existência de edições dos
4
Tratados de Madri e Santo Ildefonso (Volume I), pode-se abrir espaço para uma produção
posterior de obra crítica, mas apenas dos Tratados, visto que, até o presente momento, não se
sabe de outra cópia semelhante à do livro de Santo Ildefonso na íntegra dos volumes,
contando as cartas e demais documentos, nos acervos da região Centro Oeste pelo menos.
O tratado de Santo Ildefonso tem seu original fortemente guardado na Biblioteca da
Torre do Tombo em Portugal, mas o conteúdo das correspondências da capitania de Mato
Grosso faz supor que algumas cópias foram entregues às demais capitanias envolvidas nos
trabalhos demarcatórios e, destas, uma delas encontra-se no livro de registro, intitulando-o.
Por se tratar de um documento de grande valor histórico, já foi editado e consta de
obras da História Geral do Brasil, a exemplo da edição de Soares (Siqueira 2002:57), cujo
fragmento do Artigo X é reproduzido a seguir.
Fig. 2 - Fragmento da edição de Soares (In: Siqueira 2002:57).
O exemplar editado aqui tem valor lingüístico e histórico e será considerado como
fonte do registro formal da língua setecentista no processo de análise, postura que será
esclarecida no desenvolvimento da pesquisa.
Os três volumes contam com um total de 348 cartas (respostas e as chamadas
ditas”/”dito”). Como explicado anteriormente, conforme descrição do próprio livro, os
manuscritos constituem-se em pias, cujos originais se perderam ou fazem parte de acervos
fora do país (Portugal e Espanha).
5
O histórico dos códices, como dito anteriormente, será apresentado no segundo
capítulo da dissertação, fornecendo também o contexto social e potico, os quais envolvem a
elaboração das obras.
Tornou-se indispensável, devido ao grande volume de manuscritos, a adoção de alguns
critérios, com o objetivo de determinar quais exemplares comporiam esta pesquisa, tais
como:
1. Relevância histórica de conteúdo, isto é, a natureza do conteúdo dos manuscritos
deve possuir relevância para o contexto histórico regional;
2. Adequação ao contexto de formação do Livro relação com o Tratado de Santo
Ildefonso, pois vários manuscritos relacionam-se a acontecimentos de menor
relevância.
3. Mudança de punho indicando alteração de autores/copistas – revelada também pela
grafia e estilo na linguagem.
Quanto ao processo de edição, apresentado no terceiro capítulo, convém destacar que
os textos têm capital importância como documentos da ngua, pois noticiam e apresentam
visão geral do estado da língua em épocas anteriores, permitindo fazer a história do idioma.
Desta maneira, cabe ao pesquisador a escolha da melhor edição, a qual favoreça a análise das
ocorrências no interior da estrutura da língua.
Das edições apresentadas por Spina (1994), Bassetto (2001), Cambraia (1999), Acioli
(1994), entre outros edição crítica, diplotica, semidiplomática ou diplomático-
interpretativa, paleográfica e fac-símile – optou-se, nesta pesquisa, pela apresentação da
edição diplotica, justificada e descrita detalhadamente também no capítulo III. Além disso,
dentro dos limites possíveis ao trabalho de pesquisa, acompanha este estudo uma lista de
abreviaturas dos fólios selecionados e de um acervo de fotos para visualização dos
manuscritos.
A edição fac-símile ainda não se tornou possível devido à falta de material
especializado para reprodução (inúmeras tentativas frustradas de reprodução foram realizadas
com os recursos disponíveis), aos danos irreversíveis nos únicos microfilmes da obra e, ainda,
à negativa da instituição em remover o documento para reprodução em outro arquivo. De
acordo com o APMT, talvez até o próximo ano, o laboratório em construção possa oferecer
reproduções dos documentos.
No quarto capítulo são contemplados alguns pontos de descrição da norma gramatical
no período setecentista pelo estudo da pontuação dos manuscritos.
6
Sob o ponto de vista diacrônico, considera Bassetto (2001:41) que qualquer variedade
lingüística pode ser analisada em sua história externa ou interna. A primeira envolve a
investigação da origem da língua ou do dialeto, o território ocupado e possíveis expansões, as
influências do substrato, do superstrato e do adstrato, os fatos políticos, econômicos, sociais e
culturais que, de alguma forma, influíram em sua evolução. A história interna, por outro lado,
tem como objeto de estudo a ngua em sua evolução interna, nos rios níveis lingüísticos
fonético, morfológico, sintático, léxico e estilístico. Em filologia românica, completa o autor,
esses dois aspectos são pesquisados no latim e suas variedades (vulgar) e nas línguas e
dialetos românicos.
Os textos constituem a base de pesquisa; mas é
importante que essa base seja realmente confiável. Essa
confiabilidade é obtida através do trabalho filológico da
Edótica. (Bassetto 2001:42)
As noções correspondentes aos trabalhos de edição e análise dos manuscritos desta
pesquisa compreendem a disciplina denominada Edótica, cujas normas gerais (Spina: 1994)
são aplicáveis à publicação de documentos históricos, filosóficos e religiosos.
A Edótica representa como que o ponto de chegada de
todo o labor filológico, embora hoje o papel da Filologia
apresente um propósito mais arrojado, mais pretensioso
do que a simples canonização dos textos literários
através de procedimentos que se consubstanciaram na
chamada “crítica textual (Spina 1994:60).
7
II – HISTÓRIA DOS TEXTOS
Sabe-se que toda produção escrita revela uma história única que, ao ser percorrida e
recontada, pode mostrar a constituição não somente da obra, mas de seu contexto, autor e
demais personagens que a produziram.
O Brasil pouco tem se preocupado em preservar sua própria história. Grande parte de
sua produção acaba se perdendo no passar dos anos, esquecida nos tãos e pequenas salas,
sem o devido cuidado de preservação. Alguns estados e municípios, porém, tentam resistir,
investindo recursos na abertura de espaços especializados para cuidar e manter vários
registros antigos.
Não existem registros que indiquem os procedimentos de incorporação dos materiais
que comem o Livro de Santo Ildefonso ao acervo do Arquivo Público de Mato Grosso.
Essa ausência de registros dificultou o conhecimento imediato acerca da proveniência,
classificação e ordenação originais, bem como datas-limite e outros elementos fundamentais
para a pesquisa. A maior parte dos documentos não apresenta dificuldades para o
entendimento paleográfico, contudo o vocabulário do período ainda não estava normatizado e
a utilização de abreviaturas era corrente. Além disso, a deterioração da tinta de alguns lios
o permite mais a leitura de vários trechos dos textos, muito menos a reprodução por
fotografia, seo por microfilmagem.
Neste capítulo, tratar-se-á da reconstituição histórica dos dices, apesar de muitas
informações terem se perdido, gerando lacunas irrecuperáveis no percurso. Também, algumas
observações quanto ao aspecto material dos códices e notas paleográficas serão destacadas.
2.1 Os códices
8
O Arquivo blico de Mato Grosso (APMT) tem um acervo de setenta e um livros de
registros da Capitania de Mato Grosso, correspondentes ao período de 1702 a 1825,
provenientes em sua maioria da Secretaria de Governo.
Para entender os acontecimentos registrados nos livros que serviram de fonte a este
trabalho, torna-se necessário retomar alguns elementos da história de Mato Grosso e do Brasil
colonial.
Silva (1994:29) relata que o século XVII, para Mato Grosso, foi marcado por invasões
de bandeirantes paulistas na busca do índio. Por outro lado, o século XVIII se destaca pela
chegada de aventureiros de toda ordem e gente de toda a espécie, principalmente de São
Paulo, à procura de ouro. Sob a jurisdição e ordens da então Capitania de São Paulo, Mato
Grosso era uma constante preocupação para a Coroa portuguesa.
Até 1746, reconhece-se que a penetração, conquista e povoamento de todo o Mato
Grosso estavam bem consolidados. O donio português se estendia aos mais longínquos
sertões, dos pequenos arraiais às lavras auríferas. Contudo, apesar do efetivo e inconteste
domínio colonial português, o Tratado de Tordesilhas, firmado por Portugal e Espanha em
1494, conferia ao Reino Espanhol o direito de posse das terras.
Somente em 9 de maio de 1748, D. João V, Rei de Portugal, criou a Capitania de Mato
Grosso, por Carta Régia, desmembrando-a de São Paulo. O Tratado de Madri, cuja cópia abre
o I Volume do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso, deu nova configuração e
contorno às posses geográficas portuguesas e espanholas. Desde sua assinatura em 1750,
passaram por Mato Grosso três Capitães Generais.
O quarto Capitão General de Mato Grosso foi Luis de Albuquerque de Melo Pereira e
Cáceres, o qual tomou posse em 13 de dezembro de 1772, governando por quase 17 anos os
destinos de Mato Grosso no período colonial e destacando-se como aquele que por mais
tempo administrou o estado em toda sua história.
9
Fig. 3 - Capitão-general Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres. Autor
não identificado (década de 70 - século XVIII). Acervo da Casa da Ínsua,
Portugal ( Siqueira 2002:56).
Na opinião dos historiadores regionais, esse governador pode ser considerado o grande
estadista de Mato Grosso em épocas coloniais, pois sua visão geopolítica foi extraordinária,
ao ampliar e consolidar as fronteiras coloniais portuguesas em nossas terras (Silva 1994 :30).
Continuando nossa leitura pelos caminhos da histórica Capitania de Mato Grosso,
descobrimos, ainda, que Luis de Albuquerque
...determinou a fundação do Forte de Coimbra em 1775,
à margem direita do rio Paraguai, no local denominado
Fecho dos Morros, que de acordo com o Tratado de
Madri, estaria em território notadamente pertencente à
Coroa espanhola. Nesse mesmo ano iniciou a construção
do Forte Príncipe da Beira, às margens do rio Guaporé,
num feito incrível, pois que, todo o material para essa
obra, bem como os artífices e posteriormente o
armamento, vieram penosamente de Belém do Grão
Pará, pela rota do rio Madeira. Esses dois fortes,
monumentos da audácia portuguesa e ainda da coragem
e da visão do homem luso-tropical, na época coibiram
10
qualquer nova tentativa espanhola de assenhorear-se de
terras portuguesas, arrefecendo os seus ânimos
conquistadores
(
Silva 1994: 30).
Tanto entusiasmo é justificado diante dos mais importantes atos de seu governo, os
quais incluem:
Fundação, em 1778, da povoação de Albuquerque, hoje Corumbá;
Fundação, em 1781, de Vila Maria, atualmente Cáceres;
Fundação de São Pedro Del Rey (nesse mesmo ano), hoje cidade de Poconé;
Fundação dos registros do Jauru e Insua, este no rio Araguaia, e em 1783, a povoação
de Casalvasco;
Ocupação da margem esquerda do rio Guaporé, fundando a povoação de Viseu.
Alguns desses acontecimentos, dados sobre a rotina administrativa e do
relacionamento deste governador com outros governadores de Capitanias brasileiras, ou com
a Coroa, encontram-se registrados nas cartas, ocios, diários e outros documentos dos
Volumes I e II, do Livro de Registro. Luis de Albuquerque esforçou-se ao máximo para
corresponder aos anseios da Coroa portuguesa, especialmente no período que sucedeu ao
Tratado Preliminar de Limites, assinado em 1 de outubro de 1777, em Santo Ildefonso.
Silva (1994:32) acrescenta que
Além desses feitos todos, procedeu medições
de fronteira, a elaboração de relatórios de viagens e
determinou a confecção de mapas terrestres e
hidrográficos, deixando, inclusive, uma série de
trabalhos de sua própria autoria. Muitos desses
relatórios, descrições, estudos, desenhos, plantas e
mapas, produzidos durante o seu governo, encontram-se
até hoje conservados na Casa da Insua, antiga e
senhorial residência da família de Luis de Albuquerque
em Portugal.
Nos segundo e terceiro volumes dessa coleção acompanhamos a substituição, a partir
de 1789, deste governador por seu iro João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, que
muito pouca coisa fez em favor da Capitania de Mato Grosso. Apenas continuou o processo
11
de medição e levantamento das fronteiras e promoveu a pacificão dos índios Guaicurus.
Dois engenheiros e astrônomos, Francisco Jode Lacerda e Almeida e Antonio Pires da
Silva Pontes se destacaram nessa época por seus trabalhos em favor da capitania.
De acordo com o Arquivo blico de Mato Grosso, esses livros existem e fazem parte
do acervo específico da antiga Secretaria de Governo, na época colonial. Por eles é possível
delinear um retrato claro da história de Mato Grosso, pela riqueza de informação não
contemplada em livros didáticos ou de História.
Algumas informações preciosas se perderam ao longo do tempo e são irrecuperáveis,
como, por exemplo, a explicação do por que guardar tantos registros, como este acervo foi
constituído, quem era responsável pelos livros e, principalmente, quem eram os copistas, visto
que as assinaturas dos textos representam os autores das cartas.
Da observação do material, pela descrão histórica dos personagens que comem o
texto e em comparação com outros documentos da mesma época que fazem parte de um
trabalho anterior de edição para estudo das conjunções coordenativas (Almeida e Silva: 2001),
podemos ao menos assumir como pressuposto que o bom conhecimento da ngua por parte
dos copistas seria pré-requisito para registrar documentos importantes e de caráter oficial. Os
textos deveriam ser cuidadosamente reproduzidos. Pelo menos quanto ao Tratado, pode-se
levantar tal hipótese quando comparamos a minuta do texto, encontrada no acervo da torre do
Tombo, com a cópia presente no Livro.
Assim, percorrida essa etapa, passa-se a observar, mais detalhadamente, uma breve
apresentação da história que forma o contexto de formação dos códices.
2.1.1 Os tratados de limites: trabalhos demarcatórios em Mato Grosso
12
Fig. 4 Observações de Pontes e Lacerda. Moacyr Freitas (2000). Acervo da
Fundação Cultural de Mato grosso (In: Siqueira 2002:50).
De acordo com Siqueira (2002:50), os limites fronteiriços no Período Colonial eram
estabelecidos por marcos geográficos e, principalmente, pela movimentação dos homens nos
terririos. O processo de colonização do Centro-Oeste demarcou, assim, a partir de 1750, as
terras que pertenciam ao rei de Portugal ou ao rei da Espanha. Com o rompimento do Tratado
de Tordesilhas, o Tratado de Madri estabeleceu outra fronteira para a Coroa lusitana.
No século XVIII, não se tinha precisão quanto à extensão das terras brasileiras e
tampouco de seus rios, o que dificultava os trabalhos da Comissão Demarcadora (op. Cit.
2002:50). Esse tipo de comissão era responsável por delimitar as áreas das Coroas portuguesa
e espanhola, através de registros em viagens pelos rios que duravam meses. O rio Guapoé o
mais mencionado, pois os tratados de limites reforçaram sua importância por ligar as regiões
setentrionais com o alto Guaporé. Onze anos depois do Tratado de Madri, em 1761, foi
assinado o Tratado de El Pardo, curiosamente não mencionado nos volumes do livro de
registro do Tratado de Santo Ildefonso.
Siqueira (2002:56) esclarece, ainda, que a anulação do Tratado de Madri não afastou o
interesse do governo lusitano de garantir a posse das áreas a Oeste, especialmente daquelas
conquistadas pelo avanço bandeirante e expandidas durante o governo dos primeiros capitães-
13
generais de Mato Grosso. Foi assim que Portugal procurou aumentar os postos militares na
fronteira ocidental da Capitania de Mato Grosso e Luís de Albuquerque mandou construir o
Forte de Coimbra, no ano de 1775. Com mais esse importante posto militar, buscava o
senhorio da navegação do baixo rio Paraguai, não permitindo que espanhóis e índios
dominassem esse importante ponto estratégico.
O Forte Real Príncipe da Beira, inaugurado a 20 de junho de 1776, também construído
por ordem de Luís de Albuquerque, possuía uma excelente posição geográfica.
Estrategicamente situado à margem direita do rio Guaporé, acima da capital, Vila Bela, serviu
esse monumento como mais um ponto de fixação da fronteira. A fundação da povoação de
Viseu foi outro feito estratégico deste governador. Assim, podemos entender por que a ata de
fundação (cópia) de Viseu consta do primeiro volume do Livro do Tratado, fólio 49v.
2.1.2 O Tratado de Santo Ildefonso: a comissão dos cientistas
No parecer de Siqueira (2002:56), a construção dessas edificações deveu-se
principalmente a uma questão de garantia dos territórios situados entre as duas principais vilas
da Capitania, Cuiabá e Vila Bela, pois um novo tratado de limites estava sendo negociado
entre as duas coroas. Destaca a autora
Era o Tratado de Santo Ildefonso, assinado a 1 de
outubro de 1777, marco da nova política lusitana,
implementada pela rainha D. Maria I, que inaugurou um
período conhecido como Viradeira, cuja política se
opunha, frontalmente, àquela implementada pelo
governo anterior, de D. José I, que tinha à frente o
esclarecido Marquês de Pombal. Por esse novo Tratado,
o Brasil perdia para a Espanha o vasto território das
Missões, mantendo, praticamente intactos, os limites
fixados na fronteira Oeste pelo Tratado de Madri. Assim,
a fundação de Vila Maria, do Forte do Príncipe da Beira
e de Viseu, às vésperas da assinatura de Santo Ildefonso,
demarcou as firmes posições portuguesas na fronteira
setentrional da América do Sul, especialmente no
desconhecido trecho que mediava os rios Jauru e
Guaporé (Siqueira 2002:57).
14
O teor do Tratado refere-se principalmente às normas de demarcação das terras
pertencentes às Coroas de Portugal e Espanha, os limites de terras (onde iniciam e terminam),
os direitos e deveres dos "subditos", a retirada ou permanência nas povoações, normativas
acordadas e estabelecidas em vinte e cinco artigos, num texto de estrutura bem definida e
carregado de componentes formulares da época.
Para compor a comissão demarcadora do Tratado de Santo Ildefonso, por ordem de D.
Maria I, em nome de Portugal, forma nomeados os lusitanos Ricardo Franco de Almeida
Serra e Joaquim José Ferreira, e os brasileiros Francisco José de Lacerda e Almeida e Antônio
Pires da Silva Pontes, além de um capelão, Pe. Álvaro de Loureiro da Fonseca Zuzarte, dois
desenhistas e três oficiais inferiores.
As o Tratado, completa Siqueira (2002:57), a Capitania de Mato Grosso já possuía
grande parte de sua fronteira Oeste guarnecida com fortes, fortalezas e prisões, trabalho
implementado durante o Período Colonial. Até mesmo a raia máxima do Sul da Capitania fora
agraciada com uma importante guarnição, o Forte de Coimbra, localizado às margens do rio
Paraguai, próximo à antiga Vila de Albuquerque, mais tarde intitulada Corumbá.
Outro dado relevante para este trabalho relaciona-se ao envio de homens cultos para a
Capitania, logo após sua criação em 1748. Eram portugueses e brasileiros que, educados na
Europa e dedicados ao estudo e à investigação científica, davam contornos bem definidos aos
trabalhos de colonização implementados inicialmente por bandeirantes paulistas rudes, quase
analfabetos. Destacam-se: Alexandre Rodrigues Ferreira (naturalista), Álvaro da Fonseca
Zuzarte (capelão da Comissão Demarcadora de limites de 22 de fevereiro de 1782), Antônio
Pires da Silva Pontes (astrônomo e matemático) da referida Comissão, Joaquim José Ferreira
(sargento-mor de Engenheiros), Francisco José de Lacerda e Almeida (também astrônomo,
autor do diário editado aqui), Pe. José Manoel de Siqueira e Ricardo Franco de Almeida Serra
(militar) também membro da Comissão (Siqueira 2002:69).
15
Fig. 5 - Início do Diário de Viagem de Francisco José de Lacerda e Almeida.
2.2 Análise codicológica
O processo da análise codicológica é mais bem compreendido quando se torna claro o
papel de três disciplinas familiares à Edótica: a Diplomática, a Paleografia e a Codicologia,
conforme Spina (1994) e, também, Azevedo Filho (1987:20) descrevem.
Explica Spina (1994) que os documentos, também denominados vulgarmente dices
ou manuscritos, classificam-se em documentos particulares e documentos públicos. Estes
últimos, registrados oficialmente por pessoa pública, recebe cada um o nome de documento
público; neste caso, ou é um diploma produzido diretamente pelo soberano, por sua
imediata autoridade, ou por um alto magistrado ( licença e alvarás régios, patentes, mandatos,
éditos, que levam o selo de arma do soberano); ou uma carta – nos demais casos (forais, cartas
conselhiais, senhorias, etc.).
É o caso da cópia do Tratado de Santo Ildefonso e do Tratado de Madri presentes no
Volume I, do Livro de Registro, um documento diplomático produzido pelas Coroas de
Portugal e Espanha.
Por outro lado, os documentos particulares são destinados a conservar o direito de
alguém, neles não interferindo qualquer pessoa pública ( um testamento, uma doação, uma
procuração, um requerimento, um contrato de compra e venda etc.). Muitos exemplos podem
ser encontrados no Arquivo Público, no setor de documentos avulsos ou em livros próprios.
E se a Diplomática tem como objetivo o documento público e privado, continua Spina
(1994), a Edótica interessa-se, sobretudo pelo documento literário. Se considerarmos que o
16
gênero diário de viagem tem um caráter literário bem definido, com elementos narrativos e
informativos, além de associar elementos do imaginário (mitos, lendas) de seu narrador-autor,
então, a Edótica servirá bem ao trabalho proposto aqui. Mas também, empresta algumas
ferramentas úteis para estabelecimento dos demais textos.
Atualmente, a Diplomática restringe-se ao estudo dos documentos das chancelarias,
documentos histórico-jurídicos - régios, pontifícios, consulares. Isto é, aos documentos
propriamente diplomáticos, que se distinguem dos documentos comuns pelo fato de estes não
estarem vazados no formulário conveniente (Spina 1994:19-21).
Quanto ao estudo do documento, o campo da Diplomática é muito mais amplo que a
Paleografia. A Paleografia tem como objeto apenas o estudo da escrita dos documentos e sua
interpretação, ao passo que a Diplotica extrapola esses limites, consistindo no estudo de
todos os caracteres externos do documento - a matéria escriptória, os instrumentos gráficos,
as tintas os selos, as bulas, os timbres, inclusive a letra, a linguagem, as fórmulas - , isto é ,
numa crítica formal dos documentos, visando com isso a determinar o grau de autenticidade
dos mesmos.
Na verdade, Paleografia e Diplotica são objetos de certa confusão conceitual no
campo da Filologia. Como ambas coincidem nos instrumentos e se diferem apenas nos
objetivos da análise e interesse, completam-se e seguem grande parte do caminho lado a lado.
Nesse sentido, Acioli (1994:5), por exemplo, argumenta que a Paleografia é, antes de
tudo, um instrumento de análise do documento histórico. Não cabe ao palgrafo somente ler
textos; a ele compete igualmente datá-los, estabelecer sua origem e procedência e criticá-los
quanto à sua autenticidade, levando em consideração o aspecto gráfico dos mesmos. Das
ciências auxiliares da História, a Paleografia é a mais importante porque ela se dedica ao
estudo da escrita sobre o material brando, principal fonte de informação do historiador.
A autora considera a Diplomática e a Paleografia como complementares e auxiliares
entre si. Muitas vezes a Diplomática é identificada como a Paleografia, mas, embora tenham
como objeto comum a escrita, suas tarefas são diferentes. Parecendo contrariar Spina (1994),
ressalta que enquanto esta lê e analisa o documento levando em consideração o seu aspecto
exterior (grafia, material, selo), aquela procura avaliar a veracidade dele através de seus
caracteres internos (língua, texto), de sua parte formal e alterações que possa ter
experimentado através dos séculos.
Pode-se, assim, resumir o que foi dito numa
definição mais completa de Paleografia: é a ciência que
e interpreta as formas gráficas antigas, determina o
17
tempo e lugar em que foi redigido o manuscrito, anota os
erros que possa conter o mesmo, com o fim de fornecer
subsídios à História, à Filologia, ao Direito e a outras
ciências que tenham a escrita como fonte de
conhecimento
(Acioli 1994:6).
São essas as bases que definirão a análise que compõe esta pesquisa.
2.2.1 Os volumes e suas características materiais:
a) Capa
O Volume I do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso é composto de 195
fólios, compreendendo os anos de 1780-1783. As dimenes variam para o índice e demais
fólios: 21 cm de largura x 31 cm de altura no índice e 23,5 cm de largura x 32,5 cm de altura
nos fólios seguintes. Exceto pelo índice, as medidas se repetem também nos volumes II e III.
Fig. 6 - Capa do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso – vol. I
18
Fig. 7 - Capa do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso – vol. I
19
Fig. 8 - Capa do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso – vol. I
O material, conforme Fig. VI e VII, que constitui especificamente a capa do volume I
(única restante no momento da elaboração desta pesquisa), é todo trabalhado artesanalmente
em couro genuíno. Nota-se que a capa inicialmente era de fácil manuseio, mas com o passar
dos anos e à mercê das agressões do ambiente encontramos uma forma grosseira.
Outros aspectos importantes a serem destacados são: desenhos em alto relevo e uma
inscrição em letra cursiva humanista. Na falta de várias letras do título do volume I, podemos
apenas inferir ou supor que, seguindo o índice, a inscrição deveria constar: Livro (de
Registro?) para as Demarcações. Ao centro da capa, na parte superior e inferior, dois
retângulos. No primeiro, a inscrição do título do volume, no segundo, também ao centro um
brasão semelhante ao do fabricante do papel, mas dificilmente identificável. Ao redor, um
quadro maior margeia a capa e, principalmente entre os espaços formados entre ele e os
demais retângulos, encontram-se desenhos contemporâneos àquela época.
No interior dos volumes, as letras são corridas, traçadas de um só lance e sem
descanso da mão. Apresentam entre si nexos ou ligações. Sendo seu traçado mais livre, a
escrita oferece certa dificuldade, agravada pela deterioração do documento, na leitura (Acioli
1994:13).
Os originais das capas dos volumes não podem mais ser encontrados, visto que a
deterioração dos materiais e a alta contaminação mostravam a necessidade de sua destruição,
pois afetariam outros documentos de igual valor hisrico. Em 2004, apenas a capa do volume
I ainda resistia aos maus tratos sofridos pela não preservação. Hoje, restam somente os
registros digitalizados presentes neste trabalho. Por enquanto, não notícia de outros
registros existentes.
Na figura VIII, pode-se perceber um traço de arquivologia (numeração e catalogação
do livro), marcado por uma qualidade de papel constituída por celulose, mas a espessura é
20
grossa e resistente ao tempo. O material difere dos fólios presentes no interior dos livros, o
que nos faz supor que é posterior à formação do Livro de Registro, pois sua fabricação data
do último quartel do século XIX no Brasil ( Beck 1994:9; Maia 1997:10).
b) Os fólios
Em todos os volumes os fólios são rubricados e numerados, no canto direito da
margem superior, apenas no recto (frente), o verso não é numerado nem rubricado. A rubrica
pertence ao autor dos termos de abertura e encerramento: Joze de Carvalho de Andrade,
datados de 11 de setembro de 1774, conforme fig. IX e X.
