muito mais o viver ignóbil e não vingar os amigos, disse: Morra eu
imediatamente depois de ter punido o culpado, para que não permaneça
aqui como objeto de riso, junto das minhas naus recurvas inútil
fardo da terra. Crês que tenha feito caso dos perigos e da morte?
Porque em verdade assim é, cidadãos atenienses: onde quer que
alguém tenha colocado, reputando o melhor posto, ou se for ali
colocado pelo comandante, tem necessidade, a meu ver, de ir firme ao
encontro dos perigos, sem se importar com a morte ou com coisa
alguma, a não ser com as torpezas.
XVI
Gravíssimo erro deveria considerar, cidadãos atenienses, quando os
comandantes, por vós eleitos para me dirigirem, me assinalaram um
posto em Potidéia, em Anfípolo, em Délio, não ter ficado eu onde me
colocaram como qualquer outro e correndo perigo de morte. Quando,
pois, o deus me ordenava, como penso e estou convencido, que eu
devia viver filosofando e examinando a mim mesmo e aos outros,
então eu, se temendo a morte ou qualquer outra coisa, tivesse
abandonado o meu posto, isso seria deveram intolerável. Nesse caso,
com razão, alguém poderia conduzir-me ao tribunal, e acusar-me de
não acreditar na existência dos deuses, desobedecendo ao oráculo, e
temendo a morte, e reputando-me sábio sem o ser.
Pois que, ó cidadãos, o temer a morte não é outra coisa que parecer ter
sabedoria, não tendo. É de fato parecer saber o que não se sabe.
Ninguém sabe, na verdade, se por acaso a morte não é o maior de todos
os bens para o homem, e entretanto todos a temem, como se
soubessem, com certeza, que é o maior dos males. E o que é senão
ignorância, de todas a mais reprovável, acreditar saber aquilo que não
se sabe? Eu, por mim, ó cidadãos, talvez nisso seja diferente da maior
parte dos homens, eu diria isto: não sabendo bastante das coisas do
Hades, delas não fugirei. Mas fazer injustiça, desobedecer a quem é
melhor e sabe mais do que nós, seja deus, seja homem. isso é que é mal
e vergonha. Não temerei nem fugirei das coisas que não sei se, por
acaso, são boas ou más. Anito disse que, ou não se devia, desde o
princípio, trazer-me aqui, ou, uma vez que me trouxeram não é
possível deixarem de me condenar à morte, afirmando que, se eu me
salvasse, imediatamente os vossos filhos, seguindo os ensinamentos de