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Mas é preciso sustentar também o pensamento crítico e o rigor intelectual. Há alguns
anos, dois físicos, Sokal e Bricmont, publicaram um trabalho em Social Text, uma revista
acadêmica séria. Depois, revelaram que o seu trabalho fora escrito como um bestialógico sem
sentido, redigido na linguagem obscura da erudição pós-moderna. Esses dois físicos
criticaram também o modo como, para defender suas teorias relativistas, alguns pós-
modernistas recorrem a teorias científicas contemporâneas que eles não se dão ao trabalho de
compreender. Os autores pós-modernos que foram assim criticados não refutaram a acusação,
mas se limitaram a queixar-se de que Sokal e Bricomont os tinham tratado com dureza.
A lição aqui é que os educadores precisam ensinar o rigor intelectual e a plena
compreensão dos assuntos. Por exemplo: o Princípio da Incerteza, de Heisenberg, não significa
que no mundo físico tudo seja indeterminado.
De um modo mais amplo, sugiro que a educação, no novo mundo pós-moderno,
deva interessar-se, em particular, por duas áreas: o equilíbrio e a motivação.
Precisamos buscar o equilíbrio, tanto no conteúdo da educação como nos meios de
aplicá-la. Acho que as novas notas de euro, introduzidas este ano na Europa, constituem uma boa
analogia para o equilíbrio do conteúdo. Em um dos lados, essas notas mostram uma porta ou uma
janela. A educação precisa ser uma janela que se abre para o mundo. É preciso buscar o
potencial de cada indivíduo e desenvolver suas habilitações e o conhecimento que ajude a
educação a encontrar seu preenchimento nas várias facetas da vida. Chamemos isso de formação
de seres humanos competentes.
Do outro lado, as notas de euro exibem uma ponte. A educação precisa também
construir pontes entre os indivíduos e as comunidades. Precisa ajudar-nos a aprender a viver
em conjunto, a criar redes de relações sociais e a trabalhar juntos nas comunidades, visando ao
bem comum. Chamemos isso de educação de cidadãos responsáveis.
A analogia é útil também quando refletimos sobre os métodos empregados na
educação. Considero útil distinguir entre o aprendizado independente e o interativo.
Aprendemos de forma independente, quando lemos um livro, assistimos a um programa de TV,
ouvimos uma palestra ou um programa radiofônico, ou quando trabalhamos no nosso
computador. Para os adultos, a maior parte do aprendizado é independente. No entanto,
normalmente, mesmo para os adultos, esse aprendizado não basta, se o conteúdo ou a capacitação,
que é objeto desse estudo, for difícil de dominar. Neste caso, eles precisam também de aprendizado
interativo, ou seja, precisam de uma ponte que os ligue a alguém.
O que quero dizer é que, no aprendizado interativo, um outro ser humano, que pode ser um
professor ou outro estudante, responde às perguntas e às ações específicas de quem está
aprendendo. Pode responder a uma pergunta, comentar o trabalho feito em casa ou preencher um
questionário enviado por e-mail.
Muita tolice é dita sobre a contribuição potencial da tecnologia ao aprendizado, devido
à falha em compreender a necessidade de que haja um equilíbrio entre o apren-dizado
independente e o interativo. As crianças, em especial, precisam de muita interação com pessoas
empenhadas no processo de educação efetiva, ou seja, professores que conduzam os seus alunos
ao conhecimento e à compreensão, em lugar de acumular informação sobre os seus ombros.