Fig. 9 - Início do Tratado, Fólio de abertura do Livro de Registro do Tratado de
Santo Ildefonso – vol. I
No corpo do fólio, pelo primeiro punho, encontramos os seguintes dizeres:
21
Temeste Livro cento enoventa esinco folhas
numeradas errubricadas pormim comaminha cos
tumada rrubricaSeguinte = (rubrica) = Do meu uzo; do=
que fis este termo de abertura. Lisboa onze de Se=
tembro de milsete Centos, esetenta e quatro.
(rubrica)
Abaixo, escrito à caneta esferográfica vermelha, em segundo punho, a datação 1974
indica a intervenção posterior no texto.
Fig. 10 - Cópia do Tratado de Santo Ildefonso, Fólio 18r (ilustração da
numeração do fólio na margem superior direita), Livro de Registro do Tratado
de Santo Ildefonso – vol. I.
22
Logo após o termo de abertura, um fólio (figura XI) anuncia outra data de início dos
registros das demarcações, conforme mostra o seguinte texto de abertura:
Este livro sedestinoupor
Ordem do Ill.
mo
e Ex.
mo
S
r
. Luizde
Albuquerque deMello Per.
a
eCaceres;
Governador
e
Cap.
m
General destaCap.
ta
paraservir de Reg.
o
dasordens deSua
Mag.
e
e quaesqueroutros Documentos
Relativos aDemarcaçaõ dosReaesDo-
minios; detreminada pelo Tratado
PreleminardeLemites do1.° deOutu-
bro E1777 celebrado emS.
to
Ildefonso
Villa Bella 18
deJulho de 1780.
Belchior A.(?).Per
.a
(rubrica)
Fig. 11 - Termo inicial, Fólio do Livro de Registro do Tratado de Santo
Ildefonso – vol. I
23
c) As filigranas
As filigranas, marcas d’água no fólio somente visíveis a um feixe de luz, podem ser
encontradas em fólios que introduzem os volumes. Nos volumes II e III o mais comuns
fólios em branco. No volume I, em fólios o numerados são mais facilmente percebidos: um
brasão ao centro (um fólio avulso), palavras Vorno e Quartino, em outros dois fólios avulsos.
No volume II, no interior da obra há uma marca constante no inferior à direita do recto
dos fólios.
Marca d’água – fl. avulso, v. II
O volume II tem 195 fólios, compreendendo os anos de 1783 a 1789. O termo de
abertura, datado de 13 de julho de 1774, difere apenas nisto do volume I.
Ao centro de alguns fólios avulsos, pode-se observar também um desenho de um
touro, pouco acima da palavra Quartino. Estes elementos indicam que pelo menos dois
fabricantes diferentes de papel forneceram os fólios para composição do códice.
Esta hitese é corroborada no volume III, o qual envolve os anos de 1777-1793, com
169 fólios. Em alguns fólios encontra-se no canto esquerdo superior as letras B,C, V, disposta
da seguinte forma:
B
C V
24
Ao centro, mais facilmente observado em lio avulso, vê-se um Brasão com uma
coroa ou a marca Porrata. Em outros casos, no canto esquerdo da margem inferior
encontram-se as letras G, A,P. Dessa maneira:
G A
P
Um aspecto importante, na descrão de Beck (1998:9) , relaciona-se às marcas d'água
ou filigranas - iniciais, nomes, brasões ou símbolos executados em arame fino sobre a tela -
vistos na folha de papel contra a luz, da mesma forma que as linhas da tela na produção do
papel cuja matéria-prima era o trapo.
Fizeram-se as primeiras marcas dgua nos moinhos de papel de Bolonha (1286) e
Fabriano (1293-1294). Apesar de se tornarem comuns a partir do início do século XIV, jamais
foram utilizadas em papéis orientais. Compostas em geral pelas iniciais ou pelo nome
completo do fabricante, podem informar origem, idade ou qualidade do papel, constituindo
um importante auxílio para identificar e constatar a autenticidade de um documento ou de
uma obra de arte.
As marcas presentes nos lios pesquisados registram algumas iniciais e figuras, que
permanecem incógnitas diante da falta de referências para definição melhor e mais profunda
da origem do material que come os códices. Pode-se, apenas, com base nos manuais dos
arquivos blicos (APSP: 1998; Beck:1998; Maia:1997), atestar os materiais, a origem
portuguesa e a datação do século XVIII, conforme descrito anteriormente.
d) Notas paleográficas: o papel, a tinta, a escrita.
Sabe-se que até fins do séc. XII, a documentação portuguesa ainda permanecia restrita
aos pergaminhos e que somente a partir de princípios do século XIII surgem os primeiros
documentos em papel. A técnica desse período é superada apenas por volta do século XV.
no reinado de D. Manuel, no século XVI, havia ordem para que determinados documentos
fossem registrados em papel. Assim, o pergaminho antigo ficava destinado apenas às Cartas,
com material fornecido pela Chancelaria, e o papel reservava-se aos processos e demais
25
documentos forenses. também um documento datado de 1288, existente no Cartório da
Fazenda da Universidade de Coimbra, mencionando o pergaminho de papel (Spina:1994).
Segundo Beck (1998:7) , a partir do século XIV, o papel era fabricado em larga escala
e usado comumente em documentos, desenhos, pinturas, gravuras e, mais tarde, na impressão
de livros. No Brasil, o despertar da manufatura do papel está ligado às mudanças poticas
ocorridas após a chegada de Dom João VI. Entre 1809 e 1810, Henrique Nunes Cardoso e
Joaquim Joda Silva instalaram no Andaraí Pequeno a primeira fábrica de papel; em 1837
surgiu a de André Gaillard e quatro anos mais tarde, a de Zeferino Ferrez, no Engenho Velho.
Em 1852 criou-se a Fábrica de Oreanda, na Raiz da Serra, falida em 1874 pela falta de
matéria-prima, o trapo, que chegou a ser importado de Portugal. A escassez cada vez maior do
trapo levaria o botânico frei Joda Conceição Veloso a pesquisar, em 1809, outros tipos de
fibra presentes na flora brasileira. Em 1880, em Salto, São Paulo, inaugurou-se a primeira
fábrica de papel bem-sucedida no Brasil.
Explica Beck (1998:9) que até o século XVIII a técnica de fabricação do papel baseava-
se num sistema de pilão, em que martelos, movidos pela força de água, maceravam os trapos
molhados até que estes se desfiassem, formando uma pasta. Em seguida, desenvolveu-se a
'holandesa', composta de um cilindro cuja rotação movimentava constantemente a substância
líquida (água e trapos) até a formação da pasta. Antes desse maceramento os trapos eram
batidos, a fim de eliminar a poeira, separados pelo tipo de fibra e pela cor, rasgados em
pedaços e lavados. As fibras longas davam ao papel maior resistência e suas extremidades
deviam ser pontudas e esgarçadas para que se entrelaçassem melhor; por isso os trapos não
eram cortados.
A folha do papel (Beck:1998; Maia :1997) era conseguida manualmente: usava-se
uma tela especial, na qual os fios de cobre, chamados vergaduras, corriam paralelos e muito
próximos; no sentido oposto, corriam fios mais distanciados, apenas para dar firmeza à tela,
denominados pontusais. Depois de colocar uma moldura de madeira solta sobre a tela,
recolhia-se a pasta das tinas; com rápidos movimentos circulares, esta era distribuída de
maneira uniforme, deixando a água escorrer pela tela. Em seguida, retirava-se a moldura que
limitava os bordos do papel; este era empilhado entre feltros, um a um, e prensado a fim de se
extrair a água restante. Quando as folhas estavam enxutas, eram encoladas com um pincel ou
por imersão, secas em varais e novamente prensadas. Apenas na Europa se utilizavam telas
de arame de cobre, no Oriente eram de bambu. Podem-se perceber nitidamente as marcas das
vergaduras e dos pontusais, pois sobre os fios de arame formava-se um depósito menos
espesso de fibras, o que acarretava maior translucidez.
26
Fig. 12 - Tinta nítida no Fólio do Livro de Registro do Tratado de Santo
Ildefonso, Tratado de Santo Ildefonso - Artigos II e III – vol. I.
A fim de preencher o vazio entre as fibras, permitir uma supercie lisa, opaca e,
assim, facilitar a impressão e a escrita, adicionavam-se à pasta elementos de carga: pós
brancos como o gesso, o carbonato de magnésio e o caulim, entre outros. Para a fabricação de
papéis coloridos, acrescentavam-se à massa pigmentos finamente moídos. Esse tingimento
também podia fazer-se depois de pronta a folha de papel, através de imersão em tinta. Na
27
encolagem, que dá ao papel maior resistência e impermeabilidade, possibilitando a escrita dos
dois lados, utilizava-se principalmente a goma de amido, além de resinas vegetais e a cola
animal (gelatina).
Essa descrição de Beck (1998:9) permite-nos associar tal produção ao papel dos fólios
que comem os livros deste período. Também, é possível compreender a durabilidade do
material, espessura incomum e dimensões. O Manual de Procedimentos para tratamento
documental, do Arquivo do Estado de São Paulo (1998:17), destaca o uso já da pasta
celulósica, mas apenas no séc. XIX, paralelamente ao outro tipo descrito anteriormente ( o
trapo).
Os dices dos volumes I, II, III do Livro de Registro de Santo Ildefonso foram
originalmente costurados com um tipo de linha empregado (algodão) posteriormente, no final
do século XIX para documentação oficial. Contudo, não restavam senão, no início da
pesquisa pouquíssimos vestígios deste material nos códices, os quais atualmente, depois da
mais recente catalogação do APMT, estão soltos.
A tinta, clareada com o tempo, é bem tida nos fólios do Tratado, mas quase ilegível
em algumas partes dos outros volumes do Livro. Esse fator, somado à grafia por vezes de
letras bem finas e próximas, torna o trabalho de leitura exaustivo e demorado. Pelas formas de
deterioração dos fólios, conforme veremos na descrição de Beck (1998:16-17), pode-se
considerar tratar-se da tinta ferrogálica.
Fig. 13 - Mudança de punho e tinta clareada no fólio do Diário de Viagem do
Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso – vol. III
A tinta mais antiga conhecida é a nanquim, feita à base de fuligem e não agressiva
ao papel, além de apresentar boa permanência. É usada até hoje, recomendada na produção de
28
documentos de valor permanente. Na Europa, durante a Idade Média, ocorreram
significativas mudanças na composição da tinta. A ferrogálica, no dizer de Beck (1998:16),
conhecida desde a Antiidade, reapareceu e ocupou o lugar da tinta de fuligem, que se
tornaria cada vez mais rara a partir do século XV. Compunha-se basicamente de sulfato de
ferro e ácido gálico, sendo este último extrdo da noz da galha (nódulos do carvalho);
acrescia-se, como aglutinante, a goma arábica diluída em água.
No período colonial essa tinta era importada de Portugal, que o Brasil não tinha
permissão de industrializá-la. Ela pode provocar a corrosão irreversível do papel. A forte
acidez, desencadeada com a absorção progressiva do oxigênio, da umidade e de poluentes
atmosféricos, como os gases sulfurosos, destroem os papéis e em processo ainda mais
acelerado, os compostos de fibra de madeira.
A letra, segundo a classificação de Spina (1994) considerada uma variante da
humanista, muda de punho em vários trechos dos volumes. Trata-se de uma cursiva mais
simples e moderna, assemelhando-se tanto no século XVIII quanto no século XIX.
Para Acioli (1994:62), a cursiva do século XIX pouco difere da atual. Quando a grafia
é bem feita, a leitura é fácil e corrida. São poucos os deslizes cometidos pelos copistas e
raramente aparecem palavras riscadas ou entrelinhadas. Nos escrivões, sobretudo nos
profissionais, sente-se a influência caligráfica: traçado regular, iniciais graúdas, distribuição
perfeita na página, espaços bem ocupados.
Fig. 14 - cursiva presente no Tratado de Santo Ildefonso - V. I
roaz . [
]
1
Sua Magestade Catholica,em seu Nome, ede
Seus Herdeiroz, e successorez, cede afavor de Sua Mages-
tade Fedelissima, de seus Herdeiroz, eSuccessores, todos, equa
es quer Direitos, que lhepossaõ pertencer aos Territorioz, que,
segundo vay explicado neste Artigo, devem pertencer á Co-
roade Portugual. (fl 13r, linhas 24-29).
1
Símbolo que indica espaço, convencionado na edição do texto. Ver capítulo III.
29
Fig. 15 - cursivas presentes (fragmentos I e II respectivamente) no diário de
viagem
2
- V. III
2
[]Dia 30
Naveguey duas léguas e 74 p
r
entre agoapez do pan-
tanal, retrocedendo de varias veredas que seguy por que
as achava secas athe que finalm
e
sahy a hum lugar que
lhe chamam o Boqueiraõ, ponto em que o Ryo tor-
na novamente a correr encanado por entre humas mar-
gens que tinham de hum athê dous palmos de altura
Fuy seguindo este canal – vencendo a correnteza da agoa
e algumas vezes encalhando nos baixos pois nas partes
concavas das enseadas tinha m
to
irregular fundo de (fólio 39v, linhas 17-27) Fragmento I
30
Ainda, do ponto de vista gráfico, completa Acioli (1994:62), o retrocesso de cem anos
na escrita representa poucas diferenças nos sinais e também na ortografia de então. A
dificuldade de leitura não reside obrigatoriamente no retrocesso cronológico. Uma escrita
mais antiga, por exemplo, do século XVI, pode ser mais legível do que uma do XVIII ou XIX.
O inverso, contudo, é mais comum. Também, a simples mudança de século não implica a
mudança de escrita.
Sendo assim, tal como Acioli (1994:62, 63) e servindo-se de algumas bases de seu
trabalho nos manuscritos dos séculos XVIII, que se destacar apenas as difereas gráficas
ou ortográficas da escrita antiga para a atual.
Diferenças Paleográficas:
- A letra e possui três grafias diferentes nos lios do Tratado. Uma para maiúscula,
uma
para minúscula e outra que também parece ser minúscula , mas isso não fica claro no
manuscrito E eos
Estabelecimentos
.
- O h é semelhante ao 'e' e ao 'l', exceto por um ligeiro traçado curvo que o distingue
especialmente em pronomes como "lhe"
A Artelharia, .
- As maiúsculas e minúsculas são de difícil distinção nas letras C, R, M e E, principalmente
por existirem duas formas de maiúsculas em algumas delas.
- A letra s, quando dobrada, a primeira delas é longa e a segunda é curta (- s)
deSuas Magestades Fedelissima, e Catholica,
[] Copia da Carta
Senhor Doutor Francisco Joze de Lacerda.
C. Muitissimo e Excelentessimo Senhor Bernardo Jo
de Lorena meu amabilissimo General he servido deter
minar-me, que da sua parte mande eu dizerá vossa mer
ce, que logo que Recebereste avizo, seponha em marcha,
(fólio 51r, linhas 04-09) Fragmento II
31
- Em vários trechos, quase não existe distinção entre o traçado do s e do z, especialmente
nos finais de palavras. Ora o s tem um traçado longo, assemelhando-se ao z, ora é curto, e
vice-versa
aguaz/s.
dealgumaz/s acços de
- Os sinais diacríticos são usados de formas diversas: ora o circunflexo indica sílaba tônica,
em vogais fechadas na pronúncia atual: medêaõ. O acento agudo aparece na sua função
estabelecida, como também é usado em crases. O til aparece solto em letras finais nos
casos de nasalização, como Miss, chamaõ. Às vezes, aparece conjuntamente com o
acento grave em determinados verbos: ficaràõ, dividiràõ, comunicaràõ.
- A pontuação resume-se à vírgula, ponto e rgula e ponto, às vezes transformados em
traços oblíquos. Geralmente os períodos são longos.
Diferenças ortográficas:
- Há ocorrências freqüentes de letras dobradas, especialmente o l, m, f, t, r e, às vezes, s
daquelle, officio, sellar, occidental.
- As formas plurais ão e ões são grafadas com -n- navegaçoens, missoens. Também,
palavras terminadas em -l- recebiam o plural -aes sinal - sinaes; as terminações em -ua,
colocava-se -oa legoa, agoa; em -eu, -eo perdeo.
3
- O e, quando verbo ser, vem precedido de h, enquanto o verbo haver ou outras palavras
que deveriam ser grafadas com H, não o utilizam ouve, orizonte, hé, he.
- Em sílabas como - ter, trocam-se as letras determinou = detreminou.
4
- O - i no interior das palavras é substituído pelo -e e vice-versa Fedelissima, lemites,
difinitivo, Miridional. Em alguns casos o - i é substituído pelo - y Ryos, Rey, Correyos,
Arroyo.
- Uso de formas como -sç, -bd, -cç, pt excepto, subdito, estabelesça, protecçaõ.
3
Ao contrário de Acioli (1994:63), que prevê meras alterações em termos de ortografia, ver Almeida
(2004:9) para apresentação dos períodos de evolução dos morfemas flexionais na categoria nominal e defesa de
hipótese
.
4
Estas ocorrências talvez estejam mostrando certa variação lingüística.
32
Algumas formas ainda não estavam estabilizadas como o uso do sufixo - mente, nos
advérbios comum mente, feliz mente, expressa mente. Ou, por exemplo, a forma quaes
quer = quaisquer.
2.3 As abreviaturas
Justificadas pela raridade e também pelo alto custo dos materiais, as abreviaturas
constituem um elemento importante para compreensão lingüística do manuscrito. Pelos
trabalhos de Spina (1994:44) e Acioli (1994:46), podemos descrever os tipos mais freqüentes
dos volumes I, II, III:
Abreviação por supressão (suspensão) ou apócope - quando desaparece quase toda a
palavra permanecendo somente a letra inicial, ou sílaba inicial. Este sistema deriva das
siglas; as abreviaturas não têm terminação. Exemplos:
d. - de
p. - para
q. - que
V.A. - Vossa Alteza
.
Abreviação por síncope; ou por letras sobrepostas (contração) - consiste na supressão
de letras intermediárias de uma palavra. Sempre permanece a terminação. O sistema
deriva das notas tironianas (de radical e terminação). Exemplos:
Snõr - señor prim.
ro
- primeiro
Ill.
mo
- illustrissimo q.
quer
- qualquer
2.3.1 Lista das abreviaturas (Baseada no modelo de Flexor: 1979):
Tabela 2.1 – Lista de abreviaturas
Albuqr.
e
Albuq.
e
Albuquerque
atrasam
to
Atrasamento
Cap.
a(s)
Capitania (s)
Cap.
m
Cap.
an
Capitam, Capitão
Cavalc
te
Cavalcante
33
Comp.
nt
Comprimento
Com.
am
Conceiçam, Conceição
confr
e
conforme
consideravelm
e
consideravelmente
continuam
te
continuamente
d. de
D. Dom, Doutor
D.
r
Doutor
d.
o
dito
D.
os
G. a VMC
D.
os
Guarde a VM
ce
. m. anñ.
Deos Guarde a Vossa Mercê ou
Deos Guarde a Vossa Mercê
muitos anos
D.
os
G.
de
a V. Ex
ca
m. anñ. Deos Guarde a Vossa
Excelência muitos anos
Dez
br
, Dez
bro
, Dez
ro
Dezembro
divertim
to
divertimento
docid.
e
docidade
effectivam
e
effectivamente
Entrepassadam.
e
entrepassadamente
E.S. Excellentíssimo Senhor
extremid
e
extremidade
facilidad
e
facilidade
finalm
e
finalmente
Goven.
or
Governador
Ill.
mo
Illustrissimo
inteiram
e
inteiramente
jabuticabr
as
jabuticabeiras
Joaq
m
Joaquim
m.
ta
m.
tas
muita, muitas
m.
to
m.
tos
muito, muitos
34
necessid
e
necessidade
naq
l
naquel, naquela
Occid.
e
Occidente
p.
a
para
p.
te
parte
p.
lo
pelo
p.
r
por
Per.
a
Pereira
placidam
e
placidamente
preced.
e
precedente
principalm
e
principalmente
S.
or
Senhor
summam.
e
summamente
trigonometricam
e
trigonometricamente
q.
to
quanto
V.
a
Villa, Vila
V. Ex.
ca
Vossa Excelência
VMC Vossa Mercê
V. S
a
Vossa Senhoria
V.
a
Bella Vila Bella
2.4 Componentes formulares dos textos
Seguindo a análise de Spina (1994:53), foram observados que os documentos
selecionados para análise dos volumes I, II e III do Livro de Registro possuem uma partição
bem definida e orientada por normas de constituição dos tipos textuais.
O Tratado de Santo Ildefonso é um documento organizado em duas partes, conforme
Spina(1994): uma interior que constitui o corpo do documento e contém o fato registrado – o
texto; outra exterior que serve de moldura do documento, e contém as fórmulas que conferem
a ele perfeição legal e personalidade, servindo também para a sua autenticação, datação e
publicidade. A parte exterior é dividida em Protocolo (abertura) e Escatocolo (fechamento).
Assim, temos:
No início do texto (abertura):
35
O Protocolo
A intitulação – título do texto (f.11r);
[
] Segundo Tratado Preleminar, de lemites, celebrado em Santo
Ildefonso, em o prim.
ro
deOutubro de 1777 dequefaz men-
çaõ a Carta daSecretaria doEstado, antecedente.[
]
Dona Maria, por graça de Deos, Raynha dePortugal,
O endereço – a quem se destina (f.11r);
[
] Faço saber atodos os que aprezente Carta deConfirma-
çaõ, Aprovaçaõ, e Rateficaçaõ virem, que em oprimeiro doprezente
Mêz, e Anno, se concluio, eassinou emSanto Ildefonso hum
Tratado Preliminar...
A invocação divina (f.11v);
[
] Em nome da Santissima Trindade
Havendo a Divina Providencia, excitado nos Augustos Coraços
deSuas Magestades Fedelissima, e Catholica, osincero dezejo de ex-
No interior do texto (desenvolvimento):
Preâmbulo (característica oratória) (f.11v);
de extinguir
as discordias, que tem havido, entre as duas Coroas de Por-
tugal, eHespanha, e Seus respectivos Vassallos, no espaço de quazi
trez Seculos, Sobre os lemites dosSeus Dominios daAmerica, eda
Azia: para lograr este importante fim, eEstabelescer perpetua mente
a harmonia, amizade, eboa inteligencia, que correspondem ao estreito
Parentesco, eSublimes qualidades de taõ Altos Princepes, ao Amor re-
ciproco que Seprofessaõ, ao interesse das Naços, que feliz mente governaõ:
Cláusulas combinatórias.
1. de garantia (f.11v);
Parentesco, eSublimes qualidades de taõ Altos Princepes, ao Amor re-
ciproco que Seprofessaõ, ao interesse das Naços, que feliz mente governaõ:
tem resoluto; convindo; eajustado opresente Tratado Preliminar, que
servirá de base, efundamento ao Difinitivo deLimites, que se hade es-
36
tender aseu tempo, com aindividuaç, exacçaõ, enoticias necessarias;
2.
de renúncia (f.12r
);
Todos os prezioneiros que se ouverem feito no Mar, ou naterra, Seraõ
postos logo em liberdade, sem outra condiçaõ que adesegurar opa-
gamento das dividas que tiverem contrahido no Paiz, em que
se acharem
3. de corroboração (f. 12r);
Artelharia, petrexos, e o mais que tambem se ouverem ocupado, Seraõ mutua mente
restituidos deboa fé, no termo de quatro Mezes Seguintes, á data
da Rateficaçaõ deste Tratado, ou antes se possivel for;(...)
No fechamento do texto (conclusão):
O Escatocolo:
A data (f.18v);
Para isso nos Authorizaraó, o prezente Tractado Preliminar de
Limites, eofizemosSellar, com osSellos de nossas Armas. Fei-
to em Santo Ildefonço ao primeyro de Outubrodemil sette
centos Settenta esette.=S.S. D.Francisco Innocen
cio de Souza Coutinho=S.S. El. Conde de Florida
Blanca.= [
]
A validação (subscrição, assinaturas, selos, sinais) (f.19r);
Eem testemunho, firmezadoSobredisto, na que faz
apresenteCarta por Mim assinada e Sellada com oSel
lo Grande das Minhas Armas, ereferendada pelo Meu
secretario d'Estado Abaixo assinado. Dada no Palacio
de Quélluz, a dia de Otubro demil Sette centos Setten
ta e Sette.= ARaynha= Lugar doSello=Ayres de
Sá eMello.
Antº Soares Lima
[rubrica]
Com relação ao Diário de Viagem:
O Protocolo:
Intitulação – título do texto
37
Ordenação – por ordem de quem
Notação – observação do motivo que originou a viagem (f.38v):
Diário de Viagem que por Ordem do
Ill.
mo
e Ex.
mo
Luiz d'Albuquerque de Mello Pe-
reira Caceres, Govern.
or
e Cap.
m
General das Capit.
as
de
Matto Grosso e Cuyaba foi de Villa Bella at
a Cidade de S. Paulo pela ordinaria derrota dos
Ryos no anno de 1788.
[
] Setembro dia 13
Por quanto no anno de 1786 ja tratey com individua-
Legoas çaõ da derrota que fez de Villa Bella p.
a
Cuyabá Villa
e as circunstancias atendiveis na navegaçaõ dos Ryos Cuya- Bellas
ba, Porrudos, e Paràguay, darey principio a hum circuns-
tanciado Diario na foz do Ryo Taquary, eagora so-
mente direy que nesse dia party de Villa Bella
[
] Dia 22
O Texto:
Narrativa – 1ªpessoa
[
] Dia 22
Cheguey a V.
a
do Cuyabá onde me demorey em
Me apromptar athê o dia 14 de Outubro
[
] Outubro dia 15.
Pelas 7 horas e meya da manhâa dey principio
a minha navegaçem huma canoa e levando na mi-
nha Companhia mais hum batelaõ, p
a
em ambas se
poderem acomodar 26 trabalhadores que tantos eram
precizo p.
a
as varaçoens nos fatos doque ao diante tratarey
O Escatocolo:
Intitulação – quem escreveu o diário
Petição divina (o aparece no diário editado neste trabalho)
Datação, Subscrição, Assinaturas
S. Paulo 25 de Maio de 1789 annos
D
r
Francisco Joze de Lacerda e Almeida
38
Com relação às cartas:
O Protocolo:
Saudação;
Ill.
mo
eEx
mo
Senhor= Dipois quecheguey daentrada, q´ fiz
Notação;
Reg.
o
dehumacarta de SEx
ca
p
a
o Mathematico oD
r
Francisco Jose deLacerda sobre varias materias Relativas
Recebi aConfiguraçaõ que VMC meremete do Leito do Rio Itona
Mas [que acho muito propria] como tambem a Latitude em que
Podeobservar aMissaõ deSantaMaria Madalena, cujos monumentos
O Texto:
Notícia;
Corresponde a todo o conteúdo tratado.
O Escatocolo:
Petição divina;
Datação;
Subscrição;
Assinaturas.
[parágrafo] Dezejo aV.Ex.
ca
vigorozaSaûde, eq´ D. G.
de
aV.Ex.
ca
m. Anñ. Forte 28 deMayode1783 = Sou comprofundo
respeito = Ill.
mo
e Ex.
mo
S.
or
LuizdÁlbuquerquede MelloPereira
39
III – A EDIÇÃO DOS MANUSCRITOS
Tanto Cambraia (1999) quanto Santiago-Almeida (2000) sintetizam a preocupação do
lingüista ao proceder um estudo de caráter filogico. O estudo diacrônico do português
relaciona-se diretamente “à fidedignidade da fonte utilizada para a coleta de dados”
(Cambraia, 1999:13). Quanto mais distanciados do período em que se encontra o lingüista
estiverem os textos, tanto maiores serão os problemas com as cópias pela maior probabilidade
de apresentarem erros no processo de transmissão manuscrita”.
