Download PDF
ads:
i
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS
CÂMPUS DE JABOTICABAL
ASPECTOS CLÍNICOS E RADIOGRÁFICOS
DA COLUNA CERVICAL DE BEZERROS
SUBMETIDOS A PROVA DO LAÇO
s Graduanda: Raquel Mincarelli Albernaz
Orientador: Prof. Dr. José Corrêa de Lacerda Neto
Jaboticabal – São Paulo – Brasil
Julho-2006
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ii
DADOS CURRICULARES DA AUTORA
Raquel Mincarelli Albernaz nasceu, no ano de 1978, em São Paulo, SP,
graduou-se em Medicina Veterinária no ano de 2003 pela Universidade Estadual de
Londrina onde posteriormente ingressou em fevereiro de 2003 no curso de
Especialização em Residência Médica Veterinária na área de clínica médica,
cirúrgica e reprodução de grandes animais concluindo o curso em fevereiro de
2005. Em mao de 2005 ingressou no curso de Mestrado do programa de Pós
Graduação em Cirurgia Veterinária da Universidade Estadual Paulista (UNESP),
Campus de Jaboticabal, SP-Brasil.
ads:
iii
Parece-me que o prêmio mais alto possível
para qualquer trabalho humano
não é o que se recebe por ele,
mas o que se torna através dele
.
Brock Bell
iv
Dedico
Aos meus pais, Roberto Albernaz e Branca Mincarelli Albernaz,
e irmã, Ana Beatriz Mincarelli Albernaz
pelo amor, dedicação e apoio que me oferecem.
Muito obrigada, amo vocês!
v
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador e amigo Prof. Dr. José Corrêa de Lacerda Neto, pelos
ensinamentos e pela oportunidade de fazer parte de sua equipe.
Ao Prof. Dr. Júlio Carlos Canola pelo apoio e orientação imprescindível para
realizar este trabalho.
A CAPES pela bolsa de estudos concedida.
Aos funcionários do Hospital Veterinário pela ajuda e colaboração.
Ao amigo Eduardo Caiado, laçador profissional, que trabalhou conosco e nos
recebeu muito bem em sua propriedade.
A querida amiga Naiara Zoccal Saraiva pela dedicação e amizade nestes anos
todos.
A todos os “filhos do prof. Juca”, em especial Carla Braga, Lina Maria Gomide e
Marco Giannocaro, é um prazer trabalhar com vocês.
Às amigas Flora D´Angelis e Fabiana Christovão que sempre me deram bons
exemplos de amizade e dedicação.
À minha fiel companheira Laika, obrigada por estar comigo nas horas mais difíceis.
A todos que contribuíram para a realizão deste trabalho, meus sinceros
agradecimentos.
vi
SUMÁRIO
página
LISTA DE TABELAS.................................................................................... vii
LISTA DE FIGURAS.................................................................................... vii
RESUMO...................................................................................................... ix
ABSTRACT................................................................................................... x
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................... 1
2. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................... 2
3. OBJETIVOS............................................................................................. 10
3.1. Objetivo geral......................................................................................
10
3.2. Objetivos específicos........................................................................... 10
4. MATERIAL E MÉTODOS......................................................................... 11
4.1. Animais................................................................................................ 11
4.2. Avaliações clínicas..............................................................................
4.2.1. Exame clínico geral.......................................................................
4.2.2. Exame neurológico........................................................................
12
4.3. Avaliação radiográfica ........................................................................ 13
4.4. Prova experimental do Laço de Bezerro............................................. 16
4.5. Alise estatística............................................................................... 17
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................. 18
5.1. Exame clínico geral............................................................................. 18
5.2. Exame neurológico............................................................................. 23
5.3. Prova experimental do Laço de Bezerro............................................. 26
5.4. Avaliação radiográfica......................................................................... 26
6. CONCLUSÕES 30
7. REFERÊNCIAS......................................................................................... 31
ANDICE 37
vii
LISTA DE TABELAS
página
Tabela 1. Valor médio das freqüências cardíaca (FC), respiratória (FR),
rumenal (Frum) e temperatura (T°C) no início da primeira
semana (T1) durante a terceira semana (T2) e ao final da quinta
semana de experimento (T3)..........................................................
18
Tabela 2. Média ± desvio padrão (DP) para os valores de peso e altura de
cernelha dos bezerros ao início da primeira semana (T1) e ao
término da quinta semana de experimento (T3)............................. 22
Tabela 3. Porcentagem de ocorrência (%) de laçadas de intensidade fraca
e forte, assim como de derrube durante o procedimento de
laçadas efetuadas com êxito.......................................................... 26
viii
LISTA DE FIGURAS
página
Figura 1. Imagem fotográfica ilustrando bezerro contido em decúbito lateral
esquerdo para a realização das projeções radiográficas da região
cervical.............................................................................................
Figura 2. Imagem fotográfica ilustrando a administração do contraste iodado
não iônico no espaço subaracnóide.................................................
Figura 3. Avaliações radiográficas simples (A) e contrastada (B) da região
cervical ao início do experimento e ao término do período
experimental (A2) e (B2)..................................................................
Figura 4. Fotomicroscopia do corte histológico região A (aumento 4X)...........
Figura 5. Fotomicroscopia do corte histológico região B (aumento 10X).........
14
15
29
38
38
ix
ASPECTOS CLÍNICOS E RADIOGRÁFICOS DA COLUNA CERVICAL DE
BEZERROS SUBMETIDOS À PROVA DO LAÇO
RESUMO A modalidade de rodeio denominada Prova do Laço de Bezerro tem
sido questionada sobre a ocorrência de possíveis lesões nas vértebras cervicais
ocasionadas pela tração da corda no pescoço dos bezerros. Neste trabalho
avaliou-se 15 bezerros mestiços, machos ou fêmeas, entre cinco e seis meses de
idade experimentalmente submetidos a prova do laço. Os animais foram laçados
três vezes por semana, em dias alternados, durante cinco semanas, somando o
total geral de 225 laçadas. A prova experimental foi realizada de forma semelhante
à prova oficial, pelo mesmo cavaleiro profissional da modalidade. Os bezerros
foram avaliados mediante exame clínico geral e neurológico ao início da primeira,
durante a terceira e ao término da quinta semana experimental. Radiografias
simples e contrastadas das vértebras cervicais foram efetuadas ao início da
primeira e ao término da quinta semana de experimento. Os métodos de laçadas
foram acompanhados e classificados qualitativamente em fortes ou fracos. Não
foram encontradas alterações clínicas e radiográficas nos animais durante o
experimento. O rigor da laçada foi considerado forte em 77% dos casos. O fato de
não terem sido encontradas alterações clínicas e radiográficas indicam que a
ocorrência de lesões cervicais em bezerros submetidos a prova de laço não é tão
alta como o propalado, entretanto, trata-se de procedimento rude e agressivo.
Número mais expressivo de experimentos semelhantes a este deverá ser
conduzido tanto sob condições controladas como em provas reais para confirmar
os dados da presente pesquisa.
Palavras-Chave: bezerro, mielografia, neurologia clínica, traumatismo
x
CLINICAL AND RADIOGRAPHIC ASPECTS OF CERVICAL COLUMN IN
CALVES SUBMITTED TO CALF ROPING
SUMMARY - The modality of roundup Calf Roping has been questioned on the
occurrence of possible injuries in the cervical vertebrae caused by the rope tension in
calf’s neck. In this work 15 calves, male or female, ages varying from five and six
months experimentally submitted to calf roping were evaluated. The procedure was
carried through three times per week, in alternated days, during five weeks, adding the
total of 225 lassoed. The experimental test was carried through of similar form to the
official test, for the same professional knight of the modality. The calves had been
evaluated by means of general and neurological clinical examination to the beginning
of the first one, during third and to the ending of the fifth experimental week. Simple
and contrasted x-rays of the cervical vertebrae had been made to the beginning of the
first one and the ending of the fifth week of experiment. The lassoed methods had
been observed and classified qualitatively in weak or strong. Clinical and radiographic
alterations in the animals during the experiment had not been found. The severity of
the lassoed was considered strong in 77% of the cases. The fact not to have been
found clinical and radiographic abnormalities indicates that the occurrence of cervical
injuries in calves submitted to calf roping is not as high as divulged, however, is about
aggressive and rude procedure. Similar experiments must be made in such a way to
be lead under controlled conditions as in real tests to confirm the data of the present
research.
Keywords: calves, myelography, clinical neurology, trauma
1
1. INTRODUÇÃO
A modalidade de rodeio denominada Prova do Laço de Bezerro tem sido
atualmente questionada sobre condões de conforto ambiental e psíquico
oferecidas ao bezerro, como tamm as possíveis lesões causadas pela tração da
corda sobre o pescoço dos animais.
