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“CIGARRINHA-DAS-RAÍZES EM CANA-DE-AÇÚCAR:
RESISTÊNCIA GENOTÍPICA E INTERAÇÃO PLANTA-PRAGA”
Eduardo Rossini Guimarães
Engenheiro Agrônomo
JABOTICABAL – SP – BRASIL
2007
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS
CÂMPUS DE JABOTICABAL
“CIGARRINHA-DAS-RAÍZES EM CANA-DE-AÇÚCAR:
RESISTÊNCIA GENOTÍPICA E INTERAÇÃO PLANTA-PRAGA”
Eduardo Rossini Guimarães
Orientador: Prof. Dr. Miguel Angelo Mutton
Co-Orientadora: Profa. Dra. Maria Inês Tiraboschi Ferro
Tese apresentada à Faculdade de Ciências
Agrárias e Veterinárias Unesp, Câmpus de
Jaboticabal, como parte das exigências para a
obtenção do título de Doutor em Agronomia
área de concentração Produção Vegetal.
JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL
Novembro de 2007
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Guimarães, Eduardo Rossini
G963c
Cigarrinha-das-raízes em cana-de-açúcar: resistência genopica
e interação planta-praga/ Eduardo Rossini Guimarães. – –
Jaboticabal, 2007
iii, 53 f. ; 28 cm
Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias, 2007
Orientador: Miguel Ângelo Mutton
Co-orientadora: Maria Inês Tiraboschi Ferro
Banca examinadora: Ailto Antonio Casagrande, Odair Aparecido
Fernandes, Jorge Alberto da Silva, Marcelo de Almeida Silva
Bibliografia
1. Saccharum spp.. 2. Mahanarva fimbriolata. 3. Variedades. 4.
Antibiose. I. Título. II. Jaboticabal-Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias.
CDU 633.61:632
DADOS CURRICULARES DO AUTOR
EDUARDO ROSSINI GUIMARÃES nasceu aos 19 de maio de 1979,
na cidade de Ribeirão Preto, estado de São Paulo. Em Julho de 1997 ingressou
no curso de Agronomia da Universidade Federal de Lavras. Durante a
faculdade foi monitor de citologia, bolsista do Programa Especial de
Treinamento (PET/CAPES/MEC) e do PIBIC/CNPq, membro do Diretório
Central dos Estudantes e membro da Diretoria de Assuntos Internacionais da
UFLA. Em julho de 2002 recebeu o título de Engenheiro Agrônomo e ingressou
no curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Agronomia
(Produção Vegetal) da Faculdade de Ciências e Agrárias e Veterinárias de
Jaboticabal UNESP. Durante o curso, desenvolveu pesquisas relacionadas à
fisiologia da produção e maturação da cana-de-açúcar. Foi bolsista CAPES e
representante discente junto ao conselho do curso, além de tesoureiro da
Associação dos Pós-graduandos. Obteve o título de mestre em Agronomia
(Produção Vegetal) em janeiro de 2004. Em março do mesmo ano ingressou no
curso de doutorado em Agronomia (Produção Vegetal) na mesma instituição,
quando estudou a interação da cana-de-açúcar com a cigarrinha-das-raízes.
Realizou parte do doutoramento junto à Texas A&M University, Estados Unidos.
Obteve o título de Doutor em Agronomia (Produção Vegetal) em Novembro de
2007.
"O conformismo é o carcereiro da liberdade e o inimigo do crescimento"
John Kennedy
À minha mãe Marineide
Que dedicou uma vida inteira de suor e sangue para nos oferecer a
melhor educação,
Que compartilhou conosco cada vitória, cada conquista e cada
dificuldade,
Que nos ensinou a lutar e a ser dignos,
Que nos fez cidadãos de bem,
Pelo seu amor, por suas palavras,
Pelas preces e noites em claro,
Pelos sábios conselhos e pela doce amizade
Aos meus queridos irmãos Mariana, Alexandre e Arthur
Com quem compartilho tantos sonhos,
Pela amizade e pelos bons exemplos,
Pelos momentos de alegria,
Pela união e conforto nas dificuldades
À minha amada esposa Gisele
Por sua dedicação, amor e companhia,
Por sua doçura e paciência,
Por me fazer feliz
DEDICO
Aos meus sogros João e Zilda e ao meu cunhado Paulinho
Pela dedicação, pelo amor e carinho,
Pelo exemplo de vida, de honestidade e dignidade,
Pelas muitas alegrias que compartilhamos,
Pelo apoio em todas as horas
Aos meus queridos tios Miguel e Márcia
Que me ensinaram, apoiaram, confiaram, ouviram
Pelas oportunidades, pelas muitas alegrias
Pelo ombro amigo nas dificuldades
Ao meu querido tio ‘Toninho’
Por estar sempre presente
Como deve um pai ser,
Por nos apoiar e confortar,
Pelas alegrias que compartilhamos
À minha querida avó Edith
Que a nós tanto dedicou,
Por sua doçura e carinho,
Por seu amor de uma vida
Aos queridos tios Carlinhos e Martha
Pela torcida, pelo carinho, pela presença
Pelo exemplo
OFEREÇO
AGRADECIMENTOS
ü À CAPES pela bolsa de doutoramento e ‘Sandwich’(processo 272905-9).
ü À Fapesp pelo apoio financeiro para a condução dos experimentos
(processo 2005/03333-4).
ü À Syngenta Proteção de Cultivos Ltda. pelo apoio financeiro para condução
dos experimentos.
ü Ao Prof. Dr. Miguel Angelo Mutton, por seus ensinamentos, por sua
paciência e exemplo profissional; pela amizade, conselhos e oportunidades.
ü À Profa. Dra. Maria Inês Tiraboschi Ferro, pela dedicação, ensinamentos,
paciência e pela amizade.
ü Ao Prof. Dr. Jorge Alberto da Silva da Texas A&M University pelo
acolhimento, ensinamentos, conselhos e amizade.
ü À Profa. Dra. Márcia J. R. Mutton, pelos ensinamentos, pelo exemplo
profissional e pelos conselhos.
ü Aos membros da banca examinadora, Prof. Dr. Jorge A. Da Silva, Dr.
Marcelo de Almeida Silva, Prof. Dr. Ailto Antônio Casagrande e Prof. Dr.
Odair Aparecido Fernandes pelas valiosas contribuições para a melhoria
deste trabalho.
ü Ao Prof. Dr. Jesus Aparecido Ferro, por seus conselhos, ensinamentos e
amizade.
ü Ao Eng. Agr. Gustavo Nogueira da Copercana pela cana semente.
ü À Nora Solis-Gracia, da Texas A&M University, pelo acolhimento, amizade
e pelo auxílio na condução experimental.
ü Às amigas do LBM Karina, Gisele, Daniele e Flávia pela preciosíssima
ajuda no experimento de biologia molecular e pela amizade.
ü Aos amigos Eduardo Tiraboschi, Gisele, Leonardo, Daniel (Kaspa), Neto,
David, Henrique (Sazon) pelo auxílio na condução dos experimentos.
ü Aos amigos do laboratório de Tecnologia do Açúcar e Álcool: Sérgio,
Gisele, Eduardo Tiraboschi, Leonardo, Neto, Cidinha, Débora, Leandro,
Kelly, Mariana, Lidyane, Henrique (Sazon), Vitor; e aos ex-alunos Daniel
(Kaspa), Flávia, David,’ Bruna, Marisol, Álvaro, Pablo, Diane, Thaís,
Rogério (Jakú), Gustavo, Geancarlo, Marco, Fabiano, Fernanda, Ronaldo,
Gabriela (Garça) e Munira, pela agradável convivência e amizade.
ü À minha família pela torcida, pelas alegrias e pelo apoio
ü Aos amigos Arlei Prado e Claudine de Bona pelo apoio nas horas difíceis e
pelos bons momentos que passamos juntos.
ü Aos amigos Jorge da Silva, Denise Rossi, Pedro Rossi Silva, Rafael Rossi
Silva e Gabriel Rossi Silva, Marcelo Silva, Marina Caputo, Pedro e Luísa
Silva, pelo acolhimento, pelo clima familiar e pelas alegrias.
ü Aos amigos Francesco Margara, Vivek Sharma, Justin Butcher, Marco
Pineda, Armando Lários, Alexandra Gómez-Plata e Carolina Avellaneda
pelo acolhimento e pelas alegrias.
ü A todos que direta ou indiretamente contribuíram para este trabalho e
minha formação profissional.
SUMÁRIO
Página
RESUMO...............................................................................................................
ii
SUMMARY............................................................................................................
iii
CAPÍTULO I – Considerações gerais.................................................................. 1
Referências......................................................................................................... 2
CAPÍTULO II....................................................................................................... 4
Resumo.............................................................................................................. 4
Abstract.............................................................................................................. 5
Introdução.......................................................................................................... 6
Material e Métodos........................................................................................... 8
Resultados e Discussão.................................................................................... 12
Conclusões........................................................................................................ 21
Referências....................................................................................................... 22
CAPÍTULO III....................................................................................................
27
Resumo............................................................................................................. 27
Abstract............................................................................................................... 28
Introdução........................................................................................................... 29
Material e Métodos ............................................................................................. 30
Resultados e Discussão...................................................................................... 33
Referências........................................................................................................ 38
CAPÍTULO IV..................................................................................................... 41
Resumo.................................................................................................................
41
Abstract.................................................................................................................
42
Introdução............................................................................................................ 43
Material e Métodos............................................................................................... 44
Resultados e Discussão....................................................................................... 47
Conclusões........................................................................................................... 50
Referências...........................................................................................................
51
CIGARRINHA-DAS-RAÍZES EM CANA-DE-AÇÚCAR: RESISTÊNCIA
GENOTÍPICA E INTERÃO PLANTA-PRAGA
RESUMO
A cigarrinha-das-raízes Mahanarva fimbriolata (Stål, 1854) (Hemiptera:
Cercopidae) tem causado prejuízos significativos aos canaviais da região Centro-
Sul do Brasil. No entanto a interação desta praga com a cana-de-açúcar é pouco
caracterizada e existem poucas pesquisas sobre resistência varietal. Neste
trabalho comparamos a reação de genótipos de cana-de-açúcar à infestação
dessa praga e estudamos a interação através de análises de crescimento de
plantas, acúmulo de biomoléculas relacionadas a estresses e biologia do inseto.
