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LUIZA COELHO DE SOUZA ROLLA
LIDERANÇA EDUCACIONAL:
UM DESAFIO PARA O SUPERVISOR ESCOLAR
Dissertação apresentada como requisito parcial para
obtenção do grau de Mestre. Faculdade de Educação,
Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Orientadora: Profa. Dra. Délcia Enricone
Porto Alegre
2006
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DEDICATORIA
Dedico este trabalho a todas as pessoas que
ajudaram a construí-lo:
À Profª Drª Délcia Enricone por acreditar que
eu conseguiria;
Aos meus filhos pela compreensão da
presença ausente;
Aos meus pais pela capacidade que me
deram para superar as dificuldades;
Aos meus irmãos pelo incentivo, apoio e por
não terem dúvidas de que no fim tudo daria certo;
Ao César pela leitura crítica e pela
possibilidade de aprender juntos.
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AGRADECIMENTOS
À Profª Drª Délcia Enricone por ter lutado para
que eu conseguisse cursar o Mestrado e concluí-lo;
Ao Irmão Urbano Zilles por ter sido sensível
aos meus pedidos;
À minha irmã Cláudia que possibilitou a
realização das entrevistas;
Aos dez professores entrevistados que
dispensaram seu tempo de descanso para que eu
pudesse dar andamento a esta pesquisa;
À Jaqueline Maissiat que abdicou de seu
descanso para olhar criticamente minha produção e
pela autoconfiança que ela me devolveu;
A minha família maravilhosa (filhos, pais,
irmãos, sobrinhos, avó, tios e tias, primos e primas)
que, não podendo produzir por mim, me deu
coragem para que eu o fizesse;
A Deus e ao meu Anjo da Guarda, que
estiveram sempre do meu lado.
A definição de insanidade é continuar a
fazer o que você sempre fez, desejando
obter resultados diferentes.
James Hunter
RESUMO
Esta pesquisa foi realizada com o objetivo de analisar a relação
estabelecida entre Supervisor Escolar e professores no cotidiano das escolas.
Sabendo-se que o Supervisor é um dos responsáveis pelo planejamento,
organização e execução da proposta pedagógica da escola, e nesta relação está
colocado em situação hierarquicamente superior aos professores, a forma como são
conduzidas essas questões interferem no resultado do trabalho da escola como um
todo. A liderança educacional, nesta perspectiva, coloca-se como desafio à ação
Supervisora, que além de dar conta das questões burocráticas e legais, precisa
contribuir com a formação dos professores em serviço e com sua qualificação.
Sendo assim, o presente trabalho apresenta o histórico do Supervisor Escolar, as
funções que lhe eram atribuídas inicialmente e a evolução de suas atividades
profissionais. Percebendo o caráter de líder inerente à função do Supervisor, são
abordados conceitos, princípios, teorias e exemplos de liderança, e, ao final, são
colocadas questões que relacionadas à atuação do Supervisor e à liderança, desafio
que está posto a este profissional, a liderança educacional. A pesquisa
fenomenológica ofereceu suporte teórico para a realização deste estudo, e a análise
das categorias emergentes foi utilizada como forma de apresentar os resultados
obtidos. Foram entrevistados 10 professores, independente do nível e do sistema
onde atuam. O instrumento de pesquisa foi semi-estruturado e as entrevistas foram
gravadas, transcritas e analisadas em sua íntegra. A análise dos dados apresenta o
relato dos entrevistados, relacionado ao referencial que fundamenta este estudo.
Palavras-chave: Supervisão Escolar, liderança, relacionamento humano,
autoridade, motivação.
ABSTRACT
This research was performed with the goal of analyzing the relationship
established between a School Supervisor and the teachers in the everyday of
schools. Knowing that the Supervisor is one of the persons responsible for the
planning, school pedagogical proposal organization and execution, and in this
relationship he/she is placed in hierarchically superior to the teachers, the mould as
these matters are led interfere in the result of the school work as a whole. The
educational leadership, in this perspective, places as a challenge to the Supervisory
action, that besides accounting for the bureaucratic and legal matters, needs to
contribute with the in service teachers' formation and with their qualification. This
way, the present work shows the history of the School Supervisor, the functions that
were initially attributed and the evolution of their professional activities. Perceiving the
leader's inherent character to the supervisor's function, concepts, principles,
leadership theories and examples are boarded, and to finalize, matters are brought
up, that related to supervisor's performance and to the leadership, challenges this
professional, the educational leadership. The phenomenological research offered
theoretical support for the accomplishment of this study, and the analysis of the
emerging categories was used as a way of presenting the obtained results. Ten
teachers have been interviewed, regardless the level and the system where they act.
The research instrument was semi-structured and the interviews were recorded,
transcribed and analyzed in its totality. The data analysis presents the interviewees
statement, related to referential that bases this study.
Key Words: School supervision, leadership, human relationship, authority,
motivation.
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS E FIGURAS
INTRODUÇÃO..........................................................................................................10
1 A SUPERVISÃO ESCOLAR..............................................................................15
1.1 CONCEITUANDO SUPERVISÃO ESCOLAR ...............................................15
1.2 HISTÓRICO DA SUPERVISÃO ESCOLAR...................................................17
1.2.1 No Brasil ..............................................................................................17
1.2.2 No Estado do Rio Grande do Sul.........................................................21
1.3 INÍCIO DE UMA RESSIGNIFICAÇÃO...........................................................23
1.4 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DESTA NOVA PROPOSTA.............................27
2 LIDERANÇA......................................................................................................33
2.1 CONCEITOS DE LIDERANÇA......................................................................33
2.2 UMA HERANÇA PRIMATA...........................................................................42
2.3 CARACTERÍSTICAS DOS LÍDERES QUE BASEIAM- SE EM
PRINCÍPIOS..............................................................................................................
45
2.4 TIPOS DE PODER.........................................................................................48
2.5 MOTIVAÇÃO..................................................................................................53
2.6 LIDERANÇA EDUCACIONAL.......................................................................57
2.6.1 As Três Dimensões da Ação Pedagógica à Luz da Teoria de
Paulo Freire........................................................................................................62
2.6.2 A Mudança de Paradigma ...................................................................66
3 METODOLOGIA................................................................................................70
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA............................................................70
3.2 AMOSTRA DA PESQUISA............................................................................72
3.3 ANÁLISE DOS DADOS.................................................................................73
3.4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS.......................................................76
8
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................96
REFERÊNCIAS.......................................................................................................100
ANEXOS.................................................................................................................104
LISTA DE QUADROS E FIGURAS
QUADRO 01: Ação Supervisora ...............................................................................25
FIGURA 01: Hábitos Eficazes...................................................................................38
QUADRO 02: Qualidades Humanas.........................................................................46
FIGURA 02: O processo de poder ............................................................................50
FIGURA 03: O processo básico da motivação..........................................................56
FIGURA 04: Desafios da educação ..........................................................................58
QUADRO 03: Resumo ..............................................................................................75
INTRODUÇÃO
Estamos vivendo em um mundo que se transforma constantemente. A
evolução tecnológica, científica, social, a quantidade de informações e inovações
que se apresentam desvelam situações inusitadas, surpreendentes, que exigem
preparo, perspicácia, sabedoria para que possamos lidar com elas. Remetendo esta
reflexão ao ambiente escolar, gestores e professores, igualmente, deparam-se
diariamente com situações que precisam ser resolvidas, muitas vezes, colocando em
jogo conhecimentos pré-estabelecidos, valores arraigados.
Diretores, supervisores e orientadores educacionais, professores, e todos os
envolvidos nas relações escolares são profissionais que lidam com o inusitado.
Planejamentos, reuniões pedagógicas, planos de ação ou estudos nem sempre dão
subsídios frente a determinadas situações que acabam por mobilizar, desestabilizar,
colocando em questão determinados saberes.
Na estrutura escolar temos o diretor e vice-diretor, autoridades responsáveis
pela administração do todo da escola. Constituindo a equipe gestora da mesma,
temos o supervisor escolar, objeto de pesquisa do presente estudo, cuja função é
orientar o grupo de professores, desafiar, instigar, questionar, motivar, despertando
neles o desejo, o prazer, o envolvimento com o trabalho desenvolvido e dividindo as
alegrias dos resultados obtidos.
Historicamente, a função do Supervisor Escolar modificou-se. Seu objeto de
trabalho e suas ações, inicialmente voltados para o controle e para a inspeção,
passam a ser mais complexos e desafiadores, pois dizem respeito à formação, à
orientação, ao acompanhamento do trabalho pedagógico dos professores em
serviço.
Professores são naturalmente líderes, lideram turmas de alunos, são
modelos, exemplos, referenciais, estão em situação de conhecimento superior, em
determinadas áreas, àqueles que lecionam. Nesta perspectiva, surge um desafio, e
à ação do supervisor escolar são atribuídas funções complexas, de apoio e parceria
com o professor. Neste sentido, o tipo de relação que ele estabelece com o grupo de
professores, ao qual lidera, passa a ser a essência do desenvolvimento de seu
trabalho.
O Supervisor Escolar, portanto, é o profissional organizador ou orientador do
trabalho pedagógico desenvolvido pelos professores em uma escola, e a liderança
frente a este grupo passa a ser inerente à sua função, mas isso não garante que ele
atue como tal.
Sendo assim, surgem alguns questionamentos que norteiam a presente
pesquisa:
12
Quais as características que os professores consideram desejáveis em
um supervisor?
Como a atuação do Supervisor pode contribuir com o crescimento
pessoal e profissional dos professores?
É possível identificar, na história profissional de um professor, um
Supervisor Escolar que tenha contribuído efetivamente com seu
crescimento profissional e pessoal?
A relação estabelecida com o Supervisor Escolar interfere na motivação
do professor?
Tais questionamentos remeteram aos seguintes objetivos:
caracterizar o Supervisor Escolar desejável;
analisar a percepção dos professores acerca da atuação do
Supervisor como organizador de seu espaço de aprendizagem dentro
da escola;
identificar Supervisores Escolares que exerceram sua função de
líderes educacionais;
verificar se a relação estabelecida entre Supervisor e professor
13
interfere na motivação deste ao desenvolver seu trabalho.
De acordo com as atribuições do Supervisor Escolar, a essência de sua
função reside no relacionamento que mantém com os professores individual e
coletivamente, e quando se fala em ‘relação entre sujeitos’, existe, além de questões
epistemológicas, questões de subjetividade.
Ao Supervisor Escolar, o poder instituído pela função é suficiente para que
ele exerça sua liderança conquistando o respeito dos professores e contribuindo
efetivamente com seu crescimento?
Sendo assim, estas questões apontam o seguinte problema de pesquisa: o
professor reconhece o Supervisor Escolar como profissional responsável pelo
acompanhamento e orientação de seu trabalho pedagógico, e ainda, percebe que
este profissional contribui com seu crescimento pessoal e profissional?
Este é um universo complexo, pois professores são sujeitos com
concepções, valores, ideais, comportamentos, que acreditam em determinadas
teorias e fundamentam teoricamente suas ações, mesmo que não se assumam
nesta perspectiva. Parafraseando Paulo Freire (1992), não existe prática pedagógica
neutra, todo e qualquer professor trabalha a serviço de uma idéia, da transformação
ou manutenção das relações sociais que estão estabelecidas.
A partir do problema levantado, buscou-se resgatar a construção histórica do
Supervisor Escolar no Brasil e, mais especificamente no Rio Grande do Sul;
14
identificar momentos, dentro desta história, que acabaram por promover reflexões e
ressignificações; expor a lei que regulamenta e define suas atribuições, bem como a
formação exigida para o exercício de suas funções.
Para complementar, caracterizando o Supervisor Escolar como líder, foram
abordadas questões relativas à liderança: conceitos; importância; desafios;
exemplos de liderança. E, a fim de analisar o viés de liderança existente na função
do Supervisor Escolar, estudos sobre liderança educacional subsidiaram sua
fundamentação teórica.
Acredita-se que o presente estudo possa contribuir com os gestores
educacionais para a construção de sua identidade profissional, em especial com os
Supervisores Escolares, pois o resgate histórico, a regulamentação de suas funções
e a relação com que ele estabelece com o grupo de professores, são fatores que
influenciam suas ações.
1 A SUPERVISÃO ESCOLAR
1.1 CONCEITUANDO SUPERVISÃO ESCOLAR
As pesquisas e estudos voltados para a Supervisão Escolar fizeram com que
esta função fosse conceituada sob vários enfoques. Trazendo a origem etimológica
da palavra ‘supervisionar’, temos: ’SUPERVISIONAR = SUPERVISAR’ e
‘SUPERVISAR = dirigir ou orientar em plano superior; superintender, supervisionar’
(FEREIRA, 1993, p. 520).
Dentro desta perspectiva, Nérici (1974, p. 29), afirma que Supervisão
Escolar é a “visão sobre todo o processo educativo, para que a escola possa
alcançar os objetivos da educação e os objetivos específicos da própria escola”.
Este olhar exclui os sujeitos envolvidos no processo educativo, ou seja, a ‘escola’ e
os ‘objetivos da educação’ são o foco do trabalho, sem que sejam considerados os
professores, alunos, especialistas, demandas sociais ou qualquer outra variável
dentro desse processo.
Alguns anos depois, já se percebe um avanço em termos de conceituação
de Supervisão Escolar, quando Rangel (1988, p. 13), reconhece a necessidade de
relação deste com os outros profissionais da escola: “um trabalho de assistência ao
professor, em forma de planejamento, acompanhamento, coordenação, controle,
avaliação e atualização do desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem”.
16
Esta conceituação propõe que a Supervisão seja percebida levando-se em
conta duas outras dimensões: a relação entre os sujeitos, Supervisor – Professor, e
o ensino-aprendizagem, objeto de trabalho desses profissionais, ultrapassando a
simples execução de tarefas e a ‘fiscalização’ do trabalho realizado. Seguindo nesta
linha, Alonso (2003, p. 175) afirma que a Supervisão, nesta perspectiva relacional e
construída no cotidiano da escola,
(...) vai muito além de um trabalho meramente técnico-pedagógico, como é
entendido com freqüência, uma vez que implica uma ação planejada e
organizada a partir de objetivos muito claros, assumidos por todo o pessoal
escolar, com vistas ao fortalecimento do grupo e ao seu posicionamento
responsável frente ao trabalho educativo.
Desvela-se, assim, a função do Supervisor como referência frente ao grupo,
frente ao todo da escola. Este profissional enquanto responsável pela ‘coordenação’
do trabalho pedagógico assume uma liderança, um papel de responsável pela
articulação dos saberes dos professores e sua relação com a proposta de trabalho
da escola.
Alarcão (2004, p. 35), refere-se a este profissional como líder, definindo
como objeto de seu trabalho “o desenvolvimento qualitativo da organização escolar
e dos que nela realizam seu trabalho de estudar, ensinar ou apoiar a função
educativa por meio de aprendizagens individuais e coletivas”.
17
Estas definições revelam um enriquecimento nas atribuições do Supervisor
Escolar, e para melhor contextualizar esta evolução, será realizada uma retomada
histórica desde o surgimento deste profissional até sua atuação nos dias de hoje.
1.2 HISTÓRICO DA SUPERVISÃO ESCOLAR
1.2.1 No Brasil
Data de 1931 o primeiro registro legal sobre a atuação do Supervisor Escolar
no Brasil. Neste período estes profissionais executavam as normas ‘prescritas’ pelos
órgãos superiores, e eram chamados de ’orientadores pedagógicos’ ou ‘orientadores
de escola’, tendo como função básica à inspeção (ANJOS, 1988).
Relacionando o que Anjos nos traz com a origem etimológica da palavra,
torna-se possível aproximar o surgimento deste profissional com a função que por
ele deveria ser exercida. Colocar-se em plano superior aos professores para
inspecionar, ‘garantir a execução de’, seriam suas atribuições neste momento da
história.
De acordo com Saviani (2003, p. 26), a função de Supervisor Escolar surge:
“(...) quando se quer emprestar à figura do inspetor um papel predominantemente de
orientação pedagógica e de estímulo à competência técnica, em lugar da
fiscalização para detectar falhas e aplicar punições (...).
18
Este caráter, porém, não é assumido em sua essência, pois no final da
década de 50 e início da década de 60, em virtude do acordo firmado entre Brasil e
Estado Unidos da América para implantação do Programa de Assistência Brasileiro-
Americana ao Ensino Elementar, o PABAEE, o Supervisor Escolar tem estritamente
a função de controlar e inspecionar.
O PABAEE tinha por objetivo ‘treinar’ os educadores brasileiros a fim de que
estes garantissem a execução de uma proposta pedagógica voltada para a
educação tecnicista
1
, dentro dos moldes norte-americanos. Alguns estados
brasileiros como Minas Gerais, Goiás e São Paulo foram os principais ‘executores’
do Programa, porém esta tendência influenciou a educação e a função do
Supervisor Escolar em todo o país.
Neste período a educação brasileira fundamentou-se basicamente no
PABAEE e o material elaborado pelos profissionais que trabalhavam no programa
eram fonte para especialização e aprimoramento dos docentes da época.
Inicialmente os técnicos do PABAEE acreditavam que bastava investir na
formação dos professores através dos cursos ‘Normais’ para garantir a execução
das práticas impostas pelo Programa. Posteriormente perceberam que o preparo do
Supervisor Escolar, com base nas suas concepções tecnicistas, teria uma eficácia
maior, pois estes profissionais poderiam atuar: “interferindo, diretamente no que
ensinar, no como ensinar e avaliar, educando professores e alunos para uma
1
Segundo Saviani, “na escola tecnicista professores e alunos ocupam papel secundário dando lugar
à organização racional dos meios. Professores e alunos relegados à condição de executores de um
processo cuja concepção, planejamento, coordenação e controle, ficam a cargo de especialistas
supostamente habilitados, neutros, objetivos, imparciais” (1993, p. 24).
19
organização escolar fundada na ordem, na disciplina e na hierarquia e cimentada na
visão liberal cristã” (GARCIA apud PAIVA, p. 40, 1997).
Os Supervisores desempenhavam um papel de multiplicadores e
inspecionavam a execução das idéias impostas pelo PABAEE, assim, o programa
passou a atingir um número maior de professores e alunos. Long, um dos
organizadores do programa, reforçando esta meta, conclui que: “isso indica
claramente que devemos trabalhar com pessoas que preparam professores, em vez
de trabalhar com professores regentes de classes” (apud PAIVA, 1997, p. 48).
As Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, primeiramente a LDB
4024/61, passam a prever setores especializados para coordenar as atividades
pedagógicas nas escolas como forma de buscar a execução das políticas
educacionais desejadas pelos Sistemas de Ensino.
Reiterando esta atuação tradicional, Medina (1995, p. 40), resgata o texto da
Lei Federal nº 5692, de 11 de agosto de 1971, em seu capítulo V, artigo 33, o qual
reforça a responsabilidade deste profissional com relação à prática pedagógica
exercida na escola:
institucionaliza a supervisão, ao referir-se à ‘formação de administradores,
planejadores, orientadores, inspetores, supervisores e demais especialistas
em educação’. A supervisão passa a introduzir modelos e técnicas
pedagógicas atualizadas (para a época); o supervisor, contudo, não perde o
vínculo com o poder administrativo das escolas. Agora o seu papel é o de
assegurar o sucesso no exercício das atividades docentes por parte de seus
colegas, professores, regentes de classe.
20
O Supervisor Escolar possui legalmente um poder instituído que determina
suas ações frente ao corpo docente e à proposta pedagógica da escola, e a partir de
então, sendo reconhecido como profissional da educação, passando a ter suas
atribuições definidas pelos órgãos superiores. De acordo com Silva Júnior, o Decreto
nº 5.586/75, artigo 7º, do estado de São Paulo, define essas atribuições, entre as
quais destaca-se:
(...) II- Zelar pela integração do sistema, especialmente quanto à
organização curricular;
(...) IV- Elaborar os instrumentos adequados para a sistematização das
informações;
(...) X- Cumprir e fazer cumprir as disposições legais relativas à organização
didática, administrativa e disciplinar emanadas das autoridades superiores;
(...) XI- Apresentar relatório das atividades executadas, acompanhado de
roteiro de inspeção (1984, p. 34-35).
Rangel (1988, p. 14), transcreve a Portaria nº 06/77 da Secretaria de
Educação do Estado do Rio de Janeiro, sobre as atribuições do ‘orientador
pedagógico’, nomenclatura dada ao Supervisor Escolar naquele Estado:
Planejamento, acompanhamento, avaliação e controle:
1.1- Planejar a dinâmica da orientação pedagógica em consonância com os
objetivos da unidade de ensino;
(...)
1.4- Acompanhar o desenvolvimento do currículo, em entrosamento direto
com a Direção do estabelecimento e a equipe de orientação educacional;
1.5 Avaliar, continuamente, o processo de ensino-aprendizagem com vistas
à realimentação do sistema;
(...)
1.8- Elaborar, implementar ou opinar sobre projetos de caráter técnico-
pedagógico.
21
Estes textos revelam a ação tradicional, conservadora e estreita atribuída ao
Supervisor Escolar, que contém em si traços do Inspetor Escolar que dava ênfase ao
‘controlar’, ‘executar’, ‘fazer cumprir’. A existência deste profissional continuava,
portanto, servindo ao sistema, fazendo com que sua ação fosse limitada ao que lhe
era determinado, cabendo-lhe executar o que era estabelecido e garantir que os
docentes reproduzissem, em suas aulas, o modelo instituído.