Outros problemas surgem na escolha da edição dos textos manuscritos, pois, no dizer
de Cambraia (1999:14)
...nem toda edição de textos antigos é adequada para o estudo
lingüístico: muitos editores realizam intervenções no texto editado
com o objetivo de regularizar formas – desde grafemas até itens
lexicais para facilitar a leitura às pessoas que não estejam
habituadas a lidar com esse tipo de texto, regularização esta que
apaga e altera os traços lingüísticos presentes no texto original.
Santiago-Almeida (2000) relembra que o êxito do trabalho e a solidez dos resultados
certamente estão condicionados à qualidade da edição dos textos. Na verdade, é a natureza
dos textos e, sobretudo a finalidade da edição que, de certa forma, determinam os métodos e
normas de transcrição. Por essas razões, os autores citados anteriormente defendem a edição
semidiplomática.
Spina (1994) e Bassetto (2001) destacam o uso da edição diplomática. Esta, diz
Bassetto (2001:60), deriva da forma dos documentos emitidos por altos funcionários romanos,
numa espécie de passaporte ou salvo-conduto, um documento “dobrado em dois”. O intuito
dessa edição é fazer uma "reprodução tipográfica do original manuscrito, como se fosse
completa e perfeita pia do mesmo, na grafia, nas abreviações, nas ligaduras, em todos os
seus sinais e lacunas", até mesmo nos erros e rasuras (Spina 1994:78).
Esse tipo de edição foi o selecionado para a transcrição dos documentos dessa
pesquisa. Isto porque, justifica-se uma edição diplomática pela necessidade de tornar o
documento acessível a um número maior de interessados e evitar maiores danos à fonte, além
de tornar o texto um pouco mais acessível, facilitando-se a leitura (Bassetto 2001:60-61).
A princípio, para o foco da pesquisa, o o desenvolvimento das abreviaturas
realizado nas edições semidiplomáticas não interfere na análise proposta. As lacunas poderão
40
ser preenchidas com a consulta ao quadro das abreviaturas no capítulo anterior, melhor
sistematizadas para compreensão e estudo lingüístico.
A norma geral, tanto na edição diplomática, como semidiplomática
5
, é manter o
máximo de fidelidade à fonte, preservando o texto, pois isto torna possível uma análise dos
textos nos veis grafemático, fonético-fonológico, morfológico, sintático, semântico e
lexical. Neste ponto, diferem-se as edições visto que na diplomática as abreviaturas não são
desenvolvidas, mantém-se a grafia dos manuscritos independentemente dos critérios adotados
pelo copista.
As edições envolvem também o respeito às separações inter e intravocabular, pois
possibilita o desenvolvimento de um estudo histórico da ortografia. As fronteiras de palavras
são fiéis ao manuscrito fonte, especialmente nos casos em que o copista usa separação em
palavras grafadas de forma única ou insiste em manter juntas aos substantivos e verbos,
pronomes, preposições e conjunções, de caráter independente. Ex.: rapida mente, feliz
mente, ecomas, elhedei, dareferidacarta, etc.
Deve-se, ainda, manter forma e posição de diacríticos, para fornecer uma fonte segura
para estudos de natureza fonético-fonológica. Não são acrescentados quaisquer elementos no
intuito de proceder a correção aos textos.
A pontuação é rigorosamente mantida, principalmente dada a proposta de análise
procedida nesta pesquisa. Além de obterem-se dados para compreensão da sintaxe e da
semântica, também a natureza fonético-fonológica da ngua.
Uso de maiúsculas e minúsculas, para compreensão de femenos de origem sintática
e semântica é destacado conforme a leitura possível dos manuscritos. As variações, por outro
lado, resultantes de fatores cursivos, tornando confusas as grafias, são comparadas para
definição do traçado original. Isso, também implica em manter as variantes fonológicas,
morfológicas e sintáticas, para a investigação de processos de variação e mudança lingüística
no período que compreende o texto.
As ocorrências de desgaste ou deterioração do documento, tornando ilegíveis os
textos, o marcadas por símbolos específicos: [?] documento ilegível; [†] documento
danificado.
Os espaços no início e interior dos parágrafos são marcados por simbologia específica:
[]. Nas cartas optou-se por descrever o [parágrafo]. As linhas são numeradas de 5 em 5, na
5
Consultar Cambraia (1999) e Santiago-Almeida (2004). Este último, documento de trabalho apresentado no V
Seminário de Linguagens –UFMT – 2004.
41
margem esquerda. Os fólios são numerados à esquerda, com as marca r (para recto) e v (para
verso), frente e verso respectivamente.
3.1 Edição Diplomática
Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso (antecedentes, instrões, memórias e
trabalhos demarcatórios) Governo de Luiz de Albuquerque de Mello Pereira e Cáceres.
Volume I 1777-1783 = Cópia do Tratado Preliminar de Limites de Santo Ildefonso
(fólios 11r - 19r).
Volume II - 1783-1789 = Cópia de três cartas ( fólios 5v-6r, 8r-8v, 11v-12r).
Volume III - 1777-1793 = Cópia do Diário de Viagem de Francisco Joze de Lacerda e
Almeida ( fólios 38 v - 51v).
Fonte: Arquivo Público do Estado de Mato Grosso (C-23)
42
SEGUNDO TRATADO PRELIMINAR DE LIMITES DE SANTO
ILDEFONSO (Fólio 11r – abertura)
Simbologia:
[?] – ilegível
[] – documento danificado
[]espaço
[parágrafo] - parágrafo nas cartas
Fig. 16 - Início do Tratado de Santo Ildefonso (fólio 11r- Vol. I).
43
11r
[] Segundo Tratado Preleminar, de lemites, celebrado em Santo
Ildefonso, em o prim.
ro
deOutubro de 1777 dequefaz men-
çaõ a Carta daSecretaria doEstado, antecedente.[]
Dona Maria, por graça de Deos, Raynha dePortugal, edos Al-
5 garves, d’aquem, ed’alem Mar, em Affrica, Senhora de Guiné, edaCon-
quista, Navegação, eComercio, deEthiopia, Arábia, Pérsia, edaIn-
dia[?] [] Faço saber atodos os que aprezente Carta deConfirma-
çaõ, Aprovaçaõ, e Rateficaçaõ virem, que em oprimeiro doprezente
Mêz, e Anno, se concluio, eassinou emSanto Ildefonso hum
10 Tratado Preliminar, entre Mim, eo Muito Alto, ePoderozo Prin-
cepe D. Carlos III Rey Catholico deEspanha, Meu Bom Ir-
maõ, eTio, sendo Plenipotenciarios, para este efeito, da Minha par-
te, D. Francisco Innocencio de Souza Coutinho, do Meu Conselho,
e Meu Embaixador nadita Corte; e por parte d. El Rey Catho-
15 lico, D. Joseph Moninõ, Conde de Florida Branca Cavalleiro
da Sua Real Ordem de Carlos III, doseu Conselho de Estado,
Seu Primeiro Secretario deEstado, e do Despacho eSupeintenden-
te Geral deCorreyos Terrestres, e Maritimos, edas Postas, eRenda de
Estafetas em Espanha, eIndia: Do qual Tratado, o teor hé o
20 Seguinte.
[] Em nome da Santissima Trindade
Havendo a Divina Providencia, excitado nos Augustos Coraços
deSuas Magestades Fedelissima, e Catholica, osincero dezejo de ex-
44
11v
de extinguir
as discordias, que tem havido, entre as duas Coroas de Por-
tugal, eHespanha, e Seus respectivos Vassallos, no espaço de quazi
trez Seculos, Sobre os lemites dosSeus Dominios daAmerica, eda
Azia: para lograr este importante fim, eEstabelescer perpetua mente
5 a harmonia, amizade, eboa inteligencia, que correspondem ao estreito
Parentesco, eSublimes qualidades de tAltos Princepes, ao Amor re-
ciproco que Seprofessaõ, ao interesse das Naços, que feliz mente governaõ:
tem resoluto; convindo; eajustado opresente Tratado Preliminar, que
servirá de base, efundamento ao Difinitivo deLimites, que se hade es-
10 tender aseu tempo, com aindividuaçaõ , exacçaõ, enoticias necessarias;
mediante oqual se evitem, eacautelem para sempre novas disputas,
esuas consequencias. [] Para efeito pois de conseguir taõ importantes
objectos, nomeou por parte de Sua Magestade a Raynha Fedelissima,
por seu Menistro Plenipotenciario, oExcelentissimo Senõr D. Fran-
15 cisco Innocencio deSouza Coutinho, Comendador na Ordem deChris-
to, do Conselho deSua Magestade Fedelissima, eSeu Embaixador jun-
to aSua Magestade Catholica; epela de sua Magestade El
Rey Catholico, por Seu Menistro Plenipotenciario, oExcellentissimo
Senõr Joseph Moñino, Conde de Florida Branca, Cavalleiro
20 Da Real Ordem de Carlos III doConselho de Estado de Sua Magesta-
de, Seu Primeiro Secretario deEstado, edo Despacho, Superintenden-
te Geral de Correyos, Terrestres, e Maritimos, edas Postas, eRendas
deEstafetas em Espanha, e Indias: Os quaes depois de haver-se co-
municado os seus Plenos poderes, e de havelos julgado expedidos em boa,
25 edevida forma, convieraõ nos Artigos Seguintes, regulados pelas Or-
dens, e intenços deSeus Soberanos.
[] Artigo – I - []
Haverá huma Páz Perpetua, e constante, assim por mar, como
por terra, em qualquer parte do Mundo, entre as duas Nasços, Por-
30 tugueza, eEspanhola, com esquecimento, total do passado, e dequanto hou-
verem obrado as duas em ofença reciproca; ecom este fim, ratefic os
45
Tratados de Paz, de 13 de Fevereiro de 1668, de 6 de Fevereiro de
1715, ede 1. de Fevereiro de 1763, como sefossem insertes neste,
palavra, por palavra, em tudo aquillo que expressa mente sede
Fig. 17- Início do Artigo I, Tratado de Santo Ildefonso (fólio 11v- Vol. I)
46
12r
Se derogue pelos Artigos do prezente Tratado Preliminar, ou
pelos que se hajaõ de seguir para a sua execuçaõ.
[] Artigo II []
Todos os prezioneiros que se ouverem feito no Mar, ou naterra, Seraõ
5 postos logo em liberdade, sem outra condiçaõ que adesegurar opa-
gamento das dividas que tiverem contrahido no Paiz, em que
se acharem.[] A artelharia, emuniços, que desde oTratado de
Pariz de 1. de Fevereiro de 1763, se ouverem occupado por algu-
mas das duas Potencias, aoutra, e os Navios assim mercantes, co
10 mo de Guerra, com suas Carregações, Artelharia, petrexos, e o
mais que tambem se ouverem ocupado, Seraõ mutua mente
restituidos deboa fé, no termo de quatro Mezes Seguintes, á data
da Rateficaç deste Tratado, ou antes se possivel for; ainda
que as prezas ou preocupaços procedaõ
dealgumas acços de
15 Guerra no Mar, ou na Terra, deque oprezente naõ possa ha-
ver chegado noticia;pois sem embargo deveràõ comprehender-
se nesta restituiç igual que os Bens eeffeitos tomados com
os prezioneiros, eos Territorios, cujo dominio vier aficar se-
gundo oprezente Tratado, dentro da Demarcação do Soberano,
20 aquem se haõ-de restituir.
[] Artigo III []
Como huns dos principaes motivos das discordias ocorridas entre
as duas Coroas, tem sido oestabelecimento Portuguêz daColonia
do Sacramento, Ilha de S. Gabriel, eoutros Postos,e Territorios,
25 que setem pertendido por aquella Nasçaõ, na Margem Sep-
tentrional do Rio da Prata, fazendo Comua com os Espanhos
a navegaç deste, e ainda a do Uruguay: Convieraõ os dois Al-
tos Contratantes, pelo bem reciproco de ambas as Naços, e para
segurar huma Páz perpetua entre as duas, que a ditta Nave-
30 gaçaõ dos Rios da Prata, e Uruguay, e os Terrenos das suas du-
as Margens, Septentrional, e Miridional, pertençaõ privati-
47
va mente á Coroa de Espanha, e aseus subditos, até olugar,
em que se desemboca no mesmo Uruguay pela Margem Occi-
Fig. 18 - Início dos Artigos II e III, Tratado de Santo Ildefonso (fólio 12r- Vol. I).
12v
48
Occidental o Rio Pequirí, ou Pepiri -Guaçú, estendendo-se o Do-
minio deEspanha, nareferida Margem Septentrional, até ali-
nha divizoria, que seformará, principiando pela parte do Mar
no Arroyo de Chui, e Forte de Saõ Miguel incluzivè, ese-
5 guindo as Margens da Lagōa Merim, até nas suas cabeceiras,
ou vertentes do Rio Negro; as quaes, como todas as outras dos
Rios, que vaõ a dezembocar nos referidos da Prata, eUruguay, até
A entrada neste ultimo Uruguay do dito Pepiri-guaçú, ficarùõ
privativas da mesma Coroa d’Espanha, com todos os Territorios,
10 que possue, eque comprehendem aquelles Paizes, incluza arefe
rida Colonia do Sacramento, e seu Territorio, a Ilha de Sam
Gabriel, eos de mais estabelecimentos, que até agora tem pos-
suido, ou pertendido possuir a Coroa de Portugal até á Linha,
que se formara.: a cujo fim Sua Magestade Fedelissima, em
15 Seu Nome, ede seus Herdeiroz, e Successores, renuncia, ecede
aSua Magestade Catholica, eaSeus Herdeiros, eSucessores q.
quer acção, e direito, ou posse, que lhe tenh pertencido, eper-
tençaõ aos ditos Territorioz, pelos Artigos V. e VI. do Tratado
de Utrecht de 1715, ou emdistinta forma.
20 [] Artigo IV -[]
Para evitar outro motivo de discordeas entre as duas Monarqui-
as, qual tem sido aentrada daLagoa dos Patos, Rio Grande
de S. Pedro, seguindo depois por suas vertentes até oRio
Jacuí, cujas duas Margens, e navegaç tem pertendido perten-
25 cer-lhes ambas as Coroas: Convieraõ agora em que adita Na-
vegaçaõ, e entrada fiquem privativa mente para a de Portugal,
estendendo-se oseu Dominio pela margem Meridional até
o Arroyo Tahim, seguindo pelas Margens daLagoa da Man-
gueira em linha recta até o Mar; epela parte do Continen-
30 te irá a linha desde as Margens da dita Lagôa de Merim, to
mando a direcçaõ pelo primeiro Arroyo Meridional, que entra
no Sangradouro, ou desaguadouro della, eque corre pelo mais
imediato ao Forte Portuguêz de S. Gonsallo; desde oqual,sem
49
Figura 19 - Início do Artigo IV, Tratado de Santo Ildefonso (fólio 12v- Vol. I)
50
13r
6
Sem exceder o limite dodito Arroyo, continuará oDominio
de Portugual, pelas Cabeceiraz dos Rioz, que correm até omen
cionado Rio Grande, e o Jacuí, até que passando por cima das
do Rio Ararica, e Coyacuí, que ficaràõ daparte de Portugal, e as
5 dos Rios Piratini, e Idimini, que ficaràõ daparte de Espanha, se
tirará huma linha, que cubra os estabelescimentos Portuguezez
até odezembocadouro do Rio Pepiri-Guaçú e no Uruguay: eassim
mesmo salve, ecubra os estabelescimentoz, e Missoz Espanho-
laz do proprio Uruguay,que haõ-de ficar no actual estado em
10 que pertencem á CoroadeEspanha; recomendando-se aoscom-
messarios, que verificarem esta linha divizoria, que sigaõ emto
da ella, as direçoz dos Montez, pelos cumesdelez, ou dos Rioz,
aonde os houver apropozito; eque as vertentez dosditos Rios,
enascentes delez,sirvaó de Marcoz ahum, eaoutro Dominio, a
15 onde assim se puder executar, paraque os Rioz, que nascerem em
hum Dominio; epara elle correrem, fiquem desde o nascente deles,
para esse Dominio; oque melhor sepodeexecutar na Linha,
que correrá desde aLagoa Merim, até oRio Pepiri-Guaçu,e
em que naõ Rioz Grandez, que atravessem de hum terreno a
20 outro; por quanto a onde os houver, se n poderá virificar este
methodo, como hé bem notorio; esesiguirá o que nos seus respe
ctivoz cazos, se especifica em outroz Artigoz deste Tratado, pa
ra salvar os Dominioz, e Possessoz principaes deambas asCo-
roaz . [ ] Sua Magestade Catholica,em seu Nome, ede
25 Seus Herdeiroz, e successorez, cede afavor de Sua Mages-
tade Fedelissima, de seus Herdeiroz, eSuccessores, todos, equa
es quer Direitos, que lhepossaõ pertencer aos Territorioz, que,
segundo vay explicado neste Artigo, devem pertencer á Co-
roade Portugual.
A partir deste fólio, o (s) final adquire um estilo diferente de grafia assemelhando-se ao (z) e causando uma
dúvida quanto às duas letras, por essa razão as palavras foram grafadas com z final para marcar essa diferença.
51
30 [] Artigo -V- []
Conforme ao estipulado nos Artigos antecendentes, ficaraõ re
sevadas, entre os Dominios dehuma e outra Coroa as lagoas de
Merim, eda Mangueira eas lingoas de terra, que medêaõ en-
tra ellas, e a Costa de Mar, sem que nenhuma das duas Nas
35 çoz as occupe, servindo só de separaçaõ; desorte, que
Fig. 20 – Artigo V do Tratado de Santo Ildefonso (fólio 13r- Vol. I)
52
13v
que nem os Portuguezez passem os Arroyo de Tahym, linha recta
ao Mar, até aparte Meridional, nem osEspanhóez oArroyo
de Chui, edeSaõ Miguel, até à parte Septentrional: Cedendo
Sua Magestade Fidilissima em seu Nome, ede Seus Herdei
5 ros, eSucessores, afavor da Coroa deEspanha, edesta divizão q.
l
quer Direito, que possa ter ás Guardas de Chui, eseu destri-
to, á Barra de Castilhos Grandes, ao Forte deS. Miguel,
e atudo o maiz que nellasecomprehende.
[ ] Artigo VI- []
10 A similhaça do estabelescido no Artigo antecidente, ficará tam-
bem rezervado, no restante daLinhadivizoria, tanto até aentrada No
Uruguay do Rio Pepiri-guaçú, quanto noprogresso, queseespecificará
nos seguintes Artigoz, hum espaço suficiente, entre osLemitez de
ambas as Nasços, ainda que naõ seja deigoal Largura à das referi-
15 das Lagoas, noqual naõ possaõ edeficar-se Povoaçoz por nenhuma
das duas partez, nem Construir-se Fortalezaz, Guardas, ouPortos de
Tropas, de modo, que ostaes espaços sejNeutroz, pondo-se mar-
cos, esignaes seguroz, que façaõ constar aos vassallos decada Nasçaõ
ositio deque naõ deveraõ passar, acujo fim se buscaràõ osLagoz,
20 e Rioz, que possaõ servir deLemite fixo einalteravel, eemsua
falta, os Cumes dos Montez mais signalados,ficando estes, eas
suas toldas, por termo Neutral divizorio, emquesenaõ possa en
trar, povoar, edificar, nemforteficar por alguma das duas Nasços.
[] ArtigoVII - []
25 Os habitantes Portuguezes, que ouver naColonia doSacramento, Ilha
de S. Gabriel, e outros quaes quer estabelescimentos, que vaõ cedi-
dos áEspanha pelo Artigo III; e todos os mais que desde asprimei-
rascontestos do Anno de 1762, se ouverem conservado emdi-
verso Dominio, teràó aliberdade de retirar-se, oupermanecer ali
30 comseus efeitos emoveiz; eassim delles, como ogovernador,
Officiaes, eSoldados da Guarniçaõ daColoniadoSacramento, que
53
14r
que sedeveràó retirar, poderàó vender os bens de Raiz; entregan-
do-se aSua Magestade Fedelissima, aArtelharia, Armaz,
e Muniços, que lhe houverem pertencido nadita Colonia
e Estabelescimentoz. [ ] Amesma liberdade, edireitos gozaràó os
5 habitantes, Officiaes, eSoldados Espanhoes, que existirem em
alguns dos estabelescimentos cedidos, ou renunciados à Coroade
Portugal pelo Artigo IV, restituindo-se aSua MasgestadeCa
tholica, toda aArtelharia, eMuniços, quese houverem achado,
ao tempo da ultima entrada dos Portuguezes noRio Grande de
10 S.Pedro,Sua Villa, Guardas, ePostos dehuma, eoutra Mar-
gem, excepto aquella parte, que houvesse sido tomada, eperten-
cesseaos mesmos Portuguesez, ao tempodaentrada dosEspanhoz
naquelles estabelescimentoz no anno de 1762. Esta regra Se ob-
servará reciproca mente em todas as mais cessos, quecontem este
15 Tratado, para estabelescer osDominios deambas asCoroas, eseus
respectivos Limitez.
[ ] Artigo VIII- []
Ficando já signalados osDominios de ambas as Coroas até áEntrada
do Rio Pequiri, ou Pepiri- guaçú no Uruguay, convieraõ osdous Al-
tos contratantez, emque alinha divizoria, seguirá Aguas acima
dodito Pepiriguaçú até aSua Origem principal; edesde Esta,
pelo mais alto do Terreno, debaixo das regras dadas noArtigo,
VI, continuará aencontrar as Correntes do Rio Santo Anto-
nio, quedesemboca noGrande deCurituba, por outro Nome cha-
25 mado Iguaçú, seguindo este agoas abaixo até aSuaEntrada
no Paranâ e, pelaSua Margem Oriental, econtinuando em
taõ aguaz acima do mesmo Paraná, até onde se lhe ajunta o
Rio Igurei pela sua Margem Occidental.
[ ] ArtigoIX []
30 Desde aboca, ou entrada da Igurey, seguirá a Raya aguas aci-
54
ma deste até aSua Origem principal; edesde ella se tirará hu-
ma linha recta, pelo mais alto do Terreno, com attençaõ ao a
justado no referido Artigo VI; até achar a Cabeceira, e ver-
Fig. 21 - Início do Artigo VIII, Tratado de Santo Ildefonso (fólio 14r- Vol. I)
55
14v
Evertente principal do Rio mais vezinho á dita linha, que desague
no Paraguay, pelaSua Margem Oriental, que talvéz será oque
chamaõ Correntes; Eentaõ baixará aRaya pelas Agoas deste
Rio , até á sua entrada noParaguay, desde cuja boca subirá
5 pelo Canal principal, que deixa este Rio em temposeco, esegui-
rá pelas suas aguas, até encontrar ospantanos, que forma oRio,
chamados a lagoa dos Xarayes, eatravessará esta lagôa até à
boca do Rio Jaurú.
[ ] Artigo X - []
10 Desde aboca do Jaurú pela parte Occidental, seguirá aFronteira em
linha recta, até a margem Austral do Rio Guaporé ou Itenes de
frote daboca do Rio Sararé, que entra nodito Guaporé, pela
Sua Margem Septentrional; mas se os comissários encarrega
dos deregular os contins, eexecuçaõ destes Artigos, acharem a
15 o tempo de reconhecer oPaiz, entre os Rios Jaurú, e Guaporé, ou
outros Rios, ou Balizas naturaes, por onde mais comodamente, e
com mayor certeza, se possa assignalar aRaya, naquella para-
gem, salvando sempre a navegação do Jaurú, que deve ser priva-
tiva dos Portuguezes, eo caminho que costum fazer do Cuyabá
20 até oMato Grosso: Os dous Altos contratantes consentem,
eaprováo, que assim seestabelesça, sem attender a alguma por-
çaõ mais, ou menos de terreno, que possa ficar ahuma, ou aoutra
parte. Desde oLugar que na Margem Austral do Guapo-
re for assignalado para termo da Raya, comofica explicado, bai-
25 xará aFronteira por toda a Corrente do Rio Guaporé, até mais
abaixo dasua união com o Rio Mamoré, que nasce naProvincia
deSanta Cruz da Serra, eatravessa a Missaõ dos Moxos, forman-
do juntos o Rio, que chamáo deMadeira, ogual entra no Mara-
nhaõ ou Amazonas, pala sua Margem Austral
30 [ ] Artigo XI -[]
Baixará alinha pelas agoas destes dous Rios, Guaporé, Ma-
moré, já unidos como o nome daMadeira, até à paragem situada
56
15r
em igual distancia do Rio Maranh, ou Amazonas, e da boca
do ditto Mamoré; e desde aquella paragem, continuará por
huma Linha Leste Oeste, até encontrar com a margem Ori-
ental doRio Jabarí, que entra no Maranh, pela Sua Margem
5 Austral; e baixando pelo alveo do mesmo jabarí, até onde des-
emboca, no Maranhaõ, ou Amazonas, prosseguiará aguas abaixo des-
te Rio, oque os Espanhoes costum chamar Orellana, eos Indios
Guiena, até à boca mais Occidental do Japurá , que dezagua ne-
le pela Margem Septentrional.
10 [ ] Artigo XII - []
Continuará a Fronteira, subindo aguas acima da ditta boca, mais
Occidental do Japurá; epelo meyo deste Rio, até áquelle ponto, em
que possaõ ficar cobertos osEstabelecimentos Portuguezes das Mar-
gens do dito Rio Japurá, edo Negro, como também a comunicação
15 ouCanal, dequesesirv os mesmos Portuguezes, entre estes dous
Rios, ao tempo deCelebrar-se o Tratado deLimites de 13 deJaneiro de
1750,conforme aosentido literar delle, edoseu Artigo IX, que
inteira menteseexecutará, segundo oEstado, que entaõ tinham
as couzas, sem prejudicar taõ pouco as Possessos Espanholas, nem
20 aos seus respectivos Dominios, ecomunicaços com elles, ecom oRio
Orinoco: de modo, que nem osEspanhos possaõ introduzir-se nos refe
ridos estabelescimentos, eComunicaçaõ Portugueza, nem passar a
guas abaixo da ditta boca Occidental do Japurá, nem do ponto da
Linha, queseformar no Rio Negro, e nos demais que nelle seintro-
25 duzirem; nem os Portuguezes subir Agoas acima dos mesmos, nem
outros Rios, que se lhes uzaõ, para passar doreferido ponto da
linha aos Estabelecimentos Esapanhoes, e ás suas Comunicaços;
nem subir para ORio Orinoco, nem estender-se para as Pro-
vincias povoadas por Espanha, nem para os despovoados,que lhe
30 haõ de pertencer, conforme os prezentes Artigos: para oqual ef-
feito as pessoas, quese nomearem para a execuçaõ deste Tra-
tado, assignalaraõ aquelles Limites, buscando as Lagoas, e Rios,
57
que se juntem ao Japurá, e Negro, e se avezinhem mais ao
rumo do Norte, e, nelles fixaraõ o ponto, de que naõ deverá
35 passar a Navegaç; e uzo dehuma, nem de outra Nasç
Fig. 22 Artigos X, XI e XII do Tratado de Santo Ildefonso (fólios 14v e 15r- Vol.
