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Rodrigo de Paula Santos
ACESSO ENDOSCÓPICO TRANSNASAL AOS TUMORES
SELARES
Tese apresentada à Universidade Federal de São
Paulo / Escola Paulista de Medicina para obtenção
do título de Doutor em Ciências.
São Paulo
2006
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Rodrigo de Paula Santos
ACESSO ENDOSCÓPICO TRANSNASAL AOS TUMORES
SELARES
Tese apresentada à Universidade Federal de São
Paulo / Escola Paulista de Medicina para obtenção
do título de Doutor em Ciências.
Orientador: Prof. Dr. Luc Louis Maurice Weckx
Co-orientador: Dr. Samuel Tau Zymberg
São Paulo
2006
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Santos, Rodrigo de Paula
Acesso endoscópico transnasal aos tumores
selares. / Rodrigo de Paula Santos. -- São Paulo, 2006.
xi, 54f.
Tese (Doutorado) – Universidade Federal de São Paulo
/ Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação
em Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço.
Título em inglês: Endoscopic transnasal approach to
sellar tumors.
1. Endoscópio 2. Endonasal 3. Transesfenoidal 4.
Minimamente invasiva 5. Hipófise
iii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA
DEPARTAMENTO DE OTORRINOLARINGOLOGIA
E CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO
Chefe do Departamento: Prof. Dr. Luc Louis Maurice Weckx
Coordenador do Curso de Pós - graduação: Prof. Dr. Paulo Augusto de Lima Pontes
iv
"The important factor seems to me to be a direct extracranial midline approach by the
shortest possible route".
Harvey Cushing, 1912.
v
Dedicatória
A meus pais, sem dúvida os maiores responsáveis pela minha
formação profissional e ética.
À minha família, Renata e Luiza, por tudo que já passamos
e ainda iremos passar juntos.
vi
Agradecimentos
Ao Prof. Dr. Luc Louis Maurice Weckx, pelo apoio e amizade durante estes anos de
pós-graduação, e pela eficiente orientação no desenvolvimento deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Luis Carlos Gregório, pelo espaço e pela liberdade de ação dentro da
Disciplina de Otorrinolaringologia concedidos ao longo dos últimos anos.
Ao Dr. Samuel Tau Zymberg, pela inestimável contribuição e pelo companheirismo na
teoria e prática da cirurgia endoscópica da base anterior do crânio.
Ao Prof. Dr. Júlio Zaki Abucham Filho, pela oportunidade de participar da equipe
cirúrgica do Setor de Neuroendocrinologia.
Ao Prof. Dr. Helio Rubens Machado, que com sua enorme experiência apresentou-me
à cirurgia transesfenoidal dos tumores da região selar.
Ao Dr. Sergio de Paula Santos, meu pai, pelo insaciável interesse histórico e
empenho pessoal, que resultaram na recuperação da história do acesso
transesfenoidal por via endonasal na América do Sul.
À Prof. Dra. Dalva Poyares, pela disponibilidade em realizar uma competente revisão
desta tese.
À Ana Virginia Nóbrega Gugliotti, pela inestimável ajuda na formatação final desta
tese.
À CAPES, pelo apoio financeiro concedido durante este estudo.
vii
Sumário
Dedicatória v
Agradecimentos vi
Lista de figuras viii
Lista de tabelas ix
Lista de abreviaturas e símbolos x
Resumo xi
1 INTRODUÇÃO 1
2 REVISÃO DA LITERATURA 4
3 MÉTODO 15
4 RESULTADOS 24
5 DISCUSSÃO 31
6 CONCLUSÕES 48
7 ANEXO 49
8 REFERÊNCIAS 50
Abstract
Bibliografia consultada
viii
Lista de figuras
Figura 1 -
Disposição da equipe cirúgica.
16
Figura 2 -
Pontos de referência na cavidade nasal. AC Arco
coanal. S – Septo nasal. CI – Concha inferior.
17
Figura 3 -
Óstio do seio esfenoidal esquerdo. AC Arco coanal.
S Septo nasal. CS Concha superior. OSE Óstio
do seio esfenoidal.
18
Figura 4 -
Remoção do septo intersinusal. SED Seio
esfenoidal direito. SEE Seio esfenoidal esquerdo.
SIS – Septo intersinusal.
19
Figura 5 -
Seio esfenoidal após remoção parcial do septo
intersinusal. PE Plano esfenoidal. NO Nervo
óptico. ACI – Artéria carótida interna. RCO Recesso
carótido-óptico. ST – Sela túrcica. C – Clívus.
– Septações incompletas do seio esfenoidal.
21
Figura 6 –
Diafragma selar invertido no interior da sela, após
remoção de macroadenoma. DS Diafragma selar.
ST – Sela túrcica.
22
Figura 7 -
Distribuição dos pacientes segundo a idade.
24
Figura 8 -
Distribuição dos pacientes segundo o tempo de
internação.
26
Figura 9 -
Complicações encontradas.
30
ix
Lista de tabelas
Tabela 1 -
Distribuição dos pacientes segundo idade e sexo (N (%)).
24
Tabela 2 -
Diagnóstico etiológico e número de cirurgias (N (%)).
25
Tabela 3 –
Antecedentes cirúrgicos (N(%)).
26
Tabela 4 –
Necessidade de remoção de concha média e de desvios
septais (N (%)).
27
Tabela 5 –
Uso de intensificador de imagem e pneumatização do
seio esfenoidal (N (%)).
27
Tabela 6 –
Intercorrências encontradas (N (%)).
28
Tabela 7 -
Sangramento nasal pós-operatório (N (%)).
28
Tabela 8 -
Conduta de acordo com a época de aparecimento do
sangramento nasal.
29
Tabela 9 –
Fístula liquórica nasal (N (%)).
29
Tabela 10 –
Conduta de acordo com a época de aparecimento da
fístula liquórica nasal.
30
Tabela 11 –
Meningite e época de aparecimento da fístula liquórica
(N (%)).
30
x
Lista de abreviaturas e símbolos
AC – Arco coanal.
ACI – Artéria carótida interna.
C – Clívus.
CI – Concha inferior.
CS – Concha superior.
DLE – Derivação liquórica lombar externa.
DS – Diafragma selar.
NO – Nervo óptico.
OSE – Óstio do seio esfenoidal.
RCO – Recesso carótido-óptico.
S – Septo nasal.
SED – Seio esfenoidal direito.
SEE – Seio esfenoidal esquerdo.
SIS – Septo intersinusal.
ST – Sela túrcica.
– Septações incompletas do seio esfenoidal.
xi
Resumo
A cirurgia dos tumores selares é tradicionalmente um campo de atuação dos
neurocirurgiões. Contudo, desde a retomada da abordagem transeptal-
transesfenoidal para acessar a sela túrcica, na década de sessenta do século
passado, os otorrinolaringologistas têm exercido importante parceria neste
procedimento. A divulgação da cirurgia endoscópica nasossinusal na
otorrinolaringologia criou o interesse pela sua aplicação na cirurgia da região selar.
O uso do endoscópio permitiu acesso transnasal direto ao seio esfenoidal sem a
necessidade de descolamento do septo nasal, com menor desconforto para o
paciente, além de morbidade pós-operatória inferior aos métodos tradicionais.
Objetivo: O objetivo deste trabalho foi verificar as dificuldades técnicas,
intercorrências e complicações pós-operatórias, no manejo otorrinolaringológico do
acesso transnasal endoscópico à sela túrcica. Método: Foram analisados
retrospectivamente os prontuários e imagens de arquivo de 159 pacientes
submetidos à cirurgia da região selar entre março de 2001 e dezembro de 2005, na
Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina. Foram incluídos
neste estudo 91 pacientes submetidos a um total de 95 procedimentos por via
transnasal endoscópica. Resultados: Foi possível a realização da técnica
endoscópica transnasal em todos os pacientes estudados, independente de idade,
presença de variações anatômicas, características e etiologia do tumor, e
antecedente de cirurgia prévia. Não houve necessidade de remoção da concha
média ou correção de desvios septais para realização do procedimento cirúrgico em
nenhum dos casos. A principal intercorrência foi a abertura do diafragma selar
durante a remoção de tumores, causando fístula liquórica intra-operatória em
13,68% dos casos. As complicações pós-operatórias encontradas foram:
sangramento nasal (8,42%), fístula liquórica (8,42%), e meningite (2,19%).
Conclusão: O acesso endoscópico transnasal aos tumores selares pôde ser
realizado de forma minimamente invasiva, preservando-se as estruturas nasais nos
95 procedimentos estudados, independente da idade do paciente, características e
etiologia do tumor.
Introdução 1
1 INTRODUÇÃO
A cirurgia dos tumores selares é tradicionalmente um campo de atuação dos
neurocirurgiões. Contudo, desde a retomada da abordagem transeptal-
transesfenoidal para acessar a sela túrcica, na década de sessenta do século
passado, os otorrinolaringologistas têm exercido importante parceria no tratamento
cirúrgico dos pacientes com adenomas hipofisários. Tradicionalmente realizado por
neurocirurgiões no passado, o acesso transesfenoidal vem recebendo a contribuição
do conhecimento dos otorrinolaringologistas na área da cirurgia nasossinusal,
auxiliando na exposição da sela túrcica e minimizando lesões das estruturas nasais.
Em muitos centros, atualmente, o neurocirurgião e o otorrino formam uma equipe na
cirurgia da hipófise, diminuindo os índices de complicações, como a perfuração
septal, fistulas liquóricas e problemas funcionais do nariz.
O acesso à sela túrcica por craniotomia frontal foi descrito em 1905 por
Fedor Krause, cirurgião de Berlim, após tentativas sem sucesso de outros cirurgiões
em abordar os tumores hipofisários. Pioneiros da neurocirurgia, como Walter Dandy,
George Heuer, Charles Frazier e Harvey Cushing, aprimoraram a técnica descrita
inicialmente, e lançaram as bases para os acessos transcranianos contemporâneos.
As dificuldades associadas a essas primeiras cirurgias transcranianas, como altas
taxas de morbidade e mortalidade, impulsionaram o desenvolvimento de abordagens
extracranianas às lesões selares (Kanter, 2005).
De acordo com Liu et al (2001), o acesso transesfenoidal foi idealizado pelo
cirurgião italiano Davide Giordano em 1897, em seus estudos anatômicos em
cadáveres. Giordano propôs um acesso transglabelar-transfacial à sela túrcica. Em
março de 1907 este acesso foi realizado pela primeira vez com sucesso, pelo
cirurgião vienense Herman Schloffer (Schloffer, 1907). A cirurgia foi realizada em
três etapas, sob anestesia local com cocaína. Na primeira, uma incisão paranasal
era prolongada até a glabela, o nariz deslocado lateralmente, e o septo e as conchas
nasais removidos. A segunda etapa consistia na remoção do vômer e parede
anterior do seio esfenoidal. Na etapa final a mucosa esfenoidal e o assoalho selar
eram removidos.
Introdução 2
Oskar Hirsch, também de Viena, foi o primeiro a realizar um acesso
completamente endonasal, evitando a rinotomia lateral (Hirsch, 1910). Por uma
abordagem transeptal transesfenoidal, Hirsch realizou uma remoção em estágios
durante um período de cinco semanas, com procedimentos sob anestesia local. Foi
o primeiro a utilizar um espéculo nasal na cirurgia da hipófise. Albert Halstead de
Chicago, introduziu como variante o acesso sublabial (Halstead, 1910), popularizado
por Harvey Cushing, que realizou mais de duzentas cirurgias por essa via, para
exérese de tumores de hipófise (Cushing, 1914). Esta técnica, após alguns anos, foi
substituída pela craniotomia frontal, devido a limitações como campo operatório
estreito, iluminação deficiente e risco de infecção.
Na América do Sul, o otorrinolaringologista argentino Eliseo Victor Segura
(1870-1946) modificou e aperfeiçoou a técnica endonasal descrita por Hirsch em
1910, embora nunca citado nas publicações médicas mais recentes. Além disso,
Segura desenhou pessoalmente instrumentos cirúrgicos apropriados para a
realização deste procedimento, e seu irmão os produziu (Segura, 1916).
Apenas na década de sessenta a abordagem transesfenoidal para acesso à
hipófise foi retomada e divulgada por todo o mundo. Foram determinantes, para
tanto, a introdução do intensificador de imagem para confirmação da trajetória
cirúrgica pelo francês Gerard Guiot (Guiot, Thibault, 1959), e do microscópio
cirúrgico, que proporcionou iluminação e magnificação muito superiores, por Jules
Hardy, de Montreal (Hardy, 1962). Desde então, o acesso transeptal-transesfenoidal
tem sido a abordagem padrão para a cirurgia da hipófise e ressecção de tumores da
região selar.
Esforços para melhorar a técnica cirúrgica têm sido feitos e, com o
desenvolvimento da cirurgia endoscópica nasossinusal e instrumentos cirúrgicos
apropriados, a via transnasal endoscópica tem ganhado mais espaço. O aumento da
popularidade da cirurgia endoscópica nasossinusal na otorrinolaringologia criou uma
nova área de interesse: sua aplicação na cirurgia da hipófise. Seu uso permitiu
acesso transnasal direto ao seio esfenoidal sem a necessidade de descolamento do
septo nasal, com menor desconforto e morbidade pós-operatória inferior aos
métodos tradicionais (Cappabianca et al, 2000, 2002a). Ainda na década de
sessenta, Guiot e colaboradores reconheceram a utilidade do endoscópio na cirurgia
hipofisária, com suas explorações endoscópicas do conteúdo selar durante
abordagens transesfenoidais clássicas, permitindo expandir o campo visual a áreas
Introdução 3
antes inacessíveis visualmente (Guiot et al, 1963). Este foi o início da
microneurocirurgia assistida por endoscopia na cirurgia transesfenoidal. Jankowski
et al (1992) operaram três pacientes com adenomas de hipófise por via
endoscópica, sem o uso de microscópio cirúrgico, através de um acesso transnasal
direto. Sethi, Pillay (1995) utilizaram uma via endoscópica transeptal com auxílio de
espéculos nasais. Jho, Carrau (1997) foram os primeiros a publicar uma experiência
com número considerável de pacientes (48 procedimentos), no acesso endoscópico
transnasal à sela túrcica. Sistematizaram o acesso direto ao seio esfenoidal, sem
necessidade de abordar o septo nasal ou outros seios paranasais.