Esta época é marcada pela desqualificação e pela fragmentação do trabalho
docente, pois o educador passa a ser um mero transmissor do conhecimento,
considerado como verdadeiro pelos sistemas de ensino brasileiros em parceria com
os Estados Unidos da América. Esta prática, denominada educação bancária2 por
Paulo Freire “deforma a necessária criatividade do educando e do educador” (1996,
p.27), e limita a atuação do Supervisor Escolar.
1.2.2 No Estado do Rio Grande do Sul
No estado do Rio Grande do Sul, datam de 1875 os registros informais que
se referem à atuação de profissionais cujas funções eram de:
inspeção ou fiscalização de ensino e zelar pelo cumprimento das diretrizes
legais. Em 1938, foram nomeados os primeiros Orientadores de Educação
Elementar com atribuições de orientar, assistir diretores e professores, sob
forma de estímulos e cooperação em todas as atividades escolares
(ANJOS, 1988, p. 12).
2
Freire designa “Educação Bancária”, a prática pedagógica através da qual o professor deposita seu
conhecimento no aluno, que por sua vez tem apenas a permissão de reproduzi-lo, repeti-lo,
garantindo a manutenção do sistema vigente.
22
Já em 1943, esta função é definida de uma outra maneira, ou seja, “assistir
aos diretores, professores sob forma de colaboração e incentivo no desenvolvimento
de programas escolares” (id., p. 13), programas estes definidos pelos órgãos
governamentais que normatizavam a educação no país, sendo amenizado, desta
forma, o caráter de ‘fiscalização’ em sua atuação.
Acompanhando as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
conforme citado no item anterior, Anjos (1988), traz a Lei Estadual 7.132 de 13 de
janeiro de 1978, que ao criar os cargos de Especialistas em Educação no Rio
Grande do Sul, apresenta, entre outras, as atribuições que seguem:
- Coordenar o planejamento de ensino e o planejamento de currículo;
- Assessorar aos outros serviços técnicos da escola, visando manter a
coesão na forma de pesquisar os objetivos propostos pelo Sistema Escolar;
- Avaliar o grau de produtividade atingidos em nível de Escola e em nível de
atividades pedagógicas (p. 15).
Este paralelo permite constatar que a historicidade da Supervisão Escolar ao
nível estadual e federal deu-se sobre as mesmas bases, construiu-se sobre os
mesmos pilares, fundamentando-se na execução das políticas educacionais
estabelecidas pelos órgãos responsáveis pela educação no país, limitando-se
estritamente a isso, não indo além, aprisionando-se e acomodando-se numa espécie
de zona de conforto, pois a legislação estava sendo cumprida.
23
1.3 INÍCIO DE UMA RESSIGNIFICAÇÃO
No final da década de 80 inicia-se um movimento aberto de repensar a
educação. Alguns profissionais, insatisfeitos com a educação disseminada nas
escolas brasileiras, passam a refletir, discutir e buscar alternativas para uma nova
proposta sobre a função social da escola, o papel do educador e os resultados que
estas práticas pedagógicas trazem para os educandos.
A realidade provocada pela distância que a escola impôs entre a vida real
dos educandos e o objetivo da educação, passa a desagradar, a desacomodar, a
incomodar, a promover a problematização e a reflexão.
Dentre outros pensadores, encontra-se Paulo Freire (1992), cujas teorias
vão de encontro a esta realidade e assumem um papel importante quando provocam
uma reflexão e mobilizam em direção à mudança desta perspectiva. Ele nos traz que
a esperança, a tolerância, o formar-se para poder formar, o respeito aos saberes dos
educandos, a busca de respostas e de conhecimentos, o saber-se inacabado, a
escuta e o diálogo, são princípios que desestabilizam a prática pedagógica de
muitos educadores, fazendo-os buscarem novos rumos, novos caminhos,
impulsionando os profissionais da educação a repensarem suas práticas.
Com o alvorecer desta nova realidade apontado, o Supervisor Escolar passa
a ter de refletir sobre: ‘o que fazer, por que fazer, para que fazer’, assumindo,
24
enquanto educador, a dimensão política
3
de sua função.
Como diz Medina (2002, p. 46).:
O supervisor abdica de exercer poder e controle sobre o trabalho do
professor e assume uma posição de problematizador do desempenho
docente, isto é, assume com o professor uma atitude de indagar, comparar,
responder, opinar, duvidar, questionar, apreciar e desnudar situações de
ensino, em geral, e, em especial, as da classe regida pelo professor
Esta mudança de paradigma demanda outras atribuições, fazendo com que
professores passem a buscar no Supervisor uma ação renovada, apoio, formação,
orientação, a fim de qualificar sua prática pedagógica.
Por esta razão, pensar a prática cotidiana da escola requer profundo
esforço prático-teórico, teórico-prático por parte do supervisor. Este esforço
contribui significativamente para compreender a realidade escolar,
sugerindo perguntas e indicando possibilidades. Este esforço é feito em
parceria com os demais agentes educacionais que atuam na escola,
especialmente o professor regente de classe (MEDINA, 1997, p. 29-30).
Neste sentido, e apontando para a evolução na atuação do Supervisor
Escolar, Rangel situa este profissional no sentido pedagógico, caracterizando seu
trabalho como de “assistência ao professor, em forma de planejamento,
acompanhamento, coordenação, controle, avaliação e atualização do
desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem” (1988, p. 13-14). Esta nova
3
De acordo com Freitas, “a dimensão política da educação diz respeito ao exercício da opção,
inerente à prática educativa, que, não sendo neutra, assume um posicionamento político-ideológico a
serviço do qual coloca as dimensões epistemológica [do conhecimento] e estética [da subjetividade]”.
(2001, p. 177)
25
dimensão coloca-o como ‘professor’ de seus professores, alguém que provoca,
desafia, incita, questiona, faz pensar.
Medina (1995, p. 88), em pesquisa realizada com Supervisoras da Rede
Municipal de Ensino de Porto Alegre, traz o que as profissionais apontam como
‘ação supervisora tradicional’, fazendo um paralelo com a ‘ação supervisora
renovada’, das quais são destacadas as que seguem:
QUADRO 01: Ação Supervisora
TRADICIONAL RENOVADA
Ter como objetivo a harmonia do grupo. Explicitar as contradições, trabalhando o
conflito com o objetivo de estabelecer
relações de trabalho no grupo da escola.
Buscar a igualdade num processo de
mascaramento da realidade.
Trabalhar as diferenças.
Trabalhar a partir do seu próprio desejo. Trabalhar buscando criar demandas.
Produzir modelos de conhecimento. Criar formas próprias de conhecimento.
Enfatizar procedimentos linearizados. Enfatizar a produção do professor no
interior da escola, num movimento de
ensinar e aprender.
Ser um facilitador. Ser um problematizador.
Ter o conhecimento como um dado
absoluto.
Ter o conhecimento como um dado
relativo.
Ter comportamento de neutralidade. Ter comportamento expresso com
clareza.
Trabalhar tendo em vista um tipo ideal
de homem.
Trabalhar tendo em vista o sentido da
vida humana.
Fonte: Supervisão Escolar: da ação exercida à ação repensada, 1995.
26
A autora ressalta que os dados levantados no Quadro 01 não apontam um
modelo, mas o resultado de uma pesquisa sobre a realidade vivida por um grupo de
Supervisoras. Esta pesquisa revela a necessidade de um repensar da prática
Supervisora que já começa a ocorrer.
Rangel (2001, p. 57), situando o trabalho do Supervisor no universo da
escola traz que:
O supervisor pedagógico escolar faz parte do corpo de professores e tem a
especificidade do seu trabalho caracterizado pela coordenação –
organização em comum – das atividades didáticas e curriculares e a
promoção e o estímulo de oportunidades coletivas de estudo.
Indo além da simples organização de um espaço de estudo e ratificando
esta mudança de paradigma na ação supervisora, Freitas (2001, p. 207) destaca
que:
É preciso que o/a supervisor/a, juntamente com os professores,
problematizem e disponham-se a reconstruir sua identidade profissional à
medida que pensem sobre o que fazem e porque fazem, sobre os
significados que atribuem às suas práticas, discutindo a intencionalidade de
seu trabalho, em permanente diálogo com a realidade, bem como lutando
para a transformação das condições institucionais que limitam suas
possibilidades de reinventar sua atuação profissional.
Esta transformação, conseqüência das necessidades e das demandas
sociais que interferem nos modelos de escola que se deseja, impulsiona os
profissionais em Supervisão Escolar para um repensar de sua prática.
27
1.4 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DESTA NOVA PROPOSTA
Conforme justificação do Deputado Federal Cezar SCHIRMER para
aprovação do Projeto de Lei 4.412 de 2001 (ANEXO A), a LDB 9394/96, a escola é
reconhecida como instituição que precisa ajustar-se à realidade a fim de cumprir seu
papel social, porém, existem inúmeras dificuldades que limitam as renovações em
termos de ação educativa. Neste sentido, o Deputado afirma que para reverter esta
situação é necessário:
revisar e redefinir papéis até agora existentes, a fim de adaptar-se às novas
exigências sociais, transformando a educação escolar em um dos
instrumentos do desenvolvimento individual, social e econômico,
colaborando, decididamente, para a construção da própria cidadania.
Dando continuidade a esta justificação, Schirmer coloca que além de
estabelecer as responsabilidades dos sistemas de ensino e dos docentes, é
importante reconhecer o âmbito de atuação dos profissionais em educação, entre
eles, o Supervisor Escolar. Para tanto, o Deputado propôs a regulamentação do
exercício da profissão de Supervisor Escolar, tornando-se parte da legislação com a
publicação com o Projeto de Lei 4.412 de 2001, da qual destaca-se:
Art. 2º O Supervisor Educacional tem como objetivo de trabalho articular
crítica e construtivamente o processo educacional, motivando a discussão
coletiva a fim de garantir o ingresso, a permanência e o sucesso dos alunos,
através de currículos que atendam às reais necessidades da clientela
escolar, atuando no âmbito dos sistemas educacionais federal, estadual e
municipal, em seus diferentes níveis e modalidades de ensino e em
instituições públicas ou privadas.
28
O texto acima reproduzido coloca o Supervisor Escolar como profissional
responsável pela ‘articulação’ do processo educacional, alguém que possibilita o
atendimento das necessidades dos alunos, seu ingresso e permanência na escola.
E para que isso se concretize, em sua continuidade, dispõe sobre suas atribuições:
I – coordenar o processo de construção coletiva e execução da Proposta
Pedagógica, dos Planos de Estudo e dos Regimentos Escolares;
II – investigar, diagnosticar, planejar, implementar e avaliar o currículo em
integração com outros profissionais da Educação e integrantes da
Comunidade;
(...) VI – promover atividades de estudo e pesquisa na área educacional,
estimulando o espírito de investigação e a criatividade dos profissionais da
educação;
(...) IX – planejar e coordenar atividades de atualização no campo
educacional;
(...) X – propiciar condições para a formação permanente dos educadores
em serviço (...)
Estas atribuições remetem a uma prática dimensionada para além da
‘inspeção’, da ‘supervisão’ enquanto um ‘olhar superior sobre’, colocando o
Supervisor como alguém que coordena um trabalho coletivo, um líder que viabiliza o
planejamento, a formação continuada, de investigação acerca da prática
pedagógica.
As Leis estabelecem os parâmetros, mas a ação cotidiana se dá a partir das
atitudes, das relações, do convívio, da diversidade, não bastando que haja
regulamentação ou uma lista de atribuições para que o trabalho seja efetivo ou
tenha um resultado positivo. Neste sentido, Freitas (2001, p. 203-204) faz refletir
sobre a atuação de educador necessária ao Supervisor que deseje romper com o
paradigma tradicional:
29
Esta concepção de supervisor-educador, ao comprometer-se com a
democratização da escola, opõe-se às características restritivas da supervisão
tradicional, propondo que se supere: a neutralidade pelo posicionamento crítico; o
controle pelo comprometimento; as relações hierárquicas pela responsabilidade
partilhada; o individualismo pela solidariedade; a separação do fazer e do pensar
pela reflexão coletiva; a ajuda pela problematização; a receita pela criação.
Sob esta perspectiva, Alonso (2003, p. 171) afirma que a ressignificação do
trabalho do Supervisor Escolar: “está na forma como esta relação se estabelece,
num ambiente próximo, de colaboração e respeito mútuo. Neste espaço, o professor
poderá receber a assistência e orientação para lidar com as dificuldades do
cotidiano escolar”.
Nesta teia de relações tecida pelos professores em conjunto com os
especialistas em educação e com todos os envolvidos no processo pedagógico da
escola é que se efetiva a ação do Supervisor Escolar, não sendo possível que haja
receita ou método a ser seguido, mas atitudes e comportamentos necessários
àquele que tem como objetivo a qualificação do trabalho docente.
Com relação à formação do Supervisor Escolar, ao Projeto de Lei 4412 de
2001 determina, em seu Art 2º, que:
o exercício da profissão de Supervisor Educacional é prerrogativa dos
portadores de diploma de curso de graduação obtido em instituição de
ensino superior devidamente autorizada e credenciada pela autoridade
competente do sistema de educação nacional.
30
E, em parágrafo único do Art 2º, regulamenta, ainda, que a obtenção do
diploma dar-se-á em:
I – curso de Pedagogia, Habilitação em Supervisão Educacional ou
Supervisão Escolar;
II – instituição estrangeira de ensino superior, revalidado e registrado como
equivalente ao diploma mencionado no inciso I;
III – curso de pós-graduação em Supervisão Educacional ou Supervisão
Escolar.
Anteriormente, apenas a graduação em Supervisão Escolar habilitava
profissionalmente para a atuação nesta área, sendo que a partir deste Projeto de Lei
o curso de pós-graduação é suficiente para o exercício da profissão.
Fica definido, também, em seu Art 3º que:
O campo de atuação do Supervisor Educacional abrange:
I – os órgãos centrais e regionais dos sistemas de ensino;
II – as instituições de ensino;
III – todas as áreas que desenvolvem ação de formação.
A atuação do Supervisor Escolar, portanto, pode ser ampliada para além das
instituições de ensino, desde que haja necessidade de organizar espaços de
formação.
O Projeto de Lei 4412/2001, apenas propõe a regulamentação da profissão
do Supervisor Escolar ou Supervisor Educacional e sugere de forma ampla suas
31
atribuições, ficando a cargo dos Sistemas de Ensino o detalhamento de suas
funções de acordo com suas necessidades e peculiaridades.
O voto da relatora Deputada Kelly Moraes, ao afirmar que a Comissão de
Educação, Cultura e Desporto não apresenta emendas e concorda com a proposta
em sua íntegra, incorpora três dimensões às atribuições do profissional de
Supervisão Educacional:
uma voltada para o interior da escola, quando o supervisor coordena e
promove processos pedagógicos junto aos professores e alunos; outra
dimensão se dá em relação à comunidade escolar, principalmente às
famílias dos alunos, buscando promover sua integração com a escola; e a
terceira refere-se à articulação externa, seja com o sistema educacional,
seja com outros setores da comunidade.
Estas dimensões reafirmam a abrangência da ação Supervisora, que passa
a responsabilizar-se por um conjunto de ações para além da prática pedagógica.
Libâneo e Pimenta (2002, p. 29), refletindo sobre a formação do Pedagogo,
trazem que:
Não é possível mais afirmar que o trabalho pedagógico se reduz ao trabalho
docente nas escolas. A ação pedagógica não se resume a ações docentes,
de modo que, se todo trabalho docente é trabalho pedagógico, nem todo
trabalho pedagógico é trabalho docente.
32
Esta abordagem rompe com o reducionismo que muitas vezes é relegado à
Pedagogia, pois é comum reduzir a ação pedagógica à docência, o que seria um
equívoco, uma forma estreita de defini-la (LIBÂNEO e PIMENTA, 2002).
Cabe destacar que a presente pesquisa pretende abordar exclusivamente as
relações existentes entre Supervisor Escolar e professores nas instituições de
ensino regulares, sendo que estas informações têm como objetivo expor as
possibilidades de atuação deste profissional.
A própria ação pedagógica transcende a simples transmissão de
conhecimento, pois envolvem pessoas, valores, saberes, culturas, concepções e
experiências diversas daqueles que as realizam. Libâneo e Pimenta (2002, p. 43-44)
destacam que:
Dada a natureza do trabalho docente, que é ensinar como contribuição ao
processo de humanização dos alunos historicamente situados, espera-se
dos processos de formação que desenvolvam os conhecimentos e as
habilidades, as competências, atitudes e valores que possibilitem aos
professores irem construindo seus saberes fazeres docentes a partir das
necessidades e desafios que o ensino como prática social lhes coloca no
cotidiano.
Percebe-se que estão envolvidas inúmeras questões no espaço de ação do
Supervisor Escolar nos espaços institucionais de educação, demandas que acabam
por exigir dele próprio enquanto profissional, um desafiar-se constante, uma busca
de formação para contribuir com seus pares.
2 LIDERANÇA
2.1 CONCEITOS DE LIDERANÇA
Liderar significa “dirigir na condição de líder” (FERREIRA, 1993, p. 335), e
líder é sinônimo de “guia, chefe” (p. 334). Este termo, porém, tem assumido outros
sentidos quando remetemos sua significação às relações de trabalho que se
estabelecem nas organizações.
De acordo com as reflexões feitas sobre liderança nos tempos atuais, e com
base nos estudos das relações interpessoais efetivadas no ambiente de trabalho,
este termo é conceituado de uma forma mais ampla e aprofundada do que
simplesmente guiar ou chefiar.
Para ilustrar esta afirmação, traz-se o que diz Johnson (1972 apud ANJOS,
1988, p. 22), sobre liderança:
A influência que a pessoa exerce sobre os outros componentes do grupo e
que transcende o puro cumprimento do papel que lhe cabe na organização.
Liderar significa ajudar o grupo a alcançar seus objetivos através de uma
realização de atos. Esses atos são denominados funções grupais e as
funções do líder consistem em fixar metas, ajudar o grupo a aceitá-las e
prover recursos necessários para alcançá-las.
Este conceito transcende a simples cobrança da execução de tarefas, pois
prevê a criação de condições para que as mesmas sejam executadas, porém, exclui
34
os participantes do grupo da definição das metas, cabendo-lhe apenas ‘aceitar’ e
‘cumprir’ o que for determinado.
Avançando cronologicamente e com uma abordagem psicológica, temos o
conceito de Gardner (2005): “os líderes, quase por definição, são pessoas que
mudam mentes – sejam eles líderes de uma nação, corporação ou instituição
beneficente” (p. 15).
Os conceitos citados vão de uma ação a outra: da criação de condições para
o cumprimento e alcance de metas pré-definidas à mudança de mentes
4
. Percebe-
se que ambos atribuem ao líder responsabilidades relativas aos outros e aos seus
seguidores.
O líder institucional, pela própria natureza de sua função em qualquer área
em que atue, está à frente de um grupo de pessoas que precisam atingir objetivos e
metas comuns, porém, a liderança não se restringe apenas às relações profissionais
e institucionais.
Gardner (2005, p. 117), afirma existirem líderes diretos e líderes indiretos.
Os líderes diretos utilizam-se de sua retórica para dirigir-se diretamente às pessoas
e convencê-las acerca de suas idéias, “tentam mudar mentes diretamente por meio
de encontros face a face”, e os líderes indiretos realizam “mudanças mentais
importantes (...) forjadas pelas obras (...) que cria, não só por suas palavras ou atos
diretos”.
4
GARDNER (2005), em seu livro Mentes que mudam, utiliza esta expressão para exemplificar
situações como “temos uma opinião que segue em uma determinada direção, alguma operação é
realizada e – vejam só – a opinião agora vai noutra direção”.
35
O mesmo autor (1996 e 2005) cita, ainda, alguns líderes diretos como a
primeira ministra da Inglaterra, Margaret Tatcher, o Papa João XXIII, Martin Luther
King Jr, e como líderes indiretos, Karl Marx, Charles Darwin, Albert Einstein e Pablo
Picasso, entre outros.
Os líderes diretos são, normalmente, políticos, religiosos, educadores ou
corporativos, e os indiretos, artistas, poetas, pintores, musicistas, bailarinos (id.,
2005).
Definindo mais precisamente os líderes indiretos, Gardner (id., p. 117),
caracteriza-os da seguinte maneira: “se forem cientistas ou acadêmicos, eles
trabalham principalmente com teorias; se forem artistas, mudam mentes introduzindo
novas idéias, habilidades e práticas em sua obra”.
Enfim, com base nestas idéias, é considerado líder todo aquele que
influencia na construção de idéias de um grupo de pessoas, fazendo com que estas
‘mudem suas mentes’ com relação a determinados assuntos por aderirem às
concepções e às representações destas pessoas, propositadamente ou não.
Uma outra abordagem, proposta por Hunter (2004, p. 25), refere-se à
liderança como sendo “a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem
entusiasticamente visando atingir aos objetivos identificados como sendo para o bem
comum”, e ainda “esta habilidade pode ser aprendida e desenvolvida por alguém
que tenha o desejo e pratique ações adequadas”.
36
A liderança, porém, pode manifestar-se de duas maneiras, através do poder
ou da autoridade. Um líder instituído, alguém que ocupe um cargo e execute sua
função, pode simplesmente utilizar-se de “poder: a faculdade de forçar ou coagir
alguém a fazer sua vontade, por causa de sua posição ou força, mesmo que a
pessoa preferisse não fazer”, ou pode constituir-se como “autoridade: [utilizando a]
habilidade de levar as pessoas a fazerem de boa vontade o que você quer por causa
de sua influência pessoal” (id., p. 26).