Sabe-se que o animal com anormalidade cervical medular ocasionada por
traumatismo externo demonstra sinais clínicos neurológicos caracterizados por
ataxia, espasticidade, hipermetria e paresia. Além disto, a radiografia e a
mielografia como exames complementares são técnicas viáveis em bezerros, e
podem fornecer informações sobre o tipo e a localização de lesões medulares ou
ósseas.
Em que pese o fato de haver inúmeras informações o científicas sugerindo
a ocorrência de lesões no pescoço de bezerros utilizados em Prova de Laço, não
, até o presente momento, informações científicas seguras que comprovem este
fato.
Diante destas circunstâncias, com este trabalho foram avaliados 15 bezerros
submetidos a esta prática pelo período de cinco semanas mediante a realização de
exame clínico geral e específico da região cervical, além de utilização de técnicas
radiográficas simples e contrastadas.
2
2. REVISÃO DE LITERATURA
A coluna vertebral do bovino compõe-se de sete vértebras cervicais (C1 a
C7), treze torácicas (T1 a T13), seis lombares (L1 a L6), cinco segmentos sacrais
fusionados e dezoito a vinte coccígeas (Cc1 a Cc 20) (SISSON, 1986; MILLS et al.,
1988; DYCE et al., 1990). Assim como em outras espécies, o canal vertebral
exerce a função de proteção da medula espinhal e meninges. Qualquer
anormalidade na coluna vertebral que produza instabilidade articular, compressão
ou lesão à medula espinhal levará ao aparecimento em maior ou menor grau,
dependendo do tipo e intensidade do trauma vertebral, de déficit proprioceptivo,
paresia ou tetraparesia, nos casos em que ocorre perda parcial dos movimentos
voluntários, a paraplegia ou tetraplegia nos casos em que a capacidade motora
voluntária é totalmente ausente (MILLS et al., 1988; RADOSTITS & HINCHCLIFF,
2000).
O sistema nervoso central (SNC) pode ser dividido didaticamente em medula
espinhal e encéfalo, sendo este último o conjunto de estruturas contidas dentro da
calota craniana acima do forame magno. A medula espinhal inicia-se a partir do
final do bulbo e possui segmentos identificáveis morfologicamente, pois possui um
par de nervos espinhais, cada um com uma raiz dorsal (sensitiva) e uma raiz
ventral (motora). Esses nervos espinhais são constituídos por neurônios sensitivos
e motores. A medula espinhal possui espessamentos na região dos membros
torácico e pélvico, o que corresponde a uma alta densidade de neurônios na
substância cinzenta neste local responsáveis pela conexão entre SNC e
musculatura local. Este espessamento é denominado intumescência braquial e
lombo sacra respectivamente (MAYHEW, 1989; BORGES et al., 1999).
Quando em cortes transversais pode-se observar a medula espinhal em
duas regiões facilmente diferenciáveis: região cinzenta correspondente ao H
medular, local onde se encontram os corpos celulares dos neurônios e a
3
substância branca, onde se localizam os axônios agrupados em tratos ou
fascículos (BORGES et al., 1999).
A associação entre neurônios sensitivos e neurônios motores permite a
realização do arco reflexo. Basicamente três neurônios são responsáveis pela
efetuação do arco reflexo. Em primeiro lugar, um neurônio sensitivo (aferente) irá
capturar a informação sensorial e conduzi-la até a medula ou tronco encefálico e
fará a conexão com um interneurônio, o qual será responsável pela transmissão
dessa informação para um neurônio motor (eferente) que efetuará a estimulação de
um músculo, portanto, o arco reflexo ocorrerá independentemente das vias
neuronais ascendentes e descendentes do SNC. Uma lesão na medula espinhal na
região do arco reflexo irá dessensibilizar a musculatura efetora, resultando em
paralisia flácida, atonia e arreflexia no local da lesão. Lesões craniais à região do
arco reflexo acometendo o neurônio motor superior (NMS) resultarão em paralisia
espástica, ataxia e hiperalgesia, pois, além de modular o arco reflexo, o NMS
também leva as sensações de nociocepção e propriocepção para serem
interpretadas no córtex cerebral (MAREK & MÓCSY, 1973; MAYHEW, 1989;
ROBERTSON & REED, 1992; BORGES et al., 1999).
A integração entre o sistema nervoso periférico (SNP) e o encéfalo é uma
entre muitas funções da medula espinhal. Pode-se avaliar sua integridade
observando a atividade motora de um determinado animal e também a sua
capacidade de percepção a estímulos sensoriais (captados no membro e
interpretados no encéfalo). Lesões severas levam a incapacidade locomotora e
consequentemente ao decúbito, enquanto processos mais brandos acarretam
anormalidade locomotora caracterizada por diminuição da capacidade
proprioceptiva e motora (BORGES et al., 2000; BORGES, 2004).
Existem dois tipos de neurônios motores, o superior (NMS) e o inferior (NMI).
A integração entre o SNC e órgãos efetores é realizada através das fibras
eferentes motoras do SNP, denominadas de NMI. O NMS com corpo neuronal no
encéfalo e seu axônio não ultrapassando os limites do SNC, tem influências
(geralmente inibitórias) sobre o NMI. O NMS controla os atos voluntários, mantém o
4
tônus muscular e a postura. O NMI com seu corpo celular na substância cinzenta
da medula espinhal e seu axônio se estendendo além do SNC forma uma porção
eferente com influência sobre o órgão efetor. A atividade motora normal depende
da iniciação de estímulos originados nos centros motores superiores localizados no
encéfalo. Estes impulsos são transmitidos às estruturas musculares, desde que
haja integridade medular e também do sistema nervoso periférico (MAYHEW,
1989; BORGES et al., 1997; BORGES et al., 2000).
Com a finalidade de detectar anormalidades na medula espinhal deve-se dar
atenção durante o exame físico a alguns aspectos. A simetria da musculatura
corporal, simetria de pescoço e tronco, tono anal e da cauda, posturas adotadas
em descanso e em locomoção podem evidenciar alterações medulares (BORGES,
2004).
As causas mais comuns de compressão medular na região cervical
consistem de fraturas, luxões ou subluxações, abcessos no corpo vertebral e má
formação ou má articulação entre atlas (C1) e áxis (C2) (MILLS et al., 1988; LE
COUTEUR & CHILD, 1995; KOESTNER & JONES, 1997; FENNER, 2000). As
alterações medulares podem ser encontradas tanto em único segmento como
também em grande extensão da medula espinhal, dependendo do tipo e
intensidade do trauma vertebral (MORGAN, 1972).
Lesões medulares severas na região cervical (C1-C5) estão associados ao
acometimento dos membros torácicos e pélvicos, sendo os sinais clínicos
caracterizados por tetraplegia espástica e ataxia. As compressões medulares neste
local provocam sinais mais intensos em membros pélvicos, devido ao
posicionamento mais superficial de seus tratos motores quando comparados aos
membros torácicos. Sendo assim, compressões leves podem acometer apenas os
membros pélvicos (STÕBER, 1987; MILLS et al., 1988; BRAUND et al., 1990;
BORGES et al., 1997; BORGES et al., 2000). A perda total da sensação dolorosa
dificilmente será encontrada, pois, um trauma desta magnitude na região de C1 a
C5 leva a falência respiratória com conseqüente óbito do animal (STÕBER, 1987;
BRAUND et al., 1990; LE COUTEUR & CHILD, 1995). Em caso de compressões
5
severas se pode ter ainda o acometimento e disfunção da bexiga urinária (MILLS et
al., 1988).
Determinadas lesões na região cranial da medula espinhal torácica podem
provocar a síndrome de Horner (ptose da pálpebra superior, miose e protusão da
terceira pálpebra acompanhada geralmente por sudorese unilateral da região
facial). Estes sinais ocorrem em razão da lesão dos nervos simpáticos no tronco
vagossimpático localizados anatomicamente na medula espinhal torácica cranial
até próximo à órbita (BORGES et al., 2000; BORGES, 2004).
O exame físico pode levantar suspeitas a respeito da localização da fratura
com base na observão e na palpação do desvio dorsoventral ou lateral dos
processos vertebrais dorsais espinhais. Tal procedimento apresenta mais utilidade
em bezerros e novilhas, pois é de realização mais difícil nos animais adultos nos
quais a musculatura é mais desenvolvida ou em indivíduos obesos. A redução de
sensação cutânea e reflexo panicular caudalmente ao local da fratura constituem
sinais clínicos característicos os quais podem ser facilmente detectados mediante a
realização do teste do panículo durante o exame neurológico (REBHUN, 2000). Os
sinais de fratura vertebral com compressão medular são agudos e geralmente não
progressivos, com exceção das fraturas não deslocadas que, subseqüentemente
se deslocam comprimindo a medula espinhal. Tais características ajudam na
diferenciação entre fraturas, abscessos e neoplasias espinhais, os quais tendem a
apresentar cursos progressivos que começam como paresia e progridem para
paralisia (REBHUN, 2000; MARQUES et al., 2004).