Desde então, inúmeras variações técnicas do acesso transnasal
endoscópico têm sido propostas, na procura por procedimentos cirúrgicos cada vez
menos invasivos. Encontram-se na literatura publicações de grupos que realizam a
cirurgia por uma ou pelas duas narinas; com um fixador segurando o endoscópio e
apenas o neurocirurgião executando o procedimento, sem a participação do
otorrinolaringologista; com o auxílio de endoscópios flexíveis; com ou sem o uso de
espéculo nasal; com ou sem a colocação de tampão nasal ao final do procedimento;
removendo as conchas nasais médias e/ou superiores, além de desvios septais,
para facilitar o acesso cirúrgico; fixando as conchas médias no septo nasal ao final
do procedimento; entre outras variações.
O objetivo deste trabalho é verificar as dificuldades técnicas, intercorrências
e complicações pós-operatórias, no manejo otorrinolaringológico do acesso
transnasal endoscópico à sela túrcica.
Revisão da Literatura 4
2 REVISÃO DA LITERATURA
Hamberger et al (1961) classificaram o seio esfenoidal em três tipos
diferentes, no que diz respeito à sua pneumatização: o seio tipo conchal
corresponde a um seio pequeno, que não atinge o corpo do osso esfenóide e é
separado da sela túrcica por uma parede óssea espessa; o tipo pré-selar, no qual o
limite posterior do seio não ultrapassa a metade anterior do assoalho selar; e o tipo
selar, o mais freqüente, em que a cavidade se estende por baixo da sela até o
clívus. Neste caso, o assoalho selar faz saliência acentuada para o interior do seio
esfenoidal. Os autores analisaram 163 seios esfenoidais e encontraram 3% do tipo
conchal, 11% do tipo pré-selar e 86% do tipo selar.
Jankowski et al (1992) foram os primeiros a utilizar o acesso endoscópico
transnasal para abordagem dos tumores selares. Operaram três pacientes por esta
via e concluíram que permite um acesso simples e rápido à sela túrcica, apesar de
mais experiência ser necessária para determinar seu papel na cirurgia dos tumores
selares. Em dois casos, o acesso foi por apenas uma narina; no outro, pelas duas
narinas, sempre removendo a concha média para melhor exposição da parede
anterior do seio esfenoidal.
Shikani & Kelli (1993) relataram ter realizado biópsia de tumor selar por via
transetmoidal endoscópica. Os autores referem que não conseguiram visibilizar o
óstio do seio esfenoidal entre a concha média e o septo nasal, optando então por
realizar uma esfenoetmoidectomia.
Wurster & Smith (1994) relataram sucintamente, em “carta ao editor”, dois
casos de pacientes com adenomas hipofisários, abordados cirurgicamente por via
transnasal endoscópica por apenas uma narina. Um dos pacientes evoluiu com uma
fístula liquórica no terceiro dia após a cirurgia, e o outro não apresentou
intercorrências.
Sethi & Pillay (1995) operaram 40 pacientes por dois tipos de acessos
endoscópicos. Em 36 deles realizaram uma via transseptal com auxílio de espéculo
nasal. Realizaram uma incisão hemi-transfixante no septo nasal, descolamento e
luxação do septo cartilaginoso, e remoção do vômer. Ao final do procedimento a
cartilagem era reposicionada e o septo suturado. Utilizaram splints nasais de silicone
e tampões de Merocel
®
. Em quatro pacientes utilizaram uma via transetmoidal
endoscópica, com remoção parcial da concha média para melhor exposição do seio
Revisão da Literatura 5
esfenoidal. Fístulas liquóricas detectadas durante a cirurgia foram corrigidas com
Surgicel
®
e cola biológica na região selar, e colocação de gordura abdominal no seio
esfenoidal.
Cusimano & Fenton (1996) relataram o caso de uma paciente portadora de
macroadenoma hipofisário, submetida à ressecção parcial do tumor por via
endoscópica, com ressecção de concha média e lulas etmoidais, realizada por
uma das narinas. Foi detectada fístula liquórica durante a cirurgia, corrigida com cola
de fibrina, gordura e fáscia lata. A cavidade nasal foi tamponada com gaze.
Rodziewicz et al (1996) operaram dez pacientes portadores de
macroadenomas hipofisários por via endoscópica transseptal. Descolaram a mucosa
septal da fossa nasal direita, e introduziram os instrumentos por este lado. O
endoscópio foi introduzido pela fossa nasal esquerda, atingindo o seio esfenoidal por
uma incisão na mucosa nasal posterior, e fixado por meio de um braço mecânico.
Utilizaram espéculo nasal e tamponamento anterior ao final do procedimento. Um
dos casos apresentou fístula liquórica no intra-operatório, sendo submetido à
colocação de gordura abdominal e cola biológica no seio esfenoidal. Na opinião dos
autores, a cirurgia realizada pelas duas narinas reduz significativamente a
interferência entre os instrumentos e o endoscópio, evitando desgaste
desnecessário.
Jho & Carrau (1997) sistematizaram o acesso transnasal endoscópico, sem
a necessidade de dissecção do septo nasal. Realizaram 52 cirurgias
transesfenoidais em 50 pacientes. Inicialmente, quatro pacientes foram submetidos
à cirurgia pelo acesso sublabial, utilizando-se o endoscópio como complemento ao
microscópio no final da cirurgia. Nos 48 procedimentos seguintes, foi utilizado o
acesso direto ao seio esfenoidal, feito por apenas uma narina na maioria dos casos,
com o uso de braço mecânico para fixar o endoscópio. Apenas em dois casos os
autores utilizaram o acesso através das duas narinas, pois a passagem pela fossa
nasal era muito estreita. Enxertos de gordura abdominal foram colocados na sela
nos casos de fístulas liquóricas detectadas durante a cirurgia; fragmentos ósseos
foram utilizados para reconstrução selar.
Heilman et al (1997) utilizaram o acesso transnasal endoscópico em nove
pacientes, sendo que em quatro deles o procedimento foi totalmente realizado com o
endoscópio; nos outros cinco o endoscópio foi utilizado apenas para o acesso ao
seio esfenoidal e para a inspeção da sela túrcica ao final, sendo a remoção do tumor
Revisão da Literatura 6
realizada com o auxílio de microscópio e espéculo nasal. Os autores referem que a
inspeção da sela túrcica com o endoscópio, após a remoção do tumor, não traz
benefícios significativos, pois o espaço no interior da sela é limitado, sujando a ponta
do endoscópio com sangue repetidamente.
Cappabianca et al (1998) publicaram experiência inicial com 15 pacientes
submetidos à cirurgia endoscópica transnasal de lesões selares. Empregaram
técnica semelhante à de Jho, Carrau (1997), por uma narina, sem o uso de
espéculos nasais, e propuseram o termo cirurgia endoscópica funcional da hipófise
(FEPS), devido à maior preservação das estruturas nasossinusais oferecida por esta
técnica. Os autores discutem as vantagens e limitações desta técnica em relação ao
acesso transesfenoidal tradicional.
Alfieri (1999) relatou sua experiência com 50 pacientes submetidos à
cirurgia transnasal da região selar. Segundo o autor, esta abordagem permite
acesso mais fácil às lesões (especialmente nos tumores recorrentes), remoção mais
completa de tumores volumosos, diminuição das complicações otorrinolaringológicas
pós-operatórias, e diminuição do período de internação. As principais limitações
apontadas foram a visão bidimensional produzida pelo endoscópio e a falta de
instrumentos adequados. Concluiu que a inexistência de instrumentos apropriados
se deve ao fato de que menos espaço para se trabalhar através da narina,
podendo ocorrer um conflito entre estes e o endoscópio, além de que a introdução
dos instrumentos às cegas pode causar lesões na mucosa nasal.
Stamm et al (2000) publicaram, em nosso meio, sua experiência com
cirurgia endoscópica transnasal em 64 pacientes com tumores hipofisários.
Utilizaram dois tipos de acesso: o transseptal endoscópico, com auxílio de espéculo
nasal, e o acesso transnasal direto, sem a necessidade de espéculo nasal. No
acesso transnasal direto, ressecaram parcialmente a concha dia, quando havia
pouco espaço, e colocaram enxertos de gordura abdominal na sela túrcica, nos
casos de fístulas liquóricas detectadas durante a cirurgia. Utilizaram tamponamento
nasal anterior por dois dias. Os autores ressaltam sua preferência por não fixar o
endoscópio, para manter o dinamismo do procedimento.
Moreland et al (2000) operaram três pacientes por via endoscópica
transnasal, utilizando um acesso unilateral e abordando apenas um seio esfenoidal,
sem remover o septo intersinusal. Não foi necessária a remoção da concha média
ou de desvios septais, mas os autores ressaltam que esta via só deve ser utilizada
Revisão da Literatura 7
para casos selecionados de tumores confinados à sela túrcica. Após a abertura do
seio esfenoidal, o endoscópio foi fixado por braço mecânico, permitindo que o
neurocirurgião trabalhasse com as duas mãos simultaneamente. Os autores
discutem que a maioria dos otorrinolaringologistas é familiarizada com o uso do
endoscópio e com a anatomia nasal, e recomendam aos neurocirurgiões que
trabalhem com eles nos primeiros casos.
Cappabianca et al (2000) publicaram sua experiência com cirurgia
endoscópica transnasal da região selar em caso de tumores residuais ou
recidivados. Analisaram doze casos de pacientes com tumores operados
previamente pela via transesfenoidal com uso de microscópio, ou por meio de
craniotomia, e chegaram à conclusão que a cirurgia endoscópica pode ser
considerada, na maioria dos casos, a abordagem de escolha num segundo
procedimento para tratar tais tumores, uma vez que é pouco agressiva. Os autores
comentam, ainda, que uma segunda cirurgia pode postergar a indicação de métodos
mais agressivos de tratamento, como a radioterapia, além de diminuir a área a ser
irradiada, tornando-a mais eficiente e com menos efeitos colaterais.
Jho & Alfieri (2001) relataram sua experiência com mais de 150 casos de
cirurgia endoscópica transnasal de tumores hipofisários, utilizando o acesso por uma
das narinas, sem remover a concha média, e com uso de braço mecânico para fixar
o endoscópio após a abertura do seio esfenoidal. Não utilizaram intensificador de
imagem para confirmação da trajetória dos instrumentos cirúrgicos, pois referem que
a altura da margem inferior da concha média pode ser utilizada como referência
anatômica para a abertura selar.
Thomas et al (2002) operaram onze pacientes pela via transnasal
endoscópica, com auxílio de sistema de navegação. Os autores utilizaram uma via
transetmoidal endoscópica bilateral, com o endoscópio fixo pela narina esquerda e
os instrumentos introduzidos pela narina direita. A concha média foi ressecada
parcialmente para facilitar o acesso ao seio esfenoidal e para ser utilizada como
enxerto livre nos casos de fístula liquórica intra-operatória. Ressaltam que este é um
acesso freqüentemente utilizado pelos otorrinolaringologistas nas cirurgias sinusais,
o que facilita o trabalho em equipe.
Arnholt & Mair (2002) publicaram trabalho sobre o uso de um fixador
pneumático de endoscópio, inicialmente criado para ser utilizado em laparoscopia.
Operaram 30 pacientes com o uso desse equipamento, sendo nove deles de cirurgia
Revisão da Literatura 8
endoscópica da região selar. Além disso, compararam o equipamento com outros
três tipos de fixadores existentes. Chegaram à conclusão de que o fixador
pneumático foi superior aos outros três modelos (mecânicos), por ser mais preciso e
mais fácil de movimentar, podendo ser movido com apenas uma das mãos.
De Divitiis & Cappabianca (2002) publicaram sua experiência de 140
pacientes submetidos à cirurgia endoscópica transnasal de tumores da região selar,
por via unilateral, com uso de braço mecânico para fixação do endoscópio.
Detalharam e sistematizaram a técnica operatória, além de apresentarem seus
resultados cirúrgicos e complicações.
Cappabianca et al (2002a) relataram as complicações associadas ao
acesso transnasal endoscópico aos tumores da região selar. Analisaram 146
pacientes submetidos consecutivamente a este procedimento e dividiram as
complicações em grupos, de acordo com a estrutura anatômica ou sistema
envolvido. Definiram as seguintes categorias de complicações: nasofacial, seio
esfenoidal, sela túrcica, supra-selar, parasselar e endocrinológica. Encontraram dois
casos de epistaxe, três de sinusite esfenoidal, três de fístula liquórica, um caso de
meningite, entre outras complicações. Concluíram que o acesso endoscópico, desde
que siga uma série de recomendações feitas pelos autores, apresenta uma
incidência de complicações inferior ao acesso microscópico.
Cappabianca et al (2002b) analisaram os resultados cirúrgicos dos cem
primeiros procedimentos endoscópicos transnasais, concluindo que, apesar do curto
período de acompanhamento pós-operatório, eles foram comparáveis aos resultados
obtidos pelos autores antes do uso da abordagem endoscópica, e que os índices de
complicações e o tempo médio de internação foram significativamente menores.
Cappabianca et al (2002c) descrevem diferentes técnicas e materiais
utilizados na reconstrução selar após o acesso transnasal endoscópico. As
indicações de reconstrução selar são analisadas numa série de 170 casos, dos
quais 47 (27,6%) necessitaram do procedimento. A principal indicação encontrada
foi a ocorrência de fístula intra-operatória (14,1%). Os autores concluíram que um
terço dos pacientes necessitaram de reconstrução selar, e que a técnica e material
ideais devem ser escolhidos conforme o caso.
Ohhashi et al (2002), publicaram sua experiência com o uso de sistema de
navegação por imagem (Insta Trak System
®
), em cirurgia endoscópica transnasal da
região selar. Os autores utilizaram o sistema em 31 pacientes submetidos a uma
Revisão da Literatura 9
abordagem endoscópica transetmoidal, feita por ambas as narinas, com remoção
das conchas superiores. Utilizaram gordura abdominal para preencher a região
selar, ao final de todos os procedimentos, e placa de cerâmica para reconstruir o
assoalho selar nos casos de fístula liquórica detectada durante a cirurgia.
