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UNIVERSIDADE SEVERINO SOMBRA
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL
Eduardo Marconi Angelucci Pádua
DA RECREAÇÃO ELITIZADA AO ESPETÁCULO POPULAR:
A TRAJETÓRIA DO VOLEIBOL BRASILEIRO
1911 - 1995
Vassouras
2007
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Eduardo Marconi Angelucci Pádua
DA RECREAÇÃO ELITIZADA AO ESPETÁCULO POPULAR: A TRAJETÓRIA DO
VOLEIBOL BRASILEIRO
1911 - 1995
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado em História da Universidade Severino
Sombra para obtenção do título de mestre
Professora Orientadora: Lúcia Silva
Vassouras
2007
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PÁDUA, Eduardo Marconi Angelucci.
Da recreação elitizada ao espetáculo popular: a trajetória do Voleibol Brasileiro –
1911 a 1995
N de paginas: 127
Dissertação (mestrado) – Universidade Severino Sombra, Vassouras-RJ, 2007.
Palavras chaves: voleibol, gestão administrativa, Nuzman.
Orientadora: Lúcia Silva
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DA RECREAÇÃO ELITIZADA AO ESPETÁCULO POPULAR: A TRAJETÓRIA DO
VOLEIBOL BRASILEIRO
1911 - 1995
Dissertação apresentada por Eduardo Marconi Angelucci Pádua para obtenção do
título de mestre em história
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________
Lúcia Helena Pereira da Silva – presidente
__________________________________________________
1º examinador – Miridan Britto Knox Falci
___________________________________________________
2º examinador – Carlos Nazareno Ferreira Borges
Vassouras
2007
5
DEDICATÓRIA
À Deus por mostrar-me que tudo posso através do seu amor.
À minha orientadora Lúcia por acreditar em uma idéia e incentivar a
defesa de um sonho.
Aos meus colegas de curso, especialmente, às minhas amigas Alice e
Eliana.
Aos demais professores.
6
“Nosso cérebro é o melhor brinquedo que já inventaram”.
Nele se encontram todos os segredos, inclusive o da
felicidade”.
Charles Chaplin
7
AGRADECIMENTOS
À Deus, principalmente, pela benção da capacidade, ao
meu filho Gabriel por acrescentar felicidade aos meus dias,
à minha esposa Débora pela compreensão e incentivo,
aos meus pais e familiares pelo eterno amor e carinho.
8
RESUMO
O esporte que mais se desenvolveu no Brasil nestas três ultimas décadas foi o
Voleibol. O presente Estudo consiste na investigação da história do Esporte
Moderno, utilizando o Voleibol brasileiro como tema do estudo, abordando sua
trajetória e os fatos marcantes ocorridos desde a sua chegada ao Brasil, em 1911 e,
principalmente a partir da criação da Confederação Brasileira de Voleibol, em 1954,
até o final da gestão de Carlos Arthur Nuzman (1975 à 1995).
Baseado em estudos de fontes primárias, em jornais da época, em depoimentos e
bibliografias afins, o trabalho caracteriza a constituição do campo, segundo Pierre
Bourdieu, desse esporte moderno, as influências dos mecanismos, do capitalismo
na ascensão da modalidade (industria do entretenimento), em toda sua trajetória.
Procuramos compreender as transformações e fases ocorridos nesse período, onde
o Vôlei antes restrito a uma pequena elite que o praticava como recreação em
clubes sociais, a uma massificação e popularização do esporte como espetáculo.
Foi analisado também as participações da Seleção Brasileira Masculina em
competições internacionais – campeonatos mundiais e jogos olímpicos –
possibilitando a compreensão da contribuição de cada gestão da instituição máxima
do Vôlei Brasileiro.
9
ABSTRACT
The sport that more was developed in Brazil in these three you finish decades was
the Voleibol. The present Study it consists of the inquiry of the history of the Modern
Sport, using the Brazilian Voleibol as subject of the study, approaching its the
marcantes trajectory and facts occurrences since its arrival to Brazil, in 1911 e,
mainly from the creation of the Brazilian Confederation of Voleibol, in 1954, until the
end of the management of Carlos Arthur Nuzman (1975 to the 1995). Based in
studies of primary sources, in periodicals of the time, similar depositions and
bibliographies, the work characterizes the constitution of the field, according to Pierre
Bourdieu, of this modern sport, the influences of the mechanisms, the capitalism in
the ascension of the modality (industria of the entertainment), in all its trajectory. We
look for to understand the transformations and phases occurred in this period, where
the before restricted Vôlei to the small elite who practised it as recreation in social
clubs, to a massificação and popularização of the sport as spectacle. The
participation of the Masculine Brazilian Election in international competitions were
analyzed also - world-wide championships and olímpicos games - making possible
the understanding of the contribution of each management of the maximum
institution of the Brazilian Vôlei.
10
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Campanha do Brasil no Campeonato Mundial do Brasil 1960...............59
TABELA 2: Campanha do Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio 1964...................63
TABELA 3: Campanha do Brasil no Campeonato Mundial da Tchecoslováquia
1966......................................................................................................66
TABELA 4: Campanha do Brasil nos Jogos Olímpicos da Cidade do México
1968......................................................................................................67
TABELA 5: Campanha do Brasil no Campeonato Mundial da Bulgária
1970....................................................................................................69
TABELA 6: Campanha do Brasil nos Jogos Olímpicos de Munique
1972..................................................................................................72
TABELA 7: Campanha do Brasil no Campeonato Mundial do México
1974....................................................................................................74
TABELA 8: Campanha do Brasil nos Jogos Olímpicos de Montreal
1976..................................................................................................81
TABELA 9: Campanha do Brasil no Campeonato Mundial da Itália
1978..................................................................................................83
TABELA 10: Campanha do Brasil nos Jogos Olímpicos de Moscou
1980..................................................................................................84
TABELA 11: Campanha do Brasil nos Jogos Olímpicos de Los Angeles
1984..................................................................................................92
TABELA 12: Campanha do Brasil no Campeonato Mundial da França
1986..................................................................................................96
TABELA 13: Campanha do Brasil nos Jogos Olímpicos de Seul de
1988................................................................................................99
11
TABELA 14: Campanha do Brasil no Campeonato Mundial do Brasil
1990................................................................................................101
TABELA 15: Campanha do Brasil nos Jogos olímpicos de Barcelona de
1992................................................................................................103
TABELA 16: Campanha do Brasil no Campeonato Mundial da Grécia
1994................................................................................................107
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................14
CAPÍTULO 1: UMA RETROSPECTIVA DO VÔLEI ENQUANTO ESPORTE NO
BRASIL...............................................................................................22
1.1 O ESPORTE MODERNO.....................................................................................22
1.2 O ESPORTE MODERNO: DO AMADORISMO À PROFISSIONALIZAÇÃO
ESPORTIVA.........................................................................................................23
1.3 HISTÓRIA DO VOLEIBOL NO MUNDO: DE ESPORTE DE ELITE À
POPULARIZAÇÃO............................................................................................27
1.4 A EMERGÊNCIA DO VOLEIBOL NO BRASIL.....................................................41
1.5 A VIDA URBANA E AS FASES DO ESPORTE NO BRASIL...............................46
1.6 DIFUSÃO DO VOLEIBOL NO PAÍS.....................................................................47
CAPÍTULO 2: DA PRÁTICA À INSTITUCIONALIZAÇÃO........................................51
2.1 DA ENTIDADE E SEUS FINS..............................................................................53
2.2 FEDERAÇÃOES ESTADUAIS.............................................................................55
2.3 AS PRIMEIRAS COMPETIÇÕES INTERNACIONAIS.........................................57
2.4 O MARCO DA DESCENTRALIZAÇÃO - “O MUNDIAL NO BRASIL”..................57
2.5 O “ROMANTISMO” - O VOLEIBOL NAS DÉCADAS DE 60 E
70.......................................................................................................................60
CAPÍTULO 3: A ERA NUZMAN................................................................................75
3.1 UM POUCO DA BIOGRAFIA DE NUZMAN.........................................................78
3.2 A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA................................................................79
13
3.3 A TÃO SONHADA MEDALHA OLÍMPICA: A GERAÇÃO DE
PRATA...............................................................................................................91
3.4 O ÁPICE DO SUCESSO – O OURO OLÍMPICO...............................................103
4CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................111
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... .........115
6 ANEXOS...............................................................................................................120
14
1 INTRODUÇÃO
O presente Trabalho consiste na investigação da história de um esporte moderno,
utilizando o voleibol brasileiro como tema do estudo abordando sua trajetória
ressaltando os fatos marcantes ocorridos principalmente a partir da criação da
Confederação Brasileira de Voleibol em agosto de 1954, no Rio de Janeiro, e
analisando mais amiúde a gestão de Carlos Arthur Nuzman (1975 a 1995) à frente
dessa Instituição, buscando compreender as mudanças ocorridas nesse período que
acarretaram na popularização do Vôlei no país.
A complexidade do mundo contemporâneo, o crescente e rápido processo de
individualização do sujeito urbano, o acelerado ritmo das modificações tecnológicas
tem diminuído o poder seletivo da memória, ou seja, a capacidade de eleição do que
é ou não importante armazenar formando uma sociedade do esquecimento
1
. Há que
preservar a memória que representa a presença do passado no presente com
bastante sentimento. Não pretendemos nesse Projeto apenas agrupar dados e
experiências individuais, mas, fundamentalmente, preservar a história do esporte
que mais cresce no país, e 2º na preferência nacional, segundo pesquisa
encomendada pela CBV ao IBOPE 2002 só perdendo em popularidade para o
futebol.
A história recente do voleibol tem sido marcada por uma crescente
profissionalização, espetacularização e mercantilização. As recentes conquistas da
seleção brasileira masculina – bi-campeã olímpica, bi-campeã mundial e hexa
campeã da liga mundial – colocam o país em 1º lugar no ranking mundial desse
esporte. Entender esse sucesso é mergulhar de cabeça em sua memória buscando
respostas para entender como esse esporte se massificou nas cidades,
principalmente no Rio de Janeiro, tornando-se popular a seguir em todo o território
brasileiro.
De nota de rodapé das páginas de livros esportivos e historiográficos à espinha
dorsal do meu trabalho procuro pesquisar a trajetória do voleibol nacional, em
especial o selecionado masculino e sua ascensão internacional, voltando os
holofotes para este campo, nascido na interface da Educação Física e a História.
1
Fenelon, DEA. (ORG). Muitas memórias, outras historias – SP. Olho D’água, 2004, pg. 06.
15
Ligado à história social do voleibol no Brasil, pesquisaremos a instituição CBV
(Confederação Brasileira de Voleibol) principalmente durante a gestão Nuzman -
1975 a 1995.
Analisaremos como essa gestão ajudou a fazer a história do esporte no Brasil. A
opção do diálogo com a CBV, objeto do estudo e local das fontes primárias decorreu
da minha preocupação constante de compreender a atuação do dirigente Nuzman à
frente da instituição, e seu esforço na materialização de suas idéias quanto à
profissionalização do esporte e parcerias privadas e públicas.
A documentação disponível nos arquivos da Confederação Brasileira de Voleibol
viabiliza o estudo do tema junto a outras fontes, principalmente jornais da época e
revistas especializadas, no sentido de investigar as diversas fases do voleibol
enquanto prática esportiva/social no Brasil.
O processo de institucionalização do voleibol no Brasil ocorrido com a fundação da
CBV em 1954, ressaltando a gestão de Carlos Arthur Nuzman – 1975 a 1995. Isso
significa dizer que para darmos conta desta gestão temos que estudar o processo
histórico que envolveu a introdução da prática deste esporte no país, sua
popularização e sua relação com um modo de viver urbano, mais especificamente
no Rio de Janeiro, para entendermos a massificação deste esporte ocorrida nas
décadas de 80 e 90.
Essa gestão caracterizou-se pelo aspecto empresarial dado a instituição tratando o
esporte voleibol como um grande negócio, principalmente para a mídia que o
transformou em um produto de grande sucesso.
Dentro da minha formação voltada para o esporte, especialmente o voleibol - como
ex-atleta e técnico nível 2 pela CBV - e na educação física, como professor
universitário da cadeira voleibol, encontrei uma lacuna dentro da historiografia que
trata os esportes que não estão relacionados ao futebol. Diante desta lacuna optei
por perscrutar a história da prática social deste esporte.
A grande transformação e “viradas”, como denominaremos no trabalho do Voleibol
no Brasil deu-se a partir de 1975, quando Carlos Arthur Nuzman assumiu a
presidência da CBV, tendo influência diretamente sobre as recentes conquistas das
16
seleções nacionais no âmbito internacional, a grande exposição da imagem da
modalidade, o nível de organização das entidades responsáveis em relação a outras
modalidades de esporte coletivo, o grande número de praticantes e pessoas
envolvidas nesse fenômeno, entre outras questões referentes à modalidade faz com
que este estudo seja necessário para entendimento sobre o processo realizado a
partir de sua posse à frente da CBV, possibilitando a compreensão da contribuição
dada pelo Carlos Nuzman ao voleibol nacional/mundial, o que vai ilustrar
efetivamente a história do esporte no Brasil, permitindo interpretações de seus
processos e caminhos no decorrer do tempo, lançando luz nas discussões
contemporâneas, contribuindo para as tendências futuras do esporte.
Tentaremos nesse trabalho, contribuir para os estudos historiográficos sobre a
história da prática do Vôlei no Brasil, investigando e identificando as diversas fases
do esporte moderno no país, as viradas do voleibol especificamente, e da instituição
CBV, suas gestões administrativas, principalmente aquela que foi de 1975 a 1995.
Analisar e compreender a contribuição de Carlos Arthur Nuzman à frente da CBV
para as mudanças no voleibol e como essas afetaram o esporte Voleibol no país,
refletindo sobre as relações do habitus e do campo social tendo como elemento de
análise essa modalidade esportiva, é um dos principais objetivos do trabalho.
Pierre Bourdieu preconiza uma forma particular de entender o esporte moderno.
Para ele, as manifestações que compõem o fenômeno esportivo ocupam um espaço
de práticas sociais chamado de campo, no qual se atribuem posições compatíveis
com o capital social, econômico ou cultural de cada componente. No interior desse
espaço, existem formas de disputas, lutas e concorrência na busca pela hegemonia
de determinadas práticas, além da distinção social das pessoas envolvidas,
conforme o seu potencial de poder simbólico.
Para o esporte moderno, Bourdieu reserva a caracterização de “uma representação
sociocultural, introjetada na formação da sociedade, que respeita os contornos da
lógica mercantil estabelecida no universo das relações humanas”
2
. Nesse sentido, o
autor define que o principal responsável pelo movimento dessa engrenagem é a
relação construída entre a oferta e a demanda por determinadas práticas culturais. O
2
BOURDIEU, Pierre. A Gênese dos conceitos de habitus e campo. In: -.O poder simbólico..., p.67.
17
conjunto dessas relações pode ser comparado, analogicamente, aos pressupostos e
leis que regem o mercado de produtos e consumidores. Pode-se incluir nessa
análise o estabelecimento de processos de concorrência nas configurações ou
campos sociais.
O esporte é tido como um produto que respeita e reflete as estratégias
mercadológicas que a sociedade moderna define por conta das inúmeras formas de
intervenção e inserção social. A dinâmica implementada nesse campo goza de certa
autonomia, pois, segundo o autor, cada campo constrói as próprias leis funcionais,
sua cronologia específica e seus objetos de disputa, que refletem posições sociais e
estilos de vida.
Bourdieu entende que, para discutirmos o desenvolvimento das modalidades
esportivas, temos que tê-las inseridas no processo de mercantilização, o qual
determina as estruturas constituintes da sociedade e as relações que são
estabelecidas no interior dos campos. Assim sendo, o surgimento, as
transformações e a evolução dos esportes são estudados a partir de uma proposta
de leitura da história estrutural das modalidades.
A análise da constituição dos campos do esporte moderno deve estar associada,
diretamente, ao espaço social em que as manifestações esportivas construíram suas
estruturas.
Em termos bourdianos, os conjuntos de disposições que eram exigidas pela
estrutura que se formava para a modalidade, ou seja, para estar inserido nesse
campo das pessoas envolvidas eram cobradas determinadas representações
sociais. Dessa forma, o voleibol passaria a exigir um perfil, ou melhor, um capital
cultural, social e econômico específico que reflete uma disposição, inicialmente
estável, à qual Bourdieu chamou de habitus afirmando que o uso desta antiga
palavra permite a aproximação ao que conhecemos por hábito, porém,
diferenciando-o em um ponto considerado essencial. Habitus é algo adquirido e
encarnado no corpo de forma durável e com o contorno de disposições
permanentes. Podemos incluir no conceito a visão histórica, ou melhor, habitus
estaria ligado à história individual, considerando que a noção pressupõe uma
propriedade, um capital adquirido. Por outro lado, hábito é tido num sentido
18
repetitivo, mecânico, automático e meramente reprodutivo.
O esporte de auto rendimento, também conhecido pela expressão “esporte-
espetáculo” ou espetacularizado abriga a característica central desta manifestação
hoje, ou melhor, sua tendência mais marcante, qual seja, a transformação do
esporte em mercadoria veiculada pelos meios de comunicação de massa.
A espetacularização do esporte constitui hoje um sistema que possui uma massa
consumidora que financia, junto com os meios de comunicação parte do esporte-
espetáculo.
Num esforço de síntese, podemos dizer que o esporte transformado em mercadoria
ou mercantilizado tende, a nosso ver, a assumir – como já acontece em maior
escala em outros países, principalmente nos EUA – as características dos
empreendimentos do setor produtivo ou de prestação de serviços capitalistas, ou
seja, empreendimentos com fins lucrativos, com proprietários e vendedores de força
de trabalho, submetidos às leis do mercado. Isso se reflete nos apelos cada vez
mais freqüentes à profissionalização dos dirigentes esportivos, tão defendidos por
Nuzman, e na administração empresarial dos clubes.
Resgatar o processo histórico relacionado à evolução do voleibol no nosso país é
tomar conhecimento desse esporte e de sua relação com o contexto em que foi
criado, institucionalizado e popularizado. O esporte, principalmente o de alto
rendimento ou espetacularizado, parece ser tão facilmente instrumentalizável
politicamente pelo poder institucionalizado.
Nos países capitalistas a organização esportiva via-de-regra define-se como uma
organização da sociedade civil de caráter privado. No entanto, ela esta sujeita ao
quadro legal mais geral estabelecido pelo estado, que vai então lhe determinar o
grau de autonomia de administrativa e política. No Brasil segundo Manhães (1986),
a relação entre estado e organização esportiva assumiu durante a ditadura do
estado novo um caráter corporativista que persistiu até o fim da ditadura militar do
pós-64. A relação corporativista, segundo o autor, é caracterizada por uma
imposição das regras por parte do estado autoritário, fazendo retroceder ao mínimo
o grau de autonomia das instituições esportivas. Foi nesse contexto que emerge a
Confederação Brasileira de Voleibol, designada pela sigla CBV, na cidade do Rio de
19
Janeiro em 1954, assumindo como primeiro presidente o Sr. Denis Hattaway (ART.
1 – Estatuto 54).
Por contexto histórico entendemos as relações entre os aspectos econômicos,
políticos, sociais e culturais evidenciados numa determinada sociedade, num
determinado momento histórico.
Com isso, devem ser consideradas também, na sua história, as questões
específicas “desse” esporte: o seu uso na Educação Física no processo de
construção de uma política nacional de desenvolvimento e sua relação com outras
instituições, tais como a Juventude Brasileira e o Exército.
Mas, apesar da busca da totalidade, sabemos que o processo histórico no qual
esporte inseriu-se foi determinado a partir da visão de mundo transmitida pelos
grupos sociais que se mantinham hegemônicos e conseqüentemente detinham o
poder político necessário para efetivação de suas idéias naquele momento. Parece-
nos claro que as relações da organização esportiva e o processo de
institucionalização do voleibol no Brasil com o Estado assumem essas
características.
Para entendermos como as instituições esportivas, em particular estudo a CBV, se
apresentam nas três últimas décadas temos de referir –mos ao processo de
mercadorização do esporte principalmente a partir do desenvolvimento e
envolvimento dos meios de comunicação de massa, mais especificamente, a
televisão.
Esse processo vai provocar duas mudanças profundas na CBV a partir da década
de 80:
- Uma diferenciação interna em, por um lado, o esporte de alto rendimento
ou espetáculo-representado pelas seleções nacionais e por outro, o
esporte enquanto atividade de lazer.
- Uma superação da forma organizacional inicial baseada na associação,
com base voluntária, para uma forma gerencial /empresarial de Gestão
privada e apoio estatal como apresenta como modelo a Era Nuzman.
20
O voleibol vai organizar-se a partir dos princípios econômicos urgentes na economia
de mercado – situa-se no plano da transformação da cultura em mercadoria, é parte
do que se chama de industria do entretenimento.
Interessante é, no entanto, que as instituições e organizações esportivas mesmo no
capitalismo avançado mantém laços estreitos com o Estado. É que as instituições
passaram a cumprir funções públicas nas quais o Estado tem interesse. Isso
significa que autonomia das organizações esportivas, nesse caso será uma
autonomia controlada com o Estado dando reconhecimento institucional e monopólio
da representação dos interesses do grupo assim como é o Estado que delega elas
um conjunto de funções públicas.
Examinando as imagens do voleibol encontramos no imaginário um vínculo à
memória social. Este imaginário social, produzido a partir dos indivíduos é complexo,
dinâmico e processual. De outro modo tem sutilezas, reentrâncias e saliências,
dobras e ondulações, e não está dado de maneira definitiva, ao contrário, está em
construção. Cabe ao historiador buscar e investigar como um detetive, os indícios
que estas imagens que estavam iluminadas podem, de uma geração para a outra,
ser lançadas na sombra e vice-versa. A “Geração de Prata” do Vôlei Brasileiro
comandada por Bernard e Cia. Foi, sem dúvida a precursora de todo esse sucesso
que o voleibol Brasileiro atravessa. E quem foi a precursora da geração de prata? A
geração de Moreno e Cia sem dúvida, que apesar de modestos resultados
internacionais na década de 60 e 70 dava os primeiros passos para uma futura
evolução do voleibol masculino.
A noção fundamental é que, sem transmissão, a memória social e esportiva não se
constitui. A transmissão, portanto, implica a atualização da memória. Nesse sentido,
segundo Mário Chagas, 2003, memória e preservação aproximam-se. Preservar,
segundo o autor, é ver antes o perigo de destruição, valorizar o que está em perigo e
tentar evitar que ele se manifeste como acontecimento fatal.
3
Entender o sucesso do voleibol é preservar a memória das gerações de Bebeto e
Moreno, Bernard e Cia, Jaqueline e Isabel, Ana Moser e Cia. Assim a preservação
participa de um jogo permanente com a destruição, um jogo que se assemelha,
3
CHAGAS, Mário (orgs) – Memória e Patrimônio. Rio de Janeiro. DP & A, 2003.
21
totalmente, ao da memória com o esquecimento.
A adoção de procedimentos, resultantes da deliberação de vontade individual ou
coletiva, visando à preservação de bens tangíveis ou intangíveis, constitui o que
Mário Chagas, 2003 – pág. 164, chama de política de preservação. Trata-se, em
verdade, da prática social que pode ser identificada, de modo particular nos
esportes, na história do voleibol no Brasil.
Se aquilo que se preserva é concebido como suporte de informação e como
ferramenta passível de ser utilizada para transmitir ou ensinar algo a alguém pode
se falar em documento e memória. Nesse caso, Mário Chagas afirma que também
pode se falar em política de memória. Gostaria, humildemente, que este trabalho
contribuísse para a política de memória esportiva no Brasil, se é que esta é
valorizada.
22
CAPÍTULO 1
1 UMA RETROSPECTIVA DO VÔLEI ENQUANTO ESPORTE NO BRASIL
Para entender como o esporte chegou ao Brasil, é necessário conhecermos um
pouco da história do esporte moderno e de como ele se formou no mundo, tendo
como pano de fundo para o nosso trabalho o voleibol.
Neste capítulo, procuramos resgatar a prática deste esporte desde a sua introdução
até a sua institucionalização com a fundação da Confederação Brasileira de Voleibol
– CBV, em 1954.
1.1 O ESPORTE MODERNO
Na história dos esportes, podemos ressaltar momentos em que eles foram
identificados como instrumentos disciplinadores da juventude, responsáveis pela
construção do conceito de cidadania aliado pelo espírito nacionalista e pelo civismo.
Como tal, o esporte pode refletir as inter-relações da estrutura econômica, política e
ideológica da sociedade capitalista.
O voleibol desenvolveu-se por conta de uma trajetória pautada na criação de um
jogo moderno, com características específicas para atender aos anseios de um
determinado grupo social - homens de negócio - passando pelo discurso de
componente da formação integral na Educação Física escolar, chegando aos dias
atuais, onde encontramos equipes de competição inseridas na profissionalização do
esporte.
Ao analisarmos a origem do voleibol, veremos que fica evidenciado que o berço do
esporte foi uma emergente sociedade capitalista, especificamente, em uma
associação representativa da comunidade cristã norte-americana. Esse quadro é
distinto do originário de outras modalidades, basicamente eurocêntrica.
Pierre Bourdieu preconiza uma forma particular de entender o esporte moderno.
Para ele, as manifestações que compõem o fenômeno esportivo ocupam um espaço
de práticas sociais chamado de campo, no qual se atribui posições compatíveis com
capital social, econômico ou cultural de cada componente. No interior desse espaço,
23
existem formas de disputas, lutas e concorrência na busca pela hegemonia de
determinadas práticas, além da distinção social das pessoas envolvidas, conforme
seu potencial de poder simbólico.
4
1.2 O ESPORTE MODERNO: DO AMADORISMO À PROFISSIONALIZAÇÃO
ESPORTIVA
Ao delinear a progressão do conceito de esporte, nota-se que o esporte
contemporâneo evoluiu e tem marcado presença na sociedade denominada urbano-
industrial, além de se adaptar às transformações políticas, econômicas e sociais
pelas quais a sociedade passou. Logo, tais implicações afetam o âmbito geral tanto
que Foucault (1993) comenta que o nascimento do esporte está relacionado com a
consciência que a burguesia desenvolveu a partir do século XIX, quando percebeu
que poderia melhorar a produtividade de suas indústrias, motivando seus
trabalhadores a praticarem esportes. Com isso, contornava os problemas de saúde
de seus funcionários, o que lhes causava baixas freqüentes. Com a industrialização,
os centros urbanos se tornaram os pólos de emprego, atraindo muitas pessoas.
Assim, sem estrutura adequada, esses lugares rapidamente se transformaram em
foco de poluição, enfermidades, falta de saneamento e condições de moradia. Em
suma, o ambiente externo era precário.
5
Sobre a burguesia, pode-se ressaltar que, em sua emergência, tomou emprestado
das classes populares algumas formas desportivas rudimentares, como o futebol, e
da aristocracia, os jogos de campo, como a caça e críquete, e, especialmente,
padrões de comportamento, já que toda conduta que fugia às regras cortesãs era
terminantemente rejeitada. Dessa maneira, as convenções e a etiqueta, na
realização dos jogos, eram observadas ainda mais rigorosamente, daí a origem da
expressão fair play. Durante grande parte do século XIX, gentleman (cavalheiro) e
amateur (amador) tornaram-se sinônimos de distinção social e de classe.
