Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
Área de Concentração: Gestão de Negócios
COOPERATIVA DE TRABALHO: UM ESTUDO SOBRE A
FORMAÇÃO E O PROCESSO DE EDUCAÇÃO COOPERATIVA -
o caso da Cooperativa dos Produtores de Confecções e Facções Mandaguari - PR
Dissertação de Mestrado
DIEINE APARECIDA CESCON CHAVES
Maringá
2002
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ii
DIEINE APARECIDA CESCON CHAVES
COOPERATIVA DE TRABALHO: UM ESTUDO SOBRE A
FORMAÇÃO E O PROCESSO DE EDUCAÇÃO COOPERATIVA -
o caso da Cooperativa dos Produtores de Confecções e Facções Mandaguari - PR
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Administração da Universidade
Estadual de Maringá e Universidade Estadual de
Londrina, como requisito para obtenção do grau de
Mestre em Administração.
Orientadora: Profª. Drª. Ivoneti Catharina
Rigon Bastiani
Maringá
2002
ads:
iii
DEDICO
Aos meus pais, Odimir e Lourdes, ao meu querido
esposo, Carlos Jaelso, aos meus filhos Adrielle e
Leonardo, pelo incentivo, carinho e amor.
iv
AGRADECIMENTOS
À Professora Drª Ivoneti Catharina Rigon Bastiani, meus sinceros agradecimentos, não
apenas pela orientação segura demonstrada na elaboração deste trabalho, mas também pela
confiança e amizade nesses anos de convivência;
Ao Professor Dr. Fernando Antônio Prado Gimenez, Coordenador do Curso de Pós-
Graduação, pela amizade e conhecimentos transmitidos;
Ao Secretário Executivo do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade
Estadual de Maringá/Universidade Estadual de Londrina, Bruhmer Cesar Farone Canonice,
pelo apoio e prestatividade;
À Professora Ms. Maria Nezilda Culti, pela grande amizade, pelos conhecimentos
transmitidos e pela confiança depositada;
Aos membros da UNITRABALHO/UEM, especialmente à amiga Maria Clara Correa
Tenório;
Ao meu irmão Junior, minha irmã Dirlaine, amiga Cleusa, Tia Terezinha e Tio Sabino, pelo
companheirismo, incentivo e carinho;
Às associadas, meu afeto e minha eterna gratidão.
v
O progresso de uma civilização se mede pelo
aumento da sensibilidade para com o outro.
Teilhard de Chardin
vi
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E DE SIGLAS........................................................... x
LISTA DE QUADROS................................................................................................. xii
LISTA DE FIGURAS................................................................................................... xiii
RESUMO....................................................................................................................... xiv
ABSTRACT................................................................................................................... xv
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 02
1 CAPÍTULO I - CONTEXTO SOCIAL DO RESSURGIMENTO DO
COOPERATIVISMO SOB A FORMA DE COOPERATIVAS DE
TRABALHO E PRODUÇÃO (COOPERATIVAS POPULARES) - UM
ESTUDO RELEVANTE............................................................................... 04
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO.................................................................................. 04
1.2 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA............................................................... 06
1.3 OBJETIVOS.................................................................................................... 16
1.3.1 Objetivo Geral.................................................................................................. 16
1.3.2 Objetivos Específicos....................................................................................... 16
1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO...................................................................... 17
2
CAPÍTULO II -
COOPERATIVAS DE TRABALHO - UM
ESTUDO SOBRE EVOLUÇÃO HISTÓRICA, PRINCÍPIOS E
FORMAÇÃO........................................................................................
18
2.1 COOPERATIVISMO: ORIGENS E PRECURSORES................................... 18
2.2 COOPERATIVISMO E A LEI COOPERATIVISTA NO BRASIL............... 23
2.3 RAMOS DO COOPERATIVISMO................................................................ 26
2.4 COOPERATIVA DE TRABALHO................................................................ 26
2.4.1 Classificação das Cooperativas de Trabalho.................................................... 29
2.4.2 Etapas para Organização de Cooperativa de Trabalho .................................... 30
2.4.2.1 Impostos e Contribuições................................................................................. 31
2.4.2.2 Viabilidade Econômica.................................................................................... 31
2.4.2.3 Negociação de Serviços ou Produtos............................................................... 32
2.4.3 A Sociedade na Legislação Brasileira.............................................................. 32
2.4.4 Estatuto Social.................................................................................................. 34
2.5 OS PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS DO COOPERATIVISMO................... 39
vii
2.5.1 Princípios Cooperativistas................................................................................ 39
2.5.2 Enfoque sobre o Princípio da Educação Cooperativa...................................... 40
2.6 VALORES DO COOPERATIVISMO............................................................ 44
2.7 O COOPERATIVISMO COMO FORMA DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL.. 46
2.7.1 A construção de Identidade.............................................................................. 48
2.7.1.1 O Imáginário Coletivo...................................................................................... 49
2.7.1.2 Fragilização das Bases Identitárias.................................................................. 50
2.7.2 Formação e o Conhecimento............................................................................ 53
3 CAPÍTULO III - METODOLOGIA............................................................
58
3.1 DEFINIÇÃO DO TIPO DE PESQUISA......................................................... 60
3.2 DEFINIÇÃO DA TÉCNICA ULILIZADA NA PESQUISA.......................... 60
3.3 O MÉTODO DA PESQUISA.......................................................................... 61
3.4 O MEIO DE INVESTIGAÇÃO...................................................................... 62
3.5 A TÉCNICA DA COLETA DE DADOS........................................................ 62
3.6 ANÁLISE DOS DADOS................................................................................. 63
3.7 LIMITAÇÕES DA PESQUISA....................................................................... 64
4
CAPÍTULO IV - ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS
ATRAVÉS DO ESTUDO DE CASO NA COOPERATIVA DOS
PRODUTORES DE CONFECÇÕES E FACÇÕES
MANDAGUARÍ/PR.............................................................................
65
4.1 HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS DA COOPERATIVA........................ 65
4.2 ANTECEDENTES A FORMAÇÃO DA COOPERATIVA........................... 66
4.3 O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO GRUPO.............................................. 67
4.4 O PROCESSO DE APRENDIZADO.............................................................. 69
4.5 A FASE DA CONSTITUIÇÃO E IMPLANTAÇÃO DA COOPERATIVA. 69
4.6 O DESAFIO DA AUTOGESTÃO.................................................................. 72
4.7 NOVA ADMINISTRAÇÃO............................................................................ 75
4.8 ORGANOGRAMA PARA COOPERATIVA................................................. 76
4.9 APRENDENDO A SER DONO...................................................................... 78
4.10 RELATOS DOS QUESTIONAMENTOS...................................................... 79
5
CAPÍTULO V - APRESENTAÇÃO DOS DADOS OBTIDOS ATRAVÉS
DE ESTUDOS DAS EXPERIÊNCIAS COM EMPREENDIMENTOS
96
viii
COOPERATIVOS DE TRABALHO, NO
BRASIL...........................................................................................................
5.1 EXPERIÊNCIAS ASSESSORADAS COPPE/UFRJ...................................... 96
5.1.1 Coopex e outras Cooperativas de Telecomunicações no Rio.......................... 96
5.2 EXPERIÊNCIA DA INCUBADORA TECNOLÓGICA DE
COOPERATIVAS POPULARES DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 98
5.3 EXPERIÊNCIAS NASCIDAS COM APOIO DA CÁRITAS -RS................. 99
5.3.1 Experiência do Coopmec................................................................................. 99
5.3.2 Univens............................................................................................................ 100
5.3.3 Coopserv.......................................................................................................... 101
5.3.4 Coperlaisa......................................................................................................... 102
5.4 EXPERIÊNCIAS ACOMPANHADAS PELA ANTEAG.............................. 103
5.4.1 Cooperminas.................................................................................................... 104
5.4.2 Cooperativa Friburguense de Ferramentaria.................................................... 106
5.4.3 Coopervest....................................................................................................... 107
5.5 EXPERIÊNCIAS NO ESTADO DO PARANÁ - UNITRABALHO/UEM... 108
5.5.1 Padaria Comunitária do Conjunto Floresta...................................................... 108
5.5.2 Grupo de Trabalhadores no Lixão de Maringá................................................ 111
5.5.3 Cooperativa de Artesanato............................................................................... 114
5.5.4 Cogupar............................................................................................................ 115
5.6 SINTESE COOPERATIVA DAS EXPERIÊNCIAS ESTUDADAS............. 116
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 122
CONCLUSÃO ............................................................................................... 124
CONCEITUAÇÕES...................................................................................... 128
BIBLIOGRAFIA REFERENCIADA........................................................... 131
BIBLIOGRÁFIA CONSULTADA............................................................... 136
ANEXOS
ix
LISTA DE ABREVIATURAS E DE SIGLAS
ACI - Aliança Cooperativa Internacional
ADS - Agência do Desenvolvimento Solidário
AGO - Assembléia Geral Ordinária
AGE - Assembléia Geral Extraordinária
ANTEAG - Associação Nacional de Trabalhadores de Empresas Autogeridas
ASCOOP - Associação de Cooperativas
BADEP - Banco de Desenvolvimento do Paraná
CBCA - Companhia Brasileira Carbonífera de Araranguá
CEDOPE - Centro de Documentação e Pesquisa
CEF - Caixa Econômica Federal
CICOPA - Comitê Especializado da ACI para as Cooperativas do Ramo do
Trabalho e Assemelhados
CLT - Consolidação das Leis do Trabalho
CNPJ - Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas
COGUPAR - Cooperativa dos Produtores de Cogumelos do Paraná Ltda
COOPERMINAS - Cooperativa de Extração de Carvão Mineral dos Trabalhadores de
Criciúma Ltda
COOPERLAISA - Cooperativa de Produções e Confecções Gerais LAISA
COOPERTÊXTIL - Cooperativa Têxtil
COOPERVEST - Cooperativa dos Trabalhadores de Confecções de Sergipe Ltda
COOPEX - Cooperativa de Trabalho de Suporte Executivo Empresarial
COOPSERV - Cooperativa de Prestação de Serviços
COPPE/UFRJ - Incubadora da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de
Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
CPA - Cooperativas de Produção Agropecuária
CWF - Federação Canadense de Cooperativas de Trabalho
DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-
x
Econômicos
FATES - Fundo de Assistência Técnica Educacional e Social
FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
FURB - Universidade Regional de Blumenau
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia Estatística
ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias
INSS - Instituto Nacional do Seguro Social
IPI - Imposto sobre Produtos Industrializados
IRRF - Imposto de Renda Retido na Fonte
ISS - Imposto Sobre Serviços
ITCPs - Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares
ITCP/USP - Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da
Universidade de São Paulo
IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
ONGs - Organizações não Governamentais
OCB - Organização de Cooperativas Brasileiras
OCEs - Organizações de Cooperativas Estaduais
OCEPAR - Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná
OIT - Organização Internacional do Trabalho
PACs - Projetos Alternativos Comunitários
PCAs - Programa Multidisciplinar de Estudos e Pesquisa
PRODEC - Programa de Apoio ao Desenvolvimento Comunitário
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAC - Serviço Nacional do Comércio
SENAI - Serviço Nacional da Indústria
SESCOOP - Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo
SEUMA - Secretaria Municipal dos Serviços Urbanos e Meio Ambiente
UEM - Universidade Estadual de Maringá
UNIMED - Cooperativa de Assistência Médica
UNIVENS - Cooperativa de Costureiras Unidas Venceremos
UNITRABALHO - Programa Multidisciplinar de Estudos e Pesquisas Sobre o
Trabalho e Movimentos Sociais
xi
USP - Universidade de São Paulo
LISTA DE QUADROS
QUADRO I - COOPERATIVAS E NÚMERO DE ASSOCIADOS NO
BRASIL..................................................................................... 13
QUADRO II - COOPERATIVAS DE TRABALHO SEGUNDO OS
RESPECTIVOS SEGMENTOS............................................... 13
QUADRO III - O COOPERATIVISMO DE TRABALHO EM ALGUNS
PAÍSES..................................................................................... 28
QUADRO IV - DIFERENÇAS ENTRE COOPERATIVAS E
SOCIEDADES MERCANTIS.................................................. 33
QUADRO V - DIFERENÇAS ENTRE TRABALHADOR COOPERADO E
O EMPREGADO CELETISTA................................................ 33
QUARO VI - SEMELHANÇAS/DIFERENÇAS ENTRE AS
EXPERIÊNCIAS DAS COOPERATIVAS ESTUDADAS..... 117
xii
LISTA DE FIGURAS
FIGURA I - PROPOSTA DE ESTRUTURAÇÃO.................................. 75
FIGURA II - ESTRUTURA BÁSICA DE UMA COOPERATIVA......... 77
FIGURA III - FISIOLOGIA........................................................................ 78
xiii
RESUMO
A complexa sociedade capitalista engendra uma dinâmica de transformações sociais
que incide sobre o mundo do trabalho. Mundo este que é constituído pela estrutura
produtiva e pelas relações sociais que determinam a sociedade vigente. Em diversos
países, as transformações têm trazido como conseqüência o desemprego nos seus
diversos setores econômicos e fragilizado as relações de trabalho deixando à margem
de exclusão grande parte de trabalhadores. No Brasil, a situação não é diferente.
Diante do quadro de exclusão social brasileiro cresce o número de grupos de
trabalhadores que vêem no cooperativismo uma alternativa de inserção no mercado.
Nesse contexto, revigoram-se as Cooperativas de Trabalho, emergindo como uma das
vertentes da Economia Solidária, um dos canais de acesso do trabalhador expropriado
ao mercado formal. Porém, deparam-se com um dilema no decorrer de seu processo de
formação que é a competição e individualismo incutidos nos trabalhadores. Como tais
valores se contrapõem aos princípios e valores cooperativos por elas propugnados,
questiona-se a possibilidade das cooperativas de trabalho, nascidas da organização
popular na busca de alternativas e opções viáveis de obtenção de trabalho e renda,
enfrentarem os desafios de atuar num mercado competitivo e vivenciar em suas bases
os princípios e valores cooperativos. Parte-se do pressuposto de que o princípio da
Educação Cooperativa é fundamental para o êxito desses empreendimentos, visto que
sua internalização poderá ampliar e subsidiar o desenvolvimento da cidadania através
de uma educação emancipatória e inclusiva, respeitando as diversidades de
experiências, de saberes, de identidades. Procura-se, portanto, verificar-se de que
modo o princípio de educação cooperativa pode fazer a diferença dentro da
cooperativa, através de uma análise detalhada de um desses empreendimentos
cooperativos e do estudo de diversos outros grupos cooperativos nascidos de várias
experiências e assessorias diferenciadas. A conclusão que se chega é que há grande
necessidade de estar implementando o princípio da Educação Cooperativa no interior
da cooperativa e isso poderá destacá-la quanto ao grau de sucesso, em relação a outros
empreendimentos que não implementarem esse princípio.
Palavras-chave: Cooperativa de Trabalho, Economia Solidária, Educação Cooperativa.
xiv
ABSTRACT
The complex capitalist society engenders the dynamics of social changes that happen
in the work world, which is constituted by the productive structure and by the social
relations that determine the effective society. The changes have brought
unemployment as consequence to its diverse economic sectors and have weakened the
work relations by leaving the major part of workers to the exclusion margin. The
Brazilian social exclusion chart shows that the number of the workers’groups see the
cooperation as an alternative of insertion in the market. In this context, the
Cooperatives of Work revitalize themselves by emerging as one of the sources of the
Solidary Economy, and as one of the channels of access of the expropriated worker to
the formal market. However, they come across with a quandary during its process of
formation that is the infused competition and individualism in the workers. As such
values oppose to the principles and cooperative values by defending themselves; it is
also questioned the possibility of the Cooperatives of work, which have been created
from the popular organization while searching for alternatives and viable options of
attainment of work and income, to face the challenges in order to act in a competitive
market and to live deeply by its bases of cooperative principles and values.
Presumably, the principles of the Cooperative Education are fundamental to the
success, since its internalization will be able to extend and to subsidize the
development of the citizenship through an emancipated and inclusive education,
respecting the diversities of experience, knowledge, and identity. It is better, therefore,
to verify itself in which way the principle of Cooperative Education can make the
difference within the cooperative, through a detailed analysis of one of these
cooperative undertakings and of the study of the other diverse cooperative groups that
were born of various experiences and differentiated counseling. The reached
conclusion is that there is a great necessity to be implementing the principle of the
Cooperative Education in the inward of the Cooperative and this will be able to
emphasize it as to the degree of success, in relation to the other enterprises that will
not implement it.
Key-words: Cooperative of Work, Solidary Economy, Cooperative Education.
2
INTRODUÇÃO
O presente estudo analisa o dilema com que se deparam as cooperativas de trabalho no
decorrer de seu processo de formação. Dilema esse que decorre da inserção desse tipo de
empreendimento numa economia globalizada, que tem provocado profundas transformações
nas relações trabalhistas, dentre as quais a flexibilização do emprego e o desemprego,
contribuindo para acirrar a competição e o individualismo incutidos nos trabalhadores e
ampliar a exclusão social.
Visto que tais valores se contrapõem aos princípios e valores cooperativos de solidariedade
por elas (as cooperativas de trabalho) propugnadas, surgem alguns questionamentos. Podem
as cooperativas de trabalho, nascidas da organização popular na busca de alternativas e
opções viáveis de obtenção de trabalho e renda, enfrentar os desafios de atuar num mercado
competitivo sem vivenciar em suas bases os princípios e valores cooperativos? Quais as
possibilidades do empreendimento ter sucesso e sob que fundamentos podem se pautar para
aliar competitividade (externa) e solidariedade (interna)?
Este trabalho tem como pressuposto que a Educação Cooperativa é o “pilar da organização
cooperativa” TESCH (2000, 74), de suma importância na internalização dos valores e dos
demais princípios cooperativistas dentro das cooperativas de trabalho, tornando-as fortes para
enfrentar os desafios externos da globalização. Em outras palavras, a adequada inserção do
princípio da Educação Cooperativa é fundamental para o êxito das cooperativas de trabalho.
Além disso, analisa o processo de formação a partir da avaliação do desempenho
econômico/social da Cooperativa de Produtores de Confecções e Facções de Mandaguari, no
estado do Paraná. Para auxiliar no processo de investigação, foi realizado um estudo sobre a
experiência inicial de Rochdale e de alguns empreendimentos cooperativos exitosos como é o
caso da Incubadora da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro – Coppe/UFRJ, pela Incubadora de Cooperativas
Populares da Universidade de São Paulo – USP e experiências do Rio Grande do Sul, entre
outras.
3
O trabalho está estruturado nos seguintes capítulos:
Capítulo I: são apresentados a justificativa da elaboração do trabalho, sua importância no
contexto atual, o objetivo e a delimitação da pesquisa.
Capítulo II: consta de uma revisão bibliográfica sobre cooperativismo e as mudanças do
mundo de trabalho, deve ressaltar que essa revisão foi fundamental para a análise dos dados e
conclusão do trabalho.
Capítulo III: estão apresentados os procedimentos metodológicos, ou seja, a definição do
tipo de pesquisa, a técnica de observação utilizada, a metodologia da pesquisa, o meio de
investigação e a técnica de coleta de dados.
Capítulo IV: apresenta os dados da Cooperativa, visando detalhar a situação contemporânea
da mesma, além de efetuar as análises dos dados coletados através da pesquisa empírica.
Capítulo V: foram estudados exemplos de Cooperativas, exitosos do ponto de vista do
crescimento interno, enquanto adoção dos valores e princípios cooperativos, e externo,
enquanto empresa inserida no mercado.
Por fim, desenvolveram-se as considerações finais e conclusão.
4
CAPÍTULO I
CONTEXTO SOCIAL DO RESSURGIMENTO DO COOPERATIVISMO SOB A
FORMA DE COOPERATIVAS DE TRABALHO E PRODUÇÃO (COOPERATIVAS
POPULARES) - UM ESTUDO RELEVANTE
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO
A realidade da região de Maringá, guardando suas particularidades, aponta para um crescente
desnível social e para altos níveis de empobrecimento gerado pela ausência de frentes de
trabalho. Essa realidade pôde ser verificada através de projeto Programa de Apoio ao
Desenvolvimento Comunitário - PRODEC, oriundo de convênio entre a Caixa Econômica
Federal - CEF e a Universidade Estadual de Maringá - UEM (1999/2000), realizado por meio
do Programa Multidisciplinar de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho e Movimentos Sociais
– UNITRABALHO/UEM e Programa Multidisciplinar de Estudos, Pesquisa e Defesa da
Criança e do Adolescente - PCA. O Programa objetivava a melhoria da qualidade de vida dos
moradores dos conjuntos habitacionais e esteve presente em 27 conjuntos, atendeu mais de
quatro mil famílias. A equipe da UEM atendeu 07 conjuntos desse total. As ações do
PRODEC eram: a organização comunitária, capacitação profissional e
geração/complementação de renda.
Nos conjuntos atendidos pelo PRODEC/UEM observava-se o grande interesse dos moradores
quanto à organização e busca de autonomia. Surgiu, posteriormente, a discussão sobre
cooperativismo. Embora, o programa tenha sido concluído, o assunto não se esgotou. No
momento, há iniciativas incipientes na região, acompanhadas por assessoria, e essas
configuram-se em complexidades, visto que há uma cultura individualista e de subordinação,
com visões imediatistas que podem fragilizar estratégias de cooperação a longo prazo.
A participação da mestranda, no Programa citado, fez com que houvesse um interesse em
questionar: de que forma o processo de aquisição e internalização dos valores e princípios
cooperativos tem se dado nas cooperativas de trabalho? O princípio da educação cooperativa
pode determinar, num processo de assimilação dos demais princípios pelo grupo, a
viabilidade do empreendimento? Tal escolha, uma vez que havia atuado como assessora na
5
formação da Cooperativa dos Produtores de Confecções e Facções de Mandaguari, pareceu-
lhe importante, entendendo que acompanhar o desenvolvimento deste empreendimento seria
necessário, e poderia servir como um apropriado objeto de estudo. Entendendo, também, que
os resultados da pesquisa ajudariam na referência para uma ampliação do conhecimento
acerca desses empreendimentos. A pesquisa torna-se relevante à medida em que se tenta
suprir necessidades existenciais dos grupos, que requerem investigações mais amplas e
aprofundadas sobre aspectos econômicos, culturais e políticos da sociedade moderna, visando
contribuir para o desenvolvimento de conhecimentos e o domínio de técnicas androgágicas
1
,
administrativas e autogestionárias, condizentes com a realidade social. No entanto,
considerou-se importante o estudo comportamental do grupo na fase de criação e implantação
da cooperativa, visto que é, principalmente, nessa fase que os associados dos
empreendimentos cooperativos requerem atenção maior dos assessores no tocante a fomento
da discussão e orientação na busca de respostas para os problemas imediatos com relação às
particularidades do empreendimento.
Partiu-se da proposta de RECH (2000, p. 44) para quem "a experiência do cooperativismo de
trabalho parece se consolidar principalmente nos momentos de crise econômica em que as
possibilidades de emprego vão se esgotando [...] e tende a se tornar grande alternativa de
subsistência nos países em reconstrução que buscam desenvolvimento".
Questiona-se a existência de uma crise econômica mundial. Quanto à existência desta, pode-
se falar numa constância, isto é; as crises vividas pelo capitalismo têm se sucedido afetando
os empreendimentos em estudo, sendo também importante investigar suas implicações para
compreensão da evolução do próprio Cooperativismo do Trabalho.
No entanto, é de se considerar que, nos momentos de crise em que determinada sociedade
passa, há maior proliferação de alternativas e a cooperativa de trabalho é uma delas. Fazem-se
necessárias também investigações amplas e aprofundadas sobre: formação, implantação,
consolidação e gestão desse modelo de cooperativa para se poder entender seus mecanismos e
prever seus desafios. E essa análise pode nos remeter a um fator simples e ao mesmo tempo
1
Termo utilizado por Emiliano Limberger (1996, p. 151) para definir uma educação voltada para o indivíduo adulto, distinta da educação
voltada para a criança.
6
delicado: a pré-existência do princípio da Educação Cooperativista em suas formas de
aquisição.
Resta saber a que tipo de educação cooperativa estamos nos referindo. A priori, pode-se
responder essa questão da seguinte forma: Trata-se de desenvolver um mecanismo de
abrangência prévia e permanente dentro das cooperativas, que tenha como conteúdo “um
conjunto de métodos para alcançar hábitos de ver, sentir, pensar, julgar, agir” LIMBERGER
(1996, p. 210) e rever, conforme os ideais e os princípios e valores cooperativos.
Ele seria de importância crucial no desenvolvimento dos demais princípios cooperativos,
podendo sua omissão levar ao fracasso dos empreendimentos cooperativos. Essa educação
voltada para o membro adulto da cooperativa deve ser diferenciada daquela aplicada na
pedagogia tradicional, e tem por maior finalidade “formar homens responsáveis e solidários”
J. FAUQUET apud LIMBERGER (1996, p. 210) tal propósito somente será alcançado através
de uma contínua e permanente (re)educação. Trata-se, portanto, de reaprender.
Nas palavras de DEMO 1991 apud SOETHE (1993, p. 8), “é, mais ainda, necessário aprender
a aprender. A educação passa a ser um dos instrumentos do crescimento econômico. O que
faz a diferença entre os países é a ‘inteligência’ instalada, atualizada e desenvolvida”.
No presente trabalho serão focalizados alguns aspectos que se fazem presentes no interior das
cooperativas de trabalho com a finalidade de demonstrar de que forma acontecem os
processos de internalização dos valores cooperativos e sua importância na viabilização do
empreendimento.
1.2 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA
Historicamente, um dos aspectos mais significativos do quadro social brasileiro é o alto grau
de exclusão de um contingente expressivo da população. Isso não é um fato isolado. O cenário
da globalização da economia tem provocado profundas transformações nas relações
trabalhistas, em todo o mundo, visto que os direitos adquiridos estão cada vez mais
enfraquecidos nas negociações sindicais devido ao aceleramento do processo de demissões
7
em massa, ocasionando crise de oferta de emprego e excluindo grande parcela da população
dos bens de consumo e dos direitos sociais, em geral.
A título de exemplo, podemos citar alguns dados recentes que ilustram as atuais condições de
vida da imensa camada da população mundial. Segundo dados de ANDRADA
2
, são
produzidos diariamente 3 quilos de alimentos por pessoa e, ainda assim, existem 790 milhões
de pessoas com fome no mundo. No Brasil, cerca de 50 mil crianças estão fora da escola,
trabalhando nos “Lixões” para ajudar os pais. A seguir, são apresentados mais dados sobre a
realidade brasileira no tocante aos aspectos: pobreza, postos de trabalho e participação de
empregados por setor de atividade.
Segundo o IPEA
3
, 57 milhões de pessoas, o equivalente a 37% da população brasileira, estão
abaixo da linha da pobreza. Destes, 16 a 17 milhões de brasileiros vivem em condições de
miséria absoluta, sobrevivendo apenas da solidariedade. Do ponto de vista de postos de
trabalho, MATTOSO (2000) destaca que foram destruídos mais de 3 milhões de empregos
nos anos 90.
E é nesse contexto em que as mudanças sociais, culturais, políticas e, especialmente
tecnológicas, configuram novos cenários. O ritmo acelerado de tais mudanças tem provocado
ambientes altamente instáveis, além de desencadear diversos processos organizacionais para
lidar com os impactos sobre as relações de conteúdo e valor da atividade de trabalho. Em face
a atual configuração econômica e política mundial e, em particular no Brasil, surgem diversas
alternativas em busca de opções de obtenção de trabalho e renda na tentativa de promover,
através do trabalho, a organização popular.
Nesse sentido, TEDESCO (2001, p. 17) esclarece que “a crise está servindo de momento
heurístico para categorias sociais, para a organização da sociedade civil, principalmente
aquela incluída marginalmente no horizonte do mercado - de consumo e de trabalho”.
2
Disponível em < http://www.clickfome.com.br> acesso em 21 out.2001.
3
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada < http://www.ipea.gov.br> acesso em 10 out.2001.
8
Essa organização popular com base na autogestão e solidariedade defende um outro modelo
de economia que não o modelo capitalista, caracterizado por relações de emprego, de
exploração, apropriação ou concentração de renda. Trata-se de um modelo alternativo de
economia que pode ser denominada “Economia Solidária”. Segundo SINGER (2000), a
Economia Solidária é um modo de produção e distribuição alternativo, criado e recriado pelos
que se encontram (ou temem ficar) marginalizados do mercado de trabalho. A economia
solidária alia o princípio da unidade entre posse e uso dos meios de produção e distribuição
com o princípio da socialização desses meios. RUFINO
4
(2001) salienta que se trata de uma
organização econômica, onde predomina a solidariedade entre os trabalhadores na busca de
formas democráticas de viabilizar a sobrevivência.
Naturalmente, a solidariedade é um valor que não está presente apenas no Cooperativismo,
apesar de ser um dos mecanismos de aglutinação dos grupos cooperados. Sob esse termo
estão contidos diversos significados e destinatários. Para SERQUEIROS (2000, p. 21), “as
pessoas são ‘solidárias’ em relação a alguma coisa, algum problema ou situação. Não se pode
entender o que é solidariedade sem um conhecimento e uma sensibilização real do mundo”.
Segundo TEDESCO (2001, p. 25), a solidariedade no âmbito econômico “[...]não se sobrepõe
a outras esferas: produz-se na concomitância. Para sua efetivação, há necessidade de uma
ética, de um consenso enquanto visão de mundo, de um trabalho que se diferencia do emprego
por mais que aquele contemple hierarquizações, divisões e fragmentações sociais”.
Nesse contexto, tem fundamental importância a presença de setores comprometidos da
sociedade, tais como Universidades, ONGs, agindo de forma solidária, mas não
assistencialista, podendo através de assessorias e de seu saber técnico contribuir na educação
para o desenvolvimento do espírito solidário dentro das sociedades cooperativas.
Este envolvimento solidário, no interior das cooperativas, se manifesta num compromisso e
responsabilidade de seus membros para a superação conjunta dos obstáculos. Mas é também a
identificação desses grupos com outros em mesma situação que possibilita ampliar os
domínios da solidariedade na dimensão da sociedade.
4
Bibliografia mimeografada.
9
Pode-se deduzir, que a economia solidária acaba por se constituir numa rede de iniciativas no
campo popular, que em suas variadas formas de atuação, visa inserir através de programa de
geração de renda os trabalhadores excluídos, sendo o cooperativismo uma de suas vertentes
que, atualmente, ressurge com as Cooperativas de Trabalho, como grande esperança para
muitos trabalhadores deixados à margem do mercado formal.
O termo "Economia Solidária" está despertando, no meio intelectual, um debate
terminológico, visto que, para VAINER (2000, p. 47), "a economia é o lugar da competição
da guerra. Os espaços de solidariedade são aqueles dominados por outros fins, por outros
valores e por outras práticas. Daí a perplexidade frente à expressão ‘economia solidária’ [...]
um projeto amplo, abrangente de solidariedade é inseparável da crítica da economia".
SINGER (2000, p. 63-64), entretanto, discorda desse ponto de vista, pois, para ele, essa
posição traduz uma visão ideológica liberal. Respondendo exatamente às palavras de Vainer,
ele afirma que, na visão liberal, as pessoas são autônomas, racionais, sabem exatamente o que
querem e "são capazes, então, de entrarem em relações igualitárias no mercado, compram e
vendem e, através disso, se atinge um estado ótimo".
No entanto, isso não ocorre de fato, pois a imensa massa de excluídos de todos os direitos,
inclusive do direito ao trabalho, não está à margem por acaso; existem diversos fatores
estruturais, conjunturais econômicos e culturais que os impedem de participar do processo em
condições de igualdade com segmentos de maior poder econômico da sociedade.
SINGER (2000, p. 68) complementa dizendo que "a Economia Solidária é menos
inconsistente do que a economia capitalista. [p] Porque ela coloca, aberta e diretamente, a
solidariedade como princípio organizador da economia social em lugar da competição. A
ideologia da economia solidária é coletivista".
ASSMANN e MO SUNG, (2000, p.144-145) analisando as duas posições, fazem sua crítica a
Vainer, no sentido de que ele, defendendo a solidariedade pura nas relações sociais, acaba por
reduzir a economia a um lugar de guerra, não reconhecendo ou admitindo que as sociedades
humanas puderam desenvolver-se econômica e socialmente também graças ao
desenvolvimento das relações econômicas. Na resposta de Singer a Vainer, segundo eles,
10
persiste ainda o problema da solidariedade como princípio organizador da economia social em
lugar da competição. Eles questionam se não seria melhor adotar mais de um princípio
organizador da economia e da sociedade.
ASSMANN e MO SUNG, (2000, p.143-144) entendem que a cooperação e solidariedade são
vividas pelos grupos porque possibilitam a eles enfrentar a concorrência, ou seja, "os seres
humanos cooperam para competir". Para esse autor, a proposta de economia solidária pode ser
(re)interpretada como uma estratégia de médio prazo rumo a uma sociedade pós-capitalista.
Reconhece os limites para solidariedade, visto que se opõem duas escolhas radicais: "a
economia sem nenhuma relação de concorrência, somente com pura solidariedade, ou a
separação radical entre solidariedade e economia".
Sobre a problemática do capital gerador da exclusão social e conseqüente busca, por parte dos
atores envolvidos, de soluções através de práticas inventivas, MANCE (2000, p. 35) diz:
o capital ao gerar cada vez mais excluídos e ao desenvolver continuamente as forças produtivas, atua
em direção de sua própria dissolução ao ir eliminando progressivamente a relação "capital-trabalho-
assalariado" como modo dominante da produção social, criando as bases e a necessidade de expansão
e desenvolvimento de redes de colaboração solidária como único modo de os excluídos poderem gerar
e usufruir da riqueza produzida com vista a assegurar o bem viver pessoal e coletivo.
Porém, não se pretende neste trabalho, discutir exaustivamente a questão da Economia
Solidária, mas sim, enfocar uma das alternativas de geração de renda que se dá através da
Cooperativa de Trabalho.
Como já foi dito, no processo de reestruturação produtiva e globalização, os trabalhadores
enfrentam a ruptura do trabalho formal, fazendo parte do quadro de desemprego que atinge
índices jamais vistos em nossa história. Autônomos e trabalhadores desempregados buscam
formas alternativas de trabalho e renda, seja na economia informal
5
, seja em
empreendimentos solidários diferentes, tais como cooperativas de trabalho.
5
Em 1997, conforme Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 12.870.421 pessoas no setor informal, número que correspondia
60,8% do total de empregados no mercado formal.
11
Dizer que a cooperativa de trabalho é uma forma de organização autogestionária, onde
pessoas se unem por meio de uma propriedade coletiva e democraticamente gerida, tendendo
a buscar soluções e criar alternativas viáveis para o desenvolvimento do grupo em sua
totalidade, não traduz toda a gama de intrincados processos que efetivamente compõem o seu
universo e o grau de inserções na economia que elas vêm atingindo.
O trabalho associado em cooperativa vem crescendo nas atividades e funções que
anteriormente eram exclusivamente estatais e de empresas privadas tradicionais devido a
reforma das funções do Estado e à privatização. O processo de estagnação econômica
pressiona os governos municipais a adotarem políticas de desenvolvimento das economias
locais, e o cooperativismo de trabalho tem se mostrado um importante mecanismo de combate
ao desemprego e tem contribuído na construção de alternativas de
desenvolvimento. Segundo
TESCH (2000) este é um modelo possível de descentralização das atividades do Estado.
Nesse sentido, o cooperativismo pode até ser classificado como um fenômeno de recuperação
de empresas em crise, pois várias organizações têm dado continuidade em suas atividades e, o
mais importante, mantendo os postos de trabalho através da cooperação.
Com relação às cooperativas, MAGALHÃES (2000, p.136) salienta que “para a viabilidade
destes empreendimentos estão sendo formadas organizações que prestam serviços de
assessoria, como as ONGs, incubadoras de cooperativas populares e muitas prefeituras estão
implementando políticas públicas para a geração de renda e fomentando a formação de
cooperativas”.
Já, TEDESCO (2001, p. 31) compreende a importância da universidade, pois que “[...]a
parceria com universidades é um espaço para investimento em pesquisa e sistematização,
desenvolvimento de plantas industriais, novos produtos, estudos de mercado, propaganda,
qualidade[...]”.
