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Universidade Federal do Rio de Janeiro
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Avenida Central:
Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Sandra Zagari-Cardoso
2008.
ads:
Universidade Federal do Rio de Janeiro
iii
Avenida Central:
Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Sandra Zagari-Cardoso
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Mestre em Ciências em Arquitetura, área de
concentração em Gestão de Espaços Preservados.
Orientador : Rosina Trevisan M. Ribeiro
Rio de Janeiro
Março de 2008.
Universidade Federal do Rio de Janeiro
iv
Avenida Central:
Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Sandra Zagari-Cardoso
Orientador: Rosina Trevisan M. Ribeiro
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura, Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências da Arquitetura, área de
concentração em Gestão de Espaços Preservados.
Aprovada por:
______________________________________________
Prof. Dra. Rosina Trevisan M. Ribeiro – Orientador
_________________________________________
Prof. Dr. Nelson Pôrto Ribeiro
_________________________________________
Prof. Dra. Claudia Carvalho Leme Nobrega
_________________________________________
Prof. Dr.Gustavo Rocha Peixoto
Rio de Janeiro
Março de 2008.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Sandra Zagari-Cardoso
v
Zagari-Cardoso, Sandra
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX / Sandra Zagari-
Cardoso. - Ro de Janeiro: UFRJ / FAU, 2008.
vi, 208f.: 29,7 cm.
Orientador: Rosina Trevisan M. Ribeiro
Dissertação (mestrado) UFRJ/ PROARQ/ Programa de Pós-graduação em
Arquitetura, 2008.
Referências Bibliográficas: f.
1. História da Arquitetura. 2. Rio de Janeiro. 3. Ecletismo. 4. Avenida Central
5. Avenida Rio Branco. I. Ribeiro, Rosina Trevisan M. II. Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-graduação em
Arquitetura. III. Título.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
vi
RESUMO
Avenida Central:
Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Sandra Zagari-Cardoso
Orientador: Rosina Trevisan M. Ribeiro
O início do governo republicano no Brasil foi sinônimo de mudanças estruturais. As intervenções
planejadas pelos poderes federal e municipal para o Rio de Janeiro visaram, sobretudo,
transformar a capital federal na vitrine da nação brasileira, modernizando–a, a fim de engajar o
país na nova ordem econômica mundial.
A cidade apresentava sérios problemas de saneamento público, desde o século XIX, que exigiam
solução imediata. Das inúmeras intervenções empreendidas então, as duas mais importantes
foram a construção de um porto moderno e a abertura de uma nova artéria, cortando o centro da
cidade tradicional a Avenida Central, destinada a abrigar o centro de negócios da cidade e
diversos edifícios representativos.
Os prédios a serem construídos na nova Avenida iriam seguir o estilo de arquitetura internacional
da época, oriundo da Academia Francesa. Seriam dotados de todas as facilidades que a era
moderna disponibilizara para população, tais como: energia elétrica, luz artificial, instalações
sanitárias, telefones e instalações mecânicas, além da aplicação de novos sistemas estruturais
com aço e cimento portland.
Este trabalho tem por finalidade abordar o modelo de urbanização adotado para a Avenida e o
levantamento e análise de algumas das tecnologias aplicadas no início do século XX e a sua
relação com a arquitetura então produzida. Isto será feito a partir da pesquisa iconográfica e
documental dos projetos de arquitetura dos prédios edificados na Avenida Central, na década de
1900.
Rio de Janeiro, Março de 2008.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Sandra Zagari-Cardoso
vii
ABSTRACT
Central Avenue:
Architecture and Technology in the beginning of 20 th. Century
Sandra Zagari-Cardoso
Adviser: Rosina Trevisan M. Ribeiro
The beginning of republican government in Brazil was synonym of structural changes. The
interventions planned by federal and urban Powers for the city of Rio de Janeiro aimed, above all,
turning the capital to the brazilian nation’s showcase, modernizing it, with the purpose of
introducing the country to the world’s new economic order.
The city presented since the 19 th. century serious problems of public sanitation, that demanded
immediate solution. Among the countless interventions then put into action, the two ones most
important were the construction of a new modern port and the opening of a new artery, crossing
Old Downtown the Central Avenue, designed to shelter the city business center and several
representative buildings.
The buildings to be constructed in the new Avenue should follow the international architecture new
style of those times, comming from the French Academy. They should be endowed with all the
facilities that the modern era had provided to the population, such as: electric energy, artificial
lightning, sanitary installations, telephones e and mechanical installations, as well as the adoption
of new structural systems using steel and Portland cement.
The purpose of this work is addressing the urbanization model adopted for the avenue as well as
the survey and analysis of some of the technologies applied in the beginning of the 20 th Century
with their relation to the architecture then produced. This will be done from the documental and
iconographical research in the architectural projects to be buildings built in the Avenue in the
decade of 1900.
Rio de Janeiro, march 2008.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Sandra Zagari-Cardoso
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À minha Mãe, que me levava, ainda grávida, ao
prédio da Biblioteca Nacional, onde trabalhava.
À Memória do meu Pai e da minha Tia, que me ensinaram a
observar e a gostar de Arquitetura, de Arte e do Rio de Janeiro.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Sandra Zagari-Cardoso
ix
Agradecimentos
Agradeço a minha Mãe, que me apóia em todos os dias de minha vida e com quem aprendo o
segredo de melhor viver, mantendo o bom humor.
À querida arquiteta Dina Lerner, com quem tive o prazer de trabalhar e que me incentivou no
estudo e na pesquisa de patrimônio e da história da arquitetura, desde a minha graduação.
À minha orientadora, Rosina Trevisan, sempre pronta a ajudar e a corrigir os rumos desse
trabalho.
À todos os professores do corpo docente do Proarq, pelos seus ensinamentos e, principalmente,
pelas reflexões sobre arquitetura.
Aos meus colegas de curso, companheiros de pensamentos, objetivos e também de boas
conversas.
A Luiz Antonio Lopes, meu amigo de tanto tempo, que percorreu esse caminho e me
acompanhou nestes dois anos do curso.
Ao engenheiro Geraldo Filizola, que me auxiliou na definição dos esquemas estruturais das
edificações pesquisadas.
Aos funcionários da Cartografia do Arquivo Nacional, das seções de Iconografia e de Manuscritos
da Biblioteca Nacional e do Arquivo do Museu da República, que auxiliaram na elaboração dessa
pesquisa com o seu conhecimento sobre os acervos das instituições e viabilizaram as
reproduções fotográficas, essenciais para as análises elaboradas.
A todos os meus ,0amigos que contribuíram para a minha formação pessoal e profissional, com
os quais eu aprendi muito e continuo aprendendo todos os dias.
Sandra Zagari-Cardoso.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Sandra Zagari-Cardoso
x
SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................. 17
Capítulo 1: O Rio de Janeiro e a Abertura da Avenida Central ...................... 23
1.1. Antecedentes Históricos .......................................................................... 25
1.2. O Modelo de Urbanização Adotado na Avenida Central ........................ 28
1.3. A Implantação da Avenida Central ......................................................... 35
1.4. As obras para implantação da Avenida .................................................. 37
1.5. Os Terrenos ao Longo da Avenida ......................................................... 41
1.6. Os Concursos de Fachadas e de Projetos .............................................. 43
Capítulo 2: Os Projetos e os Arquitetos dos Prédios da Avenida Central ... 49
2.1. Método de Análise e de Classificação dos Aspectos Observados nas
Edificações Analisadas ............................................................................. 49
2.2. Legislação a que Estavam Sujeitas as Construções a Serem Edificadas
na Avenida Central ............................................................................................... 53
2.2.1. “Regras geraes a que ficam sujeitas as construcções na Avenida
Central e a que se refere o Aviso n.368 de 7 de Maio de 1904”.... 53
2.2.2. Decreto Municipal nº. 391, de 10 de Fevereiro de 1903. ............. 61
2.3. Arquitetos Autores dos Projetos .............................................................. 64
2.3.1. Adolfo Morales de los Rios ......................................................... 64
2.3.2. Antonio Jannuzzi, Irmão & Cº. …………………..…...................… 69
2.3.3. Raphael Rebecchi ....................................................................... 77
2.3.4. Heitor de Mello ............................................................................. 80
2.3.5. René Barba .................................................................................. 80
2.3.6. General Francisco Marcelino de Souza Aguiar ............................ 82
Capítulo 3: Tecnologias Encontradas nos Prédios da Avenida Central:
Apresentação e Análise ............................................................... 84
3.1. Categorias Adotadas para a Análise das Tecnologias ............................ 86
3.2. Sistemas Estruturais ................................................................................ 87
3.2.1. Sistema Estrutural Misto .............................................................. 89
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Sandra Zagari-Cardoso
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3.2.1.1. O Teatro Municipal........................................................... 95
3.2.1.2. Colunas de ferro fundido aparentes ............................... 96
3.2.1.3. Perfis metálicos não aparentes .................................... 101
3.2.2. Sistema Estrutural Metálico, composto por vigas e pilares em
perfis metálicos e lajes de piso em cimento armado .................. 107
3.3. Instalações Hidrossanitárias ................................................................... 126
3.4. Instalações Mecânicas ........................................................................... 136
3.4.1. Elevadores, monta-cargas e monta-livros elétricos .................... 136
3.4.2. Ventilação e Refrigeração do Ar ................................................. 141
3.4.3. Demais Instalações Mecânicas .................................................. 146
3.5. Instalações Elétricas e de Iluminação .................................................... 150
3.5.1. Biblioteca Nacional e Teatro Municipal ....................................... 154
3.6. Conclusão do Capítulo ........................................................................... 159
Considerações Finais ...............................................................................161
Referências Bibliográficas ...................................................................... 165
Anexos:
Anexo I - Quadro com os números dos lotes, proprietários, arquitetos e construtores de todos os
prédios da Avenida Central ........................................................................................ 174
Anexo II - Análise dos Projetos dos Prédios Originais da Avenida Central 1904 a 1906. Quadro
Resumo das Tecnologias Analisadas ........................................................................ 177
Anexo III - Análise dos Projetos dos Prédios Originais da Avenida Central 1904a 1906 - Quadro
Resumo dos Dados por Gabarito dos Projetos ......................................................... 183
Anexo IV – Comissão Construtora da Avenida Central .............................................................. 185
Anexo V Justificação e Orçamento. Especificações (para construção do edifício da Biblioteca
Nacional) .................................................................................................................. 189
Lista de Ilustrações:
Ilustração 1 Fotografia da Avenida Central, sem data, de autoria de Augusto Malta. Acervo do
Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. .........................................................17
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
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Ilustração 2 “Prova negativa de uma scena positiva na futura avenida”. Revista O Malho, 23 de
abril de 1904................................................................................................................................... 24
Ilustração 3– Caricatura publicada na revista O Malho, em 28 de maio de 1904. ....................... 30
Ilustração 4 Esquina das ruas 7 de Setembro e Ourives, no trecho que desapareceu com a
abertura da Avenida Central. Fotografia de Augusto Malta............................................................ 33
Ilustração 5 – Detalhe de mapa de Carlos Aenishänslin, 1910. Fonte: FERREZ, 1982.............. 36
Ilustração 6 – Caricatura publicada na Gazeta de Noticias (6 mar. 1904) ................................... 38
Ilustração 7 – Avenida Central, vista para o sul, cerca de 1904................................................... 39
Ilustração 8 – Vista para o sul,1906. (FERREZ, 1982. p. 50)....................................................... 40
Ilustração 9 – Vista para o sul, 1910 (FERREZ, 1982.p. 31)........................................................ 40
Ilustração 10 “PROJECTO DA AVENIDA CENTRAL E OBRAS COMPLEMENTARES” Fonte:
FERREZ, 1982................................................................................................................................ 42
Ilustração 11 – Prédio de nº. 18, projeto de Christovão dos Santos............................................. 42
Ilustração 12 – Raphael Rebecchi, projeto contemplado com o prêmio do concurso de
fachadas. (Revista O MALHO, 2 abr. 1904. Apud BRENNA, 1984, p.141).................................... 44
Ilustração 13 Morales de los Rios, contemplado com o prêmio do concurso de fachadas.
(Revista RENASCENÇA, jun.1904. Apud BRENNA, 1984, p.142)..................... 45
Ilustração 14 – T Driendl e M.E. Hehl, contemplados com o 3º prêmio do concurso de fachadas.
(Revista RENASCENÇA, jun.1904. Apud BRENNA, 1984. p. 143).................... 45
Ilustração 15 – Projeto denominado “Aquilla”, Teatro Municipal................................................... 47
Ilustração 16 – Projeto denominado “Isadora”, Teatro Municipal.................................................. 47
Ilustração 17 – Fachada principal do Teatro Municipal (FERREZ, 1982, p. 186)......................... 48
Ilustração18 Envelope original de entrega dos projetos para aprovação pela Comissão
Construtora da Avenida Central (Arquivo Nacional)............................................. 51
Ilustração 19 Marcação em vermelho dos projetos analisados, base: “PLANTA DA AVENIDA
CENTRAL E OBRAS COMPLEMENTARES”. Fonte: FERREZ, 1982 ................ 52
Ilustração 20 Fotografia da fachada do prédio 129 a 131; projeto e construção de Heitor de
Mello (FERREZ, 1982, p. 95).............................................................................. 55
Ilustração 21 – Plantas baixas do prédio 129 a 131 (Arquivo Nacional)....................................... 55
Ilustração 22 – Plantas baixas do prédio nº181 - Frente (Arquivo Nacional)................................ 56
Ilustração 23 – Plantas baixas do prédio nº181 - Fundos (Arquivo Nacional).............................. 57
Ilustração 24 – Plantas baixas do prédio nº 99/101 (Arquivo Nacional)....................................... 58
Ilustração 25 – Plantas baixas do prédio nº 155 a 159 (Arquivo Nacional).................................. 60
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
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Ilustração 26 – Plantas baixas do prédio nº 125 (Arquivo Nacional)............................................. 67
Ilustração 27 – Corte transversal à Avenida, do projeto do nº. 125 (Arquivo Nacional)........ 68
Ilustração 28 – Corte longitudinal à Avenida, do projeto do nº. 125 (Arquivo Nacional)........ 68
Ilustração 29 – Planta baixa nº. 185 a 191 (Arquivo Nacional)..................................................... 71
Ilustração 30 – Corte no bloco do teatro do prédio nº. 185 a 191 (Arquivo Nacional).................. 72
Ilustração 31 – Corte no bloco do hotel do prédio nº. 185 a 191 (Arquivo Nacional).................... 73
Ilustração 32 – Planta baixa 1º pavimento do prédio nº 117 a 123 (Arquivo Nacional)................ 74
Ilustração 33 – Planta baixa 2º pavimento do prédio nº 117 a 123 (Arquivo Nacional)................ 75
Ilustração 34 – Corte do prédio nº 117 a 123 (Arquivo Nacional)..................................................76
Ilustração 35 – Planta baixa do 1º e 2º pavimentos do prédio nº 247 (Arquivo Nacional)............ 78
Ilustração 36 – Corte longitudinal do prédio nº 247 (Arquivo Nacional)........................................ 79
Ilustração 37 Carimbo do arquiteto René Barba, existente nas pranchas do projeto do edifício
88 a 94 da Avenida (Arquivo Nacional)............................................................... 81
Ilustração 38 – Placa comemorativa da inauguração do prédio da Biblioteca Nacional, em bronze,
existente no foyer da Biblioteca Nacional............................................................. 83
Ilustração 39 Detalhe da prancha da Planta do porão do prédio da Biblioteca Nacional (seção
de Iconografia da Biblioteca Nacional).................................................................. 83
Ilustração 40 “Maquinismos e Mecanismos instalados no Teatro Municipal” (Museu da
República)............................................................................................................. 85
Ilustração 41–Fotografia do desmoronamento do prédio em construção destinado à sede do Club
de Engenharia, 124/126 da Avenida Central Augusto Malta, Arquivo geral da
Cidade do Rio de Janeiro...................................................................................... 92
Ilustração 42 – Plantas baixas do prédio 111 a 115 (Arquivo Nacional)....................................... 97
Ilustração 43 – Corte longitudinal e transversal do projeto do prédio 111 a 115 (Arq. Nacional)..98
Ilustração 44 – Plantas baixas do prédio nº 96 a 100 (Arquivo Nacional).................................... 99
Ilustração 45 – Corte longitudinal do prédio nº 96 a 100 (Arquivo Nacional) ............................. 100
Ilustração 46 – Corte transversal do prédio nº 44 a 48 (Arquivo Nacional)................................. 103
Ilustração 47 – Corte longitudinal do prédio nº 44 a 48 (Arquivo Nacional)................................ 104
Ilustração 48 – Cortes do projeto do prédio de nº 177 (Arquivo Nacional)................................. 105
Ilustração 49 – Corte Transversal do nº 107-109 (Arquivo Nacional)......................................... 106
Ilustração 50 – Detalhe do Quadro dos Blocos das Colunas contido na Planta do Porão do prédio
da Biblioteca Nacional (sem data, Seção de Iconografia – FBN)....................... 110
Ilustração 51 Detalhe da execução da alvenaria da fachada da Biblioteca Nacional (Seção de
Iconografia – FBN).............................................................................................. 111
Ilustração 52 Detalhe de uma coluna metálica da Biblioteca Nacional (Seção de Iconografia
FBN).....................................................................................................................112
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
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Ilustração 53 Fotografia do telhado (Álbum da Construção, sem data, cerca de 1906/1907.
Seção de Iconografia – FBN)...............................................................................113
Ilustração 54 Fotografia da execução do piso de um pavimento (Álbum da Construção, sem
data, cerca de 1906/1907. Seção de Iconografia – FBN)....................................115
Ilustração 55 Fotografia de vista interna (Álbum da Construção, sem data, cerca de 1906/1907.
Seção de Iconografia – FBN)...............................................................................115
Ilustração 56 Desenho esquemático representando o sistema estrutural aplicado no prédio da
Biblioteca Nacional (desenho da autora) ............................................................116
Ilustração 57 Desenho esquemático representando a estrutura e os acabamentos superior e
inferior das lajes de piso do prédio da Biblioteca Nacional (desenho da autora).117
Ilustração 58 – Planta do Porão do prédio da Biblioteca Nacional (s/ data, Seção de Iconografia
FBN)................................................................................................................... 118
Ilustração 59 – Planta do Porão do prédio da Biblioteca Nacional (s/ data, Seção de Iconografia
FBN)................................................................................................................... 119
Ilustração 60 – Planta do 1º andar do prédio da Biblioteca Nacional (s/ data, Seção de Iconografia
FBN)................................................................................................................... 120
Ilustração 61 – Detalhe contido na planta do Porão do prédio da Biblioteca Nacional (s/ data,
Seção de Iconografia – FBN).............................................................................. 121
Ilustração 62 – Detalhe contido na planta do Porão do prédio da Biblioteca Nacional (s/ data,
Seção de Iconografia – FBN).............................................................................. 121
Ilustração 63–Corte Transversal da Biblioteca Nacional (sem data, Seção de Iconografia –
FBN).................................................................................................................... 122
Ilustração 64 Estrutura metálica Biblioteca Nacional em meio a sua montagem (Álbum da
Construção, sem data, cerca de 1906/1907. Seção de Iconografia – FBN)....... 123
Ilustração 65 Estrutura metálica Biblioteca Nacional em meio a sua montagem (Álbum da
Construção, sem data, cerca de 1906/1907. Seção de Iconografia – FBN)....... 124
Ilustração 66 Vista da fachada da Avenida com a rua Araújo Porto Alegre (Álbum da
Construção, sem data, cerca de 1906/1907. Seção de Iconografia – FBN)....... 125
Ilustração 67 Vista da fachada da Avenida com a rua Araújo Porto Alegre (Álbum da
Construção, sem data, cerca de 1906/1907. Seção de Iconografia – FBN)....... 125
Ilustração 68 – Planta do 2º pavimento do prédio de nº 18 (Arquivo Nacional).......................... 127
Ilustração 69 – Planta do 2º pavimento do prédio nº 44 a 48 (Arquivo Nacional)....................... 128
Ilustração 70 – Detalhe de trecho do piso em ladrilho – Biblioteca Nacional...............................130
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Ilustração 71 –Detalhe de trecho do piso em ladrilho – Biblioteca Nacional................................130
Ilustração 72 – Corte transversal do prédio de nº. 2 a 6 (Arquivo Nacional)............................... 131
Ilustração 73 – Detalhe do banheiro da casa de Ruy Barbosa................................................... 132
Ilustração 74 Detalhe do banheiro da casa de Ruy Barbosa................................................... 132
Ilustração 75 – Plantas baixas do Térreo, 2º e 3º pavimento, do prédio nº. 133........................ 133
Ilustração 76 – Pavimento térreo do prédio de nº 57 a 59 (Arquivo Nacional)............................ 134
Ilustração 77 – Corte do prédio de nº 57 a 59 (Arquivo Nacional).............................................. 134
Ilustração 78 – Planta do 2º pavimento da Escola Nacional de Belas Artes (Arquivo Nacional) 135
Ilustração 79 Corte longitudinal e planta baixa do pavimento térreo do prédio de nº. 107/109
(Arquivo Nacional)............................................................................................. 139
Ilustração 80 – Planta baixa do pavimento térreo do prédio nº 44 a 48 (Arq. Nacional)............. 140
Ilustração 81 – Casa de máquinas de Ventilação do Teatro Municipal (Museu da República).. 144
Ilustração 82 Projeto para a modificação da instalação frigorífica do Teatro Municipal (Museu
da República)...................................................................................................... 145
Ilustração 83 Máquinas de limpeza pelo vácuo e de compressão de ar da Biblioteca Nacional
(Seção de Iconografia, Biblioteca Nacional)....................................................... 147
Ilustração 84 Maquinismo do “book-carrier” da Biblioteca Nacional (Seção de Iconografia,
Biblioteca Nacional)............................................................................................. 148
Ilustração 85– Uma das estações do book-carrier” (Seção de Iconografia, Biblioteca
Nacional)............................................................................................................. 148
Ilustração 86 Palco cênico do Teatro Municipal (Museu da República)................................... 149
Ilustração 87 Planta baixa do pavimento térreo do projeto para o edifício 79 /81 (Arquivo
Nacional)............................................................................................................. 153
Ilustração 88 - “Quadro geral de distribuição da corrente electrica” (Seção de Iconografia,
Biblioteca Nacional)............................................................................................. 155
Ilustração 89 - Reprodução de página do documento intitulado: Descripção das Installações
mecanicas e electricas, [...](Museu da República).............................................. 157
Lista de Quadros
Quadro 1 – Projetos analisados com autoria de Morales de los Rios........................................... 65
Quadro 2 – Sistemas Estruturais empregados nos projetos analisados com autoria de Morales de
los Rios........................................................................................................................66
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
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Quadro 3 – Projetos analisados com autoria de Jannuzzi, Irmão & Cº......................................... 69
Quadro 4 Sistemas Estruturais empregados nos projetos analisados com autoria de Jannuzzi,
Irmão & Cº...................................................................................................................................... 69
Quadro 5 – Projetos analisados com autoria de Raphael Rebecchi............................................. 77
Quadro 6 Sistemas Estruturais empregados nos projetos analisados com autoria de Raphael
Rebecchi..................................................................................................................... 77
Quadro 7 – Projetos analisados com autoria de Heitor de Mello................................................... 80
Quadro 8 Sistemas Estruturais empregados nos projetos analisados com autoria de Heitor de
Mello............................................................................................................................ 80
Quadro 9 – Projetos analisados com autoria de René Barba........................................................ 81
Quadro 10 Sistemas Estruturais empregados nos projetos analisados com autoria de René
Barba..........................................................................................................................81
Quadro 11 – Guias de importação de materiais destinados ao prédio das Docas de Santos, 44
a 48 da Avenida Central................................................................................... 101/102
Quadro 12 Edificações agrupadas de acordo com o número de seus pavimentos, com a
indicação da existência ou não de instalações mecânicas..................................... 136
Quadro 13 Guias de importação de instalações mecânicas para o prédio de 44 a 48 – Docas
de Santos................................................................................................................ 138
Lista de Tabelas
Tabela 1 – Comércio Exterior do Brasil.......................................................................................... 26
Tabela 2 – Quadro estatístico da potência instalada no Brasil.................................................... 151
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Introdução
Sandra Zagari-Cardoso
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Avenida Central:
Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Introdução
Sandra Zagari-Cardoso
18
1
Fotografia da Avenida Central, sem data, de autoria de Augusto Malta. Acervo do Arquivo
Geral da Cidade do Rio de Janeiro.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Introdução
Sandra Zagari-Cardoso
19
Introdução
Desde o século XVII, as nações européias foram submetidas a um processo seqüente de
mudanças de ordem social, política e econômica. Sobretudo três eventos marcaram para sempre
a história, não só daqueles países, pois foram irradiados para todo o mundo: a Revolução
Burguesa Inglesa, a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Os ecos no Brasil já se
anunciavam desde o final do século XVIII, quando da Inconfidência Mineira, e emergiram no
movimento republicano, que assumiu o poder em 1889, embalado pelos ideais positivistas.
A Revolução Industrial, principalmente, teve efeito direto na organização das sociedades, gerando
a ruptura com os modelos tradicionais de produção, dividindo em dois períodos distintos as
relações intrínsecas que unem o homem às suas obras. Ao redor de todo o mundo, com datas
variadas, as grandes cidades passaram por modificações estruturais, com o objetivo de organizar
suas populações, cada vez maiores, e de adaptar os espaços urbanos às necessidades ditadas
pela nova ordem social.
O início do governo republicano em nosso país pode ser considerado como sinônimo de
profundas mudanças, que alteraram para sempre a feição das nossas cidades. O país ansiava por
se engajar na ordem econômica mundial e a tomada de um modelo de urbanização europeu para
as intervenções a serem executadas na capital da república foi, naquele momento, a estratégia
mais segura para anunciar que o Brasil se tornava um país moderno, emergindo do seu passado
colonial e rural para o mundo regido pelas produções de capital e intercâmbio mercantil. A Paris
do Império, idealizada por Haussmann
1
, foi a escolha óbvia. havia sido utilizada como
modelo para o planejamento de Belo Horizonte, a nova capital de Minas Gerais
2
, elaborado pelo
engenheiro Aarão Reis e com obras iniciadas em 1894.
As intervenções planejadas para o Rio de Janeiro do início do século XX foram extensas,
apoiadas pela urgente e necessária solução dos problemas de saneamento e higiene da cidade e
pela estruturação de seu porto de atracação, capacitando-o com a mais moderna tecnologia
disponível, tornando-o capaz de receber os imigrantes europeus que chegavam em número
1
George Eugéne Haussmann, Barão de Haussmann, foi Prefeito de Paris e Adjacências e esteve à frente,
durante 17 anos, de 1853 a 1870, das extensas transformações pelas quais passou a cidade de Paris
durante o reinado de Napoleão III.
2
Ver a este respeito o livro Cidades Capitais do Século XIX” (2001), organizado por Heliana Angotti
Salgueiro.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Introdução
Sandra Zagari-Cardoso
20
crescente, as mercadorias importadas dos países já industrializados e o escoamento da produção
cafeeira do interior, destinada à exportação.
Das inúmeras intervenções urbanas empreendidas nos primeiros anos do século XX na cidade
pelos governos federal e municipal, podemos destacar como as duas mais importantes
proposições: o novo porto, a ser construído a partir do Largo da Prainha, e a abertura de nova
artéria, cortando o centro da cidade tradicional a Avenida Central, destinada a abrigar o novo
centro de negócios da capital federal. A nova avenida foi concebida nos moldes do urbanismo
vigente então. Larga, retilínea, com canteiro central e amplos passeios, iluminada a gás e a luz
elétrica, dotada de infra-estrutura composta por redes de esgoto, gás, água potável, água pluvial e
energia elétrica disponível para todas as construções a serem nela edificadas. Os prédios a serem
construídos deveriam seguir o padrão de arquitetura internacional, originado na Academia
Francesa de Belas Artes
3
. Seriam dotados de todas as facilidades que a tão propagada vida
moderna trazia para a sociedade, tais como: energia elétrica, luz artificial, água encanada,
telefones, para a rápida comunicação entre as empresas, agilizando os negócios e instalações
mecânicas, que diminuíam o esforço físico e facilitavam o desenvolvimento das atividades
produtivas. Em tempo recorde foi feito o arrasamento da malha urbana existente, colocando
abaixo centenas de casas assobradas e, em apenas um pouco mais de dois anos, a Avenida
exibia sua feição, já com a maioria de seus prédios em funcionamento e os que ainda não
estavam inaugurados, em processo de aceleradas obras.
A Avenida Central encerrava as expectativas nacionais daquele momento histórico brasileiro,
tornando-se o modelo para as demais intervenções ocorridas a partir de então em diversas
cidades do país.
A Revolução Industrial, desde o seu início, teve como característica o processo inventivo, à
procura de soluções para os novos problemas que se apresentavam. Por exemplo, a necessidade
de força motriz para a movimentação de teares, desenvolveu o uso da água, a fim de movimentar
rodas hidráulicas que faziam funcionar os teares nas fábricas; em seguida, foi desenvolvido o
aproveitamento da energia a vapor, tornando mais estável a energia necessária para mover as
máquinas de produção; para a criação de equipamentos mais resistentes, foram estudados e
aprimorados os processos siderúrgicos, que permitiram o fabrico de peças em metal, utilizadas
3
Estilo de arquitetura de base historicista, mais tarde foi denominado ecletismo.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Introdução
Sandra Zagari-Cardoso
21
como componentes nas máquinas. E assim, num suceder incessante, a cada dia surgia uma nova
invenção para solucionar um problema e facilitar a produção de bens.
Não demorou muito para que novas invenções criassem tecnologias que começassem a ser
aplicadas nas construções. A partir da segunda metade do século XIX, começou a chegar no
Brasil uma série de materiais importados, como as canalizações de chumbo, as telhas do tipo
“marseille”, que ficaram conhecidas como telhas francesas, as louças sanitárias, o vidro plano e
as estruturas metálicas. Nesse material, chegaram a ser importados edifícios inteiros, que foram
montados nos mais diversos pontos do Brasil
4
.
Esta característica tecnológica, determinante no desenvolvimento industrial, ajudou-nos a definir o
objetivo deste estudo investigativo: levantar as novas tecnologias, surgidas no limiar do
século XX, aplicadas nos prédios da Avenida Central, e estudar a relação delas com a
arquitetura contemporânea produzida.
Propomos neste trabalho tratar especificamente dos seguintes aspectos tecnológicos: análise do
uso de componentes metálicos no sistema estrutural das edificações não estamos nos
referindo aos edifícios integralmente construídos em ferro
5
, como o caso do contemporâneo
Mercado Municipal da Praça XV, inaugurado em 1908, mas sim à presença deste material
aplicado de maneira mais discreta, muitas vezes inserido em alvenarias, viabilizando a
abertura de vãos com maiores dimensões nas fachadas, por exemplo; análise das instalações
sanitárias o estudo das edificações da Avenida nos possibilita a observação das soluções
adotadas pelos projetistas para a localização dos compartimentos sanitários em prédios de
característica verticalizante e com áreas edificadas ocupando quase 100% dos lotes, sem a
presença do tradicional “quintal”; análise das instalações mecânicas – assunto pouco explorado
nos estudos de arquitetura, sendo, no entanto, a nosso ver, tão característico deste período
histórico, pois trata-se da aplicação direta das invenções mecânicas, nascidas para o atendimento
da indústria; análise das instalações elétricas e de iluminaçãode todas as facilidades
tecnológicas incorporadas ao modo de vida daquela época, a mais ansiada pela população era,
4
Sobre o assunto, procurar o trabalho desenvolvido por Geraldo Gomes da Silva “Arquitetura do Ferro no
Brasil”, e o trabalho de Beatriz Mugayar Kuhl Arquitetura do Ferro e Arquitetura Ferroviária em São
Paulo.
5
Deste gênero de arquitetura, conhecida também como a “arquitetura dos engenheiros”, não foi erguido
nenhum exemplar na Avenida Central.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
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Sandra Zagari-Cardoso
22
sem dúvida, a energia elétrica e, consequentemente, a iluminação artificial de boa qualidade; do
ponto de vista da arquitetura, também muito pouco tem sido falado sobre este assunto.
Acreditamos que a nossa formação profissional que alia a produção e coordenação de projetos
executivos contemporâneos, obrigatoriamente lidando com as modernas tecnologias, cada vez
mais determinantes em nossa realidade e o nosso olhar e formação em patrimônio histórico
seriam de valia nesta investigação.
A busca de bibliografia específica sobre o tema a ser desenvolvido se mostrou insatisfatória.
Quanto às tecnologias usuais no início do século XX, muito pouco foi encontrado, havendo
registros apenas quanto ao uso de estrutura metálica. Encontramos vasta bibliografia sobre a
Avenida Central, abordando, sobretudo, o modelo de urbanização utilizado e a sua evolução
urbana, bem como inúmeros registros fotográficos. Em relação aos prédios nela edificados, foram
localizados apenas os títulos consagrados, dos quais destacamos o Álbum da Avenida Central”,
publicação contendo fotografias e gravuras das fachadas dos prédios, editado por Marc Ferrez e
lançado em 1910, como comemoração às obras finalizadas da Avenida.
A falta de fontes secundárias que contivessem informações sobre o assunto reforçou a nossa
vontade de investigar e pesquisar o tema proposto.
Metodologia da Pesquisa Desenvolvida
Com base nas informações contidas no texto do professor Paulo Santos (apud FERREZ, 1982),
citado anteriormente, começamos nossa pesquisa indo ao Arquivo Nacional, a fim de conhecer os
documentos pertencentes ao Fundo da Comissão Construtora da Avenida Central, em busca dos
projetos correspondentes às gravuras das fachadas e fotografias dos prédios contidos no Álbum
da Avenida Central (FERREZ, 1982). Esse material foi a fonte primária fundamental da pesquisa a
ser desenvolvida. Nossa empreitada no Arquivo Nacional teve sucesso limitado, pois o acervo que
nos interessava estava em processo de conservação, desde 2005, tendo sido possível o acesso
apenas a parte dos documentos. Não tivemos a oportunidade de pesquisar nenhuma guia de
importação, que forneceria informações quanto à procedência dos materiais utilizados nas
construções, nem qualquer correspondência ou outro documento escrito arquivado. Dos projetos
para aprovação, por parte da Comissão Construtora da Avenida, para a construção dos oitenta e
três prédios, cujos terrenos e proprietários foram registrados por Ferrez (1982) na planta anexa ao
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Sandra Zagari-Cardoso
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Álbum da Avenida Central, tivemos acesso a cinqüenta e dois envelopes, cada um
correspondente a uma edificação, contendo plantas baixas, cortes, fachadas e alterações de
projeto para reaprovação. As plantas analisadas têm datas de aprovação pela Comissão
Construtora entre os anos de 1904 a 1906. Graças à cooperação do pessoal da Seção de
Cartografia do Arquivo Nacional, onde se encontravam os desenhos, aguardando o envio para o
setor de conservação, foi possível fotografar todas as pranchas
6
, para analisá-las posteriormente,
fora da instituição.
Em seguida, procedemos à pesquisa de outras fontes sobre a urbanização da avenida, sua
história, agentes envolvidos e infra-estrutura implantada. Concentramo-nos exclusivamente nos
prédios. A pesquisa iniciada nos levou a uma nova fonte documental que se mostrou importante,
complementar às informações coletadas no Arquivo Nacional: as notícias veiculadas pela a
imprensa da época. Utilizamos para tal as notícias pré-selecionadas pela pesquisa promovida pela
PUC Rio e organizada por Giovanna Rosso del Brenna, que resultou no livro publicado em
1985, “O Rio de Janeiro de Pereira Passos”.