4
Explanações mais amplas sobre o tema são encontradas na seguinte obra do autor: Coisas ditas.
São Paulo: Brasiliense, 1990.
5
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1993.
24
A burguesia rapidamente percebeu que a produtividade tinha a ver com a saúde.
Disfarçada de preocupação com a população, a real intenção era lucrar mais com
uma população mais sadia. Desse modo, González (1993) ressalta também este
aspecto, comentando que a preocupação com as repercussões econômicas
advindas dos problemas de saúde estava relacionada ao funcionamento total dos
serviços públicos e privados. Para isso, é necessário dispor de pessoas que estejam
preparadas para colocar essas ações em prática.
Como fenômeno social, o esporte resulta das inter-relações entre economia, política
e ideologia capitalistas. Conforme Hobsbawm, o profissionalismo possibilitou a
construção de uma cultural esportiva capaz de relacionar as interfaces dos aspectos
político e social. Assim, os esportes de massa foram uma das manifestações
essenciais no processo de invenções das tradições do final do século XIX e início do
século XX.
De fato, a extraordinária rapidez com que todas as formas de esporte organizado
conquistaram a sociedade burguesa, entre 1870 e os primeiros anos de 1900,
sugere que o esporte veio a preencher uma necessidade social consideravelmente
maior que a de exercícios ao ar livre. Paradoxalmente, como foi observado, na
Inglaterra, um proletariado industrial e uma nova fração da sociedade, também
conhecida genericamente como classe média, emergiam simultaneamente como
grupos autoconscientes, cujos propósitos eram incompatíveis.
Preliminarmente, para se entender a afirmação hobsbawniana de que a maioria dos
esportes atuais teve origem na Inglaterra, considerando-se as necessidades e
anseios dos aristocratas e, em grande parte, da alta e média burguesia. Parte-se do
fato de que os esportes foram desenvolvidos nas escolas secundárias de elite,
sendo posteriormente levados a public school. Os preceitos da classe média que
revestiam as práticas amadoras foram substituídos no transcorrer do processo de
proletarização dos esportes, consubstanciado, na seqüência, pela manifestação do
profissionalismo. O momento inicial propiciou as facetas elitistas que, em
determinadas modalidades, como o voleibol, haveriam de ser rompidas pela
25
profissionalização e popularização de sua prática.
6
Para contornar esse quadro, tais ações precisaram envolver a promoção de hábitos
higiênicos e dos benefícios do exercício físico, incentivo às recreações populares.
Com a prática esportiva, possibilitou-se a implementação do exercício ginástico e de
outras modalidades nos projetos pedagógicos. Os movimentos juvenis simbolizaram
esse movimento.
Vale destacar que, se, primeiramente o incentivo aos esportes aconteceu com o
intuito de promover a saúde da população trabalhadora, aos poucos, percebendo
que os hábitos esportivos traziam o desenvolvimento da disciplina e da liderança, a
classe burguesa também quis desfrutar desses benefícios.
Diferentemente da recreação, o desenvolvimento do espaço esportivo nas escolas,
conforme González (1993), indicou a necessidade de reformulações estruturais nas
public schools, durante o século XIX. Para preencher o dia dos jovens das classes
dominantes, utilizava-se como pretexto o esporte, que rapidamente foi incluído nos
currículos escolares. Dessa forma, tornou-se um componente da formação desse
segmento, entrando para o rol de disciplina. Para criar esse ambiente receptivo ao
esporte, adotou-se como argumento a formação do caráter através da prática
esportiva, pois os jogos coletivos são realizados com base em regras e cooperação.
Em determinado momento, essas características do esporte logo foram associadas
aos ideais liberais.
No entanto, a igualdade ainda não tinha espaço no esporte, já que a elite era a única
que tinha acesso. Em 1870, o estabelecimento do Ato de Educação permitiu que a
educação física compusesse o rol das disciplinas das escolas primárias. Com isso,
alunos de origens diversas tinham a oportunidade de praticar esporte. Pode-se dizer
que esse foi o primeiro passo para a democratização do esporte.
Para Rubio (2001), isso foi possível graças ao incentivo da prática esportiva nos
estabelecimento de ensino e nas companhias militares. Mais tarde, na Inglaterra, as
organizações de trabalhadores também favoreceram o esporte e suas regras nessa
6
HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). 2.ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995.
26
camada, convertendo-se no modelo de esporte moderno. Percebe-se que o esporte
foi desenvolvido de forma amadora até o momento retratado. No entanto, pouco
modificou até meados do século seguinte, pois muitos esportes ainda não tinham
vencido a barreira do amadorismo, o que pode ser explicado por sua origem
aristocrática, que não via o esporte como uma possibilidade de ascensão social, até
porque não precisavam disso. Como os dirigentes dos clubes eram pertencentes à
aristocracia, estipulou-se que todas as pessoas que exerciam algum tipo de
atividade remunerada não poderiam praticar esporte.
Esta restrição atingia diretamente o proletariado. Quanto a esta questão, Cardoso
(1996) aponta que foi por conta disso que a prática do esporte demorou tanto para
se tornar popularizada. Para ele, tais dirigentes queriam simplesmente afastar os
trabalhadores, por isso criavam obstáculos, tal como o pensamento que partia da
premissa de que a dedicação ao esporte devia ser em tempo integral e
desinteressadamente. Essa era a diferença que colocava de um lado o rico burguês
ocioso e do outro o pobre trabalhador.
Ferrando (1996) comenta que atleta amador também se refere ao atleta que nunca
foi assessorado por treinadores ou técnicos, nem que tenha passado por algum tipo
de treinamento durante sua trajetória esportiva. Ele ainda destaca que, no início do
século XX, era possível observar dirigentes esportivos, incluindo no movimento
olímpico, que enfatizavam a ausência de remuneração como requisito para a prática
esportiva.
Assim, o perfil dos esportistas do século XX podia ser caracterizado por alguns
adjetivos compostos por aspectos como: privilegiado social, econômico e
politicamente, aristocrata. Porém, com o desenvolvimento do comércio em torno do
esporte, a hegemonia burguesa foi colocada em xeque, e abriu-se espaço para
outras camadas sociais, já que o rendimento com os praticantes é o aspecto que
conta, e desse ponto de vista não importa se o esportista é de origem operária ou
aristocrata.
Diante desse processo, a profissionalização do esporte movimentou contratos
publicitários de alto valor, segurança profissional, médica e social, reconhecimento
do esporte como profissão. Para os atletas menos favorecidos, que precisam se
27
dedicar integralmente à prática esportiva, esse fato proporcionou a chance de serem
remunerados.
A profissionalização desencadeou mudanças significativas na organização do
esporte, seja no ângulo institucional seja no ângulo profissional. Além disso, a
atividade competitiva podia ser cobiçada como uma carreira profissional. Nesse
contexto, não bastava ter dinheiro para permanecer, como no momento em que
apenas os aristocratas praticavam o esporte, era preciso habilidade e talento.
A competitividade é cada vez maior no contexto esportivo, forçando a entrada
precoce nos diversos esportes, como é o caso da ginástica olímpica. Isso revela um
padrão, cada vez mais institucionalizado de esporte, que visa à competição em alto
nível. Assim, o atleta que queira continuar fazendo parte de uma equipe, deve ser
condicionado a traçar sua trajetória pessoal até alcançar a excelência esportiva.
Do ponto de vista histórico, a relação do Brasil com o esporte acompanhou a mesma
trajetória desenvolvida pela camada burguesa na Europa, sendo praticado por um
grupo de elite e um amador. Por isso, ao investigar a participação nos jogos
olímpicos, aparece o nome de Raul do Rio Branco, filho do Barão do Rio Branco,
como o primeiro participante brasileiro em 1910, confirmando com isso a
semelhança, ao percurso do esporte europeu. O espírito esportivo chegou por essas
terras trazidos pelos filhos da aristocracia, que completavam seus estudos na
Europa, onde tinham contato com o esporte. Com o início da chegada dos
imigrantes ao Brasil, várias modalidades foram divulgadas.
1.3 HISTÓRIA DO VOLEIBOL NO MUNDO: DE ESPORTE DE ELITE À
POPULARIZAÇÃO
O advento da Revolução Industrial acarretou mudanças profundas não só
relacionadas ao trabalho, como também à vida social das pessoas, principalmente
nas cidades. Se até então o trabalho no campo era a principal fonte de emprego,
com a industrialização a força de trabalho ganhou outras proporções. As cidades
começaram a servir de pólos atrativos para a criação de fábricas. Os indivíduos em
busca de novas oportunidades procuravam os centros urbanos. A força de trabalho
28
gerada era recompensada através de salário. Porém, as longas jornadas de trabalho
afetaram a saúde física e mental dos trabalhadores e, somente com a organização
dos trabalhadores em sindicatos é que essa situação se amenizou.
Esse levantamento se faz necessário pelo fato de retratar a ausência de esporte na
vida dessas pessoas. De acordo com Mandell (1989), o trabalho muitas vezes
mecanizado, repetitivo e estressante fez com que as pessoas que trabalhavam
nessas condições buscassem melhorias e qualidade de vida. As atividades lúdicas,
como o boxe e o beisebol, começaram a ganhar espaço nesses ambientes. Esse
cenário apresentado se refere às conseqüências vivenciadas, principalmente, nos
Estados Unidos. Tais atividades eram realizadas em espaços abertos e nas ruas
entre os funcionários das fábricas.
Sport foi denominação dada a estas atividades. Aliados a esse evento, estão a
expansão dos meios de transportes e o desenvolvimento da imprensa, que
contribuíram para a consolidação do desporto como fato social. A difusão dos
esportes deve-se, em grande parte, aos meios de comunicação que criaram
programações de espetáculos desportivos entre as cidades e regiões que, mais
tarde, alcançaram nível mundial como as Olimpíadas.
As atividades desportivas eram consideradas um lazer. No entanto, durante algum
tempo, foram condenadas por algumas igrejas, principalmente aquelas ligadas ao
protestantismo. Contudo, essa perspectiva começou a se modificar e a criação da
Young Men’s Christian Association (YMCA), denota a mudança onde o esporte se
transformou em símbolo de higiene e bem-estar físico. No Brasil, esta organização
ficou conhecida como Associação Cristã dos Moços (ACM).
No final do século XIX, Laurence Linder, diretor da YMCA na época, propôs o
desenvolvimento de uma atividade desportiva que pudesse ser praticada em
ambiente fechado, devido aos contratempos provocados pelo inverno. James
Naismith, professor dessa instituição, organizou em 1891 um jogo do qual se
originou o basquetebol.
Em 1895, William G. Morgan assumiu a direção do departamento de Educação
Física da YMCA em Holyoke Massachusetts. Ao observar o perfil das classes dos
homens de negócios, Morgan percebeu necessidade de recreação e divertimento
29
para os membros da YMCA. Assim, tinha consciência de que o basquetebol era
mais adequado para os homens mais jovens e, como não havia uma atividade
voltada para os membros mais velhos, pensou na possibilidade de desenvolver
algum tipo de exercício menos bruto ou severo.
7
William G. Morgan, criador do voleibol, recebendo mais tarde uma camisa de Springfield (1ª
apresentação oficial do esporte em 1896) de seus alunos. Faleceu em 1942. Fonte:
Departamento de registros da CBV. Arquivo iconográfico, 2006.
Nesse panorama histórico, no final do século XIX, os americanos praticavam
esportes específicos sazonais. Desse modo, o beisebol era praticado na primavera,
o futebol americano no outono e, sessões de ginástica no inverno, pois as pessoas
buscam se proteger do frio em ginásios fechados. Acredita-se que seja por essas
razões que o basquetebol, uma das atividades recreativas, teve aceitação imediata,
popularizando-se e, tornando-se um dos esportes mais praticados nos EUA.
No entanto, como o próprio Morgan já havia percebido, o basquetebol dispunha de
grande popularidade entre os mais jovens, mas em razão de contatos físicos
intensos, não era o esporte ideal para homens com idade entre 40 e 50 anos. Dessa
maneira, Morgan elaborou um novo jogo para os associados de meia-idade com
base na resolução dessa problemática, ou seja, que fosse menos vigoroso que o
basquetebol e mais atrativo do que os exercícios ginásticos.
Preocupado com estes acontecimentos, ainda em 1895, o professor William Morgan
7
COUVILLON, Art. Sands of time: the history of beach volleyball, v. 2: 1970-1989. United States of
America: Information Guides, 2003.
30
com o intuito de eliminar o contato físico entre os participantes, dividindo o campo
com uma rede, criou o minonette. Anos depois, a YMCA aprimorou a técnica deste
jogo e o denominou volleyball.
Salão da sede da YMCA de Saint Paul, Minnesota nos Estados Unidos. Fonte:
Departamento de registros da CBV. Arquivo iconográfico, 2006.
O voleibol surgiu nos EUA, cujas características atendiam as necessidades de um
determinado grupo social, constituindo-se como um esporte moderno portador de
um conjunto bastante diferente dos esportes originados na Europa. Cabe ainda
destacar que, o voleibol foi fundado levando-se em consideração as leis e estruturas
que estabeleciam as bases da sociedade norte-americana.
A primeira publicação sobre o voleibol surgiu no artigo intitulado "The Original Sport
Of Volley Ball" de 1896, inserido no exemplar de julho da revista Physical Education,
de YMCA de Bufalo, Nova York. Este artigo tratou o esporte da seguinte maneira:
[...] o voleibol é um novo jogo, exatamente apropriado para ginásio ou quadra
coberta, mas pode, também ser praticado ao ar livre. Qualquer número de pessoas
pode praticá-lo. O jogo consiste em conservar uma bola em movimento sobre uma
rede alta, de um lado para outro, e apresenta, assim, as características dos outros
jogos, como o tênis.
8
As descrições apresentadas pelo artigo mencionado correspondem aos
fundamentos essenciais do vôlei, nos quais foram adicionados outros elementos na
modalidade contemporânea.
Segundo Couvillon (2003), a mistura do voleibol de Morgan com elementos do
8
Site <http://www.volei.com/historia.hiscbv.htm>Acesso em: 20 jul. 2005.
31
basquetebol, beisebol, tênis e handebol criou um jogo para suas classes de “homens
de negócios” que desejavam um novo esporte com menos contato físico que o
basquetebol. Contudo, dificuldades, motivadas pela falta de conhecimento sobre
esta modalidade e pelo uso da força, impediram a prática desse esporte por pessoas
de várias idades.
No território americano, os esportes modernos foram desenvolvidos dentro de
processos voltados para as classes dominantes, primeiramente, praticados no
interior dos clubes ou associações e, em seguida, no interior das instituições
escolares, que estimulavam as equipes escolares para competições. No interior
desse contexto, firmou-se uma nova burguesia que buscava superar as restrições
ideológicas e religiosas impostas ao lucro, sem, contudo, perder de vista os
princípios básicos da eminente sociedade de consumo de massa.
De acordo com Marchi Jr., a criação do voleibol seguiu praticamente com
exclusividade a finalidade de atender as necessidades de uma classe dominante em
ascensão. Em sua análise, comenta-se:
"Pela origem do Voleibol e palavras de Morgan referentes aos objetivos e ao público
a ser atingido pela modalidade, percebemos fundamentalmente que o esporte
nasceu respeitando as necessidades de uma elite, qual seja, a elite clubística cristã.
Em momento algum encontramos nos escritos de Morgan alguma menção à
popularização do esporte ou que o Voleibol fosse uma prática desenvolvida além-
clubes. Esse processo ocorreu posteriormente, não se sabe se em concordância
com os preceitos iniciais de seu criador. O que vale registrar é que a burguesia
emergente americana necessitava de uma atividade que poupasse os ”homens de
negócios” dos contatos mais ríspidos e das oscilações climáticas do inverno
americano. [...] na determinação do campo esportivo, um conjunto de disposições
eram exigidas pela estrutura que se formava para a modalidade, ou seja, para estar
inserido nesse campo, das pessoas envolvidas eram cobradas determinadas
representações sociais. Era uma modalidade para os sócios da Associação Cristã
de Moços, preferencialmente profissionais liberais com aproximação aos dogmas
presbiterianos.”
Sobre essa análise da origem abordada por Marchi Jr, as palavras de Bizzocchi
32
apoia a análise descrita acima:
"Apesar da euforia inicial, o voleibol tem uma difusão muito pequena nos anos
subseqüentes. O basquetebol se espalhara por todo o território americano,
ganhando a preferência nacional ao lado do futebol americano e do beisebol,
enquanto o vôlei continuava a ser praticado por grupos de adultos de meia-idade e,
exclusivamente em ambientes fechados”.
9
Adotando esta perspectiva Magnani (2001), tenta diferenciar jogo/brincadeira e
esporte. Para tanto, comenta que o jogo/brincadeira, por sua vez, seria algo
característico das sociedades tradicionais, pré-capitalistas, enquanto que o esporte
“(...) teria surgido ou ao menos se disseminado apenas quando do advento da
burguesia como classe hegemônica no modo de produção capitalista”.
10
Foi este perfil formado por características elitistas que o Voleibol se disseminou,
primeiramente, dentro dos EUA, depois para outros países e continentes. Canadá foi
o primeiro país a recebê-lo em 1900. Um pouco mais tarde inserido em Cuba em
1906 por Augusto York, oficial das forças armadas dos EUA.
Sobre o continente asiático, no caso do Japão, o responsável foi Hyozo Omori que,
em 1908, depois de freqüentar o “Springfield College”, nos EUA, encontrou na
YMCA de Tokio, apoio para desenvolver este esporte. Uma década depois, o Japão
organizou o primeiro campeonato escolar em território.
Já na China, o voleibol começou em 1911, com Max Exner e Howard Crokner, que
fizeram adaptações no jogo, com até 21 pontos e 16 jogadores de cada lado. Nesse
mesmo ano, Elwood Brown (diretor nacional de Educação Física da YMCA na
ocasião) foi convidado pela Divisão de Trabalho Estrangeiro a visitar as Filipinas
com o intuito de promover o voleibol. Dessa maneira, foram organizados os Jogos
do Extremo Oriente em Manila, compostos por times de países asiáticos, como
China, Japão e Filipinas.
No continente europeu, o voleibol desembarcou em 1915 na Normandia e na
9
MARCHI Junior, Wanderley. “Sacando” o voleibol. São Paulo: Hucitec, 2004. p.94.
10
MAGNANI, J. G. C. Antropologia e educação física. In: CARVALHO, Y. M.; RUBIO, K. Educação
física e ciências humanas. São Paulo: Hucitec, 2001. p.19.
33
Britânia pela influência das tropas americanas que lutavam, nesses locais, durante a
1ª Guerra Mundial. Da mesma maneira, os soldados americanos levaram o jogo
para a África, ainda nesse mesmo ano, e em 1917, foi a vez da Itália.
Ainda que esses eventos tenham favorecido a divulgação do voleibol, dois fatos
podem ser destacados: sua inclusão no programa de recreação e atividades físicas
das Forças Armadas norte-americanas em 1914 e nos programas de Educação
Física das escolas americanas.
Bourdieu acrescenta que os responsáveis pela divulgação e expansão dessa prática
eram três das mais representativas instituições americanas da época:
11
- os clubes corporativos cristãos, ou em outras palavras, associações
ligadas à igreja;
- as Forças Armadas, em pleno andamento da 1ª Guerra Mundial na qual os
EUA terminariam vitoriosos e iniciariam aí seu sólido domínio de
propagação de seus modelos culturais;
c) as escolas (incluindo nesse campo as universidades) nada mais são do que um
meio de perpetuação da ordem social estabelecida.
Em suma, diante do levantamento histórico sobre os primeiros anos de história do
voleibol, é possível sintetizar que este esporte emergiu no contexto burguês
americano, cujo propósito era conservar seu estilo de vida e sua representação
social. Porém, isto não impediu que ele se disseminasse enquanto prática social por
outras camadas sociais.
Sobre as mudanças feitas durante o progresso do vôlei, cabe destacar que enquanto
Morgan estava procurando desenvolver um jogo apropriado para o segmento
formado pelos “homens de negócios”, ele considerou a hipótese de difundir o tênis.
No entanto, para isso, seriam necessários raquetes, bolas, rede e outros
equipamentos. Ainda que tenha descartado essa possibilidade, não desistiu de usar
a rede, tanto que ele elevou a altura da rede de tênis até aproximadamente 1,98 m
do solo, levando em consideração a média masculina de altura.
11
BOURDIEU, Pierre . Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 1990.
34
Várias mudanças referentes a este esporte podem ser ressaltadas desde sua
elaboração por Morgan. Primeiramente, para a prática de vôlei era utilizado um
campo com dimensões de 15,35 metros de comprimento por 7,625 metros de
largura, dividido em dois por uma rede que media 8,235 metros de comprimento por
61 cm de largura. A disputa se dava pela conquista dos 21 pontos.
Livro de regras editado por George Fisher e escrita por W. A. Kearns em 1920.
Cartaz da Spalding oferecendo equipamentos para a prática do voleibol. Fonte:
Departamento de registros da CBV. Arquivo iconográfico, 2006.
Neste momento, Morgan fez diversas experiências para dinamizar o jogo. Dessa
maneira, fez vários testes até chegar à melhor bola para esta atividade, por
exemplo. Assim, recrutou alguns homens e usou uma câmara de bola de basquete,
que por ser muito leve, deixava as ações lentas, especialmente os rebates por cima
da rede. Com essa constatação, passaram a usar bola de basquete, que provou ser
muito grande e pesada, até que se decidiu por uma bola semelhante a que é usada
atualmente. Esta bola era fabricada pela firma A. G. Spalding Brothers.
No momento da apresentação do jogo aos diretores, Morgan informou que volley
ball era um novo jogo adequado para o ginásio ou pátio coberto, mas não destacava
a possibilidade de ser jogado ao ar livre.
Nesse primeiro levantamento sobre a criação do voleibol, podemos ressaltar
algumas peculiaridades diferenciais comparando-o com o surgimento de outras
modalidades esportivas do mesmo período. Assim como o basquetebol, o voleibol
não foi uma prática que com o passar do tempo apresentou um processo de
“desportivização”. Em outras palavras, a modalidade foi inventada como um jogo
35
portador de um conjunto de regras e características que o inseriu no universo dos
esportes. Ele certamente não evoluiu de nenhuma manifestação cultural de jogo,
passatempo ou qualquer outra atividade esportiva. O voleibol é um esporte que foi
inventado nos Estados Unidos, distante e diferentemente do perfil e expectativas das
práticas “desportivizadas” européias, como o futebol na Inglaterra. Nessa linha de
raciocínio, detectamos a possibilidade da existência de uma nova via de criação
esportiva que não exclusivamente a “eurocêntrica”. Dito de outra forma é aceitável a
hipótese de que a constituição dos campos esportivos, especificamente nos países
da América Latina, tenha respeitado não só, mas também, modelos distintos dos
vindos dos esportes batizados em países como Inglaterra, França, Itália e
Alemanha.
Pela origem do voleibol e palavras de Morgan referentes aos objetivos e ao público a
ser atingido pela modalidade, percebemos fundamentalmente que o esporte nasceu
respeitando as necessidades de uma elite, qual seja, a elite “clubística” cristã. Em
momento algum, encontramos nos escritos de Morgan alguma menção à
popularização do esporte ou que o voleibol fosse uma prática desenvolvida além-
clubes. Esse processo ocorreu posteriormente, não se sabe se em concordância
com os preceitos iniciais de seu criador. O que vale registrar é que a burguesia
emergente americana necessitava de uma atividade que poupasse os “homens de
negócios” dos contatos mais ríspidos e das oscilações climáticas do inverno
americano. Nesse ponto, a contribuição de Bourdieu pode ser levantada a partir da
análise de que, na determinação do campo esportivo, um conjunto de disposições
era exigida pela estrutura que se formava para a modalidade, ou seja, para estar
inserido nesse campo, das pessoas envolvidas eram cobradas determinadas
representações sociais. Era uma modalidade para os sócios da YMCA,
preferencialmente profissionais liberais com aproximação aos dogmas
presbiterianos. Em termos bourdianos, os primeiros traços para a constituição de um
habitus esportivo social manifestavam-se com essa caracterização.
“O Vôlei obriga à prática constante de sentimentos superiores sob pena, de quem
não o fizer, de ser excluído como elemento desnecessário e mesmo prejudicial;
naturalmente repelido pelos demais companheiros, interessados no sucesso do
quadro. Sob o ponto de vista social é uma recreação agradável e um processo
36
poderoso de aproximação e de estímulo, incentivando em todos, como esporte
coletivo que é, o espírito de corporação imprescindível à consistência de toda a
organização social. Agrada, diverte e beneficia o indivíduo e à coletividade”.
12
A essas características formativas do habitus, podemos associar outras linhas
delimitadoras. Percebe-se que, para ser um participante desse universo esportivo, o
jogador tinha de apresentar um capital social e cultural específico balizado pela
“prática constante de sentimentos superiores”, pois, se assim não o fosse,
fatalmente seria considerado “um elemento desnecessário e mesmo prejudicial” para
o bom andamento da modalidade. A pergunta é – que tipo de “sentimento superior”
seria exigido por Morgan? Pelo modelo de análise de Bourdieu, inferimos que tais
sentimentos são determinações e especificidades sociais para a composição e a
delimitação de um grupo social que possui no bojo da sociedade americana o poder
econômico e, portanto, decisório nos rumos de seus agentes sociais. Dessa forma, o
voleibol passa a exigir um perfil, ou melhor, um capital cultural, social e econômico
específico que reflete uma disposição, inicialmente estável, à qual Bourdieu chamou
de habitus. De início, a modalidade apresenta-se como uma estrutura respeitadora
de normas constitucionais, porém, com sua aceitação e propagação de um
determinado status social que passa a ser estruturante dos comportamentos e da
ação social de seus componentes.
Como Bourdieu afirma, a constituição de um habitus social implica uma distinção de
classes, e assim sendo, podemos ler na origem do voleibol uma via para a
efetivação dessa premissa sociológica. Morgan apontou o voleibol como um
“processo poderoso de aproximação” que, primando pelas características dos
esportes coletivos, incentiva “o espírito de corporação imprescindível à consistência
de toda a organização social”. No início do livro, tivemos o cuidado e a insistência de
explicitar os objetivos do modelo bourdiano, dentre os quais, proclamar de forma
acessível os mecanismos que repercutem a reprodução social e as principais formas
de dominação ocultas. Aproximando tais objetivos e as palavras de Morgan,
podemos discutir o viés ideológico que o voleibol assumiu através das preposições
de seu idealizador. Qual a preocupação básica ao criar-se uma modalidade
esportiva que possui como característica a aproximação de seus componentes, com
12
BOURDIEU, Pierre. Da regra às estratégias. In: _. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 1990.
p.83-4.
37
o intuito de garantir a corporação e a consistência organizacional de uma sociedade
capitalista em ascensão?
Aqui, deparamos com um foco de análise que permite, por intermédio da teoria dos
campos de Bourdieu, alcançar um dos objetivos traçados inicialmente, ou seja,
transparecer em uma modalidade esportiva as leis estruturais que delimitam um
campo, além de reproduzir a dominação social por meio do perfil exigido de seus
praticantes. Provavelmente, a preocupação com as características exigidas para o
desenvolvimento da nova modalidade estava direcionada para a consolidação de um
grupo dominante, representado na prática e estruturação do voleibol. A priori,
podemos considerar que o voleibol é um esporte que foi inventado a partir dos
interesses de uma elite cristã americana – representação de uma classe burguesa
emergente – e contrastante com os moldes e anseios europeus. Essa elite forjou
agentes de divulgação nas mais diversas formas de intervenção com a perspectiva
de que as estruturas, eventualmente estabelecidas no campo esportivo, fossem
capazes de compor e perpetuar uma representação social.