I)
58
15v
Nasçaõ, quando apartando-se dos Rios, haja de continuar a Frontei
ra pelos Montez, que medêaõ entre oOrinoco, eMaranhaõ, ou
Amazonas, endireitando tambem aLinha daRaya, quanto pu-
der ser, para aparte do Norte, sem reparar nopouco mais, ou me
5 nos de terreno, que fique ahuma, ou aOutra Coroa;Comtanto, que
selogrem os fins já explicados, até concluir adita Linha, on
de findaõ os Dominios de ambas as Monarquiaz.
[ ] Artigo XIII-[]
A navegação dos Rios, por onde passar a Fronteira, ou Raya, sera
10 comúa ás duas Nasções, até àquelle ponto, em que pertencerem a
ambas respectiva mente as suas duas margem; eficará priva,
tiva adita Navegação, e uzo dos Rios áquella Nasçaõ aquem
pertencerem privativa mente as suas duas Margenz desde o
ponto, em que principiar este Dominio; de modo, que em todo
15 ou emparte será privativa, ou comua[?] a Navegação, segundo
oforem as Ribeiraz, ou Margens do Rio: e para que osSubdi-
tos dehuma, ede outra Coroa, naõ possaõ ignorar esta regra,
Se poràó Marcos, ou Balizas nos lugares em que aLinha
divizoria, se una a alguns Rios, ouse separe dellez, com Inscripções,
20 que expliquem ser comum, ou privativo ouzo, enavegaçaõ da
quelle Rio de ambas, oude huma Nasção só, com expreção da
que possa, ou não passar daquelle ponto, debaixodaspenas, quese
estabelescem neste Tratado.
[ ] Artigo XIV-[]
25 Todas as Ilhas, quese acharem em qualquer dos Rios, por onde hade
passar aRaya, segundo oconvindo nos prezentes Artigos Prelimi-
narez, pertenceràó ao Dominio, aque estiverem mais proximas em
tempo, e estaçaõ mais seca; eseestiveremsituadas a igual distan
cia de ambas as margens, ficaràó Neutraez, excepto quando fo-
30 rem degrande extenção, e aproveitamento,pois então sedividi-
ràó por metade, formando acorrespondente Linha desepara
ção, paradeterminar os Lemites de ambas as Nasções
Ar-
59
16r
[ ] Artigo XV-[]
para quese determinem tambem com amayor exacçaõ osLimites
insinuados nos Artigos deste Tratado, ese especefiquem, sem que tenha
lugar a mais leve duvida nofuturo, todos os pontos, por onde deva pas-
5 sar a Linha divizoria, de modo que sepossa estender hum Tratado
definitivo, com expreção individual de todos elles : se nomearam
comissarios por Suas Magestades Fedelissima, e Catholica, ouse
dará faculdade aos Governadores das Provincias, para que elles, ouas
pessoas que se ellegerem, as quez sejáo deconhecida probidade,
10 inteligencia, econhecimento do Paiz, pintando-se nas paragens
daDemarcaçaõ,assignalem os ditos pontos, regulando-se pelos Ar-
tigos deste Tratado, Outorgando os Instrumentos correspondentes,
formando hum Mappa individual, de toda aFronteira, que
reconhecerem, eassignalarem; cujas copias authorizadas, eforma-
15 das dehuns, e outros, secomunicaràó, eremeteràó as duas Cortes,
pondo desde logo em execução, tudo aquillo, em que estiverem
Conformez, e reduzindo ahum ajuste, eexpediente interino os
pontos, em que houver alguma discordia, até que pelas suas cor-
tez, aquem daràó parte, seresolvadecomum acordo, oque julgarem
20 conveniente. [] Para queseconsiga amayor brevidade nodito
reconhecimento, eDemarcaçaõ daLinha, e execuçaõ dos Artigos
deste Tratado, se nomearàó os Comissarios praticos dehuma, eou
tra Corte por Provincias, ou territorios, de modo que hum mes-
mo tempo sepossa executar por partes, todo oajustado econ
25 vindo, Comunicando-se reciproca mente, e com antecipação os
Governadores de ambas as nasções na quellas Provincias aex-
tenção de Territorio, que comprehenda a Comissão, efacul-
dades do Comissano pratico, nomeado por cada parte.
[]Artigo XVI- []
30 Os Comissarios ou pessoas nomeadas nos termos, que explica o
Artigo precedente, alem das regras estabelecida neste Tratado, te-
60
raõ prezente, para o que nelle naõ estiver especeficado, que os
seus objetos na Demarcaçaõ da Linha divizoria devemser
areciprocasegurança, perpertua páz,e tranquilidade
Fig. 23 Artigos XIII a XIX do Tratado de Santo Ildefonso (fólios 15v a 17r- Vol.
I)
61
16v
etranquilidade de ambas as Nasções e o total exterminio dos con-
trabandos, que os subditos de huma, possão fazer nos Dominios,ou
com os Vassallos da outra: pelo que com attençaõ aestesdois ob-
jectos, selhes daràó as correspondentes Ordens, para queevitem
5 disputas, que o prejudiquem directamente ás actuaes poces
sões de ambos os Soberanos, á Navegação comua, ou privati-
va dos seus Rios, ou Canaes, segundo oajustado no Artigo
XIII, ou aos Cultivos, Minas, ou Pastos, que actual mente possuáo,
e naõ sejcedidos por este Tratado, embeneficio daLinha divi-
10 zoria; sendo a intenção dos dous Augustos Soberanos, que aofim
de conseguir, averdadeira páz, eamizade, acuja perpetuidade,
e estreiteza as seraó, para osocego reciproco, e bemdeseus Vassa-
los; somente se attenda na quellas vastissimas Regios,por on-
de hade estabelercer-se aLinha divizoria; á conservação do
15 que cada hum fica possuindo em virtude deste Tratado, edo de
finitivo delimites, eassegurar estes demodo, que em nenhum tem-
po se possaõ oferecer duvidaz, nem discordias.
[]ArtigoXVII []
Qual quer individuo das duas Nasços quese aprehender fazen-
20 do o comercio de contrabando, com os individuos da outra, será cas-
tigado nasua pessoa, e bens, com as penas impostaz pelas leys da
Nasçaõ que ohouver aprehendido, enas mesmas penas encorre-
ràó os subditos dehuma Nasçaõ, pelo unico facto deentrar no
Territorio da outra, ou nos Rios, ou parte delles, que não sejaõ pri-
25 Vativos dasua Nasçaõ, ou Comuns a ambaz; exceptuando-sesó
ocazo, em que alguns arribem ao Porto, e Terreno alheyo, epor
indispensavel, e urgentenecessidade, que haõ de fazer constar em
toda aforma; ou que passarem ao Territorio alheyo; por Comis-
são do Governador, ou superior doseu respectivo Paiz paraco-
30 municar algum officio, ou Avizo, em cujo cazo deveáo levar
Passaporte, que expresse o motivo.
[]ArtigoXVIII- []
Nos Rios, cuja Navegação foi comúa as duas Nasços
62
17r
Nasços em tudo, ou em parte, naõ sepoderá Levantar, oucons-
truir por algumadellas, Forte, Guarda, ou Registo; nem obri-
gar aos Subditos de ambas as Potencias, que navegarem, a
sofrer vizitas, Levar Monçaõ, nem sugeitar-se aoutras formali-
5 dades; esómente seràó castigados com as penas expressadas no
Artigo antecedente, quando entrarem em Porto, ou Terreno alhe
yo , ou passarem daquelle ponto, até onde aditta Navegação seja
comua, para introduzir -se na parte do Rio, que já for privativa
dos subditos daOutra Potencia.
10 []Artigo XIX- []
No cazo de ocorrerem algumas duvidas, entre osVassallos Por-
tuguezes, eEspanhóez, ou entre osGovernadores, ecomandantes das
Fronteiras das duas Coroas, sobre excesso dos Limitez, assignalados,
ou inteligencia de algum delles, não seprocederá demodo algum
15 por viaz defacto, aoccupar terreno, nem atomar satisfaçaõ reci-
proca mente asduvidaz, econcordar interinamente alguns meyos
de ajuste, até que dando parte ás suas respectivas Cortes, Se
lhes partecipem por estas, decomum acordo, as resoluços neces
sarias; e osque contravierem aodisposto neste Artigo, seràó cas
20 tigados, a arbitrio da potencia ofendida, acujofim sefaràm
notorias aos Governadores, ecomandantes asdisposiços delle.
O mesmo Castigo padeceràó, os que intentarem povoar, aproveitar,
ou entrar nafaxa, Linha, ou espaço deTerritorio quedevaser neu
tro entre os limites de ambas as Naços. Eassim para isto, como
25 para que nodito espaço por toda a Fronteira, seevite osasylode
Ladroz, ou assassinos, osGovernadores fronteiras, tomaràó tambem
deComum aCordo, as providencias necessarias, concordando omeyo
de aprehendello, edeextinguillos, impondo-lhes severissimosCas-
tigos. []Assim mesmo, consistindo as riquezasdaquellePais
30 nos escravos, que trabalhaõ nasua Agricultura, Conviràó os
proprios Governadores, nomodo de entregallos mutua mente no
Cazo defuga, sem que por passar adiverso Dominio Consi-
gaõ aLiberdade; esó sim aprotecçaõ, para que naõ padeçaõ
63
17v
padeçaõ castigo violento, se o não tiverem merecido por outro Crime.
[]Artigo XX- []
Para aperfeita execuç doprezente Tratado, esua perpetua
firmeza, os dous Augustos Monarcas Contratantes, anemados
5 dos principios da Uniaõ, paz, eamizade, quedezejaõ estabelescer
solida mente: cedem, renunciaõ, etraspassaõ hum aoutro em
Seu nome, edeseus Herdeiros, eSucessores, toda aposse, edireito,
que possaõ ter, ou alegar, aquaes quer Terrenos, ou Navegaços
dos Rios, que pela Linha divizoria, assignalada nosArtigos
10 deste Tratado para toda aAmerica Miridional, ficarem a
favor dequalquer das duas Coroas, como, por exemplo, oque
se acha ocupado, efica para aCoroade Portugal, nas duas
Margens doRio Maranhaõ, oudasAmazonas, na parte, em
que lhe haõ deser privativas; eoque occupa nodestricto de
15 Matto Grosso, edelle para apartedo Oriente; como igoal
mente oqueserezerva á CoroadeEspanha, na parte do mes-
moRio Maranhaõ, desdeaentrada do Japurá, emque o re
ferido Maranhaõ hade dividir oDominio de ambas as Coroas
até a boca mais Ocidental do Japurá, cem qualquer outra
20 parte que pela Linhaassignalada neste Tratado ficarem ter-
renoz, ahuma ,ou aoutraCoroa, excetuando se osditos Terre
nos na parte, emque estiverem ocupados,dentrodotermode
quatro mezes, ou antes sefor possivel, debaixo daquella Li-
berdade desairem os habitantes individuos da Nasçaõ, que os
25 evacuassem com os seus bens, eefeitos, edevender osderaiz,
que já fica Capitulada no Artigo VII.
[]ArtigoXXI -[]
com ofim deconsolidar a dita uniaõ, páz, eamizade, entre as
sua Monarquias, edeextinguir todo o motivo dediscordia, ain
da pelo que respeita aosDominios daAzia: Sua Magesta-
de Fedelissima, emseu Nome, e no deseus Herdeiros, esuce-
sores, cede afavor desua MagestadeCatholica,Seus Her
64
18r
Herdeiros, eSucessores, todo o direito que possa ter, ou alle-
gar ao Dominio das Ilhas Filipinas, Marianas, Eomais
que possue naquellas partes aCoroadeEsapnha; renun-
ciando a de Portugal qual quer acçaõ, oudireito, que possa ter,
5 ou promover pelo Tratado de Tordesilhas de 7 de Junho de
1494, e pelas condos da escriptura Celebrada em Çarago-
ça á 22 de Abril de 1529, sem que possa repetir couza al
guma dopreço que pagou pela Venda, Capitulada naditaEs-
criptura, nem valer-se de outro qualquer motivo, ou funda
10 mento, contra aCessaõ convinda neste Artigo.
[]Artigo XXII- []
Em prova da mesma uniaõ,eamizade, que teficaz mente
Se dezeja pelos dous Augustos Contratantes, Sua Magestade Ca-
tholica,oferece restituir, eevacuar dentro dequatro mezes se
15 guintez á Ratificaçaõ deste Tratado, a Ilha deSanta Catheri-
na, e aparte docontinente imediato aella que houvessem oc-
cupado as Armas Espanholas, com aArtelharia, Muniços,
eomais efeitos, quese ouvessem achado ao tempodaOcupa
çaõ. EsuaMagestade Fedelissima emcorrespondencia
20 desta restituiçaõ, promete que emtempo algum, seja depaz
oude Guerra, em que a Coroade Portugal naõ tenha parte,
comoseespera, edezeja, naõ Consentirá que alguma Es-
quadra, ouEmbarcaçaõ deGuerra, oudeComercio Estran
geiras, Entrem nodito Porto deSantaCatherina, ou nos
25 dasuaCosta immediata,nem que nelles seabriguem,
ou detenh,Especial mente sendoEmbarcaços de Poten
cia, quese ache em Guerra com aCoroa deEspanha, ou
que possa haver alguma Suspeita deserem distinadas afa=
zer oContrabando. Suas Magestades Fedelissima, eCa
30 tholica,faràó prompta mente expedir as Ordens conveni-
ientes, para aExecuçaõ, e pontual observancia dequanto
seEstipula neste Artigo; E setrocará mutuamente hum
65
duplicado dellas, afim deque naõ fique a menor duvida
Sobre oexacto Cumprimento dos objetos que inclúe
35 Ar-
Fig. 24 – Artigos XX a XXII do Tratado de Santo Ildefonso (fólios 17v e 18r - Vol.
I)
66
18v
[]Artigo XXIII -[]
AsEsquadras, e tropas Portuguesas, eEspanholas, que se
achaõ nos Marez, ou Pontes daAmerica Miridional, seretiraràó
dali aseus respectivos distinos, ficando asregulares emtem-
5 po dePaz, de que Sedaràó avizos reciprocos, aosGeneraes, e Gover-
nadores de ambas asCoroas, para que aEvacuaçaõ sefaça com
apossivel igualdade,eCorrespondente boafé, no breve termo dequa
tro mezes.
[]Artigo XXIV- []
10 Se para cumprimento, e mayor explicaçaõ deste Tractado, se-
necessitar de estender, e estenderem algum, ou alguns Artigos ma-
is dos referidos, se teràó como partedeste mesmo Tractado; e os
Altos Contratantez, seràó igual mente obrigados, á sua invi-
olavel observancia, earateficallos no mesmo termo, quese as
15 signará neste.
[]Artigo XXV- []
O presente Tratado Preliminar, serateficará noprecizo termoa de
quinze diaz, depois defirmado, ou antes, sefor possivel.
Emfé doque, Nós outros os infra escriptos Menistros Ple
20 nipotenciarioz, assignamos de Nosso punho, em Nome de Nossos
Augustos Amos, e em virtude das Plempotencias, com que
Para isso nos Authorizaraó, o prezente Tractado Preliminar de
Limites, eofizemosSellar, com osSellos de nossas Armas. Fei-
to em Santo Ildefoo ao primeyro de Outubrodemil sette
25 centos Settenta esette.=S.S. D.Francisco Innocen
cio de Souza Coutinho=S.S. El. Conde de Florida
Blanca.= []
E sendo-me prezente o mesmo Tratado, cujo theor, fica acima
inferido, e bem visto, Conciderado, e examinado porMim, tu-
30 do oque nelllese Contem, o Aprovo, retifico, e confirmo, as
sim no todo, como em cada humadas suas clauzulas, e esti
67
19r
lestipulaçoés; epela prezente dou por firma, evalios para
sempre: prometendo emfé, epalavras Real, observallo,
e cumprillo inviolavel mente, fazelo cumprir, eobservar,
sem permitir, quesefaçaõ couza alguma encontrario, por
5 qualquer modo que possa ser, renunciando aqual quer vistto
Tratado, ou Detreminaçaõ que hoje, se possa haver em Contra
Rio: Eem testemunho, firmezadoSobredisto, na que faz
apresenteCarta por Mim assinada e Sellada com oSel
lo Grande das Minhas Armas, ereferendada pelo Meu
10 secretario d'Estado Abaixo assinado. Dada no Palacio
de Quélluz, a dia de Otubro demil Sette centos Setten
ta e Sette.= ARaynha= Lugar doSello=Ayres de
Sá eMello.
Antº Soares Lima [rubrica]
Fig. 25 Artigos XXIII a XXV do Tratado de Santo Ildefonso (fólios 18v e 19r -
Vol. I).
68
EDIÇÃO DAS CARTAS
5v
30 Reg.
o
dehumacarta de SEx
ca
p
a
o Mathematico oD
r
Francisco Jose deLacerda sobre varias materias Relativas
Recebi aConfiguraçaõ que VMC meremete do Leito do Rio Itona
Mas [que acho muito propria] como tambem a Latitude em que
Podeobservar aMissaõ deSantaMaria Madalena, cujos monumentos
35 Entreguei desdelogo aoCap.
an
Ricardo Franco [†] para servirem nacarta
Fig. 26 “Prospecto das canoas em que navegaram os empregados na
Expedição Filosófica pelos rios Cuyabá, São Lourenço, Paraguay e Jauru...”.
Autor não identificado (1789-1792). Expedição de Alexandre Rodrigues
Ferreira. Acervo do Museu Bocage, Portugal. (Lima 2005:48).
69
6r
que lhetenho encarregado delevantar; estimando sumamente
que orestabelecimento das molestias de VMC naõ lhepermi-
tisse aquella util degreçaõ; mas haja depermitir as outras q.o
me anuncia, e que ja detremineis de penetrar quando for possivel;
5 nao só pelo Bauris mas pelo Mamoré: Oponto estará em que os
Espanhoes o naõ embaracem, nem ainda estranhem: Pelo que hade
ser necessario metersempre em úzo alguns extratagemas, ou apa
rencias muito diverças, sigundo tendo advertido que imponham de
alguma sorte aosditos Espanhoes.
10 [parágrafo]Agora faço remeter aVMC o Oculo Astronomico,
dezejando que possa repetir aobservaçaõ desse primeiro Satelite emfor=
ma que o calculo daverdadeirasituaçaõ geographica do importante
ponto dessa Fortaleza, se aproxime, ou detremine omais que for
possivel; eassim mesmo quaesquer outros interessantes porondeVMC
15 passar, bem persuadido alias de que VMC naõ omitirá pelo seu claro
desentendimento de apontar sempre quaes quer memorias[?], ou
Historias quelheparecerem dignas
[parágrafo] Naforma darecomendaçaõ de VMC arespeito
das Ephemerides debaixo do Titulo de = Connoissance destemps =
20 agora afaço tambem para Lisboa com todo o empenho, pelo q' tenho,
naõ desatisfazer aVMC mas anecessidade urgente q'suponho
das ditas Taboadas para asobservaçoens Celestes que sedeveraõ repe
tir pozitivamente
[parágrafo] Nocazo de que esseIndio doPara pornome Albino
25 daCosta em que VMC mefalla queira muito espontaniamente
ficar naSuaCompanhia; convenho nisso deboavontade: efico
esperando assuasboas noticias com repetidas ocazioens delhe
dar gosto. D
os
Guarde aVM
ce
. m. anñ. V.
a
Bélla 2deAbril de
1783= Luizd'AlbuquerquedeMello Pereira eCaceres= jos
70
30 D.
or
Francisco Joze de Lacerda eAlmeida.
Ant.o Felippe da Cunha
8r
Ill.
mo
eEx
mo
Senhor= Dipois quecheguey daentrada, fiz
5 PelosRios Bacires, Branco, daConceipçaõ edo Joaquim
tive ahonrra dereceber aprezadiscima cartade V.Ex
ca
, naq.
l
novamente medeterminava aentrada dodito Bacires, eMa-
more, quando fosse poscivel com ascautellas necessarias p.
a
q
e
osEspanhoes menaõ embaraçascem aentrada dosditos Rios
10 the oprezente livremente tenho navegado, semhaver amini-
ma suspeita dequem fose, eofim oque sedirigem as m.
as
digreçoens ecommuito mais liberdade pascaria alem doponto
de Baures (Bacires), athe onde cheguey, [?] doGentio, medi=
zem ter bastantes, eoscezto deficar semcanoa pelo mal con
15 certado della, men fizescem retroceder, ecombem magoa
minha; pois peladireçaõ, que parece tomar, epelas intençoens
deV. Ex.
ca
arespeito dalinha divizoria, parece termo m
to
proprio;
pois osEspanhoes, alem denaõ terem nassuas margens Miss
algũa, bem cobertas ficam ambas asFronteiras
20 [parágrafo] V.Ex.
ca
serà servido detreminarme, sehé conveni=
ente quesegundavez intente estadeligencia entrando q.
to
for poscivel, comaescolta necescaria, para algũa invazaõ
do Gentio, que possa haver: toda brevidade meparece nes
cessaria afim deseachar oRio com Agoa suficiente desepo-
25 der navegar livre deCaxoeiras, q´ medizem ter muitas
[parágrafo] Tendo lembrança, oque osCalculos Astronomicos
longos saõ sugeitos aalguns erros, partã procedidos
dezcuido, parte dos erros das impressoens dastaboas
[como jà me aconteceo noRio Negro emhum Eclipse dosol
30 q´ observey em Abril de 81] neste tempo que tenho tido
dedescanso tornando arever astaboadas, os Calculos, eob-
servaçoens feitas noMez de Dezb
ro
passado, achei que a
quarta letra dehum logaritmo [contando da caracteristi=
71
ca] era zero devendo ser nove, oq´ produzia hûã diferença
35 notavel norezultado; pois tendo atençaõ aeste erro, alongi
tude determinada pelas distancias daLûa aosol, eaEs-
trella Aldebaram E amesma, q´de duzi deduas imersoens
do 1.˚ 2.˚ Satelite deJupiter [com inatendivel diferença]
Pelo que adiferença meridional deste Forte ao Occidente
40 deParis, É determinada por 4 Observaçoens, eseamadru-
gada estiver boa, sera por 5
[parágrafo] Pelo que pertence a ver
72
8v
averdadeira poziçaõ dafoz desteRio, nada dou por certo; pois hum
contador muito mào, que tive, trocava os minutos, emenaõ dei-
xa fazer juizo certo. [] Porfaltade gente naõ vou novamente
determinalla
5 [parágrafo] As duvidas, quetem havido sobre oponto da Ilha
deFerro, de donde sedevem contar as Longitudes, só V. Ex.
ca
aspode
tirar; pois sendo certo, adita Ilha n hé hum ponto, nem
hûa linha recta dirigida aoNorte, eSul, aparte mais oriental
deve ter diferente Longitude damais ocidental. Esta hé are
10 zaõ dadiferença, que seacha nas taboas antigas, emadeiras
pois estas daõ alongitude doponto mais occidental; como sedeve
entender dadeclaraçaõ que trazem, dizendo= Long. Isse deFercà
oucit. 28.30 = e as outras = auBurg = Porestes motivos, só V. Ex.
ca
por expressa ordem, pode fixar oponto dedonde sedeve principi-
15 ar acontar asLongitudes, ahinda que dequalquer partes
que seja sempre nosMapas sehadepôr adeclaraçaõ dod.
o
ponto.
[parágrafo] Na ocazi prezente remeto aV.Ex.
ca
adiferença
meridional doFortedo Principe da Beira para o Occid.
e
de Paris
emtempo, para que meucompanheiro D.
r
Pontes, ou os mesmos
20 officiaes Engenheiros de duzam desta diferença averdadeira
Longitude, conforme aoque V.Ex.
ca
determinar.
[parágrafo] Alem deste rezultado, tambem remeto as
configuraçaó dealgûa p.
te
dosRios Baures (Bacires), Branco, daConc.
am
e deS. Joaquim sem q´mefosse possivel emqual quer destas Mi=
25 çoens poder fazer observaçaõ ala, eestar fora dellas oterre
no taõ alagado, q´ nem para pouzo havia comodidade
[parágrafo] Tambem envio aV.Ex.
ca
hum risco p
.a
hum
quadrante solar, no cazodeq. V.Ex.
ca
o queiramandar levantar.
Para naõ haver o encomodo defazer natàboa duas divizoens,
30 edous Estilos, risquei este, q. Emtodo o anno mostrarà só de
hûa parte ashoras, quartos, emeyashoras, elhedei asdivi=
73
zoens, que pedem alatitude dessa Villa ea inclinaçaõ que
determinei dar aoplano databoa
[parágrafo] Ahinda menaõ àcho inteiramente bom
35 ecomas friágens tenho tido meus leves incomodos
[parágrafo] Dezejo aV.Ex.
ca
vigorozaSaûde, eq´ DE. G.
de
aV.Ex.
ca
m. Anñ. Forte 28 deMayode1783 = Sou comprofundo
respeito = Ill.
mo
e Ex.
mo
S.
or
LuizdÁlbuquerquede MelloPereira
74
11v
[†]
[†]
As minhas continuadas morteficantes escriptas destes ultimos dias afim
depoder desembaraçar ao [?] visto seachar apartir para oRio deJa
5 neiro Serviram deobstaculo para que eu mais sedo respondesse segun
dodezejava, a carta de VMC dos 19 decorrente
[parágrafo] Fico enteirado do quanto VMC mepartecipava
arespeito dessasobras em quesey naõ omitiria todas equaes quer
providencias que lheparecessem adquadas digo parecessm acerta
10 das, eoportunas aoadiantamento quedezejamos, o que observo naõ
pelocontexto dareferidacarta mas pelo doque ultimamente es
creveu tambem aJozeManoel Cardozo, eaoPorta Estandarte Re
bello sobre aspraterias emmeu nome recomendadas semqueseja
precizo repetir denovo cadahumadellas
15 [parágrafo] OsoldadoCruz quedaqui foy conduzir esses
taes ou quaes novos Moradores, eque aomesmo tempo sedestinou
para algum mais urgente serviço que seofrecesse desdelogo; co
mo porexemplo odese domesticarem alguns boys docostodios
porserem naverdade muitos poucos ao uzo docarro osquatros
20 mancos quedaqui seremeteram, serà bom que sedesembarace com
apossivel brevidade para voltar aestaVilla aonde saõ poucos
ossoldados, emuitas asocupaçoens
[parágrafo] Ocapitaõ Joaquim JozéFerreira suposto tenha
feito toda apossivel deligencia para concluir oMapa trabalhando
25 athe nosdiasSantos, ainda nao pode conceguillo mas creyo ofarà
dentro dequatro ouCinco dias para denovo subir aesse lugar assistindo
aoDeleniamento, ou regulaçaõ de quaes quer novas medidas emque
assentey comele sefizesse alguma piquena alteraçaõ arespeito
doprimeiro projecto
30 [parágrafo] Pelas ultimas quedaqui foram veria VMC
queeu fiz remeter aspoucas, eredicullas pessas daTenda do Gua=
75
tura que haviam ficado nesta villa; como tambem Farinha, al=
gum Aço, emais ferramentas para as rossadas quepoderaõ ede
verfazer osEscravos nosdiasSantos VS
a
Ecomo VMC reconhece
35 perfeitamente quanto será conveniente que nessa paragem seaumen-
tem as Lavouras demilho, afimdeque no anno futuro sen experim
te
aextraordinaria escacez desse genero que ja vai havendo noprezente
tenho aliaz porcerto que ha depromover estasementeyra omais
que sefizer praticavel durante ospoucos dias que ja agora sede
40 morará nessadita paragem; tudo isto naforma das minhas ante
cedentes eeficazes recomendaçoens.
