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2
MÁRCIA VIRGÍNIA DI LORENZO FLORÊNCIO
VIOLÊNCIA CONTRA IDOSOS E RISCO DE ADOECIMENTO MENTAL EM
JOÃO PESSOA-PB
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Enfermagem
do Centro de Ciências da Saúde da
Universidade Federal da Paraíba, como
requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Enfermagem.
Orientadora: Profª. Drª. Maria de Oliveira
Ferreira Filha
JOÃO PESSOA
DEZEMBRO/2007
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MÁRCIA VIRGÍNIA DI LORENZO FLORÊNCIO
VIOLÊNCIA CONTRA IDOSOS E RISCO DE ADOECIMENTO MENTAL EM
JOÃO PESSOA-PB
Dissertação de Mestrado apresentada e submetida à avaliação da banca
examinadora como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em
Enfermagem, no Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade
Federal da Paraíba.
Linha de Pesquisa: Epidemiologia e Saúde.
Aprovada em: _____/______/_____
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Profª. Drª. Maria de Oliveira Ferreira Filha
Orientadora
_______________________________________________
Profª Drª Rosalina Aparecida Partezani Rodrigues
Membro externo
_______________________________________________
Prof. Drª Jordana de Almeida Nogueira
Membro UFPB
_______________________________________________
Prof°. Dr.Rodrigo Pinheiro Toledo Vianna
Membro UFPB
João Pessoa
Dezembro/2007
4
FICHA CATALOGRÁFICA
MENSAGEM
DEDICATÓRIA
F632a Florêncio, Márcia V. Di Lorenzo.
Violência contra idosos e risco de adoecimento mental em
João Pessoa – PB./ Márcia Virgínia Di Lorenzo Florêncio –
João Pessoa, 2007. 98p
Orientadora: Maria de Oliveira Ferreira Filha
Dissertação (Mestrado) – UFPB/CCS
1. Idoso – Maus-tratos
2. Idosos - Violência
3. Idoso – Saúde Mental
4. Violência doméstica
UFPB/BC EDU: 613.98 (043)
5
DEDICATÓRIA
Em memória de minha a Judite, um
exemplo de bonita velhice e inspiração para
este trabalho.
6
AGRADECIMENTOS
A Deus, que nunca me desamparou;
À Maria Filha, por sua grandeza de espírito, que lhe faz dar votos de
confiança às pessoas desconhecidas e compartilhar seu conhecimento
irrestritamente;
Ao Profº Rodrigo, pela imprescindível colaboração;
A todos os idosos que concordaram em participar da amostra;
A todos que fazem a Curadoria do Cidadão e os Programas de Saúde da
Família visitados durante a pesquisa;
Às minhas colaboradoras Fabiana Matos, Vagna Cristina e Vera Franca;
A todas as colegas e professores do mestrado, cuja convivência tornou o
caminho tão mais alegre e mais fácil;
A toda equipe de enfermagem do HGuJP, pela força e pelo coleguismo;
A Helena, Marcus, Mário e Marcela; pelas alegrias compartilhadas;
A meus sogros, pela compreensão em aguardar mais um pouco o tão
esperado neto;
A meu pai, por todo seu carinho e tietagem;
À minha mãe, uma mulher de muitos papéis, que, neste cenário, atuou
também como profissional e amiga;
A Ró, por seu apoio incondicional, por sua generosidade, por tudo que
representa em minha vida, a quem as palavras nunca bastarão.
7
RESUMO
FLORÊNCIO, M. V. Di L. Violência contra idosos e risco de adoecimento mental
em João Pessoa PB. Dissertação de Mestrado. Centro de Ciências da Saúde.
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2007. 98p.
O fenômeno da violência contra os idosos tem sido motivo de preocupação por parte
dos profissionais de saúde e de outros setores da sociedade que lidam com os
direitos humanos. Além dos malefícios imediatos, suspeita-se que ela possa trazer
conseqüências a médio e longo prazo, prejudiciais à saúde mental do idoso e à sua
qualidade de vida. Neste estudo, objetivou-se investigar a associação
epidemiológica entre a violência contra o idoso e o risco de adoecimento mental por
transtorno da ansiedade e depressão, bem como caracterizar sócio-
epidemiologicamente tal fenômeno na cidade de João Pessoa - PB (perfil dos
agressores, dos idosos agredidos; tipo de violência mais comumente praticada).
Trata-se de um estudo seccional, realizado em duas etapas. Na primeira investigou
127 casos de denúncias de violência contra idosos na Curadoria do Cidadão de
João Pessoa, e, na segunda, aplicou o questionário SRQ-20 a 166 idosos, sendo 60
vítimas de violência. Encontrou-se um maior número de vítimas do sexo feminino,
faixa etária de 60 a 79 anos, viúvas, economicamente improdutivas, com familiares
dependentes de si. Os agressores mais freqüentes foram filhos e cônjuges, seguidos
de outros parentes próximos, sendo que 45% residiam com o próprio idoso. As
violências psicológica e financeira foram as mais identificadas. A Prevalência nos
expostos foi de 75% contra 40% nos não expostos (RP = 1,84); p< 0,0005 para o
risco de adoecimento mental em idosos vítimas de violência. Conclui-se que forte
associação entre as variáveis e recomenda-se a realização de estudos de coorte
para classificar a violência sofrida como fator de risco para depressão e transtornos
da ansiedade em idosos.
Palavras-chave: Maus-tratos ao idoso; violência doméstica; risco; saúde mental.
8
ABSTRACT
FLORENCIO, M.V. Di L. Violence against the elderly and the risk of mental
sickness in João Pessoa PB - Master’s dissertation. Health Science Center.
Federal University of Paraiba, João Pessoa, 2007. 98 p.
The violence against the elderly phenomenon has been motive of concerning to the
health care professionals and to the other sectors of the society that deal with human
rights. Besides the immediate harms one suspects that it can bring mid and long
terms consequences, harmful to the mental health of the elderly and his/her life
quality. This study’s objective was to investigate the epidemiological association
between the violence against the elderly and the risk of mental sickness by anxiety
disorder and depression, as well as characterize social-epidemiologically such
phenomenon in the city of João Pessoa-PB (Profile of the aggressors, the assaulted
elderly, the type of violence most usually practiced). It is a sectional study, performed
in two stages, in the first one 127 cases of violence against the elderly reported at the
curator’s office of the city of João Pessoa was investigated., and in the second stage
the questionnaire SRQ-20 was applied to 166 elderly, 60 being victims of violence. A
larger number of female victims, between 60 and 79 years of age, widowed,
economically unproductive, with relatives depending on them was found. The most
frequent aggressors were children and spouses, followed by other close relatives
from which 45% lived with the elderly in question. The psychological and financial
violence were the most identified. The prevalence of the exposed was 75% against
40% of the not exposed (RP = 1.84); p<0.0005 to the risk of mental sickness on
elderly victims of violence. One concludes that there is strong association among the
variables and one recommends the performance of cohort studies to classify the
violence suffered and risk factor of depression and anxiety disorder on the elderly.
Key Word: Elderly abuse; domestic violence; risk; mental health.
9
RESÚMEN
FLORÊNCIO, M. V. Di L. Violencia contra ancianos y riesgo de padecimiento
mental en João Pessoa PB. Disertación de Maestría. Centro de Ciencias de la
Salud.Universidad Federal de Paraíba, João Pessoa, 2007. 98 p.
El fenómeno de la violencia contra los ancianos ha sido motivo de preocupación por
parte de los profesionales de salud y de otros sectores de la sociedad que tratan de
los derechos humanos. Además de los daños imediatos, se sospecha de que ella
pueda traer consecuencias a medio y largo plazo, perjudiciales a la salud mental del
anciano y a su calidad de vida. En este estudio se objetivó investigar la asociación
epidemiológica entre la violencia contra el anciano y el riesgo de padecimiento
mental por transtorno de ansiedad y depresión, bien como caracterizar sócio
epidemiológicamente tal fenómeno en la ciudad de João Pessoa (perfil de los
agresores, de los ancianos agredidos; tipo de violencia más comunmente
practicada). Se trata de un estudo seccional, realizado en dos etapas, siendo que en
la primeira se investigó 127 casos de denuncias de violencia contra ancianos en la
Curaduría del Ciudadano de João Pessoa, y en la segunda se aplicó el cuestionario
SRQ-20 a 166 ancianos, siendo 60 víctimas de violencia. Se encontró un maior
número de víctimas de sexo femenino, grupo etario de 60 a 79 anos, viudas,
económicamente improductivas, con familiares dependientes de sí. Los agresores
más frecuentes fueron hijos y cónjuges, seguidos de otros parientes próximos,
siendo que 45% residíam con el mismo anciano. Las violencias psicológica y
financiera fueron las más identificadas. La Prevalencia en los expuestos fue de 75%,
contra 40% en los no expuestos (RP = 1,84); p< 0,0005 para o risco de adoecimento
mental em idosos vítimas de violência. Se concluye que hay fuerte asociación entre
las variables y se recomienda la realización de estudios de coorte para clasificar la
violencia sufrida como factor de riesgo para depresión y transtornos de ansiedad en
acianos
Palabras-clave: Violencia contra ancianos; violencia domestica;
riesgo; salud
mental.
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 01: Projeção da população idosa para o ano 2050...............................10
Figura 02: Localização da Paraíba no mundo..................................................21
Figura 03: Mapa dos bairros de João Pessoa..................................................22
11
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Distribuição dos Programas de Saúde da Família (PSF´s) que serviram
de locais de coleta de dados na segunda fase da pesquisa...............24
Gráfico 2: Tipo de violência sofrida pelos idosos conforme denúncias na Curadoria
do Cidadão em 2005 e 2006. ...........................................................35
12
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Distribuição dos tipos de violência sofrida pelos
idosos................................................................................................................44
13
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Distribuição dos idosos vítimas de violência por sexo e faixa etária,
conforme denúncias na Curadoria do Cidadão entre 2005 e 2006...................31
Tabela 2: Locais onde ocorreram as agressões aos idosos, conforme denúncias na
Curadoria do Cidadão entre 2005 e 2006. .................................32
Tabela 3: Relação de parentesco entre o idoso e seu agressor, conforme denúncias
na Curadoria do Cidadão entre 2005 e 2006. .................................32
Tabela 4: Motivos de denúncias de violência contra idosos na Curadoria do Cidadão
entre 2005 e 2006...............................................................................33
Tabela 5: Distribuição da amostra segundo a faixa etária e o motivo das denúncias
de violência na Curadoria do Cidadão, entre os anos de 2005 e 2006.
.................................................................................................................34
Tabela 6: Distribuição da amostra de acordo com a idade e o tipo de violência
sofrida nas denúncias de violência contra idosos na Curadoria do Cidadão, nos anos
de 2005 e 2006. .......................................................................................36
Tabela 7: Distribuição da amostra dos idosos segundo sexo e faixa
etária..................................................................................................................37
Tabela 8: Distribuição da amostra de acordo com o sexo e a vitimização pela
violência, na segunda fase da
pesquisa...........................................................................................................37
Tabela 09: Distribuição dos idosos de acordo com as faixas etárias e a vitimização
ou não pela violência.....................................................................37
14
Tabela 10: Distribuição dos idosos vítimas de violência de acordo com o estado civil
....................................................................................................................38
Tabela 11: Distribuição dos idosos vítimas de violência de acordo com a
ocupação...........................................................................................................38
Tabela 12: Distribuição dos idosos vítimas de violência de acordo com o tipo de
domicílio. ...........................................................................................................39
Tabela 13: Distribuição dos idosos vítimas de violência de acordo com o número de
pessoas com que moram................................................................40
Tabela 14: Distribuição dos idosos timas de violência que afirmaram alguma forma
de dependência de suas famílias em relação aos próprios idosos.
..........................................................................................................................40
Tabela 15: Distribuição dos idosos vítimas de violência que afirmaram ser
dependentes de suas famílias...........................................................................41
Tabela 16: Distribuição dos idosos vítimas de violência quanto ao relato de
episódios anteriores de desunião e violência no seio familiar...........................41
Tabela 17: Distribuição da classificação dos agressores quanto ao parentesco em
relação às vítimas.......................................................................................42
Tabela 18: Distribuição da amostra de acordo com o agressor e o local da
agressão...........................................................................................................43
Tabela 19: Distribuição dos agressores de acordo com o fato de morarem ou não
com os idosos vítimas de violência.............................................................43
Tabela 20: Tipos de violência sofrida pelos idosos de acordo com os respectivos
agressores......................................................................................44
15
Tabela 21: Distribuição dos idosos vítimas e não vítimas de violência quanto ao
risco/vulnerabilidde de desenvolver depressão e transtorno de ansiedade.....45
Tabela 22: Freqüências do risco de desenvolver depressão e transtorno de
ansiedade em idosos vítimas e não vítimas de violência, de acordo com o sexo.
...........................................................................................................................45
Tabela 23: Freqüências do risco para desenvolver depressão e transtorno de
ansiedade em idosos vítimas e o vítimas de violência, de acordo com a
idade..................................................................................................................46
Tabela 24: Distribuição do risco para adoecimento mental de acordo com o tipo de
violência sofrida. ..........................................................................................46
Tabela 25: Tabela padrão para análise de dados dicotômicos.........................47
16
SUMÁRIO
1 – Introdução................................................................................................. 01
1.1 – A problemática e o objeto de estudo..................................................02
1.2 – Justificativa e relevância.....................................................................06
1.3 – Objetivos.............................................................................................07
1.3.1 – Objetivo Geral.............................................................................07
1.3.2 – Objetivos Específicos..................................................................07
2 – Revisão de Literatura................................................................................08
2.1 – Considerações sobre o envelhecimento populacional........................09
2.2 – Da política e dos direitos dos idosos...................................................11
2.3 – Fatores associados ao risco para depressão
e transtorno da ansiedade no idoso............................................................14
3 – Desenho Metodológico.............................................................................18
3.1 – O tipo do estudo..................................................................................19
3.2 – O pressuposto.....................................................................................19
3.3 – Variáveis do estudo.............................................................................19
3.4 – Descrição das fases e dos locais da pesquisa de campo...................20
3.5 – População e amostra...........................................................................23
3.6 – Instrumentos de coleta........................................................................25
3.7 Procedimentos para identificação da amostra e coleta dos
dados...........................................................................................................25
3.8 – A análise dos dados............................................................................26
3.8.1 – Associação de variáveis em Epidemiologia................................27
3.9 – Aspecto éticos.....................................................................................28
4 – Resultados.................................................................................................30
4.1 - Caracterização da violência contra o idoso
na cidade de João Pessoa –PB..................................................................31
4.1.1 – Levantamento sobre a violência contra os idosos
conforme dados da Curadoria do Cidadão...................................................31
17
4.2 Perfil sócio-epidemiológico dos idosos investigados quanto ao risco de
adoecimento mental, nos bairros de João Pessoa - PB...............................36
4.3 – Identificação dos agressores dos idosos investigados
quanto ao risco de adoecimento mental......................................................42
4.4 – Tipos de violência mais praticada contra os idosos............................44
4.5 – Associação entre a vitimização pela violência
e o risco de desenvolvimento de transtornos mentais................................45
5 – Discussão...................................................................................................49
6 – Considerações Finais................................................................................68
7 – Referências.................................................................................................72
8 – Apêndices...................................................................................................79
9 – Anexos........................................................................................................89
18
Introdução
19
1. Introdução:
1.1 A problemática e o objeto do estudo
tempos a violência permeia as relações humanas. No contexto atual da
humanidade, pode-se inferir que onde houver conflitos de idéias, de interesses, ou
outros, haverá, por adição, a presença de um dos traços mais marcantes da
existência humana sobre a Terra: a violência.
A Organização Mundial de Saúde – OMS define violência da seguinte forma:
O uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça,
contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma
comunidade, que resulte ou tenha grande probabilidade de resultar
em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento
ou privação (OMS, 2002, p 04).
Na definição de Chauí (2006, p. 342), a violência é desnaturação, coação,
tortura, constrangimento, violação; “[...] é um ato de brutalidade, sevícia e abuso
físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais
definidas pela opressão, intimidação, pelo medo e pelo terror”.
O fenômeno da violência contra os idosos tem sido motivo de preocupação
por parte dos profissionais de saúde e de outros setores da sociedade que lidam
com os direitos humanos.
De acordo com Minayo (2004, p.13), a Rede Internacional para a Prevenção
dos Maus-tratos contra o Idoso adotou, em 1995, a seguinte definição para tal
violência: “o maltrato ao idoso é um ato (único ou repetido) ou omissão que lhe
cause dano ou aflição e que se produz em qualquer relação na qual exista
expectativa de confiança”.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Assembléia
Geral das Nações Unidas, em 1948, reafirmou a crença dos povos das Nações
Unidas nos direitos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana,
visando à promoção do progresso social e à melhoria das condições de vida. Tal
declaração é sempre citada quando se trata de defender os direitos das pessoas, e
a violência contra o idoso fere o direito inalienável que o mesmo tem de ser
respeitado em sua condição humana e social.
20
Segundo a OMS (WHO, 2002, b), ao último quarto do século XX, ou seja,
metade da década de 1970, o abuso aos idosos permanecia como um assunto
privado, bem escondido da visão pública. Hoje está sendo visto como um importante
problema que tende a aumentar com o rápido envelhecimento populacional mundial,
porém, informações sobre a extensão da violência nas populações idosas ainda são
escassas.
As atuais fontes de dados disponíveis sobre o tema somente permitem
retratar a questão da violência contra o idoso sob a perspectiva das estatísticas
governamentais, tais como: quedas, acidentes de trânsito, dentre eles o
atropelamento ou quedas por transporte inadequado, e homicídios, sem diferenças
de proporção em relação à população em geral. Os estudos mostram que os
suicídios o mais significativos neste grupo em relação à média da população em
geral (GAWRYSZEWSKI; JORGE; KOIZUMI, 2004).
Pesquisadores interessados nesta temática vêm alertando para o fenômeno,
pelo fato do mesmo ainda não ter sido tratado com a relevância social merecida.
Para eles, a violência contra os idosos é muito mais presente nas sociedades do que
as estatísticas revelam. De acordo com Minayo (2003, p.788), os registros atuais
disponíveis constituem “[...] a ponta do iceberg de uma cultura relacional de
dominação, de conflitos intergeracionais ou de negligências familiares ou
institucionais”. Parte da sociedade e das famílias aparentemente ainda não
percebem a violência contra o idoso no cotidiano.
