72 CIÊNCIA, ÉTICA E SUSTENTABILIDADE
encontra contemplado. Aqui, naturalmente, não estamos
considerando como integrante desse universo a hipótese
remotíssima de, numa dada jogada, a moeda cair em pé. Evi-
dentemente, no caso da fórmula considerada, as duas “pos-
sibilidades” não são, necessariamente, igualmente prová-
veis. Em outras palavras, há infinitos pares de valores {D,
C} obedecendo à fórmula. Aqui, 0 ≤ D ≤ 1 e 0 ≤ C ≤ 1. No
caso de nossa fórmula acima, D e C não são categorias fáceis
de se discernir no mesmo nível em que podemos fazer para
cara e coroa, logo o pressuposto em que a fórmula se baseia
já se encontra em dificuldades; mas vamos esquecer, por
enquanto, essa debilidade. Suponhamos grosseiramente que
a ‘probabilidade’ de uma certa atitude científica, por exem-
plo, obedeça à fórmula acima. Se {D = 0,01 e C = 0,99} (caso
I), teremos o caso de alta probabilidade de atitude crítica e,
por conseguinte, de baixa probabilidade de atitude
dogmática. Se {D = 0,99 e C = 0,01} (caso II), teremos, pelo
contrário, uma alta probabilidade de atitude dogmática e,
conseqüentemente, uma baixa probabilidade de atitude crí-
tica. Se {D = 0,50 e C = 0,50 } (caso III), teremos iguais proba-
bilidades de atitude crítica e de atitude dogmática. Além
dos três casos listados acima, teremos uma gama infinita de
possibilidades, tais como {D = 0,77 e C = 0,23}, {D = 0,14 e C
= 0,86} etc.
Ora, se tentarmos, grosso modo, interpretar essa gama
infinita de possibilidades como as possíveis gradações en-
tre o normal e o extraordinário, diríamos que, a despeito des-
sa enorme simplificação que encontra debilidades de ori-
gem, o caso I seria mais afeito ao cientista extraordinário e o
caso II seria mais afeito ao cientista normal de baixa quali-
dade. Dir-se-ia, ainda seguindo esta lógica tosca, que o caso
III seria o de um cientista, talvez, normal, de qualidade in-
termediária, o qual conjugaria, em iguais doses, crítica e
dogma. Ora, é fácil de ver que um esquema como o descrito
acima não pode se sustentar. Vejamos por que. Tomemos o
caso III. Ora, em lugar de classificarmos um cientista deste
perfil como um cientista normal, de qualidade razoável, po-