À busca de mais informações em fontes primárias que complementassem o material
selecionado na Biblioteca Nacional e Arquivo Nacional, fomos ao Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro – IHGB, que recebeu a doação do arquivo pessoal do engenheiro Paulo de Frontin, que
era, na época da abertura da Avenida, diretor do Club de Engenharia e, também, da Comissão
Construtora da Avenida Central. Por fim, fomos ao Arquivo do Museu da República, depositário do
acervo doado pela família Passos. Fazia parte dessa coleção, o arquivo pessoal do engenheiro da
prefeitura do Distrito Federal, Francisco de Oliveira Passos, filho do prefeito Pereira Passos, e
responsável pelas obras de construção do Teatro Municipal. Encontramos diversos documentos,
alguns referentes ao projeto vencedor do concurso para a construção do Teatro e outros contendo
informações técnicas quanto às instalações, histórico e características do projeto desenvolvido
para construção.
A descoberta desse extenso material nos fez incluir o Teatro Municipal em nossa pesquisa,
mesmo não tendo tido contato com os projetos do Teatro existentes no Arquivo Nacional.
A pesquisa sobre o prédio da Biblioteca Nacional teve um testemunho importantíssimo: o próprio
prédio, que temos oportunamente acesso em nossa atividade profissional e que nos possibilitou
6
Com exceção das fachadas, que já se encontravam representadas no Álbum de Ferrez.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Introdução
Sandra Zagari-Cardoso
24
pesquisa de campo, esclarecendo e ajudando na compreensão de alguns pontos levantados na
pesquisa documental.
Por fim, ainda contamos com o depoimento e conhecimento técnico do professor e engenheiro
civil Geraldo Filizola, com extensa experiência na elaboração de laudos, pareceres técnicos e
autor de diversos projetos de intervenção em prédios tombados sob tutela do Iphan, dentre eles o
prédio da Biblioteca Nacional, e de outros órgãos responsáveis pela preservação do patrimônio
edificado.
De posse de todo o material de pesquisa selecionado, procedemos a uma análise preliminar, para
que pudéssemos começar a estruturar o trabalho a ser apresentado.
O primeiro capítulo foi dedicado à exposição dos antecedentes históricos do Rio de Janeiro, os
problemas que a cidade apresentava desde o século XIX, os primeiros estudos de intervenção
desenvolvidos naquela época e a intervenção ocorrida, no período republicano. Foi abordado o
modelo de urbanização aplicado, as principais intervenções ocorridas na cidade, além da abertura
da Avenida Central e, por fim, as obras de implantação da Avenida.
No segundo capítulo, iniciamos a análise dos projetos dos prédios a serem construídos na
Avenida Central, a partir do levantamento da legislação a que estavam sujeitas as edificações,
registrando algumas características quanto à ocupação dos terrenos, o uso das edificações e os
pontos que a legislação edilícia tratava dos assuntos ligados às tecnologias; em específico,
quanto às instalações sanitárias. Em seguida, apresentamos alguns dos profissionais autores dos
projetos analisados, relacionando-os às tecnologias aplicadas nos prédios de suas autorias.
O terceiro capítulo do trabalho é dedicado à análise das tecnologias identificadas nos projetos
dos prédios, complementando a exposição com as informações coletadas nas notícias publicadas
pela imprensa da época. Foram selecionados para apresentação neste trabalho os seguintes
aspectos tecnológicos: sistemas estruturais, instalações hidrossanitárias, instalações
mecânicas e instalações elétricas e de iluminação. Todos os itens apresentam ilustrações dos
temas relacionados, utilizando os projetos pesquisados.
Por fim, nossas considerações finais, onde apresentamos as conclusões quanto aos aspectos
abordados ao longo da dissertação.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
Sandra Zagari-Cardoso
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Capítulo 1. O Rio de Janeiro e a Abertura da Avenida
Central
No ano de 1889, o Brasil adotou o regime republicano. O novo regime político ansiava por impor à
nação uma feição diferente daquela herdada do período colonial e da época do Imperador
D.Pedro II, vista como continuidade da dominação portuguesa.
A cidade do Rio de Janeiro, que continuou a ser a sede administrativa do país, encontrava-se no
início do século XX assolada pela tuberculose e pela febre amarela, que se propagavam com
grande velocidade por entre suas ruas estreitas e mal arejadas, pelo casario sem ventilação
adequada e pelos inúmeros cortiços que acomodavam centenas de pessoas, sem condições
higiênicas mínimas.
É nesse momento que o Governo Federal, na gestão do Presidente Rodrigues Alves e do Ministro
da Viação, Indústria e Obras Públicas, Lauro Müller, juntamente com a Prefeitura do Distrito
Federal, tendo à frente o Prefeito Francisco Pereira Passos, engenheiro nomeado pelo Governo
Federal, deram início a uma série de obras de transformação, reestruturação urbana e
saneamento. O Rio de Janeiro foi utilizado como a vitrine da nação brasileira, moderna e
preparada para participar ativamente da nova ordem econômica mundial que se impunha
rapidamente, desde o início da revolução industrial.
Alcunhadas pela imprensa da época como o Rio do Bota - Abaixo”, as ações empreendidas em
conjunto pelos governos federal e municipal foram as primeiras executadas em larga escala na
cidade e alteraram para sempre a feição de sua malha urbana e o modo de viver de seus
habitantes.
Ilustração
2
Prova negativa de uma scena positiva na futura avenida”. Revista O Malho, 23 de abril de
1904, veiculada na época do anúncio, por parte do governo federal, da abertura da nova avenida.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
Sandra Zagari-Cardoso
26
Como afirma Mauricio de Abreu sobre essa época:
[...] A primeira década do século XX representa, para a cidade do Rio de Janeiro,
uma época de grandes transformações, movidas, sobretudo, pela necessidade de
adequar a forma urbana às necessidades reais de criação, concentração e
acumulação do capital. (ABREU, 2006, p.59).
[...] O período Passos foi, pois, um período revolucionador da forma urbana
carioca, que passou a adquirir, a partir de então, uma fisionomia totalmente nova e
condizente com as determinações econômicas e ideológicas do momento. (idem,
p.63).
1.1. Antecedentes Históricos
Ainda sob o governo do imperador D. Pedro II, a partir da segunda metade do século XIX,
começaram a ter início as primeiras modificações urbanas na cidade e em suas construções,
públicas e privadas, impulsionadas em grande parte pelo porto do Rio, o maior porto do Brasil
(CABRAL, 2003).
A pressão exercida pelos fatores econômicos internacionais, que necessitavam de condições
eficientes para o escoamento de mercadorias, fez com que cidades portuárias em diversos países
se reorganizassem a partir das duas últimas décadas do século XIX. Foi o caso, na América do
Sul, de Buenos Aires, na Argentina; Montevidéu, no Uruguai; e, no Brasil, Rio de Janeiro; Santos,
que, inaugurado em 1892, acolheu o maior e mais moderno porto do país para escoamento da
produção cafeeira; Recife, impulsionado pelas produções algodoeiras e do açúcar; e Belém, após
o início do ciclo econômico da borracha. (CHIAVARI, 1985).
O cenário econômico internacional vivia um momento de expansão e definição de mercados.
Apoiadas pelos governos de seus países, companhias privadas buscavam investimentos que
estabelecessem novas fronteiras para o mercado consumidor de seus produtos. Assim, nesse
período, surgiram as fábricas de tecidos e diversas empresas para a comercialização de toda a
sorte de produtos e serviços novos, como a Brazilian Traction Light and Power, de investimento
canadense, além da introdução em profusão dos mais diversos tipos de materiais importados para
construção, alterando os métodos construtivos tradicionais.
A balança comercial do Brasil, nas últimas décadas do século XIX e primeiras décadas do século
XX, apresentou uma crescente elevação das importações, conforme demonstrado na tabela a
seguir:
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
Sandra Zagari-Cardoso
27
Tabela 1 – Comércio Exterior do Brasil
Decênios
Importação
(contos de réis)
Exportação
(contos de réis)
Importação
1.000 - ouro
1851-1860 900.534 1.016.686 102.007 115.280
1861-1870 1.537.175 1.347.514 149.433 131.868
1870-1880 1.963.718 1.621.251 199.685 164.929
1881-1890 2.411.006 2.102.297 220.725 192.361
1891-1900 7.349.258 6.397.324 291.017 252.817
1901-1910 8.123.578 5391.775 476.222 318.843
1911-1920 12.300.768 9.960.223 688.038 540.906
Fonte: COSTA, 2001. p. 39.
As leis impostas pelas novas relações entre os agentes da produção, a partir da revolução
industrial, operaram alterações em todos os países do globo. Na Europa, ondas migratórias
levaram a mão-de-obra, sobretudo agrária, dos países mais pobres para as Américas, à procura
de melhores condições de vida e novas oportunidades.
No Brasil, chegaram imigrantes vindos dos mais diversos países. A escravidão, que a partir da
segunda metade do século XIX, gradualmente havia diminuído, acabando por ser extinta em
1888, acarretou uma grande crise na agricultura, responsável pelas exportações do país. Os
imigrantes vieram suprir a crescente necessidade de mão-de-obra na lavoura cafeeira: japoneses,
alemães, portugueses, espanhóis e italianos, entre outros, aportaram em nosso país: Muitas das
famílias que desembarcavam nos portos das cidades acabavam por fixar residência nestas,
aumentando a população local e acabando por se estabelecer no comércio, na construção civil,
fábricas e demais atividades econômicas urbanas.
O abastecimento de água da cidade do Rio de Janeiro, que se mostrava insatisfatório muito
tempo, foi levado a níveis caóticos por uma grande seca em 1870. A situação precária de higiene
pública gerou surtos de diversas doenças endêmicas, causando duas grandes epidemias de febre
amarela nos anos de 1873 e 1876, quando morreram milhares de pessoas, principalmente
operários, pertencentes à camada mais pobre da população. Em 1874, buscando uma solução
para esse problema básico, Dom Pedro II organizou a primeira empresa pública para o
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
Sandra Zagari-Cardoso
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abastecimento de água no Rio de Janeiro, enquanto os serviços de iluminação, gás, esgoto e
transportes ficaram a cargo de empresas particulares (CABRAL, 2003).
Para o governo e a economia do país, as epidemias no Rio de Janeiro representavam um grande
prejuízo, uma vez que a fama dos problemas de insalubridade da principal cidade do Império do
Brasil corria o mundo, provocando o cancelamento das rotas da maioria dos navios que incluíam o
porto do Rio e, por conseguinte, prejudicando o comércio e afastando os imigrantes europeus, tão
necessários à produção cafeeira.
A decadência do cano Vale do Paraíba, conjugada com a chegada dos imigrantes europeus,
atraiu para o Rio de Janeiro um grande número de habitantes. Tal circunstância causou a
multiplicação acelerada de alojamentos improvisados na área central da cidade, que contava com
a melhor infra-estrutura, requerendo menor investimento para a sua ocupação. As famílias com
mais recursos foram abandonando o centro tradicional da cidade e se retiraram para os novos
bairros residenciais que surgiram nas direções norte e sul, acompanhando principalmente os vales
criados pela acidentada geografia da cidade
7
. As antigas residências senhoriais da zona central
foram sendo ocupadas de maneira nova, loteadas em pequenas unidades, transformando-se em
uma nova tipologia de moradia coletiva: os cortiços.
Em 1873, foram iniciados os primeiros estudos para um plano urbanístico da cidade, à procura de
soluções para seu rápido crescimento. No ano de 1874, o Ministro João Alfredo Correia de
Oliveira nomeou a Comissão de Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro, da qual faziam
parte os engenheiros Morais Jardim e Ramos da Silva e o engenheiro Francisco Pereira Passos,
futuro prefeito da cidade em 1903, já capital da República.
A Comissão propôs a ação em três frentes: o saneamento, a circulação e a valorização de novas
áreas de expansão, melhorando suas condições higiênicas e dotando [...] de mais beleza e
harmonia as suas construções” (CHIAVARI, 1985, p.589). São desses estudos a proposição do
arrasamento dos morros do Castelo, do Senado e de Santo Antonio; o aumento da largura das
ruas; obras de saneamento do canal do Mangue e novos cais na área da Saúde e de São
7
Encontramos em Carlos Lemos, em seu livro “A República ensina a morar (melhor), (1999, p. 14), ao falar
dessa mesma época da cidade de São Paulo, o registro das modificações introduzidas nas construções
destinadas às classes mais abastadas da população, que assumiram o “morar à francesa”, expressão que
resume uma nova tipologia de habitação, os palacetes ecléticos, afastados das divisas, mesmo que
parcialmente, para propiciar a iluminação e ventilação de todos os cômodos da edificação. Podemos
observar essa mesma tipologia aplicada nas áreas residenciais em expansão no Rio de Janeiro.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
Sandra Zagari-Cardoso
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Cristóvão, bairro de moradia do Imperador. Data dessa época, também, a primeira referência às
obras de Haussmann, em Paris, que foram visitadas por membros da Comissão, inclusive Pereira
Passos, em 1873. No Segundo Relatório, datado de 28 de fevereiro de 1876, a proposição de
que a Rua Sete de Setembro fosse tratada de maneira requintada, a fim de torná-la uma Rue de
Rivoli (CHIAVARI, 1985), como referência ao comércio requintado presente naquela via
parisiense.
Nenhuma proposição desse plano foi levada adiante, por conta dos eventos políticos e
econômicos que ocorreram em seguida, mas muitos dos pontos nele propostos foram retomados
nas reformas que se tornariam realidade quase trinta anos depois, que teve em cena muitas das
mesmas personalidades atuantes nesse evento. Nas palavras de Lílian Vaz, o final do século XIX
e o início do século XX:
[...] constituem um período de transição na história do Brasil e particularmente na
história carioca, marcada por transformações de ordem econômica, social, política
e cultural, que repercutiram no espaço urbano, arquitetônico e habitacional da
cidade do Rio de Janeiro. (VAZ, 2002, p.25)
1.2. O Modelo de Urbanização Adotado na Avenida Central
A República, instaurada no Brasil desde 1889, trouxe consigo a proposição de modernizar o país,
reorganizando sua sociedade nos moldes do capitalismo vigente. Tal atitude havia de se refletir no
urbanismo proposto. O Estado tomou para si a adequação da capital às necessidades
progressistas.
As condições sociais e econômicas presentes no Brasil e demais países latino-americanos, de
forte estrutura colonial, com base escravagista, e cujas classes no poder ainda eram de herdeiros
diretos de senhores agrários, marcaram as intervenções executadas naquela época. O aspecto
ideológico social que se observava nos acontecimentos contemporâneos ocorridos nos países
europeus, onde os interesses das classes de trabalhadores e da burguesia industrial e comercial
emergente se fizeram valer, não ocorreu no nosso país, fazendo com que as intervenções de
caráter renovador fossem restritas a determinados âmbitos, como a estética das novas
construções e a utilização de tecnologias que introduzissem novos itens de conforto ao cotidiano
das pessoas.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
Sandra Zagari-Cardoso
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Nesse período na cidade do Rio de Janeiro, percebemos algumas transformações importantes,
como registra Lílian Vaz:
A modernização da cidade se traduziu no acelerado crescimento urbano, no
surgimento de manufaturas e fábricas e dos modernos serviços públicos
sistemas de iluminação de gás (1854), transporte coletivo de trem (1861), esgotos
(1862), bondes [com tração animal](1868), abastecimento d’água (1880), telefonia
(1881), energia elétrica (1905). Grandes e pequenos capitais foram investidos
nestes setores e na produção da cidade, através do loteamento de novas áreas e
da construção de casas. (VAZ, 2002, p.25)
Foram incorporadas às obras realizadas muitas das facilidades oferecidas pelo novo padrão da
vida moderna, como os automóveis, luz e bondes elétricos. Outras discussões, verificadas nas
intervenções efetuadas nas cidades européias, não se fizeram presentes no cenário do Rio de
Janeiro, tais como a preservação de edificações ou a moradia das classes pobres e operárias.
Por exemplo, em Paris e outras cidades européias que sofreram intervenções ainda no século
XIX, as edificações consideradas portadoras de valor foram integradas aos planos urbanísticos,
tornando-se focos das composições
8
. Por sua vez, no Rio de Janeiro, analisando as notícias de
jornais da época publicados na cidade, encontramos apenas referência ao fato de o traçado da
futura Avenida Central ter considerado a não-derrubada do prédio do Liceu Português, existente
junto ao Largo da Prainha, e o Convento da Ajuda, no extremo oposto, próximo ao Passeio
Público. Ambos os prédios foram tomados como balizadores do rumo da caixa da Avenida em seu
lado par, ao passo que, pela sua lateral de numeração ímpar, a delimitação foi dada pelo menor
corte possível a ser feito no Morro do Castelo. Essa decisão parece-nos ser de ordem econômica,
e não por preocupação com qualquer tipo de preservação do morro que guardava as construções
mais antigas da cidade. Assim foi a notícia publicada:
[...] Da Avenida foram feitas três plantas: a primeira importava em um grande corte
do morro [do Castelo], a segunda destruía edifícios de sabido valor; a terceira
finalmente servio e é a que hoje começa a ser executada. [...] ( JORNAL DO
BRASIL, A grande Avenida”, mar.1904. Apud BRENNA, 1985, p. 678).
Cabe registrar que, apenas uma década após a inauguração da Avenida, os dois prédios citados
foram demolidos, demonstrando que, se houve alguma preocupação no momento inicial, a mesma
linha de pensamento não foi adiante.
8
Podemos considerar como única exceção a integração do Passeio Público, no trecho final da Avenida.
Sua integração à nova área urbanizada ocorreu principalmente pela proximidade dos jardins do vizinho
Palácio Monroe.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
Sandra Zagari-Cardoso
31
No caso das intervenções ocorridas no início do século XX no centro do Rio de Janeiro, a situação
das classes pobres que ocupavam precariamente as edificações da região central da cidade se
agravou ao extremo, em virtude da demolição em massa das construções existentes não para
a construção da grande Avenida, como também para o alargamento de diversas outras vias. As
pessoas foram retiradas de suas residências e colocadas na rua, sem ter onde morar. A imprensa
da época tratou do assunto com severas críticas, responsabilizando os governos federal e
municipal em textos e caricaturas, como o trecho publicado por Carlos de Laet no Jornal do Brasil
e a ilustração da Revista O Malho, aqui reproduzidos:
[...] Accresce que, pelas muitas demolições, já é considerável o numero de
pessoas que ficaram sem teto onde morar... Para onde vae toda essa gente?
Napoleão III, - cujas magnificências o Sr. Rodrigues Alves procura macaquear
Napoleão, rasgando boulevards, peleava a questão socialista, dando que fazer ao
proletariado; e por outra parte mandava construir habitações baratas e salubres ra
os operários. Porque não se trata já disto?
[...] não é na grande Avenida que irão residir os expulsos dos prédios
demolidos...[...] (JORNAL DO BRASIL, “Poeiras e micróbios”, 24 out.1904. Apud
BRENNA, 1984, p. 210-211).
Ilustração
3
-
Caricatura publicada na revista O Malho, em 28 de maio de 1904.
Legenda: Por causa das Avenidas : - Que é isto? No meio da rua?
- Que é que o senhor quer: não há casas...
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
Sandra Zagari-Cardoso
32
O governo do quinto Presidente da República, Rodrigues Alves, tendo Lauro Müller como Ministro
da Viação, Indústria e Obras Públicas, juntamente com o Prefeito do Distrito Federal, nomeado
pelo Presidente, engenheiro Pereira Passos, deram início às remodelações da cidade, que
eram fartamente discutidas em teoria há mais de trinta anos.
Assim, tiveram início as ações para a grande reforma urbana tiveram início a partir de 3 de janeiro
de 1903, quando Passos assumiu o mandato municipal. Segundo Chiavari (1985), o modelo de
urbanização republicana, baseado em três pontos básicos, visava a atender os seguintes
objetivos, cruciais para o funcionamento do novo sistema financeiro de produção:
o saneamento básico, para o combate imediato das epidemias, intervindo nas áreas de
alta densidade, no caso a região central da cidade do Rio de Janeiro, redistribuindo a
população de baixa renda para áreas menos valorizadas;
a melhoria da viação urbana, para a viabilização do deslocamento da mão-de-obra e da
produção. Estão contidas neste tópico as reformas do porto, a criação de novas linhas
ferroviárias e a abertura ou alargamento das ruas, interligando as áreas centrais aos novos
bairros em desenvolvimento;
a melhoria e o embelezamento da capital do país, visando à indução da produção,
fornecendo aos capitais de investimento uma face desenvolvida, moderna, progressista e
segura, utilizando a capital como uma metonímia do país.
Nas palavras de Noronha Santos, a cidade:
[...] ia perdendo pouco a pouco, o aspecto pictoresco e inconfundível de grande
villa portuguesa. Modificara a feia e pesada edificação colonial e banira archaicas
usanças commerciaes.” (NORONHA SANTOS, 1934, vol.2, p.88).
A Avenida Central foi projetada com o objetivo de retomada do centro tradicional da cidade,
dotando-o de infra-estrutura e dos símbolos necessários ao papel de representante do centro de
negócios do país. Encontramos em Mauricio Abreu a reafirmação da importância da Avenida:
A mais importante, em termos de transformação da forma urbana foi, sem dúvida,
a construção da Avenida Central (atual Rio Branco), para cuja abertura foram
demolidas “duas ou três mil casas
9
, muitas com famílias numerosas”, custando as
desapropriações ao governo federal de 26.456:638$019. Esta Avenida era, sem
dúvida, o complemento natural de duas outras grandes obras que se realizavam
na cidade, ou seja, a Avenida Beira-Mar e o novo porto do Rio de Janeiro.
(ABREU, 2006. p. 63)
9
As informações quanto o número de casas derrubadas é conflitante. Voltaremos mais adiante a esse
assunto.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
Sandra Zagari-Cardoso
33
Para a construção da fisionomia dessa avenida, foi utilizado o modelo formal
10
das obras
operadas por Haussmann
11
em Paris, entre as décadas de 1850 e 1860. Tal escolha se justifica
por a intelectualidade brasileira ter sido, tradicionalmente, alinhada ao pensamento e à estética
francesa, cujo gosto havia sido assimilado desde o início do século XIX, com a chegada da
Missão Artística Francesa, trazida por D. João VI, responsável pelo início do ensino acadêmico
das artes e da arquitetura no país. Prova disso foi o fato de que, ainda no século XIX, já havia sido
feita uma experiência utilizado o modelo de urbanização de Haussmann no Brasil. O modelo foi
empregado no planejamento urbano de Belo Horizonte, a primeira cidade brasileira planejada.
Com o objetivo de sediar a nova capital do Estado de Minas Gerais, a ser transferida de Ouro
Preto, Belo Horizonte foi projetada pelo Engenheiro Aarão Reis entre os anos de 1894 e 1897
(SALGUEIRO, 2001).
O professor Paulo Santos, no texto publicado na reedição do Álbum da Avenida Central, com
fotografias do Marc Ferrez, em 1982, assim descreve a diferença entre a cidade anteriormente
existente e o novo modelo:
[...] a passagem, por volta de 1900, do Império para a República, da Cidade
Imperial, com ranço colonial, bisonha e pobre, onde predominavam ruas estreitas
com calçamento irregular, caimento para o eixo da rua, por onde corriam as águas
servidas, casario rasteiro de um, dois, três, raramente quatro pavimentos,
iluminação mortiça, de reduzido número de lampiões a gás, e em que só de
quando em quando se via uma carruagem ou um bondinho puxado a burros,
10
Preferimos nos referir ao modelo formal da urbanização de Haussmann, uma vez que em nosso entender,
a comparação entre as realidades sócio-econômicas de qualquer país europeu com o Brasil não são
possíveis, por se tratar de centro produtor e de periferia consumidora dos bens de capital produzidos. Com
isto, as relações sociais e as pressões exercidas pelos agentes junto aos governos que patrocinaram as
intervenções lá e aqui, são de naturezas distintas.
11
George Eugéne Haussmann, Barão de Haussmann, foi Prefeito de Paris e Adjacências e esteve à frente,
durante 17 anos de 1853 a 1870, das extensas transformações pelas quais passou a cidade de Paris
durante o reinado de Napoleão III. O Plano de Haussmann e outros planos contemporâneos tinham, em
primeira análise, como um de seus objetivos adaptarem as estruturas urbanas existentes às novas
exigências da sociedade industrial. (HISTOIRE EN LIGNE, 2007).
De maneira sucinta, o formalismo e alguns pontos de caráter funcional do Plano Haussmann foram
baseados na aplicação dos seguintes pontos:
- incorporação dos elementos arquitetônicos e paisagísticos monumentais existentes Louvre, Ile de la
Cité, Tuilleries, por exemplo;
- abertura de ruas cortando em todos os sentidos a antiga malha de ruas medievais, até a periferia da
cidade;
- instalação de serviços primários rede de água, esgoto, iluminação à gás e rede de transportes públicos,
além da incorporação na malha urbana de parques públicos, como o Bois de Boulogne, por exemplo;
- utilização de perspectivas, com longas avenidas e com edifícios monumentais posicionados no ponto focal
da composição;
- regularidade e uniformidade da arquitetura nas fachadas voltadas para as praças e ruas mais importantes,
tornando as composições urbanas imponentes (GONSALES, 2002).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
Sandra Zagari-Cardoso
34
trafegando morosamente, de uma cidadezinha assim para a Cidade Republicana,
metrópole moderna, com ruas e avenidas largas, com passeios, meios-fios e
sarjetas dos dois lados, bonde e iluminação elétricos, prédios de três a sete
pavimentos. Tudo isso foi conseqüência de um plano de remodelação até então
sem paralelo na vida da cidade (SANTOS in Ferrez, 1982, p.25).
Ilustração
4
Esquina das ruas 7 de Setembro e Ourives, no trecho que desapareceu com a abertura da
Avenida Central. Fotografia de Augusto Malta, cerca de 1900. A fotografia registra as construções
tradicionais existentes na região, antes das intervenções na década de 1900. Pode-se observar o caimento
central da rua, o calçamento com lajes de pedra e o casario térreo, com no máximo três pavimentos.
Fonte: FERREZ, 1982, p. 26.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
Sandra Zagari-Cardoso
35
A abertura da Avenida Central fez parte de um plano urbanístico maior, empreendido pelos
governos federal e municipal.
O governo federal foi responsável pelos seguintes empreendimentos:
obras para a implantação do novo porto da cidade, sob a direção do Ministro Lauro Müller.
A transformação do porto em uma estrutura moderna e funcional seria o ponto mais
importante a ser executado para atingir o êxito econômico pretendido;
abertura de uma nova avenida ligando o porto ao centro da cidade a Avenida Central –,
sendo a direção da Comissão Construtora entregue ao engenheiro Paulo de Frontin;
obras de saneamento, com a orientação do diretor de Saúde Pública Oswaldo Cruz;
O governo municipal, por sua vez, agiu de maneira integrada às ações federais. O Prefeito Pereira
Passos tinha total autonomia para suas ações, não precisando submetê-las à Câmara Municipal.
Ele foi responsável pelas seguintes obras:
abertura de uma avenida ligando o porto à área em expansão da cidade na direção norte, a
atual Avenida Rodrigues Alves;
abertura de uma nova avenida, prosseguindo da Avenida Central para a direção sul a
Avenida Beira-Mar;
abertura de uma via, do porto para a direção norte antiga Avenida do Canal do Mangue,
atual Avenida Francisco Bicalho, prolongando-se na mesma direção pela avenida que
margeava o rio Maracanã;
abertura de mais um caminho na direção norte, a partir da Avenida Beira-Mar (Lapa)
Avenida Mem de Sá, estendendo-se pelas Avenidas Estácio de Sá e Salvador de Sá;
alargamento da caixa de diversos logradouros, como as ruas Marechal Floriano, Camerino,
do Catete, das Laranjeiras, 28 de Setembro, Sete de Setembro, do Hospício e Visconde
Inhaúma, atingindo até 17 metros de largura, com a aplicação de sarjetas laterais, em vez
do tradicional caimento central e calçamento em lajes de granito. Nessa mesma época,
passaram a ser utilizados também os pisos de paralelepípedo, em substituição ao
tradicional “pé-de-moleque” colonial, e os passeios em concreto cimentado. Também datam
dessa época o início do calçamento em pedra calcária e basáltica, à semelhança das
calçadas de Lisboa, de onde as pedras e os próprios calceteiros responsáveis pela sua
execução eram oriundos. Por essas razões, este revestimento ficou conhecido como “pedra
portuguesa”;
construção do Teatro Municipal.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
Sandra Zagari-Cardoso
36
Todas as ações empreitadas pelos governos federal e municipal foram amplamente divulgadas
pela imprensa da época, provocando ferrenhas discussões que envolveram intelectuais,
comerciantes e políticos, uns favoráveis, outros contrários às ações e às escolhas feitas pelos
governos para atingirem os seus objetivos.
1.3. A Implantação da Avenida Central
Em 21 de novembro de 1903, o Ministro de Indústrias, Viação e Obras Públicas, Lauro Müller,
nomeou a Commissão Constructora da Avenida Central, presidida pelo Engenheiro André
Gustavo Paulo de Frontin, presidente do Club de Engenharia.
A Avenida construída, tal qual foi projetada, contava com 33 metros de largura e 1.750 metros de
comprimento
12
, iniciando-se no Largo da Prainha (atual Praça Mauá) e terminando na praia de
Santa Luzia, onde foi erigido o obelisco que até hoje lá se encontra. A largura foi definida de modo
a superar a Avenida de Mayo em Buenos Aires. De acordo com os relatos de Paulo Santos
(1982), o professor Morales de los Rios defendeu na imprensa, em diversas oportunidades,
larguras bem mais vultosas, em torno de 50 a 70 metros, à semelhança das novas avenidas
abertas em Viena, Madri, o Champs Elisées em Paris, ou a Avenida Afonso Pena, em Belo
Horizonte, com 50 metros de largura. Porém, a largura de 33 metros implicava no corte parcial
do Morro do Castelo, executado na área que cedeu lugar às construções erigidas no lado ímpar
da Avenida, entre a Rua de São Gonçalo (atual Avenida Almirante Barroso) e a Rua de Santa
Luzia, tendo sido esta a razão fundamental para a fixação da largura do logradouro. Na próxima
página, podemos visualizar o mapa que consta de O Álbum da Avenida Central”, apresentando
marcação do perfil modificado do Morro do Castelo.
12
As informações quanto à extensão da Avenida são conflitantes. Em novembro de 1904 a revista Kosmos
publicava os seguintes dados sobre a avenida:
comprimento: 1996 metros
largura: 33 m, 7 em cada lado do passeio e 19 no leito carroçável
passeios com declive de 15 cm, pouco mais de 2% , reconhecido bastante para escoamento d'água
leito acarroçado abaulado, em arco de círculo com flecha de 32 cm.
Árvores plantadas:
No eixo: 53 de Pau Brasil em refúgios de 5x2m à distância de 33,33m uma das outras, os postes de
iluminação elétrica de 3 focos, também no eixo, em número de 55, distanciados entre eles a mesma
distância das árvores.
No passeio a 1,25m do meio fio, 173 árvores do lado impar e 160 do lado par.
Sobre o meio fio, correspondendo as árvores centrais, postes de iluminação a gás, 54 do lado impar e 50 do
lado par (KOSMOS, nov.1904).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
Sandra Zagari-Cardoso
37
Ilustração 5- Detalhe de mapa de Carlos Aenishänslin, 1910. Fonte: FERREZ, 1982. p.14 (marcação da autora indicando o perfil original do Morro
do Castelo, de acordo com a sobreposição do
mapa de 1838, de autoria de Dufour).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
Sandra Zagari-Cardoso
38
Foram localizados na Avenida Central, no seu trecho final, junto à Avenida Beira-Mar, os
seguintes prédios representativos:
o Palácio da Justiça, no prédio inicialmente destinado ao Palácio Arquiepiscopal do Rio de
Janeiro;
o Senado, que seria instalado no Palácio Monroe, após a Exposição da Independência, em
1922;
a nova sede da Escola Nacional de Belas Artes, que contava com uma galeria de
exposições permanentes;
a nova sede da Biblioteca Nacional, instalada desde 1858 em um prédio da Rua do Passeio
(local da atual Escola de Música da UFRJ);
o Theatro Municipal, construído com a frente voltada para a nova Praça Ferreira Vianna,
que tomou lugar do antigo Largo da Mãe do Bispo. O projeto do teatro teve inspiração na
Ópera de Garnier, erigido em Paris.
1.4. As obras para implantação da Avenida
13
As desapropriações e indenizações das 590 construções que foram demolidas, assim como a
implantação do canteiro de obras, foram executadas em tempo recorde, conforme comentado
amplamente na imprensa de então:
Tal foi a rapidez da execução que, ao contemplar o largo e pulverulento rasgo,
aberto atravez de quarteirões sem fim, duvidamos ainda da realidade e hesitamos
em acreditar que tão extraordinária transformação houvesse sido feita sob a égide
do anjo da indústria, salvador e fecundo, e não ao impulso do demônio da guerra,
destruidor e voraz. (REVISTA O CRUZEIRO, OUT.1904).
Em apenas vinte meses, todos os prédios já haviam sido demolidos; a área ao longo da Avenida,
reloteada, e seus terrenos, vendidos ou permutados.
13
Foram consideradas as informações fornecidas pelo professor Paulo Santos:
No prazo recorde de vinte meses foram desapropriados e demolidos 590 velhos
prédios, numa extensão de 1975 metros, reloteados, vendidos ou permutados os
terrenos e rasgada a avenida.[...] (apud FERREZ, 1982, p.25).
Há informações conflitantes com estas, como a que consta da citação de Maurício Abreu, no item 1.2. deste
trabalho, que aponta o total de duas ou três mil casas demolidas. O número citado pelo professor Paulo
Santos é compatível com o somatório de lotes demolidos representados na planta anexa ao Álbum da
Avenida Central (FERREZ, 1982), reproduzida na Ilustração 9.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
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39
O primeiro trecho da Avenida, compreendido entre o Largo da Prainha – denominada Praça Mauá
a partir de 1910 e a Rua Marechal Câmara, desaparecida quando da abertura da Avenida
Presidente Vargas, foi inaugurado em 7 de setembro de 1904, 292 dias após a instituição da
Commissão Constructora da Avenida Central. Essa inauguração contou com a urbanização dos
passeios. O segundo trecho, que se estendia da Rua Marechal Câmara, até a Rua de Santa
Luzia, totalizando a sua extensão, foi inaugurado em 15 de novembro de 1905, ainda na gestão
do Prefeito Pereira Passos, o qual, em 16 de novembro de 1906, entregou a prefeitura ao
comando do General Souza Aguiar.
Ilustração
6
Caricatura publicada na Gazeta de Noticias (6 mar. 1904), pela ocasião do início das
obras de abertura da Avenida Central.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
Sandra Zagari-Cardoso
40
A Avenida foi entregue pavimentada com asfalto, iluminada por eletricidade, arborizada em seu
canteiro central e nas calçadas laterais, e pavimentadas em mosaico português, 30 prédios
estavam acabados e 85 em andamento, restando apenas quatro lotes de terrenos por vender. A
maior parte dos prédios a construir concentrava-se no trecho final da Avenida, como os da
Biblioteca Nacional, da Escola de Belas Artes e do Club Naval, conforme registrado na fotografia
de Marc Ferrez, de 1906 (Ilustração 8). Muitos desses prédios localizavam-se em terrenos
definidos pelo desmonte do Morro do Castelo. Se comparada à fotografia datada de 1904
(Ilustração 7), quando a Avenida se apresentava ainda árida, com os terrenos que viriam a ser
ocupados pelo Teatro Municipal, Escola Nacional de Belas Artes e Biblioteca Nacional apenas
demarcados por cercas, que ainda continham escombros das antigas casas demolidas, a rapidez
das obras e a mudança na paisagem é impressionante.
As fotografias de autoria de Marc Ferrez que fazem parte do Álbum da Avenida Central (1982)
registram os prédios que se encontravam construídos até 1906, quando o material entrou em
produção gráfica. Até 1910, a maioria absoluta dos prédios estava finalizada e em funcionamento,
como mostrado na Ilustração de número 9.