Quanto às instruções, o jogo consiste em manter a bola em movimento sobre uma
rede elevada, de um lado para o outro, mostrando nesse ponto as características
dos jogos de tênis e de handebol. Inicia-se o jogo por um jogador de um lado
sacando a bola por cima da rede dentro do campo ou quadra adversária. Os
adversários não podem permitir que a bola toque o chão e devem devolvê-la para o
campo do oponente. Assim, a bola vai de um lado e de outro da quadra até uma
das equipes falhar com o retorno da bola ou quando a bola toque o chão. Tal falha
representa um ponto para um lado ou uma vantagem para o outro, dependendo do
lado que estiver com a posse da bola. A partida era composta de nove atletas, cada
lado sacando certo número de vezes, de acordo com as regras estabelecidas.
Em 1918, algumas modificações aconteceram como a entrada de um sexto jogador,
a introdução do rodízio e o aumento da altura da rede para 2,30 metros. Em 1921,
foi utilizada pela primeira vez a marcação de uma linha central pintada na quadra,
originando a falta por invasão do campo adversário.
38
Em 1923, passaram a ser utilizadas redes com 2,43 metros de altura e as medidas
do campo em 18 metros de comprimento por 9 metros de largura. Este padrão é
utilizado até hoje.
É válido reforçar que tais padrões eram reflexos do voleibol praticado pelos homens,
pois não havia regulamentação para as mulheres nem muito menos competições
oficiais femininas. Mais tarde, formalizou-se a altura da rede para cada gênero. A
prática deste esporte por parte das mulheres ganhou visibilidade em meados de
1928, quando o Comitê de Articulação das Regras de Voleibol (Joint Volley Ball
Rules Committee) propôs a criação de uma Associação Nacional Feminina.
Na década de 30, no Japão, o voleibol era praticado de modo diferente, pois as
equipes eram compostas por nove jogadores, não havia o rodízio, e cada equipe
tinha direito a duas tentativas de saque. Quanto às medidas da quadra e da rede,
mediam 24 metros de comprimento por 10 metros de largura e a rede tinha 2,10
metros de altura. O Japão aderiu às regras vigentes para os campeonatos da
Federação Internacional de Volleyball duas décadas depois, em 1950, ficando em
consonância com os outros países membros daquela federação.
A difusão do vôlei pelos continentes, deve-se em grande parte às missões
protestantes protagonizadas pelas YMCAs. Desse modo, o voleibol chegou ao
Canadá, em 1900, e, em seguida, aos países da América Central. Na América do
Sul, o Peru foi o primeiro país a registrar a prática deste esporte, datando, tal fato,
de 1910. Neste país, o vôlei foi introduzido com a ajuda norte-americana no sistema
escolar. Em outros países da América do Sul, as YMCAs desempenharam este
papel com a ajuda das igrejas protestantes, como a Igreja Batista.
Na Europa, o voleibol se propagou nos acampamentos dos países envolvidos
durante a 1ª Guerra Mundial com a ajuda dos soldados norte-americanos, que
praticavam esta atividade nos momentos de folga como lazer. Os locais que
serviram de base para os acampamentos assimilaram este jogo desportivo em sua
cultura.
39
Após o final da 2ª Guerra Mundial, o voleibol ganhou visibilidade, fato este
comprovando pela grande quantidade de artigos escritos referentes a este esporte.
Nessa época, foi classificado como o quinto esporte mais praticado nos EUA, com a
marca de 10 milhões em 1946 contra 5 milhões de participantes em 1944, diferença
notada em apenas dois anos. Assim, ainda em 1946, foi realizado o primeiro
campeonato mundial da Força Aérea, na base aérea de Hamilton, na Califórnia.
Depois, foi à vez da cidade de Praga servir de palco para a realização de um
encontro entre os representantes das federações da Tchecoslováquia, Polônia e
França. Deste fato, resultou a primeira tentativa de organizar uma federação
internacional.
A habilidade do toque de Josef Musik da antiga Tchecoslováquia nos anos 40. Bulgária e Itália em
jogo do 1° mundial em Praga (Tchecoslováquia – 1949). Fonte: Departamento de registros da CBV.
Arquivo iconográfico, 2006.
Quanto aos EUA, a tentativa de incluir voleibol na Olimpíada deu-se por conta do
convite da USVBA para seu encontro anual, realizado em Chicago. Buscou-se nessa
ocasião –1947 - saber os trâmites legais para a filiação dessa prática esportiva.
Descobriu-se, através de Avery Brundage, presidente do Comitê Olímpico
Americano e vice-presidente da Federação Olímpica Internacional, que era
necessário que a federação de cada país filiado reconhecesse uma autoridade deste
esporte e contasse com a cooperação de todo o grupo no intuito de convencer o
Comitê Olímpico Internacional da viabilidade desse esporte em uma olimpíada.
Com propósitos políticos, o voleibol foi veículo de ideologias do bloco socialista,
integrado pela antiga União Soviética. Dessa maneira, o esporte passou a ser
praticado nas escolas, nas fábricas, cooperativas urbanas e rurais e nas Forças
40
Armadas. Durante três décadas, de 1960 a 1990, várias equipes soviéticas,
formadas por atletas do Exercito e de cooperativas ficaram conhecidas
internacionalmente.
Guimarães e Matta (2004) destacam que o voleibol foi amplamente difundido
naquela região, por ter características como coletiva, interdependência e
cooperação. Fatores que facilitam a prática de todas as pessoas. A diminuição da
agressividade em quadra é apontada, pelos autores mencionados pela expansão do
jogo, incentivando o interesse em organizar e padronizar as regras do jogo. Essa
padronização facilitaria a disputa em níveis mais amplos, indo além das competições
regionais. A fundação em 1946 da federação internacional, em Paris, serviu para
mediar e organizar o modo de jogar uma partida de voleibol.
13
A partir de então, a estruturação deste jogo transformou-o em desporto. Outra
preocupação foi à tentativa de equilibrar as ações entre a defesa e o ataque, já que,
conforme as regras vigentes na época, o ponto era marcado pela equipe que
defendia. As controvérsias sobre as regras tornaram-se freqüentes entre os
continentes europeu e asiático, pois cada grupo buscava alterá-las, visando
melhorar seu rendimento em quadra, como foi o caso do Japão, que seguia suas
próprias regras.
Quanto ao regulamento, houve inúmeras alterações. A primeira aconteceu no que
concerne a execução do toque, propiciando o surgimento da manchete. A potência
do saque também foi questionada, principalmente com relação à percepção de
toque. Sobre isso, os asiáticos requereram maior rigor na marcação dos dois toques.
Assim, a manchete era usada na recepção, podendo ser empregado o antebraço.
Os japoneses foram os responsáveis pelo desenvolvimento do saque flutuante,
marcado pela flutuação da bola em sua trajetória, o que dificulta, sobretudo, a
recepção. Contra este recurso, foi criado o bloqueio por iniciativa das equipes
européias. Vigorou-se também rally point system, em cada infração à regra vale um
ponto e um outro, onde somente a equipe que detinha o saque poderia marcar
pontos.
13
GUIMARÃES, Guilherme Locks; MATTA, Paulo Emanuel da Hora. Uma história comentada da
transformação do voleibol: do jogo ao desporto espetáculo. São Paulo: Hucitec, 2004.
41
Os mesmos autores apontam para o acontecimento, no sentido de que esta
permissão enfraqueceu, consideravelmente, a eficiência do saque, desequilibrando
a balança a favor dos ataques. Mudanças no bloqueio também foram realizadas. No
ano de 1962, foram permitidos a invasão do campo adversário e o toque na bola
antes que ultrapassasse a rede, o que aumentou a importância deste procedimento
técnico para o resultado do jogo.
Por esse motivo, segundo Guimarães e Matta (2004),
"A Federação Internacional de Volleyball autorizou que a defesa fosse realizada com
qualquer parte do corpo, incluindo, também, os membros inferiores e eliminou os
dois toques na ação de defesa (primeiro contato da equipe), procurando aumentar,
deste modo, o tempo de bola em jogo. A esta permanência da bola em jogo
denomina-se rally”.
14
Para se entender a popularização do vôlei, deve-se atentar para a década de 80,
quando aconteceu a inclusão do tie-break no quinto set. Para isso, a Federação
Internacional de Volleyball (FIV) iniciou um processo de adaptação do jogo e do
sistema de pontuação da partida, visando estabelecer um formato mais adequado
para a mídia, sobremaneira, a televisiva. Dessa maneira, seria mais fácil atrair um
público para as partidas desse desporto.
Após passearmos na história do voleibol no mundo destacaremos como a
modalidade se apresentou no Brasil, dando início a uma trajetória marcada por
várias fases que veremos a seguir.
1.4 A EMERGÊNCIA DO VOLEIBOL NO BRASIL
No território brasileiro, há indícios de que o voleibol foi praticado pela primeira vez no
ano de 1915, no Colégio Marista de Recife (PE), mas, contrariando tal fato, a
historiografia baseada apenas em fontes oficiais
15
indica que o voleibol foi
introduzido no Brasil em 1916/1917 na Associação Cristã de Moços de São Paulo.
14
GUIMARÃES, Guilherme Locks e MATTA, Paulo Emanuel da Hora. Uma história comentada da
transformação do voleibol: do jogo ao desporto espetáculo. São Paulo: Hucitec, 2004,
p.83.
15
As fontes oficiais são aquelas que estão normalizadas nos arquivos das federações.
42
Há um documento, localizado na Federação Pernambucana de Voleibol que
comprova apesar de não haver nenhuma publicação que o mencione por falta de
pesquisa a fundo, registrando a trajetória do voleibol no Brasil em Recife. Assim, a
partir deste documento podemos afirmar que a implantação desse esporte
aconteceu em fevereiro de 1911, cuja responsável, pelo início da prática do vôlei no
Brasil, foi a Associação Cristã de Moços. Com sede nos EUA, a associação tinha
uma filial que funcionava na Rua da Aurora, nº 55, em Recife.
O registro de atas da antiga Associação Pernambucana de Desportos Amadores
(APDA), em poder da atual Federação, é o relato manuscrito de uma apresentação
ocorrida em 27 de fevereiro de 1911, pela Associação Crista de Moços (ACM), de
uma nova prática esportiva chamada de voleibol. O registro contém apenas quatro
linhas e foi assinado pelo sr. Dennis Wilson, e desconhecido por todos na
Federação. Há fortes indícios que esse senhor, pelo seu nome deveria ser um
membro da ACM que assinara o registro escrito por algum funcionário daquela
antiga instituição.
16
No caso brasileiro, pode-se incluir o voleibol como uma reprodução do modelo norte-
americano, a elite carioca do clube Fluminense representava a mais pura
manifestação seletiva, social e clubística, assumindo esse habihtus esportivo e
respeitando as necessidades e características sociais para a devida incursão nesse
seleto campo. Sobre essa reprodução de capital social recorremos novamente a
Bourdieu que destaca:
“É por isso que a reprodução do capital social é tributária por um lado, de
todas as instituições que visam a favorecer as trocas legítimas e a excluir as
trocas ilegítimas, produzindo ocasiões (rallyes, cruzeiros, caçadas, saraus,
recepções, etc.), lugares (bairros chiques, escolas seletas, clubes, etc.) ou
práticas (esportes chiques, jogos de sociedade, cerimônias culturais, etc.)
que reúnem, de maneira aparentemente fortuita, indivíduos tão
homogêneos, quanto possíveis, sob todos os aspectos pertinentes do ponto
de vista da existência e da persistência do grupo
17
.
Pode-se destacar que a chegada do vôlei no Brasil, após mais de vinte anos da sua
criação nos EUA, não teve grande difusão.
16
Na nossa passagem por essa capital, em julho de 2004, por ocasião dos jogos universitários
brasileiros, visitamos a Federação Pernambucana de Voleibol que nos deu livre acesso aos
registros da mesma, através do seu presidente, o senhor Carlos Eduardo Freire de Brito.
17
BOURDIEU. O Capital social: notas provisórias... p. 68.
43
Registros evidenciam o Fluminense F.C. como uma das poucas instituições
esportivas que buscaram ofertar aos seus associados oportunidades de vivenciarem
a modalidade em torneios para os clubes filiados a então Liga Metropolitana de
Desportos Terrestres.
Melo ressalta que os primórdios deste esporte no Rio de Janeiro aconteceram num
momento em que ocorriam complexas mudanças nessa cidade, nas elites e na
cultura. O Rio de Janeiro era sede da capital da República, assumindo com isso o
papel de metrópole brasileira. Por conta disso, tornou-se vitrine do progresso
18
e de
modismos, ditando novas tendências de comportamentos, sistemas de valores,
formas de viver. Não é por acaso que o remo se desenvolveu pioneiramente nessa
cidade influenciando o desenvolvimento do esporte em muitos outros municípios.
Como afirma Sevcenko (1992): “O Rio passa a ditar não só novas modas e
comportamentos, mais acima de tudo os sistemas de valores, modo de vida,
sensibilidade, estado de espírito e as disposições que articulam a modernidade
como uma experiência existencial e íntima”.
19
Ao fazer uma retrospectiva do vôlei no Brasil, constata-se que até o fim do século
XIX, praticamente o esporte organizado não existia. Somente na consolidação da
república brasileira, os esportes receberam grande incentivo por parte do governo.
As cidades vivenciaram essa relação com o esporte e a nova modalidade, o voleibol.
Nesse sentido, clubes como o Fluminense (RJ), Paulistano (SP) e Minas Tênis
Clube (MG) vincularam-se a essa prática esportiva, e os ginásios proliferam-se
durante a Primeira República nessa época. Portanto, pode-se afirmar que o frêmito
das tecnologias mecânicas de aceleração - modernidade - se transpõe para os
corpos e as mentes por meio, também, dos esportes.
É desse modo que o esporte passa a ocupar um lugar de maior destaque nos
passatempos de uma camada social específica e emergente de centros urbanos
cada vez mais influentes. Pensar o Rio de Janeiro, então capital da República, a
partir dessa relação com o esporte, é pensar a cidade como um espaço vivo, em
18
Sobre a idéia de vitrine de o Rio ser vitrine do progresso ver NEVES, Margarida de Sousa. Brasil
acertai vossos ponteiros. RJ: Museu de Astronomia, 1992.
19
SEVCENKO, Nicolau. Orfeu estático na metrópole: São Paulo: sociedade e cultura nos frenéticos
anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
44
constante ebulição e de cujo movimento emerge as práticas capazes de explicar o
indivíduo, a sociedade e o meio ambiente.
20
Da mesma forma que o inicio do século foi um importante momento de introdução
deste esporte no país, a ambiência social que reinava na Era Vargas e as políticas
para a Educação Física e Esportes da época, transformaram-se em um segundo
momento deste esporte ao potencializar a padronização e a uniformização desta
prática. Elevar a juventude à condição de civilidade que o Estado Novo demandava,
implicou na criação de mecanismos de controle e adestramento dos corpos, e os
esportes eram bons instrumentos para que isso acontecesse. Os espaços
específicos para essas práticas, tais como quadras poliesportivas e ginásios, foram
crescendo no período varguista.
Dessa forma, o Estado Novo parece ter legado, com expressividade inegável, um
aparato marcante para o desenvolvimento físico do corpo juvenil. Esse campo
discursivo localizou os jovens fortes e belos, através de espetáculos esportivos, que
pretendiam expressar a grandeza do Estado Novo e marcar a dimensão do seu
papel na história, através de inúmeros mecanismos de sedução social. Nesse
momento, destaca-se a utilização das festas esportivas, com a finalidade de cooptar
as massas e disciplinar os cidadãos, visando o controle do corpo e da mente e a
formação da imagem de uma nação apta ao futuro por sua coesão.
Portanto, o projeto “estadonovista” valorizava a uniformização e a padronização
cultural e esportiva, eliminando qualquer tentativa de organização autônoma da
sociedade, a não ser na forma de corporações rigorosamente perfiladas com o
Estado. Daí o caráter excludente da política estatal no período em questão.
O levantamento cronológico mostra os avanços para o reconhecimento da atividade
física por parte do Estado. Desse modo, em 1937, a nova Constituição Federal
estabeleceu, no Art. nº 131, que "a educação física" será obrigatória em todas as
escolas primárias, normais e secundárias [...].
Em 1941, o Decreto - Lei nº 3199 propunha disciplinar, na expressão usada, o
20
LUCENA, Ricardo de F. O esporte na cidade: aspectos do esforço civilizador brasileiro. Campinas,
SP: Unicamp, 2001, p. 35.
45
esporte. Foi por meio deste decreto que nasceu o Conselho Nacional dos Desportos
(CND), que era para ser regulador, mas que, na prática, acabou como gestor da
atividade esportiva no Brasil.
Em 1942, Gustavo Capanema, então Ministro da Educação e Saúde, manteve, na
Lei Orgânica do ensino secundário, a obrigatoriedade da prática da Educação
Física. Descrito da seguinte maneira, “O método francês de ensino previa, aos
alunos, além da higiene, já estética e educação dos movimentos, jogos, exercícios,
flexionamentos, desportos individuais e desportos coletivos, como o voleibol". Sem
dúvida, nesse período o voleibol começou a ser bastante praticado nas escolas. Tal
fato democratizou a sua prática, até então restrita a uma elite poderosa clubística.
Essa intervenção do governo sobreviveu ao fim do Estado Novo e a outras
mudanças políticas. Durante 34 anos, a aptidão física foi usada como base
conceitual para as políticas públicas desse setor.
O Decreto n.º 1450, de 11 de julho de 1931, previa a formação de professores e
monitores de Educação Física. Pelo Decreto 10.330, de 20 de março de 1939, foi
possibilitada a criação de cursos para formação de técnicas desportivas e o curso de
voleibol foi ministrado na escola de Educação Física do Exército no Rio de Janeiro,
deixando pistas para o aperfeiçoamento técnico nesse país a partir desse momento.
A Liga de Voleibol do Rio de Janeiro, criada em 14 de setembro de 1938, divulgou
esse curso como comprova a edição do Jornal A Gazeta – ES, de 11 de julho de
1939.
Devem ser consideradas também, na sua história, as questões específicas desse
esporte, como o seu uso na Educação Física, no processo de construção de uma
política nacional de desenvolvimento e também sua relação com outras instituições,
tais como a Juventude Brasileira e o Exército. Entendem-se resgate e interpretação
do processo histórico como sendo as novas explicações acerca de fatos históricos,
estabelecendo relações desapercebidas anteriormente por outros historiadores,
como também relações diferentes.
Na história do voleibol, podemos ressaltar momentos em que ele foi identificado
como instrumento disciplinador da juventude, responsável pela construção, junto a
outros esportes e atividades físicas do conceito de cidadania transvestida pelo
46
espírito nacionalista e pelo civismo, elementos de dispersão do movimento
estudantil, elitizador e selecionador de determinada parcela da população que
preenchia os requisitos de performance física em detrimento da capacidade
intelectual e, finalmente, uma mercadoria.
21
1.5 A VIDA URBANA E AS FASES DO ESPORTE NO BRASIL
Observando a existência de um diálogo do esporte com a vida urbana, Sevcenko
(1992) deixa inúmeras pistas sobre essa interação. Para ele, o esporte não pode ser
considerado como algo isolado e externo à cidade. Ele o vê a partir de sua
conjuntura interna e se vê nele com o crescente envolvimento populacional com sua
prática. Mas por muito tempo, o esporte foi visto como uma atividade de pouca
relevância social e, por conseguinte pouco se tem registrado sobre as relações dos
homens das cidades e as práticas de esporte do Brasil. Por isso, com relação aos
primeiros anos do esporte, nota-se que os estudos sobre esta temática eram
rarefeitos. Pode-se citar o livro Sports Athleticos de E. Weber como a primeira obra
traduzida no Brasil sobre os esportes. Comporta temas como: atletismo, tênis,
natação, hóquei, pelota basca, futebol e pólo aquático.
Em suma, historicamente, o esporte no Brasil, pode ser dividido em fases. A primeira
fase corresponde ao período até 1908, caracterizada como a fase da implantação
dos esportes. Na segunda fase, conhecida como a fase da organização, ocorreu a
fundação de clubes e federações. Com estas iniciativas, foi criada a Confederação
Brasileira de Desportos, em 1914.
A terceira fase termina com o decreto-lei 3.199 de 14/04/41, responsável pela
criação do Conselho Nacional de Desportos, estabelecendo bases para a
organização esportiva em todo o país. Nessa fase, começou a ser percebido o
fenômeno da popularização.
A última fase é sinônima de concretização dos incentivos e investimentos ao esporte
através do apoio oficial. Desse modo, o Ministério da Educação passa a
21
A esse respeito, ver GHIRALDELLI JR., Paulo. Educação física progressista. São Paulo: Loyola,
1988.
47
supervisionar essa área.
Como o propósito deste estudo é estabelecer essa relação entre a população das
cidades em transformação e as práticas esportivas, o estudo realizado por Sevcenko
(1992) parece bastante relevante, pois sua perspectiva se fundamenta no fato de
que o esporte traz uma gratificação instantânea para seus aficionados, ou seja, o
lúdico esportivo alegra os espectadores, de modo que as autoridades públicas ou
desportivas deveriam pensar ou pretender a partir dele a prática ou mesmo a
contemplação. Em outras palavras, o governo precisa entender que a atividade
esportiva é benéfica para todos os cidadãos.
O amadorismo tinha de ser superado para que uma outra realidade pudesse aflorar,
e o improviso foi contornado com uma gestão baseada em moldes empresariais
permitiu às equipes e aos atletas o reconhecimento financeiro e profissional.
1.6 DIFUSÃO DO VOLEIBOL NO PAÍS
Cabe aqui, se reportar aos anos 20 momento em que, os poderes constituídos
resolveram, efetivamente, elaborar uma política nacional para o setor. Nos anos 30
e, principalmente na era Vargas uma crescente atenção foi dispensada ao esporte
por parte do Estado Brasileiro, ansioso de trazer para si as rédeas da organização
esportiva. Porém, a despeito desse desejo o fato é que, a prática esportiva já
lograva de imensa popularidade nos centros urbanos, desde o final da primeira
década.
Sede da ACM São Paulo em 1916. Fonte:
Departamento de registros da CBV. Arquivo iconográfico, 2006.
O primeiro grande passo para a difusão do voleibol no Brasil foi dado pelo
Fluminense Futebol Clube, no ano de 1923, quando foi realizado um " torneio aberto
48
" aos Clubes filiados à então Liga Metropolitana de Desportos Terrestres que
organizava o esporte amador na Guanabara.
No Rio de Janeiro, em 1924, posteriormente à Fundação da Associação
Metropolitana de Esportes Atléticos, foi criado o Departamento de Voleibol que,
entre outras normas estipulou que seria o mesmo disputado em caráter obrigatório
pelos Clubes. No primeiro torneio disputado sob a jurisdição da A.M.E. A, ainda em
1924, teve como vencedores os seguintes clubes: Fluminense F.C e São Cristovão
A.C que lideraram as disputas até 1929.
22
Em 1930, tendo em vista a forte pressão feita pelas pequenas entidades filiadas que
tinham dificuldades em manter uma sessão do voleibol, a A.M.E.A agiu por bem
revogar o dispositivo que tornará obrigatória à prática do referido esporte. Ainda em
1930, após a resolução acima, o América F.C, sagrou-se campeão com ambos os
quadros, sentindo-se nessa altura que as disputas de voleibol estavam fadadas a
um futuro fracasso. Em 1931, deu-se o esperado: não houve o campeonato por falta
de um mínimo necessário de participantes.
No final de 1931, tendo em vista a campanha feita pela A.M.E.A, para que não
morressem as disputas do novo esporte, já tão bem conceituado no âmbito
internacional, foi novamente realizado o campeonato em 1932, tendo como
vencedor o Tijuca T.C, tanto no 1º como no 2º quadro.
Em 1933, com o advento do profissionalismo no futebol, as atenções dos clubes
voltaram-se para as vantagens pecuniárias que poderiam daí resultar. Como todos
os outros esportes amadores por excelência, o voleibol desapareceu quase que
totalmente das atividades oficiais das diversas agremiações e, fatalmente, teria
desaparecido do cenário desportivo brasileiro não fosse a idéia de ser levado para
as praias, como recreação, pelos seus grandes aficcionados da época.
Apesar da decadência do voleibol nesse período, ele apareceu para o sexo feminino
em 1931, altamente difundido como atividade recreativa.
Uma nova luta foi compreendida pelo ressurgimento do vôlei, em 1930, por várias
entidades, salientando-se sobremaneira, o Vila Izabel F.C, a Revista Tricolor e o
22
CORREIO DA MANHÃ, 12 nov. 1924.
49
Colégio Batista e, principalmente, os clubes de Niterói: Icaraí P.C., Gragoatá, Praia
das Flexas Club e Canto do Rio F.C. Ainda em 1938, o " Esporte Ilustrado" realizou
um torneio aberto feminino, que teve como disputantes da final o Instituto Lafayette e
o Clube dos Tabajares. Neste ano ainda, a A.M.E.A também realizou um Torneio
Aberto, tendo como vencedor o Botafogo de Futebol e Regatas. Com referência a
esse torneio da A.C.M, consta na segunda ata de fundação da atual Federação, que
o vencedor seria considerado o 1º Campeão da Liga que iria se formar.
23
A batalha travada estava vencida e o voleibol conseguiu despertar do sono que lhe
fora imposto pelo futebol profissional e, em 1938, com a denominação de Liga de
Voleibol do Rio de Janeiro, foi criada a atual Federação Carioca de Voleibol. No ano
seguinte, em agosto, foi realizado o 1º Campeonato regular da cidade.
A evolução do esporte de Morgan está sendo mais focalizada no Rio de Janeiro
porque foi aqui que ele teve no Brasil maior impulso, nestes primeiros momentos.
Em São Paulo apesar de ter sido introduzido primeiramente, sua federação só foi
criada em 1942, como nos outros estados, isto é, no início da década de 40.
Em 1944, foi realizado o 1º Campeonato Brasileiro com jogos em diferentes Estados,
tendo como concorrentes no setor feminino: Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo,
Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, sagrando-se vencedora a equipe
do Estado de Minas Gerais e São Paulo. Ao título masculino concorreram: Paraná,
Bahia, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Minas Gerais, Estado do
Rio de Janeiro e Distrito Federal, conseguindo o título máximo os atletas de São
Paulo, logo seguido pelos mineiros.
Belo Horizonte foi escolhida para a sede do 2º Campeonato de Voleibol Brasileiro e
lá mesmo, os títulos masculino e feminino, ficaram nas mãos dos homens das
alterosas, secundados pelos do então Distrito Federal. Isto se passou em 1946.
Dois anos depois foi disputado o 3º Campeonato Brasileiro, com os jogos nos
Estados litigantes. O Campeão masculino foi São Paulo que ficou também com o
título de vice-campeão feminino. O Distrito Federal ganhou a disputa entre as moças
ficando em 2º lugar no masculino.
23
CORREIO DA MANHÃ 31 dez. 1938; OGLOBO 31 dez. 1938; O JORNAL 31 dez. 1938.
