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BERLIM
a construção da paisagem urbana contemporânea
SUZY SUELY PEREIRA SIMON
Orientação: Prof. Dr. JOSÉ ARTUR DALÓ FROTA
_______________________________________
UFRGS - PROPAR
DEZEMBRO 2006
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
PROPAR
_______________________________________________________________
BERLIM
a construção da paisagem urbana contemporânea
.
Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura
PROPAR,
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
como requisito para obtenção do título de Mestre.
SUZY SUELY PEREIRA SIMON
Orientação: Prof. Dr. JOSÉ ARTUR D’ALÓ FROTA
_______________________________________________________________
DEZEMBRO 2006
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Para Vicente e Renate
AGRADECIMENTOS
Ao professor Dr. Wolmir Therezio Amado, Digníssimo Reitor da Universidade Católica
de Goiás, por ter criado as condições para a realização desta investigação;
ao professor Dr. José Artur D´Aló Frota pela orientação precisa do processo de
elaboração do presente documento;
à minha família: Fernando, Emília e Renato Simon pela paciência que tiveram ao
longo desse difícil ano de 2006;
à professora Drª Elane Ribeiro Peixoto, pelo incentivo, confiança e apoio de sempre;
aos colegas do Curso de Mestrado pelo relacionamento alegre, cordial, respeitoso e
incentivador que foi nosso alento nos momentos mais difíceis,
e, em especial, à amiga Marisa Roriz, pela convivência solidária ao longo dos anos
que em que tivemos preciosas oportunidades de trabalhar, estudar e crescer,
intelectualmente e socialmente, juntas.
O que me impactou em Berlim é que apesar de que seus edifícios estivessem
destruídos e houvessem desaparecido, havia uma aura que emanava do solo. Em
outras palavras, o componente físico não permanecia, mas se podia sentir a
presença de suas estruturas.
(HEJDUK apud PASSARO, 2002, p. 151)
RESUMO
Palavras-chave: ARQUITETURA; PAISAGEM; CIDADE; RE-ARQUITETURA
O presente trabalho apresenta o resultado de uma investigação sobre a formação da
paisagem urbana contemporânea como um processo de acumulação de diferentes experiências de
materializações arquitetônicas, cada qual concebida mediante o pensamento de uma época, que por
diferentes motivos são vistos e respeitados como permanências urbanas. Esta pesquisa buscou
compreender três momentos paradigmáticos do século XX ocorridos na cidade de Berlim: 1) o da
arquitetura moderna, estudado a partir de acontecimento clímax na década de 1950, período de
realização da INTERBAU 1957; 2) o da fase pós movimento moderno, estudado a partir da IBA-Berlin
87, compreendendo acontecimentos da década de 1980; e 3) após a queda do Muro de Berlim, a
partir de 1990, a estratégia de REUNIFICAÇÃO pós 1989, quando a paisagem de rearticulação das
duas partes da cidade anteriormente dividida apresenta-se repleta de valores subjetivos. Neste
contexto, buscou-se compreender o papel da disciplina Arquitetura na condução e na concretização
fisionômica da paisagem urbana na segunda metade do século XX.
ABSTRACT
Keyword: ARCHITECTURE, LANDSCAPE, CITY, RE-ARCHITECTURE
The present work presents the result of an inquiry on the formation of the urban
contemporary landscape as a process of accumulation of different experiences of architectural
materializations , each one conceived by the thought of a time, that for different reasons is seen
and respected as urban permanences. This research sought to understand three paradigmatic
moments which took place in Berlin in the twentieth century: 1) the modern architecture, studied
from the event climax in the decade of 1950s: INTERBAU 1957; 2) the period after the modern
movement, studied from IBA-Berlin 87, comprising events from the decade of 1980s; 3) after the
fall of the Berlin Wall, from 1990 onwards, the strategy for reunification after 1989, when the
rearticulation landscape of the two parts of the city previously divided presented itself plenty of
subjective values . In this context, an understanding of the role of the Architecture subject in the
conduction and in the physiognomical concretization of the urban landscape in the second half of
the 20th century was sought.
S
umário
INTRODUÇÃO
................................................................................................................................09
1 IMAGEM CALEIDOSCÓPICA: justaposição de fragmentos temporais
.....................................................................................................................................
29
2 INTERBAU 1957 BERLIN-HANSAVIERTEL: a desmaterialização da paisagem
urbana........................................................................................................................
46
3 IBA-BERLIN 87: uma tentativa de resgate da paisagem urbana
tradicional..................................................................................................................
60
4 REUNIFICAÇÃO PÓS-1989: a paisagem da conciliação conceitual
..................................................................................................................................
102
4a Praças Potsdamer e
Leipziger.....................................................107
4b Avenida Unter den Linden e Praças Pariser e Bebel .................165
4c Praça Alexander............................................................................
205
5 RE-ARQUITETURA DA PAISAGEM: reflexões......................................................229
REFERÊNCIAS............................................................................................................2
51
I
NTRODUÇÃO
Paisagem urbana difere
conceitualmente de arquitetura da paisagem.
Enquanto esta última é objeto de projeto, a
primeira é o resultado de uma somatória de
projetos executados. A paisagem urbana pode
ser descrita, explicada, estudada, justificada,
investigada, induzida, mas sua forma nunca
terá um desenho final totalmente previsível.
Ela resulta de uma construção coletiva que
reflete uma multiplicidade de interesses
situados em quase todos os campos da
atividade humana civilizada. Compreender a
paisagem urbana exclusivamente como objeto
de projeto seria minimizar seu potencial
interativo, uma vez que a construção da
cidade se processa, no tempo e no espaço,
por meio de sedimentações de lugares, os
quais, ao estabelecerem relações entre si,
configuram o espaço urbano que é
identificado por meio de sua paisagem. O
espaço urbano é aqui compreendido como a
somatória dos diversos espaços existenciais,
sobrepostos ou justapostos, estabelecidos
individualmente por cada um dos usuários da
cidade ou pelo poder público.
1
1
Espaço existencial compreende o conjunto de
lugares conhecidos e utilizados por um indivíduo.
Ver Norberg-Schulz (1975, p. 90).
Segundo Argan (1998, p. 244), “[...] a
cidade é o produto de toda uma história que
se cristaliza e se manifesta”. Isso significa que
seu caráter tem formação processual e que
sua forma identifica o sistema sociocultural
que seus construtores desenvolvem ao longo
do tempo dedicado à sua produção. No
contexto da paisagem, são inúmeras as
possibilidades de especulação conceitual. No
campo da arquitetura, é fundamental
investigar os conceitos de paisagem
relacionados com o espaço urbanizado e que
sejam importantes para a compreensão do
conjunto de idéias que envolvem a estrutura
paisagística da cidade. Isso como
conseqüência tanto de um processo histórico
quanto de uma multiplicidade de ações
isoladas, as quais nem sempre se encontram
regidas por um conjunto coeso de regras
construtivas.
A paisagem urbana é o meio no qual
se desenvolvem as atividades humanas
sociais e econômicas, que dependem da
agregação de pessoas para viabilizá-las. É o
meio no qual se constroem as relações
humanas e os lugares, assim como as
ligações entre esses elementos. A Arquitetura,
como disciplina, objetiva a organização física
de um sistema urbano estruturado e a
construção dos lugares e ligações, provendo
ambientes adequados à realização das
atividades necessárias ao desenvolvimento da
vida social e econômica de uma comunidade.
Paradoxalmente, a paisagem urbana é o meio
espacial no qual acontecem as atividades e é
conseqüência do modo como a comunidade
conduz o processo construtivo de seu meio de
realizações. Assim, as alterações processadas
nos interesses da sociedade provocam
alterações na configuração da cidade. Os
conceitos básicos para o entendimento do
aspecto imagético da cidade são: paisagem,
arquitetura paisagística e paisagem urbana.
Paisagem
Paisagem: do francês paysage vem de
pagus ou campo, que em francês deu
pays, paysan, paysage.
Pagus: a terra cultivada, o campo. A
paisagem é a figuração da biosfera e
resulta da ação complexa do homem e
de todos os seres vivos plantas e
animais em equilíbrio com os fatores
físicos do ambiente. Distinguem-se três
graus da intervenção do homem na
paisagem:
a- Paisagem em que o homem não
interveio. Paisagens primitivas.
b- Paisagens em que a intervenção do
homem criou muito um equilíbrio
estável com os fatores biológicos.
Paisagens naturais.
c- Paisagens em que a intervenção do
homem resulta um desequilíbrio
permanente. Paisagens artificiais.
(ENCICLOPÉDIA VERBO LUSO-
BRASILEIRA DE CULTURA, 2001 apud
arq./A revista de arquitetura e arte,
2004, p.11).
Na língua portuguesa, segundo
Buarque de Holanda (1999, p. 1.247),
paisagem é uma palavra que tem origem no
francês Paysage e apresenta dois significados:
“espaço de terreno que se abrange com um
lance de vista e, também, “pintura, gravura
ou desenho que representa uma paisagem
natural ou urbana. Assim sendo, a paisagem,
conforme o primeiro conceito, estabelece uma
relação estática e objetiva entre o observador
e o cenário observado. A palavra cenário foi
usada propositadamente para fazer alusão à
paisagem como o contexto onde ocorrem as
ações humanas. É correto admitir que as
paisagens naturalmente constituídas
independem das ações humanas, porém,
quando são observadas, passam a integrar o
contexto das experiências vivenciais de quem
as observa. as paisagens construídas
refletem a cultura e a riqueza de quem as
constrói e interagem com os responsáveis por
sua produção. Essa paisagem que se abrange
num lance de vista é um recorte da realidade
visível de um determinado território. Quanto
maior a distância entre o observador e a
paisagem observada, maior será a
abrangência visual, portanto maior será a
porção do território que participará da
composição da paisagem.
A paisagem como representação
artística surgiu no Renascimento, quando o
homem se colocou no centro dos
acontecimentos como o dirigente supremo de
sua própria vida. Houve, então, uma
modificação na relação homem—natureza. Ele
passou a buscá-la como fonte de deleite e
prazer. Não havia mais o medo da barbárie
extra-muros, e sim, o gradativo domínio das
artes e da ciência, conseqüentemente, da
natureza, que passou a ser fonte de
inspiração para os artistas, então
denominados pintores paisagistas. O primeiro
pintor que explorou a beleza das paisagens
estabelecendo um referencial de perfeição foi
o francês Claude Lorrain (1600-1682). Ele
desenvolveu a técnica de representação e a
percepção paisagística observando e
retratando o entorno de Roma. Era um pintor
realista, porém a realidade que pintava
resumia-se na parte bela e onírica das
paisagens, as quais “[...] impregnava com uma
luz dourada ou uma atmosfera prateada que
transfigurava toda a cena” (GOMBRICH, 1993,
p. 310). A beleza das paisagens, como cenário
natural, passou então a ser julgada tendo
como parâmetro a visão de Claude Lorrain.
“Os ingleses ricos [...] decidiram modelar [...]
os jardins de seus domínios particulares de
acordo com os sonhos de beleza de Lorrain”
(GOMBRICH, 1993, p. 310). Os ingleses do
início do século XVIII criaram o “jardim
paisagístico” para complementar o entorno
de seus palacetes, residências inspiradas nas
construções de Paládio. Dessa forma,
associaram a arquitetura paladiana às
paisagens de Lorrain, dois referenciais
inquestionáveis da beleza e do bom gosto da
época. Foi, porém, o espírito romântico do
final do século XVIII que favoreceu o pleno
desenvolvimento da pintura paisagística, que
“[...] até então fora considerada um ramo
secundário da arte” (GOMBRICH, 1993, p.
388). Outro artista que se dedicou à pintura
das paisagens foi o holandês Jacob van
Ruisdael (1628?-1682). Tecnicamente se
inspirava em Goyen e Rembrandt, mas sua
temática era especializada em “[...] pitorescas
cenas florestais [...] sem a presença de figuras
humanas” (GOMBRICH, 1993, p. 338).
Segundo Gombrich (1993, p. 376 e
374), “o gosto pelos aspectos pitorescos da
natureza que inspiraram os esboços de
Gainsborough (1727-1788), na Inglaterra, é
igualmente encontrado na França
setecentista e J. H. Fragonard (1732-1806)
tornou-se “[...] um mestre de efeitos
impressionantes” pintando as paisagens de
Tivoli.
Esses artistas, entre outros, passaram
a atribuir às paisagens valores estéticos,
emocionais e afetivos. A valorização da
paisagem por meio da arte colaborou para o
incremento da jardinagem como atividade de
construção de paisagem. Evidentemente,
outros fatores influenciaram tanto o interesse
popular quanto o aristocrático pela construção
de jardins, dentre os quais merece destaque
especial o fato de que as viagens à África, à
Ásia e às Américas possibilitaram o
conhecimento de inúmeras espécies
botânicas de exuberante beleza. Elas eram
levadas para a Europa e expostas
publicamente como raridades, tornando-se
cobiçadas por colecionadores, principalmente
da Inglaterra, Alemanha e França (ADAMS,
1993).
Conceituar paisagem como o recorte
visível de uma determinada realidade
territorial decorre do uso do termo paisagem
significando peça artística bidimensional
enquadrada no interior de uma moldura.
Desse conceito básico e original de paisagem,
surge uma extensa derivação conceitual que,
no campo da arquitetura e, posteriormente, da
geografia, assume diferentes configurações
conceituais: paisagem natural, paisagem
geográfica, paisagem construída, paisagem
rural, paisagem tridimensional, paisagem
urbana, entre outras.
Arquitetura paisagística
A arquitetura paisagística é o campo
da arquitetura relacionado ao projeto e à
construção da paisagem, compondo o campo
da paisagem passível de determinação
projetual em diversas escalas ou classes:
local, municipal, regional; tamanhos variados
de terrenos ou territórios, que vão “[...]
determinar a diversidade ou complexidade
dos dados [de projeto] e das inter-relações
entre eles” (MAGALHÃES, 2001, p. 62). A
escala local pode abranger o entorno imediato
tanto do edifício quanto do conjunto de
edifícios, do parque ou do bairro. A escala
municipal engloba a área rural e a urbana; a
territorial abrange um conjunto de cidades
com suas áreas rurais envolventes. A
dimensão da área de intervenção determinará
também o nível de domínio do projetista
sobre o objeto a ser projetado. Quanto menor
a área, maior a possibilidade de definição
projetual, ou seja, a definição da forma da
paisagem será mais ou menos precisa
conforme a dimensão a ser abrangida
favoreça uma maior ou menor possibilidade
de detalhamento, e também uma maior ou
menor participação de outros agentes
envolvidos na produção da paisagem. Quanto
maior a quantidade de agentes produtores da
paisagem, mais difícil será a concepção de um
objeto construído em sua totalidade,
segundo uma mesma regra de projeto.
A arquitetura paisagística,
dependendo da classe de projeto, pode atuar
sobre áreas verdes, urbanas ou não; sobre
espaços abertos, verdes ou não, e sobre
conjuntos edificados, onde define a
composição volumétrica entre edifícios, a
relação dos edifícios entre si e dos edifícios
com os espaços abertos. Os níveis de criação
das paisagens passam por planos de massas
e por definições formais detalhadas. A
complexidade da criação de paisagens que
proporcionam meios para o desenvolvimento
das atividades humanas vai além da definição
de um cenário que se abrange com um olhar,
compõe um espaço arquitetônico amplo,
definido em função da abrangência do
movimento das pessoas que por ele circulam.
Dessa forma, a visualização do espaço
paisagístico requer o deslocamento do
observador e a paisagem é percebida,
visualmente, através de uma sucessão de
imagens decorrentes do deslocamento do
ponto de vista. Esse fenômeno é denominado
por Gordon Cullen (1984, p. 19) como “visão
serial.
Como dito anteriormente, as
intervenções territoriais de grandes
dimensões diluem o papel do arquiteto “[...]
entre os variados agentes modificadores da
paisagem (MAGALHÃES, 2001, p. 62). Cabe-
lhe, neste caso, a definição de
diretrizes de longo prazo que [...]
atuarão ao longo do tempo, muitas vezes de
forma indeterminada” (MAGALHÃES, 2001, p.
62). Considerando o tema da construção da
paisagem de forma generalizada, é possível
identificar duas modalidades usuais de
abordagem arquitetônica:
a) arquitetura da paisagem como
projeto das áreas intersticiais,
ou seja, dos terrenos livres das
projeções dos edifícios;
b) arquitetura da paisagem como
uma abordagem que insere os
edifícios no programa do
projeto e pretende criar a
paisagem estabelecendo
relações predeterminadas
entre os edifícios e deles com
os demais elementos de
composição da paisagem.
Manuela Raposo Magalhães (2001)
desenvolveu uma metodologia de concepção
da paisagem na qual insere conteúdos de
cunho filosófico, componentes formais de
base ecológica, componentes formais
edificados, componentes formais de base
cultural e aspectos morfológicos da paisagem:
estrutura ecológica, estrutura edificada,
tipologias ou vocabulário formal, plano de
zoneamento, plano de imagem e plano
operativo. A visão filosófica de quem cria ou
concebe a paisagem definirá a abordagem
conceitual global: a idéia da forma se
desenvolverá intuitivamente ou
racionalmente, ou ainda das duas maneiras,
uma sobrepondo-se à outra. A base ecológica
compõe-se dos elementos naturais
preexistentes no sítio de projeto: solo, relevo,
águas superficiais, vegetação, clima, os quais
serão preservados ou re-introduzidos.
Componentes formais edificados são todos os
elementos artificiais da paisagem, tanto os
existentes quanto os que serão criados.
Componentes formais de base cultural
englobam aspectos de arte e de tecnologia, os
quais são responsáveis pela aparência e
estética da paisagem. A abordagem
morfológica estabelece a estrutura da
paisagem, ou seja, o sistema de
relacionamento entre as partes.
Os três planos citados de
zoneamento, de imagem e operativo são
elaborados em diferentes níveis de resolução
da forma. O plano de zoneamento determina
os usos do solo, dentre eles as áreas de
preservação ambiental, as possibilidades de
edificação em altura e as densidades de
utilização das diferentes áreas, ou zonas,
componentes do zoneamento. Tem valor de
diretriz geral e não chega a definir uma forma
precisa, mas define um desenho esquemático
em termos de volumetria da paisagem,
determinando os contrastes entre as áreas
construídas e as vazias. O plano de imagem,
segundo Magalhães (2001), vai além do
zoneamento, detalhando-o. Define a estrutura
da paisagem, a volumetria e as tipologias das
áreas homogêneas. O plano operativo
constitui o detalhamento do plano de imagem,
contém as prioridades e estimativas de custo
para a implementação das propostas.
Michael Hough (1998) desenvolve um
método de abordagem da questão da
paisagem urbana sustentável, no qual a
ecologia do lugar se relaciona estreitamente
com a forma final da paisagem e define
estratégias de desenho da paisagem onde
considera como básicos os elementos água e
plantas, em associação com as construções bi
e tridimensionais. Os processos naturais e os
processos urbanos são considerados em
relação às suas especificidades e
capacidades interativas a partir das questões
biológicas, funcionais e estéticas para que as
paisagens geradas sejam, ao mesmo tempo,
sustentáveis, viáveis e agradáveis ao espírito.
Essa relação produz um desenho que
pretende tornar visíveis os processos de
sustentação da vida e estabelecer, no interior
das cidades, os espaços para a fauna, para as
pessoas, para a tranqüilidade, a educação, o
trabalho e o contato social. Essa é a
diversidade que coloca no espaço urbano a
possibilidade de desenvolvimento integral do
homem e seu meio ambiente.
Paisagem urbana: conceitos e composição
Paisagem urbana é sinônimo de
cidade como elemento fisicamente
estruturado. Cidade, como sistema de
relações e trocas, é o elemento subjetivo
viabilizado pela estrutura física. Segundo
Gordon Cullen, “[...] paisagem urbana é um
conceito que exprime a arte de tornar
coerente e organizado, visualmente, o
emaranhado de edifícios, ruas e espaços que
constituem o ambiente urbano”
2
. Isso significa
que a paisagem urbana é constituída por
elementos físicos que participam da
composição urbana e que, no contexto da
paisagem, associam-se estabelecendo
relações que realçam ou diminuem suas
qualidades individuais. A ordem existente no
modo de associação dos elementos físicos
urbanos pode gerar potenciais de destaque
que impliquem a valorização da paisagem
urbana como um todo harmonicamente
equilibrado. Assim sendo, a cidade pode ser
objeto de um projeto paisagístico a ser
elaborado em diferentes níveis de definição
formal.
O problema da paisagem assumiu
relevância no contexto da arquitetura na
década de 1970, quando a discussão da re-
qualificação das cidades colocou os espaços
públicos em relevância, como responsáveis
pela recuperação da vitalidade urbana e
indutores do convívio social saudável. Assim,
2
Conceito formulado por Gordon Cullen em The
Architectural Review em 1961, publicado na
contra-capa do livro: Paisagem urbana, de sua
autoria, pela editora Martins Fontes, de São Paulo,
em 1984.
os edifícios ficaram à margem do tema
paisagem, que passou a se referir,
especificamente, aos espaços intersticiais,
também denominados continuum por ser uma
superfície contínua que integra todos os
elementos volumétricos inseridos no território
urbano (MAGALHÃES, 2001).
Embora o maior significado dado aos
espaços intersticiais tenha surgido após
1960, a gestação dos princípios que
possibilitaram que o tema fosse tecnicamente
desenvolvido localizou-se no Movimento
Moderno. Este atribuiu função e significado
aos espaços abertos urbanos, discutindo sua
importância para a solarização e a circulação
do ar entre os edifícios como fator gerador de
ambiente saudável e também como espaço
destinado ao lazer, convertendo-o em vetor de
socialização e preservação da sanidade
mental do cidadão. Em síntese, Yorgos
Simeoforidis (1977) expõe que, no CIAM IV
(1933), a Carta de Atenas atribui valor
biológico à paisagem e ao espaço público; no
CIAM V (1937), discute-se a importância do
lazer e dos espaços públicos recreativos; no
CIAM VIII (1951), intitulado O Coração da
Cidade: para a humanização da vida urbana, a
paisagem cívica se contrapõe à paisagem
natural de forma extremamente radical e os
elementos naturais convertem-se em
estranhos ao contexto urbanizado. Havia,
porém, diferentes opiniões no contexto do
Movimento Moderno, desde as divergências
do Team X até a postura de Walter Gropius,
para quem o fator mais importante a se
considerar na construção de um conjunto
edificado seria a relação entre os volumes dos
edifícios e os espaços abertos contidos entre
eles.
Na obra de Le Corbusier, distinguem-
se duas abordagens da paisagem em
diferentes relações com a arquitetura e com o
observador. A paisagem da contemplação
que, segundo Inãki Abalos (acesso em 10 Ago
2004, www.vitruvius.com.br/arquitextos
/arq049/arq049_00.asp,), “[...] materializa
um domínio sem possessão”, onde o
observador contempla a cena paisagística
sem nela interferir. Em relação à paisagem
como elemento associativo, participante da
arquitetura como fator de indução da forma,
cita-se o exemplo de sua proposta para o Rio
de Janeiro, onde o elemento arquitetônico
serpenteia entre as elevações naturais do sítio
e a orla marítima moldando a forma do
edifício para que, interagindo com a paisagem
natural, componha com ela um todo
indissociável.
No final dos anos 1960 e início dos
anos 1970, os artistas redescobriram a
paisagem e a utilizaram como suporte e
condicionante de suas criações artísticas.
Assim ocorreu especialmente com os
minimalistas, que trabalhavam com a
paisagem local de modo que ela participasse
da obra de arte como um de seus elementos
componentes, o que atualmente é conhecido
como Earthprojects. A arte de rua também
desempenhou um importante papel para a
criação de uma nova abordagem da paisagem
urbana. Ela teve reflexos na arquitetura dos
espaços públicos e na valorização dos
vazios urbanos. Um desses movimentos,
denominado Site Works, produz obras que
têm características minimalistas,
integradas fisicamente, culturalmente e
simbolicamente nos locais onde se
instalam (DEMPSEY, 2003).
Três momentos do pensamento
arquitetônico foram muito importantes para a
configuração personalizada da paisagem
urbana: o barroco, o moderno e o
contemporâneo. No barroco, o desenho da
cidade estava intimamente relacionado com a
disposição dos edifícios no espaço urbano. Era
intenção do desenho da cidade criar
perspectivas, pontos focais e monumentos
dispostos em um traçado geometricamente
racional que criasse situações de valorização
dos edifícios. Não eram considerados os
valores históricos ou emocionais relacionados
com o traçado preexistente, que seria
totalmente reformulado, se fosse necessário,
para possibilitar uma nova imagem para a
cidade. No moderno, também havia uma total
desconsideração aos traçados e edifícios
preexistentes. A idéia evidente era a recriação
da forma da cidade de modo que fosse
organizada para ser limpa, saudável e bela. O
cidadão não opinava sobre o destino dos
espaços comunitários e suas necessidades
eram predeterminadas em função de um
modelo de homem ideal. No pensamento
contemporâneo, delineia-se uma nova
abordagem do espaço urbano cuja intenção é
criar uma paisagem inclusiva, que permita a
convivência de diferentes configurações
históricas. Compõe-se um tecido urbano que
mescla fragmentos de diferentes épocas
associados por meio de um plano global que
articula, harmonicamente, as diversas partes.
Cria-se, então, um todo coerente do ponto de
vista da acessibilidade urbana e do
equacionamento das necessidades
socioeconômicas, que são, em última análise,
os motivos da existência das cidades.
Dois fatores evidenciados no final
do século XX colocam a paisagem
construída em destaque no contexto da
produção do espaço urbano:
a) a necessidade de redefinição de
espaços obsoletos de uso coletivo
determina sua transformação em
territórios regenerados e capazes
de promover novas relações
humanas;
b) o aumento da relevância das
questões ecológicas tem exigido
cada vez mais a geração de
sustentabilidade ambiental em
todos os setores da atuação
humana, inclusive em seus
processos de construção de
paisagens.
O crescimento da população
urbana e a obsolescência de
determinadas áreas citadinas, em virtude
de mudanças na localização espacial de
interesses econômicos e da
incompatibilidade entre novas tecnologias
e sedes empresariais e industriais,
resultaram no aparecimento de territórios
abandonados, sujeitos a ocupações
indevidas que geram insegurança social e
decadência urbana. Tal situação
demandou investimentos por parte do
poder público e de empresas particulares
para resgatar a dignidade e o potencial de
produtividade econômica de tais
territórios. Grandes projetos urbanos,
geradores de impactos visuais e poder de
atração de investimentos, passaram a
ser implementados promovendo a
revitalização da vida urbana em várias
cidades nas últimas décadas do século
XX. A remodelação plástica de extensos
territórios e intervenções pontuais foram
as duas estratégias adotadas nesse
processo de renovação urbana.
Conseqüentemente, novas paisagens
urbanas surgiram imbuídas de uma
complexidade de referências
contemporâneas ecologia, tecnologia e
sociologia que passaram a ser macro
referenciais para o desenvolvimento
formal das paisagens citadinas.
3
C o m o a d v e n t o d o d i s c u r s o
d a sustentabilidade, a questão da
paisagem urbana passou a ser concebida
sob novos princípios, tais como os
3
Sobre as questões que envolvem os territórios e
terrenos vagos, ver estudo de Ignasi Solá Morales
(2002).
definidos pela Carta de Aalborg, um
acordo entre países firmado na
Dinamarca em 27 de maio de 1994. Entre
eles alguns são determinantes para a
produção de uma paisagem construída
mais densa, tendo em vista promover
maior economia de energia e poupar os
territórios ainda livres de construções. Em
outras palavras, estabeleceu-se que a
cidade deveria crescer sobre si mesma,
mantendo os espaços naturais ou
destinados a plantações e pastagens. A
valorização dos elementos naturais como
vetores de preservação da vida também
influencia o processo de construção da
paisagem urbana, uma vez que induz o
convívio harmônico entre os elementos
construídos e os naturais, de modo que
sejam reservadas áreas verdes de
preservação ambiental destinadas à
proteção da fauna, da flora e das águas
superficiais.
A paisagem urbana resultante
dessa nova ordem é muito mais densa
que a paisagem urbana gerada pelos
preceitos da arquitetura moderna.
Aproxima-se da cidade barroca em termos
de distribuição dos edifícios, porém
distancia-se dela quando insere extensas
áreas verdes no tecido urbano e utiliza
tecnologia avançada para construir seus
edifícios caracterizados por uma nova
arte construtiva e estética.
A utopia contemporânea pretende
gerar uma paisagem urbana como
pretendeu Le Corbusier, ou seja, uma
paisagem cujas condições naturais
ofereçam [...] uma justa compensação
aos fatores artificiais, resultantes da
máquina (1971, p. 88). Essa visão
concebia um espaço urbano onde as
edificações eram inseridas em extensas
áreas verdes destinadas à circulação do
ar e à solarização das fachadas. Porém,
na atualidade, a conotação dada à
distribuição dos espaços verdes no
interior das cidades obedece a uma outra
lógica. Uma lógica científica de
preservação da ecologia natural do lugar,
viabilizando a vida nativa dentro e fora da
cidade. A regra básica passa ser a da
concentração do território da cidade e do
adensamento das edificações,
melhorando o uso do espaço urbano sem
perder os espaços verdes existentes e, se
possível, ampliando-os. Disso resulta um
contraste entre cheios e vazios urbanos
que potencializa a composição entre
massas edificadas e massas naturais. Os
espaços cívicos diferem dos espaços
verdes, mas participam também,
significativamente, da composição da
paisagem urbana, tanto de sua ecologia
quanto de sua aparência formal.
Cumprem, porém, a função de abrigar
grandes concentrações de pessoas ou
proporcionar espaços simbólicos inseridos
no contexto da cidade.
Paisagem urbana: complexidade interativa
Segundo Lynch (1997, p. 101), a “[...]
forma deve ser de algum modo
descompromissada, adaptável aos objetivos e
às percepções de seus cidadãos”. Dessa
perspectiva, pode-se entender a forma
urbana, definidora de sua paisagem, como
resultante de um constante processo de
sucessivas adaptações, no qual novas
demandas resultam em novas imagens. As
demandas geradoras da forma da cidade
surgem dos diversos campos das atividades e
necessidades humanas. Quanto mais
complexa a sociedade mais complexa será
sua paisagem, desde o ponto de vista das
inter-relações dos elementos que a compõem.
A cidade, quando vista como um
ecossistema artificial, compreende uma
complexidade de elementos naturais e
construídos sem precedentes na
história. Segundo Jellicoe (1995), no nível
territorial a paisagem humanizada decorre de
uma série de estudos científicos realizados
sobre o potencial de utilização das diferentes
áreas homogêneas do território, as quais
determinam os usos compatíveis com sua
capacidade de absorção de impactos
ecológicos e possibilidades produtivas. Porém,
internamente à cidade, o ecossistema artificial
apresentará equilíbrio ambiental se respeitar
as necessidades físicas e psicossociais dos
seus habitantes. Disso decorrerá um ambiente
compatível com a cultura local e adequado ao
ambiente natural em que a cidade estiver
inserida. As necessidades físicas são
atendidas por meio de soluções arquitetônicas
e tecnológicas de conforto urbano. As
questões psicossociais, no entanto, são de
solução mais complexa e envolvem
conhecimento subjetivo de áreas científicas
localizadas fora do universo da construção do
espaço físico.
Entre as necessidades psicossociais
encontra-se a “[...] universal pressão por
estampar a individualidade (JELLICOE, 1995,
p. 398). É como se a maior ameaça fosse a
perda da identidade consubstanciada na
memória dos valores históricos de quem não
constrói sua própria história, somente
acompanha a evolução social e técnico-
científica de sociedades mais complexas. Isso
significa que algumas cidades apresentam um
desenvolvimento urbano que se reflete no
aperfeiçoamento tecnológico de seus
edifícios, de seus veículos, da utilização de
elementos naturais e do sistema de
informação visual; outras, não detentoras de
igual evolução cultural e tecnológica, passam
a imitar os edifícios, o mobiliário urbano e
outros elementos, os quais, uma vez inseridos
em suas pobres estruturas urbanas, são como
peças desconexas geradas por utopias que
vão minando a cultura local. Essas questões
de grande complexidade interativa
demonstram a diversidade global da
problemática que envolve a produção da
paisagem urbana, na qual se contempla,
visualmente, todo um sistema de relações
abstratas materializadas no espaço físico das
cidades.
Vittorio Gregotti, em sua publicação
Território da Arquitetura, de 1972, aponta o
caráter interativo da disciplina da Arquitetura
fazendo uma referência especial a três grupos
de estudo: a geografia, a arte e a construção
da forma arquitetônica (GREGOTTI, 2001).
No campo disciplinar da geografia, dá-
se a descrição do ambiente físico em grande
escala e alguns aspectos são comuns tanto à
geografia quanto à arquitetura. Porém, no
campo restrito da arquitetura, Gregotti (2001)
precisa dois setores específicos: um, situado
no abrangente nível do território, compreende
a descrição técnica de um espaço delimitado
e das técnicas de sua construção; o outro
situa-se no campo projetual, este sim
exclusivo da arquitetura, uma vez que a
geografia tem caráter descritivo e não
propositivo
4
. Portanto, independentemente da
escala, as propostas de intervenção na
paisagem são restritas à disciplina da
Arquitetura.
No campo da arte, os valores estéticos
da paisagem são abordados em função da
atribuição de valor estético a uma paisagem
naturalmente constituída e, também, de uma
construção estética da paisagem criada
intencionalmente para resolver problemas
arquitetônicos na escala da cidade ou do
território. Segundo Gregotti (2001, p. 67), a
4
Ver publicação em português: GREGOTTI, Vitório.
Território da arquitetura. São Paulo. Perspectiva,
2001 p. 63.
evolução da arte promove “[...] novos pontos
de vista da realidade” e, dessa forma, torna
mais complexa a percepção do mundo e,
conseqüentemente, a construção da
paisagem.
No âmbito da construção da forma
arquitetônica, é na forma urbana que se situa
o esforço mais notável de transformação do
ambiente natural em ambiente cultural, o que
ocorre por meio de um processo construtivo
de estruturas físicas materializadas sobre
determinadas porções do território. A idéia de
processo implica desenvolvimento temporal; a
idéia de ambiente cultural remete a
considerações de formulações históricas.
Portanto, para Gregotti (2001, p. 68), o
processo de construção da forma urbana,
geradora de sua paisagem, não se resume em
“[...] um fenômeno da construção [...] pois
implica e impregna valores e significados”.
Dessa forma, a interatividade do processo
construtivo da forma urbana, que resulta em
seu caráter figurativo, sua aparência física ou
em sua paisagem, associa matérias
disciplinares dos campos sociológico,
econômico e tecnológico, que compreendem
os aspectos do desenvolvimento cultural de
um determinado grupo social em sua
trajetória ao longo do tempo.
As variáveis que participam da
formulação dos problemas urbanos passíveis
de proposições no campo da arquitetura são
inumeráveis e provenientes de vários setores
do conhecimento e da atuação humana. Isso
torna a construção da paisagem urbana um
procedimento complexo, interativo e infinito;
um projeto cuja concepção é uma obra aberta
à interferência de diferentes agentes; uma
obra mutável no tempo e que obedece às
determinações dos avanços tecnológicos
conquistados.
Pode-se dizer que o objeto cidade é a
produção que mais caracteriza o estágio
cultural de um povo. Nele figuram ideais,
capacidades e potenciais dos diversos
setores que compõem as estruturas físicas
e abstratas de uma determinada sociedade.
Para diversos profissionais, os estudos
urbanos assumem diferentes conotações, na
cidade são contemplados os aspectos
setoriais de diferentes campos do
conhecimento. É na paisagem da cidade que
se lêem, nas entrelinhas, os modos de vida,
de relacionamento e de cultura de seus
habitantes.
Conforme Argan (1998), os
pensadores e os projetistas da cidade viram
surgir, no início da década de 1980, o tema
ambiente no contexto da problemática
urbana. Enquanto o espaço urbano é objeto
de projeto, o “[...] ambiente urbano pode ser
condicionado mas não estruturado ou
projetado” (p. 216), essa é a forma como
Giulio Carlo Argan situa a questão ambiental
no contexto da cidade. Junto com a questão
ambiental os temas ecológicos e a
sustentabilidade passam a compor o cenário
dos projetos urbanos. Assim, os elementos
naturais tornam-se destaques no novo
ambiente urbano em discussão. Isso requer
maior participação do conhecimento sobre
ecologia e equilíbrio ambiental nos processos
do projeto da cidade. Os elementos naturais
água, vegetão e solo passam a
desempenhar papel relevante no contexto da
paisagem urbana, como elementos
integrantes da estrutura artificialmente
construída.
A questão da sustentabilidade
provocou uma redefinição das diretrizes gerais
do desenho das cidades. Entre os novos
princípios destacam-se a contenção da
expansão do tecido urbano, o melhor
aproveitamento das áreas comprometidas
com usos urbanos e a preservação das águas
e da vegetação natural existentes nas
cidades. O reflexo da aplicação desses
princípios na paisagem urbana foi a indução
de uma construção urbana mais densa, pois o
crescimento da cidade passou a ser interno e
não mais espalhado, até para atender a
recomendação de gerar condições para
economizar as energias que não fossem
naturalmente renováveis. No início do século
XXI, uma discussão geral em torno do
assunto e algumas iniciativas estão em
avançado processo de experimentação.
A interação da paisagem urbana com a
tecnologia é outro tema relevante na
aparência da paisagem construída. Segundo
Argan (1998, p. 213), “[...] hoje o ‘sublime’ ou
o transcendente é dado como subjugado pelo
esforço tecnológico do homem”. Percebe-se,
nessa afirmação, um entendimento que
radicaliza a posição de que a fruição da beleza
encontra-se distanciada da tecnologia, que as
novas técnicas e o domínio dos materiais
industriais de última geração não podem ser
colocados à disposição do conforto psíquico
dos habitantes das cidades. Porém
atualmente, têm sido apreciadas paisagens
construídas repletas de objetos tecnológicos
que despertam interesse da população,
dinamizam a vida urbana, facilitam a
circulação de bens e pessoas, promovem a
auto-estima dos cidadãos, entre outros
benefícios.
Também a antítese é verdadeira, mas
considere-se, neste caso, que a generalização
do conceito é o fator prejudicial a uma mais
aprofundada discussão do tema. Seja como
for, a tecnologia é presença inseparável do
contexto urbano contemporâneo, permeia
todas a ações e todas as intenções de
atuação no ambiente edificado, desde sua
concepção até sua construção no espaço real.
Do ponto de vista das infra-estruturas
viabilizadoras da vida nas grandes cidades, a
tecnologia é indispensável.
O presente trabalho investigou o tema
da interatividade no processo de concepção e
construção da paisagem urbana,
desenvolvendo as questões consideradas
importantes para o desenvolvimento e a
fundamentação das análises e críticas da
pesquisa sobre a paisagem urbana
contemporânea tendo como objeto de estudo
a cidade de Berlim.
Faz parte da índole humana imprimir
sua marca, seu referencial de posse e poder
sobre os territórios que ocupa, e isso se
reflete na paisagem que constrói.
5
Percebe-se
o respeito pelos feitos dos antepassados
quando, carinhosam e n t e , a sociedade
preserva s e u s monumentos históricos.
Porém, a vontade de caracterizar e, de
alguma forma, imortalizar seu próprio tempo,
sua tecnologia e seu conhecimento leva o
homem a construir sua própria história. A
arquitetura da cidade reflete o potencial de
uma cultura, a capacidade de um povo unido
em torno de seus ideais. Quando uma
sociedade passa para um novo estágio
evolutivo, é normal que tenha novas
necessidades e encontre novas possibilidades
de estética e conforto. Assim, ela vai
moldando o seu habitat antropizado segundo
suas novas capacidades.
Estudar os processos e possibilidades
de mudança nos espaços urbanos é buscar
compreender a imensa capacidade criativa
dos homens na utilização de suas novas
conquistas, bem como captar, nas estruturas
urbanas, os elementos que permanecem na
forma e na imagem da cidade através do
interminável processo de re-arquitetura
6
dos
espaços urbanos. Alguns elementos
componentes do lugar são extremamente
5
A relação de posse e poder nos territórios foi
desenvolvida por Jellicoe (1995).
6
O conceito de re-arquitetura, em síntese, refere-
se ao processo globalizado de melhoria das
condições de utilização de um lugar envolvendo
questões arquitetônicas e sociais. Tema abordado
por Dr. José Artur D’Aló Frota em palestra proferida
na Universidade Católica de Goiás em novembro
de 2003.
fortes e têm sua permanência
7
assegurada
durante o processo de re-arquitetura do
habitat humanizado. Outros elementos de um
lugar são extremamente frágeis perante a
força das transformações culturais e
tecnológicas, que podem resgatar, preservar
ou substituir elementos da estrutura existente.
A paisagem resultante de um
momento histórico sofre pressões de
modificações à medida que as necessidades e
as capacidades coletivas vão se alterando por
força do processo evolutivo natural. A
paisagem urbana é composta de estratos
históricos sobrepostos, os quais estabelecem
novos territórios de ocupação por meio da
expansão do tecido urbano e, também, das
alterações nas estruturas consolidadas,
substituindo elementos da paisagem
8
e
alterando contextos de fluxos. Assim, a
arquitetura da cidade passa por constantes
adequações a novas necessidades, em um
processo seqüencial de reorganização
espacial.
A sociedade do século XX estabeleceu,
em sua segunda metade, um novo paradigma
para o seu relacionamento com os recursos
finitos e infinitos da natureza: a
sustentabilidade. Esta palavra contém em sua
7
A teoria da permanência foi desenvolvida por
Aldo Rossi em seu livro A Arquitetura da Cidade
(2001).
8
Segundo Manuela Raposo Magalhães, em seu
livro A Arquitetura Paisagista: Morfologia e
Complexidade, a cidade do século XXI será “[...]
uma região em que o espaço edificado tem que ser
compatível com o espaço natural, sem o qual a sua
existência, como valor humano, será impossível”
(2001, p. 19).
conceituação uma amplitude tal que congrega
todos os setores do relacionamento humano
em seu caráter holístico: o econômico, o
social, o ambiental, o tecnológico e o político.
Não se preserva a natureza se não se
preservar a integridade dos seres humanos.
Essa nova ordem social
9
tem reflexos sobre o
resultado da maior obra coletiva da
sociedade: a cidade. Portanto, nos
procedimentos da re-arquitetura do espaço
edificado, na contemporaneidade, serão
necessariamente consideradas as questões
relacionadas com a sustentabilidade.
O processo de reorganização do
espaço arquitetônico da cidade cria
possibilidades de adequação formal e
funcional às novas alternativas de conforto, de
melhor uso da energia e de adequação dos
fluxos e da mobilidade. Os edifícios participam
deste contexto como os elementos físicos
tridimensionais geradores de espaços,
demandas, pólos de atração e paisagens. Eles
são os principais elementos componentes da
estrutura urbana: deles tudo parte, a eles tudo
converge. Detêm o poder de gerar o caráter de
uso dinâmico ou estagnado de seu espaço
envolvente.
A re-arquitetura da cidade apresenta
desdobramentos de investigação teórica que
possibilitam compreender o significado das
relações contextuais e históricas no processo
de criação dos novos espaços urbanos,
9
Michael Hough (1998), em Naturaleza y Ciudad,
aborda a ecologia urbana como base para a
remodelação da cidade.
mediante as novas composições
estabelecidas pelas readequações do sistema
viário e de transportes, inserções de novos
edifícios, novos mobiliários, vegetação,
tecnologias e sua interação com os elementos
anteriormente existentes.
A esse respeito Hugo Segawa
10
(1989,
p. 119-123) levantou questionamentos, tais
como: “Existem metodologias para a
percepção destas relações? Com que bases
instrumentais?”
Obteve algumas respostas:
1) de R. Meier: “Penso que a primeira
responsabilidade de um arquiteto ao construir
em situações urbanas é fazer o edifício
responder, intensificar o contexto histórico e
social do lugar”;
2) de C. Gwathmey: “Para reforçar
uma condição existente, você deve ir contra
ela, entendendo sua razão. Nesse sentido
você reforça essa condição, estabelecendo
um diálogo entre o existente e o novo,
tornando as coisas mais ricas;
3) de A. Predock: “A forma da história
é uma coisa; o espírito, o conteúdo, é outra. O
sentimento, as estruturas de engenharia, a
força dos espaços, as qualidades abstratas da
arquitetura [...] A relação com o lugar deve ser
uma constante”;
4) de K. Olsen: “[...] coisas além do
espaço, proporção, cor, escala, que são
10
Hugo Segawa. Entrevista: Contextos, história e
arquitetura latino-americana, publicada na Revista
Projeto, São Paulo: Pini, 127, p. 119-123, nov.
1989.
realmente importantes para um projeto: o
entendimento de um lugar, de sua história, da
responsabilidade que temos em fazer um
edifício que será parte de um futuro daquele
local responsabilidade histórica e
contemporânea”;
5) de F. Purini: “Creio que seja muito
importante que o arquiteto consiga sempre
estar em equilíbrio entre memória, inteligência
e compreensão dos lugares. E o projeto deve
ser também generalizável, isto é, transcender
o próprio lugar e fazer-se universal [...]”
Percebe-se, nas respostas, que
uma tendência comum entre os arquitetos
entrevistados de relacionar valores culturais
do passado com os do presente, respeitando
a história e as características físicas do lugar,
sem abdicar, porém, do direito de imprimir um
novo pensamento favorecido pelas
possibilidades técnico-científicas
contemporâneas.
Neste contexto, o presente estudo
buscou valorizar a investigação das relações
entre o novo e o existente, como elementos
componentes da configuração da paisagem
de um lugar. O entendimento dessa questão
requer a compreensão das relações de
percepção e interação do cidadão com a
paisagem que o cerca, dos modos como o
espaço urbano é permanentemente adaptado
às novas aspirações da comunidade que o
constrói, dos objetivos definidos pela
necessidade de personalização da cidade
para que se sobressaia em um contexto
globalizado e, também, da compreensão da
dinâmica de transformação da paisagem ante
o avanço de novas possibilidades
tecnológicas.
Em síntese, esta pesquisa consistiu na
análise da relação entre os elementos que
compõem a paisagem urbana, como história
construída e história em construção, onde
edifícios novos, edifícios antigos e espaços
públicos interagem compondo ambientes
urbanos que pretendem satisfazer as
necessidades de preservação da história e da
cultura do lugar e também possibilitar que as
novas gerações expressem o potencial criativo
e tecnológico de seu momento experiencial na
construção de seu habitat.
A abordagem de pesquisa adotada
combinou pesquisa bibliográfica com estudo
de caso. A primeira é um levantamento de
dados desenvolvido a partir de material
elaborado por terceiros; o segundo, o estudo
sobre um fenômeno a partir de múltiplas
fontes de evidências, em um dado contexto,
no qual esse fenômeno se insere. Foram
utilizados livros, artigos científicos,
publicações oficiais de órgãos públicos e
imagens fotográficas de diversas
procedências, como bases fundamentais para
desenvolver um estudo fenomênico referente
ao processo de formação da paisagem urbana
contemporânea, partindo-se de diferentes
fontes de evidências localizadas na cidade de
Berlim, na Alemanha.