Porém, as organizações associativas ou cooperativas encontram enormes dificuldades em se
estabelecer e tornarem-se viáveis em médio prazo. Para muitas, a falta de conhecimento,
organização, qualificação técnica, manejo de tecnologias adequadas e as crescentes exigências
do mercado onde atuam, à primeira vista, seriam fatores que impediriam a interlocução com o
12
Estado e a sociedade o que, em conseqüência, inviabilizaria o empreendimento. No entanto,
uma análise mais aprofundada revela que a dificuldade maior está na internalização dos
valores cooperativos, ou seja, são abertas seqüelas pela falta de educação cooperativa ou pela
dificuldade em se realizar uma educação voltada para o cooperativismo.
E o que isso significaria? Significaria que, embora no campo ideal, as iniciativas
cooperativistas sejam vistas como um modelo possível, tanto como alternativas de geração de
renda, como meio de superação dos atuais modelos capitalistas, que como foi falado, não dão
conta de atender às demandas por trabalho, sob o ponto de vista real, só poderão atingir sua
meta se passarem por um longo processo de aprendizado, onde seus membros, efetivamente,
compreendam e assumam os valores cooperativistas e os coloquem em prática.
A elevação no número de cooperativas constituídas nos últimos anos tem demonstrado a
relevância em estudar esse tipo de empreendimento, principalmente, porque isso pode ser um
reflexo de que a criação de Cooperativas de Trabalho esteja sendo adotada como alternativa
de geração de trabalho e renda, com o agravamento da crise neste campo. Isso poderá ficar
mais claro quando analisarmos o quadro II, mais adiante.
FERREIRA apud SINGER (2000, p. 95) destaca;
Da mesma maneira como já ocorrera em outros países, as cooperativas no Brasil passaram a figurar
como alternativa à geração de trabalho e renda após o agravamento da crise econômica e a explosão
do desemprego. Isso pode ser constatado pela elevação no número de cooperativas constituídas nos
últimos anos, conforme demonstrado pelas informações da Organização de Cooperativas Brasileiras
(OCB), expressas na tabela a seguir. Entre 1990 e 1998, a taxa de crescimento do número de
cooperativas foi de 44% e a taxa de crescimento do número de cooperados atingiu 53%.
Quanto às taxas de crescimento, conforme pode-se constatar, entre 1990 e 1998, a taxa de
crescimento do número de cooperativas brasileiras foi de 43,8% e a de crescimento do
número de cooperados atingiu 56,3%. Confira os dados no quadro a seguir:
13
QUADRO I - COOPERATIVAS E NÚMERO DE ASSOCIADOS NO BRASIL -
COMPARATIVO -1990/1998.
Anos Nº de
cooperativas
Índice de
evolução
Nº de
Cooperados
Índice de
evolução
1990 3.549 100,0 2.833.036 100,0
1991 3.529 99,4 3.232.098 114,1
1992 3.548 100,0 2.991.486 105,6
1993 3.610 101,7 2.869.625 101,3
1994 3.701 104,3 2.928.391 103,4
1995 3.928 110,7 3.553.607 125,4
1996 4.316 121,6 3.628.985 128,1
1997 4.851 136,7 4.025.299 142,1
1998 5.102 143,8 4.428.925 156,3
Fonte: Subseção Dieese, com base nos dados da OCB - implementado pela mestranda.
No quadro II são relacionados os dados referentes às cooperativas do ramo trabalho:
QUADRO II - COOPERATIVAS DE TRABALHO, SEGUNDO OS RESPECTIVOS
SEGMENTOS - 1998
SEGMENTOS Nº DE COOPERATIVAS Nº DE COOPERADOS Nº MÉDIO DE ASSOCIADOS
ARTESANAL
30 3.503 117
CULTURAL
28 6.039 216
DIVERSOS
744 204.840 275
TRANSPORTES
217 24.717 114
TOTAL
1019 239.099 235
Fonte: Dados do Anuário da OCB, transcritos no Informecoop da Abracoop, 1999.
Nota-se que as cooperativas de trabalho no Brasil, relacionadas no Anuário do
Cooperativismo Brasileiro 1999, da OCB - Organização das Cooperativas Brasileiras,
atingem o número de 1.019 cooperativas ou 19.9% do número total de cooperativas. Esse
14
valor (de 1.019) abriga cerca de 239.099 cooperados (5,4% do total brasileiro), conferindo
uma média de 235 cooperados por cooperativas.
Analisando as informações do Anuário Paraná Cooperativo (10/08/2000), constata-se que, nos
últimos anos, o Cooperativismo de Trabalho (grifo nosso) apresentou grande crescimento,
principalmente, em função do alto índice de desemprego que atinge o país. No Paraná,
segundo dados da OCEPAR, aproximadamente 218.000 associados dependem do
cooperativismo e estão ligados às diversas categorias de atuação. Atualmente, os registros na
Junta Comercial informam a existência de 167 cooperativas de trabalho. Não se chegou a
análise de dados comparativos. Embora os dados do estado revelem um aumento
significativo, o Paraná ainda não se encontra entre os estados com maior índice de
cooperativas, pois, segundo afirma SCHNEIDER (1996, p.134) "os Estados com o maior
número de cooperativas e associados são, respectivamente, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio
Grande do Sul".
Se os dados apontados revelam crescimento do cooperativismo de trabalho, pode-se observar,
por relatos de entidades e autores
6
, que um problema persiste: o controle da gestão. A ênfase
na gestão tem sido a problemática maior no início de qualquer empresa com base em
autogestão, uma vez que nesse ambiente transformado, que tem como base os valores de
solidariedade e eqüidade, as formas clássicas de gestão entram em conflito com o processo
democrático, necessitando pesquisas mais aprofundadas que venham a delimitar sua
amplitude, visto que no mundo não existe um modelo único de cooperativa, como também
não há modelo único de gestão.
Embora as práticas de gestão dentro da cooperativa se diferenciem da racionalidade
capitalista, é imperativo perceber que a longividade dessas experiências, para TEDESCO
(2001, p. 27), se dá dentre outros fatores através da sua “capacidade de diversificação
produtiva, do senso de oportunismo que demanda uma visão menos imediatista, da
consciência da previsibilidade, riscos e sacrifícios, do planejamento estratégico
6
Paul Singer, Schneider, Unisol, Sescoop, OCB.
15
Além disso, esse modelo possível e fundamentado na solidariedade sofre pressões tanto
internas quanto externas que merecem considerações diante do fato de tratar-se de uma
inovação dentro de um cenário globalizado, que privilegia o individual em detrimento do
coletivo.
Do ponto de vista interno, deve-se considerar a resistência à mudança (do individual para
coletivo), pois foram internalizados nos indivíduos valores que inibem o desenvolvimento
coletivo. A cultura capitalista gerou uma sociedade individualista, cética no trabalho
cooperativo. E, quando se trata de pressões externas, deve-se considerar que as iniciativas
sofrem boicotes de inúmeros setores reféns de políticas hegemônicas e interesses neoliberais.
Deve-se considerar ainda que alguns empresários querem “reinventar” o cooperativismo de
trabalho com a única intenção de sonegação fiscal e exploração da mão-de-obra, o que
prejudica as iniciativas genuínas, do ponto de vista legal.
16
1.3 OBJETIVOS
Foram traçados alguns objetivos (geral e específicos), os quais no decorrer da pesquisa
nortearam o desenvolvimento alcançar resoluções no decorrer da pesquisa. O objetivo geral
norteou o desenvolvimento da pesquisa e específicos serviram para pontuar e enfatizar o tema
e o objeto de estudo.
1.3.1 Objetivo Geral
Realizar um estudo teórico-empírico sobre a formação e implantação de uma Cooperativa de
Trabalho, sob o enfoque da importância do princípio da Educação Cooperativa, no caso
específico da Cooperativa dos Produtores de Confecções e Facções Mandaguari/PR, à luz da
experiência de Rochdale e de algumas experiências cooperativas no Brasil.
1.3.2 Objetivos Específicos
- Analisar a literatura pertinente ao cooperativismo do trabalho;
- Analisar as dificuldades encontradas pela comunidade na constituição e organização da
cooperativa de trabalho;
- Observar e analisar como se dá, na prática, a aquisição da cultura cooperativa e suas
influências na gestão da cooperativa de trabalho em foco;
- Identificar as condições em que são resolvidas as exigências de qualificação, bem como sua
relação com a educação cooperativa;
- Identificar as bases em que foi construída no grupo a identidade coletiva, através da
realidade vivida.
- Analisar alguns exemplos de cooperativas, que estão tendo êxito observando a relação que
se dá com a internalização e adoção dos princípios cooperativos.
17
1.4 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
O presente trabalho foi realizado no período de março de 2000 a dezembro de 2001 na
Cooperativa dos Produtores de Confecções e Facções de Mandaguarí, localizada na Rua
Custódio da Rocha s/nº, na cidade de Mandaguari, Estado do Paraná. A cooperativa foi
constituída em 15 de setembro de 2000, regendo-se pelos princípios do Cooperativismo, pelas
disposições legais, pelas diretrizes da autogestão e pelo estatuto (ver anexo I).
18
CAPÍTULO II
COOPERATIVAS DE TRABALHO - UM ESTUDO SOBRE EVOLUÇÃO
HISTÓRICA, PRINCÍPIOS E FORMAÇÃO
2.1 COOPERATIVISMO: ORIGENS E PRECURSORES
De acordo com a literatura sobre cooperativismo, verifica-se que, na luta pela sobrevivência,
os povos antigos já praticavam a cooperação na caça, na pesca e na habitação. Na Babilônia,
no Egito e na Grécia antiga, existiam formas de cooperação bem definidas nos campos de
trigo, no artesanato e no sepultamento.
Quatrocentos anos antes de Cristo, na China, os mercadores, freqüentemente, sofriam
prejuízos ao naufragarem nas águas do rio Yang-Tsé. Em busca de solução para o problema,
organizaram-se em grupos de dez, levando em cada barco uma caixa de mercadorias de cada
um dos companheiros. Assim, quando ocorria um naufrágio, o prejuízo era dividido entre
todos, evitando que o dono da embarcação e sua família sofressem privações por longo
tempo. Uma das formas mais bem definidas de cooperação foi constatada no século XV,
quando do descobrimento da América: as civilizações Asteca e Maia (reunião centro-
americana) e Inca (Peru), viviam em regime de verdadeira ajuda mútua. Estes desenvolviam
a atividade agrícola. A terra era cultivada coletivamente pelos camponeses. Todos esses são
sistemas sociais marcados pela cooperação e solidariedade.
O sistema feudal era sustentado pela organização agrária e o rei mantinha soberania sobre a
terra, repartindo-a entre os súditos para a exploração de usufruto, na modalidade de
propriedade familiar, passando de pai para filho. A partir do século XVI, em meio a um
regime espoliador responsável pela convulsão social das classes populares de diversos países
europeus, surgem propostas de organização das classes trabalhadoras.
Pode-se citar que, antes do século XIX, todas as corporações eram informais, mas havia
algumas experiências de exploração coletiva da terra, no meio rural. As chamadas “guildas de
19
comerciantes” ou “corporações de ofício” da Idade Média e início da Idade Moderna tiveram
caráter mais formal.
O século XVIII traz grandes transformações, sendo uma delas a passagem da energia orgânica
para a inorgânica (máquina a vapor, eletricidade). O sistema predominante de produção
artesanal e o novo modelo passam a ser a produção em série. Isso revoluciona toda a produção
e faz com que surjam novos desafios para os trabalhadores, agora gradativamente substituídos
pelas máquinas.
Estudiosos da Inglaterra, França, Alemanha dentre outras nações da Europa, deixam
experiências e obras capazes de motivar o surgimento de uma nova ordem sócio-econômica,
conduzindo à reformulação comunitária, em busca da felicidade individual e do bem-estar.
Durante o século XVII, P.C. Plockboy (1659) tem início a formação de grupos econômicos de
agricultores, artesãos, marinheiros e professores, para que se organizem em associações de
cooperação integral.
John Bellers (1690) imagina "Colônias Cooperativas de Trabalho", congregando de 300 a
3.000 cooperados, que poderiam reduzir as suas próprias despesas, eliminando assim os lucros
de intermediários e interferências de terceiros.
Robert Owen (1770-1858) celebrizou-se primeiro como proprietário e condutor de New
Lanark, a imensa empresa têxtil que adquiriu de David Dale em 1799. Já, em 1817, Owen
apresentou seu "plano" de como acabar com a pobreza mediante o emprego dos que não
tinham proventos e eram sustentados pela beneficência das paróquias em "Aldeias
Cooperativas".
Preocupado com o baixo nível de vida dos operários ingleses, introduz reformas em suas
fábricas, reduz a jornada de trabalho, regulamenta o emprego da mulher e do menor e concede
participação nos resultados a todos os seus empregados. Ao ver que os demais empresários de
seu país não se interessam por suas idéias, retira-se anos depois para os Estados Unidos da
América, onde tenta fundar, sem êxito, colônias baseadas na propriedade coletiva, as
20
"Repúblicas Ideais", constituídas por 2.500 operários. Voltando à Europa, investe em
inúmeras iniciativas de organização dos trabalhadores.
Mesmo sem obter relevante sucesso em empreendimentos dessa natureza, a sociedade inglesa
e a de outros países ficam devendo a ele, e a seus inúmeros seguidores, a fundação de
cooperativas e sindicatos. Talvez a mais importante lição comunitária na sociedade moderna
tenha advindo da experiência de Owen, quando tenta conciliar o incentivo individual com
uma eficiente decisão no processo democrático.
Ao final de sua vida, apesar dos insucessos a ele atribuídos por setores do empresariado
elitista de sua pátria e da Europa, merece da sociedade e de todo o mundo o reconhecimento
por ter sido um brilhante industrial, reformador e Pai do Cooperativismo Moderno.
Contemporâneos de seu trabalho e de suas experiências, bem como divulgadores de suas
obras, merecem também o título de Precursores do Cooperativismo:
- François Marie Charles Fourier (1772-1837) - França, acreditava que o problema social se
resolveria com a criação de agrupamentos, os quais chamou de "falanger" e "falanstérios" que
seriam colônias onde famílias deveriam viver em comunidade societária e promover num
ambiente de convívio espontâneo, abundância igual para ricos e pobres, a substituição da
"competição pela cooperação" e a extinção do trabalho remunerado. MAURER (1966, p.40).
- Willian King (1786-1865) - Inglaterra, novel teórico da cooperação, estimulou a
organização de cerca de 300 cooperativas em pouco tempo na Inglaterra. Era mais
democrático que Owen, acreditava na própria iniciativa das classes pobres. Tinha como
preocupação a formação e autonomia do homem. Via o trabalhador como o dono absoluto de
sua força de trabalho e do produto de seu trabalho.
- Philippe Joseph Benjamin Buchez (1796-1865) - Bélgica, contemporâneo de King,
considerado também como teórico das cooperativas de trabalho. Estabeleceu as primeiras
bases para organização e funcionamento dessas cooperativas. Não aceitava ajuda do Estado e
de qualquer tipo de intervenção.
21
- Sean Joseph Charles Louis Blanc (1822-1882) - França, precursor das cooperativas de
trabalho e grande teórico, ao contrário de Buchez, "optava pela grande indústria através de
"oficinas sociais", que seriam uma associação de operários de uma mesma indústria e que
inicialmente contava com apoio do Estado" (OLIVEIRA, 1982, p.128).
Além dos precursores já citados, também não podem ser esquecidos aqueles que, em
determinada época, tiveram importante participação na reformulação da sociedade universal e
no desenvolvimento do cooperativismo:
Doutrinadores: Charles Gide, Beatriz Potter Webb, Paul Lambert, Bernard Lavergne, George
Larsene, George Fouquet e Moises M. Coady;
Historiadores: George Jacob Holyoake, Grozmoslav Mladematz e George Davidovic;
Realizadores: Os Probos Pioneiros de Rochdale, Friedrich Wilhelm Raiffeisen, Hermann
Schulze/Delitzch, Luiggi Luzzatti, Wilhelm Hass, Alphonse Desjardins e Theodoro Amstadt.
As experiências e as idéias dos precursores, extraídas de seus livros ou conservadas por seus
seguidores, não tiveram aproveitamento tão eficaz como o demostrado pelos operários na
cidade de Rochdale, na região de Lancaster, na Inglaterra. Cidade industrial perto de
Manchester, que assistiu à fundação de uma sociedade cooperativa, a Society of Equitable
Pioneers, que à primeira vista seria apenas mais uma entre as muitas formadas nas décadas
precedentes. Essa cooperativa, no entanto, estava predestinada não só a perdurar e crescer,
mas a se tornar a matriz de todas as cooperativas modernas. A saga dos Pioneiros Eqüitativos
de Rochdale epitomiza uma nova etapa da história do movimento operário, de confronto e
adaptação ao capitalismo.
Prejudicados pelo novo modelo industrial que substituiu o trabalho artesanal e outras
atividades pelas máquinas que haviam sido inventadas, esses trabalhadores tiveram que
enfrentar os inconvenientes do desemprego, em virtude da mão-de-obra excedente, sendo
levados a procurar outras alternativas para garantir o sustento de suas famílias.
Discutindo suas dificuldades e buscando soluções para problemas que já se tornavam
angustiantes em toda a Europa, eles ouviram a opinião de um companheiro que fora discípulo
de Robert Owen, e decidiram pela criação de uma sociedade de consumo, baseada no
22
“cooperativismo diferenciado”. O movimento cooperativista surgiu com o intuito de
enfrentar a Revolução Industrial da época, que estava massacrando, oprimindo e levando à
miséria os operários.
Conforme a história do cooperativismo, comentada por CRÚZIO (2000, p. 25), "27 tecelões
de Rochdale (Inglaterra) e uma tecelã, impregnados pelos ideais do movimento owenista,
criaram em 21 de dezembro de 1844 uma cooperativa de consumo oficialmente registrada
como Friendly Society", e a fundação de um armazém comunitário representou a economia de
uma libra por sócio durante um ano.
Dispondo de pequenos estoques de açúcar, gordura, farinha e outros gêneros de primeira
necessidade, o modesto estabelecimento, administrado pelos seus próprios fundadores, foi
alvo de incredulidade e da inveja dos tradicionais comerciantes da cidade. Despertou, porém,
a atenção dos consumidores locais e principalmente das classes trabalhadoras, pela
considerável prosperidade.
Logo no primeiro ano de funcionamento, o capital da empresa aumentou para 180 libras e
cerca de dez anos mais tarde o "Armazém de Rochdale" já contava com 1.400 cooperados. A
sociedade prosperava, economicamente, funcionando de forma democrática e exercendo sua
função social. Essa atitude representou uma reação à ganância capitalista que, na época,
submetia crianças e mulheres a jornadas de até 16 horas de trabalho.
Foi a primeira cooperativa legalmente constituída que se tem registro na História. Os
objetivos imediatos para fundação foram a compra e divisão coletiva de cesta de suprimentos
e criação de uma sociedade cooperativa. Para RIQUE (1999), Rochdale era uma cidade de
tecelões auto-educados, orgulhosos de suas tradições e confiantes no seu valor.
Seus objetivos principais iam além da simples criação de uma empresa de consumo;
almejavam abrir uma loja, construir casas para seus sócios e gerar empregos para as famílias
rochdaleanas.
23
Ancoradas no evidente sucesso da Cooperativa de Rochdale, inúmeras outras iniciativas
surgiram e se ramificaram. Dados da OCB
7
indicam que atualmente 5.014.016 de pessoas
estão vinculadas diretamente aos diversos ramos de cooperativas existentes no Brasil.
2.2 O COOPERATIVISMO E A LEI COOPERATIVISTA NO BRASIL
Por volta de 1610, quando foram fundadas no Brasil as primeiras Reduções Jesuíticas, houve
a tentativa da criação de um Estado em que prevaleceria a ajuda mútua. Esse modelo de
sociedade solidária entre os missionários, indígenas e colonizadores visava, em primeiro
lugar, ao bem estar do indivíduo e de sua família, acima dos interesses econômicos da
produção. Incentivada pelos padres jesuítas, a prática do "mutirão", já vivenciada pelos povos
primitivos, vigorou por cerca de 150 anos entre os índios guaranis, nas diversas Reduções.
Porém, o movimento Cooperativo, propriamente dito, começou a ser conhecido no Brasil
somente por volta de 1847, quando o francês Maurice Faivre, sob inspiração de Fourier,
fundou nos sertões do Paraná a Colônia Tereza Cristina que, apesar de sua breve existência,
muito contribuiu para o florescimento do ideal cooperativista no país.
A primeira cooperativa brasileira, fundada em 1891, foi a cooperativa de consumo dos
funcionários da Companhia Telefônica em Limeira, SP. Já a primeira cooperativa, que
realmente obteve êxito, foi a caixa rural criada pelo padre suíço Teodoro Amstadt, em 1902,
no município de Nova Petrópolis, no Rio Grande do Sul.
A partir de 1932, com a promulgação do Decreto nº 22.239, que apresenta as características
das cooperativas e consagra as postulações doutrinárias do sistema cooperativista, houve uma
grande expansão desse movimento.
Para SARATT e MORAES (1997, p. 22)
o verdadeiro ‘boom’ das cooperativas só aconteceu na década de 40, quando o governo Getúlio
Vargas incentivou a criação das cooperativas. Nas décadas de 60 e 70, o sistema viveu seu apogeu,
graças às altas cotações da soja no mercado internacional e ao crédito fácil. Entretanto, a má
administração, as fraudes em diversas entidades do setor e o fim dos subsídios estatais, já nos anos 80,
desestruturaram significativamente as cooperativas brasileiras, consideradas, até então, modelo de
eficiência e organização.
7
Organixação das Cooperativas Brasileiras/dezembro de 1999.
24
Atualmente, o cooperativismo toma forma diversificada através de empresas autogeridas,
sendo muitas delas agrupadas na ANTEAG - Associação Nacional de Trabalhadores de
Empresas Autogeridas e de Participação Acionária ou então na Associação Brasileira de
Autogestão; pequenas e médias associações ou cooperativas de produção ou comercialização,
chamadas PACs - Projetos Alternativos Comunitários, formados com apoio da CÁRITAS
Brasileira
8
; cooperativas "agropecuárias" e cooperativas de produção - formadas pelo
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, nos assentamentos de reforma
agrária; cooperativas de trabalho e de serviços, formadas por Incubadoras Tecnológicas de
Cooperativas Populares.
Para SINGER (2000, p. 27), "este novo cooperativismo surge num momento em que a
abertura indiscriminada do mercado às importações, a sobrevalorização da moeda nacional e
taxas de juros elevadíssimas produziram a eliminação de milhões de postos de trabalho formal
e o fechamento de grande número de empresas".
A Lei 5.764, Art. 4º, aprovada em 1971, disciplina a organização e o funcionamento das
cooperativas no Brasil, contemplando os princípios doutrinários e distinguindo-as das demais
sociedades pelas seguintes características:
I) adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo impossibilidade técnica de
prestação de serviços;
II) variabilidade do capital social, representado por quotas-partes.
III) limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado, facultado, porém, o
estabelecimento de critérios de proporcionalidade, se assim for mais adequado para o cumprimento
dos objetivos sociais;
IV) inacessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à sociedade;
V) singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações e confederações de
cooperativas, com exceção das que exerçam atividades de crédito, optar pelo critério da
proporcionalidade;
VI) quorum para o funcionamento e deliberação da Assembléia Geral baseado no número de
associados e não no capital;
VII) retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo
associado, salvo deliberação em contrário da Assembléia Geral.
VIII) indivisibilidade dos Fundos de Reserva e de Assistência Técnica, Educacional e Social.
IX) neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social;
X) prestação de assistência aos associados e, quando prevista nos estatutos, aos empregados da
cooperativa;
XI) área de admissão de associados limitada às possibilidades de reunião, controle, operações e
prestação de serviços;
8
Cáritas Brasileira é uma instituição da Igreja Católica, de âmbito internacional, com 146 organizações membros atuante em 194 países. É
um organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, ligada ao setor Pastoral Social. Ela foi criada em 12 de novembro de
1956, constituindo-se em sociedade civil sem fins lucrativos.
25
A legislação em vigor 5.764/71, em seu Art. 5º, classifica que: "as sociedades cooperativas
poderão adotar por objeto qualquer gênero de serviço, operação ou atividade, assegurando-se-
lhes o direito exclusivo e exigindo-se-lhes a obrigação do uso da expressão 'cooperativa' em
sua denominação".
Quanto à sua organização, as cooperativas são consideradas em seu Art. 6º como:
I) Cooperativas singulares: compostas por, no mínimo de vinte pessoas físicas, sendo
excepcionalmente permitida a admissão de pessoas jurídicas que tenham por objetivo as
mesmas ou correlatas atividades econômicas das pessoas físicas ou, ainda, aquelas sem fins
lucrativos;
II) Cooperativas Centrais ou Federações de Cooperativas, as constituíudas de, no mínimo, três
singulares, podendo, excepcionalmente, admitir associados individuais;
III) Confederações de Cooperativas, as constituídas, pelo menos, de três federações de
cooperativas ou cooperativas centrais, da mesma ou de diferentes modalidades.
Parágrafo 1º. Os associados individuais das cooperativas centrais e federações de cooperativas serão
inscritos no Livro de Matrícula da sociedade e classificados em grupos visando à transformação, no
futuro, em cooperativas singulares que a elas se filiarão.
Parágrafo 2º. A exceção estabelecida no item II, in fine, do caput deste artigo não se aplica às centrais
e federações que exerçam atividades de crédito.
A representação do sistema cooperativista nacional cabe à Organização das Cooperativas
Brasileiras - OCB, com sede em Brasília, e Organizações de Cooperativas Estaduais - OCE's,
com sede nas capitais de seus respectivos Estados.
Sob o ponto de vista legal, vale salientar que a própria Constituição Federal do Brasil, art.
174, determina que o Estado deve estimular e apoiar o desenvolvimento das cooperativas. Isso
demonstra o alto grau de importância adquirido pelas cooperativas. No entanto, na
Constituição Federal ou em Leis Complementares não estão regulamentadas as formas de
apoio e proteção. Quanto às Cooperativas de Trabalho, não há legislação própria o que cria
segundo CAMPOS e DIAS, apud TEDESCO (2001, p. 83), “condições para a existência de
um vácuo jurídico-institucional, que permite a muitas dessas burlarem a legislação trabalhista
e previdenciária e se valerem das isenções tributárias atualmente concedidas às organizações
cooperativas”.
Existem tramitando, no Congresso, vários projetos de Lei para regulamentar o
Cooperativismo. Dentre eles podemos citar o projeto de lei no. 171 de 04.05.99, de autoria do
senador Osmar Dias, o projeto de lei no. 428 de 17.06.99, de autoria do Deputado João
26
Fogaça e o projeto de lei 605 de 05.11.99, de autoria do Senador Eduardo Suplicy, todos sem
perspectiva de encaminhamento para votação.
Por outro lado, está tramitando no Congresso, também, um projeto de regulamentação das
cooperativas de trabalho que revoga o parágrafo único do artigo 442 da CLT, que foi mal
interpretado e utilizado indevidamente por interesses escusos, distanciados dos princípios
cooperativistas.
2.3 RAMOS DO COOPERATIVISMO
Conforme CRUZIO (2000) e OCB (1999), os ramos do cooperativismo brasileiro podem ser
classificados como: Agropecuário e agro-industriais, Consumo, Crédito, Educacional,
Energia e Telecomunicações, Especial, Habitacional, Mineral, Produção, Saúde, Serviço e
Trabalho, sendo este último constituído de cooperativas de profissionais que prestam serviços
a terceiros, utilizando sua força laboral nas sedes das empresas tomadoras de serviços,
evidenciando o trabalho individual como definidor de classificação do ramo cooperativista,
mediante contrato de prestação do seu serviço, tipificando seu labor pela individualidade de
sua execução.
2.4 COOPERATIVA DE TRABALHO
De acordo com as referências pesquisadas, as Cooperativas de Trabalho surgiram na França e
na Itália durante o século XIX. A França era a segunda economia industrial da Europa; ao
contrário da Inglaterra, seu crescimento econômico não provocou mudanças estruturais
capazes de torná-la uma sociedade moderna. Os franceses não mudaram para as cidades, os
mercados eram localizados e limitados à classe média. A ênfase era produzir com qualidade,
preferia-se trabalhos feitos à mão em detrimento aos produzidos pela máquina. O processo de
industrialização na França foi, nesse sentido, mais humano e menos destrutivo do que na
Inglaterra. Houve intervenção do Estado para estimular o desenvolvimento econômico. Diante
desse fato, é natural, portanto, que tenha sido a França o local onde surgiram as primeiras
Cooperativas de Trabalho como respostas às necessidades do trabalhador autônomo.
27
Charles Fourier foi o ideólogo do cooperativismo francês. Preocupado com a subsistência da
classe trabalhadora, propôs o aumento da produção sob controle dos produtores. As suas
comunidades auto-sustentáveis (falanstérios) não tiveram sucesso. Sua contribuição foi mais
de ordem ética do que prática. Foi responsável pela difusão de idéias tais como: a) a
cooperação como possibilidade de se resolver os problemas das necessidades básicas; b) a
natureza voluntária desta cooperação; c) a importância do controle democrático; d) o trabalho
acima do lucro.
Além de Fourier, um outro francês contribuiu para o avanço do movimento cooperativista,
Philippe Buchez. Este começou com uma experiência prática em 1831: criou uma associação
de marceneiros.
No Brasil, assim como no restante do mundo, estão ocorrendo profundas e intensas mudanças
na área do trabalho em decorrência de crescentes inovações tecnológicas e conseqüente
automação no processo produtivo, da globalização da economia e dos compromissos
derivados da integração regional. Tudo isso aliado à crise de um modelo econômico baseado
em investimentos públicos e no protecionismo.
A tendência é de uma contínua diminuição de postos de trabalho no processo de produção
industrial, uma migração da economia para o setor de serviços, uma crescente terceirização
em todas as atividades e um incremento no número de trabalhadores autônomos com o
crescimento do mercado informal.
No entanto, os trabalhadores vêm descobrindo os benefícios do trabalho solidário e
autogestionário. A cooperativa de trabalho é uma alternativa em que a dignidade do trabalho
mais a responsabilidade social andam juntas às transformações de um mercado cada vez mais
exigente e competitivo.
A Cooperativa de Trabalho tem se mostrado, na prática, como uma boa alternativa que os
trabalhadores encontraram para gerar, manter e/ou recuperar postos de trabalho. A
cooperativa pode ser a única fonte de receita do trabalhador cooperado e servir de
complementação em seu orçamento.
28
Sendo a cooperativa uma empresa comunitária, para seu desenvolvimento é fundamental a
permanente preocupação com a formação do quadro diretivo e associativo. Por suas
características peculiares, seus associados são, ao mesmo tempo, donos e trabalhadores. Como
donos devem se preparar para gerir a cooperativa e, como trabalhadores, têm de estar
constantemente se reciclando, a fim de que sejam, os melhores profissionais da área.
A Educação Cooperativa deve ser um processo permanente de desenvolvimento integral e
cooperativo do quadro associativo, construindo autocapacidade para a geração de
conhecimento. TESCH em Dicionário Básico do Cooperativismo (2000, p. 54) define que;
“uma cooperativa de trabalho é aquela cujo objeto social expressa o interesse econômico comum,
habilidades, conhecimentos de seus associados e seu fim é proporcionar a possibilidade de gerar
trabalho através da produção de serviços dos mesmos para terceiros, em condições de mercado no
mínimo iguais às das sociedades de capital prestadoras de serviços, com seus empregados”.
Pode-se verificar, através do QUADRO III, a representatividade do cooperativismo de
trabalho em diversos países.
QUADRO III - O COOPERATIVISMO DE TRABALHO EM ALGUNS PAÍSES
1. Argentina Na Argentina, existem cerca de 72.100 cooperativas. (39%) da população tem
alguma vinculação, o trabalho apresenta maior número, 33% sendo que foi
incrementado nos últimos anos.
1990 fundadas 503
1997 770
1998 812
2. Brasil No Brasil (1999), são mais de 3.500 cooperativas associadas à OCB, cerca de 4%
da população. O ramo trabalho é majoritário quantitativamente, surgiu com os
médicos em 1967. No final dos anos 80 e início de 1990, emergem as cooperativas
multiprofissionais urbanas. Até 1980, surgia 1 (uma) por ano. Em 1999, só em São
Paulo, a média era de 10 por mês. Estima-se em 2.500 cooperativas de trabalho no
Brasil, com 500 mil associados, excluídos os médicos. Em São Paulo,
representariam cerca de 200 mil.
3. Colômbia Na Colômbia, existem milhares de cooperativas de trabalho cadastradas na
ASCOOP. A Lei 79/1988 define claramente "trabalho associado" e a Lei 454/98, o
que é "Economia Solidária". São 7 os setores de atividades: 1) Produção agro-
industrial; 2) Cooperativas de Recicladores; 3) Cooperativas de vigilância privada;
4) Cooperativas de manutenção de rodovias; 5) Cooperativas de confecção
(maquilados); 6) Cooperativas de labores agrícolas e 7) Cooperativas de Serviços
Industriais.
4. Chile O país têm sido tradicional no debate da cultura do cooperativismo. Teve vários
momentos de desenvolvimento desigual. Atualmente ressurge nos seguintes
setores: 1) Artesanal; 2) Serviços vários e 3) trabalhos profissionais. Em 1998, as
29
publicações informam existir 50 cooperativas de trabalho com 1.000 associados.
Contudo, se considerar “trabalho” como eixo nesta tipologia, transportes e serviços
estariam aumentando esse número.
5. Peru Apesar da legislação inadequada, há ainda centenas de cooperativas: setor agrário
(21), transportes (3), trabalho temporário (2), trabalho e fomento do emprego (41)
(indústria, mineira, pesqueira, serviços, etc). As cooperativas de trabalho estão
organizadas na "Fed. Nac. de Cooperativas de Trabalho e Fomento do Emprego".
O desvio com respeito a direitos dos trabalhadores gerou imagem negativa e o
governo impôs uma "carta de fiança" em nome do Min del Trabalho para garantir o
pagamento de direitos desviados, na prática, eliminando as cooperativas de
trabalho do mercado. Em junho/98, criou-se um Registro Obrigatório.
6. Uruguai O ramo trabalho no Uruguai foi institucionalizado desde 1962. Atua nos setores: 1)
Industriais; 2) Artesanais; 3) Transportes; 4) Saúde e 5) Educação. Produz bens e
serviços. São cerca de 100 cooperativas com mais de 10 mil associados.
7. Estados
Unidos
O cooperativismo em geral, especialmente a denominada "nova geração
cooperativista" no campo, está gerando um fenômeno econômico de grandes
proporções. Recordemos que Robert Owen esteve vivendo no século passado nos
Estados Unidos.
8. Canadá A CWF (Federação Canadense de Cooperativas de Trabalho) na região inglesa é
uma coordenação de três articulações de cooperativas de trabalho na Região de
Quebec que representam um ativo e crescente cooperativismo de trabalho no
Canadá.
Fonte: Relatório, Walter Tesch, do CICOPA Américas para a Assembléia do CICOPA MUNDIAL - Quebec 1999.
A prática da cooperação pode ser encontrada em toda parte do mundo e nas mais diversas
situações como instrumento colocado nas mãos dos homens para o benefício mútuo e da
humanidade.
2.4.1 Classificação das Cooperativas de Trabalho
A classificação das Cooperativas de Trabalho faz parte de uma construção que considera a
lógica, a cultura, as concepções e convicções daquele que classifica. No entanto, transcreve-se
neste, os conceitos de PINHO, MAUAD, apud TESCH (2000, p. 42):
a) cooperativas de produção e de serviços: cuja característica principal é a posse pelos associados
dos meios e demais fatores que lhes permitem gerar a produção ou serviços. Detêm, inclusive,
equipamentos e instalações. Tais organizações negociam o objeto de seu trabalho (os produtos e
serviços) e não a força de trabalho em si mesma. Os ganhos decorrem dos trabalhos prestados e são
divididos eqüanimamente entre todos os associados. Acrescente-se que, neste modelo, os riscos da
atividade empresarial são da própria cooperativa.
b) Cooperativas de mão-de-obra: cuja característica principal é disponibilizar mão-de-obra para
empresas. A força de trabalho é alocada a empresas visando a prestação de trabalho do interesse desta.
