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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO
CAMPUS DE BAURU
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO
NÍVEL MESTRADO
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: COMUNICAÇÃO MIDIÁTICA
Karenine Miracelly Rocha da Cunha
AGORA É LULA: ENQUADRAMENTOS DO
GOVERNO DO PT PELO JORNAL NACIONAL
Bauru
2005
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Karenine Miracelly Rocha da Cunha
AGORA É LULA: ENQUADRAMENTOS DO
GOVERNO DO PT PELO JORNAL NACIONAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Comunicação, da Área de Concentração em Comunicação Midiática, da
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp/Campus de
Bauru, como requisito à obtenção do título de Mestre em Comunicação,
sob a orientação do Professor Dr. Murilo Cesar Soares.
Bauru
2005
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Karenine Miracelly Rocha da Cunha
AGORA É LULA: ENQUADRAMENTOS DO
GOVERNO DO PT PELO JORNAL NACIONAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Comunicação, da Faculdade de
Arquitetura, Artes e Comunicação, da Universidade Estadual Paulista, Campus de Bauru, para a
obtenção do título de Mestre em Comunicação.
Banca Examinadora:
Presidente: Prof. Dr. Murilo Cesar Soares
Instituição: Unesp/Bauru
Titular: Prof. Dr. Maximiliano Martin Vicente
Instituição: Unesp/Bauru
Titular: Prof. Dr. Danilo Rothberg
Instituição: USC (Universidade do Sagrado Coração)
Bauru, março de 2005.
4
À Maria, Francisco e Karine.
Obrigada pela torcida.
É apenas mais uma conseqüência de tudo o que aprendi com vocês.
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me concedido disposição e força de vontade para encarar mais esse
desafio.
A José Mario, pelo incentivo, por emprestar a casa enquanto eu estava em Bauru e por
ajudar na gravação dos telejornais.
A Murilo Cesar Soares, pela orientação e valiosas contribuições no decorrer de todo o
trabalho.
Aos funcionários da Secretaria de Pós-graduação da FAAC e professores do programa,
pela atenção dispensada, ajuda e orientações.
Às amigas Adriana Fernandes e Juliana Colussi, pelos momentos de descontração e pela
preocupação em emprestar livros e fazer sugestões para melhorar a dissertação. Em especial a
Juliana, obrigada pelo incentivo desde o momento da inscrição no processo de seleção do
Mestrado.
À Folha da Região, de Araçatuba (SP), em especial aos colegas da Redação, por permitir
a conciliação da vida profissional com as atividades acadêmicas durante todo o Mestrado.
6
“O cansaço é passageiro.
A conquista é permanente.”
(autor desconhecido)
7
CUNHA, Karenine Miracelly Rocha da. Agora é Lula: enquadramentos do governo do PT
pelo Jornal Nacional. 2005. 204 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação). Faculdade de
Arquitetura, Artes e Comunicação, Unesp, Bauru, 2005.
RESUMO
A pesquisa analisa a cobertura jornalística de temas relacionados ao governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) realizada pelo Jornal Nacional da Rede Globo, o mais importante
telejornal brasileiro. Por meio da análise de enquadramento de reportagens sobre as reformas
constitucionais (previdenciária e tributária), a definição da taxa de juros e o caso Waldomiro
Diniz, temas direta ou indiretamente relacionadas ao governo Lula, verifica-se como o Jornal
Nacional destaca ou atenua aspectos favoráveis ou desfavoráveis à gestão federal de modo a
torná-los mais ou menos visíveis. Ao final do estudo, conclui-se que o telejornalismo da Rede
Globo pratica enquadramentos pouco críticos ao governo federal, fenômeno observado em outros
trabalhos a respeito de governos anteriores.
Palavras-chave: Rede Globo, Jornal Nacional, análise de enquadramento, Lula.
8
CUNHA, Karenine Miracelly Rocha da. Now is Lula: PT’s government frames by Jornal
Nacional. 2005. 204 f. Dissertation (Master of Communication). Faculdade de Arquitetura, Artes
e Comunicação, Unesp, Bauru, 2005.
ABSTRACT
The research analyses the journalistic coverage of issues related to president Luiz Inácio Lula da
Silva’s government (PT) carried out by Jornal Nacional of Rede Globo, the most important
Brazilian news-bulletin. By means of analyzing the framing of reformas (social security and tax
policy), the adjustment of the interests’ rates and Waldomiro Diniz case, issues directly or
indirectly related with Lula’s government, it is verified how Jornal Nacional exaggerates or
attenuates favorable or unfavorable aspects about federal government in order to make them more
or less apparent. At the end of study, the conclusion is that news-bulletin of Rede Globo conducts
quite uncritical frames about the federal government, phenomenon perceived in other studies
about previous governments.
Key words: Rede Globo, Jornal Nacional, framing analysis, Lula.
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1
Resumo da cobertura das reformas constitucionais pelo Jornal Nacional – p. 107
Tabela 2
Expressões e frases que se referem ao INSS como alvo de descaso e indicam a urgência de
mudanças – p. 112
Tabela 3
Expressões e frases que se referem às reformas como urgentes e necessárias – p. 113
Tabela 4
Expressões e frases que se referem à importância econômica da reforma tributária – p. 113
Tabela 5
Frase que se refere favoravelmente à proposta de reforma tributária apresentada pelo governo – p.
114
Tabela 6
Frases que expressam os argumentos contrários às reformas – p. 115
Tabela 7
Síntese dos enquadramentos apresentados sobre as reformas constitucionais – p. 116
Tabela 8
Resumo da cobertura da definição da taxa de juros pelo Jornal Nacional – p. 117
Tabela 9
Expressões e frases que se referem à manutenção da taxa de juros favoravelmente ao governo – p.
119
Tabela 10
Expressões e frases que caracterizam a manutenção da taxa de juros contrariamente ao governo –
p. 119
10
Tabela 11
Síntese dos enquadramentos apresentados sobre a manutenção da taxa de juros – p. 120
Tabela 12
Resumo da cobertura do Caso Waldomiro pelo Jornal Nacional – p. 122
Tabela 13
Expressões e frases que isentam o governo federal de culpa no Caso Waldomiro – p. 128
Tabela 14
Expressões sobre o Caso Waldomiro visto como um ato de corrupção isolado ou envolvendo o
governo federal – p. 129
Tabela 15
Síntese dos enquadramentos apresentados sobre o Caso Waldomiro – p. 130
11
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 11
2. TELEVISÃO, POLÍTICA E DEMOCRACIA 16
2.1. A primazia da televisão na sociedade contemporânea 16
2.2. Televisão e a nova maneira de fazer política 20
2.3. Enquadramentos mediáticos 29
2.4. Latifúndio eletrônico e ameaças ao ideal democrático 38
3. A REDE GLOBO COMO PROTAGONISTA DA POLÍTICA 44
3.1. A sedução do plim-plim 44
3.2. TV que faz história 50
3.3. De porta-voz a líder de audiência 56
3.4. Evidências de parcialidade política 64
4. AGOLA É LULA: O PT NO PODER 80
4.1. Do sindicalismo à presidência da República: a trajetória do PT 80
4.2. As eleições de 2002 e a cobertura do Jornal Nacional 86
5. METODOLOGIA: OS PROCEDIMENTOS DA ANÁLISE 95
5.1. O corpus e os veículos de referência 95
5.2. O método de análise 100
6. ANÁLISE DE ENQUADRAMENTO: AS REPRESENTAÇÕES
DO GOVERNO LULA NO JORNAL NACIONAL 104
6.1. Observação e descrição: o que foi levado ao ar 105
6.2 Análise interpretativa: os enquadramentos 130
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 144
REFERÊNCIAS 151
ANEXO 162
12
1. INTRODUÇÃO
“Se o Jornal Nacional é um fenômeno cultural tão importante
a ponto de ganhar a atenção da absoluta maioria dos
brasileiros todas as noites, ele merece ser estudado a sério. Desconhecê-
lo é impossível. Conhecê-lo melhor só
pode trazer benefícios para quem quer compreender o
fenômeno da cultura brasileira contemporânea.”
(CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA, 1985)
Em 2005, a Rede Globo completa 40 anos no ar. São quatro décadas em que a Rede Globo
conquistou a liderança na televisão brasileira no que diz respeito à audiência, abrangência do
sinal e qualidade técnica de produção diversificada e de distribuição do que é produzido. O seu
principal telejornal – o Jornal Nacional –,cinco anos mais novo que a emissora hegemônica da
mídia brasileira, guarda os mesmos méritos e chega em 2005 com um status que lhe foi conferido
desde sua edição inaugural, em 1° de setembro de 1969: o de líder de audiência, ocupante de um
patamar de grande prestígio no horário nobre da Globo.
Por meio do Jornal Nacional, a Rede Globo marcou presença na transmissão dos
principais acontecimentos da vida política, econômica, cultural e comportamental da sociedade
brasileira das últimas décadas. Nesse período, o Jornal Nacional tornou-se um programa muito
popular e fez jus ao seu nome à medida em que é assistido pela maioria dos telespectadores de
um país com dimensões geográficas tão grandes e realidades sociais expressivamente
discrepantes.
O Jornal Nacional influencia o conhecimento dos fatos e a opinião da sociedade
brasileira, o que o torna um objeto de estudo de grande valia para a comunicação mediática no
13
Brasil, principalmente na área de confluência da mídia e da política (SILVA, 1985). Durante sua
trajetória, revestido por enquadramentos oficialistas, por vezes o Jornal Nacional da Rede Globo
divulgou representações favoráveis a determinados grupos políticos ou econômicos, o que
revelou seu engajamento nas decisões políticas e na realidade brasileira (LIMA, 2001; MATOS,
1994). Há estudos sobre episódios exemplares que demonstram essa característica da cobertura
política da Globo por meio do Jornal Nacional: o boicote a Leonel Brizola nas eleições para o
governo do estado do Rio de Janeiro em 1982; a cobertura da greve dos petroleiros de Paulínia
em 83; a cobertura da campanha das Diretas-Já em 84; a edição do debate dos presidenciáveis
Lula e Collor em 89; a cobertura das eleições de 94 e 98 (AMORIM, 2005; CUNHA, 1998;
GUIMARÃES & VIEIRA, 1985; LIMA, 2001; LIMA, 1998). Em todos esses momentos, o
Jornal Nacional caracterizou-se por empreender um tom oficialista a seu conteúdo, que muitas
vezes defendeu e pouco criticou o governo federal, especialmente durante o Regime Militar.
Juntamente com o Jornal Nacional e a Rede Globo, o PT (Partido dos Trabalhadores)
constitui outra face do objeto de estudo desta pesquisa. É importante destacar que essas faces são
tratadas conjuntamente visto que esta dissertação é uma tentativa de desvendar as relações da
Globo, por meio de seu principal telejornal, com o partido que ocupa a presidência da República
atualmente: na gestão iniciada em 2003 pelo PT, que fez oposição ao Regime Militar e foi crítico
das políticas econômicas dos últimos governos federais, o Jornal Nacional continuou a utilizar o
enquadramento oficialista, que o caracterizou desde sua criação, ou passou a fazer um telejornal
crítico em relação ao governo do PT? Ou seja, como ficou a cobertura do Jornal Nacional, visto
que este noticiário utilizou vários enquadramentos desfavoráveis ao presidente Luiz Inácio Lula
da Silva enquanto ele era apenas um candidato nas três eleições diretas da Nova República (em
1989, 1994 e 1998)? É o que procura responder o presente trabalho, ao discutir a relação entre a
Rede Globo e o governo federal e as possíveis interferências no telejornalismo da emissora.
14
Lula apresentou-se como o candidato da oposição mais importante durante as quatro
eleições após a abertura política e o retorno às eleições diretas para a presidência da República,
até vencer o pleito de 2002. Aos 25 anos, o PT ainda representa o partido cuja bandeira é a
transparência e um governo popular, voltado para o social, contra o neoliberalismo e a política
econômica de juros altos, privatizações e especulação, embora muitas transformações tenham
ocorrido em sua base ideológica (SINGER, 2001). Até as eleições de 1998 o PT ainda era
considerado a principal agremiação de esquerda do cenário político brasileiro, posição contestada
atualmente por vários cientistas políticos que se baseiam nas novas inflexões ideológicas do
partido, na abertura para alianças políticas antes inaceitáveis e nas diretrizes econômicas adotadas
pelo governo federal. Embora tenha mudado ao longo do tempo, sobretudo no último pleito, em
que o PT apresentou profundas transformações em suas atitudes e em seu discurso, o Partido dos
Trabalhadores ainda é hoje uma referência no espectro político brasileiro por prezar essas
bandeiras, com expressiva representatividade nas Prefeituras, assembléias legislativas estaduais,
na Câmara Federal e no Senado
1
.
Logo que o resultado das eleições de outubro de 2002 foi anunciado e a vitória de Lula
divulgada, percebeu-se uma certa preferência do petista com relação ao mais importante
telejornal da Globo: Lula concedeu entrevista somente a essa emissora após eleito; foi tema de
uma reportagem especial do Fantástico do mesmo Domingo; participou ativamente da edição do
dia seguinte do Jornal Nacional, e inspirou o Globo Repórter da mesma semana.
Um fator apontado para essa conversão, posto em debate por este estudo, é a crise
financeira que afeta a mídia brasileira e a torna candidata a empréstimos do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), isto é, à ajuda do governo federal
1
Dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) indicam que o PT elegeu 411 prefeitos no pleito de 2004 e três
governadores, dez senadores e 91 deputados federais em 2002.
15
(MIGUEL, 2004. In: Rubim, 2004). Esse possível socorro federal indica a interdependência do
governo e da Globo, cada qual com seu interesse corporativista: a emissora, de restabelecer suas
finanças, e o governo, de manter uma boa relação com a emissora mais importante do Brasil.
Buscamos indicar nesta dissertação as relações entre Globo, Jornal Nacional e Partido dos
Trabalhadores por meio da análise de enquadramentoframe analysis – que permite verificar
as representações instauradas pelo Jornal Nacional sobre três temas que indiretamente
contribuem para a orientação de interpretações sobre o governo Lula. Os temas escolhidos para
análise de enquadramento pelo telejornal são: as reformas constitucionais (previdenciária e
tributária), a definição da taxa de juros e o caso Waldomiro Diniz. Esses assuntos foram
eleitos após um acompanhamento criterioso do Jornal Nacional durante vários meses – entre
fevereiro de 2003 e abril de 2004. A relevância desses temas para o desempenho do governo
federal na esfera social e promoção do desenvolvimento (reformas), econômica (taxa de juros) e
política (caso Waldomiro) justifica sua escolha para compor o corpus desta pesquisa. As análises
empreendidas seguem o roteiro convencional da frame analysis e busca identificar os
enquadramentos delineados pelo telejornal sobre o assunto eleito pelo presente estudo.
Nas próximas páginas, encontram-se três capítulos que buscam fundamentar teoricamente
as considerações utilizadas para a definição de nosso objeto de estudo: as relações entre televisão,
política e democracia no Brasil e a Rede Globo, por meio do Jornal Nacional, no papel de
participante ativa da política brasileira e a trajetória do PT, seu papel no cenário político e as
eleições de 2002. O quinto capítulo tem a função de explicar a metodologia empregada por esta
pesquisa, enquanto o sexto ocupa-se da análise de enquadramento adotado pelo Jornal Nacional
ao veicular os três temas propostos. Por fim, as conclusões deste estudo são apresentadas nas
Considerações Finais. No última seção, estão anexadas todas as transcrições dos roteiros das
reportagens analisadas na dissertação.
16
Por tudo isso, esta dissertação tem a pretensão de ser mais uma contribuição aos estudos
de Comunicação e política que ganharam impulso na década de 90, a partir da constatação da
centralidade da mídia, sobretudo a televisiva, no processo político e eleitoral brasileiro (LIMA,
2001). O presente estudo tenta comprovar mais um exemplo das ligações entre mídia e a política
no Brasil e as conseqüências dessa relação para a democracia brasileira.
17
2. TELEVISÃO, POLÍTICA E DEMOCRACIA
“Às vezes tenho a sensação de que, se tirássemos a
TV de dentro do Brasil, o Brasil desapareceria.”
(BUCCI & KEHL, 2004)
2.1. A primazia da televisão na sociedade contemporânea
A democracia e a mídia brasileiras mantêm uma relação de grande proximidade, o que
garante influências recíprocas no funcionar de cada uma dessas instâncias, comprovando as
ligações nem sempre inocentes da Comunicação mediática e da política no país. No caso
brasileiro, bem como em todos os países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, a mídia que
destacadamente influencia o processo político, a opinião pública e o funcionamento geral da
sociedade – incluindo hábitos cotidianos, todas as formas de manifestação cultural, modos de
expressão lingüísticos, tendências políticas e econômicas etc. - é a televisão.
A expressividade da televisão na mídia brasileira e, por extensão, na democracia, deve-se
ao fato de ela ser, grosso modo, o único meio de comunicação a que tem acesso grande parte da
população. De acordo com Pereira Júnior (2000:10), “para a maioria das pessoas, os telejornais
são a primeira informação que elas recebem do mundo que as cerca. (...) Os noticiários
televisivos ocupam um papel relevante na imagem que elas constróem da realidade.
A televisão ganha espaço porque garante entretenimento e transmite informações sobre a
atualidade – mesmo que se trate de representações de uma realidade fabricada, obediente aos
interesses econômicos ou políticos da classe hegemônica, pouco condizente com os fatos,
18
conforme categoricamente afirma Marcondes Filho (1986). Além disso, a primazia da televisão
deriva do fato de esse meio ser gratuito, ou seja, o receptor não precisa dispensar parte de sua
renda para assistir à programação televisiva dos canais abertos como necessita fazer para ler um
jornal ou uma revista, ir a um cinema, ou acessar a internet (é preciso desembolsar renda para
pagar os pulsos telefônicos até mesmo quando os provedores de acesso à rede mundial de
computadores são gratuitos). A gratuidade da programação televisiva é garantida pela
publicidade inserida nos intervalos das atrações, sejam elas jornalísticas, pseudojornalísticas ou
de entretenimento.
Dentre outros motivos, Rezende (2000:23) aponta como fatores que contribuíram para
que a televisão assumisse tal status especial na comunicação mediática brasileira: a distribuição
desigual da renda que sempre caracterizou a sociedade; o precário nível de instrução educacional
e cultural dos brasileiros que convivem com uma homogeneidade cultural minimizadora de
outras perspectivas diferentes da apresentada pelos expoentes mediáticos da cultura de massa; a
alta qualidade técnica e artística da teledramaturgia, que se transformou na principal referência do
modo nacional de se fazer televisão e atrair a audiência.
Curiosamente, a preferência pela mídia televisiva faz com que a presença do televisor nos
domicílios brasileiros supere a da geladeira. Pereira Júnior (2002:21) apresenta um estudo do
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) publicado em 1999, cujas conclusões
demonstram que dois milhões de domicílios brasileiros não têm geladeira, embora possuam ao
menos um televisor. Isso significa que 87,5% dos domicílios brasileiros têm TV e somente 82,5%
têm uma geladeira, um eletrodoméstico considerado de suma importância para a conservação dos
alimentos em um país tropical. Outra comparação interessante apresentada em Pereira Júnior
(2002:23) que comprova o fascínio que a televisão exerce sobre os brasileiros é que havia cerca
19
de quatro mil televisores na extinta Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru), onde ficavam
reclusos 7,3 mil detentos!
A indústria nacional de eletrodomésticos já compreendeu a atração e o fascínio que a TV
exerce sobre os brasileiros: por ano, o país produz quatro milhões de televisores. Em qualquer
canto do território nacional, o aparelho parece ser fundamental para a vida das pessoas, conforme
define Hamburger (2004:8): “a TV, no Brasil, tornou-se gênero de primeira necessidade.” Uma
pesquisa inédita no Brasil realizada pela empresa fabricante de eletroeletrônicos Philips sobre o
comportamento do telespectador e as perspectivas de consumo revela que 71% dos brasileiros
preferem assistir ao evento esportivo predileto na TV que ir até o local da competição (CASTRO,
2004-a).
Dados do Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) coletados com 52
milhões de telespectadores em 15,9 milhões de domicílios das principais cidades do país, revelam
que, em 2004, o brasileiro assistiu quase cinco horas de TV por dia (CASTRO, 2005). O estudo,
realizado anualmente, demonstra que a quantidade de horas em frente à TV aumenta a cada ano.
Outra conclusão é que as pessoas com mais de 50 anos e os telespectadores das classes mais
pobres são os que mais assistem TV. Os dados referem-se somente a canais da TV aberta.
Outrossim, a primazia da televisão é propiciada pela fragilidade da imprensa brasileira,
resultante de uma sociedade com parco nível educacional ou até mesmo iletrada. Essa fragilidade
resulta, entre outros fatores, da limitada abrangência alcançada por esse meio de comunicação.
Via de regra, a tiragem dos grandes jornais e revistas de circulação nacional ou mesmo regional
não é capaz de competir com o total da audiência diária de um programa de sucesso de
determinada emissora de televisão.
Por exemplo, a tiragem dominical do conjunto formado pelos 15 maiores jornais regionais
paulistas que compõem a APJ (Associação Paulista de Jornais) é de 401 mil exemplares. Trata-se
20
da segunda maior tiragem do estado de São Paulo e a terceira do país, somente superada
respectivamente pelo número de exemplares de O Globo, diário carioca, e pela Folha de S.
Paulo. Outra comparação pode ser efetuada com a tiragem dos jornais associados à ANJ
(Associação Nacional de Jornais), que juntos publicam 7,2 milhões de exemplares por dia. Já um
telejornal como o Jornal Nacional é assistido diariamente por cerca de 31 milhões de brasileiros!
É o que mais se aproxima da população total do Brasil, que é de 181,5 milhões, segundo
estimativas do IBGE para 2004.
Soma-se a essa situação de aparente desvantagem enfrentada pela imprensa a falta de
atenção que permeia o telespectador, sobretudo durante os noticiários. O telespectador pode
assistir aos noticiários sem dispensar interesse ou fazer interpretações e comentários, porque está
diante do aparelho de TV somente para esperar outro programa, geralmente uma novela, o que
minimiza a contribuição da televisão no discernimento político, segundo estudo apresentado por
Borelli e Prioli (2000). Ao contrário, o leitor de jornais e revistas compra o material porque tem
interesse por seu conteúdo e dá mais atenção a notícias que para ele são relevantes, incluindo-se
as de cunho editorial político ou econômico.
Em relação ao cinema, o prestígio da televisão é enorme. A pesquisa mencionada
anteriormente, elaborada pela multinacional Philips, indica que 61% dos brasileiros consideram
que ver TV em casa é mais divertido que ir ao cinema (CASTRO, 2004-a). Nem mesmo o rádio,
protagonista de épocas áureas na comunicação mediática brasileira, faz frente à grandiosidade da
televisão no processo de produzir e difundir cultura e influenciar a democracia, visto que esse
meio encontra-se pulverizado.
Baseados na disparidade entre a televisão e os demais meios de comunicação, Bucci e
Kehl afirmam que “o Brasil se comunica pela televisão. O Brasil se conhece e reconhece pela
21
televisão, e praticamente só pela televisão, que reina absoluta sobre o público nacional, com um
peso muitas vezes superior aos outros veículos.” (2004:241)
De uma certa maneira, os meios de comunicação que operam por difusão são mais fortes
dentro da cultura mediática porque não exigem muitas habilidades do receptor e podem ser
utilizadas inclusive pelos cidadãos menos instruídos. Como a proporção de leitores é bem inferior
a de telespectadores, o Homo sapiens é substituído pelo Homo videns, segundo Sartori (2001:7).
O autor do neologismo que resume a evolução da espécie humana ocasionada pela mídia
televisiva acredita que esse novo ser humano é criado pelo vídeo por meio da hegemonia da
imagem sobre a palavra. É a primazia do signoo-verbal sobre o verbal. Ou seja, a televisão
transforma-se em um instrumento antropogenético responsável por uma metamorfose humana
que gera conseqüências sociais e políticas, como veremos a seguir.
2.2. Televisão e a nova maneira de fazer política
A influência da televisão vai além da Antropogenética lembrada por Sartori (2001),
conforme ressalta o próprio autor do neologismo. Na política, os reflexos desse meio de
comunicação são importantes para se entender a realidade atual. A primazia da televisão requer
novas configurações da política, principalmente durante as eleições, quando a audiência
transforma-se em eleitorado.
Sartori cria o conceito de videopolítica para referir-se às relações entre televisão e a
política. Segundo ele, a videopolítica permite a compreensão de como se processam as
representações da política na televisão. A interdependência da televisão e da política induz à
espetacularização da vida pública e à diminuição da influência da filiação partidária e da
22
orientação ideológica dessas agremiações na decisão do voto durante as eleições comuns em um
sistema democrático, representativo e presidencialista, como é o brasileiro. Nas disputas
eleitorais, a televisão garante maior visibilidade à imagem dos candidatos que aos partidos, fato
comprovado por outros estudos acadêmicos, inclusive brasileiros (FAUSTO NETO, 2003;
LIMA, 2001; MATOS, 1994; RUBIM, 2000; SILVA, 2002; WEBER, 2000).
O predomínio da imagem confere o tom espetacularizado às disputas eleitorais e, em
muitos casos, à cobertura da vida política do país fora da época dos pleitos. Os efeitos da
videopolítica devem-se à primazia da imagem sobre qualquer outra forma de expressão de
opinião. O telespectador acredita e passa a agir em conformidade com aquilo que vê na tela.
Essas influências são resumidas por Sartori:
“De fato, é incontestável que a televisão é um formidável formador de opinião. Hoje, o
povo soberano opina, sobretudo em virtude da forma com que a televisão o induz a
opinar. Por isso, o poder do vídeo, ao dirigir a opinião pública, coloca-se realmente no
centro de todos os processos da política contemporânea. A televisão condiciona de modo
pesado o processo eleitoral, quer na escolha dos candidatos, quer na forma deles
conduzirem a disputa eleitoral, quer finalmente em fazer vencer quem vence. Além
disso, a televisão condiciona, ou pode condicionar de modo marcante, o governo, isto é,
as decisões no nível do governo: o que o governo pode ou não pode fazer e decide fazer
na realidade.” (SARTORI, 2001: 51)
A imagem encontra-se na origem do poder de retórica da televisão, entendido como o ato
de conduzir a opinião conforme a versão mais verossímil de um fato. A retórica, bem como a
imagem, não correspondem ao fato em si. A credibilidade do que é transmitido pela tela deve-se
às imagens: o telespectador acredita e até modifica sua opinião ou seu modo de agir porque o
acontecimento “passou na televisão”. É ver na televisão para crer e, em muitos casos, utilizar
essas representações mediáticas para tecer opiniões (SOARES, 1996). O espetáculo criado pela
23
televisão e a autoridade da imagem transmitida são as garantias - mesmo que equivocadas ou com
intenções deturpadoras - que o telespectador tem de que o que ele assiste corresponde à realidade
dos fatos. Hamburger e Bucci (2002:8) enfatizam que “a realidade é o que as imagens dizem que
ela é”.
Pozenato fala em uma retórica particular criada pela televisão por meio das imagens, “que
se aliam aos sons e às palavras com o objetivo de convencer e persuadir. Aos recursos verbais e
gestuais da antiga retórica, a televisão soma os da imagem em movimento.” (POZENATO,
2002: 54-55) Isto significa que o telespectador é induzido a acreditar porque vê a imagem, com
todos os seus movimentos, cores e, em muitos casos, ao vivo, no momento em que o fato
acontece, o que aumenta a sensação de realidade.
Por desconhecer o processo de captação de uma imagem, da construção de uma
reportagem e das rotinas jornalísticas que incluem também a edição e a pauta que discerne ainda
na redação da empresa o enquadramento, o telespectador ignora que a televisão descontextualiza,
fragmenta, e exibe somente sua visão sobre determinado fato, o que não condiz necessariamente
com a verdade. A imagem também mente porque constitui uma representação mediática.
“A retórica parece ficar escondida sob o aspecto da imparcialidade ou da
neutralidade dos veículos de comunicação, o que complica a identificação
de seus processos de seleção e combinação. Em seguida, estando
escondida, a retórica se presta mais facilmente aos processos de
manipulação do público, que acredita (simplesmente por ignorância ou
por ingenuidade, ou estando já convencido e persuadido) estar diante de
mensagens neutras e imparciais.” (POZENATO, 2002: 55)
24
Sobre essa dramaturgia da verdade, que inocenta qualquer tentativa de deturpação da
realidade, Marcondes Filho salienta que
“A televisão transmite a ilusão da verdade: ao ver as cenas do
acontecimento o receptor rejeita a tese da manipulação pelo fato de ‘ter
testemunhado com seus próprios olhos’ o ocorrido. A mística das
imagens garante o estatuto de verdade absoluta e inocenta a deturpação.”
(MARCONDES FILHO, 1988:52)
Gomes (1995) caracteriza a pseudoverdade produzida pela televisão como o mundo-
media. Trata-se de uma dimensão construída pelas representações do mundo real a partir da
seleção e edição operacionalizadas pelos meios de comunicação de massa, sobretudo a televisão,
que culminam com uma reconfiguração do espaço público e da política. “Adaptar-se à lógica
mediática finda por significar, para a política, transformar-se, de algum modo, em mímesis,
representação, encenação. A política massmediática, como quer que a observemos, é
fundamentalmente mise en scène.” (GOMES, 1995: 315)
Bucci e Kehl também utilizam um neologismo – videologia - para explicar o poder da
imagem na sociedade contemporânea, associado a uma nova mitologia e ideologia possibilitada
pela primazia da televisão. Segundo os autores,
“A palavra videologia é um trocadilho em aberto, cujo significado se
consuma quando contraposto ao significado das mitologias barthianas ou
ao significado do termo ideologia. Vivemos uma era em que tudo
concorre para a imagem, para a visibilidade e para a composição de
sentidos no plano do olhar. (...) Os mitos, hoje, são mitos olhados. São
pura videologia.”(BUCCI & KEHL, 2004:16)
25
Retomando as relações entre televisão e política, embora sejam reconhecidas as
influências desse meio de comunicação, o fenômeno da videopolítica conceituado por Sartori não
deve ser entendido simplesmente como um poder ilimitado de manipular o telespectador e
direcionar suas preferências eleitorais e seu comportamento político.
Sodré (2002:61), por exemplo, discorda da hipótese do absoluto poder da televisão sobre
o pensar do telespectador e é enfático ao dizer que “a mídia não determina coisa alguma, mas
prescreve o que pensar e como agir diante de determinadas situações.” Outras pesquisas na área
de Comunicação e Política, inclusive citadas por Sodré, já comprovaram essa tendência,
especificamente quando as decisões referem-se a escolhas eleitorais (LIMA, 2001; SILVA,
1985). O autor argumenta que, embora exerça uma influência ampla sobre a sociedade e a
política brasileiras, a televisão não pode ser comparada ao personagem Grande Irmão, do
romance 1984, um ser de absoluto poder, criado por George Orwell.
Para Sodré, a influência positiva da televisão sobre determinado candidato em época
eleitoral, culminando com sua vitória no pleito, pode ser explicada pela criação de um cenário
positivo que acentua as qualidades verídicas ou mesmo irreais do político ou partido que
representa. A televisão atua como um espaço privilegiado que garante visibilidade às
candidaturas em épocas eleitorais ou, conforme o objeto de estudo dessa dissertação, do período
pós-eleitoral, quando determinado político deixa de ser candidato para ocupar um cargo eletivo
importante, como é a presidência da República.
Lima (2001) resume essa interdependência da mídia e da política e a influência da
primeira sobre o direcionamento da segunda por meio do conceito do CR-P (Cenário de
Representação da Política), explicado como
26
“o espaço específico de representação da política nas ‘democracias
representativas’ contemporâneas, constituído e constituidor, lugar e
objeto da articulação hegemônica total, construído em processos de longo
prazo, na mídia e pela mídia, sobretudo na e pela televisão.” (LIMA,
2001: 182)
Trata-se de um conceito teórico e instrumental, direcionado à mídia, em especial à
televisão, ou melhor, às representações da política criadas pela televisão e as influências
mediáticas sobre a decisão do eleitorado nas urnas. O CR-P compreende a construção pública
efetuada pela mídia, sobretudo pela televisão, das significações relativas à política (ALMEIDA,
1999). O conceito foi apresentado por Lima em 1994 e depois explorado em sucessivos artigos
acadêmicos tanto assinados pelo próprio autor quanto por outros pesquisadores da área de
Comunicação. O conceito de CR-P está vinculado à “mediacentricidade” ressaltada por Lima
para denominar o papel de destaque que a mídia exerce na sociedade contemporânea e,
conseqüentemente na política.
A idéia do CR-P deriva do conceito teórico de hegemonia formulado pelo italiano
Antonio Gramsci, segundo o qual um bloco histórico que detém o poder cultural e ideológico
constitui a classe hegemônica que lidera as subalternas e consegue obter o apoio consensual dos
detentores do poder político. Isto é, a hegemonia refere-se à relação de liderança de uma classe
social sobre o conjunto da sociedade por meio da força, praticada pelas instituições políticas e
pelo aparato militar, e do consenso, no que diz respeito à cultura, inclusive a mediática. Essa
situação prevê conflitos entre o bloco hegemônico e os contra-hegemônicos, não constituindo,
pois, uma demonstração ativa de dominação. Os meios de comunicação figuram como
instituições de legitimação do poder hegemônico através das representações mediáticas
(ALBUQUERQUE, 1998).
27
Retomando o conceito de CR-P proposto por Lima, cabe ao candidato, em época de
disputa eleitoral, ou ao detentor de cargo público eletivo, adaptar-se a essas representações para
alcançar um desempenho positivo frente aos eleitores ou cidadãos, dependendo do caso. Em uma
sociedade em que as representações da política são em sua maioria fruto da atividade televisiva,
essa euforia é fundamental. Vale ressaltar que, no Brasil, as eleições, sobretudo as presidenciais,
possuem um caráter de plebiscito, em que cabe ao eleitor negar uma alternativa – candidato ou
grupo político - e aprovar outra nas urnas.
Diante dessa função da televisão, os partidos políticos deixam de exercer o papel de
canalizadores dos interesses coletivos e de representação de grupos com os mesmos fins
ideológicos. A forte influência da televisão nos processos eleitorais acaba por eliminar os líderes
intermediários de opinião representados pelas agremiações em regimes pluripartidários como o
brasileiro: é na TV que os eleitores passam a buscar as informações que irão levá-los a realizar
sua escolha nas urnas. Sobre essa nova relação estabelecida entre televisão e mídia, Bucci afirma
que
“... a TV é a arena em que são debatidos e equacionados os dilemas que
tensionam a opinião pública nacional. A sua linguagem, por isso mesmo,
é a linguagem preferencial dos políticos. Para o bem ou para o mal, o
signo que cada um deles busca representar para os eleitores é um signo
televisivo.(...) São signos, enfim, próprios do espetáculo. É uma era da
política despolitizada.” (BUCCI, 2002:2)
Nesse contexto, Rubim (2000) admite que, na Idade Mídia, caracterizada pelo autor para
definir a contemporaneidade fortemente influenciada pelos meios de comunicação, a política
28
brasileira passa a sofrer a influência de um partido criado pela mídia, por meio do poder de
mobilização da televisão: o partido eletrônico. Trata-se de uma metáfora que traduz o papel de
partido político vivido pela mídia, em especial pela televisão, na contemporaneidade. A televisão
ganha cada vez mais espaço nas decisões e no funcionamento da democracia brasileira,
participando da definição de quem detém o poder e de como procede para se manter em tal posto.
Sobre essa nova maneira de fazer política, Serrano afirma que
“A vida política é hoje influenciada por um conjunto de técnicas (os
media e as sondagens), de actores (os jornalistas e os conselheiros de
comunicação) e de práticas (o marketing político). Confrontada com esta
evolução, a actividade política organiza-se em torno de novas regras de
funcionamento, adaptando-se à chamada ‘mediatização da política’. A
comunicação tornou-se parte integrante da actividade política e a
explosão dos processos de comunicação política é fruto de um conjunto
de actores que neles têm interesse: por um lado, os conselheiros de
comunicação e os publicitários que tentam convencer os seus clientes
potenciais a confiarem-lhe a preparação das suas campanhas eleitorais
(...); por outro, a mediatização da vida política obriga os políticos a tornar
a sua acção tão espetacular quanto possível, a fim de interessar os media,
sobretudo a televisão. A política tornou-se, assim, lugar privilegiado do
espetáculo.” (SERRANO, 1999)
A televisão garante um caráter espetacular à política contemporânea: interessa mais a
estética dos candidatos, as estratégias artísticas, persuasivas e de marketing de campanha que a
opinião e o engajamento político (WEBER, 2000). Serrano avalia que essa nova maneira de fazer
política acarreta um certo prejuízo para a democracia porque “os políticos dedicam mais tempo a
dar visibilidade às suas ações do que a refletir e a decidir” (SERRANO, 1999).
O filósofo francês Guy Debord adotou, nos anos 60, a expressão sociedade do espetáculo
para referir-se à sociedade criada pelo impacto mediático e pelo valor superestimado da
29
visibilidade, a qual se referem as autoras Weber (2000) e Serrano (1999). Para Bucci e Kehl
(2004), a sociedade do espetáculo traduz todas as operações do poder político em imagens,
criando uma nova maneira de fazer política: “Na sociedade do espetáculo, em que o espaço da
política é substituído pela visibilidade instantânea do show e da publicidade, a fama torna-se
mais importante do que a cidadania” (2004: 43).
Os neologismos, ou mesmo conceitos teoricamente fundamentados criados por
estudiosos da Comunicação de Massa para explicar a supremacia da imagem suplantam a
evolução do Homo sapiens para Homo videns proposta por Sartori e apresentada anteriormente.
A tradicional concepção de democracia, entendida aqui como a soberania popular, também se
transforma sob as influências da mídia na contemporaneidade. Se a política sofre a interferência
da mídia, a democracia também passa por uma metamorfose.
Santos (1995) afirma que a soberania do simulacro da imagem transforma a democracia
em videocracia ou em telecracia. Isto é, a substituição do poder popular pelo poder das
representações instauradas pela televisão. A capacidade de decisão política do cidadão e até
mesmo dos atores da Política passa pelo crivo do simulacro produzido pelas representações da
mídia. Nesse novo contexto contemporâneo, o cidadão é ao mesmo tempo espectador,
consumidor dos produtos difundidos por uma empresa mediática e eleitor.
2.3. Enquadramentos midiáticos
Sem almejar uma classificação puramente maniqueísta da televisão, é inegável que esta
mídia influencia positivamente a política brasileira visto que, somadas as diversas emissoras,
trata-se de um meio de comunicação difusor de informação e entretenimento com cobertura quase
30
total do território brasileiro. Desse modo, a televisão garante à população o acesso aos temas
políticos, sem distinção de nível educacional ou renda, porque o televisor pode ser encontrado
inclusive em residências humildes e o aparato tecnológico que distribui o sinal dos canais de
televisão é bem desenvolvido no país.
Concomitantemente, as representações da política instauradas pela televisão podem
deturpar o ideal democrático de participação popular graças à formação da opinião pela
informação difundida através dessa mídia. O discurso simplificado e espetacularizado da
televisão desmantelaria a profundidade dos temas políticos e contribuiria para a manutenção da
hegemonia compatível com os interesses dos anunciantes e dos concessionários das emissoras de
TV.
De acordo com Albuquerque, as notícias difundidas pela televisão aparentemente
obedecem aos enquadramentos delineados por interesses políticos e/ou econômicos dos grupos
hegemônicos que dominam a mídia: “a cobertura jornalística da política tem se caracterizado
por uma reiterada parcialidade em favor de determinados partidos e causas e em prejuízo de
outros.” (ALBUQUERQUE, 1998: 21)
Herman e Chomsky (2003) afirmam que a parcialidade do conteúdo mediático visa a
“inculcar e defender as agendas econômica, social e política dos grupos privilegiados que
dominam a sociedade nacional e o Estado” (2003: 360). Os autores explicam que isso é feito por
meio da seleção e distribuição de assuntos, enquadramento de questões, filtragem de
informações, ênfase ou omissão que mantêm o debate dentro dos limites de premissas aceitáveis
pelos anunciantes e concessionários das emissoras.
Pesquisas analíticas da mídia demonstram que as notícias difundidas são permeadas por
um certo valor – também chamado de newsworth - que determina se vale ou não a pena noticiá-
las, conforme os critérios e interesses econômicos e/ou políticos em jogo. São os critérios de
31
noticiabilidade, muito comuns nas redações que, todavia, quase sempre passam desapercebidos
pela audiência porque não são detalhados juntamente com o material publicado pela mídia. O
conteúdo das notícias selecionadas é, portanto, influenciado pelos critérios e rotinas dos
processos produtivos.
Dessa forma, a realidade é editada e recontextualizada, fato explicado pelo paradigma do
newsmaking. Esses critérios de noticiabilidade constituem um elemento de distorção por vezes
involuntária da cobertura jornalística da mídia. Segundo Bourdieu (1997:25), a seleção das
notícias é operada pelos jornalistas, que possuem “óculos especiais” pelos quais enxergam a
realidade a seu modo.
O paradigma dos critérios e rotinas produtivas supera o conceito de gatekeeper, segundo o
qual cada empresa de mídia possuiria um controlador que agendaria o veículo e definiria os
procedimentos editoriais próprios por meio de uma seleção temática. Tal conceito foi elaborado
pelo psicólogo social Kurt Lewin em 1947 e aplicado ao jornalismo pela primeira vez em 1950,
por David Maning White. Literalmente, significa o porteiro ou o controlador por quem passam as
informações permitidas pela seleção editorial. O gatekeeper era o indivíduo ou grupo que detinha
o poder de decidir se permitiria a passagem da informação ou se a bloquearia, em um processo de
seleção quantitativa e qualitativa, isto é, a quantidade de material referente a um tema ou
personagem e o conteúdo disfórico, eufórico ou aparentemente neutro. Essa foi a primeira
acepção do problema de seleção do que é notícia, incrementada posteriormente pelo paradigma
das rotinas produtivas, que sugere que esse poder de escolha do que será noticiado está
disseminado por toda a hierarquia das redações, por meio de uma série de valores, normas e
objetivos editoriais interiorizados pelos jornalistas no dia-a-dia de sua atividade profissional. A
figura única e poderosa do gatekeeper, portanto, foi substituído por toda a hierarquia das
redações.
32
A mídia, em particular a televisual, devido a seu grande alcance sobre o telespectador
brasileiro, oferece uma vasta quantidade de temas ou assuntos políticos sobre os quais o receptor
deverá se informar, preocupar-se e priorizar em suas conversas com outros receptores. O
fenômeno de agendar os temas da sociedade mediatizada é explicado pela hipótese do agenda-
setting, que sustenta que os assuntos abordados diariamente pela mídia são responsáveis pela
ordem do dia das idéias a serem pensadas e discutidas pela audiência. Ou seja, a agenda
mediática atuaria no estabelecimento da agenda pública.
A hipótese do agenda-setting foi elaborada por Maxwell E. McCombs e Donald Shaw no
final da década de 60, durante estudos sobre a opinião pública em épocas eleitorais. Para os
autores, cada receptor agendaria seu pensamento e suas preocupações como uma conseqüência da
ação dos meios de comunicação. A audiência tomaria conhecimento ou ignoraria, focaria sua
atenção ou esqueceria, realçaria ou negligenciaria temas específicos dos cenários públicos sob a
influência do que é divulgado pelos meios de comunicação. A audiência tenderia a incluir ou
ignorar aquilo que os meios de comunicação incluem ou ignoram durante a organização do seu
próprio conteúdo.
Bourdieu (1997:71) ressalta que o agendamento dos temas na sociedade pós-moderna é
definido primordialmente pela televisão. O autor acredita que, ainda que um tema seja agendado
pela imprensa, “ele só se torna determinante, central, quando retomado, orquestrado, pela
televisão”.
McCombs e Shaw ampliaram o significado primordial do conceito, aliando a hipótese do
agendamento ao paradigma do newsmaking e ao conceito teórico e metodológico de
enquadramento:
33
“O agenda-setting é consideravelmente mais que a clássica asserção que
as notícias nos dizem sobre o que pensar. As notícias também nos dizem
como pensar nisso. Tanto a seleção de objetos que despertam a atenção
como a seleção de enquadramentos para pensar esses objetos são os
poderosos papéis do agenda-setting.” (MC COMBS & SHAW, 1993:62
apud PEREIRA JÚNIOR, 2000:76)
A importância atribuída pela audiência a determinados fatos coincide com a ênfase dada
pela mídia aos acontecimentos da vida pública, através do destaque ou supressão de alguns
detalhes e enquadramentos específicos. Isto é, a mídia também exerce o poder de dizer como se
deve pensar os temas existentes na agenda pública, sobretudo por meio dos telejornais, fato que
pode ser explicado pelo conceito teórico de enquadramento ou framing, assim conceituado:
“O framing, de modo geral, é como temos que pensar os temas já
estabelecidos pela agenda. (...) O conceito de framing consiste em
oferecer o modo de descobrir o poder do texto comunicativo. Produzir um
enquadramento é selecionar alguns aspectos da realidade percebida e dar
a eles um destaque maior no texto comunicativo.” (COLLING, 2001:94-
95)
Para Robert Entman (1991), um dos maiores estudiosos do conceito de framing aplicado
ao Jornalismo, enquadrar uma notícia consiste em selecionar certos aspectos da realidade e os
tornar mais salientes no conteúdo da mídia, de tal forma a promover um problema, uma
interpretação, uma avaliação moral, ou a recomendação de tratamento para o tema descrito.
Portanto, os enquadramentos diagnosticam, avaliam e prescrevem os conteúdos das notícias. Ao
contrário dos critérios de noticiabilidade, que em muitos casos são involuntários, os
enquadramentos nem sempre são relacionados às rotinas produtivas e freqüentemente resultam de
34
uma subordinação a determinadas ideologias, justificadoras das representações instauradas pelos
framings.
Os enquadramentos dominantes tendem a obscurecer as informações que não interessam e
não corroboram a ideologia do grupo que controla a mídia, apesar da inevitável polissemia dos
textos jornalísticos. “Isso significa fazer uma parte da informação mais noticiável, significável,
ou memorável para as audiências” (ENTMAN, 1994:295 – tradução da autora). Um
enquadramento dominante pode obscurecer totalmente alguma informação que seja oposta ao que
o framing quer veicular como verdade dos fatos.
Os enquadramentos tornam algumas idéias mais enfáticas e outras aparentemente
inexistentes, sem nenhuma importância; ou seja, determinadas informações são mais discerníveis
e memoráveis que outras, dependendo do enquadramento dado à notícia. O enquadramento
consiste em uma propriedade específica das narrativas jornalísticas que estimulam determinadas
compreensões ou pensamentos sobre os eventos descritos para desenvolver entendimentos
particulares sobre eles. Os enquadramentos dos telejornais, via de regra, são construídos a partir
das e estruturados nas imagens visuais (sobretudo as que concedem o toque espetacular) palavras-
chaves, metáforas, conceitos fundamentais, símbolos etc.
Trata-se de uma retórica oculta, implícita no texto jornalístico – incluindo-se o não-
verbal - que direciona a uma interpretação específica do fato noticiado. O enquadramento,
portanto, pode ser considerado como um tipo de retórica da representação mediática, porque
representa realidades ou enviesa a percepção que a audiência tem dos acontecimentos. A escolha
de um enquadramento e não de outro, segundo Albuquerque (1998:16), justifica o modo como os
jornalistas querem representar uma dada realidade, tendo em vista a ideologia hegemônica.
Embora não faça uso do conceito de enquadramento, Bourdieu tece comentários que
podem ser úteis para seu entendimento. O autor conclui que a televisão oculta fatos específicos
35
“mostrando uma coisa diferente do que seria preciso mostrar caso se
fizesse o que supostamente se faz, isto é, informar, ou ainda mostrando o
que é preciso mostrar, mas de tal maneira que não é mostrado ou se torna
insignificante, ou construindo-o de tal maneira que adquire um sentido
que não corresponde absolutamente à realidade.” (BOURDIEU: 1997, 24)
A essência do enquadramento de uma notícia é o dimensionamento – seja pela ampliação
ou pela redução - da importância do fato retratado. Uma analogia simples que facilita o
entendimento do conceito é compará-lo a uma janela: os artifícios da escolha de imagens,
palavras-chaves, metáforas etc, formam essa janela pela qual a audiência toma contato com o fato
jornalístico e nota apenas os aspectos mais dominantes, priorizados pela representação mediática.
Entman (1994:298) classifica o conceito de enquadramento como um paradigma de
pesquisa utilizável nos estudos da opinião pública e do comportamento dos eleitores, seja nas
Ciências Políticas, seja na Comunicação Social, ou na confluência das duas áreas. O conceito de
enquadramento suplanta a simples análise de conteúdo, e pode ser utilizado para analisar o
jornalismo informativo. A tradição norte-americana e os estudos brasileiros que utilizam o
conceito têm em comum a análise do Jornalismo relacionado a questões políticas.
O conceito de enquadramento reúne, concomitantemente, uma teoria e um método de
análise de conteúdo mais avançado que consiste em uma verificação empírica das representações
mediáticas, sobretudo de como o jornalismo constrói os cenários de representação, em particular,
o da política. Muitas vezes, os artifícios do framing – imagens visuais, metáforas, palavras-
chaves etc. – são invisíveis, ou seja, não se destacam como intencionais, integrando-se à estrutura
do discurso. Isso dificulta a percepção dos enquadramento pelo leitor/telespectador que se
debruça sobre a análise de enquadramento das notícias.
36
O framing pode ser detectado por meio da análise de palavras ou imagens visuais que
aparecem insistentemente na narrativa, por exemplo, ou daquelas simplesmente suprimidas do
texto jornalístico. Nesse caso, essa negligência somente pode ser detectada com precisão quando
da comparação com outros textos jornalísticos referentes aos mesmos temas, que servem como
elementos contextualizadores e referenciais.
Contudo, a omissão de um fato, negligenciado da cobertura ou que tenha um destaque
ínfimo, também é um tipo de enquadramento. Minimizar o espaço – físico no caso da imprensa e
temporal no caso da televisão - constitui uma estratégia da mídia na cobertura dos fatos. O
enquadramento pode ser caracterizado pela omissão (negligenciar a cobertura de certos temas), a
cobertura intencionalmente modesta ou intencionalmente expandida.
Entman aconselha recorrer à comparação quando o pesquisador procede a análise, a fim
de evitar que os enquadramentos pareçam espontâneos:
“A menos que as narrativas sejam comparadas, os enquadramentos são
difíceis de detectar completamente e fidedignamente, porque muitas
ferramentas de enquadramento podem aparecer como ‘naturais’, escolhas
despercebidas de palavras ou imagens. A comparação revela que estas
escolhas não são inevitáveis ou sem problemas, mas, ao contrário, são
centrais para o modo como os enquadramentos de notícias ajudam a
estabelecer o verdadeiro ‘senso comum’ (isto é, difundido) da
interpretação dos eventos.” (ENTMAN, 1991: 6 – Tradução da autora)
Comparar os discursos de mais de um meio de comunicação também auxilia a perceber os
fatos negligenciados, ou seja, o que foi veiculado por um veículo e omitido por outro. O inverso
também existe e a comparação permite notar quando há destaque deliberado de determinados
temas, seja quantitativo (referente à quantidade de imagens ou apenas notas lidas pelo
37
apresentador, em caso de telejornal, centimetragem dos textos impressos, tempo de aparição na
TV etc.) ou qualitativo (referente ao conteúdo). No caso da televisão, o destaque qualitativo
envolve uma cobertura eufórica, com imagens chamativas.
A audiência incorpora os enquadramentos construídos pela mídia sobre os temas políticos
e os utiliza na formação de sua opinião e fundamentação de suas atitudes como cidadão e eleitor.
Cabe ressaltar que, diferentemente das primeiras teorias do paradigma norte-americano (Bala
Mágica, por exemplo) e da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, o conceito de enquadramento
não defende que a audiência receba passivamente as mensagens veiculadas pela mídia.
Hipoteticamente, os membros da audiência são livres para tirar seu próprio significado das
mensagens mediáticas, mesmo que os fatos sejam veiculados sob determinados enquadramentos.