Realizaram tamponamento nasal anterior bilateral por cinco a seis dias. Os
procedimentos nasais da cirurgia foram realizados por otorrinolaringologista; a partir
da abertura selar, o endoscópio foi colocado pela fossa nasal esquerda e os
instrumentos, manipulados pelo neurocirurgião, pela fossa nasal direita.
Kawamata et al (2002a) publicaram sua experiência com o uso de sistema
de navegação, em doze pacientes submetidos à cirurgia endoscópica transnasal da
hipófise. O sistema permitiu a sobreposição de imagens tridimensionais do tumor e
de estruturas anatômicas vizinhas (como a artéria carótida interna e nervo óptico),
com a imagem endoscópica cirúrgica em tempo real. Além disso, localizou os
instrumentos nos planos axial, coronal e sagital da tomografia computadorizada e da
ressonância magnética nuclear. Os autores referem que este sistema oferece
recursos superiores aos sistemas de navegação convencionais, e foi extremamente
útil na ressecção dos tumores hipofisários.
Lasio et al (2002) utilizaram sistema de navegação por imagem em 11
casos de reoperações de tumores de hipófise. Concluíram que o equipamento torna
a cirurgia mais fácil, rápida e, provavelmente, mais segura.
White et al (2004) compararam as 50 primeiras cirurgias endoscópicas
transnasais, com as 50 últimas cirurgias por via sublabial microscópica.
Encontraram, no grupo submetido à cirurgia por via endoscópica, um número
significativamente menor das seguintes complicações: epistaxe pós-operatória,
anestesia labial e desvio de septo nasal. Não encontraram diferença estatística entre
os grupos no que diz respeito a fístula liquórica, meningite, oftalmoplegia, perda de
acuidade visual, diabetes insípido, hemorragia intracraniana e óbito. Além disso, nos
pacientes submetidos à técnica endoscópica, o tempo de internação foi menor,
assim como o uso de drenos lombares e tampões nasais. Os autores utilizaram uma
técnica endoscópica bilateral, com abertura direta do seio esfenoidal, e uso de braço
mecânico para fixar o endoscópio, pela narina esquerda.
Sonnenburg et al (2004) analisaram retrospectivamente 45 casos de cirurgia
endoscópica da região selar, na tentativa de estabelecer se havia uma curva de
aprendizado nesse tipo de procedimento. Para tanto, dividiram os pacientes em três
Revisão da Literatura 10
grupos de 15, comparando a incidência das seguintes complicações entre os
grupos: óbito, hemorragia cerebral, fístula liquórica intra e pós-operatória, uso de
dreno lombar, meningite, epistaxe, oftalmoplegia, perda de acuidade visual e
diabetes insipidus. o encontraram diferença significante entre os grupos no que
diz respeito às complicações, e concluíram que não houve curva de aprendizado
para os primeiros 45 casos de cirurgia endoscópica da região selar. Comentaram,
ainda, que esses achados apóiam o conceito de que uma equipe multidisciplinar,
com otorrinolaringologista e neurocirurgião, com habilidade em cirurgia endoscópica
e cirurgia hipofisária, pode fazer com segurança a transição de acessos tradicionais
para acessos endoscópicos.
Cappabianca & De Divitiis (2004) escreveram sobre a história do uso do
endoscópio na medicina e, mais especificamente, na cirurgia transesfenoidal da
região selar. Relataram que o número de complicações cosméticas e funcionais da
cirurgia endoscópica é menor do que o observado na cirurgia microscópica
transesfenoidal.
Cappabianca et al (2004a) descreveram minuciosamente seu acesso
cirúrgico endoscópico unilateral para tumores da região selar, chamando a atenção
para pontos anatômicos de referência e detalhes técnicos, especialmente no que se
refere à hemostasia durante o procedimento. Salientaram a importância do
anestesiologista para a obtenção de um campo operatório limpo.
Cappabianca et al (2004b) publicaram trabalho sobre os equipamentos e
instrumentos utilizados na cirurgia endoscópica dos tumores selares. Ressaltaram a
importância de se desenvolver materiais específicos para este tipo de cirurgia, em
vez de se utilizar os instrumentos de especialidades vizinhas de forma adaptada.
Concluíram que os instrumentos ideais para esta cirurgia ainda o foram
concebidos, e que o desenvolvimento nesta área deve trazer melhores resultados e
maior segurança aos procedimentos.
Cappabianca et al (2004c) publicaram estudo sobre a eficácia do colágeno
em associação à cola de fibrina, na prevenção da fístula liquórica após a cirurgia
endoscópica da hipófise. Os autores compararam um grupo de pacientes, no qual foi
utilizada apenas a cola de fibrina (Tissucol
®
), com um grupo no qual ela foi utilizada
em associação com o colágeno (Tissuflee
®
). Chegaram à conclusão de que a
associação das duas substâncias diminuiu a ocorrência de fístulas liquóricas pós-
operatórias, bem como a necessidade de drenagem lombar externa.
Revisão da Literatura 11
Cavallo et al (2004) analisaram, retrospectivamente, as complicações
hemorrágicas de 250 pacientes submetidos à cirurgia endoscópica transnasal da
região selar. Dividiram as complicações em dois grupos: a) complicações nasais e
esfenoidais (epistaxe) e b) complicações da sela túrcica (lesão da artéria carótida
interna e do seio intercavernoso). Encontraram quatro casos de epistaxe pós-
operatória. Um deles foi tratado com tamponamento nasal unilateral por dois dias;
um caso foi submetido a tamponamento nasal posterior por dois dias e, em seguida
à cauterização cirúrgica de ramo da artéria esfenopalatina; dois casos foram
submetidos a tamponamento ântero-posterior por dois dias, seguido de embolização
seletiva da artéria esfenopalatina. Os autores relataram, ainda, um caso de lesão da
artéria carótida interna, no qual o sangramento foi controlado com tamponamento
nasal, e o paciente foi submetido a procedimento de colocação de stent por via
endovascular.
Doglietto et al (2005) publicaram trabalho sobre a história do endoscópio
(seu desenvolvimento técnico e aplicação), desde o primeiro endoscópio,
desenvolvido por Philipp Bozzini em 1806, até o Primeiro Congresso Mundial de
Cirurgia Endoscópica da Base do Crânio em 2005, em Pittsburgh (EUA). Os autores
referem que, nos últimos trinta anos, o endoscópio foi utilizado para o tratamento de
doenças dos seios paranasais, e, mais recentemente, no tratamento cirúrgico dos
tumores hipofisários. Ressaltaram que a colaboração entre otorrinolaringologistas e
neurocirurgiões permitiu o desenvolvimento de novos procedimentos cirúrgicos, para
o tratamento de diversas doenças da base do crânio.
Har–El (2005) publicou trabalho sobre sua experiência, como
otorrinolaringologista, em realizar acessos endoscópicos para neurocirurgiões desde
1997. Utilizou um acesso endoscópico unilateral, com ressecção da concha superior,
e, em alguns casos, ressecção parcial da concha média. O autor refere que uma das
principais dificuldades em implementar o acesso endoscópico à hipófise em seu
serviço foi conseguir fazer com que os neurocirurgiões se tornassem familiarizados
com os instrumentos e técnicas endoscópicas. Em sua opinião, os
otorrinolaringologistas que têm experiência significativa com a cirurgia endoscópica
dos seios paranasais se sentem à vontade em estender suas indicações, mas os
neurocirurgiões que tiveram seu treinamento em cirurgia microscópica necessitam
de um período de adaptação.
Revisão da Literatura 12
Kanter et al (2005) elaboraram uma revisão histórica sobre o acesso
transesfenoidal para a hipófise, desde que foi idealizado no final do século
dezenove, até os dias de hoje, em que sua indicação vem se estendendo a outras
regiões, com o terceiro ventrículo como limite superior e a transição craniocervical
como limite inferior.
Rudnik et al (2005) publicaram sua experiência com 70 pacientes operados
por via endoscópica unilateral. Fraturaram a concha média e coagularam a mucosa
do recesso esfenoetmoidal, além de sempre utilizarem intensificador de imagem
para localização da parede anterior do seio esfenoidal. Os autores também
preconizaram o uso de spray nasal de neomicina por 48 horas no pré-operatório.
Chamam a atenção para a importância da reconstrução selar em todos os casos.
Dependendo do caso utilizaram apenas Gelfoam
®
na cavidade após a remoção do
tumor; quando ocorreu prolapso da membrana aracnóide, utilizaram também cola de
fibrina e cartilagem removida do septo nasal. Ao detectarem fístula liquórica durante
a cirurgia, utilizaram fragmentos de dura-máter artificial, e, eventualmente, dreno
lombar. Apesar de, em 28% dos casos, terem ocorrido fístulas liquóricas durante o
procedimento, em nenhum deles houve stula ou meningite no pós-operatório.
Referiram, ainda, que optaram por não fixar o endoscópio, acreditando que o
aparelho livre, na mão do cirurgião, permite maior liberdade de movimentos.
Kassam et al (2005) relataram métodos de controle de sangramento em
“endoneurocirurgia”, a partir de sua experiência de 400 casos operados por via
endoscópica. Descreveram em detalhes a necessidade de novos instrumentos,
como pinças articuladas, para cauterização bipolar, de vários tamanhos e modelos.
Chamaram a atenção para o uso de diversas substâncias novas, com capacidade
hemostática, que podem ser aplicadas no local do sangramento durante o
procedimento. Referem que as técnicas de hemostasia devem ser dominadas para
se realizar endoneurocirurgia com segurança, e que o risco de complicações
vasculares é minimizado com uma adequada preparação pré-operatória, grande
conhecimento anatômico, técnica de dissecção apropriada, familiaridade com os
novos materiais hemostáticos e plano de tratamento para situações de emergência.
Van Lindert & Grotenhuis (2005) descreveram um novo equipamento com o
qual se pode acoplar ao endoscópio um aspirador maleável, permitindo uma cirurgia
bi-manual, sem o uso de um braço mecânico para fixar o endoscópio. Utilizaram o
equipamento em 30 pacientes submetidos à cirurgia endoscópica da região selar,
Revisão da Literatura 13
por acesso bilateral, de forma que o cirurgião segura o endoscópio acoplado ao
aspirador com a mão esquerda, e os instrumentos com a mão direita. Os autores
comentam as desvantagens do uso de um fixador para o endoscópio, que pode não
mantê-lo no local desejado por todo o tempo, leva a uma perda de tempo se for
necessário limpar sua ponta, pois é preciso soltar a fixação e depois recolocá-la, e
pode atrapalhar as manobras com os instrumentos cirúrgicos, limitando sua
movimentação quando o campo cirúrgico é pequeno (especialmente nos acessos
unilaterais), podendo levar a movimentos bruscos.
Senior et al (2005) publicaram trabalho sobre o uso de um sistema de
irrigação nasal e sucção, em 50 pacientes submetidos à cirurgia endoscópica
hipofisária. O otorrinolaringologista realizou o acesso ao seio esfenoidal, entregando
em seguida o paciente ao neurocirurgião, que ressecou os tumores com o
endoscópio fixo em braço mecânico, colocado pela fossa nasal esquerda. Em
seguida, o otorrinolaringologista utilizou endoscópios angulados associados ao
sistema de irrigação nasal, para explorar a sela túrcica à procura de restos tumorais
(hidroscopia). Os autores concluíram que o uso desse sistema melhorou muito o
exame da região selar, facilitando a remoção tumoral. Além disso, são da opinião de
que o otorrinolaringologista desempenha papel essencial neste exame, com a
manipulação de endoscópios angulados.
Schwartz et al (2006) relataram sua experiência com o uso de ressonância
magnética intra-operatória em 15 casos de cirurgia endoscópica transnasal da
região selar. Realizaram acesso bilateral, com uso de fixação para o endoscópio
pela fossa nasal esquerda, e manipulação dos instrumentos pela fossa nasal direita.
Injetaram solução vasoconstritora na concha média e na região das artérias
esfenopalatinas. Em três casos, nos quais as imagens geradas ao final do
procedimento apontavam tumor residual, foi possível identificar e remover os restos
tumorais sob visão endoscópica. Em outros quatro casos, nos quais as imagens
apontaram restos tumorais, a inspeção endoscópica mostrou que se tratavam de
alterações secundárias ao procedimento cirúrgico. Utilizaram gordura abdominal,
fragmentos ósseos do vômer e cola biológica para fechar a sela túrcica em todos os
casos. Em cinco casos foram detectadas fístulas liquóricas significativas durante a
cirurgia, sendo utilizada drenagem lombar.
Santos & Cunha Filho (2006) publicaram trabalho sobre a técnica transnasal
endoscópica, realizada por ambas as narinas, sem o auxílio do fixador de
Revisão da Literatura 14
endoscópio. O otorrinolaringologista posicionou-se à direita do paciente manejando
o endoscópio, e participou desde o início até o final do procedimento, propiciando
uma adequada visão do campo operatório ao neurocirurgião, que se posicionou à
esquerda do paciente, manipulando os instrumentos cirúrgicos.
Rudnik et al (2006) realizaram 20 procedimentos endoscópicos transnasais
em pacientes portadores de tumores residuais ou recidivados da região selar. Os
autores concluíram que esta via supera a via transeptal ou sublabial nos casos de
reoperação, pois não necessidade de descolar o septo nasal, que foi
manipulado em procedimentos anteriores, o que diminui o tempo de cirurgia e causa
menos desconforto no pós-operatório.
Método 15
3 MÉTODO
Após aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de
São Paulo (CEP 1787/05), foram analisados, retrospectivamente, os prontuários e
imagens de arquivo dos pacientes submetidos à cirurgia de tumores da região selar,
no período de março de 2001 a dezembro de 2005.
Critérios de inclusão: Foram incluídos todos os pacientes submetidos à
cirurgia de tumores selares pela via endoscópica transnasal, sem o uso de
microscópio cirúrgico.
Indicação cirúrgica: Todos os pacientes tiveram indicação cirúrgica
definida a partir de discussão de seus quadros clínicos e exames radiológicos, na
reunião multidisciplinar do Setor de Neuroendocrinologia. Além de endocrinologistas,
discutem semanalmente os casos: integrantes do Departamento de Diagnóstico por
Imagem, da Disciplina de Neurocirurgia e da Disciplina de Otorrinolaringologia.