O interesse da investigação centrou-se
em compreender questões relacionadas ao
modo como se processa a configuração da
paisagem urbana ao longo do tempo e como a
disciplina Arquitetura colaborou com sua
formação no caso específico de Berlim. O foco
da pesquisa foi direcionado para a
configuração paisagística contemporânea e
para seu estudo morfológico. Neste último,
adotou-se o conceito de Lamas (1993), para
quem o estudo morfológico vai além da
descrição formal, implicando também a
compreensão do processo gerador da forma
do objeto. Assim, a abordagem da paisagem
urbana contemporânea, como objeto de
estudo, exigiu uma investigação processual
para a qual foram identificados três
momentos de afirmação paradigmática
teórico-conceitual no campo da arquitetura,
que se evidenciaram nas intervenções
urbanísticas e arquitetônicas da cidade de
Berlim na segunda metade do século XX: o
Movimento Moderno, refletido em
acontecimentos da década de 1950; a crítica
ao Movimento Moderno, refletida em ações
localizadas nas décadas de 1970 e 1980 e a
renovação urbana contemporânea da década
de 1990. A materialização das propostas
conseqüentes foi investigada a partir de três
eventos distintos: a INTERBAU 1957 Berlin-
Hansaviertel, a IBA-Berlin 87 e a Reunificação
pós-1989.
O objetivo da presente pesquisa foi
estudar o processo das intervenções
arquitetônicas decisivas para a configuração
paisagística da cidade, bem como o resultado
dessas interferências, buscando compreender
as possibilidades de se conduzir,
intencionalmente, a composição da paisagem
urbana. Dessa forma, a pesquisa tratou,
fundamentalmente, do espaço urbano e suas
morfologias, através da investigação dos
elementos físicos que configuram sua
paisagem. Além disso, o estudo das
transformações paradigmáticas que
ocorreram na configuração urbana de Berlim,
no decorrer da segunda metade do século XX,
buscou identificar os pensamentos
arquitetônicos responsáveis pela
determinação das alterações físicas de seu
desenho urbano e de suas perspectivas
visuais.
Para subsidiar a pesquisa
desenvolvida no contexto físico da cidade, foi
adotado o conceito de re-arquitetura como
uma abordagem globalizante da qual tomam
parte: a restauração, a re-qualificação, a
renovação, a revitalização, a reconversão e
todos os outros processos que tenham como
objetivo proporcionar interferências físicas em
espaços anteriormente edificados e que
objetivem ganho em termos de aumento dos
índices de qualidade de vida, fomento
sociocultural e embelezamento dos espaços
urbanos. Sendo um conceito amplo e não
propriamente um instrumento, a re-arquitetura
se movimenta no campo das idéias, da
reflexão e não traduz formas, mas hipóteses
de trabalho e estratégias de uso e
transformação (FROTA, 2004 p. 110 a 141).
O presente trabalho dissertativo está
estruturado em cinco capítulos: nos quatro
primeiros encontram-se os dados pesquisados
referentes à paisagem urbana da cidade de
Berlim e no quinto capítulo há uma apreciação
dos dados coletados à luz dos conteúdos
teóricos que foram adotados como
referenciais para a fundamentação das
análises efetuadas. A seguir, são
apresentadas as sínteses do conteúdo dos
capítulos.
1 Imagem Caleidoscópica:
justaposição de fragmentos temporais
Aborda as transformações ocorridas na cidade
ao longo do tempo, sendo a justaposição de
fragmentos de diferentes épocas o traço mais
evidente de sua paisagem. Demonstra como a
cidade de Berlim vem sendo construída,
reconstruída, reformulada pelas vanguardas
do pensamento arquitetônico em diferentes
períodos de sua história e como os
movimentos culturais que nortearam a
concepção de teorias e práticas no campo da
arquitetura foram configurando a diversidade
formal de sua paisagem urbana.
2 INTERBAU 1957 Berlin-
Hansaviertel: a desmaterialização da
paisagem urbana Neste capítulo
desenvolveu-se um estudo da proposta
urbanística que norteou a implantação do
conjunto residencial Hansaviertel, definindo
sua volumetria paisagística e viabilizando a
materialização das propostas arquitetônicas
geradas pelo pensamento moderno da época.
3 IBA-Berlin 87: uma tentativa de
resgate da paisagem urbana tradicional
Trata das intervenções no espaço urbano que
refletiram o pensamento arquitetônico
proveniente da crítica e das contestações à
ortodoxia da arquitetura moderna.
4 Reunificação pós-1989: a paisagem
da conciliação Aborda a postura
contemporânea relacionada com a
intervenção na paisagem urbana, utilizando
como elemento de análise três situações
presentes no contexto da reestruturação dos
espaços urbanos após a queda do Muro de
Berlim: 4a Praças Potsdamer e Leipziger ; 4b
Avenida Unter den Linden e Praças Pariser e
Bebel; 4c Praça Alexander. Esses objetos de
investigação foram selecionados por
apresentarem abordagens conceituais
diferenciadas que refletem posturas
importantes para a compreensão do atual
processo de interferência na paisagem da
cidade. A Praça Potsdamer foi investigada a
partir do Plano de Massas de Hilmer & Sattler,
estudando-se as premissas responsáveis pela
geração do partido arquitetônico e as
adaptações às premissas do Planejamento
Institucional. O estudo prosseguiu
investigando as propostas dos arquitetos que,
trabalhando sobre o plano de massas de
Hilmer & Sattler, definiram os projetos dos
edifícios e espaços públicos. A Avenida Unter
den Linden e as Praças Pariser e Bebel foram
investigadas por causa da importância
histórica que detêm, razão pela qual as
diretrizes de usos e construções prevêem o
respeito à sua paisagem tradicional. A Praça
Alexander foi apresentada a partir de uma
proposta desenvolvida pelo arquiteto
berlinense Hans Kollhoff. A estrutura do
partido arquitetônico adotado tem como eixo
possibilitar, por meio da verticalização, o
acesso da população de menor poder
aquisitivo às moradias localizadas no centro
da cidade.
Assim, as características do projeto
das Praças Potsdamer e Leipziger relacionam-
se com o espaço de reconstrução urbana
concebido como marco de reunificação e
objeto de definição dos novos rumos da
paisagem urbana da cidade para o século XXI.
A Avenida Unter den Linden e a Praça Bebel
identificam-se como espaço de revitalização
urbana, guardando relações com a morfologia
tradicional e a Praça Pariser, com a
reconstrução urbana. A Praça Alexander
converteu-se em espaço de readequação do
uso do solo para atender a uma nova
demanda social de utilização espacial,
traduzindo uma nova proposta de ocupação
do centro da cidade.
5 Re-arquitetura da Paisagem:
reflexões Seção de caráter conclusivo e
reflexivo, na qual se desenvolveu uma análise
que inter-relaciona as intervenções urbanas
estudadas, avaliando-as à luz dos aportes
teóricos que facultaram o necessário
conhecimento de conceitos, teorias de
composição urbana e relacionamento do
usuário do espaço urbano com o ambiente
que o cerca, e que possibilitaram a
compreensão dos dados coletados e o
ajuizamento das áreas que compõem a
presente pesquisa.
O acervo teórico fundamental desta
investigação compõe dois grupos distintos. No
primeiro, situam-se os autores que privilegiam
o desenho da paisagem relacionando sua
conceituação às técnicas de composição física
como desenho da cidade; trazendo aspectos
históricos da disciplina e conteúdos técnicos
de projeto e composição; definindo conceitos
e desdobramentos conceituais da paisagem e
seus elementos de composição. Neste grupo
foram estudados A. Rossi e M. R. Magalhães.
No outro grupo, estão os autores que
relacionam os aspectos da arquitetura e os
lugares com a percepção que deles têm seus
usuários. Compõem este grupo: C. Norberg-
Schulz, J. Hillman, G. Bachelard e K. Lynch.
A. Rossi promoveu uma veemente
defesa da cidade como lugar de referência da
memória coletiva e individual, como desenho
arquitetônico que relaciona edifício e espaço
público criando um sistema indissociável e
interdependente e como um sistema de
lugares que possibilitam uma dinâmica de
relacionamento interpessoal.
M. R. Magalhães desenvolveu
aspectos conceituais da paisagem e aspectos
técnicos de sua composição física e histórica,
do planejamento e do projeto. Estudou as
inter-relações da arquitetura da paisagem com
os campos de conhecimento da geografia, da
ecologia e do pensamento filosófico em
diferentes épocas.
C. Norberg-Schulz demonstra a
construção do relacionamento homem—
ambiente a partir da apropriação vivencial dos
lugares destinados à realização das atividades
humanas. À medida que as necessidades se
expandem e se tornam mais complexas, os
lugares e as ligações entre eles tornam-se
igualmente mais complexas e diversificadas.
Assim o homem amplia o seu domínio
territorial, tanto no âmbito individual quanto
coletivo, e desenvolve sua capacidade de
estabelecer um sistema referencial de
imagens seqüenciadas na memória, o que lhe
possibilita orientar os deslocamentos no
ambiente em que vive.
J. Hillman desenvolve, no campo da
psicologia, um estudo para demonstrar que a
relação entre o habitante da cidade e o
ambiente urbano é responsável pela patologia
de considerável parte de seus pacientes.
Teoriza que a cidade está doente, que o caos
verificado na paisagem urbana e no modus
vivendi da população citadina influencia
negativamente a psique dos moradores
urbanos, gerando medo, insegurança,
depressão e insatisfações generalizadas. O
efeito da estrutura física da cidade sobre a
emoção dos indivíduos gera patologias da
alma que têm reflexos no relacionamento
interpessoal e intrapessoal.
G. Bachelard, a partir da imagem
poética, busca alcançar as profundidades da
alma, onde encontra os significados profundos
dos ambientes intensamente vivenciados.
Demonstra que a visualização de imagens
conhecidas ou semelhantes às conhecidas
tem a capacidade de ressoar no âmago do ser
e deflagrar um processo de percepção
ambiental que pode ser consciente ou
inconsciente. Este processo traz à superfície
da mente emoções, ora explicáveis, ora não
explicáveis, por meio das quais estabelece um
sentimento de agrado ou desagrado em
relação ao lugar.
K. Lynch decompõe a imagem da
cidade em cinco elementos formais para,
didaticamente, compreendê-los e estudar
suas inter-relações. Concentra sua
investigação na relação que se instaura entre
o usuário do espaço urbano e a configuração
de seu ambiente físico. Estabelece, ainda,
diretrizes para o trabalho de design da
paisagem urbana, de modo que a torne
memorável, legível e claramente estruturada.
Berlim Nikolaiviertel. Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
1
Imagem Caleidoscópica: justaposição de fragmentos temporais
Berlim. Fonte: Horst Stiller. www.Berlin-Motive.de
Neste estudo considerou-se o termo
fragmento como parte remanescente de algo
que se perdeu ou foi parcialmente destruído,
ou parcialmente substituído por outro, ou
outros elementos, e que apresente
característica de preciosidade. O caráter de
preciosidade implica a consideração do valor
documental, histórico e artístico dos
elementos urbanos em estudo.
Leipziger Platz – Início do século XX.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Bombardeio sobre Berlim – 1945.
Fonte: www. stadtentwicklung.berlin.de
Potsdamer Platz Sony Center – 2002.
Fonte: www.Motivschmiede.de
A cidade de Berlim, tradicionalmente,
valorizou os procedimentos de planejamento
de seu espaço urbano e sempre esteve na
vanguarda dos movimentos artísticos e
culturais. Por isso, em seu tecido urbano,
estão presentes distintos estratos temporais,
representados por monumentos
arquitetônicos e traçados de vias que
permaneceram como testemunhos de sua
história. À medida que os avanços das
necessidades sociais e do desenvolvimento
econômico e tecnológico pressionavam o
poder público e a comunidade científica, as
respostas se mostravam criativas e
inovadoras em tentativas de solucionar
problemas e criar um espaço habitável com a
melhor qualidade possível.
O processo de construção da
paisagem urbana de Berlim obedeceu a um
encadeamento histórico no qual, em um
primeiro momento, as transformações
ocorreram de forma seqüencial, em sintonia
com a evolução natural do pensamento
arquitetônico e artístico de períodos históricos
que se sucediam em transições assimiláveis
pela população. Assim, a cidade medieval, a
gótica e a barroca tiveram, cada uma no seu
tempo, suas marcas materializadas no
conjunto urbano da cidade. Em um segundo
momento, as transformações da fisionomia
urbana ocorreram em um ritmo acelerado,
ocasionado pelo caráter emergencial da
situação decorrente do período entre guerras
e pós-1945, associado ao pensamento das
vanguardas culturais sediadas na própria
cidade de Berlim.
Contexto relevante até o século XIX
Um dos fragmentos urbanos mais
importantes por sua antiguidade é o
Nikolaiviertel, um conjunto de edificações
localizado no centro histórico cuja origem data
de aproximadamente 1230. Nessa época foi
construída no lugar a primeira igreja de pedra
de Berlim. Ela foi remodelada e reconstruída
por diversas vezes ao longo do processo de
formação da cidade, até que, entre 1876 e
1878, foi construída em sua forma atual por
Hermann Blankenstein. A igreja, denominada
Nikolaiviertel, assim como as edificações à
sua volta, foi severamente danificada em um
bombardeio em 1944. Todo o conjunto urbano
foi reconstruído nos moldes da cidade antiga,
em 1985, para comemorar os 750 anos de
Berlim. Atualmente, é um museu a céu aberto
e guarda usos residenciais, comerciais e de
lazer.
Nikolaiviertel
Fonte: www.berlin-local.de
A cidade de Berlim preserva
monumentos e edifícios monumentais do
período Neoclássico segunda metade do
século XVIII e início do século XIX, o que
confere um traço marcante à sua paisagem. A
burguesia berlinense, promotora do
desenvolvimento cultural nas artes e ciências
e incentivadora de uma disciplina militar,
segundo Kenneth Frampton (1997, p. 9), “[...]
parece ter exigido um retorno ao clássico”.
Uma de suas mais significativas expressões é
representada pela obra de Karl Friedrich
Shinkel: a Neue Wache (1816), o
Schauspielhaus (1821) e o Altes Museum
(1830).
Schauspielhaus – K. F. Schinkel – 1821.
Fonte:
www.members.surfeu.de/.../Schauspielhaus
Como o maior uso extensivo da malha
urbana é o residencial, ele desempenha
função determinante na configuração da
paisagem construída. No caso de Berlim, no
século XIX os blocos residenciais
predominaram em sua paisagem. Segundo
Aldo Rossi, as tipologias que estruturavam
seus conjuntos residenciais eram: “1)
construções em blocos, 2) corpos livres e 3)
casas unifamiliares” (ROSSI, 2001, p. 92). As
construções em blocos de até sete
pavimentos predominaram nas áreas centrais
da cidade. Eram constituídos “[...] por diversos
pátios perpendiculares à fachada frontal”
11
caracterizados por uma implantação
longitudinal construída no limite do passeio
público, denominada Mietkaserne. A
predominância desse padrão tipológico ao
longo do século XIX proporcionou a Berlim
uma alta densidade de ocupação do solo,
tornando-a uma cidade compacta,
conformada por extensos quarteirões. Este
era, então, o traço marcante de sua paisagem
urbana. Paralelamente à construção das
residências populares, construíam-se os
palácios e os edifícios culturais monumentais.
No final do século XIX, Berlim era, do ponto de
vista da utilização do solo e da densidade
populacional, uma das cidades mais
compactas da Europa e com um crescimento
populacional muito significativo, saltando de
“[...] 1,9 milhão em 1890 para 3,7 milhões em
1910” (HALL, 2002, p. 34).
Contexto Relevante até 1989
Após a Primeira Guerra Mundial, a
grande demanda por habitação e a nova
proposta de espaço urbano em processo de
consolidação por meio do movimento
11
Sobre o estudo de Aldo Rossi acerca das
morfologias residenciais de Berlim, ver A
arquitetura da cidade (ROSSI, 2001, p. 85-106).
Mietkaserne – 1805
Fonte: ROSSI. A arquitetura da cidade ( 2001, p 93).
moderno geraram um novo padrão de
moradia: o Siedlung. Este consistia em
edificações construídas independentemente
dos alinhamentos e limites do terreno, as
quais conformavam um bairro e geravam
espaços abertos intersticiais, em
contraposição ao quarteirão fechado que
caracterizava o desenho tradicional da cidade.
A livre distribuição dos edifícios no terreno,
denominada por Aldo Rossi de “corpos
livres”,
12
obedecia a um desenho no qual o
traçado viário era concebido segundo as
12
Ver NOTA 11
escolhas do projetista e os edifícios eram
contornados por grandes espaços verdes, o
que gerava uma continuidade dos espaços
abertos intersticiais. Essa configuração
promoveu uma significativa alteração nas
perspectivas da paisagem urbana de Berlim.
Além disso, a substituição dos palácios pelas
vilas e, posteriormente, pela casa unifamiliar
13
também estudada por Aldo Rossi, colaborou
não para as transformações fisionômicas
da paisagem, mas também para a diluição da
malha urbana e a integração de espaços
abertos e áreas verdes aos espaços
urbanizados, valorizando inclusive a
volumetria dos edifícios residenciais.
De 1924 a 1960 foi construída a
maior parte dos grandes conjuntos
habitacionais edificados nas periferias de
Berlim: Siedlung “Freie Scholle” (1924-1931);
Siedlung Schillerpark (1924-1928);
Grossiedlung Britz (1925-1931); Grossiedlung
Onkel-Toms-Hütte e Siedlung Fischtalgrund
(1926-1931); Wohnstadt Carl Legien, Weisse
Stadt, Grossiedlung Simensstdat, Friedrich-
Erbert-Siedlung (1929-1931);
Forschungsiedlung Spandau-Haselhorst
(1930-1932); Wohnbebaung am Spandauer
Damm (1953-1960); Interbau Hansaviertel
(1957); Charlottenburg Nord (1957-1960);
Wohnbauten Hansaviertel Nord (1960) Paul-
Hertz-Siedlung (1961-1965). Os dois maiores
conjuntos habitacionais de características
modernas construídos em Berlim foram os
últimos: BBR Britz-Siedlung (1964-1968) e
13
Ver NOTA 11
MV Märkisches Viertel (1965-1968). Um
exemplo importante da inovação arquitetônica
praticada na época é o edifício
Hufeisensiedlug (ferradura), localizado no
Gross-Siedlung-Britz, projetado por Bruno Taut
e Martin Wagner e construído entre 1925 e
1927
14
.
Hufeisensiedlung – Bruno Taut e Martin Wagner
Fonte: sv.wikpedia.org
A Segunda Guerra Mundial provocou a
destruição de quadras inteiras, ocasionando
modificações radicais em diversos setores da
cidade e alterando substancialmente sua
paisagem. Após o término do conflito, Berlim
apresentava extensos territórios urbanos
totalmente desprovidos de edificações e, em
algumas áreas, mesmo os vestígios do
sistema viário eram de difícil identificação.
Havia uma situação emergencial que
demandava novas habitações. A
administração pública deu continuidade ao
processo de expansão da periferia urbana, a
princípio afastada da divisa com o setor
soviético, onde continuou edificando os
grandes conjuntos habitacionais de
14
divergências bibliográficas em relação à data
da construção. Adotou-se aqui a publicação Bauen
seit 1900 in Berlin (1968, p. 79).
características modernas. Após a construção
do Muro de Berlim, investiu também nas áreas
centrais.
Berlim- situação pós-1945.
Fonte: stadtentwicklung.berlin.de/.../geschichte
A expansão periférica
Para compreender melhor o processo
de expansão das periferias de Berlim,
15
do
final do século XIX a 1980, podem ser
consideradas três divisões temporais.
A primeira vai de 1875 a 1920,
quando as densas implantações edilícias
formavam pequenos pátios no interior dos
quarteirões perimetralmente delimitados. As
ruas caracterizavam-se como corredores
nitidamente definidos por construções de até
quatro andares, o que configurava uma
paisagem urbana formada principalmente por
elementos artificiais. Nas duas figuras
seguintes é possível observar: na primeira, em
cinza, a malha urbana anterior a 1875 e, em
preto, as expansões de 1875 a 1920; na
segunda, a volumetria paisagística resultante.
15
Informações de referência contidas em
publicação do Senator für Bau und
Wohnungswesen, denominada Räumliche
Stadtentwicklung de 1981.
Berlim até 1920.
Fonte: Räumliche Stadtentwicklung - 1981
Na segunda divisão, de 1920 a 1948,
a implantação das construções permitia uma
maior amplitude dos pátios e possibilitava a
inserção de vegetação arbórea no tecido
urbano. As duas figuras a seguir apresentam,
em cinza, a malha existente em 1920 e, em
preto, as ampliações de 1920 a 1948 e a
volumetria da paisagem. Observa-se que,
nesse período, o centro histórico permanece
livre de novas construções.
Berlim até 1948.
Fonte: Räumliche Stadtentwicklung - 1981
A terceira, de 1948 a 1980, foi um
período em que ocorreu a verticalização das
construções periféricas, houve a eliminação
dos pátios internos e o espaço público
desenvolveu-se como um contínuo integrado
aos espaços abertos privativos. Além disso,
iniciou-se, no final desse período, o retorno
das construções no centro da cidade, então
dividida pelo Muro de Berlim. Nas duas figuras
seguintes, vê-se, em cinza, a malha até 1948
e, em preto, a expansão de 1948 a 1980 e o
contraste volumétrico resultante. Nessa fase
foi investigado o setor ocidental.
Berlim até 1980 – situação da expansão ocidental.
Fonte: Räumliche Stadtentwicklung - 1981
Nessa terceira fase das construções
periféricas, nas primeiras interferências do
pós-guerra, iniciou-se um processo de
modernização da cidade com a abertura de
grandes eixos viários e quarteirões inteiros
foram reconstruídos nos moldes modernos.
Era urgente resgatar a auto-estima da
população, portanto os planos de
reconstrução buscaram restabelecer o
processo de expansão urbana, adotando uma
morfologia de feição modernista. Porém, a
grande quantidade de demolições de
edificações antigas provocou uma intensa
reação popular e também dos arquitetos e
estudantes de arquitetura, que exigiram a
paralisação das obras no final da década de
1960.
16
Como se pode constatar, o pós-
guerra foi o segundo momento de
transformação na paisagem urbana de Berlim.
O processo de reconstrução da cidade ocorreu
de forma traumática para a população, pois
resultou em uma nova fisionomia muito
diferente daquela à qual estavam habituados.
As mudanças ocorreram em um curto período,
de modo que não houve tempo para que os
cidadãos assimilassem a nova forma urbana
que se materializou rapidamente diante de
seus olhos.
Da década de 1960, a cidade preserva
no Kulturforum um conjunto de edifícios
representativos do esforço governamental
para gerar espaços urbanos
arquitetonicamente qualificados e que
tivessem poder de atração suficiente para
dinamizar a vida cultural da cidade. O
Kulturforum foi planejado para dotar a cidade
ocidental de um núcleo cultural, uma vez que
os edifícios culturais mais importantes ficaram
do lado oriental após a divisão da cidade.
Encontram-se como exemplo das construções
da década de 1960: Phillarmonie (1960-
16
Informações detalhadas sobre a fase das
reconstruções pós-guerra poderão ser obtidas em
Passaro (2002, p. 19-21).
1963) de Hans Scharoun; Neue
Nationalgalerie (1965-1968) de Mies van der
Rohe; Staatsbibliothek (1967-1969) também
de Hans Scharoun.
Phillarmonie - Hans Scharoun – 1963.
Fonte: stadtentwicklung.berlin.de/Kulturforum
Neue Nationalgalerie - Mies van der Rohe – 1968.
Fonte: stadtentwicklung.berlin.de/Kulturforum
Staatsbibliothek - Hans Scharoun – 1969.
Fonte: www. Staatsbibliothek-Berlin.de
No final da década de 1960, a
paisagem urbana de Berlim encontrava-se
composta por fragmentos de diferentes
tipologias e diversificadas morfologias. Essa
composição era produto das sucessivas
interferências na cidade histórica,
tradicionalmente barroca, o que resultou em
uma série de parcelas urbanas de
conformação modernista ilhadas em um
tecido urbano histórico severamente
arruinado por bombardeios de guerra. Entre
as diferentes morfologias urbanas, a cidade
abrigava edifícios antigos e modernos que
eram verdadeiros tesouros da história da
arquitetura. Ao mesmo tempo em que
preciosos representantes da história do lugar
eram demolidos, outros, igualmente
importantes por testemunharem um novo
momento cultural e social de Berlim, eram
construídos. Havia na efervescência cultural
da época uma multiplicidade de opiniões e
uma divisão ideológica sobre o destino das
cidades e a forma que deveriam assumir. Em
Berlim, essa situação era potencializada tanto
pelo grau de destruição no qual se encontrava
a cidade quanto pela tradição de abrigar
vanguardas culturais que buscavam novos
caminhos para trilhar. Tais opiniões foram
convertidas em propostas de remodelação
urbana nas duas décadas seguintes, de 1970
a 1989, oportunidade em que, durante a
realização do evento IBA-Berlin 87, os
arquitetos trouxeram para a prática vários
aspectos teóricos em discussão e,
consequentemente, o resultado visual das
edificações foi muito diversificado.
Obras realizadas para a IBA-Berlin 87.
Fonte: unser.chollian.net/.../housing
A década de 1970 proporcionou uma
nova experiência urbana. Foi o reflexo de um
discurso internacional em defesa da cidade
tradicional, da permanência dos elementos
urbanos responsáveis pelo testemunho de
fatos históricos do passado, da manutenção
de tradições e de memórias urbanas. Porém,
as experiências modernas anteriores
estavam impregnadas nas mentes dos
cidadãos, assim não havia mais a
possibilidade de reconstrução pura e simples
de uma paisagem do passado. A sociedade
era outra, embora houvesse rompantes
saudosistas não seria possível um simples
retrocesso no processo de construção da
cidade. Dessa forma, as interferências que se
seguiram em Berlim, a partir das décadas de
1970 e 1980, estavam repletas de
controvérsias, resultando em uma mistura de
estilos e conceitos. Ao mesmo tempo em que
se pretendia o resgate da cidade para o
pedestre, não era possível prescindir dos
veículos motorizados individuais.
A reunificação pós-1989
Berlim volta a ser um ponto focal no
cenário internacional quando, a partir de 9 de
novembro de 1989, ocorre a derrubada do
muro que separava a cidade ocidental da
cidade oriental. Inicia-se, imediatamente, um
novo processo de planejamento e re-
arquitetura da cidade que, no início do século
XX, tinha sido uma das mais importantes
capitais da Europa.
No processo de reconstrução da
cidade, no período pós-guerra, ficaram claras
duas posturas distintas, uma anterior e outra
posterior à reunificação.
17
Na fase anterior, o
processo de planejamento, tanto no lado
oriental quanto no ocidental, desconsiderou
uma característica fundamental na construção
17
Hans Kollhoff em entrevista sobre a
reconstrução de Berlim, publicada na revista AU
65, abril/maio 1996. p. 51.
do tecido urbano de Berlim: a multiplicidade
funcional. Na cidade histórica, além dos
edifícios serem dispostos de maneira que
compunham quarteirões fechados, havia em
cada um a presença de funções
administrativas, comerciais, residenciais e
pequenas unidades de produção artesanal. A
reconstrução moderna do pós-guerra
estabeleceu um uso do solo monofuncional,
que foi implantado, principalmente, nas
periferias da cidade.
Após a reunificação, o governo
berlinense adotou, para o setor central, o
conceito de reconstrução crítica
18
que visava
restabelecer o centro vital da cidade no antigo
centro barroco. Para isso, além de determinar
afastamento frontal nulo e altura máxima de
20 metros (exceções a discutir) para os
edifícios, estabeleceu também usos
funcionais múltiplos por quadra e determinou
que o residencial devia ocupar 20% do total
da área edificada. A intenção era manter o
caráter histórico como forma de preservação
do conceito urbanístico que estruturara, no
passado, a configuração arquitetônica da
cidade, e por meio dele possibilitar o diálogo
harmônico entre os elementos novos inseridos
na fase pós-reunificação e os existentes no
tecido urbano desde as épocas remotas de
18
Reconstrução Crítica e Subúrbio são os dois
conceitos adotados pelo governo berlinense para
orientar os procedimentos de re-arquitetura da
cidade de Berlim. O primeiro foi aplicado na área
central e o segundo, nos bairros periféricos, porém
localizados dentro do perímetro urbano
(KOLLHOFF, AU 65, abril/maio 1996). O termo
reconstrução crítica foi criado por Kleihues, diretor
do setor de novas construções da IBA-Berlin 87.
sua história. Neste caso, as ações
concentraram-se na área central da cidade e
objetivaram produzir uma paisagem voltada
para o estabelecimento de uma imagem
urbana compatível com a função de capital de
um país economicamente forte e
culturalmente desenvolvido. As determinações
do uso do solo estabeleceram para a área
central um adensamento de construções nos
moldes da cidade antiga, o que possibilitou
aos arquitetos composições arquiteturais com
utilização de diferentes materiais tecnológicos
contemporâneos. A liberdade de criar com
novas tecnologias imprimiu, nas fachadas
contidas dentro de dimensões volumétricas
predeterminadas, uma diversidade formal
sem comparação na paisagem urbana de
Berlim. Cada objeto inserido no contexto da
malha urbana apresenta uma personalidade
própria e um nexo de contextualização
contemporânea singular. Como os edifícios
são institucionalmente condicionados a
determinadas projeções verticais e têm
alturas estabelecidas a priori, a singularidade
é reforçada na composição formal das
fachadas, nos elementos tecnológicos e nos
detalhes dos interiores. Isso pode ser
constatado nos novos edifícios da tradicional
Rua Friedrichstrasse, onde a inovação dos
arquitetos criou formas inusitadas, abusando
do metal e do vidro, e proporcionou uma
ocupação subterrânea para compensar a
impossibilidade da verticalização.
Friedrichstrasse Construções pós-1989. Fonte:
www.stadtentwicklung.berlin.de
Galeria Lafayette
Fonte: www.brynossaurus.com/album...
Berlim tem sido palco de inúmeras
manifestações artísticas e sociais. Disso
decorre a necessidade de se materializar em
seu território os ambientes indispensáveis à
realização de eventos, arquivamentos,
exposições, aglomerações populares, entre
outras situações. Por isso, têm sido
construídos edifícios e monumentos
destinados a dar suporte físico a tais
atividades. O Museu do Holocausto, projeto de
Daniel Libeskind, é uma das obras mais
significativas desse setor. Assim como o
museu, outras obras de aparência singular
têm sido inseridas no espaço urbano,
reforçando a conotação da diversidade formal
dos objetos componentes da paisagem.
Algumas obras pretendem uma relação com a
mais avançada tecnologia do aço e do vidro,
outras, como a de Aldo Rossi, pretendem uma
releitura de formas culturais, estabelecendo
um elo com a tradição.
Museu do Holocausto – D. Libeskind – 1999.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Quarter Schützenstrasse – Aldo Rossi – 1997.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Planos e projetos são detalhados pela
administração pública para orientar o
processo de re-arquitetura urbana da cidade.
A consolidação dos planos e projetos é uma
obra coletiva que envolve a administração
pública, a população e os investidores
financeiros. Entre os planos setoriais, o
Haupstadplan é o que contempla o
planejamento das áreas institucionais
destinadas à administração do país, criando
na cidade os espaços que abrigam os órgãos
governamentais e os funcionários federais. Os
setores da administração central do governo
têm uma implantação de edifícios que
favorece a tridimensionalidade volumétrica.
Assim, os edifícios isolados no contexto da
paisagem apresentam-se como objetos
esculturais, seguindo, geralmente, a linha
tecnológica contemporânea do aço e do vidro.
Maquete virtual do Plano de Massas para o Setor
Governamental - Estação Ferroviária de Berlim
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Paul-Löbe House – edifício governamental.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Além das novas construções, a nova
fase das intervenções urbanas interfere
também na re-qualificação dos edifícios
históricos, adaptando-os, quando necessário,
para abrigar novas funções ou ampliar
funções existentes. Como exemplo citamos
o edifício barroco Zeughaus, hoje Museu da
História Alemã, que sofreu um processo de re-
arquitetura com intervenção do arquiteto I. M.
Pei.
Zeughaus, hoje Museu da História Alemã.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Zeughaus, hoje Museu da História Alemã.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Berlim passou a sediar o parlamento
alemão em 1999, dez anos após a
reunificação. A partir de 1990, Berlim torna-se
o maior canteiro de obras da Europa,
colocando em execução um extenso plano de
reestruturação urbana. No ano 2000, Berlim
contava com 3,6 milhões de habitantes em
seu território de 889 Km
2
.
19
Reichtag Re-arquitetura de N. Foster pós–1989.
Fonte: stadtentwicklung.berlin.de/bauen
Assim, com a queda do Muro de
Berlim, tornou-se real a possibilidade de
rearticulação das duas partes da cidade que
permaneceram separadas ao longo de 28
anos. Uma nova imagem urbana foi planejada
para que Berlim assumisse uma aparência
capaz de transmitir ao mundo o
desenvolvimento tecnológico, econômico e
cultural de seus construtores, convertendo-a
no novo símbolo de seu país. Diante disso,
pode-se perceber que o processo de formação
da paisagem urbana de Berlim, ao longo de
seus quase 800 anos, passou por vários
estágios socioculturais e econômicos, dos
quais ficaram registros materializados em sua
malha urbana através de edifícios e
monumentos e também da justaposição de
construções novas e antigas, testemunhando
o preenchimento de vazios urbanos e a
substituição de edifícios preexistentes. O
Reichtag, sede do Parlamento Alemão,
19
Dados sobre população e investimentos
publicados na Deutschland, Revista de política,
cultura, economia e ciência, nº 1, fev./mar. 2000.
exemplifica em um único edifício o contexto do
diálogo entre as formas antigas e as
contemporâneas na cidade de Berlim.
As transformações da paisagem
urbana berlinense, a partir de 1990,
estabeleceram um diferencial visual
perceptível, pontuado por objetos
tecnológicos, seja em forma de edifícios, seja
em forma de mobiliário urbano, e demonstram
um esforço coletivo para situar Berlim no
contexto das capitais internacionais e para
devolver à cidade um status cultural e
tecnológico desfrutado antes da Segunda
Guerra Mundial. Uma das estratégias
utilizadas para proporcionar uma posição de
destaque foi dotar a cidade de espaços
públicos de qualidade. Não seria possível
gerar uma imagem contemporânea que
fizesse frente às outras capitais européias
sem investir nas formas dos espaços abertos,
atualizá-las esteticamente, saneá-las,
ambientá-las adequadamente para uma vida
social sadia.
Estratégia administrativa para a condução
do processo de construção da paisagem
urbana
O processo de construção da
paisagem é uma obra coletiva, porém uma
condução planejada que fornece as diretrizes
que harmonizam, em um determinado
momento, as ações individuais. Na cidade de
Berlim, esse processo apresenta e apresentou
momentos distintos que marcaram fortemente
a paisagem local.
A composição da paisagem urbana de
Berlim assumiu sua característica
caleidoscópica graças não ao processo das
transformações culturais e das reconstruções
pós-guerras, mas também ao caráter do
processo de condução de seu planejamento
urbano. A administração berlinense tem
tradição em utilizar exposições e concursos
nacionais e internacionais de arquitetura para
subsidiar as decisões relacionadas com as
intervenções construtivas em seu espaço
urbano. O século XX foi marcado por
importantes e decisivas interferências físicas
na cidade de Berlim, que tiveram como fonte
as propostas apresentadas em exposições de
arquitetura e urbanismo.
Em 1910, realizou-se em Berlim a
Exposição Geral de Urbanismo que tinha [...]
como objetivo elaborar um planejamento
global de reestruturação da cidade”
20
no que
se refere à ordenação territorial e também à
criação de uma imagem da cidade compatível
20
Ver histórico das exposições de Berlim em
PASSARO, L. B. Fragmentos de uma crítica:
revisando a IBA de Berlim, 2002. Tese de
Doutorado. Barcelona. Disponível em: <
http://www.tdx.cesca.es/TDX-0318102-
080014/index_an.html> Acesso em: 20 ago.
2002.
com sua função de capital. Nessa exposição
afloraram propostas de conotação
racionalista. No início do século XX, Berlim
sediou uma exposição de arquitetura anterior
à de 1910, cujos propósitos eram: discutir a
problemática urbana resultante do intenso
processo de industrialização que a cidade
sofrera no século XIX e definir as diretrizes e
procedimentos a serem adotados a partir
daquele momento.
A década de 1950 foi marcada por
dois eventos importantes para a cidade: em
1957, a Exposição Internacional de
Construções do Bairro Hansa (INTERBAU) e,
em 1958, o concurso Haupstadt Berlin
(Capital Berlim). A INTERBAU 1957, com suas
edificações livremente dispostas no terreno e
envoltas por ampla área verde, compondo
aproximadamente 1.300 unidades
habitacionais de variadas tipologias,
apresentou como resultado uma paisagem
totalmente diferente da paisagem consolidada
no entorno. Benevolo (1976) descreve a
experiência da INTERBAU como uma grande
variedade de tipos dispostos em uma extensa
área verde, refletindo as várias tendências em
vigência nas cidades européias. Era como se
na área restrita do Hansaviertel houvessem
sido manifestadas todas as experiências da
época.
21
o concurso Haupstadt Berlin tinha
21
Segundo Benevolo (1976, p. 692), o projeto
vencedor do concurso do Hansaviertel estabelecia
que o novo bairro fosse composto por edifícios
isolados no verde e que a densidade estabelecida
fosse alcançada por um aumento no número de
andares. Porém, o resultado final não obedeceu às
determinações do projeto e grande variedade de
como objetivo planejar uma Berlim
reunificada. Como o momento político da
época era bastante delicado, a reação da
administração soviética de Berlim Oriental foi
providenciar a construção do Muro de Berlim.
As mudanças no pensamento técnico-
científico internacional, a partir de 1970,
trouxeram como resultado a construção de
uma paisagem urbana composta de
elementos diversificados em relação à forma,
à distribuição espacial e ao relacionamento
urbanístico.
A década de 1980 foi tomada por uma
série de experiências arquitetônicas que
visavam, primeiramente, romper com regras
prefixadas e, depois, buscar a valorização dos
espaços coletivos urbanos como palco de
ações sociais e vivências citadinas. A
experiência denominada IBA-Berlin 87
consistiu em mais uma exposição
internacional de construções da qual
participaram arquitetos procedentes de vários
países. A experiência brindou Berlim com
construções de edifícios, ruas e praças
dotadas de diferentes aspectos formais.
Porém, havia entre essas edificações um elo
cultural que buscava o resgate das tradições
urbanas de construção em quarteirões
fechados por linha de edificações e
valorização dos espaços públicos como pontos
de encontro da população.
Em síntese, são três os momentos
paradigmáticos do pensamento arquitetônico
gestados no século XX e que influenciaram
tipos se estabeleceu na área.
diretamente a construção da paisagem
urbana de Berlim: o Movimento Moderno, o
Movimento Pós-Moderno e o pensamento
Contemporâneo. Eles se sobrepõem à
paisagem urbana da cidade histórica anterior
ao século XX, de onde se conclui que a cidade
contemporânea traz as marcas das
intervenções do pensamento arquitetônico
moderno que aflorou no início do século XX,
modificando extensas áreas da cidade antiga
e substituindo-as por estruturas urbanísticas
modernas com suas construções em blocos
sobre pilotis e cercados de áreas verdes.
Em Berlim, essas intervenções
modernas contracenavam com as estruturas
antigas dos quarteirões fechados por edifícios
justapostos e edificados no limiar das áreas
públicas. Outra marca de destaque no
contexto da paisagem urbana berlinense são
as áreas edificadas pela Internationale
Bauaustellung, a IBA-Berlin 87, construídas
segundo um pensamento arquitetônico que se
contrapõe às determinações espaciais
modernistas e busca o resgate dos espaços
públicos da cidade para o pedestre e o
cidadão, valorizando os espaços de encontro e
a rua como espaço de socialização. Também a
imagem da cidade, como morfologia histórica,
passa a ser valorizada.
Com a queda do Muro de Berlim, a
comunidade arquitetônica é novamente
convocada por meio de concursos públicos e
equipes técnicas governamentais para
elaborar propostas urbanas, paisagísticas e
arquitetônicas para a cidade. Os objetivos
eram: integrar as duas partes que haviam sido
separadas, preparar a cidade para receber a
capital do país e consolidar uma imagem
urbana que a colocasse como destaque no
cenário globalizado. Os planos
governamentais contemporâneos, que visam
a reestruturação da cidade após a
reunificação, trazem a estratégia de
consolidação de uma imagem urbana forte
para simbolizar a capital de um país
economicamente estável, tecnologicamente
avançado e culturalmente sedimentado.
Dessa forma, a cidade de Berlim vem sendo
construída, reformulada e reconstruída pelas
vanguardas do pensamento arquitetônico em
diferentes períodos de sua história. Os
movimentos culturais que nortearam a
concepção de teorias e práticas no campo da
arquitetura foram configurando uma paisagem
urbana composta de fragmentos de seus
diferentes períodos históricos.
Maquete virtual de Berlim em 2020
Fonte: stadtentwicklung.berlin.de/stadtmodel
A ocorrência de uma série de
significativas intervenções arquitetônicas, no
decorrer do século XX, resultou em uma
paisagem de fim de século que apresentava
características complexas, em que elementos
históricos remanescentes de quase oito
séculos de história situavam-se lado a lado
com estruturas modernas e contemporâneas
recém-construídas. A configuração
paisagística da estrutura urbana da cidade
encontra-se planejada até o ano 2020.
Berlim apresenta-se como uma cidade
polinucleada, cujos centros menores,
originados dos povoados que existiam no
entorno de sua malha original, encontram-se
estruturados em função do centro histórico e
do novo centro gerado pelo isolamento da
antiga Berlim Ocidental. Um dos problemas
enfrentados pela administração urbana pós-
reunificação foi a condição insatisfatória de
salubridade urbana da parte leste e o grande
vazio urbano propiciado pelos terrenos baldios
localizados ao longo da divisa entre as duas
partes da cidade. Era necessário sanear e
rearticular a estrutura urbana, proporcionando
uma ligação entre o centro antigo, histórico, e
o novo centro que se formou na cidade
ocidental. A estratégia adotada foi a
intensificação da urbanização da área do
Kulturforum e a construção do complexo das
Praças Potsdamer e Leipziger.
Ilustração sobre planta das áreas centrais estruturadoras da cidade de Berlim, evidenciando o Centro
Histórico, o Centro Ocidental, ou Centro Novo, e as áreas de ligação entre os dois: Kulturforum e Praças
Potsdamer e Leipziger.
Fonte: Ilustração de Suzy Simon. Base: www.stadtentwickulung.berlin.de
Como se pode constatar, a paisagem
urbana de Berlim contém, na atualidade,
traços de sua história, momentos cristalizados
no tempo, testemunhos de pensamentos e
ações que demonstram a dinâmica das
interferências dos acontecimentos sociais e
econômicos na cultura e configuração física
de um lugar. A seguir, será apresentado o
evento INTERBAU 1957 como representante
da influência do pensamento do Movimento
Moderno na estrutura urbana da cidade e,
conseqüentemente, em sua paisagem.
2
INTERBAU 1957 Berlin-Hansaviertel: a desmaterialização da paisagem urbana
Hansaviertel – vista geral dos edifícios verticais. Fonte: Wikipedia.berlin-hansaviertel.de
Fonte: www.Berliner-Hansaviertel.de
As informações históricas contidas
neste texto sobre a INTERBAU 1957 têm como
fonte básica publicações on line do
Departamento de Desenvolvimento Urbano de
Berlim e da Universidade Técnica de Berlim.
As ilustrações são procedentes de diversos
sites veiculados na World Wide Web,
devidamente referenciados a seu tempo.
A INTERBAU 1957 foi uma exposição
internacional de construções realizada em
três áreas de Berlim: uma, no bairro de Hansa,
ocupando uma parcela do terreno localizado
entre a linha de trilhos do bonde (S-Bahn) e
o bosque do Parque Tiergarten, denominada
Hansaviertel; outra, próxima ao
Olympiastadium, onde Le Corbusier projetou
uma Unité d’Habitation; a última, nas
imediações do edifício Reichtag, onde os
Estados Unidos construíram o Kongresshalle.
A INTERBAU 1957 tornou-se
internacionalmente conhecida como uma
mostra representativa da arquitetura
moderna. Edifícios e urbanismo espelharam
os conceitos arquitetônicos do movimento
moderno e foram produzidos por arquitetos
procedentes de vários países.
INTERBAU 1957 – Berlin-Hansaviertel - Plano geral de 1957.
Fonte: www.arch.tu-dresden.de/ibad/bargeschichte/woh
Localização do Hansaviertel no bairro Hansa. Ocupa os terrenos entre a linha do bonde S-Bahn e o
bosque do Parque Tiergarten. Imagem atualizada.
Fonte: www. stadtenwicklung.berlin.de/planen... spreespeicher2001.pdf em 12/02/2006
48
A implantação original do bairro teve
início em 1874 com a construção de
residências campestres e edifícios de
apartamentos para aluguel. Até 1925
haviam sido edificadas três sinagogas, uma
igreja evangélica e uma católica, uma escola
pública e algumas escolas particulares. A
localização do bairro era favorável, pois
estava próximo ao centro da cidade e, além
disso, por causa da proximidade com o
Parque Tiergarten, era muito agradável. Tais
fatores induziram uma intensa ocupação,
estruturada na forma de quarteirões
perimetrais fechados por edificações unidas
umas às outras, as quais, em novembro de
1943, foram vitimadas por intenso
bombardeio.
Hansaviertel, antes de 1940.
Fonte:baugeschichte.a.tu-berlin.de
Hansaviertel, em 1957.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de/archiv-
sensut/
Hansaviertel, em 2002.
Fonte: Wikipedia.berlin-hansaviertel.de
A história da reconstrução do
Hansaviertel faz parte do planejamento
institucional para a reconstrução da cidade
de Berlim após a Segunda Guerra Mundial.
Era necessário um plano de reconstrução
que possibilitasse o resgate de sua estrutura
física e social. Em 1946, o arquiteto Hans
Scharoun recebeu a incumbência de
elaborar um plano conceitual que dotasse a
cidade de Berlim de uma nova fisionomia.
Foram estabelecidas duas diretrizes
básicas: a primeira determinava a
manutenção das características urbanas do
centro da cidade e a segunda definia
incentivos para a inserção de espaços
verdes nas áreas periféricas. Essas
diretrizes foram incluídas, posteriormente,
no plano de uso do solo de 1950, que foi
elaborado para toda a cidade. Porém, o lado
leste, administrado pela União Soviética em
razão da Guerra Fria, acabou por definir
outras estratégias para o seu setor.
Estabeleceu diretrizes de reconstrução
baseadas em uma arquitetura monumental,
como exemplifica sua primeira interferência,
a Avenida Stalinallee, posteriormente
denominada Karl-Marx-Allee. A INTERBAU
49
1957 foi implantada no mesmo período da
Stalinallee, estabelecendo-se entre as duas
equipes organizadoras dos trabalhos uma
deliberada concorrência.
A localização do terreno, junto ao
Parque Tiergarten, foi favorável ao
estabelecimento de elos entre a
urbanização, os edifícios e as áreas verdes.
As diretrizes para o Hansaviertel eram
claras: os edifícios deveriam ser edificados
em forma de blocos isolados, contornados
de áreas verdes, de modo que o bosque do
Tiergarten fluísse através de seu espaço.
Na década de 1950, colhiam-se os
frutos das propostas modernistas. A
experiência do novo Hansaviertel foi o
reconhecimento e a consagração da
revolução na fisionomia urbana que a
paisagem de Berlim vinha desenvolvendo
desde a década de 1920, com a
implantação dos Siedlung grandes
conjuntos habitacionais periféricos. A
proposta era totalmente conforme a dos
grandes conjuntos habitacionais modernos,
portanto contrária às morfologias que
haviam sido construídas pela tradição
urbana da cidade. Consistia em uma
composição urbana baseada na livre
disposição de prismas retangulares
(horizontais e verticais), dispersos entre
massas de vegetação e gramados. Era um
desdobramento das propostas racionalistas
em curso na cidade. Embora tenha sido
considerado como um rompimento com a
tradição, vale lembrar que a vanguarda
cultural modernista teve uma vertente
nascida em Weimar. Essa vertente
promoveu um avanço cultural e técnico,
associando artes e ofícios a uma produção
sistematizada de design que atingiu todos
os setores da indústria, da manufatura e da
construção civil, tanto na Alemanha quanto
em outras regiões européias e americanas.
