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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Maria Cristiana da Silva Vilela
A formação docente de Rondonópolis/MT: um olhar sobre
o brincar no cotidiano das Unidades de Educação Infantil
Cuiabá/MT
2007
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ii
Maria Cristiana da Silva Vilela
A formação docente de Rondonópolis/MT: um olhar sobre
o brincar no cotidiano das Unidades de Educação Infantil
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora do Programa de Pós-
Graduação do Instituto de Educação,
como exigência parcial para obtenção do
título de Mestre em Educação, sob
orientação da Professora Doutora
Filomena Maria de Arruda Monteiro
PPGE/IE Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT).
Orientadora: Profª Drª Filomena Maria Arruda Monteiro
Cuiabá/MT
2007
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iv
Dedicatória
Dedico a minha mãe, professora Eva Cadidé,
que valorizou a todos seus educandos, através
da sua dedicação e dom de ensinar.
v
Agradecimentos
Agradeço a Deus, pela oportunidade de estar e ser.
À minha família, especialmente ao meu pai, e irmãos que sempre me incentivaram a
continuar, e acreditar que sou capaz, embora muitas vezes soubessem das minhas limitações,
dizendo a cada degrau: essa é só a primeira, vais conseguir muito mais”.
Ao meu esposo que mesmo com as reclamações, conseguiu vencer junto comigo mais uma
etapa, tanto na vida conjugal, quanto na profissional.
À Professora Drª. Filomena Maria de Arruda Monteiro, minha orientadora, pela dedicação,
orientação e compreensão nos diversos momentos transcorridos com muita sabedoria e
paciência. À Professora Drª Raquel G. Salgado, pelo carinho e atenção especial se
disponibilizando a participar da banca interna. À Profª Drª Rosa Maria A. de Oliveira
demonstração de colaboração de forma ímpar ao meu desenvolvimento participando da
banca externa.
À Ir. Ângela Benitez, que me orientou desde os primeiros passos em Campo Grande/ MS, e
aos professores da UFMT/Campus Universitário de Rondonópolis, em especial a Prof. Dr.
Ademar Lima de Carvalho, pela dedicação na suplência da banca examinadora.
Aos colegas de curso e de orientação especialmente Ana Karina, que se colocou sempre à
disposão para tudo”. Aos amigos (as), aos vizinhos (as), ao Sindicato dos Professores
(SIPROS) pela acolhida, e a todos que me hospedaram para realização desse curso. As
companheiras mestrandas de Rondonópolis, Dulcilene, Genialda, Isamara, Adelice, e
Rosenei. Muitas vezes, frente às inúmeras dificuldades de estrada, choramos juntas, mas,
também demos muitas risadas.
E em especial às Professoras de Educação Infantil de Rondonópolis/MT peças fundamentais
para a realização deste trabalho, bem como colegas professores e servidores do Estado de
Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul.
vi
Às crianças que foram observadas neste trabalho, aos meus sobrinhos (a) e afilhados que
muitas vezes me fizeram sorrir, chorar, e me derreter, compreendendo o sentido da realização
dessa pesquisa, reafirmando o desejo de trabalhar com elas e para elas.
Procura-se uma criança que possua asas para voar e
pernas para caminhar, que saiba observar o mundo
que a cerca, que possua grande voracidade
“cognitiva”, que saboreia uma descoberta após outra,
e escolhe sozinha seus itinerários formativos, suas
próprias trilhas culturais, livre dos elos que a
impedem de crescer. Ao encontrar essa criança estará
diante de uma “infância recuperada”. (Franbboni
1998, adaptação Maria Cristiana).
- 13 -
Resumo
Este estudo tem como objeto de pesquisa o brincar, objetivando investigar como o
brincar está presente na Educação Infantil, que concepção de brincar m os professores que
atuam na Educação Infantil, e quais são as contribuições têm os professores em relação às
suas necessidades. A questão problematizadora é: como o brincar está presente na Educação
Infantil? Para chegar à resposta faço uma contextualização do campo de pesquisa, do objeto e
dos sujeitos de pesquisa em uma Unidade Municipal de Educação Infantil em
Rondonópolis/MT. Diversos autores que estudam o brincar me auxiliam na fundamentação
teórica, tais como: Chateau (1984), Vigotsky (1994), Leontiev (1994), Benjamim (1982),
Brougère (1995), Kishimoto (1996). Com relação à formação de professores, os autores que
fundamentam esta pesquisa são: Pérez Gómez (1992), Garcia (1999), Kramer (1992, 2006),
Kishimoto (1992) e Mizukami (2004). Através de uma pesquisa qualitativa, com
embasamento teórico em Bogdan & Biklen (1994) e André (2005), utilizo os seguintes
instrumentos de coleta de dados: ficha diagnóstica (I), e (II), observação participante com
registro em protocolo e entrevista. A análise dos dados é feita através de 2 eixos temáticos:
eixo temático 1 [E-1] sub-eixo: O brincar e demais atividades realizadas cotidianamente e
eixo temático 2 [E-2]: sub-eixo: Trajetória profissional/pessoal do professor e sub-eixo:
o papel do professor e da Educação Infantil. A análise dos dados permitem-me compreender
que, o brincar está implícito no cotidiano da Educação Infantil, embora dependente de uma
rotina que delimita o tempo da criança em detrimento do tempo dos adultos. O brincar
acontece dentro da sala-de-aula dirigido pelo professor, com o objetivo de aprender conteúdos
programáticos. A sala de aula é um ambiente em que a criança fica esperando ser dirigida,
demonstrando sua autonomia nos espaços extra-classe. Tais resultados me levam-me a
considerar a necessidade de uma formação continuada mais específica para os professores,
em relação à grande importância do brincar, para o desenvolvimento da criança na Educação
Infantil.
Palavras-Chave: Criança; Educação Infantil; Infância; Formação de Professores
e Brincar
.
- 14 -
Abstract
This study has object of research the play” objectiving: to investigate like he play is
present in the school to children, who conception of to play teacher has that action in children
education, and what contributions the teachers have in front of your need. The question
problem is: how the play is present in children education? To arrive at answer i did a
contextualization of the place’s research, of the object, and of the research’s subjects, in a
public school of the children education in the city of Rondonopolis, state of Mato Grosso.
Several authors that study about the play, are helping me on the theory fundamentation are:
Chateau (1984), Vigotsky (1994), Leontiev (1994), Benjamim (1982), Brougère (1995)
kishimoto (1996). In relation at the formation teacher based on the authors this research are:
Perez Gomez (1992), Garcia (1999), Kramer (1992, 2006), Kishimoto (1992) e Mizukami
(2004). Through of a qualitative research, based on the theory Bogdan & Biklen (1994) e
André (2005), the instruments to collect of data were: diagnostic paper (i) e (ii), observation
participant with protocol registered and interview. The analysis of the data were did through
of two points named E(1) the play and more activities realized daily and other named E(2)
trajectory professional and person of the teacher, and teacher’s function and of the children
education. The dataset obtained allow-me comprehend that the play is in everyday of the
children education, although dependent of a routine that limit time of the child because adult’s
time. The play happen in classroom ministered by teacher, with the objective of learns content
programmed. The classroom is a place to a child stay waiting to be guided. The children only
demonstrate autonomy on the places out. These dataset take me to consider need of an initial
formation or continued most specific to teachers, in relation at big importance of the playing
to the development of child on the child’s education.
Key Words: Children; Child’s education; Teachers’ formation; and to play.
- 15 -
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................16
I - CONTEXTUALIZANDO O OBJETO DE PESQUISA, SUJEITOS E O CUS DE
PESQUISA................................................................................................................23
1.1 - Caracterização do ambiente da pesquisa.....................................................25
1.2 - Atendimento e Espaço físico .........................................................................26
1.3 - Rotina das Atividades.....................................................................................27
1.3.1 - Cronograma de atividades onde é prevista disponibilidade de espaços e
materiais coletivos..................................................................................................28
1.3.2 – Rotina diária das atividades.......................................................................28
1.4 – Leitura do Planejamento................................................................................32
1.4.1 – O brincar no planejamento diário de turmas da Educação Infantil.........33
II - DA HISTÓRIA DA INFÂNCIA À QUALIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL.......36
2.1 – Educação Infantil no Brasil ...........................................................................39
2.2 – Educação Infantil de Qualidade....................................................................43
III - AS POLÍTICAS PARA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO
INFANTIL..................................................................................................................46
3.1 - Educação Infantil no Município de Rondonópolis .......................................53
3.2 – Os profissionais que atuam na Educação Infantil em Rondonópolis........54
3.2.1 – Nas Unidades de Educação Infantil...........................................................55
3.2.2 – Nas Instituições Cáritas Diocesana...........................................................56
IV - O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL ..........................................................58
V - ANÁLISE DOS DADOS ......................................................................................67
5.1 – Análise do Registro do Protocolo de observação participante..................68
5.1.1 E-1: Sub-eixo: - O Brincar e demais atividades realizadas
cotidianamente .......................................................................................................68
5.2 – Análise das Entrevistas.................................................................................79
5.2.1 – E.2. 2º Sub-eixo: Trajetória Profissional/pessoal .....................................79
5.2.2 - E.2 - 3º Sub-eixo: O papel do professor e da Educação Infantil ..............85
5.3 – Um olhar sobre o brincar: articulando os dados.........................................95
- 16 -
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................99
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 102
ANEXOS ................................................................................................................ 104
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Cronograma de atividades onde é prevista a disponibilidade de
espaços e materiais coletivos................................................................................28
Quadro 2 Conclusão resultante das observações quanto aos horários das
atividades com crianças.........................................................................................29
Quadro 3 Incidência do brincar, na fase do ciclo durante 24 dias letivos
..................................................................................................................................33
Quadro 4 Incidência do brincar, na fase do ciclo durante 24 dias letivos
..................................................................................................................................34
Quadro 5 – Incidência do brincar, na 3ª fase do 1º ciclo durante 24 dias letivos
..................................................................................................................................34
Quadro 6 Formação dos Professores de Educação Infantil da Rede Municipal
de Rondonópolis.....................................................................................................56
Quadro 7 – Formação dos Professores de Educação Infantil, nível lato sensu57
Quadro 8 - Formação dos Profissionais que atuam na Educação Infantil,
Instituição Cáritas Diocesano................................................................................57
- 17 -
INTRODUÇÃO
O interesse pelo desenvolvimento de uma pesquisa voltada para a educação nasce
em função da minha vida pessoal, como filha e neta de Professoras
1
, pioneiras em
Rondonópolis, tive-as como espelho para também atuar na área da docência.
Iniciei aos 17 anos como professora da pré-escola, egressa do curso de magistério,
da Escola Estadual “Sagrado Coração de Jesus”, 1989 a 1991, escola precursora na formação
de professores no município de Rondonópolis e região.
Comecei a lecionar como substituta na escola estadual “Pindorama”, em 1992,
onde permaneço por 2 anos na pré-escola. A partir dessa experiência com crianças de 05 e 06
anos, em 1994, fiz o concurso da secretaria municipal educação pela prefeitura de
Rondonópolis para o cargo de “Pajem”, iniciando então as atividades com crianças na faixa
etária de 04 anos.
Pelo fato de estarmos em um período transitório e indefinido de luta da categoria
pela valorização do trabalho docente, e de dúvidas pessoais em relação à firmação no campo
profissional, no intuito de obter uma maior qualificação profissional, em 1996, fui à
UNOESTE, onde iniciei o curso de Letras na Universidade do Oeste Paulista/UNOESTE,
seguindo em 1999, com a especialização voltada para o Ensino da Língua Inglesa, Faculdade
São Luis – Jaboticabal no Estado de São Paulo.
1
Minha avó Professora Maria de Lima Cadidé foi uma das primeiras professoras de Rondonópolis, atuando entre
as décadas de 50 a 70, e minha mãe, professora Eva Cadidé da Silva, grande alfabetizadora em Rondonópolis na
rede municipal, e pelo Estado de MT, entre o período de 1968 a 2005.
- 18 -
Em 2000, com a legalização do Plano de Cargos e Carreira do Servidor (PCCS), a
nomenclatura do cargo de Pajem muda para “Docente de Educação Infantil”. Essa transição
de “Pajem” para “Docente de Educação Infantil” foi uma luta muito recorrente da categoria e
membros sindicais, pela legalização e valorização dos profissionais que iniciam a educação
básica no município de Rondonópolis. Muitas conquistas foram adquiridas, desde as
atividades que exercem as Docentes de Educação Infantil, até a formação em nível superior, o
regime de trabalho de 30 horas semanais, o direito à hora-atividade dentro da carga horária, a
realização de formação continuada.
Em outras oportunidades de trabalho concomitante com as atividades na Educação
Infantil, atuei no Ensino Fundamental “séries finais”, e também no Ensino Médio,
experiências extremamente diferentes, em relação ao ensino para a Educação Infantil.
Em 2004, continuo os meus estudos com a preocupação em obter uma formação
voltada para a Educação Infantil. Começo, então, a fazer um curso de pós-graduação, lato-
sensu em Psicologia da Educação Teoria e Prática, pela Universidade Federal de Mato
Grosso/CUR/UNISELVA
2
.
No curso de especialização inicia o meu interesse pela importância do brincar no
desenvolvimento da criança. Para finalizar o curso desenvolvo a monografia intitulada
“Brinquedos e Brincadeiras na Educação Infantil”
3
, a partir deste trabalho considero a
necessidade de maior aprofundamento dos estudos, que retomo neste momento.
Assim o meu trabalho de 11 anos (1994 a 2005) com crianças na Educação
Infantil de Rondonópolis e a experiência adquirida contribuíram sobremaneira para a
elaboração deste trabalho de dissertação.
De acordo com pesquisas divulgadas recentemente, muitas crianças passam a
maior parte do tempo assistindo à televisão, e poucos pais afirmam brincar com seus filhos.
Tais dados me levam a constatar que, com a ida precoce das crianças - desde os primeiros
meses - para a unidade de Educação Infantil, essa responsabilidade foi transferida para os
professores e unidades de Educação Infantil. Daí a minha constatação sobre a necessidade de
uma pesquisa científica sobre “o brincar” na Educação Infantil.
2
CUR/Centro Universitário de Rondonópolis, pela UNISELVA/Fundação de Apoio e Desenvolvimento da
Universidade Federal de Mato Grosso.
3
A pesquisa de Monografia “Brinquedos e Brincadeiras na Educação Infantil” visava investigar quais eram as
brincadeiras utilizadas no cotidiano escolar, e também realizar um inventário dos brinquedos e a disposição para
as crianças.
- 19 -
Com o objetivo de investigar como o brincar está presente na Educação Infantil de
Rondonópolis, e que concepções do brincar têm os professores que atuam na Educação
Infantil, além de quais contribuições os professores têm frente às suas necessidades, procuro
através desta pesquisa responder a algumas questões.
Como o brincar está presente na Educação Infantil?
Que concepções de brincar têm os professores que atuam na Educação
Infantil?
O que têm contribuído para a atuação desse professor em relação ao
brincar?
Os autores que estarão me auxiliando a entender melhor, problematizar e
fundamentar a necessidade da realização do brincar nas atividades realizadas são:
VIGOTSKY (1994,1984), LEONTIEV (1994), BENJAMIN (1982), BROUGÈRE (1995),
KISHIMOTO (1996).
Vigotsky (1984) define que o brincar é uma “situação imaginária” criada pela
própria criança. O autor chama a atenção para o jogo de papéis que se desenvolve a partir das
atividades da criança com o objeto, principalmente no 2º e 3° ano de vida. Mais ou menos aos
três (03) anos, a criança passa a substituir objetos nomeando-os como outros objetos.
Para Benjamin (1992:46) a criança desmonta o brinquedo para se apoderar dele.
As crianças m interesse pelos retalhos, cacos e pedaços de brinquedos reconhecem nos
restos o rosto que o mundo das coisas lhes mostra”.
Para fundamentar a história da criança, busco estudos em Ariès (1978), e
Kulmann Jr. (1998), Arce (2005). Segundo ARIÈS (1978), a partir da infância instituída
começa a emergir uma nova sociedade, a criança passa a ser percebida.
Sobre a formação inicial e continuada dos professores de educação infantil, busco
autores como REZ GÓMEZ (1992), GARCIA (1999), KRAMER (1992, 2006),
KISHIMOTO (1992) e MIZUKAMI (2004), entre outros. Além de Documentos Oficiais
(RECNEI, FUNDEB e LDBEN) e Políticas Municipais tais como: Plano Municipal de
Educação e Proposta Diretriz Curricular para o Ensino de Educação Infantil.
- 20 -
Esta pesquisa de abordagem qualitativa se preocupa em fornecer informações
detalhadas do contexto em estudo, com referências bibliográficas metodológicas em André
(2005), Bogdan & Biklen (1994).
Bogdan & Biklen (1994) utiliza a observação-participante e a entrevista como
exemplo, considerando-a qualitativa por possuir 5 características, embora muitas pesquisas
que se denominam qualitativas não contemplem todas elas.
1. Na investigação qualitativa a fonte direta de dados é o ambiente natural, onde o
investigador é constituído como instrumento principal;
2. Na investigação qualitativa os dados são descritos em forma de palavras e
imagens, tentam analisar os dados em toda a sua riqueza, de forma minuciosa;
3. Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo, do que pelo
produto;
4. Os investigadores qualitativos tentam analisar seus dados de forma indutiva,
o recolhem dados para confirmar hipóteses prévias, e sim processar através
de abstrações os dados colhidos, agrupando-os.
5. O significado é a importância vital na abordagem qualitativa, os investigadores
qualitativos estão continuamente questionando os sujeitos de investigação com
o objetivo de perceber o modo como eles interpretam as suas experiências e
como eles próprios estruturam o mundo social em que vivem.
A pesquisa se dividirá em duas fases:
1. Fase exploratória
2. Fase de aprofundamento dos estudos.
A fase exploratória é o momento de definir a (s) unidade (s) de análise, -
caso -, confirmar – ou não – as questões iniciais estabelecer contatos
iniciais para a entrada em campo, localizar os participantes e estabelecer
mais procedimentos e instrumentos de coletas de dados. ANDRÉ,
(2005:48)
- 21 -
A fase exploratória foi subdividida em dois momentos:
Num primeiro momento, a pesquisa exploratória se inicia com a elaboração de um
instrumento de pesquisa que denominei “Ficha Diagnóstica (I)” para obtenção dos
primeiros dados, quanto à formação inicial dos professores, organização do espaço
educacional, capacidade de atendimento. Nesse instrumento levantei alguns dados
para poder demonstrar o funcionamento e organização da Unidade de Educação
Infantil, conforme apresentação capítulo 1, [1.3].
Num segundo momento, após esse entendimento do funcionamento
organizacional, a fim de compreender melhor o objeto de pesquisa, elaborei um
segundo instrumento que chamei de “Ficha diagnóstica (II). Este instrumento visava
identificar, a partir da leitura dos planejamentos diários de 06 turmas, no mês de
agosto, a incidência do objeto pesquisado, as formas em que aparece o objeto de
pesquisa. Conforme abordarei no capítulo 1 [1.4.1]
Optei por uma sala, que, no planejamento, a professora mencionava ter como
objetivo o “resgate do brincar”. Este fato me chamou atenção, pois, entre inúmeros objetivos e
estratégias exemplificadas em vários momentos do planejamento, em outras turmas, o
resgate do brincar” poderia me mostrar um brincar diferente, um brincar que não fosse
conteudístico. Esse ponto vinha ao encontro do objeto de pesquisa. O que realmente, ao
planejar “o resgate do brincar”, essa professora estava entendendo sobre o brincar?
Antes do início da segunda fase (aprofundamento dos estudos) da pesquisa
quando aconteceria a observação-participante registrada em protocolo, visando obter um
ambiente natural durante essa fase da investigação. Foi combinado com as professoras
titulares da sala a ser observada, que ainda não seria comunicado o objeto de pesquisa, dando-
lhes a confiança de que os protocolos registrados estariam abertos para leitura e
questionamento das mesmas. Após conversa e aceite das professoras titulares
4
da sala-de-aula,
começo então a segunda fase da pesquisa denominada aprofundamento dos estudos, que o:
4
No município de Rondonópolis ao ano de 2006 em todas as turmas de Educação Infantil havia 2 professoras
titulares por turma, número justificado conforme a resolução 276/CEE/MT.
- 22 -
Observação-participante registrada em protocolo
Entrevista com duas professoras registradas por meio eletrônico.
Segundo André (2005) a observação é chamada de participante porque se admite
que o pesquisador tenha sempre um grau de interação com a situação estudada, afetando-a e
sendo por ela afetado.
O registro de protocolo da observação-participante visa registrar diariamente as
atividades desenvolvidas tal como acontecem, nos diversos espaços internos e externos da
sala-de-aula, onde são realizadas atividades dentro da Unidade de Educação Infantil. A
observação-participante aconteceu no período de 26/09/2006 a 16/11/2007, totalizando 40
horas, sendo de duas a três vezes por semana, tanto no período matutino quanto no vespertino.
As entrevistas foram realizadas com as 02 professoras titulares da sala-de-aula, as
professoras aqui entrevistadas foram denominadas com o nome fictício de: “Lírio e Gérbera”.
As entrevistas foram realizadas a partir de um roteiro semi-estruturado, em local e horário
escolhidos pelas professoras, individualmente, sendo gravada por meio eletrônico e,
posteriormente, transcrita em arquivo de texto WORD.
A observação–participante e as entrevistas aprofundadas são assim,
os meios mais eficazes para que o pesquisador se aproxime dos
sistemas de representação, classificação e organização do universo
estudado. ANDRÉ (2005:27)
Os instrumentos de pesquisa elaborados exclusivamente dão suporte para a
elaboração da análise do estudo em profundidade. Stenhouse (apud, André 2005:21) diz que
um único caso é estudado pela observação participante, apoiada pela entrevista como na
antropologia social ou cultural.
Para melhor interpretação, os dados foram analisados em 2 grandes eixos
temáticos. Os eixos emergiram da análise dos dados através dos instrumentos: protocolo de
observação-participante registrado em protocolo e entrevistas.
A análise da observação-participante com registro em protocolo, emergiu um
único eixo [E-1].
- 23 -
A análise das entrevistas emergiu outros dois eixos 2 eixos temáticos, sendo:
eixo, sobre a trajetória pessoal e profissional e o eixo, sobre o papel do professor e da
Educação Infantil [E-2].
[E-1]: 1º eixo: O brincar e as demais atividades realizadas cotidianamente.
[E-2]: 2º eixo: Trajetória pessoal/profissional;
3º eixo: O papel do professor e da Educação Infantil
Esses eixos serão apresentados no capítulo V.
Este trabalho está organizado em seis capítulos, no primeiro capítulo, faço uma
contextualização do objeto pesquisado, demonstrando alguns dados iniciais na pesquisa
exploratória. No segundo capítulo, retomo a história da infância a partir do século XVII e a
origem da Educação Infantil a partir da Revolução Industrial, até a busca pela qualidade da
Educação Infantil. No terceiro capítulo, apresento as políticas para a Educação Infantil, e
apresento os dados sobre o mapeamento da formação dos professores de Educação Infantil do
município de Rondonópolis/MT.
No quarto capítulo, trago os referenciais teóricos sobre o “brincar”, objeto desta
pesquisa.
No quinto capítulo, apresento a análise e discussão dos dados referentes à fase de
aprofundamento dos estudos e, por fim, faço as considerações finais, seguindo referências
bibliográficas e anexos.
- 24 -
I - CONTEXTUALIZANDO O OBJETO PESQUISADO, SUJEITOS E O
LÓCUS DE PESQUISA
O brincar nos últimos anos vem sendo considerado como instrumento de grande
importância para o desenvolvimento da criança. Recentemente, uma pesquisa da Universidade
College (Inglaterra) reforça a ligação entre a inteligência e a brincadeira. Pesquisadores, ao
acompanhar crianças de países pobres até a adolescência, notaram que o brincar é importante
no desenvolvimento da criança, dando base para o seu desenvolvimento psíquico,
desenvolvimento da autonomia e construção da sua identidade.
No Brasil um estudo demonstra que em média, 85 % das crianças brasileiras
brincam de assistir à televisão, de cantar e ouvir música, de desenhar, de andar de skate e
bicicleta. Os pais, no entanto, acreditam que os filhos precisam estudar mais que brincar e ,
apenas 53% dos pais afirmam brincar com seus filhos
5
.
A qualidade do brincar também é importante para a construção da cultura familiar
e da criança. Acredito que a dia e as tecnologias tenham tomado as rédeas do tempo das
crianças, que ficaram desprovidas de orientação e acompanhamento, à mercê dos conteúdos
televisivos. É necessário um brincar, que cultive a fantasia, que simbolize a imaginação da
criança.
Os momentos destinados ao brincar, em muitos casos, vêm sendo utilizados para
outros fins. Como por exemplo: é comum os pais utilizarem como meio de tolher a criança,
tirando-lhe o prazer, como por exemplo, o videogame, a bicicleta, o computador, etc. A
brincadeira também é utilizada como meio de terapia ludoterapia” em que as relações da
5
(Revista Crescer, maio 2007, nº160).
- 25 -
criança seriam recriadas simbolizando seus problemas, resolvendo-os em outro contexto,
através do brincar.