Os resultados obtidos representam evidência de resistência do tipo antibiose a
cigarrinha na variedade SP83-5073, tendo sido identificado um fragmento de DNA
possivelmente relacionado com a resistência. Os genótipos SP80-1816 e
RB72454 mostraram-se mais suscetíveis à praga. Também verificamos que
existem mecanismos distintos para a percepção do estresse hídrico e do estresse
promovido pela praga, indicando que os teores de prolina livre não podem ser
utilizados para quantificar o estresse promovido por M. fimbriolata em cana-de-
açúcar. A cultivar RB72454 é mais tolerante ao ficit hídrico do que a cultivar
SP80-1816. O aumento na concentração de compostos fenólicos nos genótipos
suscetíveis SP80-1816 e RB 72454 indicam que o acúmulo pode ser decorrente
da morte e apodrecimento das raízes. Não foi observada variação nos veis de
fenóis totais na variedade SP 85-5073 submetida à infestação de M. fimbriolata. A
mortalidade da cigarrinha-das-raízes e a duração da fase de ninfas foram
significativamente maiores nesse genótipo, indicando a existência de resistência
do tipo antibiose.
Palavras-chave: Saccharum spp., Mahanarva fimbriolata, variedades, antibiose
SPITTLEBUG INFESTATION IN SUGARCANE: GENOTYIPICAL RESISTANCE
AND PLANT-PEST INTERACTION
ABSTRACT
The spittlebug Mahanarva fimbriolata (Stål, 1854) (Hemiptera: Cercopidae) has
caused significant losses to sugarcane fields in the center-south of Brazil.
However, the interaction of this pest with sugarcane s not yet been
characterized and few works have studied varietal resistance. In this work we
compare the reaction of sugarcane genotypes to spittlebug infestation and study
the plant-pest interaction through plant growth analyses, accumulation of stress-
related biomolecules and pest biology. Evidence of resistance through an
antibiosis mechanism was observed in SP83-5073 and a DNA fragment was found
to be possibly related to this resistance. The genotypes SP80-1816 and RB72454
have shown to be more resistant to the pest. We also observed that there are
different perception mechanisms for water restriction and spittlebug infestation,
indicating that proline levels cannot be used to measure the level of stress
promoted by M. fimbriolata nymphs. The variety RB72454 is more tolerant to water
deficit than SP80-1816. The increased concentration of phenolic compounds in the
susceptible genotypes SP80-1816 and RB 72454 indicates this accumulation may
be due to root death. No variation was observed in the levels of total phenolics in
SP 85-5073 submitted to M. fimbriolata infestation. Spittlebug mortality and
duration of nymph phase were higher in this variety, indicating the existence of an
antibiosis mechanism.
Key words: Saccharum spp., Mahanarva fimbriolata, varieties, antibiosis
CAPÍTULO I - CONSIDERAÇÕES GERAIS
Com o aumento da colheita mecanizada da cana-de-açúcar sem queima
prévia da palha, a cigarrinha-das-raízes tornou-se um dos principais problemas
fitossanitários da cultura, ocasionando perdas na produtividade de colmos e de
açúcar (Dinardo-Miranda et al., 1999), além de interferir negativamente nos
processos de produção de açúcar (Presotti, 2005) e álcool (Gonçalves, 2003).
Os hospedeiros naturais da cigarrinha-das-raízes Mahanarva fimbriolata
(Stal, 1854) (Hemiptera: Cercopidae) são principalmente gramíneas nativas da
região norte do Brasil e as do gênero Brachiaria (Mendonça et al., 1996), enquanto
a cana-de-açúcar é um hospedeiro alternativo. A cobertura vegetal deixada no
solo após a colheita propicia condições de umidade e temperatura favoráveis ao
desenvolvimento desta praga (Dinardo-Miranda et al, 2000).
As ninfas de M. fimbriolata sugam as raízes e atingem os vasos xilemáticos,
deteriorando-os e dificultando ou até impedindo o fluxo de água e nutrientes
(Horsfield, 1978).
O ataque da cigarrinha-das-raízes tem como conseqüência a redução da
taxa fotossintética, conseqüentemente reduzindo o desenvolvimento da planta e
acarretando em perdas de produtividade de colmos e sacarose (Mendonça et al.,
1996).
Diversas pesquisas têm sido dedicadas ao controle desta praga, que pode
ser químico (Dinardo-Miranda et al., 2000; 2001a; 2001b; 2002), cultural (Dinardo-
Miranda et al., 2000) ou biológico (Dinardo-Miranda, 2000; Benedini, 2003). Da
mesma maneira, relativamente poucos trabalhos se dedicaram ao estudo da
interação de insetos sugadores com a cana-de-açúcar. Uma das ferramentas mais
importantes no manejo integrado de pragas é a utilização de variedades
resistentes. Entretanto, apesar de a M. fimbriolata ter se tornado uma das pragas-
chave da cana-de-açúcar, são escassas as pesquisas sobre resistência varietal.
A caracterização dos mecanismos de defesa da planta seria útil ao
melhoramento genético e ao estabelecimento de novas estratégias de controle,
bem como a identificação dos genes envolvidos na interação da cana-de-açúcar
com M. fimbriolata.
REFERÊNCIAS
BENEDINI, M.S. Ganhando da cigarrinha-da-raiz na técnica. Idea News, ano IV,
n. 32, p.50-70, 2003.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; FIGUEIREDO, P.; LANDELL, M.G.A.; FERREIRA,
J.M.G.; CARVALHO, P.A.M. Danos Causados pelas Cigarrinhas-das-Raízes
(Mahanarva fimbriolata) a Diversos Genótipos de Cana-de-Açúcar. STAB Açúcar,
Álcool e Subprodutos, v.17, n.5, p.48-52, 1999.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; FERREIRA, J.M.G.; DURIGAN, A.M.P.R.; BARBOSA,
V. Eficiência de inseticidas e medidas culturais no controle de Mahanarva
fimbriolata em cana-de-açúcar. STAB Açúcar, Álcool e Subprodutos, v.18, n.3,
p.34-6, 2000.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; MOSSIN, G.C.; DURIGAN, A.M.P.R.; BARBOSA, V.
Controle Químico de Cigarrinha-das-Raízes, Mahanarva fimbriolata, em Cana-de-
Açúcar. STAB Açúcar, Álcool e Subprodutos, v.19, n.4, p.20-3, 2001a.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; GARCIA, V.; COELHO, A.L. Eficiência de Inseticidas
no Controle da Cigarrinha-das-Raízes, Mahanarva fimbriolata, em Cana-de-
Açúcar. STAB Açúcar, Álcool e Subprodutos, v.20, n.1, p.30-3, 2001b.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; GARCIA, V.; PARAZZI, V.J. Efeito de inseticidas no
controle de Mahanarva fimbriolata (Stal) (Hemíptera:Cercopidae) e de nematóides
fitoparasitos na qualidade tecnológica e na produtividade da cana-de-açúcar.
Neotropical Entomology, v.31, n.4, p. 909-14, 2002.
GONÇALVES, T.D. Danos causados por Mahanarva fimbriolata em cana-de-
açúcar: reflexos na qualidade da matéria-prima e fermentação etanólica.
Jaboticabal, 2003,51f. Dissertação (Mestrado em Microbiologia) Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista.
HAGLEY, E.A.C.; BLACKMAN, J.A. Site of feeding of the sugarcane froghopper,
Aeneolamia varia saccharina (Homoptera:Cercopidae). Annals of the
Entomological Society of America, v. 59, n. 6, p. 1289-1291, 1966.
HORSFIELD, D. Evidence for xylem feeding by Philaenus spumarius L.
(Homoptera: Cercopidae). Entomology Experiments and Applications, vol. 24,
p. 95-99, 1978.
MENDONÇA, A.F.; BARBOSA, G.V.S.; MARQUES, E.J. As cigarrinhas da Cana-
de-Açúcar (Hemíptera:Cercopidae) no Brasil. In: MENDONÇA, A.F. (ed.) Pragas
da Cana-de-Açúcar. Insetos & Cia. Maceió. 200p. il. 1996.
PRESOTTI, L. E. Danos causados pela Mahanarva fimbriolata na cana-de-
açúcar na qualidade da matéria-prima e no xarope produzido. 2005. 53f.
Dissertação (Mestrado em Produção Vegetal) - Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2005.
CAPÍTULO II - EVIDÊNCIA DE RESISTÊNCIA DA CANA-DE-AÇÚCAR À
CIGARRINHA-DAS-RAÍZES Mahanarva fimbriolata (STÅL, 1854)
(HEMIPTERA:CERCOPIDAE)
RESUMO
Este trabalho foi conduzido com o objetivo de estudar resistência genotípica a
Mahanarva fimbriolata em cana-de-açúcar (Saccharum spp.). Experimentos sem
chance de escolha foram realizados em casa de vegetação sob condições
controladas, em delineamento inteiramente casualizado em esquema fatorial 3 x 2
x 4, com três variedades de cana-de-açúcar SP80-1816 (suscetível), RB72454
(suscetível) e SP83-5073 (‘menos infestada’ em observações de campo), dois
veis de infestação (controle e 10 ninfas por planta) e quatro épocas de
amostragem. A duração da fase ninfal, taxa de mortalidade e o crescimento das
plantas foram analisados. Também foi conduzido um experimento de cDNA-AFLP
com o objetivo de detectar a expressão gênica diferencial das variedades SP80-
1816 e SP83-5073 sob ataque de ninfas de cigarrinha. A taxa de mortalidade e a
duração da fase ninfal foram significativamente maiores na variedade SP83-5073.
A análise de crescimento demonstrou que esse genótipo não sofreu danos com a
infestação de M. fimbriolata. Através do experimento de cDNA-AFLP foi possível
identificar um fragmento de 250 pb expresso na variedade SP83-5073 as 24 e 48
h após a infestação, que pode estar relacionado com a resposta à praga. Os
resultados aqui apresentados são fortes indícios de resistência do tipo antibiose a
cigarrinha na variedade SP83-5073, e confirmam a suscetibilidade de SP80-1816
e RB72454.
PALAVRAS-CHAVE: Saccharum spp., antibiose, variedades, cDNA-AFLP,
expressão diferencial.
EVIDENCE OF SUGARCANE RESISTANCE TO THE SPITTLEBUG Mahanarva
fimbriolata (STÅL, 1854) (HEMIPTERA:CERCOPIDAE)
ABSTRACT
This work was undertaken to study genotypical resistance to Mahanarva
fimbriolata in sugarcane (Saccharum spp.). No-choice experiments were set in a
greenhouse under controlled conditions and arranged in completely randomized
design in a 3 x 2 x 4 factorial, with three varieties: SP80-1816 (susceptible),
RB72454 (susceptible) and SP83-5073 (‘less infested’ in field observations); two
infestation levels (control and 10 nymphs per plant) and four sampling dates.
Spittlebug mortality rate and duration of nymph phase were determined, and a
plant growth analysis was conducted. Also, a cDNA-AFLP experiment was carried
out to detect differential gene expression of SP80-1816 and SP83-5073 under
spittlebug attack. Significantly higher mortality rate and longer duration of nymphs
phase were observed in SP83-5073. Growth analysis indicated this variety suffered
no effect of M. fimbriolata infestation. The cDNA-AFLP experiment demonstrated a
250-bp fragment differentially expressed in SP83-5073, at 24 and 48 h after
infestation, which may encode a pathogenesis-related protein. Our results provide
strong evidence of spittlebug resistance through antibiosis in the variety SP83-
5073, and confirm the susceptibility of SP80-1816 and RB72454.