Simbolicamente, o Hansaviertel era
a representação da cidade do amanhã.
Propunha uma organização espacial que
permitia a circulação do ar, a penetração do
sol, a harmonização da cidade com a
natureza. Era a idealização do futuro da
arquitetura e da cidade.
Embora o edifício de 557 unidades
residenciais, projetado por Le Corbusier,
tenha ficado grande demais para os padrões
definidos pelo plano geral do Hansaviertel,
motivo pelo qual foi construído em outro
lugar, colocou em evidência o conteúdo
teórico e filosófico da implantação dos
edifícios da exposição. De forma literal ficou
representada na fachada da Unité
d’Habitation uma impressão em baixo relevo
das considerações sobre as cidades e a
arquitetura que estavam sendo debatidas
no círculo profissional dos CIAMs. A
condução da INTERBAU-Berlin 1957
encontrava-se em sintonia com as propostas
modernistas, apesar de, na época da
exposição, a comunidade internacional de
arquitetos ter iniciado o processo de
questionamento e revisão dos preceitos da
arquitetura moderna.
50
Unité d’Habitation - Le Corbusier – INTERBAU-Berlin 1957.
Fonte: Berlin.placeinplaceof.net
Unité d’Habitation - Le Corbusier – INTERBAU-Berlin 1957.
Fonte: Berlin.placeinplaceof.net
Unité d’Habitation - Le Corbusier – INTERBAU-Berlin 1957 – Imagem de 2004.
Fonte: www. stadtenwicklung.berlin.de
51
Plano da INTERBAU 1957.
Fonte:baugeschichte.a.tu-
berlin.de/bg/lehre/veranst...
Maquete da INTERBAU 1957.
Fonte: www.raum-szenarien.ud.k-
berlin.de
Altonaer Straße 1957.
Fonte:baugeschichte.a.tu-
berlin.de/bg/lehre/veranst...
Para participar da exposição que se
realizaria em 1957, cuja proposta
urbanística foi de Otto Bartning, foram
convidados para o concurso de seleção de
projetos, realizado em 1952, 53 arquitetos
de 13 países. Eles desenvolveram 48
projetos, dos quais 35 foram selecionados e
executados. Os arquitetos que participaram
da exposição foram: Herman Fehling, Daniel
Gogel e P. Pfankuch com o projeto Berlin-
Pavillon; Klaus Müller-Rem, Gerhard
Siegmann; Hans Muller; Günter Gottwald;
Wassili Luckhardt, Hubert Hoffmann; Paul
Schneider-Esleben; Willy Kreuer; Pierre Vago;
Alvar Aalto; Werner Düttmann; Fritz
Jaenecke, Sten Samuelson; Eduard Ludwig;
Gerhard Weber; Alois Giefer, Hermann
Mäckler; Johannes Krahn; Sep Huf; Serguis
Ruegenberg, Wolf Von Möllendorff; Günter
Hönow; Ludwig Lemmer; Paul Baumgarten;
Kay Fischer; Otto H. Senn; Franz Schester;
Hansrudolf Plarre, Ernst Zinsser; Oscar
Niemeyer; Max Taut; Egon Eiermann; Walter
Gropius; Luciano Baldessari; J. H. Von den
Broek, J. B. Bakema; Gustav Hassenpflug;
Eugène Beaudoin, Raymond Lopez; Hans
Schwippert e Arne Jacobsen. Todos eram
expressões da nova arquitetura
denominada, então, de modernista.
Considerando a importância
conceitual atribuída às áreas verdes, foi
necessária a participação de arquitetos
paisagistas, dentre os quais se destacaram
Ernst Kramer e Walter Rossow, este último
atuou na elaboração do plano geral.
A proposta urbanística consistiu na
desmaterialização da cidade histórica. Os
amplos espaços entre os edifícios e as
formas elegantes e isoladas das edificações
resultaram em uma paisagem fluida e
abstrata. Do ponto de vista funcional, os
edifícios habitacionais foram implantados na
periferia; no centro, foram instalados
equipamentos sociais e o comércio. O
sistema viário foi resolvido com um número
reduzido de vias e estacionamentos
próximos aos edifícios. Um sistema de
caminhos para pedestres isolava o
transeunte dos veículos motorizados. O
aspecto urbanístico do Hansaviertel foi um
grande diferencial em relação ao traçado
tradicional e possibilitou o ar de
modernidade que favorecia o deslocamento
em alta velocidade. A humanização da
52
paisagem ficou assegurada pelo trânsito de
pedestres e ciclistas em uma rede de
caminhos que fluíam através de áreas
ajardinadas e arborizadas, o que conferia à
paisagem o caráter de ambientalmente
agradável e adequada ao desfrute e à
contemplação dos espaços urbanos.
Desenho de 1958, criado sobre a proposta da INTERBAU Berlin 1957. A contemplação de uma nova
paisagem urbana.
Fonte: www.Berliner-Hansaviertel.de
Hansaviertel – Berlim
Fonte: www.jhfoto.de
Os edifícios habitacionais do
Hansaviertel definiram três grupos
morfológicos: o primeiro era composto por
unidades unifamiliares de um ou dois
andares; o segundo, por edifícios horizontais
de quatro a dez andares e o terceiro, por
edifícios verticais de até 17 andares.
A grande transformação no processo
de construção da paisagem consistiu, assim,
na substituição da cidade conformada pela
arquitetura de seus edifícios pela cidade
nascida do desenho livre e racional dos
urbanistas. A cidade tradicional era
estruturada em função da proximidade entre
os lugares de origem e o destino dos fluxos,
que a circulação urbana se processava
principalmente a pé. A nova estrutura
urbana provocou a ampliação das distâncias
53
de circulação entre os elementos funcionais
tridimensionais da cidade, a valorização da
velocidade dos deslocamentos, viabilizada
pelo uso do automóvel, e exigia um traçado
com menor quantidade de cruzamentos e
independência espacial entre corredor
motorizado e áreas de pedestres.
A grande dimensão das áreas verdes
de caráter contemplativo, ou seja, sem o uso
de atividades dinâmicas, tornou o
Hansaviertel não em um local, mas em um
espaço urbano em que a configuração
estética assumiu um papel de maior
relevância que a utilização funcional ativa.
Dessa forma, a apropriação do espaço
público por parte da população local ficou
prejudicada pela inexistência de elementos
indutores da permanência das pessoas
nesse espaço. Não se estabeleceu,
portanto, uma relação de identidade entre o
usuário e o lugar. A disposição das
edificações no terreno assumiu uma
conotação escultórica, em que o arranjo
estético pretendia valorizar os edifícios
como objetos tridimensionais a serem
apreciados a partir de diferentes ângulos
visuais e não apenas da perspectiva de
corredor possibilitada pelo traçado
tradicional. Cabe ressaltar que se pretendia
promover um espetáculo arquitetônico, uma
apresentação de objetos com assinatura,
tanto que cada obra recebia como
denominação o termo objekt, seguido de um
número cardinal que a identificava.
Utilizando um termo usual na atualidade,
pode-se dizer que o Hansaviertel, para
Berlim, foi o seu primeiro não-lugar
22
.
À parte das discussões entre os
progressistas e os culturalistas berlinenses,
não se pode negar a importância dos
resultados alcançados pela INTERBAU
1957. Ela induziu uma série de
interferências modernas na cidade de
Berlim, provocando uma reação contrária da
população local, e teve reflexos nas
posturas da IBA-Berlin 87. Suas propostas
de um novo desenho da paisagem
influenciam, na atualidade, o processo de
reconstrução pós-reunificação.
A visualidade propiciada pela
materialização das propostas urbanísticas e
arquitetônicas da INTERBAU-Berlin 1957
colocou a cidade de Berlim na vanguarda
das imagens urbanas da época. Para
compreender o fato, é necessário considerar
a distância temporal que separa a cidade
atual daquele momento histórico. As figuras
apresentadas a seguir possibilitarão uma
melhor compreensão das considerações
tecidas até aqui.
22
Ver referência aos espaços urbanos que não
estabelecem elos com seus usuários em Hillman
(1993).
54
Residência unifamiliar Arq. Günter Hoenow
Residência unifamiliar Arq. Eduard Ludwig
Residência unifamiliar Arq. Ruegenberg
Bloco horizontal Arq. Alvar Aalto
Bloco horizontal Arq. Oscar Niemeyer
Bloco horizontal Arq. Walter Gropius
Bloco vertical Arq. Gustav Hassenplug
55
Bloco vertical Arq. Broek
Bloco vertical Arq. Raymona Lopez
23
O projeto urbanístico definiu um
plano de massas contendo a locação, a
projeção ortogonal dos edifícios no terreno e
o volume que cada um deles deveria ocupar.
Desse modo, os projetos arquitetônicos
obedeceram a diretrizes precisas quanto ao
espaço que deveriam ocupar. Porém, para
cada tipologia adotada, a expressão
individual de cada arquiteto fazia-se
presente no panorama da exposição.
23
As nove figuras anteriores tiveram como fonte:
www.Berliner-Hansaviertel.de
Observa-se que as formas
compositivas arquitetônicas utilizadas na
INTERBAU 1957 estavam sendo produzidas
em outras localidades da Europa e, mesmo
em Berlim, faziam parte dos projetos dos
grandes conjuntos habitacionais que, como
foi visto no capítulo anterior, continuavam
sendo construídos na cidade. Tais formas
seguiram influenciando a arquitetura nas
Américas nas décadas seguintes. A
diversidade formal das edificações foi
produto da heterogeneidade cultural dos
arquitetos participantes e também de suas
trajetórias criativas diferenciadas. Os
resultados alcançados espelharam essa
realidade.
Exemplo de desenho de fachada da INTERBAU
1957 adotada internacionalmente.
Fonte: www. jhfoto.de
Bloco horizontal Arq. Franz Schuster
www.Berliner-Hansaviertel.de
56
Bloco horizontal Arq. Paul Baumgarten
www.Berliner-Hansaviertel.de
Bloco horizontal Arq. Paul Schneider-Esleben
www.Berliner-Hansaviertel.de
Hoje, o conjunto de edificações da
INTERBAU 1957 faz parte da cultura urbana
e da variedade tipológica de Berlim. É uma
das preciosidades arquitetônicas
valorizadas na cidade. Seus edifícios e
desenho urbano foram tombados pelo
patrimônio histórico e totalmente
restaurados. No fragmentado contexto
paisagístico da cidade atual, o Hansaviertel
é mais uma peça componente da
diversidade conceitual e formal do processo
de construção de sua paisagem urbana. Seu
diferencial é o fato de ter sido edificado
dentro de um parque arborizado. Isso está
em sintonia com a aspiração de convivência
com a natureza de parte da sociedade
contemporânea, o que é favorecido por suas
extensas áreas verdes, motivo de sua
valorização imobiliária.
A parte ecologista da sociedade
contemporânea encontra-se dividida em
dois grupos: um, emocional, que busca estar
em contato com os elementos naturais, que
deseja viver entre árvores, lagos, rios, etc. e
outro, racional, que busca o
estabelecimento de uma relação científica
com a preservação dos recursos naturais
renováveis e não renováveis. A proposta
urbanística do Hansaviertel aproxima-se do
primeiro grupo ao estabelecer uma relação
poética entre as edificações e o parque. A
natureza invade a cidade e se encarrega de
criar, no espaço urbano, as amenidades
ambientais que lhe são próprias. Diante dos
problemas ambientais da atualidade, a
proposta dos modernistas tornou-se
ingênua. Hoje, os novos racionalistas
determinam, com base no conceito de
sustentabilidade, a intensificação do uso
dos territórios já comprometidos com a
urbanização, em outras palavras, estimulam
o adensamento populacional dos bairros
existentes. Embora a abordagem ambiental
tenha mudado, o Hansaviertel está
preservado como um documento histórico e
um de seus valores é exibir uma zona
urbana onde os espaços abertos definem as
características do lugar. Essa zona urbana
torna-se um fragmento cada vez mais
precioso à medida que vai se confirmando a
57
tendência de adensamento construtivo de
seu entorno.
Hansaviertel - Altonaer Straße 2002.
Fonte: Wikipedia.berlin-hansaviertel.de
Hansaviertel - Altonaer Straße 2002 – vista do
mirante do Anjo da Vitória.
www.Berliner-Hansaviertel.de
Hansaviertel – Oscar Niemeyer
www.Berliner-Hansaviertel.de
Hansaviertel- Altonaer Straße 2002.
www.Berliner-Hansaviertel.de
Hansaviertel – Arq. Egon Eierman
www.Berliner-Hansaviertel.de
A figura seguinte apresenta a
localização das obras e seus autores no
contexto urbanístico do Hansaviertel.
HANSAVIERTEL - BERLIM
Fonte: www.Berliner-Hansaviertel.de
1 Herman Fehling, Daniel
Gogel e P. Pfankuch com o
projeto: Berlin-Pavillon 2 Klaus Müller-Rem, Gerhard
Siegmann
58
3 Hans Muller
4 Günter Gottwald
5 Wassili Luckhardt, Hubert
Hoffmann
6 Paul Schneider-Esleben
7 Escritório Regional
Tiergarten
8 Willy Kreuer
9 Walter Gropius
10 Pierre Vago
11 Alvar Aalto
12 Werner Düttmann
13 Fritz Jaenecke, Sten
Samuelson
14 Eduard Ludwig
15 Arne Jacobsen
16 Gerhard Weber
17 Alois Giefer, Hermann
Mäckler
18 Johannes Krahn
19 Sep Huf
20 Serguis Ruegenberg, Wolf
Von Möllendorff
21 Günter Hönow
22 Ludwig Lemmer
23 Paul Baumgarten
24 Oscar Niemeyer
25 Egon Eiermann
26 Max Taut
27 Kay Fischer
28 Otto H. Senn
29 Franz Schester
30 Hansrudolf Plarre, Ernst
Zinsser
31 Luciano Baldessari
32 J. H. Von den Broek, J. B.
Bakema
33 Gustav Hassenpflug
34 Eugène Beaudoin,
Raymond Lopez
35 Hans Schwippert
36 Werner Düttmann com o
projeto Akademie der Künst
Desenho de Aldo Rossi para IBA-Berlin 87
59
3
IBA-Berlin 87: uma tentativa de resgate da paisagem urbana tradicional
Preservar não é tombar, renovar não é por tudo abaixo.
(SANTOS, 1986, p. 59)
O Movimento Moderno definiu um ideal urbano a ser reproduzido
enquanto que a IBA de Berlim particularizou o tratamento dos problemas
urbanos segundo distintas solicitações; o Movimento Moderno pretendeu criar
60
uma nova realidade, para um novo Homem enquanto que a IBA aderiu a um
enfrentamento da realidade urbana e de seus problemas, com seus habitantes
singulares.
(PASSARO, 2002, p. 27-33)
61
Os principais documentos de
referência para a elaboração deste estudo
sobre a IBA-Berlin 87 foram os seguintes: a
tese de doutoramento da Arq. Dra. Lais
Bronstein Passaro, intitulada Fragmentos
de uma Crítica: Revisando a IBA de Berlim
24
,
orientada pelo Arq. Dr. Ignasi de Solá-
Morales da Universidade da Catalunha,
Espanha, e defendida em 2002 na cidade
de Barcelona e o relatório Berlin 1987:
Projektübersicht, publicado em 1989, que
contém informações técnicas referentes a
metas, projetos e obras desenvolvidas e
implementadas durante a preparação da
exposição. Foram adicionadas informações
complementares procedentes de outras
fontes sempre que se mostrou necessário
ampliar as informações sobre os conteúdos
temáticos que se pretendia valorizar.
A IBA Internationale
Bauausstellung é uma mostra internacional
de arquitetura promovida na Alemanha
desde 1901, cujo início se deu na cidade de
Darmstadt. Em 1927, a IBA instalou-se na
cidade de Stuttgart, posteriormente, em
1951, realizou-se a terceira exposição
internacional de construções na cidade de
Hannover. Berlim recebeu a quarta IBA em
1957 e também a quinta, que se
desenvolveu por praticamente toda a
década de 1970 e parte da década de
1980. A sexta exposição internacional de
construções localizou-se no Emscher Park,
na Ruhrgebiet, de 1989 a 1999. A sétima
24
Tese capturada na World Wide Web no
endereço eletrônico
http://www.tdx.cescs.es/TDX-0318102-
080014/index_an.html.
IBA, que recebeu o nome de IBA Fürst-
Pückler-Land,
25
encontra-se em fase de
implementação. Localizada na região de
Lausitz, teve início em 2000 e será
concluída em 2010. O projeto estende-se
por 5.000 km
2
e tem como principal objetivo
a criação de uma nova paisagem.
26
A oitava
IBA está planejada para acontecer em
Hamburg e terá como tema a água.
A trajetória da Internationale
Bauausstellung, a partir da IBA-Berlin 87,
27
tem assumido uma dimensão cada vez mais
ampla, atualizando o contexto das
intervenções e avançando em relação às
abordagens contemporâneas de
sustentabilidade ambiental. Em Berlim, a
mostra resgatou a essência da cidade
tradicional e introduziu a discussão sobre o
meio ambiente urbano; em Emscher Park,
assumiu dimensão regional e priorizou um
tipo de intervenção que harmonizava
antropização com preservação ambiental;
em Fürst-Pückler-Land, transcende a
questão ambiental elementar e transita pelo
território da paisagem, introduz valores
estéticos e subjetivos na construção do
habitat.
Em 1978, o Senado de Berlim
aprovou a realização de uma nova exposição
25
Ver
http://www.sasayama.or.jp/english/opinion_e/S
_E_20.htm Acesso em: 2 out. 2004. Mais
informações em http://www.iba-fuerst-pueckler-
land.de/ Acesso em: 7 set. 2004.
26
Ver
http://www.planun.net/webcompass/plans_proj
ects_and_policies_ter_de.html Acesso em: 2 out.
2004.
27
IBA-Berlin 87 é como ficou conhecida a IBA de
Berlim, institucionalmente aprovada em 1978 e
inaugurada em 1987.
62
internacional na cidade e, em 1979,
instituiu a Internationale Bauausstellung
Berlin GmbH, adotando o tema: O centro da
cidade como lugar para viver (Die
Innenstadt als Wohnort). O objetivo era
intervir na área central da cidade,
resgatando sua função anterior de área
mista com predominância habitacional.
28
A
proposta foi elaborada, inicialmente, para a
área central e, posteriormente, ampliada
também para as regiões de Tegel e Prager
Platz. A intenção era reparar uma parte da
cidade que tinha sido muito danificada
durante a guerra, criar uma arquitetura
humana e inserir elementos artísticos na
paisagem da cidade.
O contexto urbano no pós-guerra e as
influências teóricas da pós-modernidade
Berlim, em conseqüência de seu alto
grau de destruição, exigia uma atuação de
reconstituição do tecido urbano de forma
integral. A vida da população, associada à
vida da cidade, estava comprometida. A
construção de uma nova paisagem urbana
teria, necessariamente, de ser associada ao
planejamento urbano, pois a proposta de
reconstrução ia além da estrutura física
local. A construção de uma nova paisagem
requeria a definição das estratégias de
projeto relacionadas com as determinações
do planejamento desenvolvido no nível das
diretrizes de projeto para cada uma das
áreas de intervenção da exposição. As
28
Há uma síntese da IBA-BERLIN 87 no site:
http://www.luise-
berlin.de/lexicon/FrKr/i/Internationale_Bauauss
tellung_.htm Acesso em: 20 set. 2004.
diretrizes de projeto iam além dos aspectos
formais e de uso do solo, definiam os modos
de participação da população local no
processo de construção do novo espaço
urbano que se pretendia materializar.
A intenção governamental,
29
ao
instituir a IBA de Berlim, era promover a
reocupação das áreas centrais de Berlim
Ocidental que se encontravam em processo
de paulatino abandono por causa da
proximidade com a fronteira soviética e do
esvaziamento populacional da cidade no
período pós-guerra. As áreas escolhidas
para abrigar a exposição internacional de
construções estavam, em grande maioria,
localizadas ao longo do Muro de Berlim. Em
decorrência de serem áreas de grande valor
histórico, os profissionais envolvidos na
definição das diretrizes dos concursos
estabeleceram os parâmetros de
intervenção respeitando e valorizando os
vestígios históricos do lugar. As questões
anteriormente relatadas, relacionadas com
a pós-modernidade, também tiveram papel
preponderante na definição das abordagens
adotadas.
Em 1979, após um período de
críticas sobre as construções dos conjuntos
habitacionais racionalistas na cidade de
Berlim, instituiu-se a Internationale Berlin
Bauausstellung GmbH,
30
estruturada em
dois setores: 1) Novas Construções, sob a
coordenação de Josef Paul Kleihues (1933-
29
Ver em Internationale Bauausstellung Berlin
1987: projektübersicht (1989), um relatório
detalhado das diretrizes governamentais,
projetos apresentados e obras realizadas pela
IBA-Berlin 87.
30
Nome oficial da IBA-Berlin 87.
63
2004), que adotou como referência o termo
“reconstrução crítica”; 2) Renovação
Urbana, coordenado por Hardt-Walter Hämer
(1922), que adotou como referência o termo
“cuidadosa renovação”.
31
A IBA-Berlim 87
promoveu 28 concursos internacionais de
arquitetura e a exposição foi aberta ao
público em 1987, data de comemoração
dos 750 anos da cidade de Berlim.
A IBA da década de 1980 teve uma
duração de praticamente dez anos entre os
procedimentos preparatórios, os concursos
e as obras e contou com a participação de
200 arquitetos procedentes de 15 países.
Sua realização coincidiu com um momento
de intensas discussões teórico-críticas sobre
o que seria a arquitetura e a cidade do
período posterior ao que se entendia como a
arquitetura do movimento moderno. A IBA-
Berlin 87 buscou resgatar a relação edifício
—cidade, situando sua discussão em torno
do espaço urbano. Os três eixos teóricos
principais que nortearam os trabalhos da
exposição, apontados por Passaro (2002),
estavam fundamentados em Rossi
(L’Architetture della Cittá), Rowe (Ciudad
Collage) e Ungers (La Cittá nella Cittá), entre
os quais havia um ponto de convergência: o
respeito à cidade existente e sua história.
O pós-guerra modificou
substancialmente a estrutura urbana da
cidade. Parte da área central de Berlim
encontrava-se isolada e a construção do
Muro de Berlim provocou, na população, um
extremo constrangimento, que, associado à
31
Ver o site: luise-
berlin.de/lexicon/Frkr/i/Internationale_Bauauss
tellung.html e Passaro (2002, p. 24).
desolação de quadras inteiramente
destruídas por bombardeios, gerou uma
imagem de total abandono das áreas
centrais lindeiras ao muro. A paisagem
assumiu tal configuração embora o governo
de Berlim Ocidental não poupasse esforços -
entendidos como planos e investimentos na
área - para recuperar a cidade e a auto-
estima da população. Era necessário,
porém, mudar a opinião pública em relação
ao centro da cidade, o que seria possível
mediante o resgate da alma do lugar, de sua
história. Seria necessário restituir à
população sua auto-estima, recuperando a
parte possível do “coração da cidade”.
32
A
década de 1970 começava a produzir os
primeiros frutos resultantes dos
questionamentos relacionados com o
tratamento que a arquitetura moderna
dispensava aos edifícios, às cidades e aos
cidadãos. Na avaliação tanto da população
quanto de parte dos arquitetos, a
arquitetura moderna estava destruindo a
cidade cidadã e criando um espaço
desprovido de lugares reconhecíveis e
utilizáveis, provocando perda de identidade
e de história.
33
Em Berlim, o momento era
extremamente favorável para o surgimento
de uma nova abordagem da arquitetura e da
paisagem urbana. Alguns fatores facilitavam
as mudanças: a disponibilidade de recursos
32
Aqui uma referência ao tema do CIAM VIII,
realizado em 1951, que discutiu a importância
do reconhecimento do papel da configuração
urbana e suas referências subjetivas para a
saúde social e individual dos cidadãos. Ver
Frampton, (1997, p. 329).
33
Sobre a condição pós-moderna, ver Montaner
(2001, p. 112-176).
64
financeiros,
34
a busca por resgatar a
dignidade da cidade semi-destruída por uma
guerra até então sem precedentes na
história da civilização, a tradicional
efervescência cultural da própria cidade e
uma história de valorização dos espaços
públicos urbanos, a insatisfação da
população em geral e dos arquitetos com o
tratamento que a instituição pública
dispensava à cidade. As grandes obras, que
geravam grandes demolições, provocavam a
revolta da população berlinense. A sensação
de perda fez com que a população exigisse a
manutenção de suas memórias que
estavam sendo destruídas por meio da
repentina substituição da paisagem da
cidade. A paisagem construída modifica-se
no tempo em função das transformações
ocorridas no meio social e tecnológico que a
produzem, assim a população assimila as
transformações ocorridas por obra coletiva e
compreende o processo de mudança. O que
ocorria em Berlim era a situação de uma
população humilhada, que estava perdendo
o tesouro que lhe restava: os fragmentos
remanescentes de sua cidade parcialmente
destruída. Entenda-se aqui não apenas a
composição física, mas também a cidade
simbólica, guardiã de sua cultura,
referencial de sua história.
Assim, a IBA-Berlin 87 foi a
representação de um movimento cultural
em prol da preservação da memória da
cidade. Ela possibilitou que, à cidade
histórica preservada em seus valores
simbólicos, fosse sobreposta a cidade
34
Segundo Gudrum Hamacher apud Passaro
(2002, p. 179).
contemporânea, com toda sua atualidade,
questionamentos e inovações, em harmonia
deliberadamente estabelecida entre o antigo
e o contemporâneo. Os resultados da
exposição decorreram, em parte, da postura
profissional e pessoal do arquiteto Josef
Paul Kleihues, defensor e mentor da
arquitetura berlinense, afeto ao diálogo, à
investigação, à aceitação da diversidade e
da experimentação
35
e, em parte, da
participação dos arquitetos internacionais.
Na direção do setor de Novas
Construções, o arquiteto Josef Paul Kleihues
fomentou a proliferação de diferentes
opiniões e concepções. Defendendo a
“concepção de pluralidade na totalidade”,
36
viabilizou a liberdade de expressão plástica
nas experimentações materializadas na
exposição. As contradições foram, então,
respeitadas e o resultado foi a construção
de formas oriundas de diferentes conceitos.
Iniciava-se em Berlim um processo de
compatibilização da diversidade
arquitetônica formal e conceitual na
configuração da paisagem urbana local.
Compatibilizar o direito à preservação da
figura histórica, incluindo todo seu corolário
de reminiscências, com o direito à
materialização da figura contemporânea,
com todo seu significado de vanguarda e
atualidade, era o que se fazia latente na
proposta de Kleihues.
35
Informações detalhadas sobre Kleihues no
artigo de Falk Jaeger: J. P. Kleihues. Das
Gedächtnis der Stadt. Der Tagesspiegel. Berlin.
14. 08. 2004.
36
Para mais informações ver Passaro (2002, p.
52).
65
Antes de assumir a direção do setor
de Novas Construções da IBA-Berlin 87,
Kleihues, juntamente com Wolf Jobst
Siedler, iniciou em 1977 uma campanha
contra as intervenções urbanas, ditas
modernas, que vinham sendo realizadas em
Berlim. A campanha, desenvolvida por meio
de publicações no importante jornal local
Berliner Morgenpost, contou com a
participação de vários arquitetos que foram
convidados a contribuir com pareceres e
opiniões: Heinrich Klotz, Wolfgang Pehnt,
James Stirling, Aldo Rossi, Carlo Aymonino,
Rob Krier, Peter Smithson e Charles
Moore.
37
A campanha, denominada Modelle
für die Stadt (Modelo para a Cidade), tinha
como objetivo defender Berlim das
demolições que vinham sendo processadas
e criar novas regras de intervenção no
espaço urbano para tornar possível uma
reconstrução que harmonizasse elementos
urbanos tradicionais com os novos e
necessários. A cidade era vista como uma
paisagem cultural. Cada edifício, cada
fachada, cada perspectiva, cada rua
testemunhava fatos ocorridos no passado
como se eles pudessem ser lidos em suas
pedras, especialmente nas áreas centrais,
guardiãs dos feitos sociais do passado e
testemunhas de procedimentos históricos e
evolutivos daquela comunidade. Quando o
debate se tornou público, inúmeros
arquitetos, artistas, associações diversas e
populares envolveram-se na discussão e
pressionaram o poder público no sentido de
37
Mais informações em Passaro (2002, p. 52).
assumir a defesa da cidade como paisagem
cultural a ser preservada.
Aberto à discussão e defensor do
respeito às opiniões dos profissionais e
cidadãos, Kleihues criou condições para
que se realizasse na IBA de Berlim a
materialização de grande parte das teorias
que proliferavam nas discussões da
segunda metade do século XX. Para isso,
incentivou a participação inclusive de
arquitetos que não compartilhavam de suas
idéias, mas que colaborariam para que a
exposição retratasse a pluralidade e a
fragmentação teórica do período, segundo
relato de Passaro (2002). Apesar da
diversidade de abordagens teóricas da
época, havia alguns pontos comuns entre as
diversas teorias, tais como: a necessidade
de se recuperar as cidades existentes, a
preocupação com o processo de destruição
da imagem conhecida da cidade e da
memória coletiva e a nova maneira de olhar
o espaço urbano como resultante de uma
construção histórica e artística, reflexo das
relações de cada sociedade.
Kleihues foi precursor de propostas
arquitetônicas que visavam resgatar
elementos tradicionais da composição
urbana na cidade de Berlim. Em 1967,
elaborou uma proposta para o bairro
Charlottenburg, por meio da qual pretendia
resgatar a idéia do quarteirão formado por
edifícios perimetrais e da rua delimitada
volumetricamente também para os projetos
novos. Essa foi a primeira tentativa de se
resgatar a imagem tradicional de Berlim,
que, entre 1971 e 1977, ao projetar os
66
blocos residenciais de Vinetplatz, agencia a
organização dos volumes edificados com a
implantação perimetral dos edifícios e a
localização do jardim no centro da quadra.
Era um duplo resgate: no primeiro caso, da
configuração urbana anterior à guerra e, no
segundo, de uma proposta de Alfred Messel,
elaborada em 1892.
38
Dessa forma, busca a
preservação não da imagem física, mas
também de uma morfologia de referência
urbana e a reintrodução da questão da
qualidade ambiental, levantada em 1892.
Em 1977, no projeto Park Laneé,
novamente utiliza a morfologia do quarteirão
fechado, introduz massa de vegetação e cria
circulação para pedestres.
39
Vale destacar que havia uma
preocupação com a qualidade ambiental.
Essa qualidade almejada era composta por
elementos físicos, organizados de forma que
compusessem espaços ricos em
reminiscências quando se sujeitavam às
formas do passado, e também espaços
cujas composições se valiam de aspectos
tipicamente valorizados pela arquitetura
moderna: os elementos verdes.
Incorporar os elementos modernos
no cenário da cidade histórica foi um ato em
favor da conciliação entre os valores da
preservação histórica e os da construção do
espaço contemporâneo. Neste ponto é
importante ressaltar que tal estratégia de
intervenção no espaço urbano foi adotada
38
Destaca-se, aqui, a referência a uma das
primeiras propostas de cunho ambientalista para
a cidade de Berlim.
39
Passaro (2002, p. 48) apresenta uma
descrição detalhada dos projetos de Kleihues
para Berlim.
no processo de reconstrução pós-1989.
Kleihues cria o termo reconstrução crítica
para englobar as questões teóricas
formuladas por ele e adota o que chamou
de racionalismo poético para conduzir suas
experimentações no campo da arquitetura. A
reconstrução crítica tem como base
conceitual um conjunto de princípios
estabelecidos como fundamentais no
colóquio intitulado O Centro da Cidade como
um Lugar para Viver, posteriormente
convertido na discussão pública veiculada
na campanha Modelle für die Stadt (Modelo
para a Cidade) de 1977 (PASSARO, 2002, p.
51-52) :
Princípio 1: O projeto deve ser precedido
por uma reflexão histórica e crítica;
Princípio 2: O projeto deve considerar
uma análise da tipologia dos edifícios e
dos espaços urbanos;
Princípio 3: Entender a morfologia como
sendo uma gramática da arquitetura;
Princípio 4: Utilizar a arquitetura como
linguagem, como meio de propiciar
identidade e significado à obra;
Princípio 5: A especificidade da
arquitetura é gerar idéias e mediar
contradições, sua prática não deve ser
condicionada a questões do consumo e
de mercado;
Princípio 6: A arquitetura deve refletir as
condições sociais e econômicas do meio
e momento em que é criada.
A observância desses princípios -
uma busca constante de Kleihues -
seguramente conduziu a uma multiplicidade
de fusões entre diferentes elementos
formais e diferentes princípios compositivos.
A multiplicidade de intervenções deveu-se à
participação de grande número de
arquitetos internacionais. Passaro (2002, p.
57) explicita essa participação em vários
momentos de seu trabalho:
67
Na época da IBA optou-se por
desmembrar os grandes projetos em
parcelas menores, e por ter vários
arquitetos trabalhando conjuntamente a
partir da concepção inicial vencedora do
concurso. Este procedimento deu-se,
principalmente, porque queríamos evitar
a feição de anonimato que caracterizava
a cidade por esta ocasião. (HAMACHER
apud PASSARO, 2002, p. 57)
O ano de 1979, ano de instituição da
IBA-Berlin 87, trazia em seu contexto
resultados de discussões teóricas das duas
décadas anteriores. Os nomes de destaque
no cenário arquitetônico da época eram Aldo
Rossi, Colin Rowe, Oswald Mathias Ungers,
Robert Venturi, Rob Krier, John Hejduk,
Charles Moore, Frei Otto, James Stirling,
dentre outros, os quais participaram da
experiência do setor das Novas Construções
na IBA-Berlin 87.
Aldo Rossi publicou em 1966 o livro
denominado L’Architettura della Cittá (A
Arquitetura da Cidade). A obra é referência
para a compreensão do processo de
construção da cidade como ambiente onde
uma comunidade vive e seus elementos se
relacionam uns com os outros, em que todo
o ambiente urbano é constituído de
elementos arquitetônicos cujos significados
vão além de sua configuração física. Para o
autor, a cidade é uma “[...] construção no
tempo” (ROSSI, 2001, p.1).
A relação de Aldo Rossi com Berlim
antecede sua participação na IBA-Berlin 87,
uma vez que havia publicado um estudo
sobre a residência em Berlim na revista
Casabella-Continuitá 288, de julho de
1964. Na obra L’Architettura della Cittá,
destacava como uma das principais
características da cidade de Berlim, no final
do século XIX, a variedade tipológica de suas
construções e sua forma de distribuição em
zonas homogêneas, o que dava à cidade um
caráter próprio. Sua afirmação de que a
cidade é a materialização do texto histórico
e que nela é possível identificar o processo
de formação de uma cultura aponta para a
compreensão da cidade como uma síntese
de valores coletivos (ROSSI, 2001). Segundo
Rossi, a “[...] cidade é a memória coletiva
dos povos; e como a memória está ligada a
fatos e a lugares, a cidade é o ‘locus’ da
memória coletiva” (2001, p. 198). Evidencia-
se, assim, o valor da forma, ela contém todo
o referencial de memória do fato histórico
que a gerou. A preservação da imagem da
cidade, com seus edifícios, ruas e
monumentos, associados aos elementos
naturais de seu território que também
tenham tido participação nas ocorrências
históricas, é fundamental para manter a
identidade e a auto-estima da população
que, por meio da preservação de suas
obras, sente valorizados os seus esforços.
A defesa do memorial arquitetônico
urbano que Aldo Rossi publicou em 1966 foi
adotada como idéia central do processo de
intervenção da IBA-Berlin 87, pois vinha ao
encontro das aspirações da população
berlinense. Esta população encontrava-se
em uma situação de perda de identidade,
memória e auto-estima gerada pela brusca
alteração da forma tradicional da cidade de
seus antepassados, seguida por um
processo agressivo de demolição dos
quarteirões antigos para construção de
conjuntos habitacionais desde o início do
68
processo de reconstrução da cidade pós-
1945. Além disso, havia na época uma
corrente de pensamento fortemente coesa
que tentava resgatar a cidade tradicional
como imagem cultural consubstanciada na
forma da arquitetura dos edifícios e da
cidade,
40
bem como a relação emocional
entre o cidadão e a cidade, temas esses
debatidos em colóquios locais e
internacionais.
Centro de Ciências Arq. James Stirling.
Fonte:www.wz-berlin.de/wzb.wzb
_gebaeude.de.htm
Outra importante referência teórica
que serviu de suporte para outras vertentes
presentes na IBA-Berlin 87 foi Colin Rowe.
Sua publicação Collage City contém
propostas teóricas que se aplicam à
construção de uma realidade urbana
pretendida para Berlim e se refletem no
projeto de James Stirling para o Centro de
Ciências. Este é um conjunto de edifícios
localizado no Kulturforum, em uma quadra
ao lado da Neue Nationalgalerie de Mies van
der Rohe, para o qual adota uma
composição baseada em diferentes
morfologias inspiradas em edifícios
históricos representativos de pensamentos
arquitetônicos do passado. Do ponto de
vista morfológico, a confrontação dos dois
40
Ver Montaner (2001).
edifícios retrata de forma evidente a nova
abordagem formal, que cria, a partir de um
contexto culturalista, uma nova forma
edificada. Esta, porém, é uma forma que
não estabelece uma relação direta com a
cultura do lugar, mas sim, com a história em
geral.
As propostas de Aldo Rossi,
elaboradas para a IBA-Berlin 87, estão
centradas nas imagens dos lugares e
elementos que os configuram, que são
próprios do tecido urbano de Berlim. Colin
Rowe, por sua vez, introduz em suas
propostas um mosaico de vários elementos
do repertório arquitetônico internacional,
alguns históricos e outros recentes,
41
promovendo uma sobreposição de
diferentes características compositivas. Um
pretende resgatar os valores tradicionais do
lugar, o outro preocupa-se com valores
universalmente reconhecidos. Mas, o
resultado formal, ou seja, o desenho das
fachadas elaboradas para Berlim, tanto em
Rossi quanto em Rowe, assemelha-se às
fachadas tradicionais de Berlim, pois ambos
os autores valorizam os materiais locais e a
geometria simétrica e proporcional que
caracteriza suas aberturas.
41
Ver em Passaro (2002, p. 67-98) a descrição
detalhada das propostas de Rossi e Rowe para a
IBA de Berlim.
69
Rossi para a IBA-Berlin 87.
Fonte: www.unser.chollian.net/.../housing
Dentre a diversidade de eixos
teóricos em debate durante o processo de
produção dos espaços de construção da
IBA-Berlin 87, Passaro (2002, p. 102-105)
destaca também a posição de Oswald
Mathias Ungers. Para ele não era necessária
a criação de novas utopias e sim, a
recriação da realidade. Em se tratando de
cidades, a ordem era reorganizar aquelas
existentes, melhorando-as e reconstruindo-
as, e não criar novas. Para Berlim, ele
propõe o resgate de sua imagem histórica
de cidade verde, adotando a idéia da
qualificação ambiental urbana por meio de
áreas ajardinadas e florestadas. Para
Ungers, “Berlim nunca seguiu apenas uma
idéia, mas foi formada a partir de idéias
divergentes. Tese e antítese coincidem aqui
como o inspirar e o expirar” (UNGERS apud
PASSARO, 2002, p. 101). Neste sentido,
propõe uma estratégia compositiva que visa
utilizar os elementos arquitetônicos do
repertório local e buscar, na história,
propostas afins ao seu próprio pensamento
para justificar e fundamentar seus projetos.
No setor das Novas Construções, a
possibilidade de edificar novos espaços
possibilitou intervenções isoladas de
destaque, que Passaro (2002) aponta: Rob
Krier, John Hejduk e Carles Moore.
Rob Krier adotou uma ótica
essencialmente estética em sua concepção
do espaço urbano e buscou no repertório
arquitetônico histórico os elementos de
composição que utilizou. Em todos os
projetos assumiu a postura que rotulou de
urbanismo democrático, que consistia em
uma crítica aos grandes conjuntos
habitacionais modernos que vinham
descaracterizando a paisagem urbana
tradicional da cidade de Berlim. No
quarteirão da Rauchstrasse, adotou a
tipologia da Vila Urbana, projetando um
edifício portal que serve de acesso ao
quarteirão onde foram construídos outros
edifícios com projeto de Brenner, Toron,
Hermann, Valentiny, Nielebock, Rossi,
Hollein e Grassi.
42
A disposição dos edifícios na quadra
lembra o Hansaviertel. uma distribuição
de blocos soltos em uma área verde, porém
o desenho das fachadas e as volumetrias
são livres de padrões formais. Assim o
quarteirão da Rauchstrasse apresentou uma
configuração composta por elementos
arquitetônicos provenientes do acervo
formal de épocas diferentes.
42
Ampla discussão sobre os arquitetos em
destaque neste capítulo, bem como sobre seus
projetos na IBA-Berlim 87, encontra-se registrada
na tese de doutoramento de Passaro (2002, p.
127-177).
Ver os projetos detalhados em: Internationale
Bauausstellung Berlin 1987: projektübersicht
(1989).
70
Vila Urbana – Arq. Rob Krier.
Fonte: www.gewobag-verbund.de/content/
planenbauen/pl...
Vila Urbana – Arq Hans Hollein.
Fonte: www.gewobag/verbund.de/content/
planenbauen/pl...
Vila Urbana – Arq. Aldo Rossi.
Fonte:
homepage.mac.com/.../Obras/Rauchstr
asse/ Rossi.htm
a contribuição de Hejduk foi
particular e desvinculada dos eixos teóricos
principais Rossi e Rowe este último seu
amigo pessoal.
43
Ele desenvolveu projetos
de grande destaque no contexto da IBA de
Berlim, participando como convidado em
dois concursos, nos quais obteve prêmio
especial do júri e construiu três edifícios.
Sua participação foi extremamente
importante para os debates que se
formaram em torno das obras e projetos da
IBA, pois forçavam reflexões sobre o papel
da arquitetura e da atuação dos arquitetos
como vetores de integração entre os
elementos subjetivos e os procedentes de
outras disciplinas inseridas no contexto das
artes, por exemplo, a poesia e a literatura.
Isso automaticamente introduz questões
que vão além dos elementos compositivos
formais e funcionais, atingindo as relações
do usuário com os espaços projetados
(PASSARO, 2002, p. 164-166) e
estabelecendo novos valores na percepção
do edifício e do lugar.
Charles Moore, segundo Passaro
(2002, p. 169-175), teve uma participação
muito importante na IBA de Berlim ao
colaborar com o enriquecimento da
diversidade conceitual e teórica da
exposição. Foi responsável pela introdução
de uma argumentação baseada na
teorização de Robert Venturi, na qual
defende uma atuação fundamentada no
repertório tradicional histórico e vernacular.
Em 1977, participou da campanha Modelle
für die Stadt e, em 1980, venceu o concurso
para a reestruturação urbana das áreas sul
e leste do lago de Tegel, onde foram
43
Ver
http://www.greatbuildings.com/architects/John
_Hejduk.html. Acesso em: 3 out. 2004.
71
construídos um conjunto habitacional e
centros culturais e recreativos em interação
com o maior e mais significativo espaço de
lazer da cidade.
44
A Internationale Bauaustelung
Berlin 87 foi pioneira na aplicação do
conceito de arquitetura de baixo consumo
energético, o que consiste em produzir uma
edificação que favoreça a economia de
energia para aquecimento, iluminação e
água, que seja econômica quanto à
utilização de materiais cuja produção
provoque algum dano à natureza ou que
exija alto gasto energético em sua produção.
Este tema foi colocado em pauta em 1969,
quando Ian MacHarg publicou o Design with
Nature, no qual demonstra a possibilidade
de um novo conceito de desenho que coloca
os elementos do sítio natural como
definidores dos princípios da forma. O ano
de 1972 viu florescer o debate
ambientalista na Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente Humano,
realizada em Estocolmo.
45
Aquele foi um
momento dedicado ao tema da relação
entre ambiente urbanizado e ambiente
natural que teve repercussões em Berlim:
Hertzberger, com seus edifícios cobertos de
vegetação; Frei Otto e Von Gerkan, Marg e
Partner com suas construções Öko-Haus e
Casas de Baixo Consumo Energético,
respectivamente.
44
Ver as implantações, plantas, cortes, fachadas,
fotos e perspectivas dos os projetos da IBA 87
em: Internationale Bauausstellung Berlin 1987:
projektübersicht (1989).
45
Sobre a evolução do discurso ecológico e
ambiental, ver Polomo (2003).
Arq. Hertzberger
Fonte: a9.com/IBA%2BBerlin
Quarteirão ecológico Arq. Adam, Ghazi &
Küssner.
Fonte: Internationale Bauausstellung IBA Berlin
1987: projektübersicht (1989, p. 239).
Frei Otto, em sua participação na IBA-
Berlim 87, apresentou uma defesa da
questão ambiental como produção de um
espaço construído de baixo consumo de
energia, tanto em termos de tecnologia do
processo construtivo quanto de manutenção
do conforto interno e da saúde da
edificação. O problema do saneamento
básico também foi objeto de preocupação e
de busca de uma solução alternativa à
convencional. A IBA de Berlim, pioneira em
experimentos dessa natureza, construiu
duas casasÖko-Haus (Casa-Ecológica) e
saneou de maneira sustentável uma quadra
no bairro Luisenstadt.
72
As diretrizes adotadas para os
projetos e a construção das casas
ecológicas
46
foram:
1) em relação ao saneamento:
reciclagem da água cinza, armazenamento
de águas pluviais, economia de água na
cozinha e serviços gerais, utilização de
tanque de plantas palustres para purificação
da água usada;
2) em relação ao lixo: redução do
volume de lixo na fonte, educação
ambiental, seleção do lixo na fonte para
viabilizar o reaproveitamento, transformação
de lixo orgânico em solo vegetal, reciclagem
de materiais de construção;
3) em relação à energia: geração de
energia elétrica e calor a partir de biomassa
e gerador solar, aquecimento térmico e
geração de água quente em aquecedor
central a vapor;
4) em relação à construção
biológica: utilização de material de
construção cuja produção fosse
ecologicamente sustentável, utilização de
isolantes termo-acústicos.
47
Todas as idéias apresentadas
tinham a possibilidade de adequar-se à
situação estabelecida pelas diretrizes da
IBA-Berlim 87. Segundo Hamacher, aos
participantes era dito o seguinte:
46
Ver http://www.see-
berlin.de/Berlin_sightseeing/Architektur-
Architectur_öko-
Hauser_in_der_Rauchstrasse.html
e http://www.see-
berlin.de/home/Oekohaus.htm e
http://www.berlincompact.de/IBAsuedlFriedeich
stadt/Textinfo.htm. Acesso em: 10 ago. 2004.
47
Ver
http://www.oekosiedlungen.de/Liste/Bilder_List
e/Seiten/10_1_Block_103.htm Acesso em: 10
ago. 2004.
Estas são as bases, vocês têm que se
adequar a elas. A informação que lhes
fornecemos sobre a cidade é a máxima
possível, de maneira que esperamos
algo relacionado a ela e não suas idéias
particulares abstratas. (HAMACHER
48
apud PASSARO, 2002, p. 56).