Não possuem os meios e fatores próprios para a realização do trabalho, os quais são fornecidos pela
empresa contratante.
c) Organizações comunitárias de produção: cujas principais características são a organização das
pessoas em comunidades ou vilas e a produção coletiva. Ocorrem na maioria das vezes, no setor
agrário. No plano internacional, são os modelos mencionados da China (com as “Comunas”), Israel
30
(com os Kibutz), México (com os “Ejidos”) e, no Brasil, com as Cooperativas de Produção
Agropecuárias (CPA) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra.
d) Cooperativas de trabalho mistas: na conformidade do disposto no artigo 10, parágrafo 2º, da
Lei nº 5.764/71, são consideradas cooperativas mistas aquelas que apresentam mais de um objeto de
atividade. No caso das cooperativas laborais, nada impede, portanto, sua organização de forma mista,
isto é, a estruturação de uma cooperativa cujo objeto seja, ao mesmo tempo, a produção de bens e
prestação de serviços; ou ainda, que a cooperativa faça a prestação de serviços e disponibilize mão-de-
obra para empresas; ou mesmo, que as organizações comunitárias de produção possuam unidades para
a industrialização de produtos agrícolas, e que também prestem serviços. O importante é a
observância dos elementos conceituais que identificam as cooperativas de trabalho, os principais
deles, a prestação coletiva de trabalho, a ajuda mútua e o proveito comum dos resultados do trabalho,
e que não haja vínculo de subordinação, afastando-se da relação de trabalho na forma de emprego.
Ressalta-se, porém, que também estas organizações mistas deverão desempenhar atividades
especializadas, de proveito comum, consoante o disposto no artigo 3º da Lei das Cooperativas,
combinando com o artigo 29, parágrafo 1º, do referido diploma jurídico.
2.4.2 Etapas para Organização de Cooperativa de Trabalho
O ideal para organizar uma cooperativa de trabalho seria (recomenda-se) que o grupo
interessado em constituí-la, procurasse orientações em instituições públicas e representativas.
O grupo deve conter, no mínimo, 20 pessoas físicas, com um mínimo de coesão(coesas), com
objetivos comuns bem definidos e sob uma liderança democrática. Os associados são
obrigatoriamente trabalhadores autônomos, cadastrados junto às Prefeituras e ao INSS.
A cooperativa, apesar de ser tipicamente uma sociedade civil, por não se dedicar ao comércio
como um fim, por não visar lucro nas suas operações, por ter capital social e por realizar
atividades comerciais cumprem um cerimonial diferente das sociedades civis para o seu
registro. Seguem algumas etapas básicas:
- Formação e consolidação do grupo;
- Elaboração do estatuto, onde estabelecem, entre outros, os objetivos sociais, a composição
dos órgãos de administração, direitos e deveres dos associados, o capital social;
- Fundação da cooperativa que se dá na Assembléia Geral de Constituição;
- Registro e formalização na Junta Comercial, seguindo as determinações necessárias para
obtenção do CNPJ e registro na Prefeitura e Secretaria da Fazenda;
- Organização interna da cooperativa, baseada em procedimentos administrativos e relações
com o mercado;
- A educação cooperativista premeia todo esse processo.
31
Um enfoque especial deve ser dado a este aprendizado contínuo, ou seja, à capacitação, pois
trata-se de aprender o que seja realmente uma cooperativa, como funciona e como organizá-
la. Isto consiste na implantação do princípio da Educação Cooperativa.
Deve-se também atentar a toda legislação sobre cooperativismo. Há de se observar uma
série de outras leis que dizem respeito a cada um dos tipos de cooperativa e, em alguns casos,
a todas as cooperativas.
RECH (2000, p. 65) destaca que “há que se observar o que determina a Consolidação das
Leis do Trabalho no que se refere aos contratos e relações de emprego internas. Sob o mesmo
assunto, cabe seguir as obrigações relacionadas à Previdência e Seguridade Social, em
especial o que determina o Decreto 3.048 de 6 de maio de 1999. Na comercialização dos
produtos, há de se lembrar a legislação relacionada ao ICMS”.
Para este autor, no caso das Cooperativas de Trabalho, (ibidem 68) “é essencial ter presente o
que determina o parágrafo único do art. 442 da CLT que lhes declarou a maioridade e abriu-
lhes perspectivas de autogestão. Necessário será cumprir as obrigações relacionadas ao ISS”.
2.4.2.1 Impostos e Contribuições
Conforme a legislação em vigor, a cooperativa de trabalho paga quando se caracteriza um fato
gerador (IPI na fabricação de mercadorias, ICMS na venda de produtos) e o cooperado paga
sobre os ganhos auferidos junto à cooperativa (IRRF, INSS, ISS).
2.4.2.2 Viabilidade Econômica
O estudo de viabilidade econômica vinha sendo exigido por determinação do Conselho
Nacional de Cooperativismo. Atualmente, ele não é obrigatório por lei, mas é necessário e
muito importante para a cooperativa.
O objetivo do estudo da viabilidade econômica é fazer um levantamento sobre a realidade da
região, a disponibilidade produtiva dos associados, os custos da cooperativa e as
32
possibilidades de comercialização dos produtos. RECH (2000, p. 69) apresenta uma proposta
interessante para o estudo de viabilidade econômica, dividida da seguinte maneira:
a) levantamento da realidade da região;
b) definição dos objetivos da cooperativa;
c) dados sobre a viabilidade da produção;
d) dados sobre as compras realizadas pelos sócios;
e) disponibilidade de recursos humanos;
f) orçamento dos gastos;
g) financiamentos;
h) investimentos;
i) orçamento de receitas; e
j) condições de mercado.
2.4.2.3 Negociação dos Serviços ou Produtos
As Cooperativas de Trabalho atuam de várias maneiras no mercado: com empresas públicas
e/ou privadas ou pessoas físicas, através de licitações e contratos específicos, tanto na
prestação de serviços como na oferta de bens produzidos. A elaboração de qualquer contrato
requer avaliação criteriosa de custos para evitar a inviabilização da cooperativa.
2.4.3 As sociedades na legislação brasileira
Com o objetivo de desenvolver atividades conjuntas entre pessoas ou iniciativas, a legislação
brasileira prevê a possibilidade de serem constituídas sociedades. O Código Civil Brasileiro,
art. 1.363, ofereceu uma definição muito genérica para esse tipo de iniciativa, ou seja:
“Celebram contrato de sociedade as pessoas que, mutuamente, se obrigam a combinar seus
esforços ou recursos para lograr fins comuns”. De modo geral, esta mesma legislação
convencionou dividi-las, no âmbito do direito privado, em civis e comerciais. No entanto, as
cooperativas, são sociedades reguladas por lei especial – Lei 5.764/71, Capítulo II, Art. 4º,
definindo-as como “Sociedade de pessoas, com forma e natureza jurídica própria, de natureza
civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados”.
Para melhor distinção e entendimento entre os tipos de sociedades e diferenças entre o
trabalhador cooperado e o celetista, seguem, os quadros explicativos:
33
QUADRO IV - DIFERENÇAS ENTRE COOPERATIVAS E SOCIEDADES MERCANTIS
NA SOCIEDADE COOPERATIVA NA SOCIEDADE MERCANTIL
O eixo da sociedade é o homem; O eixo da sociedade é o capital;
Cada associado conta com um voto na
Assembléia;
Cada ação ou quota conta com um voto
na Assembléia;
O controle é democrático; O controle é financeiro;
É uma sociedade de pessoas que
funciona democraticamente;
É uma sociedade de capital que funciona
hierarquicamente;
Os resultados retornam aos sócios de
forma proporcional às operações;
Os dividendos retornam aos sócios de
forma proporcional ao número de ações;
Valorização do trabalhador e de suas
condições de trabalho e vida.
Contratação do trabalhador como força
de trabalho.
Fonte: SERT – Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho - Manual de cooperativismo de trabalho, adaptado pela mestranda.
QUADRO V - DIFERENÇAS ENTRE TRABALHADOR COOPERADO E O
EMPREGADO CELETISTA
TRABALHADOR COOPERADO EMPREGADO CELETISTA
Não há grau de subordinação entre os
trabalhadores ou entre estes e seus clientes;
O trabalhador é subordinado a um
empregador ou patrão;
Participa das decisões; não participa das decisões;
não tem salário: seus rendimentos são
variáveis, pois recebe por produção;
recebe salário e nem sempre recebe por
acréscimo na produção;
não tem carteira de trabalho assinada,
pois é trabalhador autônomo e contribuinte
do INSS;
tem carteira de trabalho assinada;
possibilidade de os associados
constituírem um Fundo de Descanso Anual;
férias;
possibilidade de os associados
constituírem um Fundo para Abono
Natalino;
13º salário;
possibilidade de os associados
constituírem um Fundo de Poupança
Compulsório
FGTS;
Conforme a atividade, sugere-se seguro
de acidentes, provisionado por decisão da
Assembléia Geral;
seguro de acidente descontado em folha
e gerenciado pelo governo;
FATES - Fundo de Assistência Técnica,
Educacional e Social (obrigatório, desde
que hajam sobras);
Capacitação profissional, quando houver
interesse da Empresa;
os associados trabalhadores podem
conceder-se quaisquer benefícios, já que são
proprietários da empresa cooperativa.
Benefícios obrigatórios pela CLT e
outros que a empresa queira conceder
(assistência médica, refeição, transporte
etc).
Fonte: SERT – Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho - Manual de cooperativismo de trabalho, adaptado pela mestranda.
34
O empreendimento cooperativo constitui-se num empreendimento de várias pessoas, unidas
solidariamente para realizá-lo com a alavanca da ajuda mútua. Todos atuam ou trabalham
juntos, todos têm necessariamente que participar dos trabalhos e negócios. Embora não vise
lucro, a cooperativa não deve apresentar resultado negativo. Tudo fará, é claro, para
apresentar resultados positivos aos quais se dá o nome de SOBRAS. O sucesso do projeto
social dos associados só estará assegurado se a atividade econômica dos cooperados for bem
sucedida, com sobras no final do exercício social. Logo, precisa ser bem administrada.
2.4.4 Estatuto Social
O Estatuto Social é o conjunto de regras que rege a cooperativa, estabelecendo a estrutura de
seus órgãos sociais, os direitos e deveres dos associados, a composição do capital social, etc.
Juntamente com a ata de constituição, deve ser arquivado na Junta Comercial, sendo que
qualquer alteração deve ser registrada neste órgão. O regimento interno é o conjunto de regras
para que se execute o disposto nos Estatutos. As alterações nele efetuadas pela Assembléia
Geral não necessitam ser registradas na Junta. Por este motivo os dispositivos que
necessitarem ser modificados com maior freqüência não devem constar no Estatuto, mas sim
do Regimento Interno. De forma genérica, os principais tópicos que devem constar no estatuto
são:
I - Da denominação, sede, prazo, área e exercício social
A denominação é o nome da cooperativa. Neste nome, por determinação da Lei 5.764/71, art.
5º, deve constar a expressão “cooperativa”.
A sede é o endereço oficial da sociedade, onde ela responderá juridicamente sempre que
acionada.
A lei determina que seja mencionada no estatuto a área de atuação da cooperativa, que é o
território em que pode realizar suas atividades.
35
O exercício social constitui determinado período que se destaca da vida da sociedade, ou seja,
de doze meses. Não necessita, obrigatoriamente, coincidir com o ano solar ou civil, que
transcorre regularmente de 1º de janeiro a 31 de dezembro.
I - Dos objetivos sociais
Nesse item, devem ser explicitados os objetivos e o objeto social da cooperativa. O objeto
social corresponde ao tipo de atividade econômica a ser desenvolvida pela cooperativa, que
pode ser de natureza agrícola, industrial, comercial ou de prestação de serviços.
I - Dos associados
Existem vários aspectos que devem ser disciplinados em relação ao associados da
cooperativa. Podem-se destacar os seguintes como principais: ingresso na cooperativa;
direitos e deveres; desligamento e responsabilidade do associado.
I - Do capital social
Capital social é a soma representativa das contribuições dos sócios, podendo ser constituído
de dinheiro ou bens. Ele constitui o princípio do patrimônio da sociedade. O capital social
será subdividido em cotas-parte, cujo valor unitário não poderá ser superior ao maior salário-
mínimo vigente no país. Nenhum associado poderá subscrever mais de 1/3 (um terço) do total
das cotas-parte.
I - Dos órgãos sociais
A lei 5.764/71 determina a existência dos seguintes órgãos: Assembléia Geral, Diretoria ou
Conselho de Administração (ou ambos) e Conselho Fiscal. Outros órgãos podem ser criados.
É comum terem uma Comissão de Ética e Disciplina, cuja estrutura e funcionamento pode ser
livremente criada pelos cooperados, visto que a lei não previu nada a este respeito.
36
1 – Assembléia Geral
É o órgão supremo da cooperativa que, conforme o prescrito na legislação e no Estatuto
Social, tomará toda e qualquer decisão de interesse da sociedade. Além da responsabilidade
individual, o cooperado tem a responsabilidade coletiva que se expressa pela reunião de todos,
ou da maioria, nas discussões e nas deliberações. A igualdade do poder de voto de cada sócio
na definição dos interesses comuns representa o princípio da gestão democrática do
empreendimento cooperativista. A Assembléia Geral pode ser:
- Assembléia Geral Ordinária (AGO): é realizada obrigatoriamente uma vez por ano, no
decorrer dos três primeiros meses, após o encerramento do exercício social, para deliberar
sobre: prestação de contas, relatórios, planos de atividades, destinação de sobras, fixação de
honorários, cédula de presença, eleição da Diretoria e ou dos Conselhos de Administração e
Fiscal.
- Assembléia Geral Extraordinária (AGE): é realizada sempre que necessário e pode deliberar
sobre qualquer assunto de interesse da sociedade, desde que mencionado no edital de
convocação.
2 - Diretoria ou Conselho de Administração
A cooperativa é administrada por uma Diretoria ou Conselho de Administração, eleitos em
Assembléia Geral, dentre todos os seus membros, para um mandato de 1 a 4 anos. É de sua
competência, dentro dos limites legais e estatutários, atendidas as decisões ou recomendações
da Assembléia Geral, o planejamento e a execução das atividades da cooperativa.
Os órgãos de administração apenas executam as deliberações tomadas pela Assembléia Geral,
sendo responsáveis pela gestão dos recursos, elaboração dos demonstrativos contábeis e
fiscais, planejamento de operações e controle dos resultados da atividade econômica.
A Diretoria ou Conselho de Administração são compostos por associados eleitos na forma do
estatuto e do regimento interno, possuindo normalmente os cargos de Presidente, Diretor ou
Conselheiro Financeiro, e Diretor ou Conselheiro Administrativo. No entanto, essa estrutura
de cargos e atribuições é variável e resulta das peculiaridades de cada cooperativa.
37
3 - Conselho Fiscal
É um órgão independente da administração, formado por três membros efetivos e três
suplentes, eleitos por 12 meses, para a função de fiscalização da administração, das atividades
e das operações da cooperativa.
Não podem fazer parte do Conselho Fiscal os parentes dos diretores até o 2º (segundo) grau,
em linha reta ou colateral, bem como os parentes entre si até esse grau. O associado não pode
exercer cumulativamente cargos nos órgãos de administração e de fiscalização.
4 – Comissão de Ética e Disciplina
Não é um órgão obrigatório por lei, não tendo sua estrutura regulamentada. Este órgão tem a
função de apreciar as queixas efetuadas por clientes ou pelos próprios associados, julgando o
comportamento e aplicando penalidades na forma de processo disciplinar a ser regulado no
Regimento Interno.
5 - Da dissolução e Liquidação
Nos Arts. 63 a 78 da Lei 5.764/71 estão as peculiaridades da dissolução e liquidação das
cooperativas. A dissolução é um ato voluntário dos sócios e obedece a um ritual para ter
validade. Para ser dissolvida, a cooperativa deve fazer sua liquidação de direitos e obrigações.
TESCH, Dicionário Básico do Cooperativismo (2000, p. 78) salienta que “os dirigentes de
uma cooperativa podem ser responsabilizados civil e criminalmente se não obedecerem, aos
procedimentos necessários, antes de promover a liquidação”.
38
6 - Dos fundos
De acordo com a Lei 5.764/71, Art. 28. As cooperativas são obrigadas a constituir os
seguintes fundos:
I – fundo de reserva, destinado a reparar perdas e atender ao desenvolvimento de suas atividades,
constituído com 10% (dez por cento), pelo menos, das sobras líquidas do exercício.
II – fundo de assistência técnica, educacional e social, destinado à prestação de assistência aos
associados, seus familiares e, quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa,
constituído de 5% (cinco por cento), pelo menos, das sobras líquidas apuradas no exercício.
A assembléia geral poderá criar outros fundos, inclusive rotativos, com recursos destinados a
fins específicos, fixando o modo de formação, aplicação e liquidação. Podem-se criar outros
fundos como, por exemplo, o Fundo de Investimento, Fundo Social e Fundo de Expansão para
Criação de Novas Cooperativas, com regulamentos específicos para a gestão dos recursos
destinados aos fundos, como consta nos Parágrafos 1º e 2º.
7 - Dos livros
Art. 22º. A sociedade cooperativa deverá possuir os seguintes livros:
I -Matrícula;
II - Atas das Assembléias Gerais;
III - Atas dos Órgãos de Administração;
IV - Atas do Conselho Fiscal;
V - de Presença dos Associados nas Assembléias Gerais;
VI - outros, fiscais e contábeis, obrigatórios.
Parágrafo único – É facultada a adoção de livros de folhas soltas ou fichas.
Art. 23º. No Livro de Matrícula, os cooperados serão inscritos por ordem cronológica de
admissão, dele constando:
a) nome, nacionalidade, estado civil, profissão, idade e residência;
b) a data de admissão e, quando for o caso, de sua demissão a pedido, eliminação ou exclusão;
c) a conta corrente das respectivas quotas-partes do capital social.
8 - Do processo eleitoral, ver, Lei 5.764/71, Artigos 56 a 63.
9 - Das disposições gerais e transitórias, ver, Lei 5.764/71, artigos 64 e 65.
39
10 - Lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971.
Esta Lei define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das
sociedades cooperativas e dá outras providências.
2.5 OS PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS DO COOPERATIVISMO
2.5.1 Princípios Cooperativistas
Os tecelões, preocupados com a progressão de sua idéia, embora já existissem sociedades
similares (modelo cooperativista) na própria Inglaterra e na Escócia, aperfeiçoaram um
sistema de reuniões denominado "Sala de Temperança". Através dele, desenvolveram um
conjunto de princípios, conhecidos mais tarde como "Princípios Básicos do Cooperativismo",
adotados posteriormente por cooperativas surgidas em diversos países do mundo.
Os princípios originários do cooperativismo sofreram um aperfeiçoamento ao longo dos anos,
sendo o último deles aprovado no Congresso do Centenário da Aliança Cooperativa
Internacional (ACI) órgão mundial do cooperativismo, realizado em Manchester - Inglaterra,
em 1995, que redefiniu e tornou conhecida a nova redação dos princípios básicos do
cooperativismo. O SESCOOP
9
(2000) tem divulgado que estes são as linhas orientadoras
através das quais as cooperativas levam os seus valores à prática, e são:
a)Adesão voluntária e livre: As cooeprativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas
aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como membros, sem discriminações de
sexo, sociais, raciais, políticas e religiosas.
b)Gestão democrática e livre: As cooperativas são organizações democráticas, controladas pelos
seus membros, que participam ativamente na formulação das suas políticas e na tomada de decisões.
Os homens e as mulheres, eleitos como representantes dos demais membros, são responsáveis perante
estes. Nas cooperativas de primeiro grau, os membros têm igual direito de voto (um membro, um
voto); as cooperativas de grau superior são também organizadas de maneira democrática.
c) Participação econômica dos membros: Os membros contribuem eqüitativamente para o capital
das cooperativas e controlam-no democraticamente. Parte desse capital é, normalmente, propriedade
comum da cooperativa. Os membros recebem, habitualmente, se houver, uma remuneração limitada
ao capital integralizado, como condição de sua adesão. Os membros destinam os excedentes a uma ou
mais das seguintes finalidades:
desenvolvimento das suas cooperativas, eventualmente através da criação de reservas, parte
das quais, pelo menos, será indivisível;
9
SESCOOP - Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo. http://www.oceal.org.br/sescoopal/orientacao.htm#principios > acesso
em 20 de jul. 2001.
40
benefício aos membros na proporção das suas transações com a cooperativa;
apoio a outras atividades aprovadas pelos membros.
d)Autonomia e independência: As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua,
controladas pelos seus membros. Se firmarem acordos com outras organizações, incluindo instituições
públicas, ou recorrem a capital externo, devem fazê-lo em condições que assegurem o controle
democrático pelos seus membros e mantenham a autonomia da cooperativa.
e) Educação, formação e informação: As cooperativas promovem a educação e a formação dos seus
membros, dos representantes eleitos e dos trabalhadores, de forma que estes possam contribuir,
eficazmente, para o desenvolvimento das suas cooperativas. Informam o público em geral,
particularmente os jovens e os líderes de opinião, sobre a natureza e as vantagens da cooperação.
f) Intercooperação: As cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e dão mais força
ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto, através das estruturas locais, regionais,
nacionais e internacionais.
g) Interesse pela comunidade: As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das
suas comunidades através de políticas aprovadas pelos membros.
2.5.2 Enfoque Sobre o Princípio da Educação Cooperativa
Quando são analisados os mecanismos de dominação e poder, um fator assume primordial
importância: a aquisição de conhecimentos. Quanto maior o grau de conhecimento de um
grupo, mais difícil é a sua dominação, e maior a sua capacidade, eficiência e inserção no
mundo, tanto do ponto de vista político, como econômico e social.
O conhecimento via educação é hoje visto como um elemento fundamental dentro do mundo
do trabalho, sendo a ele atribuídos os maiores graus de eficiência humana dentro da
sociedade. Para exemplificar, tomemos a construção teórica de Paulo Freire, no sentido de
transformar a alfabetização num instrumento de libertação do oprimido e de transformações
sociais. Pelas vias de educação popular, da prática educativa das classes marginalizadas,
Paulo Freire oferece uma nova visão de educação. Não mais como uma “dimensão mecânica e
reprodutiva, para chegar ao ato criador”, mas como ato “criador e recriador de cultura e do
próprio sujeito de novas realidades, por isso, libertador, transformador, político e
revolucionário”. (FREIRE, DATA apud SOETHE, 1993, p. 5)
Segundo SOETHE (1993, p. 06), “o próprio sujeito que transformado de forma em conteúdo,
como sujeito criador de cultura ele mesmo pedagógico, passa a conformar o real aos seus
desejos e necessidades” [...] “podemos inferir o conceito de autodeterminação tão desejada”.
Pode-se afirmar que a preocupação com essa educação libertadora e revolucionária vem desde
41
a origem do Cooperativismo. Não é por acaso, que os pioneiros de Rochdale a elegeram à
categoria de princípio cooperativista, já em 1844.
As experiências mais antigas denotam que o caminho é a conscientização e a reeducação, a
busca de novas formas de se pensar e executar o trabalho. Essa verdadeira transformação da
mentalidade exige tempo e disposição. Trata-se de um longo processo de aprendizado que
pode durar anos. Daí resultar que alguns empreendimentos sem muito apoio técnico e com
necessidades prementes não tenham tempo para ver produzir os frutos. Nas palavras de
ANILLO apud CORBELLINI (2001, p.23):
Sabe-se que a educação é um dos princípios básicos da cooperativa, porque a educação cooperativista
é uma fonte de desenvolvimento da própria entidade. Os dirigentes que entendem que investir em
educação é uma despesa, estão enganados, porque aplicar recursos em educação é um investimento e
uma das melhores escolas para a formação da cidadania, porque ensaia-se a democracia num plano tão
polêmico, quanto é o econômico.
A criação de um Comitê educacional pode ser uma forma de viabilizar essa verdadeira re-
educação para o cooperativismo, pois ele pode tornar-se grande responsável pela propagação
das idéias cooperativistas entre os seus associados, através dos meios de comunicação e
informação existentes nas cooperativas, tais como: boletins, jornais, folhetos, etc. Segundo o
mesmo autor ANILLO apud CORBELLINI (ibidem, p. 22) “o comitê educativo deve ter
como objetivo, a difusão de valores e comportamentos cooperativos que contribuam para a
realização integral do ser humano livre e responsável, visando colaborar com as
transformações sociais que impulsionam o autêntico desenvolvimento econômico e social,
baseado na justiça e cooperação das partes”.
A quem caberia promover a educação dos associados nas cooperativas? O consenso é que
essa educação caiba as próprias cooperativas, que devem assumir prioritariamente a
formação/capacitação de seus associados. No entanto, em se tratando de cooperativas
populares que nascem com o apoio do SESCOOP, da Rede de ITCPs, da UNITRABALHO e
outros órgãos ligados às Universidades, essa educação tem sofrido uma investida inicial
desses mesmos órgãos, sob a forma de assessoria. Por exemplo, na maioria das metodologias
de incubagem utilizadas pelas ITCPs estão previstos momentos de formação antes mesmo da
constituição da Cooperativa.
42
Esse acompanhamento deve respeitar as características do grupo em formação. O respeito, ao
saber potencial dos cooperados, deve nortear essas ações levando a uma interação de
conhecimentos, uma troca. Analisando Paulo Freire, pode-se dizer: nesse sentido, ensinar não
é transferir conhecimento, conteúdos, nem formar; é ação pela qual um sujeito criador dá
forma, estilo ou alma a um corpo. Há uma interação onde todos participam como sujeitos
transformadores.
Trata-se de operar uma verdadeira re(educação), como já afirmava GRAMSCI apud
LIMBERGER (1996, p. 199), ao criticar a dominação cultural, “deve-se mudar a cabeça do
pessoal, ‘sem fazer-lhe a cabeça’”. Porém, será a Educação Cooperativa capaz de construir
um significado essencial que perpasse a vida do cooperado para permitir sua permanente
evolução e participação na cooperativa? Para LIMA apud SEIBEL (2000, p. 9) “a educação
cooperativista constitui um dos princípios fundamentais do cooperativismo. [...] Não se nasce
cooperador. Nascemos competitivos e individualistas Não se muda o comportamento sem
mudar a mentalidade das pessoas. E uma mentalidade diferente somente se adquire por
intermédio de uma educação continuada e persistente”.
Dessa forma, o crescimento de um autêntico movimento cooperativista não pode estar
desvinculado do trabalho educativo, o qual para tornar-se integral, deve abranger a difusão
dos valores e princípios que compõem a doutrina cooperativista, sem desatentar, como
explica SEIBEL (2000, p.10), para “a capacitação nos métodos e procedimentos próprios da
gestão empresarial; a informação adequada sobre o entorno socioeconômico em que se
movem as organizações e, além disso, a capacitação nas técnicas exigidas pela atividade que
se pretende desenvolver”.
Não esquecendo a dimensão humana e social do empreendimento cooperativo, tem-se
necessidade de se adequar as novas exigências do mercado em termos de competitividade e
qualidade. Por essa razão, LIMA apud SEIBEL (2000, p. 9) afirma que:
novos desafios empresariais passam a derrubar antigos paradigmas, exigindo rapidez e flexibilidade
da implantação das novas visões empresariais e administrativas. Assim, deve-se procurar
compatibilizar racionalidade, produtividade e eficiência com uma dimensão mais humana, social e
participativa de toda a comunidade empresarial, ao mesmo tempo em que se aprimora a qualificação
para agir no mercado, ao lado de concorrentes cada vez mais competitivos e agressivos.
43
Neste estudo é dado enfoque especial ao princípio da Educação Cooperativista, tendo como
ponto de partida a idéia de que ele é o princípio básico norteador dos demais princípios na
formação dos cooperados e na disseminação do modelo cooperativista. Parte-se do
pressuposto de que sem a educação prévia e continuada não haverá possibilidade de
crescimento do espírito cooperativo dentro das Cooperativas e elas terão maior probabilidade
de fracasso, por falta de coesão interna e eficiência no mercado.
Como afirma LIMBERGER (1996, p.199), “no setor cooperativo impõe-se que a educação
cooperativ(ist)a seja convenientemente valorizada.” Ele reforça: “Tal educação cooperativista
constitui não só requisito prévio como ainda condição permanente de qualquer cooperativa” .
Para LIMBERGER (ibidem, p. 200) a Educação Cooperativa constitui princípio
qualitativamente diferente dos demais, pois enquanto estes se apresentam como diretrizes a
respeitar, no caso daquele a Comissão dos Princípios do Congresso da Associação
Cooperativista Internacional de 1966, em Viena “determinou que as coops. devem ‘tomar
providências’ para que ela (a educação cooperativa) aconteça”.
Todo esforço parece se concentrar na tentativa de fazer com que a Educação Cooperativa seja
efetivada no interior das cooperativas, levando a um crescimento do autêntico movimento
cooperativista, a fim de encontrar a melhor solução para viabilidade desse novo modelo de
valores culturais diante de uma sociedade em contínua crise.
SEIBEL (2000, p.11) numa pesquisa desenvolvida junto ao sistema UNIMEDs constata que:
após as primeiras discussões sobre o tema, constatou-se falta de informações sobre cooperativismo,
bem como sobre formas de incentivar a participação dos associados nas atividades da singular. [...]
não havia qualquer tipo de incentivo à educação cooperativista. O individualismo como característica
dos associados sobressaía-se à sua falta de comprometimento e disponibilidade junto à
Cooperativa[...].
Para esse autor, a criação de um sistema de educação cooperativista naquele meio tornou-se
irreversível, a partir do momento em que a preocupação com o programa de qualidade passou
a ser vista como uma das condições de sobrevivência das cooperativas médicas.
44
Tais constatações apenas ressaltam o que já foi afirmado anteriormente. A ausência de
conhecimento sobre os princípios cooperativistas, causados por uma ineficaz ou ausente
educação cooperativista leva à falta de compromisso dos cooperados, a uma dificuldade em
assumir responsabilidades junto à cooperativa e, conseqüentemente, à queda da qualidade dos
serviços prestados.
Guardando ressalvas sobre o programa assumido e o modo como foram solucionados os
problemas do sistema Unimed, relativos à educação cooperativista e melhoria da qualidade,
este é um exemplo da real influência exercida pelo princípio da educação cooperativa na
operacionalização dos desafios vividos pelos grupos cooperados.
A preocupação com resgate de valores e busca de uma re(educação) para o cooperativismo
está cada dia mais em pauta nas organizações cooperativas e entidades que trabalham com
assessoria. Tamanho interesse com a formação representa um (re)descobrir que pode,
inclusive, colocar em xeque alguns princípios propugnados desde os primórdios do
cooperativismo, estabelecidos por seus precursores. Por outro lado, os princípios
cooperativistas, enquanto valores inspiradores, podem também resgatar a identidade das
cooperativas, uma vez que a sua prática tornará possível diferenciá-la de outras organizações,
inclusive nascidas da Economia Solidária.
Para que isso ocorra é preciso definir o que se espera da empresa cooperativa e mergulhar nos
problemas de identidade pelos quais passa, sobretudo no que diz respeito as suas qualidades
contraditórias implícitas de organização solidária constituída enquanto empresa econômica.
Com relação à identidade cooperativa discute-se mais adiante, no item 2.7.1. A Construção de
Identidade. A seguir a falar-se-á sobre os valores do cooperativismo.
2.6 VALORES DO COOPERATIVISMO
O mundo modificou-se, os processos tecnológicos evoluíram, mas, os valores do
cooperativismo, sua essência, não. Não se modificou também a cooperação entre as pessoas
de forma que alcancem suas aspirações, a solução de problemas comuns através da união,
auxílio mútuo e integração. Seus precursores lançaram as idéias básicas que se
45
desenvolveriam na Europa Ocidental. Os estatutos da sociedade dos Probos Pioneiros de
Rochdale continham os princípios a respeito da estrutura e do funcionamento da cooperativa
de consumo, os quais depois passaram a constituir os fundamentos da doutrina cooperativista.
O sucesso transformou a experiência dos Pioneiros de Rochdale em símbolo, e as normas
elaboradas pelos 28 tecelões são, em parte, até hoje seguidas pelas cooperativas do mundo
inteiro. Embora Rochdale continue sendo uma espécie de símbolo para muitos dirigentes
cooperativistas em todo o mundo, a ampla redação dos "Princípios" torna-os suficientemente
flexíveis de modo a não se abrir polêmica a respeito dos valores de referência do
cooperativismo.
Na declaração aprovada em 23 de setembro de 1995 pela Aliança Cooperativa Internacional
(ACI), em Manchester, há uma clara referência aos valores. NETO (2001) e RUFINO (2001)
salientam que os valores da cooperação se apresentam da seguinte maneira: as cooperativas
estão baseadas nos valores de auto ajuda, responsabilidade, democracia, igualdade, equidade e
solidariedade. Na tradição de seus fundadores, os sócios cooperativos respeitam os valores
éticos da honestidade, da transparência, da responsabilidade e da vocação social.
RUFINO (2001) diz que a peculiaridade da empresa cooperativa é a perda da hegemonia do
capital; trata-se de uma empresa baseada no trabalho, na atividade em comum, na pessoa, que
é quem realiza a atividade. Abordada dessa forma, a cooperativa pode ser entendida como
uma empresa humana, em contraposição à empresa tradicional.
A explicação dos valores éticos constitui-se em um fato relevante na declaração de
Manchester, uma vez que se mostra oportuna a referência a valores tais como a transparência,
de vital importância nas relações entre os sócios e a responsabilidade social, vinculada ao
novo princípio cooperativo de interesse pela comunidade. Desta declaração retiraram-se os
princípios básicos.
46
2.7 O COOPERATIVISMO COMO FORMA DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL
Segundo QUEIROZ (1998, p. 21), “Os 28 artesãos que fundaram a primeira Cooperativa,
contribuíram para que o movimento cooperativista se alastrasse pelo mundo afora. Essa nova
forma de organização, surpreendeu os empresários da época, que previam vida curta para
ela”. No primeiro ano de vida, a Cooperativa aumentou significativamente seu capital e, em
1855, contava com 1.400 cooperados. A partir de 1860, observou-se uma vertiginosa ascensão
da forma de cooperativas, a tal ponto que em 1881 já existiam cerca de 1.000 cooperativas e
550.000 cooperados.
Esse tipo de organização foi disseminado pelo mundo, sendo aceito e reconhecido em todos
os países como a fórmula mais adequada, participativa, justa, democrática e indicada para
atender às necessidades e interesses específicos dos trabalhadores.
Temos exemplos de trabalhadores que, através dessa forma de organização, têm conseguido a
melhoria da renda e valorização do trabalho em termos de remuneração. As atividades
desenvolvidas vêm sendo a cada dia mais aprimoradas e incrementadas, à medida em que a
cooperativa transforma trabalhadores em empresários (grifo nosso) determinando, em
conjunto e de forma democrática, as regras de atuação.
Assim, podemos concordar com QUEIROZ (1998, p. 35) que salienta que elas são "uma
resposta à situação econômica do Brasil, no que diz respeito à disponibilidade de mão-de-
obra, gerada pelo desemprego [...] as cooperativas de serviços e trabalho são os meios, com
grande potencial e possibilidades, para gerar uma mudança social muito importante e
extremamente útil".
É de se considerar, quando TESCH (2000, p. 16-18) relata em seu artigo (Panorama Mundial
e Tendências do Trabalho) que, no Brasil, o trabalho assalariado formal, que é o visível,
regulamentado, controlado pelo Estado, através de Leis, Juizes e Sindicatos, ultrapassa
escassamente um terço da população economicamente ativa - PEA (menos de 22 milhões em
1998). Rapidamente surgem e mudam as formas de trabalhar. Neste processo de
transformações, convivem desde o trabalho mais simples, como o que exige unicamente o
esforço físico, manual, até o trabalho mais complexo, que utiliza energia cerebral e
47
conhecimentos como é a programação ou cálculo matemático. O lugar onde se realiza o
trabalho também se transforma.
Essas mudanças de hábitos e comportamentos do trabalhador fazem repensar o enfoque sobre
ter trabalho e ter emprego. Isso gera, de fato, novos tipos de relações entre o capital e o
trabalho, entre empregador e empregado e entre trabalhador e contratista do trabalho.
Constata-se que há mudança no trabalho e nas formas de executá-lo que, automaticamente,
promovem um distanciamento no modelo clássico do trabalho formal assalariado.
É neste contexto que emergem novos agentes no mercado de trabalho. Surgem empresas ou
agências de intermediação do trabalho. Exatamente para combater este tipo de intermediação
é que desponta o cooperativismo de trabalho. Sendo ou não um modelo alternativo de relações
com o trabalho, visa justamente a construção de um tipo diferente de relação do trabalho com
o mercado, tornando a cooperativa um instrumento jurídico de viabilidade.