A dor é característica evidente na maioria das fraturas vertebrais. Bovinos
com esta afecção podem mostrar anorexia, aumento das freqüências cardíaca e
respiratória (REBHUN, 2000), além de apatia, dissociação do meio ambiente,
relutância em mover-se, estrutura corporal rígida, ranger de dentes e possível
agressividade à manipulação (HARDIE, 2002; MILLS et al., 1988).
Não foram encontrados na literatura compulsada relatos de lesões
traumáticas na medula espinhal de bezerros, exceto por apenas alguns relatos
sobre a ocorrência de lesões medulares de origem congênita ou abscesso em
6
corpo vertebral de vértebras cervicais em bezerros jovens. Em 1978, WHITE et al.,
relataram anormalidade congênita da articulação atlanto-axial de bezerro
ocasionando compressão medular cervical. Neste caso o animal apresentava sinais
clínicos de tetraparesia e ataxia sendo o diagnóstico estabelecido pelo exame
clínico, radiográfico, necropsia e histopatologia de medula.
WATSON et al. (1985), ao examinarem clinicamente um bezerro de quatro
dias de idade, constataram presença de ataxia, hipometria e paresia principalmente
nos membros pélvicos cujo histórico indicava manifestação desde o nascimento. O
diagnóstico estabelecido, através de exame radiográfico da região cervical e
necropsia foi má formação e subluxação atlanto-axial. Macroscopicamente a
medula se apresentava intacta, porém ao exame histopatológico foi encontrado
inflamação e degeneração de fibras neuronais na região correspondente a
articulação atlanto-axial, caracterizando lesão focal e compressiva da medula
espinhal e justificando o quadro neurológico.
BOYD & McNEIL (1987) descreveram um caso de ataxia em bezerro
ocasionado por compressão medular devido à má formação atlanto-occipital. O
diagnóstico não pôde ser estabelecido pelo exame radiográfico da região cervical
devido a erro da técnica. Exame histológico após eutanásia deixou evidente a
presença de focos hemorrágico e necrótico na medula espinhal, compatível com
compressão cervical. DOIGE et al. (1990), observaram tamm em bezerro sinais
clínicos, semelhantes ao descritos anteriormente, relacionados à compressão
medular causada possivelmente por má formação vertebral.
MILLS et al. (1988), através do exame radiográfico e mielografia,
diagnosticaram compressão medular entre C1 e C2 em bezerro de um mês de
idade. Após necropsia foi verificada a ocorrência de má formação vertebral,
determinando a compressão medular local. O animal apresentava sinais
neurológicos compatíveis com lesão medular presente neste local.
SHERMAN & AMES (1986), relataram clínica e anatomo
histopatologicamente dois casos de lesão medular ocorrendo em bezerros jovens.
No primeiro, o animal apresentava hiperextensão do pescoço, ranger de dentes,
7
comportamento alerta prosseguindo em apatia e decúbito lateral. Ao exame
neurológico foi observado tetraparesia, hiperestesia dos membros tocicos e
pélvicos e reflexos espinhais inalterados. À necropsia foi encontrado abscesso
comprimindo a medula espinhal na região do corpo vertebral de C3. No segundo
caso, o animal se mantinha em decúbito lateral com sinais de tetraparesia e
reflexos espinhais alterados os quais estavam ausentes nos membros torácicos e
hiperresponsivos nos membros pélvicos. Após necropsia observou-se a ocorrência
de abscesso causando compressão medular entre C6 e T1. Ao exame de
histopatogia foi notada intensa desmielinização no local da lesão.
MARQUES et al. (2004) descreveram a ocorrência de abscesso na coluna
vertebral em seis bezerros. Os animais acometidos tinham entre um a três meses
de idade. Os sinais clínicos se caracterizaram por ataxia e paralisia caudal a
compressão medular. Um bezerro apresentou abscesso no corpo da sexta vértebra
cervical e primeira torácica. Neste caso, o exame clínico revelou tetraplegia, déficit
proprioceptivo, dor cervical evidenciada pela rigidez do pescoço e orelhas e
dificuldade de movimentos da cabeça. Os reflexos patelares e retração do membro
estavam aumentados. Apesar do exame radiológico simples não evidenciar
alteração, a mielografia demonstrou desvio ventro-dorsal da medula espinhal entre
a sexta vértebra cervical e a primeira torácica. No sítio de desvio medular, após
necropsia, detectou-se o abscesso no corpo de C6 com envolvimento do espaço
epidural ventral.
A anamnese, associada à realização de exames neurológico e radiográfico,
constitui o principal método para o diagnóstico de fraturas vertebrais (LE
COUTEUR & CHILD, 1995; REBHUN, 2000). Em bezerros, a radiografia pode
fornecer informações precisas sobre malformações, luxações e fraturas na região
da coluna vertebral (WHITE et al., 1978; WATSON et al., 1985; MILLS et al., 1988;
WALKER, 1998). A projeção de escolha para examinar a coluna cervical em
pequenos animais é a lateral, e o posicionamento do pescoço durante o
procedimento é bastante importante, portanto, na maioria dos casos recomenda-se
sedação ou anestesia geral (MORGAN, 1972). Em ruminantes, após decúbito
8
lateral deve-se apoiar o pescoço com uma almofada e tracioná-lo cranialmente.
Para que a região da escápula não se sobreponha à região final das vértebras
cervicais deve-se tracionar os membros torácicos o mais caudalmente possível
(DOUGLAS & WILLIAM, 1970).
O diagnóstico radiográfico dever ser feito com base na observação do
alinhamento da coluna cervical, tamanho, forma e radiopacidade vertebral
(DOUGLAS & WILLIAM, 1970; MORGAN, 1972; WALKER, 1998). As fraturas
cervicais podem envolver qualquer parte da vértebra, porém o corpo vertebral,
processo transverso e espinhoso são os locais mais comumente afetados. A
radiopacidade poderá estar aumentada devido a fraturas compressivas ou reação
cicatricial óssea (WALKER, 1998).
Algumas particularidades da espécie bovina devem ser consideradas
durante a interpretação do exame radiográfico. Nesta espécie as vértebras
cervicais são mais curtas e menores quando comparadas a vértebras de eqüinos.
Os processos transversos da terceira, quarta e quinta vértebras são duplos; o
sétimo processo é único, curto e espesso eo apresenta forame transverso. Os
processos espinhosos, dirigidos dorsocranialmente, são bem desenvolvidos e
aumentam em altura craniocaudalmente, com exceção do último processo que está
predominantemente na direção vertical. As cristas ventrais são proeminentes e
espessas em sua parte caudal e eso ausentes em C6 e C7. O canal vertebral é
largo junto ao atlas e diminui gradativamente de espessura em direção ao sacro
(SISSON, 1986).
A delimitação da medula espinhal com auxílio de meios de contraste positivo
(mielografia) no bezerro é tecnicamente vvel, porém só é praticada em casos
especiais devido ao alto custo do material e conhecimento técnico que reserva
(STÕBER, 1987).
A mielografia é uma técnica radiográfica feita após a introdução de um meio
de contraste positivo dentro do espaço subaracnóide, preferencialmente na
articulação atlanto-occipital, onde o espo é mais amplo (DYCE et al., 1990; LE
COUTEUR & CHILD, 1995), com o propósito de avaliar doenças intramedulares,
9
extramedulares-intradurais ou extradurais. Para tal, o paciente deve ser
anestesiado e o meio de contraste injetado no espaço subaracnóide através da
cisterna magna. A punção é feita com a articulação atlanto-occipital fletida, com o
paciente em decúbito lateral ou ventral. O bisel da agulha deve ser dirigido
caudalmente e o meio de contraste injetado lentamente (MORGAN, 1972; TICER,
1987; WIDMER, 1998). Compostos iodados não iônicos como Iohexol (240mg/mL)
e Iopamidol (200mg/mL) são contrastes seguros e eficazes para esta técnica
(WIDMER, 1998). A elevação moderada da cabeça levará a maior parte do agente
a fluir caudalmente. Em pequenos animais, o contorno mielográfico deve ser
aproximadamente o mesmo do espaço subaracnóide normal e a largura da coluna
radiopaca deve ter magnitude uniforme sobre quase toda extensão (TICER, 1987).
10
3. OBJETIVOS
3.1. Objetivo geral
Avaliar possível lesão traumática cervical decorrente da prática da prova do
Laço de Bezerro.
3.2. Objetivos específicos
Realizar exame clínico geral e neurológico em busca de sinais clínicos
compatíveis com lesão cervical.
Realizar exame radiográfico simples e contrastado da região cervical para
investigar a ocorrência de sub luxação, luxão, compressão medular e fraturas de
corpo vertebral, processos espinhoso, transverso e articular.