Para exemplificar a distância existente entre estas idéias, Hunter diferencia
poder de autoridade:
O poder pode ser vendido e comprado, dado e tomado. As pessoas podem
ser colocadas em cargos de poder porque são parentes ou amigas de
alguém, porque herdaram dinheiro ou poder. Isso nunca acontece com a
autoridade. A autoridade não pode ser comprada nem vendida, nem dada
ou tomada. A autoridade diz respeito a quem você é como pessoa, a seu
caráter e à influência que estabelece sobre as pessoas (2004, p. 27).
Por esta definição é facilmente perceptível a oposição entre estes conceitos,
exercer poder e exercer autoridade são coisas distintas, mesmo que, em
determinados momentos, aquele que conquista autoridade precise utilizar-se de seu
poder para colocar limites.
Nesta perspectiva fica evidenciada a relação que o líder estabelece com
seus seguidores. Ao exercer poder ou autoridade, ele o estará fazendo com relação
às pessoas que lidera, e seu comportamento, a maneira como age é o que
determina o tipo liderança que irá exercer.
37
Blanchard (1999, p. 73), fundamentado neste princípio, questiona e
responde: “Então qual é o melhor estilo de liderança? É aquele que se adapta às
necessidades de desenvolvimento da pessoa com quem você está trabalhando”.
Neste sentido, é importante que o líder conheça seus liderados, que estabeleça um
relacionamento baseado em valores definidos.
Para Hunter (2004, p. 32 e 33), os traços de caráter importantes ao exercício
da autoridade e da liderança são: “honestidade, confiabilidade, bom exemplo,
cuidado, compromisso, saber ouvir, conquistar a confiança das pessoas, tratar as
pessoas com respeito, encorajar, ter atitude positiva e entusiástica, gostar das
pessoas”. O autor relaciona tais características ao comportamento, e afirma que
“comportamento é escolha”.
Sendo assim, para um líder com relação a si mesmo, “o desafio (...) é
escolher os traços de caráter que precisam ser trabalhados” (HUNTER, 2004, p. 33),
pois a liderança se constrói no relacionamento com as pessoas, e a conquista da
autoridade se dá nestas inter-relações. “Os líderes verdadeiramente grandes têm
essa capacidade de construir relacionamentos saudáveis” (p. 35).
Covey (1993, p. 48), seguindo nesta mesma linha, traz que os hábitos
compõem o caráter, e são fatores poderosos na vida. “Uma vez que representam
padrões coerentes, e muitas vezes inconscientes, eles servem para exprimir nosso
caráter no dia-a-dia, sendo responsável por nossa eficiência... ou ineficiência”.
38
HÁBITOS EFICAZES
E, ainda, Hunter (2004, p. 70), lembra que “a liderança começa com a
vontade, que é nossa única capacidade como seres humanos para sintonizar nossas
intenções com nossas ações e escolher nosso comportamento”.
O comportamento é diretamente resultante dos hábitos, e estes efetivam-se
na relação com as pessoas, portanto, é importante refletir sobre o que se faz, como
se faz e porque se faz quando tem-se a função de liderar um determinado grupo.
Covey (1993) coloca os princípios que determinam nossos hábitos e,
conseqüentemente, nosso comportamento.
Fonte: COVEY, 1993, p. 51.
FIGURA 01: Hábitos Eficazes
CONHECIMENTO
(o que fazer, por que
fazer
)
VONTADE
(Desejo de fazer)
CAPACIDADE
(Como fazer)
HÁBITOS
39
A Figura 01 expõe a relação direta existente entre ‘conhecimento,
capacidade e vontade’, princípios necessários à aquisição de hábitos eficazes.
Esta relação permite ao líder ter clareza sobre suas metas, suas ações e
possibilita uma reflexão sobre sua forma de agir a fim de prover condições para que
seus liderados alcancem os objetivos propostos.
Covey (1993, p. 49) explica que:
O conhecimento é o paradigma teórico, o que fazer e o porquê. A
capacidade é o como fazer. E a vontade é a motivação, o desejo de fazer.
Para tornar algo um hábito em nossas vidas, precisamos reunir estes três
elementos.
Complementando esta idéia, Hunter (2004, p. 70) destaca que a liderança
coerente depende da vontade como conjunto de ações e intenções: “intenções mais
ações é igual a vontade. Só quando nossas ações estiverem de acordo com nossas
intenções é que nos tornaremos pessoas harmoniosas e líderes coerentes”. Esta
definição amplia o conceito de vontade, e para reiterá-la (2004, p. 69), afirma que
“Todas as boas intenções do mundo não significam coisa alguma se não forem
acompanhadas por nossas ações”.
A intenção sem ação esvazia-se em si mesma, não traz resultados. A
consciência do que fazer, como fazer e por que fazer é necessária ao líder que
deseja contribuir com o alcance dos objetivos da instituição e comprometer seus
liderados. Blanchard (1999, p. 7) aponta que:
40
Um líder eficiente terá como prioridade ajudar seu pessoal a produzir bons
resultados de duas maneiras:
1) tendo a certeza de que as pessoas sabem quais são seus objetivos;
2) fazendo todo o possível para dar-lhes apoio e incentivo, treinando-as
para que alcancem esses objetivos.
Seu papel como líder é muito mais importante que você pode imaginar.
Você tem o poder de ajudar as pessoas a se tornarem vencedoras.
Com exceção do termo ‘treinar’, que é sinônimo de ‘adestrar’ (FERREIRA,
1993, p. 546), o que não se aplica quando se trata em pessoas, e especificamente
em educação, o papel do líder refere-se à comunicação dos objetivos da instituição
aos seus liderados como forma de comprometê-los com o trabalho a ser realizado, e
para que isso seja possível a comunicação é fator essencial no exercício da mesma.
Gardner (2005, p. 38) utiliza uma citação de Charles Cooley, sociólogo
americano (1996), como epígrafe para um dos capítulos de seu livro Mentes que
lideram: “Toda liderança acontece através da comunicação de idéias para as mentes
dos outros”, e reitera quando afirma que “Através do puro poder físico, alguém pode
conquistar – e manter – uma posição de autoridade em relação a outras pessoas.
(...) Entretanto, se alguém deseja persuadir os outros, é necessário convencê-los do
próprio ponto de vista” (p. 39).
A comunicação é destacada, para Gardner (1996), como um dos principais
recursos para o exercício da liderança, e pesquisas sociais apontam que líderes
políticos, religiosos e militares utilizam estórias
5
, narrativas, mitos, fábulas para
influenciar seus seguidores.
5
Estória, para Gardner (1996), é um recurso lingüístico ou não-lingüístico utilizado pelos líderes para
comunicarem sua perspectiva, sua visão da vida, e convencer os outros disso.
41
O autor, na mesma obra, afirma ainda, que não apenas as narrativas, mas
as ações e a vida do próprio líder comunicam suas idéias e o fazem ser seguido, e
para isso pode lançar mão de narrativas verídicas ou relatos inventados. E em
Mentes que mudam (2005, p. 77), Gardner ressalta que: “(...) os líderes fazem uso
específico de duas ferramentas: as histórias
6
que eles contam e a vida que eles
levam”.
Para que esta comunicação, indispensável ao funcionamento de qualquer
instituição e à manutenção dos relacionamentos interpessoais que se estabelecem
nelas, seja eficaz, é importante ao líder “Identificar e satisfazer necessidades”
(HUNTER, 2004, p. 71) a fim de prover meios para que seus liderados atinjam aos
objetivos propostos.
Uma das atitudes indispensáveis ao líder que pretende identificar e
satisfazer as necessidades de seus liderados é, sem dúvida, o saber ouvir.
O ouvir ativo requer esforço consciente e disciplinado para silenciar toda a
conversação interna enquanto ouvimos outro ser humano. Isso exige
sacrifício, uma doação de nós mesmos para bloquear o mais possível o
ruído interno e de fato entrar no mundo da outra pessoa – mesmo que por
poucos minutos (HUNTER, 2004, p. 82).
A comunicação, portanto, não restringe-se à expressão, ao falar claramente,
mas complementa-se com o ouvir, somente assim ela terá a eficiência necessária e
desejável, promovendo o entendimento.
6
Em 2005, na obra Mentes que mudam, Gardner utiliza o termo histórias para designar narrativas
que descrevem eventos que se desenrolam com o passar do tempo, sejam elas inventadas ou reais.
42
2.2 UMA HERANÇA PRIMATA
Levando em consideração a teoria Darwiniana a qual afirma que a espécie
humana seria uma evolução dos primatas, Gardner (1996, p. 23) ressalta dois
fatores que apontam ser dessa descendência a necessidade dos seres humanos
seguirem um líder, atribuir a um semelhante a função de ‘comando’, de ‘guia’ de um
determinado grupo.
Primeiramente o autor destaca que:
Em contraste com outras espécies, a ordem dos primatas está
organizada em hierarquias com claros relacionamentos de
dominação entre seus membros. Os primatas reconhecem os
membros de suas espécies desde tenra idade, competem uns com
os outros pelas posições dentro da hierarquia e finalmente assumem
relacionamentos específicos de dominação ou submissão com os
membros da espécie.
E como segundo fator determinante para a organização dos grupos em torno
de um líder, o autor coloca a tendência à imitação:
A decisão sobre qual modelo imitar e quando imitar se torna crucial. A
imitação é quase sempre unidirecional: isto é, os primatas de status inferior
imitam as ações dos membros da espécie de status mais alto. Entretanto,
as escolhas dos comportamentos a serem imitados são feitas a partir de um
conjunto relativamente limitado de opções (GARDNER, 1996, p. 23).
43
Ao estabelecer uma relação entre estas colocações e o desenvolvimento
humano, Gardner (p. 23) constata que estes comportamentos são observáveis em
grupos de crianças em idade pré-escolar:
As crianças dominantes controlam os brinquedos, iniciam e organizam os
jogos, e ajudam a manter o grupo unido; as crianças menos dominantes
orientam-se com referência às mais dominantes e passam grande parte do
tempo imitando e tentando agradar as mais dominantes.
Neste sentido, algumas características como tamanho, força, habilidade,
inteligência, atratividade e gênero são determinantes para que alguns indivíduos
exerçam liderança (id.).
Retomando o desenvolvimento da vida humana, existe um fator que aponta
a necessidade inata do bebê estabelecer um vínculo sólido e seguro com quem o
cuida: “Este senso incipiente de confiança – ou (menos felizmente) de desconfiança
– colore a maneira pela qual os indivíduos reagem à autoridade” (id., p. 24).
Aproximadamente aos dezoito meses a criança toma consciência de que é
‘separada’ dos outros, reconhecendo a individualidade de cada um (sua e do outro).
A partir de então surge a necessidade de identificação com determinados indivíduos,
algo que vai além de perceber-se parecido com alguém, sobre o qual os
pesquisadores, desde os tempos de Sigmund Freud afirmam “vai muito além de
apenas reconhecer certas propriedades em comum com uma outra e passa a sentir-
se semelhante de modo geral com um modelo mais velho ou uma série de modelos
44
de papel” (GARDNER, 1996, p. 24). Ultrapassando as limitações do simples ‘imitar’ a
criança passa a ‘identificar-se’ com alguém, normalmente, mais velho.
Aos cinco anos de idade a criança já é capaz de relacionar-se a partir da
lógica que Gardner (1996) denomina líder-seguidor
7
, reconhecendo sinais de
liderança entre seus pares e com relação aos adultos.
O autor, portanto, reafirma ser a liderança uma necessidade dos seres
humanos, por serem descendentes dos primatas e por viverem em sociedade,
mesmo que existam alguns grupos onde as relações são cooperativas, não havendo
um líder específico. A organização em grupos sociais, profissionais, familiares,
normalmente requer a assunção de um líder.
Segundo Gardner (1996, p. 34), porém, “nenhum líder jamais se realiza
completamente”, e para que se possa verificar a prática efetiva da liderança, são
observáveis quatro fatores:
1. um laço com a comunidade (ou audiência): um líder não existe sem
seguidores, um é afetado pelo outro;
2. um certo ritmo de vida: é necessário ao líder estar em contato constante
com seus seguidores, porém, precisa também de tempo para refletir e
amadurecer suas idéias, equilibrando isolamento e imersão;
7
Gardner (1996) define por seguidor o indivíduo que não é formalmente designado como líder,
distinguindo-os em dois grupos: “aqueles que são propensos a abraçar uma causa como seguidores,
e aqueles que apresentam a tendência a seguir que existe, pelo menos de forma latente, em todos os
seres humanos” (p. 32).
45
3. uma relação evidente entre as estórias e as corporificações: um líder se
faz pelas palavras e pelos atos coerentes com elas;
4. a centralidade da escolha: o líder deve fazer escolhas e trabalhar por
elas, convencendo seus seguidores de que isso é o melhor.
Portanto, a relação existente entre líder-seguidores é necessária e
indispensável para que se efetive a liderança.
2.3 CARACTERÍSTICAS DOS LÍDERES QUE BASEIAM-SE EM PRINCÍPIOS
COVEY (1994), a partir de estudos e observações que realizou, definiu oito
características comuns em pessoas que constituem-se como líderes e que podem
auxiliar a qualquer pessoa que deseje progredir. São elas (p. 7-14):
1. Estão continuamente aprendendo – consideram-se em evolução, são
curiosas, competentes, sabem que quanto mais sabem, nada sabem.
2. Estão voltados para o serviço – percebem seu trabalho como uma
missão, e não como uma simples carreira.
3. Irradiam energia positiva – são otimistas, positivas, agradáveis e
demonstram alegria naturalmente.
4. Acreditam nas outras pessoas – acreditam no potencial das outras
pessoas, não são rancorosas e não rotulam as pessoas.
5. Suas vidas são equilibradas – são pessoas socialmente ativas que
observam, analisam e aprendem com as mais diversas situações. Suas
ações e atitudes condizem com este perfil.
6. Encaram a vida como uma aventura – saboreiam a vida e são ousados,
encarando situações antigas com novas maneiras.
7. São sinérgicas – sabem que o todo é mais importante do que a soma
das partes.
8. Exercitam-se pela auto-renovação – preocupam-se com seu estado
físico, mental, emocional e espiritual.
46
O autor afirma que, combinados, estes princípios e a formação de hábitos
auxiliam na formação da um caráter forte e saudável, e que para o desenvolvimento
dos ‘7 hábitos das pessoas eficazes’ precisam ser observadas as qualidades
humanas, que podem ser divididas em primárias e secundárias.
Qualidades humanas primárias: autoconsciência ou autoconhecimento;
imaginação e consciência; volição ou força de vontade.
Qualidades humanas secundárias: mentalidade de abundância, coragem e
consideração, criatividade.
A cada qualidade humana primária ou secundária, está relacionado um
hábito, que será apresentado em forma de quadro a partir da proposta de COVEY
(1994):
QUADRO 02: Qualidades Humanas
QUALIDADE HUMANA HÁBITO
Autoconhecimento ou
autoconsciência
1. Ser proativo
Imaginação e consciência
2. Começar com o objetivo em
mente
PRIMÁRIAS
Força de vontade
3. Colocar as coisas mais
importantes em primeiro lugar
Mentalidade de abundância
4. Pensar em ganhar-ganhar
Coragem temperada pela
consideração
5. Procure primeiro compreender, e
depois ser compreendido
SECUNDÁRIAS
Criatividade
6. Sinergia
47
Este autor sugere ainda o desenvolvimento de um sétimo hábito, que
denomina por “Afinar o instrumento”, vinculando-o ao “dom inigualável da melhoria
contínua e da auto-renovação para vencer a entropia (fracionamento)” (1994, p. 23).
A liderança eficaz constitui-se num encadeamento de princípios, hábitos e
qualidades humanas, que tanto os indivíduos quanto as organizações lutam para
adquirir e manter. Para tanto, é necessário que sejam tomadas três resoluções no
sentido de neutralizar as forças restritivas que existem em nossas vidas: os apetites
e paixões; o orgulho e a pretensão; a aspiração e a ambição (COVEY, 1994).
Tanto os apetites quanto as paixões “prejudicam nossos processos mentais,
julgamentos e relações sociais. Nossos corpos são ecossistemas, e se nosso lado
econômico ou físico estiver desequilibrado, todos os outros sistemas serão afetados”
(COVEY, 1994, p. 26).
O orgulho e a pretensão estão relacionados à forma como queremos ser
vistos e reconhecidos pelos outros, porém, “a pressão para parecer poderoso, bem-
sucedido e atualizado faz com que muitos se tornem manipuladores” (id., p. 28). As
pessoas que não vencem esta restrição acabam por enganar-se acerca de si
mesmas, ‘parecendo’ e não efetivamente ‘sendo’.
Trabalhar e liderar com o objetivo de ‘servir os outros’ é a maneira de vencer
a força restritiva da aspiração e da ambição desenfreada. “Se as pessoas estiverem
‘procurando o número um’ e ‘o que é que eu ganho com isto’, não terão qualquer
48
senso de responsabilidade, senso de ser um agente de princípios, de objetivos e
causas nobres, passam a representar a lei, tornam-se ‘os chefões’” (id., p. 30).
Blanchard (1999), afirma que “os líderes de hoje precisam começar a
transmitir ânimo, apoio e coragem, em vez de serem juízes, críticos e avaliadores.
Infelizmente, é quase impossível que as pessoas exerçam esse papel se não
estiverem bem consigo mesmas” (p. 93). E a liderança baseada em princípios de
COVEY reforça esta idéia.
Conhecer-se, eliminar as forças restritivas, ter metas e objetivos, apoiar seus
liderados e incentivá-los são características importantes ao líder que sabe o que
quer, como quer, porque quer e o que fazer para chegar lá.
2.4 TIPOS DE PODER
Segundo COVEY (1994) “o verdadeiro poder de liderança se origina de um
caráter honrável e do exercício de determinados instrumentos de poder e de
princípios” (p. 83). Porém, seus estudos revelam que é possível listar características
comuns aos líderes, mas não prever o surgimento de um. Este autor propõe, a partir
desta constatação, uma análise da liderança sob a ótica dos liderados.
Com base nesta teoria, constatou-se que várias e complexas razões levam
seguidores a seguirem seus líderes. COVEY (1994) analisa três tipos de poder,
estabelecidos com base motivacional e psicológica:
49
Poder coercitivo: os seguidores são coagidos, seguindo o líder por medo
que lhes aconteça algo caso não façam o que for determinado. Neste caso o
seguidor não compromete-se com a instituição, fingindo lealdade, podendo realizar
de forma medíocre suas atividades.
Poder da utilidade: neste segundo caso os seguidores fazem o que é
determinado por obterem vantagem sobre isso. Existe aí uma relação de troca de
interesses, “os seguidores possuem algo que os líderes querem (...) e o líder possui
algo que eles querem” (COVEY, 1993, p. 84).
Poder baseado em princípios: este é um poder conquistado por alguns
líderes, os seguidores acreditam neles e em suas idéias, confiando neles, honrando-
os e respeitando-os. “São seguidas porque as pessoas desejam segui-las, desejam
acreditar nelas e em sua causa, desejam fazer o que o líder quer” (id., p. 84). O
comprometimento, a ética, a lealdade, são a tônica da relação entre líderes e
seguidores.
Cada um destes tipos de liderança é fundamentado em valores diferentes e
leva a resultados e relações diferentes. Para melhor expor esta idéia, COVEY (1993,
p. 89) utiliza a figura que segue:
50
FIGURA 02: Covey (1993), O processo de poder.
Para que um líder baseie seu poder em princípios e aumente seu prestígio
frente a seus seguidores, Covey (1993) propõe 10 ferramentas a serem observadas:
Persuasão – subentende compartilhar razões e fundamentos, valorizar sua
posição ou seu desejo, respeitando as idéias e perspectivas dos seguidores.
O PROCESSO DO PODER
VOCÊ
OPÇÃO DA
LIDERANÇA
O poder baseado
em princípios
Honra
Poder
coercitivo
Poder da
utilidade
Influência
proativa contínua
Medo
Justiça
Controle reativo
temporário
Influência
funcional reativa
51
Paciência – com os processos e com as pessoas, superando as falhas,
imprevistos e inconvenientes, mantendo uma perspectiva a longo prazo.
Cavalheirismo – ter atitudes de respeito e flexibilidade.
Aprendizado – valorizar os saberes dos seguidores, colocando-se no lugar
de quem também precisa aprender.
Aceitação – ser aceito a partir de suas ações, evitando julgamentos e não
exigindo provas de eficiência para elevar a auto-estima dos seguidores.
Gentileza – nos pequenos gestos que significam muito nos relacionamentos.
Abertura – ir além da observação do comportamento de seus seguidores,
percebendo suas intenções, seus desejos, seus valores, seus objetivos.
Confronto compassivo – propor a correção de erros ou enganos com
naturalidade, dedicação e cordialidade, incentivando os seguidores a aventurar-se.
Consistência – deixar claro que seu estilo de liderança não se consolida
pela manipulação, e sim expressar seu código de valores, mostrar que você é e
quem está se tornando.
Idoneidade – agir com coerência e harmonia, agir de acordo com suas
palavras, seus sentimentos e pensamentos.
52
Para Covey (1993, p. 91), Gandhi é a única pessoa que possuiu as dez
ferramentas para a liderança eficaz, ao que o próprio Gandhi ponderou:
Eu afirmo ser nada mais do que um homem normal, com menos do que a
capacidade média. Não sou um visionário. Eu afirmo ser um idealista
prático. Nem posso reivindicar qualquer mérito especial pelo que tive
condições de alcançar através de laboriosas pesquisas. Eu não tenho a
menor dúvida de que qualquer homem ou mulher pode alcançar o que eu
alcancei, se fizer o mesmo esforço e cultivar a mesma esperança e fé.
