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escolar, é que se pretende dialogar, uma vez que, “os estudos culturais
envolvem o como e o porquê, esse trabalho é feito, não apenas seu conteúdo”
(NELSON, TREICHLER & GROSSBERG, 1995, p. 27).
Com o título “Tramas e Urdiduras: tecendo possibilidades
interculturais”, comparo as práticas escolares à experiência estética da
tapeçaria. Busco tecer uma composição das relações interculturais num
ambiente escolar, com suas tramas e urdiduras que se entrelaçam, definindo
largura, comprimento, pontos, cores, construindo figuras a serem apreciadas,
indagadas, utilizadas. Fios entrelaçados que formam conexões que podem ser
transformadas, em que o uso da diversidade de estilos e técnicas não a torna
simplesmente eclética, mas único, singular, com características próprias, com
estética ímpar. Um tecido em que seus pontos de interlocuções de
fios/conceitos podem ser desfeitos, ‘desconstruídos’ e reconstruídos, na
produção/pesquisa e reutilizados/re-significados em outra produção. Procuro
tecer/dialogar, além do visível, do explícito, a sua ‘forma’, discorrer com o
seu ‘conteúdo’, com o que a produção revela com conceitos que o discurso, as
relações de poder apresentam. Um fazer artístico com pontos de difícil
elaboração, com deslocamentos constantes, com riscos que instigam.
Comparo a pesquisa com a tecelagem hipotética às práticas
existentes na disciplina de Arte, no ambiente escolar, e como as relações
interculturais podem contribuir para a construção das identidades que
compõem o sujeito. Assim, busco sustentação teórica em Stuart Hall,
ancorado nos Estudos Culturais
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e seu legado teórico, adverte:
Se vocês pesquisam sobre a cultura, ou se tentaram fazer
pesquisa em outras áreas verdadeiramente importantes e não
obstante, se encontraram reconduzidos à cultura, se acontecer
que a cultura lhes arrebate a alma, têm de reconhecer que irão
sempre trabalhar numa área de deslocamento (HALL, 2003, p.
211).
Área de deslocamento, de incertezas que o trabalho com a cultura
propicia e que fascina. Instiga a ser discutido. Tramas e urdiduras que se
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Em, “Da diáspora: identidades e mediações culturais”, o autor apresenta o histórico dos
Estudos Culturais com sua diversidade de trajetória, temas, estudiosos e contribuições
para pesquisas, enfoque que “apesar do projeto dos estudos culturais se caracterizar pela
abertura, não se pode reduzir a um pluralismo simplista” (HALL, 2003, p 201).