Ilustração
7
-
Avenida Central, vista para o sul, cerca de 1904. A fotografia registra os terrenos definidos
pelo corte do morro do Castelo. À direita, local da construção do Teatro Municipal e do Clube Naval; à
esquerda, os terrenos onde foram construías a Escola de Belas Artes (em 1º plano) e a Biblioteca Nacional,
em seqüência, mais afastada. Fonte: Revista KOSMOS, apud FERREZ, 1982, p. 30.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
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Ilustração 8 (acima) - Vista para o sul,1906. (FERREZ, 1982. p. 50)
Ilustração 9 (acima) - Vista para o sul, 1910 (FERREZ, 1982.p. 31).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
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42
1.5. Os Terrenos ao Longo da Avenida
Foram definidos ao longo da Avenida quarenta e sete terrenos ocupando a lateral esquerda, de
numeração impar, enquanto a sua extensão direita foi dividida em quarenta terrenos,
correspondentes aos lotes pares, totalizando oitenta e sete os prédios a serem edificados ao
longo dos quase dois mil metros de extensão da nova avenida (ver quadro geral com todos os
lotes, proprietários, arquiteto e construtor dos prédios da Avenida no Anexo I).
O último lote do lado impar, na esquina da Rua de Santa Luzia, em frente ao Palácio Monroe,
onde se pode ler a designação: “Terreno reservado para hotel”, e o lote vizinho à Escola de Belas
Artes, onde posteriormente foi construído o Derby Club
14
, correspondente aos números 193, 195 e
197 da avenida, está especificado apenas “Governo Federal” (ver ilustração 19, página 37). Não
no Álbum do Ferrez (1982), nenhuma informação quanto às construções destinadas a estes
dois terrenos, nem seus projetos parecem constar daqueles aprovados para construção pela
Comissão Construtora da Avenida. Atrás do lote designado “Governo Federal”, voltado para a Rua
Paralela, atual Rua México, um lote designado “Liga contra a Tuberculose”, cuja existência do
projeto no Arquivo Nacional não tivemos a oportunidade de verificar.
A testada frontal dos lotes foi definida pela Comissão da Avenida Central com extensão mínima de
10 metros de comprimento e de pouca profundidade, muitas vezes menor que a testada.
Observando a planta do Álbum do Ferrez (1982): “Projecto da Avenida Central e Obras
Complementares” (ilustração a seguir), onde estão representados os terrenos das casas que
foram demolidas e o traçado projetado para os novos lotes (coloridos), é fácil perceber a nova
proporção dos lotes definidos, inversa ao modelo tradicional circunvizinho. Vale a pena lembrar
que as construções existentes então na Cidade do Rio de Janeiro, em sua maioria sobrados de
dois ou três pavimentos, tinham testada de lote em torno de 3,00 a 6,00 metros de largura e
grande profundidade, em torno de 40 metros.
Ainda podemos observar a irregularidade dos novos lotes, devido à confrontação com as
construções existentes, além da área de intervenção da Avenida. Exemplificamos esta
característica com a ilustração referente ao Lote 18 da Avenida.
14
O Derby Club foi fundado em 1885 e o seu primeiro presidente foi o engenheiro Paulo de Frontin,
presidente da Comissão Construtora da Avenida Central e do Club de Engenharia. O edifício-sede do Derby
Club foi concebido pelo arquiteto Heitor de Mello e inaugurado em 1913 (CREA-RJ, 2007).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
Sandra Zagari-Cardoso
43
Ilustração
10
-
PROJECTO DA AVENIDA CENTRAL E
OBRAS COMPLEMENTARES”. Fonte: FERREZ, 1982,
prancha anexa.
Prédio nº. 18
ver Ilustração 11
11
Exemplo de irregularidade de alguns lotes, devido à compatibilização
com a malha urbana antiga da cidade, além da área de intervenção para a abertura da
Avenida: o Prédio de nº. 18, projeto de Christovão dos Santos; o pavimento térreo é
ocupado por armazém e os superiores destinados à moradia, semelhante aos sobrados
tradicionais (Arquivo Nacional, fotografia da autora)
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
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1.6. Os Concursos de Fachadas e de Projetos
Em março de 1904, a Comissão Construtora da Avenida Central realizou um concurso de
fachadas para os prédios a serem construídos ao longo da nova avenida. Essa prática foi
empregada em mais de um momento na França, como os concursos para a Rue de Rivoli e para
a Place Vendôme, por exemplo. O Rio de Janeiro já havia sido palco de uma experiência
semelhante, na primeira metade do século XIX, quando o arquiteto Grandjean de Montigny
elaborou um concurso para as construções em torno do Campo de Santana.
O concurso de fachadas para a Avenida Central tinha dois objetivos: o primeiro, de criar junto à
imprensa e ao público o espírito de novidade e de impacto, em face das fachadas elevadas e dos
variados estilos arquitetônicos historicistas quando comparados ao conjunto homogêneo e
compacto formado pelos sobrados de dois ou três pavimentos da cidade tradicional, com seus
telhados de barro; o segundo, de garantir a qualidade e a diversidade de estilos empregados nas
fachadas para a composição da Avenida, conferindo-lhe o tom cosmopolita desejado. De acordo
com as notícias divulgadas pela imprensa na época do concurso, os proprietários poderiam
adquirir extensões de fachadas com o número de portas e janelas convenientes à sua
necessidade. As plantas baixas seriam desenvolvidas posteriormente, conforme o uso destinado à
edificação. Os projetos apresentados eram independentes dos terrenos definidos pelo projeto de
arruamento da Avenida, apenas considerando comprimentos de fachadas pré-definidos.
Os editais do concurso foram publicados em diversos veículos da imprensa e concorreram
inúmeros profissionais de renome, que trabalhavam no Rio de Janeiro, em outras cidades e, até
mesmo, em outros pses. Muitos desses profissionais foram os autores dos projetos
apresentados posteriormente à Comissão da Avenida Central para aprovação da construção dos
prédios. Nesse processo de aprovação, porém, não houve qualquer obrigatoriedade de utilização
das composições apresentadas no concurso. Dos projetos concorrentes, conseguimos encontrar
apenas algumas imagens que foram veiculadas em revistas da época. As Ilustrações a seguir
reproduzem os trabalhos dos três primeiros colocados no concurso.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
Sandra Zagari-Cardoso
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Ilustração
12
- Raphael Rebecchi, projeto contemplado com o 1º prêmio do concurso. (Revista O MALHO, 2
abr. 1904. Apud BRENNA, 1984, p.141).
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Ilustração
14
(abaixo)
-
T Driendl e M.E. Hehl,
contemplados com o 3º prêmio do concurso de fachadas.
(Revista RENASCENÇA, jun.1904. Apud BRENNA, 1984.
p. 143).
Ilustração
13
(ao lado)
-
Morales de los Rios, contemplado
com o prêmio do concurso de fachadas. (Revista
RENASCENÇA, jun.1904. Apud BRENNA, 1984, p.142).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
Sandra Zagari-Cardoso
47
Para a construção do Teatro Municipal, a cargo da Prefeitura do Rio de Janeiro, foi executado
outro concurso de projetos, publicado em edital da Prefeitura, datado e 19 de março de 1904. Os
projetos, de sete concorrentes, foram entregues em envelopes lacrados, sem identificação de
autoria, constando apenas um codinome. No dia 21 de setembro de 1904, os jornais noticiaram o
resultado do concurso:
[...] Após o estudo o Dr. Paulo de Frontin propoz que de accordo com o edital
reunissem o e prêmios, sendo esses conferidos conjunctamente aos
projectos Aquilla e Isadora, que foram classificados como os melhores,
equivalendo-se nos merecimentos e nas deficiências, aliás, sanáveis.
[...] Em conseqüência dessa votação foram reunidos os dous prêmios num só,
sendo dados a Aquilla e Isadora.
Consultados se devia haver premio, responderam pela affirmativa todos os
presentes, com excepção do professor Bernardelli e Andrade Pinto, sendo
conferido esse premio ao projecto Néo.
[...] Em seguida procedeu-se á abertura dos envelopes que continham os nomes
dos concorrentes, verificando-se que o autor do projecto Aquilla era o Dr. Oliveira
Passos e a execução feita na secção de archictetura da Prefeitura. Do projeto
Isadora, o Dr. Alberto Guilbert, vice-presidente da Associação dos Archictetos
Francezes. Do projeto Néo, o Dr. Victor Dubugras, professor da Escola
Polytechnica de São Paulo. (GAZETA DE NOTICIAS, “Theatro Municipal”, 22 set.
1904, apud BRENNA, 1984, p.242 - 243)
O resultado foi motivo de escândalo na imprensa, pois o autor de um dos projetos vencedor, além
de filho do prefeito, era consultor técnico da prefeitura. O projeto desenvolvido para construção do
teatro mesclou elementos compositivos dos dois projetos vencedores do concurso.
Encontramos nos arquivos do Museu da República, no acervo da família Passos, o Memorial do
concurso, referente ao projeto “Aquilla”, contendo descritivo, orçamentos e quantitativos de
materiais, que trataremos mais adiante, no prosseguimento do trabalho.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
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48
Ilustração
16
-
Projeto denominado “Isadora”, classificado em e lugar no concurso de projetos para
o Teatro Municipal, de autoria de Albert Guilbert, juntamente com o projeto “Aquilla”. (O Commentario,
nov.1904. Apud BRENNA, 1984, p.394)
.
Ilustração
15
Projeto denominado “Aquilla”, classificado em e lugar no concurso de projetos para o
Teatro Municipal, de autoria de Francisco Oliveira Passos, juntamente com o projeto intitulado “Isadora”. (O
Commentario, nov.1904. Apud Brenna, 1984, p.395).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 1
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49
Ilustração
17
Fachada principal do Teatro Municipal. Pode-se observar na composição final a utilização
de elementos dos dois projetos anteriores (FERREZ, 1982, p. 186).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
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Capítulo 2. Os Projetos e os Arquitetos dos Prédios da
Avenida Central
2.1. Método de Análise e de Classificação dos Aspectos
Observados nas Edificações Analisadas
O acervo integrante do Fundo da Comissão Construtora da Avenida Central, guardado no Arquivo
Nacional, ponto de partida de nosso trabalho, encontrava-se disponível apenas parcialmente para
consulta na ocasião desta pesquisa, por motivos técnicos de conservação. Tivemos acesso à
parte dos projetos aprovados para construção, tendo sido possível sua reprodução, através de
fotografia digital para análise posterior, fora da instituição.
Do total de 83 prédios que constam do “Álbum da Avenida Central” (FERREZ, 1982), listados no
Anexo I, tivemos a oportunidade de analisar 53 projetos pertencentes ao Fundo da Comissão
Construtora da Avenida Central
15
da referida instituição
16
; as datas de aprovação dos projetos pela
Comissão Construtora da Avenida correspondem ao período compreendido entre os anos de 1904
a 1906.
Marcamos os projetos analisados em vermelho, indicando o número dos lotes (Ilustração 19),
tendo sido utilizada como base para a planta a prancha intitulada: “PLANTA DA AVENIDA
CENTRAL E OBRAS COMPLEMENTARES” (FERREZ, 1982), que continha a indicação de cada
proprietário inscrita nos terrenos. Comparamos essas informações com aquelas contidas em cada
um dos projetos fotografados no Arquivo Nacional e as informações se mostraram compatíveis;
apenas em alguns casos as informações contidas nos envelopes individuais de arquivamento de
cada projeto, onde constam os nomes dos proprietários, arquiteto e construtor, tinham informação
diferente daquelas que constam sob cada fotografia do Álbum da Avenida Central (FERREZ,
1982).
15
Referência de arquivamento no Arquivo Nacional: COD 1C, Seção de Guarda SDE 007.
16
Cinqüenta e um projetos tiveram como base de pesquisa o material iconográfico pertencente ao acervo
do Arquivo Nacional. A análise referente ao Teatro Municipal foi fruto da documentação pesquisada na
Coleção Pereira Passos, pertencente ao acervo do Arquivo do Museu da República, e a pesquisa referente
ao prédio da Biblioteca Nacional foi apoiada no material iconográfico e documental arquivada na própria
instituição.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
51
Cada projeto foi analisado individualmente, com base na observação das representações gráficas
contidas nos desenhos. Complementamos nossa análise com pesquisa sobre as determinações
específicas elaboradas para a aprovação dos prédios a serem construídos na Avenida Central e
pelas posturas municipais que incidiam sobre as construções, vigentes naquela ocasião. À busca
de informações que complementassem aquelas provenientes da análise gráfica dos projetos,
procuramos notícias publicadas pela imprensa da época, que foram encontradas, já selecionadas,
na coletânea publicada em “O Rio de Janeiro de Pereira Passos” (BRENNA, 1984), além de
pesquisarmos em diversas fontes documentais pertencentes a instituições como a Biblioteca
Nacional, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - IHGB e Museu da República.
Observamos que muitos dos projetos gráficos que analisamos, guardados no Arquivo Nacional,
contêm pranchas de alterações parciais de projeto, com data posterior às demais, sugerindo que
foram submetidas para reaprovação de acordo com o que de fato estava sendo construído,
conforme determinado no Artigo XIV das “Regras Geraes a que ficam sujeitas as construcções da
Avenida Central [...]”, de 7 de maio de 1904 (Anexo II).
Após as análises elaboradas de cada projeto, organizamos um Quadro Resumo Geral de
Informações dos Imóveis (Anexo II), sintetizando os aspectos avaliados que pudemos definir
referentes ao sistema estrutural, instalações hidrossanitárias e instalações mecânicas.
Também organizamos um quadro listando as edificações, tendo como norteador o arquiteto
autor do projeto; diversos profissionais atuaram em mais de uma edificação na Avenida,
propiciando a oportunidade de avaliarmos se as tecnologias adotadas nos vários projetos
desenvolvidos pelo mesmo profissional guardavam soluções em comum. Trataremos de esse
aspecto a seguir, no item 2.2. deste trabalho.
Por fim, listamos as edificações de acordo com o número dos pavimentos das edificações,
reproduzida no Anexo III, para avaliarmos o quanto as tecnologias aplicadas nos prédios eram
orientadas por esse aspecto, em especial no que diz respeito ao sistema estrutural e à existência
de elevadores elétricos. Não percebemos qualquer indicação que nos levasse a afirmar que o
número de pavimentos das edificações tivesse caracterizado as tecnologias adotadas nos
projetos. Apenas constatamos que a grande incidência do uso de elevadores concentrou-se nas
edificações compostas por pavimento térreo e três ou mais pavimentos superiores, o equivalente
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
52
a 23,58% dos casos estudados. Voltaremos a esse tema mais detalhadamente no item 3.4.4.,
referente às Instalações Mecânicas.
Ilustração
18
Envelope original de entrega dos projetos para aprovação pela Comissão Construtora
da Avenida Central. Constam as informações referentes a numeração do prédio, Proprietário,
Construtor, Autoria do Projeto, nível de cota da soleira da edificação, definido pela Comissão
Construtora e data da aprovação do projeto. O número etiquetado (605 na fotografia) é a referência de
arquivamento do envelope e das plantas de projeto nele contidas no Arquivo Nacional.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
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53
Ilustração 19 – Marcação em vermelho dos projetos analisados, tendo por base aPLANTA DA AVENIDA CENTRAL E OBRAS COMPLEMENTARES”. Fonte: FERREZ, 1982, prancha anexa.
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Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
54
2.2. Legislação a que Estavam Sujeitas as Construções a
Serem Edificadas na Avenida Central
A pesquisa elaborada apontou dois documentos que estabeleciam as regras e características que
deveriam ser seguidas pelas edificações a serem erguidas na nova Avenida que estava surgindo
na cidade. O primeiro documento, intitulado “Regras geraes a que ficam sujeitas as
construcções na Avenida Central e a que se refere o Aviso n.368 de 7 de Maio de 1904”
(Anexo IV), foi elaborado pela Comissão Construtora da Avenida Central (1904); o segundo
documento estudado foi o Decreto Municipal nº. 391, de 10 de Fevereiro de 1903, promulgado
pelo recém-nomeado Prefeito do Distrito Federal, Francisco Pereira Passos. Abordaremos, a
seguir, alguns pontos desses dois documentos.
2.2.1. “Regras geraes a que ficam sujeitas as construcções na
Avenida Central e a que se refere o Aviso n.368 de 7 de
Maio de 1904”
Esse documento (Anexo IV) estabelecia o prazo de 90 dias, a partir da data da escritura, para
apresentação dos projetos para construção dos prédios à aprovação da Comissão, assinados
pelo proprietário e construtor habilitado. Havia a obrigatoriedade do desenho das plantas de todos
os pavimentos, elevação das fachadas e seções transversais e longitudinais necessárias ao fácil
entendimento do projeto, em escala de 1/100 ou 1/50. As regras gerais ditadas pela Comissão
construtora foram divulgadas pelo Jornal do Commercio, em sua edição de 10 de maio de 1904
(apud BRENNA, p.179-180).
Todos os projetos de propriedade particular pertencentes ao Arquivo Nacional que foram
analisados são compostos por pranchas com os desenhos nos padrões estabelecidos. O mesmo
não acontece com os prédios públicos, cujos projetos arquivados são incompletos, alguns
compostos apenas por plantas baixas, como a Caixa de Amortização (números 28 a 36); outros,
apenas pelas plantas de alguns pavimentos e fachada para a Avenida, como a Escola Nacional
de Belas Artes e a Biblioteca Nacional.
Em relação aos aspectos tecnológicos, objeto de nossa análise, não encontramos qualquer
disposição a esse respeito nas Regras da Comissão Construtora da Avenida Central; não são
estabelecidos critérios quanto às instalações hidrossanitárias ou elétricas, nem quanto ao sistema
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
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estrutural a serem aplicados nas novas edificações. Composto por 17 artigos, o libreto editado
pela Comissão ordenações diversas quanto aos prédios a serem construídos. Destacamos
alguns de seus artigos:
VI
Os terrenos marginaes da Avenida Central serão nivelados conforme for
determinado pela Commissão, tendo em vista os perfis longitudinal e transversal
da Avenida.
VII
O nível da soleira de cada edifício será fixado pela Commissão, devendo ser
inscripto nos respectivos planos approvados.
VIII
Nenhum edifício a se construir na Avenida Central poderá ter menos de dez
metros de frente sobre ella, nem numero de pavimentos inferior a três.
IX
Os edifícios na Avenida Central, exceptuados os que tiverem fim especial,
deverão ter o pavimento térreo destinado a lojas commerciaes. (CENTRAL, 1904.
Reproduzida a ortografia original do texto).
Os artigos VI e VII referem-se aos caimentos do perfil de implantação da Avenida a ser aberta em
meio à área urbana ocupada, sendo necessária a compatibilização de sua caixa nas
interseções com as ruas transversais existentes, fora da área de intervenção. Encontramos em
alguns projetos a representação da saída de esgoto sob o piso do pavimento térreo e, às vezes,
sua representação também em corte, indicando o local de lançamento dos esgotos prediais na
rede coletora pública.
O artigo VIII fixa a testada mínima das fachadas em relação a Avenida Central em dez metros e o
número mínimo de pavimentos. Analisando os projetos, observamos a adoção da concepção de
planta de uma edificação como dois ou três prédios geminados, unificados em uma mesma
composição de fachada, a fim de que a testada para a Avenida ficasse com a largura adequada,
como podemos verificar no prédio de número 129 a 131, ilustrações 20 e 21.
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Ilustraç
ão
20
Fotografia da fachada do
prédio 129 a 131; projeto e construção de
Heitor de Mello (FERREZ, 1982, p. 95).
Ilustração
21
Plantas baixas do prédio 129 a 131; projeto e construção de Heitor de Mello. A cota total de
eixo a eixo das paredes externa é de 11,00 metros. O prédio de três pavimentos foi solucionado como duas
unidades geminadas, unificadas em uma única composição de fachada (Arquivo Nacional, fotografia da
autora).
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Capítulo 2
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57
Outra ocorrência que verificamos foram alguns casos em que terrenos de conformação irregular
são tratados em sua porção frontal de acordo com a legislação, ao passo que a porção posterior
da edificação é tratada de maneira diferenciada, alguns como outro prédio, com área descoberta
entre as duas construções, como a solução adotada no número 181, ilustrações 22 e 23.
Observamos também, em um dos projetos, o registro da manutenção de parte de uma construção
existente, na Rua do Hospício, integrando-a ao novo projeto do prédio voltado para a Avenida
(ilustração 24).
Ilustração
22
Plantas baixas do prédio nº181, referente ao bloco frontal, voltado para a Avenida
Central. Projeto de René Barba (Arquivo Nacional, fotografia da autora).
Avenida Central
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Ilustração 23 Planta baixa do prédio nº. 181, referente à área posterior do terreno. A ocupação é diferente daquela proposta no bloco frontal;
apenas pavimento térreo, em forma de galpão com apoios em estrutura metálica e telhado em estrutura de madeira. Lê-se no título da prancha:
Planta de um laboratório. Projeto de autoria de René Barba (Arquivo Nacional, fotografia da autora).
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Ilustração
24
Plantas baixa do prédio 99/101, projeto de Manoel Joaquim de Oliveira; pode ser
observado que parte da edificação está grafada como existente e é clara a alteração da parede estrutural
proposta entre a unidade existente e a parte nova para unifica-las, além da nova marcação das alvenarias
de fachada, de maneira que a construção existente e a nova projetada sejam parte de uma mesma
composição arquitetônica (Arquivo Nacional, fotografia da autora).
Rua do Hospício
Existente
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Capítulo 2
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60
O Artigo IX dispõe sobre o uso das construções. Dentre os projetos analisados, apenas os prédios
destinados a fins especiais, que são aqueles públicos, têm o seu pavimento térreo sem unidades
comerciais: Caixa e Amortização, Escola Nacional de Belas Artes, Biblioteca Nacional e Teatro
Municipal; o único prédio particular analisado sem loja comercial no térreo é o Hotel Avenida,
ocupando a numeração de 185 a 191 da Avenida; encontramos a indicação em corte de um porão
baixo, não habitável, de acordo com as posturas municipais (ver ilustrações 29, 30, 31, item
2.3.2.).
Em relação ao uso destinado aos pavimentos superiores das edificações, registramos uso
totalmente comercial ou uso misto: comercial e residencial. Dentre os 53 projetos analisados, 28
edificações (53% do total) foram projetadas para uso misto. Essas edificações têm a seguinte
configuração: pavimento térreo, ocupado por uma ou mais casas comerciais, denominadas
comumente em projeto de Armazéns ou Lojas; pavimento imediatamente superior, muitas vezes
destinado aos escritórios da unidade comercial ou, em alguns casos, já de uso residencial;
terceiro pavimento em diante, uso residencial
17
, com uma ou mais unidades por pavimento,
conforme ilustrado na página seguinte.
17
Não conseguimos precisar em alguns casos se se tratavam de unidades residenciais unifamiliares ou
destinadas à casas de pensão, tipo de moradia coletiva muito comum na época e com construção permitida
em toda a cidade, de acordo com Decreto 391, Capítulo VI, de 10 de fevereiro de 1903; o que nos levou a
assim pensar foi o grande número de dormitórios existentes em alguns projetos.
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Ilustração
25
Projeto referente ao prédio a ser construído nos n.os 155, 157 e 159 da Avenida Central, esquina com a Rua da Assembléia. Da esquerda para a direita: pavimento térreo, composto por três casas comerciais; 1º
pavimento, sem indicação do uso dos compartimentos, mas que também parece a se destinar ao uso comercial; 2º pavimento, composto por duas residências com acesso feito através de escadas independentes; telhado. O projeto, de
autoria de M.E. Hehl, corresponde a um dos dez prédios de primeira geração existentes hoje.
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Capítulo 2
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2.2.2. Decreto Municipal nº. 391, de 10 de Fevereiro de 1903.
No documento analisado no item anterior (Anexo IV), está especificado o seguinte:
XII
Na construcção dos prédios da Avenida Central a Commissão fará observar as
prescripções do Decreto Municipal n. 391 de 10 de fevereiro de 1903, salvo as
alteradas pelas presentes regras geraes (CENTRAL, 1904. Grifo nosso e
reproduzida a ortografia original do texto).
O Decreto Municipal a que também foram submetidas as construções a serem edificadas na
Avenida Central foi assinado pelo recém nomeado Prefeito do Distrito Federal, engenheiro
Francisco Pereira Passos, que havia tomado posse no cargo em 30 de dezembro de 1902. No
caput do decreto está definido: “Regula a construcção, reconstrucção, accrescimos e
concertos de predios”. (MUNICIPAES, 1905. Reproduzida a ortografia original do texto). O
decreto trata de condições gerais das construções, podendo observar-se as preocupações de
cunho sanitarista. É esse decreto que prbe a construção de novos cortiços e as obras de
reforma e melhoria nos existentes. Destacamos aqui alguns parágrafos do referido decreto, para
em seguida comentar:
CAPÍTULO III
CONDIÇÕES A QUE DEVEM SATISFAZER TODOS OS PREDIOS A
CONSTRUIR OU RECONSTRUIR
Art.14. Todas as construcções satisfarão as seguintes condições:
§2º - As paredes mestras serão levantadas em alicerces construidos sobre terreno
firme ou préviamente consolidado, não tendo nunca menos de sessenta
centimetros de profundidade.
§ - A argamassa, em geral será de cimento ou cal, areia ou saibro, não se
admitindo, em caso algum, o emprego de argila ou areia do mar.
§ 5 - Toda a superfície occupada por qualquer construcção será revestida de uma
camada impermeável de asphalto ou concreto, com a espessura mínima de 15
centimetros, que abrangerá também a área occupada pelas paredes mestras.
CAPÍTULO V
CASAS COMMERCIAES
Artigo 19 Em qualquer local, o primeiro pavimento das casas commerciaes
poderá ser térreo, sendo, porem, sempre revestidos de ladrilho, cimento ou
asphalto, com ou sem soalho de madeira, contanto que este fique nas condicções
do § do Artigo 16 [... soalho que corra no Maximo a doze centimetros do chão
impermeável] (PREFEITURA, 1903, complementação nossa. Reproduzida a
ortografia original do texto).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
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63
O parágrafo quarto trata do emprego do cimento nas argamassas destinadas às construções
como de uso corrente, juntamente com a utilização tradicional da cal, mesmo sem a definição dos
traços a serem empregados, conforme a sua utilização.
Os dois outros itens que destacamos representam a preocupação com a salubridade nas
construções, em acordo com a política sanitarista implantada na capital federal a cargo do médico
Oswaldo Cruz. O objetivo de tais medidas era garantir a baixa umidade nas construções, em
específico evitar os problemas causados por umidade ascendente vinda do solo.
O artigo 19 enquadra a situação dos prédios a serem erigidos na Avenida Central. O uso do porão
elevado recorrente nas construções da época para afastar a construção do solo não foi aplicado
na maioria dos prédios, cujos pavimentos térreos eram, obrigatoriamente, destinados a casas
comerciais. Apenas as edificações de usos especiais, como a Caixa de Amortização, Teatro
Municipal e Biblioteca Nacional, por exemplo, contavam com porão. O prédio da Biblioteca tem
porão com 4, 50 metros de pé-direito e era destinado às oficinas de manutenção, casa de força e
de máquinas.
§ 24 do Artigo 14, Capítulo III O direito mínimo das constrições será de 4,00
metros no primeiro pavimento, 3,80 metros no segundo e 3,60 metros nos demais.
Nos edifícios de mais de 8,00 metros de largura de fachada sobre a rua, o pé
direito mínimo será de 4,50 metros, 4,20 metros e 4,00 metros,
respectivamente. (PREFEITURA, 1903, grifo nosso. Reproduzida a ortografia
original do texto).
A testada mínima definida para os lotes da Avenida Central era de 10,00 metros (artigo IX das
Regras Gerais determinadas pela Comissão Construtora da Avenida Central); logo, todos os
prédios a serem erguidos na Avenida Central deveriam ter os pés direitos definidos para os lotes
com mais de 8,00 metros de largura de fachada sobre a rua.
§ 12 do Artigo 14, Capítulo III Os compartimentos destinados à copa, dispensa,
latrina, banheiro e cozinha terão revestimento estanque nos pavimentos e
paredes, até a altura de um metro e cincoenta centímetros.
§ 14, idem As águas pluviaes, quando possível, escoarão por meio de calhas e
conductores para ralos providos de syphão collocados nas áreas ou quintaes
interiores.
Os itens reunidos neste último grupo referem-se às disposições sobre instalações
hidrossanitárias. Analisando os desenhos dos projetos aprovados para construção dos prédios
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
64
pela Comissão Construtora da Avenida Central, podemos observar o grafismo representando as
áreas ladrilhadas nos cortes e plantas baixas referentes aos compartimentos destinados a
banheiros, copas e demais usos dispostos no parágrafo 12.
O parágrafo 14 afirma a utilização de calhas e prumadas de águas pluviais, interligados a caixas
de ralos providos de sifão, indício de que ainda era aplicado nas construções da época o sistema
denominado separador parcial inglês, que vem a ser o uso de coletores separados para águas
pluviais e esgotos na área interna das construções, unindo as duas contribuições após as caixas
de ralos sifonados que interligavam a rede interna à rede urbana. Contudo, nas novas construções
da Avenida, deve ter sido utilizado o sistema do tipo separador absoluto, empregado até os dias
atuais, que consiste de galerias urbanas de esgoto e de águas pluviais correndo separadas,
sendo as galerias de esgoto direcionadas para os distritos da City Improvements, para o
lançamento adequado dos dejetos ao mar, e as galerias de água pluvial direcionadas a córregos,
rios ou mar, separadamente. De acordo com as informações pesquisadas na Cedae (CEDAE,
2007), esse sistema passou a ser adotado pela City Improvements a partir do contrato de 1899
apenas nas áreas novas das cidades e nas áreas de intervenção, como o caso da Avenida
Central. Seu uso se tornou obrigatório em toda a cidade a partir de 1913. Ainda sobre o sistema
predial de esgoto adotado pelas construções da época, as caixas de ralo sifonado, a que se refere
o texto do parágrafo 14, eram responsáveis pelo alívio de pressão da rede interna e desconexão
desta com a rede urbana, evitando o retorno de gases pela tubulação. Ainda não se fazia uso de
prumadas de ventilação conectadas às tubulações de lançamento de esgotos, como utilizamos
hoje com esse objetivo.
§ 25, idem As construcções destinadas a latrinas e banheiros poderão ter 2,40
metros de pé direito.
O parágrafo 25 retrata o tratamento ainda adotado para a construção dos banheiros, em separado
do corpo principal da casa, a tradicional “casinha”, não integrados ao restante do programa da
construção. A tábula rasa proporcionada pela grande intervenção para a implementação da
Avenida Central, não para a construção de suas edificações, mas também para a
implementação das redes de infra-estrutura urbana, propiciou que, nos prédios da Avenida, o
posicionamento dos sanitários fosse, em muitas de suas construções, integrado ao restante das
atividades desenvolvidas nos projetos de arquitetura. Este ponto será analisado mais atentamente
quando da análise dos projetos das construções.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
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65
§ 27, idem Todos os prédios terão um reservatório de água, de capacidade
nunca inferior a de mil litros, para abastecimento de seus moradores, o
podendo se fazer derivação directa desses reservatórios para os vasos das
latrinas, esgotos etc.
Podemos deduzir por essa determinação que todos os prédios contavam com um reservatório,
mesmo que em nenhum dos projetos aprovados para construção pela Comissão Construtora da
Avenida Central esteja representado reservatório de água nas edificações.
§ 28, idem As latrinas nunca poderão ser collocadas em vãos de escadas, nem
em lugares que não recebam ar e luz directamente do exterior [...]
§ 29, idem Sob a cobertura dos prédios se permittirá a colocação de latrinas
do systema Unitas” ou outro systema semelhante, munidas de respectiva caixa
de descarga.
O “sistema Unitas” a que se refere o texto parece se tratar de vaso com caixa de descarga
elevada, utilizado até o presente. Encontramos assim representados em diversos cortes dos
projetos aprovados.
§ 31, idem Os encanamentos de esgoto passarão o mais afastado possível do
de água, não podendo a distancia entre elles ser menor de um metro.
O assunto tratado no parágrafo 31 mais uma vez retrata a preocupação extrema da época com o
saneamento e ainda o pouco conhecimento técnico dos materiais empregados. As tubulações
utilizadas eram metálicas, em cobre, ferro ou chumbo, este último utilizado na confecção de
sifões, por exemplo.
2.3. Arquitetos Autores dos Projetos
Vamos tratar neste item daqueles profissionais que atuaram em dois ou mais projetos de prédios
da Avenida Central.
2.3.1. Adolfo Morales de los Rios
O Arquiteto Morales de los Rios é o profissional com o maior número de projetos na Avenida. São
no total 17, de acordo com as informações contidas no “Álbum da Avenida Central" (FERREZ,
1982); tivemos acesso a 12 deles. São edificações destinadas aos mais diversos fins. Seja de
propriedade pública, como a Escola Nacional de Belas Artes, seja da Arquidiocese do Rio de
Janeiro, para a qual desenvolveu dois projetos de prédios a serem construídos na Avenida, seja
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
66
de diversos clientes particulares. O arquiteto, professor de composição de arquitetura da Escola
de Belas Artes, é dos poucos profissionais que atuou na Avenida exclusivamente como arquiteto,
enquanto a maioria dos profissionais atuou como autor de projeto e construtor. Seus projetos
foram construídos por diversos empreiteiros.
Os edifícios projetados pelo arquiteto que foram analisados são os seguintes:
Quadro 1 – Projetos analisados com autoria de Morales de los Rios
No que tange aos sistemas estruturais adotados, temos as seguintes aplicações:
Item Construtor Nº pav.tos Uso
1 87 a 97 Carlos Rossi Térreo + Térreoc/2 lojas e 1ºcom 2 unid comerciais;
2 pav.s 2º com 4 unid.s residenciais
2 103 a 105 João Vieira Lima Térreo + Térreo e 1º, comerciais;
3 pav.s 2ºe3º, com 1 residência/pav.
3
125 Silva & Soucasaux Térreo + Comercial
5 pav.s
4
151 e 153 João Gatell y Solá Térreo + Comercial
2 pav.s
5 161 a 165 Tosta & Machado Térreo + Comercial nos 2 pav.s inferiores e
2 pav.s residencial no andar mais alto c/
1 unidade residencial.
6
183 João Maria Pereira Jr. Térreo + Comercial nos 2 pav.s inferiores e
2 pav.s 3º residencial com 2 unid.s
7
199 a 211 Comissão Constr. da Av. Central Térreo + Escola de Belas Artes
3 pav.s
8 233 a 241 Casemiro Pereira Cotta Térreo + Representativo - mitra arquiepiscopal
2 pav.s + 2
torres front
9 38 a 42 Casemiro Pereira Cotta Térreo + Comercial no térreo e os 2 pavs
2 pav.s superiores residencial.
10
50 Casemiro Pereira Cotta Térreo + Comercial nos 2 pav.s inferiores e
4 pav.s residencial nos 3 pav.s superiores
11
56 a 64 Raphael Rebecchi Térreo + Comercial nos 2 pav.s inferiores e
2 pav.s residencial no superior
12 96 a 100 Daniel Bordenave Térreo + Comercial
2 pav.s
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Capítulo 2
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Quadro 2 - Sistemas Estruturais empregados nos projetos analisados com autoria de Morales de los Rios
Sabemos que os dois projetos maiores e mais importantes do arquiteto números 199 a 211, a
Escola Nacional de Belas Artes, e números 233 a 241, referente ao Palácio Arquiepiscopal, depois
alterado pelo autor do projeto para abrigar o Palácio da Justiça, foram construídos utilizando
elementos metálicos. Porém, nenhum dos desenhos referentes a estes projetos apresentam
indicação gráfica de elementos estruturais, não propiciando nossa análise dos mesmos.