Como foi esclarecido anteriormente, o conceito de enquadramento subsidia uma análise
da mensagem e não inclui uma pesquisa de recepção. O estudo formalizado por esta dissertação
segue essa premissa e limita-se a realizar uma análise de enquadramento de fatos relacionados ao
governo federal empreendidos pelo Jornal Nacional da Rede Globo.
2.4. Latifúndio eletrônico e ameaças ao ideal democrático
A concentração das emissoras de televisão bem como suas afiliadas e repetidoras nas
mãos de grupos políticos regionais que detêm o poder político e econômico em determinadas
regiões ou mesmo estados representa uma grave ameaça para a democracia brasileira. A
programação jornalística ou de entretenimento da televisão está quase sempre atrelada a
interesses econômicos de grandes corporações e aparentemente não refletiria as necessidades das
camadas populares da audiência.
38
Na verdade, o parágrafo quinto do artigo 220 da Constituição Brasileira de 1988 não é
respeitado, embora a Carta Magna seja clara ao determinar “que os meios de comunicação social
não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio” (CONSTITUIÇÃO,
1988:144). Diferentemente da imprensa, que independe de licença de autoridade, a propriedade
do setor de Radiodifusão – televisão e rádio – não acontece por aquisição mercantil, como ocorre
com as empresas comuns. As emissoras de televisão e rádio são concedidas por meio de decretos
do governo federal e atuam como concessões ou outorgas.
Durante o Regime Militar, as concessões obedeceram a critérios ideológicos ou
clientelísticos que não foram abandonados na Nova República, iniciada em 1985 (LIMA, 2001).
Possuir uma (ou mais de uma, como ocorre na maioria dos casos) concessão de televisão permite
que as elites políticas regionais ou estaduais controlem também o chamado Quarto Poder,
denominação comum dada à mídia. Em geral, essas elites políticas ocupam cargos eletivos do
Executivo ou do Legislativo em âmbito municipal, estadual ou federal.
O poder das elites políticas que detêm as concessões aumenta sobremaneira e cria o
chamado coronelismo eletrônico, isto é, o desfrute de um poder privado fundamentado no
compromisso e na troca de favores com o poder público (LIMA & CAPARELLI, 2004: 79). O
coronelismo eletrônico sintetiza como o compadrio comum no final do século XIX e início do
século XX converteu-se no poder da mídia, característico da contemporaneidade. Nesse caso, o
controle de um eleitorado cativo e o ajuste da mídia a serviço de administrações públicas é
facilitado e garantido por várias eleições e/ou gestões, numa forma escancarada de clientelismo
político (COSTA & BRENER, 1997).
Apesar da proibição enfática aos monopólios mediáticos determinada pela Constituição, a
concentração das emissoras, afiliadas e repetidoras nas mãos das elites políticas foi impulsionada
pelas brechas na legislação brasileira. Até 1988, o presidente da República tinha exclusividade na
39
decisão sobre as concessões de serviços de radiodifusão, que eram usados como moeda política
em troca de apoio no Senado e no Congresso.
Um exemplo dessa barganha ocorreu durante o governo do presidente José Sarney (1985-
1990), na ocasião da votação da emenda constitucional para o mandato presidencial de cinco
anos. Nos cinco anos de seu governo, Sarney distribuiu 1.080 concessões de televisão. A maioria
dos beneficiários faz ou fez parte da classe política brasileira. Costa e Brener apontam que, entre
1987 e 1988, o Ministério das Comunicações distribuiu 168 emissoras de rádio e TV para
empresas ligadas a 91 parlamentares federais, 88 dos quais ajudaram a aprovar a emenda que deu
cinco anos de mandato presidencial a José Sarney.
No primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998), a barganha política
repetiu-se, desta vez como moeda de troca para ganhar votos favoráveis no Congresso à Emenda
Constitucional da reeleição. O resultado desse compadrio foi a autorização de 1.848 licenças de
estações de RTVs (retransmissoras de televisão), sendo 268 para entidades ou empresas
controladas por 87 políticos (LIMA & CAPARELLI, 2004). Nem o presidente, nem o ministro
das Comunicações do governo FHC, Sérgio Motta, sofreram sanções por causa disso, visto que as
retransmissoras são outorgadas por simples portaria do ministério, sem necessidade do crivo do
Congresso ou da realização de licitação (COSTA & BRENER, 1997). Cabe ressaltar que as
retransmissoras de TV podem atuar apenas como repetidoras ou produzir até 15% de
programação local/regional em relação ao conteúdo total.
Pela Constituição de 1988, o Congresso Nacional passou a apreciar todos os atos do Poder
Executivo federal, o que inclui a análise prévia da outorga ou renovação de concessões,
permissão e autorização para serviços de radiodifusão. No entanto, o que deveria ser uma
garantia constitucional não passa de uma lei que regulariza a atividade dos políticos de legislar
em causa própria. A concentração das outorgas de radiodifusão privilegiou políticos de quatro
40
partidos, conforme estudo efetuado por Lima e Caparelli (2004): PFL, PMDB, PPB e PSDB.
Essas agremiações formaram a base das alianças eleitorais de todos os governos democráticos
que o Brasil teve, desde Tancredo Neves aos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, o
que consolida a hipótese do uso das concessões como moeda política. A maioria dos políticos que
ocupam atualmente as cadeiras do Congresso é detentora de concessões de radiodifusão
conseguidas de forma clientelista, o que míngua as chances de criação e aprovação de leis mais
rígidas para regulamentar o setor de radiodifusão brasileiro.
Cerca de 90% da mídia brasileira é comandada por 15 grupos familiares com poder
econômico e político regionalizado. As concessões de televisão, particularmente, são dominadas
por oito grupos. As principais famílias detentoras das concessões e outorgas são: Marinho (Rede
Globo), Saad (Rede Bandeirantes), Abravanel (SBT) em âmbito nacional; e Sirotsky (RBS, no
Rio Grande do Sul), Daou (TV Amazonas, no norte do país), Jereissati (TV Verdes Mares, no
nordeste), Zahran (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), Câmara (TV Anhangüera), em âmbito
regional. A maioria das concessões regionais é afiliada das Organizações Globo e foi outorgada a
tradicionais coronéis.
Squirra utiliza o termo latifúndios audiovisuais para denominar a divisão das concessões
nas mãos das poucas e poderosas elites políticas e econômicas brasileiras. Ele compara a situação
da radiodifusão no Brasil, com vistas à sua concentração, ao que ocorreu no século 16 no Brasil
Colonial, com a formação das Capitanias Hereditárias: “dividiram o espectro brasileiro em
verdadeiras capitanias que, por não mudarem de mãos, tornaram-se hereditárias e se
transformaram em um autêntico Tratado de Tordesilhas audiovisual” (1999:54).
Além do monopólio das concessões, a propriedade da mídia brasileira enfrenta outros
tipos de problemas decorrentes da chamada concentração vertical: como se não bastasse um
mesmo grupo político ou familiar deter uma ou mais emissoras, muitos são concessionários de
41
outras outorgas ou donos de outras empresas que integram as diferentes etapas da cadeia de
distribuição da cultura mediática. Ou seja, ao mesmo tempo em que produzem um programa
televisivo, por exemplo, possuem mecanismos para divulgá-los em jornais, produzir a trilha
sonora em gravadoras próprias e tocá-la em emissora de rádio etc. Há também a propriedade
cruzada, em que um mesmo grupo detém diferentes tipos de mídia, isto é, a concessão de uma
emissora de televisão e um jornal, por exemplo, ou uma revista e uma emissora de rádio. As
novas tecnologias da informação contribuem para o aumento dessa concentração das empresas de
mídia nas mãos de poucos, visto que é comum a sinergia de novas tecnologias e a aquisição de
outros meios de comunicação para dar suporte ao primeiro.
Para Bourdieu (1997), o conteúdo da programação televisiva sofre censuras econômicas e
políticas: é determinado pelos grupos que detém as concessões e pelos anunciantes que pagam a
publicidade e tornam a mídia um negócio rentável. Dessa forma, a televisão se converte em
instrumento de opressão simbólica enquanto poderia ser um meio de consolidar a democracia
brasileira. O telespectador não consegue ser um cidadão porque a televisão o trata apenas como
um consumidor que faz parte de um acordo mercantil, cujo principal papel deveria ser informar e
formar cidadãos ativos e participativos. “Somos o paraíso da radiodifusão desregulamentada,
submetida apenas às regras do mercado”, definem Lima e Caparelli (2004: 52).
O nível educativo da televisão não é mais importante que os interesses mercadológicos de
anunciantes e políticos dos grupos que detêm as concessões, transparecendo a vulnerabilidade a
que está submetida a democracia brasileira por causa dessa falta de engajamento social da mídia
em prol da cidadania da audiência. Soma-se a isso o fato de que o coronelismo eletrônico
interfere drasticamente sobre o conteúdo das emissoras de televisão: não é raro que a
programação posicione-se a favor do coronel eletrônico e contra seus adversários políticos. Além
do problema dos monopólios da radiodifusão, a democracia brasileira é estrangulada pelo uso
42
político e ideológico da televisão pelos coronéis eletrônicos, que censuram enquadramentos
mediáticos que possam colocar em xeque seus discursos e atitudes. Na democracia brasileira,
portanto, o poder político é influenciado por quem controla a informação. O contrário, é claro,
também é verdadeiro: quem controla a informação –os coronéis eletrônicos – detêm uma parcela
do poder.
Cabe ressaltar que o grande número de emissoras de televisão que faz parte do cenário
mediático brasileiro, o desenvolvimento tecnológico que propicia melhor qualidade e alcance do
sinal, e a primazia dessa mídia no cenário da comunicação mediática no Brasil não significam
maior possibilidade de escolha da informação e nem pluralidade de conteúdos à disposição da
audiência. O coronelismo eletrônico parece vencer todos esses sinais de progresso, conforme
ressalta Santoro. Isso ocorre porque uma única emissora – a Rede Globo – detém a supremacia
tecnológica e a fidelidade da maioria da audiência. Em outras palavras, isso quer dizer o
monopólio da comunicação no Brasil. O lugar de destaque da Globo, como veremos a seguir,
juntamente com o coronelismo eletrônico, interferem na democracia brasileira, uma vez que a
política no país é influenciada pela mídia.
43
3. A REDE GLOBO COMO PROTAGONISTA DA POLÍTICA
“O Brasil, em um determinado momento, apesar de sua dimensão
continental, parou de falar Português para falar TV Globês.”
(WASHINGTON OLIVETTO, In: MELLO, 1994)
3.1. A sedução do plim-plim
Falar em televisão no Brasil é falar sobre a Rede Globo. É incontestável que o poder de
agendamento dessa emissora de televisão suplanta o de outros meios de comunicação brasileiros.
Primeiro, devido à audiência alcançada pela emissora: a Globo domina o cenário mediático
brasileiro, à frente de todas outras emissoras, que se portam como figurantes. Segundo, por causa
da importância do Jornal Nacional, o mais influente, assistido e tradicional telejornal do país, que
desde 1969, quando estreou, ocupa lugar de destaque no horário nobre da emissora.
Em 2004, os dez programas da televisão aberta mais assistidos em todo o país pertenciam
à grade de programação da Globo, segundo uma pesquisa realizada pelo Ibope (Instituto
Brasileiro de Opinião Pública e Estatística). O Jornal Nacional foi o sétimo programa mais visto
em 2004, atrás apenas de três novelas, do reality show BBB4 e de campeonatos de futebol
transmitidos pela Globo (CASTRO, 2005).
Os números comprovam a forte interferência da Globo na cultura do Brasil criando um
“jeito global” de ser brasileiro: as músicas mais famosas e as celebridades mediáticas são sempre
as que aparecem na emissora, que se porta como uma fábrica de hábitos e costumes. Até as
transmissões ao vivo de partidas de futebol, que como as novelas e a televisão têm o status de
paixão nacional, são freqüentemente submetidas a critérios de horário e audiência da grade de
44
programação da Globo. O mesmo ocorre com outros eventos esportivos cujos direitos de
transmissão são exclusivos da emissora, como corridas de Fórmula 1, Copa do Mundo de
Futebol, Olimpíadas etc. Sobre essa posição central da emissora na vida pública brasileira, Bucci
e Kehl afirmam que
“A Globo reluz no epicentro da constelação. A Globo reordenou e
atualizou o mito nacional. Ela é o molde do que significa fazer televisão
no país. Reina absoluta, ou quase. Do alto de seu reinado, ditou os
padrões, ou melhor, ditou o seu famoso ‘padrão de qualidade’.” (2004:
228)
Atualmente, o sinal da Rede Globo cobre 99,84% dos 5.043 municípios brasileiros, o que
corresponde a uma audiência média diária de 170 milhões de brasileiros. Trata-se de uma
abrangência altíssima e muito significativa para o cenário brasileiro, principalmente se for
comparada à quantidade de municípios do país que contam com serviços públicos básicos, como
rede de esgoto. Um estudo divulgado em março de 2004 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística)
2
revela que 60% da população brasileira não têm acesso à rede de esgoto,
o equivalente a cerca de 102 milhões de habitantes.
Nem a região Sudeste, a mais bem servida em infra-estrutura em todo o território
nacional, alcança, no quesito saneamento básico, um índice equivalente ao da cobertura do sinal
da Rede Globo: nessa parte do Brasil, somente 73,6% da população desfrutam dos benefícios de
uma rede coletora de esgoto.
2
Dados do Atlas de Saneamento, do IBGE, divulgado em 22 de março de 2004. Estudo disponível no site da
instituição na internet <http://www.ibge.gov.br
>.
45
Ocupando o posto de quarta maior rede privada de televisão do mundo – superada apenas
pelas americanas CBS, ABC e NBC - a Rede Globo compreende 118 emissoras de televisão,
incluindo geradoras (estações transmissoras de programas) e afiliadas (estações locais ou
regionais independentes, que formam uma cadeia ao se juntar a outras para transmitir programas
comuns). A programação da Globo também é assistida por cerca de 150 milhões de
telespectadores no exterior.
A legitimidade da Globo aparentemente está relacionada à grande audiência conquistada
pela emissora ao longo de sua história. A programação da rede detém 74% de share
3
de audiência
no horário nobre, 56% no matutino, 59% no vespertino e 69% no noturno, conforme dados
disponibilizados pela própria empresa mediática.
Daniel Filho (2001) relaciona o sucesso de audiência protagonizado pela Rede Globo à
eficácia da programação diária em atrair o telespectador, o que transforma a emissora em parte
constituinte do cotidiano de cada brasileiro:
“A grade da Globo é algo que vem fazendo sucesso há mais tempo do que
tem de duração, ou teve, qualquer outra emissora no Brasil. Faz parte hoje
da vida, do cotidiano, dos hábitos das pessoas. Já imaginou que transtorno
para muita gente deste país afora se uma noite dessas o Jornal Nacional
deixasse de entrar na telinha?” (DANIEL FILHO, 2001:348)
3
Share é como se denomina a participação da audiência, isto é, a divisão dos aparelhos efetivamente ligados entre as
diversas emissoras e programas da TV aberta. Essa medida da audiência equivale a dizer que no horário nobre, por
exemplo, dentre dez aparelhos de TV, 7,4 estão sintonizados na programação da Globo. Além da participação ou
share, a audiência é calculada pelo rating, que é um índice medidor da quantidade de telespectadores. O rating
mostra, também em números percentuais, quantos aparelhos estão ligados em cada emissora e em cada programa,
minuto a minuto. Filho (2001:346) resume que o índice de audiência ou rating retrata a audiência absoluta, enquanto
a participação ou share é a audiência relativa.
46
Somam-se a esse fator apresentado por Daniel Filho a qualidade do sinal da emissora, que
garante imagens nítidas e estáveis mesmo nos locais mais distantes dos centros de difusão, e o
alto nível de produção dos programas, que contam com os melhores atores e cenários. A Globo
sempre procura manter em seu casting os melhores e mais famosos atores e apresentadores, que
muitas vezes são provenientes de outras emissoras, onde alavancaram audiência e representavam
perigo para a hegemonia global.
O desempenho da Rede Globo em termos de audiência já foi maior que o registrado
atualmente. Segundo Daniel Filho (2001), na década de 80, a participação constante da audiência
ou share era de 70%. Algumas novelas, como Roque Santeiro (1985), atingiram picos de mais de
90% de participação. O autor atribui ao surgimento de novos canais concorrentes, com
programação diversificada e atraente, e ao aparecimento da televisão por assinatura a
responsabilidade pela queda da audiência da Globo, que detém hoje uma média de 50% da
audiência do horário nobre. Acrescenta-se a esses fatores o progresso de outros meios de
comunicação, como a internet, que atraíram não somente o público da Rede Globo, mas da mídia
televisiva como um todo desde meados da década de 90 (CASTRO, 2004:18).
Os recordes de audiência garantem à Globo a maior participação no mercado de
publicidade. Interessados em mostrar seus produtos em um veículo com audiência garantida, os
anunciantes preferem a Globo, que abocanha 75% do total de verbas publicitárias destinadas à
mídia televisiva. Embora tenha amargado um fenômeno de perda de audiência desencadeado a
partir dos últimos anos da década de 90, a Globo ainda é o veículo da mídia brasileira que mais
atrai a publicidade, seja qual for o horário da programação.
O investimento em telenovelas empreendido pela Globo ainda repercute positivamente
nos elevados índices de audiência, apesar de algumas produções não alcançarem sucesso de
público. Com um elenco fixo de profissionais consagrados, a emissora exibe quatro novelas
47
diárias, tradicionalmente classificadas pelo horio em que são inseridas dentro da programação:
a das seis, que explora temas históricos e românticos; a das sete, com temática atual e cômica,
direcionada ao público mais jovem; a das oito, que explora temas sociais e adultos, e a Malhação,
veiculada no final da tarde, com nome único desde que foi criada, direcionada particularmente a
adolescentes. Além das quatro novelas, a Globo reprisa às tardes um sucesso da dramaturgia de
um dos três horários noturnos que foi ao ar há alguns anos.
As novelas são produtos de exportação da emissora. As campeãs de audiência em países
da Europa e até na Ásia são Escrava Isaura, Sinhá-Moça, A Próxima Vítima, Renascer e O Rei
do Gado. Essa vocação pela dramaturgia garante à Globo o status de
“... emissora que sabe fazer novelas, que propicia ao telespectador
usufruir produtos com acabamento técnico de Primeiro Mundo,
modernos, que por vezes se parecem com filmes americanos. Preenche,
assim, a demanda da audiência por excelência tecnológica, reforçando,
ademais, a sensação de se possuir, no país, um padrão imbatível no trato
com esse tipo de material ficcional.” (BORELLI & PRIOLLI, 2000:30-
31)
A Globo emprega oito mil funcionários e mais quatro mil profissionais responsáveis pela
criação de seus programas.
4
Ela ocupa o posto de maior produtora do mundo de programas
próprios. A infra-estrutura para realizar tanta coisa é gigantesca. Em 1997, foi inaugurado a CGP
(Central Globo de Produção), um complexo de 1,3 milhão de metros quadrados localizado em
Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Dessa área, 150 mil metros quadrados fazem parte do Projac, que
abriga estúdios e cidades cenográficas das novelas e espaço para o acervo da Globo.
4
Dados disponíveis no site da emissora na internet: <www.redeglobo3.globo.com/institucional>. Acesso em: 21 abr.
2004.
48
As Organizações Globo consolidaram-se como o maior grupo de multimídia brasileiro
(CASTRO, 2004). O escritor Antonio Callado afirma que “as Organizações Globo são, sem
dúvida, um império dentro da República do Brasil.” (STYCER & CONTREIRAS, 1994: 95)
A Globopar, braço financeiro do grupo multimídia, constitui o holding que detém a posse
majoritária das demais empresas, como jornais (os cariocas O Globo e Extra e os paulistanos
Diário de São Paulo e Valor Econômico, este último em parceria com o Grupo Folha); revistas
(publicações da Editora Globo, como é o caso de Época); canais de TV por assinatura (controle
total da Globosat e participações nas operadoras Net e Sky); redes de rádio (CBN, que controla
cinco geradoras e 16 afiliadas, e Rádio Globo, com 15 emissoras); editora e gráfica para a
produção literária e de fascículo diversos; mercado fonográfico (Som Livre), de vídeo e de DVDs;
cinema (Globo Filmes); portal na Internet (www.globo.com); além da produção de reality shows
e game shows. As Organizações Globo, por meio da Globopar, centraliza o controle sobre todas
essas empresas responsáveis pela produção de bens mediáticos, cada qual a seu modo.
Na primeira metade dos anos 90, a Globopar fez altos investimentos em TV paga, novas
tecnologias mediáticas e telecomunicações, que não emplacaram em audiência como a Rede
Globo e não geraram o lucro esperado. Por isso, as Organizações Globo enfrentam atualmente
uma crise financeira e tem uma dívida cujo valor em agosto de 2003 atingia mais de 1,3 bilhão de
dólares (CASTRO, 2003).
A crise enfrentada pela Globo é comum a toda a mídia brasileira, que contraiu dívidas em
dólares em uma época de estabilidade cambial e crescimento da economia, característicos dos
primeiros anos do Plano Real, a fim de investir em inovação tecnológica e confluência de mídias,
TV por assinatura, telefonia e internet. Em 2004, a Globo e todo o setor pleiteiam empréstimos
junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para pagar os
49
credores. A concessão de empréstimos pelo BNDES depende de decisão da presidência da
República, o que cria um cenário propício para barganhas políticas com a mídia, a fim de tornar
os meios de comunicação subservientes ao poder político em troca de ajuda financeira para
driblar a crise que assusta o setor. A espera da mídia por empréstimos do BNDES e a posição de
credor ocupada pelo governo federal fez com que autores como Lima e Caparelli (2004) e Miguel
(In: Rubim, 2004) supusessem a possibilidade de atrelamento dos interesses financeiros da mídia
ao governo federal, enviesando os enquadramentos mediáticos dos fatos noticiados.
3.2. TV que faz história
Embora a Rede Globo tenha sido criada quinze anos após a inauguração oficial da TV no
Brasil, ela foi capaz de comandar a história da televisão brasileira e introduzir características que
deram o tom à mídia televisual no país. O começo da televisão brasileira ocorre com a
inauguração da TV Tupi, em 18 de setembro de 1950, em São Paulo. A emissora pertencia ao
grupo dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, proprietário de boa parte do mercado
brasileiro de comunicação na época. No começo, a nova mídia mantinha características parecidas
às de seu progenitor - o rádio – com os mesmos tipos de programas, modelos institucionais, mão-
de-obra etc.
Brittos (1991) explica o surgimento e o desenvolvimento da televisão no Brasil em quatro
etapas. Vamos adotar essa divisão cronológica para facilitar o entendimento da importância dessa
mídia para a Comunicação no Brasil.
A primeira etapa, que vai de 1950 a 1964, é considerada a fase elitista, visto que a
televisão ainda não desfrutava do caráter popular apresentado atualmente - o televisor era um
50
aparelho caro e raro e produto de importação. A televisão instala-se primeiramente nos pólos
economicamente mais desenvolvidos da época, como São Paulo e Rio de Janeiro, e só depois vai
para as demais capitais, para o litoral e para o interior. A expansão da televisão deve-se, em
grande parte, ao empresário Assis Chateaubriand, que procurou instalar as novas emissoras onde
já funcionavam os jornais dos Diários Associados. Os programas eram ao vivo e o conteúdo era
mais regional. O videoteipe só foi introduzido na produção midiática em 1960, por ocasião da
cobertura televisiva das festividades que marcaram a inauguração de Brasília, a nova capital da
República. A utilização do equipamento possibilitou não só a reprise de imagens e gravações em
outros horários, como também a transmissão nacional da mesma programação. Graças ao
videoteipe, aliado a novos métodos de produção e administração, a televisão firmou-se como
empresa mediática e, paulatinamente, substituiu o improviso amador dos anos iniciais pela
profissionalização desse meio como forma popular de entretenimento e de informação.
A segunda fase da história da televisão no Brasil (1964 a 1975) é denominada por Brittos
de populista. Os televisores tornam-se mais baratos e acessíveis, ao passo que o Ministério das
Comunicações inaugura uma rede de microondas em 1969 para facilitar a integração nacional
protagonizada pela TV. Nesse período, surge a Rede Globo, que paulatinamente ganha espaço na
mídia brasileira. As telenovelas caracterizam esse período e, mais tarde, tornar-se-iam a principal
marca da televisão brasileira. As séries estrangeiras, as quais pejorativamente convencionou-se
chamar de enlatados, substituíram a programação regional.
A cultura mediática tornou-se americanizada, repercutindo a ideologia de segurança
nacional dos tempos do Regime Militar (1964-1985), que procurava influenciar condutos
políticas e econômicas do país a fim de evitar o avanço do comunismo do mundo bipolar da
época. Os militares que detinham o poder político também controlavam os meios de comunicação
através da censura ou por meio de concessões a grupos aliados, obedecendo desse modo a
51
critérios puramente ideológicos; ou ainda pela distribuição de verbas publicitárias de propaganda
estatal. A Rede Globo, sobretudo por meio do Jornal Nacional, criado em 1° de setembro de
1969, atuou como uma estimuladora do consumo e da integração nacional, tão almejados pelos
militares. Era a integração nacional, preconizada pelo regime, realizada através da notícia,
conforme ressaltam Borelli e Priolli (2000). Joe Wallach afirma que “a televisão no Brasil não
era tanto para entreter o público, a princípio. O que ela fez mesmo foi unificar o país.”
(MELLO, 1994: 32).
O papel que o Rádio assumiu durante a Ditadura Vargas foi tomado pela TV no decorrer
do Regime Militar. Sobre isso, Simões diz que
“... a TV brasileira teve papel importante por ocasião do golpe de 1964,
quando boa parte das emissoras se colocou a favor dos militares e contra
uma suposta tomada do poder pelos comunistas. A TV era o meio de
comunicação mais suscetível às pressões, até porque tanto ela como o
rádio sempre foram concessões públicas, teoricamente fiscalizadas pela
sociedade (leia-se governo) e, portanto mais afeitas ao controle político e
policial. Neste contexto, a TV se tornou, no decorrer das décadas de 1970
e 1980, o meio de expressão encarado pela intelectualidade brasileira
como o lugar de genuflexão aos poderosos de plantão, do acatamento
acrítico a tudo que o novo regime tentava impor à população. Enquanto o
cinema, o teatro, as artes plásticas e a MPB manifestavam uma clara
posição crítica, a TV se voltava para a telenovela escapista, de clara
inspiração no melodrama mexicano, em que pululam nobres e vilões,
mocinhas apaixonadas e freiras bondosas. Ela [a TV] foi o meio de
comunicação escolhido para louvar as realizações da ditadura militar, do
Brasil Potência do general Médici...” (SIMÕES, 2002:68-69 e 73. In:
Hamburger & Bucci, 2002).
A terceira fase da história da televisão caracterizou-se pelo intenso desenvolvimento
tecnológico e vai de 1975 a 1985, segundo Brittos. A concorrência dentro do setor mediático
52
aumentou: surgiram emissoras importantes, como o SBT (Sistema Brasileiro de Televisão) e as
redes Manchete e Bandeirantes. O período coincide com o desgaste do Regime Militar.
A quarta e atual fase é a da multiplicação da oferta, que sofre os efeitos da globalização
econômica e cultural e da formação dos conglomerados de multimídia graças às convergências
tecnológicas. A programação da televisão é permeada por profundas alterações no ritmo de
produção e no espaço de veiculação. Ao mesmo tempo em que a oferta de programas estrangeiros
aumenta, ocorre uma valorização da programação nacional, principalmente a local, que atende a
interesses regionais. Surgem também as emissoras segmentadas, como é o caso da MTV e da
Rede Mulher, que atende a setores e faixas etárias específicos da audiência que possuem
interesses comuns. Os grupos religiosos adquirem concessões e passam a explorar a mídia
televisiva – a Record e a Rede Vida são os exemplos mais significativos – ao lado das elites
econômicas e políticas regionais. A programação da televisão passa por dilemas éticos, porque é
permeada por dramatização de notícias, espetacularização, apelos sexuais e à violência urbana,
ataque aos valores morais etc.
Constituindo um capítulo extremamente importante nessa história, a Rede Globo foi
inaugurada no Rio de Janeiro em 26 de abril de 1965, por Roberto Marinho (1904-2003). A
concessão fora outorgada em 30 de dezembro de 1957, pelo então presidente Juscelino
Kubitschek. Desde o começo, a emissora destacou-se por grandes feitos que marcaram a história
da televisão brasileira, como a primeira transmissão ao vivo de uma Copa do Mundo - na
Inglaterra, em 1966 -; a adoção do sistema em cores em 1972; a difusão em rede nacional do
Jornal Nacional em 1969 e, em 1975, a difusão de toda a programação em rede nacional.
Herz (1987) aponta que a Rede Globo foi criada e se consolidou às custas de negociatas
com o capital estrangeiro, antes mesmo que a emissora entrasse no ar. Em julho de 1962, Roberto
53
Marinho assinou um contrato operacional com o grupo norte-americano Time-Life, uma espécie
de sociedade por cota: a Time-Life mantinha testas-de-ferro no Brasil que representavam seus
interesses, além de ter direito a 30% dos lucros anuais da Globo. Em troca, a Globo recebeu um
empréstimo de cinco milhões de dólares, cujo pagamento foi parcelado até 1971, além de
assessoria técnica em diversas áreas, como novos suportes de produção, orientação sobre
aquisição de tecnologia, funcionamento e utilidade de equipamentos, treinamento de pessoal,
instalações prediais etc.
A parceria firmada com o capital estrangeiro por meio do acordo Globo/Time-Life
desobedecia à legislação brasileira, especialmente o artigo 160 da Constituição de 1946, que
vigorava na época, o qual proibia a participação internacional na orientação técnica e
administrativa da mídia. A ilegalidade foi denunciada pelos Diários Associados, concorrentes da
Globo, que se respaldaram em argumentos nacionalistas. Uma CPI (Comissão Parlamentar de
Inquérito) foi criada para que o Congresso pudesse investigar o acordo. O movimento foi liderado
pelo senador João Calmon, autor formal da denúncia no Congresso.
Lima e Caparelli (2004: 73) ressaltam a manobra criada pela emissora com o apoio do
governo militar para evitar que a maioria dos membros da CPI analisasse, fidedignamente o caso,
o que poderia culminar com a perda da concessão do grupo de Roberto Marinho. Vários
deputados da comissão foram enviados à Europa, em missões organizadas de última hora. Apesar
das jogadas políticas que atendiam aos interesses da Globo, a CPI considerou o acordo com o
grupo Time-Life inconstitucional. Em 1967, o presidente Castelo Branco (1964-1969), no
entanto, não cassou a concessão da Globo por considerar as acusações sem fundamento. A única
medida tomada após o fechamento do inquérito foi dar um prazo de 90 dias para a emissora
regularizar sua situação perante a legislação brasileira e desfazer o contrato inconstitucional com
o grupo norte-americano.
54
A Globo obedeceu à imposição federal, mas a interrupção do contrato não prejudicou seu
desenvolvimento. Àquela altura, a emissora já havia se consolidado como um moderno canal de
televisão, detentor de uma importante mentalidade empresarial e técnica. Isso capacitava a
emissora a alcançar todos os recantos do país e promover a almejada integração nacional, um dos
grandes objetivos dos militares que ocuparam o poder um ano antes de sua inauguração.
Essa filosofia empresarial é que fez e faz a diferença entre a Globo e as demais emissoras
brasileiras, além de ser a responsável pelo chamado padrão Globo de qualidade. A emissora
aliou empreendedorismo administrativo às manobras políticas que lhe garantiram poder
econômico, privilégios políticos e estabilidade de audiência durante sua história, apesar da crise
financeira pela qual atravessa e da queda de audiência registrada nos últimos anos. Ao contrário
da Globo de Roberto Marinho, o império de Assis Chateaubriand não se manteve na liderança de
quando surgiu porque trabalhava com um modelo administrativo ultrapassado e pouco criativo e
não desfrutava de relações harmoniosas com as elites políticas brasileiras. Esse revés culminou
com o fracasso da pioneira Tupi em 1980. Lima e Caparelli (2004) avaliam que
“os Marinho, da Globo, tiveram sempre a capacidade de tirar o máximo
proveito de uma situação política relativamente fluida, da qual
participaram diretamente, para ir estendendo a sua rede de veículos de
comunicação pelo país, numa mistura de sagacidade, audácia e
oportunismo. Com uma diferença, porém: ao contrário dos Diários e
Emissoras Associados, essa empresa não descurou o seu lado
especificamente empresarial.” (LIMA & CAPARELLI, 2004:78)
3.3. De porta-voz do governo a líder de audiência
55
Embora o Jornal Nacional seja considerado o mais importante telejornal brasileiro de
todos os tempos, ele foi ao ar pela primeira vez somente 19 anos após a implantação da televisão
brasileira, em 20 de setembro de 1950. No dia 1° de setembro de 1969, transmitido
simultaneamente ao vivo para o Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Porto
Alegre e Brasília, o Jornal Nacional inicia sua trajetória de influências sobre a sociedade e a
democracia brasileiras. Para Gonçalo Júnior, o Jornal Nacional “foi o responsável pelo início da
transformação da Globo na primeira rede de TV integrada com transmissão simultânea.”
(JÚNIOR, 1999:3)
Destarte, a Rede Globo foi criada e se consolidou às custas da injeção do capital
estrangeiro na mídia brasileira, conforme aponta Herz (1987), o Jornal Nacional nasceu e se
desenvolveu subordinado aos interesses de uma elite civil e militar que governou o país por
longos vinte e um anos, iniciados antes mesmo do surgimento desse telejornal. Essa simbiose,
sustentada pela afinidade ideológica com o Regime Militar e as conivências com as práticas
políticas, sociais e econômicas características desse período, foi cunhada sobre o Jornal
Nacional, da mesma forma que ocorreu com a Rede Globo.
De acordo com Rezende (2000), a estréia do programa ocorreu justamente no dia em que
se iniciava o período mais duro do Regime Militar, o que atuou como contrapeso para as virtudes
técnicas exibidas pelo telejornal desde sua criação:
“Na edição de estréia, o locutor Hílton Gomes anunciava, como manchete
do dia, que o governo do país passava temporariamente o controle aos
três ministros militares, por causa da doença do presidente da República,
general Costa e Silva. O acaso evidenciava o que para muitos significava
mais do que uma simples coincidência. A integração nacional pela
notícia, via Jornal Nacional, e o endurecimento da ação do governo
militar começavam no mesmo dia.” (REZENDE, 2000:110)
56
O jornalista Armando Nogueira, o principal coordenador da criação do Jornal Nacional,
não reconhece que o telejornal sintetizava a relação de subserviência ao Regime Militar mantida
pela Globo. Nogueira justifica que o papel desempenhado pela emissora e seu principal telejornal
durante a ditadura era reflexo da censura impetrada contra os meios de comunicação. “Aconteceu
que o telejornalismo da Globo nasceu na vigência de uma ditadura militar. Ora, se começou em
uma época em que se havia oficializado ostensivamente a censura, claro que o Jornal Nacional
tinha de ser censurado” (GONÇALO JÚNIOR, 1999:3).
Gabriel Priolli não acata os argumentos do ex-funcionário da emissora. Para ele,
“a Globo foi censurada, sem dúvida, muito censurada, assim como todos
os outros meios de comunicação do país. O que a Globo fez de diferente
dos outros meios de comunicação foi que a Globo encampou, ela
defendeu o regime. Ela exaltou o regime em várias ocasiões. Então essa
tese de que a Globo não contou a realidade e que foi censurada é uma
forma de defesa que a Globo inventou para se explicar perante a
sociedade brasileira agora, no período da democracia.” (MELLO, 1994:
42-43)
No que diz respeito a sua estrutura, o Jornal Nacional mantém, em 2004, seu tradicional
formato de dois apresentadores fixos e não âncoras - Willian Bonner e Fátima Bernardes -, que
desde 1998 anunciam as notícias todas as noites aos brasileiros. Os dois apresentadores
substituíram os locutores Cid Moreira e Sérgio Chapelin, cujas figuras são associadas à origem
57
do telejornal e que foram afastados do Jornal Nacional em 1996, fato que marca o fim da era dos
locutores no referido telejornal e a valorização iminente dos jornalistas.
Porto (2002-b) ressalta que Cid Moreira havia sido escolhido desde o começo para
apresentar o Jornal Nacional porque tinha boa aparência e voz marcante, capazes de atrair o
público feminino que deveria assistir o telejornal depois da novela das sete e enquanto aguardava
a das oito. O autor elenca algumas hipóteses responsáveis pela troca de apresentadores efetuada
pela emissora em 1996: 1) a contratação de Boris Casoy desde 1988 pelo SBT, principal
concorrente da Globo, e que viria a se tornar o primeiro âncora da TV brasileira; 2) a criação do
Aqui e Agora, jornal de estilo sensacionalista e realista, do SBT; 3) a associação da imagem de
Cid Moreira ao tipo de jornalismo chapa-branca historicamente praticado pela Globo e que
mostrava indícios de necessária mudança para evitar uma queda ainda mais brusca na audiência.
Além da troca do tradicional apresentador, a emissora mudou o comandante do posto de
diretor da Central Globo de Jornalismo. Em julho de 1995, Alberico de Sousa Cruz, foi
substituído por Evandro Carlos de Andrade, então diretor de redação do jornal O Globo, que
como foi visto anteriormente, também faz parte do império dos Marinho. A mudança visou a
amenizar uma herança que manchava a imparcialidade da Globo, visto que Cruz esteve envolvido
na edição do debate entre Collor e Lula às vésperas das eleições presidenciais de 1989. O
episódio é conhecido como um dos exemplos mais relevantes de parcialidade da Globo em favor
de um grupo político, como veremos mais adiante.
Entre 1996 e 1998, outros jornalistas assumiram o posto de apresentador(a) do maior
telejornal da Rede Globo, como Lílian Witte Fibe, que deixou o Jornal Nacional em fevereiro de
1998, alegando o baixo grau de empatia junto à audiência e à sua insatisfação com a linha
editorial que o jornal tomava. Aos sábados, a dupla cede lugar a outros apresentadores
tarimbados da equipe de jornalismo da emissora, mas nem sempre eles são os mesmos como
58
ocorre em relação à fidelidade da dupla Bonner e Fátima. São eles: Alexandre Garcia, Carla
Vilhena, Renato Machado, Carlos Tramontina, Heraldo Pereira, Sandra Annemberg, Chico
Pinheiro e Márcio Gomes.
O casal de apresentadores Willian Bonner e Fátima Bernardes detém uma grande
identificação com o público do Jornal Nacional. Ambos passam a idéia de um casal perfeito, que
alia entrosamento matrimonial à modernidade, e de uma família feliz. Os valores tradicionais da
família não são os únicos a conferir a empatia com o público: quando Fátima Bernardes atuou
como correspondente da Copa do Mundo de 2002, realizada na Coréia e no Japão, por exemplo, a
apresentadora transmitiu uma certa independência em relação ao marido. Nesse sentido, o Jornal
Nacional segue a fórmula descoberta há décadas: o telejornalismo precisa cultivar as
personalidades como meio para criar a empatia e a credibilidade do telespectador.
O Jornal Nacional vai ao ar diariamente às 20h15, exceto aos domingos. Com uma
duração de 45 minutos em média, apresenta-se dividido em cinco blocos de aproximadamente
seis minutos cada, separados por intervalos comerciais que duram cerca de dois minutos e meio.
O que confere a coesão aos blocos do Jornal Nacional são as chamadas, feitas pelos
apresentadores, que ligam os mais variados assuntos e prendem a atenção dos telespectadores. No
início do 1º bloco também há cinco ou seis chamadas relacionadas aos assuntos mais importantes
do dia cobertos pelo telejornal, que forma a escalada de manchetes, segundo o jargão jornalístico.
O Jornal Nacional foi estrategicamente colocado entre duas novelas - a das sete e a das
oito -, programas que também contribuíram para a supremacia da emissora dentro e fora do país.
A dobradinha tradicional do telejornal com as duas novelas edificou o hábito de assistir à
televisão à noite, muitas vezes em família, o que garante uma fidelidade de público capaz de
explicar por si só os índices de audiência do Jornal Nacional. Segundo Borelli e Priolli, “alguns
acompanham à primeira telenovela, enquanto esperam o telejornal e outros assistem ao
59
telejornal, enquanto aguardam a próxima telenovela” (2000:19). Ao mesmo tempo em que a
audiência do Jornal Nacional sofre a influência positiva do sucesso das novelas, o inverso
também ocorre: o número de telespectadores que acompanham o telejornal tende a cair quando o
desempenho das novelas que o ensanduícham fica abaixo da média.
O Jornal Nacional detém o espaço de programação de maior prestígio no mercado
publicitário brasileiro, de modo que as inserções comerciais nos seus intervalos são as mais caras
da televisão brasileira: custa entre R$ 250 e R$ 380 mil, segundo projeções da emissora para
setembro de 2004. Esse fato demonstra sua credibilidade junto ao anunciantes que, por sua vez,
sabem do tamanho da audiência que o telejornal possui.
As notícias veiculadas pelo Jornal Nacional assumem as formas de reportagens, notas
cobertas ou não (com ou sem imagens), alguns poucos comentários e raras entrevistas, uma
charge do cartunista Paulo Caruso (o bloco de veiculação é variado e quase sempre sucede uma
notícia sobre o governo federal ou sobre a conjuntura econômica atual do país).
Para veicular reportagens sobre assuntos internacionais, o Jornal Nacional mantém uma
equipe de repórteres e cinegrafistas em cidades estratégicas, como ocorre com os correspondentes
que ficam em Londres, Nova Iorque e Roma. O fato de ter correspondentes em cidades-chave no
cenário internacional confere status ao Jornal Nacional. Porém, como já se observou, isso não
acrescenta nenhum valor às matérias sobre os acontecimentos internacionais, porque na maioria
dos casos, o repórter está em uma dessas cidades-chave mas o fato ocorre em outro país ou
região, como por exemplo, no Oriente Médio. Além disso, quase sempre a pauta é copiada de
agências de notícias ou canais de televisão europeus ou norte-americanos (SOUZA, 2001:223).
O Jornal Nacional apresenta quase todas as semanas uma série sobre determinado
assunto, estruturada para ser veiculada em reportagens seqüenciais ao longo de seis dias de
telejornal (de segunda-feira a sábado). O tema é sempre atual e faz parte da pauta de discussão
60
pública de qualquer telespectador. A série é composta por reportagens feitas em todo o país, às
vezes por um só repórter da emissora ou por vários de outras afiliadas.
Outra característica das reportagens do Jornal Nacional nos últimos anos é a marcante
predominância e ênfase ao jornalismo investigativo e denuncista, que aborda escândalos
políticos, dossiês públicos, problemas que prejudicam a sociedade, mas que permanecem
encobertos etc. No entanto, nem sempre o conteúdo e as prioridades do Jornal Nacional seguiram
essa receita. Em 1998, por exemplo, à época da campanha eleitoral, o jornal optou por um
jornalismo mais espetacularizado e popularesco. O telespectador presenciou a troca de
reportagens mais relevantes, de cunho político, social e econômico, por notícias lacrimosas,
curiosidades do mundo animal ou da vida de celebridades, como foi o caso do nascimento da
filha de Xuxa, entre outros fatos (CUNHA, 1998; BARROS E SILVA, 1999; SÁ, 1999).
Segundo Porto (2002-b), essa renúncia à política constituiu uma estratégia encontrada pela Globo
para evitar conflitos com a audiência, que vinha amargando graves quedas desde 1994,
possivelmente inconformada com deslizes de imparcialidade do Jornal Nacional, entre outros
fatores.
Desde as primeiras edições, o Jornal Nacional priorizou a preocupação com a precisão
técnica, característica do chamado padrão Globo de qualidade. Borelli e Priolli (2000) associam
a busca pela qualidade ao atendimento das aspirações do Regime Militar, no que diz respeito às
ligações entre a emissora e a elite política e econômica do Brasil naquela época.
“Os militares, no intuito de estabelecer uma integração nacional que
pudesse levar sua ideologia de norte a sul do país, investiram e apostaram
nos meios de comunicação, em particular na TV, para cumprir essa tarefa.
Foi o estado que desenvolveu todo o aparato do sistema de rede nacional.
Abriu linhas de crédito para o desenvolvimento do consumo interno e
61
isentou de impostos as importações de novas tecnologias e maquinários.
Enfim, construiu as bases para o desenvolvimento da TV e de um
mercado interno, mas cobrou esses benefícios em fidelidade política.
Muito da estética limpa e despolitizada ou oficialesca da Globo deve-se a
esse universo político”(BORELLI & PRIOLLI, 2000: 187).
O padrão de qualidade do Jornal Nacional inclui uma estética limpa e dinâmica, que
perpassa a impressão de objetividade, com raríssimos comentários dos locutores e reportagens
que fogem do aspecto sensacionalista. Para Weber, essa estratégia do Jornal Nacional obscurece
os enquadramentos escolhidos pelo telejornal para representar a realidade:
“O Jornal Nacional anuncia sem âncoras, e aparentemente, sem opinião.
Mas esta é estrategicamente construída na descrição, na contagem e na
colagem dos fatos. Só faz assim deslocar a opinião explícita. Tenta exibir
uma objetividade que não sabe possuir, revelada nas formas de adjetivar e
insinuar as perigosas relações e associações que visam a construção de
conceitos sobre candidatos e, no final da linha, a definição do voto. A
questão não é a verdade, mas a edição da verdade que se deseja.”
(WEBER, 2000: 78)
Uma pesquisa do Ibope sobre o perfil do telespectador do Jornal Nacional, realizada em
maio de 2004, revela que 40% da audiência têm entre 25 e 49 anos; 27% têm idade acima de 50
anos; 22% são menores de 18 anos e 11% dos telespectadores têm entre 18 e 24 anos
(CESAROLI, 2004). Em relação ao perfil socioeconômico, 39% dos telespectadores do Jornal
Nacional são da classe C; 34% pertencem a D e E; e 27% às classes A e B, o que reforça o
caráter popular do telejornal.
62
A mesma pesquisa indica que a média da audiência do telejornal em todo o Brasil é, em
julho de 2004, igual a 44 pontos. Esse índice foi bem maior na década de 70, quando o jornal
chegou a emplacar 69 pontos de audiência. O advento da TV a cabo e da internet no Brasil no
início da década de 90 e a reação das emissoras concorrentes, que investem em programas de
forte apelo popular, justificam a queda da audiência registrada pelo Jornal Nacional. Em 91, a
novela mexicana infantil Carrossel, e o sensacionalista Aqui e Agora, exibidos pelo SBT,
atraíram o público cativo do telejornal global, que amargou 36 pontos de audiência. Mesmo com
mais de 20 pontos a menos em relação à audiência registrada na década de 70, o Jornal Nacional
ainda é soberano se for comparado, por exemplo, com os telejornais das emissoras concorrentes.
O Jornal da Record, exibido quase no mesmo horário do Jornal Nacional, obtém apenas 4
pontos de audiência segundo o Ibope.
Apesar da recente crise de audiência enfrentada pelo Jornal Nacional desde a segunda
metade da década passada, ele ainda ocupa a posição de principal telejornal do país (BORELLI &
PRIOLLI, 2000). Fatores como a credibilidade da emissora e a tradição do Jornal Nacional como
veículo informativo faz com que apesar da crise provocada pela concorrência de programas de
outras emissoras e mudanças no comportamento do telespectador, ele ainda se mantenha como
referência em telejornalismo e como meio de informação da grande maioria dos brasileiros.
3.4. Evidências de parcialidade política
A Rede Globo é constituída pelo e constituinte do processo político nacional: ao mesmo
tempo em que é resultado da atividade política brasileira, a emissora é participante fundamental
desse contexto, isto é, ela ocupa o papel de protagonista e mediadora do processo político. Ainda
63
que indiretamente, a Rede Globo esteve engajada na determinação dos rumos da história política
brasileira, atuando como protagonista nas eleições, através da construção do CR-P (Cenário de
Representação da Política) favorável a determinados candidatos que a emissora demonstrou
apoiar, por vezes expressamente (LIMA, 2001).
Durante sua história, a emissora protagonizou episódios que evidenciam sua parcialidade
política. Para tanto, a Globo utilizou sua programação jornalística, sobretudo a do Jornal
Nacional, além das novelas, para agendar temas específicos da esfera pública e enquadrar os
fatos da realidade segundo critérios ideológicos próprios, que respondiam a suas aspirações
econômicas e políticas. Segundo Lima (2001), a Globo distorceu, omitiu ou promoveu alguns
fatos de sua cobertura jornalística, criando enquadramentos favoráveis a determinadas situações
políticas durante sua história.
Visto que a Globo é uma das principais responsáveis pelo agendamento e enquadramento
dos temas da esfera pública brasileira, o apoio da emissora é fundamental para o sucesso de um
grupo político:
“Uma parte dos brasileiros está convencida de que o dr. Roberto [Roberto
Marinho, proprietário das Organizações Globo, falecido em agosto de
2003] é quem ‘fabrica’ os presidentes. Não existe base científica para a
tese, muito difundida pelas esquerdas brasileiras, de que sem o apoio da
Globo ninguém chega a presidente. Mas há uma razoável lógica na idéia,
também generalizada, de que fica muito difícil alguém ser presidente
‘contra’ Roberto Marinho.” (STYCER & CONTREIRAS, 1994: 90)
Contrariando parte da afirmação de Stycer e Contreiras (1994), existem estudos na área de
Comunicação e Política que evidenciam essa relação de interferência na construção da política,
sobretudo dos presidentes da República (RUBIM, 2004; FAUSTO NETO & VERÓN, 2003;
64
LIMA, 2001; MATOS, 1994). Amorim (2004), na condição de ex-funcionário da Globo,
reconhece o papel fundamental de Roberto Marinho na definição dos enquadramentos adotados
pela emissora para divulgar alguns assuntos:
“Ele era o editor-at-large do jornalismo da Rede Globo (e do jornal O
Globo). Ou, como se dizia na redação, quando cheguei à TV, ele era ‘o
nosso melhor repórter’. Ele e só ele decidia o noticiário ‘sensível’ de
política e economia. Os editores de política e de economia (como fui)
tinham a autonomia de vôo de uma barata.” (AMORIM, 2004)
Na avaliação de Lima e Caparelli (2004), a Globo procurou aliar-se com novos
governantes, independentemente do partido ou grupo que eles representavam. Ao mesmo tempo
em que serve aos interesses dos detentores do poder político, a Globo também serve a seus
próprios interesses empresariais:
“A Rede Globo tornou-se o pivô do consenso político buscado por
governantes das tendências mais diversas. Com nuances dentro da
continuidade, ela foi o palco tanto para o Marechal Castelo Branco como
para o general Garrastazu Médici, tanto para o General Geisel como para
Fernando Collor de Melo, tanto para Fernando Henrique Cardoso como
para Luís Inácio Lula da Silva. Em todos esses momentos, ela serviu de
vitrine para os novos governantes e continuou intocada em seus
privilégios.” (LIMA & CAPARELLI, 2004: 139)
Essa hipótese é corroborada por Guimarães e Vieira (1986:15) que utilizam o conceito
desenvolvido por Louis Althusser para afirmarem que “se em algum lugar pode caber a noção de
‘aparelho ideológico do Estado’, esse lugar é o Brasil e esse aparelho é a TV Globo.” Para
65
Gabriel Priolli, a relação da Globo com o grupo político dominante é regra geral e não depende
de qual facção esteja no poder:
“Caem os militares, entram os presidentes civis, a relação é exatamente a
mesma. Quer dizer, a Globo não tem uma vocação necessariamente
militarista, ou ditatorial, mas ela tem uma vocação governista. Onde tem
governo está a Rede Globo. Quem saiu do governo já não interessa mais.