No Relatório mundial sobre violência e saúde, de 2002, a OMS enfatizava
este fato, quando estimava que, baseado em uns poucos estudos de dados
populacionais, 4% a 6% de pessoas idosas sofriam de maus-tratos em casa. Neste
mesmo relatório, os idosos institucionalizados aparecem muito mais vulneráveis,
quando um estudo feito com profissionais de saúde de nursing home, nos Estados
Unidos, revelava que 40% do pessoal admitiam ter agredido psicologicamente um
idoso, e 36% revelaram ter presenciado agressão de idosos por parte de colegas
de trabalho.
No Brasil, os primeiros estudos relacionados com o problema do abuso aos
idosos apareceram no final dos anos 1990. Bennett (1997, apud MACHADO;
GOMES; XAVIER, 2001, p.04) afirma que a violência contra o idoso foi “a última
forma de abuso que ganhou legitimação como um fenômeno político, ao lado do
abuso infantil e da violência doméstica”.
21
Na sociedade brasileira, a violência estrutural também é fonte de violência
contra o idoso. Os estudos de Minayo (2003), revelaram que, em 1998, 13.184
idosos morreram por acidentes e violência, significando cerca de 37 óbitos por dia.
Das formas de violência, as que mais vitimaram os idosos foram os acidentes de
trânsito e transporte, as quedas e os homicídios, representando 55,8% das mortes
naquele ano. Vale salientar que no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) e
no Sistema de Informações Hospitalares (SIH-SUS), as mortes por violência estão
enquadradas dentro das causas externas, agrupadas juntamente com os acidentes
em geral, homicídios e suicídios. Também os dados de morbidade se referem às
lesões por violências e envenenamento.
Segundo Fonseca e Gonçalves (2003), em um levantamento feito nas
Delegacias de Proteção ao Idoso de Belo Horizonte e São Paulo, as queixas mais
freqüentes dos idosos dizem respeito a delitos de lesão corporal, furtos, maus-tratos,
injúria, extravios de documentos, mau uso de seus bens pelos próprios familiares,
perturbações da ordem, ameaças, abandono material e apropriação indébita.
Gaioli (2004), em seu estudo realizado na cidade de Ribeirão Preto em 2002,
verificou que, para a maioria dos idosos, timas de violência, que registraram
boletim de ocorrência nas delegacias, o motivo principal da queixa foi lesão corporal.
As denúncias de abuso sexual e psicológico foram mínimas.
A questão da dependência econômica de filhos adultos em relação a pais
idosos é muito aparente no Brasil, e se torna um fator de risco para violência,
especialmente quando o idoso é a única fonte de recursos da família (MACHADO;
GOMES; XAVIER, 2001).
Esta convivência e a co-dependência obrigatória de ambas as partes pode
gerar conflitos, a ponto da relação entre ambos ficar insustentável, sem abertura
para o diálogo e argumentação franca. Isto ocorre no âmbito familiar, institucional, e
no convívio social. Nestas situações é comum acontecer o fenômeno da violência.
No cotidiano se presenciam cenas de exploração e dependência econômica dos
idosos pelos mais jovens, maus tratos físicos e afetivos, e negligências quanto ao
estado de saúde, tão frágil e peculiar nesta fase (MINAYO, 2004).
Diversos autores concordam que a violência sofrida pelos idosos se
caracteriza nos seguintes tipos: violência física, psicológica, abuso financeiro, abuso
sexual, negligência, auto-negligência e abandono, que podem acontecer isoladas ou
22
simultaneamente (QUEIROZ, 2000; WHO, 2002 a,b,c; FONSECA; GONÇALVES,
2003).
Mais especificamente, as situações de maus-tratos e violência se referem a
“[...] situações não acidentais de que derivam danos físicos, psíquicos, econômicos,
ou privação das necessidades básicas, como resultado de um ato ou de uma
omissão” (RUIPÉREZ; LLORENTE, 2000, p. 326).
Os dados estatísticos nos diversos órgãos públicos no Brasil ainda não
revelam o fenômeno da violência contra o idoso. Alguns dados são parciais, como
os do Conselho Municipal do Idoso em João Pessoa PB, os quais estimam que
pelo menos dois idosos por dia sofram de violência e maus-tratos (CORREIO DA
PARAÍBA, mar. 2006). Sabe-se da necessidade de se estimar tal problema para que
os órgãos governamentais possam enfrentá-lo com ações estratégicas de combate à
violência.
Diversas são as conseqüências que a violência contra o idoso pode
desencadear, dentre elas, o comprometimento da saúde mental. Na literatura sobre
o idoso, encontram-se os estudos de Dyer, Paulik e Murphy (2000) que apontam
uma maior incidência de diagnósticos de depressão e demência em idosos, vítimas
de maus-tratos. Para Lima (1999, apud GAZALLE; HALLAL; LIMA, 2004), a
depressão causa severos danos à qualidade de vida do idoso e de seus familiares,
resultando em custos elevados para a sociedade em geral. Já se sabe que a
depressão é a doença psiquiátrica mais comum entre os idosos, e que sem o
diagnóstico precoce e tratamento adequado, pode levar a pessoa ao suicídio.
Geralmente as pessoas com depressão mostram-se insatisfeitas com a própria vida,
sentem-se inúteis e incapazes. Muitas vezes, tais sentimentos provocam bruscas
mudanças em seus estilos de vida, levando-as ao isolamento social, e
freqüentemente ao suicídio (OLIVEIRA; GOMES; OLIVEIRA, 2006).
Diante desta problemática pretendeu-se realizar o presente estudo, partindo-
se do seguinte pressuposto: idosos submetidos a maus tratos apresentam uma
maior associação com o risco de desenvolver depressão e transtorno da ansiedade.
O desenho metodológico foi traçado para refutar tal afirmativa e esclarecer as
seguintes questões: que características sócio-epidemiológicas o fenômeno da
violência contra idosos adquire na cidade de João Pessoa? Qual o perfil social dos
agressores e dos idosos agredidos? Quais as formas de violência mais comumente
denunciadas na Curadoria do Cidadão? A violência contra o idoso possui
23
associação com o risco de adoecimento mental por transtorno da ansiedade e
depressão?
1.2 Justificativa e relevância
O conceito de saúde mental envolve o homem no seu todo biopsicossocial,
sem desconsiderar o contexto histórico social e cultural no qual está inserido. As
teorias do desenvolvimento da personalidade ressaltam também a importância da
fase de desenvolvimento em que se encontra a pessoa. Portanto, os fatores que
podem influenciar na saúde mental do indivíduo estão dispersos em vários aspectos
de sua vida: das dimensões psicossociais aos fatores biológicos. As variáveis
psicológicas se relacionam com o ambiente social. Os fatores psicológicos conferem
riscos para a manutenção da saúde mental, através do comportamento e da emoção
(MARTINS, 2000).
O conhecimento dos riscos e da vulnerabilidade para o surgimento de
transtornos mentais, pode ajudar a identificar precocemente sinais e sintomas da
doença, de tal modo que se possa intervir, evitando-se danos mais sérios a saúde.
Além do mais, conhecer os fatores que influenciam o aparecimento destes
transtornos, na população em geral, auxilia na elaboração de planos de ação, metas
e estratégias que não desconsiderem a pessoa na sua integralidade e no seu meio
sócio-cultural.
Fleitlich e Goodman (2000) defendem também que a importância de se
conhecerem as taxas dos transtornos mentais na população parte da certeza de um
melhor planejamento dos serviços de saúde oferecidos à comunidade. Desse modo,
a identificação dos fatores de risco ou de proteção, associados ao surgimento dos
principais transtornos, pode funcionar como uma base de informação para a
indicação de tratamentos e, principalmente, para elaboração dos programas de
prevenção.
Por outro lado, entende-se que o debate franco com a sociedade acerca do
tema, a prevenção do abuso, a identificação e encaminhamento correto dos casos
são pontos vitais para que o respeito ao idoso vitimado seja reinstalado.
Como enfermeira, é imprescindível o olhar diferenciado, no sentido do
acolhimento, para saber identificar adequadamente quando um idoso está sendo
24
submetido a situações de maus tratos e/ou negligência, a fim de garantir a
manutenção de sua saúde, para que ele possa viver a fase do envelhecimento de
forma tranqüila, usufruindo plenamente de suas capacidades físicas e mentais ainda
preservadas, sem temor, opressão ou tristeza.
A vinculação do presente estudo ao projeto do orientador se deve ao fato de
não haver na Paraíba estudos sobre tal temática voltados especificamente para a
parcela envelhecida da população, e menos ainda estudos que busquem a
correlação entre a violência e o risco de adoecimento mental por depressão e
transtorno da ansiedade.
A abordagem sugerida na presente pesquisa é importante para caracterizar,
em alguns aspectos, o perfil dos idosos estudados, e fornecer subsídios para uma
atuação mais direcionada e personalizada dos profissionais de saúde, tanto na
prevenção como no combate da violência contra idosos, da depressão e dos
transtornos da ansiedade, em um estado cuja população de idosos está em franco
crescimento.
1.3 – Objetivos:
1.3.1 - Objetivo geral:
Caracterizar o fenômeno da violência contra o idoso na cidade de João
Pessoa, do ponto de vista sócio-epidemiológico;
1.3.2 - Objetivos específicos:
1) Descrever o perfil social dos idosos agredidos e dos agressores ;
2) Identificar os tipos de violência mais comumente praticada contra o idoso.
3) Estabelecer a associação entre a vitimização pela violência (abuso físico,
psicológico, sexual, financeiro, negligência, auto-negligência, abandono) e o risco de
desenvolvimento de transtornos mentais (depressão e ansiedade) nos idosos
investigados.
25
Revisão de Literatura
26
2. Revisão de Literatura:
2.1 - Considerações sobre o envelhecimento populacional:
O envelhecimento populacional humano é um fenômeno mundial, decorrente
de transformações na sociedade ocorridas nas últimas décadas. Até pouco tempo
acreditava-se que ter uma população envelhecida era exclusividade de países mais
desenvolvidos economicamente. Nos países em desenvolvimento, o processo de
envelhecimento vem ocorrendo de forma muito acelerada, principalmente nos
últimos quarenta anos, em decorrência, principalmente, da queda da fecundidade,
da natalidade e da mortalidade, mais do que em relação ao aumento da
longevidade, resultando indiretamente no aumento da expectativa de vida (P.
NETTO; YUASO; KITADAI, 2005).
Nos países considerados do primeiro mundo, o fenômeno do envelhecimento
populacional vem se moldando mais de um século, em virtude de
características inerentes ao índice de desenvolvimento e da distribuição mais
eqüitativa dos bens de consumo, que proporcionam condições de vida confortáveis,
de bem estar social e de saúde, com conseqüente aumento da longevidade
(MINAYO, 2004).
Escrevendo sobre a probabilidade de envelhecimento da população brasileira,
Carvalho e Garcia relatam que este fenômeno ocorrerá:
[...] necessariamente, a ritmo maior do que aquele ocorrido nos
países do Primeiro Mundo, principalmente, naqueles que
iniciaram sua transição da fecundidade ainda no século XIX.
Por outro lado, esses países, antes do início do processo,
conviviam com populações menos jovens, por nunca terem
experimentado níveis tão altos de fecundidade quanto o Brasil
(CARVALHO; GARCIA, 2003, p. 09).
A Síntese de Indicadores Sociais de 2006, do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE, 2007), revelou que, em 2005, no Brasil, o número de pessoas
de 60 anos ou mais foi superior a 18 milhões, correspondendo a quase 10% da
população. Esse grupo, que cresce a cada ano, aumentou em mais de 05 milhões
27
de pessoas entre 1995 e 2005. De todos os estados da nação, o Rio de Janeiro teve
a maior proporção de idosos (13,5%), na população em 2005.
Ainda conforme a referida pesquisa, no segmento dos idosos, o grupo que
apresentou maiores índices de crescimento foi o das pessoas com 80 anos de idade
ou mais, que somavam 2,4 milhões em 2005. Nessa faixa etária, há maior incidência
de doenças crônicas, piores capacidades funcionais e menor autonomia. As
mulheres são maioria nesse grupo, numa razão de 62 homens para cada 100
mulheres. Nas regiões metropolitanas de Porto Alegre, Belo Horizonte, São Paulo,
Rio de Janeiro e Recife, o número de idosas acima de 80 anos é mais que o dobro
de homens. Em 1995, as maiores proporções de idosos foram encontradas nos
estados da Paraíba (11,1%), Rio de Janeiro (10,8%) e Rio Grande do Sul (10,1%).
em 2005, a proporção de idosos, no Rio de Janeiro foi de 13,5% e, no Rio
Grande do Sul, 12,3%. Nesse período, os estados de São Paulo e Minas Gerais
(ambos com 10,5%) ultrapassaram a Paraíba, que teve queda na proporção
(10,1%).
Na Figura 1, exibe-se a projeção do crescimento da população de idosos com
80 anos no Brasil até o ano de 2050. Observa-se um espantoso crescimento desta
parcela populacional, comparativamente às décadas de 80 e 90.
Figura: 01 Projeção da população idosa para o ano 2050. Fonte: Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, 2007.
28
Dados de Censo IBGE apontam que em 2000 havia 350.424 idosos na
Paraíba. No ano 2000, sua capital, João Pessoa, possuía uma população de
pessoas com 60 anos ou mais de idade em torno de 48.672 habitantes, isto é,
13,88% da população de idosos do estado.
A maior prevalência de idosos na população leva a sociedade a ter que
rediscutir e redimensionar aspectos políticos, econômicos, sociais, familiares,
culturais e de saúde, implicados na manutenção e promoção da qualidade de vida
de tais pessoas. A velocidade com que as condições de melhoria da vida humana
aumentaram a longevidade foi muito rápida para que a sociedade modificasse sua
forma de ver, tratar e valorizar o idoso (ZIMERMAN, 2000).
2.2 Da política e dos direitos dos idosos:
Para enfrentar a questão da violência contra o idoso, a Organização Mundial
de Saúde sugere, na Declaração de Toronto, de 2002, o envolvimento de múltiplos
setores da sociedade, estabelecimento de redes para detecção e encaminhamento
dos casos, melhor preparo dos profissionais da atenção primária à saúde, educação
e disseminação de informações tanto para os profissionais como para a sociedade
em geral. Também sugere que se considerem as especificidades culturais de cada
país na análise do contexto da violência, bem como a questão do gênero e de
subgrupos mais vulneráveis (pobres, idosos extremos, com limitações físicas e
cognitivas, mulheres) (WHO, 2002-a).
Após a identificação dos casos, é preciso que se seguimento, através de
uma rede pública de amparo ao idoso, que passa pelos serviços de saúde, pelas
políticas públicas e pela justiça, para que se dêem respostas adequadas e se
desencorajem novos atos violentos (FONSECA; GONÇALVES, 2003).
Seguindo as linhas de ação acima citadas, o Brasil conta com o Plano de
ação para enfrentamento da violência contra pessoa idosa, que especifica as ações
governamentais brasileiras para prevenção e socorro nestes casos. Dentre várias
ações nos diversos âmbitos da sociedade, o plano prevê a capacitação de equipes
de Saúde da Família e dos agentes de saúde para orientação, apoio e atendimento
às famílias com idosos; capacitação de cuidadores de idosos através dos agentes
de saúde; capacitação de gestores e dirigentes de instituições de atendimento ao
29
idoso (MENDONÇA, 2005). Várias ações deste plano se encontram em fase de
implementação, incluindo o envolvimento direto de pessoas idosas, porém ainda
muito a ser feito.
O Estado brasileiro, ao longo dos últimos vinte anos, construiu alguns
dispositivos legais de amparo à pessoa idosa, entre eles os que estão inscritos na
Constituição Federal, estabelecendo diretrizes para a elaboração da Política
Nacional de Saúde do Idoso, além do Estatuto do Idoso. Segundo Minayo e Souza
(2005, p.158) “[...] existem hoje no país suficientes dispositivos legais para o
enfrentamento da violência”.
Todavia, diante da realidade, parece que apenas a existência de dispositivos
não é suficiente para solucionar o problema.
Na análise de Fonseca e Gonçalves (2003, p.03), conforme a Constituição
Federal, o idoso é um sujeito de direitos; está impedida qualquer forma de
discriminação por idade e compete à família, à sociedade e ao Estado “[...] o dever
de amparar o idoso, assegurar sua participação na comunidade, defender sua
dignidade e bem-estar, e garantir seu direito à vida.”.
A Lei Orgânica da Saúde, 8.080/90, traz o princípio da “preservação da
autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral” (BRASIL, 1999,
p.01). O Estatuto do idoso, Lei 10.741, no seu capítulo IV, “Do Direito à Saúde”,
assegura ao idoso o direito à atenção integral em saúde, através do Sistema Único
de Saúde, com a totalidade de serviços que este sistema pode prestar, incluindo
ainda atenção especial às doenças que afetem preferencialmente esta parcela da
população (BRASIL, 2004).
Especificamente para os idosos estão previstos, além de outros direitos
comuns aos demais cidadãos, a criação de unidades geriátricas de referência e
atendimento domiciliar com internações domiciliares, caso necessário. O Estatuto
proíbe a cobrança diferenciada de valores
30
Na análise de Fonseca e Gonçalves (2003), o Estatuto ainda prevê as
seguintes prioridades no atendimento ao idoso:
[...] serviços especiais de prevenção e atendimento a timas de
negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e opressão;
serviço de identificação e localização de parentes ou responsáveis
por idosos abandonados em hospitais e instituições de longa
permanência; proteção jurídico-social por entidades de defesa dos
direitos dos idosos; mobilização da atenção pública que vise a
ampliar a participação social no atendimento ao idoso (FONSECA;
GONÇALVES, 2003, p.04).
A Portaria 1395/GM, de 10 de dezembro de 1999, que trata da Política
Nacional de Saúde do Idoso, contempla a questão dos maus tratos aos idosos no
item 3.3 de seu anexo, conforme o fragmento do texto que se segue:
Na relação entre o idoso e os profissionais de saúde, um dos
aspectos que deverá ser sempre observado diz respeito à
possibilidade de maus-tratos, quer por parte da família, quer por
parte do cuidador ou mesmo destes profissionais. É importante que
o idoso saiba identificar posturas e comportamentos que significam
maus-tratos, bem como os fatores de risco nele envolvidos (...). O
profissional de saúde, o idoso e a família, quando houver indícios de
maus-tratos, deverá denunciar a sua suspeita às autoridades
competentes (BRASIL, 1999,p.08).