Quanto aos nove projetos que contêm indicações de elementos estruturais, observamos o
emprego de vigas metálicas em perfis do tipo I (duplos e até triplos I), como vergas de vãos, na
periferia dos vãos de ventilação ou no apoio de elementos como escadas, além de colunas de
ferro fundido. Esses elementos estão mesclados ao uso convencional de pisos apoiados em
barroteamento de madeira, telhados armados com peças de madeira e alvenarias estruturais.
Quanto às instalações sanitárias, seu posicionamento em todos os projetos é integrado ao corpo
das edificações.
Em relação às instalações mecânicas, o único prédio com indicação de elevador é o de número
125.
Item Sistema Estrutural
1
87 a 97 Perfis I na linha do telhado; Telhado repres. Madeira
2
103 a 105 Sem indicação de estrutura metálica; Telhado repres. Madeira
3
125 Indic. de colunas de ferro fundido térreo; perfis duplos I como vergas nos vãos de
fachadas; telhado de madeira
4
151 e 153 indicação de colunas de ferro fundido aparentes nos 3 pav.s
5
161 a 165 Sem indicação
6
183 Perfis I como vigas no piso do 2º, na chegada da escada
7
199 a 211 Sem indicação
8
233 a 241 Sem indicação
9
38 a 42 Sem indicação; Telhado em madeira
10
50 Vigas em perfis duplo I na linha de fachada (vergas de vãos).
11
56 a 64 Vigas em perfis duplo I na linha de fachada (vergas de vãos). Pisos e telhado em madeira.
12
96 a 100
Colunas de ferro fundido aparentes em todos os pav.s, além de escada e balaustrada.
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Ilustração
26
Planta baixa do pavimento térreo do prédio nº. 125 da Avenida, de autoria de Morales de
los Rios (Arquivo Nacional, fotografia da autora). Pode-se observar a marcação das colunas de ferro
fundido (assinaladas).
Elevador
Sanitário
Coluna de
ferro fundido
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Capítulo 2
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Ilustração
27
(acima)
-
Corte transversal à Avenida, do projeto do nº. 125, de autoria de Morales de los Rios (Arquivo
Nacional, fotografia da autora). A diferença de cores representadas nas alvenarias vermelho e preto, é por se tratar
de planta de alteração de projeto aprovado; o prédio sofreu o acréscimo de 2 pavimentos; as alterações estão em
vermelho.
Uso de três perfis tipo I
paralelos, como verga nos
vãos de fachada.
Uso de colunas de
ferro fundido no e
2º pavimentos.
Uso de barrotes de madeira
para sustentação do piso de
madeira dos pavimentos.
Ilustração
28
direita)
-
C
orte longitudinal à Avenida do projeto do nº. 125 de autoria de Morales de los Rios
(Arquivo Nacional, fotografia da autora), pode-se observar o barroteamento do piso e a armação dos telhados
em madeira.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
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2.3.2. Antonio Jannuzzi, Irmão & Cº.
Os irmãos Jannuzzi eram os maiores empreiteiros da cidade na época da construção da Avenida.
Atuavam também como autores de projeto, tendo assinado a autoria de 11 projetos na Avenida e
atuado em 14 obras como construtores. São de sua autoria o projeto do Jornal do Commercio
(nº117 a 123) e do Hotel e Teatro Avenida (nº185 a 191), os dois maiores e dos mais sofisticados
projetos entre os edifícios privados que tivemos oportunidade de analisar. O Hotel Palace Avenida
era de propriedade da família Guinle, a qual teve os seis prédios de sua propriedade construídos
ao longo da Avenida pelos irmãos, que foram também responsáveis por cinco de seus projetos
18
.
Os irmãos Jannuzzi ainda projetaram, construíram e eram proprietários do prédio de número 144
na Avenida (projeto não analisado). De acordo com Ata de Inauguração pertencente ao acervo do
IHGB (referência DL 1287.035), este foi o primeiro prédio a ser inaugurado na Avenida, em 27 de
março de 1905. A inauguração do prédio também foi noticiada na imprensa:
“A primeira casa construída na Avenida Central está situada entre as ruas de
S.José e Assembléia. Compõe-se de seis pavimentos: o térreo, primeiro, segundo,
terceiro e quarto andares, encimados por um terraço de onde se desfructa vasto
panorama. [...]
Adoptaram a luz elétrica como meio de illuminação do novo prédio. O Paiz foi que
teve a precedência de installação na Avenida Central; funccionam as
respectivas officinas no seu magnífico palacete em construcção.
E assim como O Paiz foi o primeiro morador da nova artéria urbana, aos Srs.
Jannuzzi cabe a prioridade da primeira casa concluída.” (CORREIO DA MANHÃ,
“Prefeitura”, 24 mar. 1905, apud BRENNA, 1984, p.329)
O professor Paulo Santos, ao discorrer sobre os profissionais que projetaram e construíram os
edifícios da Avenida Central, cita:
[...] o preferido dos Arquitetos pela sua competência e senso de responsabilidade.
Antonio Jannuzzi era também arquiteto de merecimento. Muitos prédios construiu,
alguns importantes como do Jornal do Comércio, com seu próprio projeto.
Terminou por ofertar à Avenida o obelisco com que ela acaba na Praia de Santa
Luzia (apud FERREZ, 1982, p.44).
Analisamos seis projetos de sua autoria. Com exceção do Jornal do Commercio (nº117 a 123), os
demais são de propriedade de Eduardo Palassim Guinle:
18
O sexto prédio, destinado às Docas de Santos, no 44 a 48 da Avenida, cujo projeto é de autoria do
arquiteto paulista Ramos de Azevedo,
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Capítulo 2
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Quadro 3 - Projetos analisados com autoria de Jannuzzi, Irmão & Cº.
Item
Construtor
Nº pav.tos
Uso
1 107 e 109 Antonio Jannuzzi, Irmão Cº Térreo + Comercial
6 pav.s
2 117 a 123 Antonio Jannuzzi, Irmão Cº Térreo + Comercial
7 pav.s Jornal do commercio
3
135 a 139 Antonio Jannuzzi, Irmão Cº Térreo + Comercial nos 3 pav.s inferiores e
4 pav.s residencial nos 2 mais altos c/
1 unid/andar.
4
185 a 191 Antonio Jannuzzi, Irmão Cº Térreo + A solução é de 2 prédios lado a lado inde-
4 pav.s pendentes. Hotel voltado p/ r. S. Gonçalo
5 2 a 6 Antonio Jannuzzi, Irmão Cº Térreo + Comercial
3 pav.s
6
52 e 54 Antonio Jannuzzi, Irmão Cº Térreo + Comercial nos 3 pav.s inferiores e
4 pav.s residencial nos 2 pav.s
superiores
Quanto aos sistemas estruturais adotados nos projetos dos irmãos Jannuzzi, temos as seguintes
ocorrências:
Quadro 4 - Sistemas Estruturais empregados nos projetos analisados com autoria de Jannuzzi, Irmão & Cº.
A representação gráfica se modifica nos seis projetos analisados, dificultando sua interpretação.
Destacamos a utilização do sistema de piso composto por vigas I e abobadilhas de tijolos,
presentes nos pavimentos superiores do prédio de número 107 e 109. Encontrou-se tal sistema
estrutural representado também no piso do foyer do Teatro Municipal, de que trataremos mais
adiante.
Em todos os projetos avaliados, as instalações sanitárias têm posicionamento integrado às
demais atividades desenvolvidas.
Quanto às instalações mecânicas nos prédios de uso estritamente comercial e com maiores
dimensões, ou seja: os números 107 – 109 (Casa Guinle), 117 a 123 (Jornal do Commercio) e 185
a 191 (Hotel Palace Avenida), existem elevadores elétricos projetados. No que tange a outros
equipamentos eletromecânicos que porventura existissem, não há indicação nos projetos.
Item
Sistema Estrutural
1 107 e 109 perfis I na linha de fachada e interior; colunas ferro térreo; piso de perfis metal/abobadilha tijolo
2 117 a 123 Perfis I como vigas nas paredes internas; Telhado repres. Madeira
3 135 a 139 Indic de triplo I como verga nos vãos de fachada e I nos pisos, à volta dos vazios.
4 185 a 191 Teatro sem represent. de estrutura, apenas no telhado repres. Estrut. Metalica
Hotel vigas I nos pisos e duplo I vãos fach.
5 2 a 6 Sem indicação de elementos estruturais; Telhado repres. em madeira
6
52 e 54
Vigas em perfis duplo I na linha de fachada (vergas de vãos); pisos e telhado em madeira.
Hotel Palace Avenida.
Propriedade Eduardo P. Guinle
Propriedade E
duardo P. Guinle
Propr. Eduardo P. Guinle
Propr. Eduardo P. Guinle
/
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
72
Elevador
Sanitários
Cozinha
Sanitários
Ilustração
29
Planta baixa do pavimento térreo do Hotel Palace Avenida e seu teatro (Theatro Phenix), nº. 185 a 191 da Avenida. A entrada do Hotel, dava-se pela Avenida Central (lateral esquerda do desenho),
enquanto o acesso ao teatro fazia-se pela Rua de São Gonçalo (atual Avenida Almirante Barroso). Não há indicação de elementos estruturais nos desenhos das plantas baixas dos pavimentos (Arquivo Nacional).
Sanitários
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
73
Telhado em
estrutura metálica
Telhado em
estrutura metálica
Ilustração 30
Corte no bloco do teatro. Pode ser observado que a sustentação dos pisos é feita com perfis tipo I. Ainda está marcado sob o piso do térreo, localização das tubulações de
coleta de esgoto (Arquivo Nacional).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
74
Vigas de sustentação
do piso em perfil I
Sanitário
Ilustração
31
Corte no bloco do hotel. Pode ser observado que a sustentação dos pisos é feita com perfis tipo I. Ainda está marcado sob o piso do térreo, localização das tubulações de
coleta de esgoto (Arquivo Nacional).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
75
Ilustração
32
-
Planta baixa do 1º pavimento (térreo) do prédio destinado ao Jornal do Commercio, nº 117 a 123. O prédio, projetado com térreo mais 6
pavimentos, contava com elevadores e lojas no térreo (Arquivo Nacional).
Elevadores
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
76
Elevadores
Lavatório
Sanitários
Ilustração
33
Planta baixa do pavimento do prédio destinado ao Jornal do Commercio. O prédio, projetado com térreo mais 6 pavimentos,
contava com elevadores e grande número de sanitários e lavatório em cada escritório, em todos os pavimentos (Arquivo Nacional).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
77
Vigas de sustentação dos
pisos em perfil I
Ilustração
34
Corte do projeto do Jornal do Commercio. A solução adotada para a estruturação dos pisos em vigas metálicas tipo I é semelhante à
solução adotada no bloco do Hotel Palace Avenida (Arquivo Nacional).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
78
2.3.3. Raphael Rebecchi
Raphael Rebecchi foi o arquiteto vencedor do concurso de fachadas para a construção dos
prédios na Avenida (ver item 1.6. do Capítulo 1). Sua atuação abrangia a elaboração de projetos e
a execução de obras. Na Avenida, foi o projetista de cinco edifícios e construtor de três, inclusive
um com projeto de Morales de los Rios.
É de sua autoria o projeto para a nova sede do Club de Engenharia, nos números 124 e 126, obra
a cargo de outro arquiteto, Heitor de Mello. Analisamos os seguintes projetos de sua autoria:
Quadro 5 - Projetos analisados com autoria de Raphael Rebecchi.
Item
Construtor
Nº pav.tos
Uso
1
83 e 85 João Lourenço Madein, posteriorm. Térreo + Térreo comercial;pav.s superiores
Adelardo Soares Caiuby 2 pav.s sugerem residencial (sem identific dos compartim)
2
145 a 149 João Lourenço Madein, posteriorm. Térreo + Comercial no térreo; os pavs. Superiores
Adelardo Soares Caiuby 2 pav.s sugerem residencial (sem identific dos compartim)
3 247 Raphael Rebecchi Térreo + Loja no térreo e pav.s superiores com
2 pav.s uma unid resid/cada
4 104 Raphael Rebecchi Térreo + Comercial
3 pav.s
Quanto aos sistemas estruturais empregados em seus projetos, não nada que observamos de
inovador, sendo aplicadas colunas de ferro fundido aparentes nos pavimentos e perfis metálicos
do tipo I nas linhas de piso.
Quadro 6 - Sistemas Estruturais empregados nos projetos analisados com autoria de Raphael Rebecchi.
Item
Sistema Estrutural
1
83 e 85 Indic. de perfis metálicos como vigas longitudinais internas
2
145 a 149 Indicação de perfis duplo I em paredes externas e internas e colunas de ferro fun-
dido aparente no térreo.
3
247 Colunas ferro fundido em todos os pav.s; Telhado repres. Madeira
4
104
Vigas duplo I nas vergas sobre os vãos de fachada e nos pisos internos(transversais)
Em todas as edificações de sua autoria, as instalações sanitárias encontram-se integradas às
demais atividades do programa de projeto.
Não verificamos a representação de nenhuma instalação mecânica nos projetos analisados.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
79
Ilustração
35
Plantas baixas do 1º (térreo) e 2º pavimentos, do nº. 247 da Avenida Central (Arquivo Nacional), de propriedade de Francisco Hyppolyth Garnier. Pode-se observar a marcação das linhas dos coletores de esgoto pluvial sob o
piso do pavimento térreo (no detalhe). Há indicação de duas colunas de ferro fundido nos 2 pavimentos (ver corte). O 3º pavimento da edificação repete a solução adotada no 2º pavimento, aqui representado.
Colunas de
ferro fundido
Colunas
de
ferro fundido
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
80
Colunas de
ferro fundido
Ilustração
36
Corte longitudinal do nº. 247 (Arquivo Nacional). Podemos notar as colunas de ferro fundido no Terezo e 2º pavimento, além de outros elementos metálicos, como guarda-corpos, mãos
francesas e clarabóias.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
81
2.3.4. Heitor de Mello
Heitor de Mello foi o autor de três projetos na Avenida, mas tivemos oportunidade de analisar
apenas dois. Como responsável pelas obras, o profissional assinou quatro construções. São de
sua autoria os prédios do Jóquei e do Derby Club, que não constam do Álbum da Avenida Central
(FERREZ, 1982) nem dos projetos aprovados pela Comissão da Avenida Central, construídos na
década de 1910. Também é de autoria de seu escritório o projeto da Câmara Municipal,
construída na década de 1920.
Analisamos os seguintes projetos do profissional, ambos com sua responsabilidade também como
construtor. Trata-se de projetos para uso misto, comercial e residencial.
Quadro 7 - Projetos analisados com autoria de Heitor de Mello.
Item
Construtor
Nº pav.tos
Uso
1
129 e 131 Heitor de mello Térreo + Comercial nos 2 pav.s inferiores e
2 pav.s residencial no mais alto c/
2 unid.s.
2 173 Heitor de Mello Térreo + Comercial nos 3 pav.s inferiores e
3 pav.s residencial no andar mais alto c/
1 unidade residencial.
Encontramos em matéria do Jornal do Brasil, de 15 de novembro de 1906, quando da ocasião da
inauguração do prédio da Caixa de Amortização, uma referência ao fato de o arquiteto ter
executado o seu revestimento externo em argamassa.
Quanto aos sistemas estruturais adotados, encontramos ocorrências similares àquelas já
relatadas:
Quadro 8 – Sistemas Estruturais empregados nos projetos analisados com autoria de Heitor de Mello.
Item
Sistema Estrutural
1
129 e 131 Indic de viga duplo I nas paredes internas e I no piso
2
173
colunas ferro térreo;
As instalações sanitárias estão posicionadas de maneira integrada às demais atividades; em
nenhum dos dois projetos analisados há indicação de elevadores ou outras instalações especiais.
2.3.5. René Barba
Incluímos o nome deste profissional dentre os que se destacaram, menos pelos dois prédios que
projetou na Avenida (o de número 181 e o imóvel com números de 88 a 94, ambos dentre os
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
82
projetos analisados), que pela sua atuação no projeto do Teatro Municipal. O professor Paulo
Santos registrou, em seu trabalho publicado na reedição de “O Álbum da Avenida Central”
(FERREZ, 1982, p. 34 e p.43), que o arquiteto, formado na França, foi o Chefe da Seção de
Arquitetura do Teatro Municipal. Comprovamos sua atuação e responsabilidade quanto aos
detalhamentos do referido projeto por sua assinatura nas pranchas de execução do Teatro a que
tivemos acesso e por seu carimbo, presente nos projetos de sua autoria na Avenida Central. O
professor Paulo Santos ainda nos informa, nesse mesmo texto, que René Barba foi o responsável
pela seção de arquitetura da Exposição de 1908, havendo disputado o cargo com Heitor de Mello.
Analisamos as duas edificações da Avenida com projeto do arquiteto, que também atuou como
construtor de um deles:
Quadro 9 - Projetos analisados com autoria de René Barba.
Item
Construtor
Nº pav.tos
Uso
1
181 René Barba Térreo + Comercial no térreo; os pavs. Superiores
2 pav.s são de uso residencial
2
88 a 94 João Vieira lima Térreo + Comercial
2 pav.s
Quanto às soluções estruturais adotadas nas edificações, apenas um projeto tem indicação
gráfica dos elementos, o de número 181, reproduzido no Capítulo 1, item 1.7.1, ilustrações
números 20 e 21.
Quadro 10 - Estruturais empregados nos projetos analisados com autoria de René Barba.
Item
Sistema Estrutural
1
181 O laboratório localiz. na área posterior do terreno tem colunas de ferro fundido
2
88 a 94
Sem indicação; Telhado e pisos em madeira
As instalações sanitárias do prédio de número 181 não foram organizadas em prumadas verticais
nos pavimentos seqüenciais; no imóvel com numeração 88 a 94, as instalações sanitárias foram
organizadas no alinhamento de uma prumada em seus três pavimentos.
Não há indicação da aplicação de elevadores ou outros equipamentos eletromecânicos.
Ilustração
37
Carimbo do arquiteto René Barba,
existente nas pranchas do projeto do edifício 88 a 94
da Avenida (Arquivo Nacional).
(Casa Simpatia, prédio existente).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
83
2.3.6. General Francisco Marcelino de Souza Aguiar
Com a formação de engenheiro militar, foi autor dos projetos do Palácio Monroe e da Biblioteca
Nacional na Avenida, sendo responsável pelo menos pelo início das duas obras.
O prédio destinado à Biblioteca Nacional teve o projeto por nós analisado. A instituição, que até
hoje funciona no prédio que foi projetado especialmente para este fim, guarda em seu acervo
vasto material documental sobre os projetos e a época da construção do prédio, proporcionando
um rico material de pesquisa, em complemento àquele coletado no Fundo da Comissão
Construtora da Avenida Central, no Arquivo Nacional.
A análise desses documentos nos levou a discordar das informações fornecidas pelo professor
Paulo Santos (apud FERREZ 1982, p.39) quando ele afirma que Souza Aguiar teria calcado o seu
projeto no de autoria de Hector Pepin, cujas pranchas estão arquivadas na seção de iconografia
da instituição. Uma observação minuciosa dessas plantas mostra que o carimbo de Hector Pepin,
sempre acompanhado do carimbo da empresa Taupenot & C.ie, ambos com endereços de Paris,
são datados de 1909 e 1910, quando as obras de construção do prédio, iniciadas em 1905,
estavam concluídas, faltando apenas alguns arremates e instalações, de acordo com as
informações contidas nos Anais da Biblioteca Nacional. Analisando as pranchas em questão,
podemos concluir que se tratam dos projetos das redes de ar comprimido e vácuo, efetivamente
instaladas no prédio por volta das datas nos carimbos, conforme registradas em documentos e
fotografias da época. Acreditamos que, de maneira similar aos procedimentos que fazemos até os
dias atuais, os projetistas das instalações utilizaram-se das bases dos desenhos de arquitetura
para o lançamento de seus projetos.
O primeiro documento que encontramos a respeito da contratação de Souza Aguiar informa que
ele foi contratado pelo Ministro da Justiça e Negócios Interiores, Dr. José Joaquim Seabra:
[...] Escolhido o local na Avenida, encarregastes immediatamente ao Sr. General
F.M. de Sousa Aguiar, chefe da commissão brasileira na Exposição de S. Luiz, da
organização do projecto a ser adoptado. (BIBLIOTECA NACIONAL, 1905, p. 420).
A autoria do projeto de Sousa Aguiar ainda é reafirmada por todas as pranchas de projeto do
prédio, nas quais constam: projecto organizado pelo General F. M. de Souza Aguiar”, e pela
placa de bronze original da inauguração do prédio, reproduzida na próxima página, existente no
foyer do prédio. No discurso proferido pelo diretor da instituição, quando da ocasião da
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 2
Sandra Zagari-Cardoso
84
inauguração do prédio, registrado nos Anais da Biblioteca Nacional, Dr. Manoel Cícero Peregrino
da Silva, ainda temos a seguinte passagem:
[...] O nome do Sr. General Francisco Marcellino de Sousa Aguiar, ficará também
ligado ao edifício como o do architecto, que lhe traçou as linhas fortes e elegantes
e dirigiu a construcção no seu começo, tendo-a acompanhado até o fim com os
seus conselhos. (BIBLIOTECA NACIONAL, 1911, p. 394).
I
Ilustração
38
Placa comemorativa da
inauguração do prédio da Biblioteca Nacional,
em bronze, existente no foyer da Biblioteca
Nacional.
Diz o texto:
“LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL A
15 DE AGOSTO DE 1906 SENDO
PRESIDENTE DA REPUBLICA O Exmo. Sr. Dr.
FRANCISCO DE PAULA RODRIGUES ALVES E
MINISTRO DA JUSTIÇA E NEGOCIOS
INTERIORES O Dr. JOSE JOAQUIM SEABRA.
PROJECTO DO Gal. FRANCISCO M. DE
SOUSA AGUIAR.
CONSTRUCÇÃO INICIADA POR ESTE E
TERMINADA EM OUTUBRO DE 1909 PELO
Cel. M.A. MONIZ FREIRE AUXILIADO PELO
Tte. ALBERTO DE FARIA”
Ilustração
39
Detalhe da prancha da Planta do porão do prédio da Biblioteca Nacional, tendo em destaque o
nome do Engenheiro Souza Aguiar (seção de Iconografia da Biblioteca Nacional).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
85
Capítulo 3. Tecnologias Encontradas nos Prédios da
Avenida Central: Apresentação e Análise
Pouco se fala em nosso país das tecnologias aplicadas à construção civil, sua história e evolução.
O século XIX e o início do século XX foram marcados pela euforia das invenções. Desde a
revolução industrial, os países europeus e os Estados Unidos da América competiam pelo
desenvolvimento de novas tecnologias e pelo registro de suas patentes. As inovações que se
observavam no período iam da invenção do processo da iluminação elétrica, do telégrafo, do
telefone, da fotografia e do cinema, até o desenvolvimento das grandes estruturas metálicas e a
tecnologia do concreto armado, além das mais diversas máquinas, os grandes navios
transatlânticos, os dirigíveis e planadores e as máquinas a vapor e, a partir do final do século XIX,
os motores elétricos e de explosão por combustível que proporcionaram os automóveis.
Os grandes fabricantes mundiais desenvolviam projetos e produtos para todos os tipos de obras
nos mais diversos países. É o que aconteceu, por exemplo, no Teatro Municipal e na Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro. O projeto para o Teatro que ganhou o concurso promovido pela
Prefeitura da cidade, contava com um alto grau de sofisticação nas propostas de suas
instalações, visando ao conforto de seus usuários, no padrão das grandes casas de espetáculos
estrangeiras, como o Teatro Municipal da cidade de Nuremberg, inaugurado em 1905.
Faz parte da Coleção da Família Passos, guardada no Arquivo do Museu da República, a
documentação do engenheiro Francisco de Oliveira Passos, responsável pelos projetos e obras
do Teatro Municipal. Encontramos o documento, reproduzido a seguir, intitulado: “Machinismos e
Mechanismos do Theatro Municipal”
19
, que fornece uma idéia do aparato tecnológico projetado
para a edificação.
19
Parece se tratar de uma minuta para o texto de semelhante teor, contido no programa do espetáculo de
inauguração do Teatro, em 1909.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
86
Ilustração
40
Documento pertencente ao arquivo do engenheiro Francisco de Oliveira Passos listando os
maquinismos e mecanismos instalados no Teatro Municipal.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
87
3.1. Categorias Adotadas para a Análise das Tecnologias
Para a análise das tecnologias empregadas nos prédios, fez-se necessária a categorização dos
aspectos observados. As categorias foram definidas após uma análise preliminar dos projetos.
O próximo passo foi o preenchimento das informações das edificações no Quadro Resumo das
Informações dos Imóveis (Anexo II) e a contagem da incidência de cada uma das categorias
observadas nas diversas disciplinas.
A análise dos aspectos foi baseada nos projetos para aprovação da construção pela Comissão
Construtora da Avenida Central e também na documentação técnica pesquisada em diversas
instituições, além de nas notícias selecionadas em publicações periódicas da época. Em especial
quanto às instalações elétricas e de iluminação, foram de muita valia essas fontes, uma vez
que a representação gráfica contida nos desenhos é rara, não sendo suficiente para a
compreensão desse quesito.
Foram definidas as seguintes classificações, a partir da análise das incidências observadas nos
projetos:
I. Sistemas Estruturais:
Sistema Estrutural Misto, composto por alvenarias periféricas estruturais e elementos
metálicos em ferro fundido (colunas) ou perfis usinados no interior da edificação.
Sistema Estrutural Metálico, composto por vigas e pilares em perfis metálicos usinados
ou compostos e lajes de piso em cimento
20
armado.
II. Instalações Hidrossanitárias:
Localização integrada às demais funções desenvolvidas no programa da edificação.
Localização não integrada às demais funções desenvolvidas no programa da
edificação.
III. Instalações Mecânicas:
Elevadores, monta-cargas e monta-livros elétricos.
20
Preferimos empregar o termo cimento armado, encontrado nos documentos analisados, ao invés do usual
concreto armado, que substituiu o termo anterior a partir da década de 1930 (KAEFER, 1998), quando a
tecnologia do uso do material já estava desenvolvida em nosso país.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
88
Ventilação e Refrigeração do Ar.
Demais Instalações Mecânicas.
IV. Instalações Elétricas e Iluminação:
Por não ser a partir de análise gráfica, este quesito não consta do Quadro Resumo,
mas reuniremos em um item as informações que conseguimos coletar sobre os prédios
da Avenida, com base em outras fontes documentais além dos projetos aprovados
existentes no Arquivo Nacional.
3.2. Sistemas Estruturais
Ao referir-se ao prédio da Biblioteca Nacional, em seu texto publicado na reedição do Álbum da
Avenida Central (FERREZ, 1982), o professor Paulo Santos nos fornece uma importante
informação, que foi o nosso ponto de partida para a análise dos sistemas estruturais adotados nas
edificações analisadas: “A estrutura [do prédio da Biblioteca Nacional] era semelhante às dos
demais prédios da Avenida: paredes perimetrais de alvenaria e o miolo de ferro” (SANTOS
in FERREZ, 1982, p. 39). Na seqüência do mesmo texto, o professor Paulo Santos ainda registra
que o prédio mais alto da Avenida era o do Jornal do Brasil
21
, com projeto e construção do
arquiteto Ludovico Berna, professor da Escola de Belas Artes. O prédio era composto por dez
pavimentos, com as seguintes características estruturais:
[...] Paredes laterais de alvenaria, mais baixas, e as do centro, que suportavam os
dez pavimentos da torre, de ferro. Pela linha da composição quatro pilastras
aparelhadas com bossagens, de alto a baixo, e larguras uniformes -, foi, dos bem
qualificados prédios da Avenida, ao gosto da época. (SANTOS in FERREZ, 1982,
p. 42).
Realmente, pela análise dos projetos para construção dos prédios e demais fontes documentais
levantadas, podemos comprovar que o sistema proposto como solução estrutural dos edifícios,
em geral, foi o do tipo misto, composto por alvenarias estruturais no perímetro da edificação e por
elementos estruturais metálicos posicionados no interior dos prédios. No caso específico do prédio
da Biblioteca Nacional, as informações levantadas nesta pesquisa levaram a uma conclusão
diferente daquela apontada por Paulo Santos. Trataremos em específico do assunto no item 3.2.2.
deste capítulo.
21
Não tivemos acesso ao projeto do Jornal do Brasil pertencente ao acervo do Arquivo Nacional.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
89
Não podemos esquecer que as edificações a serem erguidas na Avenida deveriam ter suas obras
iniciadas logo após o processo legal de aprovação pela Comissão Construtora, tendo de ficar
prontas em curto espaço de tempo. Essa condição deve ter influenciado os projetistas e
construtores no momento de definição do sistema construtivo a ser aplicado em cada prédio. A
aplicação de elementos pontuais em estrutura metálica - colunas de ferro fundido e perfis I
usinados - que podiam ser adquiridos em fabricantes e importadores que dispunham de estoque
na cidade, mostrava-se mais adequada ao cumprimento de curtos prazos de execução que o uso
de estruturas integralmente metálicas, feitas sob encomenda em outros países, como Estados
Unidos, Inglaterra ou Bélgica, que acarretariam em um tempo maior de obras. Pudemos
comprovar a adoção dessa opção nos casos do Teatro Municipal e da Biblioteca Nacional,
projetos e maiores dimensões e sofisticados.
Os projetos gráficos analisados contêm também a representação da aplicação de soluções
tradicionais, como barroteamento dos pisos em madeiras e telhados, mesmo as cúpulas e
zimbórios, muito utilizados nos prédios a serem construídos nos terrenos nas esquinas das ruas
transversais, em estrutura de madeira. Encontramos uma passagem interessante em um jornal da
época, sobre esse assunto:
[...] De todos estes especiaes typos architectonicos de coroamento, os que se
distinguirão pela durabilidade da sua estructura, me apresso em citar, serão: a
projectada rotunda e os pequenos zimborios lateraes do Theatro Municipal.
As ossaturas serão de ferro cobertas de cobre.
Não atinei ainda com o motivo da quase obrigatoriedade a que se impuzeram, em
grande maioria, os proprietários das casas da nova artéria urbana, de as fazerem
com zimbórios ou domos de madeira e zinco. Lembram alguns desses
domosinhos os systemas de construcções ephemeras que se levantam por
occasião de festas e regosijos populares. Convém, entretanto, frisar, como
singularidade, que daquelles pequenos zimbórios da Avenida se armaram em
prédios de sólida e duradoura alvenaria.[...] (A NOTICIA, “Domos e cúpulas” 20
set. 1905. apud BRENNA, 1984, p.382-383).
A aplicação de soluções estruturais consagradas, juntamente com a aplicação de soluções
tecnologicamente mais modernas para a época, nos leva a supor que naquele momento os
projetistas não se mostravam seguros no conhecimento de novas tecnologias para aplicá-las de
maneira unânime em seus projetos.
Antes de começarmos a analisar os projetos, cabe definir o conceito do termo sistema estrutural
empregado: um sistema estrutural é composto por diversos elementos, responsáveis por suportar
as cargas oriundas das muitas partes que compõem a construção, que transferem, através de
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
90
elementos horizontais e verticais, essas cargas até os alicerces da construção, onde são
descarregadas no solo.
Dentre os projetos analisados, foram identificados elementos estruturais em trinta e oito projetos,
o equivalente a 71,7% do universo de 53 projetos avaliados (Anexo II). Estão incluídos no rol dos
15 projetos analisados que não continham indicação gráfica ou documental de elementos
estruturais os dos prédios destinados um à Escola Nacional de Belas Artes e outro à Mitra
Arquiepiscopal do Rio de Janeiro, ambos de autoria do professor Adolfo Morales de los Rios. É de
nosso conhecimento que a Escola de Belas Artes apresenta perfis metálicos do tipo I e que suas
cúpulas
22
são estruturadas com treliças metálicas, cuja vedação foi executada em argamassa
armada com tela do tipo “deployer”; como não encontramos nenhuma referência documental no
universo pesquisado que complementasse a falta de informações gráficas contidas no projeto
arquivado no Arquivo Nacional, mantivemos este prédio no grupo dos projetos sem informação
quanto ao sistema estrutural empregado. Em relação ao prédio destinado à Mitra, não pudemos
precisar se as colunas de ferro fundido aparentes, que podem ser apreciadas ainda hoje no antigo
salão de audiências do prédio, faziam parte do projeto por nós analisado, aprovado pela
Comissão Construtora em 29 de agosto de 1905, ou se foram incluídas posteriormente, quando
da alteração do projeto
23
.
3.2.1. Sistema Estrutural Misto
São 37 os projetos que podemos afirmar que empregaram este tipo de sistema estrutural.
Consideramos neste grupo todos os casos em que os projetos ou os documentos pesquisados
apontam o uso de um ou mais elementos. São poucos os projetos que têm representados todos
os elementos classificados a seguir:
Elementos verticais - Colunas de ferro fundido aparentes.
Elementos horizontais - Perfis metálicos não aparentes, com diferentes funções:
o na sustentação de pisos;
o na sustentação de vergas dos vãos de fachada;
o em vigas na área interna das edificações;
22
As três cúpulas propostas na fachada voltada para a Avenida, representadas no projeto no Arquivo
Nacional e no Álbum da Avenida Central (FERREZ, 1982) dois desenhos com composições diferentes,
apresentam volumetria e tratamento diversos àqueles efetivamente executados.
23
Este prédio foi adquirido após o início de suas obras pelo Governo Federal, para ser o Palácio da Justiça
Federal. A modificação do projeto foi elaborada por Morales de los Rios. É um dos dez prédios originais
remanescentes na Avenida. Abriga hoje o Centro Cultural da Justiça Federal.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
91
o em pisos compostos por perfis metálicos e abobadilhas de tijolos.
Coberturas metálicas (somente estrutura ou estrutura e vedação).
O sistema estrutural misto, observado nos projetos dos prédios da Avenida, pode ser definido
como composto pelos seguintes elementos
24
:
o Alicerces compostos normalmente por blocos de sapatas ou sapatas corridas, que
apoiavam o nascimento das paredes estruturais periféricas da construção. Na área
interna das construções, foram usualmente empregadas nos prédios da Avenida Central,
colunas de ferro fundido; essas colunas eram apoiadas em blocos de sapatas, travadas
por vigas baldrames nas fundações sob as paredes periféricas. O Decreto Municipal 391
(ver Capítulo 2, item 2.2.2.) dispõe que os alicerces das construções não deviam ter
nunca menos de 60 cm. de profundidade.
o Paredes mestras (estruturais) além de sustentar e descarregar o próprio peso, eram
responsáveis por receber as cargas provenientes dos pisos e coberturas e transferi-las,
verticalmente, até os alicerces da edificação. Um problema para as composições
arquitetônicas sempre foi a abertura dos vãos nessas empenas, que tornava necessária a
transferência da carga existente sobre o vão desejado para suas laterais. A solução que
observamos empregada comumente nos prédios em questão foi a aplicação de perfis
metálicos sobre janelas e portas, tornando possível a criação de aberturas de grandes
dimensões, de maneira fácil e barata e possibilitando que o arremate dos vãos fosse
realizado em argamassa, com aplicação de elementos decorativos, dispensando as
ombreiras e vergas tradicionais em pedra na função de estruturar as janelas e portas ou a
elaborada armação de arcos de descarga em tijolos sobre os vãos.
o Colunas de ferro fundido responsáveis por receber as cargas dos pisos, apoiados em
vigas metálicas ou barrotes de madeira, além de, algumas vezes, receber, também, as
cargas das coberturas.
o Vigas metálicas eram apoiadas em seus trechos intermediários por colunas de ferro
fundido e engastadas em suas extremidades nas alvenarias estruturais, transferindo para
estes elementos a sobrecarga dos trechos de piso por elas suportado.
o Coberturas - armadas com elementos metálicos ou no tradicional sistema de madeira;
encontramos a aplicação de coberturas com armação metálica principalmente nos
prédios com maiores dimensões, pela sua característica de vencimento de vãos maiores,
24
Definição das funções dos componentes do sistema baseada no trabalho de Sylvio de Vasconcellos
intitulado “Arquitetura no Brasil:Sistemas Construtivos (1979).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
92
sem apoios intermediários. Nas edificações de menores dimensões, foram utilizadas
coberturas armadas em estrutura de madeira, inclusive na sustentação de cúpulas. A
carga e os esforços advindos das coberturas dos prédios eram transferidos para os
apoios existentes no interior da construção e, em geral, para as alvenarias periféricas,
que também contraventavam os esforços dos telhados.