Assim, a paisagem urbana de Berlim
começou a ser resgatada, não como uma
cópia do que tinha sido, mas como uma
composição urbana em que as massas
edificadas e a disposição dos edifícios
conformam as ruas, praças e avenidas,
delimitam espaços públicos e passam a
recuperar uma característica marcante da
cidade antiga: a alta densidade associada à
horizontalidade urbana. Porém, a paisagem
urbana começou a incorporar os novos
conceitos em discussão internacionalmente
e também elementos da arquitetura
moderna que se faziam presentes na vida
da cidade.
Luisien Platz, arq. H. Hollein.
Fonte: www.gewobag-verbund.de/content/
planenbauen/pl...
48
Diretora do IBA-ARCHIV, participou da equipe
de Kleihues no período da IBA-Berlin 87.
73
No contexto da IBA-Berlin 87, houve
uma harmonização entre os objetivos da
arquitetura e os do planejamento urbano
(MAGALHÃES,
49
2001), ficando evidente a
possibilidade de conciliação da criatividade
pessoal e da diversidade de abordagens
formais com uma política integrada de
desenvolvimento urbano. Dessa maneira,
tornava-se possível a harmonia do conjunto
paisagístico da cidade, visto que cada um de
seus elementos foram dimensionados e
localizados respeitando o entorno e
firmando-se em suas especificidades e
individualidades.
As expressões arquitetônicas
presentes no contexto da exposição
transitaram por diferentes aspectos formais.
Havia os arquitetos que buscavam na
história os elementos de suas composições
formais: Rossi, os irmãos Krier, Moore,
Stirling, Aymonino, Gregotti, dentre outros.
Havia os que, como Hollein e Smithson,
buscavam na tecnologia sua inspiração e
havia, ainda, a participação dos
ambientalistas, como Frei Otto, e dos
individualistas, como Hedjuk.
49
Sobre a recuperação de áreas urbanas
degradadas em Berlim, ver Magalhães (2001, p.
244-249).
Berlin Masque – John Hedjuk
Fonte: www.chelseamag.org/archive/archive.asp
74
Localização das áreas de intervenção da IBA-Berlin 87 na cidade
Berlim. Áreas de intervenção da IBA-Berlin 87
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin 1987: projektübersicht (1989).
Setores de Novas Construções
Foram selecionadas quatro áreas
para intervenção pelo setor das Novas
Construções e duas para a intervenção pelo
setor de Renovação Urbana. O setor de
Novas Construções trabalhou nos bairros
que continham grandes extensões de áreas
vazias: Südliche Friedrichstadt, Südliches
Tiergartenviertel, Tegel e Prager Platz. O
setor de Renovação Urbana atuou nos
bairros adensados e povoados que
necessitavam de medidas de reconstrução
parcial e de saneamento: Luisenstdt e
Kreutzberg SO 36.
Segundo Kleihues (apud PASSARO,
2002, p. 186), as intervenções do Setor de
Novas Construções utilizavam a história
[...] através de três estratégias,
integradas dialeticamente entre si. A
primeira reside na reconstrução das
condições originais, que seria a
restauração dos prédios mais
significativos de cada área; a segunda
atua no nível de collage, agregando a
um passado ainda visível uma
interpretação contemporânea do
programa; e a terceira baseada na
aberta contradição entre o novo e o
antigo, de modo a evidenciar uma
suposta tensão entre os dois modelos.
As intervenções do setor de Novas
Construções totalizaram 169 projetos, dos
quais alguns são descritos a seguir:
1 - Südliche Friedrichstadt: abrangia
a parte sul do bairro limítrofe com o centro,
o qual, na época da IBA, encontrava-se no
setor soviético. O bairro, que data do século
XVlll, foi construído para abrigar parte da
população que adensava o centro da cidade.
No início do século XX, era uma área
densamente ocupada por residências de
classe média e alta, comércio e serviços
públicos relevantes. Foi arrasado por
bombardeios durante a Segunda Guerra
Mundial e, posteriormente, em 1961,
fisicamente dividido pelo Muro de Berlim.
Como todas as áreas lindeiras ao muro,
permaneceu em situação de abandono por
parte da população. Quanto à administração
pública, algumas intervenções foram feitas,
porém relacionadas com a instalação de
grandes equipamentos culturais nos
extensos vazios urbanos que se formaram. A
IBA-Berlin 87 patrocinou 58 projetos e
propôs a re-arquitetura do conjunto urbano:
resgate do desenho de vias importantes
para a memória do lugar, intensificação do
uso residencial e construção de novos
edifícios.
50
A diretriz do planejamento
institucional para o setor Südliche
Friedrichstadt consistia no regate de suas
características históricas anteriores à
50
Passaro (2002) apresenta uma descrição
detalhada das áreas de intervenção e das
propostas da IBA.
75
Segunda Guerra Mundial, inclusive do uso
misto que formava sua ocupação anterior.
Paralelamente às intervenções físicas, eram
viabilizadas atividades sociais, educativas e
culturais como extensão das atividades do
campo da arquitetura e do urbanismo.
A IBA-Berlin 87 inseriu, no contexto
da paisagem urbana do Südliche
Friedrichstadt, grandes extensões de áreas
verdes destinadas aos esportes públicos e à
instalação de creches e escolas, parques e
jardins; remodelou avenidas e criou
passagens para pedestres através dos
extensos quarteirões, favorecendo os
deslocamentos humanos a pé. Os desenhos
das áreas verdes materializaram diversas
feições plásticas, desde formas barrocas e
maciços arbóreos densos até a
recomposição de vegetação nativa, além de
utilizar também formas geométricas
racionalistas; o trabalho desenvolvido com a
vegetação evoluiu para a valorização da
sustentabilidade da biodiversidade local.
A diversidade arquitetônica presente
nos projetos e obras implantadas no
Südliche Friedrichstrasse têm como
representantes de destaque o Block 10, de
Aldo Rossi, e o Block 2, de Zaha Hadid.
Enquanto Rossi apresenta uma composição
horizontal, utilizando o tradicional
revestimento cerâmico do local associado
aos tecnológicos painéis envidraçados,
Hadid inova associando a horizontalidade
com a verticalização da esquina e compõe
com um painel curvo, forma que será
posteriormente utilizada por Helmut Jan na
esquina da Potsdammer Platz no final da
década de 1990 e na associação da
horizontalidade com a verticalidade na
proposta de Kollhoff para a renovação da
Praça Alexanderplatz após a queda do Muro
de Berlim.
IBA-Berlin 87 Block 10 Arq. Aldo Rossi
www.dignboom.com/history/rossi.html
IBA-Berlin 87 Block 2 Arq. Zaha Hadid
Fonte: www.laboratorio1.unirc.it
IBA-Berlin 87 Premio para o Baselpark
Arquitetos: Jasper Halfmann e Clod Zillich.
76
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin
1987: projektübersicht (1989, p. 161).
Glashalle de Jochen Brandi – Block 9
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin
1987: projektübersicht (1989).
No grupo de construções
tecnológicas apresentadas na IBA-Berlin 87,
encontram-se exemplos como o de Jochen
Brandi, que projetou um pavilhão de aço e
vidro na Anhalter Strasse. A associação de
vegetação na composição da fachada
também é uma proposta freqüente nos
projetos apresentados na IBA-Berlin 87,
assim como as passagens cobertas por
vidros, elementos urbanos muito explorados
na Berlim do final do século XX
Südliche Friedrichstadt
77
Áreas de intervenção da IBA-Berlin 87
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin 1987: projektübersicht (1989).
Escala:1:10 000
Edificações

Projetos Espaços Abertos
Renovação de Vias
2- Südliches Tiergartenviertel: parte
sul do setor localizado em frente ao Portão
de Brandenburg (simbolicamente a principal
entrada da cidade, na época interditado
pela administração soviética), limítrofe com
o Südliche Friedrichstadt e caracterizado por
extensa área verde que abriga o Zoológico
de Berlim e o Parque Tiergarten, criado
originalmente como campo de caça. A
ocupação anterior ao conflito internacional
era, basicamente, residencial de classe alta;
portanto a área estava repleta de palacetes
e habitações de alto padrão construtivo. O
setor Südliches Tiergartenviertel foi uma das
áreas de intervenção que apresentaram
maior número de diversidade formal em
suas edificações. Foram construídas desde
habitações e equipamentos sociais até
edifícios institucionais. Desenvolvido como
um trabalho meticuloso de reconstrução
urbana, possuía regras gerais estabelecidas
institucionalmente, que visavam preservar a
harmonia da paisagem urbana com o fim de
promover o equilíbrio das massas
edificadas. Os projetos apresentavam
propostas conceituais singulares que
resultaram em materializações de formas
diversificadas. Isso acentuava o caráter
fragmentário da paisagem de Berlim.
A IBA-Berlin 87 promoveu 41
projetos na área, projetou e construiu
quarteirões inteiros, visando resgatar, nas
áreas lindeiras ao bosque, o uso tradicional
e também a morfologia anterior. Uma das
quadras que retrataram fielmente essa
diretriz foi a da Rauchstrasse. Projetada por
Rob Krier, evidenciou a diversidade dos
elementos edificados pela IBA-Berlin 87,
vilas urbanas compondo um conjunto de
nove edifícios isolados, geometricamente
dispostos em uma área retangular. O plano
de massas foi elaborado por Rob Krier, autor
também do edifício-portal localizado em
uma das pontas da quadra. Para os
projetos dos edifícios, foram convidados os
arquitetos: Francy Valentin/Hubert
Hermann, Aldo Rossi, Henry Nielebock,
Klaus-Theo Brener/Benedict Tonon, Giorgio
Grassi, Hans Hollein, Cornelia Muller, Jan
Wehberg e Elmar Knippschild.
78
Vilas Urbanas na Rauchstrasse.
Fonte: Passaro (2002).
Outras construções apresentadas no
Südliches Tiergartenviertel destacaram-se
do ponto de vista formal, como as obras de
Oswald Mathias Ungers, James Stirling,
Vitório Gregotti, Frei Otto e von Gerkan.
Gregotti utilizou a tipologia da antiga
“mietkaserne”
51
para construir um conjunto
habitacional na Lützowstrasse, utilizando a
cor terracota na fachada. Construiu, assim,
uma nova arquitetura dialogando com a
tradição e o passado do lugar.
51
Ver referência a Mietkaserne no capítulo 1
deste trabalho dissertativo.
79
Berlim Lützowstrasse. Arq. Vittorio Gregotti
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin 1987: projektübersicht (1989, p. 62)
Südliches Tiergartenviertel
80
Áreas de intervenção da IBA-Berlin 87
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin 1987: projektübersicht (1989).
Escala:1:10 000
Edificações

Projetos Espaços Abertos
Renovação de Vias
81
Às margens do Landwehrkanal
foram construídos 69 apartamentos,
projetados pelo arquiteto von Gerkan e
associados. Os edifícios desempenharam
um importante papel no contexto da IBA-
Berlin 87. Foi o primeiro conjunto edificado
em Berlim, no qual a estratégia de projeto
objetivou a economia energética, prevendo
redução do gasto de energia para
aquecimento e iluminação, sendo utilizados
coletores solares. Juntamente com a Öko-
Haus, estes foram os primeiros edifícios
tecnológicos de Berlim. Os desenhos das
fachadas apresentavam grandes superfícies
envidraçadas em substituição às pequenas
aberturas freqüentes nos demais edifícios
da cidade. As fachadas dos edifícios
assumiram um aspecto diferenciado das
demais, visto que possuíam menor
quantidade de detalhes e a presença de
elementos metálicos e grandes superfícies
transparentes conferiam uma aparência de
avanço tecnológico aplicado à construção.
Essa tendência seria largamente explorada
nos edifícios que comporiam a paisagem da
década seguinte.
Berlim Landwehrkanal. Arq. Von Gerkan, Marg e Partner
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin 1987: projektübersicht (1989)
3 - Tegel: bairro afastado do centro,
numa região repleta de lagos e florestas,
com excelente potencial para habitação e
lazer. A IBA-Berlin 87, por meio de três
projetos realizados, propiciou aumento no
quantitativo de unidades residenciais ao
construir três blocos de apartamentos, uma
usina para eliminação de fosfato e um
centro de cultura e lazer.
O plano de massas do conjunto
habitacional de Tegel é projeto de Charles
Moore. Posteriormente, vários arquitetos
foram convidados para participar do
desenvolvimento da proposta arquitetônica:
Hejduk, Portoggesi, Tigerman e Stern, os
quais colaboraram imprimindo ao projeto de
Tegel uma intensa e desejável
multiplicidade de formas.
Tegel
82
Áreas de intervenção da IBA-Berlin 87
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin 1987: projektübersicht (1989).
Escala:1:10 000
EdificaçõesEspaços Abertos
Ao ser inserido na paisagem local, o
complexo de edifícios instalados em Tegel
provocou um contraste com os elementos
preexistentes. Blocos maciços construídos
às margens do lago assumiram formas
estranhas à paisagem. Alguns elementos
compositivos eram inspirados na arquitetura
do lugar, mas a forma resultante da
composição arquitetônica final não
harmonizou com a arquitetura local. A
utilização de formas sinuosas na
implantação não foi suficiente para compor
com as bordas do lago e nem para integrar
os edifícios no contexto. A obra mais
significativa do ponto de vista da paisagem é
o conjunto habitacional, composto por
volumes maciços de edificações dotadas de
fachadas irregulares, porém homogêneas
em sua diversidade formal. A implantação
dos edifícios reporta à implantação dos
grandes blocos habitacionais modernos
inseridos em extensas áreas verdes, porém
as fachadas compõem uma justaposição de
elementos diversificados em formas e
dimensões.
IBA-Berlin 87 – Tegel.
Fonte: www.archinform.net
83
IBA-Berlin 87 – Tegel.
Fonte: www.chollian.net
IBA-Berlin 87 – Tegel.
Fonte: www.chollian.net
IBA-Berlin 87 - Tegel Plano de Massas e
Coordenação de projetos: Arq. Charles Moore.
Fonte: www.archinform.net
4- Prager Platz: caracteriza-se como
região urbana muito adensada. Este
importante pólo econômico e social de
Berlim, quase que totalmente destruído
durante a guerra, foi contemplado com uma
série de intervenções nos anos da
reconstrução pós-1945. A IBA-Berlin 87
promoveu sua total remodelação por meio
de dois projetos.
Na Prager Platz, novas edificações e
o tratamento paisagístico das áreas
intersticiais revitalizaram o uso do lugar, que
passou a aparentar um aspecto de ordem e
salubridade. A circulação de veículos
motorizados ficou limitada a um dos lados
da praça, ficando reservado maior espaço
para os pedestres junto à calçada oposta. O
projeto de reurbanização do lugar privilegiou
o pedestre, o que era uma tendência no
tratamento dos espaços públicos da IBA-
Berlin 87. Como nas demais áreas de
intervenção das Novas Construções, foi feito
um remembramento dos terrenos e as
edificações construídas na periferia da
quadra abriram espaço para as áreas verdes
comunitárias no centro das quadras. A nova
estrutura possibilitou uma nova paisagem e
a circulação para pedestres através dos
quarteirões. Essa novidade inserida no
tecido histórico era uma herança das
propostas modernistas que estabeleciam a
livre circulação dos pedestres nos espaços
intersticiais que permeavam seus conjuntos
edificados. A socialização da propriedade do
solo e a possibilidade de livre circulação
para pedestres são estratégias adotadas até
hoje nas novas intervenções.
Prager Platz
84
Áreas de intervenção da IBA-Berlin 87
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin
1987: projektübersicht (1989).
Escala:1:10 000
Edificações Espaços Abertos
Berlim Prager Platz
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin 1987: projektübersicht (1989, p. 62).
Setores de Renovação Urbana
Os bairros de intervenção do setor
de Renovação Urbana, dotados de intensa
vida urbana, apresentavam, na época, alto
grau de degradação. Seus edifícios eram
habitados por uma população que vivia
precariamente abrigada. A estratégia
adotada para propiciar a manutenção da
identidade local baseou-se na manutenção
dos usos tradicionais, principalmente o
habitacional, associando-o à instalação de
novos equipamentos sociais e comerciais,
dinamizadores da vida comunitária. Tal
estratégia foi colocada em prática por meio
de um conjunto de intervenções que
executou desde obras de restauração até
novas construções e intervenções nos
espaços públicos abertos e sistemas de
circulação urbana e de transportes. O
conceito de saneamento adotado
caracterizava-se pela recuperação de
edifícios e espaços públicos, praças, largos
e ruas. Também os espaços interiores das
quadras foram totalmente remodelados e
dotados de farta vegetação.
Segue-se a apreciação de algumas
intervenções significativas para a
compreensão panorâmica dos resultados
alcançados em relação à re-configuração da
paisagem urbana dos locais de intervenção
do setor de Renovação Urbana:
1- Kreutzberg SO 36: parte do bairro
antigo e densamente construído, localizada
junto ao muro que dividia a cidade. No pós-
guerra, o bairro sofreu uma intensa evasão
populacional causada pela presença da
fronteira soviética. Foi, então, ocupado por
imigrantes, principalmente, turcos. Inúmeros
edifícios foram invadidos por estudantes e
artistas ao longo das décadas de 1970 e
1980. Conhecido como território de
resistência política e cultural, foi o bairro
85
preferido para as atuações do então
nascente Partido Alternativo, uma derivação
do Partido Verde alemão. A atuação da IBA-
Berlin 87 ocorreu principalmente no setor de
saneamento das edificações e re-
qualificação dos espaços públicos urbanos,
para isso foram elaborados 32 projetos.
Uma das intervenções significativas
foi a remodelação das imediações da
estação de metrô Schlesisches Tor
(Internationale Bauausstellung Berlin 1987:
projektübersicht, 1989, p. 279 e 281). O
local recebeu remodelações nas edificações,
nas vias, nos espaços livres e recreativos,
bem como construções nos terrenos baldios.
O projeto selecionado em concurso público,
elaborado pelo escritório Kaufman und
Partner mit Pauly, promoveu o alargamento
dos passeios públicos; converteu vias de
tráfego motorizado em vias para pedestres,
limitando os espaços de circulação de
veículos motorizados; arborizou as vias;
ajardinou e dotou de um sistema de
passagem para pedestres o interior dos
quarteirões. A proposta conciliou a
preservação de desenhos urbanos
históricos, como a manutenção do traçado
viário básico e a preservação do jardim
barroco da família Itzig, com a inserção de
elementos comunitários indispensáveis à
saúde da vida urbana. Para isso, criou
espaços públicos comunitários adequados
ao convívio humano (ambientalmente
confortáveis e visualmente agradáveis),
dotados de um poder de atração que
induzisse a confluência de pessoas para
usufruir mobiliário, equipamentos e
paisagens, especialmente criados para esse
fim.
A nova paisagem urbana do bairro
de Kreutzberg passa a exibir, a partir da IBA-
Berlin 87, um conjunto de novos elementos
urbanos traduzidos em redefinição do
desenho das calçadas, paginação de pisos
diversificados e harmonicamente
compostos, mobiliário e vegetação. O
mesmo rigor aplicado na recuperação da
salubridade e da imagem dos edifícios foi
estendido ao tratamento dos espaços
abertos; também o mesmo nível de
detalhamento do interior dos edifícios foi
utilizado nos espaços exteriores. Dessa
forma, no bairro de Kreutzberg, assim como
nas demais áreas de intervenção da IBA-
Berlin 87, as modificações da paisagem
urbana buscaram resgatar o sentido de
fruição da vida comunitária nos espaços
abertos de uso público, construídos na
cidade de Berlim ao longo de sua formação.
86
Berlim Schlesisches Tor
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin 1987: projektübersicht (1989).
Berlim Schlesisches Tor
87
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin 1987: projektübersicht (1989, p. 279 e 281).
A restauração do edifício da estação
do metrô Schlesisches Tor foi um dos
marcos da intervenção no Keutzberg SO 36.
Além de ter recuperada sua imagem antiga,
a edificação foi convertida em um centro
cultural e ponto de encontro da população
local.
A “cuidadosa renovação” do bairro
implicou a preservação dos edifícios
remanescentes e deu aos edifícios de uso
privativo melhores condições de uso
relacionadas com saneamento básico e
sistemas de aquecimento. No caso dos
edifícios de uso público, a restauração física
foi acompanhada de uma revitalização
funcional. A proposta envolveu a criação de
condições de moradia, considerando o
conjunto de facilidades demandadas pela
função, ou seja, escolas, creches,
equipamentos esportivos, praças e comércio
vicinal, instalados nas imediações das
moradias. Vê-se, nesse encaminhamento,
que foram consideradas as recomendações
contidas na Carta de Atenas. Ao mesmo
tempo em que a proposta buscou resgatar
elementos históricos do lugar, introduziu
conceitos modernos promotores de
melhorias nas suas condições de
habitabilidade. A paisagem anterior era
composta, basicamente, por ruas-corredor. A
nova paisagem abriu espaço para a
vegetação, o trânsito de pedestres através
dos quarteirões e para a função de lazer e
encontro comunitário no espaço das ruas,
por meio da ambientação dos passeios
públicos.
Bon Jour Tristesse – edifício de Álvaro Siza
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin 1987: projektübersicht (1989, p. 293).
Bon Jour Tristesse – edifício de Álvaro Siza
88
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin 1987: projektübersicht (1989, p. 293).
Os terrenos vagos receberam novas
edificações que promoveram a
complementação das fachadas dos
quarteirões. Os edifícios construídos
respeitaram o alinhamento e a altura dos
edifícios antigos, porém inovaram no
aspecto formal, remetendo todo o seu
referencial de conceitos e tecnologia ao
momento histórico em que estavam sendo
construídos. Um dos exemplos que se pode
apontar em Keutzberg SO 36 é o Bon Jour
Tristesse. Com projeto de Álvaro Siza, o
edifício de 46 apartamentos está localizado
em uma esquina e tem comércio instalado
no térreo. O projeto dos espaços públicos
que envolvem o edifício proporcionou um
ambiente favorável ao passeio de pedestres
e ao uso da calçada para atividades sociais
de estar.
Dessa forma, a paisagem do bairro
acabou sendo pontuada de novos edifícios
com características próprias, concebidas
segundo a criatividade de seus autores, que
acompanharam a estratégia da diversidade
adotada no setor de Novas Construções,
porém seguiram regras preestabelecidas
para harmonizá-los com o conjunto edificado
preexistente. À medida que as obras
promovidas pela IBA-Berlin 87 iam sendo
implantadas, novas cores e texturas iam
substituindo o cinza das fachadas e o
processo de saneamento ambiental
transparecia no contexto visual da
paisagem. Todas as ações materializadas
que iriam gerar melhoria das condições de
vida da população local eram
simultaneamente repassadas para a nova
imagem urbana que se consolidava.
89
Kreutzberg SO 36
90
Áreas de intervenção da IBA-Berlin 87
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin 1987: projektübersicht (1989).
Escala:1:10 000
Edificações

Projetos Espaços Abertos
Renovação de Vias
91
2 - Luisenstadt: bairro localizado
entre Kreutzberg SO 36 e Südliche
Friedrichstadt apresentava característica de
setor habitacional. Foi contemplado com
saneamento, modernização de edifícios,
construção de novas unidades residenciais
que complementavam as partes destruídas
dos quarteirões, equipamentos sociais,
infra-estrutura e re-qualificação dos espaços
públicos urbanos, assim como ocorreu em
Keutzberg SO 36. Em Luisenstadt foram
elaborados 34 projetos.
O interior das quadras encontrava-
se, na época, em péssimas condições de
salubridade. Havia muitas edificações
improvisadas para diversos usos, além de
entulhos e áreas abandonadas. A proposta
da IBA-Berlin 87 promoveu uma limpeza
total da área, removendo todas as
edificações sem valor histórico e sem
interesse de utilização. O processo de
saneamento ajardinou e instalou parques
infantis no interior dos quarteirões, os quais
tiveram seus edifícios restaurados.
A IBA-Berlin 87 promoveu a
reconstrução perimetral dos quarteirões que
estavam parcialmente demolidos, restaurou
e modernizou os demais edifícios existentes.
Entenda-se por modernização a instalação
de infra-estrutura de saneamento básico e
aquecimento. A população participou do
processo através de conselhos
comunitários. A imagem seguinte mostra a
re-configuração da delimitação do espaço
circular da Mariannenplatz.
Mariannenplatz
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin
1987: projektübersicht (1989, p. 225).
A estação de metrô Kottbusser Tor
foi totalmente remodelada, bem como a
praça onde se localiza. Essa ação promoveu
a redefinição do sistema viário de todo seu
entorno, a restauração e o saneamento de
edifícios antigos e a construção de novos
para aumentar o número de unidades
habitacionais. A transformação paisagística,
após a intervenção da IBA-Berlin 87, diferia
da intervenção da INTERBAU-Berlin 57.
Enquanto esta última criava uma nova
paisagem concebida segundo regras de
projeto totalmente diferentes das que
conduziram a construção da cidade antiga, a
IBA-Berlin 87 inseria no tecido urbano os
novos elementos arquitetônicos de modo
que dialogassem com os existentes. As
formas de diálogo nem sempre eram
harmônicas, mas a cidade histórica
permanecia dando testemunho de seu
passado. Assim, a cidade de Berlim assumiu
a natureza urbana: uma constante
renovação espacial em processo de
adequação de suas estruturas às novas
necessidades demandadas pela evolução
da sociedade. A natureza da cidade é
dinâmica e sua paisagem é,
conseqüentemente, mutável.
Kottbusser Tor
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin
1987: projektübersicht (1989, p. 261).
O setor de Renovação Urbana
possibilitou o remanejamento de usos no
interior dos quarteirões. Socializou os
espaços abertos, integrando-os a extensas
áreas comuns ajardinadas e equipadas para
92
lazer e esportes, que funcionam também
como passagem de pedestres. Algumas
quadras receberam creche, escola ou centro
comunitário, além de parquinho infantil.
Portanto, não só a paisagem das ruas
passou por um processo de alteração, a
paisagem urbana, quando vista de dentro
dos quarteirões, também foi remodelada,
passando a ter usos renovados.
Berlim tinha um traçado urbanístico
que resultava em extensos quarteirões de
formato irregular, o que gerava grandes
áreas livres em seu interior como resultado
da ocupação perimetral. Tais áreas
acabaram ficando ociosas ou mal
aproveitadas, ao passo que poderiam ser
utilizadas para potencializar as
oportunidades de convivência social e de
lazer da comunidade local. A proposição da
IBA-Berlin 87 foi aproveitá-las para gerar
maiores benefícios comunitários,
integrando-as aos espaços abertos públicos
e favorecendo o encurtamento de distâncias
para os que transitam na cidade a pé.
Um dos exemplos é o Block 104,
implantado em uma quadra triangular, que
abrigou, de um lado, a edificação principal e,
de outro, um complexo de áreas verdes e
equipamentos sociais. O alinhamento frontal
foi mantido por meio do plantio de uma
fileira de vegetação.
Dentre as propostas inovadoras
desenvolvidas para o Luisenstadt,
destacaram-se as de cunho ambientalista e
comunitário. As obras de cunho
ambientalista foram, em geral, de
concepção comunitária. Inclusive uma
intervenção utilizando cobertura verde foi
uma das experimentações presente na
exposição. Os setores Luisenstadt e
Kreutzberg eram os preferidos pelos
adeptos do Partido Verde, portanto seria
natural que as propostas relacionadas com
preservação ambiental e economia de
energia fossem desenvolvidas em seu
território.
O conjunto de espaços públicos
abertos de maior significado para o setor
Luisenstadt e patrocinado pela IBA-Berlin
87 foi o complexo verde de Oranienplatz e
Luisenstätischer Kanal, planejado em 1848.
Era um espaço importante para a
preservação da memória urbana, além de
ser uma área preciosa para a ambientação
da cidade e o embelezamento da paisagem
local. Ao longo dessa massa verde linear, as
quadras também se beneficiaram das
intervenções de saneamento, modernização
e novas construções. Os dez anos de
preparação da exposição internacional de
construções mudaram a fisionomia da
paisagem do setor Luisenstadt. A cidade
barroca, que havia passado por um
processo de incremento na construção de
conjuntos habitacionais no século XIX e
também por um período de destruição por
guerras, estava sendo renovada, colorida e
saneada por um projeto coletivo de resgate
dos valores da cidade como construção
coletiva, representante da história de um
lugar que associava elementos novos e
antigos em respeito ao direito de
representatividade de várias gerações.
93
Block 104 Arq. H. Barges
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin 1987: projektübersicht (1989, p. 243).
94
Berlim Luisenstätischer Kanal e Oranienplatz
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin 1987: projektübersicht (1989, p. 211).
95
Luisenstadt:
Áreas de intervenção da IBA-Berlin 87
Fonte: Internationale Bauausstellung Berlin 1987: projektübersicht (1989).
Escala:1:10 000
Edificações

Projetos Espaços Abertos
Renovação de Vias
96
Síntese reflexiva
Os projetos elaborados apresentaram
grande diversidade morfológica, em virtude
da própria condução dos concursos e de
determinações normatizadoras da
exposição, que previam o respeito às
características do entorno das áreas a
serem trabalhadas. Como em Berlim a
cidade foi sendo construída compondo
estratos edificados de diferentes
características, a somatória tipológica,
presente no contexto urbano, resultou em
grande diversidade formal.
Conseqüentemente, os resultados dos
concursos promovidos pela IBA-Berlim 87
52
foram muito diversificados em termos de
respostas formais, uma vez que eram
diversificadas as linhas teóricas, os
programas e as morfologias preexistentes.
Passaro (2002, p. 186) destaca os
seguintes grupos tipológicos presentes nos
resultados da IBA-Berlim 87, referenciados
por Kleihues e presentes em uma
publicação denominada Berlin Modern
Architecture:
53
Residências: vila urbana, casas
enfileiradas, edifícios perimetrais,
edifício de esquina, edifícios portais,
edifícios contíguos a muros cegos,
edifícios com torre, edifícios com átrio
envidraçado, edifício com proteção
acústica.
Quarteirão urbano: quarteirão
restaurado, quarteirão reconstruído,
quarteirão perimetral, quarteirão aberto,
quarteirão fechado, quarteirão dividido,
quarteirão com bloco dentro do bloco,
quarteirão com interiores diferenciados.
52
Ver: http://www.luise-
berlin.de/lexicon/FrKr/i/Internationale_Bauauss
telung.html
53
Ver Nalbach & Johanne (1989).
Parques e jardins ruas e praças: ruas e
caminhos, praças, parque fechado,
parque de quarteirão, parque temático,
parque memorial, museus.
Edifícios públicos: creches, escolas
primárias, escolas especiais, centros
para surdos, centros de ciências,
embaixadas, bibliotecas.
Ecologia e energia: edifícios
experimentais, edifícios com
racionalização de energia, quarteirão
ecológico, usina de eliminação de
fosfato.
Autoconstrução: nos projetos
habitacionais e nos projetos para a
juventude.
A cidade que estava sendo
redesenhada pela IBA-Berlin 87 trazia fortes
traços culturais do seu passado histórico e
da arquitetura antiga, ao mesmo tempo em
que inseria na paisagem da cidade
elementos criados pela vanguarda do
movimento moderno. Dessa forma, a nova
paisagem urbana, embora inspirada em sua
essência na cidade tradicional, não podia
mais ser exatamente igual à cidade do
passado. As pessoas haviam mudado, o
conhecimento tinha avançado, novas formas
haviam sido experimentadas e avaliadas, a
sociedade estava sob efeito de novos
conceitos. O processo de mudança
abruptamente implantado pela arquitetura
moderna, no advento da INTERBAU Berlin
1957, passava por um período de releitura,
de adequação à sensibilidade perceptiva da
população de Berlim. Assim, a IBA-Berlin 87
não pode ser avaliada como um retrocesso
no processo de construção da paisagem
urbana, mas sim, como uma adequação de
ritmo evolutivo para que as transformações
urbanas fossem paulatinamente assimiladas
pela comunidade, em profundo respeito às
97
relações afetivas que os cidadãos
estabelecem com o espaço que constroem.
Conforme Passaro (2002, p. 125)
um dos posicionamentos teóricos relevantes
da exposição foi o do Arq. Oswald Mathias
Ungers em sua abordagem de “[...] retomar
a arquitetura como peça de conformação
urbana [...] que aliada ao sistema
compositivo resultante da relação de
diferentes fragmentos vem contrapor-se aos
procedimentos paradigmáticos do
urbanismo moderno”. Porém, não havia, no
momento de realização da IBA-Berlin 87, um
distanciamento temporal suficiente para que
a avaliação dos resultados fosse isenta de
paixões. Por isso, não foi possível
dimensionar, na época, o quanto os
conceitos da arquitetura moderna estavam
influenciando o desenho da nova paisagem
de Berlim. A cidade estava se abrindo para o
sol, para a vida ao ar livre, para a circulação
de pedestres protegida da circulação de
veículos e para a vegetação mesclada às
construções. Se por um lado havia uma
situação de desenho que buscava o resgate
do lugar, havia também um avanço em
termos de composição da forma urbana, que
permitia uma mescla de morfologias, cores e
texturas e uma nova permeabilidade de
fluxos. A IBA-Berlin 87 foi, portanto, um
modelo de intervenção em uma estrutura
urbana consolidada. A diversidade formal
dos projetos novos era controlada por um
conjunto de diretrizes harmonizadoras
dessas novas formas com as preexistências
do lugar, possibilitando, inclusive, a
harmonização de diferentes conceitos e
posicionamentos teóricos com as realidades
urbanas nas quais iriam intervir.
Assim sendo, a partir da IBA-Berlin
87, a cidade de Berlim possibilitou nova
concepção urbana, por meio de uma
demonstração prática das inovações
teóricas relativas ao trato dos espaços
urbanos a serem re-arquitetados. Essa
realidade demonstra a possibilidade da
convivência de diferentes pontos de vista,
de diferentes eixos teóricos, como uma
metodologia de trabalho mais compatível
com a dialética formação da sociedade, que
é composta de diferentes grupos e
diferentes interesses. O elo integrador das
diversas propostas é que deve ser
claramente definido a priori por meio de
diretrizes globais que norteiem todas as
intervenções localizadas. Berlim provou que
a aceitação de diferentes opiniões, longe de
provocar o caos urbano, possibilita a
composição de espaços urbanos ricamente
contrastantes e interessantes, desde que
haja uma regência harmonizadora
preestabelecida.
É conhecido o texto de Santos
(1987), publicado no ano de abertura da
IBA-Berlin 87, no qual afirma: “Os lugares,
por serem como são, dizem de uma vez
uma porção de coisas para um monte de
gente. Apresentam conformações
cumulativas. Estão no presente, mas podem
demonstrar como foram e como, talvez,
serão. Assim, não con-formam. Também
in-formam. [...] na cidade o espaço fala”.
Assim, confirmando a citação, pode-se
constatar, através de suas materializações,
98
que a IBA-Berlin 87 foi um momento de
concretização da pluralidade de correntes
teóricas que se desenvolviam ao longo do
período pós-moderno, aqui entendido
segundo a definição de Montaner (2001, p.
110): “[...] uma etapa qualitativa diferente,
que procurava novas estratégias, tanto
teóricas quanto práticas.”
Os italianos, os americanos e os
ingleses colocaram-se na vanguarda dos
eixos teóricos e experimentais da produção
arquitetônica da segunda metade do século
XX. Com os italianos, tendo no arquiteto Aldo
Rossi sua figura central, desenvolveu-se
uma metodologia de produção do espaço
urbano referenciada nos valores tradicionais
e situando o edifício como protagonista do
processo de conformação dos espaços
públicos coletivos. Com os ingleses,
desenvolveu-se uma arquitetura relacionada
com a produção do edifício em si,
explorando os elementos tecnológicos tanto
para sua construção quanto para a
ambientação dos espaços internos
edificados. A origem do movimento pós-
moderno inglês situa-se na atuação do
Archigram. A corrente americana, segundo
Montaner (2001), desenvolveu uma
abordagem popular e comunicativa liderada
por Robert Venturi e desenvolvida por
Charles Moore. O período pós-moderno
favoreceu também o surgimento de
individualidades que, trabalhando dentro de
vertentes teóricas pessoais, vão desenvolver
arquiteturas conceituais. Neste grupo
destacam-se John Hejduk e Peter Eisenman.
Praticamente todos os expoentes da
arquitetura do período denominado pós-
moderno estiveram presentes, ou se fizeram
representar, no evento IBA-Berlin 87, com
liberdade para experimentar, no campo
físico, suas definições teórico-conceituais.
É interessante observar os elos
existentes no processo de produção do
espaço urbano. Neste espaço, as teorias e o
desenho a elas vinculado vão se
transformando dentro de um sistema
interdependente e, quando ganham formas
materializadas na paisagem da cidade, é
como se fechassem um ciclo que, uma vez
avaliado, vai gerar uma infinidade de novas
possibilidades compositivas. Assim, a IBA-
Berlin 87 foi o resultado material de uma
etapa do pensamento arquitetônico.
Segundo Montaner (2001, p. 127), os anos
1970 trazem uma nova abordagem do
desenho, do urbanismo e da arquitetura,
que representou a busca por [...] soluções
mais experimentais, atrevidas, versáteis e
adequadas a cada contexto social, que não
imponham modelos, senão que aprendam
de cada lugar. Tratava de reconstruir um
sentido comum existente durante séculos e
que agora estava ameaçado de extinção. A
partir dessa consideração, pode-se avaliar
que o processo da IBA-Berlin 87 não foi
uma mera reprodução de elementos
compositivos do passado, considerados
como modelos, mas sim, a re-arquitetura da
cidade trabalhada com as tipologias
morfológicas tradicionais associadas às
novas soluções demandadas pelos novos
problemas. Sobre os acontecimentos da
década de 1980, Montaner (2001, p. 203)
99
refere-se a Berlim nos seguintes termos:
[...] serviu de modelo para a intervenção em
outras cidades européias, [...] trouxe um
importante repertório tipológico, [...] devido
ao fato de ter sido convidado diretamente,
ou por concurso, uma boa mostra dos
arquitetos de maior prestígio internacional
[...] Devido a isso é uma fiel representante
do panorama da arquitetura
contemporânea. Diante do exposto, pode-
se concluir que a arquitetura da segunda
metade do século XX tem em Berlim um
importante ponto de inflexão, tanto em
relação à abordagem do edifício quanto ao
tratamento da cidade e da relação do
edifício com o espaço urbano tradicional.
Havia traços comuns nos projetos da
IBA-Berlin 87, sobretudo a busca dos elos
perdidos que conectavam a sociedade do
presente com a do passado. As novidades
que se percebiam eram: a adoção de uma
densa arborização das ruas e do interior dos
quarteirões e a valorização incomum dos
espaços abertos com áreas verdes indutoras
do lazer e do encontro entre os cidadãos, o
que representou uma evolução do conceito
de espaços verdes contemplativos do
movimento anterior. Os projetos dos
espaços abertos destinados a áreas verdes
recebiam tratamento paisagístico que os
aproximava da qualidade plástica dos
espaços naturais. Era como se o discurso
ecológico que aflorara no início dos anos
1970 tivesse repercussão nas propostas
apresentadas para Berlim.
Dessa forma, a paisagem urbana da
cidade barroca, que havia passado pela
intervenção modernista criadora de amplas
lacunas morfológicas tradicionais, estava
sendo novamente re-paginada, dessa vez
recebendo a inserção dos elementos verdes
tanto nas vias quanto nas praças e parques,
porém com a conotação de gerar ambiência
para o encontro.
A IBA-Berlin 87 promoveu uma
mudança ambiental substancial nos bairros
onde atuou, tanto do ponto de vista da
salubridade quanto da valorização estética e
imobiliária. À qualidade ambiental somou-se
a melhoria da qualidade do ambiente social,
graças ao atendimento das demandas por
equipamentos sociais, tais como: creches,
escolas, centros esportivos e culturais,
jardins públicos, melhorias no sistema de
transporte de massas e infra-estruturas de
maneira geral.
Vale ressaltar que a arquitetura
contemporânea atendeu aos anseios da
população por ter sido projetada de modo
que respeitava as tradições locais
relacionadas com implantação na quadra,
volumetria, detalhes dos elementos
construtivos, etc. Dessa consideração
decorre a conclusão de que o edifício
contemporâneo pode participar de um
contexto urbano mantendo sua atualidade,
sem agredir o entorno edificado e o
interesse de preservação das características
da paisagem local. Os arquitetos da IBA-
Berlin 87 conseguiram criar, dentro da
diversidade formal, uma totalidade
harmônica desejável. É importante observar
que, naquele momento histórico, a
população se encontrava ressentida pela
100
perda gradativa da identidade de sua cidade
e até mesmo de sua sociedade dividida
política e fisicamente pelo Muro de Berlim.
Após a queda do muro, o sentimento
coletivo mudou completamente. O apego ao
passado converteu-se em rompante em
direção ao futuro e isso repercutiu na
construção de uma nova Berlim, uma cidade
para o século XXI, que embora preserve os
elementos históricos existentes em sua
malha urbana, não se furta à utilização de
formas e materiais possibilitados pelas
novas tecnologias construtivas que domina.
Um dos grandes méritos da IBA-
Berlin 87 foi a representatividade do
panorama arquitetônico internacional dos
anos 1980, que era conseqüência dos
movimentos de revisão da arquitetura
moderna e, também, das novas abordagens
do pensamento arquitetônico relacionadas
com as tecnologias construtivas e com o
meio ambiente. Na exposição se mostraram
reunidas as possibilidades de intervenção
na cidade, mantendo-se respeito ao passado
e exploração do potencial criativo para
solucionar problemas contemporâneos. Ela
transformou a cidade de Berlim em uma
fonte inesgotável de informações e
pesquisas.
A IBA-Berlin 87 interrompeu o
processo de construção dos conjuntos
habitacionais modernos que concentravam
grandes volumes edificados na paisagem da
cidade, contrastando com a textura urbana
existente. Proporcionou, ainda, a diluição
das novas edificações entre as
preexistências urbanas do lugar, mantendo
a textura tradicional da cidade, porém não
negou o avanço tecnológico e nem a
diversidade formal nos edifícios e no
desenho dos espaços públicos abertos. A
criatividade dos arquitetos e artistas foi
incorporada à paisagem urbana de modo
natural, possibilitando a assimilação dos
elementos diferenciados e favorecendo a
transição paisagística para o que viria
depois.
Agindo sobre si mesma, a IBA de
Berlim abriu um precedente à intervenção
ambiental que se refletiu nas exposições
posteriores que adotaram as temáticas da
sustentabilidade e da paisagem. O processo
de solução das questões sociais entre os
agentes promotores da construção da
paisagem e a relação harmônica entre os
interesses da sociedade e a
sustentabilidade ambiental possibilitam a
materialização de uma paisagem urbana
bem planejada.
Os grandes conjuntos habitacionais
criados pelos modernistas haviam gerado
extensos espaços intersticiais entre os
edifícios; desprovidos de condições de
fruição, ou seja, careciam de ambientação
humanizante e não interagiam com os usos
dos edifícios. A IBA-Berlin 87 propôs-se a
resgatar o sentido de humanidade do
espaço público e o nexo da relação urbana
entre o edifício e a rua.
101
Centro Novo de Berlim Fonte: Wikipedia.berlin.de
4
REUNIFICAÇÃO pós-1989: a paisagem da conciliação conceitual
Transitando entre sonhos e
realidades, o homem avança no tempo
impulsionado por suas utopias desde os
primórdios de sua consciência intelectual.
Segundo Argan (1998), a primeira marca
que imprimiu na natureza foi a manipulação
102
da ambiência de uma caverna. Ali, por meio
de desenhos e objetos simbólicos, cria as
condições ambientais necessárias para o
envolvimento psicológico de seus
semelhantes nos rituais religiosos
responsáveis pela congregação de
indivíduos procedentes de diversos lugares.
As observações e estudos antropológicos
levam-nos a crer que a elaboração de
elementos simbólicos ocupa o homem
desde os tempos imemoriais. À medida que
foi desenvolvendo conhecimento e técnica,
a construção de seus símbolos tornou-se
cada vez mais complexa.
Atualmente, o caráter simbólico e de
identidade das grandes cidades
contemporâneas converteu-as em
poderosas e complexas estruturas
representativas do avanço cultural e
econômico de seus idealizadores e
construtores. A cidade atual reflete a
complexidade das utopias não apenas
contemporâneas, mas também a
concretização de sonhos antigos que hoje se
tornam realidade. A construção de uma
grande, bela, rica e poderosa cidade faz
parte das utopias e realizações de
sucessivas civilizações desde a Babilônia,
Nínive e Atenas, até Roma, Paris, Berlim,
Londres, Tókio, Nova York, Brasília.
A proliferação de grandes e
esplêndidas cidades vem demonstrar o
alcance das utopias coletivas como
indutoras de desenvolvimento tecnológico e
utilização do potencial criativo da sociedade
como um todo. A cidade espelha o
pensamento da sociedade que abriga. E,
paradoxalmente, induz comportamentos
coletivos e individuais, os quais, por sua vez,
influem na conformação e aparência da
paisagem construída.
A imagem pública da cidade,
segundo Lynch (1997), representa a idéia
mental coletiva que dela fazem seus
habitantes e é resultante da sobreposição
de imagens gravadas na memória dos
indivíduos. Essa imagem possibilita uma
leitura dos valores socioculturais de sua
população. O tratamento dado às questões
ambientais às habitações populares, aos
edifícios públicos e empresariais é um dos
parâmetros referenciais do grau de
desenvolvimento intelectual da comunidade
que os concebe.
Do ponto de vista arquitetônico, o
espaço urbano é percebido visualmente por
meio de aspectos plásticos inerentes a
edifícios e conjuntos de edifícios associados
em composições espaciais. Suas
características se evidenciam a partir de
perspectivas, fachadas e texturas, onde
cores, reflexos, dimensões, formas e
disposições estabelecem relações visíveis
entre os elementos constituintes da cidade
e as configurações específicas de cada um
de seus edifícios.
No caso específico de Berlim, é
importante observar a atual proposta
institucional de se consolidarem três
núcleos para verticalização dos edifícios em
sua estrutura urbana: um no Centro Novo,
outro no Centro Histórico e o outro na Praça
Potsdamer, o qual já se encontra construído.
103
Maquete eletrônica 3D de Berlim, em destaque o núcleo do Centro Novo à esquerda, o Kulturforum e as
Praças Potsdamer e Leipziger ao centro e o núcleo do Centro Histórico à direita.
Fonte: Ilustração: Suzy Simon. Base: www.stadtentwickulung.berlin.de
O espaço urbano de Berlim
configurou-se pela união de diferentes
aglomerações populacionais, em
conseqüência do crescimento da demanda
por espaços urbanizados, o que provocou a
expansão de suas áreas urbanas. Dentro da
tradição histórica dessa formação, pode-se
estabelecer um paralelo entre a atual
proposta de estruturação polinucleada da
cidade e sua tradição urbanística. A idéia de
verticalização estabelece referências com a
modernidade americana e com o avanço
tecnológico europeu. A verticalidade urbana
remete à imagem subliminar da conquista
do futuro tecnológico. No caso específico de
Berlim, por causa de sua situação de ilha
política durante a Guerra Fria, a cidade
permaneceu por um longo período de tempo
sem receber investimentos consideráveis
por parte de investidores privados. Os
investimentos financeiros realizados para
promoção de seu desenvolvimento urbano
tiveram como fonte de recursos o próprio
poder público, principalmente para a
realização da IBA-Berlin 87, e tinham como
função a manutenção de uma estrutura
necessária para que a cidade não fosse
abandonada pela população residente. A
realidade urbana de Berlim no pós-guerra
era dramática, tanto pela situação política
quanto pelo desinteresse da iniciativa
privada de alocar investimentos e gerar
crescimento financeiro. Assim, no momento
da queda do Muro de Berlim, a imagem da
cidade estava muito aquém da imagem das
cidades européias do final do século XX.