No ano de 2000 foi lançada no Brasil a Política Nacional de Redução da
Mortalidade por Acidentes e Violência, que enfatiza a promoção da saúde para o
alcance da qualidade de vida, prioriza as ações preventivas intersetoriais e a ação
comunitária. Suas principais diretrizes são: promoção da adoção de
comportamentos e de ambientes seguros e saudáveis; monitorização da ocorrência
de acidentes e violência; sistematização, ampliação e consolidação do atendimento
pré-hospitalar; assistência interdisciplinar e intersetorial às vítimas de acidentes e de
violência; estruturação e consolidação do atendimento voltado à recuperação e à
31
reabilitação; capacitação de recursos humanos; apoio ao desenvolvimento de
estudos e pesquisas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000).
Em 2002 foi lançado em Madri o II Plano de Ação para o Envelhecimento,
que serviu de Base para a criação do Plano de Ação para Enfrentamento da
Violência contra a Pessoa Idosa (PAEVPI), pela Subsecretaria de Direitos Humanos
da Secretaria Geral da Presidência da República do Brasil.
O Plano tem por objetivo promover ações que levem ao
cumprimento do Estatuto do Idoso (Lei 10741/2003), em
conformidade com o Plano de Madri, que tratam do enfrentamento
da exclusão social e de todas as formas de violência contra a
pessoa idosa, assim como garantir os direitos fundamentais
(MENDONÇA, 2005, s/p.).
O PAEVPI prevê, igualmente, ações de combate e prevenção às formas de
violência atualmente identificadas contra os idosos, com responsabilidades,
atribuições e estratégias divididas para o espaço cultural coletivo, blico, família e
instituições asilares. Dentre as várias ações estratégicas citadas no Plano para cada
um destes setores, algumas já foram implementadas, como: a criação de delegacias
especializadas para idosos; criação de fóruns específicos; criação de sistema de
denúncia; de promotorias e Defensorias Públicas e de Conselhos Municipais e
Estaduais de Direitos da Pessoa Idosa; capacitação de profissionais de saúde, de
direito, de assistência social, conselheiros, idosos, sociedade e gestores de
instituições asilares, entre outras ações (MENDONÇA, 2005).
2.3 Fatores associados ao risco para depressão e transtorno da
ansiedade no idoso:
A depressão caracteriza-se como um distúrbio da área afetiva ou do humor,
que exerce forte impacto funcional em qualquer faixa etária; pode ser responsável
pela perda de autonomia e pelo agravamento de quadros patológicos preexistentes
(IRIGARAY; SCHNEIDER, 2007).
A depressão pode surgir em diferentes fases da vida. O Manual de
Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM-IV) elenca os sinais e
sintomas abaixo descritos como sendo critérios diagnósticos para quadros de
32
depressão, desde que apresentados por mais de duas semanas, e com
comprometimento funcional (DUARTE; REGO, 2007):
Humor deprimido ou perda de interesse/prazer;
Perda ou ganho de peso;
Insônia ou excesso de sono;
Agitação ou retardo psicomotor;
Fadiga ou perda de energia;
Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva;
Dificuldade de concentração;
Pensamento de morte recorrente ou idéias suicidas;
Porém é possível que os quadros sintomáticos dos tipos de depressão variem
com os grupos etários. Duarte e Rego (2007) afirmam que a depressão na
população idosa constitui um importante problema de saúde pública por sua alta
prevalência, freqüente associação com doenças crônicas, impacto negativo na
qualidade de vida e risco de suicídio.
Na velhice a depressão está mais associada como co-morbidade de doenças
físicas e incapacidade. Já a depressão maior sem co-morbidade com doença física é
menos comum nesta fase. A demência com depressão certamente é mais
prevalente depois dos 75 anos de idade, do que na faixa etária de 65 - 74 anos
(SNOWDON, 2002)
Eis aqui alguns fatores associados à depressão na velhice, divulgados na
literatura especializada (SNOWDON, 2002; DJENERS 2006 apud IRIGARAY;
SCHNEIDER,2007):
Doenças físicas crônicas (declínio da saúde física);
Residir em abrigos para idosos;
Internamentos hospitalares,
Idosos que sofrem de demência;
Sofrer violência física;
Doença de Parkinson;
Mudanças cerebrais (provavelmente vasculares) decorrentes da idade;
Perda de função/papel na sociedade (ex. aposentadoria);
Perda de auto-estima;
Pobreza;
33
Solidão;
História pregressa de depressão em si mesmo ou na família;
Falta ou perda de contatos sociais;
Viuvez, eventos de vida estressante;
Insatisfação com o suporte social; isolamento social;
Ansiedade;
Falta de atividades sociais;
Nível educacional baixo;
Uso de medicação antidepressiva
A depressão na velhice apresenta minúcias específicas que precisam ser
reconhecidas e investigadas pelos profissionais de saúde que atendem diretamente
esta clientela. A não identificação de casos depressivos na velhice acarreta
imensuráveis prejuízos na qualidade de vida do idoso.
Gazalle, Hallal e Lima (2004), em um estudo realizado na cidade de Pelotas
RS, questionaram a população idosa a respeito de terem sido ou não investigados
quanto à depressão em sua última consulta médica. Verificaram que 76,6% dos
idosos afirmaram que o médico não perguntou se eles se sentiam tristes ou
deprimidos na última consulta, o que explicita a falta de preocupação dos
profissionais de saúde com a investigação de sintomas depressivos em idosos. A
mesma amostra foi investigada quanto a sintomas depressivos, encontrando-se alta
prevalência dos principais sintomas que compõem o quadro clinico de depressão:
tristeza (43%), ansiedade (48%), falta de disposição (74%). Também encontrou-se
uma associação linear positiva entre a idade e os seguintes sintomas: tristeza, perda
de energia, ruminações sobre o passado e preferir ficar em casa em vez de sair Os
autores também acrescentam que a maior escolaridade é um fator protetor
importante para a ocorrência de sintomas depressivos, e que uma maior
ocorrência de sintomas depressivos em idosos que não possuem trabalho
remunerado (GAZALLE et al, 2004).
Um outro distúrbio mental, a ansiedade, parece acometer menos os idosos do
que a depressão. Byrne (2002) afirma que os transtornos da ansiedade têm sido
menos estudados nos idosos do que a depressão e a demência. Para o autor, os
sintomas de ansiedade são menos freqüentes à medida em que a idade avança, e
que o nível de incapacidade associada a transtornos da ansiedade nem sempre é
tão grande quanto a incapacidade associada a outras desordens mentais na velhice.
34
Alguns fatores relacionados ao desenvolvimento de ansiedade na velhice pode ser o
baixo nível educacional e sócio-econômico dos idosos.
Algumas características de transtornos da ansiedade são as seguintes:
obsessões (pensamento, sentimento, idéia ou sensação intrusiva e persistente) e
compulsões (comportamento consciente e repetitivo como contar, verificar ou evitar
um pensamento que serve para anular uma obsessão) podem aparecer pela
primeira vez em idosos, embora geralmente seja possível encontrar esses sintomas
em pessoas que eram mais organizadas, perfeccionistas, pontuais e parcimoniosas.
Tais pessoas tornam-se excessivas em seu desejo por organização, rituais e
necessidade excessiva de manter rotinas. Podem ter compulsões para verificar as
coisas repetidamente, tornando-se geralmente inflexíveis e rígidas. (CORPO, 2007)
A literatura investigada não refere diferenças na sintomatologia dos
transtornos da ansiedade na velhice.
Ambos os distúrbios carecem de maiores investigações sobre seus
acometimentos aos grupos humanos na terceira idade, tanto em relação ao quadro
clínico como aos fatores causais. Não se deve negligenciar sua investigação
diagnóstica e tratamento, pautada na falsa alegação de que a mudança de humor é
uma característica típica do envelhecimento.
35
Desenho Metodológico
36
3 – Desenho Metodológico:
3.1 O tipo do estudo
Este estudo é descritivo porque buscou apreender aspectos epidemiológicos
da violência contra os idosos e sua associação com o risco para adoecimento
mental por depressão e transtorno da ansiedade. Os objetivos traçados exigiram que
a pesquisa de campo fosse realizada em dois locais distintos e em duas fases: a
primeira pode ser denominada como exploratória porque procurava desvendar
aspectos da realidade pouco conhecida, e a segunda pode ser caracterizada como
um estudo epidemiogico do tipo individuado, observacional, seccional.
3.2 O pressuposto
Partiu-se do pressuposto de que os idosos submetidos à violência
apresentam uma maior associação com o risco de desenvolver depressão e
transtorno da ansiedade. No intuito de refutar tal afirmativa é que foi construído todo
o desenho metodológico da pesquisa.
3.3 Variáveis do estudo
Neste estudo, o risco de adoecimento mental por depressão e transtorno da
ansiedade é variável dependente (a possível conseqüência), que poderá ou não
ocorrer associado à violência.
A violência contra o idoso foi identificada como sendo variável independente
(a possível causa), expressada nas seguintes formas de abuso, definidas na Política
Nacional de Redução de Acidentes e Violências do Ministério da Saúde (MINAYO,
2003; MINAYO; SOUZA, 2005):
Abuso físico, maus-tratos físicos ou violência física: se referem ao uso da
força física para compelir os idosos a fazerem o que não desejam, para feri-
los, provocar-lhes dor, incapacidade ou morte.
Abuso psicológico, violência psicológica ou maus tratos psicológicos:
correspondem a agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar
os idosos, humilhá-los, restringir sua liberdade ou isolá-los do convívio social.
Abuso sexual, violência sexual: são termos que se referem ao ato ou jogo
sexual de caráter homo ou hetero-relacional, utilizando pessoas idosas.
37
Esses abusos visam obter excitação, relação sexual ou práticas eróticas por
meio de aliciamento, violência física ou ameaças.
Abandono: é uma forma de violência que se manifesta pela ausência ou
deserção dos responsáveis governamentais, institucionais ou familiares em
prestarem socorro a uma pessoa idosa que necessite de proteção.
Negligência: refere-se à recusa ou à omissão de cuidados devidos e
necessários aos idosos, por parte dos responsáveis familiares ou
institucionais. A negligência é uma das formas de violência contra os idosos
mais presente no país. Ela se manifesta, freqüentemente, associada a outros
abusos que geram lesões e traumas físicos, emocionais e sociais, em
particular para os que se encontram em situação de múltipla dependência ou
incapacidade.
Abuso financeiro e econômico: consiste na exploração imprópria ou ilegal
dos idosos ou no uso não consentido por eles de seus recursos financeiros e
patrimoniais. Esse tipo de violência ocorre, sobretudo, no âmbito familiar.
Auto-negligência: diz respeito à conduta da pessoa idosa que ameaça sua
própria saúde ou segurança, pela recusa de prover cuidados necessários a si
mesma.
3.4 Descrição das fases e dos locais da pesquisa de campo
A primeira fase da pesquisa de campo foi realizada na Curadoria de Defesa
dos Direitos do Cidadão. Este local foi escolhido porque é um órgão do Ministério
Público Estadual encarregado de fazer cumprir a lei e defender os direitos da
população, especialmente das minorias socialmente fragilizadas. É para que se
encaminham e se apuram várias denúncias de maus-tratos, abusos e negligências
contra idosos ocorridas na região metropolitana de João Pessoa - PB. Esta
Curadoria trabalha em conjunto com a Secretaria de Desenvolvimento Social, que
também se encarrega de apurar as denúncias, através de visitas aos domicílios
denunciados.
Nesta fase, com a finalidade de traçar o perfil sócio-econômico-familiar do
idoso vitimizado, bem como de identificar os tipos de violência por eles sofrida,
foram consultados os registros de denúncias de violência contra os idosos feitos na
Curadoria, ocorridas nos anos de 2005 e 2006. No total foram consultados 127
38
registros. Os dados coletados foram registrados numa ficha de transcrição e
posteriormente lançados em um banco de dados. Desse material foi feito um estudo
epidemiológico retrospectivo descritivo.
Somente foram considerados os registros com dados legíveis e completos,
tendo sido excluídos os incompletos, que não atendiam aos questionamentos do
estudo.
A segunda fase foi desenhada para operacionalizar o proposto no objetivo
três. Assim, foram escolhidos idosos moradores dos bairros da cidade com maior
freqüência de casos de violência, identificados na primeira fase da pesquisa, e que
concordaram em participar da amostra, bem como idosos vítimas de violência
atendidos pela Curadoria do Cidadão. Toda coleta foi realizada entre os meses de
julho e agosto de 2007.
Fig. 02: Localização da Paraíba no mundo:<http://www.teixeiradecarvalho.com.br>
39
Figura 03: Mapa dos bairros de João Pessoa: <http://www.webbusca.com.br>
40
A figura 02 mostra a localização do estado da Paraíba no Brasil e no mundo.
Neste mapa a cidade de João Pessoa é a área ao redor do ponto branco na faixa
litorânea. A figura 03 ilustra os bairros da cidade de João Pessoa.
Os bairros identificados na primeira fase da pesquisa (maiores freqüências de
denúncias de violência contra idosos) foram os seguintes: Centro, Cruz das Armas,
Cristo, Jaguaribe, Mandacaru, Valentina Figueiredo.
As Unidades de Saúde da Família onde se deu a segunda fase da pesquisa
localizavam-se nos seguintes bairros: Roger, Varadouro, Cruz das Armas,
Jaguaribe, Tambiá, Cristo, Valentina Figueiredo, Mandacaru e a própria Curadoria
do Cidadão, para onde se dirigiram idosos de diversos bairros da cidade.
Os bairros investigados na segunda fase da pesquisa, quando não foram os
mesmos identificados na primeira, corresponderam a áreas circunvizinhas, tais como
Varadouro, Roger e Tambiá. Trata-se de bairros onde a população, em sua maioria,
não tem grande poder aquisitivo, muitos inclusive apresentando áreas de favelas em
seu interior. Alguns são bairros bem antigos na cidade, como Varadouro, Cruz das
Armas, Tambiá e Jaguaribe, justificando presença de população envelhecida. Outros
constituem áreas de habitação recente, com cerca de 20 anos de ocupação: Cristo,
Valentina Figueiredo, com população economicamente ativa, e muitos jovens
habitando o local.
3.5 População e amostra
Pode-se dizer que a população da segunda fase foi constituída de pessoas
com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, residentes na cidade de João
Pessoa PB, que, conforme o Censo IBGE/2000, se constituía em torno de 48.672
idosos. Para dimensionamento da amostra de idosos que responderiam aos
questionários nesta fase da pesquisa (medida de associação entre o risco para
adoecimento mental em idosos vítimas de violência), foi feito um cálculo utilizando-
se o STAT CALC do software EPI INFO versão 6.0. Aplicando-se um intervalo de
confiança de 95% (I.C. = 95%), com poder de teste de 80%, chegou-se a um número
de 144 indivíduos, sendo 48 expostos e 96 não expostos. Na coleta ultrapassou-se
este valor, alcançando-se 166 indivíduos, sendo 106 deles não expostos e 60
expostos à violência.
41
Foram considerados como critérios de inclusão da amostra: (a) pessoas
com idade igual ou superior a 60 anos; (b) moradores dos bairros da cidade onde
houve maior número de denúncias de violência contra idosos; (c) pessoas com
idade igual ou superior a 60 anos vítimas de violência, atendidos na Curadoria do
Cidadão, no ano de 2007, e (d) aceitação em participar do estudo, observando o
disposto na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Os critérios de exclusão foram os seguintes: (a) ser portador de transtornos
mentais graves de qualquer natureza, por se encontrarem em situação de
adoecimento mental, não constituindo, assim, uma amostra válida para o
estabelecimento da associação, e (b) Idosos que não concordaram ou desistiram de
participar do estudo em qualquer fase de sua elaboração.
No gráfico abaixo está ilustrada a disposição das Unidades de Saúde da
Família onde foram coletados os dados da segunda fase, juntamente com o número
de questionários aplicados em cada local.
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10
5
15
8
Gráfico 1 – Distribuição dos Programas de Saúde da Família (PSF´s) que serviram
de locais de coleta de dados na segunda fase da pesquisa. João Pessoa, agosto de
2007.
42
3.6 Instrumentos de coleta
Um dos instrumentos de coleta utilizados na segunda fase foi o Self Report
Questionaire - 20 (SRQ-20) (Anexo 1), que avalia o risco para desenvolvimento de
transtorno da ansiedade e depressão em pessoas, quer sejam elas vítimas ou não
de violência. O SRQ 20 é um instrumento validado no Brasil, em estudos
realizados por Fernandes e Almeida Filho (1997) e Borges et al (1997). É utilizado
com a finalidade de identificar risco para depressão e transtorno da ansiedade em
populações sem médicos especialistas. Ele possui 20 perguntas objetivas sobre os
sintomas apresentados nos últimos 30 dias. O objetivo de se aplicar o mesmo
questionário às vítimas e não vítimas da violência foi para que se pudesse fazer uma
comparação na prevalência de risco de adoecimento mental nos dois grupos
distintos.
Também nesta fase foi aplicado um outro questionário (Apêndice A),
elaborado pela autora especificamente para este estudo, com a finalidade de captar
dados sócio-econômicos, familiares e o perfil da violência sofrida, bem como
identificar fatores a ela associados. Este último questionário foi aplicado aos idosos
que se apresentaram como vítimas de violência nas suas diversas formas. É
importante mencionar que este mesmo foi previamente submetido a um teste piloto
antes de ser implementado na pesquisa.
3.7 Procedimentos para identificação da amostra e coleta dos
dados
Inicialmente, para efetivar a primeira fase da pesquisa, foi feito contato direto
com a Curadoria do Cidadão, na pessoa do próprio curador, que autorizou, por
escrito, a coleta de dados necessários no âmbito daquele serviço, realizada entre os
dias 07 e 31 de março de 2007.