Para criar suas brincadeiras, a criança precisa de um espaço e das mãos, com a
sua imaginação ela pode criar e recriar suas pprias fantasias tendo como principio o
convívio e interações sociais. Mas, temo que as crianças o estejam tendo esse espaço, para
criar e recriar o mundo que a cerca com seu próprio imaginar.
Ao discutir especificamente a imaginação na infância, Vigotsky (2003) discorda
da opinião que advoga a superioridade da imaginação e criação da criança em relação ao
adulto. Isso é falso, pois a criança ainda não tem a mesma riqueza de experiências e de
conteúdos disponíveis ao adulto.
Tendo discutido os processos subjacentes à atividade criativa, Vigotsky (2003) faz
um levantamento das formas de expressão da imaginação, que são também práticas
pedagógicas, analisando a expressão literária, a criação teatral e o uso do desenho na infância.
Estes são exemplos de exteriorizações da criatividade, assinaladas por Vigotsky (2003)
como sendo o princípio motivacional da imaginação, o desejo de materializar a criação. Nesta
fase a criatividade dá-se mais na forma de criação verbal. Lembra ainda (como salientou
Paulo Freire tempos depois) a importância de se trabalhar aqueles conteúdos significativos à
criança, algo que a estimule e tenha conexão emocional para ela.
[...] a imaginação infantil mostra a cada passo que o processo de
desenvolvimento de outras funções psíquicas superiores, está seriamente
ligado a linguagem da criança, a forma psicológica principal de sua
comunicação com aqueles que rodeiam, isto é, a forma fundamental de
atividade coletiva social da consciência infantil,
(VIGOTSKY 1999:123).
Segundo Benjamin (1992, apud FLORES, 2006) para a criança, quando ela
brinca, é tão importante pois ela reorganiza o brincar no imaginário sem perder a utilidade
real do objeto, assim as cadeiras que ora são um trem, logo a seguir voltam a ser cadeiras. O
mesmo autor afirma, ainda, que existe uma lei fundamental que, antes de todas as regras ou
leis particulares rege a totalidade do mundo do brinquedo: “A lei da repetição” (1984, p.74),
ou seja, para a criança a repetição é o cerne do jogo, cada vez que joga ou ouve uma história,
é como se fosse a primeira vez, precisa ouvir e brincar centenas de vezes, vivencia todas essas
- 26 -
repetições, saboreando cada momento como se fosse único, renovando a experiência daquele
instante, como o adulto que relata situações vividas e, depois disso, sente um profundo alívio.
Para Leontiev (1994) a situação objetiva imaginária é sempre uma situação de
relações humanas e relações sociais, nela surge o processo de subordinação da criança às
regras da ação. Para as crianças menores de 4 anos, talvez, seja necessário adaptar as regras
do jogo, através de signos que representem animais por exemplo, ou aquele que melhor a
criança compreenda. O autor ainda diz que, dominar a regra significa aprender a dominar seu
próprio comportamento.
Facilitar a situação de imaginária, é possível e importantíssimo, é muito comum
introduzi-las tardiamente devido à dificuldade de donio dos pais, e agora dos professores,
que participam da educação e desenvolvimento das crianças menores. Para tanto é necessário
profissionais que devem estar preparados para acompanhar o desenvolvimento integral da
criança.
1.1 - Caracterização do ambiente e sujeitos de pesquisa
A Unidade de Educação Infantil, denominada, aqui, campo de pesquisa, está
situada em um bairro de classe baixa, atende a 186 alunos de 04 meses a 4 anos e 11 meses.
As turmas ou agrupamentos, o organizados por faixa etária, e denominadas de ciclos.
Os ciclos da Educação Infantil correspondem ao que determina a Lei 9394/96.
Instaura-se a creche de 0 a 3 anos (1º ciclo), e a pré-escola (2º ciclo), de 4 anos e 11 meses, a
pré-escola (II ciclo) 1ª e 2ª fase
6
.
A Unidade de Educação Infantil (lócus de pesquisa) conta com 26 professores
7
,
Docentes de Educação Infantil, que trabalham 06 horas diárias totalizando 30 horas semanais
inclusive 01 professora que atua como supervisora, 01 professora que atua como diretora
8
,
além da equipe de serviços diversos e agentes de vigilância.
6 Essa denominação corresponde ao que estava sendo utilizado em 2006, quando mantinham ainda as crianças
de 4 anos nas creches, a partir do início de 2007 as crianças que completavam 4 anos até o mês de março foram
remanejadas para a escola, especificadamente desta Unidade para a Escola de Educação Infantil “Rubem Alves”.
7 Número de professores existentes até o ano de 2006.
8 A diretora foi eleita por meio de gestão democtica, fato ocorrido pela primeira vez nas Unidades Municipais
de Educação Infantil de Rondonópolis a partir de 2004.
- 27 -
O corpo docente tem, na sua maioria, experiência de 13 anos totalizando 59% a
dia de faixa etária de 31 a 40 anos. Essa fase, segundo Sikes (1985) que desenvolveu um
estudo para analisar as diferentes etapas da vida pela qual o professor passa. A pesquisa
concluiu que a idade de 30 a 40 anos é um período em que o professor se encontra com
capacidade física, intelectual e energia, o que implica na ambição e confiança em si mesmo.
Fase de estabilização, normalização e às vezes procurando promoção. Embora sendo um
universo feminista, os autores Pajak e Blasé (1989) fazem um estudo mostrando que é para as
mulheres uma fase difícil, devido à tensão provocada pela maternidade, estabelecendo
conflitos nas relações entre vida profissional e pessoal.
1.2 - Atendimento e espaço físico
A ficha diagnóstica (I) demonstrou excesso de número de crianças por espaço
oferecido, bem como quantidade excedente de alunos por professor. Com base na Resolução
Estadual 276 CEE/MT/2000, aferida pelo município, na sala denominada fase do ciclo
(berçário), a sala freqüentada por bebês de 04 meses a 1 ano e 11 meses, o espaço sico tem
capacidade para atender 28 crianças, e tem matriculadas 34 crianças.
A Resolão 276 prevê de 6 a 8 bebês por professor (a), calculando na quantidade
de 3 professores por período, o número ideal de crianças seria no nimo 18 e o máximo 24
crianças/bebês, mas o número se excede em no nimo 03 bebês por professor, fazendo uma
freqüência média de 30 crianças por dia. nas turmas maiores de 2 a 4 anos e 11 meses, há,
em alguns casos, também excessos, embora, seja um número menor de alunos excedentes,
entre 01 ou 02 crianças a mais por professor.
A superlotação é comum em toda parte, o neste município. também
excessos em outros municípios, conforme notícia publicada no jornal “A gazeta” de 11 de
abril de 2007.
Quanto ao espaço oferecido, os dados demonstraram que este é insuficiente para o
número de crianças matriculadas. A Resolução 276, art. 14, recomenda que o espaço
oferecido deva ser determinado em 1.50 m
2
para cada criança. Na turma denominada fase
do ciclo, um número de crianças incompatível com o tamanho da sala, onde cabem 28
crianças há 34, ou seja, 06 crianças além do permitido. Nas demais salas, cerca de 4 a 5
crianças excedentes além do permitido de acordo com o espaço oferecido.
- 28 -
A Unidade Municipal de Educação Infantil funciona em período integral,
iniciando às 06 horas da manhã e finalizando às 18 horas, de segunda a sexta-feira,
totalizando 60 horas semanais.
um déficit de espaço para as crianças matriculadas, e muitas crianças
aguardando vaga. Em maio de 2006, havia cerca de 100 nomes de crianças, em uma lista
denominada lista de espera”.
1.3 - A rotina de atividades
Para a organização das atividades no tempo estabelece-se o que se chama de
rotina. As atividades na Unidade de Educação Infantil funcionam sincronizadamente, pelo
fato de dividirem muitas vezes os mesmos espaços e recursos didáticos, faz-se necessária a
organização de um cronograma coletivo, que deve ser seguido sem atraso. É importante
colocar esse fato para que se possa compreender a rotina, que é a mola propulsora para
desenrolar as atividades, estando a criança conduzida a horários e atividades/ações ditadas
pelo adulto.
O cronograma (1.3.1) e (1.3.2) abaixo está diretamente ligado à rotina de
atividades da Unidade de Educação Infantil pesquisada.
- 29 -
1.3.1 - Cronograma de atividades onde é prevista a disponibilidade de espaços
e material coletivo
Quadro 1 Cronograma de atividades coletivas afixado no mural da sala de aula, e
contracapa do caderno de planejamento.
FASES
SEGUNDA-
FEIRA
TERÇA-
FEIRA
QUARTA-
FEIRA
QUINTA-
FEIRA
SEXTA-
FEIRA
1ª Fase Som TV Pátio TV Pátio
2ª fase TV Pátio Som
Brinquedos
pedagógicos
Parque
3ª fase A Pátio
Brinquedos
pedagógicos
TV Som Pátio
3ª fase B Parque TV Som
Brinquedos
pedagógicos
Pátio
1ª fase A Som Parque
Brinquedos
pedagógicos
TV
Pátio ou
parque
1ª fase B TV
Brinquedos
pedagógicos
pátio som
Pátio ou
parque
Fonte: Quadro afixado nas salas;
O cronograma de atividades se faz necessário, pela insuficiência de material
disponível, devendo ser programada as atividades em que se utiliza o material e espaço
coletivamente. A prática baseia-se (entre outros aspectos) na “necessidade” institucional,
quanto ao tempo/espaço e material disponível.
1.3.2 – Rotina diária das atividades
- 30 -
Quadro 2 - Conclusão resultante das observações quanto aos horários das atividades
com as crianças
Chegada 06h e 15m a 07 h
Café da manhã 07h e 15 min até 08h
Cronograma de atividades diversas (Quadro 1) 07 h 30 min até 09 h e 40 min
Banho 09 h até 10 h e 30 min
Almoço 09h e 40 min até 11h 15 min
Descanso (repouso) 10 h até 13 h e 30 min
Lanche 13h e 30 min até 14h e 15 min
Cronograma de atividades diversas (Quadro 1) 14 h até 15h
Banho 15 h até 16h
Jantar 16 h até 16 h e 55 min
Atividade extra 16h e 30 min 17 h
Saída A partir das 17 h até às 18h
Fonte: Conforme observação e registro da pesquisadora.
Algumas atividades, como se percebe, acontecem no mesmo horário, já que as
crianças, como num rodízio, vão saindo do ambiente (do banho), e já vão para o almoço, as
outras estão saindo do almoço (refeitório) para aquelas entrarem. Assim, a rotina
institucional funciona principalmente nos espaços coletivos, como no banheiro e refeitório,
como numa roda-viva. Nesse momento, é importante haver colaboração, ordem, disciplina,
obediência, para que tudo ocorra como planejado.
Zabalza (1998) diz que a rotina, no entanto, não deve ter estrutura gida, ela deve
ser flexível, podendo ocorrer alterações em dia de visitas, comemorações, etc.
No cotidiano da Unidade de Educação Infantil, ocasião em que foi realizada a
pesquisa, foi possível identificar e problematizar as práticas do cotidiano: descanso,
alimentação, brincadeira livre, o material e a atividade lúdica e parque de diversões. Desse
modo, será apresentado, a seguir, um panorama do funcionamento das referidas práticas no
dia-a-dia da instituição escolar pesquisada.
O descanso, conhecido também como a “hora do sono”, tem ocorrência dria na
instituição. Acontece após o término do almoço (de todas as turmas) por volta das 10h30min
para as crianças menores e sucessivamente para as crianças maiores. As crianças devem
descansar” até às 13 horas. Algumas crianças adormecem logo após deitarem, outras
conversam, falam sozinhas, cantam, brincam com o corpo, levantam do lugar e pedem para ir
ao banheiro, permanecendo durante algum o tempo acordadas, principalmente as crianças
- 31 -
maiores. A resistência das crianças em relação a tal prática evidencia que o poder disciplinar
o é exercido de forma unilateral, não é algo que se conquiste ou que possua, mas que todos
os indivíduos (crianças, professoras e funcionárias) exercem/sofrem. Foucault (1991) aborda a
chamada “correta disciplina” ocorrida no século XVII, como a arte do bom adestramento. A
disciplina fabrica indivíduos como objetos, e como instrumentos de seu exercício ao mesmo
tempo. O sucesso do poder disciplinar, se deve, sem dúvida ao uso de instrumentos simples: o
olhar hierárquico, a sanção normalizadora e sua combinação num procedimento que lhe é
específico, o exame.
Segundo Foucault (1991) a essência de todos os sistemas disciplinares funciona
num mecanismo penal, beneficio e infrapenalidade, que qualificam e reprimem o
cumprimento. A palavra punição, segundo o autor é tudo o que se faz com a criança para que
se sintam humilhadas, compreendendo a falta que cometera. A disciplina já traz consigo uma
maneira especifica de punir, como o “castigo” sendo o mais comum como o efeito corretivo.
A alimentação das criaas na instituição se inicia com o café da manhã, cada
turma utiliza o espaço para alimentação, sendo servido na sala de aula ou no refeirio, com
duração de 20 minutos, que ocorre a partir das 7h. O almoço é servido a partir das 10 horas,
também com tempo percorrido de cerca de 20 a 25 minutos. O lanche da tarde é servido a
partir das 13h 30 minutos, duram 15 a 20 minutos, e o jantar a partir de 16 horas com o
mesmo tempo do almoço. Desse modo, o caminho para o refeitório é percorrido diversas
vezes pelas professoras e crianças diariamente na escola.
A organização dos momentos de café da manhã, lanche, almoço e jantar, além de
serem momentos de alimentação, constituem-se como elementos ordenadores do cotidiano
escolar, que incidem no controle dos corpos, tempos/espaços dos indivíduos. Os horários de
alimentação (inflexíveis) devem ser cumpridos de acordo com as deliberações institucionais.
Para o cumprimento de tais horários, os “personagens” deste momento controlam o horário de
permanência de cada turma no refeitório. Ainda com base em Foucault (1991) a vigilância
torna-se um operador econômico decisivo, na medida em que é ao mesmo tempo uma peça
interna e também uma engrenagem específica do poder disciplinar. Na relação pedagógica
também ocorre inúmeras delegações de tarefas e obrigações, entre elas o fiscalizador,
determinado por quem tem o maior poder hierárquico numa relação pedagógica (O professor).
A brincadeira “livre não está prevista na rotina semanal. Tal momento ocorre
(com freqüência) ao término das atividades (descritas na rotina semanal) que antecedem os
períodos de alimentação. Ao término das atividades planejadas e orientadas pela professora na
- 32 -
sala de aula, as crianças podem brincar “livremente” com seus pares. O término das
brincadeiras é finalizado pelo chamado da professora para a realização do banho e refeições.
Em algumas ocasiões, o momento da brincadeira “livre” (que acontece no turno da tarde após
o jantar) ocorre na sala de aula devido ao fato de estarem a espera dos pais. A brincadeira
“livre” pode ser considerada como uma proposta de transição entre as atividades (ditas
oficiais”), que são desenvolvidas no cotidiano da escola. Ela aparece implícita, denominada
com outros nomes como podemos ver no cronograma (pátio, parque e brinquedos
pedagógicos).
A brincadeira “livre” ou “brincadeira no pátio” “materializa” relações sociais
especificamente escolares, que (geralmente) se experimentam como “corretas” e “adequadas”,
passando a ser percebidas pelos indivíduos participantes como espontâneas e naturalizadas.
Sendo assim, o tempo cronológico escolar quem estabelece os horários das brincadeiras, e
regulamenta o início e o final das propostas, o espaço físico escolar que estabelece os
limites de dentro e fora (sala de aula/pátio/parque), os deslocamentos das crianças, a
disposão dos brinquedos, etc. podem ser consideradas estratégias que incidem no
disciplinamento através da rotina.
Ao término de tais atividades, as crianças podem brincar com seus pares na sala
de aula e (em algumas situações), nas áreas externas (pátio e quadra de areia), sempre
acompanhadas do (s) professor (s) responsável pela turma.
O material e a atividade lúdica, que comem os momentos pedagógicos, é
denominado “brinquedos pedagógicos”, sempre sob domínio e organização do professor
quando realizados dentro da sala de aula. O material lúdico industrializado são blocos lógicos
coloridos (LEGOS), para encaixar e criar objetos, similares ou imaginários. As atividades
lúdicas como: a amarelinha, o pique - esconde, o lenço-atrás (varinha), batata-quente, estátua,
também foram realizadas dentro da sala de aula, dirigidas pelo professor caracterizando,
assim, um momento pedagógico. Para o espaço externo à sala de aula, a atividade o é
dirigida pelo professor. O material lúdico utilizado é coletivo, utilizado em muitos momentos,
como por exemplo: sucatas, cacos, brinquedos quebrados, que ao final do período destinado
para brincar sem o domínio do professor, apenas sob supervisão e intervenção, com o auxilio
das crianças eram juntados os “brinquedos” em um saco plástico, ou caixa e posteriormente
guardados ao alcance apenas do adulto. As sucatas e outros aqui relatados são chamados pela
autora Andrade (1995) de “brinquedos alternativos”.
- 33 -
A utilização das áreas externas da unidade pelas crianças muitas vezes está
prevista no cronograma coletivo, pelo motivo de organização das atividades a serem
planejadas pelos docentes. Alguns espaços sicos como o parque (por ser pequeno)
restringem-se à utilização em uma turma de cada vez.
O momento do parque de diversões está previsto no cronograma, uma vez por
semana a ida ao parque é uma ação restrita, fechada para apenas uma turma, na visão da
criança é o espaço preferido para a maioria delas.
O parque de diversões desta unidade de Educação Infantil é composto de 02
manilhas, 01 escorregador, um escalador e um complexo multi-acessórios. Esse espaço é
cercado em tela, resultando num espaço de mais ou menos 16m
2
. Sem contar com o
mobiliário do parque, o espaço é insatisfatório, para a movimentação de em média 30 crianças
por vez. O cercado do parque está dentro de um espaço de cerca de 100m
2
, talvez fosse
necessária a ampliação desse espaço do parque ou a desativação do cercado, tornando o
parque um espaço aberto, amplo e acessível.
De acordo com Foucault (1991) os modelos pensados quase ideais para
acampamento militar, encontrados em diversas instituições com o único objetivo de controlar,
sem que sejam percebidos, ou esclarecidos, produziram um meio de controle, que funcionou
como um microscópio do comportamento, seja em forma de círculo ou pirâmide, tornando a
vigilância específica e funcional. O autor aponta reflexões sobre organização da Unidade
escolar, é necessário repensar o sistema de Educação Infantil.
1.4 - Leitura do planejamento
Durante a leitura do planejamento das atividades de 06 salas de aula do período
matutino encontramos o brincar expresso de diversas formas: Brincadeiras envolvendo os
nomes, as cores, as espessuras, brincadeiras dirigidas, brincadeiras livres, brincadeiras com
música, brincadeiras no parque, brincadeiras com fantoches, brincadeiras na areia com
sucatas. E outras formas de atividades com as brincadeiras tais como: Brinquem à vontade;
Brinquem e aprendam; Brinquem para socialização; Brincar e socializar; Brincadeiras para
diversão; Brincadeiras antigas; Resgate do brincar; e Brincar de imitação.
- 34 -
Em linhas gerais, a organização do brincar esimplícita no cotidiano da unidade
de Educação Infantil em rios espaços, de acordo com o exposto acima o brincar tem um
objetivo didático ao ser planejado a exemplo de brincadeiras que levem a criança a aprender
conteúdos como identificar seu nome escrito. nessa atividade desenvolvimento também a
construção da identidade e interação com os colegas é o a professora chama de socialização.
O mesmo acontecendo com as cores, as espessuras, nesse caso, as brincadeiras são dirigidas
pelo professor, dirigidas também são as brincadeiras com músicas e fantoches o professor
conduz a brincadeira, é importante dizer que quando o professor conduz a brincadeira esta não
é caracterizada como brincadeira e sim como atividade.
1.4.1 – O brincar no planejamento diário de turmas da Educação Infantil
9
As atividades planejadas apresentam o brincar com finalidades de: liberdade
(brincar livre), ser criativa, fazer socialização de espaço e brinquedos com os colegas da
mesma idade ou de outra idade. Segundo Dewey (1913, apud Kishimoto1997) nas
brincadeiras livres não a direção do professor. As crianças usam os materiais de acordo
com experiências adquiridas no próprio contexto, com o auxílio do professor e seus pares.
O brincar com finalidade pedagógica aparece conjuntamente com conteúdos
pragmáticos, como podemos constatar no brincar com o nome da criança.
Quadro 3 Incincia do brincar, na 1ª fase do I ciclo (04 meses a 1 ano e 11 meses),
atividades planejadas no período de 24 dias letivos.
Brincadeiras livres no pátio 3 vezes
Brincadeiras com o nome das crianças 1 vez
Brincadeiras para se socializarem com
brinquedos
1 vez
Fonte: Planejamento diário
9 As turmas que eram popularmente chamadas de berçário, maternal e jardim, atualmente neste município, são divididas em ciclos da
Educação Infantil. Sendo esses, aqui apresentados a 1ª , 2ª e 3ª fase do 1º ciclo da Educação Infantil (creche).
- 35 -
Quadro 4 Incidência do brincar, na 2
ª
fase do I ciclo (2 anos a 2 anos e 11 meses),
atividades planejadas no período de 24 dias letivos.
Brincadeiras de Roda
3 vezes
Brincadeira livre
1 vez
Fonte: Planejamento diário
Quadro 5 Incidência do brincar, na 3ª fase do I ciclo: (3 anos a 3 anos e 11 meses)
10
atividades planejadas com outro título, no período de 24 dias letivos. Outras
Brincadeiras no pátio 4 vezes
Socialização no pátio 3 vezes
Brincadeira no parque 2 vezes
Brincadeiras de imitação 2 vezes
Resgate do Brincar 1 vez
Fonte: Planejamento diário
As brincadeiras tradicionais, como a brincadeira de roda e imitação, também
aparecem no planejamento. São planejadas a serem desenvolvidas dentro da sala de aula. Já,
no espaço externo, são planejadas brincadeiras com sucatas, brincadeiras não dirigidas,
brincadeiras livres no pátio e no parque.
Hoje o brincar na escola está ausente, não havendo uma proposta
pedagógica que incorpore o lúdico como eixo no trabalho infantil. [...]
algumas escolas estão dando o devido valor ao brincar [...] os
professores, aos poucos, estão buscando informações e enriquecendo suas
experiências. MALUF (2003:28).
10
Diante dos dados levantados e critérios aplicados, a turma da faixa etária de 3 anos (3ª fase do I Ciclo ) foi a
escolhida para aplicação da 2ª fase da pesquisa.
- 36 -
A professora planejou como objetivo o resgate do brincar, em relação às
brincadeiras tradicionais, afirmando o que MALUF (2003) aponta em relação à busca de
alguns professores enriquecerem seus afazeres ao atuar com as criaas pequenas.
Com base na pesquisa em que os pais afirmam que é mais importante estudar para
ser alguém na vida, do que brincar
11
, e por isso levam os filhos para creche ou escola, a fim de
suprir a sua falta de tempo, alegando a necessidade de aprender mais cedo, entre outros
motivos da sociedade capitalista o acompanhamento dos pais e a nova estruturação familiar
tem transferido essa tarefa de acompanhamento do, e desenvolvimento da criança para a
instituição educacional. Talvez o resgate do brincar seja mesmo necessário, dentro da
instituição de Educação Infantil e conseqüentemente nas famílias. De certa maneira, a criança
de hoje ainda é reproduzida aos moldes dos adultos.
Estudos sobre a história da infância até a origem da Educação Infantil nos levam a
entender as origens dessa cultura.
11
Pesquisa publicada na revista Crescer, maio 2007, nº. 160.
- 37 -
II DA HISTÓRIA DA INFÂNCIA À QUALIDADE DA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Na obra História social da Infância e da Família”, Ariès (1981) traça um quadro
da criança/família em lenta transformação, através de fontes particulares (velhos diários,
testamentos, igrejas e túmulos, pinturas)
12
.
Philippe Ariès (1963) no livro traduzido para o inglês como “Séculos da Infância”
obra esta que revolucionou o estudo dos novos povos
13
, estudo esse que marca o início dos
registros, pois não se encontra registro hisrico de pessoa comum na época. Portanto, houve
uma polarização da classe superior, as crianças de família rica costumavam ter uma infância
de longa duração, sem mesmo entender a diferença de ter ou não ter autonomia recebia
profusão de bens e, até em alguns casos receberam a responsabilidade de coroação, o tendo
assim conceitos de repartir, e nem se é o que realmente deseja.
Na era medieval, o indivíduo de 07 anos já era considerado adulto, pois nessa fase
era capaz de cometer “pecado sério”. Tida como a idade da razão aos sete anos, também já
podia trabalhar no campo, e após a Revolução Industrial, nas fábricas.
A infância é um conceito muito novo, não havendo registro anterior, aparecendo
apenas a partir do século XVI. Nos dois séculos seguintes, através de quadros pintados com a
data em destaque e, ainda, pode ser constatado o que as imagens mostravam, que havia uma
delimitação das etapas da vida, observada pelas funções dos indivíduos, tipo sico e modo de
12
Século XI: crianças são adultos em miniatura (expressões faciais, roupas e forma do corpo)
;
Século XII: a arte medieval “desconhecia” a
infância
;
Século XIII o existem crianças caracterizadas por uma expressão particular, e sim homens de tamanho reduzido. Surgimento
de algumas figurações de crianças.