Pode-se considerar que sua paisagem
urbana era carente de elementos simbólicos
do desenvolvimento urbano do final do
milênio. A avidez com a qual a
administração pública gerou as condições
necessárias para tornar contemporânea a
104
imagem da cidade de Berlim, na última
década do século XX, demonstra a
necessidade de atualização de sua
paisagem. A cidade precisava ser colocada
em igualdade de condições no cenário das
cidades de projeção internacional, nas quais
o aspecto de atualidade pressupõe a
existência de edifícios altos e construídos
com tecnologias de vanguarda.
A proposta de compor núcleos
verticais nas Praças Alexander e Potsdamer
e no Centro Novo cria uma volumetria
urbana em que edifícios altos convivem com
os edifícios baixos contemporâneos e
antigos que compõem a maior área de uso
extensivo da cidade. Dessa forma, a
concentração das massas verticais, em
destaque na paisagem, colabora com a
legibilidade urbana, ao acentuar e
enriquecer o sistema de referências
geradoras da orientação dos trajetos
urbanos. Pelo contraste entre elevações
verticais e dominâncias horizontais,
acentua-se a dinâmica da percepção
urbana.
Além disso, uma questão social a
considerar. A verticalização viabiliza o
barateamento dos imóveis e cria condições
para que uma maior parcela da população
possa residir nas áreas centrais. A estratégia
é adensar as áreas centrais, potencializando
o uso de infra-estruturas e equipamentos
sociais existentes. Paralelamente, cumpre-
se a diretriz da Agenda 21 de intensificar o
uso das áreas comprometidas com
construções para preservar as áreas de
plantação e preservação ambiental
localizadas no entorno da cidade.
O Senatswervealtung fur
Stadentwicklung órgão público
responsável pelo planejamento urbano de
Berlim — aprovou dois planos para condução
do processo de harmonização global da
cidade pós-1989: o Planwerke e o
Schwartzplanung. O primeiro estabeleceu as
diretrizes para o desenvolvimento urbano e
projetos urbanísticos para quatro setores da
cidade; o segundo definiu a fisionomia do
Centro Histórico como espaço de
preservação da imagem urbana tradicional.
No contexto das intervenções pós-
1989, foram estudadas, nesta investigação,
três situações identificadas como
representativas da atuação arquitetônica no
processo de redefinição da paisagem
urbana atual de Berlim: o conjunto formado
pelas Praças Potsdamer e Leipziger; o
conjunto formado pelas Praças Pariser e
Bebel e Avenida Unter den Linden e, por
último, a Praça Alexander. Os dois primeiros
casos apresentam intensa sintonia com
questões relacionadas à harmonização das
105
novas intervenções urbanas com os valores
formais da cidade tradicional. a proposta
urbanística para a Praça Alexander insere no
contexto local um conjunto de torres
destinadas a abrigar unidades habitacionais
populares, escritórios e comércio. Neste
caso, uma demanda social por habitações
populares no centro histórico foi
considerada como de maior relevância do
que a manutenção da silhueta edilícia
tradicional. Assim, a cidade sofre o impacto
de uma nova transformação significativa em
sua paisagem, como em 1957 com a
construção do Hansaviertel, que foi
considerada uma mudança radical. Desta
vez, no entanto, não se fundamenta em
desmaterialização urbanística, mas em
adensamento da estrutura edificada. Um
dos traços mais característicos dessa nova
fase da construção da paisagem urbana
berlinense é a concentração das edificações
e a intensificação do adensamento
urbanístico de sua estrutura física.
Maquete eletrônica 3D de Berlim, em destaque a
proposta para o núcleo do Centro Novo. Os
edifícios escuros estão na proposta, mas ainda
não foram construídos.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Centro Novo de Berlim tendo como destaque a igreja bombardeada e a nova,
construída com os vidros estilhaçados da igreja antiga.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
106
4a
Praças Potsdamer e Leipziger
107
A teoria não acompanha o processo de avaliação até o fim: a teoria acaba e o juízo transcende para o
campo da imaginação, da subjetividade.
Rogério de Castro Oliveira (UCG- 1º Set 2005)
Premissas do planejamento institucional
108
A área denominada Praças
Potsdamer e Leipziger inclui os terrenos
localizados nos entornos dessas duas
localidades, compondo nove quadras do
Plano de Construções da Cidade de Berlim.
Após 1989, o restabelecimento da conexão
viária entre o leste e o oeste da cidade de
Berlim, através das Ruas Potsdamer e
Leipziger, converteu suas respectivas praças
em um referencial de alto valor simbólico no
processo de reunificação urbana que se
iniciava. O Senado do Desenvolvimento
Urbano e Proteção Ambiental de Berlim
instituiu um concurso para escolher uma
proposta de intervenção arquitetônica na
área. As diretrizes básicas foram: reforçar o
caráter de centralidade; criar um elemento
integrador dos dois centros e assegurar: uso
misto; locais de encontro, lazer, consumo e
moradia; qualidade visual e social; estrutura
representativa da cidade e valor simbólico
para os moradores.
Participaram do concurso 16
escritórios: Orthner & Orthner; Hilmer &
Sattler; Oswald Mathias Ungers; Otto Steidle;
William Alsop & Jan Stömer; Axel Schultes e
Charlotte Frank; Karl e Maz Dudler; Wolfang
Engel e Klaus Zillich; Hans Kollhoff; Gregotti
Associati; Foster Associates; Daniel
Libeskind; Josef Paul Kleihues; Mahler
Gummp Schuster; Ingeborg Kuhler e
Wolfang Strauss; Peter Baumbach e Ute
Baumbach e Michael Bräuer. O concurso foi
julgado em 2 de outubro de 1991 e obteve o
primeiro prêmio o escritório de Munique:
Hilmer & Sattler.
Mapa do Plano de Construções da Cidade de
Berlim, demonstrando os terrenos que
compreendem as Praças Potsdamer e Leipziger
com seus respectivos usos.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Este estudo de caso desenvolve uma
investigação sobre o projeto vencedor do
concurso do Plano de Massas das Praças
Potsdamer e Leipziger, em Berlim,
elaborado pelo escritório Hilmer & Sattler.
Concluída a análise do projeto, será feita
uma apreciação da paisagem construída
como resultado da fusão do Plano de
Massas com os projetos arquitetônicos
edificados. O referencial informativo
adotado consistiu, basicamente, no
documento governamental publicado no site
institucional do senado berlinense no
endereço eletrônico:
http://www.stadtentwicklung.berlin.de/
planen/staedtebauprojekte/leipziger_p
latz/de/.../potsdamer_platz/.../index.shtml
O objetivo da análise do primeiro
estudo é investigar a relação do partido
arquitetônico adotado por Hillmer & Sattler
com as preexistências arquitetônicas do
lugar e com as formas dos edifícios
109
construídos, buscando compreender os
motivos das escolhas tanto dos autores
quanto do júri que premiou o projeto. A
proposta apresentada continha o Plano de
Massas que definia a disposição dos
edifícios, os usos que deveriam abrigar e a
altura que deveriam atingir. Em outras
palavras, o projeto definiu as volumetrias e
os usos dos edifícios, não as formas
precisas. Portanto, a textura urbana ficou
predeterminada pela definição da densidade
de edificações na área, pelas projeções
ortogonais e proporções volumétricas dos
edifícios. Os arquitetos que, posteriormente,
desenvolveram os projetos arquitetônicos
tiveram, necessariamente, de obedecer às
determinações do Plano de Massas, que
regia o arruamento, os edifícios e os
espaços abertos. Tiveram, porém, total
liberdade em termos de soluções de projeto,
tanto para o agenciamento espacial dos
programas quanto para a definição da
tecnologia construtiva a adotar.
Dessa forma, a análise inclui, em um
segundo momento, a solução arquitetônica
formal dos edifícios segundo as escolhas
dos arquitetos que trabalharam nos projetos
arquitetônicos que deram continuidade ao
processo projetual das Praças Potsdamer e
Leipziger, uma vez que a esses arquitetos se
deve a sua configuração definitiva.
Assim, o projeto das Praças
Potsdamer e Leipziger envolvia duas etapas.
A primeira consistiu no Plano de Massas de
Hilmer & Sattler; a segunda, nos projetos
arquitetônicos de Renzo Piano, Christoph
Kohlbecker, Hans Kolhoff, Lauber + Wöhr,
José Rafael Moneo, Richard Rogers, Arata
Isozaki e Helmut Jahn e Murphy para a
Praça Potsdamer; e Muller & Reimann, KSP
Angel e Zimmermann, Hilmer & Sattler,
Christoph Langhof, Axel Schultes, Walter A
Noebel, Modersohn e Freiesleben, Albrecht,
Strauch & Gallagher, Baumann & Partner,
Kuwabra Payne, Mc Kenna, Blumberg, Aege,
Graetz, Jordi, Nöfer, Hans Kollhoff, Patzchke
& Partner e Grüntuch Ernst, para a Praça
Leipziger.
O Plano de Massas de Hilmer &
Sattler desempenhou, portanto, o papel
de regente. Foi o elemento organizador
que determinou as regras a serem
seguidas pelos arquitetos que
desenvolveram os projetos
arquitetônicos construídos. A primeira
definição de paisagem resultou do Plano
de Massas, o qual determinou a
volumetria da paisagem, a disposição
dos elementos e a forma do traçado das
vias definidoras dos quarteirões.
Compreender o partido arquitetônico
construído para a elaboração do Plano
de Massas, neste caso, é compreender a
dinâmica da composição urbana
resultante de valores culturais cultivados
pela comunidade a que servirá. Segundo
o texto elaborado pelo júri do concurso,
a proposta de Hilmer & Sattler foi
escolhida por possibilitar uma
continuidade da imagem tradicional da
cidade. Dessa forma, manteve-se a
textura urbana tradicional. Porém, foram
110
introduzidos no contexto da paisagem
elementos simbólicos, representantes
do poder econômico e do avanço
tecnológico da comunidade do local. Isso
fez com que a proposta apresentada
fosse além de uma mera reprodução do
tecido urbano existente.
Praças Potsdamer e Leiziger em 1993.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Praça Leipziger em 1900. Praça Potsdamer em 1901.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de www.stadtentwickulung.berlin.de
O Plano de Massas de Hilmer & Sattler -
Geração do partido: respeito às
preexistências
A localização do terreno, no qual foi
implantado o projeto, teve uma participação
significativa na definição das escolhas feitas
durante o processo de construção do partido
arquitetônico definido para a composição
das Praças Potsdamer e Leipziger. O terreno
em questão foi dividido pelo Muro de Berlim,
situando a leste a Praça Leipziger e a oeste
a Praça Potsdamer. Historicamente, as duas
localidades urbanas em estudo
desempenharam importantes papéis no
contexto global da cidade. A Praça
Potsdamer, cuja construção data do início do
século XIX, representava um ponto
referencial relevante no início do século XX. A
111
Praça Leipziger, com uma extensa área
verde, abrigava, na mesma época,
importantes edifícios habitacionais. Em
conjunto, as duas praças compunham um
centro de vitalidade na cidade de Berlim.
Praça Leipziger em 1928 Praça Potsdamer em 1928
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
As vias existentes configuravam
importantes artérias por onde escoava
intenso fluxo de pedestres e veículos,
inclusive de transporte coletivo.
Consideradas, posteriormente, como parte
importante da memória da cidade em todos
os planos do século XX; estão presentes nas
intervenções do início do século XXI, que
consolidam o plano de Reunificão elaborado
na última década do século XX. Em 1928, a
estrutura urbana consolidada em torno das
Praças Leipziger e Potsdamer fazia delas um
ponto referencia de grande destaque em
Berlim.
Após a Segunda Guerra Mundial,
em 1961, o muro construído para dividir a
cidade separou as duas praças cujos
entornos haviam sido arrasados por
bombardeios aéreos. A cidade dividida
manteve, no lado leste, o antigo centro
existente e, no lado oeste, o mais
prejudicado pelos bombardeios, foi criado
um novo centro para dirigir e concentrar as
atividades urbanas na antiga Berlim
Ocidental. As áreas em torno das Praças
Potsdamer e Leipziger localizam-se entre o
centro novo e o antigo. Após a queda do
Muro de Berlim, em 1989, o plano de
reintegração urbana estabeleceu a
112
reconstrução das áreas devastadas dos
entornos das Praças Potsdamer e Leipziger
de modo que compusesse a ligação entre os
dois centros urbanos. Neste caso, o desejo
coletivo de regenerar o tecido urbano da
cidade conduziu à escolha projetual de um
partido arquitetônico que propiciasse a
continuidade da malha urbana tradicional,
mantendo uma textura homogênea que
favorecesse uma ligação harmônica das
duas partes da cidade anteriormente
dividida.
Praças Potsdamer e Leipziger em 1961,
divididas pelo Muro de Berlim.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Praças Potsdamer e Leipziger conforme proposta
de Hilmer & Sattler inserida na maquete de
Berlim.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Praças Potsdamer e Leipziger conforme proposta
de Hilmer & Sattler inserida na maquete de
Berlim.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A construção da Praça Leipziger data
de 1732 a 1738. Caracterizava um novo
local para abrigar as residências das
famílias ricas procedentes da cidade Leipzig.
Durante o período da cidade antiga entre
muros, a Praça Leipziger localizava-se no
limiar da cidade e o acesso se dava através
de um dos portões de Berlim o Potsdamer
Tor —, cuja abertura era delimitada por duas
torres. O portão não existe mais, porém sua
lembrança e a lembrança dos outros portões
da Berlim antiga ficaram documentadas
para a memória das gerações futuras. A
situação da Praça Leipziger era na periferia
de Berlim, junto ao Potsdamer Tor. Havia, na
época, uma confluência de caminhos de
acesso ao Portão Potsdamer Tor, formando
os atuais vértices onde foram inseridos os
principais edifícios da Praça Potsdamer
(Potsdamer Platz ) após o processo de
reunificação urbana implementado na área.
113
Praça Leipziger no Plano de 1700, protegida
pelo muro da cidade antiga.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Na proposta de Hilmer & Sattler, a
metáfora do portão se faz presente quando
os autores introduzem as torres,
verticalizando as esquinas da Praça
Potsdamer e acentuando a verticalização do
acesso para a Potsdamer Strasse (Rua
Potsdamer). uma profunda compreensão
do valor histórico do lugar refletida na
escolha das torres como marco simbólico da
Praça Potsdamer. Além disso, é uma
definição de partido, posteriormente
potencializada pelos arquitetos que
elaboraram os projetos arquitetônicos dos
três edifícios que se tornariam, em conjunto,
novos símbolos urbanos para Berlim.
Potsdamer Tor (Portão de Potsdamer).
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Desde a formação original das duas
localidades, a Praça Leipziger caracterizou-
se pela forma do octógono contornado por
edifícios justapostos e uma ampla área
verde no centro, dividida em duas partes
simétricas por uma avenida larga que
conectava o Portão Potsdamer Tor com o
centro da cidade. a Praça Potsdamer era
caracterizada por uma confluência de vias
provenientes de várias direções para
acessar a cidade através do Potsdamer Tor.
Não havia área verde e os edifícios
ocupavam maciçamente os quarteirões que
se formaram em frente ao portão. O partido
construído por Hilmer & Sattler mantém esta
característica histórica e contempla os
terrenos da Praça Potsdamer com uma
massa edificada, onde os espaços abertos
livres da implantação dos edifícios são
intersticiais, ocupando ora o interior das
quadras, ora espaços residuais entre elas.
Para a Praça Leipziger a proposta dos
autores resgata o desenho anterior do
grande espaço aberto, ajardinado no centro
do octógono e o contorno de edifícios
justapostos, mantendo uma referência da
altura dos edifícios antigos. Assim, o Plano
de Massas resgata a essência da imagem
do lugar, preservando os exemplos
referenciais da memória coletiva, tanto dos
que viram e vivenciaram o lugar antes de
sua destruição quanto dos que o
conheceram por meio de diferentes veículos
midiáticos.
114
As escolhas efetuadas pelos autores
da proposta vencedora do concurso
conduziram a um partido arquitetônico que
resgatou a imagem da cidade antiga. Não
houve, porém, a intenção de reconstruir
uma imagem congelada no tempo, mas sim,
uma proposta que criasse oportunidades
para que os autores dos projetos dos
edifícios pudessem também colocar a marca
do tempo presente na imagem da nova
cidade que deveria ressurgir dentre os
escombros da cidade destruída. Nesta ação
de construir o novo respeitando o tempo
presente e também o tempo passado é que
está o maior valor do processo de re-
apropriação dos espaços urbanos
abandonados na cidade de Berlim. As
Praças Potsdamer e Leipziger são dois
exemplos da possibilidade de recriação da
paisagem urbana, adotando-se as
características culturais e tecnológicas
contemporâneas e, ao mesmo tempo,
preservando a memória da paisagem
histórica, não em sua imagem física, mas
em seus aspectos essenciais que refletem
os significados culturais de uma época e de
sua origem.
Perfil da Pra Potsdamer conforme proposta de Hilmer & Sattler. Os subsolos destinados a estacionamentos e
estação do metrô.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Detalhe do perfil da Praça Potsdamer, conforme proposta de Hilmer & Sattler, evidenciando os edifícios
portais que marcam o início da Avenida Potsdamer.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
115
Praças Potsdamer e Leipziger conforme proposta (Masterplan) de Hilmer & Sattler. Desenho dos autores
evidenciando os cinco edifícios propostos para a Praça Potsdamer; os dois mais altos definem o acesso à
Avenida Potsdamer que continua o eixo de simetria da Praça Leipziger.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
O desenho dos edifícios define
massas construídas de modo a acompanhar
o desenho das ruas e gerar vazios internos.
A projeção ortogonal dos edifícios coincide
com o limite frontal dos terrenos, tal como
era na cidade do início do século XX e nos
tempos anteriores. Os pátios internos
também remetem aos pátios da cidade
antiga, porém, no desenho apresentado por
Hilmer & Sattler, um sistema de
circulação exclusiva para pedestres
interligando os pátios internos.
116
Ilustração sobre desenho de Hilmer & Sattler evidenciando os espaços abertos, as áreas
preferenciais para pedestres, os principais ângulos visuais e a preservação do traçado histórico. Fonte:
Ilustração de Suzy Simon. Base: www.stadtentwickulung.berlin.de
O sistema viário mantém o traçado
histórico, porém potencializa o uso das vias
criando espaços arborizados. A proposta cria
também áreas abertas, gramadas ou
ajardinadas, que marcam espaços
contrastantes de cheios e vazios. Desse
modo, valoriza as áreas adensadas,
marcadas pelas ruas em forma de
corredores e possibilita espaços abertos de
onde é possível apreciar a composição dos
conjuntos de edificações. É uma proposta
que valoriza a paisagem urbana,
possibilitando a visualização de diferentes
perspectivas e a apreciação das fachadas
dos edifícios. Além disso, estabelece uma
situação contrastante entre o vazio da Praça
Leipziger e o adensamento da Praça
Potsdamer, favorável à geração de uma
117
tensão na dinâmica de percepção do espaço
urbano.
As duas áreas destinadas aos
pedestres, que compõem o espaço aberto
da Praça Potsdamer e estão localizadas em
frente ao acesso à Praça Leipziger, formam
uma praça seca cuja extensão em frente dos
edifícios portais da Avenida Potsdamer
possibilitam uma ampla visão dos cinco
edifícios que foram propostos para cada
uma das esquinas da praça. A amplitude do
espaço aberto diante das construções
valoriza suas fachadas, que podem ser
observadas a distância, favorecendo a
percepção da composição urbana proposta
no Plano de Massas de Hilmer & Sattler.
Praça Potsdamer em fotografia de 2001.
Fonte:www.stadtentwickulung.berlin.de
Praças Potsdamer e Leipziger conforme proposta de Hilmer & Sattler em desenho dos
autores apresentado no concurso.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
118
O sistema viário proposto por Hilmer
& Sattler considerou as necessidades
específicas do tráfego realizado de
diferentes modos. Foram criadas vias de
superfície e túneis para abrigar todos os
fluxos que cruzam ou se destinam às praças
e seus entornos. Dessa forma, carros
particulares, veículos de aluguel e de
transporte coletivo sobre rodas circulam na
superfície. Estacionamentos subterrâneos
foram previstos sob os edifícios e longos
trechos de áreas públicas. Um complexo
sistema de galerias subterrâneas abriga os
fluxos sobre trilhos. Sob a Praça Potsdamer
foi proposta uma estação de integração de
diferentes direções de fluxos sobre trilhos,
restabelecendo um importante ponto
referencial de Berlim, um cruzamento de
fluxos norte-sul com fluxos leste-oeste.
Fluxos leves, como de ciclistas e
pedestres, têm um tratamento especial na
proposta apresentada para o concurso.
Embora não haja o interesse de radicalizar
na separação entre pedestres e veículos,
aos pedestres foram dadas condições de
trafegar em caminhos exclusivos, projetados
como áreas de estar ao ar livre ou
protegidas por coberturas leves e
transparentes.
Irrigação dos fluxos de transporte público nas
Praças Potsdamer e Leipziger.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Desenho dos autores da estação subterrânea da
Praça Potsdamer.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
119
Arkaden - Passagem pública para pedestres.
http://www.fba.fh-darmstadt.de/lehrinhalte
Características da vizinhança
A Praça Leipziger limita-se a leste
com o centro histórico de Berlim, o qual,
embora tenha sido muito prejudicado pelas
ações destruidoras da Segunda Guerra
Mundial, manteve suas características
urbanas, conseguindo preservar seu traçado
histórico e uma considerável quantidade de
edifícios antigos.
Como havia a intenção, por parte da
administração da cidade, de criar nas
Praças Potsdamer e Leipziger uma ligação
entre os dois centros principais, a escolha
do partido adotado na Praça Leipziger foi
bem sucedida. Ele mantém sua volumetria
tradicional, o que favorece a integração com
seu entorno antigo, viabilizando a transição
da cidade histórica para a contemporânea.
Outro fator que possibilitou a transição
harmônica foi a inserção de edifícios
construídos com tecnologia atual. Mantendo
a volumetria e inserindo os novos
componentes tecnológicos, a mescla desses
dois elementos possibilita o prenúncio do
que está por vir, tanto para quem se dirige
ao centro histórico quanto para quem se
dirige à Praça Potsdamer. A Praça Leipziger
é o elo entre a estrutura antiga,
representada pelo centro histórico, e a
contemporânea, representada pela Praça
Potsdamer.
Praças Potsdamer e Leipziger em vista aérea na
direção leste.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
O limite ao norte é o Parque
Tiergarten, uma extensa área verde que
abriga jardins, zoológico, floresta, museu de
esculturas ao ar livre, monumentos e
importante estrutura viária composta,
basicamente, de eixos de ligação norte-sul e
leste-oeste, além de um intrincado sistema
de caminhos para passeio e ciclovias. A
proposta de usos para a Praça Potsdamer
contempla a instalação preferencial de
residências junto à divisa com o parque.
Segundo o júri do concurso, essa medida é
desejável, uma vez que a compatibilidade de
usos suaviza a transição entre o espaço
urbanizado e a área verde do Tiergarten,
além de proporcionar o desfrute de uma
área extremamente agradável em frente às
edificações residenciais. A proposta de
Hilmer & Sattler previu, para os terrenos da
divisa com o parque, edificações compondo
pequenas volumetrias isoladas. Isso foi
positivo, pois possibilitou não a
visualização do parque desde as edificações
internas da quadra, mas também favoreceu
a circulação do ar, amenizando a
concentração de elementos prejudiciais à
saúde na atmosfera da área adensada por
edificações e fluxo de veículos. O projeto
120
criou também um espaço aberto em forma
triangular entre duas áreas adensadas por
edificações, o que também favoreceu a
circulação dos ventos, conduzindo-os
diretamente à Praça Potsdamer.
Praças Potsdamer e Leipziger em vista aérea tendo ao fundo o Tiergarten.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A oeste da Praça Potsdamer situa-se
o Kulturforum: um conjunto de quadras que
comporta os mais importantes monumentos
arquitetônicos construídos após 1945,
destinados a atividades científicas, culturais
e de lazer da cidade. Abriga obras
arquitetônicas, tais como: a sede e a sala de
concertos da Orquestra Filarmônica de
Berlim, a Sala de Música de Câmara e a
Biblioteca, todas elas projetos de Hans
Schroun; a Nova Galeria, projeto de Mies
Van Der Rohe, e o Centro de Ciências,
projeto de James Stirling.
Vista aérea do Kulturforum e Avenida Potsdamer
a partir da Praça Potsdamer.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
O Kulturforum foi construído durante
a fase da cidade dividida, localizado, na
época, em área próxima ao Muro de Berlim.
A escolha do local foi alicerçada na
esperança de que um dia a divisão deixaria
de existir e que o Kulturforum
121
desempenharia um importante papel no
processo de rearticulação urbana da cidade.
Com a divisão, todos os equipamentos
culturais mais importantes ficaram no lado
oriental: museus, universidades, teatros,
óperas. Assim, a cidade ocidental ressentia-
se da carência desses equipamentos.
Na proposta de Hilmer & Sattler, os
terrenos limítrofes ao Kulturforum
receberam usos relacionados à cultura e ao
lazer mesclados com usos comerciais,
estabelecendo-se uma transição entre o uso
misto da Praça Potsdamer e o uso cultural
da área do Kulturforum.
Ao sul, o complexo da Praça
Potsdamer limita-se com o Landwerkanal.
Neste lado, foram introduzidos espelhos
d’água que fazem uma conexão do espaço
edificado com o elemento água, integrando
a artificialidade com a natureza do lugar.
É importante observar como na proposta
de Hilmer & Sattler foram sendo criados,
próximo às divisas das Praças Potsdamer e
Leipziger, espaços de transição que,
mesclando os usos existentes dos dois lados
da linha divisória, favoreceram uma suave
transição entre setores diferentes. Dessa
forma, os autores propiciaram a
concretização de um espaço edificado que
caracterizou o desejado elo entre os dois
centros da cidade: o centro histórico e o
novo centro do lado oeste. O projeto
caracterizou um padrão volumétrico
semelhante ao modelo americano de
verticalização aglomerada, inserido em um
contexto de cidade européia espacialmente
compacta. Neste setor, a proposta vai ao
encontro das determinações de
adensamento populacional e de usos da
Agenda 21, para as áreas comprometidas
com usos urbanos.
122
Configuração final da proposta Hilmer & Sattler, após a adaptação dos projetos dos investidores,
inserida na Maquete eletrônica de Berlim.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
As alterações promovidas no Plano
de Massas de Hilmer & Sattler deveram-se
às propostas dos arquitetos responsáveis
pelo desenvolvimento dos projetos
arquitetônicos dos edifícios que comporiam
a praça. Entre elas estão a superfície
aquática em forma triangular e as ligações
viárias desejadas entre as vias componentes
do triângulo viário da Praça Potsdamer com
a Avenida Potsdamer. Dessa forma, as
modificações realizadas não
comprometeram a proposta básica de
agenciamento espacial dos edifícios e sua
resultante paisagística, apenas promoveram
a priorização da circulação de pedestres e a
valorização visual da região do triângulo
aquático, integrando a água ao contexto da
Praça Potsdamer. Também foram
promovidas alterações em relação à
disposição de alguns dos edifícios nas
quadras, principalmente nos terrenos
próximos à inserção do triângulo aquático,
onde o remanejamento se fez necessário.
Porém, as modificações respeitaram o
123
princípio compositivo que determinou a
disposição de construções nas periferias dos
quarteirões, gerando os tradicionais pátios
internos das construções antigas.
Maquete das Praças Leipziger e Potsdamer, segundo a proposta de Hilmer & Sattler e após a intervenção dos
arquitetos dos edifícios.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Projetos arquitetônicos
O papel dos edifícios como
protagonistas do processo de construção da
paisagem urbana oferece um amplo campo
de investigação aos interessados no estudo
das paisagens construídas e de seus
significados para o entendimento dos
processos de construção do habitat
humanizado. No caso das Praças Potsdamer
e Leipziger, as intervenções dos arquitetos
que projetaram os edifícios foram
responsáveis pelas características visuais do
lugar. A composição paisagística predefinida
no Plano de Massas de Hilmer & Sattler
caracterizou-se pela tecnologia adotada
para a construção dos edifícios e pelas
soluções arquitetônicas de agenciamento
dos elementos componentes de suas
arquiteturas.
Na seqüência do texto, serão
apresentados os edifícios que compõem a
Praça Potsdamer e a Praça Leipziger e, em
seguida, as áreas abertas que participam de
sua composição espacial.
124
Praça Potsdamer
Os investidores que se instalaram na
área Sony, DaimlerChrysler, GSP, Otto
Beisheim, Bischoff & Compagnon, Bankhaus
Delbrück e ABB promoveram os concursos
para a seleção dos projetos arquitetônicos
que comporiam a Praça Potsdamer. Assim,
cada um dos terrenos pertencentes aos
investidores foi objeto de concurso
individual. A divisão das áreas da Potsdamer
Platz resultou em propostas arquitetônicas
diferenciadas que caracterizaram cada um
de seus setores por meio da cor, de
materiais construtivos, de configuração de
fachada e da criatividade de seus arquitetos.
A paisagem que se concretizou foi resultante
dos Planos de Massas que detalharam o
plano original da premiação de Hilmer &
Sattler e dos projetos desenvolvidos em
função deles. As áreas de cada um dos
investidores estão demonstradas nas cinco
figuras seguintes:
Debis-Areal – DaimlerChrysler
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Sony-Areal – SonyCenter – Sony
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Park Kolonnaden – ABB
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Mendelssohn-Bartholdy Park – GSP
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
125
Lenné-Dreieck – Otto Beisheim, Bischoff &
Compagnon e Bankhaus Delbrück
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Os arquitetos ganhadores dos
concursos dos detalhamentos dos Planos de
Massas para cada uma das áreas,
convidaram, segundo o interesse e a
necessidade, outros escritórios para
participar dos projetos dos edifícios. Em
alguns casos, houve participação de
diversos profissionais, o que resultou em um
maior dinamismo formal da paisagem
urbana.
DaimlerChrysler
O primeiro concurso foi realizado
pela DaimlerChrysler e tinha como objetivo a
seleção de um plano geral das construções
a ser elaborado sobre a base proposta por
Hilmer & Sattler. Conquistou o primeiro
prêmio o escritório dos arquitetos Renzo
Piano & Christoph Kohlbecker.
Potsdamer Platz DaimlerChrysler Debis-Areal -
Proposta de Renzo Piano & Christoph Kohlbecker.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A proposta de Renzo Piano &
Christoph Kohlbecker definia a situação de
19 edifícios, 10 ruas e 2 praças, conjunto
que foi todo construído em quatro anos. O
plano geral de construções situava uma
praça (Marlene-Dietrich-Platz) como ponto
atrativo da área, também denominada
Debis-Areal, onde foram agrupados: hotel,
banco, teatro musical, escritórios e
apartamentos. A praça foi localizada no final
da Rua Alte Potsdamer, na divisa com o
Kulturforum. As edificações que delimitam a
Potsdamer Platz do lado do Kulturforum
espelham uma semelhança formal com o
edifício da biblioteca de Hans Scharoun,
proporcionando uma integração com o
edifício que define o cenário no fundo da
Marlene-Dietrich-Platz. A outra praça altera
126
o desenho do Plano de Massas de Hilmer &
Sattler no limite do terreno com o
Landwerkanal, ponto onde insere uma
superfície aquática de forma triangular de
12.000 m
2
, denominada Wasserplatz (Praça
da Água). A disposição dos edifícios valoriza
os espaços intersticiais para uso dos
pedestres, assim como os pátios centrais
em torno dos quais se estrutura
espacialmente a maioria dos edifícios.
A partir do plano global de Renzo
Piano & Christoph Kohlbecker, seis
escritórios participaram da elaboração dos
projetos arquitetônicos dos edifícios: Kollhoff
+ Timmermann, Lauber & Wöhr, José Rafael
Moneo, Richard Rogers, Arata Isozaki e
Renzo Piano. Os edifícios projetados
apresentaram a criatividade pessoal de
cada autor. Alguns arquitetos projetaram
mais de um edifício, configurando conjuntos
de características formais similares.
Nas figuras apresentadas a seguir,
podem ser observados os resultados
materializados no espaço da Potsdamer
Platz e as composições volumétricas que se
estabeleceram no campo tridimensional. Os
edifícios projetados por Renzo Piano &
Christoph Kohlbecker compõem um
conjunto densamente ocupado por
construções com passagens dedicadas aos
pedestres. Uma delas foi proposta como
área de estar coberta por superfície
transparente, denominada de Arkaden,
através da qual se conectam edifícios de
lojas, serviços e escritórios.
Maquete da Debis-Areal - Renzo Piano &
Christoph Kohlbecker. Ao centro, a Rua Alte
Potsdamer Strasse.
Fonte: www.arqinform.net
Vista geral da Debis-areal, a partir da torre da
Potsdamer Platz.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Vista aérea da Rua Alte Potsdamer Strasse, ao
fundo a Praça Marlene-Dietrich-Platz, IMAX-Kino,
Teatro Musical e Biblioteca do Kulturforum. À
direita, projetos de Kollhoff + Timmermann,
Lauber & Wöhr e José Rafael Moneo. À esquerda,
projetos de Renzo Piano & Christoph Kohlbecker.
Fonte: www.moehrle.partner.de
127
Renzo Piano & Christoph Kohlbecker
Apartamentos.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Renzo Piano & Christoph Kohlbecker - Torre de
escritórios na Praça Potsdamer.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A torre de Renzo Piano tem 79 metros
de altura, 18 andares e fachada de vidro duplo
para isolamento rmico e acústico bem como
iluminão natural, permitindo assim, a
economia de energia. Como todos seus edicios,
recebeu revestimento cerâmico na cor terracota
clara, brises e muito vidro. O projeto
proporcionou a valorização da Pra Potsdamer
com uma forma inusitada da fachada da
esquina, na qual uma ponta avaa sobre o
espaço público reforçando a característica
formal do terreno.
Interior de quadra em edifício residencial.
Fonte: www.moehrle.partner.de
Renzo Piano & Christoph Kohlbecker – Complexo da
DaymlerCrysler e Praça da Água.
Fonte: www.alpine.bau.de
128
Renzo Piano & Christoph Kohlbecker
Musicaltheater, Nacht-Club, Café/Bar e Cassino.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Renzo Piano & Christoph Kohlbecker – IMAX-Kino
(cinema 3D)
Fonte: www.piano.imax.gr
Renzo Piano & Christoph Kohlbecker Torre de
escritórios financeiros e administração superior da
DaymlerCrysler na Praça da Água. Na esquina da
Marlene-Dietrich-Platz, foi instalado um Showroom da
Mercedes-Benz.
Fonte: www.photomondiale.com
Entrada da Arkaden – passarela coberta.
Fonte: www.stadtentwickulung.de
129
Vista interna da Arkaden. À esquerda, edifícios
de Richard Rogers.
Fonte: www.moehrle.partner.de
Praça Marlene-Dietrich-Platz
Fonte: www.berlin.citysam.de
Única construção antiga existente na Debis-
Areal, Haus Hut - foi construída em 1912 e
está localizada na Rua Alte Potsdamer. Strasse.
Fonte: www.alte.potsdamerstrasse.gr
Haus Hut vista do pátio interno, tendo à direita
um edifício de Renzo Piano & Christoph
Kohlbecker e, à esquerda, um de Richard
Rogers.
Fonte: www.haus-hut.de
Os edifícios projetados por Richard
Rogers compõem três blocos integrados à
Arkaden, com fachadas principais voltadas
para a Rua Linkstrasse. Abrigam escritórios
e apartamentos. Os edifícios são
construídos, basicamente, em aço e vidro,
compondo forma quadrangular com pátio
central. Estão inseridos no espaço
volumétrico designado pelo plano geral,
porém criam, com escalonamentos
diagonais, um dinamismo formal nas
fachadas voltadas para a rua, nas quais foi
utilizada cor vibrante para destacar detalhes
formais.
Richard Rogers – apartamentos
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
130
Richard Rogers – apartamentos.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Richard Rogers –Escritórios da DaymlerCrysler
Fonte: www.360-berlin.de
Richard Rogers – Escritórios da DaimlerCrysler
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Richard Rogers –Escritórios da DaimlerCrysler
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Kollhoff + Timmermann Torre de apartamentos
e escritórios na Potsdamer Platz
Fonte: www.potsdamerplatz.kollhoffturm.gr
131
A torre da Potsdamer Platz,
projetada por Kollhoff + Timmermann, com
seus 105 metros de altura, ocupa lugar de
destaque na nova arquitetura berlinense. É
um edifício de cor escura que estabelece um
forte contraste com seu entorno.
Aparentando peso visual, contracena com a
leveza envidraçada das torres de Renzo
Piano & Christoph Kohlbecker e de Helmut
Janh, todas localizadas nas esquinas
previlegiadas da Praça Potsdadmer.
Ao centro, a torre de Kollhoff + Timmermann em
contraste com as torres de Helmut Janh à direita e de
Renzo Piano & Christoph Kohlbecker à esquerda.
Fonte: www.embers-surfeu.de
O escritório de arquitetura Lauber &
Wöhr projetou três edifícios na Praça
Potsdamer: um centro de cinemas com 19
salas de projeção e um hotel (Mandala
Hotel), um prédio de uso misto com 49
apartamentos, cafés e restaurantes no
térreo e outro edifíciode apartamentos. O
acabamento das fachadas dos edifícios de
Lauber & Wöhr também é feito em cerâmica
terracota, porém de tom mais escuro que o
usado nos edifícios de Renzo Piano. O
projeto mantém a horizontalidade do
desenho proposto para as fachadas dos
demais edifícios.
Lauber & Wöhr
Apartamentos.
Fonte:
www.stadtentwickulung.
berlin.de
Lauber & Wöhr Apartamentos, cafés e
restaurantes.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Lauber & Wöhr – CinemaxX e Mandala Hotel
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
O arquiteto Arata Isozaki projetou o
edifício de escritórios do Berliner Volksbank,
132
o qual recebeu a sofisticação de um jardim
interno com design japonês. É um edifício
que contrasta com o conjunto da vizinhança
por ter recebido cores claras (branco e azul)
no revestimento externo e apresentar
uniformidade de textura em suas duas
longas fachadas.
Arata Isozaki – Berliner Volksbank
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Arata Isozaki – Berliner Volksbank
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Arata Isozaki Berliner Volksbank jardim
japonês.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Rafael Moneo projetou dois edifícios
na Posdamer Platz, um para escritórios e
outro para um hotel (Hyatt Hotel). Neste
último, a fachada voltada para a Rua Alte
Potsdamer Strasse curva-se discretamente,
abrindo campo visual para o edifício da
Praça Marlene-Dietrich-Platz.
Rafael Moneo - Hyatt Hotel- Alte Potsdamer
Strasse. Fonte:
www.bcl-leipzig.de/heras/referenz.htm
133
Rafael Moneo - Hyatt Hotel e edifício de
apartamentos.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Para a Debis-Areal, adotou-se como
predominante uma variedade de nuances da
cor terracota no revestimento cerâmico das
fachadas. As exceções ficaram para as
obras de Arata Isozaki e Richard Rogers,
porém em comum todos trabalharam com
jardins centrais em seus edifícios. A alta
densidade construtiva foi amenizada com a
presença da vegetação inserida nos
pequenos espaços abertos que viabilizaram
sua sobrevivência. O ponto de encontro mais
significativo para a população local é a
Arkaden, graças à conexão que possibilita
entre vários edifícios de diferentes usos, à
ambientação agradável e à existência de
bares e restaurantes para favorecer o
encontro. Os eventos culturais concentram-
se na Marlene-Dietrich-Platz, que funciona
como um palco ao ar livre, onde são
apresentados espetáculos teatrais e
grandes eventos musicais.
Outro detalhe a observar é a
predominância da marcação das linhas
horizontais em todos os edifícios denotando
aplicação do conhecimento das teorias da
Gestalt na estratégia compositiva da
paisagem. A composição das fachadas induz
a percepção das distâncias, criando uma
ilusão de amplitude espacial. Os dois
conjuntos verticais, um na Praça Potsdamer
e outro na Wasserplatz (Praça da Água), são
os marcos delimitadores da área da Debis-
Areal e os elementos simbólicos do poder da
DaymlerCrysler no contexto econômico da
cidade de Berlim.
Debis-Areal – vista do parque.
Fonte: www. dilysoftt.de
Marlene-Dietrich-Platz
Fonte: www. Marlene-Dietrich-Platz.de
Passeio público na entrada da Arkaden.
Fonte: www.moehrle.partner.de
Sony-Center
Helmut Jahn venceu o concurso de
agosto de 1992 para a escolha do projeto
arquitetônico da área de investimento da
Sony. Sua proposta, assim como a de Renzo
Piano & Christoph Kohlbecker, também
promoveu algumas alterações no Plano de
Massas de Hilmer & Sattler. Isso demonstra
134
que o plano de massas é uma concepção
geral da volumetria da paisagem e fornece
diretrizes gerais que devem ser cumpridas,
porém não é um rígido definidor das formas
dos edifícios e, menos ainda, um
impedimento à criatividade dos arquitetos.
Assim, a proposta apresentada alterou a
praça de forma quadrangular do centro da
área, propondo um círculo coberto por uma
estrutura em aço e lona translúcida a 70
metros de altura. Os edifícios em blocos
retilíneos foram substituídos por edifícios
curvos, formando um círculo no centro do
quarteirão. Porém, o projeto respeitou a
diretriz de manutenção das edificações ao
longo do alinhamento externo da quadra,
preservando as perspectivas paisagísticas
preestabelecidas.
Sony-Areal - Projeção dos edifícios segundo
projeto de Helmut Jahn.
(1) Sony Professional Center (2) Sony, Sanofi-
Synthelabo (3) Deutsche Bahn
(4) Filmhaus ZOON.COM, webfreetv.com, Billy
Wilder’s
(5) Sony Style Store, CineStar IMAX, CineStar
Original, Alex, Forum Appartements
(6) Lindenbräu (7) Sony Music, Corroboree, Le
Comptoir
(8) Café Josty, Kaisersaal, Esplanade
Residence (9) Passerelle
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Enquanto Renzo Piano & Christoph
Kohlbecker adotaram a tradicional
estratégia berlinense de proporcionar a
unidade na diversidade, convidando cinco
escritórios para participar da elaboração dos
projetos arquitetônicos dos edifícios da área
do investidor DaymlerCrysler, Helmut Jahn
optou por manter a uniformidade na
concepção da área do investidor Sony. A
concepção dos edifícios em estruturas de
aço, tendo como cor predominante o cinza
metálico, proporcionou intenso contraste
com as construções da área da
DaimlerCrysler. A disposição das edificações
permitiu um inter-relacionamento entre os
edifícios e espaços abertos. Há um contraste
entre os elementos tecnológicos
componentes da arquitetura e a vegetação
que permeia todos os espaços destinados
às passagens de pedestres.
135
Maquete eletrônica – Sony-Areal – Helmut Jahn
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Sony-Center – Helmut Jahn.
Fonte: www.moehrle.partner.de
Sony-Center – Helmut Jahn
Fonte: www.motivschimiede.de
Sony-Center – Helmut Jahn.
Fonte: www.moehrle.partner.de
A praça circular é o elemento em
torno do qual se organiza a distribuição dos
136
edifícios e o principal local de encontro para
os visitantes do lugar. A estrutura espacial é
surpreendente, a proteção oval que lembra
um guarda-chuva cobre todo o espaço da
praça, promovendo uma situação inusitada
no espaço público da cidade. A cobertura
em aço e lona recebeu uma iluminação
noturna especial para que fosse um
acontecimento visível a distância na
paisagem da cidade. A proposta de Helmut
Jahn denota a busca de um efeito visual
espetacular, que supera a expectativa geral
em relação à configuração dos edifícios de
Berlim.
Sony-Center – Helmut Jahn.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Sony-Center –Praça circular - Helmut Jahn
www.viaggiaresempre.it/Berlino_SonyC1.
Sony-Center – Helmut Jahn.
www.viaggiaresempre.it/Berlino_SonyC1
O Sony-Center ocupa 26.500 m
2
com usos mistos (moradia, serviços e lazer),
distribuídos em quatro edifícios de
escritórios, 201 apartamentos e vários
espaços dedicados à cultura e ao
entretenimento, como por exemplo, o
CineStar Original com oito telas de projeção,
a SonyStyle Store e a Filmhaus com o
Museu do Cinema e a coleção de filmes da
diva Marlene Dietrich.
O complexo arquitetônico Sony-
Center é uma obra de arte arquitetônica, na
qual os reflexos, os brilhos, as
transparências e a leveza visual da estrutura
em aço proporcionam a relação imagética
com a cidade futurista que atualmente
permeia o pensamento dos idealizadores da
nova Berlim. Uma cidade voltada para o
século XXI, para um futuro possível de ser
construído, talvez como compensação de
um passado excessivamente tumultuado e
equivocado. Uma nova sociedade que se
reestrutura sob novas bases de
relacionamento político e econômico com as
137
demais nações do planeta, que busca na
cooperação entre os países europeus uma
nova ordem mundial, que visa ter destaque
internacional no contexto das cidades
globalizadas e que faz de sua arquitetura
um diferencial para destacar seu potencial
tecnológico.
A cidade é a protagonista do atual
momento histórico da sociedade alemã.
Berlim é uma obra que permite transparecer
um ideal de vida urbana e demonstra o valor
atribuído ao espaço urbano integrado aos
edifícios. Desse ideal decorre a quadra que
elimina o tráfego de veículos em seu interior
ao colocar os estacionamentos no subsolo,
que prioriza o pedestre e possibilita a
realização de atividades de entretenimento
ao longo das passagens e a praça que
compõe as áreas públicas envoltas pelas
edificações. É um novo conceito urbanístico
que se delineia com o complexo da
Potsdamer Platz. Os edifícios configuram os
espaços públicos, que são áreas integrantes
do conjunto edificado, estabelecendo com
ele estreito relacionamento. uma
permeabilidade espacial entre o público e o
privado cujo limite é, por vezes,
imperceptível.
Sony-Center – Helmut Jahn.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Sony-Center – Helmut Jahn.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Porém, o edifício de maior destaque
da área de investimento da Sony é a torre de
aço e vidro localizada no vértice da
Potsdamer Platz, um edifício de 103 metros
de altura que abriga os escritórios da
Deutsche Bahn.
138
Sony-Center – Helmut Jahn
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Uma construção antiga,
parcialmente arruinada, que abrigou o
GrandHotel Splanade, foi incorporada ao
complexo edificado da Sony e, atualmente,
abriga o Café Josty, a revitalizada
Kaisersaal e o Esplanade Residence. A
presença da ruína demonstra a importância
dada aos testemunhos do passado na
cultura alemã. A relação entre passado e
presente permanece como uma constante
por todos os espaços revitalizados e
reconstruídos da cidade.
Helmut Jahn – Esplanade Residence.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Sony-Center – Helmut Jahn.
www.viaggiaresempre.it/Berlino_SonyC1.
As frestas que permitem a
visualização das ruas e os portais que
possibilitam o ingresso aos espaços
interiores da quadra sugerem uma situação
de abrigo, recinto particular, onde o espaço
é público, de livre circulação. um jogo de
ilusões reforçado pelos reflexos dos
ambientes e acentuado pela aparência
futurista da edificação. É uma composição
arquitetônica que trabalhou com elementos
de organização espacial que produziram,
como resultado, um contexto surpreendente
e inovador.
139
Sony-Center Helmut Jahn - Portal de acesso à
praça central.
www.viaggiaresempre.it/Berlino_SonyC1.
Sony-Center – Helmut Jahn.