Dando seguimento ao procedimento de coleta, foi feito contato com a Secretaria
de Saúde do município de João Pessoa, com os cinco Distritos Sanitários da cidade,
e as equipes de Saúde da Família dos bairros identificados na primeira fase, para
averiguar a existência de grupos de idosos na região. Uma vez identificadas as
Unidades de Saúde da Família adequadas para a coleta, estas foram informadas
43
sobre a realização da pesquisa, da sua importância, sendo solicitada a participação
do grupo na amostra.
Uma vez que Unidades de Saúde da Família tinham concordado em
participar, era marcado um dia específico, quando então se realizava uma palestra
informativa sobre a violência contra os idosos (Apêndice B), abrangendo temas
como: o envelhecimento mundial, a geração da violência, suas formas na sociedade
atual, os abusos mais freqüentes, o perfil do agressor, a dificuldade em se identificar
o problema e onde buscar ajuda. Novamente era explicado ao grupo sobre a
pesquisa e suas finalidades.
Finda a palestra, aqueles que concordavam em participar da amostra
assinavam o termo de consentimento livre e esclarecido (Apêndice C), e, em
seguida, prosseguia-se com a aplicação dos questionários. O primeiro instrumento a
ser aplicado era o SRQ 20. Muitas vezes era necessário ler o instrumento para a
pessoa e marcar de acordo com a resposta da mesma. Quando esta se
autodenominava vítima de violência, aplicava-se o segundo questionário (Apêndice
A).
Esta etapa transcorreu entre os dias 16 de maio e 31 de agosto de 2007.
Durante a segunda fase da pesquisa, ao final de pouco mais de dois meses de
coleta nas comunidades, alcançou-se o quantitativo de 106 idosos não vítimas e 32
vítimas de violência. Para aumentar o n de timas, que se encontrava muito
disperso na população, traçou-se a estratégia de abordar idosos que procurassem a
Curadoria do Cidadão para registro de denúncias de violência. Com esta medida,
mais 28 casos de idosos vítimas de violência foram incluídos na amostra. No total
foram entrevistados 166 idosos.
3.8 A análise dos dados
Os dados quantitativos foram organizados em um banco de dados para
análise, com o suporte dos programas Microsoft Office Excel 2003 e EPI-INFO 6.0,
onde todas as informações relativas a cada caso foram descritas na forma de
variáveis e analisadas aplicando-se a estatística descritiva, com a inclusão dos
resultados em tabelas e gráficos.
44
3.8.1 Associação de variáveis em Epidemiologia:
A Prevalência é utilizada para se saber a freqüência absoluta dos casos de
uma doença em uma certa população, num dado período de tempo. É obtida pela
soma dos casos anteriormente conhecidos da doença em questão com os casos
novos, diagnosticados desde a data da computação anterior (ROUQUAYROL; A.
FILHO, 2003)
A Prevalência é o indicador de escolha para estudos de desenho individuado-
observacional-seccional. Tais estudos constituem investigações que produzem
instantâneos da situação de saúde de uma população ou comunidade com base na
avaliação individual do estado de saúde de cada um dos membros do grupo (sem
interferência do pesquisador), e daí produzindo indicadores globais de saúde para o
grupo investigado. Este tipo de desenho de estudo não permite que se tirem
conclusões de causa e efeito entre o fator de exposição e a doença estudada. As
únicas conclusões legítimas, derivadas da análise de estudos de prevalência,
restringem-se a relações de associação entre o fator e a doença, não de
causalidade. Para fins de validação do estudo podem-se determinar medidas de
associação entre as variáveis, bem como o nível de significância em que a causa
suspeita e o efeito encontram-se associados, através de cálculos estatísticos, como
a Razão de Prevalência, a Diferença de Prevalência e o Qui-quadrado.A tabela
abaixo, de Rouquayrol e Filho, mostra a disposição dos dados neste tipo de análise
e seus respectivos significados:
Tabela Padrão para análise de dados dicotômicos. Extraído de Rouquayrol e Filho (2003):
Doença ou agravo à saúde
Fator Acometidos Não acometidos Total
Expostos a b a+b = n3
Não-expostos c d c+d = n4
Total a+c = n1 b+d = n2 N = a+b+c+d
Onde:
a = número de pessoas expostas ao fator ou apresentando a característica, que ficaram
doentes;
b = número de pessoas expostas e que permaneceram sadias;
c = número de pessoas não-expostas que ficaram doentes;
d = número de pessoas não expostas sadias;
45
n1 = a+c = número de pessoas que ficaram doentes;
n2 = b+d = número de pessoas que permaneceram sadias;
n3 = a+b = número de pessoas expostas ao fator
n4 = c+d = número de não expostos.
Nos estudos observacionais–individuados-seccionais (prevalência comparada), a
proporção a/n3 expressa a prevalência da doença referente aos expostos (Pe) e a relação
c/n4, a prevalência entre os não-expostos (Po). Calcula-se o indicador Razão de
Prevalências (RP: relação entre a prevalência referente aos expostos e a prevalência entre
os não-expostos) e a Diferença de Prevalência (DP: resultado da subtração entre a
prevalência referente aos expostos e a prevalência entre os não-expostos) (Rouquayrol,
2003).
Pe = a/n3
Po = c/n4
RP = Pe/Po
DP = Pe – Po
Fórmula do Qui-quadrado usada para o teste de associação entre as variáveis
– exposição e ocorrência de doença:
= n (a.d – b.c)²_____
(a+b) (c+d) (a+c) (b+d)
Valores de > 3,84, para nível de significância de 5% indicam associação
entre as variáveis.
Os dados também foram analisados com base na literatura pertinente,
levando-se em consideração o contexto histórico, político, social e cultural
relacionado com o fenômeno.
3.9 Aspectos éticos
Este estudo atendeu aos requisitos propostos pela Resolução 196/96
(BRASIL, 1996) que dispõe sobre as normas e diretrizes regulamentadoras da
pesquisa envolvendo seres humanos, bem como foi avaliado previamente pelo
comitê de ética em pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade
46
Federal da Paraíba, que deu parecer favorável a sua implementação (protocolo nº.
888/07 – Anexo 2).
47
Resultados
48
4 – Resultados:
4.1 - Caracterização da violência contra o idoso na cidade de João
Pessoa – PB:
Neste tópico apresentaremos os resultados colhidos nas duas fases da
pesquisa, com duas fontes distintas: fichas de registro da Curadoria e informações
fornecidas pelos idosos no momento da aplicação dos dois questionários. É
importante relembrar que os resultados colhidos na primeira fase são vistos, neste
estudo, como secundários, pois eles serviram como indicadores da problemática
presente no campo empírico. Entretanto, não poderíamos deixar de revelá-los e
também discuti-los posteriormente, pois eles revelam o perfil da violência contra o
idoso nos anos de 2005 e 2006 em João Pessoa – PB.
4.1.1 Levantamento sobre a violência contra os idosos conforme
dados da Curadoria do Cidadão:
Tabela 1 – Distribuição dos idosos vítimas de violência por sexo e faixa etária,
conforme denúncias na Curadoria do Cidadão entre 2005 e 2006. João Pessoa,
março de 2007
Sexo
Feminino
Masculino
Total
Faixa etária N % N % N %
60 – 69 16
17,97
03
07,89
19
14,96
70 – 79 25
28,08
10
26,31
35
27,55
80 – 89 19
21,34
08
21,05
27
21,25
90 – 99 07
07,86
03
07,89
10
07,87
Indeterminado 22
24,71
14
36,84
36
28,34
Total 89
100,00
38
100,00 127
100,00
Conforme ilustra a Tabela 1, dos 127 (100%) casos investigados, encontrou-
se uma maior freqüência de denúncias de violência contra idosos no sexo feminino
(89 casos). No sexo masculino foram encontrados 38 casos. Nos dois grupos de
gênero a violência predominou no período de idade compreendido entre 70 a 79
(27,55 % da amostra). A falha dos registros da Curadoria, na identificação das
49
idades dos idosos, foi significativa, pois alcançou 36 casos, perfazendo 28,34% da
amostra.
Tabela 2 - Locais onde ocorreram as agressões aos idosos, conforme denúncias na
Curadoria do Cidadão entre 2005 e 2006. João Pessoa, março de 2007
Tabela 3 Relação de parentesco entre o idoso e seu agressor, conforme
denúncias na Curadoria do Cidadão entre 2005 e 2006. João Pessoa, março de
2007
Agressor N %
Parente direto* 81 63,77
Pessoas fora da família 16 12,59
Prestadores de serviço 13 10,23
Parente indireto** 11 08,66
Indeterminado 6 04,72
Total 127 100,00
*Cônjuge, filho, neto, irmão
**Nora, genro, sobrinho
As Tabelas 2 e 3 revelam que a violência contra o idoso é tipicamente
doméstica em João Pessoa, pois em 81,10% dos casos ela ocorre dentro do
domicílio do idoso. Também é familiar, na medida em que é causada, em 63,77%
dos casos, por parentes diretos dos idosos e 8,66% por parentes indiretos.
Em 12,6% dos casos as denúncias são feitas por pessoas de fora da família,
geralmente vizinhos, inquilinos, além de curadores (portadores da tutela do idoso) e
desconhecidos do próprio idoso que se sensibilizam com a situação de abuso.
10,2% dos denunciantes são prestadores de serviço, ou seja, funcionários de
agências bancárias, de empresas de assistência à saúde (recepcionistas,
enfermagem), motoristas de ônibus, empregados dos próprios idosos.
As denúncias de violência contra idoso na Curadoria do Cidadão podem ser
feitas tanto pelos próprios idosos, como por outras pessoas que presenciem os
casos de violência. Podem inclusive ser feitas de forma anônima, e em todos os
Local da agressão
N %
Domicílio 103 81,10
Fora do domicílio 14 11,02
Indeterminado 10 07,87
Total 127 100,00
50
casos, os idosos vitimizados o procurados para prestarem a sua versão do
ocorrido.
Tabela 4 Motivos de denúncias de violência contra idosos na Curadoria do
Cidadão entre 2005 e 2006. João Pessoa, março de 2007
Motivo das denúncias %
Uso indevido de bens e proventos 35 27,55
Desentendimento familiar 27 21,25
Desentendimento com terceiros 12 09,44
Indeterminado 11 08,66
Agressão verbal 10 07,87
Compadecimento de terceiros 10 07,87
Alcoolismo 5 03,93
Negligência 5 03,93
Abandono 4 03,14
Ameaças 3 02,36
Cárcere privado 3 02,36
Constrangimento 2 01,57
Total 127 100,00
Na Tabela 4 destacam-se os principais motivos que levaram as pessoas a
fazerem as denúncias. Reconhece-se que a Tabela não traz a informação tal qual
ela se encontra nos registros da curadoria, tendo-se chegado a esta classificação
conforme interpretação da autora na leitura dos registros. Entretanto, foi necessário
classificar e agrupar tais informações, para oferecer ao leitor um entendimento
didático, reconhecendo-se, no entanto, que os motivos de denúncias são bem mais
amplos do que os aqui descritos. O que se destaca nesta tabela é o uso indevido de
bens e proventos, mostrando que o idoso é utilizado pela família como meio de vida,
assim como o desentendimento familiar, que revela a fratura dos laços afetivos.
51
Tabela 5 - Distribuição da amostra segundo a faixa etária e o motivo das denúncias
de violência na Curadoria do Cidadão, entre os anos de 2005 e 2006. João Pessoa,
março, 2007
Faixa Etária Total
Motivo das
denúncias
60 - 69 70 - 79 80 - 89 90 - 99 Indeterm. N %
Abandono 2
-
-
-
2
4
03,14
Agressão verbal 1
2
1
2
4
10
07,87
Ameaças -
2
1
-
-
3
02,36
Alcoolismo 2
-
-
-
3
5
03,93
Desent. familiar 2
9
5
2
9
27
21,25
Cárcere privado 1
-
1
1
-
3
02,36
Constrangimento -
1
-
-
1
2
01,57
Compadecimento
de terceiros
3
2
3
2
-
10
07,87
Uso indevido de
bens e proventos
3
12
12
2
6
35
27,55
Desent. com
terceiros
1
4
-
-
7
12
09,44
Indeterminado 2
2
4
1
2
11
08,66
Negligência 2
1
-
-
2
5
03,93
Total 19
35
27
10
36
127
100,00
Analisando-se a Tabela 5, percebe-se uma freqüência de 24 queixas de uso
indevido de bens e proventos nas faixas etárias de 70 79 e 80-89 anos de idade,
porém, de um modo geral, a tabela demonstra que não significativas diferenças
entre as faixas etárias.
52
Gráfico 2 – Tipo de violência sofrida pelos idosos conforme denúncias na Curadoria
do Cidadão em 2005 e 2006. João Pessoa, março 2007.
A análise do Gráfico 02 revela que as violências psicológica e financeira
foram predominantes. Entretanto, vale salientar que uma mesma denúncia pode
agrupar diferentes formas de violência. Por isso o somatório das formas de violência
sofrida (195) é maior do que o número de casos investigados (127). Como exemplo
tem-se que a violência psicológica está presente em muitos casos, pois
freqüentemente o abuso financeiro, a violência física e outros ocorrem juntamente
com agressões verbais, ameaças, xingamentos, causando sofrimento emocional
(psicológico) ao idoso. O abandono e a negligencia também podem ser vistos de
modo associado, pois se entende que um e outro estão presentes simultaneamente.
Os outros tipos de violência chamam também a atenção pela gravidade que
revelam. Vale salientar que houve apenas 01 registro de violência sexual nesta
coleta, talvez pela gravidade do problema e pelo perfil do serviço que é prestado
pela curadoria do Cidadão, que soluciona casos mais simples e encaminha o que
está fora de sua competência para as devidas instituições, tais como delegacias.
65
53
26
25
14
7
4
1
0
10
20
30
40
50
60
70
Psicológica
Financeira
Abandono
Neglincia
sica
Institucional
Auto-neglincia
Sexual
53
Tabela 6 Distribuição da amostra de acordo com a idade e o tipo de violência
sofrida nas denúncias de violência contra idosos na Curadoria do Cidadão, nos anos
de 2005 e 2006. João Pessoa, março de 2007
Faixa Etária Total
Tipo de violência 60 - 69 70 - 79 80 - 89 90 - 99 Indeterm. N %
Psicológica 7 19 9 6 24 65 33,33
Financeira 6 14 18 6 9 53 27,17
Abandono 8 5 7 3 3 26 13,33
Negligência 4 9 7 3 2 25 12,82
Sexual 1 - - - - 01 00,51
Auto-Negligência 1 - 2 - 1 04 02,05
Física 3 6 3 - 2 14 07,17
Institucional 1 2 1 - 3 07 03,58
Total 31 55 47 18 44 195 100,0
Na Tabela 6, verifica-se que, ao cruzarem-se os dados tipo de violência
sofrida e faixa etária da vítima, encontra-se uma correspondência entre a exploração
financeira e a negligência com o avançar da idade, o que pode sugerir que quanto
mais envelhecida e dependente se torna a pessoa idosa, maiores são as chances de
ser explorada e negligenciada por seus cuidadores e familiares.
Constatou-se, no levantamento da Curadoria, que os domicílios das vítimas
de violência se encontram geograficamente distribuídos em várias zonas do
município: na central (Centro: 11 casos) e periferia (Valentina e Mandacaru: 7 e 8
casos), em bairros antigos (Cruz das Armas e Jaguaribe: 9 e 8 casos) e novos
(Cristo: 8 casos). O que existe de semelhança nestes bairros o situações de
pobreza e grande contingente populacional. Vale salientar que no período
investigado houve poucos registros de denúncias em domicílios situados em bairros
considerados como zona nobre da cidade, situados na região leste, ou seja, ao lado
do mar.
4.2 Perfil sócio-epidemiológico dos idosos investigados quanto ao
risco de adoecimento mental, nos bairros de João Pessoa - PB:
Os dados apresentados a seguir fazem parte da segunda fase da pesquisa de
campo, quando foram investigados um total de 166 idosos, residentes tanto nos
bairros já citados como em outras áreas situadas nas adjacências.
54
Tabela 7 - Distribuição da amostra dos idosos segundo sexo e faixa etária, João
Pessoa, agosto, 2007
Sexo
Feminino Masculino Total
Faixa etária N % N % N %
60 – 69 71
52,98
15
46,87
86
51,80
70 – 79 46
34,32
15
46,87
61
36,74
80 – 89 17
12,68
2
06,25
19
11,44
Total 134
100,00
32
100,00
166
100,00
A análise sócio-epidemiológica dos dados obtidos na segunda fase da
pesquisa evidencia uma amostra predominantemente feminina, na faixa etária de 60
a 69 anos de idade, e uma redução no n da amostra, na faixa etária de 80 a 89
anos, em ambos os sexos.
Tabela 8 Distribuição da amostra de acordo com o sexo e a vitimização pela
violência, na segunda fase da pesquisa. João Pessoa, agosto, 2007
Sexo
Feminino Masculino Total
Vítima de violência N % N % N
Sim 45
33,58
15
46,87
60
Não 89
66,41
17
53,12
106
Total 134
100,00
32
100,00
166
A análise da tabela 8 revela que, apesar do número de homens ser menor do
que o de mulheres, eles apresentam maior percentual de vítimas em relação ao
sexo feminino. Porém considera-se que o N da amostra, por ser pequeno, não
permite inferências acerca do achado.
Tabela 09 - Distribuição dos idosos de acordo com as faixas etárias e a vitimização
ou não pela violência. João Pessoa, agosto, 2007
Faixa etária
Vítima de violência 60 - 69 70 - 79
80 - 89
Total
Sim N 32
21
07
60
% 37,20
34,42
36,84
36,11
Não N 54
40
12
106
% 62,79
65,57
63,15
63,85
Total 86
61
19
166
55
A Tabela 09 evidencia pouca variação na vitimização pela violência entre as
diferentes faixas etárias.
Ainda na caracterização sócio-epidemiológica da amostra, as vítimas de
violência foram questionadas quanto ao seu local de nascimento. Verificou-se que
apenas12 pessoas da amostra (20%) haviam nascido na cidade de João Pessoa, e
que 48 idosos (80%) eram oriundos de cidades do interior do estado da Paraíba ou
do interior de outros estados do nordeste.