No século XV e XVI: da iconografia religiosa da infância, surgiu uma iconografia leiga nos séculos XV
e XVI (criança ainda não estava sozinha: idades da vida, estações, sentidos, etc.); Século XVII: Multiplicam-se os retratos de crianças vivas,
Nasce o sentimento de infância, Início do interesse pela criança, Retratos de crianças sozinhas e retratos de família em que a criança era o
centro, Registro da linguagem infantil
13Como eram chamadas as crianças.
- 38 -
vestir. Ariès (1978) compara este costume aos álbuns de família da atualidade, dando a elas
uma consistência histórica, representando o caminho percorrido por seus componentes.
Essa consideração da criança como adulta é bem visível nos retratos (pinturas).
Não pintura de crianças, há de bebês e as crianças tinham traços, vestimenta, musculatura,
expressões de adulto, eram adultos pequenos. As classes baixas, tidas como iletradas, o
aparecem nos registros para a história até o século XVII.
Por anos houve uma crítica em relação aos artistas, devido à falta de habilidade
para pintar crianças. Por que os artistas tinham habilidades para pintar adulto e não aos
miúdos? Áries argumentou que o artista o poderia pintar crianças, pois as crianças ainda
historicamente e culturalmente não existiam. As culturas da época conheciam somente
adultos, adultos pequenos, é isto que os artistas enxergavam para pintar pequenos adultos”.
O autor mostra como o conceito de infância tem evoluído através dos séculos,
oscilando entre los em que as crianças eram consideradas ora um “Bibelô”, ora um “adulto
em miniatura”. Demonstra ainda o referido autor maneiras de compreender o passado. Seus
todos desvelam a história das crianças e juventude destas famílias comuns até então
inexistentes, sem passado, sendo comum e cultural a não importância com as crianças entre
07 (sete) e 15 (quinze) anos. Faltando-lhes o conceito de criança, estas eram despercebidas e
tratadas como pequenos adultos.
Existe um relato sobre o brincar neste período, segundo Ariès (1981) as
brincadeiras eram comuns a todas as crianças, diferente das atividades escolares restritas
apenas à burguesia a partir dos sete anos. Até completar (07) sete anos de idade, as crianças
brincavam. Segundo registro em diário de um médico, uma criança de 1 ano e cinco meses
sabia tocar violino, a música era muito importante nesse período da infância, com um ano e
10 meses essa criança tocava tambor, enquanto batia o tambor pronuncia algumas palavras.
Ao longo da infância outros jogos eram introduzidos como por exemplo: jogo de malha,
brincava também com cavalo-de-pau, cata-vento, cortar papel, brinca de boneca e pião. Aos
(07) sete anos a criança não devias mais brincar, pois, és um menino grande”, mas ainda,
segundo os registros do médico, as crianças brincam de esconder dos 9 aos 13 anos.
Ao abordar a Idade Média, Ariès (1978) usa como parâmetro a família. Ele
ressalta, ainda, que poucas pessoas podiam percorrer todas as etapas da vida naquela época. O
índice de mortalidade infantil era muito alto, e isto impedia uma interpretação mais ampla do
ciclo de idades que envolvem um indivíduo. Nas poucas escolas que existiam neste período,
- 39 -
de acesso aos burgueses, o conteúdo estudado não era relacionado à idade do aluno, pessoas
de variadas idades, estaturas, estudavam juntas. Quanto à idade, até pouco tempo o eram
contados os anos da criança, resultado da inexistência de registros. Na vida cotidiana, as
crianças estavam misturadas com os adultos (trabalho, passeio, jogo). A importância da noção
de idade começa aparecer com o seu registro nos documentos.
Primeiramente na teoria da inocência, a criança foi protegida da realidade dos
adultos (sexo, morte, tragédias, nascimento e outros) as crianças foram privadas, segregadas
de certos assuntos. Ariès (1978) fundamenta estes questionamentos, tendo dois pontos
principais, de um lado, o mundo anterior sem nenhum registro e denominação do conceito de
infância e, do outro, uma sociedade que se preocupa com a existência desta criança, ou seja,
quando a criança passa a existir, através de poticas de proteção, assistência à saúde, bem-
estar e educação.
A partir do século XVIII se definiu o lugar da infância e conseqüentemente no
século XIX passam a existir registros também das classes inferiores (média e baixa).
Quanto ao sentimento de infância, Ariès (1981) destaca dois tipos: o de
paparicação”, que surgiu no ambiente familiar com crianças menores e o de “moralização”,
que nasceu da necessidade de preservar e disciplinar as crianças. Este último originou-se com
os homens da lei” e religiosos e estenderam-se às famílias.
Com a Revolução Industrial, na mudança s-regime feudal, transição da
sociedade rural para uma sociedade urbana, as crianças foram abusadas brutalmente. Por volta
dos meados do século XIX, os industrialistas, para manter seus sistemas, usam-nas de forma
desumana e sem nenhuma segurança, resultando numa juventude transformada em problemas
sociais. Franbboni (1998) diz que, a partir da Revolução Industrial, a criança passa a ter uma
nova identidade, agora o mais como criança-adulta. Ela passa por uma quarentena”, por
ser reconhecido que a criança não está madura para a vida, momento em que a criança passa a
ser mantida em uma espécie de prisão domiciliar e posteriormente escolar.
A partir daí, as crianças são levadas à escola forçosamente, não de forma natural e
sim por escolha da sociedade, ou por exigência de controle. Para mantê-las fora do trabalho,
o poderiam então ficar nas ruas ociosamente, tendo então que ocupar seu tempo inativo. A
criança passa a conviver sem transitar no meio dos adultos, vivem encarceradas nas famílias e
nas escolas. Foi tirada delas a possibilidade de transitarem, de existirem nas suas diferenças,
- 40 -
tomando agora uma nova identidade. Essa nova identidade, constituída no culo passado,
Franbboni (1998) chama de 3ª identidade da criança, que é a criança-aluno (a).
As três fases que identificam a passagem da criança são: criança-adulta, criança-
filho (a) e criança-aluno (a). Essa identidade da criança conta-nos um passado recente da
nossa história e divide a ante-revolução industrial e pós-revolução industrial.
A identidade constituída como criança-filho-aluno (a) é uma infância
institucionalizada, a partir do surgimento da família moderna, tornando-se o epicentro do
interesse educativo dos adultos, em parceria com a escola. Aqui a criança resulta em um
sujeito que teve a infância negada no direito de situar-se autonomamente” diante da
realidade. O direito de ser criança em ter atenções, gratificações, espaço, jogos é legitimado
apenas sob condição de pertencer a esse tipo de família e escola.
Não existem alternativas, pode ser criança somente como filho-aluno (a):
portanto somente nas estruturas de poder. A criança existe apenas como
minha sua, tua, nossa, sua criança, ou seja dentro de uma privatização de
relações e definições.
FRANBBONI (1998:67)
São muitas as concepções de infância. Cada concepção norteia uma pedagogia,
desde posturas tradicionais que exigem disciplinamento, a programação prévia do
conhecimento a ser adquirido pela criança. Outras pedagogias pleiteiam a liberdade total,
propondo a educação nos tempos modernos, imbuindo-se de funções complementares,
transforma-se em instrumento de múltiplas funções.
2.1 Educação Infantil no Brasil
As primeiras iniciativas de creche, jardim-de-infância, e escola maternal surgiram
na França. Tinham o objetivo de cuidar de crianças menores de 02 anos, cuja tenra idade não
lhes permitiam freqüentarem a escola, portanto, diante das necessidades de mães
trabalhadoras surge a nova transformação em relação ao trabalho. A creche também tem o
papel de complementar a ação da família e introduzir a escola primária.
- 41 -
Segundo Kuhlmann (1999) havia também as chamadas “salas de asilos da 2ª
infância”, dirigidas a crianças de 03 a 06 anos, posteriormente denominadas de escolas
maternais, conseqüentemente foram expandidas para outros países como infant school”
(inglesa), asili infantili(italianas), e os kindgarten” (alemão). Essas instituições, mesmo
o tendo exigência obrigatória, dirigidas e mantidas por homens e mulheres, religiosos,
legisladores, educadores e médicos eram freqüentadas por crianças menores, filhos de
operárias e pobres.
A primeira creche implantada no Brasil foi no Rio de Janeiro, para atender aos
filhos de operárias de uma fábrica de tecidos em 1899.
A Associação Protetora da Infância Desamparada foi uma das primeiras entidades
que se preocupou com essa questão em âmbito nacional, segundo registro de uma resposta a
uma carta escrita ao Conde d’Eu, carta essa datada de 1883, Luis Martinho lembra que o
príncipe indicou-lhe implantar essa instituição no Brasil.
Para implantação de tais instituições, organizou-se com possível exatidão um
questionário sobre asilos da infância. As respostas obtidas em 1885 foram de 26
estabelecimentos, considerados na época insuficientes.
Neste questionário, buscaram-se outros itens tais como, por exemplo, quem os
mantinha, estatutos ou regimentos, programão, materiais e livros existentes, cursos
oferecidos, condições do professorado, das crianças e dos alunos, entre outros. As respostas
o foram obtidas com exatidão, portanto, a diretoria se dedicou a consolidar a instituição
nascente, voltando a repensar o questionário somente em 1888, também sem êxito nas
respostas.
No século XIX, as discussões foram retomadas com maior afinco para
implantações de instituições de Educação Infantil, dada a necessidade de auxílio às mães
trabalhadoras.
Devido à necessidade de trabalho dos pais, a família precisa do serviço de amparo
à criança. Serviço esse sendo prestado pelas instituições de Educação Infantil, que oferecem
cuidados, alimentação.
No século XX, na cada de 80, os poderes municipais começam a se
preocuparem com o atendimento as crianças menores de 06 anos, mesmo com improvisos e
adaptações tanto físico quanto pessoal. Isso acontece a partir da Constituição de 1988, a
- 42 -
vinculação de todas as instituições a organismos educacionais pelas secretarias estaduais e ou
municipais de educação, desde essa época já existia um vínculo entre os Ministérios da Saúde,
Justiça e do Trabalho e Assistencialismo (higienização e cuidados assistenciais e direito das
es trabalhadoras).
O imaginário popular sobre a criança e a Educação Infantil referenda, ainda, a
perspectiva romântica do século passado, de que para atuar com crianças de 0 a 6 anos, basta
ser "mocinha, bonita, alegre e que goste de crianças", e a idéia de que não necessidade de
muitas especificações para instalar escolas infantis para os pequenos. Essa parecia ser também
a forma de pensar entre membros do atual Conselho Nacional de Educação, refletida nas
propostas oficiais que se distanciavam de uma formação profissional qualificada.
Ao longo da hisria, as mulheres que atuavam com as crianças pequenas nas
creches não tinham qualificação profissional. Supõe-se que algumas que atuavam diretamente
na supervisão, coordenação e programação das instituições eram professoras, pois, essa era a
carreira escolar que se oferecia para a educação feminina, inclusive para as religiosas.
Os padrões europeus de origem continuavam a imperar. Na “exposição
pedagógica” foram expostos materiais sobre a educação infantil de países como Bélgica,
França e Estados Unidos, assim como estabelecimentos brasileiros (desde a mobília até os
trabalhos realizados pelas criaas).
Segundo Kuhlmann Jr. (1998) novos conhecimentos sobre a educação das
crianças pequenas, como a puericultura, passavam a fazer parte do currículo da Escola
Normal onde eram formadas as professoras, lugar de educação feminina e também de futuras
es.
A perspectiva de educar para o controle social cumpria o papel de “moralização”
da cultura infantil e através do jardim de infância se propõe um conflito de culturas espelhado
nas brincadeiras.
As crianças do Brasil (...) integram-se geralmente a brinquedos aviltantes,
uma representa o cocheiro, a outra o burro, a outra o urbano, aquele o
capoeira, um negro fugido, a outra o capitão do mato, etc. KUHLMANN
(1998:476
)
- 43 -
Trataram de europeizar o modo de vida elaborada pela educadora Pape
Carpentier, e os jogos de Madame de Portugal, inspetora do jardim-de-infância de Genebra. A
idéia de que caberia articular a iniciativa privada como forma de implementação de uma
política de educação infantil era reforçada com a seguinte conclusão:
A organização dos jardins de infância no Brasil deve imitar o plano
adotado pela França, e Bélgica, limitando-se a proteger e animar
eficazmente os estabelecimentos criados por iniciativa particular.
KUHLMANN Jr. (1998: 476)
Ao longo dos anos, especialmente a partir de 1996, as unidades de Educação
Infantil foram sendo organizadas, com vistas a estarem preparadas para acompanhar o
desenvolvimento integral da criança de 0 a 6 anos. Agora dando uma outra ênfase além da
proteção e educação, o direito da criança é dever do Estado.
No final da década de 90, às vésperas do novo milênio, aconteceram grandes
avanços em relação à qualidade da Educação Infantil. Embora em muitos municípios o
avanço ainda seja processo, houve grande elevação do nível de regularização e qualidade na
Educação Infantil.
Os avanços se deram a partir da publicação da Lei de Diretrizes e Base do Ensino
Nacional, tanto na Diretriz Curricular quanto no Plano Nacional de Educação, através de
objetivos, meios, e metas a serem alcançadas até o final da década da educação” (2006).
Período denominado em busca da expansão de atendimento a crianças menores de 06 anos.
Nesses 10 anos (1996-2006) muitos estudos e pesquisas dão conta de que uma grande
tarefa a ser cumprida, a fim de buscar a melhoria da qualidade na Educação Infantil e
educação em geral.
Mas enfim, a história da Educação Infantil e a formação dos profissionais dessa
fase caminham juntas desde a década de 70. Com grande preocupação com formação inicial
em licenciaturas que, concomitantemente, formam o profissional da 1ª infância, situação
instaurada em 1988, devido à promulgação de documentos como o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), LOAS, E LDBEN que dão direito a criança e dever do Estado inserir a
criança de 0 a 6 anos no sistema escolar da educação básica.
- 44 -
2.2 - Educação Infantil de qualidade
Zabalza (1998) traça dez aspectos chave para melhorar a qualidade na Educação
Infantil. O autor sabe que não são novidades os 10 aspectos, afirmando aspectos conhecidos
pelos que atuam na Educação Infantil, mas que cabe a ele apontar a fim de provocar uma
discussão, e reflexão sobre o assunto. Ao se referir aos aspectos, ele comenta cada um deles,
que são os seguintes:
1. Organização do espaço escolar;
2. Equilíbrio entre iniciativa infantil e trabalho dirigido no momento de planejar e
desenvolver as atividades;
3. Atenção privilegiada aos aspectos emocionais;
4. Utilização de uma linguagem enriquecida;
5. Diferenciação de atividades para abordar todas as dimensões do desenvolvimento e
todas as capacidades;
6. Rotinas estáveis;
7. Materiais diversificados e polivalentes;
8. Atenção individualizada a cada criança;
9. Sistema de avaliação, anotações que permitam o acompanhamento global do grupo e
de cada uma das crianças;
10. Trabalho com os pais e es e com o meio ambiente;
Ele afirma que a organização dos espaços deve ser um ambiente muito particular
para a criança pequena, precisa de características especiais de fácil acesso e de fácil
identificação das crianças, de modo que elas possam realizar diferentes atividades individuais
ou em grupo. O espaço é condição para o desenvolvimento das atividades através de
dinâmicas que desenvolvam a autonomia da criança, podendo distribuir atenção individual a
cada criança. A organização da sala e materiais atrativos e estimulantes precisam ser materiais
polivalentes. As crianças que assistem a essas aulas têm inúmeras possibilidades de ação
ampliando suas vivências de descobrimento e consolidação de experiências.
- 45 -
Deve-se haver um equilíbrio entre a iniciativa infantil e o trabalho dirigido no
momento de planejar e desenvolver as atividades. O autor afirma que o trabalho dirigido não
pode ser substituído por momentos em que a criança decida o que fazer, é necessário manter o
equilíbrio entre a proposta curricular e o valor educativo da autonomia e da iniciativa própria
da criança, privilegiando os aspectos emocionais.
O emocional é a base para o desenvolvimento psicomotor, intelectual, social e o
cultural. É a partir do emocional que a criança adquire seguraa, ou medo. Ligados à
segurança está o prazer, o sentir-se bem, o ser capaz de assumir riscos e enfrentar desafios da
autonomia, levando a outras conseqüências, através do educador (a) por meio de uma
linguagem enriquecida. A linguagem é peça fundamental, é através dela que se constrói o
pensamento e a capacidade de entender suas próprias experiências. Ela precisa ser a grande
protagonista no ambiente da Educação Infantil, aperfeiçoando-a através de diálogos com os
educadores (as).
As atividades precisam ser diferenciadas para abordar todas as dimensões do
desenvolvimento. A criança avança de diferentes formas, e por isso exige intervenções
diferenciadas, atendendo a sensibilidade da cada criança, organizando-as por meio de rotinas
estáveis. A rotina reflete na ordem e organização, ou cumprimento de compromissos, ou na
revisão avaliação do que foi realizado, ou no estilo da relação professor-aluno. A rotina
estável possibilita que criança adquira segurança contribuindo na construção da autonomia. A
rotina permite-nos ler a mensagem formativa do nosso trabalho. É importante oportunizar
momentos de atenção individualizada a cada criança. É a base da cultura da diversidade, a
criança precisa ter sua individualidade mesmo que seja parcial, podendo haver momentos
grupais e individuais. Os momentos de atenção individualizada proporcionam o
desenvolvimento da linguagem pessoal, as pistas e apoio na aquisição de habilidades ou
condutas específicas, orientam o trabalho do professor que planeja o que se quer de acordo a
cada necessidade específica da criança. Para saber o que se quer o sistema de avaliação,
diante do avanço de cada criança individualmente ou do grupo, é necessário que o educador
(a) tenha a capacidade de planejar e avaliar os processos e a forma como se vai adquirindo a
progressão do conhecimento global. Para isso, Zabalza (1998) sugere 2 tipos de análise:
Análise do funcionamento do grupo em relação ao desenvolvimento do programa ou
projetos educativos e com a atuação do docente.
- 46 -
A análise individual de cada criança apesar das limitações impostas pelo tempo, e pelo
número de crianças, sendo indispensável que sejam realizadas constatações periódicas.
A interação com os pais, mães e o meio ambiente também são considerados por
Zabalza. Ele sugere que sejam interligadas atividades na sala-de-aula e as mesmas tenham
continuidade ou relação com a família em casa. Isso enriquece o trabalho educativo nos 2
ambientes, sendo mútua a aprendizagem frente aos dilemas básicos da relação com a criança
pequena. O autor sugere também a abertura ao ambiente a fim de proporcionar um dos
objetivos básicos da Educação Infantil que é permitir as crianças que conheçam cada vez
melhor o seu meio de vida e tornem-se donas do mesmo para ir crescendo com autonomia.
Além dos dez aspectos que o autor lança para fim de discutirmos nossa prática, ele também
contribui com algumas idéias que melhorariam a qualidade de nossas escolas, são elas:
participação individual, e trabalho em grupo, propósito estável, coleta sistemática de dados,
pesquisas e processos, investimento em formação, combinação entre prazer e trabalho, boas
relações com o ambiente e experiências significativas de aprendizagem.
- 47 -
III- POLÍTICAS PARA A FORMÃO DE PROFESSORES DE
EDUCAÇÃO INFANTIL
Pensar em política de formação profissional para a Educação Infantil requer, antes
de tudo, questionar na formação qual a concepção de Educação Infantil. Assim neste capítulo
procuro compreender como vêm acontecendo as políticas para a Educação Infantil, buscando
um pouco na história, antes da Constituição Federal (1988) até a promulgação da LDBEN
(1996), buscando documentos Federal, Estadual e Municipal. Em resposta a esse debate, a
LDBEN dise, no título VI, art. 62 que:
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e
institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o
exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries
do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade
Normal..
(LDBEN/1996)
Considerando a necessidade de um período de transição que permita incorporar os
profissionais cuja escolaridade ainda não é a exigida, e buscando proporcionar um tempo para
adaptação das redes de ensino, esta mesma Lei dispõe no título IX, art. 87, § 4º que: “até o
fim da década da Educação somente serão admitidos professores habilitados em vel
superior ou formados por treinamento em serviço”. De forma desordenada, e sem orientação
adequada, há uma corrida para a universidade, sem a preocupação de se formar o “Docente de
Educação Infantil”, os cursos não oferecem a modalidade e também o professor que atua
o se preocupa com o se formar “docente de educação infantil”.
- 48 -
O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (RECNEI) concebido em
1998, de maneira a servir como um guia de reflexão de cunho educacional sobre objetivos,
conteúdos e orientações didáticas para os profissionais que atuam diretamente com crianças
de zero a seis anos, respeitando seus estilos pedagógicos e a diversidade cultural brasileira,
tendo o diagnóstico de níveis de formação onde apenas 18,25% no país, e cerca de 23,86%
dos Profissionais que atuam no ensino pré-escolar de Mato Grosso
14
se encontram com
formação em grau, conclui-se que se tem daqui por diante uma grande tarefa para que
possa promover a formação destes professores.
Na pré-escola constata-se, ainda hoje, uma pequena parcela de
profissionais considerados leigos, nas creches ainda significativos o
número de profissionais sem formação escolar mínima cuja denominação
variada: berçarista, auxiliar de desenvolvimento infantil, babá, pajem,
monitor, recreacionista etc. A constatação dessa realidade nacional diversa
e desigual, porém, foi acompanhada, nas últimas décadas, de debates a
respeito das diversas concepções sobre criança, educação, atendimento
institucional e reordenamento legislativo que devem determinar a formação
de um novo profissional para responder às demandas atuais de educação
da criança de zero a seis anos. As funções deste profissional vêm passando,
portanto, por reformulações profundas. O que se esperava dele há algumas
décadas não corresponde mais ao que se espera nos dias atuais. Nessa
perspectiva, os debates têm indicado a necessidade de uma formação mais
abrangente e unificadora para profissionais tanto de creches como de pré-
escolas e de uma reestruturação dos quadros de carreira que leve em
consideração os conhecimentos acumulados no exercício profissional,
como possibilite a atualização profissional”.RECNEI (1998).
A lei regulamentada pela Constituição de 1988, indica o vínculo de todas as
instituições a organismos educacionais, estabelecendo que toda instituição, deveria compor o
sistema educacional. Portanto, seus profissionais requerem o mesmo tratamento dos outros
que nela atuam.
É preciso eliminar preconceitos arraigados da tradição brasileira, como o de que o
profissional que atua com crianças de 0 a 6 anos não requer preparo acurado equivalente ao de
seus pares de outros níveis escolares, o que demonstra o desconhecimento da natureza
humana e de sua complexidade, especialmente do potencial de desenvolvimento da faixa
etária de 0 a 6 anos.
14
De acordo com o referencial curricular nacional de Educação Infantil, volume I
- 49 -
Em 1996, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases do Ensino Nacional
(LDBEN 9394/96) houve a inclusão da primeira infância (0 a 6 anos) no campo educacional,
e a necessidade da formação dos professores de Educação Infantil. Culturalmente essas
instituições eram vinculadas à parte da saúde, assistencialismo e justiça do trabalho, e a partir
de então são ligadas diretamente à educação em função de estudos e da percepção da
necessidade de preparação adequada dos profissionais que ali atuavam.
Com o intuito de atender a LDBEN, promulgada em 1996, bem como melhorar o
atendimento, passando de assistencial para também educacional, ao longo dos anos, foi
percebida a necessidade de implantação de poticas para formão de professores. Para suprir
as lacunas deixadas pela formação inicial, é instituída a partir de 2000 a formação continuada
que visa atualizar o professor, a fim de que ele aprimore seus conhecimentos, tenha um tempo
programado para leitura, discussão individual ou em grupo, relacionando questões da prática
com a teoria. Segundo RAUPP (2005) a formão continuada diz respeito a estudos sobre
formação sistemática, que acontece externamente à formação inicial, sendo comum ocorrer no
local de trabalho e, neste caso, pode ser denominada formação em serviço
.
As Secretarias Municipais de Educação e Cultura, através de recursos do FNDE
tem buscado diversas estratégias de formação, a fim de promover a formação continuada,
promovendo encontros, seminários, oficinas, grupo de estudos, cursos, e outros.
A ação da formação continuada em serviço é de grande importância para a
construção da identidade do professor de Educação Infantil, no que diz respeito à qualidade da
sua prática pedagógica junto às crianças, além buscar o reconhecimento e a sua valorização
profissional.
No Estado de Mato Grosso, a Educação Infantil começa a ser institda em 12 de
Dezembro de 2000 através da Resolução 276/2000 CEE/MT, em consonância com o disposto
na Constituição Federal em seus artigos
15
e a Lei Complementar 049/98 e sobre a potica
de formação dos professores, além de regulamentar as instalações físicas e capacidade de
atendimento, no Art. 11 regulamenta:
O Sistema Estadual de Ensino promoverá a formação
inicial e a formação continuada dos profissionais da educação em exercício nas Instituições de
Educação Infantil, de modo a viabilizar formação que atenda aos objetivos desta etapa educativa e às
características da criança de zero a seis anos de idade.
