A narração de João profetizava que àquele sobre o qual permanece o
Espírito Santo
413
, será conferida a missão de batizar no Espírito Santo, por isso,
será testemunhado como Filho de Deus. O versículo At 1,5, contém importante
narração sobre o batismo: João batizou com água
414
(evba,ptisen u[dati), vocês, ao
contrário serão batizados no Espírito Santo
415
(evn pneu,mati baptisqh,sesqe a`gi,w)
dentro de poucos dias
416
(ouv meta. polla.j tau,taj h`me,rajm / literalmente: não
depois de muitos dias. Realmente aconteceu em Pentecostes
417
). Os apóstolos
seriam “batizados” neste poder do Espírito Santo e seriam testemunhas do
Evangelho. Aptos à missão, como Jesus, após o seu batismo.
Assim, Jesus em Lc 4,18-21, na unção do Espírito Santo dentro da liturgia
sinagogal, lê um texto de Isaías (62,1-2), e anuncia uma série de sinais
messiânicos: curar os cegos, dar liberdade aos oprimidos, evangelizar os pobres.
Concluída a leitura, Jesus comenta o texto, dizendo: “Hoje se cumpre diante de
que, derramado sobre os apóstolos, demonstra a aliança perene de Deus com os homens que é
renovada (forjada) no fogo do Espírito Santo.
413
As profecias do Antigo Testamento já faziam menção de que o Messias prometido seria o
portador da Ruah, do Espírito Santo.
414
HAAG, H; VAN DEN BORN, A; AUSEJO, A., Dicionário de la Biblia. Barcelona: Herder,
1967, pp. 210-211. Do verbo grego Bapti,zein recebeu, no ambiente judeu-cristão, o significado
técnico de batizar. É um intensivo de verbo grego Ba,pt,ein no qual significa imergir ou submergir
(tem o sentido profano em Lc 16,24. Jo 13,16, Ap 19,13). De Bapti,zein se derivam os
substantivos Baptismo,ς, que indica a ação de imergir (nas purificações rituais: Mc 7,8; Hb 9,10)
ou a ação do batismo (Hb 6,2) e Ba,ptisma, que indica todo o batismo como instituição. Existem
derivados verbais judeu-cristãos, como o sobrenome Baptisth,ς, de João. Todas essas palavras
tinham um sentido religioso determinado e neste sentido foi traduzido para o latim. Palavra da
linguagem cristã provém do grego baptizein, baptisma = mergulhar. No Antigo Testamento,
algumas abluções tinham caráter de purificação legal. Os essênios e os sectários de Qumran
também conheciam estes ritos, que exigiam neles uma conversão de coração já reclamada pelos
profetas. Sabe-se também que a admissão dos prosélitos, na comunidade judaica, era sancionada
por um banho (cf. BROSSE, O.; ANTONIN-MARIE, H.; ROUILLARD, P., Dicionário de Termo
de Fé. Porto: Editorial Perpétuo Socorro, 1989, pp. 96-97. O batismo de João é chamado nos
Evangelhos (Mc 1,14) de “batismo de conversão”, em contraste com o batismo de Jesus, que era o
batismo do Espírito Santo (At 19,1ss). A necessidade do batismo é afirmada em Jo 3,5: “Se um
homem não renasce na água e no Espírito, não pode entrar no reino de Deus”.
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O batismo também é chamado de batismo no Espírito Santo (Mc 1,8; At 1,5; 11,16). Essa frase
é usada evidentemente em sentido metafórico em At 1,5; 11,16; é provável que o seu uso em Mc
também seja metafórico, indicando o início de um novo estado, de uma experiência crítica e nova.
Em outra passagem, o Espírito é recebido com o batismo (At 19,5s). Cf. MCKENZIE, J. L.,
Dicionário Bíblico. Paulus, 1984, pp. 111-112. Ainda sobre a dinâmica do batismo no Espírito
Santo, conferir: COENEN, L; BROWN, C., Dicionário Internacional de Teologia do Novo
Testamento – vol. I. São Paulo. Edições Vida Nova. 2000, pp. 180-207.
416
A figura retórica de “litote” (atenuação) da expressão “não muitos = poucos” ou seja, a negação
é de uso freqüente em Lucas (Lc 7,6; 15,13; At 17,27; 19,11; 20,12; 21,39; 28,2).
417
CHAMPLIN, R. N., O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. São Paulo:
Hagnos, 1998, p, 24. No final do versículo quinto, alguns testemunhos ocidentais (D cop [as, G
67] Efraen Agostinho Cassidoro) adicionam e[wj thj penthkosth/j, assim explicando mais
exatamente a data da vinda do Espírito Santo. É por demais sutil sugerir, conforme fez Ropes, que
a adição considera o versículo quinto como um parêntesis.