[parágrafo] Estimarey queodito Costodio Joze daSilva dipois
deter dado os ordinarios finaes doseu natural eimportuno vila=
nismo sobre que fui obrigado asacudillo de algum modo como VMC
45 veria no Despacho se acomodasse porfim sem mayor replica
ao que parece justo, enecessario na actual conjuntura; mas,
76
12r
atudo obriga anecessidade
[parágrafo] O arbitrio do Marraõ e Cunhas que VMC
bem advirtio como tambem do uzo dealgum fogocom
Broca nessas pedreiras, meparece que seraõ bastante
5 proveitozo, evisto que VMC ja tinha osditos Instrumentos equiz
fazer o favor deempreitallos, mandando avizo para seremeterem
o que mecerteficam severificara, estou certo que ja com eles
seteraõ feito oufaraõ ainda as experiencias necessarias, epelo
que respeita aouzo dadita Broca seacazo for praticavel, detre
10 minarey que seremeta alguma polvora que emtal cazo se
rà indispençavel; o que mais cabalmente seexaminarà nasu=
bida domesmo Capitaõ Joaquim Jozé Ferreira.
[parágrafo] Portador desta hé Inacio Soares q´ tambem
vay cuidar emque selhefaça maior rossa, elevarà comsigo algu
15 ma Estopadecalafeto naforma do avizo de VMC. D.
os
G.
e
a VMC
V.
a
Bella 28 de Julho de 1783= Luizd´AlbuquerquedeMello Per.
a
ECaceres= S.
or
Antonio FelipedaCunha Pontes
Joaq.
m
Jozê Cavalc.
te
d Albuqr
e
. Lins
77
EDIÇÃO DO DIÁRIO DE VIAGEM
Fig. 27- Início do Diário de Viagem (fólio 38v - Vol. III).
78
38v
Diário de Viagem que por Ordem do
Ill.
mo
e Ex.
mo
Luiz d'Albuquerque de Mello Pe-
reira Caceres, Govern.
or
e Cap.
m
General das Capit.
as
de
Matto Grosso e Cuyaba foi de Villa Bella at
5 a Cidade de S. Paulo pela ordinaria derrota dos
Ryos no anno de 1788.
[] Setembro dia 13
Por quanto no anno de 1786 ja tratey com individua-
Legoas çaõ da derrota que fez de Villa Bella p.
a
Cuyabá Villa
10 e as circunstancias atendiveis na navegaçaõ dos Ryos Cuya- Bellas
ba, Porrudos, e Paràguay, darey principio a hum circuns-
tanciado Diario na foz do Ryo Taquary, eagora so-
mente direy que nesse dia party de Villa Bella
[] Dia 22
15 Cheguey a V.
a
do Cuyabá onde me demorey em
Me apromptar athê o dia 14 de Outubro
[] Outubro dia 15.
Pelas 7 horas e meya da manhâa dey principio
a minha navegaçaõ em huma canoa e levando na mi-
20 nha Companhia mais hum batelaõ, p
a
em ambas se
poderem acomodar 26 trabalhadores que tantos eram
precizo p.
a
as varaçoens nos fatos doque ao diante tratarey
[] Dia 22
Pelas 8 horas entrey no Ryo Porrudos sendo avistado
25 pe-
79
39r
pelas 7 horas uma piquena canoa de [?]
que logo que nos viram meteram huma Bahia
adentro [] Dia 24
Entrey no Paraguay pelas 7 horas da manh
5 [] Dia 26
Neste dia cheguey a Povoaçaõ de Albuquerque
[] Dia 28
Cheguey a fôz do Ryo Taquary pelas 10 horas da
Manhaâ, e nella dou principio a tirar do leito deste Ryo
10 e dos mais por onde for precizo Navegar p
a
chegar a Ara-
ntagabá. Freguezia pertencente a Capit
a
de S. Paulo
e escalla das Canoas de Comercio que navegam p
a
Cuia-
fornecido nesta longa derrota as observaçoens. Astrono-
micas que necessarias, e possiveu formem p
a
levantar dipoys
15 hum exacto, e completo Mapa conforme as ordens que do
dito p. General receby naveguey pois o restantante deste dia
pelo Ryo Taquary abeirando huma grande Campanha
que lhe serve de Leito, e taõ baixa que estando o Ryo
quazi na sua menor altura estavam as suas agoas pouco
20 mais baixas do nivel do Campo. A numeravel
quantidade de diferentes aves aquaticas que por toda
esta vasta campanha se divizava, bem mostrava
abundancia do peixe nas suas Lagoas : naõ deixou tam bem
de me admirar as muitas Arrayas que sobre as áreas
25 se viram neste dia, e de tal grandesa que algumas ti-
nham de 4 p
a
5 palmos de diametro. Tinha o Ryo
na sua mayor altura 15 p
a
16 palmos, e os sinaes q.
as arvores mostravam deixavam ver que o ryo
subia mais 12 palmos, vindo a ficar por este comp.
nto
30 a Campanha com 11 palmos de inundaçaõ o que abre
80
via muito a navegaçaõ da Canoas que em semelhan
tes tempos navegam de S. Paulo p
a
Cuia
e de Cuia p
a
S. Paulo pois nesta travessia se
livram de navegar por huma parte do mesmo Ta
35 quary por todo o Paraguay e Porrudos, e vão subir no
[]Cuya
81
39v
Cuyabâ[?] da sua fôz. Naveguey 4 legoas ehum 4/4
Quarto quazi tudo a Norte.
[] NB.
Para se saber orumo geral que fiquei em cada hum
5 dia, tirarei do ponto da partida p
a
o ponto do pouso hu-
ma linha recta, e dezignarei tambem o angulo que ella
faz com hum dos 4 ventos principaes, e o dezignarey com
a Letra =A= [] Dia 29
Com 10, ou 11 braças de andamento perdeu o Rio a
10 sua forma de encanado, e entrey por hum pantanal pelo
qual estava espalhado o Rio com infinitas entradas que
fazia dificil achar o verdadeiro caminho que se devia se-
guir, e naõ obstante vir hum guia tido por muito expe-
riente, seguimos por duas vezes humas veredas falças.
Este esprayado do Ryo fez diminuir tanto a sua pro-
15 fundid
e
que muitas veses era precizo varar a canoa
p
a
sima das areas: Naveguey 5 legoas e meya A=
22˚ , de N p
a
E 5/2
[]Dia 30
Naveguey duas léguas e 74 p
r
entre agoapez do pan-
20 tanal, retrocedendo de varias veredas que seguy por que
as achava secas athe que finalm
e
sahy a hum lugar que
lhe chamam o Boqueiraõ, ponto em que o Ryo tor-
na novamente a correr encanado por entre humas mar-
gens que tinham de hum athê dous palmos de altura
25 Fuy seguindo este canal – vencendo a correnteza da agoa
e algumas vezes encalhando nos baixos pois nas partes
concavas das enseadas tinha m
to
irregular fundo de
5 // 7, e 10 palmos Alargura do Ryo hum com muito
82
pouca mudaa de 22 braças =A= 21/2 de N.p
a
30 E [] Dia 31
Com marcha de 3 légoas passei deixando na margem
Oriental hum sangrador, Canal antigo que se seguia
e que ja está entupido das areaes; incoveniente que tem
sucedido a outro muitos esucederá também aeste
35 p
a
onde vou navegando pois aqualid
e
do terreno
[]bai-
83
40r
baixo, arenozo, como também a pouca altura do Ryo
em varias partes o estâ prometendo: Do meyo dia
a tarde jâ as ribanceiras tinham de 4 p
a
5 palmos
7/4 d’altura. Naveguey 7 legoas e /
4
=A=28º de N. p
a
E .
5 [] Novembro Dia 1
o
Naveguey neste dia conservando o Ryo a n.
ma
altura
de Ribanceiras da tarde antecedente o mesmo fundo
e a mesma largura, naõ permitio o tempo obsevar
a imersão do 1º Satelite de Jupiter = A = 43.º de N
10 p
a
E
[] Dia 2
Das 10 horas p
a
diante foram as margens do Ryo
diminuindo a sua altura athê chegarem de 1 palmo
que se conservou pelo resto do dia. Passei 12 Ilhas
15 piquenas. Detreminey a latitude deste lugar que a-
chey de = 18º 12’ 58” e a variação N. E.= 9º 12 Na-
veguey 6
½
guas. A = 53º de N. p
a
E.
[] Dia 3
Principiey a marcha p
a
hum Pantanal posto que naõ
20 taõ esprayado, e sugeito a perdas como o 1º comtudo
taõ baixo que huma especie de ribanceira que tinha
com qualquer repiquete se inundaria: Fuy pernoitar
huma legoa acima do pouzo alegre, sendo deixado na
margem Septentrional huma legoa /
4
abaixo do d.
o
pou-
25 zo alegre a foz de hum sangrador que me asseverou o
guia ter sido a antiga madre do Ryo q^ ainda a G
Annos se seguia e hia sahir no Paraguay as baixo
das tres Barras, mas que agora se acha entupido pelas
areyas: Este Capão ou pouzo alegre esta no meyo d'hu
84
30 ma grande resacada cheya de piquenas ilhas, e de
tantos bancos de areya que custou muito achar Ca-
nal p
a
se navegar = A = 70 graus de N. p
a
E
[] Dia 4
Todo este dia naveguey entre piquenas ilhas, ebancos
35 de arreya de que tambem saõ as margens do Ryo
A pouca existencia de semelhantes margens faz
q'o Ryo se alargue m.
to
, e que se consuma muito
85
40v
tempo na deligencia de achar p
r
entre as areyas fundo
Capaõ de se poder navegar, correndo p
r
este motivo
varios rumos nesta penosa carreira A = 63/
2
de
N p
a
E []Dia 05
5 No desvio dos baixos prolonguey o caminho conside-
ra a grande profundid
e
do Ryo no seu principio
em comparaçaõ da piquena que tem tido nestes dias provem
naõ de serem as suas agoas reprezadas pelas do Pa-
raguay mas tambem de correrem por hum canal
10 mais estreito pois logo que se esprayaram pelo Pan-
tanal, epor esta parte que ha dias tenho navegado
principalm
e
de pouzo alegre p
a
diante principiey a
sentir o referido incomodo: Naõ deve igualm
e
causar
admiração o achar na deligencia do reconhecim
to
do
15 Paraguay da Lagoa Uberava Gayoa eMandiorem fei-
ta no anno de 1786 a Campanha com 20 palmos de
inundaç, pois ella hé piquena recepitaculo p
a
as agoas
que em semelhante tempo continuam ter o Paraguay
Porrudos, e Cuyabá Taquary Mondego, e outros m.
tos
20 e grandes Ryos que nestes despejam as suas agoas: As
margem deste Ryo ja tem de 11 p
a
12 palmos d’al-
7/2 tura A = 80º /
2
de N. p
a
E.
[] Dia 6
Naveguey todo este dia abeirando terras firmes e as
25 circunstancias da navegaçaõ foram as mesmas do
dia precedente: pousey /
4
de légoa acima d’hum lu- = Cocaes
gar que lhe chamam Cocaes pelos m.
tos
Cocos que
tem A 82º de N. p
a
E
[] Dia 7
86
30 Este Ryo já alegre, e vistozo pelos seus estiroens, Ilhas
posto que piquenas, grandes Prayas, mattos, e riban-
ceiras de 20 palmos d’altura apesar de correr repreza-
da entre ellas n sobre a grande altura, pois os sinaes
que nas mesmas margens se divizam, mostram que
35 do estado actual sobe altura de 16 p
a
18 palmos
[]naõ
87
41r
o deixando rapida [?] acomodaransse
mais na suas agoa A = 78’do n. p
a
E.
[] Dia 8
A largura do Ryo tem sido bem irregular pois em
5 partes tem tido 25 braças em partes [?], e ainda mais nas
enseadas onde hâ ilhas: a parte mais estreita que tenho
encontrado foy hum lugar onde fiz atto p
a
jantar e
que lhe chamam Varal, porque nele se provem de va-
ras sendo nos vindo athé aquy remediando com humas
5/2 10 Canas que tiraõ no Paraguay de frente do monte
chamado Dourado A = 7
2
de E p
a
S.
[] Dia 9
Correo hoje o Ryo entre nacente eSul obrigado talvez
de huma Cordilheira que a o longe se desviava desde
15 ontem quando a proa tendia p
a
Noroeste A= 38º
7/4 de E p
a
Sul []Dia10
Huma legoa acima do pouzo está huma praya con-
tigua a ponta, e principio da Cordilheira de que
tenha falado onde o Gentio Cavalheiro costuma a-
20 travessar o Taquary. Vi rastos frescos, e estacas em q.
prederam Cavallos. As primeiras pedras que
encontrey a que daõ o nome de Beliayo distam 4
legoas da partida esaõ com huns principios das
Cachoeiras, e com efeito navegadas mais duas legoas e/4
25 cheguey a primeira Cachoeira chamada da Barra
que tem 725 braças de extençcuja ametade foy
passada com a Canoa carregada, e aoutra com ella
inteiram
e
vazi p
a
se precipitar o Rio com grande
violecia p
a
Canaes muito estreitos cheyos de pedras
88
6/2 30 e muito inclinados A = 13º/
2
de E p
a
Sul lati-
tude A= 18º 33’38’’ Longitude 322º.37’18”
[] Rio Cuxim
[] Dia 11
No fim da referida Caxoeira estâ afôz do Ryo
35 Cochim de 25 braças de largo p
a
onde entrey p
a
p
r
ele seguir viagem: Este Ryo logo diminue conci-
deravelm.
e
a sua largura, pois nadistancia de 3/4 de
Fig. 28– Diário de Viagem (fólio 41r - Vol. III).
89
41v
de Legoas e ponto em que nele desagoa pela margem
Meridional o Ryo Taquary mirim de 15 braças de
largo e de pouca agoa ja tinha 19 braças. Pouco acima
do referido Taquary mirim está a 1º Caxoeira de
5 nominada La Ilha Passada huma Carga, e descarre-
gada inteiram
e
a Canoa a meteram por hum estreito
de dez braças de largo, e passado ele a vararam por hum
Canal que tinha dous palmos de agoa por quanto da outra
parte estava hum salto de 3 braças de altura. Nesta
10 manobra se conssumiram 4 horas huma legoa acima
desta Caxoeira hâ outra chamada giquitaya que forma
huma outra Cascata e foy passada a meyaolarga. A
outra Caxoeira que se chama choradeira e que dista da
precedente huma legoa e/
4
hé hum plano inclinado com
15 fundo de pedras pelo qual corre o Ryo em varios [?]
com grande velocidade fuy pernoitar com mais huma
legoa de marcha no principio d’outra Caxoeira A 3º
de E p
a
S [] Dia 12
Passada esta caxoeira denominada Avanhandava
20 Mirim com a Canoa vazia e por hum Canal de 20
braços de extenção cheguei com piqueno andamento aoutra
chamada Avanhandava guassu transportadas ascar-
gas p
a
hum descarregada de 300 braças foy conduzida
a Canoa por hum unico Canal que tem esta Ca-
25 choeira por onde corre com grande furia pois vay
represada entre margem de pedra por hum estreito
de 3 braças. No fim deste Canal foy varada a
Canoa por sima de hum penedo para salvar o
salto que dá principio a Cachoeira consumiramse
30 nesta manobra toda 1 horas e /
2
trabalhando
effectivam
e
26 homens [?] legoa distante desta está
90
outra menos furioza denominada do Jauru p
r
que no fim della estaõ na margem oriental hum
Ryo deste nome e de des braças de largura
91
42r
na sua foz A=62’de E p
a
S.
[] Dia 13
A navegação deste dia foy summam.
e
traba-
lhoza pois alem de passarem 5 legoas’/
2
7 cachoeiras
5 denominada de [?] da Pedra redonda de
Vamuanga, do Bicudo, das Anhumas, de Robalo
e do Alvaro, não naveguey intrepassadam
e
huma
legoa sobre Ryo manço, ou sobre plano Orizontado
5/2 pois o Leito do Rio foy hum continuando plano incli-
10 nado com fundo de pedra que todo foy subido com gran-
de trabalho e força de varejoens em que ja no dia preced
e
se tinham armado de espontoens de ferro acrecendo tam-
bem a circunstancia de navegar p
a
entre montanhas
de considerável altura Navegada a 1º Legoa e ‘/
2
che
15 guey a hum monte summam
e
alto que dava como
de Paredam aberto a picão aprumo por entre o qual
corria o Ryo placidam
e
apesar de ser neste lugar
sinco braças de largo. Hê digna de sever e de se admi-
rar esta obra da natureza. Huma legoa acima deste
20 paredaõ esta outro pouco inferior ao primeiro, e
imediato a sua extremid
e
superior hum Ribeirão
de larga entrada e da parte do meyo dia: He prova-
vel que nas suas cabeceiras que são estes montes por
entre os quaes corre o Coxim haja ouro pois me Ribeiraõ do
asevera o Guia que se chama Salvador Ribeiro o Paredaõ
25 homem que em huma praya que fica pouco mays
abaixo do referido Ribeiraõ e na Cachoeira da
Choradeira achava ouro que mostrava ser de sabido Sinaes de
quilate: Por falta de instrumentos proprios o o haver oiro
foi a mesma experiencia A = 44º de E p
a
S.
30 [] Dia 14
92
A primeira vizita que tive ao sahir do pouzo foy a dos
3 Irms , nome que dão a 3 Caxoeiras que se sucedem
humas, as outras, a ellas mediata esta a chamada da
[?] que se passa com a canoa vazia, e formando os
35 []por
93
42 v
por cima dos paredos. Duas legoas e meya acima deste
estâ outra chamada quebra proa, e de canal passagero
pouco acima della encontrey da parte do meyo dia
hum dezaguador, que pela sua largura, merecia ono-
5 me de Figueira, que assim o denominey. pela
tarde Naveguey p
r
entre montes menos asperos emais
3/2 baixos. A= 50º de E p
a
S [] Dia 15
A chuva que por todo dia me encomodou, compensou
muito bem afacilid
e
com que se passaram as Caxoei-
10 rãs denominadas das 3 pedras da e do Varé
distante a primeira do ponto da partida legoa
e
/
2
afog.
da
dista ¾ e a 3ª da imediada huma legoa e ¾ e A=
5 ¾ 78º de N. p
a
E
[] Dia 16
15 Era minha tenção falar de grandezas de cheya quando
acabasse de navegar p
r
este Ryo, mas a circuntancia
da navegação deste Ryo me obriga a fazello agora. Este
estreito Ryo reprezado entre montanhas, e apertadas
ribanceiras sobe a mais de 50 palmos d'altura como
20 mostram os sinaes das arvores: Para atese fazer inave-
gavel naõ necessita de tanto peso de agoa pois sô com
8 palmos que creceu com a chuva d’ontem impedia de
tal sorte a viagem que em todo o dia naveguey somen-
te 2/2 legoas. Se o Leito do Rio fosse taõ inclinado
25 como nos dias precedentes, ou houvesse alguma cachoei-
ra naõ faria viagem alguma Navegando a 1
a
/2 le
goa deixey na margem orizontal hum ribeircha-
mado o do Barreiro: Latitude A= 19º.3’16” A=
78 de E p
a
S [] Dia 17
30 Com a mesma facilidade com que neste Rio com a mes-
94
ma vaza p
a
felicidade p
a
os Navegantes 4 palmos que abai-
xou durante a noite fez diminuir muito asua fúria
e me poz em estado de poder seguir viagem passando nella
dias duas Cachoeiras chamadas de Peralta e da Pedra
35 []bran-
95
43r
branca A= 49º de E. p
a
S
[]Dia 18
As agoas claras e saborosas deste fúnebre, e melancolicos
Ryo, se pertubaram de tal forma com o Repiquete de
5 que tenho falado, que so a necessid
e
me podia obrigar a be-
ber della: mas p
a
outra parte n deixou de ser convenien-
te que o Ryo tomasse mais agoa do que tinha, pois com
menos trabalho se varava a Canoa por sima dos troncos
das arvores que das ribanceiras nele cahem, e o tornam
10 de parte a parte: Distante do ponto de partida 2’/2 le-
goas dezagoa pela margem Oriental hum Ribeiraõ e
chamado o da Celada, e acima deste huma legoa e ‘/4 está
a Cachoeira do Mangabal ultima e a vigessima 4ª des
6/4 te Ryo A 65º de E. p
a
S.
15 []Dia 19
Com tres legoas e /
2
de navegaçaõ cheguey a foz de estreiti-
ssimo Rio de Camapuam que dezagoa no Cuxim pela
Margem Oriental por aquele seguy viagem ter sido deixa-
do o Cuxim que me dizem se dividir em 2 braços pouco mais
20 acima do Ryo Camapuam. A largura deste Ryo na
sua foz hê de ½ braças mais pouco acima della se
estreita ainda mais e tem taõ pouca agoa que as Ca-
noas v pela mayor extençaõ do Ryo arastadas por
sima de seu fundo passando a o mesmo tempo pelos
25 troncos das arvores que toda via saõ muitos apesar
da frequencia das Canoas do Comercio que por dele
pode navegar a meya Carga: Naveguey por este Ryo
3 legoas no meu Batel em que me embarquey p
a
chegar a fazenda abaixo de Camapuam com antecipaçaõ a
30 Canoa grande p
a
poder fazer e reiterar as obser-
vaçoens Astronomicas sem atrasam
to
da viagem e A.
96
8 53º de E p
a
S []Dia 20
A proporçaõ que fuy deixando alguns Ribeiroens, foy
tambem perdendo o Ryo m
to
do seu Cabedal e fazendo
35 se m
to
penoza a navegação por Conta dos bancos, não
obstante ser piquena a Canoa do transporte e A= 58 de E p
a
S
97
43v
[] Dia 21
Com seis legoas de navegaçaõ, e com os mesmos inconvenien-
tes cheguey a Fazenda de Camapuam tendo deixado 3/4
de legoa abaixo della afoz do Ryo Camapuam Guassu
5 que dezagoa pela margem Meridional e que por entrepido
pelas arvores cahidas se tem feito navegavel.
[]Dia 22
Nem na noite passada nem nesta permitiu o tempo
fazer observaçaõ alguma.
10 [] Dia 23
Cheguey a Canoa grande pelas 5 horas da tarde, elogo
foy posta no Carro, e mandado conduzir p
a
o Ryo da
Sanbixuga a tempo nublado naõ sô naõ deu lugar
de observar a imersaõ do 2° Satelite de Jupiter, mas
15 tambem de poder pelo menos detreminar a latitude
deste lugar.
[] Dia 24
Neste dia apareceu o Sol, e a lua entre nuvens me-
nos espessas, e tomey algumas distancias pelas quaes vim
20 a detreminar a longitude deste lugar = 323º 38’45” e a
latitude Austral = 19º 35’14”. Variação N. E= 9º. 27”
Pelas 6 da manhaã montey a Cavalo e cheguey ao lu-
gar em que entravam as Canoas que tinham sido condu-
zidas por hum varador de 623 o braças. Embarcado nella
25 decy p
lo
Ryo que denominam Sanguechuga athé a
o encontro do Ryo vermelho onde perde o nome, e toma
o de Pardo n sendo o da Sanguechuga com efeito
outro mais que o Pardo tem como o Amazonas que
da foz do Ryo Negro p
a
sima se denomina Soli-
30 moens. Este Ryo vermelho dezagoa no Pardo a distan-
98
cia de trez legoas /2 do ponto da partida e a suas
agoas saõ taõ vermelhas que naõ diferem do Sangue
Naõ parece exageraçaõ o que acabo de proferir, pois
naõ faço d’hum Pigmeu hum Gigante. A sua
35 []lar-
99
44r
largura saõ as mesmas que o da Sanguexuga, ou Pardos
que hé entre o limite de 9, ou 12 palmos confirma
suficiente p
a
navegarem as Canoas com toda a Carga
e livres dos incomodos dos troncos, pois corre pelas encostas
5 de huns chapadoês de relva mimoza e propria p
a
aboa.
Criação de gado Vacum, mas o Ryo vermelho so tem
hum palmo de profundidade e basta estapequena porçaõ
d’agoa p
a
pertubar as do Sanguexugas que hê crista
lina, fresca e delicioza efaze incapaz naõ sô de se beber
10 mas tambem de se poder nellas lavar a roupa. Porem
suprem a estes defeitos os muitos Ribeiroens que no Par
do dezagoaõ: Hum quarto de legoa abaixo do lugar da
partida estā a Cachoeira chamada a do Barquinho
e duas Legoas e/
2
distante desta o Saltinho e finalmente
15 a chamada Taquarapaya A= 67º de E p
a
S
[] Dia 26 =
O Ryo vermelho o Ribeirão claro, eo Ryo Sucuria
que passey pelas 5 horas da tarde, e outros Ribeioens
sem nome, alem de m
tos
regatos que continuam
te
nele
20 dezagoa tem aumentado consideravelm
e
a suas agoas
e Largura pois ja sobre a tarde tinha 5 braços de
largo: 10 Cachoeiras passey neste dia, alem de m.
as
Sirgas e correntezas onde os que seguem p
a
Cuyaba
descarregam as Canoas ou em parte confr
e
25 estā o Ryo mais ou menos possante: ellas foram
as pedras de anidar, o formigueiro o paredaõ o imbiricu
guassu, e Mirim a lag. e grande e piquena que se passa-
ram com a Canoa vazia precipitando se com o Ryo
por trez degraus a Canoa velha, Sucuriu, e a
30 Bangue, recebendo e penultima o nome do Ryo que
pouco abaixo esta A= 55º de E p
a
S.
100
[] Dia 27
Com 8 legoas de navegaçaõ passando m
tas
cirgas e cor-
renteza cheguey ao Salto do Curral hum quarto
35 de legoa antes de chegar a descarregar
101
44v
a Canoa, athé a suas proximidade se navega por en
tre Caxoeiras, e depois se vara a Canoa por terra
por sima do varador de 30 braças que para salvar do salto
que terâ quatro braças d´altura: 6vz alto neste Salto
5 p
a
observar o eclipse do Sol que devia suceder nesta tar-
de que naõ teve efeito pela continuaçaõ do Ceo, furta-
do que m
to
tempo se conserva chuva: Pelo mesmo
incoveniente naõ observei o eclipse do 2º Satelite
de Jupiter que devia suceder na madrugada deste dia
10 e apenas detreminey a latitude deste Salto que está
em 20º 6´Austral A= 16º de E p
a
S
[] Dia 28
Em 8 legoas e/
2
que hoje naveguey passey 12 Caxoeiras
A saber, o Robalo, o Tamandua que sepassa varando
15 a Canoa por sima de Lages, e vazia os 3 Irmaõs, o
Taquaral que se vara p
a
terra pela distancia de 21
braças, o Anhanduy, o Jupia, o Tyjuco, varado por
terra de 60 braças, o Magangoal e cheyo Santo
e o Embirucu, Caxoeira todas concideraveis, onde se
20 tem por varas perdidas m
tas
Canoas, eeu perdy hum
Batel que como disse veyo so p
a
a comodaçaõ
da gente da equipagem: Neste pequeno espaço em
que decendo gastey hum dia, gastam os comerciantes
na subida 15, e 20, como o unico divertim
to
de ma-
25 tarem m
ta
perdiz, viado de que abundam estes cha-
padoens, sendo m
to
esteril no que pertence a outras
especias de avez, e o Ryo de peixes que pelo em vara-
do das Cachoeiras, e saltos naõ podem subir do Paraná.
