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construção desses edifícios seguiu inicialmente a técnica da junta seca, e em seguida a da
junção com barro e cal, observadas nos vestígios dos muros e paredes da igreja de N. S. do Ó
da Missão de Sorobabel, onde essa evolução das técnicas de construção pôde ser observada,
constatando-se que estruturas de alvenaria haviam substituído toscas construções iniciais. A
técnica de junção com barro e cal também foi aplicada em N. S. da Assunção e aparentemente
nos outros dois templos ainda de pé.
4.4. Os indígenas do Sertão dos Rodelas e outros sertões.
Em seu estudo etnográfico entre os remanescentes indígenas do Nordeste,
Hohenthal conseguiu resumir em algumas páginas as informações coligidas sobre o passado
desses povos e outras que obteve em trabalho de campo naquela ocasião. Tentando identificar
as tribos sanfranciscanas, descobriu suas localizações e denominações (Hohenthal 1960:43-
60), às quais, neste trabalho, foram acrescentadas as diversas grafias com que estão
registradas em documentos e publicações. Os lingüistas do século XVI, Fernão de Oliveira e
João de Barros, sistematizadores da língua portuguesa na primeira metade desse século, não
poderiam prever o registro de termos indígenas, muito menos que o Governo lidaria com
documentos em que esses termos seriam grafados de acordo com as regras ortográficas de
outros idiomas. A confusão ortográfica em torno dos gentílicos nativos, conforme se pode
observar nos documentos da época, contribuiu sobremaneira para a multiplicação dos
etnônimos, além do próprio costume indígena de mudar ritualmente a designação tribal
1
.
Devido às dificuldades com que se depararam etnólogos e lingüistas ao tentar
identificar essas populações, os grupos relacionados a seguir sob os mais diversos etnônimos
coligidos, são referidos alguns sem nenhuma identificação de etnia, outros com filiação étnica
duvidosa, e ainda outros relacionados a mais de uma origem étnica.
Abacatiara, Abacatuara, Obacatiara ou Dzubucua-Carirí.
Tapuias cariris, residiam nas ilhas de Pambu ou Gambu, Oacará, Cavalo, em 1702, e em
Arapuá (Irapuá ou Iraquiá) e Inhamum ou Unhunhu, em 1746. Na aldeia de S. Félix, na ilha
da Missão ou do Cavalo, foram identificados como Tuxá. Loukotka (apud Hohenthal 1960)
identificou-os como os nativos missionados em Canabrava e Natuba. Em 1898 estavam
assentados entre Belo Monte e Pão de Açúcar, em Alagoas, na ilha de S. Pedro Dias, cujo
nome é uma homenagem a um missionário jesuíta nascido na região, conforme referência
anterior.
Acaroás, Aroás, Acaroázes, Acoroás Acoranes, Acroás, Caraús, Craús, Kharaôs, Khraôs e
Mocoás, Mocoázes, Mocoares, Ocrens (?).
Os acroás diziam pertencer ao grupo Jê, significando a partícula gê, “pai”, “chefe” e cran,
“filho”. Pompeu Sobrinho (1931) afirma que “sub-famílias” Jê denominavam-se Krã, que
significava cabeça, do se infere que crã também deve significar “o pai”, “o cabeça”. Desse
grupo faziam parte os Apinajé, Aponegikrã, Kraô, Makamekrã, Chavante, Cherente, Akoan,
Chikriabá, Akroá, Kaiapó do sul, centro e norte e Canella, estes abrangendo Timbira,
Merrime e outros. No fim do século XVII, acroás, mocoazes e rodeleiros viviam em
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O levantamento dos grupos tribais constantes nesse trabalho teve por base as informações obtidas em diversos autores :
Martius, O. Medeiros Filho (1984), O. Nunes (1972
a,b,c, 1981), Pereira da Costa (1974;1983a,b,c), Lowie (1946), J. G.
Baptista (1994), Estêvão Pinto (1935,1938,1952,1958b), A.Sampaio-Silva (1978,1984,1997), A.Ferraz (1957), B. Góes
Dantas (1973,1976,1980a,b,1987), Carlos Estêvão (1943), F. Bezerra (1950), M. Melo ([1929]), Nássaro Nasser (1974), E.
Cabral (1974), Nimuendajú (1987b), Hoornaert (1994), S. Porto Alegre (1992), C. Studart Filho (1931, 1945,1963), Th.
Pompeu Sobrinho (in Instituto do Ceará 1967, 1931), Câmara Cascudo (1984). Além dos grupos sanfranciscanos, constam os
da bacia do Parnaíba e os da Ibiapaba (ou do sertão dos Rodelas), os do Araripe e os das bacias do nordeste oriental entre a
Paraíba e o Ceará.