11
4. MATERIAL E MÉTODOS
4.1. Animais
Foram sorteados aleatoriamente quinze bezerros mestiços, sendo seis
fêmeas e nove machos, com cinco a seis meses de idade, pesando entre 90 a 120
kg provenientes de quatro criatórios na região de Jaboticabal/SP. Durante o
período do experimento permaneceram alojados em centro de treinamento hípico
particular. As a chegada ao local de estadia os animais foram desverminados
(Ivermectina), vacinados para Clostridium perfringens B/C/D Clostridium septicum,
Clostridium nouyi B, Clostridium sordellii e Clostridium chavoei (Sintoxan
polivalente), marcados e numerados a ferro incandescente.
Durante quatro semanas foi fornecido em cocho coletivo capim napier
(Pennisitum piupurum) picado misturado com rolão de milho como complemento
para a pastagem de Brachiaria sp. Na quinta e última semana de observação os
animais passaram a receber, além do napier picado, ração concentrada composta
de farelo de milho moído, farelo de soja tostado e sal mineralizado (Fosbovi® 20).
O peso individual foi medido em quilogramas na balança gaiola do Hospital
Veterinário da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp, Campus
de Jaboticabal (FCAV/Unesp). A altura foi quantificada em centímetros, com o
animal em posição quadrupedal, partindo do ponto máximo de altura da região da
cernelha em linha reta até o solo com o auxílio de uma fita métrica. O escore
corporal foi classificado de 0 a 5 (muito magro a muito gordo) de acordo com o
sugerido por RADOSTITS (2000) ao início da primeira semana de experimento e
ao término na quinta semana do mesmo.
12
4.2. Avaliações clínicas
4.2.1. Exame clínico geral
O exame clínico geral foi realizado ao início da primeira, durante a terceira e
ao término da quinta semana de experimento nos momentos antes ao
procedimento da laçada. As os animais serem contidos individualmente em brete
da propriedade foi ascultado o tórax e abdome e avaliadas as freqüências cardíaca
(FC), respiratória (FR) e rumenal (FRUM) além de aferir a temperatura retal (T°C).
A cutis foi inspecionada em busca de evidência de alopecia, lesões e ectoparasitas.
Os linfonodos retrofaríngeos, pré-escapulares e pré crurais foram palpados e
avaliados bilateralmente quanto ao tamanho, consistência, sensibilidade e
temperatura. As mucosas oculopalpebral, nasal, bucal, vulvar e prepucial, quando
não pigmentadas, foram avaliadas em relação à alteração de coloração, presença
de ulceração, hemorragia e secreções, ainda ao exame da mucosa oral foi
quantificado o tempo de refluxo capilar (TPC). A veia jugular foi inspecionada e
palpada bilateralmente observando-se possível distensão ou pulsação.
Também foi dado destaque ao sistema locomotor inspecionando-se o animal
em decúbito, durante o ato de erguer-se e enquanto caminhava, avaliando-se a
simetria dos membros tocicos e pélvicos, aumentos de volume ósseo, articular e
tendíneo, presença de feridas, hematomas e possível claudicação. Os músculos
trapézio, omotransversal e clido occipital e processos espinhosos cervicais foram
inspecionados e palpados em busca de aumentos de volume ou sensibilidade
dolorosa local. As o procedimento da laçada os animais permaneceram em
piquete para pastoreio onde foi possível observar o flexionamento do pescoço
durante apreensão e deglutição de alimentos. Estes procedimentos foram
13
realizados três vezes por semana, em dias alternados, pelo período de cinco
semanas.
4.2.2. Exame neurológico
O comportamento e postura corporal foram avaliados com o animal solto em
piquete. Examinou-se o comportamento observando-se a relação do bezerro com o
meio ambiente e respostas a estímulos visuais, tateis e auditivos. A postura em
descanso foi avaliada examinando-se o posicionamento dos membros torácicos e
pélvicos, cabeça e tronco e movimentos involuntários.
Adicionalmente, foi dada atenção à marcha para verificação de possível
ataxia, hipermetria, epasticidade, paresia ou claudicação logo as o procedimento
da laçada, três vezes por semana, em dias alternados, durante cinco semanas,
quando o animal se dirigia para o piquete em que permanecia durante as próximas
48 horas.
Os sinais dos nervos cranianos (NC) foram avaliados de forma sistemática,
individualmente ou em grupos funcionais na primeira, terceira e quinta semana de
experimento. A função do II NC (óptico) foi avaliada pela resposta ao reflexo de
ameaça; III NC (oculomotor): avaliação das pupilas em repouso; III, IV e VI NC
(oculomotor, troclear e abducente): movimentos oculares, V NC (trigêmio):
sensibilidade cutânea facial e mastigação; VII NC (facial): músculos de expressão
facial; VIII NC (vestibulococlear): equilíbrio, movimento oscilatório e audição; IX NC
(glossofaríngeo): deglutição; X NC (vago): salivação; XI NC (acessório):
movimentação do músculo trapézio; XII NC (hipoglosso): apreensão dos alimentos.
4.3.Avaliação radiográfica
14
Os exames radiográficos foram realizados com auxílio de aparelho de raios-
x portátil
1
. As películas radiográficas (24x30 cm)
2
foram usadas com chassis
rígidos
3
e compostos por telas intensificadoras rápidas com emissão de luz verde
4
.
As películas radiográficas expostas à radiação foram identificadas e posteriormente
submetidas ao processo de revelação automático
5
Os bezerros foram transportados para ao Hospital Veterinário da
FCAV/Unesp ao início da primeira semana e ao final da quinta semana do
experimento para exame radiográfico simples, mielografia e medição de peso e
altura individual dos animais.
As projeções radiográficas foram realizadas com os animais contidos em
decúbito lateral esquerdo sobre um colco (Fig. 1). Padronizou-se 56kVp ou
58kVp, 20mA e 0,06seg para as radiografias simples e 58kVp, 20mA e 0,06seg
para radiografias contrastadas com distância de 30 polegadas do chassis.
1
Micro X/100HD – Jaboticabal / SP
2
Kodak F-MAT G/RA
3
Kodak
4
Kodak – Lanex Regular Screens
5
Runzomatic 130 – EMB
15
Figura 1.
Imagem fotográfica ilustrando bezerro contido em decúbito lateral esquerdo para a
realização das projeções radiográficas da região cervical.
Cinco animais do grupo experimental foram sorteados aleatoriamente para
realizar mielografia ao início da primeira semana e ao término da quinta semana do
experimento. Os animais foram previamente sedados utilizando xilazina 2%, na
dose 0,05mg/kg por via intramuscular e após dez minutos foi administrado
Cetamina 5%, na dose 2mg/kg por via intravenosa. Neste momento foi feita
tricotomia e anti-sepsia da região da articulação atlanto occipital e mantendo o
pescoço do bezerro flexionado, a cisterna magna foi puncionada com agulha estéril
40X12 até atingir o espaço subaracnóide. Foi colhido e desprezado
aproximadamente 10mL de liquido céfalorraquidiano. O agente iodado não iônico,
Iopamidol (Iopamiron® 370), na dose 0,25ml/kg, foi injetado lentamente no espaço
epidural e a seguir realizada as projeções radiográficas previamente descritas (Fig.
2). Após este procedimento o animal foi levado à baia, posicionado em decúbito
esternal, e ficou sob assistência de um médico veterinário até sua completa
recuperação.
16
Figura. 2.
Imagem fotográfica ilustrando a administração do contraste iodado não iônico no espaço
subaracnóide.
4.4. Prova experimental do Laço de Bezerro
Simulando as condições da prova do laço, padronizou-se idade, peso
corpóreo e procedimento da laçada. Cada animal foi laçado três vezes por semana,
em dias alternados, durante cinco semanas consecutivas, perfazendo um total de
15 laçadas para cada animal e 225 laçadas totais durante o período experimental.
O procedimento foi executado sempre pelo mesmo cavaleiro, o qual é profissional
desta modalidade de rodeio.
Pela manhã dos dias de treinamento, os bezerros foram transferidos do
piquete onde permaneciam, localizado nos arredores da pista de areia, para um
cercado anexo a esta. Os bezerros foram conduzidos individualmente através de
um corredor ao final do qual havia um tronco de ferro chamado “brete” de partida.