KEY WORDS: Saccharum spp., antibiosis, varieties, cDNA-AFLP, differential
expression.
INTRODUÇÃO
A cana-de-açúcar (Saccharum spp.) é uma das gramíneas cultivadas mais
importantes do mundo. No Brasil, é plantada para produzir açúcar, cachaça,
energia, e etanol, um combustível renovável, menos poluente que os derivados de
petróleo e de custo relativamente baixo. Nos últimos anos, praticamente todas as
montadoras de automóveis do país lançaram novos modelos bi-combustíveis, que
funcionam com gasolina, etanol ou qualquer combinação de ambos. O país é
auto-suficiente em combusvel e exporta o produto para a China, Japão, EUA,
entre outros.
A colheita da cana pode ser feita manualmente, o que requer mão-de-obra
barata e abundante, ou mecanicamente. A colheita mecanizada de cana sem
queima prévia de palha tem crescido em muitos países por razões econômicas e
para redução da emissão de CO
2
. No Estado de São Paulo, por exemplo, uma lei
estadual impõe que até o ano 2021 100% das áreas mecanizáveis sejam colhidas
“cruas”, ou seja, sem queima da palhada.
A queima da palhada previne o acúmulo de inóculo de doenças e pragas ao
longo dos cortes da cana-de-açúcar. Por outro lado, a colheita sem queima pode
resultar em diferentes padrões de infestação de pragas e plantas daninhas (Meyer
et al., 2005).
As cigarrinhas estão amplamente distribuídas nas Américas e no Caribe
(Fewkes, 1969; Thompson, 2004). A espécie Mahanarva fimbriolata (Stål, 1854)
(Hemiptera:Cercopidae) não era considerada uma praga-chave até recentemente
na região Centro-Sul, uma vez que prejuízos significativos não ocorriam com
freqüência (Mendonça et al., 1996). Entretanto, ao longo dos últimos anos, com o
aumento da colheita mecanizada de cana crua, M. fimbriolata tornou-se uma das
pragas mais importantes da região. Esse sistema de colheita deixa uma camada
de palha abundante no solo, propiciando um ambiente de elevada umidade e
temperatura estável que é favorável ao desenvolvimento de ninfas de cigarrinha
(Mendonça et al., 1996; Dinardo-Miranda et al., 2001a). A queima da palha antes
da colheita destrói todas as formas de cigarrinhas, especialmente os ovos em
diapausa (Dinardo-Miranda et al. 1999; 2001b).
As fêmeas ovipositam na camada de palha, próxima aos colmos. As ninfas
eclodem dos ovos e buscam raízes jovens pra se alimentarem da seiva do xilema.
O ataque de ninfas de cigarrinha resulta em desordem metabólica generalizada,
desidratação dos colmos, secamento dos vasos condutores, colmos afinados e
“coração morto” (Gallo et al., 2002; Macedo & Macedo, 2004).
Nos Estados Unidos, existem poucos registros de espécies de cigarrinha
causando perdas significativas em cana-de-açúcar. Entretanto, no xico, a
espécie Aeneolamia postica tem se tornado uma praga importante, trazendo
perdas de produtividade de até nove toneladas por hectare (Cruz-Llanas et al.,
2005).
Apesar da redução na produtividade de colmos e na qualidade da cana em
virtude do ataque de cigarrinhas, poucas pesquisas têm sido dedicadas à
interação dessa praga com a cana-de-açúcar. Diversos trabalhos estudaram os
controles químico (Dinardo-Miranda et al., 2000; 2001a; 2002; 2006a), biológico
(Dinardo-Miranda et al.; 2000Garcia et al., 2006) e cultural (Dinardo-Miranda et al.,
2000). Entretanto, atualmente existe pouca informação no tocante à resistência
varietal de cana-de-açúcar às cigarrinhas.
O presente trabalho foi conduzido pra estudar a resistência varietal da
cana-de-açúcar à M. fimbriolata em três genótipos, dois dos quais relatados
como suscetíveis (Dinardo-Miranda et al., 1999; Dinardo-Miranda, 2004; Silva et
al., 2005), e um que tem apresentado baixos veis de infestação no campo
(Dinardo-Miranda, 2003). Além disso, comparamos os perfis de expressão gênica
de genótipos de cana-de-açúcar com diferentes reações à M. fimbriolata através
de um experimento de cDNA-AFLP. A identificação de genes envolvidos na
interação da cana-de-açúcar com a cigarrinha-das-raízes pode permitir a
caracterização de mecanismos de defesa que seriam úteis ao desenvolvimento de
novas estratégias de controle e ao melhoramento genético da cultura.
MATERIAL E MÉTODOS
Um experimento sem chance de escolha foi conduzido em casa de
vegetação, localizada no Departamento de Tecnologia da Faculdade de Ciências
Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal, sob condições de temperatura e umidade
controladas (22 a 33ºC; HR = 50 a 60%),. Mini-toletes de uma gema das
variedades SP80-1816 (suscetível, Dinardo-Miranda, 2004; Silva et al., 2005),
RB72454 (suscetível, Dinardo-Miranda et al., 1999; Dinardo-Miranda, 2004) e
SP83-5073 (‘menos infestada’, Dinardo-Miranda, 2003) foram plantados em
bandejas de isopor de 64 células (5 x 10 cm) contendo substrato à base de
vermiculita (Plantmax ® HT, Eucatex).
Vinte e sete dias após o plantio (DAP), as plântulas foram transplantadas
para vasos plásticos de 15 litros (1 plântula por vaso) contendo solo fertilizado de
textura média. As plantas foram irrigadas diariamente até a capacidade de campo.
Com o objetivo de manter a umidade do solo e estabilizar a temperatura para a
infestação de ninfas de cigarrinhas, os vasos foram cobertos com 65 g de pontas e
folhas de cana-de-açúcar moídas e secas ao sol (70-80% de massa seca,
correspondente a 9 t ha
-1
), simulando a palha que e deixada no campo após a
colheita da cana-de-açúcar, 17 dias antes da infestação.
O experimento foi instalado em delineamento inteiramente casualizado, em
esquema fatorial 3 x 2 x 4, com 3 genótipos de cana-de-açúcar, 2 veis de
infestação, e 4 épocas de amostragem, com 4 repetições. Os dados foram
submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade.
Criação e infestação de ninfas de cigarrinha-das-raízes
As ninfas foram criadas exatamente como descrito por Garcia et al.
(2006b). A infestação de ninfas de 21 dias de idade foi realizada aos 94 DAP, com
auxílio de um pincel macio n. 4, nos veis: 0 (testemunha) e 10 ninfas por planta.
A espuma foi transferida abundantemente junto com as ninfas, para garantir a
sobrevivência após a infestação.
Os vasos foram cobertos com tela de náilon de 100 mesh para isolar o
efeito dos adultos sugadores de folha e evitar a migração de ninfas (teste sem
chance de escolha). A presença de adultos foi monitorada diariamente e os
indivíduos encontrados eram contados e imediatamente mortos. O efeito dos
adultos não foi estudado para evitar novas oviposições que resultariam em
variação indesejável. Além disso, de acordo com Dinardo-Miranda (2004) o dano
mais importante da praga é causado pelas ninfas.
Análise de crescimento das plantas
O efeito das ninfas de cigarrinha sobre o crescimento da cana-de-açúcar foi
avaliado aos 8, 17, 39 e 68 DAI, através da massa fresca e seca de folhas, colmos
e raízes, diâmetro e altura de colmos.
A altura dos colmos foi medida a partir do solo até a primeira aurícula
visível, com auxílio de uma régua, enquanto o diâmetro foi determinado com
auxílio de um paquímetro na porção mediana do colmo.
As plantas foram dissecadas em folhas, colmos e raízes e determinou-se a
massa fresca. Para remover as partículas de solo, as raízes foram lavadas em
água corrente e secas com papel toalha. Após a pesagem, as amostras eram
colocadas em sacos de papel e submetidas à secagem em uma estufa de
circulação forçada de ar a 70 °C até massa constante, determinando-se a massa
seca.
Duração da fase ninfal e taxa de mortalidade de M. fimbriolata
A presença de adultos na rede de náilon foi monitorada diariamente.
Sempre que os adultos eram encontrados, sua quantidade e o número de dias
após a infestação eram registrados. A duração da fase ninfal (dias) foi
determinada através de média ponderada, utilizando-se a seguinte fórmula:
(Y
na
x Z
n
) + (Y
na
x Z
n+1
) + (Y
na
x Z
n+2
) + … + (Y
na
x Z
n+a
)
Número de adultos
DFN (dias) =
Em que:
Y
na
= Número de adultos encontrados no dia
Z
n n+n
= Número de dias após a infestação (DAI) + 21 (idade das ninfas no
momento da infestação)
Para o cálculo da taxa de mortalidade, a cobertura de palha foi removida no
momento das coletas da análise de crescimento e o número de ninfas foi contado.
O número de adultos encontrados em cada vaso nas observações diárias foi
somado ao número de ninfas, e a taxa de mortalidade foi obtida através da
fórmula:
Em que:
TM (%) = taxa de mortalidade
NN = número de ninfas
NA = número de adultos
Experimento de expressão diferencial por cDNA-AFLP
A técnica de cDNA-AFLP foi utilizada para estudar a expressão gênica
diferencial por sua simplicidade e custo relativamente baixo, se comparada a
micro arranjos de cDNA, por exemplo. Essa cnica permite a comparação de
qualquer quantidade de amostras e menos de 5 μg de RNA são necessários para
até 240 reações, o que é interessante que quantidades relativamente baixas de
RNA de boa qualidade foram obtidas a partir de tecidos de raiz de cana-de-açúcar.
Outra vantagem é que o cDNA-AFLP detecta pequenas diferenças de expressão,
NN + NA
10 n
infas
1 -
TM
(%)
X 100
( )
a partir de 10%. A maior limitação da técnica é a alta ocorrência de falsos
positivos, que pode ser minimizada pelo uso de repetições de cada reação e de
mais de um indivíduo para cada condição (Bachem et al., 1998).
Mini-toletes de uma gema das variedades SP80-1816 (suscetível, Silva et
al., 2005; Dinardo-Miranda, 2004) e SP83-5073 (‘menos infestada’, Dinardo-
Miranda, 2003) foram plantadas em copos plásticos descartáveis de 300mL
contendo o substrato Plantmax HT ® (Eucatex), e irrigados diariamente até a
capacidade de campo. As plantas foram mantidas em uma câmara de crescimento
(modelo 095E, Fanem, São Paulo) com temperatura ajustada para 25 ºC e
fotoperíodo de 14 h. Foram utilizadas duas plantas por tratamento para garantir
raízes de qualidade para extração de RNA.