E sô o há do ultimo galho para baixo como measevera
30 o guia: o Ryo ja tem de largo 22 braças e da foz do
102
Ryo Anhanduy Mirim que dezagoa pelas mar-
gens Ocidental na distancia de 6 braças de largo, tem
mais 3 braças. A= 53º de E p
a
S
[] Dia 29
35 Passado a Larga comprida que tem 39 braças
103
45r
de extenç passey o banco que se [?] imediatam
e
varando se a Canoa por terra pela distancia de 57
braças: segue dequazi a [?] Negra o do Matto
o Salto de Cajuru onde se siga a Canoa por hum
5 estretissimo Canal que forma huma ilha m
to
conti
gua a margem Meridional, e Caxoeira vistoza porque o
Ryo com bastante largura se precepita pela altura
de 3 braças e /
2
formado varias Caxoeiras que m
to
bem
se divisa d´huma praya que estâ abaixo della. Di-
10 pois deste salto estā o Cajuru Mirim, a Caxoeira da
Ilha ultima, e a 33 deste Ryo 36 /
2
de E p
a
S
[]Dia 30
passei hoje pelas dezembocadeiras dos dois Rios cha-
mados Orelha d´e Anta, e Orelha d`Onça que dezaguam
15 pella margem Boreal; e distante hum d´outro tres legoas
e /
2
e a primeira 3 legoas do ponto da partida e 6
o
de E p
a
S.
[]Dezembro dia 1º
Sendo decido 5 legoas passey pela confluencia do
20 Ryo Anhanday guassu de 18 braças de largura que
vem do Ocidente, athê este ponto tem o Ryo corri-
do pelo Rumo geral de S. E. Mas do d.
o
Ryo para
baixo mudam o seu curso p
a
o Nacente
[]Dia
25 Por Conselho dos Pilotos detreminey seguir viagem
logo dipois de meya noite p
a
poder chegar athe as 7
horas da manhaã a boca do Ryo Pardo p
a
poder
alcançar no Ryo grande hum lugar que serve dea
brigo as Canoas p
a
se livrarem da furia dos Ryos
30 nas tempestades: mas as chuvas que desde o Ryo
104
tem cahido sem interrupçaõ me naõ deu lugar
de poder partir asemelhantes horas principalm
e
em noite tescura: Com o dia pois seguy viagem
e fuy jantar pelas duas horas nadesembocadura do
35 Ryo Pardo no Ryo grande com o andamento de
dez legoas: Naõ admira o navegar[?] legoas em
105
45v
menos de 6 horas, pois a docid.
e
das agoas do Ryo
Pardo a sem Caxoeiras hé tal que correm duas mi
lhas e 7 decimos em huma hora. A largura deste
Ryo na sua foz tem 64 braças.
5 []Rio Grande
O resto do dia naveguey subindo pelo Ryo Grande, cuja
largura avalio athe achar parte de donde possa medir
Trigonometricam.
e
por naõ poder fazer d´outra sorte em
300 braças. As suas agoas saõ barrentas epestilentes
10 mas pelos seus estiroens, Ilhas e Matos tem toda a
magestade de hum grande Ryo: Naveguey duas le-
goas e ¾. A= 32º de N. p
a
E
2¾ [] Dia 3
Naveguey pelas grandes enseadas deste Ryo 5 ¾ impedin
15 do-me huma grande trovoada que sobre veyo o poder
seguir mais avante: Naõ obstante estarmos hum tanto
abrigados da furia do vento, com tuda foy precizo des
carregar a Canoa p
a
se naõ alagar com o moviment
o
e
5¾ impulso das ondas: Distante do pouzo 2/2 legoas
20 desagoa pelas margem ocidental o Ryo Orelha
d´Onça, e mais acima dous ribeiroens A 16º de E
p
a
S [] Dia 4
A chuva continuou por toda a noite sem interrup-
çaõ alguma: naõ sô todas a passamos ensopados, mas
25 tambem me fes perder a observaçaõ do 1º Satelite
deJupiter. As arvores mostram que o Ryo sobe o Rayo
7/4 a 25 palmos d´altura A de N p
a
E
Acimado pouzo tres legoas e meia esta huma piquena
7
7
Na linha 27 o traçado da caligrafia muda totalmente, mostrando a mudança de punho (segue até o final do
diário).
106
Ilha chamada de Manoel Homem. Este criminozo
30 se refugiou nas sua vizinhanças tendo trazido com-
sigo huma veneranda
a Imagem do Sñr. Bon Jezu,
sendose obrigado a retirarse, naõ sei por que mo
tivo fez um piqueno rancho de palhas,e nelle deixou a-
brigada das injurias do tempo aRespeitavel Imagem:
35 Recolhendose para S. Paulo hum commerciante aa
107
46r
aacharao, e querendoa conduzir [?] tradiçaõ const
e
que anaõ poderaõ abalar, sendo feita de Lenho
de mediocrequalidade, por isso adeixaraõ, e foi depois
conduzida para a Villa de Cuiabá com a facilidade na-
5 tural, e hé venerada, e Respeitada nesta Villa, de que
tomou onome, alem de terjaouvido este cazo amui
tos individuos, mo repetio novamente hum Neto
do dito Manoel Homem. [?]uam incomprihensibi
lia Sunt Judicia tua Domine.
10 []Dia 5
meia legoa acimadopouzo, eno fim de huma Ilha, des
peja as suas agoas pela parte do Poente Rioverde de Rio Verde
quarenta e duas braças de largo, e quatro legoas e hum quar-
to, distante deste, e da parte opposta desagoa o Rio Agu
15 apeis de doze braças. Aturaõ hoje ao Rio Varias pedras, en- Rio Ago-
tre as quaes havia o algumas [?], de que fiz algum pro apeis
vimento, e poderia talvez fazer maior, e demais esquezitas,
se o Rio ja naõ tivesse tomado bastante agoa. Para me
livrar de huma eminente trovoada, entrei, e pouzei
20 em hum Ribeir que denominei do Abrigo. A
18º de N p
a
L Dia 6
Abalhado Ribeiraõ, digo a balhaque na Barra do Ri-
beir faziao os dourados menaõ deixoudormir, enavia-
gem erao tantas as Pirancajubas, peixes de escama pra-
25 teada, emimozo, e os Piabucis, que saltavaõ para acannoa,
que me vi obrigado, acorrer as Cortinas da barraca pa-
ra me Livrar do Choque alguns, que doia muito con
forme me tinha jamostrado aexperiencia. Pelas
treshoras datarde parei fronteando abarra do Rio Su Rio do
30 curüi, que vem do Occidente, cujalagura deixei de- Sucurüi
108
medir, por nao poder atravessar o Rio; por cauza das
ondas; mas peloque me pareceu excederia á Sincoen-
ta braças. Hé tradiçaõ constante, que huma cannoa,
que escapara de hum ataque do Gentio Payaguá nas
35 vezinhanças do Rio Cuyabá Subia pelo Rio Porru-
109
46v
Porrudos; por outro que nelle deita as suas agoas, e que
com huma piquena varaçaõ passara para o Sucurüi, de que
estou falando sem ter o incommodo das cachoeiras, de que
tenho tratado; mas que em recompença encontrara mui-
5 to Gentio Caiapó, porcujo motivo tinh desprezado esta na-
vegação, que parece devia ser preferida, á que prezente se
faz, se não ouvesse o interesse de extender os Dominios
de Sua Mag
e
Fidelissima, que Deos guarde, o mais que
podesse ser procurando o Paraguay. Ouxala que de baixo
10 de pretexto da mais facil Navegaçaõ para Cuiabá, e Matto-
Grosso dezistisse S. Mag.
e
Catholica, a parte, que tem no Rio
Paraná, ena Margem Oriental do Rio Paraguay da Foz
do Rio Grande para o Norte para por este senavegar àthe
o Paraguay cazo as Cachoeiras deste grande Rio permittaõ /
15 e seguir depois a ordinaria Navegação para asdittas Vil-
las. Pernoitei na Foz do Rio Tieté com sete leguas de
navegaçaõ. A= 9’ de N para E
[] Rio Tieté – Dia 7
Deixado o Rio Paraná, que medizem ter subindose ma-
20 is meio dia deviagem, hum Salto chamado Urubupungá,
naveguei, Subindopelo Rio Tieté, cuja Foz tem de largo
setenta braças. Com sinco horas de navegaçaõ, emar
cha de tres leguas, e hum quarto cheguei ao grande Sal-
to denominado Itapura, cuja figura se deixaver no
25 Mappajunito. Foi varada a Cannoa em Sinco horas
por humpalmo digo por hum plano de quarenta, equa
tro palmos d’alto, que tanta hé a altura o Salto, e de se
centa braças de extençaõ. Acimadeste Salto, nadistancia
de huma legua esta outra Cachoeira chamada Itapura
30 mirim, que em nada se asemelha aprimeira. A-
8º o de N para E.
110
[]Dia 8
As tres Cachoeiras chamadas as dos Tres Irmaons
Se passaraõ bem facilmente, mas o Ituperii levou toda
35 a tarde, e tem meia goa de extençaõ. Noprincipio
desta Cachoeira encontrei ahuns Commerciantes, que
estavao enxugando os fardos de tres Cannoas, que se tinh-
111
47r
se tinhaõ alagado. A= 70’ s de N para E (ou L)
[]Dia 9
A chuva que durou por toda anoite e parte o dia naõ me-
deixou seguir viagem á horas competentes, e porestemotivo,
5 e porjá ter tomado o Rio bastante agua , e correr comviolen-
cia, apenas naveguei Sinco legoas e hum quarto tendo pas-
sadopor huma ponte depedra, que lhe chamaõ Pirataraca
A. a18’ de E para S
[]Dia 10
10 Sem outra novidade mais que amuita Chuva ter deixado
na margem septentrional a dous ribeiroens, naveguei seis
leguas e hum quarto. A [?] de E para S.
[] Dia 11
Amuitachuva apenas medeu lugar depoderembarcar
15 pelas sete horas damanha ; eporterestado o Rio muito tur
vado, nao obsevei a emerçaõ do primeiro Satelite de Jupi-
ter. Passei com a Cannoa carregada as duas Cachoeiras cha-
madas Taiurutuba merim, e a Itupeba, estaultima dehum
quartode leguadeextençaõ, e trabalhoza. A 3º chamada Ara
20 racanguaguaii, foi passada sem Carga alguma. Huma legoa
acima dopouzo deixei namargem Borial hum grande Ri
beirao, que odenominei de Socuri pormedizer o Guia que
antigamente, pernoitando na sua Foz,varias pessoas passa
raõ por cima de hum detalgrandeza, que naõ fazia cazo dos
25 que pizavaõ atheque, julgando ser hum tronco lhemete
rao hum machado para fazer lenha, eentao virao o seu
engano. Todo o Tiaté tem grande abundancia destas
cobras, e de outras serpentes, e muitoprincipalmente
o Rio Pardo, emque ordinariamente saõ mordidas al
30 gumas pessoas, eprincipalmente, quando sobem pelo
112
muito tempo, que nelle gastaõ. O meu Piloutojafoi
mordido por tresvezes, e uza por contraveneno da agoa
ardente, que se faz da Cannade asucre, emque lhe deita
algum Sal, e naõ obstante a beber em prodigiozaquan
35 tidade onaõ embebeda, quando em outra ocaziaõ,
que abebe, como escudo contra o frio, e a chuva qualq.
r
piquena porçaõ lhe sobe a cabeça. A [?] de E p
a
S.
113
47v
[]Dia 12
Pelo mesmo incoveniente do dia precedente naveguei Sinco
leguas e tres quartos, tendo passado as cachoeiras, a Araracangua
merim, e Araçatuba A 27º ½ de L (ou E)par S.
5 []Dia 13
5
1/4
Sinco Cachoeiras chamadas [?] de mais de hum
quarto de leguadeextençaõ, e funil grande, epiqueno,
as ondas piquenas, e grandes, pasei em sinco leguas, e hum
quarto, que tanto naveguei neste dia . A [?] d’ L p
a
N
10 []Dia 14
A cachoeira chamada Mato Secco dista dopouzo hum quar-
to de Legua, a da Ilha duas e meia e a Itapanema, quatro
e hum quarto. As continuadas chuvas temenchido o
Rio de forma que sevai fazendo trabalhozissima asua
5/4 15 subida. Naveguei sinco legoas e hum quarto. A 5/4 [?]
para S []Dia15
Pelas dez horas cheguei a Cachoeira, que lhe chamao Esca=
mussa, e pelas quatro ao Salto Avanhandava, tendo dei-
xado huma legua a baixo deste, e daparte septentrional huma
20 medeano Rio, que o denominei de S Jozé. Hum quarto
de legua antes de chegar ao Salto, corre o Rio por fundo de pe
4 ½ dra, e reprezado entre ellas, que faz anavegaçaõ laborioza,
e muito ariscada. A 7º [?] para S
[] Dia 16
25 Naõ obstante estar o tempoprometendo chuva sedes
carregou aCannoa por hum descarregador de trezentos se-
centa e tres braças, e depois sedeoprincipio a sua varação,
que levou athé as sinco datarde, sendovaradopela dis-
tancia de Cento e sincoenta braças, e pela altura de Sin
30 coenta e tres palmos, que tanto tem o Salto que se faz me
114
donhos nao so pelo embate das agoas despenhadas, mas
tambem pelos penedos, e Ilhas, que pela sua largura tem
formado varios Cannaes, e quedas. Quando o Rio está
mais cheio cresce e varados mais Cem braças.
35 [] Dia 17
[†] Cachoeira chamada Avanhandava Mirim
115
48r
Mirim, e ado Campo A [?] [ ?] [?] para S.
[]Dia 18
O espaço por ondenaveguei, que possodizerque foi hum só
Estiraõ, hé livre de Cachoeiras, mas aCorrente do Rio foi
5 muito rapida, enas suas margens ha muitas margens,
digo arvores, que lhe chamjabuticabr
as
, que daõ hum
fruto o mais saborozo, que tenho comido.quatro
especies dellas. As grandes, que terão huma polegada
de diametro, sao decor negra, e nascem pelos troncos com
10 hum cumprido, como aCereija. [] As Punhemas, que de
ferem das grandes nagrandeza, e no pé curto. As pin-
tadas, eas Numichamas sao as outras duas especies, e
nascem em arvores mais baixas, e saõ do tamanho de
huma bala dearcabuz. A casca detodasellas he delgada,
15 e tem avirtude adstringente, e saõ taõ acidas, que dellas
se faz optimo vinagre. Esteacido da casca, que facilmen-
te se communica amassa mimoza da fruta, faz que
se n possaõ comer; passadas vinte equatro horas, de
pois de colhida, naõ obstante serem muito doces,
20 quando se apanhaõ, e serem hum aroma,que em lu-
gar de cauzarem tedio, incicitao o appetite. Pelos mes-
mos inconvenientes dos dias passados, naõ observei aimer-
çaõ do Segundo Satelite de Jupiter.A 26 º de E. p
a
S.
[]Dia 19
25 Em seis legoas e tres quartos quehojenaveguei, passei fa-
6 ¾ cilmente por estar o Rio cheio as tres Cachoeiras, [?]
[?]. Tambaulni digo Tambacui Mirim, e Guassû Pe-
la imersaõ do primeiro Satelitede Jupiter achei que
a Longitude deste lugar hé 328- [?]30’ e a Lat. A=
30 21.4.5.21” – A 25
8’ L para S
116
[]Dia 20
Navegado o primeiro quartodeLegua passei a Cachoeira Tam[?]
batiririca, e tres leguas distantes desta vizinhança. Pouzei
com Sete leguas de marcha pouco acima da foz do Rio [?]
117
48v
Jacare, [?] quinze braças de largo, e de parte
Boriel, e oprimeiro que desta secai agoa no Tieté
A 8 18’ e L para S []Dia 21
Vencidos 3
1
/
4
de legua de navegação passei fronteando a foz do Rio Rio Jacaré
5 Jacaré guassu, digo, Mirim da mesma a parte do [?] Apipiramirim
74º do E par S.
[] Dia 22
Pouco depois de estar em marcha passei aCachoeira chamada
Congonha de legoa, e ½ de extençaõ, desta se segue o Sayré, o
10 Barueri guassú, e Mirim, e o Barueri comprihendidas em
Sete legoas [?] /11 que tanto naveguei neste dia=A=38º [?] E
para S []Dia 23
Aprimeira Cachoeira que passei, e que dista humalegoa
do ponto da partida foi achamada Itapuá, epouco depois a do
15 sitio e assim chamada, por estar fronteira ao Lugar chamado
Putunduva, ondejaouveraoMoradores, que ja se tinhao re-
tirado, por estarem muito longe do Porto Espiritual, e naõ
pela má qualidade dos matos, que, segundo se explicava hum
Pilouto que tambem este lugar tinha morado, e nao aque
20 [?] terras E com e effeito, se pelo copiado, e viçozo
das arvores, e pela grossura dos troncos se pode julgar de boa,
ou má qualidade da terra, possa dizer, que naõ será facil
achar melhores. Estatapera esta no principio de hum
estiraõ, em cujo fim esta huma Cachoeira chamada
25 do Estiraõ. A 51º E para S
Pela distanciade huma legoa a baixodopouzo,deixei tres passos
chamados.Miapancipia Mirim, e guassú, e dos Lençoes.Estes
possos saõ huns lugares muito fundos, e que tem dequinze
para vinte braças de profundidade, como me asseverva-
30 rias pessoas, que vem na minha companhia e que por vezes
se tem medido, naõ por curiozidade, mas porque nelles vem
118
pescar em tempo secco, como em viveiros de peixes, e
[†] Linha, de que uzaõ lhes mostra aprofundidade. Eu
os nao pude sondar pela violencia com que corria o Rio,
35 por estar com bastante agoa. Asseverou e tambem
hum Proeiro que por inteligencia dasCachoeiras, e porme
tido a letrado hé estimado dos mesmos Guias, e Pilotos
119
49r
e pilotos quenestes passos havia Maens d’ Agoa; cu
ja descripçaõ lhe[?], e , apesar denunca os ter
visto, me pintou hum Monstro mais horrendo
que aquelle que de [?]Horacio no principio da Suas Artes
5 Poeticas. Querendo eu distancio desta quimera ficou este
Homem a como se lhe tivera negado algum ponto
de Pé, e chegando se a mim com a testa franzida, com os O
lhos aregalados, e finalmente com todos os gestos de
hum furiozo Peripatetico, me disseque eu entendia muito
10 bem dos meos Relogios/ nome, que dava aos instrumen-
tos Astronomicos/, e que elle sabia mais, do que eu, o que
havia pelos Certoens pela experiencia, que tinha, e pelo
que tinha visto, e com isto deo principio a hum aten-
[?] tendentes todas aprovar a existencia
15 das Maens d’agoa pelo limiti d’outros inumeraveis,
e horrendos animaes, que dizia tenha visto, que eu vendo
que elle era capaz dequererde Herider aSeita das Ma
ensd’agoa, como os Mahometanos o seu Alcorão,
assentei comigo ser hum grande passo de prudencia
20 conformar me com a sua opini principiando, á quei
xarme daminha incredulidade, que sō com tomar, e
Soltar aRespiraçcauzaraõ grandes marés, que viamos,
propoziçaõ que abraçou e logo confirmou aexistencia de
Similhantes gigantes no fundo do mar, porque quando
25 esteve no Guatemem tinha ouvido Lerem hum Livro, que
naturalmente seria Carlos e Magno, que hum homem
correra algumas horas acavalo ápos de humaserva
pordentro da Canella de hum. Estanarração hé alhêa
d’hum Diário; mas a Repito para dezenfado, epara mos
30 trar que trabalho perdido o quererdes abuzar ahomens
Rústicos, e amuitos sábios e Herrados na sua opiniaõ, ou
teimozos por natureza. A effervecencia da agoa nestes
lugares cujo effeito atribuem estes homens a Mayd’a
120
goa provem do muito peixe, que nellas há, e principal.
35 mente de hum chamado Jaú que he de tal grandeza,
121
49v
grandeza, que meu primeiro Guia, que abrindo com hum
paõ abocca de hum, que matara, por ellapodia entrar
hum homem sem enxoucalhar os vestidos. Dei lhe crê
dito porque vi hum, que tinha sete palmos, e na Com
5 mitiva vinhaõ mais testemunhas de vista; eporque
finalmente em dous mezes decommunicaçaõ tenho
observado que o Guia he homem, que nem por graça
deixa de fallar verdade, virtude, que raras vezes se en-
contra, principalmente em homens de similhante
10 profissaõ.
Com tres horas denavegação, passei a Cachoeirinha do Ban- Monte
haron e pouco acima hum posso domesmonome. Hum quar Arara=
to de Legoa acima deste posso, e da parte concova daenseada quara
se avista adistancia de tres legoas p ara N.E. huns montes,
15 que lhe chamaõ d’Araraquara, que pela tarde, quando
lhe bate o Sol Representaõ huma grandecidade. Por estas
este Planeta entre nuvens, naõ logres deita delicioza
6 ¼ prospectiva. He tradição, que neste montes há muito ou
ro, varias pessoa tem tentado chegar aelles, e naõ tem
20 conseguido pelos muitos pantanaes, e obstacolos, que en-
contraõ; mas eumepenso a do que esta tentativa tem si-
do feita por homens puzilassimes, e fracos certanistas;
pois naõ hé cruel que entres legoas de terreno possa
haver obstaculo, que com tempo o trabalho se naõ ven R.
o
de
25 ça. Pouzei meia legoa acima do Rio Piracicabá, que Piracicaba
despeija as sua agoas pela margem Boreal por hu-
ma abertura de vinte e oito braças A=15º
½
d’E pa-
ra S.
[]Dia 25
30 Com a perda das agoas do Rio Piracicaba se Reduzio
7 ½ a Largura do Tieté a quarenta braças, largura, que pade
ce suas alternativas para mais, e para menos; mas nem
122
porisso ficou mais baixo, antes tão fundo que so na-
vegamos á Remos e a ganchos, ecustando muito a vencer
35 a sua correnteza por falta dos baixios, que há pelo Leito
do Rio, que tenho navegado, passando de extremo aeste,
mo já muito fundo, e já taõ baixo, que apenas sepo-
123
50r
se pode navegar; o que faz, que as Cannoas de ne
gocio, por virem carregadas gastem mais tempo
em adescer, do que aquellas que se recolhem Qua
zi vazia e subir corre o Rio por entre Ribanceiras
5 muito altas. Passei apiquena Cachoeira do [?]. A
15º de E. para S.
[]Dia 26
Neste dia naveguei quatro legoas e meia; por medemorar
Sinco horas e meia em matas, esperar, que surgissedo
10 fundo do Rio huma Antha, que no fim dequatro ho-
ras appareceu com grande alegriade todos, em que eu
tambem tive parte; porter com que fazer o meu ban-
quete de post diem de Nascimento do Nosso Redem
ptor ja que o de ontem consistio no panem nostrum
15 quotidianum; que hé o feijão capaz ainda de ter filhos,
e neptos, e em Bogio cozido, em Bogio com arroz, e em
Bugio moqueado, cujo papo comi, por ser aparte mais
saboroza deste [?]. Todos os Rios, desde o Coxim
inclusive, entrando tambem o Tieté, tem muita abun-
20 dancia de Anthas, chamadas Russas, que saõ dagran
deza de huma mediana vaca, e no gosto muito melho-
res. [?] 4º d’ L para S.
[]Dia 27
Passei dous grandes Ribeiroens, vindos dapartedo Meio dia,
25 o primeiro chamado Ituacatu, e o segundo sem nome,
e distante do primeiro huma legoa, e tres quartos. Dexei
tambem o [?] pão [?]. A
32º d’E para S.
[]Dia 29
30 Sete legoas e meia naveguei neste dia comprihendendose
nellas o posso Paquaranxim, o Ribeiraõ da Onça, a Ca
choeira da Pedemira de ½ de legoa de extenção o Rio
124
Soroaba da margem Meridional, dos Rios Capivary
mirim,[?] pela aposta; e comprihendido estes
35 tres Rios no espaço dehuma legoa, duas Cachueiras
chamada Hapema guassu emirim, e hum porto do
mesmo nome ª2[?] d’E para S.
Fig. 29– Diário de Viagem (fólio 50v - Vol. III).
125
50 v
[]Dia 29
Passei as Cachoeiras de Malhas, Tieté, e de Garcia, e tres po
sos, Supupema mirim, e Guassu, e o Curaçá, e pouza de fren-
te do primeiro sitio deste Rio Tieté com[?] de
5 vinte legoas, e hum quarto. A 35º d’ L para S.
[]Dia 30
Todo este dia naveguei por entre infinidade de sitios fun
dados em ambas as margens do Rio, e tamcontiguos, que
naõ sei como os Moradores tem terras para se cultiva-
10 rem se he que necessit dellas; pois pelo que vi, vivem
a maior parte em humacontinuada criacção e preguiça.
Naõ so deixei de admirar a multidão de Rapazes, que no
Terreiro de cada huma das Cazas se ajuntavaõ para ver
passar a Cannoa, oque mostra muito bem a bondade do
15 clima, naõ so pela fecundidade das mulheres, mas taõ-
bem pela nutr boa, e cores dos mininos, e muito prin-
cipalmente pelos poucos, que em taõ tenra idade fales
sem, pois pela sua sucessiva altura se conhece a suc-
cessiva idade, ou nascimento de cada hum. Passei seis
20 cachoeiras, pirigozas, o Pirapora mirim a Itagasaba mi-
rim, e quen[?], e foz alto com andamento de quatro lê-
goas e hum quarto. A 17º d’L. para S.
[]Dia 31
Com o fim do ano dei tambem fim aminha navegaçaõ
25 tendo passado pela Cachoeira do Machado, Tiririca, Ita
nhá, e Avarandanduava, Iurumiry, e Acanguera ultima
e a cento e treze que há nestes Rios athe Araritaguaba
em cujo Cartozes fundo
126
51r
que [?] do Excelentíssimo Senhor meu Gene-
ral, Recebi no dia Sete a Carta Seguinte do Capi-
tão Mor da Villa de Itú
[] Copia da Carta
5 Senhor Doutor Francisco Joze de Lacerda.
C. Muitissimo e Excelentessimo Senhor Bernardo José
de Lorena meu amabilissimo General he servido deter
minar-me, que da sua parte mande eu dizerá vossa mer
ce, que logo que Recebereste avizo, seponha em marcha,
10 e vá em [?] aprezentarselhe, sem que em ami-
nimacouza continue vossa mercê adiligencia, deque
pelo seu Excelentissimo General estaencarregado. As
sim espero ocumpra vossa mercê, aquem Deos guarde
muitos annos. Itú SetedeJaneiro de mil Sete Centos
15 oitenta e nove. De Vossamerce-Muito obsequiozo
venerador. Vicente da Costa Taques Góes e Aranha
Em virtude destaOrdem mepuzem marcha no dia oito
e cheguei acidade de Sam Paulo no dia dez, e logome a
prezentei a S. Ex
a
que me ordenou naaõ fizesse opera-
20 çaõ alguma geometrica, e Astronomica na sua Capita.
nia, naõ obstante saber que eu era Portuguez, e natu-
ral desta cidade, que naõ era espiaõ, e que finalmente
eu estava empregado por sua Magestade Fidelissi-
ma nas Demarcaçoens dos Reaes Dominios em
25 Villa Bella de Mato Grosso: apezar das minhas ins-
tancias naõ me tem [?], e concedido adezejada
Licença de dar cumprimento a ordens, que tenho.
