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J
ÉRÔME BINDÉ
senvolveu por etapas depois de mais de dois milênios, agora, sob a
influência do crescimento das comunicações e dos transportes e pela
ação das hegemonias e dos impérios, ela se acelerou bruscamente.
Aqui, a complexidade retoma o sentido anterior de sua etimologia
latina: o verbo complecti, cujo particípio passado, complexus, signifi-
ca, em primeiro lugar, abraçar, enlaçar, entrelaçar, estreitar. O subs-
tantivo complexus significa, literalmente, o abraço, o ato de fechar
com os braços, o abraço paternal, amigável, até mesmo erótico, e
também, no sentido figurado, o ato de compreender um certo núme-
ro, ou um grande número de coisas diferentes. Segundo Cícero, tam-
bém um precursor da globalização, “o mundo reúne e contém tudo
em seu abraço” (literalmente, “no seu complexo”, complexu suo).
Mas o complexo é também “o laço”, tecido de solidariedade afetuosa,
“que abraça a raça humana” (complexus gentis humanae); em outros
termos, o enlaçamento ou entrelaçamento da espécie pelos laços e
afetos.
Se faço esse passeio pela etimologia é porque, devido à associa-
ção, julgada abusiva pelos guardiães da língua, entre complexidade
e complicação, pode-se, às vezes, esquecer tanto o sentido primiti-
vo, e complexo, da complexidade, como as suas estranhas denota-
ções ou conotações afetivas ou carnais — orientando alguns para
uma sociabilidade natural (a parte do inconsciente biológico ir-
redutível ao artifício político e social dos contratos) e outros, para
o inconsciente singular de cada indivíduo. E, entretanto, mesmo a
associação abusiva entre complexidade e complicação (“é comple-
xo”, como se diz a respeito de uma questão difícil, de um imbróglio)
é realmente tão abusiva no momento da globalização? Paul Valéry,
um dos primeiros teóricos da globalização no século XX, revelou
precisamente o sentido profundo dessa aparente confusão quando
descreveu, com estas palavras, a aceleração da história: “somos
levados, com uma rapidez que se acelera a ponto de se tornar in-
quietante, para um estado de coisas cuja complexidade, instabilidade,