Ela é habilíssima em fazer um casamento de interesses com o governo. E
é claro que essa relação interessa ao governo, pois num país de mais de
cem milhões de espectadores é fundamental contar com 70% de
audiência.” (MELO:1994, 45-46)
Essa simbiose entre a Globo e o Regime Militar é involuntariamente denunciada pela
frase dita por Garrastazu Médici, quando era presidente da República: “Sinto-me feliz todas as
noites quando assisto ao noticiário. Porque, no noticiário da TV Globo, o mundo está um caos,
mas o Brasil está em paz.” (FOLHA DE S. PAULO, 08 ago. 2003, p.14)
Weber (2000) também reconhece que as relações de ajuda mútua entre política e mídia
são comuns. Seu comentário traduz com muita precisão as relações que a Globo manteve
sucessivamente com a política durante o Regime Militar, na fase de abertura e nos governos
democráticos:
“As redes de comunicação midiática são utilizadas estrategicamente pelo
Estado, instituições ou regimes políticos, porque são determinantes para a
constituição e manutenção das relações sociais. (...) Enquanto nos
regimes autoritários as organizações midiáticas são obrigadas a
incorporar a ideologia e objetivos governamentais, nas democracias essa
incorporação é decorrente de relações e acordos, nos planos tecnológico,
financeiro e simbólico. As mídias são, portanto, organizações
66
indispensáveis às operações políticas e comprovam, permanentemente,
sua força como entidades complementares ao poder, devido à sua lógica,
linguagem e estética fundamentais à captura do imaginário social, através
da transmissão ininterrupta de bens simbólicos, mercadológicos e
políticos. Somente através das mídias é possível criar uma teia de
reconhecimento das ações, sujeitos e instituições políticas e reforçar
idéias, temas e movimentos a eles vinculados. (WEBER, 2000:16-17)
Estudiosos brasileiros da Comunicação e Política e do papel da Rede Globo
documentaram diversas intervenções comprovadamente tendenciosas da emissora na política
brasileira:
a) A tentativa de fraude prejudicial a Brizola das eleições de 1982
O primeiro caso de intervenção tendenciosa a receber um estudo acadêmico foi a
participação da Globo na tentativa frustrada de fraude da apuração dos votos da eleição para o
governo do Rio de Janeiro, em 1982, que prejudicaria o candidato da oposição, Leonel Brizola.
Lima (2001) explica que a contagem informatizada dos votos era realizada pela empresa
Proconsult, que havia desenvolvido um software capaz de subtrair votos de Brizola e os transferir
para o candidato da situação, Wellington Moreira Franco, do PDS. A apuração contabilizou
primeiramente os votos do interior do estado, onde a votação de Brizola era menos expressiva
que na capital, a fim de criar a ilusão de uma derrota nas urnas. A Globo divulgava
freqüentemente esses resultados em seus telejornais a fim de legitimar a fraude. O Jornal do
Brasil, concorrente de O Globo, das Organizações Globo, desenvolveu um serviço próprio de
apuração a partir dos boletins emitidos pelo TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de
Janeiro), o que culminou em uma discrepância dos resultados veiculados ao público.
A tentativa de fraude foi descoberta e Brizola foi eleito. A Globo, contudo, não foi punida
por falta de provas incriminatórias. No entanto, as desavenças entre o político e a emissora
67
duraram muitos anos, a ponto de Brizola declarar, durante campanha para a presidência da
República em 1989, que iria “quebrar o monopólio da Globo na primeira hora do primeiro dia”
de seu governo, caso fosse eleito. Cinco anos depois, Brizola ganhou na Justiça um direito de
resposta às evidências de manipulação do jornalismo político da Globo. A vitória judicial era
recoberta por um tom de revanche: Cid Moreira, um dos locutores históricos do Jornal Nacional
foi impelido a declarar durante o telejornal mais famoso do país que “tudo na Globo é
tendencioso e manipulado” (FOLHA DE S. PAULO, 8 ago. 2003, p. 14).
No livro Jornal Nacional: a notícia faz história (2004), lançado por ocasião dos 35 anos
do principal telejornal da Globo, a emissora argumenta que apenas montou um esquema paralelo
de apuração dos votos das eleições de 1982 em todo o país a fim de divulgar os resultados com
mais rapidez que os TREs (Tribunais Regionais Eleitorais) e que, por falha nesse sistema não-
oficial, levantou-se a hipótese equivocada e, sem confirmação judicial, de tentativa de fraudar o
sistema.
b) A cobertura distorcida da greve dos petroleiros de Paulínia e do ABC
Apesar da crescente distensão do Regime Militar, as greves ainda eram reprimidas no
início da década de 80. Em 1983, os trabalhadores da refinaria de Paulínia e do ABC paralisaram
as atividades para reivindicar melhores condições de trabalho. A cobertura do movimento
veiculada pela Globo criticava a ação dos grevistas, ao passo que destacava as posições dos
executivos do setor petroleiro e representantes do governo (LIMA, 2001). Posteriormente,
repórteres ligados à emissora revelaram que a única forma encontrada e permitida para noticiar a
greve fora enquadrar o movimento de tal modo a dar mais destaque à versão dos patrões sobre a
paralisação. Também no livro oficial da história do Jornal Nacional (2004:81), a Globo reforça
essa justificativa ao dizer que “os repórteres faziam matérias completas mas na hora saía apenas
68
um nota coberta de 20 segundos. TV é concessão de serviço público a título precário e podia ser
tomada a qualquer momento”, devido à censura do regime vigente.
c) A campanha das Diretas-Já
A Rede Globo omitiu de sua pauta jornalística a campanha de mobilização popular para
pressionar o Congresso a aprovar a Emenda Constitucional Dante de Oliveira que estabelecia
eleições diretas para presidente da República a partir de 1985. Os atos públicos a favor da causa
começaram a ser organizados em novembro de 1983 nas capitais brasileiras por entidades civis,
movimentos sindicais e partidos que tendiam para a esquerda (PT, PMDB e PDT), mas a
emissora os deixou de fora de sua pauta até abril do ano seguinte, duas semanas antes da votação
da emenda, mesmo com a notória participação popular nos comícios.
Em janeiro, a emissora incluiu o comício da Praça da Sé, em São Paulo, na sua cobertura
jornalística. No entanto, o fez com um enquadramento distorcido, a fim de mostrar a
manifestação como se fosse um evento com a participação de artistas para confundi-la
propositadamente com as festividades de comemoração do aniversário de 430 anos da capital
paulista (BUCCI & KEHL, 2004). O comício da Praça da Sé, ocorrido em 25 de janeiro de 1984,
rendeu uma reportagem de 2 minutos e 17 segundos. No entanto, esse longo tempo não significou
a cobertura jornalística que o fato merecia, devido ao enquadramento dado ao material, que
subordinou o fato ao aniversário da cidade, como se o comício por si só não fosse um evento
digno de cobertura. Na escalada do jornal daquele dia (quando os apresentadores fazem a leitura
rápida das principais notícias da edição) fez-se referência ao aniversário de São Paulo, mas não
ao comício, que realmente tinha relação com o aniversário de São Paulo, embora tivesse uma
finalidade bem mais específica que apenas ser uma comemoração pública. No texto do repórter
Ernesto Paglia, responsável pela reportagem, o comício pelas Diretas é o terceiro assunto
69
abordado. Vale lembrar que a técnica redacional em Jornalismo exige que os fatos mais
importantes abram o texto, no chamado lead, a fim de chamar atenção da audiência.
A Globo reconhece que os demais comícios da campanha que ocorreram até aquele
momento só foram noticiados nos telejornais locais (Jornal Nacional: a notícia faz história,
2004). A emissora mais uma vez baseia seus argumentos na censura empreendida pelo governo,
que fazia pressão sobre o conteúdo do telejornal a fim de não desrespeitar os interesses militares:
“A população desejava, desde o início, que a Globo fizesse não uma
cobertura, mas uma campanha pró-diretas de grandes dimensões.
Desejava que a Globo se engajasse politicamente na lutas por eleições
diretas, que fosse não apenas a narradora comedida daqueles eventos, mas
seu agente, seu fermento. O desencontro se deu quando a Globo,
condicionada pelas circunstâncias históricas da época e por um jogo de
pressões políticas muito forte, decidiu manter a cobertura, ao menos
inicialmente, num tom não emocional, eqüidistante e comedido. E a
mistificação foi todo um processo que transformou esse fato, pouco a
pouco, numa mentira: com o passar dos anos, foi tratada como verdade
objetiva a falsa versão de que a Globo não somente não cobriu os
primeiros eventos relacionados à campanha das diretas como mentiu
sobre eles.” (Jornal Nacional: a notícia faz história, 2004: 166-167)
A campanha das Diretas-Já passou a fazer parte da pauta da Globo somente em 10 de
abril, por ocasião do comício da Candelária, no Rio de Janeiro: a cobertura ao vivo começou
antes mesmo do evento, a fim de conclamar a participação popular dos telespectadores que ainda
estavam em casa e acompanhavam a movimentação pela televisão. Sobre essa demora em aderir
à campanha das Diretas, Armando Nogueira, coordenador da Central Globo de Jornalismo na
época, justifica: “...a Globo, como qualquer veículo de comunicação, com o poder que tinha,
estava evidentemente sob pressão do Palácio do Planalto. Eles foram em cima de todos os
70
veículos, mas como a Globo era o mais poderoso, recebeu uma pressão maior.” (GONÇALO
JÚNIOR, 1999: 3)
A cobertura negligente e distorcida da Globo, no entanto, era percebida pela audiência,
que passou a hostilizar as equipes de reportagem da emissora e receber suas viaturas a pedradas
enquanto entoavam em uníssono o slogan “O Povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”. Se por
um lado a negligência da Globo atendia aos anseios do Regime Militar e obedecia às estratégias
políticas de Roberto Marinho, por outro colocava em xeque a credibilidade da emissora junto ao
público e, em curto prazo, dos anunciantes, que garantiam o prestígio econômico da emissora.
Lima (2001:155) ressalta que o que a Globo omitia era destacado na pauta do telejornal da
emergente TV Manchete, que buscava cativar a audiência decepcionada com a política editorial
da emissora de Roberto Marinho.
Para Albuquerque (1998:11), a ruptura da Globo com o Regime Militar, representada pela
cobertura do comício carioca a favor das Diretas, é uma estratégia de autolegitimação da empresa
frente à opinião pública, a fim de evitar um descalabro provocado pela migração da audiência e
dos anunciantes para outros meios de comunicação. Guimarães e Vieira (1986) acreditam que o
movimento ganhou maior expressão com a cobertura inesperada da Globo, que teve a perspicácia
de mudar radicalmente seu perfil ideológico para não cair juntamente com o regime que ajudou a
erguer:
“Aparato criado pelo regime autoritário, e com ele completamente
identificado, a TV Globo exerce o inesperado papel de protagonista das
oposições, com isso ampliando um arco de alianças inesperadas. Na
medida em que legitimava o regime emergente, legitimava-se também
junto à opinião pública. Uma nova TV Globo surgia com uma Nova
República. Os tempos do General Médici, quando aquela rede se
consolidara, foram esquecidos.” (GUIMARÃES & VIEIRA, 1986:28-29)
71
Contudo, a emenda que estabeleceria eleições presidenciais diretas já no ano seguinte não
conseguiu votos suficientes para ser aprovada no Congresso Nacional. Esse resultado
demonstrava que, apesar de combalido, o Regime Militar ainda não estava completamente
derrotado. As forças de oposição organizadoras da campanha dividiram-se: de um lado, os que
queriam prosseguir com a luta pelas eleições diretas imediatas; de outro, liderados pelo
governador mineiro, Tancredo Neves, os que defendiam uma solução paliativa, mas imediata,
representada pela escolha indireta de mais um presidente.
Disputaram a última eleição indireta para presidente da República Tancredo Neves, cujo
vice era José Sarney, e Paulo Maluf, que representava a elite civil e militar que sustentara a
Ditadura. Segundo Guimarães e Vieira, mais uma vez a Globo participou da eleição de um
presidente ao ressaltar em sua cobertura o lado maquiavélico de Maluf em contraposição às
virtudes políticas de Tancredo, que saiu vitorioso do pleito. “Ganhou, mais uma vez, o partido da
TV Globo” (GUIMARÃES & VIEIRA, 1986:24), que desempenharia o mesmo papel
subserviente no novo regime político que nascia.
A emissora cobriu a votação ao vivo, como se fosse uma eleição direta, o que contribuiu
para mobilizar os deputados a votarem em Tancredo Neves, o candidato apoiado por Roberto
Marinho. Com a vitória de Tancredo, a Globo também concedeu ampla cobertura às negociações
políticas para organizar o futuro governo. O destaque concedido a Tancredo na pauta jornalística
da emissora perdurou inclusive após a divulgação da doença que mataria o recém eleito
presidente da República antes de sua posse. A Globo também priorizou em sua cobertura o
funeral de Tancredo, que durou três dias e passou por quatro cidades brasileiras antes do corpo
ser sepultado, e a frustração e comoção da nação frente ao trágico incidente que abalara o sonho
do retorno à democracia.
72
O comportamento da Globo diante dos fatos constituía uma estratégia para cunhar a nova
imagem pública da emissora. “Era uma nova Globo que emergia daquele processo, uma Globo
virginal, pronta para ser a porta-voz da Nova República.” (SOARES, 1994. In: MATOS,
1994:121)
Devido à incerteza sobre como se processaria a sucessão do presidente eleito tendo em
vista a vacância do cargo provocada pela doença que hospitalizara Tancredo, a Rede Globo
apoiou a posse do vice José Sarney. Posteriormente, Roberto Marinho indicaria o político
Antônio Carlos Magalhães, concessionário de uma de suas afiliadas na Bahia, para dirigir o
Ministério das Comunicações (FOLHA DE S. PAULO, 8 ago. 2003, p. 14).
d) As eleições de 1989
A Globo iniciou a construção de um cenário favorável ao candidato Fernando Collor de
Mello (extinto PRN) dois anos antes do pleito, com a exibição de reportagens sobre ele, então
governador de Alagoas, no Globo Repórter e no Fantástico (LIMA, 2004). Segundo Lima
(2001), as telenovelas das oito veiculadas pela emissora na época – Vale Tudo, O Salvador da
Pátria e Que Rei Sou Eu? – também colaboraram com a construção do CR-P (Cenário de
Representação da Política). O enredo da primeira se passava em um país ficcional, permeado pela
corrupção e pela ética da sobrevivência, em que os corruptos se davam bem a qualquer custo. A
segunda promovia uma sátira a um político despreparado, destituído de tradição partidária ou
ideológica, cuja situação foi revertida quando ele alcançou o poder. A terceira tecia uma crítica
aos políticos corruptos. A ética da política foi então retomada pelo príncipe do reino fictício, que
como nas fábulas infantis, era bonito e jovem.
O candidato alagoano adaptou com sucesso sua imagem pessoal, os gestos, as cores, os
conceitos e as palavras-chave de sua campanha aos temas do CR-P: Collor transformou-se no
73
candidato jovem, moderno e combatente da corrupção política. Ao contrário, Luiz Inácio Lula da
Silva, o candidato que disputara o segundo turno das eleições com Collor, tinha uma imagem
associada ao modelo esquerdista ortodoxo, embora a Globo nada tenha a ver com a construção
desse estereótipo, provavelmente herdado do estigma concedido pelo Regime Militar aos
militantes de esquerda.
O auge da parcialidade política da Globo que contribuiu para a eleição de Collor foi a
edição de um debate entre os dois candidatos, no qual Lula apresentara desempenho melhor que
Collor. O debate, que tinha sido ao vivo na noite anterior, três dias antes da eleição, foi editado
para ser exibido no Jornal Nacional, com imagens e cenas em que Collor saiu-se bem. Além
disso, o candidato de Alagoas ganhou um minuto e doze segundo a mais de exposição no mais
importante telejornal do país em relação ao adversário Lula (TEMER, 2003; CONTI, 1999). A
edição do debate é considerada o maior exemplo de intervenção da Globo por meio do Jornal
Nacional para nortear o resultado de uma eleição. Antes do debate, as pesquisas de intenção de
voto indicavam empate técnico entre os dois candidatos.
Na tentativa de explicar se a edição do debate foi ou não intencional, com ou sem o intuito
de prejudicar Lula, e sob o consentimento de qual escalão de profissionais da emissora, a Globo,
no livro oficial dos 35 anos do Jornal Nacional, apresenta um emaranhado de depoimentos que
não culminam em uma conclusão convincente, indicadora do que realmente aconteceu e de quem
foi a responsabilidade pelo conteúdo do telejornal sobre o debate. Armando Nogueira, diretor da
CCJ (Central Globo de Jornalismo) desde a criação do Jornal Nacional e Alice- Maria Tavares
Reiniger, diretora-executiva da CCJ, afirmam que a edição foi feita sem seus consentimentos pelo
diretor de telejornais de rede, Alberico de Sousa Cruz, e pelo editor de Política, Ronald de
Carvalho. Alberico nega qualquer envolvimento na edição. Ronald, ao contrário, assume inteira
responsabilidade e admite que quis mostrar com a edição que houve um vencedor no debate:
74
Collor. Octavio Tostes, diretor de textos na época, admite que participou da edição e que recebeu
ordens de Ronald, a quem acusa de querer favorecer deliberadamente Collor com o material
posto no ar. João Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo, afirma
categoricamente que a emissora não agiu com a intenção de ser favorável a Collor ao editar o
debate: “Não passa pela minha cabeça que os equívocos tenham sido cometidos por má-fé. Não
passou na época. E não passa hoje, depois de tantos anos.” (p.213)
Contrariando a história oficial contada pela emissora no livro citado, Amorim (2004)
destaca que Roberto Marinho desempenhou papel decisivo na edição do debate entre Collor e
Lula.
“A decisão foi de pôr o pior do Lula e o melhor do Collor. E, embora os
profissionais Octavio Tostes e Francisco Tambasco tenham fixado os
pontos principais do episódio, ‘pôr o pior de Lula e o melhor do Collor’
era uma decisão que só Roberto Marinho poderia tomar – e tomava.”
(AMORIM, 2004)
Em 1992, depois da divulgação de denúncias de Pedro Collor, irmão do presidente, que
comprometiam o governo federal com graves escândalos de corrupção, a mídia brasileira,
inclusive a Globo, ficou contra Fernando Collor e ocupou-se em criar um cenário favorável ao
impeachment. Para a Globo, desenhava-se a oportunidade de livrar-se do estigma negativo, que
poderia prejudicar sua credibilidade, resultante da cobertura parcial das eleições ocorridas dois
anos antes.
e) As eleições de 1994 e a cobertura favorável ao Plano Real
Embora livre das manipulações explícitas do pleito presidencial anterior, o Jornal
75
Nacional adotou um enquadramento favorável à candidatura de Fernando Henrique Cardoso e,
mais uma vez, desfavorável à eleição de Lula. O telejornal destacou em suas reportagens as
vantagens do Plano Real, que entrara em vigor em julho de 1994 e se caracterizara como uma
medida econômica com impacto eleitoral (RUBIM, 2004). O plano constituía o CR-P do pleito,
ao qual Fernando Henrique estava identificado, e o telejornal ocupou-se em dar um
enquadramento otimista às reportagens sobre o Real, com freqüentes aparições do ministro da
Fazenda, Rubens Ricupero, para destacar o sucesso do plano e promover a candidatura de FHC.
f) A reeleição de FHC
À Globo interessava a reeleição de FHC e a manutenção do status quo (FAUSTO NETO
& VERÓN, 2003). Nesse pleito, não houve nem enquadramento promocional e nem distorcivo: a
Globo optou pelo silenciamento conivente (LIMA, 1998). Porto (In: RUBIM, 2004) aponta que o
telejornal mais assistido do Brasil dedicou apenas 4,6% do seu tempo total às eleições
presidenciais nas semanas mais quentes da campanha. Esse módico espaço foi preenchido com
reportagens de divulgação de pesquisas de intenção de voto do eleitorado e de cunho de serviço
público (ensinar ao brasileiro os procedimentos para votar na urna eletrônica, por exemplo), sem
dedicar atenção à movimentação típica das campanhas, alianças políticas etc.
Em uma conduta omissa, de renúncia à política, o Jornal Nacional substituiu a cobertura
política por temas do pseudojornalismo, como curiosidades científicas, tecnológicas e do mundo
animal, crimes e ações de violência, dramas do dia-a-dia ou até mesmo a maximização de
tragédias ocorridas nos meses anteriores ao pleito. Como pudemos constatar em análise realizada
à época, a política passou a ocupar um espaço exíguo na pauta do Jornal Nacional, como se não
estivessem ocorrendo eleições presidenciais em circunstâncias inéditas, a exemplo da utilização
76
da urna eletrônica por grande parte do eleitorado e possibilidade de reeleição de um candidato
(CUNHA, 1998).
Vale ressaltar que o Jornal Nacional aparentou uma certa dificuldade em lidar pela
primeira vez com a possibilidade da reeleição, uma vez que Fernando Henrique Cardoso
encontrava-se na posição de presidente-candidato no pleito de 1998, situação inédita na
legislação eleitoral brasileira até então. O simples fato de citar seu nome ou de veicular uma
imagem por menos intencional que fosse, já contribuía para um enquadramento favorável a FHC.
A divulgação dos resultados das pesquisas de intenção de voto encomendadas pela emissora ao
Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) era o único momento em que os
demais candidatos à presidência da República eram mencionados pelo telejornal.
77
4. AGORA É LULA: O PT NO PODER
“A eleição de Lula é um momento crucial na história da República.
As razões principais para essa avaliação póstuma são três:
as esperanças projetadas sobre o presidente pelos eleitores;
o que ele de fato representa; e a maneira
como se deram eleição e posse.”
(JOSÉ MURILO DE CARVALHO, In: ÉPOCA, 06 jan. 2003)
4.1. Do sindicalismo à presidência da República: a trajetória do PT
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um dos fundadores do PT (Partido dos
Trabalhadores), agremiação criada em 1980 e que esteve ligada às grandes greves da década de
80, à criação da CUT (Central Única dos Trabalhadores) em 1983, e do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem-Terra) em 1984. Por ocasião da fundação da nova agremiação,
formada por sindicalistas, líderes católicos mais ligados às atividades sociais da Igreja e adeptos
do trotskismo e marxismo-leninismo, as principais bandeiras de luta do PT eram a reforma
agrária radical, a moratória da dívida externa brasileira e a estatização de setores essenciais para a
coletividade.
O número 13 passou a identificar a legenda a partir de 1982, quando o TSE (Tribunal
Superior Eleitoral) promoveu um sorteio para escolher a numeração de cada partido.
Inicialmente, o PT foi identificado com o número 3 e, somente em 1985, o tribunal resolveu
acrescentar uma dezena ao número de cada partido para aumentar a quantidade de identificações
e atender às agremiações que surgiam como fruto do pluripartidarismo resultante do final do
78
Regime Militar. A cor vermelha também identificou o Partido dos Trabalhadores desde o início
da militância, emprestada do socialismo, base ideológica da agremiação (SCHMITT, 2000).
Dois anos após a criação do partido, viriam os primeiros eleitos: Lula como deputado
federal por São Paulo, e mais dois prefeitos no interior paulista e no Maranhão. Em 88, Luíza
Erundina, hoje filiada ao PSB (Partido Socialista Brasileiro), foi eleita prefeita da capital paulista.
Sobre a expansão do partido, Singer (2001) explica que o projeto do PT cresceu na região do
ABCD paulista durante a segunda metade da década de 80. O partido seguiu uma trajetória em
dois eixos durante sua expansão, até se tornar a referência da esquerda na política nacional:
expandiu-se de São Paulo para o resto do Brasil e das regiões metropolitanas em direção às
pequenas cidades do interior.
Nas administrações municipais e estaduais que conseguiu ao longo desses anos, o PT
criou mecanismos próprios que caracterizam a forma de governar do partido, como foi o caso da
participação direta da população sobre as decisões públicas, das quais o orçamento participativo é
o principal exemplo. Nos anos 90, as Caravanas da Cidadania, lideradas por Lula, levaram o
partido até os mais distantes rincões do país com o objetivo de torná-lo mais conhecido por todos
eleitores. No entanto, a principal meta das caravanas era proporcionar a Lula a oportunidade de
conhecer as diferentes realidades sociais do Brasil a fim de fundamentar propostas eleitorais. A
respeito da “onda vermelha”, como os próprios petistas e estudiosos do assunto parafraseiam a
expansão do PT, Singer diz que
“À medida que se mostrou competitivo na arena eleitoral, o partido
passou a ser um divisor de águas. Petismo e antipetismo catalisam
segmentos crescentes do eleitorado. A surpreendente performance de Lula
na eleição de 1989, quando quase chegou à Presidência da República,
79
levou a que partidos de centro e de direita se unissem em um inesperado
bloco para evitar a vitória do PT em 1994 e 1998.” (SINGER, 2001:11).
As primeiras mudanças nas bandeiras defendidas pelo partido surgiram em 1989, durante
a campanha eleitoral para a presidência da República: os militantes petistas substituíram a
proposta de moratória da dívida externa pela suspensão do pagamento. Em 1991, a defesa da
economia estatizada deu lugar à proposta de inserir o controle social na economia de mercado,
que deveria ser mantida. Na eleição presidencial seguinte, em 1994, a transformação ocorreu na
proposta de reforma agrária radical do programa de governo, substituída pela intenção de
assentar famílias sem terras. No último pleito, mais mudanças substanciais: a “Carta ao Povo
Brasileiro”, uma espécie de compromisso de campanha formalizado em documento, reiterava o
propósito do PT de pagar dívidas e honrar acordos com o FMI (Fundo Monetário Internacional),
organismo cujas diretrizes políticas e econômicas eram até então duramente criticadas pelo
partido.
Em todas essas ocasiões e outras mais, apareceram militantes e intelectuais de esquerda
que não concordaram com as mudanças efetuadas pelo partido ou com os modos de governar a
cada vez que o partido assumia o poder nos municípios, estados, assembléias estaduais e no
Congresso. Expulsos da agremiação por refutarem a ordem geral do PT, os militantes insatisfeitos
com as mudanças estruturais e ideológicas acabaram por formar outros partidos como o PCO
(Partido da Causa Operária), cujas bases foram lançadas em 1991; o PSTU (Partido Socialista dos
Trabalhadores Unificados), fundado em 1992; e o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), em
2004.
Além de mudar propostas antes consideradas a base da ideologia petista, o Partido dos
Trabalhadores teve a bandeira da ética, traço distintivo da agremiação no cenário político
80
brasileiro, deteriorada por denúncias de irregularidades ligadas à arrecadação de recursos e
contratação de serviços pelas administrações públicas que conquistou e escândalos de corrupção.
Esses problemas foram detectados em diversos momentos da década de 90 tanto em
administrações municipais quanto estaduais. Essa prioridade dada à ética pelo partido foi uma
forma de, acima de tudo, apontar deslizes morais praticados por políticos de outros partidos,
postura que legitimou o trabalho dos militantes ao fiscalizar as administrações públicas. O caso
Waldomiro Diniz, ocorrido em fevereiro de 2004, um dos escândalos vivenciados pelo partido
durante a gestão Lula, tema de análise de enquadramento desta dissertação, denegriu a imagem
do governo petista.
Sobre as transformações que atingiram o partido nos últimos anos, Marreiro afirma que
“...o PT se burocratizou e se descaracterizou, distanciando-se de suas
origens, até se tornar um partido entre outros: perdeu ou manteve apenas
laços residuais com os movimentos sociais e de massa; viu a sua velha
militância ceder espaço a um exército de mercenários nas campanhas
(...); incorporou para si as estratégias de marketing que antes criticava na
direita; tornou-se uma máquina eleitoral e passou a acumular escândalos à
medida que foi conquistando governos; por fim, abandonou
progressivamente suas bandeiras históricas para aderir à ortodoxia
econômica liberal e a um discurso reformista de contorno suave e
conciliador, o qual, na substância, pouco ou nada difere daquele pregado
pelo seu grande rival hoje, o PSDB. (...) A política econômica é a parte
mais flagrante do vazio programático do partido que chegou ao poder
após apagar de suas palavras de ordem, gradativamente, o socialismo, os
bravejos contra o FMI e contra os juros altos.” (MARREIRO, 2005: 4)
Ironizando a cor símbolo do partido, Sodré (2002:142) afirma que o PT “aparentemente
saiu do vermelho para o cor-de-rosa”, numa inflexão da política em direção ao centro. A
agremiação adaptou-se às regras de marketing e de coligações do jogo eleitoral e, principalmente
81
em muitos episódios durante o pleito de 2002 e o atual mandato presidencial, aparentou relegar a
segundo plano a tendência de representatividade de um movimento sindical forte e ativo. A
burguesia deixou de ser vista como inimiga. Exemplo disso foi a aliança feita ainda durante a
campanha com o PL (Partido Liberal), agremiação do vice-presidente José Alencar, que além de
político é grande empresário mineiro.
Nas eleições de 2002, Lula candidatou-se à presidência do Brasil pela quarta vez,
representando a aliança formada pelo PT, PL, PC do B, PCB e PMN. Venceu no segundo turno,
com 61,2% dos votos válidos, o que equivale a 52,79 milhões de eleitores.
5
A oposição ao
governo é feita basicamente pelo PSDB de Fernando Henrique Cardoso e José Serra, principais
adversários de Lula e do PT nos pleitos anteriores, além do PFL e do PTB.
Outras alianças foram firmadas depois da vitória nas urnas para formar uma coalizão de
apoio parlamentar ao governo federal na Câmara e no Senado e montar os ministérios. Essa
estratégia evidenciou a importância do estabelecimento de um pacto político entre o PT e os
setores-chave da sociedade brasileira para ganhar a eleição e firmar-se no governo.
As alianças do PT com outras agremiações de direita ou de centro e as modificações
conjunturais e ideológicas adotadas pelo partido suscitam, atualmente, debates sobre a real
posição do Partido dos Trabalhadores no cenário político brasileiro. Embora não seja o objeto de
estudo desta dissertação, não podemos ignorar que essas transformações do PT podem explicar
algumas representações do partido analisadas pela presente pesquisa no Jornal Nacional.
Sampaio Jr. posiciona-se neste debate em defesa do argumento de que o PT não
representa mais a esquerda política brasileira. Para ele,
82
“...o PT virou uma simples máquina eleitoral, com todos os vícios da
política burguesa. Essa guinada à direita é ainda mais grave se
lembrarmos que o partido foi forjado nas lutas contra a opressão política e
a exploração econômica, tornando-se um importante instrumento do povo
brasileiro na sua caminhada pela construção de uma sociedade justa e
democrática.” (SAMPAIO JR., 2005:3)
Ao contrário de Sampaio Jr. (2005), o cientista político Cláudio Couto aponta um
redirecionamento do PT rumo ao centro, como estratégia necessária tomada pelo partido para
governar o país e conseguir votos a cada eleição:
“Na medida em que chega ao governo, o partido é obrigado a ser mais
realista e pragmático, se afastando de certas bandeiras de esquerda, que
mais apontam para valores que para políticas públicas exeqüíveis. (...)
Posturas como a do PSOL tendem a se tornar residuais, de pouca
densidade eleitoral. O socialismo é uma página virada na história do
pensamento e da ideologia.” (COUTO, apud ARRAIS & MARREIRO,
2005:6)
José Genoíno, presidente do PT, rebate as críticas de que o partido adotou inflexões
direitistas, ao dizer que o partido “chegou ao poder prometendo mudanças, mas sem aventuras e
sem adaptação ao status quo. Por isso, sempre afirmou que as mudanças seriam processuais”
(2005:3). Marreiro (2005: 4) também endossa essa opinião no debate sobre a posição do PT no
cenário político brasileiro. A jornalista destaca que a política econômica adotada pelo governo
Lula, adula banqueiros e cumpre metas impostas pelo FMI, contrariando o discurso defendido
pelo partido e pelo próprio presidente nas décadas de 80 e 90. Marreiro acredita, todavia, que essa
5
Dados disponíveis em <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em 24 fev. 2004.
83
postura não tira o lugar do PT na esquerda do espectro político brasileiro. Tal paradoxo é
possível, segundo a jornalista, graças ao discurso populista do presidente Lula, “em torno de
quem ainda giram em grande medida as expectativas de mudança social” a cada promessa ou
programa de assistência social criado pelo Palácio do Planalto.
As mudanças do PT e o afastamento de antigas reivindicações são, na opinião do cientista
político Leôncio Martins Rodrigues, naturais e previsíveis quando um partido de esquerda chega
ao poder.
“Um partido é uma organização que quanto mais cresce mais complexa
fica. Ele se institucionaliza, começa a colocar seus interesses acima dos
interesses de seus eleitores. (...) Quando surgem as vantagens que o poder
dá – mordomias, as delícias de mandar, de bens materiais que passam a
ser usufruídos -, vêm as perguntas: por que fazer a revolução?, por que
mudar? por que arriscar isso?.(...) O PT está degustando o sabor do
poder.” (LOYOLA, 2005:24)
4.2. As eleições de 2002 e a cobertura do Jornal Nacional
As relações entre o Jornal Nacional e Lula foram primordialmente estudadas no contexto
das campanhas presidenciais do qual o líder do PT participou. O pleito de 2002 parece
representar uma inédita e importante mudança no campo das eleições presidenciais brasileiras,
especialmente em termos da relação entre mídia e política. As eleições de 2002 foram realmente
competitivas no sentido de não haver desvantagens nítidas que comprometessem alguns
candidatos em detrimento da dianteira de outros, em decorrência da postura dos meios de
comunicação, sobretudo da Globo. Comparado a outros pleitos, o de 2002 praticamente não
84
sofreu interferências da parcialidade da mídia brasileira e nem de enquadramentos tendenciosos
favoráveis a determinados candidatos.
Diferentemente do silenciamento e renúncia aos temas políticos ocorridos no pleito de
1998, as eleições de 2002 ganharam amplo destaque na mídia, inclusive no Jornal Nacional da
Rede Globo. Para Rubim (2004:7), elas foram “vividas sob o signo da visibilidade”. O Jornal
Nacional destacou a agenda dos candidatos e organizou duas rodadas de entrevistas e debates ao
vivo, que não passaram por edição antes de irem ao ar, o que garantiu espaço ao debate político e
voz aos candidatos dentro do programa mais privilegiado e nobre da Rede Globo. Além disso,
cuidou-se para não deixar brechas que pudessem ser aproveitadas pelos políticos para realizar
propaganda favorável a suas candidaturas durante as aparições tão disputadas no horário nobre da
Globo, como reportagem especial do telejornal mais assistido no país.
O tratamento do Jornal Nacional foi eqüânime até mesmo para o candidato José Serra
(PSDB), do mesmo partido de Fernando Henrique Cardoso, de cujo governo foi ministro da
Saúde, e que estava identificado com a continuidade do status quo. Surpreendentemente, a
emissora optou por essa postura imparcial, apesar do atrelamento demonstrado outrora aos dois
mandatos de Fernando Henrique.
Soares analisa o processo eleitoral de 2002 a partir do conceito de construção de cenários
de representação da política (CR-Ps), explicado no item 2.2 do segundo capítulo desta
dissertação. A análise de Soares também destaca o papel da Rede Globo nas eleições
presidenciais brasileiras e verifica uma diferença do pleito de 2002 em relação aos pleitos
anteriores:
85
“Em 2002, os diversos estudos realizados mostram de forma inequívoca
que não se deu uma intervenção orquestrada da rede na construção do
cenário. Há necessariamente um CR-P como resultado de discursos
mediáticos hegemônicos, mas ele é construído de maneira mais
problemática, controvertida e ambígua, por meio de representações com
um gradiente de tonalidades ampliado. Resultado dessa circunstância,
sem dúvida, foi a intensificação da luta política, expressa no fato de ter
havido dois turnos e disputa eleitoral efetiva. Se essa análise estiver
correta, a diferença dos pleitos anteriores é que o CR-P em 2002 não
esteve ajustado de antemão às peculiaridades de uma candidatura em
particular, mas resultou de critérios jornalísticos profissionais, e a eleição
de Lula, corroborando o conceito, dependeu do fato de sua campanha ter
se adequado melhor a esse CR-P do que as demais.” (SOARES, 2004: 13)
Um estudo coordenado por Porto (In: RUBIM, 2004) revela que a visibilidade concedida
à eleição de 2002 pelo Jornal Nacional foi maior quantitativamente e mais expressiva
qualitativamente. Em comparação ao pleito silenciado de 1998, que dedicou espaço exíguo à
política e às eleições, o telejornal concedeu seis vezes mais tempo para reportagens relacionadas
a esses temas em 2002. Essa atitude proporcionou à audiência informações úteis para efetuar a
escolha nas urnas. O Jornal Nacional também organizou séries semanais que exploravam temas
importantes, passíveis de serem incluídos nos planos de governo dos candidatos. Foi a chance de
incitar a audiência a refletir sobre a escolha nas urnas. As séries foram veiculadas sob a vinheta
especial “Eleições 2002” e caracterizaram-se como uma prova do poder de agendamento de
temas do Jornal Nacional durante os pleitos.
Colling (In: Rubim, 2004) afirma que as eleições de 2002 reuniram fatos com uma
noticiabilidade mais acentuada, o que justifica a visibilidade garantida pela mídia ao pleito. A
formação de uma nova hegemonia, por exemplo, atendeu aos critérios de noticiabilidade do
Jornal Nacional. Essa nova hegemonia pode ser explicada pela ruptura entre o PFL (Partido da
Frente Liberal) e o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), que formavam a base
86
partidária de apoio aos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, antes mesmo do início da
corrida eleitoral. Essa ruptura, que provocou a fragmentação do bloco de centro-direita que estava
no poder há oito anos, ampliando as chances da candidatura de Lula, foi propagada pela
destruição da candidatura da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, em meados do primeiro
semestre de 2002, antes mesmo de a campanha começar de fato, conforme o calendário eleitoral
proposto pelo TSE. A pré-candidata e setores da direção do PFL acusaram informalmente o
PSDB de implodir a campanha da pefelista.
A nova hegemonia da cena eleitoral de 2002 também é representada pela aproximação do
PT dos setores conservadores, através de coalizões inéditas e inaceitáveis em pleitos anteriores. O
PT, ex-representante máximo da esquerda brasileira, fechou alianças com partidos de centro-
direita e adotou técnicas especiais de retórica da imagem e do discurso disponibilizadas pelo
marketing eleitoral.
Sobre a adoção dessas estratégias pelo PT ao disputar o pleito de 2002, Rodrigues afirma
que
“... os partidos têm de jogar o jogo eleitoral, que é caro e no qual ninguém
entra para perder. Por isso os partidos tiveram de começar a oferecer
propostas que atraíssem pessoas de outras classes sociais. Tiveram de
concorrer para conquistar todo tipo de eleitor, por isso o apelo ideológico
se enfraqueceu muito. (...) O marketing nas eleições passou a ser uma
coisa bastante importante. Os partidos diminuíram suas diferenças
ideológicas: eles não estão mais interessados em convencer
ideologicamente, mas em ganhar eleitores, (...) porque não querem ser
partidos de minorias.” (LOYOLA, 2005:27)
87
A possibilidade de um ex-metalúrgico, nordestino, sem diploma de curso superior nem
tradição acadêmica, oriundo das classes populares assumir o principal cargo eletivo do país
também foi ao encontro dos critérios de noticiabilidade. Isto é, em termos essencialmente
jornalísticos, a notícia da possibilidade de um candidato reunindo essas condições assumir a
presidência da República é mais valorizada do que a do vencedor ser um tradicional
representante da classe até então hegemônica. Em resumo, é a novidade versus a mesmice. Como
o fato novo é a essência do jornalismo, fatos carregados de novidade são melhor avaliados pelos
critérios de noticiabilidade. No entanto, se considerarmos que Lula ocupava a mesma posição nos
três pleitos anteriores que disputara e perdera, essa hipótese deve ser relativizada, aplicando-se
apenas à conjuntura peculiar da campanha de 2002.
Concomitantemente, Colling ressalta a necessidade do Jornal Nacional de recuperar sua
credibilidade, prejudicada pelo estigma de ser um telejornal oficialista e construtor de
presidentes. Rubim também aposta no mesmo argumento e acredita que “a Globo resolveu em
2002 fazer esquecer os pronunciados lapsos e manipulações da cobertura eleitoral acontecidos
em eleições anteriores, a exemplo da famosa edição do debate presidencial entre Lula e Collor.”
(RUBIM, 2004:12)
Outra hipótese para justificar o recuo da Rede Globo em apoiar algum candidato e,
conseqüentemente, favorecê-lo com os enquadramentos do Jornal Nacional, foi o receio da
emissora em apoiar algum grupo político que eventualmente perdesse as eleições. Por isso, a
Globo teria optado pela imparcialidade durante a corrida eleitoral, a fim de demonstrar apoio
somente quando os resultados fossem conclamados. Essa situação teria sido impulsionada pela
crise financeira enfrentada pelas Organizações Globo, a qual nos referimos anteriormente. Tal
hipótese indica que, para a Globo, é interessante estar alinhada com quem está no poder, até
porque cabe à presidência da República influenciar na concessão de empréstimos do BNDES
88
para melhorar a situação financeira da mídia brasileira. Conforme ressalta Bruno (2003), a
emissora evidencia assim que é pautada pelo oficialismo, atuando como porta-voz por meio do
Jornal Nacional dos sucessivos governos federais.
Essa mudança de rumos na história da emissora assemelha-se às transformações ocorridas
por ocasião da campanha das Diretas-Já, visto que a Globo também mudou o posicionamento que
adotara por anos seguidos para não perder, a curto prazo, audiência e espaço no mercado de
anunciantes. Miguel (2004) ressalta que
“... as Organizações Globo se encontram em situação financeira difícil, o
que torna, para ela, muito mais importante tanto encontrar novos
parceiros quanto manter um relacionamento amigável com o governo,
seja qual for, fonte provável de socorro nos momentos de aperto.”
(MIGUEL, 2004. In: Rubim, 2004:100)
Antes da vitória nas urnas no primeiro e no segundo turno em outubro de 2002, Luiz
Inácio Lula da Silva fora candidato a presidente da República por três vezes: ficou em segundo
lugar nas três (1989, 1994 e 1998). Nas eleições de 2002, novas estratégias foram tomadas pelo
partido, que ampliou o leque de alianças e investiu em um marketing eleitoral capaz de ajustar a
imagem de Lula aos temas do CR-P construído para o pleito, tais como atração da confiança do
mercado financeiro internacional e a geração de emprego e renda.
Mesmo que sua imagem, atitude política e partidária tenham sofrido todas as mudanças
apontadas anteriormente, o ex-sindicalista contava com a tradição de líder de um sindicato chave
na modernidade industrial, de representante e figura mais ilustre e representativa de um partido
89
que tem alcance e peso nacionais, detentor de um eleitorado regular e estável em comparação às
múltiplas, e às vezes fugazes, alianças eleitorais dos partidos de direita e centro-direita.
“Não cremos de modo algum que o triunfo de Lula se explique por uma
‘mudança de imagem’ como resultado da mágica do marketing político,
nem tampouco por uma transformação radical do seu programa político,
nem muito menos por uma traição, mais ou menos explícita ou mais ou
menos esboçada, dos ideais do PT. Como a maioria das mudanças
históricas, a eleição de Lula se explica provavelmente por uma conjunção
de fatores heterogêneos.” (FAUSTO NETO, 2003: 11-12).
Dentre esses fatores está a crise econômica que o Brasil atravessava, complicadora da
posição ocupada por José Serra, do PSDB, representante do establishmet, que não pôde operar o
tema da vulnerabilidade econômica de forma a conseguir os votos do eleitorado. Acrescente-se a
isso o marketing político bem-sucedido da equipe de Duda Mendonça, responsável pela mudança
de Lula – tanto física quanto discursiva. A imagem pública do candidato do PT foi reconstruída
numa dicotomia entre esperança e medo, a fim de que os brasileiros perdessem o receio de votar
em Lula por causa de suas deficiências, sobretudo a intelectual e acadêmica, ou de experiência
como administrador. Lula personificou a esperança da mudança e da hombridade com a coisa
pública e com os demais candidatos. Para tanto, foi construída a imagem do candidato “Lulinha
paz e amor” para substituir aquela do “Lula radical” de eleições passadas. Durante a campanha, o
abandono da propaganda negativa e dos ataques aos outros candidatos e o uso mais intensivo de
jingles e músicas que nos pleitos anteriores foi uma tática para mostrar que os tempos de
radicalismo já haviam expirado.
90
É notório que a Globo deu grande cobertura à vitória de Lula, a a despeito dos
enquadramentos utilizados com o então candidato em outros pleitos, que prejudicaram o
postulante do PT em favor das candidaturas apoiadas pela emissora – Collor em 89 e Fernando
Henrique Cardoso em 94 e 98. Lula também demonstrou grande preferência pela Globo, logo
após a divulgação de sua vitória no domingo, 27 de outubro. Horas depois, apareceu no programa
dominical Fantástico (BUCCI & KEHL, 2004) e, na segunda-feira, participou do Jornal Nacional
que foi totalmente dedicado ao novo presidente, como se fosse um programa especial, criado para
comemorar sua vitória nas urnas. Naquela noite de 28 de outubro de 2002,
Lula ocupou 1h15 do
noticiário do JN, único telejornal para quem ele deu entrevista. O jornal foi ao ar das 20h09 à
s 21h27.
Os outros meios de comunicação brasileiros ficaram à espera de uma entrevista coletiva
(MATTOS, 2002).
A posse de Lula, no primeiro dia de 2003, é um ponto que merece ser observado em
detalhe. O presidente tomou posse durante uma cerimônia inovadora e transbordante de
participação popular. Miguel (2004) compara o entusiasmo da mídia e da população, inclusive de
pessoas que não se enquandravam no eleitorado cativo do PT, ao demonstrado por ocasião da
vitória eleitoral e, posteriormente, da morte de Tancredo Neves:
“Não por acaso, são dois momentos de grande expectativa por mudanças:
antes, o retorno dos civis ao poder; agora, o triunfo das esquerdas. Sob o
signo do governo civil, a Rede Globo viveu o ápice de sua influência
política. Sua posição no governo Lula ainda é uma incógnita.” (Miguel,
2004. In: Rubim, 2004:92)
91
As análises de reportagens veiculadas pelo Jornal Nacional e apresentadas nesta
dissertação tentam examinar essa incógnita.
92
5. METODOLOGIA: OS PROCEDIMENTOS DA ANÁLISE
“Por trás do discurso aparente,
geralmente simbólico e polissêmico,
esconde-se um sentido que convém desvendar.”
(LAURENCE BARDIN, 1977)
5.1. O corpus e os veículos de referência
Após a identificação de todos os conceitos e pressupostos apresentados nos dois capítulos
anteriores, que compõem o referencial teórico desta pesquisa, passemos à explicação da
metodologia aplicada para analisar os enquadramentos da cobertura de temas do governo petista
pelo Jornal Nacional. O conceito de enquadramento foi abordado no capítulo 2 (item 2.3) desta
dissertação.
Entman (1994:297) destaca que as representações mediáticas interferem no exercício do
poder quando os enquadramentos aparecem em notícias de cunho político. No entanto, a
realidade da mídia brasileira demonstra que até mesmo as notícias que não apresentam um cunho
puramente político podem ser influenciadas por enquadramentos da política. Isso porque os
assuntos formam uma única conjuntura e os temas mais desengajados, como notícias sobre
economia, situação social etc., tendem igualmente a influenciar as tomadas de decisão política e a
se revestir da ideologia política predominante na mídia.
O corpus desta pesquisa é composto por reportagens reunidas em três grandes temas, que
foram escolhidos por constituírem acontecimentos marcantes no cenário político nacional durante
os dois primeiros anos da gestão Lula (2003-2006), ou seja, são verdadeiros momentos de tensão,
93
importantes por suas causas e conseqüências, e mereceram destaque da mídia por gerarem
interesse entre a audiência - logo, por entrarem para a agenda pública. Dessa forma, fica mais
fácil verificar coberturas que negligenciam fatos, isto é, quando simplesmente determinado
veículo de comunicação exclui de sua pauta diária um assunto, como já foi explicado na seção
2.3. desta dissertação, ou mesmo quando utiliza enquadramentos que dão pouco ou quase
nenhum destaque a um acontecimento.
Os temas selecionados para análise relacionam-se diretamente à sociedade e promoção
do desenvolvimento (reformas constitucionais), à economia (taxa de juros) e à política (caso
Waldomiro Diniz). Os três temas têm relação direta ou indireta à conjuntura política brasileira e,
portanto, ao governo Lula. De certa forma, as causas dos temas analisados e/ou as conseqüências
geradas por eles têm ligação com o governo federal.
Por isso, a análise empreendida permite identificar como foram os enquadramentos
utilizados pelo Jornal Nacional para veicular os três temas selecionados e que mantêm vínculos
com a primeira gestão federal petista da história política do Brasil. Esses enquadramentos,
todavia, podem ser vistos como indicativos da relação Globo/governo federal, ou seja, das
barganhas engendradas por essa parceria - muitas vezes tácita -, fomentadas por interesses
corporativos e políticos (as Organizações Globo e o grupo político e/ou econômico detentor do
poder).
Os temas analisados foram veiculados em 18 edições do Jornal Nacional, que foram ao ar
em abril e maio de 2003 e fevereiro de 2004. Sobre o primeiro tema – as reformas constitucionais
- foram selecionadas sete edições para análise do tema: 25/04/03 (sexta-feira), 26/04/03 (sábado),
28/04/03 (segunda-feira), 29/04/03 (terça-feira), 30/04/03 (quarta-feira), 01/05/03 (quinta-feira) e
02/05/03 (sexta-feira). Esse período coincide com a entrega das propostas de emendas
constitucionais das duas reformas pelo presidente Lula ao Congresso para a devida apreciação, e
94
a movimentação de políticos aliados e da oposição, sociedade, empresários, sindicalistas na
expectativa pela aprovação ou mudanças no texto da emenda. Em relação à definição da taxa de
juros, que constitui o segundo tema analisado por esta pesquisa, selecionamos quatro edições do
mês de maio de 2003: dias 21 (quarta-feira), 22 (quinta-feira), 23 (sexta-feira), e 24 (sábado).
Esse período corresponde foi quando realizou-se a primeira reunião do Copom (Comitê de
Política Monetária) do Banco Central durante o governo Lula para definir a taxa de juros. A
decisão era muito esperada pelos brasileiros e pela mídia porque a taxa de juros foi muito
debatida durante a campanha eleitoral de 2002. Sobre o caso Waldomiro Diniz, terceiro tema
analisado, também foram escolhidas sete edições do Jornal Nacional para a presente análise:
13/02 (sexta-feira), 14/02 (sábado), 16/02 (segunda-feira), 17/02 (terça-feira), 18/02 (quarta-
feira), 19/02 (quinta-feira) e 20/02 (sexta-feira). As edições correspondem à primeira semana de
divulgação do tema, contada a partir do dia em que “explodiu” a denúncia na mídia como uma
repercussão da publicação de Época.
Uma vez que o corpus da análise foi escolhido conforme os critérios já mencionados, ao
contrário de amostras aleatórias adotadas em outros tipos de pesquisa em Comunicação, não é
possível generalizar as considerações efetuadas por este estudo a respeito das relações entre o
Jornal Nacional, a Rede Globo e o governo federal. No entanto, podemos avançar interpretações
mais amplas sobre o papel da emissora e seu telejornal mais importante na política brasileira.
Como já foi dito, essa relação nem sempre é explícita e, por ser freqüentemente tácita, não
fundamenta comprovações – ao menos nesta dissertação - mas apenas indícios. Futuramente,
essas indicações podem ser melhor exploradas por outros estudos na área de Comunicação
Mediática e Política e aumentar a cientificidade de algumas considerações feitas por esta
dissertação.
95
Os temas escolhidos para análise figuraram na agenda geral da mídia e,
conseqüentemente, da audiência brasileira, tamanha sua importância no cenário político,
econômico e social. Essa medida metodológica foi tomada a fim de constatar se o Jornal
Nacional garantiu destaque em sua pauta mesmo a temas considerados delicados, devido à nítida
interferência política, e que por si só poderiam, dependendo do enquadramento adotado, alterar o
tom oficialista tradicional da Globo.
O agendamento dos temas selecionados, que sozinhos já justificam sua relevância para
compor o corpus, foi avaliado de antemão a partir de uma leitura de veículos chamados por nós
de referenciais, que têm destaque na mídia nacional. São eles: a Folha de S. Paulo, diário
tradicional de circulação em todo o país; a revista Época, que está há quase sete anos no mercado
editorial brasileiro e, apesar de ser o magazine de variedades das Organizações Globo, por vezes
apresenta enquadramentos diferenciados para um mesmo tema em relação às representações
mediáticas instauradas pelo Jornal Nacional; e o Jornal da Record, telejornal veiculado pela
Record diariamente à noite (ao contrário do Jornal Nacional, o da Record apresenta uma
instabilidade muito grande em relação a horários de veiculação).