Latit. Da Cid
e
de S. Paulo = 23º 3[?]. 58 = ª
Log................................... 3’30 5[?] 3
o
30 Mar. N. E ........................ 7’15.
127
51v
Boca do Taquary lat. A=19’15’16 32
o
-28.18.8/E=9º37.
Nolugar em que pernoitei no dia [?] de [?] 18-12-58
Bocado Rio Cuxim................................. 18’33.58=322.3’l=18
Onde pernoitei no dia 16 de Dez
bro
.............. 19.3.16
5 [?]............................................. 19.35.11=323.38,45=9º.22
[?]................................................... 20.5
ondepernoitei a 19 de Dez
br
.................. 21.45.11=318.21.30
S. Paulo 25 de Maio de 1789 annos
D
r
Francisco Joze de Lacerda e Almeida
10 [] Joaq
m
Joze Cavalc
te
de Albuq
e
Lins.
Fig. 30 – cópia da carta no final do Diário de Viagem (fólio 51r - Vol. III).
128
IV – ANÁLISE DA PONTUAÇÃO
No campo das pesquisas lingüísticas e filológicas, autores como Mattos e Silva, Melo,
Azevedo Filho e Mattoso mara Jr. apresentaram pesquisas abrangendo áreas como a
Fonética e Fonologia, a Morfologia e a História da ngua. Contudo, a maioria dos trabalhos
refere-se ao período arcaico, quando em continuidade ao latim o galego-português cedia
espaço para o português lusitano, do qual herdamos nossas raízes.
A análise da pontuação é parte integrante deste trabalho. Por não ser o foco único, e
sim complementar, apresenta-se apenas um estudo preliminar da pontuação no período
setecentista, uma proposta de descrição de ocorrências, uma tentativa de definição das normas
que sustentavam a produção escrita no contexto pesquisado. Por essa razão, tratar-se-á apenas
de forma objetiva cada item conceitual que servirá de baliza para a análise.
4.1 O conceito de pontuação
Assim como rias definições e, especialmente na gramática normativa, prescrições no
uso da língua, a pontuação tem sido tratada de forma incoerente e confusa nos estudos
contemporâneos. Isso decorre da confusão de critérios para atribuir a cada sinal gráfico uma
função específica e adequação de uso. Os critérios podem ser sintáticos, prosódicos,
semânticos e gramaticais.
Lima (2005:12) apresenta uma discussão relevante sobre o conceito e itinerário
histórico da pontuação, tratando destes critérios, na visão de alguns autores como Câmara Jr.
(1985), Sacconi (1994), Dubois (1998) e Catach (1996). Sendo assim, apresenta uma
definição que serve de base para seu trabalho, Estudo contrastivo da pontuação em dois
testemunhos da obra medieval espanhola <<Memorial de Jesucristo>> (Lima: 2005), a qual
faço referência e considero norteadora para realização desta pesquisa, pois atende também ao
contexto do trabalho.
...entende-se aqui por pontuação o sistema constituído
por sinais próprios da língua escrita, que tem por objetivo
organizar as estruturas nos veis sintático e semântico, e que
mantém uma certa relação com a prosódia, visto que, por meio
de alguns sinais, são representadas na escrita algumas
particularidades da língua falada, como, por exemplo, a
129
entonação ascendente, pelo ponto de interrogação; ou a
descendente, pelo ponto-de-exclamação (Lima:2005,13).
4.2 Itinerário Histórico
De acordo com Acioli (1994:53), atribui-se a criação dos sinais de pontuação ao
gramático grego Aristófanes, nos meados do século III a.C. A princípio o sistema baseava-se
exclusivamente no ponto, cuja posição indicava o tipo de pausa (se breve ou longa). Com
valor de pausa breve (atual rgula) era conhecido como Koma para os gregos e incisum para
os romanos. Como pausa longa (ponto parágrafo ou final) os gregos chamavam-no de Kolon e
os romanos de membrum.
Por volta do século VI, algumas escritas conhecidas como nacionais, a Visigótica, por
exemplo, apresentavam outros sinais de pontuação: o ponto e rgula (colocava-se a vírgula
acima do ponto, assemelhando-se ao atual sinal de interrogação); os dois pontos (usados
primeiramente nas abreviaturas latinas); o sinal de interrogação (constituído de linha reta
perpendicular com ponto embaixo, parecido com o atual ponto de exclamação) e, raramente, o
sinal de admiração (consistindo num círculo com um ponto em seu centro).
Na escrita Carolina o uso dos sinais de pontuação restringiu-se, quase sempre, ao
ponto. Depois, na escrita Processada, as pausas na leitura passaram a ser indicadas por um
travessão oblíquo ( / ) e, quando no término do parágrafo ou do texto, por travessões duplos.
Nessa pesquisa, apenas quatro tipos de pontos são analisados: o ponto final, a vírgula,
o ponto e rgula e os dois pontos. Assim, destacar-se-ão alguns dados relevantes quanto à
evolução histórica destes sinais.
Diz Lima (2005:22)
8
, que os primeiros tigrafos reproduziam as formas dos sinais
que constavam nos manuscritos que copiavam e a maioria utilizava três pausas representadas
pelo punctos, virgula e interrogativus; outros sinais dependiam da natureza do texto. O
processo de talhe de tipos era especializado, lento e dispendioso. Como os talhes para os
sinais de pontuação eram cortados junto com o resto da fonte, as formas de pontuação foram
disseminadas com os tipos. Assim, os tigrafos, ao contrário dos escribas, poderiam
gradualmente atingir um grau de padronização nas formas dos sinais de pontuação usados ao
longo dos séc. XVI e XVII na Europa.
8
Citando Parkes (1993).
130
No séc. XVI, disponibilizou-se um amplo conjunto de sinais de pontuação para todos
os tigrafos, o que diminuiu a discrepância entre as práticas de diferentes impressores. As
novas convenções foram estabelecidas e disseminadas mais rapidamente por meio de livros
impressos do que por manuscritos, devido ao mero de cópias idênticas produzidas pelo
novo processo. A circulação de múltiplas pias com pontuação idêntica levou a uma ampla
disseminação de textos que poderiam servir como modelos.
Lima (2005:27) também destaca que, no século XVIII, a interação entre a análise
lógica e a retórica foi afetada pelas investigações filoficas de John Locke e pelos
elocucionistas. Os elocucionistas se concentraram na parte do sistema tradicional da retórica
que focalizava a transmissão oral, enfatizaram a importância da voz e da gesticulação na
transmissão dos diálogos e da leitura da liturgia e argumentaram a favor da superioridade da
língua falada sobre a escrita. O confronto dessas idéias encorajou tentativas de representar o
fenômeno do discurso falado, com o emprego da pontuação para indicar unidades
"declamatórias" ou "elocutórias", em que o falante ou leitor deveria pausar para causar o
efeito desejado. Assim, observou-se que, nos textos dos elocucionistas, a função mais
evidente dos dois-pontos e do ponto-e-vírgula era a de indicar pausas maiores que as vírgulas.
No século XVIII, ocorreu o desenvolvimento de convenções especiais envolvendo a escolha
de vocabulário e características sintáticas para a representação da língua falada.
No Brasil, comenta Melo (1975:143) que, por volta do século XVIII, a língua usada
pelos escritores apresentava tros bem definidos, pois a ão das bandeiras favoreceu a
unidade na fala popular. Pode-se dizer que a construção portuguesa se caracteriza pela grande
riqueza, variedade e liberdade, resultantes de um conjunto de fatores histórico-culturais. Nisso
concordam Melo (1975), Mattoso Câmara (2004), Teyssier (1982), Coutinho (1976) quando
reconhecem ser nossa sintaxe uma continuação da sintaxe do latim vulgar e da românica, a
qual recebeu influência incontestável latino-clássica, mas também soube desenvolver
tendências próprias e incorporar estrangeirismos. Além disso, em comparação com outros
idiomas, poucos têm sido os fenômenos de arcaização (Melo:1975).
Lima (2005:79) comparou diversos estudos sobre a pontuação e concluiu que o critério
sintático foi utilizado por todos os lingüistas, em maior ou menor grau, mesmo não o
declarando diretamente, para descrever as ocorrências.
Os papéis ou funções desempenhadas pela pontuação na análise dos autores, sob a
perspectiva de Lima (2005) apontam: separadores, esclarecedores e diferenciadores (Roudil:
1981), especificadores (Aufray: 1981), separadores, coordenadores, apresentadores e
indicadores (Ferreira: 1986).
131
É interessante a apresentação dessas funções, especialmente porque Lima (2005) segue
além em sua análise, destacando também alguns autores modernos e, no foco de sua pesquisa,
gramáticas tradicionais de língua espanhola. Sua pesquisa segue-se resumindo importantes
contribuições sobre o papel da pontuação no seguinte quadro (Lima 2005:81, quadro 10):
Tabela 4.1 – O papel da pontuação.
Papel Gramáticas Estudos Modernos Estudos da
Pontuação
Medieval
Indicadores X X X
Separadores,
limitadores ou
delimitadores
X X X
Apresentadores X X
Especificadores,
sinalizadores ou
diferenciadores
X X X
Organizadores X
Segmentadores X
Coordenadores X
Esclarecedores X
Muito embora se tenha discutido
9
a influência da oralidade no uso da pontuação,
compreender o papel ou função da pontuação é essencial, pois, como veremos, muitas
ocorrências dentro dos manuscritos editados estão intimamente relacionadas a fenômenos de
natureza semelhante à descrição dos autores compreendidos no trabalho de Lima (2005),
como a estruturação do parágrafo na ausência de conectivos que estabeleçam a progressão
textual e a relação entre períodos.
Para o foco deste estudo considera-se a análise bibliográfica de Lima (2005) relevante
no sentido que marca as relações sintáticas e discursivas, e, ainda, prosódicas.
A partir dessas considerações e pressupondo que o critério sintático sobrepõe o critério
prosódico, foram selecionados apenas um lio do Tratado, uma carta e 1 lio do diário para
9
Para discussão mais profunda neste aspecto, consultar (Lima, 2005).
132
análise. Este recorte permitirá uma descrição mais objetiva, considerando apenas uma amostra
dos corpora.
4.3 A frase e o período
Especialmente, no que tange à morfologia e sintaxe, a evolução que se processa do
latim ao galego-português é semelhante à que ocorre em outras nguas românicas, em
particular o castelhano. Conforme considera Teyssier (1982:16, 17), a declinação nominal
simplifica-se e acaba por desaparecer: sobrevivem apenas duas formas oriundas do acusativo
latino, uma para o singular e outra para o plural. Acrescenta, ainda, o autor:
As relações que o latim exprimia pelas desinências casuais são
agora expressas por preposições ou pela colocação da palavra
na frase. Os gêneros, com a supressão do neutro, reduzem-se a
dois e, por fim para compensar o empobrecimento da
morfologia nominal, a ordem das palavras torna-se mais
rígida.
Os textos das correspondências e suas estruturas frasais diferem da liberdade com que
se expressa a narrativa-descritiva do diário de viagem. Também, há certo distanciamento entre
as datas de produção dos textos analisados. O Tratado é de 1777, as cartas de 1783 e o diário
de 1788-1789. Considerando-se o relativo curto período entre os textos, apenas 12 anos,
pressupõe-se pouca diferença no uso dos sinais de pontuação, fato que o é corroborado,
principalmente quanto à quantidade de ocorrências encontradas nos textos.
A ordem conhecida e concisa do Português atual (sujeito + verbo + complemento) é
representada nos textos, principalmente em períodos únicos e longos, compostos por
mecanismos de coordenação e subordinão. Os períodos simples são menos freqüentes.
Assim, os diversos termos e frases são ligados apenas por vírgulas, na falta de síndetos (como
conhecemos na atualidade) que efetuem a progressão dos textos. Por vezes, o leitor se perde
na identificação do sujeito a que se referem os inúmeros complementos. Contudo, percebe-se
uma tentativa de manter a continuidade do texto, recorrendo-se a gerúndios, infinitivos e
133
demais expressões, adverbiais ou não, que cumprem a função conjuncional. Esse dado está
presente em todos os corpora, mostrando-se um padrão da época.
Compare-se a estrutura dos períodos nos textos escolhidos:
[
]Dia 25
30 Com a perda das agoas do Rio Piracicaba se Reduzio
7 ½ a Largura do Tieté a quarenta braças, largura, que pade
ce suas alternativas para mais, e para menos; mas nem
porisso ficou mais baixo, antes tão fundo que so na-
vegamos á Remos e a ganchos, ecustando muito a vencer
35 a sua correnteza por falta dos baixios, que há pelo Leito
do Rio, que tenho navegado, passando de extremo aeste,
mo já muito fundo, e já taõ baixo, que apenas sepo-
se pode navegar; o que faz, que as Cannoas de ne
gocio, por virem carregadas gastem mais tempo
em adescer, do que aquellas que se recolhem Qua
zi vazia e subir corre o Rio por entre Ribanceiras
muito altas. (diário de viagem, fl 49v e 50r)
Sua Magestade Catholica,em seu Nome, ede
25 Seus Herdeiroz, e successorez, cede afavor de Sua Mages-
tade Fedelissima, de seus Herdeiroz, eSuccessores, todos, equa
es quer Direitos, que lhepossaõ pertencer aos Territorioz, que,
segundo vay explicado neste Artigo, devem pertencer á Co-
roade Portugual. ( Tratado de Santo Ildefonso, fl 13r)
[parágrafo] Na ocaziaõ prezente remeto aV.Ex.
ca
adiferença
meridional doFortedo Principe da Beira para o Occid.
e
de Paris
emtempo, para que meucompanheiro D.
r
Pontes, ou os mesmos
21 officiaes Engenheiros de duzam desta diferença averdadeira
Longitude, conforme aoque V.Ex.
ca
determinar. (carta, f 8v)
134
Lima (2005:96) apresenta o trabalho de Machado Filho
10
(1999), o qual examinou
diferentes documentos que representam a primeira fase do período arcaico da língua
portuguesa O Livro das Aves, O Testamento de Afonso II (1214), os Diálogos de São
Gregório dos séc. XIV e XV, e um flos sactorum, constituído pela Vida de Santa Pelágia e
Vida de São Simeão buscando conhecer os elementos lingüísticos que interferiam e
condicionavam o uso da pontuação em manuscritos medievais em língua portuguesa,
demonstrando de maneira sistemática as possíveis relações entre os elementos detectados e
sua regularidade de uso ( Machado Filho 1999:13 apud Lima 2005: 74).
Em resumo, a pesquisa deste autor apontou segundo Lima (2005:74) a possibilidade
de ocorrências de sinais de pontuação nas mais diversas fronteiras do enunciado, não somente
no âmbito da coesão sintática, mas também no sentido de uma marcação prosódica
influenciada pela língua oral. Nesse sentido, o parâmetro de análise de Machado Filho (1999
apud Lima: 2005) foi a normatização atual da língua, a fim de avaliar o grau de
distanciamento, ou não, de uso entre os dois pontos sincrônicos.
O lingüista concluiu que a pontuação medieval portuguesa registrada
nos manuscritos analisados por ele demonstrou uma sistemática bastante
regular em relação ao emprego do ponto seguido de maiúscula, que era
constituída por um “espólio de sinais de diferentes sistemas antigos
perpetuados pela tradição ao culto latino e “parecia transitar entre uma
utilização lógico-gramatical e um emprego provavelmente apoiado em
características da língua falada”(Machado Filho, 1999:91). Verificou que
existe uma correspondência do sistema de pontuação medieval com uma
lógica gramatical moderna e apresenta trechos de testemunhos nos quais se
poderia substituir, por exemplo, o ponto de vista do sistema de pontuação
moderno. Exemplifica também casos que não seriam aceitos se observados
sob a perspectiva da sintaxe contemporânea, o que levaria à falsa idéia de
que a pontuação medieval é “assistemática” ou até mesmo “indiligente”. Do
total de sinais, constatou que menos de um terço não teria correspondência
com o sistema moderno, isto é, não poderia ser substituído por nenhum sinal
de pontuação contemporânea (2606 sinais que apresentam correspondência
com a pontuação moderna, o que representa 69,7% contra 1131 sem
correspondência, 30,3% das ocorrências) ( Lima 2005:74, 75).
10
Embora as demais pesquisas de outros autores citados por Lima (2005) destaquem também o estudo da
pontuação, esses são gerais e variam entre línguas estrangeiras. A obra de Machado Filho tem especial
relevância para o foco dessa pesquisa.
135
Passemos agora para uma análise mais detalhada, considerando os estudos de Lima
(2005) e Machado Filho (1999 apud Lima: 2005).
4.4 Descrição da Norma que caracteriza os manuscritos
Em todos os textos há quatro tipos de pontuação: o ponto final [.], a vírgula [,], o
ponto e vírgula [;] e os dois pontos [:].
Retomando os papéis descritos por Lima (2005), sabemos que a pontuação na
perspectiva de autores modernos pode funcionar como:
Indicadores de termo das estruturas escritas ou aspectos métricos do ritmo, as
marcas do discurso;
Separadores, limitadores ou segmentadores de termo ou sintagmas das
estruturas escritas;
Apresentadores que introduzem ou apresentam enumerações e citações
textuais;
Especificadores que destacam determinadas palavras ou trechos textuais,
alguma característica particular;
Organizadores responsáveis pela organização sintática.
Interpretando as ocorrências no interior do Tratado encontramos grande incidência de
casos da função indicadora da rgula. Muitos termos que não deveriam ser separados por
servirem de complementos verbais e nominais revelam provavelmente marcação prosódica.
Para evitar generalizações, especificamente, foi analisado o fólio 11v, com 64 rgulas, 5
ocorrências de ponto-e-rgula, 3 de dois-pontos e 2 pontos finais.
Neste fólio, encontramos:
(...osincero dezejo...)
de extinguir
as discórdias /, / que tem havido /, / entre as duas Coroas de Por-
2 (função indicadora e especificadora: destaque aos termos)
tugal /,/ eHespanha /,/ e Seus respectivos Vassallos /, / no espaço de quazi
3 (função indicadora de pausas e segmentadora)
trez Séculos /,/ Sobre os lemites dosSeus Dominios daAmerica /,/ eda
136
2 ( função indicadora: natureza sintática e discursiva dos termos)
Azia /: /para lograr este importante fim /,/ eEstabelescer perpetua mente
1 (função apresentadora e organizadora) 1 (função indicadora: hierarquia entre os
termos)
a harmonia /,/ amizade /, / eboa intelincia /, /que correspondem ao estreito
3 (função indicadora de pausas e segmentadora)
Parentesco/,/ eSublimes qualidades de tAltos Princepes /,/ ao Amor re-
2 (função indicadora e especificadora: destaque aos termos)
ciproco que Seprofessaõ /,/ ao interesse das Naços /,/ que feliz mente govern/: /
2 (função indicadora de pausas e segmentadora) 1 (função apresentadora e
organizadora)
tem resoluto /; /convindo /; / eajustado opresente Tratado Preliminar /,/ que
2 (função indicadora e especificadora: destaque ao termo) 1 (função delimitadora)
servirá de base /,/ efundamento ao Difinitivo deLimites /, / que se hade es-
2 (função delimitadora)
tender aseu tempo /,/ com aindividuaçaõ /,/ exacçaõ /,/ enoticias necessárias /; /
3 (função indicadora de pausas e segmentadora) 1 (função especificadora: destaque ao
termo)
mediante oqual se evitem /, / eacautelem para sempre novas disputas /,/
( função delimitadora e indicadora: natureza sintática e discursiva dos termos)
esuas conseqüências /./ [] Para efeito pois de conseguir taõ importantes
1 (função indicadora de pausa maior e organizadora sintática)
Objectos /,/ nomeou por parte de Sua Magestade a Raynha Fedelissima /, /
2 (função indicadora de pausas e segmentadora)
por seu Menistro Plenipotenciário /,/ oExcelentissimo Senõr D. Fran-
1 (função apresentadora e organizadora)
cisco Innocencio deSouza Coutinho /, /Comendador na Ordem deChris-
1 (função apresentadora e organizadora)
to /, /do Conselho deSua Magestade Fedelissima /,/ eSeu Embaixador jun-
2 (função apresentadora e organizadora)
to aSua Magestade Catholica /;/ epela de sua Magestade El
1 ( função delimitadora e indicadora: natureza sintática e discursiva dos termos)
Rey Catholico /, / por Seu Menistro Plenipotenciario /, /oExcellentissimo
2 (função apresentadora e organizadora)
137
Senõr Joseph Moñino /, /Conde de Florida Branca /,/Cavalleiro
1 (função apresentadora e organizadora) 1 (função indicadora de pausas e
segmentadora)
da Real Ordem de Carlos III doConselho de Estado de Sua Magesta-
de /, /Seu Primeiro Secretario deEstado /,/ edo Despacho /,/ Superintenden-
3 (função indicadora de pausas e segmentadora)
te Geral de Correyos /,/ Terrestres /,/ e Marítimos /,/ edas Postas /,/ eRendas
4 (função indicadora de pausas e segmentadora)
deEstafetas em Espanha /,/e Indias /:/ Os quaes depois de haver-se co-
1 (função indicadora de pausas e segmentadora) 1 (função apresentadora e
organizadora)
municado os seus Plenos poderes /,/e de havelos julgado expedidos em boa /,/
2 (função indicadora e organizadora)
edevida forma /,/ conviernos Artigos Seguintes /,/ regulados pelas Or-
2 (função indicadora e organizadora)
dens /,/ e intenços deSeus Soberanos /./
1 (função indicadora) 1(função indicadora de pausa maior e organizadora sintática)
[] Artigo – I - []
Haverá huma Páz Perpetua /, / e constante /,/ assim por mar /,/ como
3 (função indicadora de pausas e segmentadora)
por terra /, / em qualquer parte do Mundo /, / entre as duas Nasços /, / Por-
3 (função indicadora de pausas , segmentadora ou limitadora)
Tugueza /, / eEspanhola /,/ com esquecimento /,/ total do passado /,/ e dequanto hou-
4 (função indicadora de pausas e segmentadora)
verem obrado as duas em ofença recíproca /; / ecom este fim /,/ rateficaõ os
1 (função apresentadora e organizadora) 1 (função indicadora de pausas e
segmentadora)
Tratados de Paz /,/ de 13 de Fevereiro de 1668 /,/ de 6 de Fevereiro de
2 (função indicadora de pausas e segmentadora ou delimitadora)
1715 /, / ede 1. de Fevereiro de 1763 /,/ como sefossem insertes neste /, /
3 (função indicadora de pausas e segmentadora ou delimitadora)
Palavra /,/ por palavra /,/ em tudo aquillo que expressa mente sede
2 (função indicadora de pausas e segmentadora)
138
Assim:
Tabela 4.2 – FUNÇÕES/SINAIS.
FUNÇÕES/ SINAIS Ponto Vírgula Ponto-e-
vírgula
Dois pontos
Indicadores
2 (100%) 50 (78%) 04 (80%) -
Separadores,
limitadores ou
segmentadores
- 40 (62,5%) 03 (60%) -
Apresentadores
- 07 (10,9%) 01 (20%) 3 (100%)
Especificadores
- 04 (6,25 %) - -
Organizadores
2 (100%) 09 (14%) 01 (20%) 3 (100%)
A rgula no Tratado tem função mais indicadora (78%) de pausas e segmentadoras
(62,5%). Isso implica numa relação mais direta com a prosódia que a estrutura sintática do
texto. Por outro lado, ao segmentar e hierarquizar os termos, indicando a natureza de suas
relações, segue além, apresentando (10,9%), especificando (6,25 %) e organizando (14%)
estruturas mais complexas dentro dos períodos.
O ponto e vírgula, mesmo indicando (80%) pausas e a natureza dos termos,
segmentando (60%) estruturas maiores, também podem ser apresentadores (20%) e
organizadores (20%). O ponto final apenas marca uma pausa maior e organiza sintaticamente
a distribuição dos períodos. Os dois pontos, além de organizadores textuais, servem
principalmente como apresentadores de expressões explicativas e esclarecedoras, envolvendo
o nível discursivo do texto.
Vejamos como se comportam esses sinais em amostras de uma carta e do
Diário de Viagem.
Descrevendo a carta...
Fl. 5v
139
Reg.
o
dehumacarta de SEx
ca
p
a
o Mathematico oD
r
Francisco Jose deLacerda sobre varias materias Relativas
Recebi aConfiguraçaõ que VMC meremete do Leito do Rio Itona
Mas [que acho muito propria] como tambem a Latitude em que
Podeobservar aMissaõ deSantaMaria Madalena /, /cujos monumentos
1 (função indicadora, apresentadora e organizadora)
Entreguei desdelogo aoCap.
an
Ricardo Franco [†] para servirem nacarta
que lhetenho encarregado delevantar /; /estimando sumamente
1 (função indicadora, apresentadora e organizadora)
que orestabelecimento das molestias de VMC naõ lhepermi-
tisse aquella util degreçaõ /; / mas haja depermitir as outras q.o
1 (função indicadora, apresentadora e organizadora)
me anuncia /, / e que ja detremineis de penetrar quando for possível /;/
2 (função indicadora, segmentadora, apresentadora e organizadora)
nao só pelo Bauris mas pelo Mamoré /: / Oponto estará em que os
1 (função apresentadora e organizadora)
Espanhoes o naõ embaracem, nem ainda estranhem /: / Pelo que hade
1 (função apresentadora e organizadora)
ser necessario metersempre em úzo alguns extratagemas /, /ou apa
1 (função indicadora, segmentadora, apresentadora e organizadora)
rencias muito diverças /,/ sigundo tendo advertido que imponham de
1 (função indicadora, segmentadora, apresentadora e organizadora)
alguma sorte aosditos Espanhoes /./
1 (função indicadora de pausa maior e organizadora sintática)
[parágrafo]Agora faço remeter aVMC o Oculo Astronômico /,/
1 (função indicadora, segmentadora e organizadora)
dezejando que possa repetir aobservaçaõ desse primeiro Satelite emfor=
ma que o calculo daverdadeirasituaçaõ geographica do importante
ponto dessa Fortaleza /,/ se aproxime /,/ ou detremine omais que for
2 (função indicadora, segmentadora)
possivel /;/ eassim mesmo quaesquer outros interessantes porondeVMC
140
1 (função indicadora, segmentadora e organizadora)
passar /,/ bem persuadido alias de que VMC naõ omitirá pelo seu claro
1 (função indicadora, segmentadora e organizadora)
desentendimento de apontar sempre quaes quer memorias[?] /, / ou
1 (função indicadora, segmentadora e organizadora)
Historias quelheparecerem dignas
[parágrafo] Naforma darecomendaçaõ de VMC arespeito=
agora afaço tambem para Lisboa com todo o empenho /, / pelo q' tenho /,/
2 (função indicadora e segmentadora)
naõ desatisfazer aVMC mas anecessidade urgente q'suponho
das ditas Taboadas para asobservaçoens Celestes que sedeveraõ repe
tir pozitivamente
[parágrafo] Nocazo de que esseIndio doPara pornome Albino
daCosta em que VMC mefalla queira muito espontaniamente
ficar naSuaCompanhia /; / convenho nisso deboavontade /:/ efico
2 (função indicadora, segmentadora, apresentadora, especificadora e organizadora)
esperando assuasboas noticias com repetidas ocazioens delhe
dar gosto /. / D
os
Guarde aVM
ce
. m. anñ. V.
a
Bélla 2deAbril de
1 (função indicadora de pausa maior e organizadora sintática)
1783= Luizd'AlbuquerquedeMello Pereira eCaceres= jos
D.
or
Francisco Joze de Lacerda eAlmeida.