A infestação de ninfas de segundo instar foi realizada como descrito acima,
aos 77 DAP, utilizando-se cinco ninfas por planta. As amostras de raízes foram
coletadas pouco antes da infestação, e 1, 2, 7 e 14 dias após (DAI), e
imediatamente armazenadas em N
2
líquido, até a extração de RNA total.
O RNA total foi extraído de amostra de raízes de 3g, utilizando-se o
reagente Trizol (Invitrogen), de acordo com as recomendações do fabricante, e
precipitado pela adição de 10% de acetato de sódio (3 mol l
-1
, pH 5.2) e 2 volumes
de etanol absoluto 100% a -20
o
C agitando-se gentilmente. As amostras foram
armazenadas a -80
o
C até o uso.
As amostras foram centrifugadas para recuperação do RNA total, e o
“pellet” resultante foi lavado duas vezes com etanol 70% (-20
o
C) para remoção de
sais residuais. O RNA Poli(A)+ foi purificado a partir de alíquotas de 200 μg de
RNA total com o kit MicroPoly(A) Purist™ (Ambion) de acordo com as
recomendações do fabricante.
A síntese de cDNA foi realizada a partir de 1 μg de RNA poli(A)+ utilizando-
se o SuperScript™ Double-Stranded cDNA Synthesis Kit (Invitrogen).
Os cDNAs foram então utilizados em análises de cDNA-AFLP (Bachem et
al., 1998) utilizando o AFLP® Expression Analysis Kit (LI-COR Biosciences). Das
64 combinações possíveis de iniciadores, utilizamos as oito que apresentaram
maior polimorfismo para cana-de-açúcar em experimentos anteriores. Todas as
oito combinações apresentaram amplificação adequada de cDNA, e quatro se
destacaram pelo melhor polimorfismo e foram, portanto, selecionadas (Tabela 1).
Tabela 1. Combinações de iniciadores selecionadas (LI-COR).
Combinação Iniciador MseI Iniciador marcado IRDye (TaqI)
I
GAT GAG TCC TGA GTA
ACA
GAT GAG TCC TGA CCG AGA
II
GAT GAG TCC TGA GTA
ACT
GAT GAG TCC TGA CCG AGA
III
GAT GAG TCC TGA GTA
AAC
GAT GAG TCC TGA CCG AGT
IV
GAT GAG TCC TGA GTA
AAG
GAT GAG TCC TGA CCG AGT
A eletroforese foi realizada em placas de 25 cm (LI-COR) e matriz de gel
6.5% KB
PLUS™
(20 ml de gel, 150 μl de persulfato de amônio 10%, 15 μl de
TEMED) em um LI-COR DNA Analyzer 4300 (1500 V, 40 W, 40 mA, 45 °C,
velocidade de corrida 4).
As bandas diferencialmente expressas foram extraídas do gel,
resuspendidas em Tampão TBE 1x (tampão de corrida) e reamplificadas com a
mesma combinação de iniciador que a produziu e com uma base extra (A, T, C ou
G) no iniciador MseI para evitar contaminação.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A duração da fase de ninfas foi significativamente maior (p<0,01) na
variedade SP83-5073 (Figura 1A). Muitos trabalhos mostram que a duração da
fase ninfal ou adulta é maior em genótipos resistentes devido, possivelmente, a
mecanismos de antibiose ou deterrência alimentar (Suinaga et al., 2004; Caetano
& Boiça Jr., 2000; Gervásio et al., 1999; Boiça Jr. et al., 1999). Os resultados da
taxa de mortalidade (Figura 1B) reforçam essa hipótese, uma vez que a variedade
SP83-5073 apresentou médias significativamente maiores (p<0,01). A contagem
de ninfas no experimento de cDNA-AFLP aos 14 dias após a infestação também
mostrou maior mortalidade de ninfas na variedade SP83-5073 (80% contra 20%
na SP80-1816).
Figura 1. Taxa de mortalidade de ninfas e duração da fase ninfal em três
variedades. Médias seguidas por diferentes letras diferem entre si pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade.
Diversas substâncias xicas ou que causam deterrência alimentar, tais
como inibidores de proteinase, compostos fenólicos e terpenos estão envolvidos
nos mecanismos de defesa das plantas. Alguns desses compostos são
constitutivos, enquanto outros necessitam de estímulos externos para serem
produzidos (Buchanan et al., 2000).
Um trabalho anterior, conduzido por França et al. (2001) objetivou identificar
genes relacionados ao metabolismo secundário na cana-de-açúcar e o padrão de
expressão de enzimas regulatórias. Os autores relataram que as vias de
metabolismo de isopropanóides e fenilpropanóides são ativadas em diferentes
estágios de desenvolvimento, tecidos e situações de estresse.
As principais vias envolvidas na síntese de compostos de defesa são a do
ácido chiquímico, responsável pela produção de compostos fenólicos e
indiretamente pela produção de compostos secundários nitrogenados, a do ácido
mevalônico, produtora de alguns compostos fenólicos e terpenos, e a do metil-D-
eritritol 4-P (MEP), produtora de terpenos (Taiz & Zeiger, 2004).
A infestação de cigarrinhas afetou a massa seca e fresca de colmos, o
diâmetro e altura de colmos (Tabelas 2 e 3; Figuras 2C e 2D). Este resultado
corrobora com trabalhos anteriores (Dinardo-Miranda et al., 2006a; Cruz-Llanas et
al., 2005; Dinardo-Miranda et al., 2002; Dinardo-Miranda et al., 1999) que relatam
perdas significativas de produtividade de colmos em cana-de-açúcar atacada por
cigarrinhas. As ninfas de cigarrinha-das-raízes alimentam-se principalmente de
seiva do xilema, o que possivelmente resulta em deficiência hídrica e de nutrientes
e consequentemente, em distúrbios metabólicos generalizados (Dinardo-Miranda
et al., 2004; Gallo et al., 2002; Fewkes, 1969). Além disso, sob deficit hídrico, a
taxa fotossintética é reduzida dramaticamente, comprometendo o crescimento e
desenvolvimento da planta. (Taiz & Zeiger, 2004). Com a infestação, as plantas
secam e morrem (Gallo et al., 2002).
A análise de crescimento demonstrou diferenças varietais. As menores
médias para massa fresca e altura de colmos foram encontrados na variedade
RB72454, Os colmos mais finos foram encontrados na variedade SP80-1816, não
significativamente diferentes da RB72454.
Todos os parâmetros de crescimento apresentaram aumento ao longo do
tempo, que é uma conseqüência do crescimento das plantas. Não foi detectada
variação no diâmetro de colmos ao longo das épocas, provavelmente porque a
primeira coleta foi realizada quando as plantas tinham quase 100 dias de idade.
Embora não haja interação significativa entre a infestação de M. fimbriolata e as
épocas de coleta, a redução na massa fresca e seca de folhas aos 68 DAI pode
ser devido ao estresse hídrico causado pela alimentação das ninfas, limitando a
taxa fotossintética.
As menores médias de massa fresca e seca de raízes observadas na
variedade SP83-5073 (Tabelas 2 e 3) provavelmente não estão envolvidas na
maior duração da fase ninfal e taxa de mortalidade nessa variedade,uma vez que
no momento da infestação, quando a massa fresca de raízes era em média 114 g,
as ninfas foram capazes de se alimentar e desenvolver.
Silva et al. (2005) demonstraram que as ninfas foram capazes de se
desenvolver normalmente e produzir fortes sintomas em plantas mais jovens que
as utilizadas nesse experimento, as quais provavelmente possuíam menor massa
de raízes. Entretanto, a existência de diferenças morfológicas nessa variedade
que possa afetar a alimentação de M. fimbriolata não pode ser descartada. Apesar
de fornecermos evidências de mecanismos de antibiose da SP83-5073 contra a
cigarrinha-das-raízes, pode existir uma combinação com a morfologia das raízes
que reforça a resistência.
A menor massa fresca de colmos das variedades SP80-1816 e RB72454
pode ser decorrente do ataque da praga (Figura 2A), uma vez que essas
variedades foram relatadas como suscetíveis (Silva et al., 2005; Dinardo-
Miranda, 2004; Dinardo-Miranda et al., 1999). A figura 2A também demonstra que
o ataque de M. fimbriolata não teve efeito sobre a massa fresca de colmos na
variedade SP83-5073, corroborando com os indícios de resistência fornecidos
pela mortalidade de ninfas e duração da fase ninfal.
Dinardo-Miranda (2004) relata que em condições de campo a variedade
RB72454 apresenta menor infestação que a SP80-1816. Essa menor infestação
pode ser devida a não-preferência da cigarrinha por esse genótipo. Experimentos
com chance de escolha são necessários para confirmar essa hipótese.
A figura 2B mostra que a massa fresca da variedade SP83-5073 superou
as demais ao longo do tempo quando submetida à infestação de M. fimbriolata, o
que pode ser resultado de mecanismos de antibiose ou morfologia de raízes, que
inibiram a alimentação e crescimento das ninfas.
Tabela 2 Resultado do teste de Tukey para massa fresca (g) de colmos, folhas e
raízes e diâmetro de colmos (mm).
Massa fresca (g)
Causas da variação
Colmos Folhas Raízes
Diâmetro de
colmos (mm)
Variedades (V)
1. SP80-1816 111,50 AB
58,53 A 191,37 A 15,64 B
2. RB72454 103,40 B 63,32 A 189,85 A 15,85 AB
3. SP83-5073 122,53 A 61,60 A 145,27 B 16,95 A
Teste F (V) 5,89** 1,57
ns
7,16 ** 4,11 *
DMS Tukey 5% 13,53 6,64 33,47 1,18
Níveis de infestação (I)
1. Testemunha 122,53 A 62,31 A 165,89 A 16,82 A
2. 10 ninfas por planta 102,42 B 59,98 A 185,11 A 15,48 B
Teste F (I) 19,40 ** 1,08
ns
2,89
ns
11,25 **
DMS Tukey 5% 9,19 4,50 22,73 0,80
Épocas de Amostragem
(E)
1. 8 DAI 51,37 C 58,24 BC 113,92 C 16,50 A
2. 17 DAI 111,30 B 69,44 A 124,60 C 16,45 A
3. 39 DAI 138,43 A 62,93 AB 176,99 B 15,60 A
4. 68 DAI 148,80 A 53,98 C 286,48 A 16,03 A
Teste F (E) 91,57** 8,75 ** 48,81 **
1,13
ns
DMS Tukey 5% 17,19 8,43 42,55 1,50
V x I 4,27 * 1,37
ns
0,69
ns
1,67
ns
V x E 6,31 ** 0,81
ns
1,16
ns
2,69 *
I x E 13,09 ** 1,15
ns
0,35
ns
5,69 **
V x I x E 4,25 ** 0,25
ns
1,06
ns
1,08
ns
CV % 17,23 15,55 27,32 10,50
DAI = Dias após a infestação; Letras maiúsculas comparam medias verticalmente pelo teste de
Tukey; * = p < 0,05; ** = p < 0,01; ns = não-significativo.