O trabalho organizado, via Cooperativa de Trabalho, tem apresentado respostas qualitativas,
uma vez que valoriza a capacidade de trabalho como também a qualidade de vida. A
possibilidade de fortalecimento e crescimento deste modelo dependerá da capacidade de
incorporar, pela Educação Cooperativa, amplos contingentes de trabalhadores, desde os
excluídos por incapacidade até os altamente qualificados. Por isso, TESCH (2000, p. 16-18)
enfoca que o cooperativismo de trabalho é um movimento social que envolve múltiplas
dimensões de ação. Na medida em que se estruturam as novas formas de trabalho, a demanda
para solução formal e jurídica deste trabalho busca aquelas Leis que mais se ajustam a essa
nova realidade.
Para que essa seja realmente uma forma de organização duradoura, deve-se também atentar
para a construção da identidade coletiva. Por isso, a seguir, enfocar-se-á a construção dessa
identidade, subdividindo o tema entre o imaginário coletivo e as fragilizações das bases
identitárias.
48
2.7.1 A Construção de Identidade
Nas sociedades tribais a identidade era construída externamente. Os papéis eram pré-
determinados através de um sistema de mitos que orientava as pessoas, dando-lhes menos
alternativas de construção autônoma. Num mundo governado por ritos, a identidade não era
tão problematizada como é hoje.
Com a crescente complexidade das sociedades, a identidade tornou-se móvel, auto-reflexiva e
sujeita a mudanças. O processo de construção da identidade é, portanto, um processo
histórico. À medida em que cada um se liberta das projeções que os outros fazem sobre si
próprio, a identidade se singulariza.
Partindo da hipótese de que existe uma crise na sociedade atual, onde valores tradicionais são
quebrados, à medida que se adotam novos procedimentos e novos paradigmas na busca
incessante de espaço e poder na dinâmica da própria sociedade, criam-se os sintomas e
denominação diferente quanto à identidade e identificação. O conveniente é fazer a distinção
entre identidade e identificação, ou seja, situar os conceitos.
Segundo FREITAS (1999, p. 40), “a identidade é um resultado, um estado psicossocial que
pode variar no tempo, ou seja, não é fixa e depende de seu ponto de definição, pois pode dizer
respeito ao indivíduo, ao grupo e à sociedade em geral”. MUCCHIELLI (1992, p. 5)
complementa dizendo que "o sentimento de identidade habita todo ser dotado de consciência
de si mesmo", para ele, é uma autocategorização que pode variar de acordo com critérios tais
como: nacionalidade, sexo, idade, profissão, cultura, história, etc.
Para FREITAS (1999), a identificação, por sua vez, é um processo que apresenta duas
acepções: a) o reconhecimento de algo ou de alguém; b) o reconhecer-se em algo ou alguém.
O conceito de identificação na psicanálise apresenta-se como um processo psicológico pelo
qual um sujeito assimila um aspecto, uma propriedade ou um atributo de outro e se
transforma, total ou parcialmente, segundo o modelo daquele. A personalidade se constitui e
se diferencia por uma série de identificações.
49
Na visão de FREUD, apud KERNBERG (2000), as pessoas na multidão têm um imediato
sentimento de intimidade umas com as outras, derivado da projeção de seu próprio ideal de
ego sobre o líder e de sua identificação com este, bem como com os seus companheiros. Para
LE BON (1910, p.12) “[...] quaisquer que sejam os indivíduos que a compõem e por diversos
ou semelhantes que possam ser seus gêneros de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua
inteligência, o fato exclusivo de se acharem transformados numa multidão, torna-os
possuidores de uma espécie de alma coletiva”. Pode-se dizer, assim, que embora diversas,
ambas identidade e identificação fazem parte do imaginário humano.
2.7.1.1 O Imaginário Coletivo
Os universos da família, da religião, da escola, do trabalho e também da pátria estão passando
por grandes modificações. Estas instituições são responsáveis por fornecer os valores e as
referências que norteiam e sustentam o processo de socialização dos indivíduos.
A construção do imaginário coletivo dá-se através da produção de símbolos, os quais
norteiam e sustentam a visão de mundo e de futuro. Em meio a tantas modificações, no
âmbito destas instituições, existem diferenças/divergência de conceituação. MASCOVICI
(1988, p. 87) "talvez esteja sendo apenas provocativo, quando diz que as ciências do homem
são nostálgicas em relação ao passado, otimistas em relação ao futuro e pessimistas quanto ao
presente, e que, inspirados por tempos de mal-estar e crises, pintamos com as piores cores a
época em que vivemos".
FREUD (1970), afirmou que a essência do processo civilizatório é o instinto da morte,
representado pela massificação, pela repetição e pela homogeneidade destrutiva, em combate
permanente ao instinto da vida, reconhecendo que o homem trocou parte de sua felicidade
possível por alguma segurança.
O imaginário coletivo inicia-se quando o indivíduo desenvolve uma certa dependência a partir
de uma situação simbiótica, criando uma identidade grupal. BLEGER (1980), divide esta
identidade grupal em dois níveis: um é o da identidade proporcionada por um trabalho em
comum e que chega a estabelecer modelos de interação e modelos de comportamento que são
institucionalizados no grupo; e o outro é uma identidade sincrética. Esta não é dada com base
50
numa interação, mas com base numa socialização em que limites não existem, e sua
identidade reside no seu pertenciamento ao grupo.
CASTORIADIS (1975) vê o imaginário como o princípio fundador da sociedade, pois toda
sociedade cria seu próprio mundo ao produzir conjunto de significações sociais que lhe são
próprias. A origem, do ponto de partida dessas significações, está no imaginário que é
compartilhado pelos membros de uma sociedade. O imaginário é o espaço da representação,
das formas e das imagens, a partir do qual é possível conceber o projeto, o desejo, a fantasia,
o sonho de construir a si mesmo e o mundo.
Para FREITAS (1999, p. 54), “[...] o imaginário é componente de um todo simbólico.
Nenhuma sociedade pode sobreviver se não for capaz de satisfazer essas necessidades reais
que o ‘econômico-funcional’ deve suprir. Mas, sem o imaginário e o simbólico, a sociedade
não teria podido ‘reunir-se’ e continuar a existir como tal”.
DEJOURS (1987), enfatiza que o imaginário é formado pela significação humana. A título de
exemplo, pode-se citar que a imagem de indignidade nasce até mesmo de um contato forçado
com uma tarefa desinteressante. A falta de significação nesse caso leva o indivíduo à
frustração e até mesmo à inutilidade. Para esse autor, a significação depende de satisfações
concretas e simbólicas, visto que, as primeiras dizem respeito à proteção da vida, ao bem-estar
físico, biológico e nervoso, e as segundas à vivência qualitativa da tarefa.
FREUD (1970) considerou o grupo como um elo que permite a passagem do singular ao
coletivo. Todo indivíduo faz parte de vários grupos, com os quais mantém alguma
identificação, e constrói seu ideal de ego a partir dos modelos mais diversos.
2.7.1.2 Fragilização das Bases Identitárias
A perda do apoio das identificações sustentadas pela história, a tradição e a genealogia
familiar, implicam na perda de um núcleo identitário estável e coeso.
Pode ser considerada também uma certa fragilização, quando se defronta com a perda das
mediações entre o psicoafetivo e o social, visto que a educação das crianças, quando
produzida por instituições especializadas, separa o afetivo e o social. Em meio a fragilizações
identitárias, é possível o grupo ter uma identidade, ou (re)construí-la?
51
FREITAS (1999, p. 46) salienta: "[...] visto que o homem vive em grupos desde que nasce,
eles são essenciais à estruturação da psique e da identidade, que é ao mesmo tempo singular e
social. É impensável falar de identidade sem fazer referência aos grupos".
NICOLAÏ (1990) nega que exista uma crise de identidade, no sentido de ruptura, mas admite
que há um mal-estar manifestado pelas incertezas que vivemos nas sociedades do Ocidente.
As incertezas podem conduzir a uma crise, mas também fornecer saída para ela. As tentativas
de reconstrução, segundo o autor, fazem parte do mal-estar, introduzem novos atores que
ativam mais facilmente os indivíduos e os grupos, o que tem implicado nas experimentações
das transformações suportáveis de identidade.
No processo de convivência com os novos atores, os indivíduos agarram-se às referências e
aos modelos tradicionais, desenvolvendo atitudes e estratégias de acomodação e ao mesmo
tempo, assimilando a inovação. CASTORIADIS (1975) acredita até que exista uma
verdadeira crise nas sociedades contemporâneas a crise identitária, a crise da sociedade,
produzida pela crise identificatória, ao mesmo tempo em que é por ela reproduzida e
agravada.
Parece ser utópico acreditar que a reconstrução da sociedade é possível através da cooperação.
Falta ao ser humano mais humildade, solidariedade; falta-lhe o resgate histórico identitário.
FREUD (1970) ressalta que todo ser humano faz parte de diversos grupos e se envolve em
processos múltiplos de identificação que fornecem uma base instintiva para a compreensão e
o conhecimento do outro, pois não podemos perceber o mundo como algo totalmente
diferente de nós mesmos.
A existência de um conformismo com a situação atual é evidente. No entanto, a identificação
é um processo que opera dentro do aparelho psíquico e fora de nossa percepção e pode surgir
ao perceber-se certa afinidade com o outro. Ao referir-se ao grupo, a massa, quanto mais essa
similaridade for significativa, maior a possibilidade da identificação estabelecer vínculos entre
os membros.
Portanto, essa identificação e reconstrução será possível à medida em que os indivíduos do
grupo forem percebendo entre si valores que os unam. Com relação à crise de identificação
com que se defrontam as cooperativas, especialmente o ramo das Cooperativas de Trabalho,
pode-se indicar, primeiramente, a presença de singularidades que as tornam únicas com
52
relação às demais formas de organização. Não ocorrendo a identificação e na ausência de leis
específicas pelas quais possam basear seus atos torna-se complexa sua permanência e
subsistência, enquanto empresa dentro da economia de mercado.
No que se refere à crise de identidade das cooperativas em geral, e das cooperativas de
trabalho, em particular, surgem discussões variadas. Em primeiro lugar, do ponto de vista
utilitário pode-se perceber que a cooperativa possui uma característica muito distinta das
demais empresas, visto que nela o associado é, ao mesmo tempo, dono e usuário, e/ou dono e
fornecedor, e/ou dono e trabalhador.
A situação de ser, ao mesmo tempo, dono e usuário é uma característica que ocorre apenas em
empreendimentos solidários, como numa cooperativa, de que são exemplos, as cooperativas
de consumo. Já nas cooperativas de trabalho ou serviço, o dono é ao mesmo tempo, executor
do trabalho ou serviço. Nelas não há a figura do patrão. No que diz respeito à situação de ser
dono e fornecedor, LIMBERGER (1996, p. 81) tem a seguinte explicação:
A situação de identificação entre dono e fornecedor se encontra em geral nas cooperativas de
produtores agrícolas, artesanais, de pesca etc. O associado (dono) também fornece as mercadorias, os
produtos, os artigos (fornecedor). Nas demais empresas os (fornecedores) de matéria-prima
(produtores agrícolas, artesanais, pescadores etc). fornecem as mesmas aos donos das fábricas, aos
supermercados, aos comerciante etc. Estes compram tais produtos para industrializar, comercializar,
beneficiar e assim por diante: numa palavra: vendê-los, para obter lucro.
Em segundo lugar, à cooperativa cabe definir o que se espera dela, suas metas, e os caminhos
a percorrer para atingi-las. Essa tarefa por vezes é realizada solitariamente por seus dirigentes.
Mergulhar nos problemas de identidade pelos quais passa, sobretudo no que diz respeito as
suas qualidades contraditórias implícitas de organização solidária, constituída enquanto
empresa econômica, é um caminho que muitas cooperativas evitam percorrer. Dirigentes e
assessores agarram-se aos princípios cooperativistas, embora não promovam a discussão com
os membros das cooperativas do exato sentido deles, e das reais dimensões e alcance dos
mesmos na conjuntura atual da economia.
Todos fogem da questão porque ela se torna complexa e aparentemente insolúvel. Mas
resolvê-la pode indicar caminhos para o desenvolvimento de uma verdadeira identidade
cooperativa, à medida em que fracassem os argumentos de que não é possível a existência,
dentro da economia de mercado de uma empresa ao mesmo tempo, solidária e competitiva.
53
Isso porque a contradição é apenas aparente. Não há qualquer contradição em se buscar a
independência econômica de um grupo unido em torno do desejo de realizar uma atividade
econômica comum, alicerçado nos valores da solidariedade e respeito mútuo, e na
necessidade de se adequar ao mercado competitivo, que exige qualidade, eficácia, eficiência e
produtividade, sob os moldes de uma empresa econômica moderna. Muito pelo contrário, a
coesão dos seus membros é que garantirá à cooperativa enfrentar os desafios do mercado
competitivo, e esse embate os tornará mais fortes. É justamente nesse ponto que os princípios
e valores cooperativos que, por si sós, não definem a organização cooperativa, tornam-se mais
presentes, e a identificam. Afinal, são vivenciados pelo grupo no momento em que se realiza
uma atividade econômica comum sob a pressão do mercado concorrente.
Assim, para atingir seu objetivo maior, que é tornar-se uma representante autêntica do
movimento cooperativista, a cooperativa de trabalho deve inserir-se num processo de
educação/capacitação e informação permanentes, que levem os seus cooperados a participar
no processo produtivo e no resultado econômico, agindo de forma mais comprometida e
democrática.
2.7.2 Formação Cultural e o Conhecimento
O processo cultural construído socialmente se dá através da concordância e do consentimento
de indivíduos que vivem determinados momentos históricos. E como essas relações em nossa
sociedade envolvem opressão e dominação, a concordância e o consentimento se obtêm em
meio a lutas, resistências e tentativas de imposição de certos significados, o que torna o
conhecimento indissoluvelmente ligado a questões de poder.
CAMPOS (1996, p. 169), lembra que, em psicologia, Vygotsky foi o primeiro autor a colocar
a questão do conhecimento como resultado da interação; “para ele o conhecimento seria social
antes de ser individual, e os artefatos criados pela atividade humana, bem como a linguagem,
seriam os principais mediadores no processo de internalização da cultura”.
54
Parte-se de um mundo em que há a construção de símbolos, dependentes da cultura, do
espaço, da história, da biografia. O conhecimento se relaciona à linguagem que, dando forma
de expressão ao conhecimento, contribui para a sua elaboração. No campo do cooperativismo,
é preciso nomear, expressar pela linguagem as diferentes práticas cooperativas.
A interação cultural de qualquer grupo, inclusive cooperativo, para ser autêntica, deve ocorrer
numa perspectiva dialógica, onde um saber não se sobrepõe ao outro, embora possam se opor.
Esse diálogo pressupõe o respeito pelos valores do outro e de cada membro. Isso do ponto de
vista de AZIBEIRO (1999, p. 12) que caracteriza a intercultura:
tendo como ponto-de-partida a intenção do encontro, compreensão e convivência com o diferente, a
intercultura exige a abertura que possibilita o respeito e a solidariedade. Ao mesmo tempo, sendo fruto
da deliberação explícita dos grupos envolvidos, leva-os a uma nova coesão interna e redescoberta da
vantagem e prazer de estar junto e agir em conjunto.
Para GEERTZ (2001, p. 15), o termo cultura nada mais é do que um “conjunto de teias e
significados, que cada grupo humano continuamente tece”. AZIBEIRO (1999, p. 11-12)
conclui:
...é mais pertinente falar em culturas, no plural, entendidas como as maneiras – múltiplas e em
contínua reconstituição – pelas quais cada grupo social se identifica como grupo – tendo ainda
presente que, particularmente em sociedades complexas, como as nossas – esses grupos estão longe de
ser um todo homegêneo. Se há fatores e valores que os aglutinam, há também questões
permanentemente os separam e fragmentam.
Assim, nos grupos cooperados, encontram inúmeros fatores de aglutinação, os quais podem
vir a ser percebidos, socializados e incorporados por todos os membros. Mas encontramos
também diferentes fatores de desagregação que contribuem para o fracasso do
empreendimento. Um fator determinante é a ausência da Educação Cooperativa. Os diferentes
enfoques culturais devem ser detectados e respeitados, pois é na síntese, e não na soma das
diferenças dos seus membros, que reside a força dos empreendimentos cooperativos.
Aí reside a diversidade entre a intercultura e a multicultura; esta última resultante da soma das
diferenças. A interculturalidade remete às questões de pluralidade cultural, ultrapassando o
caráter de assimilacionista em busca de uma dimensão híbrida cultural plural.
55
Complementa AZIBEIRO (1999, p. 2):
Enquanto a multicultura dá ênfase às diferenças, correndo às vezes o risco de cristalizá-las, a
intercultura propõe a interação, que não mascara nem dilui a diversidade, mas explicita os jogos de
força e as relações de poder que levam às sínteses culturais, reafirmando a riqueza da pluralidade e o
respeito pelo diferente, não como concessão mas como reconhecimento de seu valor.
Os assessores que intervêm nesse processo devem ter em mente os valores e saberes do grupo
e não os seus próprios para colaborar nesse diálogo intercultural. O que, na opinião de
AZIBEIRO (1999, p. 20), difere “[...] do comportamento daquele que se sabe, se sente ou se
coloca como ‘dono da verdade’ e quer ajudar o outro a ‘sair da ignorância’ ou ‘das trevas’”.
Desse modo, a intercultura representa a possibilidade de superação da dificuldade de diálogo
entre o conhecimento teórico e técnico da assessoria e o saber popular nascido da experiência
vivida pelos grupos populares.
Sob esse direcionamento, no processo de formação do conhecimento do grupo, a assessoria
adotará um procedimento interativo com este, ajudando-o a “descobrir e valorizar seu
saber”(ibidem, p. 4). Para CAMPOS (1996, p. 170), “se o conhecimento se constrói na
interação, e se esta interação é mediada por símbolos e artefatos produzidos culturalmente
(como afirma Vygotsky), duas conseqüências se impõem aos psicólogos: conhecer a cultura
local e contribuir para a construção de novos significados através da interação”, aplicando-se
isso aos demais assessores multidisciplinares.
As diversas características do cooperativismo, traduzidas nos seus valores de equidade,
solidariedade e respeito às diferenças, e nos seus princípios, valorizam a interação dos
conhecimentos e a busca da coesão como elemento que facilitará o surgimento de uma nova
realidade cultural. Isso é possibilitado pela educação intercultural, que nasce na educação
cooperativista, ou seja, pela disseminação de seus valores e princípios.
Portanto, de tudo o que foi falado, pode-se concluir que o processo de formação em
cooperativismo deve ser um processo de educação intercultural. Torna-se preciso perceber
antigos e novos esquemas de dominação entre as culturas, onde os próprios silêncios podem
significar resistências.
56
Resta discutir, a seguir, como se manifestam as relações entre o representante, o representado
e a representação do “coletivo”, em seus múltiplos aspectos. Nas palavras de CAMPOS
(1996, p. 171), “a teoria das representações sociais busca superar as limitações da abordagem
cognitivista, seja clássica ou contemporânea, por abordar não apenas a construção das
representações do indivíduo, mas a maneira como estas representações se tornam
hegemônicas em uma dada formação social”.
A ênfase da teoria é o estudo do aspecto social, ou seja, “interindividual”, da representação.
Vale dizer, a construção da representação, em lugar de ser uma questão individual, passa a ser
uma função simbólica do grupo social em seu conjunto.
O conceito de representação social, proposto por MOSCOVICI apud CAMPOS (1996,
p.171), “procura descrever representações coletivas enquanto construções simbólicas
historicamente determinadas, socialmente compartilhadas e comunicadas através de redes
institucionais específicas, que ao mesmo tempo modelam ações dos grupos no interior da
formação social considerada, e são por elas modeladas”.
O que determina a ação dos indivíduos é, antes que sua própria representação do real, a
representação que surge da complexa rede de relações sociais, que eles compartilham com os
demais membros do grupo ao qual pertencem. Esta teoria apresenta dois aspectos relevantes
para o estudo da interação e para compreensão dos efeitos da complexidade cultural que afeta
a conduta.
Segundo MOSCOVICI apud CAMPOS (1996, p. 172), “a idéia de que as representações que
os sujeitos constróem, compartilham e comunicam entre si são fruto de histórias já
construídas, e como tal são transmitidas.” E “a lembrança oportuna de que as práticas
presentes vão progressivamente contribuir para introduzir novos elementos nas
representações, e em última instância para transformá-las”.
Com relação à representação, percebe-se claramente que há dissonância entre o fazer e o
representar nas classes populares, em sentido inverso aos extratos médios ou superiores de
renda. As classes médias falam de um fazer coletivo, dos direitos que todos devem ter, mas
agem de forma extremamente individualizada, enquanto nas classes populares, nota-se
57
manifestações distintas, pois essas agem de forma coletiva, mas nem sempre percebem ou
nomeiam suas ações do ponto de vista representativo da coletividade.
A Educação Cooperativa, que pode ser entendida como educação social, deve levar os
indivíduos e os grupos a repensar e reformar seus próprios conhecimentos e experiências
confrontando o conteúdo recebido com o que possui.
Como já foi falado, trata-se de um processo dialógico, onde residem conflitos e tensões
naturais, que não podem ser encarados como a manifestação de interesses antagônicos, mas
como frutos da negociação cultural, que “não se resume a mera incorporação de
conhecimentos, mas sim uma reinterpretação e recontextualização” (GOHN, 2000, p. 3).
A lei 5764/71 é omissa quanto à Educação Cooperativa como característica básica da
cooperativa, permitindo que os dirigentes não priorizem seu implemento nas cooperativas,
como o aconselhado pela ACI.
No entanto, todo o crescimento da cooperativa se alicerça sobre o tripé da
conscientização/educação cooperativa; da capacitação dos dirigentes, conselhos e membros
para torná-la eficiente; e da democratização das decisões e dos resultados. Pois, como afirma
LIMBERGER (1996, p. 150) “[...] a prática de autênticos métodos cooperativos nas bases
possibilitará certamente também o surgimento de líderes, de elementos atuantes e de
dirigentes capacitados para tais tarefas”.
Para confrontar a teoria X prática, na sequência, apresenta-se a metodologia utilizada no
desenvolvimento desta pesquisa.
58
CAPÍTULO III
METODOLOGIA
Em vista dos objetivos propostos, considerando também as informações disponíveis sobre os
empreendimentos cooperativos de trabalho no Brasil, escolheu-se uma metodologia de
investigação qualitativa. Focalizou-se apenas um estudo de caso, embora, comparado a outras
experiências apresentadas no capítulo IV; e interativa porque os resultados da pesquisa e as
reorientações da análise dos dados foram frutos do contato da pesquisadora com o grupo
pesquisado através de investigação e assessoria; da participação em vários Estados do Brasil
em Seminários, Convenções e Curso de Extensão Universitária em Economia Solidária e
Desenvolvimento Local - USP; e das reuniões com a Equipe Técnica do Núcleo da
UNITRABALHO/ UEM.
Para este estudo, foi definido como procedimento metodológico padrão a entrevista
despadronizada ou não estruturada, (anexo III). Na pesquisa, procurou-se unir técnicas de
pesquisa social e de pesquisa em administração e economia, objetivando estabelecer, com
bases nas informações obtidas, uma análise tanto econômica-administrativa como sociológica
das cooperativas de trabalho e sua relação com a disseminação do Cooperativismo entre os
cooperados, por via da Educação Cooperativa.
Foram utilizadas, ainda, as técnicas de observação participativa Pesquisa-ação BENBASAT e
GOLDSTEIN, apud LAKATOS (1991, p. 58), observação assistemática ANDER-EGG, apud
LAKATOS (1991, p. 193) e abordagem sócio-interacionista CAMPOS (1996, p. 169-175) na
perspectiva do conhecimento relacional.
10
Na primeira etapa da investigação, foi efetuada uma pesquisa bibliográfica e documental. De
acordo com GIL (1990) a investigação deve estar fincada em alguns passos como: livros,
revistas, boletins, teses, artigos científicos, jornais, relatórios de pesquisas, anuários e
registros estatísticos, obtidas em bibliotecas especializadas (UNITRABALHO, UEM, USP,
UNISINOS, FURB, OCB, DIEESE, ADS, CEDOPE, etc) e via Internet, referentes ao tema
10
“Na verdade, realiza-se aqui o projeto sócio-interacionista de propiciar a oportunidade da construção do conhecimento na interação,
incluindo-se nesta interação o próprio psicólogo social (neste caso, a própria pesquisadora).”(Campos, 1996: 174).
59
cooperativismo, experiências em Economia Solidária, transformações no mundo do trabalho,
educação social e representações .
Na segunda etapa, o estudo fundamentou-se em informações colhidas por meio de uma
pesquisa exploratória, que permitiu estabelecer algumas estratégias metodológicas para o
desenvolvimento do trabalho de campo. Nesse sentido, a coleta de dados primários
compreendeu a observação participativa e direta das condições de organização do processo de
trabalho e de identificação dos cooperados com os princípios cooperativistas do grupo
analisado, de forma a permitir o delineamento das condições reais que conduziram à formação
e constituição da Cooperativa objeto do estudo.
Posteriormente, fez-se uso da pesquisa descritiva objetivando estudar as características
socioculturais do grupo analisado, visando contextualizar como tais trabalhadores cooperados
assumem, primeiramente, o novo desafio que a proposta cooperativa lhes impõe, de deixar a
condição de trabalhadores empregados, sob o amparo das leis trabalhistas e passar à situação
de trabalhadores cooperados, ao mesmo tempo sócios da empresa e trabalhadores, sem o
amparo da lei que lhes garantia os direitos sociais; em segundo plano, como esses
trabalhadores representam a si mesmos enquanto grupo e como se dá a interação dos
membros. Em terceiro lugar detectar a existência de um processo de formação cooperativista
efetivo no grupo.
Através dessas técnicas de investigação em pesquisa social, procurou-se obter informações
detalhadas a respeito do comportamento interativo dos cooperados e suas expectativas em
torno da proposta cooperativa, e do grau de aplicação dos princípios cooperativistas no grupo.
Complementando as etapas anteriores, realizou-se um estudo de observação com
características de ser assistemática em alguns aspectos e sistemática em outros, bem como a
coleta de informações sobre outras iniciativas ou grupos cooperados, particularmente, os
assessorados por ITCPs e/ou Núcleos da Unitrabalho nacionais, bem como um estudo
histórico sobre o desenvolvimento do princípio da Educação Cooperativa na experiência
pioneira de Rochdale.
60
A obtenção de informações sobre a relação entre as dirigentes e os cooperados, a
implementação de práticas democráticas e de solução dos conflitos internos, do grupo
analisado, comparadas com experiências cooperativas que se apresentam em caminho do
êxito, permitiu construir um referencial analítico que servirá de base real para a formulação
de propostas de aperfeiçoamento da atuação da assessoria nas cooperativas de trabalho, bem
como, e da própria atuação das cooperativas como instrumento de transformação social pela
via do trabalho coletivo.
3.1 DEFINIÇÃO DO TIPO DE PESQUISA
A pesquisa envolveu a combinação de elementos de pesquisa exploratória, pesquisa interativa,
pesquisa descritiva e documentação direta.
Os dados foram coletados, primeiramente, através da documentação direta visando levantar
informações no próprio interior da cooperativa. Visto que, para LAKATOS (1991, p. 186), a
documentação direta "constituiu-se, em geral, no levantamento de dados no próprio local onde
os fenômenos ocorrem".
Justifica-se também a utilização da pesquisa exploratória-descritiva, uma vez que ela consiste,
segundo LAKATOS (1991, p. 188), em "investigações empíricas (...) com tripla finalidade:
desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou
fenômeno, para a realização de uma pesquisa futura mais precisa ou modificar e clarificar
conceitos". Nesse sentido, como já foi dito, a exploração permitiu à pesquisadora estabelecer
algumas estratégias para o desenvolvimento do trabalho de campo, que aliou o estudo
exploratório ao descritivo. Em razão a esta pesquisa escolheu-se o estudo de caso.
3.2 DEFINIÇÃO DA TÉCNICA UTILIZADA NA PESQUISA
Por se tratar de uma documentação direta, a técnica de observação utilizada foi observação
assistemática ou não estruturada, também denominada espontânea, informal, livre, e consiste
em recolher e registrar os fatos da realidade sem que o pesquisador utilize meios técnicos
especiais. É mais empregada em estudos exploratórios e não tem planejamento e controle
previamente elaborados. Para ANDER-EGG, apud LAKATOS (1991, p. 193), a observação
61
assistemática "não é totalmente espontânea ou casual, porque um mínimo de interação, de
sistema e de controle se impõem em todos os casos, para chegar a resultados válidos". No
entanto, esta observação constata-se nos tópicos: 4.1 a 4.9.
Ressalta-se que houve momentos que utilizou-se de observação sistemática e coleta de
informações sobre outras iniciativas ou grupos cooperados particularmente, os assessorados
por ITCPs e/ou Núcleos da UNITRABALHO nacionais, bem como um estudo histórico sobre
o desenvolvimento do princípio da Educação Cooperativa na experiência pioneira de
Rochdale.
A documentação direta, observação sistemática ou estruturada, também pode ser denominada
planejada, controlada, pois utiliza instrumentos para a coleta de dados ou fenômenos
observados. No entanto, as normas não são padronizadas, visto que para LAKATOS (2001, p.
193) "na observação sistemática, o observador sabe o que procura e o que carece de
importância em determinada situação; deve ser objetivo, reconhecer possíveis erros e eliminar
sua influência sobre o que vê ou recolhe". Este método foi o ideal para a coleta de dados, uma
vez que a mestranda interagia com o grupo em estudo, e pode ser encontrado no capítulo V.
3.3 O MÉTODO DE PESQUISA
A metodologia da pesquisa escolhida foi a Pesquisa-ação. Nesta, o pesquisador ao mesmo
tempo em que quer implementar um sistema, simultaneamente quer avaliar uma certa técnica
de intervenção. A Pesquisa-ação envolve o pesquisador no trabalho com os membros de uma
organização sobre um problema que é de real interesse para eles, e no qual há uma intenção,
pelos membros da organização, em agir baseados na intervenção. (EDEN e HUXHAM, 1995)
Para THIOLLENT (1985, p. 14), Pesquisa-ação pode ser definida como "um tipo de pesquisa
com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com
a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e participantes
representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou
participativo”. O método justifica-se devido a pesquisadora estar diretamente assessorando de
forma participativa a formação da cooperativa.
62
3.4 O MEIO DE INVESTIGAÇÃO
O meio de investigação utilizado foi o estudo de caso, pois, para YIN (1984, p.10) "os estudos
de caso são extensivamente utilizados em pesquisas na área das ciências sociais, sendo uma
estratégia de pesquisa freqüentemente usada em dissertações de mestrado e teses de
doutorado", uma vez que poderão abrir novos horizontes.
O meio adotado para tal investigação, deveu-se ao fato de ser um método que visa o exame
detalhado de um ambiente ou situação em particular, como também, serve para explicar as
variáveis causais de determinado fenômeno por meio de uma intervenção em uma situação
real, a qual pode ser identificada e descrita através de experimento e, a pretenção da pesquisa
era investigar e relatar a formação e o processo de Educação Cooperativa, no caso específico
da cooperativa de Mandaguari.
A opção por esta metodologia deveu-se principalmente pelo fato de ser um estudo intensivo,
ou seja, houve uma investigação detalhada do caso selecionado, o qual contribuiu com novas
descobertas, tanto para a cooperativa quanto para a mestranda, devido à realização de estudos
exploratórios.
3.5 A TÉCNICA DE COLETA DE DADOS
Quanto à técnica de coleta de dados, a opção foi de entrevistas despadronizadas ou não
estruturadas, nas quais, segundo MARCONI (1999, p. 96), "o entrevistador tem liberdade
para desenvolver cada situação em qualquer direção que considere adequada. É uma forma de
poder explorar mais amplamente uma questão [...] as perguntas são abertas e podem ser
respondidas dentro de uma conversação informal". Por observar que as associadas coagiam a
qualquer manifestação de formalidade, a mestranda optou por esta técnica, uma vez que
atingiria seu objetivo sem constrangimentos. Portanto, foram realizadas vários encontros com
a finalidade de obtenção de respostas, perfazendo um total de três meses. As entrevistas que
serviram como suporte para a análise foram feitas com as vinte associadas da cooperativa, ou
seja, Presidente, Vice-Presidente, Secretárias, Tesoureiros, membros do Conselho Fiscal,
Conselho Administrativo e demais associadas.
63
A utilização de relatos dos questionamentos revelam a técnica de entrevista semi-estruturada,
uma vez que não utilizou-se de nenhum meio técnico especial, porém, existiam perguntas
norteando as entrevistas, como consta nas categorias encontradas no tópico 4.10.
3.6 ANÁLISE DOS DADOS
A análise dos dados foi dividida por fases, podendo ser classificada da seguinte maneira:
1ª fase: Revisão literária;
2ª fase: Coleta de dados; e
3ª fase: Análise dos dados.
Na 1ª fase, a revisão da literatura proporcionou à mestranda conhecimentos relevantes acerca
do tema. A 2ª fase, por sua vez, contempla a busca de dados, informações e inserção da
mesma, que foi ordenada e organizada para análises e interpretações dentro da 3ª fase, com
base nos conhecimentos adquiridos na 1ª fase. Na 3ª fase, deve-se salientar que foi utilizada a
definição de categorização e análise de conteúdos. Para GOMES apud MINAYO (1985, p.
70), categoria:
Se refere a um conceito que abrange elementos ou aspectos com características comuns ou que se
relacionam entre si. Essa palavra está ligada à idéia de classe ou série. As categorias são empregadas
para se estabelecer classificações. Nesse sentido, trabalhar com elas significa agrupar elemento, idéias
ou expressões em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso. Esse tipo de procedimento, de
um modo geral, pode ser utilizado em qualquer tipo de análise em pesquisa qualitativa.
Porém, fez-se necessário uma atuação e classificação de forma a selecionar os dados obtidos,
a fim de reuni-los em grupo de acordo com o interesse da pesquisa e o estudo literário. A
mestranda, a priori, utilizou todos os mecanismos citados anteriormente; a posteriori, fez-se
uso de questionários, apontamentos, consultas a relatórios e assessoria. A interpretação
consistiu em expressar o verdadeiro significado de toda observação e material coletado, que
se apresentou em termo dos propósitos do estudo; foram feitas ilações que a lógica lhe
permitiu; procedeu-se às comparações pertinentes (Prática X Teoria), e na base dos resultados
alcançados, fez as generalizações apropriadas.
64
3.7 LIMITAÇÕES DA PESQUISA
A pesquisa foi direcionada à Cooperativa dos Produtores de Confecções e Facções de
Mandaguari. No entanto, faz-se necessário adaptações, no caso de aplicabilidade em outro
ramo, pois essa possui características peculiares. Outro fator limitante, considerado pela
mestranda, é a própria formação das liderança. Por fim, o prazo para conclusão desta e a
ocorrência de greve na Universidade também pode ser citado como fator limitante.
65
CAPITULO IV
ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS ATRAVÉS DO ESTUDO DE CASO NA
COOPERATIVA DOS PRODUTORES DE CONFECÇÕES E FACÇÕES
MANDAGUARI/PR
4.1 HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS DA COOPERATIVA
A cooperativa selecionada para este estudo de caso atua no ramo de confecções e facções e
tem por objetivo: produzir, beneficiar, industrializar, confeccionar, embalar e comercializar
artigos de confecções, prestar serviços de costura em forma de facção. Tem como
denominação Cooperativa dos Produtores de Confecções e Facções de Mandaguari, e está
localizada na Rua Custódio da Rocha s/nº, na cidade de Mandaguari, Estado do Paraná.
Atualmente, está instalada em um terreno, concedido em comodato, que possui 3.213,98 m2
tendo 109,17 m, confrontando com a Rua Projetada O; 12,61 m confrontando com a Rua
Projetada C, 50,72 m confrontando com a Rua Projetada A e 102,39 de fundos, concedido em
comodato.
Sua constituição foi datada de 15 de setembro de 2000. Rege-se pelos princípios do
Cooperativismo, pelas disposições legais, pelas diretrizes da autogestão e pelo estatuto (ver
anexo), tendo como capital da cooperativa, representado por quotas-partes, subscrito e não
integralizado R$ 1.000,00 (mil reais), subdividido em quotas-partes no valor de R$ 1,00 (um
real) cada uma. Sua formação societária, constituída por vinte sócios, é representada da
seguinte forma:
- Conselho de Administração: Diretor Presidente, Diretor Vice-Presidente, 1ª
Secretária, 2ª Secretária, 1ª Tesoureiro e 2ª Tesoureiro.
- Conselho Fiscal: 3 (três) membros efetivos e 3 (três) suplentes.