Dos raros exemplos em que encontramos representados diversos dos elementos utilizados no
sistema estrutural misto, citamos o projeto referente ao prédio 111 a 115, destinado à Casa
Colombo, de propriedade de A. Portella & C.ia., com projeto e construção a cargo de Trajano de
Medeiros, que reproduzimos a seguir. Podemos observar nos desenhos: apoios verticais internos
executados por colunas de ferro fundido aparentes nos seis pavimentos da edificação; apoios
horizontais internos feitos por perfis duplo I, encontrados no nível dos tetos dos pavimentos,
inclusive nas linhas de fachadas; cobertura em armação de estrutura metálica. Ainda podem ser
notados dois elevadores elétricos e balaustrada à volta dos vãos existentes nos pavimentos.
Dentre todas as construções erigidas quase que simultaneamente na Avenida, encontramos o
registro na imprensa da época de apenas um acidente durante as obras: o prédio destinado ao
Club de Engenharia
25
, com projeto do arquiteto Raphael Rebecchi e construção a cargo do
também arquiteto Heitor de Mello, nos números 124 e 126 da Avenida. Paulo Santos (1982) nos
fornece a seguinte descrição do prédio:
[...] Possui estrutura igualmente com paredes perimetrais de alvenaria e miolo de
ferro. Apresenta fachada tratada com comedimento e discrição e apuradas
proporções. No segundo pavimento, as cariátides são intercaladas entre os vãos;
no terceiro, colunas e pilastras coríntias. [...] (SANTOS in FERREZ, 1982, p.
41-42).
Nas notícias de jornais analisadas, encontramos menção ao desabamento da linha de fachada
desta construção, inclusive com fotografias e depoimentos dos profissionais envolvidos e de
figuras de destaque, como o construtor Jannuzzi, com comentários que valem a pena ser
analisados:
25
O projeto do Club de Engenharia, aprovado para construção pela Comissão Construtora da Avenida não
foi analisado nesta pesquisa.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
93
“Emergindo do tapamento de madeira, que lhe encobria apenas o pavimento
térreo, começava a ostentar-se, na Avenida Central, o edifício do Club de
Engenharia, cujo plano de construcção fora confiado ao conhecido achitecto
Rebecchi, primeiro premio no concurso de fachadas realisado pela Commissão da
Avenida.
as paredes internas se erguiam alcantiladas, cruzadas pelo esqueleto de ferro,
cujas hastes, varando-as, determinavam a separação dos pavimentos.
[...] Começaram os operários a erguer a fachada. Grandes blocos de pedra,
lavrados, esculpidos, eram erguidos por fortes guindastes e juxtapostos uns aos
outros, paulatinamente, a formar o frontespicio grandioso, que se levantava ao
terceiro pavimento, na esquina da rua Sete de Setembro e cobria a terça parte do
edifício.[...]
Eis que hontem, subitamente, quando começava a ser grande o transito na
Avenida, um acontecimento veiu produzir formidável emoção na cidade. A noticia,
como os annuncios de todas as grandes desgraças, propagou-se em minutos.
- Ruira o edifício do Club de Engenharia! [...]
Ilustração
41
Fotografia do desmoronamento do prédio em construção destinado à sede do Club de
Engenharia, nº 124/126 da Avenida Central, em 14 de fevereiro de 1904. Fotografia original de Augusto
Malta, Arquivo geral da Cidade do Rio de Janeiro.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
94
Foi tomado em primeiro logar o Depoimento do Dr. Heitor de Mello, que vai em
seguida reproduzido:
[...] Não forneceu [Heitor de Mello] a cantaria, que era mandada dar pelo Club de
Engenharia, de accordo com as clausulas de contracto.
Atribue as causas do desastre as más condições do apparelho da cantaria
[...]Ao ver do declarante, não é o Dr. Frontin, como presidente do Club de
Engenharia [e também da Comissão Construtora da Avenida], o responsável por
qualquer modo pelo desabamento da fachada do edifício em construcção,[...]
Na sua opinião, o responsável é o fiscal, que obrigou a collocar a cantaria em
condições desvantajosas, a ponto de, na sua opinião, ser a causa única do
desastre.[...]
Em seguida foi ouvido o Dr. Raphael Rebecchi, que prestou as seguintes
declarações:
[...] É o auctor do projecto e foi incumbido pelo Club de Engenharia de fiscalizar as
obras. Estão sendo feitas por empreitada, sendo empreiteiro o Sr. Dr. Heitor de
Mello e mestre das obras o Sr. Bernardino de tal.
O Club de Engenharia reservou-se o fornecimento da cantaria, que é collocada
pelo mesmo empreiteiro.[...] A cantaria procede da pedreira de Irajá e o fornecedor
é Antonio Affonso Cardoso.[...]
Nestes últimos tempos, o seu principal cuidado como fiscal, foi apromptar
desenhos de detalhe para a construcção; mas na manhã de 13 do corrente,
chamou attencção do mestre Bernardino para a qualidade dos tijolos que
estavam empregando, declarando que não eram de qualidade acceitavel.[...]
É possível que as chuvas continuadas e torrenciais que cahiram durante quase
dous mezes tenham sido a causa do desastre.
Bernardino Huche Ivela, mestre de obras, declarou o seguinte: “Cerca de 11 horas
da manhã, notou uma fenda na parte interna na cantaria de espelho, de cima
para baixo, desde o segundo vigamento até quasi ao solo, na altura de dous
metros, caso esse que lhe pareceu grave. Assim, mandou escamar e tapar
novamente a fenda. Mais tarde, antes de decorrido duas horas, deu-se o
desabamento da fachada.
Attribuiu logo o desastre ás condicções da cantaria, por julgar que a mesma
não supportou o peso, pois não tinha ella a grossura necessária.
A cimalha da porta grande que para a Avenida e que têm quatro metros de
comprimento e 40 centimentros de altura por 31 de balança, somente
pousava pela parede a dentro de 8 a 10 centimetros, tanto que para reforçar
a mesma foi preciso auxiliar o supporte da referida cimalha com dous
pedaços de trilhos. [...]
Com relação á argamassa, sabe que é feita com cal e areia, sendo que nos
pontos mais resistentes empregavam-se areia e cimento. Para balancear a
cimalha de tijollos e ferros, empregavam-se areia, cimento e cal (GAZETA DE
NOTICIAS, “Mais desgraças”, 15 fev. 1906, apud BRENNA, 1984, p.441 - 442).
“[...] A opinião do Sr. Jannuzzi:
O Sr. Commendador A. Jannuzzi apresentou-se no local, as 10 horas da manha,
encontrando ahi o Sr. Dr. Paulo de Frontin e os engenheiros cujos nomes
damos em outro logar.
[...] Entabolada a conversação para a verdadeira causa do desastre, esse
conhecido architecto constructor disse [...] : o desabamento para mim não foi uma
surpresa, elle se deu e se dará toda a vez que se empregar em obras de tal
natureza essa argamassa. A que eu tenho empregado é de 1 por 3 de cal e saibro
das Laranjeiras. É inegável que é superior a essa aqui empregada que é de cal e
área em partes iguaes. Nesse caso a alvenaria não poderá ter a resistência
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
95
pedida em taes construcções. Para essa argamassa de 1 por 1 de cal e area ter
resistência é necessário tempo, o que não houve na hypothese, dada a celeridade
com que iam sendo feitas as obras.[...] ( A NOTICIA, “Desabamento”, 15 fev.1906,
apud BRENNA, 1984, p.445. Grifo nosso).
[...] A qualidade da argamassa, a pouca espessura da pedra, a
aglomeração ou reunião de materiaes pesados em pontos de fraca
resistencia são factos averiguados e discutíveis. A circumstancia de ter havido
reclamações quanto á qualidade da pedra; a circumstancia de haver um
engenheiro atirado toda a responsabilidade para as costas do outro; a
circumstancia de ter o fiscal autonomia absoluta para fazer e desfazer contra a
opinião do constructor, estavam claramente indicando o verdadeiro caminho para
a apuração da responsabilidade. [...](CORREIO DA MANHA, “Não culpados”,
23 mar. 1906, apud BRENNA, 1984, p.468. Grifo nosso).
Não entraremos na discussão acerca da responsabilidade sobre o sinistro ocorrido. As notícias
destacadas fornecem diversas informações sobre os elementos que compõem o sistema
estrutural misto; são dados importantes, responsáveis por sua qualidade, que analisamos a
seguir:
- Qualidade da cantaria utilizada na fachada: o uso de cantaria na fachada não é um padrão
seguido por todos os prédios da Avenida; muitos tinham a fachada em alvenaria de tijolos e
argamassa com aplicação de elementos decorativos. Pelo que conseguimos apreender das
informações, o prédio em questão tinha a linha da fachada arrematada por um paramento exterior
em cantaria, resultando em um aspecto final semelhante à cantaria tradicional, porém com
espessura muito inferior. Ao que parece, a qualidade desses blocos de pedra era contestável e a
sua ancoragem aos demais elementos da construção condição essencial para este tipo de
acabamento era insuficiente, de apenas poucos centímetros, sem garantia para a sustentação
do seu próprio peso; em adição, não evitavam que o paramento se soltasse do corpo da
construção. A fenda de dois metros relatada parece se tratar do esforço exercido por esse
material nas alvenarias de tijolos a que estava ancorado, as quais não o suportaram, causando o
descolamento da empena frontal, arrastando junto parte da construção.
- Qualidade dos tijolos empregados na alvenaria estrutural: importante para conferir às
paredes estruturais a capacidade de absorção das cargas e esforços transmitidos pelos demais
elementos construtivos.
- O traço da argamassa utilizada: responsável por transformar a alvenaria composta por
pequenos elementos modulados em um conjunto solidário e resistente aos esforços a que será
submetido.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
96
Lembramos que estamos nos reportando a uma época em que não eram usuais os processos de
testes de resistências de materiais, os quais começaram a ser implantados em nosso país na
década de 1920 (VARGAS, 1994, p. 212).
As notícias destacadas ainda nos dão uma informação importante quanto ao método projetual da
época. Raphael Rebecchi, autor do projeto e fiscal das obras, declarou para a investigação o
seguinte: “Nestes últimos tempos, o seu principal cuidado como fiscal foi apromptar desenhos de
detalhe para a construcção.”. Tal declaração leva-nos a pensar que anteriormente ao início das
obras era desenvolvido apenas um projeto básico, a ser desenvolvido em conjunto com o
andamento da execução da construção. Encontramos apoio para essa conclusão em Milton
Vargas, quando afirma:
[...] Naquele período [se referindo à República Velha], o estágio intermediário do
projeto era muito reduzido: resumia-se a uma memória sumária do que se
pretendia realizar e alguns poucos desenhos, elaborados pelo departamento
técnico do governo, pela concessionária ou pela própria empreiteira. Aos
engenheiros da administradora ou da empreiteira cabiam os cálculos e a
localização topográfica da obra, além do orçamento e a escolha e compra dos
materiais de construção. [...] (VARGAS, 1994, p. 191).
3.2.1.1. O Teatro Municipal
Não obtivemos permissão, por parte da direção da administração, para acesso às pranchas
existentes
26
, referentes aos diversos projetos que foram elaborados para a construção do Teatro.
Dentre estes projetos, encontram-se inúmeras plantas de estrutura metálica que, quando
examinadas, determinarão com certeza o sistema estrutural aplicado na construção. O que aqui
apresentamos é uma análise baseada no documento intitulado “Theatro Municipal Histórico”,
datado de 1909 e pertencente à Coleção Família Passos, pertencente ao Arquivo do Museu da
República.
A observação desses documentos aponta para a adoção de sistema estrutural que definimos
como misto:
alicerces compostos por blocos de cimento e pedra, apoiados sobre estacas, submersas no
lençol d´’água sob a edificação, executadas com troncos de eucaliptos;
26
O Centro de Documentação da Fundação teatro Municipal conta com cerca de 600 pranchas de projeto,
referentes à construção do prédio.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
97
alvenarias estruturais, responsáveis pela transferência vertical das cargas, da cobertura, até
os alicerces da edificação; até o primeiro andar da edificação, as alvenarias foram
constituídas por pedras e deste nível para cima, por alvenaria de tijolos de barro;
para o vencimento do grande vão, referente à boca de cena, com 32,00 metros de vão e
10,00 metros de largura, foram utilizadas tesouras de aço;
vigas metálicas em aço suportam os pisos;
estrutura metálica em aço suporta toda a cobertura;
a estrutura de toda a platéia foi executada em um sistema independente, totalmente
metálico
27
, utilizando 12 colunas de aço maciço, que não ficavam aparentes, além de vigas
para suporte dos pisos nos diversos níveis de assentos.
3.2.1.2. Colunas de ferro fundido aparentes
Sobre este tema, Carlos Lemos, em seu livro Alvenaria Burguesa, registra:
A estrutura pré-moldada do ferro fundido constitui-se numa solução bastante
facilitadora porque rápida e de simples execução, permitindo aos governos,
principalmente, providenciar edifícios públicos de belo porte e grandes dimensões
em locais de mão-de-obra precária (LEMOS, 1985, p. 48).
Essa solução está presente em 21 edificações, ou seja, em 39,6% dos prédios analisados; foi
empregada, principalmente, na sustentação dos tetos dos pavimentos térreos dos prédios,
destinados às unidades comerciais; apenas em alguns exemplares encontramos colunas de ferro
fundido na sustentação dos pavimentos superiores. Como exemplo do gênero, observar as
ilustrações 26, 27, 42, 43, 44 e 45.
A utilização de colunas de ferro fundido aparentes já era usual na solução estrutural de prédios
desde o final do século XIX. Encontramos exemplo da aplicação desse material no Gabinete
Português de Leitura, cuja construção data de 1880 a 1887, projeto de Raphael da Silva e
Castro
28
.
27
Em 1934, o Teatro sofreu uma grande intervenção estrutural, para a substituição da estrutura da platéia,
com a utilização de concreto armado, aumentando o número de lugares para o público.
28
É tido como o primeiro prédio no Brasil a utilizar estrutura metálica. O prédio, em sistema estrutural misto,
tem o exterior em pedra de lioz e sala de leitura em estrutura metálica aparente, com o mesmo material
aplicado também na cobertura, com clarabóias de vidro para a iluminação do interior (CZAJKOWSK, 2000,
p.37).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
98
Coluna de ferro
fundido aparen
te
Coluna de ferro
fundido aparente
PAV.TO TÉRREO
Elevador elétrico
Elevador elétrico
Coluna de ferro
fundido aparente
Coluna de ferro
fundido aparente
2º E 3º PAV.TOS
Ilustração
42
Plantas baixas do
projeto do prédio 111 a 115, projeto de
Trajano de Medeiros para a Casa
Colombo. Os seis andares são para
atividades comerciais.
Coluna de ferro
fundido aparente
Coluna de ferro
fundido aparente
Coluna de ferro
fundido aparente
Coluna de ferro
fundido aparente
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
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Balaustrada
Perfil duplo I na linha
dos tetos dos pav.tos.
Perfil duplo I na linha
dos tetos dos pav.tos.
Coluna de ferro fundido aparente
nos 6 pavimentos
Coluna de ferro fundido aparente
Ilustração 43 – Corte longitudinal e corte transversal do projeto do prédio 111 a 115, projeto de Trajano de Medeiros para a Casa Colombo. Os seis andares são para atividades comerciais.
Telhado em estrutura metálica
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100
Ilustração 44 – Plantas baixas dos 3 pavimentos do edifício de nº 96 a 100, projeto de Morales de los Rios para a loja “Ao Primeiro Barateiro”.
Coluna de ferro
fundido aparente
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
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101
Ilustração 45 – Corte longitudinal do edifício de nº 96 a 100, projeto de Morales de los Rios para a loja “Ao Primeiro Barateiro”.
Coluna
de ferro
fundido aparente
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Capítulo 3
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102
3.2.1.3. Perfis metálicos não aparentes
Em acordo com o modelo de estrutura anunciado pelo professor Paulo Santos, foi constatada a
aplicação de peças em perfis metálicos usinados, normalmente do tipo I, aplicadas em diversas
funções:
na sustentação de pisos: em sete edificações, equivalente a 13,2% dos prédios analisados;
na sustentação de vergas dos vãos de fachada: 11 edificações, equivalente a 20,8% dos
prédios analisados;
em vigas na área interna das edificações: 14 edificações, equivalente a 26,4% dos prédios
analisados;
em pisos compostos por perfis metálicos e abobadilhas de tijolos: duas edificações,
equivalente a 3,8% dos prédios analisados;
Podemos destacar, dentre os projetos analisados, aquele do prédio destinado à representação
comercial das Docas de Santos, projetado pelo escritório do arquiteto paulista Ramos de
Azevedo, ocupando os lotes de números 44 a 48 da Avenida (ver ilustrações 45 e 46). As
pranchas arquivadas no Arquivo Nacional não contêm representação da estrutura a ser aplicada
em sua construção. Porém, consta no Arquivo Nacional extensa documentação referente às guias
de importação dos materiais utilizados nas obras dos prédios da Avenida Central
29
, cujos impostos
eram abonados pela Comissão Construtora da Avenida. Nesta coleção podem ser encontradas as
seguintes referências quanto à estrutura deste prédio:
Quadro 11 - Guias de importação de materiais destinados ao prédio das Docas de Santos, nº 44 a 48 da
Avenida Central.
Nº doc.
Data
Conteúdo
43 16.06.05
“[...] importado pelo vapor allemão Mainz, 500 barricas de cimento com o
peso liquido de 170 kg cada uma,[...]”
44 20.10.05
“[...] importado pelo vapor ingles Feviat, procedente da Antuerpia, 202
vigas de aço, com o peso líquido de 50.530 kilos, destinadas ao primeiro
pavimento do edifício [...]”
46 27.11.05
“[...] vapor ingles Radley, procedente de Antuerpia, 457 vigas de aço, com
o peso liquido de 79.750 kilos [...]”
47 20.12.05
“[...] pelo vapor francez Nivernais, procedente de Marseille, doze mil
tijolos” [...]
48 22.03.06
“[...] pelo vapor francez Aquitaine, procedente de Marseille, 150 barricas
de cimento [...]”
29
As guias de importações encontravam-se em processo de conservação na época de nossa pesquisa, não
sendo possível o acesso a estes documentos. As referências citadas acima são pertencentes ao acervo do
Arquivo Nacional, Fundo/Coleção: Comissão Construtora da Avenida Central, Caixa 1, Envelope 10 e nos
foram cedidas pelo professor Nelson Porto.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
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103
49 22.03.06
“[...] pelo vapor allemão Crefeld procedente de Antuerpia, 500 barricas de
cimento ...[”
50 29.03.06
“[...] pelo vapor francez Orléanais, procedente de Marseille, 214 caixas de
mozaicos de madeira asphaltado e 150 barricas de cimento [...]”
52 22.02.06
“[...] pelo vapor allemão Santos, procedente de Hamburgo, 130 volumes
com peças de ferro e acessórios (...) com o peso de 21.399 kilos
constituindo o travejamento do telhado e barrotes para o fôsso do edifício
[...]”
59 09.11.06
“[...] pelo vapor francez Colonia, procedente do Havre, 12 volumes (...)
com ferragens e (...) 500 barricas com cimento [...]
62 30.01.07
“[...] procedente do Havre, 30 caixas [...] contendo 300 telhas de vidro
marca Roux [...] 800 barricas com cimento [...]
O conteúdo dos documentos citados aponta o uso de vigas de aço na estrutura dos pavimentos
da edificação (guias 44 e 46) e na estrutura do telhado e fosso (guia 52) do prédio. Ainda foi
documentada a importação de cimento, de uso corrente nas construções dessa época no Rio de
Janeiro, em acordo com as posturas municipais regidas pelo Decreto 391 – ver a este respeito os
comentários contidos no Capítulo 1, item 1.7.2. De acordo com esse decreto, o cimento deveria
ser utilizado para a execução de camada isolante entre o solo e a construção a ser erguida.
Verificamos, também, a indicação de sua utilização na composição dos traços das argamassas
empregadas nas construções.
No Jornal do Commercio, em sua edição de 14 de novembro de 1906, o registro da
inauguração do prédio da Caixa de Amortização, ocupando os números 28 a 36 da Avenida, cujo
projeto e execução, contendo uma descrição detalhada do prédio, ficaram a cargo da Comissão
Construtora da Avenida Central. Quanto aos aspectos analisados neste item, podemos apreender
do texto que o vigamento metálico dos pisos da construção e a estrutura da cobertura, rotunda,
escada de caracol e passadiços, foram fornecidos pela usina belga Braine-le-Comte.
Em relação à aplicação de lajes de pisos compostas por perfis metálicos e abobadilhas de tijolos,
a determinação de sua aplicação revelou-se em um único exemplo: o prédio número 107 e 109,
de autoria do escritório dos Irmãos Jannuzzi, ilustrações 49 e 77.
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Ilustração
46
Corte transversal do
projeto da edificação de nº 44 a 48, para a C.ia Docas de Santos. Projeto
do escritório do arquiteto paulista Ramos de Azevedo. Não consta do projeto, representação gráfica dos
elementos estruturais.
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Ilustração 47 Corte longitudinal do projeto da edificação de 44 a 48, para a C.ia Docas de Santos. Projeto do escritório do arquiteto paulista Ra
mos de Azevedo. Não
consta do projeto, representação gráfica dos elementos estruturais.
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Ilustração
48
Cortes do projeto do prédio de nº 177 da Avenida, projeto de Lourenço Lavignino, para a Santa Casa de Misericórdia; vista parcial da
fachada no nível do pavimento térreo, contendo detalhe de fixação de dois perfis I para sustentação do vão central, de maior dimensão, transferindo para
as laterais da porta os esforços e cargas atuantes na região acima da abertura.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
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Ilustração 49 – Corte Transversal do projeto do prédio nº 107-109 da Avenida, autoria de Jannuzzi, Irmão & Cº.
V
iga em perfil duplo I como
verga em vão de fachada
Viga em perfil I no alinhamento
do piso, inclusive na linha de
fachada
Viga em perfil I no alinhamento do piso, no mesmo
alinhamento vertical do piso inferior
Coluna em ferro fun
dido
aparente
Viga em perfil I na
malha de pilares
Estrutura do piso em
perfis I e abobadilhas
de tijolos
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
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108
3.2.2. Sistema Estrutural Metálico, composto por vigas e pilares em perfis
metálicos e piso em concreto de cimento armado
30
A exposição apresentada neste item deriva da análise dos projetos, das fotografias de
acompanhamento da construção do edifício e do documento intitulado: “Justificação e Orçamento
- Especificações” (Anexo V), assinado por Souza Aguiar e datado de junho de 1905, quando da
contratação das obras para execução do novo prédio da Biblioteca Nacional na Avenida Central.
No sistema estrutural misto, composto por paredes perimetrais de alvenaria estrutural e miolo
de ferro, como tão bem o definiu o professor Paulo Santos, o principal elemento estrutural
atuante, responsável pela transferência vertical das cargas da construção, é a parede
estrutural, atuando juntamente com as colunas de ferro fundido, posicionadas no interior da
edificação, quando existentes. Os elementos metálicos presentes, além da armação de telhado e
das colunas de ferro fundido em alguns exemplares, são responsáveis apenas pela transferência
de pequenas cargas verticais do sistema. Nos exemplos analisados não encontramos nenhuma
ocorrência de colunas ou de vigas nos panos de fachadas. As representações gráficas nos
induzem a pensar que as vigas metálicas transversais eram apoiadas diretamente em encaixes
nas alvenarias, semelhante à solução tradicional aplicada em barroteamento de madeira.
No sistema estrutural metálico, os componentes neste material vigas e pilares são
responsáveis pela sustentação da construção, transferindo as cargas horizontais e
verticais do sistema até os alicerces do prédio; as peças existentes podem se tratar de perfis
simples ou compostos, de acordo com o seu dimensionamento. As alvenarias, neste caso, têm
função basicamente de vedação. No caso específico da Biblioteca, elas ainda exercem a função
de proteção da estrutura metálica.
O documento intitulado “Justificação e Orçamento. Especificações” (AGUIAR, 1905, Anexo V)
descreve os materiais e serviços básicos a serem fornecidos e executados no prédio a construir.
Reproduziremos, pela ordem contida no documento, as informações pertinentes à estrutura da
edificação:
4- Abertas as cavas com as dimensões especificadas, limpo e nivelado o leito, se
procederá ao enchimento com concreto de uma parte de cimento, cinco de granito
britado e duas de areia áspera [...].
30
Preferimos utilizar o termo concreto de cimento armado, usual na época em questão, como referido no
documento de autoria de Souza Aguiar (Anexo V), comentado mais adiante.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
109
5- Na construcção dos alicerces haverá todo o cuidado em deixar as aberturas
necessárias a passagem dos encanamentos de esgotos, de água, de gaz e de
conductores electricos, alem dos destinados a dirivação das águas pluviaes.
8- [...] o porão será cimentado com uma camada de 0,03 de espessura, de
argamassa de 1 de cimento e 2 de areia, assente sobre concreto de 0,15 de
espessura.
9- Os pavimentos do edifício serão de cimento armado, sustentado pelo
vigamento de aço.
10- O aço para a estructura do edifício será produzido pelo processo EESSEMER
ou pelo de OPEN HEARTH.
Ás experiências na fabrica estará presente um inspector habilitado que remetterá
os resultados ao encarregado das obras para approvação. A qualidade do aço
para a estructura será conhecida pela designação “MEDIUM STEEL”; e para
arrebites a “RIVET STEEL”.
O limite de resistência do o da estructura será de 60.000 a 70.000 libras por
pollegada quadrada. [...]
11- Durante a execução do trabalho o encarregado das obras resolverá sobre a
interpretação dos desenhos geraes e de detalhes. Os desenhos de detalhes
referentes aos trabalhos da fabrica incumbida do preparo da estructura de aço
serão por ella organisados e sujeitos á approvação do encarregado das obras.
12- A estructura de aço de todo o edifício foi calculada nas seguintes bases:
a- as vigas de aço das galerias em volta do vestíbulo da entrada principal e em
todos os pavimentos, a rasão de 200 libras por pé quadrado de soalho
b- as vigas e as columnas dos dois depósitos de livros, admittindo cada estante
com 18 pés de comprimento, [...], a rasão de 34.000 libras.
c- os forros a rasão de 100 libras por pé quadrado.
d- as paredes verticaes da abobada central com as vigas falsas e tectos ligados
ás mesmas – a rasão de 2.800 libras por pé corrente.
+NOTA+ As columnas d’esta parte estão calculadas para supportarem o peso de
toda a alvenaria; em todos os outros pontos do edifício as columnas e vigas
devem carregar o peso total dos soalhos e da carga sobre elles depositada. Na
construcção das paredes exteriores e das transversaes interiores haverá o
maximo cuidado em fazer todo o seu peso descançar sobre os alicerces deixando
as columnas supportarem somente o dos diversos pavimentos.
e- as bases das columnas estão calculadas de maneira a devidirem a carga sobre
os alicerces a rasão de 225 libras por pollegada quadrada; havendo por
conseqüência a máxima segurança em descançarem directamente sobre os
alicerces de concreto cuja resistência é muito superior.
13- As bases de todas as columnas descançarão 12 pollegadas abaixo do nível do
porão e as sapatas de ferro fundido que devem supportal-as terão 12 pollegadas
de altura.[...]
14- As vigas falsas, cornijas interiores e exteriores feitas de cimento armado terão
esqueleto de aço, do mesmo material que todo o entablamento e tympano da
entrada principal.
15- O systema de construcção empregado é o conhecido pela denominação A
PROVA DE FOGO -. [...] a estructura de aço toda envolvida em material
refractario de alto valor, como é o tijolo perfeitamente queimado e o concreto de
cimento armado, - não o menor perigo de propagação do fogo, nem tão pouco
que temer da influencia do calor sobre a estabelidade do edifício pela
impossibilidade de aquecer de mais as columnas e as vigas de aço.
16- O soalho de madeira dos compartimentos assoalhados será posto sobre
pequenas abobadas de cimento armado, construídas entre as vigas de aço duplo
T, de modo a ficar protegido contra o fogo que por ventura se manifeste no
pavimento inferior. (AGUIAR, 1905 numeração atribuída pela autora, para
referência).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
110
Souza Aguiar
31
havia projetado, em 1898, o Quartel Central do Corpo de Bombeiros, no Campo
de Santana, em estrutura metálica. Outro dado que consideramos importante, é que, um pouco
antes da data do documento em discussão, o engenheiro havia passado uma temporada nos
Estados Unidos da América, acompanhando as obras de construção do pavilhão do Brasil da
Feira de Saint Louis, inaugurado em 1904, de cujo projeto era autor, sendo também responsável
por sua execução. O pavilhão empregava estrutura metálica e, quando finalizada a feira
americana, foi remontado no Rio de Janeiro em 1906, passando a ser denominado Palácio
Monroe. A precisão da especificação técnica, os testes de qualidade especificados e os termos
empregados sugerem uma formação norte-americana. Os Estados Unidos já apresentavam um
grande adiantamento na tecnologia de construção em estrutura metálica desde o século XIX. No
início do século XX, já eram construídos, em Nova Iorque e em Chicago, prédios em estrutura
metálica com 15 ou mais pavimentos.
Apesar de o jogo completo de plantas do projeto para construção do prédio não fazer parte do
acervo da Biblioteca Nacional nem do Arquivo Nacional, foram analisadas diversas plantas que,
juntamente com as fotografias que documentaram o período de construção do prédio, ocorrido
entre 1906 e 1909, comprovam que o projeto foi seguido pelas linhas gerais determinadas na
Especificação. A análise em conjunto destes documentos fornece as características básicas do
sistema estrutural aplicado na construção, que pode ser assim apresentado:
- Alicerces em blocos corridos, conforme dimensionamento contido em projeto, utilizando
cimento, areia e pedra britada. As sapatas projetadas em ferro fundido, para suporte das colunas
de aço, que seriam fixadas sobre os alicerces de concreto, com 12 polegadas abaixo do nível do
porão (Ilustração 50).
- Vigas e Colunas (pilares) - em aço, para recebimento das sobrecargas e pesos próprios dos
pavimentos, inclusive telhado. Os elementos foram dimensionados de acordo com as sobrecargas
definidas para cada local do prédio, em função das atividades a serem desenvolvidas. A única
exceção a esse padrão se nos elementos verticais (colunas) posicionados nas alvenarias que
contornam a abóbada central, em todos os pavimentos, a partir do foyer (primeiro andar), que
suportariam também o peso próprio dessas alvenarias.
31
O autor do projeto e do documento, o engenheiro militar Souza Aguiar, tinha formação diferente dos
demais projetistas e construtores do prédio da Avenida. Sua formação e experiência profissional era a de
engenheiro e administrador militar.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
111
- Pisos os pisos de todos os pavimentos do edifício seriam em concreto de cimento armado,
para suporte das cargas e pavimentações e para isolamento da estrutura metálica, em caso de
fogo. Nos locais especificados, onde seria aplicada pavimentação em soalho de madeira, o piso
seria constituído por pequenas abóbadas de concreto de cimento armado, apoiadas em perfis
duplo T (o mesmo que perfil I).
Ilustração
50
Detalhe do Quadro dos Blocos das Colunas contido na Planta do Porão do prédio da
Biblioteca Nacional, de autoria de Souza Aguiar (sem data, Seção de Iconografia – FBN).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
112
4º - Alvenarias – suportam apenas seu peso próprio, que é descarregado diretamente nos
alicerces da construção. Além de vedação, elas teriam também a função de proteção dos
elementos metálicos em caso de incêndio, evitando, assim, o colapso da estrutura e a
conseqüente ruína da edificação. As alvenarias de tijolos foram executadas da maneira tradicional
(Ilustração 51), com a montagem de arcos de descarga sobre os vãos, não sendo observado o
emprego de perfis do tipo I nesta posição, em substituição ao arco, como observado em alguns
exemplos no sistema estrutural misto, anteriormente analisado.
Como foi dito no início da explanação do item, em nossa opinião, o prédio da Biblioteca Nacional
difere dos demais prédios projetados para a Avenida Central no que concerne à concepção de
seu sistema estrutural, pois é o único dentre os projetos analisados que pode ser classificado
como um prédio em estrutura integralmente metálica, com características especiais de proteção
contra a ação do fogo. Esta característica é assegurada pelo emprego de alvenarias de tijolos de
barro envolvendo todos os elementos metálicos verticais (colunas), bem como a ligação destes
elementos verticais com as vigas, que suportam o peso e as sobrecargas provenientes dos pisos.
As fotografias analisadas ainda registram a montagem do esqueleto estrutural metálico antes da
Ilustração
51
Detalhe da execução da alvenaria da fachada da Avenida, vendo-se os arcos de
descarga montados com tijolos.(Álbum da Construção, sem data, cerca de 1906/1907. Seção de
Iconogra
fia
FBN).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
113
execução das alvenarias. O sistema estrutural da edificação executada esclarece e reafirma a
intenção projetual e fornece outras informações complementares, podendo ser concluído sobre a
edificação que
32
:
- O sistema estrutural do prédio é metálico, inclusive telhados (Ilustração 53), tendo sido
executado antes das alvenarias; inclusive na periferia da construção (planos de fachadas) o
posicionamento de pilares e colunas metálicas. Todas as ligações entre peças foram feitas
utilizando rebites (Ilustração 52).
32
Consultamos o engenheiro e professor Geraldo Filizola, familiarizado com o desenvolvimento de projetos
para intervenções em prédios tombados e de projetos novos utilizando estrutura metálica, que nos auxiliou
na análise e caracterização dos elementos estruturais observados.
Ilustração
52
Fotografia de detalhe de uma coluna metálica da Biblioteca Nacional em meio a montagem
(Álbum da Construção, sem data, cerca de 1906/1907. Seção de Iconografia – FBN).
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Capítulo 3
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114
Ilustração
53
Fotografia do telhado e cúpula central em montagem(Álbum da Construção, sem data,
cerca de 1906/1907. Seção de Iconografia – FBN).
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Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
115
- a especificação elaborada para fornecimento da estrutura metálica assegurou que seriam
fornecidos elementos de aço de boa qualidade e não de materiais que empregassem ligas de
ferro
33
, com qualidade e resistência inferiores;
- a documentação levantada não registra nenhuma especificação nem característica técnica
quanto aos pisos em concreto de cimento armado dos pavimentos, não sendo possível a definição
do traço empregado na mistura de cimento, areia e pedra britada; o concreto foi adensado através
de apiloamento manual, conforme registrado nas fotografias (Ilustração 55);
- foram utilizadas telas soldadas, aplicada na região superior da massa lançada nos tabuleiros
que formam os pisos dos pavimentos (Ilustração 55). Esta malha deve exercer a função básica de
evitar trincas e fissuras na pavimentação, sem, no entanto, combater os esforços de flexão a que
podem ser submetidas as lajes de piso, função hoje exercida pelas ferragens colocadas nas
posições positivas e negativas das lajes de concreto.