Blanchard (1999 p. 117) traz a diferenciação entre ‘valores’ e ‘objetivos’,
conceitos que são considerados úteis ao líder que pretende conquistar sua
autoridade e agir com base em princípios:
O segredo para ter uma equipe excelente, entusiasmada, flexível e pontual
é assegurar-se de que seus integrantes são movidos por valores e não por
objetivos (...) No momento em que você anuncia um objetivo, ele é real, está
estabelecido. (...) Os valores só se tornam reais quando você os demonstra
em seu modo de agir e em sua insistência para que os outros se comportem
da mesma maneira. Os objetivos são para o futuro; os valores são para o
presente. Os objetivos são estabelecidos; os valores são vividos. Os
objetivos mudam; os valores são como pedras com cuja firmeza você pode
contar.
A liderança com autoridade conquistada e baseada em princípios requer,
como é possível observar, um conjunto de ações, de comportamentos, e pode ser
exercida por qualquer líder que tenha clareza do que realmente deseja ao ocupar
esta posição. E para Hunter (2004, p. 109) “A única pessoa que você pode mudar é
você mesmo”, aos outros é possível incentivar, motivar, influenciar, mas o poder de
mudança pertence a cada um.
53
“Liderança não é algo que você faz para as pessoas. É algo que você faz
com as pessoas” (BLANCHARD, 1999, p. 140), implicando, portanto, as relações
estabelecidas entre elas.
2.5 MOTIVAÇÃO
Para Blanchard (1999, p. 31) “a motivação é um conceito complicado para a
maioria dos líderes (...) Na realidade, o que motiva uma pessoa nem sempre motiva
outra”.
Segundo Bergamini (1997, p. 82) “A motivação é um impulso que vem de
dentro e que tem, portanto suas fontes de energia no interior de cada pessoa”.
Sendo assim, cabe ao líder estar atento às necessidades e individualidade de
seus liderados. Para motivar cada pessoa, são necessárias atitudes diferentes, pois
elas são diferentes e têm formas de comportamento variáveis entre si. Bergamini
(1997, p. 26) afirma que “a diversidade de interesses percebida entre os indivíduos
permite aceitação, de forma razoavelmente clara, que as pessoas não fazem as
mesmas coisas pelas mesmas razões.”
Robbins (2004), pesquisador e estudioso sobre o comportamento
organizacional, traz um recente estudo realizado sobre a força de trabalho nos
Estados Unidos que revelou que os salários e os benefícios adicionais não são os
motivos pelos quais uma pessoa gosta de seu emprego ou nele permanece. Muito
54
mais importantes são a qualidade do trabalho exercido e o apoio recebido em seu
ambiente de trabalho.
O autor enfatiza, ainda, que o comportamento motivacional é um campo de
estudos que investiga o impacto que os indivíduos, grupos e estrutura têm sobre o
comportamento dentro das organizações, com o propósito de utilizar esse
conhecimento para promover a melhoria da eficácia organizacional.
Remetendo esta reflexão para um comportamento de liderança, Blanchard
(1999, p. 71) afirma que:
Um modo importante de motivar seus subordinados é certificar-se de que
eles sabem para onde estão indo. Atente para que os objetivos de cada
pessoa estejam claramente definidos e que ela saiba o que será
considerado um bom desempenho. Isso dará a cada uma delas um foco
nítido para sua energia e a colocará no caminho certo, para se tornar
eficiente e capacitada.
E reiterando a necessidade de ‘saber para onde se está indo’, Robbins
(2004, p. 151) diz que a motivação “é um processo responsável pela intensidade,
direção e persistência dos esforços de uma pessoa para o alcance de uma
determinada meta.”
São colocados por este autor três elementos chave para a motivação:
intensidade, direção e persistência.
A intensidade refere-se a quanto esforço a pessoa despende. Este
elemento porém, não é capaz de levar a resultados favoráveis se não for conduzido
55
em uma direção que beneficie a organização. Portanto precisa-se considerar
também, a qualidade do esforço realizado.
O tipo de esforço que se deve buscar é aquele que vai em direção aos
objetivos da organização. E a motivação tem uma medida de persistência , isto é, o
os indivíduos precisam manter-se motivados na realização da tarefa até que
alcancem os objetivos propostos.
Robbins (2004, p, 46-47), estabelece relação entre o processo motivacional
e a Teoria da Hierarquia das Necessidades, elaborada por Abraham Maslow, que
define como sendo cinco as necessidades existentes em cada ser humano:
1. Fisiológicas: fome, sede, abrigo, sexo e outras necessidades corporais.
2. Segurança: segurança e proteção contra danos físicos e emocionais.
3. Sociais: afeição, sensação de pertencer a um grupo, aceitação,
amizade.
4. Estima: fatores internos (como respeito próprio, autonomia e
realização) e fatores externos (como status, reconhecimento e
atenção).
5. Auto-realização: a intenção de tornar-se tudo aquilo que se é capaz de
ser. Inclui crescimento, conquista do próprio potencial e
autodesenvolvimento.
Nesta perspectiva, à medida em que cada necessidade é satisfeita, a
seguinte passa a ser priorizada.
Ilustrando o processo de motivação com base nesta teoria, Robbins (2004,
p. 46) propõe o que segue:
56
FIGURA 03: Robbins (2004), O processo básico da motivação.
A motivação, nesta perspectiva, é gerada a partir de:
uma necessidade não satisfeita que gera tensão, o que estimula a vontade
do indivíduo. Essa vontade desencadeia uma busca de metas específicas
que, uma vez alcançadas, terão como conseqüências a satisfação da
necessidade e a redução da tensão (ROBBINS, 2004, p. 46).
Hunter (2004, p. 109), insere o líder nesse processo à medida em que ele
“fornece todas as condições, mas são as pessoas que devem fazer as próprias
escolhas para mudar”, apontando, ainda, que “o melhor que podemos fazer é
fornecer o ambiente certo e provocar um questionamento que leve as pessoas a se
analisarem para poderem fazer suas escolhas, mudar e crescer”.
Concluindo, a motivação é o sentimento que impulsiona para o atingimento
dos objetivos e depende do próprio indivíduo, mas pode ser desencadeada
externamente se houver um ambiente propício e relações saudáveis de
comprometimento entre os envolvidos nestas questões.
Necessida
de não
satisfeita
Tensão
Vontade
Comporta-
mento de
busca
Redução da
tensão
Necessidade
satisfeita
57
2.6 LIDERANÇA EDUCACIONAL
As mudanças que ocorrem na sociedade refletem-se dentro da escola, e as
tendências administrativas, na mesma medida, influenciam as relações escolares,
pois mesmo que muitos não aceitem a idéia de comparar a escola à empresa, é
inegável que ela precisa ser administrada, gerida, seja ela pública ou privada.
Freitas et al. (2003, p. 16), em artigo sobre ‘Liderança Educacional’ afirma
que “liderar instituições educativas, num mundo com rápido desenvolvimento
científico e tecnológico, grandes dificuldades econômicas, políticas e sociais, é uma
atividade complexa”.
A vida na escola é dinâmica, ativa, leva a ações e transformações de acordo
com as dificuldades e dilemas que se apresentam cotidianamente.
No mesmo artigo, Freitas et al. (2003, p. 17) resgata os desafios da
educação sintetizados pelo Instituto Internacional de Planejamento da Educação
(IIPE), reproduzido a seguir:
58
FIGURA 04: Desafios da educação
A Figura 04 destaca como desafio central da educação o trabalho em
equipe, cuja execução requer liderança e comunicação, como forma de viabilizar as
ações para o alcance do sucesso e das mudanças necessárias.
“O líder em educação lidera líderes em potencial” (FREITAS et al., 2003, p.
16). Remetendo esta idéia à função do Supervisor Escolar, conclui-se que ele lidera
líderes, pois professores, frente a seus alunos, são uma referência, ocupam este
lugar.
Alarcão (2004, p. 47) traz o pensamento de Senge, Mintzberg e
Bronfenbrenner, que aponta para o desenvolvimento da escola enquanto
organização aprendente, repercutindo no trabalho do Supervisor Escolar:
Fonte: IIPE, 2000, p. 17
59
Porei então em destaque algumas idéias-força:
- A instituição é constituída por pessoas, profissionais, também elas em
desenvolvimento pessoal e profissional;
- O desenvolvimento humano, individual e coletivo, é a pedra de toque
para o desenvolvimento organizacional;
- A liderança estratégica, baseada numa visão partilhada da escola, num
pensamento sistêmico e no diálogo, é de importância capital;
- A resolução cooperativa dos problemas é fator de aprendizagem e de
coesão organizacional;
- A linguagem como expressão do pensamento crítico e fator de
conscientização, aumenta o nível de empenho.
Os itens citados acima revelam o caráter de constante mudança inerente ao
ambiente escolar. As transformações são inevitáveis, mesmo que nem sempre
sejam desejadas. Adaptar-se, avaliar e reavaliar atitudes constantemente, buscar
soluções a problemas inesperados é rotina no ambiente escolar, e a figura do
Supervisor como líder é fator determinante para que se obtenha sucesso nesse novo
panorama.
Dentro desta perspectiva de ‘reinvenção profissional’, Freitas et al. (2003, p.
19) afirma que:
O líder educacional do século XXI é aquele que transpõe não só suas
próprias amarras, mas também os muros de sua instituição, rompe as
barreiras das diferenças, estabelece parcerias, contribuindo para a
construção de um ambiente que eduque todos os seus liderados, seus
parceiros e a comunidade em geral.
Configura-se uma realidade desafiadora, e, conseqüentemente, a
necessidade de uma revisão de papéis, de uma ressignificação da ação Supervisora
no sentido de conquistar autoridade através do conhecimento e da contribuição com
a aprendizagem dos professores.
60
Como ‘líder’ dos professores, ‘líderes em potencial’, o Supervisor Escolar,
segundo Freitas et al. (2003, p. 16), precisa se empenhar “em desenvolver
habilidades da equipe, identificar e comunicar valores e o potencial de cada um,
possibilitando, desta forma, uma motivação permanente”.
Rangel (2004, p. 60) resgatando o pensamento arendtiano, faz, assim como
Hunter (2004), um paralelo entre autoridade e autoritarismo.
“A autoridade baseia-se na confiança, adquirida por meio do desempenho de
quem a exerce, de modo que se torne legítima e legitimada pelo grupo no qual – e
pelo qual – essa ‘autoridade’ se exerce” (grifo do autor).
E na continuidade desta definição, afirma que o profissional que não possuir
competência para exercer a autoridade que lhe foi conferida, poderá,
indubitavelmente, gerar o autoritarismo, agindo arbitrariamente e gerando
insegurança em seus liderados (RANGEL, 2004).
A habilidade, os valores e o desempenho de líder, para Freitas et al. (2003,
p. 16), podem ser desenvolvidos, desde que sejam oportunizados desafios que
levem à ação-reflexão-ação. E, complementando, caracterizam o líder de pessoas
como alguém:
61
Criativo, carismático, comprometido. Ele é um comunicador, competente,
corajoso. Ele avalia, apresenta e discute processos e resultados. Ele faz
com que as informações fluam, dá oportunidades para as pessoas
desenvolverem sua auto-estima e confiarem em si próprios e no que fazem,
desenvolvendo espírito de equipe e colaboração. Para tanto o líder em
educação precisa superar a si próprio.
O desafio da ressignificação da ação, neste sentido, passa a ser pessoal. Ao
Supervisor Escolar é importante auto-analisar-se, conhecer-se, para que possa
contribuir igualmente com o crescimento individual e coletivo dos professores que
lidera.
Esta prática, além de preocupar-se com as questões relativas à
aprendizagem dos professores, deve observar, também, a subjetividade envolvida
no fazer profissional.
Embora se considere que aprender requer disciplina, organização, atenção,
concentração, trabalho, é preciso pensar o ser humano em seu propósito e
seu direito fundamentais: o de ser feliz. Assim, a ‘disciplina’ do ‘trabalho’ de
ensinar e aprender não exclui a finalidade e o direito da vida humana
prazerosa (RANGEL, 2004, p. 59).
Em ‘Pedagogia da Conscientização: um legado de Paulo Freire à formação
de professores’ Freitas (2001, p. 71), analisa a ação supervisora relacionando-a à
educação que “compreende os atos de ensinar e aprender, que caracterizam a
natureza da prática educativa, enquanto dimensões do processo maior – o de
conhecer”. Com relação ao conceito de conscientização a autora traz que esta é
(2001, p. 227):
62
compreendida como processo que integra organicamente a criticidade, a
curiosidade e a criatividade, orienta-se no sentido do desenvolvimento da
consciência democrática, do conhecimento libertador e da sensibilidade
emancipatória, problematizando a identidade profissional do educador de tal
modo que este possa perceber criticamente as situações-limite a que se
encontra limitado e, para além delas, perceber-se como sujeito da criação
do inédito-viável
8
, no desenvolvimento da autoria de sua consciência crítica.
Relacionando a ação Supervisora proposta por Freire com os conceitos de
liderança anteriormente abordados, é possível identificar semelhanças, ou seja, ao
Supervisor que pretenda ‘conscientizar’, o conhecimento teórico, a leitura da
realidade e a criação de espaços para ação-reflexão-ação são formas de viabilizar
esta ressignificação.
2.6.1 As Três Dimensões da Ação Pedagógica à Luz da Teoria de Paulo Freire
Para Freire, segundo Freitas (2001), a ação pedagógica, em qualquer
instância, apresenta três dimensões. Estas dimensões fazem-se presentes em todas
as práticas educativas, mesmo que inconscientemente. Ao educar, ao ensinar, a
prática está baseada em uma ou mais teorias, o trabalho é voltado para a
manutenção do sistema ou por sua transformação, e sentimentos estão envolvidos
nesta ação, sejam eles positivos ou negativos.
Desvela-se, desta forma, a complexidade da ação educativa, seja ela entre
professor – aluno ou Supervisor Escolar – professor. Sempre que houver sujeitos
8
Por inédito-viável FREITAS (2001) compreende a “materialização historicamente possível do sonho
almejado, é expressão do compromisso com uma concepção libertadora da educação, em que não
apenas se denunciam práticas excludentes, mas, fundamentalmente, se assume a luta pela
construção de alternativas possíveis.” (p. 227)
63
envolvidos em processo de ensino e aprendizagem, estas dimensões far-se-ão
presentes.
Analisando estas dimensões na ação Supervisora, temos o que segue
segundo Freitas (2001):
A dimensão epistemológica, diz respeito à perspectiva interacionista da
educação, onde professor e aluno são sujeitos no ato de aprender, e ambos ocupam
os dois papéis, o que fica claro a partir da afirmação que segue: “Quem ensina
aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 1996, p. 25).
Com base nesta afirmação, alunos, professores e Supervisores ocupam
lugar de ‘ensinantes’ e ‘aprendentes’, portanto, a todos estes sujeitos a condição de
‘inacabamento’ é inata.
A dimensão epistemológica funda-se na ‘curiosidade epistemológica’ que
para Freire (1996) é uma necessidade ontológica do ser humano, característica que
possibilita a busca constante de saberes que remetem à criação e recriação de sua
própria identidade. O autor afirma ainda que essa curiosidade, ao ir além dos “limites
que lhe são peculiares do domínio vital, se torna fundante da produção do
conhecimento” (FREIRE, 1996, p.61).
É importante que a curiosidade epistemológica contagie, e esta
intencionalidade, esta atitude de incitar a busca de estimular ao aprender, deve se
64
fazer presente na prática educativa em todas as instâncias. Enquanto prática séria e
comprometida precisa embasar-se em teorias, concepções, justificar-se com rigor.
De acordo com Freitas (2001, p. 77), a dimensão política “diz respeito ao
exercício da opção, inerente à prática educativa, que, não sendo neutra, assume um
posicionamento político-ideológico a serviço do qual coloca suas dimensões
epistemológica e estética”.
Neste sentido, a prática pedagógica não é neutra, pois mesmo que se diga
neutra, estará a serviço de uma idéia, de uma concepção de sociedade, de valores,
de mundo. Quando falamos em educação progressista, está implícita a necessidade
de posicionar-se politicamente, não uma política partidária, mas uma política que
tem como utopia um tipo desejado de sociedade ou a manutenção da sociedade
desigual na qual vivemos.
Não há educação progressista sem esperança, e este sentimento é
indispensável à prática educativa pautada na possibilidade de transformação. Freire
(1996, p. 161-162), coloca que esta educação progressista é: “aquela que se opõe
ao ‘caráter desesperançoso, fatalista, antiutópico, de uma tal ideologia em que se
forja uma educação friamente técnica e se requer um educador exímio na tarefa de
acomodação ao mundo e não na de sua transformação” .
A escola, a educação, a sociedade desejada, dependem de uma
conscientização, de um despertar para a possibilidade, da manutenção da
esperança, da utopia, sem os quais não realizaremos nossos sonhos de
65
transformação. O trabalho nesta perspectiva da esperança, portanto, “é uma
maneira de contribuir para superar a acomodação e o conformismo” (FREITAS,
2001, p. 81), princípio indispensável à prática transformadora.
Referindo-se à dimensão estética da prática educativa, Freitas (2001, p. 125)
cita oportunamente Freire com relação ao ato de conhecer impregnado de
subjetividade: “O que eu sei, sei com meu corpo inteiro: com minha mente crítica,
mas também com meus sentimentos, com minhas intuições, com minhas emoções”.
A dimensão estética transcende o saber técnico, as teorias, as posições
políticas, ela atinge a subjetividade, envolve o amor, o prazer, a esperança, a
tolerância, a humildade, o respeito, o carinho, sem as quais não se concretiza a
construção do conhecimento de forma plena. O vínculo afetivo, o comprometimento
existente entre os sujeitos que ensinam e aprendem, é o que possibilita a
aprendizagem (FREIRE, 1996).
Conclui-se, assim, que a ação do Supervisor Escolar abrange uma
complexidade de princípios, valores, atitudes, hábitos, comportamento, e é
construída, basicamente, na relação que ele estabelece com os professores coletiva
e individualmente.
Lemus (1975 apud ANJOS, 1988, p. 24), refere-se às relações interpessoais
do Supervisor com os professores, afirmando que “a supervisão deve ser sentida
através de alguém que seja amável e agradável, que se interesse em investigar
causas e situações, que preste ajuda moral, científica e profissional ao professor”.
66
Esta idéia aproxima-se da dimensão estética da educação, reforçando a
importância da relação que se estabelece entre Supervisor Escolar e professor. As
dimensões apontadas anteriormente remetem a uma ação repensada, que segundo
Anjos (1988, p. 25) precisa “apresentar razoável equilíbrio entre essas duas
dimensões [tarefas e relações humanas], conforme exigência das circunstâncias”.
2.6.2 A Mudança de Paradigma
Esta ressignificação que vem ocorrendo com o passar do tempo, aponta
uma mudança de paradigma:
(...) uma vez que a supervisão perde o seu caráter normativo, prescritivo,
para tornar-se uma ação crítico-reflexiva junto ao professor. O papel do
supervisor ganha novas dimensões, passando de controlador e direcionador
para estimulador e sustentador do trabalho docente (ALONSO, 2003,
p.178).
Mudando as funções, mudam as ações e a forma de interagir, de criar
condições de trabalho, a própria forma de perceber a relação a ser estabelecida com
os professores. Com o objetivo de efetivar uma nova prática Supervisora que, além
de criar condições para que ocorra a ação-reflexão-ação dos professores, sejam
revistas as concepções que embasam as práticas pedagógicas, Alonso (2003, 179-
180) propõe o que segue:
promover o trabalho coletivo entre professores estimulando as lideranças
67
e mantendo um clima de cordialidade, propondo novos caminhos e
outras alternativas;
criar laços com a comunidade e conhecer profundamente a legislação a
fim de beneficiar-se da mesma;
criar espaços para novas experiências e socialização das mesmas com
o grupo;
observar as dificuldades dos professores oportunizando discussão do
assunto com o objetivo de buscar alternativas para solucioná-los;
estimular leituras e aprofundamento teórico sobre temas atuais e
promover encontros com especialistas das respectivas áreas;
viabilizar intercâmbio entre professores dos vários sistemas de ensino a
fim de aprofundar discussões e compartilhar conhecimentos e
experiências.
Fica caracterizada a necessidade mudança de paradigma ao comparar-se
esta visão de Supervisão com os objetivos para o qual este profissional foi instituído
no Brasil no início do século XX. Para Alonso (2003, p. 180), à Supervisora Escolar:
(...) é necessário despir-se do autoritarismo que a caracterizou em épocas
passadas e assumir o verdadeiro papel de estimuladora e organizadora de
um projeto de mudança necessária que envolva, de forma responsável, toda
a comunidade escolar.
A organização de espaços que viabilizem o crescimento profissional, o
diálogo, a formação efetiva do professor em serviço, são desafios postos ao
Supervisor Escolar com base nas suas atribuições.
68
E, relativo à liderança, Blanchard (1999, p. 07) afirma que “seu papel como
líder é muito mais importante que você pode imaginar. Você tem o poder de ajudar
as pessoas a se tornarem vencedoras”. Este ‘ajudar’, porém, não pode ser vazio,
precisa ser organizado, pensado, construído com base no conhecimento teórico e na
subjetividade implícita nas relações que se estabelecem entre Supervisor e
professor.