Ao entrar no brete de contenção e largada, o bezerro permanecia de frente para
pista de areia. O cavaleiro se posicionava com a montaria ao lado externo ao brete,
à direita e em posição caudal ao bezerro. Ao mando de largada, a porta do brete se
abria permitindo a saída do bezerro, ao mesmo tempo em que era liberada a saída
do cavaleiro, dando início à prova. O cavaleiro partia em direção ao bezerro e
quando atingia a posição ideal o laço era jogado ao pescoço do bezerro, que
continuava correndo, no entanto, repentinamente o cavalo parava e cerrava o laço
cuja outra extremidade estava presa à sela. Neste momento, o bezerro sofria a
força de tração da laçada, parando em posição quadrupedal ou caindo em decúbito
ventral ou lateral ao solo. Em qualquer situação cumpria ao cavalo o papel de
manter a corda esticada, impedindo que o bezerro se soltasse. O cavaleiro então
desmontava e corria rapidamente em direção ao bezerro. Se este estivesse em
17
posição quadrupedal, o laçador segurava pelo pesco e virilha e derrubava-o ao
solo. Entretanto, se estivesse em decúbito o cavaleiro precisava levantá-lo e
derrubá-lo novamente, utilizando o procedimento descrito anteriormente. Em
seguida, utilizando uma corda pequena, presa em sua cintura, o cavaleiro
amarrava juntos os dois membros pélvicos e o torácico esquerdo, se levantava e
erguia os braços dando por encerrada a prova. Neste momento, o bezerro era solto
e seguia livremente em direção à pastagem onde era observado até o fim da
manhã.
A intensidade da laçada foi classificada subjetivamente como forte ou fraca
utilizando o critério da intensidade da tração da corda no pescoço dos bezerros e a
rapidez em que giravam em torno de seu eixo para posicionar-se à frente do
cavaleiro após a laçada. Também se observou omero de vezes que o animal
era derrubado em decúbito lateral ou ventral pela força de trão da corda.
4.5. Análise estatística
Para amostra pareada na escala nominal, escore corporal, foi usado o teste
de McNemar. Para amostras pareadas na escala quantitativa, peso e altura de
cernelha, foi usado o teste T pareado. Para análise das amostras FC, FR, FRUM e
T°C utilizou-se análise de variância de medidas repetidas e nos casos em que
houve diferença significativa utilizou-se o teste de Tukey a 5% (ZAR, 1999).
18
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Exame clínico geral
Os bovinos podem ser examinados em diferentes circunstâncias, porém
deve-se assegurar uma contenção adequada do animal. O uso de contenção em
brete por períodos variados de tempo pode ser estressante causando-lhes
excitação a qual eventualmente resulta em aumento de um a dois graus na
temperatura corpórea em 15 minutos. Variações consideráveis nas freências
respiratória e cardíaca também podem ocorrer na ausência de alteração das vias
aéreas e do sistema cardiovascular em decorrência da exposição por períodos ao
sol ou quando manipulados, o que lhes causa grande excitação (RADOSTITS,
2000; FEITOSA, 2004).
Neste experimento, a avaliação da auscultação de cavidades torácica e
abdominal não revelou anormalidade, tanto na qualidade quanto na freqüência de
sons produzidos, durante o período experimental. A avaliação dos parâmetros
vitais revelou diferenças para as variáveis FR, T°C e FRUM (Tab. 1).
Tabela 1.
Valor
médio das freqüências cardíaca (FC), respiratória (FR), rumenal (FRUM) e
temperatura (T
°
C) no início da primeira semana (T1) durante a terceira semana (T2) e ao
final da quinta semana de experimento (T3) (n=15).
Variável T1 T2 T3
Valor de P do teste F na
ANOVA*
FC (bpm) 84,933
a
88,533
a
71,867
a
0,2880
19
FR (mrm) 49,200
a
44,533
a
32,000
b
0,0050
FRUM
(mov/5min)
2,2667
a
0,2000
b
0,2000
b
< 0,001
T
°
C
40,5267
a
40,0533
a
39,3600
b
0,0037
Médias seguidas pela mesma letra minúsculas nas linhas o diferem entre si pelo teste de Tukey a
5%
* P> 0,05 não significativo a 5%; P< 0,05 significativo a 5%; P< 0,01 significativo a 1%.
Os animais foram examinados presos em "brete" pois não eram dóceis à
manipulação e permaneceram sob condições climáticas de calor durante o exame
clínico, tal fato além da excitação pode explicar o desvio dos parâmetros
considerados fisiológicos para a espécie.
Relativamente às freqüências cardíaca e respiratória, esta última apresentou
diferença significativa no momento final do experimento (T3). Estima-se que a
ocorrência de tal fato se deu em função da adaptação destes animais a
manipulação três vezes por semana por ocasião do exame clínico com
conseqüente diminuição do estresse a que eram submetidos.
Os ruminantes adultos atingem a capacidade máxima rumenal aos 12 meses
de idade aproximadamente. O interesse por alimentos sólidos já pode ser
observado por volta de duas semanas de vida, e sua ingestão em pequenas
quantidades desencadeia o início do desenvolvimento funcional dos pré-estômagos
de forma mais intensa. O estímulo mecânico promovido pela alimentação fibrosa é
o principal responsável pelo aumento do tamanho dos pré-estômagos e de sua
musculatura, ao passo que estímulos químicos promovem o desenvolvimento da
mucosa e papilas ruminais, as quais são responsáveis pela capacidade absortiva.
A ruminação inicia-se 30 a 90 minutos as a alimentação e cada ciclo se estende
por 10 a 60 minutos (MAREK & MÓCSY, 1973; FEITOSA, 2004). Neste
experimento foi notada freqüência rumenal abaixo dos valores esperados para a
espécie, porém este fato pode ser explicado pela pouca idade dos animais os quais
não haviam completado ainda o desenvolvimento total do rúmen aos cinco ou seis
20
meses de idade. Adicionalmente o fato dos animais estarem em jejum durante o
exame clínico tamm contribuía para a pouca atividade rumenal, uma vez que o
alimento era oferecido em cocho após o procedimento da laçada. Foi descartada a
hipótese de problemas digestórios devido ao fato dos animais não apresentarem
assimetria do contorno abdominal, perda parcial ou total do apetite ou algia
abdominal.
Nos animais o estado do manto piloso é também um bom indicador de sua
condição física, estado nutricional e do manejo em que está submetido. A avaliação
das mucosas pode revelar o estado de higidez do animal, e o seu exame revela a
presença de enfermidades próprias assim como auxiliam a inferência acerca da
possibilidade de alterações que reflitam comprometimento do sistema circulatório
ou afecções em outros sistemas. O sistema linfático participa dos processos
patológicos que ocorrem nas áreas ou regiões por ele drenadas, as alterações que
ocorrem no sistema linfático podem indicar o órgão ou a região que está
acometida, portanto, na maioria das vezes, os linfonodos raramente são sede de
lesão primária, já que eso envolvidos de maneira secundária nos processos
infecciosos, inflamatórios e neoplásicos de um organismo, portanto o exame do
sistema linfático torna-se indispensável durante o exame clínico geral (FEITOSA,
2004). Durante o exame físico da região do pescoço, deve-se dar ênfase a
possíveis anormalidades da veia jugular, incluindo ingurgitamento, pulsação
venosa ou aumento difuso de um ou ambos sulcos jugulares devido a tromboflebite
associada a injeções intravenosas prévias ou cateterismo intravenoso prolongado,
normalmente as veias jugulares o são totalmente visíveis e pulso jugular é visível
à cerca de um terço de distância do pescoço à entrada torácica (RADOSTITS,
2000). No presente estudo, ao exame da cutis, linfonodos, mucosas e veia jugular
não foram encontradas alterações nos parâmetros avaliados. O TPC avaliado nas
mucosas orais não pigmentadas foi dois segundos durante todo o período
experimental.
Distúrbios de movimentos posturais ou locomotores, observados quando os
animais se levantam ou caminham podem estar relacionados a processos
21
dolorosos localizados no sistema músculo esquelético. Fisiologicamente os bovinos
se deitam com os membros torácicos dobrados para baixo, um de cada lado do
esterno, enquanto os membros pélvicos, levemente flexionados, ficam ambos
esticados para o mesmo lado do corpo. Pacientes com miosite ou miodegeneração
dos músculos extensores do carpo se deitam sem flexionar os membros torácicos
esticando-os para frente, animais com doença vertebral cervical podem apresentar
torção anormal e permanente do pescoço; o desvio de uma parte de um membro
de seu eixo normal deve ser avaliado como indício de fratura óssea ou luxação.
Para levantar-se o bovino geralmente ergue primeiramente os membros pélvicos e
em seguida os torácicos, movimentando a região da cabeça e pescoço. As esta
inspeção deve-se observar o animal caminhando. A claudicação é definida como
manifestação de um distúrbio do sistema locomotor associado à dor. Um processo
doloroso de um membro leva a movimento compensatório do contra lateral a da
cabeça, estes movimentos anormais são usados no diagnóstico das claudicações
(STANEK, 1997). MARQUES et al. (2004) relataram evidências de dor cervical
caracterizada por rigidez do pescoço e orelhas, dificuldade de movimentação da
cabeça a despeito da manutenção do apetite em caso de compressão medular
cervical em bezerro. No presente experimento, a análise do sistema locomotor não
revelou alteração nos parâmetros estudados durante o período experimental. Não
se registraram quaisquer anormalidades nos movimentos de levantar-se e
caminhar. Quando em posição quadrupedal não foi observada claudicão ou
assimetrias decorrentes de deslocamentos articulares ou fraturas. Os membros
torácicos e pélvicos o apresentaram assimetria ou aumento de volume ósseo,
articular e tendíneo e não houve a ocorrência de feridas ou hematomas durante
inspeção. Os músculos trapézio, omotransversal e clido occipital e os processos
espinhosos cervicais não apresentaram durante inspeção e palpação aumentos de
volume ou sensibilidade dolorosa local. As o procedimento da laçada os animais
permaneceram em piquete para pastoreio e todos os animais foram capazes de
flexionar o pescoço, apreender e deglutir alimentos.