Tabela 3 – Resultado do e teste de Tukey para massa seca (g) de colmos, folhas e raízes e
altura de colmos (cm).
Massa seca (g)
Causas de variação
Colmos Folhas Raízes
Altura de
Colmos (cm)
Variedades (V)
1. SP80-1816 12,83 A 14,35 A 47,61 A 69,31 A
2. RB72454 14,06 A 15,96 A 47,30 A 63,11 B
3. SP83-5073 12,67 A 14,47 A 33,75 B 73,33 A
Teste F (V) 0,95
ns
1,62
ns
6,42 ** 9,99 **
DMS Tukey 5% 2,66 2,41 10,68 5,57
Níveis de infestação (I)
1. testemunha 14,66 A 16,11 A 41,47 A 71,81 A
2. 10 ninfas por planta 11,71 B 13,74 B 44,30 A 65,35 B
Teste F (I) 10,84 ** 8,51 ** 0,61
ns
11,83 **
DMS Tukey 5% 1,80 1,63 7,25 3,78
Épocas de Amostragem
(E)
1. 8 DAI 5,87 C 15,96 A 40,55 B 58,15 C
2. 17 DAI 12,60 B 17,07 A 40,04 B 63,94 BC
3. 39 DAI 14,39 B 15,20 A 39,76 B 67,64 B
4. 68 DAI 19,89 A 11,48 B 67,19 A 84,61 A
Teste (E) 41,54 ** 8,88 ** 24,87 ** 36,60 **
DMS Tukey 5% 3,38 3,06 13,57 7,07
V x I 3,08
ns
3,62 * 0,08
ns
1,43
ns
V x E 1,29
ns
1,42
ns
1,99
ns
5,38 **
I x E 4,03 * 0,57
ns
0,29
ns
6,71 **
V x I x E 1,48
ns
0,91
ns
0,73
ns
3,19 *
CV (%) 28,86 23,10 35,66 11,63
DAI = Dias após a infestação; Letras maiúsculas comparam medias verticalmente pelo teste de
Tukey; * = p < 0,05; ** = p < 0,01; ns = não-significativo.
Houve uma tendência de diminuição da altura e diâmetro de colmos na
SP80-1816 e RB72454 ao longo do tempo, provavelmente devido à infestação de
M.fimbriolata, enquanto o oposto foi observado para a SP83-5073 (Figuras 3A e
3B). Juntamente com os resultados já discutidos, parece razvel admitir que essa
variedade é resistente à cigarrinha-das-raízes.
Ao longo do tempo, a altura e diâmetro de colmos foram significativamente
afetadas pela praga, corroborando com os sintomas de desidratação, colmos finos
e “chochos” e morte da planta descritos por Macedo & Macedo (2004) e Gallo et
al. (2002).
Figura 2. Massa fresca e seca de colmos. A Efeito dos veis de infestação
dentro de variedades; B Efeito de variedades dentro das épocas; C, D Efeito
dos veis de infestação dentro das épocas. Médias seguidas por diferentes letras
diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Letras maiúsculas
comparam medias dentro dos tratamentos e letras minúsculas comparam dias
dentro de tratamentos.
Figura 3. Altura e diâmetro de colmos. A, B Efeito da época dentro de
variedades; C, D efeito dos veis de infestação dentro de épocas. Letras
maiúsculas comparam medias dentro dos tratamentos e letras minúsculas
comparam médias entre os tratamentos.
Análise de expressão diferencial
Quatro combinações de iniciadores foram escolhidas a partir das oito
inicialmente testadas (Tabela 1). Poucos fragmentos diferencialmente expressos
foram observados, mas na Figura 4 observamos bandas de aproximadamente 250
pb que foram expressas no genótipo resistente (combinação de iniciadores I)
quando submetido à infestação de cigarrinha (poços 6 e 10, setas vermelhas).
Essas bandas foram expressas somente na variedade SP83-5073, 24 e 48 horas
após a infestação, o que indica que esses fragmentos podem estar envolvidos em
mecanismos de defesa do genótipo resistente. Uma vez que foram expressos
pouco tempo após a infestação, é possível que esses fragmentos codifiquem
proteínas relacionadas à patogênese. Essas proteínas estão relacionadas com
mecanismos de interação planta-praga, e muitas vezes produzem resposta de
defesa na planta hospedeira.
Figura 4. Foto do gel de cDNA-AFLP (combinação de iniciadores “I”) mostrando
fragmentos (setas vermelhas) de 250 pb que foram diferencialmente expressos
na variedade SP83-5073 atacada pela cigarrinha-das-raízes aos 24 e 48 horas
após a infestação. Descrição: 1 SP80-1816 antes da infestação; 2 SP80-1816 1 dia após a infestação
(testemunha); 3SP80-1816 1 dia após a infestação (infestada); 4 – SP83-5073 antes da infestação; 5 – SP83-5073 1 dia
após a infestação (testemunha); 6 – SP83-5073 1 dia após a infestação (infestada); 7 – SP80-1816 2 dias após a infestação
(testemunha); 8 SP80-1816 2 dias após a infestação (infestada); 9 SP83-5073 2 dias após a infestação (testemunha);
10 SP83-5073 2 dias após a infestação (infestada); 11 – SP80-1816 7 dias após a infestação (testemunha); 12 – SP80-
1816 7 dias após a infestação (infestada); 13 – SP83-5073 7 dias após a infestação (testemunha); 14 – SP83-5073 7 dias
após a infestação (infestada); 15 SP80-1816 14 dias após a infestação (testemunha); 16 SP80-1816 14 dias após a
infestação (infestada); 17 – SP83-5073 14 dias após a infestação (testemunha); 18 – SP83-5073 14 dias após a infestação
(infestada).
As bandas diferencialmente expressas foram isoladas e estão sendo
clonadas e preparadas para o sequenciamento. Devido aos fortes indícios de
resistência observados na análise de crescimento, mortalidade do inseto e
longevidade de ninfas, acredita-se que esses fragmentos podem de fato estar
envolvidos com a resistência genética. Entretanto, se os resultados do
sequenciamento demonstrarem que não existe relação desses fragmentos
isolados com mecanismos de defesa, existe ainda a possibilidade de que a
resistência seja promovida pela morfologia das raízes.
Parece improvável que o fragmento de 250 pb isolado neste trabalho seja
um falso positivo, uma vez que duas plantas foram utilizadas para cada condição,
e cada reação foi corrida ao menos oito vezes para confirmar a expressão.
Independentemente dos resultados de sequenciamento, estudos
morfológicos são necessários para apontar se a antibiose é o único fator de
resistência na variedade SP83-5073, uma vez que pode haver uma combinação
com a morfologia das rzes que reforça a resistência.
CONCLUSÕES
Os resultados confirmam a suscetibilidade das variedades SP80-1816 e
RB72454 à Mahanarva fimbriolata, e fornecem fortes indícios de que a variedade
SP83-5073 é resistente à praga através de um mecanismo de antibiose. O
fragmento de 250 pb isolado a partir dessa variedade pode estar relacionado com
a defesa à cigarrinha-das-raízes.
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CAPÍTULO III - ACÚMULO DE PROLINA EM CANA-DE-AÇÚCAR SOB
ESTRESSE HÍDRICO OU SUBMETIDA AO ATAQUE DE CIGARIRNHA-DAS-
RAÍZES
RESUMO
A cigarrinha-das-raízes Mahanarva fimbriolata (Stål, 1854) (Hemiptera:
Cercopidae) tornou-se uma praga importante da cultura da cana-de-açúcar na
região centro-sul do Brasil. Estratégias de controle têm sido desenvolvidas, mas
os danos promovidos por essa praga e sua interação com a cana-de-açúcar ainda
são pouco caracterizados. Em altos veis de infestação da praga, os sintomas
nas plantas são muito semelhantes à restrição hídrica severa. Este trabalho foi
conduzido com o objetivo de determinar se o estresse promovido pela infestação
de ninfas de cigarrinha-das-raízes resulta em acúmulo de prolina livre, além de
comparar dois genótipos de cana-de-açúcar quanto à tolerância ao ficit hídrico.
Dois experimentos foram desenvolvidos em delineamento inteiramente
casualizado, em esquema fatorial 2 x 2 x 4 com duas cultivares (SP80-1816 e
RB72454), dois manejos (controle e 10 ninfas por planta ou 50% de restrição
hídrica) e quatro épocas de amostragem. O ficit hídrico promovido por M.
fimbriolata não resultou em acúmulo de prolina, ilustrando a existência de
mecanismos distintos para a percepção do estresse hídrico promovido pela praga
e pela variação no potencial osmótico nas células das raízes. A cultivar RB72454
acumula maiores teores de prolina livre, e o acúmulo de massa seca e o
crescimento dos colmos são menos afetados nessa cultivar sob restrição hídrica.
Os teores de solutos compatíveis provavelmente não podem ser utilizados para
quantificar o estresse promovido por M. fimbriolata em cana-de-açúcar. A cultivar
RB72454 é mais tolerante ao déficit hídrico do que a cultivar SP80-1816.
PALAVRAS-CHAVE: Mahanarva fimbriolata, acúmulo de prolina, Saccharum
spp., déficit hídrico.
FREE PROLINE ACCUMULATION IN SUGARCANE UNDER WATER
RESTRICTION AND SPITTLEBUG INFESTATION
ABSTRACT:
Mahanarva fimbriolata (Stål, 1854) (Hemiptera: Cercopidae) has become a key
pest in the sugarcane fields of center-south Brazil. Although some control
technologies have shown to be efficient, the damage promoted by this spittlebug
species and its interaction with sugarcane are poorly characterized. At high
infestation rates the symptoms are similar to severe water restriction. This work
was conducted to determine whether the stress promoted by spittlebug infestation
can be measured in terms of free proline accumulation. We also compared water
restriction tolerance in two sugarcane genotypes. Two experiments were set up in
a greenhouse and arranged in completely randomized design in a 2 x 2 x 4
factorial, with two cultivars (SP80-1816 and RB72454), two stress levels (control
and 10 nymphs per plant or 50% water restriction) and four sampling dates. The
water deficit caused by spittlebug nymphs sucking xylem sap does not result in
proline accumulation, illustrating that there are different mechanisms to sense
when the water deficit is caused by insect feeding or water potential variation in
root cells. The cultivar RB72454 accumulates more free-proline, and the dry mass
accumulation and stalk growth are less affected in this cultivar under water
restriction. The levels of compatible solutes probably cannot be used to measure
spittlebug infestation stress in sugarcane and RB72454 is more tolerant to water
shortage than SP80-1816.
KEY WORDS: Mahanarva fimbriolata, proline accumulation, Saccharum spp.,
water deficit.