- não foi possível a identificação dos tipos de formas utilizadas para o lançamento da
argamassa de concreto. A Especificação Técnica de Souza Aguiar induz-nos a pensar que foram
empregados dois tipos de pisos: lajes planas e em abóbadas, apoiadas em perfis metálicos do
tipo I, onde foi lançado o concreto de cimento armado;
- não elementos diagonais para contraventamento dos elementos posicionados nos planos
de fachada, responsáveis pelo enrijecimento da estrutura quando submetida a esforços de ventos;
o emprego desses tipos de elementos já são registrados em bibliografia sobre projetos de edifícios
dessa mesma época. Os documentos analisados não contêm nenhuma observação quanto a
considerações a este respeito. Podemos supor que as alvenarias existentes, que descarregam
seu peso próprio diretamente nos alicerces da construção, atuem no sistema com esta função;
33
Com alto teor de carbono.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
116
Ilustração
54
Fotografia de vista
interna, registrando a estrutura
metálica já montada e as alvenarias
sendo executadas (Álbum da
Construção, sem data, cerca de
1906/1907. Seção de Iconografia
FBN).
Ilustração
55
Fotografia da execução do piso de um pavimento em concreto de cimento armado. Podem
ser observados os materiais e equipamentos utilizados nos serviço: adensador manual (pilão), concreto
lançado entre as vigas metálicas e a malha metálica posicionada na camada superior do piso. (Álbum da
Construção, sem data, cerca de 1906/1907. Seção de Iconografia – FBN).
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Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
117
A partir da análise das fotografias reproduzidas anteriormente, das pranchas de projeto do prédio e
das Especificações Técnicas (Anexo V), elaboramos os seguintes esquemas estruturais aplicados
no prédio da Biblioteca Nacional:
PERFIL “I”
TRANSVERSAL
MALHA METÁLICA POSICIONADA NA
PORÇÃO SUPERIOR DA
ARGAMASSA
E SOBRE A VIGA
LAJE DE CIMENTO ARMADO
(CIMENTO/AREIA/PEDRA BRITADA),
ADENSADO MANUALMENTE, ATÉ A
ALTURA DA MESA SUPERIOR DA VIGA
LAJE DE CIMENTO ARMADO
ADENSADO MANUALMENTE
LANÇADO SOBRE A MALHA
METÁLICA
CONTRAPISO PARA
REGULARIZAÇÃO
PILAR EM PERFIL METÁLICO
COMPOSTO N
A LINHA DE FACHADA
ALVENARIA EM TIJOLOS
CERÂMICOS MACIÇOS
EXECUTADA EM DUAS
CAMADAS, ENVOLVENDO
TODOS OS ELEMENTOS
METÁLICOS (PROTEÇÃO
CONTRA FOGO)
VIGA EM PERFIL
“i” NA LINHA DE
FACHADA
PERFIL “C” POSICIONADO
COMO LIMITE MARGINAL
DAS LAJES, PARALELO ÀS
ALVENARIAS.
Ilustração
56
Desenho esquemático
representando o sistema estrutural aplicado no prédio da Biblioteca
Nacional (desenho da autora).
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Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
118
Ilustração
57
Desenho esquemático
representando a estrutura e os acabamentos superior e inferior das
lajes de piso do prédio da Biblioteca Nacional (desenho da autora).
PILASTRA EM ARGAMASSA QUE CORRESPONDE
À LINHA DO PILAR ESTRUTURAL METÁLICO
ENVOLVIDO PELA ALVENARIA CERÂMICA
CONTRAPISO
REGULARIZADOR
LAJE DE CIMENTO ARMADO ADENSADO
MANUALMENTE LANÇADO SOBRE A
MALHA METÁLICA
LAJE DE CIMENTO ARMADO
(CIMENTO/AREIA/PEDRA BRITADA),
ADENSADO MANUALMENTE, ATÉ A
ALTURA DA MESA SUPERIOR DA VIGA
MALHA METÁLICA POSICIONADA NA
PORÇÃO SUPERIOR DA
ARGAMASSA E SOBRE A VIGA
PERFIL “I” TRANSVERSAL
FORRO EM ESTUQUE
ESTRUTURADO COM TELA
“DEPLOYER”
GRANZEPE EM MADEIRA
PARA FIXAÇÃO DO PISO
DE TÁBUA CORRIDA
PISO DE TÁBUA
CORRIDA
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Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
119
Ilustração
58
Planta do Porão do prédio da Biblioteca Nacional, de autoria de Souza Aguiar (sem data, Seção de Iconografia – FBN). Nos detalhes ampliados,
parte da alvenaria perimetral vendo-se pilar composto por perfis de aço e bloco para alicerce das colunas metálicas internas.
(Rua Pedro Lessa)
Detalhe da alvenaria perimetral vendo
-
se pilar
composto por perfis de aço (acima) e (abaixo) bloco
para alicer
ce das colunas metálicas internas.
(Avenida Central)
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
120
Ilustração 59 – Planta do 1º andar (nível de acesso pela a Avenida) do prédio da Biblioteca Nacional, de autoria de Souza Aguiar (sem data, Seção de Iconografia – FBN).
(Avenida Central)
(Rua
Pedro Lessa)
PILAR METÁLICO PROJETADO
NO INTERIOR DE COLUNA EM
ALVENARIA DE TIJOLO
PILAR METÁLICO PROJETADO
NO INTERIOR DE ALVENARIA
INTERNA
PILAR METÁLICO PROJETADO
NO INTERIOR DE ALVENARIA
DE FACHADA
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
121
Ilustração
60
P
lanta do 2º andar, projeto de Souza Aguiar (sem data, Seção de Iconografia – FBN).
(Rua Pedro Lessa)
PILAR METÁLICO PROJETADO
NO INTERIOR DE COLUNA EM
ALVENARIA DE TIJOLO
PILAR METÁLICO PROJETADO
NO INTERIOR DE ALVENARIA
INTERNA
PILAR METÁLICO PROJETADO
NO INTERIOR DE ALVENARIA
DE FACHADA
PILAR METÁLICO
PROJETADO NO
INTERIOR DAS COLUNAS
DE ALVENARIA EM
VOLTA DO VAZIO
INTERNO
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
122
Ilust
ração
61
Detalhe contida na planta do andar (nível do acesso pela Avenida). Junto
da planta baixa elevação de alguns trechos, com a marcação dos perfis utilizados nas
vigas de piso e teto do pavimento e acabamento interno e externo dos vãos projetados nas
empenas de fachada. Nesta ilustração, está representada a região de um dos 4 torreões
projetados nos extremos da edificação Aguiar (sem data, Seção de Iconografia – FBN).
Ilustração
62
Detalhe contida na planta do andar (nível do acesso pela Avenida). Nesta ilustração, está representada a
região de uma das janelas das alas laterais da edificação (sem data, Seção de Iconografia – FBN).
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Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
123
(Avenida Central)
Ilustração
63
Reprodução da fotografia da Folha 14 do projeto original, com Corte Transversal da Biblioteca Nacional (sem data, Seção de Iconografia – FBN).
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Capítulo 3
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124
Ilustração 64 – Fotografia da estrutura metálica Biblioteca Nacional em meio a sua montagem, com o Térreo (denominado porão) e o nível de
acesso pela Avenida montados (Álbum da Construção, sem data, cerca de 1906/1907. Seção de Iconografia
FBN).
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Capítulo 3
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125
Ilustração
65
Fotografia da estrutura metálica Biblioteca Nacional em meio a sua montagem, podendo ser
observada a estrutura dos cinco pavimentos do bloco central inteiramente montada e as alvenarias de
vedação já em meio a execução, enquanto a estrutura da ala posterior ainda está sendo montada. (Álbum
da Construção, sem data, cerca de 1906/1907. Seção de Iconografia – FBN).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
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126
Ilustração
66
Vista da fachada da Avenida com a rua Araújo Porto Alegre, com a estrutura montada e
sendo iniciada a execução das alvenarias (Álbum da Construção, sem data, cerca de 1906/1907. Seção de
Iconografia
FBN).
Ilustração
67
Vista da fachada da Avenida com a rua Araújo Porto Alegre, com os acabamentos das
facadas em andamento (Álbum da Construção, sem data, cerca de 1909. Seção de Iconografia – FBN).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
127
3.3. Instalações Hidrossanitárias
Como destacamos no Capítulo 1, item 1.7.2, o Decreto Municipal . 391 (MUNICIPAES, 1905),
de 3 de fevereiro de 1903, em seu parágrafo 25, está especificado: “As construcções destinadas a
latrinas e banheiros poderão ter 2,40 metros de direito.” Este trecho do decreto documenta o
uso ainda corrente dos vasos sanitários instalados em construções separadas, popularmente
denominadas “casinha”. Em virtude dos problemas causados pelo mau cheiro produzido pelos
esgotos primários, a solução tradicional para o posicionamento dos vasos sanitários era em pátios
e quintais posteriores às áreas construídas, com construção em separado do restante da
edificação. No caso dos prédios da Avenida Central, a área ocupada pela edificação ocupava
quase a totalidade da área do lote, obrigando que na maior parte das edificações os sanitários
fossem posicionados junto à prismas de ventilação.
O posicionamento dos banheiros está integrado às demais atividades desenvolvidas no programa
arquitetônico, ou seja, na maioria das edificações. Isso se deve à evolução da engenharia
sanitária, que, embora ainda não empregasse as colunas de ventilação para liberação dos gases
provenientes dos dejetos orgânicos, já empregava o que no Decreto 391 (MUNICIPAES, 1905)
está descrito como “sifão isolador”. Essa peça constitui-se de um tubo em forma de “S”, em
chumbo, colocado nas saídas dos pontos de esgoto de pias e ralos de piso. No caso dos vasos
sanitários, as louças importadas na época em estudo já eram dotadas de sifão interno, como
utilizamos até hoje.
É uma característica nos projetos analisados a proximidade das instalações destinadas à cozinha
e copa daquela destinada ao banheiro, para economia das tubulações hidráulicas importadas,
como nos informa Carlos Lemos, á respeito das casas construídas na cidade de São Paulo no
final do século XIX e início do século XX:
Casas com água encanada, a maioria, com instalações internas, sempre
contíguas às cozinhas por causa da economia das tubulações importada , mesmo
nas casas de sobrado, que eram raras na classe média desse tempo.(LEMOS,
1999, p. 67).
Na seqüência desse mesmo texto, ele ainda nos informa que:
[...] em virtude da moda americana, acomodavam num mesmo espaço a latrina e
os equipamentos destinados à higiene das pessoas: chuveiro, banheira com pés
de garra de leão, semicúpio e bidê. O costume francês que separava a latrina em
compartimento especial, sempre minúsculo, apartado da “casa de banhos”, foi
totalmente ignorado. Aparelhos ingleses ou americanos.[...] (LEMOS, 1999, p. 67).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
128
De fato, encontramos nas unidades residenciais projetadas nos andares superiores de alguns
prédios da Avenida, e até em alguns edifícios estritamente comerciais, como no caso daquele
destinado às Docas de Santos, estas duas modalidades de banheiro: o do tipo americano e do
tipo francês, com a latrina separada.
Ilustração
68
Planta do 2º pavimento do
projeto de nº 18, de autoria de Christovão dos
Santos. O banheiro projetado é no “estilo
americano”, com vaso sanitário e banheira no
mesmo compartimento.
banheira
vaso sanitário
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
129
Ilustração
69
Planta do pavimento do prédio 44 a 48, de propriedade das Docas de Santos,
projeto de Ramos de Azevedo. Podemos observar no detalhe, a opção pelas instalações sanitárias
posicionadas no padrão francês: um compartimento com o vaso sanitário; outro compartimento com a
banheira.
banheira
Vaso sanitário
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
130
O decreto municipal 391, analisado no Capítulo 2 (MUNICIPAES, 1905), em seu parágrafo
11 do capítulo III, obrigava a abertura de todos os compartimentos diretamente para o exterior, em
proporção nunca inferior a um quinto da área do aposento, garantindo a iluminação e a ventilação.
Todos os prédios com construção dessa época, ainda existentes, tiveram suas instalações
sanitárias reformadas e modificadas. Fomos encontrar como exemplo de um banheiro semelhante
aos casos estudados aquele montado contíguo ao quarto de Ruy Barbosa em sua residência, na
Rua de São Clemente, que guarda todas as instalações e peças ainda originais, cuja obra fez
parte de uma reforma efetuada no prédio no início da década de 1900.
No prédio da Biblioteca Nacional, os projetos existentes na instituição não contêm a localização
dos sanitários. Sabemos que os dois blocos de sanitários hoje existentes são posteriores a 1928,
após o arrasamento do Morro do Castelo, de quando fotografias que ainda registram o prédio
sem as duas colunas de sanitários existentes entre as alas de Armazéns e o corpo posterior do
prédio, que se projeta em direção à Rua do México. Encontramos, nas Especificações elaboradas
por Souza Aguiar (1905, Anexo IX) e nos Relatórios do Diretor da Casa ao Ministro da Justiça,
impressos nos Anais da Biblioteca Nacional, as seguintes indicações:
87 :- No pavimento térreo [nível de acesso pela escada da Avenida Rio Branco],
no porão e no primeiro andar, haverá uma installação de reservados e lavatórios
em numero sufficiente para necessidades do pessoal do estabelecimento e do
publico AGUIAR, 1905, p.15 – Ver Anexo IX).
Autorisado por esse Ministro em Aviso n. 4.660 de 25 de novembro de 1909 a
effetuar as obras indispensáveis por conta do saldo que estava destinado ao
mobiliário, decorações e tapeçarias, foi-me dado realisar entre outras as
seguintes:
- [...]
- Quatro meias portas para as entradas dos gabinetes sanitários que o para a
galeria (BIBLIOTECA NACIONAL, 1911, p. 389).
[...] A constante falta d’agua nos andares superiores exigia uma providencia que
de uma vez a fizesse cessar. Foi installado no porão um grande deposito, de onde
uma bomba electrica faz subir a água para um deposito menor installado no
terraço, próximo á cúpula, para d’ahi ser distribuída ás antigas caixas
(BIBLIOTECA NACIONAL, 1915, p. 688).
As passagens dos documentos revelam que havia gabinetes sanitários no prédio, provavelmente
em todos os pavimentos, uma vez que faltava água para o abastecimento nos pavimentos
superiores. Se observarmos hoje o prédio da Biblioteca, poderemos perceber que os três grandes
salões existentes no pavimento de acesso público pela Avenida Rio Branco e no imediatamente
superior a este, a pavimentação dos salões, original da construção, é formada por pisos de tábuas
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
131
corridas e por áreas definidas em ladrilhos hidráulicos, onde permanecem indícios de demolições
de alvenarias que configuravam pequenos compartimentos, além de pontos mortos de instalações
próximos, nas alvenarias periféricas da construção, induzindo-nos a pensar que se referem à
localização de antigos gabinetes sanitários. Para a confirmação destas informações, deverão ser
feitas prospecções investigativas no local.
Ilustração
70
Detalhe de trecho do piso em ladrilho hidráulico original, com marcação de alvenarias
demolidas, sugerindo a existência de pequeno cubículo para vaso sanitário e pia lateral, no salão da atual
Seção de Iconografia da Biblioteca Nacional (pavimento de acesso da Avenida Rio Branco, salão voltado
para a Rua México). Fotografia da autora.
Ilustração
71
Detalhe de trecho do piso em ladrilho (pavimento de acesso da Avenida Rio Branco,
salão voltado para a Rua Pedro Lessa). Fotografia da autora.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
132
Ilustração
72
Corte transversal do prédio de nº. 2 a 6, projeto dos irmãos Jannuzzi. Exemplo de
sanitários integrados ao programa arquitetônico e organizados em prumada vertical nos pavimento
sucessivos (Arquivo Nacional).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
133
Ilustração
74
(ao lado)
Lavatório
com bancada de mármore e louça
inglesa; banheiro contíguo ao quarto
de Ruy Barbosa, (Fundação Casa de
Ruy Barbosa. Fotografia da autora).
Ilustração
73
(ao lado) Vaso sanitário de procedência inglesa,
com caixa de descarga suspensa; banheiro contíguo ao quarto de
Ruy Barbosa, Fundação Casa de Ruy Barbosa. Fotografia da
autora.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
134
Ilustração
75
-
Plantas baixas do Térreo, 2º e 3º pavimento, do edifício nº. 133, projeto de Rossi Baptista. Exemplo de Sanitário posicionado da maneira tradicional, não integrado ao
programa da edificação no térreo (Arquivo Nacional).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
135
Ilustração
76
Pavimento térreo do prédio de nº 57 a 59, esquina com a rua Teófilo Oton
i, de propriedade da
Irmandade da S.S. da Candelária e projeto de Manoel do Amaral Segurado. Encontram-
se marcados nos
desenhos a linha do coletor de esgoto (Arquivo Nacional).
Ilustração
77
Corte do prédio de nº 57 a 59, esquina com a rua Teófilo Otoni, de propriedade da Irmandade
da S.S. da Candelária e projeto de Manoel do Amaral Segurado. Encontram-
se marcados nos desenhos a
linha do coletor de esgoto (Arquivo Nacional).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
136
Ilustração 78 – Planta do 2º pavimento da Escola Nacional de Belas Artes, projeto de Morales de los Rios, indicando os dois sanitários projetados no pavimento, junto ao pátio central (Arquivo Nacional).
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Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
137
3.4. Análise das Instalações Mecânicas
3.4.1. Elevadores, monta-cargas e monta-livros elétricos
Em 1889, a empresa americana de Ellis Graves Otis instalou, na Torre Eiffel, na Exposição
Universal de Paris, o primeiro elevador alimentado por energia elétrica.
Sabemos que todos os prédios da Avenida eram providos de energia elétrica, com fornecimento
da Tramway, Light and Power Co., levando-nos a deduzir que os equipamentos mecânicos
instalados nos prédios eram movidos a energia elétrica.
No grupo formado por 29 edificações com gabarito composto por pavimento térreo e dois
pavimentos superiores e por 11 edificações com pavimento térreo e três pavimentos superiores,
que correspondem a 76,52% do total de casos estudados, apenas duas edificações têm
representados elevadores de passageiros: a de número 28 a 36, referente ao prédio destinado à
Caixa de Amortização, imóvel federal e com construção a cargo da Comissão Construtora da
Avenida Central, e o prédio de propriedade de Herm. Stoltz e Cia., que ocupava os números de 66
a 74, importadores de equipamentos e mobiliários metálicos, de acordo com documentações
arquivadas no Museu da República. Tais documentações registram as propostas da empresa para
fornecimento de equipamentos importados às obras do Teatro Municipal e da Biblioteca Nacional,
que o apontam como o importador da estanteria metálica que seria montada no prédio por
fabricante americano, radicado no estado de Nova Iorque.
o grupo das construções, cujos números de pavimentos variam entre térreo mais quatro pisos
superiores, até sete pisos superiores, totalizando 13 edificações (23,48% dos casos estudados), é
onde encontramos alta incidência da representação de instalações mecânicas. Não pela altura
das edificações, como também por se tratarem, em sua maior parte, das edificações com áreas
mais extensas por pavimento e de uso exclusivamente comercial e especial. Neste grupo,
encontraremos os prédios do Jornal do Commercio, Hotel e Teatro Palace Avenida e Companhia
Docas de Santos, além de alguns prédios públicos representativos: Biblioteca Nacional e Teatro
Municipal. Estes dois prédios contavam não com instalações de elevadores e monta-cargas
como também com outras instalações mecânicas, que serão tratadas mais adiante.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
138
Os prédios com indicação de elevadores projetados são os seguintes:
Quadro 12 – Edificações agrupadas de acordo com o número de seus pavimentos, com a indicação da
existência ou não de instalações mecânicas
No total são 15 edificações que apresentam elevadores elétricos em seus projetos, o que
representa o equivalente a 28% das 53 dos projetos analisados.
Quanto ao posicionamento dos elevadores na edificação, encontramos duas ocorrências:
posicionados em circulação, como representado no projeto do prédio 107/109, ou com posição
central ao desenvolvimento da escada, resolvendo de maneira conjunta os dois meios de
circulação vertical interna da edificação, como adotado no prédio destinado às Docas de Santos,
ocupando os lotes 44 a 48 da Avenida.
Térreo + 2 pav.s
Instalações mecanicas
1
28 a 36
Elevador Otis,fornecido pela Casa Guinle & C.
2
66 a 74
1 elevador
Térreo + 4 pav.s
Instalações mecanicas
1
135 a 139
Parece indicar um elevador
2
141 e 143
Elevador ligando o térreo ao 2º pav.
3 177 Sem indicação
4
185 a 191
1 Elevador no hotel
5
213 a 231
2 Elevadores nos Armazéns e 1 monta-
livro
6
44 a 48
1 elevador no meio da escada
7 50 Sem indicação
8
52 e 54
Sem indicação
9
186 a 198
ventil. Artificial sala espetáculos; monta-carga
poço de captação de água do lençol subterraneo
Terreo + 5 pav.s
Instalações mecanicas
1
111 a 115
2 125 Sem indicação
Térreo + 6 pav.s
Instalações mecanicas
1 107
e 109
3 Elevadores
Térreo + 7 pav.s
Instalações mecanicas
1
117 a 123
Indic. de 2 elevadores do térreo ao pav mais elevado
TOTAL:
15 PRÉDIOS
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
139
Faz parte do acervo do Arquivo Nacional extensa documentação referente às guias de importação
dos materiais utilizados nas obras dos prédios da Avenida Central
34
, como citado anteriormente.
Nessa coleção, podem ser encontradas as seguintes referências quanto aos elevadores a serem
instalados no prédio das Docas de Santos, exemplo de instalação de elevador no centro da caixa
de escada:
Quadro 13 Guias de importação de instalações mecânicas para o prédio de 44 a 48 Docas de
Santos.
54 30.06.06
“..pelo vapor ingles Tennynson, procedente de New York, 4 caixas com
trilhos e pertences para o elevador destinado ao edificio...”
57 26.10.06
“..procedente de New York, 23 volumes (...) contendo material (...) para um
assensor (sic.) electrico...”
58 06.11.06
“..procedente de Hamburgo (...) 180 volumes (...) contendo material para as
escadas e clarabóias e 6 paineis de grade para elevador...”
Em matéria no Jornal do Brasil, encontramos a seguinte passagem, registrando a inauguração de
um dos prédios em 1906:
[...] Feita esta inauguração, encaminhou-se o Sr. Presidente da República
[Rodrigues Alves] para o novo edifício da casa Guinle & C.
Recebido pelo Sr. Guinle e acompanhado do Sr. Commendador Jannuzzi,
constructor, o Chefe de Estado subiu no elevador da casa até o andar e dahi
até o mirante, demorando-se na contemplação do bello panorama que desses 58
metros de altura a vista alcança. [...] (Jornal do Brasil, 15 nov.1906, p.5. Grifo
nosso).
Nessa mesma edição do Jornal do Brasil, na seqüência dessa matéria, é informado também que a
iluminação elétrica e o elevador do prédio da Caixa de Amortização, inaugurado naquela mesma
data, foram fornecidos e assentes pela Casa Guinle, importadores de diversos equipamentos.
Vários números da Revista Kosmos publicados no ano de 1906 têm como um de seus
anunciantes a empresa Aschoff & Guinle, importadores de “machinas e manufacturas Norte-
Americanas”, estabelecidos no número 55 da Rua do Ouvidor. A propaganda informava ainda que
a empresa era representante de diversas firmas estrangeiras, fabricantes dos mais diversos
equipamentos, tais como: General Eletric Cº. aparelhos elétricos para força e luz; The Chloride
Eletrical Storage Company Ltd. acumuladores elétricos; Chicago Pneumatic Tool Company -
máquinas e ferramentas de ar comprimido; Mietz & Wess - motores a gás e querosene; Eastman
Kodak Company - aparelhos fotográficos, entre outros.
34
As guias de importações encontravam-se em processo de conservação na época de nossa pesquisa, não
sendo possível o acesso a estes documentos. As referências citadas são pertencentes ao acervo do
Arquivo Nacional, Fundo/Coleção: Comissão Construtora da Avenida Central, Caixa 1, Envelope 10 e nos
foram cedidas pelo professor Nelson Porto.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
140
Ilustração
79
Corte longitudinal e planta baixa do pavimento térreo do Projeto para aprovação da construção do prédio de nº. 107/109, de propriedade de Eduardo Palassim Guinle e com autoria e construção de Antonio Jannuzzi (esquina
com a Rua do Rosário), com a indicação de 3 elevadores projetados. Pela descrição da matéria do jornal parece ser o prédio referido no artigo do Jornal do Brasil. No detalhe, corte da cabine e da caixa do elevador (Arquivo Nacional).
Elevador
Elevadores
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Capítulo 3
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141
Ilustração 80 – Planta baixa do pavimento térreo do prédio das Docas de Santos, nº 44 a 48 da Avenida. Nos detalhes, ampliação da caixa de escada, contendo um elevador central e do corte longitudinal, na área da escada e elevador.
Detalhe da planta baixa na área
da caixa de escada com
elevador central
Elevador Elevador
Detalhe do corte longitudinal da
edificação na área da caixa de
escada com elevador central
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
142
Encontramos nos prédios do Teatro Municipal e da Biblioteca Nacional, outros equipamentos da
mesma categoria:
No Teatro Municipal, elevador de carga, com capacidade para elevar até três toneladas de
peso e tamanho para comportar o transporte de cavalos eventualmente utilizados na
montagem das grandes óperas, de acordo com o relatório elaborado pela Companhia
Brazileira de Electricidade Siemens Schuckertwerke”, intitulado: Descripção das
Installações mecanicas e electricas, Iluminação electrica [...] executadas no THEATRO
MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO” (SIEMENS, 1909.
Na Biblioteca Nacional, apesar de os projetos originais não grafarem nenhum elevador ou
instalação similar, encontramos, em documentos pertencentes ao acervo de Manuscritos da
instituição e nos Anais da Biblioteca Nacional, as seguintes passagens:
3 :- Para o transporte de livros, dos depósitos para as salas de leitura, haverá em
cada deposito um pequeno elevador electrico de systema aperfeiçoado, com
despositivo para parar automaticamente em qualquer das galerias dos depósitos
de livros.
Para cargas mais pesadas, para volta dos livros consultados, haverá também em
cada deposito um elevador com capacidade para 750 libras de peso. (AGUIAR,
1905, p.14 – Ver Anexo IX).
Os seis armazéns com 2.567 estantes [falando dos armazéns que se encontravam
com estanteria montada e acervo condicionado, ocupando o conjunto de seis
andares de armazéns na ala junto à Rua Araújo Porto Alegre], das quaes uma
quarta parte ainda es desoccupada, poderão comportar 400.000 volumes
approximadamente. Servidos pelo book-carrier, pelos tubos pneumáticos, por um
elevador para uso do pessoal, por um pequeno elevador para livros, que vai ter à
sala de catalogo e havia sido colocado pelo constructor, e pelo telephone, estão
os armazéns de livros em fácil communicação com os salões de leitura, a sala de
catalogo e a officina de encadernação. (BIBLIOTECA NACIONAL, 1911, p. 394-
395).
[...] Como mais uma medida de prevenção contra possíveis accidentes foram
collocados para-choques “Ennes de Sousa” nos quatro elevadores para
passageiros, si bem que esses apparelhos estivessem munidos dos para-
choques e meios de segurança ordinariamente empregados (BIBLIOTECA
NACIONAL, 1912, p. 86).
3.4.2. Ventilação e Refrigeração do Ar
Trataremos neste item do sistema projetado originalmente para o condicionamento de ar para o
Teatro Municipal. Apesar de não havermos encontrado nenhum registro semelhante em relação
aos demais prédios da Avenida, a descrição do sistema adotado é minuciosa e exemplifica o nível
de sofisticação da edificação.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
143
Em nossa pesquisa dos arquivos pertencentes à Família Passos, guardados no Museu da
República, encontramos dois documentos elaborados pela Companhia Brazileira de Electricidade
“Siemens Schuckertwerke”. Ambos são referentes à proposição para ventilação do Teatro
apresentada na ocasião do concurso público de projetos para a construção do Teatro Municipal do
Rio de Janeiro, datado de 1904, e outro, posterior, de 1909, tratando do relatório técnico do
projeto efetivamente desenvolvido e executado no edifício.
O documento intitulado “Descripção das Installações mecanicas e electricas, [...], Ventilação e
Refrigeração do Ar, Apparelhos de Alarme, [...] executadas no THEATRO MUNICIPAL DO RIO
DE JANEIRO pela Companhia Brazileira de Electricidade “Siemens Schuckertwerke” (SIEMENS,
1909), a partir de sua página de número 18, inicia a descrição do sistema empregado no Teatro
Municipal do Rio de Janeiro. A exposição tem início pela explicação quanto à concepção adotada,
que teve como modelo o sistema “moldado pelo que foi empregado pela casa Siemens no novo
Theatro Municipal de Nuremberg
35
” (SIEMENS, 1909, p.18). Continua assim a descrição:
“A refrigeração é obtida pelo systema pela compressão do ácido
sulfuroso;[...] Esses apparelhos estão collocados no sub-solo em baixo da
entrada geral da frente.
A capacidade calorífica desses apparelhos é de 200000 calorias por hora.
O ar resfriado sahe dos ventiladores com uma temperatura 15° mais baixa
que a do ar exterior, de modo que se tenha no interior do Theatro uma
differença de temperatura de cerca de 10° abaixo da temperatura exterior.
O gás sulfuroso, collocado em um grande vaporisador com serpentina na
qual circula uma grande massa de água salina, é aspirado e ao mesmo
tempo comprimido por um compressor;[...]
O ar resfriado que sahe dos refrigeradores é impellido por 2 ventiladores,
da seguinte forma:
Para a platéa: 1 ventilador centrifugo duplo de 1m de diâmetro, de eixo
horizontal, deslocando 70.000 m³ de ar por hora [...]
Para o palco, sala de bailes, restaurant, foyer, Camarins: 1 ventilador
centrifugo duplo de 1m de diâmetro, de eixo horizontal, deslocando 70.000
m³ de ar por hora [...]
Os apparelhos de refrigeração trabalham da seguinte forma: Uma hora
antes de começar o espetáculo faz-se trabalhar o compressor de acido
sulfuroso, resfriando-se assim a água salina do refrigerador; algum tempo
antes de se abrir o Theatro poem-se em movimento as bomas de água
salina resfriada, [...] Os apparelhos tem a capacidade necessária para
resfriar toda a quantidade de ar precisa para uma boa ventilação do
Theatro durante as 4 horas que costumam durar os espetáculos.
O ar que deve ser resfriado e introduzido no Theatro, é aspirado em um
canal subterrâneo de cerca de 60 m. de extensão, com uma secção de
2m.70 X 2m.60, que vae desembocar no atual do actual edifício do
35
O Teatro de Nuremberg na Alemanha foi construído em 1905 (CITY OF NUREMBERG, 2008).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
144
Conselho Municipal [local da atual Câmara do Vereadores, edificada em
1927].
Antes de ser resfriado esse ar é purificado de suas poeiras e outras
substancias, passando em filtros de lã com uma superfície total de 375 m².
O ar viciado sahe pelas janellas, não sendo preciso conductos especiaes
para elle.
Conforme dissemos, estão completamente previstas todas as
condicções para que sejam boas a ventilação e renovação do ar, sem que
hajam correntezas fortes, incommodas e prejudiciaes á saúde e ao bem
estar do publico e tambem dos artistas.
Independente desta ventilação de ar resfriado nos camarins e no
restaurant diversos ventiladores de parede collocados perto das janellas,
os quaes expellem para fora todo o ar viciado.
Alem disto, estão dispostos na platéa, palco e mais salas, ventiladores de
tamanho sufficiente para produzirem a ventilação, quando o
funccionarem os apparelhos de que falamos (SIEMENS, 1909, p.18 - 22).
O sistema descrito é bem sofisticado, que revela preocupação com a renovação de ar e separa o
sistema que refrigerava a platéia do outro, responsável pelas demais áreas a serem atendidas,
proporcionando o isolamento das redes de dutos e a possibilidade de horários de atendimento
diferenciados.
A implantação da refrigeração de ar no teatro ainda fez com que a iluminação empregada no
Teatro fosse adaptada às necessidades do sistema, de maneira a garantir a renovação e a
qualidade de ar necessárias, não utilizando luminárias a gás, mas apenas elétricas, conforme será
visto em item adiante.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
145
Ilustração
81
Casa de máquinas de Ventilação do Teatro Municipal. Fotografia impressa no programa de
inauguração do Teatro, em 1909. (acervo do Museu da República, coleção Família Passos).
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Capítulo 3
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146
Ilustração 82 – Projeto para a modificação da instalação frigorífica do Teatro Municipal, no porão da construção sob o foyer. Consta a data de 1906
no canto da prancha. (Cedoc da Fundação Teatro Municipal)
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
147
3.4.3. Demais Instalações Mecânicas
Encontramos ainda indicações em documentos de outros tipos de instalações mecânicas nos
prédios da Biblioteca Nacional e do Teatro Municipal.
O diretor da Biblioteca, por ocasião da inauguração do novo prédio, Dr. Manoel Cícero Peregrino
da Silva, em relatório ao Ministro da Justiça assim registra:
[...] Já o Aviso n. 3.948, de 1 de outubro, me havia autorisado a adquirir, conforme
propuz, um apparelho conductor de livros (book-carrier), semelhante ao que está
em uso na Biblioteca do Congresso de Washington, um apparelho pneumático
para transmissão de cylindros porta-mensagens, uma machina de limpeza pelo
vácuo, grande quantidade de linoleum e outros objetos (BIBLIOTECA NACIONAL,
1910, p. 770).
[...] Apparelho desconhecido dos mecânicos que o montaram, o book-carrier tem
exigido constantes correcções e substituições de peças, de maneira a poder
funccionar regularmente. No edifício da Bibliotheca esse apparelho é
indispensável, dada a posição do salão principal de leitura [atual seção de Obras
Raras] em relação aos armazéns de livros. Sem o book-carrier, a galeria destinada
ao publico seria ao mesmo tempo uma passagem de serviço. (BIBLIOTECA
NACIONAL, 1911, p. 391).
De fato, encontramos, na seção de Iconografia da instituição, diversas pranchas de projetos e
fotografias referentes aos equipamentos acima descritos, instalados no prédio por ocasião de sua
inauguração (1910).
Como já mencionamos anteriormente, quando afirmamos ser a autoria do prédio da Biblioteca do
general Souza Aguiar, os projetos e equipamentos referentes à máquina de limpeza por vácuo e o
aparelho para compressão de ar, necessário à pressurização da tubulação responsável pelo
deslocamento dos cilindros porta-mensagem, são projetos de Hector Pepin e da empresa
Taupenot & C.ie.
Quanto ao mecanismo denominado “book-carrier”, não encontramos nenhum projeto ou indicação
quanto a seu fornecedor.
No Teatro Municipal havia diversos equipamentos mecânicos, de acordo com o documento
intitulado “Descripção das Installações mecanicas e electricas, [...], Ventilação e Refrigeração do
Ar, Apparelhos de Alarme, [...] executadas no THEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO pela
Companhia Brazileira de Electricidade “Siemens Schuckertwerke” (SIEMENS, 1909). Quase todos
eram movidos à energia elétrica (alguns eram movidos manualmente, de acordo com informações
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
148
contidas no referido documento), sendo responsáveis pelos efeitos cenográficos dos espetáculos
(chuva, trovoadas, suspensão de panoramas cenográficos, carros e trilhos para os bastidores de
cena), além de apresentarem mecanismo para suspensão da cortina do palco e de dois panos de
ferro, movidos eletricamente, para isolamento da boca de cena da sala de espetáculos, em caso
de incêndio.
Ilustração
83
Máquinas de limpeza pelo vácuo e de compressão de ar (Álbum do Novo Edifício da
Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, fotografia nº 40, Seção de Iconografia, Biblioteca Nacional).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
149
85
Maquinismo do book-carrier”,
(Álbum do Novo Edifício da Biblioteca
Nacional no Rio de Janeiro, fotografia 26,
Seção de Iconografia, Biblioteca Nacional).