Não vamos nos deter, em nenhum ponto desta pesquisa, em descrever características e
linhas editoriais dos veículos referenciais, visto que eles serviram apenas para comparação da
ocorrência dos temas estudados na agenda mediática brasileira e, portanto, na agenda pública. A
utilização dos veículos referenciais ocorreu durante a assistência sistemática ao Jornal Nacional e
no início da análise de cada tema. Além disso, os veículos referenciais permitiram identificar
enquadramentos distintos do Jornal Nacional sobre os temas, possibilitando confrontarmos os
mesmos com interpretações produzidas por esta pesquisa. Esse confronto é essencial para testar
hipóteses previamente levantadas e considerações feitas no decorrer das análises, assim como
tentar isentar a pesquisa da influência de percepções subjetivas que possam direcioná-la a
96
considerações não científicas. Em suma, os veículos referenciais foram utilizados para
comparação e contraste, sem, no entanto, terem sido objeto da análise de enquadramento
empreendida com as reportagens escolhidas no Jornal Nacional: trata-se de uma leitura mais
impressionista, com a finalidade exclusiva de servir como referência, necessária nos
procedimentos metodológicos. No decorrer das análises, algumas considerações sobre a cobertura
dos veículos referencias podem ser rapidamente destacadas, a fim de mostrar semelhanças e
contrastes em relação aos enquadramentos adotados pelo Jornal Nacional.
Particularmente, na análise do terceiro tema escolhido – o caso Waldomiro Diniz – além
dos enquadramentos adotados pelo Jornal Nacional, é dado um destaque à cobertura que Época
fez do caso, uma vez que a revista pertence às Organizações Globo embora curiosamente tenha
adotado um enquadramento oposto ao do telejornal. Em relação a esse destaque dado à Época, há
de se considerar a observação de Lima (2004) sobre o papel subsidiário de outros veículos das
Organizações Globo. Isto é, embora o magazine e o Jornal Nacional sejam produtos mediáticos
do mesmo grupo, vale ressaltar que eles adotam perfis editoriais discrepantes em relação a muitos
temas, e o caso Waldomiro é um exemplo dessa contradição.
A análise ora empreendida, portanto, não busca tecer um comparativo entre os
enquadramentos mediáticos, a exemplo de importantes estudos já realizados a partir da frame
analysis (ENTMAN, 1991; LIMA, 1998) que servem de embasamento teórico para esta pesquisa.
O objetivo geral da presente pesquisa é examinar as representações instauradas pelos
enquadramentos do Jornal Nacional isoladamente, dada a importância desse telejornal na mídia e
audiência brasileiras, conforme discussões dos capítulos anteriores, nos quais se viu que o papel
da Globo na mídia brasileira é singular e incomensurável.
5.2. O método de análise
97
As reportagens do Jornal Nacional selecionadas para o corpus foram objeto de uma
análise de enquadramentoframe analysis – adotando a metodologia de pesquisa em
Comunicação proposto por Lopes (2001). A análise de enquadramento é uma abordagem
analítica de produtos da Comunicação, em especial do Jornalismo, que procura interpretar as
mensagens mediáticas como representações instauradas pelas escolhas do texto jornalístico. Este
tipo de análise requer uma integração com um estudo mais ampliado, que leve em conta os
contextos histórico-social, político e econômico, por meio de levantamentos de outros autores da
área de Comunicação das Ciências Sociais.
A primeira etapa do roteiro da análise de enquadramento é a definição do objeto de
estudo, que já foi apresentado anteriormente por meio da fundamentação teórica apresentada nos
três capítulos anteriores (seções 2, 3 e 4 e seus respectivos itens). Para reiterar o que foi dito, o
objeto de estudo da presente pesquisa é a cobertura realizada pelo Jornal Nacional em relação a
fatos do governo federal. Essa etapa apresenta os pressupostos teóricos para interpretação dos
dados produzidos pelas análises.
A segunda fase é a observação, que reúne os métodos utilizados para a coleta dos dados.
Nessa etapa, a presente pesquisa ocupou-se em acompanhar o Jornal Nacional para que fosse
possível destacar o que seria separado de todo o material disponível para a análise pretendida. A
amostragem, fruto dessa separação, é uma focalização do problema por meio de um recorte,
obedecendo a um critério justificável em relação a quais ocorrências do fenômeno analisado – no
caso, reportagens direta ou indiretamente ligadas ao governo Lula veiculadas pelo Jornal
Nacional – mereciam ser observadas e em qual intervalo de tempo.
Os telejornais foram gravados em fitas VHS e posteriormente selecionados para compor a
amostra da presente pesquisa. As gravações permitiram que o material pudesse ser analisado
98
posteriormente, da forma como foi levado ao ar. Também é nessa etapa que foram selecionados
os itens de observação sobre os três temas tratados. Nesta fase, os noticiários foram transcritos,
para se ter em mãos o texto veiculado. Essas transcrições encontram-se anexadas ao final da
dissertação. A transcrição dos telejornal é uma espécie de espelho do conteúdo das edições
analisadas (somente as reportagens que fazem parte da amostra foram totalmente transcritas; as
demais são apenas listadas e nomeadas por expressões ou frases que resumem seu conteúdo, com
os respectivos tempos de duração no bloco em que foram divulgadas).
Em seguida, para cada item a ser analisado, as expressões e frases contendo adjetivos,
metáforas, julgamentos morais etc., foram anotadas e então agrupadas em tabelas. A partir desse
momento já foi possível fazer algumas inferências sob a forma de afirmações gerais induzidas a
partir da seleção. Elas também passaram pelo procedimento de categorização, que expressou em
números as tendências do telejornal, quando as tabelas passaram por uma comparação para
verificar enquadramentos contrastantes. Algumas tabelas, contudo, apresentam uma certa
independência e não há outras com enquadramentos opostos que possibilitem a comparação com
categorias opostas. Essa é a terceira etapa da pesquisa, também conhecida como análise
descritiva, que compreende a descrição das reportagens selecionadas da maneira como foram
veiculadas pelo Jornal Nacional ao público em geral, a fim de mostrar como as narrativas são
conduzidas pelo noticiário (com a utilização de palavras-chave, metáforas, imagens, adjetivos,
termos especiais com significados marcantes), bem como o tempo destinado a cada uma.
A análise interpretativa é a quarta etapa da pesquisa e visa a ultrapassar a mera
descrição da cobertura do Jornal Nacional, de modo a apontar como o mesmo constrói suas
narrativas e utiliza enquadramentos. Nessa fase, os dados foram interpretados com base no
quadro teórico de referência. É aqui que as indagações as quais a pesquisa pretende responder são
resolvidas e as conclusões mais gerais são apresentadas.
99
Percebe-se, no decorrer da pesquisa, que há um afastamento progressivo do dado empírico
em direção à cientificidade. A informação factual deixa de ser um acontecimento isolado quando
fica clara a existência de um padrão reconhecível e interpretável, que garante a cientificidade da
pesquisa. A análise interpretativa, por exemplo, constitui a teorização dos resultados para se
compreender o fenômeno estudado, separado pela amostragem. Trata-se de uma ruptura
epistemológica em que a pesquisa abandona o que é simplesmente observável, empírico e
concreto para transformar o estudo em ciência.
Por fim, as considerações finais resumem o balanço dos resultados alcançados e mostram
a relevância social desta pesquisa, visto que ressaltam pontos fundamentais das interpretações a
respeito dos enquadramentos do telejornalismo do Jornal Nacional em relação ao governo Lula.
Além do plano teórico, as considerações finais também destacam as contribuições da presente
pesquisa para o roteiro metodológico, visto que o estudo ora proposto atua como mais uma
aplicação da análise de enquadramento, um tipo de pesquisa ainda incipiente no Brasil.
Segundo Lopes (2001:155), essa derradeira fase da pesquisa em Comunicação – e de
enquadramento, já que este é o caso – corresponde, sinteticamente, “a uma exposição dos
objetivos conseguidos e das possíveis contribuições para o avanço do conhecimento sobre o tema
que foi objeto da pesquisa”, ou seja, a Comunicação e a Política no Brasil, em particular o
enquadramento utilizado pelo Jornal Nacional para cobrir fatos da primeira gestão federal do PT.
100
101
6. ANÁLISE DE ENQUADRAMENTO: AS REPRESENTAÇÕES DO GOVERNO
LULA NO JORNAL NACIONAL
“A condição necessária para a influência da mídia
no governo ou na política não é que todos interpretem
a história da mesma maneira; parece necessário apenas
que a maioria expressiva pense igual para ser assim.”
(ROBERT ENTMAN, 1991)
A partir da fundamentação teórica e da metodologia apresentadas, passemos agora ao
exame das reportagens dos três temas selecionados veiculadas pelo Jornal Nacional da Rede
Globo. O presente capítulo estuda os temas, em duas etapas:
a) a primeira engloba a observação de expressões e frases e sua posterior tabulação, a fim
de categorizá-las, permitindo sua descrição, numa tentativa de evidenciar enquadramentos;
b) a segunda etapa, constituída pela teorização desses resultados, procura ultrapassar o
meramente observável em direção a uma interpretação.
As 18 edições selecionadas para análise encontram-se transcritas na última seção desta
dissertação. As reportagens analisadas estão transcritas na íntegra, reproduzindo os textos
justamente como foram levados ao ar.
6.1. Observação e descrição do que foi levado ao ar
Nesta seção, as reportagens selecionadas das 18 edições dos telejornais analisados são
apresentadas da forma como foram levadas ao ar, considerando-se tanto os elementos textuais
102
quanto as imagens. As tabelas resumem o conteúdo de cada reportagem e as categorias que
culminam com as representações mediáticas. Essas categorias são formadas por expressões ou
frases que constróem o mesmo significado e constróem os enquadramentos.
a) As reformas constitucionais
As reformas constitucionais foram amplamente discutidas em 2003, durante o primeiro
ano do governo Lula, uma vez que eram promessas da campanha petista na disputa pela
presidência da República. O tema recorrentemente foi associado ao governo federal porque o
texto das reformas deveria ser apresentado inicialmente pelo Palácio do Planalto, sob a forma de
Proposta de Emenda Constitucional, para que depois, como determina a legislação brasileira,
fosse discutido e votado pelo Congresso e pelo Senado.
São duas reformas constitucionais selecionadas como tema para a presente análise de
enquadramento: a reforma da Previdência Social e a tributária. Outras reformas, como a política e
do Judiciário, embora também tenham figurado como assunto para debates na campanha
eleitoral, foram pouco recorrentes nos dois primeiros anos do governo. A reforma política, por
exemplo, ganhou destaque, ainda que secundário, por ocasião da divulgação do caso Waldomiro
Diniz, terceiro tema analisado por esta pesquisa. Até fevereiro de 2005, apenas a reforma da
Previdência foi devidamente discutida e votada no Congresso. O texto da reforma tributária
formulado pelo Planalto, foi entregue, como veremos a seguir, no final de abril de 2003
juntamente com o da Previdência, porém, até a conclusão desta pesquisa, não saiu do Congresso.
A reforma previdenciária modificou disposições da Constituição Federal de 1988 relativas
à aposentadoria de contribuintes do serviço público. O objetivo do governo ao propor a reforma
da Previdência Social era equilibrar os cofres públicos mediante o estabelecimento de novos tetos
para os valores dos benefícios e alterações nos requisitos que dão direito à aposentadoria, como
103
tempo de serviço e idade. A reforma tributária, por sua vez, busca principalmente promover
mudanças na cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) pelos
estados, a fim de eliminar a guerra fiscal entre as unidades federativas, e transformar a CPMF
(Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) em tributo permanente.
As reformas constitucionais são classificadas por este estudo como temas sociais e de
promoção do desenvolvimento. Social porque referem-se à previdência, direito adquirido
constitucionalmente por todo cidadão. De fomento ao desenvolvimento porque, principalmente
no caso da reforma tributária, dizem respeito às mudanças no regime de impostos que são
consideradas fundamentais para o desentrave do crescimento econômico do país.
O tema das reformas constitucionais foi apresentado pelo Jornal Nacional durante todo o
ano – no caso da reforma tributária, o tema ainda permanece recorrente porque, até fevereiro de
2005, ela continua sem aprovação. No entanto, preferimos selecionar edições do final de abril e
começo de maio de 2003 porque nessa época as reformas foram tratadas seqüencialmente. Nos
demais períodos, o tema figurou em edições isoladas para noticiar algum aspecto das reformas,
novidades nos meios políticos causadas pelas propostas de emendas constitucionais, discursos de
Lula sobre o assunto mesmo que em ocasiões diversas como viagens internacionais, etc. A
reforma da Previdência foi aprovada no final de agosto de 2003.
A reforma tributária, em particular, ganhou espaço em uma série especial, veiculada na
semana do dia 28 de abril a dois de maio de 2003. Como já foi apresentado no segundo capítulo
desta dissertação, as séries de reportagens constituem uma estratégia do Jornal Nacional de
destacar temas relevantes para a sociedade brasileira, a fim de explicá-los didaticamente,
instaurar polêmicas, apresentar problemas, exigir soluções etc. O quadro a seguir resume a
transcrição das sete edições analisadas para este tema.
104
Tabela 1 - Resumo da cobertura das reformas constitucionais pelo Jornal Nacional
EDIÇÃO TEMPO
TOTAL*
TEMPO DAS
REPORTAGENS
BLOCO DESCRIÇÃO DO CONTEÚDO
25/04/03 (6ª feira)
34’45”
2’50” e 1’51”
Reportagem de denúncia sobre a desordem
nos arquivos do INSS. Governo prepara
texto da reforma para enviar ao Congresso
na semana seguinte (a
p
resenta argumentos
do governo e dos petistas radicais sobre o
assunto).
26/04/03 (Sábado)
32’31”
4’58”
Mutirão do INSS para acelerar pedidos de
revisões ou concessões de benefícios.
Argumentos do governo sobre a necessidade
da reforma.
28/04/03 (2ª feira)
33’50”
2’, 3’04”
e 4’25”
1° e 4°
Resultados do mutirão do final de semana.
Movimentação financeira do governo e da
oposição (petistas radicais) sobre as
reformas. Primeiro dia da série “Reforma
Tributária”: efeitos dos tributos no bolso do
trabalhador e na geração de empregos.
29/04/03 (3ª feira)
31’16”
4’32” e 2’32”
Série: história da tributação no Brasil.
Movimentação política sobre a discussão e
aprovação das reformas.
30/04/03 (4ª feira)
25’
3’52”, 1’13”
e 4’54”
Presidente apresenta texto das reformas.
Detalhes sobre a reforma da Previdência, de
forma didática. Série: pro
p
ostas do governo
sobre a reforma tributária.
01/05/03 (5ª feira) Não
disponível
3’58” Série: detalhes sobre a CPMF e os impostos
em cascata.
02/05/03 (6ª feira) 32’05” 4’02” Série: detalhes sobre o ICMS e guerra fiscal.
* Referente à soma de todos os cinco blocos de cada noticiário, sem os intervalos comerciais.
Nas sete edições analisadas, o Jornal Nacional reservou 41 minutos e 31 segundos para
noticiar as reformas constitucionais. Reconhecemos que o material separado para análise deste
tema apresentou um problema com a gravação integral dos telejornais e o início da escalada
6
foi
6
No jargão jornalístico, escalada é a seção de abertura do telejornal, na qual os apresentadores lêem as principais
manchetes do dia com o objetivo de chamar a atenção da audiência. No Jornal Nacional, a escalada dura cerca de 55
segundos em média e apresenta cinco ou seis manchetes. Em algumas edições, a escalada pode ser composta
somente por um único assunto, conforme a importância, como foi verificado com o terceiro tema analisado por esta
pesquisa. As manchetes são afirmações categóricas que, mesmo breves, resumem o assunto noticiado; cobertas ou
não por imagens ou até mesmo intercaladas com sonoras.
105
cortado em seis das sete edições analisadas. A edição do dia 1º de maio teve o quarto e o quinto
bloco cortados. Esses lapsos, porém, não prejudicaram as análises empreendidas.
Na edição de 25 de abril, a situação precária dos arquivos do INSS (Instituto Nacional do
Seguro Nacional) abriu o primeiro bloco do telejornal com um estilo de jornalismo denuncista
muito adotado ultimamente pelo Jornal Nacional. A reportagem, com duração de 2’50”, mostrou
a desordem dos arquivos: pilhas de papéis amontoados, dispostos em caixas sem nenhuma
organização; gavetas no chão e caixas destruídas. Imagens de filas em salas de espera de postos
do instituto mostram o tempo gasto pelos beneficiários para pedir revisões ou solicitar
aposentadorias. No período analisado, percebemos que há uma estreita vinculação de reportagens
sobre a situação do INSS com os tópicos da reforma da Previdência, embora na prática elas não
apresentem pontos em comum visto que as mudanças ocorreriam apenas no regime de
aposentadorias do setor público.
A reportagem do dia 25, assim como todas sobre as reformas, é identificada por um selo
7
que traz a imagem de documentos e carteiras da Previdência. Em seguida, outra reportagem trata
do texto das reformas que o governo federal iria entregar ao Congresso para apreciação e
votação. Alguns pontos da reforma previdenciária são explicados com a ajuda de um
infográfico
8
. O texto destaca, por meio de sonoras
9
, as posições de líderes governistas, de
partidários do PT contrários a alguns pontos da reforma e da oposição. Vale lembrar, que a partir
dessa época, os políticos petistas que se opuseram ao presidente e a decisões gerais do partido – a
saber, a senadora Heloísa Helena, e os deputados Babá, Luciana Genro e Lindenberg Faria -
7
Selo é o nome dado à arte gráfica computadorizada que identifica reportagens sobre o mesmo tema e que aparece
no plano de fundo do cenário de apresentação do telejornal sempre que há alguma inserção sobre o assunto.
8
Infográfico é um gráfico produzido por meios digitais utilizado em jornalismo impresso ou televisivo, que reúne
dados para facilitar o entendimento de algum assunto pela audiência.
9
Sonoras são curtas tomadas com fala das pessoas envolvidas no assunto tematizado, que aparecem editadas no
decorrer da reportagem e conferem destaque a uma opinião.
106
passaram a ser chamados de radicais pela mídia brasileira devido à autenticidade em relação a
ideais do PT dissolvidos pelas mudanças que o partido sofreu nos últimos anos.
No dia 26, as reformas constitucionais são abordadas já em uma das manchetes da
escalada de notícias do telejornal. Na ocasião, tamm é divulgada parte de um discurso do
presidente Lula proferido durante um evento em Pernambuco, que destaca a necessidade das
reformas. A reportagem abre o primeiro bloco de notícias e dura quatro minutos e 58 segundos. A
desorganização dos arquivos do INSS é retomada, desta vez, ao mostrar a solução para o
problema: o órgão monta um mutirão para analisar os pedidos de benefício ou revisão dos
mesmos. Reiterando a manchete da escalada, a reportagem destaca a relevância das reformas
citada por Lula em viagem ao Nordeste. Além do dia 26, em 29 e 30 de abril, o enquadramento
pró-reformas (logo, pró-governo) é reiterado pela edição de discursos do próprio presidente
Lula, em que defende categoricamente a necessidade das reformas.
Em 28 de abril, a reforma previdenciária é tratada no 1
o
e no 4
o
blocos do telejornal –
respectivamente dois minutos e três minutos e quatro segundos de duração das reportagens
apresentadas. Mais uma vez são destacados o mutirão feito no sábado para avaliar os processos
do INSS e a movimentação em Brasília a respeito das reformas. Essa movimentação e diferentes
posições políticas são mostradas tanto nos textos da reportagem quanto nas sonoras com
parlamentares e líderes do governo.
Esta edição também abre a série de reportagens “Reforma Tributária”, identificada nos
cinco dias de veiculação com uma vinheta especial, formada por imagens tridimensionais de
carnês de impostos. A série tem um caráter eminentemente didático e procura mostrar, nos cinco
dias de exibição, o funcionamento do sistema tributário brasileiro e as necessidades de mudança
para a promoção do desenvolvimento econômico no país. A reportagem dura quatro minutos e
54 segundos e exibe imagens de caixas registradoras, calculadoras e linha de produção de
107
fábricas; pilhas de carnês de impostos; um infográfico com animação computadorizada dos
nomes de tributos e dados estatísticos e outro com explicações da incidência da carga tributária
sobre produtos e serviços.
No dia 29, a série ganha quatro minutos e 23 segundos do terceiro bloco e tem o caráter
didático mais acentuado porque contextualiza historicamente a política tributária e apresenta mais
informações disponibilizadas em infográficos. No mesmo bloco, com dois minutos e 32
segundos, é veiculada outra reportagem sobre a movimentação política em Brasília por causa das
reformas. Mais uma vez, os posicionamentos contraditórios de governistas e parlamentares contra
alguns pontos da reforma são destacados, um após o outro, de maneira que sempre há um
argumento para refutar a idéia apresentada por um político, seja qual for o lado da discussão que
ele represente.
Na edição do dia 30, o segundo bloco é dedicado inteiramente às reformas
constitucionais, o que totaliza dez minutos e 22 segundos. O bloco é dividido em três grandes
reportagens interdependentes. A primeira divulga a entrega dos textos das reformas pelo
presidente ao congresso. São veiculadas imagens do plenário lotado de políticos, de
manifestações de grupos contra as reformas e dos prefeitos e governadores que acompanharam o
presidente na entrega dos textos no Congresso.
A segunda reportagem trata especificamente da reforma da Previdência e faz um resumo,
com a ajuda de um infográfico, dos principais pontos das mudanças propostas. A terceira parte é
formada pela série sobre a reforma tributária, que também detalha os pontos principais da
proposta de emenda constitucional com o uso de imagens da movimentação política no
Congresso e da produção industrial e de sonoras com especialistas e políticos.
No dia seguinte, a série da reforma tributária abre o terceiro bloco do Jornal Nacional. O
tema dessa vez é a CPMF e sua incidência em cascata sobre a produção industrial. São utilizadas
108
imagens de linhas de produção em fábricas, caixas registradoras etc. A última edição analisada
também apresenta a derradeira parte da série no terceiro bloco. São quatro minutos e dois
segundos dedicados a explicar a cobrança do ICMS e as propostas do governo para extinguir a
guerra fiscal entre os estados.
A fim de mostrar com maior transparência os enquadramentos adotados pelo Jornal
Nacional, apresentamos, a seguir, uma série de expressões e frases, reunidas em tabelas, que têm
seus significados agrupados de acordo com categorias de sentido, isto é, conforme o frame
adotado pela reportagem.
As primeiras expressões e frases relacionadas (tabela 2) referem-se à situação precária do
INSS e à urgência de mudanças no sistema de concessão e revisão de benefícios, que aparecem
17 vezes nas reportagens analisadas. As expressões e frases ressaltam os transtornos que o
sistema causa ao usuário por causa de seu atendimento caracterizado como “deficiente”,
“emperrado” e “injusto”, devido à existência de arquivos “desorganizados”. Nas reportagens
analisadas, o Jornal Nacional destaca que os beneficiados pelo INSS vivem uma situação
“dramática”.
Em dez momentos, as reportagens analisadas utilizam expressões e frases (tabela 3) para
se referir às reformas previdenciária e tributária como urgentes e necessárias. O Jornal Nacional
veicula frases categóricas apresentadas tanto no texto das reportagens quanto na edição de
discursos proferidos pelo presidente Lula em que destaca que o sistema tributário está
“ultrapassado” e necessita modernizar-se:
109
Tabela 2 - Expressões e frases que se referem ao INSS como alvo de descaso e indicam a
urgência de mudanças
EXPRESSÕES E FRASES
OCORRÊNCIAS
“Parece lixo, mas é o passado de milhares de trabalhadores.” 01
“Documentos, histórias de vida, amontoados sem respeito.” 01
“Mesmo o que está no armário, traz um alerta absurdo: está fora do
lugar.”
01
“Em vez de guardar, o imenso porão sujeito a inundações esconde a
papelada que faz falta ao Segurado na hora de qualquer queixa contra o
INSS.”
01
“injustiças” 02
“desordem” 02
“sistema de armazenamento deficiente” 01
“baixa condição de Segurança” 01
“arquivos desorganizados” / “desorganização do INSS” 03
“A situação que encontramos é dramática” 01
“mau atendimento” 02
“processos estão emperrados” 01
O Jornal Nacional também utiliza outras dez frases e expressões nas reportagens
analisadas que destacam a importância da reforma tributária para a economia brasileira (tabela 4).
O atual sistema tributário é caracterizado como “abusivo” e “injusto”, responsável pelo
encarecimento de produtos e empecilho para a geração de empregos no país.
110
Tabela 3 – Expressões e frases que se referem às reformas como urgentes e necessárias
EXPRESSÕES E FRASES
OCORRÊNCIAS
“Não temos que ter medo das reformas. E nós precisamos ter
competência de modernizar aquilo que já não é mais um modelo
ideal.”
01
“Impostos, no Brasil, motivam queixas de todo mundo.” 01
“O Brasil precisa de uma reforma tributária.” 01
“Só uma grande mudança poderia acabar com o cipoal de impostos.” 01
“(necessidade de ) desonerar a produção” 01
“ (necessidade de) estrutura tributária mais racional e mais justa” 01
“Uma carga tributária mais baixa é o desejo dos brasileiros que sentem
o peso dela no bolso.”
01
“essas reformas asseguram a mudança e justiça social” 01
“o sistema tributário brasileiro está ultrapassado” 01
“acabar com os marajás” 01
Tabela 4 - Expressões e frases que se referem à importância econômica da reforma
tributária
EXPRESSÕES E FRASES OCORRÊNCIAS
“sistema tributário atrapalha a geração de empregos.” 01
“Qualquer coisa que vá fazer paga imposto.” 01
“Do jeito que está, ninguém se anima a investir e sem investir você
não vai criar emprego, não vai gerar crescimento sustentável.”
01
“Você paga imposto 24 horas por dia” 01
“(os impostos) Encarecem o produto, atrapalham as exportações do
país. ”
01
“A conclusão é essa: você paga muito e não recebe nada.” 01
“ (carga tributária brasileira) é uma das mais altas do mundo”/ “é
alta demais”
01
“A conseqüência mais séria disso é o desemprego. É a falta de
condições de gerar novos empregos.”
01
“injustiça” 01
“(sistema tributário) altamente abusivo e injusto” 01
Há uma frase que aparece duas vezes nas reportagens do Jornal Nacional analisadas que
demonstram apoio à proposta de reforma tributária apresentada pelo governo do PT. A tabela 5
111
mostra a frase que aparece duas vezes nas reportagens e que indica esse enquadramento
favorável à reforma sugerida pela equipe do presidente Lula. Inversamente, também há frases
que expressam argumentos contrários à proposta governista de reforma listadas na tabela 6:
Tabela 5 - Frase que se referem favoravelmente à proposta de reforma tributária
apresentada pelo governo
EXPRESSÕES E FRASES OCORRÊNCIAS
“Essa não é a reforma ideal, mas é a reforma possível.” 02
Tabela 6 – Frases que expressam os argumentos contrários às reformas
EXPRESSÕES E FRASES OCORRÊNCIAS
“O que está por trás da reforma da Previdência são as orientações do
Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional”
01
“Só fecho questão se for feita auditoria nas contas da Previdência e
ficar demonstrado que a situação terá que ser resolvida dessa
maneira.”
01
Percebemos que as duas tabelas anteriores (5 e 6) apresentam enquadramentos opostos: a
primeira, reúne a frase que adota um frame favorável ao governo, enquanto a Segunda utiliza um
frame contrário. Embora a ocorrência de argumentos favoráveis e contrários seja igual (duas
vezes para cada frame), isso não quer dizer que o Jornal Nacional adotou uma postura neutra em
relação à reforma da Previdência. As expressões indicadas nas tabelas anteriores (tabelas 2, 3 e 4)
referem-se, mesmo que indiretamente, a argumentos pró-reformas, ou seja, ressaltam a
importância da iniciativa do governo federal em reformar o sistema tributário e previdenciário,
seja pela urgência econômica ou social das mudanças.
112
Em termos numéricos, o telejornal destaca 39 vezes argumentos pró-reformas (tabelas 2,
3, 4 e 5) contra duas vezes as justificativas desfavoráveis (tabela 6). A tabela a seguir sintetiza as
comparações efetuadas e indica o enquadramento geral em relação ao governo do PT utilizado
pelo Jornal Nacional para veicular as reformas constitucionais:
Tabela 7 – Síntese dos enquadramentos apresentados sobre as reformas constitucionais
ENQUADRAMENTOS OCORRÊNCIAS
Favoráveis ao governo do PT 39
Desfavoráveis ao governo do PT 02
b) A taxa de juros
A taxa de juros foi escolhida para figurar como tema econômico do corpus desta pesquisa
devido à importância que o assunto ganhou desde o pleito de outubro de 2002. A definição dessa
taxa é importante pela sua repercussão na economia, ou seja, ela reflete em vários setores,
inclusive no bolso do trabalhador. Por isso, a taxa não se restringe ao campo técnico, mas pode
ser verificada por qualquer consumidor, mesmo que ele não tenha consciência disso, como
acontece com grande parte da população. A taxa de juros relaciona-se, direta ou indiretamente,
com a queda ou aumento na inflação; variação de preços; crescimento econômico e
desenvolvimento comercial e industrial; cotação do dólar e de bolsas de valores; sucesso nas
importações e exportações etc. Ainda durante o período de campanha eleitoral, a manutenção ou
suspensão da política econômica de juros altos figurou como um dos principais pontos dos
debates entre os candidatos justamente porque essas taxas podem definir ou impedir o
crescimento econômico do país. Cabe ao Copom (Comitê de Política Monetária) definir a taxa de
113
juros. O comitê é um órgão do Banco Central, cujo presidente é indicado pelo governo federal. O
evento analisado no corpus é a reunião do Copom e seus desdobramentos, inclusive as possíveis
influências no cenário político brasileiro. A reunião em questão ocorreu no dia 21 de maio de
2003, pouco mais de quatro meses após o início do governo Lula.
O selo identificador das reportagens sobre a definição da taxa de juros pelo Copom é o
mesmo utilizado para divulgar diariamente os indicadores econômicos. Trata-se de uma curva de
gráficos que faz alusão à oscilação de indicadores, no caso, o sobe e desce da taxa de juros. A
imagem virtual também é composta por cédulas de R$ 1.
O Jornal Nacional destacou a manutenção da taxa de juros e as suas conseqüências
práticas para a economia brasileira a partir do dia da reunião do Copom. No entanto, no dia
anterior, terça-feira, 20 de maio de 2003, uma breve reportagem mostrou de maneira didática o
que significa baixar ou aumentar os juros e como isso é possível. Devido a problemas com a
gravação do telejornal em fitas VHS, serão analisadas apenas as edições dos dias 21, 22, 23 e 24,
ou seja, de quarta-feira a sábado. Mesmo com esse recorte, o corpus ainda conta com algumas
falhas na contagem do tempo dedicado às várias reportagens veiculadas pelo Jornal Nacional nas
referidas edições, todavia sem comprometer a cientificidade das análises realizadas. O quadro a
seguir resume a transcrição das reportagens analisadas.
Tabela 8 - Resumo da cobertura da definição da taxa de juros pelo Jornal Nacional
EDIÇÃO TEMPO
TOTAL*
TEMPO DA
REPORTAGEM
BLOCO DESCRIÇÃO DO CONTEÚDO
21/05/03 (4ª feira)
30’57”
3’32”
Reunião do Copom (Comitê de Política
Monetária) e repercussões da taxa (críticas
do vice, José Alencar; opinião de
especialistas; de políticos do PT e da
oposição).
22/05/03 (5ª feira)
Não
disponível
2’40” e 1’
Pedido de demissão de um diretor do Banco
Central. Repercussão da taxa com ministro
Antônio Palocci e presidente do BC
Henrique Meirelles. Comentário de Franklin
Martins.
114
23/05/03 (6ª feira)
36’26”
2’35”
O ministro José Dirceu critica a manutenção
da taxa mas argumenta que é tecnicamente
necessária. Charge.
24/05/03 (sábado)
Não
disponível
Não disponível
Pronunciamento de Lula sobre o assunto.
Governo diz que taxa não é criação petista,
mas herança da gestão passada.
* Referente à soma de todos os cinco blocos de cada noticiário, sem os intervalos comerciais.
Na edição do dia 21, o tema analisado foi alvo de manchetes na escalada de notícias do
telejornal e abriu o primeiro bloco. Temporalmente, foram dedicados três minutos e 32 segundos
ao assunto. Para comprovar a decisão do Copom, são exibidas imagens do documento que
divulga a manutenção da taxa de juros em 26,5% ao ano sob o argumento da necessidade de ser
prudente adotar os mesmos mecanismos que vinham sendo utilizados e que culminaram com o
controle da inflação. Outras imagens mostram uma reunião do presidente Lula com empresários
justamente para discutir mudanças positivas na economia e de um encontro entre o vice José
Alencar e alguns representantes industriais. O conteúdo textual da reportagem procura mostrar
que o valor da taxa é muito alto e que a sua manutenção dividiu opiniões. Quem faz as críticas
mais ácidas é o vice-presidente, José Alencar. O empresário Antônio Ermírio de Moraes, do
Grupo Votorantin, e a oposição também criticam a manutenção da taxa, mas sem muito rigor.
Na edição do dia 22, quinta-feira, o assunto é explorado em uma reportagem de dois
minutos e 40 segundos do terceiro bloco do telejornal. O material destaca o pedido de demissão
de um diretor do Banco Central, mas frisa que o executivo não relacionou o desligamento à
decisão do Copom anunciada no dia anterior. O jornal divulga sonoras do vice Alencar
declaradas no dia anterior em que ressalta seu descontentamento com a decisão do Banco Central.
A reportagem termina com uma sonora do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, que compara a
necessidade de manter os juros altos, herdados do governo anterior, da mesma forma que doenças
115
graves exigem um prolongamento do tratamento embora o paciente (no caso da comparação, a
inflação) demonstre melhoras. Em seguida, o comentário de um minuto de Franklin Martins
refere-se à manutenção da taxa de juros. O comentaristas deprecia as críticas feitas por Alencar
nas duas edições e ressalta que ele o vice-presidente deve ficar quieto para não trombar com as
opiniões e atitudes de Lula.
A terceira edição da série selecionada, no dia 23, traz os comentários do ministro da Casa
Civil, José Dirceu, sobre o caso. A duração do material é de dois minutos e 35 segundos. Dirceu
participava de um seminário sobre Reforma da Previdência e fez os comentários sobre a
manutenção da taxa de juros sem saber que era filmado por jornalistas. Mesmo depois que foi
avisado que o que dizia estava sendo gravado, continuou o pensamento. Ao mesmo tempo em
que critica, Dirceu o faz sem a veemência do vice Alencar, visto que destaca que as medidas
tomadas pelo Banco Central são “necessárias tecnicamente” e que, diante desta necessidade, o
governo precisa ser criativo para vencer a inflação. Esta é a primeira edição que o assunto é
seguido pela charge. Intitulada “E no Sebo das Idéias”, a charge mostra Lula e Fernando
Henrique Cardoso disputando uma agenda que o ex-presidente afirma ser dele. Lula diz que já se
apoderou da agenda.
A última reportagem analisada, veiculada no dia 24, sábado, mostra a repercussão da
decisão do Banco Central no Planalto. O material é composto basicamente por uma nota sem
imagens lida pela apresentadora Fátima Bernardes e uma sonora com Lula. O presidente, em
viagem ao Peru, comenta que a política de juros altos foi herdada do governo anterior e que as
taxas baixas prometidas em campanha ainda estão por vir.
As tabelas a seguir mostram as expressões, frases, adjetivos e advérbios que caracterizam
os enquadramentos da cobertura dada pelo Jornal Nacional à definição da taxa de juros:
116
Tabela 9 – Expressões e frases que se referem à manutenção da taxa de juros
favoravelmente ao governo
EXPRESSÕES E FRASES
OCORRÊNCIAS
“aprovação do mercado financeiro” 01
“é uma tentativa de segurar a inflação no país para manter o equilíbrio
monetário. E por isso fazer a política de juros que considera adequada
e necessária para que isso se realize.”
01
“as medidas tomadas até aqui são necessárias tecnicamente.” 02
“Os juros que estamos praticando é o juro da economia herdada.” 01
Tabela 10 – Expressões e frases que se referem à manutenção da taxa de juros
contrariamente ao governo
EXPRESSÕES E FRASES
OCORRÊNCIAS
“A medida recebeu críticas de industriais e trabalhadores.” 01
“... manter o juro alto aumento o desemprego, prejudica a produção e
premia os especuladores.”
01
“... é o caminho da recessão.” 01
“Pagar esses juros significa jogar o dinheiro do povo pela janela.” 01
“... a manutenção dos juros impede o crescimento econômico.” 01
O Jornal Nacional apresenta a mesma quantidade de expressões e frases para se referir
favoravelmente e contrariamente à manutenção da taxa de juros: são cinco ocorrências para cada
caso, como indicam as tabelas 9 e 10. Esse empate evidencia que não existe uma tendência nem
pró e nem contra o governo do PT ao veicular as reportagens sobre a manutenção da taxa de
juros. O assunto mostra-se controvertido no sentido de as reportagens apresentarem a mesma
quantidade tanto de expressões que se referem à manutenção da taxa como uma atitude favorável
ou desfavorável ao governo, o que denota uma neutralidade no enquadramento utilizado pelo
Jornal Nacional para noticiar o assunto:
117
Tabela 11 – Síntese dos enquadramentos apresentados sobre a manutenção da taxa de juros
ENQUADRAMENTOS OCORRÊNCIAS
Favoráveis ao governo do PT 05
Desfavoráveis ao governo do PT 05
c) O Caso Waldomiro
O terceiro – e último - tema analisado é o Caso Waldomiro Diniz, que é como ficaram
conhecidas as denúncias de corrupção envolvendo o subchefe de Assuntos Parlamentares da
Presidência da República, uma espécie de representante dos interesses do Palácio do Planalto
junto ao Congresso. Waldomiro Diniz ocupou o cargo, considerado de confiança, até a
publicação das denúncias pela mídia, em 13 de fevereiro de 2004.
O caso tornou-se público através de uma reportagem exclusiva -“Bicho na Campanha” -,
da revista Época, magazine semanal das Organizações Globo. A data da referidas edição da
revista é do domingo, 16 de janeiro, mas o produto começou a circular principalmente nas
capitais e grandes cidades desde a sexta-feira, 13. A revista revelou a gravação em vídeo que
mostra Waldomiro negociando com o bicheiro Carlos Alberto Ramos, mais conhecido como
Carlinhos Cachoeira, o favorecimento em uma concorrência pública para explorar jogos
eletrônicos da Loterj (Loterias do Rio de Janeiro) em troca de propina para si e de contribuições
para financiamentos de campanha de candidatos do PT em 2002. Na época da gravação,
Waldomiro Diniz presidia a Loterj, no governo Benedita da Silva (PT-RJ). Após a divulgação das
imagens, ele pediu demissão do cargo no governo federal. O governo também conseguiu impedir
a instalação de CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) para averiguar o caso.
118
O “furo jornalístico” de Época repercutiu em toda a mídia brasileira, o que demonstra a
importância do fato. Isso também justifica a escolha do Caso Waldomiro para compor um dos
temas submetidos a uma análise de enquadramento pela presente pesquisa. A reportagem foi
indicada a uma das categorias do Prêmio Esso de Jornalismo de 2004 devido à qualidade
investigativa apresentada pelo material.
Na semana escolhida, o Jornal Nacional deu grande ênfase ao assunto, inclusive com
dedicação de blocos inteiros que extrapolaram o tempo normal de duração das seções que
compõem o telejornal. Nas sete edições analisadas, o Jornal Nacional dedicou 81 minutos e 11
segundos ao tema. Em todas elas, as reportagens sobre o escândalo são completas – com offs,
passagens, sonoras e notas-pés
10
.
O quadro a seguir resume a transcrição das sete edições analisadas sobre o tema:
Tabela 12 - Resumo da cobertura do Caso Waldomiro pelo Jornal Nacional
EDIÇÃO TEMPO
TOTAL*
TEMPO DA
REPORTAGEM
BLOCO DESCRIÇÃO DO CONTEÚDO
13/02/04 (6ª feira)
38’40”
6’06”
Repercussões em Brasília sobre a denúncia;
imagens do vídeo que comprova a denúncia;
imagens da reportagem da revista Época;
sonora com membros do governo e da
oposição.
14/02/04 (Sábado)
35’50”
8’39”
Informações complementares sobre o caso e
entrevista por telefone com Carlinhos
Cachoeira.
16/02/04 (2ª feira)
37’55”
10’28”
Trabalhos da Polícia Federal e do Ministério
Público para apurar o caso; movimentação
no Congresso causada pelas denúncias;
repercussão na mídia internacional.
17/02/04 (3ª feira)
37’55”
10’28” e 2’42”
Movimentação no Congresso; repercussão
do caso na Assembléia Legislativa do Rio;
proposta de Reforma Política; charge.
Discussão sobre abertura ou não de CPI;
opiniões do governo e da oposição e detalhes
10
Off é o texto narrado pelo repórter em que o áudio é “coberto” por imagens que fazem referência direta ao que é
falado. Passagens constituem as situações em que a imagem do repórter aparece no vídeo ao mesmo tempo em que
ele narra mais informações. Nota-pé é um complemento efetuado ao final da reportagem pelos apresentadores do
telejornal.
119
18/02/04 (4ª feira) 25’ 7’18” e 2’
sobre a exploração dos bingos e evidências
de corrupção no Rio de Janeiro e no Rio
Grande do Sul. Segunda charge.
19/02/04 (5ª feira)
38’
4’05”; 2’12” e 1’
4° e 5°
Resultados preliminares de investigações da
Polícia Federal e do governo. Comentários
de Franklin Martins. Terceira charge.
20/02/04 (6ª feira)
40’
20’20” e 3’40”
Medida provisória editada pelo presidente
Lula proíbe o funcionamento de bingos e
máquinas caça-níqueis. Repercussão do
impacto desses jogos na economia brasileira.
Quarta charge.
* Referente à soma de todos os cinco blocos de cada noticiário, sem os intervalos comerciais.
A edição do dia 13 de fevereiro, a primeira da série escolhida, menciona o Caso
Waldomiro já na escalada de notícias. É a primeira manchete da escalada e ocupa 23 dos 55
segundos dessa seção do jornal, quando também já são exibidas as imagens do conteúdo da
gravação que mostra a negociação entre o até então subchefe para assuntos parlamentares e o
bicheiro Carlinhos Cachoeira. A qualidade de tais imagens é inferior ao chamado Padrão Globo
de Qualidade visto que a gravação foi feita pelo bicheiro, com o auxílio de câmeras escondidas
durante o encontro com Waldomiro.
O Jornal Nacional não possui blocos fixos para cada editoria, como ocorre por exemplo
com jornais impressos e revistas. No entanto, também é possível inferir, após uma observação
sistemática do telejornal, que os assuntos mais importantes do dia, geralmente aqueles que
coincidem com as manchetes da escalada, são tratados já no primeiro bloco. Essa inferência,
todavia, não pode ser considerada uma regra, porque houve edições em que se observou que o
Caso Waldomiro, por exemplo, abre a escalada mas é tratado somente no terceiro ou quarto
bloco, por vezes sem ao menos abrir essas seções.
A reportagem inaugural do assunto no Jornal Nacional ocupa o final do quarto bloco,
depois da veiculação de duas reportagens, das quais uma também é assunto para o comentário de
120
Arnaldo Jabor; quatro notas simples e cobertas e uma vídeo charge. São seis minutos e seis
segundos - o tempo total desta edição é de 38 minutos e quarenta segundos - o que lhe confere a
característica de ser a reportagem mais longa apresentada nesta edição. A reportagem conta com
textos em offs “cobertos” com imagens sobre o burburinho causado pela denúncia entre os
políticos de Brasília e pelas imagens e áudio da gravação da conversa de Waldomiro com o
bicheiro. O jornal utiliza do recurso de colocar legendas para facilitar a identificação correta do
áudio, prejudicado pelas condições da gravação e pelo tom sussurrado da conversa, que por si só
denota a necessidade de esconder seu conteúdo ilícito. Há também imagens da edição da revista
Época, responsável pela publicação do material em primeira mão, e dos dois candidatos petistas
que teriam suas campanhas financiadas pela propina, a saber Geraldo Magela, do Distrito Federal
e Benedita da Silva, do Rio de Janeiro. Além dos textos do off, a reportagem é composta por
sonoras com o ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, responsável pela contratação de
Waldomiro para o cargo de confiança no governo do PT; o ministro Aldo Rebelo, a quem o
acusado era subordinado; e o presidente do PT, José Genoíno. Também foram ouvidos alguns
representantes da oposição ao governo Lula, como o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio, o
senador tucano Antero Paes de Barros e José Serra, presidente do PSDB.
No dia 14, o assunto volta a inaugurar a escalada do jornal. Dos 35 minutos e 50 segundos
de noticiário, o Caso Waldomiro ocupa oito minutos e 39 segundos. Diferentemente do primeiro
dia em que foi coberta, a denúncia ganha mais destaque e migra para o primeiro bloco, mas não
figura como assunto exclusivo dessa seção visto que outras reportagens a sucedem.
Ainda no primeiro bloco da edição do dia 14, são veiculadas outras quatro notas
“cobertas” por imagens relativas a assuntos diversos, sem que, no entanto, tenham relação com o
Caso Waldomiro ou com a política nacional. São utilizadas imagens de arquivo de Waldomiro
concedendo entrevista ainda quando era presidente da Loterj; do Palácio do Planalto e do
121
Congresso; de documentos que comprovam a ligação do acusado com o Planalto na condição de
funcionário; de páginas e da capa da revista Época que denunciou o caso, e de membros
importantes da equipe do governo Lula que direta ou indiretamente foram moralmente
prejudicados pela denúncia. A reportagem deste dia do Jornal Nacional esmiuça o caso com mais
informações e divulga uma entrevista com o bicheiro feita por telefone.
A edição do dia 16 também é aberta com manchetes sobre o Caso Waldomiro. O tema é
tratado no terceiro bloco, que dura 10 minutos e 28 segundos de um tempo total do jornal de 37
minutos e 55 segundos. A reportagem mostra a ação do Ministério Público e da Polícia Federal
em busca de documentos em imóveis de Carlinhos Cachoeira e Waldomiro Diniz que
comprovem as denúncias, e a tensa movimentação no Congresso para abrir ou não uma CPI
(Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar o caso. O jornal exibe também uma espécie de
currículo de Waldomiro ao destacar no texto outros episódios ilícitos em que ele esteve envolvido
e a repercussão do caso no americano The New York Times e no britânico Financial Times.
Na edição do dia 17, o assunto também abre a escalada de notícias e ocupa todo o
primeiro bloco, totalizando nove minutos e 18 segundos de exibição. No final, é veiculada a
primeira charge sobre o assunto. Denominada “E no circo Brasil...”, a charge do cartunista Chico
Caruso mostra o ministro da Previdência Social, Ricardo Berzoini, atingido por uma torta que
suja seu rosto, em referência a uma manifestação ocorrida na semana anterior contra a política
adotada por seu ministério em relação aos aposentados brasileiros, e o ministro José Dirceu
manipulando malabares. Dirceu diz: “_Chega pra lá Berzoini, que o circo não pode parar.” A
afirmação refere-se ironicamente aos acontecimentos dos últimos dias do Caso Waldomiro que
deixou Dirceu em uma situação inusitada, como ocorre com os malabaristas circenses, que têm
que vencer o desafio de não deixar as peças caírem, apesar da dificuldade de manipulá-las.
122
As imagens da reportagem mostram os parlamentares petistas sem aparentar preocupação
com o caso e a movimentação no Congresso tanto de políticos do PT quanto da oposição. Há
destaque para a repercussão do caso na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. Logo após essa
reportagem, é divulgada outra que trata especificamente da Reforma Política, que repercutiu em
todo o meio político de Brasília após a divulgação do Caso Waldomiro. Essa seção tem dois
minutos e 42 segundos. O conteúdo mostra as vantagens da reforma no sentido de evitar atos
corruptos para financiar campanhas e entrevistas com especialistas que endossam esse
argumento.
No dia 18, mais uma vez a escalada do Jornal Nacional á aberta com o Caso Waldomiro,
que também abre o primeiro bloco com uma reportagem de sete minutos e 18 segundos de
duração. O tempo total do jornal deste dia é de 25 minutos. A reportagem apresentada dedica-se
às discussões entre parlamentares do PT e da oposição sobre a criação de uma CPI para investigar
o caso. Há sonoras de parlamentares petistas e da oposição e do ministro da Justiça, Marcos
Thomas Bastos.
Em uma segunda etapa da reportagem, são apresentados mais detalhes do esquema dos
bingos e caça-níqueis no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul e as investigações do Ministério
Público sobre o caso. A charge que segue a reportagem refere-se ao Caso Waldomiro. O título é
“E naquele quarto andar do Palácio do Planalto”, em alusão à parte do imóvel símbolo do Poder
Executivo Federal onde ficava até antes da denúncia o escritório de Waldomiro Diniz, bem
próximo ao do ministro José Dirceu. Na charge, Dirceu aparece vestido de mergulhador. Em
seguida, o presidente Lula pergunta se é uma fantasia para cair na folia, visto que o Carnaval
2004 começaria naquele final de semana. Dirceu, por sua vez, responde que é a roupa para cair
mais uma vez na clandestinidade, uma vez que o ministro permaneceu muito tempo nesta
123
condição durante o Regime Militar. Ao dizer isso, caminha em direção à mureta da sacada como
se fosse mergulhar no infinito e fugir de qualquer tipo de responsabilidade pelo caso.
Logo depois, entra no ar uma reportagem sobre um seminário que discutiu a Reforma
Política em São Paulo e reuniu políticos de vários partidos. Mais uma vez, a reportagem tem
cunho didático e mostra os principais pontos da reforma, explicados por sonoras de políticos de
vários partidos, seja da base aliada ao governo, seja da oposição.
Na edição do dia 19, com duração total de 38 minutos, o Caso Waldomiro é mencionado
na escalada e na segunda reportagem do quarto bloco, que dura quatro minutos e cinco segundos.
O conteúdo da reportagem mostra as investigações do Ministério Público sobre o caso e as
organizadas pelo próprio governo Lula, com destaque para o depoimento à Polícia Federal do
bicheiro Carlinhos Cachoeira, que fez as gravações.
Pela primeira vez, o Caso Waldomiro é tema para os comentários políticos de Franklin
Martins, que fala sobre a posição do ministro José Dirceu em toda a história. Como já foi dito,
Dirceu seria o responsável direto pela contratação de Waldomiro como assessor do Planalto. O
comentário dura um minuto.
Uma nota coberta
11
de 35 segundos, que relaciona brevemente o assunto com os trâmites
diários do mercado financeiro, separa a reportagem da charge do dia, que mais uma vez refere-se
ao Caso Waldomiro. Na charge, José Dirceu diz que fará um pronunciamento sobre o momento
atravessado pelo governo. Em seguida, começa a tocar pandeiro com o senador Aloísio
Mercadante, o ministro Aldo Rebelo e o presidente Lula, numa alusão ao “carnaval” que
atravessam.
11
Refere-se à nota lida pelos apresentadores do telejornal (somente áudio), “cobertas” por imagens sobre o assunto
divulgado.
124
O assunto é retomado no quinto bloco, com uma reportagem que destaca a quebra do
sigilo bancário, telefônico e fiscal de Waldomiro Diniz. A reportagem dura dois minutos e 12
segundos. Depois disso, uma reportagem de três minutos e 23 segundos mostra o envolvimento
de um bispo da Igreja Universal do Reino de Deus do Rio de Janeiro que também é deputado,
com Waldomiro. Por causa desse relacionamento, o bispo deixou de representar a bancada da
Universal.