50
Ainda em 1948, foi disputado pela primeira vez nos Jogos Abertos de Cambuquira o
esporte da rede. Esses jogos foram criados em 1941 e contribuíram grandemente
para a difusão do voleibol, assim como de outros esportes.
Em 1950, foi realizado mais um Campeonato Brasileiro, agora com as adesões do
Pará, Amapá e Alagoas laureando-se vencedor, em ambos os torneios, o Distrito
Federal, tendo São Paulo em 2º lugar.
A primeira experiência internacional do Brasil foi proporcionada pela Confederação
Brasileira de Desportos, que patrocinou o 1º Campeonato Sul Americano, realizado
no ginásio do Fluminense F.C, no período de 12 a 22 de Setembro de 1951. O Brasil
venceu tanto no masculino como no feminino.
Em 1952, o Campeonato Brasileiro foi disputado em Porto Alegre e uma nova
entidade disputante se apresentou: a do Estado do Ceará. Desta feita, Minas Gerais
conseguiu o Campeonato Masculino e o Vice no Feminino, enquanto que o Distrito
Federal ficava em situação inversa.
O último Campeonato Brasileiro patrocinado pela C B D foi no ano de 1954, antes da
criação da C B V, e teve como Campeões o Distrito Federal e o Estado de São
Paulo, respectivamente no setor masculino e feminino. Nesse cenário, os clubes
esportivos também tiveram seu lugar, como foi o caso do Fluminense F.C., que com
suas equipes de voleibol de competição influenciou a difusão deste esporte pelo
país.
Foi neste contexto que se deu à promulgação do estatuto de 1954 consolidando a
prática do voleibol em nível nacional:
"Em agosto de 1954 é criada a instituição máxima do voleibol Brasileiro -
Confederação Brasileira de Voleibol, designada pela sigla CBV, filiada à
Federação Internacional de Volley-Ball, designada pela sigla FIVB, e ao
Comitê Olímpico Brasileiro, designado pela sigla COB, criado pelo Decreto
nº 36.786 de 18 de janeiro de 1955, é uma associação de fins não
econômicos, de caráter desportivo, fundada na cidade do Rio de Janeiro
aos 16 de agosto de 1954 e constituída pelas entidades filiadas de
administração do voleibol, todas com direitos iguais, que no território
brasileiro dirigem ou venham a dirigir de fato o voleibol. Assumindo o Sr.
Denis Hattaway como primeiro Presidente".
24
24
Art. 1º - CBV, estatuto de 1954“.
51
A criação da Confederação Brasileira de Voleibol marcou o início da
institucionalização do vôlei no país e, esta organização passaria por várias fases
como veremos nos capítulos seguintes.
Procuramos neste capítulo, analisar a origem do esporte moderno no século XX, as
condições históricas e sociais que se deram na constituição da oferta do esporte, os
princípios que levaram os agentes sociais a criarem o esporte e a difundi-lo, a sua
chegada ao Brasil por meio da ACM no Estado de Pernambuco e a importância do
Estado do Rio de Janeiro nos primórdios da organização do esporte como
modalidade competitiva.
No próximo capítulo, continuaremos analisando este processo, fixando-nos
detidamente no contexto da emergência da CBV, não só pontuando a sociedade que
potencializou sua criação, olhando mais amiúde sua organização e política interna
até a Era Nuzman.
CAPÍTULO 2
2 DA PRÁTICA À INSTITUCIONALIZAÇÃO
Neste capítulo o objetivo é situar historicamente a emergência da Confederação
Brasileira de Voleibol, não só pontuando a sociedade que potencializou a criação da
instituição, mas sua organização e política interna até a "Era Nuzman". As primeiras
participações das seleções nacionais em competições internacionais e o início de
uma trajetória amadora e de pouca visibilidade na medida em que os resultados
foram inexpressivos.
Uma série de questões ligadas ao processo de institucionalização da vida social em
geral merecem ser discutidas na perspectiva especifica do esporte. Várias têm sido
as necessidades aludidas para explicar o surgimento da instituição esportiva. As
mais citadas são: satisfação da propensão ao jogo, nesse caso o esporte é
considerado um jogo institucionalizado; o esporte teria uma função biológica,
satisfaria uma necessidade natural de movimento, necessária para a manutenção da
integridade biológica; o esporte seria uma espécie de culto ritualizado; o esporte
seria uma forma de canalizar o comportamento agressivo para uma atividade
52
socialmente aceitável; o esporte permitiria uma identificação com o coletivo, com a
nação, satisfaria portanto a necessidade de pertencimento a um coletivo; o esporte
seria uma ocupação do tempo livre que surge com a delimitação clara entre tempo
de trabalho e não-trabalho. Muitas dessas explicações já foram competentemente
criticadas na literatura sociofilosófica do esporte e não é possível aprofundá-las aqui.
Também, não há necessidade, para nossos propósitos neste momento decidir sobre
qual a tese mais plausível, embora tenhamos tendência a dar peso a última das
explicações, qual seja, entender o esporte enquanto fenômeno intimamente
relacionado com o advento do lazer moderno e da espetacularização do mesmo.
A Confederação Brasileira de Voleibol foi criada em 16 de agosto de 1954 com o
objetivo de difundir e desenvolver a modalidade, gerindo o esporte no país. Nasceu
das Federações Paulista (1942), Paranaense (1953), Mineira (1953) e a da mais
antiga do Brasil: a Liga de Voleibol do Rio de Janeiro (1938). No mesmo ano da
criação da CBV, surgiu a Federação Gaúcha. Em 1962 a Federação Brasiliense e a
Paraibana completaram o primeiro grupo de estados que institucionalizaram o
esporte filiado a CBV.
Pesquisando a criação das Confederações Nacionais Européias - principalmente as
do Leste Europeu - e Asiáticas, especialmente a do Japão, constatamos que foram
instituídas na década de 40, mesmo período da criação da Federação Internacional
de Voleibol – FIVB. Desde então, começaram a organizar os seus campeonatos
nacionais e estruturaram suas seleções para participarem de competições
internacionais, bem como dos dois primeiros Campeonatos Mundiais Masculinos
(Tchecoslováquia em 1949 e URSS em 1952). O Brasil não esteve presente nestes
dois primeiros mundiais, apesar da modalidade já ser conhecida no país. O
problema era de organização, pois ainda não havia uma entidade exclusiva para
cada esporte e, tudo ficava a cargo da Confederação Brasileira de Desportos (CBD).
Diante disso, entendemos que o atraso da institucionalização dessa modalidade no
Brasil não permitiu que nossas seleções, num primeiro momento, obtivessem
resultados satisfatórios e expressivos.
O anuncio da fundação da Confederação Brasileira de Voleibol foi espalhado aos
principais jornais do Brasil. No Espírito Santo na edição do jornal A GAZETA do dia
19 de agosto de 1954 divulgava com as seguintes palavras:
53
A Federação Amadora Capixaba de Esportes - FACE informa aos amantes
do voleibol brasileiro que foi fundado no ultimo dia 16, na cidade do Rio de
Janeiro a Confederação Brasileira de Volley-ball e será presidida pelo
senhor Denis Hathaway.
25
2.1 DA ENTIDADE E SEUS FINS:
No 1º Estatuto da Confederação Brasileira de Voleibol em seu Artigo 1º, oficializa a
marca CBV criada pelo Decreto nº 36.786 de 18/01/1955 afirmando ser uma
associação de fins não econômicos, de caráter desportivo, fundada na Cidade do
Rio de Janeiro aos dezesseis dias do mês de agosto de 1954 e constituída pelas
entidades filiadas de administração do Voleibol, todas com direitos iguais, que, no
território brasileiro, dirijam ou venham a dirigir de fato e de direito o voleibol.
Representava, portanto a entidade máxima do esporte no país, tendo por finalidade:
- Administrar, dirigir, controlar, difundir e incentivar em todo país a prática do
voleibol em todos os níveis;
- Representar o voleibol brasileiro junto aos poderes públicos em caráter
geral;
- Representar o voleibol brasileiro no exterior, em competições amistosas
ou oficiais da Federação Internacional de Voleibol - FIVB, Confederação
Sul-Americana de Voleibol-CSV e Comitê Olímpico Brasileiro-COB;
- Respeitar e fazer respeitar as regras, normas e regulamentos
internacionais;
- Promover ou permitir a realização de competições interestaduais e de
competições internacionais;
- Promover, fomentar e regulamentar a prática do voleibol de alto nível,
estudantil e universitário;
- Promover, fomentar e regulamentar a prática do voleibol de caráter
comunitário e social;
25
A GAZETA do dia 19 de agosto de 1954.
54
Seu primeiro presidente foi Dennis Rupert Hathaway, um ex-atleta da modalidade
que assumiu interinamente, de 15 de janeiro de 1955 à 14 de março de 1955,
quando ocorreu a eleição, respondendo pela presidência até 15 de fevereiro de
1957.
Na ordem bianual de sucessão presidencial, encontramos mais cinco nomes que se
dedicaram ao desenvolvimento do voleibol. O primeiro sucessor foi eleito em 31 de
janeiro de 1957 e exerceu suas funções durante o período de 15 de fevereiro de
1957 a 13 de fevereiro de 1959. Foi o mandato de Antônio Jaber. Posteriormente,
eleito em 31 de janeiro de 1959, Paulo Monteiro Mendes respondeu pelo mandato
de 13 de fevereiro de 1959 a 9 de fevereiro de 1961, tendo mérito de ter realizado o
Campeonato Mundial no Brasil, fato este que merece ser melhor abordado no
decorrer deste capítulo.
Após esse período de experiências iniciais a administração Confederação Brasileira,
a história da entidade foi marcada pelo que podemos chamar de "eras” -
representação decorrente das estruturas da FIVB, nas quais processos de
reeleições acusaram estilos de gerenciamento que imprimiram uma nova dinâmica
ao esporte, e porque não dizer, estabeleceu uma nova configuração de inter-
relações inéditas para o voleibol.
Essa nova configuração seguiu o modelo de mandato institucional da FIBV
(Federação Internacional de Volley-ball). A possibilidade de manutenção de um
dirigente durante um período tão extenso, seguindo a argumentação de Bourdieu,
permite inferir que as estruturas autônomas desenvolvidas nessa entidade foram
fruto dos esquemas de percepção da realidade do voleibol mundial, associados às
disposições dos agentes sociais que compuseram e legitimaram o crescimento
desse campo. Respaldado pelo modelo institucional do estatuto da FIBV que
permitia a reeleição por vários mandatos consecutivos, a CBV (Confederação
Brasileira de Voleibol) dá início ao ciclo de mandatos longos que denominamos de
eras presidenciais.
O marco desse processo pode ser identificado com a eleição em 31 de janeiro de
1961 de Roberto Moreira Calçada. Reeleito por seis vezes consecutivas, Calçada
55
adquiriu o direito de presidir a CBV de 9 de fevereiro de 1961 a 18 de janeiro de
1975, quando perdeu a eleição para Carlos Arthur Nuzman, perfazendo um mandato
de quatorze anos.
A exemplo da Federação Internacional de Voleibol - FIVB, a CBV sempre manteve e
defendeu à atribuição de ser a instância responsável pela difusão, coordenação e
normatização da prática do Voleibol em todo território nacional.
Essa representação hierárquica administrativa predominou o cenário de algumas
federações regionais que tiveram importância vital no processo de introdução do
voleibol no Brasil, como a Federação Metropolitana de Voleibol do Rio de Janeiro
fundada em 14 de setembro de 1938.
2.2 FEDERAÇÃOES ESTADUAIS
Dando continuidade no estudo da representação hierárquica administrativa, e ao
conjunto de disposições que a cercam e definem seu modus operandi, pesquisamos
as federações regionais e percebemos que determinados estados da União tiveram
importância vital no processo de introdução do Voleibol no Brasil. Destacamos três.
Um deles, o pioneiro a incentivar a prática federativa da modalidade entre os
associados dos clubes da capital, foi o estado do Rio de Janeiro.
A Federação Metropolitana de Volley-Ball foi fundada como Liga de Volley-Ball do
Rio de Janeiro, em 14 de setembro de 1938, por conta do impulso dado pelos clubes
América Football Club, Botafogo Football Club, Clube Internacional de Regatas,
Clube de Regatas Botafogo, Clube de Regatas Flamengo, Clube de Regatas Vasco
da Gama, Clube dos Tabajaras, Clube Universitário do Rio de Janeiro, Grajaú Tênis
Clube, Santa Heloísa Football, São Cristóvão Atlético Clube, Tijuca Tênis Clube e
Vila Isabel Football Clube.
A Federação Fluminense de Desportos dirigia e supervisionava os esportes
amadores e profissionais do estado do Rio de Janeiro. Foi fundada em 7 de janeiro
de 1925 pela fusão da Associação Fluminense de Esportes Atléticos e Federação
Fluminense de Esportes.
56
A atual Federação de Volley-Ball do Estado do Rio de Janeiro (Feverj) é o resultado
da união da Federação Metropolitana de Volley-Ball e dos filiados ao Departamento
de Volley-Ball da Federação Fluminense de Desportos. Sua fundação reporta a 23
de junho de 1976, com a Lei Estadual nº. 6.251/75. No Biênio 1973/1974 foi
presidida por Carlos Arthur Nuzman que se tornaria em 1975 o presidente da CBV.
A Federação Paulista de Voleibol foi criada em 06 de novembro de 1942 da reunião
de dezesseis clubes para oficializar a entidade especializada no esporte. O Voleibol
Paulista apresenta fato comum aos arquivos da associação Cristã de Moços de
Holyoke, EUA. Ambos tiveram incêndios em suas sedes, perdendo grande parte
documental de sua história. A Federação Paulista de Voleibol só possui arquivos
datados a partir do ano de 1976. De 1942 até essa data, nada foi preservado.
A Federação Mineira de Voleibol foi fundada em 23 de abril de 1941 em reunião
realizada na sala da antiga feira de amostras, localizada onde hoje é a estação
rodoviária, sendo eleito o senhor Mário Pinto Correia, pelos seguintes clubes: Minas
Tênis Clube, Clube Atlético Mineiro, América Futebol Clube, Olympico Clube,
Palestra Itália (atual Cruzeiro Esporte Clube) e pelo Esporte Clube Payssandu.
Analisando a FEVERJ, a FPV e FMV, depara-se com um modelo administrativo e
um conjunto de objetivos a serem perseguidos pouco distintos das instituições
hierarquicamente superiores. Tais propósitos apenas confirmam a argumentação de
que a estruturação do campo político e econômico na FIVB constituíram-se em uma
espécie de modelo ou regra de funcionamento esportivo, de tal modo que os habitus
construídos e exigidos para a inserção nessa configuração perpetuaram-se em
níveis continentais, nacionais, estaduais e assim por diante. Os verbos cumprir,
dirigir, superintender, expedir, regular, zelar e ter sob controle, por exemplo, dão o
tom e a dimensão dessa interferência no gerenciamento de esporte.
Dos clubes fundadores dessas federações destacam-se no cenário nacional até os
dias de hoje o Botafogo F.C. - Rio de Janeiro, Pinheiros – São Paulo e o Minas
Tênis Clube – Minas Gerais.
Após essa apresentação da composição histórica inicial do Voleibol, sua
performance internacional, seu processo de expansão e a observância do
surgimento das principais entidades administrativas, podemos analisar o período
57
estabelecido para o estudo das transições na modalidade.
2.3 AS PRIMEIRAS COMPETIÇÕES INTERNACIONAIS
Os primeiros resultados importantes das Seleções Brasileira organizada e dirigida
pela CBV ocorreram cinco anos após sua criação em 1959 - a seleção feminina
sagrou-se campeã do PAN-AMERICANO em Chicago nos Estados Unidos e a
masculina foi vice-campeã. O feito da seleção feminina foi repetido em 1963 em São
Paulo, sendo que desta vez a seleção masculina conquista o seu primeiro título
internacional.
Apesar do primeiro campeonato mundial masculino ter sido realizado em 1949, a
primeira aparição do Brasil em Campeonatos Mundiais só se deu em 1956, na
França, quando o presidente da CBV, senhor Denis Rupet Hathaway convidou o
professor Sami Mehlinsky para dirigir a seleção brasileira que obteve apenas a 11ª
(décima primeira) colocação dentre 24 seleções participantes. Os tchecos
conquistaram o título, com a Romênia em segundo e a URSS em terceiro lugar
comprovando o domínio dos países que tiveram suas confederações nacionais
criadas primeiramente.
2.4 O MARCO DA DESCENTRALIZAÇÃO - “O MUNDIAL NO BRASIL”
Verifica-se nesse momento a preocupação da Federação Internacional de Voleibol -
FIVB em descentralizar a principal competição do esporte do planeta, apesar da
dificuldade de transporte devido à distância do continente. De 24 participantes do
último mundial apenas quatorze (U.R.S.S, Tcheco-Eslováquia, Romênia, Polônia,
Brasil, Hungria, Estados Unidos, Japão, França, Venezuela, Argentina, Paraguai,
Uruguai e Peru) marcaram presença no Brasil com participação maciça dos países
Sul-Americanos - fato que ajudou a fomentar o esporte nesses países.
No entanto, os principais expoentes do vôlei naquela época se fizeram presente no
IV Mundial de Volei, como a URSS, Tchecoslováquia e Romênia. A principal
ausência foi da Bulgária. Na primeira fase as seleções foram divididas em cinco
58
grupos, sendo que o grupo E serviria para americanos e franceses fazerem um
aquecimento, já que pelo sorteio as duas seleções estavam pré-classificadas para a
disputa principal. O Brasil ficou no Grupo A juntamente com a Venezuela e o
Uruguai.
O 1º jogo do Brasil foi contra a Venezuela que perdeu por 3 x 0 para a equipe
brasileira.
26
Ainda pelas eliminatórias, o Brasil venceu, sem grandes dificuldades o
Uruguai por 3 x 0. A renda da partida foi um recorde em São Paulo.
27
Classificada para a fase final, a seleção brasileira teve a oportunidade de adquirir
experiência, enfrentando grandes nações do voleibol mundial. A estréia do Brasil
nesta fase foi num jogo contra a França e uma reportagem num jornal de grande
circulação dizia que:
[...] o Brasil venceu a França, no ginásio do Caio Martins, em Niterói, por 3 a
0 (15 a 10, 15 a 06 e 15 a 09), com uma excelente atuação, o que fez
crescer as esperanças de uma boa colocação brasileira ao final do
Campeonato. Em nenhum momento, mesmo no terceiro set, quando esteve
liderando o marcador, a França
não ameaçou a vitória do Brasil que sempre
trouxe a partida controlada, graças à firmeza de sua defesa e a eficiência de
seu ataque.
28
Outro enfrentamento foi com a Romênia que venceu o Brasil por 3 x 1. Foi “uma
grande noitada, a melhor até agora de todo o Campeonato Mundial de Volibol [...]
bom público, renda de 543 mil e 900 cruzeiros, entusiasmo em alto grau [...]”.
29
Em 07 de novembro, o Brasil derrotou o Japão por 3 x 0 no Ginásio do Maracanã.
Dessa forma, “a seleção masculina do Brasil fugiu do oitavo posto na classificação
final do certame credenciando-se para disputar com a Polônia, EUA e Hungria da
quarta a sétima colocações nos jogos restantes”.
30
Estava chegando o momento em que o Brasil enfrentaria a U.R.S.S. Uma
reportagem dizia que,
O prélio mais importante desta rodada derradeira do certame é o que reunirá Brasil e
26
JORNAL DO BRASIL, 30 de outubro de 1960.
27
JORNAL DO BRASIL, 01 de novembro de 1960.
28
JORNAL DO BRASIL, 05 de novembro de 1960.
29
O GLOBO, 07 de novembro de 1960.
30
O GLOBO, 08 de novembro de 1960.
59
União Soviética. Caso o Brasil venha a vencer o compromisso, o certame mundial
ficará empatado entre soviéticos e tchecos. Ao invés, a União Soviética conquistará
invicta o título do campeonato masculino. A Confederação Brasileira de Voleibol
oferecerá após os jogos um banquete a todas as delegações presentes ao
Campeonato Mundial.
31
Sem grandes surpresas, a U.R.S.S. derrotou o Brasil por 3 x 1, “em uma partida que
durou 106 minutos [...] sagrando-se campeã masculina invicta, a exemplo do que já
ocorrera na véspera com sua equipe feminina”.
32
O Campeonato Mundial de 60 termina com os seguintes resultados: “A U.R.S.S fica
em 1º lugar [retomando o domínio do voleibol mundial]; Tcheco-Eslováquia em 2º;
Romênia em 3º; Polônia em 4º; Brasil em 5º; Hungria em 6º; Estados Unidos em 7º;
Japão em 8º; França em 9º; Venezuela em 10º; Argentina em 11º; Paraguai em 13º
e Peru em 14º lugar”
33
.
TABELA 1: Campanha do Brasil no Campeonato Mundial do Brasil 1960
DATA LOCAL RESULTADO
29/10/60 Santo André Brasil 3 x 0 Venezuela
30/10/60 Santo André Brasil 3 x 0 Uruguai
01/11/60 Rio de Janeiro Brasil 3 x 0 França
03/11/60 Rio de Janeiro Brasil 1 x 3 Romênia
05/11/60 Rio de Janeiro Brasil 0 x 3 Tchecoslováquia
07/11/60 Rio de Janeiro Brasil 3 x 0 Japão
09/11/60 Rio de Janeiro Brasil 2 x 3 Polônia
11/11/60 Rio de Janeiro Brasil 2 x 3 Estados Unidos
13/11/60 Rio de Janeiro Brasil 3 x 2 Hungria
31
FOLHA DA TARDE, 14 de novembro de 1960.
32
O GLOBO, 15 de novembro de 1960.
33
O GLOBO, 15 de novembro de 1960.
60
14/11/60 Rio de Janeiro Brasil 1 x 3 União Soviética
Fonte: Arquivos do departamento de registros da Confederação Brasileira de Voleibol.
Fonte: Arquivo pessoal de Antônio Carlos Moreno gentilmente cedido
Os Correios do Brasil, em homenagem a eventos marcantes e expressivos, produzem edições
especiais e limitadas. O mundial de voleibol no Brasil mereceu essa produção.
2.5 O “ROMANTISMO” - O VOLEIBOL NAS DÉCADAS DE 60 E 70
Desde a sua criação, até o final de 1961 a Confederação Brasileira nunca havia
realizado em Campeonato Brasileiro de Clubes. As seleções brasileiras, que
participavam dos torneios internacionais, eram convocadas a partir dos
Campeonatos Brasileiros de Seleções, onde alguns talentos não conseguiam
demonstrar todo o potencial.
O presidente da entidade, Roberto Calçada, decidiu que a partir de 1962 além do
Brasileiro de Seleções, também seria disputado um torneio interclubes no Brasil, que
serviria para massificar a modalidade em todo o território nacional e revelar novos
jogadores que poderiam futuramente integrar o time nacional. Até então, a grande
maioria dos jogadores chamados para defender o Brasil era da região sudeste e,
basicamente de três estados: Rio de Janeiro. São Paulo e Minas Gerais, as
primeiras escolas do vôlei brasileiro. No entanto, Calçada não calculou que os
problemas logísticos nos primeiros anos seriam o grande obstáculo para o esporte
decolar no país.
O ano de 1962 seria marcante para o vôlei mundial e nacional. Por aqui, foi criada a
Taça Brasil de Vôlei, reunindo os principais campeões estaduais do país, em uma
disputa eliminatória e; em setembro daquele ano, no Congresso de Sofia, o voleibol
foi admitido como esporte olímpico, sendo que sua primeira disputa seria na
61
Olimpíada de Tóquio, em 1964, com a presença de 10 países no masculino - Japão,
Bulgária, Brasil, Coréia do Sul, estados Unidos, Holanda, Hungria, Romênia, Rússia
e Tchecoslováquia. 1962, também foi ano de mais uma edição do Campeonato
Mundial.
Superado o período de criação e expansão do voleibol, além do surgimento das
entidades responsáveis pela sua administração e desenvolvimento, destacamos as
décadas de 1960 e 1970, consideradas marcantes em transformações e transições
histórico – social no Brasil. Foi um período marcado por rupturas e aspirações com
início na proposta de escolarização e massificação da modalidade com intuito de
chegar posteriormente à profissionalização da prática inserida na sociedade de
consumo. Podemos notar em nossas pesquisas que pelo quadro de resultados
internacionais tivemos pouca expressividade nesse período (cf. Anexo I).
O principal problema que explica os resultados pouco expressivos do Brasil nas
décadas de 1960 e 1970 concentra-se na ausência de intercâmbio e experiência
internacional com equipes de alto nível.
34
Essa lacuna era justificada pela posição
geográfica do nosso país em relação aos grandes centros esportivos mundiais.
Porém, a deficiência não era gerada apenas pela dificuldade geográfica. Esporte
amador nacional não dispunha de recursos para investimentos em modalidades e
federações.
O desporto escolar também apresentou dificuldades em seu desenvolvimento.
Nesse período os trabalhos do Departamento de Desportos do Ministério da
Educação e Cultura (DED-MEC) não atingiram as raias do pretendido
“tradicionalismo esportivo”. Foi possível perceber que, em competições como os
Jogos Estudantis, um grande número de participantes encorpava os registros da
modalidade voleibol, entretanto, após o término dessas competições os alunos não
permaneciam em processo de treinamento. Quem manifestasse algum interesse em
continuar a prática esportiva teria que buscar os clubes, que nem sempre ofereciam
livre acesso e, como vimos anteriormente, não apresentavam grau significativo e
34
Como exemplo dessa discrepância, encontramos jogadores de nível de seleção nacional na
Europa realizando de duzentos a trezentos jogos internacionais na carreira, ao passo que um dos
nossos atletas de maior potencial nesse período, Antonio Carlos Moreno, teve relativa experiência
internacional – Quase cem anos de disputa: história ..., p.11.
62
constante de participação em torneios oficiais.
35
Para entender essa configurações, têm de definir e existência de um espaço social
para o voleibol que representa ou apresenta a real idade da modalidade em
processo de contínuo desenvolvimento.
Notamos que os principais exponenciais do campo competitivo nacional, da década
de 60, eram comandados por duas equipes que conquistaram supremacia em títulos
nacionais. Tal como guiado pelo sucesso no futebol, falamos do Santos Futebol
Clube de São Paulo e do Botafogo de Futebol e regatas do Rio de Janeiro.
Dessa constatação, resgatamos a percepção do local de origem do voleibol, ou seja,
o Clube. Essa instituição possui em seu quadro de associados, agentes dotados de
determinado perfil social, composto e construído à base do respectivo potencial
social, econômico e cultural, capaz de enfatizar posições e distinções de classe.
O modelo de difusão, as representações dessa prática esportiva, foi importado da
estrutura norte americana. O voleibol constitui seu campo social em clubes que se
destacavam pela capacidade de atrair as elites e os virtuais pólos diretivos da
sociedade. Assim sendo, a modalidade destacou-se inicialmente em clubes famosos
do país. Um detalhe que corrobora com a linha de raciocínio, é a condição vitoriosa
Hegemônica e de competitividade instalada nas equipes de futebol do Santos e do
Botafogo na década de 1960.