Técnica cirúrgica:
Posicionamento do paciente e equipe
O paciente foi colocado em posição supina na mesa operatória, sob
anestesia geral e intubação orotraqueal. O dorso foi elevado aproximadamente 10º,
e a cabeça inclinada 10º para a direita. A inclinação da cabeça no plano vertical
variou em função da localização da lesão. Para lesões que acometiam
preferencialmente o seio esfenoidal e clívus, a cabeça foi fletida levemente,
enquanto que para lesões que acometiam a região supra-selar e plano esfenoidal, a
cabeça foi colocada em posição neutra ou levemente hiperestendida. O
otorrinolaringologista posicionou-se à direita do paciente e o neurocirurgião, à
esquerda deste. O instrumentador ou assistente posicionou-se também à direita do
paciente, na altura de seus membros inferiores. O anestesista posicionou-se à
esquerda do paciente, próximo aos pés deste. O equipamento de cirurgia
videoendoscópica (monitor, câmera, fonte de luz e equipamento para
documentação) foi colocado atrás da cabeça do paciente, de modo que tanto o
neurocirurgião quanto o otorrinolaringologista pudessem ver o monitor
confortavelmente. Foi realizada antissepsia da face e parede abdominal com
Método 16
solução de gluconato de clorohexidine aquoso a 0,2%, e colocados campos estéreis
(Figura 1).
Figura 1 – Disposição da equipe cirúgica.
Equipamento
Foram utilizados endoscópios rígidos de 4 mm de diâmetro e 18 cm de
comprimento, com angulações de zero e 45º (Karl Storz, GmbH and Co, Tuttlingen,
Germany); fonte de luz fria de Xenônio de 300 Watts, (Karl Storz, GmbH and Co,
Tuttlingen, Germany); câmera de 3 chips modelo Tricam SL, (Karl Storz, GmbH
and Co, Tuttlingen, Germany); e monitor de alta resolução (Sony). As imagens foram
gravadas em fitas VHS ou mini-DV (digital).
Identificação dos pontos de referência na cavidade nasal
Introduziu-se o endoscópio por uma das narinas, paralelamente ao assoalho
da cavidade nasal, e as primeiras estruturas identificadas foram a cabeça da concha
inferior lateralmente e o septo nasal medialmente. Superior e posteriormente à
concha inferior, foi identificada a inserção da concha média. O endoscópio foi então
avançado ao longo do assoalho nasal até a região da coana, permitindo a
identificação de seu limite medial, o vômer (septo nasal); seu teto, a parede inferior
do seio esfenoidal (arco coanal); e na sua região lateral, a cauda da concha inferior
(Figura 2).
Método 17
Figura 2 – Pontos de referência na cavidade nasal.
AC – Arco coanal. S – Septo nasal. CI – Concha inferior.
Preparação das fossas nasais
Sob visão endoscópica, cotonóides longos embebidos em adrenalina na
concentração 1:1000 foram colocados em ambas as fossas nasais, entre a concha
média e o septo nasal, com a intenção de promover vasoconstrição, diminuindo o
sangramento intra-operatório e permitindo um campo visual mais limpo. Após
aproximadamente cinco minutos, os cotonóides eram removidos e a concha média
era suavemente deslocada lateralmente, evitando-se fraturá-la próximo à sua
inserção. Progrediu-se então com o endoscópio até o recesso esfenoetmoidal, de
forma que a concha superior e a parede anterior do seio esfenoidal fossem
identificadas. Pequenos cotonóides foram então colocados nesta região por dois a
três minutos. Uma vez retirados, o espaço entre a concha média e o septo nasal
tornava-se maior, facilitando a identificação do óstio do seio esfenoidal.
Óstio do seio esfenoidal
A abertura do óstio do seio esfenoidal consistiu, efetivamente, no primeiro
passo cirúrgico. Os pontos de referência mais importantes utilizados para sua
localização foram o arco coanal e a cauda da concha superior. Seguindo-se pelo
Método 18
recesso esfenoetmoidal, aproximadamente 1,5 cm acima do arco coanal, encontrou-
se o óstio do seio esfenoidal, próximo à cauda da concha superior (Figura 3).
Quando o óstio não era visível, deslocava-se a cauda da concha superior e
eventualmente da concha suprema lateralmente, palpando-se com suavidade a
parede anterior do seio esfenoidal até encontrar-se o ponto de menor resistência,
correspondente ao óstio, por vezes recoberto por mucosa redundante. A abertura do
óstio foi feita com pinça tipo Kerrison delicada, ou pinça própria de seio esfenoidal
de Stammberger, inicialmente em direção inferior e medial, evitando-se assim lesão
de estruturas nobres que estão posicionadas superior e lateralmente ao seio, como
o nervo óptico e a artéria carótida interna. Realizou-se então uma ampla remoção de
toda a parede anterior do seio esfenoidal. O mesmo procedimento foi realizado pela
fossa nasal contralateral, obtendo-se assim uma ampla esfenoidotomia bilateral.
Figura 3 - Óstio do seio esfenoidal esquerdo.
AC – Arco coanal. S – Septo nasal. CS – Concha superior.
OSE – Óstio do seio esfenoidal.
Método 19
Septo nasal e intersinusal
Removeu-se, então, parte do septo nasal posterior, aproximadamente 1,0 a
1,5 cm, suficiente para que se obtivesse acesso aos seios esfenoidais através de
ambas as fossas nasais, simultaneamente. Esta remoção foi realizada com o auxílio
de pinça de corte retrógrado ou Kerrison. O septo intersinusal foi então
cuidadosamente removido com pinça cortante, evitando-se a fratura inadvertida do
assoalho selar, e, a partir deste ponto, foi utilizada a abordagem simultânea através
das duas fossas nasais, posicionando-se o otorrinolaringologista pela fossa nasal
direita e o neurocirurgião pela fossa nasal esquerda. Além do septo ósseo
intersinusal, sagital e geralmente paramediano, que separa completamente o seio
esfenoidal direito e esquerdo, algumas vezes existem outras septações, verticais ou
oblíquas, sempre incompletas, em maior ou menor número, no seio esfenoidal. Tais
septações foram removidas, sempre com pinças cortantes, somente quando
necessário para melhorar o acesso à região selar, e após cuidadosa análise dos
exames de imagem (tomografia computadorizada e/ou ressonância magnética), que
revelam a relação das septações com as estruturas adjacentes (Figura 4).
Figura 4 – Remoção do septo intersinusal.
SED – Seio esfenoidal direito. SEE – Seio esfenoidal esquerdo.
SIS – Septo intersinusal.
Método 20
Nesse momento foi possível identificar toda a anatomia do seio esfenoidal e
seus principais pontos de referência. Essa identificação é de extrema importância,
para a correta orientação no momento da abertura do assoalho selar.
Identificação dos pontos de referência no seio esfenoidal
Após a remoção do septo intersinusal, pode-se comparar o seio esfenoidal
com um arcabouço de forma piramidal, com a base maior voltada anteriormente. Na
Figura 5 pode-se distinguir:
parede posterior (base menor da pirâmide), em que a parte superior é
formada pelo assoalho da sela e a parte inferior pelo clívus, delimitada lateralmente
pelas proeminências carotídeas; superiormente, pelo plano esfenoidal; e
inferiormente, pelo assoalho do seio esfenoidal;
paredes laterais, delimitadas superiormente pela proeminência do
nervo óptico; inferiormente, pela proeminência óssea que recobre o segundo ramo
do nervo trigêmio; posteriormente, pela proeminência carotídea; e anteriormente,
pela parede anterior do seio esfenoidal;
teto, formado pelo plano esfenoidal, delimitado posteriormente pelo
assoalho da sela; anteriormente, pela parede anterior do seio esfenoidal; e
lateralmente, pelas proeminências dos nervos ópticos;
assoalho, em que a parte posterior é formada pelo clívus e a parte
anterior pelo rostrum esfenoidal. A extensão com que o clívus participa na formação
das paredes posterior e inferior da cavidade esfenoidal varia de acordo com o grau
de pneumatização do seio. Lateralmente, o assoalho é continuo às paredes laterais,
e anteriormente, é continuo à parede anterior do seio esfenoidal.
Método 21
Figura 5 – Seio esfenoidal após remoção parcial do septo intersinusal.
PE Plano esfenoidal. NO Nervo óptico. ACI Artéria carótida interna.
RCO – Recesso carótido – óptico. ST – Sela túrcica. C – clívus.
– Septações incompletas do seio esfenoidal.
O assoalho da sela túrcica pode ser identificado abaixo do plano esfenoidal,
acima do clívus, entre as proeminências carotídeas.
Geralmente não é possível a identificação de todas essas referências
anatômicas, nem nos seios do tipo selar; no entanto, a identificação do plano
esfenoidal, clívus e proeminências ósseas das artérias carótidas internas pode ser
considerada suficiente para a determinação dos limites do assoalho selar com
segurança (Hamberger et al, 1961). Na presença de um seio do tipo conchal, e
ausência de referências anatômicas suficientes, foi utilizado o intensificador de
imagem para confirmação da trajetória cirúrgica.
A partir desse ponto, a cirurgia passou a ser realizada a três ou,
eventualmente, quatro mãos, com o otorrinolaringologista manuseando endoscópio
e aspirador pela fossa nasal direita, e o neurocirurgião manuseando os instrumentos
pela fossa nasal esquerda. As seguintes etapas cirúrgicas foram então realizadas:
abertura do assoalho selar,
abertura da dura-máter,
remoção do tumor,
Método 22
exploração da sela,
reconstrução da sela (na presença de fístula liquórica).
Exploração da sela
Após a remoção do tumor, foi realizada uma exploração minuciosa da sela
com o endoscópio de 45º, à procura de restos tumorais e orifícios no diafragma selar
originando possíveis fístulas liquóricas (Figura 6).
Figura 6 Diafragma selar invertido no interior da sela, após remoção de
macroadenoma. DS – Diafragma selar. ST – Sela túrcica.
Reconstrução selar
Na presença de uma fístula liquórica ao final do procedimento, foi realizado
o tamponamento da sela com Surgicel
®
e gordura removida da região peri-umbilical,
fixados com cola biológica (Beriplast
®
). Quando o diafragma selar se apresentava
intacto, não houve necessidade de nenhum tipo de reconstrução selar. Drenos
lombares também não foram utilizados de rotina nos casos de fístula liquórica.
Os pacientes foram extubados na sala operatória após o final do
procedimento e encaminhados à sala de recuperação pós-anestésica, e a seguir
para a enfermaria da Disciplina de Endocrinologia, não necessitando de Unidade de
Terapia Intensiva.
Método 23
Critérios de avaliação
Os seguintes dados relativos ao acesso cirúrgico foram analisados:
viabilidade da utilização dessa técnica para todos os casos de tumores
da região selar, levando-se em conta idade do paciente, variações anatômicas, e
características e etiologia do tumor;
a necessidade de remoção da concha média e de desvios septais;
a necessidade do uso de intensificador de imagem (escopia), durante o
acesso cirúrgico, para confirmação da trajetória dos instrumentos;
a ocorrência de sangramentos nasais e a necessidade de procedimentos
(como tamponamentos nasais e cauterizações), para coibir tais sangramentos;
a ocorrência de fístula liquórica no intra e no pós-operatório e a
necessidade de procedimentos associados para sua correção;
a ocorrência de meningite bacteriana no pós-operatório.
Resultados 24
4 RESULTADOS
1. Dados demográficos
Foram analisados os prontuários de 159 pacientes submetidos à cirurgia da
região selar entre março de 2001 e dezembro de 2005. Foram incluídos nesse
estudo 91 pacientes submetidos a um total de 95 procedimentos por via transnasal
endoscópica. Foram excluídos 68 pacientes submetidos à abordagem sublabial com
uso de microscópio, e revisão da região selar com endoscópio. Os 91 indivíduos
estudados, 35 do sexo masculino e 56 do sexo feminino, apresentavam idade média
de 47,6 anos, variando de 9 a 79 anos (Tabela1 e Figura 7).
Tabela 1 – Distribuição dos pacientes segundo idade e sexo (N (%)).
Idade Feminino Masculino Total
9 – 19
2 (3,6) 0 (0,0)
2 (2,2)
20 – 29
7 (12,5) 1 (2,9)
8 (8,8)
30 – 39
9 (16,1) 5 (14,3)
14 (15,4)
40 – 49
19 (33,9) 5 (14,3)
24 (26,3)
50 – 59
9 (16,1) 11 (31,4)
20 (22,0)
60 – 69
6 (10,7) 9 (25,7)
15 (16,5)
70 – 79
4 (7,1) 4 (11,4)
8 (8,8)
Total 56 (100,0) 35 (100,0) 91 (100,0)
0
5
10
15
20
25
Pacientes
9-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79
Idade
Figura 7 – Distribuição dos pacientes segundo a idade.
Resultados 25
2. Diagnósticos etiológicos
Foram submetidos à cirurgia endoscópica transnasal da região selar
pacientes portadores de: adenomas hipofisários secretores e não secretores,
craniofaringioma, cordoma, cisto da bolsa de Ratke, metástase de outros tumores na
região selar e hipofisite linfocítica (Tabela 2).
3. Número de cirurgias
Dos 91 pacientes, quatro foram submetidos a um segundo procedimento
cirúrgico transnasal endoscópico, sendo que três destes pacientes apresentavam
diagnóstico de adenoma não secretor e um paciente apresentava diagnóstico de
metástase de adenocarcinoma de mama na região selar (Tabela 2).
Tabela 2 - Diagnóstico etiológico e número de cirurgias (N (%)).
Diagnóstico Pacientes Cirurgias
Adenoma de hipófise não secretor 46 (50,5) 49 (51,5)
Adenoma de hipófise secretor 36 (39,6) 36 (37,9)
Craniofaringioma 4 (4,4) 4 (4,2)
Cordoma 1(1,1) 1 (1,1)
Cisto da bolsa de Ratke 2 (2,2) 2 (2,1)
Metástases de outros tumores na região selar 1 (1,1) 2 (2,1)
Hipofisite linfocítica 1 (1,1) 1 (1,1)
Total 91 (100,0) 95 (100,0)
4. Antecedentes cirúrgicos
Dos 91 pacientes, 18 haviam sido operados previamente por outra via de
acesso cirúrgico, sendo cinco destes, por craniotomia e 13, por via sublabial. Dos 13
pacientes operados por via sublabial, dois haviam sofrido duas intervenções e
um já havia sofrido três intervenções (Tabela 3).
