deserta, duplamente isolada, duplamente inútil? Que
lembrança vai deixar? Que bem terá praticado? Não,
Margarida, a vida é feita de necessidades cruéis. A senhora
e meu filho têm pela frente, dois caminhos diversos, que o
acaso reuniu por um momento, mas que a razão separa para
sempre. Quando, por livre vontade escolheu a vida que hoje
leva, não previu o que podia acontecer. Foi feliz três meses,
não manche uma felicidade, que já não pode durar guarde
apenas no coração a sua lembrança. Que esta lhe dê forças, é
tudo o que tem direito de pedir. É duro o que estou pedindo,
é cruel o que exijo, mas a estima em que a tenho é que me
Obriga a falar assim. Quero dever ao seu bom senso, ao seu
coração, ao seu amor por meu filho, o sacrifício que podia
ter pedido à força e à lei. Um dia ainda vai se orgulhar do
que fez e a vida inteira terá o respeito de si própria. É um
homem que conhece a vida quem lhe fala. É um pai quem
lhe implora. Vamos, Margarida! Vamos, minha filha, prove
que gosta de meu filho, coragem!
MARGARIDA (Consigo mesma). Então, por mais que se esforce, a criatura
caída, jamais se levanta? Deus talvez lhe perdoe, a
sociedade, nunca! De fato, com que direito irá ocupar no
seio da família, um lugar reservado à virtude? Que importa
se está apaixonada! Pode dar a prova que quiser dessa
paixão, ninguém acredita, e é muito justo. Por que, coração,
por que futuro? Que quer dizer com essas palavras? Olhe
um pouco a lama do passado! Que homem lhe chamaria
esposa, que criança lhe chamaria mãe? O Sr. tem razão:
quantas vezes, cheia de terror, eu me dizia tudo o que acabo
de ouvir! Mas como falava comigo mesma não me escutava
até o fim... Agora vejo que era verdade, porque é o senhor
quem me está dizendo! É preciso obedecer. Falou em nome
de seu filho, em nome de sua filha foi muita generosidade
invocar esses nomes. Pois bem... um dia o senhor dirá à essa
moça, tão linda e tão pura pois é a ela que estou
sacrificando a minha felicidade, o senhor dirá a essa
moça que havia uma vez, em algum lugar, uma mulher que
só tinha uma esperança, um pensamento, uma alegria, que à
invocação do seu nome renunciou a tudo e esmagou o
coração com as próprias mãos até morrer. Porque eu vou
morrer talvez então, Deus me perdoe.
DUVAL Pobre moça!
MARGARIDA O senhor está chorando, está pouco. pena de mim! Obrigada