Consideramos essa fase de paixão e abnegação pelo esporte. Esse seria o sentido
maior para sua incursão em um processo “romântico” de desenvolvimento. Carlos
Arthur Nuzman resumiu o período com o seguinte depoimento: “Era um trabalho
sem seqüência, já que não era complementado na seleção brasileira. Dificilmente os
jogadores podiam se dedicar aos exercícios dias seguidos, preocupados com o
colégio, a faculdade ou o emprego. A improvisação comum a todos os esportes
amadores, contaminavam os dirigentes que não tinham dinheiro nem para organizar
um calendário. As competições limitavam-se aos torneios regionais e aos
campeonatos brasileiros de seleções”.
36
35
Carvalho, Oto Marávia de. Caderno técnico-didático do voleibol moderno. Brasília: MEC, 1980,
p.13.
36
Nuzman, Carlos Arthur. Apud: O Brasil pede passagem. Saque, São Paulo, nº 01, p. 14, jul.1985.
63
Dos clubes para a seleção, em 1964 o voleibol brasileiro organizado pela CBV, fazia
sua estréia nos Jogos Olímpicos de Tóquio com uma delegação composta de 10
atletas, dois a menos que o normal. O Brasil iniciou sua trajetória olímpica com o
sétimo lugar e uma equipe que chegou ao final das disputas com apenas 8
jogadores. Em depoimento de Samy Melinsky, técnico da seleção brasileira adulta
masculina no período e 1956 a 1965 foi declarado que um atleta adoeceu e um outro
contundiu-se durante as competições.
37
TABELA 2: Campanha do Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio 1964
DATA LOCAL RESULTADO
13/10/64 Tóquio Brasil 0 x 3 Bulgária
14/10/64 Tóquio Brasil 0 x 3 Romênia
15/10/64 Tóquio Brasil 2 x 3 Holanda
17/10/64 Tóquio Brasil 3 x 1 Coréia
18/10/64 Tóquio Brasil 3 x 2 Hungria
19/10/64 Tóquio Brasil 0 x 3 Tchecoslováquia
21/10/64 Tóquio Brasil 2 x 3 Japão
22/10/64 Tóquio Brasil 3 x 2 Estados Unidos
23/10/64 Tóquio Brasil 0 x 3 União Soviética
Fonte: Arquivos do departamento de registros da Confederação Brasileira de Voleibol.
Após as olimpíadas no Japão a Confederação Brasileira de Voleibol fez uma
mudança na comissão técnica da seleção masculina assumindo o comando o
professor Célio Cordeiro Filho, exercendo essa função até 1974. A entidade
entendia que o perfil do novo treinador, filho de militar, era uma oportunidade
recuperação, ou melhor, construção do prestígio esportivo internacional.
Pesquisando os atletas que fizeram parte dessa fase “romântica” concluímos que o
maior expoente do voleibol nesse período foi Antônio Carlos Moreno. Sendo assim,
37
Evolução: A Longa Jornada de Quaresma a Bernard. Vôlei Brasil. Rio de Janeiro: Rio Gráfica, p.43
– 9, 1984.
64
julgamos importante e necessário um relato do próprio para potencializar o nosso
trabalho.
38
Nascido em 11 de junho de 1948 em Santo André, São Paulo, Moreno chegou à
seleção brasileira aos 17 anos como titular do time do professor Célio Cordeiro em
1965 , permanecendo nesse posto por um período de 16 anos, encerrando sua
carreira aos 32 anos nas Olimpíadas de Moscou em 1980. Foi capitão da seleção
brasileira de 1972 a 1980, participou de quatro Olimpíadas, quatro campeonatos
Mundiais e quatro Pan Americanos. “Tivemos a geração de ouro, prata e lata no
voleibol brasileiro. Fiz parte da geração de lata onde trabalhamos muito, e alguns até
pagavam para jogar. Me orgulho de ter ajudado o Brasil a dar os primeiro passos no
esporte”.
39
Durante a entrevista descobrimos alguns marcos importantes na trajetória do
voleibol nacional. Chamou-nos atenção o primeiro patrocinador do voleibol brasileiro
– Randi Esporte Clube. “Existia uma rivalidade no voleibol de Santo André. Houve
uma fusão do clube Aramaçã com o Primeiro de Maio, formou-se o Randi, e o Hélio
Felício Rand era um apaixonado por voleibol e construiu uma quadra aberta na
indústria dele, a Tecelagem Randi. Quando nós montamos esse time em 1965
acabou uma hegemonia que existia dentro do voleibol de São Paulo, que era do
Santos e do Paulistano. Nesse ano da fusão fomos campeões Paulistas estadual.
Isso eu tinha 17 anos”. Tratava-se na realidade de uma ajuda de custo que para a
época já era um atrativo para uma melhor organização da equipe.
Moreno chegou a seleção depois que o Randi Esporte Clube foi campeão paulista e
ter sido considerado o melhor jogador brasileiro juvenil. Havia uma predominância
muito grande do Rio de Janeiro no cenário quando se falava de seleção brasileira “
naquele time a seleção era composta de 18 atletas e 16 eram cariocas. A estrutura
do voleibol brasileiro de então se resumia a Rio de Janeiro pelo fato da
Confederação Brasileira se situar naquele estado. Era muito difícil a gente entrar
nesse voleibol, porque os técnicos dirigentes os médicos eram todos cariocas então
quem ditava o voleibol era o Rio de Janeiro. Vou pegar leve...com a própria evolução
do voleibol, os dirigentes também evoluíram muito. Naquela época toda nossa
38
Moreno, Antônio Carlos. Entrevista pessoal em 15 de dezembro 2006.
39
Em entrevista pessoal Moreno relata as dificuldades da época e compara a estrutura que era dada
aos atletas de sua geração com a atual.
65
estrutura era muito fraca”.
Analisando essa afirmação de um dos maiores ícones do voleibol brasileiro,
percebemos que a modalidade apesar de praticada em todo o território nacional era
representada em competições internacionais basicamente por atletas e comissão
técnica de um único estado, o Rio de Janeiro. O Campeonato Mundial de Volei de
1966, na Tchecoslováquia foi remodelado. As vinte e duas seleções participantes
foram divididas em quatro grupos, sendo 2 com 6 equipes e outros dois com cinco. A
Folha de São Paulo de 30 de agosto de 1966 destacava: “ Brasil estréia hoje no
Mundial de volei. A seleção brasileira masculina estreará hoje no campeonato
mundial frente à Bulgária. Os brasileiros no ensaio de domingo sofreram três baixas
– Roque, com entorse e ,Paulo Russo e Nuzman,com inchação nos dedos – mas o
caso dos dois últimos é de menos gravidade. O Brasil deverá alinhar para o cortejo
contra os búlgaros com Vitinho, Feitosa, Marco Antônio, Moreno, Zé Maria e
Nuzman”.A Seleção terminou a competição em décimo terceiro lugar, a pior da
história do Brasil nas participações em mundiais. A Tchecoslováquia foi a campeã.
Carlos Arthur Nuzman integrante dessa seleção resumiu o período com o seguinte
depoimento:
“Era um trabalho sem sequência, já que não era complementado na seleção
brasileira. Dificilmente os jogadores podiam se dedicar aos exercícios dias
seguidos, preocupados com o colégio, a faculdade ou o emprego. A
improvisação, comum a todos os esportes amadores, contaminava os
dirigentes, que não tinham dinheiro nem para organizar um calendário. As
competições limitavam-se aos torneios regionais e campeonato brasileiro de
seleções”.
40
Um fato inusitado ocorreu, com Nuzman, durante a realização do Mundial de 1966,
quanto aos vistos de passaporte da delegação brasileira:
E aí aconteceu em 66, foi uma viagem no Mundial que nos fomos com visto coletivo
e eu não sabia. Depois eles (os dirigentes) nos davam a passagem pra ir onde
quiséssemos, como ocorre aqui em algumas competições, não em todas. Mas aí eu
descobri que o chefe da delegação ia para uma cidade e nos íamos para outra [...]
Nós assinamos pelo qual vinte e quatro horas após estávamos desligado da
40
Nuzman, Carlos Arthur. Apud: O Brasil pede passagem. Saque, São Paulo, nº 1, p. 14, jul.1985.
66
delegação. O que me preocupou é que nós estávamos desligados em um país sem
relações com o Brasil, como na época era o caso da Tchecoslováquia. [...] Então eu
fui ao chefe da delegação e disse a ele: “Olha eu acho que devia desmembrar esse
visto coletivo pra vistos individuais”. [...] Daí ele me disse o seguinte: “Você veio para
jogar, então sua preocupação deveria ser só jogar”. Faltando cinco dias para
terminar o mundial eu voltei a ele e perguntei o que tinha resolvido. Ele disse: “Eu
não te disse que o problema era seu, que você tinha vindo aqui só jogar?”. Eu falei:
“Pois é, eu vim justamente lhe comunicar que já resolvi o problema. Você tem cinco
dias para me dar o visto. Se você não me der vou à Embaixada do Brasil e te
denuncio por abandono de delegação nos exterior. Eu tenho um documento
assinado”. Isso custou meu afastamento da seleção, nunca mais me convocaram.
41
Esse, segundo o próprio Nuzman, foi o desencadeador de suas pretensões de
tornar-se dirigente esportivo. Acreditava, no âmago de sua revolta, que teria
capacidade suficiente de oferecer melhores condições aos atletas e que, em
decorrência dessa postura, a performance e os resultados internacionais seriam
obtidos. Decorridos alguns anos desse episódio, especificamente dezembro de
1972, Nuzman decidiu abandonar as quadras.
TABELA 3: Campanha do Brasil no Campeonato Mundial da Tchecoslováquia 1966
DATA LOCAL RESULTADO
30/08/66 Jihlava Brasil 1 x 3 Bulgária
01/09/66 Jihlava Brasil 0 x 3 Japão
02/09/66 Jihlava Brasil 3 x 0 Finlândia
03/09/66 Jihlava Brasil 3 x 0 Bélgica
05/09/66 Praga Brasil 1 x 3 China
06/09/66 Praga Brasil 3 x 0 Itália
07/09/66 Praga Brasil 0 x 3 Hungria
09/09/66 Praga Brasil 1 x 3 Estados Unidos
41
Nuzman, Carlos Arthur. Apud: O pai da matéria..., p.12-3.
67
10/09/66 Praga Brasil 3 x 0 Turquia
11/09/66 Praga Brasil 2 x 3 Holanda
Fonte: Arquivos do departamento de registros da Confederação Brasileira de Voleibol.
Esse cenário pretendia começar a se modificar em 1968 quando o presidente da
Confederação Brasileira de Voleibol, Roberto Moreira Calçada interferiu na
convocação, exigindo que os atletas de Minas Gerais e de São Paulo fossem
convocados e relacionados entre os doze da equipe. Porém durante a Olimpíada de
1968 no México o comando técnico passa para o professor Paulo Manoel que retirou
alguns cariocas do time sofrendo boicote como descreve Moreno: “tínhamos um
baita time, mas alguns atletas do Rio de Janeiro o boicotaram a ponto tal dele
marcar um treino e somente cinco atletas compareceram. Durante a olimpíada
quebrou, rachou o time. A gente não tinha tênis para jogar e terminamos em nono
lugar”.
O Torneio de voleibol dos Jogos Olímpicos da Cidade do México foi disputado no
mesmo formato da edição anterior, em Tóquio; ou seja, dez seleções no sistema de
todos contra todos. Vencemos apenas o último jogo-que definiria justamente o último
colocado – contra o México e, encerrou a participação em nono lugar. A União
Soviética novamente conquista o ouro olímpico.
TABELA 4: Campanha do Brasil nos Jogos Olímpicos da Cidade do México 1968
DATA LOCAL RESULTADO
13/10/68 Cidade do México Brasil 1 x 3 Bélgica
16/10/68 Cidade do México Brasil 1 x 3 União Soviética
17/10/68 Cidade do México Brasil 0 x 3 Estados Unidos
19/10/68 Cidade do México Brasil 2 x 3 Tchecoslováquia
20/10/68 Cidade do México Brasil 0 x 3 Bulgária
21/10/68 Cidade do México Brasil 0 x 3 Polônia
23/10/68 Cidade do México Brasil 1 x 3 Alemanha Oriental
68
24/10/68 Cidade do México Brasil 0 x 3 Japão
25/10/68 Cidade do México Brasil 3 x 1 México
Fonte: Arquivos do departamento de registros da Confederação Brasileira de Voleibol.
Depois dessas duas participações pífias em olimpíadas o voleibol brasileiro
começou a ter uma influência muito grande da escola japonesa. O fracasso no
México serviu de advertência aos dirigentes da CBV que iniciaram um intercâmbio
com o Japão.
Do modelo de organização de reestruturação do voleibol japonês ficaram algumas
lições que foram disseminadas pelo mundo e algumas serviram de exemplos na
elaboração de novas propostas. A maior ênfase respeitando a filosofia oriental
poderia ser resumida na pressuposição de que o aperfeiçoamento das habilidades
humanas exige algo mais que a mera participação. Esta melhora implica a
determinação de metas e no prazer que se obtém quando conquistamos uma delas.
(O revolucionário Yasutaka Matsudaira e seu “circo de voadores” – Marchi Júnior
Wanderley – sacando voleibol, p. 101.). Moreno corrobora com essa influência
positiva do voleibol japonês no Brasil: “Então em 1969 eu acho que foi mais um
marco histórico quando, influenciados pelo sistema de jogo oriental aconteceu uma
renovação no voleibol nacional tornando-se moderno utilizando o sistema de jogo 5
x 1 (este sistema colocava na quadra apenas 1 levantador e 5 atacantes) primeiro
com o levantador Feitosa e depois com o fantástico Bebeto de Freitas.
Aqui houve um grande salto do voleibol brasileiro e nós começamos a bater algumas
potências”. Moreno se refere a uma copa realizada em 1969 na Alemanha oriental
quando a seleção brasileira surpreende e vence Cuba, Polônia e Japão.
Apesar dessa evolução Moreno cita a falta de preparo ainda dos dirigentes no
esporte nacional:
“Eu acho que o Brasil evoluiu muito a partir de 1969, tecnicamente, mas a
CBV e o Comitê Olímpico da época não acompanharam esse crescimento
técnico, não eram ambiciosos, nós tínhamos as delegações menores. Não
se investia em nada, não se apostava em uma olimpíada seguinte, era só
no momento”.
O voleibol brasileiro naquela época era dirigido por pessoas muito mais políticas que
dirigentes. A CBV não se preocupava em nenhum momento com o calendário anual,
69
não tínhamos competições pontuais, não treinávamos o suficiente, mal alimentados,
ou seja, não existia essa preocupação com relação a desempenho e
conseqüentemente com os resultados. Treinávamos em praças militares e não havia
nenhuma preocupação científica.
Esse quadro só iria mudar com a chegada de Nuzman no comando da CBV porque
ele carregava o conhecimento do atleta, a necessidade do atleta e a sua passagem
pela Federação do Rio de Janeiro, acho que lhe deu conteúdo que precisava para
se tornar um dirigente”. O Mundial de 1970 foi disputado em Sofia, na Bulgária, com
a presença de 24 seleções divididas em quatro grupos. O Brasil ficou no grupo B,
juntamente com a Tchecoslováquia, Polônia, Hungria (que eram grandes forças da
modalidade na época), Finlândia e Estados Unidos. Depois de duas décadas de
domínio de soviéticos e tchecos uma nova força surgia no Volei Mundial: a
Alemanha Oriental, campeã desse certame. Porém, o leste europeu ainda detinha a
supremacia.
TABELA 5: Campanha do Brasil no Campeonato Mundial da Bulgária 1970
DATA LOCAL RESULTADO
29/09/70 Sofia Brasil 1 x 3 Tchecoslováquia
30/09/70 Sofia Brasil 1 x 3 Polônia
31/09/70 Sofia Brasil 3 x 1 Finlândia
01/10/70 Sofia Brasil 1 x 3 Hungria
02/10/70 Sofia Brasil 3 x 0 Estados Unidos
05/10/70 Sofia Brasil 3 x 0 Mongólia
06/10/70 Sofia Brasil 3x 1 Itália
08/10/70 Sofia Brasil 3 x 2 Holanda
09/10/70 Sofia Brasil 1 x 3 Cuba
11/10/70 Sofia Brasil 1 x 3 Coréia do Norte
12/10/70 Sofia Brasil 3 x 1 Iugoslávia
Fonte: Arquivos do departamento de registros da Confederação Brasileira de Voleibol.
70
Fica claro nas palavras de Moreno que até a chegada de Nuzman à CBV, o voleibol
brasileiro ficava a cargo de dirigentes amadores e, portanto, despreparados para
comandar uma geração de atletas que poderiam trazer melhores resultados no
cenário internacional.
Diante disso podemos constatar alguns indícios de que o voleibol brasileiro não
obteve melhores resultados nessas décadas, mesmo possuindo atletas talentosos,
devido à deficiência da estrutura administrativa e técnica da CBV.
O fracasso no México serviu de advertência aos dirigentes da época, haja vista que
iniciaram timidamente um intercâmbio, porém insuficiente para grandes aspirações
no cenário internacional.
Uma dessas iniciativas ocorreu no final de 1971 com um convite feito pelo Comitê da
Federação japonesa de Voleibol enviado à Confederação brasileira de Vôlei,
solicitando a presença de um representante para um estágio naquele país. Antonio
Carlos Moreno foi indicado pelo Major Magalhães Padilha, presidente do Comitê
Olímpico, o que foi aceito pela CBV.
“A escolha foi das mais acertadas, o que há muito tempo o atleta do Randi e da
Seleção Paulista e Brasileira fazia por merecer uma oportunidade dessa – Sua folha
de serviços prestados ao Brasil não é pequena. Com 23 anos e cursando o 2º ano
de administração de empresas, Moreno dedicou toda sua vida até hoje ao Voleibol
Nacional”.
Nos dois meses que passou no Japão, Moreno teve oportunidade de presenciar o
que havia de melhor no voleibol oriental. Acompanhou o treinamento físico e técnico
das Seleções Olímpicas daquele país.
Moreno afirmava que o Japão era o país mais avançado no voleibol:
“O Japão é o país que leva mais a sério a educação esportiva do povo.
Atualmente há mais de 10 milhões de praticantes de voleibol nesse país
contra 5 mil aqui no Brasil.”
De fato, a modalidade já era um esporte bem popular na terra dos Samurais. Em
1960 os nipônicos eram apenas a oitava força no mundo. Em 1964 já se tornara os
71
terceiros e no campeonato mundial de 68. Sagraram-se vice-campões, para em
1972 em Munique atingirem o topo com a medalha de ouro nessas olimpíadas. De
fato era um exemplo de organização e técnica singulares que servem de modelo
para a época.
Em Munique, Jogos Olímpicos de 1972, o assassinato de atletas israelenses por
terroristas da Organização para Libertação da Palestina (OLP) e a inesperada
cirurgia do levantador titular – Paulo Roberto de Freitas (Bebeto) – desgastou
emocionalmente a seleção. Mesmo assim, a oitava colocação foi conseguida.
42
Nessa Olimpíada, na Alemanha Ocidental, a Federação Internacional de Vôlei
decidiu mudar a fórmula da competição olímpica da modalidade. A partir daquela
edição dos Jogos, o número de participantes passaria a ser de 12 e, as seleções
seriam divididas em dois grupos, onde os dois melhores países se classificariam
para disputarem as medalhas. Pela primeira vez o continente africano – através da
Tunísia – disputou o torneio olímpico de vôlei. O Brasil ficou no grupo considerado
mais fraco, longe das potências soviética e tcheca na primeira fase. Na estréia, a
seleção brasileira superou os donos da casa e, ganhou confiança. O Brasil teve uma
importante vitória diante dos romenos na terceira rodada. Foi um dos jogos mais
longos da história do voleibol, o Brasil venceu por 3 x 2 e o jogo demorou 3 horas e
40. Segundo Moreno esse foi um jogo muito marcante e importante para nós - mas a
derrota para os cubanos no quinto jogo acabou com as possibilidades de medalha
para os brasileiros.
TABELA 6: Campanha do Brasil nos Jogos Olímpicos de Munique 1972
DATA LOCAL RESULTADO
28/08/72 Munique Brasil 3 x 2 Alemanha Ocidental
30/08/72 Munique Brasil 1 x 3 Alemanha Oriental
01/09/72 Munique Brasil 3 x 2 Romênia
03/09/72 Munique Brasil 0 x 3 Japão
42
Marchi Júnior, Wanderley “sacando” o Voleibol, pag.108,2004.
72
05/09/72 Munique Brasil 2 x 3 Cuba
08/09/72 Munique Brasil 0 x 3 Tchecoslováquia
09/09/72 Munique Brasil 0 x 3 Coréia
Fonte: Arquivos do departamento de registros da Confederação Brasileira de Voleibol.
O Brasil ressentia de um maior intercâmbio com as principais potências. O técnico
da equipe brasileira, Célio Cordeiro afirmava que os jogos contra as equipes da
América do Sul, de nada adiantava:
“Não aprendemos nada – basta verificar o resultado do último Sul-
Americano, onde fomos campeões sem perder um set. O Voleibol Brasileiro
já se encontra entre os oito ou nove melhores do mundo, levando-se em
conta serem 96 as nações filiadas a FIVB”. (Vôlei precisa de intercâmbio.
Gazeta Esportiva, 26/09/73. SP.).
De tanto clamarem pelo intercâmbio. O Conselho Nacional de Desportos, junto à
CBV, procurara incentivar o voleibol, visando uma melhor participação nas
Olimpíadas.
A promoção do Torneio Internacional “Santos Dumont” de Vôlei Masculino.
A decisão partiu do Ministério da Educação: trazer ao Brasil o que de melhor existe
no mundo em termos de voleibol.
A Federação Paulista teve participação importante na organização do torneio. As
melhores Seleções do mundo da época confirmavam participação: URSS, Alemanha
Oriental, Japão, Bulgária e Checoslováquia.
Outro fator importante foi decidido: a competição não iria se realizar em apenas uma
cidade. Ela se estenderia a todos os centros onde o vôlei estava se desenvolvendo
mais rapidamente, ou seja, em São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, recife, Belo
Horizonte e Brasília. Com isso outro objetivo poderia ser conseguido, o de mostrar a
todo o Brasil o bom voleibol e tirar desta lição os proveitos técnicos necessários.
Realmente o torneio vinha num bom momento na tentativa de impulsionar o voleibol
nacional masculina. Havia, porém um contra-ponto neste processo. A preparação
para a competição começou tarde e os atletas também não estavam convenientes
73
preparados.
O levantador da Seleção, Willian, analisou esse tipo de dificuldade com o seguinte
depoimento:
“Treinamos bem pouco. Sentimos falta de um trabalho de profundidade,
maior intercâmbio e além disso temos problemas com as faltas às aulas e
ao trabalho. O CND nos dispensa das aulas, mas a escola não entende.”
(Declaração de Willian: In: Dificuldade na preparação dos jogadores.
43
Apresentação de um campeonato (talvez o maior já realizado em nosso país) que
vai reunir os melhores times do mundo e onde o Brasil pode perder a vontade, pois
seu objetivo é só aprender.
44
O último Campeonato Mundial de Vôlei disputado antes da Era Nuzman foi em 1974,
na Cidade do México, com a participação de 24 seleções, agora divididos em 6
grupos com 4 países cada. O Brasil ficou no grupo C e, teve vitórias sobre franceses
e panamenhos e, uma boa apresentação diante dos búlgaros apesar da derrota.
Segunda colocada na chave, a seleção não teve sorte no emparelhamento dos
grupos da segunda fase. Disputando vaga no torneio que definiria as posições entre
primeiro e sexto colocados com Tchecoslováquia, União Soviética e Cuba, o Brasil
não tinha chances. Restou para o time nacional a briga entre sétimo e décimo
segundo lugares, onde até poderia ter alcançado a oitava colocação não fosse a
surpreendente derrota para os donos da casa.
O Brasil encerrou o mundial na nona posição. Os campeões foram os poloneses,
que venceram Egito, Estados Unidos e União Soviética na primeira fase; bateram
Bélgica, Alemanha Oriental e México na segunda etapa; e na fase final superaram
Tchecoslováquia, novamente a União Soviética e a Alemanha Oriental, Romênia e,
finalmente o Japão, com cem por cento de aproveitamento. A União Soviética ficou
em segundo e o Japão em terceiro lugar.
43
Folha de São Paulo, 21 out. 1973.
44
Folha de São Paulo. 15 Out.1973.
74
TABELA 7: Campanha do Brasil no Campeonato Mundial do México 1974
DATA LOCAL RESULTADO
12/10/74 Cidade do México Brasil 3 x 0 França
13/10/74 Cidade do México Brasil 3 x 0 Panamá
14/10/74 Cidade do México Brasil 2 x 3 Bulgária
18/10/74 Cidade do México Brasil 0 x 3 Cuba
19/10/74 Cidade do México Brasil 0 x 3 União Soviética
20/10/74 Cidade do México Brasil 0 x 3 Tchecoslováquia
24/10/74 Cidade do México Brasil 3 x 0 Holanda
25/10/74 Cidade do México Brasil 3 x 1 Bélgica
26/10/74 Cidade do México Brasil 0 x 3 México
27/10/74 Cidade do México Brasil 1 x 3 Cuba
28/10/74 Cidade do México Brasil 3 x 0 Bulgária
Fonte: Arquivos do departamento de registros da Confederação Brasileira de Voleibol.
Neste capítulo situamos historicamente a emergência da Confederação Brasileira de
Voleibol, pontuando a sociedade que potencializou a criação da instituição bem
como a sua organização e política interna.
75
CAPÍTULO 3
3 A ERA NUZMAN
Fonte: Departamento de Registro da CBV. Arquivo iconográfico, 2006.
Compreender a contribuição da gestão de Carlos Arthur Nuzman à frente da
Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) possibilita colaborar efetivamente com a
história do esporte no Brasil, permitindo interpretações de seus processos e
caminhos no decorrer do tempo, lançando luz às discussões contemporâneas.
Pela eleição do dia 18 de janeiro de 1975, Carlos Arthur Nuzman, aos 32 anos de
idade, assumiu a presidência da Confederação Brasileira de Voleibol vencendo
Roberto Moreira Calçada (presidente da entidade de 1961 a 1975) por doze votos a
oito, em eleição histórica nos meios esportivos. Destacou-se rapidamente por ser
possuidor de vocabulário inusitado, suas intervenções eram próximas às de um
investidor da bolsa de valores ou de um executivo sintonizado com os modelos
avançados de gestão administrativa.
Constantemente, estava em seu vocabulário afirmações como “profissionalizar o
esporte, enxugar a máquina da CBV, levar as partidas de vôlei à televisão, criar
seleções permanentes e atrair empresas”.
45
45
NUZMAN, Carlos Arthur, O pai da matéria. Saque, São Paulo, nº 1, 1985. Entrevista
76
A vitória de Nuzman pode ser interpretada também a partir da intervenção de um
dirigente esportivo que esteve na presidência da Federação Paulista de Voleibol de
1962 a 1969 e, posteriormente, foi prestar serviços ao Clube Paulistano. Trata-se do
empresário Mário de Sales de Oliveira Malta. Tendo sua formação esportiva no
Tênis Clube Paulista, clube que o projetou como dirigente. Malta procurou desde
cedo conduzir mudanças estratégicas na prática e na administração do voleibol para
que a modalidade pudesse gozar de prestígio nacional e internacional.