Para Bennis et. al. (1998), o processo de liderança constrói-se ao longo da
vida, a partir das experiências e vivências, mas depende, também, do caráter, das
relações interpessoais, do conhecimento, da intuição, de sucessos passados, das
habilidades, dos valores, da flexibilidade, da perseverança e da auto-disciplina de
quem assume este papel.
Freitas et. al (2003, p. 19), apontando para o exercício da liderança e
remetendo esta ação às adversidades existentes nas escolas, traz que:
O líder trabalha com processos auto fortalecedores do crescimento
individual e coletivo, em condições limitantes e favoráveis ao mesmo
tempo, exercendo o papel de jardineiro que acredita que as sementes têm
o potencial para crescer.
Coloca-se, desta forma, um desafio ainda mais complexo ao Supervisor
Escolar, pois não é suficiente controlar a burocracia, o cumprimento das regras
escolares, verificar se os conteúdos estão sendo desenvolvidos, mas, sim, constituir-
se como líder educacional. Profissional que deve responsabilizar-se e comprometer-
se não apenas com a organização do trabalho pedagógico desenvolvido na escola,
69
mas principalmente com a aprendizagem e o crescimento dos professores por ele
liderados.
3 METODOLOGIA
A verdadeira educação é um ato dinâmico e permanente de
conhecimento centrado na descoberta, análise e
transformação da realidade pelos que a vivem.
Carlos Brandão
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
Para o alcance dos objetivos propostos na presente pesquisa, e por
acreditar que só é possível transformar a realidade a partir de um olhar crítico –
reflexivo, direcionado para aquilo que queremos transformar, foi feita a opção por
uma pesquisa qualitativa, dentro do paradigma construtivista, justificando-se a
utilização desta abordagem porque a obtenção de dados descritivos resulta do
contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatizando mais o
processo que o produto e preocupando-se em retratar a perspectiva dos
participantes.
Supervisor Escolar e educadores criam laços necessários para o
desenvolvimento do trabalho pedagógico proposto pela escola na qual atuam, e a
relação estabelecida entre eles precisa ser construída com base na confiança, na
lealdade, na parceira, em uma liderança que respeita, contribui, incita, desafia e
divide as glórias alcançadas.
Sendo assim, a pesquisa fenomenológica apresenta-se como a mais
adequada para este trabalho, pois ela pressupõe a investigação direta e a descrição
71
de fenômenos que são experienciados conscientemente, sem teorias sobre sua
explicação casual e tão livre, quanto possível, de pressupostos e preconceitos
(MARTINS, 1992). E nesta perspectiva o pesquisador é aquele que percebe a si
mesmo e a realidade que o cerca em termos de possibilidade, não só de concretude
(MARTINS E BICUDO, 1989).
Acreditando que as relações entre os profissionais a serem pesquisados não
são finitas em si mesmas, e sim dinâmicas, mutáveis, percebemos na pesquisa
fenomenológica a possibilidade de aprofundar esta exploração, pois segundo
Martins (apud BICUDO) pesquisar fenomenologicamente “(...) é ter uma interrogação
e andar em torno dela, em todos os sentido, sempre buscando todas as suas
dimensões e, andar outra vez, e ainda outra, buscando mais sentido, mais
dimensões, e outra vez (...)” (1997, p.24).
Os sujeitos pesquisados não são o foco da pesquisa, mas as situações,
reações e circunstâncias que o envolvem, a rede de significações na qual ele está
inserido, em sua forma de perceber o mundo, nas relações profissionais
estabelecidas. Segundo Martins e Bicudo (1989), “a ênfase é posta na experiência
viva, no mundo como ele é vivido. Nas experiências vividas combinam-se memórias,
percepções, antecipações a cada momento. Esta unidade nunca é estática ou final”
(p. 80).
Nesta abordagem o pesquisador envolve-se com o mundo dos sujeitos
pesquisados não esquecendo que cada sujeito percebe o fenômeno de forma única.
72
3.2 AMOSTRA DA PESQUISA
A fim de buscar subsídios e verificar qual a percepção dos professores
acerca da atuação do Supervisor Escolar com relação à sua prática pedagógica,
foram entrevistados 10 (dez) profissionais que desenvolvem suas atividades em
escolas, independente do sistema a qual pertencem ou do nível no qual atuam. Para
tal, foi utilizado um instrumento de pesquisa semi-estruturado (APÊNDICE 1) e foram
gravadas, transcritas, analisadas e estabelecidas as categorias emergentes das
entrevistas, sendo que a fenomenologia ofereceu suporte teórico e metodológico
para o levantamento e análise dos dados obtidos.
Foram entrevistados 10 (dez) professores, dos quais 7 (sete) eram do sexo
feminino e 3 (três) do sexo masculino; 1 (um) atua somente nas séries finais do
Ensino Fundamental, 3 (três) atuam nas séries finais do Ensino Fundamental e no
Ensino Médio (regular ou Educação para Jovens e Adultos), 1 (um) atua no Ensino
Médio e no Ensino Profissionalizante e 5 (cinco) atuam nas séries iniciais do Ensino
Fundamental.
Atualmente 9 (nove) dos entrevistados exercem suas funções docentes em
escolas particulares, 5 (cinco) em escolas públicas, concomitantemente e 1 (um)
somente em escola pública. 3 (três) dos entrevistados nunca tiveram experiência
docente no ensino público.
Os 10 (dez) entrevistados atuam em escolas onde há Supervisão Escolar
exercida por profissional habilitado para a função.
73
3.3 ANÁLISE DOS DADOS
Para a organização dos dados coletados foram observados os pressupostos
da análise de categorias, que segundo Kude (1997, p 186), “foi cronologicamente a
primeira”.
Ainda Kude (1997), traz a abordagem de Tesch (1994), que propõe a
execução de etapas na análise de categorias e que auxiliaram na organização dos
dados deste estudo:
(a) para compreender o sentido do todo, foram lidas cuidadosamente todas
as transcrições e apontadas as idéias emergentes;
(b) foram identificados os significados subjacentes de cada entrevista
fazendo anotações nas margens das mesmas;
(c) fs anotações feitas em cada entrevista deram origem a uma lista de
tópicos;
(d) os tópicos mais significativos foram transformados em categorias;
(g) foi feita a análise preliminar de todo o material pertencente a uma
determinada categoria a fim de concluí-la.
As categorias definidas após a conclusão da análise foram:
74
relacionamento humano;
conhecimento teórico e prático;
organização de um trabalho coletivo;
ausência de interferência no crescimento profissional;
liderança educacional;
autoridade conquistada;
motivação.
Na apresentação dos resultados as categorias emergentes serão
conceituadas e relacionadas às falas dos entrevistados.
A pesquisa fenomenológica possibilita que o caminho se construa durante a
caminhada, de acordo com a sua realização ela pode ser redirecionada.
Erickson (1997) “enfatiza o fato de que a interpretação final é extremamente
valorizada quando o autor ou autora é capaz de demonstrar que seu modo de
pensar mudou no decorrer da pesquisa” (apud KUDE, p. 199). Neste sentido, a
pesquisa proposta oportuniza a reflexão e a aprendizagem do próprio pesquisador,
demonstrando que ao somente relacionar teoria, prática, vivências, observações, é
possível trilhar um caminho em busca de aprimoramento visando contribuir, em
alguma medida, com o contexto no qual estamos inseridos.
Esta postura, indispensável ao pesquisador, foi perseguida durante a
realização desta como forma de atender aos pressupostos teóricos que a sustentam.
QUADRO 03: Resumo
Problema: o professor reconhece o Supervisor Escolar como profissional responsável pelo acompanhamento e orientação de seu trabalho
pedagógico?
Objetivo Geral: Identificar se o professor percebe o Supervisor Escolar como alguém que contribui com seu crescimento pessoal e profissional?
Objetivos Específicos Questões Norteadoras Participantes Instrumento
Caracterizar o Supervisor Escolar
desejável.
Quais as características que os
professores consideram desejáveis
em um supervisor?
Analisar a percepção dos
professores acerca da atuação do
Supervisor como organizador de
seu espaço de aprendizagem
dentro da escola.
Como a atuação do Supervisor
pode contribuir com o crescimento
pessoal e profissional dos
professores?
Identificar e caracterizar
Supervisores Escolares que
exerceram sua função de líderes
educacionais.
É possível identificar, na história
profissional de um professor, um
Supervisor Escolar que tenha
contribuído efetivamente com seu
crescimento profissional e pessoal?
10 professores do Ensino
Fundamental, Médio e
Profissionalizante.
Entrevista semi-estruturada,
gravada e transcrita integralmente.
Verificar se a relação estabelecida
entre Supervisor e professor
interfere na motivação deste ao
desenvolver seu trabalho.
A relação estabelecida com o
Supervisor Escolar interfere na
motivação do professor?
3.4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Com o objetivo de analisar a percepção dos professores acerca da atuação
profissional do Supervisor Escolar e sua interferência no trabalho pedagógico
desenvolvido na escola, os dados obtidos foram organizados em categorias a partir
das questões que nortearam a pesquisa.
Sendo assim, temos a como 1ª questão norteadora:
Quais as características que os professores consideram desejáveis em um
supervisor?
A partir deste questionamento foram destacadas as duas categorias:
relacionamento humano e conhecimento teórico e prático, que são expostas a
seguir.
Relacionamento humano
Para Rangel (1985, p. 67) “a interação de sentimentos é tão importante
quanto a interação de idéias” e complementa afirmando que “saber lidar com
pessoas é uma ‘arte’ necessária ao sucesso de qualquer atividade humana”.
Remetendo esta categoria à análise da liderança, temos o pensamento de
Blanchard (1999) ao afirmar “que os líderes de hoje precisam começar a transmitir
77
ânimo, apoio e coragem, em vez de serem juízes, críticos e avaliadores” (p. 93), e
esta idéia está alicerçada na forma como são estabelecidos os relacionamentos.
Mosquera e Stobäus (2001, p. 92) reiteram a importância do relacionamento
humano criticando a prática que separa “de uma maneira arbitrária e criminal o
pensamento do sentimento, a inteligência da capacidade de sentir e viver emoções,
valores e atitudes”, pois esta atitude fundamentada no pensamento científico
fragiliza as relações.
É possível perceber esta necessidade na fala dos entrevistados 1 e 3
quando afirmam que:
E1: deve ter muito envolvimento com o professor, deve conversar com ele,
sentir os problemas. Um dia eu tava muito ruim e a Supervisora disse ‘o
que que houve?’ Eu falei pra ela, as coisas não tão bem, isso não tá
rendendo no meu trabalho, aí ela se mostrou compreensiva, a gente
conversou sobre as coisas que estavam acontecendo. Então eu acho que
esse envolvimento dela, fora de... extra classe, dependendo da abertura do
professor, se ele dá, é importante, porque ela tem que saber porque o
professor tá agindo assim, porque o professor tá se sentindo assim naquele
dia, então ela tem que tem que ter o perfil. Assim como ela tem que
conhecer o perfil do aluno, ela tem que conhecer o perfil do professor pra
poder entender que ele não é uma máquina.
E3: Tem que ser uma pessoa que tente uma aproximação com o professor,
que melhore o astral do grupo, que aproxime o grupo através de encontros,
nos recreios, tentar se aproximar de todos por igual, porque os professores
se vêem muito pouco.
E9: É bom saber que tem alguém na escola que se preocupa contigo como
pessoa, que tá ali te observando como profissional, te ajudando a melhorar,
mas que sente quando tu não tá bem, quando tu tá com algum problema, e
até consegue conversar, te ouvir e te aliviar. Isso acaba refletindo no
profissional, tu melhora só por ter falado, por ter desabafado.
78
Estas falas remetem à necessidade de criar um vínculo afetivo com o
Supervisor de forma a sentir-se valorizado enquanto pessoa, indivíduo, e quando
ocorre o contrário, são despertados sentimentos contraditórios, conforme a fala de
E4:
E4: eu aprendi horrores na escola, mas o autoritarismo da Supervisora era
muito grande, a gente tinha muito medo dela. E isso é uma contradição, tu
não pode fazer as coisas por medo, tu tens que fazer as coisas porque tu
reconhece no teu supervisor a autoridade dele em termos de
conhecimento, e ela sabia um monte, eu respeitava ela por saber também,
mas eu respeitava também por medo, eu me ‘cagava’ de medo dela.
Existe uma contradição entre a possibilidade de construção de
conhecimento oportunizado nesta relação e o medo. Para Mosquera e Stobäus
(2001, p. 96) “o ato pedagógico é uma relação de intimidades que estão
continuamente sendo questionada e postas à prova”, e na situação relatada
anteriormente, esta ‘intimidade’ não transmite segurança, não efetiva uma relação de
cumplicidade entre a Supervisora citada e a professora. E dando seguimento a esta
dificuldade na relação, a professora traz ainda:
E4: Era horrível! Ela pegava o caderno da gente. Toda segunda-feira tu
tinha que entregar teu cadernão de planejamento pra ela. Ela revisava e
passava o sinal de certo, ela não colocava só uma observação: ‘eu vi’, ou
‘eu to com dúvida em relação a isso’ ou ‘como é que tu vai fazer isso aqui’.
Ela botava certo e botava o visto, sabe? E ela revisava os relatórios da
gente, esses relatórios de avaliação, tanto os gerais como os individuais, e
ela riscava tanto, ela reescrevia tanto que na hora de fazer a correção tu
relia o teu relatório e tu não identificava mais a tua produção ali, aquele
texto não era mais teu. Não, o texto era outro, e isso era uma coisa
aviltante, porque (…) é uma imposição, e aí tu já não aprende mais, ali tu
não tá mais aprendendo. Ali tu já ta sendo enformada no sentido de
‘enformar’, já não é mais uma ‘informação’, é uma ‘enformação’.
79
É perceptível na fala desta professora a interferência negativa da relação
estabelecida entre ela e a Supervisora. Para além da simples relação humana, estas
atitudes interferiram na aprendizagem, na construção da subjetividade desta
profissional.
Conhecimento teórico e prático
A formação profissional do Supervisor Escolar exige que ele seja graduado
ou especialista em sua área, porém, a continuidade de sua formação dá-se em seu
cotidiano.
Para Freire (1996, p. 24) "A reflexão crítica sobre a prática se torna uma
exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blablablá e a
prática, ativismo." Esta afirmação está intimamente relacionada com qualquer ato
pedagógico, seja ele estabelecido entre professor – aluno ou Supervisor – professor.
Sendo nosso objeto de estudo esta última, cabe o Supervisor promover a reflexão
crítica, mas, na mesma medida, refletir sobre sua prática.
Para Alarcão (1996, p. 98), as exigências surgem em um outro nível: “O
papel do supervisor será então o de facilitar a aprendizagem, de encorajar, valorizar
as tentativas e erros do professor e incentivar a reflexão sobre a sua ação”. Reflexão
esta que deve estar alicerçada em teorias que atendam às demandas atuais.
80
O conhecimento teórico é citado nas seguintes entrevistas como sendo
fundamental para que o Supervisor conquiste sua autoridade perante o grupo:
E3: Teria que estar alicerçado em teorias novas, não Freireanas, não,
teorias de questão teórica de fundo, portanto teria que ser uma pessoa que
além de ter essa formação empírica tem uma formação de academia, ser
uma pessoa que fez pós-graduação, uma pessoa que está fazendo
mestrado, ou uma pessoa que não está fazendo isso mas é rica em leitura.
E4: Acho que ele tem que ser competente, ele tem que ter um
conhecimento teórico (...) Mas eu acho que um supervisor tem que ter isso
tem que ter, sim, muita leitura, muito conhecimento tem que ter.
E5: (...) então ela traz a situação real, e traz a base teórica, com base na
bibliografia, nos livros, nos estudos, nos estudiosos, principalmente, as
pessoas que já estudaram, os grandes estudiosos, os pedagogos, as
bases, (...) então elas nos trazem, na verdade, a contribuição teórica, (...) e
fazem também nós refletirmos sobre o nosso trabalho em função dessas
bases pedagógicas. E são essas bases que devem ser a central de tudo, e
dali nós partimos em direção das nossas áreas, nós fizemos os acertos de
acordo com as nossas áreas.
E7: O Supervisor tem que ser aquele profissional coerente, que diz o que é
preciso fazer sabendo o porquê, que traz as teorias, os estudos para
argumentar e fazer o professor compreender o que ele precisa fazer para
melhorar seu trabalho.
E10: Sem dúvida uma das maiores qualidades do Supervisor tem que ser o
conhecimento teórico, mas de uma forma que ele consiga relacionar com a
prática. Não adianta citar teóricos, dizer títulos e páginas de livros sem
saber como aplicar aquilo ali no dia-a-dia da escola.
Percebe-se, porém, não apenas a valorização do conhecimento teórico,
mas, com a mesma importância, a articulação que este profissional pode oportunizar
entre a teoria e a prática.
81
E4: E ele tem que ter recursos para me subsidiar, então, na medida em que
ele faz um trabalho de assessoramento eficiente, na medida em que ele vê
as minhas dificuldades e é aberto a essas minhas dificuldades, não como
alguém que vai cutucar as minhas feridas, mas como alguém que vai me
ajudar a crescer dentro do que eu faço, ele tem que me assessorar, ele tem
que me dar recursos para que eu possa desenvolver o trabalho cada vez
melhor. Me ajudando com material, me dando idéias, me dando subsídios,
para que eu possa melhorar sempre, para que eu possa ter recursos para
enriquecer o meu dia-a-dia pedagógico.
Fica perpassada neste relato a questão do relacionamento pessoal, o fato
do Supervisor conhecer e respeitar a individualidade de cada professor e o subsídio
teórico que ele precisa dar a fim de contribuir com o crescimento deste profissional.
A intencionalidade da prática, a articulação de saberes é determinante na
construção de uma proposta que reflete os anseios coletivos, e ocorre, para Silva Jr.
(1986, p. 116) “Quando o supervisor, definido e reconhecido como um educador, se
revelar capaz de articular a ação dos demais educadores, respeitando a sua criação
e, ao mesmo tempo, favorecendo seu acesso ao conhecimento”.
Esta articulação é citada por um dos entrevistados em um outro sentido:
E2: Dentro da escola eu acredito que o Supervisor é um grande articulador,
no aspecto prático, hoje o supervisor serve realmente como alguém que
busca articular, fazer as trocas entre os professores. O que acontece? Os
professores hoje trabalham em vários empregos, no caso, tem várias
escolas, e fica difícil a gente manter um contato com os outros professores,
a única vez que muitas vezes nós temos um contato é quando nós fazemos
alguma reunião, e essa reunião, muitas vezes, é utilizada apenas para
alguns aspectos administrativos e não pedagógicos.
82
Ao desenvolver seu trabalho frente a um grupo, o Supervisor precisa, além
de articular teoria e prática, articular as áreas do conhecimento implicadas nos
currículos escolares. A interdisciplinaridade, segundo Nicolescu (2003) possibilita a
transferência dos métodos de uma disciplina para outra, porém, permite de forma
estreita que sejam ultrapassados os limites de cada disciplina, pois o foco continua
sendo a própria disciplina.
Nesta perspectiva, e a partir da realidade relatada pelo professor E2, a
escassez de espaço para discussão, para planejamento e construção de propostas
coletivas acaba por delegar ao Supervisor esta articulação. Esta idéia fica clara na
fala das entrevistadas 5 e 8:
E5: O trabalho da supervisão, com certeza é muito importante para esse
vínculo, porque automaticamente quando a gente pensa em projetos,
planos, trabalho vinculado, e hoje não se trabalha sozinho, se trabalha
sempre interdisciplinar(...). Então desde o primeiro momento que tu faz um
trabalho interdisciplinar tu cria esse vínculo e tu não larga mais, isso fica
contigo, e no momento que tu tá planejando teu semestre, teu ano, enfim,
tu já faz, dentro desse planejamento, vínculos com outra disciplina, com a
história, tem momentos históricos em que aconteceram isso então tu já faz
uma relação com a biologia, com a física, com a matemática, então tu tem
esse vínculo direto. E como a gente não tem muito espaço para planejar
estas coisas dentro do horário escolar ou de reuniões, a Supervisora acaba
fazendo isso por nós, conversando com os outros professores,
enriquecendo nossas idéias.
E8: Numa das minhas escolas os planejamentos das festas, culminância
dos projetos são feitos por nós professoras. Para cada evento desses a
Supervisora designa uma comissão de duas ou três professoras. Aí a gente
faz o projeto e passa pra ela, que lê, faz as modificações que for preciso e
passa pras outras colegas, porque a gente não tem tempo pra sentar e
planejar tudo junto na escola.
Fica registrada nestas falas uma certa “queixa” com relação à falta de tempo
para planejar, pensar o coletivo do trabalho, e sabe-se que a rotina da escola é
83
repleta de atividades, acontecimentos e situações inesperadas, fatos que consomem
o tempo que deveria ser dispensado para uma organização mais efetiva do trabalho
pedagógico.
A 2ª questão norteadora possibilitou uma relação entre suas categorias e as
categorias emergentes na 1ª questão:
Como a atuação do Supervisor pode contribuir com o crescimento pessoal e
profissional dos professores?
Esta questão, além de trazer novamente as categorias destacadas na
questão 1, aponta a organização de um trabalho coletivo, e quatro dos
entrevistados não percebem em sua trajetória profissional contribuições significativas
por parte dos Supervisores, o que foi aqui classificado como ausência de
interferência no crescimento profissional.
Organização de um trabalho coletivo
As categorias expostas até o momento não se esgotam em si mesmas, mas
abrem possibilidades para outros vieses da ação Supervisora. O relacionamento
interpessoal e a articulação remetem a uma perspectiva coletiva do trabalho
pedagógico.
Para Freitas (2001, p. 204) o Supervisor deve estar comprometido com:
84
a reflexão e permanente reconstrução de sua prática profissional, tendo em
vista a superação da ênfase administrativo-burocrática ou técnico-
pragmática para constituir-se como articulador necessário à gestão do
trabalho pedagógico.
E traz, ainda, a responsabilidade de formação permanente do professor,
apontando a necessidade:
para a criação de condições que viabilizem as transformações das práticas
pedagógicas, já que é no exercício coletivo de estudar a própria prática que
o/a professor/a se faz e refaz, assumindo sua inconclusão enquanto sujeito
e educador.
(id., p. 197)
De acordo com o Art 2º do Projeto de Lei que propõe a regulamentação de
sua função, “o Supervisor Escolar tem como responsabilidade articular crítica e
construtivamente o processo educacional, motivando a discussão coletiva”, o que
coloca-o como organizador do trabalho na escola, aquele que planeja ações visando
o coletivo do trabalho desenvolvido.
O aspecto coletivo do trabalho pedagógico é enfatizado, e este caráter é
valorizado pelos professores em dois momentos:
E6: Por ter me ensinado, através das ações dela, a diversificar, ela é
extremamente criativa com as coisas, na vida, com as pessoas porque elas
são especiais, e ela me ensinou como é que se trabalhava coletivamente.
85
O entrevistado 6 remete-se ao trabalho coletivo realizado no interior da
escola, o respeito às idéias e concepções e a busca da concretização da proposta
pedagógica de cada instituição.
Outro entrevistado traz o caráter coletivo não apenas do trabalho, mas das
relações, pois quando trabalha-se coletivamente todos os envolvidos precisam ser
respeitados em sua individualidade, mas precisam sentir-se parte do grupo:
E3: a gente só se cruza dentro do colégio, e muitas vezes o recreio é um
espaço onde eu me encontro com um professor amigo, outro com outro,
enquanto outros ficam isolados, então o Supervisor pode ter essa
capacidade de relacionar-se, ser afetivo e aproximar todos em torno de um
interesse comum, um objetivo.
Hunter (2004, p. 84), traz a idéia de William James, filósofo norte-
americano, ao dizer que “no centro da personalidade humana está a necessidade de
ser apreciado”. A natureza social do ser humano aponta para a necessidade de
pertencimento e de aprovação. Para efetivamente pertencer ao grupo é
determinante que cada professor sinta-se parte dele.
A efetivação do trabalho pedagógico na escola não passa apenas pelas
questões epistemológicas, mas, principalmente pelas questões subjetivas, relativas
ao relacionamento. Dentro da liderança, características perceptíveis em líderes que
obtiveram o sucesso coletivo de suas equipes dizem respeito a compartilhar:
86
sua estratégia de liderança com seus subordinados, eles não só passam a
conhecer o que você tem em mente, mas também podem dar-lhe um útil
feedback. Os verdadeiros líderes servis querem feedback porque estão
ansiosos por saber se as interações com seu pessoal são úteis e eficientes
(BLANCHARD, 1999, p. 141).
Fazendo uma analogia entre e função do Supervisor Escolar e a liderança,
trago Hunter (2004, p. 33), ao dizer que “liderar é conseguir que as coisas sejam
feitas através das pessoas. Ao trabalhar com pessoas e conseguir que as coisas se
façam através delas, sempre haverá duas dinâmicas em jogo – a tarefa e o
relacionamento”, e ao liderar um grupo, não se pode excluir ninguém, todos,
igualmente, precisam sentir-se parte importante deste coletivo.
Sendo assim, a condução e organização do trabalho coletivo é determinante
para o alcance dos objetivos propostos, e neste sentido, as dimensões
epistemológicas e subjetivas estão implicadas.
Ausência de interferência no crescimento profissional
Esta categoria traz o aspecto negativo da atuação do Supervisor.
Professores que não percebem este profissional como alguém que efetivamente os
auxiliou da construção de sua identidade profissional demonstram, como na época
do surgimento desta função nas escolas, o vazio deste espaço que deveria ser de
atuação, de comprometimento, de envolvimento.
87
Os Supervisores que atêm-se aos aspectos burocráticos de sua função são
trazidos enfaticamente pelos professores que seguem:
E1: na escola EJA, há muito pouca interferência deles na minha prática.
Não sei se é porque a gente já trabalha há anos junto, e cada um sabe dos
seus ritmos e a gente sabe todo mecanismo da escola, muito pouca
intervenção há do Supervisor, a não ser quando há algum problema.
E2: Poucos conseguiram durante toda essa minha vida da educação,
poucos conseguiram fazer isso, muitos não fizeram e foram apenas
executores de algo pré-estabelecido. Não tiveram essa função de fazer o
professor crescer, de fazer com que o processo educacional fosse inovado.
E4: Hoje eu vivo o autoritarismo pelo poder, não pelo conhecimento. E até
acho assim, que hoje, e eu tive problemas, no final de 2004 (...) eu fui
ameaçada de demissão, se eu não tivesse entrado em estabilidade eu teria
sido demitida, e tal, mas por um poder outorgado, pelo poder mesmo.
E9: Eu tive, sim, uma Supervisora que era rígida, cobrava tudo, diário,
planejamento, organização, tinha que tá tudo sempre em ordem para ela
olhar. Eu aprendi, na obrigação eu fazia os registros que ela pedia, e
acabei me habituando, mas não foi uma aprendizagem com prazer.
E10: Em uma das escolas que eu trabalho a Supervisora faz só o básico, o
arroz com feijão. Ela controla caderno de chamada, revisa as matrizes que
vão para o xerox, dá recado nas reuniões, e isso empobrece o trabalho na
escola. E até hoje, em todas as escolas que eu trabalhei, foi praticamente
assim. Se a gente quer ajuda a gente que buscar sozinha. Não sei se é só
na escola pública, mas essa é minha única experiência.
Dois dos professores entrevistados trouxeram, ainda, a questão da
historicidade da função do Supervisor, afirmando que, nesta perspectiva, eles
apenas cumprem tarefas.
E2: Eu vejo a importância do supervisor, é claro que eu tenho consciência
que o supervisor surge historicamente com uma outra incumbência, vamos
dizer assim, se a gente for analisar historicamente ele tem uma função, ele
surgiu durante o governo militar, ele tinha essa função dentro da escola,
que era de supervisor mesmo, mas mais no sentido de controle do que de
contribuir para a educação.
88
E3: Supervisão Escolar já de fato nos coloca ‘super visão’, ou seja, um
olhar superior, um olhar por cima, então nós teríamos que analisar se isso
é válido, se é válida essa nomenclatura ‘Supervisão’, ou seria mais talvez,
um serviço de orientação ao professor, por isso acho que ficaria mais
adequada essa nomenclatura.
E8: “As experiências que eu tive com Supervisão Escolar elas praticamente
apresentam um conjunto de coisas similares, vários colégios, várias
instituições pelas quais eu passei. E eu vejo uma atribuição bem clara na
Supervisão Escolar, que é o aspecto formal da burocracia, do caderno de
chamada, notas e avaliações, que acho válida, que acho que o professor
precisa essa pessoa que auxilie, não que ordene fazer, e não somente que
obrigue a fazer mas que auxilie nessas burocracias, nesses aspectos mais
formais, mas não pode se esgotar aí, senão o trabalho fica empobrecido”.
Os entrevistados citados retratam a função burocrática e afirmam que o
profissional que atua exclusivamente nesta dimensão não contribui com o
crescimento profissional do professor nem com a qualificação do trabalho
pedagógico desenvolvido na escola.
Este perfil profissional remete-se à ação Supervisora Tradicional, que
Medina (1995) trouxe como resultado de sua pesquisa sobre o assunto. Nesta
perspectiva o profissional trabalha a partir de seu próprio desejo, mascara a
realidade, tem o conhecimento como dado absoluto, e, normalmente, culpa os outros
(a direção, o sistema) pela sua falta de atitude.
Este modelo de Supervisão não atende mais às demandas e necessidades
que emergem no cotidiano escolar, tampouco com as atribuições do Supervisor
designadas em legislação própria, mas, mesmo assim, estes profissionais se fazem
presentes na vida de nossas escolas.
A 3ª questão norteadora referiu-se à existência de um Supervisor que tenha
sido referência na vida profissional dos entrevistados:
89
É possível identificar, na história profissional de um professor, um Supervisor Escolar
que tenha contribuído efetivamente com seu crescimento profissional e pessoal?
Apesar da maioria dos entrevistados ter relatado experiências com
Supervisores que pouco contribuíram com seu trabalho, é possível identificar e
caracterizar o profissional que fez a diferença pela sua atuação. As categorias
estabelecidas para esta questão são a liderança educacional e a autoridade
conquistada.
Liderança educacional
Freitas et. al. (2003) caracterizam o líder educacional como aquele que é
competente, tem conhecimento teórico, encoraja, oferece feedback, motiva, assume
riscos, dissipa os conflitos desnecessários, faz contato olho-a-olho, ouve a todos
igualmente, é flexível, comunica-se.
Ao serem questionados sobre a existência de um Supervisor que tenha
exercido sua função de líder educacional, e que fossem salientadas suas principais
qualidades, é possível identificar muitos dos adjetivos citados acima.
E2: Quero deixar registrado que a pessoa que me levou para o magistério
através de um desafio e através da convivência cotidiana, nós discutíamos
muitas questões educacionais, foi a minha atual esposa. E ela é que me
levou para a educação e, coincidentemente, ela é supervisora. E ela tem
um mérito muito grande, porque ela sempre buscou fazer isso. Ela sempre
buscou fazer isso, ela sempre buscou juntar as áreas, ser um meio termo
entre a direção e os professores, ela consegue transitar nisso muito bem.
90
E4: Bah, que saudade! Ainda bem que foi a minha primeira supervisora.
Que eu acho que foi onde eu aprendi a trabalhar, (...) e era diretora da
Escola, e ela tinha todas essas qualidades. Ela era uma excelente
supervisora, ela era diretora e supervisora, e ela te apontava as
dificuldades, ela te lançava subsídios, ela era afetiva, ela jamais te
esculachava, ela jamais te colocava numa situação onde tu te sentisse
inferior, numa coisa de te depreciar, nunca, nunca, ela sempre procurava
primeiro o que tu tinha de melhor, e te apontava as tuas dificuldades, e
junto contigo ela buscava alternativas para tu te sair bem daquela situação.
Eu não lembro, isso foi de 82 a 88 que eu trabalhei lá, eu não lembro de
alguém que tenha sido demitido da escola por incompetência, eu acho que
as pessoas saiam de lá na época por necessidades suas, que foi o meu
caso, foi quando eu vim embora para Porto Alegre, porque ela buscava
junto conosco alternativas para o trabalho, ela nos mostrava saídas, então
isso eu considero um supervisor (...) e nos dava leituras, e nos dava um
tema para no encontro com ela, no encontro posterior, pra gente discutir
com ela sobre aquilo e aquilo sempre tinha a ver com o trabalho, e a gente
fazia reuniões muito produtivas, e isso pra mim é um supervisor, aquele
que pega junto.
E6: Eu tive uma que me transmitia a tranqüilidade que eu não tinha, e que
ela, tendo, diante de situações que eu custava para resolver, ela me
ensinou a ter calma, a ser mais ponderada, mais serena diante das coisas
e de uma extrema alegria ao fazer o que ela fazia, e um respeito enorme,
enorme, enorme pelo trabalho dos professores. Ela tinha um respeito
enorme e dizia ‘mas tu tem certeza?’, mesmo concordando com o que eu
pensava ou estava fazendo. Ela era uma pessoa muito bonita por fora e
por dentro. Simples e estudiosa, ela estudava muito.
E8: Olha, eu já trabalhei com muitas Supervisoras, e a grande maioria era
burocrática, cobrava, pedia e não se preocupava com o que eu fazia dentro
da sala de aula. Mas teve uma que se mostrava interessada pelo que eu
fazia na sala de aula. Quando eu tinha dificuldade com algum aluno ela me
ouvia, e isso me ajudava, mesmo que ela não me dissesse nada. Ela não
tinha voz, a diretora era autoritária e não deixava ela trabalhar com
autonomia, mas individualmente ela me ajudava bastante.
E9: Fazem 20 (vinte) anos que eu trabalho na mesma escola, e lá trabalhei
com umas quatro ou cinco supervisoras. Destas, a que mais me marcou
era uma que dava atenção para nossas preocupações. Se algum aluno não
conseguia aprender ela ajudava, dava dicas, sugeria atividades. Se algum
aluno atrapalhava a aula ela conversava com ele, encaminhava e atendia
junto com a Orientadora. Se a gente estava desanimada, ela vinha com
idéias, e ainda incentivava quando a gente trazia alguma novidade. Era
bom ir para a escola.
Relacionando os Hábitos Eficazes proposto por Covey (1993), que associa
o ‘conhecimento, a capacidade e a vontade’ à liderança, com as falas dos
entrevistados, citadas anteriormente, percebe-se na atuação dos Supervisores
identificados como líderes educacionais atitudes que revelam esta perspectiva nas
relações que estabeleciam com os professores.
91
E Hunter (2004, p. 32), ao listar as características de pessoas identificadas
como líderes por grupos com os quais trabalhava, traz: “honestidade, confiabilidade,
cuidado, compromisso, bom ouvinte, conquistava a confiança das pessoas, tratava
as pessoas com respeito, encorajava as pessoas, atitude positiva e entusiástica,
gostava das pessoas”.
Existe uma estreita relação entre estes atributos e as características
identificadas pelos professores entrevistados nos Supervisores que eles consideram
líderes.
Autoridade conquistada
No desenvolvimento do presente trabalho foram trazidas as teorias de
Hunter (2004) e Hannah Arendt (apud RANGEL, 2001), que colocam as diferenças
existentes entre ‘poder’ e autoridade’. Ao estabelecer a autoridade como uma
categoria emergente, referimo-nos à autoridade conquistada pelas ações, pela
influência positiva exercida sobre as pessoas. Para estes autores, a autoridade
constrói-se com base no respeito e na confiança, e legitima-se na relação construída
entre os sujeitos.
E1: (...) porque o líder, ele tem que ter autoridade mas não pode ser
autoritário. Ele tem que ganhar esta autoridade, sem ser autoritário, sem
impor nada, e isso é difícil. Tem que ter um jogo de cintura. Primeiro ele
tem que ter essa natureza dele, e também tem que trabalhar isso, porque
tem um pouco de técnica, de psicologia em cima disso, e se ele tem
consciência disso ele vai melhorar o trabalho dele.
92
E3: Então eu vejo a supervisão, e aí sim, se nós vamos falar em supervisão
como uma coisa, um olhar por cima, supervisionar, um super olhar, se é
por cima esta pessoa tem que estar por cima, não enquanto pessoa, e sim
enquanto experiência e conhecimento teórico.
E4: Ele tem que saber exercer sua autoridade no sentido de saber dar
limite pro grupo, mas não um limite autoritário, saber dar limite como uma
boa mãe e um bom pai sabe dar, porque ele tem essa autoridade.
E7: É ruim quando a gente tem que obedecer o Supervisor só porque ele
está num cargo superior a nós, professores, a gente tem, sim, é que
respeitar este profissional pelas atitudes dele, e isso ele só vai conseguir
no dia-a-dia, na forma como ele vai fazer as intervenções, ouvir, dar
sugestões para que o trabalho melhore. Tem que ser de um jeito positivo,
de quem acredita que tu és capaz, só assim ele fica autorizado a intervir no
meu trabalho.
Esta ‘autoridade’ conquistada se constrói na relação cotidiana da escola e
dá significado à ação coletiva. Um líder perante ao grupo, que exerce sua liderança
com base em princípios claros, estabelecendo objetivos comuns e incluindo todos os
envolvidos na responsabilidade de atingi-los terá resultados positivos a partir de
suas intervenções, e, de acordo com E7, estará autorizado a intervir no trabalho.
A 4ª questão propõe uma reflexão acerca da motivação do professor com
relação à sua prática pedagógica:
A
relação estabelecida com o Supervisor Escolar interfere na motivação do
professor?
A categoria emergente nesta questão foi analisar se a motivação dos
professores tem ligação direta com sua relação com o Supervisor Escolar.
93
Motivação
Para Chiavenato (1983) nem sempre os estímulos financeiros e salariais
são motivadores, mas sim as recompensas sociais, simbólicas e não materiais têm
mais valor no que diz respeito a este sentimento.
E afirma ainda que “A motivação se refere ao comportamento que é causado
por necessidades dentro do indivíduo e que é dirigido em direção aos objetivos que
podem satisfazer estas necessidades” (id., p. 119). E tais necessidades dizem
respeito à auto-realização, à auto-estima, à aceitação.
De acordo com todos os entrevistados, quando estabelece-se uma relação de
confiança e respeito entre Supervisor e professor, a motivação passa a ser natural.
Acerca desta categoria são destacadas as falas que seguem:
E2: Interfere [na motivação], se ele é administrativo interfere sim, o grupo
acaba olhando pra ele apenas sabendo que ele é um executor, então o
professor muitas vezes acaba executando também, acaba fazendo a sua
função mecanicamente. (...) Tem o supervisor, vai cobrar, então eu espero,
quando a visão é meramente executiva, burocrática. Quando essa visão é
uma visão pedagógica, é uma construção pedagógica, o supervisor ele não
precisa cobrar com tanta intensidade (...) porque o professor sabe da sua
importância dentro do processo, sabe que a burocracia passa a ser
secundarizada mas necessária, e ele faz, os registros acabam sendo feitos,
inclusive, de forma diferenciada. Eu tenho essa experiência em duas
escolas, vou te colocar assim, uma escola tem a preocupação de fazer do
registro o registro pedagógico, então eu registro a questão do conteúdo
trabalhado, e algumas coisas que se evidenciaram no dia na sala de aula,
até mesmo a preocupação de o aluno tal, fulano de tal, o registro,
realmente do que houve com aluno tal, para que a avaliação seja cotidiana
de fato, a cada encontro uma avaliação. Onde tu tem um supervisor
meramente administrativo esses registros não acontecem, porque a
questão pedagógica ficou secundarizada, e o professor não faz isso, não
faz isso mesmo.
94
E3: me sinto motivado quando vejo que tem uma pessoa que conhece a
mim, ou tenta me conhecer eu me sinto motivado, acho que interfere sim.
Acho que esse Supervisor tem que fazer um papel individualizado também,
cada professor tem suas características como indivíduo. Tem alguns
Supervisores que fazem isso, que me ajudaram com meus problemas
burocráticos, no preenchimento dos cadernos, nas notas. Uma ajuda desse
modo, um auxílio desse tipo faz com que tu te sintas resguardado, não
estás sozinho. Eu acho que isso ajuda a motivar sim os professores.
E5: com certeza me sinto motivada, principalmente pela forma crítica da
atuação, ela primeiro ouve, ela observa, daí depois ela dá aquela opinião,
ela dá aquele caminho. Então o teu trabalho é muito importante. Claro, que
cada professor na sua área, como uma das minhas supervisoras já disse
‘vocês são os melhores na área em que vocês estão’. Cada professor na
sua área é o especialista, é o adequado e o melhor.
E6: Sim, se ela conquista a autoridade na relação comigo, me sinto
motivada. E isso vem num crescente, em primeiro lugar a supervisora,
depois os colegas, as discussões em reuniões entre colegas são
motivadoras. Mas principalmente, pelo momento certo de pontuação da
supervisora, daquela pessoa que tá de fora enxergando e ouvindo,
escutando o andamento da escola, não do planejamento da escola, mas da
relação entre a vida da escola e planejamento da escola. O olhar de
comprometimento e de quem acredita no teu potencial te motiva.
E7: Se eu tenho uma Supervisora atenta, que sabe o que eu estou
fazendo, que me conhece como profissional, eu me comprometo com ela e
me sinto motivada. Quero atender às expectativas dela, quero me sentir
responsável pelo resultado positivo do trabalho, principalmente porque sei
que vou ser reconhecida.
E8: Aquela Supervisora que eu citei, ela me motivava. Parecia algo só
meu, porque ela não tinha autoridade frente ao grupo de professores, mas
eu gostava de procurá-la para falar das minhas ansiedades e da forma
como eu estava resolvendo as dificuldades que surgiam. Eu tinha vontade,
posso dizer que era motivação, sim.
E9: Eu amo a minha profissão, sou empolgada por natureza dentro da sala
de aula, a docência por si só me motiva, mas é ótimo quando se tem uma
Supervisora que se empolga junto, que vibra com as nossas coisas, com
as aprendizagens dos alunos e até mesmo com as da gente. A motivação
aumenta.
A partir destas falas é inegável que a motivação se intensifica quando há o
comprometimento, o olhar direcionado, a escuta sensível por parte do Supervisor
Escolar. Manter uma equipe motivada não é tarefa simples, mas possível.
Retomando a idéia de Freitas et. al. (2003, p. 16), que percebe o Supervisor
como líder de líderes, o nível de exigência dos professores é maior, pois eles
95
também são líderes. O senso crítico destes profissionais é apurado, e para assumir
sua liderança efetivamente, é preciso ter atitudes e posições definidas:
Para potencializar o crescimento das pessoas e o fortalecimento de
equipes, é necessário considerar a afetividade e a sensibilidade, além de
conhecimentos teóricos e práticos, habilidades e valores. Por tudo isso,
líderes trabalham também com intuição, empatia, investigação,
comunicação, avaliação, decisão, visão de conjunto.