Tabela 10 – Distribuição dos idosos vítimas de violência de acordo com o estado
civil. João Pessoa, agosto, 2007
Estado civil N %
Viúvo(a) 20 33,33
Casado(a) 19 31,66
Solteiro(a) 7 11,66
Separado(a) 7 11,66
Indeterminado 7 11,66
Total 60 100,00
A Tabela 10 revela o estado civil e o percentual de idosos viúvos e casados,
vítimas da violência. Em uma amostra de idosos, com predominância do sexo
feminino, era de se esperar um elevado número de viuvez, que as mulheres
alcançam maior longevidade que os homens. Praticamente não diferença
significativa entre o número de casados e viúvos.
O questionário sócio-epidemiológico acerca da violência sofrida não foi
preenchido para alguns idosos, e também houve falhas durante seu preenchimento,
deixando algumas perguntas em branco, o que justifica a classificação
“indeterminado” em algumas das variáveis nas tabelas a seguir.
Tabela 11 - Distribuição dos idosos vítimas de violência de acordo com a ocupação.
João Pessoa, agosto, 2007
Ocupação N %
Do lar 25 41,66
Aposentado(a) 21 35,00
Outras 8 13,33
Indeterminado 6 10,00
Total 60 100,00
56
A Tabela 11 mostra que os idosos investigados quanto ao risco de
adoecimento mental são pessoas consideradas economicamente inativas,
dedicando-se as atividades domésticas ou são aposentados e pensionistas. O fato
de se ter um maior percentual de mulheres na amostra eleva também o percentual
de ocupação do lar, pois na cultura nordestina esta é uma ocupação
majoritariamente feminina (41,66%).
Quando os idosos foram questionados sobre suas ocupações anteriores à
aposentadoria, constatou-se que os mesmos exerciam atividades de prestação de
serviço ou como profissionais autônomos, em sua maioria com profissões que
exigem baixo nível de escolaridade e têm baixo rendimento financeiro, como
agricultores, comerciantes, costureiras, donas-de-casa, empregadas domésticas,
motoristas, entre outras.
Tabela 12 - Distribuição dos idosos vítimas de violência, de acordo com o tipo de
domicílio. João Pessoa, agosto, 2007
Tipo de domicílio N %
Casa própria 43 71,66
Casa alugada 9 15,00
Indeterminado 8 13,33
Total 60 100,00
Evidencia-se, na Tabela 12, que 71,66% reside em casa própria, não sendo,
portanto, dependentes da moradia de seus familiares.
57
Tabela 13 Distribuição dos idosos vítimas de violência, de acordo com o número
de pessoas com que moram. João Pessoa, agosto, 2007
Nº de moradores Vítima de violência %
0 3 05,00
1 7 11,66
2 3 05,00
3 13 21,66
4 10 16,66
5 11 18,33
6 4 06,66
7 1 01,66
8 1 01,66
10 1 01,66
Indeterminado 6 10,00
Total 60 100,00
Na Tabela 13 verifica-se que os maiores números de timas de violência
convivem com 3 a 5 pessoas em seus ambientes residenciais. Muitos idosos têm
que dividir o espaço físico de suas casas com filhos casados e suas respectivas
famílias, que estes não têm condições financeiras de se manterem sozinhos,
devido ao desemprego, ao subemprego e à pobreza.
Tabela 14 Distribuição dos idosos vítimas de violência que afirmaram alguma
forma de dependência de suas famílias em relação aos próprios idosos. João
Pessoa, agosto, 2007
Família dependente do idoso N %
Sim 34 56,66
Não 20 33,33
Indeterminado 6 10,00
Total 60 100,0
Não é raro o idoso ser a fonte mais rendosa de proventos em uma família e
se tornar o seu arrimo, passando a família a ser dependente financeiramente dele.
Dos 34 idosos, cujas famílias apresentaram alguma forma de dependência, 17 eram
dependentes financeiramente, e 4 precisavam dos idosos para cuidar dos netos
(Tabela 15).
58
Tabela 15 Distribuição dos idosos vítimas de violência que afirmaram ser
dependentes de suas famílias. João Pessoa, agosto, 2007
Idoso dependente da família N %
Não 43 71,66
Sim 11 18,33
Indeterminado 6 10,00
Total 60 100,00
Os idosos que afirmaram ser dependentes de suas famílias o são não apenas
no aspecto financeiro, mas também físico (devido a limitações da idade ou por
doenças incapacitantes) e emocional. Mesmo assim, foi identificada na amostra
maior dependência da família do idoso em relação a ele do que o caso contrário
(Tabela 14).
Caracterizando o perfil dos idosos vítimas de violência, constata-se ainda
alguns dados a serem acrescidos. Dos 60 idosos vítimas de violência:
13 (21,66%) tinham cuidadores, sendo que destes apenas 2 (3,33%) tinham
problemas com seus cuidadores;
08 (13,33%) afirmaram ter algum tipo de limitação física, e 5 (8,33%)
afirmaram ter algum tipo de limitação mental;
06 (10%) afirmaram serem ou terem sido agressivos nas relações com seus
familiares;
06 (10%) afirmaram fazer uso regular de bebida alcoólica;
07 (11,66%) afirmaram ser fumantes;
07 (11,66%) afirmaram fazer uso regular de medicação psicotrópica;
Tabela 16 - Distribuição dos idosos vítimas de violência quanto ao relato de
episódios anteriores de desunião e violência no seio familiar. João Pessoa, agosto,
2007
Desunião na família
Violência na família
N % N %
Sim 34 56,66
11
18,33
Não 20 33,33
43
71,66
Indeterminado
06 10,00
06
10,00
Total 60 100,00
60
100,00
59
Conforme mostra a Tabela 16, em mais da metade da amostra de idosos
vítimas de violência (34), havia situações anteriores de desunião na família, e 11
idosos referiram ter havido violência também. É importante ressaltar que, no
imaginário popular a palavra violência, quando citada, é imediatamente associada à
agressão física, com tendência a relevarem-se incidentes de agressão verbal,
omissão e descaso. Sendo assim, numa amostra cuja maior parte refere haver
episódios anteriores de desunião na família, é possível que haja mais casos de
violência do que o que foi constatado pela presente pesquisa.
4.3 Identificação dos agressores dos idosos investigados quanto
ao risco de adoecimento mental:
Tabela 17 – Distribuição da classificação dos agressores quanto ao parentesco em
relação às vítimas. João Pessoa, agosto, 2007
Agressor N %
Filho(a)(s) 21 35,00
Cônjuge 10 16,66
Nora/genro 6 10,00
Neto(a)(s) 5 8,33
Sobrinho(a)(s) 4 6,66
Irmão (ã) 3 5,00
Terceiros 3 5,00
Indeterminado 8 13,33
Total 60 100,00
Destaca-se na Tabela 17 que o agressor dos idosos é, na sua maioria,
alguém muito próximo, com destaque para os filhos, cônjugues, nora e genro.
60
Tabela 18– Distribuição da amostra de acordo com o agressor e o local da agressão.
João Pessoa, agosto, 2007
Local
Agressor casa de parentes
domicílio indeterminado
ruas
Total
Filho(a)(s) - 21 - - 21
Cônjuge - 10 - - 10
Sobrinho(a)(s) 1 3 - - 4
Irmão (ã) 1 2 - - 3
Nora/genro 1 5 - - 6
Neto(a)(s) - 5 - - 5
Terceiros - 1 - 2 3
Indeterminado - - 8 - 8
Total 3 47 8 2 60
Tabela 19 – Distribuição dos agressores de acordo com o fato de morarem ou não
com os idosos vítimas de violência. João Pessoa, agosto, 2007
Agressor mora junto
Agressor não Sim Total
Filho(a)(s) 6 14 20
Cônjuge 4 6 10
Sobrinho(a)(s) 3 1 4
Irmão (ã) 3 - 3
Nora/genro 3 3 6
Neto(a)(s) 2 3 5
Terceiros 3 - 3
Indeterminado - - 9
Total 24 27 60
Dos 60 idosos vítimas de violência, 47 (73,8%) informaram terem sido
agredidos dentro de seus domicílios; destes, 27 (45,00%) afirmaram morarem com
seus agressores, neste caso, filhos (51,85%) e cônjugues (22,22%).
61
4.4 Tipos de violência mais praticada contra os idosos:
Quadro 01 – Distribuição dos tipos de violência sofrida pelos idosos, em João
Pessoa, agosto de 2007
Tipo de violência sofrida* N %
Psicológica 47 55,95
Financeira 17 20,23
Física 9 10,71
Institucional 5 05,95
Negligência 5 05,95
Abandono 1 01,19
Sexual 0 00,00
Auto-negligência 0 00,00
Total 84 100,00
* Respostas múltiplas
Em relação ao tipo de violência sofrida, é importante, mais uma vez, ressaltar
que as formas de violência se sobrepõem umas às outras, e um mesmo indivíduo
pode ser vítima de duas ou mais formas de violência. Os 60 idosos vitimizados
relataram 84 situações de violência sofrida. Na maioria dos casos foram relatadas
violência psicológica associada com violência financeira e física. Não houve relato
de violência sexual e auto-negligência.
Tabela 20 Tipos de violência sofrida pelos idosos de acordo com os respectivos
agressores. João Pessoa, agosto, 2007
Agressor Psicológica
Física
Negligência
Abandono
Financeira
Institucional
Sexual
Auto
negligência
Filho(a)(s) 17 4 -
-
9 - - -
Cônjuge 10 3 3
1
1 - - -
Sobrinho(a)(s) 4 1 1
-
1 - - -
Irmão (ã) 2 - -
-
2 - - -
Nora/genro 5 1 -
-
2 - - -
Neto(a)(s) 5 - -
-
- - - -
Terceiros 1 - -
-
- 3 - -
Indeterminado 3 - 1
-
2 2 - -
Total
47 9 5
1
17 5 0 0
Identifica-se na Tabela 20 que a forma mais freqüente de violência praticada
pelos filhos é a psicológica, seguida de financeira e física. Cônjuges também
praticam a violência psicológica, seguida da física, negligência, abandono e
financeira.
62
4.5 -Associação entre a vitimização pela violência e o risco de
desenvolvimento de transtornos mentais:
Tabela 21 Distribuição dos idosos timas e não vítimas de violência quanto ao
risco/vulnerabilidde de desenvolver depressão e transtorno de ansiedade. João
Pessoa, agosto, 2007
Vítima de violência
Risco Sim Não Total
Com risco N
45
43 88
%
75,00
40,60 -
Sem risco N
15
63 78
%
25,00
59,40 -
Total N
60
106 166
%
100,00
100,00 -
Na Tabela 21 evidencia-se que dentre os 166 idosos investigados, 60
referiram ser vítimas de violência e, destes, 45 (75%) apresentaram risco para
adoecimento mental. Entretanto, dos 106 idosos que se declaram o vitimizados
pela violência 43 (40,60%), apresentaram o risco para adoecimento mental. Apesar
disso, a violência sofrida não é o único fator desencadeante do adoecimento mental,
pois 15 idosos (25%), que informaram serem vítimas de violência, não apresentaram
risco para transtorno mental. Contudo, nesse estudo, evidencia-se uma forte
correlação entre a violência sofrida pelos idosos e o risco de desenvolver depressão
e transtorno da ansiedade.
Tabela 22 Freqüências do risco de desenvolver depressão e transtorno de
ansiedade em idosos vítimas e não vítimas de violência, de acordo com o sexo.
João Pessoa, agosto, 2007
Feminino Masculino
c/ risco s/ risco Total c/ risco s/ risco Total
Vítimas
N % N % N % N % N % N %
Sim 32
71,11
13
28,88
45
100,00
13
86,66
2
13,33
15
100,00
Não 35
39,32
54
60,67
89
100,00
8
47,05
9
52,94
17
100,00
Total 67
-
67
-
134
-
21
-
11
-
32
-
63
Na Tabela 22 observa-se que dos 32 homens da amostra, 15 referiram ser
vítimas de violência e, destes, 13 (61,90%) apresentaram risco para adoecimento
mental, o que proporcionalmente demonstra maior prevalência do risco nas vítimas
do sexo masculino. Tal dado poderia ser significativo se a amostra tivesse alcançado
um n maior, porém com o quantitativo atual não é prudente fazerem-se inferências
sobre as diferenças de proporções entre os gêneros, até porque esta não é a
intenção do estudo.
Tabela 23 – Freqüências do risco para desenvolver depressão e transtorno de
ansiedade em idosos vítimas e não vítimas de violência, de acordo com a idade.
João Pessoa, agosto,2007
Faixa etária
60 – 69 70 – 79 80 - 89
c/risco s/risco total c/risco s/risco total c/risco s/risco total
Vítimas
N % N % N % N % N % N % N % N % N %
Sim
26
81,25
06
18,75
32
100
16
76,19
05
23,80
21
100
03
42,85
04
57,14
07
100
Não
24
44,44
30
55,55
54
100
14
35
26
65
40
100
05
41,66
07
58,33
12
100
Total
50
-
36
-
86
-
30
-
31
-
61
-
08
-
11
-
19
-
Na análise da Tabela 23 não se evidenciam diferenças significativas entre o
risco para transtorno mental nas diferentes faixas etárias, pois 37,2% dos idosos na
faixa etária de 60 a 69 anos, apresentaram o risco, contra 34,41% dos idosos na
faixa etária de 70 a 79 anos, e 36,83%, na faixa de 80 a 89 anos.
Tabela 24 – Distribuição do risco para adoecimento mental de acordo com o tipo de
violência sofrida. João Pessoa, agosto de 2007
Risco de adoecimento mental
Violência Sim Não Total
Psicológica 36
11
47
Física 8
1
9
Negligência 5
-
5
Abandono -
1
1
Financeira 13
4
17
Institucional 4
1
5
Sexual -
-
0
Auto-negligência -
-
0
64
Na análise da Tabela 24 verifica-se que a violência física é a que mais
apresenta correlação com o adoecimento mental (8 casos de risco para
adoecimento mental para um de não risco), seguida da institucional (4:1), financeira
(3,25:1) e psicológica (3,2:1). Porém é importante ressaltar que é pequeno o
quantitativo de amostra de algumas formas de violência (institucional e física). Assim
tem-se que tomar cautela com os valores encontrados.
Tabela 25 Tabela padrão para análise de dados dicotômicos. João Pessoa,
agosto,2007
Risco para depressão e ansiedade
Violência Acometidos Não acometidos Total
Expostos 45 15 60
Não-expostos 43 63 106
Total 88 78 166
Conforme os dados dispostos na Tabela 25 tem-se que:
45 = número de idosos expostos à violência que apresentaram risco de
adoecimento mental (27,1%);
15 = número de idosos expostos à violência que o apresentaram risco para
adoecimento mental (9,04%);
43 = número de idosos não-expostos à violência e que apresentaram risco
para adoecimento mental (25,9%);
63 = número de idosos não expostos à violência (37,9%) e que não
apresentaram risco para adoecimento mental;
n1 = 88 = número de idosos que apresentaram risco para adoecimento
mental (53%);
n2 = 78 = número de idosos que não apresentaram o risco (47%);
n3 = 60 = número de pessoas expostas à violência (36,15%);
n4 = 106 = número de não expostos à violência (63,8%);
N = total da amostra.
Prevalência nos expostos : Pe = a/n3 = 45/60 = 0,75 x 100 = 75%
Prevalência nos não-expostos: Po = c/n4 = 43/106 = 0,405660377 x 100 = 40%
Razão de Prevalência: RP = Pe/Po = 1,848837211
65
Diferenta de Prevalência: DP = Pe – Po = 0,344339623
Qui-quadrado = 18,237, p <0,05
Os dados acima constatam que existe associação entre as variáveis
investigadas (a violência contra o idoso e o risco de adoecimento mental por
depressão e transtornos da ansiedade), confirmando a hipótese inicial do estudo,
sendo a prevalência do risco nos expostos quase duas vezes maior do que nos não
expostos.
66
Discussão
67
5 – Discussão:
O estudo sobre o fenômeno da violência contra o idoso, no município de João
Pessoa/Paraíba/Brasil, revelou aspectos que ainda eram desconhecidos no contexto
da capital paraibana. Os dados encontrados permitem perceber que a problemática
da violência contra idosos, em João Pessoa, apresenta semelhanças com outras
áreas do Brasil e do mundo descritas na literatura.
Neste presente capítulo é feita a discussão conjunta dos resultados
enco.297 -20.64.484(c)-0.295589556(a)-4.36-4.33117(l)1( (c)-0.295589556(a)-4.36-4D4.33õ5(o271276( )278].33117(o)-4.074( )-56(a)-4.33057.295585( )-72.2057(e)5.67474(n)-4.33117(c)-0.29ã-4.-)-4.328732(e)-4.33056(n)-4.33.33117(s)-0.295585( )-7s)-0.295585(c)-0.29558-7s(n)-4.33117(j)11.8771(u-7.49466(á)-4.33117( )-542.5585( )-2.16436a)5.67474(p)-47su.074( )-56(a.295585ac)-0.29558-7souo (c)-0.29558-7s(d)-4.33117(a)-4.33117(f)278]TJ-283.60771(i)1.87122(t)7..295585actõ278]TJ-35e278]TJ-352.t(d2.)1.87122(tã9.71276( )278]TJ-3564 Td[(e)-28287-4e)-4.33117(s.297 -20.64.48-0.294974(o)5.67535(c)-0.294974x3056(l)1.( )-2.16436(n)5.67474(a)-4.331484(p)-4.33117(r)2.331484()-4.33117(t)-2.16558(5.67474(n)p)11.8771(u-7.494)-4.33117(l)1.87123057)-4.33117( )-22.1762( )-542.483(a)-4.33117()9.71032(e)-4.33117(n)-aa4.12 T35.42096(n)-4.33056(A-4.33117(sa)-4.33117(2.2069(p)-4.33117(2(e)-4.sp)-4.33117(í)7.84032(t)-22.1762(s)-0.295585( )-22.1762-9.71032(e.33056(n)-4.33.33117(s)r)2..33543(c)-0.295585(o)6533549c)-0.295585(t)-2.16436)9.71032(ef7 0 Td[(r)-4.33117(-7.49466(á(o)6533548e.33056(n)-4.ói)1.87(a)-4.33117( )-192..33117(( )-22.1762-9.7105585(e)5.67474()-4.32873( )-22.1762()-0.295585(c)-0.295587.84154(e)-4.33061(mj)11.8771(u-7..33117(ói)1.87(a)-g-0.295585í)7.84154(p)-4.33117(ic)-0.295585(o)6533548(t)7.84032(e)-4.33117( )-4.33117(t)-2.16558(r)2.80561(a)5.674773(s)92.16435.-542.483(d)4.33117( )-22.1774(s)9.71032(o)-4..33542(r)12.8115(a)-4.33117(i)1.4971( )-22.17d)5.6746533548(d)-4.32873(e)-6533548()-4.33061(s)-0.2J-319.78]TJ-352.768 -20.9.388 -20.76 Td[(P)-41.1214e)-4.33117(s33056(l)1.87(ê)-4-4.36-4.33187(ê)-4)1.87123057i)-8.13594z1.87(o)1.( )-2.16436 so da(n)5.67474(a)-45088128 vi endo .