15
206 e 208, inciso IV, Lei nº 9.394-20/12/96, em seus artigos: 1º, inciso IV,9º, inciso IV, 10, inciso III, 11,
inciso V, 21, inciso I, 29 e 30,incisos I e II, 31, 40, conforme a Lei 8.069/90 Estatuto da Criança e do
Adolescente em seus artigos: 4º, 5º e 54,inciso IV, Parecer Nº 022/98-CEB/CNE e Resolução nº 01/07/99-CNE
.
- 50 -
O município de Rondonópolis entra no novo século, ainda, sem uma proposta
diretriz que oriente o ensino de Educação Infantil, e sem um Plano Municipal de Educação.
Mas, em 2004, a proposta denominada Diretriz Curricular Municipal para o Ensino Infantil
foi elaborada por profissionais que atuam na coordenação da rede municipal de ensino. É um
referencial orientador das práticas pedagógicas na Educação Infantil do programa Escola Para
Todos.
Esta diretriz traz uma breve contextualização sobre o icio do ensino de
Educação Infantil na rede municipal de Rondonópolis, e aponta eixos norteadores, princípios,
objetivos e saberes, além de orientações ao professor sobre os desafios a serem enfrentados e
a avaliação.
Os eixos norteadores da prática educativa são assim elencadas:
Concepção de criança;
Desenvolvimento;
Aprendizagem;
A proposta considera que a criança seja um ser ativo, percebendo-a com uma
identidade cultural. Também a concepção de aprendizagem para essa proposta se pauta em
fundamentos da psicologia, antropologia e sociologia, além de demais ciências da educação,
desde que coerentes com vários princípios norteadores do currículo praticados na Educação
Infantil, devendo desconstruir a concepção anteriormente constrda.
Como princípios norteadores da organização curricular, a proposta sugere que o
trabalho seja integrado, interdisciplinar por acreditar que o trabalho interdisciplinar seja capaz
de estabelecer um elo entre os saberes do aluno, os saberes do professor e os saberes
acumulados da humanidade. Além de sugerir vários modelos e possibilidades de organização
curricular que contemplam a forma integrada ou interdisciplinar dos conteúdos como, por
exemplo, temas geradores de atividades, projetos pedagógicos ou trabalho com unidades
temáticas, ainda orienta os professores sobre a avaliação do desenvolvimento real e potencial
da criança, propondo formas de registros.
- 51 -
Para os professores de Educação Infantil a proposta aborda a necessidade de busca
de meios para superar os desafios quanto à necessidade de formação inicial, e continuada.
A proposta Diretriz Curricular também valoriza o lúdico, considera os
significados inscritos no brincar, como fundamental para o desenvolvimento integral da
criança, entendendo que o brincar é uma linguagem tipicamente infantil, dotada de significado
social. A brincadeira nessa proposta não é vista como “fazer por fazer”, mas que deve ser
garantida pela escola, planejada, acompanhada, organizada e enriquecida por materiais e
modalidades, momentos que propiciem além do lúdico, a diversão e o prazer, é a construção
de novas tendências e dinâmicas relações da criança com o contexto.
O FUNDEB - Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica é formado por um
conjunto de impostos federais, estaduais e municipais, para atender 47.2 milhões de alunos da
Educação Básica. Os investimentos públicos anuais são de 45 bilhões, destes pelo menos 28,5
bilhões se destinam ao pagamento dos professores (60%).
No primeiro ano, o governo federal contribuirá com 2,85 bilhões
progressivamente a cada ano até o quarto ano, chegando à contribuição de 4,5 bilhões. Para a
creche o montante destinado será crescente a cada ano, iniciando com 50 miles no primeiro
ano, chegando ao quarto ano com 200 milhões. Seminários Fóruns e Simpósios foram
instaurados nos mais diversos lugares com o tom de denúncias ou anúncio que a situação
exige.
Com o FUNDEB as práticas de gestão, de formação e atuação com as
crianças precisam estar no centro da cena, para que nunca mais
encontremos nas instituições de educação infantil a humilhação, o descaso,
o abandono [...] o despreparo dos adultos, o número excessivo de criança
[...] a falta de espaço, de natureza, de brinquedos e das mais variadas
formas de expressão e criação artística que faça de nós quaisquer idades,
humanos. KRAMER (2005:402)
O Plano Municipal de Educação foi elaborado em 2006, e ainda se encontra em
fase de apreciação, possivelmente neste ano de 2007 seja aprovado e legitimado. O Plano
Municipal de Educação prevê metas para a formação dos professores, adequações das
instalações, bem como a capacidade de atendimento a 100% das crianças na faixa etária de 0 a
5 anos, do município de Rondonópolis.
- 52 -
Entre os principais objetivos e metas o PME Plano Municipal de Educação
tendo como base o PNE - Plano Nacional de Educação, prevê necessidades de garantir novos
níveis de formão. O plano ainda prea necessidade do mapeamento quanto à formação
dos profissionais, a fim de que sejam aproveitados em suas respectivas áreas de formação.
O Plano Municipal de Educação demonstra que atualmente, nas Unidades
Municipal de Educação Infantil, são atendidas cerca de 970 crianças, de 0 a 4 anos e 11 meses
distribuídos em 9 unidades, em período integral, atendidos por 139 “Docentes de Educação
Infantilconcursados pela rede municipal de Rondonópolis, com formação inicial em nível de
ensino superior com índice de 99,6%.
Nas Unidades da Instituição “Cáritas Diocesana
16
”, são atendidas 1400 crianças
de 03 a 06 anos em período parcial, atendidos por 92 monitores e professores. O número de
professores com formação inicial em nível de ensino superior é bem menor apenas 14% . (Ver
no Capítulo 3)
Kramer (2006) propõe que a formão dos professores seja requisito para
assegurar o direito de que as crianças de 0 a 06 anos tenham uma educação de qualidade.
A expansão do atendimento nas três últimas décadas, sem recursos específicos,
levou-nos à necessidade de resoluções, diretrizes e deliberações distintas, exigências enfim,
mas enquanto isso creches e pré-escolas precisavam funcionar, reconhecendo o direito da
criança, formações emergenciais, cursos esporádicos foram feitos, não beneficiando nem o
ensino pedagógico e nem a carreira do profissional.
Enfrentando inúmeras dificuldades que apontam o distanciamento da qualidade da
formação dos professores de Educação Infantil, precisamos nos paramentar de estudos
dirigidos, discussões, e muita força de vontade, para que tenhamos a nossa “identidade
profissional de professor de Educação Infantil”, com uma formação específica complementar
ou continuada, que seja reconhecida e valorizada.
No Brasil, um estudo sobre o nível de formação desses profissionais a
qualificação dos professores em 2002, e revela problemas. Consta que 64% dos ocupantes das
funções docentes na pré-escola tinham nível médio, e apenas 23% vel superior de formação.
Para a creche (0 a 3 anos), a situação é bem mais precária, e ainda não está bem retratada nas
estatísticas oficiais na atualidade, segundo o Plano Nacional de Educação, previa que, ao final
16 Cáritas Diocesana são instituições que atendem crianças de 03 a 06 anos em período parcial conveniadas com o município, vinculadas à
Igreja Católica.
- 53 -
da década (2006), todos os profissionais deveriam estar formados em nível de ensino superior
.
Esse prazo foi prorrogado para 2010, estabelecendo apenas que a partir de 2007 serão
contratados profissionais com formação específica em nível de ensino superior.
A Educação Infantil digna e de qualidade para todos é direito proclamado, mas
o fato concreto, tanto na rede pública quanto na rede privada. Para ser professora é preciso
saber mais para ensinar, é preciso gostar de aprender. Uma formação que contribua para a
qualidade enfatiza a dimensão cultural da vida das crianças e dos adultos com os quais
convivem.
Acerca dos estudos realizados sobre formação de professores, trago algumas
colocações de autores da última década e do novo século, tais como: Perez mez (1992),
Garcia (1999), e Mizukami (2003).
Perez mez (1992) diz que esse processo de formação profissional é visto como
uma preparação técnica, que permite compreender o funcionamento das regras, e das técnicas
do mundo real e da sala-de-aula e desenvolver as competências profissionais exigidas pela sua
aplicação eficaz. O eixo norteador dessa visão é a concepção tecnológica do trabalho, uma
hierarquização, aplicadas na produção do conhecimento e separando a investigação e a
prática. Na prática, para Perez mez, não existe problemas, existem situações problemáticas
que se apresentam freqüentemente como casos únicos que não se enquadram nas categorias
genéricas identificadas pela técnica e pela teoria existente.
O conceito de formação de professores, para Garcia (1999) é a área de
conhecimento, investigação e de propostas teóricas e práticas que, no âmbito da didática e da
organização escolar, estuda os processos através dos quais os professores, em formação ou em
exercício, se implicam individualmente ou em equipe, em experiências de aprendizagens
através das quais adquirem ou melhoram seus conhecimentos, competências ou disposições, e
que lhes permite intervir profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e
da escola com o objetivo de melhorar a qualidade da educação que os alunos recebem.
Para Mizukami (2003) aprender a ser professor é uma aprendizagem que deve se
dar por meio de situações práticas que sejam efetivamente problemáticas, o que exige o
desenvolvimento de uma prática reflexiva e competente, que sejam trabalhadas atitudes, as
quais são consideradas tão importantes quanto o conhecimento. O processo de formação de
professores é entendido como um continuum, ou seja, um processo em desenvolvimento para
toda a vida.
- 54 -
Com base nas colocações dos autores mencionados, compreendo que os avanços
dos estudos caminham para a formação através da prática reflexiva. Os estudos trazidos por
Pérez mez no início da década de 90 mostram um profissional técnico. Garcia, no final da
década, preocupa-se com um ambiente de formão mais voltado para a prática pautando-se
em teorias, à procura de situações problemáticas nas experiências, ele valoriza a formação do
professor em exercício contemplando a necessidade de outros conhecimentos além do técnico,
como: o conhecimento do currículo, da organização escolar, tendo como principal objetivo a
melhora da qualidade do ensino que os alunos recebem.
A colocação de Mizukami que se pauta nos estudos dos autores citados
anteriormente, além de outros como Shön (1992), e Zeichner (1993) a autora diz que a
aprendizagem da docência deve se dar através de reflexão da prática e acontece ao longo da
vida, através do processo contínuo. A autora coloca ainda que a formação inicial sozinha não
conta de toda a tarefa de formar professores, atualmente a formação inicial vem sendo
substitda pela formação continuada, afirmando que
Desvalorizar a formação inicial dos
professores - e conseqüentemente sua profissão, e incentivar a formação continuada -esse parece ser
o objetivo principal de nossas políticas educacionais atuais
” (Mizukami, 2003: 26).
3.1 - A Educação Infantil no Município de Rondonópolis
A Educação Infantil em Rondonópolis teve início em 1983
17
, a fim de atender a
necessidade de trabalho de uma professora
18
incumbida de fazer um levantamento da
quantidade de crianças com idade de 4 a 5 anos no bairro Vila Canaã, localizado às margens
do Rio Vermelho. As o levantamento, a professora conta que era um bairro de muita
carência, e violento. Após o levantamento, formou-se uma sala de aula com 35
alunos/crianças. A sala de aula foi instalada em um barracão onde funcionava um projeto de
lavanderia comunitária do município que fora desativado. A creche funcionou nesse ambiente
por alguns anos, foi denominada inicialmente como Creche da Vila Canaã
19
. Em 2000, foi
regularizada e registrada como Unidade de Educação Infantil Jonas Nunes Cavalcanti sendo a
17
Segundo a professora entrevistada, a Secretária de Educação da época (1983) Profª. Marlene de Oliveira.
18
Professora Francisca Eucina Pereira Vieira, hoje essa professora atua na rede municipal de educação, na
Educação Infantil, e passou pelo processo de formação inicial no percurso da carreira.
19
A creche da Vila Canaã, denominada no ano 2000 como Unidade Municipal de Educação Infantil “Jonas
Nunes Cavalcanti” foi fundada em 1983, sendo assim a primeira Unidade de Educação Infantil de Rondonópolis.
- 55 -
primeira a atender crianças menores de 05 anos. (creche instalada na rede municipal de
Rondonópolis/MT).
3.2 - Os Profissionais que atuam na Educação Infantil em Rondonópolis
Ao iniciar as atividades para atendimento de crianças menores de 06 anos, as
pessoas que trabalhavam diretamente com as crianças pequenas eram pessoas “Leigas”,
trabalhavam 8 horas diariamente, com atividades diversas similares à pré-escola, visto que
eram crianças da faixa etária de 04 e 05 anos, antecedente à pré-alfabetização. A partir da
promulgação da Constituição Federal e da LDBEN/1996 houve a visão da necessidade de
adequação da Formação dos Profissionais que atuam nas Unidades de Educação Infantil.
Com o intuito de atender a legislação (LDBEN 9394/96), bem como melhorar o
atendimento na Educação Infantil, passando de assistencial para também educacional, ao final
da década de 90 e início de século XXI, foi percebida a necessidade de implantação de
políticas para formação de professores. Em 1999, foi revisto o Plano de Carreira (PCCS)
quanto ao novo cargo e adequação da jornada de trabalho com inclusão da hora atividade e
mudança da nomenclatura do cargo de “Pajem” para “Regente de Educação Infantil”, e em
2000 houve nova mudança do cargo para Docente de Educação Infantil”.
Ao ingressar na rede municipal através de concurso realizado em 1993, ao
candidato foi exigido apenas o curso de magistério (ensino médio).
A formação dos profissionais de Educação Infantil começa a ser discutida no final
do milênio, quando se instaura o Plano Decenal de Educação (1996 a 2006), a Lei determina
que ao final da “década da educaçãosomente serão admitidos professores habilitados em
nível superior ou formados por treinamento em serviço, a mesma lei para agilizar essa
formação cria nova modalidade de curso.
Dá-se icio, então, à profissionalização dos “Regentes de Educação Infantilque
posteriormente e atualmente o cargo passa a ser chamado de Docente de Educação Infantil”,
através de iniciação espontânea de formação em nível superior, e também parcerias entre o
município e universidade muitos professores tiveram a oportunidade de ingresso em curso
superior.
- 56 -
Com o passar dos anos por iniciativa e preocupação própria, muitos professores
foram ingressando em cursos diversos de Ensino Superior. No período de 2000 a 2003, houve
também a realização de um programa de formação através de convênio do município de
Rondonópolis em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (CUR)
20
. Assim, o
nível de formação dos Docentes de Educação Infantil da Rede Municipal foi se elevando.
No quadro de formão inicial, considerando que a formação inicial é aquela a
partir do ensino superior, atualmente os Docentes de Educação Infantil da rede municipal
encontram-se em grande diversidade, 60% são Licenciados em Pedagogia com ênfase nas
séries iniciais do ensino fundamental,
grande parte do quadro de professores de Educação
Infantil do município de Rondonópolis, mais de 50% encontram-se especializados, em
diversas áreas. Conforme os quadros (6) e (7).
3.2.1 Nas Unidades Municipal de Educação Infantil
Quadro 6 Formação dos Professores de Educação Infantil da Rede Municipal de
Rondonópolis
Curso Percentual Quantidade
1.Pedagogia
60% 83,4
2.Letras
14,3% 19,8
3.Magistério
7% 9,7
4.Geografia
6,4% 9
5.História
6% 8,3
6.Matemática
3% 4,1
7.Ciências Biológicas
2% 2,7
8.Educação Artística
0.71% 1
9.Psicologia
0.71% 1
Total
100 % 139
Fonte: Secretaria Municipal de Educação Agosto/2006
- 57 -
Quadro 7 Formação dos Professores da Educação Infantil da Rede Municipal de
Rondonópolis, nível lato sensu em diversas áreas da educação.
Professores especializados
54%
Professores sem especialização
46%
Fonte: Secretaria Municipal de Educação Agosto/2006
3.2.3 Nas Unidades da Instituição “ritas Diocesana”
Quadro 8 – Formação dos Profissionais que atuam na Educação Infantil da Instituição
Cáritas Diocesana
21
.
Fonte: Plano Municipal de Educação do Município de Rondonópolis
De um total de 92 monitores, o número de professores graduados é de 20% destes
têm formação inicial em ensino superior, cerca de 50% não têm formação inicial em nível de
ensino médio (Leigos), e 30% têm ensino médio (colegial). Os dados preocupam quanto à
necessidade de uma formação específica dirigida a esses profissionais que atuam diretamente
com crianças de 3 a 6 anos, os mesmos participam da formação continuada realizada pela
Secretaria Municipal de Educação.
Esses dados foram coletados e apresentados para estudos e realização do Plano
Municipal de Educação, fato esse que demonstra preocupação tanto do poder público, na
21
Fonte: Dados do Plano Municipal de Educação, Agosto/2006
.
Instituição Total de
Professores
Formação inicial em
nível de Ensino
superior
Leigos Ensino
médio
Cáritas
Diocesana
92 13 44
35
- 58 -
tentativa de projetar medidas, e para suprir necessidades de formação específica dos
profissionais que atuam na Educação Infantil, tanto na creche (0 a 3 anos) quanto na pré-
escola (3 a 6 anos).
A diversidade de curso apresentado no quadro de formação traz certa
indeterminação na construção de uma identidade profissional, bem como identificação de
dúbia interpretação, quanto ao que diz a LDBEN:
art. 62: “A formação de docentes para atuar na educação básica far-
se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação
plena,em universidades e institutos superiores de educação, admitida,
como formação mínima para o exercício do magistério na educação
infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a
oferecida em nível médio, na modalidade Normal”.
A construção da identidade profissional do professor de Educação Infantil
exprime o confronto com a cultura popular e determinação pessoal dos sujeitos
transformadores, com base em um currículo de formação ainda não definida em relação à
especificidade necessária.
Com base no contexto histórico de formação dos professores de
Rondonópolis/MT, vejo que uma grande batalha pela frente, diante da busca pela
identidade profissional, pois como disse Osteto (1997) é uma profissão das mais fundamentais
e mais delicadas de ser definida.
- 59 -
IV - O BRINCAR NA EDUCÃO INFANTIL
Neste capítulo apresento um referencial teórico utilizado como suporte para
leitura fundamentada dos dados coletados analisados no capitulo V. Os autores que serviram
como bases teóricas são: CHATEAU (1984), BENJAMIN (1982), LEONTIEV (1994),
FROEBEL (apud. Arce, 2004) VIGOTSKY (1994), BROUGÈRE (1995), KISHIMOTO
(2001), MALUF (2003). Esses autores trazem fundamentações sobre o brincar, o brinquedo e
a imaginação.
Chateau (1984) recomenda o brincar, porque é essencial à saúde física, emocional
e intelectual. Brincando nos requilibramos, reciclamos nossas emoções e nossas necessidades
de conhecer e inventar. É brincando que a criança mergulha na vida, acontece a expressão do
seu interior, revelando conflitos existentes, bloqueados pelos padrões e necessidades sociais.
Mas, não são todas as crianças que brincam, por algum motivo, e, especificamente, por causa
dos adultos muitas crianças não brincam. Se observarmos o momento em que a criança brinca
espontaneamente, podemos ver o brinquedo como um instrumento de construção. Um
momento ou espaço garantido para a criança brincar é necessário. O brincar é comparável ao
direito de brincar e o direito de ter infância, muitas vezes desrespeitados.
Benjamin (1982) afirma que a criança desmonta o brinquedo para se apoderar
dele. Assim além do aparente, estabelece relação íntima, afetiva e de aproximação com o
mesmo. Para Benjamim, este é o lado épico da brincadeira, a ressignificação das partes.
Quem é que nunca cortou os cabelos de uma boneca esperando que os mesmos
crescessem? Quem nunca partiu a boneca ao meio para ver os órgãos internos? O mais
interessante de tudo isso é que, ao efetuar determinadas ações, a criança que foi ao salão
cortar o cabelo chega em casa e corta o cabelo da boneca, ou quem está curioso em saber a
- 60 -
origem da vida parte a barriga da boneca para ver o que tem dentro. É a ressignificação da
realidade através da brincadeira.
Leontiev (1994) diz que a brincadeira é caracterizada de tal forma que está
inserida no próprio processo da atividade. Portanto, podemos realizar qualquer atividade onde
ocorre o desenvolvimento da criança através da brincadeira. Ela não é instintiva e sim
humana, e constituída a partir da base da percepção que a criança tem. Essa capacidade de
percepção determina o conteúdo de suas brincadeiras.
As brincadeiras tradicionais infantis estão relacionadas ao folclore, sobretudo à
oralidade. Possuem características do longo tempo anonimamente, transformadas de gerações
a gerações (amarelinha, pião, parlendas) suas origens são desconhecidas ao longo da história,
sabe-se que provêm de fragmentos de romances, poesias, mitos e rituais religiosos. Elas m
por função perpetuar a cultura infantil, desenvolver formas de conveniência social e permitir o
prazer de brincar. Pertencente à categoria de experiência transmitida espontaneamente,
conforme motivações internas da criança, a brincadeira tradicional garante a presença do
lúdico, na situação imaginária.
O faz-de-conta é colocado como brincadeira simbólica, surge com o aparecimento
da linguagem por volta de 02 a 03 anos. O faz-de-conta permite não o imaginário mas, a
expressão de regras implícitas que se materializam nos temas da brincadeira. Idéias e ações
adquiridas provêm do contexto que convive, em casa, na escola entre seus pares.
O jogo na proposta pedagógica remete-nos para a necessidade do cumprimento do
conteúdo programado, é mais comum nas crianças que se encontra em desenvolvimento
avançado, pois já absorvem regras, justifica-se pela construção de símbolos, desenvolvendo a
função simlica garantindo a racionalidade do faz-de-conta construindo símbolos. O jogo
tem importância fundamental para o desenvolvimento infantil e para a formação da
personalidade. Atua tanto na dimensão sica, emocional e da imaginação. É o modo
específico de a criança conhecer o mundo
Brougère (1981) diz que o brinquedo é um suporte para o desenvolvimento
infantil, sua principal função é a brincadeira, e as regras da brincadeira que delineiam a
capacidade de a criaa entender e cumprir regras no meio social.
Ao longo dos tempos, o brinquedo tornou-se também educativo data dos tempos
do Renascimento, com a invenção de FROEBEL, e ganha força na expansão da Educação
Infantil, utilizado como recurso que ensina de forma prazerosa. Os brinquedos educativos têm
- 61 -
se a visão que estabelecem exercícios de quebra-cabeça, encaixe, seqüência de tamanho e
formas diferentes. Cujo olhar voltou-se para o desenvolvimento infantil e materialização na
função psicopedagógica, trabalhando a percepção visual, motora, sonora, parlendas,
brincadeiras envolvendo músicas, danças, expressão motora, gráfica e simbólica.
Segundo Arce (2005, apud FROEBEL) as brincadeiras de construção são
consideradas de grande importância, a experiência sensorial estimula a criatividade,
desenvolve habilidade da criança, fazendo relação com faz-de-conta, evoluem em
complexidade conforme o desenvolvimento da criança, que se percebe observando a fala e a
ação da criança. As crianças costumam revelar fatos e temas conflituosos, exteriorizado
durante a construção de qualquer símbolo, que revela complicadas relações, pode construir
sua casa, sua escola, enfim fatos que externam através do símbolo construído, expressando
seu imaginário contribuindo na gênese da escrita, bem como também participam deste
processo as atividades de desenho. Estes já anunciam a habilidade de escrita ao funcionarem
como significantes de outras coisas, algo externo. Este processo é a base para o ensino
posterior da leitura e escrita. Froebel defendia a educação sem imposões às crianças porque,
segundo a sua teoria, as crianças passam por diferentes fases. Compostas de 3 fases: primeira
infância, infância e idade escolar, através de acompanhamento feito pelo adulto, da fala e das
brincadeiras ele pode apreender a fase ou nível de desenvolvimento da criança e a forma de
relacionamento infantil com o mundo exterior.
Vigotsky (1994) faz uma interpretação particular do brinquedo ao identificá-lo
com o mundo da fantasia e da ilusão, onde a criança atinge seus objetivos simbolicamente.
Sua importância maior consiste no papel que ele representa ao desenvolvimento infantil. Por
exemplo, o brinquedo sempre contém regras que, mais tarde, delineiam a capacidade da
criança em entender e cumprir as regras do meio social, sendo a raiz da futura noção de
moralidade. Vigotsky (apud, BONTEMPO, 2000) chama a atenção para o fato de que, para a
criança com menos de 3 anos, o brinquedo é coisa muito séria, pois ela não consegue discernir
o que é real ou imaginário.
O brinquedo também cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança,
intermediada ora pelo adulto, ora pelo próprio brinquedo, ao fazê-la vivenciar situações que
estão além do seu nível atual de comportamento diário. Daí a importância da atividade lúdica
na educação infantil, ao facilitá-la, estamos contribuindo para o desenvolvimento das
crianças. De acordo com o desenvolvimento através da zona proximal, justifica a importância
da atividade lúdica na Educação Infantil, e ao fazê-lo vivenciar situações que estão além do
- 62 -
seu nível atual de comportamento diário, como por exemplo, o desenvolvimento da fala, que é
um instrumento cultural interligado à maturação.
Vigotsky (1994) diz ainda que quando a criaa começa a falar, as palavras são
percebidas como propriedade, antes que um símbolo ou objeto. Ele considera a brincadeira
como uma grande fonte de desenvolvimento que, como foco de uma lente de aumento,
contém as tendências do desenvolvimento de forma condensada.