22
O escore da condição corporal é um método subjetivo para avaliar a
quantidade e energia metabolizável armazenada na gordura e musculatura de um
animal vivo. Este método requer palpação das estruturas corpóreas para se avaliar
a quantidade de tecido sob a pele (BORGES, 2004). Neste experimento, o escore
corporal se manteve entre bom e moderado na escala de RADOSTITS (2000) e
não houve alteração significativa entre o início da primeira semana e o término da
quinta semana de experimento de acordo com o Teste de McNemar (p = 0,3173).
Os valores de peso e altura de cernelha variaram significativamente entre o
início da primeira semana (T1) e o término da quinta semana de experimento (T3)
(Tab. 2).
Tabela 2.
Média ± desvio padrão (DP) para os valores de peso e altura de cernelha dos bezerros ao
início da primeira semana (T1) e ao término da quinta semana de experimento (T3).
Variável T1 T3
Valor de P no teste
t-student*
Peso (kg)
104,60
±
14.64 109,47
±
17,24
0.032
Altura (cm)
104,14
±
13.65 106,07
±
12,98
0.005
*
P> 0,05 não significativo a 5%; P< 0,05 significativo a 5%; P< 0,01 significativo a 1%.
O peso que o bezerro apresenta ao nascer é determinado em função de sua
raça, do manejo nutricional e sanitário da propriedade. O peso ao nascimento
exerce influência pronunciada sobre o desenvolvimento do animal. Quanto maior o
peso, maiores serão os ganhos ponderais obtidos até os seis meses de idade
(LUCCI, 1989). Segundo DREW & HEIFER (1992), a taxa de crescimento de um
bovino da raça Jersey com idade variando entre três e 6 meses é proporcional ao
peso do animal adulto. Segundo o autor, quando se espera que um bovino atinga
500kg de peso corpóreo este deve ganhar 500g de peso vivo ao dia durante esta
23
faixa etária. De acordo com PASCOAL & RESTLE (2000), o ganho de peso para
bovinos de corte é de 500g/dia, considerando adequado o peso entre 83kg e 158kg
para bezerros com três a sete meses respectivamente. No presente trabalho, o
ganho de peso médio por dia foi inferior ao recomendado acima, todavia esta
média é direcionada a animais geneticamente selecionados para maior ganho de
peso corpóreo e abate precoce, o que não era o caso dos animais deste
experimento.
5.2. Exame Neurológico
O comportamento é um reflexo do estado mental do animal em relação ao
ambiente interno e externo. A avaliação do estado mental se baseia no nível de
atenção ou consciência do animal. Quando se avalia o estado mental de um animal
deve-se determinar o grau de atividade considerando os diferentes estágios de
consciência associados ao ciclo sono-vigília, de forma que se possa identificar se o
indivíduo está alerta, deprimido, lergico, abatido ou em estado de estupor
(RADOSTITS & HlNCHCLIFF, 2000). No decorrer do exame neurológico de animal
com compressão medular cervical deve-se observar, além do grau de consciência,
se o paciente apresenta sinais de funcionamento anormal de nervos cranianos
(ALMEIDA, 2002). WATSON el at. (1985) e DOIGE et al. (1990) relataram caso de
compressão medular cervical de origem congênita em bezerro associada à
incapacidade de se manter em posição quadrupedal embora continuassem alertas
e responsivos ao meio ambiente. WHITE et al. (1978) referiram a ocorrência de
subluxação atlanto axial e compressão medular em cinco bezerros jovens com
sinais clínicos caracterizados por tetraparesia, ataxia, estado mental alerta e
responsivos ao meio externo. Conforme referido por BORGES et al. (2000) e
BORGES (2004) a propriocepção é a capacidade de percepção do posicionamento
24
dos membros, sendo realizada pela integração de informações obtidas por
receptores periféricos com núcleos encelicos. As vias proprioceptivas estão
presentes na medula espinhal divididas em tratos e fascículos, podendo ser
conscientes ou inconscientes. A capacidade de um animal manter a postura normal
e caminhar com andar normal depende amplamente do tônus da musculatura
esquelética, mas também da eficiência dos seus reflexos posturais. As
anormalidades de postura e andar se encontram entre as melhores indicações de
patologia do sistema nervoso pelo fato de tais funções serem controladas, em
grande parte, pela coordenação das atividades nervosas. Neste experimento, o
comportamento e postura corporal não mostraram alteração frente a estímulos
visuais, táteis ou auditivos A postura em descanso não evidenciou alteração no
posicionamento dos membros torácicos e pélvicos, cabeça e tronco.
Os sinais de ataxia, paresia, hipermetria e espasticidade ocorrem
isoladamente ou associados, dependendo do local da medula espinhal lesado.
Sinais de paresia são mais freqüentes e intensos quando ocorrem lesões nos
corpos celulares dos neurônios motores inferiores localizados na substância
cinzenta da medula espinhal. A paresia também pode ser observada quando os
axônios dos neurônios motores superiores apresentarem anormalidades,
registrando-se geralmente nestes casos sinais concomitantes de espasticidade. A
hipermetria é principalmente observada quando ocorrem lesões dos tratos
espinocerebelares e a ataxia pode ser observada tanto em lesões do trato
espinocerebelar quanto do vestíbulo espinhal (BORGES et al., 2000). Sinais de
espasticidade dos membros torácicos e pélvicos e ataxia foram relatados por
BRAUN et al. (2003) em três bovinos que apresentaram discoespondilite nas
vértebras cervicais associadas nestes casos à ocorrência de compressão medular
entre C5 e C6. WATSON et al. (1985) descreveram sinais de lesão em neurônio
motor superior e anormalidade proprioceptiva dos membros torácicos e pélvicos,
com sinais clínicos mais evidentes em membros pélvicos em casos de lesões
ocorrendo na medula espinhal devido à má formação da articulação atlanto
occiptal. Sinais progressivos de dificuldade em manter a posição quadrupedal e
25
ocorrência de ataxia, paresia e posteriormente tetraparesia foram associados à
presença de abscesso na região cervical comprimindo a medula espinhal
(SHERMAN & AMES,1986). Este relato se diferenciou dos mencionados
anteriormente uma vez que há evolução progressiva dos sinais clínicos ao passo
que nos casos de má formação ou lesão traumática o quadro é agudo e estável. No
presente estudo não houve qualquer evidência de anormalidade da marcha
caracterizando quadro de ataxia, hipermetria, espasticidade ou paresia, o que nos
leva a descartar a ocorrência, durante o período de observação, de lesões na
medula espinhal.
Anormalidades da função dos nervos cranianos auxiliam na localização de
lesão periférica ou no tronco encelico. Em relato de compressão medular cervical
BRAUN et al. (2003) descreveram reflexo de amea diminuído ou ausente e ptose
palpebral em bovinos adultos. Estes sinais ocorrem em razão da lesão dos nervos
simpáticos no tronco vagossimpático localizados anatomicamente na medula
espinhal torácica cranial até pximo à órbita (BORGES et al., 2000; BORGES,
2004; GANCZ et al., 2005). Neste experimento não ocorreu qualquer alteração na
avaliação dos pares de nervos cranianos estudados.
Tais resultados podem ser justificados pelo fato deste experimento ter sido
realizado sob condições especiais, embora não controladas. O laçador responsável
pela execução dos procedimentos é um cavaleiro experiente, envolvido
profissionalmente com a Prova do Laço de Bezerro há sete anos e com várias
premiações em seu currículo. Esta experiência lhe possibilita, em alguns casos,
suavizar manualmente o impacto da laçada, uma vez que este gesto diminui em
tese a ocorrência de derrube do bezerro em decúbito lateral ou ventral. Sob o ponto
de vista das regras da modalidade, o fato de não derrubar o bezerro é vantajoso
uma vez que encurta o tempo de duração da prova. Nos casos em que o bezerro
vai ao solo, há necessidade de reerguê-lo e novamente derrubá-lo para que a
prova seja considerada válida, o que certamente aumenta o intervalo de tempo da
disputa. Por outro lado, existem outros fatores como aceleração e ângulo de
26
incidência que interagem na produção das forças exercidas sobre o pescoço, os
quais são totalmente incontroláveis.