68
reduzindo, assim, o número de denúncias, mas não o fato de que eles também e,
principalmente, (talvez) sejam vítimas de violência. Talvez por estas razões, Xavier
et al (2001,a) afirmam que idosos acima de 80 anos, do ponto de vista
biopsicossocial, são denominados frágeis pelos gerontólogos.
É sabido que as mulheres são mais numerosas na fase da velhice, pois
alcançam maior longevidade que os homens. Em decorrência desse fato elas
constituem a maioria da população idosa em praticamente todas as nações, sendo
que 58% da população de mulheres idosas do mundo vivem em países em
desenvolvimento (WHO, 2002, c)
Minayo (2003), Fulmer, Guadagno, Bolton (2004) afirmam que é mais comum
a vitimização da violência intra-domiciliar pelo sexo feminino e que, por uma questão
sócio-cultural, as mulheres constituem alvos mais fáceis de exploração física,
financeira, psicológica, sexual, entre outras.
Dos 166 indivíduos entrevistados na comunidade, 32 eram do sexo
masculino, sendo que destes, 15 (46,8%) se consideravam vítimas de violência.
Apesar do número de vítimas ter sido percentualmente expressivo dentro do grupo
masculino, devido ao pequeno número desta amostra, não é prudente que se façam
inferências sobre este achado. Também não se encontrou na literatura muitas
pesquisas que relatassem ser os homens as mais numerosas vítimas de maus-tratos
na velhice. Gaioli (2004), estudando a violência contra idosos em Ribeirão Preto -
SP , encontrou maior número de vítimas do sexo masculino nos laudos de exame de
corpo de delito daquela cidade, em 2002. O achado da presente pesquisa é
preocupante pois pode já ser o indício de uma tendência de crescimento da violência
entre o sexo masculino.
Quanto ao estado civil dos idosos vitimizados investigados na comunidade,
detectou-se uma predominância de viúvos(a) e casados(a). Sob o olhar dos próprios
idosos, de modo geral, são as mulheres (particularmente viúvas e sem filhos) e os
pobres as maiores vítimas de abuso na velhice (WHO, 2002, c).
Quanto à naturalidade, a maioria dos idosos vitimizados era proveniente do
interior do estado da Paraíba, ou do interior de outros estados, o que sugere
migração rural em direção à capital, João Pessoa. P. Netto, Yuaso e Kitadai (2005)
afirmam que o movimento migratório de áreas rurais vem ocorrendo paralelamente
ao crescimento da população idosa, o que, segundo os autores, contraria a crença
de que no Terceiro Mundo a maioria da população idosa vive em zonas rurais. Os
69
autores ainda acrescentam que indivíduos mais velhos que migram para zonas
urbanas se deparam com perdas de redes sociais e falta de infra-estrutura e apoio
nas cidades, levando um maior número de idosos a viverem na pobreza.
Constatou-se, na amostra da comunidade (nas vítimas), uma predominância
de pessoas consideradas economicamente improdutivas, pelo fato de estarem fora
da parcela considerada pelo IBGE como sendo economicamente ativa. As
ocupações predominantes foram: do lar (41,66%) e aposentados (35,00%). No
Brasil, a situação de aposentadoria está particularmente associada a estigma,
preconceito, inutilidade, à exclusão social e ao abuso (WHO, 2002, c). Após a
aposentadoria, os idosos sentem-se inferiorizados, tendem a ser considerados
inúteis e improdutivos, “(...) o que acaba gerando seu isolamento do convívio social
como forma de preservação” (PENA; SANTO, 2006). Irigaray e Schneider (2007)
acrescentam que mudanças nos papéis sociais, como a aposentadoria,
freqüentemente ocasionam diminuição da auto-estima, do ritmo das atividades e do
interesse pelo dia-dia. Gazalle et al (2004) identificaram maiores freqüências de
sintomas depressivos em populações sem trabalho remunerado, afirmamando que
este achado pode indicar que idosos que se mantêm no mercado de trabalho
continuam se sentindo úteis à sociedade.
Em relação à ocupação das vítimas, constatou-se que antes de se afastarem
do mercado de trabalho, estas exerciam atividades pouco rentáveis, de prestação de
serviço, ou como profissionais autônomos, em sua maioria com profissões que
exigem baixo nível de escolaridade e tem baixo rendimento financeiro, a exemplo de
agricultores, comerciantes, costureiras, donas-de-casa, empregadas domésticas,
motoristas, entre outras. Tal fato pode estar em parte relacionado ao fenômeno do
êxodo rural que traz, para os centros urbanos, mão-de-obra sem qualificação
adequada para o mercado de trabalho, acarretando aumento da informalidade e dos
sub-empregos.
Nesta pesquisa, além da situação de aposentadoria e vida doméstica, foram
identificadas outras características sócio-econômicas como, por exemplo, o baixo
poder aquisitivo inferido pelas ocupações dos idosos.
A maior parte dos idosos vitimados referiu morar em casa própria (71,66%),
corroborando os achados de Melo, Cunha e F. Neto (2006) que, em seu estudo,
identificaram que 87,5% dos idosos vítimas de violência possuíam casa própria.
70
Das 60 vítimas de violência identificadas na comunidade, 34 (56,65%)
afirmaram abrigar em sua moradia entre três a cinco pessoas. Sobre o perfil do
idoso agredido, é interessante acrescentar que o fenômeno da violência contra o
idoso pode ocorrer mais facilmente em famílias numerosas, onde não existe
convivência harmônica entre gerações, onde os espaços físicos e os recursos
financeiros sejam limitados. Melo Cunha e F. Neto (2006) afirmam que 68,3% dos
idosos vítimas de violência, identificados em seu estudo, referiram ter convivência
multigeracional em seus domicílios. A divisão do espaço físico, próprio do idoso e de
seus recursos com gerações mais novas, é um fenômeno mundial conseqüente do
desigual acesso aos bens de consumo na sociedade moderna (WHO, 2002, c).
Os idosos vitimizados também afirmaram ter familiares que lhes eram
dependentes: 34 casos (56,66%), sendo 17 dependentes financeiramente. A
questão da dependência econômica de filhos adultos em relação a pais idosos é
muito presente no Brasil, como encontrado neste estudo, e consiste em fator de
risco para violência, especialmente quando o idoso é a única fonte de recursos da
família (MACHADO;
GOMES; XAVIER, 2001).
A dependência do idoso em relação à sua família aumenta a proximidade e a
intensidade do relacionamento, o que pode resultar em aspectos positivos ou
negativos. Se a dependência for causada por adoecimento, as chances de aumento
de estresse, cansaço físico, emocional e sobrecarga sobre a família (principalmente
sobre o cuidador) se elevam, complicando a relação (CATTANI; GIRARDON-
PERLINI, 2006; SANTOS et al, 2007). Fulmer, Guadagno e Bolton (2004)
concordam que a dependência e vulnerabilidade aumentam o risco de violência a
idosos.
No presente estudo encontram-se 11 idosos (18,33%), vítimas da violência,
que afirmaram ter alguma forma de dependência em relação às suas famílias.
Outros 8 idosos afirmaram ter limitações físicas, e 5 mentais.
Alguns estudos apontam, como fator adicional ao fenômeno da violência contra
o idoso, uma mudança na atual conjuntura familiar. Esta mudança é percebida em
outras regiões do mundo além do Brasil. Em um estudo da OMS (WHO, 2002, c),
idosos de vários países (desenvolvidos e em desenvolvimento) afirmaram que
mudanças nas regras sociais criaram situações que levam ao abuso e à negligência,
citando, como exemplo, a saída da figura feminina do cenário doméstico para o
mercado de trabalho, deixando uma lacuna no cuidado às crianças, aos idosos, e às
71
tarefas domésticas, o que ocasiona atrito e divergências nas relações familiares,
levando a altos níveis de estresse, consequentemente a discussões, negligências
afetivas, físicas e até conflitos corporais. Colaboram ainda neste desequilíbrio
familiar: um menor número de filhos (menor número de pessoas para cuidar dos pais
na velhice); migração dos jovens para outras regiões em busca de trabalho,
deixando os pais idosos nas terras natais; divórcios; diminuição do poder aquisitivo;
lares fisicamente menores; alcoolismo; uso de drogas (P. NETTO, YUASO e
KITADAI 2005; ZILBERMAN, BLUME, 2005).
Das 127 denúncias de abuso contra idosos na Curadoria, 35 (27,55%) foram
motivadas por uso indevido de bens e proventos, e 27 (21,25%), por
desentendimento familiar. Dados desta pesquisa revelaram que 34 (56,66%) dos
idosos vítimas de violência (na segunda fase da pesquisa) referiram haver desunião
em seus laços familiares, e 11 (18,33%) afirmaram outros episódios anteriores de
violência na família. 6, dos 60 idosos vítimas de violência, afirmaram ter sido
agressivos com seus familiares durante a vida; 6 faziam uso regular de bebida
alcoólica, e 7 de medicação psicotrópica.
P. Netto, Yuaso e Kitadai (2005) relatam que a relação entre os componentes
da família tem sofrido transformações acentuadas, ligadas a mudanças na estrutura
familiar, às condições sócio-econômicas, à cultura e urbanização que resultam em
isolamento, solidão e sensação de abandono em uma parcela de pessoas idosas.
Considerando a literatura investigada, a família é hoje a entidade mais
causadora de violência aos idosos. Isso não no aspecto financeiro, mas também
nas outras formas de abuso. Estudos mostram que 90% dos casos de violência e de
negligência contra as pessoas acima de 60 anos ocorrem nos lares (MINAYO;
SOUSA, 2005).
Na análise desta pesquisa, a identificação dos agressores dos idosos revela,
em ambas as amostras, a forte presença de familiares. De modo geral, em 72,5%
dos casos analisados na Curadoria e 81,65% dos casos coletados na comunidade, a
violência foi causada por parentes em diversos graus de proximidade.
Confirmou-se na pesquisa o fato de que são os filhos os agressores mais
freqüentes (35% na segunda fase), seguidos por cônjuges (16,66%), nora/genros
(10%) e netos (8,33%). Segundo Minayo (2004), pesquisas feitas em várias partes
do mundo revelam que 2/3 dos agressores de idosos são filhos e cônjuges. Na índia,
Líbano e Áustria, as relações entre noras e sogras são especialmente conflituosas e,
72
muitas vezes, resultam em diversas formas de maus-tratos, bem como negligência e
até internamento das idosas contra a própria vontade (WHO, 2002, c). Pasinato,
Camarano e Machado (2004) também identificaram os filhos como sendo os
principais agressores dos idosos, seguidos dos netos e outros parentes.
A violência contra o idoso, além de ser praticada pela própria família, ocorre
dentro de seu lar, conforme demonstram os dados, em 103 (81,1%) dos casos
analisados na Curadoria e 47 (78,3%) dos casos coletados nas comunidades. Melo,
Cunha e Neto (2006) identificaram que 62,1% dos casos de violência contra idosos
em Camaragibe PE aconteciam dentro de seus próprios lares. Nesse estudo,
verificou-se que 27 (45,00%) dos casos da segunda amostra, o agressor morava
junto ao idoso.
Os conceitos de violência familiar e violência doméstica não são tão distintos,
constituindo objeto de estudo de várias pesquisas. A violência familiar implica na
existência de laços de parentesco entre a vítima e o agressor, ocorrendo, portanto,
ligada ao laço familiar, dentro ou fora do domicílio da vítima. a violência
doméstica implica em proximidade do agressor para com sua vítima, não
exatamente ligada a laços de parentesco, podendo, portanto, ser exercida por
pessoas que compartilhem do espaço doméstico do idoso, como empregados,
agregados ou visitantes (SANTOS et al, 2007).
Fulmer, Guadagno e Bolton (2004) fazem distinções entre violência doméstica
contra a mulher idosa e maus-tratos ao idoso, na intenção de melhorar a detecção
dos casos, as intervenções e a prevenção. Segundo estes estudiosos, a violência
doméstica contra a idosa geralmente é aquela causada por um parceiro do sexo
masculino. É a violência íntima entre parceiros, onde a mulher tem mais de 65 anos.
Usualmente envolve problemas de saúde mental, não necessariamente uma relação
de cuidado, mas, sim, uma relação entre parceiros íntimos. a violência contra o
idoso propriamente dita envolve abuso, negligência (a forma mais comum),
exploração ou abandono, que podem se dar através de um cuidador pago ou não,
implicando necessariamente numa relação idoso - cuidador (não necessariamente
um casal e nem necessariamente parentes), envolvendo ainda deficiência cognitiva
do idoso. Porém os mesmos autores afirmam que há bastante confusão na definição
destes dois termos, e que as mulheres idosas, de fato, podem ser vítimas de ambas
as formas de violência. Ainda acrescentam que a violência doméstica é mais referida
como violência física, psicológica e sexual, sendo raras as referências à negligência
73
e ao abandono. A violência financeira é reconhecida tanto como violência doméstica
quanto como violência contra o idoso.
Tais definições servem para ilustrar que o agressor do idoso é, em ambas as
formas, alguém muito próximo do mesmo, o que torna o ato de violência ainda mais
tirânico, que praticado por um inimigo íntimo, conhecedor de minúcias em relação
à vida e às fragilidades do idoso, muitas vezes usando o afeto existente entre eles
como arma de agressão ou objeto de negociação.
Corroborando alguns dados encontrados nesta pesquisa, a literatura descreve
características e situações ligadas ao perfil do agressor de idosos mais comumente
identificadas na nossa sociedade: mora com a vítima; é financeiramente
dependente dela; abusa de álcool e drogas; vínculos familiares frouxos;
pouca comunicação e afeto; isolamento social dos familiares da pessoa de idade
avançada, o fato de o idoso ter sido ou ser uma pessoa agressiva nas relações
com seus familiares; história pregressa de violência na família; os cuidadores
terem sido vítimas de violência doméstica; padecerem de depressão ou de qualquer
tipo de sofrimento mental ou psiquiátrico (MINAYO; SOUSA, 2005).
Dados curiosos encontrados ainda precisam ser acrescidos: a violência é
praticada também por filhas mulheres e se transmite por gerações, pois é freqüente
que o agressor seja um neto (a) ou bisneto, ilustrando a influência dos conflitos
intergeracionais.
Segundo um estudo da Organização Mundial de Saúde, os idosos percebem a
questão do abuso sob três amplas áreas de maus tratos: negligência (na forma de
isolamento, abandono, exclusão social), violação (de direitos humanos, legais e de
saúde), privação (de escolhas, de decisões, de status, de finanças, de respeito)
(WHO, 2002, c)
Espíndola e Blay (2007) realizaram uma revisão sistemática acerca da
prevalência de maus tratos na velhice. Encontraram diferenças de prevalência entre
os sexos, e maiores prevalências das seguintes formas de abuso,
decrescentemente: psicológico, físico, financeiro e negligência. Não encontraram
relatos de abuso sexual. Os autores afirmam que cada cultura abriga diferentes
concepções de comportamento abusivo em relação aos idosos, adotando um
conjunto de expectativas variadas no que se refere às atribuições de deveres e
poderes aos idosos. Na Finlândia e China, por exemplo, é maior a prevalência de
violência psicológica.
74
A situação social do idoso no mundo reúne evidências de que maus-tratos,
negligência e exploração financeira são muito mais comuns do que as sociedades
admitem (WHO, 2002, c)
A primeira forma de violência que floresce nos agressores é o desrespeito. Dele
descendem as demais. A falta de respeito leva ao abuso psicológico, físico, sexual,
abandono, negligência, abuso financeiro e até a auto-negligência (como auto-
desrespeito). O desrespeito é a forma mais dolorosa de maus-tratos identificada
pelos próprios idosos de vários países, sendo especialmente praticado por gerações
mais jovens (WHO, 2002, c).
A análise bi variada dos dados da violência sofrida versos agressor mostra que
a violência psicológica é aquela mais praticada por todos os agressores: 65
(33,33%) casos foram identificados na Curadoria do Cidadão; 47 (55,95%)
identificados na comunidade. A violência financeira vem em segundo lugar: 53
(27,17%) casos na Curadoria e 17 (20,23%), na comunidade.
Melo, Cunha e Neto (2006), em seu estudo, encontraram uma predominância
de 62,1% de casos de violência psicológica, e 31,8%, de violência física, sendo a
maior parte das vítimas do sexo feminino em ambas as formas de violência. Não
encontraram casos de violência sexual.
Dentro da definição de violência psicológica estão agrupados os atos de
agressão verbal, agressão gestual, tortura mental, imposição de medo, humilhações,
provocações de terror, restrição de liberdade, ameaças, isolamento do convívio
social. Para a OMS, violentar psicologicamente é infligir angústia mental (WHO,
2002,c)
No tocante ao abuso financeiro (roubo, posse indevida, extorsão), o
desrespeito ao idoso é tamanho que, de fato, o agressor acredita não estar
abusando financeiramente do mesmo, mas, sim, tomando posse de bens e
proventos que verdadeiramente lhe pertencem, pelo grau de parentesco que os une,
por uma questão hereditária (antecipação da morte do idoso: não é uma morte de
fato, mas é uma morte de direito!).
Neste estudo foram identificados 14 casos de violência física na Curadoria, e
9 casos (10, 71%), na comunidade. No estudo de Pasinato, Camarano e Machado
(2004), no Rio de Janeiro, em 2002, foi encontrada uma prevalência de violência
física sobre todas as outras formas de violência denunciadas ao serviço ‘Ligue
Idoso’, sendo três vezes maior para o sexo masculino do que para o sexo feminino.
75
Nos anos subseqüentes, os autores também encontraram predominâncias
semelhantes de agressões físicas e violência material para as vítimas mulheres e
homens, sendo que para estes ainda se acrescentava maior índice de abandono.