Ant.o Felippe da Cunha
Analisando as ocorrências...
O registro dessa carta apresenta 2 pontos finais, 5 ocorrências de ponto-e-vírgula, 3
dois pontos e 11 vírgulas. O quadro abaixo destaca as funções desempenhadas pelos sinais:
141
Tabela 4.3 – Análise das ocorrências.
FUNÇÕES/ SINAIS Ponto Vírgula Ponto-e-
vírgula
Dois pontos
Indicadores
02 (100%) 10 (90,9%) 05 (100%) 01 (33,3%)
Separadores,
limitadores ou
segmentadores
- 09 (81,8%) 03 (60%) 01(33,3%)
Apresentadores
- 03 (27,2%) 04 (80%) 03 (100%)
Especificadores
- - 01(20%) 01(33,3%)
Organizadores
02 (100%) 06 (54,5%) 05 (100%) 03 (100%)
Argula neste registro também tem função mais indicadora (90,9%) de pausas e
segmentadoras (81,8%). Pressupõe-se certa correspondência com a oralidade, contudo, o
padrão das ocorrências revela um diferencial: elas exercem destacável função na organização
sintática dos períodos, apresentando termos de ordem explicativa e organizando (54,5%) as
relações hierárquicas entre os termos dos períodos.
Os casos de ponto e rgula servem melhor para a indicação (100%) de pausas e a
natureza dos termos, segmentando (60%) estruturas maiores, também podem ser
apresentadores (80%) e organizadores (100%). Nos dois últimos casos, merecem especial
atenção, pois se pode levantar a hipótese de mudança das fuões quanto à natureza do texto:
carta.
O ponto final exerce as mesmas funções descritas anteriormente: indicador de pausa
maior e organizador sintático (100%). Os dois pontos variam sensivelmente de funções
quanto às ocorrências do Tratado: 100% dos casos permanecem como apresentadores de
termos de origem explicativa e organizadores da estrutura sintática. Por outro lado, são
segmentadores, indicadores de pausas e segmentadores (33,3%).
O Diário de Viagem...
Fl. 45r
de extenç passey o banco que se [?] imediatam
e
142
varando se a Canoa por terra pela distancia de 57
braças /: / segue dequazi a [?] Negra a do Matto
1 (função indicadora, segmentadora, apresentadora e organizadora)
o Salto de Cajuru onde se siga a Canoa por hum
estretissimo Canal que forma huma ilha m
to
conti
gua a margem Meridional /,/ e Caxoeira vistoza porque o
1 (função indicadora e segmentadora, organizadora)
Ryo com bastante largura se precepita pela altura
de 3 braças e /
2
formando varias Caxoeiras que m
to
bem
se divisa d´huma praya que estâ abaixo della. Di-
pois deste salto estā o Cajuru Mirim /,/ a Caxoeira da
1 (função indicadora e segmentadora, organizadora)
Ilha ultima, e a 33 deste Ryo 36 /
2
de E p
a
S
[]Dia 30
passei hoje pelas dezembocadeiras dos dois Rios cha-
mados Orelha d´e Anta /,/ e Orelha d`Onça que dezaguam
1 (função indicadora e segmentadora, organizadora)
pella margem Boreal /;/ e distante hum d´outro tres legoas
1 (função indicadora e segmentadora, organizadora)
e /
2
e a primeira 3 legoas do ponto da partida e 6
o
de E p
a
S /./
1 (função indicadora e organizadora)
[]Dezembro dia 1º
Sendo decido 5 legoas passey pela confluencia do
Ryo Anhanday guassu de 18 braças de largura que
vem do Ocidente /, / athê este ponto tem o Ryo corri-
1 (função indicadora e segmentadora, organizadora, apresentadora)
do pelo Rumo geral de S. E. Mas do d.
o
Ryo para
baixo mudam o seu curso p
a
o Nacente
143
[]Dia 2
Por Conselho dos Pilotos detreminey seguir viagem
logo dipois de meya noite p
a
poder chegar athe as 7
horas da manhaã a boca do Ryo Pardo p
a
poder
alcançar no Ryo grande hum lugar que serve dea
brigo as Canoas p
a
se livrarem da furia dos Ryos
nas tempestades /: / mas as chuvas que desde o Ryo
1 (função indicadora e segmentadora, apresentadora, organizadora)
tem cahido sem interrupçaõ me naõ deu lugar
de poder partir asemelhantes horas principalm
e
em noite tescura /: / Com o dia pois seguy viagem
1 (função indicadora e segmentadora, apresentadora, organizadora)
e fuy jantar pelas duas horas nadesembocadura do
Ryo Pardo no Ryo grande com o andamento de
dez legoas /: / Naõ admira o navegar[?] legoas em
1 (função indicadora e segmentadora, apresentadora, organizadora)
Tabela 4.4 – FUNÇÕES/SINAIS.
FUNÇÕES/ SINAIS Ponto Vírgula Ponto-e-
vírgula
Dois pontos
Indicadores
01 (100%) 04 (100%) 01 (100%) 04 (100%)
Separadores,
limitadores ou
segmentadores
- 04 (100%) 01 (100%) 04 (100%)
Apresentadores
- 01 (25%) - 04 (100%)
Especificadores
- - - -
Organizadores
01 (100%) 04 (100%) 01 (100%) 04 (100%)
144
No Diário de Viagem a redução do uso do ponto final é relevante, pois está
relacionada ao grande número de anotações matemáticas como dimensões, profundidade,
extensão, etc. Conforme o autor permanece descrevendo sua rotina e o caminho percorrido,
ele recorria a um riquíssimo detalhamento geográfico (latitude e longitude).
No caso do fólio selecionado temos apenas uma ocorrência mais diretamente ligada a
uma abreviatura que ao término do período. ainda, um ponto-e-vírgula somente, quatro
ocorrências de dois pontos e 4 vírgulas.
As vírgulas exercem três funções: indicadoras de pausa, segmentadoras ou
delimitadoras de termos e, também, organizadora (100% em todos os casos). Em apenas um
caso ela apresenta termo de caráter explicativo (25%). Semelhantemente, os dois pontos
repetem as mesmas funções em todas as ocorrências (100%), inclusive como apresentador.
Pode-se levantar como hipótese, a partir dessa amostra, que as funções indicadoras e
organizadoras se sobressaem nos manuscritos. Isso indica que fortes indícios de marcação
prosódica e correlação com a oralidade, especialmente no tratado e um dado de maior
relevância é o caráter de organizadores sintáticos dos sinais em análise.
De forma geral, observa-se que as ocorrências da vírgula, por exemplo, no Tratado são
mais numerosas que nas cartas e no diário (~826). No Tratado, a maioria das ocorrências, nas
relações entre os termos da oração, parece referir-se a termos de mesma função sintática
(sujeito composto, complementos e adjuntos) e apostos, mas quase à mesma proporção ocorre
o uso da rgula em casos que as gramáticas não consideram adequados: complementos
verbais, entre sujeito e predicado, termos de mesmo valor sintático, mas unidos por e, ou e
nem.
registros de casos entre as orações que marcam isolamento de subordinadas, mais
especificamente as adverbiais reduzidas de gerúndio e adjetivas introduzidas por QUE, mas o
que se destaca são ocorrências de coordenadas alternativas ( ou... ou, nem... nem), e menos
freqüentes as aditivas e adversativas.
tem resoluto; convindo; eajustado opresente Tratado Preliminar, que
servirá de base, efundamento ao Difinitivo deLimites, que se hade es-
tender aseu tempo, com aindividuaçaõ , exacçaõ, enoticias necessarias;
mediante oqual se evitem, eacautelem para sempre novas disputas,
esuas consequencias.(f.11v)
Convieraõ os dois Al-
145
tos Contratantes, pelo bem reciproco de ambas as Naços, e para
segurar huma Páz perpetua entre as duas, que a ditta Nave-
30 gaçaõ dos Rios da Prata, e Uruguay, e os Terrenos das suas du-
as Margens, Septentrional, e Miridional, pertençaõ privati-
va mente á Coroa de Espanha, e aseus subditos,(f.11v)
noqual naõ possaõ edeficar-se Povoaçoz por nenhuma
das duas partez, nem Construir-se Fortalezaz, Guardas, ouPortos de
Tropas, de modo, que ostaes espaços sejaõ Neutroz, pondo-se mar-
cos, esignaes seguroz, que façaõ constar aos vassallos decada Nasçaõ
ositio deque naõ deveraõ passar, acujo fim se buscaràõ osLagoz,
e Rioz, que possaõ servir deLemite fixo einalteravel, eemsua
falta, os Cumes dos Montez mais signalados,ficando estes, eas
suas toldas, por termo Neutral divizorio, emquesenaõ possa en
trar, povoar, edificar, nemforteficar por alguma das duas Nasços.(f.12r)
No diário as orações são mais independentes, obedecendo à estrutura narrativa e
descritiva. Os períodos são menores e a diferença está na moderação do vocabulário e na
seleção vocabular: menos expressões enfáticas e adjetivação.
Os casos mais destacados de isolamento de orações subordinadas, novamente referem-
se às adjetivas explicativas e apositivas que, exceto pela distinção entre seu caráter sintático,
no conteúdo basicamente, cumprem a função declarativa, acrescentando à oração principal
mais informação quanto aos termos que as antecedem. O pronome relativo 'que' torna-se uma
constante no texto.
Também, pela estrutura narrativo-descritiva podemos entender como termos de mesma
função sintática aparecem isolados: são nomes de lugares, enumerações de objetos, dados
numéricos, entre outros casos. Os adjuntos adverbiais referindo-se a modo, lugar, intensidade,
são também freqüentes.
Cheguey a fôz do Ryo Taquary pelas 10 horas da
Manhaâ, e nella dou principio a tirar do leito deste Ryo
10 e dos mais por onde for precizo Navegar p
a
chegar a Ara-
ntagabá. (f. 39r, diário de viagem)
Tinha o Ryo
146
na sua mayor altura 15 p
a
16 palmos, e os sinaes q.
as arvores mostravam deixavam ver que o ryo
subia mais 12 palmos, (f. 39r, diário de viagem)
Pouco acima
do referido Taquary mirim está a 1º Caxoeira de
5 nominada La Ilha Passada huma Carga, e descarre-
gada inteiram
e
a Canoa a meteram por hum estreito
de dez braças de largo, e passado ele a vararam por hum
Canal que tinha dous palmos (f.41v, diário)
Na estrutura da carta, a ocorrência de vírgulas entre orações merece atenção. Como o
conteúdo e a intenção mudam a estrutura também se altera. Os arranjos sintáticos agora tratam
de estabelecer as relações dentro do período. orações coordenadas aditivas, conclusivas e
adversativas, mas as subordinadas são mais recorrentes, indicando conformidade, concessão,
finalidade ou causa.
[parágrafo] Na ocaziaõ prezente remeto aV.Ex.
ca
adiferença
meridional doFortedo Principe da Beira para o Occid.
e
de Paris
emtempo, para que meucompanheiro D.
r
Pontes, ou os mesmos
22 officiaes Engenheiros de duzam desta diferença averdadeira
Longitude, conforme aoque V.Ex.
ca
determinar.(carta, f. 8v)
Não podemos argumentar em favor de uma conclusão definitiva, pois necessidade
de um trabalho mais profundo para uma definição. Como afirmado, tratam-se de pontos
preliminares que abrem espaço para uma discussão sobre o tema. Aliás, estudos com
pressupostos em critérios sintáticos e semânticos demandam a adoção de um modelo mais
sistemático de análise para compreensão do funcionamento da língua.
Em caráter preliminar, também outro estudo anterior havia demonstrado que o uso
mais freqüente da rgula nos manuscritos do século XVIII, em relação aos períodos, envolve
a separação de orações coordenadas aditivas e adversativas, marcadas pelas conjunções [e],
[mas] e outras expressões que cumprem o papel das conjunções acidentais. Não critério
que não admita o uso de conjunção + vírgula, conforme prescrevem as gramáticas normativas
contemporâneas. Também, isolam-se orações subordinadas adverbiais e adjetivas explicativas
(Almeida 2004: 6).
147
O ponto final [.] marca definitivamente o término dos períodos, como ditos
anteriormente, muito extensos e únicos. Ele é mais recorrente no diário porque não a
extensão dos períodos é menor, como os parágrafos, mas também servia para isolar contextos
de dados numéricos e geográficos.
Os dois pontos [:] marcavam ou introduziam palavras, expreses, orações ou
citações que funcionam como um aposto, conclusão, explicação, conseqüência ou um
esclarecimento. ocorrência em que tanto os dois pontos quanto o ponto e vírgula são
utilizados para encerrar períodos intercalados no texto cuja função seja prestar esclarecimento
ou explicação, uma espécie de apositiva. Como apresentamos
eu estava empregado por sua Magestade Fidelissi-
ma nas Demarcaçoens dos Reaes Dominios em
Villa Bella de Mato Grosso: apezar das minhas ins-
tancias naõ me tem (diário, f.51r)
que lhetenho encarregado delevantar; estimando sumamente
que orestabelecimento das molestias de VMC naõ lhepermi-
tisse aquella util degreçaõ; mas haja depermitir as outras q.o
me anuncia, e que ja detremineis de penetrar quando for possivel;
5 nao só pelo Bauris mas pelo Mamoré: Oponto estaem que os
Espanhoes o naõ embaracem, nem ainda estranhem: Pelo que hade
ser necessario metersempre em úzo alguns extratagemas, ou apa
rencias muito diverças, sigundo tendo advertido que imponham de
alguma sorte aosditos Espanhoes. (carta, f. 6r)
21 [parágrafo] V.Ex.
ca
serà servido detreminarme, sehé conveni=
ente quesegundavez intente estadeligencia entrando q.
to
for poscivel, comaescolta necescaria, para algũa invazaõ
do Gentio, que possa haver: toda brevidade meparece nes
cessaria afim deseachar oRio com Agoa suficiente desepo-
der navegar livre deCaxoeiras, q´ medizem ter muitas (carta, f. 8r)
lestipulaçoés; epela prezente dou por firma, evalios para
sempre: prometendo emfé, epalavras Real, observallo,
e cumprillo inviolavel mente, fazelo cumprir, eobservar, (Tratado, f. 19r)
148
O ponto e rgula [;] marca explicações longas e enumerações, especialmente quando
os períodos são subdivididos por rgulas. São enumerações descritivas e narrativas, como no
caso do diário de viagem. Este procedimento era usual no estilo oratório (Kury, 1999: 72).
Contudo, duas funções podem ser destacadas quanto ao uso deste sinal: isolam ou introduzem
orões coordenadas sindéticas conclusivas ou adversativas e, ainda, estabelecem não uma
relação de explicação, mas de completude semântica dentro dos períodos compostos. Ou seja,
neste caso específico elas assumem o papel das vírgulas nas orações subordinadas.
Pelas
treshoras datarde parei fronteando abarra do Rio Su
30 curüi, que vem do Occidente, cujalagura deixei de-
medir, por nao poder atravessar o Rio; por cauza das
ondas; mas peloque me pareceu excederia á Sincoen-
ta braças. (diário,f. 46r)
Subia pelo Rio Porru-
Porrudos; por outro que nelle deita as suas agoas, e que
com huma piquena varaçaõ passara para o Sucurüi, de que
estou falando sem ter o incommodo das cachoeiras, de que
tenho tratado; mas que em recompença encontrara mui-
to Gentio Caiapó,( diário, f. 46v)
Herdeiros, eSucessores, todo o direito que possa ter, ou alle-
gar ao Dominio das Ilhas Filipinas, Marianas, Eomais
que possue naquellas partes aCoroadeEsapnha; renun-
ciando a de Portugal qual quer acçaõ, oudireito, que possa ter,
5 ou promover pelo Tratado de Tordesilhas de 7 de Junho de
1494, e pelas condiços ( Tratado, f. 18r).
Muitos fenômenos e ocorrências, hoje cristalizadas na ngua padrão, passavam por
intenso processo de construção e reconstrução. Contudo, faltam ainda muitas etapas para
preencher as lacunas que permanecem e responder questões que ficaram em aberto.
149
São observações gerais que demandariam uma pesquisa minuciosa para quantificação
dos dados presentes nos manuscritos.
V - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fortes fortuna adiuvat
A fortuna (sorte) ajuda aos fortes.
Leite de Vasconcellos (1959) há tempos defendia a publicação de textos,
lamentando a existência de materiais publicados em países alheios a história portuguesa.
Melhor que formular regras, dizia, ou citar exemplos, é aconselhar aos estudiosos que
recorram aos trabalhos modelares, os compulsem, e meditem no que lá virem (1959:224).
É justamente observando o desenvolvimento dos estudos filológicos no Brasil e
desejando somar forças, a partir de outros "trabalhos modelares" que se tem aqui impelido
semelhante pesquisa.
O ideal de estabelecer, ao menos parcialmente, uma fonte historiográfica regional, a
par das carências existentes, fortaleceu a descrição do percurso da Capitania durante o período
das Demarcações dos Reaes Dominios. Conheceu-se um pouco de personagens importantes
no contexto regional, como Joze de Lacerda, autor do diário; também, como se davam os
registros das correspondências por ordem do governador da Capitania.
São raras, ainda, as investidas nos campos paleográficos. Desenvolver uma análise
codicológica completa demanda muito trabalho e horas de exaustão, especialmente devido à
carência de profissionais da área. Contudo, algo ainda pôde ser realizado na pesquisa.
Quanto aos trabalhos de edição, uma lacuna na apresentação do exemplar fac-símile
talvez possa desfavorecer a pesquisa, mas espera-se estender o foco em níveis mais
específicos, tão logo se faça possível, indicando que o trabalho não termina aqui. A produção
de edições críticas e edição de textos antigos muito têm se desenvolvido na academia
brasileira.
Finalmente, podemos apresentar um breve estudo sobre as ocorrências de alguns sinais
de pontuação, principais, nos textos: [.] ponto final, [,] rgula, [;] ponto-e-vírgula e [:] dois
150
pontos. Concluiu-se, em caráter preliminar, que as normas são razoavelmente estáveis e
próximas ao uso atual, com destaque para a correlação com a oralidade.
São bases para a realização de uma pesquisa favorecendo o desenvolvimento da língua
no contexto regional, percorrendo etapas que facilitem o trabalho de lingüistas, historiadores e
quaisquer outros que se interessem pelo tema.
La langue n'est pas l'unique objet de la philologie, Qui veut avant tout
fixer, interpreter, commenter les textes; cette première étude à s'occuper aussi
de l'histoire littéraire, des mocurs, des instituitions etc; partout elle use de sa
méthode propre, Qui est la critique. Si elle aborde les questions linguistiques,
c'est surtout pour comparer des textes de différentes époques, determiner la
langue particulière à chaque auteur, déchiffrer et expliquer des inscriptions
dans une langue archaïque et obscure. (Saussure,in Bassetto:2001,35).
151
VI - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Estudos Preliminares. Cuiabá: UFMT, 2001.
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SILVA, P.P.C; FREITAS, M. Quadros Históricos de Mato Grosso: período colonial. Cuiabá:
[s.n.] 2000.
SIQUEIRA, E.M. História de Mato Grosso: Da ancestralidade aos dias atuais. Cuiabá:
Entrelinhas, 2002.
SPINA,S. Introdução à edótica. São Paulo: Cultrix,1994.
TEYSSIER,P. História da língua portuguesa. Lisboa: Sá da Costa,1982.
VASCONCELLOS, D
or
J. Leite De. Lições de Filologia Portuguesa. ed. Rio de Janeiro:
Livros de Portugal,1959.
154
ANEXOS
155
Fig. 1 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso
156
Fig. 2 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso
157
Fig. 3 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso
158
Fig. 4 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso
159
Fig. 5 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso
160
Fig. 6 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso
161
Fig. 7 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso
162
Fig. 8 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso
163
Fig. 9 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso
164
Fig. 10 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso
165
Fig. 11 – Índice do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso – Vol. III
166
Fig. 12 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso
167
Fig. 13 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso
168
Fig. 14 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso
169
Fig. 15 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso
170
Fig. 16 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso
171
Fig. 17 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso
172
Fig. 18 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso
173
Fig. 19 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso.
SUMÁRIO
ABSTRACT
RESUMO
AGRADECIMENTOS
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
I – INTRODUÇÃO.......................................................................................1
1.1 Princípios científicos do trabalho filológico...........................................2
II – HISTÓRIA DOS TEXTOS....................................................................7
2.1 Os códices...............................................................................................7
2.1.1
Os tratados de limites: trabalhos demarcatórios em Mato Grosso......................
11
2.1.2
O Tratado de Santo Ildefonso: a comissão dos cientistas...................................
13
2.2 Análise codicológica...........................................................................15
2.2.1 Os volumes e suas características materiais........................................................
17
2.3 As abreviaturas.....................................................................................32
2.3.1 Lista das abreviaturas..........................................................................................
32
2.4 Componentes formulares dos textos...................................................34
III – A EDIÇÃO DOS MANUSCRITOS...................................................39
3.1 Edição Diplomática...............................................................................41
IV – ANÁLISE DA PONTUAÇÃO.........................................................128
4.1 O conceito de pontuação....................................................................128
4.2 Itinerário Histórico.............................................................................129
4.3 A frase e o período..............................................................................132
4.4 Descrição da Norma que caracteriza os manuscritos..........................135
V – CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................149
VI – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................151
ANEXOS...................................................................................................154
LISTA DE FIGURAS
Fig. 1 - Índice no início do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso vol.
III.................................................................................................................................
3
Fig. 2 - Fragmento da edição de Soares (In: Siqueira 2002:57)................................
4
Fig. 3 - Capitão-general Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres. Autor
o identificado (década de 70 - século XVIII). Acervo da Casa da Ínsua, Portugal
( Siqueira 02:56)..............
....................................................................................................
9
Fig. 4 – Observações de Pontes e Lacerda. Moacyr Freitas (2000). Acervo da
Fundação Cultural de Mato grosso (In: Siqueira 2002:50).........................................
12
Fig. 5 - Icio do Diário de Viagem de Francisco José de Lacerda e
Almeida........................................................................................................................
57
Fig. 6 - Capa do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso – vol. I...............
17
Fig. 7 - Capa do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso – vol. I...............
18
Fig. 8 - Capa do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso – vol. I................
19
Fig. 9 - Início do Tratado, Fólio de abertura do Livro de Registro do Tratado de
Santo Ildefonso – vol. I................................................................................................
20
Fig. 10 - Cópia do Tratado de Santo Ildefonso, Fólio 18r (ilustração da numeração
do fólio na margem superior direita), Livro de Registro do Tratado de Santo
Ildefonso – vol. I..........................................................................................................
21
Fig. 11 - Termo inicial,lio do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso
– vol. I..........................................................................................................................
22
Fig. 12 - Tinta nítida no Fólio do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso,
Tratado de Santo Ildefonso - Artigos II e III – vol. I...................................................
26
Fig. 13 - Mudança de punho e tinta clareada no fólio do Diário de Viagem do
Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso – vol. III........................................
27
Fig. 14 - cursiva presente no Tratado de Santo Ildefonso - V. I
28
Fig. 15 - cursivas presentes (fragmentos I e II respectivamente) no diário de
viagem
1
- V. III............................................................................................................
29
Fig. 16 - Icio do Tratado de Santo Ildefonso (fólio 11r- Vol. I)..............................
42
Fig. 17- Início do Artigo I, Tratado de Santo Ildefonso (fólio 11v- Vol. I)...............
45
Fig. 18 - Icio dos Artigos II e III, Tratado de Santo Ildefonso (fólio 12r- Vol. I).
12v...............................................................................................................................
47
Figura 19 - Início do Artigo IV, Tratado de Santo Ildefonso (fólio 12v- Vol. I)........
49
Fig. 20 – Artigo V do Tratado de Santo Ildefonso (fólio 13r- Vol. I).........................
51
Fig. 21 - Icio do Artigo VIII, Tratado de Santo Ildefonso (fólio 14r- Vol. I).........
54
Fig. 22 – Artigos X, XI e XII do Tratado de Santo Ildefonso (fólios 14v e 15r- Vol.
I)..................................................................................................................................
57
Fig. 23 – Artigos XIII a XIX do Tratado de Santo Ildefonso (fólios 15v a 17r- Vol.
I)..................................................................................................................................
60
Fig. 24 – Artigos XX a XXII do Tratado de Santo Ildefonso (fólios 17v e 18r -
Vol. I)..........................................................................................................................
65
Fig. 25 – Artigos XXIII a XXV do Tratado de Santo Ildefonso (fólios 18v e 19r -
Vol. I)..........................................................................................................................
67
Fig. 26 “Prospecto das canoas em que navegaram os empregados na Expedão
Filofica pelos rios Cuyabá, São Lourenço, Paraguay e Jauru...”. Autor não
identificado (1789-1792). Expedição de Alexandre Rodrigues Ferreira. Acervo do
Museu Bocage, Portugal. (Lima 2005:48)..................................................................
68
Fig. 28 – Diário de Viagem (fólio 41r - Vol. III)........................................................
88
Fig. 29 – Diário de Viagem (fólio 50v - Vol. III).......................................................
124
Figura 30 – cópia da carta no final do Diário de Viagem (fólio 51r - Vol. III)..........
127
ANEXOS
Fig. 1 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso..........................................................
155
Fig. 2 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso..........................................................
156
Fig. 3 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso..........................................................
157
Fig. 4 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso..........................................................
158
Fig. 5 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso..........................................................
159
Fig. 6 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso..........................................................
160
Fig. 7 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso..........................................................
161
Fig. 8 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso..........................................................
162
Fig. 9 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso..........................................................
163
Fig. 10 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso........................................................
164
Fig. 11 – Índice do Livro de Registro do Tratado de Santo Ildefonso – Vol. III........
165
Fig. 12 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso........................................................
166
Fig. 13 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso........................................................
167
Fig. 14 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso........................................................
168
Fig. 15 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso........................................................
169
Fig. 16 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso........................................................
170
Fig. 17 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso........................................................
171
Fig. 18 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso........................................................
172
Fig. 19 – Artigos do Tratado de Santo Ildefonso........................................................
173
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 – Lista de abreviaturas..............................................................................
32
Tabela 4.1 – O papel da pontuação.............................................................................
131
Tabela 4.2 – FUNÇÕES/SINAIS...............................................................................
138
Tabela 4.3 – Análise das ocorrências.........................................................................
141
Tabela 4.4 – FUNÇÕES/SINAIS...............................................................................
143
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