A aposta em Nuzman foi uma delas, e um episódio foi marcante nessa eleição. O
presidente anterior ao Nuzman era Roberto Moreira Calçada, com o qual Malta
travava constantes discussões tendo em vista o desenvolvimento do voleibol, mas
“sempre em alto nível”, ressalta o empresário. Porém, quando do período das
eleições na CBV, Calçada teve investida equivocada ao procurar desmoralizar Malta
através da imprensa, mais especificamente no Jornal O Estado de São Paulo. Malta
era considerado pelos presidentes das demais federações como candidato ideal
para fazer a sucessão de Calçada. Mas, segundo suas próprias palavras, “não tinha
interesse no cargo” e, além disso, acreditava no expoente potencial administrativo
de Nuzman. Mário Malta relembra:
Eram 11 horas da noite, eu já estava deitado e o telefone tocou. Era o Paulinho
Silveira, do Estado de São Paulo. Ele me disse então que havia recebido uma
entrevista do Rio de Janeiro, onde o Calçada, saindo do Comitê Olímpico, declarava
uma série de coisas contra mim. O Paulinho me disse: 'Eu vou ter que publicar, é
uma matéria que eu recebi e eu vou ter que publicar. Você tem alguma coisa a
dizer'? Então respondi: 'Nada a dizer, pode publicar que eu vou ver o que eu faço
depois'. No outro dia a manchete era a seguinte: 'Calçada diz que Malta é sujo e
subversivo'. Peguei o jornal, fui ao meu advogado, um ex-juiz de direito e falei: 'Meu
amigo, Lei de imprensa em cima do Estado de São Paulo e em cima do Calçado'.
Nas audiências, o Calçada tratou de desmentir tudo o que havia dito e eu acabei
ganhando a questão. O Estado de São Paulo publicou então, na mesma página,
com o mesmo destaque, a retratação do Calçada. Daí eu fiz algumas pastinhas com
cópias dos dois jornais e enviei para cada federação.
77
Isso ainda antes das eleições. E o Nuzman acabou vitorioso.
46
Após a vitória de Nuzman, Malta passou a ser o vice-presidente das relações
exteriores da CBV.
Considerado leitor assíduo dos trabalhos de Roberto Campos sobre a modernização
do capitalismo brasileiro, Nuzman, ao assumir a confederação, projetou um novo
estilo administrativo que lhe rendeu algumas comparações, dentre as quais a mais
inusitada foi ser referenciado pelos adjetivos “soberbo, vaidoso e implacável” rei
babilônico que desafiava os deuses, o épico Gilgamesh.
47
Esses adjetivos se justificam, talvez, por ter sido ele o único dirigente brasileiro a
não apresentar oposição visível. Não encontrava um só dirigente de clube ou
federação disposto a criticá-lo sobre sua conduta administrativa. Suas realizações e
sua capacidade de arregimentar aliados são algumas de suas “virtudes” pessoais
que geraram uma espécie de temor e respeito ao perspectivar um confronto público
com o dirigente.
Esse conjunto de informações remete à análise da representatividade social imposta
a um empresário e a um dirigente no campo esportivo. Quando relatamos que a
criação do voleibol o distinguia de outros jogos, que posteriormente foram
desportivizados na Europa, estávamos reafirmando a tese do esporte que foi
inventado e que, diante do seu processo de expansão ou exportação, refletia na
composição do seu campo esportivo, em diferenciados países, a estruturação das
relações estabelecidas pela sociedade norte-americana, mais especificamente as
interconexões e disposições construídas pelos clubes de elites.
Sustentado também por seis reeleições, o dirigente respondeu pelo período
referente aos mandatos de 18 de fevereiro de 1975 a 07 de janeiro de 1997. À frente
da CBV, provavelmente a “era Nuzman” foi a que mais marcadamente destacou o
processo de transição do voleibol.
46
MALTA, Mário. Precisamos urgentemente reduzir o tempo dos jogos de vôlei. Saque, São Paulo, nº
6, p. 56 –7, 1985. Entrevista.
47
LEITÃO, op. cit. p. 67-9.
78
Ao assumir a presidência do Comitê Olímpico Brasileiro – COB, em 1995, Nuzman
foi sucedido, oficialmente, pelo último vice-presidente, Ary da Silva Graça Filho, em
processo eletivo do dia 07 de janeiro de 1997.
48
3.1 UM POUCO DA BIOGRAFIA DE NUZMAN
O ano de 1975 é considerado o começo da idade do ouro do voleibol no Brasil. Esse
título foi fruto de muito trabalho, superação e adversidades criadas durante toda a
história da modalidade. Assim, o advogado Carlos Arthur Nuzman, nascido e criado
na cidade do Rio de Janeiro, no Méier, neto de imigrantes russos, judeu, filho de
advogado, iniciou sua independência financeira como incorporador imobiliário,
condição que lhe permitiu, durante seu período de presidência na CBV, passar as
manhãs em seu escritório de advocacia – trabalhando em contendas de Direito de
Família – e as tardes e noites no prédio da Confederação, instalado
estrategicamente em um edifício em frente ao Fórum, no Centro do Rio de Janeiro.
Reconhecido pela mídia como um dos maiores responsáveis pela transformação do
Voleibol, dando início à era de conquistas e passagem do status de amadorismo
para o de profissional. “Dos tempos da improvisação à era dos títulos, nosso vôlei
evoluirá muito com uma receita infalível que incluirá a organização, craques,
patrocínio e muito trabalho” (NUZMAN apud SAQUE, 1985).
Ao estudar o voleibol e sua trajetória administrativa, inevitavelmente, tem-se que
passar pela história de Nuzman, que teve seu primeiro contato com o voleibol em
1957 no Colégio Mello e Souza, Rio de Janeiro. Aos quinze anos destacou-se como
jogador de defesa e aos 17 anos foi convocado para a seleção juvenil carioca. Como
atleta defendeu o Clube Israelita Brasileiro (CIB), a Associação Atlética Banco do
Brasil (AABB), o Clube Fluminense e Botafogo. Experimentou socialmente o voleibol
numa época em que os espectadores se resumiam a alguns amigos, pais e a
namorada. Seu ápice como atleta foi no Botafogo, chegando à Seleção Nacional.
Naquela época, o número de atletas registrado pela CBV era de 3.480.
48
Relatório da CBV de Presidentes, Eleições e Mandatos. CBV, Rio de Janeiro, 28 de maio de 1999,
p.8.
79
Como atleta Nuzman sempre foi um bom jogador, mas não era considerado um
craque, era muito genioso e sempre entrava em conflito com a torcida.
49
Pela
Seleção Brasileira disputou o Campeonato Mundial na URSS (1962) e na
Tchecoslováquia. Foi nesse evento em que mais uma vez demonstrou seu forte
temperamento quando descobriu que a equipe iria para uma cidade e o chefe da
delegação iria para outra. Com essa informação, a equipe, liderada por ele, redigiu
um documento desligando-se da delegação 24 horas após o fato e pedindo ao chefe
da delegação uma providência em relação à situação em que se encontravam.
Faltando cinco dias para o término do mundial, Nuzman voltou a conversar com o
chefe da delegação e, como nenhuma providência foi tomada, Nuzman deu-lhe o
ultimato, prometendo denunciá-lo à Embaixada do Brasil por abandono da
delegação no exterior. Depois do ocorrido, Nuzman não foi mais convocado para a
seleção.
Em 1971, foi campeão da Taça Brasil e da Copa Sul-Americana de Vôlei pelo
Botafogo, façanha também obtida em 72, década em que o número de atletas de
voleibol registrados pela CBV era de 11.851.
Em dezembro de 1972, ele encerrou sua carreira de atleta e um mês depois foi
convidado a assumir a presidência da Federação Carioca de Voleibol, entidade na
qual ficou à frente durante dois anos.
3.2 A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
Ao estudarmos a revolução efetivada no gerenciamento administrativo da
modalidade, percebemos algumas fases de sua marcante gestão à frente da
Confederação Brasileira de Vôlei. No princípio de seu mandato, Nuzman montou e
organizou a estrutura interna da CBV, buscando uma base administrativa.
49
PINTO, Guilherme Cunha e NUZMAN, Carlos Arthur - A receita do vôlei: o dirigente que
revolucionou o esporte amador brasileiro aponta as saídas para um país que é pobre também
em medalhas olímpicas. Veja, São Paulo, p. 5 - 8, 22 de fev. de 1984.
80
Ao elaborar um plano de modificação na estrutura das comissões das seleções
brasileiras – infanto-juvenil, juvenil e principal – conseguiu aumentar a qualidade dos
trabalhos técnicos proporcionando a formação de uma estrutura sólida das seleções
masculina e feminina, fornecendo bolas, uniformes, concentração e ajuda de custos.
Em relação à reforma administrativa, nomeou Paulo Márcio Nunes da Costa como
superintendente técnico, e lhe deu como primeira tarefa um estágio no Japão com o
objetivo de colher informações sobre estrutura, organização e condições de
treinamento.
No relatório foram apresentadas as seguintes propostas:
[...] (a) incentivar a prática nas escolas e universidades através de torneios
e campeonatos, sendo que os das categorias mirim e infantil seriam
disputados por equipes escolares; (b) estimular a pesquisa científica, com a
formação de uma equipe especializada que pudesse elaborar seus próprios
métodos de trabalho; (c) dar maior estímulos a campeonatos nacionais que
estaduais; (d) procurar patrocinadores para os campeonatos de forma a
resolver o problema de falta de verbas, incrementando a publicidade no
sentido de atrair um maior público; (e) facilitar e incentivar o aumento no
número de pessoas nos eventos de voleibol, além de estudar a
possibilidade de publicação de revistas especializadas com linguagem fácil
e atraente; (f) elaborar um histórico, onde seriam levantadas informações
relativas as atuações dos jogadores em competições e (g) promover
durantes os treinamentos das seleções, ensinamentos de educação
esportiva, com o intuito de estimular o desenvolvimento de uma disciplina
consciente.
50
(COSTA, 1975).
A partir desse relatório, percebeu-se que o modelo socialista – aquele que o Estado
detinha todo o poder na formação das seleções – não seria compatível com as
características dos dirigentes e atletas no Brasil.
O modelo japonês poderia ser seguido em parte, visto que a realidade política
brasileira naquele momento histórico era muito distinta da japonesa, pois o país
encontrava-se em pleno regime ditatorial e sofria forte influência do modelo
econômico americano.
O modelo americano de gestão consistia em profissionalização do corpo
administrativo da CBV, criação de departamentos autônomos e interligados e
introdução do marketing esportivo.
50
COSTA, Lamartine P. da. Emergência e difusão do desporto moderno na América Latina. Porto
Alegre: UFRGS, 2000.
81
Buscando adotar um modelo mais próximo desta ideologia, que trata o esporte como
negócio, Nuzman foi convidado a integrar a diretoria da FIVB (Federação
Internacional de Voleibol) no primeiro ano de seu primeiro mandato na CBV.
Em uma reunião na Alemanha Ocidental teve contato com a idéia de patrocínio, o
que reforçou a implantação do modelo ideológico americano, através da iniciativa da
empresa de materiais esportivos Adidas. A partir daí, teve a visão de como trabalhar
o voleibol como um produto, uma mercadoria a ser vendida.
51
Nuzman acreditava que o esporte deveria deixar de ser amador, e era a sua meta
profissionalizar o esporte voleibol. A partir desse ideal, buscou novas formas de
administração do voleibol, nas quais pudessem “subsidiar melhores condições de
participação e treinamento para seleções e clubes brasileiros” (MARCHI JR., 2004).
Em 1976, nas Olimpíadas de Montreal, no Canadá, a Seleção Brasileira terminou
em sétimo lugar. Foi à primeira participação internacional da Seleção sob o
comando de Carlos Arthur Nuzmam à frente da Confederação Brasileira de Voleibol.
TABELA 8: CAMPANHA DO BRASIL NOS JOGOS OLÍMPICOS DE
MONTREAL DE 1976
DATA LOCAL RESULTADO
18/07/76 Montreal Brasil W.O. Egito
20/07/76 Montreal Brasil 0X3 União Soviética
22/07/76 Montreal Brasil 0X3 Japão
24/07/76 Montreal Brasil 3X2 Itália
26/07/76 Montreal Brasil 2X3 Coréia
27/07/76 Montreal Brasil 3x0 Itália
Fonte: Arquivos do departamento de registro da Confederação Brasileira de Voleibol
51
NUZMAN, Carlos. O pai da matéria..., op.cit., p. 38.
82
Esta colocação não agradou o dirigente que sentiu necessidade de adotar uma nova
postura com o objetivo de massificar o vôlei no país. O I Campeonato Brasileiro foi o
início de um planejamento elaborado pela CBV, com carência de dez anos, como
destacava Nuzman na edição de 30 de outubro de 1976 da folha da manhã “... a
massa demora a assimilar o esporte, precisamos de tempo. O Brasil pretende
adquirir técnica para enfrentar os melhores”.
A nova competição nacional envolvia equipes de todo o país em fases preliminares
e, o campeão de cada zona estaria classificado para a fase final. Percebemos que
com essa estratégia, a confederação tinha por objetivo aumentar o número de
adeptos da modalidade no país, o que refletiria numa maior popularização do vôlei
nacional e num maior leque de possibilidades, visto que vários atletas poderiam
despontar em nível nacional podendo, posteriormente, integrarem novas seleções
brasileiras.
Em janeiro de 1977, a seleção brasileira masculina, dentro da proposta de
intercâmbio com os maiores expoentes da modalidade, fez uma excursão pela
Europa. O objetivo da viagem era dar maior experiência internacional aos jogadores.
No Brasil, foi realizado o primeiro Campeonato Mundial Juvenil. Era a oportunidade
que Nuzman aguardava para mostrar ao mundo a organização da entidade brasileira
e dar experiência aos jovens talentos que formariam a próxima equipe adulta – que
se consagraria como a “Geração de Prata”. O intercâmbio, algo que foi tão
reclamado pela geração anterior, passava a ser uma realidade para a seleção
brasileira juvenil, competição na qual o Brasil obteve a terceira colocação,
fortalecendo o voleibol nacional, pois a base da seleção juvenil viria mais tarde
conquistar a prata no Mundial da Argentina, em 1982, e nos Jogos Olímpicos de Los
Angeles, em 1984. Merece destaque, também em 1977, o Botafogo – campeão
brasileiro – que representou o país na Copa Sul-Americana de Clubes, em São
Paulo, e obteve o título continental.
A melhor colocação em participações nos Campeonatos Mundiais aconteceu em
1978, na Itália, onde a seleção masculina conquista o sexto lugar. Depois desta
participação, a seleção brasileira sempre estaria entre as cinco melhores do mundo.
A União Soviética recuperou a hegemonia do vôlei mundial e, após três edições,
voltou a conquistar o título.
83
TABELA 9: CAMPANHA DO BRASIL NOCAMPEONATO MUNDIAL DA
ITÁLIA - 1978
DATA LOCAL RESULTADO
20/0978 Roma Brasil 3X0 Tunísia
21/09/78 Roma Brasil 1X3 URSS
22/09/78 Roma Brasil 3X1 França
24/09/78 Roma Brasil 2X3 Itália
25/09/78 Roma Brasil 1X3 China
27/09/78 Roma Brasil 3X2 Alem. Oriental
28/09/78 Roma Brasil 3X0 Bulgária
30/09/78 Roma Brasil 3X0 Polônia
01/10/78 Roma Brasil2X3 Tchecoslováquia
Fonte: Arquivos do departamento de registro da Confederação Brasileira de Voleibol
Os Jogos Olímpicos de Moscou em 1980, na União Soviética, sofreram o boicote
dos Estados Unidos e de outros países aliados aos americanos na Guerra Fria,
estabelecida desde a década de 50. Essa seria a grande oportunidade para nossa
seleção que começava a apresentar melhorias técnicas e administrativas. A fórmula
de disputa foi mantida pela FIVB: dez seleções divididas em dois grupos de cinco
países cada, com os dois melhores garantindo vaga na briga por medalhas. O Brasil
estava em um grupo considerado forte, com os atuais campeões olímpicos – a
Polônia – e uma das tradicionais escolas do vôlei mundial – a Romênia. As seleções
da Iugoslávia e da Líbia completavam o grupo. A derrota para os iugoslavos, na
primeira rodada, deu à seleção brasileira a chance de disputar a tão sonhada
medalha olímpica. No entanto, ninguém imaginava que a nossa seleção seria capaz
de vencer os atuais campeões olímpicos na última rodada da fase classificatória –
três sets a dois. Foi um resultado exponencial, mas insuficiente para seguir à fase
semifinal. Restava a disputa do quinto ao oitavo lugar. O sexteto brasileiro – Moreno,
Montanaro, Bernard, Xandó, William e Renan – consegue a melhor colocação em
Olimpíadas até então: o quinto lugar.
84
TABELA 10: CAMPANHA DO BRASIL NOS JOGOS OLÍMPICOS DE MOSCOU DE
1980
DATA LOCAL RESULTADO
22/07/80 Moscou Brasil 2X3 Iugoslávia
24/07/80 Moscou Brasil 1X3 Romênia
26/07/80 Moscou Brasil 3X0 Líbia
28/07/80 Moscou Brasil 3X2 Polônia
30/07/80 Moscou Brasil 3X0 Tchecoslováquia
31/07/80 Moscou Brasil 3x2 Iugoslávia
Fonte: Arquivos do departamento de registro da Confederação Brasileira de Voleibol
Seguindo o processo histórico apresentado até aqui, o voleibol delineou um caminho
em que a superação do amadorismo era tida como condição sine qua non para o
desenvolvimento e modernização da modalidade, tanto em seus aspectos
administrativos quanto competitivos. Os últimos resultados internacionais – mundial
e Jogos Olímpicos – corroboram para esse fato. A fase de abnegação e do
romantismo do esporte deveria ser deixada para trás por conta de um emergente
processo de profissionalização que se instaurava no voleibol.
Para tanto, eram necessárias, ao lado das mudanças administrativas,
transformações na esfera jurídica, já que a legislação do esporte não era compatível
com as alterações que estavam ocorrendo na CBV e na prática da modalidade. Por
conta disto, Nuzman trouxe do Mundial da Itália, em 1978, a idéia de se aproveitar a
publicidade nas camisas dos atletas, mas esbarrou na lei do CND (Conselho
Nacional do Desporto) de 1977. Segundo essa lei, todos atletas amadores eram
proibidos de receber salário e de exibir propaganda em seus uniformes de
competição (Decreto nº 80.228/77).
Em 1979, a confederação entregou um projeto ao Governo Federal propondo a
criação de um modelo esportivo, buscando através desse um modelo ideal de
gestão, no qual os atletas passariam a ter algumas facilidades, como diminuição das
tarifas de transportes terrestres dentro do território nacional, alimentação,
85
hospedagem, abono de faltas e reposição de provas em períodos escolares ou
universitários. Esse projeto não foi aceito pelo Poder Legislativo.
Um fato marcante, confirmando a convicção e a persistência de Carlos Arthur
Nuzman na profissionalização do voleibol, aconteceu na Olimpíada de Moscou de
1980, quando da realização do jogo entre Brasil e Polônia (campeã olímpica em
Montreal, 1976).
Nesse jogo, a equipe brasileira perdia por dois sets a zero e, após uma
surpreendente reação, o Brasil conseguiu vencer a equipe polonesa por três sets a
dois. Um detalhe, todos os sets dessa partida foram decididos na diferença de dois
pontos e, internacionalmente, foi o jogo que revelou o jogador Renan Dal Zotto,
eleito um dos cinco melhores atletas de voleibol do século. Essa partida é
considerada por Nuzman como “um dos jogos mais importantes para a história do
voleibol brasileiro”.
52
Para entender o destaque e a conseqüente importância desse momento para o
voleibol nacional devemos considerar a base de apoio que Nuzman construiu e
direcionou, politicamente, por empresários e, intelectualmente, por economistas
detentores de convicções conservadoras em relação ao esporte.
Assistindo ao referido jogo, ao lado do dirigente estava Antônio Carlos Braga, mais
conhecido por Braguinha, amante do esporte e executivo da companhia de seguros
Atlântica/Boavista. Emocionado, ele perguntou a Nuzman por que aqueles atletas
estavam jogando na Itália e o que faltava para o Brasil possuir equipes e seleções
capazes de manter aquele nível de performance, fato que inevitavelmente levaria a
grandes conquistas no cenário internacional.
53
52
NUZMAN, Carlos. O pai da matéria. Saque, São Paulo, nº 1, 1985. Entrevista
53
No final da década de 1970 e início da década de 1980, uma legião de jogadores com nível de
seleção brasileira sucumbiram a melhores ofertas (salários, bolsa de estudo, treinamentos
sistematizados, qualidade de vida) para atuar no voleibol da Itália. Para o técnico Paulo Roberto de
Freitas (Bebeto), que viveu a experiência de jogar em outro país, os atletas estavam em busca de
melhores condições financeiras e possibilidades de ascensão cultural – Bentes, Mara. Bernard e
Fernando buscam na Itália o que é difícil aqui. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 04 de maio de 1978.
86
Habilmente, percebendo que aquela era uma oportunidade singular, Nuzman
respondeu ao empresário com a seguinte argumentação: “Se você topar, posso
propor ao CND a entrada das empresas no vôlei, assim como ocorre na Itália,
Espanha, Alemanha, Japão e Coréia.
54
A partir de 1980, a Confederação começou a travar uma batalha com o Conselho
Nacional de Desportos – CND para a liberação da entrada de empresas no vôlei, e
exibirem em seus uniformes, como forma de propaganda, as marcas de seus
patrocinadores, feito realizado em 1981.
55
Dessa maneira, surgiram as primeiras Associações Desportivas Classistas que
garantiram salários e a permanência dos atletas no país, além de possibilitar
melhores estruturas e disponibilidades para os treinamentos. Esse processo
culminou com a participação dessas equipes em competições destinadas ao
desporto comunitário.
56
As solicitações de Carlos Arthur Nuzman em relação ao esporte foram aprovadas
por quatro votos a três, sendo também incluída no projeto a deliberação que proibia
a saída de jogadores para outros países.
57
Para alcançar o nível desejado, o vôlei contou com o apoio do Ministro da Educação
Nei Braga e do Brigadeiro Jerônimo Bastos, Presidente do Conselho Nacional de
Desportos, que exerceram estes cargos no governo do General Ernesto Geisel.
Sem a ajuda deles, seria muito difícil ter começado, recorda Nuzman, ex-candidato a
deputado pela Arena na mesma época do governo Geisel. Além deles, o dirigente
lembra de outra pessoa “muito importante”: o general César Montagna, sucessor do
Brigadeiro Jerônimo Bastos na presidência do CND. “Ele foi o voto de minerva a
nosso favor na reunião que decidiu pela liberação do uso da publicidade nos
uniformes. Foi quando começou a arrancada do esporte”.
58
54
NUZMAN, Carlos Arthur. Apud Pinto, op. cit., p. 8.
55
Brasil. Conselho Nacional de Desportos. Deliberação nº 3/80. Diário Oficial, 06 jun.1980.
56
Brasil. Conselho Nacional de Desportos. Deliberação nº 10/83. Diário Oficial, 22 ago. 1983.
57
Brasil. Conselho Nacional de Desportos. Deliberação nº 12/80. Diário Oficial, 23 out. 1980.
58
MORENO, Mariúcha & VASCONCELLOS, Paulo César. A década do vôlei. Jornal do Brasil, Rio
de Janeiro, 31 dez. 1989.
87
Fica claro nessa conquista por patrocínio que a medida tinha intuito de preservar a
solução de continuidade e o potencial desenvolvimento de atletas nacionais.
Consideramos aí um grande salto qualitativo para o voleibol nacional.
Nesse contexto, foram esboçados indícios do processo de modernização e
profissionalização do voleibol, fruto da batalha vencida, da persistência e obsessão
de um dirigente esportivo que creditava a viabilidade do esporte na associação com
a iniciativa privada. Nuzman visualizou a necessidade de absorção de propostas
administrativas externas que determinassem resultados positivos para o voleibol
nacional. O fato de destaque foi à rejeição do exemplo socialista e as similaridades
ou aproximações aos modelos asiático e norte-americano.
Assim, na interpretação do dirigente, o Estado não deveria ser o gerenciador
exclusivo do esporte, nem tampouco subordinar a população esportiva do país às
regras e determinações impostas pela estrutura governamental. A idéia era a
iniciativa privada assumir plenamente os poderes administrativos das equipes,
tornando-se proprietárias de clubes ou associações, porém o Brasil não apresentava
cultura esportiva adequada para suportar ou investir de imediato nessa nova
estrutura.
Obviamente, a transferência dos modelos externos não aconteceu de modo
simplista ou mecânico. Adaptações foram necessárias, e um período de assimilação
e aceitação dos possíveis procedimentos foi essencial. A fase do romantismo ou do
amadorismo estava com seus dias contados, em detrimento de uma versão
inusitada do profissionalismo esportivo em administração e participação.
A primeira proposta de montagem de estrutura esportiva competitiva partiu de
Braguinha – Atlântica/Boavista de Seguros do Rio de Janeiro. A iniciativa do
executivo despertou o interesse dos empresários e resultou na possibilidade de
profissionalização das seleções, além da criação de duas ligas nacionais para os
times patrocinados. À ação pioneira somaram-se as intervenções do Banco
Bradesco do Rio de Janeiro, da fábrica de pneus Pirelli de Santo André e do Banco
do Estado de São Paulo – Banespa.
59
59
MARCHI JUNIOR, Wanderley. Sacando o voleibol. São Paulo: Hucitec, 2004, p.124.
88
Esse processo de patrocínio das empresas às equipes de voleibol, em curto espaço
de tempo, trouxe aos investidores considerável retorno publicitário, com suas
marcas sendo veiculadas fartamente em jornais, revistas e na televisão. Acrescenta-
se ainda o enorme contingente de torcedores que associavam a sua paixão pelos
clubes e ídolos aos produtos ou às empresas que esses defendiam em disputas nos
ginásios, quase sempre lotados, do Ibirapuera, em São Paulo, ou do
Maracanãzinho, no Rio de Janeiro.
60
Com a entrada do patrocínio das empresas na estruturação dos programas de
desenvolvimento das equipes competitivas, ficaram consideravelmente resolvidas as
dificuldades pertinentes aos aspectos de manutenção dos atletas no Brasil, à
divulgação da modalidade para a população e à dedicação exclusiva dos jogadores
aos treinamentos. Assim, os atletas passaram a ser remunerado para dedicar-se
integralmente ao voleibol.
61
Diante da estrutura arquitetada e do iminente sucesso que a parceria
esporte/empresa apontava, surgiram combinações que foram fundamentais e – por
que não dizer? – alicerces no processo de ascensão do voleibol no país. Uma delas,
se não a de maior expressão, foi à incursão e a propulsão do voleibol nos meios
televisivos.
O papel da TV foi decisivo para o sucesso do voleibol. Brunoro ressalta que alguns
países como os EUA mostram claramente a visão do público em relação à TV, em
que cerca de 50 a 60% das pessoas que querem ver TV, hoje, querem ver
esportes.
62
O ano de 1981 marcou a grande virada do vôlei brasileiro. A Atlântica/Boa Vista do
Rio de Janeiro entrava na modalidade para revolucionar o esporte no país. O próprio
Campeonato Brasileiro passou a ter um maior número de participantes e, o vôlei
ganhou mais adeptos em todo o país.
63
60
Vôlei compensa falta de verba com publicidade. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 21out. 1982.
61
RUSSEL, Luís. Ascensão de vôlei faz do atleta um profissional. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 1º
de fev. 1982.
62
Brunoro, op.cit., p.81.