Em um estudo qualitativo da OMS, feito com grupos de idosos, foi percebida
dificuldade e desconforto dos idosos em discutir acerca de violência física e sexual,
e foi percebido também que, quando estes temas eram abordados, os idosos se
referiam a eles como fatos presentes na vida de outras pessoas, e não nas suas
próprias, demonstrando dificuldade em relatar tais situações (WHO 2002, c).
Neste estudo foram identificados 26 (13,33%) casos de abandono na
Curadoria, e 01 (1,19%) caso, na comunidade. O abandono de idosos em seus
domicílios, em hospitais e instituições asilares é prática não rara no Brasil e outros
países do Mundo. No Kenya, 15% a 30% dos idosos internados em hospitais
terminam sendo abandonados por suas famílias, sendo que, destes, cerca de
90% evoluem clinicamente com diagnósticos de depressão (WHO, 2002,c). O
abandono de idosos foi o mais freqüente motivo de denúncia recebida pelo ‘Ligue
Idoso’ do Rio de Janeiro, entre os anos de 2003 e 2005, perfazendo
aproximadamente 1/3 das denúncias (PASINATO; CAMARANO; MACHADO, 2004).
Sobre a violência Institucional, esta foi encontrada em 07 casos na curadoria
e 05 (5,95%), na amostra da comunidade. Pasinato, Camarano e Machado (2004),
em um levantamento sobre maus-tratos domésticos contra idosos denunciados
através do serviço ‘Voz do Cidadão’ (Senado Federal), agruparam 41% das
denúncias como violência social/estrutural, que agrupam denúncias de desrespeito
sofrido pelos idosos na esfera pública, sendo que, destas reclamações, 53% se
referiam aos serviços de transporte.
Neste estudo a negligência foi identificada em 25 (12,8%) casos da curadoria
e em 05 (5,95%) casos, da comunidade. A auto-negligência foi encontrada em 04
(2,05%) casos da curadoria, não tendo sido relatada pelos indivíduos entrevistados
na segunda fase. Pasinato, Camarano e Machado (2004) observaram menor
freqüência de casos de negligência e apenas 26 denúncias de auto-negligência em
04 anos, no Rio de Janeiro.
Nesta pesquisa foi encontrado um caso de violência sexual, denunciado na
Curadoria, e nenhum, na comunidade. Jones e Powell (2006) analisaram os
problemas em se cuidar de uma pessoa idosa na sociedade ocidental, sob o
enfoque da vulnerabilidade e da violência sexual. Conforme estes autores, a
76
violência sexual contra o idoso é um dos últimos tabus da vida moderna e existem
poucas pesquisas neste tema. Estudos realizados apontam que a maior parte das
vítimas é mulher, com cerca de 85 anos, totalmente dependentes de seus
cuidadores; a maior parte dos agressores é homem (a maioria filhos homens
adultos), e o abuso se dá através de violação vaginal. Para estes autores, a questão
da violência sexual, na terceira idade, não é causada apenas pelo forte apelo sexual
do agressor. Mais do que isso, trata-se de uma relação de poder: é a vulnerabilidade
do idoso que atrai o agressor. Ginny Jenkin, diretor do Action for Elder Abuse, coloca
este fato claramente em seu discurso:
As pessoas acham difícil entender porque alguém iria querer abusar
sexualmente de um idoso, mas um indivíduo que sofra de alguma
fragilidade mental ou física é a vítima perfeita: não pode defender a
si mesmo, não pode fugir, e se conseguir comunicar o problema
pelo qual passa, provavelmente não será acreditado. O que mais
qualquer agressor pode querer? Não é uma questão de sexo, é uma
questão de poder. Existem até mesmo sites de pedofilia que
encorajam homens (pedófilos), com dificuldade de abordar crianças,
a procurar empregos em asilos. Eles afirmam que o sexo é tão bom
quanto, e que o risco de serem pegos é bem menor (JONES;
POWEL, 2006, p.215).
A análise bi variada da violência sofrida versus agressores, na amostra da
comunidade, demonstra que os filhos praticaram mais atos de violência psicológica,
financeira e física, seguidos dos cônjuges, que praticaram violência psicológica,
física, negligência, abandono e financeira (ver tabela 20).
Na correlação entre a vitimização pela violência e o risco para
desenvolvimento de transtorno da ansiedade e depressão, encontrou-se significativa
associação entre estas duas variáveis, uma vez que 45 (75%) dos expostos à
violência apresentaram o risco para adoecimento mental contra 43 (40,56%) dos
indivíduos não expostos.
Um estudo realizado numa clínica geriátrica do Texas identificou que
pacientes idosos vítimas de abuso e negligência apresentaram, com maior
freqüência, os diagnósticos de depressão e demência (DYER et al 2000, apud
FULMER; GUADAGNO; BOLTON, 2004)
77
Obviamente é importante ressaltar que a violência sofrida não é o único fator
desencadeante do adoecimento mental, pois 15 (25%) idosos que informaram serem
vítimas de violência não apresentaram risco para transtorno mental e, ao mesmo
tempo, a proporção encontrada de indivíduos não expostos à violência que
apresentaram risco para depressão e ansiedade é relativamente alta (43 indivíduos,
40,56%). Na revisão literária deste estudo traz-se uma lista de outros fatores
envolvidos com o desencadeamento de transtornos mentais na velhice.
Para citar alguns exemplos de fatores de risco para adoecimento mental,
Gazalle et al (2004) encontraram, em seu estudo sobre idosos, maiores médias de
sintomas depressivos nos grupos das mulheres, nas maiores idades, nos indivíduos
de cor branca, sem companheiro (a) atual, com menor escolaridade, menor nível
social, sem trabalho remunerado, sem participação em atividades comunitárias, com
perda por morte de algum familiar ou pessoa importante no último ano e com baixa
atividade física.
Neste presente estudo, investigou-se também o fumo nos idosos vítimas de
violência da segunda fase da amostra, e encontrou-se um pequeno quantitativo que
referia ser fumante (apenas 7 indivíduos, 11,66% da amostra), não sendo possível,
portanto, estabelecer correlações numéricas significativas com o risco de
adoecimento mental. Porém, no estudo de Gazalle et al (2004), foi encontrada uma
maior média de sintomas depressivos em pessoas fumantes, e Largue et al, apud
Gazalle et al (2004) afirmam que a associação entre dependência de tabaco e
diversas formas de transtornos da ansiedade e depressivos é bem estabelecida.
Observou-se uma maior proporção de timas do sexo masculino (61,90%)
com risco para transtorno mental em relação às vítimas do sexo feminino (47,76%).
Xavier et al (2001,b) afirmam existir um aumento na prevalência de Episódio
Depressivo Maior entre idosos mais velhos do sexo masculino (sendo este aumento
progressivo com a idade).
Não se evidenciaram diferenças significativas entre o risco para transtorno
mental nas diferentes faixas etárias, pois 37,20% dos idosos, na faixa etária de 60 a
69 anos, apresentaram o risco contra 34,41% dos idosos, na faixa etária de 70 a 79
anos, e 36,83% na faixa de 80 a 89 anos.
Xavier et al (2001,a) investigaram a prevalência de transtorno da ansiedade
generalizada (TAG) em uma população de idosos acima de 80 anos que viviam em
comunidade. Encontraram uma prevalência estimada de TAG de 10,6%, cuja
78
presença estava associada a uma maior ocorrência de depressão clinicamente
diagnosticável, com um significativo maior mero de sintomas depressivos e com
uma maior ocorrência de depressão menor. A presença de TAG estava associada a
um significativo pior padrão de qualidade de vida relativo à saúde. Os autores
consideraram que, comparado a outros estudos, o deles apresentou alta prevalência
de TAG na população de idosos mais velhos.
Xavier et al (2001, b), em outro artigo publicado sobre o mesmo estudo (em
octogenários), encontraram uma prevalência de depressão maior em 7,5% da
amostra, sendo que estes apresentavam mais freqüentemente comorbidade com
transtorno da ansiedade generalizada. Os autores inferem que episódios
depressivos são freqüentes entre os idosos com mais de oitenta anos. Conforme os
autores, evidências da literatura sugerem que a “quarta idade”, isto é, idosos mais
velhos, esteja em maior risco para episódio depressivo maior, quando comparada a
faixa de 60 a 79 anos, ainda que sejam evidências não claramente estabelecidas.
Uma das causas desta maior prevalência poderia estar ligada ao pior estado de
saúde dos octogenários em relação aos sexagenários. Existem controvérsias sobre
qual é a prevalência de depressão maior entre pessoas com mais de 65 anos
residentes nas comunidades, porém, suficientes evidências epidemiológicas para
estimar uma taxa entre 2% a 5% entre os idosos (XAVIER et al, 2001, b).
Na presente pesquisa, proporcionalmente, a violência física foi aquela que
mais apresentou correlação com o adoecimento mental (08 casos de risco para
adoecimento mental para um de não risco), seguida da violência institucional (4:1),
financeira (3,25:1) e psicológica (3,2:1). Porém é importante ressaltar que é pequeno
o quantitativo de amostra de algumas formas de violência (institucional e física).
A Prevalência do risco para adoecimento mental, nos indivíduos expostos à
violência, foi de 0,75 (75%) contra 0,405660377 (40%) de prevalência nos indivíduos
não expostos.
Oliveira, Gomes e Oliveira (2006) afirmam que a depressão é a doença
psiquiátrica mais comum entre os idosos, e que o estudo de sua prevalência é
relevante na prática clínica, para intervenção adequada e prevenção de riscos. Os
autores encontraram ainda uma prevalência de 31% de depressão entre os idosos,
sendo 26% com depressão leve à moderada e 4% com depressão grave.
Semelhante ao presente estudo, também não encontraram diferenças significativas
79
quanto à presença de depressão entre as faixas etárias estudadas, e a maior
predominância de sua amostra foi de mulheres.
A depressão apresenta conseqüências negativas para a vida dos indivíduos
acometidos. Na população idosa os quadros depressivos têm características
peculiares, com predomínio de sintomas de diminuição do sono, perda de prazer nas
atividades habituais, ruminações sobre o passado e perda de energia (GAZALLE et
al, 2004)
Gazalle et al (2004) realizaram um estudo sobre sintomas depressivos na
população idosa, em Pelotas RS, e encontraram maiores médias de sintomas
depressivos nos grupos das mulheres. Como a coleta de dados foi realizada no
domicílio dos idosos e nas unidades de saúde, tais autores refutam a idéia de que a
depressão é mais diagnosticada em mulheres porque elas procuram mais os
serviços de saúde. Piccinelli e Watson apud Gazalle et al (2004) atribuem a maior
freqüência de depressão em mulheres por questões sócio-culturais relacionadas
com experiências diversas e maior vulnerabilidade a eventos estressantes.
Leite et al (2006) realizaram uma investigação da freqüência de depressão
entre os participantes do Programa Universidade Aberta à Terceira Idade em
Pernambuco, relacionando com variáveis demográficas e socioeconômicas. Foi
identificado o diagnóstico de depressão em 24,02% dos casos, desses sendo
75,58% com depressão menor e 24,42%, com depressão maior.
Irigaray e Schneider (2007) investigaram a intensidade e prevalência de
sintomatologia depressiva em mulheres idosas, participantes do programa
Universidade para a Terceira Idade, e constataram ausência de sintomatologia
depressiva em 80,6% da amostra, associada ao tempo de mais de um ano de
participação das idosas no grupo para terceira idade. Também encontraram no alto
nível de escolaridade um fator protetor contra a depressão.
Leite et al (2006) consideraram os seguintes sinais e sintomas para o
diagnóstico de depressão: tristeza, pouca disposição, pessimismo em relação ao
futuro, auto-crítica, irritação, auto-acusação, idéias suicidas, dificuldade de
concentração e também distúrbios do sono e do apetite. Foi identificado o
diagnóstico de depressão em 24,02% dos casos, desses sendo 75,58% com
depressão menor e 24,42%, com depressão maior. Também foi encontrada
associação significante entre depressão e baixa escolaridade, e os sintomas mais
80
freqüentemente associados foram preocupação, dor de cabeça, pouca disposição,
irritação, tristeza e insatisfação.
Xavier et al (2001, b) observaram que os idosos que apresentavam algum
diagnóstico de humor, apresentavam também um maior número de diagnóstico de
enfermidades clínicas.
Duarte e Rego (2007) investigaram a associação da depressão com doenças
crônico-degenerativas em idosos, encontrando significância estatística entre
depressão e número de patologias crônicas maior que três. O mal de Parkinson foi a
patologia mais associada, principalmente em mulheres entre 70 e 79 anos
A depressão como co-morbidade associada a doenças físicas é menos
provável de ser diagnosticada e tratada do que quando aparece sozinha no quadro
clínico do doente (SARTORIUS et al 1996, apud SNOWDON 2002). Segundo
Snowdon (2002), muitos estudos multi-etários afirmam que a depressão é menor na
velhice do que na vida adulta. O reduzido número de diagnósticos de depressão na
velhice pode estar relacionado com a forma como a doença está sendo investigada
na atualidade, desconsiderando sinais e sintomas depressivos específicos da
terceira idade. Estes relatos de que a depressão é menos comum na velhice podem
desestimular os dicos a investigar e tratar tal doença em seus paciente idosos.
De fato, investigando muitos estudos anteriores sobre a prevalência da depressão
nas diferentes faixas etárias de vida, Snowdon não encontrou correlação entre a
depressão e uma faixa específica de idade.
O estudo de Snowdon (2002) enfatizou a alta prevalência de depressão nos
idosos pelo mundo, inclusive no Brasil, e argumenta contra estudos que relatam
taxas relativamente baixas e prevalência decrescente de depressão na velhice. Em
relação a estudos de prevalência de depressão especificamente na velhice,
Snowdon (2002) afirma parecer haver diferenças nos critérios diagnósticos adotados
pelos diferentes estudos, bem como na metodologia usada para estabelecer tais
critérios. Segundo este autor, não faz sentido sugerir que a depressão é menos
freqüente na velhice.
Variações nas taxas de prevalência dos diferentes tipos de depressão, entre
distintas faixas etárias, podem ser relevantes quando se analisam diferenças no
custo-benefício do cuidado clínico entre estas faixas (SNOWDON, 2002). Porém não
deve ser usadas para se preterir tratamento a uma determinada faixa etária em
relação a outra, pois o prejuízo que os sinais e sintomas de depressão causam na
81
qualidade de vida e função psico-social do doente são igualmente maléficos em
qualquer faixa etária, carecendo igualmente de recursos e tratamento adequado.
Oliveira et al (2006) afirmam que há poucas investigações a respeito da
prevalência de ansiedade na população acima de 65 anos. Os autores investigaram
a relação entre ansiedade, depressão e desesperança em idosos asilados e não
asilados. Identificaram que relação significativa entre ansiedade, depressão e
desesperança entre os idosos pesquisados, com índice de correlação
expressivamente mais alto entre ansiedade e depressão. A ansiedade apresentou
uma incidência de sintomas mais graves nesta população estudada, o que pode
estar relacionado ao fato de que o idoso possui uma visão catastrófica em relação a
diversas situações da vida, gerando sentimento de perigo e ameaça. O idoso asilado
não tem perspectivas positivas em relação à própria vida, com constante sentimento
de abandono e instabilidade em relação ao futuro, o que gera ansiedade.
Byrne (2002) relata que alguns estudos mais recentes estimam a prevalência
de ansiedade, variando entre 0,9% a 15% em pessoas com 65 anos ou mais. As
variações nos valores de prevalência de transtornos da ansiedade divergem muito,
talvez devido a diferentes instrumentos e algorítmos diagnósticos. Este autor
encontrou estimativas de prevalência de transtorno de ansiedade generalizada em
pessoas idosas, variando entre 0,7% e 7,1%. Prevalência de desordens bicas em
idosos tem variado entre 0,0% a 12%. A etiologia dos transtornos da ansiedade na
velhice é obscura, talvez esteja associada à doença orgânica severa. A prevalência
de transtornos da ansiedade aparenta declinar com o avançar da idade. Mulheres
idosas são mais susceptíveis do que os homens. Parece ser mais prevalente entre
idosos asilados, com doenças como derrame e demência. Sabe-se pouco sobre as
características clínicas específicas dos transtornos da ansiedade nos idosos e de
como eles diferem dos transtornos da ansiedade nos mais jovens. O mesmo autor
ainda aponta que transtornos da ansiedade não poderiam ser diagnosticados na
presença de outras desordens psiquiátricas, como depressão e demência.
A Razão de Prevalência encontrada neste estudo foi de 1,848837211, e a
Diferença de Prevalência foi de 0,344339623. O teste de Qui-quadrado
(significância estatística), em relação ao risco de adoecimento mental em idosos
vítimas de violência, apresentou um resultado de 18,237, com p< 0,05.
Não se encontraram, na literatura científica, muitos estudos que houvessem
investigado a prevalência de depressão e ansiedade em populações de idosos
82
especificamente expostas à violência, e nem estudos que buscassem a associação
da violência contra o idoso com o risco para desenvolvimento de depressão e
transtorno da ansiedade. Porém o teste de significância estatística do presente
estudo denota uma importante associação entre a violência sofrida pelos idosos e o
risco para desenvolvimento de transtornos mentais como depressão e ansiedade.
Sanches (2006), em sua dissertação de mestrado “Violência doméstica contra
idosos no município de o Paulo estudo SABE, 2000”, verificou que idosos com
quadro depressivo grave são mais vulneráveis ao risco de sofrer violência doméstica
(8,3%) e, por outro lado, se a exposição à violência for anterior ao episódio
depressivo, existe uma prevalência de quadro de depressão leve em 29% da
amostra.
Ramos (2005) afirma que a depressão, no idoso vítima de violência, além de
ser um fator de risco para agressão, pode ser também uma conseqüência dela.
Algumas outras considerações a respeito da coleta ainda são necessárias de
se fazer antes de encerrar-se a discussão dos dados da presente pesquisa.
Após um extenso levantamento da literatura científica, percebeu-se que a
utilização de um instrumento, especialmente criado para medir risco de depressão e
ansiedade na velhice, teria sido mais especifico em identificar os potenciais doentes,
haja vista que os quadros de depressão e ansiedade, nesta fase, apresentam
características e manifestações peculiares da idade, tornando seu diagnóstico
diferente, para não dizer difícil, em relação ao adulto. Gazalle et al (2004) fazem
críticas à aplicação de instrumentos de rastreamento de depressão em população
idosa que não tenham sido especificamente elaborados para os idosos, pois é
necessário considerar que a sintomatologia da depressão, nesta fase da vida, se
mostra diferenciada da fase adulta, com maior expressão dos sintomas referentes à
erosão afetiva.