Ilustração
8
4
Uma das estações do book-
carrier”, (Álbum do Novo Edifício da Biblioteca
Nacional no Rio de Janeiro, fotografia 25,
Seção de Iconografia, Biblioteca Nacional).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
150
Ilustração
86
Palco cênico do Teatro Municipal. Fotografia impressa no programa de inauguração do
Teatro, em 1909. (acervo do Museu da República, coleção Família Passos).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
151
3.5. Análise das Instalações Elétricas e de Iluminação
À época das obras da Avenida, a energia e a iluminação elétricas eram as melhorias mais
esperadas pela população brasileira, em especial a do Rio de Janeiro, em meio às inúmeras
modificações em curso na cidade, que traziam implícitas as promessas de crescimento econômico
e de uma vida mais próspera e confortável para a sua burguesia.
O governo iniciava a regulamentação da exploração da força hidráulica, para obtenção de energia
elétrica, conforme ilustra o artigo de jornal copiado a seguir:
“Os jornaes têm noticiado que o Sr. Ministro da industria tem prompto, para ser
assignado, o decreto que regulamenta a exploração das quedas d’agua.
Não há hoje em dia assumpto que mais interesse ao povo do que esse: o
aproveitamento da água como fonte de energia productora da eletriccidade, [...]
Antes de mais, o que o Sr. Ministro da industria vai regulamentar é o uso das
águas, cachoeiras ou rios [...] avulta entre elles o direito de desapropriação por
utilidade publica.
[...] – E qual é o curso d’agua que se vai aproveitar?
- É difícil dizel-o, num paiz cheio delles: serão muitíssimos. Mas o que vai ser
aproveitado para esta cidade será o rio Parahyba.
- O Parahyba! Mas é colossal! Que se vai fazer com essa força extraordinária?
- Muita coisa que talvez nem você, nem os seus leitores tenham idea. Com a
empreza que se irá fundar, o governo contratará a energia e a luz electrica
necessárias aos serviços federaes. Um desses servos será o dos trens dos
subúrbios da Central [...]
Mas o será tudo. Como comprehende, todo o enorme serviço do caes será
movido não a vapor, mas a electricidade. Illuminação e força serão electricas: a
nova empreza as fornecerá.
Evidentemente, porém, não se poderia fazer toda essa transformação, deixando-
se a cidade illuminada por esse péssimo gaz que ahi está. Isso será abolido.
O progresso é exigente. Não há progresso sem luz. Luz, mais luz! Não é o grito de
um moribundo; é o reclamo imperioso de uma cidade que prospera[...]” (O PAIZ,
“A transformação da cidade”, 18 out. 1904, apud BRENNA, 1984,p.274)
De fato, em abril de 1908, entrou em operação a Usina Hidrelétrica Fontes Velha
36
, na época a
maior usina do Brasil e uma das maiores do mundo, responsável pelo fornecimento de energia na
cidade do Rio de Janeiro.
36
De propriedade da Rio de Janeiro Tramway, Light and Power. Localizada no Ribeirão das Lajes,
município de Piraí (RJ), a usina foi responsável pelo abastecimento da energia empregada na iluminação
pública e residencial e na tração dos bondes elétricos da cidade do Rio de Janeiro. Com uma potência
inicial instalada de 12.000 kW, teve sua capacidade de geração ampliada graças à construção do
reservatório de Lajes, da barragem de Tocos e do desvio de curso do rio Piraí para a vertente oceânica do
rio Paraíba, somando, a partir de 1913, uma capacidade nominal de 49.000 kW e, em regime de
sobrecarga, 64.000 kW. Esta usina foi desativada em 1989. (ELETROBRAS, 2007)
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
152
O quadro estatístico da potência instalada no Brasil nos últimos anos do século XIX e nos
primeiros anos do século XX era o seguinte:
Tabela 2 – Quadro estatístico da potência instalada no Brasil
Ano Geração
Térmica (kW)
Geração
Hidráulica (kW)
Total (kW)
1883 52 - 52
1889 3.143 1.475
37
4.618
1900 6.585 5.500 12.085
1910 21.996 137.684 159.860
Fonte: VARGAS, 1994, p.181.
O fornecimento de energia elétrica para a capital federal foi objeto de ferrenha disputa em 1905,
por parte da The Rio de janeiro Tramway Light & Power e a firma Gaffrée e Guinle, conforme
registro na imprensa da época (JORNAL DO COMMERCIO, 27 mar. 1905, apud BRENNA, p.331).
A concessão acabou sendo ganha pela Light & Power, empresa de capital canadense.
No momento da inauguração da Avenida, em muitos de seus prédios, a iluminação era feita
simultaneamente por lâmpadas a gás e por eletricidade, conforme registrado nas passagens a
seguir:
[...] Hontem foram collocadas nos postes as novas lâmpadas electricas para a
iluminação da avenida, que terá também, nos passeios, duas filas de lampeões de
gaz, cada um de cinco bicos. (CORREIO DA MANHÃ, “Os escândalos da
Avenida”, 18 out. 1904, apud BRENNA, 1984,p.274)
[...] Na officina da Light and Power, entre as ruas do Rosário e Ouvidor, a
commissão inauguradora da luz visitou os transformadores.
Os focos electricos são de 600 velas cada um, sendo em uma proporção de duas
velas por metro quadrado.
Depois de accesa a luz electrica, que não funccionou com a amperage total, e sim
com a metade da energia, havendo até contactos de fios, que provocaram a sua
interrupção durante alguns minutos, foram accesos os bicos de gaz. [...]
Em todo o caso, o que hontem se fez já foi um deslumbramento. [...]
37
A primeira hidrelétrica a entrar em funcionamento no país foi a do Ribeirão dos Infernos, em Diamantina,
pequena usina criada para auxílio nos trabalhos de mineração, em 1883; em 1889, entrou em operação a
primeira hidrelétrica de maior porte do Brasil, Marmelos-Zero da Companhia Mineira de Eletricidade,
pertencente ao industrial Bernardo Mascarenhas.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
153
Os combustores funccionaram, na totalidade até as 9 horas.
Dessa hora em diante, ficaram duas lâmpadas electricas em cada poste, até a
meia noite, e um lampeão de gaz em cada poste, até a manhã de hoje.[...]
E era de admirar a architectura nascente por esta terra, até hoje sufocada pela
falta de gosto artístico, entregue ao trabalho puramente material das construcções
deselegantes.
Palácios, erguendo minaretes e cúpulas varias sobre três e quatro andares,
assignalando monumentos, gritando a esthetica![...] (JORNAL DO BRASIL,
“Avenida Central”, 14 nov. 1905, apud BRENNA, 1984,p.392)
Por conta do orçamento ordinário do estabelecimento correram algumas despesas
extraordinárias que já não cabiam no saldo então a extinguir-se do credito de
2.400:000$000, como o relógio electrico distribuidor da hora, todas as arandelas
para gaz e os quadros para as campainhas electricas das diversas secções.[...] (A
respeito do prédio da Biblioteca Nacional. BIBLIOTECA NACIONAL, 1911, p.
390).
Pela ocasião da inauguração do Palácio S. Luiz, mais tarde denominado Palácio Monroe, a
iluminação que a edificação ostentava chamou a atenção e mereceu o registro de diversos jornais:
A illuminação interior é distribuída por 3.000 lampadas de luz electrica. No salão
central existem nove lustres de trinta lampadas, vinte e dous de oito e quatro de
seis. Do tecto das loggias pendem do centro dous grandes lustres de 102
lampadas cada um, além de oito de dez. [...]
O jardim, que como dissemos acima, é de estylo inglez, compoem-se de
pequenos canteiros, todos iluminados a luz electrica, distribuída em 1.800
lampadas de 16 velas
38
cada uma, [...]. Alem dessas lampadas veem-se mais
vinte, em arco
39
de um foco cada uma e três de três pólos, também em arco. (Por
ocasião da inauguração do Palácio Monroe. JORNAL DO COMMERCIO,
“Gazetilha”, 22 jul. 1906, apud BRENNA, 1984, p.274.)
O único projeto para aprovação de construção pela Comissão Construtora da Avenida Central, no
qual encontramos indicação de compartimentos ou equipamentos destinados às instalações
elétricas, foi o dos números 79 e 81, de propriedade de Theodor Wille & , construção de
Antonio Jannuzzi, Irmão e projeto de Arno Gierth, professor da Escola Politécnica de São
Paulo.
38
Refere-se à potência de iluminação proporcionada pelas lâmpadas do tipo incandescente, inventadas por
Thomas A. Edison em 1880. (INSTITUTO DE FISICA, UFRGS, 2008)
39
Uma lâmpada de arco consiste de duas barras de carbono (também conhecidas como eletrodos)
conectadas aos terminais de uma fonte de corrente. Foi inventada por Humphry Davy em 1807. Este tipo de
iluminação, cara, temperamental e incômoda, foi utilizada aproximadamente até a década de 1910.
(INSTITUTO DE FISICA, UFRGS, 2008)
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
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154
Ilustração 87 – Planta baixa do pavimento térreo do projeto para o edifício nº 79 e 81 da Avenida, projeto de Arno Gierth
“Apparelho de Electricidade “Officinas de Electricidade
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Capítulo 3
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155
3.5.1. Biblioteca Nacional e Teatro Municipal
Encontramos maiores indicações quanto às instalações elétricas projetadas nestes dois prédios
da Avenida. A Biblioteca Nacional tinha sua iluminação interna feita à base de luminárias a gás e
elétricas. O documento denominado Justificação e Orçamento. Especificações” (reproduzida na
íntegra no Anexo V deste trabalho), assinado por Souza Aguiar, datado de junho de 1905, foi
elaborado para a contratação das obras de execução do prédio e, em relação às instalações
elétricas a serem instaladas na edificação, tem registrado o seguinte:
70 :- A installação para a illuminação electrica do edifício se comporá de um
quadro geral de distribuição, com medidores, commutadores e fusiveis, a fim de
receber a corrente para o circuito, transformada do circuito publico e distribuil-a
pelas dependências do estabelecimento; um quadro secundário de distribuição
para cada pavimento; toda a canalisação electrica; commutadores parciaes,
fusíveis, supportes, arandellas, candelabros, lâmpadas incandescentes e de arco,
globos, tulipas etc.
Todo o material, excepto as lâmpadas, terá capacidade para 200 volts.
[...] A distribuição das luzes pelas dependências do edifício será regulada pela
seguinte tabella, feita na base da capacidade e destino de cada compartimento:
Salas de leitura 1,50 vela por metro cúbico
Secretaria, gabinetes etc 1,00 idem “ “ “
Vestíbulo, escadas galerias 0,80 idem “ “ “
Deposito de livros 0,50 idem “ “ “
Porão 0,40 idem “ “ “
Officinas 0,80 idem “ “ “
* NOTA: A tabella refere-se não só ás lâmpadas incandescentes como ás de arco.
As salas de leitura, galerias, vestíbulos e escadas terão diversos bicos para
illuminação a gaz corrente, fazendo-se para isto a divida canalisação. Estas luzes
são de emergência para illuminar essas peças si por qualquer eventualidade der-
se uma interrupção prolongada na corrente electrica, facilitando as pessoas que
estejam no edifício e queiram sahir, fazel-o sem atropello e confusão. (AGUIAR,
1905, p.13-14 – Ver Anexo IX).
Além dessa ocorrência, encontramos no Relatório do Diretor ao Ministro da Justiça, nos Anais da
Biblioteca Nacional, passagem que cita a iluminação a gás efetivamente instalada no prédio
concluído:
Por conta do orçamento ordinário do estabelecimento correram algumas despesas
extraordinárias que não cabiam no saldo então a extinguir-se do credito de
2.400:000$000, como o relógio electrico distribuidor da hora, todas as arandelas
para gaz e os quadros para as campainhas electricas das diversas secções.[...]
Relativamente á installação electrica, procurei atender tanto quanto possível ás
reclamações do electricista da Bibliotheca, Alexandre Sodré.
Fazia-se necessário ventilar o compartimento que fica sob a escadaria externa e
onde foram collocados os dous transformadores de 200 Kw. , um dos quaes a
Tramway, light and Power Co. entendeu retirar a 16 de Dezembro. Aproveitando a
ocasião em que se faziam pequenas obras para evitar que as águas pluviaes
continuassem a penetrar nos compartimentos próximos, que ficam igualmente sob
a escadaria, fiz collocar de cada lado um tubo para a passagem do ar. Essa
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
156
providencia não fará talvez desaparecer a necessidade de um apparelho
exhaustor que extraia os gazes que ahi se accumulam.
Para o quadro geral de distribuição foi necessário adquirir sete medidores de volts
e ampères. Começaram a ser substituídos alguns fusíveis empregados na
installação, que eram de amperagem superior á de qualquer dos circuitos que
deviam proteger. (BIBLIOTECA NACIONAL, 1911, p. 390).
Ainda a respeito do prédio da biblioteca, consta do “Álbum da Construcção do Novo Edifício da
Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro” fotografia do quadro distribuidor elétrico, reproduzida na
ilustração 70.
Ilustração
88
Quadro geral de distribuição da corrente electrica” (Álbum da Construcção do Novo
Edifício da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, Seção de Iconografia, Biblioteca Nacional).
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
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157
No Teatro Municipal, cujas instalações eram as mais sofisticadas e complexas dos prédios da
Avenida, e, provavelmente, entre todos os prédios existentes de então no Rio de Janeiro, as
exigências quanto às instalações elétricas, sua capacidade e confiabilidade eram maiores. Para
tanto, no memorial do projeto que concorreu ao concurso (arquivado na Coleção da Família
Passo, no Museu da República), já constava a proposta para a construção de uma usina geradora
termoelétrica, com o objetivo de atender à demanda de eletricidade necessária ao funcionamento
de todos os equipamentos a serem instalados na edificação, de maneira autônoma e com controle
de sua qualidade.
No documento intitulado “Descripção das Installações mecanicas e electricas, [...], Ventilação e
Refrigeração do Ar, Apparelhos de Alarme, [...] executadas no THEATRO MUNICIPAL DO RIO
DE JANEIRO pela Companhia Brazileira de Electricidade “Siemens Schuckertwerke” (SIEMENS,
1909), a descrição da usina geradora, efetivamente executada junto ao teatro, no terreno
atualmente ocupado pelo seu Prédio Anexo. O documento traz em sua primeira folha:
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
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158
Ilustração
89
Reprodução de página do documento intitulado: “Descripção das Installações mecanicas e
electricas, [...], Ventilação e Refrigeração do Ar, Apparelhos de Alarme, [...] executadas no THEATRO
MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO pela Companhia Brazileira de Electricidade “Siemens Schuckertwerke”
(SIEMENS, 1909)
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Na seqüência da descrição do sistema elétrico, encontramos o registro da existência de bateria de
acumuladores, para funcionarem em caso de falha do sistema principal, para não haver risco de
interrupção ou não fornecimento de energia ao teatro. No mesmo documento, ainda encontramos
a informação da energia disponível para consumo em cada apresentação teatral: cerca de
252kW.
Quanto à iluminação empregada na edificação, em todos os seus compartimentos destinados
ao público, bastidores de cena, orquestra, iluminação cênica, camarins e restaurante eram
utilizadas luminárias que empregavam exclusivamente lâmpadas elétricas, do tipo incandescente
ou de arco, sem a utilização de iluminação a gás. Essa característica deve-se à resolução da
empresa projetista e executora das instalações do teatro Siemens Schuckertwerke, devido à
sua experiência anterior no Teatro de Nuremberg, com sistema de condicionamento de ar
semelhante ao empregado no Rio de Janeiro. Este teatro tinha luminárias a gás, o que dificultou a
renovação de ar dos ambientes, o qual se misturava aos gases das chamas e, por esta razão,
não foi alcançada a diminuição da temperatura nos ambientes atendidos pelo sistema, como era
desejado. Para que o mesmo tipo de dificuldade não ocorresse no Teatro Municipal do Rio de
Janeiro, foram utilizadas apenas lâmpadas elétricas em sua iluminação.
Em relação ao nível de iluminação projetado para os ambientes, há a seguinte informação
técnica:
A intensidade luminosa em toda a parte central do Foyer e da Platéa é de 40 lux,
quer dizer, é como si cada ponto si achasse a uma distancia de 1 metro de uma
fonte luminosa de 40 velas. (SIEMENS, 1909)
Ainda sobre os projetos desenvolvidos para o Teatro Municipal, encontramos, no documento
referido anteriormente, no início da exposição deste capítulo, diversos equipamentos movidos à
eletricidade instalados no Teatro. Eram eles:
relógios elétricos;
campainhas elétricas;
campainhas para indicar início do espetáculo;
relógios para fiscalizar a inspeção diária do teatro.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
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160
3.6. Conclusões sobre as Tecnologias Analisadas
Sistemas Estruturais
De maneira geral, as edificações construídas na Avenida Central foram concebidas empregando
sistema estrutural misto, composto por alvenarias periféricas estruturais e internamente por
elementos metálicos pontuais. Consideramos que o ritmo acelerado das obras para a construção
dos prédios, imposto pelos prazos que a Comissão Construtora da Avenida Central estipulou para
a inauguração da Avenida, foi determinante para a adoção em larga escala deste sistema com
aplicação de elementos metálicos pré-fabricados. Os pré-fabricados reduzem o tempo de
execução de alguns serviços, como a montagem dos arcos de descarga em alvenarias de tijolos
de barro, que eram facilmente substituídos pela inserção de perfis metálicos à guisa de verga
sobre os vãos de fachada, otimizando o cronograma de execução das obras.
A exceção comprovada da aplicação deste modelo é o edifício da Biblioteca Nacional, onde todos
os elementos estruturais - verticais e horizontais - são em aço, independentes das alvenarias. As
alvenarias foram concebidas como auto-portantes, descarregando o seu peso próprio diretamente
nos alicerces da construção. Estes elementos exercem a função de proteger os elementos
metálicos do fogo, além da vedação da edificação. Complementando o sistema empregado, os
pavimentos da edificação são compostos por pisos em concreto de cimento armado, lançado e
adensado manualmente sobre fôrma
40
. Na camada superior do concreto, foi aplicada uma malha
metálica retangular pré-fabricada. Em todos os ambientes da edificação podem ser observados
forros de estuque de gesso estruturados com tela “deployer”, responsáveis pelo acabamento de
tetos, marcações de caixas de vigas entre pilastras e colunas (correspondentes às posições das
vigas estruturais) e que, ainda, têm a função da proteção contra fogo dos elementos estruturais
existentes sobre as lajes de cimento armado.
Instalações Hidrossanitárias
As edificações da Avenida Central ocupavam quase integralmente a área do terreno, além de o
seu gabarito variar de três a sete pavimentos. Os projetistas ordenaram as instalações sanitárias
em prumadas verticais. Podemos observar que nas edificações de uso residencial, como apontado
por Carlos Lemos (1999, p. 67), os compartimentos destinados aos banheiros foram posicionados
próximos àqueles destinados às cozinhas. Ainda pudemos verificar que foram adotados pelos
projetistas para a solução dos banheiros os dois modelos, também definidos por Lemos (1999,
40
Não foi possível a definição do material utilizado como fôrma dos pavimentos.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Capítulo 3
Sandra Zagari-Cardoso
161
p.67): o costume francês, onde o vaso sanitário é instalado em um pequeno compartimento
separado daquele que acomodava a banheira, e o modelo americano, que instalava em um único
espaço, mais amplo, o vaso sanitário, a banheira e o bidê
41
.
Instalações Mecânicas
Os equipamentos de instalação mecânica mais recorrentes nos projetos são os elevadores,
principalmente nas edificações com maior número de pavimentos.
Destacam-se pela aplicação de equipamentos eletro-mecânicos dois prédios, dentre aqueles que
tiveram seus projetos analisados: o Teatro Municipal e a Biblioteca Nacional. Além dos elevadores,
as demais instalações mecânicas propostas e instaladas nestas edificações foram sofisticadas e
inúmeras, tornando estes dois projetos comparáveis àqueles com funções semelhantes
desenvolvidos na mesma época, em países europeus ou nos Estados Unidos. O Teatro contava
inclusive com um sistema de refrigeração de ar, que reduzia em até 10° a temperatura interna dos
ambientes em relação à temperatura externa.
Instalações Elétricas e Iluminação
Todos os prédios eram alimentados por energia elétrica, fornecida pela concessionária Light &
Power, que era aplicada na alimentação de seus equipamentos e em sua iluminação. As
edificações também eram servidas por luminárias à gás, à semelhança da iluminação pública da
Avenida.
Neste aspecto, devemos destacar o Teatro Municipal, a única edificação cuja iluminação era
exclusivamente elétrica. A energia para a edificação era fornecida por uma usina termo-elétrica,
movida à diesel, posicionada em terreno contíguo ao ocupado pela edificação. Além da iluminação,
de seus compartimentos e da iluminação cênica, eram movidos a eletricidade inúmeros
equipamentos instalados no Teatro, como portas metálicas corta-fogo mecanizadas, equipamentos
de cena, alarmes etc.
41
Não encontramos nos projetos analisados indicação do uso de bidê.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Considerações Finais
Sandra Zagari-Cardoso
162
Considerações Finais
O modelo de urbanização adotado para a abertura da Avenida Central e para os prédios a serem
erguidos ao longo de seus passeios foi determinado pelas experiências contemporâneas
internacionais, que têm em comum a repetição de diversos conceitos aplicados pela primeira vez
nas intervenções executadas por Haussmann em Paris, na segunda metade do século XIX, além
da aplicação da composição de arquitetura nos estilos oriundos da Academia Francesa,
posteriormente denominado eclético, nas edificações.
O novo regime político, implantado em nosso país em 1889, elegeu o estilo eclético para ser
aquele utilizado em suas construções oficiais
42
. É nesse mesmo período que aconteceu a
Exposição Comemorativa dos 100 anos da Abertura dos Portos no Rio de Janeiro, em 1908, à
semelhança das grandes feiras internacionais que ocorreram em diversos países desde o século
XIX.
Consideramos o conjunto composto pelos edifícios da Avenida como o mais relevante exemplo da
produção arquitetônica do início do século XX, que se confunde com o começo do governo
republicano em nosso país. Tanto pelo número de construções surgidas, quase que
simultaneamente, quanto pela qualidade de alguns de seus exemplares, como pelo caráter
político e representativo da intervenção ocorrida, por iniciativa do governo federal, na capital do
país.
Os estudos de arquitetura dessa época restringem-se, de maneira geral à estética das
construções. É conhecido o concurso de fachadas promovido pela Comissão Construtora da
Avenida Central, mas pouco investigado o caráter tecnológico de suas construções. Não podemos
esquecer que o prédio mais alto até então construído na América do Sul foi aquele destinado à
sede do Jornal do Brasil, nos lotes 110/112 da Avenida Central. A altura deste prédio foi
ultrapassada após a construção do Edifico “A Noite”, junto da Avenida na Praça Mauá, na década
de 1930, já em concreto armado.
42
A partir da década de 1920, começou a se firmar como estilo oficial de arquitetura o neocolonial, até a
queda República Velha e início do Estado Novo. O grande exemplo deste estilo pode ser considerado a
Exposição Comemorativa dos 100 anos de Independência.
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Considerações Finais
Sandra Zagari-Cardoso
163
O Rio de Janeiro sempre foi um centro irradiador de tendências e inovações para todo o Brasil,
principalmente no período em que foi sede do poder central imperial ou federal. Como já
falamos, foi a terceira cidade no mundo a ter rede pública de coleta de esgotos, por iniciativa do
Imperador D. Pedro II. Os aspectos e características abordadas neste trabalho reafirmam o Rio de
Janeiro como pioneiro no Brasil quanto à aplicação das mais novas tecnologias disponíveis na
construção civil.
A análise elaborada revelou alguns dados surpreendentes, que apontam em distintas direções.
Ainda encontramos nas edificações a aplicação de programa semelhante ao programa tradicional
de construção. Em cerca de 53% dos projetos analisados, o programa implantado foi semelhante
aquele dos sobrados da cidade velha, que se queria deixar para trás: uso comercial no térreo e
uso residencial nos pavimentos superiores. Em contraponto a esta característica, foi determinado
um alto nível de sofisticação em algumas construções particulares e nas construções oficiais, em
especial aquelas destinadas ao Teatro Municipal e à Biblioteca Nacional, que foram comparadas
em alguns textos pesquisados (SIEMENS, 1909 e BIBLIOTECA NACIONAL, 1912) ao teatro da
cidade alemã de Nuremberg e à Biblioteca do Congresso norte-americano, respectivamente,
quanto às tecnologias adotadas naquelas edificações.
Esta dicotomia revela o momento de transição que o país vivia. É forte a característica herdada
dos quatro séculos de influência portuguesa na urbanização, cultura e sociedade da recém
nascida nação brasileira. O Brasil participava então do comércio mundial exclusivamente com
produtos de exportação agrícolas e não contava ainda com um parque industrial desenvolvido,
que só se estabeleceu após a 1ª Guerra Mundial. Todos os equipamentos e tecnologias utilizados
nas construções do momento estudado são importados, tendo origem européia ou norte-
americana.
A década de 1900 no Rio de Janeiro foram marcados pelos investimentos do governo federal,
municipal e da iniciativa privada para a transformação da cidade, que passava por uma grave
crise provocada pela falta de estrutura sanitária e urbana. Este esforço conjunto, elaborado com o
objetivo de transmutar a fisionomia do país de rural em cosmopolita, foi focado no Rio de Janeiro,
a Capital Federal.
Tendo origem nessa mesma política, em 1904, o Brasil participou da Feira Internacional de
Louisiania, nos Estados Unidos da América do Norte, com um pavilhão projetado e construído
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Considerações Finais
Sandra Zagari-Cardoso
164
pelo engenheiro-militar Francisco de Souza Aguiar. Este pavilhão foi projetado em estrutura
metálica e reconstruído na Avenida Central em 1906, para sediar a Conferência Pan-americana,
passando a ser denominado Palácio Monroe. Provavelmente, foi essa experiência norte-
americana, onde já se construíam prédios em estrutura metálica em Chicago e Nova York com 15
pavimentos de gabarito, que propiciou a Souza Aguiar o aprimoramento de seu conhecimento
técnico sobre estrutura metálica, aplicado no projeto desenvolvido por este para o prédio da
Biblioteca Nacional. O sistema estrutural da Biblioteca utiliza pilares e vigas em perfis de aço, lajes
de cimento armado e alvenarias para proteção dos elementos metálicos da ação do fogo. Não
conhecemos nenhum outro exemplo brasileiro contemporâneo semelhante.
Quanto às instalações mecânicas, o uso corrente de elevadores elétricos em várias edificações é
notável. Não podemos esquecer que o primeiro elevador elétrico foi montado por Otis na
Exposição Universal de Paris em 1889, quinze anos antes da data de inauguração dos primeiros
prédios na Avenida Central. Neste aspecto, devemos reiterar o destaque das instalações
executadas no Teatro Municipal, com diversos mecanismos eletromecânicos, destacando-se o
sistema de condicionamento de ar instalado, desenvolvido pela Siemens (1909), semelhante ao
sistema implantado pela mesma empresa no Teatro de Nuremberg, inaugurado em 1905.
Em relação às instalações elétricas, o governo do Rio de Janeiro havia dado a concessão do
serviço à empresa canadense Brazilian Traction Light and Power, responsável pelo fornecimento
da iluminação pública, pela circulação dos bondes elétricos e pela energia para consumo nas
edificações da cidade. Na primeira década de 1900 este serviço ainda apresentava muitos
problemas, com inúmeras interrupções em seu fornecimento. O fornecimento de energia foi
regularizado apenas após a inauguração da Usina Hidrelétrica Fontes Velha (ELETROBRAS,
2007), em Piraí, que dotou a cidade de energia suficiente para o seu abastecimento regular e
expansão das próximas décadas. Todos os prédios da Avenida tinham energia elétrica fornecida
pela Light. O caso do Teatro Municipal é uma exceção. Toda a energia consumida na edificação
era gerada por uma usina termoelétrica própria, localizada em uma construção isolada, junto ao
prédio do Teatro.
As instalações hidrosanitárias dos projetos analisados são incorporadas ao corpo das edificações,
com características verticalizantes, e organizadas em prumadas verticais. Ainda podemos
observar o pequeno número de instalações sanitárias, se compararmos ao modelo de conforto
estabelecido para os dias atuais. Mesmo o projeto do Hotel Palace Avenida (ilustrações 29 a 31,
Avenida Central: Arquitetura e Tecnologia no Início do Século XX
Considerações Finais
Sandra Zagari-Cardoso
165
páginas 71 a 73), um dos mais sofisticados do Rio de Janeiro da época, conta com poucos
sanitários por pavimento. Chama-nos atenção, pela profusão de instalações sanitárias, o projeto
do prédio destinado ao Jornal do Commercio (ilustrações 32 a 34, páginas 74 a 76), que dispõe de
lavatório em todas as salas da redação.
Os objetivos deste trabalho investigativo eram a determinação e o levantamento das tecnologias
aplicadas nos prédios da Avenida Central e o estudo de suas relações com a arquitetura
contemporânea produzida, que apresentamos no segundo e terceiro capítulo deste volume.
Os aspectos que elegemos para observar foram aqueles que consideramos mais característicos
da produção industrial, em sua aplicação para a vida social e para as atividades de produção
econômica da sociedade civil.
Acreditamos que este estudo possa ser de interesse para trabalhos a serem desenvolvidos,
abordando a arquitetura do início do século XX, não no Rio de Janeiro, como em outras
cidades brasileiras.
Este trabalho não pretende esgotar os temas propostos. Acreditamos que diversos
desdobramentos e aprofundamentos dos temas explanados possam ocorrer, tendo como ponto de
partida os dados aqui apresentados. Uma diretriz interessante de ser pesquisada é quanto às
modificações das tecnologias surgidas nos últimos cem anos, após a inauguração dos prédios e
como foram aplicadas nas construções da primeira geração ainda existentes na Avenida,
atualmente denominada Rio Branco.
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
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Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
174
Anexos
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
175
Prédio Nº Proprietário Construtor Arquiteto
Numeração Ímpar :
1 1 a 17 Mosteiro de S. Bento Dr. Joaquim Leite Fonseca Dr. Gastão Bahiana
2 19 Joaquim Felisberto da Cunha José Maria Pereira Junior Dr. Vicente de Carvalho
Sotto Maior
3 21 a 27 Bernardo Alves Pinheiro Paulo Vieira de Souza Joaquim Bejarano
4 29 a 33 Mosteiro de S. Bento Dr. Joaquim Leite Fonseca Dr. Gastão Bahiana
5 35 Dr. Gabriel Osorio de Almeida Antonio Jannuzzi, Irmão C° Antonio Jannuzzi, Irmão C°
6 37 D. Anna Paulo dos Santos e Manoel Pinto da Conceição Gustavo Adolpho
José Antonio dos S. Guimarães
7 39 a 43 Antonio Fernandes dos Santos e D. Francisca Barnabé Moreira Lopes Heitor de Mello
Augusta Penalva dos Santos Augusta Penalva dos Santos
8 45 a 49 Antonio Maria da Costa Heitor de Mello A. Morales de los Rios
9 51 a 55 Mosteiro de S. Bento Dr. Joaquim Leite Fonseca Dr. Gastão Bahiana
10 57 a 61 Irmandade do S.S. da Custódio José Barbosa Manoel de Amaral Segurado
Candelária
11 63 a 67 Viscondessa Amoroso Lima Engº A. Pareto Torres Engº A. Pareto Torres
12 69 a 77 Johann Bernhd Hasencleven & Fried & Ekman Fried & Ekman
Sohne
13 79 e 81 Theodor Wille & C° Antonio Jannuzzi, Irmão C° Engº L. Arno Gierth
14 83 e 85 Gustavo José de Mattos João Lourenço Madein Raphael Rebecchi
e posteriormente Adelardo Soares Caiuby
15 87 a 97 V. º 3ª de S. Francisco da Carlos Rossi Adolpho Morales de los Rios
Penitência
16 99 e 101 Antonio Joaquim Alberto Manoel Joaquim de Oliveira Manoel Joaquim de Oliveira
d'Almeida
17 103 e 105 D. Joaquim Ferreira Cardoso João Vieira Lima Adolpho Morales de los Rios
18 107 e 109 Eduardo Palassim Guinle Antonio Jannuzzi, Irmão C° Antonio Jannuzzi, Irmão C°
19 111 a 115 A. Portella e Cia. Dr. Trajano de Medeiros Dr. Trajano de Medeiros
(Casa Colombo)
20 117 a 123 Sociedade Comandatária Rodrigues & C. Antonio Jannuzzi, Irmão C° Antonio Jannuzzi, Irmão C°
(Jornal do Commercio)
21 125 Manoel J.Magalhães Machado Dr. José Silva (Luiz) Adolpho Morales de los Rios
(A Equitativa dos Estados Unidos do Brasil) Silva & Soucasaux
22 127 Manoel Barreiro Cavanellas José Gonzales José Gonzales
23 129 e 131 Hermano Ramos Heitor de Mello Heitor de Mello
24 133 Dr. Carlos Conteville Bordenave & Rossi Rossi Baptista
25 135 a 139 Eduardo Palassim Guinle Antonio Jannuzzi, Irmão C° Antonio Jannuzzi, Irmão C°
26 141 e 143 Adelina Soares Ribeiro de João Gatell y Solá João Gatell y Solá
Queiroz
27 145 a 149 Gustavo José de Mattos João Lourenço Madein e posteriormente Raphael Rebecchi
Adelardo Soares Caiuby
28 151 e 153 Antonio Medeiros Pássaro João Gatell y Solá Adolpho Morales de los Rios
Daniel Antunes Garcia e Daniel Antunes Garcia e
Fernando Antunes Garcia Fernando Antunes Garcia
Anexo I - Quadro com os números dos lotes, proprietários, arquitetos e
construtores de todos os prédios da Avenida Central.
Fonte: Projetos para aprovação da construção pela Comissão Construtora da Avenida Central
(acervo do Arquivo Nacional) e Álbum da Avenida Central (FERREZ, 1982).
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
176
(continuação)
Prédio Nº Proprietário Construtor Arquiteto
Numeração Ímpar (continuação) :
29 155 a 159 Santa Casa de Misericórdia João Lourenço Madein Commissão Constructora da Avenida Central
No Album: M.E.Hehl
30 161a 165 Patrimonio da Irmandade de Tosta & Machado Adolpho Morales de los Rios
N.S. do Parto
31 167 a 171 Polyclinica Geral do Rio Dr. Moraes Dr. Moraes
de Janeiro
32 173 D. Amelia Regis de Oliveira Heitor de Mello Heitor de Mello
33 175 Santa Casa da Misericórdia L. F. Lavignino Commissão Constructora da Avenida Central
No Album: Antonio Vannini
34 177 Santa Casa da Misericórdia Engº Lourenço Ficochi Lavignino Engº Lourenço Ficochi Lavignino
35 179 Dr. Augusto Brant Paes Leme Manoel Pinto da Conceição Dr.Miguel Calmon du Pin e Almeida
36 181 Orlando da Fonseca Rangel René Barba René Barba
37 183 Socyedade Rio Grandense José Maria Pereira Jr. Adolpho Morales de los Rios
Beneficente e Humanitária
38 185 a 191 Eduardo Palassim Guinle Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº. Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº.
(Hotel Theatro)
39 199 a 211 Escolas de Belas Artes Commissão Constructora da Adolpho Morales de los Rios
Avenida Central
40 213 a 231 Biblioteca Nacional General Francisco Marcelino General Francisco Marcelino
de Sousa Aguiar de Sousa Aguiar
41 233 a 241 Mitra Archi-Episcopal do R.J., adquirido ainda Casemiro Pereira Cotta Adolpho Morales de los Rios
em obra para a Justiça Federal pela União
42 243 D. Gracinda Fontes Pereira Silva, Soucasaux & C. Silva, Soucasaux & C.