INTRODUÇÃO
A cigarrinha-das-raízes Mahanarva fimbriolata (Stål, 1854) (Hemiptera:
Cercopidae) é uma praga que tem ganhado importância com a expansão da
colheita mecanizada sem queima prévia de cana-de-açúcar. A camada de palha
deixada no solo favorece o desenvolvimento das formas jovens e protege os ovos
em diapausa.
A infestação de M. fimbriolata se correlaciona positivamente com alta
precipitação e temperatura do solo condições que ocorrem de novembro a abril no
estado de São Paulo, onde a cigarrinha-das-raízes é uma das pragas-chave da
cana-de-açúcar (Gallo et al., 2002).
As ninfas alimentam-se principalmente do xilema das raízes, ocasionando
deficiência nutricional e hídrica e distúrbios metabólicos generalizados (Gallo et
al., 2002).
Estudos recentes concordam que o dano principal, isto é, a seca de colmos,
tornando-os ocos, como observado em condições de restrição hídrica severa é
causado pelas ninfas (Dinardo-Miranda, 2004; Silva et al., 2005; Garcia et al.,
2006).
Quando as plantas se submetem a condição de ficit hídrico, um aumento
na concentração de solutos compatíveis previne a perda de água pela redução do
potencial osmótico e conseqüente manutenção do potencial hídrico em veis
ótimos. A prolina, glicina-betaína e açúcares são exemplos de solutos compatíveis
envolvidos no ajuste osmótico, permitindo tolerância à seca e garantindo a
integridade membranar sem afetar as funções protéicas (Bray, 1993; 1997; Taiz &
Zeiger, 2004).
Devido à similaridade entre os sintomas da infestação de M. fimbriolata e
da restrição hídrica, é possível que solutos compatíveis sejam acumulados sob
ataque de cigarrinha-das-raízes. Dessa maneira, a medição da concentração
desses compostos poderia fornecer uma idéia do vel de estresse que seria útil
em estudos de resistência à praga. O efeito combinado da infestação de M.
fimbriolata e deficit hídrico no acúmulo de prolina não seria uma grande
preocupação, que a ocorrência das cigarrinhas es condicionada à precipitação
abundante, especialmente no fim da primavera e durante todo o verão na região
centro-sul do Brasil.
Este trabalho foi conduzido para determinar se existe correlação entre a
infestação de M. fimbriolata e o acúmulo de prolina livre em cana-de-açúcar, e se
o teor desse aminoácido pode ser utilizado em estudos de resistência para
determinar a tolerância de variedades à praga. Além disso, comparamos a
resistência à seca de dois genótipos de cana-de-açúcar em termos de acúmulo de
prolina livre.
MATERIAL E MÉTODOS
Um experimento sem chance de escolha e um experimento de restrição
hídrica foram conduzidos em casa de vegetação localizada no Departamento de
Tecnologia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal, sob
condições de temperatura e umidade controladas (22 a 33ºC; umidade relativa de
50 a 60%). Mini-toletes de uma gema das variedades SP80-1816 e RB72454
foram plantados em bandejas de isopor de 64 (5 x 10 cm) contendo o substrato
comercial Plantmax ® HT (Eucatex).
O experimento de restrição hídrica foi conduzido para verificar como a
infestação de cigarrinha-das-raízes se correlaciona com a falta de água no solo.
Aos 27 dias após o plantio (DAP) as plântulas foram transferidas para
vasos com capacidade de 15 litros contendo solo de textura média, corrigido e
fertilizado, na quantidade de uma plântula por vaso. Os vasos foram irrigados
diariamente até a capacidade de campo.
O experimento com cigarrinhas foi arranjado em delineamento inteiramente
casualizado, em esquema fatorial 2 x 2 x 4 com dois genótipos de cana-de-açúcar,
dois veis de infestação (controle e 10 ninfas/planta), e quatro épocas de
amostragem (8, 17, 39 e 68 dias após a infestação). O mesmo delineamento foi
utilizado no experimento de restrição hídrica, e os fatores representaram dois
genótipos de cana-de-açúcar, dois veis de restrição hídrica (controle e 50% de
disponibilidade hídrica) e quatro épocas de amostragem (cinco dias antes da
restrição hídrica e 21, 48 e 91 dias após). Quatro repetições foram utilizadas em
ambos os ensaios. Os dados foram submetidos à análise de variância e as medias
foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
Criação e infestação de cigarrinhas
Para manter a umidade do solo e estabilizar a temperatura para futura
infestação de cigarrinha-das-raízes os vasos foram cobertos com 65 g de folhas e
pontas picadas e secas de cana-de-açúcar (70-80% de massa seca,
correspondendo a 9 t ha
-1
), simulando a palha que fica no campo após a colheita,
17 dias antes da infestação.
As ninfas foram criadas como descrito por Garcia et al. (2006). A infestação
de ninfas de 21 dias de idade foi realizada aos 94 DAP, com auxílio de um pincel
n.
4, nos veis: 0 (testemunha) e 10 ninfas por planta. A espuma foi transferida
abundantemente com as ninfas para garantir a sobrevivência das mesmas após a
infestação.
Os vasos foram cobertos com tela de náilon para isolar o efeito dos adultos
sugadores de folha e evitar a migração de ninfas (teste sem chance de escolha). A
presença de adultos foi monitorada diariamente e os indivíduos encontrados eram
contados e imediatamente mortos. O efeito dos adultos não foi estudado para
evitar novas oviposições que resultariam em variação indesejável. Além disso, de
acordo com Dinardo-Miranda (2004) o dano mais importante da praga é causado
pela alimentação das formas jovens.
Restrição hídrica
As plantas foram irrigadas diariamente até a capacidade de campo até os
94 DAP para garantir crescimento inicial adequado. Um atmômetro foi utilizado
para estimar a evapotranspiração diária e as plantas foram submetidas a 50% de
restrição hídrica através da irrigação de apenas metade da evapotranspiração do
dia anterior (Broner & Law, 1991).
Quantificação de prolina livre
Folhas de cana-de-açúcar (+1, sistema de Küijper) foram coletadas aos 8,
17, 39 e 68 dias após a infestação (DAI) e aos 5 dias antes da restrição hídrica e
21, 48 e 91 dias após. As folhas foram maceradas em nitrogênio líquido para
melhorar a extração da prolina livre. Os níveis de prolina foram determinados
conforme descrito por Bates et al. (1973). Os resultados foram expressos em
μmols de prolina por grama de massa fresca, através da fórmula:
[(μg prolina ml
-1
x 4 ml**)/115.5 μg μmol
-1
]/[(g amostra)/5]
** volume de tolueno.
Análise de massa seca, altura e diâmetro de colmos
O acúmulo de massa seca, altura e diâmetro de colmos foram
determinados com o objetivo de verificar se os estresses seriam eficientes para
promover redução de crescimento.
A altura de plantas foi medida do solo até a primeira auricular visível com
uma trena, enquanto o diâmetro foi medido com um paquímetro na porção
mediana do colmo.
As plantas foram divididas em folhas, colmos e raízes, e secas em estufa
com circulação forçada de ar a 70°C até o peso constante. A massa seca foi
determinada em balança eletrônica com precisão de miligramas. Para remover
partículas remanescentes de solo, as raízes foram lavadas em água corrente e
secas com papel toalha. Após a pesagem, as amostras foram acondicionadas em
sacos de papel e submetidas à secagem.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A massa seca de folhas, colmos e raízes (Figura 3) foi afetada pela
infestação de ninfas de M. fimbriolata em ambas variedades (P 0.01). A
mortalidade de ninfas foi inferior a 20% em ambos os genótipos e não houve
diferença significativa entre os mesmos, o que indica que ambos são suscetíveis à
praga (Guimarães et al., 2007).
A infestação de cigarrinhas não resultou em acúmulo de prolina livre em
tecidos foliares de cana-de-açúcar e não houve diferença entre variedades ou
épocas de amostragem ao longo do primeiro experimento (Figura 1, Figura 2A).
Streck (2004) discute os mecanismos de percepção do estresse hídrico
pelas plantas. Em sua revisão, o autor demonstra que as hipóteses mais aceitas
são a dos sinais hidráulicos que são enviados à parte aérea e da sinalização
molecular a partir das raízes, porém ainda contradição sobre o assunto e
detalhes sobre os mecanismos de percepção da restrição hídrica ainda não eso
claros.
O fato de que o sintoma de murcha de plantas ocasionado por ninfas de M.
fimbriolata não resulta em acúmulo de prolina livre ilustra que existem
mecanismos diferentes para a percepção da deficiência hídrica ocasionada pelo
inseto e aquela ocasionada pela falta de água no solo, levando a variação de
potencial osmótico nas células das raízes. A alimentação de ninfas de cigarrinha-
das-raízes é responsável pela seca da parte aérea e possivelmente resulta em
sinais hidráulicos que estimulam o fechamento estomático. Portanto, é possível
que próprios sinais hidráulicos per si não estejam envolvidos com o acúmulo de
solutos compatíveis. Por outro lado, o acúmulo de prolina livre em plantas
submetidas à restrição hídrica (Figura 2A) ilustra que a sinalização molecular a
partir das raízes está envolvida no ajuste osmótico.
Figura 1 veis de prolina livre no experimento de cigarrinha-das-raízes. Letras
diferentes indicam diferença significativa ao nível de 5% de probabilidade pelo
teste de Tukey. A Efeito da infestação; B Efeito das variedades de cana-de-
açúcar.
Em condição hídrica ideal, o pH da seiva xilemática é mais baixo, enquanto
que sob restrição hídrica é mais elevado. Quando o conteúdo xilemático é mais
básico, o ácido abscísico (ABA) se desprotona e não é capaz de atravessar a
membrana das células do mesofilo, acumulando-se nas células-guarda e
estimulando o fechamento estomático (Taiz & Zeiger, 2004). Dessa forma, espera-
se que tanto a infestação de cigarrinhas como a restrição hídrica no solo
promovam fechamento estomático, que limitam o fluxo de água para a parte
aérea. Os resultados aqui apresentados indicam que a sinalização molecular a
partir das raízes exerce papel importante na distinção de quando a restrição
hídrica nas plantas é promovida pela falta de água no solo ou por insetos
sugadores (Figura 2A).
A variedade RB72454 acumula mais prolina livre (Figura 2), e o acúmulo de
massa seca, altura e diâmetro de colmos são menos afetados pela restrição
hídrica nessa variedade (Figuras 3 e 4). Esses resultados indicam que o genótipo
é mais tolerante ao déficit hídrico que do que SP80-1816.
Figura 2 Teores de prolina livre (experimento de restrição hídrica). A
Comparação entre a infestação de cigarrinhas e a restrição hídrica ao longo do
experimento; B Efeito das variedades de cana-de-açúcar; C Variedades ao
longo do experimento; D Efeito da restrição hídrica. Letras maiúsculas
comparam medias dentro de tratamentos e minúsculas compram medias entre
tratamentos.