Nas brincadeiras, a criança tem a ressignificação do que vive ou se tem,
transitando do real para o imaginário no mundo da brincadeira infantil. Portanto, a brincadeira
é vista como uma atividade que promove a aprendizagem e o desenvolvimento, lembrando
que a brincadeira precisa ser garantida pela escola, precisa ser acompanhada, planejada,
organizada e enriquecida por meios que propiciam a diversão e o prazer.
O brinquedo dotado de natureza livre parece incompatibilizar com a busca de
resultados, pois ao desempenhar uma tarefa como, por exemplo, seqüência de cores ao formar
um castelo de cartas, a criança pode desempenhar o que se encontra no seu imaginário e não o
que o professor deseja ou planejou. É típico do lúdico exteriorizar por conta de uma
motivação interna, diferente do trabalho pedagógico, que oferece um estímulo externo. O
brinquedo torna a ser o instrumento principal da atividade.
Esta atividade própria do ser humano é a que media o contato do homem com a
sua realidade, organizando e reorganizando sentimentos e comportamentos na interação com
seu meio. Nesta relação o homem modifica o ambiente, sendo também sujeito deste processo.
Vigotsky divide a atividade humana em duas classes:
1º A atividade reprodutora tem a importante função de reviver, relembrar,
refazer a experiência vivida e aprendida. Sua expressão funcional é a memória,
que guarda estreita relação com o cérebro e o sistema nervoso. Como
confirmado pelas pesquisas científicas mais recentes, Vigotsky (1994) aponta a
incrível plasticidade deste sistema;
A outra classe de atividade humana seria a criadora ou combinadora, que,
valendo-se das vivências obtidas pela experiência prévia, combina
criativamente nossos conteúdos levando algo essencialmente novo. Essa
criação o deve ser confundida com o conceito restritivo de “fantasia”
- 63 -
(interpretado como algo irreal e sem significado prático), nem ser encarado
como uma habilidade reservada a poucos indivíduos especiais (os nios
criativos), mas é antes algo comum, processo natural a todos os homens, e que
também se expressa coletivamente. Tal é a importância deste processo que
toda produção humana tem na atividade criativa sua mola propulsora,
consideramos assim a arte, a produção científica e o desenvolvimento técnico.
Essa discussão adquire uma importância ainda maior pela sua relevância para a
pedagogia e para a psicologia. Se esses processos de imaginação e fantasias são fundamentais
para o funcionamento e o desenvolvimento maturacional da criança, cabe a nós estudarmos
como se este processo. Vigotsky (2003) traz suas contribuições para essa questão,
analisando primeiro as relações constituídas entre imaginação e realidade. Como um
arqueólogo, Vigotsky busca camada por camada a raiz do seu conhecimento, partindo da
situação mais simples para a mais complexa, estabeleceu quatro categorias básicas de relação
entre imaginação e mundo externo:
Toda criação da imaginação se estrutura tendo como base algo já presente na
memória, na experiência anterior dos sujeitos.
Quanto maior o cabedal de experiências, tanto maior a possibilidade de riqueza
criativa, isso por si já resvala em implicações pedagógicas importantes. Este
processo se dá em duas etapas: a acumulação e a maturação dos conteúdos.
A fantasia opera com os fenômenos da realidade. podemos criar idéias
complexas nos baseando em conteúdos que temos da realidade.
A imaginação tem a função de ampliar a experncia das pessoas de forma
indireta, através das experiências e dos relatos de outrem.
Existe entre a fantasia e a realidade uma relação emocional. Nossos registros de
imagens estão ligados ao estado emocional vivido, que foi associado àquele momento. Um
estado emocional pode suscitar várias imagens ligadas àquela expressão afetiva (fenômeno
chamado de signo emocional geral). Também uma imagem de fantasia pode trazer consigo
uma vivência emocional real.
- 64 -
A expressão da criatividade materializada, exteriorizada, pode suscitar algo novo,
que não fazia parte do reperrio das pessoas. Seria a capacidade da obra de arte de despertar
conteúdos criativos nos indivíduos, que leva as originais formas de sentir e compreender algo.
Se existem relações diversas entre fantasia e realidade, também a imaginação
criadora pode ser estudada decompondo as suas etapas formadoras. Em um primeiro
momento, e como condição anterior e necessária, uma criação baseia-se nas experiências
pessoais, advindas principalmente das percepções interiores (emocionais) e exteriores
(objetivas) de cada sujeito. A crião de novas ligações entre elementos, essência do processo
criativo exige o rompimento das ligações anteriormente presentes, a modificação destas
impressões (que na criança, geralmente significa o exagero, a ampliação do estímulo) e a
associação entre novos elementos. A última etapa deste processo é a materialização externa
do estímulo interno, que é considerado por Vigotsky como tendo importância especial, e que
fecha orculo do processo criativo.
Essencial é relembrar que toda a produção cultural do homem depende das
condições que sua realidade social oferta e estimula. Não somos seres independentes das
condições históricas presentes, mas nossa liberdade e individualidade se expressam
concretamente num mundo mediado pelas relações objetivas, dadas socialmente. Esta
realidade hisrica promove e também condiciona as realizações dos homens.
Ao discutir especificamente a imaginação na infância, Vigotsky (2003) discorda
da opinião que advoga a superioridade da imaginação e criação da criança em relação ao
adulto. Isso é falso, pois a criança ainda não tem a mesma riqueza de experiências e de
conteúdos disponíveis ao adulto. Apesar deste déficit comparativo, a maturação
(especialmente rica na puberdade) traz consigo uma mudança qualitativa na capacidade de
criação e imaginação.
O desenvolvimento da criança em adulto denota uma correspondente mudança, de
uma imaginação preponderantemente subjetiva (de conteúdos internos e emocionais), em
direção a uma imaginação objetiva (mais ligada ao mundo concreto). Isso o é contrário ao
fato de que em ambos os casos o papel do emocional para a criatividade é essencial, a
diferença é mais em um grau de complexidade dos processos, mais simples na infância.
Tendo discutido os processos subjacentes à atividade criativa, Vigotsky faz um
levantamento das formas de expressão da imaginação, que são também práticas pedagógicas,
analisando a expressão literária, a criação teatral e o uso do desenho na infância. Estes são
- 65 -
exemplos de exteriorizações da criatividade, já assinaladas por Vigotsky como sendo o
princípio motivacional da imaginação, o desejo de materializar a criação.
Sobre a criação literária, os estudos discutidos por Vigotsky apontam uma
dificuldade da criança em se expressar em um domínio que ela ainda não conhece bem, a
escrita. Nesta fase a criatividade dá-se mais na forma de criação verbal. Lembra ainda (como
salientou Paulo Freire tempos depois) a importância de se trabalhar a escrita com aqueles
conteúdos significativos à criança, algo que a estimule e tenha conexão emocional para ela.
O teatro, que também é comparado ao jogo, ao fingir típico da criança, é o que
mais se aproxima de uma verdadeira produção criativa própria do mundo infantil. Na
dramatização estão presentes as fases de fantasia (interior e subjetiva) e a manifestação
externa através da ação, o que condiz com a natureza essencialmente motora da imaginação
infantil.
Kishimoto (2001) segundo uma pesquisa feita sobre os brinquedos e brincadeiras
na Educação Infantil japonesa, a prática com brinquedos já ser comum nas escolas desse nível
de ensino, foi publicado em 1994, pelo Ministério de Educação e Cultura uma espécie de guia
de educação para o jardim da infância destacando o brincar em alguns pontos tais como:
Manutenção da saúde mental, Relações humanas no desenvolvimento da autonomia, Relações
de ambiente, desenvolvimento da linguagem, desenvolver a expressão. Essa proposta enfatiza
valores que se aproximam dos objetivos de muitos países, cada um partindo da sua
particularidade cultural visando ao desenvolvimento integral, a cooperação, a auto-
responsabilidade, a moralidade, a inserção da criança no mundo natural e social,
desenvolvimento da linguagem e a criatividade, senso estético e a expressão dos sentimentos.
Kishimoto (2001) demonstra também dados de uma pesquisa feita em 1980 que
identifica as diferenças culturais entre Japão, China e Estados Unidos. Essa pesquisa foi feita
através de perguntas a 720 professores dos três países envolvidos. A pergunta feita foi “qual a
razão mais importante para a sociedade criar e manter pré-escolas?As respostas demonstram
que a principal razão para manter a criança japonesa (61 %) é que as crianças necessitam ser
membros de um grupopara as crianças chinesas (37,3%) a prioridade foi “ter um bom
início acadêmico, e para as americanas (21%) “tornar se independente e autoconfiante”. O
brincar, no entanto, foi mencionado com maior incincia pelos americanos, seguido de
japoneses e depois os chineses (14%, 13,9%,e 8% respectivamente).
- 66 -
Como fica o desenvolvimento necessário? Com a inserção da proposta pedagógica
no ambiente freqüentado pelas crianças, a preparação da rotina dria do espaço que agora não
é mais um espaço de cuidados higiênicos e alimentar, e sim educacional-pedagógico onde
o se pode dissociar o espaço educacional com cuidados/afetividade e educação. que a
criança é levada muito cedo para um ambiente de pessoas diferentes do seu convívio, e que
permanece por cerca de 10 horas, diariamente, de segunda a sexta-feira. Como fica o período
da criança se desenvolver com direcionamento pedagógico. Como está o brincar no espaço de
Educação Infantil?
Ferreira (2004) proe virar do avesso o espaço do jardim de infância, isto é,
passar a olhá-lo a partir da criança. Concebe-se uma estruturação do contexto social adulta
dotada de propriedades duais. O desafio de “virar do avessoinicia na estruturação do espaço-
tempo, a experiência individual e coletiva da criança, e verticalização do poder. Visando três
processos centrais: a cultura das crianças; o da sua organização como grupo social de “pares”;
e o da (s) sua (s) ordem (ens) social (ais) nos seus consensos e nos seus conflitos, onde elas
também estabelecem seu (s) contrato (s) social (ais). Melhor se compreendem as crianças
como produtoras a ativas dos seus mundos de crianças, quando elas são capazes de elaborar
uma ordem social infantil. Um contraponto à ordem adulta que emergem rotinas, regras e
princípios de ação no interior do grupo de crianças.
Segundo Wajskop (2004) a brincadeira na perspectiva sócio-histórica e
antropológica, trata-se de uma atividade social, humana que come contextos culturais, a
partir das quais as crianças recriam a realidade através da utilização de sistemas simbólicos
próprios. Ao mesmo tempo em que essa atividade é específica da infância a sociedade
estabelece padrões através do desenvolvimento da arte e da cultura, cujos instrumentos são
apropriados pelos adultos. Ainda segundo a mesma autora, com base na pesquisa de Brougère
(1989), de que não existe jogo natural. A brincadeira é o resultado de relações
interindividuais, portanto, da cultura. Wajskop (2004) afirma que para ela com base em
Brougère (1989) e eu concordo, “a garantia do espaço da brincadeira na pré-escola, na
Educação infantil, é a garantia de uma possibilidade de educação da criança em uma
perspectiva criadora, voluntária e consciente”(grifo nosso), e ela complementa, com as
palavras de Brougère (1989, apud Wajskop, 2004:31) que a brincadeira “é o lugar da
socialização, da administração da relação com o outro, da apropriação da cultura, do exercício
da decisão e da invenção. Mas tudo isso se faz segundo o ritmo da criança e possui um
aspecto aleatório e incerto. o se pode organizar, a partir da brincadeira, um programa
- 67 -
pedagógico preciso. Aquele que brinca pode sempre evitar o que não gosta. Se a liberdade
caracteriza as aprendizagens efetuadas na brincadeira, ela produz também a incertude quanto
aos resultados, é um paradoxo da brincadeira no espaço de aprendizagem fabuloso e incerto”.
- 68 -
V – ANÁLISE DOS DADOS
Após a fase exploratória, passamos para o aprofundamento dos estudos, através de
registro em protocolos da observação-participante e da entrevista.
As observações foram registradas em um caderno de campo depois transcritas para o
arquivo de texto Word em linhas enumeradas. Esse registro foi denominado registro em
protocolos da observação-participante”. As observações ocorreram no período de 26 de
setembro a 16 de novembro de 2006, tanto no período matutino como no vespertino.
As entrevistas foram gravadas por meio eletrônico e depois transcritas em arquivo de
texto Word.
Na 1ª parte, denominada E-1, foi feita a análise dos registros de protocolos da
observação-participante, e na 2ª parte, denominada E-2, foi feita a análise das entrevistas.
Cada instrumento de pesquisa foi analisado a partir de eixos E-1 e E-2. Os eixos surgiram
mediante a análise dos dados em relão ao objeto de pesquisa.
E-1 - Instrumento: Protocolo de observação participante
1ºSub- eixo: O brincar e demais atividades realizadas cotidianamente
E-2 - Instrumento: Entrevistas
2ºSub-eixo: Trajetória profissional / pessoal;
3º Sub-eixo: O papel do professor e da Educação Infantil;
- 69 -
5.1 - A análise do registro do protocolo da observação-participante
5.1.1 – E-1: 1º Sub-eixo: O brincar e demais atividades realizadas cotidianamente
Segundo os protocolos registrados através da observação-participante em relação
às atividades executadas, emergiram os seguintes eixos temáticos:
1. O Brincar e a mídia
2. A cultura lúdica;
3. A rotina institucional;
4. Brincar como instrumento de ensino (intra e extra-classe)
A primeira atividade observada é a de assistir a um filme. Às 7h e 25 minutos,
após o café da manhã está claro que é natural e espontâneo o interagir com os colegas
enquanto assistem filme de desenho animado. Mesmo ao ser chamado a atenção pela
professora, é mais interessante mexer no colega do lado, abrir um enorme bocão imitando o
tubarão que aparece enorme na tela do filme, é difícil ficar sentadinho, assistindo ao filme,
cheio de energia que o café com pão acaba de fornecer. Veja no registro a seguir:
Começo a observar a sala de aula fase A das Profª. Lírio e Gérbera, as
crianças estão assistindo filme na TV, está passando o filme em dvd“
Procurando Nemo”, a Professora às vezes pronuncia alguns
nomes“Fulano, Beltrame”, os mesmos atendem e voltam a atenção para
filme. As crianças interagem com o desenho imitam a boca do tubarão.
(protocolo de observação livre linhas 1 a 5, às 7 horas e 25 minutos do
dia 26/09/2006).
A brincadeira da criança com a imagem da tela demonstra características da
cultura lúdica, sendo interrompida, prejudicada pela rotina das atividades, principalmente
aquelas que usam espaços e materiais coletivos como: TV, deo, brinquedos e som, são
programados em um cronograma onde é previsto que num determinado dia da semana, tal
turma, vai utilizar o equipamento.
- 70 -
Brincar com as imagens televisivas jamais significa, para a criança, copiar
fielmente o que vê, mas sim compor, combinar, relacionar essas imagens
com o conjunto de representações que já constituem o universo simbólico
de sua cultura lúdica. (Salgado, 2005:130)
Essa atividade, conforme o cronograma coletivo, acontece uma vez por semana,
se não utilizar naquele determinado dia, ficará sem a utilização daquele material naquela
semana. É preciso rever quanto aos horários em que melhor seria aproveitado aquele material,
sendo o horário em que as crianças assistem impróprio para o bom desenvolvimento do
objetivo principal podendo ser o descansar, distrair-se e interagir com o recurso didático. A
rotina da escola deve ser flexível, levando à utilização adequada do material didático.
A cultura lúdica segundo Brougère, é um conjunto de procedimentos que
permitem tornar o jogo possível, dispondo de certo número de referências, que permitem
como jogo atividades que poderiam não ser vistas como tais por outras pessoas. A cultura
lúdica fornece referências intersubjetivas a essa interpretação” (1998:24).
O reinício das atividades no período vespertino acontece cotidianamente, é
natural, faz parte da cultura, os rituais ao acordar, talvez despercebida pelos atores. Canta-
se uma música, desfaz-se os colchões, faz uma fila em torno da parede. As crianças estão
saindo do sono (descanso), estão sonolentas, preguiçosas, com sono ou porque o período o
foi suficiente, ou porque o calor as deixou com aquele mal-estar, comum em nós adultos
também. Vejamos o reinício das atividades após o sono:
Às 13h 45 min ao terminar o lanche todos retornam para a sala. E vão
sentando à beira da parede ao chão. A professora introduz a música do dia
da semana, (protocolo de observação-participante, vespertino, linhas 4 a
6 de 13/11/2007)
Ao chegar na sala as crianças sentam ao chão, seguindo a beirada da
parede formando um semicírculo. A professora pergunta que dia é hoje?
Algumas crianças arriscam qualquer dia da semana aleatoriamente a
professora complementa que hoje é feira e entoa um canto, referente ao
dia da semana. (protocolo de observação-participante, vespertino, linhas
12 a 15 14/11/2007)
Às 14h e 15 minutos após o lanche, retornamos pra sala, a professora
pergunta sobre o dia da semana, e canta uma música e fala sobre o dia da
semana, que é um dia de alegria, e pergunta é dia de brigar? As crianças
respondem em coro nãããão”. E Rafael complementa - nem de morder
- 71 -
tia?” (protocolo de observação-participante, vespertino, linhas 4 a 7
16/11/2007)
O retorno às atividades do período vespertino recomeça com um lanche, e depois
a professora inicia com uma música, as crianças demonstram estar acordadas quando
respondem em coro, “nããão”, mas, quanto ao conteúdo da música, que é o dia da semana,
dificilmente as crianças vão apreender o verdadeiro significado daquela música, com certeza
elas já detectaram que aquela música começa as atividades do período após o sono.
O ideal para após o sono seria um banho para despertar, combater o calor, para
podermos iniciar o período vespertino, com bastante alegria, vontade e produtividade. Talvez
fosse o momento de discutirmos a rotina da escola. Zabalza (1998) diz que a rotina costuma
ser um fiel reflexo que rege a ação educativa.
A rotina interfere no desenvolvimento da criança, não adianta trazer diferentes
filmes, talvez seja melhor adequar as atividades que despertem ou acalmem as crianças. É
preciso preparar um ambiente gostoso, com colchonetes, almofadões, onde eles possam sentir
prazer de assistir até o final e querer repetir inúmeras vezes. Segundo Benjamin (1984) as
crianças adoram repetir o famoso dinovo, dinovo” pelo simples prazer do saber.
Na sala de aula pude perceber que dois tipos de categorias de atividades. As
atividades dirigidas pelo professor e as atividades não dirigidas, a primeira acontece intra-
classe e a segunda são as atividades que regularmente o professor apenas orienta, intervém e
interage. Essas, nesse caso, observadas acontecem extra-classe e o dirigidas”, criadas pela
criança. Zabalza sugere que a Educação Infantil precisa de um espaço amplo diferenciado, de
fácil acesso e especializado, facilmente identificável pela criança.
As atividades extra-classe demonstram a construção da autonomia da criança
levando os professores, por inúmeras vezes, a não realizar o planejamento diário, ou
interrompendo a atividade para atender as vontades das crianças, veja em 30 minutos após o
início do filme:
Às 7h e 55 min as crianças estão dispersas, o filme não lhes
interessam mais, preferem conversar com o colega do lado, outro brinca
com um carrinho, outra canta “palma, palma, palma, pé, pé, pé” 8h e 05
min a Profª. sugere: “vamos brincar no pátio”, e não precisa chamar duas
vezes, é a conta de abrir a porta e as crianças saem, (Protocolo
observação de livre, matutino, linha 06 a 10 de 26/09/2006).
- 72 -
No primeiro momento, a professora cede aos interesses das crianças, sugerindo
que fossem para o pátio brincar. O stress, o calor, a agitação das crianças promovem o direito
de ir para o pátio de acordo com Chateau (1984) o brincar é essencial à saúde sica,
emocional, e intelectual, que brincando nos requilibramos, reciclamos nossas emoções e
nossas necessidades de conhecer e inventar.
As atividades intra-classe são geralmente dirigidas pela professora, é a chamada
sala de aula. Desse modo, fica bem claro que dentro da sala de aula fazemos o que a
professora planeja, e que subentende que lá fora da sala, ou depois da atividade a criança pode
brincar com o carrinho. É comum ouvirmos “primeiro façam as atividades programadas e
depois brincaremos”. A garantia da execução do currículo oficial nos o direito de brincar,
isso demonstra que o brincar não faz parte do currículo oficial.
Mesmo que sejam brincadeiras, se acontecem dentro da sala, são dirigidas pelo
professor. Em outro momento (trecho), a professora sugere que façamos as atividades
embaixo da árvore, contando história e depois brincando com as bolsas e carrinhos feito
artesanalmente, colocando limites e condições para brincarem no pátio. A diferença entre os
dois momentos é justamente a opção que a professora teve de sugerir, mesmo que levando a
mesma atividade para o pátio que era a história e a brincadeira com bolsas e carrinhos. Nesse
momento, a professora consegue manter seu programa de atividades adaptando-as em espaço
preferido pelas crianças, embora dirigido, comandado pela professora. Vejamos no ocorrido
abaixo:
7h 20 min a professora organiza as crianças em círculo, uma criança está
com um carrinho (Kevin) que trouxe de casa, a professora pede pra
guardar porque agora é hora de fazermos outra atividade, e diz pra ele:
“depois você pega”. (protocolo de observação livre, matutino, linha 1 a
4 do dia 05/10/2006
.
Há, portanto, uma subdivisão entre as atividades e brincadeiras. Zabalza (1998)
valoriza o material polivalente e diversificado, talvez fosse diferente se a professora utilizasse
o carrinho do garoto durante a explicação do conteúdo que ela tinha planejado. Aquele objeto
teria sentido na atividade e o significado do conteúdo para criança, com certeza, teria maior
clareza também.
- 73 -
Uma atividade de aprendizagem, controlada pelo educador, toma o aspecto
de brincadeira para seduzir a criança. Porém a criança não toma a
iniciativa da brincadeira, nem tem o domínio do seu desenvolvimento. O
domínio pertence ao adulto.
Brougère (apud Vidal, 2002, p.45)
A professora avisa: agora vou contar história do menino que não tinha
amigo, tá? E chama: “chegam aqui bem perto que eu vou contar a história.
(todos se deslocam da parede até bem próximo da cadeira da professora
sentados ao chão), a professora começa a contar a história, mas as
crianças não ficam em silêncio, a professora chama a atenção várias vezes,
mas as crianças continuam com o barulho, a professora então resolve que
vamos para o pátio a professora conta a história embaixo da árvore,
vocês querem? - As crianças respondem: - Sim. “Ah ta! (diz a
professora), “mas, antes vamos fazer as bolsas e carrinhos de sucata pra
gente brincar” (com garrafa pet de refrigerante de 2 litros é feita bolsas e
carrinhos) e lembra: - “temos que colocar o nome da criança no
brinquedo” (coloca o nome da criança com fita adesiva) e depois de
brincar temos que guardar na sacola pra depois a gente brincar mais”. As
crianças vão para o pátio cada um com seu brinquedo, as bolsas são litros
cortados ao meio com alça de barbante, e os carrinhos são feitos do
gargalo da garrafa pet com barbante amarrado pra puxar, elas brincam de
arrastar, encher e esvaziar seus brinquedos. (Protocolo de Observação de
13/11/2006, vespertino, linhas 11ª a 27ª)
7h e 20 min A Professora diz: “hoje vamos fazer uma atividade bem
gostosa, - Professora diz:- essa brincadeira tem regra? - Têm. (pergunta e
responde) vamos contar quantas cadeiras tem aqui 1, 2, 3, 4 cadeiras agora
eu preciso de 05 crianças, então uma criança vai ficar sem cadeira,
(alerta), pega uma cadeira e vai saindo de fininho, quando a música parar
todos vão sentar na cadeirinha, quem ficar sem, não precisa chorar”.”.
(protocolo de observação livre linha 1 a 4 do dia 05/10/2006)
Dentro da sala de aula a professora chama de “atividade bem gostosa” alguns
jogos, e explica que têm regras e organiza as cadeiras, chama atenção das crianças quanto à
quantidade de participantes de cada vez, e a quantidade de cadeira. Preocupada como a
criança vai aceitar o perder no jogo, a professora alerta quanto ao perder, “não precisa
chorarsabemos que a derrota para criança pode ser difícil no começo, mas ela luta por
vencer quando é estimulada. É importante o professor explicar as regras, é importante haver
uma preocupação com o emocional da criança. O replanejamento e adequação das atividades
são ideais, sem tirar o objetivo da brincadeira introduzindo as regras nessa faixa etária.
- 74 -
Dominar as regras significa dominar seu próprio comportamento,
aprendendo a controlá-lo, aprendendo a subordiná-lo a um propósito
definido.Leontiev (1994:139)
Segundo Zabalza (1998) o emocional é a plataforma sobre a qual se constroem
todos os desenvolvimentos. Explicar o que vai ser feito contar o que foi feito, descrever os
processos é um meio de proporcionar o uso da linguagem como protagonista. Ainda para o
autor, a linguagem enriquecida e diferenciada contribui para a construção do pensamento e a
capacidade de decodificar a realidade em que vive
A Professora anuncia: “Já estamos no final da brincadeira tem duas
crianças e uma cadeira, quem será que vai ganhar: Kevin ou Rafael.
Vamos lá concentração, (a música pára)... vai, vai, vai, senta, senta e Kevin
é o campeão” aplauso... (todos aplaudem). (protocolo de observação livre
linha 1 a 4 do dia 05/10/2006
)
O objetivo da brincadeira se torna quem consegue ficar por último sentado na
cadeira. A professora continua incentivando as crianças a sentarem primeiro para garantir seu
espaço, e continuar na brincadeira.