Xavier et al (2002, b) afirmam que, em estudos que excluam pessoas com
evidência de doença cerebral orgânica, deveria ser esperado que a prevalência de
desordens depressivas (com ou sem demência) esteja sendo subestimada, pois a
presença de deliruim e de demência pode ocorrer conjuntamente com a presença de
depressão maior, sendo uma associação inclusive comum nos estágios iniciais dos
quadros de Alzheimer. Na presente pesquisa excluíram-se da amostra idosos com
tais características, porém, vale ressaltar que não se estava aqui buscando
83
necessariamente o diagnóstico de depressão e ansiedade, mas, sim o risco de se
desenvolver tais doenças.
Estudiosos como Espíndola e Blay (2007) apontam como viés os estudos com
auto-avaliação referida pela amostra como sendo ou não vítimas de violência, pois
tais estudos estão sujeitos a lapsos de memória, supervalorização do fato ocorrido,
medo, inibição, entre outros vieses. Nas entrevistas aplicadas para esta pesquisa, os
indivíduos, antes de se julgarem ou não vítimas de violência, assistiam a uma
palestra explicativa sobre o tema da violência contra o idoso, cujo intuito era trazê-
los para tal contexto e rememorar episódios passados e atuais de abuso . Nas
aplicações do instrumento na Curadoria do Cidadão, não era preciso fazer palestra
de esclarecimento, pois os idosos procuravam o serviço se reconhecendo como
vítimas.
Foi percebido durante o levantamento de dados, na Curadoria do Cidadão,
que mulheres idosas agredidas por seus filhos homens claramente preferiam não
acusá-los, chegando a retirar as denúncias. Nos relatos da Curadoria, durante as
visitas domiciliares para averiguação dos casos denunciados, alguns idosos
chegavam a negar terem sido vítimas de seus filhos e parentes, embora estivesse
visível o quadro de negligência e abuso financeiro praticados pelos familiares.
Santos et al (2007) afirmam que o idoso não obtém em si próprio a coragem
para prestar uma queixa formal contra seus agressores em instituições legais, por
sentir-se freqüentemente inseguro e desprotegido.
Fulmer, Guadagno e Bolton (2004) afirmam que as mulheres mais velhas são
menos prováveis em denunciar abusos à polícia do que as mulheres mais novas.
Ainda estes mesmos autores afirmam que a mulher idosa tima de maus-tratos tem
recursos sociais e econômicos limitados, tornando-se resignada em viver numa
situação abusiva, porque o abuso já vem lhes acompanhando por toda a vida. Como
resultado, mulheres idosas sem comprometimentos físico, ou cognitivos, que sofrem
violência íntima de seus parceiros, são menos identificadas pelos serviços de
proteção à violência.
Uma última impressão ainda precisa ser colocada: a de que, em alguns
casos, os idosos não são apenas vítimas nos conflitos. P. Netto, Yuaso e Kitadai
(2005) afirmam que o conflito entre os idosos e a sociedade, principalmente com as
gerações mais jovens, não se apenas na forma de rejeição unilateral (da
sociedade para com o idoso). Os idosos também têm suas rejeições em relação aos
84
jovens e ao seu próprio processo de envelhecimento. Alguns idosos insistem em
impor no presente valores culturais do passado, não procurando reconhecer as
mudanças de conjuntura social e a elas se adaptarem.
Para resolver a questão da violência contra os idosos é preciso que as
gerações busquem igualdade de direitos e respeito às diferenças.
Ainda se acrescenta que é importante que se tratem os casos de depressão
na velhice, porque os idosos se sentirão melhor após o tratamento e sua qualidade
de vida melhorará. Depressões não tratadas na velhice estão associadas à piora das
incapacidades, ao aumento no uso dos serviços de saúde e à morte prematura
(SNOWDON, 2002)
85
Considerações Finais
86
6 - Considerações Finais:
87
A associação encontrada entre a violência contra o idoso e o risco de
desenvolvimento de transtorno mental por depressão e transtorno da ansiedade é
significativamente alarmante, pois demonstra ao menos uma conseqüência grave
dos maus-tratos sofridos: o comprometimento adicional da saúde mental,
ameaçada nesta fase por tantos outros fatores.
Num período da vida em que se perde progressivamente a força física, a
manutenção das faculdades mentais é essencial para a existência, pois permite
manter a compreensão da realidade, formular planos, manter a autonomia, admirar a
vida ao redor.
Dentre os vieses encontrados pode-se citar o fato de que durante a segunda
fase da coleta de dados, não se encontraram facilmente indivíduos vítimas de
violência, tendo sido necessário completar a coleta da dados com os idosos que
compareceram à Curadoria do Cidadão. Pode-se atribuir o fato ao seguinte: idosos
que participam de grupos de apoio social (como os grupos de idosos dos PSF´s)
encontram uma melhor rede de apoio e prevenção a agravos, inclusive sobre maus-
tratos, sendo mais conscientes de seus direitos e portanto, menos sujeitos a abusos.
Em alguns casos denunciados na Curadoria do Cidadão, percebeu-se que o
simples fato de ter sido feita uma denúncia a um órgão responsável foi suficiente
para intimidar os agressores que, conforme relato dos próprios idosos, mudavam
seus comportamentos e cessavam as agressões, sendo então a denúncia retirada.
Tal fato reforça o quanto é importante que se denunciem os casos de maus-tratos
aos idosos.
A realização desta pesquisa contribuiu para exibir, ao menos por um ângulo
de visão, a situação de maus-tratos por que passam os idosos da cidade de João
Pessoa, bem como para evidenciar que a violência, além do mal que causa por si
mesma, ainda pode trazer conseqüências adicionais, até devastadoras, como é a
depressão na velhice.
Perante a situação encontrada recomenda-se:
que sejam denunciados às instâncias responsáveis os casos de maus-
tratos a idosos encontrados na população, por todo e qualquer cidadão,
principalmente por familiares e profissionais de saúde;
que os profissionais de saúde procurem se capacitar melhor para
identificar adequadamente idosos que estejam sofrendo qualquer forma de
88
maus-tratos e que dêem seguimento (abordagem) adequado aos casos
encontrados;
que os Programas de Saúde da Família atuem de forma preventiva na
violência contra o idoso: conscientizando familiares e cuidadores,
oferecendo suporte (orientação e supervisão periódica) às famílias com
idosos dependentes, esclarecendo os próprios idosos sobre a questão,
inclusive orientando sobre onde mais podem buscar ajuda.
que durante a abordagem aos idosos, os profissionais de saúde busquem
identificar sinais e sintomas específicos de depressão na velhice, pois
estes achados, além de importantes para a melhoria da saúde mental do
idoso, podem levar a descobrir se o mesmo está ou não sendo vítima de
violência;
que o governo procure dar melhor suporte social às famílias que
contenham idosos com altos graus de dependência, criando programas
específicos para esta clientela (terapia comunitária, assistência social e de
enfermagem domiciliar, casas-dia e outros);
que sejam feitos estudos de coorte com populações de idosos expostas e
não expostas à violência, e que periodicamente sejam aplicados, nestas
populações, instrumentos específicos de diagnóstico de depressão e
ansiedade na velhice, para a confirmação da violência como fator de risco
para depressão e transtorno da ansiedade nessa fase da vida.
A velhice é a fase da vida que representa o seu desfecho. Deveria acontecer
de forma digna, tranqüila, confortável, contemplativa. Deve ser vista pelos mais
jovens com admiração, pelo extenso caminho já percorrido.
Manter o respeito às gerações mais velhas é a chave do conflito da violência
contra o idoso. O respeito deve ser percebido pelas gerações mais jovens e não
imposto. Para tanto é necessária uma quebra de paradigma na forma como se
encara o envelhecimento atualmente. Esta mudança de visão pode começar no
próprio seio familiar, perpassando pelas instituições de ensino, grupos sociais, mídia
e internamente em cada indivíduo que envelhece.
Aceitar a velhice de braços abertos, para com ela e para com o mundo ao
redor, é a melhor forma de se respeitar e de conquistar respeito.
89
Referências
90
7 - Referências:
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96
Apêndices
97
8 – Apêndices:
Apêndice A: Questionário Violência II
Se você se sente vítima de alguma das formas de violência mostrada na
palestra, responda a este questionário também:
Ficha Nº______
1. Dados de identificação:
Bairro de procedência:_______________________________________
Estado civil: ( )casado(a); ( )solteiro(a); ( ) viúvo(a); ( )separado(a); ( )
união estável.
Cor da pele:________________________________________________
Cidade onde nasceu:_________________________________________
Ocupação atual:_____________________________________________
Ocupação anterior:___________________________________________
Tipo de domicílio: ( ) casa própria; ( ) casa alugada
2.Conjuntura familiar:
Com quantas pessoas mora?_________________________________
O Sr(ª) depende da sua família para se manter? Sim ( ); Não ( )
Sua família (ou seus cuidadores) dependem do Sr. (ª) de alguma forma?
Sim ( ), Não ( ); especificar:________________________________
O Sr (ª) tem um cuidador? Sim ( ) Não ( )
Seu cuidador tem problemas sérios com estresse, uso de álcool ou outras
drogas, doença mental?( )Sim; ( )Não
Se sim, especificar: _________________________________________
Há desunião na sua família (vínculos familiares frágeis)? Sim ( );Não ( )
Há histórias anteriores de violência na sua família ? Sim ( ); Não ( )
3. Quanto ao idoso:
Tem alguma limitação física? Sim ( ); Não ( )
Tem alguma limitação mental: Sim ( ); Não ( )
O Sr(ª) foi ou é uma pessoa agressiva nas relações com seus familiares?
Sim ( ); Não ( )
Usa álcool ? Sim ( ); Não ( ). Se sim, com que
frequência?___________________________________________________
Fuma ? Sim ( ) Não ( ). Se sim, quantos cigarros ao dia?____________
98
Toma medicamentos controlados? ( )Sim; ( )Não. Se Sim,
quais:________________________________________________________
4.Quanto ao abuso sofrido:
Tipo de abuso sofrido:
Física ( ); Psicológica ( ); Negligência ( ); Auto-negligência ( );
Abandono ( ); Abuso financeiro ( ); Abuso sexual ( ) Institucional( )
Detalhar:
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
________________________________________________________
Local onde se deu o
abuso:____________________________________________________
Quem foi o agressor ? (qualidade e vínculo entre o agressor e a vítima):
_________________________________________________________________
___________________________________________________
O agressor vive na mesma casa que o senhor (a) ? Sim ( ); Não ( )
99
Apêndice B:
Álbum seriado para palestras nas comunidades
Violência contra o idoso
Introdução:
O envelhecimento no mundo;
O envelhecimento no Brasil;
O processo de envelhecimento
e o despreparo da sociedade;
A geração da violência contra
os idosos;
Quem são os agressores?
Tipos de violência contra os idosos:
Abuso Físico:
Acontece quando se usa a
força sica para forçar o idoso à
fazer algo contra sua vontade,
para ferir seu corpo, provocar dor,
incapacidade ou até a morte.
Abuso Psicológico:
Agressão verbal ou através
de gestos; gritos, xingamentos
ameaças de qualquer tipo,
humilhações. Tudo com o objetivo
de aterrorizar, provocar medo,
restringir a liberdade e isolar o
idoso do convívio social.
100
Tipos de violência contra os idosos:
Abandono:
Acontece quando o
responsável pelo idoso (seja
ele um familiar, uma
instituição ou o governo),
deixa de prestar socorro a
uma pessoa idosa que
necessite de proteção.
Negligência:
Acontece quando os
familiares ou as instituições
responsáveis se recusam ou
se omitem em prestar os
cuidados necessários a uma
pessoa idosa.
Tipos de violência contra os idosos:
Abuso financeiro e econômico:
Exploração imprópria ou
ilegal dos idosos, ou uso não
consentido por eles de seus
recursos financeiros,
patrimoniais.Ex: pensão,
aposentadoria, imóveis, carros,
comércios, empréstimos.
Auto-negligência:
Diz respeito à conduta da
pessoa idosa que ameaça sua
101
Tipos de violência contra os idosos:
Abuso sexual:
É a obtenção de prazer,
excitação, relação sexual ou práticas
eróticas contra a vontade do idoso,
usando para isso a força física,
ameaças, ou aliciamento. Pode ser
homo ou heterossexual.
Violência Institucional:
É aquela praticada por
instituições públicas ou privadas,
quando desrespeitam os direitos dos
idosos. Ex: bancos, financeiras, INSS,
supermercados, hospitais, postos de
saúde,planos de saúde.
Violência contra os idosos:
-70% das vítimas eram
mulheres;
-81,1% dos casos
ocorreram dentro do
domicílio;
-52% dos agressores foram
os próprios filhos;
-A violência psicológica
(50,4%) e financeira
(41,7%) foram as formas
mais incidentes,
A violência contra os idosos em João Pessoa: dados da
Curadoria do cidadão:
102
Violência contra os idosos:
A importância da conscientização à respeito
do tema.
Onde buscar ajuda?
-Curadoria do Cidadão:2107-6112;2107-
6111
-Delegacia da Mulher e do Idoso:3218-
5316;3218-5317
-CEAV (Centro de apoio às vítimas de
violência):0 800 83 3883
-Conselho municipal do idoso:3218-9845
-Conselho Estadual do Idoso: 3218-4489
A pesquisa e seus objetivos
Como participar: termo de consentimento
livre e esclarecido, preenchimento das fichas
103
Apêndice C:
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
O Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal da
Paraíba convida o senhor (a) a participar de um estudo sobre violência contra a
pessoa idosa e o risco que ela traz para o adoecimento mental. Este estudo está
sendo desenvolvido para se investigar as características da violência sofrida pelos
idosos na cidade de João Pessoa, bem como para saber se essa violência pode
levar o idoso à desenvolver doenças como ansiedade ou depressão.
Para se saber se existe risco do idoso desenvolver tais doenças mentais por
causa da violência, é preciso que uma pessoa idosa, que tenha ou não sido
recentemente vítima de violência, responda a um questionário de 20 perguntas, com
respostas SIM ou NÃO, sobre sua saúde nos últimos trinta dias.
O preenchimento deste questionário não traz desconfortos nem riscos para
aqueles que o preencherem. É assegurado o anonimato (não identificação) das
pessoas participantes do estudo, é garantida a liberdade do idoso em se recusar a
participar ou retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, sem nenhum
prejuízo para ele. Esta pesquisa o acarreta despesa para seus participanrtes, e
também é dada a garantia de se fornecer esclarecimentos sobre qualquer dúvida
relacionada ao estudo.
A realização deste estudo pode contribuir para caracterizar a violência contra
a pessoa idosa na cidade de João Pessoa, para medir o risco que ela traz para o
adoecimento mental do idoso, para alertar os profissionais de saúde e a sociedade
sobre o assunto, possibilitando discussões que desenvolvam alternativas para
diminuição ou solução do problema.
Diante das informações fornecidas pela pesquisadora, aceito participar deste
estudo.
_______________________________________________
Assinatura do participante ou responsável legal
104
_______________________________________________
Assinatura da testemunha
_______________________________________________
Assinatura da pesquisadora
João Pessoa, ____/ ____/ ___.
Endereço para contato:
Universidade Federal da Paraíba - Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
Centro de Ciências da Saúde - Campus Universitário I - João Pessoa-PB
Cep: 58059-900 - Fone: (083) 3216-7109 Número de controle:_________
105
Apêndice D:
Ficha de transcrição dos registros da Curadoria do Cidadão
Ficha nº:__________
Ano e mês da denúncia:
Idade: Sexo:
Bairro onde reside:
Tipo de violência sofrida:
Física ( ) psicológica ( ) sexual ( ) abandono( )
negligência ( ) financeiro( ) auto-negligência ( ) outra ( )
Local da agressão:
Motivo:
Agressor:
Observações:
106
Anexos
107
Anexo - 01
QUESTIONÁRIO Ficha nº_____-
Qual é a sua idade?
Você se sente vítima de alguma das formas de violência mostradas na palestra?
Sim ( ) Não ( )
Self Report Questionaire - SRQ - 20
Você já sentiu algum desses sintomas nos últimos 30 dias?
01- Tem dores de cabeça freqüentes? 1- Sim 2- Não
02- Tem falta de apetite?. 1- Sim 2- Não
03- Dorme mal? 1- Sim 2- Não
04- Assusta-se com facilidade? 1- Sim 2- Não
05- Tem tremores de mão? 1- Sim 2- Não
06- Sente-se nervoso(a), tenso(a) ou preocupado(a) 1- Sim 2- Não
07- Tem má digestão? 1- Sim 2- Não
08- Tem dificuldade de pensar com clareza? 1- Sim 2- Não
09- Tem se sentido triste ultimamente? 1- Sim 2- Não
10- Tem chorado mais do que de costume? 1- Sim 2- Não
11- Encontra dificuldades para realizar com satisfação suas atividades
diárias?
1- Sim 2- Não
12- Tem dificuldades para tomar decisões? 1- Sim 2- Não
13- Tem dificuldades no serviço (seu trabalho é penoso, causa
sofrimento)?
1- Sim 2- Não
14- É incapaz de desempenhar um papel útil em sua vida? 1- Sim 2- Não
15- Tem perdido o interesse pelas coisas? 1- Sim 2- Não
16-Você se sente uma pessoa inútil, sem préstimo? 1- Sim 2- Não
17-Tem tido idéias de acabar com a vida 1- Sim 2- Não
18- Sente-se cansado(a) o tempo todo? 1- Sim 2- Não
19- Tem sensações desagradáveis no estômago? 1- Sim 2- Não
20- Você se cansa com facilidade? 1- Sim 2- Não
SOMATÓRIO DO SRQ - Total de sim |___||___|
108
AVALIAÇÃO DO QUESTIONÁRIO: (Determinação da pontuação) Somam-se as
respostas afirmativas (Sim) da seguinte forma:
Para o SRQ-20 o ponto de corte utilizado foi de 5-6 para homens e de 7-8 para
mulheres, graduando o Risco para Depressão e Ansiedade.
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