Uma das mais estudadas respostas de plantas ao deficit hídrico é o
acúmulo de prolina livre, e muitos trabalhos relatam uma importante correlação
entre o acúmulo desse aminoácido e a tolerância à seca (Nepomuceno et al.,
2001; Marin et al., 2006). Muitas outras funções que indiretamente auxiliam as
plantas a tolerar a falta de água têm sido atribuídas ao acúmulo de prolina, e.g.
estabilização de estruturas sub-celulares, o combate a radicais livres,
armazenamento energético e sinalização molecular em condições de estresse
(Bartels & Sunkar, 2005).
Figura 3 Acúmulo de massa seca, altura e diâmetro de colmos no experimento
de restrição hídrica. Letras maiúsculas comparam medias dentro de tratamentos e
minúsculas comparam medias entre tratamentos. RH = restrição hídrica.
A prolina é sintetizada a partir de glutamato e pirrolina-5-carboxilato (P5C)
através de sucessivas reduções catalizadas pela pirrolina-5-carboxilato sintase
(P5CS) e da pirrolina-5-carboxilato redutase (P5CR). Pode ainda ser produzida a
partir da ornitina pela ornitina d-aminotransferase (OAT). O acúmulo de prolina
depende ainda de sua catálise pela prolina desidrogenase (ProDH), e P5C
desidrogenase (P5CDH) (Hare et al., 1999). Sob ficit hídrico, a prolina parece
ser sintetizada principalmente pela via do glutamato (Bartels & Sunkar, 2005).
Figura 4 Comparação das variedades de cana-de-açúcar ao longo do
experimento de restrição hídrica. DBT Dias antes do início da restrição hídrica;
DAT – Dias após o início da restrição hídrica. Letras maiúsculas comparam
medias dentro de tratamentos e minúsculas compram medias entre tratamentos.
A expressão da redutase (P5CR) é regulada por variações de potencial
osmótico no citoplasma (Williamson & Slocum 1992). A redução do potencial
osmótico induz a biossíntese da P5C, resultando em produção de prolina. O
acúmulo de prolina livre em células vegetais submetidas a estresse hídrico é
atribuído a um mecanismo de ajuste osmótico (Delauney & Verma, 1993).
Tanto a infestação de cigarrinha como a restrição hídrica reduziram o
acúmulo de massa seca e o crescimento de colmos, e o aspecto geral das plantas
submetidas aos dois tipos de estresse mostrou-se de fato muito semelhante. No
entanto, o acúmulo de prolina livre não aumentou com a infestação de cigarrinhas,
possivelmente porque uma variação de potencial osmótico é necessária para a
biossíntese de P5C. E as ninfas de M. fimbriolata alimentam-se diretamente da
seiva do xilema (e parcialmente do floema) (Fewkes, 1969; Mendonça &
Mendonça, 2005), o que não deve causar variação de potencial osmótico nas
células das raízes. Embora os solutos compatíveis ajam sinergisticamente na
promoção da tolerância ao estresse hídrico, a prolina livre é um dos
osmoprotetores mais rapidamente acumulados. Portanto, é possível que outros
solutos compatíveis igualmente não possam ser utilizados para medir o estresse
promovido por ninfas de cigarrinha-das-raízes.
O ficit hídrico ocasionado pelas ninfas sugadoras de xilema não resulta
em acúmulo de prolina, ilustrando a existência de mecanismos distintos para a
percepção de quando a restrição hídrica é causada pela infestação do inseto ou
pela variação de potencial hídrico nas células das raízes. Isso indica que o teor de
solutos compatíveis não pode ser utilizado para medir o estresse causado por M.
fimbriolata.
Tanto a infestação de cigarrinhas como a restrição hídrica reduzem o
acúmulo de massa seca e o crescimento de colmos ocasionando sintomas
semelhantes.
A variedade RB72454 acumula mais prolina livre e seu crescimento é
menos afetado pela restrição hídrica que a variedade SP80-1816, o que sugere
que a primeira é mais tolerante à seca.
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(Pisum sativum L.). Plant Physiology, v. 100, p. 1464-1470, 1992.
CAPÍTULO IV - NÍVEIS CONSTITUTIVOS DE COMPOSTOS FENÓLICOS
PODEM ESTAR RELACIONADOS À RESISTÊNCIA DA CANA-DE-AÇÚCAR A
CIGARRINHA-DAS-RAÍZES
RESUMO
A interação da cigarrinha-das-raízes com a cana-de-açúcar é ainda pouco
caracterizada e existem poucas informações sobre variedades resistentes. Os
compostos fenólicos estão envolvidos em mecanismos de resistência do tipo
antibiose, mas poucos trabalhos se dedicam ao estudo do papel desses
compostos na interação das plantas com insetos sugadores. O trabalho foi
conduzido para determinar como a cana-de-açúcar responde à infestação de M.
fimbriolata em termos de acúmulo de compostos fenólicos. Um experimento foi
instalado em condições controladas, em delineamento inteiramente casualizado
em esquema fatorial 3 x 2 x 4, com 3 genótipos e cana-de-açúcar, 2 veis de
infestação de ninfas de M. fimbriolata e 4 épocas de amostragem, com 4
repetições. Os genótipos SP 80-1816 e RB 72454 apresentaram maiores veis de
fenóis totais quando submetidos à infestação da praga, mas a duração da fase
ninfal e a mortalidade das cigarrinhas foram significativamente menores nessas
variedades, indicando que o aumento na concentração de compostos fenólicos
pode ter sido causado pela morte e apodrecimento das raízes. Não foi observada
variação nos veis de fenóis totais na variedade SP 85-5073 submetida à
infestação de M. fimbriolata. Entretanto, a mortalidade da cigarrinha-das-raízes e a
duração da fase de ninfas foram significativamente maiores nesse genótipo,
indicando a existência de resistência do tipo antibiose. Análises de correlação
indicaram que maiores teores iniciais de compostos fenólicos resultam em
mortalidade da praga e pode aumentar a duração da fase de ninfa.
PALAVRAS-CHAVE: Mahanarva fimbriolata, interação planta-praga, Saccharum
spp., antibiose.
CONSTITUTIVE LEVELS OF PHENOLIC COMPOUNDS MAY BE ASSOCIATED
TO THE RESISTANCE OF SUGARCANE TO SPITTLEBUGS
ABSTRACT
The spittlebug species Mahanarva fimbriolata (Stål, 1854) (Hemiptera: Cercopidae)
has caused significant yield losses to sugarcane fields of center-south Brazil.
However, the interaction of this pest with sugarcane is poorly characterized and
little is known about varietal resistance. Phenolic compounds have been reported
to be involved in antibiosis resistance mechanisms, but few works are dedicated to
study their roles in the interaction of the host plant with sucking insects. We
determined how sugarcane responds to spittlebug infestation in terms of total
phenolics, and correlations between spittlebug biology parameters and the levels
of phenolic compounds are shown. An experiment was conducted in controlled
conditions and arranged in completely randomized design, in a 3 X 2 X 4 factorial
with three sugarcane genotypes, two infestation levels and four sampling dates.
Three replications were used. The genotypes SP80-1816 and RB72454
accumulate phenolic compounds in response to spittlebug infestation, and nymph
mortality and the duration of nymph phase were significantly lower in these
varieties. These results indicate that in susceptible cultivars the increase in total
phenolics may be due to the damage caused by spittlebug feeding. No variation
was detected in the levels of total phenolics in SP83-5073 under spittlebug
infestation, but the constitutive levels of phenolics in this genotype are significantly
higher. Spittlebug mortality and duration of nymph phase were significantly higher
in this variety, indicating that there may be an antibiosis mechanism providing
some resistance to the pest.
KEY WORDS: Mahanarva fimbriolata, plant-pest interaction, Saccharum spp.,
antibiosis.
INTRODUÇÃO
A colheita de cana-de-açúcar sem a queima prévia da palha tem crescido
ano após ano no Brasil. A ‘cana crua’ é geralmente colhida mecanicamente, e
deixa uma camada de palha sobre o solo que favorece a ocorrência de algumas
espécies de insetos-praga e plantas daninhas, ao passo que reduz drasticamente
a ocorrência de outras, especialmente as fotoblásticas positivas.
A cigarrinha-das-raízes Mahanarva fimbriolata (Stål, 1854) (Hemiptera:
Cercopidae) é um exemplo de praga que tem ganho importância com o sistema de
colheita de ‘cana crua’. As fêmeas adultas ovipositam sob o colchão de palha,
próximo à base dos colmos. Quando as ninfas eclodem de seus ovos, a camada
de material orgânica as protege contra a desidratação e exposição direta à luz
solar (Garcia et al., 2006). As ninfas de M. fimbriolata alimentam-se principalmente
do conteúdo xilemático de raízes jovens e tenras (Mendonça & Mendonça, 2005).
Como a seiva do xilema é pobre em energia e aminoácidos, grandes quantidades
precisam ser sugadas para atender às necessidades nutricionais desses insetos
(Fewkes, 1969).
A resistência de plantas a insetos-praga envolve muitos fatores e
compostos que podem estar presentes no hospedeiro constitutivamente ou serem
produzidos após a indução de uma resposta (Nutt et al., 2004). Os compostos
fenólicos constituem um grupo de metabólitos secundários que exerce papéis
importantes nas plantas, como a proteção contra estresses ambientais (Hahlbrock
& Scheel, 1989). Em insetos-praga, esses compostos podem atuar como
inibidores digestivos ou produzindo radicais livres (Appel, 1993).
O ácido clorogênico, um derivado do ácido cinâmico, e a rutina, um
glicosídeo-flavonóide, são modelos no estudo das defesas de plantas contra
herbivoria devido às suas amplas ocorrências em vegetais superiores e conhecida
toxicidade a insetos-praga. A oxidação do ácido clorogênico produz quinonas que
se ligam covalentemente às proteínas e consequentemente limitam sua
disponibilidade como alimento (Friedman, 1997). Essa oxidação também pode
resultar na produção de espécies reativas de oxigênio (radical superóxido e H
2
O
2
),
as quais danificam lipídios, proteínas e ácidos nucléicos (Appel, 1993; Summers &
Felton, 1994).
A caracterização dos tipos e quantidades de compostos fenólicos que o
produzidos em resposta à infestação de insetos é importante para o conhecimento
da interação planta-praga, além de ser de grande utilidade no desenvolvimento de
novas estratégias de controle e em programas de melhoramento de plantas que
buscam resistência genotípica.
A resposta fisiológica da cana-de-açúcar a M. fimbriolata é ainda pouco
caracterizada. Neste trabalho determinamos como a cana-de-açúcar responde à
infestação de ninfas de cigarrinha-das-raízes em termos de produção de
compostos fenólicos em tecidos foliares e radiculares.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido em casa de vegetação localizada no
Departamento de Tecnologia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de
Jaboticabal, e durante o mesmo a temperatura oscilou entre 22 e 33ºC e a
umidade relativa do ar foi mantida entre 50 e 60% por microaspersão
automatizada. As variedades SP80-1816, RB72454 e SP83-5073, que apresentam
reações distintas à cigarrinha-das-raízes, foram plantadas em bandejas de isopor
de 64 células (5 x 10 cm) contendo o substrato comercial Plantmax® HT
(Eucatex). Para o plantio foram utilizados toletes de uma gema.