Nesta perspectiva, o desafio maior lançado ao Supervisor Escolar é a
posição que ele ocupa frente ao grupo ao qual lidera. Constituir-se como líder e
contribuir com o crescimento profissional dos professores e com a qualificação do
trabalho pedagógico desenvolvido na escola deve ser o que o motiva, o que o
impulsiona a crescer na mesma medida em que o faz com o outro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mundo no qual estamos vivendo apresenta avanços e transformações em
todas as áreas, e em termos educacionais, mesmo que ainda existam práticas
enraizadas em paradigmas mais tradicionais, não é diferente. As escolas estão
enfrentando dificuldades de ordem social e econômica, sejam elas públicas ou
privadas, o que se reflete diretamente no desenvolvimento do trabalho pedagógico
desenvolvido.
Ao analisar a figura do Supervisor Escolar dentro da escola como
responsável pelo planejamento, organização, operacionalização do trabalho
pedagógico desenvolvido pelos professores, acabamos por adentrar nos meandros
dos sistemas educacionais, pois estes sujeitos são os responsáveis pela execução,
de fato, destas propostas.
Estrategicamente, o Supervisor Escolar ocupa uma posição hierárquica
superior com relação aos professores, porém, nem sempre, a executa com
segurança e de forma a contribuir efetivamente com a qualificação do trabalho
docente.
97
É inegável que a história do Supervisor Escolar inicia-se em um momento
que o desejo é controlar, fiscalizar, garantir a execução das normas educacionais
ditadas pelo Estado. Porém, os avanços em todas as áreas do conhecimento
impulsionam, mesmo que vagarosamente, para um repensar da atuação deste
profissional.
A legislação atual atribui a este profissional a responsabilidade sobre a
formação continuada dos professores em serviço. Esta formação, porém, não se dá
exclusivamente em momentos estanques de estudo e discussões, mas perpassa a
prática cotidiana, o trabalho desenvolvido diretamente com os alunos. Neste sentido,
a fim de contribuir efetivamente com a qualificação do trabalho docente, colocam-se
novos desafios ao Supervisor Escolar.
Foi possível identificar nas entrevistas realizadas que existe uma
representação de Supervisor Escolar no imaginário dos professores que o coloca
como referência, como profissional que precisa assumir sua função e seu caráter de
líder a fim de atender a estas expectativas e efetivamente contribuir com a formação
dos docentes.
Fica claro que a liderança educacional é um grande desafio, pois além de
todos os atributos necessários a um líder, as questões de conhecimento teórico e da
vida dinâmica da escola são demandas que precisam ser observadas. Em
contrapartida, professores são profissionais críticos, posicionados, e seu grau de
exigência com relação a quem os ‘coordena’ naturalmente será maior.
98
Como diz Freitas et. al. (2003), liderar líderes é uma tarefa complexa, mas
cabe ao Supervisor Escolar assumir-se como tal e desenvolver sua liderança, pois
sua função frente a um grupo de professores requer esta atitude.
Para Hunter (2004, p. 52) “o líder nunca deve aceitar a mediocridade ou o
segundo lugar – as pessoas têm necessidade de receber estímulo para se tornarem
o melhor que puderem ser”. E as entrevistas realizadas confirmam esta idéia. Os
professores precisam de desafios, de motivação, precisam sentir-se seguros do que
fazem, e este sentimento pode ser construído na relação com o Supervisor Escolar.
A liderança perpassa questões de caráter, de hábitos, de valores, de
concepções, e para Hunter (2004, p. 33) “Isso requer uma escolha e muito esforço”.
E ainda afirma que a liderança “é uma habilidade que pode ser aprendida e
desenvolvida por alguém que tenha o desejo e pratique as ações adequadas” (id.,
p.25).
Além de todos os desafios naturais à função do Supervisor Escolar, surge
mais este: construir sua liderança com base nas relações saudáveis, nos princípios e
na ética. As escolas, de uma forma geral, precisam adaptar-se às novas realidades
que se apresentam, precisam adequar-se à lógica do mercado que dita as regras de
sobrevivência no mundo capitalista.
E como fazer isso de uma forma criativa, entusiástica, fundamentada,
consciente de sua função social? Preparando seus professores, motivando-os e
fazendo com que se percebam parte do todo, responsáveis pela sua prática e pelo
99
conjunto do trabalho desenvolvido, e essa ressignificação passa, indubitavelmente,
pela ação do Supervisor.
Está posto ao Supervisor, assim, este grande desafio. Formar-se para poder
formar, servir para poder liderar, agir para poder transformar.
100
REFERÊNCIAS
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pedagógica: princípios e práticas. 4. ed. Campinas: 2004, p. 11-55.
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qualidade. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2003. p. 167-182.
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Escolar e a satisfação de professores: estudo de caso na 1ª D. E. de Porto
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Paulo: Harbra, 1998.
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FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 3
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática
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______. Pedagogia da Esperança, um reencontro com a Pedagogia do
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FREITAS, Kátia Siqueira de et al. Liderança educacional. Gerir. Salvador: UFBA, v.
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Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
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103
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SILVA JUNIOR, Celestino Alves da. Supervisão da educação: do autoritarismo
ingênuo à vontade coletiva. São Paulo: Loyola, 1984.
ANEXOS
ANEXO 1 – Projeto de Lei n. 4.412 DE 2001
ANEXO 2 – Entrevista Semi-estruturada
ANEXO 3 – Exemplo de Entrevista Realizada
ANEXO 1
106
PROJETO DE LEI Nº 4.412 DE 2001
CÂMARA DOS DEPUTADOS
PROJETO DE LEI
Nº 4.412, DE 2001
(Do Sr. Cezar Schirmer)
Regulamenta o exercício da profissão de Supervisor Educacional e dá
outras providências.
(ÀS COMISSÕES DE EDUCAÇÃO, CULTURA E DESPORTO; DE
TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO; E DE
CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE REDAÇÃO (ART. 54) – ART. 24, II)
O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º a profissão de Supervisor Educacional regula-se por esta lei.
Art. 2º O Supervisor Educacional tem como objetivo de trabalho
articular crítica e construtivamente o processo educacional, motivando
a discussão coletiva a fim de garantir o ingresso, a permanência e o
sucesso dos alunos, através de currículos que atendam às reais
necessidades da clientela escolar, atuando no âmbito dos sistemas
educacionais federal, estadual e municipal, em seus diferentes níveis e
modalidades de ensino e em instituições públicas ou privadas.
Art. 3º O exercício da profissão de Supervisor Educacional é exclusivo
dos portadores de diploma de curso superior em Pedagogia, com
habilitação em Supervisão Educacional ou Supervisão Escolar ou em
nível de pós-graduação, devidamente reconhecidos pelo Conselho
Nacional de Educação.
Parágrafo único. Os diplomas expedidos por instituições estrangeiras
devem obedecer o disposto nos §§1º e 2º do art. 48 da Lei n.º 9.394,
de 1996, que “Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional”.
Art. 4º São atribuições do Supervisor Educacional:
I – coordenar o processo de construção coletiva e execução da
Proposta Pedagógica, dos Planos de Estudo e dos Regimentos
Escolares;
II – investigar, diagnosticar, planejar, implementar e avaliar o
currículo em integração com outros profissionais da Educação e
integrantes da Comunidade;
107
III – supervisionar o cumprimento dos dias letivos e horas/aula
estabelecidos legalmente;
IV – velar o cumprimento do plano de trabalho dos docentes nos
estabelecimentos de ensino;
V – assegurar processo de avaliação da aprendizagem escolar e a
recuperação dos alunos com menor rendimento, em colaboração com
todos os segmentos da Comunidade Escolar, objetivando a definição
de prioridades e a melhoria da qualidade de ensino;
VI – promover atividades de estudo e pesquisa na área educacional,
estimulando o espírito de investigação e a criatividade dos
profissionais da educação;
VII – emitir parecer concernente à Supervisão Educacional;
VIII – acompanhar estágios no campo de Supervisão Educacional;
IX – planejar e coordenar atividades de atualização no campo
educacional;
X – propiciar condições para a formação permanente dos educadores
em serviço;
XI – promover ações que objetivem a articulação dos educadores com
as famílias e a comunidade, criando processos de integração com a
escola;
XII – assessorar os sistemas educacionais e instituições públicas e
privadas nos aspectos concernentes à ação pedagógica.
Art. 5º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
JUSTIFICAÇÃO
A iniciativa em epígrafe tem por escopo regulamentar as atividades de
administração escolar, cometendo-as aos supervisores educacionais,
graduados em Pedagogia, com habilitação em Supervisão Educacional
ou Supervisão Escolar ou, ainda, pós-graduados nessas áreas.
A proposição encontra, inclusive, respaldo na Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (Lei n.º 9.394, de 1996) que, em seu art. 64,
assim estabelece:
“Art. 64. A forma
ç
ão de profissionais de educa
ç
ão
para administração, planejamento, inspeção,
supervisão e orientação educacional para a
educação básica, será feita em cursos de
graduação em Pedagogia ou em nível de pós-
graduação, a critério da instituição de ensino,
garantida, nesta formação, a base comum
nacional.”
A escola é uma das instituições sociais que necessita de constante
ajuste à realidade, a fim de cumprir o seu papel na sociedade.
A realidade brasileira tem demonstrado que, apesar de profundas
alterações na estrutura e no funcionamento das escolas, estas, na
maioria das vezes, permanecem relegadas ao plano de proposições
teóricas, com base em um ideal educacional, sem, contudo, atingir a
108
renovação da ação educativa.
Para que a escola, como instituição social, possa participar desse
processo de desenvolvimento e transformação, necessita revisar e
redefinir papéis até agora existentes, a fim de adaptar-se às novas
exigências sociais, transformando a educação escolar em um dos
instrumentos do desenvolvimento individual, social e econômico,
colaborando, decididamente, para a construção da própria cidadania.
A LDB estabelece as diretrizes e as bases da educação nacional e, ao
faze-lo, define as incumbências dos estabelecimentos de ensino e dos
docentes. Torna-se necessário, igualmente, definir o âmbito de
atuação dos outros profissionais da educação, que atuam nesses
estabelecimentos de ensino, entre eles os supervisores educacionais.
A história da Supervisão Educacional acompanha a história da
Educação e, atualmente, busca fazer uma releitura da realidade
municipal, estadual, nacional e, até mesmo, internacional, a fim de
oferecer subsídios para a construção de uma educação mais
democrática e eficiente.
Assim, ante o exposto, esperamos contar com o necessário apoio de
nossos ilustres Pares para ver transformado de forma jurídica este
projeto de lei, pois há nele fundamentos jurídicos, sociais e de justiça.
Sala das Sessões, em 9 de março de 2001.
Deputado CEZAR SCHIRMER
LEGISLAÇÃO CITADA ANEXADA PELA
COORDENAÇÃO DE ESTUDOS LEGISLATIVOS- CEDI
LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996
ESTABELECE AS DIRETRIZES E BASES
DA EDUCAÇÃO NACIONAL
TÍTULO V
DOS NÍVEIS E DAS MODALIDADES DE EDUCAÇÃO E ENSINO
CAPÍTULO IV
DA EDUCAÇÃO SUPERIOR
Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos, quando
registrados, terão validade nacional como prova da formação recebida
por seu titular.
§ 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão por elas
próprias registrados, e aqueles conferidos por instituições não-
universitárias serão registrados em universidades indicadas pelo
109
Conselho Nacional de Educação.
§ 2º Os diplomas de graduação expedidos por universidades
estrangeiras serão revalidados por universidades públicas que tenham
curso do mesmo nível e área ou equivalente, respeitando-se os
acordos internacionais de reciprocidade ou equiparação.
§ 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos por
universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos por
universidades que possuam cursos de pós-graduação reconhecidos e
avaliados, na mesma área de conhecimento e em nível equivalente ou
superior.
TÍTULO VI
DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração,
planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a
educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou
em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino,
garantida, nesta formação, a base comum nacional.
CÂMARA DOS DEPUTADOS
COMISSÃO DE EDUCAÇÃO, CULTURA E DESPORTO
PROJETO DE LEI Nº 4.412, DE 2001
III - PARECER DA COMISSÃO
A Comissão de Educação, Cultura e Desporto, em reunião ordinária
realizada hoje, aprovou unanimemente, com substitutivo o Projeto de
Lei nº 4.412/2001, nos termos do Parecer da Relatora, Deputada Kelly
Moraes.
Estiveram presentes os Senhores Deputados:
Jonival Lucas Junior, Professora Raquel Teixeira e Lobbe Neto - Vice-
Presidentes, Átila Lira, Carlos Abicalil, Celcita Pinheiro, Chico Alencar,
Costa Ferreira, Eduardo Seabra, Gilmar Machado, Iara Bernardi, Ivan
Valente, Marinha Raupp, Miriam Reid, Neyde Aparecida, Paulo
Kobayashi, Paulo Lima, Rogério Teófilo, Deley, Eduardo Barbosa,
Lindberg Farias, Márcio Reinaldo Moreira, Mariângela Duarte, Milton
Monti, Murilo Zauith e Valdenor Guedes.
Sala da Comissão, em 25 de junho de 2003.
Deputado GASTÃO VIEIRA Presidente
110
SUBSTITUTIVO AO PROJETO DE LEI Nº 4.412, DE
2001
Regulamenta o exercício da
profissão de Supervisor
Educacional e dá outras
providências.
SUBSTITUTIVO ADOTADO - CECD
O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º. Fica instituída e regulamentada, nos termos desta Lei, a
profissão de Supervisor Educacional.
Art. 2º. O exercício da profissão de Supervisor Educacional é
prerrogativa dos portadores de diploma de curso de graduação obtido
em instituição de ensino superior devidamente autorizada e
credenciada pela autoridade competente do sistema de educação
nacional.
Parágrafo único. O diploma referido no caput deste artigo pode ser
obtido em:
I – curso de Pedagogia, Habilitação em Supervisão Educacional ou
Supervisão Escolar;
II – instituição estrangeira de ensino superior, revalidado e registrado
como equivalente ao diploma mencionado no inciso I;
III – curso de pós-graduação em Supervisão Educacional ou
Supervisão Escolar.
Art. 3º. O campo de atuação do Supervisor Educacional abrange:
I – os órgãos centrais e regionais dos sistemas de ensino;
II – as instituições de ensino;
III – todas as áreas que desenvolvem ação de formação.
Art. 4º Compete ao Supervisor Educacional coordenar, planejar,
pesquisar, programar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar,
controlar, acompanhar, orientar, executar e avaliar trabalhos,
pro
g
ramas, planos e pro
j
etos, bem como prestar servi
ç
os de auditoria,
consultoria e assessoria, realizar treinamentos especializados,
participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar
111
informes e pareceres técnicos, científicos e pedagógicos, na área
educacional.
Art. 6º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Sala da Comissão, em 25 de junho de 2003.
Deputada PROFESSORA RAQUEL TEIXEIRA
Vice-Presidente no exercício da Presidência
COMISSÃO DE EDUCAÇÃO, CULTURA E DESPORTO
PROJETO DE LEI Nº 4.412, DE 2001
Regulamenta o exercício da profissão de Supervisor Educacional e dá
outras providências.
Autor: Deputado CÉZAR SCHIRMER
Relatora: Deputada KELLY MORAES
I – RELATÓRIO
O projeto de Lei do ilustre Deputado Cézar Schirmer propõe a
regulamentação da profissão de Supervisor Educacional, de
competência exclusiva dos portadores de diploma de curso superior de
Pedagogia, com habilitação na área de Supervisão Escolar ou
Supervisão Educacional, ou equivalente.
A proposição detalha, ainda, um conjunto de doze atribuições que
podem ser desempenhadas no exercício da profissão de Supervisor
Educacional.
Durante a tramitação não foram apresentadas emendas.
I - VOTO DA RELATORA
Na Legislatura passada, o ilustre Deputado Wolney Queiroz, na
condição de Relator, apresentou um Projeto de Lei Substitutivo à
proposta original, que não chegou a ser examinado por esta Comissão
de Educação, Cultura e Desporto.
Por estarmos de pleno acordo com os termos propostos, incorporamos
e transcrevemos o voto daquele Relator.
“A atividade de supervisão educacional, também referida como
112
supervisão escolar, é uma das dimensões da atuação profissional na
área de educação, prevista no artigo 64 da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, juntamente com outras atividades escolares
como a administração escolar e a orientação educacional.
As atribuições do profissional de supervisão educacional podem ser
agregadas em três dimensões: uma voltada para o interior da escola,
quando o supervisor coordena e promove processos peda
g
ó
g
icos
j
unto
aos professores e alunos; outra dimensão se dá em relação à
comunidade escolar, principalmente às famílias dos alunos, buscando
promover sua integração com a escola; e a terceira refere-se à
articulação externa, seja com os sistema educacional, seja com outros
setores da comunidade.
Essas atribuições constituem-se em fatores fundamentais para o
sucesso do processo de aprendizagem e de desenvolvimento dos
alunos, contribuindo, assim, para a redução dos graves problemas da
repetência e da evasão escolar.
No entanto, o Projeto de Lei em exame apresenta excessivo
detalhamento acerca das atribuições profissionais deste educador. As
atividades educacionais modificam-se em função dos novos tempos e
das novas tecnologias. Por isso, parece-nos mais adequado que uma
lei de abrangência nacional defina apenas as regras gerais, isto é, o
campo de atuação do supervisor educacional. O detalhamento das
competências deve ser estabelecido pelos sistemas de ensino, no
âmbito de suas necessidades e peculiaridades.”
Pelo exposto no voto do ilustre Deputado Wolney Queiroz, que
subscrevemos, e em acordo com o ilustre deputado Cézar Schirmer
sobre a necessidade de regulamentar a profissão de supervisor
educacional, nosso parecer é favorável às proposi
ç
ões contidas em seu
Projeto de Lei, reformuladas no Substitutivo que ora submetemos à
consideração das senhoras e senhores parlamentares desta Comissão.
Sala da Comissão, em de de 2003.
Deputada KELLY MORAES
Relatora
COMISSÃO DE EDUCAÇÃO CULTURA E DESPORTO
SUBSTITUTIVO AO PROJETO DE LEI Nº 4.412, DE
2001
113
Regulamenta o exercício da
profissão de Supervisor
Educacional e dá outras
providências.
O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º. Fica instituída e regulamentada, nos termos desta Lei, a
profissão de Supervisor Educacional.
Art. 2º. O exercício da profissão de Supervisor Educacional é
prerrogativa dos portadores de diploma de curso de graduação obtido
em instituição de ensino superior devidamente autorizada e
credenciada pela autoridade competente do sistema de educação
nacional.
Parágrafo único. O diploma referido no caput deste artigo pode ser
obtido em:
I – curso de Pedagogia, Habilitação em Supervisão Educacional ou
Supervisão Escolar;
II – instituição estrangeira de ensino superior, revalidado e registrado
como equivalente ao diploma mencionado no inciso I;
III – curso de pós-graduação em Supervisão Educacional ou
Supervisão Escolar.
Art. 3º. O campo de atuação do Supervisor Educacional abrange:
I – os órgãos centrais e regionais dos sistemas de ensino;
II – as instituições de ensino;
III – todas as áreas que desenvolvem ação de formação.
Art. 4º Compete ao Supervisor Educacional coordenar, planejar,
pesquisar, programar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar,
controlar, acompanhar, orientar, executar e avaliar trabalhos,
pro
g
ramas, planos e pro
j
etos, bem como prestar servi
ç
os de auditoria,
consultoria e assessoria, realizar treinamentos especializados,
participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar
informes e pareceres técnicos, científicos e pedagógicos, na área
educacional.
Art. 6º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Sala da Comissão, em de de 2003.
114
Deputada KELLY MORAES
Relatora
CÂMARA DOS DEPUTADOS
COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E
SERVIÇO PÚBLICO
PROJETO DE LEI Nº 4.412-A, DE 2001
III - PARECER DA COMISSÃO
A Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, em
reunião ordinária realizada hoje, aprovou unanimemente o Projeto de
Lei nº 4.412-A/2001 e o Substitutivo adotado pela Comissão de
Educação e Cultura, nos termos do Parecer do Relator, Deputado
Alceu Collares.
Estiveram presentes os Senhores Deputados:
Tarcisio Zimmermann - Presidente, Dra. Clair e Isaías Silvestre - Vice-
Presidentes, Carlos Alberto Leréia, Cláudio Magrão, Clóvis Fecury,
Daniel Almeida, Érico Ribeiro, Jovair Arantes, Jovino Cândido,
Leonardo Picciani, Luiz Antonio Fleury, Milton Cardias, Paulo Rocha,
Rodrigo Maia, Vicentinho, Ann Pontes, Ariosto Holanda e Carlos
Sampaio.
Sala da Comissão, em 17 de novembro de 2004.
Deputado TARCISIO ZIMMERMANN
Presidente
COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E
SERVIÇO PÚBLICO
PROJETO DE LEI No 4.412, DE 2001
Regulamenta o exercício da
profissão de Supervisor
Educacional e dá outras
providências.
Autor: Deputado CEZAR SCHIRMER
Relator: Deputado ALCEU COLLARES
115
I - RELATÓRIO
A iniciativa em epígrafe objetiva regulamentar o exercício da profissão
de Supervisor Educacional, que terá como âmbito de atuação as
atividades de administração escolar.
A Comissão de Educação, Cultura e Desporto já deliberou
favoravelmente, tendo aprovado o parecer da Deputada Kelly Moraes,
com substitutivo.