66
4.2 ANTECEDENTES À FORMAÇÃO DA COOPERATIVA
O presente trabalho emergiu de um projeto de prestação de serviços pressupondo um trabalho
conjunto entre o PCA - Programa Multidisciplinar de Estudos, Pesquisa e Defesa da Criança e
do Adolescente, UNITRABALHO - Programa Multidisciplinar de Estudos e Pesquisas sobre
o Trabalho e Movimentos Sociais (Núcleo Local/UEM) e Caixa Econômica Federal, através
do PRODEC - Programa de Apoio ao Desenvolvimento Comunitário.
O PRODEC caracteriza-se como instrumento de aplicação de políticas de desenvolvimento
comunitário e parte da concepção que a solução da questão habitacional não se esgota na
construção de moradia, mas envolve a excelência da estrutura urbana, as relações sociais, as
necessidades e bem-estar dos usuários, ou seja, a melhoria da qualidade de vida dos
moradores.
Para viabilizar a proposição descrita acima, o PRODEC detém recursos provenientes das
contribuições efetuadas na conta PRODEC HABITAÇÃO, quando da contratação de
empréstimos habitacionais com recursos do FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
e SBPE – Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos. O montante dos recursos
disponíveis beneficiou 07 conjuntos habitacionais de Maringá e região, dentre eles o Conjunto
Mandaguari I e II, Conjunto Ipacaraí, Popular e Vila Palma (cinco conjuntos), representado
por uma única Associação de Bairro. O conjunto é formado aproximadamente por 780
famílias.
Em 27 de maio de 1999, iniciaram as atividades da equipe de trabalho PRODEC/UEM, que
definiu pela elaboração de um questionamento sócio-econômico (anexo) para ser aplicado nos
conjuntos citados para levantar, entre outros pontos, as necessidades dos moradores e facilitar
as discussões e encaminhamentos. Foi decidido que a implantação da pesquisa seria por
amostra estratificada proporcional, dada a amplitude da amostra.
Para aplicação do questionário, foi realizada uma reunião com os moradores do Conjunto para
esclarecer os objetivos do programa, o investimento e a realização de eleição para
representantes do Comitê PRODEC, o qual fiscalizaria todo andamento do projeto. A título de
67
informação, esse conjunto existe há aproximadamente 10 anos e sua infra-estrutura é bastante
precária.
Os resultados da pesquisa evidenciaram a necessidade por unanimidade dos moradores, de
asfaltamento no bairro, mas esse resultado não era viável, pois os moradores não teriam
possibilidade de custear a obra. Então, pensou-se, coletivamente, em outra alternativa para
investir os recursos do PRODEC, que totalizavam R$ 15.000,00.
Desde o começo, a maior necessidade relatada pela comunidade foi a ausência de asfalto e
escassez de emprego. Como a verba não poderia ser destinada à pavimentação asfáltica, foi
decidido aplicar o recurso na criação de uma fábrica de bloquetes e artefatos de cimento que
seria controlada pela Associação de Moradores. A fábrica não só atenderia à comunidade no
sentido de possibilitar a confecção de meio-fio para as ruas do conjunto, como também
absorveria boa parte da mão-de-obra masculina ociosa do conjunto.
Além do projeto de construção da fábrica comunitária, foram realizados vários cursos, dentre
eles o de Cooperativismo, tendo em vista que o conjunto apresentava altos índices de
desempregados. Inicialmente, muitas pessoas foram atraídas, diante da necessidade de
arrumar alguma atividade que lhe retornasse em renda, mas a maioria desistiu quando
percebeu que o retorno financeiro não seria imediato. Diversas propostas foram apresentadas
durante a realização dos cursos, como por exemplo: fábrica de bijuterias, corte e costura
industrial, confeitaria, entre outros. O público presente nas reuniões e cursos sobre
cooperativismo era de aproximadamente 60 participantes. Havia rotatividade, o que
dificultava muito o progresso das discussões e debates.
4.3 O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO GRUPO
Para descrever a trajetória do grupo de homens e mulheres, que hoje se constitui na
Cooperativa, é necessário fazer uma retrospectiva de como este grupo se constituiu. O
processo iniciou-se com a instalação do PRODEC no conjunto Mandaguari, como explicado
anteriormente. Paralelo a isso, foram realizadas pela equipe da UEM, atividades recreativas e
sócio-educativas com a população, que muito colaboraram para maior divulgação do trabalho.
Ainda no intuito de realizar no conjunto alguma atividade voltada para a geração de renda, e
68
na tentativa de criar mecanismos para fazer frente ao problema estrutural do desemprego e à
ausência de perspectivas de novos postos de trabalho na região, alguns membros da
comunidade que participavam das reuniões solicitaram cursos voltados para o Cooperativismo
e Associativismo, vislumbrando a possibilidade da formação de cooperativas populares no
Conjunto. O curso foi realizado por integrantes e assessoras em cooperativismo da
UNITRABALHO da qual a pesquisadora fez parte.
O trabalho foi iniciado através de reuniões periódicas sob a forma de oficinas, com utilização
de dinâmicas, estudos de caso, etc. nas quais foram introduzidos os princípios cooperativos,
noções sobre a organização/gestão da cooperativa, etc. As discussões incluíam a definição do
objeto econômico, ou seja, a criação de uma cooperativa pressupõe a definição de uma
atividade econômica. Tal ação, como se nota, não é realizada da mesma forma como é feita
numa empresa capitalista. Isto porque uma empresa capitalista parte da identificação do
objeto econômico e, somente a partir de então, procura no mercado aqueles fatores de
produção, inclusive a mão-de-obra, que servirão àquela atividade econômica.
Entretanto, na empresa cooperativa é diferente. Antes de identificar o objeto econômico, ela
identifica quais são as características profissionais e aptidões dos seus cooperados, e somente
após isso, procura identificar qual (ou quais) atividade(s) econômica(s) seus cooperados são
capazes de desenvolver.
Não se pode afirmar que as características do grupo serão definidoras das atividades a serem
desenvolvidas, sem se incluir a possibilidade de capacitação, qualificação e aprimoramento
dos associados em outras atividades viáveis. Porém, as características dos associados,
juntamente com os cursos de capacitação acessíveis, e outros, definirão qual a identificação da
atividade.
Destaque-se a importância da definição do objeto econômico na cooperativa. Uma vez que há
uma intensificação dos valores democráticos, igualitários e solidários nela presentes, a
atividade econômica está sujeita às características do grupo, diferentemente da empresa
capitalista. No caso analisado, havia dificuldades na definição do objeto econômico e no
avanço das discussões devido a rotatividade dos participantes. Porque os interessados não
69
possuíam as mesmas qualificações; deve-se atentar pelo o fato que permaneceram somente as
mulheres.
4.4 O PROCESSO DE APRENDIZADO
Para a continuidade do processo de aprendizado e devido ao desconhecimento no ramo de
atividade escolhida, as interessadas, em conjunto, optaram por realizar um curso
profissionalizante de costura industrial, que foi proporcionado com o apoio da prefeitura
municipal através do SENAI. Em conseqüência, os trabalhos de assessoria voltados para o
cooperativismo foram suspensos temporariamente.
A propósito, é conveniente que se faça uma reflexão sobre a viabilidade de iniciar um
trabalho de formação de uma cooperativa, visto que isso exige uma disposição e um empenho
maior dos participantes, e pode ficar prejudicado num ambiente de total desconhecimento,
como foi o caso. Deve-se também atentar para o fato de que, na cooperativa, a forma que se
dá é a simultânea e/ou coletiva com outros para um mesmo fim, ou seja, trabalhar em grupo,
em companhia, em comunidade, pressupõe superação do individualismo e implantação de
igualdade e democracia.
Durante o tempo de afastamento, este grupo de mulheres foi aconselhado pela equipe
responsável a não formalizarem a cooperativa enquanto as interessadas não estivessem
seguras do que queriam e que aguardassem a continuidade do Curso sobre Cooperativismo,
uma vez que o assunto não havia se esgotado e apenas alguns pontos do Estatuto haviam sido
discutidos.
4.5 A FASE DA CONSTITUÇÃO E IMPLANTAÇÃO DA COOPERATIVA
Durante o tempo do afastamento da equipe, o que se deu por aproximadamente três meses,
para que se cumprisse o processo de aprendizado de costura industrial, e também pela própria
proposta metodológica da UNITRABALHO (anexo II), e sem o conhecimento da equipe, a
presidente da Associação de Moradores iniciou a constituição da Cooperativa. Nesse meio
tempo, a presidente da Associação tornou-se também presidente da Cooperativa recém criada,
alegando ser escolhida pelas mulheres associadas. A equipe, ao retornar, identificou uma
70
manipulação expressiva em razão de vários comentários obtidos através das próprias
associadas da cooperativa. Pôde-se ressaltar que a liderança da presidente não beneficiou o
processo, uma vez que tratava-se de uma liderança extremamente autoritária, o que a fez
procurar novamente a assessoria apenas quando os problemas tornaram-se muito graves.
Quando da retomada dos trabalhos pela equipe UNITRABALHO/UEM, notou-se a ocorrência
de várias mudanças. A Presidente havia conseguido através da Caixa Econômica uma verba, a
fundo perdido, para compra de nove máquinas industriais, em nome da Associação de
Moradores, para uso na Cooperativa. Vale frisar que a Associação, no tempo em que o
PRODEC era realizado no conjunto, havia conseguido em Comodato, um salão do extinto
BADEP – Banco de Desenvolvimento do Paraná, para a instalação da Cooperativa.
Deve-se ressaltar, no entanto, que apesar do aconselhamento prévio ao afastamento da equipe
responsável pelos cursos, devido a grande rotatividade dos cursistas, a presidente distorcia
várias informações e encaminhava o projeto de acordo com o que ela achava correto, sendo
necessária a retomada de toda discussão sobre cooperativismo no retorno da assessoria, visto
que muitas participantes da Cooperativa não tinham sequer noção do significado de seu
trabalho.
Além da realização do curso de costura industrial, outro motivo que dificultou a seqüência da
assessoria pela equipe da UNITRABALHO foi o término do PRODEC, resultando no término
das verbas para deslocamento. A UNITRABALHO não dispunha de recursos próprios para
prestação de atendimento, nem as interessadas dispunham de condições para custeá-los.
Como se tratava de ano eleitoral, a Prefeitura, que até então estava apoiando a iniciativa,
acabou restringindo-se a enviar trabalhadores para a fábrica de bloquetes e encaminhar as
mulheres para os cursos de costura. Não havia a possibilidade de financiar viagem das
assessoras.
Não é possível olvidar que parte dos problemas surgidos nessa experiência resultaram da
própria inexperiência da equipe. Os trabalhos com incubagem estavam apenas começando e
atendiam a uma demanda específica surgida sem prévia preparação dos integrantes. Essas
dificuldades foram amenizadas com a busca de uma interação maior com outras equipes que
já tinham maior conhecimento e experiência, bem como, a leitura do material bibliográfico
71
disponível o que levou a equipe a repensar suas práticas. No caso específico, em algumas
situações não houve a promoção de soluções alternativas viáveis, embora a preocupação com
o grupo persistisse. Aliada a isso, havia a urgência do grupo em estruturar a Cooperativa.
Estes fatos geraram conflitos inevitáveis e a equipe passou a ser chamada para solucionar
questões pessoais e desavenças internas do grupo.
Os desentendimentos ocasionaram afastamento de várias associadas, sendo que as principais
reclamações foram quanto ao autoritarismo da presidente e à falta de transparência nos
relatórios (prestação de contas).
No tocante às reclamações relativas à falta de transparência administrativa, percebeu-se que
havia falta de comunicação entre as integrantes. Não havia uma verdadeira prestação de
contas por parte da Presidente, ou era insuficiente, embora na aparência tudo estivesse
correndo bem, pois num empreendimento coletivo não se pode limitar a dizer que a produção
se dará em cooperação ou não. A cooperação deve ser vivenciada pelo grupo em todos os
setores, da produção à tomada de decisões. A implementação disso é mais ampla e consiste
em decidir qual técnica será utilizada, identificar os fatores de produção e a remuneração dos
associados. Estas definições constituem decisões importantes porque determinarão o produto
e sua qualidade, além de seu custo de produção e o preço a ser cobrado e devem ser coletivas.
Como as decisões de uma cooperativa são tomadas pelos próprios associados, o valor das
remunerações e os preços dos produtos também são decididos pelos mesmos. Contudo, deve-
se perceber que se estará inviabilizando o empreendimento se ficar estabelecido uma
remuneração elevada, pois isso produzirá custos elevados e, conseqüentemente, preços dos
produtos acima dos praticados no mercado. Por outro lado, a prática de remunerações baixas
pode também constituir inviabilidade do negócio, pois na tentativa de colocar no mercado um
preço competitivo e compatível pode-se desestruturar todo um processo. Entretanto, a prática
de baixas remunerações durante certos períodos pode ser considerada uma prática salutar, se
for entendida como um investimento dos associados no empreendimento.
Afora esses problemas de entendimento, as associadas não estavam seguras quanto ao
trabalho em grupo e nem qualificadas para o próprio objeto do empreendimento: a confecção.
A evasão inicial foi grande. Associadas que dispunham de maior conhecimento em costura se
72
afastaram devido a conflitos internos e as associadas que permaneciam não tinham condições
para levar adiante o trabalho.
O aprendizado ocorreu de forma lenta, houve muitas perdas, visto que costura não se aprende
“da noite para o dia” e o treinamento deve ser constante até que se atinja o grau de qualidade
exigido pelas fábricas tomadoras de serviço e não havia como investir na produção própria.
As dificuldades aumentavam à medida que o tempo passava, uma vez que as contas surgiam a
todo o momento e o retorno quanto à facção não existia, devido à falta de qualificação da
mão-de-obra. Desse modo, havia diversas reclamações... os fornecedores devolviam as roupas
para que fossem reparados os erros e não pagavam devido à baixa qualidade, as mulheres
reclamavam por não atingirem seus objetivos. Entre erros e acertos, sobravam as contas a
pagar.
4.6 O DESAFIO DA AUTOGESTÃO
A autogestão é um conceito relativamente antigo, entretanto, com relação às novas
experiências de cooperativismo de trabalho popular, é algo em construção. Daí porque encara-
se a autogestão como um desafio, à medida que se parte da premissa teórico-metodológica de
que é algo a ser construído; que não pode ser entendido como um modelo a ser reproduzido,
enquanto prática imediata. No entanto, autogestão é uma ação reflexiva de sujeitos ativos que
estão se propondo pensar e agir diante de um determinado contexto das relações de trabalho.
No caso específico da cooperativa analisada, a equipe da UNITRABALHO, ao dar
continuidade dos trabalhos de assessoria, observou que havia uma concentração de poder nas
mãos da presidente impedindo que as demais associadas (acostumadas à submissão em outras
relações de emprego) tivessem conhecimento dos problemas e, verdadeiramente, exercessem
seu direito como associadas de participar nas discussões e decisões, desfavorecendo a
autogestão e constituindo-se em um desafio até mesmo para as assessoras.
A rotatividade já citada e a falta de substituição de nomes das antigas associadas no prazo
adequado geraram divergências entre estas e as novas integrantes da cooperativa. Embora a
assessoria tenha alertado para esse fato, a presidente não acatou a sugestão deixando de
providenciar os encaminhamentos necessários. Os problemas se avolumaram de tal maneira
73
que as divergências extrapolaram o ambiente interno e avançaram para a fronteira do conjunto
gerando muita discussão, polêmica e até problemas judiciais.
É possível que a Presidente não estivesse preparada para conduzir a cooperativa. Seu método
de condução da cooperativa estava equivocado. Portava-se como patroa, não se importava
com o desenvolvimento do grupo, mas tentava aparentar justamente o inverso, quando das
reuniões e visitas da assessoria. Devido ao seu comprometimento com a campanha política,
haja vista que era candidata a vereadora da cidade, distanciou-se das funções de presidente da
cooperativa (embora não permitisse que ninguém assumisse essa função, tornando-se
interlocutora da cooperativa junto às atividades de assessoria que se davam por contatos
telefônicos). Com os resultados negativos nas urnas, tentou retomar as atividades normais e
encontrou forte rejeição. “O ambiente estava carregado, é impossível alguém produzir ou se
qualificar diante desta situação de ameaça contínua”. (relato de uma associada).
Com relação às demais cooperadas, embora se ressentissem das atitudes da presidente, não
tomavam qualquer iniciativa para alterar o estado de coisas; algumas devido a
desconhecimento dos processos cooperativistas (dada à rotatividade de participantes) e outras
por medo de represálias por parte daquela, como ficou claro no decorrer do tempo, através da
pesquisa.
Com a ocorrência de um evento social naquele conjunto, para o qual o Técnico Social da
Caixa Econômica Federal se fez presente, detalhes referentes à gestão da cooperativa lhe
foram revelados por algumas associadas que, no momento, estavam afastadas da cooperativa,
e solicitavam uma reunião para maiores esclarecimentos. A reunião aconteceu na semana
seguinte, na casa de uma das associadas, contando com a participação de quinze mulheres que
se consideravam ex-associadas, do Técnico Social e de membros da UNITRABALHO. Nela,
os interessados fizeram relatos e, ao mesmo tempo, tomaram conhecimento de que ainda
faziam parte da cooperativa, visto que nenhuma havia solicitado formalmente seu afastamento
e, se desejassem, poderiam retornar. Sentiram-se fortes ao perceberem que unidas eram
maioria, e poderiam substituir, ou até mesmo afastar a presidente através de seus votos, se
fosse o caso. A possibilidade de retorno à cooperativa causava-lhes, ao mesmo tempo,
insegurança e felicidade. Compreenderam neste momento a força da união. Esta força
corrobora com que OWEN, apud HOBSBAWN (1848) pregava: o objetivo primordial e
74
necessário de toda a existência deve ser a felicidade, mas a felicidade não pode ser obtida
individualmente.
Neste mesmo dia, o Técnico Social da Caixa Econômica Federal e Assessoras da
UNITRABALHO conversaram com a presidente na tentativa de solucionar as divergências.
Foi decidido agendar uma assembléia extraordinária, na qual todas (grifo nosso) as
consideradas “ex-associadas” participariam. Antecipadamente a presidente saiu de casa em
casa recolhendo assinaturas das associadas para encerramento da cooperativa. Não fez
nenhum tipo de convocação, não se utilizou do Estatuto; simplesmente queria extinguir a
cooperativa, alegando ter iniciado todo o processo. Sob ameaças, várias associadas assinaram.
Só pressionada pelas associadas, marcou a assembléia, conforme o Estatuto.
Para realização da assembléia geral extraordinária, foram convocadas as associadas e foram
convidados e se fizeram presentes os seguintes representantes: Técnico Social da Caixa
Econômica Federal, membros da UNITRABALHO, Gerente do Banco do Povo, Assistente
Social de Mandaguari, Gerente da Agência do Trabalhador. (A presença desses representantes
externos se justificava, tendo em vista todo o envolvimento inicial na formação da
cooperativa, aquisição de equipamentos e disponibilização de recursos e pessoal). O clima era
de total tensão. A presidente chegou com a pasta nas mãos e ressaltou de imediato que
naquele lugar não haveria a cooperativa, pois havia procurado um advogado o qual indicou
processos para a dissolução da mesma. O inesperado para ela era a revolta de todas
associadas. Julgaram o ato da presidente errôneo devido às ameaças judiciais para aquisição
das assinaturas. Como a presidente utilizou de má-fé, passando nas casas colhendo as
assinaturas para dissolução da cooperativa, não se importando com o estabelecido em estatuto
no Art. 27, Parágrafo 2º onde consta que: “os editais de convocação serão afixados em locais
visíveis das dependências geralmente freqüentadas pelos cooperantes, publicados em jornal de
circulação local ou regional, ou através de outros meios de comunicação”, cancelou-se a ata.
Todos acontecimentos culminaram para que se repensasse a cooperativa em novas bases ou
no seu encerramento/dissolução. A presidente renunciou, sem que antes houvesse mais
polêmica e uma nova diretoria provisória foi composta. A partir daí, inicia-se uma nova fase.
75
4.7 NOVA ADMINISTRAÇÃO
O entendimento que a estrutura de poder dentro de uma cooperativa deve ser a mais
democrática possível foi assimilado pelas associadas. Porém, o necessário, a priori, era
definir um sistema de decisões de ampla participação que tivesse autonomia, realmente
pudesse levar adiante a vida da cooperativa, além de construir uma identidade coletiva (ver
item 2.6). Estabeleceu-se uma proposta de estruturação, apresentada da seguinte maneira:
FIGURA I – PROPOSTA DE ESTRUTURAÇÃO
Fonte: Elaborada pela mestranda.
Com essa estruturação, a responsabilidade do presidente é, principalmente, quanto ao aspecto
empresarial da cooperativa e a do vice-presidente é direcionada ao aspecto associativo. O
Conselho Fiscal torna-se núcleo central de controle das atividades. No entanto, são eliminados
os escalões intermediários, distribuindo mais responsabilidades aos integrantes. Os associados
são atendidos pelo Conselho de Administração e Conselho Fiscal, mas não interferem
diretamente no desempenho e desenvolvimento das atividades empresariais, a não ser pela
Assembléia Geral ou através de sugestões.
ASSEMBLÉIA GERAL DOS
SÓCIOS
(poder máximo)
CONSELHO DE
ADMINISTRAÇÃO
CONSELHO FISCAL
ASSOCIADAS
76
4.8 ORGANOGRAMA PARA A COOPERATIVA
Pode-se afirmar que a cooperativa encontra-se no meio-termo entre as associações e as
empresas. Para RECH (2000, p.127), “a sua vantagem é que ela realiza atividades
empresariais no comércio e ao mesmo tempo é dirigida pela totalidade dos seus integrantes,
no que se poderia dizer que existe o princípio da autogestão”.
Os órgãos básicos: Assembléia Geral dos Sócios, Conselho Fiscal de Administração – este
último constituído pelos cargos do presidente, do diretor e do secretário – têm a seguinte
hierarquia no organograma da cooperativa, segundo CRÚZIO (2000, p.51):
77
FIGURA II - ESTRUTURA BÁSICA DE UMA COOPERATIVA
Fonte: Crúzio, Helnon de Oliveira (2000, p.51).
Quanto à fisiologia, SCHULZE (1987) e RECH (2000) propõem que a mesma possa ser
representada da seguinte maneira:
PRESIDENTE
(associado)
(poder deliberativo)
CONSELHO FISCAL
(associado)
(poderes fiscal e consultivo)
ASSEMBLÉIA GERAL
DOS SÓCIOS
(poder máximo)
DIRETOR
(associado)
(poder deliberativo)
SECRETÁRIO
(associado)
(poder deliberativo)
FUNÇÃO
(poder
executor)
FUNÇÃO
(poder
executor)
FUNÇÃO
(poder
executor)
FUNÇÃO
(poder
executor)
Autoridade suprema da Assembléia Geral dos Sócios
Autoridade fiscal do Conselho Fiscal (sócios eleitos)
Autoridade deliberativa do presidente eleito no Conselho de Administração
Autoridades da direção e da secretaria eleitas no Conselho de Administração
Autoridade funcional executora
78
FIGURA III - FISIOLOGIA
Fonte: Schulze
apud
Rech (2000, p. 127).
Para RECH (2000, p.127 ), “a cooperativa capta as necessidades dos associados. Nisso ela é
uma associação e, como empresa, retorna aos sócios os seus serviços. Para fazer isso, ela
realiza uma ação mercadológica, para colocar ou conseguir produtos, e nisso ela adquire
característica de uma empresa. Finalmente, como associação, ela usufrui dos resultados
positivos provenientes do mercado”.
4.9 APRENDENDO A SER DONO
As associadas, ao assumirem a direção da cooperativa, ainda mantinham mentalidade e
comportamentos subordinados, não detinham iniciativas de autonomia, apenas algumas se
destacavam. Apesar das discussões direcionarem as participações, muitas ficavam esperando,
para que outras tomassem decisões. Foi necessário um trabalho de conscientização, ou seja,
uma chamada ao “cooperar” (grifo nosso), assumir posição de donas, sujeitos do
empreendimento e não subordinadas.
Deve-se considerar que as estratégias de sobrevivência adotadas pelo grupo, geralmente são
portadoras de um saber, pois o empreendimento cooperativo tende a ser reformulado, avaliado
ASSOCIAÇÃO
Necessidades
Serviços
EMPRESA
EMPRESA
Ação
Mercadológica
Resultados
ASSOCIAÇÃO
Cooperativa
Associado
Mercado
79
em todo seu desenvolvimento. Devido à complexidade deste tipo de empreendimento, há
certa exigência de disponibilidade de tempo dos indivíduos em relação aos cursos, o que
muitas vezes tem feito com que a pessoa abdique alguma atividade ligada a sua sobrevivência
para dele se ocupar. Esse fato tem dificultado o aprendizado; contudo, entende-se o porquê da
rotatividade de pessoas durante os cursos iniciais e pode-se entender que a cooperativa ainda
não é algo concretizado e a indecisão condicionou as associadas a optarem por trabalhos
informais para sobreviverem, sem necessitarem ser donas (grifo nosso).
A idéia de participação nas decisões, do estímulo ao indivíduo, procurando fazê-lo sentir-se
co-responsável por sua atividade produtiva, inicia o processo que o capacitará a ser um efetivo
dono da cooperativa que, por sua vez, passa a ser autogestionária. A internalização do sentido
de ser dono de uma cooperativa precisa passar fundamentalmente por uma revolução cultural
do cooperado, no que tange ao seu papel na empresa, pois do contrário, poderá agir de
maneira equivocada, ou seja, poderá tomar atitudes baseadas no significado clássico e
tradicional de ser dono, inerente, neste caso, ao trabalho subordinado.
Nesse sentido, retoma-se a hipótese condutora deste estudo, de que se faz necessária, prévia e
contínua Educação Cooperativa, que ofereça condições ao grupo de perceber-se diferente em
relação aos outros empreendimentos (do ponto de vista externo) e solidariamente igual em
relação a seus membros (do ponto de vista interno).
Como é um processo contínuo a Educação Cooperativa passa por fases dentro da cooperativa
que podem muitas vezes ser quebradas se não houver uma condução por parte da assessoria
ou das lideranças. Há inúmeros fatores de retrocesso e os insucessos iniciais não podem ser
considerados como determinantes.
4.10 RELATOS DOS QUESTIONAMENTOS
Para a análise dos dados desta pesquisa tomou-se como base as questões de identificação (ver
anexo III) e de análise das falas das associadas. Trabalhou-se com a categorização de cada
questão indicando os principais depoimentos das entrevistadas.
80
Migrantes
Nas observações feitas no decorrer da pesquisa, notou-se que havia características peculiares
significativas, visto que a maioria das mulheres pertencia a classes que detinham uma renda
mensal inferior a R$ 180,00 (um salário mínimo) na época, e que apesar das dificuldades
eram as mantenedoras da família.
A maioria das entrevistadas são procedentes do interior e algumas vieram da zona rural. O
motivo indicador deste êxodo, segundo relatos das associadas, deveu-se ao fato da
inviabilidade das condições de trabalho no campo. “a falta de renda motivou a nossa
mudança para a cidade” (diz uma associada).
Conforme Paul SINGER (2000, p. 15):
como o desenvolvimento tomava a forma de expansão de firmas capitalistas, nada mais natural que
uma parcela crescente da população ocupada abandonasse ocupações rurais, onde é mais freqüente a
autônoma e não-remunerada (do membro de família), para se inserir na estrutura ocupacional como
empregado público ou de firma particular (a expansão das redes públicas de ensino, saúde,
comunicações, etc). foi elemento condicionante do desenvolvimento.
Da Cultura Individual para a do Coletivo
Notou-se, através desta pesquisa, que a cultura capitalista surge como influência principal
junto ao pensamento do trabalhador cooperativado do grupo em estudo. Mesmo trabalhando
numa cooperativa, o associado ainda pensa como se estivesse atuando dentro de uma empresa
comum com patrão. Enfim, sempre fora educado para ser mandado. Agora a situação se
inverte e ele torna-se dono. Assumir o papel de dono é um processo que demanda de um
longo período de aprendizado. Os dados referentes à comparação entre o trabalho na antiga
empresa e na cooperativa refletem as mudanças significativas na percepção das associadas.
Aos poucos, elas vão tomando consciência das diferenças entre a empresa comercial na qual
trabalharam anteriormente e a empresa cooperativa na qual estão inseridas. Pode-se constatar
isso pelos comentários relacionados a seguir:
“aquela insegurança do sistema instável acabou, aqui sei que posso ficar até quando
resolver, por conta própria e até sair”. (Relato de entrevista)
81
O trabalho na cooperativa e na empresa é visto de maneira diferente pelas entrevistadas.
Algumas já percebem como a empresa cooperativa está organizada, outras têm dificuldades
em estabelecer diferenças. Para elas é muito importante a motivação por parte das dirigentes
dentro da cooperativa. William King, um dos precursores do cooperativismo, relevava as
organizações sob o controle dos trabalhadores: “o poder de uma pessoa ou de uma classe
qualquer consiste em poder dirigir o trabalho e as classes laboriosas”. Para o autor, um
objetivo dos trabalhadores era utilizar o poder que têm, em seu próprio benefício, e não em
benefício das outras classes. Quando fala sobre o trabalho KING apud SCHNEIDER e
VÁZQUEZ VICENTE (1996, p. 43), afirmam que: “o trabalho é uma pedra angular do
edifício, a chave, a raiz da árvore, a fonte inesgotável do imenso rio, o coração do organismo,
a essência da vida. E já que a classe operária reúne tal força de trabalho, ela mesma deveria
tomar posse do edifício, de sua chave, da árvore, do rio, do organismo e da vida”.
As respostas das associadas em todas os questionamentos foram significativas do ponto de
vista de assimilar os valores de solidariedade e cooperação.
“gosto desse papo de cooperativismo, de solidariedade. Gosto mais ainda quando
visualizo que recebo exatamente aquilo que consigo produzir”. (Relato de entrevista)
Há uma tomada de conhecimento de um novo modelo de empresa do qual muitas nunca
tinham ouvido falar. Haja vista a percepção que aos pouco vão adquirindo de que a empresa
capitalista está organizada de forma vertical, de cima para baixo, e que a empresa cooperativa
pretende uma organização horizontal do trabalho. Elas também estão percebendo que isso se
dá principalmente porque ambas têm finalidades distintas. A primeira (empresa capitalista)
remunera o capital, já a empresa cooperativa remunera o trabalho.
“acho o trabalho em cooperativa totalmente diferente de tudo que já fiz, mas não
reclamo dos antigos trabalhos, pois foi deste modo que consegui sobreviver”.
(Relato de entrevista)
“gostei de trabalhar na empresa anterior, mais aqui na cooperativa tenho mais
oportunidade de ser livre e possibilidade de ganhar ainda mais do que naquela em
que todo meu lucro fica no bolso do patrão”. (Relato de entrevista)
82
Processo de criação e implantação
Quanto ao processo inicial de criação e implantação, do qual nem todas participaram, as
opiniões são bastante subjetivas e denota-se pelo teor das respostas um certo despreparo para
a vida cooperativa. Fica demonstrado também que o interesse por um retorno financeiro
imediato foi o fator principal, mas não o único:
"No início achei que iria ganhar dinheiro, depois achei que estava demorando muito
para chegar as máquinas. Cheguei a pensar que nunca iria costurar". (Relato de
entrevista)
"Fui chamada por uma vizinha que estava participando da reunião. Ela disse que
tinha possibilidade de ganhar dinheiro sem sair daqui, aí achei importante porque
não posso sair por causa dos meninos". (Relato de entrevista)
"As reunião era legal, eu aprendia ao ouvir coisa bonita, mas não achava que iria
acontecer". (Relato de entrevista)
"Vim até aqui em busca de um trabalho, foi o que encontrei! Não posso dizer como
foi o início, não participei, mas estamos tentando com todo esforço progredir".
(Relato de entrevista)
"Estava desempregada, resolvi conhecer este local, gostei, fiz umas camisetas e
fiquei. Estou achando maravilhoso". (Relato de entrevista)
Trabalho coletivo
Devido provavelmente ao grande rodízio inicial de participantes, há grande diversidade nas
respostas quanto à percepção do que venha a ser um trabalho coletivo. Algumas falam em
deficiências iniciais, denotando uma maior preocupação com o todo:
"Acredito que as deficiências eram a falta de aprender corte costura. Também, o que
pode esperar de nós? Nunca trabalhamos costurando nada agora temos estas
máquinas industriais que poucas mulheres sabiam manusear. Outro detalhe era a
falta de um patrão!". (Relato de entrevista)
"A diferença foi o ensinamento do que é cooperar, solidariedade, coletividade,
participação, respeito. É isso aí, acho que todos aprenderam um pouco, ou muito, no
meu caso aprendi bastante, tudo é muito importante para mim". (Relato de
entrevista)
83
As cooperadas mais antigas percebem as mudanças de enfoque. A falta da figura do “patrão”
é um fator motivador.
As mais novas, que não acompanharam os primeiros e difíceis tempos da cooperativa
demonstram a necessidade de um aprimoramento maior nas discussões sobre cooperativismo
e associativismo. Há algumas dificuldades de entendimento do que venha a ser um projeto
coletivo. Essas questões precisam ser melhor trabalhadas pela equipe que vier a assessorar o
grupo.
"Sou nova aqui, não passei pelas brigas, fiquei sabendo tudo através da vizinha, não
imaginava que era tão difícil conseguir trabalhar com várias pessoas querendo
mandar". (Relato de entrevista)
"É muito bom, apesar de ainda não entender meu papel, estou gostando e
aprendendo coisas diferentes". (Relato de entrevista)
Há muita preocupação com o caminhar da cooperativa. Algumas não acreditam que haja
possibilidade de continuidade alegando a falta de recursos para investimento.
"Difícil, muito difícil diria que quase impossível. Não temos dinheiro para investir,
aí ficamos dependentes do fornecedor". (Relato de entrevista)
As cooperadas sentem dificuldade em assimilar as novas tarefas decorrentes do trabalho
coletivo. Embora, como já foi dito, fiquem entusiasmadas com a ausência de um patrão para
comandar, por outro lado, se ressentem por terem que assumir função para as quais não se
sentem preparadas. Há grande dificuldade em assimilar toda a cadeia produtiva visto que as
cooperadas estavam acostumadas ao saber compartimentalizado das fábricas e empresas onde
trabalharam anteriormente:
"O trabalho é dividido de forma complicada. Às vezes ajudo costurar camisetas, às
vezes calcinhas, às vezes passo, às vezes empacoto. É tudo muito diferente. Temos
que saber tudo, até administrar. Coisa impossível para quem mal sabe assinar o
nome". (Relato de entrevista)
"Sou analfabeta, não sei o que é cooperativa ainda, mas estou feliz aqui!" (Relato de
entrevista)
"É legal, cansativo, diferente, sei lá". (Relato de entrevista)
84
"É um local apropriado para desenvolver a solidariedade, afinal é por isso que
estamos aqui". (Relato de entrevista)
Algumas estão na cooperativa a espera de uma ajuda financeira. Existe uma mentalidade
voltada para o assistencialismo que faz com que esperem ajuda externa para solução de seus
problemas emergenciais.
"Estou aqui apenas este mês, preciso ganhar dinheiro, meus filhos precisam de
comida e eu não suporto mais dizer para esperar para o próximo mês. Queria uma
ajuda, nem que fosse uma cesta básica!". (Relato de entrevista)
A experiência do coletivo nem sempre dá certo. O importante é que se descubra como, mesmo
tendo as propriedades individualizadas, as pessoas podem trabalhar em conjunto, resolvendo
aqueles problemas que devem ser encaminhados de forma coletiva, via cooperativa.
Nesta categorização, nota-se que permeia entre as entrevistadas um certo desconhecimento do
coletivo, ou seja, não há internalizado no grupo o "fator C", que segundo RAZETO apud
GADOTTI e GUTIÉREZ (1999, p. 40-41) significa: colaboração, comunidade, coordenação,
coletividade:
Consiste no fato de que um elemento comunitário, de ação e gestão conjunta, cooperativa e solidária,
apresente no interior dessas unidades econômicas efeitos tangíveis e concretos sobre o resultado da
operação econômica"[...] Em síntese, o "fator C" significa que a formação de um grupo, associação ou
comunidade, que opera cooperativa e cordialmente, proporciona um conjunto de benefícios a cada
integrante e um melhor rendimento e eficiência à unidade econômica [...].
Trabalho coletivo para as associadas associa-se ao fator C, embora ainda não tenham
condições necessárias para tal distinção.