Os únicos critérios adotados na escolha dos animais foram o fato de serem
mestiços e pesarem, no início do experimento, entre 90 e 120kg, respeitando as
regras oficiais da modalidade as quais determinam que animais com peso corpóreo
acima de 140kg o devem ser utilizados. Este aspecto, de relativa importância
durante o treinamento, limita a utilização dos animais a um período de
aproximadamente dois ou três meses, além do qual estes estão muito leves ou
muito pesados para a prática da modalidade.
5.3. Prova experimental do Laço de Bezerro
Somando o total de 225 laçadas, 17,77% foram classificadas como sem
aproveitamento técnico (SAT), ou seja, o cavaleiro não conseguiu completar a
prova por erro da laçada. O resultado da intensidade da laçada e a ocorrência ou
não de derrube do animal por este procedimento estão descritos na forma de
porcentagem na Tab. 3.
Tabela 3.
Porcentagem de ocorrência (%) de laçadas de intensidade fraca e forte, assim como de
derrube durante o procedimento de laçadas efetuadas com êxito.
Laçadas efetuadas com
êxito
Intensidade da laçada
Fraca Forte
Derrube pela laçada
Sim Não
82, 23% 23% 77% 34,78% 65,22%
Diante destas considerações não se descarta a possibilidade de ocorrência
de lesão quando o bezerro é laçado por pessoas menos experientes, as quais não
27
possuem habilidade suficiente para controlar a intensidade da força do laço sobre
as estruturas do pescoço. Desta forma, deve-se considerar a possibilidade do uso
do “break waypara o treinamento do cavaleiro. Com este artifício o laçada é
rompida quando atinge o pesco do bezerro, contribuindo para menor ocorrência
de lesões.
5.4. Avaliação radiográfica
A estenose do canal espinhal ocorre geralmente em conseqüência de
traumas graves na coluna ocasionando a fratura, luxação ou subluxação vertebral
(KOESTNER & JONES, 1997). O trauma súbito e severo da medula espinhal causa
ndrome imediata e paralisia caudal à lesão (RADOSTITS & HINCHCLIFF, 2000).
O exame radiográfico da coluna vertebral faz parte da avaliação diagnóstica de
animais com alterações neurológicas (FENNER, 2000; BAGLEY & MAYHEW,
2000; FEITOSA, 2004; HAYSHI, 2004;).
Segundo DOUGLAS & WILLIAM (1970) as tomadas radiográficas laterais e
ventro dorsais são as mais comumente utilizadas para avaliação da região cervical.
O exame clínico e neurológico associados à radiografia em projeção lateral da
região cervical foi suficiente para diagnosticar alterações ocorridas em segmento
correspondente na medula espinhal nos relatos de MILLS, et al. (1988); WATSON
et al. (1985) e WHITE et al. (1978). O estabelecimento de correlação entre os
sinais clínicos característicos e o sítio da lesão pode ser efetuado, porém conforme
constatado por BOYD & McNEIL (1987) estão tamm sujeitos a erro de
interpretação tanto da origem dos sinais como do achado radiográfico,
permanecendo, neste relato, as lesões observadas a necropsia como meio para
confirmar diagnóstico.
Ao exame radiográfico da coluna cervical se deve dar atenção a qualquer
alteração no número de vértebras, alinhamento, tamanho, forma e radiopacidade
vertebral. A alise radiográfica da região cervical em projeção lateral deste
experimento revelou ao início da primeira semana, antes dos animais começarem a
ser submetidos à prova do laço, desalinhamento entre as vértebras C3 e C4 em
28
todos os animais, em seis animais o desalinhamento ocorreu também entre as
vértebras C2 e C3 e em cinco animais entre C4 e C5. Os desalinhamentos da
coluna vertebral podem ser congênitos, idiopáticos ou relacionados a outro tipo de
anormalidades vertebrais como luxações ou subluxações. O contorno anormal das
vértebras pode ser também de origem postural em decorrência de manifestações
dolorosas tendo por sede a coluna espinhal (WALKER, 1998). No presente caso,
atribuiu-se o desalinhamento entre as vértebras cervicais como sendo uma
característica anatômica de bezerro, visto estes animais não apresentarem
qualquer alteração clínica durante o exame.
A mielografia é um exame complementar a radiografia simples realizado
após a introdução de meio de contraste no interior do espaço subarcnóide medular
utilizado para delimitar o contorno da medula espinhal. Este exame é útil na
definição da localizão e extensão das doenças medulares e prognóstico do
animal (DOUGLAS & WILLIAM, 1970; WALKER, 1998; FEITOSA, 2000). O exame
radiográfico contrastado das vértebras cervicais de cinco animais escolhidos
aleatoriamente demonstrou que esses desalinhamentos vertebrais o produziram
compressão em medula (Fig. 3). Tal fato pode ser explicado pela largura do canal
vertebral do bovino aparentemente maior do que o apresentado por outras
espécies de mamíferos domésticos. Segundo DYCE et al. (1990) o canal vertebral
dos ruminantes é largo junto ao atlas e diminui rapidamente de espessura em
direção ao sacro, tal afirmação não corrobora com nossos achados, pois não houve
compressão medular provavelmente devido ao amplo diâmetro do canal vertebral
dos animais estudados.
As a quinta semana de experimento os animais foram novamente
submetidos a exame radiográfico simples e contrastado da medula espinhal. A
análise radiográfica da região cervical em projeção lateral deste experimento
revelou ao término do experimento desalinhamento entre as vértebras C3 e C4 em
todos os animais, em seis animais o desalinhamento ocorreu também entre as
vértebras C2 e C3 e em cinco animais entre C4 e C5, porém após mielografia dos
mesmos cinco animais sorteados aleatoriamente não foi constatada presença de
29
compressão medular. Estes achados foram novamente atribuídos à anatomia do
bezerro pelo mesmo fato justificado anteriormente (Fig. 3)
A
B
C3
C4
C3
C4
30
Figura 3.
Avaliações radiográficas simples (A) e contrastada (B) da região cervical ao início experimento e
ao término do período experimental (A2) e (B2). Notar desalinhamento entre corpos vertebrais 3 e
4
6. CONCLUSÕES
A modalidade de rodeio denominada Prova do Laço de Bezerro não causou
alteração nos parâmetros clínicos e radiográficos avaliados neste trabalho sob as
condições experimentais p-estabelecidas.
.
O desalinhamento encontrado entre os corpos das vértebras cervicais
durante exame radiográfico não provocou alteração nos parâmetros estudados e é
provavelmente devido à característica anatômica dos animais.
C3
C4
C3
C4
31
7. REFERÊNCIAS
ALMEIDA, T. L. Avaliação da biocompatibilidade no implante de
polimetilmetacrilato na estabilização cervical de cães. 2002. Dissertação
(Mestrado em Cirurgia Veterinária)
.
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias,
Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal/SP.
BACHA, W. J.; BACHA, L. M. Histologia Veterinária. 2ed. São Paulo:Rocca, 2003.
BAGLEY, R. S.; MAYHEW, I. G. Exame clínico do sistema nervoso. In:
RADOSTITS, O. M.; MAYHEW, I. G. J.; HOUSTON, D. M. Exame clínico e
diagnóstico em veteriria. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. cap. 9, p.
118- 139.
BORGES, A. S.; SAPATERA, A. C.; MENDES, L. C. N. Avaliação dos reflexos
espinhais em bezerros. Ciência Rural, Santa Maria, v. 27, n. 4, p. 613-617, 1997.
32
BORGES, A. S.; MENDES, L. C. N.; GRAFKUCHEMBUCK, M. R. Exame
Neurológico em grandes animais. Parte I: Encéfalo. Revista de Educação
Continuada. São Paulo, v. 2. n. 3, p. 4-16, 1999.
BORGES, A. S.; MENDES, L. C. N.; GRAFKUCHEMBUCK, M. R. Exame
Neurológico em grandes animais. Parte II – Medula espinhal: eqüino com
incoordenação motora. Revista de Educação Continuada. São Paulo, v. 3. n. 2,
p. 3-15, 2000.
BORGES, A. S. Exame clínico geral ou de rotina. In: FEITOSA, F. L. F. Semiologia
veterinária: a arte do diagnóstico. São Paulo: Roca, 2004. cap. 4, p. 507 – 526.
BOYD, J. S.; McNEIL, P.E. Atlanto occipital fusion and ataxia in the calf. Veterinary
Record, London, v. 120, p. 34-37, 1987.
BRAUN, U.; FLUCKIGER, M.; GERSPACH, C.; GREST, P. Clinical and
radiographic findings in six cattle with cervical diskospondylitis. Veterinary Record,
Zurich, v. 153, n.20, p. 630-632, 2003.
BRAUND, K. G.; SHORES, A; BRAWNER, W. R. The etiopatology, pathology and
pathophysiology of an acute spinal cord trauma. Veterinary Medicine. p.684-721,
1990.
DOIGE, C. E.; TOWNSEND, E. D.; JANSEN, E. D.; MCGOWWAN, M. Congenital
spinal stenosis in beef calves in western Canada. Veterinary Pathology.