Não foram recebidas emendas ao projeto no prazo regimental.
É o relatório.
II - VOTO DO RELATOR
O exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, desde que lícitos,
é livre em todo o território nacional, conforme preceitua o inciso XIII
do art. 5º da Constituição Federal, podendo sofrer restrições quando o
exigir o interesse público, através do estabelecimento de qualificações
profissionais, com o intuito de preservar o interesse da
sociedade,preservando-lhe o direito ao acesso a serviços profissionais
com qualidade, sempre que estiverem envolvidos bens de suma
importância relacionados à vida, à segurança, ao patrimônio, ao meio
ambiente e à educação.
O projeto em apreciação, sob o enfoque do campo temático desta
Comissão de Trabalho, de Administra
ç
ão e Servi
ç
o Público, merece ser
aprovado, primeiro, pelo seu mérito, já que regulamenta o acesso
profissional às atividades de supervisão educacional, fundamentais
para a prestação de um ensino de qualidade à sociedade, além de não
encontrar qualquer óbice na jurisprudência deste órgão, no que
pertine ao tema regulamentação de profissões.
A Comissão de Educação, Cultura e Desporto já adequou o projeto às
disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
retirando de seu texto original o excessivo detalhamento acerca das
atribuições profissionais do Supervisor Educacional, reservando tal
especificação aos sistemas de ensino, no âmbito de suas necessidades
e peculiaridades.
A única impropriedade constante do texto original foi afastada pela
CECD e consistia em tornar exclusivo dos portadores de diploma de
curso superior em Pedagogia o exercício da profissão de Supervisor
Educacional, previsão inconciliável com o texto constitucional do art.
5º, inciso XIII, dispositivo responsável pela positivação do princípio da
liberdade de trabalho.
Pelo Substitutivo apresentado pela Deputada Kelly Moraes e aprovado
116
pela CECD, não somente os titulados em Pedagogia podem exercer a
supervisão educacional, mas também os pós-graduados em
Supervisão Educacional ou Supervisão Escolar.
Além do respeito que todos devemos para com o pronunciamento dos
nobres integrantes da Comissão de Educação, Cultura e Desporto,
entendemos, com base nas considerações apresentadas, ser
perfeitamente cabível e necessária a regulamentação pretendida,
razão pela qual votamos pela aprovação do Projeto de Lei n.º 4.412,
de 2001, do ilustre Deputado Cezar Schirmer, nos termos do
Substitutivo da CECD, com toda a simpatia que nos merece o trabalho
dos Supervisores Educacionais, de tão indiscutível importância no
contexto da Educação em nosso País.
Sala da Comissão, em de de 2004.
Deputado ALCEU COLLARES
Relator
ANEXO 2
118
ROTEIRO PARA ENTREVISTA
Identificação: escolas em que trabalha (nível e sistema), tempo de atuação
profissional, formação, segmento no qual atua, gênero, faixa etária, quantidade de
escolas em que trabalhou.
Quais as qualidades pessoais desejáveis em um supervisor?
Como a atuação do supervisor pode contribuir para o crescimento pessoal e
profissional dos professores?
É possível identificares, na tua história profissional, um Supervisor Escolar que tenha
contribuído efetivamente com teu crescimento pessoal e profissional? Quais seus
principais adjetivos?
A relação que estabeleces com teu Supervisor interfere na tua motivação na escola?
ANEXO 3
120
Exemplo de Entrevista Realizada
DATA: 16/11/2005 11h 30m
E3: Eu sou mestre em Relações Internacionais, sou especialista em História do
trabalho, sou bacharel em História e Filosofia e atualmente estou começando meu
doutorado em Relações Internacionais. Eu trabalho no Colégio 1 em educação para
jovens e adultos e trabalho no colégio da 2. Já trabalhei em diferentes instituições,
nunca em colégios públicos e estaduais dada a minha condição de estrangeiro que
não me permite trabalhar, me permite bolsa mas não me permite trabalhar. Acho
engraçado isso. Mas então, não tenho a experiência pública, no ensino público, mas
tenho a experiência no ensino particular. E já indo direto ao foco, ao assunto, ao
tema, supervisão escolar, então vamos começar pelo conceito, por abstrair o
conceito. Supervisão Escolar já de fato nos coloca super visão, ou seja, um olhar
superior, um olhar por cima, então nós teríamos que analisar se isso é válido, se é
válida essa nomenclatura “Supervisão”, ou seria mais talvez, um serviço de
orientação ao professor, por isso acho que ficaria mais adequada essa
nomenclatura. As experiências que eu tive com Supervisão Escolar elas
praticamente apresentam um conjunto de coisas similares, vários colégios, várias
instituições pelas quais eu passei. E eu vejo duas atribuições bem claras na
Supervisão Escolar, por um lado o aspecto formal da burocracia, do caderno de
chamada, notas e avaliações, que acho válida, que acho que o professor precisa
essa pessoa que auxilie, não que ordene fazer, e não somente que obrigue a fazer
mas que auxilie nessas burocracias, nesses aspectos mais formais, ou seja por um
121
lado isso. Por outro lado, e aí sim que eu bato de frente com o conceito de
Supervisão, é o aspecto de avaliar o professor, de fazer uma avaliação do professor
de entrar em sala de aula para avaliar sua didática, enfim, sua maneira, sua
metodologia, sua aula. Isso eu contesto, não concordo, porque eu acho e acredito,
pelo menos no meu caso a maioria das supervisoras que eu tive, supervisores eram
recém egressos das faculdades, dos cursos, com pouca experiência dentro de sala
de aula, pouca ou nenhuma, e inclusive pouca experiência teórica, e sabemos as
deficiências e carências dos nosso cursos de pedagogia como tantos outros, não só
pedagogia. Então essas carências, somadas as carências de conteúdo, teóricas
específicas da disciplina vão fazer com que, na minha opinião uma avaliação seja
praticamente impossível, porque não vai ter ferramentas essa pessoa, esse
supervisor, esse orientador, não vai ter as ferramentas necessárias para avaliar esse
professor, que está de certa forma aplicando em um período, dois períodos, um
conjunto de coisas, não só a metodologia. A Supervisão talvez possa avaliar a
metodologia da aula, fez trabalho em grupo e tal, assistiu um filme, tudo bem, mas
ela não tem como discernir a respeito de questões que dizem respeito ao conteúdo e
à metodologia desse conteúdo, que é específico da disciplina. Então aí eu acho que
fica capenga, é o calcanhar de Aquiles da Supervisão, é tentar avaliar o professor,
mesmo ele tendo condições, experiência, conhecimento teórico, empírico dentro de
sala de aula, mesmo assim a avaliação será, digamos um tanto que superficial,
porque o professor que sente avaliado, o professor que se sabe avaliado, ele não dá
uma aula como ele dá normalmente, e sim através de sua percepção do que a
supervisora quer, dá uma aula direcionada para os anseios, para as necessidades
do colégio, ou seja, dá uma aula totalmente diferente do que ele dá no seu dia-a-dia.
E aplicando procedimentos, metodologias que ele não aplica no seu dia-a-dia, ou
122
seja, então temos dois casos bem separados. Por um lado acredito que a maioria
das supervisoras não tem capacidade para avaliar um professor por falta de preparo,
por falta de experiência, por falta de conhecimento da disciplina. Por outro lado se os
tem o professor, vai partir dele, uma espécie de representação, uma aula totalmente
diferente da que ele dá no dia-a-dia, porque ele vai tentar dar uma aula pra a
supervisora e não para os alunos. Então nós temos isso, o papel burocrático da
Supervisão que eu acho suportável, acho que tem que haver, tem que existir uma
cobrança, eu sou um professor que tenho muitas dificuldades com preenchimento de
cadernos, com notas, com tudo que diz respeito a burocracia, mas eu acho que está
certo existir um suporte ao professor. Agora, quando a Supervisão, aí sim passa a
supervisionar o professor, fiscalizar o profissional, enfim, aí já vejo deficiências,
inclusive acredito que foge as atribuições dessa pessoa. Por isso já partiria por
trocar a denominação, um suporte ao professor em vez de um SOE, um SOP,
Serviço de Orientação ao Professor em assuntos burocráticos, ainda colocaria isso.
Esses dois momentos. Temos ainda, e podíamos falar mais ainda sobre as reuniões
pedagógicas que se faz, a falta de criatividade dessas reuniões pedagógicas, e falta
de uma discussão teórica profunda e muitas vezes o primarismo com que se
colocam algumas questões de fundo bem teórico. Tem professores que não gostam
das reuniões, vão por obrigação, a grande maioria, a gente trabalha muito, e no
sábado geralmente são as reuniões, e a gente não está muitas vezes disposto a
ceder esse tempo, mas já que o cedemos, exigimos uma discussão séria, um a
discussão de fundo, e isso passa batido, não existe. Existe mais um momento de
recreação, um momento lúdico, de piadinhas, de mensagens, digamos, emocionais,
e tal, e troca mútua de elogios, mas não existe uma discussão teórica de fundo
abordando as dificuldades dos professores em sala de aula. Então, dentro da lógica
123
do mercado, dentro da lógica do capital, a Supervisão responde aos interesses do
aluno, que em definitivo é o cliente. E aqui nós temos outro item, que poderíamos
inserir mais um, que é o professor sendo, de uma certa forma, orientado a satisfazer
os anseios do aluno, que é um cliente. E aí se pede um professor “showman”, um
professor psicólogo, um professor assistente social, e por aí vai, e muitas vezes se
esquecem que o professor não foi preparado para isso. O professor foi preparado
para dar seu conteúdo, para manter uma ordem, uma coesão dentro da sala de aula.
Mas ele não é psicólogo, ele não é assistente social, ele não é Jesus Cristo para
suportar certas injustiças em sala de aula. E quem tá falando isso é uma pessoa que
tem excelentíssima relação com os alunos, acho que um dos meus atributos é esse,
me dar muito bem com os alunos, então, mas eu percebo a pressão por parte da
equipe diretiva, muitas vezes, através da Supervisão do colégio, onde de certa forma
se coage o professor a passar o aluno, a tratar ele de uma maneira que na realidade
extrapola as funções do professor, então, nós temos esses vários pontos negativos.
Temos pontos positivos que eu acho que é aquele de cuidar das formalidades
burocráticas, mas temos pontos negativos, e são na minha opinião esses dois que
falei, um seria avaliar o professor e não só que ele não consiga avaliar, mas isso
gera conflito, lembro, faz pouco tempo que a Supervisão estava entrando na sala de
aula dos professores e os professores estavam apavorados porque se sentiam, de
certa forma, invadida sua privacidade. Nós sabemos que o professor quando fecha a
porta da sala de aula ele entra em comunhão com seus alunos e essa comunhão vai
fazer com que fluam as coisas. No momento em que entrar uma pessoa na sala de
aula, e aí sim, eu acho um processo invasivo. Ele já tem que lidar com 30, 40
pessoas que estão observando ele, que estão julgando seu trabalho, que são os
alunos, mas quando, além disso, entra outra pessoa para te observar, para te
124
avaliar, e tu tá vendo que esta pessoa não tem, na tua opinião, não tem a
capacidade intelectual, ou muitas vezes teórica para te avaliar, tu te sentes invadido,
tu te sentes complexado, e eu senti isso, não comigo, porque comigo aconteceu
praticamente só uma vez, mas com meus colegas, eu sentia meus colegas
apavorados “bah, vai assistir minha aula”, “assistiram tua aula”. Então se cria uma
espécie de terrorismo que eu sei que não vem da supervisão escolar, e sim vem de
uma postura de mercado que adotam os colégios particulares, seria um terrorismo
que é típico das grandes empresas, depende da escola. Por exemplo, eu me lembro
que fui chamado em um colégio para dar aula e me pediram para fazer um teste.
Tinha 4 pessoas me observando, eu não consegui dar aula, porque, porque não me
sentia à vontade para fazer meu discurso, para vender meu peixe, eu, digamos
assim, me formei como professor dentro da sala de aula, acostumado com o
ambiente de sala de aula, com aquela comunhão que te falei. Se tu vais fazer uma
avaliação com gente que não são alunos, eu não estar dando aula, eu vou estar
fazendo outra coisa, uma palestram dramatizando.
Tu citaste mais de uma vez esse caráter burocrático do trabalho do
supervisor. Tu reduzes o trabalho do supervisor estritamente ao burocrático
ou tu acreditas que, dependendo das condições, ele teria como atuar de uma
outra maneira, além do burocrático sem interferir tanto nesta questão de te
avaliar, do conteúdo, mas de contribuir contigo de uma outra maneira?
Sim, logicamente que quando eu falo, falo por minha pessoa, mas existem
professores que precisam de uma... que faz muitos anos que saíram da academia
ou que estão em processo de formação ainda, que precisariam uma assistência
teórica, metodológica, pedagógica, que aí sim, deveria entrar a Supervisora, que
125
seria o momento, seria nas reuniões, mas na maioria das reuniões não acontece
nada, é mais um momento lúdico, assim, recadinhos, então eu acho que ele poderia
entrar aí, com as pessoas que precisam, e com as pessoas que não precisam, que
tem uma leitura a mais, digamos, que têm mais experiência, um momento de um
seminário, digamos assim, onde se troca experiências, e isso não vi acontecendo
em nenhum colégio, e eu já passei por 10, 12, nunca vivi esse momento, digamos
assim. Troca de idéias, um momento de formação mesmo, formação de professores,
não vejo isso.
E nas dificuldades cotidianas, no dia-a-dia, tu tens alguma dificuldade, tu
já recorreste alguma vez ao supervisor, tu reconheces nele aquela pessoa que
pode te ajudar? Reconheces na tua história profissional um Supervisor que
tenha sido uma referência?
Não! Eu posso dizer que sou um professor que evita confronto com aluno, e
quando tem o confronto eu vejo como algo bem bilateral, eu e ele, evito terceirizar o
confronto, mandar o aluno para algum lugar, ou mandar chamar a Orientadora, evito
esta terceirização de confronto, evito isso. Tento evitar, mas uma coisa que eu
percebo é que o supervisor trabalha com informações, informações dos alunos,
informações dos pais e informações dos professores. Então ele trabalha com vários
lados da versão das coisas, então muitas vezes ele diz ter dificuldade de trabalhar
com interesses pessoais, agora, eu recebi muito apoio das supervisoras no aspecto
burocrático, no preenchimento de caderno, mas nunca recebi apoio, digamos assim,
teórico, ou de como me manejar dentro da sala de aula, isso aí nunca, talvez porque
eu nunca solicitei, talvez eu seja arrogante, e acho que ninguém pode me ajudar,
acontece. Mas eu, sinceramente, nunca tive um apoio decisivo para um conflito, mas
126
vi muitos conflitos, e lamentavelmente percebi que o supervisor, muitas vezes ele
aceita a crítica do aluno, aceita a crítica do pai do aluno, aceita a pressão da
matrícula, da rematrícula, da mensalidade, nós estamos inseridos num mundo
capitalista e a gente não pode fugir disso. E o professor é chamado, muitas vezes, e
a partir dessa informação que é dada na versão do aluno. Aconteceu com amigos
meus, portanto pode ser que auxilie, que ajude, mas nesse sentido tem o problema
das informações que circulam entre o supervisor... o supervisor trabalha só com
informações, ele não tem como constata-las, e o professor, que é o cara do colégio
que está à frente dos alunos, que é, digamos assim, o vendedor da visão, da
filosofia, enfim, da escola, ele fica legado ao segundo plano, porque ele não tem o
poder de barganha que tem o aluno, poder de barganha do que, da matrícula, da
rematrícula. Então muitas vezes os conflitos que ocorrem dentro da sala de aula, se
levados à supervisão terminam sendo contraproducentes ao próprio professor. Então
não vejo, muitas vezes, uma grande utilidade, por isso insisto que teria que ser mais
uma orientação formal, burocrática, talvez, não sei, podíamos discutir outra instância
para abordar esses tipos de questões mais de conflito de sala de aula.
Que características, adjetivos, a princípio, tu acreditas que um supervisor
tenha que ter, ou orientador pedagógico, como tu estás querendo chamar, pra
poder contribuir, de alguma maneira, com o que tu esperas de um supervisor,
Como seria o supervisor ideal?
O que eu espero, a primeira coisa que eu acho que o supervisor ele devia
passar por um estágio de sala de aula, dentro de sala de aula, de no mínimo uns 4
ou 5 anos de sala de aula, primeira coisa que eu acho, para pegar o empírico, o
chão, o dia-a-dia, a experiência. Teria que estar alicerçado em teorias novas, não
127
Freireanas, não, teorias de questão teórica de fundo, portanto teria que ser uma
pessoa que além de ter essa formação empírica tem uma formação de academia,
ser uma pessoa que fez pós-graduação, uma pessoa que está fazendo mestrado, ou
uma pessoa que não está fazendo isso mas é rica em leitura. Tenho inúmeros
amigos que não fizeram pós-graduação e são ricos em leitura. Então, isso, teria que
ter essas ferramentas para ter os atributos de dar apoio e sustentação ao professor,
porque ele teria experiência de sala de aula, ele seria um ex-professor, saberia muito
bem o que se passa dentro da sala de aula, teria a sensibilidade de conversar com
o professor a nível de colega porque teve essa experiência do que está passando na
cabeça do cara, o que ele está sofrendo, mas ao mesmo tempo ele tem as
ferramentas teóricas para auxiliar ele. Então teria aqueles dois atributos. Então eu
vejo a supervisão, e aí sim, se nós vamos falar em supervisão como uma coisa, um
olhar por cima, supervisionar, um super olhar, se é por cima esta pessoa tem que
estar por cima, não enquanto pessoa, e sim enquanto experiência e conhecimento
teórico.
E características de personalidade, a forma de relacionar-se com as
pessoas, tu pensas também serem importantes?
Lógico, o supervisor tem que ser um diplomata, tem que ser uma pessoa
afável, tem que ser uma pessoa que saiba administrar conflitos, uma pessoa que, de
certa forma tentar mostrar uma segurança ao professor e ganhar o respeito através
de suas qualidades, de seu conhecimento, e não através do medo, da ameaça, da
punição. Eu imagino que os supervisores tenham que ser diplomáticos, porque lidam
com conflitos em sala de aula, conflitos com os pais dos alunos, conflitos entre os
próprios professores, então tem que ser uma pessoa que conheça relações
128
interpessoais, que saiba lidar com a afetividade do professor, também com seus
alunos, os pais dos alunos, que seja um pouco equilibrista desta área, um diplomata,
uma pessoa que consiga conciliar, talvez, coisas inconciliáveis.
E a atuação dele interfere no clima entre os professores, no
relacionamento entre os membros da escola como instituição?
Sim, porque se é uma pessoa sectária ele cria um grupo de professores
chamado aqui no Brasil ‘panela’, ele cria um grupo de professores que se apóia
nele, é amigo dele, aí vai gerar conflitos. Tem que ser uma pessoa que tente uma
aproximação com o professor, que melhore o astral do grupo, que aproxime o grupo
através de encontros, nos recreios, tentar se aproximar de todos por igual, porque os
professores se vêem muito pouco, a gente só se cruza dentro do colégio, e muitas
vezes o recreio é um espaço onde eu me encontro com um professor amigo, outro
com outro, enquanto outros ficam isolados, então o Supervisor pode ter essa
capacidade de relacionar-se, ser afetivo e aproximar todos em torno de um interesse
comum, um objetivo. Mas aí estaremos exigindo demais, porque aí queremos um
cara experiente, uma pessoa que tenha conhecimentos teóricos do assunto, uma
pessoa que seja afável, então não sei se aí nós estamos entrando... fazendo o
mesmo que não estamos querendo que façam conosco, um professor psicólogo,
assistente social, então nós queremos um Supervisor que seja tudo isso, mas eu
acho que os principais atributos deveriam ser aqueles que eu citei primeiro, muito
mais do que a capacidade... porque essas lacunas pode preencher o próprio diretor
do colégio, não vamos pretender que o Supervisor seja tudo isso, é praticamente
impossível, ele vai ter algum defeito. Mas eu acho que ele tem que ter isso,
experiência em sala de aula, primordialmente e conhecimento teórico, pedagógico
129
para poder formar aqueles que precisam e auxiliar aqueles que já possuem
experiência, trocar idéias, lógico que se é uma pessoa simpática contribui mais
ainda, conhecimento só não basta. Já que ele está num papel, digamos assim,
hierárquico, de coordenar as pessoas, pode ter desenvolvido um espírito mais de
grupo, acho que deve ser por aí.
E ele interfere na motivação? Tu te sentes mais motivado quando tem um
Supervisor que está mais próximo disso que tu idealiza, ou é indiferente?
Não, não, me sinto motivado quando vejo que tem uma pessoa que conhece a
mim, ou tenta me conhecer eu me sinto motivado, acho que interfere sim. Acho que
esse Supervisor tem que fazer um papel individualizado também, cada professor tem
suas características como indivíduo. Tem alguns Supervisores que fazem isso, que
me ajudaram com meus problemas burocráticos, no preenchimento dos cadernos,
nas notas. Uma ajuda desse modo, um auxílio desse tipo faz com que tu te sintas
resguardado, não estás sozinho. Eu acho que isso ajuda a motivar sim os
professores. Se ele assiste uma aula, mesmo que eu seja contra a assistir aulas
neste nível...
De fiscalização?
... acho que todo trabalho tem que ser avaliado, mas se ele faz uma
observação e, como aconteceu agora com Ademar e comigo, e o professor é, de
certa forma, laureado, reconhecido, tu te sentes muito bem, ótimo, tua auto-estima
aumenta.
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