No dia 20, o Caso Waldomiro ocupa mais da metade do tempo total do Jornal Nacional:
são 20 minutos e 20 segundos de reportagem em uma edição que tem 40 minutos de duração. O
assunto é abordado na escalada e no primeiro bloco do telejornal, exclusivo para o assunto. O
texto e as imagens mostram a tão esperada reação do Planalto ao caso: Lula decide convocar uma
CPI para avaliar as denúncias e aprova uma Medida Provisória que proíbe o funcionamento dos
bingos em todo país.
A reportagem mostra as conseqüências econômicas da medida, as reações dos
proprietários e trabalhadores de casas de bingo e dos parlamentares e coloca no ar um discurso de
Lula em que se explica porquê não tinha se pronunciado até o momento, reforça a necessidade
das investigações e defende que todos estão sujeitos a possíveis denúncias sobre qualquer coisa.
A charge do dia, veiculada no segundo bloco, também se refere ao Caso Waldomiro. O título é
“Não há clima para carnaval”. O ministro Dirceu aparece tocando pandeiro e Lula pede silêncio,
mostrando-se conturbado com toda a situação.
As tabelas a seguir mostram as expressões e frases que caracterizam os enquadramentos
da cobertura dada pelo Jornal Nacional ao caso Waldomiro.
Tabela 13 – Expressões que isentam o governo federal de culpa no caso Waldomiro
125
EXPRESSÕES E FRASES
OCORRÊNCIAS
“foi demitido”/ “foi exonerado”/ “demissão” / “exoneração” /
“afastado do cargo”
14
“(governo) pediu rápida e rigorosa investigação” 03
“Nossa posição de muita tranqüilidade (...) Waldomiro não é filiado ao
PT.”
01
“Os fatos aconteceram em 2002, antes do governo Lula.” 03
“... nenhum centavo entrou (na campanha eleitoral) vindo do senhor
Waldomiro Diniz.”
01
“O que acontece com um subalterno não tem nada a ver, em princípio,
com quem está em cima.”
01
“Confiei nele quando não devia ter confiado” 01
“O governo Lula é um governo sério, né. Isso aí foi um caso isolado,
uma ovelha negra, sabe?
01
As expressões e frases listadas na tabela acima (13) são utilizadas pelo telejornal para
isentar o governo federal de culpa no caso Waldomiro e totalizam 25 ocorrências em todas as sete
reportagens analisadas. Elas destacam que Waldomiro foi exonerado do cargo e não faz mais
parte do governo do PT, além de indicar a idoneidade da gestão petista como se o caso fosse uma
situação isolada, que infringe os preceitos éticos do partido.
Embora as reportagens analisadas refiram-se 96 vezes ao caso Waldomiro como um ato
de corrupção, apenas dez relacionam o crime ao governo federal, conforme demonstra a tabela
abaixo. Ou seja, o Jornal Nacional representa o caso Waldomiro como um ato de corrupção em
106 passagens, mas 96 delas destaca o “escândalo” como um evento isolado em que a pessoa de
Waldomiro Diniz detém toda e qualquer culpa. As outras dez vezes associam o crime ao governo
federal, uma vez que colocam Waldomiro Diniz como funcionário do governo petista.
Tabela 14 – Expressões sobre o caso Waldomiro visto como um ato de corrupção isolado ou
envolvendo o governo federal
126
EXPRESSÕES E FRASES
OCORRÊNCIAS
“cobrança de propina” 19
“crime” 11
“denúncia de irregularidades” / “denúncia” 41
“corrupção” 10
“escândalo” 15
“Waldomiro era funcionário (ou tinha cargo de confiança) do governo
Lula” / “ex-subchefe para assuntos parlamentares”
04
“comissão parlamentar de inquérito” (ou CPI) 06
Ao contrastar as duas tabelas anteriores (13 e 14), deparamos com o seguinte resultado: o
caso Waldomiro é retratado mais como um escândalo de corrupção isolado, uma vez que por 96
vezes o Jornal Nacional o representa como um “crime”, “escândalo” ou “denúncia de
corrupção”, que uma denúncia de irregularidades de um membro do governo petista. Afinal, o
“escândalo” só é associado ao governo federal em dez passagens. Às 96 vezes em que o caso é
tratado sem referências diretas ao governo petista, soma-se as 25 (tabela 13) em que o telejornal
destaca o fato de Waldomiro Diniz ter sido afastado do governo, o que, indiretamente, isenta-o de
culpas uma vez que já tomou as providência necessárias. Dessa forma, temos:
Tabela 15 – Síntese dos enquadramentos apresentados sobre o Caso Waldomiro
ENQUADRAMENTOS OCORRÊNCIAS
Favoráveis ao governo do PT 111 (tabelas 13 e parte da 14)
Desfavoráveis ao governo do PT 10 (parte da tabela 14)
6.2. Análise interpretativa: os enquadramentos
127
Esta segunda seção busca interpretar os dados categorizados pelas tabelas e pela descrição
efetuadas anteriormente para verificar os enquadramentos utilizados pelo Jornal Nacional na
cobertura dos três temas selecionados e fazer inferências sobre as relações da Rede Globo com o
governo petista.
a) As reformas constitucionais
A primeira consideração a ser feita é relacionada ao critério temporal. Percebe-se que o
Jornal Nacional dedicou uma certa prioridade ao tema das reformas constitucionais: somadas, as
reportagens totalizam mais de 40 minutos no período analisado. Abordar a reforma tributária
como tema da tradicional série semanal apresentada pelo Jornal Nacional também é uma prova
dessa prioridade, porque o tema é agendado durante cinco dias consecutivos, com um média de
tempo de quatro minutos e meio para cada reportagem.
Ao noticiar a reforma tributária, o Jornal Nacional adotou um enquadramento didático,
isto é, conduziu as reportagens de maneira a esclarecer os principais pontos da reforma. Para isso,
apresentou infográficos nos cinco dias em que a série foi veiculada. Vale ressaltar que a
reportagem adotou um enquadramento popular, visto que não priorizou dados técnicos sobre a
reforma, com a divulgação de índices e valores de alíquotas e tarifas. A prioridade da série foi
mostrar como os impostos incidem, na prática, no bolso de cada brasileiro, e porque atuam como
entraves para o crescimento econômico de empresas.
Além de uma abordagem didática e popular, a reforma tributária foi representada por
meio de um enquadramento favorável às teses do governo. Em nenhum momento, o Jornal
Nacional criticou pontos específicos ou o texto geral da reforma, o que, indiretamente,
significaria julgar negativamente o governo federal, visto que a proposta de emenda
constitucional foi elaborada pela equipe econômica do presidente Lula. Não queremos dizer que a
128
reportagem ignore o fato de haver muitas mudanças que precisam ser efetuadas justamente para
poupar o bolso do consumidor e promover o crescimento da economia. Pelo contrário. Para
indicar essa necessidade de mudanças, entretanto, o Jornal Nacional utiliza argumentos de
economistas, empresários, especialistas, e mesmo da própria população, por meio das sonoras das
reportagens, ou seja, deixa as críticas a cargo de outras vozes. Concomitantemente, ao destacar a
história da tributação no Brasil, como a reportagem procedeu no segundo dia da série (29 de
abril), o telejornal reforça o enquadramento oficial, uma vez que exprime, mesmo que sutilmente,
que os problemas na cobrança de impostos são antigos e, portanto, não devem ser relacionados ao
atual governo petista.
Percebe-se, também, que o telejornal demonstra um certo equilíbrio nos enquadramentos
oficiais e contrários ao governo quando destaca a movimentação política em torno da apreciação
e votação das duas reformas em questão. É importante ressaltar que há um equilíbrio nas sonoras
que compõem as reportagens no sentido de que é dado espaço igualitário para a ala petista e para
a oposição, formada na época pelos filiados radicais do PT e pelos partidos que não apóiam o
governo, como é o caso do PFL.
Ao cobrir a reforma da Previdência, o Jornal Nacional reitera a ineficiência do sistema
previdenciário brasileiro por meio da edição das imagens exibidas. O sistema anterior à reforma é
representado como moroso, injusto e completamente desordenado pelas imagens exibidas, que
mostram filas; arquivos na mais completa bagunça; exemplos de pessoas que solicitaram o
benefício mas que só o conseguiram anos depois, quando até já tinham morrido; e de outros que,
visivelmente fazem jus à aposentadoria mas têm os pedidos recusados pela Previdência.
O que o telejornal omite, todavia, é que a proposta de reforma do governo não visa a
ordenar o sistema previdenciário e torná-lo livre desses paradoxos. Na verdade, o principal
objetivo da reforma é modificar a aposentadoria no setor público. Apesar de essa questão ter
129
rendido os debates e protestos mais calorosos em relação à reforma previdenciária em 2003, tanto
entre o funcionalismo público, como no meio político de Brasília, nas edições analisadas, o
Jornal Nacional parece encobrir a questão com os problemas clássicos da Previdência citados
anteriormente, mais relacionados a exigências administrativas, morais, éticas e de promoção da
cidadania. As mudanças na aposentadoria do funcionalismo estão em segundo lugar na hierarquia
de prioridade. Informações sobre as principais mudanças que seriam empreendidas pela reforma
são explicadas brevemente em infográficos nas edições dos dias 29 e 30 de abril.
Dessa forma, os enquadramentos adotados pelo Jornal Nacional na cobertura das
reformas constitucionais acabam por promover moralmente a iniciativa do governo petista,
mesmo que indiretamente. O telejornal da Globo confere grande destaque às reformas e salienta a
necessidade de elas ocorrerem uma vez que relaciona sua aprovação à extinção de problemas
ligados à concessão de aposentadorias e à cobrança excessiva de impostos.
O que queremos apontar aqui é que o Jornal Nacional apenas mostra a necessidade das
reformas, sem promover debates sobre o real conteúdo do texto apresentado no Congresso. Por
exemplo, no quarto dia da série sobre a reforma tributária, o telejornal tece críticas à proposta de
a CPMF tornar-se uma contribuição permanente, mas não o faz de maneira a relacionar a autoria
da emenda constitucional ao governo petista.
Finalmente, além de serem apresentadas de maneira eufórica, as reformas são amplamente
relacionadas à iniciativa do governo. Os pontos polêmicos, geradores de um significado disfórico,
são indicados nas reportagens muito superficialmente, como se o texto da emenda não tivesse
autoria, visto que nenhuma instância do poder ou grupo político é responsabilizado por isso.
Analogamente, a reportagem da revista Época de 21 de abril de 2003 que aborda a
reforma tributária, também apresenta um enquadramento pró-governo, uma vez que salienta os
esforços do Planalto em aprovar a emenda constitucional com as mudanças no sistema tributário
130
e o que essas transformações significam de positivo para o desenvolvimento da economia
brasileira. Na linha fina da reportagem
12
, a frase “se der certo, será mais do que se fez nos
últimos anos”, comprova a tese do enquadramento governista porque induz o leitor a pensar que
pelo menos o governo tenta fazer a coisa certa em busca do desenvolvimento.
O Jornal da Record, trata o tema das reformas mais sob o viés do embate político que a
aprovação das reformas significaria para o governo Lula que pelo enquadramento didático ou
defensor das mudanças utilizado pelo Jornal Nacional. O Jornal da Record deu mais destaque às
divergências partidárias, inclusive às contradições internas do PT, que ao conteúdo do texto das
reformas apresentado ao Congresso. Nas sete edições deste telejornal que serviram como veículo
comparativo, são comuns expressões como “cruzada pelas reformas tributária e da Previdência”,
“batalha”, “está dada a largada para a disputa”, em relação ao desafio enfrentado pelo governo
Lula para ter as reformas aprovadas.
b) A taxa de juros
A taxa de juros foi assunto de notícias veiculadas durante as quatro edições analisadas o
que possibilita inferir que o Jornal Nacional deu destaque ao assunto. A título de exemplificação,
a primeira reportagem sobre o tema, veiculada no dia 23, é a maior em termos temporais quando
comparada às demais reportagens da mesma edição.
Como a taxa de juros foi mantida em um patamar considerado alto, o tema escolhido é
notoriamente tido como disfórico para o governo Lula, visto que não condiz com as propostas de
campanha do presidente. As altas taxas de juros foram combatidas pelo PT, uma vez que se
12
Denominação da frase localizada graficamente no alto das reportagens de jornais e revistas, que apresenta uma
fonte gráfica menor que a do título ou manchete, e cuja função é resumir o conteúdo do texto e destacar alguma
informação.
131
transformaram em características dos últimos anos da era FHC. O Jornal Nacional, contudo, não
destaca esse lado disfórico do tema.
De maneira geral, as reportagens analisadas terminam com sonoras de membros do
governo que justificam a manutenção da taxa de juros em 26,5% ao ano. No dia 22, o ministro
Palocci refere-se metaforicamente à inflação como uma doença grave, que precisa continuar em
tratamento até o final, ou seja, com adoção das mesmas taxas de juros, mesmo que o doente – a
economia brasileira – tenha dado sinais de recuperação. No dia seguinte, é a vez do ministro José
Dirceu afirmar que as medidas tomadas pelo Banco Central são
“necessárias tecnicamente”, e que, na ocasião, o governo precisava de criatividade para conviver
com os juros altos enquanto não pudesse abaixá-los. Na última reportagem analisada, Lula
exime-se de qualquer culpa ao dizer que as taxas de juros são uma herança do governo FHC.
Essa estratégia confere ao tema um enquadramento favorável ao governo, visto que
responsabiliza o governo anterior pelo problema, levando o telespectador a ter esperanças de que
a situação não será permanente. Essa interpretação das reportagens pode ser comprovada pela
presença de expressões no texto, constantes da tabela 8, que sugerem que os juros altos são “um
mal necessário”.
O comentário de Franklin Martins também exprime a orientação pró-governo do Jornal
Nacional. A opinião do comentarista resume-se a criticar a postura do vice José Alencar, único
participante do governo que depreciou vigorosamente a decisão do Banco Central de manter os
juros elevados. Enfaticamente, Martins afirma que “vice bom é vice discreto, que fica na sombra
e cisca para dentro.”
O único trecho analisado da série que adota um enquadramento incontestavelmente contra
o governo é a charge veiculada na e dição do dia 23. Chico Caruso, autor do cartum, ao utilizar-se
da ironia comum a esse gênero jornalístico, compara Lula ao ex-presidente Fernando Henrique
132
como se o governo petista fosse uma continuação do tucano, uma vez que optam pela adoção da
mesma política monetária. A charge insinua que Lula segue o mesmo caminho de FHC até
porque utiliza a agenda que foi dele, encontrada no “Sebo das Idéias” imaginado por Caruso.
O enquadramento adotado por Época (edição de 21 de abril de 2003) sobre a definição da
taxa de juros, de uma forma geral, é semelhante ao do telejornal mais importante das
Organizações Globo. A revista também destaca que a manutenção da taxa em um patamar
considerado alto constituiu uma situação normal para um governo que começara havia apenas
quatro meses e que não teria tido tempo hábil para baixar os juros. A legenda da única foto da
reportagem direciona essa idéia e comprova o enquadramento: “Lula não pode baixar os juros de
uma hora para outra”.
Em comparação, o enquadramento adotado pelo Jornal da Record para a definição da
taxa de juros não apresenta grandes discrepâncias em relação às representações construídas pelo
Jornal Nacional e pela revista Época. Ainda que mais sutilmente, o Jornal da Record também
critica as declarações contra a alta taxa de juros proferidas pelo vice-presidente José Alencar.
Outra diferença é que as críticas na Record são feitas pelo próprio apresentador do telejornal,
Boris Casoy, que atua como âncora – apresenta as notícias e as comenta - enquanto na Globo,
um comentarista especial – Franklin Martins. Cabe lembrar que o Jornal da Record adota um
enquadramento de esperança, isto é, os comentários do âncora e de Salete Lemos, outra
apresentadora, perpassam a idéia de que a manutenção da taxa alta é provisória e que seria
preciso esperar mais uns três meses para que os juros diminuíssem de patamar.
c) O Caso Waldomiro
O fato de as reportagens selecionadas sobre o caso Waldomiro ocuparem lugar de
destaque na escalada de notícias de todos os sete telejornais analisados e o primeiro bloco de
133
quatro edições estudadas comprova a importância dada pelo Jornal Nacional ao assunto. Por si
só, essa priorização, aliada ao tempo de mais de 80 minutos dedicado ao assunto durante sete
edições, possibilita inferir que o telejornal adotou um enquadramento de destaque em relação ao
caso Waldomiro.
De maneira geral, as sete edições analisadas sobre o Caso Waldomiro não trataram o tema de forma a atacar
o governo federal e não adotaram um enquadramento contrário ao presidente Lula. Diferentemente disso,
determinados pontos das reportagens das sete edições deixaram claro que as denúncias de corrupção, cobrança de
propina e de dinheiro ilícito para financiar campanhas do PT partiram do assessor Waldomiro Diniz sem que, para
isso, ele tenha recebido ordens de algum membro do Partido dos Trabalhadores ou do governo Lula. Portanto, a
responsabilidade pelos atos ilícitos denunciados pela mídia seria de Waldomiro Diniz, segundo o Jornal Nacional.
Em um trecho de uma sonora com o presidente do PT, José Genoíno, veiculada no primeiro dia da série que compõe
o corpus deste estudo, o político deixa claro que Waldomiro não era filiado ao partido. As reportagens também
ressaltam que as denúncias referem-se a acontecimentos de 2002 e que Waldomiro somente passou a ocupar a função
de subchefe para assuntos parlamentares em 2003, quando o governo Lula começou.
Outro ponto que reforça o enquadramento ameno com o governo é o fato de as reportagens mostrarem a
repercussão política do Caso Waldomiro de forma generalizada, isto é, ressaltam a preocupação de todo o Congresso
com o acontecimento, seja entre os parlamentares aliados ao governo, seja entre a oposição. Dessa forma, as
reportagens poupam o Poder Executivo, porque a repercussão dos fatos aparece de forma disseminada em todo o
meio político de Brasília.
Ao mesmo tempo em que os enquadramentos citados favorecem o governo, há termos e expressões bastante
fortes usados na categorização do Caso Waldomiro pelo Jornal Nacional. Por exemplo, o episódio é rotulado pelo
jornal de “denúncia de corrupção” e “escândalo”, que levam a julgamentos morais. A palavra crime também foi
usada na categorização, visto que a legislação brasileira, inclusive a dedicada a fins eleitorais, assim considera a
corrupção, cobrança de propina e financiamento de campanhas políticas com dinheiro ilícito.
Já na primeira edição da série (dia 13), a apresentadora Fátima Bernardes anuncia, na
última manchete da escalada de notícias sobre o caso, que Waldomiro Diniz teria sido demitido
do cargo no Planalto. Nos dias seguintes, essa condição de ex-funcionário de confiança é sempre
134
citada assim que a acusação de corrupção é anunciada. No entanto, é importante ressaltar que,
durante a reportagem, as denúncias são relacionadas exclusivamente ao nome de Waldomiro. No
texto da reportagem do dia 13, há a indicação de que Lula teria pedido rápida e rigorosa
investigação sobre o caso, o que denota a indignação da presidência da República com o
escândalo desde o início da cobertura mediática sobre o assunto. No dia seguinte, um trecho da
reportagem chama a atenção: o bicheiro acusado, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira,
diz acreditar que o escândalo tenha sido um ato isolado. “_O governo Lula é um governo sério,
né. Isso aí foi um caso isolado, uma ovelha negra, sabe?”, diz Cachoeira em uma breve sonora
que compõe a reportagem e que auxilia na construção do enquadramento a favor do governo.
Os textos das reportagens contam com poucos adjetivos e advérbios que possam
direcionar enquadramentos a favor ou contra o governo Lula. Os textos são enxutos e
referenciais, principalmente quando comparados com a reportagem de Época que divulgou
publicamente o caso. Enquanto a revista leva o leitor a inferir que o governo petista também é
corrupto, embora a bandeira do Partido dos Trabalhadores sempre tenha sido o combate a ações
lesivas às prerrogativas constitucionais no que diz respeito à administração pública e à cidadania,
o Jornal Nacional não faz nenhum tipo de comparação que possa direcionar um enquadramento
“anti-Lula”.
A edição de Época que divulga o caso traz na capa o título “Dinheiro sujo” e se refere a
Waldomiro como o “homem que cuida dos interesses do Planalto”, expressões que constróem um
enquadramento nitidamente desfavorável ao governo petista. A carta do editor da mesma edição
(16 de fevereiro) conclui que o PT é um partido como qualquer outro, isto é, também é manchado
por casos de corrupção. Outra discrepância de enquadramentos adotados pelo Jornal Nacional e
por Época pode ser verificada na segunda edição da revista dedicada ao assunto (que circulou em
23 de fevereiro de 2004). O texto coloca em xeque se os atos de corrupção envolvendo
135
Waldomiro Diniz não foram praticados tamm em 2003, quando o acusado já teria adquirido um
cargo de confiança no governo petista. O Jornal Nacional, ao contrário, destaca que os atos de
corrupção ora denunciados foram praticados somente em 2002, antes da gestão Lula começar.
A título de comparação, também destacamos, de forma resumida, o enquadramento mais
geral adotado pela Folha de S. Paulo, que também figura como veículo referencial nesta
pesquisa. As reportagens publicadas pelo diário que dizem respeito ao tema são identificadas pela
expressão “Sombra no Planalto”. No entanto, ao invés de relacionar diretamente o escândalo da
cobrança de propina feita por Waldomiro Diniz ao presidente Lula, o jornal liga o caso ao
ministro José Dirceu, responsável pela contratação do ex-assessor e a quem o acusado era
subordinado. Vale lembrar que destacar Dirceu na reportagem em lugar de Lula não significa
isentar o presidente de qualquer culpa, uma vez que o ministro é uma das figuras mais fortes do
governo do PT e braço direito do governo. Outra questão a ser levantada, tanto no texto das
reportagens publicadas pela Folha, quanto nas colunas de colaboradores, é a categorização do
escândalo como uma prova de que o PT é um partido semelhante às demais agremiações
brasileiras e que, embora o Partido dos Trabalhadores priorize o combate à corrupção como uma
de suas bandeiras, não está livre dela em suas gestões.
Com relação ao Jornal Nacional, outra demonstração de equilíbrio nas reportagens
analisadas é o espaço dado aos acusados e aos acusadores, conforme determinam os princípios
éticos da prática jornalística. Em todas as edições, fica evidente a preocupação do Jornal
Nacional em ouvir as partes envolvidas no caso: o bicheiro que fez a denúncia, gravou a conversa
e entregou a fita VHS à revista Época; membros do PT, ministros e parlamentares do partido;
políticos da oposição; representantes do Ministério Público e da Polícia Federal etc. O equilíbrio
é inclusive temporal: uma sonora com representantes do PT sempre é seguida por outras de
membros da oposição ou vice-versa. Nos telejornais analisados, somente o acusado Waldomiro
136
Diniz não foi ouvido, porque seu paradeiro era desconhecido pela polícia, Ministério Público e
mídia até aquele momento. Waldomiro não atendeu a mídia e aparentemente não entrou em
contato com ninguém do governo Lula após a divulgação da reportagem da revista Época.
As vídeo charges do cartunista Chico Caruso constituem o momento das reportagens
sobre o Caso Waldomiro em que a referência ao governo Lula inexoravelmente ganha o tom de
crítica e enquadramentos negativos. Das sete edições analisadas, as quatro últimas apresentam
charges relacionadas ao tema. Todas utilizam a ironia, intertextualidade e humor sarcástico,
comuns a esse gênero jornalístico, para se referirem ao caso. É importante ressaltar que o
conteúdo das charges não é simples e de fácil entendimento e exige do telespectador reflexão
para entender a crítica perpassada pela ironia e pelo humor dentro do contexto da política
nacional.
Das quatro charges, pelo menos em três o ministro José Dirceu é o maior alvo da ironia e
do humor ferino, logo, do enquadramento crítico, sempre retratado em situações delicadas. Nas
duas últimas charges, predomina a intertextualidade com o Carnaval, que iria começar no final de
semana seguinte em todo o país: a bagunça típica desse evento da cultura brasileira é comparada
ao reboliço que o Caso Waldomiro causou no governo Lula.
Em última análise, as reportagens apresentadas pelo Jornal Nacional sobre o Caso
Waldomiro no período analisado, apresentam características do jornalismo interpretativo, além
daquele de cunho factual, que noticia os acontecimentos diários. Ao contrário do que foi feito por
Época, que explorou o jornalismo investigativo porque detinha o furo jornalístico sobre o caso, o
Jornal Nacional priorizou contextualizar o que as denúncias de corrupção envolvendo o ex-
assessor do Planalto significavam para a política e a economia brasileira, além de simplesmente
noticiar o fato. Por isso, as reportagens mostraram a necessidade de uma reforma política que
regulamente o financiamento de campanhas políticas com dinheiro público para evitar doações
137
ilícitas feitos por empresários para caixas de candidaturas. O telejornal também mostrou o setor
da economia movido pelos bingos e jogos eletrônicos, como funcionavam e porque eram
permeados por irregularidades, possibilidade de lavagem de dinheiro e até envolvimento com a
máfia de países europeus.
Lima (2004) observa que as coberturas sobre o Caso Waldomiro realizadas pelo Jornal
Nacional e pela revista Época obedeceram a enquadramentos distintos e dá uma interpretação
para esse fato:
“A ausência/ineficácia da legislação permite que grupos brasileiros
possuam propriedade cruzada de veículos de mídia, vale dizer, controlem
ao mesmo tempo e no mesmo mercado, a mídia impressa (jornais,
revistas) e a mídia eletrônica (rádio, televisão). Além disso, em alguns
grupos de mídia, os mesmos jornalistas/colunistas estão presentes em
diferentes veículos: jornais, revistas, TV aberta e paga, rádio e sites na
Internet. Esses fatos poderiam sugerir que a cobertura política de
diferentes veículos de um mesmo grupo (por exemplo: jornal, televisão e
revista), necessariamente seguiria a mesma orientação [enquadramento].
No entanto, nem sempre isso acontece. Ao contrário, um grupo
empresarial pode exercer, de forma estratégica, seu poder de barganha
com o Estado, orientando (ou omitindo) de forma diferenciada, dentro dos
limites de seu interesse, a cobertura política em seus diversos veículos de
comunicação. No episódio do “Caso Waldomiro”, por exemplo, as
coberturas políticas da revista Época, do jornal O Globo e do “Jornal
Nacional” da Rede Globo – todos veículos das Organizações Globo -
obedeceram a orientações [enquadramentos]
distintos (ainda que isso não signifique pluralidade de posições, pois
ocorre dentro de limites estruturalmente pré-estabelecidos para o
noticiário político).” (LIMA, 2004: 15)
Afinal, a revista Época ganhou prestígio não apenas no cenário jornalístico, mas entre os
leitores – e isso significa aumento de credibilidade, devido à exclusividade e qualidade da
reportagem investigativa. Por outro lado, no Jornal Nacional, como vimos, a abordagem foi
suavizada, pela relativização do significado do caso em relação ao governo. É desnecessário
repetir com riqueza de detalhes explorados no capítulo 3 desta dissertação que o Jornal Nacional
138
tem um impacto social e político que não se pode comparar ao da revista Época ou a qualquer
outro meio, o que lhe dá muito mais importância na formação de correntes de opinião. Portanto, o
enquadramento relativizado do significado do Caso Waldomiro em relação ao governo
possivelmente torna-se mais impactante sobre a audiência que o dos veículos impressos. No
entanto, esta dissertação não utilizou uma metodologia aplicada à análise da recepção dos
enquadramentos e essa lacuna deverá ser respondida somente por outros estudos mais complexos
em relação ao comportamento da audiência.
139
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
“A televisão tem um notável cacife político e uma
incrível capacidade de influir politicamente”
(SÉRGIO MICELLI, In: NOVAES, 1991)
Se logo após o anúncio da vitória do PT nas eleições que escolheram o presidente
brasileiro para o mandato de 2003 a 2006 a relação entre o partido e o Jornal Nacional foi
apelidada por muitos críticos da mídia como “lua-de-mel” (BRUNO, 2003; MAGALHÃES,
2003; TEMER, 2003; FREITAS, 2004), o que ocorreu nos meses seguintes, até meados de 2004,
pode ser entendido como indícios de um casamento extremamente harmônico. As análises
efetuadas por esta dissertação permitem fazer indicações desse enquadramento simpático ao
governo, ainda que a benevolência do Jornal Nacional em relação à primeira gestão federal do
PT não seja adesista. Mais um presidente no Executivo Federal brasileiro, mesmo que ele tenha
sido combatido durante mais de uma década, e a Rede Globo, por meio do Jornal Nacional,
renova sua vocação governista.
Embora as análises efetuadas pela presente dissertação não tenham comprovado um
enquadramento sistemático a favor do governo pelo principal telejornal da Globo - e,
140
conseqüentemente, de todo o país - , as representações instauradas pelo Jornal Nacional são
implicitamente mais favoráveis do que desfavoráveis ao governo Lula.
É forçoso admitir que o Jornal Nacional mudou de estilo. A exemplo de outras ocasiões,
o telejornal mais assistido do país não utiliza, para apoiar o grupo político que detém o poder, a
omissão, como ocorreu em 1984, na época da campanha pelas Diretas-Já; nem é
indubitavelmente favorável a um lado, como demonstrou ser em 1989, durante a campanha que
elegeria diretamente pela primeira vez um presidente após um jejum de mais de 30 anos;
tampouco negligencia totalmente o noticiário político, como o fez em 1998.
No entanto, as análises apresentadas anteriormente corroboram a afirmação de que a
característica de ser favorável ao governo, demonstrada pelo Jornal Nacional, ainda persiste,
embora por meios mais sutis. No Caso Waldomiro, por exemplo, o Jornal Nacional não defende
a gestão federal do PT sonegando a notícia, mas a poupa de insinuações mais perigosas que
surgiram naturalmente a partir do momento em que as denúncias de corrupção foram anunciadas
pela mídia.
O mesmo ocorre com a cobertura das reformas constitucionais. Para as críticas, utiliza
entrevistas feitas com políticos da oposição, o que dá a impressão de que o Jornal Nacional é
neutro. No jargão jornalístico utilizado nas Redações de qualquer meio noticioso, isso significa
dizer que o telejornal global colocou a polêmica “na boca dos entrevistados”, a fim de eximir-se
de qualquer responsabilidade por enquadramentos pró ou contra o governo petista. Ao cobrir as
reformas, o telejornal também não empreende críticas ao texto da reforma, mas apenas enaltece a
urgência delas. Ao menos mnas edições analisadas, aspectos importantes e extremamente
polêmicos, como as modificações nas regras da aposentadoria no setor público, ficam em
segundo plano, e não são alvo de discussões e críticas pelo Jornal Nacional.
141
A mesma tendência pode ser verificada em relação à cobertura da definição da taxa de
juros, em maio de 2003. O telejornal não lembra as promessas que Lula fez na campanha de
modificar a política financeira e nem critica diretamente a adoção das mesmas taxas existentes no
governo anterior. Na sua condição de ser conduzido por apresentadores e não âncoras, o Jornal
Nacional apenas apresenta o fato. Um pouco de crítica, ainda que sutil e permeada por ironia, fica
por conta apenas das charges do cartunista Chico Caruso. Isso não significa, todavia, a existência
de um enquadramento ambíguo. Na verdade, o que não é categoricamente afirmado no texto da
notícia está na charge, que complementa várias reportagens analisadas como se fosse uma
conclusão do assunto. Acreditamos que o grau elevado de criticidade das charges em relação às
reportagens deve-se ao fato de ser um gênero humorístico, opinativo e assinado por um
colaborador, o que confere um sentido autoral, portanto subjetivo e “artístico” ou fabulativo e,
não, real às ironias.
Dessa forma, o Jornal Nacional firma seu tradicional posto de telejornal benevolente,
simpático ao governo federal, o que endossa o argumento previamente apresentado de que a Rede
Globo procura sempre se aliar aos novos governantes a cada sucessão presidencial,
independentemente do partido representado. Desde o início do governo Lula, a postura que a
Rede Globo e o Jornal Nacional adotariam em relação à gestão petista gerou grande expectativa,
uma vez que esse seria o primeiro mandato de um grupo tradicionalmente de esquerda. Mudanças
significativas no enquadramento oficialista do telejornal não ocorreram, todavia. Em troca, a
Globo continuou “intocada em seus privilégios”, como previram Lima e Caparelli (2004).
Vale ressaltar que a televisão no Brasil é uma concessão de serviço público, o que, por si
só, já implica uma certa dependência em relação ao governo federal. Além do estado, a TV
brasileira também é refém dos interesses mercadológicos, ao contrário do que ocorre na
Inglaterra, por exemplo, onde prevalece o interesse público.
142
Por um lado, a questão da grave situação financeira das Organizações Globo por volta do
período eleitoral e a expectativa por um empréstimo do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social), referida por diversos autores e amplamente divulgada
pela mídia, é sugerida como um fator relacionado à conduta do telejornalismo da Globo em face
do novo governo. Os dados utilizados por esta dissertação e as análises empreendidas não são
suficientes para estabelecer relações definitivas entre esses fatos. Desvendar essa questão é tarefa
para estudos mais amplos, que adotem outros métodos, adequados a esse problema.
Por outro lado, da mesma maneira como a Globo depende do governo, o governo depende
da Globo. Na verdade, a mídia de forma geral é indispensável às ações políticas de qualquer
governo para reforçar idéias, ações e temas, conforme ressalta Weber (2000). E como já foi dito,
falar em mídia no Brasil é falar primeiramente em televisão. A singularidade da Globo na mídia,
tamanho o alcance e a supremacia dessa emissora no cenário mediático, a destaca nesse contexto.
Essa influência recíproca é indicativa da mediatização da política brasileira e da veracidade do
fenômeno da videopolítica, isto é, o papel crescente no processo político das representações que a
televisão faz da luta pelo poder.
A relação pouco amistosa entre Lula e a Globo, oriunda dos processos eleitorais
anteriores, esvaiu-se. Talvez porque o PT também tenha mudado de postura, ao abandonar
ideologias e bandeiras de luta instituídas desde sua criação. Aos 25 anos e no primeiro mandato
na cobiçada presidência da República, o Partido dos Trabalhadores demonstra ter-se deslocado
para o centro do espectro político brasileiro, adotando políticas conservadoras, em especial nas
áreas econômica e política. Indícios dessas transformações não faltam na área econômica:
obediência às prerrogativas do FMI (Fundo Monetário Internacional), combatidas desde a criação
do partido; adoção de uma política monetária restritiva, contrária às demandas
desenvolvimentistas do conjunto da sociedade brasileira. Na área política, a coalizão com
143
agremiações de centro e de direita; expulsões e ameaças de punição de deputados que se
insurgem contra as mudanças de rumo do governo, adoção de marketing eleitoral para direcionar
estratégias de campanhas etc.
Reconhecemos que a audiência não é passiva ao ponto de se influenciar totalmente pelos
enquadramentos adotados pelo Jornal Nacional. Não obstante, também admitimos que para uma
audiência que não tem acesso a mais um meio de comunicação, a não ser à televisão, e que utiliza
o telejornal da Globo, veiculado estrategicamente entre duas novelas, como única fonte de
informação e de formação da opinião, sua influência no agendamento da opinião pública deve ser
considerável. Sendo assim, os enquadramentos do Jornal Nacional tornam-se as representações
da política recebidas por cerca de 31 milhões de telespectadores que assistem o noticiário
diariamente. Para essas pessoas, se a Globo não agenda um assunto, ele fica adormecido. Pelo
contrário, se o telejornal insiste num tema, ele tende a virar assunto das conversas.
Os enquadramentos, que constituem as representações divulgadas pela emissora, podem
ser confundidas com a realidade devido à falta de outros referenciais. Vale lembrar como
exemplo a popularidade crescente de Lula, a qual inferimos ser resultado da divulgação de
representações mediáticas pela Globo pouco críticas, às quais a maioria da audiência tem acesso
como fonte única de informação. Desse modo, enquadramentos que a emissora dispensar para o
tema agendado provavelmente serão os dominantes devido à força singular que este veículo tem
no cenário mediático brasileiro. Os enquadramentos adotados pelo Jornal Nacional da Rede
Globo têm o poder de influenciar a política devido à magnitude dessa emissora e o fato dela não
ter concorrentes que possam abalar sua hegemonia no cenário mediático brasileiro. Por isso, o
que a Globo veicula acaba por se tornar definitivo, único, verdadeiro e delineador de condutas
para a audiência.
144
Ao mesmo tempo, vale ressaltar que, desde o período eleitoral de 2002, a Rede Globo
demonstra ter adotado mudanças na sua cobertura jornalística em relação à política, antes
claramente benevolente ao grupo detentor do poder político. Embora a cobertura do primeiro e
do terceiro temas analisados por esta pesquisa demonstrem a adoção de enquadramentos
favoráveis ao governo do PT, o Jornal Nacional apresenta um certo equilíbrio no tratamento dos
assuntos porque, como já foi dito, a representação pró-governo não é explícita e nem deliberada.
O telejornal demonstra obedecer a critérios mais profissionais na condução das notícias e a adotar
enquadramentos mais neutros como determina a ética jornalística.
Embora pareça ufanista, é necessário admitir que, frente a essa situação, ganha a
democracia brasileira, que tem condições de ter pleitos mais competitivos, e tamm o
jornalismo, que consegue cumprir sua função social de informar a população. Afinal,
enquadramentos existem em qualquer situação em que haja representações mediáticas.
Reconhecemos que a Globo ainda permanece benevolente na cobertura dos fatos relacionados ao
governo federal, mas cabe ressaltar que esses enquadramentos estão bem mais sutis ao jornalismo
oficialista praticado por exemplo durante o Regime Militar.
Diante dessas considerações, surgem algumas questões. Será destino da televisão
hegemônica ser governista ou conservadora (que atue como um fator de coesão social e
equilíbrio), aliado ao fato de que ela ganha prestígio junto ao governo federal que, no Brasil, é o
poder concedente, fonte de recursos, leis e regulamentos, mesmo que a legislação precise passar
pelo crivo do Congresso? Em relação às representações mediáticas instauradas pela emissora
sobre os três temas analisados, podemos questionar se a Globo estaria tentando aumentar seu
cacife junto ao governo federal, embora já seja comprovado seu papel central no oligopólio da
mídia brasileira?
145
Com relação aos diferentes enquadramentos adotados pelo Jornal Nacional e os veículos
impressos – Época e Folha de S. Paulo – utilizados para efetuar comparações, cabe ressaltar a
sofisticação das reportagens dos dois últimos, característica indicativa que a mídia impressa no
Brasil é naturalmente mais incisiva e crítica. Isto é , os textos são mais completos, aprofundados e
com um viés mais intelectual, ao contrário do telejornal, que apresenta uma estrutura mais
factual, coloquial e popular. Trata-se de diferenças naturais que influem na construção dos
enquadramentos. Ademais, os textos impressos contam com mais seções assinadas por
colaboradores, o que acaba por distribuir a responsabilidade sobre os enquadramentos. Por isso, é
comum encontrar textos assinados com enquadramentos diferentes da orientação geral do
veículo. Ao contrário da mídia televisiva, a impressa não depende das concessões políticas, o
que, por si só, já aumenta o seu caráter de independência.
Por fim, reiteramos aqui, a necessidade de a mídia brasileira, sobretudo a televisão devido
a seu caráter mais abrangente, ser crítica em relação a temas políticos, a fim de consolidarmos os
ideais democráticos. A mídia não deve se eximir de críticas a qualquer que seja o ocupante do
governo e examinar todos os aspectos de um assunto de forma investigativa. Sem querer ditar
uma postura normativa, o jornalismo precisa ser vigilante, cobrar ações e criticar eventuais
deslizes. Dessa forma, a mídia cumpre sua função de ser o Quarto Poder, promovendo a
vigilância e crítica aos poderes constituídos, em nome dos cidadãos – e dos
telespectadores/leitores.
146
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157
ANEXO
Transcrição dos roteiros das reportagens analisadas na dissertação
Tema: Reformas constitucionais
Data: 25/04/03 (sexta-feira)
(Tempo total: 34’45”)
158
Escalada (35”)
* Futebol
* Presidente Lula encontra Hugo Chávez no Recife
* Guerra no Iraque
1º Bloco
* Reforma da Previdência (2’50”)
Fátima Bernardes – No arquivo Geral do INSS, em São Paulo, milhares de documentos estão jogados, em péssimo
estado de conservação. São papéis dos quais os segurados dependem para pedir a revisão de benefícios.
Off (repórter Ernesto Paglia) - Parece lixo, mas é o passado de milhares de trabalhadores. Documentos, histórias de
vida, amontoados sem respeito. Processos atirados ao chão, arrancados de gavetas perdidas. O registro de anos de
trabalho tratado como restos sem valor. Mesmo o que está no armário, traz um alerta absurdo: está fora de lugar.
Durante duas horas, caminhamos sozinhos pelos corredores sinistros do Arquivo Geral do INSS em São Paulo. Não
encontramos ninguém. Encontrar alguma coisa é mesmo difícil. Em vez de guardar, o imenso porão sujeito a
inundações esconde a papelada que faz falta ao segurado na hora de qualquer queixa contra o INSS.
Sonora com Leila Paiva, presidente do Fórum Especial Previdenciário: "Nós temos ali documentos arquivados
inadequadamente que são essenciais para o assegurado. Além disso, nós temos documentos incinerados".
Off - Nem o fogo consegue apagar injustiças provocadas pela desordem e pelo mau atendimento.
Válter Andrade trabalhou dos 12 aos 60 anos, até descobrir um câncer gravíssimo e perder o braço esquerdo.
O marceneiro pediu ao INSS um benefício assistencial de um salário mínimo, garantido pela Constituição em casos
como o dele. Mas uma perícia inacreditável do INSS negou o pedido e concluiu que o doente podia trabalhar.
Sonora com Leila Paiva: "A família em condições precárias, a pessoa internada numa condição dessa. Isso revolta
não a juíza, mas a pessoa, o ser humano", confessa Leila Paiva.
Off - Uma liminar deu razão ao marceneiro. Mas a justiça durou pouco: 19 dias depois do primeiro pagamento,
Válter Andrade morreu de câncer.
Sonora com filha de Válter: "Meu pai não foi um caso isolado", ressalta Rejane Andrade, filha de Valter.
Passagem - A Justiça Federal afirma que pelo menos metades dessas pessoas não precisariam entrar com processos:
50% deles, movidos pelo INSS, poderiam ser resolvidos com simples acordos anteriores.
Afinal de contas, as pessoas nesses casos pediam apenas o atendimento de direitos garantidos pela lei, mas os
procuradores, advogados do INSS, fazem questão de levar os pedidos até o fim atrasando as decisões. E só aceitam
acordos em 2% dos casos.
Off - Os porões do INSS estão recheados de injustiças. Quem diz é o próprio superintendente em São Paulo. No
cargo desde janeiro, ele diz que o INSS sofreu um processo de desmanche que visava forçar a privatização da
Previdência. Agora, vai custar tempo e dinheiro para consertar.
Sonora com Carlos Eduardo Gabas, superintendente: "Infelizmente nós não temos como, em poucos meses, refazer
ou reconstruir uma coisa que foi desmantelada durante anos".
* Prisão de uma fiscal do INSS por causa de fraudes (1’50”)
* Reformas (1’51”)
FB - O governo vai enviar ao Congresso na próxima semana as propostas das reformas Tributária e da Previdência e
vai manter a cobrança dos inativos.
Off (repórter Délis Ortiz) - O texto da reforma está pronto. Tem o apoio de todos os governadores. Falta o
Congresso. A oposição aprova, mas cobra dos governistas firmeza e coerência.
Sonora com governador do Ceará, Lúcio Alcântara: "Não é possível uma liderança de peso dentro do PT se colocar
contra essa proposta".
Passagem - Na quarta, o projeto de Reforma da Previdência chega ao Congresso. Com a polêmica cobrança dos
inativos. Até lá, o governo faz mutirão. Mandou os ministros convencerem os deputados. O próprio presidente Lula
vai conversar com os parlamentares e avisar: "Governista vota com o governo". Mas o PDT, que é aliado, já disse
que é contra. O PPS apóia. Mas o presidente do partido acha que o problema está dentro do PT.
Sonora com Roberto Freire, presidente do PPS: "Espero que o PT feche com o governo".
Off - O governo argumenta com números. O INSS gasta por ano R$ 88 bilhões com 21 milhões de aposentados. A
Previdência, R$ 61 bilhões só para pagar 952 mil servidores aposentados. No INSS, a aposentadoria média é de R$
389 reais. No setor público: a aposentadoria dos civis chega a R$ 2,2 mil; dos militares, R$ 4 mil; no Legislativo, R$
7,9 mil; no Judiciário, R$ 8 mil; no Ministério Público, a média chega a R$ 12,5 mil. Mas os radicais do PT ainda
resistem.
Sonora com deputado Babá: "O que está por trás da Reforma da Previdência são as orientações do Banco Mundial e
do Fundo Monetário Internacional".
159
Sonora com José Dirceu: "No PT, na hora de votar, não existe radical ou moderado. O que existe é a decisão da
bancada e decisão do partido. Eu tenho certeza que nós vamos chegar a um acordo também".
* Reajuste nos planos de saúde (2’39)
2º Bloco
* A mãe dos quíntuplos de Goiânia foi operada novamente (20”)
* Mãe acusada de participar de tentativa de assassinato dos filhos em Campinas reencontra as crianças (2’)
* Homem que matou o filho dependente de drogas morre de derrame cerebral (25”)
* Homens são detidos no casarão usado para consumo de drogas mostrados no Jornal Nacional (20”)
* Justiça de SP quer que jovens infratores que estão em presídios voltem à Febem (40”)
* PMs do Rio são alvo de emboscadas de traficantes (2’35”)
* Charge
* Chamadas do Globo Repórter
3º Bloco
* Esporte – futebol, vôlei e tênis (2’33”)
* Pesquisadores brasileiros desenvolvem laboratório para estudar oceanos (2’05”)
* Taxa de desemprego subiu em março (22”)
* Indicadores econômicos (20”)
4º Bloco
* Pneumonia asiática (1’)
* Falta de vagas nas UTIs públicas do Ceará (20”)
* Eleições na Argentina e no Paraguai (2’36”)
* Visita de Hugo Chávez a Lula (2’38”)
5º Bloco
* Guerra no Iraque (24”)
* Comentário de Arnaldo Jabor (55”)
* Guerra no Iraque – Bush e sofrimento da população com falta de água (as duas juntas: 4’40”)
Data: 26/04/03 (sábado)
(Tempo total: 32’31”)
Escalada (55”)
* Viagem de Lula ao sertão pernambucano em que diz que as reformas são necessárias
* Eleições na Argentina e no Paraguai
* Segurança no Rio
* Declaração de IR
* Perigos da pororoca
* Futebol
1º Bloco
* Reforma da Previdência (4’58”)
Carlos Nascimento – Depois da denúncia exibida pelo JN, o ministro da Previdência reconheceu hoje que os
arquivos do INSS estão em péssima situação. Ricardo Berzoini acompanhou em São Paulo um mutirão da Justiça
Federal para tentar dar mais agilidade aos pedidos de concessão e revisão de aposentadorias e pensões.
Off – (repórter Tonico Ferreira)É sábado, mas foi dia de trabalho voluntário em 48 juizados especiais de pequenas
causas que envolvem a previdência. O mutirão, em vários estados brasileiros, é para diminuir o acúmulo de
processos de trabalhadores e aposentados que não conseguiram obter seus direitos - em grande parte por causa da
desorganização do INSS. Ontem, o Jornal Nacional mostrou o estado do arquivo do INSS em São Paulo. Processos
atirados ao chão, pastas fora de lugar, pedidos de segurados arquivados ao léu. Registros de anos de trabalho
transformados em restos sem valor. Hoje, o ministro da previdência acompanhou o mutirão da justiça em São Paulo.
E comentou a reportagem. Prometeu mudar uma situação que, segundo ele, vem de muitos anos.
160
Sonora com Berzoini - "A situação que encontramos é dramática: são arquivos desorganizados e, em muitos casos,
com baixa condição de segurança. É lamentável que isso tenha chegado ao ponto em que chegou. Não é só em São
Paulo que isso acontece. Em vários pontos do Brasil, o nosso sistema de armazenamento de documentos está
deficiente".
Passagem - O ministro Berzoini também falou sobre a reforma da previdência. Ele confirmou que a proposta de
emenda constitucional que ele vai enviar ao Congresso na próxima quarta-feira vai fixar um teto geral para os
salários e benefícios de servidores públicos na ativa e aposentados. O valor máximo será o rendimento mensal de um
ministro do Supremo Tribunal Federal, hoje R$ 12.720. A medida, que pretende acabar com os marajás, é mais
política do que econômica.
Sonora com Berzoini - "Eu creio que você ter uma limitação constitucional para aposentadorias, para evitar esses
casos que sempre chocam a sociedade, é importante fundamentalmente do ponto de vista ético".
Carla Vilhena - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje que o Brasil não deve ter medo das reformas. Lula
foi ao sertão pernambucano lançar um programa destinado aos agricultores.
Off - Logo cedo, um encontro emocionado. A menina Diana, de nove anos, que ontem tentou falar com o presidente
Lula, mas foi barrada pelos seguranças, hoje conseguiu realizar o sonho e tocou violão para ele. O presidente chorou.
Com sete ministros, Lula partiu para Buíque, no sertão de Pernambuco. O sítio do agricultor José Cícero foi o local
escolhido para o lançamento do Programa Conviver, criado para beneficiar pequenos produtores prejudicados com a
seca. Eles vão ter direito a créditos para a compra de alimentos e o seguro-safra. Seu Cícero vai receber R$ 475 pela
perda da lavoura. Na saída do sítio, um susto uma cobra passou a poucos metros do presidente, mas não foi muito
longe. No discurso na praça central da cidade, Lula voltou a defender as reformas:
Sonora do discurso de Lula: "Não temos que ter medo das reformas. E nós precisamos ter competência de
modernizar aquilo que já não é mais um modelo ideal, seja de tributo, seja de relações trabalhistas, seja de estrutura
sindical e de qualquer outro assunto. Pra fazer as reformas, sobretudo você tem que ter vontade política e coragem de
enfrentar aqueles que se colocarão contra as reformas. Eu sei muito bem aonde eu quero chegar. Eu sei muito bem os
passos que quero dar. E eu sei muito bem o que tem que ser feito nesse país. E vou fazer".
Off - Antes de embarcar para Brasília, o presidente recebeu a homenagem de um sanfoneiro.
Passagem - Quatro viagens ao Brasil em menos de quatro meses. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que veio
para uma reunião de trabalho com o presidente Lula, realizada ontem, hoje, passou o dia no Recife.
Off - Numa reunião com empresários brasileiros, Hugo Chávez aprovou um projeto brasileiro para reformular o
transporte coletivo de seis grandes cidades da região metropolitana de Caracas. A Venezuela vai investir US$ 500
milhões na modernização, gerenciamento e renovação da frota de ônibus. O presidente venezuelano propôs ainda a
criação de um novo modelo de integração entre os países. A Alba, uma aliança bolivariana que substituiria a Alça, a
Área de Livre Comércio das Américas.
* Últimos dias para declarar IR (1’39”)
* Itamar recusa a nomeação para a embaixada do Brasil na Itália (20”)
2º Bloco
* Bandidos voltam a atacar carros da polícia no Rio (1’10”)
* Charge
* Previsão do tempo
* Praias cariocas têm um Sábado de sol, calor e visitas de tubarões (1’29”)
3º Bloco
* Eleição na Argentina (2’)
* Eleição no Paraguai (1’03”)
* Pânico em Bagdá por causa de explosões de depósito de munição (5’05”)
* Chinesa acusada de espionagem internacional (1’11”)
4º Bloco
* Brasileiro internado em SP não tem sintomas da pneumonia asiática (35”)
* Morte de egípcio faz a Polícia Federal investigar passagem de antraz pelo Brasil (1’52”)
* Chamadas do Fantástico
* Futebol (1’35”)
* Preparação para o Panamericano (1’45”)
* Papa manda carta a Fidel Castro criticando execuções em Cuba (16”)
161
5º Bloco
* Campeonato de Stock Car (1’10”)
* Jornalistas enfrentam os perigos da pororoca (2’25”)
* Segredos do DNA encantam adultos e crianças numa feira de genética (1’55”)
* Sorteio da Mega Sena (16”)
Data: 28/04/03 (segunda-feira)
(Tempo total: 33’50”)
Escalada (está incompleto, a gravação cortou o começo)
* Futebol
* O governo tenta explicar a Reforma da Previdência à esquerda do PT
* E você vai ver porque o Brasil precisa tanto mudar seu sistema de impostos
1º Bloco
* Petrobras anuncia redução do preço da gasolina (1’44”)
* Indicadores econômicos (34”)
* Reforma da Previdência (2’)
Willian Bonner – No mutirão do fim de semana, a Justiça Federal julgou 5,3 mil ações contra o INSS. Pedidos de
benefícios e de revisão de aposentadoria que esperavam resposta há muito tempo.
Off (repórter Carlos Dorneles ) - Mais de 60 anos de trabalho pesado, na lavoura de Chapecó, Santa Catarina.
Mesmo assim, o INSS negou o pedido de aposentadoria de dona Maria. Só agora, aos 97 anos, com o mutirão da
justiça, ela conseguiu. Dona Maria não anda, nem consegue falar mais. Mas comemorou o feito. Para a dona de casa
Jocelice das Neves, a vitória veio tarde demais. O filho Lucas nasceu com uma grave doença cerebral e poderia
receber o auxilio invalidez. Mas o pedido não passou do balcão. Os funcionários do INSS diziam que o menino não
tinha direito ao benefício. No ano passado, quando Lucas já tinha seis anos, ela levou o caso aos tribunais.
Passagem – Esta é a decisão da justiça, que concedeu o benefício de um salário mínimo por mês, saiu no início deste
mês, dia 8 de abril de 2003. Mas Lucas morreu quatro meses antes. No total, ele recebeu R$ 183,63.
Off - Era tudo que lhe cabia, por ter morrido 26 dias depois que o processo entrou na justiça.
Sonora com Jocelice: "Tem tantas pessoas que passam por esse sofrimento que eu passei. Eu queria que fosse
diferente".
Off - Mas não é. Na semana passada, o Jornal Nacional mostrou as péssimas condições do arquivo central do INSS,
em São Paulo. Hoje, nós encontramos o mesmo caos no posto de um bairro da cidade. É em arquivos desse tipo que
os funcionários pesquisam. E o posto atende mais de mil pessoas por dia.
Sonora com superintendente do INSS em SP, Carlos Eduardo Gabas: "Existe muita gente que tem direito mesmo. E
os processos estão emperrados. Este é o nosso grande desafio na previdência. É de dar, conceder benefícios a quem
tem direito".
* Falta de leitos nas UTIs do Ceará (1’22”)
* Mais um dos quíntuplos de Goiânia está com dificuldades respiratórias (22”)
* Exame de DNA é rejeitado por juiz em processo de paternidade (1’30”)
2º Bloco
* Astronautas chegam à estação espacial internacional (23”)
* Desinformação provoca o ataque de banhistas a tubarões no Rio (1’22”)
* Charge
* Garotinho toma posse como novo secretário de segurança pública do Rio (25”)
* Apreendida em SP cocaína que foi trocada por armas (1’17”)
* Polícia Federal investiga acordo entre índios brasileiros e as Farc (20”)
* Presa empregada doméstica acusada de matar ex-patroa em SP (32”)
3º Bloco
* Problemas com o controle do aeroporto de SP para evitar pneumonia asiática (1’52”)
* Suspeita de pneumonia asiática em BH (22”)
* Mortes pela pneumonia na China e em Hong Kong (1’16”)
* Previsão do tempo
162
* Campanha contra mão de obra infantil doméstica (1’47”)
4º Bloco
* Confronte entre manifestantes e policiais pára o centro de Goiânia (40”)
* Reforma da Previdência (3’04”)
Márcio Gomes - O PT ameaça desligar do partido parlamentares que estão trabalhando contra a reforma da
Previdência. Hoje, o ministro Ricardo Berzoini explicou a proposta de reforma aos deputados do PT.
Off (repórter Zileide Silva) - Antes do encontro, o ministro Berzoini foi claro: o governo concorda em discutir a
contribuição dos inativos. Mas não em substituí-la por outra fonte de arrecadação.
Sonora com Berzoini: "Agora, evidentemente nós não podemos substituir uma contribuição específica de um sistema
previdenciário para uma contribuição para todo povo brasileiro pagar".
Off - É essa posição, a insistência na cobrança dos inativos, que alguns parlamentares da ala radical do PT não
aceitam.
Sonora com deputada Luciana Genro, do PT-RS: "Eu só fecho questão se, em primeiro lugar, for feita auditoria nas
contas da Previdência e ficar demonstrado que a situação terá que ser resolvida dessa maneira".
Off - Hoje , os moderados do PT reagiram. A gota d'água foi a decisão da senadora Heloísa Helena e do deputado
Lindberg Farias de entrar na justiça, junto com o PDT, contra a propaganda do governo pró-reformas.
Sonora com deputado Lindenberg Farias, do PT-RJ: "Está criando um constrangimento na Câmara. Antes do projeto
do governo chegar aqui, já existe uma propaganda na televisão para pressionar parlamentares".
Off - Os moderados querem que, primeiro, os radicais percam os cargos que têm no partido. E depois sejam
desligados do PT.
Sonora com José Genoíno, presidente do PT: "É um desligamento político, unilateral, que eu lamento, mas esses
parlamentares que propõe entrar na justiça contra o governo do PT eles estão no limite extremo de usar um recurso
que não é político para criar um constrangimento para o governo do PT e para o próprio PT".
Passagem ao vivo - O ministro Berzoini já deixou a reunião com a bancada. E as divergências continuam. Mas,
segundo ele, a maioria da bancada já tem uma simpatia pela proposta do governo. Daqui a pouco, líderes e vice-
líderes do PT se reúnem com o ministro José Dirceu. Vão tentar fechar uma estratégia para aprovar as reformas. A
senadora Heloísa Helena e o deputado Lindberg Farias também se reúnem para decidir se vão mesmo entrar na
justiça com uma ação contra a propaganda do governo. Amanhã o presidente Luiz Inácio Lula da Silva almoça com a
bancada do PT na Câmara.
* Reforma tributária (4’25”)
MG – O governo deve enviar também essa semana ao Congresso a proposta da Reforma Tributária. Impostos, no
Brasil, motivam queixas de todo mundo. Na primeira reportagem da série, o repórter Tonico Ferreira mostra os
efeitos do sistema tributário no bolso dos brasileiros e como ele atrapalha a geração de empregos.
Sonora com o aposentado Júlio Barroso, entrevistado para a reportagem: "Você paga imposto de tudo que possa
imaginar. Qualquer coisa que vá fazer paga imposto”.
Sonora com Sebastião dos Santos, do Sindicato dos Contabilistas: "Desde a promulgação da Constituição de 1988
foram editadas no Brasil mais de 550 mil normas tributárias".
Sonora com o empresário Roberto Jeha: "Do jeito que está hoje. Ninguém se anima a investir e sem investir você não
vai criar emprego, não vai gerar crescimento sustentável".
Off (repórter Tonico Ferreira) - Todos reclamam: do aposentado ao trabalhador. Do empresário que paga impostos,
ao governo que cobra impostos. Poucos temas neste país conseguem essa unanimidade: o Brasil precisa de uma
reforma tributária. Só uma grande mudança poderia acabar com o cipoal de tributos. O brasileiro convive com pelo
menos 60 taxas, contribuições e impostos diferentes. Mais de 3 mil normas tributárias, com 55.767 artigos e 33.370
parágrafos.
Sonora com Celso de Souza, contador: "Isso eu recebo semanalmente. São os boletins fiscais, com alteração de
impostos. Falar que lê toda essa legislação é mentira”.
Off – Essa empresa tem cinco funcionários exclusivos para cuidar de impostos. Eles só conseguem manter os
pagamentos em dia porque usam programas de computador especialmente desenvolvidos para isso.
Sonora com Mário Martins, auditor: "Todo dia nós temos um imposto para pagar. Todo dia tem um fechamento para
fazer".
Sonora com o aposentado novamente: "Você paga imposto 24 horas por dia. Você acorda, acende a luz do quarto, do
abajur já está pagando a conta. Você toma um banho está pagando imposto que é água que você está consumindo,
você vai escovar o dente é a mesma coisa".
Off - Ele é gerente de vendas, vive só com a mulher, e de acordo com tributaristas, de tudo que ganha, 30%
desaparecem na forma de impostos.
163
Sonora com a dona-de-casa Sueli Barroso: "Pagar imposto e ver revertido em alguma coisa, na saúde, na educação
você pagaria até com gosto”.
Sonora com o aposentado: "A conclusão é essa: você paga muito e não recebe nada".
Passagem - O assalariado reclama da perda de renda real, o empresário da perda de receita líquida. Em uma fábrica
de embalagens, por exemplo, os nove principais impostos diretos ficam com 32% do faturamento. Se a fábrica vende
três caixas de papelão o dinheiro de uma delas vai para os cofres do governo. É demais, diz o dono da empresa, que
vê o crescimento da fábrica prejudicado com tantos impostos. Lá trabalham 650 pessoas. Poderia ser muito mais se a
Reforma Tributária conseguisse desonerar a produção, ou se o país tivesse uma estrutura tributária mais racional e
mais justa.
Sonora com o empresário: "Não como é hoje que a maioria dos impostos recai sobre os assalariados e sobre a
produção".
Os impostos em cascata, que incidem sobre cada uma das etapas da produção, são considerados os piores.
Encarecem o produto, atrapalham as exportações do país.
Sonora com exportador Roberto Giannetti da Fonseca: "Quando o imposto faz parte do preço do produto, nós não
estamos exportando só matéria-prima e o trabalho que foi colocado ali, mas também uma parcela de imposto que está
embutida no custo e ninguém no mundo compra impostos, nenhum país exporta impostos".
Sonora com o economista Paulo Rabelo de Castro: "O próximo Sistema Tributário tem que ser olhado com uma
visão dos próximos 20 anos, quando o país tem que se posicionar como altamente competitivo".
Off - A carga tributária do Brasil é uma das mais altas do mundo. É estimada em 36,5% do PIB. Ou seja, a União, os
estados e os municípios abocanham mais de um terço da toda a riqueza gerada no país.
Sonora com economista Celso Martone: "A carga tributária brasileira é alta demais. Cresceu muito em dez, oito anos
e hoje está num nível que inibe o crescimento do país".
Sonora com o empresário: "A conseqüência mais séria disso é o desemprego. É a falta de condições de gerar novos
empregos".
MG – Amanhã você vai ver a Reforma Tributária definida por especialistas e cidadãos comuns.
5º Bloco
* Bomba explode no Rio (10”)
* Eleições argentinas (1’21”)
* Eleições paraguaias (22”)
* Aniversário de Saddam (1’56”)
* Futebol (3’58”)
Data: 29/04/03 (terça-feira)
(Tempo total: 31’16” )
Escalada (está incompleta, a gravação cortou o começo)
1º Bloco
* Índios do Amazonas e as Farc (3’43”)
* Preso homem que pode ser o elo entre traficantes colombianos e vendedores de cocaína no Rio e violência no Rio
(2’23”)
2º Bloco
* Mortes na fila da UTI em Fortaleza (36”)
* Pneumonia asiática – com retrancas sobre o menino com suspeita da doença em BH, situação na Ásia e retirada de
diplomatas brasileiros e suas famílias das áreas epidêmicas (3’05”)
* Previsão do tempo
* Explicações diferentes para um objeto voador não identificado no céu da Bahia (2’05”)
* Petrobras anuncia a maior descoberta de gás natural do Brasil (18”)
3º Bloco
* Indicadores econômicos e desempenho econômico (dólar em queda, desemprego em alta em SP, inflação recua)
(2’58”)
* Reforma Tributária (4’32”)
164
Willian Bonner - Criar empregos é um dos objetivos dos defensores de uma reforma tributária no Brasil. Na segunda
reportagem da série, o repórter Tonico Ferreira mostra as mudanças que os cidadãos desejam e como esses
problemas são antigos.
Off (repórter Tonico Ferreira) - O Brasil era habitado quase só por índios, em 1534, quando os portugueses criaram
as capitanias hereditárias e resolveram cobrar impostos. A Receita Federal chegou antes mesmo de haver economia
organizada. As capitanias foram um fracasso, mas a coleta de impostos ficou e prosperou.
Passagem - Os mais antigos documentos brasileiros sobre impostos que foram preservados estão no Museu da
Fazenda Federal. Muitos são autos de infração, registros históricos de uma batalha antiga: a receita querendo
arrecadar e o contribuinte tentando escapar.
Off - Séculos depois, o governo ainda busca aumentar impostos e a sonegação permanece alta. Estimativas indicam
que ela chegue a 30% da arrecadação.
Sonora com o consultor tributário Clóvis Panzarini: "Se a carga tributária fosse baixa a sonegação daria retorno
baixo para o sonegador, o fraudador".
Off - Uma carga tributária mais baixa é o desejo dos brasileiros que sentem o peso dela no bolso. A família de
Heloísa paga, por exemplo, no preço do macarrão, 26% de impostos embutidos. No frango, outros 20%, segundo
cálculos de consultores independentes.
Sonorra com a professora Heloísa Braga: "Classificaria como altamente abusivo e injusto, porque alimento é o
básico para o cidadão.”
Off - Esses impostos estão escondidos nos preços. Mas há outros que se vê claramente. Nas contas de telefone e de
luz, por exemplo, 25% é de ICMS. Mais a CPMF a cada movimento bancário, sem contar o IPTU, o IPVA. Não
como fugir.
Os tributos ficam com cerca de 30% da renda das famílias de classe média. São quase quatro meses de trabalho por
ano só para pagar impostos. Uma reforma tributária ampla deveria mexer nessa estrutura. Cobrar menos impostos
sobre o consumo e mais sobre a renda, nem tanto aumentando alíquotas, mas ampliando o número de contribuintes.
Sonora com o economista Marcos Cintra: "A filosofia básica é essa: um sistema tributário onde todos pagam, todos
pagam pouco, todos pagam menos. É o que o Brasil precisa".
Off - Nos Estados Unidos, os tributos sobre o consumo respondem por 16% da arrecadação e o Imposto de Renda de
pessoa física, 41%. No Brasil, é o inverso. Os impostos sobre consumo representam 45% do total recolhido e o
imposto de renda 14%.
Sonora com o tributarista Álvaro Taiar Júnior: "Há uma injustiça aqui. Porque classes de renda mais baixa
consomem basicamente 100% de sua renda e, portanto, pagam esses impostos sobre o consumo, impostos
escondidos, sobre 100% de sua renda".
Outra injustiça, agora apontada pelos empresários: muitos impostos são cobrados sobre as vendas, sobre o
faturamento da empresa. Paga-se mesmo quando há prejuízo. O ideal seria cobrar com base no lucro.
Sonora com o empresário Antônio Ermírio de Moraes: "Você cresce, você ganha mais, paga mais imposto. Mas
cobrar para todos sobre o que fatura é um equívoco brutal".
Para os sindicalistas, outro erro é tratar todos os contribuintes como se fossem iguais.
Sonora com o presidente da CUT, João Felício: "Nós relacionaríamos todos os produtos que são consumidos pela
população de baixa renda e reduziria imediatamente pela metade. E os produtos consumidos pela população de alta
renda poderiam ter uma carga tributária mais elevada".
Sonora com Paulinho, presidente da Força Sindical: "Precisamos, então, desonerar a cesta básica. Fazer com que as
pessoas que, basicamente, compram comida não paguem imposto sobre a comida".
Off - Sindicalistas e empresários têm reivindicações próprias, mas que se unem num mesmo ideal: um sistema de
impostos progressivo, quem pode mais, paga mais. Um princípio de justiça social.
WB – Amanhã você vai conhecer os detalhes da proposta de reforma tributária que o governo vai levar ao
Congresso.
* Reforma Tributária (2’32”)
Fátima Bernardes – Na véspera de entrega dos projetos da Reforma Tributária e Reforma da Previdência, o
presidente Lula se reuniu hoje com a bancada do PT na Câmara e fez um alerta aos parlamentares que ameaçam
votar contra as propostas.
Off (repórter Zileide Silva) - A senadora Heloísa Helena recuou. Desistiu de assinar a ação contra a propaganda do
governo pró-reformas.
Sonora com a senadora Heloísa Helena: "Os próprios servidores já solicitaram inclusive que a gente não assinasse
pra evitar uma polêmica pública em relação ao tema que eles estão propondo".
Off - Os senadores resolveram então dar mais um tempo para a senadora: 15 dias. Mas a ameaça de expulsão do
partido continua.
165
Sonora com senador Aloísio Mercadante, líder do governo: "Se a opção política dela for de fato essa de fazer
oposição ao governo, eu acho que é evidente que o caminho é buscar outro partido".
Off - Os deputados petistas também discutiram hoje a situação dos chamados rebeldes, que ameaçam votar contra as
reformas. Foi durante um almoço com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na saída, foto e gritos de união.
Sonora do pessoal gritando: “Partido, partido é dos trabalhadores”.
Passagem: Foi durante o almoço o presidente Lula lembrou o ano de 1985, quando três deputados foram expulsos do
PT porque votaram no colégio eleitoral que elegeu Tancredo Neves. Um recado do presidente: quem votar contra
agora, também vai ser expulso.
Sonora do deputado do PT, Paulo Bernardo: "O Lula fez uma fala muito emocionada, muito firme. Ele falou: ‘vocês
podem falar a bobagem que quiser. Não tem problema nenhum. Agora, nós temos um método democrático de tomar
decisão. Discute, vota e a posição da maioria vale para todos. E nós não temos como deixar ninguém fora disso’".
Off - Mas os deputados contrários à reforma insistem que não foram enquadrados.
Sonora com o deputado Lindenberg Farias: "Eu continuo com as minhas posições. Eu não voto em taxação de
inativos. E nós temos que convencer o presidente Lula disso”.
Off - No Rio, o presidente do PDT, Leonel Brizola, divulgou um manifesto de 2001 contra a proposta de taxação dos
inativos defendida pelo governo Fernando Henrique. Entre as assinaturas está a do agora presidente Luiz Inácio Lula
da Silva.
Sonora com Brizola: "Se ele assinou o manifesto denunciando isso como um crime contra os aposentados agora vai
adotar?"
FB - O Palácio do Planalto não quis comentar o documento divulgado pelo presidente do PDT, Leonel Brizola.
4º Bloco
* Pesquisa da Unesco mostra que estudantes brasileiros acham que a escola ensina pouco (40”)
* Declaração do IR (1’22”)
* Conselho de Ética do Senado aprovou pedido de abertura de processo de cassação de ACM (1’51”)
* Charge
5º Bloco
* Iraque (1’45”)
* Homem-bomba em Israel (20”)
* Questão nuclear na Coréia (12”)
* Futebol (1’42”)
* Termina amanhã campanha de vacinação de idosos contra a gripe (30”)
Data: 30/04/03 (quarta-feira)
(Tempo total: 25’ )
Escalada (está incompleto, a gravação cortou o começo)
1º Bloco
* Crise nas UTIs de Fortaleza (2’)
* Empresas farmacêuticas se unem para desenvolver vacina contra vírus da pneumonia asiática (33”)
* Caso de pneumonia asiática em Belo Horizonte é considerado provável pela Secretaria de Saúde mineira (22”)
* Caso Pedrinho (1’50”)
2º Bloco
* Reformas constitucionais (3’52”)
Willian Bonner – O presidente Lula levou hoje pessoalmente ao Congresso a proposta das reformas da Previdência e
Tributária. Acompanhado de todos os governadores, Lula pediu responsabilidade na votação dos projetos.
Off (repórter Zileide Silva) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu, mais uma vez, os 27 governadores, além
de prefeitos e ministros. Juntos desceram a rampa do Palácio do Planalto, ocuparam vários ônibus e fizeram uma
caminhada em direção ao Congresso. Na chegada, uma pequena confusão entre quem defende e quem é contra as
reformas. Sem incidentes. Presidente Lula e comitiva foram recebidos pelos presidentes do Senado e da Câmara.
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Passagem - A partir de agora, oficialmente, a discussão sobre as reformas está com o Congresso começando pela
Câmara dos Deputados. Alguns pontos das propostas não têm consenso nem na própria base aliada do governo,
como a contribuição dos inativos.
Off - Mas no plenário da Câmara, o clima foi de total confraternização.
Sonora com Lula: "Eu vou passar às suas mãos agora, presidente João Paulo, a proposta que foi feita com muito
carinho e amor, porque eu não sei se você sabe que eu ainda tô na fase de Lula paz e amor. Cada vez que alguém
tiver alguma bronca por favor me chame, que eu estarei disposto a ajudá-lo a resolver essa bronca, conversando com
muita tranqüilidade.”
Off - Os presidentes garantiram que a aprovação das reformas vai ser rápida.
Sonora com José Sarney, presidente do Senado: "Se Vossa Excelência levou apenas quatro meses para trazer a
proposta das reformas, acredito que as nossas casas, Câmara e Senado reunidos, irão trabalhar com a mesma
celeridade para que esses instrumentos legislativos sejam colocados à serviço do país".
Sonora com João Paulo Cunha, presidente da Câmara: "Há divergências quanto ao conteúdo das propostas de
reforma constitucional. É bom que seja assim. O processo democrático é assim, a Câmara dos Deputados é a
representação do povo brasileiro. Em sua maioria o povo quer mudar e deseja fazer do Brasil um país mais justo e
essas reformas asseguram a mudança e justiça social".
Off - O presidente Lula fez questão de enfatizar que a tarefa agora é do Congresso.
Sonora com Lula: "Essas reformas com a visão do presidente da República e dos governadores de estado, a hora que
ela entra no Congresso Nacional, a hora que ela entra na Câmara dos Deputados, os senhores e senhoras são donos
do jogo".
Off - O presidente fez ainda uma recomendação: que as reformas sejam votadas este ano. Porque no ano que vem
eleições e, segundo o presidente, tudo fica mais difícil.
Sonora com Lula: "Não tem importância que um deputado seja de oposição, não tem importância que um deputado
queira falar mal do governo - isso faz parte do jogo democrático. O que não vale, o que não vale em política é a
gente prejudicar 175 milhões de pessoas por conta de uma próxima eleição. Eu acho que cada um de nós tem que ter
consciência e trabalhar com consciência que a sorte tá lançada".
Off - E o presidente Lula encerrou o discurso pedindo responsabilidade.
Sonora com Lula: "Vocês serão soberanos e livres para apresentar à nação brasileira o resultado final da cara que o
Congresso Nacional quer dar às reformas neste país".
* Reforma da Previdência (1’13”)
Fátima Bernardes - O governo aumentou o teto para salários e aposentadorias do funcionalismo público, previsto na
reforma da previdência. O valor estabelecido provisoriamente na proposta é de R$ 17.170.
Off (repórter Giuliana Morrone) - A proposta do governo prevê aumento da idade mínima para aposentadoria do
servidor público.
Infográfico: Homens: de 53 para 60 anos. Mulheres: de 48 para 55 anos. Os servidores que já se aposentaram vão
contribuir com 11% sobre o ganho que exceder a R$ 1.058. O servidor que se aposentar depois de aprovadas as
novas regras irá contribuir com 11% sobre o que exceder o R$ 2.400. As novas pensões poderão alcançar no máximo
70% do benefício, para civis e militares.
Passagem – E a Previdência estabeleceu provisoriamente como teto para salários e aposentadorias a remuneração
mais gratificações dos ministros do Supremo Tribunal Federal: R$ 17.170. Esse teto vale até que o congresso
definitivo que será proposto pelo Supremo Tribunal Federal.
* Reforma Tributária (4’54”)
WB – Os detalhes da proposta do governo para a reforma do sistema tributário brasileiro estão na terceira
reportagem da série que o Jornal Nacional exibe sobre o tema. Hoje você vai saber o que o governo, empresários e
trabalhadores podem esperar da reforma.
Off (repórter Tonico Ferreira) – Material escolar: 28%, em média, e impostos embutidos.
Sonora com uma consumidora: "Pensa 28% a cada coisa que você vai comprar, eu acho que é bastante coisa".
Off - Arroz, 15%.
Sonora com um consumidor: "Não dá para escapar. Eu gasto uma média de quatro pacotes por mês".
Medicamentos, 28% em média.
Sonora com consumidor: "Medicamento de uso contínuo, que implicam na saúde do indivíduo, na manutenção da
vida, eu acho que o imposto deveria ser zero".
Passagem - O diagnóstico está definido: o sistema tributário brasileiro está ultrapassado, deixa muito espaço para a
sonegação, o consumidor nunca sabe quanto paga de verdade e as empresas perdem competitividade. O que se quer,
portanto, é uma reforma profunda. Mas a proposta que está hoje na mesa de discussão é modesta. A carga tributária
geral não vai cair e o número de impostos vai continuar o mesmo.
167
Infográfico: Pela proposta do governo, a CPMF passa a ser permanente com alíquota variável. Não há data definida
para ela começar a baixar. A Cofins, outra contribuição cumulativa, perde o efeito cascata - mas não agora, para
desânimo dos empresários.
Sonora com o empresário Jorge Gerdau Johannpeter: "Nós queremos acabar com o sistema de impostos em cascata.
É uma oportunidade importante e não pode perder".
Infográfico: O governo também quer mexer em três impostos responsáveis por apenas 0,4% da arrecadação. O de
herança e o de venda de imóveis terão alíquotas mais altas para os mais ricos. O imposto territorial rural passa da
União para os estados.
Off - Para incentivar o emprego, parte da contribuição previdenciária seria cobrada pelo faturamento e não apenas
sobre a folha de pagamento como é hoje. Também está na proposta a criação de um fundo de desenvolvimento para
as regiões ais pobres com verbas do IPI e do imposto de renda.
Infográfico: A principal operação é do ICMS, responsável por quase 90% da arrecadação dos estados. As alíquotas
vão ser unificadas e passam a ser apenas cinco. Há uma promessa de baixar a taxação da cesta básica, mas
especialistas temem que os estados aumentem as alíquotas de outros produtos.
Sonora com economista Paulo Rabello de Castro: "Esta não é nem um arremedo de reforma. Isso é mal e mal um
ajuste de caixa".
Sonora com governador do Ceará, Lúcio Alcântara: "Essa não é a reforma ideal nem para a União e nem para os
governos estaduais, mas é a reforma possível".
Sonora com Horácio Lafer Piva, presidente da Fiesp: "Já melhora muito a perspectiva e, digamos assim, o aspecto
psicológico de todos".
Off - O trabalho agora será do Congresso. O presidente da Câmara antecipa o discurso que vai usar para convencer
os parlamentares a votar com o governo.
Sonora com João Paulo Cunha, presidente da Câmara: "Vamos ter uma reforma tributária. Não é a reforma ideal. É a
reforma possível. Nós vamos mexer em alguns pontos importantes do sistema tributário, mas certamente vamos ter
que ir aperfeiçoando, de acordo com o tempo e com a maturação da nossa sociedade".
WB – Na reportagem de amanhã, a CPMF, a contribuição provisória que o governo quer que passe a ser permanente.
O peso deste imposto na economia e na vida do cidadão.
* Charge – “E no velho oeste”. Mostra Lula, Genoíno, Dirceu, Palocci e João Paulo Cunha de um lado atirando
contra Babá, Luciana Genro, Heloísa Helena, Lindenberg Farias e Brizola. O cenário é o velho oeste. Lula diz: Quem
for contra essa união, que fale agora ou cale-se para sempre. Brizola revida: Ora, nós viemos de longe e nós vamos
nos calar para sempre. Mas queremos que isso fique consignado em ata, não é verdade?” (20”)
3º Bloco
* Papa inicia no final de semana uma série de viagens (1’05”)
* Apresentado o plano de paz para israelenses e palestinos (1’35”)
* Satélite italiano que corria risco de cair no Brasil mergulha no Oceano Pacífico (14”)
* Previsão do tempo
4º Bloco
* Final do prazo para entrega de declaração do IR (40”)
* Indicadores econômicos (42”)
* Mesa diretora decide censurar Antônio Carlos Magalhães e não investigar as acusações contra o senador (1’12”)
* Morte de Aureliano Chaves (54”)
5º Bloco
* Guerra no Iraque (1’30”)
* Futebol (1’27”)
Data: 01/05/03 (quinta-feira)
(Tempo total: não disponível )
Escalada (está incompleta, a gravação cortou o começo)
1º Bloco
* O sofrimentos dos trabalhadores de pedreiras no nordeste (2’50”)
168
* Comemorações do Dia do Trabalho em São Paulo (2’17”)
* Lula comemora o Dia do Trabalho em São Bernardo (2’17”)
2º Bloco
* Terremoto na Turquia (1’44”)
* Itália tem o primeiro caso de pneumonia asiática (1’19”)
* Policial é internado no Rio com suspeita de pneumonia asiática (10”)
* Crise nas UTIs de Fortaleza (1’10”)
3º Bloco
* Reforma Tributária (3’58”)
Fátima Bernardes - Na proposta de Reforma Tributária enviada ao Congresso, o governo pretende mexer no
imposto sobre o cheque, tão criticado por todo mundo. Mas a CPMF se tornaria permanente. O tamanho da
mordida é que seria reduzido gradativamente até que a alíquota chegue a 0,08%. Mas quando, ninguém sabe.
Off (repórter Tonico Ferreira) - Do boi no campo à vitrine, o couro de que é feito o sapato percorreu um longo
caminho. E a cada etapa de produção houve um cheque e o pagamento de um pedágio: a CPMF. O boi saiu do
pasto e foi vendido para o curtume, depois para a fábrica de calçados. Derivados de petróleo saíram da refinaria
para a indústria de borracha, para o fabricante de solas e para a indústria de calçados. De lá, o sapato foi para o
atacadista, depois para a loja e, finalmente, para o consumidor, que paga a conta de todas as etapas. São pelo
menos 14 cobranças de CPMF embutidas no preço. Assim, com um cheque de cada vez, a CPMF arrecadou R$ 22
bilhões no ano passado. O imposto do cheque foi criado há dez anos. Era para ser provisório, mas está aí até hoje, e
pega todo mundo.
Sonora com o microempresário José Kumruyan: "Nós somos microempresários e pagamos a mesma coisa que uma
empresa grande, que é a taxa de 0,38%. Então acho que isso acaba onerando mais a empresa pequena".
Off - E a CPMF não é o único tributo em cascata. A Cofins abocanha 3% do faturamento das empresas, mesmo
quando elas não têm lucro. A contribuição, antes chamada de Fim Social, surgiu há 20 anos com uma alíquota de
0,5%. Hoje é seis vezes maior.
Infográfico: Juntas, Cofins e CPMF arrecadaram R$ 74 bilhões no ano passado, 15,5% da receita total. Quem tem
conta em banco e, principalmente, quem tem empresa, reclama.
Sonora com o empresário Roberto Nicolau Jeha: "Encarecem a produção. Isso tira a sua competitividade, seja no
mercado interno ou quando vai exportar".
Passagem - Impostos novos, ou transitórios que viram permanentes, de preferência fáceis de serem cobrados, foram
a saída encontrada pelo governo para cobrir o crescimento descontrolado das despesas. Remendos que podem dar
um alívio imediato nas contas, mas que comprometem a eficiência da economia.
Sonora com economista Celso Martone: "Isso acabou criando uma tributação múltipla, que gera uma carga
excessiva. Mas ao mesmo tempo penaliza a economia, as pessoas, empresas e faz o país crescer pouco, que é o que
estamos fazendo nos últimos anos".
Infográfico: A arrecadação no Brasil chegou a R$ 476 bilhões no ano passado e vem crescendo muito mais que o
próprio país. Em 1986, a carga tributária correspondia a 22,4% do PIB, o total de riquezas produzidas no país.
Hoje, atinge 36,5%.
Off - Em Brasília, a proposta que está na mesa transforma a contribuição provisória em permanente e fixa alíquota
máxima de 0,38% e mínima de 0,08%. Além da receita que gera, a CPMF tem um papel fiscalizador - permite o
cruzamento de informações financeiras. Por isso é muito provável que não será desta vez que o Brasil ficará livre
de todos os seus impostos em cascata.
FB – Amanhã, na última reportagem da série, Tonico Ferreira mostra o que pode mudar no mais importante imposto
cobrado no país: o ICMS.
* Pesquisa do IBGE sobre remuneração das profissões e desempenho profissional das mulheres (2’35”)
* BC reduz estimativa de aumento dos preços da gasolina, do gás e da energia (24”)
4º Bloco
* Fuga gera crise no sistema penitenciário de Mato Grosso
(Edição cortada. Não há final do 4º bloco e nem o quinto)
Data: 02/05/03 (sexta-feira)
(Tempo total: 32’05” )
169
Escalada (está incompleta, a gravação cortou o começo)
1º Bloco
* Quadrilha leva terror a Redenção, no sul do Pará (2’12”)
* Transferência de Fernandinho Beira-Mar é adiada (21”)
* Perseguição a assaltantes provoca acidente grave em Belo Horizonte (1’19”)
* Helicóptero com câmeras é a nova arma da polícia no Rio (25”)
* Motorista de trator descumpre decisão judicial de derrubar casa em Salvador (2’)
* Comentário de Arnaldo Jabor (42”)
2º Bloco
* Crise nas UTIs de Fortaleza (1’43”)
* Pneumonia asiática (49”)
* Descobertas científicas com macacos podem revolucionar tratamentos para fertilidade (2’04”)
* Cemitério das baleias na Antártida (2’09”)
3º Bloco
* Lula inaugura usina no interior de São Paulo e volta a dizer que não pretende interferir na queda do dólar (2’36”)
* Indicadores econômicos (1’18”)
* Reforma Tributária (4’02”)
Fátima Bernardes – Um único imposto arrecadou no ano passado mais de R$ 100 milhões: o ICMS, fundamental
para que os estados fechem as contas. Na última reportagem da série sobre a reforma tributária, Tonico Ferreira
mostra os problemas que envolvem a cobrança do ICMS.
Off (repórter Tonico Ferreira) - A fábrica de molho de tomate saiu de São Paulo e foi para Goiás. A de automóveis
preferiu a Bahia, que deu mais incentivos fiscais que o Rio Grande do Sul. É a guerra fiscal. Estados oferecem
benefícios tributários para atrair investimentos.
Sonora com o deputado Virgílio Guimarães, da comissão do sistema tributário da Câmara: "A guerra fiscal teve
origem também numa idéia, que é legítima, de dar incentivo para a localização de empresas em regiões mais
pobres. Mas isso acabou sendo prejuízo pra todos, porque uma baixa lá, outra aqui, e acaba os espertos se
arranjando e o povo levando prejuízo".
Off - A guerra fiscal existe porque os estados têm legislações próprias para o ICMS, o imposto sobre circulação de
mercadorias e serviços. Cada um cobra quanto e como quer. O governo do Espírito Santo, por exemplo, acaba de
revogar 34 leis de benefícios fiscais. Mas ainda tem mais de cem regimes especiais de tributação.
Sonora com secretário da Fazenda do Espírito Santo, José Teófilo: "É um número muito grande de favores fiscais
que foram concedidos, a maioria deles implicando numa em contribuição nula, ou quase nula, para milhares de
empresas do estado".
Infográfico: O ICMS é o imposto que mais arrecada no país - R$ 105 bilhões no ano passado.
São divididos 25% entre os municípios e o resto fica com os estados. Por isso, mexer com o ICMS é mexer com os
27 governadores que têm nesse imposto uma importante fonte de receita.
Off - Em reuniões, em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu o apoio deles para unificar a
legislação e as alíquotas do ICMS - serão cinco, pela proposta do governo.
Passagem - O ICMS é um tributo moderno. Há até propostas para que ele passe a ser chamado de I.V.A porque, na
prática, é um imposto sobre valor agregado. Esta fábrica de liqüidificadores, por exemplo. Vamos supor que ela
tenha pago R$ 130 pelas peças e pelo material plástico. A fábrica fez as partes e montou um liqüidificador, que foi
vendido por R$ 70. O ICMS incide apenas sobre o valor que foi acrescentado: R$ 40,70 menos R$ 30. E isso
impede um acúmulo de impostos. Mas há um ponto polêmico no ICMS: saber quem fica com o dinheiro do
imposto quando o produto vai de um estado para o outro.
Off (com ilustração mostrando mapa e a cobrança do imposto na saída ou no estado de destino da mercadoria) -
Hoje, parte do ICMS fica no estado de origem da mercadoria, onde ela foi feita, e parte vai para o estado onde ela
foi comprada. Muitos governadores querem que o ICMS fique todo no estado de destino. A mudança acaba com a
guerra fiscal e beneficia estados mais pobres, mas impõe perdas aos mais ricos. São Paulo, por exemplo.
Sonora com secretário da Fazenda de São Paulo, Eduardo Guardiã: "Estamos no limite da lei de responsabilidade
fiscal com gastos de pessoal, com dívida, então não temos folga pra administrar uma perda de receita em hipótese
alguma".
170
Off - Diante das resistências, a discussão sobre a cobrança no destino, ficou para mais tarde.
Sonora com governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto: "Temos que ter transição sob pena de que as
resistências serão muito maiores que poderão inviabilizar a reforma".
Off - Quebrar resistências foi o desafio até aqui. Mas novas frentes de combate surgem agora que o Congresso
entra em cena. O Governo Federal vai pressionar. Governadores tentarão influenciar parlamentares dos seus
estados. E caberá aos contribuintes - aos que pagam a conta - cobrar as mudanças necessárias que permitam a
economia crescer, gerar empregos e tornar o Brasil um país mais justo.
* Os procedimentos de quem não entregou a declaração do Imposto de Renda (1’22”)
* Charge: “E naquele velho e safadinho oeste”. Continua mesmo cenário do dia anterior. Os personagens armados.
Chega Sarney com ACM nos ombros e diz “Paz na terra aos homens de boa amizade”.
* Previsão do tempo
4º Bloco
* Terremoto na Turquia (1’56”)
* Naufrágio de submarino mata 70 oficiais chineses (14”)
* Tim Lopes é homenageado em museu dedicado à imprensa nos EUA (48”)
* Vídeo mostra um possível último discurso de Saddam (28”)
* Desemprego é novo inimigo de Bush (2’10”)
* Chamadas do Globo Repórter
5º Bloco
* Fórmula 1 (2’)
Tema: Taxa de Juros
Data: 20/05/03 (terça-feira)
(Não está transcrita toda a edição do telejornal, mas apenas uma reportagem que contextua a reunião do Copom que
ocorreria no dia seguinte).
Off - O consumidor começa a perceber o que os índices de preços vêm mostrando.
Sonora: "Tá subindo menos do que estava antes"
Sonora: "Deu uma subida rápida. Agora estabilizou".
Off - É isso mesmo. De acordo com a Fipe, a inflação em São Paulo ficou em 0,30% entre a segunda semana de abril
e a segunda semana de maio: 0,10 ponto percentual menor que o levantamento anterior. O item que mais colaborou
para a queda foi a gasolina. Outro índice, que mede o comportamento do atacado, identificou queda real de preços, a
chamada deflação. O IPA ficou em menos 0,79%. O que derrubou o IGP-M para menos 0,28%. Economistas alertam
que deflação pode ser como também pode não ser uma boa notícia. Se a queda real de preços ocorre por um período
longo, em geral significa que a economia está em recessão. Os preços baixam porque os consumidores não estão
comprando. Aí as vendas caem, a produção das indústrias diminui e o risco de desemprego aumenta. Mas se a
deflação ocorre por um período curto, ela pode trazer benefícios para a economia. Ao segurar a escalada dos preços,
ela permite que a economia se estabilize e abre caminho para a queda da taxa de juros. O Comitê de Política
Monetária está reunido, em Brasília, decidindo qual será a taxa dos próximos 30 dias.
Sonora com o coordenador da Fipe, Heron do Carmo: "Ele tem a alternativa de não mexer na taxa, o que faria com
que a inflação caísse mais rapidamente, mas comprometendo o emprego e a atividade econômica. Mas poderia
reduzir a taxa de juro para que a inflação caísse mais lentamente sem comprometer a atividade econômica e
conseqüentemente o emprego".
Off - Para o Presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, Horácio Lafer Piva, este um bom momento para o
Banco Central baixar os juros.
Sonora com Piva: "Pressão inflacionária não assusta de fato. Como a renda está muito deprimida nós também não
corremos o risco de uma pressão de demanda. Ou seja, este é o momento ideal para se iniciar uma redução da taxa de
juros".
171
Off - Para o economista Afonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, ainda é cedo para reduzir a taxa de
juros.
Sonora com Pastore: "Se o Banco Central quiser jogar fora o regime de metas, ele pode fazer o que ele bem entender.
Mas se ele quiser manter credibilidade no regime de metas realmente não é recomendável que ele reduza a taxa de
juros na próxima reunião do Copom".
Data: 21/05/03 (quarta-feira)
(Tempo total: 30’57”)
Escalada
* Juros mantidos
* Crise da segurança no Rio
* Futebol: Estatuto do Torcedor
1º Bloco
* Juros (3’32”)
Willian Bonner - O Comitê de Política Monetária do Banco Central manteve a taxa básica de juros em 26,5% ao ano.
A medida recebeu críticas de industriais e trabalhadores. E a aprovação do mercado financeiro.
Off (repórter Délis Ortiz) - Enquanto o presidente Lula estava reunido com grandes empresários, acertando uma
parceria, o Comitê de Política Monetária tomava a decisão: manter a taxa de juros em 26,5% ao ano, sem viés, sem
tendência de baixa ou alta. Os empresários ainda não sabiam da notícia. O vice- presidente, José Alencar fez
campanha até o último minuto. Repetiu na reunião o que havia dito ontem em Belo Horizonte.
Sonora com José Alencar: "Pagar esses juros significa jogar o dinheiro do povo pela janela e eu não estou de acordo.
Não podemos de forma alguma aceitar isso".
Sonora do dia anterior (aparece na tela a inscrição ‘ontem’): “Claro que dá. Nós não podemos de forma alguma
aceitar isso”, respondendo pergunta de repórter sobre a possibilidade de negociações para baixar a taxa.
Passagem - O Banco Central não quis comentar a declaração do vice. O presidente Lula já havia dito que a decisão
de hoje exigia prudência e esse foi o argumento do Copom: o esforço para combater a inflação deu bons resultados e
ainda deve ser mantido. A medida foi bem recebida no mercado financeiro, mas provocou críticas de empresários e
trabalhadores.
Sonora com o empresário Antônio Ermírio de Moraes: "Nós como empresários, desejamos uma baixa de juros
porque realmente no momento são muito elevados pra que você possa desenvolver a nação. Agora, não é das
melhores notícias manter".
Sonora com economista da Febraban, Roberto Troster: "A taxa de juros de 26,5% é muito alta e é um remédio
amargo para toda a sociedade. Mas a alternativa é pior ainda. Se a gente for complacente com a inflação a gente vai
crescer menos. A gente tem que ser ambicioso e querer crescer muito. E pra isso a gente tem que tomar um
pouquinho mais do remédio amargo pra poder crescer muito com taxas muito mais baixas no futuro".
Off - Mesmo sob pressão política o Banco Central agiu com independência. Para o presidente da Câmara quem
pressiona não contribui.
Sonora com presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT): "Todos, principalmente os que estão no governo, que
ficam falando que tem que baixar a taxa de juros, atrapalham".
Off - O PSDB divulgou nota dizendo que manter o juro alto aumenta o desemprego, prejudica a produção e premia
os especuladores. Para o PFL é o caminho da recessão.
Sonora com líder do PFL na Câmara, deputado José Carlos Aleluia: "Eu acho que os condutores da política
econômica do governo estão sendo excessivamente conservadores. Eles estão preocupadíssimos com a inflação e
estão se esquecendo que uma vez instalada a recessão vai demorar muito tempo para retomar".
Sonora com ministro do Planejamento, Guido Mantega: "O Banco Central está empenhado numa tentativa de segurar
a inflação no país, para manter um equilíbrio monetário no país. E por isso faz a política de juros que considera
adequada e necessária para que isso se realize. E quando a inflação estiver sob controle a taxa de juros vai cair e
teremos uma redução do custo financeiro".
Nota-pé (WB): A CUT, em nota, classificou como "incompreensível" a decisão do Copom e declarou que é mais um
sacrifício à economia brasileira. O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, filiado à Força Sindical, também em
nota, afirmou que a manutenção dos juros impede o crescimento econômico.
Fátima Bernardes - No mercado financeiro, a decisão do Copom teve repercussão favorável. O dólar, depois de dois
dias em alta, fechou em queda superior a 1%, a R$ 3,003. A Bovespa subiu mais de 2%.
172
* Máquina administrativa do governo pode funcionar com 30% menos (44”)
* Indicadores econômicos (10”)
* Autorizações e concessões de alguns tipos de vistos a estrangeiros são suspensas (20”)
* Charge
2º Bloco
* Caso da universitária baleada em universidade do Rio de Janeiro (42”)
* Comandante do Rio deve explicações à Secretaria de Segurança Pública (2’42”)
* Estudante é assassinado dentro de uma escola pública, na Grande São Paulo (30”)
* Laudo diz que um dos quatro meninos desaparecidos no RS foi assassinado (2’19”)
* Presos dois suspeitos do assassinato de duas adolescentes em Pernambuco (23”)
3º Bloco
* Ameaças terroristas (2’11”)
* Bomba explode em sala de aula de universidade norte-americana (27”)
* Situação política no Iraque (24”)
* Terremoto na Argélia mata 250 e deixa milhares feridos (26”)
* Chineses e sul-coreanos chegam ao topo do Monte Everest (31”)
* Lula critica ações violentas em invasões do MST (2’46”)
* Ministério da Justiça vai criar uma Força Nacional para combater crime organizado (28”)
* Reforço para a equipe que investiga Sindicato de Motoristas de Ônibus de SP (1’30”)
* Começa em Goiânia depoimentos de testemunhas de acusação no caso Pedrinho (35”)
4º Bloco
* Cientistas americanos divulgam pesquisa que ajudará tratamentos de câncer (1’35”)
* Mais de 190 países aprovam Convenção de Controle do Tabaco (44”)
* Ministra de Minas e Energia comenta denúncias de irregularidades no leilão da Eletropaulo (35”)
* Estação da Luz, em São Paulo, vai virar centro cultural (1’31”)
* Previsão do tempo
5º Bloco
* Estatuto do Torcedor (3’11”)
* Partidas da noite (9”)
Data: 22/05/03 (quinta-feira)
(Tempo total: 28’04” – obs. Problemas técnicos de gravação impediram computar o tempo de todas as reportagens
do último bloco)
Escalada (está incompleta, há chamadas antes destas)
* Iraque
* Avião carregado com dinheiro
* Acordo evita suspensão do campeonato brasileiro
1º Bloco
* Terremoto na Argélia (1’51”)
* Pneumonia asiática (16”)
* Bayer é acusada de distribuir remédios contaminados com vírus HIV (51”)
* Exame de DNA acusa que bebê pode Ter sido trocado em maternidade do MS (1’50”)
* Vilma Martins volta ao Tribunal do Júri em Goiânia (25”)
* Taxista preso por engano é finalmente libertado (1’09”)
* Localizador por satélite causa polêmica em processo nos EUA (1’47”)
2º Bloco
* Lista divulga 400 espécies de animais em risco de extinção (1’54”)
* Começa em Belém julgamento de assassinato de sindicalista há 18 anos (1’37”)
173
(Jornal é interrompido para transmissão da propaganda partidária obrigatória, conforme lei eleitoral brasileira)
3º Bloco
* Demissão de um diretor do Banco Central horas depois da decisão de não mexer nos juros (2’40”)
Fátima Bernardes – Horas depois do Copom anunciar a manutenção das taxas de juros e receber novas críticas do
vice-presidente da República, o diretor de política econômica do Banco Central, Ilan Goldfajn, pediu demissão.
Off – (Roberto Kovalick) Logo de manhã, Ilan Goldfajn, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles,
deram um entrevista juntos. Era para explicar o pedido de demissão do diretor de Política Econômica, formalizado
poucas horas antes. Eles disseram que não há relação com as críticas que o Banco Central tem recebido, de
empresários e do vice-presidente. Ontem, depois que o Conselho de Política Monetária decidiu manter a taxa básica
em 26,5%, José Alencar, voltou a defender a redução dos juros.
Sonora com José Alencar (com a inscrição ‘ontem’): "Se eles me convencerem que esse número está correto, eu dou
a mão a palmatória, com toda a humildade. Eu vou chegar e dizer: me perdoa. Por enquanto, nada me convenceu."
Off - Hoje o vice-presidente não quis fazer comentários.
Sonora com Alencar: “Tudo o que eu tinha que declarar, eu já declarei."
Off - O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, respondeu às críticas de José Alencar.
Sonora com Meirelles: "O que define a competência de um Banco Central é o seu sucesso ou não no cumprimento de
sua missão básica, que é o controle da inflação."
Passagem - Ilan Goldfajn vai permanecer no cargo por um mais um mês e vai participar da próxima reunião do
Comitê de Política Monetária. Ele era o responsável por propor a política de controle de inflação e estava no cargo
desde o Governo Fernando Henrique. Disse que tomou a decisão de sair no fim do ano passado, mas combinou com
presidente do Banco Central que ficaria mais seis meses para ajudar na transição.
Sonora com Ilan: "A minha saída é um pedido pessoal para retomar as minhas atividades privadas. Acredito que
estamos no caminho certo. Está claro que nos últimos cinco meses está no caminho certo. Está claro que a confiança
foi retomada.”
Off - Ilan Goldfajn vai ser substituído pelo economista Afonso Bevilacqua. No Rio de Janeiro, o ministro Antônio
Palloci usou seus conhecimentos de médico para defender a manutenção da taxa de juros.
Sonora com Palocci: "O maior e mais comum dos erros no tratamento das doenças graves é interrompê-lo na metade,
ao primeiro sinal de melhora do paciente. Quando se procede assim, a doença recorre com mais força, obrigando a
medicações mais fortes e mais danosas ao organismo. Acontece o mesmo na economia."
* Comentário de Franklin Martins (1’): “Se alguém acha que, ao criticar a decisão do Banco Central, o vice José
Alencar, de alguma maneira, estava combinado com Lula, está enganado. Alencar falou por conta própria, sem
consultar o presidente e com isso acabou provocando um tremendo mal estar no governo. Publicamente, ninguém no
Palácio do Planalto vai dizer que Alencar avançou o sinal, falou demais e fez uma trapalhada, mas é esse o
pensamento dominante. O que se espera é que, daqui pra frente, ele seja mais cauteloso. Se tiver críticas ou reparos a
fazer, que procure o presidente e dê sua opinião reservadamente, e não que solte o verbo em público, como fazia nos
seus tempos de empresário ou senador. Vice bom é o vice discreto, exatamente como Alencar foi na campanha
eleitoral, é o vice que fica na sombra, fala pouco e, principalmente, cisca pra dentro. Vice que cisca pra fora e fala
muito, ainda que cheio de boas intenções, é um problema. Mais cedo ou mais tarde, pode trombar com o presidente.”
* Indicadores econômicos
* Receita Federal vai receber dados de cada cliente das empresas de cartão de crédito (2’08”)
* Previsão do tempo
4º Bloco
* Testemunha do caso do Sindicato dos Motoristas de Ônibus de SP foram ameaçadas (2’09”)
* Peritos de São Paulo analisam imagens da universidade do Rio onde estudante foi baleada (1”)
* Ex-comandante do Rio entrega relatório com acusações a secretário de estado (2’12”)
* Encontrado avião carregado de dólares na Amazônia (30”)
* Presos rebelados na Penitenciária de Contagem (47”)
* Depoimento de presos com o uso de videoconferência (22”)
5º Bloco (não foi possível contar o tempo das três últimas notícias deste bloco devido a problemas técnicos na
gravação do telejornal em VHS)
* Fim do embargo contra o Iraque transforma-se me vitória dos EUA na ONU (1’35”)
* Presidente Lula visita Peru
174
* Charge
* Quebrado o sigilo bancário dos deputados Enéas Carneiro e Havanir Nimitz
* Paz no futebol
Data: 23/05/03 (sexta-feira)
(Tempo total: 36’26”)
Escalada
* Discussão para criação de Estado Palestino
* Nova forma de fazer interurbanos de celulares
* Dólar e risco país voltam a cair
* Ministro José Dirceu fala sobre economia sem saber que jornalistas acompanhavam o discurso
1º Bloco
* Esquema criminoso montado por asilos em Minas Gerais para negociar aposentadoria de idosos (3’06”)
* Assaltante Marcelo Borelli é condenado a mais de 22 anos de prisão (19”)
* Marido planeja o assassinato da própria mulher, em São Paulo (1’45”)
* Rebelião em penitenciária de Contagem (41”)
2º Bloco
* Terremoto na Argélia (25”)
* Pneumonia asiática (36”)
* Chamadas do Globo Repórter
* Previsão do tempo
* Justiça determina a prisão dos donos da empresa Cataguases de Papel (25”)
* Nasa divulga foto do planeta Terra tirada de Marte (18”)
* Nova forma de fazer ligações interurbanas pelo celular vai baratear a ligação
3º Bloco
* Ex-comandante de Batalhão da Polícia Militar do Rio acusa uma autoridade estadual de pedir trégua no combate
aos traficantes (3’45”)
* Indiciado gerente do campus da Estácio onde estudante foi baleada
* Condenados fazendeiros acusados pelo assassinato do sindicalista João Canuto (45”)
4º Bloco
* Lotações clandestinas têm proteção da polícia no Recife (3’23”)
* Preso último foragido do Sindicato de Motoristas de Ônibus de SP (2’55”)
* Ministério Público prova que empresários pagavam propina ao Sindicato de Motoristas em Santo André (2’50”)
* Taxa de Juros e economia (2’35”)
Willian Bonner – O PT realizou hoje em São Paulo um seminário para discutir a Reforma da Previdência. Durante a
reunião, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, reconheceu as dificuldades por que passa a economia brasileira por
causa dos juros altos. O ministro disse que era preciso ser franco e sincero e durante o discurso se surpreendeu ao ser
informado de que o seminário estava sendo transmitido para jornalistas.
Sonora com José Dirceu: "Um governo que faz o superávit de 4,25 e mantém uma taxa de juros de 26,5% e que está
obrigado às restrições que nós estamos, evidentemente está desestimulando e segurando a atividade econômica. Não
vamos dosar a pílula, porque a queda da atividade econômica que existe no país é visível. Seria ridículo se nós
disséssemos o contrário. Se dermos um cavalo-de-pau no país, nós damos um cavalo-de-pau na economia. Porque
juros de 26,5% e superávit de 4,25, evidentemente as conseqüências aparecem imediatamente. Nós temos que
conviver com essa realidade e precisamos ser criativos... Está ao vivo para onde? Ainda bem que eu já vivi situações
mais adversas que essa! Mas não vou mudar, não. Vou continuar."
Nota-pé (Willian Bonner) - O ministro José Dirceu de fato continuou seu raciocínio, ressaltando que as medidas
tomadas até aqui são necessárias tecnicamente. Disse que é preciso que o governo seja criativo para vencer a ameaça
da inflação, e assim atingir os objetivos do partido para o Brasil.
* Indicadores econômicos
* Charge “E no Sebo das Idéias...” Lula e FHC disputam uma agenda (cada um puxa-a de um lado).
175
FHC: “É, essa agenda é velha, Lula.”
Lula: “Como é que você sabe?”
FHC: “Porque era minha.”
Lula: Agora já era. Passei para mim. E o que é melhor, com meu autógrafo.”
FHC: Não, dá para mim. Devolve.
Lula: É ruim, hein.
* Lula em visita ao Peru (1’40”)
5º Bloco
* Discussão sobre criação de Estado Palestino (1’58”)
* Comentários de Arnaldo Jabor sobre o Plano de Paz no Oriente Médio (1’03”)
* Brasileiro é indicado pela ONU como representante especial para o Iraque (20”)
* Esporte (notícias sobre futebol e vôlei) (2’39”)
Data: 24/05/03 (sábado)
(Tempo total: não identificado)
Escalada
*Dinheiro público paga celular para vereadores
* No Peru, o presidente Lula diz que os juros altos é uma herança do governo passado.
“Os juros da nova economia virão mais rápido do que vocês imaginam .”
* Destaques do Futebol e Vôlei
1º Bloco
* Dia da adoção (3’03”)
* Pessoas que não têm certidão de nascimento (1’55)
* Motorista ganha briga judicial contra seguradora (1’42”)
* Ministério da Agricultura cria novas regras para embalagens de alimentos (2’06”)
2º Bloco
* Violência no Rio (2’57”)
* Polícia Civil do Rio conseguiu recuperar imagens do momento em que a universitária foi baleada dentro de
universidade (22”)
* Máfia do transporte clandestino continua atuando em Pernambuco (2’06”)
* Previsão do tempo
* Paul McCartney faz show na Rússia (33”)
3º Bloco
* Idosos saem de asilos irregulares de Minas Gerais denunciados no dia anterior
* Lula visita Peru
(No Peru, o presidente fala sobre a repercussão da política econômica e a taxa de juros dos últimos dias) – Willian
Bonner - O presidente Lula comentou a análise feita ontem pelo ministro da Casa Civil, José Dirceu, numa reunião
com petistas. Sem saber que a palestra estava sendo transmitida para jornalistas, Dirceu reconheceu que a política
econômica está limitando o crescimento do país, mas disse que as medidas adotadas até aqui são necessárias
tecnicamente. Lula disse que José Dirceu pode falar o que quiser, tanto pública quanto privadamente. Sobre juros, o
presidente falou que não adianta reduzir a taxa num mês e ter que aumentá-la depois. Garantiu que quando o governo
começar a reduzir os juros vai ser de uma forma sólida, passo a passo.
Sonora com o presidente: "Os juros que estamos praticando é o juro da economia herdada. Logo, logo
vão vir os juros na nova economia do Brasil. Eu não estou preocupado com a reunião do Copom, tenho coisa mais
importante para fazer no Brasil. Eu não posso ficar analisando o que vai acontecer com a reunião do Copom. Só
posso afirmar isso. Os juros que estamos praticando é o juro da economia herdada. Os juros da nova economia virão
mais rápido do que vocês imaginam.
* Terremoto na Argélia (sem tempo medido)
* Charge (não dá para identificar a charge completa)
176
5º Bloco
* Brasil terá representantes de Luta Olímpica no Pan de Santo Domingo
* Estatuto do Torcedor
* Futebol
Tema: Caso Waldomiro
Data: 13/02/04 (sexta-feira)
(Tempo total: 38’40”)
Escalada (55”)
* Caso Waldomiro
Willian Bonner – Um bicheiro que pagou propina ao chefe das loterias do estado do Rio no governo Benedita da
Silva.
Fátima Bernardes – E parte do dinheiro era para campanhas eleitorais
WB – O crime em 2002 foi registrado em vídeo.
FB – Depois da revelação das fitas, o ex-chefe das loterias é demitido do emprego atual.
WB – Subchefe de assuntos parlamentares da Secretaria de Coordenação Política com sede no Palácio do Planalto.
* Policiais bebem em serviço no Paraná
* Menino Iruan no seu primeiro dia no Brasil
* Pilotos da Esquadria da Fumaça escapam de acidente em SP
* Anúncio do governo de bloqueios no orçamento ministerial
* Discussão sobre clonagem de embriões humanos
* Cientistas anunciam fórmula para casamentos de sucesso
* Como a medalha olímpica mudou a vida de quatro brasileiros
1º Bloco
* Menino Iruan no Brasil (3’)
* Caso Carlinhos Ramirez seqüestrado no Rio quando pequeno (40”)
* Acidente com aviões da Esquadrilha da Fumaça (1’18”)
* Campanha para reduzir número de acidentes no trânsito durante o Carnaval (1’20”)
* Chamadas do próximo bloco
2º Bloco
* Debate sobre clonagem em humanos (2’)
* Corrupção de policiais em Foz de Iguaçu (2’37”)
* Chamadas
3º Bloco
* Prisão do maior contrabandista do Brasil (22”)
* Prisão da quadrilha que extorquia empresários (1’20”)
* Justiça autoriza quebra do sigilo dos suspeitos da morte de casal norte-americano (15”)
* Caso do dentista assassinado em São Paulo (1’32”)
* Presidente da Parmalat revelou detalhes que envolvem políticos na falência da Parmalat (2’10”)
* Pesquisa sobre disputa presidencial nos EUA (25”)
* Chamadas
WB – Denúncias provocam a demissão de um assessor do governo.
(a segunda chamada é sobre o estudo sobre casamentos)
4º Bloco
* Pesquisa sobre sucesso do casamento (1’47”)
* Comentário de Arnaldo Jabor sobre a pesquisa (1’07”)
177
* Governo bloqueia verbas ministeriais (2’08”)
* Desempenho favorável da Petrobras (18”)
* O vice Alencar faz palestra para empresários emo Paulo e tece críticas sobre as taxas de juros (12”)
* IPCA, alta de alimentos devido ao excesso de chuvas (37”)
* Manifestante que jogou torta no ministro Berzoini (19”)
* Charge (relacionada com a nota anterior mostra um aposentado correndo atrás do ministro)
* Caso Waldomiro (6’06”)
FB – Uma denúncia agitou os políticos hoje. Uma reportagem da revista Época mostrou que o ex-presidente da
Loteria do Estado do Rio no governo Benedita cobrava propina de um bicheiro. Ele arrecadava também para
campanhas eleitorais. Waldomiro Diniz estava no governo desde janeiro do ano passado. Até ontem, era subchefe de
assuntos parlamentares do Ministério da Coordenação Política, com sede no Palácio do Planalto. Com a revelação
das denúncias, o assessor foi demitido pelo presidente Lula e a Polícia Federal abriu um inquérito para apurar o caso.
Off (repórter Heraldo Pereira) – A denúncia surpreendeu o Congresso. Logo cedo, os aliados do governo e a
oposição tentavam saber detalhes da reportagem estampada na capa da revista Época. Uma fita de vídeo gravada por
um bicheiro do Rio mostra uma conversa entre ele e Waldomiro Diniz, afastado hoje da subchefia de assuntos
parlamentares da Secretaria de Coordenação Política. Waldomiro estava no governo desde o início, mas até janeiro
trabalhava na Casa Civil. A filmagem foi feita pelo próprio bicheiro, no escritório dele no Rio, em 2002. Waldomiro
Diniz era presidente da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro) no governo Benedita e negociava com o
bicheiro mudanças na licitação para explorar jogos eletrônicos. Segundo a revista, a fita foi analisada por peritos da
Universidade de Campinas.
Imagens e áudio da fita em que Waldomiro conversa com o bicheiro. Aparece uma legenda para auxiliar a
identificação do áudio:
Waldomiro Diniz - Jogos, o problema é o seguinte: o Tribunal aprovou o edital
Carlinhos Cachoeira - Mas você vai mexer no objeto?
WD – Pra eu mexer no objeto eu tenho que mandar pro Tribunal de novo
CC – mas manda ... manda se for preciso. Aquele objeto tá errado.
WD – veja bem, o que que você quer que tire dali? O que tá te atrapalhando?
CC – por que que não toca o objeto, só jogos pela internet e jogos pelo telefone?
WD – redige você, redige você.
CC – você aceita, eu e o Armando fazer?
WD – aí é o seguinte (...) dois milhões de reais eu pago...
Off com imagens da negociação congeladas - Waldomiro também negociou doações do bicheiro para campanhas
políticas.
Imagens da negociação, ainda com as legendas:
WD - Política, você vai...O pessoal tá me chamando... o pessoal do Garotinho me chamou...
CC - Posso ajudar, mas ajudar pouco, você sabe, né?
WD -Vamos dizer, pra gastar quinhentos mil... Tá bom para você?
CC - Trezentos...
WD - Pouco não é não, duzentos para cada? Cento e cinqüenta
CC – quem vai ganhar a eleição?
WD – Eu acho que vai ser
CC – Benedita não ganha não?
Off (Imagens da revista e dos dois candidatos que seriam beneficiados pela propina) - Waldomiro disse a Revista
Época que o dinheiro iria para a campanha de dois candidatos petistas a governador: Geraldo Magela, em Brasília, e
Benedita da Silva, no Rio, e a concorrente dela, Rosinha Matheus. O assessor pede uma parte do dinheiro para ele
mesmo.
Imagens da negociação com as legendas:
WD – deixa eu te falar uma outra coisa. Você vai disponibilizar alguma coisa à parte? Quero um por cento para mim.
CC – na mão?
WD – É. Um por cento.
CC – só? ... do total?
WD – É.
CC – Tá bom.
Off - O negócio é selado com um aperto de mão.
178
Passagem (repórter em frente ao Palácio do Planalto) Waldomiro Diniz, que trabalhava no quarto andar do Palácio
do Planalto, não apareceu hoje. Soube por telefone da exoneração. O presidente Lula se reuniu com os ministros da
Justiça e da Coordenação Política. Pediu uma rápida e rigorosa investigação.
Off: Depois da reunião com o presidente, o ministro da Justiça anunciou as primeiras medidas. (imagem de Bastos e
Rebelo caminhando para uma coletiva)
Sonora do ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos: "Já pedi verbalmente à Polícia Federal e neste momento já
deve estar aberto o inquérito para apurar estes fatos que aconteceram no Rio de Janeiro em 2002".
Off: O ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, não quis se pronunciar. Quem falou, foi o atual chefe de
Waldomiro, Aldo Rebelo.
Sonora de Rebelo: “Diante de um episódio desses o presidente da República reage com indignação e quer ver
naturalmente este episódio investigado e esclarecido".
Off: A oposição reagiu. O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio, que já havia denunciado Waldomiro por suposto
envolvimento com o jogo do bicho, voltou a cobrar investigação.
Sonora com Arthur Virgílio: "O governo não tem o direito de oferecer resposta, ele tem o dever de oferecer resposta
sob pena de ele não merecer governar um povo sério como o povo brasileiro".
Off: o senador Antero Paes de Barros, que entregou uma cópia das gravações para o Ministério Público, quer que o
Congresso apure as denúncias.
Sonora com Antero Paes de Barros: "As denúncias são gravíssimas, precisam ser rigorosamente apuradas. Já
apresentei hoje um pedido de CPI e já comecei a colher as assinaturas".
Sonora com José Serra, presidente do PSDB:"O importante no caso é que esse assunto seja agora investigado e que o
PT e sua direção procurem tomar medidas a esse respeito antes de ficar procurando bodes expiatórios para o
assunto".
Sonora com José Genoíno, presidente do PT: "Nossa posição é de muita tranqüilidade. Em primeiro lugar,
Waldomiro não é filiado ao PT. Em segundo lugar, porque esses fatos aconteceram na campanha eleitoral e nossos
candidatos prestaram contas das suas campanhas na Justiça. Terceiro, porque o presidente Lula já tomou as medidas
necessárias com a exoneração do Waldomiro".
Notas-pés:
WB – Segundo o relato da revista Época, Waldomiro Diniz chorou ao tomar conhecimento das denúncias ontem à
noite. Ele confessou ter recebido R$ 100 mil, que teria entregue ao comitê da campanha do candidato Geraldo
Magela, de Brasília.
FB – O ex-candidato Geraldo Magela não quis comentar as denúncias. O coordenador da campanha de Geraldo
Magela, Raimundo Jr., negou que o comitê tenha recebido dinheiro de Waldomiro. E afirmou que todas as doações
foram declaradas à Justiça Eleitoral.
WB – Em nota oficial, a governadora do Rio de Janeiro, Rosinha Matheus, declarou que Waldomiro Diniz não tinha
autorização para negociar qualquer assunto financeiro em nome dela durante a campanha eleitoral. E que ele será
processado se ficar provado que usou o nome dela. Rosinha Matheus e secretário Anthony Garotinho estão em
viagem oficial a Israel. A assessoria de Benedita da Silva informou que não localizou a ex-governadora, que está em
viagem de férias no exterior.
* Festa de aniversário do PT. Na reportagem, fala-se que nenhum filiado quis comentar o caso Waldomiro (1’)
* Chamadas
5º Bloco
* Economia de energia no horário de verão (20”)
* Contaminação das praias na Bahia (25”)
* Chuvas (35”)
* Estragos da chuva e trabalho da Defesa civil (30”)
* Previsão do tempo
* Apresentação do tema do Globo Repórter
* Nevasca em Atenas (21”)
* Como a medalha olímpica mudou o estilo de vida de quatro atletas (2’10”)
* Desempenho de Guga em torneio (8”)
* Despedida
Data: 14/02/04 (sábado)
(Tempo total: 35’50”)
179
Escalada (55”)
* Caso Waldomiro
Márcio Gomes - Começa a investigação do escândalo que derrubou um assessor do Palácio do Planalto.
Chico Pinheiro - Um delegado da Polícia Federal e uma procuradora já foram nomeados para investigar o caso.
MG - E o bicheiro para quem o então presidente da Loterj pediu propina fala pela primeira vez.
* Teste criado por brasileiros para prevenir o câncer de estômago
* Modos de guardar a água da chuva no sertão do nordeste.
* Fim do horário de verão
* Gols das partidas do dia
* Desempenho de Guga em torneio
* Pessoas do mundo todo vêm ao Brasil ver borboletas
1º Bloco
* Caso Waldomiro (8’39”)
MG – A Polícia Federal abriu inquérito hoje para apurar as denúncias de corrupção envolvendo um bicheiro e
Waldomiro Diniz, ex-presidente da Loterj, a loteria oficial do estado do Rio. Waldomiro, que até ontem era assessor
do Palácio do Planalto, continua desaparecido. O bicheiro falou hoje pela primeira vez sobre o escândalo.
Off do repórter Vinícius Dônola (imagens do prédio de Cachoeira e da versão on-line das reportagens do jornal de
Goiânia sobre o caso) - O bicheiro que gravou a proposta do pagamento de propina mora neste prédio de luxo em
Goiânia. Numa entrevista ao jornal O Popular, de Goiás, Carlos Augusto Ramos admitiu que Waldomiro Diniz, na
época presidente da Loterj, pediu dinheiro a ele em 2002.
(Trechos de Cachoeira, por telefone, explicando que houve a cobrança da propina mas que ele não teria entregue o
dinheiro. Há legendas para ajudar a identificar o áudio.)
"Aconteceu o pedido dele, mas não aconteceu o fato entende? Houve o pedido dele, mas da minha parte, entregar
dinheiro para ele, não".
Off - Carlos Augusto Ramos negou ser bicheiro, disse que é empresário do ramo de loterias e afirmou que foi vítima
de extorsão.
Sonora - "Quem ver a fita, vai ver que eu fui extorquido. Quer dizer, na minha parte, não houve crime. Eu fui
extorquido. Sou dono de empresas, pô".
Off – Carlos Augusto acredita que isso foi um ato isolado.
Sonora - “O governo Lula é um governo sério né. Isso aí foi um caso isolado, uma ovelha negra, sabe?
Off (imagens de arquivo de Waldomiro concedendo entrevista, ainda quando era presidente da Loterj, do Palácio do
Planalto, de José Dirceu, documentos que comprovam a ligação dele com o Planalto como funcionário, páginas e
capa da revista, fotos de Waldomiro em entrevistas) – Até ontem, Waldomiro tinha cargo de confiança do governo
em Brasília. Era subchefe de assuntos parlamentares do Ministério da Coordenação Política. Ele ocupava o cargo
desde o início do governo. Trabalhava no quarto andar do Palácio do Planalto e até a reforma ministerial do deste
ano era subordinado ao ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu. A demissão de Waldomiro aconteceu após a
publicação de uma reportagem da revista Época que mostra uma negociação entre ele e o bicheiro Carlos Augusto
Ramos. Segundo a revista, a fita foi gravada por Carlos Augusto, que está do lado esquerdo do vídeo. Em 2002,
Waldomiro Diniz era presidente da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro) no governo de Benedita da Silva. A
fita foi analisada por peritos da Universidade de Campinas, que incluíram legendas nos diálogos. O bicheiro e o
então presidente da Loterj conversam sobre mudanças no documento que regula a concorrência para a exploração
dos jogos eletrônicos no Rio. Waldomiro oferece facilidades para obter o dinheiro. E chega a sugerir que o próprio
bicheiro redija os termos do documento, que chamam de objeto.
(Imagens do vídeo)
Waldomiro também pede dinheiro para campanhas eleitorais. Segundo a revista Época apurou, o dinheiro iria para
campanhas de dois candidatos petistas a governador: Geraldo Magela, em Brasília, e Benedita da Silva, no Rio, e
também para a concorrente dela, Rosinha Matheus, então do PSB.
(Imagens do vídeo)
Passagem (em frente à Loterj) – Por determinação do Ministério da Justiça, o caso vai ser apurado pela Polícia
Federal daqui do Rio de Janeiro. A ex-ministra Benedita da Silva está em férias, fora do país, e não foi encontrada
para falar sobre o caso. A governadora Rosinha Matheus chegou hoje ao Rio depois de uma viagem oficial a Israel.
Sonora de Rosinha: "Ele teria usado o meu nome, que estaria pedindo recurso para minha campanha, quando em
nenhum momento o senhor Waldomiro fez parte da minha equipe e em nenhum momento tinha autorização para
isso".
180
Na quinta-feira, ao tomar conhecimento das gravações, o ex-assessor do Ministério da Coordenação Política chorou e
admitiu que quando foi presidente da Loterj recebeu R$ 100 mil e entregou a quantia para a campanha de Geraldo
Magela, candidato petista ao governo do Distrito Federal. Magela rebateu hoje as acusações.
Sonora com Magela: "Todos os esclarecimentos já foram prestados pela coordenação da nossa campanha dizendo
que nenhum centavo entrou vindos do senhor Waldomiro Diniz".
ressalta prestação de contas e diz que não recebeu nenhum centavo de Waldomiro.
Off – (imagens do encontro, de Dirceu e de Mercadante). Ontem à noite, integrantes do governo que participaram no
Rio da festa dos 24 anos do PT não quiseram falar sobre as denúncias contra o ex-assessor. Mas no discurso, o
presidente falou sobre ética .
Sonora (discurso de Lula) –"Nós não podemos errar dentro da política, na orientação, no cumprimento de algumas
coisas que são marcas registradas desse partido, que é o seu comportamento ético".
Nota-pé – O secretário de Segurança e ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, informou que conheceu
Waldomiro Diniz por intermédio do PT. O Partido dos Trabalhadores fez parte da coligação que venceu as eleições
para o governo do estado em 98. Anthony Garotinho que espera que as denúncias sejam investigadas.
CP – Você vai conhecer agora os personagens principais dessa história e os negócios que estavam em jogo.
Off – (imagens do vídeo, casa de Cachoeira, máquinas e sua empresa, documento do Ministério Público, faixada do
prédio do governo de Goiás, Waldomiro e de todos os políticos citados) Carlos Augusto Ramos, conhecido como
Carlos Cachoeira, tem 40 anos. Nasceu em Anápolis, onde tem uma ampla casa e mora em um apartamento de luxo
em Goiânia. Ele é dono da empresa Gerplan, que controla loterias em Goiás. Segundo o Ministério Público goiano, a
Gerplan é dona dez mil máquinas de caça-níqueis no estado. Em 99, a empresa foi acusada pelo Ministério Público
de fazer negócios ilegais com bicheiros. Um relatório do governo do estado comprovou a denúncia. O contrato da
Gerplan com o governo de Goiás para exploração de loterias também está sendo investigado. Waldomiro Diniz
auxiliou em 92 como ex-funcionário da Caixa Federal a Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou PC
Farias, tesoureiro da campanha de Fernando Collor. Foi então que conheceu o ministro da Casa Civil, José Dirceu.
Foi assessor parlamentar do governo do Distrito Federal na gestão de Cristóvão Buarque, em 94, e chefe da
representação do governo do Rio em Brasília, na gestão de Anthony Garotinho em 98. Foi uma indicação do PT,
segundo Garotinho. Em 2001, ainda no governo de Garotinho, Waldomiro foi nomeado presidente da Loterj,
empresa que controla as loterias no estado. Foi mantido no cargo na gestão de Benedita da Silva. Com a eleição de
Lula, Waldomiro ocupou o cargo de subchefe de assuntos parlamentares da Casa Civil, subordinado ao ministro José
Dirceu. Era considerado um dos principais interlocutores da Casa Civil com os parlamentares. Com a reforma
ministerial, ficou subordinado a Aldo Rebelo, ministro da Coordenação Política. Ontem, Waldomiro foi demitido.
Passagem – (repórter Júlio Mosquéra em frente ao Congresso) – As fitas obtidas pela revista Época são de 2002,
quando Waldomiro ocupava a presidência da Loterj no governo Benedita da Silva. Segundo o Ministério Público,
Carlos Cachoeira pretendia ampliar a sua área de atuação para Brasília, Tocantins e Rio de Janeiro. Cachoeira queria
ter o controle das apostas pela internet e pelo telefone. Waldomiro Diniz estava renovando o contrato para
exploração das loterias. Por isso, houve a negociação propina. Cachoeira queria explorar sozinho as apostas pela
internet e pelo telefone, o que segundo a revista Época conseguiu assegurar. Agora a oposição tenta no Congresso
Nacional instaurar uma comissão parlamentar de inquérito para investigar o caso.
Nota-pé –
MG - O Ministério Público estadual do Rio de Janeiro informou que Waldomiro Diniz responde a inquérito na
Delegacia de Defraudações por falsidade ideológica. Ele teria mentido durante uma investigação sobre bingos no
estado. Num primeiro momento, disse que alguns bingos eram irregulares. Depois declarou que a situação deles era
regular.
CP - O delegado da Polícia Federal que vai investigar as denúncias de propina é Antônio César Fenandes Nunes. Ele
já chefiou delegacias especializadas na Bahia e foi agente policial na Colômbia. O procurador-geral da República,
Cláudio Fontele, nomeou a procuradora Andréa Silva Araújo, do estado do Rio, para acompanhar o caso.
* Assalto em joalheria de Alfenas/MG flagrado por câmeras (46”)
* Polícia Federal apreende maconha e lança-perfume (22”)
* Acidente na BR-135 (26”)
* Acidente com trabalhadores na Companhia Siderúrgica de Tubarão, em Vitória (15”)
* Chamadas
2º Bloco
* Algas nas praias de Sergipe e problemas em estradas por causa das chuvas (38”)
* Sertanejos do nordeste guardam água da chuva (1’48”)
* Previsão do tempo
181
* Teste para diagnosticar câncer de estômago (2’20”)
* Chamadas
3º Bloco
* Escolas públicas abertas aos finais de semana (2’10”)
* Turistas estrangeiros à procura de borboletas (1’56”)
* Apresentação do Fantástico
* Disputa de surfe no Havaí (2’)
* Vôlei (1’26”)
* Apresentação do Esporte Espetacular
* Chamadas
4º Bloco
* Escândalo Financeiro da Parmalat (20”)
* Assassinato de empresário carioca (22”)
* Iraque (1’45”)
* Irã (15”)
* Filme brasileiro premiado (20”)
* Dia dos namorados em outros países (40”
* Chamadas
5º Bloco
* Guga (36”)
* Futebol (1’52”)
* Charge
* Morte de cartunista (26”)
* Fim do horário de verão (1’48”)
* Despedida
Data: 16/02/04 (segunda-feira)
(Tempo total: 37’45”)
Escalada (50”)
* Caso Waldomiro
Fátima Bernardes - A Polícia apreende documentos na casa de ex-assessor do Planalto acusado de corrupção.
Willian Bonner - O ministro José Dirceu diz que o crime aconteceu antes do governo Lula e será apurado.
FB - A oposição se divide quanto a abertura de uma CPI
WB – E nossos repórteres mostram que o ex-assessor Waldomiro Diniz já era investigado desde o ano passado.
* Prisão de policiais baianos acusados de proteger traficante
* Polícia do Rio ocupa favela
* Libertados crianças e trabalhadores escravos de fazenda do Pará
* Fazendeiro morto em Santa Catarina em conflito com índios
* Projeto do governo para educação superior
* Cientistas descobrem estrela feita de diamante
1º Bloco
* Prisão de policiais na Bahia que compunham quadrilha e protegiam traficante (3’10”)
* Polícia do Rio ocupa favela (2’38”)
* Juiz do STJ é assaltado em SP (20”)
* Fazendeiro morto em conflito com caingangues (1’22”)
* Conflito de policiais com aborígenes na Austrália (43”)
* Chamadas
2º Bloco
* Estudante eletrocutado em Uberaba durante festa (48”)
182
* Projeto do governo para criação de vagas particulares em públicas (1’40”)
* Charge
* Pesquisa norte-americana para evitar doenças nos olhos genéticas (2’25”)
* Descobertas de estrela de diamante e de nova galáxia (40”)
* Chamadas (Caso Waldomiro)
3º Bloco
* Caso Waldomiro (10’28”)
FB – A Polícia Federal e o Ministério Público Federal vasculharam hoje a casa do ex-assessor parlamentar,
Waldomiro Diniz, em Brasília, à procura de provas. O ex-chefe da assessoria parlamentar do governo é acusado de
cobrar propina de um bicheiro em 2002 quando comandava o órgão que administra loterias estaduais no Rio de
Janeiro.
Off (repórter Roberto Kovalik) (imagens de arquivo de Waldomiro dando entrevista, do apartamento dele e do outro
que foi vistoriado, da conversa do vídeo e de Benedita) - No apartamento de Waldomiro Diniz, a Polícia apreendeu
computadores, documentos e um celular. O ex-subchefe de assuntos parlamentares do Ministério da Coordenação
Política, demitido na semana passada, é acusado cobrar propina do bicheiro Carlinhos Cachoeira para financiar
campanhas do PT e para uso pessoal em 2002, quando era presidente da Loterj (Loterias do Rio de Janeiro), no
governo de Benedita da Silva. No apartamento de Messias Antônio Ribeiro, que foi sócio de Carlinhos Cachoeira
numa empresa de máquinas caça-níquel, os agentes apreenderam vários documentos. Todo material vai ser enviado
para o juiz da Justiça Federal do Rio de Janeiro que mandou fazer a busca.
Passagem – (imagem em frente ao apartamento de Messias) Messias foi ouvido pelo Ministério Público na semana
passada. Contou que ele e o bicheiro Carlinhos Cachoeira começaram a explorar as máquinas caça-níquel em
Goiânia. Segundo Messias, Cachoeira queria expandir os negócios para outros estados, a começar pelo Rio de
Janeiro e pelo Rio Grande do Sul.
Off – (imagens do depoimento, destaca o nome de Alejandro; de Waldomiro; faixada da empresa Capital) No
depoimento, Messias disse também que as máquinas eram fornecidas por Alejandro Ortiz. Carlos Roberto Martins,
afiliado de Ortiz, e também ligado às máquinas caça-níquel, disse que Alejandro Ortiz estava enfraquecido por causa
de suas ligações com a máfia italiana. E que depois de deixar a Loterj, quando foi para o governo federal, Waldomiro
Diniz passou a defender os interesses de Alejandro no governo e no Congresso. No Rio Grande do Sul, durante o
governo de Olívio Dutra, a concorrência para explorar as loterias estaduais foi vencida por uma empresa de
construção e limpeza chamada Capital, com sede em Goiás. Em 2002, o estado revogou a licitação, mas a empresa
conseguiu na Justiça manter o serviço. Um ano depois, mudou de nome. Um dos donos é Carlos Augusto de Almeida
Ramos, o bicheiro Carlinhos Cachoeira. O secretário da Fazenda no Rio Grande do Sul disse que quer rever o
contrato.
Sonora com secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul, Paulo Michellutti: "Se houver qualquer restrição a um de
seus sócios, especialmente esses mencionados agora publicamente, nós exigiremos certamente informações
adicionais sobre o desempenho dessas pessoas físicas".
Off – (imagem do procurador entrevistado) Um grupo de procuradores da República está preparando um dossiê para
entregarem ao governo em duas semanas. Eles querem que o bingo e as máquinas caça-níqueis sejam proibidas.
Sonora com Guilherme Schelb, procurador da República: "Essas atividades de jogo estão ligadas às organizações
criminosas que buscam através delas lavar, regularizar, o dinheiro obtido ilicitamente".
WB – Documentos mostram que Waldomiro Diniz já tinha sido investigado no ano passado pela Polícia Federal. Ele
também responde a inquérito por falsidade ideológica.
Off – (imagens de máquinas, das cartelas dos jogos, do vídeo com a gravação, do prédio da PF). A Justiça Federal do
Rio mandou lacrar as máquinas eletrônicas espalhadas pelas lotéricas do estado. Foi a respeito do funcionamento
dessas máquinas a conversa em 2002 entre o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e o ex-
presidente das loterias do Rio e ex-assessor do Palácio do Planalto, Waldomiro Diniz. Em gravação divulgada pela
revista Época, os dois negociavam mudanças na legislação dos jogos, que funcionam assim: o apostador marca os
números nas cartelas, que são registradas em máquinas, ligadas a uma central, como se fossem um bingo eletrônico.
E são três tipos de apostas. Numa delas, o resultado pode ser conhecido até 15 minutos depois. Hoje, o governo do
Rio decidiu investigar todos os contratos assinados pelo ex-presidente da Loterj, Waldomiro Diniz. A comissão
criada para fazer a análise dos documentos tem 30 dias para apresentar os resultados. O delegado da Polícia Federal,
que vai comandar as investigações sobre as denúncias, abriu inquérito agora à noite. Como nas conversas gravadas
há pedidos de dinheiro para campanhas políticas, o primeiro objetivo do inquérito será verificar se houve crime
eleitoral. O advogado de Waldomiro Diniz esteve hoje na Polícia Federal.
Sonora com o advogado Luís Guilherme Vieira, em que diz que está cedo para ter defesa.
183
Passagem – repórter André Luiz Azevedo – (imagem em frente ao prédio da PF e do relatório) A administração de
Waldomiro Diniz na presidência da Loterj (Loterias do Rio de Janeiro) já tinha sido investigada pela Polícia Federal
no ano passado. O resultado dessa investigação está neste relatório, do dia 10 de junho de 2003, em que o delegado
Herbert Reis Mesquita denuncia diversas irregularidades. Para poder continuar as investigações, teve até a quebra
sigilo bancário e fiscal de Waldomiro Diniz.
Off – (imagens do relatório, de Waldomiro dando entrevista de arquivo, da faixada da delegacia, da revista Época,
das gravações, da gravação em Brasília) No relatório o delegado diz que os atos normativos na Loterj são editados de
maneira suspeita, o que mostra improbidades administrativas e até mesmo ilícitos penais. Ele diz ainda que
Waldomiro Diniz tem seu nome ligado a denúncias de envolvimento com a máfia da jogatina e esquema de desvio
de recursos de verbas publicitárias da Loterj. A Justiça Federal chegou a determinar a busca e apreensão de
documentos da sede da Loterj, mas o Tribunal Regional Federal achou as provas inconsistentes e mandou devolver a
documentação. A investigação foi suspensa. Na Delegacia de Defraudações do Rio, Waldomiro Diniz responde a
outro inquérito por falsidade ideológica. Ele é acusado de dar declarações contraditórias sobre a legalização dos
bingos. A revista Época também teve acesso a imagens que mostram um outro encontro, dessa vez no aeroporto de
Brasília entre Waldomiro e Carlinhos Cachoeira. Waldomiro deixa a mesa carregando uma sacola branca e dirige-se
ao setor de embarque. O trajeto é acompanhado pelas câmeras do aeroporto. Quando ele pelo raio X do aeroporto, a
câmera se aproxima, mas não é possível identificar o que há dentro da sacola.
FB – A imprensa internacional registrou hoje as acusações de corrupção envolvendo o ex-assessor Waldomiro Diniz.
O New York Times afirma que o partido do governo está ameaçado pela gravação que mostra Waldomiro Diniz
pedindo dinheiro a um banqueiro do jogo do bicho. O britânico Financial Times, principal jornal de economia da
Europa, diz que a confiança dos investidores no avanço das reformas econômicas pode ser abalada.
WB – O ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, falou hoje pela primeira vez sobre o escândalo envolvendo o ex-
assessor Waldomiro Diniz. Ele disse que o caso aconteceu antes do atual governo e já está sendo apurado.
Off – repórter (imagens Palácio do Planalto e de líderes, como Aloísio Mercadante, e de líderes da oposição) A
reação do governo foi planejada logo cedo numa reunião no Palácio do Planalto. Quando chegaram ao Congresso, os
líderes estavam decididos a evitar a abertura de uma investigação parlamentar sobre as denúncias envolvendo
Waldomiro Diniz, defendida pela oposição. Na opinião dos líderes governistas, as medidas necessárias já foram
tomadas.
Sonora com Aloísio Mercadante: "O processo já está iniciado e a investigação vai ser feita com absoluto e completo
rigor", afirmou líder do governo no Senado”.
Off – (imagens de Dirceu com Suplicy; do plenário e de João Paulo Cunha) O ministro chefe da Casa Civil, a quem
Waldomiro esteve subordinado até meados de janeiro, passou a manhã no Congresso. Recebeu o apoio de diversos
parlamentares, inclusive da oposição. O presidente da Câmara, João Paulo Cunha, finalizou o discurso se
solidarizando ao ministro.
Sonora de parte do discurso: "Como ministro foi o grande motor deste governo. E como um grande brasileiro,
orgulha todos nós que empenhamos nossa vida por um Brasil melhor."
Off – (imagens de Dirceu) Ainda no congresso, o ministro falou pela primeira vez sobre a denúncia.
Sonora de Dirceu: "Os fatos anunciados aconteceram em 2002, antes do atual governo, no Estado do Rio de Janeiro.
Não foi apontada nenhuma irregularidade durante o atual governo. O atual governo agiu imediatamente, exonerando
o subchefe de assuntos parlamentares e mandando a autoridade competente instaurar inquérito policial. Qualquer
outra iniciativa cabe às autoridades do Ministério Público, às autoridades da Polícia Judiciária e ao parlamento
brasileiro".
Off – (imagens do senador) O senador Antero Paes de Barros, que recebeu as gravações das conversas do ex-assessor
com o bicheiro continua recolhendo assinaturas para abrir uma investigação no Congresso.
Sonora do senador: "Acredito que tenham senadores tanto no PT quanto no PMDB que vão assinar a CPI. Tem
pessoas que tem muito mais compromissos com a ética do que com algumas pressões para que não assinem".
Passagem (Heraldo Pereira, no Congresso) – Os líderes do PT estão conversando com todos os parlamentares do
partido para que eles assinem o pedido de abertura da investigação aqui no Congresso. O comportamento dos outros
partidos aliados do governo vai depender do resultado deste esforço. Hoje o PMDB já demonstrou o que deverá ser
decidido numa reunião marcada para amanhã.
Sonora com Renan Calheiros, líder do PMDB no Senado:
"Não é caso de investigação política, de criação de comissão parlamentar de inquérito, a não ser que a bancada pense
diferentemente e como líder expressarei a posição da bancada”.
Off – (imagens dos políticos) E até o PSDB, que pede a investigação, está dividido. O líder do partido na Câmara foi
a tribuna pedir o afastamento de José Dirceu durante as investigações. Mas para o senador Tasso Jereissati, não pode
haver precipitação.
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Sonora com Jereissati (PSDB-CE): "Eu acho que a CPI é uma coisa grave. CPI só pode ser feita quando existam
dados concretos que envolvam o Governo Federal. E esses dados concretos envolvendo o Governo Federal ainda não
apareceram."
Sonora do discurso do deputado Miro Teixeira, líder do governo na Câmara: "O ministro José Dirceu não nomeou o
senhor Waldomiro diretor de loteria da Caixa Econômica. Ele foi designado assessor parlamentar, trabalhou nesta
casa. Daí a transpor responsabilidade para o ministro José Dirceu vai uma longa distância".
Off – O episódio reascendeu o debate sobre o financiamento público das campanhas políticas. O líder do PT na
Câmara acha que casos com o de Waldomiro Diniz seriam evitados.
Sonora com Arlindo Chinaglia, líder do PT na Câmara: "Evidentemente tiraria pelo menos o argumento de alguém
que quisesse como esse funcionário se apresentar a alguém pedindo recursos em nome dessa ou daquela campanha".
* Início atividades Congresso (1’50”)
FB – O caso do ex-assessor Waldomiro Diniz deixou o clima tenso na reabertura do Congresso. Na mensagem
oficial, o presidente Lula anunciou que vai dar prioridade à área social e à criação de empregos.
Off – O ritual marca o início do ano no Congresso. A mensagem do presidente da República foi entregue pelo
ministro chefe da Casa Civil José Dirceu. No texto, o presidente Lula elogiou a aprovação das reformas em 2003 e
anunciou que a prioridade para este ano é a questão social.
Leitura de parte do texto pelo senador Romeu Tuma (PFL): "As nossas prioridades em 2004 são a geração de
empregos e investimentos na área social e de infra-estrutura".
O presidente do Supremo Tribunal Federal, Maurício Corrêa, fez uma autocrítica: a lentidão da Justiça desanima o
cidadão e pediu mudanças no Judiciário. O presidente da Câmara, João Paulo Cunha, defendeu a Reforma Política.
Para ele, 2003 foi o ano das medidas amargas e agora é hora do desenvolvimento social. No discurso, o deputado
petista criticou o arrocho no orçamento para pagar ...
a dívida pública. O presidente do Senado, José Sarney, disse que 2003 foi bom para o Congresso e espera manter o
ritmo de trabalho neste ano. O governo se comprometeu a mandar as reformas sindical e a trabalhista até 2006. E
trabalhar pela aprovação das reformas política e do Judiciário. Mas, este ano, a votação de projetos esbarra no
calendário. A partir de julho a campanha eleitoral será prioridade. Dos 594 parlamentares, pelo menos cem devem
disputar prefeituras.
Sonora deputado Sigmaringa Seixas, vice-líder do governo: "No segundo semestre, com eleição em outubro, aquilo
que depender de quorum privilegiado nós teremos dificuldades em aprovar".
* Poucos negócios no mercado financeiro (16”)
* Lula defende em conferência mudanças no FMI (22”)
* Chamadas
4º Bloco
* MP do Rio pede prisão preventiva de Sérgio Naya (32”)
* Pessoas vítimas de trabalho escravo no Pará (2’)
* Apreensão de carteiras de trabalho irregulares (24”)
* Polícia encontra garimpo clandestino (20”)
* Previsão do tempo
* Seca em algumas cidades (1’56”)
5º Bloco
* Futebol (2’16”)
Data: 17/02/04 (terça-feira)
(Tempo total: 37’45”)
Escalada (57”)
* Caso Waldomiro
Willian Bonner – Oposição e governo duelam por causa do pedido de abertura de uma CPI sobre o caso Waldomiro
Diniz.
Fátima Bernardes – No Rio, deputados criam comissão para investigar as denúncias contra o homem que comandava
as loterias no estado.
WB – E o ministro da Justiça diz que a atuação do ex-assessor no Planalto deve ser investigada.
* Demissão de funcionário provoca crise no Ministério da Cultura
185
* Transferência de Beira-mar para o Rio de Janeiro
* Prejuízos da chuva
* Caso Parmalat
* Estudo mostra que brasileiro consome muito sal.
* Futebol
* Carnaval
1º Bloco
* Caso Waldomiro (9’18”)
WB – O Congresso Nacional teve uma terça-feira movimentada e tensa. Deputados e senadores passaram o dia
envolvidos numa grande batalha política: os que apóiam o governo querem evitar a criação de uma comissão
parlamentar de inquérito para investigar o ex-assessor Waldomiro Diniz. A oposição quer a CPI. Waldomiro Diniz
foi demitido do cargo de assessor parlamentar do Palácio do Planalto depois de ser acusado de pedir propina a um
bicheiro dois anos atrás quando comandava as loterias do estado do Rio.
Off (repórter Heraldo Pereira) – A ordem entre os treze senadores do PT era manter a descontração e não demonstrar
o clima tenso que está por trás dessas imagens (imagens de uma reunião dos parlamentares petistas sorridentes, sem
aparentar preocupações). Os parlamentares combinaram partir para a ofensiva depois das denúncias de irregularidade
envolvendo o ex-assessor parlamentar do ministério da Coordenação Política. Para os senadores petistas, as
investigações do caso Waldomiro Diniz devem ficar com a Polícia e o Ministério Público. Uma CPI teria que
investigar também governos anteriores.
Sonora com a senadora Ideli Salvati, líder do PT: "Se é para investigar financiamento de campanha é financiamento
com todas as suspeitas já levantadas neste país. A empresa Asa Branca do financiamento do Serra, do Fernando
Henrique, disquete com elementos entregue à polícia.”
Off – O PSDB reagiu à idéia do PT
Sonora com o senador Arthur Virgílio, líder do PSDB: "É uma cortina de fumaça para no fundo não apurar nada. Se
querem investigar qualquer fato do governo passado, tragam uma CPI individualmente que nós assinamos e eles
investiguem quem eles quiserem".
Passagem – (ao fundo, plenário do Senado) A possibilidade de haver no congresso uma investigação do ex-assessor
da Casa Civil, Waldomiro Diniz, dominou os debates de hoje aqui no Senado. Para que seja instalada uma CPI são
necessárias no mínimo 27 assinaturas de senadores. (Imagens dos senadores conversando no plenário) O autor da
proposta da CPI, senador Antero Paes de Barros, acredita que a estratégia do PT, de uma investigação ampla,
aumentou a chance da oposição na busca das assinaturas necessárias. O PFL liberou os senadores do partido.
Sonora do discurso do senador Agripino Maia (PFL/RN):"Eu vou assinar a instalação da comissão parlamentar de
inquérito como um serviço que vou prestar ao meu país e à probidade do serviço público do Brasil".
Off – No final da tarde, o governo amenizou o discurso.
Sonora do discurso de Aloísio Mercadante (PT): "O que nós estamos pedindo é um voto de confiança ao Congresso
Nacional. É um voto de confiança para que a Polícia Federal apure tudo que diz respeito a esse episódio. Que todos
os envolvidos paguem por terem participado em qualquer nível, em qualquer momento, em qualquer situação. Mas
que a gente não se precipite".
Off – O PMDB atendeu o apelo do governo. Os senadores do partido decidiram não assinar o pedido de CPI.
Sonora com José Sarney, líder do PMDB: "Estamos num momento em que é necessário que o país tenha uma certa
maturidade política e saiba enfrentar esses problemas dentro da normalidade democrática sem qualquer espírito de
retaliação. Não serve ao país, não serve ao Congresso e, portanto, eu acho que nós devemos ter um pouco de
paciência dessas coisas".
Off – Para a oposição, o que torna o caso mais explosivo é a biografia de Waldomiro, que se tornou conhecido nos
meios políticos de Brasília durante a CPI do PC em 92. Ex-funcionário da Caixa, ajudou na análise dos cheques
fantasmas. Aproximou-se do PT e chegou a dividir anos atrás por dois meses um apartamento com José Dirceu, que
era na época deputado. Foi assessor parlamentar do governador do Distrito Federal, Cristóvão Buarque. Chefe da
representação do governo do Rio, no mandato de Anthony Garotinho. E presidente da Loterj nos governos de
Garotinho e Benedita da Silva. Antes de ser transferido para o Ministério da Coordenação Política, em janeiro deste
ano, Waldomiro Diniz trabalhou por um ano no mesmo cargo na Casa Civil, sob o comando de José Dirceu, homem
forte do Planalto. Os governistas se defendem dizendo que o crime do qual é acusado Waldomiro Diniz aconteceu
em 2002, antes do governo Lula e que nada tem a ver com a Casa Civil. E que quando o escândalo veio à tona, ele
foi imediatamente demitido. E uma investigação foi aberta.
186
FB – O ministro da Justiça, Márcio Thomas Bastos, disse que o governo deve investigar atuação a Waldomiro Diniz
enquanto ele trabalhava no Palácio do Planalto. Hoje, a Polícia Federal apreendeu documentos em duas empresas do
bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Off (repórter Roberto Kovalick) – Em Goiânia, a Polícia Federal fez uma busca por ordem da Justiça na casa da casa
de Carlos Martins, que trabalhava com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Foram apreendidas notas fiscais de compra
de máquinas caça níqueis e documentos de contabilidade. Em duas empresas de Carlinhos Cachoeira em Anápolis, a
Polícia apreendeu 38 pastas com documentos sobre a compra de máquinas. Todo o material vai ser enviado para o
Rio de Janeiro, onde estão concentradas as investigações.
Sonora com Antônio Fernandes, delegado: "Nós vamos apurar crimes eleitorais, financiamento de campanhas
eleitorais do pleito de 2002, corrupção ativa e passiva, nós poderemos instaurar outros inquéritos para apurar
lavagem de dinheiro ou qualquer delito que apareça".
Off – O bicheiro Carlinhos Cachoeira divulgou uma nota dizendo que é vítima e que está sendo caluniado. Disse
ainda que está à disposição das autoridades para ajudar nas investigações. Cachoeira apareceu nas imagens entregues
ao Ministério Público negociando propina com Waldomiro Diniz. Hoje, o ministro da Justiça disse que a atuação de
Waldomiro enquanto esteve no governo deve ser investigada.
Sonora com o ministro Márcio Thomas Bastos: "Eu imagino que o governo possa por prudência fazer um exame das
questões que passaram por essa pessoa, das questões que passaram pelo Waldomiro Diniz, durante o tempo em que
ele foi sub-chefe da Casa Civil."
Sonora com o vice-presidente, José Alencar (PL): "Essas coisas podem acontecer. A providência foi tomada
imediatamente que foi a destituição do rapaz com a abertura de inquérito policial".
Passagem (em frente ao Congresso) – Desde outubro do ano passado, uma comissão interministerial estuda a questão
dos bingos no país. Um relatório vai ser entregue ao presidente Lula. A proposta seria deixar os bingos sob o
controle da Caixa Econômica, que poderia operá-los diretamente como faz com as loterias ou dar concessões. Hoje
o Palácio do Planalto informou que não partiu do governo qualquer proposta para legalizar os bingos. Essa questão já
vinha sendo debatida no Congresso e que o governo criou a comissão para ouvir a opinião dos ministros e preparar
uma proposta técnica. O Palácio do Planalto informou também que o ex-assessor Waldomiro Diniz não participou
das reuniões da comissão.
WB – Como Waldomiro Diniz dirigia as loterias do Rio de Janeiro na época em que pediu dinheiro ao bicheiro, o
caso teve repercussão política na Assembléia Legislativa do Estado. Os deputados decidiram hoje instalar uma
Comissão Parlamentar de Inquérito.
Off (repórter André Luiz Azevedo) – O pedido de CPI foi aprovado pelos líderes dos partidos numa reunião hoje à
tarde. Waldomiro Diniz presidiu a Loterj por dez meses nos governos de Anthony Garotinho e Benedita da Silva.
Uma comissão do governo estadual, que também investiga o caso, pediu hoje todos os documentos expedidos
quando Waldomiro estava à frente da Loterj. Só a Loteria do Rio controla 16 tipos de diferentes. São apostas
instantâneas e loterias eletrônicas. Ao todo, 17 estados têm loterias controladas pelos governos estaduais com jogos
semelhantes.
Passagem – Os jogos eletrônicos invadiram o Brasil nos anos 90 e se espalharam rapidamente. Mas há máquinas e
jogos bem diferentes. A mais comum de todas é esta aqui, do jogo chamado Caça-níqueis. Atualmente, o cálculo é
que há mais de 250 mil máquinas desse tipo em todo país.
Off – O país não tem legislação específica sobre os caça-níqueis, que não são fiscalizados. Já uma lei federal
regulamenta o funcionamento de mil bingos em todo o Brasil. Segundo um levantamento da Caixa Econômica
Federal, só um terço deles está regularizado. A maioria conseguiu autorização na Justiça para funcionar. Os jogos no
Brasil movimentam por ano 6 bilhões de reais. Só no Rio, os apostadores gastam 1 bilhão de reais a cada ano. Este
mercado é dividido entre os governos federal e estaduais. No Rio, a Loteria Estadual repassa os direitos de explorar
os jogos para empresas particulares. Antes da assinatura de um contrato, é feita uma concorrência pública. As
empresas têm que cumpri uma série de exigências, entre elas, a de ter representação no estado. Os contratos têm
validade de cinco anos. As empresas vencedoras pagam percentagem de faturamento ao estado. Segundo as normas,
o dinheiro deve ser empregado em obras sociais e em atividades esportivas. Hoje, apenas duas empresas gerenciam
todas as loterias do Rio. Uma delas é a Hebara. A outra é um consórcio formado por uma companhia Argentina e
pela Capital Construtora e Limpeza, com sede em Anápolis, no interior de Goiás, e pertence ao irmão do bicheiro
Carlinhos Cachoeira. Quando presidiu a Loterj, o ex-assessor do Planalto, Waldomiro Diniz, participou de duas
renovações de contrato para a exploração dos jogos eletrônicos. Este professor de Economia fez uma pesquisa sobre
o crescimento do jogo no Brasil e constatou que os jogos eletrônicos estão crescendo muito mais do que os jogos
tradicionais, como os bilhetes de loteria ou as corridas de cavalo.
Sonora com o professor: "O jogo moderno eletrônico representa 90% e está crescendo esse percentual".
* Repercussão Caso Waldomiro – Reforma Política (2’42”)
187
FB – Este escândalo com o ex-assessor Waldomiro Diniz pode acelerar a votação da reforma política. A reforma
propõe um tema que divide os políticos: o financiamento de campanhas eleitorais com dinheiro público.
Off (repórter Délis Ortiz) - A reforma política foi citada na mensagem presidencial ao Congresso e repetida nos
discursos da primeira sessão do ano. Mas na prática, a votação é difícil. Os políticos discutem a reforma há sete
anos. Os senadores aprovaram, os deputados ampliaram e a reforma já está numa comissão. Entre as mudanças
propostas, está o financiamento público de campanha. Hoje, os candidatos podem receber doações em dinheiro de
empresas e de pessoas. Com a reforma, é o partido que recebe o dinheiro do Tribunal Superior Eleitoral e paga a
campanha. Dinheiro dos impostos para pagar as campanhas eleitorais: R$ 7 por eleitor, o que chegaria a mais de
R$ 800 milhões. E quem aceitar outro tipo de ajuda para a campanha fica sujeito a multa, cadeia e perda do
mandato. O presidente da comissão da reforma política, deputado Alexandre Cardoso, diz que o financiamento
público vai baratear as campanhas e pode acabar com o caixa dois.
Sonora com Alexandre Cardoso: "O financiamento público é uma forma de você democratizar, de dar transparência.
Acabar essa demagogia de uma campanha que custa R$ 10 milhões e o cara declarar R$ 500 mil."
Passagem - A reforma política também cria a lista fechada: o voto do eleitor vai para o partido. Os eleitos saem de
uma lista feita pelo partido. Assim, o mandato pertence ao partido e não ao eleito. Quem não for fiel à legenda, fica
sem mandato. O financiamento público de campanha, dizem os especialistas, é uma medida que só funcionaria com
este novo modelo. Mas os congressistas estão divididos.
Sonora com senador Tasso Jereissati (PSDB-CE): "A reforma política é fundamental e é a única maneira de que nós
possamos acabar com este tipo de escândalo no país. O financiamento público já não, porque o financiamento
público garante dinheiro público, mas não garante que ninguém pegue mais dinheiro extra, ilegalmente, como é feito
hoje.”
Sonora com o deputado Sigmaringa Seixas, vice-líder do governo na Câmara.
"O momento é propício à reforma política. Esses fatos recentes mostram isso. A necessidade do financiamento
público de campanha. A necessidade da lista partidária para fortalecer os partidos e a fidelidade partidária.”
Off: Para o cientista político Carlos Pio, o mais é importante fiscalizar as campanhas.
Sonora com o cientista político: "É preciso ter uma maior fiscalização, um maior rigor na contabilidade do que
efetivamente foi gasto e aquilo que foi declarado pelos partidos."
* Charge (E no circo Brasil ...) Berzoini com torta na cara e Dirceu manipulando malabares. Diz: Chega pra lá
Berzoini, que o circo não pode parar (com sotaque bem carregado, conforme o dele).
2º Bloco
* Pesquisa sobre risco do excesso de sal (1’54”)
* Chuvas (1’50”)
* Situação estradas por causa chuvas (2’15”)
* Previsão do tempo
* Enchentes na Nova Zelândia (19”)
3º Bloco
* Transferência de Beira-Mar (1’50”)
* Corrupção policial (1’32”)
* Caso do dentista morto (30”)
* Insegurança no aeroporto de Congonhas (1’44”)
* Padres acusados de abuso sexual nos EUA (1’44”)
4º Bloco
* Trabalho escravo no Pará (18”)
* Problemas com bolsa para evitar trabalho infantil (18”)
* Proposta no senado para bolsa a universitários (15”)
* Crise no Ministério da Cultura por causa de demissão de funcionários (2’11”)
* Crise da Parmalat (1’31”)
* Desemprego (18”)
* Economia: Juros (20”)
* Tênis (11”)
* Futebol (29”)
5º Bloco
188
* Carnaval (2’36”)
Data: 18/02/04 (quarta-feira)
(Tempo total: 25’)
Escalada (37”)
* Caso Waldomiro (7’18”)
Fátima Bernardes – O ex-assessor do Planalto, Waldomiro Diniz, é investigado por lavagem de dinheiro.
Willian Bonner – O governo cria uma comissão para apurar atos dele na Casa Civil
FB – O grupo tem 30 dias para apresentar os resultados
* Economia
* PF pede prisão de ex-presidente do BC
* Chuvas no nordeste acabam com seca
* Polêmica na transferência de Beira-Mar
* Explosão no Irã
* Futebol
1º Bloco
* Caso Waldomiro
FB – Mais um dia de tensão em Brasília provocada pelo escândalo envolvendo Waldomiro Diniz. A oposição ainda
tenta abrir uma CPI para investigar o ex-assessor do Planalto. E o governo mostra documentos para provar que agiu
quando surgiram as primeiras denúncias contra Waldomiro.
Off (repórter Heraldo Pereira ) – A sessão de hoje no Senado sem votações como decidiu a Mesa Diretora tentativa
da oposição de conseguir logo as 27 assinaturas para abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar
Waldomiro O ex-subchefe para assuntos parlamentares do Ministério da Coordenação Política é acusado de cobrar
propina de um bicheiro em 2002, quando dirigia a Loterj no Rio de Janeiro. O autor da proposta de CPI não desiste.
Sonora com o senador Antero Paes de Barros: "Estou muito confiante que entre os que já assinaram e entre os que
prometeram assinar nós vamos ter o número suficiente para a instauração da CPI".
Passagem – Os desdobramentos do caso Waldomiro Diniz foram avaliados hoje numa série de reuniões. A
coordenação política do governo resolveu divulgar as medidas em julho do ano passado, quando surgiram as
primeiras denúncias de envolvimento do ex-assessor da Casa Civil com bingos e jogos eletrônicos.
Off – Em resposta a um pedido de informações sobre o caso, o ministro José Dirceu enviou ao Senado uma carta
escrita pelo próprio Waldomiro, na época sub-chefe para assuntos parlamentares da Casa Civil, comandada por
Dirceu. A carta também foi enviado para o Ministério Público, a Corregedoria da União e o Ministério da Justiça.
Waldomiro se defendeu: disse que se sentiu ofendido porque um governo que tem probidade administrativa não pode
tolerar suspeitas sobre servidores que desempenham funções de estrita confiança, palavra dele próprio. Hoje de
manhã, o presidente do Supremo Tribunal Federal ao comentar o caso lembrou que o chefe da Casa Civil do governo
Itamar Franco, Henrique Hargreaves, afastou-se do cargo quando surgiram denúncias sobre o envolvimento dele com
a corrupção do Orçamento. Investigado pela CPI do Orçamento, Hargreaves foi inocentado e voltou ao governo. A
declaração chegou a ser interpretada como uma sugestão de Correia para que José Dirceu saísse. À tarde, Maurício
Correia se explicou. Disse que não estava sugerindo que o ministro José Dirceu também se afastasse do cargo.
Sonora com o ministro Maurício Correia: "Esse é um problema pessoal do Palácio do Planalto. Quanto a mim eu
acho que o ministro José Dirceu é um homem honrado e digno. O que acontece com um subalterno não tem nada a
ver, em princípio, com quem está em cima"
Sonora do porta-voz, André Singer: "Não há nenhuma cogitação de que o ministro-chefe da Casa Civil deixe o
governo".
Off - O governo voltou a pedir hoje no Congresso que os senadores evitem abrir uma CPI.
Sonora de Mercadante: "Pedi um voto de confiança do Congresso para que possa apurar com todo rigor, como está
fazendo, tanto o episódio passado quanto o período que este cidadão esteve no governo, nós estamos apurando tudo"
.
Sonora de Tasso Jereissati: "Parece que está baixando uma dose de humildade necessária a quem exerce o poder e
essa dose de humildade pode fazer com que os ânimos daqui serenem também"
.
FB - O senador Magno Malta do PFL informou que conseguiu hoje 32 assinaturas para a abertura de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito que vai investigar se bingos e jogos de azar servem para a lavagem de dinheiro. O
requerimento deverá ser lido em plenário para que depois os líderes de partidos indiquem os parlamentares que vão
compor a CPI. A comissão só deve ser instalada depois do Carnaval. O objeto de investigação dessa comissão não é
189
a atuação do ex-assessor Waldomiro Diniz mas ele poderia ser convocado a depor porque as denúncias dos últimos
dias mostram que Waldomiro teve ligações com bingos e jogos de azar.
WB – O Ministério Público Federal também está investigando Waldomiro Diniz por lavagem de dinheiro.
Off (repórter Roberto Kovalick) – Desde 99, o Ministério Público investiga a suspeita de que as máquinas caça-
níqueis são usadas pela Máfia Italiana para lavar o dinheiro do tráfico de drogas. A investigação começou quando a
Comissão Anti-máfia da Itália mandou um documento ao Supremo Tribunal Federal pedindo ajuda para investigar
58 pessoas ligadas ao tráfico de drogas e à lavagem de dinheiro internacional. Na lista estavam os irmãos Filippedu,
que atuavam no Brasil em negócios relativos a máquinas de jogo. Aqui, eles tinham sociedade numa empresa
chamada Bingomatic e o dinheiro das máquinas era dividido com um homem chamado Alejandro. Esses nomes
foram citados novamente na semana passada em depoimentos de dois ex-sócios do bicheiro Carlinhos Cachoeira,
acusado de negociar propina com Waldomiro Diniz. Segundo os depoimentos, Alejandro Ortiz era o representante no
Brasil de Filippedu e fornecia os equipamentos para Carlinhos Cachoeira. Ainda segundo um dos depoimentos,
Waldomiro Diniz, depois de sair da Loterj e ir para o governo federal, passou a defender os interesses de Alejandro
Ortiz no governo e no Congresso. Por ter sido citado, a Procuradoria também vai investigar Waldomiro Diniz por
lavagem de dinheiro. Hoje, o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, nomeou Alon Fuerwerker para a
subchefia de assuntos parlamentares, que era ocupada por Waldomiro Diniz. O governo também instalou uma
comissão de sindicância que em 30 dias deve apresentar o resultado das investigação sobre a atuação de Waldomiro
enquanto ele esteve no Palácio do Planalto.
Sonora com Aldo Rebelo, ministro da Coordenação Política: "Apesar de não haver nenhuma denúncia, nenhum
indicio de qualquer irregularidade nesse período, por precaução e também para assegurar à sociedade que o governo
tem interesse em esclarecer qualquer dúvida que possa pairar sobre as denúncias".
Passagem – Segundo integrantes da equipe de policiais e procuradores que investigam o caso, há provas de que no
ano passado, quando já era assessor no Palácio do Planalto, Waldomiro Diniz se encontrou uma vez com o bicheiro
Carlinhos Cachoeira. Teria sido para tratar de uma proposta de fornecimento de equipamentos de informática para o
governo. Mas o negócio não chegou a ser concluído.
Off – Na semana passada, em entrevista à Revista Época, Waldomiro negou as acusações de ter que propina. Ele
disse que o dinheiro que pediu ao bicheiro seria para um assessor, Armando Dili.
(Passa som da fita com gravação da entrevista a Época e legendas).
Off – Em outro trecho da entrevista, Waldomiro confirmou a doação de dinheiro para a campanha de Geraldo
Magela, do PT, candidato ao governo do Distrito Federal.
(Áudio da fita)
Época: Porque que você pede 1%, você não conseguiu responder até agora?
Waldomiro: esse 1% é do senhor Armando Dili. O Carlos Ramos convenceu o Armando de que se eu
desregulamentasse o mercado, ou seja, fizesse o que ele quisesse, o Armando teria participação.
Época: de 1% do total?
Waldomiro: de 1% do total.
Off - Em outro trecho da entrevista, Waldomiro confirmou a doação de dinheiro para a campanha de Geraldo
Magela, do PT, candidato ao governo do Distrito Federal.
(Áudio da fita)
Waldomiro: Ele deu uma ajuda de campanha para senhor Geraldo Magela, em Brasília.
Época: Quanto?
Waldomiro: R$ 100 mil. Como ele deu dinheiro? Ele entregou e foi entregue ao Magela.
Época: Ele entregou pra quem?
Waldomiro: Entregou na minha mão e entreguei na campanha do Magela.
Nota-pé (Willian Bonner) – O candidato derrotado ao governo do Distrito Federal, Geraldo Magela, disse que não
recebeu os R$ 100 mil de Waldomiro Diniz.
Charge – “E naquele quarto andar do Palácio do Planalto”
Dirceu vestido de mergulhador. Lula pergunta se é para cair na folia. Dirceu responde que é para cair na
clandestinidade, outra vez.
* Seminário sobre reforma política em SP (2’)
FB -Representantes dos principais partidos políticos chegaram a um acordo hoje, em São Paulo. É possível que, nas
eleições de 2006, campanhas eleitorais já sejam pagas com dinheiro público.
Off - O que seria apenas um debate entre empresários e políticos virou acordo partidário. Os presidentes dos
principais partidos, incluindo o do governo, se comprometeram a discutir já a reforma política que está na Câmara.
Sonora com José Genoíno, presidente do PT: "O PT assume publicamente o compromisso de priorizar a negociação
com todos os partidos para a reforma política".
190
Off - Pelo projeto, doações de pessoas e de empresas ficam proibidas. O governo federal banca toda a campanha com
um custo de R$ 800 milhões. É muito, porém menos do que a estimativa dos gastos somados de uma campanha pelas
regras atuais entre doações legais e ilegais.
Infográfico:
O financiamento público das campanhas vai facilitar a fiscalização. Se a proposta for aprovada, quem der dinheiro
para partidos ou políticos pagará multa de até dez vezes o valor doado. Empresas terão uma punição a mais: não
poderão participar de licitações nem assinar contratos com o poder público por cinco anos.
Os partidos pagarão multa de três vezes o valor da doação e não receberão dinheiro do governo no ano seguinte. E o
político que receber doações de pessoas ou empresas fica fora da eleição.
O projeto também muda o voto. Passa a ser em partidos e não mais em candidatos no caso de vereador, deputado
estadual e federal.
Off - A oposição diz que a mais recente denúncia de financiamento ilegal de campanha, ajudou no acordo para
apressar a reforma política.
Sonora com Ronaldo Caiado, relator do projeto: "A crise é uma boa parturiente”.
Sonora com Jorge Bornhausen, presidente do PFL: "A solução de assinar a urgência vai permitir o debate e a votação
e acabar com essa enrolação e falta de vontade em melhorar as condições eleitorais e políticas em nosso país e
portanto a nossa democracia".
* Ministro dos Transportes anuncia que vai sair do cargo (12”)
2º Bloco
* Explosão trem no Irã (29”)
* Iraque (25”)
* Transferência de Beira-Mar (1’40”)
3º Bloco
* Fornecedoras de gás para hospital acusadas de cartel (2’35”)
* Previsão do tempo
* FGTS (23”)
* Chuva contra a seca no Ceará (2’)
4º Bloco
* Caso banco Marka e pedido prisão ex-presidente BC (2’31”)
* Juros (46”)
* Indicadores econômicos (15”)
5º Bloco
* Futebol (40”)
Data: 19/02/04 (quinta-feira)
(Tempo total: 38’)
Escalada (1’)
* Caso Waldomiro
Willian Bonner - O Ministério Público pede a quebra do sigilo telefônico e bancário do ex-assessor do Planalto
Waldomiro Diniz.
Fátima Bernardes – O bicheiro Carlinhos Cachoeira presta depoimento
WB – E diz que foi vítima de extorsão.
FB – A comissão nomeada pelo governo para investigar os atos de Waldomiro se reúne pela primeira vez.
WB – A Igreja Universal do Reino de Deus anuncia o desligamento de um de seus bispos mais influentes.
FB – O motivo é a revelação de um esquema envolvendo o bispo para desviar o dinheiro de uma loteria com a ajuda
de Waldomiro.
WB – A Bolsa de São Paulo tem um dia de queda forte.
FB – E o presidente Lula não toca no assunto.
* Mensalidades subiram mais que custo de vida nos últimos sete anos.
* Nasce clone do primeiro clone brasileiro
191
* Jovem descobre na internet que havia sido seqüestrado pela mãe
* Carnaval
1º Bloco
* Mensalidades escolares (2’47”)
* Pesquisa sobre peso dos juros no orçamento do brasileiro (1’48”)
* Caso das empresas que produzem gases industriais (1’52”)
2º Bloco
* Chuva em SP (28”)
* Previsão do tempo
* Carnaval (3’54”)
* Esporte (22”)
3º Bloco
* Beira-Mar (24”)
* Caso do estudante morto em Vitória (1’40”)
* Prisão de PMs que torturaram moradores (31”)
* Adolescente que descobriu na internet que foi seqüestrado pela mãe (1’32”)
* Vitoriosa: clone do primeiro clone do Brasil (1’57”)
4º Bloco
* Correção de notícia divulgada no dia anterior
* Ministro dos Transportes entrega pedido demissão (24”)
* Caso Waldomiro (4’05”)
WB – O bicheiro Carlinhos Cachoeira prestou o primeiro depoimento aos investigadores do caso Waldomiro. E hoje,
a comissão do governo que vai apurar o ex-assessor da Casa Civil começou a trabalhar.
Off (repórter Roberto Kovalick) – O governo espera ter em 30 dias o resultado da investigação. A comissão formada
por três funcionários se reuniu hoje com o ministro Aldo Rebelo. Vai apurar se Waldomiro Diniz se envolveu em
alguma irregularidade no período em que foi assessor do Palácio do Planalto. O ex-subchefe de assuntos
parlamentares do Ministério da Coordenação Política, é acusado de cobrar propina do bicheiro Carlinhos Cachoeira
em 2002, quando dirigia a Loterj no Rio de Janeiro.
Passagem – Ontem, às 11 horas da noite, o bicheiro Carlinhos Cachoeira procurou a equipe que investiga o caso e
pediu para prestar depoimento. Os investigadores dizem que já têm provas de que no passado, quando já era assessor
do Palácio do Planalto, Waldomiro Diniz se encontrou com Cachoeira. Seria para tratar de um contrato de R$ 500
milhões para o fornecimento de equipamentos eletrônicos ao governo. Sobre este suposto encontro, Cachoeira, numa
conversa informal, teria confirmado que realmente ocorreu, mas na hora do depoimento, foi evasivo: não respondeu
sim nem não.
Off – Cachoeira disse no depoimento que foi ele quem mandou a gravação para o senador Antero Paes de Barros,
mas não explicou o motivo. Um dos investigadores disse que Cachoeira deu a entender que foi traído por
Waldomiro. O bicheiro disse ainda que sofreu uma tentativa de extorsão, mas não entregou o dinheiro prometido
para campanha e que fez a gravação para se defender. Os procuradores que cuidam do caso investigam também as
supostas ligações de Waldomiro com a empresa Gtech, que fornece os equipamentos de informática usados pela
Caixa Econômica Federal nas Loterias. A americana Gtech é a maior empresa do mundo em equipamentos para
loterias. O primeiro contrato com a Caixa foi feito em 97. O Departamento Jurídico estabeleceu um prazo máximo de
seis meses para prorrogação no caso de haver uma nova concorrência. Segundo a Caixa, a Gtech conseguiu na
Justiça uma liminar proibindo a licitação. Em maio de 2003, já no governo Lula, foi pedido um novo parecer jurídico
que permitiu a prorrogação por cinco meses, no valor de quase R$ 640 milhões. Hoje, o presidente da Caixa disse
que queria romper o contrato com a Gtech e negou qualquer interferência de Waldomiro Diniz na renovação.
Sonora de Jorge Mattoso, presidente da Caixa: "Nem eu nem vice-presidente de logística responsável pelas
negociações conhece sequer Waldomiro Diniz. Esse contrato se deu por uma necessidade objetiva da Caixa , por um
impedimento legal de nova licitação e porque nós precisávamos assegurar para o clientes da Caixa a preservação do
serviço".
Off – A Gtech não quis se manifestar sobre o assunto. Outra suspeita sobre Waldomiro Diniz é de ter intermediado o
dinheiro para campanha de candidatos do PT. Em gravação à Revista Época, Waldomiro afirmou que o bicheiro deu
dinheiro para a campanha de Geraldo Magela, candidato ao governo do Distrito Federal em 2002.
192
(Áudio da gravação, acompanhada de legenda)
Época: Ele entregou pra você, entregou direto para a campanha do Magela, como que ele fez isso?
Waldomiro: Isso ele entregou. E foi entregue na campanha do Magela.
Época: Ele entregou pra quem??
Waldomiro: Ele entregou na minha mão e eu entreguei na campanha do Magela.
Off – Hoje, Geraldo Magela disse que Waldomiro está mentindo e que vai entrar com um processo contra ele.
Sonora com Geraldo Magela: "Nem eu nem a minha campanha recebeu qualquer centavo do Waldomiro Diniz".
FB – Os jogos eletrônicos e de vídeo-pôquer são investigados no Brasil desde 1980. Naquela época. O francês Julien
Philipedu foi um dos responsáveis pela vinda dos jogos para o Brasil. Depois de expulso do país em 1988 passou a
ser representado pelo irmão, François. Os irmãos Philipedu foram citados na carta da Comissão Anti-máfia Italiana
que pedia informações sobre pessoas ligadas ao tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro internacional aqui no
Brasil. E também foram nos depoimentos de dois ex-sócios do bicheiro Carlinhos Cachoeira.
WB – O governo vai aproveitar a folga de Carnaval para avaliar se tenta ou não impedir a instalação da CPI dos
bingos. Hoje, com o Senado sem votações, o Congresso e o governo tiveram um dia mais calmo. (2’15”)
Off (repórter Heraldo Pereira) – Já são 33 assinaturas. Seis a mais que o necessário. O autor da proposta, que é de um
partido da base do governo, o PL, recebeu o apoio de vários parlamentares do PT. O senador Magno Malta, PL
Espírito Santo, diz que a CPI pedida por ele não trataria do financiamento de campanhas políticas. Serviria para
investigar a ligação dos bingos e casas lotéricas com o crime organizado. Um caminho que poderia levar ao ex-
assessor do Ministério da Coordenação Política.
Sonora com o senador Magno Malta: "Na verdade temos que investigar o crime com a participação do senhor
Waldomiro. Entendendo também que nada tem a ver com o governo e reiterando o respeito e a confiança no ministro
José Dirceu".
Sonora com Eduardo Suplicy (PT), que assinou o documento: "Assinei o requerimento de constituição de CPI para
averiguar a questão dos bingos, jogos de azar, da lavagem de dinheiro".
Passagem – A CPI dos bingos poderá ser instalada depois do carnaval. Se até lá o governo perceber que ela não é
conveniente, deverá estimular seus aliados a desistir dessa idéia ou impedir o início do funcionamento da comissão
não indicando seus integrantes.
Sonora com senadora Seryz Shlessarenko, do PT-MT: "Assinei porque acho que é uma questão importante que
precisa ser apurada. É a demonstração de que é um governo limpo, transparente, que é um governo que não aceita a
corrupção".
Off – Ainda há o risco de uma outra CPI defendida pela oposição. Seria para investigar especificamente o ex-
assessor Waldomiro Diniz. O número mínimo de assinaturas ainda não foi atingido. Depois de uma semana tensa, a
pauta de votação do Senado e a ausência de muitos parlamentares esvaziaram o Congresso e deram fôlego ao
governo. Na reunião da Câmara de Comércio Exterior, os ministros tentavam demonstrar descontração. O chefe da
Casa Civil, ministro José Dirceu, até brincou com o chefe do gabinete de segurança institucional, general Jorge
Péricles, que chegou atrasado.
Sonora de Dirceu fazendo a piadinha: "Vamos dar 50 flexões para quem chegar às 15h15, 50 flexões às 15h30. Cem
flexões depois".
Comentarista Franklin Martins – O chefe da Casa Civil, José Dirceu, fez ontem um desabafo emocionado num jantar
com líderes governistas na casa do presidente da Câmara. Tenso, parecendo cansado e mal contendo amargura,
Dirceu disse que se sentiu apunhalado pelas costas pelo ex-assessor Waldomiro Diniz. Quando apareceram as
primeiras denúncias, no ano passado, chamou o assessor para uma conversa olho-no-olho. E Waldomiro negou tudo
e com tanta veemência que Dirceu disse que acreditou. Abre aspas: “Confiei nele quando não deveria ter confiado.
Apesar de minha experiência, errei feio.” Em seguida, pediu desculpas a todos pelos constrangimentos que está
causando no governo e disse ainda que, por ele, já teria pedido desculpas publicamente a todo o país. Só está
esperando um sinal verde do presidente Lula. Dirceu revelou que na última segunda-feira chegou a discutir com Lula
a hipótese de se afastar do cargo para se defender e para evitar embaraços para o governo, mas o presidente descartou
essa possibilidade. Após o jantar, foram todos para casa esperar o carnaval chegar, torcendo para que não surjam
novas denúncias contra Waldomiro. (1’)
* Mercado financeiro (35”)
* Charge: José Dirceu diz que “faremos agora o pronunciamento definitivo sobre o momento em que vivemos” e
começa a tocar pandeiro com Mercadante, Rebelo e Lula numa alusão ao ‘carnaval’ por que passam e que
cronologicamente vai chegar.
5º Bloco
* Caso Waldomiro (2’12”)
193
WB – Procuradores do Rio de Janeiro pediram hoje a quebra do sigilo bancário, telefônico e fiscal de Waldomiro
Diniz.
Off (repórter André Luiz Azevedo) – O Ministério Público Federal do Rio encaminhou hoje à Justiça o pedido de
quebra do sigilo de Waldomiro Diniz e de outro ex-presidente da Loterj, Daniel Carvalho. Os procuradores se
basearam nesse relatório antigo da Polícia Federal. Em 2002, o inquérito investigou a administração de Waldomiro
Diniz à frente da loteria oficial do estado. O relatório levanta suspeitas sobre os negócios feitos entre a Loterj e os
bingos do Rio. Um dos bingos estaria funcionando há vários anos sem contribuir para nenhuma entidade esportiva,
como manda a lei. Mesmo assim, a Loterj ciente da irregularidade, teria renovado o cadastro da empresa. Em outros
casos, o relatório afirma que os bingos pagavam para atividades desportivas valores bem abaixo do percentual
exigido. O documento também relaciona os bingos com lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e falsidade
ideológica. Existia também a suspeita de corrupção de diretores e servidores da Loterj, onde foram apreendidos
documentos. Agora, a Polícia Federal retomou o inquérito e já marcou para o dia 2 de março em Brasília o
depoimento de Waldomiro Diniz sobre esse caso. Mas antes disso, o ex-assessor do Planalto vai ter que dar
explicações no inquérito que apura as denúncias de cobrança de propina divulgadas pela Revista Época.
Passagem – A Polícia Federal transferiu de Brasília para o Rio o porta-voz da instituição. A ordem do governo
federal segundo ele é dar ampla divulgação a tudo o que acontecer durante a investigação policial. O documento que
oficializa a abertura do inquérito policial diz que Waldomiro Diniz deve ser investigado por dois crimes: crime
eleitoral em 2002 e corrupção ativa e passiva até no período em que trabalhou no Palácio do Planalto esse ano. Off –
O porta-voz da Polícia Federal diz que o primeiro depoimento de Waldomiro Diniz já está sendo marcado.
Sonora do porta-voz., François Renné: "Tanto pode ser do Rio de Janeiro quanto pode ser em Brasília. Vai depender
da decisão do delegado"
.
FB – O escândalo Waldomiro Diniz acabou envolvendo hoje um deputado do Partido Liberal, o bispo Rodrigues, e
quem o denunciou foi a própria Igreja Universal do Reino de Deus, da qual, até hoje, ele era bispo. (3’23”)
Off (repórter Délis Ortiz) – A tarde começou confusa. A Igreja Universal do Reino de Deus divulgou uma nota sem
muitos detalhes em que dizia que Rodrigues não era mais o coordenador dos deputados da bancada ligada à Igreja e
que estava também destituído das funções de bispo. O motivo alegado pela nota era o envolvimento do bispo
Rodrigues com o escândalo Waldomiro. Mas o texto não explicava qual era a participação do deputado no escândalo.
Limitava-se a dizer que o afastamento era uma questão de e ética exigia a apuração completa dos fatos. No fim da
tarde, os motivos apareceram. O chefe de gabinete do deputado estadual do Rio Marcos Abrão, Jorge Luiz Dias,
informou que, em depoimento ao Ministério Público no Rio em maio do ano passado, revelou o esquema de desvio
de verbas publicitárias na Loterj. Segundo o depoimento, em 2001, quando era chefe de gabinete do deputado Pastor
Valdeci de Paiva, também da Igreja Universal, Jorge Dias foi orientado a providenciar uma empresa de publicidade
para arrecadar junto a Loterj recursos para si e para o bispo Rodrigues. Jorge disse que foi informado de que o bispo
Rodrigues teria conseguido com o então governador Anthony Garotinho a nomeação de Waldomiro Diniz para o
cargo de presidente da Loterj. No depoimento, Jorge revelou ainda que se dirigia todo mês a uma empresa de
publicidade para receber em seu nome ou de terceiros cheques que eram repassados ao pastor João Domingos,
também da Igreja Universal, que os redistribuía ao bispo Rodrigues e ao pastor Valdecir. Em média, recebia R$ 100
mil por mês. O deputado Valdecir de Paiva foi assassinado em janeiro do ano passado e, segundo Jorge, só depois da
morte dele, foi informado sobre os detalhes do esquema. Até então, segundo o depoimento, Jorge acreditava que se
tratava de contribuições para campanhas eleitorais. Jorge Dias descreveu o esquema: Waldomiro Diniz solicitava à
agência de propaganda uma campanha publicitária. A agência encaminhada uma ordem de serviço a empresa
responsável pela comercialização de outdoors que cobrava um número superior de cartazes. Recebia os valores
integrais. A diferença era repassada aos pastores da Igreja
WB – Vamos voltar a Brasília com a repórtes Délis Ortiz, que ouviu o deputado Bispo Rodrigues.
Vivo – O deputado Bispo Rodrigues não quis gravar entrevista mas, por telefone, disse que se sujeita à decisão da
Igreja embora esteja certo de que é inocente. O deputado disse que não indicou Waldomiro Diniz para a presidência
da Loterj, mas fez a indicação de duas diretorias em nome do PL do Rio. O deputado Bispo Rodrigues atribui as
acusações contra ele ao deputado estadual pelo Rio, Marcos Abrão, que segundo Rodrigues, seria ligado ao jogo do
bingo na região dos Lagos.
* Carnaval (3’12”)
Data: 20/02/04 (sexta-feira)
(Tempo total: 40’)
Escalada (1’07”)
194
* Caso Waldomiro
Fátima Bernardes – O presidente reage à crise política causada pelo escândalo Waldomiro Diniz
Willian Bonner – Convoca uma reunião extraordinária de ministros
FB – Diz que o Congresso deve decidir se abre ou não uma Comissão Parlamentar de Inquérito
WB – E anuncia
Sonora de Lula – Uma medida provisória proibindo bingos e caças-níqueis no nosso país até que encontremos uma
solução definitiva para essa situação.
FB – A proibição dos bingos é decidida no sétimo dia da crise.
WB – E depois da divulgação de duas novas denúncias.
FB – Waldomiro Diniz negociou com Carlinhos Cachoeira em 2003, quando já era assessor do Planalto.
WB – O ex-chefe das loterias do Rio Grande do Sul acusa o PT gaúcho de usar dinheiro dos bingos em campanha
eleitoral.
FB – A reação do governo diminui a tensão no mercado financeiro
WB – E o presidente da Câmara decide acelerar a Reforma Política.
* Caso Celso Pitta
* Traficante Fernando Beira-Mar
* Anunciada vacina para tratar câncer de pulmão
* Carnaval
1º Bloco
* Caso Waldomiro (20’20”)
FB – O presidente Lula decidiu hoje proibir a operação de bingos e jogos caça-níqueis no Brasil. Uma medida
provisória será assinada ainda esta noite para publicação em edição extraordinária do Diário Oficial. Os bingos foram
abertos no país em 1994. A condição imposta originalmente para que funcionassem era que destinassem parte do
faturamento para associações desportivas. Mas ao longo dos anos, a idéia de fortalecer o esporte nacional foi
totalmente desvirtuada e surgiram vários sinais de que o negócio dos bingos estava associado a contravenção e à
lavagem do dinheiro. Até hoje, muitas empresas estavam operando bingos e caça-níqueis com base em decisões
liminares da Justiça e leis estaduais.
WB – A decisão de proibir os bingos foi uma resposta à crise política provocada por denúncias contra o ex-assessor
da Casa Civil, Waldomiro Diniz. Hoje cedo, a crise se agravou. Uma reportagem publicada pela Revista Época
revelou que no ano passado Waldomiro manteve encontros com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, que explora jogos
de loterias e caça-níqueis. Ou seja, Waldomiro já ocupava uma sala no Palácio do Planalto como assessor do
ministro José Dirceu da Casa Civil.
Off (repórter Roberto Kovalick) – Foi neste hotel, no dia 6 de janeiro de 2003. Menos de uma semana depois de ter
sido nomeado assessor do Palácio do Planalto, que Waldomiro Diniz se encontrou com Carlinhos Cachoeira e com
Antônio Rocha e Marcelo Rovai, dois diretores da Gtech. A empresa fornece os equipamentos de Informática que a
Caixa Econômica usa nas loterias. A reunião, segundo os investigadores, seria o ponto de partida de um plano que
Cachoeira estaria desenvolvendo há anos. Na entrevista a Revista Época, Waldomiro confirma que reuniu-se com
Cachoeira já na condição de assessor da Casa Civil e diz que foi à reunião porque Cachoeira insistiu.
Áudio da fita gravada, com legendas da conversa:
Waldomiro: Aí ele voltou a insistir comigo pediu pra que eu fosse nessa conversa pra tratar com ele de um projeto
que ele queria desenvolver. Para desenvolver uma parceria com eles em São Paulo.
Época: Quem estava nessa reunião? Antonio Rocha e Marcelo Rovai?
Waldomiro: Isso. E a conversa se desenvolveu dentro da pauta se tratando da importância de se fazer cumplicidade
na operação de loterias.
Off – Segundo os investigadores, o projeto não era só para São Paulo, mas para o país inteiro. Juntando bingos e
jogos eletrônicos, tudo legalizado, da mesma forma como a Caixa faz hoje com as loterias. Mas para isso, segundo os
investigadores, Cachoeira precisava de um contato no governo, Waldomiro Diniz, e de uma empresa de grande porte
e experiência no setor, a Gtech.
Passagem – O acordo não foi pra frente. Carlinhos Cachoeira teria desconfiado que estava sendo traído por
Waldomiro e passou a investigá-lo. Teria concluído que Waldomiro e a Gtech planejavam implantar o projeto, mas
sem a participação dele.
Off – Cachoeira descobriu que Waldomiro mantinha encontros com os executivos da Gtech no mesmo hotel.
Segundo a Revista Época, há registros de que os executivos estiveram hospedados lá outras cinco vezes. Na
entrevista à Época, Waldomiro confirma o encontro a sós com a Gtech no dia 31 de março. Ou seja, já como assessor
195
da Casa Civil se reuniu com empresários para discutir assuntos que nada tinham a ver com a sua função, assessor
parlamentar.
Áudio da fita gravada:
Época: Conversou sobre o que ?
Waldomiro: Sobre o interesse deles em desenvolver essa parceria.
Off – A Gtech divulgou nota hoje mas não se referiu à proposta de parceria com Cachoeira. Confirma que no início
de 2003, teve um encontro com Waldomiro Diniz para esclarecer a nova equipe de governo sobre a posição da
empresa diante de divergências contratuais com a Caixa Econômica. A americana Gtech é a maior empresa do
mundo em equipamentos para loterias. O primeiro contrato com a Caixa foi feito em 97. No governo Lula, houve
uma prorrogação por três meses, feita no dia 14 de janeiro, uma semana depois do primeiro encontro no hotel. Em
abril, o contrato foi renovado por 25 meses. Foi no dia 14 de abril, duas semanas depois do segundo encontro no
hotel. A Caixa negou qualquer interferência política ou contato com Waldomiro. Informou que não fez licitação
porque foi impedida por uma liminar da Justiça e que a renovação, feita com base em parecer técnico e jurídico, foi
para não interromper os serviços.
WB – Carlinhos Cachoeira também divulgou nota hoje. Disse que são inaceitáveis as calúnias feitas a ele e que vai
processar quem de direito porque é titular do comércio lícito, fomentador da economia nacional e gerador de
empregos.
FB – No Rio de Janeiro, onde estão concentradas as investigações sobre o escândalo Waldomiro, a Polícia Federal
pediu a quebra do sigilo fiscal, bancário e telefônico dos principais envolvidos no caso nos últimos dois anos. Se o
pedido for aceito pela Justiça Federal do estado, poderão ser investigados por exemplo, os telefonemas e a
movimentação bancária de Waldomiro enquanto ele esteve na Casa Civil.
WB – Uma outra reportagem, desta vez da Revista Veja, acrescentou novos ingredientes à crise com denúncias de
irregularidades no financiamento de campanhas eleitorais do PT no Rio Grande do Sul.
Off (repórter Monica Teixeira)- A reportagem de capa da revista Veja foi baseada nas declarações de José Vicente
Brizola, ex-presidente da Loterg (Loterias do Rio Grande do Sul) no governo petista de Olívio Dutra. José Vicente é
filho de Leonel Brizola, mas está brigado com o pai desde que sai do PDT para o PT. Ele disse que mandou um e-
mail para Waldomiro Diniz, o ex-assessor parlamentar do governo acusado de pedir propina ao dono de bingo
Carlinhos Cachoeira. No e-mail, José Vicente se refere ao chefe da Casa Civil como cardeal Dirceu. Demonstrando
mágoa, diz que José Dirceu costuma detonar amigos e inimigos quando o escândalo bate à sua porta. Outro trecho,
afirma que assim como Waldomiro Diniz, ele também foi pressionado a pedir dinheiro de concessionários públicos
em benefício do PT. José Vicente Brizola diz que foi procurado em 2002 pelo filho da ex-ministra do governo Lula,
Emília Fernandes, que na época era candidata ao Senado pelo PT. Carlos Fernandes teria pressionado José Vicente
para conseguir dinheiro junto a donos de bingos e casas de jogos do Rio Grande do Sul.
Sonora com José Vicente Brizola: "Este foi o objeto do contato do Carlinhos Fernandes e da senadora comigo. Obter
mais recursos além do que estava sendo arrecadado pelo comitê de campanha do PT. Desde o início ficou claro que
não eram recursos legais que estavam sendo formados".
Off – Os recursos iriam para o caixa 2 da campanha de Emília Fernandes, do senador Paulo Paim e do então
candidato ao governo, ministro da Educação Tarso Genro. Segundo José Vicente, uma das pessoas procuradas teria
sido o empresário Jaime Sirena, que na época era o presidente da Associação Gaúcha dos Bingos. Ele nega as
acusações.
Sonora com Jaime Sirena: "Não houve pedido de doações de campanha. Nós vamos ver o que fazer judicialmente
pois é uma inverdade".
Off – A ligação do PT gaúcho com o jogo já foi alvo de uma CPI na Assembléia Legislativa em 2001. Uma das
suspeitas era de que o prédio onde funcionava a sede regional do partido havia comprado pela ONG Clube da
Cidadania com dinheiro do jogo do bicho. 41 pessoas foram indiciadas na CPI, inclusive o governador Olívio Dutra
e o vice-governador Miguel Rosseto. Os dois, que são ministros hoje no governo Lula foram inocentados. O relatório
foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal. Para o deputado estadual Vieira da Cunha, na época relator da
Comissão, as novas denúncias reforçam as conclusões da CPI gaúcha.
Sonora com deputado Vieira da Cunha: "São fatos que têm relação estreita com aqueles que nós investigamos aqui
por ocasião da CPI da Segurança Pública. Trata-se de uma relação íntima entre
membros do Partido dos Trabalhadores e contraventores, recursos ilícitos servindo para campanhas eleitorais
petistas".
Passagem – Em nota oficial, o PT do Rio Grande do Sul afirma que as acusações não passam de uma onda de
denuncismos contra seus dirigentes. A nota diz que o partido vai processar criminalmente José Vicente Brizola.
Off – Na entrevista à Veja, José Vicente Brizola disse que só aceitou as pressões para arrecadar dinheiro para o caixa
2 da campanha porque temeu ficar sem emprego no futuro caso o PT ganhasse a eleição. Hoje ele está desempregado
196
e é acusado por adversários de ter pressionado o governo petista para obter um cargo em Brasília depois que o PT do
sul perdeu a eleição. Ele não conseguiu e sobrevive com os ganhos de uma microempresa do setor de alimentação.
Sonora de José Vicente Brizola: "Não foi eu quem precipitou os fatos, os fatos foram precipitados em Brasília. E eu
achei que perfeitamente poderia contribuir com uma gotinha a mais dentro de um episódio que tem tudo a ver e vem
acontecendo. E não duvido que amanhã, tenhamos alguma outra denúncia de algum outro setor".
Off – A ex-ministra Emília Fernandes divulgou nota dizendo que ela, familiares e companheiros de partido ameaças
de José Vicente Brizola. E que nas ameaças, transparece total descontrole emocional e ético numa cobrança
constante de emprego no governo federal.
Sonora com senador Paulo Paim (PT-RS): "A minha campanha foi uma campanha miserável. Se o filho da Emília ou
a Emília tiver alguma contato nessa área de dinheiro ilícito eu não sabia de nada e calculo que nem o ministro e o
governador na época, Tarso Genro".
Sonora com ministro Tarso Genro: "Eu tinha minha coordenação da campanha da mais alta qualidade, com total
responsabilidade, sem nenhum tipo de relação fora da lei".
FB – Assim que as novas denúncias se tornaram públicas hoje na imprensa, o presidente Lula convocou uma reunião
extraordinária com os ministros da Casa Civil, da Fazenda e do Planejamento. Enquanto isso, no Congresso, o
presidente da Câmara, deputado João Paulo, falava em acelerar a Reforma Política.
Off (repórter Heraldo Pereira) – Foi depois de uma noite de muita chuva e trovoada em Brasília, que Lula convocou
a reunião. Vieram ao Palácio do Alvorada os ministros José Dirceu, da Casa Civil, Antônio Palocci da Fazenda, e
Guido Mantega, do Planejamento. Eles saíram convencidos de que, com uma ação concreta, o governo pode
estancar a crise provocada pelo escândalo Waldomiro Diniz. Na reunião, surgiu a proposta de proibir os bingos e
jogos eletrônicos no país. Os ministros ficaram com a tarefa de viabilizar a idéia e tranqüilizar os partidos que
apóiam o governo.
Sonora com deputado José Múcio, do PTB: "Eu tenho a sensação que a gente está no carnaval parecendo mais São
João porque é bomba todo dia".
Off – Preocupado, o presidente da Câmara decidiu apressar as discussões da Reforma Política e enviou aos líderes
um proposta que prevê fidelidade partidária, financiamento das campanhas políticas com dinheiro público e adoção
das listas fechadas de candidatos, num sistema em que o eleitor vota no partido e não no candidato.
Sonora com João Paulo Cunha (PT): "A forma de financiamento de campanha hoje invariavelmente leva a casos de
corrupção. Precisamos fazer uma revolução no nosso sistema eleitoral e as propostas que estão aqui na casa
significam uma revolução no sistema político brasileiro".
Passagem – A pauta de votações no Senado esvaziou o Congresso e adiou o desfecho da crise política para depois do
Carnaval. Mas a oposição não desistiu de uma CPI. Na avaliação de assessores próximos ao presidente Lula, será
preciso provar, por meio das investigações em curso, que as acusações contra Waldomiro Diniz não envolvem outros
integrantes do governo.
Off – Para o líder do PSDB no Senado, o governo deveria aceitar que o Congresso investigasse o caso. Ele defendeu
o afastamento do ministro José Dirceu.
Sonora com Arthur Virgílio, líder do PSDB: "A essa altura, eu que tenho, pessoalmente, poupado o ministro José
Dirceu, que não quero prejulgá-lo, que sempre tive como pessoa do bem, não vejo saída, a não ser o afastamento
dele, pelo menos até o fim das investigações".
Sonora com Aldo Rebelo, ministro da Coordenação Política: "O ministro José Dirceu é da extrema confiança do
presidente da República, do governo, e ele, naturalmente, tem no governo um papel importante e nunca foi colocado
em questão a presença do ministro José Dirceu no governo do presidente Lula"
WB – O presidente Lula falou hoje pela primeira vez sobre a crise política. Num discurso em Caxias do Sul, no Rio
Grande do Sul, o presidente anunciou a proibição temporária dos bingos e dos caça-níqueis e respondeu aos críticos.
Sonora do discurso de Lula:
"Muitas vezes a imprensa cobra que o presidente não se pronuncia como se o presidente fosse delegado de polícia,
representante do Ministério Público. Mas eu queria anunciar uma informação importante para vocês. Primeiro, não
haverá nenhum indício, eu não estou dizendo nem caso de denúncia. Eu estou dizendo que não haverá nenhum
indício que envolva práticas ilícitas ou corrupção nesse governo que não seja investigada até o fim. Obviamente que
o Presidente da República tem sérias limitações. O que o presidente pode fazer, às vezes, é abertura de inquérito
junto com a Polícia Federal e exonerar as pessoas que estejam envolvidas. Mas eu acho que cada um pode fazer a sua
parte. Eu acho que a imprensa joga um papel muito importante quando levanta as dúvidas e cada vez mais agindo
com seriedade. Acho que o Congresso Nacional tem serenidade para decidir se deve ou não fazer CPI, quantas CPIs
deve fazer. O que eu posso dizer para vocês é que eu sou filho de uma mulher que morreu aos 64 anos de idade
analfabeta. E ela dizia pra mim: 'Meu filho, a única coisa que você não pode perder nunca é o direito de andar de
cabeça erguida e olhar o seu semelhante no olho'. E isso, pode ter certeza, que é o grande patrimônio que eu tenho na
197
vida. É o grande legado que eu recebi da minha mãe. Eu sou formado na cultura que todo mundo é culpado até
provem o contrário. As denúncias tem que ser apuradas e eu estava falando ao telefone com o ministro José Dirceu,
tinha falado de manhã com o ministro Thomas Bastos e determinei que seja feita hoje uma medida provisória
proibindo os bingos e caça-níqueis no nosso país até que encontremos uma solução definitiva para esta situação.
Nós estamos conscientes do momento auspicioso que o Brasil pode viver daqui pra frente na área econômica e pode
ficar certo que não haverá nenhum problema político que atrapalhe os passos que o Brasil precisa dar. Todos nós os
176 milhões de brasileiros estamos subordinados a possibilidades de denúncias sobre qualquer coisa. Todo mundo
pode agir emocionalmente. Um presidente da República o pode agir emocionalmente. Se tiver denúncia de crime
eleitoral tem a Justiça Eleitoral e os partidos para investigar, não depende do presidente da República"
FB – E a fiscalização já começou. Hoje em Brasília, antes do anúncio da medida provisória, a Polícia Federal fechou
casas de bingo e recolheu máquinas caça-níqueis.
Off (repórter Giuliana Morrone)– Era madrugada. Clientes ainda estavam jogando quando 80 agentes da Polícia
Federal fizeram uma devassa em 16 casas de bingo de Brasília. Com uma ordem da Justiça, recolheu documentos,
notas fiscais, computadores. 560 máquinas caça-níqueis foram lacradas e apreendidas. A operação, batizada de
Cartão Vermelho, busca provas de que os bingos são usados para sonegar impostos e para lavar dinheiro. Os bingos
foram autorizados em 1993, com a Lei Zico, criada para incentivar o esporte. Parte da arrecadação iria para clubes e
federações. O objetivo original de incentivo ao esporte foi desvirtuado. As primeiras casas foram abertas em São
Paulo em 94 e o jogo se espalhou pelo Brasil, principalmente no Distrito Federal, Goiás, Pernambuco, Minas Gerais,
Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em 98, a Lei Zico foi substituída pela Lei Pelé
que autorizou, além dos bingos, a exploração das máquinas caça-níqueis. O Ministério Público começou a receber
denúncias de ligação dos bingos com a contravenção. A lei foi revogada e o controle dos bingos passou para a Caixa
Econômica até 2001. Depois disso, o país ficou sem uma lei federal sobre as casas de jogos. Os donos de bingos
conseguiram na Justiça liminares para continuar funcionando, em muitos estados, com suportes de leis estaduais.
Segundo a Associação Brasileira dos Bingos, hoje existem 1.100 casas em todo país que movimentam mais de R$
200 milhões por ano. Há três anos o Congresso discute regras para os bingos. O deputado do PT Gilmar Machado foi
relator de um projeto que deixava o controle dos bingos com o governo federal. Ao defender o projeto, o deputado
citou o trabalho do então presidente da Loterj, Waldomiro Diniz, como exemplo de transparência.
Sonora com o deputado Gilmar Machado, do PT-MG: "Waldomiro propôs a descentralização. Não é que os estados
fizessem o controle dos bingos".
Passagem – No ano passado, o governo criou uma comissão para estudar o assunto. Chegou a discutir a possibilidade
de legalizar os bingos. Mas com as denúncias, veio a ordem do presidente, de editar uma medida provisória
proibindo o funcionamento das casas de bingo e caça-níqueis. Segundo o ministro da Justiça, as liminares e leis
estaduais deixam de valer.
Sonora do ministro da Justiça: "Esse trabalho investigativo que está sendo feito pela imprensa, o estrépito e alarido
que se formaram até as repercussões no mercado financeiro ajudaram na tomada de posição do presidente".
Off – Em Campo Grande, mal souberam da notícia e os donos começaram a recolher as máquinas, antes da ação da
Polícia. Em Copacabana, no Rio de Janeiro, os clientes foram expulsos às pressas dessa casa de bingos.
Sonora de uma jogadora, reclamando da decisão.
Sonora de outra jogadora elogiando a decisão, sob o argumento de que perde menos dinheiro.
Off – Com a medida provisória, a discussão agora vai para o Congresso.
Sonora com João Paulo Cunha: "Vai moralizar e a discussão será feita do zero já com as casas fechadas".
FB – O presidente da Associação Brasileira de Bingos, Olavo Sales, disse que as casas de bingo geram cerca de 320
mil empregos e não se misturam com a contravenção. Para ele, a intervenção dessas atividades fortalecerá o jogo
clandestino e as atividades associadas à criminalidade. A associação defende a aprovação de uma lei rigorosa para o
setor.
2º Bloco
* Bispo Rodrigues/ Caso Waldomiro (3’40”)
* Mercado financeiro sofre reflexos do escândalo. MP dos bingos melhora o cenário. (1’55”)
* Charge: “Não há clima para carnaval” . Dirceu aparece tocando pandeiro e Lula pede silêncio, mostrando-se
conturbado.
* Caso Celso Pita (40”)
* Fernandinho Beira-Mar (20”)
3º Bloco
* Morte da atriz Ana Ariel (14”)
198
* Cientistas anunciam vacina contra câncer de pulmão (1’20”)
* Eleições no Irã (30”)
* Astrônomos americanos anunciam descoberta de novo corpo celeste (24”)
* Previsão do tempo
* Carnaval (2’30”)
4º Bloco
* Carnaval (2’30”)
* Comentários de Arnaldo Jabor
* Globo Repórter
5º Bloco
* Carnaval
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