Resultados 26
Tabela 3 – Antecedentes cirúrgicos (N(%)).
Sem antecedentes 73 (80,2)
Craniotomia 5 (5,5)
Sublabial 13 (14,3)
Total 91 (100,0)
5. Tempo de internação
Em 81,05% dos procedimentos cirúrgicos, os pacientes ficaram internados
por um período de até quatro dias; e em 8,42% dos procedimentos, os pacientes
ficaram internados por mais de dez dias (Figura 8).
24
40
13
3
2
2
2
1
8
0
10
20
30
40
Pacientes
2 3 4 5 6 7 8 9 >10
Dias
Figura 8 – Distribuição dos pacientes segundo o tempo de internação.
6. Viabilidade da técnica cirúrgica
Foi viável a realização da técnica endoscópica transnasal em todos os
pacientes estudados, independente de idade, presença de variações anatômicas,
características e etiologia do tumor, e cirurgia prévia.
7. Dificuldades técnicas
Não houve necessidade de remoção da concha média para realização do
procedimento cirúrgico em nenhum dos casos.
Resultados 27
Também não houve, em nenhum dos casos, necessidade de remoção de
desvios septais para permitir o acesso ao seio esfenoidal (Tabela 4).
Houve necessidade do uso de intensificador de imagem para confirmação
da trajetória dos instrumentos cirúrgicos em dois casos que apresentavam seio
esfenoidal do tipo conchal (Tabela 5).
Tabela 4 – Necessidade de remoção de concha média e de desvios
septais (N (%)).
Remoção de concha
média
Remoção de
desvios septais
Total
Sim
0 (0,0) 0 (0,0)
0 (0,0)
Não
95 (100,0) 95 (100,0)
95 (100,0)
Total 95(100,0) 95(100,0) 95(100,0)
Tabela 5 Uso de intensificador de imagem e pneumatização do seio
esfenoidal (N (%)).
Intensificador de imagem
Seio esfenoidal Sim Não Total
Selar ou pré-selar
0 (0,0) 93 (100,0)
93 (97,9)
Conchal
2 (100,0) 0 (0,0)
2 (2,1)
Total 2 (100,0) 93 (100,0) 95 (100,0)
8. Intercorrências
Não houve sangramento nasal intra-operatório que levasse à interrupção do
procedimento cirúrgico, nem tampouco a necessidade de transfusão sangüínea.
A principal intercorrência encontrada foi a abertura do diafragma selar
durante a remoção de tumores, ocasionando extravasamento de liquor e
necessidade de preenchimento selar com gordura e cola biológica (beriplast
®
). Foi
necessário reparar lesões intra-operatórias do diafragma selar em 13 casos
Resultados 28
(13,68%), e em dois deles (3,15%) optou-se pela realização de drenagem liquórica
lombar externa, como tratamento complementar (Tabela 6).
Tabela 6 – Intercorrências encontradas (N (%)).
Sangramento nasal Lesão do diafragma selar Total
Sim
0 (0,0) 13(13,7)
13(13,7)
Não
95 (100,0) 82(86,3)
82(86,3)
Total 95(100,0) 95(100,0) 95(100,0)
9. Complicações
Oito pacientes (8,42%) apresentaram sangramento nasal s-operatório
que necessitou de atenção otorrinolaringológica. Em seis deles o sangramento
ocorreu no pós-operatório imediato; em um, no quinto dia; e em outro, no sétimo dia
após a cirurgia (Tabela 7).
Dos seis pacientes nos quais o sangramento ocorreu no pós-operatório
imediato, a lavagem das fossas nasais com solução fisiológica foi suficiente para o
controle de um dos casos; três necessitaram de tamponamento nasal anterior por 24
horas (sendo dois com dedo de luva e um com Gelfoam
®
); e em dois foi necessário
tamponamento nasal ântero-posterior (sendo um por 24 horas e um por 72 horas). O
paciente que apresentou sangramento no quinto dia após a cirurgia foi submetido à
abordagem cirúrgica sob anestesia geral, para cauterização da mucosa nasal sob
visão endoscópica. O paciente que apresentou sangramento no sétimo dia após a
cirurgia foi submetido a tamponamento nasal anterior com dedo de luva por 48 horas
(Tabela 8).
Tabela 7 - Sangramento nasal pós-operatório (N (%)).
Sem sangramento 87 (91,6)
Pós-operatório imediato 6 (6,3)
Primeira semana pós-operatória 2 (2,1)
Total 95 (100,0)
Resultados 29
Tabela 8 - Conduta de acordo com a época de aparecimento do
sangramento nasal.
Sangramento
nasal
Lavagem
com solução
fisiológica
Tampão
anterior
Tampão
ântero-
posterior
Cirurgia Total
Pós-operatório
imediato
1 3 2 0
6
Primeira semana
pós-operatória
0 1 0 1
2
Total 1 4 2 1 8
Oito pacientes (8,42%) apresentaram fístula liquórica nasal no período pós-
operatório, sendo que duas destas foram identificadas no primeiro dia pós-
operatório; duas, no terceiro dia pós-operatório; duas, no quarto dia pós-operatório;
e duas identificadas na terceira semana após a cirurgia (Tabela 9).
Dos seis pacientes nos quais a fístula foi detectada na primeira semana
após a cirurgia, optou-se por conduta expectante em um deles e houve resolução
espontânea da fístula; em dois casos optou-se pela realização de drenagem
liquórica lombar externa; um paciente foi submetido a procedimento cirúrgico
endoscópico; e dois foram submetidos a procedimento cirúrgico endoscópico
associado à drenagem liquórica lombar externa. Os dois pacientes que
apresentaram fístula liquórica na terceira semana após a cirurgia foram submetidos
a procedimento cirúrgico endoscópico para sua correção (Tabela 10).
Tabela 9 – Fístula liquórica nasal (N (%)).
Sem fístula liquórica 87 (91,6)
Primeira semana pós-operatória 6 (6,3)
Terceira semana pós-operatória 2 (2,1)
Total 95 (100,0)
Resultados 30
Tabela 10 Conduta de acordo com a época de aparecimento da fístula
liquórica nasal.
Fístula liquórica
Expectante
DLE Cirurgia
Cirurgia e
DLE
Total
Primeira semana
pós- operatória
1 2 1 2
6
Terceira semana
pós- operatória
0 0 2 0
2
Total 1 2 3 2 8
DLE – Drenagem liquórica lombar externa.
Meningite bacteriana ocorreu como complicação em dois casos (2,19%),
que evoluíram com fístula liquórica identificadas na terceira semana após a cirurgia
(Tabela 11). As complicações encontradas estão sumarizadas na figura 9.
Tabela 11 Meningite e época de aparecimento da fístula liquórica (N
(%)).
Figura 9 – Complicações encontradas.
1a. Semana pós-op. 3a. Semana pós-op.
Meningite
Sim 0 (0,0) 2 (2,1)
Não 95 (100,0) 93 (97,9)
Total 95 (100,0) 95 (100,0)
8,42%
81,05%
8,42%
2,11%
Sem complicações
Fístula liquórica
Sangramento nasal
Meningite
Discussão 31
5 DISCUSSÃO
A cirurgia transnasal endoscópica dos tumores da região selar insere-se no
contexto atual de procura por procedimentos ditos minimamente invasivos. Ao longo
da história da abordagem cirúrgica desses tumores, observamos a transição de um
acesso por craniotomia (Kanter, 2005), para um acesso transesfenoidal, executado
inicialmente por via externa (Schloffer, 1907) e em seguida por via endonasal
(Hirsch, 1910; Segura, 1916). Após diversas variações técnicas introduzidas, a via
transesfenoidal foi abandonada durante décadas, devido à falta de condições
apropriadas de iluminação, dificuldade de remoção tumoral e riscos de infecção
(Kanter et al, 2005). Apenas na década de sessenta do último século, após as
importantes contribuições de Guiot, Thibault (1959) e Hardy (1962),
respectivamente, o uso de intensificador de imagem no intra-operatório para
determinação da trajetória dos instrumentos cirúrgicos e a introdução do microscópio
cirúrgico na cirurgia dos tumores hipofisários, a via transesfenoidal foi retomada e
divulgada pelo mundo.
O endoscópio foi introduzido na cirurgia da região selar, inicialmente como
ferramenta de visibilização complementar ao microscópio, por Guiot et al (1963). Foi
mais tarde utilizado para substituir o microscópio, como instrumento único de
visibilização, por Jankowski et al (1992), através de acesso transnasal direto ao seio
esfenoidal, empregado em três pacientes portadores de adenomas hipofisários.
Sethi, Pillay (1995) utilizaram o endoscópio através de acesso transseptal com o uso
de espéculos nasais, e Jho, Carrau (1997) sistematizaram o acesso transnasal
endoscópico direto ao seio esfenoidal, utilizando-o em 48 procedimentos, sem a
necessidade de descolamento do septo nasal, tornando a via de acesso
consideravelmente menos invasiva.
Na Universidade Federal de São Paulo, a partir de março de 2001, o
otorrinolaringologista começou a participar das cirurgias transesfenoidais da região
selar, realizando uma revisão endoscópica após a ressecção do tumor, que era feita
por via sublabial com o uso de microscópio cirúrgico. Desde maio de 2003, os
procedimentos passaram a ser realizados por via transnasal endoscópica, sem o
auxílio do microscópio cirúrgico. Outros autores também relatam um período de
transição entre as técnicas microscópica e endoscópica, para que o neurocirurgião
se adapte gradualmente ao uso do endoscópio, podendo utilizar o microscópio em
Discussão 32
qualquer momento da cirurgia que julgue necessário (Jho, Carrau, 1997; Heilman et
al, 1997).
Quando o endoscópio passa a ser utilizado como único instrumento de
visibilização, existem várias opções em relação à técnica cirúrgica a ser empregada
no acesso à região selar. Estas opções serão discutidas a seguir.
O acesso endoscópico pode ser realizado por via transseptal, transetmoidal
ou por via transnasal direta, sendo que esta última pode ser realizada por uma ou
por ambas as narinas. O acesso transseptal, utilizado por Sethi, Pillay (1995),
Rodziewicz et al (1996), e Stamm et al (2000), requer descolamento de todo o septo
e uso de espéculo nasal, não sendo utilizado atualmente pelos diversos autores
adeptos da abordagem endoscópica da região selar.
O acesso transetmoidal implica na remoção cirúrgica das células etmoidais
anteriores e posteriores, para se atingir o seio esfenoidal e sela túrcica (Shikani,
Kelli, 1993; Sethi, Pillay, 1995; Cusimano, Fenton, 1996; Ohhashi et al, 2002).
Também não é utilizado atualmente pelos grupos atuantes nesta área. No acesso
transnasal direto unilateral (realizado por apenas uma narina), endoscópio e
instrumentos cirúrgicos são colocados pela mesma narina; e no acesso bilateral o
endoscópio é colocado por uma narina, e os instrumentos cirúrgicos pela outra.
Diversos autores advogam que o acesso unilateral é menos invasivo, uma
vez que para executá-lo não é obrigatória a ressecção do septo nasal posterior
(Jankowski et al, 1992; Wurster, Smith, 1994; Jho, Carrau, 1997; Cappabianca et al,
1998; Alfieri, 1999; Moreland et al, 2000; Jho, Alfieri, 2001; Har-El, 2005; Rudnik et
al, 2005).
Os adeptos do acesso bilateral ressaltam a possibilidade de conflito entre
endoscópio e os instrumentos cirúrgicos, por falta de espaço, quando o acesso é
realizado por apenas uma das narinas (Rodziewicz et al, 1996; Thomas et al, 2002;
Arnholt, Mair, 2002; White et al, 2004; Sonnenburg et al, 2004; Van Lindert,
Grotenhuis, 2005; Senior et al, 2005; Schwartz et al, 2006; Santos, Cunha Filho,
2006).
Utilizou-se o acesso endoscópico transnasal bilateral em todos os
procedimentos cirúrgicos analisados neste trabalho. O maior conforto em se utilizar
os instrumentos cirúrgicos por uma fossa nasal, e o endoscópio pela outra, foi um
dos motivos que levaram a esta opção. Porém, o fator decisivo para não se realizar
o acesso através de uma única narina foi a permanência simultânea, no campo
Discussão 33
operatório, do otorrinolaringologista (responsável pelo manuseio do endoscópio) e
do neurocirurgião (responsável pelo manuseio dos instrumentos), durante todo o
procedimento, um de cada lado do paciente (figura 1). Esta disposição da equipe
seria conflitante, em termos de espaço, no acesso unilateral.
Os benefícios deste posicionamento da equipe são importantes. Uma das
críticas à cirurgia endoscópica é que ela é realizada com apenas uma das mãos,
pois a outra está ocupada segurando o endoscópio; o cirurgião não consegue, por
exemplo, aspirar o campo cirúrgico enquanto remove o tumor. Com o
posicionamento descrito, o otorrinolaringologista segura o endoscópio com uma das
mãos e um instrumento com a outra (geralmente o aspirador nasal), e o
neurocirurgião utiliza uma ou as duas mãos para manipular instrumentos pela outra
fossa nasal. Este procedimento requer uma grande integração entre os membros da
equipe, mas com a prática pode-se dizer que as mãos passam a funcionar como se
pertencessem à mesma pessoa.
Outras opções para superar o problema da impossibilidade de se utilizar as
duas mãos durante a cirurgia endoscópica foram apresentadas. Van Lindert,
Grotenhuis (2005) descreveram um novo equipamento que permite acoplar um
aspirador maleável ao endoscópio, possibilitando uma cirurgia bi-manual. Por um
acesso bilateral, o cirurgião segura o endoscópio acoplado ao aspirador com a mão
esquerda por uma das narinas, e os instrumentos com a mão direita, pela outra
narina. Esta opção, apesar de interessante, não permite uma liberdade de
movimentação adequada do aspirador em relação ao endoscópio, que é de extrema
importância em casos de sangramento exagerado. Outra opção muito utilizada para
solucionar este problema é o uso de fixadores de endoscópio, discutido a seguir.
Com o uso de um dispositivo mecânico de fixação do endoscópio (braço
mecânico, holder), após a abertura do seio esfenoidal o endoscópio é fixado,
deixando-se assim o neurocirurgião com as duas mãos livres para executar o
procedimento (Rodziewicz et al, 1996; Jho, Carrau, 1997; Cappabianca et al, 1998;
Alfieri, 1999; Cappabianca et al, 2000; Moreland et al, 2000; Jho, Alfieri, 2001;
Thomas et al, 2002; De Divitiis, Cappabianca, 2002; Cappabianca et al, 2002a;
Cappabianca et al, 2002b; Cappabianca, De Divitiis, 2004; Cappabianca et al,
2004a; Cappabianca et al, 2004b; Cappabianca et al, 2004c; Cavallo et al, 2004;
White et al, 2004; Senior et al, 2005; Schwartz et al, 2006).
Discussão 34
Um dispositivo mais preciso para fixar o endoscópio, de funcionamento
pneumático, e não mecânico, foi descrito por Arnholt, Mair (2002). Outros autores
preferem não utilizar o endoscópio de forma fixa (Heilman et al, 1997; Stamm et al,
2000; Har–El, 2005; Rudnik et al, 2005; Van Lindert, Grotenhuis, 2005; Santos,
Cunha Filho, 2006).
No presente trabalho não se utilizou o fixador, pois uma das maiores
vantagens do endoscópio está em sua mobilidade, permitindo rápida mudança de
posicionamento, sem a necessidade de soltá-lo e fixá-lo novamente. O mecanismo
de fixação pode não ser suficientemente preciso para segurar o endoscópio
exatamente no local desejado. Além disso, o endoscópio fornece uma visão
bidimensional (sem profundidade), e não tridimensional como o microscópio, o que é
visto por alguns como uma desvantagem (Jho, Carrau, 1997; De Divitiis,
Cappabianca, 2002). Uma das maneiras de se obter uma noção de profundidade
com o endoscópio é movimentando-o constantemente, para frente e para trás,
utilizando-se pontos fixos da anatomia da cavidade nasal como referência.
Outra desvantagem de se fixar o endoscópio, a nosso ver, é que ele pode
prejudicar a manipulação de instrumentos cirúrgicos utilizados pelo neurocirurgião.
Curetas e dissectores podem ser parcialmente guiados pelo contorno externo do
endoscópio em direções indesejadas; podem rodar sobre a ponta do mesmo e
causar movimentos abruptos.
De Divitiis, Cappabianca (2002), adeptos do acesso unilateral, utilizam, após
a abertura dos seios esfenoidais, um endoscópio mais longo (30 cm), próprio para
cistoscopia. Com este endoscópio fixo a um braço mecânico, o conflito entre ele e os
instrumentos é menor, pois a extremidade acoplada à câmera fica mais afastada do
paciente que as mãos do cirurgião.
Finalmente, por vezes é necessário limpar-se a ponta do endoscópio, que
pode embaçar ou ser bloqueada por sangue, e se o mesmo estiver fixo pode haver
considerável perda de tempo durante o procedimento cirúrgico. Um sistema de
limpeza da ponta do endoscópio, com irrigação de soro fisiológico e aspiração, é de
uso rotineiro por alguns autores, na tentativa de solucionar parcialmente este
problema (Jho, Carrau, 1997; Cappabianca et al, 1998; Alfieri, 1999; Cappabianca et
al, 2000; Jho, Alfieri, 2001; De Divitiis, Cappabianca, 2002; Cappabianca et al,
2002a; Cappabianca et al, 2002b; Cappabianca, De Divitiis, 2004; Cappabianca et
al, 2004a; Cappabianca et al, 2004b; Cappabianca et al, 2004c; Cavallo et al, 2004).
Discussão 35
Quanto ao posicionamento do paciente, foi descrito que o mesmo
permaneceu em posição supina na mesa operatória, com a cabeça inclinada 10°
para a direita, e que a inclinação da cabeça no plano vertical variou em função da
extensão supra-selar do tumor. Quanto maior a extensão em direção à região supra-
selar e ao plano esfenoidal, mais a cabeça deve ser estendida, e quanto maior a
extensão em direção ao clívus e seio esfenoidal, mais a cabeça deve ser fletida.
Essas variações na posição da cabeça são necessárias para evitar
situações em que o endoscópio é posicionado muito próximo ao peito do paciente
(grande extensão supra-selar), interferindo no manuseio dos instrumentos, ou muito
alto (grande extensão em direção ao clívus) em posição desconfortável do ponto de
vista ergonômico (Cappabianca et al, 2004a).
O acesso transnasal endoscópico proporciona um espaço mais estreito para
os instrumentos, que a área de trabalho é limitada pela narina, e não pela narina
dilatada pelo espéculo nasal. Por outro lado, o ângulo de manobra permitido aos
instrumentos é maior, pois não é limitado pelo espéculo nasal. Os instrumentos
utilizados para a realização do acesso transnasal endoscópico, nos casos
analisados, faziam parte do conjunto de instrumentos convencionais de cirurgia
endoscópica funcional dos seios paranasais, e de cirurgia transesfenoidal
microscópica de hipófise.
Esta situação não é ideal, pois os instrumentos desenhados para as
cirurgias dos seios paranasais não são longos o suficiente para o manuseio da
região selar, e os instrumentos desenhados para a cirurgia transesfenoidal
microscópica não são delicados o suficiente para o acesso endoscópico. Além disso,
muitos instrumentos da cirurgia microscópica são em forma de baioneta
(dissectores, curetas, entre outros), para que a mão do cirurgião não fique na frente
da lente do microscópio, que fica longe do campo operatório. Os instrumentos retos
são mais adequados ao uso com o endoscópio, pois deslizam ao longo do mesmo,
até se tornarem visíveis no campo cirúrgico, que fica próximo à sua lente
(Cappabianca et al, 2004b).
Para solucionar parcialmente esta inadequação de material, foram
adquiridos alguns instrumentos adaptados especificamente para esse fim, como
aspiradores maleáveis longos, bisturi delicado para abertura da dura-máter, pinças
articuladas longas, retas e anguladas, além de curetas maleáveis de cabo reto com
dupla função, que podem remover tecido tumoral e aspirar simultaneamente. Os
Discussão 36
instrumentos maleáveis permitem alcançar as regiões visíveis, não com o
endoscópio de 0°, mas também com o de 45°, no inter ior selar.
Durante a preparação das fossas nasais, quando se coloca cotonóides
embebidos em vasoconstritor entre a concha média e o septo nasal, deve-se
lateralizar a concha com todo o cuidado, evitando-se fraturá-la junto à sua inserção
na base do crânio (lamela lateral da lâmina crivosa). Essa é a região mais frágil de
toda a base anterior do crânio, podendo chegar a 0,05 mm de espessura, valor este
dez vezes menor do que a espessura do teto etmoidal (Kainz, Stammberger, 1988).
A abertura do óstio do seio esfenoidal pode causar sangramento indesejado
de ramos terminais da artéria septal. A artéria septal, ramo da artéria maxilar,
penetra na cavidade nasal pelo forâmen esfenopalatino, corre posteriormente em
direção à parede anterior do seio esfenoidal, passa acima do arco coanal, e atinge o
septo nasal posterior. Esse sangramento pode, na maioria dos casos, ser controlado
com o uso de vasoconstritores tópicos, ou de cauterização mono ou bipolar.
A remoção de septações no interior do seio esfenoidal não deve ser
realizada de rotina, pois freqüentemente tais septações inserem-se junto à artéria
carótida interna ou ao nervo óptico (Figura 5). Se for necessário, para melhor acesso
à região selar, tais septos podem ser removidos com extremo cuidado e sempre com
pinças cortantes, que diminuem o risco de provocar um traço de fratura junto à
artéria carótida interna, com conseqüências potencialmente desastrosas. Essa
remoção só deve ser realizada após cuidadosa análise dos exames de imagem, que
revelam a relação das septações com as estruturas adjacentes. As inserções das
septações ao longo da parede posterior do seio esfenoidal são importante referência
anatômica dos limites do assoalho selar, e da localização do tumor no interior da
sela, especialmente nos microadenomas. As imagens devem, obrigatoriamente,
como na cirurgia endoscópica funcional dos seios paranasais, estar disponíveis na
sala operatória para consulta imediata durante o ato cirúrgico.
Na cirurgia feita pelo acesso sublabial, transeptal, ou mesmo transnasal,
com o uso de fixador de endoscópio, o otorrinolaringologista termina sua
participação após a abertura dos seios esfenoidais, e os próximos passos são
realizados exclusivamente pelo neurocirurgião. no acesso utilizado neste
trabalho, o otorrinolaringologista é responsável por fornecer ao neurocirurgião uma
visão adequada do campo operatório até o final da cirurgia. O neurocirurgião realiza
a abertura do assoalho selar e da dura-máter, e remove o tumor com os
Discussão 37
instrumentos pela fossa nasal esquerda, enquanto o otorrinolaringologista oferece
ao neurocirurgião as vantagens da visão endoscópica, além de um campo cirúrgico
limpo, através da manipulação do endoscópio e aspiração do sangue feita pela fossa
nasal direita. Para a abertura da dura-máter, no momento da introdução do
instrumento cortante pela fossa nasal esquerda, o otorrinolaringologista deve retirar
o endoscópio que está colocado pelo outro lado, e acompanhar a introdução da
lâmina pelo lado esquerdo, de modo que esta não provoque lacerações na mucosa
das conchas e do septo nasal. Quando o bisturi atinge o seio esfenoidal, o
endoscópio é retirado e posicionado novamente através da fossa nasal direita,
permitindo uma visibilização precisa da abertura da dura-máter, sem conflito de
espaço com o bisturi.
A exploração da região selar com endoscópio angulado, após a remoção do
tumor, é de grande importância, seja para identificar e remover restos tumorais, seja
para procurar e corrigir possíveis lesões do diafragma selar, que podem causar
fístulas liquóricas. No acesso utilizado nos pacientes do presente estudo, o
otorrinolaringologista introduziu o endoscópio de 45° no interior da sela túrcica, e
girou-o 36, inspecionando a região supra-selar, p arasselar, retrosselar, e o
assoalho da sela, enquanto o neurocirurgião afastou o diafragma selar
cuidadosamente, e removeu eventuais restos tumorais.
Baussart et al (2005) realizaram exploração da região selar com endoscópio
angulado, após remoção de tumores com microscópio cirúrgico, em 13 pacientes.
Em sete deles encontraram, com auxílio do endoscópio, resíduos tumorais que não
eram visíveis à microscopia, e puderam complementar a ressecção em todos eles.
No entanto, os autores associaram esta ressecção complementar a um maior índice
de fístulas liquóricas.
Kawamata et al (2002b) realizaram exploração selar em 34 pacientes, após
a remoção tumoral sob microscopia, com o auxílio de endoscópio rígido e flexível.
Concluíram que o endoscópio flexível permitiu a visibilização de áreas não vistas
com o auxílio do endoscópio rígido de 30° ou 70°, l evando a uma ressecção mais
completa da extensão supra e parasselar dos tumores.
Senior et al (2005) desenvolveram um método de exploração selar com
irrigação de solução salina contínua e aspiração. Denominaram o método de
“hidroscopia endoscópica selar”, e referem que ele possibilitou uma melhor
visibilização da região selar, facilitando a remoção de restos tumorais. Os autores
Discussão 38
chamaram ainda a atenção para o aumento do papel do otorrinolaringologista na
cirurgia endoscópica dos tumores selares. Heilman et al (1997), diferentemente dos
outros autores, acreditam que a inspeção da sela túrcica com o endoscópio, após a
remoção do tumor, não traz benefícios significativos, pois o espaço no interior da
sela é limitado, sujando a ponta do endoscópio com sangue, repetidamente. Sobre
este aspecto, concordamos com a opinião de Sonnenburg et al (2004): “A
participação do otorrinolaringologista durante todo o procedimento cirúrgico é muito
importante, e torna-se essencial quando trabalhando em conjunto com uma equipe
de neurocirurgia com grande experiência em cirurgia hipofisária, mas sem
treinamento formal no uso de endoscópios e outros instrumentos de cirurgia
endoscópica dos seios paranasais”.
Em relação aos antecedentes cirúrgicos, 18 dos 91 pacientes analisados
neste trabalho haviam sido operados previamente por outra via de acesso, sendo
cinco destes por craniotomia e 13 por via sublabial. Destes 13 pacientes operados
por via sublabial, dois haviam sofrido duas intervenções e um sofrido três
intervenções. O acesso endoscópico transnasal oferece grande vantagem em
relação às outras vias de acesso nos casos de recidiva, especialmente nos
pacientes submetidos a procedimentos por via transseptal ou sublabial. A principal
vantagem é não ser necessário descolar o septo nasal, que pode ser bastante difícil
em casos antes operados, nos quais o septo ósseo foi removido e podem existir
aderências de partes moles.
Outro ponto importante é o fato do seio esfenoidal ter sido aberto nas
cirurgias anteriores, o que torna o primeiro passo cirúrgico muito rápido pela via
endoscópica, enquanto que pela via sublabial ou transseptal seria trabalhoso e
demorado. Além disso, a maior orientação anatômica, proporcionada pelo
endoscópio, permite uma progressão mais segura no interior do seio esfenoidal,
numa situação de alteração anatômica pós-operatória (Cappabianca et al, 2000;
Rudnik et al, 2006).
O tempo de internação dos pacientes submetidos aos 95 procedimentos
estudados foi, em média, de 5,4 dias, sendo que, em 81% dos casos, os pacientes
permaneceram internados por período igual ou inferior a quatro dias. Os pacientes
operados por Sonnenburg et al (2004) permaneceram internados, em média, por 4,1
dias (primeiro grupo de 15 casos), 4,5 dias (segundo grupo de 15 casos), e 2,4 dias
(terceiro grupo de 15 casos). Cappabianca et al (2002b) referem um período médio
Discussão 39
de internação de 3,36 dias em seus primeiros 100 casos operados por via
endoscópica transnasal. Referem ainda um período médio de internação de 6,35
dias nos 100 últimos pacientes operados por via sublabial. Nos primeiros 50 casos
operados por via endoscópica, 24% dos pacientes tiveram alta dois dias após a
cirurgia.