Coutinho
43 247 Francisco Hyppolyth Garnier Raphael Rebecchi Raphael Rebecchi
44 249 a 253 Club Militar Paleis de Ferreira Antonio de Albuquerque e José Maciel de
Miranda
Numeração Par :
45 2 a 6 Eduardo Palassim Guinle Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº
46 8 a 14 Antonio Pereira Lopes Dr. Augusto Coelho da Silva (não identificado)
47 16 Américo Mendes de Oliveira Dr. Augusto da Silva Coelho Dr. Christovão dos Santos
48 18 D. Elisa Mendes de Oliveira Antonio Francisco de Araujo Dr. Christovão dos Santos
Castro
49 20 D. Castorina Mendes de Antonio Francisco de Araujo Dr. Christovão dos Santos
Oliveira Castro
50 22 a 26 Companhia E.F.S.Paulo e Dr.Heitor da Silva Costa Dr.Heitor da Silva Costa
Rio Grande
51 28 a 36 Caixa de Amortização Commissão Constructora da Commissão Constructora da
Avenida Central Avenida Central
52 38 a 42 Mitra Archi-Episcopal do Rio Casemiro Ferreira Catta Adolpho Morales de los Rios
de Janeiro
53 44 a 48 Cia. Docas de Santos Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº Dr. Ramos de Azevedo
(familia Guinle)
54 50 Joaquim Henriques Costa Reis Casemiro Pereira Cotta Adolpho Morales de los Rios
55 52 e 54 Eduardo Palassim Guinle Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
177
(continuação)
Prédio Nº Proprietário Construtor Arquiteto
Numeração Par (continuação) :
56 56 a 64 Dr. E. Grandmassom Raphael Rebecchi Adolpho Morales de los Rios
57 66 a 74 Herm Stoltz & Cia. Fried & Eckman Fried & Eckman
58 76 a 80 Conde de Sucena Abel Silva José Rodrigues Moreira
59 82 a 86 Manoel Dias Machado Abel Silva Arthur Fadini
60 88 a 94 V. º 3ª N. S. Conceição e Boa João Vieira Lima René Barba
Morte
61 96 a 100 V. º 3ª de S.Francisco da Peni- Daniel Bordenave Adolpho Morales de los Rios
tência (Ao 1º Barateiro)
62 102 José de Lima Braga Thomaz Driendl Thomaz Driendl
e D. Eugenia Machado
63 104 Eugenio Juvanon e Domingos Raphael Rebecchi Raphael Rebecchi
L.Castro (Ao Bastidor de Bordar)
64 106 e 108 Luiz de Rezende Paulo Schroeder Paulo Schroeder
65 110 e 112 Socied. Anonyma do João Tourino, substituido por João Felipe Pereira, modificando
Jornal do Brasil Ludovico Berna de Ludovico Berna
66 114 Antonio Maria da Costa Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº Adolpho Morales de los Rios
67 116 Manoel Ferreira Serpa Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº
68 118 e 120 Associação dos Empregados Bordenave & Rossi Adolpho Morales de los Rios
no Commercio do Rio de Janeiro
69 122 Patrim.das Religiosas do Conv. Casemiro Pereira Cotta Adolpho Morales de los Rios
de N.S. da Conceição da Ajuda
70 124 e 126 Club de Engenharia Heitor de Mello Raphael Rebecchi
71 128 e 132 Socied. Anonyma "O Paiz" José Maria Pereira Junior Adolpho Morales de los Rios
72 134 D. Adelina de Queiroz Menge Gatell y Solá John Oberg
73 136 D. Maria Simonard dos Santos Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº
74 138 Manoel Barreiro Cavanelas José Gonzalez José Gonzalez
75 140 Orlando da Fonseca Rangel Nicoláo Mendes de Castro Antonin Raffin
76 142 Dr. José Lustosa da Cunha Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº
Paranaguá
77 144 Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº
78 146 a 150 Irmandade do S.S. da Cande- Frederico Vieira de Freitas Manoel do Amaral Segurado
laria
79 152 a 162 Companhia Ferrocarril Jardim Francisco de Azevedo Monteiro Francisco de Azevedo Monteiro
Botanico Caminhoá Caminhoá
80 164a 178 Sociedade Propagadora de Sociedade Propagadora de Dr. Francisco Joaquim
Bellas-Artes Bellas-Artes Bethencourt da Silva
81 180 a 184 Club Naval Tommazzo G. Bessi Tommazzo G. Bessi
82 186 a 198 Theatro Municipal Commissão Constructora do Dr. Francisco de Oliveira
Theatro Municipal Passos
83 S/Nº Palácio Monroe Francisco Marcellino de Souza Francisco Marcellino de Souza
Aguiar Aguiar
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
178
Anexo II
Análise dos Projetos dos Prédios Originais da Avenida Central - 1904 a 1906.
Quadro Resumo das Tecnologias Analisadas
Fonte principal: Projetos para aprovação da construção pela Comissão Construtora da Avenida
Central (acervo do Arquivo Nacional).
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
179
Prédio Nº Proprietário Construtor Arquiteto Data de Nº de Uso Sistema Estrutural Instalações Hidrosanitárias Instalações Mecânicas Observações
Aprovação Pav.tos
Numeração Ímpar :
1
57 a 61
Irmandade da S.S. da Candelaria
Custodio José Barbosa Manoel do Amaral Segurado 23/2/1905 Térreo + Térreo e 1º, comerciais - 3 lojas Há indic. de colunas de ferro fundido Indic. Linha saída esgoto térreo; Sem indicação
2 pav.s 2ºe com 3 residências aparentes no terreo e 2º pav sanit.s nos 3 pav.s;
perfis I longitudinais como vigas
2
63 a 67
Viscondessa Amoroso Lima Engº A. Pareto Torres Engº A. Pareto Torres 9/9/1905 Térreo + Comercial Sem indicação Indic. nos 3 pavs. Sem indicação
2 pav.s (b.os. Pequenos)
3
79 e 81
Theodor Wille & C° Antonio Jannuzzi, Irmão C° Engº L. Arno Gierth 25/1/1905 Térreo + Térreo Comercial; pav.s superiores Há indic. de colunas de ferro fundido Indic. nos 4 pavs. Sem indicação Compartimento no térreo
(prof. Escola Politecnica SP) 3 pav.s representativo [consulado?] aparentes; denominado: "Eletricidade"
4
83 e 85
Gustavo José de Mattos João Lourenço Madein Raphael Rebecchi 17/5/1905 Térreo + Térreo comercial;pav.s superiores Indic. de perfis metálicos como vigas Indic. nos 2 pavs.superiores; Sem indicação
e posteriormente Adelardo Soares Caiuby 2 pav.s
sugerem residencial (sem identific dos compartim)
longitudinais internas (pisos)
5
87 a 97
V. º 3ª de S. Francisco da Carlos Rossi Adolpho Morales de los Rios 23/12/1904 Térreo + Térreoc/2 lojas e 1ºcom 2 unid comerciais; Perfis I na linha do telhado Colunas de sanit em todos os Sem indicação Indic. de rede coletora de esgoto
Penitência 2 pav.s 2º com 4 unid.s residenciais Telhado repres. Madeira pav.s; no pav. Térreo
6
99 e 101
Antonio Joaquim Alberto Manoel Joaquim de Oliveira Manoel Joaquim de Oliveira 10/11/1904 Térreo + Comercial Sem indicação Indic. nos 3 pavs. Sem indicação Indic.de trecho da construção como
d'Almeida 2 pav.s "existente" na R. Hospicio
7
103 e 105
D. Joaquim Ferreira Cardoso João Vieira Lima Adolpho Morales de los Rios 17/5/1905 Térreo + Térreo e 1º, comerciais; Sem indicação Indic. nos 4 pavs. Sem indicação
3 pav.s 2ºe3º, com 1 residência/pav. Telhado repres. Madeira
8
107 e 109
Eduardo Palassim Guinle Antonio Jannuzzi, Irmão C° Antonio Jannuzzi, Irmão C° 13/6/1905 Térreo + Comercial
perfis I na linha de fachada e interior;
Colunas de sanit em todos os pav.s
3 Elevadores
Sobre elevador, há texto em
6 pav.s colunas ferro térreo; marcação de saída de esgoto terreo jornal quando da inauguração
piso de perfis metal/abobadilha tijolo
9
111 a 115
A. Portella e Cia. Dr. Trajano de Medeiros Dr. Trajano de Medeiros 29/12/1906 Térreo + Comercial Perfis duplos I como pilares e vigas nas Colunas de sanit em 1 Elevador até o penúltimo pav.
(Casa Colombo) 5 pav.s
fachadas e colunas de ferro fundido
todos os andares
1 elevador até o último pav.
aparentes. Telhado metálico
10
117 a 123
Sociedade Comandatária Antonio Jannuzzi, Irmão C° Antonio Jannuzzi, Irmão C° 29/5/1906 Térreo + Comercial Perfis I como vigas nas Lavatórios em todas as Indic. de 2 elevadores
Rodrigues & C. 7 pav.s Jornal do commercio paredes internas salas, além de colunas do térreo ao pav mais elevado
(Jornal do Commercio) Telhado repres. Madeira de sanitários
11
125
Manoel J.Magalhães Machado Dr. José Silva (Luiz) Adolpho Morales de los Rios 12/11/1904 Térreo + Comercial Indic. de colunas de ferro fundido térreo Colunas de sanit em todos Parece indicar um elevador
(A Equitativa dos Estados Silva & Soucasaux 5 pav.s perfis duplos I como vergas nos vãos de os andares;
Unidos do Brasil)
fachadas; telhado de madeira
12
127
Manoel Barreiro Cavanellas José Gonzales José Gonzales 12/2/1905 Térreo + rreo comercial; 2 pav.s superio- Sem indicação Colunas de sanit em todos Sem indicação
2 pav.s res c/ 1 unid residencial cada. Telhado repres. Madeira os andares;
13
129 e 131
Hermano Ramos Heitor de Mello Heitor de Mello 3/2/1905 Térreo + Comercial nos 2 pav.s inferiores e Indic de viga duplo I nas pa- Colunas de sanit em todos Sem indicação São 2 prédios geminados, exatamente
2 pav.s residencial no mais alto c/ 2 unid.s.
redes internas e I no piso
os andares
iguais.
QUADRO RESUMO DAS TECNOLOGIAS ANALISADAS
Análise dos projetosDados informados na documentação dos projetos aprovados
ANÁLISE DOS PROJETOS DOS PRÉDIOS ORIGINAIS DA AVENIDA CENTRAL - 1904 A 1906
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
180
(continuação)
Prédio Nº Proprietário Construtor Arquiteto Data de Nº de Uso Sistema Estrutural Instalações Hidrosanitárias Instalações Mecânicas Observações
Aprovação Pav.tos
Numeração Ímpar (continuação) :
14
133
Dr. Carlos Conteville Bordenave & Rossi Rossi Baptista 5/5/1905 Térreo + Comercial nos 2 pav.s inferiores e Indic de viga duplo I nas paredes internas 2 Colunas de sanit em todos Sem indicação no pav. Térreo, sanitário tipo "casinha"
3 pav.s residencial nos 2 mais altos c/
e colunas de ferro fundido aparentes
os andares
2unid/andar (total de 4) Telhado repres. Madeira
15
135 a 139
Eduardo Palassim Guinle Antonio Jannuzzi, Irmão C° Antonio Jannuzzi, Irmão C° 21/8/1905 Térreo + Comercial nos 3 pav.s inferiores e Indic de triplo I como verga Colunas de sanit em todos Parece indicar um elevador
4 pav.s residencial nos 2 mais altos c/
nos vãos de fachada e I nos
os andares
1 unid/andar. pisos, à volta dos vazios.
16
141 e 143
Adelina Soares Ribeiro de João Gatell y Solá João Gatell y Solá 1/3/1905 Térreo + Comercial
Cúpula metálica; vigamento
Colunas de sanit em todos Elevador ligando o térreo ao 2º pav. O pav. Mais alto o uso é apenas de
Queiroz 4 pav.s de apoio da cobertura em os andares uma sala na cúpula.
(Casa das Fazendas Pretas)
perfil I, colunas de ferro
fundido aparentes.
17
145 a 149
Gustavo José de Mattos João Lourenço Madein e Raphael Rebecchi 1/3/1905 Térreo + Comercial no térreo; os pavs. Superiores Indicação de perfis duplo I Colunas de sanit em todos Sem indicação São 3 prédios geminados
posteriormente Adelardo 2 pav.s sugerem residencial (sem identific dos
em paredes externas e inter-
os andares
Soares Caiuby compartim)
nas e colunas de ferro fun-
dido aparente no térreo.
18
151 e 153
Antonio Medeiros Pássaro João Gatell y Solá Adolpho Morales de los Rios 8/5/1905 Térreo + Comercial indicação de colunas de Colunas de sanit em todos Sem indicação
Daniel Antunes Garcia e Daniel Antunes Garcia e 2 pav.s ferro fundido aparentes os andares; localiz. Em torno
Fernando Antunes Garcia Fernando Antunes Garcia nos 3 pav.s do vazio central
19
155 a 159
Santa Casa de Misericórdia João Lourenço Madein
Commissão Constructora da Avenida Central
12/12/1904 Térreo + Comercial nos 2 pav.s inferiores e Sem indicação Colunas de sanit em todos Sem indicação Prédio existente.
No Album: M.E.Hehl 2 pav.s residencial no andar mais alto c/ os andares
3 unidades residenciais.
20
161a 165
Patrimonio da Irmandade de Tosta & Machado Adolpho Morales de los Rios 18/12/1904 Térreo + Comercial nos 2 pav.s inferiores e Sem indicação Colunas de sanit em todos Sem indicação
N.S. do Parto 2 pav.s residencial no andar mais alto c/ os andares
1 unidade residencial.
21
167 a 171
Polyclinica Geral do Rio Dr. Moraes Dr. Moraes 15/4/1905 Térreo + Ambulatorial. Indic das varandas do 1º e 2º pavs. Poucos sanitários. Sem indicação
de Janeiro 2 pav.s com colunas e balaustrada em ferro
fundido. Telhado repres. Madeira
22
173
D. Amelia Regis de Oliveira Heitor de Mello Heitor de Mello 22/9/1905 Térreo + Comercial nos 3 pav.s inferiores e colunas ferro térreo; Colunas de sanit em todos Sem indicação
3 pav.s residencial no andar mais alto c/ os andares
1 unidade residencial.
23
177
Santa Casa da Misericórdia
Engº Lourenço Ficochi Lavignino
Engº Lourenço Ficochi Lavignino
6/2/1906 Térreo + Comercial nos 2 pav.s inferiores e
Colunas ferro térreo;detalhe de verga duplo
Colunas de sanit em todos os pav.s Sem indicação O pav. Mais elevado é ocupado apenas
4 pav.s residencial nos 2 mais altos c/ terraço
I nos vãos de fachada e detalhe de perfis
no ultimo p/ estrutura do mirante com um mirante no ângulo.
24
179
Dr. Augusto Brant Paes Leme Manoel Pinto da Conceição Dr.Miguel Calmon du Pin e 22/9/1905 Térreo + Comercial no térreo; os pavs. Superiores Indic vigas I em corte longitudinal 1 coluna de sanit em todos os pavs Sem indicação
Almeida 2 pav.s são de uso residencial
25
181
Orlando da Fonseca Rangel René Barba René Barba 115/5/1906 Térreo + Comercial no térreo; os pavs. Superiores O laboratório localiz. Na área posterior do Os sanit. Não estão dispostos em Sem indicação A parte posterior do terreno é ocupado
2 pav.s são de uso residencial terreno tem colunas de ferro fundido colunas verticais apenas no nivel térreo por laboratorio
QUADRO RESUMO DAS TECNOLOGIAS ANALISADAS
Análise dos projetosDados informados na documentação dos projetos aprovados
ANÁLISE DOS PROJETOS DOS PRÉDIOS ORIGINAIS DA AVENIDA CENTRAL - 1904 A 1906
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
181
(continuação)
Prédio Nº Proprietário Construtor Arquiteto Data de Nº de Uso Sistema Estrutural Instalações Hidrosanitárias Instalações Mecânicas Observações
Aprovação Pav.tos
Numeração Impar (continuação) :
26
183
Socyedade Rio Grandense José Maria Pereira Jr. Adolpho Morales de los Rios 25/7/1906 Térreo + Comercial nos 2 pav.s inferiores e Perfis I como vigas no piso do 2º, na 2 Colunas de sanit em todos os Sem indicação
Beneficente e Humanitária 2 pav.s 3º residencial com 2 unid.s chegada da escada pav.s
27
185 a 191
Eduardo Palassim Guinle Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº. Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº. 14/11/1906 Térreo + A solução é de 2 prédios lado a lado inde- Teatro sem represent. Estrutura, apenas Diversas colunas no Teatro e no 1 Elevador no hotel O Hotel é composto por T+4 pav; o
4 pav.s pendentes. Hotel voltado p/ r. S. Gonçalo no telhado repres. Estrut. Metalica hotel Teatro, T+3 pav
(Hotel e Theatro Palace)
Hotel vigas I nos pisos e duplo I vãos fach.
28
199 a 211
Escola de Bellas Artes Commissão Constructora da Adolpho Morales de los Rios 30/3/1906 Térreo + Escola de Belas Artes Sem indicação em projeto. 2 colunas de sanits em todos os Sem indicação
Próprio Nacional Avenida Central 3 pav.s [Cupulas em estrut metálica] pav.s;
29
213 a 231
Biblioteca Nacional Iniciada por G.ral F. M.de Sousa General Francisco Marcelino de s/data Térreo + Biblioteca Nacional Estrutura auto-portante metlaica pequenos sanitários. Elevador e monta-livro; rede de
Próprio Nacional Aguiar; terminada por C.el M.A. Sousa Aguiar 4 pav.s Telhados em estrut metálica pneumático; limpeza à vácuo;
Moniz Freire Pisos em cimento armado book-carrier
30
233 a 241
Mitra Archi-Episcopal do R.J., Casemiro Pereira Cotta Adolpho Morales de los Rios 29/8/1905 Térreo + Representativo - mitra arquiepiscopal Sem indicação 2 colunas de sanits em todos os Sem indicação Há indic. De porão, H=1,50m e cons-
(adquirido posteriormente pela 2 pav.s + 2 pav.s; trução anexa, Cocheiras, com 3 pav.s
União p/ Justiça Federal) torres front
31
243
D. Gracinda Fontes Pereira Silva, Soucasaux & C. Silva, Soucasaux & C. 17/5/1905 Térreo + pequena loja frente térreo, e resid voltada Sem indicação Térreo, tipo "casinha" Sem indicação
Coutinho 2 pav.s para trás. Pav.s superiores, uma resid.
32
247
Francisco Hyppolyth Garnier Raphael Rebecchi Raphael Rebecchi 17/5/1905 Térreo + Loja no térreo e pav.s superiores com Colunas ferro fundido em todos os pav.s; Colunas de sanit em todos os pav.s Sem indicação
2 pav.s uma unid resid/cada Telhado repres. Madeira marcação de saída de esgoto terreo
33
249 a 253
Club Militar Paleis de Ferreira Antonio de Albuquerque e José 10/10/1906 Térreo + Loja no térreo e clube nos pav.s superiores Represent de telhado e pisos em madeira 1 coluna de sanit em todos os pavs Sem indicação
Maciel de Miranda 3 pav.s
Numeração Par :
34
2 a 6
Eduardo Palassim Guinle Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº 12/11/1904 Térreo + Comercial Sem indicação Colunas de sanit em todos Sem indicação
3 pav.s Telhado repres. em madeira os andares
35
8 a 14
Antonio Pereira Lopes Dr. Augusto da Silva Coelho (não identificado) 13/12/1904 Térreo + Comercial no térreo e os 2 pavs
Indic. viga perfil I e colunas
Terreo sem sanit; 2º pav
Sem indicação
2 pav.s superiores residenciais de ferro fundido aparente c/ sanit junto à divisa pos-
[3º pav pensão?] no térreo. terior, 3º pav c/ 2 sanit
36
16
Américo Mendes de Oliveira Dr. Augusto da Silva Coelho Dr. Christovão dos Santos 19/8/1905 Térreo + Comercial no térreo e os 2 pavs
Indic. viga perfil I e colunas
1 coluna de sanitários Sem indicação
2 pav.s superiores residenciais com 1 unid/ de ferro fundido aparente em todos os pav.s;
andar
no térreo; pisos e telhado de madeira
37
18
D. Elisa Mendes de Oliveira Antonio Francisco de Araujo Dr. Christovão dos Santos 31/1/1906 Térreo + Comercial no térreo e os 2 pavs Indic. de colunas de ferro 1 coluna de sanitários Sem indicação A configuração geométrica do lote
Castro 2 pav.s superiores residenciais com 1 unid/ fundido aparente no em todos os pav.s é devido à compatibilização com as
andar
térreo; pisos e telhado de madeira
áreas não intervindas junto à Avenida
QUADRO RESUMO DAS TECNOLOGIAS ANALISADAS
Análise dos projetosDados informados na documentação dos projetos aprovados
ANÁLISE DOS PROJETOS DOS PRÉDIOS ORIGINAIS DA AVENIDA CENTRAL - 1904 A 1906
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
182
(continuação)
Prédio Nº Proprietário Construtor Arquiteto Data de Nº de Uso Sistema Estrutural Instalações Hidrosanitárias Instalações Mecânicas Observações
Aprovação Pav.tos
Numeração Par (continuação) :
38
20
D. Castorina Mendes de Antonio Francisco de Araujo Dr. Christovão dos Santos 31/1/1906 rreo + Comercial no térreo e os 2 pavs
Indic viga perfil I e colunas
2 prumadas em cada pav, Sem indicação
Oliveira Castro 2 pav.s superiores residenciais com 1 unid/ de ferro fundido aparente
andar
no térreo; pisos e telhado de madeira
39
22 a 26
Companhia E.F.S.Paulo e Dr.Heitor da Silva Costa Dr.Heitor da Silva Costa 20/3/1905 Térreo + Comercial
Sem indicação; pisos e
2 colunas de sanitários Sem indicação
Rio Grande 3 pav.s telhados em madeira em todos os pav.s
40
28 a 36
Caixa de Amortização Commissão Constructora da Commissão Constructora da 20/3/1905 rreo + Comercial Vigamento metálico p/pisos Sanitários em todos os Elevador fornecido pela Prédio existente.
Proprio Nacional Avenida Central Avenida Central 2 pav.s estrutura da cobertura, pav.s Casa Guinle & C. As informações quanto à estrutura,
rotunda, escada caracol e Iliminação elétrica idem. instalações sanitárias e mecanicas
passadiços, fornecidos pela são provenientes de matérias de jor-
usina Braine-le-Comte, Belgica nais (JB), pois só existem 3 plantas
baixas, que parecem ser estudos,
no acervo do Arquivo Nacional.
41
38 a 42
Mitra Archi-Episcopal do Rio Casemiro Pereira Catta Adolpho Morales de los Rios Térreo + Comercial no térreo e os 2 pavs Sem indicação 2 colunas de sanitários Sem indicação
de Janeiro 2 pav.s superiores residencial. Telhado em madeira em todos os pav.s
42
44 a 48
Cia. Docas de Santos Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº Dr. Ramos de Azevedo 19/4/1905 rreo + Comercial Vigamento metálico 2 colunas de sanitários nos 3 pavs 1 elevador no meio da Prédio existente. A informação so-
(familia Guinle) (arquiteto de SP, fundador do 4 pav.s proveniente da Antuerpia inferiores;1 coluna de sanitários escada bre a estrutura é proveniente de guia
Liceu de Artes e Ofícios de SP) nos 2 pavs superiores; de importação (Arquivo Nacional);
os desenhos não têm indicação.
43
50
Joaquim Henriques Costa Reis Casemiro Pereira Cotta Adolpho Morales de los Rios 14/11/1905 Térreo + Comercial nos 2 pav.s inferiores e Vigas em perfis duplo I na linha 1 coluna de sanitários em Sem indicação
4 pav.s residencial nos 3 pav.s superiores de fachada (vergas de vãos). todos os pav.s
44
52 e 54
Eduardo Palassim Guinle Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº Antonio Jannuzzi, Irmão e Cº 28/9/1905 rreo + Comercial nos 3 pav.s inferiores e Vigas em perfis duplo I na linha 2 colunas de sanitários Sem indicação
4 pav.s residencial nos 2 pav.s de fachada (vergas de vãos). em todos os pav.s
superiores Pisos e telhado em madeira
45
56 a 64
Dr. E. Grandmassom Raphael Rebecchi Adolpho Morales de los Rios 9/6/1905 Térreo + Comercial nos 2 pav.s inferiores e Vigas em perfis duplo I na linha 6 colunas de sanitários nos Sem indicação A solução adotada é de 3 unidades
2 pav.s residencial no superior de fachada (vergas de vãos). 2 pav.s inferiores e 3 prosseguem geminadas
Pisos e telhado em madeira para o superior.
46
66 a 74
Herm Stoltz & Cia. Fried & Eckman Fried & Eckman 17/3/1905 Térreo + Comercial Colunas de ferro fundido apa- 2 colunas de sanitários em todos 1 elevador
2 pav.s rentes em todos os pav.s marcação saída de
Telhados em estrut metálica esgoto sob piso térreo
47
76 a 80
Conde de Sucena Abel Silva José Rodrigues Moreira 22/11/1904 Térreo + Comercial nos 2 pav.s inferiores e Vigas em perfis I transversais 2 colunas de sanitários Sem indicação
2 pav.s residencial no superior (2 unids) na linha do telhado e no piso em todos os pav.s
do 3º, junto ao prisma ventil.
Telhado e pisos em madeira
QUADRO RESUMO DAS TECNOLOGIAS ANALISADAS
Análise dos projetosDados informados na documentação dos projetos aprovados
ANÁLISE DOS PROJETOS DOS PRÉDIOS ORIGINAIS DA AVENIDA CENTRAL - 1904 A 1906
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
183
(continuação)
Prédio Nº Proprietário Construtor Arquiteto Data de Nº de Uso Sistema Estrutural Instalações Hidrosanitárias Instalações Mecânicas Observações
Aprovação Pav.tos
Numeração Par (continuação) :
48
82 a 86
Manoel Dias Machado Abel Silva Arthur Fadini 19/10/1904 Térreo + Comercial nos 2 pav.s inferiores e Sem indicação. 1 coluna de sanitários em todos os Sem indicação
2 pav.s residencial no 3º pav. pav.s; marcação saída de esgoto terreo
49
88 a 94
V. º 3ª N. S. Conceição e Boa João Vieira Lima René Barba 10/10/1906 rreo + Comercial Sem indicação 2 colunas de sanitários em todos Sem indicação Prédio existente
Morte 2 pav.s Telhado e pisos em madeira pav.s.
50
96 a 100
V. º 3ª de S.Francisco da Peni- Daniel Bordenave Adolpho Morales de los Rios 28/12/1904 Térreo + Comercial Colunas de ferro fundido aparentes em todos Sanitários no 2º e 3º não alinhados Sem indicação
tência (Ao 1º Barateiro) 2 pav.s pav.s, além de escada e balaustrada.
51
102
José de Lima Braga Thomaz Driendl Thomaz Driendl 21/12/1904 Térreo + Comercial Colunas de ferro fundido aparentes em todos 1 coluna de Sanitários nos pav.s supe- Sem indicação Na planta de modificação de projeto,
e D. Eugenia Machado 3 pav.s
pav.s; perfis duplo I sobre as colunas.
riores; no térreo, tipo "casinha". detalhe de fixação de perfis I
52
104
Eugenio Juvanon e Domingos Raphael Rebecchi Raphael Rebecchi 22/3/1905 rreo + Comercial Vigas duplo I nas vergas sobre os vãos de Sanitários apenas no térreo e 1º pav. Sem indicação Sob as vigas transversais metálicas
L.Castro (Ao Bastidor de Bordar) 3 pav.s
fachada e nos pisos internos(transversais)
está repres. Barrote madeira, idem telhado
53
186 a 198
Teatro Municipal Comissão Construtora do Francisco de Oliveira Passos 1904 Térreo + Teatro Telhados em estrut metálica ventilação artificial na sala de espe-
Próprio Municipal Teatro Municipal Detalhamento de arquitetura de 4 pav.s + pisos internos de todos os pav.s com táculos; monta-cargas para cavalos
René Barba Caixa de
perfis I; parede do palco cênico em estrutura
poço de captação de água do
cena
metálica; pilares e colunas de ferro fundido
lençol subetrraneo
para sustentação dos diversos niveis de
assentos na sala de espetáculos
piso de perfis metal/abobadilha tijolo (piso foyer)
QUADRO RESUMO DAS TECNOLOGIAS ANALISADAS
Análise dos projetosDados informados na documentação dos projetos aprovados
ANÁLISE DOS PROJETOS DOS PRÉDIOS ORIGINAIS DA AVENIDA CENTRAL - 1904 A 1906
Sistema Estrutural:
Sem indicação:14 de 53 projetos
26,4%
colunas de fº fº aparentes:21 de 53 projetos
39,6%
estrutura metálica em pisos: 7 de 53
13,2%
Vigas metál. como vergas de vãos de fachada
20,8%
Vigas metálicas na área interna
26,4%
Telhado em estrut. metálica
18,9%
Piso composto por perfis metálicos e abobadilhas de tijolos
3,8%
Pisos em cimento armado "corta-fogo"
1,9%
Estrutura metálica auto-portante: 1 de 52
1,9%
Instalações Mecânicas:
Sem indicação:40 de 53 projetos - 75,5%
Com indicação: 13 de 53 projetos - 24,5%
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
184
Anexo III
Análise dos Projetos dos Prédios Originais da Avenida Central - 1904 a 1906
Quadro Resumo dos Dados por Gabarito dos Projetos
Fonte principal: Projetos para aprovação da construção pela Comissão Construtora da Avenida
Central (acervo do Arquivo Nacional).
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
185
rreo + 2 pav.s Sistema Estrutural Instalações mecanicas rreo + 3 pav.s Sistema Estrutural Instalações mecanicas
1 1
79 e 81 Há indic. de colunas de ferro fundido aparentes; Sem indicação
2 63 a 67 Sem indicação Sem Indicação 2 103 e 105 Sem indicação Sem indicação
3
83 e 85 perfis metálicos como vigas longitud.internas Sem indicação
3
133 Indic de viga duplo I nas paredes internas Sem indicação
4 87 a 97 Sem indicação Sem indicação e colunas de ferro fundido aparentes
5 99 e 101 Sem indicação Sem indicação 4 173 colunas ferro térreo; Sem indicação
6 127 Sem indicação Sem indicação 5 199 a 211 Cúpulas estrut. Mestálica Sem indicação
7 129 e 131 Indic de viga duplo I nas paredes internas e I no piso Sem indicação 6 233 a 241 Sem indicação Sem indicação
8
145 a 149 Indicação de perfis duplo I em paredes externas e Sem indicação
7
249 a 253 Sem indicação Sem indicação
internas e colunas de ferro fundido aparente no térreo. Sem indicação 8 2 a 6 Sem indicação Sem indicação
9
151 e 153 indicação de colunas de ferro fundido aparentes Sem indicação
9
22 a 26 Sem indicação Sem indicação
nos 3 pav.s 10 102 Colunas de ferro fundido aparentes em todos Sem indicação
10 155 a 159 Sem indicação Sem indicação pav.s; prfis duplo I sobre as colunas.
11 161 a 165 Sem indicação Sem indicação 11 104 Vigas duplo I nas vergas sobre os vãos de Sem indicação
12
167 a 171
Indic das varandas do
1
º e
2
º pavs
.
com colunas
Sem indicação
fachada e nos pisos internos(transversis)
e balaustrada em ferro fundido
13
179
Indic vigas I em corte longitudinal
Sem indicação
11
prédios entre
53
analisados
=
20,75%
14 181 Sem indicação Sem indicação
15
183
Vigas I no piso do
2
º
,
na chegada da escada
Sem indicação
16 243 Sem indicação Sem indicação Térreo + 4 pav.s Sistema Estrutural Instalações mecanicas
17
247
Colunas ferro fundido em todos os pav.s;
Sem indicação
18
8 a 14 Indic. viga perfil I e colunas de ferro fundido aparente Sem indicação
1
135 a 139 Indic de triplo I como verga nos vãos de fachada Parece indicar um elevador
no térreo. e I nos pisos, à volta dos vazios.
19 16 Indic. viga perfil I e colunas de ferro fundido aparente Sem indicação 2 141 e 143 Cúpula metálica; vigamento de apoio da cobertura Elevador ligando o térreo ao 2º pav.
no térreo. em perfil I, colunas de ferro fundido aparentes.
20 18 Indic. de colunas de ferro fundido aparente no térreo Sem indicação 3 177 Colunas ferro térreo;detalhe de verga duplo Sem indicação
21
20 Indic viga perfil I e colunas de ferro fundido aparente Sem indicação I nos vãos de fachada
no térreo. 4 185 a 191 Hotel vigas I nos pisos e duplo I vãos fach. 1 Elevador no hotel
22
28 a 36 Vigamento metálico p/pisos, estrutura da cobertura, Elevador fornecido pela Casa Guinle & C.
5
213 a 231 Estrutura metálica auto-portante e pisos em 2 Elevadores nos Armazéns e 1 monta-livro
rotunda. "cimento armado"
23 38 a 42 Sem indicação Sem indicação 6 44 a 48 Vigamento metálico para os pisos 1 elevador no meio da escada
24 56 a 64 Vigas em perfis duplo I na linha de fachada Sem indicação 7 50 Vigas em perfis duplo I na linha de fachada Sem indicação
(vergas e vãos) (vergas e vãos)
25 66 a 74 Colunas de ferro fundido aparentes em todos os pav.s 1 elevador 8 52 e 54 Vigas em perfis duplo I na linha de fachada Sem indicação
26 76 a 80 Vigas em perfis I transversais na linha do telhado e no Sem indicação (vergas e vãos)
piso do 3º pav.
9
186 a 198 Telhados em estrut metálica ventil. Artificial sala espetáculos; monta-carga
27 82 a 86 Sem indicação Sem indicação pisos internos de todos os pav.s com poço de captação de água do lençol subterraneo
28
88 a 94 Sem indicação Sem indicação perfis I; parede do palco cênico em estrutura
29
96 a 100
Sem indicação
Sem indicação
metálica
;
pilares e colunas de ferro fundido
para sustentação dos diversos niveis de
29
prédios entre
53
analisados
=
55,77%
assentos na sala de espetáculos
piso de perfis metal/abobadilha tijolo (piso foyer)
Terreo + 5 pav.s
Sistema Estrutural
Instalações mecanicas
9
prédios entre
53
analisados
=
16,98%
1
111 a 115
Perfis duplos I como pilares e vigas nas fachadas
1
Elevador até o penúltimo pav
.
1
elevador até o último pav
.
colunas de ferro fundido aparentes. Parece indicar um elevador rreo + 6 pav.s Sistema Estrutural Instalações mecanicas
2
125
Indic
.
de colunas de ferro fundido térreo
Sem indicação
perfis duplos I como vergas nos vãos de fach
.
1
107 e 109
perfis I na linha de fachada e interior; colunas
3 Elevadores
ferro térreo
;
piso de perfis metal
/
abobadilha tijolo
2
prédios entre
53
analisados
=
3,77%
1
prédio entre
53
analisados
=
1,89%
rreo + 7 pav.s Sistema Estrutural Instalações mecanicas
1
117 a 123 Perfis I como vigas nas Indic. de 2 elevadores do térreo ao pav mais elevado
paredes internas
1
prédio entre
53
analisados
=
1,89%
QUADRO RESUMO DOS DADOS POR GABARITO DOS PROJETOS
ANÁLISE DOS PROJETOS DOS PRÉDIOS ORIGINAIS DA AVENIDA CENTRAL - 1904 A 1906
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
186
Anexo IV – Comissão Construtora da Avenida Central
Acervo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
187
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
188
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
189
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
190
Anexo V Justificação e Orçamento. Especificações (para construção do
edifício da Biblioteca Nacional).
Autor: Francisco Marcelino de Souza Aguiar
Acervo: Seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
191
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
192
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
193
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
194
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
195
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
196
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
197
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
198
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
199
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
200
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
201
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
202
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
203
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
204
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
205
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
206
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
207
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
208
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
209
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
210
Avenida Central: seus Prédios e as Tecnologias Aplicadas
Anexos
Sandra Zagari-Cardoso
211
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