63
Comprovados no Departamento de Registros de Atletas da C.B.V., passando de 11.851 (1971-
1980) para 13.980 no final do ano de 1981.
89
Um bom exemplo desta nova popularidade do esporte foi à partida final do
Campeonato Brasileiro de Clubes. Esse jogo levou 13.150 pagantes ao ginásio do
Maracanãzinho, no Rio e Janeiro. A Atlântica/Boa Vista venceu a equipe da Pirelli de
Santo André-SP por três sets a zero e conquistou o primeiro título para o recém time
profissional carioca.
64
Comandados pelo técnico Bebeto de Freitas, o sexteto titular
era formado pelos atletas Bernardinho, Bernard, Xandó, Renan, Amauri e Léo.
Não poderíamos deixar de enfatizar a importância de um atleta dessa geração,
Bernard Rajzman. O jogador entrou para a história da modalidade com o saque que
ele denominou de “Jornada nas Estrelas”. O saque proporcionou ao vôlei brasileiro
uma ascensão popular fantástica, o que ajudou a modalidade a ocupar o segundo
esporte na preferência nacional.
65
O jornada era uma técnica extraordinária, pois não consistia apenas em executar um
saque “alto”. Bernard lançava a bola para uma altura perto do limite do teto dos
grandes ginásios, com força e efeito para dificultar ao máximo a recepção
adversária. O saque “Jornada nas Estrelas” fez tanto sucesso junto aos
expectadores que poderíamos arriscar a hipótese de que ele ajudou a popularizar a
modalidade no país.
Na final do Campeonato Sul-Americano de Clubes, Bernard defendia a Atlântica/Boa
Vista, vencendo o jogo por um placar amplamente favorável contra o Ferro Carril da
Argentina, decidiu que aquela era a hora de colocar em prática o que já ensaiava
nos treinamentos. A bola foi arremessada para o cume do ginásio do
Maracanãzinho; fez a trajetória, com efeito, girando sob seu próprio eixo e,
momentos depois, voltando da “viagem espacial’’ caiu em direção à quadra
adversária, sem defesa.
66
O espetáculo fez a população vibrar nas arquibancadas.
Em julho de 1983, a CBV organizou uma série de amistosos entre a Seleção
Brasileira e a Seleção da URSS, com o intuito de difundir o esporte em todo país. O
último jogo foi realizado no estádio do Maracanã, com um público de 95.887
pessoas, foi o maior público em uma partida de vôlei, recorde mantido até hoje. A
64
RUSSEL,Luís. Vôlei encerra temporada como fenômeno do esporte. Jornal do Brasil, Rio de
Janeiro, 20 jan. 1982.
65
RODRIGUES, Marco Antônio. O vôlei-show. O Estado de São Paulo, 2 abr. 1982.
66
KOCH,Rodrigo. Tie-Break. Porto Alegre: Doa Luzzatto, 2005, p. 131.
90
partida foi transmitida ao vivo pelas Redes de Televisão Cultura e Record, algo
impossível de acontecer antes da implantação do modelo de gestão de Nuzman,
ainda mais tratando-se de uma partida amistosa. Várias foram as particularidades
desta partida.
67
Jogo entre Brasil e URSS, realizado no Maracanã, em 1983.
Fonte: Departamento de Registro da CBV. Arquivo iconográfico, 2006.
Primeiro, chovia muito no Rio de Janeiro naquele dia e o piso do maracanãzinho,
encharcado, impedia o andamento da partida. Para solucionar o problema do piso
escorregadio, foram colocados tapetes e feitas marcações com fitas para que o jogo
fosse realizado normalmente, mesmo assim a dificuldade era grande.
Verificou-se nesse espetáculo a quebra de um paradigma e o poder do esporte em
aproximar os povos: a seleção da URSS sempre séria e distante passou a ajudar a
secar o chão para que a partida prosseguisse, para horror de nossos militares que
sempre venderam os Russos como “comedores de criancinhas”.
A Seleção Brasileira venceu a partida por 3 sets a 1 (14 a 16, 16 a 14, 15 a 7 e 15 a
10), marcando a guinada do projeto estabelecido por Nuzman de popularização do
esporte no Brasil.
A CBV tentou dois anos mais tarde, repetir esse evento em São Paulo no estádio do
67
FRASCINO, José. Voleibol: o jogador, a equipe: São Paulo, Brasipal, 1983, p.14.
91
Morumbi, com a Seleção dos Estados Unidos, mas não obteve o mesmo sucesso do
confronto com a URSS e o Brasil foi derrotado.
3.3 A TÃO SONHADA MEDALHA OLÍMPICA: A GERAÇÃO DE PRATA
Seleção Brasileira de 1984, a Geração de Prata.
Fonte: Departamento de Registro da CBV. Arquivo iconográfico, 2006.
Como represália ao boicote americano nas olimpíadas de Moscou em 1980, os
soviéticos não compareceram aos jogos olímpicos de Los Angeles em 1984, nos
Estados Unidos. Além da União Soviética, todos os países do bloco socialista, entre
eles a Tchecoslováquia, Romênia, Bulgária, Polônia e Cuba – todas as forças do
vôlei mundial – ficaram fora daquela olimpíada. Para o Brasil, seria uma grande
oportunidade de conquistar um lugar no pódio. Além de o time estar em uma
excelente fase, pois era vice-campeão mundial, estava bem preparado tecnicamente
e havia cumprido uma fase de preparação inédita para o país – com três meses de
treinamento intensivo e uma série de jogos amistosos preparativos. Considerando
ainda o bom momento do vôlei nacional, tínhamos tudo para conquistar a medalha
inédita.
Após conseguir implantar esse modelo de treinamento estruturado e sistematizado
para as seleções principais, Carlos Arthur Nuzman comentou em tom irônico:
“Nostalgia é sinônimo de piada no voleibol brasileiro. Ou alguém ainda tem saudade
92
da época em que o jogador era obrigado a secar o uniforme em cima do abajur para
não ficar sem roupa na próxima partida?”
68
Vista como uma das favoritas ao título devido ao Vice-Campeonato Mundial, obtido
na Argentina em 1982, o Brasil ficou no grupo mais forte – juntamente com os
americanos – e, com exceção da derrota para a Coréia teve campanha excelente na
primeira fase, inclusive com vitória de 3X0 sobre os donos da casa. O jogo contra os
italianos na semifinal foi cercado de expectativa, pois a vitória já garantiria uma
medalha. A seleção brasileira vence por 3X1 e estava na final inédita diante dos
americanos, adversários conhecidos da fase classificatória. Os Estados Unidos
surpreenderam nossa seleção e jogaram na decisão o que não haviam jogado na
primeira fase da competição. O Brasil perdeu por três sets a zero, mas saiu de Los
Angeles com a medalha de prata, a primeira conquista olímpica do Vôlei brasileiro. A
medalha olímpica representou a materialização do esforço da extraordinária
trajetória do vôlei brasileiro sob a batuta da gestão de Nuzman.
69
TABELA 11: CAMPANHA DO BRASIL NOS JOGOS OLÍMPICOS DE LOS
ANGELES DE 1984
DATA LOCAL RESULTADO
21/07/84 Los Angeles Brasil 3X1 Argentina
02/08/84 Los Angeles Brasil 3X0 Tunísia
04/08/84 Los Angeles Brasil 1X3 Coréia
06/08/84 Los Angeles Brasil 3X0 EUA
08/08/84 Los Angeles Brasil 3X1 Itália
11/08/84 Los Angeles Brasil 0X3 EUA
Fonte: Arquivos do departamento de registro da Confederação Brasileira de Voleibol
68
NUZMAN, Carlos Arthur, apud O Brasil pede passagem. Saque, São Paulo, nº 1, p. 14, jul.1985.
69
RUSSEL, Luís. Vôlei conquista a medalha inédita. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 12 ago. 1984.
93
Brasil X EUA – Final das Olimpíadas de 1984.
Fonte: Departamento de Registro da CBV. Arquivo iconográfico, 2006.
Por ter conquistado também o vice-campeonato mundial na Argentina em 1982,
essa geração foi apelidada de “Prata” e era representada pelos seguintes jogadores:
Bernardinho, Bernard, Xandó, Fernandão, Renan, Willian, Montanaro, Cacau,
Badalhoca, Amauri, Marcus Vinícius e Domingos Maracanã. No comando técnico, o
competente Bebeto de Freitas – que deixou a seleção em outubro de 1984 – e, com
destaque, promoveu o profissionalismo na modalidade e a fixação da imagem do
Brasil como potência no voleibol mundial.
70
O sexteto titular: Xandó, Renan, Bernard, Amauri, Fernandão e William.
Fonte: Departamento de Registro da CBV. Arquivo iconográfico, 2006.
70
LIMA, Luiz Fernando. Por que não ganhamos a medalha de ouro. Saque, São Paulo, nº 5, p. 52-4,
1985.
94
Célio Cordeiro, ex-técnico da seleção, resumiu esse período da seguinte maneira:
O trabalho foi montado e organizado para que essa equipe pudesse realmente ser
uma equipe competitiva. Basicamente o Brasil vive de importação de Know-how
estrangeiro na parte esportiva, e isso preocupava a Comissão, porque não
podíamos aceitar em ficar a vida toda copiando o que os outros fazem, além de
nunca surpreender as outras equipes e de estar sempre um passo atrás delas.
Passamos, então, a usar todos os nossos conhecimentos de voleibol-técnico, físico
e tático e aplicando-os dentro de soluções nacionais.
71
Em decorrência dessa “virada no voleibol”, como efeito da profissionalização do
esporte, surgiram novas formas de envolvimento esportivo e econômico na
sociedade, superando a condição amadora, surgindo oportunidades publicitárias,
melhores salários e a comercialização de imagens.
As conquistas da medalha de prata nas olimpíadas dos EUA confirmaram o
processo de profissionalização do voleibol e trouxeram, inegavelmente do Brasil, a
marca histórica da consolidação da modalidade como um esporte popularizado.
Tanto que o número de atletas registrados na CBV pulou de 11.851 em 1980, para
45.746 no final de 1990. E os atletas consagrados viraram ídolos de toda uma
geração.
A chamada “geração de prata” encerrou seu ciclo com os atletas optando por
diversos caminhos, mas sempre no campo esportivo: Montanaro, por exemplo,
assumiu a gerência do voleibol do Banespa; Renan, William e Bernardinho
passaram a ser técnico; Bernard foi Secretário de Esportes no governo Collor e
depois seguiu carreira política.
72
71
CORDEIRO, Célio. Avaliação da participação do Brasil nos Jogos Olímpicos de Los Angeles.
Sprint, Rio de Janeiro, v. 2 (Especial), p. 17, 1984.
72
Cf. NUNES, João Pedro. “Geração de prata se despede das quadras. O Estado de São Paulo, 20
jun. 1993; e ALVES, Milton. Geração de prata do vôlei busca o ouro dos negócios. O Globo, Rio
de Janeiro, 23fev. 1998.
95
Fonte: Departamento de Registro da CBV. Arquivo iconográfico, 2006.
Dessa forma, encerrou-se a década de 80 na história do voleibol brasileiro. O
percurso da profissionalização e das relações com a mídia reservou acentuado
progresso para a modalidade ao oferecer condições de desenvolvimento técnico e
aceitação popular. Essas condições foram decorrentes dos investimentos das
empresas e do marketing esportivo.
Os vice-campeonatos no mundial de 1982 e na olimpíada de 1984 mudaram a
situação do Brasil para os torneios seguintes. Como cabeça de chave a situação
seria sempre mais tranqüila, pelo menos na primeira fase. O Mundial de 1986, na
França (Montpellier, Tourcoing, Clermont-Ferrand, Orleans e Paris), teve uma
redução no número de participantes de 24 para 16 seleções, com quatro grupos de
quatro países na fase inicial. Os jornais de uma maneira geral destacavam:
A seleção brasileira masculina de vôlei inicia, a partir de hoje, a sua campanha em
busca do título do Campeonato Mundial depois de um período onde muitos dos
grandes nomes do vôlei nacional passaram por salas de cirurgias e fisioterapias, o
Brasil entra firme na competição utilizando toda experiência de Renan, Xandó,
Montanaro e Bernard. O técnico José Carlos Brunoro – de volta ao cargo –
convocou para o mundial os seguintes atletas: Zé Eduardo, Pampa, Léo,
Bernardinho, Renan, Rui, Montanaro, Bernard, Carlão, Amauri, William e Xandó
(Jornal do Brasil do dia 24 de setembro de 1986).
A seleção brasileira ficou com o quarto lugar, não correspondendo com a
expectativa de trazer a primeira medalha em mundiais.
96
TABELA 12: CAMPANHA DO BRASIL NO CAMPEONATO MUNDIAL DA FRANÇA
1986
DATA LOCAL RESULTADO
24/09/86 Clemont-Ferrand Brasil 3X0 Egito
25/09/86 Clemont-Ferrand Brasil 3X1 Bulgária
26/09/86 Clemont-Ferrand Brasil 3X0 Tchescolováquia
28/09/86 Paris Brasil 3X1 China
30/09/86 Paris Brasil 3X0 Itália
01/10/86 Paris Brasil 3X1 França
04/10/86 Paris Brasil 0X3 EUA
05/10/86 Paris Brasil 0X3 Bulgária
Fonte: Arquivos do departamento de registro da Confederação Brasileira de Voleibol.
Entretanto, os anos seguintes evidenciaram um emergente desgaste desse potencial
esportivo e mercadológico, influenciando nos resultados internacionais. Em meio ao
conjunto de situações previstas e detectadas no campo esportivo, algumas
consequências foram inevitáveis para o voleibol. Diante da especulação e
supervalorização salarial dos jogadores, das condições econômicas do país no final
da década de 1980 e início de 1990, da falta de um planejamento administrativo que
dessa conta das questões de renovação e surgimento de novos clubes ou empresas
que investissem na modalidade, algumas equipes do voleibol brasileiro revelaram os
reflexos dessa conjuntura.
À guisa de ilustração, podemos citar a extinção das equipes de voleibol da
Bradesco, da Pirelli, da Supergasbrás, da Sadia e da Lufkin, as quais,
invariavelmente, alegaram que o “aperto na liquidez” tornou impraticável o
pagamento dos melhores atletas e a manutenção das equipes em competições. A
manutenção de uma equipe de alto nível, segundo Brunoro, girava em torno de U$
300.000 anuais e, pela sua lógica, “entre pagar seus funcionários e manter o
97
patrocínio ao esporte, as empresas, com razão, preferem a primeira alternativa”.
73
Pinheiro
74
indicou outros fatores que levaram ao fim de algumas equipes, tais como:
as estratégias das empresas de assumirem patrocínios temporários, em face das
condições econômicas nacionais; a concorrência por melhores atletas, que elevou
os salários; e, também, a “atitude predatória” das empresas no estabelecimento de
metas que, após serem atingidas, descartavam as possibilidades de renovação do
patrocínio.
Pode-se incluir nesse contexto o despreparo dos dirigentes na leitura do mercado
esportivo, o fim da competitividade nas competições regionais, a impossibilidade de
convivência entre os clubes tradicionais e empresas e, indissociavelmente, a
concentração dos principais jogadores em poucas equipes.
75
No processo de extinção de equipe gaúcha do Banco Sul-Brasileiro, em 1985, com
apenas três anos de existência, encontramos a seguinte declaração de Divino
Fonseca. “Formamos um time até para servir de apoio à expansão da organização
que tem 400 agências espalhadas pelo Brasil, [...] não foi para empilhar títulos de
campeão gaúcho, entretanto, que os diretores do grupo investiram pesado”.
76
O desgaste do voleibol também pôde se evidenciado na organização do
Campeonato Brasileiro 85/86, quando as agências Traffic e Kefler, que haviam
assumido oficialmente a responsabilidade de promover os eventos da Confederação
Brasileira de Voleibol, informaram vinte dias antes do início da competição que “não
conseguiram respaldo comercial junto a patrocinadores para suportar
financeiramente o evento”. José Hawilla, um dos sócios da Traffic, afirmou que “a
empresa desistiu de promover o Brasileiro porque não está tendo aceitação por
parte dos nossos clientes, o que se reflete diretamente no faturamento. [...] não
houve possibilidade de diminuir os custos de um torneio como o Brasileiro que reúne
50 equipes de todos os lugares do País.
77
73
BRUNORO, José Carlos, apud Quadras mais pobres. Veja, São Paulo, p. 49, 2 maio 1990.
74
PINHEIRO. O marketing no voleibol brasileiro masculino no período de 1980 a 1994.
75
Cf. Banespa, o campeão em crise. O estado de São paulo, 2 fev. 1988; e O triste fim de um grande
time de vôlei. Gazeta Mercantil, São Paulo, p. 76, 9 fev. 1985.
76
FONSECA, Divino. Uma nova força nas quadras. Placar, São Paulo, p. 58, 28 set. 1984.
77
HAWILLA, José, apud Vôlei fica sem os patrocinadores do Brasileiro. O Globo, Rio de Janeiro, 22
nov. 1985.
98
Outro depoimento do empresário confirmou a crise na organização do voleibol:
[...] o interesse dos patrocinadores caiu 60% de dois anos para cá, em
função do calendário cansativo e da concentração dos astros e estrelas em
praticamente dois clubes: Pirelli e Bradesco. A Traffic saiu da jogada em
novembro, alegando despesas dos times no Campeonato Brasileiro. É
preciso descentralizar, fortalecer outros centros. Bradesco e Pirelli têm no
banco de reservas vários atletas que seriam titulares absolutos em qualquer
outra equipe do Brasil. No entanto, esses jogadores permanecem parados,
enquanto nos centros menores há falta de bons valores [...] O vôlei tornou-
se um esporte caríssimo, com um custo operacional muito elevado. E os
dirigentes contribuem para isso, tornando o vôlei um artigo de luxo, onde o
retorno só acontece depois de muitos jogos.
78
Tendo em vista as interdependências que se estabeleceram no campo esportivo no
final da década de 1980 entre a CBV, equipes, patrocinadores e representantes das
emissoras de televisão; os envolvidos discutiram mudanças estruturais para o
desenvolvimento e retomada do voleibol como esporte de sucesso.
Em agosto de 1988, por ocasião da reunião entre a Abespe (Associação Brasileira
das Empresas Patrocinadoras do Esporte), clubes, Carlos Arthur Nuzman, Bebeto
de Freitas e a Rede Globo de televisão, ficou selada a criação da Liga de Voleibol,
com cobertura televisiva dos principais jogos da competição, elaboração de um
sistema de ranking para os jogadores (modelo americano do Draft Choice), garantia
de distribuição equânime dos melhores atletas entre as equipes, reformulação na
estrutura de disputa do campeonato e redução do número de participantes. Esse
conjunto de medidas, segundo os participantes do encontro, seria capaz de
recolocar o voleibol no espaço de destaque conquistado anteriormente na mídia.
79
Em meio a essas particularidades do percurso histórico da modalidade, encontramos
seqüelas na direção da seleção brasileira masculina. Com a renúncia de Bebeto de
Freitas, após a Olimpíada de 1984, assumiu José Carlos Brunoro, em 1985. Brunoro
permaneceu como técnico da seleção até 1987, e a saída de Brunoro foi tida por
conta da irreconhecível participação brasileira no pré-olímpico de Brasília. Para seu
lugar foi chamado o coreano Yong Whan Sohn. Essa opção recebeu oposição de
vários técnicos nacionais, que se sentiram desprestigiados, e dos atletas da
78
HAWILLA, José, apud O show do vôlei, sem patrocinadores? Saque, São Paulo, nº 7, p. 13, 1986.
79
Cf. Técnicos e atletas apoiam as mudanças estruturais no vôlei. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro,
29 jul. 1988; Vôlei discute a nova estrutura. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 9 ago. 1988, O Vôlei
pode viver hoje um dia histórico. O estado de São Paulo, 11 ago. 1988.
99
“geração de prata”, que questionavam seus métodos pouco convencionais de
treinamento. Shon não escondeu sua preferência por trabalhar com atletas novos
sem problema de “estrelismos”, citando nominalmente Bernard, William, Montanaro
e Renan. Com dez meses de trabalho na seleção, Shon foi alvo de um manifesto
assinado pelos jogadores solicitando a sua substituição. Nuzman optou por manter o
coreano e afastar Bernard, Xandó e Renan. Porém, a permanência de Shon na
seleção durou somente mais três meses.
80
Às vésperas da Olimpíada de 1988, em Seul, Bebeto de Freitas foi chamado
novamente para assumir a seleção. Ele reconvocou Xandó e Renan e acalmou o
ambiente. Contudo, seu trabalho foi prejudicado pela solicitação de dispensa de sete
jogadores experientes do grupo no período final da preparação. A equipe masculina
trouxe dessa Olimpíada a quarta colocação e também o depoimento do técnico:
“Minha maior frustração olímpica foi 88 e não 84”.
81
Bebeto de Freitas permaneceu na seleção até 1990, quando, por problemas
políticos e de relacionamento com a direção da Confederação, deixou o cargo.
Posteriormente, em 1998, ele foi campeão mundial dirigindo a seleção masculina da
Itália.
TABELA 13: CAMPANHA DO BRASIL NOS JOGOS OLÍMPICOS DE SEUL DE
1988
DATA LOCAL RESULTADO
17/09/88 Seul Brasil 3X0 Itália
19/09/88 Seul Brasil 2X3 Coréia
22/09/88 Seul Brasil 3X1 Bulgária
24/09/88 Seul Brasil 3X1Suécia
26/09/88 Seul Brasil 3X2 União Soviética
30/09/88 Seul Brasil 0X3 EUA
80
PENA NETO, mair. Vôlei repete os erros do futebol. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 16 abr. 1986;
e A acidentada trajetória para a fama. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 31 dez. 1989.
81
Declaração de Bebeto de Freitas no programa “Olimpíada.doc” da Sport, em 8 ago. 2000.
100
02/10/88 Seul Brasil 2X3 Argentina
Fonte: Arquivos do departamento de registro da Confederação Brasileira de Voleibol.
A década de 1980 confirmou o profissionalismo no voleibol ao mesmo tempo em que
registrou momentos de conquistas, desgaste e saturação. Luciano do Valle, dirigindo
o programa “Show do Esporte” da Rede Bandeirantes de Televisão, destacou com
propriedade certos aspectos desse período. “O vôlei depende de resultados, e a
ausência de uma medalha nesse torneio (Olimpíada) pode refletir numa queda de
interesse do público, reduzindo, conseqüentemente, o interesse das empresas em
patrocinar eventos ligados ao voleibol”.
82
Em 1990, a Federação Internacional de Vôlei criou a Liga Mundial, uma competição
que desde então reuniria as seleções mundiais melhores estruturadas, que
excursionariam pelo planeta, realizando jogos em rodadas duplas, ou seja, o mesmo
confronto duas vezes em cada sede. A Itália se tornaria a maior vencedora da Liga
Mundial e, obtendo o primeiro título na cidade japonesa de Osaka. No campeonato,
que serviu de prévia do mundial do Rio de Janeiro, a Holanda ficou com o vice-
campeonato e o Brasil terminou em terceiro lugar.
Carlos Arthur Nuzman tentou garantir a modernização e o processo evolutivo do
voleibol nacional tomando algumas iniciativas de risco, após a crise econômica
deflagrada no plano Collor que acabou com os incentivos fiscais e muitas empresas
brasileiras pararam de financiar o vôlei. Nuzman, então, conseguiu trazer para o
Brasil os holofotes da modalidade sediando o XII Campeonato Mundial Masculino,
em outubro de 1990, passados trinta anos da realização da quarta edição do evento
que aconteceu também no Brasil. Segundo Moreno e Vasconcellos:
Assim como não teve dúvidas de que estava transformando a estrutura do esporte
chamado amador brasileiro, Carlos Arthur Nuzman tem a certeza de que ariscar vale
a pena. Bancar um campeonato mundial adulto masculino em um país em crise, em
pleno processo de renovação da equipe nacional, tem boas doses de ousadia e um
82
VALLE, Luciano do. Apud: O show do vôlei, sem patrocinadores? Saque, São Paulo, nº 7, p. 13,
1986.
101
olhar no futuro.
83
Bebeto de Freitas, técnico da seleção naquela ocasião advertiu: “O momento é
complicado, com choque e problemas estruturais. O Mundial é o grande abismo. Se
passarmos por ele, respiraremos aliviados”.
84
O Brasil perdeu na semifinal para a seleção italiana por três sets a dois, conquistou
a quarta colocação no campeonato.
TABELA 14: CAMPANHA DO BRASIL NO CAMPEONATO MUNDIAL DO BRASIL
DE 1990
DATA LOCAL RESULTADO
18/10/90 Rio de Janeiro Brasil 0X3 Tchecoslováquia
19/10/90 Rio de Janeiro Brasil 3X0 Coréia do Sul
20/10/90 Rio de Janeiro Brasil 3X2 Suécia
22/10/90 Rio de Janeiro Brasil 2X3 Cuba
24/10/90 Rio de Janeiro Brasil 3X0 França
26/10/90 Rio de Janeiro Brasil 2X3 Itália
28/10/90 Rio de Janeiro Brasil 0X3 União Soviético
Fonte: Arquivos do departamento de registro da Confederação Brasileira de Voleibol.
Apesar dos resultados mediante as condições de falta de patrocínio houve interesse
de equipes européias por atletas brasileiros. Diante desse assédio, as taxas de
transferências internacionais para jogadores selecionáveis foram elevadas em até
U$ 300 mil, tentando dessa maneira garantir a permanência no campeonato dos
principais atletas tendo em vista o desenvolvimento de novos projetos e objetivos
para o voleibol brasileiro.
83
MORENO, Mariúcha & VASCONCELLOS, Paulo César. A década do vôlei. Jornal do Brasil, Rio de
Janeiro, 31 dez. 1989.
84
FREITAS, Paulo Roberto de. In: MORENO, Mariúcha & VASCONCELLOS, Paulo César, op. cit.,
p.20.
102
Os brasileiros “selecionáveis” são hoje os jogadores mais valiosos do vôlei
internacional. Pelo menos, se for levada em conta à taxa de transferência estipulada
pela Confederação Brasileira de Vôlei para liberar seus atletas alvos, basicamente,
dos clubes italianos. Nenhuma outra entidade nacional cobra tão alto pela
“exportação” de talentos. O preço de um “selecionável”, entre 20 e 24 anos, é de 300
mil dólares. [...] Diante da crise econômica que alcançou o esporte este ano, mais
uma vez, e de uma forma ou de outra, Carlos Nuzman, presidente da CBV,
conseguiu ganhar tempo e evitar a debanda geral dos jogadores, a fim de conquistar
o título sul-americano, e garantir a vaga olímpica para Barcelona/92.
85
Contudo, o efetivo salto qualitativo para a modalidade na década de 90 foi dado na
direção da organização de um campeonato brasileiro, com equipes competitivas e
respeitando modelos profissionais de gerenciamento esportivo.
Em 1988, foi lançada a primeira edição da Liga Nacional de Voleibol. Para sua
operacionalização, reuniram-se à mesa de negociações a Confederação Brasileira
de Voleibol, as federações estaduais, representantes das áreas técnicas e de
marketing dos clubes/empresa e os representantes das principais redes de televisão
do Brasil. Desse encontro, viabilizou-se a realização de um campeonato nacional
masculino e feminino, com vinte equipes de sete estados e treze cidades,
perfazendo um total de 360 atletas envolvidos. A magnitude de evento garantiu a
cobertura permanente de várias emissoras de televisão, rádio, jornais e revistas
especializadas. Foram 27 partidas transmitidas em rede nacional por duas das
maiores redes de televisão do país.