Problemas de Relacionamento
Denota-se que o ponto de maior conflito dentro da empresa é questão do relacionamento. As
dificuldades de relacionamento estão ligadas basicamente à questões financeiras, mas de
modo geral, parece haver uma disposição de todas para contornar a situação, principalmente
para manter a convivência social.
85
"Às vezes dá vontade de ir embora, depois penso, e acho melhor ficar aqui. Gosto
das mulheres, sinto-me a vontade de rir, chorar, desabafar..." (Relato de entrevista)
"Quando alguém chega chateado, percebo e fico quieta, não quero me chatear
também, então quando a pessoa fica bem humorada, aí converso!". (Relato de
entrevista)
"Não tenho leitura, mas percebo quando as coisas não vão bem. Então converso,
tomo um café. Espero as coisas melhorar". (Relato de entrevista)
"Quando há conflito existe um clima pesado, aí tentamos agir diferente. Somos
moradoras daqui, não há o porquê ficar de cara virada". (Relato de entrevista)
Ao analisar as respostas a tal questão, percebeu-se o trabalho solidário, a construção de uma
economia solidária, a qual segundo GADOTTI (1999, p. 47),
são iniciativas que implicam relações e valores solidários, no sentido de que em suas atividades as
pessoas estabelecem relações de ajuda mútua, cooperação, comunidade ou solidariedade, não como
algo acessório ou secundário, mas como inerente ao modo em que se procura enfrentar os problemas,
satisfazer as necessidades ou desenvolver atividades próprias da organização.
Motivação
Um fator de grande motivação para a entrada e permanência das associadas na cooperativa é a
geração de renda ou o complemento de renda familiar, como pôde-se verificar através de seus
relatos:
"Ter um salário!" (Relato de entrevista)
"A necessidade de dinheiro". (Relato de entrevista)
Outro fator motivador que se denota das respostas das associadas é a comodidade de estar
perto dos filhos e não precisar se deslocar para outros centros.
"A vontade de poder ajudar em casa, sem que fosse necessário ir até o centro da
cidade". (Relato de entrevista)
Mas ter uma profissão apresentou-se como um fator determinante aliado ao fato de serem
donas do próprio negócio e crescerem profissionalmente.
86
"Ter uma qualificação. Não sabia costurar, sempre tive vontade, mas não sabia que
eu era capaz de sentar alí e fabricar algo!" (Relato de entrevista)
"A possibilidade de vencer através de meus méritos. A vantagem de ter pessoas
influentes envolvida no processo". (Relato de entrevista)
"Queríamos experimentar ser donas, havia esta possibilidade, a chance de dar certo
era maior, não havia risco de perder dinheiro, afinal não precisei investir". (Relato
de entrevista)
"Achei que tinha mais dinheiro envolvido. Mas não era só por isso. Queria e quero
vencer. Quero ver meus filhos aqui. Não quero que eles vivam sendo mandados por
outra pessoa".(Relato de entrevista)
"Queria ser dona de meu nariz. Sempre sonhei em trabalhar dessa forma. Aqui é
ótimo. Há possibilidade de crescer, vencer..." (Relato de entrevista)
Um outro fato relevante observado nesta categorização foi que as associadas, quando
questionadas sobre a dificuldade em participarem das reuniões e assembléias, mostravam-se
inibidas e não se pronunciavam. Embora em número menor, atualmente, relatam suas
dificuldades, ansiedades e sugestionam, querendo contudo, fazer parte da história da
cooperativa.
Expectativas iniciais e percepção anterior
As respostas das cooperadas indicam que houve uma grande expectativa inicial em torno do
empreendimento o que pode ser a explicação para muitas terem desistido após perceberem
que as dificuldades seriam maiores que os “lucros” (grifo nosso) em médio prazo.
"Esperava retirar dinheiro daqui, depois verifiquei que havia muito o que aprender,
mas sei que agora sou capaz de desenvolver alguma coisa". (Relato de entrevista)
"Estou cansada. No início estava muito animada, convencida que iria dar certo. Não
consigo viver nessa indecisão. Em um mês você consegue tirar R$ 90,00 no outro R$
30,00, R$ 20,00... e o próximo mês quanto será?????". (Relato de entrevista)
Algumas tinham apenas curiosidade e, motivadas pela possibilidade de encontrarem apoio,
não pensaram muito nas consequências.
"Não sabia exatamente o que era esta tal cooperativa, tinha interesse,
curiosidade...aí vim verificar, gostei e estou até hoje". (Relato de entrevista)
87
"Quando ouvi dizer que a CAIXA estava ajudando a cooperativa, não pensei, logo
vim até aqui, queria algo que viesse a ajudar nas prestações de minha casa. Queria
estabilidade, queria poder contribuir na despesa de casa, mas até agora não vi
nada...todo mês fica as contas para outro mês...e assim vai". (Relato de entrevista)
"Não esperava quase nada. Queria aprender e só. Depois queria entender como e
por que trabalhar assim...estou até hoje. Sei que temos potencial e agora espero que
seja cada vez melhor". (Relato de entrevista)
"Queria ajudar minha família". (Relato de entrevista)
Outras, apesar das dificuldades, têm esperança de que a situação melhore, o grupo cresça e a
cooperativa prospere:
"Quero ver aqui umas 100 máquinas, muitas pessoas do bairro trabalhando, muitas
coisas boas acontecendo. Quero dizer que contribuí para evolução disso!". (Relato
de entrevista)
"Sempre fui consciente quanto aos desafios de ser cooperada, só não sabia que era
tão difícil fazer gerar renda... não é fácil. Minha perspectiva, se assim que pode
chamar meus objetivos, são vários, principalmente conquistar um fornecedor bom,
poder qualificar cada vez mais...". (Relato de entrevista)
Pela diversidade das respostas, percebe-se que há heterogeneidade de interesses individuais
que, muitas vezes, sufocam os interesses coletivos. A maioria das entrevistadas manifesta
preocupação com retorno imediato. Poucas estão conscientes dos desafios que têm que ser
superados em conjunto. São poucas as respostas que se sobressaem pelo comprometimento
maior e coletivo.
Principais problemas e deficiências
As cooperadas apontam dificuldades iniciais e outras que têm vivido ao longo do tempo em
que trabalharam em conjunto. Dentre estas, a falta de entrosamento parece ser um problema a
ser superado.
"Na minha opinião faltou entrosamento, faltou saber o que estava assumindo, faltou
esclarecimento quanto a dificuldade". (Relato de entrevista)
88
As cooperadas reconhecem que entraram no negócio sem o preparo suficiente. Não era ainda
o momento. Creditam isso à antiga presidente e se sentem enganadas por ela.
"Faltou saber que estávamos assumindo algo muito complicado, difícil e que
depende muito de nossa capacidade para ter retorno". (Relato de entrevista)
"Acho que fomos incentivadas pela Presidente da Associação! Ela dizia que tudo iria
ser perfeito, e eu acreditei. Agora estou aqui, torcendo para que dê tudo certo".
(Relato de entrevista)
Outras reconhecem que o empreendimento só irá para frente se houver empenho de sua parte.
Essa percepção, que já é notada em algumas cooperadas, precisa ser melhor trabalhada para
que atinja as demais, do contrário, há o risco de ficarem sempre esperando umas pelas outras
ou pelos assessores.
"Este é meu trabalho, se não está bom quero fazer o possível para que se torne!".
(Relato de entrevista)
A principal dificuldade na opinião da maioria das cooperadas, é a ausência de uma liderança
firme. Isso pode parecer contraditório, pois defendem a possibilidade de uma empresa “sem
patrão”. Sobressai uma idéia equivocada do que venha a ser o papel da liderança dentro da
cooperativa.
"Gosto daqui, mas acho que fui arrastada para cá. Talvez seja necessário que tenha
aqui algum gerente, algum vendedor, alguém que saiba mandar!". (Relato de
entrevista)
"Alguém que direcione a cooperativa, estamos girando e não saindo do lugar.
Quando alguém aprende costurar logo aceita emprego lá no centro. Aí começa tudo
novamente". (Relato de entrevista)
"Queremos trabalhar tranqüilas, então necessitamos de segurança". (Relato de
entrevista)
Poucas atribuem os problemas à falta de responsabilidade e dificuldade de assumir os
compromissos por parte do grupo. No entanto, já há uma consciência por parte delas de que a
empresa precisa contar com todas para vencer os obstáculos.
"Talvez falte espírito de liderança. Alguém que puxe as cooperadas". (Relato de
entrevista)
89
"Responsabilidade. As pessoas não respeitam horário nem de entrada nem de saída.
Então as coisas ficam difíceis, não entregamos a mercadoria no prazo e aí vêm as
reclamações". (Relato de entrevista)
Constatou-se que algumas associadas preferem "ser mandadas, comandadas" (grifo nosso) do
que tomar iniciativas próprias na cooperativa. Ocorre que por 10, 15 ou mais anos conviveram
com o modelo taylorista/fordista, onde o operário é controlado e tem que aproveitar todo o
tempo para maior produtividade. Denota-se um receio de tomar as decisões erradas, de não
acertar. O trabalhador de modo geral, não é incentivado a pensar, ter idéias, refletir sobre o
seu próprio trabalho e, na condição atual de trabalhadoras independentes associadas, precisam
controlar efetivamente a produção, apesar de o entendimento ser outro. Pode-se constatar esta
mudança quando RECH (2000,p.99) diz:
Nenhuma iniciativa econômica, seja em forma autogestionária ou no modelo empresarial tradicional,
consegue sobreviver sem planejar e organizar as suas atividades racionalmente, isto é, tornando-as
eficazes em vista do incremento progressivo do capital já acumulado. Daí ser importante as leis do
mercado, as normas de gerenciamento e administração, as estratégias de marketing, não para explorar
os outros mas porque toda a economia moderna funciona segundo um sistema de previsão, de medidas
que se antecipam às circunstâncias futuras e procuram moldá-las desde já segundo os interesses em
questão. Não basta para isso aprender certas técnicas. É preciso superar a concepção da vida como
uma constante adaptação às circunstâncias e entender a atividade humana como uma força que cria as
situações e estabelece o ritmo das transformações.
A mentalidade imposta pela história, feita pelas elites, foi a de que é o trabalho que dignifica o
homem. O interesse era manter a relação ideológica de subordinação. Na verdade, não é
efetivamente o trabalho que dignifica a pessoa humana. O trabalho, apenas como fim,
embrutece, espolia a vida, reduz a capacidade de ser gente, de gozar e usufruir o mundo.
Segundo RECH (ibidem, p. 100) "o que dignifica a pessoa é a sua capacidade de criar, de
transformar o mundo (por meio do trabalho que deve estar sob seu controle = autonomia), as
coisas que a cercam em seu próprio benefício e em benefício dos que ama, agindo
criativamente com a consciência da construção da sua vida, dos seus direitos".
Educação Cooperativa
De modo geral, constata-se uma preocupação com a qualificação profissional e a educação,
traduzidas no retorno aos estudos formais. As cooperadas estão percebendo a necessidade
tanto de qualificação como de conhecimento sobre o empreendimento que assumiram. Há a
90
percepção de que é preciso investir no conhecimento para que possam compreender melhor e
superar as dificuldades que a cooperativa tem que enfrentar.
"É fundamental. Através de educação é que se muda um país. Quanto mais eu
aprender melhor saberei defender meu ponto de vista. Pode ser conseguida assim,
como estamos fazendo juntas". (Relato de entrevista)
"Quero mais, sempre mais. Estou até pensando em voltar a estudar, já fui verificar
quando poderei fazer minha matrícula!". (Relato de entrevista)
"Voltei a estudar, entendi que necessito disso para me qualificar". (Relato de
entrevista)
Algumas cooperadas já compreendem que há diferenças básicas entre a educação formal e a
educação cooperativa, embora se complementem. A educação cooperativa é mais específica e
visa estar dando suporte para que o indivíduo adquira uma consciência coletiva que lhe
permita partilhar dos valores com os demais companheiros e trabalhar de forma democrática,
responsável e consciente.
"Com nossos encontros pude verificar o quanto é importante a educação, tento ler o
máximo possível, assisto jornais, leio revistas e tento descobrir coisas diferentes. E
agora estou estudando o estatuto". (Relato de entrevista)
Depreende-se pelas respostas, que algumas estão compreendendo a importância de estender
seu conhecimento às demais, manifestando solidariedade.
"Quem sabe mais ensina os que nada sabem. É assim que deve fazer quem tem
consciência no seu semelhante". (Relato de entrevista)
"Talvez seja este grande diferencial que necessitamos tanto, educação
cooperativista. Não sei exatamente o que é, mas acho que saberei com vocês que
vêm aqui, olhar por nós". (Relato de entrevista)
"Aqui nunca tinha ninguém para olhar por nós, agora vem aqui o pessoal da CEF, a
Universidade, algumas pessoas da Prefeitura. Isso é educação". (Relato de
entrevista)
Outras têm clara consciência de que sem uma educação para o cooperativismo será difícil
concretizar o projeto da cooperativa.
91
"Até agora ninguém conseguiu dizer claramente onde erramos, mas acho que foi aí
neste ponto "educação para cooperativa", ou seja, o que vem a ser isso?". (Relato de
entrevista)
Utilizando-se das palavras COSTA (1979, p. 112), faz-se aqui uma interpretação quanto a
Educação Cooperativa: "la posibilidad de contribuir efectivamente al crecimiento de los
hombres (desarrollo) por medio de la educación cooperativa pasa, a nuestro entender, por dos
conductos complementarios que, en definitiva, se resumen en una actitud: ASUMIR".
Este é um grande requisito; problemático, na maioria das vezes, para as cooperativas mas que
deve ser enfrentado com vigor no meio de um profundo processo de educação política. No
entanto, esse processo deve ser desencadeado antes do início da própria experiência
cooperativista. Não adianta pensar que é suficiente as pessoas iniciarem uma atividade
organizativa para progredirem em consciência participativa e autônoma. A consciência deve
ser formada pelo processo preparatório para que, quando os associados constituírem a
cooperativa, já estejam em condições de assumi-la efetivamente e se empenharem no sucesso
dos seus objetivos.
Identidade cooperativa
A cultura predominante do trabalho assalariado é dependente de um empregador, que carrega
os integrantes de unidades produtivas autogeridas ou de um setor em estruturação, no interior
de uma economia de mercado, freia a construção da identidade e o avanço dessas
experiências. Partindo da convicção e do compromisso da potencialidade de sistemas
econômicos autogestionados e de propriedade social, no interior da economia de mercado, a
experiência mostra que é necessário construir uma identidade, ampliar o arco de alianças ao
redor de propostas viáveis e fundamentadas, além de superar obstáculos doutrinários, teóricos
e práticos.
De forma geral, depreende-se das respostas das cooperadas que, embora o trabalho na
cooperativa tenha trazido novo ânimo às mesmas e uma alternativa para suas necessidades de
trabalho, remuneração, valorização e realização pessoal, elas ainda não estão totalmente
identificadas com o trabalho coletivo, o viver em cooperação. Mas aos poucos, elas estão
92
estabelecendo vínculos que não existiriam em outras formas de trabalho. A necessidade da
construção de identidade está implícita nas respostas das associadas.
"Eu valorizei minha vida depois que comecei a entender a dificuldade de trabalhar
em grupo". (Relato de entrevista)
"Aqui foi o único lugar que trabalhei (desde menina) que proporcionou mais
conhecimento, hoje sei o quanto é fundamental agir coletivamente. É mais fácil
conseguir algo quando não estamos sós". (Relato de entrevista)
"Olhe só meus cabelos. Até isso mudei! Minha vida melhorou". (Relato de
entrevista)
"Sei que estamos certas em ficar aqui e tentar mais um pouco. Não investimos em
nada. Só estamos aprendendo a cada dia. Sou feliz aqui, estou satisfeita!" (Relato de
entrevista)
"Gosto mais de mim. Minha vida mudou. Descobri que existe coisas mais
importantes do que esperar pelo salário no final do mês". (Relato de entrevista)
"Somos irmãs, colegas, companheiras, confidentes...às vezes até mães umas das
outras!". (Relato de entrevista)
"Quando há problemas, todas ficam tristes, logo ficam alegres". (Relato de
entrevista)
As cobranças são inevitáveis e afetam o moral das cooperadas, que estão aprendendo a
conviver com isso e superar seus desafios.
"A dificuldade é do dinheiro, ele não vem, sobra apenas trabalho a fazer ou refazer.
Há cobranças pelo marido, filhos e de mim mesmo". (Relato de entrevista)
"Estou aqui desde o início, tenho muitas histórias para contar, mas o principal
problema acho que foi a manipulação que havia. Agora tudo mudou. Sei os meus
direitos e deveres. Através do estatuto sei tudo". (Relato de entrevista)
A identidade desta organização econômica, está baseada nos princípios clássicos da
cooperação, da solidariedade, ajuda mútua e controle democrático, livre adesão, participação
voluntária em projetos comuns. No caso específico do cooperativismo existe clara consciência
de que, em um contexto de rápidas mudanças, o que ordena vontades e ações dos homens são
os valores e princípios. É por esta razão que o cooperativismo tem feito esforço global para
implantação do exercício prático dos sete princípios da ACI. Aos poucos as cooperadas estão
93
aprendendo a respeitar as regras da empresa que constituíram, embora a forma como
iniciaram possa ter sido desestruturada.
Envolvimento com assessoria
A cooperativa deve ter autonomia para levar adiante as suas iniciativas. O poder deve estar
nas mãos dos associados. É muito comum que os assessores técnicos, por conhecerem melhor
os assuntos e problemas, acabem por impor as suas opiniões. A assessoria técnica e
especializada deve estar à disposição dos associados para esclarecer as dúvidas, apresentar
alternativas de saídas para os problemas, questionar, inclusive, eventuais encaminhamentos
porque podem trazer consequências negativas para o futuro, mas a decisão deve ser sempre do
coletivo dos associados. No entanto, pode-se observar nos relatos da associadas desta
cooperativa a dependência em relação à assessoria.
As cooperadas traduzem, através daquilo que começaram a aprender, que a assessoria tem
sido importante para nortear seus passos. Ela parece estar ajudando as cooperadas a
perceberem suas potencialidades.
"Achava que eu deveria sempre obedecer. Agora sei que devo também dar minha
opinião e isso me faz desenvolver habilidades que antes não possuía, ou não achava
que possuía". (Relato de entrevista)
Outras compreendem que esse aprendizado será longo pelas contradições que a cooperativa
oferece:
"O convívio em grupo é fundamental em todo lugar, mas quando fazemos parte de
uma cooperativa percebemos que é muito difícil conviver com pessoas que não
recebem ordens porque não são subordinadas e não dão ordens porque não são
superiores, e por falta de subordinação aparecem muitos conflitos, que
desestruturam a cooperativa". (Relato de entrevista)
"Entendimento dos problemas e dificuldades. Talvez percebemos os limites do outro
depois dos encontros com assessoras". (Relato de entrevista)
"Não temos medo mais de dizer quando alguém erra. Corrigimos sem
constrangimentos. Afinal aprendemos dividir, corrigir, colaborar e respeitar as
diferenças".(Relato de entrevista)
94
As entrevistadas têm consciência da relação de dependência que por vezes têm com a
assessoria, embora esperem superá-la.
"É difícil dizer que daria para evitar a dependência quanto a assessoria, mesmo
porque foi através dela que estamos aqui. Foi o que deu suporte para este sucesso!
Sim...acredito que é um sucesso! Aprendemos coisas fantásticas...olhe
só...costuramos, rimos, cuidamos de nossos filhos, maridos, colégio, casa, roupas
etc. e estamos aqui sorrindo e sonhando por um dia melhor. E com certeza teremos,
por merecimento". (Relato de entrevista)
"Se todos bairros pudesse experimentar este tipo de convívio saberiam o que é ser
companheiro, e claro, não haveria tanta miséria". (Relato de entrevista)
"Sem assessoria não seríamos nada!". (Relato de entrevista)
"Acho que quando ficarmos sem vocês não conseguiremos agir. Não tenho vergonha
de achar que sou dependente dessa assessoria. Tenho coragem de agir, falar, pois
sei que serei amparada". (Relato de entrevista)
"Sem vocês não estaríamos aqui. Estas máquinas também não. Houve manipulação
para montagem dessa cooperativa. A assessoria foi fundamental para os
esclarecimentos. Não seríamos capazes de resolver os problemas por nós mesmas.
Agora sabemos do nosso poder de voto!". (Relato de entrevista)
A principal tarefa da assessoria, no ponto de vista das entrevistadas, parece ter sido quanto aos
esclarecimentos sobre os direitos e deveres das cooperadas, que antes estavam sendo tolhidos
pela antiga presidente. A consciência de que a empresa é delas e de que a união é sua força
parece ser um valor que elas julgam ter conquistado através da assessoria.
Estes relatos demonstram claramente que, quando a cooperativa nasce da presença de pessoas
de fora (padre, pastor, assessor, técnico) sempre acaba ficando dependente daquela pessoa
para os encaminhamentos. Não que a presença dessas pessoas não seja importante, mas é
fundamental que, mesmo com a sua contribuição, os associados se convençam de que são eles
que levarão adiante o empreendimento e que precisam assumir decisivamente a iniciativa e
não ficar esperando ou dependendo que outros tomem a iniciativa.
A Continuidade
Através das observações realizadas, evidencia-se a necessidade de implementação de uma
gestão administrativa suficientemente democrática para permitir ampla participação, que não
95
emperre o encaminhamento das decisões e suficientemente profissional, que seja
qualitativamente excelente, mas não demasiadamente complicada que a maioria das
associadas não consiga entender ou acompanhar. Na opinião de grande parte das cooperadas,
elas estão no caminho certo, embora haja enormes dificuldades a serem superadas.
"Acho que estamos no caminho certo! Aprendemos muito no decorrer desses meses,
não foi fácil, não está fácil, e com certeza, não cairá nada do céu. Devemos encarar
que este local é nosso e que vamos fazer de tudo para não perder esse espaço
maravilhoso, que nem em casa sentimos tão bem quanto aqui. Discutimos, rimos,
choramos as vezes, mas é isto aí. Aprendemos a respeitar os sentimentos dos
outros". (Relato de entrevista)
"Não acredito que iremos desistir quando ficarmos sós, mas acho importante que
tenha assessoria, é uma confiança a mais. Sabemos que temos com quem contar no
caso de dúvida". (Relato de entrevista)
"Nunca iremos desistir de lutar. Se assim o fizermos estaremos renunciando o
aprendizado". (Relato de entrevista)
Percebeu-se através destes questionamentos e observações que, por ter vivenciado o modelo
individualista, as associadas desta cooperativa apresentam grande dificuldade em adequar-se
ao sistema cooperativo, principalmente, por falta de conhecimento do que seja a Educação
Cooperativa. No entanto, há grande empenho, por parte do grupo, para superar suas limitações
e vontade de vencer.
Portanto, é notório que não desistirão. Falta-lhes um gerenciamento eficiente que leve ao
sucesso dos negócios e, ao mesmo tempo, seja acompanhado diretamente pelas associadas, de
forma a evitar oportunismos, tais como a busca exclusiva da maximização da lucratividade
individual e a diminuição da competitividade externa.
No próximo capítulo, serão abordados alguns dados obtidos através de estudos e experiências
com empreendimentos cooperativos no Brasil, dando continuidade ao que já foi exposto neste
capítulo, com relação ao universo de questões que envolvem os empreendimentos
cooperativistas, sua formação e continuidade.
96
CAPÍTULO V
APRESENTAÇÃO DOS DADOS OBTIDOS ATRAVÉS DE ESTUDOS DAS
EXPERIÊNCIAS COM EMPREENDIMENTOS COOPERATIVOS DE TRABALHO
NO BRASIL
De um universo relativamente grande, definiu-se pelo estudo de alguns empreendimentos
cooperativos realizados nos seguintes estados: Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do
Sul, neste último pela Cáritas. Além desses, foram analisados três acompanhados pela
ANTEAG - Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão e
Participação Acionária e quatro assessorados pela UNITRABALHO – Núcleo Local da UEM,
no Paraná.
O ponto de partida é ausência ou não de aplicação do princípio da educação cooperativa e sua
relação com o êxito do empreendimento.
5.1 EXPERIÊNCIAS ASSESSORADAS PELA COPPE/UFRJ
A metodologia de incubagem utilizada pela COPPE/UFRJ está atualmente sendo difundida
pela rede de ITCPs (Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares). O trabalho de
assessoria pressupõe levantamento de dados, convênios, cursos, auxílio na organização,
assessoria técnica multidisciplinar e acompanhamento em todos os processos até a
“desencubagem”. Vale ressaltar as seguintes experiências:
5.1.1 Coopex e Outras Cooperativas de Telecomunicações no Rio
Em artigo publicado in Sindicalismo e Cooperativismo, Luis Antonio Souza e Silva, então
Coordenador Geral do Sintrel-Rio registra a experiência de novas cooperativas de
telecomunicações criadas, após a reforma administrativa do governo Collor, que demitiu
muitos trabalhadores das empresas estatais.
97
SOUZA e SILVA, apud GUIMARÃES (1998, p. 130)
Conseguimos, de alguma forma, recolocar a metade dos trabalhadores nas empresas. Mas 600 ficaram
sem seus empregos, desesperados e sem nada. Foi quando se pensou em criar uma cooperativa para
que pudessem ter alguma oportunidade. A idéia era agrupá-los, não para disputar os grandes contratos,
mas para prestar serviços a condomínios e realizar outros trabalhos periféricos. Os grandes contratos
na área de telecomunicações eram muito difíceis porque todas as empresas eram estatais e nós sequer
podíamos participar das licitações.
Ele relata a experiência traumática dos primeiros tempos de adequação ao novo modelo (ibid,
p. 131):
A necessidade de fazer reunião, realizar assembia, prestar contas permanentemente, dividem o
trabalho, se reunir para saber como é que se distribui o trabalho entre os cooperativados, nada disso é
fácil “[...] Eles têm que enfrentar os problemas, que não são poucos. Se um cooperativado falta ao
serviço constantemente, isso vai exigir reuniões constantemente. Quando existe a figura do chefe, o
chefe vai lá e pune. Na cooperativa não. Tem que reunir, tem que conversar, tem que ver o que é que
está acontecendo até tomar decisões coletivas.
Aos poucos, a cooperativa vai se equilibrando, realizando contratos. Foi o que aconteceu. A
cooperativa acabou fechando um contrato com uma empresa para realizar toda a instalação de
telefones na região serrana do Rio – linha Teresópolis e Petrópolis. Ressalte-se que, em
Petrópolis, os problemas de boicote e suborno foram muitos. Já em Teresópolis a experiência
foi boa. Nas palavras de SOUZA e SILVA, apud GUIMARÃES (ibidem, p. 133) “no final a
população não queria que a cooperativa saísse de lá porque os serviços melhoraram em
qualidade”.
O autor destaca a participação do sindicato nesse trabalho de qualificação dos cooperados,
que os leva a sindicalizarem-se.
A Telerj precisou de mão-de-obra e fez um contrato com o sindicato que já havia criado um instituto
de Telecomunicações para tratar exatamente da qualificação profissional. Obviamente, passamos o
contrato para a Coopex, que decidiu que todos os que iriam trabalhar teriam que se sindicalizar. Essa é
uma premissa para quem está na cooperativa. É um dos itens do seu estatuto.
Nesse caso a cooperativa e o sindicato uniram-se e, nessa parceria, puderam fazer frente ao
desemprego.
98
5.2 EXPERIÊNCIA DA INCUBADORA TECNOLÓGICA DE COOPERATIVAS
POPULARES DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
São muitas experiências de cooperativas populares assessoradas pela Incubadora da USP, no
entanto, escolheram duas experiências das quais evidenciam um processo de geração e criação
denominado “gestação diferenciada”, como o caso da Unipsico – Cooperativa de Trabalho em
Psicologia e Mutuação – Cooperativa de Psicólogos em Ação Solidária.
A Unipsico, de Caçapava, foi fundada em 1999 por um grupo de 23 psicólogos que atuavam
na área clínica. Atualmente, tem 35 profissionais associados, 31 atuando na área clínica e
quatro em grupos de recursos humanos. Oferecem planos de atendimentos para empresas de
grande e médio porte, planos para usuários de outras cooperativas na área de saúde, além do
plano para pessoas físicas e microempresa, em fase de lançamento. Oferecem também,
orientação vocacional e o desenvolvimento de serviços na áreas de RH, hospitalar e escolar.
Os associados desta cooperativa, basearam a estrutura de funcionamento na necessidade de
ampliar e garantir o campo de atuação e de estabelecer parâmetros dignos para o
desenvolvimento do trabalho, visto que enquanto credenciados a uma seguradora ou a um
convênio estariam à mercê de condições e valores de atendimentos estabelecidos por
profissionais de outras áreas. Vale salientar que o movimento financeiro da Unipsico
Caçapava cresceu 400% nos últimos três anos, considerando a média anual de receita e a
média de honorários pagos aos cooperados, segundo declaração da Presidenta da Cooperativa.
A Unipsico é na verdade apenas um braço de uma rede nacional de cooperativas de Psicologia
que atua em parceria. Ao todo, a rede Unipsico reúne 25 cooperativas em todo país, dentre as
quais nove em São Paulo. Nesse sentido, a rede Unipsico guarda muita semelhança com a
cooperativa de médicos Unimed. A grande diferença está na forma de remuneração dos
associados. Em vez de Unidades de Trabalho, como procedido na Unimed, os médicos
recebem por uma tabela de preços fixos, da mesma forma como acontece nos planos de saúde
normais.
A Mutuação iniciou seu processo de montagem com pesquisas no SEBRAE, na Internet e no
Sindicato das Cooperativas de São Paulo e passou a receber assessorias da incubadora. O
99
objetivo desta volta-se para a Psicologia com compromisso social. A proposta é ampliar o
acesso à Psicologia, segundo declaração da diretora-presidenta, hoje elitizado, também às
pessoas de baixa renda, além de fazer serviços de avaliação e seleção de pessoal para
comércios pequenos, que não podem fazer uma assessoria de recursos humanos, como
padarias, escolas etc.
Formada por 40 psicólogos, a cooperativa que está sendo gestada pela ITCP/USP
11
ainda está
discutindo os tipos de serviços e produtos que oferecerá. Pensam em processo terapêutico
diferenciado que inclua plantão psicológico, um serviço de atendimento itinerante, e
idealizam a possibilidade de atuar em comunidades.
5.3 EXPERIÊNCIAS NASCIDAS COM APOIO DA CÁRITAS – RIO GRANDE DO SUL
Nas experiências nascidas com apoio da Cáritas (entidade religiosa ligada à Igreja Católica)
sobressaem-se os vínculos familiares. O empreendimento funciona, nos casos da COOPMEC,
UNIVENS e da COOPERLAISA, não como única fonte de renda, mas como auxílio
complementar na renda familiar. No caso da COOPSERV há um salto quantitativo em termos
de ganhos dos cooperados.
5.3.1 Experiência da Coopmec
Em Porto Alegre, a fábrica de fogões Wallig, muito famosa na década de setenta e oitenta,
faliu em 1981. Em 1984, os trabalhadores conseguiram ficar com a metalúrgica e a fundição.
Segundo Paul SINGER, in GUIMARÃES (1998, p. 86-87), a cooperativa é como uma
empresa socialista, nesse caso os trabalhadores
Tiveram que reinventar a cooperativa, que eles não conheciam. Foram praticamente os inventores da
autogestão.” [...] No momento seguinte, redefiniram o papel dos mestres, que continuaram na sua
função, mas sem mandar mais. Transformaram-se em coordenadores, instituíram uma assembléia
geral para saber o que fariam com as sobras, enfim, construíram uma outra história.
11
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares/Universidade de São Paulo.
100
Essa experiência exitosa demonstra que os trabalhadores conseguem não só preservar o seu
trabalho e sua renda, mas criam de fato “sem muita ideologia na cabeça, o socialismo na
prática, pelo menos na prática empresarial deles.” (SINGER in GUIMARÃES, 1998, p. 87)
Em 1989 quando a família Wallig conseguiu a concordata e os empregados poderiam voltar a
ser empregados, o que era a primeira coisa em que pensaram quando assumiram a empresa,
eles não aceitaram. “Deixaram as instalações para a família e foram continuar como
cooperativa, como continuam até hoje, em Cachoeirinha, município vizinho a Porto Alegre”.
SINGER in GUIMARÃES (1998, p. 88). Para o referido autor, “essa decisão mostra a
revolução cultural e política, da consciência desses trabalhadores. Aquilo que era a maior
aspiração em 84, já não era aceitável em 89 – cinco anos depois. Experimentaram o que é
organizar uma cooperativa em que são patrões de si próprios”
Na opinião da autora, face às experiências em assessorias, é evidente que sem luta, sem
organização, sem um acompanhamento de uma assessoria, sem um processo de verdadeira
reeducação esses trabalhadores não teriam conseguido vencer os obstáculos.
5.3.2 UNIVENS – Cooperativa de Costureiras Unidas Venceremos
A cooperativa está localizada no bairro Sarandi, na Zona Norte da cidade de Porto Alegre.
Iniciou suas atividades em 1996. O grupo é composto por 26 mulheres que, em sua maioria,
estavam desempregadas.
A cooperativa divide-se em dois grupos de trabalho distintos. Apenas duas participantes
trabalham nos dois grupos. O primeiro deles, composto por oito mulheres, fabrica a
multimistura
12
. O produto é vendido ao Hospital Conceição. O segundo grupo trabalha com
confecções, dele participando 20 pessoas. São produzidos guarda-pós, uniformes para
empresas e camisetas. As cooperadas dividem o trabalho em três atividades: corte (quatro
pessoas), montagem (12) e bainhas (quatro).
12
Composto que apresenta dentre outros componentes: casca de ovo, sementes, farinha de milho, pó de aipim e de arroz.
101
A atividade de corte é realizada na capela da Paróquia, e as demais atividades realizadas nas
casas das participantes. A remuneração é de acordo com as peças produzidas. A cooperativa
vende suas confecções para empresas, sindicatos, partidos políticos e outras entidades. Quase
todo o trabalho é feito sob encomenda. A cooperativa tem procurado participar também de
licitações públicas. São realizadas reuniões quinzenais com os dois grupos juntos para
prestação de contas, apresentação dos resultados e planejamento.
A Cooperativa está inserida no Projeto Ações Coletivas da SMIC/POA, que promove cursos
profissionalizantes, espaço físico e infra-estrutura na incubadora de Economia Popular.
A cooperativa tem uma inserção na comunidade bastante ampla na zona onde se localiza,
participando ativamente do Orçamento Participativo e articulando-se com o movimento
sindical. Quanto aos resultados econômicos, a cooperativa proporciona uma renda
complementar entre R$ 50,00* e R$ 100,00*
13
mensais para as famílias envolvidas.
5.3.3 Coopserv
A COOPSERV – Cooperativa de Prestação de Serviços nasceu em setembro de 1996, por
iniciativa de alguns formandos do curso de Tecnólogo em Cooperativismo, da Universidade
Federal de Santa Maria. A cooperativa tem cerca de 30 associados, todos trabalhadores que
realizam serviços de limpeza, marcenaria e construção civil, e que estavam desempregados.
Para ingresso na cooperativa, é necessário ser indicado por outros dois associados, além do
pagamento de uma cota parte.
13
* dados de 1999. Sujeitos à alteração.
102
A cooperativa presta serviços de limpeza, construção civil, montagem e manutenção de
móveis. O preço do serviço é negociado com o cliente pelo associado, mas a cooperativa
auxilia na discussão e mediação dos problemas. O pagamento é feito à cooperativa, que retira
uma parcela e repassa o restante aos associados que o executaram. A cooperativa constitui
fundos para férias, 13
o
. salário, fundo de garantia e fornecimento de passagens. Contribui
também para o INSS dos associados, como autônomos. Todo o trabalho é discutido em
reuniões mensais com todos os sócios.
A CÁRITAS financiou os recursos para a compra de móveis, uniformes e formação de capital
de giro. Outros apoios recebidos pela cooperativa provêm do Projeto Esperança, da Sociedade
de Engenharia e Agricultura de Santa Maria e de voluntários ligados à Universidade Federal
de Santa Maria.
A cooperativa tem proporcionado aos cooperados que trabalham na montagem e manutenção
de móveis uma remuneração em torno de R$ 350,00 mensais, e aos da construção civil, cerca
de R$ 250,00. Vale ressaltar que esses valores estão acima da remuneração média dos setores
da região. Os técnicos que trabalham na administração da cooperativa são voluntários,
esperam começar a ser remunerados quando aumentar o volume de serviços prestados.
5.3.4 Cooperlaisa
A COOPERLAISA – Cooperativa de Produções e Confecções Gerais LAISA iniciou suas
atividades em 1991, localizando-se na zona urbana do município de Ronda Alta, no Rio
grande do Sul. A cooperativa surgiu da articulação de alguns grupos de costura, organizados
a partir das CEBSs (Comunidades Eclesiais de Base). O grupo é formado por 22 cooperadas,
todas esposas e filhas de agricultores, organizadas em grupos de quatro ou cinco mulheres.
As primeiras fases do processo de produção (corte e modelagem) são realizados na sede da
Cooperativa, pela coordenadora do grupo. As peças cortadas são enviadas para as costureiras,
que realizam, em suas casas, o trabalho de montagem das peças. As roupas prontas são
enviadas novamente para a sede da cooperativa, onde está localizada também a loja, que
vende a produção para o público em geral. As vendas da loja correspondem a 30% do total da
produção, pois a maior parte das vendas é feita sob encomenda, geralmente em grandes lotes.
103
Os recursos para compra das máquinas de costura foram financiados junto à Cáritas e ao
fundo rotativo da Paróquia. Já os recursos para a compra da casa que abriga a sede da
cooperativa foram disponibilizados por uma entidade internacional, com a qual a cooperativa
ainda encontra-se em débito.
No tocante à formação profissional, o grupo não é homogêneo. Apenas a coordenadora fez
um curso particular mais demorado, de cerca de oito meses. As demais trouxeram o
conhecimento da atividade de costura de casa, ou recorreram a cursos rápidos oferecidos pelo
SENAI e SEBRAE.
As costureiras trabalham, em média, três a quatro horas por dia, conciliando o trabalho de
costura com as atividades rurais. O pagamento é de acordo com o número de peças
produzidas e corresponde em média a cerca de R$ 100,00 por mês. Somente a coordenadora e
a vendedora trabalham em tempo integral. A primeira recebe um salário fixo de R$ 180,00 e a
vendedora, uma comissão de 10% sobre as vendas, o que chega a proporcionar R$ 150,00 por
mês.
5.4 EXPERIÊNCIAS ACOMPANHADAS PELA ANTEAG
14
De acordo com a opinião dos dirigentes da ANTEAG, as empresas de autogestão nascem do
desespero e da falta de alternativas com o crescente número de trabalhadores de empresas em
fase de encerramento ou terceirização de suas atividades. Movimentam anualmente no país o
equivalente a R$ 91,5 milhões em salários diretos. Tiveram um faturamento de R$ 320
milhões em 1999 e pagaram, nesse ano, cerca de R$ 26,83 milhões em impostos.
14
Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Participação Acionária
104
Em 1994 nasce a ANTEAG com o objetivo de implantar no país um modelo autogestionário,
através da inteligência coletiva e da participação efetiva dos trabalhadores. A Anteag investe
em uma verdadeira revolução cultural. Acredita que uma empresa de produção industrial,
mesmo inserida num mercado competitivo, traz no seu interior relações de transparência e
solidariedade. "A prática vem demonstrando que isso é possível. Os trabalhadores em
empresas sem patrões têm sido criativos e demonstram uma maneira inteligente de manter o
trabalho, a dignidade, a cidadania, construindo um mundo novo pelas próprias mãos, e contra
as políticas predadoras do mercado”. (ANTEAG, 1999, p. 8)
Segundo os dirigentes da Anteag, no processo de construção da autogestão, os problemas
maiores que a Associação vem enfrentando estão no campo da educação (ou da reeducação)
do trabalhador para o projeto coletivo. Por isso “conceitos seculares, de solidariedade e
fraternidade, que ao longo da história mundial vêm sendo preservados, ou destruídos, estão
em pauta na agenda cotidiana da Anteag, a partir da proposta de construir um modelo de
profunda sensibilidade humana, de resgatar trabalho e renda, de poder”. (ANTEAG, ibidem)
A ANTEAG toma para si a missão de continuar cuidando da alma da autogestão, visando a
construção de um modelo. Na área de educação estão sendo criados nos estados os CEAGs –
Centro de Excelência da Autogestão, em parceria com as universidades, pensando a educação
como um todo e respeitando as culturas locais. “A idéia é montar uma metodologia de
educação, atendendo às especificidades de cada região”. (ANTEAG, 1999, p. 27)
5.4.1 Cooperminas
Criada em 1917, a Companhia Brasileira de Carbonífera de Araranguá – CBCA apara a
extração de carvão em minas do sul de Santa Cataria, em Criciúma, torna-se uma das mais
influentes empresas na economia local. Em 1987, depois de 90 dias trabalhando sem salários,
os cerca de 600 trabalhadores realizam a mais completa e importante greve de toda a história
da região. Enfrentam a polícia, montam acampamentos nos trilhos das ferrovias, conquistam a
opinião pública e o apoio de diversas entidades no país.
105
Depois de toda essa mobilização e contatos permanentes com os governos estadual e federal,
os trabalhadores conseguem o pagamento de um mês de salário, o pedido de auto-falência por
parte dos proprietários, a reativação da empresa e a aprovação do Sindicato dos Mineiros de
Criciúma como síndico da Massa Falida. Um esforço concentrado sob a forma de mutirão é
realizado pelos trabalhadores para recuperar e pôr em funcionamento equipamentos, máquinas
e as minas, que tinham sido sucateadas propositalmente pelos antigos donos.
Em 1993, é publicado um edital de arrendamento da CBCA. Entre os requisitos do edital de
concorrência para o arrendamento da massa falida, estava a capacidade financeira e a
manutenção dos empregos. A Justiça entende que a cooperativa não manteria os empregos,
alegando que todos passariam a ser trabalhadores autônomos e que a cooperativa não tinha
capacidade financeira, porque não tinha bens ou patrimônio líquido e nomeia a Mineração
Pérola como arrendatária da empresa. Os trabalhadores resistem ao despacho judicial,
envolvem seus corpos em dinamite e ameaçam explodir tudo. A sociedade se mobiliza, a
Justiça reconhece sua precipitação e um acordo garante a continuidade do processo
autogestinário. Hoje, a produção mensal é de 23.500 toneladas de carvão.
Em 1997, há uma revisão no estatuto para que os cooperados entrem bem organizados diante
das propostas de outras mineradoras. Hoje, a CBCA conta com 400 cooperados. Ocorreu uma
mudança nas relações hierárquicas. O superior e o subordinado foram eliminados e as
relações são democráticas. Existem projetos para investimentos na saúde e um convênio.
Quanto aos direitos trabalhistas, algumas mudanças foram implantadas. Há um fundo de
participação com depósitos feitos na conta poupança de cada funcionário, com a opção de
retirar, no final do ano, ou deixar acumular no decorrer dos anos.
Um mineiro da Cooperminas tem pró-labore entre R$ 400,00 e 1,9 mil. Trabalha 30 horas por
semana. ANTEAG (1999, p. 39)
Ninguém tem medo de falar, de exigir. Sabem que suas idéias serão respeitadas e que não correm
nenhum risco de serem mandados para a rua por expressarem suas opiniões[...]". A situação financeira
apresenta um quadro satisfatório, cumprindo rigorosamente os compromissos com fornecedores,
impostos e salários. "[...] a meta principal é fazer que todos os cooperativados tenham o sentimento de
que são donos do seu negócio e capazes de dividir o só os bons resultados, mas também o empenho
em obter maior produção. Quando todos se sentirem donos e informados sobre tudo da empresa será
muito difícil não dar certo [...].
106
5.4.2 Cooperativa Friburguense de Ferramentaria
Em 1993, a Indústria Eletromecânica da cidade de Nova Friburgo, no estado do Rio de
Janeiro, passava por uma crise financeira que ocasionou a dispensa de parte de seus
empregados. “Obrigada, em plena crise a se desfazer do setor de ferramentaria, em função do
alto custo de manutenção, decidiu propor aos funcionários, a título de indenização trabalhista,
a aquisição do maquinário e equipamentos do setor. Reunidos para analisar a proposta os
trabalhadores “chegaram à conclusão de que ter em mãos os meios de produção era uma
grande chance de construir um futuro independente”. ANTEAG (1999, p. 59) Hoje, o
serviço é terceirizado pela cooperativa que tem como clientes a Bosch, a IBM, a Itautec e a
Ford.
A história da Cooperativa não foi diferente de qualquer outra na sua formação: “caminhou
com dificuldades tanto para se manter e se firmar, quanto para se estruturar. Percorreu um
longo caminho para conquistar clientes, parceiros e garantir a “convivência saudável” dos
cooperados”. O Presidente da Cooperativa, comenta que a cooperativa tem se empenhado em
esclarecer aos cooperados sobre direitos, deveres e possibilidades. “Empenhamo-nos para que
todos participem com suas opiniões, e esperamos que se interessem e adquiram consciência
do tipo de trabalho que estamos absorvidos”. (ibidem, p. 60)
Buscando caminhos para superar as dificuldades, que impedem seu crescimento, embora
tenha, ao longo de seis anos, mantido a sobrevivência de seus associados, a Cooperativa tem
conquistado boas oportunidades de parceria. Aos poucos está adquirindo identidade dentro
dos princípios sociais que a regem, garantindo trabalho para seus cooperativados. O
presidente lembra também que
... todo esse processo tem, ainda, possibilitado, a tomada de consciência de cada um no seu papel de
trabalhador e das inúmeras oportunidades que hoje têm. Experiência que nenhuma outra instituição
poderia trazer em termos de enriquecimento pessoal, independência e construção de um futuro melhor
para seus filhos e para a comunidade. (ANTEAG,1999, p. 61)
107
5.4.3 Coopervest
A COOPERVEST – Cooperativa dos Trabalhadores de Confecções de Sergipe Ltda nasceu
em 1994, com objetivo de prestar serviços de produção no segmento industrial de confecções,
jeans e camisas de griffes. Trabalham como cooperados 530 pessoas. Em 1995, o faturamento
foi de R$ 6,47 milhões.
Tudo começou em 1986, quando na esteira do Plano Cruzado, a família Brett, dona da
empresa Vila Romana, contraiu dívidas para expansão de suas indústrias, devido às
facilidades de incentivos fiscais e financiamentos. Começaram os problemas administrativos e
financeiros. A chegou a ter até 7 fábricas no Brasil mas, com os problemas, algumas
acabaram sendo fechadas.
Em setembro de 1994, os 800 funcionárias da filial de Aracajú, em Sergipe, foram informados
de que a fábrica estava prestes a fechar e a produção seria terceirizada. ANTEAG (1999, p.
80) relata: “Os irmãos, que tinham o controle acionário das duas fábricas de Aracaju, não
conseguiram administrar as dívidas e encerram suas atividades em 31 de outubro de 1993.
Não havia qualquer perspectiva para os trabalhadores, senão o desemprego”.
Antes disso acontecer o antigo diretor da Vila Romana sugeriu a formação de uma
cooperativa para terceirizar a produção. Junto com sindicalistas, ele visitou a Coopertêxtil
(Fábrica de Cobertores Parahyba) para avaliar a possibilidade de implantar um projeto
semelhante na empresa. Percebendo a viabilidade, novamente a ANTEAG aparece no cenário,
com contrato para desenvolver o projeto de autogestão.
A Coopervest tornou-se a realização de um antigo sonho. Trabalhando em regime de esforço
concentrado, os trabalhadores buscaram atender os pedidos que estavam acima da capacidade normal
de produção da cooperativa. Este é um dos exemplos bem sucedidos da disposição daqueles, que
diante da ameaça do desemprego, aceitam o desafio de assumir a massa falida ou pré-falimentar das
empresas em que trabalham”. (ibidem, p. 82)
A Coopervest enfrentou muitos desafios. Principalmente relacionados às dificuldades em
assumir responsabilidades, falta de confiança na própria inteligência e capacidade, baixa
formação e falta de preparo para discutir coletivamente e viabilizar a autogestão. Hoje produz
70 mil peças de jeans e camisas a cada mês. Cada trabalhador é capaz de entender o papel da
108
organização coletiva e a sua inserção no trabalho de organização e, ainda, de avaliar o
conteúdo de produtividade e valor do trabalho, sob a ótica patronal e dos trabalhadores.
O principal problema ainda é o nível de consciência dos cooperativados, embora haja
liberdade de expressão, poder de decisão e participação. Por esse motivo, eles sabem que
investir na educação é investir no maior patrimônio da empresa, único caminho para novas
conquistas nas relações de trabalho.
5.5 EXPERIÊNCIAS NO ESTADO DO PARANÁ – NÚCLEO LOCAL DA
UNITRABALHO NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
5.5.1 Padaria Comunitária do Conjunto Floresta – Município Saradi - Paraná
O trabalho de Assessoria do Núcleo Local da UNITRABALHO tem como particularidade a
participação anterior em um Projeto em convênio com a Caixa Econômica Federal, o
PRODEC – Programa de Apoio ao Desenvolvimento Comunitário e prefeituras Municipais.
Nesse sentido seguiu os mesmos moldes do Projeto de Mandaguari, partindo primeiro da
parceria com órgãos públicos do envolvimento anterior com a comunidade.
No decorrer do trabalho realizado com o PRODEC, surgiu na comunidade de Sarandi a
discussão sobre a criação de Cooperativas de Trabalho como forma de implementar o
rendimento dos moradores e suas famílias. Dessas discussões com a comunidade ventilou-se a
possibilidade da Universidade, através da UNITRABALHO, Núcleo local, estar oferecendo
cursos básicos sobre cooperativismo para os grupos interessados.
Foram realizados vários encontros enfocando cooperativismo com os moradores, na sua
maioria mulheres. Esses encontros, sob a forma de oficinas, visavam atender à necessidade de
um curso básico sobre cooperativismo. Logo no começo, verificou-se a disposição para o
trabalho em grupo, apesar do desconhecimento sobre seu funcionamento. Com recursos
oriundos do próprio PRODEC, foi possível a compra do equipamento básico e material de
consumo para a confecção inicial de pães e bolachas a preços menores que o mercado. O
objetivo era atender a parte da clientela do Conjunto, que se estimava consumir, diariamente,
1000 pães. Paralelo ao curso de cooperativismo, foram realizados através da Emater, SENAC
109
e prefeitura diversos cursos sobre gestão, administração, bem como cursos profissionalizantes
relacionados à confecção de pães, bolos e salgados.
A Padaria Comunitária começou suas atividades em 15 de julho/2000, funcionando no Salão
Comunitário, que também foi construído com recursos do PRODEC. Os membros da Padaria
tiveram dificuldades iniciais no sentido de obter a adesão da comunidade. Houve diversos
momentos. Hoje, a população não só tem procurado por seus produtos, como também está se
interessando por ingressar como associados, embora desconheçam o funcionamento de um
empreendimento coletivo. A padaria também esteve comercializando seus produtos em dois
outros locais, a título de experiência, mas as trabalhadoras perceberam que estavam tendo
prejuízo, uma vez que não dispunham de entregadores, fator que encarece os produtos que
eram entregues por consignação. O risco de perdas financeiras fez com que esse processo
fosse suspenso. A padaria chegou a confeccionar cerca de 500 pães diariamente. A Padaria
ficara sob a responsabilidade da Associação de Moradores, mas a idéia atual é sua
emancipação numa Associação própria ou a constituição de uma Cooperativa, quando atingir
o número de 20 membros.
Houve necessidade de re-adequar todo o procedimento de assessoria ao longo do trabalho.
Foram vários os motivos que levaram a isso: falta de experiência do grupo de assessores;
dificuldades de locomoção quando o financiamento cessou; particularidades do grupo que,
apesar de pequeno, apresentava dificuldades na determinação do objeto de trabalho, além de
conflitos internos.
Os membros do grupo enfrentaram o problema da distribuição dos recursos oriundos da venda
dos produtos. O grupo que começou com onze trabalhadores, reduziu-se a três logo no
começo, com a saída de várias pessoas devido a quantidade de recursos em caixa, serem
insuficientes para manter suas famílias. Apesar das dificuldades, as trabalhadoras que
persistiram esperam conseguir verbas suficientes para se cotizar e poder pagar o maquinário
comprado com dinheiro de toda a comunidade. Nas reuniões com os assessores, foram
procuradas várias saídas para a manutenção das máquinas, que estão em nome da associação.
Quanto às discussões sobre cooperativismo, estiveram paradas por um período e foram
retomadas no final de 2000, o que contribui para que o grupo não pensasse o trabalho em
110
comum. Com base nas discussões, foi elaborado um Estatuto. Houve auxílio de membros da
equipe de assessoria do Núcleo Local da UNITRABALHO, tanto nas discussões quanto na
confecção do documento final, mas o Estatuto não chegou a ser implementado devido às
dificuldades que as associadas encontraram para definir qual seria a melhor forma de
associação, uma vez que após várias reuniões com a assessoria e algumas pesquisas percebeu-
se que o tanto o número de pessoas envolvidas, quanto a própria estrutura, não comportavam
a criação uma Cooperativa. Outro entrave foi a dificuldade de se estabelecer contato com a
Comissão da Associação de Moradores, que ficou responsável pelos equipamentos comprados
para a padaria.
O fator que mais motivou a saída de membros do grupo foi o financeiro. As receitas não
cobriam os custos, visto que as tentativas de diversificar a produção efetivaram em prejuízos,
embora a assessoria apontasse que isso não seria viável. Pode-se dizer que apesar do grupo
achar importante a assessoria, sua opinião não era respeitada na hora da tomada de decisões.
O fato é que a padaria, no seu pouco tempo de vida, já conseguiu revolucionar o conjunto
onde está inserido e hoje serve de referência. No decorrer do ano, contatos com a Prefeitura
foram realizados.
A UNITRABALHO que tinha o compromisso de acompanhar o grupo até que ele pudesse
estar legalmente constituído e, devidamente, estruturado acabou direcionando essa
responsabilidade para a Prefeitura do município que está formando um projeto único das
Secretarias no sentido de solucionar os graves problemas sociais da cidade, dentre eles a
questão de geração de trabalho e renda. Outros motivos que levaram a isso foram as enormes
dificuldades de locomoção, falta de verbas destinadas ao projeto de assessoria e a greve na
UEM, que perdurou cinco meses.
Uma reunião para discussão com a comunidade e a nova diretoria da Associação de
Moradores foi agendada em fins de novembro. A perspectiva era conseguir o apoio da
comunidade e da própria Associação de Moradores para o empreendimento da Padaria, pois a
atual gestão municipal em Sarandí disponibilizou pessoal para estar trabalhando as questões e
intermediando a alocação da produção em firmas. A reunião aconteceu em fins de
novembro/2001 e a Prefeitura firmou o compromisso de estar apoiando a iniciativa. Após
111
várias reuniões, o grupo está se reestruturando. Conta hoje com 06 associadas, que trabalham
em três turmas, em regime de revezamento. A produção está gradualmente voltando a crescer,
sendo que, atualmente, são produzidos diariamente 250 pães e há a perspectiva de dobrar a
produção para atender a uma firma. Os contatos estão sendo realizados através da Prefeitura.
Apesar das dificuldades que o processo de formação do grupo sofreu e a seqüência
metodológica proposta pela equipe não ter ocorrido a contento, pode-se dizer que a
experiência da assessoria junto ao Conjunto Floresta na Padaria Comunitária trouxe a
percepção de mudanças importantes no procedimento. Quanto ao grupo, está se
reestruturando e conseguiu se manter, embora existisse pouca credibilidade da comunidade
em geral e um certo descaso do poder público e da associação de moradores.
5.5.2 Grupo de Trabalhadores no Lixão de Maringá
Após uma reunião com a Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente (SEUMA), responsável
pelo Projeto de Saneamento do Lixão, foi solicitada, através de ofício, a participação e
assessoria da UNITRABALHO na organização das pessoas que viviam do lixo extraído no
Lixão de Maringá. Um compromisso social que a Prefeitura assumiu. O Núcleo Local passou
a fazer parte de uma equipe composta por representantes da Prefeitura e da Fundação de
Desenvolvimento e Social e Cidadania de Maringá, do JOCUN (ENTIDADE RELIGIOSA) e
do IAESEC. Essa equipe tinha por finalidade estar preparando e assessorando os
trabalhadores do “lixão” para se organizarem visando trabalhar coletivamente num
empreendimento gerador de renda, buscando reintegrá-los à comunidade.
Entre julho e agosto, foi oferecido o curso de Extensão “Curso Preparatório e Introdutório
sobre Cooperativismo e Associativismo”, ministrado por membros da UNITRABALHO e por
profissionais colaboradores de diversas áreas. O curso, que visava formação sobre
Cooperativismo e Associativismo foi organizado sob a forma de módulos e ministrado na
UEM. No entanto, as dificuldades surgiram principalmente devido ao alto índice de
analfabetos no meio, o que fez com que o curso adotasse uma linguagem bastante
simplificada. Mesmo assim, percebe-se uma dificuldade de entendimento de muitas questões,
revelada pelas discussões em grupos. A desagregação é outro fator preocupante, pois ainda
112
não se instalou um grau de confiança e solidariedade no grupo, apesar da utilização de
técnicas socializantes.
Entre setembro e novembro de 2001, ocorreram as reuniões preparatórias para a formação da
Cooperativa com a discussão do Estatuto. O processo foi acompanhado por uma advogada
membro da UNITRABALHO. Nos meses de julho e agosto, parte do grupo foi direcionada
para a reforma do salão cedido em comodato pela Prefeitura. Vários futuros cooperados
trabalharam na obra. A Prefeitura cedeu algumas máquinas (prensa e equipamento para
pesagem, mesas para separação, uniforme, material de escritório reciclado). Em 01 de
setembro, após a reforma do salão sede da futura cooperativa, foi a mesma inaugurada e os
futuros cooperados começaram a trabalhar coletivamente. Em 07 de novembro de 2001, após
a discussão do Estatuto, foi fundada a Cooperativa Maringá de Materiais Recicláveis e
Prestação de Serviços. O Estatuto foi registrado na junta Comercial, na semana seguinte e o
CNPJ foi providenciado.
A cooperativa está tramitando as documentações junto à prefeitura e órgãos sanitários. O
trabalho inicial de sensibilização e conscientização junto aos moradores da cidade está sendo
feito pelos cooperados com o auxílio da Secretaria do Meio Ambiente. Atualmente o grupo
disponibiliza um dia na semana para reuniões. O regimento interno está sendo elaborado em
conjunto, com o apoio da advogada membro da UNITRABALHO e da assessora da Fundação
de Desenvolvimento Social e Cidadania de Maringá. A advogada da UNITRABALHO tem,
acompanhado o grupo na solução de dúvidas e resolução de problemas internos. Uma
socióloga da (SEUMA) tem trabalhado a questão do relacionamento através de dinâmicas. A
abertura dos livros está sendo providenciada, mas há grande dificuldade de entendimento da
sua real importância. Estão sendo realizados cursos paralelos de saúde, comida alternativa,
dentre outros. Está previsto para o início do ano a inserção do grupo em cursos voltados para
administração, digitação, serviços e técnicas de secretaria. Os cooperados também estão
sendo inseridos em programas de alfabetização de adultos para retornarem à educação
formal.
Na medida do possível, estão sendo estudadas com os cooperados, possibilidades de
superação dos problemas de relacionamento interno (marcantes) e também de aumento de
113
renda. Nesse sentido, foram conseguidos junto à Coocamar
15
, 10 carrinhos para coleta na
cidade, além da reforma de um caminhão de reciclagem.
O grupo apresenta características heterogêneas, o que dificulta a inserção do trabalho de
assessoria. Sua faixa etária abrange indivíduos de 16 a 60 anos (60% por cento com idade
superior a 35 anos, 15% com idade inferior a 21 anos). Com relação ao grau de escolaridade,
há também um grande desnível. O grupo é composto por 50% de pessoas analfabetas, outro
fator que dificulta a realização de cursos específicos sobre gestão de negócios e
administração. Outra característica em sua composição é a presença de membros vindos de
outros municípios periféricos da região de Maringá. O grupo de 38 pessoas é composto por
cerca de 13 moradores de Maringá, 12 moradores de Paiçandu e 14 moradores de Sarandí.
As observações feitas pela mestranda permitiram indicar que o processo de transformação
por que passaram os cooperados, da realização do trabalho individual para o coletivo,
surpreende, pois não se esperava, em curto espaço de tempo (menos de seis meses), que eles
atingissem o atual grau de adequação à nova realidade, dados as condições em que vários
conflitos surgiram (os problemas estão centrados fundamentalmente em questões que
envolvem relacionamento). Quanto à socialização, está começando gradativamente a
acontecer.
Em termos de organização, o grupo apresenta grande avanço. No início do processo, todos
trabalhavam individualmente, em circunstâncias sub-humanas, sem as mínimas condições
básicas. Estavam totalmente esquecidos pelos setores públicos, principalmente pela saúde.
Através do apoio da Secretaria de Meio Ambiente, foi conseguido o barracão, que foi
reformado pelos próprios cooperados, com recursos daquela Secretaria. Grande parte dos
cooperados não tinha nem documentação. Alguns não tinham sequer registro. Houve um
empenho dos órgãos públicos da cidade no sentido de agilizar a confecção de carteiras de
identidade e CPF, necessários para formatação da cooperativa. Isso demanda tempo e faz com
que alguns trabalhadores permaneçam na cooperativas, mas ainda não sejam cooperados, pois
a documentação não retornou. A eles foi garantido, no Estatuto, a inserção na cooperativa, tão
logo sua documentação seja regularizada.
15
Coocamar – Cooperativa dos Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá Ltda
114
Com relação à liderança, a assessoria detectou a presença de alguns líderes no grupo. Esses
acabaram assumindo alguns cargos dentro da Diretoria. A grande preocupação da assessoria
consiste em fomentar a discussão no grupo e o surgimento de novos líderes para evitar a
concentração de poder. Essa preocupação faz sentido, principalmente, porque como já foi
dito, alguns cooperados viveram por décadas uma situação de exploração e miséria tão
grandes, foram expropriados de tantos direitos que têm dificuldade em estar assumindo as
responsabilidades coletivas, participando das decisões democráticas e cobrando da Diretoria e
do Conselho Fiscal que exerçam seu papel.
Aos poucos, os valores e princípios cooperativistas estão sendo assumidos pelos membros do
grupo. As reuniões para definição de prioridades e adequação das atividades em comum têm
sido realizadas regularmente, o que demonstra um forte grau de democratização, embora a
participação seja tímida. Houve sensível melhora com relação à participação nas discussões
da feitura do Estatuto para a do Regimento Interno. Os cooperados estão se expressando mais.
O desafio maior da assessoria da UNITRABALHO tem sido despertar o interesse de todos
pelo empreendimento, muitos querem apenas trabalhar e dividir os resultados no final do mês.
Como a arrecadação é pequena, eles também têm dificuldade em aceitar sua inscrição no
INSS que está sendo providenciada.
5.5.3 Cooperativa de Artesanato - “Conjunto Requião”
A interação (ITCP com os grupos) é de fundamental importância para a concretização do
processo de incubagem, é a fase de conquista da confiança do grupo, de estabelecimento de
uma mesma linguagem para que o diálogo possa transcorrer. No caso específico do trabalho
com as mulheres do Conjunto Requião, isso foi possível.
Procura-se, no que se refere à 1
a
etapa, estabelecer contatos freqüentes para iniciar um
trabalho conjunto (incubadora/grupo incubado). Neste grupo, o trabalho transcorreu de uma
forma bastante dinâmica. Conseguiu-se, após um tempo de reuniões em que elas se
manifestavam pouco, a participação ativa do grupo, inclusive ponderando acerca de certas
sugestões de nossa parte (como no caso de estabelecimento de parceria com a Prefeitura
Municipal de Maringá). Foi alegado que a parceria (no caso, intermediação na compra de
115
equipamentos: máquinas de costura, etc.) lhes tiraria a autonomia e flexibilidade interna de
trabalho alcançadas no período, com vistas a serem mantidas.
É importante destacar que, quando se faz extensão, a linguagem deve ser adequada ao
público alvo para haver maior aproveitamento do conteúdo. Faz-se necessário utilizar
metodologias que lhes sejam próprias, como a técnica do conto, por exemplo. Nesse caso, ao
falar dos Pioneiros de Rochdale, a dinâmica foi a de contar sua experiência sob a forma de
um ‘causo’, uma vez que isso facilitaria a apreensão por parte do grupo aproximando-o de
sua própria experiência. A partir disso foi possível que todos tecessem comentários e
estabelecessem termos de comparação com o que estavam vivenciando. O aprendizado, nesse
processo de incubagem, nos permite na dinâmica do dia-a-dia introduzir alterações na
metodologia (e isso ocorre a partir do momento em que o grupo passa a participar mais, ou
seja, sente-se mais à vontade para se manifestar).
5.5.4 Cogupar - Cooperativa dos Produtores de Cogumelos do Paraná Ltda.
Trata-se, nesse caso, de um grupo já organizado e com objetivos bem definidos em mente.
Quando se estabeleceram os primeiros contatos, eles já tinham cerca de 01 ano de reuniões,
com discussões acerca da formação de um “negócio” que lhes possibilitassem agilizar, em
conjunto, a produção de cogumelos. Levantaram a possibilidade de criar uma cooperativa ou
associação para viabilizar o empreendimento. Diferentemente do grupo anterior (do
“Conjunto Requião”), eles queriam formalizar, ou seja, estruturar o Estatuto, registrar e iniciar
um curso mais específico sobre a produção (técnicas adequadas) de cogumelos (no grupo, a
maioria já produz, mas muitos estavam entrando para aprender a produzir adequadamente, ou
seja, começariam naquele momento). Nesse sentido, coube um trabalho inicial de
conscientização, sensibilização e motivação do grupo para o cooperativismo (enfatizamos,
principalmente, os desafios que teriam pela frente). Houve o estabelecimento de parceria com
o Departamento de Biologia da UEM para a execução do trabalho mais específico das
técnicas da produção de cogumelos.
116
5.6 SÍNTESE COMPARATIVA DAS EXPERIÊNCIAS ESTUDADAS
O que fica evidente, em todos essas experiências apresentadas, é a preocupação com a
reeducação dos trabalhadores para a nova forma de organização para o trabalho. No emprego
tradicional, o trabalhador fica à margem do processo, não participa das decisões, torna-se
alienado de seu próprio trabalho, é visto e se vê como um indivíduo distante dos outros. O
processo coletivo exige que todos participem, dêem sua opinião, contribuam para o todo, de
forma a crescerem juntos.
Principalmente os exempos da Cooperminas e da Coopervest demonstram que o caminho da
reeducação é possível. Não sem entraves, reveses, erros, mas é uma verdadeira reconstrução
que vai sendo realizada aos poucos pelos próprios cooperados, com o apoio técnico de
sujeitos sociais comprometidos, como o poder público, as universidades, as associações de
apoio, os sindicatos, as entidades religiosas etc.
É bom lembrar que, nem sempre o esforço conjunto pode lograr sucesso. É preciso que haja
um comprometimento inicial dos próprios cooperados para que a empresa dê certo. Para eles,
muitas vezes não é possível esperar. Todos que trabalham com segmentos excluídos da
sociedade sabem que as necessidades prementes são as principais causadoras da
descontinuidade de projetos que tinham tudo para dar certo. Em muitos casos, o grupo não
dispõe do tempo necessário para cumprir todas as etapas propostas para a formação da
cooperativa, sem obter um retorno financeiro. Não se pode esperar, como assessores, que os
membros permaneçam unidos diante de dificuldades intransponíveis, passando por
necessidades tão básicas, quanto saciar a fome e cumprir com as obrigações de manutenção.
Há um imediatismo justificável nesses grupos. Muitos desistem no caminho, mas há uma
certeza: a Educação Cooperativa e a formação inicial podem garantir que, unidos, eles
consigam vencer os obstáculos.
117
QUADRO VI - ALGUNS ASPECTOS DE SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE AS EXPERIÊNCIAS DAS
COOPERATIVAS ESTUDADAS
Grupo
Aspectos
COOPERATIVA
MANDAGUARI
UNITRABALHO
Núcleo
Local/UEM
USP RIO (COPPE) CÁRITAS ANTEAG
Estabelecimento
de Metas
Discute-se a
preparação do
trabalhador para
nova realidade
Preparação do
trabalhador para
nova realidade
através da doutrina
cooperativista
Preparação do
trabalhador para
nova realidade
inserção no
mercado de
trabalho
Preparação do
trabalhador para
nova realidade e
inserção no
mercado de
trabalho
Preocupação com
aumento e geração
de renda
Aliar
emprego/atividade
familiar
Preparação do
trabalhador para
nova realidade
Aliar
produtividade/soli-
dariedade
.Manutenção dos
postos de trabalho
Metodologia de
abordagem
Adoção de
Metodologia de
Incubagem
Adoção de
Metodologia de
Incubagem(acom-
panhamento
técnico por um
período não
inferior a dois anos
Adoção de
Metodologia de
Incubagem da
ITCP
Adoção de
Metodologia de
Incubagem da
ITCP
Não há uma única
metodologia ou
cursos específicos.
Cursos específicos
oferecidos
conforme oferta de
módulos
Dificuldades de
implantação de
educação
cooperativa
Existem
dificuldades de
relacionamento,
como o grupo está
em formação é
possível superá-las
O grupo está em
fase de formação e
as dificuldades de
se criar
mecanismos de
educação
cooperativa é
grande
Embora com maior
tempo de
experiência os
cooperados não
assumem seus
compromissos
Embora com maior
tempo de
experiência há
dificuldades em
assumir o ideal
cooperativo
Falta uma
metodologia mais
direcionada para
Educação
Cooperativa.
As lideranças estão
enfrentando
dificuldades em
implantar uma
verdadeira
Educação
cooperativa, mas a
resistência inicial
do trabalhador está
sendo superada.
Demanda por
educação
cooperativa
Partiu do poder
público e aos
poucos está sendo
Partiu do poder
público e aos
poucos está sendo
Partiu de reflexões
do próprio grupo
com auxílio de
Partiu de reflexões
próprio grupo com
auxílio de
Está partindo de
reflexões do grupo
com auxílio de
Partiu de reflexões
próprio grupo com
auxílio de
118
assumida pelo
próprio grupo.
assumida pelo
grupo.
assessoria assessoria assessoria assessoria
Educação
Cooperativa
Preocupação com
educação
continuada voltada
para o
cooperativismo
Preocupação com
educação
continuada voltada
para o
cooperativismo
Preocupação com
educação
continuada voltada
para o
cooperativismo
Preocupação com
educação
continuada voltada
para o
cooperativismo
Ausência de
informações sobre
educ. cooperativa
Preocupação com
educação
continuada voltada
para
cooperativismo
Autogestão Adoção dos
princípios
cooperativistas
Adoção dos
princípios
cooperativistas e
da autogestão
Adoção dos
princípios do
cooperativismo e
da autogestão
Adoção dos
princípios do
cooperativismo e
da autogestão
Adoção dos
princípios do
cooperativismo e
da autogestão
Adoção dos
princípios de
autogestão
Existência de um
comitê de
educação
cooperativa
Não há comitê tentativa de
implantação de um
Comitê, mas ele
ainda não se
constituiu
efetivamente nos
grupos
pesquisados.
Existem comitês
de educação
cooperativa
Existem comitês
ou similares
Não há informação
da existência de
comitês
Existem comitês
de educação
cooperativa
Formação/qualifica
-ção profissional
Preocupação com
formação e
qualificação
profissional
Preocupação com
formação e
qualificação
profissional
Preocupação com
formação e
qualificação
profissional
Preocupação com
formação e
qualificação
profissional
Preocupação com
formação e
qualificação
profissional
Preocupação com
formação e
qualificação
profissional
Respeito ao saber
dos cooperados
Soma de poten-
cialidades e
conhecimento
individual
Procura somar
potencialidades e
conhecimento
individual
Tentativa de somar
potencialidades e
conhecimento
Individual
Tentativa de somar
potencialidades e
conhecimento
individual
Faltam dados Tentativa de somar
potencialidades e
conhecimento
Individual
Fonte: Elaboração própria com base em estudos realizados nos vários empreendimentos cooperativos, conforme já citados anteriormente.
119
Optou-se por traçar um paralelo entre o caso pesquisado e os grupos estudados quanto a nove
itens: o estabelecimento de metas, autogestão, Educação Cooperativa (Continuada), respeito
ao saber dos cooperados, formação/capacitação, metodologia, existência de comitê
educacional, dificuldades quanto à implantação da Educação Cooperativa e demanda por
educação cooperativa, os quais serão detalhados a seguir.