As plântulas foram transferidas para vasos com capacidade de 15 litros
contendo solo de textura média, corrigido com calcário dolomítico e fertilizado de
acordo com as recomendações do boletim 100 para cana-de-açúcar. O
transplantio foi realizado aos 27 dias após o plantio. Foi utilizado o delineamento
experimental inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 3 x 2 x 4, sendo 3
genótipos de cana-de-açúcar, 2 níveis de infestação da praga (controle e 10 ninfas
planta
-1
), e 4 épocas de amostragem. Quatro repetições experimentais foram
utilizadas. Os dados foram submetidos à análise de variância e a comparação de
médias foi realizada através do teste de Tukey (5% de probabilidade). Foram
realizadas análises de correlação entre os veis de compostos fenólicos e a
mortalidade e duração da fase ninfal de M. fimbriolata.
Criação de insetos e infestação
Os vasos foram cobertos com 65 g de pontas e folhas de cana-de-açúcar
picadas e secas ao sol por 48h (70-80% de massa seca, correspondentes a 9 t ha
-
1
), com o objetivo de manter as condições de umidade e temperatura do solo,
simulando a cobertura de palha que ocorre no campo. A cobertura foi realizada 17
dias antes da infestação de ninfas de M. fimbriolata.
As ninfas do inseto foram produzidas no Laboratório de Tricograma do
Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola da Esalq-USP
como descrito por Garcia et al. (2006). A infestação foi realizada quando as ninfas
atingiram os 21 dias de idade utilizando-se pincéis n
o
4, aos 94 dias após o plantio
de cana-de-açúcar, no vel de 10 ninfas por planta, além do controle não
infestado. Juntamente com as ninfas transferiu-se também a espuma, em
abundância, para efeito de proteção dos insetos.
Para evitar o efeito dos adultos, que são sugadores de folhas, e que
poderiam se acasalar e realizar oviposições ao acaso, os vasos foram cobertos
com tela de náilon imediatamente após a infestação. Através de monitoramento
diário, os adultos encontrados eram registrados e instantaneamente mortos.
Extração e análise de compostos fenólicos
Amostras de raízes jovens 10 g) foram cuidadosamente lavadas, secas
com papel toalha e mantidas congeladas em nitrogênio líquido até as análises.
Subamostras (4 g) foram picadas em pedaços de aproximadamente 50 mm e
agitadas em 30 mL de metanol acidificado (1% HCl) por 12h a 4 °C. O extrato foi
filtrado em papel Whatman # 42 e diluído 15 x. A análise de compostos fenólicos
totais foi realizada conforme descrito por Silva et al. (2005).
Duração da fase ninfal e taxa de mortalidade
A presença de adultos na tela de náilon foi monitorada diariamente. Sempre
que encontrados, a quantidade e o número de dias após a infestação eram
registrados. A duração da fase ninfal foi determinada através de media ponderada
pelo número de adultos, conforme a fórmula:
Em que:
Yna = Número de adultos encontrados no dia
Zn n+n = Número de dias após a infestação (DAI) + 21 (idade das ninfas no
momento da infestação)
Para a determinação da taxa de mortalidade (TM), a cobertura de palha foi
removida e o número de ninfas contado nas amostragens de raízes. O número de
adultos encontrados no monitoramento diário foi adicionado ao número de ninfas,
e a taxa de mortalidade (%) foi obtida através da fórmula:
TM (%) =
Em que:
TM (%) = Taxa de mortalidade
NN = Número de ninfas
NA = Número de adultos
(Y
na
x Z
n
) + (Y
na
x Z
n+1
) + (Y
na
x Z
n+2
) + … + (Y
na
x Z
n+n
)
Número de adultos
NN + NA
10 n
infas
1 -
TM
(%)
X 100
( )
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As variedades SP80-1816 e RB72454 acumularam compostos fenólicos em
resposta à infestação de cigarrinhas (Figura 1B). A taxa de mortalidade e a
duração da fase ninfal foram significativamente menores nesses genótipos,
confirmando a susceptibilidade dos mesmos à cigarrinha (Figura 2).
Os veis constitutivos desses compostos foram maiores na variedade
SP83-5073, porém não houve efeito da infestação da praga no teor de fenóis
nessa variedade (Figuras 1A, 1B).
Silva et al. (2005) mostraram que veis mais elevados de fenóis
parecem estar envolvidos com alguma tolerância da variedade SP86-42 a M.
fimbriolata, porém estes autores não apresentam dados de biologia do inseto para
sustentar a hipótese. Na presente pesquisa, a taxa de mortalidade e a duração da
fase ninfal foram significativamente mais altas na variedade SP83-5073, indicando
a possibilidade do envolvimento de um mecanismo de resistência do tipo antibiose
(Figura 2).
Estudos anteriores demonstraram que diferenças nos teores e
nos tipos de compostos fenólicos em genótipos de cana-de-açúcar resistentes e
suscetíveis a um coleóptero-praga de raízes (Nutt et al., 2004). No presente
estudo, as variedades SP80-1816 e RB72454 mostraram acumular fenóis nas
raízes quando atacadas por ninfas de M. fimbriolata. Por serem suscetíveis, é
possível que o próprio dano causado pela praga tenha sido responsável pela
produção de fenóis das raízes. Durante a morte celular, o conteúdo do vacúolo,
rico em compostos fenólicos e proteinases, é liberado. À medida que as
proteinases desdobram outras proteínas, são liberados aminoácidos aromáticos
(fenilalanina, tirosina e triptofano), os quais têm peso sobre o teor de fenóis
(Buchanan et al., 2000).
Figura 1. Médias dos teores de compostos fenólicos totais nos diferentes
tratamentos. Letras maiúsculas comparam médias dentro de tratamentos e letras
minúsculas comparam médias entre tratamentos.
Existem também relatos de que plantas que acumulam maiores teores de
fenóis favorecem o desenvolvimento de pragas (Ghumare & Mukherjee, 2003;
Beninger et al., 2004). No presente estudo foram encontrados mais sintomas de
estresse nas variedades suscetíveis, que também acumularam maiores
quantidades de compostos fenólicos. As larvas de um lepidóptero desenvolveram-
se melhor em ramos intactos de plantas previamente atacadas de Betula
pubescens, indicando uma suscetibilidade sistêmica induzida (Lempa et al., 2004).
A
B
B
350
400
450
500
550
600
650
700
750
SP80-1816 RB72454 SP83-5073
Variedade
ug catequina /g massa fresca .
Bb
Ba
Ba
Bb
Aa
Aa
350
400
450
500
550
600
650
700
750
Controle 10 ninfas/planta
vel de infestação
ug catequina /g massa fresca .
SP80-1816 RB72454 SP83-5073
Ba
Ba
Ba
Bb
Ba
Ba
Ba
Bb
Aa
Aa
Aa
Aa
350
400
450
500
550
600
650
700
750
8 17 39 68
Dias após a infestação
ug catequina /g massa fresca .
SP80-1816 RB72454 SP83-5073
Aa
Ba
Ba
Ba
Ab
Aa
Aa
Aa
350
400
450
500
550
600
650
700
750
8 17 39 68
Dias as a infestação
ug catequina /g massa fresca .
Controle 10 ninfas/planta
A B
C
Figura 2. Correlações entre os teores de compostos fenólicos totais, taxa de
mortalidade e duração da fase ninfal da cigarrinha-das-raízes.
Kudo (2003) relatou menor susceptibilidade à herbivoria em Salix
miyabeana com teores constitutivamente elevados de compostos fenólicos.
Correlações significativas foram encontradas entre a rigidez de folhas e a
concentração de fenóis, explicando em parte a maior tolerância de genótipos com
elevadas concentrações desses compostos. Essa correlação não foi estudada em
raízes de cana de açúcar. Entretanto, é possível que a morfologia das raízes
tenha influência na reação das variedades de cana-de-açúcar à cigarrinha-das-
raízes, independentemente de sua relação com o teor de compostos fenólicos.
A cigarrinha Philaenus spumarius, assim como M. fimbriolata, alimenta-se
principalmente da seiva xilemática. A saliva secretada por essa espécie forma
uma estrutura envolvente entre o estilete e o tecido vegetal, a qual contém
SP83-5073
RB72454
SP80-1816
y = 0.0013x + 0.0788
R
2
= 0.9555
350
400
450
500
550
600
650
700
750
0 20 40 60 80
Taxa de mortalidade (%)
ug catequina / g massa fresca .
SP83-5073
RB72454
SP80-1816
y = 0.0141x - 0.4005
R
2
= 0.9938
350
400
450
500
550
600
650
700
750
35 36 37 38 39 40 41
Duração da fase ninfal
ug catequina / g massa fresca .
SP83-5073
RB72454
SP80-1816
y = -1.156x + 68.948
R
2
= 0.9129
0
20
40
60
80
0 10 20 30 40 50
Acúmulo de compostos fenólicos (%)
Taxa de mortalidade (%) .
SP80-1816
RB72454
SP83-5073
y = -0.113x + 40.599
R
2
= 0.9728
35
36
37
38
39
40
41
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Acúmulo de compostos fenólicos (%)
Duração da fase ninfal (dias) .
B
C
A
D
compostos derivados de tanino e outros fenilpropanóides (Crews et al., 1998). É
possível que fenóis oriundos do tanino tenham algum peso nos níveis superiores
desses compostos observados nas variedades SP80-1816 e RB72454 sob
infestação de cigarrinhas, o que reforça a hipótese de que o acúmulo de fenóis
nesses genótipos susceptíveis esteja mais relacionado à alimentação das ninfas
do que a um mecanismo de defesa a base de fenóis.
CONCLUSÕES
O acúmulo de compostos fenólicos nas variedades SP80-1816 e RB72454
quando infestadas com M. fimbriolata pode estar relacionado à morte e
decomposição de tecidos das raízes atacadas pelos insetos. A taxa de
mortalidade relativamente baixa e a duração da fase ninfal nesses genótipos
confirmam a susceptibilidade dos mesmos à cigarrinha-das-raízes.
Os veis de compostos fenólicos constitutivamente altos na variedade
SP83-5073 podem estar envolvidos num mecanismo de resistência do tipo
antibiose, resultando em maior mortalidade e duração da fase ninfal.
Novas investigações podem confirmar a resistência da variedade SP83-
5073 às cigarrinhas e determinar o papel dos compostos fenólicos na interação
dessa praga com a cana-de-açúcar.
O teor de compostos fenólicos totais não é um parâmetro preciso para
identificar a resistência genotípica de cana-de-açúcar à cigarrinha-das-raízes.
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