O controle pertencendo ao adulto garante apenas que o conteúdo
didático seja transmitido. Utiliza-se o interesse da criança pela
brincadeira para despistá-la em prol do objetivo escolar. Wajskop
(2004:25)
Apenas parte do grupo brinca, o outro grupo fica sentado ao chão para brincar no
grupo seguinte. O número de criança dificulta o bom andamento da atividade e a professora
precisa ter muito controle para conseguir que todos participem.
8h Brincadeira do vivo e morto” todos em círculo, a professora orienta:
quando a professora falar “morto”, todos deitam no chão e, quando falar
“vivo,” todos de pé... Atenção vai ser rápida (alerta) as crianças se
divertem muito, todos deitam, levantam, (inclusive a professora)
rapidamente, erram, e continuam com risos e diversão. 8h e 10 min
Brincadeira da Estátua: “A, E, I, O, U cara-de-tatu para quem mexer”,
(estátua), todos imitam a professora com gestos e posições sem se mexer
(repetidas vezes). (protocolo de observação livre linha 1 a 4 do dia
05/10/2006)
- 75 -
Se observarmos o tempo em que a professora organiza e realiza as brincadeiras
dirigidas, podemos totalizar 50 minutos de atividade dirigida, realizando 3 brincadeiras , além
da organização por pequenos grupos de cada vez para participar e repetidas vezes. É
importante lembrar que esse tipo de atividade dirigida causa no professor que está no
comando um desgaste físico e mental muito grande. Essas atividades têm objetivos, pautados
no desenvolvimento da criança e ainda preocupação com o conteúdo programado, preciso
aqui evidenciar a necessidade de valorizar a brincadeira como trabalho.
Wajskop (2004: 27) a criança que brinca pode adentrar o mundo do trabalho
pela via da representação e da experimentação; o espaço da instituição deve ser um espaço
de vida e de interação, e os materiais fornecidos para as crianças podem ser uma das
variáveis fundamentais que as auxiliam a construir e apropriar-se do conhecimento
universal.
É importante diferenciar a brincadeira do trabalho. A instituição que busca o
desenvolvimento infantil deve garantir a inserção da cultura de origem de cada criança, para
tanto é necessário informar aos pais/família seus objetivos ao desenvolver projetos trazendo-
os para o ambiente educacional. Pois é comum que os pais quando leva os filhos pra um
ambiente educacional espere da instituição tarefas, trabalhos característicos de uma escola.
Orientados pela cultura da escola tradicional, em caso principalmente de creche é
comum que as famílias esperem cuidados, higiene e alimentação. Assim, é importante
incentivar os pais/família a brincarem com seus filhos, Zabalza (1998) diz que é aconselhável
iniciar uma atividade na escola estendida para terminar em casa.
Para Salgado (2005) a criança aprende inúmeras coisas, inclusive os digos,
provenientes dos digos sociais do poder. As crianças trabalham quando participam na
produção e na circulação da mercadoria enquanto brincam, esse trabalho não se vincula
àquele trabalho remunerado, quando a criança se envolve em tarefas escolares alimenta o
sistema social, tanto em seu aspecto simlico e cultural quanto no seu aspecto econômico.
Para dicotomizar o trabalho da brincadeira, devemos informar aos pais, quanto ao
espaço e os objetivos que Educação Infantil está oferecendo para possibilitar a construção de
uma identidade infantil, sendo priorizado o desenvolvimento da autonomia, do
cooperativismo, e da criatividade. Através de atividades lúdicas, de brincadeiras como forma
de revelar conflitos das crianças.
- 76 -
O brincar livre aparece inúmeras vezes, por meio das falas, ou previsto nos
planejamentos, descritos de diferentes maneiras como: brinquem a vontade, brinquem para a
diversão, brinquem com sucatas na areia, e o local onde se desenvolve essa atividade é o
pátio. A brincadeira definida como atividade social específica e fundamental que garante a
interação de conhecimentos da realidade pelas crianças é que nos faz estabelecer um vínculo
escolar, assim a brincadeira proporciona um papel educativo importante na escolaridade. À
medida que a criança se desenvolve e se apropria do conhecimento consti intercâmbios
sociais a partir de seus pares de convívio sejam em casa, escola ou espaços do cotidiano.
Segundo Andrade (1995) o brincar livre no pátio ocorre na maior parte das
instituições, essa atividade pode ser riquíssima em informação sobre a criança e sobre seu
universo. O fato do brincar no pátio ser uma atividade não estruturada pelo adulto é vista
como menos importante, no entanto, são ricas de interação entre as crianças, com criações
incríveis, situações de faz-de-conta muito elaboradas podem ser observadas e também
incentivadas através da intermediação. Esse fato é o que Zabalza chama de abertura ao
ambiente.
8h da manhã as crianças estão brincando no pátio com areia, debaixo da
sombra da mangueira, algumas crianças chupam manga, outros brincam
com sucatas enchendo e esvaziando fazendo montinho de areia. Rafael
prende um bicho dentro da garrafa. Pergunto:- O que é isso? e ele
responde: - é um bicho. Rafael fica brincando com o inseto por muito
tempo colocando pra lá e pra dentro da garrafa. Depois Rafael também
brinca de cavalinho com os outros meninos, meninas tiram a roupa, ficam
apenas de calcinha, soltam os cabelos umas das outras, cantam, dançam e
remexem. (Protocolo de observação dia 05/10/2006, matutino, linhas 07
a 16).
Em um ambiente dotado de natureza, insetos e frutas nativas e de liberdade as
crianças são protagonistas das suas ações, da sua imaginação ou influenciadas pela mídia de
garotas REBELDES
22
imitam, se produzem, cantam e dançam.
Kevin ensaia que tem um bicho na mão, olho e vejo que é um galho verde
da árvore (faz-de-conta), diz que é um bicho e ele vai me morder, e também
faz medo nos colegas, os outros também querem fazer o mesmo que ele,
cada um pega um galho. Eu faço de conta que estou com medo e digo:
“ai!!! tô com medo” ele continua a me assustar com o bicho (galho).
Chega um momento que eu resolvo não ter medo mais, e digo: “eu não
22
Grupo musical de origem Européia, de grande sucesso no Brasil e mundo no ano de 2005 e 2006.
- 77 -
tenho medo mais desse bicho”, tento passar a mão no bicho, e ele me
orienta: olha passa a mão por aqui (por trás da cabeça), porque desse
lado (frente) ele vai te morder” obedeço pego o bicho (galho) na mão
(Protocolo de observação dia 05/10/2006 linhas 16 a 25).
A criança demonstra, nesse caso, toda a sua dificuldade em me aceitar no
ambiente dela, ensaia um faz-de-conta, uma situação imaginária, sendo o objetivo de ataque
contra a minha presença, e revelam todas suas vontades. Através da intermediação, da zona de
desenvolvimento proximal, deixo que ele, através do bicho imaginário, coloque suas
defesas/angústias para fora. Quando eu resolvo não ter mais medo do bicho (mudar de lado),
ele me protege, orientando-me como passar a mão no bicho (no galho). Ele demonstra o que
Leontiev (1994) chama de subordinação às regras, diante da situação imaginada por ele, e
depois, ele flutua passando para o outro lado. É um sinal de que Kevin me aceita, ele é
capaz de mudar as regras, para que ao invés de ataque aconteça a proteção. Ele rompe
barreiras, ele demonstra troca de papéis, me orientando e me protegendo, mas sem perder o
controle da situação, para ele eu continuo subordinada a ele.
A criança não aprende somente uma língua materna, aprende
também códigos de circulação na rua, certo tipo de relações
complexas com as máquinas, com a eletricidade, etc. e estes
diferentes códigos devem integra-se aos códigos sociais do poder.
Guattari (1981, apud Salgado 2005:212)
Os fatos decorridos anteriormente demonstram o que Vigotsky (1984) diz: que o
brincar é uma “situação imaginária” criada pela própria criança, inclusive o autor chama a
atenção para o jogo de papéis desenvolvidos a partir do e ano quando a criança passa a
substituir o nome dos objetos. Para Chateau (1984), é brincando que a criança expressa seu
interior, revelando conflitos existentes, bloqueados pelos padrões e necessidades sociais.
O faz de conta está sempre presente nas brincadeiras livres no pátio, talvez pelo
acesso a brinquedos que não expressam imagem real, as sucatas fazem papel de bonecas,
carrinhos, bolsinhas, e aguçam a imaginação das crianças:
8h e 15 min Ao chegarmos no pátio todas as crianças estão brincando
livremente com sucatas (garrafas pets cortadas ao meio) na areia. A Profª
Lírio interage com algumas crianças através de perguntas “de que vocês
- 78 -
estão brincando?” “o que estão fazendo?” a menina responde “estou
chegando do trabalho, vim buscar meu filho na creche” (criança de 03
anos) encena nana-nenê com uma garrafa pet nos braços. (Protocolo de
observação 26/09/2006, matutino, Linhas 14 a 20).
A expressão da criança estabelece uma relação entre o real e o imaginário, ao
interagir com a professora. O ato da professora permite que a criança transite nessa linha, às
vezes imaginária às vezes real, que expressa seus pensamentos, seus valores adquiridos,
imitando a mãe quando vem buscá-la ao retornar do trabalho. Ela expressa noção de valor em
relação à realidade da família que a deixa na creche para trabalhar, ela demonstra segurança
em estar na criança na creche enquanto a mãe trabalha.
Além da interação com a criança, a professora também cuida e orienta
colaborando para o desenvolvimento da criança. Como acontece no seguinte exposto na
situação abaixo:
[...] vamos todos para o parque. As crianças vão com muita alegria,
brincam, sobem, escorregam e descem, exceto FLOR
23
que sobe no
estaleiro (parque) e com medo começa a chorar, a professora chega bem
perto dela e orienta como fazer. FLOR vence o medo e sobe mais um
obstáculo, depois pula no chão muito feliz, e quer subir de novo. (Registro
em protocolo de observação, 18/10/2006 linhas 23 a 28).
É fundamental a experiência do profissional que lida com a criança da Educação
Infantil. Para a formação da criança, é necessário saber ouvir, para orientar e ensinar
individualizando a atenção. O professor tem fundamental importância no desenvolvimento da
criança, pois cabe a ele intermediar, antecipar criar situações desafiadoras para que ocorra o
desenvolvimento. Zabalza enfatiza a necessidade da atenção privilegiada aos aspectos
emocionais.
A professora nesse caso deixou a criança vencer o medo, diante da confiança
atribuída pela criança à professora, frente ao conhecimento das capacidades da criança
concebida pela professora e de acordo com a extremidade do desafio enfrentado pela criança.
A professora, nesse momento, levou em conta a extremidade do perigo e as capacidades da
criança, dando-lhe orientação confiável estando em prontidão para o suporte se necessário. O
profissional é fator importante no desenvolvimento da criança, nota-se que a experiência e a
23
Nome fictício.
- 79 -
segurança do profissional levam a criança a superar-se, a se desenvolver enfrentando desafios.
Caso contrário, adiaria o desenvolvimento, se a professora apenas tirasse “FLOR” do estaleiro
proibindo-a de subir com a leitura preventiva do perigo. Zabalza (1998) enfatiza que a
emoção age principalmente no nível de segurança da criança.
Os brinquedos industrializados, de fato, são materiais dificilmente encontrados
nesse espaço, mas ocorreu uma vez o contato das crianças com brinquedos.
Após o jantar, na sala a professora entorna a caixa de brinquedos no chão,
as crianças escolhem com tumulto, vários brinquedos inteiros, como:
bonecas, cama de madeira, panelinha, ursinho, fogãozinho, armário,
violão, revólver, avião, telefone e secador de cabelos, também outros
que faltam algumas partes. As crianças continuam brincando, algumas
desavenças pelos brinquedos, mas continuam brincando até o final quando
as mães chegam pra buscá-los. (Protocolo de observação-participante,
vespertino, em 16/11/2006, linhas 34 a 39)
Os brinquedos entornados na sala, ao final da tarde, demonstram que naquele
momento, foram utilizados sem vinculação com o conteúdo, apenas com o objetivo de
brincar. Teria ocorrido um outro campo de visão, quanto aos objetivos de brincar com os
brinquedos, se estes fossem distribuídos ou entornados no início das atividades do período.
Ao serem despejados na sala, geraram tumulto, brigas, choros e até quebra-quebra. O
brinquedo, sendo distribuído no final da tarde, próximo ao horário de ir embora, gera
ansiedade na criança, porque naqueles instantes pode ser que a mãe chegue, e tenha que ir
embora sem terminar a brincadeira, e, o que é pior, tenha que deixar o brinquedo com outro
colega, não podendo levar para casa.
Os brinquedos não podem ser utilizados para preencher espaços em branco do
programa de atividades. Eles precisam fazer parte da sala de aula, do currículo, dos
conteúdos. Pois são eles instrumentos que proporcionam prazer na realização da fantasia,
simbolizando a realidade, importante para o desenvolvimento da criança. Isso não quer dizer
que o professor tenha que somente brincar na sala de aula.
Campagne (1989, apud Andrade, 1995) discutindo o papel do brinquedo no
desenvolvimento da criança e no trabalho pedagógico, para ele, o brinquedo é um suporte do
jogo, mediador dos interesses, sob seu controle. O brinquedo é um objeto que desperta
curiosidade, exercita a inteligência, permite a invenção e a imaginação, além disso é
- 80 -
socializador. No entanto, o brinquedo é um meio e não um fim, ele simboliza a infância,
demarca terririo e tem importantes significados os brinquedos quebrados.
O professor precisa deixar a criança protagonizar na sala de aula também, assim
como no pátio e no parque, sendo a criança a protagonista no pátio, no parque. Por que na sala
de aula a criança não pode ser o protagonista também? Para Campagne, o papel do educador
cabe a ensinar-lhe as regras, a orientar aos cuidados tornando o ato uma atividade educativa.
O mesmo autor também se preocupa com o brinquedo coletivo, comum nas instituições de
ensino, pois o brinquedo coletivo não pertence a ninguém. Cabe ao educador encontrar meios
para que os brinquedos adquiram um sentido, em busca de uma caminhada educativa, através
de uma ação mais aprofundada.
Se a caixa de brinquedos estivesse ao alcance das crianças, no canto da sala,
provavelmente a criança espontaneamente poderia ir até a caixa e escolher um dos brinquedos
para brincar até a mamãe” chegar. Nesse caso, o brinquedo tem o papel de suprir a angústia
da espera. Segundo Zabalza (1998) a reflexão das ações do professor serve para amenizar os
conflitos das crianças.
5.2 – Análise das Entrevistas
5.2.1 – E-2. 2º Sub-eixo: Trajetória Profissional/pessoal
1. Neste eixo, são apresentados a trajetória de formação profissional, e pessoal
de duas professoras de Educação Infantil. Segundo as entrevistas gravadas,
tratam-se nesse momento os seguintes eixos temáticos:
2. Papel do professor e da Educação Infantil;
As Professoras entrevistadas, aqui denominadas, Lírio e Gérbera demonstram
duas fases de transição na Educação Infantil:
- 81 -
A primeira fase, no início da Educação Infantil em
Rondonópolis (1983), os professores que atuavam eram leigos e
ao longo do processo foram se moldando, se formando;
A segunda fase, 18 anos após, fase contemporânea em que a
formação já é um pré-requisito, para iniciar atuando na
Educação Infantil, uma preocupação da organização municipal,
com base na legislação.
A professora denominada rio iniciou a carreira profissional em 1983, através de
carteira assinada, casada desde 1973, iniciou como professora da Zona Rural do ensino
primário (I ciclo do Ensino Fundamental) atribui às dificuldades de locomoção, a distância e
sua responsabilidade com o trabalho, à desistência do trabalho na Zona Rural (Escola do
Campo), movendo-a a atuar na Educação Infantil hoje. Lírio nunca havia imaginado que um
dia seria Professora de Educação Infantil.
A professora denominada Gérbera iniciou sua carreira profissional através de
concurso público em 2001, solteira tem 28 anos. Graduada em licenciatura plena em
Geografia. Embora a formação tenha sido em Geografia, teve a experiência da formação
inicial em magistério, bem como o desejo de ser professora de Educação Infantil. Gérbera
havia cultivado desde a infância o desejo de ser professora.
A formação da professora rio, no início da carreira, limitava-se às formações e
encontros anuais, no início ou final do ano letivo, encontros promovidos pela secretaria de
educação, a professora tinha apenas o ensino ginasial (Ensino Fundamental). Preocupada em
estudar para garantir o trabalho, a professora no decorrer dos anos participou de programas de
formação, cursos esses que proporcionaram a conclusão da graduação no ensino superior, em
Pedagogia com ênfase nas séries iniciais do ensino fundamental. Enquanto que Gérbera inicia
com a formação o específica em Educação Infantil, mas com certa bagagem do ensino.
Vejamos trechos da entrevista em que elas contam sobre o início da carreira, a formação e a
que atribuem estarem atuando na Educação Infantil hoje:
Lírio: “Eu entrei como Professora eu não era professora de Educação
Infantil, era Professora do Ensino Fundamental da Zona Rural, [...] eu
precisava trabalhar, tinha interesse em continuar estudando [...] mas que
- 82 -
eu não gostaria de ir pra Zona Rural, pois eu num ia conseguir dar aula, ia
ficar a maior parte do tempo na estrada. Ela então, me colocou pra fazer
um levantamento das crianças na Vila Canaã. Eu comecei a fazer o
LOGUS. E durante mais ou menos um ano que eu estudei o LOGUS veio
um documento de Cuiabá relatando que o aluno que estivesse estudando e
trabalhando nas Unidades de Educação Infantil, (nas creches), poderia
estar fazendo o magistério, eu fiz o teste na primeira vez eu não passei,
passei no ano seguinte, e assim eu fiz o magistério.
Depois eu fiz o
vestibular e consegui passar, estudei 03 anos e meio na UNIC/Cuiabá
sendo: é... todos os meses a gente ia uma semana, depende o calendário a
gente ia duas semanas no mês, a gente ficava em Cuiabá,... ficava uma
turma, éramos um grupo daqui de Rondonópolis e demais cidades vizinhas,
ficava hospedada numa casa. Terminamos o nosso curso com 3 anos e
meio, durante esse curso foi quando faltava 1 ano, mais ou menos pra
terminar Pedagogia, teve o concurso aqui de Rondonópolis, o concurso foi
em 2001. Tinha 29 vagas e eu passei em 15º lugar, [...] hoje estou atuando,
continuo na Educação Infantil, concursada, e formada, hoje eu me sinto
assim vitoriosa, vitoriosa de ser uma professora da rede municipal de
Rondonópolis de Educação Infantil”.
Gérbera: “Iniciei minha vida profissional na Educação Infantil em agosto,
2001 através do concurso municipal /2000, já tinha concluído o magistério
em 1995 na Escola Daniel Martins de Moura, e também já tinha concluído
curso de Licenciatura em Geografia/1996 a 2000 na UFMT Centro
Universitário de Rondonópolis”.
A partir dos anos noventa, a Lei de Diretrizes e Bases do Ensino Nacional
(LDBEN), a exigência da lei quanto à formação dos profissionais da educação a nível de
ensino superior, incluindo os profissionais que atuavam na Educação Infantil, levaram as
universidades a se adequarem, inovando as formas e métodos de ensino, para que o professor
em exercício da função pudesse encontrar as portas abertas para ingressar ao ensino superior.
A partir de então, já houve estudos que demonstram preocupação com a qualidade do ensino
que esses professores “estudantes” recebem.
É preciso superar um modelo de formação que considera o professor
apenas como transmissor de conhecimentos, que se preocupe apenas
com a formação de atitudes de obediência, de passividade e de
subordinação nos alunos, que trate os alunos como assimiladores de
conteúdos, a partir de simples práticas de adestramento que tomam
como mote as memorizações e repetições de conhecimentos que pouco
tem a ver com a realidade dos alunos.(Yoshie,2006:69)
Lírio buscou meios que contribuíssem para sua formação, preferiu ou aproveitou a
oportunidade de se deslocar de Rondonópolis a Cuiabá, cerca de 200 km, freqüentando um
- 83 -
curso de calendário mensal, algumas vezes sendo quinzenal, necessitando de apoio humano,
parcerias mesmo que o instituídas oficialmente como: a família, amigos, colegas, e até
mesmo o município.
Com certeza essa história, casos de formação como a de Lírio, foi escrita também
por muitos professores que se graduaram no final dos anos 90, através do ensino a distância,
curso de férias entre outros, meios pelos quais tenha elevado significativamente o índice de
formação de professores graduados na região Centro-Oeste e outras regiões.
Lírio: eu nunca imaginei que seria professora de crianças pequenas,
jamais passou pela minha cabeça, mas a partir daquele levantamento que
me pediram pra fazer eu fui assim me adaptando, fazendo as formações, daí
fui fazer pedagogia, fiz também especialização em avaliação”.
Gérbera: Estou na Educação Infantil hoje porque sempre pensei que ia
ser professora de Educação Infantil, por isso fiz magistério, mesmo me
formando em geografia poderia ter ido trabalhar com crianças maiores,
que eu prefiro os pequenos, porque parece que eles têm mais interesse e
tudo que você fala desperta algo neles, já os grandes é mais difícil motivá-
los, eles não querem saber de nada”.
O depoimento de rio, em relação à formação demonstra necessidade de
segurança no trabalho, como se tivesse correndo atrás do tempo, coroando-a com a graduação
e aprovação no concurso público. Inicia sua carreira profissional em 1983, aos 26 anos, na
década de 80, época de processo de desenvolvimento do ensino do munipio de
Rondonópolis, atualmente com 49 anos. Para Sikes (1985) em estudo feito sobre os ciclos
vitais dos professores está é uma fase, em que os mesmos se adaptaram a sua maturidade,
buscando novos papéis na escola e no sistema educativo, como por exemplo, diretora,
coordenadora, e participante da comissão de conselhos e etc.
O depoimento de Gérbera que inicia a vida profissional aos 22 anos, para Sikes
(1985) essa é uma fase de exploração das possibilidades da vida adulta, e de início de uma
estrutura estável de vida, Gérbera inicia como professora graduada em uma universidade de
curso regular/normal, conceituada, e blica demonstra segurança de posição, pois inicia
com a base solidificada, tranqüila, ainda muito jovem se prepara para exercer sua escolha que
fizera desde a infância.
- 84 -
As trajetórias pessoais de Lírio e Gérbera são distintas. A primeira é oriunda da
Zona Rural, enquanto que a outra é nascida e criada na Zona Urbana. De diferentes cadas,
uma dos anos 60 e a outra dos anos 80, ambas tiveram uma infância alegre, de doces
lembranças, uma filha de sitiante e outra filha de professores urbanos.
Vejamos o que elas contaram ao serem perguntadas sobre sua infância:
Lírio: Eu venho de uma família muito pobre, não nasci aqui em Mato
Grosso, nós viemos pra eu tinha sete anos de idade. Comecei a estudar
na Zona Rural, fiz da primeira a quarta série com a minha irmã, quando eu
passei pra quinta série eu mudei pra aqui pra Rondonópolis meus pais
eram sitiantes, então eu vim morar com a minha tia. Eu e o meu primo, eu
fiz até a oitava série ai eu continuei estudando aqui em Rondonópolis.
Quando eu era criança das séries iniciais, até meus quinze anos mais ou
menos eu tinha muita dificuldade pra falar determinada palavra, a palavra
não saia da minha boca, vinha na minha mente, vinha pra eu falar e eu não
conseguia fala.
Gérbera: Nasci em 1978 em Rondonópolis na Vila Operária, meu pai era
professor de a série, minha mãe também da mesma escola que eu
estudava, ela chegou a ser minha professora, mas ai eu pedi pra mudar de
sala. Eu tinha 08 anos /1986 e pedi, pois eu não achava justo, era muita
responsabilidade pra mim, eu não queria ser aluna da minha mãe, até
chorei na diretoria.
Ambas tiveram infância em diferentes momentos históricos, uma nos anos 60 e a
outra nos anos 80, vejamos
:
Lírio: Tenho muita saudade da minha infância, eu percebo hoje na vida
adulta como professora de educação infantil, eu percebo assim uma
mudança em relação à liberdade que a gente tinha, no meu tempo a gente
tinha liberdade, a gente tinha tempo para criar brincadeiras, o espaço
parece que era mais livre, não como hoje na sua casa murada, a criança
não tem a liberdade de ficar jogando bola. E a gente que mora em tio
você tem aquela liberdade de conviver com a natureza, com os pássaros
brincar na rua à vontade, tem muita brincadeira gostosa que está sendo
esquecida hoje, pelos adultos pelas crianças. Eu acredito que a gente
precisa resgatar estar buscando essas brincadeiras para ser aplicada em
sala. É brincadeira tão gratificante a brincadeira da liberdade do gato e o
rato, a brincadeira do cinturão queimado, onde a criança esconde aquele
raminho e os outros vão procurar,[...] hoje em dia a maioria das
brincadeiras, casinha são a maioria confeccionada pelo professor, ou são
comprados, antigamente na minha época não. Aquelas bonecas eram feitas
de pano, de tecido, cabelo preto era feito de pincel e o olhinho era feito de
linha vermelha. Fazia boneca de sabugo de milho, aqueles cabelos loiros
bonitos compridos, eu brincava o tempo todo, fazia tal de guisado, Esse
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guisado era uma comidinha que a gente fazia pra ta oferecendo pros
colegas, os colegas vinham almoçar na casa da gente, e nós éramos
crianças de 07 a 08 anos pra fazer essas.
Gérbera: Na minha infância eu brincava muito na terra, de bola, de pular
corda, bicicleta, esconde-esconde, de casinha debaixo do de chuchu no
quintal de casa. Minha família sempre foi muito estável, eu tinha meus
brinquedos, brincava com as colegas da escola, primas e primos, vizinhas,
vizinhos e meu irmão. Eu brincava na em casa e na casa dos colegas
também. Fazia comidinha lama e barro. Minha casa sempre foi, e é até
hoje cheia de amigos.
As narrativas das professoras demonstram a diferença das épocas, embora não
esteja muito distante a década da infância de Gérbera, seu discurso demonstra prazer e o
saudade, ao contrário do depoimento de Lírio, que demonstra certo saudosismo, por perceber
a diferença entre sua infância livre, e a infância atual com espaços limitados horários e regras.
A diferença dos anos 60 e 80, em que a criança dos anos 60 tinha liberdade,
brincando com a natureza, confeccionavam bonecas com materiais artesanais, que muitas
vezes ficavam no imaginário mesmo, nos anos 80, a bicicleta a grande personagem da
diversão. O contraste da infância dos anos 60 se fazia comidinha de verdade (real), “o
guizado”, para oferecer aos colegas, na outra mais recente fazia comidinha de mentirinha
(irreal) “comidinha de lama e de barro”, a cultura lúdica está nítida.
A cultura lúdica dos anos 60, apresenta o desenvolvimento da imaginação e o real,
em contraponto com o imaginário irreal dos anos 80 (faz de conta). A razão que leva a
criança a não fazer comidinha de verdade, talvez seja, a nova cultura e os novos papéis da
mulher na sociedade, cultura que leva a formação da menina, e conseqüentemente, a “nova
mulher”, a mulher do novo século.
A infância das professoras retratam suas práticas pedagógicas, em relação a
percepção e reflexão da necessidade de liberdade, em construir seus próprios brinquedos,
considerando a importância dos mesmos na criatividade, no desenvolvimento da criança,
reportando-as nas sala-de-aula. A partir do momento que a professora aborda o tema
liberdade, construção, e oposição às regras está refletindo, entrando em conflito quanto a suas
práticas no contexto de sua sala de aula, tomando por base a sua referência histórica,
refletindo quanto à organização da escola, das famílias, da comunidade.
- 86 -
5.2.2 – E-2: 3º sub-eixo - O papel do professor e da Educação Infantil
Neste eixo, são apresentados e discutidos o papel do professor e da Educação
Infantil segundo as entrevistas: em relação ao brincar e o aprender, afetividade, o papel do
adulto quanto à aprendizagem enquanto brinca, o brincar e o espaço.
A Educação Infantil tem papel importante nessa fase do desenvolvimento.
Vejamos qual é a visão das professoras quando perguntadas sobre a visão do papel do
professor e da Educação Infantil.
Em relação ao seu papel de professor, e a visão delas em relação à Educação
Infantil, as Professoras entrevistadas relataram:
Lírio:
Quando nós falamos de Educação Infantil eu venho na minha
mente pensando assim, é uma separação com os pais, por que na educação
infantil é oferecido período integral e isso é uma separação assim muito....,
a criança vai se sentir muito ausente da família.
Gérbera: O papel do professor de educação Infantil é de muita
responsabilidade, pois fica mais tempo com a gente do que com a família,
tudo que a gente fala pra eles é lei.
Lírio: Eu vejo a educação infantil como um espaço de aprendizagem,
porque é um local aonde a criança não vai pra brincar e mesmo que ele
brinque, através das brincadeiras ali ele aprende, através das brincadeiras.
Então hoje nós estamos vivendo numa sociedade que nós vamos levar a
sociedade a conhecer o nosso trabalho. Buscar esses pais pra dentro da
unidade, pra que eles tenha a visão que as unidade não é um local onde a
criança vai ficar, só pra comer, pra tomar banho, pra ter o lado
afetivo. Ele vai ter o banho, vai ter o lado afetivo, vai ter as brincadeiras e
através de todo esse trabalho desenvolvido nas unidades a criança vai
desenvolver o seu cognitivo, pra quando ele entrar nas séries iniciais essa
criança já vai levar uma bagagem muito valiosa pro ensino fundamental.
Gérbera: A educação infantil hoje pelo que vejo as meninas contarem
houve bastante melhora, hoje até os pais já vêem a gente com outros olhos.
No aspecto do poder público tem visto a importância, antes éramos vistas
como babás.
Com relação a seu papel na Educação Infantil, a professora cita o que um
professor precisa ter para ser um profissional que realmente quer, e tem compromisso com o
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seu fazer, a sua formação interfere sim, não só no seu papel profissional, como também no seu
papel social/pessoal. A mudança a que a professora Lírio se refere é justamente a inserção do
pedagógico, pois o espaço de Educação Infantil não é mais apenas um espaço assistencial, só
para cuidar, dar banho e alimentar. A professora faz também uma dicotomia entre o brincar e
o aprender. Ela diz que é
um espaço de aprendizagem, porque é um local aonde a criança não vai
pra brincar”,
a criança vai também para se desenvolver, mas, e com o brincar também
o se desenvolve? O brincar precisa ser visto como estratégia de desenvolvimento, do
imaginário, da autonomia, da aceitação das regras, meio de proporcionar socialização, assim
como o brinquedo precisa ser visto como instrumento pedagógico (manuseado pela criaa).
O espaço de Educação Infantil é ornamentado de material pedagógico, de
instrumentos que imitam uma escola, embora seja uma escola adaptada para as crianças de
faixa etária menor, de 0 a 6 anos, mais especificamente de 0 a 04 anos. o é um ambiente
educacional que se leva a aprender a ler e a escrever, mas sim desenvolver, assimilar,
perceber, socializar, comunicar, expressar, entre outras. Ao desenvolver todas essas
habilidades significam que as atividades do espaço de Educação Infantil proporcionam à
criança o desenvolvimento principalmente da autonomia, sendo o adulto mais próximo que
atua como suporte necessário ao desenvolvimento de suas habilidades.
Para que a criança adquira confiança no professor, ele precisa buscar, trazer essa
criança para si, através de carinho, respeito e atenção, sabendo identificar diversos sintomas
que ocorrem no início das aulas, tais como: birra, agressão, desobediência, egoísmo e a
intolencia. É, portanto, de muita responsabilidade, como afirma Gérbera, devido ao longo
período de acompanhamento diário e a confiança necessária a ser adquirida entre professora e
criança.
Sabemos ao longo dos tempos que o espaço reservado à Educação Infantil foi
visto como um espaço de cuidados, de assistência e até nos dias de hoje ainda raiz dessa
cultura, pois é difícil substituir as formas engessadas da cultura em um espaço que necessita
de atendimento especial.
Em relação ao papel de professor de Educação Infantil, as professoras
entrevistadas disseram:
Lírio:[...] Então, esse professor ele precisa ser muito bem preparado pra
receber essa criança porque naquele momento que ele vai trabalhar o
pedagógico como eu te disse antes que teve uma mudança na educação
infantil, mesmo assim o professor de educação infantil ele tem que ter o
lado afetivo [...] essas crianças estão ficando em período integral com o
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professor uma pessoa diferente que não é da sua família [...] não tenho
dúvida que o professor tem que ta formado, para lidar com essas crianças
de educação infantil, através de curso, preparação, pesquisa, pra
compreender como uma criança fica em período integral fora da sua
residência..
Gérbera: é importante, pois é a formação da criança na infância que
estamos atuando.
A professora aqui aponta três fatores importantes, que são: a inserção de uma
proposta pedagógica na Educação Infantil, a importância da afetividade associada à separação
brusca da família. Esses três campos precisam ser amplamente estudados durante a formação
do professor.
Isso não quer dizer que os professores que estão trabalhando não têm esse
desenvolvimento, mas sim que a formação precisa ser mais abrangente, para lidar com as
necessidades dessa faixa etária. Um professor que não tenha noção da necessidade afetiva das
crianças, não tenha a noção da importância do seu papel nessa fase, visto que ocorre a
separação da criança com a família, não deveria jamais participar de um ambiente
educacional, talvez seja mais tolerável devido aos instintos maternais presente no ser humano,
mas vale ressaltar que se trata de outras atividades, que não maternais.
Para o professor conseguir a aceitação da criança, é necessário muito jogo de
cintura, paciência e muita sedução, regada à afetividade. Percebe-se tal aceitação quando a
criança tem o prazer de freqüentar e chora em casa quando esta por algum motivo não está em
funcionamento.
As características do trabalho com crianças menores, e o longo período em que a
criança fica longe da família transferem para a unidade, além dos cuidados, pluralidade de
ações. Para lidar com isso, o professor de Educação Infantil precisa ter preparação especial,
específica que aponte estudos afins subsidiáveis ao seu fazer.
A interação da escola com a família cria estratégias para possibilitar o
desenvolvimento da criança. Os comentários sobre avanços, necessidades, dificuldades em
que se apresentam na escola podem demonstrar quais os motivos de determinados
comportamentos da criança. Nesse caso, a professora tem mais possibilidade para observar a
criança do que a mãe, considerando que a criança fica maior tempo na escola que com a
família.
- 89 -
Ao abrir espaço para a família, através de diálogos nem que seja de minutos na
porta da sala-de-aula, o professor pode tirar, além de conclusões ou direcionamentos de
determinadas dúvidas em relação à criança, como também receber apontamentos avaliativos
do seu trabalho.
Segundo as professoras, elas também aprendem com as crianças. Vejamos o que
elas disseram quando pedimos para que definissem seus alunos:
Lírio: no decorrer do processo de ensino aprendizagem a gente encontra
sim, algumas dificuldades, a gente percebe no lado afetivo, da carência
afetiva, porque até mesmo são da comunidade muitas vezes os pais são
separados, vivem só com a mãe, algumas vezes já teve caso de convivência
só com o pai. Em relação à aprendizagem no 2º semestre no 1º mês, a gente
nota o avanço na aprendizagem deles, essa criança já...Assim se
adaptou, já se interagiu com o meio, com o local, já identifica cada setor da
escola, ele parece que já é dono daquele espaço, apesar de que é dele
mesmo né, ele já conhece tudo, então com aquilo ali é uma forma de ele ter
mais facilidade de aprendizagem. chegando o segundo semestre parece
que ele se sente mais a vontade e é mais fácil do professor trabalhar com
ele, ele auxilia melhor quando a gente pede pra ele ir buscar
determinado objeto em determinado lugar ele sabe aonde ir. A gente
trabalha os conteúdos, a família, o corpo, sica, expressão oral,
expressão corporal, expressão verbal, matemática através de jogos, e esse
ano de 2006 na última avaliação eu fiquei muito satisfeita com as crianças.
A gente registra no relatório como foi o desenvolvimento da criança, quais
são as dificuldades encontradas pra gente trabalhar no próximo ano,
através da criança eu também aprendo dentro da sala junto com ela,
porque eles surpreendem o professor a todo o momento.
Gérbera: os alunos são crianças bem desenvolvidas que a gente se
surpreende cada momento com eles, são ativos, criativos, no início do ano
alguns são bem difíceis, mas logo se adaptam à unidade.
A brincadeira como aprendizagem, em que se destaca o lugar do papel do adulto.
A interação com a família e o acompanhamento do desenvolvimento da criança
leva o professor a descobrir maneiras de lidar com cada criança.
É comum no início não saber o que fazer, ao se deparar com problemas de
aceitação da criança, mas com o passar dos dias e inúmeras estratégias utilizadas, tais como
brincar, cantar, conversar, perguntar sobre o que a criança mais gosta, acalentar quando a
criança desesperadamente chora por falta da mãe, falta do irmão e outros, sem falsas
esperanças, o professor consegue driblar essa deficiência.
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Vejamos o que as professoras comentaram ao serem perguntadas sobre o
conhecimento que as crianças trazem de casa:
Lírio: Eu vejo assim, que os pais precisavam participar mais das
brincadeiras dos seus filhos, muito pouco, mais muito pouco mesmo eu vejo
alguma criança comentando em relação às brincadeiras em casa, as
brincadeiras que eles mais falam são a que ele participa na escolinha, nas
UMEIs, o que eu vejo que mais acontece é a música sertaneja. A música
sertaneja corre mesmo dentro da sala. Eles adoram cantar música
sertaneja, e eles trazem isso de que? De casa, do convívio social, que eles
vivem nas suas famílias, por que lá com certeza família gosta de ouvir som,
é o que a criança ta convivendo, então eu vejo assim, que precisava,
necessitava dos pais também criar brincadeiras para os seus filhos,
contribuindo com os professores, porque a criança precisa brincar, precisa
ter brincadeira, através da brincadeira a criança aprende.
Gérbera: Eles costumam comentar que vão ao shopping, ao estádio de
futebol, exposição, baile com o pai, sitio, show na exposição, muitas
crianças costumam falar que não comem determinada coisa em casa e
comem aqui na Unidade. Nas brincadeiras de casinha muitas vezes eles
imitam os pais colocando-os pra dormir.
Na visão das professoras que trabalham na mesma sala, a música e o lazer são os
mais relevantes. Estão, de certa forma, ligados ao comportamento da criança na Unidade.
Talvez para que conheça realmente os costumes da família, seja necessária uma conversa com
os pais, sobre o final de semana passado ou os planos para os próximos. Esse diálogo pode
partir da fonte de informação da criança. Talvez possa sugerir uma brincadeira para casa, uma
leitura, uma música.
É importante considerarmos que os pais podem não ter sido instrdos a brincar
com seus filhos, talvez não saibam por que o filho quebrou o brinquedo novinho que acabou
de ganhar, talvez os pais não tenham noção quanto às necessidades de afeto da criança e
talvez os próprios pais também necessitam do carinho dos filhos.
Muitos professores trabalham tendo visões amplas de Educação Infantil, embora
ainda estejam presas às raízes do romantismo. Vejamos o que as professoras entrevistadas
disseram quando lhes foi perguntado o que elas vêem de mais importante no seu ensinar:
Lírio: Amor pelo meu trabalho, carinho com minhas crianças, dinâmica,
saber ouvir, saber escutar as minhas crianças, acompanhar o
- 91 -
desenvolvimento, fazer relatório do desenvolvimento das crianças, se eles
tão acompanhando as atividades, quais são suas dificuldades encontrada
com determinada criança.
Gérbera: eu acho mais importante no meu ensinar o brincar, e a história
infantil, pois você vê a imaginação da criança desenvolvendo, indo longe.
No depoimento sobre o que há de mais importante no seu ensinar, as professoras
entrevistadas não mencionaram como importante a sua intervenção no ensinar para o
desenvolvimento. A intervenção do professor ampara o aprender, traz segurança, e o
professor, ao intervir, traz a criança para perto de si, possibilitando ser parte integrante do seu
mundo, mesmo que seja um mundo imaginário.
Para a melhoria do nosso trabalho, é importante continuarmos aprendendo, lendo,
buscando meios que nos levam a atualizarmos. Este fato é comum com os professores, pois
são sempre feitas capacitações promovidas pela Secretaria, pela Prefeitura, pelo governo, pelo
sindicato, universidades etc. Ao serem perguntadas sobre quais palestras ou cursos
participaram, e o que além dessas palestras e cursos, tem contribuído no seu ensinar,
disseram:
Lírio: Durante o ano letivo eu procurei participar de todos os seminários,
formação, reuniões, alguns por motivo particular, mas sempre eu procuro
aperfeiçoar cada vez mais
.
Através de pesquisa, de discussão em grupo,
diálogo com os professores, discutindo as metodologias, as atividades
diferenciadas.
Gérbera: Eu participei de algumas formações por interesse de
determinados temas e palestrantes. As oficinas me ajudaram bastante no
contar histórias como, por exemplo, contar história dramatizando, deixar a
criança desenvolver livremente sem que haja muita cobrança.
Escolher temas e palestrantes que chamem atenção é com certeza um paradoxo,
do que está sempre participando de todas as palestras e formações, mas que demonstra certo
cansaço e o professor se o direito de escolher, vou participar do encontro tal, pois
vai falar coisa que eu quero ouvir, vai falar de assunto que me interessa” demonstra falta de
motivação com relação ao obter sugestões que vão me auxiliar no dia-a-dia, nos meus
afazeres na prática da sala de aula, talvez com o cansaço essa desmotivação seja justificada, a
baixa auto-estima.
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Talvez seja o momento dos organizadores colocarem um direcionamento dos
temas abordados, uma prévia caracterização das necessidades do professor através de
pesquisas, sugestões etc. um olhar especial sobre essa falta de motivação, antes da
programação dos cursos e palestrantes de renome nacional ou local, para que venha realmente
acrescentar nos afazeres e reflexões da prática na sala de aula. Vejamos o que as professoras
disseram ao serem perguntadas sobre o que os cursos, palestras e formações têm acrescentado
no seu fazer na sala de aula:
Lírio: Durante esses cursos do ano letivo que eu participei eu ouvi alguns,
alguns não, quase todos os palestrantes batendo na mesma tecla...
Professor tem que ser dinâmico, professor tem que ser amigo, professor tem
que ter responsabilidade com suas tarefas, com seus trabalhos
pedagógicos. Com certeza durante esse curso que eu participei ele veio
contribuir com a minha formação. Pra que? para que eu pudesse trabalhar
com a minha criança, com novos métodos, porque foi colocado várias
métodos, várias formas de você incentivar a criança a participar de
determinada atividade, durante essas palestra, esses curso, essas formações
que nós tivemos que a secretaria de educação infantil ofereceu..
Gérbera: As formações me ajudaram acrescentar na formação, pois não
tenho uma formação pedagógica.
Os objetivos da nossa formação individual podem o estar planejados no
contexto do grupo. Talvez o professor individualmente, ou também com seu grupo possa
ajudar o poder municipal a aplicar melhor o dinheiro público se preparando para a formação
continuada através de seminários, estudos ou simpósios que possibilitem um aprofundamento
teórico.
A formação continuada deve contribuir com o professor no sentido de colaborar
nos seus pontos fracos, tentando aprimorar, buscando alternativas e métodos para lidar com
as crianças pequenas. Para tanto, é importante de alguma forma se informar, participar das
reuniões, perguntar, tirar dúvidas, ler, e até criar uma estratégia enumerando suas fraquezas,
para ver se ao final da palestra, reunião ou encontro sua necessidade foi beneficiada.
A visão da Educação Infantil e o papel do professor não chegaram às diversas
licenciaturas cursadas pelas professoras, talvez seja uma opção das formações continuadas
partirem desses dados, apresentados neste trabalho no capítulo 3.1, talvez seja necessário
programar as formações a partir dos níveis de formação, e lógico, podendo aproveitar os
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conhecimentos adquiridos, e intensificar a especificidade da Educação Infantil, especificidade
essa que o curso de Pedagogia não proporciona se não tiver ênfase em Educação Infantil.
Sabemos que na prática alguns alunos estagiários ou professores já formados,
novatos ao assumirem um concurso como o Docente de Educação Infantil abandonam a sala
de aula no primeiro dia. Por se sentirem incapazes, não preparados para trabalhar com
crianças tão pequenas, não sabem realmente o que fazer.
Atividades que exigem que as crianças fiquem sentadas e quietas, como assistir
filme, colocar na fila, sentar-se nas cadeiras à mesa, e em silêncio com certeza é difícil
conseguir, pois nesse momento da vida da criança ela ainda não tem o conceito de escola, de
horários, de obediência a uma pessoa que não seja sua família, ela ainda não entende que tem
que dividir espaço, brinquedo, livros, revistas, entre outros. Talvez brincadeiras, situações
imaginárias, com regras fáceis de serem absorvidas, representadas por signos, colaboram na
subordinação da criança.
Neste momento é que o professor precisa ter noção da necessidade do seu papel
como educador, ou mediador do desenvolvimento, em busca da autonomia da criança.
Vejamos o que as professoras entrevistadas disseram sobre o trabalho que realizam para
desenvolver a autonomia da criança:
Lírio: para o desenvolvimento da autonomia da criança, não faz tudo para
essa criança, a espero fazer, observo ela fazer, ajudo ela fazer, essa
autonomia durante o primeiro semestre a gente via muita dificuldade eu
estava sempre do lado deles pra que eles pedissem ajuda.
Gérbera: Eu trabalho a autonomia através das brincadeiras, nós fizemos
um acordo como, por exemplo, nós fizemos um boneco e tem a hora de
tudo, a hora de almoçar, a hora de alimentar, dormir, brincar, o que pode e
o que não pode fazer. Não pode bater no coleguinha, jogar lixo no chão,
jogar roupa no chão, mas pode brincar, dançar. A autonomia é a criança
se sentir livre, mas com limites, saber fazer as coisas sozinhas.
Entendo que em alguns casos a autonomia tenha sido confundida com a
heteronomia, ou seja, ao colocar determinadas rotinas, horários e ordens, a criança é induzida
a depender da ordem do adulto para sentar, para organizar as cadeiras à mesa, para comer,
para tomar banho etc. No trabalho pedagógico que realmente contribui para a construção da
autonomia da criança, tanto a criança quanto o educador devem ter um papel ativo. Para isso,
- 94 -
são necessárias pesquisas, estudos, e experimentos a fim de perceber o que de melhor para
o desenvolvimento da criança.
Segundo Lisboa (1998) a escola dos pequeninos há de ser um ambiente livre, onde
o princípio pedagógico deve ser o princípio da liberdade e da criatividade, nela os pequeninos
pode-se locomover, ter atividades criativas que permitam a auto-suficiência, a desobediência,
e a agressividade não devem ser coibidas e sim, orientadas.
Nas unidades de Educação Infantil, a rotina discorrida no capítulo II, mesmo
tendo sua contribuição para organização e andamento do trabalho coletivo, tem sua parcela de
culpa no não desenvolvimento da autonomia, e sim da heteronomia. Pois, delimita o tempo
das atividades, do descanso, das brincadeiras, da alimentação etc., não deixando as crianças
expressarem suas preferências, por exemplo, na alimentação. Uma criança que tem
dificuldades em alimentar-se rapidamente, nas primeiras semanas, vai atrasar os trabalhos,
mas na segunda ou terceira semana, engolida pela rotina, ela o comerá quanto precisa,
ou irá comer rapidamente, com a boca cheia derramando. Vejamos o que as professoras
acham que falta na Educação Infantil e o que precisa ser mudado:
Gérbera: A rotina atrapalha o andamento das atividades, embora seja
necessário para que as crianças tenham um horário de alimentação, banho
e lazer, se a gente ta fazendo uma atividade e chega hora do banho, por
exemplo, a gente tem que parar para ir para o banho ou almoço, etc.
Lírio: um dos aspectos que eu acho difícil é em relação à remoção, durante
o ano letivo. No início do ano você pega uma turma de 33 crianças ...ai
quando passa 5 ou 6 meses depende, tem remoção de crianças pra outra
sala, são crianças que você conhece a família, são crianças que se
adaptaram na sua sala, conhece os professores, já ta participando das
atividades, da forma que o professor trabalha, ele ta tendo mais
autonomia dentro da sua sala daí ele é removido pra outra sala. então
com esse processo o que acontece se tem uma remoção de três alunos da
minha sala pra outra sala, eu vou receber, eu tenho espaço/vaga para três
crianças e são crianças que podem vir de fora, que ainda não participaram
ainda da escola, são crianças que não foi trabalhado os conteúdos, eu vou
ter que trabalhar repetindo os conteúdos, seu for repetir esses conteúdos as
crianças que participaram eles tão cansados, eles não querem
participar eles querem coisas novas, então isso eu acredito que fica muito
difícil pro professor ta trabalhando em sala dessa forma. Mas infelizmente
as UMEIs são dessa forma elas funcionam dessa forma. Porque até mesmo
são os pais que mudam muito né... De uma cidade pra outra, às vezes não
tem um serviço fixo, isso ai acontece nas UMEIs, e eu gostaria na minha
concepção se não fosse assim funcionava bem melhor.
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A professora Gérbera entende como rotina a organização das atividades, a fim de
que tudo possa funcionar concomitantemente, além disso, podemos acrescentar a falta de
espaço para desenvolver a autonomia da criança. A criança não tem a autonomia para dormir
quando tem sono, para tomar banho quando está sujo de areia, ou lama, para comer quando
está com fome, porque tem que se limitar a cumprir ordens, horários, e seqüências deliberadas
pelos adultos. É importante destacar que estudos demonstram que a organização dos espaços
de Educação Infantil segundo Zabalza (1998) é um processo complexo que exige ativação de
conhecimentos e habilidades de diversos aspectos.
Esses aspectos, ainda segundo o mesmo autor, partem do espaço da sala de aula
para o professor e os alunos, que sofrem influências dos modelos pedagógicos, elementos e
planejamento didático.
Na sala de aula, devem se considerar três elementos: os estruturais, o mobiliário e
os materiais que dispomos. Destes três elementos, os personagens principais são: o professor
e a criança (aluno). Os professores são influenciados pelo modelo educativo que adotarem.
Quanto às crianças, há que se considerar a idade, as necessidades que apresentam as
características do ambiente do qual procedem, que são os contextos de que faziam parte.
Assim, a partir da concepção prévia do professor, da formação cultural e experiência
profissional, ele interpreta o modelo curricular, chegando ao modelo educativo curricular, e
finalmente à organização do espaço.
Outro fator que é importante também e atrapalha o andamento das atividades é a
rotatividade de crianças. É comum, pelo motivo que a própria professora Lírio explica,
passarem pela sala de aula pelo menos 60 alunos, ou por remanejamento dentro da unidade ou
por preenchimento de vaga, dado o grande número de demanda, evasão e capacidade de
oferta. Nesse caso, a rotatividade de criança que a professora percebe é fruto da necessidade
das famílias, não podendo interferir na qualidade de vida e desenvolvimento da criança.
Talvez ainda falte um pouco mais de responsabilidade da sociedade pela
valorização do ensino, no sentido de perceberem a importância do ensino na Educação
Infantil, em busca da melhoria da capacidade da criança e em contrapartida o ensino de
qualidade no atendimento para que encontremos um meio de sanar essas necessidades, ou
problemas encontrados.
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A rotina e a rotatividade precisam ser mais bem estudadas, a fim de que possa
contribuir para a construção da autonomia da criança, e melhorar a qualidade do atendimento
na Educação Infantil.
5.3 – Um olhar sobre o brincar: articulando os dados
Entre os instrumentos utilizados, percebi que a rotina é a mola propulsora da
Unidade de Educação Infantil, é a partir dela que são desenvolvidas as atividades tanto intra
quanto extra-classe, tanto nas atividades em geral, e nas brincadeiras dirigidas quanto nas
brincadeiras livres no pátio.
Nas brincadeiras livres no pátio ou as dirigidas no parque, acontecem o faz de
conta, o desenvolvimento da imaginação, com interelação entre a professora, a criança e os
brinquedos.
As atividades e brincadeiras dirigidas realizadas dentro da sala de aula estão
diretamente ligadas à realização de projetos, conteúdo de aprendizagem que visam aprender
as cores, a lateralidade, a fazer leitura visual, a cantar músicas com gestos, a dramatização,
cortar, colar, desenhar, a ter conversas dialogadas sobre determinado assunto geralmente
sobre comportamento.
As atividades desenvolvidas intra-classe são na maioria das vezes dirigidas pela
professora, de modo que as crianças estão sempre sentadas esperando seu comando. A
professora afirma que para as atividades intra-classe ela costuma planejar atividades em que
as crianças ficam mais quietas, como por exemplo, jogos com regra, história dramatizada,
fazendo perguntas sobre história, ilustração, pintura, mesmo não tendo grande cobrança para
que as atividades sejam feitas naquele momento, podendo ser feitas em um outro momento.
As atividades, portanto, o desenvolvidas através de uma linguagem diferenciada, à medida
do amadurecimento da criança.
As atividades realizadas em dias de atividades extra-classe, em geral obedecida
pelo cronograma de atividades estabelecidas pela rotina da unidade, são planejadas, para que
as crianças vão para o pátio, ou para o parque. Nesse momento, as crianças apenas têm como
instrumentos de desenvolvimento a interação com os pares, com a professora, a natureza e os
brinquedos.
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Os elementos que compõem as atividades intra-classe são comuns aos da escola
comum, como cadeiras, mesas, armários, giz, livros, lápis, histórias, desenhos, etc. no
ambiente externo não.
O ambiente externo é composto por elementos da natureza, as árvores, insetos,
areia, pedras, galhos, brinquedos imaginários (sucatas), tornando o ambiente externo um local
onde a professora intervém de um modo diferente ao sala-de-aula (intra-classe) apenas
orienta, e interage, o é uma intervenção pedagógica.
A diferença dos objetos que comem a sala-de-aula e o ambiente extra-classe
caracteriza a cultura de que na sala-de-aula se ensina e não brinca. portanto, uma relação
entre o brincar e o espaço escolar. O espaço escolar e a família são componentes principais
para o ideal desenvolvimento das crianças. O conjunto de fatores que possibilitam
compreender a cultura lúdica apontam o brincar” no espaço externo à sala de aula, implícito
no cotidiano escolar.
Para obter esse entendimento de ambiente intra e extra-classe diferenciado, as
professoras se amparam em conhecimento orquestrado pela vincia do dia a dia em comum,
devido ao aprendizado da docência na formação inicial não ter sido específico a essa faixa
etária, tornando importantíssima a discussão de ações pedagógicas nos estudos de
autoformação e interformação através da formação continuada.
A formação continuada proporciona às professoras que atuam na Educação
Infantil um entendimento sobre a Educação Infantil como uma extensão de casa e um
ambiente de aprendizagem. Elas acham importante no seu ensinar a afetividade estar atrelada
ao fato de que as crianças estão longe de suas famílias. As brincadeiras e as histórias fazem
parte das metodologias, por considerar que seus alunos são carentes afetivamente, ativos e
criativos, por serem ainda muito pequenos, o-lhes atenção necessária, e até cedem aos seus
desejos quanto à realização das atividades na tentativa de seduzi-los com aquilo que eles mais
gostam de fazer.
A formão continuada orienta as professoras nas suas ações, no sentido de
melhorias ao lidar com as crianças, sendo criativas e dinâmicas, melhorando as metodologias,
planejando em conjunto na hora atividade, fazendo estudos de textos durante a hora destinada
ao planejamento e estudos, colocando as brincadeiras, as histórias e as atividades lúdicas
como meios para desenvolvimento da criança.
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O interesse em participar dos seminários, encontros, e congressos pode estar
ligado à formação inicial de cada professora, ou até pela formação pessoal e profissional, em
se tratando de que as professoras entrevistadas tiveram diferentes meios de formação inicial e
início de trajetória pessoal e profissional bastante diferenciada.
Uma das professoras (rio), com maior submissão, faz o possível para participar
de todos os encontros, não podendo escolher, tendo que demonstrar interesse, participação e
conseqüentemente melhoria no seu lidar, nas suas práticas com as crianças. A outra (Gérbera),
mais segura, com poder de escolha, prioriza suas necessidades, participando de palestras
sobre assuntos que lhe interessa.
As práticas com as crianças segundo as professoras entrevistadas são acima de
tudo priorizadas pelo cuidar e o educar, no sentido de cuidar quando lhes são impostos
horários para a alimentação, higienização e descanso. E o educar quando são ensinadas
noções de boa conduta, conteúdos programáticos, datas comemorativas, noções de higiene e
relacionamento com os colegas. É importante lembrar que o educar e o cuidar são relações
indissociáveis, sendo possível educar quando se dá banho e se alimenta, assim como é
possível cuidar quando se ensina.
Quanto ao relacionamento com os colegas, existe uma preocupação durante o
banho, principalmente em relação à sexualidade, talvez fosse necessário um amplo estudo
sobre a sexualidade na faixa etária de 2 a 4 anos.
Muitas ações são relevante na Educação Infantil tais como: as histórias infantis,
os filmes, o movimento, as artes, a linguagem corporal, o desenvolvimento da autonomia, a
descoberta da identidade, a compreensão do espaço e dos materiais coletivos, a convivência
com os demais, o respeito à coletividade etc. e o brincar está implícito embora seja
indiretamente. As professoras consideram o brincar importante, mas, não está diretamente
ligado ao desenvolvimento das atividades escolares dentro da sala de aula, quando permitem
na versão delas que as crianças brinquem, atrelando o aprender ao desenvolver.
O brincar acontece nas brincadeiras livres, onde a professora não planeja
conteúdos e objetivos didáticos, e sim destina um momento para as crianças brincarem
livremente no pátio, ou no parque em locais externos a sala-de-aula, planeja diversão no
parque, planeja brincar na areia sem se preocupar com a ordem, a disciplina e o silêncio.
O brincar para o desenvolvimento da criança acontece quando a criança é a
protagonista da ação, e a professora é a partícipe, que interage nas fantasias da criança a fim
- 99 -
de que a criança expresse suas conquistas, seus desejos, suas dificuldades, seus desafios e suas
relações com a família ou grupo, com o objetivo do desenvolvimento integral da criança,
tanto físico, quanto psíquico sem se preocupar com o aprender algo e sim desenvolver-se.
O aprender algo em relação aos conteúdos com a brincadeira é mais característico
da ludicidade, onde se proporciona aprendizagem de matemática, lógica, cores, lateralidade
através de jogos e brincadeiras com regras dirigidas pelo professor, mas o brincar para a
Educação Infantil deve ser proporcionado de maneira mais pura, com mais simplicidade e
mais preciosidade. Para isso, não são necessários espaços ornamentados, apenas espaços, não
é preciso rotina, apenas tempo e crianças, que através da imaginação possa criar um
brinquedo de muito valor sentimental, podendo ser proporcionada por uma embalagem
plástica de refrigerante, ou qualquer outra coisa que possibilite o desenvolvimento da sua
imaginação ligando-a ao desenvolvimento em geral.
O brincar na Educação Infantil está acontecendo, embora ainda presa a uma
rotina, mas que em alguns momentos os conteúdos planejados foram deixados de lado a fim
de atender às necessidades das crianças. Por alguns momentos, eu presenciei a flexibilidade
das professoras em mudar o planejado, devido ao ambiente, à rotina proporcionar dispersão,
agitação das crianças, levando-as para brincar no pátio, ou parque, antecipando o momento
pré-estabelecido pelo cronograma.
Durante o brincar no pátio ou no parque as criaas puderam interagir com os
colegas, criarem esculturas na areia, ou encher e esvaziar os recipientes de plástico,
brinquedos improvisados. Conseguiram expor em algumas vezes seus sentimentos, através do
faz-de-conta, interagindo com os pares, que apenas foi interrompido pela necessidade de
cumprir o cronograma de horários de rotina coletiva, e que puderam repudiar frente a vontade
de continuar brincando.
A rotina, a divisão das atividades intra-classe e extra-classe engessam o brincar,
delimitando tempo e espaço para as atividades em geral. Embora a rotina não seja questionada
pelo corpo-docente, obedecendo ao cronograma rotineiro, com o objetivo de colaborar com o
trabalho coletivo, a rotina do cronograma é a forma de dosar as atividades semanalmente com
as crianças.
A realização de pesquisas, e estudos geram reflexões a cerca da nossa prática
rotineira, que vem se repetindo anos e anos, é importante refletir as nossas práticas,
procurando entender as causas, os conflitos produzindo um melhor espaço para a criança.
- 100 -
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O momento de conclusão é aquele em que o pesquisador retoma seu objetivo
inicial, bem como a questão de pesquisa, visando revisitá-los para com novos olhares
apresentar as constrões significativas resultantes do processo vivido na pesquisa. Desta
forma, os objetivos deste trabalho são relevantes, também no sentido de marcar o início da
Educação Infantil de Rondonópolis em rios aspectos, bem como conhecer nossas
necessidades formativas, através da reflexão da nossa prática.
Mediante a análise dos dados, quanto à concepção do brincar, e o espaço de
Educação Infantil o estudo permitiu-me inferir que: a concepção que os professores têm em
relação ao brincar, é um brincar pensado pelo adulto. A autora Ferreira, (2004) argumenta
quanto à necessidade de revirar do avesso o espaço infantil em colocar a criança em um
mundo dela, e não em um mundo pensado executado pelos adultos.
A concepção que os professores abordam sobre o espaço infantil que é um espaço
de aprendizagem, mas que também lá eles brincam, se alimentam e etc. Assim, os professores
consideram o brincar importante para a construção do cognitivo da criança, atrelando ao
brincar, confirmado os autores Brougère (1989), Wajskop, (2004), Benjamim (1984), e
outros.
Talvez os autores citados acima ainda estejam em processo de conhecimento, e
que em pouco tempo a formação continuada exerça o papel de preencher as lacunas não
alcançadas no processo de formão inicial, pois conforme os dados obtidos, esse não tenha
sido mesmo o objetivo da formação adquirida.
- 101 -
A Educação Infantil ainda está presa a modelos, e estratégias escolares que
demonstram resquícios da cultura na lógica dos adultos, que tanto queremos superar.
Mudaram-se os focos, as pessoas que atuam estão informadas, mas a ação ainda não
corresponde ao esperado.
A busca por uma educação integral para a criança de 0 a 6 anos ainda levará
algum tempo. Assim, na concepção de Educação Infantil, trazida por alguns autores neste
processo de investigação, tanto o espaço, quanto os recursos humanos, e didáticos no contexto
educacional encontrado necessitam de uma atenção especial. O ambiente inadequado, a
superlotação e a ineficiência dos profissionais somam dificuldades ímpares que retrocedem a
busca pela qualidade prevista e desejável.
O trabalho realizado do percurso desta formação, além do objetivo maior da
investigação, tem cunho potico, em busca da satisfação pessoal e da categoria profissional,
dada à importância do reconhecimento e do entendimento da necessidade de uma formação
específica, conforme abordada por Kramer (2005), Mizukami (2003) e outros.
Tais formações específicas, futuramente poderão dar maior ênfase à prática, pois
durante o processo de estudos, investigação, e elaboração deste, encontrei-me de os atadas.
Sem base necessária, talvez seja, sintomas da qualificação inicial frágil, inócua, sem um
objetivo voltado para alguns assuntos, que neste curso me foram inaugural. Por diversas vezes
confesso, pensei em desistir, mas havia algo mais esperando por mim. Muitas vezes parecia
normal aos olhos, mas para a compreensão, essa, às vezes nunca chegava e por vezes ainda
o chegou. Dei-me mal em muitos momentos, e desses prefiro o lembrá-los. Pois, ainda
o posso dizer que superei. Mas, em alguns momentos no meu ambiente, na escola de
Educação Infantil, fui bem, em vários aspectos.
No ambiente de pesquisa, seja para uma simples visita, ou para fazer a
investigação, fui sempre bem recebida pelas crianças e colegas. Temia, talvez por fazer parte
daquele ambiente por tanto tempo, ser difícil a realização da investigação, mas, difícil foi,
escolher por onde comar de tanto convite, dos professores e das crianças. Levei um bom
tempo para conseguir definir o campo e os sujeitos de pesquisa, tamanha a necessidade de
divulgar, de refletir os diversos momentos pedagógicos.
Conviver com diversos momentos pedagógicos na Educação Infantil trouxeram-
me temas, que futuramente poderão ser estudados, tais como: os ritmos, as vozes, as culturas,
a adaptação infantil ao meio social, o desenvolvimento por faixa etária, o acompanhamento da
- 102 -
transição da creche para a escola, a discriminação racial ou sexual, o tratamento para com a
sexualidade infantil e outros.
Eu acredito que este trabalho seja apenas o primeiro, de muitos que estão por vir.
Com finalização deste, afirmo dar o primeiro toque de varinha gica, para o acordar, o
enaltecer e o valorizar” desta categoria de profissionais de Educação Infantil que ao longo
desses anos vem oscilando, ora avanços, ora retrocessos, mas o mais importante é que
caminhamos, alicerçamos, ajustamos, perdemo-nos, mas em frente e avante continuamos.
Recebi por diversas ocasiões, incentivos, confiança, colaboração, vontade de
participar e também de se tornarem pesquisadoras. Obtive depoimentos de vontades, que por
hora estão apenas na vontade, vontade de aprender, e vontade de fazer. Nós profissionais de
Educação Infantil, temos necessidade de valorização profissional, de sermos elogiados e
reconhecidos. Talvez o cansaço e a falta de estímulo nos impeçam de satisfazer nossos
desejos, temidos pela desvalorização profissional cultural que vem sendo construída.
Em busca de uma criança capaz, criativa, que saiba criar escolher seus próprios
itinerários formativos, para isso, é necessário recuperar a infância, se não perdida, mas difícil
de ser lembrada. Para obter uma infância recuperada, não dependemos de um segmento,
nem de dois e nem de todos juntos, dependemos da própria criança, e por isso não podemos
podá-la, não podemos querer que ela viva no nosso mundo, sem criar o seu próprio mundo.
Mas, para isso necessariamente, de se pensar na formação do professor, e nas
condições oferecidas, para que ele seja capaz de proporcionar a recuperação dessa infância,
desde as condições de trabalho à jornada de trabalho e estudos, sendo possível positivar suas
energias priorizando o aprender no grupo de estudos, o preparar as atividades, e o ensinar.
Com o dever de expor essas vontades, esses desejos, temidos e ocultos. Como
professora de Educação Infantil, quero aqui, também, enaltecer a necessidade de continuar os
estudos, com o objetivo principal de refletir nossas práticas, a fim de melhor entender o
desenvolvimento da criança, e a necessidade de formação do profissional que com elas atuam.
Para tanto, é preciso continuar com o subsídio de afastamento, através da licença
remunerada para qualificação dos profissionais da educação e também em outros segmentos,
tendo aqui o município de Rondonópolis como exemplo a ser seguido a partir de um
programa de cargos e carreira para o servidor público.
- 103 -
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- 110 -
ANEXOS
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Ficha Diagnóstica (I)
1. Unidade_____________________________________
2. Endereço_____________________________________
3. Ano de fundação______________Direto(a)______________________
4. Espaço sico ________________
5. Qauntidade de sala de aula________________________
6. Faixa etária ____________________________________
7. Total de crianças atendidas________________________
8. Quadro de Professores
Nome Licenciatura Especialização Tempo de serviço Idade
9. Quadro atendimento das crianças
Nº de Crianças
matriculadas
Fases/turmas Faixa etária Nº de alunos de acordo com
a res. 276 CEE/MT
Nº de Professores por
turma
10. Rotina das atividades na instituição – Material coletivo
Fases
Segunda-
feira
Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira
Sexta-feira
1ª fase
2ª fase
3ª fase
1ª fase A
II Ciclo
1ª fase B
II Ciclo
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Ficha Diagnóstica II (Leitura do Planejamento)
1ª fase A I
ciclo
Conteúdos
Metodologias
01 de agosto a
08 de setembro
1. Música
2. Leitura visual
3. Produção de texto
4. Movimento
5.Órgão dos sentidos (desenvolvimento
auditivo)
6.Linguagem oral e gestual
7. Linguagem oral/espontânea
8. Leitura Visual, desenvolvimento da
visão e percepção, comparação.
9. Identidade
10. Faz de conta
1.Cantar
2.Folhear livros e revistas
3.Desenho livre
4.Atividades de encenação da música
(relaxamento)
5.Cantando estilos musicais
6. encenação, gesticulação sobre a
música e parlendas.
7. conversa dialogada, roda da
conversa (formais e informais)
8. folhear revistas observando
figuras, cores, formas, e quanto ao
gênero (masculino e feminino)
9. brincadeiras com o nome das
crianças, músicas, crachás, nome de
animais, nome de objetos com o
auxilio das revistas através leitura
visual.
10. Dramatização da história da D.
Baratinha, fantoches, televisão de
sucata.
10.1 amassar e fazer bolas de jornais.
- 113 -
Protocolo de Observação livre
Data: 13/11/2006 segunda–feira
Período: vespertino
1. Chego à escola às 13h e 30 min as crianças estão sendo organizadas pela professora em
2. fila (de mãos dadas), para ir ao refeitório. O lanche de hoje é maçã, todos sentados à
3. mesa todos comem a maçã. Alguns têm dificuldades para morder a maçã, para estes a
4. professora corta a maçã ao meio para facilitar a mordida. As 13h 45 min ao terminar o
5. lanche todos retorna para a sala. E vão sentando à
beira da parede ao chão. A
6. professora introduz a música do dia da semana, e me apresenta dizendo que vou ficar
7. aqui por uma semana. As crianças comentam: - “você não vem mais no horário da tia
8. Francisca?” - Eu então explico: - “Essa semana o depois eu volto de manhã”! A
9. professora continua.“hoje vamos falar sobre o amigo ou amiga. Vou pergunta pra
10. - Laysa! “Laysa quem é sua melhor amiga ou amigo?”– a Laysa responde: É a Maria
11. Vitória”! a professora explica: - então depois a tia vai dar uma folha e vo vai
12.desenhar sua melhor amiga e depois a tia vai escrever o nome da Maria Vitória, certo?
13. em seguida pergunta pro Kevin, (explica). Depois pergunta pro Rafael e explica..
14. mas isso é depois agora vou contar a história do menino que não tinha amigo, tá? E
15. chama: “chegam aqui bem perto que eu vou contar a história. (todos se deslocam da
16. parede até bem próximo da cadeira da professora sentados ao chão ), a professora
17.começa a contar a história mas as crianças não ficam em silêncio, ela chama a atenção
18.várias vezes, mas as crianças continuam com o barulho, a professora então resolve que
19. vamos para o pátio lá a professora conta a história embaixo da árvore, vocês querem? -
20.As crianças respondem: - Sim. “Ah ta!” (diz a professora), “mas antes vamos fazer as
21. bolsas e carrinhos de sucata pra gente brincar” (com garrafa pet de refrigerante de 2
22. litros é feita bolsas e carrinhos) e lembra: - “temos que colocar o nome da criança no
23. brinquedo(coloca o nome da criança com fita adesiva) “e depois de brincar temos
24. que guardar na sacola pra depois a gente brincar mais”. As crianças vão para o pátio
25.cada um com seu brinquedo, as bolsas são litros cortados ao meio com alça de barbante
26. e os carrinhos são feitos do gargalo da garrafa pet com barbante amarrado pra puxar
27. elas brincam de arrastar, encher esvaziar seus brinquedos. Alguns se desentendem,
28. Rafael chora porque quer também uma bolsa, a professora atende o pedido dando-lhe
29. uma bolsa, ele brinca de encher e esvaziar a bolsa com areia. A professora organiza
30. uma corrida de carrinho, cheio de areia, para ver quem chega primeiro no lugar
31. demarcado. Rafael participa da corrida, depois de largar a bolsa, chega primeiro na
32. corrida é o vencedor, a brincadeira é repetida por várias vezes. Em seguida os meninos
33. são chamados pra o banheiro, é hora do banho Kevin se recusa, pedindo pra
34. professora pra levar as meninas primeiro, a professora pergunta, porquê ele quer que as
35. meninas vão primeiro, Kevin...pensa 34. Mas o consegue argumentação, mas Brenda
36. que assiste o acontecimento interfere: “E porque você quer brincar mais um
37. pouquinho né?” Mas não adianta, a professora chama os meninos mesmo.
38. Argumentando que eles estão muito danado. Kevin enfim, aceita e vai com os colegas
39. pro banho. Quando os meninos retornam do banho a professora organiza-os no chão
40. pra escrever os nomes com giz branco e cobrir com o dedo, quando termina o banho
41.das meninas elas vão se agrupando e inserindo na atividade.16h é hora do jantar, vamos
42. todos pra o refeitório. No jantar sopa de macarrão com legumes, é distribuído pra
43. todos igualmente, sentados à mesa comem por cerca de 15 minutos e retornam pra
44. sala. Na sala é feita uma atividade de jogo da amarelinha, a professora risca o chão e
45. exemplifica como se faz. As crianças se divertem um a um vão até o centro da sala
46. pular amarelinha, ao atingir o lado oposto (céu) é aplaudida, todos querem e
47. participam. 17h as mães começam a chegar na janela pra levar o filho (a) e vão indo
- 114 -
48. embora a medida que a e chega. A brincadeira vai se esvaziando e por fim não
49. tem mais brincadeira apenas a espera pelas mães. A professora me pede pra amanhã
50. contar a história do menino não tinha amigo. Eu então aceito.
- 115 -
Roteiro de Entrevista
1) Qual a sua formação atual?
2) Quando você iniciou no magistério?
3) A que você atribui estar na Educação Infantil hoje?
4) Como vê o papel do Professor de Educação Infantil?
5) Como você define os alunos que você teve esse ano na Educação Infantil?.
6) Como estão organizadas as atividades no cotidiano escolar?
7) E o que você já dessa organização, você participa delas?
8) O qual é a atividade que você acha que as crianças mais gostam?
9) Quais são os espaços que você utiliza na rotina diária?
10) Qual a diferença que você faz quando planeja atividades intra e extra-classe?
11) você acha importante a criança assistir filme? E por quê?
12) você sabe ou conhece as brincadeiras, os costumes das crianças em casa?
13) Como são planejadas as atividades?
14) Na escola há um momento especifico para traçar a continuidade do trabalho? Como
acontece esse momento?
15) É individual ou coletivo?
16) Quais as capacitações que você participou nesse ano?
17) Cite um aspecto que tem acrescentado no seu fazer na sala de aula?
18) O que mais além dessas palestras e cursos que você participou têm contribuído no seu
ensinar?
19) O que você vê de mais importante no seu ensinar?
20) Como você trabalha para o desenvolvimento da autonomia da criança?
21) O que você que falta na educação infantil? Que você falaria assim ”puxa vida se tivesse
isso nada mais faltava”:
22) Como acontece o banho?
23) Porque que sempre separa os meninos e as meninas durante o banho?
24) Como você vê a imitação nessa fase?
25) Você conhece a proposta curricular da educação infantil?
26) E sobre o Plano Político Pedagógico da Unidade de Educação infantil você conhece?
27) Eu queria que você falasse um pouco pra nós sobre a sua infância?
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28) quando vocoloca que é importante o professor oportunizar, deixar a criança criar lá na
sua infância lá nas séries iniciais você teve essa oportunidade?
29) fala um pouco pra nós sobre a vida conjugal:
30) como você vê a Educação Infantil hoje?
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