1. QUANTO À META
Embora todos os grupos privilegiem a geração de renda, nem todos priorizam a preparação do
trabalhador para a nova realidade. Os grupos assessorados pela CÁRITAS têm como maior
finalidade o aumento de renda familiar conciliando com as atividades familiares já
desenvolvidas. Os grupos assessorados pela ANTEAG nascem muitas vezes da necessidade
de manutenção dos postos de trabalho. No caso pesquisado, a proposta era a preparação para
uma nova realidade através do conhecimento da doutrina cooperativista.
2. QUANTO À ABORDAGEM METODOLÓGICA
Com exceção dos grupos monitorados pela CÁRITAS, que não adotam uma metodologia
específica e pela ANTEAG que dispõe de um sistema de cursos específicos oferecidos
conforme a procura, através de módulos, os demais grupos estudados procuram adotar uma
metodologia denominada Incubagem, que consiste no acompanhamento sistemático do grupo
desde as primeiras reuniões até depois de sua inserção no mercado de trabalho. Isso se dá de
diversas formas: através de cursos, oficinas, acompanhamento de registro, assessoria técnica,
num período não inferior a dois anos.
3. DIFICULDADES DE IMPLANTAÇÃO DE EDUCAÇÃO COOPERATIVA
De forma geral há grande dificuldade de se implantar uma verdadeira educação cooperativa.
Tanto os grupos mais antigos e sólidos, quanto os mais recentes têm problemas de
relacionamento; detectam-se a falta de responsabilidade por parte dos cooperados, e outros
fatores que impedem aplicação do princípio da Educação Cooperativa.
120
4. DEMANDA POR EDUCAÇÃO COOPERATIVA
Na maioria dos casos estudados, a demanda por Educação Cooperativa está surgindo do
próprio grupo com apoio dos assessores.
5. EDUCAÇÃO COOPERATIVA (CONTINUADA)
De forma geral, há preocupação com a educação continuada, embora nem todos os grupos
priorizem a educação cooperativa como meta para se atingir o sucesso do empreendimento.
6. AUTOGESTÃO
Todos os grupos estudados demonstram interesse na adoção dos princípios do cooperativismo
e da autogestão, embora essa seja vivida de formas distintas e estejam em estágios diversos de
aplicação. Por exemplo, no caso dos grupos assessorados pela ANTEAG, a perspectiva é de
que haja um direcionamento para que o grupo caminhe para autogestão ou co-gestão, no caso
de massas falidas de indústrias. Em alguns casos, o grupo opta por outro tipo de
empreendimento que não a cooperativa. Já os empreendimentos assessorados pela COPPE,
USP e Núcleo da UNITRABALHO, a perspectiva é levar o trabalhador a assumir a gestão do
negócio, sem interferência externa. No caso da CÁRITAS o grupo pode ou não se emancipar
administrativamente.
7. EXISTÊNCIA DE UM COMITÊ DE EDUCAÇÃO COOPERATIVA
Apenas nos grupos acompanhados pela CÁRITAS não há informações sobre a existência de
comitês. Nos assessorados pela USP, COPPE/UFRJ e UNITRABALHO existe a iniciativa
desses comitês estarem se formando, mas ainda não estão sendo implantados com
regularidade. As experiências assessoradas pela ANTEAG priorizam a formação de comitês
de educação cooperativa, como interlocutores junto aos associados.
121
8. QUANTO À FORMAÇÃO/CAPACITAÇÃO
Todos os grupos manifestam de uma forma ou de outra preocupação com a formação e
qualificação profissional. A justificativa maior para isto está na garantia de inserção no
mercado em condições de semelhança com as demais empresas mercantis e de serviços.
9. QUANTO AO RESPEITO PELO SABER DO COOPERADO
Faltaram dados para analisar os grupos assessorados pela CÁRITAS. Nos demais grupos
estudados e no grupo pesquisado há uma tentativa de somar potencialidades e conhecimentos
individuais, porém nem todos os grupos têm conseguido atingir um resultado ótimo,
principalmente pelo despreparo das lideranças que tolhem muitas iniciativas. Sente-se por
parte dos assessores uma preocupação constante com isso.
122
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analisou-se, ao longo do trabalho, uma das alternativas de geração de trabalho e renda frente
à diminuição crescente da oferta de emprego em relação ao aumento dos trabalhadores em
potencial, através da cooperativa de trabalho. Este tipo de organização pode surgir de
iniciativas de setores comprometidos com os excluídos, dos próprios excluídos, ou até mesmo
quando os trabalhadores assumem a “massa falida” de empresas que entraram em falência ou
estão em vias de falir e reorganizam a produção através do sistema cooperativista.
Percebe-se que há implícito no trabalhador uma grande dificuldade em adequar-se ao sistema
cooperativo, justamente por ter vivenciado o modelo individualista. A principal causa para
isso é o desconhecimento, ou seja, falta de conhecimento sobre cooperativismo.
Ocorre que o modelo cultural capitalista, que tem marcadamente características como o
individualismo, a desarticulação entre os trabalhadores na empresa e com suas atividades
cotidianas, influencia no tipo de educação cooperativista dos associados das cooperativas.
Ao analisar como acontece a participação e a aquisição de conhecimentos pelos cooperados,
em relação à educação cooperativista e como se dá a participação dos mesmos em relação às
políticas cooperativistas, percebe-se que muito ainda tem que ser conquistado por eles. A
articulação com os sindicatos, embora crescente, é apenas pontual e esse apoio seria
importante para a consolidação do movimento cooperativista.
Não se pode esquecer, no entanto, a imensa carga que os trabalhadores brasileiros, desde
sempre inseridos no modelo sócio-econômico e político capitalista, tem que enfrentar. Como
nos aponta CORBELLINI (2000, p. 54) “Trabalhar numa empresa/firma/fábrica sob a direção
de um contra-mestre que controla o processo de trabalho no cotidiano, é parte integrante do
imaginário do trabalhador em geral". Formar um novo imaginário é um desafio a ser
enfrentado por eles.
Sabe-se que muitos desistem no caminho, mas a educação e a formação inicial podem
contribuir para permanência no empreendimento democrático. Porém, até mesmo para que
esta democratização aconteça, faz-se necessário um trabalho direcionado à educação e
123
conscientização do cooperado. Vale ressaltar que apenas quando a empresa cooperativa, no
seu cotidiano, conseguir aplicar e vivenciar as características coletivas e próprias da
democracia, poderá ser considerada uma verdadeira cooperativa.
Como nos alerta CORBELLINI (2000) para que a educação cooperativa possa ter êxito, é
necessário que alcance todos os setores da cooperativa, tais como diretoria, gerentes,
departamentos e associados, de forma integral. Para que isso ocorra, portanto, é necessário
também, que haja um plano a ser aplicado neste sentido, o que pode ser implementado por
comissões ou comitês educativos dentro das cooperativas.
124
CONCLUSÃO
No início deste trabalho havia vários questionamentos, tais como: poderiam as cooperativas
de trabalho, nascidas da organização popular na busca de alternativas e opções viáveis de
obtenção de trabalho e renda, enfrentar os desafios de atuar num mercado competitivo sem
vivenciar em suas bases os princípios e valores cooperativos? Quais as possibilidades do
empreendimento ter sucesso e sob que fundamentos poderiam se pautar para aliar
competitividade (externa) e solidariedade (interna)?
Para responder essas questões tomou-se como pressuposto que o princípio da Educação
Cooperativa é a base para o sucesso do empreendimento solidário em estudo, e é de suma
importância na internalização dos valores cooperativos e dos demais princípios
cooperativistas dentro das cooperativas de trabalho. Através de várias observações e análises,
pôde-se constatar que o sistema está alicerçado no tripé: qualificação profissional, autogestão
e Educação Cooperativa. Vale ressaltar que o objetivo do trabalho não foi discutir a
qualificação e autogestão, embora essas sempre tenham estado preementemente vinculadas
ao sucesso da cooperativa e à educação cooperativa, visto que a condição triangular não
subsiste sem algum destes requisitos básicos. Todavia, se o sucesso ou fracasso de um
empreendimento cooperativo de trabalho não depende exclusivamente de retomada dos
valores e princípios cooperativistas, não é possível, por outro lado, olvidar que o princípio da
Educação Cooperativa, efetivamente implementado nas cooperativas de trabalho, tendo em
vista sua especificidade, é um dos pilares que garantirá a elas resultados positivos do ponto de
vista da coesão interna.
Considerou-se também que as transformações no mundo do trabalho, provocadas pela crise do
capitalismo, que se arma dos mecanismos da globalização da economia para permanecer,
como sistemas que se traduzem, do ponto de vista negativo, na fragilização e flexibilização do
emprego, no crescimento do desemprego em níveis mundiais e na crescente exclusão de
parcela da população dos direitos básicos e sociais, dentre outras conseqüências, tem feito
(re)surgir um movimento de resgate, ora nascido no interior da organização das classes
populares, ora de segmentos politizados mais comprometidos com a justiça social que
propugnam uma nova configuração na sociedade e da economia, a qual beneficie os
trabalhadores.
125
No caso específico que estudamos, a Cooperativa de Confecções e Facções de Mandaguari,
sua criação é recente e prematura. Infelizmente, o grupo ainda não alcançou maturidade para
vivenciar o espírito do cooperativismo. Felizmente, porém, o grupo continua dando seus
passos e há possibilidade de crescer no conhecimento e na internalização dos valores e
princípios cooperativistas. Para que isso aconteça, detecta-se que é necessário um
acompanhamento mais regular dos técnicos e assessores, pois a descontinuidade da assessoria
pode prejudicar o grupo e contribuir para o fracasso do empreendimento.
O que se nota é que esses grupos nascidos da exclusão social possuem grandes lacunas a
serem preenchidas, em termos de qualificação profissional, desenvolvimento coletivo,
infraestrutura, e até elevação dos baixos níveis de escolaridade. São grupos de pessoas,
normalmente despreparadas, que apesar disso, têm uma vivência a ser incorporada ao todo, só
que não dispõem de tempo para assimilar todo o rol de informações e passar por um estágio
de formação prévio, pois têm imediata necessidade de prover sua sobrevivência. Para que
haja um verdadeiro crescimento teria que ser implementada uma nova política pública que
ofereça incentivos, isenção e proteção a essas iniciativas, garantindo-lhes condições mínimas
e chances de sobrevivência até se firmarem e conquistarem a emancipação necessária para
operarem no mercado.
A falta de saída para os problemas sociais, muitas vezes tem levado setores públicos e
privados a investir em projetos de geração de renda que apenas garantem a subsistência dos
trabalhadores e não promovem a justiça social. Por outro lado, evidencia-se que a contratação
terceirizada de trabalhadores através das cooperativas, torna-se vantajosa, pois reduz os gastos
relativos aos encargos sociais e indenizações trabalhistas. Nesse sentido, surgem inúmeras
empresas que, embora distantes do ideal cooperativista, ostentam a fachada de Cooperativas.
Esse desvio pode comprometer, inclusive, o projeto cooperativista como um todo, à medida
que destrói a confiança que os cooperados depositam na cooperativa.
O estudo realizado permitiu concluir, que o princípio da Educação Cooperativa é de fato um
dos pilares importantes na construção da consciência coletiva dos grupos, e que, embora de
maneira bastante latente e com exemplos pontuais, atualmente tem contribuído de forma
decisiva para a internalização dos demais princípios e valores cooperativos dentro das
cooperativas. Como conseqüência, o empreendimento passa a ampliar sua coesão interna e
126
enfrentar os desafios externos requeridos pelo mercado. Isso tem ocorrido, particularmente,
no tocante à geração de trabalho e renda, inclusão social e garantia de direitos sociais
conquistados pelos trabalhadores ao longo da história de lutas das organizações sociais. Em
contrapartida, a ausência ou descuido da aplicação do princípio da Educação Cooperativa no
interior das cooperativas pode levá-las ao desequilíbrio.
Considerando os resultados obtidos através da pesquisa neste trabalho, pode-se afirmar que a
Educação Cooperativa é responsável por um processo de desenvolvimento integral do
cooperado e, por conseqüência, das próprias cooperativas. Torna-se necessário garanti-la. Só
assim ela assumirá seu papel de princípio norteador e genuíno direito do cooperado.
Sugestiona-se que ela pode ser implementada ou dinamizada pela existência de um comitê
educativo na cooperativa, que se responsabilize pelo fomento à educação, formação e
informação. Caso este papel educativo seja descartado, pode-se contribuir para a fragilização
do movimento cooperativista refletindo diretamente nas novas gerações. Estas, sem um
referencial teórico e reflexivo sobre o movimento, ficarão impossibilitadas de compreender o
que representa o sistema cooperativo no contexto e as razões que contribuíram para o seu
surgimento.
Portanto, são inúmeros os desafios que o sistema cooperativista impõe aos cooperados. Para
enfrentá-los é necessário proporcionar ao cooperado um conhecimento técnico atual. Faz-se
necessário que a Educação Cooperativa lhe propicie uma visão mais ampla do movimento
cooperativista, que receba informação adequada, completa e atualizada sobre a cooperativa e
desta em relação à sociedade, para que a Educação Cooperativa possa ser exitosa em sua
realização. Deve-se também demonstrar as possíveis vantagens que o cooperativismo tem a
oferecer em relação ao capitalismo, tanto em nível econômico como do ponto de vista social,
e proporcionar um conhecimento sobre a história do movimento cooperativo, sua doutrina e
princípios e suas conquistas.
Além disso, é necessário fazer o associado compreender a importância da educação
continuada, não perdendo de vista a Educação Cooperativa e o compromisso de estar
continuamente buscando conhecimento sobre o Sistema Cooperativista para poder
efetivamente assumi-lo.
127
Permanecem, no entanto, alguns questionamentos nascidos do conhecimento da realidade do
presente estudo de caso, nesse sentido pode-se questionar se não haveria uma dificuldade
latente no interior desses grupos que embora, quando vençam as barreiras do individualismo
e consigam assumir a vida cooperada através da educação cooperativa, quanto a implementar
a questão do desempenho externo enquanto empresa ativa no mundo capitalista, competitivo
por natureza, no meu ponto de vista, isto está associado à questão do espírito empreendedor,
quer individual, quer coletivo. O estudo realizado, demonstrou que o êxito dos
empreendimentos econômicos solidários está vinculado a educação, mas, será que a
incorporação do solidarismo e a cooperação no trabalho, uma vez assegurados, propiciam
fatores particulares de eficiência, funcionando então como vetores específicos da viabilidade e
competitividade dos empreendimentos? Os associados assimilam que os resultados
econômicos e sociais alcançados apresentam sinais de viabilidade e tendem ou podem evoluir
para sua auto-sustentação? Há perspectiva que esse novo processo de trabalho, distinto da
forma assalariada capitalista, venha a perdurar no atual ambiente econômico, sem perder as
suas características? Como assegurar os níveis de renda e de qualidade no trabalho no âmbito
dessas alternativas de geração de emprego e renda? Pode-se constatar, além destes
questionamentos que, o caráter informal do negócio pode vedar legalmente a comercialização
dos produtos, a produção irregular e sem escala, a falta de qualidade e de adequação dos
produtos ao mercado consumidor, a ausência de clientela fixa, o despreparo técnico e
administrativo, a elevada e crescente concorrência de pequenas empresas e de inúmeros
trabalhadores expulsos do mercado de trabalho, que montam negócios por conta para produzir
mercadorias de baixo custo, esses e outros entraves podem limitar severamente a expansão
dos empreendimentos.
128
CONCEITUAÇÕES
Considerando que há distinções significativas entre os termos utilizados, apesar de sua
similaridade, seguem alguns conceitos:
Autogestão - é a gestão que consiste na autonomia da coletividade dos membros da empresa
de decidir sobre os destinos, os processos e os resultados do trabalho. As idéias gerais são:
fim do assalariamento, organização do trabalho com base na gestão democrática, eleição de
comissões de autogestão, eliminação de hierarquia e participação nas decisões relativas às
sobras.
Cooperar - deriva etimologicamente da palavra latina "Cooperari", formada por "cum"(com)
e "operari"(trabalhador), e significa agir simultânea ou coletivamente com outros para um
mesmo fim, ou seja, trabalhar em comum para o êxito de um mesmo propósito.
Cooperação - método de ação pelo qual indivíduo ou famílias com interesses comuns
constituem um empreendimento. Neste, os direitos de todos são iguais e o resultado alcançado
é repartido somente entre os integrantes, na proporção da participação societária nas
atividades.
Cooperativismo - é uma doutrina, um sistema, um movimento ou, simplesmente, uma atitude
ou disposição que considera as cooperativas como uma forma ideal de organização das
atividades sócio-econômicas da humanidade.
Cooperado - é o produtor rural, o trabalhador urbano ou outro profissional de qualquer
atividade sócio-econômica, que se associa para participar ativamente de uma cooperativa,
cumprindo com os seus deveres e observando os seus direitos.
Cooperativa - é uma associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para
satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma
empresa de propriedade conjunta e democraticamente controlada. A Aliança Cooperativa
Internacional - ACI, em 1995 definiu: "A cooperativa é uma associação autônoma de pessoas,
unidas voluntariamente, para atender suas necessidades e aspirações econômicas, sociais e
129
culturais comuns, por intermédio de uma empresa coletiva e democraticamente controlada",
TESCH (2000:50).
A Organização Internacional do Trabalho - OIT, define a cooperativa como associação de
pessoas que se unem voluntariamente para realizar objetivo comum através da formação de
uma organização administrada e controlada democraticamente, realizando contribuições
eqüitativas para o capital necessário e aceitando assumir de forma igualitária os riscos e
benefícios do empreendimento no qual os sócios participam ativamente", Tesch (2000:50).
De acordo com a Lei nº 5.764/71, Art. 4º, que define a política nacional do cooperativismo e
institui o sistema jurídico das sociedades cooperativas: "Cooperativas são sociedades de
pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência,
constituídas para prestar serviços aos associados".
Co-gestão – é um nível mais avançado da participação, onde não há só a participação nos
lucros. Pode se manifestar através da organização do trabalho e/ou na política global da
empresa.
Heterogestão – o oposto da autogestão. É o modelo de gestão mais comum, encontrado nas
empresas.
Incubadora universitária de cooperativas - a primeira iniciativa, inspirada na idéia de
"incubadora de empresas", foi da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), através do
"Projeto de Tecnologia de Gestão Social", em associação com o GCOOP (Banco do Brasil),
Fio Cruz. Foi uma equipe originada da FETRABALHO/RS quem assessorou na organização
da "cooperativa modelo". Desde então, com o apoio do Fórum de Cooperativas, da
Comunidade Solidária e FINEP, foi estabelecido o PRONIC (Programa Nacional de
Incubadoras Cooperativas), gerido por Universidades com recursos de fundos públicos.
Participação – não é autogerir, restringindo-se à participação de uma atividade existente de
forma individual, onde o trabalhador deve ter interesse e empenho. Este modelo deveria ser de
forma espontânea, onde colaborar-se-ia livremente nas decisões da empresa, mas acaba sendo
imposta pelo dono ou diretores. A motivação, neste caso, é conseguida através de participação
130
de lucros, onde a colaboração e empenho do trabalhador são remunerados. Prevalece a
heterogestão.
131
BIBLIOGRAFIA REFERENCIADA
ANDRADA, M. et al. Disponível em <http//www.clickfome.com.br> acesso em 20 de out.
2001.
ANTEAG. Construindo uma nova cultura nas relações de trabalho. 2ª ed. São Paulo: E.
Produção, 1999.
ASSMANN, H; MO SUNG, J. Competência solidária: educar para a esperança. Petrópolis:
Vozes, 2000.
AZIBEIRO, N. E. Educação popular e movimentos sociais: o que têm feito as assessorias?
(texto impresso, 1999)
BLEGER, J. Temas de psicologia: entrevistas e grupos. São Paulo: Martins Fontes, 1980.
CAMPOS, R. H. de F. (org.). Psicologia social comunitária da solidariedade à autonomia:
psicologia comunitária cultura e consciências. Petrópolis: Editora Vozes, 1996.
CASTORIADIS, C. L'istituition imaginaire de la sociéte. 5ª ed. Paris, Seuil, 1975. 498p.
(Trad. Bras.: A instituição imaginária da sociedade. 3 ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 418p.)
CÓDIGO CIVIL. 52 ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
COSTA, F. As cooperativas e a economia social. Lisboa: Horizonte, 1986.
COSTA, R. La educacion cooperativa en el proceso de desarrollo. Buenos Aires.
INTERCOOP, 1979.
CORBELILINI, D. Educando para a cidadania
<http://www.dhnet.org.br/educar/cartilhas/cidadan/> acesso em 12 jul.200l.
CRÚZIO, H. de O.. Como organizar e administrar uma cooperativa. Rio de Janeiro: FGV,
2000.
DEJOURS, C. A loucura do trabalho. 1987 (apostila estudada durante o curso, na disciplina
Administração e Psicologia).
DIEESE. <http://www.dieese.org.br> acesso em 23 set.2001.
EDEN, C; HUXHAM, C. Action research for the study of organisations: in handbook of
organisation studies. S Clegg, Beverly Hills, 1995.
FERREIRA, L. S.; BONETI, L. W. Educação & Cidadania. Ijuí: UNIJUÍ, 1999.
FREITAS, M. E. de. Cultura organizacional: identidade, sedução e carisma? Rio de Janeiro:
FGV, 1999.
132
FREUD, S. Psicologia de massas e análise do ego. Porto Alegre: Delta, 1970.
GADOTTI, M.; GUTIÉREZ, F. (Org) Educação comunitária e economia popular. 2 ed.
São Paulo: Cortez, 1999.
___________Escola cidadã: uma aula sobre autonomia da escola. 5ª ed. São Paulo:
Editora Cortez, 1999.
GEERTZ, C. Ideologia como um sistema cultural.
<http://www.xroads.virginia.edu/g/drbr/geertz.html> acesso em 31 dez. 2001.
GIL, A.C.. Técnicas de pesquisa em economia. São Paulo: Atlas, 1990.
GOHN, M. da G. Educação popular na América Latina no novo milênio: impactos do
novo paradigma, texto impresso, 2000.
GUIMARÃES, G. (Coord). Ossos do ofício: cooperativas populares em cena. Rio de Janeiro:
COPPE; FINEP, 1998.
HOBSBAWN, E. J. A era das revoluções. Europa: Paz e Terra, 1848.
IBGE. <http://www.ibge.gov.br> acesso em 21 agost. 2000.
IPEA. <http://www.ipea.gov.br> acesso em 10 out. de 2001.
KERNBERG, O. Ideologia, conflito e liderança em grupos e organizações. Porto Alegre:
Artmed, 2000.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A.. Metodologia científica. 2ª. Ed. São Paulo: Atlas,
1991.
LE BON, G. La psychologie politique. Paris: Flamarion, 1910.
LEI 5764, de 16 de dezembro de 1971. <http://www.coopline.com.br/legislacao.html> acesso
em 24 jun. 2000.
LIMBERGER, E. Cooperativa – empresa socializante. Porto Alegre: Imprensa Livre, 1996.
MAGALHÃES, J.R. Centro de Estudos Cooperativos. CEC: Prospecto. Universidade de
Coimbra, 2000 - 2001.
MANCE, E. A. A revolução das redes - A colaboração solidária como uma alternativa pós-
capitalista à globalização atual. Petrópolis: Vozes, 2000.
MARCONI, M. de A. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas,
amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação de dados. 4ª. Ed. São
Paulo: Atlas, 1999.
MASCOVICI, S. Cognitive analysis of social. Beavior, Codol JP, 1988.
133
MATOSO, J. A situação do trabalho: as crises da Argentina e do Brasil e a cidade de São
Paulo: Valor Econômico, 13 de agosto de 2000. Jel. E.F,I.
MATTOSO, J. E. Trabalho e desigualdades sociais no final do século XX. Campinas,
1993. Tese (Doutorado em Economia) - Instituto de Economia Unicamp.
MAURER, T. H. J. O cooperativismo: uma economia humana. São Paulo: Imprensa
Metodista, 1966.
MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à administração. 5. Ed. São Paulo: Atlas, 2000.
MINAYO, M.C.S. (Org) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 7 ed. Petrópolis:
Vozes, 1997.
__________Raízes da fome. Petrópolis: Vozes/FASE, 1985.
MUCCHIELLI, A. L'identité. Paris, PUF, 1992.
NETO, A. Economia solidária. Texto mimiografado. 2001.
NICOLAÏ, A. A. Identifications expérimentales et innovations sociales - identifier
l'humain? Connexions. Paris: Erès, 1990.
OCB <http:///www.ocb.gov.br> acesso em 20 maio 1999.
__________ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS. Cooperativismo:
panorama brasileiro – OCB. Anais do X Congresso Brasileiro de Cooperativismo. Brasília:
OCB – Cadernos econômicos 48, 1989.
OCEPAR. <http://www.ocepar.org.br> acesso em 30 jul.2001.
OLIVEIRA, T. C. O desenvolvimento de Cooperativas de Trabalho no Brasil. In: Perspectiva
Econômica, nº 38, vol. 12, São Leopoldo: UNISINOS, 1982.
QUEIROZ, L. C. Novos rumos do cooperativismo. São Paulo. 1998.
RECH, D. Cooperativas: uma alternativa de organização popular. Rio de Janeiro: DP&A,
2000.
RIQUE, M. Os Pioneiros de Rochdale e os Princípios do Cooperativismo. Integrar
Cooperativas. Encarte. Rio de Janeiro: EspalhaFato Comunicação, 1999.
RUFINO, C. < http://www.funday.gov.br/docs/text/texecono.html> acesso em 15 set.2001.
SARATT, N; MORAES, R. P. Cooperativas de trabalho: um diferencial inteligente. Porto
Alegre: Ipsis Litteris, 1997.
134
SCHNEIDER, J.O.; VÁZQUES, VICENTE, J.H. A reestruturação produtiva e as
cooperativas de trabalho produtiva e as cooperativas de trabalho. Perspectiva Econômica,
São Leopoldo: UNISINOS. vol. 31, nº 94, jul/set.1996.
__________ J. O. Desafio e perspectivas das cooperativas de trabalho. São Paulo: Arte &
Ciência, 1999. Cap. 6. P. 133-149.
SCHULZE, E. Estrutura do poder em cooperativas. Perspectiva Econômica, São
Leopoldo:UNISINOS, nº 59, 1987.
SEIBEL, I. A Educação cooperativista e sua implantação na Unimed VTRP. Cadernos
Cedope. Série Cooperativismo e Desenvolvimento Rural e Urbano, ano 11, no. 18, 2000.
SERQUEIROS, L. Educar para a solidariedade: projeto didático para uma nova cultura
de relação entre os povos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
SERT - Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho - Manual de cooperativismo de
trabalho, São Paulo: SERT, 1999.
SESCOOP. <http:///www.oceal.org.br.sescopal> acesso em 20 abril 2000.
SINGER, P. Cooperativas são empresas socialistas. Publicação UNITRABALHO (Rede
Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho), Ano 3 - nº 10, p. 11, jan., 2000.
__________. P. Globalização e desemprego. São Paulo: Contexto, 1998.
__________; S. A. R.de. A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao
desemprego. São Paulo: Contexto, 2000.
SOETHE, J. R. Educação Popular: Concepções Históricas, Construção de Paradigmas e
Teoria – Prática. CADERNOS CEDOPE. Série Movimentos Sociais e Cultura, no. III –9,
ano 1993.
TEDESCO, J. C. Economia solidária e reestruturação produtiva (sobre)vivências no
mundo do trabalho atual. Texto: cap. 1 Economia Solidária: novos processos e novas
racionalidades no campo socieconômico. Passo Fundo: UPF Editora, 2001.
TESCH, W. Cooperativismo de trabalho: alternativa ao desemprego. São Paulo: Estudos e
Pesquisas IPROS, 1995.
________Panorama mundial e tendências do trabalho associado em cooperativas - o
desafio da geração de trabalho e renda - texto de apoio para o seminário: cooperativismo
popular e o futuro do trabalho. Pinhão: 2000.
________Dicionário Básico do Cooperativismo. Walter Tesch. São Paulo: 2000.
THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 1985.
135
VAINER, C. O presente de um futuro possível, in: GUIMARÃES, Gonçalves.
Sindicalismo & cooperativismo - a economia solidária em debate. São Paulo:
UNITRABALHO, 2000.
YIN, R. K. Case Study research: design and methods. Applied social research methods
series; v. 5 California: SAGE Publications, 1984.
136
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ALVES, C. C.; et al. Construção coletiva do saber. São Leopoldo: UNISINOS/CEDOPE,
Série: organização e movimentos sociais, nº III-2, 1990.
ANILLO, Z. B. Análise e propostas de encaminhamento para a organização e capacitação do
sistema cooperativo UNIMED: caso de Santa Maria – RS. In: O Cooperativismo e as
mudanças no mundo do trabalho. São Leopoldo, CADERNOS CEDOPE, série
Cooperativismo e desenvolvimento rural e urbano, ano 8, nº 14, 1996.
BASTIANI, I. C. R. Estrutura e custo de capital: um estudo sobre a realidade das cooperativas
agropecuárias do Paraná. CADERNO DE ADMINISTRAÇÃO. Universidade Estadual de
Maringá. Vol. 9, nº 1 - jan./jun. 2001.
BOUDIEU, Pierre. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989.
BULGARELLI, W. Direito cooperativo, um ensaio de autonomia. São Paulo: Atlas, 1967.
BRITO, M; PEREIRA, P. Em defesa de uma racionalidade alternativa. Tempo e Presença.
n.288, p. 21-22, 1996.
CAMAROTTI, I.; SPINK, P. Parcerias e pobreza: soluções locais na construção de relações
sócio-econômicas. Rio de Janeiro: FGV, 2000.
CARELLO, L. A.; PINHO, D. B. Cooperativismo Y desarrollo. Buenos Aires – República
Argentina: INTERCOOP, 1979.
CHOMSKY, N., et al. A sociedade global: educação, mercado e democracia. Tradução de
Jorge Esteves da Silva. Blumenau: Ed. Da FURB, 1999.
CATTANI, A. D. Trabalho e autonomia. Petrópolis: Editora Vozes, 2000.
__________Trabalho e tecnologia: um dicionário crítico. Petrópolis: Vozes, EdURFGS,
1997.
DAL RI, N. M., et al. Economia Solidária: o desafio da democratização das relações de
trabalho. São Paulo: Arte & Ciência, 1999.
__________GALVÃO, Marisa Nunes. Cooperação e solidariedade nas relações de
trabalho. Capítulo 5. P. 115-129.
DE MASI, D. O futuro do trabalho: fadiga e ócio na sociedade pós-industrial. Rio de
Janeiro, RJ:José Olympio; Brasília: Ed. da UnB, 1999.
DUBY, G. E PERROT, M. História das mulheres, o século XIX. Afrontamento, Porto,
1991.
137
ENGELS, F. Do socialismo utópico ao socialismo científico. 6ª. ed. São Paulo: Global,
1984.
FISCHER, M.C.B. Relações entre trabalho, cultura e educação básica ( Programa Integrar
e Coopservi). II Encontro de Estudos sobre o Mundo do Trabalho. UNITRABALHO. São
Leopoldo: 2001.
GAIGER, L. I. Teoria e método de análise de conjuntura. São Leopoldo:
UNISINOS/CEDOPE, Série: Organização e Movimentos Sociais, nº III-8, 1992.
__________ L. I. (org.). A economia solidária no RS: viabilidade e perspectivas. São
Leopoldo: UNISINOS/CEDOPE, Série: Movimentos Sociais e Cultura, ano 10, nº 15, 1999.
HAMEL, G.; PRAHALAD, C. K., Competindo pelo futuro - estratégias inovadoras para
obter o controle do seu setor e criar os mercados de amanhã. Rio de Janeiro: Campus, 1995.
HARDINGHAM, A. Trabalho em equipe. São Paulo: Nobel, 2000.
HARPER, M. Una Cooperativa de trabajadores: formación y gestión. MATCOM.
Copuright © Organização Internacional do Trabalho, 1988.
LISBOA, A. Desordem do trabalho, economia popular e exclusão social. (on line)
Disponível via correio eletrônico: [email protected].
LOPES, M. I. de S. Tempo de trabalho, tempo livre e organização social. IV Encontro
Regional Sul da Rede UNITRABALHO. Blumenau: FURB, 2000.
LOUIS, R. Las mujeres y el movimiento cooperativo, in: Informaciones cooperativas.
Ginebra, OIT, Año 48, 2 (1972), p. 11-24.
MARQUES, M. O. Comunicação e educação cooperativista no Brasil. In: Perspectiva
Econômica, Cooperativismo 6, São Leopoldo: UNISINOS, 27 (1980), p. 35-50.
MELO, R. S. Cooperativas de Trabalho. Publicada na ST nº 94 - (ABR/97:138)
MINTZBERG, H.; AHLSRAND, B.; LAMPEL, J. Safari de estratégia: um roteiro pela
selva do planejamento estratégico. Porto Alegre: Bookman, 2000.
MOURA, V. Temática Rochdaleana. Rio de Janeiro: Cooperativa Cultural dos
Esperantistas, 1964.
__________Democracia econômica – introdução à economia cooperativa. São Paulo: Cia
Edit. Nacional, 1942.
NASCIMENTO, E. Hipóteses sobre a nova exclusão social: dos excluídos necessários aos
excluídos desnecessários. In: XVII Encontro Anual da ANPOCS. Caxambu, 1994.
Normas para apresentações de trabalhos acadêmicos. Inácio Helfer. 4ª ed. Santa Cruz do
Sul: EDUNISC, 1999.
138
OLIVEIRA, C.C. Avaliação da eficiência empresarial das cooperativas. Curitiba, PR:
OCEPAR, 1991.
OLSON, M. A lógica da ação coletiva: os benefícios públicos e uma teoria dos grupos
sociais. Tradução Fabio Fernandes. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1999.
PEREIRA, M. I. Cooperativas de trabalho: o impacto no setor de serviços. 1º ed., São
Paulo: Guazzelli Ltda, 1999.
PNUD (1992) Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo. Informe sobre el
desarollo humano. En El abismo de la desigualdad. Cuadernos Cristianismo y Justicia. nº
50.
PERIUS, V. Cooperativas de Trabalho - Manual de Organização. Perspectiva Econômica
97, Série Cooperativismo Nº 41. São Leopoldo: UNISINOS, 1997.
__________Anotações sobre o direito cooperativo brasileiro. In: Perspectiva Econômica
Cooperativismo 3, São Leopoldo: UNISINOS, 20 (1979), p. 43-77.
PINHO, D. B. Economia e cooperativismo. São Paulo: Saraiva, 1977.
__________Universidade, gênero e cooperativas: OCB debatendo grandes temas do século
XXI. Brasília: SESCOOP, 2000.
__________Gênero e desenvolvimento em cooperativas: compartilhando igualdades e
responsabilidades. ESETec; Brasília: SESCOOP, 2000.
QUEIROZ, M. A. de. A questão rural e os desacertos da educação: o caso de Ceará
Mirim. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1984. 157 p. (Dissertação, Mestrado)
.
__________ M. A. de. Desacertos da educação - o professor e o ensino rural. Educação e
Sociedade, São Paulo. vol.7, n.20, p.46-74, abr. 1985.
__________ Z. F. de. A escola rural e a questão do saber: do saber universal ao saber
construído pelo homem do campo. Caxambu : ANPED, 1992. 20p.
ROCHA, E. E. R. O Cooperativismo Agrícola em Transição: dilema e perspectivas.
Campinas: 1999. (tese de doutorado)
SCHNEIDER, J. O. A cooperação para as organizações populares. São Leopoldo: Cadernos
CEDOPE, série Cooperativismo e Desenvolvimento Rural e Urbano, nº XII – 6, 1994.
__________, LAUSCNER, R. Evolução e situação atual do cooperativismo no Brasil. In:
Perspectiva Econômica – Cooperativismo 5, São Leopoldo: UNISINOS, 24 (1980) p. 7-97.
TENÓRIO, F. G, et al. Gestão social: metodologia e casos. 1º ed., Rio de Janeiro: FGV,
1998.
139
USE. Cooperativas de Trabalho: serviço de orientação aos cooperados.
<http://www.use.org.br> acesso em 10 maio de 2000.
VV.AA. (1993) La Educación para el Desarrollo. El Norte y el Sur en la Escuela. Cuadernos
de Pedagogía. 215 coordenada pela INTERMÓN.
YUNUS, M. O banqueiro dos pobres. São Paulo: Editora Ática, 2000.
ZANETTI, L., et al. No caminho da organização. 2ª ed. Botafogo: Eletrônica Knowsense
Comunicação, FASE/SAAP.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo