Devido à programação televisiva, as crianças pequenas parecem muito mais informadas
sobre os principais problemas da nossa época – drogas, violência, crime, divórcio,
homossexualismo, etc, o que reforça mais a concepção do Supergaroto por essa “pseudo-
sofisticação”: “Ironicamente, a pseudo-sofisticação, que é efeito da pressão da televisão sobre as
crianças, encoraja pais e adultos a pressioná-las mais ainda. Entretanto, crianças que falam, se
comportam e parecem adultas, ainda sentem e pensam como crianças” (ELKIND, 2004, p. 112)
Postman corrobora esse pensamento e acrescenta que a criança, ao entender
determinadas situações sociais que antes eram consideradas “mistério dos adultos”, inverte as
relações de poder que eram baseadas naquilo que o adulto sabia e que a criança ignorava.
Do mesmo modo que a escrita alfabética e o livro impresso, a televisão revela segredos,
torna público o que antes era privado Mas, ao contrário da escrita e do prelo, a televisão não
dispõe de qualquer meio de fechar as coisas hermeticamente. O grande paradoxo da
alfabetização foi ao tornar os segredos acessíveis, simultaneamente criou um obstáculo à
sua acessibilidade. (...) A televisão, em contra partida, é uma tecnologia com entrada
franca, para qual não há restrições físicas, econômicas, cognitivas ou imaginativas. Tanto
os de seis anos quanto os de sessenta estão igualmente aptos a vivenciar o que a televisão
trem a oferecer. A televisão, nesse sentido, é perfeito meio de comunicação igualitário,
ultrapassando a própria linguagem ora. Porque quando falamos, sempre podemos sussurrar
para que as crianças não ouçam. Ou podemos usar palavras que elas não compreendam.
Mas a televisão não pode sussurrar, e suas imagens são concretas e auto-explicativas. As
crianças vêem tudo o que ela mostra. O efeito mais óbvio e geral dessa situação é eliminar a
exclusividade do conhecimento mundano e, portanto, eliminar uma das principais
diferenças dentre a infância e a idade adulta. Esse efeito provém de um principio
fundamental de estrutura social: um grupo é em grande parte definido pela exclusividade da
informação que seus membros compartilham. (...) o papel social é estabelecido pelas
condições de um ambiente especial de informação, e esse é certamente o caso da categoria
social da criança. As crianças são um grupo de pessoas que não sabem certas coisas que os
adultos sabem. (POSTMAN, 1999, p. 99)
Ao falar sobre o desaparecimento da infância, Postman indica que a “inocência” da
infância está perdida, pois diminui o encanto da descoberta, o que acarretar uma “perda da
vergonha”, que se diluiu e desmitificou. A revelação de todo conteúdo adulto pela TV traz
conseqüências observáveis no comportamento da criança, como as roupas infantis, que agora são
tão iguais ou reproduções das roupas adultas, transformando-as em mini-adultos. Parece ser a
continuidade daquilo que Ariès indicou como as primeiras manifestações do reconhecimento da
criança nos vestuários:
Assim, partindo do século XIV, em que a criança se vestia como os adultos, chegamos ao traje
especializado da infância, que hoje nos é familiar. Já observamos que essa mudança afetou
sobretudo os meninos. O sentimento de infância beneficiou primeiro os meninos, enquanto as
meninas persistiam mais tempo no modo de vida tradicional que as confundia com adultos:
serem levados a observar mais de uma vez esse atraso das mulheres em adotar formas visíveis
da civilização moderna, essencialmente masculina. (ARIES, 1998, p. 41)
O movimento de que as crianças-mulheres se vestem mais como adultos é evidente.
Inclusive Postman (1999) atribui à televisão e à sexualidade expressa nessas vestimentas, as causas
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