Fonte: www2.flickr.com
A noite possibilita um outro
espetáculo protagonizado pelas cores
luminosas. As luzes artificiais criam efeitos
de aparência ainda mais tecnológica à
ambiência gerada pela composição
arquitetônica de Helmut Jahn. É quando a
paisagem urbana se transforma e se
desmaterializa diante dos olhos
deslumbrados de seus apreciadores
Sony-Center – Helmut Jahn.
Fonte: www2.flickr.com
Sony-Center – Helmut Jahn
www.fotocommunity.com
ParK Kolonnaden e
Mendelssohn-Bartholdy-Park
Outro grande investidor da
Potsdamer Platz foi o grupo ABB, que
realizou um concurso para selecionar o
Plano de Massas de sua área em 1993. O
ganhador, Giorgio Grassi, apresentou uma
proposta de desenho em que os blocos de
edifícios se mantiveram dentro da mesma
projeção vertical estabelecida no Plano de
Massas de Hilmer & Sattler, porém o autor
criou livremente os pontos de contato entre
as praças internas e o espaço público das
ruas do entorno. A passagem para pedestres
140
instituída no meio da quadra promove a
integração dos fluxos entre os edifícios. Aqui
também se percebe a valorização da
circulação dos pedestres. O autor manteve
as alturas preestabelecidas para as
construções, realçando o edifício da
Potsdamer Platz. Previu a utilização da cor
terracota escura e a dominância horizontal
nos detalhes das fachadas. Para
desenvolver os projetos dos edifícios, foram
convidados três escritórios: Schweger &
Partner, Jürgen Sawade e Diener & Diener.
O edifício de ponta de quadra, projeto de
Schweger & Partner, tem altura de 45
metros, conforme as determinações do
Plano de Massas de Hilmer & Sattler, está
voltado para a Potsdamer Platz e colabora
com o cenário local quando aciona sua
extensa fachada digital.
Potsdamer Platz: ao centro, o parque urbano
Tilla-Durieux-Park e, à esquerda, as edificações
do Park Kolonnaden da ABB.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Potsdamer Platz - ParK Kolonnaden
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
141
Potsdamer Platz - ParK Kolonnaden.
Fonte: www.stadtentwickulung.de
Potsdamer Platz - ParK Kolonnaden Arq. Schweger & Partner - Fachada digital
Fonte: www.dradio.de
O Park Kolonnaden ocupa a porção
norte da área retangular lindeira, a oeste, do
Tilla-Durieux-Park. Ao sul, na propriedade do
investidor GSP, foram construídos três
edifícios formando um conjunto denominado
Mendelssohn-Bartholdy-Park. Os edifícios
foram planejados conjuntamente pelos
escritórios: Hilmer & Sattler, Reichel +
Stauth e Schweger & Partner. O uso misto
proporciona a convivência de moradias,
escritórios e hotel. Os brancos edifícios
propostos contrastam com o escuro Park
Kolonaden, criando, ao longo do Tilla-
Durieux-Park, uma situação de clara
identificação de cada território. É
interessante observar como o jogo de
fachadas semelhantes, em termos de
volumetria e linearidade horizontal, vai
compondo uma paisagem legível por meio
de acentuados contrastes de cor.
142
Potsdamer Platz - Mendelssohn-Bartholdy-Park - Hilmer & Sattler, Reichel + Stauth e Schweger & Partner.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Lenné-Dreieck
A área denominada Lenné-Dreieck
possui configuração triangular. O Plano de
Massas das edificações foi desenvolvido
pelo escritório Hilmer & Sattler e as
alterações do plano original foram pequenas
adequações aos usos. A estrutura geral gira
em torno de um passeio para pedestres,
localizado como eixo de bissetriz de um dos
ângulos da Praça Potsdamer, que promove a
ligação direta entre ela e o Parque
Tiergarten. Fica, assim, caracterizada a
valorização do corredor público de uso
exclusivo para pedestres como indutor de
direção, recurso adotado no contexto geral
da Potsdamer Platz.
A área Lenné-Dreieck contou com
três investidores: Otto Beisheim, Bischoff &
Compagnon e Bankhaus Delbrück. Cada um
construiu um setor do conjunto
arquitetônico da área, porém seguiram
diretrizes formais que promoveram a
homogeneidade compositiva das fachadas
dos edifícios. Especialmente para os dois
prédios voltados para a Praça Potsdamer
ficou predeterminado: altura de 70 metros,
cor branca, escalonamento e simplicidade
de detalhes. A intenção era proporcionar o
desejado contraste com as outras três torres
e promover a valorização recíproca de suas
estruturas. A neutralidade clássica dos
edifícios do Ritz-Carlton-Hotel, de Hilmer &
Sattler, e do DelBrückbank, de Hans
Kollhoff, confere sobriedade à paisagem da
Potsdamer Platz.
143
À esquerda, o Ritz-Carlton-Hotel, de Hilmer & Sattler, e, à direita, o DelBrückbank, de Hans Kollhoff.
Em primeiro plano a cobertura do acesso da estação do metrô.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
1- Investidor: Otto Beishheim
Frente: Ritz-Carlton-Hotel.
Arquiteto: Hilmer & Sattler
Direita: Marriott-Hotel. Arquiteto:
Bernd Albers.
Escritórios. Arquiteto:
Modershon & Freiesleben
2- Investidor: Bankhaus Delbrück
Frente: DelBrückbank. Arquiteto:
Hans Kollhoff
3- Investidor: Bischoff &
Compagnon
Fundo: 5 Stadtville (vilas
urbanas). Arquitetos: Edwin
Effinger, Schwerger & Partner, e
Collignon & Fischötter
Lenné-Dreieck – Plano de Massas e Investidores
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Vale observar a semelhança da
proposta das cinco vilas urbanas,
localizadas no lado contíguo ao Parque
Tiergarten, com a proposta de Rob Krier
para o quarteirão da Rauchstrasse para o
evento da IBA-Berlin 87. As edificações
verticais permitem a passagem do vento
proveniente do parque, o que favorece a
temperatura e a umidade dos edifícios
localizados no interior da quadra.
144
Lenné-Dreieck. Stadtville.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Lenné-Dreieck. Stadtville.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Assim como os outros quarteirões da
Potsdamer Platz, o Lenné-Dreieck apresenta
alta densidade de utilização do solo. A mesma
quantidade de usos e população poderia ser
acomodada em uma estrutura edificada que
permitisse uma maior porcentagem de
espaços abertos livres de constrões. A
estratégia, porém, é intensificar a utilização do
solo de forma que seja criada maior
quantidade de acessos aos edicios, pois
assim a circulação de pedestres é induzida e a
dinâmica de utilização dos espaços abertos
torna-se mais acentuada. Além disso, a
mesma quadra abriga habitações, corcio e
serviços, incluindo lazer. Disso resulta um uso
permanente dos espaços públicos,
independentemente dos turnos das jornadas
de trabalho.
Potsdamer Platz - Lenné-Dreieck: Ritz-Carlton-
Hotel e DelBrückbank.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A configuração dos edifícios do
Lenné-Dreieck localizados na Praça
Potsdamer tem semelhança com os edifícios
que delimitam a Leipziger Platz. Dessa
forma, instaura-se um diálogo formal entre
as duas localidades sem criar uma situação
de homogeneidade, uma vez que as alturas
e as massas volumétricas dos edifícios da
Praça Potsdamer apresentam maior porte e
estabelecem forte contraste com os edifícios
com os quais confrontam: as torres dos
arquitetos Helmut Jahn, Renzo Piano e Hans
Kollhoff.
Espaços abertos da Potsdamer Platz
São aqui considerados espaços
abertos aqueles com uso específico para o
lazer, seja ele contemplativo ou ativo. São
espaços reservados para exercer função
ambiental de circulação de ar e entrada de
145
luz solar e para o sistema viário, destinado à
circulação de veículos. Na proposta
urbanística de Hilmer & Satller, todo espaço
aberto é de uso público.
Na área da Potsdamer Platz, os
espaços abertos são diversificados em
formas e funções: praças, parques e
avenidas, além de espaços intersticiais aos
edifícios. Todos receberam um tratamento
exemplar; assim como os edifícios, foram
objeto de concurso para escolha de seus
projetos paisagísticos. Dentre as vias
destinadas à circulação de veículos,
destacam-se a Avenida Potsdamer Strasse e
a Alte Potsdamer Strasse, ambas
arborizadas e dotadas de largos passeios
públicos e pistas separadas para fluxos
contrários.
Os dois parques, Tilla-Durieux-Park e
Henriette-Herz-Park, receberam tratamento
paisagístico semelhante, com a
predominância de um extenso gramado.
Dessa forma, permitem a visualização a
distância dos edifícios que compõem a
paisagem da Potsdamer Platz, o que, por
meio do contraste entre o espaço vazio e a
densidade do espaço construído, valoriza a
característica compacta da paisagem.
A forma linear do Tilla-Durieux-Park
foi acentuada no projeto paisagístico, no
qual aléias arborizadas ao longo dos
passeios de pedestres localizados junto às
ruas que o delimitam. O parque possibilita
uma amplitude visual de longa distância
para o observador que se posicionar em
qualquer uma de suas extremidades.
1 - Tilla-Durieux-Park 2 - Henriette-Herz-Park
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Tilla-Durieux-Park e o conjunto arquitetônico da
Debis-Areal.
Fonte:
www.stadtentwickulung.berlin.de
Tilla-Durieux-Park perspectiva do concurso do
projeto paisagístico
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
146
Tilla-Durieux-Park desenho para o concurso do
projeto paisagístico.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Tilla-Durieux-Park vista a partir da Potsdamer
Platz.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Tilla-Durieux-Park vista a partir do Landwerkanl
– maquete.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
O Henriette-Herz-Park é uma
superfície triangular gramada e recortada
por caminhos para pedestres. Localizado
entre o Lenné-Dreiek e o Sony-Center,
possibilita ampla visualização dos conjuntos
arquitetônicos que compõem essas duas
quadras. Assim como o Tilla-Durieux-Park é
um espaço contemplativo e com função de
amenização ambiental. Os espaços
destinados ao encontro e ao estar das
pessoas são as praças e os passeios
públicos convertidos em largos e passagens
para pedestres, os quais compõem áreas
protegidas dos rigores climáticos da região.
147
Henriette-Herz-Park à direita, o Sony-Center e,
à esquerda, o Lenné-Dreiek.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Henriette-Herz-Park e o Sony-Center.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
três praças abertas e uma praça
coberta. A praça coberta é a do Sony-Center.
Equipada com espelho d’água e mobiliário
de estar, permite completa interação entre o
espaço público e as áreas privativas dos
edifícios. É um ponto de encontro tanto para
os moradores locais quanto para os turistas
e os berlinenses moradores de outros
bairros. Inova no sentido de que apresenta
uma cobertura fixa sobre uma área pública
de grandes dimensões. O que poderia
caracterizar uma apropriação particular de
um bem público é visto, neste caso, como
uma contribuição do investidor que concede
um benefício à coletividade, patrocinando
um espaço de qualidade privada para uso
público.
Sony-Center – Praça central coberta.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Além da praça coberta, o complexo
da Sony apresenta extensões descobertas
da praça central, que são ajardinadas e
propiciam espaços de descanso e
contemplação para os transeuntes do lugar.
Sony-Center Extensões descobertas da praça
central.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A Praça Potsdamer, ou Potsdamer
Platz, é o espaço de maior importância
histórica do conjunto, pois constitui o
resgate de um dos lugares mais importantes
da cidade antes da Primeira Guerra. Foi
concebida como uma ampla calçada que
permite a visualização das torres mais
imponentes da arquitetura que caracteriza o
148
lugar. É ponto de confluência de fluxos de
veículos públicos e particulares e gera
intensa circulação de pessoas.
Potsdamer Platz Entrada da estação do Metrô;
em segundo plano, a Lenné-Dreiek e, à
esquerda, a torre da Sony.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Potsdamer Platz – vista aérea em 2003.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A Praça Platz am Beisheim-Center
está localizada no centro do Lenné-Dreiek e
compõe um espaço ambientado com
árvores, espelho d’água, escultura e
mobiliário de estar destinado ao convívio de
moradores e freqüentadores dos edifícios do
entorno. Como não área destinada ao
comércio regional em suas imediações, a
freqüência é de interesse quase que dos
usuários dos edifícios localizados em sua
proximidade.
Lenné-Dreiek - Platz am Beisheim-Center.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Os espaços públicos da Potsdamer
Platz são utilizados para a promoção de
manifestações artísticas em diversas
modalidades, tanto para artistas locais
quanto estrangeiros. Assim, mantém-se a
dinâmica do movimento de pessoas e esses
espaços são inseridos no circuito lúdico da
cidade.
149
Instalação na Potsdamer Platz.
Fonte: www.viaggiaresempre.it
Marlene-Dietrich-Platz
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A Praça Marlene-Dietrich-Platz é uma
plataforma pavimentada, localizada em
frente da edificação do Cassino e Teatro
Musical. O local abriga apresentações
artísticas ao ar livre em palcos provisórios
que são montados durante os eventos. Na
plataforma pavimentada, de um rasgo no
chão surge um espelho d’água que forma a
Wasserplatz. Mais uma vez o amplo vazio
contrasta e valoriza o conjunto de edifícios
dispostos de modo que compõem a alta
densidade de ocupação do solo. A
proximidade entre os edifícios cria espaços
públicos de caráter intimista. A alternância
de cheios e vazios proporciona a visibilidade
urbana dos conjuntos edificados e evidencia
a amplitude espacial das praças e parques
urbanos.
Wasserplatz e Tilla-Durieux-Park, ao centro a
Debis-Areal do arquiteto Renzo Piano.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Praça Leipziger
Após o concurso de 1991, a Praça
Leipziger (Lepziger Platz) foi objeto de
realização de concursos para cada um dos
edifícios que seriam construídos segundo o
plano de massas de Hilmer & Sattler. Ao
todo foram construídos 11 edifícios
independentes e um conjunto denominado
TLG-Areal, composto por quatro edifícios e
um passeio para pedestres denominado
Promenade am Bundesrat.
As diretrizes formais para a Leipziger
Platz consistiram na determinação de
fachadas de composição tripartida
horizontal, dominância de linhas horizontais
e cores claras. A seção superior deveria ter
150
fachada recuada em relação ao plano das
duas seções inferiores, estas construídas no
alinhamento da área pública. Os dois
estratos inferiores seriam limitados a 22
metros de altura, os quais, somados ao
estrato superior, determinaram altura
uniforme igual a 33 metros.
Praça Leipziger (Leipziger Platz) espaço aberto
que caracteriza o conjunto arquitetônico em
discussão.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A Praça Leipziger compreende além
do octógono central também seu entorno
imediato. O octógono representa sua forma
histórica e foi planejado como um espaço
aberto arborizado e de caráter
contemplativo. Para as atividades sociais de
lazer, foram criados espaços intersticiais no
interior das quadras e próximos aos
edifícios.
Foram vencedores dos concursos
patrocinados pelos 12 investidores e
construtores os seguintes projetos: Sony,
MM Management, KapHag, IVG/Botag,
Knauthe, Züblin, TLG-Areal, DG-Immobilien,
Mossepalais, AvD, Kanadische Botschaft e
DER. Coordenados pela administração
pública da cidade, configuraram uma
imagem muito próxima da composição
arquitetônica original da Praça Leipziger.
Uma arquitetura de feições contemporâneas
curva-se à memória do lugar, estabelecendo
um diálogo entre passado e presente, em
que a paisagem histórica é recriada por
meio de um desenho volumétrico, no qual o
detalhe da caracterização dos três estratos
das fachadas de alturas uniformes e
marcação horizontal é o condicionante
compositivo que remete à forma do passado
histórico.
Leipziger Platz em vista aérea. Potsdamer Platz e
Tiergarten.
Fonte: www.buenck.fehse.com
Para o lado sul do octógono foram
projetados seis edifícios seriados, que
abrigam usos independentes de moradia e
escritórios.
1
Sony
Fonte:
www.stadtentwickulung
.berlin.de
151
1- Sony
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A fachada caracteriza três
composições verticais que criam a ilusão de
três edifícios diferentes, mantendo a
característica histórica dos edifícios de
fachadas estreitas. Projeto do escritório de
arquitetura Müller & Reimann.
2
MM Management
Fonte:
www.stadtentwickulung
.berlin.de
2- MM Management
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A fachada, com forte marcação
horizontal criada por meio de brises,
apresenta, no estrato superior, uma
dominância de superfícies em vidros em
contraste com as pequenas aberturas do
estrato central. No térreo, uma colunata
define o estrato inferior, onde há uma
passagem para pedestres que possibilita o
acesso ao pátio e à rua do fundo. Projeto do
escritório de arquitetura KSP Engel &
Zimmermann.
3
KapHag
Fonte:
www.stadtentwickulung
.berlin.de
152
3- KapHag
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A fachada tripartida apresenta
vidraças côncavas. No térreo, caracterizado
por um conjunto de portais em pedras
claras, uma passagem para a rua
posterior. No centro estão os escritórios e no
estrato superior, as moradias. Projeto do
escritório de arquitetura Hilmer & Sattler.
4
IVG-Botag
Fonte:
www.stadtentwickulung.
berlin.de
4- IVG-Botag
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Edifício em ângulo que define um
eixo de simetria para a distribuição dos
elementos de composição das fachadas.
forte marcação horizontal no estrato central
onde se localizam os escritórios. Projeto do
escritório de arquitetura Christoph Langhof.
5
Knauthe
Fonte:
www.stadtentwickulung.
berlin.de
153
5- Knauthe
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A fachada combina concreto, metal e
vidro com marcação horizontal ao centro e
duas faixas verticais simetricamente
distribuídas nas laterais onde predominam o
metal e o vidro. Mantém o mesmo desenho
no estrato central e no superior. Projeto do
escritório de arquitetura Axel Schultes
6
Züblin
Fonte:
www.stadtentwickulung.
berlin.de
6- Züblin
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A fachada clara fecha o lado leste da
parte sul do octógono. A redução das
aberturas nos quatro andares do estrato
superior proporciona maior leveza ao
edifício. Projeto do escritório de arquitetura
Walter A. Noebel.
Os projetos do lado norte do
octógono são cinco edifícios independentes
e o conjunto da TLG-Areal.
1
DER
Fonte:
www.stadtentwickulung
.berlin.de
154
1- DER-Deutsche Reisebüro GmbH
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A fachada do DER- Deutsche
Reisebüro, voltada para o lado do octógono,
apresenta uma alternância de aberturas
regulares no estrato superior, mantém o
desenho da composição e a volumetria
preestabelecida como tripartida. Utiliza a cor
branca em contraste com o edifício vizinho.
Projeto do escritório de arquitetura Rave &
Partner.
2
Kanadische Botschaft
Fonte:
www.stadtentwickulung
.berlin.de
2- Kanadische Botschaft
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A embaixada do Canadá
(Kanadische Botschaft), construída antes do
DER- Deutsche Reisebüro, como mostra a
foto anterior, apresenta em sua fachada
voltada para o octógono uma estrutura
compositiva de acordo com as
determinações estabelecidas pelas
diretrizes do plano de massas. Porém, o
edifício apresenta fachadas voltadas para
outras ruas, nas quais não se adota o
esquema da tripartição. A cobertura
recebeu um tratamento de grafismo artístico
e a fachada externa à Praça Leipziger
recebeu forte marcação vertical. Projeto do
escritório de arquitetura Kuwabara Payne
Mc Kenna.
2- Kanadische Botschaft vista externa à Praça
Leipziger.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
155
2- Kanadische Botschaft – vista aérea
www.dfait-maeci.gc.ca
3
AvD
Fonte:
www.stadtentwickulung
.berlin.de
3- AvD (o edifício claro)
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
O edifício da AvD é um dos mais
simples no conjunto da Leipziger Platz.
Reproduz fisicamente as determinações das
diretrizes do concurso, sem criar detalhes de
diferenciação entre as aberturas do estrato
superior e o central. A comparação entre sua
fachada e as fachadas de seus vizinhos
mostra que é possível criar diferentes
formas na aparência das edificações,
mantendo o respeito às determinações
institucionais que definem uma estratégia
de composição da paisagem urbana. Não é
necessário, portanto, uniformizar e
despersonalizar cada um dos edifícios para
alcançar o objetivo de harmonização da
paisagem do presente com a paisagem do
passado, que poderá continuar existindo
como reminiscência tanto na memória
quanto na essência compositiva da imagem
atual. Projeto do escritório de arquitetura
Baumann & Partner.
4
Mossepalais
Fonte:
www.stadtentwickulung
.berlin.de
4- Mossepalais
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
O edifício localiza-se no terreno onde
anteriormente ficava a histórica residência
156
de Rudolf Mosse. A edificação ocupa o
centro do lado norte do octógono. Como um
eixo divisor de simetria, permitiu-se uma
singularidade no conjunto edificado da
Leipziger Platz. É uma fachada de cor escura
que adota um detalhe de cobertura que
distingue o edifício no contexto geral e faz
alusão ao palácio que existiu no seu lugar.
Projeto do escritório de arquitetura Strauch
& Gallagher.
5
DG-Immobilien
Fonte:
www.stadtentwickulung
.berlin.de
5- DG-Immobilien
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A fachada branca, simétrica e de
linhas clássicas é um traço marcante na
nova arquitetura berlinense. Adota como
elemento de detalhe um guarda corpo
metálico, que serve como proteção para o
balcão sobre o estrato central da fachada
tripartida. Projeto do escritório de
arquitetura Jan Kleihues.
6
TLG-Areal
Fonte:
www.stadtentwickulung
.berlin.de
TLG-Areal
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
O conjunto edificado do investidor
TLG apresenta fachadas voltadas para a
área do octógono, porém seu maior
perímetro encontra-se voltado para as
Avenidas Leipziger Strasse e Voss Strasse.
Os edifícios configuram pátios
internos e passagens para pedestres que
estabelecem uma rede de caminhos e
espaços públicos abertos, destinados ao
encontro e ao lazer. A valorização da
circulação de pedestres converte a TLG-
Areal em um conjunto de espaços
157
agradáveis, do ponto de vista da
ambientação dos espaços públicos. Mais
uma vez, percebe-se o estreito
relacionamento entre áreas de domínio
público e de domínio privado. O uso do
espaço é comunitário, porém sua
construção e a manutenção são privadas.
O edifício do Conselho Federal
(Bundesrat) localiza-se na Avenida Leipziger
Strasse, que divide o octógono ao meio. Em
frente a ele foi construído um caminho para
pedestres denominado Promenade am
Bundesrat, um importante eixo de circulação
e conexão para a TLG-Areal.
6- TLG-Areal
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A densidade construtiva urbana
favorece a criação de espaços abertos
intersticiais de grande potencial de
utilização. A circulação de pessoas nesses
locais se torna intensa, favorecida também
pela adoção de uso misto de moradias e
escritórios. Trabalho, moradia e lazer em
uma mesma quadra, e até mesmo em um
único edifício, é uma estratégia
recomendada pela Agenda 21 como fator
redutor de deslocamentos urbanos,
conseqüentemente, poupador de energia e
gerador de sustentabilidade econômica e
ambiental.
6a
Leipziger Platz 12 -
Wertheim-Areal
Fonte:
www.stadtentwickulung
.berlin.de
6a- Leipziger Platz 12 - Wertheim-Areal
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
O edifício localiza-se no terreno da
esquina, cuja fachada voltada para a Praça
Leipziger mantém a altura determinada no
plano de massas do octógono. a fachada
158
voltada para a avenida segue o padrão de
menor altura determinado para o local.
Projeto do escritório de arquitetura
Modershon & Freiesleben junto com Hilmer
& Sattler & Albrecht.
A idéia de continuidade do edifício
ao longo da Avenida Leipziger Strasse e
esquina com o Promenade am Bundesrat
deve-se à continuidade da marcação
horizontal, à homogeneidade do colorido e à
manutenção das proporções das aberturas.
Projeto do escritório de arquitetura Ortner +
Ortner.
6a- Wertheim-Areal esquina da Leipziger
Strasse com o Promenade am Bundesrat.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
6b
Leipziger Platz 13
Fonte:
www.stadtentwickulu
ng.berlin.de
6b- Leipziger Platz 13
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
O edifício projetado por Tobias Nöfer
apresenta fachada branca de conotação
clássica. Uma passagem para pedestres
localizada no centro da fachada frontal,
voltada para a Praça Leipziger, possibilita
sua ligação com a passagem Promenade
am Bundesrat. O trajeto é feito por um
caminho ambientado como praça, que
conecta vários restaurantes, bares,
pequenas lojas de artigos variados e
pequenos serviços vicinais. A paisagem do
pátio interno apresenta-se como uma
construção clássica e desprovida de
vegetações. Projeto do escritório de
arquitetura Arge, Graetz, Jordi & Nöfer.
6b- Leipziger Platz 13 – vista interna.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A fachada voltada para o passeio
público Promenade am Bundesrat é
configurada de modo totalmente diferente
da fachada voltada para o octógono. No
passeio, segue a menor altura determinada
para o caminho, onde a altura é a mesma
159
determinada para a Avenida Leipziger
Strasse. Também os espaçamentos entre
as marcações verticais foram ampliados,
proporcionando maior distinção em relação
aos edifícios localizados em suas laterais.
6b- Leipziger Platz 13 fachada voltada para o
Promenade am Bundesrat.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
6c
Leipziger Platz 13a
Fonte:
www.stadtentwickulung
.berlin.de
6c- Leipziger Platz 13a
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
6c- Leipziger Platz 13ª - vista do pátio interno.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Projetado pelo escritório de
arquitetura Hans Kollhoff, o edifício
apresenta, no estrato inferior, uma arcada
robusta e colossal que o distingue dos
demais edifícios da praça; no intermediário
e no superior, foi utilizada a cor branca. No
pátio interno, é repetida a arcada, porém
não distinção entre o estrato
intermediário e o superior, o que denota a
utilização de fachada tripartida para atender
às determinações do plano de massas do
octógono.
6d- Bauwert Leipziger Strasse. Ver na
planta da TLG-Areal, anteriormente
apresentada, em amarelo, a localização das
casas A, B e C. Casas A e B projeto do
escritório de arquitetura Potzschke &
Partner. Casa C projeto do escritório de
arquitetura Grüntuch Ernst.
As casas A e B apresentam fachadas
com decoração tradicional histórica e a casa
C tem fachada de vidro e brises verticais.
160
6d- Bauwert Leipziger Strasse. Casas A e B, com arcada no estrato inferior, e C com colunata.
Fonte: stadtentwicklung.berlim.de
Bauwert Leipziger
Strasse. Casa A
Fonte:
www.stadtentwickulung
.berlin.de
6e
Promenade
am Bundesrat
Fonte:
www.stadtentwickulung
.berlin.de
6e- Promenade am Bundesrat vista para o
edifício do Bundesrat.
Fonte: stadtentwicklung.berlin.de
6e- Promenade am Bundesrat – vista interna.
Fonte: stadtentwicklung.berlin.de
O passeio Promenade am Bundesrat
liga a Leipziger Strasse à Voss Strasse.
Projeto de Hilmer & Sattler & Albrecht. O
passeio foi planejado para abrir-se em forma
de praça retangular em frente do edifício
histórico que abriga atualmente o Conselho
Federal (Bundesrat). Ao longo do trajeto, o
passeio apresenta-se como uma praça
linear ornamentada com fonte, paginação
de piso especial, algumas árvores e
mobiliário de estar.
Os edifícios projetados ao longo do
passeio da TLG-Areal apresentam as
mesmas características dos demais
comentados no presente texto. Isso
demonstra que a homogeneidade das
propostas arquitetônicas é decorrente de
uma intenção de planejamento da paisagem
urbana, que é possível em uma
comunidade organizada e com tradição de
161
planejar o processo de formação de seu
espaço urbano. Pode-se perceber, também,
que mesmo dentro de um conjunto
homogêneo a possibilidade de se
estabelecer, por meio de detalhes
compositivos com os elementos de fachada,
um sistema de referências que faculta ao
transeunte uma possível legibilidade urbana
que o oriente em relação à sua localização e
à localização dos elementos urbanos que
procura. Outra observação que vale
ressaltar é o fato de que toda a estrutura
urbana está voltada para o conforto dos
pedestres, por exemplo: lugares de
descanso ao longo dos caminhos, pontos de
encontro, elementos lúdicos, possibilidades
de entretenimento, trajetos protegidos por
áreas cobertas em forma de arcadas e
colunatas, possibilidades de abrigo das
intempéries e, até mesmo, desfrute dos
raios solares propiciado pela altura dos
edifícios.
A paisagem urbana que está sendo
construída em Berlim apresenta
característica de extensas áreas
homogêneas, com edifícios semelhantes
quanto à volumetria, apresentando
pequenos detalhes que os individualizam.
Em meio a esse tecido homogêneo, surgem,
em locais premeditados, os edifícios
singulares, de características marcantes,
que se destacam pelo porte diferenciado,
tecnologia avançada ou monumentalidade.
No conjunto arquitetônico das Praças
Potsdamer e Leipziger, as torres angulares
dos arquitetos Helmut Jahn, Renzo Piano e
Hans Kollhoff cumprem a função de
símbolos que personalizam e destacam o
lugar no contexto da cidade. Neste caso, são
ainda estruturas simbólicas que
representam a cidade no contexto
internacional.
Montagem fotográfica- Leipziger Platz
Fonte: www.Img98.imageshack.de
162
Potsdamer Platz e Leipziger Platz
Fonte: Panoramakarte Berlin-2000
163
4b
Avenida Unter den Linden e Pras Pariser e Bebel
164
Unter den Linden – panorama histórico.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
A reconstrução da Praça Pariser
(Pariser Platz) foi um empreendimento
berlinense que teve como principal diretriz o
resgate da imagem histórica e simbólica do
antigo centro da cidade. Em conjunto com a
Avenida Unter den Linden e a Praça Bebel
(Bebel Platz), sua reconstrução foi a
consolidação de uma idéia que se
fundamentou na recuperação do importante
circuito tradicional onde aconteceram os
eventos mais significativos do processo de
formação do tecido histórico de Berlim. A
nova estratégia de reconstrução urbana foi
definida em função da preservação da
imagem histórica como essência formal e
não como uma cópia exata dos edifícios que
existiram e foram destruídos pela guerra, ou
demolidos na fase que se seguiu ao término
dos conflitos militares.
A Unter den Linden (Sob as Tílias)
era uma das principais avenidas da cidade
antiga e abrigava os principais edifícios
destinados ao funcionamento de cafés,
restaurantes, casas de espetáculos e hotéis,
além de embaixadas e consulados. Também
abrigava edifícios vinculados ao poder
econômico, à residência dos nobres e ao
comércio mais significativo.
Na Unter den Linden, localizavam-se:
o principal hotel de Berlim no início do
século XX, o Adlon; o principal portão de
acesso à cidade, o Brandenburger Tor,
construído no final do século XVIII; a sua
maior universidade no início do século XIX, a
Humboldt Universität, instalada em um
edifício de meados do século XVIII; a Ópera
Nacional (Staatsoper) inaugurada em 1743;
o ministério prussiano do interior e a
embaixada soviética, entre outras atividades
que geraram a construção de edifícios
arquitetonicamente significativos como
representantes dos estilos barroco, rococó e
neoclássico. Esse passado fez da Unter den
Linden um local de grande importância para
a memória cultural da cidade.
Em conseqüência de sua
importância cívica, a Unter den Linden foi
projetada segundo padrões geométricos de
avenida monumental e boulevard,
arborizada com Tílias e decorada com
requinte ao longo de sua história. Tinha a
função de ligar o castelo, localizado na ilha,
ao parque de caça utilizado para o
divertimento da nobreza, o Parque
Tiergarten. A Unter den Linden estende-se
por aproximadamente 1.500 metros, tendo
como delimitação de suas extremidades o
Brandenburger Tor e a Pariser Platz, a oeste,
165
e a ponte do castelo (Schlossbrücke), a
leste.
Unter den Linden em 1912.
Fonte: www.360-berlin.de
Pariser Platz – Brandenburger Tor
Fonte: www.deutsche-schutzgebite.de
Schlossbrüke – ponte do castelo
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
O atual desenho da avenida
compreende duas pistas para tráfego
motorizado, canteiro central e passeios
largos onde estão instaladas mesas e
cadeiras, além de diversificado mobiliário
urbano, o que mantém sua visualidade e
sua efervescência tradicional.
Unter den Linden no início do século XXI
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Unter den Linden em 1945
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Os edifícios lindeiros à Unter den
Linden foram parcialmente destruídos
durante a Segunda Guerra e a intervenção
por parte da administração soviética não foi
significativa para a alteração de sua
paisagem. O grau de destruição pós-1945
promoveu a devastação de vários de seus
edifícios. A imagem que se tem desse
período é de perda da vivacidade social e da
identidade do lugar.
A construção do Muro de Berlim, em
1960, isolou a Unter den Linden da parte
ocidental da cidade. A limpeza dos entulhos
das ruínas de guerra e a demolição do que
166
havia restado próximo do Brandenburger
Tor converteram em desolação o território
que anteriormente era o centro vital da
cidade para o convívio da população com as
vanguardas culturais da época.
Após a divisão da cidade, o
monumento Brandenburger Tor ficou
totalmente isolado em relão à estrutura
urbana tanto da Berlim Ocidental quanto da
Berlim Oriental. Destacam-se nas figuras
seguintes, o Muro de Berlim, o monumento e
a delimitação da Pariser Platz por fileiras de
árvores. Novos edicios de linhas modernas
foram construídos pela administração
soviética obedecendo aos padrões de
alinhamento do quarteio de construções
perimetrais e na altura dos edifícios
preexistentes. A vegetação central foi
recuperada para manter o caráter de
boulevard. A composição paisagística final,
respeitando o desenho volumétrico anterior,
foi determinante para a preservação da
imagem histórica que se conseguiu
restabelecer no planejamento atual.
Pariser Platz em 1960, data de construção do Muro de Berlim.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
As a queda do Muro de Berlim, uma
das estratégias de rearticulação das duas
partes da cidade era o resgate da paisagem
tradicional de sua avenida histórica de grande
importância cultural. Assim, ficou estabelecido
que os novos edicios que seriam construídos
nos terrenos vagos deveriam obedecer aos
padrões tradicionais de uso do solo. Os
edifícios antigos existentes deveriam ser
saneados e, se necessário, adequados aos
novos usos. O processo de planejamento para
a reconstrução e as diretrizes para os projetos
arquitetônicos tiveram como objetivo
preservar a imagem volutrica da paisagem
antiga. Foi criada uma associão, a
Sociedade Histórica de Berlim, como entidade
oficial responsável pela preservação da
imagem histórica do centro da cidade,
especialmente ao longo da Unter den Linden.
167
Unter den Linden durante a existência do Muro de Berlim Paisagem urbana reconstruída pela
administração soviética – 1960 a 1989.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Atualmente, a Unter den Linden é a
avenida mais importante do centro histórico,
se contemplada do ponto de vista cultural.
Abriga, lado a lado, importantes edicios
antigos e contemporâneos. Essa importância
deve-se ao testemunho histórico do passado
ou do presente, ou ainda, à função exercida
no contexto do sistema de relões
socioculturais da cidade atual. Como parte dos
seus edicios antigos perdeu-se durante a
Segunda Guerra e outros foram parcialmente
destruídos, ergueram-se, nos terrenos vagos,
novos edifícios de caractesticas tecnológicas
e visuais contemponeas. Os preexistentes
foram alguns restaurados exatamente como
eram, outros, adaptados ou ampliados para
abrigar nova fuão. No local do Hotel Adlon,
que foi destruído, foi edificada sua réplica. A
reconstrução de edicios emblemáticos foi
uma das estratégias de resgate da meria
local. Assim, um passeio ao longo da Avenida
Unter den Linden oferece a possibilidade de
se observar uma paisagem urbana onde os
novos elementos inseridos contracenam com
168
os antigos, propiciando um diálogo de formas
e tecnologias provenientes de diferentes
épocas. O zeitgeist do futuro ao lado do
passado, compondo o tempo presente.
Seguindo a tendência da ocupão
histórica, a Unter den Linden abriga
instituições da administração blica alemã,
resincias, embaixadas, hotéis, escritórios e
lojas distribuídas entre as velhas e as novas
construções instaladas ao lado das antigas.
Segue-se, no texto, uma aprecião do
panorama geral das edificações que
compõem a paisagem da avenida e das
praças e um estudo das relações formais que
se estabeleceram entre elas.
Pariser Platz
No sentido do ocidente para oriente,
atravessando o Portão de Brandenburg
(Brandenburger Tor) a perspectiva visual
abre-se para o espaço quadrangular da
histórica Praça Paris (Pariser Platz), que é
configurada pela fachada do também
histórico Hotel Adlon e por um conjunto de
fachadas contemporâneas que abrigam
agências bancárias, escritórios, lojas e
embaixadas. O desenho original da praça
data de 1732 a 1734. A praça é
ornamentada simetricamente por duas
fontes e canteiros floridos. Do ponto de vista
simbólico, a Pariser Platz desempenha um
importante papel na memória e identidade
cultural da cidade. O Brandenburger Tor era
o símbolo do acesso proibido à Berlim
Oriental e, conseqüentemente, ao outro lado
da Cortina de Ferro. Com a queda do Muro
de Berlim, passou a ser o símbolo da união
entre o Ocidente e o Oriente.
A Pariser Platz recebeu onze novas
construções, do que resultou um conjunto
arquitetônico de feições contemporâneas,
visto que apenas o Hotel Adlon foi
construído com sua fachada antiga. Porém,
o plano de preservação da paisagem
histórica do bairro central de Berlim
estabeleceu que as projeções dos edifícios
deveriam ser alinhadas com o limite frontal
dos terrenos e as alturas alinhadas com as
dos edifícios remanescentes. Dessa forma,
manteve-se uma relação formal e
volumétrica entre as preexistências e as
novas construções. Os projetos dos novos
edifícios seguiram uma concepção
estabelecida por rígidas determinações
institucionais: o terreno é um plano
horizontal; os edifícios têm alinhamento de
lajes, janelas e coberturas e o tamanho das
janelas também mantém uma relação de
proporção com os edifícios vizinhos.
169
Pariser Platz em processo de reconstrução após a queda do Muro de Berlim.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Em 1993, o Senado de Berlim
decidiu restaurar a Pariser Platz conforme
suas antigas proporções formais e resgatar
antigas funções, tais como: o Hotel Adlon, as
embaixadas americana e francesa e a
Academia das Artes.
O processo de definição do Plano de
Massas da Pariser Platz foi de considerável
complexidade. Os estudos técnicos
elaborados sobre os projetos e imagens da
arquitetura existente na fase anterior a
1945 forneceram os subsídios para a
normatização das propostas a serem
apresentadas no atual procedimento de
construção da fase de reunificação urbana.
A proposta compreende um sistema
edificado compondo quarteirões fechados
com pátios centrais e construções com
fachadas edificadas no limiar das áreas
públicas. Assim, as diretrizes para os
projetos consistiram basicamente em:
fachadas tripartidas, ou seja, dividas em três
partes horizontais: térreo, meio e
coroamento; revestimentos em pedras
claras ou pintura clara; altura dos edifícios
que não excedesse a dos edifícios anteriores
a 1945; janelas distribuídas em grelha e em
número não superior a 49% das fachadas. A
única exceção permitida foi para a Academia
das Artes, edifício que se destaca na
paisagem por sua visualidade e concepção
tecnológica High-Tech.
A disposição dos edifícios
conformadores da Pariser Platz obedeceu
rigorosamente às determinações das
diretrizes governamentais, porém os
arquitetos usaram sua criatividade e
ousaram formalmente e tecnologicamente.
O resultado foi a desejada unidade na
diversidade, tema muito discutido por
ocasião da IBA-Berlin 87. Na análise da
paisagem urbana construída na Unter den
Linden, cabe a discussão da validade do
estabelecimento de regras de configuração
paisagística para a cidade ou parte dela.
Coibir a atuação da iniciativa privada,
quando a busca é por espaço vertical nas
construções com o fim de aumentar o lucro
170
imobiliário em razão do alto custo do
terreno, é uma discussão atual na maioria
das cidades contemporâneas.
As fachadas antigas serviram de
referência para os estudos e a definição do
padrão geométrico horizontal e vertical das
novas edificações, bem como para a
definição de suas proporções em termos de
aberturas. Também os materiais utilizados
na época foram considerados,
principalmente, em relação à cor que
aparentavam.
Maquete do plano de massas da Pariser Platz.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Pariser Platz em processo de reconstrução após a queda do Muro de Berlim.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
171
Primeiro desenho: corte do Brandenburger Tor com vista para o sul: Embaixada Americana, Academia das
Artes, Hotel Adlon.
Segundo desenho: vista do Brandenburger Tor com as casas laterais: Haus Sommer e Haus Lindermann.
Terceiro desenho: corte do Brandenburger Tor com vista para o norte: Embaixada da França, dentre outras
edificações.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
No presente estudo serão
apresentadas imagens atuais e antigas, a
partir das quais se processarão as análises
e comentários sobre os elementos
relevantes para a configuração da paisagem
local, estabelecendo-se as ligações entre a
forma da arquitetura histórica anterior a
1945 e a posterior a 1998. Utilizando a
numeração da Panorama-Karte – 2000,
segue-se uma descrição dos novos edifícios
da Pariser Platz e um comentário sobre a
relação que eles estabelecem com o atual
contexto da paisagem urbana de Berlim.
Conjunto arquitetônico da Pariser Platz.
Fonte: Panorama-Karte Von Berlin - 2000
172
Número 84 - Brandenburger Tor
Projetado em 1788 pelo arquiteto Carl
Gotthard Langhans (1732-1808),
considerado o pioneiro do neoclassicismo
puro. Para projetar o portão inspirou-se na
entrada da Acrópole de Atenas. Utilizou
colunas dóricas para suportar a Quadriga,
uma escultura representativa da deusa
Vitória, obra do escultor Johann Gottfried
Schadow (1764-1850). A obra inspirada no
clássico grego foi construída entre 1788 e
1791 para substituir o antigo portão da
cidade de 1735. Restaurado em 2002, teve
o uso de seu entorno reformulado, sendo
atualmente permitido somente o fluxo de
pedestres. Além de seu valor simbólico, é
um importante representante da arquitetura
neoclássica e uma das primeiras obras do
autor.
Brandenburger Tor
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Número 85 - Haus Lieberman. Uma
construção nova, projetada por Josef Paul
Kleihues entre 1996 e 1998. O arquiteto
adotou as formas clássicas dos edifícios
anteriores a 1945 que foram projetados por
Friedrich August Stüler entre 1844 e 1846.
O edifício antigo serviu de moradia e estúdio
para o pintor Max Liebermann.
Haus Lieberman
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Número 95 - Haus Sommer. À
esquerda do Brandenburger Tor, situa-se a
173
Haus Sommer, projeto de Josef Paul
Kleihues que segue o mesmo partido da
Haus Liebermann, formando uma contenção
discreta e neutra para não rivalizar com a
forma do monumento. Cumpre, porém, a
função de delimitar a face oeste da praça,
além de resgatar a volumetria preexistente
no lugar.
Haus Sommer e Haus Lieberman
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Número 86 - Palais am Pariser Platz.
As cinco primeiras janelas da esquerda
correspondem ao Palais am Pariser Platz,
uma obra projetada por Bernhard Winking
para abrigar residências e lojas. É
importante destacar a estrutura clássica
adotada e a definição de eixos verticais
simétricos para definir os espaços das
aberturas.
Palais am Pariser Platz
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Palais am Pariser Platz no centro. Haus Sommer em primeiro plano. Vista externa à Pariser Platz.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Uma vista da fachada externa
voltada para a Pariser Platz mostra como o
Palais am Pariser Platz reduziu suas
dimensões para adequar-se à paisagem da
praça, de forma que não comprometesse a
volumetria desejada. A torre, quando vista
174
da rua externa à praça, apresenta-se como
elemento importante da composição
volumétrica do edifício, destacando-o da
Haus Liebermann. Na praça, uma
adequação ao contexto e o edifício funde-se
com seus vizinhos.
Número 87 - Eugen-Gutmann Haus /
Dresdner Bank. Projeto do grupo gmp
(Gerkan, Marg & Partner) busca a simetria a
partir de um portal monumental e a
distribuição de aberturas em pares, utiliza
brises horizontais reforçando a lineariedade
proposta. Usa o recurso da cor contrastante
para criar um destaque para o edifício no
contexto da praça e reforçar a
horizontalidade.
Eugen-Gutmann Haus / Dresdner Bank
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Número 88 - Fanzözische Botschaft.
A Embaixada da França, que ocupou seu
antigo endereço, foi objeto de concurso
patrocinado pelo governo francês em 1997.
O primeiro prêmio ficou com o arquiteto
francês Christian de Portzampac. O projeto
destaca-se do conjunto por apresentar um
desenho de fachada diferenciado. Utiliza
uma grelha para inserir as aberturas, porém
ainda consegue estabelecer harmonia com
o conjunto porque continuidade às
principais linhas horizontais de definição da
tripartição das fachadas de seus vizinhos. É
interessante observar a possibilidade de
manutenção da harmonia entre as formas
de composição da paisagem urbana por
meio do estabelecimento de diretrizes
harmonizadoras do conjunto. Neste quesito,
a arquitetura desempenha um papel
fundamental como elemento configurador
de paisagem.
Fanzözische Botschaft
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Número 89 - Dois edifícios que
formam a configuração da Pariser Platz, em
sua junção com a Avenida Unter den Linden,
estão localizados em frente ao Hotel Adlon e
criam uma situação espacial de definição
formal da praça. São destinados a
residências, escritórios e lojas. Em altura
contracenam com o Hotel Adlon, criando
simetria e proporcionando uma transição
entre os edifícios do boulevard e os da
175
praça. O projeto é dos arquitetos Laurids e
Manfred Ortner. O partido adotado é uma
variação moderna do Hotel Adlon. O
desenho das fachadas está de acordo com
as linhas retas dos edifícios modernos e os
detalhes da cobertura trazem os traços da
pós-modernidade, no edifício branco, e do
tradicional, no edifício cinza. A mescla de
detalhes da arquitetura tradicional com os
conceitos de modernidade presentes nos
novos edifícios é um dos traços marcantes
da paisagem urbana de Berlim. A presença
das Tílias marca o início ou o fim do
boulevard.
Número 89 – residências, escritórios e lojas.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Hotel Adlon
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Número 90 - Hotel Adlon. É a
edificação mais imponente da Pariser Platz.
O antigo edifício datava de 1907, o atual de
1995 a 1997. Com projeto de Patzschke,
Koltz & Partner, foi o primeiro novo edifício a
ser construído na praça. Os autores do
projeto construíram um partido arquitetônico
fundado nas formas tradicionais do edifício
antigo. O volume ocupado pelo Hotel Adlon
confere à praça um contraste que valoriza o
espaço vazio, proporcionando sua
delimitação no lado oposto ao
Brandenburger Tor. É elemento de
contenção das possibilidades visuais do
largo, juntamente com os edifícios
apresentados anteriormente, e reforça a
perspectiva da Unter den Linden para o
observador que acessa a praça através do
176
portão. É o objeto que remete a memória
diretamente ao passado histórico de
tradição, elegância, riqueza e luxo da vida
dos berlinenses do início do século XX e
representa, no contexto atual, o respeito à
memória desse passado.
