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Tinha um intenso desejo de saber o que ella lê, e verifico que lê cousas sérias. Creio
que ha alguns annos atraz, o movimento das nossas livrarias era ridículo.
Comprávamos então os poetas e os romancistas francezes, bons e máos romancistas
francezes, o verboso d’Annunzio, o grande Eça. Era o tempo dos
realistas
, de Zola,
Mirbau [sic], dos Goncourts, do divino Flaubert, de Balsac, Daudet, e também, de
Ponson, Montepin e G. Ohnet...
Lentamente, as cousas se transformam.
Os
realistas
passam da moda, o monopólio do romance termina. Há um desejo geral
de arte mais livre, menospreza aos dogmas do
bovarysmo
e de
Médan
, u
ma
curiosidade inquieta de philosophos, sociólogos, psychologos, críticos e ensaístas.
Apparecem os primeiros Anatoles, os primeiros Maeterlinks; Fouillée, Faguet,
Brunetiére, Le Bon, Ribot já não encalham nas vitrines. Porque esta mudança, este
inesperado
gosto de altas leituras?
Devem haver causas varias que os expliquem; todavia, não quero indagal-as aqui.
Verifico o facto, verifico-o alegremente e isto me basta. De mim para mim, sempre
pensei que tanto quanto a instrução primaria, necessitamos nós de alta cultura. De
Renan, de Taine; dos aristocratas do pensamento, que se lêem, fica para sempre o culto
das “elites” intellectuais, a crença, ou superstição, no poder dos homens capazes, que
meditam, têm idéas e querem realizal
-
as, desde que a idea é o começ
o da acção.
Da primeira livraria, na qual mais se detém, a Briguiet, quanto às vendas de
romances e livros de poesia, observa:
É Bourget o mais vendido dos litteratos francezes, com 42 livros: embora esperasse
esta primazia para Anatole France, só posso dar parabens ao nosso bom gosto
litterario. Bourget é, realmente, um admiravel artista, um romancista magistral. Foi
de modo algum tempo maldizel-o: parece que o sestro passou. Segue-se Victor
Hugo, com 39 livros o que é uma grande sorpreza. O velh
o Hugo parecia um pouco
esquecido; a geração educada por Médan alardeava desprezal
-
o; a nova geração que
lê Anatole France e Maeterlinck, parecia ignoral-o. Por que esta volta ao valioso
genio? Anatole France 33 livros, Maupassant e Coulevain 31, Zola e Loti, 28.
Rostand e Marcel Prévost 27, Maeterlinck, 23, Daudet, Chateaubriand 22, Flaubert
21, Lecomte de Lisle 19, Gyp 18, Copée, René-Bazin, Balsac 15, Lesueur, Dumas
pai (ainda se lê!) 12, Mirbau, Lamartine e Feuillet 9, Tinaire, Dumas filho e Vigny
8, Léon Daudet e Regnier 7, Theuriet, G. Saul Sandau, Goncourt, Paul Adam,
Huyman, e G. Zuet 6, A. Karr, Palétan e Stendhal 5, Vogue e Merimée 4,
Cherbullez, Lemaitre, Claretie, Alcard, Banville, Nodier e Rimbaud 2, About,
Labiche, Conscience, Brada, Tulier, Tr
apié e Tiusan 2.
A Livraria Garnier não oferece números, mas coloca Maupassant também entre
os escritores estrangeiros mais vendidos, depois de Anatole France, Paul Bourget,
Claude Farrère e Gyp. Depois dele vêm, entre outros, Daudet, Loti, Zola, Banville
e, em
francês e único não francês mencionado, Dostoiévski.
Também consta da lista da livraria Castilhos, após Anatole France: Maupassant,
Flaubert, Maeterlinck, Zola, Bourget, Marcel Prévost, Daudet e Hugo, entre outros.
Conforme se observa, o apontamento de José Maria Bello, ainda sem resposta quanto à
decaída da literatura naturalista, era ainda apenas um presságio; essas leituras conviviam
com a dos novos ainda em número bastante inferior.