Em nossa casuística, 25,26% dos pacientes deixaram o hospital dois dias
após a cirurgia. O maior tempo médio de internação dos pacientes analisados neste
trabalho pode ser em parte explicado pelas características de centro de referência
de nosso serviço, que recebe pacientes de outras regiões do País, que muitas vezes
permanecem internados por mais tempo do que seria necessário para sua
recuperação. Além disso, trata-se de um serviço universitário voltado para o ensino
e treinamento de residentes e alunos, e a rápida rotatividade de pacientes não é
uma das maiores prioridades. Outro ponto importante é o grande número de
macroadenomas em nossa casuística. Dos 95 procedimentos analisados, 73 foram
realizados para tratamento de macroadenomas de hipófise, e quatro por
craniofaringiomas. Estes tumores apresentam freqüentemente grandes extensões
supra-selares, e podem estar associados a sintomas e complicações neurológicas
que não são o foco deste trabalho, mas muitas vezes levam à necessidade de
internação mais longa.
No que diz respeito à viabilidade da técnica cirúrgica, foi possível realizar a
abordagem transnasal endoscópica em todos os pacientes estudados, independente
de idade, etiologia ou características do tumor. Shikani, Kelly (1993) relataram um
caso em que tentaram realizar biópsia e remoção de tumor hipofisário por via
transnasal endoscópica, mas não foi possível identificar o óstio do seio esfenoidal.
Optaram então por um acesso transetmoidal endoscópico.
Quanto às dificuldades técnicas avaliadas, não houve necessidade de
remoção da concha média em nenhum dos casos incluídos neste trabalho, o que vai
ao encontro da intenção de outros grupos, que procuram preservar a concha média
sempre que possível (Jho, Carrau, 1997; Cappabianca et al, 1998; Moreland et al,
2000; White et al, 2004; Rudnik et al, 2005; Senior et al, 2005; Santos, Cunha Filho,
2006). A concha média nasal é considerada uma estrutura de grande importância
para a fisiologia nasossinusal; participa no direcionamento do fluxo aéreo no interior
das fossas nasais, e é parte do chamado complexo óstio-meatal, unidade funcional
responsável pela ventilação e drenagem dos seios paranasais anteriores
Discussão 40
(Stammberger, 1991). A remoção desta estrutura leva a uma diminuição da área de
superfície mucosa da cavidade nasal, que pode prejudicar as funções de
aquecimento e umidificação do ar inspirado, além da função de transporte da
secreção nasal.
Muitos autores relatam a remoção parcial ou total da concha média, para
possibilitar ou facilitar o acesso ao seio esfenoidal (Jankowski et al, 1992; Sethi,
Pillay, 1995; Cusimano, Fenton, 1996; Stamm et al, 2000; Thomas et al, 2002; Har–
El, 2005). O uso tópico de cotonóides embebidos em adrenalina na concentração de
1:1000 (Anderhuber et al, 1995) possivelmente tenha ajudado na identificação do
óstio do seio esfenoidal. A intensa vasoconstrição e diminuição do edema da
mucosa promovida pela adrenalina facilitam o acesso ao recesso esfenoetmoidal,
sem a necessidade de remoção total ou parcial da concha média.
Ainda no que se refere às dificuldades técnicas, não houve, em nenhum dos
casos estudados, a necessidade de correção de desvios septais para permitir o
acesso ao seio esfenoidal. Mesmo nos pacientes que apresentavam desvios
acentuados do septo nasal foi possível o acesso endoscópico transnasal, fazendo-
se com que endoscópio e instrumentos se deslocassem por cima ou por baixo do
desvio. A maioria dos autores não se manifesta sobre a necessidade ou não de
correção de desvios de septo nasal durante o acesso transnasal endoscópico.
Stamm et al (2000) referem realizar septoplastia antes, quando necessário, e
Moreland et al (2000), em publicação de três casos, são os únicos a referir que não
houve necessidade de correção de desvios septais para o acesso à região selar.
A necessidade de uso de intensificador de imagem para confirmação da
trajetória dos instrumentos cirúrgicos foi a última dificuldade técnica do acesso
cirúrgico avaliada. Seu uso é rotineiro na abordagem microscópica da região selar.
No acesso endoscópico, alguns autores também utilizam esse recurso de forma
rotineira (Jho, Carrau, 1997; Rudnik et al, 2005). De Divitiis, Cappabianca (2002)
utilizaram o intensificador de imagem, mas referem que com a experiência é possível
realizar o procedimento sem a mesma.
Em nosso estudo houve necessidade do uso de intensificador de imagem
para confirmação da trajetória dos instrumentos cirúrgicos somente em dois casos,
que apresentavam seio esfenoidal do tipo conchal. Este achado vai ao encontro dos
resultados relatados por Cappabianca et al (2004a), que utilizaram esse recurso
nos casos de seio esfenoidal pré-selar ou conchal, e diferem de Jho, Alfieri (2001)
Discussão 41
que utilizaram a margem inferior da concha média como referência anatômica para a
abertura selar, e com isso evitaram o uso do intensificador de imagem em 150 casos
de cirurgia endoscópica transnasal de tumores hipofisários.
O seio tipo conchal não atinge o corpo do osso esfenóide e é separado da
sela túrcica por uma parede óssea espessa. Nesta situação, não é possível
reconhecer pontos de referência como o plano esfenoidal, clívus e proeminências
ósseas das artérias carótidas internas, sendo importante o uso de intensificador de
imagem. Outros autores ressaltam a utilidade dos sistemas de navegação no auxílio
à identificação de referências anatômicas, especialmente em casos de recidivas
tumorais (Kawamata et al, 2002a; Lasio et al, 2002; Ohhashi et al, 2002).
Avaliou-se neste trabalho duas importantes intercorrências cirúrgicas:
sangramento intra-operatório e lesão do diafragma selar. O controle do sangramento
intra-operatório é muito importante na cirurgia endoscópica nasal, e
conseqüentemente na cirurgia endoscópica da região selar. O sangramento
exagerado durante a cirurgia é uma das principais causas de complicações
cirúrgicas, pois pode levar à perda de orientação anatômica do cirurgião. A maioria
das complicações graves nas cirurgias endoscópicas nasossinusais (perfuração do
teto etmoidal, lesões do nervo óptico) ocorre em cirurgias realizadas sob condições
ruins de visibilidade devido a sangramento intenso (Santos, 2003).
O anestesiologista desempenha papel fundamental no controle do
sangramento intra-operatório. O controle rigoroso dos níveis pressóricos e o uso de
anestésicos endovenosos, em vez de agentes inalatórios, permitem que o acesso
cirúrgico seja executado sem sangramento significativo (Wormald et al, 2005). O uso
de vasoconstritor tópico também influencia significativamente o controle do
sangramento (Anderhuber et al, 1995). Kassam et al (2005) descrevem várias
técnicas de controle de sangramento intra-operatório em cirurgia endoscópica da
região selar, chamando a atenção para o uso de substâncias hemostáticas, que
promovem a agregação plaquetária e formação de coágulo. Nos pacientes deste
estudo, foi utilizado um destes produtos (Spongostan powder
®
, Johnson e Johnson),
em situações de sangramento indesejado da região selar, ou da mucosa nasal.
Não houve sangramento nasal intra-operatório que levasse à interrupção do
procedimento cirúrgico, nem tampouco à necessidade de transfusão sangüínea, nos
pacientes estudados. Este achado difere do relatado por Cappabianca et al (2002a),
que tiveram um caso de sangramento por lesão da artéria carótida interna durante a
Discussão 42
cirurgia. Os autores referem que o sangramento foi controlado com tamponamento
nasal imediato, e posterior arteriografia e embolização de artéria carótida interna.
Não se utilizou tamponamento nasal ao final da cirurgia nos casos incluídos em
nosso estudo, diferentemente de Nasseri et al (2001), que analisaram 180 pacientes
operados por meio de acesso endoscópico, e referiram ter utilizado tamponamento
nasal ao término da cirurgia em 17 casos por “preocupação com sangramento
nasal”.
Ainda neste tópico, a principal intercorrência encontrada durante os
procedimentos cirúrgicos foi a lesão do diafragma selar durante a remoção de
tumores, ocasionando extravasamento de liquor e necessidade de preenchimento
selar com gordura e cola biológica (Beriplast
®
). Foi necessário reparar lesões intra-
operatórias do diafragma selar em 13 casos (13,68%), e em dois deles (3,15%)
optou-se pela realização de drenagem liquórica lombar externa, como tratamento
complementar. Nenhum destes casos evoluiu com fístula liquórica no pós-operatório,
nem tampouco com meningite.
Alguns autores não especificam o número de pacientes em que ocorreu
lesão do diafragma selar, por não considerarem que esta seja uma intercorrência de
maior importância, explicando apenas a conduta tomada para sua correção (Sethi,
Pillay, 1995; Jho, Carrau, 1997; Jho, Alfieri, 2001; Thomas et al, 2002; De Divitiis,
Cappabianca, 2002; Ohhashi et al, 2002; Cappabianca et al, 2004a; Har–El, 2005).
Entre os autores que referem o número de fístulas liquóricas ocorridas no
intra-operatório, os achados variam muito. A porcentagem por nós encontrada, de
13,68%, está próxima aos resultados de Rodziewicz et al (1996), que relataram 10%
de fístulas intra-operatórias, corrigidas com colocação de gordura e cola de fibrina
no seio esfenoidal; de Cappabianca et al (2002c; 2004c), que corrigiram lesões do
diafragma selar respectivamente em 14,11% e 14,46% dos pacientes operados, em
170 e 242 casos analisados; de White et al (2004) que, por sua vez, encontraram
12% de fístulas intra-operatórias em 50 pacientes; e Sonnenburg et al (2004), que
referiram 15,55% (sete pacientes em 45), sendo que em 8,88% dos casos foi
necessária colocação de dreno lombar além da correção cirúrgica com gordura
abdominal, cola de fibrina e placa de lactose.
Por outro lado, alguns autores encontraram um número maior de fístulas
intra-operatórias do que os de nossa casuística. Entre eles estão Jankowski et al
(1992), com 33,33%; Heilman et al (1997), que relataram 22,22%; Nasseri et al
Discussão 43
(2001) com 29,4%; Rudnik et al (2005), que relataram fístula intra-operatória em
28% dos casos, sendo que 4,28% necessitaram de dreno lombar como tratamento
complementar; e Rudnik et al (2006), que relataram 35% de fístulas durante o
procedimento cirúrgico de 20 pacientes portadores de tumores residuais ou
recidivados da região selar. Finalmente, Stamm et al (2000) relataram que apenas
6,4% de seus pacientes necessitaram correção intra-operatória de lesões do
diafragma selar, com preenchimento da sela com gordura abdominal e dreno lombar
por cinco dias.
As complicações referentes ao acesso endoscópico encontradas neste
trabalho foram: sangramento nasal pós-operatório, fístula liquórica pós-operatória e
meningite. Quanto ao sangramento nasal pós-operatório, Aust et al (1998) relataram
um caso (14,28%), em sete operados. Stamm et al (2000) tiveram um caso de
sangramento em 62 procedimentos. Com início uma semana após a cirurgia e
proveniente da artéria septal, este sangramento foi tratado com cauterização em
centro cirúrgico. De Divitiis, Cappabianca (2002) relataram apenas um caso de
sangramento nasal pós-operatório em 140 pacientes, tratado por meio de
tamponamento nasal ântero-posterior.
Cappabianca et al (2002a) analisaram as complicações de 146 pacientes e
encontraram dois casos de sangramento, um deles com início dois dias após a
cirurgia, tratado com tampão nasal anterior por dois dias, e outro com início dez dias
após a cirurgia, tratado com tamponamento nasal ântero-posterior e, a seguir,
cauterização em centro cirúrgico. Ohhashi et al (2002) referem, em 31 pacientes, um
caso de sangramento seis dias após a cirurgia. White et al (2004) encontraram um
caso de sangramento pós-operatório em 50 pacientes operados por via
endoscópica. Sonnenburg et al (2004) encontraram um paciente com sangramento
nasal pós-operatório, em 45 submetidos à cirurgia.
Cavallo et al (2004) analisaram, retrospectivamente, as complicações
hemorrágicas de 250 pacientes submetidos à cirurgia endoscópica transnasal da
região selar. Encontraram quatro casos de epistaxe pós-operatórias; um deles foi
tratado com tamponamento nasal anterior por dois dias; um foi submetido a
tamponamento nasal ântero-posterior por dois dias e, em seguida, à cauterização
cirúrgica de ramo da artéria esfenopalatina; dois casos foram submetidos a
tamponamento ântero-posterior por dois dias, seguido de embolização da artéria
esfenopalatina.
Discussão 44
Nos 95 procedimentos analisados neste trabalho, ocorreram oito casos
(8,42%) de sangramento nasal pós-operatório, com necessidade de atenção
otorrinolaringológica. Destes, um foi resolvido apenas com lavagem da cavidade
nasal com soro fisiológico. Em um paciente o sangramento foi controlado com
colocação de Gelfoam
®
nas fossas nasais por 24 horas. Em outros três casos
realizou-se tamponamento nasal anterior com dedo de luva, sendo que dois foram
mantidos por 24 horas e um por 48 horas. Dois pacientes foram submetidos a
tamponamento nasal ântero-posterior, sendo um por 24 horas e um por 72 horas.
Finalmente um paciente necessitou de cauterização cirúrgica da mucosa nasal.
Pode-se dizer que o número de casos de sangramento pós-operatório
encontrado neste trabalho foi maior que o da literatura; no entanto, o critério utilizado
para considerar o episódio de sangramento nasal foi a solicitação de avaliação
otorrinolaringológica no pós-operatório, feita pelo médico residente da Disciplina de
Endocrinologia. Esta avaliação, por sua vez, foi realizada pelo médico residente da
Disciplina de Otorrinolaringologia, por vezes durante o final de semana ou à noite.
Após o tratamento inicial, quando necessário, foi chamada a equipe que realizou o
procedimento cirúrgico.
Cinco dos oito casos de sangramento nasal foram resolvidos com
procedimentos simples, e talvez pudessem ter sido manejados sem a necessidade
de tamponamento. Dois pacientes necessitaram de tamponamento ântero-posterior,
sendo que um deles foi removido após avaliação da equipe, em apenas 24 horas,
sem intercorrências. O paciente que foi submetido à cauterização sob anestesia
geral apresentava sangramento difuso da mucosa nasal, e estava fazendo uso de
Ginkgo-biloba.