Akademie der Künste
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Número 92 - Akademie der Künste. A
Academia das Artes foi reconstruída no
mesmo endereço do edifício antigo de 1696
e projetada pelo escritório do arquiteto
Behnisch, com participação de Werner
Durth. Por ser um novo imóvel integrado à
parte remanescente da edificação antiga, foi
objeto de concurso interno na Academia em
1994. É o único edifício da praça com
fachada envidraçada e características High-
Tech. Representa a diversidade de estilos
presente na cidade de Berlim. O desenho é
surpreendente em sua volumetria, mas
mantém a determinação da fachada
tripartida, o alinhamento horizontal e a
marcação vertical ritmada das esquadrias
evidencia a grelha estrutural que define
suas aberturas. O edifício faz jus à sua
função. Construído para abrigar atividades
de produção artística, foram inseridos
detalhes de arte em sua estrutura e
apresenta situações inusitadas de cobertura
que valorizam sua fachada frontal para a
Pariser Platz. A possibilidade de visualização
da praça a partir da cobertura da Akademie
der Künste oferece a oportunidade da
contemplação de um espaço urbano de
caráter evocativo, que induz à reflexão e que
restabelece a ordem em um espaço que, até
recentemente, era palco do caos e do
desrespeito à liberdade da coletividade.
177
Akademie der Künste – estudos realizados sobre a fachada do edifício antigo para definir o ritmo de
marcação horizontal e vertical da composição frontal do novo edifício.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
178
Akademie der Künste Akademie der Künste
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Número 93 - DG-Bank. A sede
administrativa do DG-Bank também foi
objeto de concurso, o qual foi vencido por F.
Gehry em 1996. Neste caso, a tripartição da
fachada foi explorada com o recurso do
recuo da parte superior. A discrição da
forma clássica foi utilizada com uma
aplicação na forma contemporânea,
conferindo ao edifício uma sobriedade
adequada à função que abriga. A
simplicidade e a neutralidade da fachada
voltada para a Pariser Platz apresentam-se
como uma gentileza do autor em não
competir com os elementos históricos
presentes no espaço. Mas essa simplicidade
externa é compensada com a complexidade
interna do edifício e com a fachada
escalonada voltada para a outra rua, a
Behrenstrasse, o que mantém as
características da arquitetura de Frank
Gehry.
DG-Bank - vista da Pariser Platz.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
179
DG-Bank - vista interna. DG-Bank - vista da Rua Behrenstrasse.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Vista panorâmica do entorno do Portão Brandenburger Tor.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
No contexto da paisagem urbana
do Brandenburger Tor, o DG-Bank é um
edifício que ocupa um espaço significativo
por seu volume construído. Quando visto da
180
Behrenstrasse, apresenta uma fachada
formada por curvas em concordâncias
reversas, escalonamentos e aberturas
inspiradas em bay-windows distribuídas em
nove andares. Apresenta também uma
complexa estrutura de cobertura visível a
distância. Porém, da Pariser Platz se
percebe visualmente uma fachada
extremamente singela. Essa adequação
volumétrica do edifício para atender a uma
determinação do programa, referente ao
cumprimento das diretrizes institucionais,
demonstra que é possível à administração
da cidade controlar a construção da
paisagem urbana segundo os interesses
estéticos, ambientais e de conservação de
uma imagem desejada, sem que com isso
sua arquitetura seja empobrecida do ponto
de vista formal. Sempre haverá, por parte do
autor do projeto, a possibilidade de criar
diversidade respeitando diretrizes legais
preestabelecidas.
Número 94 - USA Botschaft. A
Embaixada dos Estados Unidos da América
também recebeu um novo edifício, que foi
objeto de concurso nos USA em 1996. O
primeiro prêmio foi para a equipe Moore,
Ruble e Yudell. À embaixada americana foi
destinado o mesmo local onde existiu antes
de 1945.
A fachada foi projetada com uma
m a rc a ç ão d e li n has p a ra l e la s
horizontais, o que proporciona a ilusão de
maior amplitude, que dispõe de estreito
espaço voltado para a Pariser Platz. A maior
parte das fachadas do edifício está voltada
para as ruas Ebertstrasse e Behrenstrasse.
Neste caso, percebe-se também a
adequação da fachada voltada para a praça
segundo os interesses de preservação da
paisagem urbana compatível com os
padrões volumétricos anteriores a 1945.
181
USA Botschaft
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Pariser Platz - Mapa de localização dos investidores.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
O conjunto de investidores que
construiu a Pariser Platz seguiu a tradição
local de realizar concursos públicos para
selecionar os projetos que seriam
executados. Os projetos premiados foram os
escolhidos em virtude do cumprimento das
diretrizes institucionais e também da
qualidade que apresentaram. Tais projetos
resultaram em uma diversidade formal
que, harmonizada com o contexto, propiciou
um conjunto arquitetônico compatível com a
importância da Pariser Platz no conjunto
histórico e urbanístico de Berlim sem perda
do referencial da paisagem urbana
tradicional anterior a 1945.
Nas figuras a seguir, ficam
evidenciadas as sutis semelhanças entre os
edifícios antigos e os novos.
182
Pariser Platz. Fachada norte em 1925 e a reconstruída após 1989.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Pariser Platz. Fachada sul em 1925 e a reconstruída após 1989.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
183
Pariser Platz em 1860.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Pariser Platz em início do século XXI
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
184
Hotel Adlon 1917 Hotel Adlon atual 1939 atual
1937 atual 1881 atual
USA Botschaft 1936 USA Botschaft atual 1865 atual
Akademie der Künste
1909
Akademie der Künste
atual
Fanzözische Botschaft
1920
Fanzözische Botschaft
atual
Palais antes de 1945 Palais atual 1876 atual
Comparação de fachadas novas e antigas da Pariser Platz
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
185
Pariser Platz em 2005.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
O desenho da Praça Pariser Platz
respeitou a geometria histórica, porém
alterou o uso de circulação. Os veículos
motorizados foram desviados para as ruas
laterais e o trânsito sob o Portão
Brandenburger Tor ficou destinado
exclusivamente aos pedestres. O tratamento
de pisos obedeceu a uma paginação
discreta trabalhada com pedras naturais. Os
canteiros laterais foram mantidos, bem
como as fontes outrora existentes.
Conceituação formal
Praça Paris
Escritório Bappert & Wenzel
Escritório Spath & Nagel
Berlim 1996
Calçada em pedra de granito
enfileirada: no contorno e ilha
central
Caminho de concreto com
mosaico de basalto –faixa
ornamentada na borda: passeio
Calçada em mosaico: Faixa
acima e abaixo do passeio e no
canteiro central
Canteiro adornado com fonte e
topiaria de Taxus, jardim na
Ebertstrasse.
Pariser Platz – projeto dos pisos e vegetação
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Unter den Linden
Um panorama atual da Avenida
Unter den Linden pode ser apreciado na
fotografia que se segue, com vista da direita
para a esquerda, a partir da ponte
Schlossbrüke (ponte do castelo).
O mapa Panorama-Karte Von Berlin-
2000 apresenta os desenhos esquemáticos
das edificações existentes e projetadas para
a Unter den Linden que vão configurar sua
paisagem do período de reunificação, foi
utilizado para localizar as obras
comentadas.
186
Vista panorâmica de Berlim com a Avenida Unter den Linden a partir da Schlossbrücke.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Unter den Linden
Fonte: Panorama-Karte Von Berlin-2000
Conjunto arquitetônico na Unter den Linden
Fonte: Panorama-Karte Von Berlin – 2000
Partindo-se da Pariser Platz em
direção à Schlossbrücke, é possível apreciar
antigas construções de grande valor
histórico, construções da administração
soviética e também novos edifícios
construídos após a reunificação. São
edifícios cujas fachadas têm predominância
de linhas horizontais e cores claras,
edificados no alinhamento do passeio
público e com altura similar ao padrão
tradicional da avenida.
Número 97 - Russische Botschaft.
Embaixada da Rússia instalada em uma
edificação construída entre 1950 e 1952,
na qual foram utilizadas formas
renascentistas. Foi um momento de resgate
da antiga função da Unter den Linden, que
era a de congregar atividades
administrativas e de relações internacionais,
funções essas perdidas com a divisão
administrativa da cidade entre os soviéticos
e os aliados.
187
Russische Botschaft
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Número 168 - Edificação que abriga
uma função governamental da
administração alemã. O edifício foi
construído após 1945 no lugar de uma
edificação destruída na Segunda Guerra.
Após 1989 foi realizada uma adequação dos
espaços internos e uma reforma geral no
prédio mantendo suas características
originais.
Conjunto arquitetônico na Unter den Linden.
Fonte: Panorama-Karte Von Berlin - 2000
Continuando a análise das quadras
seguintes, em direção à Schlossbrücke,
pode-se constatar a harmonização das
novas construções com a paisagem local.
Número 167- Hotel Unter den
Linden. Nova construção em linhas
modernas com predominância horizontal,
onde se percebe com nitidez a herança do
modernismo e da Bauhaus. O edifício
lembra os blocos horizontais do
Hansaviertel. durante a experiência da
INTERBAU-1957.
Hotel Unter den Linden
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Número 170 - Lindencorso. Nova
construção feita para abrigar escritórios e
lojas. O edifício de características clássicas
segue o padrão de fachada tripartida
horizontalmente, recomendado para a
Pariser Platz.
Lindencorso
Fonte: www.lindencorso.de
Número 160 - Staatsbibliothek. A
antiga biblioteca nacional é um dos maiores
edifícios do centro histórico de Berlim.
188
Inaugurada em 1661, abriga 9 milhões de
livros e periódicos, inclusive manuscritos de
1560, partituras originais de Bach, Mozart e
Beethoven e mapas alemães de 1491. A
edificação, que ocupa uma quadra inteira,
foi parcialmente destruída na Segunda
Guerra e totalmente recuperada.
Atualmente, testemunha a importância
cultural de Berlim no período do governo
prussiano.
Staatsbibliothek
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Staatsbibliothek 1910 Staatsbibliothek 2005
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Conjunto arquitetônico na Unter den Linden.
Fonte: Panorama-Karte Von Berlin – 2000
A extremidade da Unter den Linden
junto à ponte do castelo (Schlossbrücke) é
tão importante em relação ao conjunto
arquitetônico quanto a Pariser Platz. Nesta
região do boulevard, encontram-se
instalados os edifícios históricos antigos
189
mais significativos de seu trajeto. A idéia de
construir um Forum Fridericianum com
ópera, biblioteca, academia e um novo
palácio real, que não foi construído, foi de
Georg Wenzeslaus von Knobelsdorff e data
de meados do século XVIII. Nessa época as
determinações do planejamento urbanístico
de Berlim estabeleciam que a Avenida Unter
den Linden teria o significado de
representante simbólico da capital e eixo
cultural da cidade.
54
No futuro, as
edificações da reunificação ficarão como
testemunhos da história do presente do
mesmo modo que, no presente, as
edificações antigas são instrumentos para a
compreensão do passado.
um equilíbrio na paisagem da
Unter den Linden provocado pela existência
de dois pólos de concentração de edifícios
de interesse histórico, um contemporâneo,
outro neoclássico e barroco. Cada grupo
localiza-se em uma extremidade da via e
interage com o entorno urbano que o abriga,
testemunhando o momento sociocultural
que o produziu.
Número 159 - Humbolt-Universität.
A Humbolt Universität ocupa, desde 1810,
um edifício cuja construção data de 1748 a
1753 para ser moradia do príncipe Heinrich.
Em meados do século XVIII a Unter den
Linden abrigava a família real e um
complexo de edifícios relacionados com a
cultura e o conhecimento da época. O
investimento feito em obras culturais de
54
Ver mais sobre a formação da malha urbana e
edifícios históricos de Berlim em: Hauptstast
Berlin. Zur Geschichte der Regierugsstandorte.
Senatsverwaltung für Bau- und Wohnungswesen,
Berlin, August 1992 p. 19.
grande porte enaltecia a imagem do rei e
destacava Berlim no contexto internacional
com o qual interagia nesse período. O valor
simbólico da cidade, demonstrativo de
avanço tecnológico e intelectual de uma
nação, fica evidenciado no processo de
formação de seu espaço urbano.
Humbolt-Universität
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
190
Humbolt-Universität 1945
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Humbolt-Universität – imagem atual. Ao lado, estátuas em
homenagem aos irmãos Humbolt.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Bebel Platz
No lado leste da Unter Den Linden,
localiza-se a Praça Bebel (Bebel Platz),
configurada por um conjunto arquitetônico
histórico, onde podem ser apreciadas a
Biblioteca Antiga (Alte Bibliothek), a Ópera
Nacional (Deutscher Staatsoper) e a Catedral
Santa Hedwiges (St. Hedwig Kathedrale).
191
Bebel Platz
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Número 158 - Alte Bibliothek am
Bebelplatz. A antiga biblioteca, localizada
na Bebel Platz, em frente à Humbolt
Universität, é uma construção que data de
1775 a 1785.
Alte Bibliothek am Bebelplatz
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Número 157 - Deutsche Staatsoper.
192
Deutsche Staatsoper
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
A Ópera Nacional, antigamente
conhecida como Ópera Unter den Linden, foi
projetada por Georg Wenzeslaus von
Knobelsdorff (1699-1753) em um estilo
conhecido como Frederician Rococó, uma
fusão do barroco tardio com elementos
neoclássicos. A obra foi concluída em 1742
e, depois de um incêndio, foi reconstruída
por Carl Ferdinand Langhans de 1843 a
1844, reformada em 1926 e reconstruída
após os bombardeios da Segunda Guerra.
Foi a primeira estrutura neoclássica de
Berlim. A edificação tem grande porte, um
volume significativo na paisagem urbana
tanto da avenida quanto da Bebel Platz. A
fachada voltada para a avenida é
aparentemente menor, o que significa que é
composta por um átrio de menor altura que
o corpo principal e também menor largura,
destacando-se da edificação principal como
uma protuberância que avança para a
avenida como um convite ao acesso. Essa
definição de projeto fez com que a
aparência do edifício se tornasse adequada
à volumetria da rua e compusesse com os
demais edifícios de seu entorno um
conjunto harmonioso e equilibrado. Essa
mesma fórmula foi adotada pelos edifícios
da Pariser Platz que têm conexão com mais
de uma rua.
193
Deutsche Staatsoper em vista lateral para a Bebel Platz destaca o volume da edificação que não é
percebido em vista frontal.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
St. Hedwigs Kathedrale
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Número 156 - St.
Hedwigs Kathedrale. A
Catedral dedicada a Santa
Hedwig data de 1747-1773.
Compõe com a Deutsche
Staatsoper e a Alte Bibliotek o
conjunto neoclássico da Bebel
Platz.
Número 155 - Gedenkstätte für die Opfer des Krieges und der gewalt (Neue
Wache).
194
Gedenkstätte für die Opfer des Krieges und der gewalt (Neue Wache).
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
A antiga Nova Casa da Guarda (Neue
Wache), atual Memorial às Vítimas da
Guerra e da Tirania (Gedenkstätte für die
Opfer des Krieges und der gewalt), foi
construída em 1816 pelo arquiteto Karl
Friedrich Schinkel para servir de mausoléu
para o rei da Prússia, Friedrich Wilhelm III.
Foi o primeiro grande projeto arquitetônico
de Schikel. Em 1913, o edifício tornou-se
o Memorial Nacional da Guerra. Schinkel foi
o arquiteto que mais influenciou a
caracterização neoclássica da aparência
física de Berlim, denominada Classicismo
Germânico. De 1810 a 1840, foi o definidor
dos rumos da arquitetura prussiana. Berlim
foi conhecida como Atenas do Rio Spree.
A escultura “Mãe com Filho Morto” da escultora
Käthe Kollwitz ornamenta a lápide no interior do
edifício.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Número 153 - Deutsches Historisches Museum (Zeughaus).
195
Deutsches Historisches Museum (Zeughaus).
Fonte: www.Motivschmiede.de
O arquiteto Andreas Schlüter
concluiu, em 1706, o edifício barroco
destinado a abrigar o Arsenal Real
(Zeughaus).. O edifício de grandes
dimensões e fachadas ricamente decoradas
foi a construção mais imponente da Unter
den Linden.
Deutsches Historisches Museum (Zeughaus). Deutsches Historisches Museum (Zeughaus).
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
A Zeughaus, após a reunificação, foi
convertida no Museu da História Alemã
(Deutsches Historisches Museum). Para
abrigar o programa do museu, foi necessário
realizar uma ampliação do edifício histórico
que ficou a cargo do arquiteto I. M. Pei. A
intervenção de re-arquitetura do edifício foi
feita respeitando as características da
196
construção histórica, mantendo sua fachada
barroca e criando uma estrutura anexa de
características contemporâneas. Porém, a
nova construção anexa não interfere na
fachada do edifício, nem na paisagem
urbana do boulevard. Qualquer interferência
na região da antiga Zeughaus poderia
perturbar a pureza do conjunto histórico,
quando visto da Unter den Linden ou da
Bebel Platz. O anexo projetado por I. M. Pei
localiza-se na parte posterior do museu. A
liberdade formal com a qual foi projetado
contrasta fortemente com o edifício antigo,
de modo que uma peça valoriza a outra, pois
realça suas diferenças. A localização do
anexo possibilitou a liberação de um partido
arquitetônico que não tivesse,
necessariamente, que se submeter às
diretrizes estabelecidas para a avenida, uma
vez que não seria frontalmente visualizado a
partir dela.
197
Deutsches Historisches Museum com a ampliação proposta por I. M. Pei – Planta e Corte
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Número 154 - Operncafe
(Kronprinzen und Prinzenssinenpalais). O
Café da Ópera ocupa, atualmente, o palácio
do século XIX, construído em 1664 para
servir de moradia para o príncipe herdeiro e
a princesa real. Em 1919, a Galeria Nacional
instalou-se no edifício, onde funcionou até
ser fechada pelos nazistas em 1933.
O prédio foi destruído na Segunda
Guerra e reconstruído pelo governo
soviético, na década de 1960, para ser
utilizado como hotel para visitantes oficiais.
Atualmente, abriga restaurante, café e Pub.
A reconstrução de edifícios importantes,
mantendo as características do modelo
original, era uma prática na cidade de
Berlim.
Kronprinzen und Prinzenssinenpalais
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Operncafe atual reconstrução da
administração soviética.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Berlim. Schlossbrüke, antiga Zeughaus, Operncafe
198
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Número 241 - Terreno entre a
Operncafe e o Rio Spree, junto à
Schlossbrüke, destinado à nova edificação
para substituir o Kommandantur, prédio
onde anteriormente funcionava a sede do
governo militar e que foi destruído em 1945.
Em 2002, ainda era aguardado o projeto
para a nova edificação.
Sem Número - Schlossbrüke. A
ponte que liga a Avenida Unter den Linden
com a ilha dos museus é projeto de
Schinkel. A ponte conta com estrutura
romana e é ornamentada por pedestais que
suportam esculturas inspiradas no clássico
grego. Foi parcialmente danificada na
Guerra e totalmente restaurada após 1989.
Schlossbrüke em 1945. Schlossbrüke restaurada após 1989.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
A região leste da Unter den Linden
conta com obras arquitetônicas
significativas anteriores ao século XIX. A
concentração dos edifícios próximos à
Schlossbrüke deve-se à proximidade com a
ilha do Rio Spree, onde se iniciou a
edificação da cidade. Além das construções
lindeiras à avenida, obras relevantes em
suas proximidades; na Bebelplatz e na
Gedarmenmarkt, obras de Schinkel expõem
a riqueza e o desenvolvimento intelectual de
uma época.
199
Berlim em 1800. Obras significativas realizadas
até o século XVIII.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
A Avenida Unter den Linden
apresenta, em sua composição paisagística,
um passeio central repleto de árvores e
bancos, ornamentado com esculturas
permanentes, instalações artísticas
periódicas e monumentos, dentre os quais o
mais significativo é dedicado ao rei Friedrich
II. Ao longo da avenida, séculos de história
estão representados por meio de obras
arquitetônicas que permaneceram como
testemunhas de riquezas, cultura e poder de
épocas remotas, e as novas construções
sujeitam-se a um padrão volumétrico que
respeita as composições antigas, porém
demonstram em suas fachadas tecnologias
e formas inovadoras que valorizam a
criatividade, e respeitam o espírito do fazer
contemporâneo. É a genialidade humana
que se manifesta por meio da disciplina
Arquitetura estabelecendo os limites entre o
respeito ao passado e à liberdade de
expressão atual.
Monumento ao rei Friedrich II
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
200
4c
Praça Alexander
Fernsehturm - Alexanderplatz
Fonte: www.naveen-mehling.de
201
“Temo que a cidade seja apenas um fenômeno burguês. Temo que o processo de
constante refinamento da cidade esteja em contradição com o processo de
desmoronamento da sociedade burguesa. Acredito que em 50, 100 anos nossos antigos
centros históricos serão tratados apenas como centros turísticos luxuosos”.
Hans Kollhoff (AU65 Abr/Mai 96 p. 52)
Estudar a Praça Alexander
Alexanderplatz exige um mergulho no
passado histórico do que foi o centro vital de
Berlim antes do advento da Segunda Guerra
para, a partir das preexistências,
compreender as propostas urbanísticas
aprovadas no final do século XX.
Desde o século XVIII a
Alexanderplatz assumiu destacada
importância urbana, tornando-se um
significativo eixo de transportes e fluxo de
pedestres, em conseqüência da
concentração de atividades comerciais,
socioculturais e de prestação de serviços em
seu entorno. Seus primeiros edifícios
202
arquitetonicamente significativos
55
foram o
Königstorkolonnaden (1771), o
Exerzierhaus (1799-1800) e o Königstädter
Theater (1824).
Königstorkolonnaden, Königsbrück e
Königstrasse. arcada do rei, ponte do rei e rua
do rei. - 1771
Fonte: www. Stadtentwicklung.berlin.de
Königstädter Theater - 1824
Fonte: www. Stadtentwicklung.berlin.de
Ao longo da primeira metade do
século XIX, a Alexanderplatz foi palco de
batalhas contra russos e franceses e
também da Revolução de 18 e 19 de março
de 1848. Isso se deveu à localização da
praça, um ponto geográfico estratégico para
a defesa da cidade.
55
As informações históricas contidas neste
capítulo procedem do documento oficial
veiculado on line no endereço digital: www.
Stadtentwicklung.berlin.de/planen/staedtbau-
projekte/alexanderplatz/
Revolução de 18 e 19 de março de 1848 -
Litografia tendo ao fundo o Königstädter
Theater.
Fonte: www. Stadtentwicklung.berlin.de
Na segunda metade do século XIX se
deu o impacto da industrialização sobre a
estrutura urbana da cidade. Novas fábricas
foram instaladas, a população cresceu e a
demanda por novas habitações gerou um
aumento nos preços dos imóveis. Em
conseqüência disso, os edifícios residenciais
cresceram em altura para abrigar mais
apartamentos e novas instalações
comerciais foram implantadas em suas
imediações. A Alexanderplatz tornou-se uma
área cada vez mais importante como
centralidade urbana de Berlim. Importantes
obras públicas continuavam sendo
construídas para beneficiar sua infra-
estrutura, dentre elas a mais significativa do
final do século XIX foi a Estação Ferroviária,
cuja construção demandou a edificação de
um conjunto de trilhos elevados para
possibilitar acesso à plataforma de
embarque.
203
1882 Stadtbahnhof Alexanderplatz Estação
Ferroviária.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
1896 - Panorama da Alexanderplatz tendo ao
fundo os trilhos elevados.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Outras obras arquitetônicas
importantes surgiam nos terrenos que
compunham a Alexanderplatz, entre elas a
construção do luxuoso Grand Hotel,
reafirmando a importância do lugar para a
cidade, que contava com aproximadamente
um milhão de habitantes, um parque
industrial consolidado e uma estrutura
sociocultural desenvolvida. No final do
século XIX, Berlim tornara-se uma das mais
importantes capitais da Europa.
1883-1884 - Grand Hotel
Fonte: www. Stadtentwicklung.berlin.de
No início do século XX, a
Alexanderplatz era o mais destacado centro
comercial da cidade, graças à construção de
três grandes instalações comerciais: o Hahn,
o Wertheim e o Tietz, edifícios que
dominaram a paisagem da praça conferindo
uma aparência de lugar moderno, rico e
tecnologicamente atualizado.
1905 – Centro Comercial Tiez.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
204
1911 - Centro Comercial Wertheim.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Grandes problemas urbanos, como o
transporte de massas e a organização do
trânsito, demandavam soluções eficientes. O
congestionamento de fluxos gerado pela
construção de grandes instalações
comerciais e habitacionais na
Alexanderplatz conduziu a um projeto,
elaborado por Alfred Grenander de 1927 a
1931, para a implantação de uma estação
subterrânea que abrigaria linhas de trens
em diferentes níveis.
Desenho de 1930 quatro níveis para o
transporte de massas na Alexanderplatz, sendo
dois no subsolo, um ao nível da rua e um
elevado.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Em 1929, foi realizado um concurso
público para encontrar soluções para o
problema de trânsito em Berlim, do qual
participaram, como convidados, entre
outros: Peter Behrens, Hans e Wassili
Luchardt e Ludwig Mies van der Rohe. O
tema era espaço e trânsito.
1925- Movimento de rua na Alexanderplatz.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
205
1935- Alexanderplatz
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
1945- Ruínas da Estação Ferroviária.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Com o advento da Segunda Guerra,
a cidade foi semidestruída e, no final do
conflito, a situação urbana requeria
interferências de reconstrução em larga
escala.
1945- Ruínas do centro de compras Hertie.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
1945- Ruínas do Polizeipräsidium e
Alexanderhaus.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Após o encerramento dos conflitos, o
arquiteto Hans Scharoun foi designado pelo
governo alemão para elaborar um plano de
206
emergência, pois era hora de construir uma
nova sociedade e essa nova sociedade não
poderia ser edificada sobre velhos
conceitos, até mesmo os urbanísticos. A
intenção era reformular totalmente a
paisagem urbana, utilizando os renovadores
conceitos do movimento moderno. O plano
geral para Berlim consistiu na aplicação da
Carta de Atenas, elaborada pelo CIAM de
1942, e se inspirava no projeto de Le
Corbusier para Paris, o Plan Voisin.
1945- Desfile soviético na Alexanderplatz.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Porém, o plano de Hans Scharoum
não pôde ser implementado, visto que
abrangia a cidade inteira e, por questões
políticas, ela fora dividida em 1948-1949. O
setor leste ficou sendo administrado pelo
governo soviético e o setor oeste foi dividido
em três regiões administradas pelos países
aliados: ingleses, franceses e americanos. A
partir de 1950, Berlim passou a ser
planejada segundo os conceitos, as
diretrizes e as metas de diferentes
administrações. A Alexanderplatz ficou sob
a instituição administrativa soviética.
Após a remoção das ruínas, a
Alexanderplatz tornou-se um grande vazio.
1950- Alexanderplatz
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
1952- Cartaz de divulgação das medidas de
reconstrução de Berlim.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
207
1958 - Plano de reconstrução da Stalinallee
atualmente Karl Max Allee até a
Alexanderplatz.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A administração soviética considerou
a divisão da cidade como um fato
irreversível. Elaborou, portanto, novos
planos de atuação considerando a
necessidade de tratar o território urbano que
lhe cabia como um todo, o qual, para
funcionar satisfatoriamente, teria de ser
completo do ponto de vista urbanístico e
social. Dessa forma, serviços, comércio,
habitação, produção e lazer eram temas
para serem resolvidos em função da
comunidade localizada no lado oeste da
cidade, como unidade totalmente
independente. O desenho adotado para
compor os novos projetos urbanísticos trazia
os princípios da arquitetura moderna, porém
a simetria e o caráter monumental soviético
eram presenças indissociáveis das
propostas apresentadas. Para a
remodelação da Alexanderplatz, foram
realizados dois concursos: um em 1964 e
outro em 1968. Os edifícios propostos
tinham a forma de paralelepípedos
retangulares, ora dispostos horizontalmente,
ora verticalmente, com aparência despojada
de ornamentos. Os novos edifícios
substituíam os antigos sem considerar os
valores das preexistências urbanísticas ou
edilícias.
1964- Maquete do projeto vencedor do concurso
para reconstrução da Alexanderplatz.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
1968- Maquete do projeto vencedor do concurso
para reconstrução da Alexanderplatz.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A intervenção soviética foi
importante para a atual configuração
paisagística da parte leste de Berlim. Vários
edifícios desse período estão conservados
no contexto de sua paisagem, dentre eles: o
Haus des Lehrers de 1961-1964, o Haus
des Statistik de 1968-1970 e a
Fernsehturm de 1969, construída como
símbolo político socialista, assim como o
complexo da Stalinallee atualmente Karl
Max Allee.
A seguir são apresentadas imagens
coloridas atuais de edifícios que foram
preservados ou remodelados, mantendo
suas volumetrias originais.
208
1961-1964- Haus des Lehrers com o
Kongresshalle.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
1968-1970- Haus des Statistik
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
1969- Fernsehturm
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Obras igualmente importantes foram
a reconstrução da Bahnhof mit
Bahnviaduktem - estação com viaduto -
(1962-1964) e dos edifícios Alexanderhaus
e Berolinahaus em 1951. A partir de 1967,
dentro da política de remodelação da
Alexander Platz, foram construídos: o
Centrum-Warenhaus, o maior centro de
compras do setor alemão oriental; o Hotel
Stadt Berlin, o Haus der Eletroindustrie, o
Haus des Reisens, e o Haus der Berliner
Verlage.
1951 – Alexanderhaus e Berolinahaus
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
1962-1964 –Bahnhof e Bahnviadukt estação
e viaduto.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
1969-1970 - Centrum-Warenhaus após re-
arquitetura contemporânea com o nome de
Galeria Kaufhof.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
209
1967-1970 - Hotel Stadt Berlin em construção
123 m de altura e 2.000 leitos.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
1993-1998 re-arquitetura do Hotel Stadt
Berlin – atualmente Hotel Park Inn.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
1967-1969 - Haus der Eletroindustrie foi
remodelado em 2000 atualmente denominado
Alex 6
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
1969-1671 - Haus des Reisens
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
1970-1973 - Haus der Berliner Verlage
atualmente sede do Berliner Zeitung.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Na seqüência de imagens
apresentadas pode-se perceber uma
tendência à verticalização que foi sendo
sedimentada ao longo dos diversos
momentos de intervenção na arquitetura da
paisagem da Alexanderplatz.
Planos para investimentos no setor
de infra-estrutura de transporte público
resultaram em complexos projetos de
adequação viária de superfície e de subsolo.
Havia um esforço, por parte da
administração soviética, para que se
restabelecesse o centro vital da cidade na
Alexanderplatz. Assim, a construção de
210
edifícios públicos e soluções de transporte
de massa promoviam um conjunto de
elementos atrativos no lugar. Porém, a nova
estrutura política socialista inibia a iniciativa
privada e valorizava as obras coletivas. Isso
comprometeu a dinâmica urbana e a
paisagem da cidade tornava-se cada vez
mais cinza, uma vez que, na falta do
interesse gerado pela competição do capital,
a população do setor soviético sequer
pintava os edifícios.
Em 1969, o governo socialista
comemorava 20 anos de criação da DDR
Deutsche Demockatishe Republic
Alemanha Oriental. Na ocasião foram
publicadas no jornal berlinense Neues
Deutschland as propostas institucionais de
intervenção no espaço urbano, entre as
quais se encontravam a ampliação e o
ordenamento do sistema de subsolo da
Alexanderplatz.
Assim como foi para Berlim antes da
Segunda Guerra, a Alexanderplatz continuou
sendo um lugar de destaque também para a
Berlim-Oriental socialista. Disso resultou
uma constante intervenção urbanística que
propiciava melhorias em seu espaço público.
O governo socialista proporcionava
significativas reformas urbanas nas datas
comemorativas do aniversário da cidade e
de criação do governo soviético. Na década
de 1980, foi construída uma zona de
pedestres nos moldes das intervenções
ocorridas no lado ocidental da cidade.
1969 Proposta de expansão do subsolo da
Alexanderplatz publicada em 25 set.1969.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
1973 – Alexanderplatz
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
211
Alexanderplatz em 1975
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
1985 – Alexanderplatz
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
1985 – Zona de pedestres na Alexanderplatz
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
Tradicional palco de grandes
manifestações populares, em 4 de
novembro de 1989 a Alexanderplatz sediou
212
um manifesto de aproximadamente um
milhão de pessoas contra o governo
soviético. Foi um prelúdio do que viria
depois: a queda do Muro de Berlim. O fato
viria influenciar o equilíbrio político e
econômico internacional, porém, para o
cidadão berlinense, teria um significado
particular de resgate de poder, de
memórias, de cultura e, sobretudo, de
dignidade. O fato demonstrou que a
Alexanderplatz continuava sendo o lugar das
grandes manifestações populares na cidade
de Berlim.
Manifesto popular na Alexanderplatz em 4 de Novembro de 1989.
Fonte: germanhistorydocs.ghi-dc.org/images/
213
Alexanderplatz – maquete eletrônica conforme se encontrava na data da queda do Muro de Berlim.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
2002 – Alexanderplatz
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
A partir da Reunificação,
ocorrida em 3 de outubro de 1990, a cidade
de Berlim pôde ser novamente planejada
como um todo e a Alexanderplatz foi
contemplada com um concurso
internacional que teve por objetivo promover
uma ocupação adequada das áreas de seu
entorno. Em 15 de setembro de 1993, foi
selecionado, entre os 16 escritórios
convidados
56
. o projeto do escritório Kolhoff
56
Escritórios convidados: Bellmann und Böhm;
Mario Botta; Flöting & Kaufmann, Ingenhoven,
Overdiek, Petzinka & Partner; Edvard Jahn; J. P.
& Timmermann. A proposta consistiu na
instalação de 13 torres de 150 metros de
altura sobre uma base horizontal de 37
metros de altura, promovendo o
adensamento de construções e população
na área. Por estranho que pareça, a
verticalização da Alexanderplatz faz parte da
seqüência natural dos acontecimentos, visto
Kleihues; H. Kollhoff und H. Timmermann; R.
Koolhaas; Daniel Libeskind mit B. Faskel; David
Mackay MBM; Murphy Jahn; Nettbaum & Partner;
Pysall, Stahrenberg & Partner; Rhode,Kellemann,
Wawrowsky & Partner; Martin Trebs mit Renton
Howar Wood Levin Partnership und Kny & Weber.
214
que, por sua vocação histórica, a área
sempre recebeu da cidade de Berlim,
investimentos compatíveis com sua
localização privilegiada e edifícios
construídos com a tecnologia mais avançada
disponível na época. Na proposta
selecionada, havia a intenção de
proporcionar uma redução no custo da
unidade habitacional localizada no centro da
cidade por meio da ampliação da oferta de
imóveis habitacionais. Outro fator que
influenciou a proposta de adensamento foi a
diretriz ambientalista contida na Agenda 21,
que determina o adensamento urbano para
poupar os terrenos periféricos ainda livres
de construções urbanas e o incentivo à
pedestrialização das cidades.
Havia a diretriz governamental de
devolver à Alexanderplatz sua importância
como lugar de desenvolvimento financeiro e
cultural da cidade de Berlim e também como
centro simbólico e de projeção da cidade no
panorama internacional. Portanto, o novo
centro vital da cidade seria reinstalado na
Alexanderplatz. O grupo de edifícios
proposto por Kollhoff & Timmerman destaca-
se no contexto horizontal da cidade,
promovendo, além de intenso contraste,
também uma alteração na abordagem
paisagística formal de Berlim. Porém, nas
imediações da praça, são mantidos os
edifícios de significado histórico e o traçado
das vias principais. A nova imagem formal
do conjunto a ser edificado parece fora de
proporção e de contexto, todavia contém um
nexo de realidade se for considerado o fato
de que a Alexanderplatz representou,
durante o século XIX e metade do século XX,
o centro dos acontecimentos econômicos e
sócio-culturais da cidade. Além disso, ao
longo de seu processo construtivo, recebeu
os maiores, mais altos e mais importantes
edifícios desde o final do século XVIII.
Alexanderplatz - maquete eletrônica com a
proposta de Kolhoff & Timmermannn em
segundo plano
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Segundo o arquiteto Hans Kollhoff,
57
a proposta arquitetônica elaborada para a
Alexanderplatz, procurou contemplar os
interesses dos moradores do local “com sua
mentalidade suburbana” e aluguéis baratos;
da cidade como um todo; do Governo
Federal que planejou reinstalar ali um
grande centro urbano, porém sem recursos
financeiros para executar as obras; e dos
investidores privados que desejavam retorno
rápido de investimentos e lucro
compensador. Dessa forma a proposta
apresentada estabeleceu alta densidade e
uso misto, com uma proporção de 30% da
área construída destinada para residências.
A alta densidade beneficia a
57
Entrevista a revista AU65 ANO 11 Abr/Mai 96
p. 50-55.
215
pedestrialização da área, assim a
Alexanderplatz ficou com exclusividade de
uso para pedestres, os acessos motorizados
dos edifícios ocorrerão pela vias arteriais
que cruzam o setor urbano central.
A centralidade da Alexanderplatz
confere-lhe um forte poder de atração, tanto
de investimentos, quanto de visitação, disso
resulta a necessidade de sua organização
espacial planejada, para que haja
compatibilidade de oferta de usos para toda
a população da cidade, quer para moradia,
quer para negócios e lazer. Pela própria
vocação de socialização da área percebe-se
a importância da manutenção de sua
característica popular, como centro de
convergência urbana.
1993 – Planta da proposta de Kollhoff & Timmermann para re-arquitetura da Alexanderplatz.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
216
1993 – Maquete da proposta de Kollhoff & Timmermann para re-arquitetura da Alexanderplatz.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
1993 – Proposta de Kollhoff & Timmermann para re-arquitetura da Alexanderplatz.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
217
1994 Maquete da proposta de Kollhoff & Timmermann, reformulada, para re-arquitetura da
Alexanderplatz.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Após a escolha da proposta, no
concurso de 1993, o Senado de Berlim
determinou a redução no número de torres
de 13 para 10. O plano de massa foi
reelaborado e, posteriormente, apresentado
em 1994. Manteve-se a idéia central da
proposta, que era a concentração de torres
como elementos marcantes da paisagem
urbana e o uso misto para garantir a
redução do deslocamento motorizado.
A nova paisagem em construção
promoverá perspectivas urbanas ainda não
vistas em Berlim. É uma revolução formal,
porém uma atitude conservadora quando
o que se propõe é manter a tradição de
vanguarda cultural e tecnológica em um
espaço urbano que foi tradicionalmente um
vetor de desenvolvimento socioeconômico e
a centralidade urbana de maior importância
da cidade. O sentido da proposta urbanística
foi resgatar essa importância histórica. A
forma escolhida para alcançar tal objetivo foi
utilização de edifícios de destaque, tanto por
suas presenças marcantes em razão,
principalmente, de suas alturas quanto pela
tecnologia a ser utilizada em suas
construções. A força dos investidores e seus
interesses de lucro são questões a serem
consideradas no processo de definição das
escolhas processadas. Porém, no contexto
218
da presente investigação, este dado compõe
uma dentre as diversas variáveis que
somadas conduziram à escolha de um
projeto que refletia o desejo de reconstruir
uma imagem de prosperidade e poder e o
que se buscou, na Alexanderplatz, foi
resgatar o antigo significado do lugar.
Proposta de Kollhoff & Timmermann para re-arquitetura da Alexanderplatz.
Fonte: AU65 ANO 11 Abr/Mai 96 p. 54-55
Proposta de Kollhoff & Timmermann para re-arquitetura da Alexanderplatz.
Fonte: AU65 ANO 11 Abr/Mai 96 p. 54-55.
219
Maquete da proposta de Kollhoff & Timmermann
para re-arquitetura da Alexanderplatz.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Maquete da proposta de Kollhoff & Timmermann
para re-arquitetura da Alexanderplatz.
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Entre as propostas que foram
desenvolvidas em nível de projeto
arquitetônico com obra iniciada em 2004
e término previsto para 2007 - encontra-se
o centro de compras e entretenimento
ALEXA, planejado para ser um novo ponto de
encontro berlinense para moradores e
visitantes da cidade. Obra do arquiteto José
M. Quintela da Fonseca, contém, além de
lojas, um centro gastronômico como atração
e uma torre de escritórios. O projeto adotou
elementos Art Deco da década de 1920,
como alusão a uma época de destaque da
Alexanderplatz.
ALEXA – Alexanderplatz
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
ALEXA – Alexanderplatz
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de
Os projetos permitem uma avaliação
do significado das novas intervenções na
Alexanderplatz. Uma nova onda de
demolições está prevista para possibilitar a
consolidação de uma proposta urbanística e
arquitetônica para a área que sofrerá
220
alterações no traçado viário e substituição
de alguns dos
edifícios avaliados como fora do padrão de
qualidade exigido pela legislação berlinense
atual. O projeto para o espaço aberto da
praça prevê nova pavimentação, ausência
de vegetação para não obstruir a
visibilidade, uma vez que funcionará como
palco de grandes reuniões cívicas, a fonte e
o relógio foram considerados como
patrimônio cultural e foram preservados.
O adensamento proposto por Hans
Kollhoff justifica-se diante da excelente
estrutura de transportes públicos
implantada no local, a intenção de reforçar a
centralidade urbana da Alexanderplatz e
para evitar o espalhamento urbano sobre as
áreas rurais do entorno da cidade.. Há,
segundo Kollhoff, uma tentativa de
aproveitamento da infraestrutura existente
no local, uma vez que, a atual carência de
recursos financeiros por parte do poder
público inviabilizaria abrigar grande
concentração de pessoas e negócios em um
novo lugar. A questão do empobrecimento
da administração pública é atribuido, por
Kollhoff, ao desmoronamento da sociedade
burguesa. Segundo ele:
Não verba para construção de
escolas, de equipamentos públicos, e,
em certos casos, nem sequer para
abertura de ruas. Na verdade o setor
público é quem deveria se encarregar
dos espaços públicos. Como não
dinheiro para isso, recorre-se a
investidores privados, pressionando-os
para que, quando da compra de
terrenos pertencentes ao setor público,
atendam a certas exigências de que a
cidade necessita. O grande problema é
que tudo ocorre enquanto investimento
privado. E isso numa sociedade que,
como disse, não tem mais uma
consciência burguêsa. Também por
esse motivo a cidade tende a se
desagregar em interesses isolados, fato
documentado no ambiente construído.
É possível conter essa tendência
através do planejamento e de
instâncias políticas. […] Mas as
possibilidades que se tem são
limitadas. (AU65 ANO 11 Abr/Mai 96 p.
50)
Percebe-se portanto, que a questão
econômica, a estrutura social, os interesses
politicos atuam sobre a construção do
espaço urbano de forma complexa, cabe aos
arquitetos e planejadores urbanos
manipular as variáveis de modo a gerar
espaços arquitetônicos que satisfaçam,
tanto ao governo e aos empreendedores,
quanto a população em geral. Equacionar
problemas referentes ao uso do espaço
urbano é tarefa desenvolvida no âmbito da
disciplina Arquitetura. A configuração
paisagística resultante do agenciamento de
variáveis procedentes de diversificados
campos terá que, necessáriamente,
apresentar uma otimização no uso de
terrenos urbanos, infraestruturas existentes
e utilização de recursos financeiros. Assim,
para Berlim, o agenciamento dessas
variáveis de modo satisfatório, resultou em
adensamento e verticalização do centro
urbano de maior significado simbólico e
potencial de infraestruturas construídos
em Berlim. O carater simbólico da
centralidade urbana do lugar foi
determinante para a definição da nova
paisagem que está sendo construída, a
Alexanderplatz foi o coração da cidade, as
novas intervenções terão o poder de
restaurar essa condição. O novo perfil da
221
cidade, após a implantação do complexo
edificado da Alexanderplatz, indicará seu
centro vital, o lugar de referência para a
orientação urbana.
Hines – Alexanderplatz – D4
Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.
Localização do Hines – Alexanderplatz – D4
Fonte: stadtentwicklung.berlin.de
O senado de Berlim planejou a
reconstrução do centro da cidade até o ano
2020. Para a Alexanderplatz, o prazo
previsto para a conclusão total das obras é
2010. O centro de Berlim no início da
década de 1940 apresentava uma
paisagem urbana em condição de espaço
urbano consolidado; em 1953, as ruinas de
guerra haviam sido removidas, resultando
em quarteirões fragmentados e na perda do
desenho histórico; em 1989, o governo
soviético havia demolido e reconstruído
novos edifícios; em 2001, as intervenções
ocorriam no âmbito da re-arquitetura dos
edifícios mais significativos para o
funcionamento da cidade na região da
Alexanderplatz; em 2010, a previsão
governamental é de que todo o complexo
proposto pelo escritório Kollhoff &
Timmerman já esteja edificado.
1940 – Alexanderplatz- Schwartzpläne Berlin
Fonte: stadtentwicklung.berlin.de
222
1953 – Alexanderplatz- Schwartzpläne Berlin
Fonte: stadtentwicklung.berlin.de
2001 – Alexanderplatz- Schwartzpläne Berlin
Fonte: stadtentwicklung.berlin.de
1989 – Alexanderplatz- Schwartzpläne Berlin
Fonte: stadtentwicklung.berlin.de
2010 – Alexanderplatz- Schwartzpläne Berlin
Fonte: stadtentwicklung.berlin.de
2006 - Alexanderplatz
Fonte: stadtentwicklung.berlin.de
223
Maquete eletrônica 3D de Berlim, em destaque a proposta de verticalização da Praça Alexander.
Configuração paisagística para 2020.
Fonte: www.stadtentwickulung.berlin.de
224
5
A re-arquitetura da paisagem: reflexões
Quartier Schätzenstrasse – Aldo Rossi. Fonte: bts.stgatien.free.fr
225
O indivíduo nasce em um povoado que existia antes dele. Porém
lentamente esse povoado vai se convertendo em sua pátria, seu país natal, um
lugar vívido e cheio de recordações. Ruas e praças tornam-se recordações;
tempo e espaço convertem-se na história de sua vida.
(SCHWARTZ apud NORBERG-SCHULZ, 1975, p. 38)
A paisagem urbana, compreendida
como campo da arquitetura, foi investigada,
nesta pesquisa, a partir das relações que se
estabelecem fisicamente entre seus
elementos componentes; considerando-se,
porém, a dinâmica de sua constituição
morfológica ao longo do tempo e as
influências socioculturais provenientes,
sobretudo, da evolução do pensamento
arquitetônico e do aumento de sua
complexidade.
Em relação à realidade berlinense,
pôde-se observar que as interferências na
cidade existente passaram por um processo
de diferentes experimentações teóricas,
que resultaram em materializações urbanas
de fisionomias diversificadas. Os três
momentos paradigmáticos investigados
apresentaram, como resultado
226
arquitetônico, uma qualidade espacial
excepcional. Conceitualmente diferentes,
morfologicamente singulares, mas, do ponto
de vista estético e funcional, irrepreensíveis.
Diante desta evidência fica a questão: o que
se busca, afinal?
As transformações urbanas são
inevitáveis, pois constituem o espelho das
transformações sociais produzidas pela
evolução cultural e tecnológica de uma
população. No decorrer da presente
pesquisa, pôde-se constatar que, de forma
genérica, as transformações urbanas se
processam, basicamente, de duas maneiras:
quando uma situação evolui para outra
impulsionada por uma evolução interna do
pensamento comunitário e quando uma
situação bruscamente se converte em outra
à revelia de um processo de internalização e
compreensão de um novo fato. No primeiro
caso, a alteração da forma da paisagem
urbana é assimilada pela maioria promotora
das modificações. É como se as mudanças
fizessem parte de um desejo coletivo que
criaria, no imaginário geral, as novas formas
repletas de novos significados e adequadas
ao novo modo de vida. No segundo caso, as
alterações não são assimiladas pela
coletividade, as transformações da
paisagem urbana geram agressões à
memória coletiva e individual do cidadão
que, ou não se encontra preparado
intelectualmente para receber as mudanças,
ou sente-se ainda preso a um passado que
para ele é o seu próprio momento presente.
Observa-se que, no primeiro caso, as
mudanças teóricas e conceituais não vão
excluindo pensamentos anteriores e, sim,
somando diferentes configurações às
existentes.
O resultado verificado em Berlim, no
final do século XX, foi um espaço urbano que
aparentava uma multiplicidade de
estratégias de organização espacial. Mesmo
o momento dito pós-moderno, que pregava
um retorno à cidade histórica tradicional,
não conseguiu gerar um espaço
formalmente idêntico ao tradicional. A
população havia modificado conceitos de
configuração e uso do espaço urbano. Do
ponto de vista tecnológico, a sociedade
apresentava exigências diversas e a cidade
histórica tradicional não tinha como atender
às suas necessidades. Dessa forma, a
própria população que clamava por suas
raízes, paradoxalmente, não se adaptava
mais ao velho formato.
Dentre as inúmeras possibilidades
de abordagem da paisagem urbana, duas
foram destacadas nesta investigação: uma,
a paisagem urbana como contexto vivencial
experimentado e percebido por seus
usuários; outra, a paisagem urbana como
construção física mutável no tempo.
A paisagem urbana é um conteúdo
complexo de difícil abordagem.
Compreendida como campo da arquitetura,
foi investigada a partir das relações que se
estabelecem fisicamente e visualmente
entre seus elementos componentes.
Considerando-se que a cidade é um
organismo em constante processo de
formação, a paisagem urbana é uma
realidade dinâmica, em constante mutação
227
e vai redefinindo sua configuração segundo
as necessidades de adaptação de sua
estrutura às alterações processadas nos
campos situados fora da arquitetura, ou
seja, na cultura, na economia, na política, na
tecnologia. Embora, as questões
relacionadas à cultura, à economia, à
política e à tecnologia não componham o
conjunto dos objetivos de investigação do
presente trabalho, integraram as referências
como informações complementares ou
esclarecedoras dos contextos expostos ou
analisados.
Se a paisagem urbana for
compreendida como uma construção gerada
a partir de interesses e aspirações de seus
usuários, que tenha como principal objetivo
gerar bem-estar, o foco de interesse da
investigação deslocar-se-á do campo físico
para os campos psicológico e filosófico e
para sua relação com o ambiente gerado
pelas definições da arquitetura. O bem-estar
do usuário, visto como principal objetivo do
processo de construção da paisagem, será
evidenciado pelas relações que se
estabelecem entre ele e a estrutura física da
cidade e seus elementos.
Tomando por base as experiências
individuais, pode-se constatar, de modo
inconteste, que determinadas paisagens são
apreendidas de forma familiar, mesmo
quando são vivenciadas pela primeira vez.
Cabe, então, um questionamento: quais são
as causas que levam um observador a
estabelecer uma relação empática com a
paisagem, seja ela conhecida ou não?
Evidentemente também se estabelecem
entre homem e paisagem relações negativas
de desagrado, medo, desconforto e outras.
Conscientes ou não, as pessoas percebem
as paisagens que vivenciam; isso afeta o
seu comportamento e, conseqüentemente,
sua relação com a sociedade com a qual
convive.
Segundo Norberg-Schulz (1975, p.
10), o homem estabelece uma estrutura
espacial composta pelos lugares onde
desenvolve suas atividades e pelos
caminhos que fazem a ligação entre esses
lugares. É, portanto, uma estrutura
conhecida e vivenciada à qual o autor
denominou espaço existencial”. O espaço
existencial é uma figura abstrata, que se
consolida por meio do espaço
arquitetônico. Este é composto pelas
construções que viabilizam e abrigam as
atividades casa, escola, oficina, cinema,
entre outras e pelas ligações físicas entre
elas estradas, avenidas, ruas, caminhos,
túneis, etc. A origem do espaço existencial
de Norberg-Schulz encontra-se nos desejos
e necessidades do homem; fatores esses
que geram o processo de constituição de
sua estrutura vivencial. Essa estrutura, por
sua vez, é consolidada fisicamente por meio
das estruturas arquitetônicas que serão
edificadas e que comporão o espaço
arquitetônico que viabiliza, no plano físico, a
realização das atividades e as possibilidades
de ligação entre elas. O espaço
arquitetônico urbano é único. O espaço
existencial é múltiplo, sobrepõe-se ao
espaço arquitetônico em diferentes
composições, que dependem da experiência
228
espacial de cada indivíduo que usufrui o
meio urbanizado.
Conforme Aristóteles apud Norberg-
Schulz (1975, p. 10), “[...] espaço é a soma
de todos os lugares”. Desenvolvendo melhor
a idéia de lugar, pode-se dizer que o lugar é
o ponto de partida e de chegada, é o
referencial de abrigo, de proteção, de
realização, é o sentimento de estar dentro,
de pertencer a um contexto, é a sensação
de conhecer e de interagir com o ambiente.
Lugar é consciência de localização. A partir
do lugar o ser se relaciona e se orienta no
ambiente circundante.
58
Antes de ser uma
forma física, ou seja, um elemento
arquitetônico, o lugar é um estado de
percepção e atende a uma necessidade
humana de realização de atividade
necessária ou desejada. “Estar em alguma
parte contrasta com o movimento de ir e vir”
(NORBEG-SCHULZ, 1975, p. 49), estar em
algum lugar é criar uma referência de
direção e situar-se no espaço.
Partindo-se de um determinando
ponto fixo de localização é possível
estabelecer uma relação com o ambiente
envolvente. Dessa forma, cria-se a estrutura
do espaço existencial elementar,
possibilitando a formação do ambiente
envolvente. A concretização dessa estrutura
elementar é o espaço arquitetônico básico: o
lugar. De acordo com suas demandas, o
indivíduo cria uma multiplicidade de lugares
compatíveis com o desenvolvimento de
atividades específicas ou especializadas e
estabelece um sistema de ligações entre os
58
Para as considerações sobre o lugar, ver
Norberg-Schulz (1975, p. 22-24).
lugares criados. Esse é o espaço estruturado
que Norberg-Schulz (1975, p. 9-12)
denomina espaço existencial, no campo
abstrato, e “espaço arquitetônico” no campo
físico. No contexto de uma sociedade,
existem necessidades comuns a vários
indivíduos, os quais compartilham trechos,
lugares e trajetos de seus espaços
existenciais, conseqüentemente,
compartilham também o espaço
arquitetônico que, na cidade tradicional,
passa a ser construído segundo diferentes
valores, uma vez que necessidades
semelhantes nem sempre geram valores
idênticos. Os valores que os indivíduos
atribuem às situações e às coisas
dependem de suas vivências e
conhecimentos específicos (NORBERG-
SCHULZ, 1975). A diversidade conceitual
encontrada no espaço arquitetônico
tradicional e na paisagem comunitariamente
construídos deve-se, basicamente, à
diferença entre os valores atribuídos por
cada membro da sociedade a um mesmo
elemento compositivo da estrutura criada.
Por exemplo: a casa, que é um elemento
básico da composição do espaço
arquitetônico no nível urbano e o mais
pessoal no contexto existencial, é construída
de diferentes maneiras por indivíduos
pertencentes a um grupo com o mesmo
poder aquisitivo e nível cultural semelhante.
A paisagem urbana tradicional resulta de
uma construção coletiva em que os valores
individuais predominantes determinam sua
configuração.
229
Em Berlim, a re-arquitetura
contemporânea rompeu o vínculo entre os
valores individuais e a construção de sua
paisagem. Esta vem sendo definida por meio
de um processo que seleciona seus
elementos formais através de concursos de
idéias e projetos arquitetônicos elaborados
com base em um complexo estudo da
paisagem urbana, o qual fornece as
diretrizes norteadoras das opções projetuais
de seus autores. Assim, a cidade vem sendo
configurada tendo como referência valores
intelectualizados de profissionais altamente
capacitados. A população surgir, na
paisagem de sua cidade, objetos
espetaculares, os quais são recebidos com a
surpresa e o deslumbramento de quem
uma alegoria. não há, para o cidadão
comum, meios de intervir diretamente na
forma final do espaço urbano em razão do
distanciamento que entre o seu
conhecimento tecnológico e o potencial de
utilização da tecnologia na definição da
forma dos elementos componentes da
paisagem da cidade. A distância entre a
realização espacial da cidade e o nível de
compreensão tecnológica de seu usuário
comum vem tornando-se cada vez maior. A
construção do “espaço existencial”
subordina-se à existência de um “espaço
arquitetônico” preestabelecido. O morador
urbano, por mais que participe dos
conselhos de moradores que opinam nas
escolhas dos projetos concursados, apenas
é induzido a escolher entre os objetos
espetaculares que lhe são apresentados.
Em 1957, a população berlinense, ao se ver
frente a frente com um espaço urbano
desmaterializado, estranho à sua realidade
vivencial, reagiu e buscou resgatar sua
imagem urbana tradicional. Agora, no final
do século XX, a população viu surgir a cidade
do espetáculo, intrinsecamente integrada
em sua estrutura urbana tradicional. Não
mais o território estranho isoladamente
delimitado, mas sim, o estranho
intimamente acoplado à estrutura urbana
existente.
A paisagem construída pelo homem
contém uma rede de lugares articulados
entre si, o “espaço arquitetônico” de
Norberg-Schulz (1975, p. 11) e fragmentos
do espaço natural preexistente. A paisagem
construída é um espaço estruturado
objetivamente, intencionalmente, a partir da
interação entre elementos criados e
elementos naturais, de modo que modifique
os naturais em função das necessidades
dos criados e, ao mesmo tempo, adapte os
elementos criados às possibilidades de uso
dos elementos naturais. A percepção dessa
paisagem, segundo Norberg-Schulz (1975,
p. 11), “[...] é um processo complexo no qual
estão envolvidas muitas variáveis. Não
percebemos simplesmente um mundo
comum a todos nós, e sim, mundos
diferentes que são produto de nossas
motivações e experiências anteriores”. Isso
significa que uma mesma paisagem será
lida de diferentes pontos de vista. Cada
indivíduo irá percebê-la a partir de um
enfoque pessoal, formado por um conteúdo
vivencial particular, calcado em
conhecimento próprio e em experiências
230
passadas. Em um contexto de paisagem, o
homem apreende os elementos que lhe são
familiares e que resultaram em experiências
positivas ou negativas. Seu conhecimento
pessoal é o que lhe dá condições de explorar
uma determinada estrutura espacial, de
orientar-se nela, decidir direções a seguir,
sentir-se no lugar, fora dele ou perdido.
59
Os indivíduos percebem “[...]
esquemas espaciais compostos por
estruturas elementares universais
(arquétipos) e estruturas condicionadas
social ou culturalmente e por idiossincrasias
pessoais”. Isso significa que a percepção do
ambiente está diretamente relacionada com
o conhecimento e com as experiências
vivenciadas. “Tudo junto forma a imagem do
ambiente [...] um sistema estável de
relações tridimensionais entre objetos
significativos”. Assim Norberg-Schulz (1975,
p. 11) explica a formação do processo de
percepção do ambiente que nos cerca. O
homem desenvolve um sistema de relações
perceptivas à medida que suas
necessidades se ampliam, isso o leva a
apropriar-se de um território cada vez maior
e mais complexo. Quando seu território
espacial se amplia, passa a sofrer
sobreposições de espaços existenciais de
outras pessoas, assim compartilha seu
espaço arquitetônico socialmente. uma
imagem do ambiente que é real, composta
por objetos que, estruturados
59
Segundo Norberg-Schulz (1975, p. 43),
perdido significa fora da estrutura conhecida.
Quando nossa localização coincide com nosso
espaço existencial experimentamos a sensação
de estar em casa. Se não, é como estar a
caminho, em alguma parte ou perdidos”.
sistematicamente, formam um todo
articulado cuja construção, em se tratando
de cidade, é coletiva. uma outra imagem
do ambiente que é abstrata, existe na forma
que é percebida segundo a capacidade
individual de quem a vivencia, é repleta de
valores subjetivos de caráter afetivo,
científico, religioso, entre outros. É uma
imagem emocional que se forma tendo
como referência os elementos do espaço
real. Como esta imagem é o reflexo das
experiências individuais, ela será mais ou
menos agradável ao observador se trouxer
reminiscências de vivências passadas de
caráter mais ou menos satisfatório. Quando
o processo de mudança física da paisagem
urbana é acelerado, sua população
mergulha em um transe de redefinição de
seu relacionamento com a paisagem local.
A imagem real gera a possibilidade
de percepção e sentido de orientação na
paisagem, e “[...] quando a imagem
resultante é confusa ou muito instável, o
espaço arquitetônico terá que ser alterado”
(NORBERG-SCHULZ, 1975, p.12), pois, como
é função direta do espaço existencial, terá
de refletir sua essência para que encontre
ressonância na alma de seu usuário. A
essência do espaço existencial consiste na
possibilidade de ser totalmente dominado
pelo ser que o vivencia e desenvolve-se por
acréscimo de informação e experimentação.
Portanto, o homem tem domínio sobre ele e
isso gera sua estabilidade emocional, sua
segurança existencial.
60
Dessa forma, a
60
Para Lynch apud Norberg-Schulz (1975, p. 16):
“A orientação do homem pressupõe uma
imagem do ambiente que o rodeia, um quadro
231
paisagem urbana torna-se mais ou menos
familiar se tiver maior ou menor quantidade
de lugares e trajetos reconhecíveis ou
semelhantes a lugares e trajetos
componentes do espaço existencial do
indivíduo que a visita pela primeira vez. Essa
afirmação decorre de uma análise de pouca
complexidade, uma vez que está baseada
em uma relação de experiência vivencial
direta entre o indivíduo e o ambiente que o
cerca. Tal experiência torna-se mais
complexa quando o indivíduo se apropria de
informações que lhe permitem conhecer
lugares e paisagens sem ter,
necessariamente, contatos diretos com elas.
Por meio de mídias impressas e digitais as
imagens adquiriram amplas possibilidades
de dispersão. Atualmente é possível
conhecer uma infinidade de paisagens sem
ter de circular por elas e, no momento em
que se tem a chance de experimentá-las
pessoalmente, a sensação é de
familiaridade. Porém, essa familiaridade é
ilusória, uma vez que o espaço arquitetônico
desconhecido não contém os lugares e os
caminhos que estruturam o espaço
existencial do visitante, que é o que lhe o
sentido de orientação quando pretende ir de
um lugar para outro. Neste caso, acionar o
intelecto para utilizar um mapa como
referencial de orientação poderá ser um dos
meios de solucionar o problema e
estabelecer uma nova conexão inserindo um
mental do mundo físico exterior [...] uma boa
imagem ambiental ao que a possui um
importante sentido de segurança emocional.”
Norberg-Schulz (1975, p. 22): “As ações do
indivíduo se diferenciam e se multiplicam e com
elas amplia-se o domínio de novos lugares,
novos centros [...]”
novo lugar no espaço existencial de sua
vida.
“O homem necessita de um centro”
(NORBERG-SCHULZ, 1975, p. 56), ou seja,
de uma meta no espaço existencial. Como o
lugar estabelece uma tensão entre partida e
chegada, este dinamismo caracteriza o lugar
e é sua essência. A centralidade implica
uma “concentração de massa”, ou uma
convergência/divergência de caminhos. Se o
espaço arquitetônico for uma região,
61
haverá em algum ponto uma
convergência/divergência de caminhos e um
aglomerado de edificações, os quais
proporcionarão a configuração do lugar
como centro estruturante do entorno
regional. Se o espaço arquitetônico for uma
cidade, haverá um centro dominante,
adensado tanto de construções quanto de
atividades, provavelmente verticalizado, e
que desempenhará o papel de meta
coletiva, assumindo a centralidade
estruturante do entorno. O caráter geral de
uma região
62
pode assemelhar-se ao de
outra e isso satisfaz “[...] a necessidade do
homem de pertencer a algo conhecido [...]
quando o caráter do ‘seu lugar’ se repete em
‘outra parte’” (NORBERG-SCHULZ, 1975, p.
72). O caráter geral de um lugar é
proporcionado pela configuração do espaço
61
Norberg-Schulz (1975, p. 83-112) estabelece
diferentes níveis de espaço arquitetônico: o nível
da paisagem rural, o nível urbano e a casa.
Embora faça referência ao nível geográfico não
desenvolve a idéia.
62
A região, segundo Norberg-Schulz (1975, p.
71), é um espaço arquitetônico de amplas
dimensões, é um território de características
homogêneas, delimitado, reconhecível e pode
ser um bairro, um conjunto de bairros ou uma
área rural.
232
natural associada a características do
espaço arquitetônico, as quais definem
texturas e detalhes que passam a compor o
repertório formal da arquitetura, que pode
ser utilizado em outros lugares ou mesmo no
processo de reconstrução do lugar.
A re-arquitetura contemporânea de
Berlim apresenta uma idéia clara de
centralidade, que reconstitui a importância
do antigo centro histórico, onde está
localizada a Alexanderplatz, como lugar de
articulação entre o leste e o oeste da cidade.
Percebe-se o resgate da importância e da
centralidade da praça histórica na estratégia
de imposição de uma imagem forte como
referencial para os novos projetos e uma
verticalidade e adensamento populacional
sem precedentes na história da cidade.
Para Hillman (1993),
Cada coisa em nossa vida urbana
construída tem uma importância
psicológica [...] Bem-estar, um
fenômeno específico das cidades, não
é apenas um problema econômico e
social, mas predominantemente um
problema psicológico [...]
[...] a aparência do mundo revela sua
verdade. (HILLMAN, 1993, p. 9, 42 e
135).
Segundo Hillman (1993, p.37), a
psicologia é um campo de trabalho urbano e
“a vida urbana é responsável pelas doenças
psíquicas. A alma adoece com a tensão
urbana.” uma tendência geral de
insatisfação em relação à cidade. As
pessoas desejam refugiar-se junto à
natureza em uma atitude sentimental e
totalmente fora da realidade contemporânea
que “[...] coloca alma e cidade em campos
opostos, resultando em cidades sem alma e
almas sem cidades” (HILLMAN, 1993, p.38).
Isso significa que as pessoas não se
apropriam da cidade como cidadãs, apenas
usam o espaço urbano por necessidade e,
sempre que podem, retornam para o campo,
a serra, a floresta, o mar. A cidade não é
construída para gerar o bem-estar de quem
vive nela, a cidade não pertence às pessoas
e as pessoas não assumem a cidade.
Quando se considera que os agentes
de produção do espaço urbano são o poder
político e o poder econômico e que estes
constituem as forças determinantes, quando
se admite que as forças históricas e sociais
permanecem relegadas ao segundo plano
na seqüência de importância das decisões e
que as necessidades do indivíduo não são
consideradas nos planos diretores urbanos e
nos projetos setoriais de uma
municipalidade, resta concordar que a
cidade realmente não é feita para a alma.
Aqui a alma é entendida como aquela parte
do indivíduo que é afetada emocionalmente
pelo ambiente no qual vive. Se a relação que
se estabelece entre homem e ambiente é
insatisfatória e gera desconforto, o resultado
será a instalação de uma patologia e,
conforme Hillman, a cura dependerá da
restauração da “alma da cidade” (1993, p.
38). Para que a alma do individuo possa
estabelecer uma sintonia positiva com a
cidade, ele declara: “[...] restauramos a alma
quando restauramos a cidade em nossos
corações individuais [...]” (HILLMAN, 1993,
p. 38).
233
A psicologia estuda o interior
emocional do ser, a alma, também chamada
psique. Hillman propõe que os psicólogos
passem a considerar a possibilidade da
interferência do mundo material e das
coisas abstratas que geram o mundo
material nos processos patológicos. Ele
afirma que o mundo está doente e que os
pacientes são sensíveis à patologia do
mundo, que têm razão em se sentirem
angustiados e com medo. Os sinais de
patologia do mundo são: guerras, inflação,
desemprego, lixo, poluição, extinção,
devastação, pobreza, abandono, ou seja,
todas as formas negativas de
relacionamento entre pessoas, países e
meio-ambiente (HILLMAN, 1993, p. 9-28). E
acrescenta ainda: “encontramos a patologia
na psique da política e da medicina, na
linguagem e no design, no alimento que
comemos” (p. 12). O contexto
contemporâneo é ameaçador, gera
insegurança e produz uma cidade que
reflete, tanto em seu contexto de relações
abstratas quanto em sua estrutura física, a
aparência da realidade que representa.
Hillman (1993) faz uma analogia
entre conceitos correntes de alma e os
elementos que poderiam corresponder-
lhes na estrutura imagética da cidade.
Assim, estabelece as seguintes
correlações, que, neste estudo, foram
relacionadas com imagens de Berlim,
nas quais se observa uma cuidadosa
intervenção urbana com o fim de criar, na
cidade, uma estrutura favorável ao deleite
da alma:
Wasserplatz
Fonte: www.naveen-mehling.de
Berlim. Lichtesckultur – escultura luminosa.
Fonte: www.berlin-motive.de/.../images
1- As funções reflexivas da alma
encontram correspondências na
234
cidade nos “lagos, piscinas, galerias,
sombras e venezianas” (p. 38). Isso
significa que a cidade deveria ter
elementos que propiciassem
reflexões profundas, espaços que
suscitassem ir além de suas formas
físicas, que gerassem deleite para a
alma.
2- A alma, como a profundidade do ser,
reflete diferentes níveis, os quais
poderiam ser percebidos na cidade
nos “níveis de iluminação, matizes
de luz [...] texturas e materiais
contrastantes [...] [ao] enfatizar a
interioridade daquilo que está à sua
frente, ou onde você está” (p. 39).
Neste caso, explorar os contrastes
entre os diversos elementos que
compõem a paisagem urbana
possibilita reforçar a percepção de
diferentes níveis, acentuando
conotações físicas e abstratas.
Cúpula do Reischtag
Fonte:
www.photoschule.com/NABerlin/BNArcht.html
3- A alma é guardiã do passado. A
“memória emotiva” é a lembrança
de “[...] experiências emocionais:
coisas que importaram para você em
sua própria vida; coisas importantes
para a comunidade, sua história”
(HILLMAN, 1993, p. 39). As
memórias emotivas da cidade
localizam-se em seus referenciais
históricos, nos elementos que
permanecem no tecido urbano
através do tempo e dos quais se
conhece a importância. Eles
testemunham fatos, sejam eles
públicos ou particulares. Uma cidade
repleta de referências memoriais
conta sua própria história para quem
caminha por ela. Cada um de seus
elementos tem uma importância
especial. “Significa alguma coisa, ela
ecoa com a profundidade do
passado” (HILLMAN, 1993, p. 39).
Sua imagem repercute no interior da
alma que a visita.
Berlim – lichtdesign
Fonte: archiv.Lange-Nacht-der-Museen.de
4- A alma é a parte do ser que imagina.
As imagens e os símbolos são
responsáveis pelo sentido corporal
de orientação, sem eles o ser fica
235
perdido e as placas de sinalização
não substituem os referenciais de
orientação da memória. Eles são
elementos inseridos na paisagem
que guardam algum aspecto
vivencial: o casarão da rua X, a ponte
de pedra, o viaduto, o café da
esquina, o rio, a casa de Cora e
inúmeros outros exemplos. “A alma
precisa de suas imagens e, quando
não as encontra, elabora substitutos;
cartazes de rua e grafites [...]”
(HILLMAN, 1993, p. 40). O homem
estabelece intimidade com os
elementos que compõem o
ambiente que o cerca e cria um
sistema de referências que utiliza
para sua orientação. Há necessidade
de reconhecimento do território onde
vive e de apropriação desse
território, para isso utiliza a
personalização dos lugares como
uma maneira de imprimir uma
marca pessoal e identifica
elementos para usar como símbolos
e possibilitar sua orientação
espacial.
Lustgarten e Berliner Dom
Fonte: www.berlin-motive.de/.../
5- A alma e as relações humanas. Uma
parte importante da vida psicológica
da cidade (HILLMAN, 1993, p. 41)
acontece nos lugares onde se pode
conversar, fofocar, trocar olhares.
Criar oportunidades, ou pretextos,
para o encontro entre pessoas é
fundamental para a saúde tanto
social quanto individual, “[...] lemos
uns aos outros assim é que se
o contato de alma” (HILLMAN, 1993,
p. 41). Isso significa que as pessoas
têm necessidade de contato humano
e a cidade deve criar espaços que
favoreçam esses encontros. Hillman
afirma que o cidadão confere uma
alma à cidade que constrói, que uma
cidade não é “[...] somente edifícios,
mas também pequenas e sensíveis
coisas que dão vida a sua alma”
(1993, p. 50) e é justamente esta
vivacidade que possibilita uma maior
afinidade entre a alma do cidadão e
a de sua cidade. “Uma cidade que
236
negligencia o bem-estar da alma faz
com que a alma busque o seu bem-
estar de forma degradante e
concreta (HILLMAN, 1993, p. 42). A
psicologia explica a relação entre
delinqüência e depredação urbana
através do fato de a cidade segregar
uma parcela da população sob
condições indignas da denominação
de cidadãos. Hillman explicita essa
situação de forma bastante enfática
no parágrafo seguinte:
O bárbaro é aquela parte em nós com
a qual a cidade não fala, aquela alma
em nós que não encontrou um lar em
seu meio. A frustração dessa alma, em
face da uniformidade e da
impessoalidade de grandes muros e
torres, destrói, como um bárbaro,
aquilo que não pode compreender,
estruturas que representam a
conquista da mente, o poder da
vontade, e a magnificência do espírito,
mas que não refletem as necessidades
da alma. (HILLMAN, 1993, p. 42).
Outro fator apresentado por ele
como fundamental para a manutenção da
salubridade da vida urbana é o caminhar
através da cidade. Uma das características
que individualizam a experiência urbana é a
existência de [...] uma multidão
caminhando nas calçadas, movida por
curiosidade, surpresa, pela possibilidade do
encontro” (HILLMAN, 1993, p. 56). Para que
o caminhar através da cidade seja uma
experiência prazerosa e atrativa, é
necessária a diversificação de pontos de
vista, cenários, lugares de encontro, enfim,
de estruturas urbanas preparadas com a
intenção de encantar o olhar. Isso significa
não prender o caminho que os pés irão
percorrer ao caminho que o olhar tiver
percorrido. Em sua obra Cidade & Alma,
amplamente citada aqui, Hillman faz uma
longa referência a esta questão (1993, p.
53- 56).
63
Berlin-Tiergarten
Fonte: www.city-tourist.de/berlin
Uma das críticas feitas ao
urbanismo moderno e contemporâneo
diz respeito ao fato de a cidade ser
planejada a partir da perspectiva do
desenho e de uma melhor circulação
motorizada, e não a partir da ótica
63
Também Lynch (1960) discorre sobre o
mesmo tema no livro A Imagem da Cidade.
237
humana, do encontro, do olhar, do
caminhar. Longe de ser uma visão
romântica ou ingênua, é uma visão de
humanidade. Significa buscar a origem
da relação homem—cidade para
proporcionar um espaço adequado ao
bem-estar, inclusive psicológico, dos
indivíduos que convivem no meio
edificado.
SonyCenterPotsdamer Platz
Fonte: www.city-tourist.de/berlin
Quando Hillman escreve, Talvez [os
prédios] estejam perdendo sua realidade
estética, sensorial, tornando-se não prédios,
que ninguém nota, prédios que não servem
nem aos olhos nem aos pés” (1993, p. 56),
pode-se estender o comentário sobre as
cidades. Talvez a sociedade esteja
produzindo não-cidades, uma vez que são
estruturas coletivamente construídas e que
não são capazes de estabelecer vínculos
positivos emocionais entre seus usuários e
nem de seus usuários com seus espaços
públicos funcionais: ruas, praças, parques,
reservas ambientais. “Uma cidade que
negligencia o bem-estar da alma faz com
que a alma busque seu bem estar de forma
degradante e concreta. [...] A alma que não
for cuidada [...] assalta a cidade que a
despersonalizou” (1993, p. 42). Assim
Hillman justifica as ações de vandalismo”
contra o espaço e o mobiliário urbano. Elas
soam como um protesto do usuário que
negado o seu direito de cidadão. Os espaços
públicos urbanos, quando concebidos como
áreas de estar, espaços de encontro e não
apenas como áreas de passagem, cumprem
sua função urbana mais importante:
viabilizar encontros, contatos pessoais.
Berlin-Volkspark – Parque do Povo
Fonte: www.stadentwicklung.berlin.de
A relação existente entre espaço e
lugar, na concepção de Hillman, gera um
conceito novo de espaço, o lugar-nenhum,
um território com o qual o indivíduo não
estabelece vínculos emocionais. Ele
considera
[...] a cidade como um agrupamento de
lugares. Enquanto espaço tende a nos
induzir a fantasias futuristas (utopias
da era espacial; utopia, uma palavra
que quer dizer “lugar-nenhum”), os
lugares tendem a nos relembrar
histórias, diferenças étnicas e
terrestres, que não podem ser
homogeneizadas nessa mesmice
universal das nossas utopias
contemporâneas, o lugar-nenhum de
238
qualquer lugar dos shopping centers e
das vias que a eles nos levam e deles
nos trazem. (HILLMAN, 1993, p. 62).
Entre as diversas questões
significativas abordadas no texto aqui
referido, encontra-se a beleza como
parte relevante no atendimento às
necessidades essenciais dos seres
humanos. A beleza induz “[...]
pensamentos sublimes. [...] ela inspira,
lembra-nos de nossas asas [...] levando
a mente a valores permanentes e a
verdades eternas” (HILLMAN, 1993,
p.128). Na visão contemporânea a
beleza tem sido reprimida a tal ponto
que foi banida “[...] da pintura, da
música, da arquitetura e da poesia, e
também da crítica [...]” (p. 128). O autor
ainda lembra que, numa relação custo—
benefício, a beleza é o último elemento
considerado em uma obra pública e o
primeiro a ser vetado por questões
econômicas, o que é um grande engano,
uma vez que “a feiúra custa mais” (p.
131).
Qual é o custo para o bem-estar físico
e a harmonia psicológica de um design
descuidado, de corantes vagabundos,
[...] e espaços insanos? [...] no fim do
dia encarar [...] tráfego, [...] transporte
público, fast food, casas padronizadas
[...]. Qual o custo disso em
absentismos, em obsessões sexuais,
abandono escolar, alimentação
compulsiva e pouca capacidade de
concentração; em drogas fármaco-
químicas e as gigantescas indústrias
escapistas do turismo, do
consumismo, dependência química,
violência esportiva. (HILLMAN, 1993, p.
131).
É evidente que a perda do contato
com a beleza não é a única culpada das
vicissitudes humanas, porém identificar em
que medida colabora para a concretização
de tantas infelicidades que vêm assolando a
vida das pessoas é um desafio que merece
ser considerado. Hillman indaga: “Poderiam
as causas das grandes questões sociais,
políticas e econômicas de nosso tempo
também ser encontradas na repressão da
beleza?”(1993, p. 132). Citando Plotino,
Hillman define “o feio como sendo aquilo
que faz com que a alma retraia-se em si
mesma, negando as coisas, afastando-se
das coisas, rancorosa e alienada das coisas”
(p. 138). Diante da beleza o corpo pára, a
mente aguça a percepção e a imagem do
momento percorre a intimidade do
pensamento, da memória e da alma; a
feiúra afasta e revolta aqueles que com ela
se deparam. Evidencia-se, portanto, a
necessidade de a beleza permear a
estrutura física urbana, harmonizando os
elementos compositivos da paisagem,
criando elos de afetividade entre homem e
espaço arquitetônico, gerando, entre outros
sentimentos, auto-estima, respeito, deleite
e tranqüilidade.
239
Potsdamer Platz
Fonte: www.Berlin-Sehenswerdichkeiten.de
Um conjunto de recursos
tecnológicos vem sendo utilizado em Berlim
para promover um excedente de situações
lúdicas em uma cidade que está sendo
arquitetônicamente concebida para provocar
o deleite e a contemplação de seus
usuários. Também Lynch (1997, p 134)
conclui que “é bem verdade que precisamos
de um ambiente que não seja simplesmente
bem organizado, mas também poético e
simbólico”. Percebe-se, nessa afirmação,
que um mesmo eixo de pensamento
entre os dois autores. Eles concordam que é
necessário alimentar a alma propiciando
situações lúdicas e belas.
Potsdamer Platz
Fonte: www.naveen-mehling.de
Quando Lynch (1997, p. 105) afirma
que “[...] em sua condição de mundo
artificial, é assim que a cidade deveria ser:
edificada com arte”, percebe-se uma clareza
de raciocínio que envolve as questões
discutidas por Hillman (1993) e Norberg-
Schulz (1975) relacionadas com a
importância de se considerar, no processo
de definição da arquitetura da cidade, os
elementos subjetivos de sua forma, a
maneira como sua estrutura irá agir sobre
seus usuários. Configurar paisagens
urbanas, para Lynch (1997, p. 2), é “[...] a
arte de dar forma às cidades para o prazer
dos sentidos. Em sua abordagem teórica,
discute a importância da forma urbana para
a orientação e o bem-estar do usuário da
cidade. Em sua investigação, identifica
possibilidades concretas de modificar a
paisagem urbana existente de modo que
240
seja convertida em imagens estruturadas
que possibilitem clara compreensão do
ambiente urbano, legibilidade, orientação
segura e que sejam fortes e memoráveis.
Sugere “[...] um método de abordagem da
forma visual em escala urbana, propõe
alguns princípios básicos de design urbano”
Lynch (1997, Prefácio). O método adotado
foi um exame da “[...] qualidade visual da
cidade por meio do estudo da imagem
mental
64
(LYNCH, 1997, p. 2) que dela faz
uma amostra de seus habitantes. Algumas
imagens urbanas são muito bem definidas,
repletas de características próprias, e
podem ser consideradas fortes quando são
memorizadas por grande quantidade de
pessoas. Neste caso, Lynch as denominou
“imagens públicas”. Geralmente são
representativas de cidades ou bairros e
compõem o sistema referencial de
orientação dos usuários da cidade (LYNCH,
1997).
Na cidade de Berlim, uma
multiplicidade de imagens arquitetônicas,
novas e antigas, e imagens urbanas,
relacionadas aos espaços públicos de vias,
praças e parques, as quais, por suas
composições formais singulares ou
tradicionais, compõem um sistema de
referências que favorece positivamente a
legibilidade urbana. A cidade apresenta
zonas características bem delimitadas e um
sistema de circulação e transporte público
que organiza o espaço urbano. uma
64
Imagem mental ou imagem ambiental é “[...]
um quadro mental generalizado do mundo físico“
que, conforme Lynch (1997, p. 4), um indivíduo
guarda na memória.
estrutura de animação dos espaços públicos
que colabora para a orientação da
locomoção. A cidade é dotada de identidade,
que se reflete em sua estrutura de paisagem
e é reforçada pelas características abstratas
que conferem personalidade a
determinados elementos urbanos. Os
atributos destacados neste campo,
denominados por Lynch (1997) de “nomes e
significados”, são responsáveis tanto pelo
favorecimento da legibilidade urbana quanto
por gerar as imagens subjetivas que o
usuário tem do lugar.
Alexanderplatz
Fonte: www.Berlin-Sehenswerdichkeiten.de
O texto A Poética do Espaço, de
Gaston Bachelard, consiste em um estudo
da fenomenologia
65
poética, isto é, busca a
65
A fenomenologia é uma corrente filosófica
originada com Hussel, em 1901, e reelaborada
por Merleau-Ponty no pós-guerra. Tem por
objetivo compatibilizar componentes objetivos e
subjetivos da forma. Fundamento: existe uma
realidade do mundo que é exterior à consciência
que se possa ter da mesma. Existe um
conhecimento inserido no ego que é construído
pela mente e não descoberto exclusivamente
pela experiência. Método: visa à percepção de
um objeto em sua globalidade, tal como ele se
apresenta fisicamente à consciência. Fenômeno:
tudo que se apresenta. Mundo: conjunto de
significados (MAGALHÃES, 2001, p. 273- 274).
241
origem das imagens poéticas no momento
de sua criação no âmago do ser. O
desenvolvimento de sua argumentação, no
decorrer do texto, deixa transparecer a
subjetividade que favorece a percepção e a
interiorização de imagens de ambientes que
são emocionalmente vivenciados. É como se
aos elementos materiais fossem acrescidas
abstrações percebidas ou imaginadas que
tornassem a realidade vivenciada diferente,
segundo a sensibilidade individual e a
intensidade da emoção experimentada pelo
ser que vivencia uma determinada
realidade.
Assim sendo, Bachelard buscou na
imagem poética os elementos que lhe
permitiram investigar o devaneio
66
como
fenomenologia da alma. Todos os elementos
investigados são formados a partir de
imagens materiais fundamentais,
67
cujas
origens se encontram no campo real.
Imagens percebidas através de elementos
subjetivos e abstratos, que conduzem a
dimensões metafísicas e conferem aos
objetos percebidos um sentido que vai além
do recurso da visualização material.
Imagens abstratas associadas a
abrigo, proteção, mistério, segurança,
intimidade, aconchego, solidão, imensidão,
clausura, liberdade, etc. são estruturadas a
partir de fundamentos relacionados com
imagens concretas, tais como: casa, porão,
universo, gaveta, ninho, deserto, oceano,
66
Devaneio, segundo Buarque de Holanda
(1999), é capricho da imaginação.
67
Segundo Bachelard (1987, p. 332), imagens
materiais fundamentais “[...] são as que estão na
base de toda a imaginação [...] realidades
estáveis e fortes”.
floresta e outras. No campo da arquitetura,
lida-se com imagens concretas, porém é
importante considerar os efeitos emocionais
que tais imagens são capazes de imprimir
na mente das pessoas que vivenciam os
espaços arquitetônicos.
O estudo do texto A Poética do
Espaço trouxe à luz do conhecimento
fenômenos importantes do relacionamento
do ser com a criação e a percepção das
imagens, uma vez que a poesia é um estado
de percepção que amplia a compreensão de
uma imagem adicionando a ela um
conteúdo que extrapola seus limites
materiais e evoca reminiscências de
experiências sedimentadas e às vezes
adormecidas na memória.
“Mas os poemas são realidades
humanas; não basta referir-se a
‘impressões’ para explicá-las. É preciso vivê-
las em sua imensidão poética” (BACHELARD,
1978, p. 334). São realidades humanas que
afloram do íntimo do ser, em um momento
único de criação puramente emocional, que
permite transparecer o que realmente se
sente em relação a uma situação ou
ambiente, ou a ambos. Embora o presente
trabalho não tenha como objetivo tratar de
questões relacionadas com a fenomenologia
da alma, considerou-se a possibilidade de
utilizar alguns dos argumentos de Gaston
Bachelard como suportes teóricos para
algumas idéias que foram exploradas nos
capítulos referentes à pesquisa sobre a
paisagem de Berlim.
Os espaços constituídos de
elementos físicos concretos, sejam eles
242
naturais ou artificiais, existem como são,
independem da emoção de seus usuários ou
observadores. Porém, esses usuários e
observadores atribuem a esses espaços
valores subjetivos que são determinados por
experiências de vida vivenciadas ou não
nesses espaços. No âmbito da memória
pessoal ou individual, “[...] pela explosão de
uma imagem, o passado longínquo ressoa
em ecos e não se mais em que
profundidade esses ecos vão repercutir e
cessar.” (BACHELARD, 1978, p.183). Assim
Bachelard se refere à “[...] imagem poética
no momento em que ela emerge na
consciência como um produto” (p.183) da
sensibilidade e da profundeza do ser. Se o
homem está em constante interação com o
ambiente que o envolve, está sujeito a uma
infinidade de possibilidades de acionamento
da memória, que vão proporcionando
percepções ambientais, as quais,
independentemente das questões poéticas,
repercutem na intimidade do ser e
desenvolvem reminiscências de
sedimentações emocionais que vão tornar
as imagens concretas mais ou menos
agradáveis, conforme as lembranças que
suscitem.
No caso específico de Berlim, a força
das imagens abstratas evoca, na maioria
dos observadores internacionais e também
em parte da população alemã, a lembrança
de violência e destruição, conseqüência de
situações políticas do passado e fatos
ocorridos durante a Segunda Guerra, que
arrasaram a cidade tanto do ponto de vista
físico quanto moral. A Berlim atual busca a
superação da imagem catastrófica, a
reversão de um contexto de destruição em
uma nova imagem que tenha um nexo
diametralmente oposto, que seja uma
referência positiva de futuro seguro, que
gere uma imagem confiante para
investidores do setor econômico, que tenha
poder de atração aos interesses
internacionais. Assim, essa nova imagem
urbana terá de ser forte, grandiosa, bela,
para que demonstre a capacidade de
organização e realização de seus
construtores. É a paisagem concreta
gerando, no campo da subjetividade, uma
relação de confiabilidade e admiração geral.
Inspirado no fenomenólogo Van den
Berg, Bachelar (1978, p.191) afirma:
“observando que as coisas nos ‘falam’ e que
por isso mesmo, se damos pleno valor a
essa linguagem, temos um contato com as
coisas.” A partir desta idéia, surgem duas
possibilidades de investigação: uma é a
linguagem das coisas, segundo os valores
que lhes são atribuídos e que refletem nelas
significados que são produtos da
imaginação de quem julga e observa. E
outra é a linguagem pragmática que reflete
a realidade concreta das condições nas
quais essas coisas foram geradas. Em se
tratando de paisagens urbanas, as imagens
concretas, quando vistas do ponto de vista
pragmático, refletirão em sua concretude os
elementos abstratos do meio no qual foram
criadas. Refletem, por exemplo, a riqueza, o
desenvolvimento tecnológico e os valores
humanos da sociedade que as construiu.
Neste caso, as paisagens construídas são
243
concretizações da identidade de uma
comunidade, uma vez que possibilitam a
identificação de uma série de indicadores do
estágio cultural no qual essa comunidade se
encontra.
Quando o homem sai da casa e
experimenta o mundo, uma “[...]
mudança de sua relação com o ambiente
que o cerca, evidencia-se a dialética do
exterior e do interior” (BACHELARD, 1978, p.
335). Além disso, surge um novo elemento
concreto para aguçar a percepção de sua
situação no ambiente: o caminho. Em um
arroubo poético BACHELARD (1978, p. 205)
escreve: [...] que belo objeto dinâmico é um
caminho! Como permanecem precisos para
a consciência [...] os caminhos familiares da
colina!” Retomando a idéia da importância
dos trajetos que possibilitam as ligações
entre os diversos lugares componentes da
paisagem urbana, sendo os próprios trajetos
importantes elementos componentes dessa
paisagem, vale ressaltar que a estrutura de
circulação é fator de identidade e
legibilidade e apresenta grande potencial de
geração de conforto e segurança para a
população da cidade. As vias e praças
possibilitam os ângulos visuais de
observação das perspectivas da paisagem
urbana. A partir desses lugares a cidade
torna-se uma vitrine onde expõe o
espetáculo de seus edifícios e seu
mobiliário. Em Berlim, essa exposição de
objetos componentes da paisagem tem sido
cuidadosamente preparada, selecionando-
se objetos que tenham como referência a
valorização de sua arquitetura e design.
Pode-se concluir que a imagem que
se percebe é formada de uma parte que é
física e apreendida da forma real e de uma
outra, que é sutil e resultante de fatores
subjetivos que envolvem o contexto no qual
se encontra a forma real e onde ocorre a
experiência de vida de quem percebe.
Os estudos desenvolvidos por Kevin
Lynch, no final da década de 1950, foram
ampliados e confirmados por Norberg-Schulz
na década seguinte, quando criou o conceito
de espaço existencial, o qual abrange os
lugares onde o indivíduo desenvolve suas
atividades e as vias que possibilitam as
ligações entre elas. Esse território de
domínio vivencial e individual coincide com
os territórios conhecidos pelos habitantes
das cidades que Lynch pesquisou. São
estruturas compostas por diversos
elementos da paisagem urbana e suas
ligações, formando regiões vivenciadas e
conhecidas por determinado indivíduo.
Hillman, além de confirmar, através
da psicologia, a relação entre o homem e
seu ambiente envolvente, defende a tese de
que o indivíduo não fica indiferente ao que
percebe em seu entorno. Ele assimila a
realidade que o envolve, reage, processa e
devolve à cidade o seu agrado ou desagrado
ante o que o atinge. A resposta, quando
negativa, converte-se em patologias
emocionais, que promovem a
autodestruição do indivíduo, ou a
agressividade ao ambiente urbano que o
constrange. Isso significa que, além de
proceder a uma leitura física do espaço
urbano, o indivíduo percebe seus
244
significados mais abstratos, compreende os
motivos sociais, econômicos e políticos que
tornam a cidade parcial e excludente, sente-
se ameaçado e injustiçado, revolta-se e
volta-se contra a sociedade e a cidade que
não o abriga.
A paisagem urbana revela a
realidade abstrata das relações humanas
que nela se estabelecem.
Filosoficamente, através dos
meandros da fenomenologia, Gaston
Bachelard também confirma a importância
das imagens ambientais vivenciadas com
intensidade emocional, as quais ressurgirão
da memória, induzindo as mesmas emoções
guardadas, sempre que a visualização de
imagens semelhantes ocorrer. Segundo
Bachelard (1978), o ser guarda na memória
as emoções que vivencia e as associa ao
ambiente onde ocorrem. Assim, ambientes
semelhantes provocam rememorações
emocionais e isso faz com que as pessoas
se identifiquem, ou não, com determinados
ambientes, sintam bem-estar, ou mal-estar.
Esse processo pode ser consciente ou
inconsciente, dependendo da profundidade
em que a memória guarda as informações.
Essas questões interessam ao
arquiteto que busca compreender a
paisagem urbana como um conjunto de
imagens que é percebido de forma
fragmentada e que vai suscitando emoções
no observador que se desloca através de
sua sucessão de composições. Se o objetivo
maior da Arquitetura é gerar bem-estar para
o homem, é necessário compreendê-lo como
corpo e alma, assim os ambientes criados
em seu benefício serão seguros, funcionais
e aprazíveis. Uma cidade que vem sendo
construída como Berlim, deixa transparecer,
em sua estrutura paisagística, que a
Arquitetura é não apenas responsável, mas
também a única possibilidade de resposta
para as questões relacionadas com a
geração de um espaço urbano que atenda
satisfatoriamente a necessidades
complexas de funcionamento interativo de
todas as funções urbanas, possibilitando, ao
mesmo tempo, uma aparência visual que
atraia interesses gerais e gere conforto,
identidade e confiabilidade.
Berlim mostra que a paisagem
urbana pode ser objeto de projeto e que o
poder público detém os meios de assegurar
uma construção urbana institucionalmente
controlada. A valorização da Arquitetura e o
reconhecimento da capacidade dos
arquitetos de criar, racionalmente, espaços
que sejam, ao mesmo tempo, funcionais
para atender às demandas das atividades
urbanas e belos para atender às
necessidades psicológicas de seus usuários,
foi o que possibilitou a Berlim o atual nível
de satisfação relacionado com essas duas
importantes questões. Problemas urbanos
existem e continuarão existindo. Eles
constituem desafios para as populações
urbanizadas. A Arquitetura continuará
evoluindo em direção a respostas cada vez
mais complexas. A trajetória berlinense
desde a intervenção racional da INTERBAU
1957, passando pela intervenção
culturalista da IBA-Berlin 87 e alcançando o
final do século XX com uma estratégia de
245
Reunificação revela uma intervenção
urbana exemplar, que associa aspectos
culturais, tecnológicos e racionais. A
experiência cria uma nova abordagem de
atuação no espaço da cidade, em que se
utilizam todas as possibilidades tecnológicas
avançadas, sem preterir as delicadas
abordagens poéticas e emocionais que
sobrevivem na cultura local.
Berlim – Centro Ocidental
Fonte: www.Berlin-Sehenswerdichkeiten.de
Berlim – SonyCenter
Fonte: www.fotocommunity.com
“Nas cidades o espaço fala
(SANTOS,1986, p. 59)
R
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O material bibliográfico utilizado para compor o banco de dados para subsidiar a
elaboração dos estudos apresentados neste trabalho, teve origem em livros, revistas, trabalhos
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