86
[...] a Liga Nacional é, na verdade, mais uma tentativa dos dirigentes dessas
confederações e dos clubes de facilitar a profissionalização do esporte, antes
extremamente amador. O vôlei, como sempre, foi o pioneiro. Com equipes
originárias de grandes empresas, o presidente da Confederação Brasileira de Vôlei,
Carlos Arthur Nuzman, teve maior facilidade na criação da Liga [...]. As decisões
mais importantes – como a negociação da transmissão dos jogos pela TV e a
discussão do regulamento do torneio – são tomadas geralmente pela diretoria de
85
MIRÁS, Denise. Vôlei: os jogadores mais caros do mundo. Jornal da tarde, São Paulo, 31 ago.
1991.
86
Histórico da Liga Nacional. Relatório da Liga Nacional 89/90. Confederação Brasileira de Volley-
Ball, Rio de Janeiro, 1990. p. 22.
103
marketing das empresas.
87
Com o desenvolvimento das versões anuais da competição, os sistemas foram
aperfeiçoados e adaptados às necessidades dos clubes, empresas, federações e
televisões. O sucesso foi comprovado pelos índices de audiência nas transmissões
televisivas, pela média de público nos ginásios e pelo retorno publicitário e financeiro
dos investimentos das empresas patrocinadoras.
88
3.4 O ÁPICE DO SUCESSO – O OURO OLÍMPICO
Neste contexto, retomamos a seleção brasileira masculina adulta. Após a rápida
passagem, em 1991, do técnico Josenildo Carvalho, assumiu o cargo José Roberto
Lages Guimarães, em março de 1992, ou seja, às vésperas dos Jogos Olímpicos de
Barcelona. Guimarães tinha sido foi assistente-técnico de Bebeto de Freitas, em
1989 e 1990, e antes de assumir a seleção dirigiu a equipe feminina do Colgate/São
Caetano do Sul, tendo, portanto, experiência.
Independentemente das adversidades e da exigüidade de tempo para a preparação
ideal de uma equipe competitiva internacional, José Roberto finalizou o processo
que conduziu o Brasil à conquista do título inédito de campeão olímpico, em 1992, e
campeão da Liga Mundial, em 1993.
Em campanha também inédita na história olímpica da modalidade, a equipe
brasileira venceu as oito partidas que realizou.
TABELA 15: CAMPANHA DO BRASIL NOS JOGOS OLÍMPICOS DE BARCELONA
DE 1992
DATA LOCAL RESULTADO
26/07/92 Barcelona Brasil 3X0 Coréia
87
NUNES, João Pedro. Organização de ligas moderniza o esporte. O Estado de São Paulo, 18 fev.
1990.
88
Cf. PÉRILLIER, José Roberto. Competição comprova o sucesso do vôlei brasileiro. Vôlei Técnico,
Confederação Brasileira de Volley-Ball, Rio de Janeiro, ano I, nº 3, p. 27-8, 1995.
104
28/07/92 Barcelona Brasil 3X1 Com. Dos Estados Independentes
30/07/92 Barcelona Brasil 3X0 Holanda
01/08/92 Barcelona Brasil 3X1 Cuba
03/08/92 Barcelona Brasil 3X0 Argélia
05/08/92 Barcelona Brasil 3X0 Japão
07/08/92 Barcelona Brasil 3X1 EUA
09/08/92 Barcelona Brasil 3X0 Holanda
Fonte: Arquivos do departamento de registro da Confederação Brasileira de Voleibol.
No Brasil, um movimento incontido de torcedores e aficcionados mobilizou a mídia
de tal forma, que foram realizados programas especiais de televisão, entrevistas,
homenagens oficiais, encartes exclusivos nos principais jornais e revistas do mundo,
com títulos do tipo “O nosso dream team”, “A geração de ouro” (O Globo, 10 ago.
1992), “Os heróis do ouro” (O Globo, 10 ago. 1992), “A explosão do vôlei” (Veja, 12
ago. 1992), “O país do vôlei” (IstoÉ, ago. 1992), “Vôlei, ao ataque” (Folha de São
Paulo, 21 set. 1994), “A nova paixão nacional” (Manchete, set.1992), “Delusione
Azzurra, torcida in festa” (SuperVolley, Itália), “Un Coloso Mundial” (Voley,
Argentina) e “Gold brasiliens” (Deutsche Volleyball Zeitschrift, Alemanha), entre
outros.
89
A comoção e a surpresa foram muito grandes porque a equipe foi para os Jogos
Olímpicos sem grandes expectativas, vivendo um contexto esportivo onde oscilavam
momentos de transições, incertezas, ousadia e risco. Além disso, a seleção era
considerada uma equipe que teve pouco tempo de preparação, com pouca
experiência internacional e muito jovem. A média de idade do grupo foi a menor
entre todas as equipes que conquistaram um título olímpico.
90
Em meio a declarações e comemorações, Carlos Arthur Nuzman destacava que a
conquista do primeiro lugar olímpico no voleibol era prova inconteste que faltava
para a confirmação de que o esporte era viável no Brasil. O presidente da CBV
aproveitava a oportunidade para exibir os frutos de seus projetos, iniciados em Los
89
Cf. MATOS, Cláudia. A ressaca de homenagens da geração de ouro. O Globo, Rio de Janeiro, 6
set. 1992.
90
Análise Olímpica. O Globo, Rio de Janeiro, 10 ago. 1992.
105
Angeles e profetizar resultados futuros com a preparação das seleções nacionais
intanto-juvenis. Não obstante, Nuzman desabafou seus desapontamentos com
Bebeto de Freitas:
Eu engoli muita coisa. Fico triste quando algumas pessoas que estão na
Itália, ganhando muito dinheiro, falam tantas besteiras. A pessoa tem de ter
caráter e não pode cuspir no prato que comeu. É preciso ter humildade e eu
esperei muitos anos, até demais, para desabafar. José Roberto é íntegro.
Nunca ficou jogando atleta contra a Confederação e vice-versa, como
aconteceu em outras oportunidades. Ele e toda a comissão técnica estão de
parabéns.
91
Uma parte da sociedade brasileira, entusiasmada pelo repentino sucesso de voleibol
da Olimpíada, esteve às voltas com inúmeras manifestações de exaltação de seus
ídolos. O momento sociopolítico do país era de recessão econômica, denúncias de
corrupção e ausência de lideranças capazes de inspirar credibilidade na
administração pública; a representação simbólica de um jovem grupo vencedor foi
utilizada pela mídia no sentido de criar um clima de comoção para a população.
Pelo envolvimento criado com o clima da competição e, principalmente, com o
resultado na final (coincidentemente naquela data comemorava-se o Dia dos Pais),
sentimentos de nacionalismo, comparações e identificações foram aflorados em
todos os níveis da sociedade, propiciando uma perspectiva de esperança e unidade
cívica. Em destaque:
Copacabana não engana. Está tensa e vazia. Na praia, uma ou outra
pessoa no calçadão. Ao longo da areia, as quadras de vôlei também ficam
desertas. Mas em seus mastros, ao vento, brilha o símbolo nacional. Como
ouro. Há bandeiras também nas janelas. Um miniclima de Copa do Mundo.
Até os aposentados do Posto 6 pararam seu jogo de cartas e aceitaram a
invasão de pescadores, turistas, mendigos e banhistas ao galpão onde
fundaram o Clube Cultural e recreativo Posto 6, em frente ao Rio Palace
Hotel. Cadeiras na direção da tevê viam jogadas de Maurício, enganado o
alto bloqueio holandês, eram como dribles de Garrincha. Cada ponto de
Tande, um gol de Pelé. [...] Mostramos que somos um grande país e não
uma colônia, como eles (Estados Unidos) costumam tratar a gente. É a hora
do Hino Nacional, vamos nos levantar! [...] Pena que, no nosso país, os que
podem ajudar apenas roubam. Já imaginou o povão alimentado e
praticando esporte?
92
91
NUZMAN, Carlos Aerthur. In: RODRIGUES, Jorge Luiz. Para Nuzman, medalha prova que esporte
no Brasil é viável. O Globo, rio de Janeiro, 10 ago. 1992.
92
CARVALHO, Milton Costa. Cidade acorda cedo e brilha como ouro na festa do vôlei. O Globo, Rio
de Janeiro, 10 ago. 1992.
106
Analisando esse contexto a partir das idéias de Pierre Bourdieu, percebemos
nitidamente uma predisposição para a composição de novos hábitos sociais por
conta do conjunto de ações e relações existentes no campo esportivo. Os agentes
sociais identificam e captam, nos símbolos do voleibol, representações aceitáveis
para o tipo de estrutura social desejada.
Entretanto, esses agentes sociais desconhecem as leis de reprodução social
existentes no campo esportivo e os fundamentos de dominação instaurados pelo
veículo administrativo centralizador da modalidade. A Confederação Brasileira de
Voleibol fica subentendida como uma estrutura objetiva autônoma das vontades dos
agentes envolvidos e, em determinadas circunstâncias, também de suas
consciências.
Seleção Brasileira campeã olímpica em Barcelona 1992.
Fonte: Departamento de Registro da CBV. Arquivo iconográfico, 2006.
Com os investimentos do Banco do Brasil e da multinacional japonesa Asics Tiger, a
CBV decidiu promover no Brasil as finais da quarta edição da Liga Mundial de
Seleções, em 1993.
93
A campanha novamente foi brilhante, porém, com um sabor
adicional. Nas finais do torneio no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, a equipe
brasileira não perdeu nenhum set para seus adversários, Itália e Rússia, vencendo,
dessa maneira, a única equipe do voleibol internacional que o Brasil ainda não havia
93
O vôlei, ambicioso e milionário. Jornal da Tarde, São Paulo, 5 maio 1993.
107
enfrentado – a seleção italiana –, tricampeã consecutiva da Liga Mundial. Fechando
o ano, a seleção brasileira venceu o Super Four no Japão.
94
As irretocáveis campanhas da Olimpíada de Barcelona/92 e da Liga Mundial/93,
tornaram-se registro histórico que podem representar ou simbolizar o momento da
segunda virada no voleibol brasileiro, inserido definitivamente, após ser
profissionalizado, no contexto da espetacularização do esporte.
Depois de conquistar títulos, medalhas, reconhecimento internacional e empolgar
multidões de jovens fãs, o voleibol efetivou-se sobremaneira como um sucesso de
marketing, dessa vez embalado por uma estrutura mais profissionalizada e
experiente que as anteriores.
95
No Campeonato Mundial da Grécia, em 1994, o Brasil vislumbrou a possiblidade de
completar a trilogia das principais competições do voleibol internacional, tais como a
olimpíada de 92, a Liga Mundial 93 e o Mundial 94. Novamente, a seleção
apresentou-se com a estratégia de jogo fundamental no “ataque total”, em que os
atacantes possuíam várias funções ofensivas e as executavam em todas as
posições da quadra. Entretanto, a equipe não correspondeu e ficou na quinta
posição.
TABELA 16: CAMPANHA DO BRASIL NO CAMPEONATO MUNDIAL DA GRÉCIA
DE 1994
DATA LOCAL RESULTADO
29/09/94 Atenas Brasil 3X2 Argentina
30/09/94 Atenas Brasil 3X0 Alemanha
31/09/94 Atenas Brasil 2X3 EUA
02/10/94 Atenas Brasil 3X0 Canadá
04/10/94 Atenas Brasil 2X3 Cuba
94
Cf. Frascino, op. cit. p. 76-8.
95
Sobre a história e desenvolvimento do marketing esportivo, consultar Proni, Marcelo Weishaupt.
Marketing e organização esportiva: elementos para uma história recente do esporte-espetáculo.
Conexões: educação, esporte e lazer, Campinas, ano 1, nº 1, p. 74-84, 1998.
108
06/10/94 Atenas Brasil 3X0 Rússia
08/10/94 Atenas Brasil 3X0 Grécia
Fonte: Arquivos do departamento de registro da Confederação Brasileira de Voleibol.
Esta colocação desencadeou várias críticas. O técnico José Roberto detectou
alguns problemas que afetaram o desempenho da seleção naquele ano e criticou
publicamente sua equipe naquele mês. Segundo ele, faltou empenho dos jogadores
em treinos e nos quatro amistosos contra a Bulgária no final de agosto. O Brasil foi
derrotado duas vezes pelos Búlgaros. A morte do pai do levantador Maurício, na
véspera do embarque da equipe para o Mundial, foi novo fator de desequilíbrio,
embora o jogador pareça ter reagido bem ao fato. Além disso, o técnico, na ocasião,
afastou um dos maiores astros do time, o atacante Giovane, por motivo de
deficiência no passe e no ataque.
96
Dessa forma, houve um processo de desgaste do grupo e da filosofia de trabalho em
equipe. Paralelamente, no cenário administrativo da Confederação Brasileira de
Voleibol, pulavam especulações em torno da substituição de Carlos Arthur Nuzman,
por conta de sua possível transferência para outra instituição de maior porte e
representatividade no esporte nacional, o Comitê Olímpico Brasileiro.
O mandato de Nuzman vai até fevereiro de 93. Pode, no entanto, ser encurtado.
Basta que o candidato eleito Fernando Collor, em quem ele votou, o convide para
algum cargo. “Estudarei o convite, mas estou disposto a colaborar.” Amigo de
Leopoldo Collor, irmão do candidato eleito, com quem estudou na Faculdade de
Direito, [...] o dirigente evita apontar um possível substituto. Mesmo que o encontre,
certamente Nuzman não se afastará do vôlei.
97
Segundo Heleni Felippe, após os Jogos Olímpicos de Barcelona, tendo em vista
novos cargos, Carlos Arthur Nuzman fez um acordo com o então presidente do
Comitê Olímpico Brasileiro, André Richer, a divisão ao meio do seu subseqüente
96
KRASELIS, Sérgio & TAGLIAFERRI, Mauro. O Brasil busca a “tríplice coroa”. Folha de São Paulo,
29 set. 1994.
97
MORENO, Mariúcha & VASCONCELLOS, Paulo César. A década do vôlei..., p. 20.
109
mandato de cinco anos à frente da CBV.
98
Dirigindo a entidade, sustentado por sucessivos mandatos obtidos à custa de
mandados e liminares (os estatutos e a legislação esportiva previam a
impossibilidade de reeleições), Nuzman adiou o sonho de dirigir a FIVB, selando um
pacto com o presidente Ruben Acosta,
99
e assumiu o órgão máximo do esporte
olímpico nacional, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), no ano de 1995.
Não obstante, o dirigente analisou a importância de o Brasil ter um representante na
federação internacional da seguinte forma:
“Não basta uma equipe preparada só, eu acho que nós temos que ter
cuidado com outros setores e um deles é ter um dirigente num organismo
internacional. Isso pesa muito, da mesma maneira que é necessário ter uma
certa influência nas comissões de arbitragem, nas comissões de leis de
jogo, é muito importante isso”.
100
A cerimônia de posse de Nuzman aconteceu no dia 29 de junho de 1995, na
presidência do Comitê Olímpico Brasileiro no Rio de Janeiro, e foi considerada a
mais celebrada na história do COB. Entre presidentes de confederações, federações
estaduais, ex e atuais ministros e secretários de Estado, jornalistas e atletas de
várias modalidades e gerações, aproximadamente duzentas pessoas presenciaram
o evento, que registrou o seguinte relato:
[...] nada se compara à paciência do próprio Nuzman. Afinal, ele esperou 16
longos anos para sentar na cadeira de presidente do COB. Derrotado pelo
major Sílvio de Magalhães Padilha na eleição de 1979, quando já presidia a
Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), o advogado e ex-atleta olímpico,
hoje com 56 anos, atualizou a plataforma de campanha e chegou no Jockey
Clube falando em fazer do Brasil 'uma verdadeira potência olímpica'.
Nenhum dos presentes duvida disso, incluindo o presidente da Federação
Internacional de Futebol Associado (Fifa), João Havelange, que comandou
a solenidade. Pelo contrário. Todos acreditam que se Nuzman fizer no COB
o que fez na CBV, o esporte brasileiro só tem a ganhar. Receita: parceria
com empresas privadas e públicas na divulgação e patrocínio das mais
variadas modalidades esportivas, através do maior número possível de
competições. “Tudo para que o esporte amador desperte no brasileiro a
mesma paixão do futebol', salienta o novo presidente do COB. Nos projetos
98
FELIPPE, Heleni. Planejamento, estrutura. Mas a crise continua. Jornal da tarde, São Paulo, 10
ago. 1992.
99
Consta que, ao abster-se da direção da FIVB, Nuzman teria recebido de Acosta a presidência do
Conselho Mundial de Vôlei de Praia, instância responsável pela modernização e profissionalização
da modalidade – cf. Leitão, op. cit. p. 68.
100
NUZMAN, Carlos Arthur (Entrevista). Carlos Nuzman, o pai da matéria. Saque, São Paulo, nº 1, p
41, 1985.
110
de Nuzman estão a profissionalização da estrutura e da diretoria do COB, a
criação de um centro de treinamento para esportes olímpicos e de uma
escola nacional de técnicos e dar o apoio máximo às confederações
brasileiras desportivas. 'Em oito anos, o Brasil estará entre os países de
elite do esporte olímpico”.
101
101
Nuzman quer fazer do Brasil uma potência. Zero Hora, Porto Alegre, 30 jun. 1995.
111
4 CONCIDERAÇÕES FINAIS
A história recente do voleibol brasileiro comprova que num intervalo de três décadas
a modalidade passou por fases ou momentos específicos, os quais, nitidamente,
definiram a caracterização de categorias nas suas estruturas e relações.
Nessa trajetória, o voleibol brasileiro especificamente o masculino apresentou o que
chamamos de algumas viradas na sua forma de praticar, assistir, administrar e
consumir o esporte. Usamos fatos marcantes para a história da modalidade como
elementos pontuais ou delimitadores dessas transições. Esses acontecimentos e
datas são colocados como um processo contínuo, respeitando assim a evolução e a
continuidade inerente ao profissionalismo e espetacularização do voleibol.
No primeiro capítulo vimos que o voleibol, tendo sido um esporte inventado por uma
elite clubística cristã norte-americana, fugindo à regra eurocêntrica do
desenvolvimento ou evolução dos passatempos aristocráticos ou de jogos
populares, a modalidade chegou ao Brasil, mais precisamente em Recife-PE, em
1911, efetivando-se em clubes de elite principalmente no Rio de Janeiro.
Procuramos nesse capítulo resgatar a prática do voleibol desde a sua introdução até
a sua institucionalização com a fundação da Confederação Brasileira de Voleibol-
CBV
Ao fazer uma retrospectiva do voleibol no Brasil, constatamos que até o fim do
século XIX, praticamente o esporte organizado não existia. Somente na
consolidação da república brasileira, os esportes receberam grande incentivo por
parte do governo.
A evolução do esporte de Morgan foi mais focalizada no Rio de Janeiro porque foi
nessa cidade que ele teve no Brasil maior impulso e a primeira Federação Nacional
criada pelos clubes e associações cariocas em 1938, com a denominação de Liga
de Voleibol do Rio de Janeiro, organizando o esporte como modalidade competitiva.
No segundo capítulo procuramos situar historicamente a emergência da
Confederação Brasileira de Voleibol, não só pontuando a sociedade que
potencializou sua criação da instituição mas sua organização e política interna e os
112
resultados da seleção masculina em campeonatos mundiais e nos Jogos Olímpicos
até a Era Nuzman.
Verificamos a propagação da estrutura hierárquica das entidades administrativas do
voleibol. Todas, desde o nível regional até o mundial, determinam uma figura
centralizadora do poder, a qual invariavelmente, permaneceu no cargo durante muito
tempo denominado aqui de Eras.
Na CBV deu início a essa denominação o senhor Roberto Moreira Calçada que
deteve o poder de 1961 a 1975 - fase que denominamos de romântica e amadora
com relatos do principal ícone do voleibol masculino dessa fase: Antônio Carlos
Moreno, atleta que atuou em quatro Olimpíadas – 68, 72, 76 e 80.
Desde a sua criação, até o final de 1961 vimos que a CBV nunca havia realizado um
Campeonato Brasileiro de Clubes. As seleções brasileiras, que participavam dos
torneios internacionais, eram convocadas a partir dos Campeonatos Brasileiros de
Seleções.
Articulando essa gestão com a prática vimos que o país ,mesmo sendo
respeitado,não conseguiu alcançar nenhum resultado internacional expressivo
dificultando,portanto a sua massificação e uma maior popularização da modalidade.
No processo de ressignificação do Voleibol brasileiro, encontramos a presença de
Carlos Arthur Nuzman que presidiu a CBV de 1975 a 1995 à chamada Era Nuzman
que, no capítulo três acompanhamos o processo de profissionalização do esporte,
período de grande massificação e popularização do voleibol no país e de conquistas
internacionais com a seleção masculina – geração de prata e a de ouro.
Destacamos a passagem do envolvimento amadorístico para a prática
profissionalizada dos atletas e a primeira grande virada, nos anos 80, da modalidade
a associação de uma prática esportiva competitiva com os recursos financeiros das
empresas privadas transfigurou a imagem do voleibol nacional com uma
representação internacional competitiva e vitoriosa.
O que anteriormente arrastava poucos abnegados e agregados ás partidas, com o
advento da profissionalização transformou-se em fenômeno popular e gerador de
um contingente de espectadores e torcedores que lotavam ginásios e até estádios.
113
Esse é um dos exemplos mais contundentes para o entendimento do habitus
esportivo social, onde a presença elitizada amadora delimitava espaços sociais, a
combinação de estruturas e a consolidação de interdependências profissionalizou e
popularizou uma modalidade, tornando-a o segundo esporte na preferência nacional.
Verificamos que a relação da modalidade com a mídia apresentou-se como uma
simbiose, uma interdependência por conta da audiência esportiva que é atingida em
momentos de descontração do telespectador com os objetivos empresariais diluídos
de forma sutil, porém não destituídos das imagens e, finalmente a opinião crítica e a
polemica são vetores de ampliação da ação publicitária.
Esse conjunto de relações do esporte e o envolvimento da mídia com as
transmissões,vendas e concessões dos espetáculos esportivos transformaram-se
em fator imperativo ante as decisões acerca do voleibol nacional, chegando a ponto
de Nuzman declarar :
“Eu prefiro um ginásio vazio com transmissão da televisão a um ginásio
cheio, sem televisão. O vazio atinge milhões de telespectadores em todo o
país. No ginásio cheio, sem tv, a penas 10 mil ou 20 mil. Número reduzido
para quem quer conquistar patrocinadores, popularidade, resultados e
novos adeptos” (Nuzman, Carlos Arthur. Apud: Pinheiro. O marketing no
voleibol brasileiro..., p.109.).
Em outras palavras, concluímos que não importa, na cabeça do dirigente, que os
atletas e técnicos atuem em ginásios vazios se a partida estiver sendo televisionada.
Nuzman, apesar de ter sido atleta, esquece que para esse a presença do torcedor
que prestigia ao vivo a sua atuação, interagindo com o espetáculo, é vital para a sua
motivação, tal como um artista em um teatro interpretando para um monte de
cadeiras cheias.
O lado humano, as emoções e os aplausos foram esquecidos pelo nosso dirigente,
em prol das relações de interdependência impostas ao jornalismo e à televisão
estabelecidas no voleibol. Não arriscaríamos adentrar ainda mais nessa questão,
pois não daríamos conta de analisar profundamente essa relação econômica à
frente do ser humano.
114
Atualmente a CBV é dirigida pelo senhor Ary S. Graça Filho – Era Graça – desde a
saída de Nuzman para assumir o Comitê Olímpico Brasileiro em 1995- cargo que
ocupa até hoje.
Vivemos, atualmente, a Era dos títulos conquistados pela Seleção Masculina
comandada pelo técnico Bernardinho a partir de 2001. Assim sendo, do consumo
pela TV a cabo e das constantes mudanças de regras para adaptação ao formato
exigido pelas instâncias da mídia, a modalidade tenderá a incorporar princípios e
transformações passíveis de incursão na globalização ocorrendo uma possível nova
virada na qual o voleibol brasileiro estará inserido.
115
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Géographie, Paris, v.114, n. 41, dez. 1997.
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f.
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egulamenta a lei nº 6.251/75.
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119
SEVCENKO, Nicolau. Orfeu estático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura
nos frenéticos anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
120
6 ANEXOS
121
Figura 1: Sede da ACM de Holyoke (onde surgiu o voleibol) em chamas. Fonte:
Departamento de registros da CBV. Arquivo iconográfico, 2006.
Figura 2: Jogo feminino na Alemanha em 1929. As mulheres de saias e o árbitro de paletó, gravata e
chapéu. Fonte: Departamento de registros da CBV. Arquivo iconográfico, 2006.
Figura 3: Negrelli e Moreno (grandes jogadores da seleção das décadas de 60 e 70) no bloqueio.
Repare a antena mais fora da rede que a faixa lateral. Fonte: Departamento de registros da CBV.
Arquivo iconográfico, 2006.
122
a)
b)
Figura 4: 4a) Final do Campeonato Popular da Gazeta Esportiva em 1961 no centro de São Paulo
(Vale do Anhangabaú). 4b) Brasil e Estados Unidos, no Morumbi, em 1989. Fonte: Departamento de
registros da CBV. Arquivo iconográfico, 2006.
Figura 5: Zé Roberto, ainda estudante de Educação Física, com Yasutaka Matsudaira, em São
Caetano (SP). Fonte: Departamento de registros da CBV. Arquivo iconográfico, 2006.
a)
b)
Figura 6: 6a) Seleção Masculina de 92, campeã olímpica em Barcelona. 6b) Jaqueline e Sandra
(ouro) e Adriana e Mônica (prata) no Vôlei de Praia em Atlanta (1996). Fonte: Departamento de
registros da CBV. Arquivo iconográfico, 2006.
123
78
9
10
11 12
124
Figuras de 7 a 14: Campeonato Mundial, 1982. Fonte: Departamento de registros da CBV. Arquivo
iconográfico, 2006.
Figura 15: Seleção Brasileira de 1984, a Geração de Prata. Fonte: Departamento de registros da
CBV. Arquivo iconográfico, 2006.
13 14
19
125
Conquistas do Vôlei Masculino Adulto
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Ano
Colocação
Liga Mundial Campeonato Mundial Copa do Mundo Olimadas Pan-Americano Sul-Americano World Grand Champions Copa Améric
a
Figura 16 : gráfico 1
Fonte: CBV
126
Conquistas do Vôlei Feminino Adulto
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
19
74
19
7
5
19
7
6
19
77
19
7
8
1979
19
80
19
81
1982
19
83
19
84
1985
1986
19
87
1
9
88
1
9
89
19
90
19
91
19
92
19
93
19
94
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
Ano
Colocação
BCV Cup Campeonato Mundial Copa do Mundo Olimadas Pan-Americano Sul-Americano World Grand Champions World Grand Prix
Fonte: CBV
Fi
g
ura 17: Gráfico 2
127
Atletas Registrados na CBV
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
70000
80000
90000
100000
1954-1960
1961-1970
1971-1980
1981-1990
1991-2000
2001-2005
Período
N° de Atletas
3.480
7.119
11.851
45.756
82.510
94.400
Figura 18: Gráfico 3
Fonte: CBV
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