Não se pode descartar a possibilidade de que este sangramento tenha
ocorrido, ou de que tenha sido necessário tratamento cirúrgico para coibi-lo, pelo
efeito anticoagulante deste extrato vegetal. Hemorragia em vários sítios anatômicos,
associada ao uso de Ginkgo-biloba tem sido relatada na literatura médica, e a
Sociedade Americana de Anestesiologia recomenda atualmente que se suspenda a
terapia com Ginkgo-biloba duas semanas antes de qualquer procedimento cirúrgico
(Hodges, Kam, 2002). Em uma ampla revisão sistemática da literatura sobre Ginkgo-
biloba e sangramento, Bent et al (2005) chegaram à conclusão de que existe a
possibilidade de uma associação causal entre ambos.
Discussão 45
Entre as complicações cirúrgicas, a fístula liquórica pós-operatória é
bastante indesejada, por prolongar a internação hospitalar e pelo risco de levar a
uma meningite. Nos procedimentos analisados neste trabalho, ocorreram oito
fístulas (8,42%) no período pós-operatório, e dois casos de meningite (2,11%). Das
oito stulas liquóricas, seis foram detectadas durante a primeira semana após a
cirurgia, e duas durante a terceira semana após a cirurgia. Os dois casos em que a
rinoliquorréia foi detectada na terceira semana evoluíram com meningite. Quanto ao
tratamento, em um dos casos a conduta foi expectante devido ao pequeno débito da
fístula; em dois casos optou-se pela drenagem liquórica lombar externa, e em cinco
casos foi realizada correção cirúrgica com preenchimento selar com gordura
abdominal e cola biológica (Beriplast
®
). Em dois destes últimos, além da correção
cirúrgica, optou-se pela drenagem liquórica lombar externa como método
complementar, devido ao alto débito da fístula.
Alguns autores apresentam maior porcentagem de fístulas pós-operatórias,
quando comparados ao nosso estudo. Em “carta ao editor” Wurster, Smith (1994)
relataram, de forma sucinta, dois casos de pacientes com adenomas hipofisários,
abordados cirurgicamente por via transnasal endoscópica por apenas uma narina.
Um dos pacientes evoluiu com uma fístula liquórica no terceiro dia após a cirurgia, e
o outro não apresentou intercorrências. Aust et al (1998) relataram um caso de
fístula liquórica após a cirurgia (14,28%), em sete operados. White et al (2004)
relataram seis casos (12%) de stula pós-operatória e um caso de meningite (2%),
em 50 pacientes operados por via endoscópica.
A maioria dos autores, no entanto, relata índices menores desta
complicação do que os apresentados em nossa casuística. Sethi, Pillay (1995)
relataram que dois pacientes (5%), entre 40 operados, apresentaram fístula no pós-
operatório, e foram tratados com cirurgia e colocação de dreno lombar por cinco
dias. Em 58 procedimentos realizados, Jho, Carrau (1997) relataram dois casos
(3,8%) de fístula liquórica no período pós-operatório. Nasseri et al (2001) relataram
que 4,4% dos pacientes operados apresentaram fístula liquórica pós-operatória e um
paciente (0,5%) apresentou meningite. De Divitiis, Cappabianca (2002), em 140
pacientes submetidos à cirurgia endoscópica transnasal de tumores da região selar,
relataram quatro casos (2,8%) de fístula liquórica pós-operatória; três destes foram
submetidos à cirurgia, e um à drenagem lombar externa.
Discussão 46
Cappabianca et al (2002a) relataram as complicações associadas ao
acesso transnasal endoscópico dos tumores da região selar, em 146 pacientes.
Encontraram três casos (2%) de fístula pós-operatória e um caso de meningite.
Cappabianca et al (2002c), em trabalho que analisaram a reconstrução selar em 170
pacientes, referem que em quatro casos (2,3%) esta reconstrução foi necessária
para corrigir fístulas liquóricas pós-operatórias. Referem, ainda, que em três destes
casos a sela não havia sido preenchida com nenhum tipo de material ao final da
cirurgia. O tratamento destas quatro fístulas pós-operatórias foi realizado com
preenchimento selar em um dos casos, preenchimento selar e do seio esfenoidal em
dois deles, e outro apenas com drenagem lombar.
Sonnenburg et al (2004) relataram dois casos (4,44%) de fístulas pós-
operatórias e um caso (2,22%) de meningite, em 45 pacientes operados.
Cappabianca et al (2004c), em estudo sobre prevenção de fístula liquórica após a
cirurgia endoscópica da hipófise, concluíram que o preenchimento selar com
colágeno associado a cola de fibrina é mais eficiente que a colocação isolada de
cola de fibrina na sela túrcica ao final da cirurgia. Rudnik et al (2006) realizaram 20
procedimentos endoscópicos transnasais, em pacientes portadores de tumores
residuais ou recidivados da região selar, e tiveram um caso (5%) de fístula liquórica
pós-operatória.
O fato de, neste trabalho, 8,42% dos pacientes terem apresentado fístula
liquórica no pós-operatório pode estar relacionado com a fase de ganho de
experiência da equipe cirúrgica (curva de aprendizado). A maioria dos grupos
adeptos da técnica endoscópica apresentava vasta experiência em cirurgia
microscópica da hipófise antes de mudarem para a técnica endoscópica, e, em
nosso caso a experiência da equipe foi adquirida primordialmente nas cirurgias por
via endoscópica. Neste sentido, o estudo de Ciric et al (1997) mostra uma
importante diminuição da morbidade da cirurgia microscópica transesfenoidal da
hipófise, após 200 e até após 500 cirurgias, enquanto que nosso estudo analisou os
primeiros 95 procedimentos realizados por esta equipe.
Outro fator que pode ter contribuído para a ocorrência de fístulas pós-
operatórias é a característica de nossa casuística citada anteriormente. Dos 95
procedimentos realizados, 73 foram para tratamento de macroadenomas de hipófise
e quatro por craniofaringiomas. Dos oito pacientes que evoluíram com fístula
liquórica no pós-operatório, seis apresentavam macroadenomas com extensão
Discussão 47
*Cushing H. The pituitary body and its disorders, clinical states produced by disorders of the hypophysis cerebri.(1912) apud
Doglietto et al. Brief history of endoscopic transsphenoidal surgery-from Philipp Bozzini to the First World Congress of
Endoscopic Skull Base Surgery. Neurosurg Focus 2005;19(6):E3.
supra e parasselar, um apresentava craniofaringioma com extensão supra-selar, e
um apresentava cisto da bolsa de Ratke, também com extensão supra-selar. A
contribuição do otorrinolaringologista na correção cirúrgica das fístulas liquóricas é
importante. A via endoscópica endonasal é atualmente o acesso de escolha para
tratamento destes casos. Silva et al (2006) referem sucesso acima de 90% no
tratamento cirúrgico endoscópico das fístulas liquóricas nasais na primeira cirurgia.
Entre as vantagens do acesso endoscópico à região selar, relatadas na
literatura, pode-se citar: maior visão do campo operatório, menor desconforto pós-
operatório, maior respeito pelas estruturas nasais, e diminuição do tempo de
internação. E como desvantagens encontram-se: necessidade de passar por curva
de aprendizado, necessidade de habilidade específica de manejo do endoscópio e
instrumentos, falta de visão tridimensional, e necessidade de controle rigoroso do
sangramento no intra-operatório (De Divitiis, Cappabianca, 2002). Das complicações
cirúrgicas relacionadas ao acesso microscópico sublabial (anestesia de lábio
superior e dentes, nariz em sela, perfuração de septo nasal, anosmia, diástase da
maxila ou fratura de palato duro, fratura de órbita, fratura da lâmina cribiforme, e
sangramento de ramos da artéria esfenopalatina), apenas sangramento de ramos da
artéria esfenopalatina ocorreu nos pacientes deste estudo. Isto pode ser explicado
pelo fato de que o acesso não passa através da boca, e pode-se dizer se inicia
quando o óstio do seio esfenoidal é alargado (Cappabianca, 2002a).
A história do endoscópio é um exemplo de como os avanços tecnológicos
influenciam a medicina, desde a sua relativamente recente introdução na área
médica por Philipp Bozzini, 200 anos, até os dias de hoje em que faz parte da
prática diária de diversas especialidades. O seu uso na otorrinolaringologia trouxe
indiscutíveis melhoras em termos de eficiência diagnóstica, e diminuição de
morbidade de diversos procedimentos cirúrgicos. Na cirurgia da base anterior do
crânio seu uso parece ser bastante promissor, mas terá que passar pelo teste do
tempo. Neste contexto, a experiência adquirida nas diversas especialidades deve
ser unida em benefício do paciente. Como dito por Harvey Cushing em *1912, no
início da história da cirurgia transesfenoidal: “O desempenho é progressivamente
simplificado pelas sugestões e experiências combinadas de muitos” (citado por
Doglietto et al, 2005).
Conclusões 48
6 CONCLUSÕES
O estudo de 95 pacientes portadores de tumores da região selar, submetidos à
cirurgia por acesso transnasal endoscópico, permite concluir que:
1. O acesso endoscópico transnasal aos tumores selares pode ser realizado de
forma minimamente invasiva, preservando-se as estruturas nasais,
independente da idade do paciente, características e etiologia do tumor.
2. A principal intercorrência encontrada durante a cirurgia é a lesão do
diafragma selar. Nestes casos, a correção deve ser realizada no mesmo
tempo cirúrgico, para que não ocorram complicações.
3. As principais complicações pós-operatórias encontradas são: sangramento
nasal, fístula liquórica e meningite.
Anexo 49
7 ANEXO
Universidade Federal de São Paulo
Comitê de Ética em Pesquisa
Escola Paulista de Medicina
Hospital São Paulo
São Paulo,
13 de janeiro de 2006.
CEP 1787/05
IImo(a). Sr(a).
Pesquisador(a)
RODRIGO DE PAULA SANTOS
Co-Investigadores: Luc Louis Maurice Weckx
Disciplina/Departamento: Cabeça e Pescoço/Otorrinolaringologia da Universidade Federal de São
Paulo/Hospital São Paulo
Patrocinador: Recursos Próprios.
PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA INSTITUCIONAL
Ref: Projeto de pesquisa intitulado: "Acesso endoscópico transnasal aos tumores selares".
CARACTERíSTICA PRINCIPAL DO ESTUDO: Estudo clínico retrospectivo-análise de prontuários.
RISCOS ADICIONAIS PARA O PACIENTE: sem contato com pacientes.
OBJETIVOS: Descrever o acesso transnasal endoscópico, utilizado pela equipe desde 2001 em
140 casos consecutivos, comparando-o com a literatura médica existente no que diz respeito a
suas inúmeras variações técnicas, dificuldades e vantagens.
RESUMO: Será realizada análise retrospectiva dos prontuários de pacientes submetidos à cirurgia
transnasal endoscópica dos tumores selares a partir de ano de 2001. Serão estudadas as
características deste tipo de acesso, menos invasivo do ponto de vista cirúrgico do que o acesso
usado previamente (acesso sublabial). Será realizada uma comparação com a literatura médica
existente no assunto, quanto a características técnicas do acesso transnasal endoscópico, que
apresenta inúmeras variações entre os diversos serviços adeptos desta via de acesso. Serão
analisadas suas dificuldades e suas vantagens sobre outros tipos de acesso.
FUNDAMENTOS E RACIONAL: Conhecimento de técnicas de acesso com a intenção de tornar a
cirurgia dos tumores selares mais segura e com menor índice de complicações.
MATERIAL E MÉTODO: descrito o instrumento para coleta de dados (prontuários).
TCLE: não se aplica.
DETALHAMENTO FINANCEIRO: sem financiamento específico.
CRONOGRAMA: 06 meses.
OBJETIVO ACADÊMICO: doutorado.
ENTREGA DE RELATÓRIOS PARCIAIS AO CEP PREVISTOS PARA: 08/01/2007 e 03/01/2008.
O Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo/Hospital São Paulo
ANALISOU e APROVOU o projeto de pesquisa referenciado.
1. Comunicar toda e qualquer alteração do projeto e termo de consentimento livre e esclarecido.
Nestas circunstâncias a inclusão de pacientes deve ser temporariamente interrompida até a
resposta do Comitê, após análise das mudanças propostas.
2. Comunicar imediatamente ao Comitê qualquer evento adverso ocorrido durante o
desenvolvimento do estudo.
3. Os dados individuais de todas as etapas da pesquisa devem ser mantidos em local seguro por 5
anos para possível auditoria dos órgãos competentes.
Atenciosamente. Prof. Dr. José Osmar Medina Pestana
Coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo/ Hospital
São Paulo
Rua Botucatu, 572 - 1° andar - conj. 14 - CEP 04023-062 - São Paulo I Brasil
Tel.: (011) 5571-1062 - 5539.7162
Referências 50
8 REFERÊNCIAS
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Abstract
Abstract
Sellar tumor surgery is traditionally a neurosurgeon´s field. However, since the
renewed interest in the transseptal-transsphenoidal approach to access the sellar
region in the sixties, otolarynngologists have played an important partnership in this
procedure. Divulging of endoscopic sinus surgery in otolaryngology created an
interest in its application in sellar region surgery. The use of endoscopes allowed a
direct transnasal approach to the sphenoidal sinus without need of dissection of the
septal mucosa, with less post-operative discomfort and morbidity inferior to that of
traditional methods. Objective: The objective of this work was to verify the technical
difficulties, intercurrences and post-operative complications in the otolaryngological
handling of the endoscopic transnasal approach to the sellar region. Method: The
analisys comprised both the files and archive images of 159 patients submitted to
sellar region surgery between march 2001 and December 2005, at Universidade
Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina. 91 patients submitted to a total
of 95 endoscopic transnasal procedures were included in this study. Results: It was
possible to apply the endoscopic transnasal tecnique in all studied patients,
independent of age, anatomical variations, tumor characteristics and etyology, and
previous surgery history. There was no need of middle turbinate removal, or septal
deviations corrections for the surgical procedure in any of the cases. The main
intercurrence was the opening of the sellar diaphragm during the removal of the the
tumors, causing intra-operative CSF leak in 13.68% of the cases. The post-operative
complications encountered were: nasal bleeding (8.42%), CSF leak (8,42%), and
meningitis (2.19%). Conclusion: Transnasal endoscopic approach to sellar tumors
was done in a minimally invasive form, preserving the nasal structures in the 95
studied procedures, independently of patient age, tumor characteristics and etyology.
Bibliografia consultada
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