Saskatchewan. v.27, p. 16-25, 1990.
33
DOUGLAS, S. W.; WILLIAM, H. D. The vertebral Column and rib cage. In:
______Veterinary radiological interpretation. Philadelphia: Lea & Febiger, 1970.
cap. 5, p. 72- 75
DREW, B.; HEIFER, R. Twelve weeks calving. In: ANDREWS, A. H.; BLOWEY, R.
W.; BOYD, H.; EDDY, R. G. Bovine medicine. Oxford: Blackwell. 1992, cap.5,
p.45-59.
DYCE, K. M.; SACK, W. O.; WENSING, C. J. G. O pescoço, o dorso e a cauda dos
ruminantes. In: ______ Tratado de anatomia veterinária. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1990. cap. 26, pág. 427 – 431.
FEITOSA, L. D. Semiologia veterinária: a arte do diagnóstico. o Paulo:
Rocca, 2004, 807p.
FENNER, W. R. Distúrbios Neurológicos. In: ______Consulta rápida em clínica
veterinária. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. cap. 26, pág. 407 –
413.
GANCZ, A. Y.; MALKA, S.; SANDMEYER, L.; CANNON, M.; SMITH, D. A.;
TAYLOR, M. Hornes syndrome in a red bellied parrot. Journal of avian
medicine and surgery. v. 19. n.1, p. 30-33, 2005.
HARDIE, M. E. Reconhecimento da dor em animais In: HELLEBREKERS, L. J. Dor
em animais. São Paulo: Manole, 2002. cap. 4, p. 49-68.
HAYSHI, F. E. Displasia do occiptal em cães: aspectos clínicos e
radiográficos. 2004. Dissertação (Mestrado em Cirurgia Veterinária)
.
Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal/SP.
34
JUNQUERIA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia Básica. 10 ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan. 2004.
KOESTNER, A.; JONES, T.C. Sistema Nervoso. In: JONES, T.C.; HUNT, R. D.;
KING, N.W. Patologia veterinária. Baltimore: Williams & Wilkins, 1997. cap. 27, p.
1287 – 1288.
LE COUTEUR, R. A.; CHILD, G. Diseases of the spinal cord. In: ETTINGER, S. J.;
FELDMAN, E. C. Textbook of veterinary internal medicine. Philadelphia: W. B.
Saunders, 1995. cap. 83, p.629-638.
LUCCI, C. Bovinos leiteiros jovens. o Paulo: Nobel / Edusp, 1989.
MAREK, J.; MÓCSY, J. Sistema nervioso. In: ______ Diagnóstico clínico de las
enfermedades internas de los animales domésticos. Barcelona: Editorial Labor,
1973. p. 479-532.
MARQUES, L. C.; CADIOLI, F. A. NETTO, A. C.; ÁVILA, L. G.; CANOLA, J. C.;
ALESSI, A. C. Abscessos em coluna vertebral de bezerros e cordeiros: aspectos
neurológicos. Revista de Educação Continuada.o Paulo, v.7, p.15-22, 2004.
MAYHEW, I. G. Clinical neuroanatomy. In: ______ Large animal neurology.
Philadelphia: Lea & Febiger, 1989. cap. 1, p. 3-15.
MILLS, L. L.; DAHLSTROM, C.; HOGAN, P. M. Recognizing cervical spinal cord
compression in young calves. Veterinary Medicine. Missouri. p. 1181 – 1185,
1988.
MORGAN, J. P. Vertebral column. In:______ Radiology in veterinary
orthopedics
. Philadelphia: Lea & Febiger, 1972. cap. 4, p. 223 – 225.
35
PASCOAL, L. L.; RESTLE, J. Diferentes sistemas de alimentação para desmame
aos 60-90 dias - desempenho e economicidade. In: RESTLE, J. Eficiência na
produção de bovinos de corte. Santa Maria: João Restle, 2000. cap. 9, p. 258-
276.
RADOSTITS, O. M. Exame clínico de bovinos adultos e bezerros. In: RADOSTITS,
O. M.; MAYHEW, I. G. J.; HOUSTON, D. M. Exame clínico e diagnóstico em
veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. cap. 9, p. 118- 139.
RADOSTITS, O. M.; HINCHCLIFF, K. W. Doenças do sistema nervoso. In: GAY, C.
C.; BLOOD, D. C. Clínica veterinária: Um tratado de doenças dos bovinos,
ovinos suínos, caprinos e eqüinos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
cap. 12, p.448 - 489.
REBHUM, W. C. Doenças neurológicas In: ______Doenças do Gado Leiteiro.
São Paulo: Rocca, 2000. p. 501- 544.
ROBERTSON, J. T.; REED, S. M. Nervous System. In: AUER, J. A. Equine
Surgery. Philadelphia: Saunders, 1992. p.532- 540.
SHERMAN, D. M.; AMES, T. R. Vertebral body abscesses in cattle: a review of five
cases. Journal of American Veterinary Medical Association. Minnesota. v. 188,
n. 6, p. 608-611, 1986.
SISSON, S. Osteologia Ruminante. In: GETTY, R. Anatomia dos Animais
Domésticos. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986. cap. 25, p. 693 –
735.
36
STANEK, C. Examination of the locomotor system. In: GREENOUGH, P. R.
Lameness in cattle. Philadelphia: Saunders Company, 1997, cap.2, p. 14-23.
STÕBER, M. Sistema nervoso central. In: ROSENBERGER. Exame clínico dos
bovinos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1987. cap. 12, p. 341 – 362.
TICER, J. W. Técnicas radiológicas na prática veterinária. 2ed. São Paulo:
Roca, 1987. p. 223 – 240.
WALKER, M. A. The vertebrae. In: THRALL, D. E. Textbook of veterinary
diagnostic radiology. 3.ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 1998. cap. 8, p. 81 – 88.
WATSON, A. G.; WILSON, J. H.; COOLEY, A. J. Occipito-atlanto-axial subluxation
in an ataxic calf. Journal of American Veterinary Medical Association, v.187, n.
7. p. 740- 742, 1985.
WIDMER, W. R. Intervertebral disc disease and myelography. In:
THRALL, D. E. Text book of veterinary diagnostic radiology. Philadelphia: W. B.
Saunders, 1998. cap. 9. p. 89 – 104.
WHITE, M. E.; PENNOCK, P. W.; SEILER, R. J. Atlanto-axial subluxation in five
young cattle. Canadian Veterinary Journal. Guelph. v. 19, p. 79-82, 1978.
WINTER, H. Guia para la necropsia de los ruminantes domésticos. Zaragoza:
Acribia, 1969. p. 99- 109.
ZAR, J. H. Biostatistical analysis. New Jersey: Prince Hall, 1999.
37
Apêndice
As a quinta semana do experimento, o bezerro número 09 ao
desembarcar do caminhão para análise radiográfica no Hospital Veterinário da
UNESP sofreu fratura cominutiva em teo proximal de metatarso do membro
posterior direito.
As exame clínico e radiográfico da região fraturada e também da região
cervical o animal foi sacrificado utilizando 0,25ml de xilazina, 8mL de cetamina e
500ml de KCl via intravenosa aplicado rapidamente. Em seguida foi levado ao
Departamento de Patologia Veterinária da Unesp para exame anatomopatológico.
O exame anatomopatológico deu destaque às estruturas da região cervical
iniciando-se pela dissecação da musculatura do pescoço. Os músculos foram
separados das vértebras permitindo que a coluna cervical fosse exposta para
análise de forma e posição vertebral e articulação intervertebral. Em seguida o
conjunto de vértebras cervicais e torácicas foi separado e seccionado por serra de
38
modo a permitir exposição da medula espinhal de acordo com WINTER (1969). Foi
colhido fragmento na altura do corpo de C2 (A) e entre a articulação C3 e C4 (B)
para análise histológica devido ao desalinhamento encontrado nas vértebras
cervicais nesta região. A amostra foi imersa em formol a 10% e devidamente
identificada. A técnica para preservação e corte do tecido para fixação em lâmina
foi seguida de acordo com JUNQUEIRA & CARNEIRO (2004) e analisada segundo
BACHA & BACHA (2003).
Durante a necropsia não foi observada alteração macroscópica em tecido
muscular, corpos vertebrais, articulação cervical e medula espinhal que pudesse
indicar lesão. Fragmentos medulares foram colhidos e posteriormente processados
para confirmar ou não a presença de células inflamatórias ou degeneração
tecidual. A análise histopatológica de amostras da medula colhidas entre C3 e C4 e
em C2 não demonstrou presença de células inflamatórias e degeneração tecidual
(Fig 4 e 5)
Figura 4.
Fotomicroscopia do corte histológico região A (aumento 4X).
Substância
cinzenta
Substância
branca
Canal central
39
Figura 5.
Fotomicroscopia do corte histológico região B (aumento 10X).
Meninges
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo